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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
MÍDIA E CONSUMO NA ESCOLA
DONIDA, Ana Leomar 1
MORAES, Denise Rosana da Silva2
RESUMO Este artigo aborda a influência da mídia no consumo dos adolescentes, impulsionados pelas novas formas de acesso ao conhecimento o que gera sensível sedução ao consumo. Assim, coube refletir sobre o lugar que a mídia ocupa e as novas funções que podem desempenhar na vida. O objetivo do estudo foi analisar a relação entre o consumo e a mídia e sua repercussão no âmbito da escola, na busca de reconhecer a importância dos princípios éticos perante o consumo, realizar atividades esclarecedoras para os alunos sobre a influência da mídia nos padrões de consumo e promover estudos relacionados à cultura da mídia e sua influência na vida das pessoas, principalmente no vestir, no comer, nos tratamentos médicos. A abordagem aos conceitos de mídia, padrões de consumo e, o consumo na adolescência foram temas amplamente debatidos com os alunos. A intervenção teve início quando foi socializado o estudo junto à comunidade escolar e foi exibido um filme sobre os padrões de consumo, lendo textos e realizando debate sobre os diferentes tipos de mídia que permeiam o cotidiano de toda a sociedade, também foram desenvolvidas atividades em grupos tendo como tema gerador o poema “Eu Etiqueta”, foram promovidas dramatizações, paródias, danças e coreografias e realizada uma exposição com apresentação para toda a escola como resultado do trabalho. O estudo tornou possível aos alunos elaborar uma percepção sobre o consumo para agir com mais segurança em relação ao consumo e a olhar criticamente a influência da mídia em suas vidas. Palavras-chaves: Educação – Mídia - Consumo - 1. INTRODUÇÃO
O tema deste artigo é o resultado da implementação do Programa de
desenvolvimento educacional realizado no Colégio estadual Jorge Schimmelpheng
na cidade de Foz do Iguaçu, que teve como temática de estudo a influência da mídia
no consumo dos adolescentes. A escolha deste assunto teve como origem a
constatação de que o mundo globalizado exige a adequação dos profissionais ao
desenvolvimento tecnológico não apenas desenvolvendo meios de utilização dos
1 Professor PDE – Docente da disciplina de Educação Física no Colégio Estadual Jorge
Schimmelpfeng em Foz do Iguaçu. 2 Orientadora – Doutora em Educação, docente dos cursos de pedagogia e do Mestrado
Interdisciplinar em Sociedade, Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –UNIOESTE- Campus de Foz do Iguaçu.
recursos disponíveis como participando de uma reflexão crítica sobre o uso que a
sociedade faz de tais recursos, permitindo aos/as educandos/as participarem de
uma formação mais humana e mais crítica.
As Diretrizes Curriculares para o Estado do Paraná (2008) apresentam
considerações importantes sobre a influência da Mídia para os/as adolescentes e
jovens, considerando que a atuação do professor de Educação Física é de suma
importância para aprofundar a abordagem de tais conteúdos. Assim, sugere que os
educadores insiram em sua prática pedagógica as questões que se referem à
supervalorização do modismo, estética, beleza, saúde, consumo, os extremos sobre
a questão salarial dos atletas, seus padrões de vida, preconceito, exclusão,
discutindo a ética que permeia os ambientes esportivos de alto nível, cujos aspectos
são ditados pela mídia (PARANÁ/DCE, 2008).
Sobre as mudanças ocorridas na sociedade com o surgimento das
tecnologias da informação e comunicação (TIC) as diretrizes levam à reflexão das
influências que esses meios exercem inegavelmente na sociedade. Atualmente, os
jovens possuem novas formas de acesso ao conhecimento que poderão culminar
em novas formas de aprendizagem e de sedução dos jovens ao consumo. Por isso,
importa refletir sobre o lugar que a mídia ocupa e as novas funções que podem
desempenhar na nossa vida.
Entende-se a necessidade da formação dos/as professores/as para essa área
específica da TIC. Segundo Vesce (2008), etimologicamente, a palavra mídia
significa meio, derivada do latim médius, assim, compreende-se que uma mídia
educacional é um meio através do qual se transmite ou constrói conhecimentos. A
mídia publicitária tem como principal função convencer um indivíduo a consumir
determinado produto. Assim, nota-se a influência dessa mídia cada vez mais no
comportamento dos jovens.
