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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP KOICHI SANOKI UM ESTUDO EXEGÉTICO-TEOLÓGICA DA PARÁBOLA DA REDE (MT 13,47-50) O critério da justiça como fundamento de separação para a participação no Reino MESTRADO EM TEOLOGIA SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC-SP

KOICHI SANOKI

UM ESTUDO EXEGÉTICO-TEOLÓGICA DA PARÁBOLA DA REDE (MT 13,47-50)

O critério da justiça como fundamento de separação para a participação no Reino

MESTRADO EM TEOLOGIA

SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC-SP

KOICHI SANOKI

UM ESTUDO EXEGÉTICO-TEOLÓGICA DA PARÁBOLA DA REDE (MT 13,47-50)

O critério da justiça como fundamento de separação para a participação no Reino

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Teologia com concentração na área Bíblica sob a orientação do Prof. Dr. Boris Agustín Nef Ulloa.

SÃO PAULO 2014

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BANCA EXAMINADORA

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RESUMO

Interpretar trechos (perícope) da Bíblia é uma tarefa árdua que requer do

leitor conhecer em qual tipo de gênero literário está adequada, de como está distribuído gramaticalmente o texto e para quem se dirigia tal ensinamento (os primeiros destinatários).

A partir de uma perícope de Mt 13,47-50 conhecida como “a parábola da rede”, objetiva-se a destacar que a “parábola” se trata de um gênero literário, e demonstrar o sentido teológico dessa parábola e sua relação no conjunto da narrativa mateana referentes aos ensinamentos que tratam sobre os critérios de separação, discernimento e julgamento.

Aplicando uma metodologia de interpretação científica no desenvolvimento dessa pesquisa foi elaborada uma dissertação composta de três capítulos, sendo que no primeiro capítulo discorre sobre a parábola no mundo grego e no Antigo Testamento, para constatar que se trata de um gênero literário. No segundo capítulo destaca que Jesus utilizou-se da parábola nas suas pregações, pois a parábola expressa uma verdade a partir de algo conhecido da vida, também conhecida como similitude, com a finalidade de anunciar o reino do Céus. No terceiro capítulo a utilização da leitura sob aspecto sincrônico, partido de textos conhecidos, para fazer a análise gramatical e dessa análise obter a análise teológica.

Resulta-se em poder afirmar que a parábola é um gênero literário e que dessa aplicação ajudou a demonstrar uma forma de se obter uma análise teológica. De posse dessa análise é possível buscar no conjunto da narrativa mateana outras perícopes com as mesmas características.

Ampliação de alternativas de interpretações com o sentido teológico análoga (neste caso, julgamento e escolha dos justos), ajudou a fazer duas breves relações dessa perícope (a parábola da rede) com Mt 13,37-42 (a parábola do joio e trigo) e a outra com Mt 25,31-46 (o último julgamento).

Demonstra que uma correta interpretação leva o leitor e aos ouvintes refletir sobre si mesmos e a sua realidade. Portanto, essa dedicação a essa tarefa árdua, leva uma verdadeira compreensão do ensinamento de Jesus e o anuncio do seu reino.

Palavras-chave: Parábola, gênero literário, julgamento, justos.

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ABSTRACT

Interpreting the Bible passages is a daunting task that requires prior knowledge of the type of literary genre is adequate, as is the text grammatically distributed and to whom he addressed this teaching (the first recipient ) .

From a passage in Mt 13:47-50 known as "the parable of the net, " the survey has been developed which aims to highlight the "parable" is a literary genre and demonstrate the theological meaning of this parable and their relationship to throughout the narrative of Matthew about the teachings that deal with criteria for separation, discernment and judgment.

The application of a methodology of scientific understanding in the development of this research was to develop a thesis consists of three chapters, the first chapter talks about the parable of the greek world and in the Old Testament to see that it is a literary genre. The second chapter highlights that Jesus used the parable in their preaching, as the parable expresses a truth from what is known of life, also known as the similarity with the purpose of proclaiming the kingdom of heaven. In the third chapter the use of reading in synchronic aspect, this is known from texts, to do this analysis and analysis to obtain theological analysis.

It 'was the result of using this methodology can say that the parable is a literary genre and that this application has helped to demonstrate a way to get a theological analysis. Armed with this analysis, you can search the whole of the narrative passages Matthean others with the same characteristics.

The expansion of alternative interpretations similar to the theological sense (in this case, the right judgment and choice), helped to make two brief reports of this passage (the parable of the net ), with Mt 13.37 to 42 (the parable of the weeds and wheat) and the other with Mt 25:31-46 (the Judgment) .

Proving that a correct interpretation takes the reader and listeners to reflect on themselves and their reality. Therefore, the dedication to this difficult task requires a true understanding of Jesus 'teaching ' and the announcement of his reign.

Keywords: parable, literary genre, trial, righteous.

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ABREVIATURAS E SIGLAS

a.C. antes de Cristo

AT Antigo Testamento

aor. aoristo

cf. conforme

d.C. depois de Cristo

DGNT Dicionário do Grego do Novo Testamento

DITAT Dicionário Internacional de Teologia do Antigo

Testamento

DITNT Dicionário Internacional de Teologia do Novo

Testamento

ENT Exegese do Novo Testamento: manual de metodologia

GLNT Grande Lessico del Nuovo Testamento

GNT Gramática do Grego do Novo Testamento

LXX SEPTUAGINTA

NT Novo Testamento

p. página

PJ As Parábolas de Jesus : Uma nova hermenêutica,

séc. século

sécs. séculos

TDNT Theological Dictionary of the New Testament.

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TWOT Theological Wordbook of the Old Testament

últ. último

v. versículo

Vol. Volume

Vols. Volumes

vv. versículos

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................14

1. Objetivo ...........................................................................................................14

2. Método exegético e abordagem ......................................................................14

3. Os capítulos.....................................................................................................14

CAPÍTULO I ..............................................................................................................16

1. Introdução........................................................................................................16

2. Etimologia........................................................................................................16

3. Classificação ...................................................................................................17

3.1 Retórica.....................................................................................................18

3.2 Estilo épico................................................................................................19

4. A Parábola no AT, na Septuaginta e no judaísmo tardio.................................21

5. A parábola como forma abreviada proverbial..................................................22

6. A parábola como forma sapiencial ..................................................................23

7. Parábola nos livros sapienciais .......................................................................25

8. Parábola na forma de similitude ......................................................................26

9. Discurso parabólico .........................................................................................27

10. Relação das parábolas identificadas no AT .................................................29

CAPÍTULO II .............................................................................................................32

1. O uso de parábolas .........................................................................................32

2. Definição e forma de parábola do NT..............................................................33

3. As características das parábolas no NT..........................................................34

4. O conteúdo das parábolas no NT....................................................................34

5. Parábolas identificadas no NT.........................................................................35

6. A fidelidade da tradição...................................................................................38

7. Significado e propósito das parábolas de Jesus na pregação.........................41

8. As mensagens proclamadas pelas parábolas .................................................42

9. Linguagem figurativa, em Paulo ......................................................................46

10. Padres pós-apostólicos ................................................................................46

11. As parábolas exclusivas de Mateus .............................................................48

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12. As funções e características das parábolas mateanas................................ 49

CAPÍTULO III ............................................................................................................ 51

1. Delimitação ..................................................................................................... 51

2. Segmentação e Tradução............................................................................... 52

3. Análise sintática .............................................................................................. 53

4. Análise exegético-teológica ............................................................................ 54

5. A introdução (v. 47a.b)................................................................................... 56

5.1 Subunidade A: juízo circunstancial (vv. 47c-48e) ..................................... 56

5.2 Subunidade B: juízo final (vv. 49a-50b)................................................... 63

6. Considerações sobre juízo final (do vv. 49a-50b) ........................................... 67

7. Relação entre a parábola da rede (Mt 13,47-50) e o juízo final (Mt 25,31-36) 69

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 77

1. BÍBLIAS, GRAMÁTICAS, DICIONÁRIOS E LÉXICOS ................................... 77

2. OBRAS ........................................................................................................... 78

3. ARTIGOS (e verbetes) .................................................................................... 81

4. INTERNET...................................................................................................... 82

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INTRODUÇÃO

Muitas pessoas, no calor do discurso, interpretam trechos (perícopes) da

Bíblia sem levar em consideração quem o escreveu ou a quem se dirigia tal

ensinamento (os primeiros destinatários). Para evitar que se cometa esse tipo de

“leitura” é preciso aplicar uma metodologia que garanta uma interpretação científica.

A presente pesquisa concreta-se no estudo da perícope de Mt 13,47-50,

denominada como “parábola da rede”. Este projeto busca o desenvolvimento da

análise exegético-teológica.

1. Objetivo

Essa investigação exegético-teológica da perícope Mt 13,47-50 tem os

seguintes objetivos:

a) Destacar que a parábola é um gênero literário;

b) Buscar o sentido teológico da parábola em questão.

c) Demonstrar a relação de Mt 13,47-50 com o conjunto da narrativa

mateana quanto aos critérios de separação, discernimento e julgamento.

2. Método exegético e abordagem

Aplica-se a abordagem sincrônica, para a qual se utilizam os passos comuns

da metodologia exegética: delimitação, segmentação, análise da estrutura, análise

exegético-teológica.

3. Os capítulos

A pesquisa está composta por três capítulos. No capítulo I, apresenta-se o

que é uma parábola no mundo grego e no Antigo Testamento. Recorrendo-se a

autores que discorrem sobre os filósofos da Grécia antiga, constata-se que a

parábola é um gênero literário.

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No capítulo II, apresenta a parábola como um discurso figurativo e este faz

parte de uma metáfora e tratada como uma similitude independente, que expressa

uma verdade evidenciada a partir de um campo conhecido da vida. Este tipo de

discurso que Jesus se serviu para fazer pregação de uma nova verdade descrita no

Novo Testamento.

No capítulo III, apresenta-se a análise exegético-teológica de Mt 13,47-50.

Efetua-se a delimitação, segmentação, tradução. Em seguida, realiza-se a análise

da estrutura e a análise exegético-teológica segmento por segmento. Conclui-se

este o capítulo com um breve estudo sobre a relação entre Mt 13,47-50 e Mt 25,31-

46.

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CAPÍTULO I

A PARÁBOLA, UM GÊNERO LITERÁRIO

1. Introdução

O conhecimento do gênero literário1 parábola nos permite aprofundar o uso de

uma técnica utilizada pelos grandes e inúmeros filósofos, poetas e teólogos com o

objetivo de transmitir ideias novas por meio de analogias ou colocando de um lado

um “fato” conhecido para comunicar algo novo.

Mas afinal, a partir de quais bases é possível afirmar que a parábola é um

gênero literário? Qual é o alcance desta forma tão antiga de comunicação? Sem

esquecer que antes de constituir-se em gênero literário, a parábola, ao menos e

principalmente no NT, era um gênero de oralidade. A procura de respostas frente a

estas questões pode auxiliar na compreensão de outras duas questões: 1) o porquê

Jesus utilizava-se constantemente dessa forma de comunicação na sua pregação

sobre o Reino; 2) os objetivos dos evangelistas quando transmitiram esta pregação,

sob a forma literária de parábolas.

A pesquisa concentra-se inicialmente na análise das definições da palavra

parábola presentes em diversos dicionários, principalmente teológicos, buscando

assim o sentido dessa palavra. E, na sequência, compreender sua utilização na

pregação de Jesus sobre o Reino dos Céus descrito no Evangelho segundo Mateus.

2. Etimologia

A etimologia da palavra parábola, segundo Rusconi2 é uma composição de

duas outras palavras: do genitivo3 para, definido como: a partir da proximidade de

uma pessoa, "de", "de lado", "a partir" e bolh, (substantivo) deverbativo do verbo

1 Marco Antônio Domingues SANT’ANA, O gênero da parábola, p. 139.2 Carlo RUSCONI, DGNT, p. 350.3 O caso genitivo é usado para significar posse. (Carlo RUSCONI, DGNT, p. 35).

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ba,llw4, definido como: o poderoso movimento de “jogar” ou “impulsionar” formando

a palavra parabolh, deverbativo do verbo paraba,llw definido como “lançar

diante”5. A junção resulta parabolh, um substantivo com significação de

“comparação”, “analogia”, “exemplo” como se vê em Mt 24,32 “... aprendei da

figueira a parábola: quando o seu ramo se torna tenro e as folhas brotam, sabeis

que o verão está próximo...”.

O recurso literário de colocar ao lado ou comparar pode ser definido como

uma evolução para gênero literário conhecido a partir da alegoria, parábola como é

descrito em Mt 13,3 “... e de muitas coisas lhes falou por parábolas e dizia: Eis que o

semeador saiu a semear...”. Ou ainda “dito”, “provérbio” e “máxima” em Lc 4,23 “...

disse-lhes Jesus: Sem dúvida, citar-me-eis este provérbio: Médico, cura-te a ti

mesmo; tudo o que ouvimos ter-se dado em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua

terra...”.

Os dicionários exegéticos e teológicos tratam a parábola como gênero literário

partindo da Grécia Antiga e explica o sentido do substantivo parabolh, com os

seguintes conceitos: definindo ao lado, comparação; e paraba,llein definido como:

para definir ao lado, comparar; su,gkrrineij como comparar; segundo

Platão, como: parabolh, tw/n bio,w (“parábola da vida”); e neste ponto o

dicionário expõe que na retórica a palavra parábola é usada como: similitude,

parábola.

3. Classificação

O objetivo inicial consiste em compreender a palavra parábola como um

gênero literário, uma vez que a classificação das obras literárias é feita de acordo

com critério semântico, sintático, fonológico, formal e outros. A partir dos filósofos da

Grécia antiga (Platão e Aristóteles), a divisão clássica consiste em três grupos:

narrativo ou épico, lírico e dramático.

4 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 526.5 Carlo RUSCONI, DGNT, p. 350.

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Dentro dessas classificações, o que será trabalhado é o grupo da modalidade

textual pertencente ao gênero narrativo ou épico que são os romances, fábulas,

épicos, novelas, contos, crônicas e ensaios6, onde se encontram todos os

argumentos para demonstrar que a parábola pode ser um gênero literário.

Os dicionários exegéticos e teológicos tratam a parábola como gênero literário

tendo como base a literatura da Grécia Antiga. Segundo Sant’Anna, teólogo e doutor

em letras, somente no NT a parábola assume critérios literários bem definidos7.

Por outro lado, segundo Fisher:

De maneira mais simples, a parábola é uma metáfora ou símile

extraído da natureza ou da vida cotidiana, prendendo o ouvinte por

meio de sua linguagem vivida ou da sua estranheza, e deixando a

mente dele com dúvida suficiente sobre a sua aplicação precisa, a

fim de estimulá-la a um pensamento ativo. (FISHER, The Parables of

Jesus)

Observa-se então que a sua utilização no “falar bem” torna todo o discurso

uma “retórica”, uma linguagem que coloca ao lado de uma realidade atual e

conhecida com algo novo ou, até mesmo, incompreensível para a época que está

ocorrendo o discurso.

Apesar da retórica não fazer parte da divisão clássica na Grécia Antiga, para

Sócrates, os “ditos” são parábolas; da mesma forma, no livro primeiro da “Arte

retóricas” (de Aristóteles)8, a parábola é incluída como pertencente àquele tipo em

que o orador inventa.

3.1Retórica

A retórica, na Grécia Antiga, tenta diferenciar conceitualmente as formas de

discurso e a parábola foi uma delas, onde ganhou o significado de similitude e/ou

6 Os ensaios nasceram no século XVI, pelas mãos do filósofo francês Michel Eyquem de Montaigne, ao compor sua obra Ensaios (1580).cf <http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/michel-eyquem-de-montaigne> acesso em 21.01.2014 18:31. 7 Marco Antônio Domingues SANT’ANA, O gênero da parábola, p. 315.8 Ibid., p. 18.

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comparação. E, assim, a literatura grega estabeleceu o seu significado como

semelhança entre os elementos de comparação.

A retórica era utilizada intensivamente na pregação de Jesus como uma

forma de comunicação, uma linguagem que compara uma realidade da época com

algo novo ou incompreensível ao ouvinte da época.

Metáfora não-literal sem a partícula metafora, que significa translato – “O

leão de Aquiles”;

a) Catacrese, Comparação de uso comum – “asa de uma porta”, “coração do Brasil”;

b) Comparação – ovmi,wsij que significa símile, semelhança se vê em Tg 3,9

“... vamos utilizá-lo para abençoar o Senhor e Pai, mas também usá-lo

para amaldiçoar as pessoas que são feitas à imagem de Deus...”.

c) similitude - parabolh,, tanto a palavra similitude como a palavra parábola

tem o significado de comparação entre duas coisas ou processos de

diferentes áreas e quando colocadas ao lado, em virtude de haver

semelhança do desconhecido, considera-se como algo ou coisa conhecida

pela analogia ou forma. Diferente da parábola em que não há

essencialmente um ponto de comparação é o tertium comparationis9.

d) alegoria10 – avllhgore,w a,.lloj avgoreu,w

3.2 Estilo épico

As parábolas no estilo épico ou semelhanças se entrelaçam estilisticamente

no fluxo da fala, de discurso, e nos Evangelhos tem unidade estilística independente.

