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Pós-Graduação em Psicopedagogia
Disciplina:
Princípios Gerais da Psicopedagogia
A ação psicopedagógica no século XXI e a ação terapêutica
preventiva: apresentação elementar de terminologia,
abordagens, materiais e procedimentos.
Prof. Me. Sergio Gonçalves da Cunha
Objetivos deste encontro:
Apresentar alguns termos específicos das ciências naturais e sociais,
pertinentes ao universo da psicopedagogia;
Elucidar a conexão de tais termos com a prática d@s psicipedagog@s;
Apresentar referências afins como alternativas de consultas futuras;
Fazer uma descrição geral e contextualizada de procedimentos e
materiais úteis à prática clínica e institucional;
Apresentar um exemplo de experimento sobre o efeito Pigmalião e
efeito Golem em sala de aula, ademais de sua repercussão na atividade
dos psicopedagogos;
Apresentar exemplo de estudo científico sobre o desenvolvimento de
bebês (Universidade de John Hopkins, 2015);
Ontogenia e filogenia: correlações com contextos
socioculturais
A ontogenia está relacionada ao estudo dos embriões de
determinada espécie desde seu nascimento até o seu auge de
maturação (fase adulta). Para Gould (1977), trata-se da tradução
das transformações de qualquer organismo em sua fase
embrionária e pós-embrionária.
Já a filogenia, segundo Melo (1999) representa a atividade
de compreensão científica da história evolutiva dos
organismos (de uma espécie ou grupo hierárquico
reconhecido). Frequentemente (mas não sempre) caracteres
ancestrais são preservados durante o desenvolvimento de
diferentes indivíduos;
Correntes de estudo do século XIX defendiam que a “Ontogenia
Recaptula a Filogênica” (ORF), ou seja, todo o desenvolvimento de
um indivíduo, desde sua fase embrionária, resgataria toda a sua
trajetória histórica evolutiva.
Entretanto atualmente tal afirmação é colocada em discussão a
partir do momento que não se observa uma recapitulação completa
entre os diferentes tipos de organismos.
Por exemplo, tanto os embriões da galinha quanto os dos humanos
passam por um estágio onde têm fendas e arcos nos seus
pescoços que são idênticos as fendas e arcos branquiais dos
peixes.
Mas isso não quer dizer que na fase adulta, ambas as
espécies precisam virar peixes para depois assumirem sua
morfologia específica e definitiva.
Para a necessária diferenciação, reforça-se que
desenvolvimento de coordenação motora, capacidades
cognitivas, postura vertical e desenvolvimento de habilidades
relacionais e morais são alguns exemplos de características
filogenéticas;
Segundo Martins e Vieira (2010, p. 64) a Psicologia do
Desenvolvimento Evolucionista defende que “é possível
atribuir um papel relevante para a ontogênese e, ao mesmo
tempo, adotar uma perspectiva evolucionista” à luz de diversos
autores (Bjorklund & Pellegrini, 2000; Bjorklund & Smith, 2003;
Charlesworth, 1992; Keller, 2002; Seidl-de-Moura 2005)
Para os autores “esforços são necessários para explicar “como”
os genes e o ambiente interagem para produzir um fenótipo
específico” (ibidem);
Epigênese
“Processo que envolve a ação de genes, proteínas, neurônios e
do ambiente (incluindo a cultura) na emergência de novas
estruturas e funções durante o curso de desenvolvimento
(MARTINS E VIEIRA, 2010, p. 64);
Além de se rejeitar o determinismo biológico, tais estudos
apontam para uma relação bidirecional entre indivíduo e
ambiente;
Reforça-se ainda que “o crescente interesse em compreender os
aspectos biológicos do desenvolvimento humano, vindo
principalmente da Psicologia Evolucionista e das
Neurociências, vem impulsionando, ao mesmo tempo, o
interesse pelo papel da cultura” (ibid.)
Neotenia
Trata-se do processo evolutivo humano que, ao ser comparado com
outras espécies, guarda algumas particularidades, dentre elas:
•Prolongamento de características juvenis, mesmo na idade adulta;
•Maior desenvolvimento da inteligência e das estruturas cerebrais
complexas;
•Agrega ao ser humano uma plasticidade e uma flexibilidade do seu
patrimônio genético maior do que de diversas outras espécies. Isso
faz com que a espécie humana esteja mais propensa à influências
ambientais e culturais;
Maior lentidão no processo de maturação, crescimento, puberdade
e fechamento do crânio também são alguns exemplos da Neotenia.
