Produção Leite Longa Vida

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www.sebrae.com.br Nº 6 – Outubro de 2007 PRODUÇÃO LEITEIRA Longa vida para o leite Ovinocaprinocultura Cadeia produtiva ganha força Carne Indicação de Procedência aponta a origem da qualidade

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www.sebrae.com.br Nº 6 – Outubro de 2007

PRODUÇÃO LEITEIRALonga vida para o leite

OvinocaprinoculturaCadeia produtiva ganha força

CarneIndicação de Procedência aponta a origem da qualidade

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Ano 2 nº 6 Outubro de 2007 w w w . s e b r a e . c o m . b r

sumário

Revista SEBRAE Agronegócios – nº 6 outubro de 2007

SEBRAEServiço Brasileiro de Apoio

às Micro e Pequenas Empresas

Presidente do Conselho Deliberativo Nacional

ADELMIR SANTANA

Diretor-PresidentePAULO TARCISO OKAMOTTO

Diretor TécnicoLUIz CARLOS BARBOzA

Diretor de Administração e FinançasCARLOS ALBERTO DOS SANTOS

Gerente da Unidade deAtendimento Coletivo –

Agronegócios e TerritóriosEspecíficos – UagroJUAREz DE PAULA

Gerente da Unidade deMarketing e ComunicaçãoMáRCIO GODINhO OLIvEIRA

Coordenação

[email protected]

Coordenadora Editorial BETh NARDELLI DRT-DF 500/04/43

Reportagem FELIPE TRIGUEIRO, JOãO CAMPOS, LENA NARDELLI, MARCUS MARCONI

Foto da capa SEBRAE-MG

Coordenação de Arte REGINA PESSOADiagramação

EDUARDO KRüGERImpressão

Gráfica Charbel Revisão

vANESSA AMARALPublicação

SEBRAE – UAGRO (UNIDADE DE ATENDIMENTO COLETIvO – AGRONEGÓCIOS E TERRITÓRIOS ESPECÍFICOS) SEPN 515, Bloco C, Loja 32

CEP: 70770-530 – BRASÍLIA – DF (61) 3347-7422/7433/7389

Expediente

ProdutividadeOeste de SC pode ser pólo de produção leiteira

20

Cultivo de ostras em Sergipe preserva natureza

Sustentabilidade

57

6 Mensagem – Qualificação dos produtores eleva qualidade do agronegócio

7 Artigo – Análise estratégica e os desafios das carnes

14 Cenários para o leite em 2020

16 Um queijo pernambucano com nome e sobrenome

18 Tecnologia ecológica reduz custos e aumenta produtividade

20 Cadeia produtiva do leite em SC poderá ser a maior do país

22 Ordenha manual exige cuidados

24 Governo, Sebrae e produtores na luta contra a febre aftosa

26 Carne bovina do Pampa Gaúcho tem Indicação de Procedência

27 Câmara debate desenvolvimento da ovinocaprinocultura

28 A expansão da ovinocaprinocultura no Nordeste

30 Terra de Cabra Macho é campeã na produção leiteira

31 Produção diária de leite é de 11,9 mil litros

32 Carne de cordeiro tem qualidade certificada no RS

34 Cordeiro: um negócio de dar água na boca

36 Um casamento heterodoxo que deu certo

38 Projeto capacita suinocultores

40 Galinha caipira x granjeira: um empate técnico

41 Por uma renda mínima aos produtores

Sebrae/SC

Milton Carriço

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Fora da porteira

Editorial

PAULO OKAMOTTODiretor-presidente do Sebrae

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as

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

tem apoiado fortemente o setor de caprinos e ovinos. Por

várias razões: é atividade típica de pequeno produtor, gera

alimento, renda e emprego, reduz e até reverte o êxodo

rural, é fator de dinamismo em regiões de baixo IDh, como o semi-árido

nordestino.

Junto com 250 parceiros, o Sebrae participa de 65 projetos em 500

municípios de 20 estados, aplicando recursos da ordem de R$ 7 milhões

por ano.

Integramos a chamada Rede Aprisco. A rede tem o grande objetivo

de modernizar a criação de bodes e carneiros, com técnicas eficazes,

tornando o segmento mais produtivo. Outra finalidade é capacitar os

criadores para que façam da sua atividade um bom negócio, rentável e

competitivo, como verificamos nas experiências relatadas nesta edição.

O Sebrae reconhece, obviamente, a importância fundamental do

trabalho no campo, mas está mudando seu foco na caprinovinocultura.

Como as instituições de pesquisa e assistência agropecuária têm

trabalhado dentro da porteira, queremos nos concentrar no mercado e

na gestão.

Entre outras atribuições, daremos prioridade a pesquisas que

estimulem o consumo de carne de cabrito e cordeiro. É preciso, por

exemplo, identificar e mapear esse consumidor. É necessário, num outro

exemplo, estimular o maior uso de caprinos e ovinos na gastronomia.

vamos patrocinar a elaboração de estudos sobre o agronegócio de

caprinos e ovinos.

Enfim, ainda há muito a fazer. Existem diversos problemas a superar,

como o baixo consumo per capita, falta de padronização, irregularidade

na oferta, questões sanitárias, aumento da produtividade. Mas as

grandes potencialidades do setor de caprinos e ovinos e seus amplos

benefícios sociais e econômicos motivam ainda mais o Sebrae.

Veja as perspectivas da produção leiteira no país

10Entrevista: Rodrigo Alvim

42 Agricultores familiares descobrem a avicultura

42 Em Tocantinópolis, uma parceria de sucesso

44 Animais silvestres e exóticos: artigos cada vez menos raros

48 Tilápia é cultivada em água estuarina

50 A força do associativismo

51 Sistema de criação de peixes revoluciona piscicultura no Acre

52 Projeto na Bacia Amazônica incrementa piscicultura

54 O paraíso das ostras

56 Certificação confere credibilidade a ostras em Santa Catarina

57 Cultivo em Sergipe também é reconhecido

58 A dança do caranguejo: uma história de idas e vindas

Wenderson Araújo – Agência CNA

Sebrae Agronegócios 5

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Mensagem

Qualificação dos produtores eleva qualidade do agronegócioLUIz CARLOS BARBOzADiretor Técnico do Sebrae

Esta edição, a sexta da revista Sebrae Agronegócios, nos apresenta um panorama muito expressivo de ini-ciativas que o Sebrae, por intermédio das suas unida-des estaduais, apóia técnica e financeiramente.

São apresentadas aqui ricas experiências que, de norte a sul, promovem a inclusão social, a valorização de produtos regionais, a iniciativa de pequenos e médios empresários, a criação de mercados.

Dois projetos de indicação geográfi-ca (IG) ou de procedência (IP) merecem destaque. Um vem diretamente dos pampas e mostra o trabalho dos bovino-cultores gaúchos para agregar mais valor à já famosa carne da região. Em outro ex-tremo do país, no sertão pernambucano, os produtores trabalham no sentido de obter a certificação geográfica do queijo de coalho, que irá conferir ao produto o reconhecimento de qualidade, origem e valor cultural. Mais uma vez, o Sebrae está à frente dessa iniciativa, com a co-laboração de diversos parceiros.

A rastreabilidade da procedência da carne, leite e seus derivados, desde a origem e produção até a casa do consu-midor, é indispensável para a segurança alimentar, sendo um importante diferen-cial dos produtos no país e no exterior.

Foi com essa ótica que a Cooperativa Central Oeste Cata-rinense (Coopercentral Aurora e Aurora Alimentos) buscou apoio do Sebrae/SC e do Senar/SC para implementar um avançado sistema de rastreabilidade para as cadeias produti-vas do leite, da avicultura e da suinocultura.

Ainda no nordeste brasileiro temos uma nova visão da criação de cabras, bodes, ovelhas e carneiros, que passam a ser explorados racionalmente, promovendo o incremento de uma atividade econômica antes vista como secundária, de subsistência. A ovinocaprinocultura na região, destacada-mente na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, mostra o significativo incremento do setor a partir de diversas ações interinstitucionais que mudaram o panorama informal dessa

atividade que, no sul do país, também se expande – particularmente, a ovino-cultura.

Caminhando ainda mais, chegamos à Região Norte e vamos conhecer a emocionante história da criação de uma associação de catadores de caranguejos, no sul do Pará. Os fundadores da asso-ciação sequer tinham consciência de identidade profissional – não se enqua-dravam nem como pescadores nem como agricultores, apesar de eventualmente desempenharem as duas funções.

Outro assunto que ilustra esta edi-ção demonstra a crescente importância que o segmento de animais silvestres e exóticos alcança no setor de agronegó-cios. Passa, aos poucos, de ação ilegal e predatória para uma criação racional, capaz de abastecer o mercado sem de-

gradar o meio ambiente.há muitas outras experiências interessantes descritas

nesta edição da Revista Sebrae Agronegócios, como a da va-lorização da suinocultura e da criação de tilápias e cultura de ostras. Aproveite a leitura!

A rastreabilidade da procedência da carne, leite e seus derivados,

desde a origem e produção até a casa

do consumidor, é indispensável para a segurança alimentar, sendo um importante

diferencial dos produtos no país e

no exterior.

Márcia Gouthier / Agência Sebrae de Notícias

Sebrae Agronegócios6

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Artigo

Análise estratégica e os desafios das carnesENIO QUEIJADA DE SOUzAJOSé ALTAMIRO DA SILVAJOÃO FERNANDO NUNES DE ALMEIDA

Denomina-se análise estraté-gica o registro e balancea-mento dos pontos positivos (forças ou fortalezas) e dos

pontos negativos (fraquezas ou fragili-dades), cotejados com as ameaças e as oportunidades. Na literatura gerencial tal análise também é conhecida por SWOT (em função dos termos em inglês Strength, Weakness, Opportunities e Threatness) e tem sido largamente uti-lizada em processos de planejamento estratégico. Serve, entre as diversas aplicações, para dar um direcionamen-to estratégico às empresas e projetos no sentido de neutralizar ou evitar as ameaças (que são variáveis externas incontroláveis), reverter as fraquezas (controláveis no âmbito da organiza-ção ou projeto), manter e aperfeiçoar as forças, e aproveitar as oportunida-des do entorno ambiental.

Nesse sentido, trabalhar a cadeia pecuária cada vez mais implica ter uma visão sistêmica e de cadeia produtiva, visualizando sempre o consumidor final, sob pena de perder-se todo o es-forço feito para produtos importados, oferecidos com preços competitivos em função de subsídios (União Européia e Estados Unidos) ou ausência de barrei-ras tributárias (sobretudo Mercosul).

Assim, para cada grupo de projetos

no qual o Sebrae atua, a matriz de aná-lise estratégica busca ajudar na refle-xão inicial e, em conjunto com os mais diversos parceiros, na superação de entraves e maximização de resultados, diretriz essencial da Gestão Estratégica Orientada para Resultados.

AQÜICULTURA E PESCAA produção brasileira em 2005 foi

de 1 bilhão de toneladas, sendo que 9,2% desse total foram exportados, gerando divisas de US$ 404,7 milhões, o que perfaz US$ 4.378 por tonelada.

O setor é responsável por 834 mil em-pregos diretos e 2,5 milhões indiretos. A renda anual total auferida é de R$ 4 bilhões.

Na carcinicultura, a abertura de no-vos mercados no exterior e a melhoria dos índices de produção fizeram com que os resultados apresentassem me-lhorias relevantes em relação aos anos anteriores.

No quadro a seguir estão sinteti-zados as ameaças, oportunidades, os pontos fracos e as forças relacionadas à aqüicultura e piscicultura.

• Vírus da mancha branca, no camarão de cativeiro

• Dumping norte americano

• Variação cambial

AMEA

ÇAS

NEUTRALIzAR

REVERTER

APROVEITAR

MANTER

OPOR

TUN

IDAD

ES

FRAQ

UEz

AS

FORÇ

AS

• 8.400 km de costa marítima

• Clima favorável

• Variedade de espécies

• 5,5 milhões de ha de reservatórios de água doce

• Tsunamis e oscilações climáticas no oceano Índico

• Licenciamento ambiental – Dificuldades para a regularização dos empreendimentos aqüícolas

• Mão de obra qualificada

• Política tributária (ICMS) não estimuladora

• Tilápia

• Carcinicultura marinha

• Ranicultura

• Incentivos fiscais em alguns Estados da Federação

• Valor nutricional

• Semana nacional do peixe

Divulgação

Sebrae Agronegócios 7

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Artigo

PECUÁRIA DE CORTE

AVICULTURAO ano de 2006 para o setor avícola

foi marcado por crises, defasagem cam-bial, estoques elevados e o fantasma da influenza aviária.

Um dos fatores mais significativos que influenciaram esse cenário foi a gripe aviária na ásia e depois na Euro-pa, ocasionando uma retração no con-sumo mundial de frango. A defasagem do dólar em relação ao real também teve reflexos negativos para as expor-tações brasileiras, obrigando o setor a direcionar ao mercado doméstico o volume antes destinado ao mercado externo. Dessa forma, os preços recu-aram e a lucratividade dos produtores diminuiu. E quem acabou sendo bene-ficiado foi o consumidor, que teve uma

oferta maior do produto.Mas, apesar dos problemas, a avi-

cultura brasileira avançou de maneira consistente em 2006. As empresas re-forçaram as medidas de biosseguridade para proteger seus plantéis, enquanto o governo, através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), avançou na elaboração do Pla-no de Prevenção da Influenza Aviária e de Controle e Prevenção da Doença de Newcastle.

A avicultura brasileira, em 2007, apresenta boas perspectivas. Segundo as projeções, o Brasil exportará 3,17 milhões de toneladas de carne de fran-go neste ano, enquanto a produção será de 10 milhões de toneladas, um crescimento de 8,65% em relação ao volume de 2006. A avicultura já é o se-gundo item na pauta de exportações do

agronegócio brasileiro, perdendo ape-nas para o complexo soja, e é o quinto mais importante da balança comercial do país. A cadeia avícola gera 4,2 mi-lhões de empregos diretos e indiretos.

A Região Sul responde por 52% da produção nacional de carne de frango e por 75% das exportações. Além dos volumes significativos, a avicultura destaca-se pelo aumento da exporta-ção de produtos com maior valor agre-gado. Um exemplo é o “Farm to fork” (da fazenda para o consumo), ou seja, produtos embalados e prontos para se-rem consumidos – um conceito de ali-mentos saudáveis com rápido preparo, cada vez mais procurado no exterior.

SUINOCULTURAEm 2006, a suinocultura produziu

2,86 milhões de toneladas de carne, com exportações de 528,2 mil tonela-das, ou 18,47% do total produzido. O setor vem apresentando um incremen-to no número de matrizes e um decrés-cimo na produção de subsistência. Essa expansão é maior entre os produtores integrados e os cooperativados, em de-trimento dos independentes, mais fra-gilizados nessas relações comerciais. Dos mais de 30 mil criadores de matri-zes industriais, estima-se que 87,6% estejam ligados a uma integradora ou façam parte de uma cooperativa.

As vendas no varejo apresentam uma melhora dos resultados em fun-ção de campanhas de estímulo ao consumo, realizadas pela ABCS – As-sociação Brasileira dos Criadores de Suínos, em parceria com o varejo e o trade gastronômico.

• Gripe aviária, causando retração no consumo

• Variação cambial

• Bem estar animal e outras barreiras técnicas

• Aftosa

• Desertificação do semi-árido em função de manejo inadequado

AMEA

ÇAS

NEUTRALIzAR

REVERTER

APROVEITAR

MANTER

OPOR

TUN

IDAD

ES

FRAQ

UEz

AS

FORÇ

AS

• Alimento saudável

• Alimentação escolar

• Indicação geográfica

• Pele caprina e ovina

• Certificações: orgânica, IG, hallal e ecológica

• Manejo sanitário em propriedades não integradas ou da agricultura familiar

• Mão de obra qualificada

• Defesa sanitária e barreiras

• Política tributária (ICMS) não estimuladora

• Medidas sanitárias e de biosseguridade - MAPA

• Produtos com maior valor agregado: novos cortes

• Campanhas de estímulo ao consumo

• Festivais gastronômicos

Fotos: stock.xchng

Sebrae Agronegócios8

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BOVINOCULTURAO maior rebanho bovino comercial

do mundo está no Brasil, com cerca de 205 milhões de cabeças. A exportação atinge mais de 170 países, com cerca de 2,2 milhões de toneladas em 2006, e a cadeia produtiva gera 7, 2 milhões de empregos – do bezerro ao bife, do couro ao calçado. O manejo nutricional e de pastagens está cada vez mais aprimo-rado e os investimentos em sanidade e genética têm registrado aumento. Tudo para atender protocolos e requisitos de mercados com maior nível de exi-gência e rigor nas barreiras sanitárias. As certificações orgânicas também se apresentam como fortes ferramentas de acesso a nichos de mercado.

OVINOS E CAPRINOSCom um rebanho inferior a 30 mi-

lhões de cabeças, a caprinocultura e a ovinocultura estão bastante atrasadas em relação às outras criações pecuárias de corte. O manejo alimentar, sanitário e reprodutivo está melhorando, mas o caminho ainda é longo até alcançar estágios que já se verificam na suino-cultura e avicultura, por exemplo.

Existe uma forte demanda no mer-cado interno, que tem nas importações e no abate clandestino seus principais concorrentes. Timidamente já se ob-servam iniciativas positivas em relação à gastronomia e agregação de valor em cortes e embalagens especiais. O plano de sanidade não está em plena vigência, em função da ausência de laboratórios espalhados pelo país, e o segmento produtivo ainda precisa de aprimoramento no que se refere à ação

coletiva e ao associativismo. Pratica-mente não há integração produtiva nos moldes encontrados na suinocultura e na avicultura.

DESAFIOS COMUNSO desenvolvimento das diversas

cadeias produtivas ligadas à pecuária e carnes em geral (caprinos e ovinos, bovinos, aves e suínos, animais silves-tres, aqüicultura e pesca) das carteiras de projetos do Sebrae, assim como de centenas de parceiros, passa pela supe-ração de muitos desafios:

1) Integrar os elos de processamen-to agroindustrial nas câmaras setoriais federais. Os frigoríficos, laticínios, curtumes e varejo estão, com raras exce-ções, ausentes das discussões do setor;

2) Ampliar o PAA - Programa de Aquisição de Alimentos e de alimenta-ção escolar do Governo Federal. Mesmo estados “ricos”, como São Paulo, têm sua “mancha de exclusão social”, como o vale do Ribeira, sempre lembrado – mais em discursos do que em apoios concretos;

3) Inserir, de modo sistemático e definitivo, a gastronomia como vetor de crescimento do consumo de carnes de menor consumo, como ovina e caprina e de animais silvestres, bem como seus derivados. Campanhas como o Brasil Sabor, promovida em parceria com a Abrasel e que envolveu 1.430 pratos (um por restaurante) em 175 ci-dades, devem ser estimuladas e realiza-das em edições estaduais ou regionais;

4) Melhorar a lucratividade de pe-quenos produtores rurais em processos de integração com empresas-âncora em aves e suínos, bem como formatar mo-

delos de integração lucrativos e social-mente includentes, nas outras cadeias;

5) Agilizar e desburocratizar o processo de obtenção de licenças am-bientais, autorizações e permissões para operação de micro e pequenos empreendimentos aqüícolas, visando à simplificação e redução de custos;

6) Buscar e atingir janelas de opor-tunidade e nichos de mercado interna-cionais, superando barreiras não tari-fárias como sanidade, meio ambiente, bem estar animal, segurança alimentar e rastreabilidade;

7) Integrar os criadores de pequenos rebanhos, cardumes e criatórios em cen-trais de negócio e comercialização. Só assim eles podem atingir uma escala e uma competitividade sustentáveis, que sejam fortalecidas por frigoríficos, lati-cínios e curtumes numa relação de negó-cios transparente e positiva – o famoso, mas não tão fácil, “ganha-ganha”;

8) Melhorar a qualidade da gestão, sobretudo de pequenos criatórios, com o amparo da escrituração zootécnica estruturada e de programas de fácil acessibilidade – quando não for viável nas propriedades, pelo menos nas As-sociações e Cooperativas;

9) Sensibilizar e reivindicar às autoridades (municipais, estaduais e federais) maior atenção (e execução orçamentária) em questões sanitárias, tributárias (menos impostos, mais negócios!) e de ATER - Assistência Téc-nica e Extensão Rural, além de maior combate ao abate clandestino;

10) Participar de feiras, exposições, julgamentos, rodadas de negócio e tor-neios diversos visando à divulgação e ao fortalecimento de negócios para os pro-dutores e atores das cadeias produtivas;

11) Organizar e participar de mis-sões técnicas e eventos internacionais, visando conhecer os benchmarks e padrões de excelência e boas práticas de agregação de valor, transferindo, difun-dindo e reaplicandoa tecnologia apreen-dida às nossas cadeias produtivas.

Autores: Enio Queijada de Souza, José Altamiro da Silva e João Fernando Nunes de

Almeida. Os três são coordenadores das carteiras de projetos do Sebrae Nacional, de ovinos e caprinos,

aqüicultura e pesca, e carnes, respectivamente.

Sebrae Agronegócios 9

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Entrevista

Brasil cresce no comércio de produtos lácteos

O mercado internacional de produtos lácteos aponta boas perspectivas comerciais para o país. Os principais produtores mundiais já alcançaram os índices máximos de produção. O Brasil, em contrapartida, ainda tem muito o que crescer. A cada ano bate novos recordes de exportação. Mas o aumento da atividade não esconde alguns problemas que o setor enfrenta. As barreiras institucionais e estruturais impedem o país de realizar todo o seu potencial na atividade agropecuária.

A produção de leite no país vem aumentando desde 2000. Atualmente, ocupa a sexta colocação no ranking dos exportadores. Os produtos lácteos são enviados para mais de 70 países e movimentam R$ 200 milhões por ano. No território nacional, reúnem mais de um milhão de produtores e geram 3,6 milhões de postos de trabalho permanentes. Para conhecer o perfil da produção de leite no país e as estratégias para a exportação, a Revista Sebrae Agronegócios conversou com o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite, Rodrigo Alvim.

Rodrigo Alvim Presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA

Presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA traça um perfil da produção de leite no país e apresenta estratégias para a exportação

Sebrae Agronegócios10

Page 11: Produção Leite Longa Vida

Rodrigo Alvim já atuou em diversas entidades de representação de classe, entre as quais o Sindicato Rural de Volta Grande, em Minas Gerais, onde é produtor. Foi presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) e diretor da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – (CNA), onde atualmente é o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite. Formado em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (MG), Alvim é presidente da Câmara Setorial de Lácteos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Wenderson Araújo/Agência CNA

Sebrae/MG

Quais os principais pólos de produção do leite no país?Grande parte da produção está concentrada na Região Sudeste, embora

no Sul e Nordeste tenha crescido muito. A Região Sudeste já participou com 46% da produção nacional. hoje, está com 40%. O maior estado produtor é Minas Gerais, com 30% do leite brasileiro. O segundo é Goiás, com 16%. Depois vêm três estados praticamente empatados: São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. A previsão para este ano é de que o Brasil produza 26,2 bilhões de litros de leite.

Como o Brasil está posicionado no mercado internacional?O Brasil é o sexto maior produtor do mundo. Dentro de pouco tempo,

podemos subir nesse ranking internacional.

Qual o potencial do Brasil em comparação aos grandes produtores mundiais?Alguns países que comercializam mais do que o Brasil, sobretudo França

e Alemanha, estão diminuindo a produção. Eles não têm mais como crescer. Já atingiram o índice máximo de produtividade. Os Estados Unidos, por exemplo, não têm uma área desocupada para aumentar a produção. Eles fizeram das áreas desérticas grandes celeiros. Só as vacas produzem 11 mil litros de leite por ano. O Brasil, no entanto, é o país do mundo que mais pode crescer a produção de forma significativa.

Quais são as perspectivas de crescimento para o setor no Brasil? O Brasil é o único país do mundo que tem 100 milhões de hectares de

cerrado disponíveis para serem incorporados à produção. A nossa avalia-ção, entretanto, é de que não é necessária a inclusão de nenhum hectare de terra. Precisamos, apenas, recuperar as áreas que já estão no sistema de leite do Brasil. São pastos, na maioria das vezes degradados, e animais com subalimentação, que passam fome. A produção vai crescer muito no Brasil e, conseqüentemente, a participação no mercado internacional.

O hábito do consumo de leite mudou nos últimos anos. Os produtos com baixo teor de gordura e a crescente preocupação com aspectos nutricionais fazem parte do dia-a-dia da população. Os agentes que atuam na cadeia de lácteos devem adequar-se às novas necessidades do mercado globalizado?

