Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação...

101
DÉBORA CRISTINA SIQUEIRA ACETI Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação Superior Brasileira Universidade Cidade de São Paulo UNICID SÃO PAULO 2011

Transcript of Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação...

Page 1: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

DÉBORA CRISTINA SIQUEIRA ACETI

Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação

Superior Brasileira

Universidade Cidade de São Paulo

UNICID

SÃO PAULO

2011

Page 2: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

1

DÉBORA CRISTINA SIQUEIRA ACETI

Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação Superior Brasileira

Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, com Linha de Formação Específica em Políticas Públicas de Educação, junto à Universidade Cidade de São Paulo – UNICID – sob orientação da Profa. Dra. Celia Maria Haas.

Universidade Cidade de São Paulo UNICID

SÃO PAULO 2011

Page 3: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

371.350981 A158p

Aceti, Débora Cristina Siqueira, 1977- Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação Superior Brasileira / Débora Cristina Siqueira Aceti. – São Paulo: [s.n], 2011.

103f.: il. Bibliografia Orientador: Prof.ª Celia Maria Haas, Dra. Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São

Paulo. 1. Ensino a Distância - Brasil. 2. Tutores a Distância. 3.

Docentes – Perfil I. Haas, Celia Maria. II. Universidade Cidade de São Paulo. III. Título.

22.ed. CDD – 371.350981

Page 4: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

2

_____________________________________

Prof. Dr. Julio Gomes Almeida

_____________________________________ Profa. Dra. Regina Magna Bonifácio de Araújo

_____________________________________

Profa Dra. Celia Maria Haas

COMISSÃO JULGADORA

Page 5: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

3

Dedico ao pequenino Arthur, meu filho, que

representa a forma mais pura e transparente do meu

futuro e da minha vida, e que na altura de seus dois

anos, teve maturidade para compreender e aceitar

minha ausência durante esta pesquisa.

Page 6: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

4

AGRADECIMENTOS

A gratidão é um dom divino e recai sobre “anjos” que em inúmeros momentos

de incerteza, solidão e dor estiveram ao meu lado, às vezes me dando as mãos,

outras me puxando e em muitos momentos me carregando em suas asas.

Agradeço ao meu filho Arthur, que cursou comigo em meu ventre as aulas

magistrais do mestrado, e que com o seu sorriso e alegria foi um incentivo a

construção deste trabalho.

A minha mãe, Marinilza (in memorian), que foi quem me colocou no mundo da

pedagogia, das letras, do ensinar, e que despertou o amor pela Educação.

Ao meu pai, Luiz Carlos, que através do exemplo e da retidão de caráter

acrescentou em minha vida bens valiosíssimos que são: o amor, a dedicação e o

comprometimento.

Ao meu irmão, Aceti, que me mostra a cada dia o valor irrefutável do amor

fraterno e da construção possível dos sonhos, obrigada.

À minha mestra, na concepção pura da palavra, Profa. Dra. Celia Haas, que

teve força e paciência para me guiar, tornando-se uma grande amiga e direcionando

o meu andar em todos os momentos, sendo mais que uma luz no final do túnel.

Aos amigos de mestrado que convivi ao longo destes anos, e que já me

fazem muita falta.

Aos fiéis e insubstituíveis amigos do meu trabalho, que compartilham toda a

dor e alegria na escrita desta pesquisa.

Aos autores, que ao longo do trabalho “discutiram” e me emprestaram a visão

acerca do tema abordado.

Aos amigos que leram com paciência, resiliência e empatia.

Aos tutores que, de forma acessível, sempre estiveram prontos em me

atender e auxiliar na construção das entrevistas.

Page 7: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

5

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

(Fernando Pessoa.)

Page 8: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

6

RESUMO ACETI, Débora Cristina Siqueira. Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação Superior Brasileira. 2011. 103 f. Dissertação (Mestrado em Educação)–Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID, São Paulo, 2011. O presente trabalho tem por objetivo conhecer o perfil dos tutores a distância de uma instituição privada de Educação Superior e a percepção dos mesmos em relação ao significado e importância da Educação Superior e da Educação a Distância (EaD). Tem também o propósito de identificar a influência da formação acadêmica na atuação desta função. A hipótese do trabalho é que as características de formação acadêmica dos tutores a distância que exercem as atividades na Educação Superior são insuficientes como suporte pedagógico ao trabalho com as ferramentas tecnológicas atuais presentes na EaD. A pesquisa de caráter qualitativo foi realizada por meio de questionário enviado a 92 tutores, e o levantamento das informações foi completado com a entrevista de 10 profissionais deste grupo. A coleta de dados teve por escopo desvelar a composição do corpo de tutores atuantes na instituição estudada. Os resultados obtidos demonstram uma visão preconceituosa sobre a EaD, principalmente nos tutores formados - graduação ou pós-graduação - nas instituições públicas. Observou-se que, os tutores com formação nas áreas de exatas, apresentam um entendimento da Educação e da EaD atrelada as questões de mercado de trabalho e a qualificação profissional. Obtivemos como resultado positivo a demonstração que a ausência de ferramentas virtuais ao longo da graduação ou pós-graduação, não inviabilizam o trabalho nesta modalidade de ensino, e que há uma adequação do conteúdo teórico e prático destes profissionais para trabalhar com inovações em ambiente de ensino e aprendizagem, como também a relevância que eles atribuem à modalidade na contribuição da transformação social individual e da coletividade do aluno. Palavras-chave: Educação a Distância. Tutores a Distância. Perfil.

Page 9: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

7

ABSTRACT

ACETI, Débora Cristina Siqueira. The Tutors on Distance Learning: a new professional on Brasilian Higher Education. 2011. 103 f. Dissertation (Máster Degree in Education)–Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID, São Paulo, 2011. The present academic work aims to understand the profile of Higher Education Private Institution Distance Education tutors and their perception in relation to the meaning and importance of Higher Distance Education. It also has the purpose of identify the influence of academic background in this role. The hypothesis is that the characteristics of Distance Education tutor academic studies who teaches in Universities are insufficient as pedagogical support for this job because of the educational work with the current technological tools present in the Distance Education. The qualitative study was conducted through a questionnaire sent to 92 tutors, and a survey information was supplemented with interviews of 10 professionals in this group. The data collection aimed to reveal the composition of the group of tutors working in the institution studied. The results obtained demonstrate a prejudiced view on the Distance Education, especially in trained tutors - undergraduate or graduate - in Public Institutions. It was observed that tutors trained in the areas of exact sciences, have an understanding of education and distance education issues tied to the labor market and vocational training. We obtained a positive result demonstrating that the absence of virtual tools throughout the undergraduate or graduate, do not impede the work in this type of education, and that there is a adequacy of theoretical and practical content of these professionals to work with innovations in teaching environment and learning, as well as the importance they attach to the form the contribution of individual and social transformation of the student community. Word Key : Distance Education. Distance Learning Teachers. Profile.

Page 10: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

8

LISTA DE ABREVIATURAS

AA Auto-Aprendizagem

AAD Aprendizagem Aberta e a Distância

ABED Associação Brasileira de Educação a Distância

ABE-EaD Associação Brasileira dos Estudantes de Educação a

Distância

AbraEAD 2008 Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a

Distância 2008

AIM Articulated Instructional Media Project

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior

CD-ROM Compact Disc-Ready Only Memory

CF Constituição Federal da República Federativa do Brasil

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CMC Comunicação Mediada pelo Computador

CNPQ Centro Nacional e Pesquisas e Desenvolvimento

Tecnológico

CPB Corporation for Public Broadcasting

EaD Ensino a Distância

FCC Federal Communication Commission

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FUNTEVÊ Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa

GEOCAPS Dados Georreferencias da CAPES

IES Instituição de Ensino Superior

IESP “A” Instituição de Educação Superior Particular “A”

INEP/MEC Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação e Cultura

MEC/SENEB Ministério da Educação e Cultura e Secretaria de Educação

Básica

OEA Organização dos Estados Americanos

Page 11: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

9

PAT Posto de Atendimento ao Trabalhador

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PG Pós-Graduação

PNE Plano Nacional da Educação

PRO-LICENCIATURA Programa de Formação Inicial

PRONTEL Programa Nacional de Teleducação

SACI Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares

SATE Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais

SEED/MEC Secretaria de Educação a Distância do Ministério da

Educação e Cultura

SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

SINRED Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa

TAC Termo de Ajustamento de Conduta

TICS Tecnologias da Informação e Comunicação

UA Universidade Aberta

UAB Universidade Aberta do Brasil

Page 12: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Programa “Um Salto Para O Futuro” – Série ensino fundamental número

de cursistas e de telepontos segundo o ano e a unidade da federação.....................30

Tabela 02 Número de IES que ministram graduação a distância.............................30

Tabela 03 Mídias utilizadas, por região geográfica ..................................................35

Tabela 04 Cinco gerações de Educação a Distância ...............................................36

Tabela 05 Megauniversidades .................................................................................38

Tabela 06 Elementos de um curso ou programa on-line de alta qualidade..............46

Tabela 07 Funções dos tutores a distância na Educação a Distância .....................49

Tabela 08 Funções do professor em EaD................................................................50

Tabela 09 Paralelo entre as funções do professor e do tutor...................................52

Tabela 10 Distribuição das instituições por classificação jurídica (agrupado)..........81

Page 13: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

11

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Distribuição dos cursos UAB por modalidade..........................................28

Gráfico 2 Presencial x EaD ......................................................................................58

Gráfico 3 Gênero tutores.........................................................................................65

Gráfico 4 Quantidade de graduações......................................................................66

Gráfico 5 Pós-Graduação latu e stricto sensu dos tutores ......................................66

Gráfico 6 Distribuição de pós-graduação por nível..................................................67

Gráfico 7 Regime das IES - graduação e pós-graduação pelos tutores..................80

Gráfico 8 Contato com ferramentas EaD durante a graduação e a pós-graduação81

Page 14: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

12

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................13

1 A EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA NO CONTEXTO NACIONAL E

INTERNACIONAL......................................................................................................19

1.1 As Interfaces da Educação a Distância ............................................................29

2 OS DOCENTES DO ENSINO A DISTÂNCIA – TUTORES ....................................41

3 COMPREENDENDO A EaD ...................................................................................58

3.1 Metodologia ........................................................................................................60

3.2 Entrevistas ..........................................................................................................63

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................86

4.1 Conclusão ...........................................................................................................91

REFERÊNCIAS..........................................................................................................93

Page 15: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

13

INTRODUÇÃO

O interesse pela temática surgiu através da reflexão de experiências

acadêmicas, entretanto, a formação adquirida ao longo dos anos, não possibilitou o

preparo para o cenário tecnológico atual.

Em 2004, atuando como docente na Educação Superior permitiu vivenciar o

ingresso da tecnologia na dinâmica da sala de aula, de forma indelével, mas não

imperceptível. Desta forma, foi possível observar os reflexos na gestão, na didática e

na forma que o conhecimento era posto em sala de aula, porém, sem possuir a

exata dimensão da complexidade da Educação a Distância (EaD).

A possibilidade inicial de compartilhar o material didático em pastas na

internet, de acesso irrestrito ao aluno, foram as primeiras ações nesta direção,

sendo que durante a formação acadêmica, os professores disponibilizavam cópias

reprográficas de cadernos, anotações e artigos em pastas nas papelarias da referida

faculdade.

A cada semestre uma inovação era implantada, inicialmente com a entrega

parcial de atividades em ambiente virtual, até alcançar a oferta de 100% de algumas

disciplinas na modalidade a distância, atendendo as Diretrizes Curriculares e a

Portaria do Ministério da Educação e Cultura (MEC) 4.059/2004, que permite a

oferta de 20% da carga horária total do curso nesta modalidade para cursos já

reconhecidos.

Ao assumir a gestão do curso, como Coordenadora e posteriormente como

Diretora de uma Instituição Privada de Educação Superior, um novo cenário da

Educação que até então era desconhecido surgiu, a extensão da percepção em

relação ao meio educativo era apenas acadêmica, de sala de aula, desconhecendo

os meandros da administração de pessoas e números, como também o preparo dos

docentes para que pudessem lidar com as ferramentas tecnológicas.

Os avanços tecnológicos se faziam presentes também nas ferramentas de

gestão, em que as reuniões antes presenciais, passaram para reuniões satelitárias,

e recentemente para reuniões via videoconferência em ambiente virtual.

A adaptação ocorreu de forma rápida, visando acompanhar as inovações

postas, e possibilitar que não existisse defasagem nos aspectos acadêmicos ou

mesmo de gestão, entre as inovações apresentadas, a didática da abordagem e o

aprendizado do aluno.

Page 16: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

14

Diante da nova fase profissional e com as demandas cotidianas foi necessária

a qualificação e discussão do cenário. Houve confrontos de conceitos, ideais e

perspectivas frente ao ensino, didática e a gestão, e principalmente a constituir uma

inquietude quanto aos docentes que estavam diretamente ligados com a Educação a

Distância.

Iniciou-se uma discussão de quais eram os aspectos necessários para a

relação ensino-aprendizagem em ambiente virtual, como se davam as interações

entre aluno e professor, as necessidades, características e possibilidades postas à

formação do docente e do aluno, além da real eficiência deste ensino. Assim,

através de pesquisas de autores como Moran, Litto e Belloni, descobriu-se uma

forma de ensinar mais flexível, moldada às diferentes situações de aprendizagem.

Além dos conhecimentos adquiridos, surgiram também as plataformas de

ensino, as nomenclaturas do ambiente virtual, como tutores presenciais, tutores a

distância, tutores conteudistas, Moodle (LAPA; PRETTO, 2010) entre outros

recorrentes.

A observação também se pautou na facilidade de docentes mais jovens, aqui

considerados aqueles nascidos a partir da década de 70, em se adaptar as

ferramentas e as inovações, e a dificuldade que docentes mais experientes tinham

em criar novas visões e técnicas de ensino.

Frente ao novo e desconhecido, diante da curiosidade em descobrir e fazer

parte das inovações, ou permanecer na zona de conforto, a melhor opção

certamente foi a inovação que consentiu explorar a curiosidade frente ao ambiente

virtual.

O início da reflexão se deu através de levantamento de dados da Educação

Superior e da EaD, onde foi possível analizar o crescimento expressivo desta

modalidade, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), que comprovam que de 2003 a 2006 os

cursos de graduação ofertados na modalidade a distância passaram de 52 para 349,

um aumento de 571%, acompanhado pelo número de alunos, de 49 mil em 2003

para 207 mil em 2006, o que representa um aumento de 315%.

Assim, foi possível levantar que os profissionais envoltos na docência da EaD

em sua grande maioria não utilizam ou nem mesmo tiveram acesso às ferramentas

tecnológicas da Educação a Distância em sua formação acadêmica, compreendidas

como graduação e pós-graduação.

Page 17: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

15

Os dados coletados no presente trabalho demonstram este relevante ponto,

sendo que 86% dos pesquisados nunca tiveram contato com as ferramentas

tecnológicas virtuais nos bancos de escola.

Com a aprovação da Lei n. 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) em seu artigo 80, possibilitou a abertura do ensino a

distância em todas as modalidades de ensino, e com o Decreto n. 5.622/05, que

regulamenta o ensino a distância, houve a abertura para a EaD nas salas de aula,

que tomou uma dimensão avassaladora e exigiu dos docentes e gestores uma

rápida adaptação às inovações.

O projeto de Lei n. 8035/2010 do Plano Nacional da Educação (PNE)1 2011-

2020, ainda pendente de aprovação, prevê a utilização de “tecnologias pedagógicas”

que visem estimular e articular a Educação no campo e nas áreas indígenas,

“universalizar o acesso à rede mundial de computadores”, ampliar a oferta das

vagas na Universidade Aberta do Brasil (UAB) e expandir a oferta de cursos de pós-

graduação stricto sensu utilizando metodologias, recursos e tecnologias de

Educação a Distância.

Cabe frisar que o instrumento do PNE de 2005-2008, Lei n. 10.172/2001,

trazia em seu texto a denominação de “tecnologias educacionais”, que visavam o

enriquecimento instrumental pedagógico, em que o uso de recursos tecnológicos

deveriam ser utilizados para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem no

fundamental, e atualizar os professores do mesmo nível.

O PNE 2011-2020, também utiliza a terminologia de tecnologias

educacionais, mas inova ao trazer o termo de tecnologias pedagógicas como uma

forma de aliar inovações acadêmicas, principalmente otimizando o tempo e as

atividades didáticas entre a escola e o ambiente comunitário, principalmente para a

Educação do campo e da indígena.

O Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE), lançado em 2007, prevê a

modalidade EaD como uma forma de garantir os objetivos do PNE, possibilitando a

formação e qualificação dos professores, visando atender as exigências mínimas

presentes na LDB como também retomar a articulação entre ensino médio e técnico,

1 O Plano Nacional de Educação (PNE) é resultado do debate entre duas propostas, uma encaminhada pelos movimentos sociais organizados, denominada Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira, e outra oriunda do Poder Executivo. Na tramitação do PNE prevaleceu a proposta do Executivo, incorporando alguns pontos defendidos pelos segmentos sociais organizados (MEC, 2012).

Page 18: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

16

através da abertura oriunda do Decreto 5.154/2004.

O Decreto n. 5.800/06 em seu artigo 1º criou a UAB, com a premissa de ser

“voltada para o desenvolvimento da modalidade de Educação a Distância, com a

finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de Educação

superior no País”.

A proposta precípua é ofertar cursos de licenciatura e qualificação aos

professores atuantes na Educação básica do país, como também a capacitação dos

gestores e dirigentes equalizando as desigualdades de acesso à Educação Superior

Nacional.

Assim, o recorte do trabalho acompanha este cenário tecnológico da EaD, em

que a relação de ensino não é mais o único fator a ser observado, mas sim a

flexibilidade do docente em respeitar e compreender as necessidades,

características e o tempo de aprender de cada aluno.

Desta forma não se opta em utilizar a terminologia de professor, mas sim

tutor, por este ter as características de acompanhar o estudo e figurar a perpasso

com o estudante e seu aprendizado.

Parte-se da hipótese que as características de formação acadêmica dos

tutores da Educação a Distância que exercem as atividades na Educação Superior

são insuficientes como suporte pedagógico para o trabalho com as ferramentas

tecnológicas atuais presentes nesta modalidade.

Com base na hipótese estabeleceram-se três questões norteadoras para esta

pesquisa:

1. Quem são os tutores da Educação a Distância?

2. Qual é a formação inicial destes tutores?

3. Qual é a percepção destes tutores em relação a modalidade de Educação

na qual atuam?

Nesse sentido, ficaram definidos os objetivos:

• Mapear a formação específica para o exercício da tutoria.

• Compreender como e se a área de formação impacta diretamente na visão

da Educação Superior e na EaD.

• Discutir a influência desta formação na visão do tutores sobre a Educação

Superior e frente a modalidade a distância nesse grau de ensino.

Page 19: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

17

A opção pelo campo da pesquisa foi por uma grande instituição de ensino

particular, em que há a oferta de cursos na modalidade a distância e presencial,

tendo docentes e tutores com diversas características de formação e oriundos de

instituições privadas e públicas do país. O projeto de pesquisa contou com a

autorização da instituição e obteve ainda aprovação do respectivo Comitê de Ética.

Visando preservar a instituição e possibilitar transparência ao trabalho, a

instituição e os tutores que responderam a entrevista terão as identificações

preservadas.

A IES, neste trabalho será identificada como Instituição de Educação Superior

Privada “A” (IESP “A”).

A opção em estudar os tutores a distância da IESP “A” pauta-se

principalmente por possuir profissionais de várias áreas do conhecimento, distintas

faixas etárias, como também possuir profissionais formados por instituições públicas

e particulares, o que garante uma diversidade no perfil pesquisado.

A pesquisa com os tutores IESP “A” viabilizará a possibilidade de através de

dados dos pesquisados, a reflexão sobre a importância da formação inicial e

continuada dos mesmos para a atuação na modalidade a distância da Educação

Superior.

A escolha em analisar uma instituição privada justifica-se pelos dados do

Censo da Educação Superior do INEP/MEC de 2008, a qual esclarece que perante

as instituições de Educação superior no Brasil, 90% são instituições privadas e 10%

instituições públicas, estas divididas entre 4,1% federais, 3,6% estaduais e 2,7%

municipais. Ressalta-se que “o maior número de faculdades (93,1%) e de centros

universitários (96%) está vinculado ao setor privado, enquanto as universidades

estão distribuídas em proporção aproximada entre setor público e privado, 53% e

47% respectivamente” (INEP/MEC, p. 9).

Com foco nas instituições privadas, denota-se que estas correspondem com

79,6% do ingresso de alunos na Educação Superior, sendo que apenas 20,4% estão

a cargo das Instituições de Ensino Superior (IES) públicas.

As instituições privadas, conforme Anuário Brasileiro Estatístico de Educação

Aberta e a Distância 2008 (AbraEAD 2008), representam 63,6% de cursos ofertados

no país na modalidade EaD, frente às públicas, como também detém 82,9% de

alunos nesta modalidade.

Page 20: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

18

Deste modo, há toda uma reestruturação das relações anteriormente

desenhadas, em que a entrada do setor privado em situações e ações anteriormente

exclusivas do poder público, trouxe uma nova forma de gestão, visão e interpretação

da Educação Superior, como também das necessidades e da forma de abordagem

em sala de aula.

O trabalho concluído foi organizado de maneira a facilitar o entendimento do

leitor e para tanto se compõem em três capítulos.

Na introdução, apresenta-se o projeto de pesquisa que subsidiou o trabalho e

o tema abordado, destacando a relevância pessoal e social e a atualidade do tema

abordado.

No primeiro capítulo, da Educação Superior a Distância no Contexto Nacional

e Internacional, é apresentado o cenário com os apontamentos históricos e legais

que embasam a pesquisa e que possibilitam a compreensão do atual modelo de

EaD presente no país. Há uma abordagem sobre esta modalidade de ensino, seus

conceitos e fundamentos, como também uma ampla discussão do método e dos

profissionais envolvidos.

No segundo capítulo, Docentes da Educação a Distância - Tutores, há a

discussão da EaD voltada principalmente às características e habilidades destes

profissionais, o posicionamento do aluno frente ao processo de ensino

aprendizagem como também a estruturação da Educação dentro das ferramentas

tecnológicas.

No terceiro capítulo, Compreendendo a EaD, propõe-se a metodologia da

pesquisa e todos os dados coletados junto à Plataforma Lattes e os apontamentos

das entrevistas realizadas. Todos os dados são estruturados em autores que

discutem o tema ao longo do trabalho.

Nas considerações finais há a construção através da análise teórica

levantada nos dois primeiros capítulos, com a reflexão dos dados coletados no

terceiro. Desta forma, surge a discussão do cenário nacional frente ao modelo e as

carências dos docentes, como também uma análise de nossa história nos modelos

educacionais hoje implantados destacando-se o alcance da investigação feita e os

seus resultados. Esclarece a trajetória percorrida e propõe futuros desdobramentos

frente a EaD.

Page 21: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

19

1 A EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA NO CONTEXTO NACIONAL E

INTERNACIONAL

Uma lei da divina harmonia que preside o mundo, prende as grandes questões sociais; emancipar e instruir é a forma dupla do mesmo pensamento político. Que haveis de oferecer a esses entes degradados, que vão surgir da senzala para a liberdade? O batismo da instrução. Que reservareis para suster as forças produtoras, esmorecida pela emancipação? O ensino, esse agente invisível, que, centuplicando a energia do braço humano, é sem dúvida a mais poderosa das máquinas de trabalho (BASTOS apud BARBOSA, 1947, p. 179).

