Projeto Gráfico - Teórico - TCC

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Projeto teórico da primeira fase do TCC (trabalho de conclusão de curso) que vai embasar os trabalhos seguintes.

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

Curso de Design Digital

Trabalho de conclusão de curso

Turma NA7

TERRA E CHUVA EM UM SÓ

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Universidade Anhembi Morumbi

Curso de Design DigitalTurma NA7Trabalho de conclusão de curso

Título Terra e Chuva em um só

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora como exigência parcial a obtenção de título de graduação do curso de Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi.

Coordenação Profª Rachel Zuanon Orientação Profº Claudia Teixeira Marinho Profº Nelson Somma Junior

Diego Abrahão ModestoLeandro Vicaria PalmeiraPaulo Eduardo Gentile JuniorRodolfo Leite De Moraes AtilioSaulo Ribeiro MartinsThais Paola Galvez

São Paulo

Dezembro • 2008

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Banca Examinadora

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Dedicatória

Dedicamos este trabalho ao esforço de quem sempre persiste em ir além.

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Agradecimentos

Aos bons nossos Conselheiros que encontramos por ai.

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foto: Flávio de Barros

Figura 1 – Rendição de conselheiristas – Flavio de Barros

Fonte: Livro Cadernode fotografia brasileira – Instituto Moreira Salles (2002).

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Canudos não se rendeu.Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

Euclides da Cunha13

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Resumo

Guerra de Canudos, esse é o fato relatado por Euclides da Cunha, que até hoje impressiona pessoas do mundo todo, mostrando o combate, a resistência, a desigualdade e miséria ocorridos duran-te a guerra no sertão baiano, aspectos elucidados em seu livro que denúncia essas atrocidades da nova República. Por sua importân-cia, inspirou diversas versões expressivas, em distintas linguagens, divulgando o fato real aos diversos públicos. Para nossa pesquisa optamos em analisar a Guerra de Canudos e os desdobramentos dos registros e traduções através de quatro linguagens, sendo as três primeiras ligadas diretamente ao ocorrido: Os Sertões de Euclides da Cunha, a fotografia de Flávio de Barros, a literatura de Cordel – e o curta-metragem documentário A Matadeira de Jorge Furtado – abrindo possibilidades de contar a história através de experimenta-ções em linguagens híbridas, metafóricas, registrando e re-criando o fato. Portanto, apesar da história da Guerra de Canudos, já ter sido explorada em diversas épocas e linguagens, esta pesquisa tem como proposta compreender essas traduções expressivas e criar no-vas possibilidades atemporais para representar e dualizar Canudos e seu contexto em diversas épocas.

Palavras chave: Canudos, Literatura, Fotografia, Cordel, Cinema.

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Abstract

War of Canudos: This is the fact told by Euclides da Cunha that until today impresses people all over the world, showing the com-bat, the resistance, inequality and misery occurred during the war on bahian bushes - aspects elucidated on his book that denounces the atrocities of the New Republic. Also, your importance inspired many expressive versions, on distinct languages, divulging the real fact to several publics.For our research we choose to analyze the War of Canudos and the un-folding of the records and translations through four languages, being the first three connected to the fact: Os Sertões of Euclides da Cunha, the photography of Flávio de Barros, the Cordel literature – and the documentary short film A Matadeira of Jorge Furtado – opening pos-sibilities of telling the history from experimentations on hybrid lan-guages, metaphoric, registering and recreating the fact.Therefore, although the history of the War of Canudos has been explored for several times and many languages, this research has as a proposal to comprehend this expressive translate and create new possibilities to represent and duality Canudos in your context.

Keyword: Canudos, Literature, Photography, Cordel, Cinema.

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Lista de figuras

Figura 1 Rendição de conselheiristas – Flavio de Barros...10

Figura 2 Vista panorâmica de Canudos antes do assalto final – Flavio de Barros...35

Figura 3 Rendição de conselheiristas – Flavio de Barros...54Figura 4 Manipulação de fotos na época de Stalin...82Figura 5 Manipulação de fotos na época de Stalin...82Figura 6 Corpo do Conselheiro exumado...85Figura 7 Corpo do Conselheiro exumado...88Figura 8 O Corpo Sanitário e, deitada na maca, uma conselheirista

ferida - Flávio de Barros 1987...91Figura 9 Antonio Conselheiro e a Guerra de Canudos...96Figura 10 A briga de Antonio Silvino com Lampião no inferno...96Figura 11 O interrogatório de Antonio Silvino...96Figura 12 Lampião, o rei do cangaço Silvino...96Figura 13 Familia de Jeca Tatuzinho adoece de tanta poluição...103Figura 14 A tragédia das enchentes em todo Rio de Janeiro...103Figura 15 A contagiosa AIDS matando toda a humanidade...103Figura 16 A Matadeira...121Figura 16 A Matadeira...124Figura 17 Soldados empurrando o canhão...126Figura 18 O especialista...127Figura 19 Representação – assusnto sócio-econômico...128Figura 22 Discurso presidencial – montagem de fotos...129 Figura 23 Discurso presidencial...130Figura 24 Preparação do ataque a Canudos...132Figura 25 Ataque ao acampame...132

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Introdução...21

¶ O discurso da “verdade”...24

1 Guerra de Canudos breve história e formação...26

1.1 Conselheiro – Antônio Vicente Mendes Maciel...28

1.2 Belo monte conhecido por Canudos...32

1.3 A Guerra de Canudos...391.3.1 Primeira Batalha...401.3.2 Segunda Batalha...431.3.3 Terceira Batalha...461.3.4 A quarta batalha e a

dificuldade derradeira...49

¶ Registro...60

2 Breve introdução sobre Euclides da Cunha...62

3 Análise do livro Os Sertões...68

3.1 Concepções em contradição...71

3.1.1 Contradições que geram diversas definições...72

3.2 Gêneros Literários do período...74

4 A Fotografia...784.1 As realidades da

Fotografia...80

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4.1.1 Fotos históricas Manipuladas...81

4.1.2 Primeira Realidade e realidade Interior...83

4.1.3 Segunda Realidade e realidade Exterior...86

4.1.4 Construção da representação...87

5 A Literatura de Cordel...94

5.1 Os fatores sociais e históricos na linguagem dos cordéis e sua relação com a cultura popular...98

5.2 Variações na interpretação da história da Guerra de Canudos...102

¶ Tradução expressivas...69

6 Linguagem Cinematográfica como representação do registro histórico...118

6.1 A Matadeira de Jorge Furtado...123

Considerações finais...135

Iconografia...72

Bibliografia...139

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Introdução

Nosso trabalho tem como objeto de estudo o desenvolvimento das linguagens frente à Guerra de Canudos, quer como registro ou como derivação de um olhar mais poético. No caso as quatro fontes de estudo são o livro Os Sertões de Euclides da Cunha, a Fotografia de Flávio de Barros, a literatura de Cordel e o curta-metragem A Matadeira de Jorge Furtado. Com isso o trabalho se divide em três tempos de desenvolvimento que cabe citar para uma visão geral do que se abordará.

O primeiro deles é O DISCURSO DA “VERDADE”. Neste pon-to será escrito um resumo dos acontecimentos históricos da Guerra de Canudos. Esta parte é fundamental para se entender e contex-tualizar o que aconteceu em Canudos e sua formação, até atingir o momento mais agudo da sua existência, onde acontece o embate dos conselheiristas e do exército. Desta forma é possível responder, resumidamente, por que surgiu, como se desenvolveu, o porquê da guerra e quais os interesses.

Foram pesquisados livros que recontam a história de Canudos de um ponto de vista às vezes confuso para o julgamento do grupo, sem se fazer a relação histórica de desenvolvimento de classes, aos quais alguns autores não dão a importância devida, fica apenas os relatos pormenores, onde não é possível visualizar o todo, que no caso de Canudos se identifica pela pobreza, pelos jogos de interes-ses de homens poderosos da República e suas discrepâncias. Desta forma o livro de Edmundo Moniz referencia o entendimento da for-mação do Arraial de Canudos e o interesse republicano de destruí-

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lo. E para ser levado em conta, alguns livros que vão sendodescobertos no meio do caminho, de conteúdo precioso, como

as cartas do Barão de Jeremoabo.Esse curto resumo histórico que nos propomos a escrever,

abre o debate sobre Canudos e nos faz compreender melhor cada tradução dessa história. Um exemplo claro é o curta-metragem A Matadeira, ali há muitas linguagens associadas por metáforas, íco-nes que só são possíveis deduzir com algum conhecimento do fato real, ao mesmo tempo que o fato só se revela pelo registro.

Solucionada essa parte, é possível estudar o próximo tema REGISTRO. Neste ponto são mostradas as que presenciam o po-lêmico fato de Canudos. No caso uma delas é o livro Os Sertões do escritor e jornalista Euclides da Cunha. Escrito alguns anos depois da Guerra de Canudos, Euclides revela a perversa face da República, a qual ele próprio era um entusiasta, e com o tempo se decepciona imensamente, principalmente por causa do massacre selvagem do povo de Canudos pelos soldados do exército Republicano. O livro ganha uma proporção gigantesca como denúncia e como obra lite-rária, de uma grande erudição de linguagem. O próprio livro revela Euclides da Cunha, e suas contradições internas, que eram reflexo das contradições do próprio momento que ele vivia. Nesta parte é estudada a sua obra, e sua biografia, fato importante para desven-dar a sua força literária e sua influência em diversos outros meios de comunicação.

Outro registro de Canudos se assume pela linguagem da foto-grafia. Apesar do seu estado embrionário, ela já se fazia notável em círculos da nobreza e como um eficaz registro de guerras. No caso

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de Canudos o fotografo foi Flávio de Barros. Diferentemente de Os Sertões a fotografia serviu apenas como registro do ponto de vista do exército sobre os vencidos.

Essa unilateralidade abre uma discussão sobre a linguagem fotográfica jornalística e documental, e como podemos julgá-la e quais seriam os instrumentos para compreendê-la, e distinguir seu significado, separando do cunho ideológico.

Finalizando o REGISTRO, a literatura de Cordel. Sua força está justamente na condição de uma obra mais popular, inspirada nos relatos de testemunhas que presenciaram a guerra ou dela se ouviu falar. Há toda uma caracterização que a torna rica em elementos e regionalismo dando uma forte expressão para o acontecimento.

E por último, no que tange a elementos externos, fica A TRA-DUÇÃO. A importância dos estudos anteriores se revela com mais evidência nesta parte, pois aqui são condensadas e experimentadas várias maneiras de se contar a história da Guerra de Canudos.

A nossa análise fica no cinema, como o curta-metragem A Matadeira. Aqui seria a grande conjuntura das linguagens estuda-das anteriormente. Jorge Furtado não abre mão de experimentar possibilidades diversas de contar a história da guerra de Canudos, contemporanizando alguns fatos que se perpetuam, misturando o passado com flashes do presente, iconizando o fato e os persona-gens para entendê-los melhor.

Assim essas linguagens estudadas serão a base para desenvol-vermos idéias em nossa Hipermídia.

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O DISCURSO DA “VERDADE”

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Aqui abre-se a discussão e o entendimento

sobre a história da guerra de Canudos, a intenção de levantar os porquês, a comoção e as formas diversas de contá-la que se sucederam. Levantando o conteúdo histórico ao quais as linguagens se afirmam. Reforçando a questão das citações, já mencionado na introdução, a maioria serão baseadas no livro de Edmundo Moniz.

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1 Guerra de Canudos – breve história e formação

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Para entendermos de for-ma mais precisa toda a problemática de Canudos e seus desdobramentos nos meios expressivos, é preciso antes entender os fatores históricos de sua formação. Canudos não é só um conflito regional, ele é o resultado de uma sucessão de eventos e de contradições que culmi-nou na sua realidade.

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As formas de expressão como literatura, fotografia, cinema entre outras tem um grande poder de divulgação do fato real por diversas técnicas, com variadas estéticas e formas de alcance, tanto no campo popular como erudito, mas por si só não traçaram o que foi Canudos e seu contexto amplo. Esses meios divulgaram e infla-maram na memória popular a guerra de Canudos com um evento de grandes proporções na recém instituída República, mas entendê-las em sua formação precisaria traçar algumas diretrizes de desenvol-vimento histórico como influência e contexto para sua realização.

A análise do fato real, através do discurso da literatura e fo-tografia, permeia uma maior consolidação do entendimento das linguagens que iremos estudar, nos aprofundando no pensamento critico das obras e entendendo o resultado e o fascínio que elas ala-vancam no decorrer dos tempos. Assim o estudo das linguagens é antecipado pela história do seu tema a guerra de Canudos.

1.1 Conselheiro – Antônio Vicente Mendes Maciel

Antônio Maciel foi o indivíduo histórico da formação da cidade Belo Monte, e figura principal na guerra de Canudos. Todo os contrates do desenvolvimento do nordeste naquela época, no final do séc. XIX tem em Antônio Conselheiro o seu representante mais desenvol-vido como articulador e concentrador das necessidades, capaz de entender os problemas da época e cristalizar todos os anseios de um povo em dificuldade, marginalizados por uma economia na mão de latifundiários, políticos e da desesperança de uma República que cobrava impostos que ninguém podia pagar. E dentro desse quadro caótico cria-se uma comunidade igualitária, primitiva, mas que le-vava em conta os anseios de escravos, camponeses e demais miserá-veis que viviam no sertão e fora dele. Conhecer o patrono da cidade é esclarecedor para entender um pouco melhor Canudos.

Antônio Maciel nasceu em 1828 em Quixeramobim, na pro-víncia do Ceará, sua descendência vem de uma família tradicional e decadente do nordeste, os Maciéis.

“Filho de Vicente Mendes Maciel e Maria Joana de Jesus, conhecido pelo apelido de Chana, ficou

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órfão de mãe aos seis anos de idade com duas ir-mãs mais moças, Francisca e Maria, sentindo-se, desde o começo da vida, amargurado e desampa-rado.” (MONIZ, 1987, pág. 15)

Quando Antônio Maciel tinha cinco anos sua família entra-ra em uma grande rixa com outra ascendência daquela região, os Araújos. Ele vai crescer em meio a esses conflitos, mas não participa deles diretamente, apenas ouve atentamente como se sucedem e o resultado dos seus desdobramentos.

“Antônio Vicente conhecia, decerto, pelas narra-tivas de seu pai, a trágica história dA Luta longa e sangrenta entre os Maciéis e os Araújos que co-meçou em 1833. As brigas entre famílias do ser-tão faziam com que se destruíssem mutuamente de forma bárbara e tinham sempre como fatores determinantes a disputa da terra e do poder polí-tico”. (MONIZ, 1987, pág. 16)

Esses fatos se agregam na formação de Antônio Maciel, mas seu pai não era de um ramo mais tradicional dos Maciéis, sendo as-sim há uma distância desses fatos na vida da família e de Antônio. Tempos depois quando seu pai falece datado em 1855 deixando três filhas, Antônio Maciel acaba virando o chefe da família. Algumas heranças praticas da vida do seu pai acabam influênciando-o.

“Do pai é que Antônio Vicente herdara o gosto para com a construção que o acompanharia o resto da vida.” (MONIZ, 1987, pág. 21)

Só depois da morte do pai é que Antônio Maciel se casa, sua noiva é uma prima chamada Brasiliana Laurentina de Lima.

“Mas Antônio Maciel não encontrou felicidade no lar. Indispôs-se com a sogra, que açulando a

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filha contra ele, levava a sucessivas alterações. Em 1859 liquidou os negócios e deu a casa em paga-mento. Mudou-se para Sobral, empregando-se no comercio.” (MONIZ, 1987, pág. 21)

Umas das versões contadas dizem que sua mulher apenas se separou do marido, outras que fugiu para casar com um sargento. Depois desse episódio na vida conjugal, Antônio Maciel se abate, pois já não tem mais contato com as irmãs, e seus filhos que tivera no casamento foram-se junto com a ex-mulher, sem nunca mais ter noticias sobre eles, até hoje nunca foi encontrada essa descendên-cia desfeita. Aos poucos ele se recupera desses atormentos, e outra de suas qualidades acaba se evidênciando como a justeza perante as pessoas mais miseráveis.

