Paludo Paulo Roberto Leite

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Universidade de São Paulo Escola de Engenharia de São Carlos Departamento de Engenharia Elétrica Aplicação de um Sistema de Proteção Adaptativa na Coordenação de Proteção e Seletividade em um Sistema Elétrico Industrial com Cogeração Paulo Roberto Leite Paludo São Carlos 2010

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tesis analisador de fallas

Transcript of Paludo Paulo Roberto Leite

  • Universidade de So Paulo

    Escola de Engenharia de So Carlos

    Departamento de Engenharia Eltrica

    Aplicao de um Sistema de Proteo

    Adaptativa na Coordenao de Proteo e

    Seletividade em um Sistema Eltrico

    Industrial com Cogerao

    Paulo Roberto Leite Paludo

    So Carlos

    2010

  • Paulo Roberto Leite Paludo

    Aplicao de um Sistema de Proteo

    Adaptativa na Coordenao de Proteo e

    Seletividade em um Sistema Eltrico

    Industrial com Cogerao

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    Escola de Engenharia de So Carlos

    da Universidade de So Paulo

    Curso de Engenharia Eltrica com nfase

    em Sistemas de Energia e Automao

    Orientador: Prof. Dr. Jos Carlos de Melo Vieira Jnior

    So Carlos

    2010

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Tratamento da Informao do Servio de Biblioteca EESC/USP

    Paludo, Paulo Roberto Leite P661a Aplicao de um sistema de proteo adaptativa na

    coordenao de proteo e seletividade em um sistema eltrico industrial com cogerao / Paulo Roberto Leite Paludo ; orientador Jos Carlos de Melo Vieira Jnior. - So Carlos, 2010.

    Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em Engenharia Eltrica com nfase em Sistema de Energia e Automao) -- Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo, 2010.

    1. Rels. 2. Rels digitais. 3. Sistemas de proteo. 4. Sobrecorrente. 5. Seletividade. 6. IEC 61850. 7. Lgica booleana. I. Ttulo.

  • v

    Agradecimentos

    Agradeo a toda minha famlia, em especial, aos meus pais, Adelino e Snia, por

    todo suporte, direcionamento e carinho oferecidos durante os anos de graduao.

    Ao professor Jos Carlos de Melo Vieira Jnior pela amizade, confiana e

    orientao neste trabalho de concluso de curso (TCC).

    Ao amigo Ulisses Chemin Netto pela enorme contribuio neste trabalho, pelas

    valiosas conversas e orientaes.

    Ao amigo Jder Fernando Dias Breda por me apresentar toda estrutura do

    Laboratrio de Sistemas de Energia Eltrica (LSEE) e facilitar o desenvolvimento deste

    trabalho.

    Ao LSEE pela disponibilizao da estrutura e dos equipamentos utilizados.

    empresa FIGENER S. A. Engenheiros Associados pelo fornecimento dos

    dados do sistema eltrico abordado neste TCC.

    Escola de Engenharia de So Carlos (EESC USP) pela excelente formao

    acadmica oferecida durante a graduao.

  • vi

  • vii

    Sumrio

    Lista de figuras ................................................................................................................... ix

    Lista de tabelas ................................................................................................................... xi

    Lista de siglas e abreviaturas .......................................................................................... xiii

    Resumo ............................................................................................................................ xvii

    Abstract ............................................................................................................................. xix

    1) Introduo ...................................................................................................................... 21

    1.1) Objetivos ................................................................................................................... 22

    1.2) Metodologia............................................................................................................... 23

    1.3) Organizao do trabalho ........................................................................................... 24

    2) Reviso bibliogrfica ..................................................................................................... 25

    2.1) Esquema adaptativo de proteo contra sobrecorrente ............................................ 25

    2.2) Uma nova viso de sistemas digitais IEC 61850 para SEs ........................................ 26

    2.3) Aplicao do IEC 61850 ............................................................................................ 27

    2.4) Uso da IEC 61850 em hidreltricas benefcios e incompatibilidades ...................... 28

    2.5) Uma nova abordagem da proteo da distribuio ................................................... 29

    3) O padro IEC 61850 ....................................................................................................... 31

    3.1) A histria do padro IEC 61850................................................................................. 31

    3.2) Definies do padro IEC 61850 ............................................................................... 32

    3.3) Vantagens decorrentes do uso do padro IEC 61850 ............................................... 36

    4) Estudo de caso .............................................................................................................. 39

    4.1) Descrio do sistema eltrico sob estudo ................................................................. 39

    4.2) Estudo de coordenao da proteo: problemas encontrados .................................. 41

    4.3) Estudo de coordenao da proteo: solues propostas......................................... 49

    5) Desenvolvimento da aplicao ..................................................................................... 53

    5.1) Lgica de seleo ..................................................................................................... 53

    5.2) Verificao da lgica de seleo ............................................................................... 58

    5.3) Simulao do sistema eltrico sob estudo ................................................................. 61

  • viii

    5.4) Determinao dos grupos de ajuste .......................................................................... 64

    5.5) Simulador de disjuntores ........................................................................................... 65

    5.6) Metodologia de validao do sistema de proteo adaptativa ................................... 66

    6) Resultados ..................................................................................................................... 69

    6.1) Tempos de atuao ................................................................................................... 69

    6.2) Registros do rel RDF-TR-4 ...................................................................................... 73

    6.3) Vantagens decorrentes de um menor tempo de atuao .......................................... 75

    7) Concluses .................................................................................................................... 77

    Referncias bibliogrficas ................................................................................................ 79

    Apndice Dados do sistema eltrico abordado ............................................................ 83

  • ix

    Lista de figuras

    Figura 1 Diferentes protocolos utilizados no mbito da automao. .................................. 31

    Figura 2 Sistema de comunicao atravs do protocolo Modbus ...................................... 33

    Figura 3 Sistema de comunicao atravs da norma IEC 61850 ...................................... 34

    Figura 4 Estrutura da linguagem de configurao da SE. ................................................. 36

    Figura 5 Caractersticas e vantagens do padro IEC 61850 ............................................. 37

    Figura 6 Diagrama unifilar do sistema eltrico industrial e central de cogerao............... 40

    Figura 8 Verificao grfica da coordenao (3 TGs em operao). ................................. 44

    Figura 9 Verificao grfica da coordenao (TG1 e TG2 em operao). ......................... 46

    Figura 10 Verificao grfica da coordenao (apenas TG1 em operao). ..................... 48

    Figura 11 Operao do elemento de processamento. ....................................................... 50

    Figura 12 Mapa de Karnaugh para o bit C. ....................................................................... 54

    Figura 13 Porta lgica decorrente do Mapa de Karnaugh no bit C. ................................... 55

    Figura 14 Mapa de Karnaugh para o bit S......................................................................... 55

    Figura 15 Esquema lgico decorrente do Mapa de Karnaugh no bit S. ............................. 56

    Figura 16 Lgica de seleo dos grupos de ajuste. .......................................................... 57

    Figura 17 Lgica final (lgica de seleo + lgica complementar)..................................... 58

    Figura 18 Implementao da lgica final no Simulink. ....................................................... 59

    Figura 19 Grupo de ajuste decorrente da operao de trs TGs. ...................................... 60

    Figura 20 Grupo de ajuste decorrente da operao de dois TGs. ..................................... 60

    Figura 21 Grupo de ajuste decorrente da operao de um TG. ........................................ 61

    Figura 22 Contribuio dos trs TGs em um curto-circuito trifsico franco no primrio do

    TR-3. ................................................................................................................................... 62

    Figuro 23 Contribuio de dois TGs em um curto-circuito trifsico franco no primrio do

    TR-3. ................................................................................................................................... 63

    Figura 24 Contribuio de um TG em um curto-circuito trifsico franco no primrio do TR-

    3. ......................................................................................................................................... 63

    Figura 25 Lgica do simulador de disjuntor. ...................................................................... 65

  • x

    Figura 26 Esquema laboratorial para implementao e validao do sistema de proteo.

    ............................................................................................................................................ 66

    Figura 27 Grupo de ajuste vigente simulando-se a operao de 3TGs. ............................ 67

    Figura 28 Grupo de ajuste vigente simulando-se a operao de 2TGs. ............................ 68

    Figura 29 Grupo de ajuste vigente simulando-se a operao de 1 TG. ............................. 68

    Figura 30 Registro de oscilografia do rel considerando trs TGs ativos. ......................... 74

    Figura 31 Registro de oscilografia do rel considerando dois TGs ativos. ......................... 74

    Figura 32 Registro de oscilografia do rel considerando um TG ativo. .............................. 75

  • xi

    Lista de tabelas

    Tabela 1 Definio dos grupos de ajuste .......................................................................... 49

    Tabela 2 Estado dos disjuntores dos geradores e grupos de ajuste ativos. ...................... 50

    Tabela 3 Representao das sadas em funo dos bits C e S. ....................................... 54

    Tabela 4 Grupos de ajuste em funo dos bits C e S........................................................ 57

    Tabela 5 Resumo dos grupos de ajuste. ........................................................................... 65

    Tabela 6 Tempo de atuao para o ajuste fixo. ................................................................ 70

    Tabela 7 Tempo de atuao para o ajuste dinmico. ........................................................ 71

    Tabela 8 Tempo mdio de atuao e desvio padro para o ajuste fixo. ............................ 72

    Tabela 9 Tempo mdio de atuao e desvio padro para o ajuste dinmico. ................... 72

    Tabela 10 Dados dos geradores. ...................................................................................... 83

    Tabela 11 Dados dos motores. ......................................................................................... 84

    Tabela 12 Dados dos transformadores. ............................................................................ 84

  • xii

  • xiii

    Lista de siglas e abreviaturas

    ANSI American National Standards Institute

    BA Bobina de Abertura

    BF Bobina de Fechamento

    CID Configured IED Description

    DNP3.0 Distributed Network Protocol

    EPRI Electric Power Research Institute

    GOOSE Generic Object Oriented Substation Event

    GPS Global Positioning System

    ICD IED Capability Description

    IEC International Electrotechnical Commission

    IED Intelligent Electronic Devices

    IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

    IHM Interface Homem Mquina

    LAN Local Area Network

    LSEE Laboratrio de Sistemas de Energia Eltrica

    MMS Manufacturing Message Specification

  • xiv

    PCHs Pequenas Centrais Hidreltricas

    RDF Rel Direcional de Fase

    RF Rel de Fase

    SCADA Supervisory Control and Data Acquisition

    SCD Substation Configuration Description

    SCL Substation Configuration Language

    SEs Subestaes

    SEPs Sistemas Eltricos de Potncia

    SIN Sistema Interligado Nacional

    SSD System Specification Description

    TC Transformador de Corrente

    TCC Trabalho de Concluso de Curso

    TCP/IP Transmission Control Protocol / Internet Protocol

    TGs Turbogeradores

    UCA Utility Communications Architecture

    UCC Unidade Central de Controle

    UTRs Unidades Terminais Remotas

  • xv

    WAN Wide Area Network

    XML eXtender Markaup Language

  • xvi

  • xvii

    Resumo

    PALUDO, P. R. L. Aplicao de um Sistema de Proteo Adaptativa na Coordenao

    de Proteo e Seletividade em um Sistema Eltrico Industrial com Cogerao. 2010.