A primeira Constituição Nacional foi outorgada pelo imperador D. Pedro I, em

25 de março de 1824, trazendo em seu texto a gratuidade da instrução primária, a

criação de colégios e universidades, administração centralizada e o ensino da

religião católica, o que também possibilitou uma “revolução cultural que, embora

lenta, culminou de certa forma na introdução de hábitos de pensamento e ação que

vigoravam na Europa do século XIX” (ROMANELLI, 2009, p. 38).

O modelo seguido em sua implantação valorizava o pragmatismo, que

orientou a modernização da Universidade de Coimbra no século XVIII e a

desvinculação do ensino e pesquisa científica, trazido pelo modelo napoleônico.

Desta fusão de correntes, o sistema nacional foi criado visando formar profissionais

liberais, para sanar as lacunas nacionais e auxiliar na descoberta de novas riquezas

(SAMPAIO, 2000, p. 40-41).

Ressalta-se que no mundo já se observava práticas de ensino a distância, por

correspondência, sendo que em 1840 Isaac Pitmam ofertou na Grã-Bretanha, cursos

de taquigrafia por correspondência e em “1880 o Skerry´s College ofereceu cursos

preparatórios para concursos públicos. Em 1884, o Foulkes Lynch Correspondence

Tuiton Service ministrou cursos de contabilidade” (LITTO; FORMIGA, 2009, p. 2). Os

cursos de instrução entregues pelo correio, chamados de estudo em casa e estudo

independente pelas universidades, foram os primeiros passos para a “instrução por

um professor a distância (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 25).

No final deste século, leia-se XIX, haviam relatos de ensino a distância no

Brasil por correspondência de cursos profissionalizantes de datilografia (LITTO;

FORMIGA, 2009).

Page 22: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

20

A utilização do estudo por correspondência para cursos superiores foi

utilizada pela primeira vez pela Chautauqua Correspondence College, fundada em

1881, “rebatizada de Chautauqua College of Liberal Arts em 1883, e autorizado pelo

Estado de Nova York a conceder diplomas e graus de bacharel por

correspondência” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 26).

No Brasil ainda se tentava estruturar a Educação nacional, e possibilitar a

expansão do ensino superior, sendo que a Constituição de 1891 fixou a competência

ao Congresso Nacional de legislar, privativamente, sobre o ensino superior, e aos

Estados sobre ensino secundário e primário, e “ainda, criar e manter escolas

primárias, secundárias e de ensino superior, sem prejuízo de que também o governo

federal pudesse fazê-lo” (SANTOS, 2003, p. 28).

A Constituição de 1891, em seu art. 35, possibilitou a criação de instituições

privadas de ensino superior e descentralizou o poder de legislar, dando abertura aos

governos estaduais.

Um dos maiores defensores da Educação nacional foi Rui Barbosa, que

estruturava seu pensamento sobre Educação como uma “alavanca ou motor de

desenvolvimento” (MACHADO, 1999, p. 2), de uma forma visionária e idealista,

discutia as questões educacionais separadas das demais lutas que ameaçavam a

sociedade.

Vislumbrando atender as demandas sociais e garantir o seu progresso, este

pensamento estava estritamente relacionado ao acesso da população à Educação,

possibilitando naquela época, que os escravos libertos e a população de baixa renda

tivessem o acesso ao trabalho qualificado, trazendo ao mundo o olhar determinante

que “a oportunidade de obter Educação estaria aberta a pessoas de todas as

origens sociais” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 27).

Dentro desta ótica, as instituições deveriam assumir um papel mais atuante

na sociedade, desvencilhando-se de antigos conceitos e atuando de forma mais

incisiva no progresso e na “instrução nas artes práticas de agricultura, engenharia,

administração e economia doméstica” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 27).

No início do século XX, com o surgimento do rádio, gerou-se uma expectativa

e otimismo pela utilização desta tecnologia para impulsionar a Educação e garantir o

acesso da população menos privilegiada, “não é sonho imaginário vislumbrar a

escola do amanhã como uma instituição inteiramente diferente daquela de hoje, por

causa do uso do rádio no ensino” (PITTMAN, 1986, p. 78).

Page 23: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

21

A primeira instituição a obter autorização para atuar como emissora

educacional foi a Latter Day Saint’s, da Salt Lake City University, nos Estados

Unidos, em 1921 (MOORE; KEASRLEY, 2007).

No Brasil, em 1923, fundou-se a primeira experiência de radiodifusão com

finalidade educativa, chamada de Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, iniciativa de

Edgard Roquette Pinto (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 83).

Esta rádio, em 1936, foi doada ao Ministério da Educação e Saúde pela

“possibilidade de transmissão de programas considerados subversivos,

especialmente pelos revolucionários da década de 1930” (ALVES, 2009, p. 9).

Em 14 de novembro de 1930, foi criado o Ministério dos Negócios da

Educação e Saúde Pública, sendo que em 1946 foi alterado para Ministério da

Educação e Cultura (MEC), pelo entendimento que a Educação estava incorporada

no processo cultural da população. “Observa-se que até 1930, inexistia um

Ministério específico para a Educação e os assuntos eram tratados por órgãos que

tinham outras funções principais, mas que cuidavam, também, da instrução pública”

(ALVES, 2009, p. 9).

Vale apontar que em 1985, foi retirado do MEC a atuação e responsabilidade

frente à Cultura, retornando-a em 1992, tendo o seu nome alterado para Ministério

da Educação e do Desporto.

A função normativa do MEC foi descentralizada em 26 de fevereiro de 1996,

passando a ser controlada pelo Conselho Nacional de Educação.

Retomando o caminhar legislativo, encontramos na linha do tempo as

Constituições de 1934 e 1937 que são baseadas nas premissas dos conceitos

democráticos da Educação como um direito para todos, sendo o Estado e a família

responsáveis pela sua efetivação, vivenciava um momento de decisão e ruptura, de

um lado a sociedade exigindo a democratização do ensino e do outro o controle das

elites, o que ocasionou uma abertura na oferta de vagas na Educação, como se

observa:

O que se verificou, a partir daí, foi o fato de a expansão do sistema escolar, inevitável, ter-se processado de forma atropelada, improvisada, agindo o Estado mais com vistas ao atendimento das pressões do momento do que propriamente com vistas a uma política nacional de educação. É por isso que cresceu a distribuição de oportunidades educacionais, mas esse crescimento não se fez de forma satisfatória, nem em relação quantidade, nem em relação a qualidade (ROMANELLI, 2009, p. 61).

Page 24: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

22

A abertura de vagas na Educação, de forma não planejada, teve o intuito de

atender as pressões populares, não se estruturando para respaldar esse

crescimento, ocasionando um sério problema de qualidade, objetivando-se apenas a

quantidade.

Nos Estados Unidos, desde 1934 se optou por uma nova tecnologia para

impulsionar a Educação, a televisão.

A televisão educativa começava a ser desenvolvida na State University of

Lowa, inicialmente de forma tímida, com transmissões de temas de higiene oral e

astronomia, até em 1939 ter atingido quase 400 programas educacionais (MOORE;

KEARSLEY, 2007).

Enquanto a utilização da tecnologia, rádio e depois televisão eram discutidas

como forma de ampliar o acesso a Educação, e possibilitar que o ingresso e o

acesso a informação se desse de forma ampla e quase sem limites, no Brasil ainda

se discutia o auxilio e a assistência aos alunos carentes, conforme texto legal das

Constituições de 1946 e 1948.

A televisão possibilitou a Educação o início de uma nova fase, em que a

possibilidade de dar forma ao que antes era apenas voz (rádio), contagiou os

profissionais ligados a área. Nos Estados Unidos, em 1962 houve um financiamento

federal para a implantação de uma televisão educativa, e em 1967 a aprovação da

Lei para Instalação de Televisão Educativa, estabelecendo a Corporation for Public

Broadcasting (MOORE; KEARSLEY, 2007).

No Brasil a televisão educativa teve sua expansão na década de 1960 e 1970,

principalmente com a entrada do Código Brasileiro de Telecomunicações em 1967,

que em seu art. 38, “d”, determinou que os serviços de radiodifusão estivessem

subordinados às finalidades educativas e culturais do país, e que incluindo as

televisões, no art. 38, “h”, deveriam "destinar 5% de seu tempo para a transmissão

de serviço noticioso”.

As primeiras experiências na utilização da televisão na Educação nacional,

através de circuito fechado, foram:

[...] em 1960, a Universidade de Brasília introduz a tecnologia educacional no ensino superior por meio do ensino de programa individualizado. [...], essa foi uma oportunidade para o treinamento dos professores que constituíam a equipe docente da universidade (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 83).

Page 25: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

23

Esta experiência de ensinar por meio da televisão, possibilitou capacitar os

docentes da equipe da Universidade de Brasília, otimizando os recursos e

introduzindo no cenário nacional as tendências tecnológicas que estavam presentes

no mundo.

A Constituição de 1967 fixou no art. 176, §2°, que “o ensino é livre à iniciativa

privada, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos,

incluindo mediante bolsas de estudos".

A filiação do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA) trouxe à

pauta nacional as premissas preconizadas por esta entidade, que os países

membros deveriam priorizar os programas educativos de radiodifusão e televisão,

considerados meios eficientes para acelerar a transformação social, frisando que:

[...] recomendava-se, também, a formação de pessoal nas técnicas de utilização de rádio e televisão educativas e a promoção de uma coordenação permanente para evitar a dispersão de recursos nos campos educacional, tecnológico e econômico. Foi exatamente na Conferência Internacional da OEA, em 1969, que o termo teleducação, abrangendo todas as atividades educativas pelo rádio, televisão e outros meios audiovisuais a distância, passou a ser adotado pelos países membros (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 83).

Com o ingresso na OEA, o Brasil iniciou programas que permitissem explorar

as premissas preconizadas por aquela entidade, formando profissionais por

intermédio da rádio e televisão educativas.

Assim, em 1969 criou-se o Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais

(SATE), com o objetivo de fixar diretrizes para uma política na utilização destas

novas tecnologias educacionais no país, como se pode observar:

[...] foram desenvolvidos projetos educacionais destinados aos cursos supletivos, como o Minerva, que proporcionou a interiorização da educação básica por meio da Rádio MEC, e os telecursos de primeiro e segundo graus. Desenvolveram-se igualmente projetos voltados à melhoria do nível de professorado como o Projeto Saci, os da Funtevê e o Logos (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 84).

O Projeto Minerva foi concebido pela parceria entre MEC, Fundação Padre

Anchieta e Fundação Padre Landell de Moura, com base na Lei 5.692/71, visando a

Educação de adultos, na preparação destes para os exames supletivos de

Capacitação Ginasial e Madureza Ginasial (MENEZES, 2002).

Page 26: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

24

O Projeto SACI, criado em 1974 pela parceria entre o MEC, Centro Nacional e

Pesquisas e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (INPE), era a sigla de Satélite Avançado de Comunicações

Interdisciplinares, que era voltado à Educação primária via satélite com um formato

de telenovela, visando atender as quatro primeiras séries do primeiro grau da época

(MENEZES, 2002).

A Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa (FUNTEVÊ) era

responsável pela coordenação político-administrativa e pela operação do Sistema

Nacional de Radiodifusão Educativa (SINRED), este era responsável pela

veiculação em todas as emissoras educativas de “uma programação constituída por

programas produzidos por todas as integrantes” (FRADKIN, 2006). A partir de 1990

a Funtevê passou a ser denominada Fundação Roquette Pinto.

O Ministério das Comunicações baixou o Decreto-Lei nº 236 de 28 de

fevereiro de 1967, que determinava em seu art. 13 as finalidades da televisão

educativa, com a delimitação de seus programas e a vedação expressa da

transmissão de qualquer propaganda, direta ou indiretamente. No art. 16, fixava a

obrigatoriedade da transmissão de programas educacionais nas emissoras

comerciais, com a estipulação de horário entre as 7 e as 17 horas e a sua duração,

máximo de 5 horas semanais.

O Ministério da Educação, com o advento da Lei n° 5.692/71, fixou as

Diretrizes e Bases para o Ensino de 1° e 2° graus em que estipulava no art. art. 25,

§2°, que no ensino supletivo poderia ser mediante a utilização de rádio, televisão,

correspondência e outros meios.

Nos Estados Unidos, em 1972, a Federal Communication Commission (FCC)

estipulou que as operadoras de TV a cabo ofertassem material educativo, vinculado

a necessidade de pelo menos um canal neste formato, com a designação de

telecursos (MOORE; KEARSLEY, 2007), assim:

Em meados da década de 1980, existiam cerca de 200 telecursos de nível universitário produzidos por universidades, faculdades comunitárias, produtores privados e estações transmissoras públicas e comerciais, distribuídos pelos próprios produtores ou pela Corporation for Public Broadcasting (CPB) (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 33).

A Corporation for Public Broadcasting (CPB) criou telecursos de nível

universitário, que previam a integração de “programas de televisão com livros

Page 27: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

25

didáticos, guias de estudo e guias para o corpo docente e para a administração”

(MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 33).

A Europa, de forma a reestruturar a Educação a Distância, resultante da

junção de tecnologia com recursos humanos, possibilitou na EaD “novas técnicas de

instrução e a uma nova teorização da Educação” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p.

34).

No final da década de 1960 houve a formulação do Projeto Mídia de Instrução

Articulada (Articulated Instructional Media Project - AIM), em que a fusão de

tecnologias, com conteúdo específico, qualidade e custo reduzido à população,

possibilitava um conjunto de tecnologias que visava atender de forma flexível as

necessidades dos estudantes, o que se observa:

As tecnologias incluíam guias de estudo impressos e orientação por correspondência, transmissão por rádio e televisão, audioteipes gravados, conferências por telefone, kits para experiência em casa e recursos de uma biblioteca local. Também articulado no programa havia o suporte e a orientação para o aluno, discussões em grupos de estudo locais e o uso de laboratórios das universidades durante o período de férias (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 34).

O foco no aluno, visando o atendimento de suas necessidades e dificuldades,

fez com que o ensino no modelo da AIM se moldasse em várias mídias, para que

houvesse flexibilização da aprendizagem, atendendo o momento e as características

do estudante, utilizando para tanto uma “equipe de criação de cursos, formada por

profissionais versados em instrução, peritos em tecnologia e especialistas em

conteúdo” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 34).

No Brasil, visando sanar as deficiências de ausência de estratégias na

organização e implantação da EaD, principalmente no que tange ao abordado

acerca da possibilidade desta modalidade no supletivo, criou-se em 1972, o

Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL), vinculado à Secretaria Geral do

MEC, constituindo-se na primeira tentativa de estabelecer “diretrizes para a televisão

e terminou transformando-se em organismo permanente dentro da estrutura

orgânica do Ministério” (BARRETTO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 84).

Em 1979, a Universidade de Brasília iniciou com cursos de extensão

utilizando a tecnologia da televisão, o que garantiu uma vasta experiência nesta área

e que originou em 1989 o Centro de Educação Aberta Continuada a Distância, nesta

mesma instituição.

Page 28: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

26

Em 1985, o Brasil vivenciava uma grande reestruturação política com o fim da

ditadura militar, culminando com a edição de uma nova Constituição Federal (CF)

em 1988.

A Constituição Federal (CF) de 1988 trouxe a Educação como direito social

do cidadão, garantindo-o como direito assegurado e irrestrito a toda a população,

art. 205, como também a liberdade de aprender e ensinar, art. 206, e em seu art.

221, assegura a preferência de produção de programas, em rádio e televisões, de

conteúdo educativo.

Com a aprovação da Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu art. 80, fixa que o “o Poder Público

incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância,

em todos os níveis e modalidades de ensino, e de Educação continuada”.

A LDB quando no art. 87, §3°, III, estipula a necessidade de capacitar todos

os professores em exercício, utilizando os recursos da Educação a distância, como

também no mesmo texto da lei, em seu §4°, estipula a obrigatoriedade de nível

superior aos docentes, abrindo-se imensas possibilidades para a expansão da EaD

no país.

As possibilidades trazidas pela LDB objetivam-se a atender um vasto cenário

nacional, como se pode analisar:

Entre cerca de 800 mil funções docentes de primeira a quarta séries do ensino fundamental arrolados pelo censo escolar em 1998, apenas 21% são exercidas por professores com formação superior, nível preconizado pela nova legislação, sem contar que 11% do total correspondem a professores com apenas o curso de primeiro grau. Se aos docentes das séries, iniciais do ensino fundamental acrescentarem-se os das quatro séries seguintes (54% sem curso superior) e os dedicados à educação infantil, também insuficientemente preparados, estaremos certamente diante de um dos maiores desafios educacionais da virada do século (BARRETTO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 86).

Observa-se que o prazo que a lei estipula para a concretização desta

qualificação aos docentes é de 10 anos, da promulgação da LDB.

O artigo 80 da LDB foi regulamentado pelo Decreto 2.494, de 10 de fevereiro

de 1998, que trazia em seu contexto o conceito de Educação a distância, art. 1°,

diretrizes para autorização e reconhecimento de cursos e credenciamento de

instituições, art. 2°, estabelecendo as regras para o trâmite acadêmico, como

matrículas, transferências, aproveitamento de estudos, certificados, avaliação e

Page 29: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

27

diplomas, art. 3°, como também a punição pelo não atendimento das regras que

estão em seu contexto, art. 9°.

Com o advento do Decreto 2.561, de 27 de abril de 1998, concedeu nova

redação aos artigos 11 e 12 do antigo decreto, ampliando a competência dos

sistemas estaduais e municipais frente ao ensino profissional de nível técnico.

De forma a revogar em sua íntegra os dois decretos anteriores, o Decreto

6.303 de 12 de dezembro de 2007, incorpora o texto quase integralmente dos

decretos revogados, inovando ao trazer a obrigatoriedade dos momentos

presenciais, não apenas nas avaliações, mas também nos estágios obrigatórios, na

defesa dos trabalhos de conclusão de curso e nas atividades de laboratório, quando

previsto esta necessidade na legislação, art. 10, §2º. Na Educação básica, deve ser

praticada apenas na complementação dos estudos. A avaliação terá prevalência nas

demais formas de avaliação presentes, art. 4º, §2º, e as instituições poderão ofertar

cursos de pós-graduação latu e stricto sensu.

Nota-se que a legislação possibilitou a Educação a distância regulamentação

em sua oferta, mas trouxe a avaliação do rendimento dos alunos para meios de

exames presenciais, conforme art. 7º, e os programas de mestrado e doutorado na

modalidade a distância seriam tratados em regulamentação específica, art. 2º, 1º.

O que se observa, como nas assertivas de Gomes (2009) é que a legislação

ao exigir momentos presenciais para o ensino a distância, já faz uma clara distinção

entre o presencial e a distância, sendo que:

O grande problema inerente a legislação e normas é que não se colocava a tônica no substantivo educação, e sim na sua qualificação: presencial ou a distância. Parece haver um pressuposto implícito, de longa data, de que a primeira é mais propícia à lisura e a última se encontra mais permeável às irregularidades (GOMES, 2009, p. 22).

O MEC vem estimulando também a formação dos professores da rede pública

em exercício no ensino fundamental e médio e que não possuem licenciatura,

através do Programa de Formação Inicial (PRO-LICENCIATURA), que oferta cursos

de licenciatura a distância, conforme demonstra abaixo gráfico 01, através de

“parcerias entre IES públicas, comunitárias ou confessionais interessadas, em

parceria” (MORAN, 2007, p. 33).

Diante das possibilidades que se abrem, a EaD no Brasil em 2006, vide

gráfico 1, foi editado o Decreto nº 5.800/06, que estabelece o Sistema Universidade

Page 30: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

28

Aberta do Brasil (UAB), custeado pelo MEC e Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação (FNDE) e mantido pela colaboração da União com os entes federados,

mediante a oferta de cursos e programas de Educação superior em instituições

públicas, como se observa:

Art. 6º. As despesas do Sistema UAB correrão à conta das dotações orçamentárias anualmente consignadas ao Ministério da Educação e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, devendo o Poder Executivo compatibilizar a seleção de cursos e programas de educação superior com as dotações orçamentárias existentes, observados os limites de movimentação e empenho e de pagamento da programação orçamentária e financeira.

O Decreto enfatiza a articulação das instituições públicas de Educação

superior com os pólos de apoio presencial, destinados a amparar de modo

descentralizado as atividades pedagógicas e administrativas relativas aos cursos e

programas. “A articulação entre os cursos e programas e esses pólos se realizará

mediante edital publicado pelo MEC” (GOMES, 2009, p. 23).

Gráfico 1 - Distribuição dos cursos UAB por modalidade

186

82

20 14 6 2

Fonte: GEOCAPES - Dados estatísticos da CAPES (2010).

A UAB visa o oferecimento de cursos de licenciatura e a formação inicial dos

professores ligados a Educação básica, como se observa no gráfico 01, onde 186

cursos estão dentro desta modalidade, como também a capacitação de dirigentes,

gestores e todos os profissionais relacionados a Educação básica, visando levar o

Page 31: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

29

acesso a Educação de qualidade em todo o território nacional, equalizando e

minimizando as diferenças sociais.

1.1 As Interfaces da Educação a Distância

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/96, estabelece em seu

art. 80, que caberá como anteriormente exposto, ao “Poder Público incentivar o

desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os

níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”.

A legislação possibilitou o desenrolar da Educação, em sua modalidade a

distância, visando atender as novas tendências tecnológicas, como também as

inovações oriundas da Educação, comunicação ou mesmo culturais da população.

Nos anos noventa, dois programas de relevante importância para a EaD

nacional se estruturam com base na LDB, sendo que os programas são:

[...] Um Salto para o Futuro e TV Escola, ambos voltados para o aperfeiçoamento de docentes e melhoria da qualidade do ensino. O primeiro, criado na primeira metade da década. O segundo, lançado via satélite em 1995, por meio de um canal de televisão dedicado exclusivamente à educação, gera três horas de programação diária repetida quatro vezes ao dia, permitindo que as escolas gravem os programas de seu interesse para posterior utilização (BARRETTO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 85, grifo do autor).

Com base nestas inovações, podemos observar que o programa “Um Salto

para o Futuro”, produzido pela Fundação Roquette Pinto em parceria com o

Ministério da Educação e Cultura e Secretaria de Educação Básica (MEC/SENEB),

destina-se à “capacitação de professores de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental,

mas pode ser estendido também aos docentes de pré-escola e aos alunos de cursos

de magistério” (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 87).

O programa iniciou-se de forma tímida, e com o passar dos anos, foi se

estruturando e ganhando força e tamanho, como se observa na tabela 1:

Page 32: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

30

Tabela 1 – Programa “Um Salto Para O Futuro” – Série ensino fundamental número

de cursistas e de telepontos segundo o ano e a unidade da federação

Ano N. da Série

Cursistas Telepostos Telesalas

1992 I II

13.357 16361

433 564

600 724

1993 III IV

30.114 35.070

782 914

895 1373

1994 V VI

52.248 50.459

1467 1542

1921 2024

1995 VII VIII

44.528 42.046

1435 1444

1846 1708

1996 IX X

39.891 43.525

1459 1501

1698 1686

Fonte: Barreto, Pinto, Martins (1999, p. 88).

