PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

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PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ (SC): relação com variáveis biopsicossociais Suziane Patricia Pereira Orientador: Kátia Simone Ploner Defesa: junho de 2005. Resumo: A depressão é um dos transtornos mentais mais comuns da população idosa, sendo que fatores psicossociais estão, provavelmente, mais relacionados à depressão nesta faixa etária em comparação às outras. Esta pesquisa foi realizada com o objetivo geral de investigar a existência de relação entre algumas variáveis biopsicossocias e o fato do idoso, residente do município de Itajaí (SC), ser ou não considerado “possível caso” de depressão. Os objetivos específicos foram: a) a caracterização da estrutura familiar desses idosos; b) a caracterização de seu nível socioeconômico; c) identificar sua condição de saúde; e d) identificar a percepção da própria saúde física e mental. Para tal, utilizou-se o banco de dados que resultou da pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí (SC)”, que foi feita com o objetivo de conhecer o perfil multidimensional da população idosa, não institucionalizada, deste município, na qual 994 idosos responderam a um questionário. Esta é uma pesquisa transversal de base populacional, sua análise é quantitativa e foi realizada através do programa estatístico Epi-info. Os dados foram submetidos à análise de significação estatística através do qui-quadrado, e, posteriormente, à análise de regressão logística binária. A prevalência de “possíveis casos” de depressão nesta população foi de 22,8%, segundo a “Escala de Depressão Geriátrica”. As variáveis biopsicossociais que demonstraram relação com depressão foram: sexo, ser morador urbano ou rural, alfabetização, escolaridade, renda pessoal, renda domiciliar, existência e número de problemas de saúde, necessidade de internação nos últimos 6 meses, uso e número de medicamentos, nível de capacidade funcional, percepção da saúde física e mental atual e comparada com os últimos 5 anos e atividade física. Destas variáveis, se mantiveram com impacto significante, após a análise de regressão logística binária, as variáveis: sexo, alfabetização, percepção de saúde mental atual e comparada com os últimos 5 anos, atividade física, capacidade funcional e renda mensal domiciliar. Apesar da relação existente, entre estas variáveis e a tendência à depressão, não se pode afirmar se é de causa ou conseqüência, por isso estas variáveis não podem ser consideradas etiológicas. Recomendamos que estudos longitudinais sejam realizados, a fim de identificar qual é relação entre estas variáveis. Além disso, que outros estudos sejam realizados com a população idosa, para subsidiarem planejamentos e intervenções mais eficazes em busca da melhoria da qualidade de vida destes. Palavras-chave: Idoso; Depressão; Epidemiologia.

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PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ (SC): relação com variáveis biopsicossociais

Suziane Patricia Pereira

Orientador: Kátia Simone Ploner Defesa: junho de 2005.

Resumo: A depressão é um dos transtornos mentais mais comuns da população idosa, sendo que fatores psicossociais estão, provavelmente, mais relacionados à depressão nesta faixa etária em comparação às outras. Esta pesquisa foi realizada com o objetivo geral de investigar a existência de relação entre algumas variáveis biopsicossocias e o fato do idoso, residente do município de Itajaí (SC), ser ou não considerado “possível caso” de depressão. Os objetivos específicos foram: a) a caracterização da estrutura familiar desses idosos; b) a caracterização de seu nível socioeconômico; c) identificar sua condição de saúde; e d) identificar a percepção da própria saúde física e mental. Para tal, utilizou-se o banco de dados que resultou da pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí (SC)”, que foi feita com o objetivo de conhecer o perfil multidimensional da população idosa, não institucionalizada, deste município, na qual 994 idosos responderam a um questionário. Esta é uma pesquisa transversal de base populacional, sua análise é quantitativa e foi realizada através do programa estatístico Epi-info. Os dados foram submetidos à análise de significação estatística através do qui-quadrado, e, posteriormente, à análise de regressão logística binária. A prevalência de “possíveis casos” de depressão nesta população foi de 22,8%, segundo a “Escala de Depressão Geriátrica”. As variáveis biopsicossociais que demonstraram relação com depressão foram: sexo, ser morador urbano ou rural, alfabetização, escolaridade, renda pessoal, renda domiciliar, existência e número de problemas de saúde, necessidade de internação nos últimos 6 meses, uso e número de medicamentos, nível de capacidade funcional, percepção da saúde física e mental atual e comparada com os últimos 5 anos e atividade física. Destas variáveis, se mantiveram com impacto significante, após a análise de regressão logística binária, as variáveis: sexo, alfabetização, percepção de saúde mental atual e comparada com os últimos 5 anos, atividade física, capacidade funcional e renda mensal domiciliar. Apesar da relação existente, entre estas variáveis e a tendência à depressão, não se pode afirmar se é de causa ou conseqüência, por isso estas variáveis não podem ser consideradas etiológicas. Recomendamos que estudos longitudinais sejam realizados, a fim de identificar qual é relação entre estas variáveis. Além disso, que outros estudos sejam realizados com a população idosa, para subsidiarem planejamentos e intervenções mais eficazes em busca da melhoria da qualidade de vida destes.

Palavras-chave: Idoso; Depressão; Epidemiologia.

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Parecer do Orientador

Indico o trabalho “PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO

IDOSA DE ITAJAÍ (SC): RELAÇÃO COM VARIÁVEIS BIOPSICOSSOCIAIS”,

da psicóloga SUZIANE PATRICIA PEREIRA, devido a sua relevância na área da

Psicologia do envelhecimento. Neste estudo é demonstrada a relação entre

depressão na pessoa idosa com variáveis como sexo, alfabetização, renda mensal

domiciliar, percepção de saúde mental, atividade física e capacidade funcional.

Trata-se de um estudo quantitativo, realizado com 994 pessoas, residentes

em Itajaí, no qual 227 pessoas (22,8%) foram consideradas possíveis casos para

depressão.

Atenciosamente,

Prof. Katia Simone Ploner

Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (PUC-RS).

Orientadora da Suziane Patricia Pereira neste TCC.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

SUZIANE PATRICIA PEREIRA

PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ (SC): relação com variáveis biopsicossociais

Itajaí (SC), 2005.

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SUZIANE PATRICIA PEREIRA

PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ (SC): relação com variáveis biopsicossociais

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí,

Centro de Educação de Ciências da Saúde.

Área de concentração: Idoso e Depressão.

Profª Msc. Kátia Simone Ploner UNIVALI - CCS – Docente de Psicologia

Orientadora

Profª Msc. Josiane Prado UNIVALI - CCS – Docente de Psicologia

Prof° Msc. Biaze Manger Knoll UNIVALI - CCS – Docente de Medicina

Itajaí (SC), 21 de junho de 2005.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................

052 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 092.1 O idoso, o envelhecimento e a velhice...................................................... 092.2 O envelhecimento da população ............................................................... 122.3 Aspectos psicológicos do envelhecimento .............................................. 142.4 Depressão na terceira idade: contextualização ....................................... 162.5 Quadro clínico ............................................................................................. 182.6 Diagnóstico da depressão .......................................................................... 192.7 Etiologia ....................................................................................................... 232.8 Avaliação clínica e intervenções ............................................................... 262.9 Estudos epidemiológicos ...........................................................................

303 ASPECTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 333.1 Amostra ........................................................................................................ 333.2 Instrumento .................................................................................................. 333.3 Coleta dos dados ........................................................................................ 363.4 Análise dos dados .......................................................................................

374 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................... 424.1 Prevalência de depressão na população idosa de Itajaí (SC) ................. 424.2 Variáveis demográficas............................................................................... 444.2.1 Sexo............................................................................................................ 444.2.2 Idade .......................................................................................................... 444.2.3 Morador urbano/rural ............................................................................... 474.2.4 Variáveis relacionadas à estrutura familiar ........................................... 504.3 Variáveis socioeconômicas ....................................................................... 524.3.1 Escolaridade ............................................................................................. 524.3.2 Renda......................................................................................................... 534.4 Variáveis de saúde ...................................................................................... 554.4.1 Problemas de saúde................................................................................. 564.4.2 Uso de serviços de saúde........................................................................ 584.4.3 Uso de medicamentos.............................................................................. 604.4.4 Percepção de saúde física e mental........................................................ 624.4.5 Escore para transtorno cognitivo ........................................................... 654.4.6 Capacidade funcional............................................................................... 674.4.7 Atividade física ............................................................................................ 694.5 Análise de regressão logística binária.......................................................

715 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................

736 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................

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1 INTRODUÇÃO

Segundo Netto e Pontel (1996, p. 3) “O século XX foi marcado pela explosão

de medidas protetoras que visam postergar a morte” e estas medidas trouxeram

tanto a queda na taxa de mortalidade infantil como o aumento da expectativa de

vida, gerando o aumento no número de idosos na população.

No Brasil a população idosa vem crescendo consideravelmente. Em 1996 a

população acima 60 anos correspondia por volta de 7,9% da população, cerca de

12.398.678 pessoas, em 2000 essa taxa é de 8,5% da população, ou seja, cerca de

14.538.988 idosos (IBGE, 2004).

O interesse do Estado brasileiro e as políticas sociais nas questões da velhice

caminham a passos lentos, é recente o despertar de certas áreas das ciências

sociais para o estudo da temática (PEIXOTO, 2000). O pouco conhecimento sobre a

realidade da população idosa, sobre sua condição de saúde e vida, o precário

sistema de saúde e a atual situação da previdência social brasileira, caracterizam

um atendimento precário ao idoso. Por isto estudos nessa área são importantes,

pois darão subsídios para que se faça um planejamento adequado de atenção ao

idoso, o que hoje é um desafio.

As adversidades no atendimento a população idosa começam já na definição

de quem é idoso, o que é velhice e envelhecimento. O envelhecimento é um

processo contínuo na vida, depende das características pessoais e da sociedade em

que vive, ou seja, pessoas apresentam sinais de envelhecimento em diferentes

idades cronológicas, segundo Paschoal (1996). E sobre a velhice, pode se dizer que

não há um conceito único e que contemple todos os contextos (PASCHOAL, 1996;

VERAS, 1994).

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Porém, um ponto de corte é importante, para delimitar a amostra de pesquisas

e poder comparar resultados. A Organização das Nações Unidas estabelece um

ponto de corte aos 60 anos para países em desenvolvimento, a partir dessa idade as

pessoas são consideradas idosas (PASCHOAL, 1996).

Algumas pesquisas se destacam na caracterização da população idosa

residente de certas localidades do Brasil, como a de Veras (1994) no Rio de Janeiro,

a de Coelho F° e Ramos (1999), em Fortaleza, a de Benedetti et al (2004) em

Florianópolis, a de Knoll, Sandri e Ploner (2003) em Itajaí, a do Conselho Estadual

do Idoso (1997) no Rio Grande do Sul e a de Araújo e Alves (2000) que traça o perfil

da população idosa do Brasil. Em linhas gerais elas mostram que a população idosa

é formada por mais mulheres, que tem baixa escolaridade, renda média baixa,

problemas de saúde e gastos elevados com os mesmos.

Segundo Anderson (1998b), considerando o aumento da população idosa no

mundo, em especial a dos países em desenvolvimento, a Organização Mundial da

Saúde e outros estudiosos do tema, como Kalache, Malcom e Kinsella, recomendam

o desenvolvimento de estudos e pesquisas que subsidiem a tomada de decisão e

dirijam as ações e prioridades no nível das políticas públicas relativas à população

idosa.

Dentre estas recomendações, pode-se ressaltar a necessidade de se realizar análises multidimensionais visando o estabelecimento de um diagnóstico e de indicadores básicos acerca da população idosa, tais como: a) idade, sexo, nível educacional e condições socioeconômicas; b) a descrição dos problemas e necessidades que afetam a população-alvo, com especial ênfase naqueles que influenciam o estado de saúde e o bem-estar geral; c) a busca de dados de morbidade/incapacidade (id., 1998, s/p.).

A presente pesquisa apresentada preenche os quesitos acima citados,

mostrando sua relevância acadêmica e social, como colocada pela própria OMS,

pois este trabalho discute um importante aspecto da saúde dos idosos: a depressão.

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Diversas pesquisas são encontradas sobre a saúde do idoso, principalmente

sobre síndromes depressivas e demenciais, que são os distúrbios de maior

incidência (CARVALHO e FERNANDEZ, 1996; LAKS et al, 1998; VERAS,

COUTINHO e COELI, 1997).

A depressão deve ser entendida como um fenômeno multidimensional. Sua

etiologia é complexa, diversos são os fatores que podem causá-la e desencadeá-la,

assim como as relações entre eles (BLAZER, 1998). Para Carvalho e Fernandez

(1996) a depressão no idoso tem influência maior de fatores psicossociais do que no

jovem.

Uma diversidade de autores, como Veras (1994), Blazer (1998), Carvalho e

Fernandez (1996), Cohen e Eisdorfer (1997), Gaviria e Flaherty (1995) e Gazalle et

al (2004), colocam que a depressão do idoso merece atenção especial, seu

diagnóstico, tratamento e prevenção são importantes, uma vez que ela traz danos

relevantes na qualidade de vida e saúde do idoso, pelo seu alto índice de

cronicidade, morbidade, recidivas e suicídios. Portanto, é de suma importância que

psicólogos e demais profissionais da saúde tenham conhecimento sobre as

características da população que sofre de depressão, e estejam preparados para

prevenir, diagnosticar e tratar efetivamente o distúrbio.

O objetivo geral da presente pesquisa foi investigar a existência de relação

entre algumas variáveis biopsicossocias e o fato do idoso, residente do município de

Itajaí (SC), ser ou não considerado “possível caso” de depressão. Os objetivos

específicos foram: a) a caracterização da estrutura familiar desses idosos; b) a

caracterização de seu nível socioeconômico; c) identificar sua condição de saúde; e

d) identificar a percepção da própria saúde física e mental. Para tal, utilizou-se o

banco de dados que resultou da pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e

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Envelhecimento no Município de Itajaí” (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003), que foi

feita com o objetivo de conhecer o perfil multidimensional da população com 60 anos

ou mais, não institucionalizada, da cidade de Itajaí (SC), na qual 994 idosos

responderam a um questionário.

Destes idosos, 22,8% (227) foram considerados “possíveis casos” de

depressão, segundo a escala de avaliação psiquiátrica utilizada naquela pesquisa, e

os demais idosos foram considerados não-casos. As variáveis biopsicossociais

utilizadas para a análise foram divididas em 3 grandes grupos: variáveis

demográficas (sexo, idade, morador urbano/rural e variáveis relacionadas à estrutura

familiar), variáveis socioeconômicas (escolaridade e renda) e variáveis de saúde

(problemas de saúde, uso serviços de saúde, uso de medicamentos, escore para

transtorno cognitivo, capacidade funcional, percepção de saúde física e mental e

atividade física).

Com os resultados desta pesquisa, pode-se observar que vários fatores estão

relacionados à tendência à depressão na população idosa de Itajaí (SC). Pode-se

concluir que essas variáveis são essenciais para a qualidade de vida do idoso,

podendo tanto levar à depressão, surgir por causa dela ou mantê-la. Estudos como

este são importantes, pois caracterizam a população idosa, trazendo subsídios que

podem ser utilizados para organização do atendimento ao idoso, principalmente com

relação à promoção, prevenção e intervenção na saúde.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O idoso, o envelhecimento e a velhice

A velhice faz parte da evolução da civilização humana, é um fenômeno que

está presente nas diversas épocas e lugares, ela é um construto sócio-histórico e

psicológico (ARAÚJO e CARVALHO, 2005), sendo tratada das mais variadas formas

ao longo do tempo e de acordo com cada cultura.