“Antônio Maciel não podia ver uma injustiça sem protestar. Com A Luta entre os Maciéis e os Araú-jos, aprendera desde cedo a desconfiar das autori-dades que falavam em justiça enquanto apanigua-vam o crime. Compreendeu que havia qualquer coisa de errado na ordem social e que era preciso modificá-la.” (MONIZ, 1987, pág. 23)

Antônio Maciel começa a perambular por diversas cidades, aprendendo e assimilando os diversos problemas sociais por onde passava. Alguns dizem que essas andanças aconteceram por causa da fuga da mulher, ao qual ele sai à procura por diversos lugares. Mas essa possibilidade pode ser mais um mito construído depois de sua fama. Outra versão seria:

“A instabilidade nos empregos, a continua mu-dança de residência e a passagem pelas cidades em numerosos municípios do centro sul da provín-cia fizeram com que observasse e tomasse contato com a realidade sertaneja, com a vida incerta e miserável dos camponeses e a intolerância senho-

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rial dos grandes latifundiários.” (MONIZ, 1987, pág. 23)

Caminhando por diversas cidades Antônio Maciel vai se po-pularizando, ele começa empreender obras nesses lugares todos, causando notoriedade entre os habitantes.

“Do sertão do Ceará, Antônio Maciel passou ao de Pernambuco e ao de Alagoas, aparecendo em 1874 na cidade de Itabaiana, em Sergipe. Daí partiu para o norte da Bahia. Seguido por adeptos que o respeitavam e obedeciam, não ficou ocioso e construiu em várias cidades inúmeras obras de interesse público.” (MONIZ, 1987, pág. 25)

Com essa popularidade entre camponeses pobres e escravos começou a pregar a palavra de Deus, independente da igreja, tra-zendo conforto e esperança para seus seguidores, atraindo mais e mais conglomerados a sua causa. Ele já sabia por experiência de viagens que os grandes latifundiários eram os que mandavam nas terras explorando os seus trabalhadores e tinha da própria igreja o consentimento para isso, ou no máximo o silêncio.

“Quando começou a atuar entre os camponeses, Antônio Maciel compreendeu que era preciso ape-lar para o sentimento religioso, independente da Igreja. [...] Passou então a falar em nome de Deus e de seus desígnios por conta própria, sem dar impor-tância ao que diziam os padres, sempre favoráveis aos ricos e poderosos.” (MONIZ, 1987, pág. 26)

Como resultado toda essa massa de pessoas que o segue, An-tônio Maciel começa a ser questionado principalmente pela igreja, que vê nele um fanático sem causa que usa a palavra de Deus, para enganar as pessoas. Com isso a própria igreja o denúncia a autori-dades locais, que não viam naquele homem nenhum tipo de perigo

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eminente, era só mais um louco, e logo ele e seus seguidores se dis-persariam voltando tudo ao normal. Chegou a ser preso uma vez por um boato infundado, que havia matado sua esposa e sua mãe.

“A 15 de julho, o chefe de polícia do Ceará comuni-cava ao Juiz de Direito de Quixeramobim, Alfre-do Alves Mateus, a prisão de Antônio Maciel, que seria enviado para está localidade por suspeita de algum crime ali cometido. Constatada a impro-cedência da acusação – a mãe de Antônio Maciel morreu quando ele tinha seis anos, e a mulher que o deixara por outro homem, ainda vivia em Sobral – O Juiz de Direito Libertou-o em 1° de agosto, pois tudo que se dizia contra Antônio Maciel era falso e mentiroso.” (MONIZ, 1987, pág. 28)

Antônio Maciel a com o passar dos anos já tem numerosas pessoas que vinham de tudo quanto é lugar para lhe pedir conse-lhos, e assim acaba se tornando Antônio Conselheiro, um homem asceta com um rígido código de conduta e sobriedade.

“Assim tornou-se o confidente dos perseguidos, dos sacrificados, dos infelizes, das vítimas de qualquer injustiça ou que se encontrassem numa difícil situação. (MONIZ, 1987, pág. 29)

Aqui se delimita a breve construção de Antônio Conselheiro como indivíduo, uma figura central para o entendimento de Canudos.

1.2 Belo Monte conhecido por Canudos

Toda a peregrinação de Antônio Conselheiro pelo sertão e o nú-mero cada vez maior de adeptos e a falta de um lugar seguro e instável, levantou a necessidade de um local próprio para abrigar toda essa gente.

“Antônio Conselheiro começou a dar corpo à idéia

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de fundar uma cidade comunitária, onde não hou-vesse discriminação nem privilégios. É provável que nesta época já tivesse lido Utopia, de Tomás More. Foi então que marchou para o norte em lon-ga e penosa caminhada. Escolheu o arraial de Belo Monte, que ficaria famoso pelo nome de Canudos.” (MONIZ, 1987, pág. 41)

Essa atitude foi conseqüência de muitos fatos, e o maior deles eram os problemas que Antônio Conselheiro teve com os Clérigos, Latifundiários e depois com as autoridades. As pessoas mais humil-des e necessitadas se juntavam a Conselheiro, e até mesmo as que tinham um trabalho nas fazendas acabaram fugindo, por mal tratos e endividamento. Por isso os grandes fazendeiros também viam em Antônio Conselheiro um grande problema, pois era possível que com sua fama crescente não houvesse mais camponeses que ficassem em seu trabalho. Com o advento da República, começou a cobrança de impostos em várias cidades, e esse foi outro problema que deu maior envergadura ao movimento de Antônio Conselheiro.

“Com a autonomia dos municípios, as Câmaras locais afixaram os editais para cobrança dos im-postos. Houve uma inquietação geral. Os impos-tos recaíam sobre as camadas mais desprotegidas, porque ninguém ousava cobrá-los aos grandes pro-prietários de terra. Quando Antônio Conselheiro soube da notícia encontrava-se em Bom Conselho. Reuniu o povo num dia de feira e entre foguetes, mandou arrancar e queimar os editais. As autori-dades locais, entre as quais se via Arlindo Leone, Juiz de Direito, mas tarde removido para Juazei-ro, não tiveram forças para impedir esta forma de protesto...” (MONIZ, 1987, pág. 39)

Após esse evento Antônio Conselheiro teve alguns problemas com a polícia, mas pelo grande número de adeptos, foi fácil rechaçar qualquer investida. Daí a necessidade de um local para se abrigar e

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se proteger e viver de forma independente, por esse motivo a fun-dação de Belo Monte, conhecida popularmente como Canudos.

Canudos foi uma cidade pacífica igualitária, centrada da dis-tribuição igual de tudo que era produzido para todos, terra, alimen-tos e demais produções, não havia fartura, mas todos tinham o su-ficiente para viver.

“Canudos iria transforma-se numa das cidades mais povoadas da Bahia. Cresceu tanto que não poderia chamar-se de arraial. Construíam-se doze casas por dia. Ao espalhar-se a notícia de que An-tônio Conselheiro fundara a comunidade de Belo Monte sob sua única direção, independente das autoridades eclesiásticas e civis, Os Sertões estre-meceram. Agora, haveria um abrigo estável para os esbulhados de seus bens, para os que viviam er-rantes, sem trabalho sem lar, para os perseguidos pelos grandes proprietários, pelo fisco, pelas au-toridades policiais e políticas. Neste povoado que surgia, todos seriam iguais, conforme os ensina-mentos do Conselheiro.” (MONIZ, 1987, pág. 43)

O misticismo religioso de Antônio Conselheiro, vinculado a seu ascetismo rígido inspirava confiança para seus adeptos. Edmundo Mo-niz em seu livro traz um trecho de uma citação de Engels que explica o ascetismo e a comunidade seguidora de Conselheiro.

“Engels Assinala que o ascetismo não é só a ca-racterística de todos os movimentos camponeses da Idade Média como também dá um colorido re-ligioso ao movimento operário em sua fase inicial. ‘Este puritanismo ascético – dizia ele –, esta insis-tência em renunciar a todos os prazeres e alegria da vida representam, de um lado, uma restaura-ção do princípio espartano da igualdade contra as classes dirigentes e, de outro, uma etapa necessá-

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Figura 2 – Vista panorâmica de Canudos antes do assalto final – Flavio de BarrosFonte: Livro Cadernode fotografia brasileira – Instituto Moreira Salles (2002).

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ria de transição, sem a qual os setores inferiores são incapazes de se porem em marcha. Se os in-divíduos desta classe terão de empregar todas as suas energias a fim de se darem conta de sua posi-ção, também deverão ser hostis a todos os demais elementos da sociedade, unindo-se e concentran-do-se e numa só classe. E, para isto, é necessário que comecem a desprender-se de tudo que venha reconciliá-los com a ordem existente, renunciando aos prazeres de que possam desfrutar sem que a mais férrea opressão seja capaz de fazê-lo retro-ceder’. Nas palavras de Engels, encontra-se a ex-plicação para o ascetismo nos movimentos espon-tâneos que não adquiriram a consciência efetiva do que representam, permitindo compreender o puritanismo ascético de Antônio Conselheiro que tanta importância teve na sua vigorosa atuação.” (MONIZ, 1987, pág. 31)

Outra identificação de Conselheiro por diversos meios de co-municação é que ele era um adepto feroz da Monarquia, uma inter-pretação não tão verdadeira, mas que os Repúblicanos exploraram para criar um fato contundente para atacar Canudos. A relação de Antônio Conselheiro com a Monarquia vem de uma feroz decepção com a República, na qual se cria os impostos e algumas mazelas que o para o tipo de vida camponês a torna mais difícil. E é na monar-quia que há a libertação dos escravos contrastando com a República que apesar de livres as leis são todas voltadas a ao beneficio do la-tifundiário. Esse problema se da por motivos mais graves de cunha do desenvolvimento histórico e social do Brasil. Aqui não houve a revolução Burguesa de forma completa, criando anomalias dentro do próprio sistema, um hibrido de latifundiários “modelo feudal” com a chegada da indústria e desenvolvimento dos meios urbanos.

“A abolição não representava a revolução agrária, apesar de mudar as relações sociais entre proprie-tários e trabalhadores agrícolas. Os latifundiários

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sobreviveram. Os camponeses reduzidos à servi-dão pelas novas leis, continuaram explorados, sem esperança de melhoria. Que representava a República para eles? O novo regime apenas servia à burguesia industrial e às classes médias da cida-de. Não havia nada que os camponeses pudessem considerar seriamente como feito em seu benefi-cio.” (MONIZ, 1987, pág. 70)

Antônio Conselheiro julgava que o problema da exploração camponesa independia da forma de governo. Sua rebeldia contra as autoridades Repúblicanas era semelhante a sua rebeldia contra as au-toridades monárquicas. “Já tivera experiência na própria carne do que representava a repressão antes da República, e não tardaria a constatar que nada se altera após a mudança do regime.” (MONIZ, 1987, pág. 70)

Nesse trecho acima é possível ter uma idéia mais concreta dos anseios de Antônio Conselheiro e seu verdadeiro caráter em frente qualquer que seja o sistema vigente, o importante para ele era o fato e as pessoas ao seu redor. Ele não entendia os fatores contra-ditórios do novo sistema Repúblicano, mas concretamente sentia apenas que as coisas haviam piorado.

“Apesar de Antônio Conselheiro não compreender, no terreno econômico e político, a revolução bur-guesa como um progresso histórico, colocava-se, no terreno social, além do regime que foi estabe-lecido a 15 de novembro de 1889. Ao Estado bur-guês, apoiado pelos grandes proprietários territo-riais, Antônio Conselheiro opunha a comunidade socializada.” (MONIZ, 1987, pág. 73)

Com toda essa autonomia, mesmo sendo uma comunidade de paz, o governo não deixaria barato o surgimento de uma cidade igualitária e independente que ameaçasse sua ideologia. E algum tempo depois, em 1896, Canudos sofre seu primeiro ataque pelo exército.

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1.3 A Guerra de Canudos

A guerra de Canudos foi uma fase de maior resistência de todo o povo que lá habitava, e mostrou-se o reflexo da seriedade do empre-endimento lançado por Conselheiro, pois foi de uma resistência já mais imaginada, de vitórias que abalaram a República e trouxeram uma enorme crise política. Foram quatro expedições necessárias para dizimá-la, e mesmo a última, por alguns estudiosos, seria uma quinta expedição, pelo total esgotamento da anterior.

Outro aspecto a ser levado em conta naquela época, seria a divisão entre os militares Repúblicanos e os civis Repúblicanos, os primeiros tinham uma índole “florianista” defendiam as obscuras uma ditadura militar, com o pretexto da ordem. Mas há muitos mis-térios e conspiração naquela época, que no fundo também refleti-ram no próprio exército e nas expedições que atacaram Canudos, o resultado final foi um número enorme de deserções e morte, reve-lando a crise que o país passava de lideranças políticas e do regime.

No que tange aos florianistas, é bom entender a linha de pen-samento desse grupo, mesmo depois da morte de Floriano Peixoto, pois abre uma idéia melhor do seus projetos, e sua rivalidade com políticos monárquicos ou Repúblicanos ligados ao latifundiário.

“Embora Floriano não fosse positivista e tives-se participado também da Guerra do Paraguai, os oficiais que se reuniam à sua volta possuíam outras características. Eram jovens que haviam freqüentado a Escola Militar e recebido a influ-ência do positivismo. Concebiam sua inserção na sociedade como soldados-cidadãos, com a missão de dar um sentido aos rumos do país. A república deveria ter ordem e também progresso. Progresso significava a modernização da sociedade através da ampliação dos conhecimentos técnicos, do in-dustrialismo, da expansão das comunicações.” (FAUSTO, 2006, pág. 140)

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Na análise da guerra serão ainda usados mais contundente-mente os livros de Euclides da Cunha e de Edmundo Moniz. Ha-vendo a necessidade de uma melhor análise histórico com alguma questão que aprofunde outros pontos haverá inserção de alguma ou outra literatura, quando a ênfase do assunto se der mais em um ato de ação as citações de Euclides serão de prioridade, principalmente pelo efeito visceral que ele arranca dos fatos.

1.3.1 Primeira Batalha

Há uma explicação para o inicio dos conflitos entre o povoado de Canudos e o Governo, mas ele não é em si o grande motivo, mas abriu um pretexto para os que eram contra atacarem e começarem um conflito, com toda conspiração possível.Nos Sertões de Euclides da Cunha é citado tal alarde.

“Determinou-a incidente desvalioso. Antônio Conselheiro adquirira em Juazeiro certa quanti-dade de madeira, que não podiam fornecer-lhe as caantigas paupérrimas de Canudos. Contratara o negócio com um dos representantes da autoridade daquela cidade. Mas ao terminar o prazo ajustado para o recebimento do material, que se aplicaria no remate da igreja nova, não lho entregaram. Tudo denúncia que o distraído foi adrede feito vi-sando o rompimento anelado.” (CUNHA, 2002, pág. 207)

Na construção da igreja nova, era necessária uma boa quan-tidade de madeira, não fora um pedido a toa, mas daí se deu um desentendimento grande. Pois Conselheiro de forma pacífica pediu para que seus companheiros fossem buscar a tal madeira não entre-gue, por sugestão.

“...O estopim da guerra , só vai se verificar no go-verno de Luíz Viana. A solicitação do juiz Arlindo

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Leone – motivado pelo receio de que Conselheiro viesse a Juazeiro buscar a madeira encomendada para a construção da igreja nova e ante a notícia da invasão da cidade pelos conselheiristas, temerosos de que a madeira encomendada não seria entregue – levou o governo a organizar a expedição coman-dada pelo tenete Pires Ferreira...”(CARVALHO Jr., 2001, pág. 26)

Seus inimigos, principalmente o juiz de direito de Juazeiro, Arlindo Leone, um desafeto de anos atrás, agiu imediatamente, in-suflando que a cidade seria saqueada pelos jagunços. Criando um pânico na população e fazendo com que o governo baiano, admi-nistrado por Luiz Viana, tomasse uma ação. Assim um motivo apa-rentemente banal, tomou grandes proporções, uma contingência de policiais baianos de mais ou menos cem homens foi ao local onde os companheiros de Conselheiro iriam buscar a madeira, isso em 1896.

“Aquele punhado de soldados foi recebido com sur-presa em Juazeiro, onde chegou a 7 de novembro, pela manhã. Não obstou a fuga de grande parte da população, subtraindo-se o assalto iminente.” (CUNHA, 2002, pág. 210)

Mas a tropa chegando a Juazeiro constatou que não havia nin-guém do grupo do Conselheiro, e não havia previsão de chegada, desmoralizando o empreendimento custoso e aparentemente sem motivo. Mas o tenente Pires Ferreira “líder da primeira expedição” não se contentou e abandonar sua posição com as tropas, e dar mo-tivo por acabado, e solicitando ordens, foi atrás de Conselheiro em Canudos. Pires Ferreira, apesar de ter poucos homens para um as-salto a Canudos, já se achava vencedor. Mas antes de chegar a Cida-de de Canudos, a tropa haveria de transpor uma grande distancia, e pela necessidade pararam em uma pequena cidade chamada Uauá para descanso da tropa, que segundo Euclides da Cunha, A tropa

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chegou exausta a Uauá no dia 19 de 1896. Chegando a madrugada a tropa tem uma surpresa.

