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Unidade 2 A Psicologia da Educação Tainá Thies Psicologia do Desenvolvimento

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Unidade 2

A Psicologia da Educação

Tainá Thies

Psicologia do Desenvolvimento

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Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA

Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA

Autora TAINÁ THIES

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A AUTORATainá Thies

Olá! Meu nome é Tainá Thies. Sou formada em Letras, com

especialização em Linguística, mestrado em Teoria da Literatura e,

atualmente, cursando Psicologia, com uma experiência técnico-

profissional na área de Educação e Aprendizagem de mais de 10 anos.

Atuei em empresas que me colocaram em contato com a diversidade do

povo brasileiro e me fizeram amar ainda mais a Educação, a Psicologia

e a Língua Portuguesa. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir

minha experiência de vida àqueles que estão iniciando suas profissões.

Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de

autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase

de muito estudo e trabalho. Conte comigo!

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ICONOGRÁFICOSOlá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez

que:

INTRODUÇÃO:para o início do desenvolvimento de uma nova compe-tência;

DEFINIÇÃO:houver necessidade de se apresentar um novo conceito;

NOTA:quando forem necessários obser-vações ou comple-mentações para o seu conhecimento;

IMPORTANTE:as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você;

EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado;

VOCÊ SABIA?curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias;

SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen-to do seu conheci-mento;

REFLITA:se houver a neces-sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis-cutido sobre;

ACESSE: se for preciso aces-sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast;

RESUMINDO:quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi-mas abordagens;

ATIVIDADES: quando alguma atividade de au-toaprendizagem for aplicada;

TESTANDO:quando o desen-volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas;

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SUMÁRIOEvolução Histórica .......................................................................................12

Teorias de 1890 a 1920 ................................................................................................................ 12

Medição das diferenças individuais por meio de testes ................. 17

Análise dos processos de aprendizagem ..................................................18

Psicologia Infantil ........................................................................................................ 20

Teorias de 1920-1955 .................................................................................................................... 21

Henri Wallon (1879- 1962) ......................................................................................22

Jean Piaget (1896-1980) ..........................................................................................24

Lev Vygotsky (1896-1924) .......................................................................................26

Teorias a partir de 1955 ...............................................................................................................28

As Concepções de Psicologia da Educação e Implicações Pedagógicas ................................................................................................. 30

Construtivismo .................................................................................................................................. 31

Socioconstrutivismo ......................................................................................................................33

Teorias de enfoque e contexto cultural ..........................................................................35

Estudo dos conteúdos escolares ........................................................................................35

Novas práticas educacionais ................................................................................................. 36

Noções de Psicopedagogia .................................................................... 38

O psicopedagogo .......................................................................................................................... 40

Dificuldade x Transtorno .............................................................................................................42

Noções de Neuropsicopedagogia ........................................................45

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Psicologia do Desenvolvimento 9

A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

UNIDADE

02

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Psicologia do Desenvolvimento10

INTRODUÇÃOVimos na Unidade 1 como surgiu a Psicologia, a evolução de seu

objeto de estudo e as suas principais escolas.

A Psicologia da Educação teve um início conturbado, permeado

pela filosofia e pelas descobertas da Psicologia. Aos poucos, psicólogos

foram se interessando pela aprendizagem e preparando campo para

que pesquisadores pudessem chegar a conclusões acerca de como

aprendemos e como podemos contribuir para o aprendizado na escola

ou em outros ambientes educacionais. Então, nesta unidade, vamos ver

um breve histórico da Psicologia da Educação, levantando as concepções

e implicações pedagógicas mais relevantes. Você também irá estudar

as noções de uma área muito ampla, a Psicopedagogia, e de uma área

que vem ganhando campo pelo mundo, especialmente no Brasil, a

Neuropsicopedagogia. Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar

neste universo!

Vamos lá!

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Psicologia do Desenvolvimento 11

OBJETIVOSOlá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso propósito é auxiliar

você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o

término desta etapa de estudos:

1. Recordar os marcos históricos da psicologia da educação;

2. Diferenciar as concepções acerca da psicologia da educação;

3. Enunciar as diferentes implicações pedagógicas inerentes às

diferentes concepções;

4. Examinar as bases da psicopedagogia e da neuropsicopedagogia.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?

Ao trabalho!

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Evolução Histórica

INTRODUÇÃO:

Na unidade anterior, vimos como surgiu a Psicologia enquanto uma ciência. Ao término deste tópico, você será capaz de entender os marcos históricos da Psicologia da Educação. E então? Motivado para estudar tanto o comportamento, quanto os processos mentais? Entre os processos mentais, podemos citar a aprendizagem. Então, vamos lá!

Porém, esta ciência se preocupa em estudar tanto o comportamento

quanto os processos mentais. Entre os processos mentais, podemos citar

a aprendizagem.

Neste tópico, vamos relembrar algumas teorias psicológicas

que tentaram encontrar respostas sobre como as pessoas aprendem,

avançando para as pesquisas do século XX, que desenvolveram uma

nova área dentro da Psicologia: a Psicologia da Educação.

Inicialmente, não havia uma disciplina que desse conta dos

processos psicológicos na educação. Assim como a Psicologia em geral,

a educação também era permeada pelas ideias filosóficas até o século

XIX.

Posteriormente, com diferentes conhecimentos levantados pelas

pesquisas em Psicologia é que se pode chegar a um campo que se

preocupasse com a aplicação de tais conhecimentos na educação.

Vamos ver, então, como a área da Psicologia da Educação se

desenvolveu dentro da Psicologia?

Teorias de 1890 a 1920Como vimos na Unidade 1, a Psicologia se tornou uma ciência com

auxílio de diversos fatores e vários pesquisadores. Dentre os pioneiros

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da Psicologia vimos Wundt (1832- 1920), Titchener (1867–1927), W. James

(1842- 1910), Thorndike (1874-19419) e Pavlov (1849-1936).

De certa forma, todos contribuíram para as pesquisas a respeito

da aprendizagem, em especial Thorndike e Pavlov, com seus estudos

associacionistas de estímulo e resposta.

Como visto anteriormente: Relembre na Unidade 1 os conceitos de

associacionismo e as teorias sobre o aprendizado por tentativa e erro, de

Thorndike, e reflexos condicionados, de Pavlov.

Porém, outros profissionais foram importantes para o desenvolvimento

da área da Psicologia da Educação. Vamos conhecê-los?

Figura 1: James Cattell (1860-1944)

Fonte: Wikemedia

O americano James McKeen Cattell (1860-1944), um dos alunos

de Wundt, foi um funcionalista americano que estudou as capacidades

humanas por meio de testes mentais. Seus testes mediam a velocidade

dos movimentos dos alunos, a sensibilidade dos dedos na escrita ou ao

toque, a pressão necessária no corpo para se provocar dor, tempo em

que o aluno levava para reagir ao som ou à luz, entre outros.