Ainda hoje a velhice possui um componente preconceituoso e estereotipado,

sendo considerada uma fase da vida marcada por acontecimentos negativos (id.,

2005). “O mito da velhice como etapa negativa se baseia em pressupostos incertos.

A maioria dos idosos não tem limitações, nem suas vidas são negativas e

dependentes” (MORAGAS, 1997, p. 30).

Debert (2000) coloca que as sociedades ocidentais contemporâneas têm

como característica a visão da velhice como um “problema social”, sendo este um

obstáculo no estudo da temática, pois não é levado em consideração que a falta de

estrutura e preparo da sociedade é que geram os problemas e não o simples

aumento de número de idosos. Um problema social não é resultado puro do mau

funcionamento da sociedade é, sim, uma construção social (LENOIR1, 1989). Logo a

velhice também deve ser estudada como uma construção social que envolve vários

determinantes.

A velhice é uma etapa da vida, a fase final. Para a Organização Mundial da

Saúde (OMS) a velhice começaria aos 65 anos ou mais nos país desenvolvidos e

aos 60 anos ou mais os países em desenvolvimento, a partir dessas idades a

1 Citado em Debert (2000).

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pessoa passa a se chamada de idoso. A mesma definição é utilizada pela

Organização das Nações Unidas (PASCHOAL, 1996).

Santos2 (2000) diz que, mesmo impreciso, o critério cronológico é um dos

mais utilizados para estabelecer o inicio da velhice, mesmo pela necessidade de

delimitar a população para fins de estudos, planejamento e ofertas de serviços.

Moragas (1997) define que um enfoque objetivo da velhice levará em conta a idade

cronológica, mas também as condições psíquicas, econômicas e sociais da pessoa,

para que o conceito resultante represente a totalidade.

Já o envelhecimento seria o processo de desenvolvimento, são as mudanças

físicas, sociais e psicológicas do processo de envelhecer. Para Paschoal (1996) e

Veras (1994) não há um conceito único em relação ao envelhecimento, que

contemple todos os contextos. O envelhecimento humano é definido de diferentes

formas, de acordo com o aspecto focado, como o genético, biológico, psicológico,

cultural, entre outros.

O critério cronológico não é o único para definir o envelhecimento, pois as

condições físicas, funcionais, mentais e de saúde podem influenciar diretamente no

processo, o que indica que o envelhecimento é individual (SANTOS2, 2000).

Nenhuma disciplina científica crê que a idade cronológica cause o desenvolvimento

ou envelhecimento, mas o critério cronológico funciona como ponto de referência e

elemento organizador, já que vivemos num mundo temporalizado (NERI, 2001).

Para Santos2 (2000) os tipos de envelhecimento seriam: biológico – processo

que ocorre durante toda a vida, com diferenças de um indivíduo para outro e no

mesmo indivíduo (quando um órgão envelhece mais rápido que o outro); social – se

dá de formas diferenciadas de acordo com a cultura, está condicionado à

2 Citado em Mazo, Lopes e Benedetti (2001).

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capacidade de produção da pessoa, a aposentadoria seria sua referencia mais

marcante; intelectual – começa quando o indivíduo apresenta modificações

desfavoráveis na cognição (falhas de memória, dificuldades de atenção e

orientação, entre outros); e funcional – começa quando a pessoa passa a depender

de outros para cumprir suas necessidades básicas ou tarefas habituais.

Existem diversos conceitos que designam a pessoa com idade avançada.

Podemos dizer que no Brasil o termo idoso representa a população envelhecida em

geral (termo que aparece em textos oficiais) e os indivíduos das camadas mais

favorecidas, enquanto velho seria o que possui menor condição econômica e o que

apresenta maiores traços de envelhecimento (MAZO, LOPES e BENEDETTI, 2001).

O termo terceira idade representa a velhice como uma nova etapa da vida,

com a prática de novas atividades sociais e culturais. Mas vários autores não gostam

desse termo, alguns motivos seriam que “terceiro” parece ser inferior que “primeiro”

e porque há um tratamento comum prefixado para todo grupo que se designe de

“terceira idade” (id., 2001).

A velhice vista como uma etapa vital é considerada como um período

semelhante ao das outras etapas vitais, ela possui certas limitações que se agravam

com o passar do tempo, mas tem potencialidades únicas e distintas “serenidade,

experiência, maturidade, perspectiva de vida pessoal e social, que podem

compensar, caso se utilizem adequadamente as limitações desta etapa da vida”

(MORAGAS, 1997, p. 19). Este enfoque se insere nas teorias modernas e práticas

da psicologia do desenvolvimento humano.

Os termos “melhor idade”, “feliz idade”, “maior idade”, “idade feliz”, “boa

idade”, entre outros, enfatizam a idéia de que com o passar dos anos as pessoas

vão adquirindo características únicas, que pode haver a melhoria de qualquer setor,

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seriam os ganhos adquiridos com a velhice. Mas além destes termos negarem as

limitações da velhice, para Néri e Freire (2000) a substituição dos termos velho e

velhice por termos como “melhor idade” indica preconceito, pois caso contrário não

seria necessária essa troca.

Deve-se ter cuidado no trato com as pessoas de idade mais avançada e nas

terminologias que utilizamos para designá-las. Pois ser idoso também depende da

percepção da própria pessoa sobre si e as terminologias estão impregnadas de

preconceitos e ideologias, devendo ser usadas de forma ética pelos profissionais,

coerente com o posicionamento adotado perante a velhice (MAZO, LOPES e

BENEDETTI, 2001).

2.2 O envelhecimento da população

O envelhecimento populacional, que vem ocorrendo no mundo todo,

principalmente em países do Terceiro Mundo, tem sido muito discutido nas últimas

décadas (GARRIDO e MENEZES, 2002; VERAS, COUTINHO e COELI, 1997). Este

envelhecimento da população tem sido provocado principalmente pela redução da

mortalidade e redução da fecundidade.

A redução da mortalidade nos paises em desenvolvimento tem sido

provocada pela tecnologia avançada (antibióticos, vacinas, remédios, equipamentos,

entre outros), que reduz tanto as mortes prematuras como permite que a pessoa,

mesmo vivendo em condições precárias, tenha mais chances de chegar a velhice

hoje do que num passado recente (KALACHE3, 1996).

3 Citado em Veras et al (2002).

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A baixa natalidade, devido à queda da fecundidade, também vem ocorrendo

no mundo todo. Mas enquanto os países da Europa levaram quase um século para

a estabilização da natalidade, nos países em desenvolvimento ela caiu

drasticamente nas décadas de 60 e 70, não foi um processo gradativo. Ramos4

(1970) diz que, ao contrário do que ocorreu em países desenvolvidos, a transição

demográfica e a epidemiológica do Brasil não vieram acompanhadas de melhorias

nas condições sociais, econômicas e de assistência à saúde, sendo que não há um

adequado trato com certos setores da população, como os idosos.

O crescimento da população idosa do planeta fará que, possivelmente, o

Brasil passe de 16° país com maior contingente de idosos em 1950 para o 7° país

em números absolutos até o ano 2025, com cerca de 30 milhões de idosos

(GARRIDO e MENEZES, 2002; SNOWDON, 2002).

Hoje a população idosa no Brasil é de cerca de 14.538.988, 8,5% da

população. A maior concentração de idosos fica na região Sudeste, cerca de 10%, e

a menor na região Norte, 5% (IBGE, 2004).

Uhlemberg5 (1987) faz uma divisão, considerando idosos-jovens com idade

entre 65 a 74 anos, e idosos-idosos com 75 anos ou mais. No Brasil temos um maior

número de idoso-jovens. Segundo o IBGE (2004) a maior concentração dos idosos

está em domicilio urbano, há um número maior de mulheres idosas, sua

escolaridade é baixa e há baixo poder aquisitivo.

Este fenômeno demográfico traz repercussões econômicas e sociais

importantes como a questão da previdência social, da assistência à saúde e do

apoio social e familiar às incapacidades (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003). Uma

questão importante quanto saúde é o fato de que os idosos são grandes

4 Citado em Porcu et al (2002). 5 Citado em Mazo, Lopes e Benedetti (2001).

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consumidores dos serviços de saúde (PORCU et al, 2002), mas os sistemas não

estão estruturados para atender à demanda crescente deste segmento etário

(VERAS et al, 2002).

Para Coelho F° e Ramos (1999) o envelhecimento populacional no Brasil traz

desafios cada vez maiores aos serviços de saúde, principalmente nas regiões de

maior concentração de idosos, sendo altamente necessário o delineamento de

políticas específicas para essa população, para tal torna-se imprescindível o

conhecimento das condições de vida e necessidades dos idosos.

Buscando amenizar a situação, algumas iniciativas vêm ocorrendo e devem

surgir (MAZO, LOPES e BENEDETTI, 2001), como cursos de capacitação para

cuidadores de idosos, formação de profissionais para atuarem com essa população,

a introdução da disciplina de Gerontologia nos currículos de diferentes cursos, o

aumento do número de pesquisas nessa área, programas universitários para idosos,

grupos de convivência, campanhas de conscientização para busca de uma melhor

qualidade de vida, aumento no valor dos salários/aposentadorias/ pensões,

atividades preventivas e reabilitadoras nas unidades de saúde, propostas para que o

idoso permaneça junto ou perto da família (como hospital-dia e condomínios para

idosos), entre outras iniciativas.

2.3 Aspectos psicológicos do envelhecimento

Com o envelhecimento surgem alterações psicológicas, há mudança no dia-a-

dia e novos papéis e problemas serão enfrentados. Para Moragas (1997) um

envelhecimento saudável ou bem sucedido depende de fatores genéticos originais e

hereditários, fatores do meio ambiente material e psicossocial de cada pessoa. O

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perfil psicológico de uma pessoa idosa está intimamente relacionado com a história

de vida dela (AGUIAR e DUNNINGHAM, 2001).

Gatto (1996), falando sobre os aspectos psicológicos do envelhecimento, dá

ênfase as crises e perdas e sua superação. Para a autora, perdas e crises ocorrem

em qualquer fase da vida, sendo algumas superáveis e outras não, mas na terceira

idade as perdas aceleram-se e o tempo para superá-las é menor, sendo vivenciadas

e superadas por cada idoso de maneira diferente.

Silveira6 (2000) revisou vários estudos, eles apontam algumas tendências

associadas ao envelhecimento: vida contemplativa; aumento da espiritualidade e

religiosidade; maior interiorização dos valores morais; aumento da solidariedade;

redefinição da vida conjugal e sexual; maior seletividade nos relacionamentos; o

principal foco de atenção é a família; maior freqüência de retorno ao passado;

aumento da necessidade de ser cuidado e cuidar de alguém; maior tolerância à

rotina; início de perdas físicas; aumento do número de mortes de parentes e amigos.

Outras tendências apontadas por autores são: diminuição do entusiasmo e

motivação; apego maior aos seus pertences e conservação; necessidade de viver

em um ambiente mais estável; preocupação com a diminuição da vitalidade mental e

física; perda de contatos sociais; percepção da incapacidade de realizar novos

relacionamentos e atividades; sentimentos de isolamento e solidão (MAZO, LOPES

e BENEDETTI, 2001).

Os idosos dão preferência a atividades que requeiram menos esforço, se

interessando por atividades em grupo e em contato com outras pessoas. Com o

envelhecimento há tendência de modificação na auto-imagem, sendo menos

6 Citado em Mazo, Lopes e Benedetti (2001).

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positiva. O bem-estar psíquico do idoso também está ligado à possibilidade de

manutenção de sua autonomia e independência (id., 2001).

Aguiar e Dunningham (2001) colocam que uma série de alterações

psicológicas é evidenciada na velhice, e estas que se dariam por diversos fatores

que afetam a vida do idoso (tais como: aposentadoria, imagem negativa que a

sociedade tem do idoso, novo papel na sociedade, afastamento dos filhos e

familiares, empobrecimento econômico, menor suporte social, entre outros). As

alterações psicológicas seriam: distanciamento social, egocentrismo, fenômeno da

dependência (econômica, física, psíquica, afetiva e social).

Através da preparação e orientação sobre as modificações nesta fase da vida,

é possível que as alterações possam ser enfrentadas de forma mais saudável, assim

o processo de envelhecimento pode ser visto como um processo natural e com

possibilidades, apesar de alguns limites (MAZO, LOPES e BENEDETTI, 2001).

2.4 Depressão na terceira idade: contextualização

Durante muito tempo, a velhice foi vista como uma etapa da vida de

decadência, tristeza e solidão, por isso acreditava-se que os idosos tinham maior

tendência a sofrer de depressão do que as demais pessoas, mas qualquer ser

humano pode experimentar sintomas de depressão em qualquer fase da vida.

A partir da década de cinqüenta, as pesquisas sobre a depressão geriátrica

foram ampliadas. Mas, até hoje, os estudos de prevalência de depressão na terceira

idade em relação a outras faixas etárias são inconsistentes em seus resultados

(SNOWDON, 2002).

Page 18: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

17

Aguiar e Dunningham (2001) colocam que a freqüência de sintomatologia

depressiva tem sido estimada em torno de 15% na maioria dos estudos, já para

Snowdon (2002) este índice gira em torno de 10,3%% a 13,5%.

A depressão é um dos problemas emocionais mais freqüentes na terceira

idade (BLAZER, 1998; LEITE, 2002, ANDERSON 1998a; LAKS et al, 1998; SITTA E

JACOB F°, 2000; SCALCO, 1995). Este fato é confirmado com pesquisas como as

de Ceinos (2001) na Espanha; Xavier et al (2001) no sul do Brasil, de Moreno (1999)

no México, Veras e Coutinho (1991) no Rio de Janeiro e Gazalle et al (2004) no sul

do Brasil; todas têm como resultado altos índices de depressão na população idosa.

Independente de sua incidência entre os idosos, a depressão traz danos

significativos para a vida do idoso. Além disso, seu reconhecimento é difícil nesta

faixa etária, chegando a ponto de 40% dos casos desse transtorno não serem

diagnosticados (CARVALHO e FERNANDEZ, 1996).

A depressão nos idosos não difere, em essência, das depressões do adulto,

mas apresenta nuances particulares que merecem atenção (CORRÊA, 1996). As

desordens afetivas do idoso costumam ter uma heterogeneidade maior que nas

pessoas jovens, tanto na sintomatologia quanto na etiologia (AGUIAR e

DUNNINGHAM, 2001). E o transtorno no idoso também é geralmente confundido

com um estado normal do processo evolutivo, porém precisa ser diferenciado, pois é

um problema patológico e precisa ser resolvido (ARNT, 1999).

Por isso é importante que profissionais da saúde estejam preparados para

reconhecer o transtorno, intervir de forma apropriada e preveni-lo. “O potencial

adverso resultante da depressão, tal como suicídio, negligência com a saúde ou

higiene, e o estresse causado pela depressão nas funções físicas, salientam a

Page 19: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

18

necessidade de reconhecer o distúrbio e intervir apropriadamente” (BLAZER, 1998,

p. 74).