Sebrae Agronegócios 11

Page 12: Produção Leite Longa Vida

Como as indústrias estão investindo no desenvolvimento de produtos para aten-der a essas tendências?

A vaca não é uma fábrica que você regula, como um parafuso, quanto que você quer que ela produza de gordura. Quem faz essa regulagem é a indústria. A matéria-prima leite, produzida pelo produtor, é o leite in natura da vaca. Quem vai fazer com que esse produto final atenda a todas as especificidades de gordura, proteína, vitamina, ferro, ômega 3, é a indústria. Esse processo, no entanto, já acontece há muito tem-po. A indústria está adequando seus produtos à demanda dos consumidores. É um processo universal. A cada ano você tem novos produtos, muitos de-les se transformando em funcionais, a exemplo do iogurte com fibra para faci-litar a questão digestiva, cardiológica. Tudo isso está sendo feito. São pesqui-sas e tecnologias sendo aplicadas para atender às demandas.

Em 2002, o Brasil tomou uma inicia-tiva para ganhar credibilidade com rela-ção aos principais países importadores de derivados de leite. O que mudou com a aprovação dos re-gulamentos técni-cos de produção?

O Brasil era um dos poucos países do mundo que não t inham um pa -drão de qualidade do leite C, que é o consumido pela grande maioria dos brasileiros. A apro-vação dos regula-mentos técnicos de produção, em 2002, determinou o padrão mínimo da qualidade do leite. Nesses últi-mos anos, a evolu-ção da qualidade da matéria-prima lei-te no Brasil foi assombrosa. Realmente, melhorou muito. Os avanços foram bem mais rápidos do que em países de pri-meiro mundo, como os Estados Unidos.

A contagem de células somáticas

é um dos indicadores que fazem parte desse padrão de qualidade. Está rela-cionada à saúde da glândula mamária. Pelo padrão de qualidade, a tolerância é de 1 milhão de células somáticas por ml de leite. Estamos hoje com índices inferiores a 458 mil. Para se ter idéia, os Estados Unidos demoraram 15 anos para descer de 1 milhão para 750 mil.

A questão da necessidade do res-friamento na propriedade, que está pre-vista, é o primeiro passo para melhorar a qualidade do leite. Isso também aconteceu em uma velocidade que cha-mou a atenção do setor. Imaginávamos que iria ter muito mais resistência do que encontramos. hoje, temos mais de 80% da produção do leite nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde a instrução normativa foi implementada, em 1º de julho de 2005, ou seja, refri-gerados na fazenda e transportados, o que é um avanço muito grande em termos de qualidade.

Esta lei está sendo implementada no Norte e Nordeste desde 1º de julho deste ano. Temos feito um trabalho grande no Nordeste. E ficamos impres-sionados pela aceitabilidade do pro-

grama. Os nordes-tinos têm a visão de que há, de fato, necessidade de se investir no quesi-to qualidade. Não tem como você crescer e partici-par do mercado se não se preocupar com isso.

Segundo da-dos da Organiza-ção Mundial de Saúde (OMS), o consumo de leite no Brasil sempre esteve abaixo do recomendado. O

que o país tem feito para mudar esse quadro?

O governo tem alguns programas sociais em áreas restritas. Existe um programa do Governo Federal, em parceria com os governos dos estados,

que compra em torno de 700 mil litros de leite por dia, em oito estados do Nordeste e no norte de Minas Gerais. A nossa iniciativa tem como objetivo aumentar o consumo e estimular a pro-dução da economia familiar, sobretudo dos pequenos produtores.

Temos um projeto de lei tramitando na Câmara dos Deputados para estender esse programa para todo o Brasil. Não é apenas no Nordeste que há pessoas po-bres que precisam de um litro de leite por dia. Esse programa distribui leite às famílias carentes, às mães grávidas e às crianças de até seis anos de idade. Queremos estendê-lo para idosos e de-ficientes físicos.

Mas sabemos que esse programa não é suficiente para mudar o hábito do brasileiro. Temos um consumo de 135 litros por habitante/ano. O mínimo recomendado pela Organização Mun-dial de Saúde são 180 litros. Pelo guia alimentar brasileiro, são 200 litros. Portanto, tem uma lacuna grande até chegar ao consumo ideal.

Existe ainda um programa para aumentar a vida útil do produto nas prateleiras. há um outro que estamos tratando que é o de marketing, que não tem só a conotação da propaganda “Tome leite que faz bem à saúde”. É um programa que mostra a necessidade de uma aproximação melhor com a classe médica, que entende a necessidade de

Entrevista

“O Brasil já é um grande exportador líquido de produtos

lácteos. Na década de 90, éramos um país

importador, chegando a 3,2 bilhões de litros de leite em um ano. A partir de 2004,

passamos a subir na balança comercial.”

Sebrae/MG

Sebrae Agronegócios12

Page 13: Produção Leite Longa Vida

a população brasileira consumir os pro-dutos lácteos.

Esse programa de marketing abrirá novos mercados e evitará barreiras que os nossos produtos possam encontrar no exterior. É importante mostrar o lei-te brasileiro em feiras internacionais.

Em 3 de janeiro de 2006, o governo aprovou a Lei 11.265/06, que trata da comercialização de alimentos para lac-tentes e crianças de primeira infância. A lei, que deveria entrar em vigor em 3 de janeiro deste ano, obriga o uso de frases obrigatórias de advertência na embalagem do leite, como “O Ministério da Saúde adverte: este produto não deve ser usado para alimentar crianças menores de um ano de idade, a não ser sob expressa recomendação de médico ou nutricionista”. Como o senhor avalia essa iniciativa do governo?

É o único país no mundo que tem isso. É um exagero. Um excesso de pre-ocupação para incentivar a amamenta-ção. Não somos contra a mensagem que há muitos anos tem nas embalagens dos produtos lácteos, dizendo sobre a importância do aleitamento materno. Mas somos radicalmente contra essa iniciativa de macular a imagem dos produtos lácteos.

Existem algumas tratativas do setor com relação a isso. há um projeto de lei tramitando na Câmara dos Deputados para tirar os efeitos de alguns artigos dessa lei. Existe a visão e interpretação do Ministério da Agricultura de que essa lei tem de ser regulamentada pelo próprio ministério, pois é ele quem normatiza a rotulagem do produto de origem animal. Não é o Ministério da Saúde nem a Anvisa. Isso já é um con-senso no Ministério da Agricultura.

É uma pena que um setor do go-verno brasileiro tenha uma visão tão errada, nesse sentido. O mais curioso é que o mesmo governo que compra 700 mil litros de leite por dia para distribuir para as crianças é o mesmo governo que diz que esse leite não deve ser fornecido para elas. Só essa incoerên-cia é suficiente para mostrar o erro do governo em insistir nessa lei e nessa mensagem.

A partir de 1999 observa-se uma ten-dência de redução nos gastos com impor-tações e uma evolução nas exportações. Os dados apontam um novo caminho que pode revolucionar o setor produtivo nacional? O que deve ser feito?

O Brasil já é um grande exportador líquido de produtos lácteos. Isso mudou em uma velocidade muito grande. Na dé-cada de 90, éramos um país importador, chegando a 3,2 bilhões de litros de leite em um ano. A partir de 2004, passamos a subir na balança comercial.

O Brasil é altamente competitivo no mercado internacional. Precisamos, apenas, tratar da questão da qualidade. O governo precisa fazer acordos sani-tários com outros países. Muitos não importam o produto brasileiro porque acham que temos febre aftosa. O gover-no precisa convidar para uma visita ao Brasil os representantes dos países que querem importar, para que certifiquem as indústrias que possam exportar.

Quais as expectativas para a expor-

tação dos produtos lácteos?O Brasil, com certeza, vai ser um

dos maiores produtores e exportadores de leite do mundo, em um futuro muito próximo. Para entender um pouco isso, hoje temos 1,4 mil litros de produção por vaca/ano, no Brasil. Na Nova zelân-dia, que é um país altamente eficiente na produção e exportação de leite (ex-porta 95% do que produz), a média de animal é de 3,5 mil a 4 mil litros de leite por lactação, ou seja, por vaca/ano.

Se nós passarmos a produzir o que produz a Nova zelândia, que tem a pro-dução semelhante à nossa, multiplica-ríamos nossa produção por três. Seriam 78 bilhões de litros, que é a produção americana. O Brasil tem um espaço muito grande para crescer exatamente porque temos onde evoluir nos índices de pro-dução, diferentemente dos países que já não conseguem aumentar a produção porque as áreas estão todas ocupadas. A estratégia para aumentar a exportação é o marketing. Atualmente, exportamos para 70 países, inclusive da ásia e áfrica.

CWMGary

O consumo de leite no Brasil ainda está abaixo do recomendado pela OMS

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Mercado

LEIT

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Quais as perspectivas para o setor de produção de leite no Brasil em 2020? O consumo vai diminuir? O país vai se

tornar um grande exportador? Qual será o perfil dos produtores daqui a 13 anos? E as principais ameaças? Essas e outras perguntas fazem parte do cotidiano da cadeia produtiva do leite, um dos setores mais instáveis e imprevisíveis da economia.

Com o objetivo de chegar o mais próximo possível de um cenário leiteiro para o futuro, a empresa paulista Agri-point está desenvolvendo, em parceria com o Instituto Ouro verde, Embrapa Gado de Leite, Ministério do Desen-volvimento Agrário, Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Con-federação Brasileira das Cooperativas de Laticínios (CBCL), uma pesquisa pa-trocinada pelo Sebrae: “Cenários para o Leite em 2020”.

O trabalho, feito de forma deta-lhada, é pioneiro em terras nacionais. O método usado para a pesquisa, de-senvolvido e aplicado por técnicos da Universidade de São Paulo (USP), é o Delphi. Amplamente empregada em diversas empresas brasileiras e estran-geiras, a ferramenta busca identificar, junto a um quadro qualificado de profissionais, as principais tendências para determinados setores da econo-mia e do mercado.

No caso da Agripoint, dezenas de especialistas, entre produtores e técni-cos em estatísticas de diversas regiões do país, participaram de duas rodadas de um questionário sobre aspectos da produção, mercado e consumo do leite no Brasil. O resultado final con-siste na convergência das opiniões dos participantes, formando uma previsão

Pesquisa desenvolvida pela Agripoint e a Universidade de São Paulo (USP) pretende traçar o perfil do setor para o futuro

Cenários para o leite em 2020

de laticínios e a economia nacional. “É impossível prever o futuro exato, mas podemos adiantar que os resultados das pesquisas indicam fortemente a entrada do Brasil no grupo de princi-pais exportadores de leite do mundo”, afirma.

Marcelo explica que o aumento das exportações deve ocorrer, principal-mente, por dois fatores: pela melhoria da qualidade do leite, que se tornará mais competitivo internacionalmente, e pelo fato de a produção interna cres-cer em um ritmo mais acelerado do que os índices de consumo dos brasileiros. “A melhoria da qualidade virá com o desenvolvimento de novas tecnologias e uma maior fiscalização da produção,

sobre o setor para os próximos anos. Os números da pesquisa estão previstos para novembro de 2007, quando haverá divulgação nacional.

ExPORTAÇÃOApesar de ainda não concluída, já

é possível identificar alguns pontos fundamentais da iniciativa. O que mais se destaca nos cenários montados pela pesquisa, com base em diferentes variáveis, é a posição do Brasil como país exportador de leite. De acordo com o gestor do projeto e diretor da Agripoint, Marcelo Pereira de Carvalho, o país deve crescer como potência exportadora nos próximos anos, o que trará inúmeros benefícios para o setor

Divulgação

O Brasil pode ser um dos principais exportadores de leite

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LEIT

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uma tendência já presente no setor. Quanto ao aumento das exportações, será um movimento natural do merca-do: quanto maior o excedente produzi-do, maiores as chances de ingressar no mercado externo”, diz o gestor.

Os números comprovam a tendência por ele apontada. O Brasil só deixou de ser importador de leite, para ingressar no mercado das exportações, ao lon-go da última década. Em 2004 veio o primeiro índice positivo na balança, quando as exportações superaram as importações. “Ape-sar de estarmos crescendo, o Brasil ainda não ocupa uma posição de destaque no mer-cado internacional. Não fazemos par-te dos 10 maiores exportadores. Mas a vocação do Bra-sil para esse ramo é inegável”, diz o produtor e diretor da Confederação Brasileira das Cooperativas de Laticí-nios (CBCL), vicente Nogueira. Parti-cipante da pesquisa, ele não esconde o otimismo: “Acredito que até 2020 po-demos chegar a ser o quinto maior país exportador de leite. Ser reconhecido como tal é o nosso maior desafio”.

Em 2006, as exportações de lácteos no Brasil ficaram na casa dos US$ 168 milhões. Para 2007, a previsão é que cheguem aos US$ 200 milhões. vicente explica que, para continuar crescendo, é preciso investimento maciço, por parte do governo e das empresas produtoras, em propaganda e marketing do leite no país. “hoje o marketing ainda é fraco. É preciso divulgar e esclarecer melhor questões sobre o leite e o que ele repre-senta para a saúde dos consumidores, bem como aumentar a visibilidade do setor no exterior”, esclarece. O produtor, que é de Minas Gerais – estado de maior produção nacional –, elogia a iniciativa da empresa privada Láctea Brasil, que, em 2007, deu início a um projeto para o desenvolvimento do marketing institu-cional do leite no país.

TENDêNCIASOutras tendências positivas que

a Revista Sebrae Agronegócios con-seguiu apurar sobre o “Cenário para o leite em 2020” são: a melhoria nas questões ambientais, com uma legis-lação mais rígida sobre o controle de dejetos e a poluição de mananciais, por exemplo; o potencial do Brasil para a utilização dos biocombustíveis na produção; o aperfeiçoamento da relação entre produtores e indústrias; uma forte tendência para o crescimen-

to das coopera-tivas e da produ-ção familiar e a profissionaliza-ção do setor, que, hoje, depois do emprego público, é uma das áreas que mais geram empregos no Bra-s i l . “Em l inhas gerais, é um cená-rio positivo. Uma continuidade do crescimento que

temos acompanhado nos últimos anos: um crescimento contínuo, acima dos níveis históricos, e a diminuição dos problemas”, afirma o gestor do projeto.

AMEAÇASMas nem tudo são flores no cenário

desenhado pela pesquisa. Além de detectar os pontos positivos e as possí-veis linhas de crescimento do setor no mercado interno e externo, o método também prevê possíveis ameaças para a produção de leite nacional. A prin-cipal, na opinião de Marcelo Pereira Carvalho, é a falta de investimento das empresas privadas e também de apoio do Estado para a produção de um marketing consistente. “Precisamos de uma propaganda mais concreta para evitar que as fraudes sobre o mercado e o consumo do leite aumentem. Para isso, é preciso um grande investimento dos setores público e privado”, explica o diretor da Agripoint.

Outra sombra que insiste em per-seguir o mercado leiteiro é a crescen-

te produção e penetração de produtos concorrentes no mercado nacional, como os derivados da soja e os sucos industrializados. “São produtos que crescem rapidamente e apresentam uma tendência forte de entrada no mercado”, complementa Marcelo. Aliado ao sucesso dos concorrentes, está o baixo consumo de leite por parte da população brasileira. Em-bora esteja previsto um aumento em um dos cenários para 2020, o con-sumo no Brasil sempre esteve abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). hoje, cada brasileiro consome em média 140 kg por ano, enquanto a recomendação da OMS fica na casa dos 200 kg, índi-ce já atingido por países da América do Sul, como a Argentina. “Num dos cenários mais otimistas, chegamos à casa dos 194 kg/hab. Mas ainda temos muito que fazer pela área de consumo”, reconhece.

Para vicente Nogueira, uma possí-vel ameaça ao crescimento do Brasil no mercado externo é a desestabilização desse mercado. “Se conseguirmos con-tinuar crescendo como exportadores, vamos passar a depender de acordos e barreiras internacionais. Se não houver uma boa relação, pode ser um entrave para o setor”, afirma. Para o empresá-rio, é imprescindível a participação e o apoio governamentais para o sucesso no exterior. “Precisamos de menos burocracia e mais atenção do Estado. Diminuição dos custos de produção e transportes, mais agilidade nos portos e uma aproximação com mercados externos são necessários para o cresci-mento”, opina.

Para Marcelo Carvalho, detectar as possíveis ameaças é o ponto principal da pesquisa. “Dessa forma, podemos aperfeiçoar a tomada de decisões para um melhor desempenho futuro. Além disso, com base nos resultados do trabalho, o Estado poderá nortear políticas públicas para o setor”, diz.

Os elogios à iniciativa do “Cenários para o Leite em 2020” são unânimes. Para o diretor da CBCL, vicente Noguei-ra, o projeto é “uma importante ferra-menta no combate à instabilidade”.

Em 2006, as exportações de

lácteos no Brasil ficaram na casa dos US$ 168 milhões.

Para 2007, a previsão é que cheguem aos US$ 200 milhões.

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Há três anos, Pernambuco trabalha na Indicação Ge-ográfica do queijo coalho do agreste meridional do

estado, que reúne 10 municípios pró-ximos a Garanhuns e que concentra a produção leiteira. A certificação dará ao queijo ali produzido uma identidade própria, que o distinguirá dos demais produtos de igual natureza disponíveis no mercado.

O termo Indicação Geográfica (IG) passou a ser utilizado quando produ-tores, comerciantes e consumidores começaram a perceber que alguns produtos, de determinados lugares, apresentavam qualidades particulares atribuídas à sua origem geográfica. hoje a terminologia é institucionaliza-da e, assim, conhecida mundialmente.

Segundo o analista do Sebrae/PE Givaldo Carvalho, o processo para conseguir a IG é demorado e, por esse motivo, as ações devem ser contínuas até que a Indicação seja conferida ao produto. “Na França, por exemplo, o

processo pode chegar a 14 anos. Nós aqui já trabalhamos há quase três anos e esperamos concluí-lo em 2009”, diz.

Carvalho esclarece que o processo de conferir uma IG a um produto é lento porque, entre outros elementos capazes de resultar no selo de origem, é necessário fazer um estudo das carac-terísticas da região, verificar os pontos em comum entre os produtores, definir uma associação ou sindicato para ser o responsável pelo produto certificado.

ExPECTATIVAA certificação do queijo coalho

integra o projeto de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite no Agres-te Pernambucano, promovido pelo Sebrae estadual e por produtores de leite e queijo, uni-versidades fede-rais, laboratórios e outras entidades que, em parceria, vêm trabalhando

continuamente para obter o selo de origem do produto. O objetivo é me-lhorar a qualidade do leite e aumentar o volume de negócios do setor leiteiro naquela região.

De acordo com o gestor do projeto, Moshe Dayan, Pernambuco vende mais leite do que derivados, para outros estados. Com a certificação do queijo coalho, esse quadro mudará e o forte da exportação para outros locais do país serão os produtos com valor agregado. “Para isso, já estamos no caminho da padronização do queijo coalho e em fase de conclusão do levantamento his-tórico do produto”, informa Moshe.

O gestor acrescenta que os pro-dutores têm consciência empresarial

da importância da Indicação Geográ-fica e estão sendo orientados pelo f rancê s Beno i t Paquereau, que é consultor técnico em laticínios. Uma

Produtores são orientados por técnico francês em laticínios e se empenham para obter certificação do produto típico do agreste meridional

Um queijo pernambucano com nome e sobrenome

Tecnologia

Pernambuco vende mais leite do que derivados, para outros estados.

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Page 17: Produção Leite Longa Vida

das orientações é fazer o queijo a partir do leite cru, como são feitos os queijos na Europa.

SONHO Benoit chegou

ao Nordeste há cer-ca de nove anos para montar uma queijaria e uma escola de queijos em Cachoeirinha, localidade pernam-bucana onde há importante feira de laticínios. Formou uma cooperativa, mas a idéia de ensinar a arte de fazer queijo não foi adiante.

O consultor francês, então, passou a trabalhar como parceiro do Sebrae-PE, unidade de Garanhuns. Isso foi há cerca de cinco anos, quando Moshe Dayan contou da vontade que tinha de fazer algo diferente com o queijo coa-lho, pela importância socioeconômica do produto na região e por seu valor histórico.

“Era um sonho que eu tinha e que foi ganhando força com a vinda de Philippe Martineau, do consulado francês ao agreste pernambucano. Ele percorreu, acompanhado de Benoit Paquereau, toda a cadeia produtiva – das fazendas à feira, passando pelas fábricas artesanais e transporte – e fi-cou maravilhado com o que viu”, conta Moshe.

Daí em diante, o sonho de certifi-car o queijo de coalho já não era só do gestor do projeto. Em 2003 esteve na região a pesquisadora francesa Nadine Ballot, que participou do 1º Seminário sobre Certificação de Origem, promo-vido pelo Sebrae. No ano seguinte, um pequeno grupo de produtores de leite e queijo, acompanhados por Benoit e Moshe, conheceu – em missão do Sebrae Pernambuco – o processo de produção queijeira de uma região da França.

Na volta, foi elaborado um plano de trabalho que subsidiou projeto en-tregue ao Instituto de Tecnologia de

Pernambuco e que visava resgatar a produção original do queijo coalho, a partir de um leite puro, submetido a análises. O proje-to previa também a padronização de cor, sabor e tama-nho do produto.

Em setembro de 2007, outra missão à França, desta vez para a região de Haute Savoie, próxima aos Alpes. Com Benoit atuando

como organizador e consultor, o grupo conheceu a produção do queijo Reblo-chon e visitou cooperativas, sindica-tos, organizações de produtores e do governo, que atuam no ramo.

“A expectativa é de que, no próximo ano, se dê entrada no Instituto Nacio-nal de Propriedade Industrial (INPI) com projeto de identificação geográfi-ca do queijo de coalho pernambucano. Para isso, estamos trabalhando no último quesito do processo: encontrar produtores, por meio de cooperativa, sindicato, associação, para ingressar no INPI com o pedido de certificação. Eles é que devem defender o produto, valorizar a produção artesanal, que envolve valores de cultura, dificuldade

de produção e transporte, um trabalho diferenciado e, por isso, mais valoriza-do”, explica Moshe Dayan.

EMPENHO O engenheiro agrônomo e produtor

de leite e queijo coalho, Luiz Paulo Dantas, conta que, desde 1560, o queijo coalho é feito em Pernambuco. “Fomos a primeira capitania do Brasil a produzir o queijo. Com a indicação geográfica estaremos agregando valor ao queijo coalho, pois esse certificado mostra que o produto traz caracterís-ticas do local de origem. É um produto carregado de identidade cultural e his-tórica”, diz ele.

Luiz Dantas defende o queijo coa-lho da sua região e tem-se empenhado para que o produto obtenha, o mais rapidamente possível, a certificação. “Acho que nosso queijo deveria ser pa-trimônio de Pernambuco. Ele faz parte da nossa cultura. Esteve e está sempre na mesa de nossos conterrâneos, nos fazendo lembrar da nossa história”, fala com emoção o produtor, que quer ser lembrado por seus netos como o avô que defendeu um produto que faz parte de suas raízes.

“Sou convidado por vários municí-pios da região para falar sobre a pro-dução do nosso queijo coalho, que não utiliza o leite pasteurizado. Nosso gru-po hoje é formado por 12 produtores e estamos em busca de novos parceiros”, afirma Luiz Dantas.

“Acho que nosso queijo deveria

ser patrimônio de Pernambuco. Ele

faz parte da nossa cultura. Esteve e está sempre na mesa de

nossos conterrâneos, nos fazendo lembrar da nossa história.”Luiz Dantas , produtor

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ESebrae/PE - Garanhuns

Aprimoramento da produção leva à IG do queijo de coalho

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Tecnologia ecológica reduz custos e aumenta produtividade

Tecnologia

Não é à toa que Santa Cata-rina é o sexto produtor na-cional de leite. No Estado, praticamente todos os 190

mil estabelecimentos agropecuários criam gado leiteiro, o que leva a uma produção de 1,650 bilhão de litros ao ano.

A região mais produtiva é o oeste do Estado, responsável por 64% desse total. Ali há cerca de 60 estabeleci-mentos rurais que dispõem de tec-nologia capaz de garantir excedente comercial.

Mas o mercado catarinense do leite ainda pode crescer e o Sebrae sabe disso. Em 2004 começou a estruturar o Arranjo Produtivo Local (APL) do Leite e Derivados do Oeste Catari-nense, capacitando os produtores e prestando consultoria tecnológica a 40 municípios. A idéia é aumentar a produtividade e, conseqüentemente, tornar mais competitivos os produto-res locais.