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Como pode se ver, os testes de Cattell não estavam ligados

à inteligência, como os de Binet, que veremos mais adiante. Ele se

interessava por medir fenômenos observáveis ligados às sensações

e concluiu que tais testes não tinham condições de demonstrar as

habilidades acadêmicas dos alunos, apenas a resposta dos mesmos a

certos estímulos, como som, luz e pressão.

Figura 2: Stanley Hall (1844-1924)

Fonte: Wikemedia

Outro pesquisador de destaque foi o americano Granville Stanley

Hall (1844-1924), que demonstrou interesse pelas teorias psicanalíticas de

Freud, as quais trataremos mais adiante, embora sua pesquisa recaísse

sobre a Teoria Evolucionista.

• Para se aprofundar na Teoria Evolucionista, acesse a matéria do site

Educação do UOL, disponível em https://bit.ly/3ht7vve. Acesso em:

14 set. 2020.

Sendo assim, Hall estudou o desenvolvimento humano, focando no

desenvolvimento infantil. Para testar suas teorias, o psicólogo americano

aplicou inúmeros testes com as crianças, desenvolvendo a Teoria da

Recapitulação:

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Em essência, Hall afirmou que as crianças, no seu desenvolvimento

pessoal, repetem a história de vida da raça humana, evoluindo de um

estágio próximo ao selvagem quando bebês e durante a infância, até

um ser humano racional e civilizado na fase adulta (SCHULTZ; SCHULTZ,

2012, p. 176).

Assim, Hall escreveu livros sobre a adolescência e idade adulta,

discorrendo sobre o processo de desenvolvimento do ser humano e da

sexualidade, assim como enfocado por Freud.

Para ele, o desenvolvimento infantil deveria ser levado em

consideração no processo educacional. Esta ideia pode não parecer

óbvio atualmente, mas para o fim do século XIX e início do século XX era

uma grande novidade. Tal ideia também pode se desenvolver pois, nesta

época, os governos iniciaram a ampliação e a obrigatoriedade do sistema

de educação, antes relegado somente a pessoas com boas condições

financeiras.

É neste contexto, de ampliação da oferta de ensino, que a Psicologia

da Educação de fato se origina, visto que agora a escola precisa de auxílio

das pesquisas realizadas pela Psicologia. Inicialmente, a área da Psicologia

da Educação se torna uma aliada da Psicologia para a aplicação de seus

conhecimentos, sem um objeto de estudo específico.

Desta forma, testes mentais, teorias sobre o desenvolvimento e

sobre o comportamento humano, todos passam a fornecer dados para

a educação, servindo a um especialista que possa fazer a aplicação das

descobertas da Psicologia na Educação.

• Muitos testes são utilizados ainda hoje e são de grande auxílio para

os profissionais da área da saúde e da educação. Eles auxiliam a

descobrir como estão as funções cognitivas, psicológicas e motoras

dos indivíduos. Um bom exemplo são as escalas de ansiedade e

depressão, que auxiliam os psicólogos no estabelecimento do melhor

curso de tratamento. Porém, você sabia que na Psicologia há uma

divisão entre testes projetivos e psicométricos? Os testes projetivos

levam em conta as teorias psicanalíticas da estruturação da mente

e medem, especialmente, a personalidade. Já os psicométricos

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são constituídos com valores de referência para medir diferentes

situações ou transtornos.

Figura 3: Educação e desenvolvimento humano

Fonte: Pixabay

No início do século XX, a Psicologia da Educação era uma área

interessada pelo desenvolvimento humano e pelo estado mental em

relação com as fases de educação.

O Journal of Educational Psychology, de 1910, definiu da seguinte

forma a Psicologia Educacional:

Considera-se, pois, que a psicologia educacional inclui

não só o campo bem conhecido que integra o livro-texto

convencional – a psicologia das sensações, o instinto, a

atenção, os hábitos, a memória, as técnicas e a economia da

aprendizagem, os processos conceituais etc. –, mas também

os seguintes aspectos: os problemas de desenvolvimento

mental (a herança, a adolescência e o inesgotável campo do

estudo da criança); o estudo das diferenças individuais, do

“retardo e da precocidade” no desenvolvimento; a psicologia

da “classe especial”; a natureza dos dotes mentais; a medida

da capacidade mental; a psicologia dos testes mentais; a

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correlação dos hábitos mentais; a psicologia dos métodos

especiais nas diversas etapas escolares; os importantes

problemas da higiene mental. Todos esses elementos – seja

do ponto de vista experimental, estatístico ou literário – são

temas e problemas a serem tratados em uma revista de

psicologia educacional (COLL, 2004, p. 23).

A partir destes objetivos iniciais da Psicologia da Educação,

delinearam-se três grandes áreas de estudo, que descreveremos agora.

Medição das diferenças individuais por meio de testes

Reflita: Você acha válido separar aluno por um escore em testes de

inteligência? Embora haja muitas críticas a estas práticas, ainda há diversas

entidades que se fundamentam no resultado destes testes, inclusive para

concessão de bolsas de estudos.

Figura 4: Alfred Binet

Fonte: Wikimedia

O pesquisador que mais se destaca neste campo é o psicólogo

francês Alfred Binet (1857-1911), que desenvolveu testes para identificar o

desenvolvimento intelectual a partir da idade mental da criança. O teste

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levava em consideração três fatores básicos: compreensão, raciocínio e

capacidade de julgamento.

O teste de Binet-Simon concebe o desenvolvimento intelectual

como a aquisição progressiva de mecanismos intelectuais

básicos, de forma que a criança com atraso é quem não

adquire os mecanismos intelectuais que correspondem à

sua idade cronológica. Se compararmos a idade mental com

a idade cronológica, a escala métrica permite quantificar os

anos de avanço ou de atraso no desenvolvimento intelectual.

No ano de 1912, William Stem enriquece o teste de Binet-

Simon com a introdução do Quociente Intelectual (QI), que é

o resultado da divisão da idade mental pela idade real e da

multiplicação do resultado por 100, proporcionando, assim,

uma medida única da inteligência (COLL, 2004, p. 24).

Desta forma, inúmeros testes foram sendo desenvolvidos ao

longo do tempo para medir as habilidades de compreensão leitora ou

matemática, bem como para a verificação do comportamento e da

personalidade.

Análise dos processos de aprendizagem

Nas pesquisas sobre o processo de aprendizagem destacam-se

Thorndike e Judd.

As teorias de Thorndike sobre a aprendizagem de condutas a partir

da satisfação das necessidades ou de se evitar um perigo são bases para

as futuras teorias sobre o processo de aprendizagem, em especial em

relação ao estímulo-resposta.

• Para compreender melhor as teorias de Thorndike, recomendamos a

leitura do artigo “Lei do Efeito de Thorndike e sua importância para a

Psicologia”, disponível em https://bit.ly/32wwQAf. Acesso em: 14 set.

2020.