9 Tertium comparationis (Latim = a terceira [parte] da comparação) é a qualidade comum de duascoisas que estão sendo comparada. É o ponto de comparação que levou o autor a comparação em questão para comparar a alguém ou algo a alguém ou algo mais em primeiro lugar. cf. <http://www.fact-index.com/t/te/ tertium_comparationis.html> acesso 17.01.2012 18:57.10 Uma alegoria (do grego a,.lloj, allos, “outro”, e , agoreuein, “falar em público”) É uma representação figurativa que transmite um significado outro que o da simples adição ao literal. É geralmente tratada como uma figura da retórica. Uma alegoria não precisa ser expressa na linguagem: pode dirigir-se aos olhos e, com frequência, encontra-se na pintura, escultura ou noutra forma de arte mimética. O significado etimológico da palavra é mais amplo do que o que ela carrega no uso comum. Embora semelhante a outras comparações retóricas, uma alegoria sustenta-se por mais tempo e de maneira mais completa sobre seus detalhes do que uma metáfora, e apela a imaginação da mesma forma que uma analogia apela à razão. A fábula ou parábola é uma alegoria curta com uma moral definida. cf. <http://www.dicionarioinformal.com.br/alegoria/> acesso 08.01.2013.

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O estilo épico na Grécia Antiga destaca-se especialmente o de Homero onde o

poeta utiliza de forma animada e poética para ilustrar eventos históricos com certa

independência em relação ao evento.

Harrison11 menciona que poemas de Homero, a Ilíada e a Odisseia totalizam

229 parábolas, sendo que na Ilíada contém 189 e a Odisseia contém 40 parábolas.

Na Ilíada12, segundo Sant’Anna13, no canto II, versos 87 a 93 existem a

seguinte parábola:

Do mesmo dos, sem pausa, se seguem, e umas, pendentes em

cachos, à volta se ficam das flores dessa maneira afluíram das

tendas e naves simétricas povos sem conta, ao comprido da

praia do mar, mui profunda, para a assembleia.

Na Odisseia14, segundo Sant’Anna15, encontram-se comparações alargadas,

verificando se existe algum fragmento que se chama de parábola, no início do Livro

II, quando se convoca uma assembleia, Homero descreve a aparência de Telêmaco,

seu filho assim:

Veste-se a luz da dedirróssea aurora. Sai da alcova o

amadíssimo Ulisseida ao tiracolo a espada e aos pés sandálias,

fulgente como um deus, expede arautos a apregoar e a reunir os

Gregos. De hasta aênea, ao congresso alvoroçado, não sem

dous16 cães alvíssimos se agregam: Minerva graça lhe infundiu

celeste. Seu porte e ar admira o povo inteiro; cedem-lhe os

velhos o paterno assento.

11 R. Laird HARRISON, DITNT, Vol. II, p. 449.12 ILÍADA A cólera de Aquiles, como se anuncia desde o primeiro verso, é o motivo central da Ilíada, epopéia do poeta grego Homero, que inicia a literatura narrativa ocidental. Relato de um dos episódios da guerra de Tróia, travada entre gregos e troianos, a ação da Ilíada situa-se no nono ano depois do começo da guerra, a qual duraria um ano mais, e engloba no conjunto cerca de 51 dias. <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/protagoras/links/homero21.htm> acesso em 10.02.2012.13 Marco Antônio Domingues SANT’ANA, O gênero da parábola, p. 33.14 ODISSEIA, A. Odisseia data provavelmente do séc. VIII a.C., quando os gregos, depois de um longo período sem dispor de um sistema de escrita, adotaram o alfabeto fenício. O título do poema provém do nome do protagonista, o grego Ulisses (Odisseu). Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e marido de Penélope, Na Odisseia o argumento é centrado em Ulisses e seus companheiros, no seu filho (Telémaco) e na sua mulher (Penélope). Narra as viagens e aventuras de Ulisses em duas etapas: a primeira compreende os acontecimentos que, em nove episódios sucessivos, afastam o herói de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo deus Poseidon. Cf. <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ opombo/hfe/protagoras/ links/homero21.htm> acesso em 10.02.2012 20:05. 15 Marco Antônio Domingues SANT’ANA, O gênero da parábola, p. 42.16 Num (lat duo) dois. Cf. <http://www.dicio.com.br/dous/> acesso em 09.01.2014 20:07.

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Segundo Hauck, para o poeta inúmeras vezes são importantes, além de seu

poder descritivo, o seu estado de espírito para perceber e entender as coisas

espirituais principalmente na falta de termos abstratos apropriados.

Assim quanto mais extensa a comparação maior é o seu valor e até a poesia

gnômica17 utiliza a comparação. Os poemas de Platão seguem o desenvolvimento

rico em similitudes e esses exemplos instrutivos confirmam-no para esclarecer uma

declaração dada. Para estes exemplos, o filósofo ateniense usa principalmente

situações e ações típicas, raramente para casos excepcionais.

O mito mostra a gravidade da esfera da vida humana, a comédia com fábulas

ilustra a vida humana associando com figuras de animais e a diatribe estóica18 e

cínica19 com diversas figuras e metáforas. Essas tomadas de muitas áreas

diferentes expressam o pensamento filosófico e o esclarecimento desse pensamento

é feito pela similaridade.

A capacidade humana de ver as semelhanças mostra a eficácia da

comparação, por isso a parábola baseada na conclusão por analogia, muitas vezes,

não é explícita e deve ser aproveitada pela compreensão e reflexão do ouvinte em si

ou pelo processo indutivo (evpagwgh,, evidências indiretas).

4. A Parábola no AT20, na Septuaginta e no judaísmo tardio

17 gnômica caracteriza-se por a expressão da sabedoria popular na forma condensada de provérbios ou aforismos, também conhecido como gnomos. O termo foi usado pela primeira vez pelos poetas gnmicos do sexto século Grécia, embora haja tradições mais antigas da escrita gnômica em culturaschinesa, egípcia, e outros, o livro hebraico de Provérbios é uma coleção bem conhecida. O termo é muitas vezes estendido aos escritos posteriores em que as verdades morais são apresentadas em máximas ou aforismos. <http://www.answers.com/topic/gnomic#ixzz1lSRumv8V> acesso em 04.02.2012 21:16. E Gnômica - A Filosofia Gnômica, como a poesia gnoméica caracterizavam-se por expressarem-se através de máximas morais. O termo vem do grego gnome, que significa faculdade de conhecer, pensamento, inteligência. Foram gnômicos, entre os gregos, Sólon, Fócides, Teógnis, etc. cf. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, Prof. Mário Ferreira dos Santos. GNÔMICA. <http://www.videeditorial.com.br/o-que-e/f-i/gnomica.html> acesso em 16.01.2014 06:31.18 Doutrina que se desenvolveu entre os sécs. IV a.C. e IV d.C. Originou-se na Grécia e, depois, propagou-se por Roma. Os estoicos acreditavam que cada homem possui em si próprio a razão, que o liga a todos os outros homens e à Razão (Deus), que governa o Universo. Esta crença forneceu uma base teórica para o cosmopolitismo. Esta ideia também estimulou a crença numa lei natural que se encontra acima da lei civil e estipula critério segundo o qual as leis humanas podem ser julgadas. Cf. <http://www.dicio.com.br/estoicismo/> acesso em 15.11.2012 10:19.19 Para os Cínicos, a vida virtuosa consiste na independência, obtida através do domínio de desejos e necessidades, para encorajar as pessoas a renunciarem aos desejos criados pela civilização e pelas convenções. Os cínicos empreenderam uma cruzada de escárnio anti-social, na esperança de mostrar, pelo seu próprio exemplo, as frivolidades da vida social.20 Joachim JEREMIAS, Teologia do Novo Testamento, p. 70.

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22

O segundo Hauck21, na Septuaginta22, a palavra parabolh, ou parabolh/|

aparece na tradução dos escritos do AT, equivalente ao substantivo hebraico mashal

ou vinculado à outra palavra hebraica que se translitera exatamente como a forma

verbal que, em uma ligação com a sua raiz primitiva, significa dominar, ter poder.

Na LXX, a palavra parabolh, ou parabolh/| apresentam duas formas de

entendimento, sendo a primeira forma como uma “a comparação com” lv);m); (mashal)

e a segunda como um verbo lv);m); (msl). Em analogia com as outras línguas semíticas

mostra que o primeiro tem o sentido original de "ser semelhantes, como".

A palavra mashal23 (lv'm') é um termo usado para qualquer frase que contenha

uma comparação

comparação com outros casos não mencionados. A analogia com linguagem

semítica mostra que o sentido original de mashal é ser similar, é ser como.

Segundo Strong’s Exhaustive Concordance (1980)24 a acepção25 tanto o

verbo como o substantivo estão ligados intimamente no campo semântico da

comparação, da linguagem figurativa que se desdobra em alegoria, adágio,

comparar, usar (como) provérbio, falar (em provérbios), proferir, canções, símiles,

máximas de natureza metafórica e parábolas.

5. A parábola como forma abreviada proverbial

21 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 747.22 Durante o governo de Filadelfo (285-247 a.C.), Septuaginta foi o nome dado à tradução (versão) grega do Antigo Testamento (hebraico) feita em Alexandria por 72 homens. Originalmente aplicava-se somente para a tradução do Pentateuco, acabou por ser transferido para a totalidade do Antigo Testamento. A tradução do Pentateuco foi seguida pelos outros livros. A tradução destes últimos realizados por um grande número de mãos. A LXX (Septuaginta) foi um trabalho literário judaico, e foi a primeira realizada pelos judeus de alta estima. De acordo com a Carta de Aristeu, a tradução do Pentateuco recebeu um reconhecimento oficial por parte da comunidade judaica em Alexandria, e escritores judeus, como Filón e Josefo a usaram preferencialmente, se não exclusivamente. A LXX fez com que os judeus permanecessem continuamente fiéis à Toráh (e às demais Escrituras Sagradas), ao mesmo tempo permitiu que os judeus estudassem seus escritos. cf. Alfred RAHLFS,SEPTUAGINTA, p. 80-81.23 Mashal é significado da vida humana. A forma mais comum destes provérbios sábios, que foram destinados à instrução oral especialmente nas escolas dirigidas pelos sábios para os jovens da corte, foi o mashal (em hebraico: "comparação" ou "parábola", embora freqüentemente traduzido provérbio " "). Normalmente, um conciso, dizer aforístico facilmente memorizado com base na experiência ... <http://www.britannica.com/ EBchecked/topic/367842/mashal> acesso em 16.01.2014 06:47. 24 Ver em Marco Antônio Domingues SANT’ANA, O gênero da parábola, p. 54.25 Sentido em que uma palavra é empregada: acepção própria; acepção figurada: (Ex.: o calor [acepção própria] do fogo; o calor [acepção figurada].

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A forma proverbial nos textos bíblicos frequentemente contêm comparações e

o conteúdo dessas comparações retrata uma verdade exemplar, como no texto em

1Sm 10,12 “... então, um homem respondeu: Pois quem é o pai deles? Pelo que se

tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas?...”.

No texto de Is 14,4 “... então, proferirás este motejo contra o rei da Babilônia e

dirás: Como cessou o opressor! Como acabou a tirania!...”, torna-se um provérbio

satírico.

No texto Hab 2,6 “... não levantarão, pois, todos estes contra ele um

provérbio, um dito zombador? Dirão: Ai daquele que acumula o que não é seu (até

quando?), e daquele que a si mesmo se carrega de penhores!...”, lv);m);, torna-se uma

canção de zombaria, motejo, em que alguém é tido como um exemplo do ridículo ou

trágico.

Em Nm 21,27 “... pelo que dizem os poetas: Vinde a Hesbom! Edifique-se,

estabeleça-se a cidade de Seom!...”; e em Is 28,14 “... ouvi, pois, a palavra do

SENHOR, homens escarnecedores, que dominais este povo que está em

Jerusalém...”; para o autor da canção torna-se lv);m);. (mashal).

O mashal na forma de provérbio encontrou seu caminho para a literatura

como "parábola" tornando-se uma forma muito importante de proclamação em

profecia.

O profeta pode construir parábolas para fazer sua pregação mais

impressionante como visto em Is 28,23-29.

6. A parábola como forma sapiencial

Segundo Hauck26, “esta forma composta lv);m );-parabolh,, é o conteúdo da

sabedoria de Israel, relacionado com sabedoria dos grandes centros, localizados no

Egito e Babilônia-Assíria como se vê em Is 19,11s :

“... na verdade, são néscios os príncipes de Zoã; os sábios

conselheiros de Faraó dão conselhos estúpidos; como, pois,

direis a Faraó: Sou filho de sábios, filho de antigos reis? Onde

26 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 748.

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estão agora os teus sábios? Anunciem-te agora ou informem-te

do que o SENHOR dos Exércitos determinou contra o Egito...” e

em Jr 49,7:

“... a respeito de Edom. Assim diz o SENHOR dos Exércitos:

Acaso, já não há sabedoria em Temã? Já pereceu o conselho

dos sábios? Desvaneceu-se-lhe a sabedoria...”.

Ainda segundo Hauck, essa sabedoria também floresceu como provérbio em

Edom e na Arábia com a palavra composta mashal-parábola lv);m);-parabolh,,

tornando-se um gênero de literatura sapiencial. A forma proverbial relata

experiências de vida, regras de prudência e bondade, de conselhos práticos, de

exortar ética e instruções religiosas.

Segundo Hauck, no AT Salomão é elogiado por sua capacidade e dom de

inventar provérbios inspirados em animais e plantas, semelhantes às fábulas com

frases e sentenças amadas em Babilônia27. Como um sábio oriental adorava usar

expressões veladas, consistindo principalmente de frases curtas.28 O conteúdo em

sua maioria são palavras ou frases que contém sabedoria prática, como se vê em

Prov 1,1 “... provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel...”; em 22,17 “...

inclina o ouvido, e ouve as palavras dos sábios, e aplica o coração ao meu

conhecimento...” ; em 23,10 “... não removas os marcos antigos, nem entres nos

campos dos órfãos...” ; em 23,13s “... não retires da criança a disciplina, pois, se a

fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma

do inferno...”.

Outro exemplo de gênero que utilizou essa mesma técnica é o livro de

canções de lamentação e ação de graças, orações como no Salmo 78,2 “... abrirei

os lábios em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos...”, o poeta, quando

chama seu salmo de mashal, significa um poema didático que procura resolver os

enigmas sombrios na história do povo.

Segundo Hauck29 eles são, naturalmente, o resultado de uma reflexão dura

conforme Eclo 13,26 “... coração feliz, alegre expressão, mas o trabalho cansativo,

27 Ibid., p. 748.28 F. HAUCK, GLNT, Vol. IX, p. 529.29 Idem, TDNT Vol. V, p. 748.

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provérbios inventando...”, por meio deles o sábio brilha na assembleia, enquanto o

dizer do tolo não encontra aprovação conforme Eclo 20,20 “... vindo da boca de um

estulto um provérbio não é aceito, porque não o diz a seu tempo...”.

Ainda segundo Hauck, o mashal pode assumir a forma de verdade similar aos

da parábola, mas difere do discurso parabólico que é um gênero literário antigo e

atestado no AT. Alguns exemplos de parábolas no NT são semelhantes às dos

rabinos, porém, nenhum desses poucos exemplos é chamado de mashal. O mais

conhecido discurso parabólico no AT é a parábola de Natã em 2Sm 12,1-4:

“ ...E o senhor enviou Natã a Davi; e, apresentando-se ele a Davi,

disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. O

rico possuía muitíssimas ovelhas e vacas. Mas o pobre não tinha

coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara;

e ela tinha crescido com ele e com seus filhos; do seu bocado

comia, e do seu copo bebia, e dormia em seu regaço, e a tinha como

filha. E, vindo um viajante ao homem rico, deixou este de tomar das

suas ovelhas e das suas vacas para assar para o viajante que viera

a ele; e tomou a cordeira do homem pobre, e a preparou para o

homem que viera a ele...”.

7. Parábola nos livros sapienciais

Segundo Hauck, o provérbio mashal, recebido da literatura sapiencial tornou a

parábola uma forma de redação profética significativamente importante. O discurso,

conto de fadas, alegoria ou parábolas como nos sinóticos, frequentemente não são

extensas. Porém as parábolas rabínicas são longas e não importam em distinguir se

são parábolas, metáforas puras e mistas mesmo que contenham figuras como rei,

filho, servo, casamento ou vinha em momentos alegóricos.

Mais próximo das parábolas sinóticas são aquelas dos rabinos palestinos.

Para os rabinos (mashal)))) lv);m), muitas vezes, é uma frase curta ou provérbio que

ilumina ou estabelece alguma coisa, assim se vê em Lc 4,23 “... médico, cura a tua

própria claudicação...”. Comumente o (mashal) lv);m); é uma comparação mais ou

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menos alargada, de conto, alegoria ou como na maioria dos casos, as parábolas

vistas nos sinóticos, uma comparação, conforme Hauck.