“Na madrugada do dia 20, a expedição foi desper-tada por uma multidão de pessoas vindas de Canu-dos. Não mostrava a disposição de guerrear. Vinha em procissão, à luz do sol que surgia, rezando e cantando com a bandeira do Divino e uma grande cruz de madeira. Mulheres, velhos e crianças par-ticipavam daquela estranha procissão que surgiu dos áridos caminhos como um apelo de paz. Mas a tropa, temendo talvez uma emboscada, recebeu a multidão com cerrada fuzilaria. Ela reagiu como pôde. Provavelmente, acompanhava-a uma guarda de segurança [...]” (MONIZ, 1987, pág. 112)

Não havia dúvidas que o bando de Conselheiro instigava o medo e a superstição nos soldados, esse se perdiam nas reações precipitadas e aleatórias, levando a tropa toda ao caos.

“O conflito continuou, deste modo, ferozmente, cerca de quatro horas, sem episódios dignos de nota e sem vislumbrar um único movimento táti-co: batendo-se cada um por conta própria, conso-ante as circunstâncias. No quintal da casa em que se aboletara, o comandante se ateve à missão úni-ca compatível com a desordem: distribuída, jogan-do-os por sobre a cerca, cartuchos, sofregamente retirados, às mancheias, dos cunhetes abertos a machado. Reunidos sempre em volta da bandeira do Divino, estroçoada de balas e vermelha como um pendão de guerra, os jagunços enfiavam pelas ruas. Contorneavam a arraial. Volviam ao largo, vozeando imprecações e vivas, em ronda desnor-teada e célere. E foram lentamente nesses giros revoltosos, abandonando a ação e dispersando-se pelas cercanias.” (CUNHA, 2002, pág. 215)

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Esse primeiro momento da guerra tem uma particularidade assombrosa para os soldados, o clima da procissão o tiroteio, a fe-rocidade dos ataques dos jagunços as predicas dos fieis, dispersou e desorganizou a ordem militar, revelando a falta de disciplina e o próprio misticismo que todos atribuíam a Conselheiro e seus se-guidores. Segundo Moniz sobre o exército: não restava outra coisa senão voltarem a Juazeiro, arrostando a humilhação da retirada.

Com a derrota da primeira expedição, surge a aversão e a de-savença entre o exército, os partidos Repúblicanos e o povo de An-tônio Conselheiro.

Começa a Guerra de Canudos.

1.3.2 Segunda Batalha

A repercussão e o desastre da primeira expedição do exército a Ca-nudos tomam uma proporção Nacional, o exército humilhado não poderia deixar por menos, seu prestigio abalara-se, e isso signifi-cava perder força e prestigio para presidência do país, algo que os “florianistas” desejavam de fato, e uma nova batalha em Canudos era necessário para recuperar o orgulho e as rédeas do país.

O Governador da Bahia na época, Luiz Viana vê o fracasso da expedição e com isso bate o arrependimento de ter enviado o exército, mas é tarde demais, a pressão para uma nova investida do exército se fazia. Esse temor não era apenas pelo fato da der-rota do exército, seu governo já estava sobre pressão, Luiz Viana era acusado de ser um monarquista e conspirar para a volta desta, fato inverossímil, mas que no calor do momento poderia trazer um golpe a seu governo ou mesmo causar a sua morte, no caso era me-lhor apoiar outro ataque. Esses momentos da história do país eram muito sensíveis pela rixa dos militares com os Repúblicanos civis, e esses últimos pelas diferenças partidárias, e qualquer sinal de vaci-lo de uma das partes dava a outra motivo de ataques, tanto verbais como ameaça política.

“‘Depois de Uauá – explicava Aberlado Monte-negro – a reação anticonselheirista revelava o

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antagonismo entre o otimismo de Luiz Viana e o pessimismo do comandante-em-chefe das forças federais. Enquanto o primeiro julgava solucionar o caso com as medidas policiais, o segundo reco-mendava a operação de guerra. Inicialmente, o governador do Estado e o comandante do Distri-to Militar viviam em boa paz. Na organização da primeira expedição, não houve choque entre os dois, embora o governador requisitasse a tropa federal para defender Juazeiro e não para invadir Canudos. Mas isto poderia ser um mal-entendido que o tempo e os fatos incumbiriam de corrigir. A verdade é que Luiz Viana teve de contemporizar e aceitar a segunda expedição de má vontade. Ten-tou pacientemente evitar o conflito com Frederi-co Sólon* que se tornara ameaçador, passando a falar em nome do exército, depois da licença de Prudente de Morais, que passara interinamente a Manuel Vitorino a presidência da República.” (MONIZ, 1987, pág. 116)

Com todos esses tramites, a segunda expedição começou a ser organizada em meio a rixas e manobras discretas para usar deste fato uma arma política.

“A segunda expedição foi organizada sem plano certo, em virtude das divergências entre autorida-des: a federal e a estadual. Não havia um respon-sável pelas medidas tomadas, pois o comandante escolhido, o major Febrônio de Brito, não sabia para que lado se voltar. Recebia ordens, que nem sempre coincidiam, tanto do governador como do comandante do Distrito Militar, ambos ciosos de sua autoridade.” (MONIZ, 1987, pág. 117)

* Frederico Sólon era pai da esposa de Euclides da cunha.

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No começo da organização da expedição houve algumas con-fusões, mas como planejado deu-se a marcha a Canudos com um exército de aproximadamente 600 homens. Mas não tardou para que no meio da expedição houvesse mais problemas, esses aconte-ceram entre Frederico Sólon e Luiz Viana, justamente na coordena-ção do exército por causa de estratégias divergentes. No momento mais agudo da discrepância entre os dois, o governador toma a or-dem de retirar sua tropa policial do conflito, solicitando o retorno. O caso toma longa repercussão, pois o ministro da guerra Dioní-sio Evangelista de Castro Cerqueira, se mostra favorável ao general Frederico Sólon, resultando primeiramente em uma troca de cartas entre o governador e o ministro e depois pelas tensões provocadas entres os dois, o governador Luiz Viana manda uma carta direta-mente para o Presidente. No desenrolar:

“A resposta não tardou. Manuel Vitorino e Dio-nísio Cerqueira prestigiaram o governador da Bahia. Luiz Viana recebeu a comunicação de que o general Frederico Sólon fora exonerado do se car-go e sendo assim o governador do estado passaria a entender-se com o coronel Saturnino Ribeiro que assumira o comando do Distrito.” (MONIZ, 1987, pág. 120)

Esses desentendimentos todos deixam claro uma rixa entre os militares e o governo da Bahia. Havia por baixo dos planos uma bri-ga feroz por poder e administração do país. E nesse caso é possível supor que Canudos levaria um valor simbólico para quem a destru-ísse, ou a humilhação e perda de pode político para quem perdesse. É possível através do livro de Mario Vargas Llosa, entender os por-menores de tal disputa entre os poderosos da República, tanto os conservadores como os progressistas.

E foi assim que o fato se sucedeu, a segunda expedição co-mandada por Febrônio de Brito retoma a marcha depois dos de-sentendimentos entre os militares e o governo. Chegando perto de Canudos, em uma região de serras, começa o primeiro ataque dos

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jagunços ao exército. Apesar do susto dos soldados que são pegos de surpresa, logo estes se alinham e conseguem espantar o jagun-ços que se surpreendem com as armas usadas principalmente os ca-nhões, que dizimaram um número grande destes. O major Febrônio de Brito se alegra com a pequena vitória, já imaginando logo tomar o Arraial de Canudos. Mas é apenas uma impressão momentânea, pouco tempo depois os jagunços reagem e atacam os soldados de forma vigorosa.

“Mas em menos de uma hora, quando os tenentes, sargentos e cabos ainda passavam em revistas as companhias prostadas, faziam listas de mortos, feridos e desaparecidos, e dentre as pedras ainda surgiam soldados da retaguarda, eles os atacaram. Sadios ou doente, homens ou mulheres, crianças ou velhos, todos os escolhidos em condições de lutar avançaram contra eles, como um aluvião”. (Llosa, 2008, pág.126)

E assim se encerra a segunda batalha, uma vitória fulminante, apesar das dificuldades do começo. Os jagunços foram ferozes, a tropa assustada se perdeu na confusão, e no medo que os jagunços lhe inspiravam, entraram em desespero, fugindo para todos os lado. Com esse episódio se abre uma crise no governo. Acusações são tro-cadas entre diversos partidos e os militares, atos de conspirações foram levantados, a política no Brasil entra em crise, a única forma de ajeitar a casa é derrubar Canudos e corrigir as mortificações so-fridas. A República se afasta, cada vês mais, de seu ideal.

1.3.3 Terceira batalha

Com a derrota da segunda expedição abre a crise na República, essa se aprofunda ainda mais em seus antagonismos, parece inacreditá-vel que aquele povo pobre, afastado do mundo “civilizado” conse-guiu humilhar e derrotar novamente o exército. Manuel Vitorino, vice-presidente de Prudente de Morais, esse último afastado por

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problemas de saúde, elege o Coronel Moreira Cesar para comandar uma nova expedição.

“Moreira Cesar era, no exército a figura estelar, a figura estelar da corrente florianista. Nasceu em São Paulo a 7 de julho de 1850 e entrou para o exército em 1869, onde ascendeu rapidamente, chegando aos 42 anos ao posto de coronel por me-recimento. Fora ele que esmagara sangrentamen-te os rebeldes de Santa Catarina na fase critica da campanha federalista, distinguindo-se pela ener-gia, pela obstinação, pela crueldade.” (MONIZ, 1987, pág. 142)

Os jogos políticos são evidentes, com essa nomeação do coro-nel Moreira Cesar, era uma jogada para conseguir a volta da corren-te florianista no poder e derrubar os políticos civis.

No livro de Mario Vargas Llosa, apesar de ser uma ficção, ele colhe um material extenso sobre Canudos para criar sua história, é possível ver nos detalhes o que cada ala política pretendia de fato. Alguns partidos Repúblicanos estavam atrelados ao latifún-dio, o próprio exército parece ter uma postura mais progressista nesse sentido, há um discurso de Moreira Cesar com o barão de Jeremoabo, ao qual o coronel demonstra sua intenção de derrubar toda propriedade latifundiária do país caso suba ao poder. Isso evidência e abre as discussões para o fato político, Canudos se tor-na o símbolo dessa desavença, não há uma preocupação de fato se os conselheiristas são da monarquia ou não, mas apenas o valor simbólico de sua derrota é o que interessa, pois garante ascensão ao poder e a direção do país. Mas como as derrotas abriram uma crise muito grande à população também começa a pressionar o estado, esse sim realmente temia o retorno monarquista no Bra-sil. Assim a sórdida polêmica de Canudos não poderia mais ser esquecida, não havia mais como deixar Canudos viver por si só e esquecê-la, pois o governo e o exército teriam que explicar de fato o que estava acontecendo, pois a pressão popular era muito gran-

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de, e isso não era nada bom politicamente, então mais uma vez o apelo foi à guerra.

Mesmo com um exército maior, a comando do excêntrico Morei-ra Cesar, conhecido como Corta Cabeças, a expedição não teve sucesso. Todos achavam que a vitória era certa, pois seria impossível uma der-rota. Em certo momento ouve até festa de celebração a vitória de Mo-reira Cesar, no dia 1° de março, data estabelecida para vitória final.

“O dia 1° de março, que o amigo do barão havia previsto para a vitória das forças legais, caiu em um domingo de Carnaval e todo o país comemorou, enganosamente, a desejada vitória. Na madruga-da de quarta-feira de cinzas (4 de março de 1897, morreu o comandante Moreira César, sendo, pou-co depois, ordenada a retirada das tropas. Era o fim da festa. Os soldados partiram em debanda-da, tornando negras as cinzas da Quaresma. Na mesma ocasião, Prudente de Morais comunicou a Manuel Vitorino que reassumiria a Presidência da República.” (SAMPAIO, 2001, págs. 64, 65)

Mas uma vez a realidade amargava a todos os setores bur-gueses, independente da rivalidade entre eles. O fantasma da mo-narquia crescia entre a população, e a confusão se espalhava. Os fatos eram distorcidos, os jornais monarquistas que ainda existiam eram fechados, boatos diversos sobre a derrota do exército eram difundidas, uma situação de terror contaminava todo o país, sem de fato ninguém saber ao certo o que acontecia. Canudos e sua fama cresciam por ajuda do próprio governo e da imprensa Repúblicana. Todos esses interesses e a falta de preparo eram reflexos de uma crise que não se resolvia dentro do setor político, problemas maio-res que Canudos, este servia apenas de joguete político não mão de oportunistas que queriam comandar o país. Mas a irresolução de Canudos perde o controle e quando há problemas desse tipo, a única coisa que uma República despreparada consegue fazer é usar a força bruta, sem justificativa.

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“Ao reassumir o poder, Prudente de Morais tomou medidas drásticas. O governador de São Paulo, Campos Sales, que o sucederia na Presidência, foi categórico em relação a Canudos: “Acho que deve acabar com isso já e sem meias medidas”. Para calar os monarquistas do Sul do país, forneceu a receita: “Basta fazê-los intimidar pele polícia [...] suspendendo a sua imprensa e dispersando as suas reuniões [...]. O que se seguiu é bem conhe-cido: empastelamento, no rio de Janeiro, de dois jornais monarquistas (Gazeta da Tarde e Liberda-de) o mesmo em São Paulo, com o Comércio de São Paulo; o assassinato do coronel-jornalista Gentil de Castro, proprietário da Gazeta da Tarde. Es-sas foram ocorrências muito graves, mas que, pro-vavelmente censuradas, não receberam maiores comentários dos Jornais. “Para silenciar a oposi-ção, a República continuava a tomar medidas que nunca haviam sido usadas na Monarquia.” (SAM-PAIO, 2001, págs. 68)

No sertão o pânico se espalhava, a quarta frota avançava para Canudos.

1.3.4 A quarta batalha e a dificuldade derradeira

A última batalha, por todo o histórico das anteriores, toma proporções dramáticas, inexplicáveis e contraditórias. A incoerência e o pensa-mento tomam forma de ficção, delírio febril de uma República ideali-zada com políticos para lá de oportunistas, que não levavam em conta o próprio povo, e não entendiam a própria formação de Canudos, não entendiam que ali viviam miseráveis, fugitivos, vítimas da exploração de várias maneiras tanto da Monarquia quanto da República.

O simbolismo da República como liberdade e fraternidade passa a perder a razão, a barbárie aplicada a Canudos mostra-se completamente irracional. Mas por todos os lados que cercam a po-

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lítica, a opinião é uma só, a única solução para livrar a todos de um grande embaraço é o extermínio de toda a população de Canudos. A República vira uma cortina onde todos se escondem para não mos-trar suas verdadeiras finalidades e delírios.

“No quartel-general do exército abriram-se inscri-ções para o preenchimento dos claros de diversos corpos. O presidente da República declarou, em caso extremo, chamar às armas os próprios de-putados do Congresso Federal; e, um ímpeto de lirismo patriótico, o vice-presidente escreveu ao Clube Militar propondo-se valentemente cindir o sabre vingador. Fervilham planos geniais, idéias raras, incomparáveis. Engenheiros ilustres apre-sentavam o traçado de um milagre da engenharia – uma estrada de ferro de Vila Nova a Monte San-to, saltando por cima da Itiúba, e feita em trinta dias, e rompendo de chofre, triunfantemente, em um coro estrugidor de locomotiva acesas pelo ser-tão Bravio dentro.É que estava em jogo, em Canudos, a sorte da Re-pública...” (CUNHA, 2002, pág. 329)

Euclides mostra no seu livro Os Sertões, o panorama da época, não era só Canudos que despontava como vanguarda desses mo-vimentos religiosos e conglomerados de pobreza. Ele cita Padre Cícero no Ceará, José Guedes em Pernambuco, João Brandão em Minas. Somado a isso o exército vinha de campanhas de guerras constantes, Revolução Federalista a Guerra da Armada entre outros distúrbios menores.

Para os dirigentes da República e do exército não havia ma-neira de lidar com os conselheiristas, o caso era eliminar qualquer traço de existência, para isso elegem o general Arthur Oscar de An-drade Guimarães para comandar um exército de aproximadamente 18 mil homens de diversas patentes e funções, soma essa total do começo ao fim da guerra da quarta expedição segundo Moniz.