Desde 2006, o método voisin é o que vem sendo implementado. A gran-de vantagem é que se trata de uma tecnologia ecológica, que favorece a biodiversidade ao procurar manter o equilíbrio entre solo, capim e gado, sem beneficiar um em detrimento do outro.

O resultado não poderia ser melhor. Além de o gado engordar mais rapida-mente e produzir mais leite, o custo chega a ser de 5 a 10 vezes menor do que quando é empregado o sistema de manejo convencional.

Para o gestor do projeto, o agente de articulação do Sebrae/SC, Ênio Par-

Engorda mais rápida, mais leite a um custo até 10 vezes menor

Sebrae/SC

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Sebrae Agronegócios18

Page 19: Produção Leite Longa Vida

Ênio Alberto Parmeggiani, comenta que a seleção da metodologia para implementação da rastreabilidade foi facilitada, na região, porque há cerca de dez anos já estavam em desenvolvi-mento os programas “Qualidade Total Rural” e “De Olho na Qualidade Rural”, atualmente unificados no “Programa de Desenvolvimento de Produtores Rurais Integrados às Cooperativas”.

Parmeggiani conta que a Cooper-central Aurora, por ter participado desses programas, já possuía ins-trumentos de gestão de qualidade, como dados, registros e Plano APPCC – Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle, antes de iniciar a rastrea-bilidade.

O PROCESSOPara que o monitoramento seja se-

guro, será adotado um sistema capaz de capturar, armazenar e relacionar informações desde o provedor de insu-mos e matérias-primas, produtores e cooperativas singulares, até as unida-des industriais da Cooperativa Central, passando pela logística, transporte e, por fim, chegando às unidades de ven-da e aos consumidores

Além de atender às normas na-cionais, como as do Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abaste-cimento (MAPA), Associação Bra-sileira de Normas Técnicas (ABNT) e Instituto de Me-trologia (Inme-

tro), o sistema obedecerá às normas internacionais, como as da Codex Alimentarius, Comunidade Econômica Européia e Eurogap.

Os animais poderão ser identifica-dos com brincos, anéis, chips eletrô-nicos ou pelo DNA. Já para os insumos ou matérias-primas a recomendação é que se utilizem as etiquetas-padrão, com a informação em código de bar-ras. O fluxo de informações entre fornecedor e cliente será baseado em acordos e utilizará os vínculos suces-sivos entre lotes de produção e unida-

Enio Parmeggiani é o gestor do projeto.

Os animais poderão ser identificados

com brincos, anéis, chips eletrônicos

ou pelo DNA.

meggiani, a meta é aumentar a pro-dução em 20%, neste primeiro ano, e o faturamento em 15%. Para tanto, é preciso repassar às micro e pequenas empresas não só tecnologia, como mecanismos de gestão.

E para superar as deficiências da gestão de negócio, aumentar a pro-dução do leite e a competitividade no mercado internacional, o Sebrae não tem medido esforços. “Buscamos pro-mover o acesso à tecnologia, ampliar a capacidade de inovação da empresa rural e integrar a cadeia produtiva, o que é feito com a formação de alianças estratégicas – como o sistema de ras-treabilidade, para o qual mobilizamos recursos, competências e conheci-mentos das mais diversas origens, inclusive científica”, explica.

RASTREABILIDADE é DIFERENCIAL COMPETITIVO Rastrear a história do produto, da

granja à mesa do consumidor, é indi-cador de segurança alimentar e, como tal, tornou-se um diferencial no país e no exterior. Foi com essa perspec-tiva que a Cooperativa Central Oeste Catarinense (Coopercentral Aurora e Aurora Alimentos), que reúne 17 coo-perativas agrope-cuárias e 77.500 produtores rurais, buscou apoio do Sebrae/SC e do S e na r / S C p a r a implementar um avançado sistema de rastreabilida-de para as cadeias produtivas do leite, da avicultura e da suinocultura.

O assunto vinha sendo discutido desde 2006 e o início efetivo do sis-tema se deu em junho de 2007, com a realização de um seminário técnico em Chapecó. Profissionais de alto ní-vel traçaram, diante de 450 técnicos e empresários do agronegócio, os desafios da rastreabilidade no setor, o papel do sistema na produção de ali-mentos e sua importância na cadeia de suprimentos, entre outros temas.

O agente de articulação do Sebrae,

des de logística.A adoção de uma linguagem única

e global, segundo o diretor técnico do Sebrae/SC, Anacleto Ângelo Ortigara, tornará mais ágil o intercâmbio de informações e promoverá a integração de todos os envolvidos no processo.

A primeira fase da rastreabilidade no Oeste Catarinense já começou, com a identificação e o planejamen-to a partir de um plano de ação que contempla os requisitos, as especi-ficações técnicas, a descrição dos procedimentos, a sensibilização e a capacitação técnica. Para o sistema ser operacionalizado integralmente, o prazo previsto é de 18 meses, quando serão cumpridas as seis etapas: orga-nização, identificação & planejamen-to, execução, verificação, avaliação & melhoria, acompanhamento & avalia-ção do projeto.

Para o presidente da Coopercentral Aurora, Mário Lanznaster, “a adoção da rastreabilidade fortalecerá o siste-ma cooperativo, servirá de apoio para a prevenção de problemas, proporcio-nará informação dentro da empresa para facilitar o controle de processos e a gestão, protegerá a marca, identifi-cará a origem e a responsabilidade dos problemas”.

Mas a vantagem não é só para o cooperativismo. Lanznaster afirma que os consumidores e clientes terão um produto de qualidade, sujeito ao cumprimento de normas, bem como a garantia de presteza de atendimento, caso tenham alguma reclamação. Para o governo, a rastreabilidade também é um mecanismo facilitador quando da realização de auditoria e fiscalização.

MB Comunicação

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Page 20: Produção Leite Longa Vida

Produtividade

Consagrado internacionalmente como produtor de carne e grãos, o oeste de Santa Catarina pode virar pólo nacional da produção leiteira

Cadeia produtiva do leite em SC poderá ser a maior do país

Sebrae/SC

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Ordenha mecânica na propriedade de Fioravante Magrim, associado a Cooper Itaipu, em SC

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Page 21: Produção Leite Longa Vida

A atividade leiteira, antes secundária,

passou a ser das mais importantes

geradoras de renda no setor de

agronegócios de SC.

A grandeza socioeconômica do leite foi identificada pelo Sebrae/SC em 2004, quando teve início a composição do

Arranjo Produtivo Local (APL) do Leite e Derivados do Oeste Catarinense, que tem uma projeção de investimento de R$ 1 milhão em três anos. hoje Santa Catarina é o sexto produtor nacional de leite, com 1,65 bi de litros/ano. Em 82% das propriedades do estado com até 50 hectares estão 60 mil produtores.

A atividade leiteira, antes secundá-ria, passou a ser das mais importantes geradoras de renda no setor de agro-negócios de SC. Isso se deu graças à conjunção de diversos fatores, como as condições naturais favoráveis, a con-centração da produção e a exclusão de produtores de outras cadeias, além da adoção de sistemas eficientes de produ-ção e profissionalização dos criadores.

Na composição do APL, o Sebrae tem como parceiros a Cooperativa Regional Itaipu (Cooperitaipu), de Pinhalzinho, e a Coopercentral Aurora, de Chapecó, com assistência tecnocientífica da Uni-versidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). O diretor técnico do Sebrae/SC, Anacleto Ângelo Ortigara, destaca que o objetivo do projeto é melhorar a competitividade e elevar o patamar tecnológico dos empreendimentos rurais produtores de leite, promovendo a sustentabilidade da atividade e a habi-litação para a participação no mercado internacional.

AS ESTRATéGIASO primeiro estágio do plano é ade-

quar o processo produtivo à legislação ambiental, agregar valor, fixar o pro-dutor no campo e melhorar o resultado econômico e financeiro da propriedade rural, o que possibilita aumentar a efici-ência produtiva por área.

O agente de articulação do Sebrae e gestor do projeto, Enio Parmeggiani, detalha a outra etapa, que vai até de-zembro de 2009. Os objetivos pactuados pelos produtores prevêem a redução do custo por litro de leite em 20%, o aumento da carga animal em 5% por hectare ao ano, a elevação do fatura-mento em 10%, a expansão da produção

leiteira por hectare em 20% e a redução, também em 20%, do número de horas trabalhadas na atividade. O gestor ga-rante: “Estamos cum-prindo essas metas ano a ano”.

FUTURO PóLO NACIONAL LEITEIRO

O oeste catari-nense reúne os fato-res de produção que, aliados a vocação do produtor, predispõem a região a conquistar a liderança nacional. Parmeggiani exem-plifica: “Em Minas Gerais (líder nacional em lácteos), são gastos R$ 450 mil para produzir, em média, 200 litros/dia de leite. Em Santa Catarina, os produtores do projeto preci-sam de R$ 150 mil. A produtividade mé-dia mineira é de 1.500 litros por hectare; em Santa Catarina, com pouco mais de dois anos do projeto, a produção supera os 7.500 litros por hectare”.

Com o apoio dos técnicos do Se-

brae, da Udesc e das cooperativas, os produtores efetuam o diagnóstico, o georreferenciamento das propriedades,

consultorias técni-cas e tecnológicas. Além disso, dispõem de acompanhamen-to, acesso a linha de crédito, desenvol-vimento de marca regional, desenvol-vimento de produ-to, rastreabilidade, formação de multi-plicadores e acesso a mercados. É assegu-rado aos produtores, pelo Sebrae, um ano

de acompanhamento e, pelas cooperati-vas, a assessoria continuada de técnicos multiplicadores.

A Udesc, que possui um curso de Engenharia de Alimentos no campus de Pinhalzinho, apóia a pesquisa cientí-fica da cadeia produtiva do leite e faz gestão, junto à Finep, para instalar ali um laboratório avançado de inovação tecnológica em lácteos.

PARCERIA SEBRAE/CONSELEITEO Conselho Paritário Pro-

dutor/Indústria de Leite do Estado de Santa Catarina (Conseleite), um colegia-do que reúne a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e o Sindicato das Indústrias de Latícios e Produtos Deriva-dos de SC (Sindileite), foi oficialmente anunciado em setembro último e já conta com o apoio do Sebrae/SC.

Pelo Arranjo Produtivo Local, o Sebrae aportará recursos – inicialmente, R$ 24 mil – destinados a estudos e levantamentos para a definição dos preços referenciais para o mercado regional e também prestará outras modalidades de cooperação técnica ao Conselho.

O Conseleite trará transparência absoluta à cadeia produtiva leiteira e es-timulará o inter-relacionamento de todos os atores do sistema agroindustrial lácteo. Suas ações são relacionadas aos insumos, à produção das propriedades, ao processamento industrial, à distribuição dos produtos derivados, até a ven-da ao consumidor.

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MB Comunicação

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Page 22: Produção Leite Longa Vida

Capacitação

Embrapa Gado de Leite lança cartilha com orientações sobre kit que reduz em até 85% a contaminação microbiológica do leite

Ordenha manual exige cuidados

Embrapa Gado de Leite

Balde, banco e cordas ganham novos parceiros na ordenha

Todos os dias, 1,2 milhão de produtores ru-rais brasileiros, número que corresponde a 79% do total, levantam cedo para ordenhar o rebanho. Responsáveis por 19% da pro-

dução nacional, eles levam as vacas para o curral, pegam o balde, o banquinho, as cordas e tiram o leite com as mãos, como se faz há séculos.

Embora tradicional, a falta de cuidados higiê-nicos na ordenha manual representa um dos prin-cipais focos de contaminação microbiológica do leite, principalmente por bactérias. A mão que não é lavada direito, o latão e cordas sujas, a mastite – inflamação na glândula mamária do rebanho – são exemplos de fatores que comprometem a boa quali-dade do leite. Com o objetivo de diminuir os riscos de contaminação, oferecer um alimento mais se-guro aos consumidores e melhorar as condições de trabalho dos produtores de base familiar, a Embra-pa Gado de Leite lançou o Kit de Ordenha Manual.

O produto é formado por um conjunto de utensílios, peças e insumos fáceis de serem encon-trados, como balde, mangueira, adaptadores de caixa d’água e pressão, esguicho de jardim, seringa e filtro para coar o leite. A montagem também é simples e o produtor pode realizá-la. “Ele mesmo, se quiser, monta o seu kit. A maioria dos artigos pode ser encontrada na própria residência ou em um comércio próximo”, explica o veterinário Gui-lherme Nunes de Souza, um dos responsáveis pela execução do projeto. O custo para montagem sai, em média, a R$ 150. E a manutenção mensal, que inclui a compra de papel-toalha, cloro comercial e detergente alcalino em pó, fica em torno de R$ 12.

Para apresentar a nova tecnologia, considerada social pelo fácil acesso e baixo custo, os técnicos responsáveis pela pesquisa e desenvolvimento do produto elaboraram uma cartilha, distribuída pela Embrapa Gado de Leite. “Tivemos o cuidado de fa-zer tudo de forma clara e objetiva, com uma lingua-gem simples e muitas ilustrações. A idéia é facilitar o acesso a todos, mas, principalmente, aos peque-nos produtores”, afirma Guilherme. Nas 20 páginas do livreto, o pequeno produtor aprende a montar o

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próprio kit, a executar as novas práti-cas de ordenha e os procedimentos que possam garantir um melhor resultado – tanto na qualidade do leite, quanto na saúde do animal. Os resultados da pes-quisa surpreenderam os pesquisadores: com o uso correto do conjunto, é possí-vel reduzir em até 85% a contaminação microbiana do leite.

A proposta de uso do Kit Embrapa inclui medidas simples, como a retirada dos três primeiros jatos de leite em uma caneca de fundo escuro para verificar seu aspecto: se estiver amarelado, agua-do ou com pus, é sinal de mastite clínica e o produto não pode ir para o latão. Outras regras básicas de higiene, como manter as cordas, os latões e o local da ordenha limpos; lavar bem as mãos antes de pegar nas tetas ou no úbere da vaca; e resfriar o leite a quatro graus, em até três horas depois da ordenha, tam-bém são transmitidas aos produtores.

A novidade fica por conta da mon-tagem de um sistema para borrifar uma solução de água clorada nas tetas, de-senvolvido pelo extensionista agrope-cuário da Emater José Barbosa Nunes. A medida reduz o número de micror-ganismos tanto nas mãos do produtor quanto no úbere da vaca. Para borrifar a água clorada, é preciso apenas fazer uma alteração num balde, com o uso de mangueiras e adaptadores. Também está detalhada na cartilha a utilização do detergente alcalino em pó para hi-giene dos utensílios.

PESQUISAAntes de lançar a publicação, 12 téc-

nicos da Embrapa Gado de Leite, entre engenheiros agrônomos, de alimentos e veterinários, realizaram uma extensa pesquisa a fim de comprovar a eficiência e a viabilidade do projeto. De outubro de 2006 a junho de 2007, aproximadamen-te 170 técnicos, devidamente orienta-dos, acompanharam o processo de pro-dução de 100 rebanhos, espalhados por diversas regiões do país. Foram inclu-ídas propriedades com até 60 cabeças ou uma produção de até 100 litros. “No final ficamos com 89 rebanhos, pois 11 produtores não usaram de forma correta o material”, conta Guilherme. Se usado

de forma errada, adverte o veterinário, “o kit pode ter efeito contrário e piorar a qualidade da produção”.

De Pernambuco ao Rio Grande do Sul, passando por assentamentos rurais do interior do país, os resultados dos nove meses de pesquisas foram positi-vos. “Conseguimos diminuir considera-velmente a conta-minação do leite e a prevenção da mastite no gado. O resultado é um lei-te de melhor qua-lidade, a inclusão do pequeno produ-tor no mercado e a garantia de saúde do gado leiteiro”, diz o cientista so-cial Marne Morei-ra, coordenador do projeto. Para ele, as condições gerais de manejo e higiene no mo-mento da ordenha, armazenamento e transporte do leite são determinantes para o resultado final do produto. “Na média, diminuímos a contaminação de 160 ufc/ml para 30 ufc/ml. Conseguimos ficar dentro dos parâmetros da Instrução Normativa nº 51, estabelecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. E tudo fazendo uso da criatividade brasi-leira”, complementa. A média nacional de contaminação microbiológica do leite é de 800 ufc/ml, considerada alta pelos organismos de saúde.

EDUCAÇÃOApesar da simplicidade e aparente

praticidade para implantação do kit, a proposta ainda encontra resistência. Para Tereza Neves Corrêa, 74 anos, proprietária da chácara Fazendinha, na região do Incra 9 (DF), a proposta pode ajudar os produtores, mas deve ser acompanhada de um sistema de educa-ção e instrução. “Acho que só entregar a cartilha não resolve o problema. Tem toda uma cultura sobre a ordenha manual, feita por várias gerações. Para

muitos produtores, o uso dessa tecno-logia soa como protocolo demais para tirar o leite da vaca”, opina.

Diariamente, Tereza Corrêa e o casei-ro da chácara tiram leite de um rebanho de 30 cabeças. Além de ser comercializa-do e consumido pela família, o produto é usado na produção de derivados, como

queijos, e na fabri-cação de biscoitos.

A veterinária e sanitarista Rosân-gela Benevides aler-ta que o processo de mudança cultural e educacional na ordenha é lento e requer uma maior aproximação dos técnicos com os produtores. “Mui-tos produtores ofe-recem resistência para mudança de hábitos. É preciso orientá-los correta-mente e mostrar na prática que, se ele fizer o uso correto

do kit, a produção vai aumentar, as do-enças infecciosas vão diminuir e o leite, com melhor qualidade, terá mais chances de entrar no mercado”, complementa.

“Conseguimos diminuir consideravelmente a contaminação do

leite e a prevenção da mastite no gado. O resultado é um leite de melhor qualidade, a inclusão do pequeno produtor no mercado e a garantia de saúde do

gado leiteiro.”Marne Moreira,

coordenador do projeto

A cartilha com as instruções de produção e uso do Kit Embrapa Or-denha Manual pode ser adquirida na Embrapa Gado de Leite, na área de Negócios Tecnológicos (ANT), Rua Eugênio do Nascimento, 610, Bairro Dom Bosco, Juiz de Fora (MG).

O telefone (32) 3249-4700, fax (32) 3249-4751 e o e-mail [email protected] também podem ser usados para pedir a publicação, distribuída gratuitamente. A Em-brapa Gado de Leite orienta os pro-dutores a buscar, nas instituições de assistência técnica e extensão rural da região, informações sobre o uso correto dos equipamentos e os pro-cedimentos de ordenha adequados.

SAIBA MAIS

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Doença, que pode ser prevenida com vacinação e barreiras sanitárias, é a que mais causa prejuízos na pecuária

Governo, Sebrae e produtores na luta contra a febre aftosa

Sanidade

Um dos principais obstáculos para a comercialização da carne brasileira no mercado internacional é a descon-

fiança gerada por focos de febre aftosa, que sempre rondaram o Brasil. Países conhecidos por pagarem os melhores preços, como os Estados Unidos, têm certa resistência ao produto nacional justamente por conta da doença, que atinge bovinos, suínos, ovinos e ca-prinos.

Apesar de estar controlada no terri-tório brasileiro, a febre aftosa ainda é motivo de preocupação para produto-res. Barreiras sanitárias, rastreamento de rebanhos e a legislação federal são alguns dos mecanismos utilizados para ajudar a combater o problema.

“A luta contra a febre aftosa no Brasil, de forma organizada e oficial, vem se desenvolvendo há pelo me-nos 40 anos”, afirma o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Inácio Afonso Kroetz. “Desde 1998 o Brasil colhe importantes resul-tados decorrentes da reformulação do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (Pnefa), com o reconhe-cimento, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), de 16 estados e mais de 50% do território nacional como área livre de febre aftosa, devido à vacinação”, completa.

Kroetz diz, ainda, que o Brasil vem se esforçando para amenizar a pressão de alguns países da União Européia

(UE) em relação à exportação de carne brasileira para o velho continente. “So-bre os aspectos de saúde animal, afe-tos ao Departamento de Saúde Animal, do Ministério da Agricultura, as prin-cipais questões apresentadas dizem respeito às atividades de vacinação, controle do trânsito e monitoramento soroepidemiológico. Todas as questões apresentadas pela UE são devidamente respondidas e esclarecidas pelo serviço veterinário brasileiro. Quando necessá-rio, são realizados os ajustes solicita-dos”, esclarece.

O Rio Grande do Sul é um dos esta-dos brasileiros que lutam para manter a febre aftosa sob controle. “Nós passa-mos por experiências traumáticas em 2000 e 2001, quando detectamos 30

Para prevenir a aftosa, vacinação é fundamental

Embrapa Gado de Leite

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focos da doença no estado, vindos da Argentina e do Uruguai”, conta o pre-sidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Simm.

Segundo ele, o aparecimento de animais infectados pela febre aftosa obrigou produtores do estado a se or-ganizarem para controlar o problema. Então, foram tomadas medidas como a vacinação de rebanhos e a criação de barreiras sanitárias. “É complicado. Al-gumas das decisões entraram em con-flito com interesses de outros estados, mas, naquele momento, tais medidas eram realmente necessárias”, avalia Carlos Simm.

Os produtores de bovinos, suínos, ovinos e caprinos do Rio Grande do Sul discutem, agora, trabalhar com a exigência de três aspectos em todo o estado: a padronização dos rebanhos, a sanidade dos animais e a rastreabilida-de do gado.

“O Sebrae tem sido extremamente importante nessa ajuda para todos os que trabalham nesta área da pecuária aqui no estado. Além de subsidiar, para os produtores, os brincos utilizados para rastrear os rebanhos, a entidade é fundamental no apoio à aliança merca-dológica dentro do Rio Grande do Sul”, opina o presidente da Farsul.

Na opinião de Simm, o trabalho de incentivo à inserção qualificada da car-ne gaúcha no mercado, desenvolvido pelo Sebrae/RS em parceria com outras entidades do estado, merece destaque porque fortalece o produto na região.

“Tenho certeza de que, com medi-das como a vacinação do rebanho e a rastreabilidade de animais, aliadas ao apoio de entidades como o Sebrae e ao incentivo à aliança mercadológica no Rio Grande do Sul, a febre aftosa não se torna um obstáculo para a boa comer-cialização da carne do nosso estado”, conclui Simm.

A febre aftosa é uma doença causada por sete tipos de vírus. Ela pode dizimar criações inteiras de bovinos, suínos, ovinos e caprinos e representa a principal barreira sanitária à entrada de carne brasi-leira em alguns países. É também a enfermidade que mais produz per-das econômicas, na pecuária.

A doença causa febre alta, mui-ta salivação e vesículas nos lábios, gengiva, língua, mamas e patas dos animais, sintomas que podem durar até 10 dias. A febre aftosa impos-sibilita os animais de pastar, o que causa perda de peso e diminuição da produção de leite. Para evitar a disseminação é preciso controlar o surto do vírus e impedir a entrada de animais infectados em países sem registro de foco da doença.

Fonte: UnB Agência

SAIBA MAIS

Ano Setor público Setor Privado TOTAL Federal Estadual Total

* não incluindo despesas relativas ao pagamento de salários e contribuições sociais, e para o setor privado as despesas com aquisição e aplicação da vacina contra a febre aftosa, bem como os recursos destinados à constituição de fundos privados de erradicação.

