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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE RAFAELLY FERNANDES PEREIRA REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ADOLESCENTES ESCOLARES SOBRE IDOSO E VELHICE: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem FORTALEZA-CE 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE

CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE

RAFAELLY FERNANDES PEREIRA

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ADOLESCENTES ESCOLARES

SOBRE IDOSO E VELHICE: subsídios para o cuidado clínico de

enfermagem

FORTALEZA-CE

2012

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RAFAELLY FERNANDES PEREIRA

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ADOLESCENTES ESCOLARES SOBRE IDOSO E VELHICE: subsídios para o cuidado clínico de

enfermagem

Dissertação apresentada ao Mestrado Cuidados Clínicos em Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisitos parcial para obtenção do título de Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde.

Orientadora: Profª Drª Maria Célia de Freitas

Linha de Pesquisa: Fundamentos e Práticas do Cuidado Clínico em Saúde e Enfermagem

FORTALEZA-CE

2012

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RAFAELLY FERNANDES PEREIRA

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ADOLESCENTES ESCOLARES SOBRE IDOSO E VELHICE: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Cuidados Clínicos em Saúde.

Data: 22/11/2012

Banca Examinadora

________________________________________________ Profª. Drª. Maria Célia de Freitas

Universidade Estadual do Ceará – UECE Orientadora

________________________________________________ Profª. Drª. Márcia de Assunção Ferreira

Escola de Enfermagem Anna Nery – EEAN/UFRJ 1º Membro Efetivo

________________________________________________ Profª. Drª. Maria Lúcia Duarte Pereira

Universidade Estadual do Ceará – UECE 2º Membro Efetivo

________________________________________________ Profª. Drª. Maria Josefina da Silva – UFC

Suplente

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Ao Meu Amado Deus que me

concedeu o dom da vida , me deu forças e me guiou nesta caminhada.

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Agradecimentos

Ao Criador do mundo, que é luz, fortaleza e a força que me faz levantar da cama

todos os dias.

Ao meu pai Rosalbo Alves Pereira e minha mãe Maria Carcinólia Fernandes Pereira

pela admiração e confiança que dedicam a mim. A vocês que nunca mediram

esforços para me ajudar. A vocês que me deram a vida, a educação e o amor,

enveredaram-me no caminho da ética, da dedicação e da perseverança. Não sei

como retribuir o que vocês já me proporcionaram, o que posso fazer é sempre

honrar meu nome e da nossa família.

Ao meu irmão Raphael Fernandes. Diria até que é um ser inefável, pois não tenho

palavras para descrevê-lo, nem para agradecê-lo. Deus foi muito maravilhoso

comigo quando escolheu você para ser meu irmão, pois posso dizer com todas as

letras, que eu tenho um irmão de verdade. Eu te amo muito!

Ao meu amor, Victor Rebouças, meu maior incentivador, meu companheiro de todas

as horas. Obrigada por me dá o ombro naqueles momentos de maior desespero e

pela paciência de me aguentar quando nem eu mesma estava me aguentando! Te

amo!

À Célia Freitas, minha professora e, sobretudo, amiga. Pessoa que vem desde o

início de minha trajetória acadêmica me orientando e me conduzindo pelo prazeroso

mundo da ciência. Obrigada por me fazer crescer pessoal e profissionalmente.

Às professoras Maria Josefina e Lúcia Duarte pelas valiosas contribuições durante a

banca de qualificação.

À professora Márcia de Assunção que mesmo à distância abrilhantou este estudo e

enriqueceu meus conhecimentos. Em nome da enfermagem, obrigada por sua

disponibilidade em participar de minha defesa de dissertação.

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Às minha amigas Jéssica de Menezes, Eryjosy Marculino, Jênifa Santos e Tereza de

Galiza que sempre, de um jeito particular e especial, foram parceiras, estiveram

dispostas a ajudar e a proporcionar uma palavra de força. Com vocês aprendi o

valor da verdadeira amizade.

À minha chefe Socorrinha que entendeu alguns dias de minha ausência no trabalho.

Obrigado por ter me apoiado nos momentos de aflição em que achava que não daria

tempo conciliar a dissertação com meu trabalho assistencial de enfermeira.

Aos membros da linha de pesquisa: Cuidados Clínicos de Enfermagem ao Idoso e

Práticas Educativas, meus grandes colegas do estudo voltado à população idosa,

pelo crescimento mútuo e amadurecimento científico que alcançamos durante esse

período.

Aos diretores das escolas que foram campo da pesquisa, assim como aos

coordenadores do ensino médio das escolas. Agradeço por confiar em mim e abrir

suas portas para engrandecimento da ciência.

Aos adolescentes do estudo, que me falaram sobre suas vidas, seus cotidianos,

suas vivências. Obrigada por me revelarem a grandeza de suas histórias e, assim,

me fizeram alcançar os objetivos de estudo.

Aos demais amigos e colegas, pela amizade que adoça a vida. Todos, de alguma

forma, são responsáveis pelo meu sucesso.

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A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer

Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer

Não quero morrer pois quero ver

Como será que deve ser envelhecer Eu quero é viver pra ver qual é

E dizer venha pra o que vai acontecer

Eu quero que o tapete voe No meio da sala de estar

Eu quero que a panela de pressão pressione E que a pia comece a pingar

Eu quero que a sirene soe E me faça levantar do sofá Eu quero pôr Rita Pavone

No ringtone do meu celular Eu quero estar no meio do ciclone

Pra poder aproveitar E quando eu esquecer meu próprio nome

Que me chamem de velho gagá

Pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer

Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr

(Arnaldo Antunes)

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RESUMO

PEREIRA, Rafaelly Fernandes. Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem. Fortaleza, 2012. Dissertação (Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde). Universidade Estadual do Ceará, 2012. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Freitas.

O estudo objetivou conhecer os conteúdos que integram as representações sociais da velhice e do idoso para os adolescentes escolares, descrever as características que moldam a velhice e o idoso para os adolescentes escolares, identificar como os adolescentes pensam a própria velhice e que idoso querem ser e comparar as representações sociais dos alunos de escola pública com os alunos de uma escola particular. Pesquisa qualitativa, descritiva, tendo como referencial teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais. Participaram 60 adolescentes estudantes, sendo 30 de escola pública e 30 de escolas privadas da cidade de Fortaleza-Ce. Brasil. As técnicas de produção de informações foram: a entrevista semi-estruturada e a captação do perfil sociodemográfico dos estudantes. As entrevistas ocorreram nos meses de maio e junho de 2012, com duração média de 20 minutos. Aplicou-se a estatística simples e percentual na análise dos dados deste perfil. As entrevistas foram processadas pelo Programa ALCESTE. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa da UECE, Protocolo nº 11223077-6. Caracterização dos sujeitos estudados: 61,7% eram mulheres; 60% da religião católica; 55% apresentavam uma renda familiar de um a três salários mínimos, 50% morava com três ou quatro pessoas e 70% não viviam com idoso na mesma residência. Quanto ao ALCESTE, o programa selecionou 735 UCEs, perfazendo 77% de aproveitamento, sendo estas agrupadas em seis classes lexicais, assim nominadas: Classe 1: Experiência dos adolescentes com idosos; Classe 2: Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso; Classe 3: A perspectiva do adolescente como futuro idoso; Classe 4: Concepções de adolescentes sobre velhice; Classe 5: Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso; Classe 6: A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes. As classes 5, 1 e 3 foram as primeiras a serem formadas e seu sentido semântico aponta o relacionamento com o idoso e expectativas com a própria velhice, enquanto as classes 2, 4 e 6 têm como ideia geral as questões físicas. Conclui-se que as representações sociais da velhice e do idoso ancoram-se nas perdas (da saúde, da dependência, da capacidade funcional) e objetivam-se em imagens estereotipadas (cabelos brancos, rugas, perda da força física). Percebe-se uma ambivalência das representações conotadas pelos adolescentes diante da velhice, pois eles colocam os idosos como seres passíveis de respeito, pela sua experiência acumulada, todavia, os desvalorizam por os colocarem fora do contexto contemporâneo, passando o idoso à obsolescência, face às constantes mudanças do mundo moderno. Considera-se também que as representações dos estudantes de ambas escolas foram semelhantes, apresentando pontuais diferenças. O estudo contribuirá para a educação gerontológica na enfermagem, na medida em que, estas descobertas evidenciam o senso comum destes participantes e servirá como panorama para futuros projetos educacionais.

Palavras-chave: Envelhecimento; Adolescente; Estudantes; Enfermagem; Psicologia Social.

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ABSTRACT

PEREIRA, Rafaelly Fernandes. Social representations of students adolescents on elderly and old age: allowance for clinical care nursing. Fortaleza, 2012.Dissertation (Masterin Scholar Clinical in Health Care). Ceará State University, 2012. Person who orientates: Teacher Maria Célia de Freitas.

The study aimed to identify the contents that integrate social representations of aging and the elderly to students adolescents, describe the characteristics that shape the aging and elderly for students adolescent, identify how adolescents think their own age and older who want to be and compare the social representations of public school students with students from a private school. A qualitative and descriptive research was carried out, based on the Theory of Social Representations. Participants were 60 adolescent students, 30 from public schools and 30 private schools in the city of Fortaleza-Ce. Brazil. Participants were 60 adolescent students, 30 from public schools and 30 private schools in the city of Fortaleza-Ce. Brazil. The following information production techniques were used: semistructured interview and survey of the student’s socio-demographic. The interviews took place in the months of may and june 2012, with an average duration of 20 minutes. Simple and percentage statistics were applied to analyze these profile data. Interviews were processed in ALCESTE software. This study was approved by the Ethics Research UECE, Protocol No. 11223077-6. Socio-demographic profile results: 61.7% were women, 60% of the catholic religion, 55% had a household income of one to three minimum wages, 50% lived with three or four people and 70% did not live in the household with elderly. ALCESTE software selected 735 elementary context units, totaling 77% of exploitation, which were grouped in six lexical classes: Class 1: Experience with older adolescents, Class 2: Physical aspects: how the adolescent identifies the elderly, Class 3: The adolescent perspective as a future elderly, Class 4: Conceptions of adolescents on old age, Grade 5: School: education space about aging and elderly, Class 6: The vision of the elderly in society dictates by adolescents. Classes 5, 1 and 3 were the first to be formed and its semantic sense indicates the relationship with the elderly and expectations with the very old age, while classes 2, 4 and 6 have the general idea as physical issues. We conclude that social representations of aging and the elderly anchored in losses (health, addiction, functional capacity) and aim up in stereotypical images (white hair, wrinkles, loss of physical strength). It is perceived ambivalence of representations connoted by adolescents before the age because they put the elderly as beings capable of respect for their experience, however, devalue the put off by the contemporary context, from the elderly to obsolescence in the face of constant changes of the modern world. It is also considered that the representations of the students of both schools were similar, with occasional differences. The study will contribute to gerontological education in nursing, to the extent that these findings highlight the common sense of these participants and serve as the outlook for future educational projects.

Key words: Aging; Adolescent; Students; Nursing; Psychology Social.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Representação gráfica do número de uce e de palavras analisáveis por classe 60

FIGURA 2 Comparação entre as duas classificações descentes hierárquicas (CDH) realizadas com o corpus de entrevistas. 61

FIGURA 3 Dendograma: organização das classes a partir da análise lexical das entrevistas pelo programa ALCESTE. 62

FIGURA 4 Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente. 63

FIGURA 5 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 5 – Fortaleza, 2012. 73

FIGURA 6 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 1 – Fortaleza, 2012. 80

FIGURA 7 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 3 – Fortaleza, 2012. 87

FIGURA 8 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 2 – Fortaleza, 2012. 94

FIGURA 9 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 4 – Fortaleza, 2012. 100

FIGURA 10 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 6 – Fortaleza, 2012. 107

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Variáveis utilizadas na linha de comando, seus códigos e classificações. 59

QUADRO 2 Classes produzidas pelo ALCESTE e suas respectivas nominações. 64

QUADRO 3 Distribuição das formas reduzidas da classe 5, com maiores valores de khi2, seus contextos semânticos e sua frequência da Classe 5. Fortaleza, 2012. 72

QUADRO 4 Distribuição das formas reduzidas da classe 1, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 1. Fortaleza, 2012. 79

QUADRO 5 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 3. Fortaleza, 2012. 86

QUADRO 6 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 2. Fortaleza, 2012. 93

QUADRO 7 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 4. Fortaleza, 2012. 99

QUADRO 8 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 4. Fortaleza, 2012. 106

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Levantamento da produção científica sobre a temática idoso, adolescente e velhice. Fortaleza, 2011. 21

TABELA 2 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o sexo. Fortaleza, 2012. 67

TABELA 3 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a idade. Fortaleza, 2012. 68

TABELA 4 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o ano cursado do ensino médio. Fortaleza, 2012. 68

TABELA 5 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a religião. Fortaleza, 2012. 69

TABELA 6 Distribuição dos estudantes pesquisados por valor de renda familiar mensal. Fortaleza, 2012. 70

TABELA 7 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com número de pessoas com que reside. Fortaleza, 2012. 70

TABELA 8 Distribuição dos sujeitos estudados e a situação de ter ou não idoso em casa. Fortaleza, 2012. 71

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

UECE - Universidade Estadual do Ceará

GRUPEESS - Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e Sociedade

TRS - Teoria das Representações Sociais

INPS - Instituto Nacional de Previdência Social

FLBA - Fundação Legião Brasileira de Assistência

SESC - Serviço Social do Comércio

OMS - Organização Mundial de Saúde

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ONU - Organização das Nações Unidas

RS - Representações Sociais

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

ALCESTE - Analyse lexicale par contexto dún ensemble de segments de texte

UCI - Unidades de Contextos Iniciais

UCE - Unidades de Contextos Elementares

CHD - Classificação Hierárquica Descendente

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

CNS - Conselho Nacional de Saúde

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SUMÁRIO

Considerações Iniciais ........................................................................................... 14 1 Introdução............................................................................................................ 15

2 Objetivos.............................................................................................................. 23

3 Bases Conceituais ............................................................................................. 24 3.1 A adolescência: diversidade de experiência na sociedade contemporânea....... 25 3.2 Envelhecer e velhice: aspectos conceitual, social e cultural............................... 28 3.3 Conceituando o Idoso ......................................................................................... 33 3.4 Envelhecimento Demográfico.............................................................................. 36 3.5 Educação Gerontológica: intervenção de enfermagem ..................................... 40

4 Referencial Teórico-Metodológico ..................................................................... 45 4.1 Teoria das Representações Sociais.................................................................... 46 4.2 Trajetória Metodológica do Estudo ..................................................................... 51

4.2.1 Tipo de estudo....................................................................................................... 51

4.2.2 Os cenários da pesquisa e os seus sujeitos........................................................ 52

4.2.3 Operacionalização de produção de dados ........................................................... 55

4.2.4 Análise e interpretação dos dados ...................................................................... 56 4.2.5 Aspectos éticos............................................................................................. 65

5 Resultados e Discussões.................................................................................... 66 5.1 Caracterização dos sujeitos estudados............................................................... 67 5.2 As representações construídas pelos adolescentes........................................... 71

5.2.1 Classe 5 – Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso........................ 71 5.2.2 Classe 1 - Experiência dos adolescentes com idosos......................................... 78 5.2.3 Classe 3: A perspectiva do adolescente como futuro idoso................................. 85 5.2.4 Classe 2 - Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso..................... 92 5.2.5 Classe 4: Concepções de adolescentes sobre velhice......................................... 98 5.2.6 Classe 6 - A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes................... 105

6 Considerações Finais........................................................................................ 113 Referências ........................................................................................................... 118 Apêndices ..............................................................................................................126 Apêndice A - Perfil Sócio-Demográfico....................................................................127 Apêndice B - Roteiro para Entrevista Semi-Estruturada..........................................128 Apêndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Adolescente)............129 Apêndice D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Responsável)...........130 Apêndice E - Solicitação de Autorização dos responsáveis....................................131 Apêndice F - Solicitação de Autorização da Instituição...........................................132 Anexos....................................................................................................................133 Anexo A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa..............................................134

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Adesão à temática

O debruçar sobre as questões que permeiam a terceira idade teve início logo

no começo do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do

Ceará (UECE) em 2006. Neste período, teve-se a oportunidade de ser bolsista de

iniciação científica do Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e

Sociedade (GRUPEESS) da linha Cuidados Clínicos de Enfermagem ao Idoso e

Práticas Educativas, momento bastante rico em aprendizado, pois obteve-se

grandes oportunidades de aprender sobre o envelhecimento em todas as suas

nuances, e trabalhar com o idoso em diversos cenários de atuação junto aos

profissionais enfermeiros doutores, mestres, pós-graduandos e colegas de

graduação dos diversos semestres.

A pesquisa desenvolvida à época era sobre o uso de tecnologias de

enfermagem no cuidado clínico direcionado aos idosos e a partir dela pôde-se inferir

que um dos diagnósticos mais presentes entre os idosos era pertinente às questões

sociais, como o ‘Isolamento Social’. Isto foi despertando ideias e pensamentos sobre

os fatores motivadores para o agravamento deste quadro.

No decorrer do Curso de Graduação em Enfermagem, nas aulas teóricas e

práticas da disciplina de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e se perdurando

até os dias atuais, em aulas ministradas de estágio à docência no mestrado,

percebe-se nitidamente o quanto o tema idoso é pouco discutido pela maioria dos

estudantes. Raros discentes se mostram entusiasmados em trabalhar com o idoso e

observa-se que ainda em muitos não se despertou o interesse para questões

relacionadas ao idoso.

Considerando a experiência e vivência no cuidado ao idoso, bem como

compreendendo as peculiaridades resultantes do processo de envelhecimento que

se refletem na velhice, apreendidas ora pelo contínuo cuidado de familiares, ora pelo

contato com idosos na dimensão do trabalho, brotou a paixão e interesse em

aprofundar estudos, pesquisas sobre o envelhecimento humano, velhice e idosos

numa perspectiva de educar pessoas sobre os temas e, assim, modestamente

contribuir para modificar concepções negativas sobre a trama que os temas

despertam nas discussões, pela complexidade revelada num emaranhado de ideias

e posições explicitadas e demonstradas no cotidiano.

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Assim, embasadas em concepções positivas sobre a velhice e o ser idoso,

na perspectiva do envelhecimento ativo, foi iniciado, juntamente com professores da

disciplina Enfermagem Geriátrica e Gerontológica do curso de Graduação da UECE,

a tentativa de sensibilização dos alunos para uma atenção diferenciada ao idoso no

cuidado, com a realização de atividades educativas com cuidadores de idosos numa

instituição de longa permanência que agrega idosos vítimas de maus tratos e

abandono familiar; e o aperfeiçoamento profissional a partir das participações nas

reuniões da Sociedade Cearense de Geriatria e Gerontologia, dentre outras ações.

Acredita-se na necessidade de implementar e discutir posições e visões

sobre a velhice e o idoso na perspectivas do envelhecimento ativo. É imprescindível

para essa parcela populacional, visto que poderá despertar com o grupo que

discutimos, ações que proporcionem melhores caminhos em busca do respeito à

velhice e reconhecimento do idoso como cidadão na sociedade, comunidade e

família. Ressalta-se, ainda, que tais discussões, nesse momento, foram pensadas

para os adolescentes numa tentativa de precoce e ousadamente modificar

concepções negativas sobre a velhice e o ser idoso, pois mesmo existindo propostas

políticas que indicam as prioridades dos idosos, estas serão de pouco utilidade, se

não existirem ações que as implementem.

Além disso, foi crucial para definição do objeto de estudo a participação no

Congresso Norte-Nordeste de Geriatria e Gerontologia no ano em curso, no qual

observou-se que as discussões apontavam para a necessidade de mudanças de

paradigmas acerca da velhice e o ser idoso. Tais mudanças, somente serão

possíveis quando iniciadas na faixa etária de plena jovialidade que é a adolescência

pelo despertar das ideias, posições e concepções sobre os temas.

Diante desta constatação, surgiram indagações do tipo, que

elementos/conteúdos integram as representações sociais de adolescentes sobre a

velhice e o idoso? Que características moldam a velhice e o idoso para os

adolescentes? O que pensam sobre sua velhice e como pensam ser idosos?

O interesse em contribuir com ações educativas de enfermagem após o

conhecimento de suas representações foram a força propulsora para iniciar a

pesquisa, visto considerar a velhice e o idoso assuntos essenciais para discussão

nos dias atuais.

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1.2 As representações sociais sobre o idoso e a velhice para os adolescentes

escolares: objeto de estudo

O envelhecimento da população já pode ser considerado como um

fenômeno global que exige ação local, regional, nacional e internacional. Em um

mundo cada vez mais interligado, a omissão de lidar, de um modo sensato e em

qualquer parte do mundo, com os imperativos demográficos e as mudanças rápidas

nos padrões de doenças, terá consequências políticas e socioeconômicas em todos

os lugares, sendo necessária a adoção pela família, comunidade e sociedade

atitudes de posições adequadas quando se pensa o cuidado aos idosos.

O grupo etário composto por pessoas acima de 65 anos cresceu de 3,5%

em 1970, 4,8% em 1991 para 5,9% em 2000. Em 2050, este grupo etário deverá

responder por cerca de 19% da população brasileira. Estes fatos levarão a uma

drástica mudança de padrão na pirâmide populacional brasileira (NASRI, 2008;

BRASIL, 2006).

Hoje, vivenciamos junto com o aumento da expectativa de vida, a era da

inovação tecnológica, da evolução da ciência, das construções modernas e

requintadas, porém todo este aparato de modernização é, em sua maioria, voltado

para o público jovem e adolescente, deixando a população idosa em ascensão, em

situação menos favorecida.

A cultura da mobilidade, da flexibilidade, da efemeridade e da provisoriedade

elege o adolescente como modelo. A ele são imputadas tais qualidades e sobre ele

é que, principalmente, vão-se realizar esses desígnios da contemporaneidade e as

subjetivações pertinentes. (JUSTO, 2005).