Cohen e Eisdorfer (1997) destacam que a importância no trato da depressão

na terceira idade se dá porque em primeiro lugar são tratáveis, se crônicos são

resultado de um tratamento inapropriado, segundo, as depressões severas são um

grande problema de saúde pública e terceiro, o suicídio está entre as 10 principais

causas de morte entre idosos.

Outro ponto importante é apontado por Steffens et al7 (s/d, p. 173), o fato de

que a depressão geriátrica geralmente está relacionada “à piora da qualidade de

vida e à maior morbidade e mortalidade; ela piora a percepção do doente quanto à

própria saúde, gerando aumento da utilização dos serviços de saúde e conseqüente

aumento dos custos para o sistema de saúde”.

2.5 Quadro clínico

O quadro clínico da depressão no idoso assemelha-se ao de pessoas mais

jovens (COHEN e EISDORFER, 1997; CARVALHO e FERNANDEZ, 1996;

ALEXOPOULOS, 1999).

Os sintomas da depressão variam em severidade, de brandos a

incapacitantes. De acordo com Cohen e Eisdorfer (1997), a depressão tem reflexos

em pelo menos quatro áreas importantes: afetividade, comportamento, somática e

psicológica, que serão esclarecidos a seguir.

7 Citado em Freirias e Menon (2002).

Page 20: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

19

O estado de afetividade envolve um humor disfórico, com expressões faciais

triste e de pesar, e falha em expressar emoções, o paciente idoso com freqüência

nega ou não é cônscio deste humor depressivo.

Algumas manifestações comportamentais são a fadiga ao menor esforço (que

pode levar à apatia, isolamento social e perda de interesse em atividades que antes

davam prazer), retardo psicomotor (que pode resultar isolamento social, negligencia

no trato pessoal, recusa para comer ou falar) ou agitação psicomotora (caracterizada

por agitação, preocupação obsessiva, comportamento compulsivo e inquietação),

confusão, comprometimentos da memória e distúrbios de atenção (id., 1997).

Os sinais somáticos podem ser os mais comuns de um distúrbio afetivo em

idosos, sendo o distúrbio do sono um dos primeiros sinais de depressão. Outros

sinais vegetativos (que causam gasto somático ou deterioração) são fadiga, perda

da libido e alterações de peso. Queixas gastrintestinais, principalmente a

constipação, são comuns. As preocupações somáticas podem levar a hipocondria

(COHEN e EISDORFER, 1997).

Os sintomas psicológicos incluem sentimentos de desespero, pessimismo,

inadequação, desamparo, desânimo e invalidez. A pessoa com depressão severa

pode exibir desilusões bizarras de invalidez, culpa ou autodepreciação (id., 1997).

Além destes, Carvalho e Fernandez (1996) trazem os seguintes sintomas:

pensamento de conteúdo desagradável e pessimista, indecisão, interesse sexual

reduzido, pensamentos niilistas, idéias recidivantes de morte e suicídio, auto-

agressividade, que pode induzir ao alcoolismo, bulimia, tabagismo, abandono de

medicação, em casos extremos, ao suicídio.

2.6 Diagnóstico da depressão

Page 21: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

20

A depressão em termos leigos é um estado caracterizado por sentimento de

tristeza e isolamento social, considerado normal em pessoas sadias que passaram

por perdas significativas, mas ela pode estar relacionada com um distúrbio

psiquiátrico maior, com tristeza ou humor disfórico e uma variedade e sintomas

físicos e comportamentais (COHEN e EISDORFER, 1997).

Há diversas formas de depressão na terceira idade, Blazer (1998) aponta

características de algumas delas:

A depressão severa (depressão clínica) - é uma condição séria e necessita de

intervenção profissional. Sua severidade pode variar significativamente a pessoa

que sofre de um episódio de depressão maior experimenta um episódio de estado

depressivo e/ou perda do interesse ou prazer em suas atividades normais. Quatro

destes sintomas são necessários para seu diagnóstico: perda de peso ou aumento

de peso, insônia ou hipersonia, agitação ou retardamento (decréscimo acentuado na

atividade muscular normal), fadiga ou perda da energia, sentimento de indignidade

ou culpa, dificuldade de concentração (real ou perceptível), e pensamentos

recorrentes de morte e suicídio. Um idoso pode sofrer episódio isolado ou contínuo

de depressão severa (BLAZER, 1998).

A depressão melancólica e depressão psicótica são variedades de depressão

severa, sendo a psicótica mais comum entre idosos quando comparada às pessoas

mais jovens (id., 1998; ALEXOPOULOS, 1999). Episódios de depressão severa

podem ser entremeados por episódios maníacos, caracterizando um transtorno

bipolar, o que é incomum na terceira idade.

Distúrbio distímico (depressão crônica ou neurose depressiva) - é mais

comum nos idosos do que a depressão severa, seus sintomas são menos graves.

Para seu diagnóstico os sintomas depressivos devem ser presentes durante a maior

Page 22: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

21

parte do tempo por pelo menos dois anos. O distúrbio distímico parece resultar mais

de fatores psicossociais que as depressões melancólicas e psicóticas (BLAZER,

1998).

Distúrbio de adaptação com humor depressivo - os sintomas de depressão

estão ligados a um fator estressante, ambiental ou físico. O estressante mais

comum, que leva a este distúrbio nos idosos, é uma doença física. Se removido o

estressor e os sintomas depressivos persistirem, além de poucos meses, deve-se

considerar um outro diagnóstico, como de depressão severa (BLAZER, 1998).

Distúrbio orgânico de humor - uma anormalidade física, como doença ou

intoxicação por drogas, causa diretamente os sintomas depressivos. Algumas

doenças, como câncer no pâncreas, e drogas, como o álcool, causam alterações no

sistema orgânico que levam a uma debilidade geral do organismo. A pessoa

geralmente relata sintomas de diagnóstico de depressão, mas quando tratada a

doença ou vício os sintomas desaparecem (id., 1998).

Segundo Sitta e Jacob F° (2000), em geral, o idoso apresenta como queixa

inicial a perda de memória ou concentração, fadiga, distúrbio do sono, apatia e na

maioria dos casos é portador de doenças orgânicas associadas que podem interferir

no diagnóstico. É comum a sobreposição de sintomas de depressão e demenciais

na população idosa (id., 2000; FORLENZA e NITRINI, 2000), fator que também

interfere no diagnóstico, possíveis combinações são: depressão e demência

isoladas, depressão decorrente da fase inicial da demência, demência com quadro

clínico semelhante à depressão e depressão com manifestações clínicas de

demência (pseudodemência). Para Alexopoulos (2002) a depressão pode revelar

uma demência subclínica, pode predispor à demência e interferir na testagem

Page 23: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

22

cognitiva, também pode haver casos em que a depressão e demência sejam

causadas pela mesma alteração cerebral ou alterações relacionadas.

Para Cohen e Eisdorfer (1997) o desafio para o diagnóstico é o fato da

expressão atípica do distúrbio ser mais comum em idosos. As depressões atípicas

caracterizam-se pela falta de distinção clara dos episódios de tristeza, o paciente

mostra-se apático. As queixas pessoais de comprometimento cognitivo, ansiedade

acentuada, somatização e preocupação excessiva com o corpo são freqüentes, e o

idoso pode apresentar história pregressa de confusão de diagnóstico. Para os

autores é comum que a pessoa idosa queixe-se dos seus problemas físicos e fale

pouco dos seus sentimentos, mesmo relatando apatia ou sensação de vazio nega

estar triste, e distúrbios físicos, perdas pessoais, medicamentos e outros distúrbios

psiquiátricos também podem produzir sintomas depressivos, complicando o

diagnóstico diferencial.

De acordo com Carvalho e Fernandez (1996) existem evidências de que na

depressão que surge após os 50 anos, há predomínio de sintomas de agitação,

insônia inicial e manifestações hipocondríacas. No idoso os sintomas atípicos são

mais prevalentes do que nos jovens, destacando a depressão mascarada, a

pseudodemência depressiva e as síndromes de depressão endógena.

O diagnóstico diferencial é uma tarefa essencial e deve ser uma preocupação

para os profissionais da saúde. Segundo Cohen e Eisdorfer (1997) o diagnóstico

diferencial em idosos deve contemplar os demais distúrbios afetivos maiores

(distúrbios bipolares, distúrbios esquizoafetivos e distúrbios de adaptação com

estado de humor depressivo), a depressão induzida por doença física e

medicamentos, depressão coexistente com outros distúrbios psiquiátricos,

depressão reacional e tristeza existencial.

Page 24: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

23

Sobre o prognóstico da depressão, Veras (1994) diz que ele é relativamente

bom para as faixas etárias mais jovens se comparado com os distúrbios afetivos na

velhice, onde são comuns recaídas freqüentes e prolongadas.

Para Alexopoulos (1999) pode ser prevista a cronicidade de um episódio

depressivo pela coexistência de doença médica, longa duração de episódios

anteriores, pouco apoio social e talvez anormalidades neuroradiológicas. Após

recuperação cerca de um terço apresenta recaída, estudos indicariam que a

presença de apoio social é um previsor positivo de recuperação.

2.7 Etiologia

A etiologia da depressão é complexa, havendo interação de múltiplos fatores

em graus variáveis sobre uma personalidade com predisposição para desenvolver a

síndrome (CARVALHO e FERNANDEZ, 1996), por isso Blazer (1998) acredita que

ela deve ser entendida como um fenômeno multidimensional. O autor cita os

seguintes fatores: hereditariedade, desequilíbrio de mensageiros químicos, falha

orgânica durante a doença física, desajuste da função endócrina, rompimento do

ciclo adormecer-acordar, luto e melancolia, integração versus desespero, distorções

cognitivas, eventos estressantes da vida, estresse social crônico e fatores culturais.

Para Blazer (1998) os fatores hereditários predispõem menos a causar

depressão em idosos, com exceção de casos em que o idoso sofreu vários

episódios durante a vida. É difícil saber qual é a real causa da depressão, entretanto

existem casos em que ela é evidente, como quando está associada a doenças

físicas que causam debilidade geral do organismo, como um câncer.

Page 25: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

24

Um ambiente familiar e social estressantes ajudam na instalação e

manutenção da depressão, o estresse social crônico é mais deletério para a saúde

do idoso do que eventos estressantes da vida. Situações como o temor de ser

atacado na rua, o idoso que é cuidador de seu parceiro, os problemas financeiros

enfrentados, podem ser a origem de um estresse agudo ou crônico, que afetam a

saúde física e mental do idoso, uma vez que a depressão tenha surgido estes

fatores estressantes o mantém. Os fatores culturais contribuem tanto para a

freqüência como para a natureza dos sintomas reportados pelo idoso (id., 1998).

Para Carvalho e Fernandez (1996, p. 162) a depressão no idoso tem

influência mais significativa de fatores psicossociais do que no jovem, salientam que

“Vanden Bos (1982) resumiu as causas dos transtornos depressivos nos idosos:

perda do rol de amigos, solidão, dificuldade econômica, saúde e funcionamento

físico deteriorado, limitações dos movimentos e mudanças ambientais”.

Estes autores explicam que as perdas são comuns entre idosos: há as perdas

físicas, que levam a perda da independência; há a redução da capacidade sensorial

(como visão e audição), que pode trazer isolamento. Com a aposentadoria vem,

muitas vez, a redução de ganhos, pode ocorrer também a viuvez, a morte de filhos e

pessoas próximas. É comum a perda de memória e outras funções intelectuais,

todos estes fatores causam ou contribuem para os sintomas depressivos.

Carvalho e Fernandez (1996) também colocam que as pessoas idosas têm

medo da solidão e muitas não recebem visitas com freqüência, mas observa-se que

este isolamento é próprio do idoso, que foge de contatos negando convites e não

atendendo telefonemas. O medo do desconhecido e incerteza dão lugar há tensões,

assim como o sentimento de abandono, as preocupações corporais e as fantasias

sobre a morte. O fato do idoso não costumar falar sobre esses sentimentos causa

Page 26: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

25

angústia, a tensão torna-se alta demais e insuportável, chegando a ponto de gerar

queixas de dores físicas e crises, como palpitação e insônia.

Outro fato é que famílias que já não se entendiam bem com o idoso podem

optar por institucionalizá-lo quando houver necessidade de cuidados, o que gera

maior isolamento e com freqüência uma queda do estado geral, a hipótese de

permanência numa casa de repouso é estressante para o idoso (id., 1996). A

combinação destes fatores é provavelmente uma das causas mais significativas da

depressão geriátrica.

Alexopoulos (1999) diz que os estressores psicossociais colaboram para o

desenvolvimento de depressões leves e até mesmo para o desenvolvimento de

depressão severa na terceira idade. Alguns estressores comuns aos idosos seriam:

mobilidade limitada, cegueira, surdez, diminuição de atividades ocupacionais,

recreativas e sociais, diminuição de recursos financeiros, viuvez, separação de filhos

e fracas condições de vida.

Katz, Curlik e Nemetz (1993) também concordam que eventos estressantes

da vida, incluindo perdas, são fatores que contribuem fortemente para o risco de

depressão nos idosos. Para Fráguas Jr. (2002) em pelo menos metade dos casos de

depressão (considerando qualquer faixa etária), o primeiro episódio depressivo é

desencadeado por um evento estressante da vida.

Entre as perdas é comum encontrarmos autores que citam a perda da

autonomia e independência. Anderson (1998b) coloca que a capacidade do idoso

em manter suas atividades da vida diária e a manutenção da autonomia está

diretamente relacionada às suas condições físicas e mentais. Para Aguiar e

Dunningham (2001), a dependência é conseqüência do envelhecimento, com graves

repercussões no comportamento e no estado psíquico do idoso, advindo desse

Page 27: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

26

processo conseqüências negativas de ordem econômica, física, psíquica e social. A

dependência está geralmente ligada a problemas físicos e psíquicos e tem relação

com depressão na população idosa.

Alguns autores colocam que a depressão nos idosos está muitas vezes ligada

a problemas físicos, como Freirias e Menon (2002), que dizem ser o índice de

depressão mais elevado em pacientes que apresentam co-morbidade com doenças

clínicas. Mas, em geral, as doenças são caracterizadas como eventos estressantes

da vida, que levam a perdas.

2.8 Avaliação clínica e intervenções

Segundo Gaviria e Flaherty (1995) as variações individuais de cada paciente

com potencial transtorno afetivo exigem que se faça uma avaliação abrangente.

O foco da avaliação clínica deve ser, segundo Cohen e Eisdorfer (1997),

identificar e avaliar os fatores médicos, ambientais e psicossociais que contribuem

para a depressão, sendo que uma atenção especial deve ser dada na determinação

da disponibilidade e eficácia do sistema de suporte psicossocial. Como o suicídio é

um fator de risco significante, principalmente em homens caucasianos idosos, é

recomendável sondar as idéias de autodestruição. Havendo um episódio de

depressão severa ou alto risco de suicídio a hospitalização pode ser necessária.

Uma avaliação médica completa deve ser feita, com estudos laboratoriais

(como o de supressão de dexametasona), exame físico e neurológico e revisão de

medicação (id., 1997; BLAZER, 1998).

Page 28: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

27

A entrevista clínica é, para Blazer (1998) o fundamento para a avaliação da

depressão no idoso. Tanto o idoso como a sua família devem ser entrevistados,

todos os dados relevantes devem ser contemplados na entrevista.