Segundo Hauck30, as parábolas rabínicas são muito próximas aos sinóticos

também no ponto de vista formal. Elas são normalmente identificadas por seu

contexto usando algum tipo de forma introdutória como em Mc 4,30 “... disse mais: A

que assemelharemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o

apresentaremos?...”; em Lc 13, 18 “... e dizia: A que é semelhante o Reino de Deus,

e a que o compararei...”; em Mt 11,16 “... mas a quem hei de comparar esta

geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos

companheiros...”.

Segundo Hauck, mashal31 lv'm' (representar, ser semelhante a) às vezes, as

parábolas são antitéticas (que contem antítese), como o uso de “mas” antes de

mostrar a cláusula final. De acordo com a brevidade judaica o ditado introdutório é

muitas vezes tão curto que não é conectado corretamente à parábola e a conexão

tem que ser fornecida. Assim, o começo da parábola para Rabi Jochanan b. Zakkai

é: “Uma parábola. Isto é como um rei que convidou os seus servos para uma festa”,

enquanto o ponto principal da parábola é a conduta dos servos.

Ainda segundo Hauck, como regra, a frase explicativa direciona a atenção

para um ponto de comparação, mas na própria natureza das coisas uma ação tem

várias características, que tornarão subordinados os pontos de comparação. Entre

os rabinos existem algumas parábolas com dois clímaces, o que torna a

comparação mais complicada. Não há dúvida de que estas parábolas são projetadas

para elucidar questões difíceis, mas isso não exclui o fato de que em alguns casos

elas tenham uma forma oracular, uma vez que o sábio semita gosta de falar em

comparações não totalmente claras como um estímulo para a perspicácia dos seus

ouvintes.

8. Parábola na forma de similitude

Segundo Hauck32, o mashal é encontrado na forma de uma comparação

desenvolvida, a semelhança. Este gênero é atestado desde as origens de Israel,

30 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 751.31 R.LairdHARRIS,TWOT, p. 1258.32 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 749

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apesar de existirem provavelmente por acidente, a palavra lv);m); nunca é encontrada

em associação com a parábola.

O exemplo mais conhecido é o de Natã em 2Sm 12,1-4:

“... o SENHOR enviou Natã a Davi. Chegando Natã a Davi,

disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro

pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o

pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que

comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus

filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos

seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem

rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar

de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha

do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia

chegado...”.

A característica especial da parábola no AT mostra que não é apenas uma

comparação estendida, mas uma história completa em si mesma, de modo que seu

ponto real pode permanecer completamente escondido ao ouvinte. Isto pode ser

visto na primeira relação que a história dá a pessoas ou circunstâncias, 2Sm 12,7 “...

Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu

te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul...”.

9. Discurso parabólico

Segundo Hauck33, no discurso parabólico, o que provoca reflexão é o profeta

transmitindo de forma oculta aos ouvintes uma convocação divina, buscando

despertar a sua consciência ou percepção religiosa. Em Ezequiel, a palavra lv);m);-

parabolh, é usada para várias alegorias, como Rabínico mostra o uso, que estão

no pensamento semita uma forma de discurso parabólico. Em Ez 17,2 “... Filho do

homem, propõe um enigma e usa de uma parábola para com a casa de Israel...”; Ez

33 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 749

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24,3 “... propõe uma parábola à casa rebelde e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus:

Põe ao lume a panela, põe-na, deita-lhe água dentro...”.

No seu conteúdo, nota-se uma palavra de revelação divina como se vê no

discurso oculto a reclamação do povo que o profeta mostra em Ez 21,5 “... saberão

todos os homens que eu, o SENHOR, tirei da bainha a minha espada; jamais voltará

a ela...”, o discurso carrega consigo um elemento do misterioso e enigmático.

Portanto, uma segunda palavra de revelação é necessária para mostrar o significado

do ditado oracular em Ez 17,11ss:

“... então a palavra do SENHOR me foi dirigida nestes termos:

Assim falarás a essa casa de rebeldes: Por acaso não sabeis o

que significam estas coisas? Dize mais. Como sabeis, o rei da

Babilônia veio a Jerusalém, tomou o seu rei e seus príncipes,

condiuzindo-os para a Babilônia...”.

Nota-se que há uma tendência mais desenvolvida de forma apocalíptica em

Esdras e Enoque como os oráculos ocultos que Deus põe na boca de Balaal em Nm

23,7:

“... então, proferiu a sua palavra e disse: Balaque me fez vir de

Arã, o rei de Moab, dos montes do Oriente; vem, amaldiçoa-me

a Jacó, e vem, denuncia a Israel,...”;

em 23,18:

“... então, proferiu a sua palavra e disse: Levanta-te, Balaque, e

ouve; escuta-me, filho de Zipor...”;

em 24,3:

“... proferiu a sua palavra e disse: Palavra de Balaão, filho de

Beor, palavra do homem de olhos abertos...”;

em 24,15:

“... então, proferiu a sua palavra e disse: Palavra de Balaão, filho

de Beor, palavra do homem de olhos abertos,...”;

em 20-23:

“... chegando os filhos de Israel, toda a congregação, ao deserto de Zim, no mês

primeiro, o povo ficou em Cades. Ali, morreu Miriã e, ali, foi sepultada. Não havia

água para o povo; então, se ajuntaram contra Moisés e contra Arão. E o povo

contendeu com Moisés, e disseram: Antes tivéssemos perecido quando expiraram

nossos irmãos perante o SENHOR!...”.

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Em Sl 49,4 “... inclinarei os ouvidos a uma parábola, decifrarei o meu enigma

ao som da harpa...”, também, o poeta fala como um profeta. Ele recebeu como

revelação de Deus um ditado que diz que resolve o enigma da prosperidade

incompreensível dos ímpios pela crença em um arrebatamento dos justos ao

Senhor. Em muitos casos, encontram-se também ações parabólicas nos profetas.

10. Relação das parábolas identificadas no AT

Existe identificação sobre parábola no AT conforme tabela abaixo:

134 235 336

x x 2Sm 12,1-7 Parábola de Natã

“... e o SENHOR enviou Natã a Davi; e, apresentando-se ele a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre...”

x x Is 5,1-7 Cântico da vinha

“... Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotäo, Acaz, e Ezequias, reis de Judá. 5,2 Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o SENHOR tem falado: Criei filhos, e engrandeci os; mas eles se rebelaram contra mim. 5,3 O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. 5,4 Ai, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás. 5,5 Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. 5,6 Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo. 5,7 A vossa terra está assolada, as vossas cidades estão abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença; e está como devastada, numa subversão de estranhos...”

x 1 Sm 10,12 A volta de Saul

“... e quem é o seu pai? É por isso que se tornou um provérbio a frase: Está também Saul entre os profetas?...”

34 Bruno ZUCCHELLI, GLNT, Vol IX, p. 530.35 John L. McKENZIE, Dicionário Bíblico, p. 691. 36 R.LairdHARRIS,DITAT, p. 889.

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x 2 Sm 14,1-11 Os dois irmãos

“... Conhecendo, pois, Joabe, filho de Zeruia, que o coração do rei estava inclinado para Absaläo, 2 Enviou Joabe a Tecoa, e tomou de lá uma mulher e disse-lhe: Ora, finge que estás de luto; veste roupas de luto, e não te unjas com óleo, e sê como uma mulher que há já muitos dias está de luto por algum morto. 3 E vai ao rei, e fala-lhe conforme a esta palavra. E Joabe lhe pós as palavras na boca. 4 E a mulher tecoíta falou ao rei, e, deitando-se com o rosto em terra, se prostrou e disse: Salva-me, ó rei. 5 E disse-lhe o rei: Que tens? E disse ela: Na verdade sou mulher viúva; morreu meu marido. 6 Tinha, pois, a tua serva dois filhos, e estes brigaram entre si no campo, e não houve quem os apartasse; assim um feriu ao outro, e o matou. 7 E eis que toda a linhagem se levantou contra a tua serva, e disseram: Dá-nos aquele que feriu a seu irmão, para que o matemos por causa da vida de seu irmão, a quem matou, e para que destruamos também ao herdeiro. Assim apagarão a brasa que me ficou, de sorte que não deixam a meu marido nome, nem remanescente sobre a terra. 8 E disse o rei à mulher: Vai para tua casa; e eu mandarei ordem acerca de ti. 9 E disse a mulher tecoíta ao rei: A injustiça, rei meu senhor, venha sobre mim e sobre à casa de meu pai; e o rei e o seu trono fiquem inculpáveis. 10 E disse o rei: Quem falar contra ti, trazes-mo a mim; e nunca mais te tocará. 11 E disse ela: Ora, lembre-se o rei do SENHOR seu Deus, para que os vingadores do sangue não prossigam na destruição, e não exterminem a meu filho. Então disse ele: Vive o SENHOR, que não há de cair no chão nem um dos cabelos de teu filho...”

x 1Rs 20,35-43 corrigido de 2Rs 20,35 37

O cativo que fugiu

“... E disse-lhe: Assim diz o SENHOR: Porquanto soltaste da mão o homem que eu havia condenado, a tua vida será em lugar da sua vida, e o teu povo, em lugar do seu povo...”

x x Ez 17,2-24 A alegoria da águia

“... e disse: Assim diz o Senhor DEUS: Uma grande águia, de grandes asas, de plumagem comprida, e cheia de penas de várias cores, veio ao Líbano e levou o mais alto ramo de um cedro...”

Ez 19,2-9 Os filhotes de leão

“... Ez 19,2 E dize: Quem foi tua mãe? Uma leoa entre os leões a qual, deitada no meio dos leõezinhos, criou os seus filhotes...”

x Ez 19,10-14 A vinha

“... tua mãe era como uma videira no teu sangue, plantada junto às águas; ela frutificou, e encheu-se de ramos, por causa das muitas águas...”

37 Segundo John L. McKENZIE, Dicionário Bíblico, p. 691 é 2 Rs 20,35; em Joachim JEREMIAS, As parábolas de Jesus, p. 23 a citação é 1 Rs 20,35.

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x Ez 21,1-5 O incêndio na floresta

“... e saberá toda a carne que eu, o SENHOR, tirei a minha espada da bainha; nunca mais voltará a ela...”

x Ez 24-3-5 A panela que ferve

“... e fala por parábola à casa rebelde, e dize-lhes: Assim diz o Senhor DEUS: Põe a panela ao lume, põe-na, e deita-lhe também água dentro...”

x Jó 17,6 Zombaria

“... porém a mim me pôs por um provérbio dos povos, de modo que me tornei uma abominação para eles...”

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CAPÍTULO II

AS PARÁBOLAS NO NOVO TESTAMENTO

1. O uso de parábolas

As parábolas utilizadas nos Sinóticos correspondem ao amplo uso desta

forma composta mashal-parábola (lv);m);-parabolh,) que define o conteúdo da

sabedoria de Israel na forma de literatura sapiencial que está relacionada com

sabedoria dos grandes centros localizados no Egito e Babilônia-Assíria.

Nos sinóticos a parábola (parabolh,) pode ser de diversas formas e ter vários

significados, como se vê a seguir:

a) De ser um ditado curto, quando se combina com uma comparação ou se

utiliza figura de linguagem como em Mt 15,15 “... então, lhe disse Pedro:

Explica-nos a parábola...”; em relação a Mc 7,17 “... quando entrou em

casa, deixando a multidão, os seus discípulos o interrogaram acerca da

parábola...” ao dizer em v. 11 “... vós, porém, dizeis: Se um homem disser

a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã,

isto é, oferta para o Senhor ...”

b) De ser um ditado proverbial como se vê em Lc 4,23:

“... disse-lhes Jesus: sem dúvida, citar-me-eis este

provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; tudo o que

ouvimos ter-se dado em Cafarnaum, faze-o também aqui

na tua terra...”.

Várias frases atribuídas a Jesus podem ser provérbios usados por Ele, em

Mt 24,28 “... onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres...”, em Mt

6,24:

“... ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há

de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a

um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às

riquezas...”;

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c) De ser uma parábola propriamente dita como se veem em Mt

13,3.18.24.31.33.53; Mc 3,23; 4,2.10.13.30; Lc 6,39; 8,4; 9,11; 12,16.

Em Hebreus, parabolh, significa “equivalente” ou “tipo” em 9,9 “... é isto uma

parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como

sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para

aperfeiçoar aquele que presta culto...”. Assim, o tabernáculo é uma sugestão

figurativa do tabernáculo celestial. De acordo com Hb 11,19 “... porque considerou

que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também,

figuradamente, o recobrou...” então, o retorno de Isaac a Abraão era uma

semelhança que apontava além de si mesma. Ele representava o despertar futuro

dos mortos.38

2. Definição e forma de parábola do NT

Hauck define a parábola como um discurso figurativo que expressa a verdade

de uma área conhecida da vida ou da natureza humana e no NT a parábola tem

significado muito mais do que uma simples metáfora como em Mt 16,6 “... fermento

dos fariseus...”, semelhança ou simile39 em Mt 10,16 “... prudente como as

serpentes...”; em Mt 13,43 “... brilhante como sol...”.

Trata-se de uma similitude independente, na qual uma verdade é evidente ou

aceita, a partir de um campo conhecido da vida, da natureza humana e é projetada

para estabelecer ou ilustrar uma verdade nova. Isto se vê na pregação de Jesus

sobre o Reino de Deus, na natureza de Deus na ação e na piedade (base do

pensamento simbólico moderno que alarga a definição para cobrir toda a Bíblia.).

Segundo Schottroff40, outra definição é que as parábolas fazem partes de

uma metáfora, conjunto portador de parábolas, possui capacidade de estabelecer

uma relação recíproca, cognitivos como afetivos, entre dois âmbitos separados

38 e,n parabolh, aqui não significa apenas “como se fosse”. A ordem e contexto são contra isso. cf. Dt 28,37.39 Símile. Analogia, semelhança entre coisas diferentes. Retórica, comparação ou confronto que se estabelece entre dois seres ou fatos em que o espírito percebe alguma relação de similaridade; comparação. <http://www.dicio.com.br/simile/> acesso em 07.02.2012 22:26.40 Luise SCHOTTROFF, PJ , p. 114.

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utilizando a linguagem própria de um âmbito como uma lente de observação de

outro âmbito.

Ainda, segundo Schottroff41, este discurso serve como a base para explicação

de uma nova verdade para que os leitores possam entender sobre a pregação de

Jesus (o reino de Deus, para ser e agir de Deus: piedade). De acordo com

Bultmann, as narrativas oriundas do cotidiano no mundo humano nada querem dizer

sobre o cotidiano e o mundo, mas provocar um juízo sobre Reino de Deus.

3. As características das parábolas no NT

Uma característica da parábola de acordo com Hauck é ser uma narrativa

curta desempenhando funções no interior de um discurso em forma de introduzir

outra maneira de dizer algo (e;poj),42 que muitas vezes apresentam traços

secundários adaptados à uma imagem43. “As imagens usadas nas parábolas,

quando muito, dispertam interesse histórico e teologicamente elas são terreno

neutro. Deus e o mundo da vida real encontram-se lado a lado sem relação de

conteúdo.”44

Outra característica da parábola de acordo com Jeremias45 é entender como

orientação para a conduta da vida.

Para Bailey46 a característica da parábola é ser uma narrativa propriamente

dita, resposta dos leitores ou ouvintes e uma reflexão sobre temas teológicos que

estão na base dessa resposta. Em resumo, pode-se dizer que é uma nova

metodologia que ajudou a delinear mais precisamente os elementos culturais que

constam nas parábolas.

4. O conteúdo das parábolas no NT

41 Ibid., p. 113.42 Marco Antônio Domingues SANT’ANA, O gênero da parábola, p. 157.43 Imagem caracteriza-se por fazer comparações diretas e apresentam enunciados claros e compreensíveis. Jesus utilizou nas suas pregações.44 Luise SCHOTTROFF, PJ, p. 113.45 Joachim JEREMIAS, As parábolas de Jesus, p. 40. 46 Kenneth E. BAILEY, Poet and Peasant and Through Peasant Eyes.1983, p. 207. <http://books.google.com.br/books?hl=pt-R&id=mmz1Wm3XlvcC&q=parables#v=snippet&q=parables &f= false> acesso em 16.01.2014 07:49.

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As parábolas narram o que todo mundo não o faz, mas o que cada um devia

fazer de concreto gerando o resultado da sua ação. As histórias sempre utilizam

tempos verbais no pretérito perfeito em Mc 4,3-9 “... ouvi: Eis que saiu o semeador a

semear...”; em Mt 21,39 “... e, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e

o mataram...”; em Mt 22,2 “... o Reino dos céus é semelhante a um certo rei que

celebrou as bodas de seu filho...”; em Mt 25,1 “... então, o Reino dos céus será

semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do

esposo...”.