Macluhan, (2000) assevera que no ano de 1993 foram abolidas as restrições
para o uso comercial da Internet e a World Wide Web tornou-se acessível ao
público, os usuários podiam então encontrar, facilmente, os sites de organizações
comerciais e mesmo sem fazer suas compras em lojas listadas nas Páginas
Amarelas. A atenção e o interesse das empresas foram despertados para as novas
oportunidades oferecidas pelo novo meio, crescendo a presença dos sites
comerciais na rede.
Pensando na escola, a evolução tecnológica é constante, e isso torna clara a
necessidade de aprendizagem contínua em relação à sua utilização como
consequência natural do momento social que se vive, a ponto de se afirmar que esta
é a sociedade do conhecimento.
No entanto, a escola ainda não aborda a contento a discussão necessária
para contribuir com a reflexão crítica para que os/as jovens não se tornem
consumistas por causa da influência da Mídia. Os próprios instrumentos
tecnológicos são motivo de consumo desordenado, os/as jovens desejam comprar
celulares, tablets, computadores, aparelhos de TV 3D, cada vez mais modernos e
sedutores. Diante disso, a escola necessita criar instrumentos que permitam educá-
los para analisar o consumo desenfreado, pois principalmente os recursos
tecnológicos são moda e se tornam extremamente sedutores, o que tem contribuído
para o aumento do consumo.
Assim, coube investigar se a escola desenvolve conhecimentos eficientes na
promoção da consciência cidadã e ética perante o consumo. O objetivo estabelecido
para a pesquisa foi analisar a relação entre o consumo e a mídia e sua repercussão
no âmbito da escola, tomando como objetivos específicos de pesquisa reconhecer a
importância dos princípios éticos perante o consumo, realizar atividades
esclarecedoras para os alunos sobre a influência da mídia nos padrões de consumo
e promover estudos relacionados à cultura da mídia e sua influência na vida das
pessoas, principalmente no vestir, no comer, nos tratamentos médicos.
2. A MÍDIA E O CONSUMO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
Ao estabelecer conceitos de mídia, torna-se necessário considerar que a
sociedade contemporânea convive com avanços tecnológicos que se desenvolvem
com muita rapidez, colocando o mundo em comunicação permanentemente, além
disso, a globalização econômica, que promove esses avanços, torna as informações
um produto altamente valorizado. Para Rezende (2002) essa sociedade passa por
uma profunda transformação, onde as atividades humanas precisam ser repensadas
e reavaliadas de modo crítico, pois nessa revolução informacional a força intelectual
é substituída por computadores e a principal mercadoria passa ser a informação
digital.
Para Rischbieter (2010), a civilização ocidental que durante muito tempo
manteve a educação presa a dados classificados encontra-se diante de um
processo inadequado para lidar com essa nova cultura, pois, atualmente as pessoas
se comunicam com ícones e sons, sem a necessidade de palavras, o que coloca em
xeque a necessidade de habilidades como escrever e ler. A digitalização do
conhecimento desempenha um papel de tecnologia intelectual reorganizando a
visão de mundo de seus usuários e modificando seus reflexos mentais.
Esse contexto necessita ser reconhecido como um meio de comunicação,
mas também como um instrumento mediador entre os sujeitos e o conhecimento.
Silverstone (2002, p.33) explica que “a mídia deve ser pensada como um processo
de mediação”, pois ela ultrapassa os pontos de contato entre os textos e seus
leitores, provocando engajamento com base nos textos mediados. A mediação
promove mudança no significado de um texto para outro, também discursos e, mais
ainda, entre interlocutores. Essa transformação circula em forma escrita, oral e
audiovisual, sendo que cada interlocutor colabora em sua produção.
No entanto, é necessário desenvolver a percepção de todos os recursos
tecnológicos são bons, os aspectos negativos estão relacionados ao que as pessoas
fazem com as mídias.