O programa obteve força ao longo dos anos, crescendo principalmente no

número de inscritos na Série Fundamental, que atinge o seu auge em 1994 com

102.707 cursistas, mas depois declinando a procura.

Diante do fortalecimento da oferta da Ead e do aprimoramento das

tecnologias pedagógicas, as Instituições de Ensino Superior (IES) acompanharam a

abertura da LDB em seu art. 80, e rapidamente implantaram cursos que atendessem

a esta modalidade de ensino, observando-se um crescimento nas instituições que

ofertam estes cursos conforme tabela 2:

Tabela 2 – Número de IES que ministram graduação a distância

Fonte: AbraEAD (2008, p. 17).

Ano Nº de

Instituições 2000 7 2001 10 2002 25 2003 38 2004 47 2005 73 2006 77

Page 33: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

31

A agilidade na troca de informações e o aumento das IES ofertando EaD,

refletiram diretamente na necessidade da legislação em se adaptar às exigências e

características desta modalidade de ensino.

Assim, o Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005 que regulamenta o

artigo 80 da Lei 9.394/96, esclarece, fixando o conceito da terminologia da EaD que:

Art. 1º. Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

A definição trazida pelo decreto apenas enfatiza o limite temporal e espacial,

diferente do conceito de alguns autores que pautam a estrutura conceitual da EaD

em aspectos diversos pautados no processo de ensino e aprendizagem, como

veremos ao longo do trabalho alguns autores discordam do artigo supra

mencionado.

Ressalta-se que os limites são fixados principalmente pela forma que se

estrutura a EaD, onde a comunicação entre professor e alunos se desenvolvem

através de meios tecnológicos que na sua grande maioria são assíncronas.

Ao analisar os conceitos de EaD pelos autores da área, verifica-se que há

uma maior ênfase e atenção aos processos de ensino que aos de aprendizagem

(BELLONI, 2009).

Para Moore e Kearsley (2007, p. 2):

Educação a distância é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do local do ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais.

Cabe analisarmos o sentido que este conceito nos traz. A palavra Educação

descreve em seu contexto o ensino e a aprendizagem, de forma a ser estruturado

em uma via de mão dupla, efetivando-se em um local diferente do local do ensino.

Ressalta-se que o ensino presencial, mesmo utilizando recursos e tecnologia, possui

suas decisões e o ponto normal da aprendizagem no mesmo local em que há o

ensino, diferente da EaD (MOORE; KEARSLEY, 2007).

Verifica-se que na EaD o ensino depende da tecnologia, sendo esta a única

ou principal forma de comunicação e interação entre professor e aluno, “o local

Page 34: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

32

normal de aprendizado não inclui a presença do professor” (MOORE; KEARSLEY,

2007, p. 3).

Para Gonzalez (2005, p. 33) a “educação a distância, é uma estratégia

desenvolvida por sistemas educativos para oferecer educação a setores ou grupos

da população que, por razões diversas, têm dificuldade de acesso a serviços

educativos regulares”.

A tecnologia, mesmo sendo essencial e um dos pontos relevantes para a

EaD, não deve ser o foco neste método de ensino, mas sim pautar-se nas

necessidades instrucionais dos alunos, com a observação de suas características,

como também a sua familiaridade com os métodos de EaD (GONZALEZ, 2005).

Ratificando esta observação, Belloni (2009, p. 27), demonstra que a

importância da EaD não é a separação física dos agentes, mas sim que a

“separação no tempo – comunicação diferida – talvez seja mais importante no

processo de ensino e aprendizagem a distância do que a não contigüidade espacial”

devendo se atentar o foco no aluno, visando atender as suas características e

necessidades frente ao ensino.

Para Trindade (1991, p. 17) a “EaD é uma metodologia desenhada para

aprendentes adultos, baseada no postulado que, estando dadas sua motivação para

adquirir conhecimento e qualificações e a disponibilidade de materiais apropriados

para aprender”, eles estão aptos a terem êxito em um modo de auto-aprendizagem

Ocorre que temos inúmeros conceitos, mas que refletem em sua essência

uma modalidade de Educação, em que docentes e alunos não estão no mesmo

lugar de espaço e tempo e utilizam as ferramentas tecnológicas como suporte de

comunicação e interação didática da aprendizagem (MAIA; MATTAR, 2007).

A EaD frente aos conceitos postos pelos teóricos e pela legislação, pode ser

compreendida como um método em que o aluno aprende de forma autônoma e

individualizada, dentro de uma estrutura de construção coletiva do ensinar, tendo a

efetivação da aprendizagem, através de meios tecnológicos, efetivadas em local

diferente de tempo e espaço do momento do ensinar.

O conceito de EaD trazido por Petters, nos possibilita verificar a definição não

apenas em seu contexto de ensino frente a aprendizagem, ou mesmo as

ferramentas tecnológicas, mas sim pelas teorias gerenciais e de produção

arraigadas ao seu pensamento, compreendendo “a partir de princípios que regem a

Page 35: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

33

produção industrial, especialmente os de produtividade, divisão do trabalho e

produção de massa” (BELLONI, 2009, p. 28).

Para Petters (apud SEWART, 1983, p. 96) o conceito de Educação a

Distância:

[...] é um método de transmitir conhecimento, competências e atitudes que é racionalizado pela aplicação de princípios organizacionais e de divisão do trabalho, bem como pelo uso intensivo de meios técnicos, especialmente com o objetivo de reproduzir material de ensino de alta qualidade, o que torna possível instruir um maior número de estudantes, ao mesmo tempo, onde quer que eles vivam. É uma forma industrializada de ensino e aprendizagem.

A teoria de Petters (apud BELLONI, 2009, p. 28), transforma a relação

professor/aluno, pois fixa a natureza da EaD em um “modo mais industrializado de

educação” em que o contato e a interação pessoal não são o foco da Educação,

mas sim a busca pela eficiência.

Os estudos de Petters fazem analogias ao processo de fabricação e

industrialização trazido por Ford (modelo fordista - que se baseava na produção em

massa e em série e na redução dos valores finais de venda ao consumidor).

A Educação foi delineada através dos avanços dos meios de comunicação e

dos transportes, possibilitando a criação de sistemas inusitados de ensino em que

se observava o prelúdio da Educação a distância, através da introdução de métodos

de estudo por correspondência na Europa e Estados Unidos (BELLONI, 2009).

Diante desta analogia, Petters fixa a Educação como uma forma racional de

indústria em que se encontram o trabalho lógico, organizado, fracionado e a

produção em massa, assim o:

[...] estudo a distância é um método racionalizado (envolvendo a definição de trabalho) de fornecer conhecimento que (tanto como resultado da aplicação de princípios de organização industrial, quanto pelo uso intensivo da tecnologia que facilita a reprodução da atividade objetiva de ensino em qualquer escala) permite o acesso aos estudos universitários a um grande número de estudantes independentemente de seu lugar de residência e ocupação (PETTERS apud SEWART, 1983, p. 111).

Desta forma, necessidade de readequar os padrões da Educação e dos

modelos ofertados surge com a discussão de quebra dos paradigmas impostos pelo

sistema fordista, de “caráter passivo do estudante considerado como objeto e como

um público de massa” (BELLONI, 2009, p. 17), mas principalmente pela

Page 36: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

34

necessidade de formar mentes pensantes e ativas que saibam não apenas executar

processos, mas que possam assumir efetivamente a sua criação e implantação.

As teorias mais atuais já desconstroem esta visão trazida por Petters, de

modelo padronizado e mais focado na quantidade de alunos atendidos para um

sistema mais aberto e flexível.

As premissas de produção em massa da oferta de conteúdo para alunos que

desenvolveriam um aprendizado passivo e retilíneo vieram se desconstruindo com o

passar do tempo, visando “construir novas formas de educação adequadas ao

mundo pós-industrial” (EVANS; NATION, 1992, p. 3).

A análise sobre EaD, principalmente a “formação na cibercultura deve ser

fundamentada em uma análise prévia da mutação contemporânea da relação com o

saber” (LÉVY, 2000, p. 57).

Diante desta necessidade de atender as demandas regionais do

desenvolvimento social e da nova estrutura do aprendizado dentro de um contexto

maior, globalizado e interativo, a Educação acompanha as tendências, e nos

deparamos com a “educação aberta”, sendo “conseqüência da pós-modernidade”

(BELLONI, 2009, p. 17).

Desta forma, a necessidade de resgate da auto-aprendizagem (AA) e uma

nova visão no processo de ensino e aprendizagem mais focado ao aluno, devem

orientar os modelos da EaD. Pois os “conceitos presentes nas propostas de AA se

opõem não a uma modalidade de ensino (EaD), mas ao conjunto de teorias,

metodologias e práticas de ensino e aprendizagem propostas pelas tecnologia

educacional” (BELLONI, 2009, p. 32).

As tecnologias educacionais possuem um grande desafio junto a EaD,

possibilitar um ambiente inclusivo em que sejam consideradas as facilidades

tecnológicas e de acesso a estes meios e principalmente garantir “eficiência com

relação aos objetivos pedagógicos (de autonomia do aprendente) e curriculares

(conteúdo e medotologias)” (BELLONI, 2009, p. 55).

A discussão de um sistema de Aprendizagem Aberta e a Distância (AAD) em

que se “caracteriza essencialmente pela flexibilidade, abertura dos sistemas e maior

autonomia do estudante” (BELLONI, 2009, p. 29), vem a tona com as facilidades das

TICS (Tecnologia da Informação e Comunicação) e com as possibilidades da

aplicação da EaD.

Page 37: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

35

Observa-se que a evolução da EaD trouxe o aprimoramento na aprendizagem

e a possibilidade de flexibilizar e combinar meios e formas de ensino à ferramentas

tecnológicas, conforme se denota na tabela 2, ainda há a coexistência de

tecnologias como o e-learning2 (62,9%) e o material impresso (77,1%).

Tabela 3 - Mídias utilizadas, por região geográfica

Centro

Oeste Nordeste Norte Sul Sudeste TOTAL

Midias Utilizadas

Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. %

Material Impresso 11 64,7 16 80 6 85,7 29 70,7 46 83,6 108 77,1

E-Learning 10 58,8 13 65 4 57,1 21 51,2 40 72,7 88 62,9

Televisão 0 0 7 35 4 57,1 9 22 13 23,6 33 23,6

Vídeo 6 35,5 10 50 4 57,1 14 34,1 29 52,7 63 45

Satélite 0 0 3 15 1 14,3 5 12,2 7 12,7 16 11,4

CD 8 47,1 9 45 4 57,1 16 39 32 58,2 69 49,3

DVD 2 11,8 10 50 5 71,4 13 31,7 22 40 52 37,1

Rádio 1 5,9 1 5 1 14,3 3 7,3 5 9,1 11 7,9

Teleconferência 1 5,9 3 15 1 14,3 6 14,6 7 12,7 18 12,9

Videoconferência 5 29,4 6 30 1 14,3 8 19,5 14 25,5 34 24,3

Telefone Celular 2 11,8 4 20 2 28,6 6 14,6 4 7,3 18 12,9

Outras 0 0 1 5 1 14,3 4 9,8 9 16,4 15 10,7

NR/NA 5 29,4 3 15 1 14,3 7 17,1 4 7,3 20 14,3

Total de Instituições 17 20 7 41 55 140

Fonte: AbraEaD ( 2008, p. 64).

A utilização do material impresso ainda é um dos meios mais utilizados no

EaD, 77,1%, seguido pelo e-learning com 62,9%.

As formas de ensino se completam e se perpetuam no meio. Ao olhar as

formas de ensino, podemos acompanhar a evolução na classificação dispostas

abaixo na tabela 4, Moore e Kearsley (2007) fixam de forma objetiva a EaD como 5

gerações específicas que marcam o método de ensino e a visão frente aos recursos

como ferramentas que otimizam o aprender.

2 Ensino mediado por tecnologias eletrônicas.

Page 38: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

36

Tabela 4 – Cinco gerações de Educação a Distância

Fonte: Moore; Kearsley (2007, p. 26).

A primeira geração de estudos por correspondência iniciados no século XIX

desapareceu, pois o “conceito de aprendizagem por correspondência está ligado aos

procedimentos de tutoria utilizados. Esse modelo faz uso de tutoria mediada por

correio” (PALHARES, 2009, p. 48).

O que justificava esse modelo era a forma de interação entre professor e

aluno, que ocorria por meio de cartas. Todo material de aula incluindo textos,

experimentos práticos, provas, trabalhos, dúvidas e pagamentos, eram

intermediados pelos correios. Os professores, por não deterem em sua grande

maioria formação acadêmica em pedagogia ou na área do curso ao qual estavam

ligados, sendo profissionais de mercado com experiência, eram chamados de

instrutores (PALHARES, 2009).

Esses instrutores eram responsáveis pela elaboração do material para os

alunos, correções de provas, trabalhos e auxílio à instituição na elaboração de

atualizações do material didático e do mercado da área de atuação (PALHARES,

2009).

A segunda fase da EaD veio com o advento do rádio que não obteve sucesso

como forma de “cursos instrucionais, com oferta de cursos regulares destinados a

alfabetização de adultos, Educação supletiva e capacitação para o trabalho.

Pesquisas de avaliação revelaram o insucesso dessas experiências considerando os

altos índices de evasão (BIANCO, 2009, p. 56).

O presente foco da Educação via rádio se pauta na aprendizagem aberta que

visa a “construção de conhecimento significativo sobre cidadania, saúde, educação,

meio ambiente, cultura e empreendedorismo” (BIANCO, 2009, p. 56).

Correspondência

Transmissão por rádio

e televisão

Universidades Abertas

Teleconferência

Internet/Web

Page 39: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

37

O Código Brasileiro de Telecomunicações, Lei nº 4.117/62 e o Decreto nº

52.795/63, alterado pelo Decreto 88.067/83, esclarece que a finalidade de qualquer

emissora deve ser educativa e cultural, sendo que as emissoras comerciais devem

reservar cinco horas semanais para a transmissão de programas educacionais (art.

28, 12, “e”).

A idéia precípua da Educação por meio radiofônico é de “transmitir conteúdos

e modelar comportamentos, a aprendizagem por rádio pode colaborar para que o

sujeito aprenda a aprender” (BIANCO, 2009, p. 61).

Na década de 1980 e 1990, a televisão comercial teve a sua expansão na

área educacional veiculando programas voltados para o aperfeiçoamento de

profissionais liberais e treinamentos de corporações, em que vídeos e áudios eram

transmitidos por satélite (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 42).

A EaD e a televisão reforçam esta visão que vem exercendo um papel

fundamental junto a Educação, possibilitando acesso de informação a todas as

classes sociais:

A educação pela televisão é a resposta que está sendo encontrada no mundo inteiro para a profunda injustiça social representada pela desigualdade nas oportunidades de educação. Numa televisão responsável, afinada não apenas com os desejos, mas também com as necessidades de seus espectadores, a consciência comunitária se manifesta ao longo de toda a programação [...] Ela representa a união de uma moderna filosofia de ensino com a mais sofisticada tecnologia disponível para a universalização do conhecimento (MARINHO apud BARRETO, 2009, p. 450).

Na década de 1990, houve um avanço tecnológico e a possibilidade da oferta

de videoconferência denominada de dois sentidos ou multiponto. Era basicamente a

possibilidade de troca simultânea de vídeo e áudio em vários pontos ao mesmo

tempo, pois com o advento da fibra ótica houve a possibilidade de troca rápida de

um maior número de dados, o que possibilitou “a videoconferência entre pequenos

grupos de alunos ou alunos individuais e seus instrutores com o vídeo mostrado nos

computadores pessoais” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 44).

A terceira geração da EaD veio com o advento da Universidade Aberta (UA),

originária da experiência de sucesso do Projeto Mídia de Instrução Articulada

(Articulated Instructional Media Project - AIM) na University of Wisconsin em

Madison, que possibilitou a criação do método sistêmico de aprendizagem em que

respeitando o aluno, suas facilidades e dificuldades com o tempo para estudar e sua

Page 40: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

38

familiaridade com os meios tecnológicos, criou-se uma forma de ensinar utilizando

inúmeros recursos, desde material impresso e orientações por correspondência,

transmissão por rádio e televisão, como também a utilização de laboratórios e

bibliotecas das universidades no período de férias (MOORE; KEARSLEY, 2007).

A Universidade Aberta (UA) surgiu baseada na experiência da AIM, com a

diferença essencial e fundamental de se tornar uma instituição integralmente

autônoma, com autorização para emissão de seus diplomas, tendo o controle total

de sua administração, fundos e corpo docente.

Para Moore e Kearsley (2007, p. 37), a UA oferecem:

Nos âmbitos internos e internacional, com matrículas anuais superiores a 200 mil alunos adultos e cerca de 2 mil diplomas a cada ano [...], a UA, pelas avaliações oficiais, classifica-se perto do topo das universidades do Reino Unido em termos de pesquisa e ensino, atingindo esses resultados com um custo compatível excelente, sendo que um aluno equivalente em período integral custa 40% do valor médio nas universidades tradicionais. Ela admite mais de um terço de todos os alunos em período parcial no Reino Unido e forma cerca de um em cada 12 diplomas pelas universidades.

A UA tem se expandido pelo mundo, para Moore e Kearsley (2007), como um

sinal de cursos de qualidade e a preços compatíveis, vem conseguindo uma

expansão assustadora, demonstrada na tabela 5, com números que tornam estas

instituições verdadeiras “megauniversidades” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 37).

Tabela 5 - Megauniversidades

País Nome da Instituição Estabelecida

em Nº de Alunos

China China TV University System 1979 530.000 Índia Indira Gandhi National Open University 1985 242.000

Indonésia Universitas Terbuka 1984 353.000 Irã Payame Noor University 1987 117.000

Coréia Korean National Open University 1982 210.578

Espanha Universidad Nacional de Educación a Distancia

1972 110.000

Tailândia Sukhothai Thammatirat OU 1978 216.800 Turquia Anadolu University 1982 577.804 Reino Unido

The Open University 1969 157.450

Fonte: Moore; Kearsley (2007, p. 37).

Page 41: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

39

Observa-se que as megauniversidades tiveram o seu surgimento entre as

décadas de 60 e 80, conseguindo uma ampla e inegável expansão, tendo como a

China, em sua instituição China Tv University System criada em 1979, um número

de 530.000 alunos, dados altamente consideráveis para a EaD.

A quarta geração, as teleconferências, pela possibilidade de interação em

grupo trouxe a percepção e a sensação das salas de aula, de aprender e discutir em

grupo, ocasionando uma ruptura com a visão do aprendizado por correspondência e

da UA, que eram direcionadas ao autoestudo, “a pessoas que aprendem sozinhas,

geralmente pelo estudo em casa” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 39), até então

presente na EaD.

Em 1965, ocorreu a primeira ação voltada para a Educação. Utilizando esta

tecnologia denominada de Rede Educacional por Telefone, na University of

Wisconsin, com o propósito de atender a Educação continuada de profissionais

liberais “expandiu-se para 200 localidades em campi universitários, tribunais,

bibliotecas, hospitais e escolas de cidades, tendo mais de 35 mil usuários e mais de

cem programas toda semana” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 40).

Com o surgimento dos computadores na década de 1960 e 1970, iniciamos a quinta geração da EaD, com máquinas enormes e com um potencial de processamento ainda pequeno, começamos a falar sobre a possibilidade de uma rede interligada de máquinas, que possibilitariam o acesso irrestrito a comunicação e a informação entre as pessoas (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 44-45).3

Com o surgimento do microprocessador pela Intel, em 1975 e do computador

pessoal, o Altair 8800 (MOORE; KEARSLEY, 2007), possibilitou que em pouco

tempo, 1989, nos Estados Unidos mais de 15% das residências possuíssem um

computador pessoal. Nesta época já se ofertava programas de graduação, via

parceria entre as universidades americanas, em que “os cursos eram veiculados em

discos de computadores e em material impresso; a interação com instrutores ocorria

por computadores, telefone e pelo correio” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 45).

Para Valente (2009, p. 65), podemos comparar o meio impresso com o

Compact Disc - Ready Only Memory (CD-ROM), em que este:

3 Observa-se que o precursor de um sistema de rede de computadores, foi desenvolvido em 1970, na University of Illinois, como o nome de PLATO (Programmed Logic for Automatic Teaching), possibilitando a comunicação por intermédio de algumas máquinas interligadas via conexão discada e por conexões específicas.

Page 42: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

40

[...] constitui um importante avanço no processo de armazenamento e disseminação da informação. Ele diminui o custo da distribuição do material de apoio do curso e o fato de a informação estar no formato digital permite a utilização de outros recursos, como animação e manipulação da informação, busca e navegação hipertextual, contribuindo para que o aprendiz se torne mais ativo em vez de um leitor passivo. [...] Por outro lado, o CD-ROM tem uma grande desvantagem quando comparado com as soluções de EaD baseadas na WEB. Ele não permite a interação on-line do aprendiz com o instrutor do curso ou com os colegas.

O CD-ROM possibilitou que o processo pudesse ser barateado, como

também a utilização de recursos que garantissem a atratividade do método, através

de animações e a possibilidade de maior interatividade do sistema pelo aluno,

trazendo para ele uma forma mais ativa de aprendizagem.

Com o advento da EaD, houve a flexibilização de tempo e espaço, o modelo

centrado no docente foi alterado para o modelo centrado no aluno e na busca por

resultados. Neste modelo “o foco deixa de ser o conhecimento transmitido pelo

professor e passa a ser o que é construído pelo aluno, por meio de atividades de

aprendizagem” (KÜLLER, 2010, p. 57).

Há que se observar que a alteração do foco, pauta-se na relevância da

relação ensino-aprendizagem. O docente permanece como forma de propagação de

conhecimento, mas deixa de ter a sua exclusividade, como também o aluno torna-se

responsável por esta relação, contribuindo e assumindo um papel principal neste

processo.

A estrutura de relação do estudante com o professor é essencial e mesmo

respeitando as barreiras físicas e espaciais, como também o autoestudo presente na

EaD, a interação entre aluno e professor ainda é considerada um elemento

essencial e fundamental no processo da construção do conhecimento (VALENTE,

2009).

A construção do conhecimento está estruturada na relação aluno e professor,

cada qual com o seu papel e importância, mas ambos corresponsáveis pela

apropriação deste conhecimento.

Com o surgimento de novas ferramentas de ensino e de interação entre aluno

e docente, o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem sofre

alterações, haja vista que a alteração do ambiente físico/presencial (cadeiras, lousa,

entre outros instrumentos anteriormente utilizados) pelo ambiente virtual (software,

emails, entre outros), trouxe novas circunstâncias ao processo de ensino,

Page 43: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

41

principalmente quanto ao tempo e espaço, pois o “acesso pode ser feito de qualquer

lugar do planeta pela internet, e o tempo é expandido a uma ou mais semanas ou

dias, diferente da hora regular da sala de aula tradicional, que requer um

determinado horário específico” (TELES, 2009, p. 72).

O papel do professor no ambiente virtual sofreu alterações, visando atender

as novas mudanças oriundas da EaD, onde “o ensino presencial e o ensino on-line

parecem requerer técnicas diferentes, devido a introdução dessa nova noção de

tempo e espaço, da mídia e também da pedagogia apropriada aos ambientes

colaborativos on-line” (TELLES, 2009, p. 72).