    84p. Trabalho de Concluso de Curso Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade

    de So Paulo, So Carlos, 2010.

    Nas ltimas dcadas a utilizao de rels digitais microprocessados vem

    trazendo contribuies relevantes na composio de sistemas de proteo especiais, tais

    como os sistemas de proteo adaptativa. A possibilidade de desenvolvimento de sistemas

    que tenham suas configuraes alteradas de forma automtica em funo da variao de

    alguns parmetros (como tenso, corrente ou estado de disjuntor) transforma os rels

    digitais em poderosas ferramentas, com funes importantes e ainda pouco exploradas no

    mbito da proteo. Ao encontro deste fato, o trabalho em questo aborda a implementao

    e validao de um sistema adaptativo para proteo de um sistema eltrico industrial com

    uma central de cogerao composta por trs turbogeradores e conectada ao barramento de

    138 kV da subestao de entrada na indstria. Os rels utilizados no trabalho so

    microprocessados e o foco a proteo contra sobrecorrente, com atuao temporizada e

    instantnea. No desenvolvimento do trabalho evidencia-se o uso de importantes

    funcionalidades dos rels microprocessados, tais como comunicao, monitoramento,

    interface com outros dispositivos de proteo e intertravamentos lgicos. Como

    particularidade, a central de cogerao do sistema industrial sob estudo pode operar

    parcialmente ou em sua potncia nominal, dependendo do nmero de turbogeradores ativos

    (um, dois ou trs). Deste modo, diante da configurao dinmica da mesma, ocorre variao

    significativa na contribuio de curto-circuito e um sistema de proteo convencional torna-

    se incapaz de oferecer a seletividade, confiabilidade e o desempenho necessrios para a

    proteo adequada. Assim, este fato justifica a proposio de um sistema de proteo

    adaptativa, cuja funo a alterao automtica do ajuste dos rels de sobrecorrente em

    funo do nmero de geradores em operao, de forma a garantir uma atuao eficiente da

    proteo contra sobrecorrente no caso de faltas no sistema eltrico da indstria. Entre

    outros aspectos, pode-se destacar como diferencial deste trabalho a utilizao do protocolo

    de comunicao IEC 61850 aplicado na proteo de sobrecorrente de um sistema eltrico

    industrial. O uso deste protocolo uma tendncia atual e crescente, pois padroniza a forma

    como as informaes transitam entre diferentes equipamentos, trazendo uma srie de

    vantagens aos sistemas eltricos de potncia (SEPs). Entre esses benefcios, sucintamente,

    pode-se destacar: reduo expressiva na quantidade de cabos utilizados em comunicao,

  • xviii

    possibilidade de decomposio funcional de sistemas de proteo, facilidade de expanso

    dos sistemas sob anlise e alta confiabilidade decorrente da simplificao de projetos. Outro

    aspecto de relevncia no trabalho remete lgica desenvolvida para seleo automtica do

    grupo de ajuste dos rels de sobrecorrente. Optou-se por uma lgica do tipo Booleana por

    sua simplicidade, difuso e pela possibilidade de implementao no prprio rel, suprimindo,

    assim, a necessidade de agregao de novos dispositivos destinados ao processamento

    lgico. Por fim, salienta-se que as tcnicas e consideraes utilizadas neste trabalho podem

    servir de base para futuros estudos. Durante todo o desenvolvimento manteve-se em foco a

    obteno de um sistema genrico e singelo, com o intuito de facilitar seu aproveitamento na

    obteno de solues mais especficas. Destaca-se ainda que apesar de este trabalho

    abordar um sistema eltrico industrial especfico, as idias aqui apresentadas no se

    restringem apenas a esse tipo de instalao e nem tampouco s protees seletivas de

    sobrecorrente. Elas podero se estender tambm a sistemas de transmisso e distribuio e

    ao emprego de outras funes de proteo como sub e sobretenso, sub e sobrefrequncia,

    sobrecarga, entre outras.

    Palavras-chave: Rels Digitais, Sistemas de Proteo, Sobrecorrente, Seletividade, IEC

    61850, Lgica Booleana.

  • xix

    Abstract

    PALUDO P. R. L. Application of an Adaptive Protection System on Protection

    Coordination and Selectivity in an Industrial Electrical System with Cogeneration.

    2010. 84p. Course Final Report School of Engineering of So Carlos, University of So

    Paulo, So Carlos, 2010.

    The use of digital microprocessor relays on the last decades has coming to light

    outstanding contributions in the composition of special protection systems, such as adaptive

    protection systems. The possibility of development of systems that may have their settings

    automatically changed in function of variation of some parameters (like voltage, current or

    breaker status) transforms digital relays in powerful tools, with important functions and still

    poorly explored in the protection context. Going to this point, the report in question deals with

    the implementation and validation of an adaptive system for protecting an industrial electrical

    system with a cogeneration plant consisting of three turbo-generators and connected to the

    138 kV bus of the industry's entrance substation. The relays used are microprocessored and

    the focus is on the overcurrent protection, with timed and instantaneous operation. During

    this work's development, the use of important features of microprocessor relays was

    demonstrated, such as communication, monitoring, interface with others protective devices

    and logical interlocks. As a peculiarity, the cogeneration plant of the industrial system under

    study may operate in part or in its nominal power, depending on the number of active turbo-

    generators (one, two or three). Thus, given the dynamic configuration of plant, there is

    significant variation in the contribution of short-circuit and a conventional protection system

    becomes unable to provide the selectivity, reliability and performance required for an

    adequate protection. Thus, this fact justifies the proposition of an adaptive protection system,

    whose function is to change the automatic adjustment of overcurrent relays based on the

    number of generators in operation, to ensure an efficient operation of the overcurrent

    protection in case of failures in the industry's electrical system. Among other things, it can be

    highlighted, as a differential aspect of this work, the use of the IEC 61850 communication

    protocol applied to the overcurrent protection of an industrial electrical system. The use of

    this protocol is a current and growing tendency because it standardizes the way information

    moves between different devices, bringing a number of advantages to electric power

    systems. Among these benefits, briefly, it can be highlighted: significant reduction in the

    number of cables used in communication, the possibility of functional decomposition of

    protection systems, facility of expansion of the systems under analysis and high reliability

    due to design simplification. Another important aspect leads to the developed logic for

  • xx

    automatic selection of the setting group of overcurrent relays. It was opted for a Boolean

    logic type by its simplicity, diffusion and possible implementation in its own relay, avoiding

    thus the need for adding new devices to processing logic. Finally, it is noted that the

    techniques and considerations used in this work can serve as a basis for future studies.

    Throughout all the development, the focus was on getting a generic and unassuming system,

    in order to facilitate its performance in obtaining more specific solutions. It is noticeable that

    despite the fact of this paper deals with a specific industrial electrical system, the ideas

    presented here are not restricted to this type of installation, and neither the overcurrent

    selective protections. They may also be extended to the transmission and distribution

    systems, and the use of other protective functions such as over and subvoltage, sub and

    over frequency, overload, among others.

    Keywords: Digital Relays, Protection System, Overcurrent, Selectivity, IEC 61850, Boolean

    Logic.

  • 21

    1) Introduo

    Com o objetivo de atenuar os efeitos das perturbaes ou condies anormais

    de operao, os sistemas de proteo devem assegurar, da forma mais eficiente possvel, a

    continuidade de fornecimento de energia e a integridade das instalaes das redes eltricas.

    Visando atingir a esses objetivos de maneira mais segura e confivel, a partir da dcada de

    60, surgiram os rels de proteo digitais, que se desenvolveram juntamente com os

    computadores, quando os mesmos passaram a substituir lenta e sistematicamente muitas

    das ferramentas de anlise dos SEPs, tais como: clculo de curto-circuito, fluxo de carga e

    estabilidade [1].

    Nos ltimos anos, o emprego desses rels de proteo digital tem apresentado

    significativo crescimento em virtude dos benefcios que podem oferecer aos sistemas

    eltricos, sejam eles industriais, de transmisso ou de distribuio de energia eltrica. A

    elevada sofisticao tecnolgica presente nesses equipamentos permite maior flexibilidade

    de aplicao em sistemas de proteo com o uso de novas funes como, por exemplo,

    intertravamentos lgicos para a composio de esquemas de proteo especiais,

    monitoramento de equipamentos e circuitos, medio, comando e comunicao integrados

    proteo e grupos de ajustes independentes para cada funo de proteo.

    Essas inmeras funes permitem conceber um sistema de proteo

    diferenciado em que os rels digitais podem operar de forma integrada, aumentando a

    confiabilidade e segurana de um sistema eltrico (danos e tempos de atuao e de

    restabelecimento de falta menores). Contudo, a aplicao dessa tecnologia muitas vezes

    tratada como um elemento parte em um sistema de proteo, uma vez que seu potencial

    no aproveitado adequadamente para prover todos os benefcios possveis a um sistema

    eltrico. Isso pode ocorrer tanto pela carncia de profissionais especializados quanto pela

    utilizao de filosofias de proteo herdadas da era dos rels eletromecnicos, as quais no

    permitiam muita flexibilidade na elaborao de esquemas eficientes de proteo [3].

    Entretanto, seja qual for o sistema de proteo e os dispositivos utilizados,

    caractersticas como seletividade e coordenao so necessrias no contexto da filosofia de

    proteo. Na ocorrncia de defeitos em um sistema eltrico em que seja necessrio seu

    isolamento, o princpio da seletividade estabelece que o menor trecho desse sistema seja

    isolado, mantendo suas demais reas operando normalmente. J, a coordenao, refere-se

    a uma estratgia utilizada na proteo, em que na ocorrncia de um defeito, existe diferena

    no tempo de atuao entre a proteo principal e a de retaguarda, permitindo seletividade

    na interrupo do sistema [1, 2].