A severidade da depressão será melhor avaliada com a determinação do grau

em que o idoso sofre dos sintomas, para tal podem ser usadas escalas de medição,

como as seguintes: Centro de Estudos Epidemiológicos de Escala de Depressão

(CES – D), Inventário de Beck (BDI), Escala de Depressão de Hamilton (HDRS) e a

Escala de Depressão de Montgomery-Asberg, pode-se acrescentar aqui a Escala de

Depressão Geriátrica, adaptada de Yesavage et al (1983), que foi utilizada na

presente pesquisa. Também podem ser utilizados alguns instrumentos para acessar

a distorção do pensamento do idoso com depressão, como a Escala de Disfunção

de Atitude (id., 1998).

A avaliações do ambiente social e familiar ocorrem no decorrer da entrevista

clinica, de acordo com as perguntas feitas e as respostas e reações dos

entrevistados.

A depressão geriátrica é tratável. Segundo Freirias e Menon (2002) o

tratamento tem os seguintes objetivos: remissão dos sintomas, diminuição do risco

de recidiva, melhora da saúde física e qualidade de vida, redução da mortalidade e

redução dos gastos com cuidados médicos.

Existem três tipos de terapia que podem ser utilizadas no tratamento da

depressão geriátrica: as terapias biológicas, psicoterapia e terapia familiar (BLAZER,

1998; COHEN e EISDORFER, 1997). Carvalho e Fernandez (1996) citam terapia de

grupo no lugar da familiar. Estas terapias serão explicadas a seguir.

As terapias biológicas seriam a farmacológica e a eletroconvulsiva (TEC).

Para Blazer (1998) as drogas antidepressivas podem ser prescritas quando a

Page 29: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

28

pessoa idosa sofrer de melancolia mais severa e sintomas mais sérios, já Carvalho e

Fernandez (1996) colocam que a depressão deve ser tratada fundamentalmente

com medicação. As principais drogas utilizadas são os antidepressivos tricíclicos,

antidepressivos com estrutura anômala e inibidores da monoaminoxidase (IMAOs),

também podem ser utilizados estimulantes do sistema nervoso central, informações

sobre o tratamento medicamentoso da depressão são encontradas numa infinidade

de obras.

Alguns cuidados devem ser tomados na prescrição destes medicamentos para

idosos, de acordo com Carvalho e Fernandez (1996), porque há maior predisposição

deles aos efeitos colaterais tóxicos das drogas, o que requer uso de doses baixas,

outro fato é que o idoso é muitas vezes acometido por alguma doença física por isso

alguns grupos de drogas são contra-indicados, além destes medicamentos

apresentarem efeitos colaterais. Para Scalco (1995) a terapêutica antidepressiva na

população idosa requer conhecimentos específicos sobre a tolerabilidade a efeitos

colaterais, interações medicamentosas e concomitância com doenças físicas.

Carvalho e Fernandez (1996) colocam algumas normas gerais na terapêutica

com drogas antidepressivas: o idoso requer doses menores e dificilmente atinge a

dosagem máxima; a escolha deve ser baseada principalmente nos efeitos colaterais;

o efeito terapêutico demora de 5-6 semanas para aparecer e o paciente deve ser

esclarecido sobre este fato; a escolha das drogas depende das características de

cada paciente, não existindo droga de primeira escolha, pois esta depende de cada

paciente e de seu caso; e as medicações devem ser prescritas, pois são necessárias

e eficazes.

A terapia eletroconvulsiva é indicada para casos onde a medicação se mostra

ineficaz, depressão severa e psicótica e quando há fatores de risco, como suicídio.

Page 30: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

29

Blazer (1998) diz que são necessárias de 6-10 sessões, que aproximadamente 50%

das pessoas que recebem TEC estão acima de 60 anos e que é mais segura que

medicamentos antidepressivos, enquanto Carvalho e Fernandez (1996) colocam que

seu uso em idosos gera receio por ser pouco executada nesta faixa etária e por suas

complicações, como as cardíacas.

A psicoterapia neste contexto tem como objetivo proporcionar apoio emocional

ao idoso, reduzindo a ansiedade e aumentando a confiança e auto-estima (id.,

1996). A psicoterapia individual pode ajudar a identificar qualidades interpessoais e

habilidades em lidar com problemas, que são necessárias para a adaptação do

idoso a diferentes situações que irá enfrentar (COHEN e EISDORFER, 1997). As

mais citadas são: terapias breves, terapia cognitiva, terapia comportamental e de

revisão de vida.

A terapia familiar é importante e muitos profissionais já reconhecem que o

idoso não pode ser tratado isoladamente. Para González, Andrade e Vea (2001) a

família representa para o idoso a possibilidade de permanência em um grupo, já que

é comum o desaparecimento de grupos do qual o idoso fazia parte, neste sentido é

conveniente que as relações familiares sejam harmoniosas, fato que contribui para o

conforto emocional dos idosos.

Na maioria das vezes o idoso vai acompanhado ao consultório, sendo que o

profissional deve fazer esforço para se juntar à família, garantindo uma cooperação

com o plano biopsicossocial (BLAZER, 1998), sendo que este contato com a família

é relevante principalmente se houver risco de suicídio. O terapeuta, em relação à

família, pode encorajá-los a incentivar o idoso a procurar ajuda (caso este se

recuse), pode estar dando instruções de como se comunicar melhor com ele e

Page 31: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

30

ensinando técnicas comportamentais que ajudam a diminuir a dependência

excessiva do idoso.

A terapia de grupo funciona como um espaço onde o idoso encontra proteção

para as angústias, as pessoas se identificam e neste processo percebem as

coincidências, resgatam o desejo e ilusão, reativam suas memórias e história

(CARVALHO e FERNADEZ, 1996). Os benefícios desta técnica são: encorajar à

socialização, aumento da auto-estima e autovalorização; oportunidade dos pacientes

compartilharem suas experiências e ajudarem uns aos outros; esclarece e resolve

conflitos.

Para Reynolds (2002) a psicoterapia em combinação com medicação leva a

taxas mais altas de remissão em pacientes idosos com transtorno depressivo maior,

sendo que pacientes que respondem rapidamente ao tratamento combinado (4-6

semanas) geralmente são capazes de permanecer estáveis apenas com a

psicoterapia interpessoal. Essas diversas terapias devem ser combinadas da melhor

forma possível, a fim de proporcionar ao idoso seu máximo benefício.

2.9 Estudos epidemiológicos

Diferente da avaliação clínica, que visa as características individuais, “os

estudos epidemiológicos revelam padrões de distúrbio” (VERAS, 1994, p. 52), eles

servem, principalmente, para responder perguntas relacionadas à prática médica e

planejamento de serviços de saúde. Na pesquisa epidemiológica o estudo

transversal ou de prevalência é o método mais utilizado para estudar idosos.

Os estudos de prevalência podem fornecer informações descritivas sobre

diversas características dos membros de uma população, e resultariam num quadro

Page 32: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

31

mais preciso do real padrão da doença que os dados de hospitais e médicos

(VERAS, 1994).

Os inquéritos epidemiológicos com a população idosa apresentam

características específicas. Em geral os índices de resposta são altos e os idosos

são cooperativos. A precisão do estudo depende de uma grande amostra, mas

idosos que sofrem de demência provavelmente não conseguem responder ao

inquérito. Além disso, uma questão importante é o efeito de coorte (VERAS, 1994).

O questionário é o modo comum de levantar informações epidemiológicas.

Muitos foram desenvolvidos para estudar a população idosa, particularmente

instrumentos multidimensionais. Estes surgiram porque a avaliação da saúde da

pessoa deve considerá-la como um todo. “Os questionários multidimensionais

agregam medidas para fornecer uma visão global da situação social e de saúde da

pessoa, e podem ser usados para vários fins” (VERAS, 1994, p. 55). Têm como

características serem longos, bem estruturados e com poucas perguntas abertas.

Veras (1994) focaliza quatro instrumentos multidimensionais que seriam bons

exemplos para avaliação da população idosa: Older Americans Resources and

Services (OARS), o questionário da Organização Pan-americana de Saúde para os

Idosos (PAHO), Fast Assessment of Community Elderly (FACE) e Multilevel

Assessment Instrument (MAI). O OARS é o mais antigo em uso e o primeiro sistema

integrado para avaliar pessoas idosas na comunidade e residenciais, forneceu a

base para vários outros questionários.

Existe uma diversidade de enorme de questionários de saúde mental, Veras

(1994) dá atenção especial para o Comprehensive Assessment e Referral Evaluation

(CARE), Clinical Interview Schedule (CIS), Geriatric Mental State Schedule (GMS),

Diagnóstic Interview Schedule (DIS), Cambridge Mental Disorders of the Elderly

Page 33: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

32

Examination (CAMDEX) e o Questionário de Morbidade Psiquiátrica de Adultos

(QMPA).

Fillenbaum8 (1984) sugere que para desenvolver um novo instrumento, os

pesquisadores devem antes considerar questionários válidos e confiáveis já

existentes, e, se viável, usá-los em vez de inventar um novo. Veras (1994) participou

da criação do Brazil Old Age Schedule (BOAS), um questionário multidimensional de

repercussão nacional, que serviu de base para a criação de outros questionários no

Brasil. Ele surgiu da adaptação para a realidade brasileira de três questionários,

todos originalmente em inglês.

Um exemplo de questionário que teve como base o OARS e o BOAS é o

“Questionário de Avaliação Multidimensional da População Idosa para Estudos

Comunitários - Versão Itajaí SC” (KNOLL et al, 2001), que foi criado para traçar o

perfil da população idosa de Itajaí (SC).

Diversos estudos epidemiológicos relacionados à depressão no idoso já foram

realizados. Alguns são: a pesquisa de St. John, Eldemire e La Grenade (1997) em

Kingston e St. Andrew (EUA); de Galdino (2000) em Guaratinguetá (SP); de Guerra

(1997) em Lima (Peru); de Oliveira (1993) em Salvador (BA); de Rosa et al (2004) no

Rio Grande do Sul; Porcu et al (2002) em Maringá (PR); de Maia, Durante e Ramos

(2004) em Montes Claros (MG), entre outras. Alguns destes estudos são sobre

prevalência de depressão na população idosa, sobre índice de sintomas depressivos

em idosos ou analisam diversas variáveis em relação à depressão, entre outras

temáticas na área. Os resultados destas e de outras pesquisas serão discutidos no

capítulo 4, “Apresentação e discussão dos resultados”.

8 Citado em Veras (1994).

Page 34: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

33

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 Amostra

Este é um estudo transversal de base populacional, sua amostra é formada

pelos dados de 994 idosos (60 anos ou mais), obtidos através das respostas dos

idosos ao “Questionário de Avaliação Multidimensional da População Idosa para

Estudos Comunitários - Versão Itajaí SC”, criado por KNOLL et al (2001), retirados

do banco de dados que se originou da pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e

Envelhecimento no Município de Itajaí” (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Neste questionário há uma seção de saúde mental que procurou uma

avaliação da percepção de saúde mental e outras questões referentes a este tema.

Uma dessas questões, a número 77, é uma escala que contempla 15 itens para

avaliação psiquiátrica, utilizada em diversos questionários, como no QMFAQ da

Fillenbaum (1988), mais conhecida como Escala de Depressão Geriátrica, adaptada

de Yesavage.

As respostas das questões da escala são dicotômicas (sim ou não) e, de

acordo com o teor da pergunta considera-se a resposta válida ou não para a

somatória do escore. Na escala original a soma de 5 ou mais respostas positivas

considera o idoso como “possível caso” de transtorno psiquiátrico, o mais freqüente

deles é a depressão, o “possível” é utilizado porque esta escala não confere

precisão diagnóstica, (MAIA, DURANTE e RAMOS, 2004), por isso a terminologia

utilizada neste trabalho é “possível caso” de depressão. Aqui se utilizou um ponto de

corte de 7 ou mais para ser considerado “possível caso” de depressão, de acordo

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com o estabelecido pelo estudo de validação do OARS no Brasil (BLAY, RAMOS e

MARI, 1988), questionário que também utiliza a Escala de Depressão Geriátrica.

No total 22,8% dos idosos apresentaram escore para “possível caso” de

depressão. A distribuição da freqüência de cada variável analisada será sempre em

relação aos não-casos e “possíveis casos” de depressão, a fim de mostrar como os

dados se comportam nesta população e estabelecer se há existência de relação das

variáveis analisadas com a tendência à depressão.

3.2 Instrumento

Os dados para análise foram retirados diretamente do banco de dados da

pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no município de Itajaí”

(KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003), pesquisa que foi analisada e aprovada pela

Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI – CEP/UNIVALI – através do Parecer

N° 78/2001.

A pesquisa foi realizada através do Centro de Educação Superior de Ciências

da Saúde da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI em cooperação com a

Prefeitura Municipal de Itajaí com auxílio físico e financeiro de tais instituições.

Segundo seus autores, a pesquisa teve como objetivo principal levantar um

perfil multidimensional da população idosa de Itajaí. Para tal optou-se por um estudo

tipo corte transversal. A população do estudo foi formada por pessoas de 60 anos ou

mais de idade, não-institucionalizadas, residentes na área urbana do município de

Itajaí, Santa Catarina.

O cálculo do tamanho da amostra foi feito utilizando-se o programa

STATCALC do software Epi-Info 6.0. O tamanho da amostra foi estabelecido em 960

Page 36: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

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e ampliado para 1000 a fim de distribuir-se eqüitativamente o número de

conglomerados entre os supervisores e entrevistadores. Selecionaram-se 100

conglomerados, em cada um foram realizadas 10 entrevistas, selecionando-se os

indivíduos através da busca sistemática de casa em casa.

Participaram da coleta de dados 4 supervisores, sendo estes os autores da

pesquisa, e 20 entrevistadores, os últimos devidamente selecionados e treinados.

Para a coleta de dados foi desenvolvido o “Questionário de Avaliação

Multidimensional da População Idosa para Estudos Comunitários - Versão Itajaí SC”

(KNOLL et al, 2001), que foi aplicado pelos entrevistadores. O questionário criado e

utilizado foi baseado no Older Americans Resources and Services (OARS) e no

Brazil Old Age Schedule (BOAS) (KNOLL et al, 2001). É composto por doze

sessões: identificação, questionário preliminar, informações gerais, saúde física,

utilização de serviços de saúde, atividades da vida diária, recursos sociais, recursos

econômicos, necessidades e problemas que afetam o entrevistado, questionário

para o informante e informações do entrevistador, totalizando 91 questões

direcionadas ao idoso.

A coleta de dados realizou-se durante os meses de setembro, outubro e

novembro de 2001, 994 questionários foram considerados válidos.

Para a estruturação do banco de dados foi utilizado o software Epi-info com

duas digitações que foram semanalmente comparadas, conferidas e corrigidas. A

análise dos dados foi realizada com o software STATA.

Para a realização da pesquisa e formação deste banco de dados todos os

critérios éticos foram respeitados, cumprindo-se com rigor as orientações das

resoluções CNS-196/96 e CFP-016/2000. Algumas das medidas tomadas foram:

Page 37: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

36

• Assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido por parte de

cada participante da pesquisa antes de iniciar a coleta de dados; conforme os

autores da pesquisa foram elaborados três termos de consentimento, conforme

cada caso: um para o idoso quando não necessitava de ajuda para responder o

questionário; um para o caso de haver um tutor, quando o idoso fosse

considerado incapaz para responder; e um para o informante, quando tinha mais

alguém que pudesse colaborar com informações sobre o idoso.