O presente capítulo possibilitou o entendimento da EaD, no aspecto de sua

evolução histórica nacional e internacional, desde os remotos cursos de datilografia

aos atuais cursos de graduação e pós a distância, mediados por tecnologias

eletrônicas.

O conceito de EaD foi dado pelo Decreto nº 5.622/205, que considera a

Educação, nesta modalidade, para processos de ensino que utilizem a mediação

didático-pedagógica, através de meios de tecnologia de informação e comunicação.

Frente a este conceito, discutiu-se os autores da área que divergem quanto a

delimitação da EaD, principalmente no quesito de considerar apenas para os

processos didático-pedagógicos. Belloni (2009), pauta a sua consideração no

quesito da aprendizagem, Moore e Kearsley (2007), fixam quanto ao aspecto da

distância geográfica entre aluno e professor, frisando que a diferença com o

presencial é que este possui o local de ensino e de aprendizagem idênticos, muito

diferente no ensino a distância. Conceito este também adotado por Maia e Mattar

(2007).

Gonzalez (2005) fixa como uma forma alternativa de estudo para os que não

possuem acesso e Trindade (1991) fixa como uma metodologia específica e

desenhada para adultos.

Podemos definir a EaD como uma forma em que o aluno aprende de forma

autônoma e individualizada, dentro de uma estrutura de construção coletiva do

ensinar, tendo a efetivação da aprendizagem através de meios tecnológicos,

efetivadas em local diferente de tempo e espaço do momento do ensinar.

Por meio deste conceito e analisando a evolução histórica trazida no presente

capítulo, observou-se que as 5 gerações delimitadas por Moore e Kearsley (2007),

que são: 1ª Correspondência, 2ª Rádio e Televisão, 3ª Universidade Aberta, 4ª

Page 44: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

42

Teleconferência e 5ª Internet/Web, concedem a interpretação que as três primeiras

eram estudos desenhados para que o aluno aprendesse sozinho, através do

autoestudo em casa.

A quarta geração possibilitou a interação entre grupos de alunos e

professores, fazendo com que o estudo fosse coletivo, rompendo com o autoestudo.

Apenas a quinta geração possibilitou a fusão destas duas modalidades,

tornando possível o autoestudo, com material e ritmo individualizado para atender as

necessidades do aluno, mas também trouxe a pauta momentos presenciais e

discussões em grupo, que possibilitem que o aluno tenha um autoestudo, sem

perder a importância das discussões coletivas.

A compreensão destes pontos acima delimitados, possibilitou a melhor

compreensão da hipótese, no que tange a EaD e principalmente as ferramentas

tecnológicas presentes nesta modalidade, embasando as questões que sustentam

esta pesquisa por conceder estrutura teórica quanto a EaD, suas ferramentas, mas

principalmente quanto ao modelo e metodologia ao analisar as diferenças e

peculiaridades da Educação a Distância com a presencial.

Page 45: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

43

2 OS DOCENTES DO ENSINO A DISTÂNCIA – TUTORES

Educadores são pessoas com dificuldades e problemas, como qualquer outra, mas deles se espera que, como especialistas em conhecimento e aprendizagem, consigam compreender melhor as questões fundamentais do mundo, dos outros e de si mesmos, que saibam fazer escolhas sensatas e mostrar na prática o que aprenderam teoricamente (MORAN, 2007, p. 82).

Com o advento da EaD surgiram discussões acerca do modelo, da

metodologia, toda a sua estrutura e principalmente sobre o docente, sua função, as

características necessárias e se esta figura iria se perpetuar frente as inovações

educacionais que não param de ocorrer.

O ensino a distância difere do ensino realizado em sala de aula tradicional.

Podemos elencar vários, como por exemplo, a comunicação assíncrona (ausência

de sincronia de tempo entre pergunta e resposta) entre professor e aluno e a

distância física entre eles, esta que nos traz uma das maiores dificuldades frente a

este modelo de ensino, a ausência de sinais físicos do retorno do aprendizado pelo

aluno, pois a tecnologia nos impossibilita quase que por completo, identificar traços

notórios obtidos nas salas de aula convencionais, como expressão corporal,

pequenos gestos e rápido feedback dos ensinamentos propostos, como uma forma

de retorno ao trabalho docente.

Um dos grandes desafios da EaD é a intermediação da tecnologia no

processo de aprendizagem, como também ensinar de forma coletiva e não mais

autônomo, ou seja, o docente faz parte de um processo composto por vários

profissionais e cada qual é responsável pelo seu papel, conteúdo e parte do

processo de aprendizagem do aluno.

Verifica-se que o desconhecimento e ausência de preparo para lidar com os

alunos em um ambiente virtual, pois convencionalmente, por mais que os docentes

desconhecessem as técnicas e metodologias para a mediação do conteúdo,

conseguiam pautar seu comportamento na referência transmitida de seus próprios

docentes, “dificilmente uma pessoa havia tido experiência ou recebido treinamento

sobre como ensinar usando tecnologia” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 147).

Dentro desta ótica, Maia e Mattar (2007, p. 89):

Page 46: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

44

[...] desmistificam a visão distorcida do papel do docente dentro da EaD, pois este docente não terá que atender todas as demandas dos alunos, como elaboração do conteúdo de estudo e das aulas, desenvolvimento do currículo, atendimento e suporte ao estudante, avaliação do processo de aprendizagem, mediação, aconselhamento, dentre outras ações.

O trabalho do docente é fragmentado. É construído dentro de uma

coletividade de uma equipe, que elaboram nas assertivas de Maia e Mattar (2007, p.

89) a “quebra da função pedagógica do professor” com a “divisão do processo de

educação”.

A EaD possibilitou que excelentes profissionais de mercado e docentes

titulados, com restrição de tempo e de deslocamento geográfico pudessem contribuir

com a Educação e lecionar neste universo, pois:

[...] a EaD destrói as barreiras geográficas para a educação, e então profissionais que antes não podiam participar de maneira contínua do universo da educação agora podem atuar como professores” (MAIA; MATTAR, 2007, p. 90).

Keegan (apud BELLONI, 2009, p. 80) esclarece que a função de ensinar está

diretamente atrelada a uma instituição, sendo que, em “EaD quem ensina é uma

instituição”.

Na EaD não há mais a figura autônoma e separada do docente, da relação

posta de ensino e aprendizagem, mas sim uma figura dentro do contexto da

coletividade.

O professor será considerado dentro de uma equipe, em que comporta o

autor do conteúdo escrito, o técnico, o artista gráfico, o tutor, entre outros

profissionais envolvidos no processo, pois “muito mais que um professor, é uma

instituição que ensina a distância”, “o ensino é planejado e coordenado por uma

instituição” (MAIA; MATTAR, 2007, p. 90).

Dentro desta ótica de equipe, a visão apartada e clara de quem detém a

nomenclatura exclusiva de “professor” fica comprometida e fragmentada na prática,

“o ensino a distância é um processo complexo, multifacetado, que inclui muitas

pessoas, todas podendo reivindicar sua contribuição ao ensino e, portanto, o título

de professor” (MARSDEN, 1996, p. 226).

Page 47: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

45

Todos os profissionais envoltos no processo de ensino-aprendizagem

possuem funções e denominações específicas, assim:

O “autor” seleciona conteúdos, prepara programas de ensino e elabora textos em discurso escrito do tipo “explicativo”; o “editor” trabalha sobre a qualidade comunicacional do texto, buscando dar-lhe maior “legibilidade”; o “tecnólogo educacional” (instructional designer) organiza pedagogicamente os materiais, assegurando a clareza e explicitação dos objetivos pedagógicos; o “artista gráfico” trabalha sobre a aparência visual e a arte final do texto. [...]. Embora muitas destas tarefas sejam meramente técnicas, elas influem na qualidade do produto final e exigem um trabalho de integração e coordenação de equipe, que é talvez uma das novas funções mais difíceis do professor (BELLONI, 2009, p. 80, grifo do autor).

A fragmentação do trabalho possibilita que o autor fixe-se apenas na

elaboração do conteúdo e material de aula, podendo pautar a sua preocupação na

forma de construção de seu texto, já o editor detém-se no formato apresentado e o

tecnólogo educacional como isso será posto no sistema.

Diante desta divisão, Mill, Santiago e Viana (2008, p. 61), esclarecem que a

instituição deverá criar condições institucionais adequadas, pois:

[...] a EaD exige a previsão de novos tempos, espaços e recursos para o desempenho do trabalho docente, os quais não podem ser atribuídos à esfera dos esforços individuais dos docentes. Além desses aspectos espaço temporais da preparação dos cursos, há também questões relacionadas ao oferecimento cotidiano do curso.

Estes cursos promovem a construção do conhecimento e do processo de

ensino e aprendizagem, fazendo com que o professor se torne um “parceiro dos

estudantes no processo de construção do conhecimento”, como também a sua

“transformação de uma entidade individual em uma entidade coletiva” (BELLONI,

2009, p. 81).

A estrutura de um curso de qualidade na modalidade EaD, para Palloff e Pratt

(2004), encontra-se em um equilíbrio perfeito de colaboração, presença e

comunidade, sempre centrado no aluno, conforme representa a tabela 6 na página

seguinte.

Page 48: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

46

Tabela 6 – Elementos de um curso ou programa on-line de alta qualidade

• Tem acesso a tecnologia.• É aberto.• Comunica-se eficazmenteem texto.

• É comprometido.• Pensa criticamente.• É reflexivo.• É flexível.

• Encaixa-se no currículo.• É centrado no aluno.• É acessível.• Tem conteúdo relevante.• É colaborativo.• É interativo.• Tem grupo pequeno.• É coeso.• Aborda estilos deaprendizagem e cultura.

• É aberto.• É honesto.• Responde prontamente.• É respeitoso.• É flexível.• Encoraja os alunos.• Está presente.

• Tem suporte técnico etreinamento.

• É centrado no aluno.• Oferece aconselhamento,serviços de biblioteca,matrícula, livraria earquivo de dados.

Comunidade

Aluno virtual eficaz

Facilitador on-line eficaz

Design eficaz do curso

Suporte eficaz ao aluno

A tabela 6 possibilita a compreensão da EaD, pois cada qual possui tarefas

específicas e fundamentais para a funcionalidade do sistema, da comunidade, sendo

que o foco sempre será o aluno. Todos os quadros demonstram esta preocupação e

este desenho já voltado a atender e facilitar o processo de aprendizagem.

Assim, o papel do professor mudou. Deixou de ser apenas aquele que orienta

e estimula o aluno a distância, pois o “professor passa de orador a tutor, de

expositor a facilitador, de avaliador a mediador” (MAIA; MATTAR, 2007, p. 92).

O docente da EaD conduz o aluno, atuando muito mais como um facilitador

do conhecimento, caminhando ao seu lado e não mais, atuando como peça

fundamental e central do processo ensino-aprendizagem (MAIA; MATTAR, 2007).

Pallofff e Pratt (2004) utilizam o termo “heutagogia”, demonstrando que a

aprendizagem on-line está composta de aprendizagem (pedagogia) de adultos

Fonte: Palloff; Pratt (2004, p. 145).

Page 49: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

47

(andragogia) e o ambiente virtual se constitui muito mais em uma aprendizagem

autodirigida, por isso heutagogia.

Desta forma uma aprendizagem em que o foco é o aluno e o estudo é

autodirigido, a abordagem “baseia-se na crença fundamental de que não podemos

ensinar, mas apenas facilitar a aquisição do conhecimento” (PALLOFF; PRATT,

2004, p. 15).

Observa-se que “o processo para chegar a uma resposta é mais importante

do que a própria resposta” (PALLOFF; PRATT, 2004, p. 176), e desta forma a

construção do aluno é fundamental, tendo o docente a responsabilidade de conduzi-

lo e incentivá-lo.

O papel pedagógico do professor (tutor, instrutor ou monitor) é estruturado

como um “facilitador educacional”, que orienta e apresenta uma linha vital do

trabalho, possibilitando que os alunos, seguros naquela linha, possam explorar e

buscar além do material do curso, complementos sem restrições que garantam a sua

evolução.

Dentro desta visão de facilitador, o tutor possibilita que os alunos busquem

seu aprofundamento teórico, “atuando como um animador que procura motivar os

alunos a aprofundar e ampliar os conhecimentos mais do que o fariam em uma sala

de aula presencial” (PALLOFF; PRATT, 1999, p. 29).

Quando buscamos as características e o perfil do professor a distância,

encontramos que este docente funciona “mais como um facilitador da aprendizagem,

orientador acadêmico e dinamizador da interação coletiva”, conforme o conceito

trazido pelo site da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) (2011).

Na visão de Palloff e Pratt (1999, p. 35):

Ressalta-se que cabe ao tutor, além de todo este processo, a orientação de regras gerais, incluindo as denominadas “netiquetas”, que se constituem demonstrar ao aluno, como se portar em ambiente virtual, principalmente no relacionamento com seu tutor e colegas de turma.

Ao buscar o significado de tutor no dicionário Aurélio virtual, encontramos a

definição daquele “indivíduo legalmente encarregado de tutelar (protetor) alguém,

como também “aluno designado como professor de outros alunos, em formas

alternativas de ensino” (FERREIRA, 2004).

A utilização da tutoria na Educação vem do século XV, como forma de

orientação religiosa, dentro das universidades da época, seguindo esta linha até

Page 50: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

48

meados do século XX quando esta figura se molda e não mais se apresenta apenas

como orientador, mas principalmente como acompanhante dos estudos e do

progresso do ensino-aprendizagem (SÁ, 1998).

A definição utilizada por Litwin (2001, p. 93) é que o tutor figura como um

“guia, protetor ou defensor de alguém em qualquer aspecto”, e o pensamento que se

possuía da EaD e, principalmente dos docentes que estavam a ela ligados, é que

não tinham o condão de ensinar, apenas de apoiar, dirigir e guiar a aprendizagem,

mas nunca de ensinar, por consequência tinham um papel e uma característica

exclusivamente de acompanhar o aluno dentro do processo e frente as tecnologias,

pois quem ensinava era o sistema e todos os recursos postos a disposição do aluno.

A denominação utilizada por Moore e Kearsley (2007) é instrutor para

identificar o docente virtual. Eles fixam inúmeras características, conforme tabela 07,

que determinam esta nomenclatura. O docente virtual tem a função de ensino, vez

que fomenta discussões no ambiente virtual e trazem a tona aos alunos os principais

e relevantes itens da aula. Tem a característica também de acompanhar o aluno

demonstrando o seu progresso, ou seja, o instrutor irá acompanhar e demonstrar ao

aluno seu avanço, através de uma análise (registro no sistema) dos passos que

conseguiu evoluir.

O tutor não ensina, não dá aulas e nem produz materiais, sendo designado

para estabelecer um elo de ligação com o aluno, que possa “através de uma relação

pessoal, facilitar a este o desenvolvimento de todo o seu potencial intelectual e

comunicacional” (SCHMID, 2004, p. 278).

Cabe ao tutor a distância (instrutor), conforme apresentado na tabela 7,

conceder apoio, pois está presente na solução ou no encaminhamento de grande

parte das dúvidas e problemas que o aluno tiver no caminhar de seu curso, tais

como: problemas com o acesso, dúvidas de conteúdo ou aconselhamento. A figura

do instrutor será sempre utilizada como forma mais próxima de auxilio (MOORE;

KEARSLEY, 2007).

Page 51: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

49

Tabela 7 - Funções dos tutores a distância4 na Educação a Distância

* Elaborar o conteúdo do curso

* Supervisionar e ser o moderador nas discussões

* Supervisionar os projetos individuais e em grupo

* Dar notas as tarefas e proporcionar feedback sobre o progresso

* Manter registros dos alunos

* Ajudar os alunos a gerenciar seus estudos

* Motivar os alunos

* Responder ou encaminhar questões administrativas

* Responder ou encaminhar questões técnicas

* Responder ou encaminhar questões de aconselhamento

* Representar os alunos perante a administração

* Avaliar a eficácia do curso

Fonte: Moore; Kearsley (2007, p.149).

As funções do tutores a distância perpassam da necessidade de moderar as

interações do aluno com o conteúdo e com o grupo ao qual estão inseridos. Dar

notas e acompanhar, sempre concedendo posicionamento ao aluno de seus

avanços e conquistas, como também atender e encaminhar as demandas técnicas e

administrativas.

Vale ressaltar que uma das exceções para os moldes da EaD nacional frente

ao modelo trazido por Moore e Kearsley quanto as funções do docente virtual,

respeitando-se possíveis variações, é que não está a cargo do tutor a distância a

elaboração do conteúdo do curso, ficando a cargo de outros profissionais (BELLONI,

2009).

Verifica-se que as atividades do professor no ambiente virtual encontram-se

desdobradas em inúmeras funções específicas, a seguir na tabela 8, sendo que “no

ensino presencial é assegurada por um indivíduo” (BELLONI, 2009, p. 83).

4 Os autores utilizam o termo instrutor.

Page 52: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

50

Tabela 8 – Funções do professor em EaD

Professor Formador

Orienta o estudo e a aprendizagem, dá apoio psicossocial ao estudante, ensina a pesquisar, a processar a informação e a aprender; corresponde à função propriamente pedagógica do professor no ensino presencial.

Conceptor e Realizador de

Cursos e Materiais

Prepara os planos de estudo, currículos e programas; seleciona conteúdos, elabora textos e base para unidades de cursos (disciplinas); esta função - didática - corresponde à função didática, isto é, transmissão do conhecimento realizado em sala de aula, geralmente através de aulas magistrais, pelo professor do ensino presencial.

Professor Pesquisador

Pesquisa e se atualiza em sua disciplina específica, em teorias e metodologias de ensino/aprendizagem, reflete sobre sua prática pedagógica e orienta e participa da pesquisa de seus alunos.

Professor Tutor

Orienta o aluno em seus estudos relativos à disciplina pela qual é responsável, esclarece dúvidas e explica questões relativas aos conteúdos da disciplina: em geral participa das atividades de avaliação.

Tecnólogo Educacional

(Designer ou pedagogo especialista em novas tecnologias, a função é nova, o que explica a dificuldade terminológica): é responsável pela organização pedagógica dos conteúdos e por sua adequação aos suportes técnicos a serem utilizados na produção dos materiais; sua função é assegurar a qualidade pedagógica e comunicacional dos materiais de curso, e sua tarefa mais difícil é assegurar a integração das equipes pedagógicas e técnicas.

Professor "Recursos"

Assegura uma espécie de "balcão" e respostas a dúvidas pontuais dos estudantes com relação aos conteúdos de uma disciplina ou a questões relativas à organização dos estudos ou às avaliações (muito solicitadas na época que precede as avaliações, esta função é normalmente exercida pelo tutor, mas não necessariamente).

Monitor

Muito importante em certos tipos específicos de EaD, especialmente em ações de educação popular com atividades presenciais de exploração de materiais em grupos de estudo ("recepção organizada"). O monitor coordena e orienta esta exploração. Sua função se relaciona menos com o conhecimento dos conteúdos e mais com sua capacidade de liderança, sendo em geral uma pessoa da comunidade, formada para esta função, de caráter mais social do que pedagógico.

Fonte: Belloni (2009, p. 83).

Page 53: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

51

Ao analisar as funções dos profissionais que atuam na EAD, em especial do

docente dentro das divisões trazidas por Belloni, observamos que há uma divisão

clara em quem organiza o material de estudo, na administração, atendimento aos

alunos e por último quem efetivamente acompanha o aluno no processo de

aprendizagem, neste item compreendido o tutor e o monitor.

Dentro deste fracionamento do trabalho docente, o presente trabalho pauta-

se exclusivamente na análise do trabalho do tutor a distância.

Denota-se que as diferenças entre o “docente tradicional” do presencial e o

tutor, refletem diretamente em conseqüências didáticas diversas, contudo a atuação

do tutor, decorrente a inúmeros fatores, é muito distante das experiências

vivenciadas e postas para as salas de aulas convencionais, entre as quais:

• Tempo – o tutor deverá ter a habilidade de aproveitar bem seu tempo, sempre escasso. Ao contrário do docente, o tutor não sabe se o aluno assistirá à próxima tutoria ou se voltará a entrar em contato para consultá-lo; por esses motivos aumentam o compromisso e o risco da sua tarefa. • Oportunidade – em uma situação presencial, o docente sabe que o aluno retornará; que caso este não encontre uma resposta que o satisfaça, perguntará de novo ao docente ou a seus colegas. Entretanto, o tutor não tem essa certeza. Tem de oferecer a resposta específica quando tem a oportunidade de fazer isso, porque não sabe se voltará a ter. • Risco – aparece como conseqüência de privilegiar a dimensão tempo e de não aproveitar as oportunidades. O risco consiste em permitir que os alunos sigam com uma compreensão parcial, que pode se converter em uma construção errônea sem que o tutor tenha a oportunidade de adverti-lo. “O tutor deve aproveitar a oportunidade para o aprofundamento do tema e promover processos de reconstrução, começando por assinalar uma contradição” (LITWIN, 2001, p. 102, grifo do autor).

Assim podemos analisar que o tutor deve aproveitar ao máximo os momentos

com os alunos, porém, ao contrário do presencial, ele não sabe se o aluno voltará a

consultá-lo e mesmo qual foi o entendimento acerca do material exposto.

Dentro desta ótica, Collins e Berge (1996, p. 14) esclarecem que a mudança

foi incisiva, e que é premente que o docente “adote uma atitude de encorajar os

estudantes à auto-reflexão e permitir, assim, uma contribuição mais ativa e profunda

na discussão on-line”.

Ao observar estas mudanças, Iranita Sá, desde 1998, já fixava estas

diferenças do docente convencional para o virtual, descritas na tabela 9. Este último,

Page 54: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

52

figura muito mais com aspectos de auxiliar na aprendizagem do que responsável e

agente essencial no processo de aprendizagem do aluno.

Tabela 9 - Paralelo entre as funções do professor e do tutor

EDUCAÇÃO PRESENCIAL EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Conduzida pelo Professor Acompanhada pelo tutor.

Predomínio de exposições o tempo inteiro

Atendimento ao aluno, em consultas individualizadas ou em grupo, em situações em que o tutor mais ouve do que fala.

Processo centrado no professor

Processo centrado no aluno.

Processo como fonte central de informação

Diversificadas fontes de informações (material impresso e multimeios).

Convivência, em um mesmo ambiente físico, de professores e

alunos, o tempo inteiro

Interatividade entre aluno e tutor, sob outras formas, não descartada a ocasião para os “momentos presenciais”.

Ritmo de processo ditado pelo professor

Ritmo determinado pelo aluno dentro de seus próprios parâmetros.

Contato face a face entre professor e aluno

Múltiplas formas de contato, incluída a ocasional face a face.

Elaboração, controle e correção das avaliações pelo professor

Avaliação de acordo com parâmetros definidos, em comum acordo, pelo tutor e pelo aluno.

Atendimento, pelo professor, nos rígidos horários de orientação e

sala de aula

Atendimento pelo tutor, com flexíveis horários, lugares distintos e meios diversos.

Fonte: Sá (1998, p. 47).

Observando as diferenças trazidas por Iranita Sá em 1998, era claro e distinto

a relação do presencial com a distância, sendo que o foco no aluno, a assincronia da

comunicação entre aluno e professor, como também a possibilidade de um

atendimento mais individualizado, fazem com que a EaD tenha características

distintas que impactam diretamente na atuação e posicionamento do tutor virtual.