TABELA: Recursos financeiros destinados ao sistema de defesa sanitária animal, 1992 a 2006 (US$) *

1992 7.665.189,90 2.665.746,77 10.330.936,67 74.651.307,43 84.982.244,10

1993 7.292.464,62 1.012.820,68 8.305.285,30 75.882.789,36 84.188.074,66

1994 23.067.687,75 3.009.460,31 26.077.148,06 94.089.919,00 120.167.067,06

1995 39.033.218,33 9.981.372,76 49.014.591,09 143.033.825,60 192.048.416,69

1996 18.845.413,06 23.035.929,85 41.881.342,91 90.130.432,38 132.011.775,29

1997 26.566.766,67 20.288.699,82 46.855.466,49 120.517.941,10 167.373.407,59

1998 23.214.494,62 16.831.377,61 40.045.872,23 98.940.011,14 138.985.883,37

1999 31.698.828,00 22.610.346,00 54.309.174,00 96.250.297,00 150.559.471,00

2000 52.740.700,00 19.579.333,92 72.320.033,92 124.268.244,00 196.588.277,92

2001 53.869.376,60 18.494.058,72 72.363.435,32 113.291.894,07 185.655.329,39

2002 17.580.566,44 17.016.416,75 34.596.983,19 113.370.998,50 147.967.981,69

2003 6.725.864,77 19.880.371,02 26.606.235,78 143.597.701,68 170.203.937,46

2004 39.919.155,29 24.179.300,26 64.098.455,55 160.054.968,98 224.153.424,53

2005 44.171.210,70 28.689.735,12 72.860.945,82 189.161.190,72 262.022.136,54

2006 29.838.438,01 24.168.561,54 54.006.999,55 217.184.456,55 325.198.455,64

Total 422.229.374,76 251.443.531,13 673.672.905,88 1.854.425.977,51 2.582.105.882,94

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Certificado garante qualidade e estimula criação com respeito ao animal e ao meio ambiente

Carne bovina do Pampa Gaúcho tem Indicação de Procedência

Certificação

Selo de IP assegura qualidade do produto

Elias Eberhardt

Quando se pensa em carne bo-vina de qualidade, em todo o mundo, um dos aspectos que sugerem um bom produto é a

Indicação de Procedência (IP). Forma-da por pecuaristas do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional, a Associação dos Produtores do Pampa (Apropampa) usa, desde dezembro de 2006, a única IP do continente americano, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Isso se tornou possível com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS). “O Sebrae deu todo o suporte técnico para que o projeto pudesse ser desenvolvido. Com isso, produtores, indústrias e consumidores saem ganhando”, afirma o gestor de projetos de bovinocultura da entidade, Ângelo Aguinaga.

O Pampa Gaúcho da Campanha Meridional fica na área de maior pro-porção de campos naturais preservados do Brasil, um dos ecossistemas mais importantes do mundo, conforme Na-binger (1998). Compreende parte dos municípios de Bagé, Aceguá, hulha Negra, Pedras Altas, Lavras do Sul, Dom Pedrito, São Gabriel e Santana do Livra-mento, sendo a zona de produção da carne bovina delimitada pela caracteri-zação botânica dos campos desses mu-nicípios, chamados de Campos Finos, bem como do tipo e uso do solo.

Entre os benefícios da Indicação de Procedência, está a garantia de que o consumidor terá em sua mesa uma carne produzida com qualidade. Para produtores e indústrias, a Indicação de Procedência reserva o compromisso de preço máximo, independentemente da indicação da carcaça do animal.

O produto com Indicação de Proce-dência oferece diversas vantagens. A carne vincula aspectos como tradição,

território, responsabilidade ambiental e respeito a um regulamento técnico, que inclui, além da delimitação da área, pontos como preocupação no transporte de animais, alimentação, rastreabilidade, abate e chegada ao frigorífico.

“Os produtores do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional pensam em ex-portar, em um futuro próximo, a carne aqui produzida. A IP, ao agregar valo-res, ganha uma importância fortíssima na Europa”, explica a coordenadora de programas de Agronegócios do Sebrae/RS, Alessandra Loureiro Souza.

De acordo com a coordenadora, no comércio não basta dizer que um pro-duto é bom. É necessário que haja uma comprovação. A Indicação de Proce-dência garante a qualidade da carne. “A parceria entre o Sebrae e a Associação dos Produtores do Pampa é de funda-mental importância para a continuação desse projeto”, pondera Alessandra.

Por enquanto, apenas produtores de rebanhos bovinos do Pampa Gaúcho

da Campanha Meridional têm o direito de usar a Indicação de Procedência. To-dos devem estar enquadrados no Regu-lamento Técnico criado pelo Conselho Regulador da Identidade Geográfica.

Tradicionalmente, o Rio Grande do Sul é um estado conhecido pela cultura de carnes de excelente qualidade. O se-cretário-executivo da Apropampa, Feli-pe Dias, conta que antes da outorga da Indicação de Procedência, os criadores da região encontravam muitas dificul-dades porque não tinham respaldo ou garantia na hora da comercialização. Sem a segurança de boas vendas, o co-mércio do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional ficava prejudicado.

“Claro que qualidade é um aspecto subjetivo. Mas, sem falsa modéstia, posso contar a impressão das pessoas que consomem carne dessa região. Todo mundo que conversa comigo faz questão de ressaltar que foi a melhor carne que já comeu”, diz Felipe Dias. “A carne é realmente muito macia e sabo-rosa”, completa.

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Page 27: Produção Leite Longa Vida

Márcia Gouthier/ASN Márcia Gouthier/ASN

Debate público

Representantes dos setores apresentaram aos parlamentares Plano de Desenvolvimento para a cadeia produtiva

Câmara debate desenvolvimento da ovinocaprinocultura

AGêNCIA SEBRAE DE NOTíCIAS

O desenvolvimento das ca-deias produtivas de caprinos e ovinos foi tema de audiência pública realizada na Câmara

dos Deputados no dia 25 de setembro. Na audiência, os parlamentares rece-beram informações de especialistas sobre a situação atual desses setores, o potencial deles na geração de renda e os problemas enfrentados na produção e comercialização de carne, peles, lã e leite desses animais. A idéia é sensibi-lizar os deputados para a necessidade de políticas públicas para a caprinovi-nocultura.

O pesquisador da Embrapa e secre-tário-executivo da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva, Raimundo Nonato Lobo, apresentou o cenário atual desses setores. O Brasil é o 18º país em rebanho de ovinos, com 15 milhões de cabeças; e o 16º em caprinos, com dez milhões de animais. A demanda interna de carne de caprinos e ovinos alcança 1,2 quilo por habitante ao ano.

Segundo Lobo, o país tem potencial para crescer, mas é preciso superar al-

guns gargalos. É por isso que a Câmara Setorial dessas cadeias produtivas elaborou um Plano Nacional de Desen-volvimento da Caprinovinocultura, apresentado aos parlamentares durante a audiência.

O plano propõe políticas para o setor e ações coordenadas entre seus diferentes segmentos. No documento, há demandas relacionadas a crédito, fi-nanciamento e tributação; ciência, tec-nologia, pesquisa e assistência técnica; sanidade, qualidade e rastreabilidade; e informação, estratégia e mercado.

Na audiência, o coordenador da car-teira de projetos de ovinos e caprinos do Sebrae Nacional, Ênio Queijada, apre-sentou as formas de inclusão social que a cadeia pode propiciar. Segundo ele, a atividade, além de reduzir o êxodo rural, é fonte de renda. Atualmente, o Sebrae tem 65 projetos nesses setores e atende quase 40 mil pessoas, em 18 estados e no Distrito Federal, em 500 municípios.

A deputada Jusmari Oliveira, da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, defendeu a importância da ativi-dade para mudar a vida das populações

mais pobres. A empresária Júlia Streski e o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, Paulo Afonso Schwab, também fizeram apresenta-ções durante a audiência.

NOITE DE DEGUSTAÇÃOQueijo de cabra, lingüiça de cordei-

ro, carneiro assado. Essas foram algu-mas das iguarias degustadas pelos parti-cipantes do Espaço Aprisco – Cabritos e Cordeiros, montado na sede da Embrapa em Brasília, no dia 25 de setembro.

Promovido pelo Sebrae, Ministério da Agricultura, Embrapa Caprinos, Con-federação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Associações de Criadores de Caprinos e Ovinos, o encontro tam-bém serviu para difundir informações sobre os produtos derivados de caprinos e ovinos.

O evento fez parte das realizações da Câmara Setorial da Cadeia Produti-va de Caprinos e Ovinos. Pela manhã, representantes da Câmara entregaram o Plano de Desenvolvimento da Capri-novinocultura Brasileira ao ministro da Agricultura, Reinholds Stephanes. À tarde, foi promovida a audiência pública na Câmara dos Deputados.

O diretor do Sebrae Luiz Carlos Bar-boza destacou que a Instituição está junto com os produtores na busca de de-senvolvimento para a caprinovinocultu-ra brasileira. “Todos sabemos do poten-cial que essas cadeias têm, mas também temos conhecimento das dificuldades, dos entraves e dos desafios que temos de vencer. Por isso a importância de to-dos os atores dessa cadeia trabalharem de forma conjunta, tendo um plano bem traçado para desenvolver a qualidade, o manejo e questões sanitárias”, ressalta.

Diretor-técnico do Sebrae, Luiz Carlos Barboza, participa do evento Espaço Aprisco

Pesquisador da Embrapa, Raimundo Nonato Braga Lobo; coordenador do Sebrae Nacional, Enio Queijada; e deputado Afonso Hamm

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Criadores atuam em condomínio há quase três anos e prestam apoio técnico a comunidades próximas

A expansão do setor no Vale do São Francisco

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“Há todo um repasse de instruções

sobre técnicas que permitem o uso mínimo ou nulo

de agroquímicos. Também orientamos

sobre o controle higiênico-sanitário da produção, seu

processamento e sua comercialização.”Bras Lomanto, gestor do Projeto de Caprino-

ovinocultura do Sebrae/PE

Caprinos e ovinos sempre fize-ram parte da paisagem nordes-tina e, de uns anos para cá, os criadores desses animais têm

formado associações e cooperativas para fortalecer o segmento. Atento a isso, o Sebrae está desenvolvendo, com o Projeto de Fortalecimento da Ativida-de de Caprino-ovinocultura do vale do São Francisco, várias ações voltadas a 300 caprino-ovinocultores organizados da região, definidos como público-alvo até 2007.

O Projeto pretende ampliar o vo-lume da comercialização dos animais mediante a disseminação da cultura da cooperação e gestão, da tecnologia no beneficiamento do leite de cabra, da tecnologia em artefatos de pele caprina e ovina, e do melhoramento no sistema de produção e produtividade pelo acesso e adoção de tecnologias especializadas.

RESULTADOS ESPERADOSEm três anos de implementação,

prazo que encerra em dezembro de 2007, o projeto pretende gerar resul-tados expressivos: R$ 350 mil com a comercialização do leite de cabra e derivados; R$ 26,2 mil com a comer-cialização de artefatos de pele; R$ 1,5

milhão com a venda de animais vivos. Além disso, serão processadas 1.050 peles de caprinos e ovinos em artefatos e produzidos 400 mil litros de leite de cabra. Para alcançar tais números, o Sebrae vem, desde 2005, promovendo caravanas, missões, feiras itinerantes e exposições de animais, capacitando produtores e associações em gestão, implantando e difundindo novas tec-nologias, entre outras ações.

No interior de Pernambuco, os Agentes de Desenvolvimento Rural – ADR têm contribuído para a conso-lidação de dois projetos: o do Bode Ecológico do vale do São Francisco e o Condomínio de Cabra de Leite, no município de Santa Maria da Boa vista.

O objetivo dessas duas ações é imple-mentar um sistema de produção de car-ne de bode e leite de cabra orgânica ou semi-orgânica, associado ao uso racio-nal do bioma caatinga, com garantia de certificação orgânica ou de indicação geográfica da origem da produção.

Segundo o gestor do Projeto de Ca-prino-ovinocultura do Sebrae-PE, Bras Lomanto, “há todo um repasse de ins-truções sobre técnicas que permitem o uso mínimo ou nulo de agroquímicos. Também orientamos sobre o controle higiênico-sanitário da produção, seu processamento e sua comercialização. É um trabalho que, sem a presença dos Agentes de Desenvolvimento Rural, se-ria muito mais difícil”, diz Bras.

Santa Maria da Boa VistaEm Santa Maria da Boa vista (PE) foi criada, em 2003, a Associação

Agropecuária do vale do São Francisco - Aprisco do Vale. O presidente, José Américo Barros Leite, conta que com o incentivo à agricultura irrigada, no período de 1975 a 1985, muitos produtores agrícolas que não se adaptaram à monocultura acabaram perdendo seus bens e passaram a morar à beira dos rios, em situação precária.

Com a iniciativa da Aprisco do Vale e apoio do Sebrae, no ano de 2005 foi formado um grupo para criação de cabras leiteiras, quando, então, surgiram novas perspectivas para os associados e a população da região. O grupo parti-cipou de caravanas do Sebrae, nos estados da Bahia, Paraíba e Rio de Janeiro, para conhecer experiências semelhantes, recebeu capacitações e elaborou um projeto produtivo participativo em regime de condomínio. “hoje, na nossa ci-dade, já existem outras cinco associações agropecuárias, sendo a nossa a única que compartilha todos os processos adotados, da criação até a produção, divi-dindo despesas e o valor resultante das vendas”, diz José Américo.

O presidente acredita que a Aprisco do Vale influenciou a cultura do mu-nicípio em relação à pecuária leiteira e que seus participantes estão tendo a oportunidade de crescer individualmente e coletivamente. “A partir da criação do nosso condomínio, somos chamados para prestar apoio técnico em outras regiões próximas ao nosso município, oferecemos trabalho para os técnicos em Agropecuária formados em Petrolina, aprendemos a melhorar nosso rebanho nos quesitos raça e desempenho. Também estamos incubando pesquisas na área, com o apoio de uma organização não-governamental ja-ponesa”, informa José Américo.

Como exemplo dessas atividades, ele cita o município de Lagoa Grande, situado a 55 km de Petrolina, como uma região que acaba de solicitar con-sultoria técnica da Aprisco do Vale para dar o pontapé inicial de um projeto semelhante ao realizado em Santa Maria da Boa vista, que hoje possui 180 cabras – sendo 70 em lactação, criadas em beira de rio, e 110 preparadas para produzir leite. Com o rebanho de cabras leiteiras, os criadores podem produ-zir derivados do leite e, assim, agregar mais valor ao produto.

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Page 30: Produção Leite Longa Vida

Produção muda realidade da pobreza no sertão paraibano

Terra de Cabra Macho é campeã na produção leiteira

Paraíba

A Paraíba produz diariamen-te 18 mil litros de leite de cabra e é o maior produtor nacional. Depois vêm Rio de

Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Norte, com um volume de menos de 10 mil litros/dia cada.

De acordo com o Sebrae-PB, a produção tem mercado assegurado e o segmento governamental é o maior comprador. A aquisição pelo Estado representa cerca de R$ 15 mil/dia, resultado da comercialização de 15 mil litros/dia destinados a programas governamentais – como Conab, Progra-ma de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e Fome zero/Leite da Paraíba – e a prefeituras, que adquirem o produto desde 2006.

O leite de cabra pasteurizado e envasado em usinas de beneficiamento certificadas pelo Serviço de Inspe-ção Federal (SIF) ou Estadual (SIE) é adotado por escolas estaduais, sendo usado como complemento alimentar, consumo direto (leite fluido) ou como ingrediente de produtos, como arroz de leite, mingau e outros. Para as creches, escolas, hospitais e crianças inscritas no Peti, o Programa Conab destina 5 mil litros/dia, beneficiando diretamen-te 9.290 pessoas.

Os outros três mil litros que comple-tam a produção diária de leite de cabra

no Estado são voltados para o mercado aberto. Ou seja, o leite é beneficiado em indústrias privadas de laticínio e comercializado em forma de iogurte, queijo e requeijão.

Além de colocar a Paraíba no topo do ranking da produção leiteira de cabra, esses números contribuíram para mudar a realidade de pobreza nas regiões do Cariri, do Sertão e de Curi-mataú, onde a caprinocultura se tornou a principal atividade agropecuária e econômica.

O consultor veterinário do Sebrae/Pb, Artur Carlos de Almeida, diz que nas três regiões citadas a atividade é feita por 900 produtores de leite, distribu-ídos em 32 associações, proprietárias de 10 pequenas usinas de beneficia-mento. O rebanho da região é estimado em mais de 420 mil cabras –sendo 25% leiteiras –, bodes e ovelhas.

Ao todo, são 1.500 caprinovino-cultores na Paraíba e o faturamento do setor alavanca a economia local. “Cada associação dessa tem uma renda de R$ 21 mil por dia”, revela o médico veteri-nário. Cada litro de leite sai por R$ 1,40, dos quais R$ 1,00 segue para o produtor, enquanto os centavos restantes são

aplicados em gastos do negócio.Não há um dado oficial sobre o

número de pessoas que vivem da ati-vidade. Mas, como observou Artur, é possível fazer uma estimativa. No últi-mo levantamento realizado pelo Sebrae em 2005, eram gerados 2,2 empregos por propriedade. Multiplicando esse

A Paraíba produz diariamente 18 mil

litros de leite de cabra e é o maior

produtor nacional.

Feira nacionalO 3º Sincorte e a Feira Nacio-

nal do Agronegócio de Caprinos e Ovinos de Corte, a Fenacorte 2007, serão realizados no próxi-mo mês de novembro, em João Pessoa. Será o maior encontro de agronegócio de caprinovino-cultura da América Latina: 80 expositores vão comercializar insumos, máquinas, produtos e serviços voltados para o segmen-to de corte.

Na ocasião serão apresenta-dos diversos aproveitamentos dos caprinos, que, além do leite e da carne, têm pele que ganha espaço nos centros de moda e de artesanato do país.

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Rebanho paraibano é estimado em mais de 420 mil cabras

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Produção diária de leite é de 11,9 mil litros

Rio Grande do Norte

número por 900 produtores, chegamos a 1.980 pessoas trabalhando na criação e ordenha. O cálculo não leva em conta os empregos diretos gerados pelas usi-nas de beneficiamento e pela logística de captação e distribuição do leite.

PRODUTORES VÃO INVESTIR NA CARNE CAPRINADepois da consolidação do mercado

de leite, os produtores da região que-rem intensificar a produção da carne caprina. Dois projetos de frigoríficos, ambos com capacidade de 100 abates/dia estão em fase final de implantação:

o “Caprino”, da iniciativa privada, e o “Ciagro”, resultado de parceria do Governo Federal com o Consórcio In-termunicipal de Atividades Agrocupe-cuárias, que reúne sete municípios do Cariri. A idéia é que os 31 municípios integrem o projeto e, para isso, a Asso-ciação dos Municípios do Cariri Parai-bano (Amcap) vai iniciar um trabalho de sensibilização

AGENTES DE MUDANÇASA atividade da caprinovinocultura

na Paraíba ganhou impulso a partir do trabalho dos Agentes de Desenvol-

vimento Rural (ADR). A atuação dos agentes rendeu um produto de valor inestimável: o avanço do associativis-mo e a melhoria da qualidade de vida, com geração de emprego e renda.

Diversos produtores já realizaram o sonho de comprar as terras em que trabalham.

“O mais importante para um ADR é saber lidar com as pessoas para que elas sejam capazes de promover mudanças, disseminar a cultura empreendedora e auxiliar no desenvolvimento local”, avaliou o gerente de Agronegócio do Sebrae Nacional, Juarez de Paula.

O rebanho caprino no Rio Grande do Norte, indistintamente de sua função produtiva (carne ou leite), alcançou 428.278 cabeças (Idema, 2004). Nos últimos anos, registra-se o crescimento do rebanho em todas as mesorregiões do estado, quando comparadas duas séries de dados da mesma fonte (Idema, 1997).

Em 1999 os caprinocultores potigua-res se mobilizaram para cobrar do Gover-no do Estado a inclusão do leite de cabra no Programa de Leite, conseguindo a garantia de compra de 1 mil litros diários. Atualmente, o Programa compra 9 mil litros diários.

hoje o Rio Grande do Norte se des-taca na produção leiteira caprina. Em 1999, a produção era de 200 litros/dia; hoje a média diária é de 11.967 litros. A Pesquisa Direta feita pelo Sebrae-RN e Coopagro, em setembro de 2007, apon-tou que cinco usinas beneficiam diaria-mente 10.467 litros, produzidos por 495 caprinocultores em 50 municípios, o que dá uma média diária de 21,1 litros per capita. Cerca de outros 1.500 litros/dia são convertidos em queijos, rapaduras, iogurtes, doces, licores e outros.

Devido à profissionalização da ativi-

dade, que inclui capacitação e assistên-cia técnica, a produtividade do leite vem aumentando e os elos da cadeia produti-va estão mais integrados e fortalecidos, mediante parcerias que envolvem o produtor, indústrias de processamento, comércio, órgãos governamentais e não-governamentais. No Rio Grande do Norte existem vários programas de governo que contemplam a caprinovinocultura, como o Programa do Leite do Governo Estadual, Pronaf, Compra Direta, Programa de Eco-nomia Solidária e Feiras Agroecológicas.

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Sebrae/RN

hoje o Sebrae/RN desenvolve dois projetos para o setor: o Fortalecimento do Aprisco nas regiões Oeste, Seridó e Alto Oeste Potiguar, e o Fortalecimento do Arranjo Produtivo Local da Caprinovi-nocultura do Cabugi.

A produção de leite incrementou também a produção de carne de caprinos e ovinos. Novas tecnologias de cortes fo-ram aplicadas e incentivou-se a inclusão das carnes em restaurantes, churrascarias e hotéis, a partir de oficinas e festivais gastronômicos regionais.

Torneio Leiteiro – Festa do Bode em Mossoró/RN

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Page 32: Produção Leite Longa Vida

Um projeto desenvolvido no Rio Grande do Sul criou estratégias de comerciali-zação da carne de cordeiro.

A iniciativa oferece um produto pa-dronizado e com segurança alimentar, dentro dos requisitos capazes de aten-der às exigências do consumidor. O programa ainda está em fase de testes na região, mas deverá ser ampliado para todo o país.

Certificação

Projeto busca aumentar a eficiência dos sistemas de produção e comercializar produto diferenciado

Carne de cordeiro tem qualidade certificada no RS

Sebrae-RS

O mercado do cordeiro no Brasil passou por mudanças significativas nos últimos anos. Em 1968, a Região Sul deti-nha o maior rebanho de ovinos, com 13,3 milhões de cabeças especializadas na produção de lã. Com a perda do valor da lã no mercado internacional, o rebanho de ovino diminuiu. A região chegou a regis-trar 5,1 milhões de cabeças, em 2006.

Os produtores, no entanto, busca-ram outras alternativas para comercia-

lizar o produto e criaram ovinos com dupla aptidão (lã e carne) por raças específicas. Aos poucos, a iniciativa deu certo e surgiu a necessidade de cer-tificar a produção da carne. Para isso, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS), em parceria com a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), desenvolveu o Projeto de Certificação Ovina.

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Sebrae-RS

“Queremos que o consumidor tenha

certeza de que comprou algo de qualidade e que

esteja satisfeito. O importante é atender

às necessidades do cliente para

garantir a segurança alimentar.”

Carlos Cleber Leal, produtor do município de São

Gabriel e presidente da Cooperativa Tejupá

SEGURANÇA ALIMENTARO projeto certifica os cordeiros de

diferentes grupos de produtores do Programa Juntos para Competir – uma parceria do Sebrae-RS com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Se-nar) e com a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, que beneficia diversas áreas, entre as quais, a ovino-caprinocultura. O consumidor, em con-trapartida, passa a ter certeza de que a carne adquirida é realmente oriunda de um animal com até um ano de idade. E que respeita os requisitos definidos no protocolo de produção.

De acordo com o gestor estadual da bovino-ovinocultura do Sebrae/RS, Ângelo Aguinaga, será realizada, na primeira fase do projeto, uma ação com quatro grupos de 10 produtores nos municípios de Dom Pedrito, São Ga-briel, São Martinho da Serra e Quarai. “O objetivo é que cada um deles certifi-que 4 mil cordeiros, no total”, diz.

O produtor do grupo de São Gabriel e presidente da Cooperativa Tejupá, Car-los Cleber Leal, acredita que as pessoas buscam, cada vez mais, a qualidade do produto e a certificação de origem: de onde veio o animal e como foi criado e conduzido durante a vida. “Queremos que o consumidor tenha certeza de que comprou algo de qualidade e que es-teja satisfeito. O importante é atender às ne-cessidades do cliente e garantir a segurança ali-mentar”, com-pleta Leal.

A Arco, enti-dade que reúne todas as associa-ções de raças do país, foca suas atividades no registro genea-lógico dos reba-nhos. Segundo o pres idente, Paulo Schwab, o Brasil, que ainda importa animais, precisa ter um

rebanho qualificado para fornecer carne para o consumo nacional. “Temos de en-trar no mercado e mostrar a qualidade do nosso cordeiro. Pretendemos certificar os animais e oferecer um produto de alta qualidade, até ele chegar ao supermer-cado com a indicação de origem para o consumidor”, comenta.

REQUISITOS NECESSÁRIOSApenas os animais com, no má-

ximo, 13 meses de idade e dentição de leite poderão ser incluídos no projeto. Os cordeiros serão revisados por um técnico da Arco e re-ceberão um brinco de identificação.

Todos os animais devem necessaria-mente ser alimen-tados em reg ime de pasto, podendo ser campo nativo, campo melhorado e pastagem cultivada. Não é permitida a suplementação ali-mentar com qual-quer tipo de grão. Isso vale para qual-quer fase da vida do cordeiro e da ovelha,

sejam criados em regime aberto ou em confinamento.