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Figura 5: Charles Hubbard Judd (1873-1946)

Fonte: Wikimedia

Ao contrário de Thorndike, Charles H. Judd (1873-1946) tinha um

enfoque prático, de estudo sobre a real aplicação dos conceitos da

Psicologia na escola. Preocupou-se, ao longo de sua vida, em como fazer

com que tal conhecimento fosse útil para os professores e alunos. Assim,

debruçou-se sobre o currículo e a organização escolar.

Segundo Judd, os conteúdos escolares compõem-se de uma

série de conhecimentos acumulados pela sociedade no transcurso da

história; por isso, o currículo inclui tudo aquilo que a sociedade exige

que a criança conheça. Assim, a verdadeira finalidade da psicologia da

educação é, de acordo com este autor, analisar os processos mentais

por meio dos quais a criança assimila esse sistema de experiência social

acumulada, constituído pelas disciplinas que o currículo inclui. Além do

mais, esses processos não podem ser entendidos somente sob a forma

de uma sequência de associações de estímulos e de respostas, mas

sim que intervêm na capacidade de organizar, sintetizar e transformar a

experiência (JUDD, 1938, p. 25).

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Psicologia Infantil

Esta área de estudos se tornou muito importante a partir das

concepções de que, para ensinar melhor o aluno, é preciso conhecê-lo.

Destaca-se neste campo o pesquisador suíço Edouard Claparède (1873-

1940).

Figura 6: Neurologista e psicólogo do desenvolvimento infantil, Edouard Claparède (1873-1940)

Fonte: Wikimedia

Para saber mais sobre Edouard Claparède, acesse o site da

Nova escola e leia sobre suas descobertas, disponível em: https://bit.

ly/32tUyNs. Acesso em: 15 set. 2020.

Claparède teve um papel fundamental na Psicologia da Educação,

pois foi o fundador do movimento da Escola Nova, cuja representante

mais conhecida foi Maria Montessori e, no Brasil, Anísio Teixeira. Suas

ideias também influenciaram seu aluno mais ilustre: Jean Piaget.

Suas mais diversas obras apresentam:

[…] um fundamento e uma justificativa às propostas pedagógicas

do movimento renovador em educação, conhecido com o

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nome de Escola Nova, na Europa, nas primeiras décadas do

século XX. Assim, por exemplo, a base do processo educativo

não deve ser o castigo nem a recompensa, mas o interesse

profundo pela matéria ou pelo conteúdo de aprendizagem; a

criança deve sentir que o trabalho escolar é um algo desejável

em si mesmo; a educação terá o propósito fundamental de

desenvolver as funções intelectuais e morais e abandonará

os objetivos puramente memorísticos sem relação com a vida

da criança; a escola será ativa, isto é, assumirá a obrigação

de mobilizar a atividade do aluno; a tarefa principal do mestre

será a de estimular os interesses da criança e desvendar as

suas inquietudes intelectuais, afetivas e morais; a educação

será personalizada e levará em conta as dificuldades e os

interesses de cada aluno; entre outros (p. 26).

Teorias de 1920-1955Este foi um período muito propício para o florescimento da

Psicologia da Educação, pois permitiu que a própria Pedagogia obtivesse

um status de ciência.

Os três campos constituintes do primeiro período da Psicologia da

Educação continuaram a se desenvolver, ampliando seus escopos, bem

como suas ferramentas.

Talvez, a maior distinção neste período tenha se dado entre os

pesquisadores que acreditavam que as ideias deveriam ser frutos de

experiências e teorias e daqueles que acreditavam que os estudos

deveriam ter uma aplicação prática na escola. Esta discussão, em verdade,

pode ser vista até os dias de hoje se pensarmos bem.

Descobertas muito importantes foram feitas na área do

desenvolvimento psicológico e físico da criança neste período, em

especial na Europa. Os pesquisadores americanos concentravam-se, em

sua maioria, nas pesquisas a respeito dos processos de aprendizagem.

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• Por que será que houve esta distinção entre os estudos europeus e

americanos? Talvez se nos lembrarmos do início do funcionalismo,

veremos que os Estados Unidos prezavam pelo utilitarismo, o que

poderia ser uma possível resposta.

Em especial, temos neste período três grandes nomes que norteiam

até hoje o trabalho sobre o desenvolvimento infantil: Henri Wallon (1879-

1962), Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934).

De forma muito resumida, podemos sumarizar os principais pontos

das teorias do desenvolvimento de cada um dos autores, conforme

descreveremos a seguir.

Henri Wallon (1879- 1962)

Figura 7: Filósofo, médico, psicólogo e político francês, Herri Walon (1879-1962)

Fonte: Wikimedia

Wallon descreveu cinco estágios de desenvolvimento, levando

em consideração a evolução sensório-motora e psicológica. Para o

pesquisador, a interação com o grupo tem um papel muito importante no

desenvolvimento infantil.

Um ponto muito importante é a ênfase dada em suas pesquisas

ao movimento, sendo o ato de brincar uma atividade essencial no

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desenvolvimento, da mesma forma que, brincando, desenvolvem-se as

emoções, por meio da resolução dos conflitos que aparecem em grupo.

Quadro 1: Estágios de desenvolvimento para Wallon

Fonte: Elaborado pela autora com base em La Taille, Oliveira e Dantas (2016).

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Jean Piaget (1896-1980)

Figura 8: Biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, Jean Piaget (1896-1980)

Fonte: Wikimedia

Para Piaget, o processo de aprendizagem se fundamenta no

desenvolvimento cognitivo do indivíduo, sem esse desenvolvimento não

é possível a construção de saberes. Assim, a escola e os mediadores

têm o papel de facilitar o desenvolvimento cognitivo infantil, por meio

de desafios, uma vez que a criança constrói seus saberes por meio da

elaboração das experiências. Veja a seguir alguns dos conceitos-chave

elaborados por Piaget.

Tabela 1: Principais conceitos e estágios de Piaget.

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Fonte: Adaptado pela autora de Papalia, Olds e Feldman (2010, p. 33-37).

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Lev Vygotsky (1896-1924)

Figura 9: Psicólogo bielorusso, Lev Semyonovich Vygotsky (1896-1924)

Fonte: Wikimedia

Da mesma forma que Piaget, Vygotsky trabalha com a teoria de que

o engajamento ativo da criança no processo de aprendizagem promove

seu desenvolvimento. Porém, para o psicólogo russo, o desenvolvimento

cognitivo depende da interação entre o indivíduo e o mundo que o rodeia.

A criança, segundo Vygotsky, aprende através da interação

social. Ela adquire habilidades cognitivas como parte de sua

indução a um modo de vida. Atividades compartilhadas ajudam

a criança a internalizar os modos de pensar da sociedade,

cujos hábitos passam a ser seus (PAPALIA; OLDS; FELDMAN,

2010, p. 38).

Porém, para que a criança internalize tais hábitos, é preciso que

ocorra o processo de mediação. De acordo com Marta K. de Oliveira:

“enquanto sujeito de conhecimento, o homem não tem acesso direto

aos objetos, mas um acesso mediado, isto é, feito através dos recortes

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do real operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe” (LA TAILLE;

OLIVEIRA; DANTAS, 2016, p. 26).