  • 22

    Levando-se em considerao o exposto at aqui, o trabalho em questo rene

    uma srie de informaes e tcnicas relevantes implementao de um sistema de

    proteo eficiente para um sistema eltrico industrial especfico. Tal sistema eltrico refere-

    se a uma instalao real e apresenta particularidades (entre elas, um sistema de cogerao)

    que impossibilitam ou restringem a utilizao de tcnicas convencionais de proteo.

    1.1) Objetivos

    Com o intuito de apresentar os benefcios proporcionados pela proteo digital

    aos sistemas eltricos de potncia bem como de firmar a sua importncia na concepo de

    um sistema de proteo, este trabalho ter como foco a coordenao e seletividade da

    proteo de um sistema eltrico industrial com a aplicao de rels digitais, compondo um

    esquema de proteo adaptativa.

    Os rels utilizados nesse processo so os de sobrecorrente, com atuao

    temporizada (funo ANSI 51) e instantnea (funo ANSI 50). Assim, os defeitos aqui

    analisados abrangem tipicamente os curtos-circuitos.

    Salienta-se que apesar de neste trabalho ser abordado um sistema eltrico

    industrial especfico, as idias aqui apresentadas no se restringem apenas a esse tipo de

    instalao e nem tampouco s protees seletivas de sobrecorrente. Elas podero se

    estender tambm a sistemas de transmisso e distribuio e ao emprego de outras funes

    de proteo [3].

    Destaca-se que, entre outros aspectos, um dos objetivos desse trabalho

    solucionar um problema de engenharia (implementao do sistema de proteo adaptativa)

    de forma estruturada e coesa, apresentando a soluo mais ampla e genrica possvel. O

    foco em uma soluo abrangente justifica-se pelo fato de que a mesma poder servir de

    base para implementao de solues especficas, garantindo economia de horas de

    engenharia.

    Uma das principais vantagens da utilizao da proteo digital a possibilidade

    de comunicao entre os diversos dispositivos que compem um sistema de proteo.

    Nesse contexto, surge como eficiente alternativa a utilizao do padro IEC 61850, que

    representa um dos objetivos deste TCC.

    De forma sucinta, pode-se adiantar que o padro IEC 61850 estabelece uma

    srie de regras que padronizam a troca de informaes entre dispositivos dos SEPs e suas

    vantagens e funcionalidades so exploradas ao longo desse trabalho.

    Assim, pode-se sintetizar os objetivos deste trabalho nos seguintes itens:

    Garantir a seletividade e coordenao do sistema eltrico sob estudo;

  • 23

    Implementar um sistema de proteo adaptativa baseando-se no uso da

    proteo digital;

    Apresentar uma soluo genrica, coesa e estruturada para o problema em

    questo;

    Elaborar o sistema de proteo explorando as vantagens da utilizao do

    padro IEC 61850.

    1.2) Metodologia

    Este tpico tem o objetivo de fornecer uma viso introdutria da metodologia

    utilizada ao longo do desenvolvimento do sistema de proteo adaptativa.

    O presente trabalho de concluso de curso teve incio com o claro entendimento

    do problema de engenharia e das etapas necessrias para a resoluo adequada do

    mesmo. De forma paralela, foram necessrios uma srie de estudos e consultas a materiais

    e contedos inerentes proteo digital.

    Na sequncia, desenvolveu-se a lgica que permitiu proteger o sistema industrial

    de forma adequada. Tal lgica apresenta significativa relevncia por ser o ponto central da

    concepo do sistema de proteo adaptativa.

    A etapa seguinte contemplou a simulao do sistema eltrico industrial. Neste

    momento, ocorreu a simulao do tipo e localizao das faltas (curtos-circuitos), bem como

    a verificao das formas de onda e das intensidades de correntes resultantes.

    A partir desse ponto, iniciou-se a parte experimental propriamente dita. Etapa

    esta que se desenvolveu no Laboratrio de Sistemas de Energia Eltrica (LSEE) presente

    no campus de So Carlos da Universidade de So Paulo. No trabalho em questo, a etapa

    experimental foi a que mais demandou tempo e empenho em decorrncia da quantidade de

    equipamentos e softwares utilizados. Alm disso, algumas dificuldades, que so descritas

    no decorrer do trabalho, foram enfrentadas durante o desenvolvimento do sistema de

    proteo adaptativa.

    Por fim, utilizando-se da estrutura e dos equipamentos presentes no LSEE, foi

    possvel implantar, testar e validar a soluo de proteo adaptativa desenvolvida. Salienta-

    se que a descrio completa da metodologia utilizada ao longo do trabalho ser

    detalhadamente descrita no Captulo 5.

  • 24

    1.3) Organizao do trabalho

    Este trabalho foi segmentado em sete captulos com o intuito de organiz-lo e

    facilitar sua compreenso. Abaixo segue uma sucinta descrio dos assuntos e temas

    abordados em cada um desses captulos:

    Captulo 1 Introduo: trata-se do atual captulo deste trabalho. Tem como

    caracterstica fundamental fornecer uma viso geral do trabalho e dos assuntos com ele

    relacionados, destacando seus objetivos e metodologia empregada.

    Captulo 2 Reviso bibliogrfica: neste captulo so expostos alguns artigos e

    publicaes que se relacionam diretamente com o tema deste trabalho de concluso de

    curso. O objetivo primordial da Reviso Bibliogrfica desenvolver uma anlise crtica e

    ampla dos estudos j realizados anteriormente, fornecendo embasamento para o

    desenvolvimento do estudo atual.

    Captulo 3 O padro IEC 61850: a idia central deste captulo definir as

    bases do protocolo de comunicao IEC 61850, demonstrando suas vantagens em relao

    ao uso de um mtodo de comunicao convencional, alm de explorar as novas

    possibilidades decorrentes de sua utilizao nos SEPs.

    Captulo 4 Estudo de caso: anlise detalhada das caractersticas do sistema

    eltrico industrial. Nesse captulo, so tambm expostos os motivos que estimularam o

    desenvolvimento do sistema adaptativo em detrimento do sistema de proteo

    convencional.

    Captulo 5 Desenvolvimento da aplicao: captulo que descreve toda a

    metodologia e etapas necessrias para o desenvolvimento da soluo obtida neste trabalho.

    Alm disso, so descritas as dificuldades enfrentadas e como as mesmas foram superadas

    ou mitigadas.

    Captulo 6 Resultados: exposio dos resultados obtidos com o trabalho.

    Captulo que descreve as solues obtidas, salientando suas caractersticas, vantagens e

    aplicaes.

    Captulo 7 Concluso: captulo que descreve as consideraes finais do

    trabalho, salientando suas contribuies e aplicabilidade.

  • 25

    2) Reviso bibliogrfica

    Especialmente na primeira dcada do sculo XXI, importantes trabalhos foram

    desenvolvidos para compor esquemas especiais de proteo, automao de subestaes

    (SEs), regras para troca de informaes e implementao de lgicas de controle

    embarcadas em rels.

    Tais estudos visam superar ou, pelo menos atenuar, limitaes recorrentes nas

    mais diversas reas que compem os SEPs. Alm disso, estes trabalhos podem servir de

    base e trazer contribuies expressivas para trabalhos futuros.

    Diante do exposto, este captulo destaca algumas publicaes encontradas na

    literatura que tm relao com os contedos desenvolvidos neste trabalho. A seguir so

    brevemente descritas as publicaes de maior relevncia e os respectivos resultados

    obtidos por seus autores.

    2.1) Esquema adaptativo de proteo contra sobrecorrente

    Os contedos explorados pelos autores em [3] serviram como estmulo para o

    desenvolvimento deste TCC. A publicao destaca as vantagens que os rels digitais

    microprocessados trazem para os SEPs, entre elas: aumento da confiabilidade, flexibilidade

    de programao, bom desempenho operacional e satisfatria relao entre custo e

    benefcio. Os autores apresentam no artigo um estudo de coordenao da proteo e

    seletividade de um sistema eltrico industrial especfico. Neste estudo, fica evidente, em

    decorrncia das caractersticas do sistema sob analise, que um sistema de proteo

    convencional incapaz de proteg-lo satisfatoriamente. O sistema eltrico abordado tem

    como diferencial a presena de uma central de cogerao que pode operar fornecendo

    diferentes nveis de potncia. Assim, variaes no processo de cogerao, a depender do

    nmero de geradores em operao, implicam em nveis distintos de potncia de curto-

    circuito, o que impossibilita que um sistema de proteo convencional (rels com ajuste fixo)

    opere adequadamente em todos os cenrios de gerao. Os autores propem ento um

    sistema de proteo adaptativa capaz de superar as particularidades do sistema eltrico sob

    estudo. No sistema proposto, aglutinam-se as situaes de gerao semelhantes e as

    associam a um ajuste de rel especfico, totalizando trs grupos de ajuste. Prope-se ainda

    a utilizao de uma unidade central de processamento, responsvel por receber

    informaes do sistema, desenvolver o processamento lgico e enviar comandos para os

    demais dispositivos componentes do esquema de proteo.

  • 26

    Entretanto, durante o desenvolvimento deste TCC, que apresenta relao com o

    artigo em questo, julgou-se que a utilizao da unidade central de processamento poderia

    interferir na manuteno da confiabilidade de todo o sistema. Alm disso, o investimento em

    um dispositivo com finalidade exclusiva de processamento no se justificou pela

    possibilidade de tal funo ser executada por outro elemento presente no sistema de

    proteo. Desta forma, a soluo desenvolvida neste TCC, no que diz respeito ao

    dispositivo responsvel pelo processamento, distancia-se da soluo proposta pelos

    autores.

    2.2) Uma nova viso de sistemas digitais IEC 61850 para SEs

    O artigo [4] explora as mudanas de paradigma no setor eltrico decorrentes do

    advento do padro IEC 61850. Dentre as alteraes, destacam-se melhorias nas funes de

    proteo de SEs como bloqueios, intertravamentos e permisses entre mdulos, alm da

    progressiva substituio da fiao eltrica convencional pelas das redes de comunicao de

    dados (no caso, Ethernet).

    Segundo os autores, na troca de informaes binrias com uso de fiao eltrica

    convencional verifica-se a incapacidade de distino entre a transmisso de nvel lgico 0,

    normalmente associado ausncia de tenso na entrada digital, e um possvel rompimento

    de fiao. De forma anloga, tambm no ocorre diferenciao entre a transmisso de nvel

    lgico 1 e uma falha na origem do dado que resulte em uma injeo de tenso na entrada

    digital como, por exemplo, rompimento da isolao de cabos ou equipamentos.