Page 55: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

53

O tutor atua como um organizador do conhecimento do aluno, alcançando até

a auto-aprendizagem, “sendo a comunicação mais importante do que a informação.

Sua função não é passar conteúdo, mas orientar a construção do conhecimento pelo

aluno” (MACHADO, L.; MACHADO, E., 2004, p. 5).

Há várias mudanças no papel assumido pelo tutor on-line quando o

comparamos com o professor convencional, em que o professor passa de

palestrante e oráculo para consultor, orientador e provedor de recursos, um

questionador eficiente. No lugar de provedor de respostas, propõe experiências de

aprendizagem e não apenas apresenta conteúdos, estimula o autoestudo e o auto-

direcionamento, enquanto antes, apenas mostrava a estrutura inicial do trabalho

(COLLINS; BERGE, 1996).

O tutor apresenta inúmeras perspectivas sobre cada tópico e integra uma

“equipe do saber” em que todos estão engajados no processo de ensinar-aprender,

como também deixa de ser uma figura autônoma e controladora do ambiente de

ensino para criar um sistema completo de aprendizagem e avaliação, criando um

ambiente de co-responsabilidade no ambiente virtual e se tornando muito mais

sensível à aprendizagem do aluno (COLLINS; BERGE, 1996).

Observa-se que há uma ruptura das barreiras e das estruturas do poder

oriundos da relação milenar de professor e aluno, estruturando-se uma nova fórmula

para esta relação em que o professor se coloca (e interage) muito mais de forma

lateral que impositiva.

Com a comunicação prevalecendo sobre a informação, o papel e

principalmente as responsabilidades do tutor passam a ser alteradas e as

prioridades são invertidas, pois o processo deixa de ter o docente como eixo central.

Assim sendo, Mason apud Teles (2009) fixou três grandes áreas de

responsabilidade do tutor, sendo organizacional (planejar e gerenciar), social

(estabelecer e manter relações positivas na sala de aula virtual) e intelectual

(promover a participação dos estudantes, encorajar e corrigir suas contribuições).

Berge (1995) conceitua-as de forma mais simplificada, mas com a mesma exatidão e

extensão de conteúdo, considerando-as como pedagógica, social, gerencial e de

suporte técnico.

O suporte pedagógico pode ser considerado em toda a estrutura que suporta

e apóia a aprendizagem, individual ou coletiva, através de técnicas diretas que

facilitem a aprendizagem dos alunos (TELES, 2009), atuando como um facilitador

Page 56: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

54

educacional que possibilita discussões baseadas em conceitos, habilidades e

princípios críticos, sendo consideradas como necessárias a atuação do

tutor/moderador (TAVARES, 2002).

O tutor a distância deve:

[...] dar instrução diretas, fazer referências a modelos ou exemplos, dar conselhos ou oferecer sugestões, promover auto-reflexão no estudante, guiar os estudantes no processo de encontrar outras fontes de informação, sugerir que os estudantes expliquem ou elaborem melhor suas idéias, oferecer feedback e congratulações pelas contribuições na discussão on-line, atuar como suporte na estruturação das tarefas cognitivas, costurar comentários com o objetivo de criar um único resumo e redirecionar a discussão com os estudantes para os eixos centrais mais importantes do tema (HARASIM et al., 2005).

Tendo em vista o contato do tutor com o aluno, restrito a momentos esparsos

no ambiente virtual, que não seguem um padrão de horário, forma ou continuidade

espacial, acarretam a estes profissionais a necessidade de aproveitarem ao máximo

os momentos que estão com os alunos devendo esclarecer as dúvidas de forma

clara e objetiva com exemplos e conselhos, demonstrando as inúmeras e diversas

formas de complementar os seus estudos, como também ser uma fonte de estímulo

para a perpetuação da aprendizagem.

O pedagógico é o que está mais relacionado e próximo ao tutor, como

também o que foi identificado por Berge (1995) como suporte social, refere-se a

necessidade de elos entre tutor e aluno dentro do ambiente virtual.

A comunicação mediada pelo computador (CMC) pode se representar em

ferramentas estratégicas para o tutor estruturar seu trabalho, promover a

solidariedade do grupo e criar um modelo eficiente de tomada de decisões (TELES,

2009; KANG, 1998; WALTHER, 1996).

A possibilidade e necessidade de criar um ambiente acolhedor, socialmente

amigável que tenha, através das relações humanas de valorização da

participação/contribuição do aluno, do fomento do senso de coesão do grupo e do

incentivo ao trabalho coletivo, fazem parte da estrutura social que o tutor deve

buscar como ferramenta de trabalho no ambiente virtual.

O que se observa é que a Comunicação Mediada por Computador (CMC)

possibilita a ausência de sinais que reafirmem o processo de aprendizagem, e esta

falta de “sinais contextuais percebidos no encontro presencial pode induzir a um

Page 57: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

55

ambiente hiperpessoal, no qual as conexões entre os estudantes podem tornar-se

voláteis” (TELES, 2009, p. 74).

O tutor, visando sanar tais dificuldades, deve criar um ambiente acolhedor,

em que a comunicação e interação possam confluir, para que o aluno perceba que

não está sozinho e nem isolado do seu grupo e que as respostas de quaisquer

questões não demorem muito a serem atendidas (TELES, 2009).

Além destes itens, temos o gerenciamento, que trata de toda a estrutura

gerencial dos alunos e do sistema, e o suporte técnico que está relacionado ao

software e a navegação no ambiente virtual. Evidencia-se que ambos necessitam

criar um ambiente acolhedor ao aluno (TELES, 2009).

Observa-se que ambas as áreas, gerencial e técnica, possibilitam que o

ambiente virtual tenha um ritmo, com objetivos, horários, regras de procedimento,

normas, funcionalidade e segurança do software, que garantam confiabilidade e

transparência ao aluno e docente, e eles possam focar na relação do ensino e

aprendizagem unicamente (TAVARES, 2002).

O tutor, além da formação acadêmica, conteúdo pedagógico e destreza para

tornar as CMC (Comunicação Mediada por Computador) em aliadas ao ensino, deve

conhecer o sistema ao qual ele está inserido (EaD), para conseguir dar suporte e

encaminhamento das questões gerenciais e técnicas dos alunos, como dúvidas de

acesso, mensalidade, processos internos oriundos do acadêmico e financeiro. A

habilidade para conquistar a confiança do aluno, e possibilitar que não haja o

comportamento de impessoalidade ou hiperpessoalidade, os quais são relevantes.

O tutor deve, sendo o que se almeja, ter a capacidade de lidar com pessoas e

situações heterogêneas e possuir um alicerce moral, ético e maturidade emocional,

para conseguir, através da empatia, mediar questões, liderar, ser cordial e

especialmente saber ouvir e interpretar o que o aluno escreve (MACHADO, L.;

MACHADO, E., 2004).

As inovações tecnológicas impuseram uma necessidade atual à área da

Educação, que impõe uma forte tendência em reformular os sistemas educacionais

e possibilitar um “ensino que habilite os estudantes a exercer no futuro funções que

ainda nos são desconhecidas ou indefinidas”, e assim a formação inicial dos

professores tem que preparar “para as inovações tecnológicas e suas

conseqüências pedagógicas e também para a formação continuada, numa

perspectiva de formação ao longo da vida” (BELLONI, 2009, p. 85).

Page 58: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

56

A formação dos professores:

[...] não escapa a esta lei: estes devem, como o restante da sociedade, levar em consideração a inovação; mas esta deve ser preparada por uma formação adequada. [...]. Todo o pessoal docente deve aceitar evoluir como as outras profissões (DIEUZEIDE apud BELLONI, 2009, p. 85).

Os docentes devem estar inseridos nas inovações e fazer parte de forma

ativa e atuante nestes processos, visando a não estagnação frente ao novo.

As inovações na área da Educação transcorrem, ou deveriam, pela “melhoria

e inovação na formação de formadores”, sendo que a discussão reflexiva da

formação do professor tem que “alcançar um grau maior de sistematização e gerar

conhecimento científico novo no campo da pedagogia” (BELLONI, 2009, p. 87).

Um dos pontos neurálgicos da Educação é conseguir que os seus

profissionais possuam a “capacidade de interagir materiais pedagógicos em

suportes tecnológicos mais sofisticados, especialmente a multimídia” (BELLONI,

2009, p. 87), possibilitando o surgimento de novas ferramentas e estratégias para a

relação ensino e aprendizagem, como também a elaboração de novos materiais.

Diante das inovações postas em sala de aula, Lynch e Corry (apud

TAVARES, 2002, p. 1): “apontam a prática como a melhor técnica para aprender a

usar tecnologias de EaD [...]. Recomendam a participação dos professores como

alunos ou observadores em contextos que usam estratégias de EaD”.

Para Belloni (2009) a formação do professor deve ser revista, tanto para

aqueles que atuarão nas salas de aula convencionais, como para os docentes que

prosseguirão para o universo da EaD, pois há muitos pontos das habilidades e

competências docentes que convergem para o mesmo, principalmente pela

incorporação de tecnologias no cotidiano da sala de aula convencional.

A atualização do docente entendida como característica essencial,

objetivando fundamentos para o progresso profissional, pode ser compreendida

dentro de três dimensões, sendo pedagógica, tecnológica e didática (BELLONI,

2009).

Compreendem-se por pedagógicas as atividades de “orientação,

aconselhamento e tutoria e inclui o domínio de conhecimentos relativos ao campo

específico da pedagogia, psicologia, ciências cognitivas e ciências humanas”

(BELLONI, 2009, p. 88).

Page 59: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

57

Esclarece que os professores devem possuir embasamento para que

aprimorem características e capacidades de desenvolvimento autônomo de

pesquisa e aprendizagem, visando a possibilidade futura de aplicação destas

técnicas com seus alunos (BELLONI, 2009).

A dimensão tecnológica açambarca todas as inovações e relações entre

tecnologia e Educação, desde a sua utilização até a produção de recursos

pedagógicos por estes meios e a elaboração de estratégias pelo seu uso, isto é, “o

conhecimento das suposições metodológicas que a utilização destes meios implica e

a capacidade de tomar decisões sobre o uso e a produção de materiais” (BELLONI,

2009, p. 88).

A dimensão didática está relacionada à necessidade de atualização constante

do docente, porém, “deve referir-se também ao uso de materiais didáticos em

suportes técnicos” (BELLONI, 2009, p. 89).

Diante das perspectivas globais e dos avanços tecnológicos dentro das salas

de aula convencionais, é premente a necessidade de compreensão das TIC’s para a

Educação, compreendendo e adquirindo seus conceitos e práticas, visando

possibilitar a estruturação de habilidades e competências que permitam combinar:

[...] o nível teórico, de análise e síntese dos conceitos científicos que embasam as propostas metodológicas e o nível da prática, de modo a compreender claramente a relação entre os conceitos específicos, princípios e práticas pedagógicas (BELLONI, 2009, p. 89).

A formação do professor deve ser revista, para que ele possa atuar de forma

ativa na elaboração de novas propostas pedagógicas através da prática

educacional, e pela capacitação do docente no que Palloff e Pratt (1999) chamam de

“pedagogia eletrônica”, que consiste na ênfase ao processo educacional dentro dos

softwares e dos procedimentos utilizados nas aulas virtuais.

Assim, cabe o investimento nos profissionais envolvidos no processo

educacional e todos aqueles que irão atuar de forma ativa no ambiente virtual, que

Azevedo (2000) denomina de peopleware, entendendo como todo o recurso humano

voltado à área educacional virtual, visando à capacitação de habilidades e

competências de professores e alunos em aprender e ensinar on-line, objetivando a

qualidade e o avanço do método como uma forma viável de equidade social.

Page 60: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

58

Compreendeu-se neste capítulo porque o docente que trabalha em ambiente

virtual é denominado de tutor e não de professor, haja vista que o processo de

ensino é fragmentado e construído dentro de uma coletividade.

Na EaD o docente não possui mais a figura autônoma e individualizada na

relação de ensino e aprendizagem, mas sim, atuando frente a uma coletividade, pois

o professor será considerado dentro de uma equipe, em que comporta o autor do

conteúdo escrito, o técnico, o artista gráfico, o tutor, entre outros profissionais

envolvidos no processo.

A fragmentação do trabalho possibilita que o autor fixe-se apenas na

elaboração do conteúdo e material de aula, podendo pautar a sua preocupação na

forma de construção de seu texto, já o editor detém-se no formato apresentado e o

tecnólogo educacional como isso será posto no sistema.

No primeiro capítulo analisou-se a EaD, sua estrutura e diferencial frente ao

modelo do presencial, no segundo, focou-se o docente, aluno e principalmente como

se estrutura esta relação de ensino e aprendizagem.

Evidencia-se que temos uma grande ruptura no processo de ensino, em que

antes o docente possuía uma atuação mais individualizada e autônoma, na

organização, montagem das aulas, conteúdo e avaliação, passando para uma figura

que não possui uma autonomia frente ao estudo do aluno, porque está atrelado a

um processo fragmentado em inúmeras peças e atores. Deixa de ser individual e

passa a figurar em uma coletividade, um grupo.

De forma inversa, o aluno que figurava em sala de aula presencial dentro de

uma coletiva sendo apenas parte do processo, passa a ter uma atuação mais

individualizada e central para a relação ensino/aprendizagem.

Podemos definir esta relação no gráfico 2 que segue:

Gráfico 2 – Presencial x EaD

Fonte: Aceti (2011).

Page 61: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

59

A compreensão do papel do tutor, a mudança de nomenclatura de docente

para tutor, como também o aluno frente ao processo de ensino e aprendizagem

possibilitou a melhor compreensão da hipótese, no que tange ao trabalho que os

tutores exercem, como a Educação se estrutura dentro das ferramentas tecnológicas

e principalmente as necessidade e características dos profissionais envoltos nesta

modalidade de ensino.

As questões que embasam a pesquisa foram respondidas, pois demonstram

o papel e as características para exercer o trabalho no ambiente virtual,

possibilitando a compreensão do papel e perfil dos tutores, as necessidades

atreladas ao seu perfil e o processo de formação.

Page 62: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

60

3 COMPREENDENDO A EAD

É perfeitamente razoável para um professor em sala de aula empregar tecnologia, porém, o lugar normal de aprendizado é o mesmo que o local normal de ensino. Na educação a distância, é igualmente razoável que os alunos se reúnam ocasionalmente e talvez com o professor, mas o local normal de aprendizado não inclui a presença do professor. Na educação a distância, a tecnologia é o meio de comunicação único ou principal, o que evidentemente não é o caso em uma sala de aula (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 3).

Analisar a EaD, sua evolução histórica e legal e principalmente os reflexos no

processo de ensino-aprendizagem, promovem alterações nas perspectivas dos

docentes.

Observar a percepção dos tutores a distância que atuam na EaD, possibilita

analisar a questão do ensino nesta modalidade de uma forma mais ampla, com um

olhar atento e investigatório junto a temática que se constrói, da metodologia, dos

profissionais e alunos que estão inseridos no sistema.

A pesquisa com os tutores possibilitou estar muito mais próxima do “processo

social do que com a estrutura social; buscam visualizar o contexto e, se possível, ter

uma integração empática com o processo objeto de estudo” (NEVES, 1996, p. 2).

A possibilidade de desenvolver a pesquisa e, principalmente as entrevistas no

meio do trabalho dos tutores a distância, tornou possível observar o lugar, a forma e

a cumplicidade da equipe em seu ambiente originário de trabalho. Contribuiu para

que todos estivessem abertos as questões, mas principalmente para a compreensão

frente às respostas concedidas.

A pesquisa do tema e a elaboração dos capítulos, com a organização lógica

dos dados e a discussão com os autores possibilitou que o momento das entrevistas

fosse repleta de conteúdo e com vasta troca de experiências.

3.1 Metodologia

A metodologia adotada foi de uma investigação de abordagem qualitativa,

conforme Bogdan (1994, p. 16): “os dados recolhidos são designados por

qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente a

pessoas, locais e conversas, e de tratamento estatístico”.

Page 63: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

61

Os subsídios teóricos serviram de suporte para discutir o questionamento da

percepção dos tutores, com base em autores nacionais como Moran, Litto, Formiga,

Belloni, Sá, Teles, e internacionais como Litwin, Collins, Berge, Moore, Kearsley,

Palloff, Pratt, com aspectos relevantes da EaD.

Assim, trouxe para a discussão as concepções teóricas sobre EaD por meio

da análise normativa da evolução legislativa, principalmente da Constituição Federal

do Brasil (CF), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Plano

Nacional da Educação (PNE), Universidade Aberta do Brasil (UAB), que se

constituem as linhas fundamentais e basilares desta modalidade de Educação no

país.

O que se deseja é que a “interpretação se faça a partir da ligação dos dados

com conhecimentos significativos, originados de pesquisas empíricas ou de teorias

comprovadas” (GIL, 1991, p. 70).

A investigação foi iniciada no levantamento do cenário da Educação Superior

a distância, resgate histórico e dos termos legais que regem a matéria, para que se

pudesse situar no espaço e no tempo o contexto que os tutores a distância estão

inseridos.

A discussão e o embasamento teórico contribuíram para a realização da

pesquisa, possibilitando a compreensão e a coerência dos dados coletados.

A pesquisa na IESP “A” trouxe uma amostra diversificada, com tutores que

nunca tiveram contato ou formação com o método, até aqueles que possuem alguns

anos trabalhando na área.

Em uma totalidade de 92 tutores, foram selecionados uma amostra de 10,

mesclando aqueles recém contratados aos que exercem a função há mais de seis

meses junto ao grupo com a tutoria a distância, como também com profissionais que

já exerceram tal atividade em outras instituições, principalmente com o recorte da

formação acadêmica em instituições públicas ou privadas, área de formação, bem

como a titulação entre especialistas, mestres e doutores.

Ressalta-se que a pesquisa iniciou-se com a análise dos currículos dos

participantes disponíveis na Plataforma Lattes e que o número realizado de

entrevistas representa 10,82% da amostra inicial, um percentual que nos possibilita

a transparência dos dados coletados.

As entrevistas, por terem questões abertas e seguirem uma estrutura de

pesquisa qualitativa, determinam um percentual menor da amostra, sendo que o

Page 64: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

62

tratamento estatístico destes dados é moroso e repleto de detalhes que não podem

ser descartados e que são fundamentais para a estrutura da pesquisa.

Para Neves (1996, p. 4) a pesquisa oriunda de entrevista constitui-se em uma

tarefa de coleta e análise de dados, que:

[...] coletar e analisar os dados é extremamente trabalhosa e tradicionalmente individual. Muita energia faz-se necessária para tornar os dados sistematicamente comparáveis. Além disso, costumam ser grandes as exigências de tempo necessário para registrar os dados, organizá-los, codificá-los e fazer a análise.

Assim, através de perguntas que não delimitavam o tema e que eram

construídas ao longo das respostas dadas, aumentaram-se o grau de dificuldade da

formatação deste material.

Observa-se que houve o respeito na proporção entre homens e mulheres,

titulados com latu e stricto sensu, de formação acadêmica em instituições públicas e

privadas e áreas de humanas e exatas, visando isentar vícios na pesquisa e a não

indução dos resultados.

A entrevista, como instrumento investigatório ao presente trabalho, encontra

subsídio nas assertivas de Poupart (2008, p. 16), sendo:

Do exame das justificativas habitualmente alegadas pelos pesquisadores para recorrer à entrevista de tipo qualitativo, três argumentos se destacam. O primeiro é de ordem epistemológica: a entrevista do tipo qualitativo seria necessária, uma vez que uma exploração em profundidade da perspectiva dos atores sociais é considerada indispensável para uma exata apreensão e compreensão das condutas sociais. O segundo tipo de argumento é de ordem ética e política: a entrevista de tipo qualitativo parece necessária, porque ela abriria a possibilidade de compreender e conhecer internamente os dilemas e questões enfrentados pelos atores sociais. Destacam-se, por fim, os argumentos metodológicos: a entrevista do tipo qualitativo se imporia entre as “ferramentas de informação” capazes de elucidar as realidades sociais, mas, principalmente, como instrumento privilegiado de acesso à experiência dos atores.

A abordagem das entrevistas qualitativas estão alinhadas aos fatores sociais,

denominados de epistemológicos, aos fatores éticos e políticos, mas principalmente

identificar de forma mais próxima, as experiências dos atores.

A proposta da utilização da entrevista foi de analisar os significados das

ações e detectar o cenário ao qual o agente está submetido, sendo que o “processo

de condução de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os

Page 65: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

63

investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por

aqueles de uma forma neutra” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 50).

A entrevista “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do

próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia

sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN, 1994,

p. 134).

Deve-se atentar que o entrevistado deverá se identificar com o tema da

investigação, para que possa colaborar e permitir a fluência do assunto, como

também construir uma confiança mútua para que possa expressar seu ponto de

vista (POUPART, 2008).

A entrevista foi construída respeitando o formato, com questões lógicas,

visando criar um ambiente acolhedor ao entrevistado, resguardando o sigilo do

posicionamento e a transparência no questionamento, com a possibilidade de

identificar os significados e a forma com a qual o entrevistado percebe e se coloca

frente à Educação Superior e a EaD, sua formação, e principalmente, as

características e paradigmas derivados de sua formação e atual exercício.

Portanto, a primeira etapa da análise se constituiu na busca do currículo,

análise da trajetória profissional e de formação de base, seguindo para a entrevista,

buscando identificar a correlação da primeira etapa, com o cenário ao qual o agente

está submetido e compreender as possíveis semelhanças entre eles.

As entrevistas tiveram um tempo pré-destinado de aproximadamente 30

minutos, com agendamento prévio, com possíveis variações na duração, pois

decorreram das características pessoais de cada entrevistado.

Todas as entrevistas foram gravadas, resguardando-se o anonimato, com

trechos transcritos no corpo do trabalho, confrontando-se com os dados oriundos

dos currículos.

3.2 Entrevistas

O trabalho visa uma transparência frente aos dados coletados, e desta forma

preservar o nome da instituição e de todos os entrevistados, garantindo o anonimato

e a identificação apenas através de números.

Page 66: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

64

As entrevistas foram feitas com uma amostra de dez tutores, mesclando

aqueles que obtiveram a sua formação de graduação ou pós em instituições

públicas e privadas, como também tutores que nunca tiveram a experiência com

EaD e aqueles que possuem formação ou já trabalharam na área, visando obter

clareza nos dados coletados.

O convite para as entrevistas foi encaminhado a um total de 92 tutores,

visando possibilitar margem para maior transparência na seleção. Destes, 38

demonstraram interesse em participar. Foram selecionados dez, o que representa

27% do total de profissionais.

Procurou-se garantir uma amostra segura entre tutores formados em públicas

e privadas, área de humanas e exatas, experiência e ausência total de formação em

EaD, como também tutores que exerciam a função por ao menos dois anos dos que

assumiram em até onze meses.

Destaca-se que todos os entrevistados, após esclarecimento da pesquisa,

concordaram e assinaram de livre e espontânea vontade o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido, visando autorizar o uso do material coletado durante a

entrevista, garantindo-se o anonimato.

Antes do início das entrevistas, foram levantados dados (janeiro/2011) sobre

a totalidade dos tutores atuantes, e seus Currículos Lattes presentes na Plataforma,

para que se pudesse analisar o panorama profissional dos mesmos e suas

características, visando no momento da entrevista, frente ao todo, afunilar e alcançar

o foco desta pesquisa.