A diferença entre as parábolas rebuscadas de difícil compreensão e as

adaptadas a uma imagem47 está na apresentação da forma narrativa como se pode

ver em Marcos (4,3-9) e em Lucas (11,5-8; 13,6-9; 18,1-8).

O acesso às parábolas é um passo na superação da diferenciação entre

metade-imagem e metade-objeto onde a resposta e a reflexão não precisam da

metade-objeto implícita, pois vem da própria vivência dos leitores ou ouvintes. O

conteúdo da narrativa é um meio de levar os leitores ou ouvintes a uma nova

compreensão.48

5. Parábolas identificadas no NT

Segundo Gourges, Wegner e Conenen, as parábolas identificadas no NT

são as seguintes:

Evangelistas

149 250 351 Marcos Mateus Lucas Perícopes

x 2,17 9,12 5,31 O médico e os doentes

47 Imagem: caracteriza-se por fazer comparações diretas e apresentam enunciados claros e compreensíveis. Jesus a utilizou nas suas pregações.48 Luise SCHOTTROFF, PJ, p. 115.49 Michel GOURGUES, Parábolas de Jesus em Marcos e Mateus, p. 13.50 Uwe WEGNER, ENT, p. 212. 51 COENEN, DITNT, Vol. II, p. 1569,1574.

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x 2,19-20 9,15 5,34-35 O noivo e seus convidados

x 2,21 9,16 5,36 Remendo novo em pano velho

x 2,22 9,17 5,37-38 Vinho novo em odres velhos

x 3,22-26 12,25-28 11,17-20 Reino e casa divididos

x 3,27 12,29 11,21-22 Assalto à casa do valente

x x 4,3-8 13,3-8 8,4-8 O semeador

x X 4,21-23 5,14-16 8,16-17 A lâmpada e o alqueire

x x 4,30-32 13,31-32 13,18-19 O grão de mostarda

x 8,15 16,6 12,1 O fermento de Herodes

x X 9,50 5,13 14,34-35 O fogo e o sal

x 11,12-14 21,18-19 13,6-9 Figueira estéril

x x 12,1-9 21,33-41 20,9-19 Os vinhateiros homicidas

x x 13,28-29 24,32-33 21,29-31 A figueira

x x 13,34-36 24,43-44 12,36-37 O porteiro vigilante

1 2 3 Marcos Mateus

x 7,27-28 15,26-27 Os cãezinhos e os filhos

1 2 3 Marcos

x 4,26-29 A semente e o lavrador

x x 12,12 A esfinge e inscrição

1 2 3 Mateus Lucas

x x X 13,33 13,20-21 O fermento

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1 2 3 Mateus

x X 13,24-30 O joio e o trigo

x X 13,44 O tesouro escondido

x 13,45-46 A pérola

x 13,47-50 A rede

x X 18,23-34 O credor impiedoso

x 20,1-16 Os trabalhadores da vinha

x 21,28-31 Os dois filhos

x 22,11-14 A veste nupcial

x 25,1-10 As 10 virgens

x X 25,31-34 O grande juízo (últ. julgamento)

1 2 3 Lucas

x X 7,41-43 Os dois devedores

x 10,30-37 O bom samaritano

x X 11,5-8 O amigo que pede ajuda

x 12,16-20 O rico insensato

x 13,6-9 A figueira estéril

x 13,25-27 A porta estreita

x 14,28-30 O construtor da torre

x 14,31-32 O rei e a guerra

x X 15,8-10 A dracma perdida

x 15,11-32 O filho perdido

x X 16,1-8 Administrador desonesto

x X 16,19-31 O rico e o Lázaro

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x X 17,7-10 Somos servos inúteis

x X 18,1-7 O juiz e a viúva

x X 18,9-14 O fariseu e o publicano

6. A fidelidade da tradição

As parábolas nos evangelhos segundo Mateus, Marcos e Lucas mostram as

características e formas do pensamento de Jesus e as impressões são dadas no

estilo da configuração da Palestina, no entanto a comparação sinótica mostra a

presença da diferença entre os textos, sugerindo assim que fossem feitas várias

alterações de caráter secundário.

Mesmo enfrentando a precisão histórica em questão de fidelidade à tradição

dos textos sinóticos as parábolas são relatadas com fidelidade na característica de

linguagem e pensamento de Jesus e na escrita palestiniana. Isto faz com que sejam

mais fiéis e verdadeiras as palavras de Jesus.

Em Mt 22,6s:

“... os demais agarrando os servos dele maltrataram e mataram,

os mas rei ficou irado e enviando as tropas dele destruiu os

assassinos aqueles e a cidade deles queimou...”,

há uma clara referência à destruição de Jerusalém. A motivação é encontrar os

pontos de vista que levaram às mudanças, justamente o duplo sentido Sitz im

Leben52 das parábolas: que de um lado é parte da pregação de Jesus e do outro da

igreja primitiva. Para encontrar uma parábola autêntica e original é necessário extrair

a causa das mudanças incentivadas a partir da situação da igreja primitiva, de sua

vida e seus ensaios, suas esperanças e por sua ordem.

Segundo Hauck53, da mesma forma a parábola da ovelha perdida em Mt

18,12-14:

“... que vos parece? Se existir para certo homem cem ovelhas e

se desgarrar uma delas, não deixará as noventa e nove sobre

52 Sitz im Leben é uma expressão alemã utilizada na exegese de textos bíblicos. Traduz-se em geral por “contexto vital”. De uma forma simples, o Sitz im Leben descreve em que ocasião uma determinada passagem da Bíblia foi escrita. Cf. Cássio Murilo Dias Silva. Metodologia de exegese bíblica, p. 186.53 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 755.

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os montes e indo a procura desgarrada? E se acontecer

encontrar a mesma, amém digo a vós que se alegra por ela

mais do que por as noventa e nove não desgarradas. Assim não

é vontade perante o Pai vosso em que céus pereça um só

destes pequeninos...”,

parte do ensino dirigida à comunidade, tornando a comunidade o lugar do cuidado

pastoral por excelência, anunciando a grande alegria de Deus frente a conversão do

pecador.

Ainda segundo Hauck em geral, as parábolas são feitas para atender a

necessidade de exortação eclesiástica e assim, a parábola escatológica de Lc

12,58s:

“... quando, pois, vais com o adversário teu para autoridade, no

caminho dá trabalho de ser libertado dele para não arreste a ti

para o juíza, e o juiz te entregará ao carcereiro, e o carcereiro te

lançará na prisão. Digo a ti: de modo nenhum sairás dali, até

que pagues o último centavo...”,

torna-se uma admoestação a prontidão para reconciliação em Mt 5,25:

“... se bem disposto para com o adversário teu depressa,

enquanto estás com ele no caminho, para que não te entregue o

adversário ao juíza e o juiz ao assistente na prisão sejas

lançado...”,

torna-se uma exortação à reconciliação.

A missão da igreja bem sucedida aos gentios em Mt 22,9s:

“... ide portanto para as encruzilhadas dos caminhos e a todos

que encontrardes convidai para as bodas. E saindo os servos

aqueles para os caminhos reuniram todos que encontraram,

maus tanto quanto bom; e ficou cheias a festa de convidados...”,

faz adicionar uma segunda chamada em Lc 14,23 “... Respondeu-lhe o Senhor: Sai

pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha

casa...”, e que, por sua vez, o evangelista judeu cristão acrescenta uma parábola

que parece ser originalmente independente para quem não aparecer no banque sem

o adorno de boas obras conforme Mt 22,11-13:

“... entrando o rei para ver os convidados viu ali um homem não

vestindo veste de festa, e diz a ele: amigo, como entraste aqui

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não tendo veste de festa? Ele ficou calado. Então o rei disse aos

servos: amarra os pés e mão dele e lançai o mesmo na

escuridão exterior; ali haverá o choro e o ranger dos dentes...”,

uma alerta sobre como se apresentar na festa do Reino de Deus.

Segundo Hauck, o “homem” em Lc 14,16 “... mas ele disse: certo homem fez

uma grande ceia e convidou muitos...”, torna-se “rei” em Mt 22,2 “... o Reino dos

céus tornou-se semelhante a um rei o qual fez bodas para o filho...” e rei é Cristo

conforme o ladrão em Mt 24,43 “... sabei, porém, que se dono da casa soubesse a

que horas o ladrão vem, vigiaria e não permitiria ser arrombada a casa dele...” e as

palavras do “comerciante” no Mc 13,35 “... vigiai pois; não sabeis pois quando o

Senhor da casa vem, ou à tarde ou à meia-noite ou ao cantar do galo ou de

manhã...” volta para Mt 25,23 “... disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo.

Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor...”

talvez tenham sido alterados para tornar-se palavras do Cristo da Parusia. Mas um

teórico com desejo de obter parábolas estilisticamente puras não justifica em atribuir

tudo a recursos alegóricos para a comunidade. Em relação à compreensão total da

parábola de Mateus com aqueles peculiares de Lucas quase não contém nenhum

recurso alegórico.

Segundo Hauck, em Lc 14,33 usa ou[twj ou=n “assim, pois” “... assim, pois,

qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo...”

para introduzir que certamente contém um ditado autêntico de Jesus. A questão da

autenticidade surge com particular urgência nas duas que são contadas pelos

evangelistas e definidos pela boca do próprio Jesus em Mc 4,13-20 (Mt 13,18-23; Lc

8,11-15: Parábola do Semeador) e em Mt 13,36-43 (parábola do joio). De acordo

com Mc 4,10 “... quando ficou a sós, perguntavam a ele os doze ao redor dele sobre

as parábolas...”, e em Mt 13,36:

“... então, deixando as multidões foi para a casa. E

aproximaram-se dele os discípulos dele dizendo: explica para

nós a parábola do joio do campo...”,

as parábolas são explicadas, a pedido dos discípulos, no seu círculo íntimo. Por trás

dessas explicações está a ideia de como são todas as parábolas em geral, mesmo

no contexto original, e precisam ser interpretadas, pois são como quebra-cabeças

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que devem ser resolvidos, como em Mc 4,34 “... e sem parábola não falava a eles,

em particular mas aos próprios discípulos explicava todas as coisas...”.

Com explicações desses processos alegóricas pode-se deduzir que as

parábolas não são originais. Além disso, um exame cuidadoso mostra em Mc 4,13-

20:

“... e diz a eles: não entendeis esta parábola, e como todas as

parábolas entendereis? O semeador semeia a palavra, este são

junto ao caminho; onde a palavra é semeada com eles...”,

usando um vocabulário estrangeiro para a língua de Jesus e os seus próprios, em

vez da comunidade”, em Mt 13,36-43:

“... então, deixando as multidões foi para a casa. E

aproximaram-se dele os discípulos dele dizendo: explica para

nós a parábola do joio do campo. E ele respondeu: O que

semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o

mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos

do maligno; ... Então, os justos resplandecerão como o sol, no

reino de seu Pai. Quem tem ouvidos ouça...”. 54

7. Significado e propósito das parábolas de Jesus na pregação

Segundo Hauck55, o objetivo das parábolas de Jesus é tornar fácil a

compreensão, como as parábolas rabínicas destinadas as pessoas simples (cf. Mc

4,33), sempre com exemplos concretos a partir da realidade da época, buscando

tornar mais fácil à compreensão dos ouvintes. Portanto, existe a pretensão que o

ouvinte entenda a semelhança entre a imagem e a realidade.

Podem existir deficiências se tudo ficar apenas no campo da comparação e

se não houver um poder espiritual para compreender o seu coração ou se a

revelação de Deus que contém de uma forma velada é rejeitada conforme Mt 21,33-

46 “ ... Escutai outra parábola. Houve um proprietário que plantou uma vinha,

cercou-a com uma sebe, abriu nela um lagar e construiu uma torre. Depois disso,

54 Ambas as explicações são, então, atribuídas pelo segundo Sitz im Leben (ANDERSON, et al., 2005) das parábolas.55 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 756.

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arrendou-a vinhateiros e partiu para o estrangeiro. Chegada a época da colheita,

enviou seus servos aos vinhateiros, para receberem os seus frutos...”.

Segundo Hauck, o propósito de Jesus como mensageiro de Deus, é alertar e

acordar o povo no ponto crítico da história conforme escrito em Lc 12,54-56 “...

quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim

sucede...” e tomar decisões conforme descrito em Mt 26,30 “... e, tendo cantado o

hino, saíram para o Monte das Oliveiras....” para ter efeito preciso e sem

ambiguidade conforme escrito em 1Cor 14,8.

Em Mt 21,33-46:

“... ouvi, ainda, outra parábola: Houve um homem, pai de família,

que plantou uma vinha, e circundou-a de um valado, e construiu

nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns

lavradores, e ausentou-se para longe...”,

expressa fronteira inconfundível, das ideias de Jesus sobre o reino vindouro e a

natureza de Deus bastante diferentes daqueles corrente no judaísmo. A parábola

pode falhar se não houver um poder espiritual para compreender o seu intento ou se

a revelação de Deus que nela conter for rejeitada. Jesus usou parábolas como uma

ajuda para a compreensão para expressar seus pensamentos de uma forma velada.

Ainda segundo Hauck, de acordo com Mateus, a pregação parabólica de

Jesus está cumprindo a palavra de Deus contida no AT e da revelação do mistério

mantido em segredo desde a criação, mistério, como em v. 13,11 musth,ria thj

basilei,aj “mistérios do reino”. Isso significa a realização do plano eterno de

salvação de Deus que acontece por meio do mistério de Cristo.

8. As mensagens proclamadas pelas parábolas

Segundo Hauck56, as parábolas normalmente têm significados de conduta

moral, educacional e comportamental, ou seja, regras para uma vida comunitária,

porém as parábolas de Jesus trazem no seu conteúdo os significados sobre o Reino

56 F. HAUCK, TDNT, Vol. V, p. 756.

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de Deus, a natureza, a obra, o ser e o destino do homem; muitas dessas parábolas

com uma opção escatológica.

Ainda segundo Hauck, destacam-se as parábolas sobre a criação iminente do

Reino de Deus - a figueira - Mc 13,28s:

“... aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus

ramos se renovam, e as folhas brotam, sabeis que está próximo

o verão. Assim, também vós: quando virdes acontecer estas

coisas, sabei que está próximo, às portas...”57,

em Lc 21,29-31, e a sua vinda repentina - o ladrão; e em Mt 24,43s:

“... mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora

viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua

casa. Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em

que não cuidais, o Filho do Homem virá...”.

Ainda segundo Hauck, sobre essa criação imediata, a hora presente é o

último amanhecer (madrugada), conforme Mc 2,19:

“... respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os

convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?

Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem

jejuar...”

e com seu avanço não tem retorno em Mc 2,21s:

“... ninguém costura remendo de pano novo em veste velha;

porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a

rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o

vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os

odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos...”

e todos devem ceder conforme Mc 3,27 “... ninguém pode entrar na casa do valente

para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa...”.

Segundo Hauck, um convite é dado para entrar no Reino de Deus, conforme

Mc 2,17 “... tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de

médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores...”; Depois a

cooperação do homem para manter o Reino de Deus conforme Mc 4,26-29:

57 Claiton A. KUNZ, Ações parabólicas, p. 85-89.

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“... disse ainda: O Reino de Deus é assim como se um homem

lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse,

de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não

sabendo ele como. A terra por si mesma frutifica: primeiro a

erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga. E,

quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque

é chegada a ceifa...”;

mesmo tendo dificuldades no entendimento, o resultado é maior que o esperado, no

entanto, sem cooperação há de se perder conforme Mc 4,3-9:

“... ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E, ao semear, uma

parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.

Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo

nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a

queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte caiu

entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e

não deu fruto. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que

vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por

um. E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça...”.

No início será de forma bem pequena e no final será enorme em Mc 4,31s:

“... é como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a

menor de todas as sementes sobre a terra; mas, uma vez

semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças e

deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem

aninhar-se à sua sombra...”,

pois ao longo do percurso haverá abrangência de todos em Mt 13,33:

“... disse-lhes outra parábola: O Reino dos céus é semelhante

ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três

medidas de farinha, até ficar tudo levedado...”.

Haverá reticência para todos aceitarem, mas o homem tem de escolher entre

o mundo e o Reino de Deus, apesar do homem não ter discernimento em relação

aos sinais dos tempos em Lc 12,54-56:

“... disse também às multidões: Quando vedes aparecer uma

nuvem no poente, logo dizeis que vem chuva, e assim acontece;

e, quando vedes soprar o vento sul, dizeis que haverá calor, e

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assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra

e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?...”.

O fim ou novo início fica condicionado a uma separação em Mt 13,24-30 “...

propôs-lhes outra parábola...” ou em Mt 13,47-50 “... novamente,..”. A decisão cabe

ao ouvinte que prática a Palavra conforme Mt 7,24-27 “... assemelhá-lo-ei ao homem

prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha...”. E ser de confiança em Mt 24,45-

51 “... quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua

casa, para dar o sustento a seu tempo?...”.