    Outro aspecto negativo na utilizao de fiao convencional refere-se vibrao

    dos contatos das sadas digitais acionadas a rel, que resulta na transmisso de

    informaes imprecisas. A aplicao de filtros possibilita a superao desta limitao,

    contudo, resulta no surgimento de retardos ou atrasos altamente indesejveis no mbito da

    proteo digital. A interferncia eletromagntica, decorrente de descargas naturais ou falha

    de equipamentos, tambm se apresenta como condio crtica na manuteno da fiao

    eltrica convencional.

    Os novos padres estabelecidos pela norma IEC 61850 apresentam

    caractersticas que, se aplicadas corretamente aos equipamentos das SEs, permitem a

    superao das limitaes expostas anteriormente. Alm disso, a norma permite a

    simplificao de tarefas antes tidas como de extrema complexidade, tais como ampliaes

    nas SEs e reconfigurao de esquemas de proteo ou controle previamente implantados.

    Diante do exposto, percebem-se as novas possibilidades decorrentes do uso do protocolo

    de comunicao IEC 61850. O mesmo vem se mostrando uma opo crescente e segura e,

  • 27

    na atualidade, encontra-se no horizonte de planejamento das empresas de energia eltrica

    que tm foco na simplificao e padronizao de suas SEs.

    2.3) Aplicao do IEC 61850

    Os autores em [5] propem as bases de um extenso projeto para modernizao

    de 30 subestaes de transformao de uma concessionria de energia eltrica. O artigo

    em questo aborda o projeto referente modernizao da primeira SE, que ser ento

    estendido para as demais. Entre as melhorias previstas no projeto, destacam-se:

    Implementao de novas interfaces homem mquina (IHMs);

    Modernizao dos sistemas de controle, superviso e aquisio de dados;

    Automao da subestao;

    Substituio de painis de rels eletromecnicos por rels digitais

    microprocessados.

    A respectiva concessionria de energia j havia definido a opo pelo protocolo

    DNP3.0 para a integrao de todos os dispositivos eltricos inteligentes (Intelligent

    Electronic Devices IEDs) em decorrncia de seu domnio e difuso. Contudo, durante a

    fase de elaborao das propostas, solicitou-se uma opo alternativa para automao da

    SE baseada no protocolo de comunicao IEC 61850.

    A deciso sobre o uso da alternativa IEC 61850 baseou-se em algumas

    vantagens que superaram os custos adicionais devido aos investimentos com treinamentos

    da equipe, possveis alteraes de filosofia e custos de alteraes do projeto. A motivao

    para escolha da nova filosofia de projeto das SEs fazendo-se uso do padro IEC 61850

    baseou-se nos critrios a seguir:

    Uso dos sistemas de comunicao de alta velocidade baseados na Ethernet;

    Interoperabilidade de equipamentos de diferentes fabricantes;

    Reduo significativa na quantidade de cabos a serem utilizados, facilitando o

    comissionamento e reduzindo a probabilidade de falhas;

    Alta confiabilidade e disponibilidade do sistema com o uso de projetos mais

    simples e arquitetura mais eficiente;

    Facilidade na expanso do sistema.

    Os autores do projeto destacam que a facilidade de instalao em campo, a

    identificao mais rpida das falhas, a implementao de funes automatizadas, e os

    novos, mais rpidos e mais seletivos esquemas de proteo proporcionariam retorno do

    investimento em um prazo menor do que o estimado inicialmente. Alm disso, a deciso de

  • 28

    qual sistema deveria ser desenvolvido nas subestaes no foi baseada somente no menor

    custo global, mas tambm na melhor soluo tcnica.

    No artigo ainda so abordadas as funes de proteo, automao e

    intertravamento que foram aprimoradas com a utilizao da norma IEC 61850. Dentre estas

    funes, destacam-se: proteo de falha de disjuntor, seletividade lgica para proteo de

    barramento, transferncia automtica de linhas, transferncia de carga entre

    transformadores de potncia, restabelecimento automtico da subestao e transferncia

    automtica da proteo de neutro.

    Por fim, possvel destacar que a alternativa escolhida pelos autores se mostrou

    acertada pela tima relao custo/benefcio decorrente da opo pelo padro IEC 61850.

    Alm deste fato, as vantagens oriundas da utilizao da norma so relevantes e se

    estenderam tambm aos clientes da concessionria, que passaram a contar com reduo

    significativa nos tempos de interrupo do fornecimento de energia eltrica.

    2.4) Uso da IEC 61850 em hidreltricas benefcios e incompatibilidades

    Os autores em [6] destacam que apesar da norma IEC 61850 ter sido

    desenvolvida no mbito das SEs, a mesma pode estender seus benefcios para os sistemas

    de gerao, no caso, para as hidreltricas. Inicialmente, so destacadas as principais

    contribuies da norma, tais como:

    Comunicao via rede entre dispositivos;

    Reduo de cabeamento e consequente reduo de custos;

    Reduo do nmero de entradas e sadas dos dispositivos inteligentes e

    consequente reduo de custos;

    Flexibilidade para o projeto, visto que alteraes de lgicas envolvendo

    dispositivos diferentes podem ser implementadas sem alterao na

    instalao;

    Padronizao, garantindo maior rapidez na configurao da interface entre

    dispositivos e entre esses e o sistema supervisrio.

    A idia dos autores abordar alguns casos particulares, no previstos na norma,

    com o intuito de buscar pontos de melhoria e, de certa forma, restringir sua aplicao para

    alguns cenrios especficos. Como exemplo, pondera-se no artigo a implementao de

    redes de comunicao de dados Ethernet com uso do padro IEC 61850 em PCHs

    (Pequenas Centrais Hidreltricas), que podem apresentar somente duas unidades

    geradoras. Segundo os autores, os custos decorrentes da implementao da rede podem

    superar seus benefcios.

  • 29

    Tomando como referncia as topologias de rede, alerta-se no trabalho que as

    centrais de gerao apresentam configuraes e equipamentos em nveis mais complexos

    que os observados em SEs e, que por este motivo, elas demandam quantidade muito

    superior de IEDs. Assim, os autores recomendam o desenvolvimento de estudos de

    desempenho de rede antes da implementao de projetos via IEC 61850 em centrais de

    gerao.

    Faz-se aluso tambm ao fato de que no Brasil as centrais hidreltricas, devido

    a sua controlabilidade, so utilizadas como ferramentas para estabilidade do SIN (Sistema

    Interligado Nacional). Em contrapartida, em sistemas europeus, onde se concebeu a norma

    sob estudo, as SEs no apresentam requisitos to sofisticados de controle (como controle

    de tenso e velocidade) como ocorre nas usinas hidreltricas brasileiras. Desta forma,

    registra-se mais um ponto de ateno quanto aplicao do padro IEC 61850.

    No referenciado artigo, versa-se ainda acerca da enorme dependncia da rede

    de comunicao de dados em centrais projetadas com o padro IEC 61850. Destaca-se que

    h a necessidade de considerar equipamentos aptos a realizar manuteno de redes, como

    monitores de trfego de dados, que passam a ser ferramentas de uso tambm do pessoal

    de automao e, no apenas do pessoal de telecomunicaes/informtica.

    Mediante o contedo exposto pelos autores, no se deve encarar as

    incompatibilidades levantadas como desmotivadoras, mas sim como referncias para

    aplicaes cautelosas da norma. Desta forma, aumenta-se a possibilidade de xito em suas

    aplicaes, o que, de certa forma, contribui com o processo de solidificao do padro IEC

    61850.

    2.5) Uma nova abordagem da proteo da distribuio

    Os autores em [7] destacam que os sistemas de distribuio so afetados por

    perturbaes com maior frequncia que os sistemas de transmisso. Tal caracterstica

    advm da maior proximidade do sistema de distribuio das atividades humanas, das

    rvores e da prpria concentrao de carga.

    exposto no artigo que durante anos os sistemas de superviso, controle e

    proteo da distribuio permaneceram relativamente inalterados. O que no foi observado

    no sistema de transmisso, que recebeu maiores investimentos por sua relevncia, j que

    perturbaes em seu sistema podem afetar nmero muito significativo de consumidores.

    Contudo, relata-se que na atualidade as concessionrias passaram a aprimorar a

    capacidade de superviso e controle de seus sistemas de distribuio, salientando-se,

    assim, o uso dos rels microprocessados.

  • 30

    Em seguida, se faz referncia ao atual dinamismo observado nos sistemas de

    distribuio, que apresentam mudanas de caractersticas horrias e sazonais, tais como:

    Manobras programadas para projetos de construo ou aes de

    manuteno;

    Manobras de emergncia para reparos;

    Disjuntores de interligao de barramentos substituindo disjuntores de

    alimentador de distribuio;

    Transferncias de carga sazonais.

    Assim, as reconfiguraes resultantes do sistema duram de algumas horas at

    meses e, os seguintes problemas podem ser observados:

    Importantes mudanas na carga ou desequilbrio;

    Grandes variaes no regime de falta, devido a alteraes na fonte e

    alimentador;

    Problemas de coordenao com diferentes equipamentos de proteo;

    Aumento do regime de falta no condutor, cabo ou equipamento.

    Neste contexto, salienta-se que os tradicionais equipamentos de proteo no

    se adaptam facilmente s reconfiguraes dos sistemas de distribuio. Caso novos ajustes

    sejam necessrios, os mesmos provavelmente sero realizados manualmente. Alm disso,

    o tempo de implantao e teste das novas configuraes retardam as respostas a

    emergncias e introduzem riscos de erro humano. Em alguns casos, chega-se a no se

    alterar os ajustes de rels, pois este processo pode ser demorado ou complexo,

    comprometendo todo o sistema de proteo.

    Com base no exposto, versa-se sobre as alternativas para superao das

    limitaes da proteo dos sistemas de distribuio. Como alternativa, aborda-se a lgica

    programvel, que proporciona o manejo dos esquemas de proteo futuros e, cuja fora

    encontra-se no uso de operadores lgicos e lgebra Booleana. Assim, os elementos do rel

    so combinados para formar a lgica condicional para funes internas e contados de sada.

    Outra alternativa exposta refere-se utilizao de mltiplos grupos de ajuste,

    que podem ser programados para cobrir inmeras contingncias no sistema. O esquema e

    configurao de proteo ideais so habilitados para proporcionar maior confiabilidade de

    servio, reduzindo-se os custos operacionais, j que as novas configuraes foram testadas

    com conveniente antecipao.