Os dados coletados na Plataforma Lattes serão entremeados com os dados

coletados nas entrevistas.

Analisando o gênero de tutores dispostos no gráfico 3, observou-se a

predominância de mulheres, 70, para apenas 22 homens, o que nos traz um cenário

de 84% de profissionais do gênero feminino.

Page 67: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

65

Gráfico 3 - Gênero tutores

Masculino

Feminino

22

70

Fonte: Plataforma Lattes (2011).

A entrevista respeitou esta proporção, tendo como participantes oito mulheres

(80%) e dois homens (20%).

Acompanhando os dados estatísticos, uma pesquisa de 2006 demonstra que

há “cerca de meio milhão de mulheres a mais do que homens nos campi do Brasil”,

e que as mulheres ainda eram minoria na docência do Ensino Superior, mas que

sua participação crescia a cada ano num ritmo “5% maior que a dos homens, o que

permite inferir que, mantida a atual tendência de crescimento, elas serão maioria

também na docência dentro de, no máximo, cinco anos” (RISTOFF, 2009).

Notou-se que a grande maioria dos tutores parou na primeira graduação

conforme demonstra o gráfico 4, não buscando novas possibilidades de formação,

pois 75 tutores, o que representa 82%, possuem apenas uma graduação, 16 tutores

possuem duas graduações e apenas um tutor possui mais ou igual a três

graduações.

Page 68: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

66

Gráfico 4 - Quantidade de graduações

1 2 mais que 03

75

16 1

Fonte: Plataforma Lattes (2011).

Examinando o percentual de tutores com pós-graduação stricto ou latu sensu,

mencionados no gráfico 5, lembrando que um dos requisitos para seleção era a

necessidade de titulação, sendo que, aqueles com pós-graduação stricto sensu

tinham prevalência frente aos latu sensu, constatou-se um cenário de 63 tutores com

pós-graduação latu sensu, o que representa 69% e apenas 29 tutores com pós

stricto sensu, representando 31% do total.

Gráfico 5 – Pós-Graduação latu e stricto sensu dos tutores

Stricto Sensu Latu Sensu

29

63

Fonte: Plataforma Lattes (2011).

Page 69: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

67

Olhando o cenário nacional através dos dados constantes na CAPES,

denominados de GEOCAPS (2010), encontram-se dados que reafirmam a realidade

local, são apenas 1.381 programas de mestrado e doutorado, e 1.054

exclusivamente de mestrado, o que dificulta o acesso e a possibilidade de obtenção

do título conforme indica o gráfico abaixo.

Gráfico 6 - Distribuição de pós-graduação por nível

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Mestrado/

Doutorado

Mestrado Mestrado

Profissional

Doutorado

1381

1054

24340

Fonte: GEOCAPES, dados estatísticos da CAPES (2010).

Ao iniciar as entrevistas, a primeira questão formulada foi acerca da

interpretação do tutor sobre o que era a Educação Superior.

Encontrou-se uma posição que a “Educação Superior é uma formação pra

atuar em alguma área, então seria um curso que você faz pra se especializar, para

conhecer e dominar a área que você vai atuar” (TUTOR 1).

Como também aqueles tutores que compreendem a Educação como um

“grau máximo de conhecimento que uma pessoa pode chegar” (TUTOR 2), ou

mesmo como uma forma de “informação. Tipo de informação mais específica”

(TUTOR 3).

Observou-se que o primeiro possui formação (graduação e mestrado) em

Educação, e desta forma a visão atrelada a Educação é mais detalhada e próxima

da realidade, sendo que as demais interpretações são de profissionais ligados a

área de matemática e sociologia respectivamente.

Page 70: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

68

A interpretação dos tutores formados em exatas está diretamente atrelada a

esta área do conhecimento, impondo ao conceito de Educação aspectos de

mercado e de preparo para o trabalho específico de formação do aluno, em que é

“uma preparação superior profissional para o mercado de trabalho” (TUTOR 5, grifo

nosso).

A interpretação da Educação superior é vista como uma forma de

“oportunidade, necessidade. Acredito que hoje o mercado de trabalho, quanto mais

se aprofunda nos estudos, nos conhecimentos, surge mais oportunidade, trabalho,

conhecimento” (TUTOR 7, grifo nosso) e verificam a obtenção do diploma como um

“começo do caminho profissional. Tem que ter qualidade extrema. Vai conduzir o

aluno a ser o que ele quer para a vida e formar/tomar decisões para a carreira”

(TUTOR 10, grifo nosso).

A área de formação impacta diretamente na visão concedida à Educação

Superior, trazendo traços de desenvolvimento e conhecimento quando originário.

Esta interpretação de profissionais ligados a área da Educação é uma visão mais

profissional, de mercado, quando oriundo das áreas de exatas.

Observou-se também que alguns tutores oriundos de instituições públicas,

compreendem o conceito de Educação Superior, com forte apelo a aspectos da

pesquisa, como também fixam como foco a necessidade impositiva de discussão

dos autores e dos temas em sala de aula, sendo que:

Educação Superior é uma formação que é realmente a hora de se criar uma formação crítica, uma concepção crítica acerca de uma determinada área. Principalmente para aqueles que ingressam em humanas, sendo mais uma intensificação, uma formação crítica. É o momento que você lê e critica autores (TUTOR 9, grifo nosso).

Conduzem a interpretação da Educação Superior para aspectos de

crescimento cultural, mas principalmente na formação de um olhar crítico da

realidade, em que a “Educação Superior passa também pelo aspecto cultural da

população, com que tenha uma percepção da realidade diferenciada, uma

percepção crítica da realidade. Passa pela questão de aprimoramento da

percepção” (TUTOR 6).

Frente a estas variações de interpretação de Educação, principalmente no

nível superior, após provocação dos entrevistados ao questionar se existe diferença

entre a terminologia Educação e Ensino Superior, foram obtidas as seguintes respostas:

Page 71: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

69

Tem diferença sim, ele tem um conceito mais abrangente quando você ensina, pois você passa somente conhecimento, e quando você educa há o pressuposto do conhecimento e também de uma formação pessoal, ética, mais abrangente, abordando outros aspectos da formação humana. O ensino eu acredito que esteja vinculado à questão dos conhecimentos, somente conhecimentos. Educação, eu acredito que seja um conceito mais abrangente, que na verdade a gente vai para passar a questão do conhecimento e trata também de outras aspectos da formação mais integral do aluno, enfim uma coisa mais abrangente de valores (TUTOR 1).

As colocações do Tutor 1 são pontuais e demonstram um conhecimento dos

conceitos de Educação e ensino, principalmente quanto delimita o primeiro,

Educação, na compreensão que é ensinar agregado aos fatores de formação

pessoal e ética.

Ao contrário deste tutor, os demais que foram entrevistados, por não serem

da área de Educação possuem uma visão conceitual comprometida quando fixa que

“o ensino é [...] eu acho que envolve mais a metodologia do professor” (TUTOR 2),

ou mesmo quando demonstram total desconhecimento acerca da questão, em que

“[...] você me pegou [...] eu tenho a idéia que o ensino seria a metodologia, tudo

mais, a Educação não tem o mesmo significado?” (TUTOR 3).

Há tutores, que mesmo não sendo da área de Educação, conhecem através

da prática a distinção do conceito:

[...] eu não sou da área da pedagogia, então não sei muito isso. Eu sei que educação pelo que já vi [...] ensino é só o conteúdo, educação é a pessoa além do conteúdo, ela também está se educado para a vida, formando um cidadão (TUTOR 4).

A formação influencia diretamente na interpretação dos referidos conceitos,

dando reflexos claros que aqueles profissionais ligados a área de Educação, abaixo

transcritos, dominam com maior propriedade os aspectos ligados ao conceito de

Educação e ensino, que “é um conjunto dos dois. O aluno tem que ser qualificado,

disciplinado. Diferente do ensino médio, ele terá prazos, metas, e ele será ensinado

para isso. É um conjunto” (TUTOR 10).

Diante desta questão há uma expressão que diz “quem ensina educa e quem

educa ensina”, como se fossem sinônimos e contendo em seu contexto o mesmo

significado terminológico (SPOHR, 2006).

Page 72: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

70

A etimologia demonstra que ensinar origina-se do latim insignare, que

significa indicar, designar (LOPES, 2002) e que significa passar conhecimento,

instruir.

De forma resumida, nas palavras de Spohr, que “ensinar significa instruir, e

educar significa criar bons hábitos ou bom caráter de conduta” (2006, p. 1).

A Lei 9.394/96 utiliza a terminologia de ensino apenas para tratar os níveis,

como ensino fundamental e médio, e Educação como termo específico para

Educação infantil e superior, pela abrangência e características necessárias a estas

formações.

Dentro desta ótica de ensino e Educação, os entrevistados foram

questionados sobre o significado da Educação a distância, e se a mesma atende as

questões conceituais do termo Educação, ou se estão mais alinhados com ensino a

distância:

Eu preferiria que fosse educação mas nem sempre a gente vai ter essa educação, algumas instituições vão trabalhar somente com ensino realmente.[...] Eu acho que é a forma como lidam com o aluno, pois há escolas mais ligadas a produção de trabalho, a produção do conhecimento, enquanto outras se preocupam mais com a formação do aluno como um todo, por exemplo, aqui nessa instituição, a gente tem disciplinas de direito para todos os cursos de graduação. Temos uma formação profissional acrescida de orientações, entende, não é só circunscrito e fechado a uma área do conhecimento, como a minha formação, por exemplo, que só tive as disciplinas atreladas a minha área. A minha formação foi ensino, fui capacitada para trabalhar na minha área, não foi uma formação completa. (TUTOR 1).

A colocação do Tutor 1, “eu preferia que fosse educação mas nem sempre a

gente vai ter essa educação”, a visão crítica à sua formação, faz com que ela

consiga atrelar a prática profissional conceitos e possibilidades que ampliem o leque

do aluno.

Os demais entrevistados, quando formulada a mesma questão anterior,

fixaram o conceito de EaD, não detalhando como pelo Tutor 1, transcrito acima, mas

sim permeado pelo conceito de EaD e a forma de interação com o aluno.

O Tutor 2, não responde a questão, se seria Educação ou ensino a distância,

sempre utilizando abreviatura EaD, ao se referir a pergunta formulada, trazendo que:

A EaD são as ferramentas usadas para que essa aprendizagem aconteça, e é todo o trabalho que o professor tem com seu aluno em fazer ele entender o conteúdo e aprender, mas de uma forma

Page 73: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

71

diferente, não presencial, via tecnologia, computador, outros meios que funcionam (TUTOR 2).

O Tutor 7 responde a questão, fazendo uma afirmação mais voltado aos

objetivos da EaD, deixando o questionamento da entrevista entreaberta, afirmando

que:

Inclusão. Ainda mais hoje em dia que se fala muito em inclusão. Pessoas de baixa renda ou que falta tempo, e que necessitam trabalhar para dar sustento para a família. É uma oportunidade para essas pessoas adquirirem um diploma, conhecimento, dando uma melhor qualidade de vida para a família e para si próprio (TUTOR 7).

Ter conhecimento que a EaD possibilita “a inclusão” (TUTOR 7), ou mesmo

deter o olhar para a EaD, através do “foco no aluno” (TUTOR 2), trazem os aspectos

relevantes da EaD, que os autores, discutidos no presente trabalho, abordam com

grande propriedade, e que durante as entrevistas puderam ser sentidas com maior

profundidade e clareza nas colocações.

Observando o conceito trazido pelos entrevistados, percebeu-se que está

entremeado de posições pessoais, obtidas através de sua formação e pela prática

docente, o que garante uma visão mais próxima do que é realizado na relação tutor

e aluno no ambiente virtual.

A abordagem de aspectos positivos da EaD, como a possibilidade de rever as

aulas quantas vezes o aluno desejar, ou mesmo questionar a cada dúvida ou passo

da aprendizagem, foi muito bem recortado pelo tutor, que expõe que é:

[...] uma educação, como a presencial. Ela tem os seus méritos, com uma facilidade maior, porque você tem um período diferente de estudo, tendo até mais horas de estudo do que você tem no presencial. A distância, pode se ver as aulas depois, consultar o professor quando precisar, pois o tutor a distância vai estar sempre disponível para os seus questionamentos, suas dúvidas. Os vídeos, por exemplo, se você assistiu uma aula presencial, você não tem como rever a aula, então a distância você pode rever isso, não conseguiu ver hoje: “amanhã eu estudo” (TUTOR 8).

Há foco também a ausência de contigüidade geográfica e os aspectos da

responsabilidade do aluno no processo de aprendizagem, sendo que:

A diferença é o espaço. Você não está em um espaço fechado, mas independente da educação a distância ou do presencial, o interesse do aluno é fundamental. O professor está ali, disposto a ensinar e possibilitar todas as ferramentas e consultas ao aluno, mas depende apenas dele absorver e agarrar, se dedicar, ler, ir atrás (TUTOR 10).

Page 74: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

72

A definição de EaD trazida pelo tutor 9, demonstra que a terminologia

“distância” não pode ser interpretada como sinônimo da falta de comprometimento

do aluno e que o aprendizado está diretamente relacionado a dedicação e empenho

para com o método, como afirmação. “A educação a distância não pode ser a

distância para começar, é uma educação que exige muito do aluno, preparação e

organização” (TUTOR 9).

Evidencia-se que o objetivo do tutor é direcionar e possibilitar o entendimento

do aluno criando meios de adaptação do sistema e do conteúdo de forma acessível,

visando a melhor compreensão e fixação, assim:

Pesquiso sobre o tema e a situação da cidade e realidade do aluno. As vezes eu converso com alguém que já foi para lá, assim posso saber qual é a situação daquela região, porque não posso usar o mesmo modelo ou exemplo para todos os alunos, temos que conhecer o que está acontecendo na cidade deles para indicar exemplos mais próximos, mais reais. Os alunos me mandam mensagens com eventos ou notícias da cidade [...], os alunos tentam aprender no geral, eles levam um pouquinho para o local de trabalho e para a casa o que estão aprendendo naquele momento (TUTOR 4).

A necessidade de aproximar os exemplos a realidade do aluno, facilitando e

possibilitando uma melhor captação e entendimento do assunto, faz com que os

tutores busquem formas inovadoras de obter informações, como buscar pessoas

que conhecem a realidade local e a busca pela internet de notícias, eventos e fatos

relevantes que envolvem a região ao qual ele está inserido, ou mesmo utilizar na

interação com o aluno, para que ele forneça exemplos ou fatos que contribua com o

processo de aprendizagem e facilite ao tutor na abordagem desta realidade.

O tutor 9 demonstra que a necessidade de procurar exemplos é premente e

deve fazer parte do cotidiano do trabalho, assim:

Eu procuro exemplos, agora mesmo está acontecendo uma semana de assistência social em uma cidade que atuo como tutora, eu entro na internet e procuro eventos e palestras no Google, repasso as informações e estimulo que participem. Vou puxando o assunto da realidade e do cotidiano para envolver o aluno (TUTOR 9).

Há que se ressaltar, mas por incrível que pareça, um dado altamente

relevante que, “[...] temos que ter em mente que muitos de meus alunos não

acessam a internet” (TUTOR 9), sendo algo estranho ao olhar e controverso, quando

Page 75: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

73

compreendemos que estes alunos cursam graduações a distância, e que

necessitam utilizar as ferramentas tecnológicas para intermediar os seus estudos.

Compreender esta realidade, que muitas vezes é alheia a realidade ao qual o

tutor está inserido, faz com que haja uma empatia e possibilite o estreitamento dos

laços entre eles, sendo que é necessário “entender um pouco a realidade do meu

aluno. Há alunos que residem em locais de extrema violência com sérios problemas

sociais, o nosso trabalho é fundamental para transformar esta realidade” (TUTOR 6).

Nas palavras de Moran (2010), quando olhamos a Educação presencial e a

distância, compreendemos que esta desloca o:

[...] foco da aprendizagem para os alunos e exige um contato freqüente, um acompanhamento individual bem diferente da forma como habitualmente o professor age em relação aos alunos presenciais, onde costuma focar o grupo, a maioria, a média.

Ao deslocar a aprendizagem para o aluno, faz com que o ensino se torne

mais próximo da realidade ao qual ele vivencia, como também a compreensão das

deficiências e necessidades individualizadas de cada um, transmitindo ao tutor uma

responsabilidade direta.

Esta responsabilidade é sentida e vivenciada pelos tutores, que:

Quando eles trazem a experiência do estágio, em cada município a gente sabe que a política é efetivada de uma forma, depende do gestor e as demandas também são diferentes, há muito sub-emprego e desemprego com inúmeras peculiaridades, temos que compreender e atuar frente a estas diferenças, atendendo o aluno (TUTOR 7).

A necessidade de “compreender e atuar frente a estas diferenças, atendendo

o aluno”, (TUTOR 7), deve ser o foco e a atuação almejada por quem trabalha na

área.

O tutor deve identificar os possíveis pontos de dificuldades na compreensão

das teleaulas e passar o conteúdo de forma acessível e didática, por isso a

necessidade de compreender a realidade do aluno e trazer, através de exemplos, a

realidade ao qual ele compreenderá.

Assim, podemos frisar que:

[...] uma professora na teleaula usou uma expressão diferente do que os alunos estão acostumados a ouvir, eu procurei modificar a forma da expressão e a colocação, para que ficasse mais claro e eles pudessem compreender melhor (TUTOR 8).

Page 76: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

74

Há que se observar que os alunos possuem ritmos e formas de aprender

diversas no ambiente virtual, não há um padrão. “Embora a internet seja

considerada uma maneira de tornar as pessoas mais parecidas, devemos levar em

consideração algumas diferenças, incluindo o estilo de aprendizagem, o gênero, a

cultura e a presença de algumas deficiências” (PALLOFF; PRATT, 2004, p. 53).

Frente a esta heterogeneidade dos alunos e embutido da visão de Educação

e do conceito de EaD, os entrevistados foram questionados sobre qual era o papel

que exerciam em relação a Educação Superior, mas principalmente, em relação a

EaD.

Notou-se que os entrevistados visualizam de modo geral a carência da figura

autônoma e independente do docente nas salas de aula mediante a evolução da

Educação a Distância, conforme dispõe o tutor 1: “hoje a gente está com uma outra

situação, antes os professores eram transmissores de conhecimento, hoje não

mais”, e de forma pontual, o tutor 4 esclarece que faz parte de uma grande

engrenagem, uma ferramenta interligada, que necessita que todas as peças estejam

funcionando bem, voltadas para um único objetivo, o aprendizado do aluno.

Uma ferramenta, mais como uma parte dessa engrenagem sabe? Eu pensei em fazer o meu melhor, porque pode ser importante na vida de outra pessoa, entendeu? Só uma parte, uma pequena parte, mas que para funcionar todas as partes tem que estar interligadas e funcionando bem [...], pra ser uma coisa boa (TUTOR 4).

O tutor 6 frisa que a sua função é basicamente “operacional. Tentar orientar

como mexer nos instrumentos, como postar, por onde interagir, quais são os meios

de comunicação e como fazer uma agenda para estudo”.

Para Maia e Mattar (2007), o tutor figura como um “facilitador educacional”

que auxilia o aluno, dentro da estrutura do programa do curso, material e formas de se

desenvolver e aprimorar o seu conhecimento, conforme discorrido no presente

trabalho.

Desta forma observa-se que o “papel é ensinar, orientar, ajudar, é poder

mostrar que é possível, de uma forma, que dependa deles também” (TUTOR 10), que

o papel do tutor é “despertar o interesse de buscar o aprendizado além do que se

exige, sendo primordial, desenvolver o interesse e a vontade nesse aluno” (TUTOR 7).

O tutor deve criar um ambiente acolhedor, visando o estímulo e a sensação

de amparo, para que o aluno perceba que não está sozinho e nem isolado do seu

Page 77: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

75

grupo e, tomar consciência que o papel é de “ensinar, orientar, ajudar, é mostrar que

é possível o que eles querem, mas que dependem deles” (TUTOR 10).

Nessa ótica, os tutores se identificam como um grande orientador, que visa

conceder apoio e uma mão firme e segura durante o período de estudo, frente a

aprendizagem e tendo uma interpretação: “me vejo mais como uma orientadora

desses alunos (TUTOR 2, grifo nosso).

O Tutor 1 explica que o conhecimento é fundamental, mas que é necessário

compartilhar as dificuldades que o aluno encontrará no mercado de trabalho, sendo

que:

O meu papel é na verdade orientar da melhor forma possível os alunos encaminhá-los dentro dessa visão profissional o máximo que eu puder. Acompanhar, orientar, tirar duvidas, angustias, motivar, [...] mostrar, dizer, as possibilidades de caminho, acho que essa medida lógica de ajudar na informação, no conhecimento. Acho que é importante o conhecimento, pois faz falta para o profissional, mas também uma orientação mais geral, em realmente dividir os caminhos, as dificuldades e a persistência que ele vai precisar para conseguir esse lugar ao sol [...] (grifo nosso).

Assim, a preocupação de encaminhar o aluno do processo do conhecimento e

conseqüentemente em seu crescimento pessoal também fazem parte do cotidiano

de trabalho destes tutores.

Há que se ressaltar que o “conhecimento hoje é muito acessível, tem que

aprender a lidar com ele, identificar qual conhecimento realmente é verdadeiro, é

sólido, confiável” (TUTOR 1).

Desta forma, a orientação perpassa até mesmo em demonstrar ao aluno

como obter e lidar com este conhecimento, visando um crescimento pessoal

contínuo ao longo da vida, e para tanto, atribuem uma proximidade e empatia maior,

visando possibilitar que este processo ocorra, sendo que “eu tenho esse olhar que é

um ser humano e eu dou muita atenção pra ele e isso valoriza muito” (TUTOR 3).

Os tutores identificam-se e colocam as características inerentes ao cargo,

sem terem um aprofundamento ou qualificação que pudessem induzi-los a descrever

o seu papel ou atuação frente ao que os teóricos expõem e aderem ao cargo do

tutor.

Conforme demonstrado por Moore e Kearsley (2007), cabe também ao tutor a

distância dar apoio na resolução de problemas técnicos e acadêmicos, pois está

Page 78: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

76

presente na solução ou no encaminhamento de grande parte das dúvidas e

problemas que o aluno tiver durante o seu curso.

Um dos quesitos atribuídos pela literatura ao tutor a distância é a orientação

de procedimentos e regras gerais do sistema, como “netiquetas” (PALLOFF; PRATT,

1999), dúvidas do sistema e aconselhamento (MOORE; KEARSLEY, 2007), em que:

“[...] uma orientação mais geral, então, realmente dividir os caminhos, as

dificuldades e a persistência que ele vai precisar para ele conseguir esse lugar ao

sol” (TUTOR 1).

As adaptações no ambiente virtual de ferramentas e técnicas antes utilizadas

pelos tutores nas salas de aula convencional representam uma forma de

proporcionar um ambiente acolhedor, atendendo ao suporte social mencionado por

Mason (apud TELES, 2009). No mesmo sentido o tutor 3 explica:

[...] eu também tenho meu lado de professora do presencial que eu trouxe muito, eu trouxe esse meu jeito de ser dedicada, atenciosa, isso também é meu, da minha natureza [...] estou trazendo para a educação a distância.

