Objetivos Da Aprendizagem

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OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM » Identificar e descrever os processos psicológicos básicos que envolvem as atividades eminentemente humanas, extrapolando esses conteúdos para as mais diversas áreas de atuação do comunicólogo. Abordaremos na presente unidade o tema Processos Psicológicos Básicos, mais especificamente sensação e percepção – os dois processos mais básicos. Discutiremos o que são esses processos, se eles são unicamente humanos, estudando sua base filo e ontogenética. Por fim, indagaremos sobre a importância de estudar tais processos no curso de Comunicação Social. TEXTO 1 OS PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS DE SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A COMUNICAÇÃO HUMANA Ana Cristina Costa França José Ricardo dos Santos Os processos psicológicos básicos referem-se a praticamente tudo que nos constitui como indivíduos: sensação, percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, motivação, emoção, aprendizagem etc, enfim, tudo o que é formado na nossa ontogenia. Em oposição a estes processos, encontramos os processos elementares, tais como os reflexos. Os processos psicológicos básicos possuem a base filogenética dos processos elementares, mas são construídos ao longo da nossa história ontogenética. Tais processos referem-se a padrões de comportamentos emitidos pelos sujeitos da espécie. Apesar dessa rejeição científica ao Mentalismo, termos mentalistas comosensação, percepção, atenção, imaginação, emoção, motivação, memória e vontade ainda são usados em livros atuais de psicologia. Esses termos, no entanto, são normalmente empregados como rótulos para padrões de comportamento, e não [...] como sendo produtos de alguma entidade não material totalmente separada de qualquer parte do corpo. (KOLB; WHISHAW, 2002, p. 8). Sensação e percepção (sensopercepção) [...] Se estivéssemos continuamente cientes de todos os estímulos que se apresentam a nós, seríamos esmagados por informações sensoriais e incapazes de nos concentrarmos [...] (HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2003, p. 84). Ainda que dois seres humanos dividam a mesma arquitetura biológica e genética, talvez aquilo que um deles percebe como uma cor ou cheiro, não seja exatamente igual a cor e ao cheiro que o outro percebe. Nós damos o mesmo nome a esta percepção, mas, com certeza,

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OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

» Identificar e descrever os processos psicológicos básicos que envolvem as atividades eminentemente humanas, extrapolando esses conteúdos para as mais diversas áreas de atuação do comunicólogo.

Abordaremos na presente unidade o tema Processos Psicológicos Básicos, mais especificamente sensação e percepção – os dois processos mais básicos. Discutiremos o que são esses processos, se eles são unicamente humanos, estudando sua base filo e ontogenética. Por fim, indagaremos sobre a importância de estudar tais processos no curso de Comunicação Social.

TEXTO 1OS PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS DE SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A COMUNICAÇÃO HUMANA

Ana Cristina Costa FrançaJosé Ricardo dos Santos

Os processos psicológicos básicos referem-se a praticamente tudo que nos constitui como indivíduos: sensação, percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, motivação, emoção, aprendizagem etc, enfim, tudo o que é formado na nossa ontogenia. Em oposição a estes processos, encontramos os processos elementares, tais como os reflexos. Os processos psicológicos básicos possuem a base filogenética dos processos elementares, mas são construídos ao longo da nossa história ontogenética. Tais processos referem-se a padrões de comportamentos emitidos pelos sujeitos da espécie.

Apesar dessa rejeição científica ao Mentalismo, termos mentalistas comosensação, percepção, atenção, imaginação, emoção, motivação, memória e vontade ainda são usados em livros atuais de psicologia. Esses termos, no entanto, são normalmente empregados como rótulos para padrões de comportamento, e não [...] como sendo produtos de alguma entidade não material totalmente separada de qualquer parte do corpo. (KOLB; WHISHAW, 2002, p. 8).

Sensação e percepção (sensopercepção)

[...] Se estivéssemos continuamente cientes de todos os estímulos que se apresentam a nós, seríamos esmagados por informações sensoriais e incapazes de nos concentrarmos [...] (HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2003, p. 84).

Ainda que dois seres humanos dividam a mesma arquitetura biológica e genética, talvez aquilo que um deles percebe como uma cor ou cheiro, não seja exatamente igual a cor e ao cheiro que o outro percebe. Nós damos o mesmo nome a esta percepção, mas, com certeza, não sabemos se elas relacionam à realidade do mundo externo exatamente da mesma maneira que a realidade percebida por nosso semelhante. Talvez nunca saberemos.

Sensação é a detecção e experiência sensorial básica proveniente dos estímulos do meio, tais como sons, objetos e odores. É o resultado da estimulação de células especializadas, os receptores sensoriais, por alguma forma de energia, que é convertida em impulsos neurais e transmitida ao cérebro.

Na verdade, todas as sensações são interpretadas no cérebro. Os órgãos dos sentidos recebem os estímulos

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(luz, som, gosto, cheiro, temperatura, dor, pressão etc.) e os transmitem ao cérebro, por meio de nervos sensoriais. O cérebro, então, “entende” a mensagem, produzindo a sensação.