Entender como estes adolescentes percebem e representam a velhice e o

idoso oportuniza a compreensão de comportamentos e sentimentos para com estes,

seja por parte da sociedade ou dos próprios velhos. Assim, estão em pauta crenças,

explicações e definições a respeito de tais objetos sociais, isto é, o conhecimento

que os grupos sociais elaboram e utilizam para compreender e lidar com estes,

portanto, suas representações sociais.

Por representação social, Moscovici (1978) define como um corpus

organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas a partir das quais o

homem deixa clara a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa

ligação cotidiana de trocas, e liberam os poderes de sua imaginação. Desse modo,

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as representações sociais são uma forma de conhecimento elaborada por

determinado grupo sobre um objeto social relevante. Nesta pesquisa, a velhice e o

idoso assumem importância ao exercer as funções de direcionar comportamentos e

facilitar a comunicação entre os membros do grupo que as compartilha.

A Teoria das Representações Sociais (TRS) permite conhecer a construção

dos saberes sociais, por isso capacita o conhecimento de um processo que deve ser

convertido em objeto de estudo por meio de um procedimento de simplificação,

organização e compreensão a partir da teoria. (CRUZ, 2007).

Percebemos que esta teoria, cada vez mais, vem sendo utilizada por

profissionais da saúde, inclusive os enfermeiros, em suas pesquisas. Ela permite

conhecer os significados que são formados pelos homens na sua interação com o

mundo para explicar diversos fenômenos, uma vez que é proposto um conhecimento

no qual tanto os sujeitos quanto os objetos se constituem num processo de relação,

portanto o saber é algo construído na relação com o mundo.

Para iniciar a abordagem sobre as concepções dos adolescentes é

interessante conhecer e compreender a priori esta fase do ciclo vital. De acordo com

Minto et al. (2006) a adolescência é o período do desenvolvimento humano em que

se estabelecem, de forma mais definida, a identidade, os padrões de

comportamento e o estilo de vida.

A mudança marca esta fase etária e repercute nas percepções dos

adolescentes não só em relação aos contextos socializadores (família, escola,

grupo, comunidade) como, sobretudo em relação a si próprio: surgem dúvidas e

questões. As autodescrições começam a incluir aspectos como emoções, desejos,

motivações, expectativas, atitudes, crenças e ideais sobre como desejariam ser e

sobre como não querem ser (CEBALLOS, 2009).

Desse modo, é possível entender o adolescente como ser em

desenvolvimento e transformação, consequentemente se configurando em um alvo

para práticas, reflexões e meio de ação profissional de enfermagem, sobretudo a

representação construída a partir do adolescente acerca do idoso e da velhice, que

é o objeto de estudo desta pesquisa.

Como afirma Moscovici (2001), o indivíduo sofre a pressão das

representações dominantes na sociedade e, é nesse meio que pensa ou exprime

seus sentimentos. Essas representações diferem de acordo com a sociedade em

que nascem e são moldadas.

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A análise à luz da TRS caracteriza os conhecimentos e crenças dos grupos

sociais, no caso os adolescentes escolares, e possibilita identificar além das marcas

subjetivas, os modos compartilhados de pensar, e de forma particular os complexos

processos da realidade nos quais os homens estão envolvidos, uma vez que os

adolescentes são influenciados pelos pensamentos e ações dos outros

componentes de seu grupo social e do meio em que vive.

1.3 Questões Norteadoras

Por conseguinte, pretendemos, na realização da pesquisa que nos

propomos, responder a alguns questionamentos, ao mesmo tempo em que se

proporcionam momentos para discussões entre os adolescentes, permitindo que os

mesmos inovem sobre as questões relacionadas à velhice e ao ser idoso.

A problemática exposta fez surgir às seguintes questões norteadoras:

Que elementos/conteúdos integram as representações sociais de

adolescentes sobre a velhice e o idoso?

Que características moldam a velhice e o idoso para os adolescentes?

O que pensam sobre sua velhice e como pensam ser idosos?

As representações sociais de estudantes de escola pública sobre o

idoso e a velhice diferem das representações de estudantes de escolas privadas?

1.4 Justificativa, relevância e contribuições do estudo

Esta pesquisa justifica-se pela importância de estar colocando em pauta as

questões do envelhecimento humano e todos os envolvidos na busca de uma

unidade entre todas as gerações e pela necessidade de discutir as diferentes formas

de representar o idoso e a velhice pelo adolescente.

A expectativa de vida do brasileiro ao nascer apresenta interessante

evolução: entre 1950 e 1955 era de 50,9 anos; entre 2000 e 2005, de 68,3; e estima-

se que entre 2045 e 2050 a expectativa de vida do brasileiro seja de 76,9 anos de

idade. O Brasil tem aproximadamente 11 milhões de pessoas com mais de 60 anos.

Projeções indicam que será o sexto país do mundo em número de idosos no ano de

2020, com aproximadamente 32 milhões de idosos (BRASIL, 2006).

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Estes números revelam que os enfermeiros devem dar o devido valor a esta

temática, no sentido de preparar o adolescente para o cuidado ao idoso e

proporcionar uma orientação que construa a figura do idoso afastada de mitos e

esteriótipos, pois como profissionais formadores de opinião temos a

responsabilidade social de realizar um cuidado clínico ao idoso e influenciar os

demais neste cuidado.

Foi realizada uma busca on-line de artigos nas bases de dados Lilacs

(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline e Scielo

(Scienfic Eletronic Library Online) e no banco de teses e dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por meio

de uma estratégia de busca com as seguintes palavras-chave: “idoso”,

“adolescentes” e “velhice” nas seguintes combinações: “adolescentes” e “idosos” e

“adolescentes” e “velhice”. Usou-se descritores e palavras-chaves para ampliar o

quantitativo de trabalhos disponíveis nos meios digitais. As consultas às bases de

dados incluíram artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, registrados

entre janeiro de 2007 e outubro de 2011, ou seja, trabalhos realizados nos últimos

cinco anos.

Os trabalhos que foram buscados passaram por um processo de seleção

conforme os seguintes critérios de inclusão: - Estudos acerca especificamente da

relação entre adolescentes e idosos; - Estudos sobre velhice que abordasse

percepções dos adolescentes; - Trabalhos que tivessem como enfoque ações

educacionais de enfermagem voltadas simultaneamente para o envolvimento destas

duas populações; - Trabalhos em língua portuguesa e completos; - Resumos

completos contendo objeto ou objetivo, metodologia, resultado(s) e/ou conclusão,

sendo priorizados esses dois últimos itens.

Não foram selecionados estudos tipo reflexão, relato de experiência, revisão

bibliográficas, ensaios clínicos, documental, artigos de opinião, monografias e relato

de caso. É importante ressaltar que se observou, em um primeiro momento, um

grande quantitativo de trabalhos na combinação das palavras, mas uma escassez

de informações sobre o assunto em foco.

No levantamento inicial dos artigos foram encontrados na base de dados

Medline, Lilacs e Scielo, 87, 39 e 8 artigos respectivamente, e no portal Capes foram

vistos 27 trabalhos, perfazendo um montante de 161 estudos, os quais

apresentaram os requisitos básicos para inclusão neste estudo, todavia, somente 12

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(7,5%) abordavam objetivamente a temática da associação entre idoso, velhice e

adolescente.

A grande maioria dos trabalhos mostrou que as prioridades dos estudos

estão pautadas no modelo biomédico, no qual se atenta muitas vezes para o lado

físico, para a sintomatologia, prevalência ou tratamento de doenças. Isto foi

confirmado por este universo de pesquisas e profissionais da área médica que

encontramos realizando estes estudos.

TABELA 1: Levantamento da produção científica sobre a temática idoso, adolescente e velhice. Fortaleza, 2011.

Medline

Bases

Lilacs

Scielo

CAPES

Adolescentes e idoso 87 39 8 26

Adolescentes e velhice -- -- -- 1

TOTAL 87 39 8 27

Inquieta-nos, pois o que se quer é ver profissionais empenhados na (re)

construção de uma sociedade mais consciente e responsável. Vinculados a um

cuidado não apenas ligado à clinica da doença da população, mas, sobretudo

focado no cuidado clínico, aquele que vê o ser humano integralmente e se preocupa

com a promoção de encontros entre diferentes gerações, pois acreditam que trarão

benefícios para todos os envolvidos, uma vez que os resultados serão traduzidos em

compreensão, respeito mútuo, afeto e mais qualidade de vida.

Nos 12 textos que estavam relacionados ao objeto deste estudo foram

assinalados os assuntos abordados com maior expressividade, com destaque para a

importância da atividade física nestas fases da vida, os direitos que os resguardam e

como se dão suas relações pessoais.

Todas estas pesquisas eram descritivas e apenas uma delas foi realizada

por autores do nordeste do país, todas as outras faziam parte do sudeste ou sul

brasileiro. Após a leitura destes 12 textos na íntegra, os trabalhos foram sintetizados,

visando à confecção de categorias. Assim, as categorias do estudo foram alocadas

em três seções: “Estilo de vida saudável entre as gerações”, “Igualdade e dignidade,

um direito de todos” e “Percepções intergeracionais”.

Tais questionamentos são inerentes à crença segundo a qual as precoces

discussões sobre os temas possibilitam sensibilizar os adolescentes em relação à

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velhice e ao idoso, permitindo melhorar a atenção ao próprio estilo de vida para um

envelhecer ativo e, ainda, compreender as alterações do processo de

envelhecimento de forma a renovar conceitos, sanar estereótipos e firmar atitudes

em relação aos idosos e à velhice, revelados pela construção de novos paradigmas

fundamentados em conhecimentos científicos.

Esta pesquisa servirá como reforço a outras realizadas por pesquisadores

interessados tanto nas questões referentes ao idoso, ao adolescente, como também

à prática do cuidado de enfermagem e também nas da Teoria das Representações

Sociais, ampliando, dessa maneira, o corpo de conhecimento da enfermagem

nessas áreas.

Nesse sentido, compreende-se a necessidade de efetivar estratégias que

possam mobilizar a mudança das pessoas em geral e, em especial, os

adolescentes, acreditando que a discussão das representações sobre a velhice e o

idoso subsidiam a construção de valores e a compreensão das práticas em relação

ao idoso e a velhice.

Urge, portanto, compreender as mudanças populacionais para poder intervir

diante das novas necessidades e construir estimativas sobre as tendências advindas

no futuro. Neste estudo, em especial, o interesse em investigar sobre a

representação da velhice e do idoso para os adolescentes é consequência da

vivência cotidiana com jovens que revelam um imaginário de estereótipos e

impressões negativas refletidos nas formas de falar e expressar sobre o ser idoso e

a velhice.

O estudo contribuirá para as áreas de ensino e pesquisa, através da reflexão

e construção de conhecimento, assim como será uma vitrine da realidade que nos

cerca, influenciando as agências responsáveis para que este tema seja item da

Agenda de Prioridades em Pesquisa em Saúde do Ministério da Saúde.

Além disso, esta pesquisa embasará ações da enfermagem junto com

adolescentes escolares e a sociedade como um todo almejando a responsabilidade

social no cuidado ao idoso, a redução da iniquidade social e a produção de

conhecimento que atenderá aos anseios do grupo de adolescentes, permitindo aos

adolescentes compreenderem, refletirem e até modificarem em bons modos as

percepções ao idoso, tornando-os agentes ativos e multiplicadores de atitudes gentis

em relação ao tratamento aos idosos.

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O trabalho, portanto, se justifica, sobretudo pela relevância social da

pesquisa, além de ser importante para a enfermagem gerontológica. Ele contribui

também para as pesquisas sobre o tema, já que há uma grande carência de

trabalhos que abordem a relação social entre o idoso e o adolescente e os cuidados

de enfermagem que envolvem esta relação.

Consideramos relevante a pesquisa pela contribuição que ela possibilitará

aos profissionais de saúde na perspectiva da formação humana, especialmente,

para os alunos de ensino médio e, ainda, contribuir com o crescimento da

enfermagem gerontológica que nas últimas décadas apresenta avanço no

conhecimento acerca dessa parcela populacional, fortalecendo a formação dessa

especialidade. No tocante, especialmente, a parcela populacional a ser estudada,

sabemos também, que as discussões sobre a velhice e o ser idoso possibilitarão

reflexões nos adolescentes sobre o tema, como estratégia de mobilizar esforços

para o autocuidado para a velhice, bem como o compromisso com os idosos

presentes na família, comunidade e na sociedade.

2 OBJETIVOS DO ESTUDO

Para responder às questões, foram estabelecidos os seguintes objetivos:

Conhecer os conteúdos que integram as representações sociais da

velhice e do idoso para os adolescentes escolares

Descrever as características que moldam a velhice e o idoso para os

adolescentes escolares

Identificar como os adolescentes pensam a própria velhice e que idoso

querem ser

Comparar as representações sociais dos alunos de escola pública com

os alunos de uma escola particular

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Bases Conceituais

“O tempo se mede com batidas. Pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração” (Rubem Alves).

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3 BASES CONCEITUAIS

A construção social do adolescer e do envelhecer

A cada dia nascemos, crescemos e morremos, este é o ritual do ser vivo.

Como tal, o ser humano neste ínterim, vive fases, ciclos de vida, nos quais o

indivíduo interage com seu grupo social, recebe informações de diversos meios e,

ao se relacionar, realiza trocas de saberes e experiências de vida.

Neste capítulo, será explicitado sobre as fases da vida designadas como

adolescência e velhice. Desta forma a reflexão se volta também sobre a pessoa

idosa, pois são objetos de reflexão, visto que o estudo aqui proposto foca o

adolescente frente a esse tema.

3.1 A Adolescência: Diversidade de Experiência na Sociedade Contemporânea

A adolescência como uma fase do desenvolvimento humano, implica

mudanças. É um período de transição do mundo infantil para o mundo adulto e por

conta disso é um momento de uma nova redefinição de si mesmo, de reorganização

pessoal, no qual estão envolvidas inquietações, dúvidas, reflexões sobre os novos

valores que o cercam e sobre seu próprio existir no mundo.

A adolescência consiste em um conceito recente na história humana. Ela foi

concebida como uma categoria geracional, reconhecida socialmente,

academicamente e até cientificamente como uma etapa do ciclo de vida no início do

século XX, influenciada pela era industrial, pela organização da vida escolar e pelo

aumento do tempo de dependência do indivíduo em relação aos seus pais,

constituindo uma fase de espera e preparo para a vida adulta (ARIÈS, 1981;

OLIVEIRA, 2009).

A adolescência passou a ser objeto de estudo e ganhar visibilidade,

principalmente, a partir de Stanley Hall, em 1904, na Psicologia do Desenvolvimento,

a qual a adolescência foi associada a uma fase de “tempestade” e “tormenta”,

tendência que orientou uma visão mais tradicional sobre o processo de adolescer

nos estudos ocidentais (MUUSS, 1976).

Segundo Kett (1993), as teorias sobre a adolescência se basearam, na

sociologia, na psicologia, na medicina e na pedagogia. Os adolescentes se

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tornaram, desde o início do século XX, uma faixa etária delimitada, que vive uma

fase da vida sem que o indivíduo possua grandes responsabilidades, sendo

tutelados pelos pais e/ou seus responsáveis.

De acordo com Erik Erikson (1976) o desenvolvimento humano se dá a partir

de oito etapas de desenvolvimento psicossocial que se organizam em função do

investimento da libido. Para o autor, a adolescência refere-se à quinta crise

normativa, em que há um conflito entre identidade e difusão de papéis, entretanto

ele dá uma visão menos preconceituosa e estigmatizada sobre o que é a

adolescência, pois ele a aborda como um momento de transformações importantes

não só no campo biofisiológico, mas também nas esferas afetiva, social e cultural

(GALLATIN, 1978; CARVALHO, 1996).

Giroux (1997) refere que o adolescente é colocado às margens do poder

político e é abordado como um problema social ou uma ameaça a si próprio e à

sociedade, é vinculado à violência, as drogas e a uma sexualidade irresponsável; e

ao mesmo tempo, o adolescente também é foco de encanto e desejo dos adultos,

símbolo de esperança, expectativa e futuro.

A adolescência foi elevada como representante e expressão máxima da

juventude, da potência, da beleza, da liberdade, do gozo, do espírito crítico e

contestador, do progresso, da disposição para a mudança e de tantos outros

atributos que a tornaram uma fase bastante prestigiada e cobiçada. É verdade,

também, que essa fase foi vista como momento de vivência das grandes crises

(afetivas, emocionais, de identidade, de valores, entre outros) e sofrimentos.

Observa-se pelos estudos sobre adolescência que ela está arraigada de

anseios ambivalentes, tanto no campo social, econômico e político, os quais

produzem certa dificuldade em se apreciar os adolescentes como seres capazes de

construírem ações significativas nestas áreas.

No entanto, é necessário desmitificar estas ideias e perceber a pluralidade

da adolescência no sentido de compreender a competência crítica, social e política

que o adolescente desenvolve a cada dia, formando-o um cidadão de direitos,

deveres e acima de tudo com concepções e pensamentos sobre o mundo em que

vive.

De acordo com Outeiral (1994), esta concepção adversa esta relacionada

com o próprio significado da palavra “adolescência”, cuja origem etimológica implica

noções como: aptidão para crescer (no sentido físico e psíquico) e para adoecer (em

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termos de sofrimento emocional, com as transformações biológicas e mentais que

operam nessa faixa etária).

Nesta fase surgem dúvidas e questões: necessidades de auto-afirmação e

de anseio pelo novo, desejos de usufruir a liberdade dos adultos, vontade de

conquistar autonomia pessoal, interesse em (re)definir o próprio espaço na família,

pode incluir afastar-se da família, dedicação ao estreitamento dos laços com os

pares, afirmação do seu mundo interior e da sua leitura pessoal do mundo exterior.

(BALAGUER; CASTILLO, 2002).

A adolescência é considerada a fase de passagem de um círculo social

restrito e primário – a família – para um universo social muito mais amplo e

secundário – o mundo todo. A entrada no “mundo”, a conquista da autonomia, a

“independência” volitiva e intelectual, a superação da tutela econômica e jurídica,

são alguns dos reconhecimentos da prontidão social do adolescente. (JUSTO,

2005).

Fierro (1995) complementa que ela é um período do desenvolvimento

humano em que se estabelecem, de forma mais definida, a identidade, os padrões

de comportamento e estilo de vida. Nesta fase surgem dúvidas e questionamentos,

necessidade de auto-afirmação e de conhecer o novo, desejo de usufruir a liberdade

dos adultos, o afastamento da família por parte do jovem e o estreitamento dos laços

com os pares.

O adolescente é um ser humano em desenvolvimento, que busca a sua

singularidade, a qual esta relacionada a uma gama de variáveis sócio-demográficas,

entre as quais se encontram questões envolvendo gênero, classe social e contexto

histórico-cultural, colocando em xeque qualquer concepção única e

descontextualizada sobre o processo de adolescer. (TRAVERSO-YÉPES;

PINHEIRO, 2002).

É considerável a influência do meio social e cultural, aos quais o adolescente

pertence, uma vez que cada contexto é particular e não está ligado apenas a

natureza humana, mas está pautado também na cultura da sociedade que o

adolescente faz parte e que consequentemente influencia suas ações.

As mudanças sócio-históricas e culturais possibilitam o reconhecimento de

novas representações sobre a adolescência nos diferentes contextos, como a

família, a escola, entre outras instituições que colaboram para a construção de

significados sociais sobre os processos de adolescer. (MARANGONI, 2007).

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É importante frisar a importância da família na formação do adolescente,

visto que é ela que proporciona uma vida com educação, amor, segurança, valores

morais, sociais, para que o mesmo tenha uma boa convivência familiar ou em

qualquer grupo social, respeitando as pessoas e, principalmente, os mais velhos

(OLIVEIRA, 2009).

Ainda conforme Oliveira (2009), os adolescentes estão mais motivados a

formar grupos com indivíduos da mesma idade ou bem próxima e que possuam

ideias, hábitos e valores parecidos, e é na escola, como um dos principais espaços

sociais do adolescente, que este aposta na convivência com seus pares.

Na contemporaneidade, em vista da era da tecnologia, do consumismo, da

busca pelo novo, do mais atual, o jovem se apresenta como protagonista na mídia,

na publicidade e é o alvo principal do comércio.

Como refere Justo (2005), no trabalho, na escola, na saúde, no lazer, nos

meios de comunicação e em tantos outros lugares é notável a presença da

jovialidade. Uma simples ronda por uma cidade revelará a presença maciça dos

jovens nos espaços públicos. No Brasil, a cidade é dos jovens, diferentemente do

que acontece em muitos outros países. O trabalho, a televisão, o shopping center –

Meca da sociedade atual – são maciçamente ocupados por jovens ou dirigidos para

eles.

Então, a adolescência se configura como uma fase de transformações

pessoais que possui em sua base um componente sociocultural, podendo ser vista

como um processo universal de trocas entre as diversas instituições seja ela a

família, a escola ou a rede de amigos. Daí a importância deste momento ser repleto

de boas influências de como deve se comportar na sociedade e com as gerações

posteriores para que assim represente bem seu grupo social.

3.2 Envelhecer e velhice: Aspectos conceitual, social e cultural

O processo de desenvolvimento humano e sua continuidade perpassam

todas as fases da vida, desde o nascimento até a morte, no adolescer ou no

envelhecer, somos seres que buscamos muito mais que apenas sobreviver, o

crescimento pessoal o qual é marcado por descobertas, alegrias, constrangimentos

e impedimentos.

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O envelhecimento humano e sua consequência natural, a velhice, é fato que

inquieta e preocupa a humanidade desde o início da civilização. O estudo da velhice

como fenômeno que atinge individualmente as pessoas não é um fato moderno,

desde a antiguidade existiam importantes tratados eruditos e obras literárias sobre a

velhice e o envelhecimento. (PAPALÉO NETTO, 2006).

De acordo com os escritos de Beauvoir (1990), no Ocidente, o primeiro texto

referindo à velhice encontra-se no Egito, no ano 2.500 a.C. quando a beleza física e

o vigor eram cantados e exaltados, Ptah-Hotep filósofo e poeta, afirmou que penoso

é o fim do ancião! Vai dia a dia enfraquecendo: a visão baixa, seus ouvidos se

tornam surdos, o nariz se obstrui e nada mais pode cheirar, a boca se torna

silenciosa e já não fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem e torna-se

impossível recordar o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. A ocupação a que

outrora se entregara com prazer, só a realiza agora com dificuldade e desaparece o

sentido do gosto. A velhice é a pior desgraça que pode acontecer a um homem.