Outras parábolas mostram a natureza de Deus e da sua ação em Mt 7,9-11

“... e qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma

pedra?...”, da conversão do homem em Mt 18,12-14:

“... que vos parece? Se um homem possui cem ovelhas, e uma

delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e

nove, em busca da que se desgarrou?...”.

Do arrependimento do homem em Lc 15,11-32:

“... um certo homem tinha dois filhos; E o mais moço deles disse

ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele

repartiu por eles a fazenda....”.

Proporcionalidade no reino de Deus em Mt 20,1-16 “... o reino dos céus é

semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada apar contratar

trabalhadores para a sua vinha...”. Da recompensa em Mt 25,14-30 “... um homem

que, partindo para o estrangeiro, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus

bens...”.

Outras parábolas mostram as relações entre os seus semelhantes em Mt

18,23-35 “... eis porque o reino dos Céus é semelhante a um rei que quis fazer

contas com os seus servos...”. E amor ao próximo que Deus exige acima dos seus

deveres terrestres58 como “o bom samaritano” em Lc 10,30-37:

“... descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas

mãos dos assaltantes, os quais o despojaram, e espancando-o,

se retiraram, deixando-o meio morto...”.

58 R.D.B. de MENESES, Na parábola do Bom Samaritano: A ética comunitária, p. 108.

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9. Linguagem figurativa, em Paulo

Paulo, cidadão da diáspora e helenista, apresenta um discurso rico em

comparações desenhadas a partir das esferas mais variadas da vida, utiliza-se de

metáforas em Rm 13,12 “... vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois,

as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz...”, em 1Cor 5,8:

“... por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem

com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os ázimos

da sinceridade e da verdade...”;

e comparações em Rm 6,13s:

“... nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao

pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a

Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos

membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o

pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da

lei, e sim da graça...”.

E mesmo em comparações prolongadas como em Rm 7,1ss “...não sabeis vós,

irmãos (pois que falo aos que sabem a lei)...”, de comparações inconsistente: “... vós

sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens”

(2Cor 3,2), não faz o uso da palavra parabolh,, à forma no estilo de Jesus ou

qualquer outro estilo.

10.Padres pós-apostólicos

Nos padres pós-apostólicos a parabolh, ocorre nos escritos de Barnabé59 e

Hermas60. Na epístola de Barnabé a parábola ocorre duas vezes, uma vez uma

59 Barnabé, única referência é uma epístola de Barnabé. Clemente de Alexandria e Orígenes, bem como a tradição escrita, em geral, atribuem a Carta de Barnabé ao apóstolo do mesmo nome. Eusébio de Cesaréia e Jerônimo rejeitaram-na como documento apócrifo. O texto grego completo encontra-se no Códice Sinaiticus e (junto com a Didaquê) no “Códice Hierós (Hieróglifos)” de 1056. A primeira parte (dogmática) tem valor e significado do Antigo Testamento e os preceitos de Deus sobrecircuncisão e alimentos ser compreendido em sentido espiritual. A segunda parte (moral), no estilo da Didaqué, expõe a doutrina das duas vias, a da luz e a das trevas. Hoje há certeza de que o autor

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47

referência alegórica de Cristo em Ex 33,1-3 “... Senhor disse a Moises: vai, sobe

daqui, tu e o povo que fizeste subir da terra do Egito, à terra que jurei a Abraão, a

Isac, e a Jacó...”, e a outra estabelecendo um relacionamento da disposição da Lei

do AT também como alegorias de Cristo e é uma ajuda para entender sobre o

mistério de Deus e o próprio Barnabé se diz à sua falta de ou, uh, noh,sente

“compreensão” não vai escrever sobre insinuações mistérios do futuro.

Quanto ao Pastor de Hermas as comparações são estendidas e sendo essa a

característica básica como nas parábolas sinóticas. A visão de parábolas em

Hermas é muito parecida com o de Mc 4,11s:

“... Ele lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o

mistério do Reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por

meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e,

ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a

converter-se, e haja perdão para eles...”;

e de Mt 13,10s:

“... e, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que

lhes falas por parábolas? Ele, respondendo, disse-lhes: Porque

a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a

eles não lhes é dado...”;

e de Lc 8.10:

“... e ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino

de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não

vejam, e ouvindo, não entendam...”.

A análise do Hauck termina dizendo que a compreensão do Hermas sobre O

Pastor, é mais próxima a dos rabinos, pois para Hermas as parábolas são visões

que conferem revelações divinas em figuras de linguagem.

desta carta não é Barnabé, mas sim um mestre gentio, convertido ao cristianismo depois da destruição de Jerusalém. (BERTHOLD, 2008, p. 65).60 Hermas era um pequeno comerciante, um escravo liberto, de condição simples. A obra se divide em cinco visões, doze mandamentos e dez parábolas. O tema principal é a doutrina da penitência que anuncia a possibilidade de um perdão único dos pecados depois do batismo e que segundo a ótica cristã representa o perdão fundamental dos pecados por tempo limitado. Por sua forma literária, o Pastor é um apocalipse, como sugerem diversos elementos estilísticos da narrativa na primeira pessoa do singular, das visões, dos arrebatamentos e da carta celeste, uma exortação forte à penitência que utiliza muitas imagens misteriosas. (DROBNER, 2003, p. 48-50).

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11.As parábolas exclusivas61 de Mateus

Mateus

13,24-30 O Joio e o trigo

13,44 O tesouro escondido

13,45-46 A pérola

13,47-50 A rede e os peixes

15,15-20 O que entra pela boca

18,23-34 O credor impiedoso

20,1-16 Os trabalhadores da vinha

21,28-31 Os dois filhos

22,2-14 A veste nupcial

25,1-10 As 10 virgens

25,31-34 O grande juízo (últ. julgamento)

Segundo Jeremias, “O Evangelho de Mateus é um Evangelho de Marcos

reelaborado estilisticamente e acrescido de material novo que dá mais da metade de

Marcos.”

Segundo Garrido62, “Os três sinóticos agrupam significativo número de

parábolas, mas especialmente no capítulo 13 de Mateus, há um esforço para

desenvolver um discurso no mesmo capítulo. Este capítulo foi colocado em um

ponto de viragem do evangelho do caminho percorrido por Jesus, pois já anunciou o

reino de Deus e as reações começam a definir a sua missão. As parábolas de

Mateus no capítulo 13, o próprio Jesus, com seu estilo peculiar, nos ajuda a penetrar

na realidade do reino neste momento crítico da sua missão”.

61 Uwe WEGNER, ENT, p. 212.62 J. GARRIDO, El camino de Jesús, p. 137.

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12. As funções e características das parábolas mateanas

A forma literária da sua redação se reconhece pela formulação nas

explicações com utilização das palavras “então” avfei.j , “deixando”, o;clouj

“multidões”; em Mt 13,37 o de. avpokriqei.j ei=pen( ~O spei,rwn to. kalo.n

spe,rma evsti.n o uio.j tou/ avnqrw,pou( “... e ele, respondendo, disse-lhes: o que

semeia a boa semente, é o Filho do homem...”, o verbo avpokriqei.j “respondeu”,

uio.j tou/ avnqrw,pou “filho do homem” e em Mateus poucas palavras raras são

identificadas “Hapax legómena”.63

Mateus utiliza basilei,a tw/n Ouranw,n “Reino dos céus” enquanto que

Marcos a peculiaridades linguístico-teológicas. Aos que defendem a diferença de

significados de Reino dos céus e Reino de Deus “M. J. Erickson, Opções

Contemporâneas em Escatologia, 1982, p. 101 e as notas 22-24 à p. 154” 64.

Mateus utiliza a palavra omoi,a “semelhante” oito vezes (11,16;

13.31.33.44.45.47; 20,1; 22,39) para fazer comparação com o Reino dos Céus, e em

Lucas utiliza uma vez (13,18) quando faz indagação com o que comparar, em

(13,19) quando compara com a mostarda e depois em (18,21) quando compara com

fermento.

Mateus Utilização da palavra: omoi,a

11,16 Julgamento sobre a sua geração

13,31 Mostarda

13,33 Fermento

13,44 Tesouro escondido

13,45 Pérolas

13,47 Rede

63 Michel GOURGUES, Parábolas de Jesus em Marcos e Mateus, p. 46.64 COENEN, DITNT, Vol. II, p. 2035.

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20,1 Trabalhador da vinha

22,39 Amarás o teu próximo

Mateus Utilização da palavra: wmoiw,qh

13,24 Semear boa semente

18,23 Ajuste de contas

22,2 Bodas do seu filho

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CAPÍTULO III

ANÁLISE EXEGÉTICO-TEOLÓGICA DE Mt 13,47-50

Este capítulo tem como escopo a análise exegético-teológica da perícope

baseada na metodologia de exegese bíblica65. O estudo será realizado sob o

aspecto sincrônico66.

A metodologia sugere a divisão desta análise em subcapítulos, os quais tem

como sequência a delimitação, a segmentação e a estruturação do texto e também a

análise lexicográfica, literária e estilística, sintática e semântica.

A perícope de Mt 13, 47-5067 descreve a sétima68 parábola do capítulo 13 do

Evangelho segundo Mateus que, em geral, é denominada a “parábola da rede”.

1. Delimitação

A perícope começa com o advérbio pa,lin69 (novamente, de novo), no v. 47,

que introduz a afirmação “... omoi,a evsti.n h basilei,a tw/n ouvranw/n...”, com a

qual se indica o início de uma nova parábola. Esta construção separa-se

literariamente da unidade anterior (vv. 45-46) que também começa com a mesma

expressão introdutória.

A delimitação final encontra-se no v. 50, no qual indica-se a conclusão do

discurso parabólico com a sentença “... evkei/ e;stai o klauqmo.j kai. o brugmo.j

tw/n ovdo,ntwnÅ..”. Esta conclusão confirma-se pela sequência, v. 51; no qual inicia-

se uma nova unidade literária, com a presença de uma oração interrogativa

65 Cássio Murilo Dias da SILVA, Metodologia de Exegese Bíblica, p. 67. 66 Ibid., p. 83.67 Nestle-Aland, NOVUM TESTAMENTUM GRAECE, p. 36-37.68“no capítulo 13, o evangelista Mateus reuniu sete parábolas assumindo de Marcos a parábola do semeador e sua interpretação (vv. 1-23) e acrescentou uma coleção de três parábolas introduzidas por “uma outra parábola” (vv. 24-33), e uma coleção de três parábolas introduzidas por “é semelhante” (vv. 44.45.47)”.cf. J. JEREMIAS, As parábolas de Jesus, p. 94.69 Pa,lin aparece 141x no NT.

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construída com o verbo sunh,kate (entender) que faz referência a todas as

parábolas precedentes (“... tau/ta pa,nta”).

Desta forma, será analisada e discutida a seguinte perícope delimitada:

47 Pa,lin omoi,a evsti.n h basilei,a tw/n ouvranw/n sagh,nh| blhqei,sh| eivj th.n qa,lassan kai. evk panto.j ge,nouj sunagagou,sh|\

48 h]n o[te evplhrw,qh avnabiba,santej evpi. to.n aivgialo.n kai. kaqi,santej sune,lexan ta. kala. eivj a;ggh( ta. de. sapra. e;xw e;balonÅ

49 ou[twj e;stai evn th/| suntelei,a| tou/ aivw/noj\ evxeleu,sontai oi a;ggeloi kai. avforiou/si tou.j ponhrou.j evk me,sou tw/n dikai,wn

50 kai. balou/sin auvtou.j eivj th.n ka,minon tou/ puro,j\ evkei/ e;stai o klauqmo.j kai. o brugmo.j tw/n ovdo,ntwnÅ

2. Segmentação e Tradução

Seguindo os passos da metodologia exegética, após a identificação dos

verbos, foi realizado o desmembramento em orações, o que nos permite definidir a

segmentação da perícope.

Na tabela a seguir, a primeira coluna identifica os versículos com seus

respectivos segmentos, identificados com “a”, “b”, “c”, “d” e “e” na primeira coluna e a

segunda apresenta o texto grego e a terceira a sua tradução portuguesa.

vv. Texto em grego Tradução (literal)

47a Pa,lin Novamente,

b omoi,a h basilei,a tw/n ouvranw/n semelhante é o reino dos céus

c sagh,nh| eivj th.n qa,lassan a uma rede lançada para o mar

d kai. evk panto.j ge,nouj \ e de toda espécie capturada;

48a h]n o[te mas quando se completou,

b evpi. to.n aivgialo.n arrastam para a praia

c kai. e sentados

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d ta. kala. eivj a;ggh( reúnem os bons em cestos,

e ta. de. sapra. e;xw Å e os ruins fora lançam.

49a ou[twj Assim,

b evn th/| suntelei,a| tou/ aivw/noj\ será na consumação do século;

c oi a;ggeloi virão os anjos

d kai. tou.j ponhrou.j evk me,sou tw/n dikai,wn

e separarão os maus do meio dos justos

50a kai. auvtou.j eivj th.n ka,minon tou/ puro,j\

e lançarão para a fornalha de fogo;

b evkei/ o klauqmo.j kai. o brugmo.j tw/n ovdo,ntwnÅ

ali, será o choro e o ranger dos dentes.

Nota-se ainda que a perícope de Mt 13, 47-50 é composta por 15 segmentos,

com a presença de 72 vocábulos, entre os quais 13 são formas verbais (com 9

raízes distintas); 15 substantivos (basilei,a, ouvranw/n, sagh,nh|, qa,lassan, ge,nouj,

aivgialo.n, a;ggh, suntelei,a|, aivw/noj, a;ggeloi, ka,minon, puro,j, klauqmo.j,

brugmo.j, ovdo,ntwn); e 7 adjetivos (omoi,a, panto.j, kala., sapra., ponhrou.j, me,sou,

dikai,wn).

3. Análise sintática

A segmentação da perícope nos indica a existência de três períodos:

1) uma frase (novamente) e oito orações (vv. 47-48);

2) uma frase (assim) e quatro orações (vv. 49-50a);

3) uma frase (ali) e uma oração (v. 50b).

Primeiro período (vv. 47-48)

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Novamente,

Oração principal

o reino dos céus é semelhante

Orações subordinadas predicativas

uma rede lançada para o mar

e capturada toda espécie (de peixe)

mas quando completou

arrastam para a praia

e sentam

(e) reúnem os bons em cestos

e jogam os ruins

Segundo período (vv. 49-50a)

Assim,

Oração principal

será na consumação do século,

Oração subordinada predicativas

virão os anjos

e separarão os maus do meio dos justos

e lançarão para a fornalha de fogo;

Terceiro Período (v. 50b)

Ali,

Oração principal

haverá choro e o ranger dos dentes.

4. Análise exegético-teológica

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Segundo Gnilka70, a parábola mateana da rede apresenta Jesus que combina

duas ideias paralelas na mesma perícope: os vv. 47c-48 (a parábola da rede) e os

vv. 49-50 (sua explicação).

Quanto à estrutura, a perícope Mt 13,47-50 apresenta duas subunidades: A)

um juízo circunstancial (vv. 47-48); B) e um juízo final (vv. 49-50). Sendo que ambas

descrevem um julgamento (um discernimento). Note que, nos vv. 47-48, os homens

lançam a rede no mar e recolhem espécies de forma indiscriminada e, em seguida,

escolhem os bons e lançam fora os maus; por sua vez, nos vv. 49-50, os anjos

separam os justos dos maus. Há, portanto, uma separação – indicada pela raiz

avfori,zw (separar) sob a forma verbal avforiou/sin (v. 49d). É importante observar

que o texto não revela os critérios sobre os quais se fundamenta esse diferenciação

(juízo), apenas indica, em v. 49b, quando esta ação será realizada “... evn th/|

suntelei,a| tou/ aivw/noj” (na consumação do século).

Segundo Jeremias, a parabóla da rede deve ser considerada como uma dupla

parábola71. As parábolas da rede (Mt 13,47b-50b) e do joio e trigo (Mt 13,37-42) e

ambas lançam a visão do leitor para o fim dos tempos, pois tratam do juízo final e

mostram o reino dos Céus na sua plenitude. O reino, em v. 47b omoi,a evsti h

basilei,a tw/n ouvranw/n “ ... o reino dos céus é semelhante... ” é comparado com

a separação entre o trigo e o joio e no outro entre peixes bons (comestíveis) e ruins

(não comestíveis).

Ainda segundo Jeremias, outra forma de entender a característica da

perícope é o fato haver comparação em sua narrativa omoi,a evsti.n h basilei,a

tw/n ouvranw/n sagh,nh| blhqei,sh| eivj th.n qa,lassan (v. 47b.c) “quando o Reino

dos Céus é comparado com a ação de lançar a rede ao mar” e o resultado é o

veredito dessa ação avforiou/sin tou.j ponhrou.j evk me,sou tw/n dikai,wn (v.

49c) “... e separarão os maus dos justos ...”.

A seguir analisa-se a perícope Mt 13,47-50 no seu conteúdo exegético-

teológico versículo por versículo.