• Acesso livre dos participantes às suas informações coletadas, assim

como aos resultados obtidos.

• Respeitos aos valores éticos, morais, sociais, religiosos e culturais dos

participantes.

• Respeito em relação à recusa do participante para ser entrevistado.

• Manter o anonimato dos sujeitos entrevistados.

• Garantia de não ocorrência de danos ou prejuízos pela participação na

pesquisa.

A devolutiva dos dados levantados para o Conselho Municipal do Idoso e

instituições envolvidas na pesquisa, UNIVALI e Prefeitura Municipal de Itajaí, teve

intuito de deflagrar a criação de políticas públicas com base na real situação do

idoso de Itajaí.

3.3 Coleta dos dados

Foi acessado o banco de dados da pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e

Envelhecimento no Município de Itajaí” (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003), que

está no formato Epi-info e se encontra em posse dos pesquisadores, sendo

Page 38: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

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disponibilizado pelo professor Biaze Manger Knoll. A partir da consulta das variáveis

biopsicossociais, neste banco de dados, foi feita a análise.

3.4 Análise dos dados

Foi feita uma análise quantitativa dos dados. De acordo com Oliveira (1999, p.

115) o método quantitativo “significa quantificar opiniões, dados, nas formas de

coleta de informações, assim como também com o emprego de recursos e técnicas

estatísticas desde as mais simples, [...] até as de uso mais complexo”.

Este método é muito utilizado em pesquisas descritivas, onde se procura

descobrir e classificar a relação entre variáveis e também na investigação de relação

causa e efeito. Ele é empregado em pesquisas de diversas áreas, representando, de

forma geral, um modo de garantir a precisão dos resultados, evitando distorções de

análise e interpretação (id., 1999).

Para a análise dos dados foi utilizado o programa estatístico Epi-info. Os

dados foram submetidos a uma das provas de significação estatística, também

conhecidas como provas de contraste ou de decisão, “Essas provas servem para

determinar a existência de diferenças entre grupos, a dependência entre variáveis,

(...), etc” (BISQUERA, SARRIERA e MARTÍNEZ, 2004, p. 70). A prova utilizada foi

do qui-quadrado, esta prova pode ser utilizada para “confirmar a hipótese de

independência, isto é, para saber se duas variáveis categóricas estão relacionadas.

A hipótese nula sustenta que as duas variáveis são independentes, isto é, não

guardam nenhuma relação. (...) A prova de qui-quadrado só permite aceitar ou

rejeitar a hipótese nula, mas no caso de rejeita-la, não podemos saber em que

medida as duas variáveis estão relacionadas” (id., 2004, p. 105). Esta análise foi

Page 39: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

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indicada pelo professor Dittrich9, como meio de atingir o objetivo proposto por este

estudo. A análise da pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no

Município de Itajaí” (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003), apresentada no relatório da

mesma, também utilizou essa metodologia estatística.

Então a análise baseou-se no teste do qui-quadrado de Pearson, com a

correção de continuidade de Yates quando necessária. Para considerar uma variável

significativa, ou seja, que tem relação de alguma forma com a variável dependente,

foi utilizado como critério a probabilidade de erro ao rejeitar a hipótese nula (p) de

5%, considerando-se estatisticamente significante p<0,05. Segundo Bisquerra,

Sarriera e Martínez (2004), costuma-se utilizar em ciências sociais níveis de

significação de 0,05 e de 0,01, ou seja, com 5% ou 1% de erros possíveis no

momento de rejeitar a hipótese nula, de acordo com os autores é difícil dar

orientação de que nível escolher, de acordo com o que se quer pesquisar escolhe-se

o nível de significação mais adequado, de forma intuitiva.

Depois que a hipótese nula é rejeitada, ou seja, é descoberta a existência de

uma relação, o próximo passo é saber “qual é essa relação e estimar os parâmetros

envolvidos na relação” (CAZORLA, 2004), através da análise de regressão. A

análise de regressão consiste em “aproximar uma linha reta de uma nuvem de

pontos de um diagrama de dispersão, ou seja, representar mediante uma reta a

nuvem de pontos. Esta reta deve sintetizar e representar a nuvem de pontos e pode

ser utilizada na predição de valores de uma variável em função da outra”, segundo

Bisquerra, Sarriera e Martínez (2004). A análise de regressão logística binária

informa a magnitude com que as variáveis se encontram relacionadas, também

9 O professor Renato César Dittrich oferece assessoria, aos alunos e professores da UNIVALI-Itajaí (SC), referente à Estatística Experimental no planejamento de pesquisas, análise e interpretação de dados. Ele foi consultado, para a definição da análise de dados desta pesquisa, no segundo semestre de 2004 e primeiro semestre de 2005.

Page 40: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

39

chamada de razão de chance, quando a razão de chance for maior que 1 (um) a

variável é considerada como tendo impacto significante.

O número (n) de idosos totais muda de acordo com a variável analisada, isso

ocorre porque existe um missing, um número de respostas que não foram

consideradas por algum motivo, como, por exemplo, o idoso se negar a responder

ou não saber. Quando isso ocorre o questionário é automaticamente excluído, da

análise da variável específica, pelo programa estatístico.

A variável dependente é o fato de ser ou não um “possível caso” de depressão

psiquiátrico e as variáveis independentes são as que chamamos de biopsicossociais

e foram divididas da seguinte forma:

• Variáveis Demográficas – sexo, feminino ou masculino, (questão n° 1

do questionário); idade, faixas etárias de 60-69 anos, 70-79 e 80 e acima,

(questão n° 3a); morador urbano/rural, depende se a moradia do idoso fica na

área considerada urbana ou rural da cidade de Itajaí (SC), de acordo com croquis

do IBGE10; e variáveis relacionadas à estrutura familiar*, estas foram subdividas

em estado conjugal (questão n° 9), existência de filhos e número de filhos

(questão n° 10), arranjo familiar/com quem mora (questão n° 11a) e número de

co-habitantes (questão n° 11).

• Variáveis Socioeconômicas – escolaridade, diz respeito ao idoso ser ou

não alfabetizado (questão n° 7) e ao nível de escolaridade, entre nenhuma,

primário incompleto, primário completo, ginásio ou primeiro grau completo,

segundo grau completo e curso superior, (questão n° 8); e renda, que diz respeito

10 Informação disponibilizada através do IBGE para realização desta pesquisa, sendo que, no momento, o CD, com os croquis dos setores censitários de Itajaí, pode ser encontrado no Setor de Extensão do CCS da UNIVALI-Itajaí (SC).

Page 41: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

40

à faixa de renda mensal individual (questão n° 67) e faixa de renda mensal do

domicilio (questão n° 68).

• Variáveis de Saúde - problemas de saúde, traz a existência de

problemas de saúde, sim ou não, (questão n° 15) e número de problemas de

saúde referidos (questão n° 15a); uso de serviços de saúde, analisa a

necessidade de internação e consulta médica nos últimos 6 meses (questão n°

33a); uso de medicamentos, diz respeito ao uso regular de medicamentos, sim ou

não, (questão n° 36) e número de medicamentos que está tomando atualmente

(questão n° 36c); escore para transtorno cognitivo, refere-se ao Mini-exame do

Estado Mental11, este é formado por 10 questões e rastreia distúrbios cognitivos,

6 ou mais erros determinam que o idoso é um possível caso de transtorno

cognitivo; capacidade funcional, as perguntas 38 a 52 dizem respeito a 14

atividades da vida diária (AVDs) do idoso, ele respondia se necessitava de ajuda

ou não para fazer tal atividade, como se vestir, a soma do número das atividades

que necessita de ajuda originaram 4 categorias, de acordo com Ramos et al

(1993), que apresentam níveis de dependência: independente (não necessita de

ajuda); dependência leve (necessita de ajuda ou é incapaz de realizar até 3

AVDs) dependência moderada (necessita de ajuda ou é incapaz de realizar de 4 a

6 AVDs) e dependência severa (necessita de ajuda ou é incapaz de realizar 7 ou

mais AVDs); percepção de saúde física e mental, analisou a percepção da saúde

física atual (questão n° 12) e em comparação com os últimos 5 anos (questão n°

13) e a percepção da saúde mental/emocional atual (questão n° 78) e em

11 Este foi utilizado como questionário preliminar, aplicado antes de começar o questionário com idoso, quando surgia o resultado de possível transtorno cognitivo o entrevistador avaliava a necessidade de ter um informante junto ao idoso para obter as respostas.

Page 42: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

41

comparação com os últimos 5 anos (questão n° 79), e, por último, atividade física,

que diz respeito à realização de alguma atividade física regularmente (questão n°

32).

Após a análise de significação estatística destas variáveis, as variáveis

consideradas estatisticamente significativas foram submetidas à análise de

regressão logística binária.

Page 43: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

42

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta análise realizou-se com objetivo de investigar a existência de relação

entre algumas variáveis biopsicossocias e o fato do idoso, residente do município de

Itajaí (SC), ser ou não considerado “possível caso” de depressão. Seus resultados

serão apresentados, a seguir, da seguinte forma: prevalência de depressão na

população idosa de Itajaí (SC), variáveis demográficas (sexo, idade, morador

urbano/rural, variáveis relacionadas à estrutura familiar), variáveis socioeconômicas

(escolaridade e renda) e variáveis de saúde (problemas de saúde, uso serviços de

saúde, uso de medicamentos, escore para transtorno cognitivo, capacidade

funcional, percepção de saúde física e mental e atividade física).

4.1 Prevalência de depressão na população idosa de Itajaí (SC)

Snowdon (2002) diz que os estudos para avaliar prevalência de depressão

nos idosos feitos através de escalas de entrevistas estruturadas são os que

apresentam resultados mais consistentes, sendo que a maioria deles indica um

índice entre 10,3% a 13,5% . Veras, Coutinho e Coeli (1997) e Aguiar e Dunningham

(2001) colocam que a freqüência de sintomatologia depressiva tem sido estima em

torno de 15%. Já a Organização Mundial da Saúde estima que 1 a cada 10 idosos

sofre de depressão (CARVALHO E FERNANDEZ, 1996).

Diversas pesquisas indicaram níveis diferenciados de depressão na

população idosa. Galdino (2000), estudando depressão e ansiedade na população

idosa de Guaratinguetá (SP), teve como resultado um elevado percentual, 47,5%, de

sintomatologia sugestiva de depressão. Moreno (1999), pesquisando a prevalência

Page 44: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

43

Gráfico 1 - Prevalência de depressão na população idosa residente do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

227

760

"possível caso"de depressãonão-caso

de possíveis transtornos na terceira idade em Guadalajara (México), detectou 20%

de depressão. Oliveira (1993) encontrou um índice de 28,9% de depressão em um

grupo de idosos atendidos numa Unidade Básica de Saúde, em Salvador (BA).

Veras, Coutinho e Coeli (1997), em uma pesquisa no Rio de Janeiro, estudaram a

prevalência da depressão em três bairros, encontrando resultados de 22,6%, 19,7%

e 35,1%. Coelho F° e Ramos (1999), em seu estudo epidemiológico, fizeram um

rastreamento de saúde mental na população idosa de Fortaleza, encontrando um

índice de 26,4% de “possíveis casos”. Anderson (1998b) encontrou uma prevalência

significativa de sintomas de nervosismo e depressão na população idosa brasileira,

cerca de 27%. Maia, Durante e Ramos (2004) detectaram prevalência de 29,3% de

transtornos mentais em idosos residentes da área urbana de Montes Claros (MG).

Como pode ser observado através do “Gráfico 1” a prevalência de “possíveis

casos” de depressão na população de Itajaí foi de 22,8% (227), dos 987

questionários validados para esta questão. Tanto esta como as demais pesquisas

citadas apresentam um alto índice se comparado com o esperado, entre 10% -15%,

segundo referências internacionais.

Total: 987

Page 45: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

44

Provavelmente essas diferenças de índices ocorrem devido a especificidades

da população estudada e aos instrumentos utilizados para pesquisa. A depressão é

um transtorno que traz sérias conseqüências para qualidade de vida do idoso,

portanto merece atenção, deve ter diagnóstico e tratamento adequados.

Segundo Snowdon (2002), vários estudos relataram que a prevalência de

depressão é menor nos idosos em relação a outras faixas etárias, ele acredita que

estes estudos podem ser falhos, já que o diagnóstico de depressão no idoso

necessita de mais atenção, pois estes apresentam ou reportam sintomas

depressivos de forma diferenciada. Para o autor, estes relatos podem diminuir a

percepção dos médicos de considerar a possibilidade do paciente idoso ter

depressão, ficando este diagnóstico em segundo plano.

A seguir será apresentada a análise da existência de relação entre variáveis

demográficas e os idosos considerados “possíveis casos” de depressão residentes

do município de Itajaí.

4.2 Variáveis demográficas

As variáveis demográficas analisadas foram: sexo, idade, morador urbano ou

rural e variáveis relacionadas à estrutura familiar. Iniciando com a variável “sexo”.

4.2.1 Sexo

O sexo apareceu associado à depressão em estudos como o de Guerra

(1997), que revisou 182 histórias clínicas de pacientes geriátricos com depressão, e

destes, 73,2% eram mulheres. No estudo de Gazalle et al (2004) sobre a freqüência

Page 46: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

45

de alguns sintomas depressivos na população idosa de Pelotas (RS), encontrou-se

uma média muito alta de sintomas depressivos, sendo que o grupo “mulher” foi um

dos que apresentaram médias estatisticamente maiores. Na pesquisa de Porcu et al

(2002) observou-se que as mulheres apresentam maior porcentagem de sintomas

depressivos muito graves. A predominância de mulheres com depressão também foi

encontrada no estudo de Veras, Coutinho e Coeli (1997), de Rosa e et al (2004) e

Maia, Durante e Ramos (2004). Já numa pesquisa entre 605 idosos que procuraram

um ambulatório da rede pública, daqueles que apresentaram estado sugestivo de

depressão, a variável sexo não mostrou associação significativa com a suspeita de

depressão (VERAS et al, 2002).

Analisando o sexo (Tabela 1) da população idosa de Itajaí, se obteve 987

respostas válidas. Percebe-se que as mulheres são maioria nesta amostra, sendo

699 mulheres e 288 homens. Mesmo com essa grande diferença, observa-se que a

proporção de mulheres idosas consideradas “possíveis casos” de depressão é,

relativamente, maior que a de homens. Pois das 699 mulheres 25,2% (176) são

“possíveis casos” de depressão, enquanto dos 288 homens 17,7% (51) são

“possíveis casos”.

Possível Caso Não-caso Total

n 176 523 699 Feminino %

25,2%

74,8%

100,0%

n 51 237 288

Masculino %

17,7%

82,3%

100,0%

n 227 760 987 Total % 23% 77% 100,0%

Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Tabela 1 – Distribuição de sexo entre “possíveis casos” de depressão e não-casos da população idosa residente do município de Itajaí

Page 47: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

46

Na presente pesquisa percebe-se a existência de relação entre ser possível

caso de depressão e o sexo do idoso (p<0,05). Na amostra vê-se que existe

relativamente uma maior proporção de mulheres consideradas “possíveis casos” que

não-casos, ou seja, as mulheres na terceira idade tendem a ter depressão mais que

os homens.

Mas a literatura é incerta quanto a afirmar que esse fenômeno, das mulheres

terem mais depressão, ocorre na velhice, pois essa seria uma tendência em

qualquer faixa etária. Segundo Fráguas Jr. (2002) cerca duas em cada 10 mulheres

e um em cada 10 homens terão transtorno depressivo ao longo da vida.