Desta forma, é a faculdade de representar a realidade por meio

de símbolos e signos que permite ao homem fazer as relações mentais

quando o objeto não está presente. Explicando melhor, por meio

da linguagem, nosso sistema simbólico mais básico possibilita que

consigamos refletir sobre algo que não está presente no momento ou

sobre conceitos complexos, como este que estamos aqui estudando.

Outro fator muito importante na teoria de Vygotsky é o conceito de

Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), “o hiato entre aquilo que elas

já são capazes de fazer e aquilo que ainda não estão bem preparadas

para realizar sozinhas” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010, p. 264).

ACESSE:

Que tal testar seus conhecimentos acerca das teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon? Recomendamos responder ao questionário disponível em: https://bit.ly/3kk02Ap. Acesso em: 14 set. 2020.

Por fim, podemos salientar que as teorias psicanalistas também

foram de grande relevância neste período, introduzindo conceitos

sobre afetividade e relacionamento entre professor e aluno, priorizando

o desenvolvimento em fases iniciais da vida como definidores da

personalidade futura da criança.

Foi, assim, uma fase bastante conturbada para a Psicologia da

Educação, pois, de um lado, trouxe inúmeras teorias as quais são utilizadas

até hoje e, por outro, deixou o campo da Psicologia da Educação um tanto

confuso, sem uma delimitação objetiva sobre os métodos e objetos de

pesquisa.

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Teorias a partir de 1955A partir de 1955, o panorama da Psicologia da Educação foi se

modificando, em grande parte porque as teorias de maior peso para a

educação já tinham sido escritas no período anterior. Em segundo lugar,

outras disciplinas foram surgindo para estudar a relação entre a Psicologia

e a Educação. Entre essas disciplinas, podemos citar: a Educação

Comparada, a Tecnologia Educativa e o Planejamento Educativo.

Figura 10: Prosperidade do desenvolvimento tecnológico

Fonte: Pixabay

Fatores sociais (políticos, culturais e econômicos) também foram

de grande importância para este período, repercutindo na Psicologia

da Educação. A prosperidade econômica nos Estados Unidos, o

desenvolvimento tecnológico, a crença de que a educação pode ser

utilizada como um instrumento de progresso, as reformas educativas e

a ampliação do tempo escolar obrigatório são alguns dos fatores que

influenciaram este período.

Assim, os governos incentivavam pesquisas na área da educação,

possibilitando que mais e mais psicólogos se dedicassem a projetos que

estudassem a relação entre psicologia e educação.

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Neste contexto, ganha muita força a Psicologia Cognitiva, que

intenta explicar os processos ligados à aprendizagem, como memória,

atenção, visão, entre outros.

• A Psicologia Cognitiva tem o objetivo de estudar as funções que estão

por trás do comportamento e da aprendizagem. Para se aprofundar

nesta área, faça a leitura do artigo dos pesquisadores da Universidade

de Oxford, “A atuação do psicólogo na área cognitiva: reflexões e

questionamentos”, disponível em https://bit.ly/2RuWu1H. Acesso em:

14 set. 2020.

Ademais, as teorias de Skinner (as quais veremos na última unidade

desta disciplina) sobre o condicionamento operante são amplamente

utilizadas na educação, com proposição de programas educacionais que

utilizassem tecnologias e um enfoque instrucional.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos os pesquisadores citados que são os mais relevantes para a nossa compreensão nesta disciplina, exatamente por serem as teorias que até hoje explicitam o desenvolvimento infantil e a sua ligação com a educação. Aprendemos que as descobertas foram importantes para a área de desenvolvimento psicológico e físico da criança. E, por fim, podemos compreender que a Psicologia da Educação surgiu devido à necessidade de estudar a relação entre a Psicologia e a Educação, e que a Psicologia Cognitiva tem como objetivo estudar as funções do comportamento e da aprendizagem.

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As Concepções de Psicologia da Educação e Implicações Pedagógicas

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender e diferenciar as concepções acerca da Psicologia da Educação. E então? Motivado para estudar as principais teorias sobre o desenvolvimento infantil e da aprendizagem? Então, vamos lá!

A partir do desenvolvimento das primeiras e principais teorias

acerca do desenvolvimento infantil e da aprendizagem, surgem inúmeras

outras que tentam dar conta da Psicologia da Educação. Porém, estas

novas teorias acabam por pender para uma de três concepções gerais

sobre aprendizagem:

Figura 11: Aprendizagem e interação com o ambiente

Fonte: Pixabay

• A aprendizagem e o crescimento pessoal se devem a um processo

interno e a educação tem por finalidade acompanhar tal processo;

• ao contrário da anterior, há uma visão que acredita que o crescimento

e o desenvolvimento pessoal são frutos da aprendizagem, e, sendo

assim, a educação tem papel fundamental na construção dos

indivíduos;

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Psicologia do Desenvolvimento 31

• e, mais recentemente, desenvolveu-se a ideia de que desenvolvimento

e aprendizagem caminham juntos, uma vez que há certo grau de

processos internos que guiam o desenvolvimento independente da

aprendizagem enquanto escolaridade, como descrito por Piaget.

Ao mesmo tempo, não se pode separar estes processos internos

do contexto cultural do indivíduo, como afirmam Vygotsky e

pesquisadores que continuaram suas teorias.

Assim, neste e-book utilizamos este último como norteador do

processo de desenvolvimento, visto que há uma predisposição no

indivíduo que o impele a se desenvolver e aprender, mas as condições

dadas pelo meio proporcionarão chances de se desenvolver ou não.

• Para saber mais sobre as áreas de pesquisa na Psicologia da

Educação e suas concepções, faça a leitura do artigo da pesquisadora

Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, “Psicologia da

educação: conceitos, sentidos e contribuições”, disponível em

https://bit.ly/3bY2b1M. Acesso em: 14 set. 2020.

A partir destas concepções iniciais, surgem novas linhas de pesquisa

dentro da área da Psicologia da Educação. Veremos, a seguir, as principais

linhas, que, ainda hoje, se mostram muito férteis para o desenvolvimento

de pesquisas.

ConstrutivismoFigura 12: Construtivismo

Fonte: Freepik

O Construtivismo é uma teoria desenvolvida pelo biólogo e

epistemólogo suíço, Jean Piaget (1896-1980). Segundo sua base teórica,

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Psicologia do Desenvolvimento32

o conhecer se dá a partir da inserção do objeto do conhecimento em

um determinado esquema. Para Piaget, o processo de desenvolvimento

envolve a capacidade de organizar, de estruturar, de entender e, após a

aquisição da fala, de explicar os pensamentos e as ações. A inteligência

se aprimora de acordo com a experimentação, através do contato com o

mundo.

Esta teoria se expandiu de forma rápida, gerando um arsenal de

novas ideias aplicadas na educação. Podemos citar alguns autores que

seguiram os princípios construtivistas de Piaget, tais como: Constance

Kamii, Emília Ferreiro, Mario Carretero e Delia Lerner.