No momento do abate, é preciso ter entre 25 kg e 40 kg de peso vivo. Se o animal for fêmea ou macho castrado, não haverá restrição de idade para o abate, respeitados o limite definido pelo projeto. Já os machos inteiros devem ter idade inferior a 7 meses de idade. Serão aceitas todas as raças, in-dependentemente do cruzamento.

Para obter a certificação de seu sis-tema de produção, a propriedade deve apresentar um calendário sanitário estratégico e ter instalações em boas condições para o manejo e o embarque dos animais, respeitando os requi-sitos mínimos de bem-estar animal. Para fazer essa avaliação, um técnico auditor do Ministério da Agricultura e Produção Agropecuária (MAPA) deve visitar as propriedades ao menos duas vezes por ano.

A idéia do Sebrae/RS e da Arco é ampliar o projeto de certificação de ovinos para todo o Brasil. Para Schwab, a primeira fase do programa é importante para descobrir como o mercado irá receber o ovino certifi-cado. “O projeto está na etapa das experiências e, se algo sair errado, temos chances de melhorá-lo antes de direcionar o trabalho para o Brasil inteiro”, completa.

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No RS, certificação da carne de cordeiro começa em quatro municípios

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A ovinocultura não mais se destaca no Brasil apenas pela produção de lã. Ela vem ga-nhando força, também, em

razão da saborosa carne desses animais. Apesar de não ser tão popular como a carne de bovino e aves, o cordeiro teve seu consumo aumentado de forma sig-nificativa, nos últimos anos. Aos pou-cos, ganhou espaço em restaurantes, churrascarias e bares de todo o país.

GASTRONOMIAO Grupo Savana, idealizado pelo

empresário Robson Leite, comercializa a carne de cordeiro para restaurantes de alta gastronomia, em São Paulo. Em meados do ano 2000, ao fazer uma pes-

Mercado

Investimento na qualidade da criação gera bons resultados e conquista clientes

Cordeiro: um negócio de dar água na boca

passassem a comprá-lo aqui. Em São Paulo, no bairro de Pinhei-

ros, o Gardênia é especializado em receitas de cordeiro, sob a coordenação da chef Marina Moraes, filha do proprie-tário, Carlos Moraes.

A responsável pela cozinha do res-taurante, Ana Cristina Pereira, ressalta que a procura pela carne de ovino au-mentou muito. A demanda pelo produto no estabelecimento dobrou em um ano. “Isso acontece porque a carne de cor-deiro tem sido mais divulgada e o pre-conceito diminuiu”, explica. Segundo ela, aproximadamente 800 kg da carne são consumidos por mês no Gardênia.

O dono, Carlos Moraes, tem a sua própria fazenda e é de lá que vem a maior

Brochette de cordeiro com creme de espinafre é sucesso em São Paulo

quisa com 180 chefs de cozinha de três capitais brasileiras – São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília –, Robson conheceu a preferência desses experts: a carne de cordeiros da Nova zelândia e Ilhas San Michele, pelo sabor e qualidade apresentados.

O empresário, então, passou a criar cordeiros e fazer o cruzamento de animais. Percebeu que, quando criado em confinamento, o animal da raça Santa Inês, desenvolvida no Nordeste brasileiro, apresentava as mesmas características dos ovinos importados, bem como uma carne mais magra, como ocorre com os deslanados. Foi o suficiente para que grandes restauran-tes, acostumados a importar o produto,

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Divulgação Savana

Receita de cordeiroIngredientes:- 500 g de costeleta de cordeiro- Sal a gosto- 100 ml de óleo - Pimenta do reino branca moída a gosto- 01 colher de sopa de manteiga sem sal- Ervas finas secas (manjericão, tomilho, alecrim, sálvia) a gosto

Preparo:Tirar todo o excesso de gordura das costeletas de cordeiro. Temperar com o sal e a pimenta do reino branca e moída. Fritar no óleo bem quente, escorrer o óleo e acrescen-tar a manteiga e as ervas finas. Ser-vir com feijão verde ou vagem.

parte da carne consumida em seu restau-rante. Quando o produto da fazenda não é suficiente, Moraes recorre à empresa de Robson Leite, confiante no padrão de qualidade da carne. Essa parceria come-çou há cerca de dois anos e tem gerado resultados favoráveis: “A Savana costuma ter uma boa produção também na entres-safra”, diz Ana Cristina.

atender ao mer-cado brasileiro, europeu e, agora, norte-americano.

Bueno, porém, aponta dois proble-mas. “O primeiro deles é que nossos custos de produção são mais elevados. Temos que compe-tir com a carne ba-rata e de qualidade duvidosa que vem do Uruguai”, diz. Um outro problema é a falta de organização da cadeia produ-tiva em São Paulo. “Entretanto, alguns abatedouros, como a Savana, estão bem organizados. Eles conhecem o nicho de comercialização. Podem pagar mais para o produtor e competir com a carne do país vizinho”, argumenta.

FESTIVALIlton Santos é gerente do restau-

rante paulista Freddy, um dos mais an-tigos e tradicionais bistrôs da cidade. há mais de 30 anos trabalha com carne de cordeiro, sob comando do chef Ge-raldo Rodrigues.

O restaurante promove, anualmen-te, o Festival do Cordeiro. O evento dura cerca de três meses e acontece toda a semana, no almoço e jantar. Este ano foi realizada a quinta edição, de junho a agosto, e os pratos principais foram brochette de cordeiro desossado com tomate fresco e vagens francesas, costeletas de cordeiro nas ervas finas com feijão verde e batatas fritas, e Gigot (perna de cordeiro) assada e ser-vida com feijão branco.

há três anos o festival ocorre em parceria com a Savana e, de acordo com Santos, tem dado certo. “A carne é uma delícia, de primeiríssima. Os clientes adoram”, garante. Antes, Santos traba-lhava em seu restaurante com produto importado, vindo do Uruguai. Satis-feito com a carne de ovino da Savana, o gerente já negou testes de outras fornecedoras. “Não tem comparação com a qualidade, simpatia e profis-sionalismo”, explica. No dia-a-dia do

Com média de 2 mil abates por mês, a Savana tem uma demanda maior do que a oferta e, por isso, trabalha em integração com 15 produtores dis-postos a criar ovinos usando a mesma tecnologia. “Com isso, eles garantem o escoamento de sua produção para a empresa com um preço diferenciado”, complementa.

O pesquisador científico do Insti-tuto de zootecnia Mauro Sartori Bueno acredita que, atualmente, a valorização da carne ovina ocorre no mundo todo. Para ele, o importante é o Brasil inves-tir em qualidade, “o que está sendo fei-to pela Savana”. O pesquisador ressalta que, embora o país seja um produtor de lã e tenha a carne como subproduto, está se especializando em carne para

Freddy, são usados cerca de 150kg de carne de cordeiro por mês. Durante o festival, o número chega a 350kg.

MATRIzESA ovinocultu-

ra está começando a se estruturar no Sudeste, com a uti-lização de matrizes. Em parceria com o Sebrae/SP, a Sava-na tem um projeto

que une a Associação Paulista dos Cria-dores de Ovinos e a Câmara Setorial da Ovinocultura. O objetivo da parceria é fazer com que o número de matrizes de ovinos no Brasil chegue a 6 milhões.

O gestor estadual da cadeia produ-tiva da ovinocaprinocultura do Sebrae-SP, Silvio César, defende essa idéia: “Nós apoiamos a Savana no seu desen-volvimento por meio de feiras, como a Fispal (Feira Internacional de Produtos Alimentícios), e fizemos a aproximação junto à Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Estado de São Paulo, que ajudou a empresa a expandir seu mercado”, diz.

“Nossos custos de produção são mais

elevados. Temos que competir com a carne barata e de qualidade

duvidosa que vem do Uruguai.”

Mauro Sartori Bueno, pesquisador científico do Instituto de Zootecnia

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Uma pesquisa experimental, realizada pelo Departamen-to de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da Uni-

versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), integra lavoura-pecuária com ovinos. No verão, é realizado o plantio da soja, e no inverno, a pasta-gem de azevém é aproveitada para a terminação de cordeiros. Os resultados obtidos são surpreendentes: as baixas intensidades de pastejo aumentam a produtividade da lavoura.

A integração lavoura-pecuária é a alternância temporária de cultivo de grãos e pastejo de animais em pasta-gens de gramíneas. Ele pode ser utili-zado de maneiras distintas. Depende, apenas, do interesse do produtor.

A rotação pastagens-culturas de grãos tornou-se uma estratégia promis-sora. A atividade tem uma característi-ca importante: desenvolve sistemas de produção menos intensivos no uso de insumos, pois são mais sustentáveis no tempo.

Se a altura da pastagem for mane-jada corretamente, não existe o efeito do pisoteio na compactação do solo e, conseqüentemente, não há redução na produtividade da soja. Além disso, o correto manejo aumenta o ganho animal.

NA PRÁTICAO grupo de pesquisa em ecologia

do pastejo da Faculdade de Agronomia da UFRGS realiza pesquisas para enten-der melhor as relações da integração

Lavoura x Pecuária

Projeto da Faculdade de Agronomia da UFRGS propõe cultivo consorciado de soja e gramíneas

Um casamento heterodoxo que deu certo

de azevém, utilizado com ovinos numa alternativa de integração com a cultura da soja.

“A linha de pesquisa do trabalho corresponde às intensidades de paste-jo moderada e baixa, representando, respectivamente, 2,5 ou 5 vezes o po-tencial de consumo dos animais, e mé-todos de pastejo com lotação contínua e rotacionada”, explica a gestora.

De acordo com Fabiana, a baixa intensidade de pastejo permitiu a res-semeadura natural do azevém, o que antecipou a entrada dos animais na pastagem, aumentando o período de utilização da mesma. Como a pastagem manejada sob intensidade modera-da não proporcionou ressemeadura

lavoura-pecuária. Eles avaliam o de-sempenho de ovinos em pastagem de azevém anual manejada sob intensida-des e métodos de pastejo. Os estudos contemplam, ainda, o impacto das produções primária e secundária sobre condições físicas e químicas de solo e a produtividade da lavoura de soja.

A iniciativa envolve professores e alunos de graduação, mestrado e doutorado da faculdade. Segundo a gestora dos projetos de Agronegócio da Regional Centro do Sebrae-RS, Fabiana Kellermann de Freitas, que participa do grupo de pesquisa como aluna de doutorado, o projeto analisa o efeito de métodos e intensidades de pastejo sobre a produção animal em pastagem

Ovinos pastejando no método de pastejo rotacionado, com intensidade de pastejo baixa

Intensidade de pastejo moderada Intensidade de pastejo baixa

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Fotos: Sebrae-RS

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Resultados obtidos

• O desempenho individual dos cordeiros foi superior na intensida-de de pastejo baixa, não havendo diferença entre os métodos.

• Houve interação de intensidade e método de pastejo para carga animal.

• O ganho por área não diferiu entre métodos e foi maior na inten-sidade de pastejo baixa.

• O rendimento da cultura da soja sofreu interação de intensidade e método de pastejo

• A produtividade da soja foi su-perior, com lotação rotacionada e intensidade baixa.

no ano anterior, o estabelecimento da pastagem de-pendeu somente da semeadura rea-lizada em todos os tratamentos, após a colheita da cul-tura da soja.

APLICAÇÃO NO MUNDO

A integração lavoura-pecuária é praticada em di-versos países. No Brasil, existe certo preconceito para cultivá-los simultaneamente. Mas o potencial para produzi-los, somente a pasto, é imenso.

Apenas no centro do país, oeste da Bahia e norte do Mato Grosso há cerca de 50 milhões de hectares com pasta-gens cultivadas. No Rio Grande do Sul são, pelo menos, 2 milhões de hectares cultivados com aveia para cobertura do solo e que poderiam ser maximizados com produção animal, sem prejuízos para a cultura de verão.

Na ásia, a integração lavoura-pecuária em pequenas propriedades é o sistema que tende a ser dominante no futuro próximo, sendo utilizado dife-rentemente dos modelos de integração conhecidos no sul brasileiro.

O crescimento da ovinocultura tipo carne no sul do Brasil, verificado na última década, está relacionado mais à crise do setor laneiro do que pro-priamente a avanços na aplicação de técnicas de manejo que potencializem os índices zootécnicos da atividade. Mas o uso de pastagens hibernais para a produção e terminação de cordeiros é um ponto positivo a ser considerado.

De acordo com Fabiana Kellermann de Freitas, alguns produtores têm certa dificuldade de usar os animais em áreas de lavoura devido ao paradigma de que causam compactação no solo e menor produtividade na lavoura subseqüente.

No entanto, o maior benefício do projeto é a antecipação do início do pastejo com conseqüente aumento do período de utilização. “Isso resulta em

maior produção animal por unida-de de área. Além disso, em situação externa à pesqui-sa experimental, a semeadura de azevém p rova -velmente poderia ser suprimida no segundo ano, re-fletindo-se na re-dução dos custos de implantação da pastagem”, res-salta a gestora.

UTILIzAÇÃO NA PRODUÇÃO OVINAOs métodos e intensidades de

pastejo são ferramentas disponíveis a serem empregadas conforme a situação da pastagem e os objetivos produtivos. O oferecimento da forragem em uma quantidade que potencialize o consu-mo dos animais é essencial em qualquer estratégia, pois cria condições de solo favoráveis e ressemeadura de espécies.

Em sistemas de integração lavoura-

pecuária, onde a implantação das pasta-gens depende da colheita da cultura de grãos, uma alta taxa de ressemeadura no ano anterior pode significar antecipação do início do pastejo, com conseqüentes alterações na produção animal.

Semeadura da soja, após a saída dos ovinos

O trabalho analisa o efeito de métodos e intensidades de pastejo sobre a

produção animal em pastagem de azevém, utilizado com ovinos em integração com a

cultura da soja .

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Qualidade

Sebrae, Emater e ABCS valorizam carne suína e promovem campanhas educativas sobre o valor nutricional do produto

Projeto capacita suinocultores

Exposição do produto em supermercados atraiu consumidores

Divulgação AssuvapAo contrário do que muita gente

pensa, a carne suína é branca, magra e saudável, com menor teor de gordura e calorias do que outras consumidas dia-riamente pela população brasileira.

Pensando em divulgar essa nova imagem, o Sebrae criou o Projeto de Desenvolvimento da Suinocultura, em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e com a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

A iniciativa vai além de mostrar ao consumidor que a carne suína de hoje não lembra o “porco-banha” de antiga-mente, alimentado de forma inadequada e criado sem qualquer higiene. As enti-dades parceiras estão desenvolvendo um trabalho mais amplo, detectando as necessidades do segmento, promovendo capacitação e prestando consultoria em gestão ambiental.

No Distrito Federal, a Emater-DF, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-DF), a Federação da Agricultura e Pecuária (Fape-DF) e a Associação dos Criadores de Suínos (DFSuin) promovem campanhas educativas sobre o valor nu-tricional da carne suína e, assim, aliam-se ao Sebrae e à ABCS na busca de maior espaço para o produto, no mercado.

A analista do Sebrae-DF Patrícia Ferreira Batista conta que o Projeto de Desenvolvimento da Suinocultura no Distrito Federal, do qual é gestora, co-meçou em meados de 2006. Na ocasião, em parceria com o Sebrae Nacional, o projeto foi criado dentro da Metodologia Gestão Estratégica Orientada para Re-sultados (Geor).

“Procuramos o segmento, montamos um comitê gestor com a participação do Sebrae-DF, Emater e Associação dos Criadores de Suínos do Distrito Federal (DFSuin), e escolhemos ações que se-rão trabalhadas por um período de três

anos”, diz Patrícia Batista.Até agora foram realizados no Dis-

trito Federal três cursos de capacitação para açougueiros, com aulas ministra-das pelo consultor Daniel Furtado, de Minas Gerais, que repassou os tipos de corte que podem ser feitos na carne de porco. “Tivemos uma aula em que foram demonstrados 70 tipos”, comenta a gestora.

Outras ações do Projeto de De-senvolvimento da Suinocultura no DF foram: promover a visita de criadores

locais a alguns estados brasileiros para conhecer as técnicas que estão sendo desenvolvidas por suinocultores, e ofe-recer consultoria em gestão ambiental aos associados. “A criação de porcos polui e, para diminuir o impacto am-biental nocivo e trabalhar de uma forma politicamente correta, o comitê gestor achou por bem fazer um convênio com a Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal, que presta consultoria nessa área”, explica Patrícia Batista.

No DF, que possui 40 criadores de

Tabela de calorias e gorduras presentes nas carnes de porco e frangoPorção de 85 g Calorias Gordura (g) Colesterol (mg)Carne magra de frango Peito de frango 140 3,1 73

Coxa frango s/pele 162 7,1 80

Sobrecoxa s/pele 178 9,3 81

Carne magra de porco

Lombo 139 4,1 67

Pernil desossado 168 7,0 73

Costelas desossadas 182 8,6 70

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Minas Gerais

Um novo olhar sobre a carne suína chegou a Ponte Nova em junho, como resultado de uma parceria entre a Associação dos Suinocultores do vale do Piranga (Assuvap), o Sebrae e a ABCS. O sucesso foi tamanho que o comércio teve, como resposta pela abordagem aos clientes, um aumento de 146% em vendas de cortes suínos durante a campanha, que durou 30 dias. O corte cam-peão, com o total de vendas próximo a mil quilos, foi o pernil apresentado como carne suína moída.

Segundo Guilherme Magalhães, analista do Sebrae-MG, várias receitas do dia-a-dia foram divulgadas para os clientes, com o propósito de levar a carne suína até a mesa dos moradores da região.

A campanha em Ponte Nova trouxe a opção de consumo não só da carne, mas de uma linha de produtos suínos “in natura” (costeletas, embutidos, bacon, joelho etc.), embalados em porções que variavam de 400 gramas a 1 quilo – média ideal para as famílias modernas, que se apresentam cada vez mais reduzidas.

No decorrer da campanha, os clientes confirmaram ser desinformados sobre a qualidade da carne e comentaram sobre a dificuldade que têm em encontrá-la nas redes de supermercados e lojas de varejo.

Outro evento foi a degustação de salgadinhos, realizada com apoio do Fórum de Desenvolvimento da Suinocultura de Ponte Nova e Região. Cerca de 1,3 mil pessoas consumiram esfirras, coxinhas e quibes, entre outros, prepa-rados com carne suína e aprovaram a novidade.

A Região do vale do Piranga é uma das maiores produtoras de suínos do país e utiliza alta tecnologia para produzir animais saudáveis. O setor mo-vimenta a economia regional – além da venda no varejo, a carne é utilizada na merenda das escolas municipais – e é desenvolvido de forma sustentável, valorizando a preservação ambiental.

Guilherme Magalhães informa que, em Belo horizonte, a campanha reali-zada numa grande rede de supermercados alcançou tanto sucesso que os dire-tores enxergaram nela a oportunidade de aumentar seus lucros. Já solicitaram novos eventos em outros dois pontos comerciais da cidade e planejam, agora, ampliar a campanha para todo o país.

Divulgação Assuvap

suínos e cerca de 10 mil matrizes, tam-bém foi realizada a campanha educati-va Um novo olhar sobre a carne suína.

CAMPANHA Embora a carne suína seja a mais

consumida mundialmente e o Brasil o seu quarto maior produtor e exportador, o brasileiro só consome 12 quilos dessa carne por ano, sendo 9 deles em embuti-dos, como lingüiças, salsichas etc.

De acordo com a ABCS, a idéia de realizar uma campanha educativa sobre o valor nutricional da carne surgiu após a realização de pesquisas de marketing alimentar, em 1995 e em 2005. Os resul-tados demonstraram que as pessoas não consumiam carne suína pelos seguintes motivos: preconceito, medo da obesida-de, preço, formato e conveniência.

Os criadores decidiram, então, in-vestir em uma campanha para apresen-tar a carne suína de forma mais adequa-da, reestruturando a oferta, mostrando as várias opções de corte e colocando uma promotora de vendas em pontos comerciais estratégicos para repassar informações e convidar o público a de-gustar o produto.

Entre diversos cortes levados aos supermercados, os clientes puderam conhecer costela em tiras e a passari-nho; filé; alcatra; patinho; carne suína moída; copa de lombo fatiada.

Outra ação desenvolvida pelo proje-to foi a confecção de material educativo – panfletos e vídeos – mostrando dados coletados das monografias elaboradas por médicos e nutricionistas renomados do país, que revelam ser a taxa de coles-terol da carne suína inferior à do frango, bem como a gordura intramuscular infe-rior à da carne bovina.

Em setembro de 2006, a ABCS lançou a campanha Um novo olhar sobre a carne suína. De lá para cá, os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo, além do Distrito Federal, participaram da ini-ciativa e obtiveram um aumento de 50% a 210% na venda dos produtos suínos. O Rio Grande do Sul está realizando a campanha, enquanto Paraná e Santa Catarina se preparam para lançá-la nos próximos meses.

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Inclusão

Três projetos de avicultura desenvolvidos com apoio do Sebrae revelam o potencial da atividade como indutora da inclusão e promoção social, bem como da profissionalização do mercado. O Brasil, que lidera há alguns anos a produção e exportação de carne de frango em suas diversas modalidades, passa a incluir novos segmentos – como a criação doméstica de galinhas – nessa cadeia produtiva.

Galinha caipira x granjeira: um empate técnico

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O Sebrae/CE, em convênio com o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS, coordena um projeto de cria-

ção de frangos e galinhas caipiras para implantar modelos produtivos que possibilitem geração de renda às famílias assentadas no entorno da bar-ragem do Açude Castanhão, atingidas pela construção da obra. Carentes de alternativas de projetos produtivos, de capacitação técnica e de organização associativa, elas vivem em Jaguariba-ra, Alto Santo e Jaguaretama.

A missão do projeto era tornar viável, para 84 famílias selecionadas, a produção de frangos e galinhas caipiras com o manejo e a sanidade sanitária adequados, de modo a pos-sibilitar a renda mínima de um salário mínimo por produtor beneficiado.

Após a seleção, as famílias recebe-ram o material necessário para cons-trução dos aviários e a comunidade se organizou em mutirão para execução do serviço. Nessa etapa, o Sebrae do Ceará fez o acompanhamento técni-co. As orientações ficaram a cargo do médico veterinário, técnico em edifi-cações e mestre em Ciências Avícolas, Carlos Tadeu Lavor, que acompanhou as construções, orientando e corrigindo os procedimentos. Todos os materiais de consumo necessários para a implan-tação do projeto, como comedouros, bebedouros, rações e vacinas, foram fornecidos aos criadores.

A CAPACITAÇÃOApós a construção dos aviários fo-

ram realizadas as capacitações teórica e prática para todos os integrantes das famílias relacionadas direta ou indireta-mente com a produção das aves. Os cur-sos de Produção de Frangos e Galinhas

Por uma renda mínima aos produtores

Ceará

Caipiras e de Associativismo – Juntos Somos Fortes (interação da comunidade em processo coletivo de produção) ca-pacitaram 100% dos produtores.

CONTROLES zOOTéCNICOS E COMERCIALIzAÇÃONa seqüência foram organizados

mutirões para vacinação das aves dos assentamentos, com o propósito de imunizar o plantel já existente e aumentar a segurança por ocasião do recebimento dos pintos. Foi adotada a metodologia desenvolvida pela Embrapa, em que as vacinas contra Newcastle, Gumboro e o diluente são misturados ao milho em grão e forneci-dos diretamente às aves.

Em fichas de controle de produção foram registrados os dados necessários ao acompanhamento dos resultados – data de chegada dos pintos, procedên-cia, consumo de ração, peso periódico das aves, mortalidade e acompanha-mento do programa de vacinação.

Os produtores participaram de fei-ras e palestras sobre atendimento ao cliente, vestimentas, higiene pessoal, e receberam informações sobre a pro-dução. O Sebrae colocou à disposição das comunidades material como bar-racas, banners, batas e gorros, além de envolver prefeituras e outras enti-dades dos municípios de Alto Santo, Jaguaribara, Jaguaretama, Jaguaribe, Morada Nova e Limoeiro do Norte, com a participação efetiva dos produtores na venda de galinhas e ovos.

Outra ação desenvolvida pelo Se-brae foi a elaboração dos projetos Caeaf – Compra Antecipada Especial da Agricultura Familiar da Conab, que beneficiou grande parte dos produtores na comercialização, principalmente, de ovos. Em articulação com a Prefeitura

de Fortaleza, foi possível vender parte da produção para a capital. E para di-minuir os custos de produção, alguns produtores passaram a fabricar ração.