O próximo tópico analisado é a “idade”, segue-se sua discussão.

4.2.2 Idade

Apesar desta variável, idade, não apresentar associação estatisticamente

significativa (p>0,05), observa-se no “Gráfico 2” que o índice de depressão é maior

na faixa etária de 80 anos e acima, ou seja, 28,9% dos idosos nesta faixa etária

apresentam possível depressão, este índice passa para 19,7% na faixa etária de 70-

79 anos e para 23,7% na faixa de 60-69 anos.

Page 48: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

47

Gráfico 2 – Distribuição dos “possíveis casos” de depressão em três faixas etárias da população idosa residente do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Numa pesquisa com octogenários, Xavier et al (2001) concluíram que

episódios depressivos são freqüentes em idosos acima de 80 anos, o que causa

impacto sobre a qualidade de vida associada à saúde, sendo freqüente a

comorbidade com transtorno de ansiedade generalizada.

O aumento da faixa etária também não foi associado a maior incidência de

depressão na pesquisa de Porcu et al (2002), Veras et al (2002) e Veras, Coutinho e

Coeli (1997), segundo estes últimos este achado já foi descrito em outros estudos

internacionais, onde o maior índice de depressão se situaria em idade

imediatamente anterior ao início da Terceira Idade. Já Gazalle et al (2004) e Oliveira

(1993), em suas pesquisas, encontraram associação entre idade e depressão.

Mencionando diversos estudos sobre depressão e idade, Snowdon (2002) diz

que estes são inconsistentes, em relação tanto ao grupo etário com a mais alta

prevalência quanto aos índices reais, pois trazem resultados muito diferenciados.

Segue-se adiante a análise da variável demográfica “morador urbano/rural”.

4.2.3 Morador urbano/rural

23,7%

76,3%

19,7%

80,3%

28,9%

71,1%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

60-69 70-79 80 e acima

possível casonão-caso

Total: 987

Page 49: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

48

Aqui se consideraram válidos 978 casos. Dos 636 moradores de área urbana

26,6% (169) são “possíveis casos” de depressão, enquanto dos 342 moradores de

área rural 16,4% (56) são “possíveis casos”. Apesar do número de moradores

urbanos ser maior na amostra, observa-se que a porcentagem de “possíveis casos”

na área urbana é relativamente maior, fato que mostra a existência de relação entre

ser morador urbano com ser “possível caso” de depressão (p< 0,001), sendo que,

percebe-se através da “Tabela 2”, a porcentagem de moradores urbanos “possíveis

casos” é 10% maior que dos moradores de área rural.

Possível Caso Não-caso Total

n 169 467 636 Urbano %

26,6% 73,4% 100,0%

n 56 286 342 Rural %

16,4% 83,6% 100,0%

n 225 753 978 Total % 23% 77% 100,0%

Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

St. John, Eldemire e La Grenade (1997) revelaram em uma pesquisa que a

maior prevalência de depressão é em idosos institucionalizados, seguido por

moradores urbanos e depois rurais, o mesmo achado foi descrito por Porcu et al

(2002).

Anderson (1998b) analisando o perfil dos idosos brasileiros, com enfoque nas

condições de vida e de saúde, através de dados retirados da Pesquisa Nacional

sobre Saúde e Nutrição (datada de 1989), observou que os idosos que vivem em

área rural, em geral, têm uma total precariedade de condições de vida, a maioria

deles não possuía água encanada, eletricidade, vaso sanitário, eletrodomésticos

Tabela 2 – Freqüência de “possíveis casos” de depressão e não-casos na população idosa de área urbana e rural do município de Itajaí

Page 50: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

49

comuns (como geladeira e telefone), entre outros fatores. Já na área urbana o

quadro era mais favorável.

Para Anderson (1998b) as condições de habitação, as facilidades domésticas

e a existência de lazer dentro do lar são fatores importantes para a qualidade de

vida do idoso. Outro fato observado foi que na área rural predominam homens

idosos e a prevalência de idosos que trabalham é maior que na área urbana. Se

estas considerações puderem ser generalizadas, pode-se levantar a hipótese de

que o fato os idosos em área rural serem na maioria homens e trabalharem, levaria

ao menor índice de depressão, na área rural, apesar das condições precárias de

moradia, pois homens tendem a ter menos depressão (como citado anteriormente) e

se mantém um trabalho provavelmente possuem uma boa capacidade funcional

(tópico analisado mais adiante). Também há o fato de que as condições de vida na

área rural melhoraram desde a data da coleta dos dados até a produção da

pesquisa de Anderson (1998b) comentário que fora feito pela própria autora.

Por outro lado temos os idosos urbanos, que apesar da melhor condição de

vida, estão, provavelmente, mais expostos a determinados fatores estressantes da

vida, como medo de ser assaltado, falta de atividades ocupacionais e solidão. Para

autores como Katz, Curlik e Nemetz (1993) e Fráguas Jr. (2002) eventos

estressantes da vida são grandes desencadeadores de depressão. Ainda há a

possibilidade desses idosos terem se mudado da área rural para a urbana em busca

de atendimento médico ou para ficar próximo à família, devido à necessidade de

atenção, como cuidados devidos a doenças físicas.

Apesar da associação significativa existente entre depressão e ser morador

urbano, não se pode afirmar qual veio antes, a depressão ou a moradia em área

urbana.

Page 51: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

50

O próximo tópico analisado é “variáveis relacionadas à estrutura familiar”, que

diz respeito ao estado conjugal, filhos e arranjo familiar.

4.2.4 Variáveis relacionadas à estrutura familiar

Verifica-se neste item que as variáveis “estado conjugal”, “filhos” e “arranjo

familiar” (Tabela 3) não estão relacionadas à tendência de depressão na população

idosa de Itajaí (todas com p>0,05). O número de co-habitantes (numa escala de

“mora só” até “mais de 4 pessoas”) e o número de filhos também não se apresentam

estatisticamente significativos (p>0,05).

Variável Possível Caso Não-caso Total

ESTADO CONJUGAL

n % n % n %

- nunca casou 6 2,7% 18 2,4% 24 2,4% - separado/divorciado 18 8% 56 7,4% 74 7,5% - viúvo 99 43,8% 347 45,8% 446 45,4%- casado/mora junto 103 45,6% 336 44,4% 439 44,7%

Total

226

100%

757

100%

983

100%

FILHOS - sim 219 98,2% 724 98,6% 943 98,5%- não 4 1,8% 10 1,4% 14 1,5% Total 223 100% 734 100% 100% 957 ARRANJO FAMILIAR

- mora só 35 15,5% 129 17% 164 16,7%- mora com outros 11 4,9% 62 8,2% 73 7,4% - mora com cônjuge 49 21,7% 181 23,9% 230 23,4%- mora com parentes (filhos, nora, etc) Total

131

226

58%

100%

385

757

50,9%

100%

516

983

52,5%

100% Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Geralmente estas variáveis são relacionadas com a rede e apoio social de que

o idoso disponibiliza. Muitos autores trazem que estes são fatores importantes, que

Tabela 3 – Distribuição dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos, residentes do município de Itajaí, de acordo com as variáveis estado conjugal, filhos e arranjo familiar

Page 52: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

51

influenciam no aparecimento da depressão, alguns dão destaque para a viuvez e o

afastamento/morte dos filhos (ALEXOPOULOS, 1999; e CARVALHO e

FERNANDEZ, 1996). Para Alexopoulos (1999) pouco apoio social é um previsor de

cronicidade de um episódio depressivo e a presença de apoio social seria positiva

para a recuperação.

Na pesquisa de Oliveira (1993) se observou que o estado civil está associado

à depressão na velhice e na pesquisa de Veras, Coutinho e Coeli (1997) a

depressão estava associada a viúvos e divorciados, de acordo com a análise

simples, mas desapareceu quando se efetuou análise de regressão logística. Sendo

que o número de moradores mostrou-se relevante para a população masculina, com

tendência maior nível de depressão, se havia uma superlotação.

A existência de apoio social também não foi associada à suspeita de

depressão na pesquisa de Veras et al (2002). Já Aguiar e Dunningham (2001) dizem

que encontraram dados epidemiológicos que sugerem ocorrência maior de

depressão entre os indivíduos solitários, dentre estes os viúvos e separados.

Anderson (1998b) observou, em sua pesquisa, que queixas de nervosismo e

depressão eram mais comuns entre os idosos que moravam sós.

A função da família, no que se refere ao idoso, é de proteção, pois ela é uma

importante rede suporte para ele, independente da cultura e economia de cada

sociedade, se constituindo na principal responsável pela manutenção e cuidado do

idoso (MAZO, LOPES e BENEDETTI, 2001).

A família e o apoio social são com certeza fatores importantes na manutenção

da qualidade de vida do idoso. Como foi demonstrado através da pesquisa de

González, Andrade e Vea (2001), que observaram que os idosos que percebem

Page 53: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

52

suas relações familiares como desarmônicas e pouco harmônicas tem maior

tendência à depressão, de acordo com a Escala de Depressão Geriátrica.

Mas, através das variáveis analisadas aqui, não foi comprovada a influência

que a família pode exercer sobre a população idosa considerada “possível caso” de

depressão, pois não houve diferença estatisticamente significativa na estrutura das

famílias dos idosos considerados não-casos para as famílias dos considerados

“possíveis casos” de depressão.

A partir de agora serão discutidos os resultados da análise das variáveis

socioeconômicas.

4.3 Variáveis socioeconômicas

Foram consideradas variáveis socioeconômicas a escolaridade e a renda da

população idosa de Itajaí. Iniciando-se pela análise da escolaridade.

4.3.1 Escolaridade

Quanto a ser alfabetizado tem-se 983 casos válidos. Dos 226 “possíveis

casos” de depressão 31,35% (71) não são alfabetizados e 68,65% (155) são

alfabetizados, dos 757 não-casos 15,2% (115) não possuem alfabetização e 84,8%

(642) são alfabetizados (Gráfico 3). Dados que mostram uma relação entre ser

“possível caso” e não ter alfabetização (p<0,001), mas não se pode afirmar qual é

essa relação, pois a falta de estudo pode levar a depressão assim como a

depressão pode levar a falta de motivação para estudar.

Page 54: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

53

Gráfico 3 – Alfabetização dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Quando se analisa a escolaridade dos idosos (numa escala de “nenhuma”, até

“superior”) esta se manteve com relação (p<0,001), sendo que os “possíveis casos”

ficaram mais distribuídos nos níveis menores de escolaridade se comparado com os

não-casos.

Resultados semelhantes foram encontrados por Veras, Coutinho e Coeli

(1997), que observaram existir um número maior de casos de depressão entre

idosos analfabetos, e também por Gazalle et al (2004) que concluíram que idosos

com menor alfabetização formam um grupo que apresenta média estatisticamente

maior de sintomas depressivos.

A próxima variável analisada será a “renda” da população idosa de Itajaí.

4.3.2 Renda

A desigualdade de renda é uma característica de toda a população brasileira,

com os idosos não poderia ser diferente, Araújo e Alves (2000) dizem que, segundo

68,65%

31,35%

84,8%

15,2%

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%80,00%90,00%

"possívelcaso"

não-caso

AlfabetizadoNão alfabetizado

Total: 983

Page 55: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

54

a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), datada de 1997, 40% dos

idosos brasileiros tem uma renda familiar per capita de menos de um salário mínimo.

Tanto a renda mensal pessoal como a renda mensal do domicílio

apresentaram relação com o fato de ser ou não “possível caso” de depressão

(ambas com p<0,001). Os idosos considerados “possíveis casos” ficam mais

concentrados na faixa mais baixa de renda, como se pode observar na “Tabela 4”.

Variável Possível Caso Não-caso Total

RENDA PESSOAL (em R$)

n % n % n %

- até 180* 103 52,8% 241 35,8% 344 39,6%- acima de 180 até 360 57 29,2% 180 26,7% 237 27,3%- acima de 360 35 17,9% 253 37,5% 288 33,1%

Total 195 100% 674 100% 869 100% RENDA DOMICILIAR (em R$) - até 365 91 45,7% 193 29,8% 284 33,6%- acima de 365 até 720 67 33,7% 214 33,1% 281 33,2%- acima de 720 41 20,6% 240 37,1% 281 33,2%Total 199 100% 647 100% 846 100% Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003). * Salário mínimo no ano de 2001, época em que foi feita a coleta de dados.

Assim como nesta, as pesquisas de Oliveira (1993), de Veras, Coutinho e

Coeli (1997) e Anderson (1998b) mostraram que a baixa renda está associada à

depressão na velhice. Maia, Durante e Ramos (2004) colocaram que, na população

que estudaram, os transtornos mentais estão associados à pobreza. Diversos

autores falam que as dificuldades financeiras estão relacionadas ao surgimento de

depressão na velhice (BLAZER, 1998; CARVALHO e FERNANDEZ, 1996;

ALEXOPOULOS, 1999). Para Veras (1994) e Anderson (1998b) a pobreza é uma

característica da velhice.

Tabela 4 – Renda mensal pessoal e domiciliar dos idosos considerados não-casos e “possíveis casos” de depressão residentes do município de Itajaí

Page 56: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

55

A preocupação dos idosos com a renda se dá por diversos fatores, como

baixos valores de pensões e aposentadorias, inflação, e também há fato do aumento

com gastos em saúde, pois na velhice aumenta a procura por estes serviços. As

dificuldades financeiras do idoso se dariam principalmente pelo advento da

aposentadoria, onde a renda do idoso passa a depender da “consciência social”, que

é um determinante muito aleatório, segundo Moragas (1997).

Veras, Coutinho e Coeli (1997) observam que, com freqüência, aparece uma

correlação inversa entre nível sócio econômico e educacional com síndrome cerebral

humana e depressão, uma afirmação verdadeira para vários países, mas que

deveria ser testada em diversas culturas e sociedades. A afirmação dos autores é

verdadeira para a população de Itajaí, pois tanto a baixa escolaridade como a pouca

renda estão relacionadas com depressão, mas não se pode afirmar se essa relação

é de causa ou conseqüência.

É importante assinalar que as variáveis renda e escolaridade estão

intimamente relacionadas e são indicativos de pobreza em qualquer faixa etária, pois

famílias com poucas condições econômicas, muitas vezes, não conseguem

oportunizar estudo aos seus integrantes, estes acabam tendo subempregos e assim

não conseguem concluir os estudos, é uma relação de circularidade. Pessoas

pertencentes a minorias étnicas e raciais e a classes socioeconômicas mais baixas

são mais suscetíveis ao desemprego, subemprego, emprego instável e baixa renda

(Veras, 1994), o que provavelmente caracteriza uma baixa qualidade de vida, com

maior exposição a fatores de risco à saúde.

A seguir passam a ser analisadas as variáveis de saúde.

4.4 Variáveis de saúde

Page 57: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

56

Gráfico 4 – Existência de problemas de saúde de acordo com relato dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

As variáveis de saúde analisadas adiante são: problemas de saúde, uso de

serviços de saúde, uso de medicamentos, percepção de saúde física e mental,

escore para transtorno cognitivo, capacidade funcional e atividade física. Iniciando

pela variável “problemas de saúde”.