O Construtivismo atribui grande importância da participação

construtiva do indivíduo no seu processo de aprendizagem, permeando

inúmeros movimentos atuais sobre a aprendizagem. Como exemplo,

podemos citar as metodologias ativas e o movimento maker, ambos

focados em fazer o indivíduo tornar-se ativo em seu processo de

aprendizagem.

Há uma observação acerca do desenvolvimento de teorias

construtivistas, muitas delas enfocam na primeira concepção sobre

aprendizagem, como descrita no início deste módulo. Assim, as teorias

construtivistas acabam por determinar a aprendizagem como um

processo individual e interno, conforme Coll et al.:

A generalização dos enfoques construtivistas em educação

levou a uma visão da aprendizagem escolar como um

processo que, além de ser ativo e construtivo, é de natureza

essencialmente individual e interno. Individual porque os

alunos devem realizar seu próprio processo de construção

de significados e atribuição de sentido sobre os conteúdos

escolares sem que ninguém possa substituí-los nessa tarefa;

e interno, porque a aprendizagem não é o resultado da

leitura pura e simples da experiência, mas que é sim o fruto

de um complexo e intrincado processo de construção, de

modificação e de reorganização dos instrumentos cognitivos

e dos esquemas de interpretação da realidade (COLL, 2004,

p. 37).

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Psicologia do Desenvolvimento 33

Ao considerar que a aprendizagem é um processo interno e

individual, não devemos acreditar que deva ser solitário, como a descrição

de um construtivismo cognitivo, o qual estuda os processos internos e

não necessariamente as relações entre o aprendiz e seu meio. Assim,

passamos a um socioconstrutivismo.

• Você sabia? Que as escolas têm buscado inserir o aluno em atividades

que o torne um agente de seu processo de aprendizagem? Com isso,

hoje, temos o florescimento das Metodologias Ativas e do Movimento

Maker, ambos voltados para o protagonismo do aluno.

Acesse: Para aprofundar seus conhecimentos sobre Metodologias

Ativas e Movimento Maker, recomendamos as leituras dos artigos a seguir:

• “Como as metodologias ativas favorecem o aprendizado”, disponível

em https://bit.ly/3kkNWHb. Acesso em: 10 mar. 2019;

• “Movimento Maker”, disponível em https://bit.ly/3iwIEry. Acesso em:

14 set. 2020.

Socioconstrutivismo

Figura 13: Socioconstrutivismo

Fonte: Freepik

O Socioconstrutivismo é uma teoria voltada para a Psicologia

da Aprendizagem, tendo como precursor Lev Vygotsky, psicólogo

bielorrusso. Sua base teórica tem como alicerces três fundamentos:

Page 34: Psicologia do Desenvolvimento - auxiliar.telesapiens.com.br

Psicologia do Desenvolvimento34

• ●o funcionamento psicológico estrutura-se a partir das relações sociais

e do contexto histórico e social;

• ● a cultura tem grande influência na formação dos sistemas simbólicos;

• ●a linguagem possibilita o intercâmbio com o mundo e a abstração e

generalização do pensamento.

Para o Socioconstrutivismo, o aprendizado provém de um processo

de construção que considera na aprendizagem tanto os processos internos

e individuais quanto, e principalmente, o grupo do qual faz parte o aluno

e como este grupo age para que seus indivíduos aprendam. Sendo assim,

para esta teoria são importantes o ambiente, os colegas, os professores e

as experiências que o aluno passa na busca pelo aprendizado.

Não faltam tampouco os enfoques construtivistas que,

embora aceitem o caráter individual e fundamentalmente

interno do processo de construção, negam o caráter solitário

e postulam que os alunos aprendem sempre de outros e com

outros, ao mesmo tempo que assinalam que a aprendizagem

é fortemente mediada por instrumentos culturais e se dirige

basicamente à assimilação de saberes que também têm uma

origem cultural (COLL et al., 2004, p. 37).

Há inúmeras pesquisas que mostram hoje o impacto da interação na

aprendizagem, e o quanto o contato com os colegas auxilia na construção

dos saberes em detrimento de técnicas como leitura pura e simples e

resposta a questionários. Estudos comprovam que apenas a leitura como

método de estudo pode não ser eficaz. Fazer e falar sobre o que fez são

métodos mais efetivos para a retenção do conhecimento.

• Para saber um pouco mais sobre as diferenças entre Construtivismo e

o Socioconstrutivismo, assista ao vídeo “Vygotsky (1): Construtivismo

e Socioconstrutivismo”, disponível em https://bit.ly/32ytFrq. Acesso

em: 14 set. 2020.

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Psicologia do Desenvolvimento 35

Teorias de enfoque e contexto culturalEstas teorias buscam comprovar a importância da interação entre as

pessoas e seus contextos para o pleno desenvolvimento dos processos

psicológicos, como raciocínio lógico, linguagem, memória e atenção.

Para estas teorias, só é possível avaliar tais processos psicológicos

na interação entre o indivíduo e meio, e não apenas verificando como

funcionam tais processos no cérebro.

Segundo César Coll et al.:

Não apenas a cognição, ou a inteligência, encontra-se

distribuída entre os membros do grupo e os materiais e os

instrumentos presentes, mas todos e cada um dos membros,

assim como os materiais e os instrumentos, devem ser

considerados para todos os efeitos como uma forma de

recursos cognitivos para os demais (COLL, 2004, p. 38).

Nestas teorias, então, o aprendizado seria fruto de uma cognição

distribuída entre os membros dos grupos culturais e não algo construído

individualmente, mas sim compartilhado, seja por informações, seja por

materiais utilizados no aprendizado ou por saberes que são socialmente

construídos.

• Quer saber um pouco mais sobre a importância da cultura no

processo da aprendizagem? Então, recomendamos a leitura do artigo

“A importância da cultura no processo da aprendizagem”, disponível

em: https://bit.ly/35F3aCD. Acesso em: 14 set. 2020.

Estudo dos conteúdos escolaresOutra área que tem se desenvolvido muito e de forma rápida é a

dos conteúdos escolares como leitura, matemática, ensino de ciências, e

assim por diante.

Este campo busca compreender as melhores formas de ensinar

o aluno em cada um dos conteúdos, levando em consideração as

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Psicologia do Desenvolvimento36

descobertas acerca de como se dá o aprendizado e as especificidades

de cada componente.

• Você já ouviu falar sobre o STHEM? Esta é uma sigla para Science,

Technology, Humanity, Engineering and Mathematics, em português

significa Ciência, Tecnologia, Humanidades, Engenharia e Matemática.

É uma proposta muito difundida em outros países e que preza pela

construção dos conhecimentos nestas áreas acima com a construção

de saberes e de materiais, incluindo robôs e programação.

Novas práticas educacionaisPor fim, uma área que atrai grande interesse por parte dos

pesquisadores da Psicologia da Educação é a de novas práticas, levando-

se em consideração o aluno enquanto protagonista de seu processo de

aprendizagem. Além disso, considera que diferentes formas de estudos

podem auxiliar melhor a reter o conhecimento, conforme indicado na

Figura 14.