Por outro lado, tal característica humana confere alta capacidade
de adaptação e diversidade nos comportamentos;
Socialmente, a espécie humana é um demasiado tempo
depedente dos cuidados maternos e paternos, porém criando-se
mais vínculos perduráveis com os progenitores;
Assim, relembremos que a Psicopedagogia é de natureza
interdisciplinar. Utiliza recursos das várias áreas do
conhecimento humano para a compreensão do ato de aprender,
no sentido ontogenético e filogenético, valendo-se de métodos
e técnica próprios.
Para Weiss (1994) “não se pretende classificar o paciente em
determinadas categorias nosológicas, mas sim obter a
compreensão global da sua forma de aprender e dos desvios
que estão ocorrendo neste processo” (ibdem).
Dessa forma, o diagnóstico pode ser comparado à uma
“pesquisa-ação” e a ideia de sintoma é o que se torna
perceptível como resultado da interação da personalidade do
indivíduo com o sistema social em que o mesmo está inserido.
Clarificada a posição de desvio, deve-se traçar rumos para se
construir diagnóstico
Tem-se como categorias nosológicas, as classificações dos
diferentes tipos de patologias. O alerta messe contexto é mais
uma vez não recorrermos a determinismos biológicos e
explicações puramente orgânicas para determinados fenômenos
ou comportamentos;
Para Tripp (2005, p. 445) “É difícil de definir a pesquisa-ação por
duas razões interligadas: primeiro, é um processo tão natural que
se apresenta, sob muitos aspectos, diferentes; e segundo, ela se
desenvolveu de maneira diferente para diferentes aplicações”;
O autor complementa afirmando que “Quase imediatamente
depois de Lewin haver cunhado o termo na literatura, a pesquisa-
ação foi considerada um termo geral para quatro processos
diferentes: pesquisa-diagnóstico, pesquisa participante, pesquisa
empírica e pesquisa experimental (Chein; Cook; Harding, 1948)”
Nessa pesquisa-ação devemos perceber os sintomas dos
indivíduos que neste caso são epifenômenos, ou seja, tudo
aquilo que emerge do indivíduo resultado da interação entre suas
características, sua personalidade e o sistema social o qual está
inserido (WEISS, 1994).
A pesquisa-ação é um tipo de investigação-ação, que é um
temo geral para qualquer processo que siga um ciclo no qual se
aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no
campo da prática e investigar a respeito dela.
Pois isso, após percebido o desvio deve-se partir de parâmetros
para a investigação de diagnóstico, como vistos na última aula
como exigências familiar, exigência escolar, escolarização dos
pais, idade cronológica ou nível socioeconômico.
Assim, é oportuno que destaquemos algumas variáveis e
fenômenos relevantes:
Nível Socioeconômico (NSE)
Diversos estudos da área da Sociologia da Educação, demonstram
que nível socioeconômico impacta de maneira significativa no
desempenho e rendimento dos alunos, não estando obrigatoriamente
associada a dificuldade de aprendizagem . Escolaridade das mães,
capital cultural, renda familiar, numero de moradores dentro de uma
mesma casa, irmãos mais velhos que deixaram estudar, escolaridade
dos pais (principalmente das mães), e moradia em comunidades com
habitantes de maior ou menor risco social / fragilidade empregatícia
influenciam no desempenho escolar.
Deve-se levar em conta todos esses fatores para a investigação e
diagnóstico, paralelos às questões orgânicas e cognitivas. Entre os
autores , inclusive sobre o contexto brasileiro, sugere-se estudos de
Ribeiro (2005), Bourdieu (1975;1979), Cardoso (2013) entre outros.