A sensação é por natureza diferencial, ou seja, as pessoas só reparam naquilo que se distingue do geral, naquilo que é diferente, nos desvios, nas irregularidades. À medida que o nível de estímulos sensoriais diminui, a capacidade de detecção das diferenças ou da intensidade dos estímulos aumenta. É em condições mínimas de estimulação que se atinge a máxima sensibilidade. É por esta razão que a atenção aumenta quando um anúncio aparece sozinho num intervalo de um programa, ou quando, no meio de vários anúncios a cores, surge um em preto e branco.

Um outro conceito interessante relacionado à Sensação é o de Adaptação Sensorial, que se refere à diminuição na sensibilidade de um estímulo que é mantido constante. É o que ocorre quando estamos submetidos a uma mesma estimulação e depois de algum tempo, deixamos de senti-la. O olfato, mais do que a visão e a audição, possui uma enorme capacidade adaptativa. No início da exposição a um odor muito forte, a sensação olfativa pode ser bastante forte também, mas, após um minuto, aproximadamente, o odor será quase imperceptível.

É difícil delimitar até onde vai a sensação e onde começa a percepção. Por este motivo, ultimamente, temos utilizado o termo Sensopercepção para designar tanto o processo de sentir quanto o de interpretar as sensações. Podemos considerar que as sensações envolvem predominantemente elementos neurofisiológicos e as percepções envolvem predominantemente

elementos psicológicos. É como se a sensação fosse uma fotografia do meio, enquanto que a percepção fosse uma pintura.

O termo percepção designa o ato pelo qual tomamos conhecimento de um objeto do meio exterior. A percepção não é uma fotografia dos objetos do mundo determinada exclusivamente pelas qualidades objetivas do estímulo. Na percepção, acrescentamos aos estímulos elementos da memória, do raciocínio, do juízo e do afeto, portanto, acoplamos às qualidades objetivas dos sentidos, outros elementos subjetivos e próprios de cada indivíduo.

Nossa percepção não identifica o mundo exterior como ele é na realidade, e sim como as transformações, efetuadas pelos nossos órgãos dos sentidos nos permitem reconhecê-lo. Assim é que transformamos fótons em imagens, vibrações em sons e ruídos. e reações químicas em cheiros e gostos específicos. Na verdade, o universo é incolor, inodoro, insípido e silencioso.

Assim, já se pode responder a uma das questões tradicionais dos filósofos: há som, quando uma árvore desaba numa floresta, se não tiver alguém para ouvir? Não, a queda da árvore gera vibrações e o som só ocorre se elas forem percebidas por um ser vivo capaz de identificar tais vibrações como estímulos sonoros. (BALLONE, 2003, s. p.).

A percepção consiste na apreensão de uma totalidade e sua organização consciente não é uma simples adição de estímulos locais e temporais captados pelos órgãos dos sentidos. Nossa experiência (consciência) de mundo revela que não temos apenas sensações isoladas dele, ao contrário, o que

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chega à consciência são configurações globais, dinâmicas e perfeitamente integradas de sensações. Embora as sensações não nos ofereçam, em si mesmas, o conhecimento de mundo, elas representam os elementos necessários ao conhecimento sem os quais não existiriam percepções.

A percepção se relaciona diretamente com a forma da realidade apreendida, enquanto a sensação se relacionaria a fragmentos esparsos dessa mesma realidade. Ao ouvirmos notas musicais, por exemplo, estaríamos captando fragmentos, mas a partir do momento em que captamos uma sucessão e seqüência dessas notas ao longo de uma melodia, estaríamos captando a forma musical.

A percepção não resulta do simples encontro entre um cérebro simples e as propriedades físicas de um estímulo. Na verdade, as percepções diferem, qualitativamente, das características físicas do estímulo, porque o cérebro extrai dele informações e as interpretam em função de experiências anteriores com as quais ela se associe.

A percepção difere de uma pessoa para outra e dela mesma em situações diferentes. A percepção é um processo ativo e não um resultado de excitação passivamente recebida dos órgãos dos sentidos.

As Ilusões Perceptuais

As ilusões de percepção ocorrem quando se percebe de maneira errônea as características reais de um objeto ou de uma imagem. Nossos sentidos são simplesmente enganados por alguma variável circunstancial (iluminação, distância, efeitos ópticos etc.) ou deixam-se superar por alguma emoção.

É o caso, por exemplo, de um ruído qualquer, parecer-nos passos misteriosos, das manchas num papel serem percebidas como símbolos religiosos, de um barulho indefinido soar-nos como alguém nos chamando e assim por diante. Sem dúvida, tais acontecimentos estão impregnados pelo medo, pela necessidade religiosa, pela saudade ou por qualquer outro tipo de emoção.

A Importância do estudo da sensação e da percepção para o curso de Comunicação Social

Sensação é a porta de entrada, é a conexão, entre o mundo externo e o mundo interno. Seu processo se dá pelos sentidos do corpo humano. As portas de entrada do corpo humano são constituídas de células receptoras, responsáveis pela informação dada ao cérebro. Sensação é a detecção, tradução da informação sensorial bruta. Já a percepção refere-se à integração e interpretação dessas sensações. Tal integração é permeada pela história de vida, pelas circunstâncias atuais, pelas cognições e afetos que direcionamos àquele estímulo.