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O tamanho da tropa é proporcional a falta de tática, nova-mente há muitos erros e equívocos sobre o terreno. Os jagunços se escondem em diversas trincheiras naturais ou construídas por eles próprios, de mandacarus, xiquexiques, pedras ou qualquer lu-gar que os ocultem bem, são praticamentes fantasmas dOs Sertões. Quanto à formação do exército:

“O chefe expedicionário alongou-se exclusivamen-te numa distribuição de formaturas. Não se preo-cupou com o aspecto essencial de uma campanha que, reduzida ao domínio estrito da tática – se re-sumia no aproveito do terreno e numa mobilidade vertiginosa. Porque sua tropa mal distribuída ia seguir para o desconhecido, sem linhas de opera-ções – adstritas aos reconhecimentos ligeiros fei-tos anteriormente, ou dados colhidos, de relance, por oficiais de outras expedições.” (CUNHA, 2002, pág. 336)

Homens vinham do país inteiro, São Paulo, Pará, Amazonas, para reforçar ainda mais o exército de Arthur Oscar que vinha perdendo a guerra, foi preciso um reforço de mais de seis mil homens para virar a situação. Os jagunços enfrentaram com bravura, vigor e criatividade o exército brasileiro, mas suas forças estavam se exaurindo, muitas mortes se seguiram os canhões bombardeavam Canudos o tempo in-teiro. Morriam famílias inteiras despedaçadas por essas armas que, além disso, destruíam seus templos, ícones do povo Canudense.

“O ódio votado aos canhões, que dia a dia lhes demoliam os templos, arrebatara-os à façanha in-verossímil, visando à captura ou à destruição do maior deles, o Withworth 32, A Matadeira, con-forme o apelidavam.” (CUNHA, 2002, pág. 387)

Finalmente um plano suicida de acabar com a Matadeira é pla-nejado, o filho de Joaquim Macambira* de dezoito anos se habilita

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Figura 3 – Rendição de conselheiristas – Flavio de BarrosFonte: Livro Cadernode fotografia brasileira – Instituto Moreira Salles (2002).

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junto com mais onze companheiros a tentar destruir o canhão. Eles entram no acampamento do inimigo para tentar destruir a podero-sa arma, mas os esforços são em vão “Num segundo os assaltantes se vêem num circulo de espingardas e sabres, sob uma irradiação de golpes e de tiros.” (CUNHA, 2002, pág. 432)

O tempo passa e os jagunços vão agüentando como podem, os reforços do exército começam a vencer e ocupar todos os terrenos, a falta de alimento abatia os guerreiros, nesse meio tempo final da guerra morre Conselheiro, talvez pela miséria da fome que se alas-trou somado pela destruição de todo seu sonho.

Assim uma palavra de Euclides da Cunha revela o caráter do fim da guerra, uma verdadeira “CHARQUEADA”. E por fim termina a saga de Canudos, heróis de uma pátria doente pelo poder, víti-mas de um duelo por interesses que não os pertencia, esperavam o fim do mundo em 1900 em paz, com a volta do reinado de Dom Sebastião, com as profecias de Antônio Conselheiro e o mar ia virar sertão e o sertão ia virar mar. Chegando ao fim com as palavras do próprio Euclides.

Canudos não se rendeu.Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a pal-mo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos de-fensores, que todos morreram. Eram quatro ape-nas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” (CUNHA, 2002, pág. 532)

Apesar desse resumo básico para um entendimento mais profundo do assunto, está dissertação sobre a guerra de Canudos é básica para se entender todo o contexto de forma mais ampla. Canudos ainda fascina, é difícil se ater ao básico de sua leitura, cada linha, parágrafo, página envolve o leitor e o deixa atônito, febril, curioso e transtornado com acontecimentos reais de nossa história. Canudos é visceral, não só porque tivemos a herança do livro de

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Euclides, mas porque o fato em si é extraordinário, a resistência dos jagunços, seu sangue pela defesa da sua terra, as intrigas políticas que se sucedeu ao seu redor, o fato relatado transformaria o pior dos escritores em uma celebridade, no caso com Euclides ela ganha um vigor que o real vira fantástico sem nenhum exagero.

A primeira coisa que vem depois da leitura, foi pensar sobre a linguagem do livro e as demais linguagens que serão discutidas nos próximos capítulos desse trabalho. Mas as variedades das formas abordadas não são tão significativas quanto o conteúdo e a expres-são que se pode dar a ele. Esse é o centro do livro de Euclides, sua força literária supera sua técnica e mostra a todos a nua e crua ver-dade Repúblicana. E é essa força que daremos ao nosso trabalho, to-dos os nervos, idéias e força expressiva para que ele não seja só um trabalho de final de curso, mas uma reveladora lente dos problemas sociais que formaram Canudos e ainda formam nossa sociedade.

A arte verdadeira, a que não se contenta com va-riações sobre modelos prontos, mas se esforça por dar uma expressão às necessidades interiores do homem e da humanidade de hoje, tem que ser re-volucionária, tem que aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade, mesmo que fosse apenas para libertar a. criação intelectual das ca-deias que a bloqueiam e permitir a toda a humani-dade elevar-se a alturas que só os gênios isolados atingiram no passado.*

* Manisfesto da F.I.A.R.I, André Breton e Leon Trotski

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O REGISTRO

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Os acontecimentos da guerra de Canudos proporcionaram registros

preciosos de cada passo até culminar na derrubada de Belo Monte. O livro os “Sertões” teve esse papel de narrativa dos fatos alcançando um patamar de excelência literária que posteriormente influenciou tanto historiadores como artistas. A fotografia de Flávio de Barros exerceu também um papel essencial, mesmo sendo articulada a favor do exército, foi possível visualizar Canudos, sua arquitetura, topografia, os reféns, o exército, suas armas e por fim uma questionada foto de Antônio Conselheiro. Outro objeto de estudo que também registrou os acontecimentos de Canudos, foi à literatura de Cordel, com sua forma regional e popular de expressão, contribuiu bastante para disseminação da história pelas áreas setentrionais.Esta parte é fundamental, pois a compreensão da densidade de sua influência nos faz entender porque se perpetuam até hoje os problemas políticos, desvendando o passado para entender o presente. 63

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2 Breve introdução sobre Euclides da Cunha

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Não poderíamos come-çar um trabalho analítico sobre a obra Os Sertões sem dar ao menos uma introdução sobre a vida de seu criador, o escritor Euclides da Cunha.

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Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em 20 de janei-ro de 1866, na cidade de Cantagalo, no Rio de Janeiro, tendo assim adquirido fortes influências cientificista no final do século XIX e início do século XX. Euclides da Cunha ganhara um destaque entre os escritores contemporâneos, por sua atitude diante da ciência, da arte e também por uma literatura arrojada.

Aos três anos de idade perdeu sua mãe, sendo então criado por suas tias. Euclides sempre cursou colégios muito bem conceitu-ados, ingressando na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e após um ano, passa para a Escola Militar da Praia Vermelha:

“Em 1885 estava na Escola Central, mas em 1886 assentava praça na Escola Militar. Do ponto de vista do estudo, não havia grandes diferenças en-tre as duas - a base de ambas era a Matemática. Do ponto de vista de classe, entretanto, havia di-ferenças importantes e é preciso considerar que, provavelmente, o que o levou a fazer-se engenhei-ro militar, em vez de engenheiro civil, foi a falta de recursos.” (SODRÉ apud SILVA, 2004, p.15).

Euclides, no período que esteve cursando a Escola Militar, so-freu muita influência através do contato direto com a idéia de mo-dernização e participação pública. Ele foi aluno de grandes ícones Repúblicanos, como Benjamim Constant (1836-1891), que exerceu uma grande influência sobre os alunos da Escola Militar, assim como nos alunos da Escola Politécnica, aonde também lecionou.

Portanto a escola militar foi essencial para a formação de Eucli-des da Cunha, de tal forma que o mesmo passou a considerar a socie-dade Repúblicana como a mais sublime e elevada, passando inclusive a escrever sobre essas idéias na revista da escola militar.

Contaminado pela idéia Repúblicana de Benjamin Constant, e dos cadetes, lançou sua arma aos pés do Ministro da Guerra do Império, demonstrando que não reverenciaria um monarca e que considerava absurda a idéia de que o exército Repúblicano o fizesse. Com essa atitude, Euclides da Cunha foi reprimido pelo Conselho

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Disciplinar, se retirando em 1888 da escola militar.Logo após sua saída do exército, Euclides vai para São Paulo,

aonde escreve o seu primeiro artigo destinado a um novo jornal Repúblicano, A Província de São Paulo, que posteriormente passa a se chamar, O Estado de São Paulo.

Quando fora anunciada a proclamação da República, Euclides da Cunha foi reintegrado à Escola Militar do Rio de Janeiro e sendo promovido. Entrou na Escola Superior de Guerra, tornando-se o 1° Tenente, e também Bacharel em Ciências Físicas, Naturais e Mate-máticas. Euclides foi reconhecido e admirado por sua coragem de passar de um papel de insubordinação para o de defensor da Repú-blica, e tendo como discurso que o ideal Repúblicano seria a igual-dade para todos.

O retornado ao exército reforçou ainda mais sua real vocação, levando Euclides da Cunha a redigir artigos para jornais militares.

No ano de 1897, quando se iniciou a guerra de Canudos, Eucli-des da Cunha redigiu A Nossa Vendéia, dois artigos que chamaram a atenção pelo fato de identificar o movimento sertanejo baiano, com outro ocorrido na França que se colocava contra a Revolução de 1789, onde se acreditava ser uma tentativa de restauração da monarquia.

Os artigos A Nossa Vendéia, resultaram para Euclides da Cunha no convite por parte do Estado de São Paulo para que ele presen-ciasse o final do conflito de Canudos como um correspondente de guerra.

Euclides da Cunha não permaneceu até o final da guerra, vol-tando do sertão debilitado e muito doente, porém com material su-ficiente para escrever a obra Os Sertões.

Sofrendo, como testemunha ocular, o impacto tremendo da carnificina, o caboclo Repúblicano - que se definia como um misto de celta, de tapuia e grego – e futuro autor de Os Sertões, regressa doente e alquebrado, de Canudos, já com a idéia de escrever um livro vingador. (VIDAS LUSÓFONAS, online).

Voltando do sertão e com o fim da guerra, Euclides retoma seu serviço como engenheiro.

O livro Os Sertões, a principio seria intitulado como A Nossa Vendéia, contudo, os trabalhos científicos sobre a população e os

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meios físicos em que viviam os sertanejos fizeram com que Euclides relatasse o todo e não só a guerra, além disso, conclui que no sertão baiano não havia nenhum movimento monarquista, portanto não justificando a utilização do nome A Nossa Vendéia.

O livro Os Sertões rendeu a Euclides da Cunha reconhecimen-to a ponto de ser convidado a integrar a Academia Brasileira de Le-tras. Além disso, foi convocado a associar se ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Na obra de Euclides da Cunha avistamos varias teorias, que estavam “no auge” da época, influênciando-a. O código posto em prática em 1874 na Escola Militar foi implantado num “ambiente intelectual já permeável às doutrinas cientificistas, de cunho positivista, evolucionista ou determinista.” (SANTANA, 1998, pág. 35)

Por conta de a escola militar ter adotado o modelo francês, ti-nha como característica dar ênfase aos estudos matemáticos e a um currículo que abrangia as ciências básicas para desenvolvimento de um engenheiro. Esses estudos foram de grande relevância para o conhecimento existente em Os Sertões,

“se compararmos as áreas de conhecimento que lá são mobilizadas com o currículo da Escola quando ele era aluno, verificamos que ele já estava fami-liarizado com boa parte delas. Tinha estudado na Escola química orgânica, mineralogia, geologia, botânica, arquitetura civil e militar, construção de estradas, desenho topográfico, ótica, astronomia, geodésia, administração militar, tática e estraté-gica, história militar, balística, mecânica racional, tecnologia militar e a matemática. (...) Como ma-térias de currículo, não teriam sido obrigatoria-mente estudadas a fundo, conforme se percebe no livro, mas é com vistas afinadas para estes saberes que Euclides avalia Canudos e a guerra.” (SANTA-NA, 1998, pág. 43)

O fato de algumas teorias não se relacionarem com o conhe-

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cimento da engenharia de Euclides, acontece por causa da relação com as correntes cientificistas, que em diversas vezes não ocorriam exclusivamente nas salas de aula, mas

“incorporadas ao cotidiano dos alunos através de revista e sessões de sociedades estudantis, onde poderiam acompanhar os debates das teorias cientificistas mais modernas, como as de Spencer, Haeckel e Darwin.” (SANTANA, 1998, pág. 35)

Além de Os Sertões, Euclides da Cunha escreve sobre o conflito entre Peru e Bolívia.

Euclides da Cunha falece no dia 15 de agosto de 1909 em um duelo com o amante de sua esposa.

Apesar de sua morte trágica, Euclides da Cunha é eterno, por ter sido capaz de desvendar e apresentar a Guerra de Canudos para diversas gerações até os dias de hoje. Portanto, consideramos im-portante analisar a obra como uma linguagem que reflete a vida, os anseios e tudo aquilo que foi presenciado por ele.

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3 Análise do livro Os Sertões

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A obra Os Sertões foi escrita por Euclides da Cunha e publicada em 1902. Relata a determinação do messias Antônio Conselheiro e seu povo, que contrariando os interesses da ainda jovem repú-blica acabam entrando no con-flito conhecido como a guerra de Canudos, que ocorreu de 1896 a 1897 no sertão da Bahia.

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Dividida em três partes: A Terra, O Homem e A Luta, a obra detalha o solo e as características climáticas, o homem em sua Luta diária para sobreviver e finalmente através de seus ricos detalhes, Euclides da Cunha nos depara uma guerra desigual onde o simples povo sertanejo busca defender suas terras e acima de tudo suas crenças.

Além disso, Euclides nos apresenta as reais atitudes do exérci-to, contrariando suas próprias concepções.

“É um depoimento corajoso sobre a verdade dos fatos (muito recentes quando o livro apareceu), ousando ferir a tradicional intangibilidade das Forças Armadas.” (CANDIDO; CASTELLANO, 1978, pág. 260).

Após sua ida a Canudos, presenciar o fato, apanhar depoi-mentos e ver as vítimas da guerra, ficou tocado com toda aquela matança sem sentido, com os ritos de crueldade dos generais e da complacência do governo, gerando uma insatisfação que por fim culminou na sua grande obra. Euclides então passa a ter outra visão do exército e de sua almejada República e constrói uma obra épica que dava de herança a todas as gerações a reflexão dos problemas sociais não resolvidos no Brasil desde então.

“Como observara José Veríssimo*, um vasto e profundo tratado de ciências humanas, inovador nos métodos, nas teorias e nas conclusões, nas pesquisas de campo e na formulação de conceitos, sobre os estudos do homem, do meio e da socieda-de e cultura brasileira, especialmente o sertanejo.” (BRANDÃO apud CUNHA, 2007. pg. 15)

Portanto, a obra denúncia um Brasil que apesar de afastado nos diz respeito, e só foi possível saber de suas tiranias e miséria

* Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

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por conta do relato real e indignado de um de nossos maiores auto-res, Euclídes da Cunha.

3.1 Concepções em contradição

Averiguamos como a ida a Canudos transformou as concepções políti-cas e ideológicas de Euclides da Cunha, pois fica claro seu descontenta-mento com a República que tanto estimava, sendo o livro um meio que o autor encontra para denúnciar a conduta do exército e a chegada do regime em lugares mais afastados do Brasil. Sua obra alcança seu ponto máximo neste sentido de denúncia no capítulo “A Luta”, onde Euclides relata a inferioridade bélica do povo de Belo Monte, as condições de vida dos sertanejos, do clima e finalmente a desigualdade do Nordeste em comparação com outras regiões do Brasil.*

Euclides então passa a assumir essa conduta e abandona suas concepções para mostrar ao Brasil e ao mundo a desigualdade e a violência que o homem na condição de superior pode chegar.

Portanto todo conhecimento cientifico, antropológico e geo-gráfico que Euclides nos apresenta nas duas primeiras partes do li-vro, não são capazes de definir o que ele vai encontrar na Luta épica entre o exército e os sertanejos, com isso, torna seu depoimento mais humano, porém segue com sua preocupação em detalhar ao máximo as cenas que presenciou, valorizando em diversos momen-tos os casos isolados.

Segundo alguns autores, Euclides têm uma conduta um pouco preconceituosa em sua análise sobre o povo de Belo Monte, e tam-bém afirmam que o autor os desvaloriza de sua condição humana.

Euclídes apesar da empatia e compaixão pelo ser-tanejo, de vez em quando recai em caracterizações que desumanizam este.[...] Euclídes expressa a ad-miração pelos canudenses em vocábulos que tendem a privá-los de sua qualidade humana, atribuindo-lhes uma “agilidade de símios, deslizando pelas ca-atingas como cobras... (ZILLY, 1997, pág. 38).