Figura 14: Pirâmide do aprendizado

Fonte: Adaptado pelo autor

Não apenas novas práticas escolares são buscadas, mas também

novas formas de aprendizado em espaços informais, como a família,

locais de trabalho e lazer. Assim:

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Psicologia do Desenvolvimento 37

São cada vez mais frequentes as vozes que reivindicam a volta a

um conceito mais amplo de educação que leve em conta o conjunto das

atividades e das práticas sociais – entre as quais se encontram as práticas

educativas escolares, mas não apenas elas – mediante as quais os grupos

sociais promovam o desenvolvimento pessoal e a socialização de seus

membros (COLL et al., 2004, p. 41).

• Há um movimento crescente no Brasil em relação à liberação da

educação domiciliar. O que você pensa a esse respeito? Acha que os

pais têm condições de fazer a educação integral de seus filhos? Como

você acha que deveria ser regulamentada esta forma de ensino?

Sendo assim, muitas pesquisas têm saído do âmbito escolar para

discutir aprendizagem em outros locais. Afinal, a aprendizagem não

ocorre somente na escola, e sim desde o momento em que nascemos e

em cada interação que temos em nossa vida, não é mesmo?

• Recomendamos que assista ao vídeo de Celso Antunes, “Novo

estilo de ensinar a pensar”. Após assisti-lo, reflita sobre o papel do

professor na formação do sujeito reflexivo, crítico e atuante dentro do

seu contexto social e cultural. Disponível em: https://bit.ly/3c0r0Ke.

Acesso em: 15 set. 2020.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que com o surgimento das primeiras e principais teorias do desenvolvimento infantil, outras puderam contribuir com a Psicologia da Educação. Você aprendeu que algumas teorias buscaram comprovar a importância da interação entre as pessoas e os contextos nos quais elas vivem. Enquanto outras estavam voltadas para compreender a aprendizagem. E, por fim, as novas práticas educacionais na Psicologia da Educação, que consideram o aluno como protagonista de seu processo de aprendizagem.

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Psicologia do Desenvolvimento38

Noções de Psicopedagogia

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender as diferentes implicações pedagógicas inerentes às diferentes concepções. E então? Motivado para estudar as noções de Psicopedagogia? Então, vamos lá!

A Psicopedagogia é um campo de estudos e trabalho já muito

bem estabelecido mundialmente. Ela surge da necessidade de se ter um

profissional que possa trabalhar com as dificuldades de aprendizagem.

É uma área que aborda a aprendizagem por diversos ângulos,

desde a motivação do aluno para aprender até as práticas mais eficazes

para aquele indivíduo.

Patrícia Sobrinho nos diz que a Psicopedagogia possui três princípios

fundamentais para a sua atuação:

O princípio da prevenção: refere-se às ações que podem

ser executadas, de modo que um sujeito não tenha mais

dificuldades de aprendizagem, mas que aprenda a lidar com

elas.

O princípio do desenvolvimento: está intimamente ligado ao

princípio anterior; um sujeito pode não apenas superar as

dificuldades de aprendizagem, como também aprimorar seus

talentos, indo além.

O princípio da ação social: tem a ver com a forma de o

indivíduo interagir com os outros e construir relações positivas

(SOBRINHO, 2016, p. 11).

Deste modo, a Psicopedagogia trabalha com o desenvolvimento e

aprimoramento da aprendizagem e com suas dificuldades, verificando as

melhores formas de auxiliar o indivíduo e fazendo intervenções para que

haja melhores interações sociais.

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Psicologia do Desenvolvimento 39

Algumas teorias equivalem a Psicopedagogia à Psicologia

da Educação, em especial por terem um desenvolvimento próximo

em período e em ideias. Talvez possamos fazer uma distinção mais

lógica se levarmos em consideração que a Psicologia da Educação se

mostrou inicialmente como a difusora de conhecimentos acerca do

desenvolvimento da aprendizagem. Já a Psicopedagogia leva em conta

um grau maior de intervenção do processo de aprendizagem dos sujeitos.

Porém, de uma forma ou de outra, as duas ciências com certeza se

complementam para atingir o objetivo de auxílio no processo de ensino-

aprendizagem.

Figura 15: Dificuldades de aprendizagem

Fonte: Pixabay

“A Psicopedagogia nos permite conhecer a situação do processo de

aprendizagem dos sujeitos com a intenção de melhorar e atuar sobre ele,

para fazer o aluno aprender efetivamente. Ela pode agir na vida do aluno,

intervindo em seu processo de estudo e aprendizagem, ou na vida do

docente e dos recursos externos, incorporando conhecimentos e técnicas

para a melhoria da aprendizagem do aluno” (SOBRINHO, 2016, p. 23-24).

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Psicologia do Desenvolvimento40

Logo, o objeto de estudo da Psicopedagogia é, atualmente, o

próprio aprendiz e suas relações com o seu meio, lembrando as teorias

socioconstrutivistas e sempre atuando de forma interdisciplinar.

• Para saber mais sobre o que é a Psicopedagogia, seu objeto de

estudo, e como pode atuar o psicopedagogo, assista ao vídeo

“O que é Psicopedagogia?”, de Mariana Imori, disponível em:

https://bit.ly/3mws9hR. Acesso em: 15 set. 2020.

O psicopedagogo

Figura 16: Psicopedagogo clínico

Fonte: Wikimedia

O profissional da psicopedagogia é alguém que tem como foco o

processo de aprendizagem do indivíduo em seu contexto. Muitas vezes,

pensamos apenas em termos de escola, porém, um psicopedagogo

pode atuar em diferentes locais.

Há possibilidades de trabalho em empresas, verificando questões

relacionadas à capacitação dos trabalhadores e à resolução de problemas

relativos ao seu desenvolvimento, tanto pessoal quanto profissional.

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Psicologia do Desenvolvimento 41

Também há campo para trabalho dentro de hospitais, auxiliando,

em especial, crianças em tratamento e internação prolongada.

E, talvez a prática mais frequente, o psicopedagogo pode atuar na

clínica, avaliando e intervindo nas dificuldades de aprendizagem e de

relacionamento que afetem o desenvolvimento escolar do aluno.

Enquanto psicopedagogo escolar, cabe a esse profissional não

apenas resolver problemas de cunho individual relativos ao processo de

aprender, mas também a intervenção em casos comportamentais que

afetem a comunidade escolar.

Um bom exemplo disso são os crescentes casos de bullying nas

escolas brasileiras. O psicopedagogo é um profissional que deve ter

um olhar para as relações que se estabelecem dentro da escola e/ou

empresa, analisando o grupo e verificando quais práticas podem ser

implementadas para que este grupo possa funcionar de forma harmoniosa

e efetiva, atuando, assim, como um mediador de conflitos.

• Saiba mais sobre a mediação de conflitos na educação.