  • 31

    3) O padro IEC 61850

    O processo de digitalizao de SEs de energia eltrica motivado, entre outros

    aspectos, pela necessidade de desempenho, qualidade tcnica, satisfao dos clientes e

    lucro. Como este processo exige a aquisio e processamento de vasta quantidade de

    informaes pelo sistema de automao das SEs, torna-se necessria a utilizao de uma

    rede de comunicao de dados para a manuteno da agilidade e confiabilidade do mesmo

    [8].

    Normalmente, em uma SE, encontra-se quantidade relevante de equipamentos,

    tecnologias, softwares e protocolos de comunicao, o que exige expressivo investimento

    para integrao destes elementos, caracterizando um problema no mbito da automao de

    SEs [2]. A Figura 1 destaca os diferentes protocolos, proprietrios ou no, utilizados

    mundialmente em processos de automao.

    DNP3.0

    Modbus

    Hart

    ControlNet

    60870-5-103

    Profibus

    Fieldbus

    UCA2

    LON

    DeviceNet

    60870-5-101/4

    Profinet

    Figura 1 Diferentes protocolos utilizados no mbito da automao [2].

    Pode-se perceber, assim, que esta quantidade de protocolos torna-se um

    obstculo em engenharia por dificultar a comunicao entre equipamentos distintos. Tem-

    se, ento, o sentimento de que necessria uma soluo que proporcione a integrao

    adequada entre dispositivos que compem uma SE, reduzindo os custos e gerando ganhos

    significativos de desempenho e confiabilidade.

    3.1) A histria do padro IEC 61850

    No ano de 1988 o Electric Power Research Institute (EPRI) deu origem aos

    trabalhos de desenvolvimento do Utility Communications Architecture (UCA), que se trata de

  • 32

    uma arquitetura para comunicao de dados nas concessionrias de energia eltrica. Ao ser

    publicada, no ano de 1999, esta arquitetura abrangeu duas frentes distintas: a comunicao

    entre centros de controle e a comunicao entre dispositivos de campo [8].

    De forma paralela, o International Electrotechnical Commission (IEC) esforava-

    se para padronizar as interfaces de dispositivos de telecontrole por meio do conjunto de

    normas denominadas IEC-60870-5, compostas pelos seguintes documentos:

    IEC-60870-5-101: padronizao entre unidades terminais remotas (UTRs) e

    centros de controle para o sistema de potncia;

    IEC-870-5-103: padronizao da comunicao serial de dispositivos de

    proteo digital;

    IEC-6087-5-104: a comunicao em redes Local Area Network (LAN) e Wide

    Area Network (WAN), baseado no uso de Ethernet com Transmission Control

    Protocol / Internet Protocol (TCP/IP).

    J no ano de 1994, criaram-se grupos de trabalho compostos por especialistas

    nas normas IEC-6087-5 e UCA 2.0 de vrias partes do mundo. Estabeleceu-se, ento, uma

    padronizao mais abrangente para redes de comunicao de dados e sistemas em SEs de

    energia eltrica. Por fim, ocorreu um acordo entre IEC e EPRI para a definio de um

    padro comum, padro este denominado IEC-61850 [2,8].

    3.2) Definies do padro IEC 61850

    Por mais que os protocolos de comunicao sejam abertos, para um mesmo

    protocolo, diversos fabricantes podem apresentar diferentes perfis. Por este motivo a

    expanso de um determinado sistema de proteo e controle poder privilegiar o fabricante

    que forneceu o referido sistema [9]. Contudo, a criao da norma IEC 61850 veio superar

    esta limitao, pois padroniza a forma como as informaes trafegam, definindo a estrutura

    de dados e o padro das linguagens de configurao dos IEDs.

    Para se obter um perfeito entendimento da norma pertinente realizar uma

    comparao entre o princpio de comunicao dos protocolos convencionais e via IEC

    61850. O padro mestre escravo, que serve como referncia, encontra-se presente na

    maioria dos protocolos convencionais, tais como: IEC-870-5-101, IEC-870-5-103, IEC-870-5-

    104, DNP3.0, Modbus, Modbus TCP-IP, entre outros.

    Sucintamente, na configurao mestre escravo a troca de informaes ocorre

    pela solicitao de mensagens dos dispositivos mestres aos dispositivos escravos. Deste

    modo, os dispositivos escravos enviam mensagens para os dispositivos mestres somente

    mediante solicitaes destes. Pequena exceo pode ser identificada no protocolo de

    comunicao DNP3.0, cuja configurao permite ajustar o envio de mensagens

  • 33

    espontneas dos dispositivos escravos para os dispositivos mestres, sem que ocorra a

    solicitao. A Figura 2 ilustra um sistema em que os IEDs se comunicam com um sistema

    SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) atravs do protocolo Modbus no padro

    de comunicao mestre escravo [9].

    SCADA

    IED 2

    (escravo)

    IED 1

    (escravo)

    UCC

    (mestre)

    Figura 2 Sistema de comunicao atravs do protocolo Modbus [9].

    vlido ressaltar que a configurao mestre escravo no permite a troca direta

    de informaes entre IEDs, via protocolo de comunicao. Uma maneira de trocar

    informaes entre os IEDs estabelecer um enlace fsico (fiao), em que a sada digital de

    um IED ativa uma entrada digital do outro IED e vice versa. Outra opo de comunicao

    (conforme Figura 2) consiste na utilizao da unidade central de controle (UCC) para coletar

    informaes de um IED e transmitir para o outro IED, atravs das chamadas escrituras. Os

    protocolos mestre escravo apresentam inmeras solues, porm pouca padronizao [9]

    Contudo, fazendo-se uso da norma IEC 61850 exploram-se as possibilidades de

    trocas horizontais e verticais de informao. Pela observao da Figura 3, contata-se que o

    uso da UCC suprimido e que os IEDs podem trocar informaes diretas (horizontais) entre

    si atravs de mensagens GOOSE (Generic Object Oriented Substation Event). Pela anlise

    da mesma ilustrao, percebe-se que os IEDs tambm podem realizar a troca de

    informaes verticais com o prprio sistema SCADA, atravs das mensagens MMS

    (Manufacturing Message Specification) [9].

    As mensagens GOOSE contemplam informaes digitais e analgicas dos

    componentes das SEs que so originadas nos IEDs (denominados editores) que, por sua

    vez, disponibilizam as respectivas mensagens para os demais IEDs (denominados

  • 34

    assinantes), que podem ou no process-las. As mensagens GOOSE so utilizadas tanto

    em sistemas de controle como em esquemas de proteo.

    Um IED editor pode enviar mensagens GOOSE para apenas um grupo de IEDs

    assinantes da rede, mensagens estas conhecidas como multicast. Quando as mensagens

    so enviadas a todos os assinantes da rede, recebem a denominao de broadcast.

    Levando-se em considerao as mensagens multicast, somente o IED cuja mensagem

    pertinente deve respond-la [2]. Em relao s mensagens GOOSE, destaca-se ainda que

    as mesmas apresentam prioridade em relao s demais mensagens que circulam em uma

    rede de comunicao de dados.

    As mensagens MMS possibilitam a troca de informaes entre dispositivos

    pertencentes a nveis funcionais diferentes, no caso, entre o nvel de vo (IED) e o nvel de

    subestao (SCADA). As mensagens verticais se caracterizam pela existncia de caracteres

    configurveis e, no caso do IEC 61850, no se define um limite para estes caracteres,

    porm, os mesmo devem ser padronizados [9].

    SCADA

    IED 2IED 1

    Switch

    GOOSE

    MMSMMS

    Figura 3 Sistema de comunicao atravs da norma IEC 61850 [9].

    A norma IEC 61850 modela os dados de forma a atender os requisitos de

    comunicao e as funcionalidades encontradas em automao de SEs. Para isto utilizada

    uma abordagem orientada a objetos que define, dentre outros, os seguintes objetos [10]:

    Ns lgicos: agrupamento funcional de dados. Menor parte de uma funo

    com capacidade de trocar dados com outros objetos (funes de proteo,

  • 35

    disjuntor, medies). Cada tipo de n lgico possui uma estrutura de dados

    definida pela norma. Estes dados so compartilhados entre outros ns lgicos

    atravs de um conjunto de regras denominada servios;

    Dispositivos lgicos: so constitudos de um conjunto de ns lgicos;

    Dispositivos fsicos: constituem os IEDs propriamente ditos e so formados

    por um conjunto de dispositivos lgicos.

    Em relao linguagem de configurao, a parte 6 da norma IEC 61850 define a

    linguagem SCL (Substation Configuration Language), que utilizada para configurar a

    comunicao entre os IEDs de um sistema de automao de SEs. A linguagem SCL baseia-

    se na linguagem XLM (eXtender Markaup Language) e tem como objetivo padronizar a

    configurao de comunicao dos IEDs com maior segurana e confiabilidade. A

    configurao da comunicao baseada na norma IEC 61850 descrita atravs de vrios

    tipos de arquivos SCL, utilizados na troca de informaes entre softwares de configurao

    de IEDs de vrios fabricantes. Os tipos de arquivo so [10]:

    SSD (System Specification Description): arquivo utilizado pela ferramenta de

    configurao do sistema que descreve o diagrama unifilar da subestao e

    todos os ns lgicos requeridos;

    SCD (Substation Configuration Description): arquivo gerado pela ferramenta

    de configurao do sistema e importado pelo configurador dos IEDs com as

    informaes configuradas para a comunicao;

    ICD (IED Capability Description): arquivo gerado pelo configurador do IED

    para informar a ferramenta de configurao do sistema de suas

    caractersticas como tipos de ns lgicos existentes, por exemplo;

    CID (Configured IED Description): arquivo final gerado pelo seu configurador

    para ser carregado em determinado IED.

    Os arquivos de configurao da SCL so escritos em formato de texto, o que

    permite sua criao ou edio em qualquer editor de texto, embora existam aplicativos de

    engenharia grficos e amigveis com essa finalidade [2]. A Figura 4 representa a estrutura

    da linguagem de configurao da SE.

  • 36

    SSD

    Ferramenta de

    configurao do sistema

    SCD

    Ferramenta de

    configurao do IED

    CID

    IEDICD

    Figura 4 Estrutura da linguagem de configurao da SE [10].

    3.3) Vantagens decorrentes do uso do padro IEC 61850

    Embora o padro IEC 61850 tenha sido originalmente desenvolvido para uso em

    SEs, felizmente foi conceituado como orientao a objetos, o que permite que seus

    conceitos possam ser utilizados em outros sistemas de energia eltrica [6]. A partir de sua

    concepo, o padro passou a proporcionar uma srie de vantagens aos sistemas em que

    se encontrava inserido. A Figura 5 [11] por si s j faz aluso a algumas caractersticas e

    vantagens decorrentes do uso deste padro.