4.4.1 Problemas de saúde

Através do “Gráfico 4” observa-se que 96% (217) dos idosos considerados

“possíveis casos” de depressão relataram ter algum problema de saúde contra 77%

(584) dos não-casos. Foram 984 respostas validadas para esta questão.

Dos 807 idosos que relataram ter problemas de saúde (Gráfico 5), 17,1% (37)

dos considerados “possíveis casos” de depressão dizem ter um problema de saúde,

58,5% (127) tem de 2 a 4 problemas e 24,4% (53) tem mais de 4 problemas de

96%

4%

77%

23%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

"possível caso" não-caso

simnão

Total: 984

Page 58: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

57

Gráfico 5 – Número de problemas de saúde referidos pelos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

saúde, já dos não-casos 32,9% (194) tem um problema de saúde, 59,7% (352) tem

de 2 a 4 problemas e 7,5% (44) tem mais de 4 problemas de saúde.

Tanto a existência de problemas de saúde como o número de problemas são

variáveis que tem relação com tendência a depressão nesta população (p<0,001),

mas não é possível afirmar qual é essa relação, se é de causa ou conseqüência.

Maia, Durante e Ramos (2004) também encontraram associação entre transtornos

mentais e número de doenças. E Veras, Coutinho e Coeli (1997) observaram em sua

pesquisa relação entre depressão e condição de saúde.

Para Snowdon (2002) a doença física é um dos fatores de risco mais

significativos em relação à depressão, sendo que a depressão comorbida com

outros transtornos físicos tem menos chance de ser reconhecida e tratada do que

quando aparece sozinha. Diversos autores concordam com esta afirmação, como

Blazer (1998), Carvalho e Fernandez (1996), Freirias e Menon (2002) e Alexopoulos

(1999), este último diz que a depressão é 10 vezes mais freqüente em pacientes

17,1%

58,5%

24,4%

32,9%

59,7%

7,5%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

"possível caso" não-caso

12-4acima de 4

Total: 807

Page 59: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

58

idosos enfermos que na população idosa geral, embora, geralmente, a ligação

biológica entre depressão e doenças médicas não seja bem entendida. Alexopoulos

(1999) também coloca que pacientes com doenças neurológicas estão

freqüentemente deprimidos.

A “depressão está fortemente associada aos problemas de saúde física,

podendo tanto ser desencadeada por estes como desencadeá-los/agravá-los,

levando possivelmente, a uma maior necessidade de internações hospitalares

clínicas” (VERAS, COUTINHO e COELI, 1997, p. 35).

A existência de problemas de saúde e depressão são variáveis que estão

relacionadas com a procura por serviços de saúde, variável analisada a seguir.

4.4.2 Uso de serviços de saúde

Analisando a necessidade de internação nos últimos 6 meses (Gráfico 6),

observa-se que há relação entre esta variável e depressão na população idosa

(p<0,001). Dos 965 casos válidos 224 são “possíveis casos” de depressão, destes

22,3% (50) tiveram internação nos últimos meses, enquanto que dos 741 não-casos

apenas 9,3% (69) foram internados.

Page 60: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

59

Gráfico 6 – Necessidade de internação nos últimos 6 meses dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Numa pesquisa, Veras, Coutinho e Coeli (1997) traçaram o perfil das

internações por transtornos mentais na população idosa do Rio de Janeiro.

Encontraram que, das 3.225 internações de idosos no ano de 1993, 4,6% foram por

transtornos mentais ocupando o oitavo lugar, sendo que os transtornos afetivos são

o quinto diagnóstico mais freqüente de transtorno mental no grupo de idosos, ou

seja, eles não têm um lugar de destaque quanto às internações. Também

analisaram que o tempo de internação e seu custo são aproximadamente o dobro

em relação às demais faixas etárias.

Pela relação existente entre ser “possível caso” de depressão e problemas de

saúde referidos, como analisado anteriormente, e tomando como referência a

pesquisa de Veras, Coutinho e Coeli (1997), uma hipótese que pode ser levantada é

que a depressão isolada leva a um índice baixo de internações, mas como é comum

o idoso com depressão relatar outras doenças, é, provavelmente, outra doença que

leva a internação, e o no idoso já internado seja diagnosticada a depressão.

22,3%

77,7%

9,3%

90,7%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

100,0%

"possível caso" não-caso

simnão

Total: 965

Page 61: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

60

Gráfico 7 – Procura por consulta médica nos últimos 6 meses dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Já a procura por consultas médicas nos últimos 6 meses (Gráfico 7) não

apresentou relação estatisticamente significativa com a tendência a depressão na

população analisada aqui (p>0,05), apesar de ser mais elevada a procura destes

serviços entre os idosos considerados “possíveis casos” de depressão, destes 79%

(177) consultaram médico contra 70,5% (523) dos não-casos.

.

Num estudo no ambulatório de psicogeriatria do Hospital Universitário da

Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, citado por Aguiar e

Dunningham (2001), foi levantado o perfil de morbidade dos pacientes que

demandam por este serviço, 70% dos pacientes apresentaram quadros depressivos

de qualidade e intensidade variadas.

A seguir é analisada e discutida a variável “uso de medicamentos”.

4.4.3 Uso de medicamentos

79%

21%

70,5%

29,5%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

"possível caso" não-caso

simnão

Total: 966

Page 62: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

61

Gráfico 8 – Necessidade de uso de medicamentos dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Observa-se na população idosa de Itajaí que há relação entre uso de

medicação e depressão (p<0,001), corroborando com o estudo de Oliveira (1993).

Dos 985 questionários válidos para esta questão, 227 são considerados “possíveis

casos” de depressão, destes 86,3% (196) relatam usar medicamentos, e 758 são

não-casos, onde 72% (546) usam alguma medicação (Gráfico 8).

O uso de medicamentos pode estar associado à depressão por alguns

motivos, pois se diagnosticada, a depressão, pode ser necessário o uso de

medicamentos, também porque o uso de medicação está associado aos problemas

de saúde e muitas medicações podem afetar o humor da pessoa. Alexopoulos

(1999) coloca que algumas drogas podem ativar a depressão, como a reserpina,

propranolol, esteróides, estrógenos, antibacterianos, levodopa, benzodiazepínicos,

barbitúricos, entre outros. Para Aguiar e Dunningham (2001) a depressão em

pacientes idosos portadores de patologias orgânicas é muito freqüente e esta pode

86,3%

13,7%

72%

28%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

"possível caso" não-caso

simnão

Total: 985

Page 63: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

62

Gráfico 9 – Número de medicamentos utilizados pelos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

ter relação com a necessidade de tratamento medicamentoso. Para Cohen e

Eisdorfer (1997) distúrbios físicos e medicamentos podem levar a depressão.

O número de medicamentos utilizados também é uma variável que aparece

relacionada à depressão na população idosa de Itajaí (p<0,001). Foram 741 idosos

que referiram uso de medicamentos, destes 196 são “possíveis casos” de

depressão, dos quais 63,8% (125) usam de 1-3 medicamentos e 36,2% (71) usam 4

e acima de 4 medicamentos, e dos 545 são não-casos, que referiram o uso de

medicamentos, 77,4% (422) fazem uso de 1-3 medicamentos e 22,6% (123) usam 4

e acima de 4 medicamentos (Gráfico 9).

A próxima variável analisada refere-se a percepção de saúde física e mental.

4.4.4 Percepção de saúde física e mental

63,8%

36,2%

77,4%

22,6%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%

"possível caso" não-caso

1 a 34 e acima

Total: 741

Page 64: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

63

A percepção da saúde física no momento e a saúde física atual em

comparação aos últimos 5 anos são variáveis que mostraram relação com a

tendência a depressão na população idosa de Itajaí (p<0,001). Os idosos

considerados “possíveis casos” de depressão tendem a avaliar pior sua saúde física

do que os não-casos. Observa-se na “Tabela 5” que dos 227 “possíveis casos” 78%

(177) avaliaram sua saúde física como ruim ou péssima, enquanto dos 748 não-

casos 30,6% fizeram essa avaliação. Foram 975 respostas validadas para esta

variável.

Em relação à saúde nos últimos 5 anos (Tabela 5) foram válidas 977

respostas, das quais 66,1% (150) dos “possíveis casos” avaliaram como pior e

38,3% (437) dos não-casos tiveram essa mesma percepção.

Variável Possível Caso Não-caso Total

SAÚDE AUTO-AVALIADA

n % n % n %

- ruim/péssima 177 78% 229 30,6% 406 41,6%- boa/ótima 50 22% 519 69,4% 569 58,4%

Total 227 100% 748 100% 975 100% SAÚDE NOS ÚLTIMOS 5 ANOS - pior 150 66,1% 287 38,3% 437 44,7%- igual 37 13,3% 321 43,8% 358 36,6%- melhor 40 17,6% 142 18,9% 182 18,6%Total 227 100% 750 100% 977 100%

Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Com relação à saúde mental também se observa que os idosos considerados

“possíveis casos” de depressão tendem a avalia-la pior que os não-casos (p<0,001).

Vê-se na “Tabela 6” que foram válidas 976 respostas para a variável percepção de

saúde mental, dos 225 “possíveis casos” 66,7% (150) a avaliaram como ruim ou

razoável e dos 751 não-casos 23,3% (175) fizeram a mesma avaliação. Quanto à

Tabela 5 – Percepção de saúde física atual e saúde física atual em comparação com os últimos 5 anos dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí

Page 65: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

64

saúde mental atual comparada com os últimos 5 anos, 57,1% (128) dos 224 idosos

“possíveis casos” de depressão a avaliaram como pior e 23,7% (178) dos 751 não-

casos relataram esta mesma percepção, totalizando 975 respostas válidas.

Variável Possível Caso Não-caso Total

SAÚDE MENTAL

n % n % n %

- razoável/ruim 150 66,7% 175 23,3% 325 33,3%- excelente/boa 175 33,3% 576 76,7% 651 66,7%

Total 225 100% 751 100% 976 100% SAÚDE MENTAL NOS ÚLTIMOS 5 ANOS

- pior 128 57,1% 178 23,7% 306 31,4%- igual 62 27,7% 436 58,1% 498 51,1%- melhor 34 15,2% 137 18,2% 171 17,5%Total 224 100% 751 100% 975 100%

Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Oliveira (1993) também encontrou relação entre percepção do estado de

saúde e depressão. Para Steffens et al12 (s/d) a depressão na velhice piora a

percepção do doente quanto à própria saúde, levando ao aumento da utilização dos

serviços de saúde.

Para Gatto (1996) as condições físicas exercem enorme influencia sobre o

estado mental, acrescentando ainda o fato de cada pessoa perceber seu estado

físico de maneira diferenciada e podemos desencadear um grave desequilíbrio na

manutenção da saúde mental. Para o autor, cada idoso percebe seu estado de uma

maneira, essa percepção seria sobre doenças e perdas e sobre modificações

orgânicas comuns, indicadoras de passagem de tempo, como cabelos brancos e

rugas.

12 Citado em Freirias e Menon (2002).

Tabela 6 – Percepção de saúde mental atual e saúde mental atual em comparação com os últimos 5 anos dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí

Page 66: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

65

As variáveis de percepção de saúde físicas e mentais têm estreita relação

com os problemas de saúde e com a dependência. E provavelmente estas

associações interferem em sua associação com a depressão. Mais uma vez não se

pode afirmar se é uma relação de causa ou conseqüência, pois a depressão leva a

pessoa a um pessimismo e uma visão negativa das coisas, inclusive de si mesmo e

sua saúde, assim como os problemas de saúde e a dependência levam a pessoa a

ter uma pior avaliação da saúde, uma avaliação próxima do real, já que existe

realmente uma fragilidade.

A seguir será analisada a variável “escore para transtorno cognitivo”.

4.4.5 Escore para transtorno cognitivo

Para Sitta e Jacob F° (2000) é comum a associação de depressão com

distúrbios cognitivos no idoso, geralmente a queixa inicial do idoso com depressão

também traz a perda da memória e concentração. Snowdon (2002) coloca que a

demência junto com depressão é raramente encontrada entre jovens ou entre

pessoas de meia-idade e deve certamente ser mais prevalente após os 75 anos do

que entre 65-74 anos. Ele cita um estudo comunitário com idosos, onde 3,6%

apresentavam demência com depressão.

Para Cohen e Eisdorfer (1997) é comum o idoso com depressão trazer

queixas de comprometimento cognitivo, somatização e preocupação excessiva com

corpo, o que leva a dificuldade de diagnóstico. Para Forlenza e Nitrini (2000)

invariavelmente os idosos deprimidos queixam-se de falhas na memória, segundo os

autores idosos deprimidos que apresentam déficits cognitivos como parte da

Page 67: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

66

Gráfico 10 – Escore para transtorno cognitivo dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

síndrome depressiva têm risco aumentado de evoluir para demência, mesmo os que

têm remissão dos sintomas demenciais após tratamento da depressão.

De 980 respostas validadas para análise desta variável, encontrou-se 35

idosos com escore para “possível caso de transtorno cognitivo”. Dos 227 “possíveis

casos” de depressão 4,8% (11) obtiveram este escore e dos 753 não-casos 3,2%

(24) obtiveram escore para possível transtorno cognitivo (Gráfico 10). Percebe-se

que são números muito próximos e estatisticamente não foi encontrada relação entre

esta variável e tendência à depressão na população idosa de Itajaí (p>0,05).

Alexopoulos (1999) diz que de 15% a 20% dos pacientes com a doença de

Alzheimer também têm transtorno depressivo maior; até 50% têm sintomas

depressivos menos intensos, pacientes com demência leve ou moderada tendem a

relatar sintomas de depressão, embora alguns investigadores não encontrem uma

relação entre a severidade da demência e a presença de depressão. A demência

por multiinfartos está associada com depressão ainda mais freqüentemente que a

4,8%

95,2%

3,2%

96,8%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

100,0%

"possível caso"de depressão

não-caso

possível transtornocognitivo não-caso de transtornocognitivo

Total: 980

Page 68: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

67

doença de Alzheimer, e cerca de 50% dos pacientes parkinsonianos estão

deprimidos.

Alexopoulos (2002) pesquisou sobre ocorrência de demência no seguimento

de pacientes deprimidos, nos estudos apresentados ela variou de 43% a 89%,

nestes casos a depressão pode revelar uma demência subclínica, mencionando um

estudo de autópsias, colocou que 72% dos pacientes com Alzheimer haviam tido

depressão ou ideação suicida 2 anos ou mais antes do diagnóstico de demência,

sendo que o humor deprimido é associado com risco de demência posterior.

A variável analisada a seguir será “capacidade funcional”.

4.4.6 Capacidade funcional

A capacidade funcional é a capacidade para a realização das atividades de

vida diária (AVD), que concede a pessoa cuidar-se e responder por si mesmo no

espaço de seu ambiente. Limitações neste domínio representam um índice severo à

independência (ROSA et al, 2004). O bem-estar psíquico, a boa saúde e qualidade

de vida do idoso estão diretamente relacionadas à possibilidade de manutenção de

sua autonomia e independência (MAZO, LOPES e BENEDETTI, 2001; ROSA et al,

2004).

Sabe-se que tanto as doenças físicas como as mentais podem levar a

dependência e conseqüentemente à perda da capacidade funcional. Nem todo

dependente perde sua autonomia e neste sentido a atenção à dependência mental

deve ser bastante valorizada já que leva muito mais freqüentemente à perda da

autonomia (VERAS et al, 2002). Para Porcu et al (2002) os distúrbios

Page 69: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

68

neuropsiquiátricos como, a depressão, são a principal causa de perda da

capacidade de realizar as atividades diárias em pacientes idosos.