* Ver no primeiro capitulo os problemas políticos e as contradições que resultam em Canudos.

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Apesar de determinados autores afirmarem isso, podemos observar que Euclides usou os termos para ressaltar a agilidade e a força dos jagunços, demonstrando assim sua admiração por essas características do povo de Belo Monte, além disso, a todo tempo o autor nos fala do clima como se não conseguisse acreditar que em condições tão difíceis os homens conseguissem sobreviver e ainda serem resistentes e estratégicos como eram os jagunços.

Portanto mesmo com a diversidade de afirmações sobre sua obra, estilo e ideologia, Euclides condensou em A Luta todo signi-ficado e drama real vivida naquela batalha. Suas contradições in-ternas eram reflexos da contradição política que o país vivia, mas sua força literária não conseguiu esconder como aquela situação foi uma charqueada e acima de tudo, como todo seu conhecimento e formação anterior não foram capazes de explicar os momentos que presenciou. Assim surge um novo Euclides que se condensa no livro Os Sertões.

3.1.1 Contradições que geram diversas definições

Portanto encima dessa transição há duas definições sobre o desenrolar da obra Os Sertões. Em uma, se pontua que a obra é es-crita em três partes, com a idéia de que a primeira, no caso A Ter-ra e a segunda, O Homem, tiveram como intuito, situar o leitor e prepará-lo para A Luta, onde Euclides explora minúcias, detalhes e situações isoladas para que o leitor sinta a dramaticidade do mo-mento. Já em uma segunda análise, se coloca que Euclides se mo-difica, isto é, de um escritor geográfico, para um antropologista e seguindo essa linhagem, chega ao último capítulo “A Luta” com a sua máxima sensibilidade a toda aquela imagem da guerra, portan-to para essa análise, Euclides no início do livro é um e se torna outro no final do mesmo.

“O poeta viu Os Sertões com um olhar mais pro-fundo que o de qualquer geógrafo puro. Que o de qualquer simples geólogo ou botânico. Que o de qualquer antropologista.” (ZILLY, 1997, pág. 34).

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Acreditamos que a primeira definição é a mais correta, pois Euclides escreve o livro cinco anos após sua ida a Canudos, portan-to já havia passado por todo tipo de sensação dada pelo combate e região, não sendo justificativa para suas variações nos capítulos, além disso, para as grandes cidades da época, a população, o modo de vida e as condições climáticas daquela parte do Brasil eram total-mente desconhecidas, tornando necessário descrever para os leito-res, antes de mostrar o combate em si. Com isso Euclides situou os leitores e fez com que os mesmos pudessem imaginar o que havia se passado, visualizando os cenários, o simples povo de Belo Monte e seus costumes.

Além das definições citadas acima, outra polêmica existênte gira em torno da questão: Sua obra é jornalística ou literária? Al-guns autores a consideram jornalística pela precisão e preocupa-ção em relatar os detalhes e a utilização de termos capazes de gerar idéias complexas, além disso colocam que Euclides por ter como profissão o jornalismo, tornou sua obra um relato jornalístico.

“Os Sertões é um caso de jornalismo literário, na medida em que alia a notícia e a análise de cir-cunstâncias a certos recursos que realçam o pri-mor da linguagem, tais como a escolha refletida de termos, palavras, expressões, o acabamento de idéias, o impacto de certas imagens que sinte-tizam noções complexas, o uso sistemático de ex-pressões livres que servem para ampliar a notícia em sentido estrito.” (CORDEIRO apud SANTOS, 2008. pg. 45)

Porém existem outros autores que consideram sua obra li-terária, por Euclides se desprender das amarras, isto é, não se limitou somente em escrever as matérias, pois sabia que estava diante de uma guerra, onde a injustiça prevaleceu, a república se mostrou oposta ao que se dizia e diante de uma experiência que o fez perceber a desigualdade do país. Portanto Euclides deu ao epsódio muito mais do que páginas em um jornal, mas sim a voz

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necessária para que todos pudessem saber e sentir o mesmo que ele no campo de batalha.

“Os Sertões como obra literária começou a existir no momento em que o escritor se libertou dos obje-tivos utilitários da tarefa recebida e decidiu criar uma nova configuração do material que levantou.” (CHOCIAY apud SANTOS, 2008. pg. 44)

Mesmo com as variadas afirmações que fazem sobre sua obra e seu comportamento, existem características que permanecem, como por exemplo, o gênero literário.

3.2 Gêneros Literários do período

Entre os anos de 1875 e 1922, o Brasil passa por um período bem diversificado de gêneros literários, que surgem por conta da Inde-pendência do Brasil, acarretando na modernização das cidades e com isso de suas instituições.

“O primeiro período, em nossa literatura, que apre-senta um panorama completo da vida literária, com todos os gêneros modernos florescendo, com as ins-tituições culturais se multiplicando, com periódicos numerosos e relativamente lidos.” (CANDIDO; CAS-TELLANO, 1978, pág. 89).

O primeiro movimento que surge nesse período é o Roman-tismo, que tem como característica, a idealização do real. Apesar de em muitas histórias se apegar a fatos verídicos, os mesmos não são levados como ponto principal da estruturação da prosa.

Portanto nesse período surge o Romantismo, como um movimento ligado a filososfia espiritual e idealizador da realidade, que após um período de atuação passa a ser combatido pelo Realismo e

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Naturalismo. (CANDIDO; CASTELLANO, 1978, pág. 91).

O movimento realista, combate duramente essa realidade ide-alizada do romantismo, expondo finais mais obscuros, isto é, nem tudo acaba bem como acontece na prosa romântica.

Já o movimento Naturalista, que é na realidade, um estilo, portanto pode surgir em diversas épocas, teve como sentido, os no-vos rumos das ciências naturais, procurava explicar cientificamente o comportamento dos personagens, por meio dos fatores externos como a natureza biológica e sociológica.

“Naturalismo”, no sentido amplo, significou a bus-ca de uma explicação materialista para os fenôme-nos da vida e do espirito, bem como a redução dos fatos sociais a seus fatores externos, sobretudo os biológicos (...) E os partidários das novas idéias foram levados a investigar os caracteres originais da nossa sociedade, à luz do determinismo da raça e do ambiente ao mesmo tempo em que divulga-vam e aplicavam à política, ao direito, à literatu-ra, os princípios das novas filosofias européias, com o positivismo e o evolucionismo, principais encarnações do materialismo de origem científica. (CANDIDO; CASTELLANO, 1978, pág. 91).

Apesar de todas essas concepções que envolviam o estilo Na-turalista, podemos dizer que no livro de Euclides da Cunha, seu ma-terialismo é anterior ao tipo de materialismo marxista, pois como a grande maioria dos materialistas antecedentes a Marx, acreditavam que as respostas estavam na situação visível naquele momento. No caso de Os Sertões, o autor considerou injusta a vida dos sertanejos e lá percebeu a desigualdade, mas em seu livro se apega somente a situação que viveu, anulando o passado que culminou naquilo. Já no materialismo dialético de um modo geral, a sociedade esta em constante movimento e suas modificações são dadas pelo meio, po-

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rém o homem também é ativo nessas mudanças e não um simples espectador.

Nesse sentido restrito, Naturalismo significa o tipo e o modo de ser dos personagens por meio dos fatores externos (...). Os seres aparecem então, como produtos, como conseqüências de forças pre-existentes, que limitam a sua responsabilidade e os tornam, nos casos extremos, verdadeiros jogue-tes das condições.” (CANDIDO; CASTELLANO, 1978, pág. 95).

Apesar de serem essas as características do naturalismo, não podemos desconsiderar que cada movimento artístico surge através de um descontentamento do que era realizado pelo anterior, e no caso do naturalismo o mesmo não agiu só, realismo e naturalismo, foram um movimento e estilo que contribuíram juntos para uma análise menos romancista, levando a algo mais científico e realista. Já no caso do livro Os Sertões ficam claras as aplicações, pois Eucli-des detalha a região e o homem com um cientificismo e posterior-mente onde seu choque se torna mais forte, percebe a importância de relatar a batalha tal como ela foi, apresentando para o Brasil e o mundo a realidade dos sertanejos e de um pais desigual.

Assim, Os Sertões, conhecido também por ser uma obra vin-gadora, faz com que a população até os dias de hoje saiba o que ocorreu em 1896 e 1897 no sertão baiano, portanto Euclides segue com sua denúncia, que com o passar dos anos tomou novas formas e novas linguagens, como no cinema e no Cordel, fazendo de seu discurso sempre vivo e acima de tudo presente, já que a discussão tratada por Euclides, continua sem solução.

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4 A Fotografia

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A fotografia na história do registro do homem e do seu meio teve gran-de valia para armazenar momentos importantes, substituindo a pintura como registro da realidade. Ela surge no começo do século XIX e no Brasil ela tem um papel de destaque com o fotografo e desenhista Hércules Flo-rence. Juntamente com vários outros inventores e cientistas de sua época espalhados pelo mundo Herculano descobre a fotografia e da a ela a mes-ma denominação ao qual estamos habituados a chama-la “Fotografia”. Colocando o Brasil como um dos pio-neiros dessa invenção.

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Discutindo sobre a capacidade da fotografia não podemos redu-zir-la há um mero objeto de captura dos fatos, sua subjetividade nos apresenta muito mais do que se pode ver a priori. Ela descreve gra-ficamente histórias que não são possíveis investigar sem um estudo do momento que ela é registrada, mostrando que a aparência da foto não é em si o todo de um contexto. Assim ela se mostra uma poderosa forma de representar a realidade e serve muito bem para impor uma ideologia, contar uma história, desvendar um fato e apreender sobre uma época determinada pelo registro de características gerais.

No caso da Guerra de Canudos, a fotografia jornalística teve um papel fundamental para o governo da época, registrando a di-fícil vitória do exército contra o povoado de Canudos. Servindo de fundo ideológico para acalentar o medo e a expectativa do povo e elevar a auto-estima do governo, da parte deste depois que venceu a guerra. Não há outras fotografias de Canudos fora desse contexto.

Flávio de Barros foi o fotografo do exército Repúblicano, en-viado justamente para retratar os acontecimentos da guerra. Mas será que ele fotografou o que correspondia verdadeiramente à re-alidade dos acontecimentos? Sua ideologia sendo Repúblicana em favor do exército não o faria tendencioso como fotografo? E uma última pergunta, bastante comentada por muitos meios de comu-nicação, a foto que se atribui a morte de Antônio Conselheiro é le-gitima? Seria ele mesmo esticado no chão morto pelo exército, ou uma pessoa qualquer, usado apenas para criar, ou melhor, quebrar o mito de Conselheiro para o povoado da região? Essas perguntas podem ser analisadas por Boris Kossoy, um renomado estudioso da fotografia que traz questões que podem trazer alguma luz para es-ses acontecimentos, com um estudo profundo da própria realidade da fotografia, ou melhor, de suas realidades.

4.1 As realidades da fotografia

Para entender o próximo ponto da discussão sobre a foto de An-tônio Conselheiro tirada por Flávio de Barros é necessário ter um método de análise que seja possível separar a ideologia formada en-cima da fotografia e a sua realidade histórica, com um estudo sobre

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o meio que ela surgiu e suas referências. Uma foto apesar de repre-sentar a realidade não é a representação de uma realidade absoluta da história, e pode através de intenções diversas serem adulteradas ou mesmo estar a serviço de montagens de outros indivíduos, seja por qual for o motivo.

“As diferentes ideologias, onde quer que atuem, sempre tiveram na imagem fotográfica um pode-roso instrumento para veiculação das idéias e da conseqüente formação e manipulação da opinião pública...” (KOSSOY, 2002, pág. 20)

Fica mais claro na citação acima, que a fotografia não se isen-ta de seus pressupostos ideológicos, e há de ser analisada quando usada de forma a condensar conceitos que são transmitidos como uma realidade factual.

“Assim como as demais fontes de informação his-tórica, as fotografias não podem ser aceitas ime-diatamente como espelhos fiéis dos fatos. Assim como os demais documentos elas são plenas de ambigüidades, portadoras de significados não ex-plícitos e de omissões pensadas, calculadas, que aguardam pela competente decifração.” (KOS-SOY, 2002, pág. 22)

4.1.1 Fotos históricas Manipuladas

Há muitos exemplos na história de bizarras manipulações fotográ-ficas, no caso, uma bem conhecida aparece na época em que Stalin sobe ao poder no Estado Soviético. Após a morte de Lênin, o legado da revolução é disputado por dois nomes do partido Bolchevique, Trotsky e Stalin. Este último, um burocrata, assume o poder e ex-pulsa Trotsky e muitos outros membros do partido Bolchevique. Após essa revira volta dentro da revolução, Stalin por motivos prá-ticos e ideológicos acaba com qualquer arquivo que traga a lembran-

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ça dos membros expulsos, no caso da fotografia, como muitas delas havia a figura de Lênin eles acabam, por fazer montagens para tirar quem quer que fosse da ala exonerada. Ao lado há um exemplo de manipulação de um foto histórica, repare que, na foto acima, onde Trotsky com a mão no cape não está mais presente na outra foto ,logo abaixo. Um claro exemplo de deturpação e manipulação de da-dos históricos para conveniência ideológica. Mas há manipulações ao qual você não precisaria fazer nenhum tipo de retoque ou alte-ração do original, e é esse tipo de foto que será posta em discussão, de acordo com o conceito de primeira realidade, segunda realidade, realidade interior e realidade exterior.

4.1.2 Primeira Realidade e realidade Interior

O passado de uma foto extraída do mundo real possui um instante, um campo de materialidade que não está mais no presente, mas contida em um determinado tempo composta por um conjunto de fatores, como as técnicas usadas e a ação do fotografo que vislum-bra, captura e revela a fotografia.

“A Primeira Realidade é o próprio passado. A pri-meira realidade é a realidade do assunto em si na Dimensão da Vida Passada; diz respeito, à Histó-ria Particular do Assunto independentemente da representação posto que anterior e posterior a ela, como, também, ao contexto deste Assunto no Mo-mento do ato do registro. É também a realidade das ações técnicas levadas a efeito pelo fotografo diante do tema – fatos estes que ocorrem ao lon-go do seu Processo de Criação – e que culminam com a gravação da aparência do assunto sobre um suporte fotossensível e o devido processamento da imagem, em determinado Espaço e Tempo. São es-tes fatos fotográficos diretamente conectados ao real.” (KOSSOY, 2002, pág. 22)

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Observando a foto do “suposto” Antônio Conselheiro, e apli-cando a regra da primeira realidade para entendê-la podemos obser-var na foto abaixo como ela se aplica, veja que para realização desta fotografia ambos os elementos se encontram para materializá-la. Essa discussão não levanta a ideologia que motiva a fotografia, cabe apenas o processo de sua criação e realização, desde a escolha do assunto como o enquadramento ideal, seus processos técnicos de criação que levantam a tecnologia usada e o conhecimento instru-mental do fotografo, o tempo e espaço nela inserida que vai do local a época de sua materialização e a dimensão da vida que engloba a reali-dade da foto e sua existência de fato o que se vê como reprodução de uma realidade. E o fundamental de tudo isso que é o assunto a ser selecionado onde se aplica as características acima. Como exemplo desta tese na foto de Flávio de Barros, antes de se perguntar se era ou não o Antônio Conselheiro que ali estaria estendido, há uma re-alidade que demonstra a dimensão da vida passada com um sujeito enquadrado em um determinado angulo, sujeito de um processo técnico de fotografar e revelar, que se define no tempo datado no caso 1897 e no espaço no Arraial de Canudos no sertão Baiano.

O que não é possível notar nessa foto, e sim deduzir através de estudos ou aproximação da época é que há uma história por trás dela, isso segundo Boris Kossoy é a sua realidade interior.

“Toda e qualquer imagem fotográfica contém em si oculta e internamente, uma história: é a sua re-alidade interior, abrangente e complexa, invisível fotograficamente e inacessível fisicamente e que confunde com a primeira realidade em que se ori-ginou.” (KOSSOY, 2002, pág. 36)

Assim há uma história por trás dessa foto, onde há todo um contexto que levou ao desfecho da morte de Antônio Conselheiro. A história que levou a esse momento fica ali dentro oculta naquele espaço fotografico. Se foi outra pessoa que fora usada para se passar por Conselheiro não cabe nesse momento dizer, pois a realidade in-

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terna é certa, mas as especulações não, o passado fica aprisionado, e o fato real junto com ele, mesmo parecendo contraditório, pois a fotografia é o recorte do real, mas há nela um significado ideológico, atribuído por pressupostos que conduzem a idéia sobre ela a outros pensamentos, que talvez seja reflexo de um ideologia imposta para revelar outra realidade, que discutiremos melhor no próximo ponto.