Clima escolar
Brito (2009) aponta a necessidade de estudos mais
aprofundados sobre o cotidiano das escolas e do trabalho
docente para melhor compreensão de como nossas escolas
auxiliam na permanência e a aprendizagem dos alunos,
independente do impacto considerável das características
sociais;
Para Brito e Costa (2010, p. 501) “de modo geral,
pensamento predominante nessas pesquisas traz a
perspectiva de que uma escola na qual as relações entre os
diferentes membros da comunidade educacional são
positivas favorece um bom clima”
Nesse sentido, os autores relembram que a literatura tem colocado
foco no papel do diretor de escola. Além disso, destaca-se como
características positivas que favorecem o aprendizado dos alunos:
Mobilização da comunidade;
Propostas de fortalecimento da equipe;
Estímulo a um maior envolvimento dos professores nas atividades
escolares;
Brito e Costa (2010, p. 508) ainda apontam como aspectos
intraescolares importantes: [...] “o clima escolar (diferenças de
relacionamento com a direção, pais e alunos, mudança de atitude dos
professores diante dos alunos, diferenças na abordagem dos
conteúdos e nas formas de avaliação, uso diferenciado dos recursos
escolares) e o prestígio escolar (indicação de seleção de alunos nas
escolas e diferenciação nos critérios de oferta escolar)
Esses fatores são importantíssimos tanto na psiopedagogia
institucional (intervenção nas escolas), quanto na clínica (oportuna
recomendação de troca de turmas ou unidades escolares, por
exemplo)
Efeito Escola
A pesquisa sobre o efeito-escola basicamente passou a defender a
necessidade de "abrir a caixa preta" da escola, a fim de entender os
processos escolares associados ao desempenho escolar, e também
identificar escolas que por suas práticas pedagógicas conseguem levar
alunos de origem social e cultural desfavorecida a resultados escolares
que contrariam as expectativas (BRESSOUX, 2003, apup. ALVES e
SOARES, 2007)
Juntos, os mecanismos formais e informais para o ingresso dos alunos
das escolas públicas formam um "ecossistema escolar" (Yair, 1996,
apud. Ibid.)
Um dos exemplos práticos de ações e seus efeitos na aprendizagem
está na divisão e organização das turmas. De posse de tais estudos,
psicopedagogos podem sugerir melhores estratégias de enturmação que
favoreçam alunos em desvantagem de aprendizagem ,sem prejuízos.
Efeito Pigmalião - primeiro experimento
O nome veio inspirado numa lenda com várias versões. Em uma
delas, Pigmalião era o rei de Creta e dizem que era um grande
escultor. Tão bom que fez uma estátua perfeita de uma mulher e
Pigmalião se apaixonou pela mesma. Embevecido. Não fazia
mais nada. Não comia, não bebia, mal dormia. A deusa Vênus
sensibilizada, deu vida à estátua. Ela se transformou em uma
linda mulher, que recebeu o nome de Galatéia. Os dois se
apaixonaram, casaram-se e tiveram filhos. Poderiam ter vivido
felizes para sempre não fosse a soberba. Pigmalião sem qualquer
modéstia dizia que ele era o melhor escultor do mundo e que
Zeus não lhe representava nada. Ao ver aquilo, o Rei dos deuses
se enfureceu e fulminou Pigmalião com um raio. (HAASE, 2015)
A metáfora aqui se concentra na ideia de que nossas expectativas
podem influenciar nossas ações e nosso desempenho.
O termo Efeito Pigmalião se refere ao efeito que as expectativas da
professora têm sobre o desempenho escolar do aluno. O termo se
popularizou a partir de um experimento realizado nos anos 1960 por
Robert Rosenthal, um psicólogo experimental de Harvard, e Lenore
Jacobsen, uma diretora de escola na Califórnia.
Foram realizados de inteligência em crianças de 1º a 6º anos de
uma escola. Posteriormente, houve uma divisão em dois grupos (um
experimental e um de controle). As professoras dos alunos não
tinham acesso ao resultado de Q.I (pré-teste), mas foi comunicado
às mesmas que determinado grupo de alunos teria se saído melhor
e superado a meta (uma inverdade, pois a escolha foi aleatória);
O resultado foi que as professoras deram mais atenção às crianças
que elas acreditavam ter um melhor potencial. Eram mais gentis,
davam mais atenção, explicavam mais, chamavam mais ao quadro
para resolver problemas, reforçavam mais o comportamento de
estudar etc.
Ao final do ano, as crianças supostamente identificadas como mais
talentosas, tiveram um crescimento maior nos seus testes de QI,
independentemente da inteligência inicial.
Essa seria mais uma justificativa, aos olhos da ciência, para que se
empreendam estudos sobre efeito-escola, clima e cobrança
escolar, além da importância da relação afetiva de pais e seus
filhos na cobrança das tarefas de casa, por exemplo.
Conhecer o Efeito Pigmalião é importante também para não
incorrer no seu inverso, o efeito Golem. O termo Golem se refere
ao folclore judaico, remontando pelo menos ao rabino Judá Loew
bem Betzalel, que viveu em Praga no Século XVI. O Golem se
refere a uma criatura monstruosa, demoníaca, metade humana e
metade artificial, a qual deu origem à história do Frankenstein de
Mary Shelley. (ibid.)
O termo efeito Golem se aplica àquelas circunstâncias nas quais
a professora desenvolve expectativas negativas quanto ao
desempenho do aluno. Por exemplo, quando o aluno tem alguma
dificuldade de aprendizagem ou de comportamento. Nesses
casos a professora tende a dar menos atenção para o aluno,
explicar menos, reforçar menos e punir mais.