Rosa et al (2004) avaliaram o estado funcional e indícios depressivos em 49

idosos institucionalizados nas cidades de Espumoso e Cruz Alta (RS). Observaram

que os idosos que apresentaram maior indício de depressão são aqueles com maior

limitação funcional, também aqueles com maiores indícios depressivos apresentam

maiores dificuldades na realização das atividades instrumentais da vida diária.

Concluíram que a síndrome depressiva tem como causa ou conseqüência a

habilidade funcional diminuída, conduzindo à perda da independência e autonomia.

Para Veras et al (2002) a depressão freqüentemente está associada com perda da

autonomia e agravamento de quadros patológicos na população idosa.

Na população idosa de Itajaí, também se constatou que a tendência à

depressão está relacionada com a capacidade funcional diminuída (p<0,001), mas

não se pode afirmar qual é essa relação, pois a depressão pode tanto causar a

dependência e perda da autonomia como pode ser resultado da perda da

dependência devido a outros fatores, como doenças físicas. Como observado, nesta

população, a depressão tem grande relação com problemas de saúde, o que pode

levar a hipótese de que existe uma relação tripla, entre depressão, problemas físicos

e dependência. Maia, Durante e Ramos (2004) também encontraram associação

entre transtornos mentais e capacidade funcional diminuída.

Para Aguiar e Dunningham (2001) não é inusitado que as doenças somáticas

que cursam com limitação funcional, como perda de visão, fraturas de ossos e

outras situações orgânicas que restringem a atuação do idoso possam desencadear

quadros depressivos. Reynolds (2002) coloca que os fatores de risco psicossociais

Page 70: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

69

para depressão maior tardia freqüentemente envolvem eventos vitais negativos,

como incapacidade oriunda de condições médicas e necessidade de reabilitação.

Observa-se na “Tabela 7” que os “possíveis casos” de depressão apresentam

maiores índices de dependência, pois de um total de 211 idosos apenas 18% (38)

são independentes, enquanto dos 708 não-casos 43,9% (311) são independentes.

Foram 919 respostas válidas para esta variável.

Severa Moderada Leve Independente Total Possível Caso n 20 47 106 38 211

%

9,5% 22,3% 50,2% 18,0% 100,0%

Não-caso n 35 77 285 311 708

%

4,9% 10,9% 40,3% 43,9% 100,0%

Total n 55 124 391 349 919 % 6,0% 13,5% 42,5% 38,0% 100,0%Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

A última variável apresentada será a prática de alguma “atividade física” por

parte do idoso.

4.4.7 Atividade física

Sobre a prática de atividade física (Gráfico 11) observa-se que, dos 226

“possíveis casos” de depressão, 66,8% (151) não têm atividade física e 33,2% (75)

possui alguma atividade, enquanto que dos 757 não-casos 49,5% (375) não têm

atividade e 50,5% (382) pratica alguma atividade física, dando um total de 983 casos

válidos.

Tabela 7 – Nível de dependência dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos da população residente do município de Itajaí

Page 71: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

70

Gráfico 11 – Existência de prática de atividade física dos idosos considerados “possíveis casos” de depressão e não-casos residentes do município de Itajaí, segundo o Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Estes dados demonstram que a prática de alguma atividade física tem relação

com a presença ou não de depressão na terceira idade (p<0,001). Segundo Mazo,

Lopes e Benedetti (2001) a prática de exercícios físicos, bem orientados e realizados

regularmente, trazem ao idoso benefícios no aspecto psicológico, biológico e social,

tais como: maior longevidade, redução do número de medicamentos utilizados,

prevenção do declínio cognitivo, manutenção da independência e autonomia,

melhoria da auto-imagem, da auto-estima, do contato social e prazer pela vida. A

atividade física auxilia na adaptação e reintegração do idoso na sociedade e na

reorganização da vida social, trazendo a melhora do seu bem estar geral.

Para Sitta e Jacob F° (2000) com o envelhecimento a pessoa tende a ficar

mais inativa fisicamente, porém o exercício físico é essencial para manter a força

muscular, os reflexos, a coordenação motora e é o único evento natural que pode

otimizar o equilíbrio neuroquímico do cérebro, pode ser um importante fator de

prevenção da depressão, além de colaborar para a socialização e para a prevenção

de diversas doenças físicas limitantes, como osteoporose e doenças cardíacas.

33,2%

66,8%

50,5% 49,5%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

"possível caso" não-caso

simnão

Total: 983

Page 72: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

71

Quanto mais se envelhece mais se deveria exercitar como forma de manter as

capacidades funcionais.

Não se pode afirmar se a falta de atividade física é causa ou conseqüência da

tendência de depressão, mas observa-se que os idosos com tendência a

desenvolverem depressão não têm como hábito à prática de atividades físicas,

sendo que estas poderiam ser uma forma de ajudá-lo a melhorar sua condição de

saúde física e mental.

4.5 Análise de regressão logística binária

As variáveis que se mostraram estatisticamente significativas, em relação à

tendência de depressão na população idosa de Itajaí, foram submetidas à “análise

de regressão logística binária”. Para esta análise todas as variáveis deveriam ser

binárias, ou seja, com apenas duas respostas possíveis. Já eram binárias as

seguintes variáveis: sexo (feminino ou masculino), morador urbano ou rural,

alfabetização (sim ou não), existência de problemas de saúde (sim ou não),

internação nos últimos 6 meses (sim e não), uso de medicamentos (sim ou não),

percepção de saúde física atual (ruim/péssima ou boa/ótima), percepção de saúde

mental atual (razoável/ruim ou excelente/boa) e atividade física (sim ou não). As

variáveis que não eram binárias foram transformadas, ficando organizadas da

seguinte forma: escolaridade (de primário incompleto até primeiro grau completo ou

entre segundo grau e superior), renda mensal pessoal (até 2 salários mínimos ou

mais de 2 salários mínimos13), renda mensal domiciliar (até 510 Reais ou acima de

510 Reais), capacidade funcional (dependente ou independente), saúde física

13 Na época da coleta de dados o salário mínimo era de 180 Reais.

Page 73: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

72

comparada com os últimos 5 anos (pior ou igual/melhor) e saúde mental comparada

com os últimos 5 anos (pior ou a mesma/melhor). As variáveis “número de

problemas de saúde” e “número de medicamentos” não entraram nesta análise, pois

se considerou que elas estariam contempladas na resposta “sim” das variáveis

“problemas de saúde” e “uso de medicamentos”.

Destas 15 variáveis, submetidas à análise de regressão logística binária

(Tabela 8), mantiveram-se com impacto significante (razão de chance acima de 1),

em relação à depressão na população idosa de Itajaí, 7 variáveis: sexo,

alfabetização, percepção de saúde mental atual, saúde mental comparada com os

últimos 5 anos, atividade física, capacidade funcional e renda mensal domiciliar. Ou

seja, a razão de chance de uma mulher idosa dessa população ser “possível caso”

de depressão é de 1,076; do idoso não alfabetizado é de 1,331; do idoso que não

pratica atividade física com freqüência é de 1,613; que percebe a saúde mental atual

como pior é de 4,651; que percebe a saúde mental atual em comparação com

últimos 5 anos como pior é de 1,746; que tem algum nível de dependência é de

1,885; e que tem renda domiciliar até 510 Reais é de 2,373. As demais variáveis

analisadas aqui obtiveram razão de chance menor que 1.

Tabela 8 – Análise de regressão logística binária das variáveis sexo, alfabetização, percepção de saúde mental atual, saúde mental comparada com os últimos 5 anos, atividade física, capacidade funcional e renda mensal domiciliar, em relação à população idosa de Itajaí (SC)

Variável Razão de chance Sexo 1,076

Alfabetização 1,331 Percepção de saúde mental atual 4,651

Saúde mental comparada com os últimos 5 anos 1,746 Atividade física 1,613

Capacidade Funcional 1,885 Renda mensal domiciliar 2,373

Fonte: Inquérito Domiciliar: Saúde e Envelhecimento no Município de Itajaí-SC (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003).

Page 74: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa procurou identificar alguns fatores biológicos, sociais e

psicológicos que possam estar relacionados à depressão na população idosa de

Itajaí (SC), levantando assim o perfil epidemiológico da população em questão.

O perfil epidemiológico identificado sugere a associação estatisticamente

significativa entre variáveis biopsicossociais e a depressão. As seguintes variáveis

mostraram relação com a depressão nesta população: sexo, ser morador urbano ou

rural, alfabetização, escolaridade, renda pessoal, renda domiciliar, existência de

problemas de saúde, número de problemas de saúde, necessidade de internação

nos últimos 6 meses, uso de medicamentos, número de medicamentos utilizados,

nível de capacidade funcional, percepção da saúde física e mental atual e

comparada com os últimos 5 anos e atividade física.

Algumas variáveis foram analisadas e não demonstraram relação com

depressão, estas correspondem à: idade, estado conjugal, existência de filhos,

número de filhos, arranjo familiar, número de co-habitantes, procura por consulta

médica nos últimos 6 meses e escore para transtorno cognitivo.

Salientamos que as variáveis analisadas denominadas de “variáveis

relacionadas à estrutura familiar” (estado conjugal, existência de filhos, número de

filhos, arranjo familiar e número de co-habitantes) podem, realmente, caracterizar a

estrutura das famílias dos idosos, mas através delas não foi possível identificar a

importância funcional da família para os idosos considerados não-casos e “possíveis

casos” de depressão. Após reler a pesquisa e o questionário, concluímos que,

provavelmente, as variáveis selecionadas aqui não possibilitaram a análise da

influência da família em relação à tendência à depressão na população idosa de

Page 75: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

74

Itajaí, possivelmente variáveis como “morte recente de amigo/familiar”, “quem ajuda

o idoso quando necessário” ou “satisfação com o relacionamento familiar” poderiam

esclarecer melhor a questão da importância da família. Estas e outras variáveis

podem ser retiradas do banco de dados da pesquisa “Inquérito Domiciliar: Saúde e

Envelhecimento no Município de Itajaí-SC” (KNOLL, SANDRI e PLONER, 2003),

ficando aqui uma sugestão para uma nova pesquisa, semelhante a presente, mas

com variáveis diferentes para a análise.

Das variáveis que demonstraram relação com depressão, mantiveram-se com

impacto significante, após a análise de regressão logística binária, as variáveis:

sexo, alfabetização, percepção de saúde mental atual e comparada com os últimos 5

anos, atividade física, capacidade funcional e renda mensal domiciliar.

Apesar de ser estabelecida e existência de relação entre algumas variáveis

biopsicossociais e o fato do idoso ser considerado “possível caso” de depressão,

não se pode afirmar qual é essa relação, se é de causa ou conseqüência. Pois

estudos que utilizam qui-quadrado como prova de independência podem aceitar ou

rejeitar a existência de associação entre variáveis, mas não podem dizer em que

medida as variáveis se relacionam (BISQUERRA, SARRIERA e MARTÍNEZ, 2004).

Assim sendo, as variáveis que demonstraram relação com depressão não podem

ser consideradas etiológicas.

Para tentar estabelecer qual é essa relação e quais variáveis são etiológicas

da depressão na população idosa, sugere-se que seja feito um estudo longitudinal,

que acompanhe o desenvolvimento de vários sujeitos ao longo de anos, assim seria

possível identificar se as variáveis analisadas surgem antes que a depressão ou a

depressão influencia o aparecimento delas. Segundo Petresco (2005) estudos

Page 76: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

75

longitudinais são úteis para testar hipóteses preliminares, propor hipóteses e são

utilizados para avaliar etiologia e quadros clínicos.

Também fica a sugestão da realização de outras pesquisas envolvendo a

população idosa, em geral, pois estes são importantes para o conhecimento das

características desta população e possibilitam planejamentos e intervenções mais

eficazes para a melhoria de sua qualidade de vida.

Observamos que a prevalência de “possíveis casos” de depressão na

população idosa de Itajaí foi elevada, em torno de 22,8%. Devido a esse alto índice,

e considerando que a depressão é um dos problemas emocionais mais freqüentes

na terceira idade (BLAZER, 1998; LEITE, 2002, ANDERSON 1998a; LAKS et al,

1998; SITTA E JACOB F°, 2000; SCALCO, 1995), que ela traz danos significativos

para a vida do idoso e que seu diagnóstico é difícil (CARVALHO e FERNANDEZ,

1996), torna-se importante que os órgãos responsáveis pela saúde pública de Itajaí

fiquem atentos à depressão na população idosa.

Sugerimos a implantação, na rede pública do município de Itajaí, de um

serviço especializado no atendimento à população idosa com queixa de depressão,

este serviço poderia diagnosticar, intervir a acompanhar esses idosos, também

preparar de forma adequada os profissionais de saúde para atender a essa

população e diagnosticar a depressão. Serviços como este são importantes, pois a

depressão traz grande sofrimento ao idoso, mas seu diagnóstico é difícil, por isso

nem sempre a depressão é tratada de forma adequada.

Os resultados desta pesquisa podem contribuir na implantação de serviços,

como este proposto. Pois trouxeram conhecimentos sobre uma parcela da realidade

da população idosa de Itajaí, os dados levantados são úteis para todos os

profissionais da área da saúde e podem contribuir no planejamento de práticas

Page 77: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

76

sociais de atenção ao idoso, principalmente com relação à promoção, prevenção e

intervenção na saúde, especialmente nos casos de depressão.

Para os profissionais da Psicologia, que atuam na área de saúde mental do

idoso, os resultados desta pesquisa contribuem para o diagnóstico da depressão e

planejamento de intervenções. É importante que os psicólogos estejam preparados

para o diagnóstico e tratamento da depressão do idoso e tenham um enfoque

interdisciplinar, pois as variações individuais da depressão exigem uma avaliação

abrangente (GAVIRIA e FLAHERTY, 1995), muitas vezes exigindo exames médicos,

e as terapias psicológicas e biológicas devem ser combinadas da melhor forma

possível, a fim de proporcionar ao idoso seu máximo benefício (REYNOLDS, 2002).

Realizar esta pesquisa foi muito interessante para mim, contribuindo de forma

importante para minha formação. Pude estar em contanto com um programa

estatístico, utilizado para a realização de pesquisas, e aprender a usar algumas de

suas funções, passei a compreender melhor o processo de pesquisa e a importância

de pesquisas como esta, que podem subsidiar planejamentos visando a saúde da

população, além disso, adquiri muitos conhecimentos sobre a população idosa, a

velhice e a depressão neste contexto e foi gratificante estar em contato com

profissionais competentes, que me orientaram e apoiaram dentro do possível.

É importante que a sociedade em geral respeite o idoso, cabendo às políticas

públicas estarem atentas quanto às suas necessidades e trabalharem em prol da

melhoria da condição e qualidade de vida destes, sempre baseadas em dados da

realidade fornecidos por estudos epidemiológicos, como este apresentando.

“A sociedade deve repensar a saúde, educação, economia, política, dentre

outros aspectos, buscando alternativas que possibilitem minimizar seu impacto sobre

Page 78: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

77

a qualidade de vida do idoso, planejar e implementar as políticas públicas voltadas

para essa população” (MAZO, LOPES e BENEDETTI, 2001, p. 22).

Page 79: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO NA POPULAÇÃO IDOSA DE ITAJAÍ

78

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