Outro importante documento sobre o envelhecimento foi escrito há mais de

2000 anos por Marco Túlio Cícero (103-43 a.C.), filósofo romano, político, jurista,

cujo título é “De senectude - Catão, o velho”. Nele resume sua visão de

envelhecimento, enquanto um processo fisiológico, relata os problemas dos idosos

quanto à perda da memória, perda da capacidade funcional, as alterações dos

órgãos dos sentidos, a perda da capacidade de trabalho. Salienta que, com o

envelhecimento, os prazeres corporais vão sendo substituídos pelos intelectuais,

enfatizando a necessidade de prestigiar-se os idosos e de fazer-lhes um preparo

psicológico para a morte. (PAPALÉO NETTO; PONTE, 1996).

Em relação à Bíblia, o Antigo Testamento revela que o Deus não parece

medir-se por critérios cronológicos. Para Ele, portanto, a velhice não é o tempo onde

a vida se recolhe e não pode mais brilhar, deixar sinais e dar frutos visíveis e

maduros. Mas, pelo contrário, Ele parece comprazer-se em gerar e fazer brotar os

líderes de seu povo dos ventres considerados extintos das mulheres velhas e

estéreis. Segundo o Deus da Bíblia, velhice não é impedimento para nada, sequer

para nascer. Os profetas, em suas pregações, anunciam tempos futuros onde

“Velhos e velhas se sentarão ainda nas praças de Jerusalém’ cada um com o bastão

na mão, tão avançada será sua idade" (Zacarias 8:4) e " ...vossos velhos terão

sonhos; vossos jovens terão visões...". (Joel 2:28) (BEAUVOIR, 1990).

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Na literatura é evidente a dificuldade de se definir e estabelecer uma

teorização mais consensual sobre os fenômenos de envelhecimento e velhice, isso

devido à heterogeneidade da velhice experimentada pelos sujeitos. Um processo

que se inicia desde o nascimento e é influenciado por transformações físicas,

mentais e sociais, tende a ser bem singular o seu desenrolar rumo ao seu desfecho

final. Várias perspectivas conceituais sobre estes fenômenos foram elaboradas

segundo abordagens teóricas diferentes ou numa mesma abordagem.

No clássico livro A Velhice, Beauvoir (1990) faz uma evidente distinção entre

o que seja o processo de envelhecimento e o envelhecimento. O processo de

envelhecimento corresponderia às mudanças orgânicas que ocorrem em cada

momento do desenvolvimento do corpo biológico, e o envelhecimento seria o

momento específico de constatação de declínio desse corpo.

Paschoal (2002) coloca a velhice como um conjunto de aspectos que

envolvem múltiplas dimensões, de caráter biológico, social, econômico, histórico e

psicológico.

Na perspectiva da velhice marcada pelo corpo biológico e pelos efeitos da

cultura, pode-se citar a antropóloga Debert (1994), quando propõe a distinção de um

fato universal e natural de um fato social ou histórico. A autora caracteriza a velhice

como uma categoria socialmente produzida quando adquire significados

particularizados nos diversos contextos sociais e culturais de uma mesma época ou

em diferentes tempos históricos.

Essa perspectiva é possível porque o envelhecimento é considerado um fato

universal e natural, que constitui o ciclo biológico do ser humano desde o

nascimento à morte, e no qual é possível conceber e viver a velhice numa

variabilidade de formas. (DEBERT, 1994).

Isto torna factível a afirmativa de Britto da Motta (2006) quando propõe a

existência de velhices e não da velhice no singular. A visão preconceituosa sobre o

velho tornou-se naturalizada e reúne, geralmente, as características de alguém com

bastante idade, de aparência asquerosa e enrugada, com ideias do passado, inativo,

pouco ágil e de alguém que se espera equilíbrio na participação social. E o

envelhecimento tornou-se um mecanismo para a classificação e o estabelecimento

de parâmetros no desenvolvimento das pessoas.

O envelhecimento pode ser conceituado como um conjunto de modificações

morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que determinam a perda

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progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, sendo

considerado um processo dinâmico e progressivo. O declínio das funções orgânicas,

manifestadas durante o envelhecimento, tende a aumentar com o tempo, e pode

variar não apenas de um órgão para o outro, mas também é influenciado pelas

condições desiguais de vida e de trabalho, a que estiverem submetidas às pessoas

idosas. (PAPALÉO NETTO, 2006).

Papaléo Netto (2006) organiza a noção de envelhecimento perpassada por

fatores que ultrapassam a dimensão genética ou biológica. Para o autor, a

gerontologia pressupõe o envelhecimento na existência de uma base genética na

qual atuam com intensidades variadas os fatores extrínsecos (estilo de vida),

psicossociais (culturais, sociais, psíquicos e econômicos) e ambientais (relacionados

com o meio ambiente, como o mau estado da água, a poluição nos meios urbanos e

a existência de transmissores de doenças). Esses três fatores determinam o

envelhecimento orgânico que, por sua vez, causa alterações funcionais, celulares e

moleculares, que diminuem a capacidade de homeostasia, predispondo o corpo ao

adoecimento.

Existem várias formas de conceituar e construir significados sobre o

envelhecer e a velhice, seja embasado em práticas científicas, seja pelo senso

comum, porém o que vale no desenvolvimento humano é o respeito a suas

peculiaridades e o olhar diferenciado que se deve oferecer a cada grupo.

Neste sentido, entenderemos o homem não de forma fragmentada e dividida

em períodos sucessivos (infância, adolescência, adulto e velhice), nem a partir de

abordagens que moldam os grupos de idades em uma lógica cartesiana, mas sim

em uma dimensão biopsicossocial, que é constituída das vivências particulares de

cada um.

Bassit (2000) pontua que o estudo sobre o curso da vida vem em um

movimento que divide o estudo do desenvolvimento humano em estágios

descontínuos para um firme reconhecimento de que qualquer fase da vida deve ser

analisada dinamicamente, levando em consideração as experiências passadas, as

expectativas futuras, e de uma integração entre os limites do contexto social e

cultural correspondente.

Néri (2006) nos diz que a velhice é um conceito historicamente construído

que se inscreve na dinâmica das atitudes, crenças e valores da sociedade, estando

em oposição à juventude.

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A velhice é uma categoria construída socialmente, assim como a

adolescência e a juventude. É vista e tratada de maneira diferente, de acordo com

períodos históricos e com as estruturas sociais, culturais, econômicas e políticas de

cada povo. Por isso, essas transformações não permitem um conceito absoluto da

velhice.

A velhice como uma vivência particularizada para cada sujeito causa uma

diversidade de sentidos que permeiam, na expressão de Luft (1999), a percepção de

perdas e de ganhos. Para Luft (2005), essa percepção é dependente das

perspectivas e das possibilidades de quem tece a própria história, conforme

demonstra em sua poesia “Canção na plenitude”:

Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia). O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca a te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esse dourados anos me ensinou a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e, sobretudo a força - que vem do aprendizado. Isso te posso dar: um amor antigo e confiável cujas marés - mesmo se fogem - retornam; cujas correntes ocultas não levam destroços, mas o sonho interminável das sereias. (LUFT, 1999, p.151).

Além de todos os fatos mostrados que influenciam no processo de

envelhecimento, ainda existe outra situação que torna mais negativa a imagem da

velhice, é o grande consumismo da sociedade capitalista atual.

A sociedade moderna ao cultuar os valores da produtividade, da inovação,

da juventude e do consumo, associa a velhice a algo ultrapassado, sem serventia e

caracterizado por um processo contínuo de perdas físicas, psíquicas e sociais. Isso

remete a Simone de Beauvoir (1990) que diz que a velhice deve ser compreendida

em sua totalidade, ela além de um fato biológico, é um fato cultural e ainda

complementa dizendo que a velhice aparece como uma desgraça mesmo para

aquelas pessoas que consideramos conservadas, a decadência física que ela traz,

salta aos olhos, pois a espécie humana é aquela em que as mudanças causadas

pelo avanço da idade são mais espetaculares. Os animais descarnam, enfraquecem,

mas não se metamorfoseiam como nós.

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Diante dos fatos, compreendemos que é dentro da multiplicidade e da

heterogeneidade social e cultural de experiências que o processo de envelhecer e a

velhice necessitam ser olhados, pois a velhice não é única e singular, assim como

não é a infância e a juventude. Tais experiências são fundamentais para uma

construção social e coletiva do ser, visto que o individual só existe quando

reconhecido e partilhado pelos outros.

3.3 Conceituando o Idoso

Denominar uma pessoa como idosa é um critério usado para demarcar e

distinguir indivíduos que apresentam determinadas características físicas, mais

precisamente de senilidade, que são as alterações naturais do envelhecimento,

direcionado também para o usufruto de benefícios de políticas públicas.

A questão, no caso, é quanto ao conteúdo do conceito de “idoso”, cuja

referência imediata costuma ser de características biológicas. O limite etário seria o

momento a partir do qual os indivíduos poderiam ser considerados “velhos”, isto é,

começariam a apresentar sinais de senilidade e incapacidade física ou mental.

Porém, acredita-se que “idoso” identifica não somente indivíduos em um

determinado ponto do ciclo de vida orgânico, mas também em um determinado

ponto do curso de vida social, pois a classificação de “idoso” situa os indivíduos em

diversas esferas sociais, tais como o trabalho, a família, entre outros. (CAMARANO,

1999).

É comum que a distribuição de recursos públicos dependa de alguma forma

de alocação a grupos específicos, o que implica distinguir indivíduos. Quando essa

distinção é feita a partir de critérios impessoais, como exigem, por exemplo, a

maioria das leis, é necessária a existência de algum tipo de característica universal

observável entre os indivíduos que permita classificá-los como pertencente ou não a

uma determinada categoria. (CAMARANO, 1999).

Consoante Oliveira (2009), até as décadas de 60-70 os idosos não faziam

parte da cena do cotidiano brasileiro. Pouco se falava sobre idosos e havia no país

apenas organizações sociais ou entidades exclusivas de idosos como: INPS

(Instituto Nacional de Previdência Social, FLBA (Fundação Legião Brasileira de

Assistência) e o SESC (Serviço Social do Comércio).

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No Brasil a primeira vez que se falou de amparo ao idoso foi na Constituição

de 1988, após isso, apenas em 1996, data da regulamentação da Política Nacional

do Idoso que alguns direitos dos idosos foram reconhecidos legalmente. (OLIVEIRA,

2009).

O reconhecimento dos direitos da pessoa idosa somente ocorreu em 1994,

com a criação da Política Nacional do Idoso, reafirmada e aprimorada pelo Estatuto

do Idoso, em 2003, que destacou o papel do Estado na promoção de mecanismos

que garantam esses direitos.

É a partir outubro de 2003, quando a Lei nº 10.741-Estatuto do Idoso-foi

sancionada que se estabeleceu direitos de deveres da pessoa idosa e afirma ao

idoso a idade igual ou superior a 60 (sessenta anos). (BRASIL, 2004).

Dessa forma, podemos constatar que estão sendo considerados idosos no

Brasil, cidadãos do sexo feminino ou masculino, situados na faixa etária a partir de

60 anos.

Néri (2001) refere que idosos são populações ou indivíduos que podem ser

assim categorizados em termos da duração do seu ciclo vital. Segundo convenções

epidemiológicas atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS), idosos são

pessoas de mais de 60 anos nos países subdesenvolvidos, e de mais de 65, nos

países desenvolvidos.

A delimitação de idade caracterizando a classe de idosos trouxe alguns

benefícios para esta população, uma vez que ela passou a ser mais assistida por

programas governamentais e consequentemente mais respeitada frente às diversas

fases da vida.

Percebe-se que a categorização etária da população, é uma produção social

de cada cultura, a qual vai direcionar as formar de comportamento de cada faixa

etária, impondo limites e produzindo uma ordem em que cada um deve se manter

em seu lugar. Além de definir públicos de consumo, principalmente nos lugares

regidos pelo capitalismo.

Devemos considerar a questão cronológica envolvida, entretanto cabe-nos

não taxar estas pessoas com mais tempo de vivência e não encaixá-las em

determinados modos de vida pré-definidos, pois eles além de tudo são seres que

carregam uma heterogeneidade, seja em suas questões de gênero, classe social,

personalidade, história de vida, educação, saúde e contexto sócio-histórico,

propiciando diferenças entre os idosos.

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O conceito de idoso, portanto, envolve uma questão bem mais complexa do

que uma simples determinação de idades-limite biológicas e apresenta, pelo menos,

três limitações. A primeira diz respeito à heterogeneidade entre indivíduos no

espaço, entre grupos sociais, raça/cor e no tempo. A segunda é associada à

suposição de que características biológicas existem de forma independente de

características culturais e a terceira à finalidade social do conceito de idoso.

(CAMARANO, 1999).

De acordo com Geertz (1989), não dá para pensar em vida orgânica e vida

social separadamente. Classificam-se idosos, por exemplo, com objetivos de estimar

demandas por serviços de saúde, por benefícios previdenciários e, também, como

uma maneira de distinguir a situação dos indivíduos no mercado de trabalho, na

família e/ou em outras esferas da vida social.

Uma das consequências do uso da idade para a definição de idoso é o

poder prescritivo contido nessa definição. A sociedade cria expectativas em relação

aos papéis sociais daqueles com o status de idoso e exerce diversas formas de

coerção para que esses papéis se cumpram, independentemente de características

particulares dos indivíduos. (LASLETT, 1996).

O status de idoso pode ser atribuído a indivíduos com determinada idade,

mesmo que não apresentem características de dependência ou senilidade

associadas à velhice e, mais importante, também para aqueles que recusem esse

status. Um exemplo claro dessa coerção é a aposentadoria compulsória presente

nos regimes de aposentadorias de vários países do mundo, inclusive dos países

desenvolvidos. (CAMARANO, 1999).

Peixoto (1998) refere sobre as modificações sofridas pelas representações

sociais da pessoa envelhecida ao longo do tempo, alterações estas determinadas

principalmente pelas mudanças sociais que gradativamente, reclamavam políticas

sociais para a velhice. Políticas que pressionavam pela criação de categorias

classificatórias, adaptadas à nova condição moral, assim como a construção ética do

objeto velho. Os estudos de Peixoto podem esclarecer questões conceituais que

estabelecem diferenças entre as terminologias de idoso e velho.

Na França do século XX era realizado um recorte social das pessoas com

mais de 60 anos e designava como velho (vieux) ou velhote (vieillard) aqueles que

não detinham estatuto social, enquanto os que possuíam eram chamados idosos

(personne agée). Assim, conforme Peixoto (1998), a noção de velho é, pois,

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fortemente assimilada à decadência e confundida com incapacidade para o trabalho:

ser velho é pertencer à categorização emblemática dos indivíduos pobres. E, por

outro lado, o termo idoso se escora na categoria aposentado, que supõe melhoria de

vida para os mais velhos.

Isto explica o motivo pelo qual nas sociedades industriais, os mais velhos

foram colocados à margem dos interesses produtivos, com exceção daqueles de

classes sociais mais favorecidas ou com prestígio social. E só com a introdução do

termo idoso, as pessoas com mais idade passaram a ser mais respeitadas, haja

vista que acompanhado deste termo veio a categoria aposentado que lhes

respaldaram na sociedade com uma inatividade remunerada.

Hoje, portanto, a terminologia idoso, tem uma conotação social de velho

respeitado, independente de sua história pessoal e suas particularidades. Pode-se

afirmar que a representação social do indivíduo envelhecido passou, ao longo dos

tempos, por diversas modificações. Ainda que ocorram as diversas categorizações,

encontramos a tensão entre o corpo socialmente construído e aquele que é

vivenciado na especificidade de sua história. (SÁ, 2004).

Diante de tantos anos de vida dedicados a construção e desenvolvimento do

país é justo que o idoso tenha conquistado vários direitos e regalias. Com várias

aquisições, ele passa hoje de um sujeito passivo, para um ativo, consumista e dono

de sua vida, por isso torna-se imprescindível que os adolescentes não tenham mais

nenhuma imagem negativa frente aos idosos e que aqueles não venham a sofrer

com seu próprio envelhecimento. Dessa forma, se faz necessário discutir, debater,

apresentar e trabalhar o envelhecimento e a velhice de uma forma que esse

processo possa ser encarado de forma natural. Afinal, cada um de nós

envelhecemos a cada minuto.

3.4 Envelhecimento Demográfico

A longevidade da população é um fenômeno mundial que determina

repercussões no sistema de saúde, no campo social, econômico, político do país.

Este processo vem se manifestando em várias partes do mundo de distintas formas.

No bloco dos países desenvolvidos, esse processo se deu de forma lenta,

ao longo de mais de cem anos, e dispondo de recursos necessários pra fazer frente

às mudanças advindas desta transformação demográfica. Já no grupo dos países

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em desenvolvimento, como o Brasil, esse processo se caracteriza pela rapidez com

que o aumento absoluto e relativo das populações adulta e idosa vem modificando a

pirâmide populacional e sem preparação. (VERAS, et al., 2001).

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, nos países

desenvolvidos encontra-se em fase de estabilização, enquanto nos países em

desenvolvimento, como o Brasil, esse processo encontra-se mais acelerado e esse

fato deve-se principalmente ao aumento da expectativa de vida e à queda dos

coeficientes de mortalidade e fecundidade. (MENEZES, LOPES, MARUCCI, 2007).

A partir dos anos 60 – período onde, até então, os diferentes grupos etários

registravam um crescimento praticamente idêntico - o grupo de idosos passou a

liderar esse crescimento. As projeções indicam que num período de 70 anos (1950 a

2020), enquanto a população brasileira estará crescendo 5 vezes, o grupo dos

idosos estará se ampliando em 16 vezes. (VERAS, et al., 2001).

Uma população torna-se mais idosa à medida que aumenta a proporção de

indivíduos idosos e diminui a proporção de indivíduos mais jovens, ou seja, para que

uma determinada população envelheça, é necessário haver também uma menor

taxa de fecundidade. (NASRI, 2008).

Até meados da década de 1940, o Brasil caracterizou-se pela prevalência de

altas taxas de natalidade e de mortalidade. A partir desse período, com a

incorporação dos avanços da medicina às políticas de saúde pública,

particularmente os antibióticos recém-descobertos na época e importados no pós-

guerra, o país experimentou uma primeira fase de sua transição demográfica,

caracterizada pelo início da queda das taxas de mortalidade. Naquela década a

esperança de vida ao nascer no Brasil, para o conjunto da população, era inferior

aos 50 anos de idade. (BRASIL, 2010).

A longevidade é sem dúvida uma resposta à mudança de alguns indicadores

de saúde, especialmente a diminuição da fecundidade e da mortalidade e o aumento

da esperança de vida que se deve aos avanços tecnológicos e no campo da saúde

ao longo dos anos. Entretanto, a longevidade é algo muito positivo quando

acompanhada de qualidade de vida, caso contrário, seria apenas o prolongamento

do sofrimento humano, um ganho inútil.

Compreendendo a necessidade de entender melhor a velhice e direcionar o

olhar para o ser idoso, adotamos as considerações da Organização Pan-Americana

de Saúde (OPAS) (2005) quando afirma que o mundo passa por uma transformação

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demográfica sem precedentes. Entre os dias atuais e 2050, o número de idosos

aumentará de 600 milhões para quase dois bilhões. Em menos de 50 anos, pela

primeira vez na história, o mundo terá mais pessoas acima de 60 anos que pessoas

com menos de 15 anos. Por sua vez apontou, ainda, que devemos olhar para os

idosos como nosso reflexo para o futuro, reconhecendo que as pessoas idosas são

únicas, com necessidades, talentos, capacidades individuais e não um grupo

homogêneo por causa da idade.

Reconhecemos que o aumento na expectativa de vida de mais de 30 anos,

nos últimos séculos, foi possível pela melhora dos serviços de saneamento, de

nutrição, de descoberta, do uso de antibióticos e de ambiente mais seguro e

saudável, que revolucionaram a condição humana na face da terra. A organização

acrescenta, ainda, a drástica redução da mortalidade infantil nos últimos 100 anos

como um grande sucesso de saúde pública. O desafio é transformar estes ganhos

em benefício para a sociedade, superando áreas de exclusão. Isso exigirá profundas

mudanças na forma como organizamos os lugares de trabalho, na maneira de viver

e no conceito de cuidar daqueles que não podem se cuidar, mas que necessitam de

cuidados. (OPAS, 2005).

No mundo, em 1950, o percentual de maiores de 60 anos de idade era de

8,2%; em 2000, essa faixa etária alcançou 10%. As projeções para 2050 estimam

que a terra abrigará 21,1% de pessoas idosas. No Brasil, os índices são

semelhantes: em 1950, 4,9%; em 2000, 7,8%; e, no ano 2050, teremos 23,6% de

idosos. (OPAS, 2005).

A proporção de idosos vem crescendo a cada novo censo. As pessoas

acima de 65 anos correspondiam a 4,8% da população, em 1991, passaram para

5,9%, em 2000, e agora chegam a 7,4%, ou 14 milhões. No mesmo período, o grupo

0 a 14 anos passou de 34,7% para 29,6% e, finalmente, 24,1%. Mantido esse ritmo,

em poucos anos será impossível sustentar o já quase insustentável sistema de

aposentadorias e pensões da Previdência Social.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

mostra que a expectativa de vida da população no país aumentou em cerca de três

anos entre 1999 e 2009, de 6,4 milhões para 9,7 milhões. Em termos percentuais, a

proporção de idosos na população subiu de 3,9% para 5,1%. Em compensação, no

mesmo período, caiu o número de crianças e adolescentes de 40,1% para 32,8%,

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estreitando a base da pirâmide etária brasileira. Mesmo assim, o País é considerado

jovem. (BRASIL, 2010).