70 Joachim GNILKA, Il Vangelo di Matteo, p. 736-740.71 J. JEREMIAS, As parábolas de Jesus, p. 225-226.

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5. A introdução (v. 47a.b)

“Pa,lin omoi,a evsti.n h basilei,a tw/n ouvranw/n...”

O v. 47a.b corresponde à introdução da perícope. Nesses segmentos nota-se

a somatória de dois elementos: (A) Pa,lin + (B) omoi,a evsti.n h basilei,a tw/n

ouvranw/n. O advérbio pa,lin (novamente; de novo) conecta de modo particular os

vv. 47b-50 com as parábolas precedentes (vv. 31.44.45).

No v. 47b, tem-se a expressão “omoi,a72 evsti h basilei,a73 tw/n

ouvranw/n” (“... semelhante é o reino dos céus...”) que aparece outras 4 vezes em Mt

13 (vv. 31.33.44.45) e ainda 1 vez em Mt 20,1. Esta fórmula, em Mt, introduz cada

uma das parábolas, nas quais o reino dos Céus é apresentado como “um começo

modesto” (v. 31; v. 33), como “tesouro maior” (v. 44; v. 45) e como “bondade” (20,1).

A expressão “basilei,a tw/n ouvranw/n” (“... o reino do céus...”) só aparece

no evangelho mateano [3,2; 4,17; 5,3.10.19(2x); 8,11; 10,7; 11,11.12;

13,24.31.33.44.45.47.52; 18,1.4.23; 19,14; 20,1; 22,2; 25,1]; cabe ainda lembrar

que a expressão “basilei,a tou/ qeou/”(“... o reino de Deus...”) aparece apenas 2

vezes em Mateus (12,28; 21,43).

5.1Subunidade A: juízo circunstancial (vv. 47c-48e)

“... sagh,nh| blhqei,sh| eivj th.n qa,lassan

kai. evk panto.j ge,nouj sunagagou,sh|\ h]n o[te evplhrw,qh

avnabiba,santej evpi. to.n aivgialo.n

kai. kaqi,santej

sune,lexan ta. kala. eivj a;ggh(

ta. de. sapra. e;xw e;balonÅ..”

72 O adjetivo O[moioj, a, on – (omoi,a) significa: da mesma natureza, como, semelhante. 73 Os substantivos: 1) basilei,a, aj – regra, reino, domínio; 2) ouvrano,j, ou / (genetivo plural:ouvranw/n) – dos Céus (usado por Mt no lugar de “de Deus” para evitar a menção do nome sagrado –nome divino).

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No conjunto dos vv. 47c-48e, está contida uma imagem da vida de um

pescador no lago74. Os homens lançam a rede ao mar e, recolhendo toda espécie

(de peixes), escolhem os bons e excluem os maus.

Em v. 47c, tem-se a expressão sagh,nh| blhqei,sh| eivj th.n qa,lassan “...

uma rede lançada para o mar...” 75. Nota-se que o substantivo feminino sagh,nh76

(sagh,nh| = dativo, singular), no NT, aparece somente em Mateus, com o sentido de

“arrastão” (ou seja, uma grande rede de pescar)77. Esta rede de arrasto, que possuía

uma grande extensão e em cuja extremidade inferior eram fixados pedaços de

chumbos e pedras faziam com que fosse para o fundo após ser lançada ao mar.

Contudo, os pedaços de cortiça, colados na parte superior, permitiam que ela

flutuasse, de modo que pudesse ser puxada entre dois barcos.

A conjugação blhqei,sh| do verbo ba,llw – jogar, lançar aparece somente em

Mateus. Segundo Hauck78, verbo transitivo, de movimento, de “jogar” ou

“impulsionar”, no NT, ba,llw é usada pela primeira vez como transitivo: para “jogar”

ou “para lançar”. O verbo aparece ainda em Mt 4,18 ba,llontaj avmfi,blhstron eivj

th.n qa,lassan “... que lançavam as redes ao mar...” ; em Mt 17,27 ba,le

a;gkistron “...lança o anzol...”; em Mc 4,26 a;nqrwpoj ba,lh| to.n spo,ron

“...homem lançasse semente...”; em Mc 15,24 ba,llontej klh/ron “...lançando-lhes

sorte...”.

Em v. 47d, kai. evk panto.j ge,nouj sunagagou,sh|79 “ ... e juntado toda

espécie (peixes) ...” utiliza-se o verbo suna,gw que, no NT, aparece outra vez

somente em Mt 25,26. A frase não especifica que junta-se os peixes, mas que a

74 Joachim GNILKA, Il vangelo di Matteo,Lago de Genezaret, p. 739.75 Warren CARTER, O Evangelho de São Mateus, p. 379 “Sobre pescar como uma atividade regulada pelos romanos, e como um símbolo da resistência de Deus para poder imperial e de missão, ver 4,18-22”.76 ibid., p. 379, “A rede simboliza a agressão imperial dos caldeus (Hab 1,15-17), o controle soberano de Deus destruindo o Egito (Is 19,8) e usando Babilônia para destruir o opressor Tiro (Ez 26,5-14). Estes detalhes iniciais indicam uma cena não interessada na presença do reinado (como em 13,44-46), mas com a conclusão futura de propósitos (imperiais) de Deus (assim 13,24-30), que estabelecerá o império de Deus sobre todos aqueles, incluindo o poder imperial de Roma, que resiste ao governo de Deus.” 77 Na LXX, aparece em Hab 1,16.78 F. HAUCK , TDNT, Vol. I, p. 526-529 .79 Esta forma verbal aparece apenas neste versículo: sunagagou,sh|.

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rede junta “toda espécie”80 existente no mar e indica que estão misturados os bons

e os maus.

Segundo Trites, a raiz suna,gw que significa juntar; reunir: montar, convocar;

de boas-vindas: recebem como convidado (de estrangeiros); pegar (peixe);

armazenar (Lc 12,17 suna,xw tou.j karpou,j mou). Frequentemente equivalente ao

intransitivo reunir, montar, se juntam, conhecer. No NT, o verbo aparece 59 vezes

sendo 24 em Mt, 5 em Mc, 6 em Lc, 7 em Jo, 11 em At, 5 em Ap e uma em Paulo

(1Cor 5,4)81. Em Mateus, o reunir-se refere a pessoas ou multidões como em 13,2

sunh,cqhsan pro.j auvto.n o;cloi polloi “...grandes multidões se reuniram perto

dele...”; convidados num casamento em 22,10 ta.j odou.j sunh,gagon “...reuniram

todos...” ou seres vivos como aves em 6,26 ouvde. suna,gousin eivj avpoqh,kaj

“...nem ajuntam em celeiros...”.

Nota-se que o substantivo ge,noj (ge,nouj = genitivo, neutro, singular - que

significa família, raça, nação, tipo, espécie) aparece nos evangelhos somente em

Mt 82.

Em v. 48a, na afirmação N]n o[te evplhrw,qh “... mas quando se completou

...” o verbo plhro,w (evplhrw,qh), segundo Delling83, significa “cheio”, “encher algo”

(cestos cheios de areia”, “completamente cheio”, também transferência “cheio de”, o

que indica plenitude, estar completo. Nota-se que o verbo evplhrw,qh (plhro,w)

conjugado na voz passiva aparece também em 2,17; 27,9.

Segundo Jeremias, a separação prematura destes é rejeitada na parábola84

do joio e trigo. A medida marcada por ele deve ficar cheia, por isso a seara85 precisa

ficar madura. Segundo esta parábola é preciso paciência, porque os homens não

estão absolutamente em condição de fazer esta separação (Mt 13,29). Como o joio

80 O adjetivo Panto.j (1) sem o artigo: cada um, cada (pl. todos); todo tipo de, tudo, cheio, absoluto, maior; (2) com o artigo: inteiro, todo, todo (pa/j o` com todos os que); (3) todos, tudo ( dia. panto,jsempre, continuamente, para sempre; kata. pa,nta em tudo, em todos os aspectos). 81 A. A .Trites, DITNT, Vol. II, p. 2110.82 No resto do NT aperece apenas 4 vezes (At 4,6; 13,26; 2Cor 11,26; Fl 3,5) e na LXX é utilizado 38 vezes.83 Delling, TDNT, Vol. VI, p. 290-292.311. 84 J. JEREMIAS, As parábolas de Jesus, p. 225-226.85 Local em que se encontram os cereais; campo de cereais. Território (de terra) que pode ser utilizado para o cultivo de; campo semeado.Terra que pode ser semeada após a preparação do terreno para o cultivo.Sentido Figurado. Grupo de pessoas que são partidárias de alguma associação; partido ou agremiação. Local em que se encontram os cereais; campo de cereais. Território (de terra) que pode ser utilizado para o cultivo de; campo semeado. Terra que pode ser semeada após a preparação do terreno para o cultivo.Figurado. Grupo de pessoas que são partidárias de alguma associação; partido ou agremiação. <http://www.dicio.com.br/seara/> Acesso em 22.01.2014 11:56.

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e o trigo no começo são tão parecidos, se alguém quisesse fazer a separação,

correria o grande risco de errar no julgamento e acabaria por arrancar junto com a

erva má, o bom trigo. Antes – é a segunda razão – é Deus quem determina a hora

da separação.

O conteúdo específico dessa palavra plhro,w no NT é determinado “para

cumprir uma norma, uma medida, uma promessa”, “para completar ou atingir”

alguma coisa, a ideia de “totalidade” ou “plenitude” é decisiva. O termo significa

“para preencher algo completamente”, um lugar At 2,2 kai. evplh,rwsen o[lon “... e

encheu toda a casa...”; Jo 12,3 h de. oivki,a evplhrw,qh evk th/j ovsmh/j tou/ mu,rou

“... encheu-se a casa do cheiro do ungüento...”; Lc 3,5 pa/sa fa,ragx

plhrwqh,setai “... todo o vale se encherá...” a falta de material em uma

transferência de sentido; At 5,28 kai. ivdou. peplhrw,kate th.n VIerousalh.m

th/j didach/j umw/n “... eis que enchestes Jerusalém...”.

Em v. 48b, avnabiba,santej evpi. to.n aivgialo.n “... arrastam a rede para a

praia ...” Segundo Schneider86, o verbo avnabai,nw (avnabiba,santej)87 possui um

significado básico espacial88, ou seja, “a subir das profundezas às alturas” 89 usadas

para subir a bordo de um navio, a montagem de um cavalo ou escalar uma

montanha. Quando utilizado em sentido geográfico denota o deslocamento de uma

planície rumo a uma cidade mais elevada; partir da costa para o interior; ou ainda, a

partir da foz de um rio rumo à montanha; a partir do piso inferior de uma casa para a

parte superior.

No NT, esse sentido aparece principalmente nos evangelhos com o qual se

indica que Jesus para evitar as multidões ou para orar sobe uma colina (Mt 5,1

avne,bh eivj to. o;roj “... subiu a um monte...”; 14,23 avne,bh eivj to. o;roj “... subiu ao

monte...”; 15,29 avnaba.j eivj to. o;roj “... subiu ao monte...”); ele se junta a seus

discípulos no barco (Mt 14,22); ou ainda, ele sobe com eles a Jerusalém (Mt

20,17s)”; 20,17 avnabai,nwn o VIhsou/j eivj ~Ieroso,luma “... subindo Jesus a

Jerusalém...” Os homens que trazem o paralítico a Jesus em Lc 5,19 avnaba,ntej evpi.

86 Carl SHNEIDER, TDNT, Vol. I, p. 793.87 Esta forma conjugada (avnabiba,santej) aparece somente em Mateus. 88 No sentido espacial Avnabai,nw também é usado como intransitivo: uma semente que cresce da terra como uma planta que brota, em Mt 13,7.89 Carl SHNEIDER, TDNT, Vol. I, p. 793.

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to. dw/ma “... subiram ao telhado...”; em Lc 19,4, Zaqueu sobe uma árvore para ver

Jesus avne,bh evpi. sukomore,an “... subiu a uma...”.

Em v. 48c, kai. kaqi,santej “... e sentados...”. Com a utilização do verbo

kaqi,santej90 (kaqi,zw) que significa “definir-se”, “assentar-se” e “sentar-se”91.

Segundo Schneider92, no koiné esta raiz ocasionalmente é intrasitiva, com a

conotação de “sentar-se”. Utiliza-se em tempo futuro (kaqi,sw), em Mt 25,31 to,te

kaqi,sei evpi. qro,nou do,xhj auvtou/ “... assentará no trono da sua glória...”; em

imperativo aoristo (ka,qison) em Mc 12,36b Ka,qou evk dexiw/n mou/ “... assenta-te

à minha direita...”; em perfeito (keka,qika) em Hb 12,2 tou/ qro,nou tou/ qeou/

keka,qiken “... assentou-se à destra do trono de Deus...” ; kaqi,sh| em Mt 19,28 “...

o Filho do homem assentar-se no trono da sua glória...”.

Jesus senta-se ao céu aberto, especialmente pela costeira em Mt 13,1

evka,qhto para. th.n qa,lassan “... assentado junto ao mar...”; e nas montanhas e

vê-se o seu amor pela natureza em Mt 5,1 kaqi,santoj “... assentando-se...”; em

15,29 evka,qhto evkei “... assentou-se lá...”; em 24,3 Kaqhme,nou de. auvtou/ evpi. tou/

:Orouj tw/n VElaiw/n “... estando assentado no Monte das Oliveiras...”. O pátio é

um lugar favorito para sentar, especialmente para os escravos e subalternos assim

como Pedro se senta no tribunal em Mt 26,58 e;sw evka,qhto meta. tw/n uphretw/n

“... assentou-se entre os criados...”; em 26,69 ~O de. Pe,troj evka,qhto e;xw evn th/|

auvlh/|\ “... Pedro estava assentado fora, no pátio...”; para obter notícias sobre o

destino do seu mestre. É incomum os soldados sentar-se enquanto faz guarda Mt

27,36 kaqh,menoi “... assentados...”, mas Pedro pressupõe muito pior em uma

situação similar.

90 Na LXX aparece 3 vezes (Nm 11,4; Dt 1,45; Jr 49,10); no NT, em At 16,13. 91 “kaqi,zw” vê que Jesus se sentar ao céu aberto, especialmente pela costeira (Mt 13,1; Mc 4,1) e nas montanhas (Mt 5,1; 15,29; 24,3; Mc 13,3; Jo 6,3) vê-se o seu amor pela natureza. O pátio é um lugar favorito para sentar, especialmente para os escravos e subalternos (Es 5,13) assim como Pedro se senta no tribunal (Mt 26,58.69; Lc 22,55s) para obter notícias sobre o destino do seu Mestre. É incomum os soldados sentar-se enquanto em guarda (Mt 27,36), mas Pedro pressupõe muito pior em uma situação similar.” cf. Carl SCHNEIDER, TDNT, vol VIII, p. 1104. 92 Carl SCHNEIDER, TDNT , Vol. III, p. 440-441,444.

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Em v. 48d sune,lexan ta. kala. eivj a;ggh “ ... escolhidos os bons em cestos

...” aparece somente com base no critérios “não comestíveis / os leviticamente

impuros” (Lv 11,9-12) é como os peixes eram escolhidos.

O verbo sulle,gw – (sune,lexan – v. 48d)

O adjetivo kalo,j (kala.) significa bom, certo, apropriado, adequado, ou

melhor, honrado, honesto, bom, bonito, precioso.

O substantivo a;ggoj, ouj (a;ggh) – cesta, baú (para a pesca de peixes).

Em v. 48e ta. de. sapra. e;xw e;balon “...os ruins excluídos...”, para Hauck93,

no NT, ba,llein (“jogar” ou “jogar fora”) é usado de maneiras diferentes em conexão

com o pensamento de julgamento.94

Segundo Hauck95, a conjucação e;balon do verbo ba,llw, transitivo, de

movimento, de “jogar” ou “impulsionar”, no NT ba,llein é usada pela primeira como

transitivo: para “jogar” ou “para lançar” no Mt 4,18 ba,llontaj avmfi,blhstron eivj

th.n qa,lassan “... que lançavam as redes ao mar...” ; Mt 17,27 ba,le a;gkistron “...

lança o anzol...”; Mc 4,26 a;nqrwpoj ba,lh| to.n spo,ron “... homem lançasse

semente...”; Mc 15,24 ba,llontej klh/ron “... lançando-lhes sorte...”; Apo 6,13 wj

sukh/ ba,llei “... ao lançar fruto...”.

Sapra.: adjetivo, plural com o significado de: ruins, podres, sem valor;

(palavras) ruins ou prejudiciais;

Segundo Jeremias, com a chegada do fim ocorrerá a separação do joio e do

trigo, a seleção dos peixes bons dentre os maus96. Somente após esse momento

surgirá a comunidade santa de Deus, livre de todos os maus, dos crentes só de

aparência e dos que confessam apenas com os lábios, mas esse momento ainda

não chegou. Ainda não correu o último prazo para a conversão (Lc 13,6-9). Até lá é

93 F. HAUCK, TDNT, Vol. VI, p.79394 Mt 3,10: eivj pu/r; 5,29: eivj ge,ennan, na parte de expulsão da comunidade da salvação, como acontece com o advérbio e;xw no sentido de evkba,llein, Mt 5,13; 13,48; Lc 14,35; Jo 15,6. Em Mt 18,9ba,le avpo. sou/ expressa separação resoluto de quem se seduz ao pecado.”95 F. HAUCK , TDNT, Volume I, p. 526-529 .96 J. JEREMIAS, As parábolas de Jesus, p. 225-226.