No momento estão sendo elabora-dos projetos para implantação de mini-abatedouros capazes de atender todos os produtores, propiciar qualidade e sanidade no processo de abate, e con-solidar a comercialização dos produtos.

RESULTADOSO faturamento aproximado dos pro-

dutores no biênio 2006/2007 foi de R$ 570 mil, gerando uma renda média mensal entre R$ 300 e R$ 400. Foram comercializados aproximadamente 31 mil frangos caipiras e 1,3 milhão de ovos caipiras. O preço médio do frango caipira é de R$ 11 e o ovo caipira sai a R$ 0,20.

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Mutirão para construção de aviários

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Em Tocantinópolis, uma parceria de sucesso

Tocantins

Há cerca de cinco anos, a em-presa Asa Norte Alimentos chegou à Região Norte do Tocantins buscando parceiros

para montar galpões de criação de aves. No início de 2004, os avicultores co-meçaram a se unir e, em março daquele ano, formaram o Núcleo Setorial da Avi-cultura, que contava inicialmente com

Inclusão

32 integrantes. Com o apoio do Sebrae, foi criada a Associação de Avicultura do Norte do Tocantins – Avinto.

Embora carente de conhecimentos de gestão administrativa e do processo produtivo como um todo, era visível no grupo um grande potencial para realização de um trabalho que gerasse transformações para a região. Surgiu,

assim, a idéia de implementar um proje-to de avicultura industrial capaz de levar à superação dos gargalos que poderiam travar o desenvolvimento da atividade.

Em abril de 2005 surgia o Projeto de Avicultura Industrial de Tocantinópolis e Região, apoiado pelo Sebrae, que in-tegra ações para capacitar tanto os pro-dutores quanto os funcionários e está

Agricultores familiares descobrem a avicultura

Piauí

A avicultura alternativa nos municípios de vera Mendes, Jatobá do Piauí, Santa Rosa, Cajazeiras, Guadalupe, Nossa

Senhora de Nazaré, São Pedro do Piauí, Teresina, Campo Maior e Arraial foi a saída para 200 agricultores familiares mudarem de vida. O projeto apoiado pelo Sebrae-PI tem como objetivo pro-mover a consolidação auto-sustentável da avicultura familiar, com ênfase em ações voltadas para o fortalecimento da organização, produção, gestão e comer-cialização do segmento avícola.

O foco estratégico visa assegurar a sustentabilidade ambiental e o manejo dos sistemas avícolas familiares, melho-rar o processamento, gerar novas oportu-nidades de mercado, fortalecer a cultura da cooperação, desenvolver o empreen-dedorismo rural e promover a geração de emprego e renda de forma sustentável.

Os produtores foram capacitados em treinamentos de avicultura básica e manejo sanitário avícola, e tiveram apoio para comercializar as aves dire-tamente ao governo, que as utiliza em

programas como a merenda escolar. Re-ceberam também consultoria técnica em vacinação, vermifugação, seleção de aves, higiene dos aviários, alimen-tação das aves, reprodução e fabrica-ção de ração alternativa.

Essas ações desenvolvidas pelo Sebrae/PI, em parceria com outras instituições, resultaram na construção de 110 aviários, alguns com recursos da Fundação Banco do Brasil. No entanto, na maioria dos casos, a Prefeitura fez a

doação do material para a construção dos aviários e do primeiro lote de 50 pintos, enquanto a comunidade entrou com a mão-de-obra de construção.

Outros resultados das ações foram a redução da mortalidade das aves de 50% para 5%, a melhoria na qualidade do plantel com a introdução de raças geneticamente melhorada, e a incor-poração de técnicas de criação de aves caipiras de forma semi-intensiva e for-talecimento da cultura de cooperação.

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Sebrae/PI

Avicultura alternativa criou 110 aviários familiares

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inserido na metodologia GEOR - Gestão Estratégica Orientada para Resultados. A proposta é aumentar o número de em-pregos diretos e indiretos, bem como a produção e a produtividade da atividade e dos produtores, respectivamente.

Para o analista do Sebrae-TO Núcleo Regional Norte e gestor do projeto, Francisco Alexandre Gomes, o grande atrativo é o modelo de criação, chamado de integração. “Um grupo de produtores é atendido por uma empresa integra-dora, que fornece os insumos básicos – como a ração, pintinhos de um dia, assistência técnica – e garante a compra do frango adulto pronto para abate. Em contrapartida, o produtor oferece a infra-estrutura, ou seja, o galpão para criação dos frangos até o abate, e a mão-de-obra. Outra vantagem é que a criação pode ser explorada em pequenas áreas de terra, com alta eficiência”, explica.

Entre os fatores capazes de alavan-car o setor avícola local estão a proximi-dade do projeto com os insumos básicos, uma vez que cresce a exploração da soja, sorgo e milho nas regiões fronteiriças; a proximidade com o futuro Centro In-termodal – rodovia, ferrovia e hidrovia, na cidade de Aguiarnópolis – bem como com o Porto de Itaqui, o que facilitará as exportações para EUA, Europa e Oriente Médio, e o abastecimento do mercado interno; o fato de Tocantins ter um bom sistema de vigilância sanitária; e o apoio de órgãos governamentais e do Banco da Amazônia.

PRODUTORPaulo Roberto Borges de Araújo,

mineiro de Uberaba, está em Tocantins há mais de 25 anos. Sempre lidando com pecuária, nos últimos quatro anos iniciou a criação de galinhas. Batalhou pela união dos produtores e foi o primei-ro presidente da Avinto. Possui um aviá-rio com 30 mil aves e já tem um projeto aprovado para construir mais um.

Entusiasta do Sebrae, que consi-dera fundamental para incentivar o crescimento de um estado novo, como o Tocantins, Paulo Roberto elogia a capacitação recebida e aproveita para solicitar mais palestras e treinamento na região, por considerar de grande

importância para os avicultores. “A avicultura é um setor dinâmico e o Brasil tem um grande diferencial, que é a quantidade de terra e a crescente pro-dução de grãos. Além disso, o clima é favorável e a sanidade, muito boa. Daí sermos um grande exportador de frango e termos capacidade para expandir a produção ainda mais”, diz.

GESTÃOO projeto é monitorado e acompa-

nhado por um Grupo Gestor formado pela Avinto, por empresas e órgãos dos três níveis de governo, entre os quais, instituições de ensino, financeiras e do setor agropecuário. Ao Sebrae-TO cabe o desenvolvimento de ações de capaci-tação na área gerencial e administrativa aos cerca de 100 participantes do pro-jeto, entre avicultores (proprietários) e granjeiros (funcionários das granjas). Parte da capacitação é realizada tam-bém por entidades integrantes do Grupo Gestor.

CAPACITAÇÃOFrancisco Alexandre conta que os

produtores estão bastante envolvidos com o projeto e freqüentam cursos, seminários e oficinas oferecidos pelo Sebrae, desde 2004. Entre os temas de palestras, estão: associativismo, sa-nidade avícola, manuseio e instalação de equipamentos para aviários, vaci-nação, biodigestor da cama de frango e panorama mundial da influenza aviária. Os produtores também rece-

bem, em sua propriedade, consultoria especializada.

FORTALECIMENTOviagens para participar de feiras do

setor possibilitaram o amadurecimento dos avicultores. Francisco Gomes co-menta: “Antes, não tinham contato com produtores de frangos de outras regiões. Após as missões, viram a importância da atividade para o mundo, conheceram pessoas de diversas regiões, trocaram experiências e hoje têm uma visão bas-tante diferente do que é a atividade”.

Depois da Associação de Avicultura do Norte do Tocantins – Avinto, que fortaleceu o setor, também foi criado o Comitê Estadual de Sanidade Avícola (Coesa) e, em junho deste ano, a Câmara Técnica de Avicultura, que irá atuar nas ações de defesa sanitária em todos os segmentos da avicultura de corte, assim como já ocorre com a pecuária.

Um abatedouro inaugurado em maio, com capacidade inicial de abate de 50 mil aves/dia e projetado para alcançar sua capacidade total (150 mil aves/dia) em quatro anos, está prestes a entrar em ação. Existem hoje, na região, 70 galpões, 11 em construção e 20 pro-jetos em análise no Banco da Amazônia. A expansão da avicultura em Tocantins promete. O objetivo é chegar a 500 gal-pões, com capacidade média de 20 mil aves cada, de forma a alcançar, em qua-tro anos, 10 milhões de aves alojadas para dar suporte ao abatedouro. hoje o plantel é de 1,3 milhão.

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Empreendedorismo

Mercado legal começa a se firmar e criadores têm apoio do Sebrae e de instituições ambientais

Animais silvestres e exóticos: artigos cada vez menos raros

Animais silvestres são tidos como fonte de proteína ani-mal para populações mais pobres do interior de países

em desenvolvimento, como o Brasil. Paradoxalmente, no mercado con-sumidor são considerados produtos diferenciados e nobres. Dessa forma, a “carne de caça” é apresentada tanto como um produto exótico quanto como fonte saudável de complementação ali-mentar, por apresentar baixos teores de gordura e colesterol.

Além disso, significa alternativa de renda para produtores rurais e solução para o aproveitamento de áreas impro-dutivas das propriedades, motivadas por pedregosidade e baixa fertilidade, ou áreas alagadas, que impossibilitam o aproveitamento para agropecuária tradicional.

A criação de capivara, caititu, cateto e queixada como alternativa à comercialização do porco doméstico; a criação de jacarés, tartarugas e pás-saros diversos são apenas algumas das possibilidades que se abrem para os produtores rurais.

Outro aspecto da maior relevância é o ambiental. A criação de espécies sil-vestres, devidamente autorizada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Iba-ma), representa uma salvaguarda para a biodiversidade, na medida em que desestimula a caça e o tráfico ilegal desses animais e incentiva a preserva-ção de seus hábitats.

O Ibama, ao aprovar legislação específica para essas modalidades de criação, tornou-se um parceiro dos criadores e do Sebrae.

Os animais silvestres podem ser

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explorados racionalmente mediante um plano de manejo adequado, que favore-ça a sobrevivência em seu hábitat natu-ral e seja capaz de produzir excedentes a serem utilizados pelo homem.

Outra forma proposta para o apro-veitamento racional é a criação em cativeiro. A expectativa é de que essa produção atenda à demanda e, como conseqüência, diminua a caça ilegal e predatória.

O animal que é registrado no Ibama por um criador não pode ser vendido; a primeira geração dos que nascem em cativeiro, também não. Mesmo assim, a cadeia tem se expandido tanto, que os criadores sempre têm animais disponí-veis para venda.

JACARéSO jacaré do Pantanal foi, durante

décadas, alvo de caçadores ilegais. O aproveitamento dos animais era feito pela caça clandestina, criminosa e des-controlada, que, associada à destruição de hábitats, provocava a perda desses recursos naturais.

Para inibir esse crime, o Ibama le-galizou a criação e o abate do animal, regulamentando a atividade pela Porta-ria nº 126, de 13 de fevereiro de 1990. Entre outras exigências, a legislação obriga que 10% do total de ovos cole-tados, após eclosão, sejam devolvidos à natureza. Isso estimulou 22 fazen-deiros da região de Cáceres (MT) a se unir e criar, em 1991, a Cooperativa de

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Mercado de aves ornamentais alça vôo

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Page 45: Produção Leite Longa Vida

Criadores de Jacaré do Pantanal (Coo-crijapan). hoje são cinco cooperativas no Mato Grosso.

A iniciativa desses grupos favo-receu a sustentabilidade ambiental e tornou-se opção de renda extra para os criadores da região pantaneira, além de favorecer a implantação de arran-jos produtivos locais, a geração de empregos, a redução do preço final do produto, e a fixação da população local na região.

PARCERIAPara conquistar o mercado, os coo-

perados contam com o apoio do Sebrae. A gestora do projeto de animais silves-tres e exóticos do Sebrae/MT, Cynthia Regina da Silva Justino, destaca como principais ações do Sebrae em Poconé e Cáceres, maiores centros de criação de jacaré no estado, a capacitação por meio de cursos sobre coleta e transpor-te de ovos, manejo de animais, abate, cortes, aproveitamento do couro etc.

Uma curiosidade da coleta, trans-porte e acomodação dos ovos é a necessidade de eles serem mantidos na mesma posição em que estavam no ninho. Caso contrário, os ovos não eclodem e os filhotes morrem ou nas-cem defeituosos.

Cynthia Justino diz que uma das mais importantes atividades apoiadas pelo Sebrae/MT e de grande impacto ambiental é a realização do levanta-mento populacional dos ovos, o que

determina as co-tas de coleta. O fazendeiro criador só é autorizado pelo Ibama a co-letar um ninho a cada 30 hectares.

Outra contri-buição é o estímu-lo à formulação de políticas públicas que impulsionem o setor. Recente-mente, graças a esse tipo de iniciativa do Sebrae, a prefeitura de Poconé cedeu uma área para instalação de um novo criatório e ainda aportou uma contrapartida de R$ 4 milhões para o empreendimento.

O Sebrae/MT também promove e es-timula a participação de criadores em feiras e rodadas de negócio, bem como ajuda na identificação de parceiros, es-pecialmente na indústria de artefatos de couro. Incentiva ainda a degustação de pratos especiais em eventos, como no Salão de Gastronomia da Festa In-ternacional do Pantanal, que contou com a criatividade culinária do renoma-do chef Claude Troisgros. No ano passa-do, o Sebrae editou uma publicação só com receitas à base de carne de jacaré.

Atualmente, de acordo com Osmar Monteiro, criador e um dos maiores conhecedores do mercado de couros, os criatórios do Pantanal mantêm 250 mil animais em cativeiro e, desse to-

tal, cerca de 50 mil são abatidos por ano. Do couro dos jacarés, 80% são destinados à ex-portação, por falta de indústrias de manufaturados de couro na região. A carne é toda absor-vida pelo mercado interno.

A demanda pelo couro de animais silvestres sempre foi atendida pela caça predatória em vários países sul-americanos, espe-cialmente no Brasil. No século XX, a partir das décadas de 60 e 70, a caça foi considerada ilegal em muitos desses países devido ao estabelecimento de leis de proteção à fauna. Apesar disso, o tráfico continua a ocorrer.

Em 2006, o Ibama revelou que são consumidas anualmente cerca de 500 mil unidades de jacaré no mundo. E o Brasil, apesar de ser um dos maiores produtores mundiais, atende apenas a 0,6% desse volume, algo em torno de 3 mil unidades.

NA TRILHA DE GOIÁSDurante a II Feira do Empreendedor

de Goiás, de 23 a 26 de agosto, em Goiânia, foi realizado o 2º Encontro Brasileiro de Criadores de Animais Silvestres e Exóticos. O gerente da Uni-dade de Agronegócios do Sebrae-GO, Wanderson Portugal Lemos, falou da necessidade de conscientizar a popula-ção sobre esse tipo de criação.

“A sociedade considera uma contra-venção criar animais silvestres, mas o criador registrado não comete um ato ilegal. O Ibama, que nos últimos cinco anos vem desenvolvendo uma ação menos repressiva para desmitificar a imagem fiscalizadora e punitiva que a sociedade tem do Instituto, passou a auxiliar os criadores. hoje, quando apreende animais em zoológico clan-destino ou em poder de algum criador ilegal, em vez de devolver para a mata, onde o animal não teria mais condições de viver, ele entrega a criadores legali-zados”, conta.

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A criação de espécies silvestres,

devidamente autorizada pelo

Ibama, representa uma salvaguarda para

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Criação em cativeiro assegura preservação da espécie

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O apoio do Sebrae à criação de animais silvestres e exóticos é funda-mental porque a cadeia produtiva é constituída, em sua grande maioria, de micro e pequenos empresários, “sejam eles fabricantes de gaiolas, fornece-dores de alimentação, comerciantes de equipamentos para insumos”, avalia Portugal.

O Sebrae também é responsável pela capacitação em associativismo/cooperativismo, pela qualificação dos tratadores, visando ao bem-estar animal, e pela assistência técnica aos produtores, com acompanhamento de médicos veterinários, biólogos, zoo-técnicos.

Em 2004, com a constituição da Associação dos Criadores de Animais Silvestres no Centro-Oeste (Acasco), o setor ganhou novo impulso.

FEIRA DO EMPREENDEDORPara João Bosco Umbelino dos

Santos, diretor-superintendente do Sebrae-GO, a II Feira do Emprendedor de Goiás foi um sucesso de público e de participantes inscritos nas diversas atividades oferecidas. “Foram 297 acontecimentos entre cursos, palestras e oficinas durante o evento. Para se ter uma idéia do interesse das pessoas pela criação de animais silvestres e exóti-cos, apenas uma das palestras sobre o tema reuniu 1.100 pessoas”, diz.

João Bosco é um entusiasta da Feira do Empreendedor: “Essa Feira foi concebida no ambiente de parceria – Sistema S, vários órgãos do Governo

de Goiás, comércio, indústria, serviços e agronegócios interagindo de forma propositiva e pró-ativa”, comenta, ressaltando que o evento é focado no resultado compartilhado.

PROJETOO gestor do projeto de criação

de animais silvestres do Sebrae-GO, Renato Gonzaga Jayme, relata que o trabalho voltado para esse segmento, no estado, começou em 2005. “Mas não sabíamos onde estavam nem quantos eram os criadores. O mesmo acontecia em relação ao número e espécies ani-mais. A pedido do presidente do Sebrae Nacional, identificamos 39 criadores e os locais onde desenvolviam suas atividades. Registramos também 143 espécies animais, de três segmentos específicos: carnes, pet e passarifor-mes”, relata.

Depois dessa identificação, os criadores se uni-ram e começaram a surgir associa-ções com perso-nalidade jurídica, como a Associa-ção dos Criadores de Animais Sil-vestres do Centro-Oeste (Acasco). Jayme conta que, então, foi possível planejar as ações do projeto.

“ C h a ma mo s

parceiros, entre os quais o Ibama, que é o responsável pela fiscalização e regulamentação dos criadores, para uma mesa-redonda. Mostramos o que pretendíamos fazer e hoje estamos com 33 ações desenvolvidas pelo Sebrae e parceiros”, explica o gestor. As ações incluem a capacitação técnica para elaboração de projetos, a capacitação para tratadores de animais, a redução de impostos dentro de Goiás.

Para Renato Jayme, é preciso levar ao conhecimento da população que existem os criatórios e que, desde que seja autorizada pelo Ibama, a atividade de criação é legal. O projeto desenvol-vido pelo Sebrae-GO está fortalecendo a classe e incentivando a formação de novas associações.

“Precisamos agora melhorar a capa-cidade reprodutiva de nossos criadores e estimular o consumo de carne silves-tre”, diz Jayme. Para isso, o Sebrae-GO firmou parceria com a Associação Brasi-leira de Bares e Restaurantes (Abrasel), seção Goiás, com o propósito de treinar os chefes de cozinha e aumentar o nú-mero de estabelecimentos que servem a carne silvestre. “Como é uma carne de sabor diferenciado, queremos começar o trabalho pelos restaurantes, em pra-tos mais elaborados”, explica o gestor.

Com o aumento da demanda, au-menta-se a produção, a comercializa-ção e o número de criadores. A meta do Sebrae-GO é de um crescimento

anual de 10%. Os criadores de ani-mais silvestres e exóticos estão em Pirenópolis, Cocal-zinho, Corumbá, Jandaia, Jataí e no entorno do Dis-trito Federal. há 19 novos criado-res no nordeste do Estado, que criam emas. Os animais são alimentados soltos, marcados e as crias são comer-cializadas, sempre deixando uma par-cela para procriar.

Empreendedorismo

“É preciso levar ao conhecimento da população que

existem os criatórios e que, desde que

seja autorizada pelo Ibama, a atividade de

criação é legal.”Renato Jayme, gestor do projeto de criação

de animais silvestres do Sebrae-GO

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Capivara não é mais “carne de caça”

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Page 47: Produção Leite Longa Vida

TARTARUGAS DE ESTIMAÇÃORicardo Romanetto, de Antonina,

litoral do Paraná, há 10 anos se dedica exclusivamente à criação de outros ti-pos de quelônios. O principal deles é o Tigre D’água, aquela pequena tartaruga rajada e verde, destinada ao mercado de pet. Ele também cria, em menor es-cala, jabutis e cágados.

O que chamou a atenção do criador e o atraiu para o segmento foi o fato de que as tartaruguinhas das lojas de ani-mais eram de origem ilegal. “O horizon-te deste negócio é grande, trabalhando dentro da lei. Tenho 2 mil e poucos animais e vendo para o Brasil todo. É raro isso, mas eu me sustento dessa atividade”, diz ele, que era empresário industrial do ramo veterinário.

Para Ricardo, esse tipo de encontro promovido pelo Sebrae é importante pois proporciona a oportunidade de reunir produtores de várias regiões. “O mais importante é o início de uma idéia que começa a crescer, politicamente. É trazer pessoas e ver que os problemas realmente são grandes e comuns. E o maior deles é o entrave da legislação brasileira”, argumenta.

PÁSSAROSWaldyr Pereira da Silva é criador de

curiós, sabiás e bicudos, em Goiânia. Ele cria há 15 anos, no mesmo local em que mora. “Inicialmente, criava como ama-dor. Comecei a comercializar em 2002 e tenho hoje entre 700 e 800 pássaros”.

Ele conta que ainda precisa se dedicar a outra atividade – uma distri-buidora de livros. “Tiro em torno de 250 filhotes de curió, 160 de bicudos e ape-nas 6 sabiás, porque ainda não domino bem o manejo de reprodução”, explica e finaliza dizendo que nada se compara a viver cercado pelo canto dos pássa-ros: “Toda a família gosta”, comenta.

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QUELôNIOSErlindo Braga, presidente da Asso-

ciação Brasileira de Criadores de Quelô-nios, possui autorização do Ibama para criar 100 mil animais e hoje mantém, em cativeiro, 60 mil em condições de comercialização.

Ele entende que o encontro na Feira do Empreendedor foi um marco decisivo para unir os produtores com os órgãos de incentivo, buscando, principalmen-te, a geração de emprego e renda.

“Esta é uma oportunidade que merece ser repetida porque é uma ma-neira de examinar, estudar e debater os problemas existentes para a criação de quelônios no Brasil. hoje temos 117 criadores registrados. A concentração maior está no Amazonas, mas o nosso criatório, no Pará, é o maior do Brasil”, diz. Ele considera o maior problema do

setor a abertura dos mercados. Outro entrave apontado é a necessidade de implantar abatedouros que atendam às exigências do Ministério da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de modo a obter o SIF para comerciali-zar nacional e internacionalmente.

Apesar dessas dificuldades, Erlindo é só otimismo com o empreendimento: “É uma atividade rentável, mais produ-tiva do que a pecuária ou a piscicultura, não exige grandes investimentos e gera renda e emprego, principalmente, entre os pequenos produtores. Não se faz necessário uma grande área. Exige água, temperatura entre 25 e 30 graus e alimentação protéica que permita se desenvolver. Desenvolve-se mais rapida-mente no cativeiro do que na natureza e temos condições de, entre 25 e 35 meses, colocar o animal no mercado.”

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Page 48: Produção Leite Longa Vida

Uma iniciativa mudou a vida de moradores no Baixo Sul da Bahia. A produção susten-tável de peixes em estuários

substituiu a pesca predatória. Até 2003, a região tinha renda per capita de R$ 83 e alto índice de analfabetismo, cerca de 43%. Mas a criação de tilápias em tan-ques trouxe novas oportunidades sociais e econômicas para o local. O projeto di-minuiu os impactos no meio ambiente e formou jovens empresários rurais.

O Baixo Sul da Bahia, composto por 11 municípios, é uma das regiões mais belas do Brasil. Entretanto, apresenta um dos piores índices socioeconômicos do estado. Os ganhos provenientes da pesca são insuficientes para sustentar os moradores locais. Com a falta de oportu-nidades, uma grande fatia da população migra para os centros urbanos em busca de novas condições de trabalho.