A nova expectativa de vida do brasileiro é de 73,1 anos. Entre as mulheres

são registradas as menores taxas de mortalidade. Elas representam 55,8% das

pessoas com mais de 60 anos. No período avaliado, a expectativa de vida feminina

passou de 73,9 anos para 77 anos. Entre os homens, a expectativa de vida passou

de 66,3 anos para 69,4 anos. (BRASIL, 2010).

Ainda segundo o IBGE, a taxa de expectativa de vida no Brasil ainda é

menor que a taxa de expectativa de vida da América Latina e do Caribe (73,9 anos),

só ficando à frente da Ásia (69,6 anos) e da África (55 anos). Na América do Norte a

taxa fica em torno dos 79,7 anos. (BRASIL, 2010).

Os números apresentados alarmam a tendência irreversível de

envelhecimento da população. A cada ano, nascem menos brasileiros, enquanto a

expectativa de vida no país só aumenta. Estas são boas notícias, vindas

acompanhadas de avanços sociais importantes, como a diminuição das taxas de

mortalidade - sobretudo a infantil - e do planejamento familiar, mas significa um

desafio a ser enfrentado com urgência, pois vivemos em um país que ainda não está

preparado para acolher dignamente estes seus habitantes de cabelos brancos.

É preciso agir enquanto é tempo. A população em idade economicamente

ativa (15-64) ainda é cerca de 10 vezes maior do que a de idosos - uma situação

definida tecnicamente como "bônus demográfico", mas essa proporção deve cair

drasticamente nas próximas décadas. Em 2010, os adultos somavam 130.742.024

contra 14.081.480 maiores de 65. A pirâmide etária do Brasil passa por um período

de transição que, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU),

levará o país a um cenário bastante próximo da França atual. O Brasil de 2050 teria

62,8% da sua população em idade economicamente ativa (15-64) contra 22,5% com

mais de 65 anos. Ou seja, a proporção entre jovens e idosos cai a menos de um

para três. (BRASIL, 2010).

No estado do Ceará o crescimento da população idosa segue os mesmos

níveis nacionais, pois os maiores de 60 anos aumentaram 61% em dez anos. Isso

porque os dados do Censo 2010 confirmam que esse contingente etário está em

1,063 milhão de pessoas. Enquanto em 2000 esse valor correspondia a exatos

658,9 mil. (BRASIL, 2010).

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Perante a estes dados sobre o envelhecimento populacional percebe-se que

o Brasil caminha a passos largos rumo ao domínio da terceira idade, porém ainda é

mínimo o apoio social e governamental voltado para este grupo social. Além disso,

ainda temos que ultrapassar a barreira do preconceito, a qual limita o acesso do ser

envelhecente aos outros grupos sociais e ao universo mais moderno na sociedade

atual.

O país envelhece, porém continuamos vivendo o novo, ou seja, a

valorização da adolescência esta enraizada em nosso meio e a depreciação do que

é velho, a desvalorização do que foi construído no passado.

Tal como afirma Calligaris (1992), a formação da cultura brasileira, fundada

na ruptura do imigrante com suas referências anteriores – a pátria abandonada –

alimenta-se do corte ou negação do passado e da extrema valorização do novo, do

presente e do futuro. Segundo o autor, a própria denominação de muitas cidades

denota esse ideário de ruptura e refundação da vida no eldorado brasileiro: “Nova”

Friburgo, “Nova” Odessa, “Nova” Hamburgo e assim por diante. Essa necessidade

de renomear com o prefixo “novo” as antigas e tradicionais cidades européias indica

a intenção de recriar o antigo completamente, dar-lhe uma feição totalmente

inovadora, com toda certeza retirando-lhe tudo que pudesse enfeiá-lo ou significar

algum sofrimento.

Este número cada vez maior de idosos em nosso meio é um desafio para

todos nós, profissionais da saúde, políticos, família e para a sociedade como um

todo, visto que eles chegam com demandas pessoais, sociais e de saúde bem

diferenciada, e exigem, assim, uma reorganização do sistema para que possamos

oferecer uma melhor qualidade de vida e que eles usufruam desses anos a mais de

vida como uma verdadeira conquista.

3.5 Educação Gerontológica: intervenção de enfermagem

A evolução histórica da Enfermagem evidencia a disposição de seus

profissionais, numa busca permanente para a ampliação de conhecimentos que

permitam tornar o cuidado de excelência para todo ser humano. No início, esse

cuidado era ministrado com característica empírica, baseado em normas e rotinas

repetidas, sem reflexão crítica e registro das ações executadas. Na necessidade de

questionar esse seu modo de agir, tecnicamente e intuitivamente orientado, a

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Enfermagem teve que refletir sobre a eficiência de seus métodos e práticas

cotidianas, atribuindo maior importância à aplicação de princípios científicos que

pudessem conferí-la como Ciência.

Com o passar dos anos os profissionais foram incorporando aos seus

modos de agir o cuidado fundamentado em princípios científicos a todo ser humano,

independente da faixa etária, incitando o surgimento de inovações, tecnologias e

preocupações que justificassem as técnicas utilizadas no planejamento de cuidados

de enfermagem, nos diversificados cenários onde se pode encontrar pessoas com

múltiplas necessidades de cuidados.

Desde então, a tentativa de implantação dessas inovações tecnológicas

tem sido relevante, porém, ainda em construção na Enfermagem brasileira, no

tocante ao cuidado do idoso, pois hoje vivemos um período revolucionário

provavelmente sem precedentes na história da humanidade, pois a cada quatro

anos a esperança de vida aumenta de um ano. (MORIN, 2007).

A esse respeito a enfermagem tem se debruçado, arduamente, na

construção e implementação de proposta de cuidado científico, acompanhando as

inovações tecnológicas, aos idosos que tem sido revelado nas publicações de

autores enfermeiros como (BURNSIDE, 1979; BERGER e MAILOUX-POIRIER,

1995; CALDAS, 2004; DIOGO e DUARTE, 2006; GONÇALVES e ALVAREZ, 2006;

ELIOPOULOS, 2011, dentre outros).

Neste contexto, percebemos a atuação efetiva de profissionais de

enfermagem na área da gerontologia, buscando firmar estratégia de destaque na

prática social do enfermeiro e equipe de enfermagem, bem como no planejamento

do cuidado a velhice e com o ser que envelhece. A Organização Panamericana de

Saúde (OPAS, 1993) considera a Enfermagem Gerontológica o estudo científico do

cuidado de enfermagem ao idoso, caracterizada como ciência aplicada com o

propósito de utilizar os conhecimentos do processo de envelhecimento para o

planejamento da assistência de enfermagem e dos serviços que melhor atendam a

promoção da saúde, longevidade, a independência e manutenção da funcionalidade

da pessoa.

Podemos, então, considerar que o cuidado clínico de enfermagem ao idoso

está centrado na educação para a saúde, no cuidado com base no conhecimento

científico, orientado pelas manifestações das necessidades de saúde e/ou

recuperações e reabilitação de algum estado de adoecimento, inclusive das doenças

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associadas ao processo de envelhecimento, recuperando a capacidade funcional do

idoso para a realização de suas atividades, alcançando a independência e

autonomia desejada para o bem estar. (ELIOPOULOS, 2011).

Durante décadas, a ONU fez-se promotora de numerosas iniciativas

orientadas para compreender e encontrar soluções para os problemas que

apresentam o aumento crescente do número de pessoas idosas, realizando as

Assembleias Mundiais sobre envelhecimento humano, das mesmas aprovaram dois

documentos importantes: “Plano de Ação Internacional de Madrid sobre o

Envelhecimento – 2002” e uma “Declaração Política”, que contém os compromissos

assumidos pelos governos para executar o novo Plano de Ação.

No plano de ação são apontadas três prioridades: os idosos e o processo de

desenvolvimento, que se centra na necessidade das sociedades ajustarem suas

políticas e instituições para que a crescente população idosa seja uma força

produtiva em benefício da sociedade; promoção da saúde e do bem-estar para todo

o ciclo da vida, que atenda a necessidade de implantar políticas que promovam a

boa saúde desde a infância até a velhice; a criação de contextos propícios e

favoráveis, que promovam políticas orientadas para a família e a comunidade como

base para um envelhecimento seguro, ou seja, aprimorar condições de moradia,

promover uma visão positiva do envelhecimento e necessidade de conscientização

pública de que os idosos têm contribuições a dar à sociedade. (OPAS, 2005)

Assim, compreendemos que os investimentos atuais sobre a velhice, o ser

idoso e o envelhecimento têm refletido novas ideias que tentam dar visibilidade ao

assunto, intencionam quebrar a conspiração do silêncio e pôr em descrédito os

conceitos pejorativos, predominantes sobre a questão; que discutem a necessidade

de investimentos na divulgação de conceitos renovados e atuais sobre o idoso,

velhice e envelhecimento para toda sociedade e, em especial, para a população

jovem que, ainda, vislumbram o processo, marcadamente refletido por imagens

negativas, associado a problemas de saúde, ônus, inutilidades e limitações no

desempenho de atividades. (BEAUVOIR, 1990; FREITAS; MENDES, 1999;

FREITAS; MENDES, 2003).

Pensar o envelhecer em tempos em que a sociedade mundial passa pela

era da modernidade é bastante complicado e, muitas vezes, repleto de

comportamentos contraditórios, pois quando se fala em projetos para o futuro, para

a preparação para a velhice, o jovem limita seu discurso aos investimentos em

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cirurgias plásticas, inovação em cosméticos, comprimidos que destroem radicais-

livres, ou seja, ações que irão combater ou amenizar os sinais do envelhecimento.

Diante dos fatos revelados, a enfermagem trabalha na perspectiva da

educação gerontológica, ideia ainda incipiente, porém bastante válida, pois trabalha

no sentido de um processo educacional de base escolar que busca produzir nos

adolescentes impressões positivas acerca do envelhecimento, uma convivência

mais respeitosa e generosa entre eles e os idosos, e uma relação social mais justa

entre todas as idades.

Conforme Zanon, Alves e Cardenas (2011) deve-se ter preocupação com a

responsabilidade da educação em cumprir seu papel social na contribuição da

construção do conhecimento simultaneamente às de atitudes e valores que venham

a tornar os estudantes cidadãos solidários, críticos e participativos, propiciando um

espaço de convivência social que favoreça a inclusão de todas as pessoas.

Os autores ainda nos relatam que nas instituições escolares devem circular

representações sociais, ideias, sentimentos e atitudes formativas que se

contraponham àquelas circundantes na sociedade. Numa sociedade muitas vezes

individualista, violenta e excludente, ser diferente pode ser sinônimo de exclusão e o

ter ainda se sobrepõe ao ser. (ZANON; ALVES; CARDENAS, 2011).

O ensino sobre a velhice e o ser idoso tem sido um desafio para a educação,

no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e

transformadora de atitudes que ultrapassam os estereótipos acerca da velhice e do

idoso e, adotem hábitos de vida que possibilitem uma velhice ativa.

Acreditamos que ao longo das discussões das leituras, existirá a

possibilidade de construção de concepções e conceitos que poderá contribuir com a

instrumentalização de conhecimentos dos adolescentes, aprimorando lacunas do

saber sobre a velhice e o ser idoso. (GONÇALVES; ALVAREZ, 2006).

A enfermagem como profissão que visa oferecer ao ser humano uma

assistência completa que abrange as dimensões biológicas, mentais, sociais e

espirituais, deve também ter o interesse na prática educacional, no sentido de alertar

as escolas e aos professores sobre a importância de estar se atualizando sobre as

tendências populacionais que imperam na sociedade. No caso do Brasil, perante um

aumento da expectativa de vida da população, vale refletir que aquilo que os

adolescentes pensam sobre o envelhecer influencia o modo como estes se

relacionam não somente na esfera familiar, mas também no espaço público e social.

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Dessa forma, uma escola voltada para propostas também gerontológicas,

que enfatizam as questões sobre e para o envelhecimento desenvolveria um modelo

participativo, sustentado não somente por informações, mas também por ações

visando à segurança da criança, do jovem, do adulto e do idoso.

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Referencial Teórico-

Metodológico

“Todo ato de pesquisa é um ato político”

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4 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

A opção pela TRS se deu a partir da compreensão de que existem diversas

formas de categorização social, cultural, biológica e psicológica sobre a velhice e o

idoso e que a formação deste conhecimento produz-se sob a influência,

principalmente dos conteúdos da esfera social e psicológica. Portanto, considera-se

o fenômeno da velhice e idoso de relevância social e necessário nas discussões em

todas as faixas etárias, em especial, os adolescentes, população bastante

influenciada pelo meio social e carregada de conotações elaboradas socialmente,

daí a importância que vejo em abordar os processos de formação da representação

social da velhice e idoso pelo adolescente.

4.1 Teoria das Representações Sociais

Entender como a velhice e o idoso são percebidos e representados pelos

adolescentes, oportuniza a compreensão de comportamentos e sentimentos para

com estes. Assim, estão em pauta crenças, explicações e definições a respeito de

tais objetos sociais, isto é, o conhecimento que os grupos sociais elaboram e

utilizam para compreender e lidar com estes, portanto, suas representações sociais.

Constatamos na literatura que os estudos com foco na velhice, no idoso e no

envelhecimento têm crescido de forma significativa nos últimos anos, na perspectiva,

do marco teórico das Representações Sociais. A TRS proposta por Serge Moscovici

e Denise Jodelet, é o referencial teórico-metodológico deste estudo.

Por representação social, Moscovici (1978, p. 28) entende “um corpus

organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas graças às quais os

homens tornam inteligível a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa

ligação cotidiana de trocas, e liberam os poderes de sua imaginação”.

Desse modo, as representações sociais são uma forma de conhecimento

elaborada por determinado grupo sobre um objeto social relevante. Portanto, essa

investigação permitiu a aproximação com a TRS, que tem sua origem na Psicologia

Social, e visa a observar a construção social dos fenômenos, analisando e

explicando as estratégias de representação que grupos sociais formulam sobre

objetos e o que influencia suas ações diante desses objetos.

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As representações sociais podem ser consideradas uma versão

contemporânea do senso comum, onde o próprio Moscovici (2005) relata que, ao

iniciar seus estudos, procurou compreender e reabilitar o conhecimento comum,

considerando-o como algo moderno e não-primitivo, que se origina parcialmente da

ciência ou universo reificado e ganha lugar no universo consensual.

O universo de pensamento reificado é caracterizado pela objetividade e rigor

metodológico, onde a sociedade é vista como um sistema de diferentes papéis e

classes, cujos membros são desiguais; enquanto que o universo consensual são as

teorias do senso comum, encontram-se as práticas interativas do dia-a-dia, onde são

produzidas e circulam as representações sociais, no qual a sociedade é vista como

um grupo de pessoas iguais e livres, cada uma com possibilidade de falar em nome

do grupo. (MOSCOVICI, 2005).

Nesse propósito, afirmamos que a noção de representação social elaborada

por Moscovici (2005) possibilita compreender como os sujeitos apreendem os

acontecimentos da vida comum, os dados do meio ambiente, as informações que

circulam, bem como, apreender os pensamentos, sentimentos e experiências de

vida compartilhadas por meio de diferentes modalidades de comunicação

diretamente relacionadas ao contexto social no qual vivem os sujeitos.

Diante destas informações podemos inferir que a TRS investiga e explica a

relação recíproca entre sociedade e indivíduo e assume uma abordagem importante

de revelar comportamentos entre indivíduos de uma mesma cultural e facilitar a

comunicação entre os membros do grupo que as compartilha.

Sempre que expressamos uma representação estamos nos expressando,

pois evidenciamos aquilo que, para nós, constitui o elemento básico do que

queremos comunicar. Daí a indissociabilidade entre sujeito e objeto. Para Moscovici

(1978, p. 9) “não existe separação entre o universo externo e o universo interno do

indivíduo”.

Na teoria das Representações Sociais, é necessário determinar um objeto

que possua espessura social, isto é, que seja relevante para determinado grupo, que

também deve ser definido, pois, seguindo a fórmula proposta por Moscovici, “uma

representação é sempre uma representação de alguém, tanto quanto de alguma

coisa”. (MOSCOVICI, 1978, p.27).

A representação é um processo que sempre esteve presente na história do

homem e que, por consequência, o fez e o faz produzir conhecimentos e práticas

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que facilitam a comunicação e a orientação de suas condutas no contexto

sociocultural, no qual se encontra inserido. (SANTANA e COUTINHO, 2005).

As representações sociais, enquanto formas de conhecimento, são

estruturas cognitivo-afetivas e, desta forma, não podem ser reduzidas apenas ao

seu conteúdo cognitivo. Precisam ser entendidas, assim, a partir do contexto que as

engendram e a partir de sua funcionalidade nas interações sociais do cotidiano. Tal

posicionamento implica na elucidação de dois aspectos que lhes são centrais: a

teoria de conhecimento que lhe é subjacente e os determinantes se sua elaboração.

(SPINK, 1995).

A representação social é uma modalidade de conhecimento particular que

tem por papel a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos,

em uma relação onde as interações humanas, seja entre dois indivíduos, ou entre

dois grupos, pressupõem as representações incluídas em suas características.

(MOSCOVICI, 1978; MOSCOVICI, 2005).

A representação social, então, pode ser entendida como um conceito e uma

percepção dos objetos de forma transformável com duas faces em sua estrutura,

uma, simbólica e outra, imagética, as quais fazem compreender em toda figura um

sentido e em todo sentido uma figura. (MOSCOVICI, 1978).

As Representações Sociais, de acordo com Jodelet (1989), são fenômenos

complexos, permanentemente ativados na vida social, constituindo-se de elementos

informativos, cognitivos, ideológicos e normativos e formam um elo entre o real, o

psicológico e o social, por isso são capazes de estabelecer atrelamentos entre a

vida abstrata do saber, das crenças e a vida concreta do sujeito em sua vida social.

Portanto o estudo das representações sociais propõe “tentar compreender

não somente o que as pessoas pensam de um objeto, cujo conteúdo possua valor

socialmente evidente e relevante, mas também como e por que o pensam daquela

forma”. (SOUZA, 2004, p.46).

Sendo as representações sociais formas de conhecimento prático, inserem-

se mais especificamente entre as correntes que estudam o conhecimento do senso

comum. Tal fato pressupõe uma ruptura com as vertentes clássicas das teorias do

conhecimento, anunciando importantes mudanças no posicionamento quanto ao

estatuto da objetividade e da busca da verdade.

As representações sociais, consoante Moscovici (2005), estão relacionadas

num conjunto de conceitos, de explicações e de afirmações que se originaram por

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meio de comunicações sociais, podendo ser compreendidas como uma forma de

pensamento social, encontradas no imaginário individual das pessoas, tornam-se

sociais, pois apresentam semelhanças. Por seu poder convencional e prescritivo

acerca da realidade, terminam por constituir o pensamento em um verdadeiro

ambiente, onde se desenvolve a vida cotidiana das pessoas. Nessa visão o

conhecimento das partes, do particular e do efêmero, ainda não dá acesso imediato

às representações sociais, que por sua vez consolidam-se como fenômeno real. No

campo da interpretação, por certo não há unanimidade de ênfase, pois, sob uma

perspectiva, as representações exercem uma espécie de coerção sobre os

indivíduos para agir num sentido determinado, e, sob outra, as representações

assumem em seu conteúdo como uma apreensão peculiar dos fenômenos sociais.

Para Moscovici (2005) a novidade dessa teoria, contudo, não está no

reconhecimento da interação entre os indivíduos e meio, mas na interface dessa

relação, uma vez que a representação é uma construção do indivíduo, mas sua

origem é social, e mais, seu destino também é social. Assim a questão não era

estudar um ou outro aspecto da relação entre sujeito e meio social, nem tão pouco

constatar que, nessa relação, o indivíduo vai ampliando suas capacidades

cognitivas, motoras, dentre outras. Importa, também, entender o dinamismo dessa

relação, ou seja, como o social interfere na elaboração das representações sociais

dos indivíduos e como estas interferem na elaboração das representações sociais

do grupo a que pertencem.

Corroborando com este pensamento, Abric (2001) por sua vez afirma que o

estudo de representações sociais deve responder a três questões básicas: 1) Quem

sabe e de onde sabe? O que diz respeito ao conhecimento das condições de

produção e circulação das representações sociais 2) O quê e como se sabe?

Referência, pois, aos processos e estados das representações e, por último, 3)

Sobre o que se sabe e com que efeito? Esta questão está relacionada

particularmente ao estatuto epistemológico das representações sociais, as relações

que essas mantêm com o conhecimento científico e com a própria realidade que

lhes dá origem.

Entendemos ser necessário percebermos as representações sociais como

pensamento individual que se enraíza no social e como outro se modifica

mutuamente. Além disso, segundo Moscovici (2005), o propósito de todas as

representações é o de transformar algo não familiar, em familiar, não apenas

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duplicando, repetindo ou reproduzindo, mas retocando, reconstituindo e modificando

a realidade. As representações sociais constituem-se a partir de maneiras de

pensar, sentir e fazer socialmente estabelecidas, destacando uma pluralidade de

ações e similitude de compreensões. Essas perspectivas, uma vez formadas e

fundadas, adquirem a capacidade de agregar indivíduos e ao mesmo tempo

tornando possível a vivência na sociedade.

As representações revelam processos mentais cognitivos, que permitem ao

sujeito e aos grupos sociais incorporarem o novo e transformarem o já conhecido.

Isto se origina a partir de dois processos: a ancoragem e a objetivação, sendo a

primeira caracterizada pela assimilação de um objeto novo através de objetos já

existentes no sistema cognitivo, um pensamento pré-existente; enquanto que o

segundo consiste em materializar um conceito, em tornar concreto o que é abstrato.

(SÁ, 2007).

Desta forma, ancorar é rotular, classificar; a ancoragem permite a

incorporação do que é desconhecido em uma rede de categorias usuais. Enquanto a

objetivação explica como os elementos representados de uma categoria se integram

enquanto realidade social, a ancoragem para exprimir e constituir as relações

sociais. (MOSCOVICI, 2003).