Lembremo-nos de que nenhuma técnica de comunicação, do telefone à internet, traz por si mesma a compreensão. A compreensão não pode ser quantificada. Educar para compreender a matemática ou a disciplina determinada é uma coisa; educar para a compreensão humana é outra. Nela encontra-se a missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade (MORIN, 2002, p.93).
Como o próprio nome diz mídia serve para fazer a mediação entre a
informação e o sujeito, no entanto o que os sujeitos vão fazer com as informações,
embora pareça responsabilidade de cada um, é também responsabilidade da escola
e da família, pois as ferramentas que permitem aos jovens realizar esse
processamento de informações é a educação e a afetividade que estabelecem em
forma de valores. O maior problema da mídia é mediar à chegada de informações,
pois segundo Coelho (1998) o conteúdo das informações são determinantes,
geralmente os produtos da indústria cultural são bons ou maus, alienantes ou
reveladores, conforme a mensagem eventualmente por veiculadas nestes
conteúdos.
A mídia é instrumento de formação de opinião e de produção de discursos na
sociedade contemporânea, porém é preciso investigar os efeitos ideológicos do
discurso das propagandas e mensagens de outros meios de comunicação que são
responsáveis pela criação de estereótipos para alguns segmentos sociais.
Neste aspecto a educação se torna imprescindível, pois tem como finalidade
preparar os sujeitos para o exercício da cidadania. É preciso considerar que no
mundo permeado pelas mídias a escola precisa preparar para a vida em sociedade,
desenvolvendo princípios éticos e valores que possam fazer com que as pessoas
utilizem todos os recursos disponíveis com equidade e sabedoria. Além disso, as
DCE‟s indicam para a disciplina de educação física o desenvolvimento de uma
consciência crítica em relação à cultura corporal, que atualmente sofre pela
interferência da mídia que atua transformando o corpo em espetáculo ou como
objeto de consumo (PARANÁ/DCE, 2008).
Os padrões de consumo fazem referência às relações sociais, atualmente a
mídia dita os padrões de consumo, incitando por meio de comunicação publicitária o
consumo nas pessoas. As relações sociais e os meios de comunicação se
incumbiram de criar durante o século XX uma geração dependente do consumo, que
vem sendo alvo de assédio midiático cada vez mais cedo. A publicidade cria
situações de consumo que envolve um bebê que ainda nem nasceu (BOMENY et
al., 2010).
Quando se fala em padrão de consumo, dificilmente as pessoas lembram de
que gerar bens de consumo implica em exploração de recursos naturais, que os
bens que saem da moda e são abandonados ferem o poder de compra e interferem
no ecossistema, tornando o modismo no vestir ou no calçar um problema ou uma
irracionalidade.
A cidadania abre e fecha possibilidades dos indivíduos consumirem
determinados produtos. A educação, a segurança pública, o acesso aos bens
culturais podem ser considerados direitos dos cidadãos, mas também há que se
considerar que existem deveres em relação ao consumo consciente, pois as
escolhas de cada um têm consequências sobre o meio ambiente, sobre as relações
de trabalho e sobre a distribuição de riquezas (BOMENY, 2010).
Em relação ao consumo, torna-se necessário pontuar que o adolescente por
estar em constante mudança, não age de acordo com a racionalidade econômica, o
que impossibilita aos profissionais de marketing criar uma teoria permanente que
leve à compreensão aprofundada da mente desse tipo de consumidor, desta forma
os pontos de influência são os marcos mais consideráveis em relação ao
desenvolvimento de marketing que identifique a influência na decisão de compra dos
adolescentes (CARTER; MCGOLDRICK, 1995).
Para os jovens, a competição que a aparência bem cuidada desenvolve traz
benefícios, não é raro adolescentes exigirem dos pais roupas e calçados de marca,
pois estas interferem na imagem que as outras pessoas fazem do sujeito, assim
cabe à escola problematizar esses conceitos que possam deixar claro aos jovens
que as aparências são enganosas e podem trazer problemas para o cotidiano.