Trazer as experiências práticas do presencial, principalmente a didática e a

atenção na abordagem dos alunos, é algo essencial e que possibilita um ambiente

mais acolhedor e próximo ao aluno.

Como também a compreensão do ponto inicial que o aluno está como forma

de respeito e atenção a este indivíduo, possibilitando que haja um:

Acompanhar das trajetórias individuais. Conseguir acompanhar, registrando, o crescimento e a evolução do aluno [...]. Construir o conhecimento junto com o aluno. Partindo da concepção de quais são os conhecimentos que este aluno traz consigo (TUTOR 6).

Nas palavras de Belloni (2009), aliar materiais e didática em ambiente virtual

é um dos pontos mais difíceis e encantadores da EaD, porque possibilita o

surgimento de novas ferramentas e abordagem teóricas.

E, conforme exposto por Lynch e Corry (1998), a prática ainda é uma das

melhores formas em possibilitar o aprendizado do docente com as ferramentas e

técnicas didáticas no ambiente virtual. Menciona o tutor 1 que:

[...] o fato de lecionar, eu tenho mais de cinco anos de ensino fundamental e dois de ensino médio, o fato de lidar, conhecer e relacionar-se com alunos facilita muito, porque aluno é sempre aluno, muda o nível, a graduação que ele esta fazendo, mas ele é um aluno, [...] então eu acho que realmente ajudou e transpor isso para o EaD não me causa grandes problemas, lógico que estou em uma

Page 79: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

77

geração de pura tecnologia, que interage e tal, então não tenho grandes dificuldades para usar a tecnologia para lidar com os alunos (grifo nosso).

A experiência no presencial possibilita que seja transportada a didática, a

forma de abordagem e a estrutura das aulas para o ambiente virtual, tendo apenas a

necessidade de interagir com os meios tecnológicos.

A visão da sala do presencial e do papel do tutor trouxe à pauta um ponto

relevante acerca da percepção que os alunos e tutores detinham da EaD, antes do

ingresso nesta modalidade de ensino.

Observou que o desconhecimento e a ausência quase que completa de

experiências práticas com a EaD, cria distorções teóricas e de interpretação que

acarretam a Educação a Distância, a imagem de ausência de qualidade e cursos

voltados aos que não possuem recursos financeiros para procurar outra opção.

Os próprios alunos possuíam uma idéia de que cursos a distância eram mais

fáceis e que não necessitam de tempo ou de dedicação para o estudo, sendo que:

A idéia que eles tinham da EaD esta mudando. Eles achavam que era apenas copiar e colar as coisas prontas da internet e mandar para a gente e estão vendo que não é bem assim. Estão tendo que procurar mesmo, estudar e montar o trabalho de acordo com aquilo que se pede (TUTOR 2).

O desconhecimento do método faz com que alunos, que desejam um estudo

rápido e por vezes, descomprometido, procurem a EaD como uma forma rápida de

solução de problemas, e “muitos alunos ingressam na Educação a Distância sem

saber o que é a modalidade, isso gera um problema, porque eles acreditam que por

ser a distância não vai demandar tempo. O que não é verdade” (TUTOR 9).

Esta desconfiança materializa-se nas ações de empregadores que

discriminam os candidatos formados em cursos de EaD, pela desconfiança quanto à

validade do diploma, dificuldade em obter registro nos órgãos de classe e ingresso

em concursos públicos (BIELSCHOWSKY, 2011).

Cita-se como exemplo desta discriminação aos alunos, a discricionalidade da

Resolução nº 40/09 do Conselho Nacional do Ministério Público, que vinculava o

aceite apenas de cursos presenciais, para a contagem de ponto de cursos de pós-

graduação, o que foi sanado com a edição da nova resolução, e conseqüentemente

a supressão da palavra presencial (NEVES, 2010).

Page 80: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

78

As pressões externas são sentidas no receio que os tutores demonstraram ao

longo da pesquisa, principalmente no que tange ao Conselho Federal de Serviço

Social (CFESS) que vem trazendo uma forte e atuante discussão frente ao ensino

deste curso na modalidade a distância, tendo nas palavras da presidente da CFESS,

Boschetti (2011, p. 01), que:

A graduação à distância não garante a formação com qualidade, não possibilita a realização de pesquisa e investigação, descumpre os parâmetros para o estágio, apresenta conteúdos fragmentados e parciais, além de, em muitos casos, inexistirem bibliotecas, material didático aprofundado, discussões em sala de aula e trabalhos de campo.

As assertivas da presidente do CFESS generalizam que o ensino na

modalidade a distância são precários pela qualidade do ensino ministrado e

ausência de estrutura que possibilite o desenvolvimento do aluno.

Esta atuação do CFESS está impactando no posicionamento dos tutores, que

externalizaram grande preocupação:

[...] temos um certo receio, principalmente em função do posicionamento dos Conselhos Federais de Serviço Social e da campanha que eles estão fazendo. A gente discute entre a gente e monitoramos as ações para saber se eles não estão colocando o nosso nome em uma lista negra. Isso a gente tem muito medo, pois temos receio do que vai acontecer com a gente. [...] Os estudantes estão sentindo muita discriminação em relação a isso. Necessitamos aprofundar os estudos para mostrar o que está sendo realizado e afastar essa campanha difamatória, pois eles não tem noção do que está sendo realizado. Aparentemente nos apresentam como um sistema de caça as bruxas, parece que quem está inserido nisso deve ser banido (TUTOR 6).

O CFESS ao apontar que todos os cursos de Serviço Social na modalidade

EaD pecam pela qualidade de ensino e estrutura, cria incertezas aos docentes e

alunos que estão inseridos no sistema educacional deste curso.

Todos os entrevistados colocaram a percepção frente a EaD, muitos

demonstraram certo preconceito que apenas foi dirimido quando iniciaram as

atividades e tomaram conhecimento dos processos, sistemas e métodos como um

todo.

Detectou-se que os tutores oriundos de instituições públicas, 5 tutores

entrevistados, transpareceram, clara e abertamente preconceito quanto a estrutura e

qualidade da EaD, não a aceitando como forma viável de ensino, observa-se:

Page 81: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

79

Na verdade eu vim pra cá com muito preconceito, embora haja projetos agora na Universidade Pública com a EaD, ela é vista com muito preconceito. Acho que a palavra é essa mesmo. Então as pessoas normalmente, não são todos os grupos nem todos os departamentos, mas de uma forma geral ela não é bem vista, não é bem vista em uma universidade (TUTOR 1).

A ausência de contato com esta modalidade de ensino ocasiona em um

grande receio, que nas públicas se materializa como um forte preconceito tanto

quanto aos cursos, como também aos alunos que se formam através desta

modalidade, sendo que “no começo, vou ser bem sincero, tinha muito preconceito

com essa modalidade, mais eu não tinha contato nenhum [...]” (TUTOR 4), e se

pode frisar que “chegava a ser preconceito porque eu achava que não era a mesma

coisa, pegar um aluno formado presencial com um aluno que formou a distância”

(TUTOR 9).

Quando os entrevistados foram questionados qual era o motivo ou receio

contra a EaD, apontaram o mesmo ponto coincidente:

Porque dentro da formação da universidade, veja bem a universidade se presta a formar pesquisadores, então eles acham que a discussão presencial tem que estar muito marcada. Eu concordo em partes. Eu acho que realmente alguns deles tem que ser mantidos, mas eu vejo que há possibilidades da introdução da EaD, tanto é que está sendo feita à revelia dos pesquisadores que trabalham nela. Mas as políticas públicas tem enfiado “guela abaixo” algumas disciplinas, algumas atividades com essa metodologia (TUTOR 1).

Como também se verifica a visão distorcida do processo:

Eu acreditava que era compra de diploma, pois não sabia direito como funcionava, desconhecia que existia aula via satélite e interação por computador. Eu acreditava que as pessoas estudavam pelo computador, com provas on-line. Mas hoje eu mudei totalmente a minha visão (TUTOR 4).

Os tutores apontaram os fatores deste preconceito como sendo a

necessidade de “discussão presencial ser muito marcada” (TUTOR 1) ou mesmo

que “era compra de diploma” (TUTOR 4), demonstram um total desconhecimento do

processo em que se constitui a metodologia da EaD, e de forma a arrematar estas

considerações, o Tutor 6, pontua uma postura “elitista das públicas, dos docentes

que estão lá. Receio disso tudo dar certo, e eles perderem o poder da homologação

dos títulos” (TUTOR 6).

Page 82: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

80

Ao analisar os formados em instituições particulares denota-se uma

curiosidade e um desconhecimento perante a metodologia de ensino, mas não se

aproximando a um preconceito, pois observou-se que: “preconceito? Se existe está

acabando. Isso foi só um mito, só no começo, pois com a evolução da área de

educação, está acabando” (TUTOR 3).

Outros tutores apenas tinham o sentimento de dúvida acerca do modelo,

sendo que: “duvidava, será que isso funciona mesmo? Que é uma coisa muito

interessante, que funciona?” (TUTOR 5), ou mesmo que “fugia um pouco da

realidade, por conta da vivência, da troca de aluno na hora da aula presencial, que

isso poderia ser negativo para o aluno e aprendizagem” (TUTOR 7).

Como também demonstram que o receio vem pela possibilidade da EaD ser

“mais fácil” (TUTOR 8), e que “imaginava que era um curso fácil. Bem fraco”

(TUTOR 10).

Ao analisar as entrevistas com os dados obtidos através da Plataforma Lattes,

verificou-se um cenário dos tutores quanto ao regime da IES que obtiveram a

graduação e a pós-graduação, presentes no gráfico 7, em que 71% e 66%,

respectivamente, obtiveram a sua formação inicial e pós-graduação latu ou stricto

sensu em instituições particulares.

Gráfico 7 - Regime das IES - graduação e pós-graduação pelos tutores

Graduação Pós Graduação

2126

7166

Pública

Privada

Fonte: Plataforma Lattes (2011).

Page 83: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

81

Frente a este cenário, a AbraEAD (2008), demonstra que 36,4% das

instituições que possuem alguma ferramenta EaD na graduação são públicas, contra

um cenário de 62,9% de instituições privadas, conforme tabela a seguir:

Tabela 10 - Distribuição das instituições por classificação jurídica (agrupado)

Classificação Jurídica

N. de Instituições

% Total de Alunos

%

Públicas 51 36,4 131.061 17,1 Privadas 88 62,9 632.539 82,4

Não Respondeu 1 0,7 3600 0,5 TOTAL 140 767.200

Fonte: AbraEAD (2008, p. 51).

Observando o quadro geral, conforme apresenta o gráfico 8, identificou-se

que a ausência de contato com a ferramenta é muito grande, 79% na graduação e

74% na pós-graduação nunca tiveram contato com ferramentas de EaD. O que

aumenta o receio e o preconceito com o método.

Gráfico 8 - Contato com ferramentas EaD durante a graduação e a pós-graduação

Sim Não

13

79

18

74

Graduação

Pós Graduação

Fonte: Plataforma Lattes (2011).

Frente ao presente gráfico e questionando aos tutores durante a entrevista

acerca da experiência com a ferramenta tecnológica, considerando os que atuaram

como tutores em outras instituições, ou que foram alunos ou obtiveram experiências

Page 84: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

82

com as ferramentas de EaD, observou-se que aqueles que foram alunos nesta

modalidade de ensino compreendem que esta “experiência favoreceu muito a

qualidade de meu trabalho, pois hoje eu conheço os dois lados” (TUTOR 3).

Os tutores que já tiveram a experiência de ser aluno em ambiente virtual

possuem uma consciência maior da realidade do aluno, e:

[...] estou cursando pedagogia EaD, e me ajuda em ter uma outra visão do aluno. Pois, por trabalharmos atrás de uma máquina, falta humanização na relação, e tem que saber que tem pessoas do outro lado, que possuem dificuldades. Veja, na minha sala de aula tem pessoas que trabalham no corte de cana. A realidade é muito diferente do que estamos acostumados em nossas vidas (TUTOR 4).

Compreender que os alunos possuem dificuldades e que a “a realidade é

muito diferente do que estamos acostumados em nossas vidas” (TUTOR 4), faz com

que o tutor redobre o seu esforço em cativar e motivar aquele aluno, auxiliando-o no

processo de aprendizagem já que possuem maior propriedade para compreender

possíveis falhas no processo e conseguir atuar de forma a sanar tais deficiências ou

mesmo buscar a melhoria nestes itens. Assim:

Fiz a minha especialização a distância, e hoje por trabalhar na área consigo definir bem os pontos negativos desta experiência. Não existia um respaldo dos tutores, pois encaminhávamos as dúvidas, e demorava meses para vir a resposta, quando vinha. Eu trago muito forte isso comigo, para que eu possa atuar de forma diferente, possibilitando ao meu aluno uma interação mais próxima, constante, e mostrar que por mais que estejamos distantes fisicamente, há a proximidade para ajudar no processo de construção do aprendizado (TUTOR 7).

A morosidade no retorno às dúvidas postadas pelos alunos, faz com que se

sintam distantes e muitas vezes desestimulados havendo a real necessidade de

mostrar um ambiente acolhedor, que espera a atuação ativa e constante do aluno

através de um tutor receptivo e pronto para sanar toda e qualquer dúvida que exista.

Observa-se que na prática, a vivência do aluno na EaD, possibilita ao tutor

comparar entre o ensino presencial e o a distância, encontrando pontos semelhantes

e divergentes, que podem contribuir para a construção de uma abordagem, na

tutoria, de forma positiva e que atenda o aluno em suas necessidades, sendo que na

EaD:

[...] você tem que estudar mais, tem que ir além. Há a tele-aula, o tutor presencial, o tutor a distância e os grupos de discussão da sala entre os alunos, você tem mais recursos e pessoas interagindo com

Page 85: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

83

você, o que não há no presencial, isso faz com que busque mais, é um impulso para aprender e discutir (TUTOR 8).

Pode-se afirmar que tutores que obtiveram a sua formação inicial em

instituições públicas e que possuíam preconceitos contra esse método de ensino,

estão envolvidos e engajados na EaD com uma forte mudança de paradigma, em

que se pode confrontar as posições anteriormente presentes neste trabalho, com a

percepção atual que eles detém.

Visando uma melhor percepção, os recortes das entrevistas serão agrupadas

em “antes” e “depois” do contato com a EaD.

• Antes

“Na verdade eu vim pra cá com muito preconceito.” (TUTOR 1).

• Depois

Hoje eu diria que tenho uma outra visão com relação à educação a distância e muito diferente do que eu tinha antes. Abriu a minha mente, quebrou meu preconceito. E acredito que isso veio da minha formação, toda a minha graduação eu tinha ouvido que a EaD era um bicho papão e que não servia e imaginava que estavam “avacalhando” com o curso. Eu tinha esse preconceito. Acredito que aceitável, e quando conheci a metodologia, na verdade fiquei bastante interessada, inclusive comecei a ler sobre a questão, escrevi artigo (TUTOR 1).

Observa-se que o preconceito era oriundo do desconhecimento da ferramenta

e principalmente pela imprópria visão frente as possibilidade que a EaD possui,

incluindo para a discussão em grupo.

O Tutor 04, detinha uma impressão errônea da EaD, sendo que:

• Antes

“Compra de diploma.”

• Depois

[...] é uma oportunidade para as pessoas que ela nunca teriam na vida delas sabe? Fazer um curso mais rápido, poder trabalhar, eu acho que se as pessoas levarem a sério e se elas se esforçam, funciona tão bem quanto a presencial. E na presencial muita vezes você está lá, mais você não está lá olhado o professor, apenas esperando a hora passar. Acho que na educação a distância se a pessoa levar a sério pode apreender tão bem quanto ou até melhor (TUTOR 4).

Page 86: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

84

A mudança de paradigma trouxe a possibilidade de identificar que a

responsabilidade e comprometimento do aluno podem ser o grande diferencial, pois

no presencial “muitas vezes você está lá, mais você não está lá olhado o professor,

apenas esperando a hora passar. Acho que na educação a distância se a pessoa

levar a sério pode apreender tão bem quanto ou até melhor” (TUTOR 4).

Denota-se que os tutores conseguiram olhar a EaD como uma forma de

alcance às realidades, situações e regiões menos favorecidas no país, alterando

uma visão antes parcial e muito peculiar, para uma visão mais realista, sendo:

• Antes

“Elitista das públicas, dos docentes que estão lá. Receio disso tudo dar certo,

e eles perderem o poder da homologação dos títulos.” (TUTOR 6).

• Depois

O que estou produzindo aqui está tendo impacto em uma região muito distante daqui, mais de 1.000 km. Precisa ter um comprometimento muito sério. É o caminho para transformar o país. Nós temos um potencial muito grande na EaD, é algo fascinante. Estar a distância e conseguir fazer este estopim de reações nestas regiões do país (TUTOR 6).

O tutor coloca-se em uma visão idealista do processo de ensino, em que vale

frisa ser “o caminho para transformar o país” (TUTOR 6).

Observa-se que a mudança não ocorreu apenas perante a percepção da

EaD, mas também frente a projeção deste modelo para o futuro, onde as assertivas

dos tutores estão diretamente ligadas ao acesso e garantia de oportunidade para

todos, sendo:

É o futuro. É como eu disse, as pessoas estão muito atribuladas, a vida é muito corrida para poder conciliar o trabalho, a vida particular, tudo. A indicação é a EaD [...], ela é ótima. Eu como tutora percebo, dentro de toda a minha base didática, que é bom, pois o material é muito bom (TUTOR 3).

Consideram a EaD como uma possibilidade de conciliar trabalho e estudo,

principalmente para quem:

[...] já tem uma faculdade e quer continuar estudando. Igual o meu caso, eu já me formei e tenho que fazer pedagogia, eu não teria oportunidade de fazer pedagogia, pois hoje trabalho e quando chego em casa tenho inúmeras tarefas a serem feitas, se não tivesse [o

Page 87: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

85

curso] a distância não teria esta oportunidade. Eu consigo aprender novas coisa e conciliar com meu trabalho (TUTOR 4).

A EaD possibilita que estudantes que necessitam trabalhar e que possuem

restrição de tempo, recurso financeiro ou mesmo dificuldade de acesso a Educação

Superior pela região ao qual estão inseridos, possam estudar e obter um diploma de

nível superior.

O presente capítulo trouxe as entrevistas com os tutores e os dados coletados

na Plataforma Lattes.

Analisou-se que os profissionais oriundos da área de Educação possuem

maior propriedade ao abordar a Educação, como também demonstraram uma maior

segurança ao falar sobre como lidam com os alunos em ambiente virtual, levando

experiências da prática para a sala de aula.

Outro ponto de relevante interesse é acerca do posicionamento que os tutores

da área de exatas possuem frente a Educação, limitando o seu conceito apenas

como preparação para o mercado de trabalho.

As características do tutor apontadas no capítulo dois foram comprovadas na

fala dos tutores, principalmente no ponto em que reconhecem que a sua atuação

figura-se muito como um orientador no processo de ensino do aluno.

A hipótese foi atendida neste capítulo, quando analisadas as características

acadêmicas dos tutores, como também identificados o impacto que a ausência de

contato com a ferramenta ocasiona no processo de ensino e aprendizagem.

Todas as questões e objetivos que sustentavam a hipótese foram

respondidas e apresentadas no presente capítulo, principalmente por demonstrar

quem são os tutores, qual a área de sua formação e a percepção que eles detém da

EaD, como também a compreensão dos impactos que a área de formação possui na

interpretação desta modalidade de ensino.

Page 88: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

86

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse em compreender a EaD veio com o trabalho e as inovações

apresentadas com o passar dos anos, sendo que, durante a formação acadêmica,

não houve contato com algo que se aproximasse do mundo da Educação em

ambiente virtual. Surgiu rapidamente o interesse e dedicação neste ambiente,

ensinando, mas muito mais aprendendo.

Dentro da trajetória pessoal e profissional e diante dos estudos, discussões e

leituras no mestrado (cujo projeto de pesquisa, quando apresentado era ainda

tímido, singelo e sem vida, mas foi ganhando formato e posteriormente conteúdo),

tornou possível descobrir o que realmente despertava interesse e perturbação,

principalmente por estar fazer parte deste processo e não ter respostas, nem ao

mesmo o fio da meada do começo ou fim do processo na EaD.

Foi necessário redesenhar o projeto de pesquisa, o tema e principalmente a

hipótes e questões que sustentavam a pesquisa, visando um recorte da percepção

que estes docentes, hoje chamados de tutores, detinham do meio ao qual estavam

inseridos.

Decidiu-se que a pesquisa iria identificar as características de formação

acadêmica dos tutores a distância que exercem as atividades na Educação Superior

e verificar se são insuficientes como suporte pedagógico ao trabalho com as

ferramentas tecnológicas atuais presentes na EaD.

Observou-se que a ausência de contato com as ferramentas de EaD trazem

um receio e preconceito com o método; mas quando os profissionais, mesmo

aqueles que nunca tiveram contato com a ferramenta, conseguem aliar as

experiências obtidas no presencial durante os anos de estudo e alguns durante o

trabalho, e adaptá-las para o trabalho em ambiente virtual, há sucesso na atuação.

O grande encantamento que os autores apresentam acerca da EaD, é o

diferencial do profissional que alia a didática ao material pedagógico virtual, de forma

criativa e inovadora, possibilitando o aprendizado do aluno.

A Educação possui a virtude de transformar a sociedade, tendo a força de

redesenhar os parâmetros do Estado e agir como uma mola propulsora do

desenvolvimento social.

As mudanças na sociedade oriundas do mercado de trabalho, avanços

tecnológicos e fluxo rápido de informação trouxeram a necessidade da diversificação

Page 89: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

87

acadêmica para as instituições de Ensino Superior, visando o atendimento de

diferentes necessidades e circunscrições, principalmente oriundas de caráter

financeiro.

O ensino tornou-se mais flexível, revendo esquemas e paradigmas de ensino

e aprendizagem existentes até então, rediscutindo os conceitos de inovação

curricular, ensino, aprendizagem e avaliação.

O foco passou a ser a rápida inserção profissional, em que o trabalho deve

ser concentrado no desenvolvimento de habilidades e competências, para que este

profissional possa estar inserido em um contexto inovador e de rápidas mudanças.

Com estas alterações, o modelo de Educação Superior centrado no docente

foi alterado para o modelo centrado no aluno e na busca por resultados.

A alteração de enfoque redesenhou o papel do docente, não se almejando

mais aqueles profissionais da Educação que eram detentores únicos do

conhecimento e que emanavam de forma solitária, o conhecimento através de uma

visão simplista, de detentor da verdade.

Passamos de um modo de ensinar coletivo, na sala de aula, para uma forma

mais individualizada, no ambiente da EaD, em que cada aluno possui o seu tempo e

ritmo frente o conhecimento ali posto, e o professor apenas auxilia neste processo.

Conforme visto anteriormente, nas assertivas de Maia e Mattar (2007), Palloff

e Pratt (2004) e Litwin (2001), o papel do docente foi alterado, em que não há mais o

papel do professor que ensina, mas sim do professor que facilita e conduz o

aprendizado.

Este processo exigiu uma nova estrutura funcional, sendo que o ensinar figura

em sua coletividade para um aprendizado individual, confrontando com o que

tínhamos até o momento, quando o ensinar e aprender eram postos em sua

coletividade apenas dentro da sala de aula presencial.