    Contudo, possvel complementar brevemente as descries j realizadas no

    Captulo 2 e atravs da Figura 5, acerca dos benefcios decorrentes da utilizao da norma.

    Tomando o quesito financeiro como referncia inicial, pode-se dizer que existe um esforo

    mundial pela reduo de custos de equipamentos de proteo e controle nas SEs de

    energia eltrica, o que justifica a necessidade de um nico padro mundial de comunicao.

    O padro IEC 61850 proporciona, desta forma, um sistema de comunicao aberto que

    permite que equipamentos de fabricantes distintos operem de forma conjunta, eliminando a

    necessidade de conversores de protocolos, de complexa implementao e, proporcionando

    reduo significativa nos custos de implementao de sistemas de automao [12].

    J, sob o ponto de vista tcnico, percebe-se significativa melhoria de

    desempenho e confiabilidade dos sistemas atendidos por este padro. A simplicidade e

    padronizao decorrentes de seu uso vm revolucionando os processos de automao de

    SEs, reduzindo os esforos e processos de engenharia. Sendo assim, o padro IEC 61850

    vem se mostrando capaz de superar as antigas limitaes referentes aos processos de

    comunicao, sendo estendido tambm para aplicaes alm das comumente encontras em

    SEs de energia eltrica.

  • 37

    Por fim, salienta-se uma ltima possibilidade crescente com a utilizao do

    respectivo padro, a decomposio funcional. Mediante os ganhos referentes s trocas de

    informaes via IEC 61850, a decomposio funcional ganha destaque por permitir melhor

    aproveitamento dos dispositivos pertencentes a uma SE ou sistema de proteo. Esta

    decomposio, como o prprio nome sugere, possibilita a segmentao de esquemas e

    lgicas permitindo que as mesmas sejam processadas em diferentes equipamentos. Assim,

    caso algum elemento do sistema se encontre prximo do seu limite operacional, novos

    investimentos podem ser evitados segmentando e delegando algumas de suas

    funcionalidades a outros dispositivos.

    IEC 61850

    Reduo em

    configuraes e

    setups

    Baixo custo de

    instalao

    Maior

    interoperabili-

    dade

    Reduo de

    erros e

    esforos

    manuais

    Maior

    capacidade e

    flexibilidade

    Moderna

    tecnologia de

    rede

    Convenes

    para nomeao

    de objetos Linguagem de

    configurao

    padronizada

    Dispositivos

    auto descritivos

    Modelos de

    equipamentos e

    objetos

    padronizados

    Caractersticas do Padro IEC 61850

    Benefcios em Bays e SEs decorrentes do uso do Padro IEC 61850

    Figura 5 Caractersticas e vantagens do padro IEC 61850 [11].

    Sendo assim, as idias apresentadas neste captulo possibilitam o entendimento

    do padro IEC 61850, de suas definies e das principais vantagens decorrentes de sua

    aplicao.

  • 38

  • 39

    4) Estudo de caso

    Este trabalho tem como foco a coordenao e seletividade de dispositivos de

    proteo contra sobrecorrente, em especial os rels de sobrecorrente com atuao

    temporizada (funo ANSI 51) e instantnea (funo ANSI 50).

    Os critrios para ajustes das protees de sobrecorrente de forma coordenada

    so facilmente encontrados em literatura tcnica especializada [3] e, em linhas gerais,

    devem considerar os seguintes fatores:

    Capacidades nominais dos equipamentos e cabos;

    Valores mximos e mnimos das correntes de curto-circuito;

    Limites trmicos e dinmicos de equipamentos e cabos;

    Restries operativas do sistema eltrico;

    Diferentes tipos de dispositivos de proteo instalados (rels eletromecnicos

    e microprocessados, fusveis, disjuntores);

    Correntes de partida de motores e correntes de magnetizao de

    transformadores.

    A anlise da coordenao dos dispositivos de sobrecorrente realizada

    graficamente em um plano XY, em que o eixo das ordenadas graduado em escala de

    tempo e o das abscissas em escala de corrente. Este grfico contm as caractersticas de

    atuao dos dispositivos de proteo e as caractersticas do sistema eltrico sob anlise [3].

    4.1) Descrio do sistema eltrico sob estudo

    O sistema eltrico objeto de estudo deste trabalho trata-se de uma instalao

    industrial que contm uma central de cogerao composta de trs turbogeradores (TGs), o

    que totaliza aproximadamente 40 MVA de capacidade instalada [3]. O diagrama unifilar

    contendo os pontos pertinentes ao estudo encontram-se na Figura 6.

  • 40

    B-TG3B-TG2B-TG1

    G~

    M~

    M~

    G~

    G~

    RDF-Entrada

    RF-TR-3 RDF-Pri-TR-4

    RDF-Sec-TR-4

    RF-AL2-COGER

    RF-AL1-COGER

    RF-TG1 RF-TG2 RF-TG3

    Barramento 138kV

    Barramento COGER - 11.5kV

    Sec TR-1/TR-2 Sec TR-3

    TR-1

    7.5 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-2

    7.5 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-3

    40 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-4

    40 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-AUX2

    2.5 MVA

    11.5 kV

    0.46 kV

    TR-AUX1

    2.5 MVA

    11.5 kV

    0.46 kV

    TG-1

    12.5 MVA

    11.5 kV

    TG-2

    12.5 MVA

    11.5 kV

    TG-3

    16.88 MVA

    11.5 kV

    SE Entrada

    Concessionria

    M1 M2

    Figura 6 Diagrama unifilar do sistema eltrico industrial e central de cogerao.

    Os turbogeradores da central de cogerao possuem as seguintes

    caractersticas: TG1: 12,50 MVA 11,5 kV, TG2: 12,50 MVA 11,5 kV e TG3: 16,88 MVA

    11,5 kV.

    A central de cogerao conecta-se ao barramento de 138 kV da indstria por

    meio de um alimentador e um transformador (TR-4) de 40 MVA 138kV/11,5kV. Este trecho

    que conecta a central de cogerao ao barramento de 138 kV referido no decorrer do

    trabalho como ramo de interligao ou simplesmente interligao. Os transformadores TR-

  • 41

    AUX1 e TR-AUX2 alimentam os equipamentos auxiliares da central de cogerao. A carga

    total instalada da indstria 55 MVA, distribuda entre os transformadores TR-1, TR-2 e TR-

    3 [3].

    A condio normal de operao da indstria e da central de cogerao ocorre

    quando os trs turbogeradores esto em funcionamento. Entretanto, devem ser previstas

    situaes adversas de operao, como desligamentos dos geradores, sejam eles causados

    por defeito ou manuteno [3].

    Conforme a Figura 6 os rels de interesse esto representados pelos nomes que

    aparecem no incio ou final dos alimentadores e transformadores, em que RF significa rel

    de fase e RDF, rel direcional de fase. Segue a descrio dos rels presentes neste sistema

    eltrico:

    RF-TG1, RF-TG2 e RF-TG3: rels de fase dos turbogeradores TG1, TG2 e

    TG3, respectivamente;

    RF-AL1-COGER e RF-AL2-COGER: rels que protegem o alimentador que

    interliga a barra de entrada da cogerao ao TR-4;

    RDF-Pri-TR-4 e RDF-Sec-TR-4: representam as unidades de proteo do

    primrio e secundrio do rel que protege o TR-4;

    RF-TR-3: rel eletromecnico que protege o maior transformador da indstria,

    o TR-3.

    Com exceo do rel RF-TR-3 todos os demais so microprocessados. O

    trabalho se restringir aos ajustes das funes de sobrecorrente de fase e ter foco nos

    rels RF-TR-3 e RDF-Pri-TR-4. Todos os conceitos, problemas e solues abordados no

    decorrer do trabalho aplicam-se tambm aos ajustes para proteo contra curtos-circuitos

    fase-terra (51N, 50N, 50G) [3].

    Todos os clculos e diagramas de verificao grfica de coordenao da

    proteo e seletividade foram realizados com o auxlio do programa DIgSILENT

    PowerFactory [13], desenvolvido pela empresa alem DIgSILENT GmbH [3].

    4.2) Estudo de coordenao da proteo: problemas encontrados

    Nesta seo so apresentados os problemas verificados quando se tenta

    estabelecer a coordenao entre os rels de sobrecorrente citados na seo anterior, mais

    especificamente RF-TR-3 e o elemento primrio de RDF-TR-4. Um estudo de coordenao

    completo envolve a anlise de outros dispositivos de proteo e de outros equipamentos do

    sistema eltrico. Entretanto isso no ser feito no trabalho visto que o objetivo mostrar

  • 42

    apenas as situaes em que ocorre a atuao descoordenada dos rels e as solues

    encontradas para resolver tais problemas de coordenao [3].

    Em todos os casos tratados, analisa-se a ocorrncia de um curto-circuito trifsico

    franco no ramo que alimenta o transformador TR-3 (observar Figura 7), de forma que o

    transformador de corrente (TC) que alimenta o RF-TR-3 mea a corrente de defeito.

    B-TG3B-TG2B-TG1

    G~

    M~

    M~

    G~

    G~

    RDF-Entrada

    RF-TR-3 RDF-Pri-TR-4

    RDF-Sec-TR-4

    RF-AL2-COGER

    RF-AL1-COGER

    RF-TG1 RF-TG2 RF-TG3

    Barramento 138kV

    Barramento COGER - 11.5kV

    Sec TR-1/TR-2 Sec TR-3

    TR-1

    7.5 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-2

    7.5 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-3

    40 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-4

    40 MVA

    138 kV

    11.5 kV

    TR-AUX2

    2.5 MVA

    11.5 kV

    0.46 kV

    TR-AUX1

    2.5 MVA

    11.5 kV

    0.46 kV

    TG-1

    12.5 MVA

    11.5 kV

    TG-2

    12.5 MVA

    11.5 kV

    TG-3

    16.88 MVA

    11.5 kV

    SE Entrada

    Concessionria

    M1 M2

    Figura 7 Diagrama unifilar com a localizao do ponto de falta.

  • 43

    Normalmente, trabalha-se com a hiptese de as protees primrias do

    transformador (rel diferencial e rel Buchholz) falharem, cabendo assim ao rel de

    sobrecorrente (RF-TR-3) isolar o defeito caso ele seja interno ao transformador. Nesse caso,

    o RF-TR-3 atua como proteo de retaguarda. Alm disso, caso este dispositivo de proteo

    falhe, existe o rel direcional RDF-Pri-TR4 que servir como proteo de retaguarda do RF-

    TR-3. Ressalta-se que o RDF-Pri-TR4 um rel de sobrecorrente direcional e atuar

    apenas para curtos-circuitos que ocorrerem no barramento de 138 kV e nas cargas ligadas

    ao mesmo.