4.1.3 Segunda Realidade e realidade Exterior

A segunda realidade é a do documento em si, sua forma real aprisiona a primeira realidade na bidimensão, ela é própria materialização da fotografia, independente do suporte, como tipos diferentes de papel. Ao manipular uma foto, pega-la de um porta-retratos e olhar fixa-mente, está se vendo a segunda realidade. O passado aprisionado em papel reflete a realidade imediata, a realidade exterior da fotografia.

“A segunda realidade é, a partir do conceito acima, a realidade fotográfica do documento, referência sempre presente de um passado inacessível. Toda e qualquer fotografia que vemos, seja o artefato fotográfico original obtido na época em que foi produzido, seja imagem dele reproduzida sobre outro suporte ou meio (fotográfico, impresso, sob diferentes formas.), será sempre uma segunda re-alidade. O assunto representado configura o conteúdo ex-plicito da imagem fotográfica: a face a aparente e externa, de uma micro-história do passado, cris-talizada expressivamente. É esse aspecto visível a realidade exterior da imagem, tornada documen-to. É está a sua natureza comum a todas as ima-gens fotográfica e que se constitui em sua segunda realidade.” (KOSSOY, 2002, pág. 37)

Essa realidade não possui a primeira realidade explicita, e pode ser submetida à manipulação ideológica, pois não é possível adivi-

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nhar todo seu contexto, sem um profundo conhecimento histórico da época em que foi retratada. Nesse caso abre-se a discussão sobre fotografia de Antônio Conselheiro tirada por Flávio de Barros.

4.1.4 Construção da representação

Com os pressupostos levantados da primeira e segunda realidade, é possível que qualquer um questione a veracidade da foto de Con-selheiro. Mas porque questioná-la? Primeiro não é possível ter cer-teza absoluta que era mesmo o Conselheiro, poderia ser qualquer um, que usasse uma túnica. Mas porque questionar esse fato? Pois ai que está à necessidade de se entender os fatores históricos e não cair apenas nas aparências. A guerra de Canudos abriu uma grande crise em todo território Brasileiro, principalmente na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. A vitória do povo de Antônio Conselheiro três vezes consecutivas e sua resistência a quarta investida, abriu uma revolta popular e política que colocou o país em crise e manchou a reputação da nascente República, seja por incompetência seja por violência. Mas a priori, o que mais causou desordem, nas grandes capitais principalmente, era saber que a monarquia estava triun-fando em uma contra ofensiva, submetendo a consecutivas derro-tas o exército deixando o povo em pânico.

Com a derrota total de Canudos depois de várias investidas e reforços do exército, a figura principal de Canudos já havia falecido, Antônio Conselheiro morrera antes, e criou-se um medo que ele tivesse fugido para criar outra cidade e continuar a guerra. O exérci-to aflito com essa perspectiva, poderia muito bem montar um fato para provar a toda população que Conselheiro estava morto, fazen-do com que o fotografo, a mando do exército por sinal, fotografas-se qualquer pessoa com características parecidas com a de Antônio Conselheiro. Mas não se sabe de fato se foi assim, a verdade cor-rente é que essa foi à foto Exumada de Antônio Conselheiro, em estado de deterioração, Mas mesmo sendo realmente o Conselheiro como os estudos indicam, foi necessário desenterrá-lo para provar sua morte para todos o país, revelando já naquela época a força que uma foto possuía para trazer a certeza.

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“As raras representações dos inimigos conselhei-ristas acentuam a condição de derrotados como nas celebres imagens Bom Jesus Antônio Conse-lheiro, depois de exumado, e quatrocentos jagun-ços prisioneiros. No caso específico da imagem do cadáver de Antônio Conselheiro, a fotografia as-sume a condição de inequívoca de “prova” do fim do conflito, anexada posteriormente ao relatório final elaborado pelo auto comando militar...” (AN-DRADE, IMS, 2002, pag. 238)

Outra das características das fotos de Flávio de Barros, foi as que retratou do exército, mostrando-o de outra maneira que não correspondia a realidade com ares benéficos, rigidez de disciplina e assistencialistas. Antagônico a história de Euclides da Cunha em seu livro Os Sertões, onde este exibe a barbárie animalesca de um exército que matava crianças e mulheres sem restrições. Assim a fotografia toma o papel de polir o grotesco e criar uma imagem que não correspondia com a realidade registrada pelos jornalistas, lite-rários e dos depoimentos das testemunhas.

“No que tange especificamente à fotografia em questão estava em jogo um assunto polêmico, ou seja, o tratamento dispensado aos conselheiristas presos pelo exército, principalmente nos últimos dias do conflito. Contrapondo-se à afirmação do historiador militar, frei Sinzig fez a seguinte ano-tação em seu diário (10 de outubro de 1897), ao relatar os maus-tratos dispensados a uma mulher nos últimos dias de sua gravidez: “[...] incompreen-sível que os médicos militares tão pouco se tenham incomodado com os prisioneiros. Sobremaneira re-voltante era o serem mulheres freqüentemente in-sultadas pela soldadesca. “Quanta crueldade não desperta o tempo de guerra”. [...] As fotografias de Barros evocam, portanto, inúmeros sentidos, que

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superam o “o olhar realista” ou “inocente” atribu-ído ao fotografo, na medida em que representam um modo de estar diante dos fatos, especialmente num momento especial para o exército, já durante criticado por seus fracassos táticos, e da necessida-de de representar o “barbarismo” sertanejo, idéia amplamente aceita entre os adeptos do “progres-so”. (ANDRADE, IMS, 2002, pag. 288, 289)

É possível imaginar como essa discussão toda sobre a foto-grafia pode servir para fins de registro, documento e determinar características de uma determinada época, mas também pode ser utilizada para distorções da realidade a favor de uma ideologia oportunista resto da história, quando não há nenhum outro meio para extrair a verdade e compará-la.

Apesar de abordamos os aspectos das realidades da fotografia, com ênfase no trabalho de Flávio de Barros sobre Antônio Conse-lheiro, nossa finalidade é demonstrar o poder de uma foto e do fo-tografo, no caso um fotojornalista, que trabalha capturando a his-tória que de certo modo influência cabeças e pensamentos, abrindo novos horizontes de conhecimento e registro. Mas há outro lado também, como discutido no capitulo anterior, o fotografo pode estar por traz de uma ideologia oportunista, e com isso alterar a realidade dos fatos, que na maioria das vezes surge por interesses corporativos.

Trabalhar com a fotografia no momento contemporâneo será um dos recursos de linguagem a ser usado na hipermídia, inter-ligando fatos que também trazem a discussão das realidades foto-gráficas para o momento atual. Com essas ferramentas conceituais será mais clara a percepção do usuário do que queremos passar. Há muitas outras histórias iguais à de Canudos hoje em dia, nosso pa-pel na Hipermídia também será demonstrá-las, fazendo o futuro refletir no passado.

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Figura 8 – O Corpo Sanitário e, deitada na maca, uma conselheirista ferida – Flávio de Barros 1987Fonte: Livro Cadernode fotografia brasileira – Instituto Moreira Salles

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5 A Literatura de Cordel

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A literatura de Cordel, parte constituin-te da história nacional, é uma lingua-gem que também explora a Guerra de Canudos. Essa rica literatura de cunho popular visa disseminar informação aos quais todos os públicos podem ter acesso, sem requerer algum tipo de pré-conhecimento. Portanto explora a guer-ra de Canudos puramente como des-crição dos fatos, ou seja, uma impres-são pessoal do cordelista a respeito do acontecimento, de maneira folclórica ou romantizada, tendo como base, tes-temunhas do episódio ou antigos cor-déis contemporâneos à guerra. Assim sendo, contextualiza, opina e também se vale de tons jornalísticos, tornando o fato parte da história, e a história como reconstituição do fato.

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Figura 11– O interrogatório de Antonio Silvino. Fonte: Livro História do Brasil em Cordel (2003).

Figura 9 – Antonio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Fonte: Livro História do Brasil em Cordel (2003).

Figura 12 – Lampião, o rei do cangaço Silvino. Fonte: Livro História do Brasil em Cordel (2003).

Figura 10 – A briga de Antonio Silvino com Lampião no inferno. Fonte: Livro História do Brasil em Cordel (2003).

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O nome Cordel deu-se originalmente pela forma de comercia-lização dessas obras em Portugal, onde os folhetos eram pendurados em barbantes ou cordões, que lá são chamados de cordéis. Os por-tugueses foram os grandes responsáveis por trazer a literatura de Cordel ao Brasil junto com sua colonização.

“Vinda de Portugal, por volta do séc. XVI, era cha-mada de “folhas soltas”. Chegou no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia, pre-cisamente em Salvador.Dali, se irradiou para os demais estados do Nordeste.” (umojabrasil, online)

Por volta do século XIX, começaram a ser produzidos os fo-lhetos da literatura de Cordel brasileira, contando com inúmeras e próprias características, sempre se valendo de histórias que conta-vam os fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas folclóricas, religião, personagens do imaginário dos próprios autores, entre muitos outros.

“Consiste, basicamente, em longos poemas nar-rativos, chamados “romances” ou “histórias”, im-pressos em folhetins... falam de amores, sofrimen-tos ou aventuras, num discurso heróico de ficção.” (CURRAN, 2003, pg. 17)

No Brasil, a literatura de Cordel é tipicamente nordestina, onde uma infinidade de poetas populares produzem diversos textos e folhetos do gênero, com grandes raízes nos estados de Pernambu-co, Paraíba, Bahia e Ceará, sendo comercializados em feiras, casas voltadas a cultura, livrarias e através das próprias apresentações dos cordelistas, que recitam esses poemas de forma melódica, acom-panhados muitas vezes de uma pequena viola para conquistar pos-síveis compradores, que se engraçam por essa rica literatura, que através destes versos, com fortes características em sua forma de escrita, com ritmo e rimas são ilustrados por xilogravuras, estilo de desenhos que ilustram a capa dos folhetos.

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A linguagem utilizada pelos poetas possui um cunho popular e tem como grande objetivo o entendimento e abrangência a todos os públicos.

O Cordel, tanto em sua forma escrita quanto em sua forma re-citada pode ser considerado memória, documentação e registro da história do Brasil, sendo retratados por seus cordelistas que, além de poetas, podem ser considerados também jornalistas, conselhei-ros do povo e historiadores populares, criando crônicas de época.

O Cordel vive em constante mutação e hoje é parte constituin-te da história popular brasileira. Nos anos 60 teve grande produção e consumo em sua região de origem, sendo disseminada pelo país através dos imigrantes nordestinos, principalmente no centro-sul do Brasil. Embora tenha havido uma grande redução tanto no nú-mero de produções quanto no número de leitores do Cordel ele ain-da sobrevive e continua cumprindo tanto sua função de informar quanto de levar essa tão rica cultura para outros cantos do país e do mundo.

“O Cordel, mais uma vez, é caracterizado como meio híbrido: popular em termos de produção, dissemina-ção e consumo, enquanto conservadoramente folclóri-co no pensar de seus poetas tradicionais e do público.“ (CURRAN, 2003, pg. 19)

Nos dias de hoje, as produções dos Cordelistas podem ser consideradas restritas no sentido de que existem poucas produções novas, com novos temas ou novos poetas, isso é constatado tanto para romances, histórias longas quanto para narrativas breves que contavam eventos locais, ou religiosos.

5.1 Os fatores sociais e históricos na linguagem dos cordéis e sua relação com a cultura popular

A literatura de Cordel brasileira, que é produzida essencialmente no nordeste do país, pode ter como uma das grandes contribuições da cultura popular a literatura e as artes plásticas nacionais, essa forma

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de expressão é uma maneira da qual cordelistas e escritores se valem de seus versos para tratar de variados assuntos, desde romances, his-tórias folclóricas até histórias criadas do imaginário de cada autor. Com opiniões diversas que vão de criticas políticas a gozações de desa-fetos pessoais. Também contam desafios, aventuras ou fatos reais que atingem distintos públicos se utilizando de sua linguagem simples e de seus versos ritmados, para veicular informação e levar ao povo mais sabedoria e de trazer junto a esses contextos, arte e a poesia.

“O Cordel como crônica poética e história popular é a narração em versos do “poeta do povo” no seu meio o “jornal do povo”. Trata-se de crônica po-pular porque expressa a cosmovidão das massas de origem nordestina e as raízes do nordeste na linguagem do povo.” (CURRAN, 2003, pg. 20)

Segundo Lessa (1964), no nordeste do país é comum se deparar com bancas que comercializam esses folhetos que caracterizam a litera-tura de Cordel e são utilizados para informar o povo, pois além de todos os assuntos citados acima o Cordel também leva informações sobre desastres, secas, reviravoltas políticas e muitas vezes com certo tom de ambigüidade literária, com sátiras, ditados populares, mistura de palavras, termos regionais, entre tantos outros.

“É assim que o sertanejo tem guardado tudo quanto ocorreu no sertão, desde qua ali vieram seus avós, d´além-mar... Perpetuou em versos os primeiros obstáculos vencidos e as primeiras lutas, as festas religiosas e profanas, as terríveis misérias das cri-ses climáticas, a vida venturosa dos vaqueiros, as proezas dos novilhões barbatões ou criados na vida selvagem, e das onças devastadoras dos rebanhos.[...] Consertou crenças e tradições, rebeldias ma-tutas, lutas dos cangaceiros.“ (BARROSO, 1949, pg. 7-10)

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Cordel pode ser qualificado como divulgador de fatos históri-cos, pois eles retratam também eventos reais que formam uma nar-rativa partindo de algum meio de informação regional ou nacional, a enraizado na perspectiva popular, assim, fazendo-se valer de um tom jornalístico que também lhe é peculiar. A produção dessas obras chegou a centenas de títulos por ano, um bom exemplo desta pro-dução jornalística e da literatura de Cordel como forma de informar e propagar a informação, pode-se citar a morte de Getúlio Vargas (1954), que quando foi anunciado através do rádio, o cordelista De-larme Monteiro da Silva a reproduziu e escreveu um Cordel “A la-mentável morte de Getúlio Vargas” que retratou através de sua escrita o acontecimento e vendeu mais de 70 mil cópias em aproximada-mente 48 horas.

“É assim que o sertanejo tem guardado tudo quan-to ocorreu no sertão, desde qua ali vieram seus avós, d´além-mar... Perpetuou em versos os pri-meiros obstáculos vencidos e as primeiras lutas, as festas religiosas e profanas, as terríveis misé-rias das crises climáticas, a vida venturosa dos vaqueiros, as proezas dos novilhões barbatões ou criados na vida selvagem, e das onças devastado-ras dos rebanhos.[...] Consertou crenças e tradições, rebeldias ma-tutas, lutas dos cangaceiros.“ (BARROSO, 1949, pg. 7-10)

Outra maneira de expressão popular através do Cordel, seria A Carta do Satanás a Roberto Carlos que teve grande sucesso, inspi-rado na música “E que tudo mais vá pro inferno!”. O poeta popular Enéias Tavares dos Santos explicando o que Satanás fez quando se cansou de ouvir Roberto Carlos mandar tudo pro Inferno.

“Inferno, côrte das trevas,Meu grande amigo Roberto, Eu vi o seu novo disco

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É muito bonito, é certo, Mas cumprindo a sua ordem, O mundo fica deserto.

Porque você está mandando Todo o mundo para aqui, Se esse povo vier todo, O que é que fica aí ? Será o maior deserto Que eu fico vendo daqui.”

Podemos tmbém considerar a literatura de Cordel, tanto pela sua parte poética, como pela arte da xilogravura, uma forte fonte de expressão popular cultural constituinte das artes brasileiras.

Atualmente, esta manifestação popular pode ser encontrada em diversos lugares do país e não só nas feiras do nordeste, po-rém continua sendo incentivada pelas comunidades nordestinas de cada localidade. Nos dias de hoje, a Academia Brasileira de Litera-tura de Cordel, encontra-se no Rio de Janeiro, fundada em 1960, a Fundação Casa de Rui Barbosa foi criada para colecionar as obras da literatura de Cordel e assim resgatar o que dela existia pelo Brasil, desse projeto nasceu o acervo de Cordel da fundação, assim como vem servindo de apoio e divulgação do Cordel para todo o mundo.