O docente não se encontra fragmentado para atender todas as demandas no

ambiente virtual, mas se desenvolve dentro de uma ação colaborativa entre

inúmeros agentes, tendo a construção do método de forma coletiva entre muitos

docentes e profissionais da área, pensamento compartilhado por Belloni (2009),

Maia e Mattar (2007) e Marsden (1996).

Com estas inovações e mudanças de paradigmas, a preocupação pauta-se

nos docentes e toda a sua preparação para sair do foco da aprendizagem e auxiliar

o aluno.

Page 90: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

88

Observa-se que os profissionais ligados a Educação, em sua grande maioria,

não tiveram ferramentas tecnológicas em sua formação inicial, o que dificulta a

percepção do cenário ao qual estão inseridos, e principalmente a de seu trabalho.

Ao analisar a formação inicial dos tutores investigados observou-se que

apenas 69% possuem pós-graduação latu sensu e 31% possuem formação stricto

sensu, sendo que 82% possuem apenas uma única graduação, 17% possuem duas

graduações e apenas 1% possui três ou mais graduações.

A maioria dos docentes envolvidos na EaD são oriundos do ensino presencial,

e não tiveram modelos ou experiências anteriores que pudessem embasar os

métodos a serem seguidos em sua prática laborativa, conforme demonstrado pelo

trabalho, em que 85% e 81% dos tutores nunca tiveram contato com ferramentas de

EaD, respectivamente na graduação e pós-graduação.

A ausência de contato com estas ferramentas transpareceu na incerteza e

preconceito com o método no momento das entrevistas, em que ficou clara e

transparente a inquietude para com este sistema, sendo que esta sensação e

sentimento são dirimidas quando há contato prévio.

O desconhecimento da forma e estrutura do método ocasionou, junto aos

pesquisados, um receio da qualidade do ensino, principalmente nos aspectos de

conteúdo e forma de processo da aprendizagem.

Denota-se que a área de formação influencia no foco dado a visão da

Educação Superior e da EaD, em que os profissionais da área de humanas,

principalmente aqueles oriundos da Educação, entendendo as licenciaturas,

interpretam a Educação em seu contexto de formação e crescimento, em

contrapartida os da área de exatas conduzem a interpretação para o mercado de

trabalho e crescimento profissional.

Outra observação feita ao longo do processo demonstra que os tutores

oriundos de instituições públicas, colocam ao conceito de Educação, aspectos

relevantes da pesquisa e da discussão, o que reafirma que os modelos postos

durante a formação, estão atrelados na forma e interpretação do meio educacional

ao qual estão inseridos.

Os aspectos relevantes da formação dos tutores estão sendo moldados para

o ambiente virtual, em que formação e experiência estão possibilitando a adequação

da forma e intensidade do trabalho, tendo relevância e foco sempre no aluno.

Page 91: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

89

Belloni (2009), Lynch e Corry (1998) reforçam a necessidade da prática e

contato com ferramentas tecnológicas e inovadoras durante a formação do aluno,

visando ampliar horizontes e não limitá-lo em sua atuação profissional.

A compreensão dos tutores frente a realidade do aluno e a sua preocupação

com a transformação da sociedade ao qual o aluno está inserido, trazem uma

experiência laborativa de maior atenção e compreensão nas dificuldades e

necessidade de se entender a regionalidade, visando garantir uma aprendizagem

individual e local mais eficiente.

Os tutores possuem uma visão da coletividade e do todo, do que os autores

denominam de “instituição que ensina” e não do docente, compartilhado este

pensamento entre Moore e Kearsley (2007), Maia e Mattar (2007), Litto e Formiga

(2009) e Belloni (2009), em que é nítido a percepção deles integrando uma grande

engrenagem do ensinar, com um único e comum objetivo, o aprendizado do aluno.

A atuação do tutor é o que a literatura traz como facilitador, conforme

anteriormente frisado por Maia e Mattar (2007), em que se pode observar que a

atuação de estímulo, orientação e facilitar é notório e pontuado para todos os

entrevistados.

Consegui identificar uma das magias trazidas pela criatividade e engajamento

dos profissionais ligados a Educação e que a literatura coloca como um dos pontos

mais difíceis e encantadores, para Belloni (2009), a fusão da didática do professor

ao material do ambiente virtual, o que transparece em uma prática mais humanizada

e “quente”, em um ambiente frio e distante.

Desta forma, observou-se que a ausência de contato com ferramentas de

EaD durante a formação não impactam na atuação dos profissionais ligados a esta

modalidade, apenas contribuem na diversidade de abordagem e criatividade para

adequar a didática às novas exigências.

Encontrou-se mudanças de pensamento por parte dos tutores ao longo das

entrevistas, quando observamos que a área de formação influencia diretamente na

interpretação da Educação e na forma de atuação frente ao ensino, como também a

distinta visão dos profissionais oriundos das instituições públicas, que focam na

discussão e no debate como foco central do ensino.

A riqueza de conteúdo e de comprometimento para com o aluno transparece

nas entrevistas, que em muitos casos os tutores estão arrebatados pela

possibilidade de transformar a realidade do aluno e do meio ao qual estão inseridos,

Page 92: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

90

possibilitando resgatar estruturalmente o que embasou o surgimento da Educação

Superior no Brasil, teorias e anseios de Rui Barbosa e Anísio Teixeira, que a

Educação deveria ser a mola propulsora do desenvolvimento e do acesso social

irrestrito.

A descoberta ao longo deste trabalho é que o preconceito com a EaD é

oriundo basicamente do desconhecimento da ferramenta, e que é possível, desde

que os tutores queiram, aliar conhecimentos obtidos através do presencial ao

modelo virtual, sendo o inverso também viável.

A abordagem da percepção dos tutores a distância que atuam na EaD,

possibilita analisar a questão do ensino nesta modalidade de uma forma mais ampla,

com um olhar atento e investigatório junto a temática que se constrói, da

metodologia, dos profissionais e alunos que estão inseridos no sistema,

conseguindo verificar que a existência de preconceito está mais atrelado ao fato do

desconhecimento perante o método do que pela sua qualidade ou formatação.

Concretiza-se neste trabalho, sem a pretensão de se esgotar a temática, que

a inserção de tecnologias, principalmente daqueles que utilizem a metodologia e os

princípios da EaD, possibilitam a partir da visão dos tutores, desmistificação desta

modalidade, e principalmente em agregar conhecimento e novas formas de visão

perante a relação ensino e aprendizagem.

A inversão no enfoque do controle do processo de ensinar, que antes era

focado no professor, e na EaD foi deslocado para aluno, como parte fundamental e

central no processo de aprendizagem, fez com que se redesenhasse o modelo de

ensino e principalmente se questionassem quem eram esses profissionais e como

lidavam com essa inversão.

A presente pesquisa abre um leque de desdobramentos futuros, junto aos

grupos de pesquisa de políticas públicas, como também de gestão educacional, em

que a mesma abordagem poderá ser feita junto aos alunos ingressantes e egressos

da EaD, como também com os gestores de IES que possuem ou não esta

modalidade de ensino dentro de suas instituições.

Espera-se, com o que foi apresentado ao longo desta pesquisa, contribuir

para que possa dirimir o preconceito que ainda paira no espírito dos profissionais da

Educação e demonstrar o vasto campo de pesquisa e discussão que temos junto à

EaD.

Page 93: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

91

4.1 Conclusão

O trabalho foi estruturado na hipótese que as características de formação

acadêmica dos tutores da Educação a Distância que exercem as atividades na

Educação Superior são insuficientes como suporte pedagógico para o trabalho com

as ferramentas tecnológicas atuais presentes nesta modalidade.

Ao analisar a elaboração da pesquisa, ficou claro a dificuldade para atuar no

ambiente virtual. Os docentes não conseguiam garantir um aproveitamento das

ferramentas tecnológicas para o aprendizado do aluno.

Tardou a compreensão sobre o porquê do conceito usado para a EaD não era

docente, mas sim tutor, como uma forma pejorativa e que desvalorizava o trabalho

nobre que era exercido de ensinar.

Diante das pesquisas compreendeu-se os conceitos e terminologias usuais da

área, observando que existia muito mais na EaD, que apenas um computador e um

tutor.

Assim, definiram-se as três perguntas que sustentavam a hipótese e que

foram respondidas em sua plenitude, sendo que houve identificação de quem são os

tutores que trabalham no EaD, permitindo compreender a estrutura e organização do

sistema, como também a fragmentação do trabalho, levantando dados para observar

que a maioria dos tutores pesquisados, 79% graduação e 74% pós-graduação,

nunca tiveram contato com ferramentas em EaD.

Ao verificar a formação inicial, identificou-se que 71% graduação e 66% pós-

graduação obtiveram a sua formação inicial e pós-graduação latu ou stricto sensu

em instituições particulares e que a grande maioria dos tutores parou na primeira

graduação, onde 75 tutores, o que representa 82%, possuem apenas uma

graduação, 16 tutores possuem duas graduações e apenas um tutor possui mais ou

igual a três graduações.

A percepção dos tutores mudou com o trabalho na EaD, pois eles tinham

certo preconceito com o método de ensino, acreditando que era uma forma rápida,

barata de adquirir o seu curso superior, tendo uma forte mudança de paradigma

após trabalharem com esta modalidade.

Todos os entrevistados colocaram a percepção frente a EaD, demonstrando

um real preconceito e que apenas foi dirimido quando iniciaram as atividades e

tomaram conhecimento do processo, sistema e métodos por um todo.

Page 94: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

92

A pesquisa possibilitou levantar que os tutores oriundos de instituições

públicas, transparecem, mais clara e abertamente um preconceito quanto a estrutura

e qualidade da EaD, não a aceitando como forma viável de ensino e os oriundos de

instituições públicas possuem um receio e uma forte curiosidade.

Ao iniciar a pesquisa, era esperadoencontar um cenário de preconceito entre

os tutores que vieram de públicas e um receio daqueles que se formaram em

particulares, mas surpreendeu a intensidade que o primeiro trouxe este sentimento,

como também se estrutura isso nos bancos de escola.

Através da atuação frente a Educação Superior e carências de formação e

desconhecimento técnico na área de EaD, ao formular a hipótese, baseava-se que

os tutores que não conheciam o método, não conseguiam ensinar, ou que se

desgastavam ao excesso para conseguir conduzir o processo de aprendizagem pelo

aluno.

Com o desenrolar da pesquisa, notou-se que a privação de formação,

principalmente quanto a ausência de contato com a ferramenta tecnológica,

prejudicam o docente em não conseguir ter empatia com o aluno, enxergando a

realidade ao qual ele está ligado, fazendo com que ele tenha uma atuação parcial e

desatrelada a realidade do processo.

Comprovou-se que as experiências da prática, da formação e vida profissional

dos tutores são adaptadas com muita criatividade e empenho para o ambiente virtual

e que possibilitam experiências positivas de trabalho neste ambiente de ensino.

Desta forma, a hipótese foi parcialmente comprovada, pois a formação

acadêmica impacta na interpretação, percepção e principalmente posicionamento do

tutor frente a Educação Superior e a EaD, dando aspectos parciais e atrelados em

demasia a sua área de formação, mas quanto a insuficiência desta formação para

trabalhar com ferramentas tecnológicas, não procede, pois os tutores conseguiram,

através da prática, aliar as experiências obtidas pelo trabalho profissional e

exemplos em salas de aula presencial, ao ambiente virtual.

Frente aos dados desta pesquisa, possivelmente será desdobrada em uma

análise atrelada aos alunos que estão no ambiente virtual e que são atendidos pelos

tutores que foram entrevistados no presente trabalho, podendo identificar a

percepção aqui apontada com a atuação em ambiente virtual, na visão dos alunos,

para que se possa, assim, fechar um círculo do processo ensino/aprendizagem.

Page 95: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

93

REFERÊNCIAS ACETI, D. C. S. Gráfico presencial x EaD. Leme, 2011. ALVES, J. R. M. A história da EAD no Brasil. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (Orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. BARRETO, C. E. (Org.). Constituições do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 1. BARRETTO, E. S. de S.; PINTO, R. R.; MARTINS, A. M. Formação de docentes a distância: reflexões sobre um programa. In: Cadernos de pesquisa, n. 106, p. 81-115, mar. 1999. BELLONI, M. L. A educação a distância. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2009. BERGE, Z. L. Facilitating computer conferencing: recommendations from the field. Educational technology, [S. l.], n. 35, p. 22-30, 1995. BIANCO, N. R. D. B. Aprendizagem por rádio. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (Orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. BIELSCHOWSKY, C. E. O crescimento da educação a distância no Brasil. In: ANUÁRIO BRASILEIRO ESTATÍSTICO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA. São Paulo: AbraEAD, 2008. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em ação. Uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. BRASIL. Assembléia Nacional Constituinte. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa do Senado, 1988. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 4.117, de 27 de agosto de 1962. Institui o Código Brasileiro de Telecomunicações. Diário Oficial da União, Brasília, 27 ago. 1962. BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez. 1966. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1 e 2 graus, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 12 ago. 1971. BRASIL. Decreto n. 52.795, de 31 de outubro de 1963. Aprova o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão. Diário Oficial da União, Brasília, 12 nov. 1963.

Page 96: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

94

BRASIL. Decreto n. 88.067, de 26 de janeiro de 1983. Altera dispositivos do Regulamento dos Serviços de Radiodifusão, aprovado pelo Decreto n. 52.795, de 31 de outubro de 1963. Diário Oficial da União, Brasília, 28 jan. 1983. BRASIL. Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004. Regulamenta o §2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 26 jul. 2004. BRASIL. Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 2005. BRASIL. Decreto n. 5.800, de 08 de junho de 2006.Dispõe sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB. Diário Oficial da União, Brasília, 09 jun. 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). GeoCAPES, Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/estatisticas>. Acesso em: 05 jul. 2011. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Brasília, 13 dez. 2004. BRASIL. Ministério da Educação. Censo da Educação Superior. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Brasília. 2008. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/>. Acesso em: 22 jun. 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Resumo técnico do censo da educação superior 2008. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/relatorio_tecnico.htm>. Acesso em: 09 jun. 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Plano de desenvolvimento da educação: razões, princípios e programas. Ministério da Educação e Cultura, Brasília, 2011. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/index.htm>. Acesso em: 02 jul. 2011. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior. Estudo releva preconceito contra educação a distância. Telecentros de informação e negócios, Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.telecentros.desenvolvimento.gov.br/sitio/destaques/destaque.php?sq_conteudo=3961>. Acesso em: 04 jul. 2011. BRASIL. Projeto de Lei: Plano Nacional da Educação 2011-2020. Projeto de Lei encaminhado ao presidente da república em 15 de dezembro de 2010. Todos pela educação, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/noticias/12514/mec-divulga-plano-nacional-de-educacao-2011-2020>. Acesso em: 04 jul. 2011.

Page 97: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

95

BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Edições Técnicas. Constituições que marcaram o século XX: edição comemorativa: 1934, texto original: 1946, texto original: 1967, texto original: 1988. Brasília, 1999. COLLINS, M; BERGE, Z. L. Facilitating interaction in computer mediated online courses. FSU/AECT Distante Education Conference, Tallahasee FL, June, 1996. Northern Arizona University, Arizona, 2009. Disponível em: <http://star.ucc.nau.edu/~mauri/moderate/flcc.html>. Acesso em: 13 jul. 2011. EVANS, T.; NATION, D. Educational technologies: reforming open and distance education. In: ______. Reforming open and distance education. Londres: Koogan; Londres: Page, 1993. FERREIRA, A. B. de H. O novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Positivo, 2004. FRADKIN, A. Historia da televisão pública/educativa. Fórum nacional pela democratização da comunicação, Porto Alegre, 2006. Disponível em: <http://www.fndc.org.br/arquivos/HistoriaTVEducativa.doc>. Acesso em: 24 nov. 2011. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. GOMES, A. V. A. Educação a distância, tecnologias educacionais e o plano nacional de educação: elementos para uma avaliação das metas. Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação. Biblioteca digital da câmara dos deputados, Brasília, 2009. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2783/educacao_distancia_gomes.pdf?sequence=1>. Acesso em: 11 nov. 2011. GOMES, C. A. da C. A legislação que trata da EaD. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (Orgs.) Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. GONZALEZ, M. Fundamentos da tutoria em educação a distância. São Paulo: Editora Avercamp, 2005. HARASIM, L. et al. Redes de aprendizagem. São Paulo: SENAC, 2005. KANG, I. The use of computer-mediated communication: eletronic collaboration and interactivity. Eletronic collaborators: learner-centered technologies for literacy, apprenticeship, and discourse. Mahwah: Lawrence Erlbaum, 1998. KÜLLER, A. L. M. Inovação à educação superior: reflexões sobre a transformação de uma proposta curricular. 2010. 174 f. Dissertação (Mestrado em Educação)-Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. LAPA, A.; PRETTO, N. de L. Educação a distância e precarização do trabalho docente, Brasília, v. 23, n. 84, p. 79-97, nov. 2010.

Page 98: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

96

LÉVY, P. Cibercultura. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 2000. LYNCH, W; CORRY, M. Faculty recruitment, training, and compensation for distance education. University of Houston, Texas, 2011. Disponível em: <http://www.coe.uh.edu/insite/elec_pub/HTML1998/de_lync.htm>. Acesso em: 24 set. 2011. LITTO, F. M. Aprendizagem a distância. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (Orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009 LITWIN, E. (Org.). Educação a distância: temas para debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001. LOPES, E. M. T. Ensinar aprender. SciELO proceedings, São Paulo, 2002. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000032001000300010&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 jul. 2011. LOPES, N. M. O perfil profissional do professor de ensino superior na EaD e suas perspectivas, a partir da análise dos profissionais que atuam em uma instituição de Ipatinga. Associação brasileira de educação a distância, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/1552009190017.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2011. MAIA, C.; MATTAR, J. ABC da EaD: a educação a distância hoje. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MASON, R. An evaluation of CoSy on na open university course. Mindweave: communication, computers, and distance education. Oxford: Pergamon Press, 1989. MACHADO, M. C. G. O projeto de Rui Barbosa: o papel da educação na modernização da sociedade. Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, 1999. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/a-j/FCRB_MariaCristina_Projeto_RuiBarbosa.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2011. MACHADO, L. D.; MACHADO, E. C. O papel da tutoria em ambientes de EaD. Associação brasileira de educação a distância, São Paulo. 2004. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/022-TC-A2.htm>. Acesso em: 24 jul. 2011. MARSDEN, R. Time, space and distance education. Distance Education, [S. l.], v. 17, no. 2, 1996.

Page 99: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

97

MENEZES, E. T. de; SANTOS, T. H. dos. “Projeto Minerva” (verbete). Dicionário interativo da educação brasileira. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Educa Brasil, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=291>. Acesso em: 24 nov. 2011. MILL, D.; SANTIAGO, C.; VIANA, I. Trabalho docente na educação a distância: condições de trabalho e implicações trabalhistas. Revista Extra-Classe, v. 1, n. 1, fev. 2008. Simpro Minas, Minas Gerais, 2010. Disponível em: <http://www.sinprominas.org.br/imagensDin/arquivos/341.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2011. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Secretaria brasileira de educação. Programa Nacional de fortalecimento dos conselhos escolares, 2004, p. 26. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad1.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2012. MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância: um visão integrada. São Paulo: Thomson Learning, 2007. MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007. MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnológicas e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. ______. Avaliação do ensino superior a distância no Brasil. In: MORAES, U. C. Tecnologia educacional e aprendizagem: o uso dos recursos digitais. São Paulo: Livro Pronto, 2007. ______. Avaliação do ensino superior a distância no Brasil. Escola de comunicações e artes, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/prof/moran/avaliacao.htm>. Acesso em: 15 jul. 2011. NEVES, C. E. Alteração na resolução do CNMP sobre atividade jurídica. DireitoNet, Sorocaba, 2010. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6785/Alteracao-na-resolucao-do-CNMP-sobre-atividade-juridica>. Acesso em: 13 set. 2011. NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa – características, usos e possibilidade. Caderno de pesquisas em administração, São Paulo, v. 1, n. 3, 2. sem. 1996. FEA-USP, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/c03-art06.pdf>. Acesso em: 10 out. 2011. PALHARES, R. Aprendizagem por correspondência. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (Orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

Page 100: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

98

PALLOFF, R. M; PRATT, K. Building learning communities in cyberspace: effective strategies for the online classroom. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1999. ______. Building learning communities in cyberspace: effective strategies for the online classroom. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 2004. PETERS, O. Distance teaching and industrial production: a comparative interpretation in outline. In: SEWART, D. et al. Distance education: international perspectives. Londres: Croomhelm; Londres: St Martin´s, 1983. PITTMAN, V. V. Station WSUI and the early days of instructional radio. The Palimpsest, [S. l.], v. 67, no. 2, p. 38-52, 1986. PLANO nacional de educação. Klick Educação, São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.klickeducacao.com.br/conteudo/pagina/0,6313,POR-141-,00.html>. Acesso em: 09 jan. 2012. POUPART. J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008. PRETTO, N. de L. Políticas públicas educacionais no mundo contemporâneo. In: LIINC Revista, v. 2, n. 1, p. 8-21, mar. 2006. Instituto brasileiro de informação em ciência e tecnologia, Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.ibict.br/liine>. Acesso em: 29 jul. 2011. ______. The iceberg hás not melted: further reflections on the concepto industrialization and distance teachinh. In: Open learning, Inglaterra, v. 4, no. 3, 1989. RISTOFF, D. A Trajetória da mulher na educação brasileira. Jornal da ciência. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=35742>. Acesso em: 24 jul. 2011. ROMANELLI, O. de O. História da educação no Brasil. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. ROSINI, A. M. As novas tecnologias da informação e a educação a distância. São Paulo: Thomsn Learning, 2007. SÁ, I. M. A. Educação a distância: processo contínuo de inclusão social. Fortaleza: C.E.C, 1998. SAMPAIO, H. M. S. O Ensino superior no Brasil: o setor privado. São Paulo: Hucitec, FAPESP, 2000. SANTOS, C. R. dos. Educação escolar brasileira: estrutura, administração, legislação. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

Page 101: Os Tutores da Educação a Distância: um novo profissional da Educação …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/... · 2014-02-14 · 6 RESUMO ACETI, Débora Cristina

99

SCHMID, A. M. Tutorías: los rostros de la educación a distancia. Educação e Contemporaneidade. Revistas da FAEEBA,Salvador, v. 13, n. 22, p.275-285, jul./dez. 2004. SPOHR, A. A Diferença entre ensino e educação. SERSEL business bureau, São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.sersel.com.br/imprensa_releases_17.asp>. Acesso em: 12 jul. 2011. TAVARES, K. C. do A. O Professor Virtual – reflexões sobre seu papel e sua formação. LingNet, Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: <http://www.lingnet.pro.br/papers/eadprof.htm>. Acesso em: 28 jul. 2011. ______. A Universidade de ontem e hoje. Biblioteca virtual Anísio Teixeira, Salvador, 1997. Disponível em: <http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/ontem.html>. Acesso em: 05 maio 2011. TELES, L. Aprendizagem por e-learning. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (Orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. TRINDADE, A. R. The salami concept: the proceedings of EADTU. Bourse Coference. Atenas: EADTU, 1991. VALENTE, J. A. Aprendizagem por computador sem ligação à rede. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (Orgs.) Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.