Assim sendo, Moscovici (2005) reafirma que a representação social não é

nem o coletivo, nem o inconsciente, mas a ação, o movimento de interação entre as

pessoas. As representações sociais constituem-se em uma forma de conhecimento

individual, que só ocorre na interação de reciprocidade com o “outro”. Enfim, as

representações sociais dizem respeito ao universo de opiniões construídas,

reelaboradas e redimensionadas pelos indivíduos, em relação a um determinado

objeto social, de acordo com a história de vida de cada um, no caso desta pesquisa

a história de vida dos adolescentes e as suas apreensões de sentidos sobre a

velhice e o idoso.

Estou convencida de que neste momento não vislumbro outro caminho que

não seja o das Representações Sociais, porque a teoria nos permite ir além do que

está visível, do palpável, caminhando por veredas pouco desveladas. O que está no

íntimo de cada ser, o que o impulsiona a viver, apesar de tantas dificuldades

encontradas. Isto sim é subjetivo e ao mesmo tempo social, portanto, objeto de

representação social.

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Cabe assinalar que não é em todo objeto social que é susceptível a

produção de representações. Nem tudo deve ser visto como objeto de estudo das

Representações Sociais (RS) ou estudado com o referencial da teoria. Os temas

ditos candentes, como AIDS, a própria saúde/doença, a velhice, o corpo, entre

outros, são questões polêmicas para as quais os estudos à luz desta teoria podem

trazer grandes contribuições. O teor da RS vem dos fenômenos que tenham relação

com as práticas sociais. Somente vale a pena estudar uma representação social se

ela estiver espalhada dentro da cultura, na realidade em que o estudo é feito, isso é,

que ela seja social. (SÁ, 1988; JOVCHELOVITCH, 1995).

Sujeito e o objeto, portanto, não são forçosamente distintos. Quando

representam a velhice, os adolescentes emitem não só seu parecer sobre suas

impressões, mas comunicam também o pensamento veiculado pelas instituições

educacionais. Parto do pressuposto, então, que a representação da velhice e do

idoso influencia diretamente o adolescente na forma que ele não quer ser quando for

idoso.

A TRS aplica-se a este estudo uma vez que a velhice e o ser idoso são

passíveis de serem representadas pelos indivíduos que ainda vão vivenciar esta

fase. Constatei então, que a teoria das RS me permitiria compreender melhor o

objeto deste estudo, pois como ressalta Jodelet (2001) as representações intervêm

em processos variados, tais como o desenvolvimento individual e coletivo, a

definição das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as

transformações sociais.

Como já foi visto, foi para pensar os fenômenos com relevância social que a

teoria da Representação Social tomou vulto em diversas áreas, entre elas a

Enfermagem.

4.2 Trajetória Metodológica do Estudo

4.2.1 Tipo de Estudo

Aqui estão descritos os caminhos metodológicos seguidos. Realizou-se um

estudo exploratório-descritivo e a abordagem escolhida foi a qualitativa

considerando o objeto de estudo, os objetivos e as questões norteadoras na

perspectiva das Representações Sociais. Esta abordagem faz emergir aspectos

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novos, tem a capacidade de ir ao fundo do significado e, além de estar na

perspectiva do sujeito, traz à tona o universo de significados, crenças, hábitos,

costumes, relacionamentos, enfim, enfoca um nível de realidade que não pode ser

quantificado.

Portanto, essa abordagem, de acordo com Ludke e André (2003), permite o

dinamismo interno das situações, possibilitando o conhecimento da forma como um

problema se manifesta nos procedimentos, nas atividades e nas interações

cotidianas.

Apresenta um método exploratório-descritivo, pois pretende descrever com

exatidão fatos e fenômenos de uma realidade, com a necessidade de se explorar

uma situação não pouco conhecida da qual se precisa de maiores informações. Ao

explorar uma realidade, podem-se identificar suas características, sua mudança ou

sua regularidade. (LEOPARDI et al., 2001).

Através do enfoque metodológico acima descrito, buscou-se uma análise

aprofundada das representações sociais da velhice e do idoso para os adolescentes

escolares, de forma a permitir a discussão das repercussões dessas representações

na vida do adolescente que convive com idosos diariamente, identificando qual seu

comportamento frente ao envelhecimento, o que irá refletir futuramente na forma que

o adolescente enfrentará seu próprio envelhecimento.

4.2.2 Os cenários da pesquisa e os seus sujeitos

Para atender ao objetivo de conhecer os conteúdos que integram as

representações sociais da velhice e do idoso para os adolescentes escolares foram

selecionadas duas escolas situada na cidade de Fortaleza-CE, sendo uma escola

pública e uma escola privada, quais sejam Escola de Ensino Médio Governador

Adauto Bezerra (pública) e Colégio Juvenal de Carvalho (privada). Estas escolas

congregam alunos de diferentes bairros da capital e com diferentes condições

socioeconômicas e culturais, o que permitiu maior diversidade nas informações,

observando ao rigor metodológico.

Escolhi trabalhar com estes dois grupos, um em escola pública e outro em

escola privada, porque a intenção era saber, também, se existiam diferenças ou

semelhanças nas representações dos dois agrupamentos. Pretendi detectar a

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diversidade ou convergência na representação da velhice e do idoso para estes

adolescentes que vivenciam duas realidades sociais.

O que confirma Moscovici (2005), na teoria das representações sociais, a

diversidade dos indivíduos e as respectivas atitudes são ponto de partida, tendo

como objetivo descobrir como os sujeitos e grupos podem construir um mundo

estável e previsível a partir de tal diversidade.

A Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra foi fundada em 1948,

faz parte da esfera administrativa estadual, possui um quadro docente com 100% de

professores especialistas e com uma estrutura física que conta com 23 salas de aula

que apresentam boas condições de infra-estrutura; uma biblioteca, uma sala de

multimídia, laboratórios de informática, de ciências e de aula de campo.

Está disponível para os alunos equipamentos e material didático como

aparelhos de TV e DVD, Datashow, computadores, livros didáticos, apostilas, acervo

de DVD e CDs educativos e mapas. Funciona nos turnos da manhã, tarde e noite,

tendo nos turnos da manhã e da tarde 22 salas de aula ocupadas com uma média

de 45 alunos cada e à noite existem 6 turmas com alunos, em média, um universo

de 2250 alunos matriculados. Os alunos apresentam uma idade média de 14 anos,

são predominantes alunos do sexo feminino e da classe social considerada baixa

renda.

O projeto pedagógico da escola é elaborado com a participação da

comunidade escolar, a integração escola-comunidade é feita através de reuniões, da

divulgação de projetos e parcerias; os recursos financeiros são administrados pelo

coordenador financeiro e o diretor com a participação do Conselho Escolar.

Quanto ao Colégio Juvenal de Carvalho foi criado em 1937, possui duas

sedes na capital cearense, abrange os públicos: infantil, ensino fundamental, ensino

médio e pré-universitário. Dedica-se a intensificar o espírito de Família, com o

objetivo de levar o jovem a descobrir-se como pessoa, orientando-o para assumir

valores humanos e cristãos, qualificando-o para uma total integração social e

comunitária, no meio onde vive, através do trabalho e de uma consciência crítica e

histórica.

No Ensino Médio, o colégio apresenta turmas funcionando pela manhã,

tarde e noite. No período diurno conta com cerca de dez turmas, perfazendo um total

médio de 400 alunos. No noturno existe a peculiaridade de ser voltado para alunos

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com déficits financeiros, sendo, portanto, oferecida aulas gratuitas para quase 100

alunos no pré-vestibular.

Neste ambiente os alunos têm a oportunidade de participar de atividades

que favorecem seu crescimento em todas as áreas como: Olimpíadas internas de

Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa; Concurso de

Poesia; Feira das Profissões; Aulas de Campo; Informática Educativa; Dias de

Formação, ESIC (Encontro Salesiano de Interação e Cultura); Laboratórios de

Ciências, de Física e Química; Teatro, Piano, Teclado, Coral, Escolinhas Esportivas,

Ginástica Aeróbica, Ballet e muitas outras, seguindo o planejamento escolar do ano

letivo. Além disso, o Departamento de Educação Física e Esporte (D.E.F.E.)

oferecem atividades físicas e culturais através das escolinhas. Voleibol, futsal,

basquetebol, ginástica aeróbica, Karatê e Judô são as modalidades esportivas

disponíveis. O Colégio também se preocupa em estimular atividades culturais e

artísticas, oferecendo aulas de teatro, música, coral e balé.

A opção pelas duas escolas se deu porque se quis comparar as

representações dos adolescentes sobre os idosos e a velhice, estabelecendo as

significações que se encontram no tecido social em relação ao objeto de estudo e

procurou-se entender o que tais significações/representações carregam, no sentido

de sujeito, identidade, projeto e processos. Tal ideia possibilitou conhecer as

metáforas, como foi feita a ancoragem e objetivação, o que é centro e o que é

periférico dos campos representacionais em diferentes grupos sociais.

Para a realização do estudo foram selecionados 60 adolescentes estudantes

– 30 de escola pública e 30 de escola privada – escolhidos aleatoriamente.

Procurou-se agregar um quantitativo de sujeitos que fosse representativo diante do

número de estudantes das escolas. O número de estudantes da escola privada foi

equiparado ao número daqueles que estudavam em escola pública a fim de facilitar

a comparação das representações sociais entre as duas classes.

A entrevista foi eleita como a técnica essencial de coleta de dados. A

escolha se justifica porque a referida técnica permite, não só a obtenção de falas,

mas, principalmente, possibilita aprofundar um diálogo, interpretando os discursos

revelados.

Fizeram parte da pesquisa os sujeitos que atenderam aos seguintes critérios

de inclusão:

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- Ser adolescente, ter idade entre 10 a 19 anos, em referência a

adolescência definida pela OMS (2006); - ambos os sexos; - aceitaram participar do

estudo; - que estivesse presente na escola no momento da pesquisa e que estivesse

regularmente matriculado no ensino médio da escola no período diurno.

Os sujeitos que não atenderam a esses critérios foram excluídos da

pesquisa.

Foram entrevistados estudantes do turno diurno, período manhã e tarde,

sendo as entrevistas realizadas nas dependências das próprias escolas.

4.2.3 Operacionalização de produção de dados

Foi utilizada a técnica de entrevista individual. Inicialmente aplicou-se um

roteiro (APÊNDICE A) para a caracterização dos sujeitos com a obtenção dos dados

sócio-demográficos a fim de se captarem as condições de produção das RS dos

alunos. A entrevista permite, através das falas dos sujeitos, a produção de dados

que revelam normas, valores, símbolos e condições estruturais.

Também como instrumento de coleta de dados realizou-se na fase

exploratória da pesquisa para formação do corpus a ser analisado, entrevista em

profundidade, com roteiro semi-estruturado (APÊNDICE B) de estímulo à exposição

de conteúdos, imagens, mitos, crenças, características tipificadoras dos fenômenos

envelhecimento e idoso, os afetos e a dimensão das práticas, ações frente ao

fenômeno.

Este instrumento foi constituído de uma combinação de perguntas abertas e

fechadas sobre o tema com o objetivo de identificar as representações sociais dos

alunos em diferentes momentos e os temas mais importante sem deixar que o

entrevistado se desviasse do foco da pesquisa.

Segundo Abric (2001) a entrevista em profundidade se constitui como

importante método aos estudos de representações sociais, sendo caracterizada

como uma situação de interação finalizada. Esta técnica continua sendo utilizada

como uma importante ferramenta para o acesso do conteúdo das representações,

porém observa-se que, para um maior controle e ordenação das informações

coletadas, existe a necessidade de associar esta a outras técnicas de coletas de

dados.

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As entrevistas semi-estruturadas permitem que as pessoas respondam as

questões mais no seu próprio modo do que as entrevistas padronizadas, mas ainda

forneçam uma estrutura maior de comparatibilidade. (MAY, 2004).

Vale referir que o roteiro foi formulado à luz das questões e objetivos que

norteiam o estudo; no entanto, sempre que necessário, foram acrescidas outras

perguntas com o intuito de aprofundar as explicações do sujeito, de forma a melhor

explorar o objeto de estudo.

Desta forma, foi realizado um teste-piloto com discentes das escolas

escolhidas, sendo eles, depois, excluídos da fase formal de coleta de dados. Os

dados gerados não fizeram parte do corpus de análise formal da pesquisa, porém

serviram para mostrar a necessidade de modificação da ordem das questões do

roteiro ou a sua reformulação, além de indicar possíveis resultados.

Os objetivos do estudo foram divulgados pela pesquisadora nas salas de

aula, após a liberação do coordenado do ensino médio de cada escola. Na escola

pública o acesso foi mais fácil, enquanto na escola particular tiveram várias

condições para a inserção da pesquisadora no campo, como condições pré-

estabelecidas de horários, além de só poder fazer a pesquisa na companhia do

coordenador.

Após a explicação da pesquisa, os alunos interessados recebiam o termo de

consentimento livre e esclarecido (TCLE) do adolescente (APÊNDICE C) e do

responsável (APÊNDICE D) para suas residências e aqueles pais ou responsáveis

que aceitavam a realização da pesquisa assinavam a liberação de seus filhos.

Somente depois deste processo é que a entrevista foi realizada com o adolescente

menor de idade. Para os adolescentes maiores de idade só era assinado o TCLE do

adolescente.

Isto fez com que a coleta de dados ficasse demorada, pois muitos

adolescentes não devolviam o TCLE, perdiam ou os pais não aceitavam a pesquisa.

Os registros das falas foram realizados com o uso de gravador digital,

mediante consentimento dos sujeitos. A transcrição das entrevistas foi realizada pela

própria entrevistadora principal. As entrevistas ocorreram nos meses de maio e

junho de 2012, com duração média de 20 minutos.

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4.2.4 Análise e interpretação dos dados

A análise do material discursivo produzido pelas entrevistas foi efetuada

através de um tipo particular de análise de conteúdo, a análise lexical. Esta análise é

desenvolvida através da técnica de análise hierárquica descendente, efetuada pelo

software Alceste (Analyse lexicale par contexto dún ensemble de segments de texte)

versão 2010, que é um programa que permite realizar a análise de dados textuais ou

as análises de estatística e matemática verificando a principal informação presente

no texto. Utiliza-se da coleta de dados em linguagem escrita ou verbal e

posteriormente transcrita para processamento lexicográfico. (CAMARGO, 2005).

Ainda de acordo com Camargo (2005), o Alceste é um instrumento confiável

que permite medir e avaliar objetos com base nas opiniões de participantes dessa

avaliação. A análise de um conjunto de segmento de texto está baseada na

identificação das palavras (o léxico) mais significativas. Isso permite a análise de

grandes volumes de dados textuais de forma automática.

Este programa foi desenvolvido na França por Max Reinert, em 1979, e

introduzido no Brasil, por Veloz, Nascimento-Schulze e Camargo em 1999. Sua

aplicabilidade tem permitido o desenvolvimento de diversas pesquisas no Brasil e na

Europa. (OLIVEIRA; GOMES; MARQUES, 2005). Neste estudo, o programa foi

utilizado para analisar as 60 entrevistas.

Este tipo de análise permite uma aglutinação de contextos que favorecem a

determinação de um campo comum de representações compartilhadas entre os

participantes, organizando e formatando o pensamento social, o pensamento

coletivo.

Segundo Camargo (2005) o programa informático Alceste toma como base

um único arquivo (txt) ou Unidades de Contextos Iniciais (UCI), que são definidas

pelo pesquisador e pela natureza da pesquisa. Um conjunto de UCI’s, nesta

pesquisa 60 UCI’s, constitui um corpus de análise e ele opera em quatro etapas de

análise (A, B, C, D), sendo que cada uma delas contém três operações.

Na primeira etapa (A), ocorre uma leitura do texto e o cálculo dos

dicionários, ou seja, o programa prepara o corpus, reconhece as UCI’s, faz uma

segmentação do texto, agrupa as palavras em função das suas raízes e faz o

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cálculo das frequências das formas reduzidas. (OLIVEIRA; GOMES; MARQUES,

2005).

Segundo os mesmos autores, logo após este primeiro conjunto de

operações, inicia-se a segunda fase (B) que é o cálculo das matrizes de dados e

classificação das UCE (Unidades de Contextos Elementares) em função dos seus

respectivos vocabulários. O conjunto de UCE é partido em função da frequência das

formas reduzidas, a partir daí aplica-se o método de classificação hierárquica

descendente (CHD).

A etapa C revela os resultados mais importantes: as descrições das classes

de UCE’s escolhidas. O programa irá apresentar o dendograma da classificação

hierárquica descendente (CHD), o qual mostra as relações existentes entre as

classes. O Alceste indica resultados que nos permitem descrever cada uma das

classes pelo vocabulário característico (léxico) e pelas variáveis.

A última fase (D) trata-se de um prolongamento da fase anterior, na qual o

programa calcula e fornece as UCE’s característica de cada classe.

O corpus representa o produto final de todo material que se deseja analisar

através do software Alceste. Isso significa que uma boa análise Alceste depende de

um adequado preparo do seu corpus.

As entrevistas foram transcritas fidedignamente, em seguida, submetidas a

uma leitura cuidadosa que possibilitou correções na transcrição e eliminou qualquer

informação confusa ou incompleta e vícios de linguagem, os quais prejudicam a

análise. Em seguida, foram padronizados alguns termos considerados importantes

para o objeto de estudo e que deveriam ter grafia única ao longo de todo o texto, de

forma que o programa pudesse lê-los como palavras iguais.

Isto porque o ALCESTE realiza uma Análise Hierárquica Descendente a

partir do corpus inicial formado pelo conjunto das respostas. A análise hierárquica

descendente divide as palavras plenas em segmentos de texto cognominadas de

Unidade de Contexto Elementar (UCE). Esses contextos textuais são evidenciados

não só pelo seu vocabulário como, também, pelos segmentos de texto que

compartilham esse vocabulário. (NASCIMENTO; MENANDRO, 2006).

Logo depois, procedeu-se à formatação das entrevistas de acordo com as

regras definidas pelo software como, substituição de hífen por traço subscrito e

retirados excessos de espaçamentos ou de parágrafos, digitação no programa

Word, com espaço simples, fonte Courier, tamanho 10, dentre outros.

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As entrevistas foram separadas umas das outras pela inserção de uma linha

de comando ou “linha com asterisco”, onde foram digitadas algumas variáveis de

interesse de forma codificada, separadas entre si por asteriscos. Estas variáveis

foram retiradas do questionário de caracterização dos sujeitos, tendo sido

selecionadas as seguintes: sexo, idade, escolaridade, religião, colégio em que

estuda, renda mensal familiar, com quantas pessoas vivem e se mora com idoso.

Segue abaixo o Quadro 1 com as variáveis, a codificação e a classificação de cada

variável.

Variáveis Códigos Classificações

Sujeito suj 01 a 60.

Idade id 10 aos 19 anos

Sexo sex fem - feminino mas - masculino

Escolaridade esc med1 - 1º ano ensino médio med2 - 2º ano ensino médio med3 - 3º ano ensino médio

Religião rel cat - católica ev - evangélica es - espírita na - não tem

Colégio col ab - Adauto Bezerra jv - Juvenal de Carvalho.

Renda Familiar ren (nº)s – número de salários mínimos ns – não sabe

Vive com quantas pessoas em casa

vi (nº)p – número de pessoas

Mora com idoso ic si - sim na - não

Quadro 1: Variáveis utilizadas na linha de comando, seus códigos e classificações.

Ao término da construção do corpus com as 60 entrevistas realizadas,

obteve-se um total de 51 páginas, que constavam de 42.082 caracteres. De acordo

com Oliveira, Gomes e Marques (2005), há duas condições para que se obtenha um

bom resultado na análise Alceste, quais sejam: o corpus deve ser volumoso, para

permitir que o elemento estatístico seja considerado e deve haver coerência

temática ou dinâmica em seu conjunto, ou seja, é necessário que trate do objeto que

interessa ao pesquisador. Tais condições foram contempladas neste estudo.

Segundo Camargo (2005) numa análise padrão, após o programa

reconhecer as indicações das UCIs, divide o material em unidades de contexto

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60

elementar (UCEs), unidades com menor fragmento de sentido. Elas são segmentos

do texto, de três a seis linhas, dimensionadas pelo programa informático em função

do tamanho do corpus e, em geral, respeitando a pontuação.

Nesta pesquisa, o banco de dados foi composto por 60 UCI, a partir das

entrevistas gravadas e transcritas. Foram encontradas 3258 formas distintas ou

palavras diferentes. Foram selecionadas 956 UCEs, das quais 735 foram

classificadas em seis classes. Cada classe é composta por agrupamentos de várias

UCEs de vocabulário homogêneo. Posteriormente, o programa reduziu os vocábulos

às suas raízes, originando 585 palavras analisáveis e 204 palavras suplementares

(artigos, pronomes, dentre outros).

Figura 1: Representação Gráfica do número de UCE e de palavras analisáveis por classe.

Na Figura 1, é possível verificar a distribuição das 735 UCEs e das

palavras analisáveis nas seis classes. A classe 3 apresentou maior número de UCEs

(165) e a classe que obteve o maior número de palavras analisáveis (99) foi a 2.

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61

Figura 2: Comparação entre as duas Classificações Descentes

Hierárquicas (CDH) realizadas com o corpus de entrevistas.

A estabilidade da divisão das classes realizada pelo Alceste é verificada

através da realização de duas Classificações Descendentes Hierárquicas (CDH),

diferenciadas pelo tamanho das UCE. Essas duas CDH são comparadas pelo

programa e a estabilidade é indicada pela semelhança nas divisões binárias das

duas classificações. Conforme se observa na Figura 2, o corpus analisado possui

estabilidade, visto as divisões binárias apresentarem semelhança nas duas CDH. A

análise dos dados será realizada na ordem que em essas classes foram repartidas

pelo programa e não em ordem numérica.

A seguir, apresenta-se a organização das classes geradas pelo programa

com os léxicos mais característicos de cada uma, conforme o dendograma (Figura

3).

As palavras com asterisco, no final da Figura 3, indicam que os indivíduos

que compartilham a modalidade das variáveis que elas representam foram os

principais responsáveis pela produção das UCEs de cada classe em foco.