[...] é natural que a poesia narrativa frutificasse normalmente no Brasil e mantivesse através dos tempos, a riqueza dos folhetos semanalmente divul-gados e registrando acontecimentos julgados de in-dispensável comunicação ao povo do sertão, das vi-las e cidades do interior. (CASCUDO, 1971, p. 153)

Segundo a tese de doutorado de Joseph Luyten na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Ernesto Ka-wall foi o primeiro pesquisador brasileiro a relacionar Cordel ao jor-nalismo e a empregar o termo recodificação, indicando que o Cordel

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capta a mensagem dos meios de comunicação de massa e a “recodifi-ca” para um público popular. O que era sabido intuitivamente pelos poetas recebia agora reforço teórico.

Ricardo Noblat, jornalista e repórter de revistas nacionais como Fatos e Fotos, nos anos 1960 apresentou a idéia do Cordel como jornalismo a um público mais amplo, urbano e sofisticado, enviando de Recife seus artigos para aquelas publicações. Noblat Explicou que:

“[...] existem dezenas de poetas populares no Nor-deste que fazem um jornalismo muito parecido ao praticado nas redações dos jornais: narram os prin-cipais acontecimentos de sua cidade, região, país e mundo; interpretam-nos; opinam sobre eles; refle-tem e ajudam a formar a opnião pública, integrar a vida nacional comunidades que ainda não foram devidamente atingidas pelos veículos convencionais de comunicação. [...] A eles dá-se o nome de folhetos de época, ou de urgência, ou circunstancias, um dos muitos ciclos de literatura de Cordel nordestino.” (NOBLAT apud LUYTEN, p. 46)

5.2 Variações na interpretação da história da Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos, contada por Euclides da Cunha em Os Sertões, de 1902 foi reconhecida como sendo um dos primeiros gran-des eventos a serem traduzidos e explorados através da literatura de Cordel, segundo José Calasans em seu livro, Canudos na Literatura de Cordel foi Sílvio Romero, que em 1879 deu indicios de um ciclo de poesias populares que estava se formando em torno da figura de An-tônio Conselheiro. Calasans também afirma que na obra escrita por Romero, entitulada de Estudos sobre a poesia popular do Brasil, além de exaltar o aparecimento deste misterioso personagem entitulado pelo autor de um missionário a seu jeito, como na poesia:

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Figura 13 – Familia de Jeca Tatuzinho adoece de tanta poluição. Fonte: Livro História do Brasil em Cordel (2003).

Figura 15 – A contagiosa AIDS matando toda a humanidade. Fonte: Livro História do Brasil em Cordel (2003).

Figura 14 – A tragédia das enchentes em todo Rio de Janeiro. Fonte: Livro História do Brasil em Cordel (2003).

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Do céu veio uma luzQue Jesus Cristo mandouSant´Antônio AparecidoDos castigos nos livrou

Quem ouvir e não aprenderQuem souber e não ensinarNo dia do juízoa sua alma penará

(ROMERO, 1977. pág. 41)

Os versos acima são citados por José Calasans, como sendo os primeiros de uma enorme gama de composições e produções refe-rentes ao tema Guerra de Canudos e principalmente relacionadas a Antônio Conselheiro, a quem foi dedicada boa parte das produções e cordéis relacionados ao tema. As poesias de Cordel relacionadas a Canudos e ao Conselheiro são apontadas pelo autor como sendo uma das maiores da poética popular nacional. O autor cita Euclides da Cunha, como repórter de O Estado de S. Paulo, e aponta que o jorna-lista, que escreveu a obra Os Sertões, teve total idéia da importância desta literatura popular, assim como das histórias que retrataram a Guerra que foram escritas nos livretos de Cordel.

“Euclides da Cunha, depois consagrado ensaísta de Os Sertões, sentiu a importância que os conse-lheiristas davam às criações da ira anônima, usa-das como armas de combate na guerra de vida e morte da jagunçada contra as forças poderosas da República.” (CALASANS, 1984, pág. 1)

Conselheiro foi uma figura marcante servindo como um ícone na produção da poética popular do Cordel. Através desses folhetos de literatura popular , por vezes de autoria anônima, o povo pode ter informações sobre os acontecidos em Belo Monte.

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Euclides da Cunha foi um dos escritores que relatou a impor-tância dos fatos registrados através da literatura de Cordel, e exem-plificou como essas obras contribuíram para a história e formação do imaginário popular.

“(...) no mais pobre dos saques que registra a his-tória, onde foram despojos opimos imagens mul-tiladas e rosários do côcos, o que mais acirrava a cubiça dos vitoriosos eram as cartas, quaisquer escritos e, principalmente os desgraciosos versos encontrados. Pobres papeis, em que a ortografia bárbara corria parelhas com os mais ingênuos ab-surdos e a escrito irregular e feia parecia fotogra-far o pensamento torturado, eles resumiam a psi-cologia dA Luta. Valiam tudo porque nada valiam” (CALASANS, 1939. pág. 206)

Em outro trexo, de Os Sertões, Euclides da Cunha também destaca os improvisos e os versos dos sertanejos.

“Os rudes poetas rimando-lhe [do Conselheiro] os devarios em quadros incolores, sem a esponta-neidade dos improvisos sertenejos, deixaram bem vivos documentos nos versos disparados” (CALA-SANS, 1939. pág. 206)

Com os registros e referências trazidos sobre a literatura de Cordel do livro Os Sertões, podemos entender e dimensionar me-lhor a importância destas obras que possuíram uma retratação sin-gular para os fatos ocorridos, assim como um repertório e vocabu-lário que era capaz de informar a um público que não tinha acessos aos meios para os quais Euclides escrevia, Calasans é enfático ao afirmar que apesar do elitismo dos comentários, os registros dos fenômenos apontados nas obras fornecem a Euclides da Cunha um entendimento do fato histórico de Canudos, até mesmo apontando que foi o jornalista a única testemunha dos fatos, que considerou a

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contribuição desta literatura para a interpretação dos sentimentos populares relacionados a Antônio Conselheiro.

Calasans cita que Euclides da Cunha, em sua obra, não somen-te se valeu dos conceitos citados acima como prestou referência a esses versos, recolhendo para demonstrar o que havia sido escrito, inclusive citando sete quadras dos dois ABCs que chegaram ao seu conhecimento e foram copiados em sua Caderneta de Campo, Cala-sans afirma que as composições a seguir teriam sido as primeiras obras de poesia popular, que faziam referência ao conselheirismo como ele mesmo diz, precedendo as obras de Cordel posteriores.

Os chamados ABCs, recolhidos por Conselheiro registravam fatos da história, o primeiro fazia alusão a vitória alcançada, em maio de 1893, contra a investida da polícia da Bahia sob a popula-ção canudense.

Indo a força pa cimao concelhero malharnas cantigas de Machetelá foram todos se acabar.

O segundo relatou a morte do repúblicano coronal Moreira César, assim como a derrota de sua tropa pelos jagunços.

Agora vou declarátudo quanto foi passadona batalha Belo MonteCos homem civilizadoque vinhero brigá com Deusficaram acreditado.

(CUNHA apud CALASANS, 1939. pág. 58-9)

As duas partes citadas acima retratam passagens da guerra con-tadas através do Cordel, Calasans diz que José Aras em seu livro San-gue de irmãos, pública uma versão do segundo ABC, que traz nomes como Manuel dos Santos, João de Souza Cuneguntes, João Melchía-

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des Ferreira da Silva, Arinos de Belém e José Aras, que foram selecio-nadas, pois trazem distintas tendências no Cordel nacional voltado a Canudos, já que foram escritas em épocas e locais distintos.

João de Souza Cuneguntes vivia no Rio de Janeiro quando ocorreu à luta em Canudos, e por já ser reconhecido na capital fede-ral, seus trabalhos relacionados à guerra tiveram duas edições. San-taninha como era conhecido, foi um dos mais notórios e renomados cordelistas de seu tempo, ficou famoso por enfatizar a batalha, con-denando os jagunços e glorificando os soldados.

No ano de noventa e seteMuita coisa aconteceu,Pegou a guerra em Canudos;Moreira César morreu.

O governo precisavaDe um homem forte e valenteQue marchasse para a guerraDestroçar aquela gente.

Apareceu Moreira CésarHomem valente e de estudos,Ofereceu seus serviçosPara partir p´ra Canudos.

O registro da morte do oficial é feito com ênfase no patriotismo de Moreira César.

Morreu este patriotaUma glória do Brasil:A favor de sua pátriaContra aquela gente vil.O Brasil ficou de lutoE o exército também;Todos choraram a morteDaquele homem de bem.

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O poeta finaliza glorificando os soldados, afirmando que foram vitoriosos sobre os jagunços, que foram considerados bandidos.

Esta horda de bandidosFanáticos e traiçoeros,Afinal foram batidosPelos exércitos Brasileiros.

Glórias àqueles que morreramCom a fé RepúblicanaDefendendo a sua pátriaLonge, na terra baiana.

Viva o povo brasileiroE também seu presidenteGlória aos mortos de CanudosChorados porm toda a gente!

Segundo Calasans (1984), a obra de Cuneguntes, foi construída em cima de interesses políticos, era o julgamento de um poeta do Rio de Janeiro, que formava seu repertória através dos noticiários da imprensa, o poeta foi diretamente de encontro à idéia dominante da época na capital federal.

Outro importante poeta a relatar os fatos em Cordel foi o sol-dado-poeta João Melchíades da Silva, pois sua versão sobre a Guerra de Canudos foi produzida a partir da sua participação na guerra con-tra Belo Monte. Seu relato permitiu ao leitor, compreender como a narrativa de um importante evento, serve não somente como relato opinativo, mas também pode ser tido como fonte de contribuição ao registro da história em forma de literatura popular.

O soldado João Melchíades, registrou seus testemunhos do acontecimento e os eternizou, mais tarde quando se aposentou do exército, tornou-se cordelista na capital da Paraíba, e retratou atra-vés de seus versos as três primeiras expedições, detalhando somen-te a quarta, da qual participou como combatente.

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“O folheto de João Melchíades Ferreira da Silva vem de outra origem. É o depoimento de um parti-cipante [...] sargento do 27 BI, batalhou contra os jagunços” CALASANS, José. 1984 p.5

Além de explorar em seus textos detalhes das lutas, Melchía-des trás em seus versos informações que somente um participante ativo da expedição poderia possuir, relata fatos em grande parte assitidos ou vividos por ele mesmo, detalhes sobre os armamentos, o número de soldados, nomes dos comandantes, formando assim uma imagem clara e direta em seus relatos.

O cordelista inicia a narração declarando que em 1897 o exérci-to brasileiro foi comandado por um general guerreiro, de nome Artur Oscar, que lutava incessantemente contra “um chefe cangaceiro”.

Ergueu-se contra a RepúblicaO bandido mais cruelIludindo um grande povoCom a doutrina infielSeu nome era AntônioVicente Mendes Maciel[...]Para iludir ao povoIgnorante do sertãoInventou fazer milagreDizia em seu sermãoQue virava a água em leiteConvertia as pedras em pão

Essa versão do poeta relata sua visão sobre Antônio Conselhei-ro, o comparando a um bandido cruel que iludia o povo através de suas promessas e se fazendo valer de suas crenças, também comparou os seguidores de Conselheiro aos jagunços cangaceiros de Lampião.

Os homens mais perversos De instinto desordeiro

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Desertor, ladrão de cavalosCriminoso e feiticeiroVieram engrossar as tropasDo fanático Conselheiro

Fazendo-se valer de uma opinião de quem havia lutado ao lado da república, Melchíades afirma em seus versos que o então coronel Moreira César havia entrada na guerra “enganado” pelas avaliações do tamanho da força e da resistência dos jagunços, que haviam sido feitas pelo governo baiano, com isso, acabou pagando por esse erro com sua própria vida, ele detalha que após o terceiro triunfo dos “fa-náticos” de Conselheiro sob as forças da república, o governo prepa-rou uma quarta esquadra para marchar rumo a Canudos, essa esqua-dra reuniu tropas nacionais do norte ao sul do país, entre diversas patentes do alto escalão do exército nacional, assim como armas e a potência da qual o exército se valeu para enfrentar o inimigo.

“Participou da luta. As sextilhas que compôs relatam fatos, em grande parte, assistidos e vividos pelo me-nestrel paraibano.” (CALASANS, José. 1984 p.4)

Melchíades exerceu durante seu relato um papel jornalístico, re-tratando em seus versos de leitura popular, suas ideologias referentes aos acontecimentos, relatou cada dia de campanha do exército, após sua chegada a Canudos, retratando até o som das cornetas, que fo-ram tocadas no dia 5 de outubro de 1897, ao término do combate e o anúncio da vitória da quarta esquadra. O poeta deixa clara sua visão de soldado combatente, fiel e patriótico, enfatizando em sua escrita, de acordo com maneira que pensava, a vitória do bem sobre o mal, ligan-do diretamente o mal aos jagunços de Belo Monte e o bem aos comba-tentes defensores das ideologias Repúblicanas. Nessa etapa do Cordel a narração é até feita em primeira pessoa, dando ênfase ao acontecido, com o próprio autor informando, comentando e julgando:

Terminei duas revoltasMais fiquei aposentado

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Me lembro do tempo velhoDo serviço de soldadoQuando sonho com a guerraAcordo entusiasmado

Conforme afirmou Calasans (1984) João Melchíades é consi-derado um combatente da causa Repúblicana, levou até seus leito-res, sem se deixar valer por um linguajar agressivo, detalhes sobre a Guerra de Canudos cumpriu seu papel de informar a seu povo, re-sultando em uma crônica poética e popular que não deixou dúvidas sobre a ferocidade dos atos ocorridos em Canudos.

Outros diversos cordelistas tiveram participação na histó-ria através de seus textos que narravam e descreviam os aconte-cimentos ocorridos em Belo Monte: Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista e João Martins de Atayde também fizeram e fazem parte desta história contada através de versos, as temáticas referentes à Guerra de Canudos. Os acontecimentos em torno de Belo Monte continuam sendo muito explorados por cordelistas até os dias de hoje, nessas produções que se baseiam tanto nos relatos de cordelistas da época, quanto em outras obras ou linguagens que relatam o evento, existem cordelistas como Ma-xado Nordestino (Profecias de Antônio Conselheiro), Minelvino Francisco da Silva (Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos), Apolônio Alves dos Santos (Antônio Conselheiro e a Guerra de Ca-nudos), Rodolfo Coelho Cavalcante (Antônio Conselheiro, o san-to guerreiro de Canudos), R. Santa Helena (Guerra de Canudos), José Saldanha Menezes (O apóstolo dos Sertões), José de Oliveira Falcon (Canudos, guerra santa no sertão), Sebastião Nunes Batis-ta (Canudos revisada).

Todos os cordelistas citados acima fazem parte deste vasto e abrangente meio de traduzir a história, fazendo uso das informa-ções retiradas tanto do próprio Cordel, como de literaturas relacio-nadas ao tema, por exemplo, os textos escritos ao jornal O Estado de S. Paulo pelo jornalista Euclides da Cunha, as informações que o mesmo traz em seu livro Os Sertões, da fotografia de Flávio de Bar-ros, assim como de diversas outras linguagens ou meios de comuni-

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cação que de alguma forma exploraram, contaram, documentaram este fato histórico nacional.

“Os Valores básicos do povo eram essencialmente folclóricos: A luta entre o Bem e o Mal, a coragem e o heroísmo frente a obstáculos que interferiam no alcance do Bem, o prêmio à virtude(identificada como o bom, o verdadeiro o heróico) e o castigo do Mal em todas suas formas.”(CURRAN, 2003, pg. 48)

O Cordel, rico em suas retratações de cunhos morais, religio-sos, sociais, econômicos e políticos é tido como uma maneira de re-tratar os anseios e valores do povo, valores muitas vezes folclóricos, como, por exemplo, a luta entre o bem e o mal, atos heróicos que fizeram frente ao triunfo do mal, a virtude humana e o castigo do mal ao se rebelar contra o bem, são aspectos característicos desta rica literatura.

Os cordelistas citados acima compartilhavam destes valores em suas poesias, todos se fazem valer de algo a mais que um sim-ples evento contado de forma popular, pois trazem em seus textos, muitas vezes uma chamada “crônica cordeliana”, uma reportagem do evento, uma reação a ele, um julgamento, um relato histórico e muitas vezes um comentário, informações estas que posteriormente tornaram-se parte da história de nosso país e fonte de pesquisa para produções de diversos outros meios de comunicação e acima de tudo uma linguagem rica em regionalismo.

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Interpretações

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6 Linguagem Cinematográfica como representação do re-gistro histórico

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Neste capítulo compreenderemos como o registro de Canudos, estu-dado anteriormente, foi represen-tado em um meio híbrido (visual, áudio e verbal) – a Linguagem* Ci-nematográfica. Segundo Gerbase (2005), pela distinção entre a Lite-ratura (matriz verbal) e o cinema, é de se esperar que o resultado dessa representação seja bem diferente, sendo interessante detectar suas diferenças.