Recomendamos a leitura do artigo do site JusBrasil e se informe a

respeito desta prática.

• Embora estes sejam os principais locais de atuação do psicopedagogo,

outros como centros comunitários, ONGs e o sistema correcional juvenil

também solicitam o trabalho deste profissional. Merece destaque o

trabalho com os jovens privados de liberdade e seu direito ao acesso

à educação.

Sabemos que a educação é uma poderosa aliada na luta contra a

violência e criminalidade. Sendo assim, medidas socioeducativas, como o

próprio nome diz, devem levar em consideração que os jovens privados

de liberdade necessitam desenvolver as suas funções cognitivas por meio

da aprendizagem, tanto de habilidades e conteúdos quanto de novas

formas de se relacionar com o outro e com a sociedade.

• O papel do psicopedagogo nas instituições de medidas

socioeducativas é de suma importância para a ressocialização dos

menores privados de liberdade. Recomendamos a leitura de um

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Psicologia do Desenvolvimento42

artigo muito relevante para se aprofundar na área, intitulado “Privação

de Escolaridade: A Situação do Jovem em Conflito com a Lei e a

Escolarização”, disponível em: https://bit.ly/2FAQSAz. Acesso em: 15

set. 2020.

Dificuldade x TranstornoHá uma distinção que precisamos fazer aqui, a qual permeia o

trabalho do psicopedagogo, bem como dos psicólogos, neuropsicólogos

e neuropsicopedagogos: dificuldades de aprendizagem são diferentes de

transtornos de aprendizagem?

Sim!

A dificuldade de aprendizagem se caracteriza por obstáculo no

avanço da aprendizagem de um indivíduo, a qual pode ser resolvida

com intervenções no método de ensino ou nas relações que envolvem

o aprendiz. Dito isto, pode ser que uma dificuldade apareça por motivos

como:

• desmotivação para aprender da forma como é ensinado;

• tempo diferente de aprendizagem;

• problemas emocionais relacionados à família ou ao próprio grupo

escolar;

• problemas de saúde;

• falta de acesso à satisfação de necessidades básicas, como sono,

alimentação, transporte, lazer ou segurança, gerando uma criança

que não consegue estar motivada para o aprendizado.

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Psicologia do Desenvolvimento 43

Figura 17: Intervenção com paciente autista

Fonte: Wikimedia

• Leia o documento sobre estilos de aprendizagem produzido

pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná e compreenda

melhor quais são os estilos de aprendizagem, disponível em

https://bit.ly/33qtqy4. Acesso em: 15 set. 2020.

Já os transtornos (ou distúrbios) de aprendizagem se caracterizam

por uma disfunção neurológica, isto é, um funcionamento distinto do

cérebro e de suas conexões neuronais. Esta disfunção faz com que o

aprendiz apresente dificuldades de aprendizado que não estão ligadas

apenas ao método ou à desmotivação, embora estes dois possam

influenciar no trabalho de intervenção.

Ter um distúrbio de aprendizagem não significa que o aluno não será

capaz de aprender, mas sim que ele necessitará de diferentes estímulos

e de um tempo diferente para adquirir as habilidades e competências

necessárias.

Alguns transtornos que são hoje muito recorrentes nas clínicas

psicopedagógicas e nas escolas são: dislexia, TDAH e autismo.

• Você sabia? Que existem associações voltadas para a compreensão e

propagação de informações sobre estes transtornos descritos acima?

Acesse os links abaixo e navegue pelos sites para ter acesso a vários

materiais sobre os assuntos:

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Psicologia do Desenvolvimento44

• Associação Brasileira de Dislexia, disponível em http://www.dislexia.org.br/.

Acesso em: 15 set. 2020.

• Associação Brasileira do Déficit de Atenção, disponível em

https://tdah.org.br/. Acesso em: 15 set. 2020.

• Associação Brasileira de Autismo, disponível em http://www.autismo.org.br/.

Acesso em: 15 set. 2020.

Embora a psicopedagogia tenha um escopo grande de atuação e

de produção de saberes, outra ciência vem se desenvolvendo a passos

largos e em relação com as neurociências, a neuropsicopedagogia, que

visa aliar as descobertas neurológicas ao trabalho de intervenção em

dificuldades e transtornos de aprendizagem.

• Você sabia? Que a profissão de psicopedagogo foi regulamentada em

2014? Recomendamos a leitura da matéria do Senado para entender

sobre o assunto, disponível em https://bit.ly/35FjLqg. Acesso em: 30

jan. 2019.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que a Psicopedagogia surge da necessidade de entender as dificuldades de aprendizagem. Com isso, ela trabalha com o desenvolvimento e aprimoramento da aprendizagem do aluno. Você aprendeu sobre os campos de atuação do Psicopedagogo.

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Psicologia do Desenvolvimento 45

Noções de NeuropsicopedagogiaINTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico você será capaz de entender as bases da psicopedagogia e da neuropsicopedagogia. E então? Motivado para estudar as noções de Neuropsicopedagogia? Então, vamos lá!

A Neuropsicopedagogia se coloca enquanto uma ciência que se alia

aos conhecimentos produzidos pela Neurociência, pela Psicopedagogia

e pela Psicologia Cognitiva. Seu principal objetivo é estudar as relações

entre a aprendizagem e o sistema nervoso, visando ao desenvolvimento

do ser humano em todas as suas frentes, biopsicossocial.

Assim como na Psicopedagogia, o Neuropsicopedagogo pode

atuar em diferentes locais, como na clínica, na escola, em hospitais e

instituições diversas.

O site da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia traz

algumas diretrizes que devem ser seguidas para realizar um bom trabalho,

as quais consideram as seguintes fases:

• Identificação precoce – a partir das queixas levantadas pela escola

ou pelos responsáveis (na clínica), o profissional deve fazer uma

sondagem acadêmica para se chegar a questões a respeito das

funções cognitivas do aprendiz, com aplicação de testes e entrevistas

estruturadas;

• Planejamento e intervenção – após a sondagem inicial, o profissional

deve montar um planejamento de intervenção, o qual deve levar em

conta a escola, a família, os grupos nos quais o aprendiz está inserido,

os métodos e instrumentos;

• Encaminhamento e resultado – realização de laudos e encaminha-

mento para outros profissionais quando necessário.

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Psicologia do Desenvolvimento46

Assim, tanto na escola quanto na clínica, o neuropsicopedagogo tem

a tarefa de identificar as dificuldades e planejar e executar intervenções

que visem ao desenvolvimento pleno do aprendiz.

Figura 18: Intervenção neuropsicopedagógica

Fonte: Pixabay

• A Neuropsicopedagogia também possui uma associação para divulgar

informações relevantes para a área. Navegue pelo site da associação,

disponível em https://sbnpp.org.br/. Acesso em: 15 set. 2020.