Percebe-se que existe na conquista do consumo a criação de necessidades
que os indivíduos, muitas vezes, não têm, mas que passam a existir por força do
desejo despertado pela publicidade veiculada pela mídia. Atualmente, muitos
adolescentes usam roupas da moda e demonstram preocupação em estar na moda
e em usar roupas com marca e, principalmente, etiqueta, pois observam que se
usam marca e moda são mais bem aceitos na sociedade, ou evitam ser hostilizados
pelos colegas, além disso, a roupa de marca é um indicador de superioridade entre
os jovens dessa faixa etária (PAPALIA, 2006).
Costa (2009) comenta que o consumismo se apresenta como um eixo da
economia que decorre da convivência social, dessa forma o consumo se
transformou no etos das sociedades atuais. Muitos jovens cultuam o corpo, para
eles a imagem é fundamental para impressionar. A grande maioria dos jovens que
age assim pertence à classe média baixa e acredita que poderá alcançar melhores
posições sociais se comportando desta maneira. Mas se a escola desenvolver meios
para que o aluno reflita de maneira crítica sobre a economia doméstica e realizar
debates e projetos que levem à formação de valores éticos e morais, pode-se
melhorar as relações entre os jovens e o consumo.
Pinheiro et al. (2006, p. 86) comenta que a teoria da racionalidade econômica
contribui para construir estratégias mais aprofundadas do que acontece na mente do
consumidor, principalmente adotando conhecimentos de psicologia que ajudem a
compreender os fatores cognitivos, motivacionais e emocionais envolvidos nos
processo de escolha e decisão de compra.
No caso dos adolescentes, a influência pode vir de diferentes elementos, pois
a idade torna-se um poderoso agente de ligação, onde estes jovens passam mais
tempo com os amigos e menos com a família, porém eles não abandonam as
influências familiares, pois mesmo convivendo muito tempo com amigos, a base
segura para experimentar as suas asas ainda são os pais.
Segundo Papalia (2006, p. 148) o tempo de convivência dos jovens com a
família é reduzido drasticamente na adolescência, os pais que trabalham procuram
compensar os adolescentes incentivando o consumo, premiar a ausência dos pais
com produtos tecnológicos e roupas de marca é um incentivo à formação de
pessoas que passarão a valorizar apenas a aparência. Desta forma, é possível
perceber as causas da influência da música, e da mídia sobre os adolescentes, pois
atualmente os jovens permanecem por longo tempo ouvindo música, ou no
computador navegando em redes sociais, ou simplesmente diante da televisão,
adotando a postura e a maneira de trajar dos seus ídolos socialmente construídos
(PAPALIA, 2006).
Para Bock (2002) o jovem nessa fase desenvolve o interesse pela experiência
subjetiva representada pela poesia, pelos versos, narrativa ou outros elementos que
se encontram presentes na música, no teatro e até mesmo na leitura. Neste aspecto,
o adolescente adota a moda de um artista ou segue os preceitos de um ídolo porque
sonha em ser igual ao seu ideal de pessoa, o ídolo apresentado pela mídia, nada
mais é do que esse ideal escolhido e imitado. No entanto, é necessário considerar
que a criatividade subjetiva é uma continuação do jogo infantil e emocional que
ajuda o adolescente a explicar a realidade de maneira mais clara.
A influência dos artistas jovens na vida dos adolescentes faz com que eles
mudem o seu visual, a sua postura, atitudes, gestos, ditando o comportamento e
suas relações com as outras pessoas. Isso vem sendo objeto de estudo de quem
produz mídia, moda, estilo, estética, pois é uma vertente de tendências que podem
mudar de maneira muito rápida, mantendo os estoques de roupas e de produtos
muito efêmeros, pois para este tipo de influência a não sazonalidade pode acontecer
em qualquer época (PAPALIA, 2006).
Por tudo isso, a disciplina de Educação Física tem como um dos seus
aspectos fundamentais, promover a interação do aluno com os outros alunos e com
o mundo, cabendo-lhe desenvolver uma formação crítica e reflexiva capaz de
desenvolver valores que possam permitir aos jovens uma formação crítica acerca
deste tema.