Toda a nossa constituição enquanto indivíduos passa pela sensação e pela percepção. A maneira como sentimos e interpretamos essas sensações é única, é constituída na nossa história de vida e nos diferencia dos demais sujeitos da nossa e de outras espécies. Sensação e percepção são a base de todos os outros processos psicológicos.

Seé importante para o comunicólogo conhecer seu público alvo, para que possa elaborar a melhor estratégia para abordá-lo, então é essencial para ele conhecer como esse indivíduo sente e percebe o mundo a sua volta. Qual a melhor cor, a melhor textura, a melhor construção gramatical, a melhor comunicação não-verbal? Tudo isto depende de

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saber observar o outro e de fazer inferências sobre o comportamento e sobre os processos psicológicos subjacentes.

[...] Por isso projete-se dentro dos consumidores, compreenda-os nos seus sentimentos, a razão de seus atos, os seus pensamentos. Classifique a pessoa interessada, examine-a, meça-lhe as aptidões, descubra o que ela necessita, estabeleça as necessidades, peça informações, inspecione, crie descontentamentos com o “status quo”. (SANT’ANNA, 2002, p. 98).

Considerações Finais

Influenciados pelo contexto filosófico e religioso de nossa época, tendemos a acreditar que os processos psicológicos básicos são unicamente humanos. Entretanto, levando-se em conta o Evolucionismo, parece lógico defender que não: se temos ancestrais comuns aos demais seres vivos, provavelmente eles (em diferentes escalas) apresentam também processos como pensamento e linguagem rudimentares.

Talvez o futuro nos mostre novas maneiras de olhar os cérebros de animais usando técnicas avançadas como o PET e MRI, que nos permita decidir se eles estão usando circuitos cerebrais semelhantes aos nossos para desempenhar funções cerebrais superiores. A capacidade intelectual humana não surgiu do nada. Nós herdamos, com certeza, uma parte considerável do processamento perceptual e cognitivo de nossos predecessores primatas, de forma que não é nem um pouco surpreendente que os nossos primos mais próximos, os antropóides, os tenham também. (SABBATINI, 2004, s. p.).

Ao contrário do comportamento de outras espécies animais, uma grande parte do comportamento humano é culturalmente aprendida. No estudo dos seres humanos modernos, é importante também reconhecer que grande parte de nosso comportamento não é inato

ao sistema nervoso, mas, sim, culturalmente aprendido.

[...] como esse animal singularmente frágil conseguiu se espalhar por todo o planeta, sobreviver nas condições mais extremas e ser capaz de dominar todos os tipos de ambiente, até mesmo o espaço sideral?  O que nos distingue das outras criaturas vivas? O que nos faz unicamente humanos? Esta tem sido uma indagação angustiada desde que Darwin nos “tirou” o status de espécie dominante do universo [...] (CARDOSO; SABBATINI, 2004, s. p.).

Os processos psicológicos básicos atuam em conjunto: ocorrem tão intrinsecamente juntos que torna-se difícil, inclusive, estudá-los separadamente. Possuem uma base biológica comum, mas têm a possibilidade (e necessidade) de serem modificados com a experiência individual. Assim, somos resultado de milhões de anos de evolução, mas somos também resultado de uma história cultural e individual.

Somos controlados pela nossa história genética, pela nossa história cultural, mas temos a capacidade (e por que não dizer, o dever?) de alterarmos o curso da história. 

SÍNTESE DA UNIDADE

A constituição do indivíduo possui, como já vimos, três grandes aspectos: filogênese, ontogênese e sociogênese.

Os processos elementares, que nos constituem participante da espécie Homo sapiens, são a base para o desenvolvimento dos processos psicológicos – hoje compreendidos em uma perspectiva materialista.

O materialismo leva em conta que tudo que ocorre em um nível comportamental, possui um correspondente orgânico (cerebral), e que esses dois – cérebro e comportamento – se auto-determinam e modificam, mediados pela cultura.

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Os processos psicológicos de sensação e percepção são construídos a partir dessa base filogenética e servem de estrutura para o desenvolvimento de todos os demais processos psicológicos, tais como atenção, memória, pensamento, linguagem, aprendizagem, motivação, emoção, vontade, inteligência etc.

Tais processos ocorrem intrinsecamente juntos, tanto que fica difícil de separá-los. Ao entrarmos em contato com o mundo, não somente sensação e percepção são acionados, mas todos os demais processos, tais como cognições (inteligência, pensamento) e afeto (emoção e motivação).

Sensação e percepção, são portanto, o início de tudo, mas não ocorrem em separado dos demais processos psicológicos.

Partindo dessa perspectiva materialista, não há como afirmar que os processos psicológicos são unicamente humanos. Na verdade, todos os seres vivos possuem, em diferentes graus de complexidade, os tais processos psicológicos. É difícil aceitar, mas basta raciocinar um pouco mais para concordar que seu animal de estimação apresenta aprendizagem, motivação, emoção etc.