Por meio da observação do dendograma pode-se perceber que, a partir

da análise, o software ALCESTE dividiu o material discursivo em dois grandes

grupos (1ª partição), de um lado o subcorpus que posteriormente originou as classes

1, 3 e 5 e de outro lado o subgrupo que deu origem as classes 2, 4 e 6. Em um

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segundo momento, o primeiro subgrupo foi dividido em dois (2ª repartição), obtendo-

se a classe 5 (13%) e um novo subgrupo. Da mesma forma aconteceu com o

segundo subgrupo, no qual se obteve a classe 2 (14%) e um novo subgrupo.

Figura 3: Dendograma: Organização das Classes a partir da análise lexical das entrevistas

pelo Programa ALCESTE.

Por fim, o primeiro subgrupo sofre uma nova divisão (3ª repartição),

resultando nas classes 1 (17% do corpus) e 3 (22% do corpus) e o segundo

subgrupo formou ainda as classes 4 (13%) e 6 (21%). A CHD parou aqui, pois as 6

classes mostraram-se estáveis, ou seja, compostas de UCEs com vocabulário

semelhante.

Dessa forma, as classes 1 e 3 e as classes 4 e 6 são as mais comuns

entre si, por serem as últimas a se dividirem. As classes 1 e 3 possuem significados

comuns que as diferenciam das classes 4 e 6, uma vez que são originadas de dois

grandes grupos oriundos da segunda segmentação das UCEs. Concomitante a isso,

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apesar de haver uma aproximação entre os significados das duas classes, elas

possuem sentidos e ideias distintas entre si que servem para justificar a divisão feita

pelo programa, uma vez que se dividiram em etapas subsequentes da classificação

hierárquica.

Acatadas as exigências do programa, o corpus foi processado no

software, gerando um aproveitamento de 77% como pode ser verificado na Figura 4.

Quando 75% ou mais das UCEs foram classificadas, tem-se um bom desempenho

da CHD (CAMARGO, 2005).

Figura 4: Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente.

Ainda na Figura 4 pode ser visualizado o conteúdo das classes

elaboradas a partir do corpus. Trata-se de uma representação gráfica de cada uma

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das classes identificadas na análise standard, com suas principais formas reduzidas,

além das respectivas frequências e valores de qui-quadrado (khi2).

Na parte superior do dendograma, apresenta-se um esquema gráfico que

indica como cada classe foi dividida binariamente e como cada classe se associa

nessas divisões. Também é importante pontuar que na parte inferior do dendograma

(Figura 4) aparecem os códigos das variáveis que estão associadas a cada classe,

com seus valores de qui-quadrado, indicando seus graus de associação.

A Figura 4 apresenta o gráfico de especificidade das classes: quanto mais

elevada a posição de uma classe no gráfico, maior sua especificidade. As palavras

analisáveis apresentadas no dendograma, que divide o corpus em classes (radicais

e fragmentos relacionados), podem ser consideradas os elementos mais importantes

para descrever cada classe, pois apresentam maior qui-quadrado.

O khi2 calcula a frequência de aparição da palavra. Quanto maior o khi2,

mais relevante é a palavra para a construção da classe. O programa considerou as

palavras com khi2 igual ou superior a sete como palavras mais representativas.

Vale ressaltar que a classe 3 é a que congrega o maior número de UCE,

com 22%, sendo, portanto, a mais significativa, levando-se em conta esta referência.

A classe 2 é a que congrega as palavras com maior khi2, mostrando, com isso, ser a

classe com maior coerência interna, com grande significância.

Assim, à luz das classes formadas pelo Programa Alceste, com base no

conteúdo discursivo e nos léxicos mais frequentes e mais característicos extraídos

das UCEs de cada classe, procedeu-se às interpretações que geraram as

denominações descritas no Quadro 2.

Classes Nominações

Classe 1 Experiência dos adolescentes com idosos

Classe 2 Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso

Classe 3 A perspectiva do adolescente como futuro idoso

Classe 4 Concepções de adolescentes sobre velhice

Classe 5 Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso

Classe 6 A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes.

Quadro 2: Classes produzidas pelo ALCESTE e suas respectivas nominações.

A partir deste mapeamento temático, os dados serão descritos e

discutidos, tendo como base de análise a TRS e outros autores de relevância para a

temática. Com isso pretende-se atender ao objetivo de dissertar as representações

sociais da velhice sob à ótica dos adolescentes escolares, conforme poderá ser

observado nos resultados deste trabalho.

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65

4.2.5 Aspectos Éticos

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Estadual do Ceará (CEP-UECE) para avaliação e obtenção de parecer, sendo

aprovado sob o nº 11223077-6. Atendeu aos princípios da bioética, a saber,

autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Foi garantida a autonomia dos

sujeitos através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido -TCLE (APÊNDICE

C).

Destaca-se que o estudo foi desenvolvido à luz dos dispositivos

apresentados como normas e diretrizes de desenvolvimento de pesquisa na

Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS),

com base nos princípios da inalienabilidade, da imprescritibilidade, da solidariedade

e da irrenunciabilidade dos direitos humanos. (BRASIL, 1996b).

Os responsáveis pelas instituições foram comunicados sobre o interesse em

realizar a busca de dados em suas respectivas escolas e após a liberação do local

foram convidados a assinarem o termo de solicitação de autorização da instituição,

como mostra o Apêndice F.

Elaborou-se um TCLE em uma linguagem acessível e foi entregue

individualmente aos sujeitos antes da entrevista. No termo continha os objetivos do

estudo, os procedimentos de produção e de análise de dados da pesquisa. Neste

instrumento explicitou-se, ainda, a liberdade do sujeito em se recusar a participar ou

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum ônus e/ou

prejuízo à sua pessoa. Foi explicado, também, quanto à garantia do sigilo que

assegura a privacidade quanto aos dados confidenciados envolvidos no estudo.

Elaboraram-se duas cópias desse documento, sendo uma entregue ao aluno e a

outra ficando de posse da pesquisadora, ambas assinadas pelos dois.

Os pais daqueles alunos ainda menor de idade também receberam um

TCLE (APÊNDICE D) e um termo de solicitação de autorização dos pais

(APÊNDICE E) com as devidas informações sobre a pesquisa, e seus filhos só

participaram da amostra com o consentimento deles.

A entrevista só foi realizada após a entrega do TCLE assinado pelos pais e a

assinatura do TCLE pelos estudantes adolescentes.

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Resultados e Discussões

5 Resultados e Discussões

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Apontando a Representação Social Construída

Neste capítulo serão apresentados os resultados alcançados nas análises

realizadas. Primeiramente, serão apresentados os dados relativos à caracterização

dos sujeitos das escolas particular e pública, obtidos a partir do questionário de

dados sociodemográficos. Posteriormente, será realizada a descrição geral das seis

classes geradas pelo programa Alceste.

5.1 Caracterização dos sujeitos estudados

Conhecer os sujeitos e como eles se inserem em um determinado

contexto e nos grupos sociais é de extrema importância para os estudos das

representações sociais.

Foram analisados 60 adolescentes escolares, sendo 30 estudantes de

escola particular e 30 de escola pública. A divisão equitativa de estudantes de

acordo com o local de estudo foi intencional e teve o objetivo de permitir

comparações entre os dois grupos.

Os dados sociodemográficos dos estudantes foram submetidos a

tratamento estatísticos por frequência simples e percentual, e organizados em

tabelas que proporcionam melhor visualização e entendimento.

Tabela 2–Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o sexo. Fortaleza,

2012.

Sexo

Estudante de Escola Particular

f %

Estudante de Escola Pública

f %

Total

f %

Feminino 22 73,3 15 50 37 61,7

Masculino 8 26,7 15 50 23 38,3

Total 30 100 30 100 60 100

Como foi visualizado na Tabela 2, encontra-se a prevalência de indivíduos

do sexo feminino 61,7%, enquanto 38,3% são do sexo masculino. Na categoria

estudantes de escola particular, 73,3% dos participantes são do sexo feminino e

26,7% do sexo masculino. Já na categoria estudante de escola pública a divisão

entre os sexos foi equivalente, 50% sexo feminino e 50% sexo masculino.

Estes números evidenciam que as mulheres se mostraram mais dispostas

em participar da pesquisa e estão mais interessadas sobre a temática idoso,

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principalmente as estudantes de escola particular, pois os garotos demonstraram um

perfil inibido e se negaram bastante em participar da entrevista.

Partindo para a análise da variável idade, considerando o que estabelece

a OMS (adolescente pertence a faixa etária de 10 aos 19 anos) e que nossa amostra

foi de alunos do ensino médio, a faixa etária mais incidente foi de 14 anos aos 19

anos.

Tabela 3- Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a idade. Fortaleza, 2012.

Faixa

Etária

Estudante de Escola Particular

f %

Estudante de Escola Pública

f %

Total

f %

14 -16 anos 21 70 9 30 30 50

17- 19 anos 9 30 21 70 30 50

Total 30 100 30 100 60 100

Na Tabela 3 está representada a distribuição dos estudantes por idade.

Foi observado que os estudantes da escola particular que participaram da pesquisa

eram mais novos, sendo 70% na faixa etária de 14, 15 e 16 anos, em contrapartida,

os estudantes de escola pública ficou sua maioria 70% na idade de 17, 18 e 19

anos.

Seguindo na investigação, analisaremos os dados referentes ao ano

cursado pelos alunos. Predominaram os alunos do 2º ano do ensino médio com

48,3%, sendo tais dados mais evidentes entre os alunos de escola particular, 60%,

como ilustra a Tabela 4 a seguir.

Tabela 4- Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o ano cursado do Ensino Médio. Fortaleza, 2012.

Ano

(Ensino Médio)

Estudante de Escola Particular

f %

Estudante de Escola Pública

f %

Total

f %

1º ano

2º ano

3º ano

7 23,3

18 60

5 16,7

11 36,7

11 36,7

8 26,6

18 30

29 48,3

13 21,7

Total 30 100 30 100 60 100

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Os alunos do 3º ano estiveram em menor número, principalmente na

escola particular (16,7%) e isto se deve ao fato de estarem em um momento de

preparação para o vestibular, o que requer maior dedicação aos estudos, onde todo

o tempo investido aos estudos se torna indispensável.

Outro fato observado foi que os alunos do 1º ano tiveram pouca

representatividade porque faziam parte da faixa etária de menor idade e os pais não

autorizaram seus filhos para participarem da pesquisa.

Analisando a variável religião tivemos a revelação de 60% sendo católica,

especialmente os estudantes da escola particular, que é de tradições católicas,

sendo este fato um condicionador dos dados demonstrados na Tabela 5.

Tabela 5 – Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a religião. Fortaleza, 2012.

Religião

Estudante de Escola Particular

f %

Estudante de Escola Pública

f %

Total

f %

Católica

Evangélica

Espírita

Não possui

22 73,3

3 10

2 6,7

3 10

14 46.7

9 30

5 16,6

2 6,7

36 60

12 20

7 11,7

5 8,3

Total 30 100 30 100 60 100

Houve representações de mais duas religiões e de adolescentes que se

denominaram sem religião, mas elas todas juntas não alcançaram 50%, entregando

o destaque para a religião católica.

A variável renda familiar mensal obteve uma ampla variação de um

salário mínimo a 15 salários mínimos. Entre os estudantes de escola pública a

quantidade de salários recebidos chegou apenas a seis, enquanto que na escola

particular teve alunos que afirmaram que a família tinha uma renda de 15 salários

mínimos.

A Tabela 6 mostra que no geral os estudantes apresentam uma renda de

um a três salários mínimos, 33 (55%), principalmente aqueles da escola pública. Isto

já era esperado, pois o colégio estadual agrega, em sua maioria, pessoas com

condições financeiras menos favoráveis.

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Tabela 6 - Distribuição dos estudantes pesquisados por valor de renda familiar mensal. Fortaleza, 2012.

Renda

Familiar

Estudante de Escola Particular f %

Estudante de Escola Pública

f %

Total

f %

1-3 sm*

4-6 sm

7-9 sm

10-12 sm

13-15 sm

Não sabe

7 23,3

10 33,3

3 10

1 3,4

2 6,7

7 23,3

26 86,6

2 6,7

- -

- -

- -

2 6,7

33 55

12 20

3 5

1 1,7

2 3,3

9 15

Total 30 100 30 100 60 100

*sm:salário mínimo (R$ 622,00)

Importante frisar que sete (23,3%) sujeitos da escola particular revelaram

não saber qual a renda da família, enquanto apenas dois (5,7%) alunos da escola

pública deram a mesma resposta. Isto sugere que os primeiros vivem em uma boa

situação financeira, não tendo necessidade de preocuparem-se com quanto ganham

ou com quanto podem gastar, ao contrário das famílias de alunos de escola pública

que vivem mais regradamente, controlando as contas mensais.

Outra variável levantada foi número de pessoas com que reside. Os

dados estão demonstrados na Tabela 7, a qual indica que a variação foi de uma

pessoa a sete pessoas morando juntas.

Tabela 7- Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com número de pessoas com que reside. Fortaleza, 2012.

Nº de Pessoas

Estudante de Escola Particular f %

Estudante de Escola Pública

f %

Total

f %

1-2

3-4

5-6

7

15 50

13 43,3

2 6,7

- -

6 20

17 56,6

5 16,7

2 6,7

21 35

30 50

7 11,7

2 3,3

Total 30 100 30 100 60 100

As porcentagens expostas na tabela referem que a metade das famílias

se constitui apresentando de três a quatro componentes (50%). As famílias mais

numerosas pertencem aos estudantes de escola pública que são as mesmas que

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possuem as menores rendas. Nestas instituições possuem a característica de

reunirem várias gerações ou as mulheres tem mais filhos.

No que concerne ao item: tem idoso em casa, os números foram

equilibrados entre as duas categorias estudantes de escola particular e estudantes

de escola pública.

Tabela 8 – Distribuição dos sujeitos estudados e a situação de ter ou não idoso em

casa. Fortaleza, 2012.

Idoso em casa

Estudante de Escola Particular f %

Estudante de Escola Pública

f %

Total

f %

SIM

NÃO

8 26,7

22 73,3

10 33,3

20 66,7

18 30

42 70

Total 30 100 30 100 60 100

Assim, a Tabela 8 salienta que 70% dos estudantes não moram com

idosos em casa, então isto nos faz deduzir que a grande maioria dos adolescentes

está pouco aproveitando da convivência, das relações e trocas entre as gerações.

5.2 As representações construídas pelos adolescentes

Diante da divisão do corpus em classes lexicais realizada pelo ALCESTE,

organizou-se os próximos tópicos para discussão na ordem de criação pela partição

realizada pelo dito programa.

Na análise dos dados procurou-se reconstituir os sentidos das classes de

palavras, retornando ao contexto do qual elas foram retiradas e identificando

fenômenos de objetivação além dos elementos que constituem a base ou

ancoragem dos objetos investigados.

5.2.1 CLASSE 5 – Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso

A classe que será discutida apresenta associação estatística com o

sujeito 52 (khi2=5), que não vive com idoso em casa (khi2=3), que mora com sete

pessoas (khi2=3) e com o sujeito 42 (khi2=3).

A referida classe abarca um total de 97 do total de 735 UCEs,

representando assim 13% do corpus de análise.

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QUADRO 3: Distribuição das formas reduzidas da classe 5, com maiores valores de khi2, seus contextos semânticos e sua frequência. Fortaleza, 2012.

Na classificação hierárquica ascendente, foram consideradas 27 palavras

representativas e as principais formas reduzidas, com seus respectivos contextos

semânticos, valores de khi2 e frequência são apresentadas no Quadro 3

Assim, conforme pode ser constatado no Quadro 3, as formas reduzidas

que apresentam maiores valores de khi2 são: escola, fal, professor, aula, lembr,

assunto, import, envelhecimen, coment, sal, aprend, biolog, gente, exemplo, coleg,

convers. Todas estas formas reduzidas apresentam um contexto semântico único.

Pela leitura atenta dos contextos semânticos desta classe logo se

compreende o conteúdo geral expresso por ela. A partir do Quadro 3, verifica-se que

os contextos semânticos da classe 5 abrange conteúdos voltados para o âmbito

escolar deste estudantes, bem como sobre o debate do tema envelhecimento no

colégio.

Portanto, os conteúdos expressos nesta classe dissertam sobre a escola

como importante espaço de interação social, de aprendizado, de reprodução, mas

também de transformação.

A delimitação dos conteúdos da classe 5 pode ser identificada de maneira

detalhada a partir da CAH, na qual foram consideradas 20 formas reduzidas, que

Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência

escola Escola 299 50

fal Fala 204 124

professor Professor 128 28

aula Aula 127 25

lembr Lembro 91 22

assunto Assunto 81 19

import Importante 69 21

envelhecimen Envelhecimento 61 17

coment Comenta 59 13

sal Sala 59 11

aprend Aprende 53 13

biolog Biologia 46 8

gente Gente 30 52

convers Conversa 31 26

coleg Colegas 29 21

exemplo Exemplo 26 22

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resultaram da seleção das formas reduzidas que dão sentido aos conteúdos da

classe, conforme apresentado na Figura 5. A partir das associações existentes entre

as formas reduzidas na CAH, é possível compreender os conteúdos que são

discutidos nesta classe.

FIGURA 5: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 5 – Fortaleza, 2012.

Na Figura 5 é possível visualizar uma representação gráfica da

delimitação dos conteúdos da classe 5 a partir da CAH. As formas reduzidas escola,

fal, gente e os encontram-se associados entre si e ao grupo constituído pelas formas

reduzidas aprend, import, sab, lembr, coleg, envelhecimen, biolog. Todos esses

agrupamentos são provenientes de uma divisão binária anterior. Neste sentido a

agregação destes grupos forma um conteúdo denso de informação que diz respeito

à escola como ambiente central de discussão sobre o envelhecimento humano.

Nota-se ainda uma segunda divisão binária, composta pelo agrupamento

constituído pelas formas reduzidas exemplo, histor, convers e amigos que se

encontram associados entre si e ao outro subgrupo formado por assunto, coment,

professor, aula, sal. Esta divisão binária criou conteúdos referentes às conversas

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que surgem em sala de aula e a figura do professor como mediador de

conhecimentos.

A partir das divisões binárias propostas pela CAH procedeu-se a divisão

temática da classe 5 em duas subclasses, que são: “A escola como ambiente de

discussão sobre o envelhecimento” e “Histórias contadas em sala de aula”. As

subclasses abordam praticamente as mesmas coisas. É bastante tênue a diferença

entre elas.

5.2.1.1 A escola como ambiente de discussão sobre o envelhecimento

Os conteúdos que integram esta subclasse dizem respeito ao papel

fundamental da escola no contexto de construção de informações, e é neste lugar

que os adolescentes esperam e devem aprender sobre determinados temas, entre

eles o envelhecimento humano, como expressa as UCEs seguintes:

Não lembro de terem falado nada sobre o envelhecimento neste colégio. no outro colégio que estudei já falaram, mas aqui não lembro. mas é importante falarem disso, porque muitas pessoas não se tocam que um dia vão envelhecer e tem que saber sobre isso. (uce n°368; Khi2=42; uci n°27; *suj_27 *sex_fem *id_14a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns*vi_3p *ic_na) Na escola eu não lembro de alguém ter falado sobre velhice, nem envelhecimento. é bom se falar sobre isso no colégio, até pra gente se preparar pra isso e também pra gente saber como tratar eles né. (uce n°266; Khi2=36; uci n°19; *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_na) Na escola já conversamos sobre a velhice, sobre a longevidade, nas aulas de biologia, sobre as alterações [...] eu acho importante se falar sobre a velhice me sala de aula, pois todos nós vamos passar por isso, e muitos jovens não sabem como lidar com esta situação, tentam nem tocar no assunto, tem um certo preconceito, sofrem por antecipação. (uce n°85; Khi2=31; uci n°5; *suj_05 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_1s *vi_3p *ic_si) Na escola, eu lembro que na aula de sociologia já foi comentado sobre o tratamento das pessoas em relação aos idosos, falamos dos idosos que sofriam maus tratos. [...] acho importante falar sobre este tema em sala de aula, pois apresenta aos alunos como é a sociedade em si. (uce n°155;

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Khi2=31; uci n°10; *suj_10 *sex_mas *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_1p *ic_na)

O discurso é evidente, os estudantes, em sua maioria os de escola

particular, relatam que existe uma lacuna em sua formação secundarista acerca do

processo de envelhecer. Eles apontam que na escola se aborda sobre vários temas,

os quais terão pouco proveito em sua vida, porém sobre a velhice, algo inerente a

todo ser humano, é pouco ou nada comentado.

Os adolescentes denotam um anseio de informações para sua boa

formação social e consequente processo de envelhecimento. E para que isto ocorra

apontam a escola como fundamental e importante instrumento de preparação do

sujeito para uma vida sem preconceitos e barreiras, mas com cidadania.

É notório que quando se entre em pauta o tema envelhecimento, os

adolescentes só se recordam das aulas de biologia, nas quais eram demonstradas

as alterações fisiológicas do envelhecimento, como consta no extrato da UCE

seguinte:

Na matéria de biologia já se falou sobre aquelas alterações do corpo com o envelhecimento. mas eu acho que tem necessidade de se falar sobre isso aqui na escola, porque a maioria das pessoas não respeitam mesmo os idosos, e eu tenho raiva mesmo disso.( uce n°209; Khi2=24; uci nº14; *suj_14 *sex_fem *id_19a *esc_med3 *rel_ca *col_jc *ren_15s *vi_2p *ic_na)

A partir daí, pode-se perceber que não estão sendo visualizadas todas as

dimensões do idoso, fazendo com que, por vezes, o adolescente considere a velhice

como algo ruim associado apenas a ideia de perdas e mudanças físicas.

A preparação do homem é fundamental; só se viverá bem na velhice se

houver uma preparação anterior, pois a vida reserva preocupações e problemas em

qualquer idade, que poderão ser agravados na velhice e se não existir um

planejamento pessoal e social do indivíduo. (OLIVEIRA, 1999).

A elaboração para vivenciar o envelhecimento deve ser iniciada ainda nas

séries básicas, não apenas na conscientização de se respeitar o idoso, mas,

principalmente, no que é envelhecer, condição a qual todos estão sujeitos.