3. O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO O projeto de intervenção foi desenvolvido com alunos da educação básica do
Colégio Estadual Jorge Schimmelpfeng na cidade de Foz do Iguaçu. A apresentação
do projeto para comunidade escolar aconteceu durante a semana pedagógica e teve
início com a apresentação de um filme documentário denominado “Criança, a alma
do negócio”, seguido da análise de uma charge, da apresentação de slides com os
objetivos da intervenção pedagógica.
Na primeira semana de aula foi apresentado o projeto para os alunos e
também foi apresentado o documentário “Criança, a alma do negócio”, o que
contribuiu para que os alunos iniciassem uma reflexão sobre a relação existente
entre a mídia e o consumo.
Foi também apresentado um quadro com as palavras, moda, dinheiro, corpo,
beleza, mídia e marca, sendo solicitado aos alunos que demonstrassem o que já
sabem sobre cada uma delas por escrito. Em seguida foi realizada uma reflexão a
respeito da mídia e sua influência no cotidiano das pessoas na atualidade.
Na aula seguinte propôs-se aos alunos a leitura reflexiva do poema “Eu
Etiqueta” (Carlos Drummond de Andrade) para depois discutir a relação existente
entre as marcas dos produtos e a influência na juventude, foram resolvidos
exercícios sobre a relação entre o corpo e a mídia.
O módulo III foi planejado de forma a promover a realização de filmes de curta
metragem caseiros em grupos abordando o tema mídia e consumo, cada grupo
abordou em seu roteiro um tema, conforme proposto no plano de intervenção, grupo
1: Mídia e vestimenta (Moda); grupo 2: Mídia e novas tecnologias (dinheiro e poder.);
grupo 3: Mídia e alimentação (corpo e beleza); grupo 4: Lixo e consumo ((Mídia e
marcas), sendo que cada grupo foi formado com 8 componentes que elaboraram
roteiros narrativos com personagens ou elaboraram documentários após pesquisas
e informações.
A última atividade realizada foi firmada uma parceria com um acadêmico do
Curso de Letras da UNIOESTE, vencedor do Prêmio Kikito (Prêmio do Festival de
Gramado) que realizou uma oficina de cinema na produção de curta metragem com
os alunos.
No final das atividades foi reapresentado o quadro com as palavras, moda,
dinheiro, corpo, beleza, mídia e marca, para que os alunos demonstrassem o que
aprenderam sobre cada uma delas por escrito.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS O resultado apresentado no quadro a seguir teve a participação de 35 alunos
que preencheram o quadro no início da intervenção e repetiram a mesma análise
após as aulas reflexivas desenvolvidas.
Conceito No início da intervenção No final da intervenção
MODA A maioria dos alunos considerava que a moda era algo para tornar as pessoas mais felizes, para não se sentirem inferiorizadas, pois seguindo um padrão de uso igual aos outros são bem aceitas socialmente.
A moda, na visão dos alunos passou a ser uma indução ao consumo, de levar os jovens a sentir necessidades irreais, em nome do consumo a mídia incita os jovens a adquirir produtos que não precisa, apenas para ser visto pelos outros ou para pertencer a um grupo.
DINHEIRO O dinheiro, segundo os alunos, é um bem, pois permite a aquisição de tudo o que as pessoas precisam para ter conforto, beleza, alegria, importância social.
O dinheiro quando é dissociado dos valores morais é prejudicial, pois muitas pessoas fazem qualquer coisa por dinheiro, roubam, matam, exploram as pessoas e, isso gera desigualdade e leva as pessoas à destruição. Assim, para eles o dinheiro deve resultar do trabalho e ser suficiente para proporcionar segurança às pessoas.
CORPO Os alunos consideram que o corpo se tornou um dos principais motivos do ser humano buscar a perfeição, pois a ciência permite que os corpos sejam moldados por meios de exercícios em academias, cirurgias plásticas, maquiagens, implantes, entre outros.
Atualmente, o ser humano desenvolve a idolatria ao corpo e muitas pessoas chegam a ser mutiladas para atingir um corpo que agrade às outras pessoas, pessoas que morrem por causa da corpolatria, valorizando excessivamente uma perfeição física.
BELEZA A beleza, para a maioria dos alunos é a busca da perfeição, quando uma pessoa não é bela, ela alcança a beleza usando recursos da ciência para moldar a silhueta e transformar o rosto, os cabelos, a pele de forma a se tornar agradável aos olhos dos outros.