As comunidades ribeirinhas, que enfrentam o desafio de morar na re-gião, sobrevivem de uma única fonte de sustento: a água estuarina, onde parte do rio em contato com o mar apresenta água salgada. O espelho d’água impres-siona pela grandiosidade. Chega a 120 mil hectares, o equivalente a 120 mil campos de futebol. A riqueza natural, no entanto, se contrapõe à realidade

Associativismo

Comunidades do Sul da Bahia são beneficiadas com produção sustentável de peixes

Tilápia é cultivada em água estuarina

A tilápia veio da África na década de 40

Capacidade de produção pela Coopemar é de 300 t/ano

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dos habitantes. Desde criança, Orlando Santos, 39

anos, trabalha com a pesca artesanal. Ele, assim como milhares de famílias do Baixo Sul, sobrevivia com uma renda mensal que variava de R$ 130 a R$ 180. O estuário era a principal fonte de renda dos moradores, que pescavam sem ne-nhuma conscientização ambiental. “Aos poucos, os peixes e caranguejos ficaram cada vez mais difíceis de serem achados. No inverno, a dificuldade aumentava. Com a diminuição do número de turis-tas, a minha renda caía pela metade”, lembra o pescador.

UMA NOVA ESPERANÇAA história da região começou a mu-

dar a partir de 1999. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Bahia (Sebrae/BA), com apoio da Fundação Odebrecht, reuniu um grupo de pesquisadores para discutir tecno-logias sustentáveis do estuário para a aqüicultura. O projeto, em parceria com o Instituto para o Desenvolvimento Sus-tentável do Baixo Sul (IDES), estudou o cultivo de tilápias e ostras em tanques-rede no município de Cairú.

A Tilápia Nilótica era a única espécie que as comunidades ribeirinhas tinham

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“Tinha dificuldade de estabelecer uma renda fixa. Quando descobri o projeto, resolvi participar diretamente. Foi a

melhor coisa que me aconteceu.”

Luciano Freitas, presidente da cooperativa

técnicas de manejo. Para alguns espe-cialistas, o peixe, que é de água doce, não suportaria os teores de salinidade do estuário. O desafio seria adaptá-lo às condições do ambiente.

O Sebrae/BA apresentou um projeto para envolver os moradores do lugar. A iniciativa buscava formar jovens em-presários rurais. Segundo o gestor local do projeto, Emanuel Dias de Castro, o Sebrae realiza treinamentos e missões técnicas e empresariais para impulsio-nar a empreitada. “Oferecemos rodadas de negócios, eventos de degustação do produto, apoio na formação da central de negócios e prospecção de novos mer-cados, por meio da pesquisa de pontos de vendas”, explica.

Aos poucos, a comunidade começou a se mobilizar. Em 16 de junho de 2003, surgiu a Cooperativa Mista dos Maris-queiros, Pescadores e Aqüicultores do Baixo Sul da Bahia (Coopermar). O pre-sidente da cooperativa, Luciano Freitas, 28 anos, é filho de pescadores e sempre sonhou em oferecer uma qualidade de vida melhor para sua esposa e dois filhos. “Tinha dificuldade em estabelecer uma renda fixa. Quando descobri o projeto, re-solvi participar diretamente. Foi a melhor coisa que me aconteceu”, afirma.

COMO FUNCIONAO processo começa na Unidade de

Aclimatação (UA), onde os alevinos – filhotes de peixes – são colocados em água doce durante 24 horas. Depois, a água salgada é adicionada até que as águas dos tanques alcancem a mesma

taxa de salinidade do estuário na maré alta. Os alevinos são embalados em sacos plásticos para serem transferidos aos tanques-rede berçários. Durante essa fase, recebem alimentos seis vezes ao dia. Quando alcançam o peso de 20g, são fornecidos aos cooperados, que cui-dam deles durante quatro meses.

Os peixes saem para abate com um peso médio de 700g e são levados até Ilhéus, que fica a 170km de Cairú, para serem vendidos. Os filés de tilápia ro-dam mais 430 km para Salvador, onde abastecem supermercados.

A capacidade de produção de tilá-pias estuarinas pela Coopermar é de 300 toneladas por ano, desenvolvidas por 33 unidades-família. A renda mensal média gerada para cada cooperado é de cerca de R$ 600. “Agora, temos uma renda fixa que dá muito mais tranqüilidade para sustentar a casa. Nossa próxima meta é capacitar novas famílias e expandir a venda dos peixes para outras cidades”, comemora o presidente da cooperativa.

De 2003 a 2005 a produção melhorou, com a redução dos custos de ração e lim-peza do tanque. A meta para este ano, de acordo com a Coopemar, é instalar mais 25 novas famílias capacitadas. O cresci-mento da produção implicará a abertura de novos canais de comercialização.

Os benefícios do projeto são incalcu-láveis: formou jovens empreendedores em uma região extremamente carente de capital e desenvolveu a pesca sustentável,

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Sobre a tilápiaA tilápia chegou ao Brasil em meados da década de 1940. Ori-ginário da áfrica, o peixe era tido como praga até 1970. Aos poucos, o filé branco sem espi-nhas, de sabor suave, passou a ser consumido por todo o mundo. Segundo especialistas da área de gastronomia, a espécie pode ser adaptada a qualquer cozinha internacional.

com o controle do povoamento dos peixes.O pescador Orlando Santos conse-

guiu uma nova qualidade de vida. Tor-nou-se vice-presidente da cooperativa. “Sempre acreditei que um dia poderia deixar de ser pescador e virar um produ-tor de tilápias”, ressalta. Orlando deixou de ser pescador artesanal. É conhecido como aqüicultor, na região. Ele ajuda na criação e comercialização das tilápias. Durante a semana, viaja por várias cida-des vizinhas e visita lugares que, talvez, não tivesse oportunidade de conhecer.

Segundo o Sebrae/BA, o desenvolvi-mento da piscicultura estuarina refletiu positivamente nas comunidades. O pro-jeto significa o início de uma longa es-trada a ser percorrida. O próximo passo é melhorar a qualidade de vida de toda a população do Baixo Sul.

A produção da tilápia estuarina beneficia comunidade

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Associativismo

No município piauiense de Bocaina, criação de tilápias em tanques-rede melhora qualidade de vida

A força da união

No semi-árido nordestino, região onde as temperaturas são altas e a estiagem é pro-longada, a população passa

boa parte do tempo buscando meios de viver em condições mais dignas – ou, até mesmo, de sobreviver. Falta água, falta comida, mas não falta esperança. Como diz a sabedoria popular, o nor-destino é, antes de tudo, um forte.

Em Bocaina, município que está entre os 151 do semi-árido piauiense, um projeto desenvolvido pelo Sebrae-PI, Companhia de Desenvolvimento do vale do São Francisco (Codevasf) e Cooperativa Aqüícola de Picos (Cooap) já revela resultados positivos e deixa a comunidade bem otimista.

Situada a 263km de Teresina, Bo-caina possui pouco mais de 4.300 ha-bitantes. A produção de mel, mandioca e caju representava a única fonte de renda da região. Até que, em 2005, o Sebrae reuniu produtores e iniciou um processo de capacitação gerencial e tecnológica, bem como de associati-vismo, para desenvolver um projeto de criação de tilápias na Barragem de Bocaina, que tem 100 milhões de m³ e era praticamente ociosa.

VISÃO DE FUTUROO projeto começou com 39 produto-

res. A Codevasf doou 30 tanques-rede de 4m² , 3.800 kg de ração e 15 mil alevinos. hoje há 49 produtores, 370 tanques – a expectativa é de que, até o final deste ano, sejam 400 – e a pro-dução média anual de tilápia, conside-

rando os dois ciclos, fica entre 370 kg e 400 kg por tanque.

O consultor do Sebrae-PI e gestor do projeto, João Pinheiro, aponta a vantagem da região no que se refere à produção de pescado: “A piscicultura no Piauí é viável do extremo norte ao extremo sul. Não é como em São Paulo ou no Paraná, por exemplo, onde há quedas muito grandes de temperatura. O nosso clima ajuda bastante”.

Outra questão que Pinheiro gosta de destacar é a importância do associa-tivismo. Segundo ele, não é feita aqui-sição individual de um quilo de ração, sequer. “A compra do material necessá-

rio, dos alevinos (vêm de Fortaleza, no Ceará), da ração, tudo é feito em grupo. Como se compra em grande quantidade, os produtores conseguem menor preço, maior prazo e, assim, aumentam sua rentabilidade”, diz.

O progresso, em tão pouco tempo de atividade, é notório. Até os tanques-rede, que antes eram comprados em outras regiões, agora são construídos ali mesmo, em Bocaina, gerando mais trabalho e renda. A tilápia é comerciali-zada a R$ 4,50 o quilo, valor considera-do bom no mercado. A associação ven-de para toda a microrregião de Picos, composta por 40 municípios.

A situação vai ficar ainda melhor. Foi instalada em Bocaina uma Uni-dade de Beneficiamento de Pescado, construída por meio de convênio com a Codevasf, que já está com os equipa-mentos comprados – fábrica de gelo, instrumentos para filetagem, câmaras frias de estocagem –, mas ainda não foi inaugurada. Quando começar a fun-cionar, sua capacidade instalada será de 2 mil kg de filé de tilápia por dia, beneficiando não só o pescado da coo-perativa, mas o de outros produtores da microrregião.

Experiência mostra a viabilidade da piscicultura no semi-árido

“A piscicultura no Piauí é viável do extremo norte ao

extremo sul. O nosso clima ajuda

bastante.”João Pinheiro, gestor

do projeto

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Dois empresários italianos desenvolveram uma técnica inovadora no Acre. Trata-se de um projeto em piscicultura que cria grandes estocagens de peixes em espaços pequenos, longe de predadores, doenças ou roubos. A idéia surgiu a partir de pesquisas sobre uma

bactéria usada para limpeza do esgoto de São Paulo. O próximo passo da empreitada é montar uma indústria para vender filé e couro de tilápias.

O grande desafio de um piscicultor é suprir a demanda do mercado de forma sustentável. Muitas vezes, a alternativa é mais fácil do que se ima-gina. Foi assim que os irmãos Tommaso e Giacomo Solito criaram o Siste-ma Super-Intensivo. A granja de peixes, como também é chamada, produz tambaquis e tilápias com recirculação de água e oxigenação forçada.

Segundo Tommaso, o projeto reduz em 1/3 os custos da criação de pei-xes, se comparado aos açudes. “Estudamos uma alternativa para a oxige-nação da água durante dois anos. Descobri uma bactéria usada para limpar o esgoto de São Paulo. Ela se alimenta das fezes do peixe e limpa a água para facilitar a oxigenação. O microrganismo ainda serve de ração para as tilápias, oferecendo 56% de proteínas”, afirma.

Cada detalhe é aproveitado na granja. Tudo para não causar nenhum im-pacto ambiental. Os resíduos que as bactérias deixam ao limpar o filtro são usados como adubo nas hortas. Tommaso ressalta que o sistema oferece in-vestimento com retorno garantido e pode ser construído em qualquer lugar.

Para tornar o projeto uma realidade, o Sebrae/AC forneceu todo apoio aos empresários. “Colaboramos na parte técnica do sistema, por meio de consultorias especializadas, e na divulgação do negócio. Alguns dos me-lhores técnicos do Brasil trabalharam para o avanço do projeto”, explicou o responsável pela área de piscicultura do Sebrae no Acre, Domingos Amaral.

TECNOLOGIA INOVADORAO Sistema Super-Intensivo consiste em tanques circulares, de 50 m³,

abastecido por um filtro mecânico, que renova a água, e um filtro biológi-co, que deixa o ambiente ideal para o desenvolvimento das espécies.

A granja produz 60kg de peixes por m³. “Fizemos algumas adaptações para as condições do Acre. Produzimos cerca de 3 toneladas de tilápias por tanque”, ressalta Tommaso. Segundo ele, a taxa de mortalidade dos peixes é de, no máximo, 3%, enquanto no criatório de açude pode chegar a 20%.

Aos poucos, os irmãos Solito buscam lucrar com o investimento. Os 600kg de peixes produzidos por semana são comercializados em peque-nos mercados do Acre. “O próximo passo é vender o sistema para outros empresários. Depois, vamos montar uma indústria com filés e couro de peixes”, comemora. Estima-se que o retorno do investimento seja de 16 a 24 meses. “Fiquei bastante entusiasmado quando conheci o empreen-dimento. É muito gratificante ver que o Sebrae fez parte desse sonho”, disse Domingos Amaral.

Granja oferece nova alternativa para a época da despesca

Sistema de criação de peixes revoluciona piscicultura no Acre

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Custo x benefício

Domingos Amaral e Tommaso Solito

Açude• Pode-se criar 1 kg de peixe a cada 3m² de água. Com isso, são gastos 2 kg de ração por kg de peixe.• Ocorre perda de 30% dos peixes devido aos predadores naturais, outros 30% devido aos roubos, e 10% por doenças causadas por decomposição de matéria orgânica e excesso de comidas inadequadas.• O máximo que se cria é 3 mil kg de peixe por ano, a cada 1 hectare.

Sistema Super-Intensivo• Pode-se criar de 20kg a 60kg de peixe por m³ de água. O gasto de ração varia de 0,900g a 1.100g por kg de peixe.• Permite a criação em taques de 50m³ de água e de 9 mil kg, o que equivale a 9 hecta-res de açude, com um gasto mínimo e lucros maiores.• Reduz em 1/3 os custos da criação em com-paração aos açudes• Pode ser montado em qualquer lugar

Inovação

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Na Mesorregião do Alto Soli-mões, localizada na Bacia do Rio Amazonas – que compreen-de os municípios amazonenses

de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amatu-rá, Santo Antonio do Içá, Tonantins, Jutaí e Fonte Boa –, a pesca é um dos principais segmentos econômicos das populações interioranas. É ela a responsável por gran-de parte das oportunidades de trabalho e geração de renda no meio rural, além de ser a principal fonte de proteína da popu-lação, com estimativa de consumo acima dos 40kg/per capita/ano.

O pescador ribeirinho, por causa da dificuldade de adquirir recursos materiais e de comercializar o pescado, sempre se viu obrigado a vender sua produção a preços muito baixos. É co-mum, na região, a presença do “patrão” – comerciante de pescado localizado em comunidades com grande potencial pesqueiro –, que adquire a produção, a armazena com gelo em caixas isotérmi-cas sobre flutuantes localizados nessas comunidades e vende o peixe para as “bodegas”, que são estabelecimentos de beneficiamento e armazenagem de pescado em Letícia, na Colômbia.

Pensando em mudar esse cenário é

Cooperativismo

Cooperativas vão garantir preço justo ao pescado de Alto Solimões, evitando que produto seja negociado com atravessadores

Projeto na Bacia Amazônica incrementa piscicultura

que surgiu o projeto Pólos de Produção de Pescado na Mesorregião do Alto So-limões, que tem o apoio do Sebrae do Amazonas. O projeto pretende imple-mentar e estruturar pólos de produção de pescado na região, encadeando um sistema organizado de produção, desde a captura até o beneficiamento e a co-mercialização do pescado industrializa-do, envolvendo os pescadores em todas as etapas da cadeia produtiva, por meio de um sistema cooperativo.

A idéia de organizar a produção pes-queira partiu do Fórum de Desenvolvimen-to Integrado e Sustentável da Mesorregião do Alto Solimões, formado por represen-tantes do poder público das esferas fede-ral, estadual e municipal, da sociedade civil organizada e da iniciativa privada.

Uma das propostas do Fórum é me-lhorar o setor pesqueiro da região, que possui infra-estrutura deficitária tanto em transporte quanto na conservação do pescado, além de ter dificuldades de comercialização e não utilizar técnicas de captura eficientes.

AÇõES EM ANDAMENTOForam sensibilizados pescadores de

14 comunidades, das quais 12 permane-ceram no projeto e foram regularizadas

na Receita Federal, cartórios e órgãos de controle, como associações. Também foram constituídas duas cooperativas agropecuárias de pescadores: uma no Pólo I, com sede em Tabatinga, e outra no Pólo II, em Santo Antonio do Içá, de-nominadas Coopeixe I e Coopeixe II.

A partir dessa etapa, o Sebrae iniciou cursos de capacitação e utilizou sua metodologia Central de Negócios com o objetivo de fortalecer o trabalho de integração e colaboração entre os coo-perados, desenvolver neles a capacidade de negociação para compras e vendas conjuntas, e melhorar a inter-relação dos pescadores, bem como o relacionamento com fornecedores e clientes. A idéia é reduzir as despesas com aquisição de in-sumos (gelo, material de pesca, combus-tível, entre outros) e garantir a venda do pescado por preços mais compensadores do que os praticados atualmente.

O projeto Pólos de Produção de Pes-cado na Mesorregião do Alto Solimões pretende implementar uma estratégia inovadora na área. Serão disponibili-zados dois caminhões frigoríficos, 12 balsas flutuantes com caixas isotérmi-cas capazes de armazenar até quatro toneladas de gelo e peixe, dois barcos regionais de igual característica para

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Dois municípios ganharam Pólos de Pescado: Tabatinga e Santo Antonio do Içá

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armazenar até cinco toneladas de gelo e peixe, e duas unidades industriais de beneficiamento do pescado, localizadas em Tabatinga e Santo Antonio do Içá, principais pontos de comercialização da região.

Está previsto ainda, no projeto, um sistema de comunicação entre os flutu-antes, barcos e indústrias visando pro-porcionar mais eficiência à logística de transporte de pescado e materiais, bem como gerenciar melhor as informações. Com o apoio do Sebrae foram criadas cooperativas de pescadores, que farão a gestão do sistema de produção, adqui-rindo, beneficiando e comercializando o pescado de seus cooperados, além de auxiliar na aquisição de insumos mais baratos, reduzindo os custos de produ-ção da pesca.

AS COOPERATIVASPara Domingos Sávio de Oliveira,

analista do Sebrae e consultor do projeto, toda a infra-estrutura do projeto deve ser concluída ainda este ano, com a chegada dos frigoríficos. A partir daí, acredita ele, o trabalho nas cooperativas será intensificado e realizado conforme o es-tabelecido no projeto Pólos de Produção de Pescados da Mesorregião do Alto do Solimões. “Por enquanto, para não per-dermos a pesca da safra, que começou em agosto e termina em novembro, resolve-mos, independentemente dos frigoríficos, trabalhar em conjunto. Isso certamente nos trará redução de custos. Ao vendermos o produto de forma coletiva, teremos po-der de barganha e conseguiremos melhor preço”, explica o analista.

Ele acrescenta que a expectativa é a de que, no próximo ano, os coopera-dos vejam o resultados das ações e, já familiarizados com a nova maneira de gerenciar o trabalho que executam, se integrem cada vez mais às cooperativas. “A mudança de cultura foi lenta, mas, aos poucos, estamos nos organizando e promovendo cursos de gestão para que eles passem a entender e ver o resultado de um trabalho bem estruturado”, disse Domingos.

No próximo triênio, 2008/2010, o projeto pretende criar o Pólo III, em Fonte Boa e Jutaí.

Esperança de pescadores

“Está todo mundo contente, animado, porque a cooperativa vai tirar os pescadores das mãos dos atravessadores, que pagavam uma mixaria pelo pei-xe”. Com essa frase, José Nascimento, 32 anos, presidente da Coopeixe I - que reúne aproximadamente 90 pescadores – resumiu a expectativa dele e dos companheiros diante da cooperativa apoiada pelo Sebrae. José Nascimento é pescador desde 1992 e filho de pai “pescador, agricultor e madeireiro” – va-riedade de profissões explicada pela necessidade ou pelas circunstâncias.

A Coopeixe I foi criada em maio de 2006 e deverá entrar em funcionamen-to no final deste ano. José Nascimento explica que a cooperativa ainda não começou a funcionar porque a empresa contratada por licitação para cons-truir a câmara frigorífica reduziu à metade a capacidade de armazenagem do pescado: em vez de 100 toneladas, fez a câmara com capacidade para apenas 50 toneladas. A Secretaria de Produção Rural do Amazonas não aceitou a obra e determinou que a empresa cumprisse o contrato.

Mas as coisas estão caminhando bem. José Nascimento conta que a cooperativa da qual é presidente já dispõe, em Tabatinga, de uma sede ad-ministrativa, uma fábrica de gelo e um frigorífico, onde o peixe será secado, tratado e armazenado.

A Coopeixe I tem, ainda, um barco com capacidade para 30 toneladas de peixe, além de contar com seis flutuantes – cada um com capacidade para dez toneladas. Cada flutuante ficará numa comunidade e será abastecido com gelo e com peixes até que a embarcação da cooperativa venha recolher o produto para levá-lo ao frigorífico. haverá flutuantes nas comunidades de Bananal, Tauaru e Teresina 4, no município de Tabatinga; nas de Guanabara e Prosperidade, no município de Benjamim; e na colônia de pescadores Atalaia do Norte.

Para que a cooperativa comece a atuar efetivamente, os pescadores estão articulando a obtenção de um financiamento com juros mais baixos. Prepara-dos para trabalhar de forma organizada eles já estão: freqüentaram cursos do Sebrae de cooperativismo e de gestão do flutuante.

PREÇOSegundo José Nascimento, o Sebrae contratou uma consultora para verifi-

car as condições do mercado interno e externo. A partir desse levantamento, disse, os pescadores vão poder vender os peixes pelo preço de mercado – “pelo preço justo”.

O presidente da Coopeixe I lembra que antes, em Letícia, os bodegueiros se acertavam para baixar o preço do peixe. Como a quantidade era grande, eles compravam o produto a um preço bastante reduzido, armazenavam em bodegas e vendiam muito mais caro.

Cada pescador associado à Coopeixe I pesca, mensalmente, cerca de uma to-nelada de peixe – sobretudo surubim, dourado, pintado, matrinxã e tambaqui.

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receber a visita do oceanógrafo Fábio Colin. O especialista foi contratado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pe-quenas Empresas do Estado de Alago-as (Sebrae/AL) para identificar se era possível instalar um projeto-piloto na região.

“O local era bastante favorável. O cultivo de ostra utiliza a estrutura tipo mesa (suspensa), apropriada para as condições ambientais da região. A Lagoa do Roteiro também contribuiu para isso: tem uma profundidade de, aproximadamente, cinco metros”, afirma Colin.

Seu Cícero, como é conhecido na Palatéia, viu a oportunidade de um novo negócio. Em 2003, convenceu alguns amigos da comunidade a entra-rem no projeto. “Tinha a esperança de que as ostras cultivadas melhorassem a situação das nossas famílias”, disse.

Como o nível de escolaridade da comunidade era baixo, o Sebrae/AL firmou um convênio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), para oferecer um ano do cur-so de alfabetização “Pescando Letras”. Seu Cícero explica: “Era a primeira vez

que acontecia esse tipo de atividade. O acompanhamen-to dos técnicos foi muito importante. Mas tínhamos pou-co material para tra-balhar”. O pescador acreditava que con-seguiria dinheiro para a manutenção das mesas de ostras. O trabalho, no en-tanto, era grande. E algumas pessoas

começaram a desistir do projeto.

Sustentabilidade

A perseverança muda o rumo de um lugar chamado Palatéia

O paraíso das ostras

O cultivo sustentável de ostras trouxe novas perspectivas de vida para uma comuni-dade pobre de Alagoas. A

principal atividade local desenvolvida era a extração de mariscos e a pesca predatória. No entanto, um projeto-piloto ofereceu aulas de alfabetização e técnicas de venda para os moradores. A iniciativa ainda está em desenvolvi-mento, mas conseguiu o mais difícil: mobilizar a sociedade em busca de um sonho. Os pescadores produzem hoje 12 mil ostras por ano e pretendem intensificar os trabalhos para suprir a demanda do mercado.

O município de Barra de São Mi-guel (AL), distante apenas 32 km da capital Maceió, é um cenário des-lumbrante. A beleza das águas cris-talinas do mar, rodeadas pelas areias brancas, parece uma piscina natural e encanta os visitantes. Mas apesar do grande potencial turístico, Barra de São Miguel apresenta um dos piores Índices de Desenvolvimento humano (IDh) do estado.

A região esconde um paraíso eco-lógico. Basta sair da praia e viajar 30 minutos de barco para conhecer a Palatéia, banhada pela Lagoa do Ro-teiro. É um dos lugares mais propícios para o cultivo de moluscos no litoral alagoano. Lá, vivem 60 famílias em casas de taipa. A comunidade trabalha com a coleta de mariscos e sobrevivia, até 2005, com uma renda média de R$ 100 por mês.

O COMEÇO DO SONHOO pescador

Manoel Cícero da Rocha, 47 anos, é morador an-tigo da região. Ele lembra que, em 2002, hou-ve uma grande diminuição de moluscos, devi-do à pesca pre-datória. A popu-lação começou a ficar preocupada, até

Ostras consumidas em restaurantes da região aumentam renda de pescadores

“Tinha a esperança de que as ostras

cultivadas melhorassem a

situação das nossas famílias.”