    Na Figura 8 so mostradas as curvas de atuao dos rels de interesse (RF-TR-

    3 e RDF-TR-4) e as correntes mximas de curto-circuito para o defeito referido

    anteriormente. As correntes de curto-circuito so representadas por linhas verticais, cujos

    valores esto referidos tenso de 138 kV. A legenda e as caixas de texto identificam as

    curvas de atuao dos rels.

    A Figura 8 pode ser interpretada da seguinte forma: um curto-circuito trifsico no

    ramo de alimentao do TR-3 produz uma corrente de curto-circuito total (corrente

    subtransitria e simtrica linha vertical contnua) de 10100 A, capaz de sensibilizar o

    elemento instantneo do rel RF-TR-3 em aproximadamente 30 ms (milissegundos). Para o

    defeito em questo, a contribuio de corrente dos TGs que circula no ramo de interligao

    da central de cogerao com o barramento de 138 kV aproximadamente 530 A (corrente

    transitria simtrica linha vertical tracejada). Para esse valor de corrente, o elemento

    primrio do rel RDF-TR-4, ou seja, RDF-Pri-TR-4 sensibilizado em aproximadamente 300

    ms (entretanto, no se pode garantir este tempo de atuao em decorrncia da forma de

    onda do curto-circuito, que decai com o tempo para o valor de regime). vlido ressaltar

    que RDF-Sec-TR-4 foi colocado no mesmo ajuste de RDF-Pri-TR-4 para que a proteo

    seja rpida e, como eles protegem o mesmo circuito, foi desprezada a coordenao entre

    eles. J, os rels RF-AL1-COGER e RF-AL2-COGER apresentam um ajuste que caracteriza

    um atuao mais lenta do que a do rel direcional (mantendo-se, evidentemente, a

    coordenao) e so sensibilizados por faltas no barramento de 138kV ou na central de

    cogerao.

  • 44

    Figura 8 Verificao grfica da coordenao (3 TGs em operao).

    10

    100

    1000

    10000

    10000

    0[p

    ri.A]

    0,0

    1

    0,1 1

    10

    100[s]

    1000

    10000

    10000

    010000

    00

    138,0

    0 k

    V

    11,5

    0 k

    V

    RF

    -TR

    -3IA

    C In

    vers

    e G

    ES

    7001B

    X =

    530,0

    00 p

    ri.AX

    =10100,0

    00 p

    ri.A

    RD

    F-P

    ri-TR

    -4IE

    C 2

    55-3

    invers

    e

    DIA

    GR

    AM

    A D

    E C

    OO

    RD

    EN

    A

    O

    3 T

    Gs O

    N

    Curto

    -Circ

    uito

    Trif

    sic

    o n

    o R

    am

    o q

    ue A

    limenta

    TR

    -3

    Todos o

    s T

    Gs e

    m o

    pera

    o

    Date

    : 18/1

    0/2

    010

    Annex:

    DIgSILENT

  • 45

    Considera-se agora a situao em que o maior dos turbogeradores (TG3) esteja

    desligado por algum motivo. Nessa condio, os valores das correntes de curto-circuito

    diminuem provocando uma reduo na sensibilidade dos rels do ramo de interligao. Tal

    situao encontra-se apresentada na Figura 9. Observa-se a partir da anlise desta figura

    que a corrente total de curto-circuito reduziu para 9850 A. Essa reduo no foi to

    significativa porque a principal fonte de contribuio com o curto-circuito a concessionria.

    Entretanto, a corrente que circula pelo ramo de interligao para o defeito em questo,

    reduz de 530 A para 360 A, visto que nesse caso o TG3 est fora de operao. Assim,

    apesar de a coordenao estar garantida, o tempo de atuao dos rels do ramo de

    interligao se eleva para cerca de 500 ms (de forma anloga ao caso anterior, no se pode

    garantir este tempo de atuao), tornando mais lento o sistema de proteo. Outro problema

    passvel de acontecer a ocorrncia de um curto-circuito com impedncia de falta capaz de

    tornar insensveis os rels da interligao.

  • 46

    Figura 9 Verificao grfica da coordenao (TG1 e TG2 em operao).

    10

    100

    1000

    10000

    10000

    0[p

    ri.A]

    0,0

    1

    0,1 1

    10

    100[s]

    1000

    10000

    10000

    010000

    00

    138,0

    0 k

    V

    11,5

    0 k

    V

    RF

    -TR

    -3IA

    C In

    vers

    e G

    ES

    7001B

    X =

    360,0

    00 p

    ri.AX

    =9850,0

    00

    pri.A

    RD

    F-P

    ri-TR

    -4IE

    C 2

    55-3

    invers

    e

    DIA

    GR

    AM

    A D

    E C

    OO

    RD

    EN

    A

    O

    T

    G1 E

    TG

    2 O

    N

    Curto

    -Circ

    uito

    Trif

    sic

    o n

    o R

    am

    o q

    ue A

    limenta

    TR

    -3

    Dois

    TG

    s e

    m o

    pe

    rao

    Date

    : 18/1

    0/2

    010

    Annex:

    DIgSILENT

  • 47

    A situao extrema ocorre quando apenas um dos TGs est em operao,

    conforme ilustra a Figura 10, considerando o TG1 ligado. Nessa condio, os rels de

    interligao no sero sensibilizados para qualquer curto-circuito trifsico ou dupla fase que

    ocorra em alguma das sadas do barramento de 138 kV. Assim, referindo-se ao defeito no

    alimentador do TR-3, caso haja falha na atuao do RF-TR-3 apenas o rel do turbogerador

    ligado atuar, ocasionando o seu desligamento em um tempo muito elevado. Ressalta-se

    que este desligamento pode ser evitado caso os rels da interligao sejam sensibilizados

    pelo defeito.

    Em estudos de coordenao da proteo de sobrecorrente, usualmente os

    ajustes dos rels so definidos para os casos em que as correntes de curto-circuito so

    mais severas, mas sempre verificando se a sensibilidade dos dispositivos de proteo

    garantida para correntes de defeito de menor intensidade. Pelas situaes descritas

    anteriormente, observa-se claramente que esse compromisso no pode ser mantido

    considerando apenas os ajustes dos rels para a condio normal de operao, ou seja, os

    trs geradores ligados. Surge, portanto, a necessidade de adaptar os ajustes de

    sobrecorrente dos rels da interligao (RF-AL1-COGER, RF-AL2-COGER, RDF-Sec-TR-4,

    RDF-Pri-TR-4) para cada cenrio de gerao possvel, a fim de obter um sistema de

    proteo mais confivel.

  • 48

    Figura 10 Verificao grfica da coordenao (apenas TG1 em operao).

    10

    100

    1000

    10000

    10000

    0[p

    ri.A]

    0,0

    1

    0,1 1

    10

    100[s]

    1000

    10000

    10000

    010000

    00

    138,0

    0 k

    V

    11,5

    0 k

    V

    RF

    -TR

    -3IA

    C In

    vers

    e G

    ES

    7001B

    X =

    182,0

    00 p

    ri.AX

    =9668,0

    00

    pri.A

    RD

    F-P

    ri-TR

    -4IE

    C 2

    55-3

    invers

    e

    DIA

    GR

    AM

    A D

    E C

    OO

    RD

    EN

    A

    O

    T

    G1 O

    U T

    G2 O

    N

    Curto

    -Circ

    uito

    Trif

    sic

    o n

    o R

    am

    o q

    ue A

    limenta

    TR

    -3

    Apenas u

    m T

    G e

    m o

    pera

    o

    Date

    : 18/1

    0/2

    010

    Annex:

    DIgSILENT

  • 49

    4.3) Estudo de coordenao da proteo: solues propostas

    Para sanar os problemas de coordenao verificados na seo anterior, prope-

    se um esquema adaptativo de proteo contra sobrecorrente, sujeito s condies

    operativas da indstria e da central de cogerao [3]. A idia principal deste esquema

    alterar os ajustes dos rels da interligao caso o nmero de geradores em operao seja

    alterado. Isso possvel graas s funes dos rels digitais utilizados, os quais contam

    com mais de um grupo de ajuste para as funes de proteo, alm de possibilitar a

    programao de lgicas de controle para as unidades de proteo. Esses grupos de ajuste

    podem ser ativados por sinais digitais externos injetados nos contatos de entrada dos rels

    [3].

    Para compor o esquema adaptativo de proteo contra sobrecorrente foi

    necessrio agrupar as situaes ou cenrios de gerao, que resultem em correntes de

    curto-circuito com magnitudes semelhantes para defeitos no barramento de 138 kV ou em

    suas sadas. Cada grupo definido foi associado a um grupo de ajuste nos rels da

    interligao. O resultado dessa classificao apresentado na Tabela 1, em que o Grupo 1

    representa a situao normal de operao [3].

    Tabela 1 Definio dos grupos de ajuste [3].

    Grupos de Ajuste Cenrio de Gerao

    Grupo 1 (G1) Todos os TGs em operao

    Grupo 2 (G2) Dois TGs em operao

    Grupo 3 (G3) Um TG em operao

    Com o intuito de se obter um sistema de proteo seguro e singelo, optou-se por

    implementar a lgica de controle em um dos rels da interligao, no caso, no RDF-TR-4.

    Desta forma, este rel, alm de desempenhar a funo de proteo, tambm fica

    responsvel pelas seguintes itens:

    receber as informaes sobre os estados dos disjuntores dos TGs;

    processar essas informaes segundo uma lgica de controle;

    enviar informaes e/ou comandos aos demais dispositivos que compem o

    sistema de proteo.

    Com o intuito de alimentar o elemento responsvel pelo processamento (RDF-

    TR-4) foi criada a Tabela 2, que relaciona os estados dos disjuntores dos geradores e os

    grupos de ajuste que devem ser ativados, sendo que 1 representa disjuntor fechado e 0,

    disjuntor aberto [3].

  • 50

    Tabela 2 Estado dos disjuntores dos geradores e grupos de ajuste ativos [3].

    Grupos TG1 TG2 TG3

    Grupo 1 1 1 1

    Grupo 2 1 0 1

    Grupo 2 1 1 0

    Grupo 2 0 1 1

    Grupo 3 1 0 0

    Grupo 3 0 1 0

    Grupo 3 0 0 1

    Pode-se representar a operao do rel, no que diz respeito lgica de controle,

    atravs do fluxograma da Figura 11, que relaciona e representa as etapas envolvidas

    durante o processamento [3].