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preciso renunciar a todo falso zelo, deixar pacientemente os campos amadurecerem,

lançar largamente a rede e deixar o resto para Deus – até que venha a sua hora.97

O adjetivo sapro,j (sapra.) ruim, podre, sem valor; (palavra) ruim ou

prejudicial, sapro,j “podres”98 deriva do verbo sh,pw, onde transferir o sentido é mais

comum e variado no processo de deterioração e o fato implica considerar que os

objetos podres geralmente são antigos, embora nem sempre, de pouco valor ou

mesmo inúteis. Às vezes, a dominação de um desses elementos é tão forte que a

possibilidade de utilização diverge consideravelmente da base.

Sapra, no sentido básico se relaciona com o processo de “desobediência”. O

“de fato” é passar para a desobediência no sentido literal, com a exceção do fogo,

que não existe nada de que não possa ser transformado exposto sh,tesqai. Tendo

em conta esta gama de amplitude do literal, usá-lo é natural, já que a destruição

completa não deve ser sempre considerada. A palavra pode ainda ser utilizada para

alterações de materiais que são necessárias para a vida, o aumento de seiva da

videira, embora neste sentido seja encontrada raramente. Usar a palavra na

transformação sempre significa “apodrecer”, “perecer”.

Se ge,rwn está sozinho, sapro,j indica desperdício de força e beleza

associado à idade e neste caso o homem pode ser chamado de velho, pois a ideia

de “velho” está composta no seu interior. Em relação à comida e bebida, sapro,j

denota mercadorias velhas, ainda que estas sejam tragáveis. Ao contrário O qri/n

tapi,couj saprou/ (“folha de couve com carne em conserva”) é para ser comido, e não

jogado fora. Em latim saprus passou a ser usado para um tipo de queijo, descrito

como um remédio. Se algum “apodrecimento” é desejável em certos alimentos,

sapro,j pode assumir um sentido positivo como no caso do queijo “maduro” e

especialmente no vinho. No seu julgamento de vinho encontra-se frequentemente

com uma “ge,rwn” aprovação, e,sttai kai. Ma,la hdu,j g’, ovdo,ntaj ouvk e.;cwn h;dh

sapro.j le,gwn, ge,rwn ge daimoni,wj. Já sapro,j poderia perder seu sentido

sinistro se tornar sinônimo de hdu,j.

97 Esta tomada de posição de Jesus está ancorada fortemente na tradição. À paciência exorta também Mc 4,26-29 e repetidamente ele acentua, alertando que a turba dos discípulos não é uma comunidade pura e que no fim a sepração operar-se-á também entre suas fileiras (Mt 7,21-23.24-27; 22,11-14)98 O. BAUERNFEIND, TDNT, Vol. VII, p. 94.

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A regra em geral mostra que sapro,j tem um sentido crítico e negativo, mas

não um julgamento muito preciso de sinistro, “inservíveis”, “de pouco valor”. Às

vezes, o contexto tem um sentido especial como no caso: sapo.n o;noma não está

no sentido de pouco valor, mas como “notório”, e sapra. do,gmata tem o

significado de “prejudiciais”, “perigoso”.

5.2 Subunidade B: juízo final (vv. 49a-50b)

“... ou[twj

e;stai evn th/| suntelei,a| tou/ aivw/noj\

evxeleu,sontai oi a;ggeloi

kai. avforiou/si tou.j ponhrou.j evk me,sou tw/n dikai,wn

kai. balou/sin auvtou.j eivj th.n ka,minon tou/ puro,j\

evkei/ e;stai o klauqmo.j kai. o brugmo.j tw/n ovdo,ntwnÅ..”

Cenário de um juízo final (vv. 49a-50b)

O v. 49a.b que aparece também em v. 40c (parábola do joio) considera-se

como a subunidade que escreve sobre “um juízo final” Ou[twj e;stai evn th/|

suntelei,a| tou/ aivw/noj\ “... e, assim, poderá ser no fim...” .

O substantivo aivw,n (aivw/noj) com significado de: idade; ordem mundial, a

eternidade; avp/ aivw,n ou pro. aivw,n com significado de: desde o início; eivj aivw,n

com significado de: forma reforçada; eivj tou.j aivw,n tw/n aivw,n com significado de:

sempre, para sempre; aivw,n (personificado como uma força do mal); existência, a

vida presente também em Mt 13,22 h me,rimna tou/ aivw/noj “... mas os cuidados

deste mundo...”, em Mt 13,39.40; 24,3; 28,20.

“Evxeleu,sontai oi a;ggeloi “... virão os anjos... ”; esta frase aparece

somente em v. 49c. O verbo evxe,rcomai (evxeleu,sontai) indica vinda, advento e é

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utilizado predominantemente com significado espacial no sentido religioso como:

chegar a Jesus, levar ao discipulado (Jo 1,39); indica ainda a vinda dos magos do

oriente (Mt 2,2) o que simboliza a vinda dos pagãos que hão de entrar no reino dos

Céus (Mt 8,11); no sentido escatológico (Mt 9,15; Mc 2,20; Jo 2,4).” Cf. W. Mundle,

DITNT, Vol II, p. 2659.

Ainda, segundo Mundle99, evxe,rcomai (fut. exeleu,somai ; aor. evxh/lqon ; pf.

evxelh,luqa) vinda, advento em Hb 7,5 kai,per evxelhluqo,taj evk th/j ovsfu,oj

VAbraa,m\ “... ainda que tenham saído dos lombos de Abraão...” (evk th/j ovsfu,oj

descer de); embora, desaparecer em At 16,19 evxh/lqen h evlpi.j th/j evrgasi,aj

auvtw/n “... lucro estava perdida...”. É utilizado predominantemente com significado

espacial no religioso como: chegar a Jesus, leva ao discipulado em Jo 1,39 e;rcesqe

“... vinde...”; a vinda dos magos do oriente em Mt 2,2 h;lqomen proskunh/sai

auvtw/|Å “... viemos a adorá-lo...” simboliza a vinda dos pagãos indicando que hão de

entrar no reino de Deus; no sentido escatológico em Mt 9,15 evleu,sontai de.

hme,rai o[tan avparqh/| avpV auvtw/n o numfi,o “... virão, em que lhes será tirado o

esposo, e então jejuarão...”.

O substantivo sunte,leia (suntelei,a|) com significado de: final, a conclusão.

Este substantivo, dativo, feminino, singular suntelei,a|100 aparece somente em

Mateus com o significado fim, conclusão.

Substantivo a;ggeloj, ou (a;ggeloi) anjo, mensageiro, aquele que é enviado.

Esta conjugação evxeleu,sontai do verbo evxe,rcomai aparece somente em

Mateus com o significado de vir ou ir para fora ou para trás; sair, fugir. 101

Esta frase kai. avforiou/sin tou.j ponhrou.j evk me,sou tw/n dikai,wn “... e

separarão os maus do meio dos justos...” aparece somente em v. 49d. O verbo

avfori,zw (fut. avforiw/ e avfori,sw) tem o significado de: separar e cortar. “Por

designação de Deus, o Filho do Homem vai separar o bom do ruim como um pastor

que separa as ovelhas dos cabritos (Mt 25,32). A mesma função será dada aos

anjos, que vão separar os maus do meio dos justos (Mt 13,49).” Cf. Schmidt .

99 W. Mundle, DITNT, Vol II, p. 2659.100 No LXX aparece 21 vezes e no NT aparece nos livros Mt 13,39.40; Hb 9,26.101 No LXX aparece 24 vezes e no NT aparece em At 7,7.

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A conjugação avforiou/sin do verbo avfori,zw - tirar, excluir (de uma

empresa); separar, nomear para fora; aparece somente em Mateus. Segundo

Schmidt102, esta conjugação, significa “separar”, “cortar” e em conexão com o que foi

falado sobre ori,zw, parece que o cerne do NT encontra-se a princípio Deus

separando, ou seja, marcando para o Seu serviço e Ele faz isso, na verdade, com

referência à mensagem que Deus prometeu antes (pro.) .

Pela designação de Deus o Filho do Homem vai dividir o bom do ruim quanto

um pastor que separa as ovelhas dos cabritos em Mt 25,32 avfori,sei auvtou.j avpV

avllh,lwn “... apartará uns dos outros...”. A mesma função será ser dada aos anjos,

que vão dividir os maus do meio dos justos em Mt 13,49.

O adjetivo di,kaioj (dikai,wn) é importante entender em que o contexto o

estudo está inserido. Segundo Quell103 nota-se que o conceito “bom” na lei do AT

exercia uma influência tão forte na compreensão de tudo, em todas as relações

sociais e até mesmo na reflexão teológica sobre a comunhão estabelecida entre

Deus e o homem. O homem era guiado nesse conceito de “bom” na lei do AT.

O v. 50a cuja a frase kai. balou/sin auvtou.j eivj th.n ka,minon tou/ puro,j

“... e lançarão para a fornalha de fogo...” , Aparece também em Mt 13,42.

A conjugação balou/sin do verbo ba,llw - jogar, jogar para baixo; ofertar, dar,

derramar; semear (semente); trazer (a paz); investir, depositar (dinheiro); banir

(medo). Aparece nos livros Na 3,10; Ez 23,24; Mt 13,42; Ap 4,10.

Segundo Hauck104, a conjugação balou/sin do verbo transitivo ba,llw, de

movimento, de “jogar” ou “impulsionar”, no NT ba,llein é usada pela primeira vez

como transitivo: para “jogar” ou “para lançar” no Mt 4,18 ba,llontaj avmfi,blhstron

eivj th.n qa,lassan “... que lançavam as redes ao mar...” ; em 17,27 ba,le

a;gkistron “... lança o anzol...”; Mc 4,26 a;nqrwpoj ba,lh| to.n spo,ron “... homem

lançasse semente...”; Mc 15,24 ba,llontej klh/ron “... lançando-lhes sorte...”.

Muitas vezes, no NT, ba,llein é utilizada de maneiras diferentes em conexão

com o pensamento de julgamento, como parte comprometedora para o elemento

que exerce no Mt 3,10 eivj pu/r ba,lletai “... lançada no fogo...”; em 13,42 kai.

102 SCHMIDT, TDNT, Vol. V, p. 444-445.103 QUELL, TDNT, Vol. V, p. 174-178.104 F. HAUCK , TDNT, Volume I, p. 526-529.

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balou/sin auvtou.j eivj th.n ka,minon tou/ puro,j “... lançarão na fornalha acesa...”;

em 5,29 kai. mh. o[lon to. sw/ma, sou blhqh/| eivj ge,ennan “... e não seja todo o teu

corpo lançado no inferno...”, na parte de expulsão da comunidade da salvação,

como acontece com o advérbio e;xw no sentido de ekba,llein; Mt 5,13 eivj ouvde.n

ivscu,ei e;ti eiv mh. blhqe.n e;xw “... para nada mais presta senão para se lançar

fora...”. Em Mt 18,9 ba,le avpo. sou/ “... lança-o fora de ti...” expressa separação

resoluto de quem se seduz ao pecado.

Nos sinóticos aparecem somente em Mateus os substantivos ka,minoj,

(ka,minon), acusativo, feminino, singular –forno105; pu/r (puro,j): genitivo, neutro,

singular – (v.13,50a) fogo.106

Evkei/ e;stai o klauqmo.j kai. o brugmo.j tw/n ovdo,ntwn “... ali, haverá

pranto e o ranger dos dentes...” v.50b.107

Nesta frase esses são os substantivos klauqmo,j - choro amargo,

lamentando; brugmo,j - moagem, ranger; ovdou,j, ovdo,ntoj (ovdo,ntwn) – dente.

O adjetivo me,soj (me,sou) com significado de: meio, no meio como em Mt

13,25 evpe,speiren ziza,nia avna. me,son tou/ si,tou “... semeou joio no meio do

trigo...” avna. me,son ; com significado de: entre; através como em Mc 7,31 h=lqen dia.

Sidw/noj eivj th.n qa,lassan th/j Galilai,aj avna. me,son tw/n ori,wn

Dekapo,lewjÅ “... foi até ao mar da Galiléia, pelos confins de Decápolis...”; evn me,sw|

ou eivj me,son com o significado de: filho no meio, no meio, entre; evn tw/| me,sw| com

o significado de: antes dos convidados como em Mt 14,6 evn tw/| me,sw|| “... diante

dele...”.

O adjetivo ponhro.j (ponhrou.j) mal, mau, mau, pecaminoso; (substantivo

pessoa má; maligno (do diabo); to. ponhro.j o que é mal (mal); culpado (de

consciência); doentio (olho); ruim, sem valor (da fruta); maligno ou dolorosa (de

feridas); ovfqalmo.j ponhro.j inveja, ciúme em Mt 13,19 e;rcetai o ponhro.j “...

vem o maligno...”.

105 Na LXX aparece em: 13 vezes; aparece NT somente em Mt 13,42.106 Na LXX aparece 100 vezes; aparece 26 vezes. 107 aparece em Mt 8,12; 13,42; 22,13; 24,51; 25,30.

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6. Considerações sobre juízo final (do vv. 49a-50b)

Ante ao exposto cenário deve-se considerar que a lei é a base da teologia no

AT. Na medida em que há desenvolvimento teológico e esses conceitos jurídicos

com significado religioso contribuíram para uma ética de direito. Esse pensamento

não é advindo somente do Deus bíblico, mas também está em todas as religiões da

época, onde o elo entre o homem e divindade estaria ligado a uma série de leis,

cultos e rituais. Isto é provado pelo descrito especialmente no AT.

No cenário analisado o conceito de lei é expresso por uma série de condições

que são usadas não apenas para as relações entre Deus e o homem e vice e versa,

mas também para a realização de Deus e do homem. Se essa relação era

considerada vital e religiosa, nota-se que as interconexões são reguladas por uma

norma religiosa, desta forma, esta norma vale para todas as relações sociais e,

portanto, a lei é a norma ética.

Segundo Schrenk108, “existe um abismo profundo entre o di,kaioj do NT e a

virtude ideal grega que isola o homem à realização independente. Os únicos ecos do

ideal grego ocorrem nos Evangelhos em que Jesus é considerado como di,kaioj da

Roma. Desta forma, nota-se que a ênfase reside no elemento convencional da vida

ética. Porém, trata-se de expressão de modos habituais ou tradicionais que não

estão intimamente ligados com a concepção grega como tal. Aliás, onde o termo

obviamente segue rigorosamente o entendimento no AT com uma nova aplicação

para a esfera da salvação, tal como definido no NT”.

Segundo Quell109, di,kaioj também pode ser usado para o discípulo ou o

cristão que realmente cumpre a lei ou a vontade divina e isto era uma convicção

comum na idade apostólica. Assim, o di,kaioj em Mt 10,41 o deco,menoj di,kaion

eivj o;noma dikai,ou misqo.n dikai,ou lh,myetai “... quem recebe um justo na

qualidade de justo, receberá galardão de justo....”, recebe a recompensa de justo,

pois ele é um homem justo e por isso, compartilhará sua recompensa. Em Mt 13,49,

também, a di,kaioj é separado de ponhroi, por serem cristãos. A mesmo é verdade

para a Dn 12,3 como citado em Mt 13,43 to,te oi di,kaioi evkla,myousin “... então

os justos resplandecerão...”.

108 G. SCHRENK, GLNT, Vol. II, p. 1223. 109 QUELL, DTNT, Vol. I, p. 190.

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Segundo Seebass110 di,kaioj em Mateus se aplica a Cristo em Mt 27,19

Mhde.n soi. kai. tw/| dikai,w| evkei,nw|\ “... não entres na questão desse justo...”; a

homens justos em Mt 1,19 VIwsh.f de. o avnh.r auvth/j( di,kaioj “... José, seu

marido, como era justo...”; em 5,45 bre,cei evpi. dikai,ouj “... desça sobre justos...”;

em 9,13 kale,sai dikai,ouj avlla. amartwlou,j “... eu não vim a chamar os

justos...”; em 10,41 o deco,menoj di,kaion eivj o;noma dikai,ou misqo.n dikai,ou

lh,myetai “... quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de

justo...”; em 13,17 di,kaioi evpequ,mhsan ivdei/n a] ble,pete “... justos desejaram ver

o que vós vedes...”; 13,43 to,te oi di,kaioi evkla,myousin “... então os justos

resplandecerão...”; em 23,28 umei/j e;xwqen me.n fai,nesqe toi/j avnqrw,poij

di,kaioi “... exteriormente pareceis justos aos homens...”; em 23,29 kosmei/te ta.

mnhmei/a tw/n dikai,wn “... adornais os monumentos dos justos...”; em 23,35 o[pwj

e;lqh| evfV uma/j pa/n ai-ma di,kaion “... para que sobre vós caia todo o sangue

justo...”; em 25,37 to,te avpokriqh,sontai auvtw/| oi di,kaioi “... então os justos lhe

responderão...”; em 25,46 oi de. di,kaioi eivj zwh.n aivw,nion “... mas os justos

para a vida eterna...” e a coisas em Mt 20,4 o] eva.n h=| di,kaion “... dar-vos-ei o que

for justo...”; em 23,35 ai-ma di,kaion “... sangue justo...”.