Em relação à intervenção psicopedagógica, conceitos que podem

ser aplicados à neuropsicopedagogia, Rotta, Bridi Filho e Bridi (Orgs.) nos

dizem que:

O espaço psicopedagógico é, metaforicamente, a exposição do

espaço simbólico do aprendente. Não é tanto a quantidade de materiais

ou sua diversidade que determinam o tratamento, mas sim a capacidade

de transformação do espaço interno, de intervenção, de reconstrução. A

psicopedagogia, mesmo quando sistematizada por meio de produções

ou organizações de escrita ou cálculo, busca conectar o sujeito com suas

capacidades, com o reconhecimento das potencialidades que ele mesmo

acredita que tinha perdido ou não possuía (2016, p. 23-24).

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Psicologia do Desenvolvimento 47

Assim, muitas vezes, tanto a psicopedagogia quanto a

neuropsicopedagogia irão atuar com o objetivo de desenvolver novas

“rotas neuronais”, para que o indivíduo possa aprender.

Saiba mais: Assista ao vídeo “Como nosso cérebro aprende?”, para

compreender melhor a ligação entre o sistema nervoso e o aprendizado,

disponível em: https://bit.ly/2RuE6Gg. Acesso em: 15 set. 2020.

Isto é, o próprio ato de aprender já faz com que nosso cérebro se

modifique, e essa modificação também possibilita novos aprendizados,

como em um círculo.

Pense em uma constelação, um céu com muitas estrelas. Agora,

pense que você pode percorrer caminhos entre as estrelas, e, com

certeza, você irá descobrir caminhos diferentes a se chegar nas diversas

estrelas. Da mesma forma, o cérebro está em constante desenvolvimento,

ou melhor, seus neurônios estão em constante desenvolvimento, criando

diferentes rotas para que as informações possam passar, garantindo

assim a aprendizagem.

Este processo de desenvolvimento de novas rotas é chamado de

plasticidade cerebral (ou neuronal) e é de extrema importância para o

aprendizado.

Logo “… a plasticidade cerebral é multidimensional, um processo

dinâmico que estabelece uma relação entre estrutura e função: a

plasticidade atua no nível neuroquímico, hedológico e comportamental”

(ROTTA; BRIDI FILHO; BRIDI et al., 2016, p. 20).

Vamos compreender estes três níveis em que a plasticidade atua.

1. Nível neuroquímico

O nosso cérebro é composto por estruturas, líquidos, membranas,

neurônios, outras células auxiliares que fazem a limpeza, a defesa, a

nutrição entre outras funções, e, não menos importantes, substâncias

químicas.

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Psicologia do Desenvolvimento48

Figura 19: Funções do cérebro

Fonte: Adaptado pelo autor

Estas substâncias químicas são chamadas de neurotransmissores e

auxiliam na passagem de informações pelas redes de neurônios. Temos

diversas dessas substâncias e elas atuam em diferentes partes do cérebro.

Desta forma, a partir das interações com o meio, os neurotransmissores

podem ir se modificando, interagindo uns com os outros, realizando uma

adaptação no sistema nervoso.

Figura 20: Conexões neurais

Fonte: Pixabay

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Psicologia do Desenvolvimento 49

Assim, temos o primeiro nível de plasticidade, que é a mudança na

forma de atuação dos neurotransmissores.

• Assista ao vídeo do canal “Minhas Inteligências” para saber mais sobre

a plasticidade cerebral, disponível em: https://bit.ly/3bZfwXs. Acesso

em: 15 set. 2020.

2. Nível hedológico

Esses neurotransmissores têm a função de passar ou inibir

mensagens, ou seja, quando um estímulo chega ao cérebro (som, luz,

imagem, sensação, emoção, entre outros), os neurotransmissores são

disparados estabelecendo uma rede de mensagens.

Para que as mensagens sejam passadas de um neurônio para o

outro, é necessário que os neurotransmissores saiam de um neurônio

e consigam se encaixar em um receptor do neurônio seguinte. Esta

passagem é a sinapse! Logicamente, tudo isso ocorre em milésimos de

segundos.

Figura 21: Sinapses

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Psicologia do Desenvolvimento50

Fonte: Adaptado pelo autor

Muito bem, cada neurônio pode fazer sinapses com diversos

outros neurônios. Assim, quando a plasticidade muda o cérebro a um

nível hedológico, queremos dizer que, na verdade, o neurônio consegue

modificar estas sinapses, fazendo ou desfazendo ligações com neurônios

vizinhos.

3. Nível comportamental

Ao modificarmos padrões nas sinapses e na atuação dos

neurotransmissores, permitimos que o cérebro estabeleça novas rotas

para o pensamento. Dito isto, quer dizer que conseguimos encontrar

novas formas de resolver nossos problemas e isto se reflete em nosso

comportamento, ou seja, aquilo que conseguimos observar no outro.

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Psicologia do Desenvolvimento 51

Ao analisarmos mais de perto a capacidade que o cérebro tem de se

reorganizar, podemos compreender o quão importante é a aprendizagem

para o desenvolvimento do indivíduo. Sem diferentes estímulos, as

conexões neuronais não evoluem e não conseguimos adquirir novos

comportamentos e novas formas de pensar.

• Gostou de saber um pouco mais sobre o cérebro humano e toda a

sua incrível capacidade de aprendizado? Então, se você quiser se

aprofundar e compreender melhor como os neurotransmissores

agem no nosso cérebro, possibilitando a transmissão das

mensagens, recomendamos que assista ao vídeo “Sistema Nervoso

– A anatomia e fisiologia dos neurotransmissores”, disponível em

https://bit.ly/2FEjY1W. Acesso em: 15 set. 2020.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que a neuropsicopedagogia também se interessa pelo estudo dos processos neurológicos envolvidos em como acontece a aprendizagem e nos transtornos de aprendizagem, sendo que cada transtorno pode apresentar características neurológicas próprias associadas à interação do sujeito com o ambiente. Você aprendeu que a Psicologia do Desenvolvimento é uma área abrangente, que trata desde os processos de maturação do corpo físico até a intervenção em processos de dificuldades e transtornos de aprendizagem. Espero que este panorama geral tenha possibilitado a você uma motivação para esmiuçar cada uma das áreas trabalhadas até aqui!

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Psicologia do Desenvolvimento52

REFERÊNCIAS●COLL, C. et al. Desenvolvimento Psicológico e educação: Psicologia

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revista interdisciplinar, Digital, v. 11, n. 16, p. 148-159, 13 jun. 2017. Disponível

em: https://bit.ly/2FAQSAz. Acesso em: 15 set. 2020.

●GATTI, B. Psicologia da educação: conceitos, sentidos e

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●PAPALIA, D.; OLDS, S.; FELDMAN, R. Desenvolvimento Humano.

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● ... ROTTA, N. T.; BRIDI FILHO, C. A.; BRIDI, F. R. S. (orgs.). Neurologia e

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●SOBRINHO, P. J. Fundamentos da psicopedagogia. São Paulo:

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●SPINILLO, A. G.; ROAZZI, A. A atuação do psicólogo na área cognitiva:

reflexões e questionamentos. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 9,

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Tainá Thies

Psicologia do Desenvolvimento