    Inicializao do

    sistema

    Monitoramento

    do sistema

    Processamento

    lgico

    Alterao no grupo

    de ajustes?

    Reconfigurao

    dos rels

    Sim

    No

    Figura 11 Operao do elemento de processamento.

    As etapas de operao do elemento de processamento so brevemente

    descritas a seguir [3]:

  • 51

    Inicializao do sistema: o sistema de proteo adaptativo iniciado sob

    vigncia do ajuste padro, ou seja, do Grupo 1;

    Monitoramento do sistema: compreende rotinas de acompanhamento dos

    estados dos disjuntores dos geradores. Os disjuntores podem ter seus

    estados (aberto ou fechado) alterados pela ao dos operadores

    (desligamentos manuais programados) ou pela atuao dos rels de proteo

    dos TGs;

    Processamento lgico: rotina responsvel por analisar a tabela verdade

    descrita na Tabela 2, identificar a configurao dos geradores e determinar o

    grupo de ajustes que deve ser ativado. Em seguida ocorre um teste em que o

    grupo de ajustes recm definido comparado ao grupo de ajustes anterior.

    Caso haja necessidade de alterao dos ajustes ativos, passa-se ao item

    seguinte. Seno, o sistema retorna sua condio de monitoramento em que

    aguarda alguma alterao nos estados dos disjuntores dos TGs;

    Reconfigurao dos rels: se necessrio, o grupo de ajuste ativo alterado

    pela ao de sinais digitais enviados pelo elemento de processamento aos

    rels envolvidos. Aps esta etapa o sistema retorna condio de

    monitoramento.

    Por fim, as idias e argumentos expressos neste captulo comprovam que um

    sistema de proteo convencional no adequado para a proteo do sistema eltrico sob

    estudo. Assim, este captulo descreveu de forma detalhada o problema de engenharia

    abordado, servindo de base para o prximo captulo, que descreve a resoluo do referido

    problema de coordenao.

  • 52

  • 53

    5) Desenvolvimento da aplicao

    O embasamento terico foi o ponto de partida para o desenvolvimento deste

    trabalho e o mesmo permitiu a compreenso adequada do problema e o desenvolvimento

    de sua soluo. A lista completa dos materiais consultados encontra-se no item referncias

    bibliogrficas deste trabalho.

    Inicialmente, constatou-se, mediante a anlise feita no Captulo 4, que um

    sistema de proteo convencional (ajuste fixo dos rels de sobrecorrente) seria incapaz de

    proteger satisfatoriamente a planta industrial em suas diferentes configuraes. Assim,

    partiu-se para o desenvolvimento de um sistema dinmico, que alterasse de forma

    automtica o ajuste dos rels de sobrecorrente.

    Como visto no Captulo 4, utilizou-se o rel RDF-TR-4 como elemento de

    processamento, estando nele toda lgica de seleo embarcada. A seguir, so descritas as

    etapas envolvidas no desenvolvimento do sistema adaptativo.

    5.1) Lgica de seleo

    A primeira etapa prtica no desenvolvimento da aplicao contemplou a lgica

    do sistema adaptativo. Optou-se por uma lgica do tipo Booleana [14] por sua simplicidade,

    difuso e pela possibilidade de implementao no prprio rel, evitando, assim, a

    necessidade de agregao de novos dispositivos destinados ao processamento lgico.

    A partir da anlise da Tabela 2 possvel observar que o estado dos disjuntores

    (0 ou 1) dos turbogeradores representa quais desses TGs esto ativos ou no, fato que tem

    influncia direta na escolha do grupo de ajuste. Conforme descrito no Captulo 4, a operao

    de um, dois ou trs TGs altera significativamente a intensidade do curto-circuito. Como

    premissas, os seguintes itens foram obedecidos no desenvolvimento da lgica Booleana:

    Entradas da lgica: estados dos disjuntores dos turbogeradores;

    Sadas da lgica: grupos de ajuste do rel.

    Com base na teoria de Lgica Digital [14], como existe a possibilidade de

    ocorrncia de trs sadas distintas (grupos de ajuste), necessitam-se de pelo menos 2 bits

    para a representao destas sadas. Assim, pode-se obter a Tabela 3, em complementao

    Tabela 2:

  • 54

    Tabela 3 Representao das sadas em funo dos bits C e S.

    Grupos TG1 TG2 TG3 C S

    Grupo 1 1 1 1 1 X

    Grupo 2 1 0 1 0 1

    Grupo 2 1 1 0 0 1

    Grupo 2 0 1 1 0 1

    Grupo 3 1 0 0 0 0

    Grupo 3 0 1 0 0 0

    Grupo 3 0 0 1 0 0

    Na Tabela 3 os bits C (carry) e S (sada) so utilizados para representar as trs

    sadas possveis do sistema. O bit S o responsvel pela seleo do Grupo 2 (nvel lgico

    1) e do Grupo 3 (nvel lgico 0). J o Grupo 1 ativado exclusivamente pela ocorrncia de

    nvel lgico 1 no bit C e, independe do bit S (o elemento X da Tabela 3 representa esta

    independncia do bit S na seleo do Grupo 1).

    A partir das informaes contidas na Tabela 3 foi possvel utilizar-se do conceito

    de Mapa de Karnaugh [14] para a obteno da lgica de seleo e, no caso do bit C,

    esquematizou-se a relao descrita na Figura 12. Destaca-se tambm que caso todos os

    TGs estejam desativados, a central de cogerao estar desligada e no h necessidade de

    especificar qualquer grupo de ajuste para o rel da interligao, que direcional e, portanto,

    s sensibilizado pelas contribuies de corrente provenientes da central de cogerao em

    direo ao barramento de 138kV. Desconsiderou-se, assim, a situao em que no h

    processo de gerao tanto para o bit C quanto para o S.

    --- 0 0 0

    0 0 1 0

    0

    1

    00 01 11 10

    TG1 TG2

    TG3

    Bit C

    Figura 12 Mapa de Karnaugh para o bit C.

    Deste modo, v-se que o bit C s se encontra em nvel lgico 1 se todos os TGs

    tambm estiverem. A equao lgica que descreve esta relao dada por:

  • 55

    321 TGTGTGC (1)

    A Figura 13 representa a porta lgica associada Equao 1, que, no caso, se

    trata de uma porta lgica E (AND).

    TG2

    TG1

    TG3

    C

    Figura 13 Porta lgica decorrente do Mapa de Karnaugh no bit C.

    Estendendo para o bit S esta mesma anlise de Mapa de Karnaugh, chega-se

    ao seguinte esquema:

    --- 0 1 0

    0 1 X 1

    0

    1

    00 01 11 10

    TG1 TG2

    TG3

    Bit S

    Figura 14 Mapa de Karnaugh para o bit S.

    Em relao ao bit S, como o nvel lgico do elemento X no influencia na

    seleo do grupo de ajuste, o mesmo foi adotado como nvel lgico 1 por reduzir, assim, a

    quantidade de portas na lgica de seleo. A equao lgica que descreve a relao entre

    os TGs e o bit S dada por:

    321321321321

    _______________

    TGTGTGTGTGTGTGTGTGTGTGTGS (2)

    Contudo, a Equao 2 pode ser simplificada, o que tambm simplifica a lgica e

    reduz a quantidade de portas. A partir desta equao, obtiveram-se as seguintes

    simplificaes.

  • 56

    3232321321

    _______________

    TGTGTGTGTGTGTGTGTGTGS (3)

    323321321

    _______________

    TGTGTGTGTGTGTGTGTGS (4)

    32121321

    __________

    TGTGTGTGTGTGTGTGS (5)

    __________

    2121321 TGTGTGTGTGTGTGS (6)

    Assim, pode-se, a partir da Equao 6, representar a lgica que relaciona os

    TGs e o bit S. Destaca-se que a expresso lgica

    __________

    2121 TGTGTGTG

    representada por uma nica porta lgica, a porta X-OR. A Figura 15 representa o esquema

    lgico decorrente da Equao 6.

    TG2

    TG1

    TG3

    S

    Figura 15 Esquema lgico decorrente do Mapa de Karnaugh no bit S.

    Desta forma, a lgica de seleo dos grupos de ajuste dos rels de

    sobrecorrente obtida unindo-se os esquemas das Figuras 13 e 15. O resultado desta unio

    encontra-se na Figura 16.

  • 57

    TG2

    TG1

    TG3

    S

    C

    Figura 16 Lgica de seleo dos grupos de ajuste.

    Pela anlise da Figura 16 e da Tabela 3, percebe-se a clara relao existente

    entre os bits C e S e os grupos de ajuste, sucintamente descrita na Tabela 4.

    Tabela 4 Grupos de ajuste em funo dos bits C e S.

    Grupos C S

    Grupo 1 1 X

    Grupo 2 0 1

    Grupo 3 0 0

    Todavia, durante a implementao no rel de sobrecorrente da lgica descrita na

    Figura 16, constatou-se que o IED s dispunha de um nico bit para a seleo do grupo de

    ajuste. Portanto, utilizou-se uma lgica complementar para que a relao entre os bits C e S

    resultasse em um nico bit de sada, responsvel pela seleo de um grupo de ajuste

    especfico. Pode-se observar a lgica final desenvolvida (lgica de seleo + lgica

    complementar) na Figura 17.

  • 58

    TG2

    TG1

    TG3

    S

    C

    GRUPO 3

    GRUPO 2

    GRUPO 1

    Lgica

    Complementar

    Figura 17 Lgica final (lgica de seleo + lgica complementar).

    5.2) Verificao da lgica de seleo

    Com o objetivo de testar a lgica de seleo dos grupos de ajuste, utilizou-se a

    ferramenta Simulink, presente no software MATLAB [15], para verificar a resposta da lgica

    em funo dos estados dos disjuntores dos TGs.

    Primeiramente, esquematizou-se tanto a lgica de seleo quanto a

    complementar no Simulink, conforme a ilustrao da Figura18.

  • 59

    Figura 18 Implementao da lgica final no Simulink.

    Na sequncia, simularam-se variaes no estado dos disjuntores conforme a

    Tabela 3. As Figuras 19, 20 e 21 subsequentes representam, respectivamente, os

    resultados obtidos simulando-se a operao de trs, dois e um turbogerador.

  • 60

    Figura 19 Grupo de ajuste decorrente da operao de trs TGs.

    Figura 20 Grupo de ajuste decorrente da operao de dois TGs.

  • 61

    Figura 21 Grupo de ajuste decorrente da operao de um TG.

    Pela observao