Seu Cícero, morador da Palatéia

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O CULTIVO

Para o oceanógrafo e consultor do Sebrae, Fábio Colin, o cultivo de ostras no sistema utilizado na Palatéia exige, no início, apenas algumas varas em madeira, tela e plástico para fazer a estrutura de mesa. “São materiais fáceis de con-seguir na natureza ou de comprar por um preço baixo. O mais importante é oferecer um ambiente limpo, que preserve a saúde e qualidade das ostras”, diz o especialista.

Seu Cícero, que acreditou no projeto e se tornou um entusiasta da ostreicultura, explica por que defende o cultivo: “Nosso objetivo é explorar de modo sustentável tudo o que o animal pode trazer de benefícios e, no caso das ostras, tudo pode ser utilizado”. E ensina: “A parte interna da ostra – aquela camada branca – é puro cálcio. Se raspado, é pos-sível fazer um pó que não tem gosto nem cheiro de nada. Se misturado aos alimentos, é muito saudável para pessoas com osteoporose”.

A casca da ostra também pode ser moída e servir como adubo ou para enriquecimento da ração animal. Ele explica que esse é um dos próximos objetivos que a comunidade Mangue da Palatéia pretende alcançar e, para isso, é preciso dispor das tecnologias necessárias. Cada ostra filtra, em média, 200 litros de água por dia. O sabor do alimento depen-de da pureza da água. No Brasil, o maior estado cultivador de ostras é Santa Catarina.

UMA NOVA OPORTUNIDADEEm 2005, uma parceria entre o

Sebrae e a organização não-gover-namental Oceanus trouxe uma nova esperança para a comunidade. Era o começo do projeto-piloto de cultivos de ostra-de-mangue e de algas mari-nhas, por meio da criação de grupos de produção. A iniciativa buscava apoiar o desenvolvimento da aqüicultura sus-tentável do Estado de Alagoas.

O Projeto envolvia cerca de 60 famílias em três municípios, que vi-nham sendo capacitadas no cultivo de ostras, gestão empresarial, técnicas de vendas e que precisavam de ma-terial para continuar as atividades. A ONG conseguiu recursos para compra de dois barcos, telas e material para instalações e substituições das mesas, além de auxiliar em ações que pudes-sem escoar a produção.

Seu Cícero, então, começou a par-

ticipar das reuniões. Em pouco tempo, comprou seu primeiro carro: um fusca, ano 89, batizado de herbert. Era o incentivo do qual a comunidade pre-cisava para voltar ao trabalho. Todos ficaram motivados, principalmente quem havia abandonado o cultivo. Em setembro de 2005, 32 famílias come-çaram a participar do projeto.

De acordo com a gerente da Unida-de de Agronegócios do Sebrae AL, Ma-ria de Fátima dos Santos, a sociedade precisava se organizar. “Aos poucos, eles descobriram várias oportunidades para comercializar as ostras. Ainda temos um longo caminho pela frente. Mas, com a mobilização de todos e o apoio da prefeitura, conseguiremos melhorar a qualidade de vida dessas pessoas”, afirma a gerente.

O RETORNOA produção das ostras começou a

aumentar na região. Com o sucesso da empreitada, surgiram prêmio e con-vites de participação no festival gas-tronômico da Região das Lagoas e em mostras de produtos de agronegócios. Seu Cícero, como líder dos maricul-tores, representou a comunidade na I Conferência Municipal de Saúde do Trabalhador da Barra de São Miguel.

“O projeto ainda não está consoli-dado. A comunidade está trabalhando muito. Famílias que sobreviviam com R$ 100, agora têm um salário mínimo garantido todo o mês. Algumas ga-nham até mais do que isso, depende do investimento que fizeram”, explica Maria de Fátima.

Segundo ela, as ostras são vendi-das nas praias, bares e restaurantes do município. Cerca de 12 mil ostras são produzidas por ano. Esse número, diz a gerente, ainda é baixo se comparado à demanda da região.

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Ostras

Um projeto pioneiro no país está sendo desenvolvido em Santa Catarina. Quem aprecia as ostras de Florianópolis

poderá, em breve, visitar as fazendas marinhas do município sem precisar se deslocar. Um simples acesso à internet permitirá que se conheça o local onde são produzidos os moluscos. Para que o maricultor possa mostrar sua produção, é necessário que se cadastre no Pro-grama de Certificação da Qualidade das Ostras de Florianópolis, realizado dentro do Arranjo Produtivo Local (APL), coor-denado pelo Sebrae-SC.

A capital catarinense possui 129 produtores, dos quais 93 atuam na baía Sul, distribuídos num parque aquícola de 176,7 hectares. Na safra de 2006, Floria-nópolis produziu mais de 1,6 tonelada do molusco, o equivalente a 51,23% da pro-dução estadual. Se somada a produção do município de Palhoça, na Grande Floria-nópolis, ambos respondem por mais de 90% da safra de todo o estado.

QUALIDADEPara se cadastrar e comercializar

um molusco diferenciado, o produtor precisará adotar uma série de proce-dimentos que serão avaliados por um Comitê de Acreditação, responsável pelo fornecimento do selo do Programa de Certificação. O Comitê, por sua vez, é avalizado pela Universidade do vale do Itajaí (Univali), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis (SDR) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Maricultor deve adotar procedimentos capazes de garantir qualidade do molusco

Certificação confere credibilidade a ostras em Santa Catarina

O coordenador do Comitê de Acre-ditação, Alex Alves dos Santos, consi-dera vantajosa a adesão ao programa. Segundo ele, o maricultor receberá orientações para padronizar os métodos de produção, aumentar o controle dos processos produtivos na fazenda marinha e, com isso, reduzir custos. Além disso, “a certificação vai dar mais credibilidade ao produto, que está sendo vendido dentro de normas de segurança e a ele agregar mais valor”, diz.

Para o consumidor, o selo também será vantajoso. Afinal, é a garantia de que foram cumpridos processos capazes de garantir maior segurança alimentar, o que é fundamental. Já para o município, Alex dos Santos garante que a iniciativa representa um salto de qualidade na profissionalização do setor, dando mais visibilidade ao cultivo dos moluscos.

A expectativa do coordenador é de que, futuramente, as ostras de Florianó-polis obtenham certificação de origem. Ou seja, um selo que as diferenciará, quanto ao sabor, de exemplares da mes-ma espécie cultivados em outros locais. “Isso é possível devido ao regime ali-

mentar diferenciado característico das nossas baías”, esclarece.

O PROCESSOO maricultor, ao fazer a inscrição no

Programa de Certificação, recebe um caderno de normas técnicas. É a garan-tia de que irá planejar sua produção. Ali há a descrição dos procedimentos necessários para melhorar a qualidade do produto, desde a escolha do local de cultivo até a comercialização.

O passo seguinte do maricultor é de-terminar o tempo necessário para adequar a propriedade ao estabelecido pelo Pro-grama. Em caso de dificuldades, é possível solicitar a ajuda de um consultor.

Feitas as adequações e cumpridas todas as normas técnicas, é hora de so-licitar auditoria. Para formar auditores, o Programa qualificou profissionais de diferentes áreas, como engenheiros aqüícolas, biólogos, oceanólogos. São pessoas que conferem cada item do processo de produção e verificam se está tudo conforme o exigido. Só depois, então, solicitam a liberação do selo de qualidade ao maricultor.

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Ostras Estuarinas

A experiência do cultivo de ostras em Santa Catarina, conhecida pelo borracheiro Miguel dos Santos através da

televisão, levou a comunidade de Brejo Grande (SE) a melhorar de vida. E o bor-racheiro, hoje maricultor, a receber um prêmio do Ministério do Desenvolvimen-to Agrário pelo projeto diferenciado na busca do desenvolvimento sustentável.

Sergipe foi pioneiro, no Nordeste, em cultivo de ostra rizhofera, a ostra de mangue ou nativa. E Miguel dos Santos, o primeiro produtor. Iniciou o cultivo em 1998, em fase experimental, e che-gou a ter 500 mil dúzias de ostras para comercialização. há cerca de dois anos, uma enchente quase destruiu o sonho de Miguel. A maré trouxe um predador, que se alojava nos travesseiros e impe-dia a ostra de respirar. De cada 10 ostras abertas, sete estavam mortas.

Desde 2005 o Sebrae-SE apóia o cul-tivo de ostras na zona costeira do estado e, contando com mais essa força, Miguel já retomou a atividade, produzindo e vendendo para bares e restaurantes do Nordeste. Cultivada em travesseiros ou mesas, em estuário, o tamanho das ostras varia de 8 cm a 12 cm. São as ostras de mesa, consumidas cruas e que atendem aos mais refinados paladares de gourmets de todo o país.

SÃO CRISTóVÃONo município de São Cristóvão, os

técnicos perceberam que a área de en-gorda das ostras, bem distante, era rica em sementes e capacitou a comunidade na captação delas.

A gestora na área de Aqüicultura do Sebrae-SE, Maria Lúcia Alves, que coor-dena o projeto de ostreicultura na zona costeira sergipana, explica como foi o

Projetos do Sebrae-SE investem em cultivo economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente justo

Cultivo em Sergipe também é reconhecido

Milton Carriço

processo: “Percebemos que a garrafa pet era um material excelente para a cap-tação. Fazemos dela uma folha, pendu-ramos várias como bandeirolas, ao lado do estuário. Com 70 dias já se percebem as ostras fixadas nas folhas. Depois, trazemos pra beira do rio, retiramos da garrafa e fazemos o manejo na escolha, separando por tamanho. Daí colocamos no travesseiro de tela, que fica sobre mesas de bambu, no estuário”. O pro-cesso de capacitação é o de aprender fazendo. “É melhor para a comunidade e fica muito barato”, diz a gestora.

O cultivo feito dessa forma traz uma vantagem: a água das fazendas de ostras passa por uma análise e fica livre de metais pesados e coliformes fecais. O manejo é feito durante o fluxo de maré e a fazenda é monitorada dia e noite.

INDIAROBA O Sebrae-SE está iniciando em In-

diaroba, com filhos de pescadores, um projeto de policultivo: ostras e tilápias estuarinas. A gestora explica que a pro-dução terá mercado garantido. Tanto a tilápia quanto a carne de ostra podem ser aproveitadas na merenda escolar e em festivais gastronômicos. “Como a área será monitorada e a comunidade terá interesse em preservá-la sem polui-

ção, o consumidor terá mais garantia de qualidade. A idéia é colocar uma etique-ta mostrando que a ostra é de cultivo”, afirma.

ESTâNCIANa região sul de Sergipe, 50 famílias

vão participar de um projeto do Sebrae, com apoio do BNDES. Será construída uma unidade de beneficiamento de moluscos, com área de resfriamento. Como em Sergipe e na Bahia não se tem o hábito de comer a ostra crua, a idéia é processar a ostra em porções, para estimular o consumo dos que apreciam a mariscada ou a moqueca.

Lúcia Alves acredita na ostreicultura como alternativa às comunidades de baixa renda. “Para tirar 120 dúzias de ostra ao mês não se investe mais do que R$ 5 mil. Não é preciso ração porque a natureza cuida de alimentar”. Ela lem-bra que a maioria dos marisqueiros não tem terra pra criar peixe ou camarão em viveiro escavado, nem para plantar co-queiro. “Detêm um pedaço de água, um estuário. Quase não se tem mais peixe, caranguejo, siri. A alternativa é o culti-vo de ostras porque os bancos naturais podem se renovar. O cultivo é economi-camente viável, ecologicamente correto e socialmente justo”, argumenta.

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Associativismo

Um projeto de aqüicultura e pesca que tem um significado especial para o Sebrae-PA é o desenvolvido em Bragança,

uma das cidades mais antigas do estado, fundada em 1622 e distante 210 km de Belém. O município, que fica a 38 km do mar, tem uma beleza exuberante: são 370 km² de manguezais. A iniciativa está sendo implementada na vila de Ca-ratateua, que, há anos, tem como prin-cipais atividades econômicas a pesca e a catação/extração de caranguejo.

No Pará, com apoio do Sebrae, catadores de caranguejo deixam fundo de quintal e passam a gerir unidade de beneficiamento

A dança do caranguejo: uma história de idas e vindas

nacional – reuniu pescadores, cata-dores e agricultores, em sua maioria das vilas Caratateua e do Bonifácio. A oficina era parte de um subprojeto de desenvolvimento de um plano de ma-nejo das atividades agropesqueiras, que integrava a extração sustentável de recursos naturais com outras fontes de rendas alternativas, buscando a sustentabilidade ecológica, econômi-ca e social, e estimulando a participa-ção de todos os envolvidos na gestão ambiental.

Em função das conclusões e solici-tações da oficina, ficou acertado que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bragança receberia, em janeiro de 2000, uma Unidade de Beneficiamento de Caranguejo, a ser construída em Caratateua.

Poucos meses após a instalação dessa Unidade, surgiram os primeiros problemas: ausência de lideranças reconhecidas e comprometidas com o trabalho, falta de noções elementares de gerenciamento do negócio, dificul-dade de inter-relacionamento e baixa auto-estima dos catadores. Resultado: no mesmo ano do início das atividades da Unidade de Beneficiamento, o tra-balho coletivo foi paralisado.

CARANGUEJO NÃO é PEIxE...Além da comunidade desmobili-

zada e dos problemas citados, um dos maiores entraves ao correto manejo do crustáceo era a ausência de uma associação representativa. Os traba-lhadores tinham dificuldade para se identificar como categoria profissional: não se consideravam pescadores nem trabalhadores rurais, apesar de desen-volverem atividades de pesca e agricul-tura familiar no decorrer do ano.

A história da criação e funciona-mento da associação local de catadores de caranguejo é um caso típico das dificuldades e desafios que as comuni-dades, especialmente as mais carentes e menos esclarecidas, sofrem para via-bilizar um negócio. E também de como o fracasso pode ser revertido em um caso de sucesso.

Tudo começou em 1999, quando uma oficina de planejamento promo-vida por diversas instituições – locais, regionais, nacionais e até uma inter-

Fotos: Marcelo Pinheiro

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freezer, uma balança de bandeja, uma bomba d´água, algumas bandejas e nada de recursos para as mulheres to-carem o trabalho”, conta Miguel – con-tribuíram para o desinteresse pela or-ganização da categoria e colaboraram para que o local ficasse abandonado por quase quatro anos.

UM PASSO PARA TRÁSCom o abandono da Unidade, o

grupo voltou às práticas anteriores de beneficiamen-to do caranguejo, aquelas “de fundo de quintal”. Essa maneira artesanal de tratar o crus-táceo, sem o de-vido controle hi-giênico-sanitário, trouxe resultados desastrosos. Nas análises laborato-

A população já havia se cansado de

participar de projetos que invariavelmente

terminavam deixando-os

desassistidos.

E, como na cantiga de roda, Fran-cisco Silva já tinha a resposta para definir a sua categoria: “Eu não sou pescador, sou tirador de caranguejo. O pescador vai para o mar, nós vamos para o mangue. O pescador passa vários dias pescando. Pesca de anzol, de rede, de muitas outras coisas. Nós usamos a luva e o gancho”.

Segundo o pesquisador Blandtt (1999), os tiradores de caranguejo, como são conhecidos localmente os extrativistas desse recurso, “quando comparados com outros trabalhadores rurais e ribeirinhos da Amazônia, são considerados a categoria mais pobre de todas”. Em Caratateua, o grupo vivia em precárias condições habitacionais, sem saneamento básico, sem água encana-da, sem telefone residencial.

Miguel Oliveira, que encontrou na catação de caranguejo uma fonte alternativa de renda e se tornou uma liderança, conta que, em 2004, as fa-mílias recebiam pouco pelo trabalho. Algo entre R$ 50 e R$ 400 por mês, com média de pouco menos de R$ 100 para os caranguejeiros e menos de R$ 300 para os pescadores. “A falta de capital de giro para a produção, bem como dos meios de produção, fazia com que precisássemos do suporte financeiro dos atravessadores e intermediários, que, por sua vez, pagavam pouco pelos produtos, tornando-nos eternamente dependentes”, comenta.

Para Dona Ladica, como é conheci-da Laudelina dos Santos Silva – outra liderança local –, a população já havia se cansado de participar de projetos que invariavelmente terminavam deixando-os desassistidos. “Nós já fomos muito enganados. As pessoas, os projetos vêm, mas depois param e nós ficamos sem saber o que fazer, pois levantam esperan-ças e vão embora”, afirmou.

Todo s e s s e s fatores, aliados à falta de material – “dentro da Unidade havia apenas um

riais feitas à época, o produto local foi classificado como fora dos padrões de consumo estabelecidos pela vigilância Sanitária, uma vez que continha um alto índice de fragmentos de carapaça (cascas) e forte presença de bactérias, que facilitavam a deterioração da mas-sa e das patinhas de caranguejo comer-cializadas.

No litoral brasileiro, é comum o ca-ranguejo ser vendido em feiras e mer-cados por atravessadores, que também não obedecem às exigências sanitárias – o produto é congelado e acondicio-nado em sacos de polietileno, sem os devidos procedimentos de conservação e transporte.

Quando a Unidade de Beneficia-mento foi projetada e construída, os procedimentos de higienização previstos eram, primeiro, a lavagem com água de boa qualidade e, depois, o abate manual. Na seqüência, o ca-ranguejo seria cozido a 100º C, por

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cinco minutos, e imediatamente lavado com água clorada. A retirada da casca deveria ser realizada em mesa inox, e a manipulação executada com luvas e máscaras para evitar contaminação por bactérias patogênicas. Posteriormente, a massa de caranguejo seria seleciona-da e embalada a vácuo, seguindo para o congelamento.

A REVIRAVOLTA DO CARANGUEJOUm fato que poderia sufocar a

última esperança acabou provocando uma reação positiva por parte de quem ainda acreditava na viabilidade do trabalho coletivo na Unidade de Bene-ficiamento. Em meados de 2004 foram roubadas do local a bomba d´água e a balança, o que gerou indignação por parte dos tiradores de caranguejo. O pequeno grupo, que contava com Mi-guel Oliveira e Dona Ladica, decidiu procurar o apoio do Sebrae do Pará. O objetivo era “buscar conhecimento, aproveitar a tecnologia e os recursos financeiros aplicados na unidade de beneficiamento”, explica a líder.

Naquele mesmo ano, o Sebrae pro-moveu cursos de organização social, liderança, palestras sobre cultura da cooperação e oficinas de educação am-biental, que resultaram em mais união do grupo.

Para Dioniso Sampaio, analista da Unidade de Negócios de Capanema e gestor do Projeto de Aqüicultura e Pesca do Sebrae-PA, o trabalho envolve mais do que capacitação. Ele conta que os demais catadores são resistentes à idéia de beneficiar o caranguejo na Unidade, e explica: “Pensam que a Uni-

dade é da iniciativa privada, e não da vila de Caratateua. Mas sabemos que, com trabalho e conscientização, essa resistência será quebrada”, explica.

No município de Bragança, os bares e restaurantes estão conhecendo, aos poucos, a proposta de beneficiamento do caranguejo na Unidade e já come-çam a se sensibilizar com a iniciativa e com a possibilidade de aquisição de um produto diferenciado.

No final de 2004, 17 sócios cons-tituíram a Benepolpa (Associação da Agroindústria de Beneficiamento de Polpas de Caranguejo e Produtos Afins) e decidiram encarar o desafio de revitalizar a Unidade. Sem recursos, começaram a vender bingos e fazer pequenas promoções. Em novembro de 2005 puderam regularizar e registrar a nova associação e, em janeiro de 2006, o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bragança transferiu para a entidade to-das as responsabilidades da Unidade de Beneficiamento de Caranguejo.

Em fevereiro de 2006, um financia-mento do Banco Cidadão viabilizou a aquisição de equipamentos e insumos, bem como a formação de um pequeno capital de giro. Com isso, o grupo co-meçou a processar e a vender, segundo dados de agosto daquele ano, uma média mensal de 165 kg de massa de caranguejo e 32 kg de patinhas.

Nessa época, os sócios já prepa-

ravam um projeto de revitalização da Unidade de Beneficiamento da Massa de Caranguejo, no que contaram com apoio do Sebrae-PA. No momento, o grupo está analisando as linhas de crédito oferecidas pelas instituições financeiras no Estado e já recebeu a vi-sita de técnicos do Banco do Brasil, que foram avaliar a possibilidade de apoio mediante o Programa de Desenvolvi-mento Regional Sustentável (DRS).

A Unidade de Beneficiamento da vila de Caratateua é a única construída em território paraense e, no momento, encontra-se em desacordo com as nor-mas ambientais - o que será revertido com a revitalização do empreendimen-to. A Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARá) já apro-vou a proposta de uma planta para construir uma Unidade no município de Maracanã e a Secretaria de Pesca e Aqüicultura do Estado pretende inves-tir em uma outra Unidade até dezembro deste ano.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL Com assessoria, orientação e apoio

dos técnicos do Sebrae-PA, a associa-ção passou a se adequar aos padrões ambientais. A partir de ações do Pro-jeto de Aqüicultura e Pesca na região de Capanema (PA), como seminários de Educação Ambiental com foco em de-senvolvimento com sustentabilidade,

Em Caratateua, o grupo vivia em

precárias condições habitacionais, sem saneamento básico, sem água encanada,

sem telefone residencial.

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algumas práticas foram substituídas. O grupo deixou de retirar o caranguejo esquartejado (dividido ao meio) do manguezal, contribuindo com o meio ambiente e com a melhoria da qualida-de do produto final.

Mesmo com a fartura de carangue-jos nos manguezais do rio Caeté, os as-sociados perceberam que seria preciso regulamentar a coleta de caranguejo para assegurar e regular o estoque da matéria-prima na região, que está na Reserva Extrativista Caeté - Taperaçu. Decidiram, então, pela criação de um

Conselho das populações locais, su-pervisionado pelo Ibama, para regular o defeso, o tamanho mínimo do caran-guejo retirado e a quantidade extraída por área do manguezal.

As mulheres do grupo passaram a aproveitar os resíduos do benefi-ciamento do caranguejo e a chamada “sucata marinha”, como escamas de peixes, para confeccionar artesanato. As peças decorativas são vendidas por preços que variam de R$ 1 a R$ 3, ge-rando uma renda complementar.

Outras capacitações sobre higiene e manipulação de alimentos foram pro-movidas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). A Benepolpa passou a participar de Fei-ras e eventos diversos, apresentando seus produtos. Por ser a única Unidade de Beneficiamento de Caranguejo do estado, passou ser vista como refe-rência para pesquisadores e alunos da Universidade Federal do Pará, que têm feito pesquisas pontuais e estão sendo incentivados a elaborar novos estudos sobre o crustáceo.

Para Marcus Tadeu, gerente da Unidade de Negócios de Capanema (Sebrae/PA), o principal apoio que o Sebrae presta à associação está rela-cionado à formação da cadeia produ-tiva, que ainda carece de alguns elos, especialmente na questão da aquisição de matéria-prima para a embalagem do produto e do transporte.

Já Dioniso Sampaio faz questão de ressaltar os benefícios sociais de-correntes do trabalho coletivo levado adiante pelo pequeno grupo, mesmo nas mínimas condições. “Já se nota uma antena parabólica na vila, a con-clusão da casa própria, uma geladeira nova”, comenta.

Sampaio, que transformou a expe-riência da vila de Caratateua em caso de sucesso do Sebrae – o livro será lançado no final deste ano –, revela uma dificuldade não prevista no anda-mento do projeto. Maridos de algumas associadas da Benepolpa não aceitam o fato de elas terem renda maior do que a deles, o que as impede, muitas vezes, de dar prosseguimento ao trabalho na Associação. “Como é um aspecto cultural, que precisa ser revertido, nossos consultores – entre os quais, psicólogos e assistentes sociais – vêm desenvolvendo ações de sensibilização e convidam esses homens a participar do trabalho conjunto de beneficiamen-to do caranguejo”, diz.

O gestor do Projeto de Aqüicultura e Pesca do Sebrae-PA sabe que um traba-lho dessa natureza, no interior da Re-gião Norte, exige mais do que técnica. “É preciso o envolvimento de toda a co-munidade, que nem sempre reage bem a projetos inovadores. Mas vamos con-seguir. Sabemos que muito já foi feito, mas ainda há muito a ser conquistado”, observa Dioniso Sampaio.

“É preciso o envolvimento de

toda a comunidade, que nem sempre

reage bem a projetos inovadores. Mas vamos conseguir.

Sabemos que muito já foi feito, mas

ainda há muito a ser conquistado.”

Dioniso Sampaio, gestor do Projeto de Aqüicultura e

Pesca do Sebrae-PA

Antes, caranguejos eram expostos assim Agora, produtor tem cuidado especial com produto

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