A educação é a chave para a mudança de paradigmas: é uma forma de

intervenção no mundo. A educação é possível para o homem, porque este é

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inacabado e sabe-se inacabado. [...] A educação tem caráter permanente. Não há

seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de

educação, mas estes não são absolutos (FREIRE, 1996; FREIRE, 1983).

Na escola não converso nada sobre os idosos e nem escuto os professores falarem sobre isso. eu também não converso com meus amigos nada, tem coisas mais interessantes para se falar e a gente não perde tempo falando coisas que não se deseja. (uce n°409; Khi2=35; uci n°31; *suj_31 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ou *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)

Percebe-se que a escola não está contemplando seu papel de ambiente

potencializador de integração entre as gerações, fazendo com que floresça a partir

dos adolescentes significados carregados de estereótipos característicos de uma

sociedade excludente.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) incluíram, de forma

flexível, novos temas transversais exigidos pelas características regionais e locais da

sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (BRASIL, 1996a). Porém,

averiguou-se que num país multicultural como o Brasil, o envelhecimento (que

também já é fato no nosso país) ainda não é tema de destaque nas escolas.

A escola não muda a sociedade, mas pode, partilhando esse projeto com

segmentos sociais que assumem os princípios democráticos, articulando-se a eles,

constituir-se não apenas lugar de reprodução, mas também como espaço de

transformação. (BRASIL, 1996a).

A educação deve preparar o indivíduo, de maneira que essa etapa deixe

de ser encarada como um sacrifício por pessoas de todas as outras idades e passe

a ser vista como outra fase qualquer da vida, que traga possibilidades de prazeres e

realizações por indivíduos de todas as idades.

5.2.1.2 Histórias contadas em sala de aula

A categoria que agora será explanada está bastante associada à

categoria anteriormente explicitada. Ela reza essencialmente sobre a atuação dos

professores do ensino médio em sala de aula, no que diz respeito aos temas

relacionados ao envelhecimento, como mostra a UCE abaixo:

Na escola nunca ouvi nenhum professor falando de velhice e idoso não; o que já se falou sobre idoso foi só entre meus colegas mesmo, a gente comenta como seremos quando

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chegar lá nesta idade.( uce n°48; Khi2=26; uci n°3; *suj_03 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_2s *vi_*vi_4p *ic_si)

Neste sentido, em nossa realidade não faz parte do processo ensino-

aprendizagem dos alunos o assunto envelhecimento humano, pois os professores,

que por sua vez também não são preparados, não fazem da sala de aula um

ambiente de educação gerontológica.

Os próprios adolescentes confessam que a velhice já foi motivo de

conversa entre seus pares, revelando que mesmo, muitas vezes, não desejada, a

terceira idade faz parte do imaginário dos adolescentes, tornando- a real.

Como argumenta Jodelet (2001a, p. 17), é nos grupos que partilhamos

os diferentes aspectos do cotidiano e edificamos uma realidade comum através das

representações sociais, que por isso são sociais e tão necessárias na nossa vida,

uma vez que "elas nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os

diferentes aspectos da realidade diária, no modo de interpretar esses aspectos,

tomar decisões e, eventualmente, posicionar-se frente a eles de forma defensiva".

Obviamente estes adolescentes compõem e constroem o mosaico social,

sendo influenciados e influenciando o mesmo. Assim sendo, acabam incorporando e

dando um novo sentido às crenças, mitos e estereótipos que passam a fazer parte

de seus cotidianos e dos seus discursos, ou seja, passam a reproduzir um saber

compartilhado, mas com elementos que diferem de outros membros da sociedade,

acrescentados, justamente, pela vivência com algum idoso.

Na escola já fizemos trabalho sobre idoso na campanha da fraternidade, na disciplina de sociologia e religião. quando também acontece algum assunto polêmico, tipo violência contra idoso, ai a gente conversa entre os amigos. uce n° 117 Khi2=29; uci n° 7 ;*suj_07 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_2p *ic_na) Na escola já conversamos sobre a velhice, sobre a longevidade, nas aulas de biologia, sobre as alterações e o professor de literatura sempre de histórias de livros e sempre tem um idoso que se destaca nas histórias. (uce n°84; Khi2=42; uci n°5; *suj_05 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_1s *vi_3p *ic_si)

Na escola, que eu lembre só se falou de idoso em filosofia, sobre o tratamento dos idosos, também em biologia, sobre as doenças, o processo de envelhecimento. até entre os colegas,

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a gente já comentou como a gente será quando tivermos idosos.( uce n°183 Khi2=35; uci n°12; *suj_12 *sex_fem *id_18a *esc_med3 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_si)

É possível encontrar em algumas disciplinas ou alguns professores que

se dispõem a trabalhar questões diferenciadas sobre envelhecimento, porém de

forma pontual e eventual, e não uma aula completa com o tempo totalmente

dedicado para as diversas peculiaridades que compõem os idosos. Além disso, a

educação voltada para a gerontologia serve como fator atenuante para reduzir as

discordâncias de valores e ideias que causam conflito entre as diferentes gerações.

5.2.2 CLASSE 1 - Experiência dos adolescentes com idosos

A classe que aqui será apresentada possui associação estatística entre o

sujeito 55 (khi2=19), sujeito 58 (khi2=8), sujeito 34 (khi2=7) e que se dizem católicos.

Percebe-se que esta classe não se mostrou estatisticamente associada à maioria

das variáveis de análise.

A Classe “Experiência dos adolescentes com idosos” engloba 124 UCEs

das 735 totais analisadas. Desta forma, esta classe corresponde a 17% do corpus

de análise. Cada UCE presente na classe 1 apresenta, em média, 93 palavras

analisadas.

Na CAH (Classificação Ascendente Hierárquica) desta classe, foram

consideradas 27 formas reduzidas. As principais formas reduzidas, com seus

respectivos contextos semânticos, valores de khi2 e frequência são apresentados no

Quadro 4. Visualiza-se também que várias formas reduzidas: experi, mor, avo,

convers e relaciona não se encerram em si, pois possuem mais de um contexto

semântico associado.

Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência

experi experiência 70 44

vo vó 66 44

avo avó, avós 62 68

tenh tenho 61 50

lid lido 38 21

respeit respeito 32 45

mor morei, moram 31 20

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relaciona relacionamento 30 10

dou dou 29 9

cont contato 28 16

bairro bairro 24 6

onibus ônibus 24 10

mãe mãe 23 15

exemplo exemplo 23 25

convers converso, conversa 20 24

Quadro 4: Distribuição das formas reduzidas da classe 1, com maiores

valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da

classe 1. Fortaleza, 2012.

A partir das formas reduzidas e dos contextos semânticos expostos no

Quadro 4, compreende-se que a classe 1 aborda, como conteúdo geral, a vivência e

a forma de lidar dos adolescentes com os idosos.

No entanto, agrupando as formas reduzidas presentes na CAH, formou-se

a Figura 6, a qual possui a representação gráfica da delimitação dos conteúdos da

Classe 1. As formas reduzidas relaciona, pai, experi, tenh, avo e mor encontram-se

associadas entre si e ao grupo formado pelas formas morr, aos, diz, mãe e tempo,

que por sua vez se associa ao grupo formado pelas formas cont, boa, cheg, vo e

conviv. Estes agrupamentos são provenientes de uma divisão binária anterior, que

corresponde ao tipo de relacionamento que os adolescentes possuem no convívio

com seus avós.

Nota-se, ainda, que o agrupamento constituído pelas formas reduzidas

escut, ônibus e cadeir encontram-se associadas entre si e ao segundo grupo que foi

formado com as formas id, respeit e trat, que também se associa às formas gost e

idosos, ambos provenientes também de uma divisão binária anterior. Estes

grupamentos representam conteúdos relativos ao respeito que todos os idosos

merecem receber por parte dos mais jovens.

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FIGURA 6: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 1 – Fortaleza, 2012.

A partir da CAH foi proposta a divisão da Classe 1 em duas subclasses,

com a intenção de refinar seus conteúdos. As duas subclasses são: “Experiência

com meus avós” e “O idoso merece respeito”.

5.2.2.1 Experiência com meus avós

Quando se fala em experiência com idosos, os adolescentes de ambas as

escolas não titubeiam e, na grande maioria das vezes, se remetem aos avos e suas

saudosas convivência com eles. Apontam que, já moraram durante algum período

da vida com eles e que sentem falta da sua companhia. Ressalta-se a importância

dos avos na criação dos netos, pois transmitem a eles um sentimento jamais

percebido em outro relacionamento.

Frente a isto, mencionam com prazer como era sua convivência, como

mostra nos extratos seguintes:

A experiência que eu tenho é com meus avos maternos, com mais ninguém. Eu gosto mais deles do que da minha mãe, pois foi meu vô que praticamente me criou, morei com minha vó por

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muito tempo, me dou muito bem com eles. (uce n°356; Khi2=50; uci n° 26; *suj_26 *sex_mas *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_2p *ic_na)

A experiência que tenho é com meus avos mesmo. meu relacionamento é muito bom, diria até que tão bom quanto com meus pais. (uce n°577; Khi2=45; uci n°40; *suj_40 *sex_mas *id_16a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_5s*vi_4p *ic_si)

As pessoas que sou mais apegada são meus avos e meu pai que é idoso, e eu respeito e tenho um carinho muito grande por eles. Tenho boas experiências com os idosos, acho muito legal conviver com eles. Por exemplo, toda oportunidade eu vou para o interior onde mora meus avós, minha avó me ensinou a costurar e fazer crochê. (uce n°8; Khi2=30; uci n°1; *suj_01 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_2p *ic_si)

Só tenho experiência com minhas duas avós. já morei com minha vó materna, e foi normal. Só tem que ter mais cuidado com ela, pra ela não cair e pronto. Nunca tive problema com nenhuma. (uce n°342; Khi2=29; uci n°25; *suj_25 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_4s *vi_2p *ic_na)

Percebe-se que independentemente do tipo de escola e se atualmente

moram com idosos, os adolescentes revelam a boa influência de seus avós em sua

formação. Isto nos faz refletir sobre os benefícios que a coexistência entre as

gerações traz para a família, a sociedade e a formação pessoal.

Os avós são fontes importantes de suporte afetivo e financeiro à família,

além de exercerem a função de aconselhar e de estabelecer regras e limites,

funções tradicionalmente atribuídas aos pais. (MARANGONI, 2007).

Estas UCEs traduzem o que muito se percebe na sociedade

contemporânea, que é a necessidade dos filhos morarem ou serem cuidados pelos

avós porque os pais trabalham ou porque não possuem condições de sustentá-los.

Coutrim (2006) lembra que os idosos de baixa renda, já aposentados e

que trabalham informalmente, possuem uma maior segurança de renda que os mais

jovens. Isto se concebe devido aos altos índices de desemprego, ao nascimento de

filhos fora do casamento, às separações e ao fato de muitos permanecerem na casa

dos pais ou terem retornado a elas. Assim, muitos idosos mantêm-se como chefes

de família, onde os mais velhos, muitas vezes, ocupam o papel de provedores de

outras gerações.

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O sentido dos discursos dos adolescentes contidos nas UCEs

supracitadas remete ao impacto que o convívio com os avós trouxe para suas vidas

e a aprendizagem adquirida direta ou indiretamente com esta relação

intergeracional.

A intergeracionalidade é um termo utilizado para referir-se às relações

que ocorrem entre indivíduos que pertencem a diferentes gerações. Geração é um

fenômeno biológico e cultural, materializado por valores éticos e de conduta para

cada fase e variam ao longo da história. (FERRIGNO, 2007).

A interação intrafamiliar com idosos gera uma rica relação de trocas e

crescimento mútuo entre as gerações que ali co-habitam. Isto pode ser visualizado

pelas UCEs seguintes, pois mostram como se dá o relacionamento intergeracional,

adolescentes e avós.

Eu gosto de conversar com os idosos, brinco com eles, tenho um relacionamento saudável com os meus avós. Sento pra conversar, acompanho minha avó em alguns lugares. Minha experiência com idoso é com minhas avós, sempre me dei bem com ela, só tem aqueles pensamentos deles que não acompanham a atualidade, elas querem que a gente viva o tempo deles ainda, mas a gente se entende. (uce n°265; Khi2=23; uci n°19; *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s*vi_3p *ic_na)

Minha experiência com minha vó era muito boa, nunca tive problema, pelo contrário, eu era muito chegado a ela. Só em relação aos eletrônicos, ela dizia que me fazia mal, ai eu não concordava. Ainda tentei ensinar a ela mexer no computador, mas ela não quis aprender. (uce n°598; Khi2=32; uci n°41; *suj_41 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)

O contato intergeracional propicia o exercício de uma prática educativa e

a transmissão da cultura através de modelos e do relato oral. Esse é um caminho de

mão dupla, tanto os avós educam os netos como são educados por estes,

procedimento esse mediado pela cultura e pelo mundo que o cerca. Um dos grandes

méritos do processo co-educativo é compreender os velhos (avós) não como

pessoas acabadas, mas como pessoas com opinião própria e com muito a ensinar.

(SANTOS, 2003).

Moscovici (2009) afirma que para se compreender uma representação

social há necessidade de primeiramente se identificar seu núcleo figurativo, o qual

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relaciona um conceito e uma imagem. Para esse autor, enquanto não se discernir

claramente o caráter inseparável do que pensa e imagina uma maioria, não se pode

afirmar a existência de tal representação e nem a objetivação desses elementos. “É

a vida social, evidentemente que funda, que perpetua e até mesmo renova este

núcleo figurativo, isto é, sua história” (MOSCOVICI, 2009, p. 27).

Percebe-se a partir das falas uma representação positiva acerca deste

relacionamento entre as gerações, visto que os valores e ensinamentos estão sendo

transmitidos em uma via de mão dupla e, sobretudo, estão sendo respeitados,

fazendo com que aconteça um distanciamento da ideia de atritos e conflitos

intergeracionais e que estas relações fiquem mais fortes e saudáveis.

A partir do momento em que se oportuniza, no contexto familiar, bem

como em outros espaços de convívio entre gerações, o confronto das idéias, o

diálogo, existe a possibilidade do reconhecimento. Ou seja, na medida em que se

provoca o neto em relação ao seu avô, o benefício desse reconhecimento para a

identidade desse avô é extremamente positiva. Ora, esse idoso passa a perceber

que ele existe, que ele é ouvido, que sua vida tem importância para a vida de seu

neto e da sua família. (SCHMIDT, 2007).

5.2.2.2 O idoso merece respeito

A questão do respeito à pessoa idosa se configura como algo auto-

explicável, visto que estas pessoas carregam todas as experiências de vários anos

vividos na construção da sociedade que hoje vivemos juntos. Respeitar os idosos é

reverenciar nossa própria história, pois eles são fontes históricas vivas.

Eu lido bem, trato com respeito, eu escuto o que ele, idoso, tem para dizer. Os idosos me dão conselhos, e eu escuto e gosto, embora alguns eu dispense. (uce n°425; Khi2=17; uci n°32; *suj_32 *sex_mas *id_18a *esc_med3 *rel_ou *col_ab *ren_2s*vi_4p *ic_na)

Os participantes reconhecem o idoso como fonte enriquecedora de

conhecimento, entretanto aqueles estudantes de escola pública e que congregam

em outras religiões se mostraram indiferentes em relação aos seus ensinamentos e

contribuições para a vida.

O idoso tem uma posição singular em relação ao jovem, isso porque suas

vivências se transformam em conhecimento e sabedoria. (GUEDES, 2006).

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Eu tento respeitá-los a medida da idade deles, tento ajudá-los, mas quando eles fazem coisas ou dizem coisas que eu não gosto, eu fico calada e deixo eles falarem bem muito, não ligo para eles. [...] o nosso relacionamento é bom; eu na minha e eles na deles. Eu não tenho vontade de conversar, não tem conversa entre a gente, não tem o que conversar com eles não tem assunto. (uce n°407; Khi2=18; uci n°31; *suj_31 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ou *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)

Estes estudantes provavelmente residem em um domicílio desprovido de

base educacional familiar, no qual não se discute sobre valores sociais, morais e

culturais, sobre as responsabilidades do cidadão para com os outros, especialmente

os idosos, fazendo com que ocorra a diluição da imagem do idoso como ícone de

herança e aprendizado inquestionáveis.

Pessoas e grupos, longe de serem receptores passivos, pensam por si

mesmos, produzem e comunicam incessantemente suas próprias e específicas

representações e soluções às questões que eles mesmos colocam. Nas ruas, nos

bares escritórios, hospitais, laboratórios, entre outros lugares, as pessoas analisam,

comentam, formulam “filosofias” espontâneas, não oficiais, que têm um impacto

decisivo em suas relações sociais, em suas escolhas. (MOSCOVICI, 2003).

O art. 3º, título I, aponta: “É obrigação da família, da comunidade, da

sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a

efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao

esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, ao respeito e à convivência familiar e

comunitária”. (BRASIL, 2003).

O idoso contribui tanto na família quanto na comunidade; na família

muitas vezes é o provedor principal da manutenção financeiras, na comunidade ele

contribui com opiniões para o crescimento e melhoras nas ações em prol do

crescimento comunitário.

Ele possui uma ampla história pessoal a oferecer ao ambiente,

representando ainda a história familiar em si como grupo social. É o principal

portador daquilo que particulariza cada um como ser biográfico e não apenas

biológico. (LEME, 2007).

O adolescente expõe em falas tudo aquilo que ele materializa a partir da

coexistência com o outro no meio que ele vive. E diante das UCEs a seguir se

constata que a questão do respeito ao idoso está intimamente representado pela

atitude dos mais jovens de disponibilizar o assento do ônibus para os mais velhos.

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Bom, o povo descrimina, descarta em certas ocasiões os idosos, nas festas, nas ruas, nos ônibus, isso aparece todos os dias. Eu acho que o povo mais velho tem que ser respeitado. (uce n°453; Khi2=19; uci nº21; *suj_34 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)

Eu trato o idoso com muito respeito. Por exemplo, quando eu ando de ônibus, meu pai me ensinou que tenho que levantar da cadeira para dá para o idoso, e assim eu faço, todo vez eu dou aquelas cadeiras brancas pra eles. (uce n°288; Khi2=18; uci n°21; *suj_21 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns*vi_3p *ic_na)

Eu não tenho muito contato com idoso, até minha avó eu acho que ela não é ainda idosa. Mas eu trato com respeito, tem que ceder a cadeira, essas coisas. (uce n°275; Khi2=22; uci n°20; *suj_20 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_2s*vi_3p *ic_si)

É assegurado por lei como apurado no art.39º, título 2, “Nos veículos de

transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento)

dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado

preferencialmente para idosos”.

O respeito e o bom tratamento atribuído ao idoso referem-se à

consideração que estes adolescentes sentem por estes seres com mais anos

vividos, contribui no combate ao preconceito etário e proporcionam o entendimento

entre as diferentes gerações.

5.2.3 CLASSE 3: A perspectiva do adolescente como futuro idoso

Esta é a classe formada por 165 UCEs e 82 palavras analisáveis.

Configura-se como a classe de maior significância estatística em termos de

agregação de UCE, perfazendo 22,0% do total.

Para melhor visualização foi construído o Quadro 5 que constam as

palavras primeiramente em suas formas reduzidas, conforme apresentadas no

relatório do programa, com respectivos qui-quadrado, que sinalizam a importância

semântica de cada palavra dentro da classe, bem como a palavra completa que

mais apareceu nos discursos que formam as UCEs dessa classe. O programa

realizou um corte contendo as palavras com khi2 maior ou igual a 10.

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Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência

quer quer 184 186

filhos filhos 95 42

netos netos 87 32

vou vou 52 52

pens penso 51 90

imagin imagino 46 19

marido marido 35 11

família família 32 45

tranquil tranquila 29 12

ativ atividade 23 12

comida comida 17 5

sozinh sozinha 15 16

feliz feliz 13 8

chata chata 13 8

enxuta enxuta 10 3

QUADRO 5: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2,

sua freqüência, e seus contextos semânticos da classe 3.

Fortaleza, 2012.

Esta classe apresentou associação estatisticamente significativa entre os

alunos matriculados em escola pública (sujeitos 44, 32 e 49), que são aqueles que

compõem a segunda parte do corpus e cuja religião definida como ‘outras’ foi a de

maior significância (Khi2= 5). Isto reflete que as representações de velhice

projetadas por estudantes de escola pública estão mais voltadas para as questões

que envolvem seu futuro, suas perspectivas e objetivos de vida.

Os vocábulos mais ilustrativos nesta classe são: quer, filhos, netos, vou,

penso, imagino, marido, família, tranquila, atividade, comida, sozinha, feliz, chata e

enxuta. Eles se associam e formulam a ideia central da classe, apontando para o

desejo e visão futura de como os adolescentes se projetam para sua velhice.

Neste sentido, os estudantes desejam uma vida tranquila ao lado da

família, mas, sobretudo ativa de acordo com as exigências da vida contemporânea,

eles mostram acima de tudo que vêem a possibilidade de manterem-se ativos e

participantes da vida familiar e da vida social, contribuindo tanto para a manutenção

quanto para a transformação de valores sociais.

Observa-se que a delimitação dos conteúdos da classe 3 é identificada,

de maneira mais detalhada, a partir da Classificação Ascendente Hierárquica (CAH),

a qual resulta de divisões binárias sucessivas das formas reduzidas da classe. O

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resultado dessas divisões é expresso pelo dendograma das palavras que dão

sentido aos conteúdos da classe, constituindo sua totalidade.

A Figura 7 é uma reprodução gráfica do resultado da CAH da classe 3

que aqui está sendo apresentada. Através da CAH, as formas reduzidas foram

agrupadas com a pretensão de identificar temáticas e significados mais precisos dos

elementos que compõem a classe “A perspectiva do adolescente como futuro idoso”.

Figura 7: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 3 – Fortaleza, 2012.