A mídia influencia as pessoas a consumirem mais moda e produtos de beleza para serem bem aceitas socialmente, isso reflete a ideologia do capitalismo.
MÍDIA A mídia é motivador da busca pela beleza, a riqueza, a perfeição aparente das pessoas. É a mídia que apresenta os modelos a serem seguidos mostrando gente bonita e perfeita fisicamente, objetos dignos de serem comprados, tecnologias que facilitam a vida das pessoas.
A mídia age na sociedade a serviço do capitalismo e influencia as pessoas pro meio de programas de televisão, novelas, propagandas para as pessoas consumirem mais e possuírem coisas às quais não necessitam para mobilizar a indústria de bens de consumo.
MARCA As marcas, segundo a percepção dos alunos, são produtos que devem ser usados para garantir o respeito das pessoas diante de uma posição social. Só usa produto de marca quem tem dinheiro, portanto, indica status usar uma roupa ou um tênis de marca, e outros objetos que merecem usados por causa da marca.
As marcas não são apenas as garantias de direitos autorais das empresas, mas sim a representação de um status social, uma etiqueta equivale a um rótulo social, as pessoas valem pela marca que usam e não pelos valores que apresentam.
As atividades desenvolvidas com os alunos levaram à externalização de
conceitos que antes os alunos não possuíam. As afirmações de alguns alunos
contribuem para demonstrar o resultado do desenvolvimento do projeto com os
alunos do terceiro ano do Ensino Médio.
Assim, identificando os alunos por uma letra e um número (A1, A2)
apresentam-se algumas afirmações realizadas por eles durante a realização da
intervenção.
Sobre a indústria da juventude, os alunos afirmaram:
(A1): “A mídia influencia as pessoas... O termo juventude, muitas vezes, está
associado a um padrão de beleza que envolve diversas formas de cuidados para
esconder a idade e causar a impressão de juventude eterna”.
(A8): “A moda atual está focada mais para os jovens, os pais acabam sendo
obrigados a imitar os filhos, não se trata de fingir uma mocidade que se ausenta da
pessoa, mas o modo adotado pela vida objetiva é o juvenil e força os adultos a essa
adoção, Os prazeres, costumes e modas acabam seduzindo os pais. Devemos
assumir nossas realidades, deixando de ser o que querem que sejamos, mas
assumindo o que queremos ser”.
As afirmações dos alunos a respeito da indústria da juventude estabelecem a
constatação de que eles foram tocados pelo que leram e sentiram durante a
realização do projeto de intervenção na escola, formando concepções que permitem
serem mais críticos em relação á sedução da mídia e da sociedade a respeito do
consumo. Assim, foi possível perceber a importância das aulas de Educação Física
ao desenvolver temas como a supervalorização do modismo, estética, beleza,
saúde, consumo, dinheiro, padrões sociais de vida, preconceito, exclusão, e
inserindo a discussão sobre a ética que permeia os aspectos sociais que são ditados
pela mídia, conforme sugere as DCE‟s para o trabalho nas aulas desta disciplina
(PARANÁ, 2008).
Também os alunos expressaram considerações a respeito do massacre do
corpo, que foi estudado de maneira crítica por meio de leituras e vídeos.
A aluna (A7) afirmou: “O corpo é explorado atualmente, tanto pelas formas de
produção provocando desgastes durante a jornada de trabalho, tornando o corpo
uma máquina, quanto pelo massacre do consumo, pois por meio dos ideais
vigentes, as pessoas são induzidas a consumir, para não se sentirem excluídas do
contexto social”.
A (17) declarou que: “A mídia é responsável pelo desenvolvimento da cultura
do corpo, pois relaciona esta cultura ao bem estar, à saúde, divulgando centenas de
formas de se conseguir um corpo escultural, As pessoas que não se enquadram
neste contexto, são excluídas de determinado grupo social”.