Segundo Quell111, dikaiosu,nh ocorre em Mt 3,15 plhrw/sai pa/san

dikaiosu,nhn “... cumprir toda a justiça...”; em 5,6 diyw/ntej th.n dikaiosu,nhn “...

sede de justiça...”; em 5,10 maka,rioi oi dediwgme,noi e[neken dikaiosu,nhj “...

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça...”; em 5,20;

perisseu,sh| umw/n h dikaiosu,nh plei/on tw/n grammate,wn “... se a vossa

justiça não exceder a dos escribas e fariseus...” em 6,1 h.n dikaiosu,nhn umw/n mh.

poiei/n e;mprosqen tw/n avnqrw,pwn “... guardai-vos de fazer a vossa esmola diante

dos homens...”; em 6,33 th.n dikaiosu,nhn auvtou/ “... a sua justiça...”; em 21,32

h=lqen ga.r VIwa,nnhj pro.j uma/j evn odw/| dikaiosu,nhj “.... porque João veio a

vós no caminho da justiça...” e dikaio,w em Mt 11,19 evdikaiw,qh h sofi,a avpo. tw/n

110 H. SEEBASS, DITNT, Vol. I, p. 1125.111 QUELL, TDNT, Vol. I, p. 198.

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e;rgwn auvth/jÅ “... a sabedoria é justificada por seus filhos...”; em 12,37 evk ga.r tw/n

lo,gwn sou dikaiwqh,sh| “... porque por tuas palavras serás justificado...”.

“O amor e a bondade estão inteiramente ligado à justiça e consequentemente

a obediência112. A utilização de di,kaioj no último julgamento, em Mt 25,37 to,te

avpokriqh,sontai auvtw/| oi di,kaioi “... então os justos lhe responderão...”; refere-

se àqueles que atingiram a verdadeiro dikaiosu,nh, praticando o amor em atos

inconscientes de bondade para com o Filho de Homem. A coloração do AT,

expressos em Mt 1,1s não deve cegar para o fato que o tempo messiânico da

salvação traz consigo a promessa que a avpeiqei/j receberá a disposição obediente

do di,kaioi.” Cf. QUELL.113

7. Relação entre a parábola da rede (Mt 13,47-50) e o juízo final (Mt 25,31-36)

A Escritura Sagrada observa e explicita a realidade histórico-teológica do

povo eleito por meio de analogias. As parábolas contadas por Jesus que

apresentam e sublinham alguns ensinamentos presentes na Escritura (reino de

Deus, juízo final, amor misericordioso de Deus, entre outros) em grande parte dos

casos são encontradas em pequenas perícopes com amplo significado teológico.

Segundo Gnilka, esta “explicação” lembra a parábola do joio e trigo (vv. 37-

43)114, com o qual o evangelista conclui o discurso em parábolas, evidenciado pela

concordância e a equivalencia de conteúdo nas explicações (vv. 49-50:

“... assim seja, no fim dos tempos em todo o mundo. Os anjos

virão e separarão os maus dentre os justos e jogá-los na

fornalha ardente... ”;

nos vv. 40-43:

112 De acordo com a perícope 13,41s, eles se diferenciam dos poiou/ntaj th.n avnomi,an. O di,kaioino último julgamento no Mt 25,37.46 são aqueles que atingiram a verdadeiro dikaiosu,nh, praticando o amor em atos inconscientes de bondade para com o Filho de Homem. Cf. QUELL, TDNT, Vol. I, p. 190. 113 QUELL, TDNT, Vol. I, p. 198.114 Cf. A Bíblia de Jerusalém.

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“... da mesma maneira que se junta joio e se queima no fogo,

assim ser no fim do mundo... ).

Segundo Gnilka, no intuito ainda de elaborar um modelo apocalíptico, Mateus

compreende a explicação (vv. 49b-50b) como semelhante a da parábola do joio e

trigo (vv. 24-30); e ainda no vv. 49b-50b, o evangelista não perdeu de vista a

relevância do veredito. Com a rede de arrasto, análogo a vv. 37-38, ele pode ter

pensado na missão confiada aos discípulos (cf. Mt 28,19) . Servir-se, no entanto, da

imagem da separação dos peixes para dar, com o auxílio de uma explicação do tipo

alegórico e apocalíptico, uma descrição do juízo final que, por sua vez, não pode ser

limitada ao julgamento na igreja, mas deve ser entendida como um juízo universal.

“Os justos não são esquecidos” na perspectiva de advertência final, consistindo na

separação dos maus dentre os justos.

“A parábola da rede, por sua combinação e explicação nos vv. 49-50, ou seja,

pelo seu conteúdo, relaciona-se com a narrativa do juízo final (Mt 25,31-46),

constatada por uma análoga conclusão.

Esta perícope é particularmente importante, pois conclui no Evangelho

segundo Mateus não só o discurso escatológico, mas também, toda atividade

pública de Jesus. Deve-se notar que foi composto com grande cuidado literário. Em

termos de estrutura está dividido em três partes:

O Filho do homem julga os povos (vv. 31-33).

O diálogo com aqueles que irão para a direita (vv. 34-40).

O diálogo com aqueles irão para a esquerda (vv. 41-45).

Estas três partes lembram v. 49c.d “... virão os anjos e separarão os maus

dos justos...”.

O v. 46 conclui descrevendo a separação do julgamento final. A partícula “e

depois” (to,te) serve como estrutura do sinal. Dentro da perícope indica a mudança

dos interlocutores (ainda em v. 37 e v. 44). As partes da narrativa mais acentuadas

de diálogo são caracterizadas por repetições e paralelismo. A narrativa mateana tem

uma dupla menção à glória do Filho do Homem (v. 31), na qual compara-se a

divisão promovida pelo Filho do Homem como a de um pastor que divide o rebanho

(v. 32). A posição para a direita e esquerda conecta-se a narrativa ao diálogo (v.

33s; v. 41).115

115 Joachim GNILKA, Il Vangelo di Matteo, Vol. II, p. 535.

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O diálogo, que é dominante, repete as mesmas palavras e uma insistência

que quase torna-se monótona, com seis obras de misericórdia (Mt 25,35-36 “...

estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-

me....”). Se endossar a conclusão (Mt 25,44 “... Senhor, quando te vimos com fome,

ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te

servimos?...”) e ele culpa a missão. A demanda da questão, no raciocínio do

julgamento, repete-se na decisão do juiz (Mt 25,40 “... em verdade vos digo que

quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes...”).

A partir deste resultado, a observação natural é que o texto sublinha a prática

destas obras de misericórdia. Na apresentação da quádrupla série de obras de

misericórdia (Mt 25,36.37.38.39) deve ser observado, no entanto, que repete-se a

obra em termos de menor a mais focada. No v. 35s tem-se o texto completo da

sentença.

Ao longo da narrativa mateana, existem alguns diálogos de julgamento

(7,22ss “... muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em

teu nome? e em teu nome não expulsamos demónios? e em teu nome não fizemos

muitas maravilhas?...”; 25,11ss “... e depois chegaram também as outras virgens,

dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos....”)., contudo, Mt 25,34ss “... dirá o Rei aos que

estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o reino

preparado para vós desde a fundação do mundo...” constitui o maior exemplo de

diálogo de julgamento presente nos Evangelhos. Explicitado no discurso do tempo

final, o diálogo assume uma nova dimensão apocalíptica. Nesse sentido, está ligado

estreitamente a Mt 24,29-31 “... logo após a tribulação daqueles dias, o sol

escurecerá, e a lua não dará a sua claridade, e as estrelas cairão do céu, e os

poderes dos céus serão abalados...”.

Esta nova dimensão é aberta com a descrição do Filho do Homem como o

juiz dos povos (vv. 31-33) “... o reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda

que o homem, pegando nele, semeou no seu campo...”. Apesar de seu ato ser

semelhante ao de um pastor, não trata-se de uma parábola, mas assumir na sua

base como uma parábola. Contra essa hipótese é que, independentemente da

insuficiência do conteúdo, a forma futuro do verbo “servir” que é encontrada ao longo

do texto.

Mesmo no tempo presente, há uma continuação em Mt 24,29-31 “... logo após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua claridade,

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e as estrelas cairão do céu, e os poderes dos céus serão abalados...”. As parábolas

mostram sempre “acontecimentos údo

denso, de modo a dar ao texto o caráter de um discurso apocalíptico da revelação.

Segundo Gnilka, por derivação do texto, sua transformação notável foi obtida

graças a uma reformulação da introdução (vv. 31-33) e, especialmente, com a

adição do genitivo “do meu Pai” no v. 34.

A especificação é que, em vez da ideia de Deus como pai, anunciado por

Jesus, o filho torna-se irmão dos homens, logion116 de Mt 12,50 “... porque aquele

que fizer a vontade do meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e

mãe...”. Outro logion117 em Mt 16,25 “... porque aquele que quiser salvar a sua vida,

vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai encontra-la...”.

Aqui, o relacionamento com Cristo como um irmão é estabelecida para

cumprir pela vontade do Pai. Nota-se ainda que em Mt 28,10 “... então Jesus disse-

lhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galiléia, e lá me verão....”

Cristo fala de homens, mais precisamente dos apóstolos, como seus irmãos. Ele é o

ressuscitado e exaltado criando uma concordância com o diálogo de julgamento.

A análise real da história de tradição pode construir um pressuposto,

amplamente aceito, de que a introdução consiste em vv. 31-32 “... é semelhante ao

grão de mostarda...” trata de um trabalho de preparação mateana. Esta é uma

posição que pode ser compartilhada.

Apenas Mateus fala basilei,a do Filho do Homem (Mt 16,28 to.n uio.n tou/

avnqrw,pou evrco,menon evn th/| basilei,a| auvtou/ “... vejam o Filho do homem vindo

em seu reino....”). Embora o reino não seja identificado com a Igreja universal, isso

indica a afirmação universal da salvação e da soberania do Filho do Homem. Tendo-

se em mente a designação do Filho do Homem como rei, observa-se que esta é

bem adequada à concepção cristológica do evangelho mateano. O Filho do Homem

sentado no trono de sua glória para julgar cumpre a sua basilei,a e agora se

manifesta explicitamente como o basileus.” Cf. Gnilka118.

“Observa-se, então, que o julgamento é a separação. No Antigo Oriente, a

separação realizada pelo pastor ocorria à noite. A razão para isto seria que os

116 Logion: dizendo, especialmente; a frase atribuída a Jesus. Cf <http://www.merriam-webster.com/dictionary/ logion> acesso em 23.01.2014 16:17.117 Este logion de forma paradoxal e os que o seguem giram em torno de duas etapas da vida humana: a presente e a futura. Cf . Bíblia de Jerusalém. 118 Joachim GNILKA, Il Vangelo di Matteo, Vol. II, p. 535-539.

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cabritos à noite estariam mais quentes. Segundo Jeremias, esta acontecia entre

ovelhas e cabritos. Além disso, separaram-se as ovelhas brancas das cabras

negras, fato este que adquire um significado simbólico.

Os rebanhos passavam a noite em campo aberto ou eram empurrados em

cavernas. Assim, parece mais óbvio pensar que era outra: separação dos

moribundos, machos separados das fêmeas, porque estas deviam ser ordenhadas.

Portanto, preferem a antiga tradução que falava de ovelhas e cabras. Mesmo o

termo grego “e;rifoj, evri,fion” sugere esta interpretação. O lado direito é

auspicioso e deixou um mau presságio. Esta é uma percepção generalizada em

quase toda a cultura da antiguidade.” Cf. Gnilka119.

119 Ibid., p. 544.

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CONCLUSÃO

Nesta pesquisa sobre a perícope de Mt 13,47-50 - comumente chamada de

“a parábola da rede” - , buscou-se compreender o seu sentido exegético-teológico.

Porém, antes de tudo, no capítulo I, aprofundou-se o utilização da parábola

enquanto gênero literário. Partiu-se, contudo, do seu significado etimológico,

compreendido como uma composição de outras duas palavras gregas para, + bolh,

formando o substantivo parábola com os sentidos de: - comparação, analogia.

Recorrendo-se aos autores que discorrem sobre os filósofos da Grécia Antiga

e da sabedoria dos anciões do Médio Oriente Antigo (Egito, Babilônia e Israel) foi

possível confirmar que quando se trata de parábola está se falando de um gênero

literário. Assim, constatou-se que, na divisão clássica, a parábola faz parte do grupo

de modalidade textual de gênero narrativo, que é composto também por: romances,

fábulas, épicos, novelas e contos.

Nesta perspectiva, pode-se afirmar que a parábola é uma “evolução” no

conjunto do gênero narrativo e surge, como um forma literária próxima da alegoria,

dito, provérbio e máxima. E nos escritos do AT, é definido e conhecido como

mashal, a forma literária que aparece com o sentido de “ser semelhante a... ”.

Quanto ao alcance das parábolas, no NT, principalmente, nos Sinóticos,

observa-se que sua utilização tornou-se um recurso bastante comum (como uma

alegoria curta) para apresentar um ensinamento, a partir de fatos concretos da vida

cotidiana que levava (e leva ainda hoje) os ouvintes a refletir sobre si mesmos e sua

realidade.

Segundo os Sinóticos, a retórica foi utilizada com frequência na pregação de

Jesus como uma forma de comunicação, uma linguagem que compara uma

realidade com algo novo. O que na literatura grega ficou conhecido como

semelhança entre os elementos de comparação.

No capítulo II, a partir da definição de parábola como um discurso figurativo, o

qual faz parte de uma metáfora, aprofunda-se a presença das parábola no NT.

As parábolas de Jesus, narradas nos sinóticos, utilizam-se dos conteúdos da

sabedoria de Israel e dos grandes centros culturais localizados no Egito, Babilônio-

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Assíria. A instrução por meio de parábolas pode assumir diversas formas como:

ditado curto, ditado proverbial ou parábola propriamente dita.

Em resumo, sabendo-se que a parábola é uma narrativa curta com funções

no interior de um discurso com uma forma para dar “orientação para a conduta da

vida” nos ajuda a delinear mais precisamente os elementos culturais que constam

nelas. As parábolas discorrem qual é a “situação” e “mostra” o que deve fazer para

gerar o resultado a partir de ação concreta.

As parábolas nos Sinóticos, mesmo com as diversas variantes redacionais,

apresentam as características e as formas de ensinamento de Jesus, segundo o

estilo do Médio Oriente Antigo. Assim, por meio desta forma particular de

comunicação e linguagem são relatadas com fidelidade a característica de

linguagem e o projeto de Jesus, que tem como seu conteúdo central o sentido da

criação, a vocação do ser humano, enfim, o Reino de Deus.

No capítulo III, está delineada a análise exegético-teológica de Mt 13,47-50, a

sétima parábola mateana. Apresenta-se a delimitação (inicial e final) da perícope

dentro do capítulo 13 de Mateus. Em seguida, definiu-se a segmentação e

identificou-se a estrutura literária da perícope (introdução + subunidades A e B).

As duas subunidades (vv. 47c-48e + vv. 49a-50b) comparam duas ideias

paralelas, por meio das quais se descreve o duplo discernimento (julgamento):

A) Um juízo circunstancial (vv. 47c-48e): os pescadores lançam a rede ao mar e

recolhem toda espécie (de peixe) de forma indiscriminada; em seguida,

escolhem os bons e lançam fora os ruins;

B) Um juízo final (vv. 49a-50b): os anjos separam os justos do meio dos maus;

lançando na fornalha de fogo os maus.

A ideia de julgamento não está presente somente nesta relação de

comparação entre os dois juízos apresentados na perícope da “parábola da rede”;

mas dentro do Evangelho segundo Mateus existe, segundo Jeremias, uma relação

entre a parábola da rede e a parábola do joio e do trigo (Mt 13,37-42), visto que

ambas contém uma visão de separação e discernimento na consumação dos

tempos.

Ainda, segundo Gnilka, há uma relação de combinação e explicação entre a

narrativa do juízo final (Mt 25,31-46) e subunidade B (vv. 49b-50b) da parábola da

rede (13,47-50), nas quais existe uma conclusão análoga que remete, dentro de

uma perspectiva escatológica, para o juízo universal exercido pelo Filho do Homem,

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por meio do qual resume-se toda atividade messiânica de Jesus e para a qual são

exortados todos seus discípulos.

Observe-se que o evangelista Mateus sublinha o critério de julgamento para a

separação dos justos e não justos. Este baseia-se na prática das seis obras de

misercórdia (cf. Mt 25,35-36).

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