* Para Martin (2005), essa possibilidade de “ser original” da linguagem cinematográfica “(...) advém essencialmente de sua onipotência figurativa e evocadora, de sua capa-cidade única e infinita de mostrar o invisível tão bem quanto o visível, de visualizar o pensamento juntamente com o vivido, de lograr a compenetração do sonho e do real, do impulso imaginativo e da prova documental, de ressuscitar o passado e atualizar o futuro, de conferir a uma imagem fugaz mais pregnância persuasiva do que o espetáculo do cotidiano é capaz de oferecer”. (pg. 19)

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Para isso, é necessário compreender o sentido criado a partir do relato. Assim a

“(...) significação da imagem ou da montagem pode escapar ao espectador: é preciso aprender a ler um filme, a decifrar o sentido das imagens como se decifra o das palavras e dos conceitos, a compre-ender as sutilezas da linguagem cinematográfica. Quanto ao mais, o sentido das imagens pode ser controvertido, assim como o das palavras, e pode-ríamos dizer que há tantas interpretações de cada filme quantos forem os espectadores”. (MARTIN, 2003. pg. 27)

A escolha do curta metragem de Jorge Furtado, A Matadeira, como compreensão desse paralelo entre Literatura e cinema se deu pela originalidade* na linguagem audiovisual e, segundo Gerbase (2005), sua narrativa experimental, em formato de documentário. A representação para Da-Rin (2006) é paródica, através de versões como um depoimento falso do sertanejo e a análise de um especia-lista sócio-econômico, que dá sua versão sobre a origem da guerra, sendo o foco da narrativa em torno do canhão Withworth 32, co-nhecido como a Matadeira, e sua viagem até o momento do golpe ao arraial de Canudos.

Sabemos que o curta foi produzido através do livro Os Ser-tões de Euclides da Cunha. Nos créditos finais, o cineasta destaca que todos os episódios deste filme estão descritos na obra literária. Esse ponto é importante para o entendimento do paralelo entre a Literatura e outras linguagens, e abre a discussão mais a frente para o contemporâneo, no caso, a Hipermídia. Nesse caso, discutiremos alguns aspectos implícitos do relato em A Matadeira.

Dentro da linguagem cinematográfica um assunto de grande

* Segundo Moura (2007) entendemos linguagem como um conjunto de elementos ou características que constituem um vocabulário, uma gramática ou uma sintaxe de uma forma de criação e expressão e de comunicação e informação.

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Figura 17 – A MatadeiraFonte: Jorge Furtado (1994).

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importância é a interpretação de “toda realidade, acontecimento ou gesto (...), mais precisamente, signo”. (MARTIN, 2003. Pg. 92). Se-gundo o autor, tudo na tela tem um sentido e as vezes uma segunda significação aparece através de reflexão: como um mar simbolizan-do a plenitude das paixões ou um punhado de terra representando a aproximação a terra natal. Essa justaposição de imagens, produzin-do uma percepção nova através de reflexão é chamada de metáfora. Para Martin (2003) são três os tipos de metáforas:

• Metáforas plásticas: se baseia na analogia mais psicológica representado através de imagens. Como por exemplo “em A greve/Stachka, Eisenstein faz um paralelo entre as feições de al-caguetes da polícia, tendo como indicativo nomes de animais, e a imagem dos animais em questão.” (MARTIN, 2003. Pg. 94)• Metáforas dramáticas: tem um papel direto na ação, sendo um elemento explicativo útil para a compreensão do enredo. Por exemplo,

“em Outubro (...) de Eisenstein, o chefe do gover-no provisório, Kerenski, é confrontado pela mon-tagem a uma estatueta de Napoleão, querendo o diretor simbolizar com isso suas ambições; de-pois, imagens de harpistas sucedem-se às de um dirigente antibolchevique que vai discursar, a fim de que se compreenda que o orador busca apenas fazer adormecer a vigilância revolucionária do povo.” (MARTIN, 2003. Pg. 94)

• Metáforas ideológicas: desempenha um papel de fazer brotar uma idéia na consciência do espectador, que ultrapasse o quadro da ação do filme, implicando uma tomada de posição mais vasta sobre os problemas humanos. Como por exemplo “a abertura de Tempos Modernos (Chaplin) (...), a imagem de um rebanho de ovelhas em marcha, seguida pela de uma multidão saindo de uma estação de metrô”. (MARTIN, 2003. Pg. 95).

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Sendo assim, segundo Martin (2003) a metáfora é um choque entre duas imagens, sendo uma de comparação e a outra objeto a ser comparada.

Outro aspecto relevante para esse trabalho é um fundamen-to específico da linguagem cinematográfica: a montagem. Segundo Martin (2003) a montagem é a organização dos planos em certas condições de ordem e de duração. O autor ainda divide em dois tipos: a montagem narrativa e montagem expressiva. Enquanto a narrativa possui um aspecto mais simples de reunir os planos numa ordem lógica, a expressiva tem como objetivo produzir um efeito direto através do choque de duas imagens, sendo assim, busca ex-primir um sentimento ou idéia.

Esses aspectos serão de grande importância no entendimento em questão à linguagem do curta metragem A Matadeira.

6.1 A Matadeira de Jorge Furtado

Dentro da discussão sobre a relação entre linguagens, o curta-me-tragem A Matadeira (1994) de Jorge Furtado trata a Guerra de Ca-nudos de uma forma diferenciada. Para Da-Rin (2006) o episódio histórico de Canudos é abordado através dos estilos audiovisuais parodiados, intercalando algumas citações e interpretações poéti-cas, associadas ao sarcasmo e ironia. Essa paródia reflete as diver-sas linguagens (tanto a literatura quanto a fotográfica) que narram o massacre, pois parece dizer, “(...) já que nada pode garantir ma-terialidade a verdade histórica sobre Canudos, só nos resta brincar com as múltiplas versões sobre a guerra e acrescentar a elas uma versão ficcional de cunho poético.” (DA-RIN, 2006, pg. 213).

Ao longo desse capítulo “Linguagem Cinematográfica”, abor-daremos a concepções do autor Silvio Da-Rin, onde estabelece o curta-metragem como uma linguagem nos moldes de um documen-tário. São diversas as definições abordadas: aborda a realidade, lida com a verdade, filmado em locações autênticas, não tem roteiro ou não é encenado. Seguiremos aqui a definição atribuída pelo inglês John Grierson onde o “documentário é o ‘tratamento criativo da realidade’” (DA-RIN, 2006, pg.16) e a discussão de Teixeira (2004)

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Figura 17 – A MatadeiraFonte: A Matadeira - Jorge Furtado(1994).

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sobre o anti-documentário – mais especificamente o seu “modelo ficcional” – “(...) calcado na “função-espetáculo”, que apresenta a re-alidade documental como uma ficção, com sua contrapartida em peças experimentais implicadas com uma desarticulação da lingua-gem documental dominante”. (TEIXEIRA, 2004, pg. 30).

Em seus 16 minutos de filme, o curta reproduz e organiza-se a partir do título, abordando a viagem da máquina, o canhão in-glês importado para o ataque final aos fiéis de Antônio Conselheiro. O curta ainda conta com diversas metáforas relacionando alguns pontos do relato da guerra, como a figura de Antônio Conselheiro, o sertanejo e o aspecto sócio-econômico.

A partir de “oito das trezes sequências que compôem o filme acom-panhamos a trajetória do canhão, desde sua apresentação à tropa (...) até o ataque (...).” (DA-RIN, 2006, pg. 208). Durante a sequência, podemos acompanhar uma passagem de Os Sertões:

“Vi a grande máquina avançando,escurecendo o sol.Todos se deitavam em seu caminho,ninguém fugia.Meu amor e eu olhamos, sem compreender,este mistério sangrento.“Deitem-se, deitem-se!” gritavam todos.“A grande máquina é a história!”

Nesse momento podemos perceber a aproximação da lingua-gem cinematográfica à literária, tornando claramente o curta um reflexo da realidade interpretada em outra linguagem, através dos símbolos e significados. Segundo Martin (2003) podemos tratar a composição simbólica como uma imagem em que o diretor reú-ne dois fragmentos da realidade para fazer brotar uma significa-ção maior e mais profunda. Um exemplo no curta metragem é o momento em que os soldados empurram o canhão: percebemos a dificuldade de locomoção. Além do peso da máquina, temos a sensação do calor excessivo do sertão pelo fundo do cenário em tonalidade laranja. Esses fragmentos são unificados tornando a

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Figura 18 – Soldados empurrando o canhãoFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

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Figura 19 – O especialistaFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

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ação visual, mais próxima a realidade, sendo implícita à reflexão do espectador.

A primeira cena do filme mostra um oficial inglês explican-do o funcionamento do canhão e junto a ele, um intérprete. Sem questionamentos, a “The Withworth 32” é revelada aos oficiais bra-sileiros. Em sequência a viagem inicia com os soldados empurran-do a Matadeira pelo sertão (Figura 18), por um cenário estilizado.

Em seguida, temos a presença de um novo personagem, o Professor (Figura 19). Essa é a primeira quebra de sequência, mar-cando, segundo o autor, a colagem de modos de representação e complementa:

“Diante de uma narrativa camaleônica, o especta-dor é sucessivamente descentrado e convocado a assumir uma perspectica diferente e sempre críti-ca, porque o sarcasmo não propicia a adesão, mas uma interpretação distanciada.” (DA-RIN, 2006, pg. 210).

Figura 20 – Representação – assusnto sócio-econômicoFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

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O ator interpreta nesse momento, o depoimento de um es-pecialista (com diversos livros a sua volta) sobre o assunto sócio-econômico de Canudos. Segundo Da-Rin (2006) pela explicação ilustrada por bonecos de barros nordestinos, animados e exagero na entonação do ator, denúncia o tom paródico dos documentários que recorrem a um especialista para detalhar algumas informações.

A próxima cena retorna a longa viagem da Matadeira e mos-tra a dificuldade dos soldados em transportar o canhão, vencendo diversos obstáculos.

Uma segunda paródia ocorre na próxima cena, utilizando documentos históricos como a foto. Segundo Da-Rin (2006), no-vamente o ator impõe o exagero na representação, no inflamado discurso de Prudente de Moraes. As imagens em fotografia, segui-das pelo filme P&B corroídos pelo tempo. As gravuras de batalhas, montadas na sequência, dão um tom irônico ao discurso político.

Em outra cena, um novo discurso paródico mostra um ser-tanejo em mais um falso depoimento: seu interesse pela terra e a imagem de Conselheiro como um líder desse povo. Segunda Da-Rin

Figura 21 – Discurso presidencial – montagem de fotosFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

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Figura 22 – Discurso presidencialFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

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(2006) esse papel é apresentado de forma irregular, com imagem tremida, som irregular e perturbado por ruídos.

Em ambiguidade à representação de Conselheiro está inclusa no curta metragem. Como anteriormente foi dito, um líder para os sertanejos. Mas também é representado através de desvios de per-sonalidade. A primeira parte,

“um falso ‘filme de família’, em preto e branco, tre-mido e granulado, mostra o casamento de Antônio e Brasilina. (...) sobre um cenário exageradamen-te artificial, temos uma representação em estilo melodramático da cena em que Antônio mata a própria mãe, vestida de homem, acreditando ter atingido um amante da esposa. O melodrama se converte no burlesco quando, ao abrir o armário, Antônio descobre um homem nu. Desesperado, agarra um crucifixo e abandona a casa. O texto de locução, em tom estereotipado que lembra uma dublagem de filme infantil, comenta mais esta vertente interpretativa, negando-lhe, desta vez expressamente, o poder de explicar o fenômno Ca-nudos.” (DA-RIN, 2006, pg. 209-210)

Na segunda parte, Conselheiro é representado em pregação. Segundo Da-Rin (2006) ao fundo do cenário, colunas de monitores exibem imagens de nuvens, sendo uma metáfora de Conselheiro associado a um pastor eletrônico contemporâneo.

Em outra sequência, Furtado dá a sua versão sobre um fato descrito por Euclides da Cunha, segundo Gerbase (2005) é entitula-do como “Um episódio da Luta”, em Canudos, diário de uma expedição e “Assalto ao acampamento”, em Os Sertões. Nele é retratado um momento onde 11 jagunços atacam sorrateiramente o acampamen-to onde o exército repousava. Ninguém os vê ou ouve. O objetivo deles era a destruição da Matadeira. Os soldados então acordam e começam a atirar, sendo que apenas um jagunço foge correndo. No curta metragem no entanto, os jagunços são crianças. Nessa cena,

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Figura 23 – Preparação do ataque a CanudosFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

Figura 24 – Ataque ao acampamentoFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

Figura 25 – O sino e os jagunçosFonte: A Matadeira - Jorge Furtado (1994).

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“o mais provável é que tenha construído (...) cortejando as duas versões de Euclides e depois transformando-a de acordo com seus propósitos, os quais, ao que tudo indica, foi mostrar como as crianças participaram ativamente dos combates (embora neste, especificamente, não estivessem presentes).” (GERBASE, 2005. Pg. 337)

O cineasta ainda reflete em seu curta um aspecto contempo-râneo, quando monta nessa sequência, imagens de “corpos ensan-guentados sobre o asfalto e imagens filmadas de crianças sendo perseguidas na favela.” (DA-RIN, 2006. Pg. 214). Ao mesmo tempo que parodia, o diretor reflete, segundo Da-Rin (2006) o humanismo antibelicista associando Canudos a outras guerras.

A sequência final do curta mostra o disparo do canhão contra a igreja, derrubando o sino que segundo Gerbase (2005), o símbolo da religiosidade de Conselheiro. No curta

“o ponto de vista inicial é dos soldados, e a prepa-ração do tiro é cuidadosamente narrada, perma-necendo o canhão como protagonista da história. Quando o sino cai, inverte-se o ponto-de-vista. Quatro jagunços cercam o sino e começam a can-tar uma música religiosa. De certo modo, repete-se em A matadeira a mesma troca de perspectiva narrativa que encontramos em Os Sertões: um movimento de afastamento das versões “oficiais” da guerra, contadas pelo lado vencedor, e uma aproximação do drama vivido pelos derrotados.” (GERBASE, 2005. Pg. 338-339)

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Considerações finais

Tendo como base de estudo e ponto inicial do trabalho o conflito e as condições que determinaram a guerra e seus desdobramentos, estudamos as linguagens que registram e interpretam os fatos sobre Canudos. Foi por Euclides da Cunha com o livro Os Sertões e Flávio de Barros, o fotógrafo do exército, que pudemos conhecer o conflito da guerra de Canudos e destes surgiram, o Cordel e a tradução no cinema de Jorge Furtado, com o curta-metragem A Matadeira.

O estudo das linguagens nos permitiu detectar algumas carac-terísticas capazes de estabelecer relação com o nosso trabalho, isto é com o design, que possui o papel fundamental de informar, sen-do a mesma proposta de Euclides da Cunha, Flávio de Barros, Jorge Furtado e também dos cordelistas citados – somente através desses registros é possível saber e imaginar como foi a guerra de Canudos.

Além de averiguar que todos possuem essa função, ficou cla-ra as variações de cada uma. A literatura e a fotografia, registros direto do fato, tendem a ser mais jornalística e documental, sendo que Euclides da Cunha expõe sua desilusão da República, enquan-to o fotógrafo Flávio de Barros a engrandece. O Cordel, apesar do seu registro ser popular, retratando a história através da memória e documentação, pode ser considerada jornalística. No caso de Ca-nudos, o Cordel expõe o conflito como um épico, uma luta entre o bem e o mal.

Essas linguagens, são convergidas em A Matadeira. Jorge Fur-tado nos apresenta um filme, com um relato sobre o conflito, po-rém colocada de maneira simplificada e direta. Para isso se usa de

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símbolos que possuam o significado e o impacto de sejado. Por ser uma ferramenta também muito utilizada no design, percebemos sua necessidade de passar e gerar ícones capazes de condensar a informação desejada em si só. É possível perceber dentro do curta-metragem, apesar de sua linearidade, a possibilidade de desdobrar o assunto, encontrando diversos caminhos dentro do paralelo cen-tral do filme.

Portanto nesta pesquisa detectamos as diferentes linguagens e como cada uma delas imaginou, dentro de sua época e técnica, para contar a guerra de Canudos. Algumas ousaram mais e outras menos, porém todas tiveram a intenção de informar e mostrar os problemas que envolvem um conflito.

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Do céu veio uma luzQue Jesus Cristo mandouSant´Antônio AparecidoDos castigos nos livrou

Quem ouvir e não aprenderQuem souber e não ensinarNo dia do juízoa sua alma penará

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