Diante de tais afirmações percebe-se que o papel da escola precisa estar
adequado ao que Morin (2002) afirmou a respeito das mídias e da comunicação,
pois elas não se fazem compreender criticamente, elas apenas induzem à formação
de um pensamento, cabendo à escola ensinar a analisar criticamente essa sua
inserção. Segundo é preciso que a escola eduque para a compreensão humana de
forma a garantir o desenvolvimento social, intelectual e moral.
Outro assunto também debatido foi à questão relacionada à massificação do
conhecimento realizada pela mídia, que neste caso foi colocado para os alunos
como a personificação de estátuas pensantes, ou seja, a ausência de reação em
relação ao se ouve, lê ou assimila das informações recebidas.
Sobre o termo „estátuas pensantes‟ (A28) declarou: “A estátua observa tudo
ao seu redor, mesmo vendo os fatos acontecerem ao seu redor ela continua
estática, não encontra motivos para se convencer de mudanças e continua solitária
e parasita”.
Da mesma forma (A17) explica: “Há que se desenvolver a diversidade de
pensamentos e opiniões, pois ninguém pode ser obrigado a utilizar moda, consumir
produtos apenas porque a mídia estabelece, é preciso fazer para acontecer”. Neste
contexto, fazer e acontecer, significa pensar por si e de maneira crítica decidir o que
deve usar ou fazer, sem se deixar influenciar pela mídia, ou pela sociedade.
Diante de tudo o que foi estudado percebe-se que a disciplina de Educação
Física possui um importante papel no desenvolvimento social e intelectual dos
alunos, principalmente, favorecendo uma visão crítica a respeito dos muitos tipos de
massacre que o ser humano vem sofrendo ao longo do tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do projeto de intervenção dentro do Programa de
Desenvolvimento Educacional trouxe benefícios específicos dentro da atuação na
disciplina de Educação Física, pois foi possível desenvolver com os alunos uma
visão crítica do culto ao corpo e do consumo, que vem sendo tão influenciado pela
mídia nas últimas décadas.
Com o objetivo de analisar a relação entre o consumo e a mídia e sua
repercussão no âmbito da escola, foi possível desenvolver leituras críticas e debates
a respeito da importância dos princípios éticos perante o consumo, as atividades
realizadas contribuíram para esclarecer os alunos sobre como a mídia influencia os
padrões de consumo, discutindo as questões relacionadas à massificação dos
costumes e a influência que a mídia exerce sobre os corpos das pessoas. Foi
possível refletir junto com os alunos sobre as diferentes maneiras de se vestir,
comer, praticar atividades físicas e realizar tratamentos médicos de acordo com
objetivos que são impulsionados naturalmente pelas necessidades reais ou pela
influência da mídia numa busca irreal pela perfeição que não existe ou pela
aceitação social.
A realização de uma oficina de cinema permitiu aos alunos reconhecer os
processos usados pela mídia para influenciar a sociedade em benefício do capital,
pois foi possível aos alunos perceber como ocorre o financiamento da mídia para
realizar essa inserção na vida social induzindo ao consumo que gerem mais capitais.
Diante da constatação de que este projeto foi desenvolvido com alunos do 3º
ano do Ensino Médio percebe-se que é importante que sejam realizados estudos
abordando estas temáticas desde o ensino fundamental, desenvolvimento uma visão
crítica que poderá imprimir um sentimento de libertação nas pessoas já em sua
formação. Assim, muitos cidadãos passarão a valorizar mais a sua essência e sua
saúde sem se deixar manipular pela mídia e a escola estará desenvolvendo a sua
função social de formar as pessoas para serem verdadeiramente cidadãs de acordo
com padrões morais pautados na convivência saudável com seus iguais.
Não há como deixar de expressar o agradecimento por esse momento tão
importante de formação no PDE, espaço e tempo respeitados, e com isso pudemos
evidenciar uma ação fecunda no campo da escola, junto aos alunos e aos colegas
professores.
Importante também pontuar o contexto de vida, este ano (2014), o exame
nacional do Ensino Médio (ENEM) elencou como tema da redação a publicidade
infantil, vários alunos que haviam participado dos estudos sobre o tema em minha
ação na escola, vieram agradecer e informar que haviam podido ser críticos acerca
do tema, por conta da nossa ação de formação.
REFERÊNCIAS
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