Exemplo de estudo: desenvolvimento dos bebês
desafiando as leis da Física (Universidade de John
Hopkins)
Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos,
fizeram uma série de experimentos com 110 crianças de 11 meses e
descobriram que, quando as crianças estão diante de objetos ou
experiências que vão contra algumas noções básicas do funcionamento
do mundo, como bolas que atravessam paredes ou carrinhos de
brinquedo que flutuam no ar, as crianças ficam mais surpresas, curiosas
e aproveitam a experiência para aprender. (VEJA, abril de 2015)
Aprendizado rápido - Os cientistas partiram da hipótese de que as
crianças têm desde muito cedo algumas ideias sobre como funciona o
ambiente ao redor delas. Elas saberiam que há objetos sólidos que
não devem ser atravessados ou que, ao serem jogados, os objetos
caem no chão. Com isso, a equipe de pesquisadores submeteu parte
dos bebês a experiências que desafiariam essas regras.
Apresentaram a eles bolas que passaram pelas paredes ou carrinhos
que, ao chegarem a um buraco não caíam, mas ficavam no ar. A outra
parte das crianças assistiu às experiências como elas acontecem no
mundo real: bolas que param em frente a paredes e carrinhos que
caem.
Em seguida, os pesquisadores deram os objetos para os bebês e
mediram como reagiam a eles. As crianças que viram as experiências
surpreendentes exploravam mais os objetos, batendo a bola para
verificar se era realmente sólida ou jogando o carrinho no chão para
avaliar se caía ou não, ao contrário do outro grupo. Os cientistas
também mediram, por meio de sons e avaliações, as taxas de
aprendizado das crianças. Aquelas que viram as experiências
desafiadoras se saíram significantemente melhor.
Em seu artigo, os autores afirmam que os bebês submetidos aos
experimentos surpreendentes estavam testando hipóteses sobre o
modo de agir dos objetos em relação a suas noções de realidade -
como pequenos cientistas.
Apresentação elementar de alguns procedimentos e
materiais
Sobre o diagnóstico:
O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre
revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo
vimos afirmando, em uma atitude investigadora, até a intervenção. È
preciso observar que essa atitude investigadora, de fato, prossegue
durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo da
observação ou acompanhamento da evolução do sujeito. (Bossa,
2007, p.94)
Weiss (1997, p.27) afirma que o diagnóstico é utilizado para, “o
esclarecimento de uma queixa do próprio sujeito, da família e na
maioria das vezes, da escola.”
Na Epistemologia Convergente todo o processo diagnóstico é estruturado
para que se possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o
afetivo de onde resulta o funcionamento do sujeito (BOSSE, 1995, p. 80).
Neste sentido, Visca (1991) propõe um esquema sequencial. Já para Weiss
(1994;1997), bem como outros profissionais e pesquisadores, o diagnóstico
deve se iniciar com a anamese.
Pode haver necessidade de adaptações. Por exemplo, em casos de quadros
psicóticos, neuroses graves ou outras patologias, é necessário um tratamento
psicoterápico inicial, até que o paciente atinja um ponto tal que tenha
condições de perceber a sua própria necessidade de aprender e crescer no
que respeita à escolaridade; é preciso que se instale nele o desejo de
aprender (ibid).
Anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é
uma entrevista previamente esquematizada, realizada pelo profissional ao
seu paciente que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico.
A escolha por qualquer uma das sequências de diagnóstico, não altera o
resultado quando bem aplicadas;
Sequência diagnóstica segundo Visca (1991)
Sequência diagnóstica segundo Weiss (1994;1997)
Sobre os materiais de um consultório: (WEISS,
1994;1997)
Na visão dos pacientes:
- Claridade, simplicidade, conforto, aconchego e beleza;
- Espaço suficiente para as atividades, além de possibilitar arrumação
e funcionalidade;
- Possibilidade de manutenção de sigilo quanto aos produtos feitos e
aspectos da individualidade;
Mobiliário e objetos:
- Mesa regular;
- Quadro de giz;
- Armários e outros espaços de guardados (fechados);
- Painel com materiais mais utilizados (para acesso dos pacientes);
- Relógio e calendário;
-Caixa de trabalho
- Jogos
- Material de consumo (lápis, folhas coloridas, hidrocor etc,)
Sala:
-Com chão forrado de material lavável;
-Deve possuir lavatório com água corrente ou adaptação estilo ateliê
-Decoração cuidadosa: que evite excesso de estímulo ou dispersão;