Na CAH da Classe 3 foram consideradas 22 formas reduzidas. Observa-

se que as formas reduzidas quer, netos, filhos, sej estão associados entre si

compondo a temática “Família tradicional”. O mesmo ocorre com as formas

reduzidas cas, sozinh, filh, marido, depend, tiv, sei ,vou, imagin cuja temática aborda

“Desejo de família”. Por fim, as formas pens, tipo, pra, saude, familia, tranquil, par,

igual e ativ abordam o “Envelhecimento ativo”.

Desta forma, constata-se que a representação da perspectiva do

adolescente como futuros idosos apresentados nesta classe divide-se em três

temáticas que serão discutidas juntamente com o embasamento de estudiosos do

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tema e para título de exemplificação, serão apresentadas UCEs características de

cada grupo temático.

5.2.3.1 Família tradicional

Esta temática explicita um conteúdo que traz uma correlação um pouco

distante daquela que costumamos imaginar sobre os adolescentes, que é o seu

desejo de construir uma família. Expressa uma preocupação maior por parte dos

sujeitos com as questões relacionadas aos valores sociais e as relações familiares

em seus processos de identificação e de busca de valores afetivos.

Esta temática pode ser exemplificada com as UCEs abaixo:

Eu digo que vou ter vários netinhos e uma casa no campo pra eles brincarem, pra ser uma vó tipo a do sítio do pica-pau amarelo, vozona. é isso, eu quero casar, ter filhos, uns três e adotar um filho. [...] eu queria ser tipo minha avó materna, que faz tudo, que vai pra igreja, mas que também se diverte, que se preocupa com os netos, que faz comida pros netos. (uce nº69; khi2=20; uci nº4; *suj_04 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_5p *ic_na) Já pensei na velhice, tento imaginar, eu com a minha esposa, dois filhos, sei lá. vou começar a cuidar da minha vida desde já pra quando eu tiver numa idade de idoso, eu ter uma boa vida, uma pessoa normal, não depender de ninguém. (uce nº690; khi2=19; uci nº47; *suj_47 *sex_mas *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_5p *ic_na) Quero ser tipo o meu avô. ele sempre dizia: Junior, seja homem! quero ser como ele, homem de verdade, trabalhador, cuidar da minha mulher, meus filhos. (uce n° 561; Khi2 = 21; uci n°39; *suj_39 *sex_mas *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_3p *ic_na) Imagino eu na minha casa, cuidando dos meus netos. coisa de vó tradicional, ficar em casa esperando os netos pra comer, cuidar da casa.( *suj_44 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ou *col_ab *ren_3s *vi_3p *ic_na)

Percebe-se que a adolescência como categoria psicossocial contribui com

as representações emergentes do seu próprio contexto sócio-cultural, o qual prepara

o indivíduo para enfrentar as adversidades do mundo e se preparar para as

diversidades da vida adulta.

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Estas UCEs colocam em evidência imagens objetivadas pelos

adolescentes, as quais referem à velhice como uma fase na qual se deve manter a

atividade e a independência, as quais fazem o idoso manter sua função social.

Vê-se também que estão inseridas na concepção dos adolescentes as

questões de gênero, visto que nas falas constata-se uma construção enraizada de

figuras de mulher e de homem, mostrando como a cultura é base para a

representação social.

Os adolescentes vivem e admiram a sociedade em que valoriza a

liberdade, a novidade e o diferente, entretanto, carrega em seu imaginário a figura

do tradicional, aqui refletida pelo papel clássico dos avós, que é cuidar dos netos e

fazer cerimônia para toda a família.

Eu quero ser feliz, quero ter família, tudo bonitinho, fazer comida pros netos. Quero ser aquele tipo de idosa doida, que não tá nem ai pra nada, que dá tudo pros netos, levar os netos pras baladas quando os pais não deixarem ir só. (uce nº 34; khi2=41; uci nº2: *suj_02 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_2s *vi_2p *ic_na).

Um destaque nesta temática é o uso do verbo querer, isto implica em

atitude e determinação por parte dos adolescentes diante dos valores de caráter

tradicional (filhos e netos). Isto se torna favorável para uma boa dinâmica

intergeracional pautada em padrões de convivência positivos, pois oportunizam o

diálogo e o uso de postura flexível nas relações interpessoais.

No processo pubertário, os adolescentes têm que lidar com expectativas

familiares e sociais, bem como com todas as modificações familiares e interpessoais

que afetam as outras gerações com as quais convive, destacando os pais e os avós.

(MARANGONI, 2007).

Desta forma, os adolescentes, diante de suas experiências e interação

atual com idoso, que na maioria das vezes são os avós, vislumbram uma velhice

também constituída pela vivência e trocas com seus filhos e netos, confirmando a

influência do contexto histórico-cultural em que está inserido.

5.2.3.2 Desejo de família

Nesta categoria fazem parte os seguintes contextos semânticos: casar,

sozinho (a), filho, marido, dependente, tiver, sei, vou, imagino, o que representa uma

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posição do adolescente perante a sociedade através de comunicações que fazem

crer que ele está alerta para o planejamento da sua vida e do desejo de uma velhice

bem amparada. Fica marcada na citada categoria a projeção para o futuro (devir), a

dialética do querer e do não querer.

Estas dimensões são exemplificadas nas UCEs expressas nos

conteúdos a seguir:

Já pensei na minha velhice, se vou tá casada, com filhos, netos, se vou ter sucesso na profissão, esperando a hora de morrer. quero ser aposentada, uma casa pra morar, com meu marido, envelhecer junto com ele. eu não quero ser velha sozinha, deve ser triste envelhecer sozinha. (uce nº 102; khi2=37; uci nº6: *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si)

Como objetiva as representações sociais, os adolescentes apresentam-

se ativo na elaboração de conceitos que refletem sua compreensão da realidade que

o cerca. Eles transferem a partir de suas falas o caldeirão de emoções que eles

vivem e atuam sobre estas sensações de modo que sabem muito bem o que

querem, uma velhice com companheiro e com uma formação familiar nuclear,

conforme pode ser vista nas UCEs abaixo:

Pensei na minha velhice. ao ficar velho, quero muitas pessoas comigo, não quero ficar sozinho. o idoso fica muito só, os filhos abandonam, eu vejo os meus vizinhos. eu não quero ficar só, quero ficar com a minha_mulher, minha_velhinha. (uce n°428; Khi2 = 21; uci nº32; *suj_32 *sex_mas *id_18a *esc_med3 *rel_ou *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)

Eu penso assim, se eu vejo uma pessoa feliz na velhice, eu quero ser igual a ela, se eu vou tá como aquela pessoa. eu penso muito no meu futuro entendeu? se quando eu estiver velho, se eu vou tá feliz, se eu vou tá com alguém, se eu vou tá sozinho. (uce nº568; khi=21; uci nº40; *suj_40 *sex_mas *id_16a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_5s *vi_4p *ic_si) Eu penso que na velhice eu vou me sentir realizada, casada talvez, com filhos, netos, ser independente financeiramente, reconhecida profissionalmente, com uma casa boa [...] Quando idosa quero ser tipo a minha avó, magrinha, cabelos brancos, só não quero perder os dentes. (uce n°721; Khi2=24; uci nº49; *suj_49 *sex_fem *id_17a *esc_med3 *rel_na *col_ab *ren_na *vi_4p *ic_na)

Independente do sexo, da procedência estudantil ou se moram com

idosos, os adolescentes vislumbram uma vida compartilhada. Desde o hoje em que

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costumam se apresentarem em pares, eles objetivam sua velhice com laços

afetivos, não para servi-lo, mas com o intuito primordial de fugir da solidão.

Assim, nos tempos atuais, o homem vai tentando trilhar um caminho rumo

à descoberta ou ao encontro de vínculos amorosos capazes de levá-lo à satisfação,

à felicidade, à realização de si mesmo e em sociedade, cuja representação está

repleta de artifícios facilmente disponíveis, artifícios tais que intermedeiam de

maneira bastante conveniente, a expressão dos afetos e em especial o amor entre

gêneros. (SCHWETTER, 2006).

Alguns adolescentes assumem que nunca haviam parado para pensar

em sua própria velhice, porém sabiam muito bem como a desejava, como demonstra

na UCE seguinte:

Eu nunca pensei na minha velhice, porque só Deus sabe como vai ser meu futuro. eu não sei se vou conseguir chegar até a velhice. mas imaginando agora, eu quero ter bastante estabilidade, ter minha casa, ter condições de me sustentar, não depender das outras pessoas. (uce nº 675; khi2:35; uci nº46: *suj_46 *sex_fem *id_17a *esc_med3 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_2p *ic_si).

Esta descrição apresentada pelo adolescente de escola pública reflete

algo peculiar da formação do adolescente, a sua preocupação com o hoje, com seu

momento atual, mas que em contrapartida quando lançada a ideia de posteridade

ele sabe muito bem o que quer da vida, principalmente a independência, que é algo

que em sua fase vivida, ele não desfruta.

Contudo, é notória a predominância da família como construto social do

adolescente e na contemporaneidade se tornam o produto da razão pragmática do

sujeito subjetivo e individual.

5.2.3.3 Envelhecimento Ativo

Os enunciados apresentados pelos adolescentes a partir das entrevistas

trazem à tona a diversidade de adolescências e a importância de situá-las no

contexto social e histórico da contemporaneidade. Encontram-se abaixo os extratos

representativos desta temática:

Quero ser um idoso ativo, que possa atuar no teatro, artes marciais, andar com os bichos, sempre independente, com

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autonomia. (uce n°133; Khi2=20; uci n°8:*suj_08 *sex_mas *id_16a *esc_med3 *rel_ev *col_jc *ren_2s*vi_3p *ic_na) Eu não quero ficar parada. quero ser tipo aquele idoso saudável e ter alguém perto de mim me incentivando a não ficar parada. ( uce n°13; Khi2=18; uci n°1; *suj_01 *sex_fem *id_15ª *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_*vi_2p *ic_si) Eu queria ter uma velhice tranquila, não ter tantas doenças, ter uma atividade, não parar e ter alguém que cuide de mim quando eu tiver bem idosa.( uce n°257; Khi2=21; uci n°18; *suj_18 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_na *col_jc *ren_14s*vi_2p *ic_na)

Nota-se que a tônica das falas recai sobre uma velhice saudável e ativa

(“está sempre fazendo alguma coisa”). Os conteúdos representacionais dos

adolescentes vão ao encontro de novas experiências de envelhecimento, que tem

contribuído para modificar a imagem dos velhos de nosso país.

Frente a estes discursos, pode-se inferir que os estudantes apresentam-

se preocupados com sua representatividade na sociedade quando estiverem idosos,

por isto pretendem se manterem ativos como um indivíduo independente

funcionalmente, que possui autonomia e bem-estar.

Nesse sentido, Joia, Ruiz e Donalisio (2007) afirmam que

“envelhecimento ativo”, “envelhecimento bem sucedido” e “qualidade de vida na

velhice” têm sido conceituados de maneira semelhantes, como satisfação pela vida.

“Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de

saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à

medida que as pessoas ficam mais velhas”. (OMS, 2005, p. 13).

não quero ficar dependente. pretendo fazer educação física, e intensificar, quanto mais velho eu tiver eu vou fazer exercício pra não aparentar ser tão velho. (uce n°631; Khi2=23; uci n°43;*suj_43 *sex_mas *id_19a *esc_med3 *rel_ev *col_ab *ren_na *vi_1p *ic_na)

É interessante notar que, quando os adolescentes falam da velhice

enquanto uma perspectiva pessoal, esta aparece envolvendo aspectos positivos e

pautados em valores da juventude e rejeitam as características que eles associam à

velhice, tal como a dependência.

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Identificados como a geração do futuro que têm a seu favor, os

adolescentes são vinculados a imagens de poder, produtividade e vigor, e assim

querem se manter para “ não aparentar ser tão velho”.

5.2.4 CLASSE 2 - Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso

Esta classe apresenta associação estatística entre os sujeitos 31, 36 e 33

e com aqueles que vivem com duas pessoas. Reitera-se que a classe 2 apresenta

99 palavras analisáveis e é a classe que congrega as palavras com maior khi2,

mostrando, com isso, ser a classe com maior coerência interna. Portanto, sob esta

referência também tem grande significância, visto que possui maior associação com

as noções de velhice na visão dos adolescentes.

A referida classe “Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso”

é composta por um total de 100 UCEs, o que corresponde a 14% do corpus

aproveitado para análise. Nesta UCEs foram selecionadas 23 formas reduzidas que

possuem associação estatística com a classe e, a partir destas, construiu-se a CAH

(Figura 8).

Dentre as formas reduzidas que formam a presente classe, o Quadro 6

expõe aquelas que possuem os maiores valores de khi2, são elas:

Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência

cabelo cabelo, cabelos 310 54

identific identificar, identifico 273 45

branco brancos, brancos 239 43

pel pela, pelas, pele 153 89

rug rugas, rugas 137 28

enrug enrugada, enrugado 109 22

and andar, anda, andando 93 30

rosto rosto 71 15

velhice velhice 75 110

lent lenta, lentidão, lento 51 8

fis físico 43 15

física física, fisicamente 35 21

baix baixa, baixinhas 32 5

grisalho grisalhos 32 5

audicao audição 26 4

Quadro 6: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2,

sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 2.

Fortaleza, 2012.

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Nota-se que as formas reduzidas com maiores valores de khi2 são

cabelo, identific e branco, porém a forma reduzida cabelo (khi2=310) é a que mais

de destaca por ser a maior de todas as classes. A partir do contexto semântico, é

possível perceber que esta é uma classe que aborda de forma densa a aparência

física dos idosos.

A Figura 8 apresenta a CAH efetuada pelo Alceste na classe 2. Perante

ela é possível analisar a associação das formas reduzidas apar, identific, nas, pel,

fisica, ver, fis, mud, rug, rosto, do, principal e corpo, que apontam para a

identificação do envelhecimento no outro pelas mudanças nos aspectos físicos. O

mesmo ocorre com as formas pelos, fic, enrug, parec, jeit, and, lent, velhice, branco

e cabelo, as quais também transmitem a ideia de perdas físicas que se acumulam

com o passar dos anos.

Frente a isto, foi proposta a divisão da classe 2 em duas subclasses, com o intuito

de explicitar seus conteúdos. As duas subclasses são: “Identificação da velhice

pelas mudanças físicas” e “Velhice: fase de perdas física”.

FIGURA 8: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 2 – Fortaleza, 2012.

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5.2.4.1 Identificação da velhice pelas mudanças físicas

Esta mencionada classe delineia um panorama bem contemporâneo dos

pensamentos de nossos jovens e algo que já está incorporado no imaginário social,

que a velhice se caracteriza como uma fase de desgaste, perdas físicas e dos

papéis sociais.

O que mais identifico a velhice nas pessoas é a pele né, que a pele é mais enrugada. Acho que é isso. Cabelos grisalhos também, a pele enrugada. Perde a força física também né, que o idoso sempre precisa de uma pessoa pra ajudar nas suas necessidades. a velhice tem haver com o processo de envelhecimento do corpo humano. (uce n°800; Khi2=28; uci n°54; *suj_54 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na) Uma coisa que percebo nos idosos é a estrutura física parece que ficaram menor. [...] a maneira de se vestir; as senhoras vestem roupas compridas, abaixo do joelho, usam mais vestidos estampados ou com florzinhas pequenas, a cor é neutra, bege, branco e azul. (uce n°470; Khi2=26; uci n°34; *suj_34 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)

É inegável que o adolescente se preocupa com a boa aparência e

relacionam diretamente o envelhecimento com a presença de rugas, principalmente

na sociedade atual em que se cultua a beleza, o novo, o descartável, a moda, afinal,

isto parece ser a busca constante do ser humano. Absorvem da sociedade as

marcas que fecham e homogeneízam a velhice, que são os hábitos, as vestes, as

perdas, entre outras coisas que negativizam a velhice e fazem parte do imaginário

do adolescente.

As rugas, na velhice, parecem o resultado do tempo vivido, mas também

é preciso se levar em conta o fator hereditariedade e o organismo individual. Durante

o envelhecimento, há alterações elásticas nas fibras da pele e dos órgãos que se

transformam em sua composição e determinam as mudanças nas características

pessoais (CARVALHO FILHO, 2007).

Identifico a velhice nas pessoas pela aparência física mesmo, o cabelo fica branco, a pele cheia de rugas, seca e mole, até o jeito de andar muda. (uce n°92; Khi2=49; uci n°6; *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si)

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O que os adolescentes comunicam é o que para eles materializam como

o mais importante e que dá sentido às suas imagens criadas diante de sua

subjetividade; no caso a perda da beleza que está intimamente relacionada à

presença de rugas, mudança na cor dos cabelos e a decadência física, tais

alterações remetem a perda da jovialidade que hoje eles usufruem e que

inevitavelmente vai se perder pelo caminho.

Santos (2004) ressalta que é somente no século XIX que o homem

começa a ser visto como consciência histórica inserida no corpo, já que, até então, o

corpo era negado, ironizado, problematizado, ou seja, o corpo e a alma são

antagônicos. Na contemporaneidade, o belo é favorecido socialmente e as pessoas

buscam corresponder às expectativas da sociedade e no culto ao próprio corpo

constrói uma identidade rígida, voltada apenas ao prazer do olhar do outro.

Segundo Castro (2004), no final do século XX ocorre um desencontro de

valores quanto ao corpo. Instala-se a corpolatria, com o cultivo do corpo de forma

contundente, impositiva, que, às vezes são tão exagerados, que os padrões de

saudabilidade são relegados ao segundo plano.

Os adolescentes negativizam a figura do idoso e o representam

primeiramente personificado em aspectos corporais penosos.

Eu reconheço um idoso pelo andar, anda devagar. reconheço pela fisionomia, pela pele com rugas, principalmente, no rosto que fica muito cheio de pregas, sem graça. reconheço pela falta de brilho nos olhos, parece que não tem vontade de mais nada, está tudo apagado. (uce n°871; Khi2=37; uci n°57; *suj_57 *sex_fem *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_3p *ic_na)

Em segundo plano, discretamente, é ressaltado o reconhecimento e a

valorização pelo conhecimento dos mais velhos.

Identifico a velhice nas pessoas pela sua experiência de vida, pelo que ela conta, mas também pelos aspectos físicos, pelos cabelos brancos e principalmente pelo jeito que fala da vida, pois falam com muito conhecimento, muita propriedade como se eles tivessem total domínio da vida. (uce n°323; Khi2=33; uci n°24; *suj_24 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_11s *vi_6p *ic_si)

Os sujeitos desta pesquisa mostram fazer parte de um mundo que só

enxerga a velhice no outro e do outro, como se para eles, o envelhecimento ainda

não tivesse chegado. Eles ainda não despertaram para o envelhecimento como um

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fato dinâmico e que os mesmos já estão vivenciando, uma vez que o

envelhecimento é algo inevitável que vai acontecendo durante toda a vida do

indivíduo, situando-o em sua temporalidade.

5.2.4.2 Velhice: fase de reconfiguração da imagem física

É muito tênue a diferença destas duas subclasses. A anterior remeteu-se

a identificação da velhice, onde os adolescentes deixaram claro suas impressões

estéticas e físicas e nesta classe eles engrossam estas representações, relatando

que o idoso se resume aos cabelos brancos e ao andar lento.

Na velhice as pessoas precisam mais de ajuda, por causa das deficiências físicas que fica mais grave, porque os ossos parecem que ficam fracos, sem força, não correm mais. (uce n°415; Khi2=28; uci n°32; *suj_32 *sex_mas *id_18a *esc_med3 *rel_ou *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)

Como eu disse a velhice está na cabeça, mas eu vejo as pessoas com mais idade pelas rugas do rosto, fica toda pregueada, pelo andar e pelos cabelos brancos. (uce n°494; Khi2=41; uci n°35; *suj_35 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ou *col_ab *ren_1s *vi_5p *ic_si) Com a velhice os cabelos ficam cabelos brancos, não consegue mais andar direito, fica inclinado, não pode se encostar que dorme. (uce n°607; Khi2=33; uci n°42; *suj_42 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_7p *ic_na) Eu identifico a velhice nas pessoas pela aparência principalmente, eu vejo os cabelos brancos, andando devagar; é só a parte física mesmo. (uce n°55; Khi2=26; uci n°4; *suj_04 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_5p *ic_na)

É reconhecido que a velhice é uma fase que congrega várias alterações

fisiológicas, entretanto é de se espantar saber que, em um momento de ascensão

social do idoso, onde está em pauta na sociedade temas como envelhecimento ativo

e envelhecimento bem-sucedido, os adolescentes ainda se limitarem a descrever o

idoso em suas debilidades físicas.

A inutilidade referida ao idoso reporta-se à incapacidade da realização de

tarefas ou da articulação das palavras, dificuldades de movimentos, enfim, a todas

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as limitações causadas pela debilidade física dos indivíduos em idade avançada,

que associada às perdas, leva-os ao declínio da força de trabalho, desencadeando

um processo de deterioração moral, fazendo com que estes se sintam e/ou sejam

vistos como um “peso morto”. (LIMA, 2008).

Segundo Salvador-Carulla (2004) o envelhecimento ativo envolve

aspectos tais como: a promoção da saúde, o ajuste físico e a prevenção da

incapacidade, a otimização e compensação das funções cognitivas, a promoção do

desenvolvimento afetivo e da personalidade, e ainda, a maximização do

envolvimento social do indivíduo.

A definição de envelhecimento bem-sucedido, para Rowe e Kahn (apud

HOOYMAN e KIYAK, 2001, p. 191), implica que pessoas que envelhecem de forma

bem-sucedida são aquelas que apresentam um baixo risco de doença e

incapacidades (que apresentam, por exemplo, fatores de estilo de vida saudáveis,

tais como dieta adequada, ausência do hábito de fumar e prática de atividades

físicas); que estão utilizando ativamente habilidades de resolução de problemas,

conceitualização e linguagem; que estão mantendo contatos sociais e estão

participando em atividades produtivas (voluntariado; trabalho remunerado ou não

remunerado).

Enfim, as perdas decorrentes do envelhecimento trazem mudanças nas

formas de estar no mundo, o que não está ainda incorporado na vida social e na

consciência das pessoas, tanto as pessoas que estão dentro desta etapa da vida,

quanto, e principalmente, quem está de fora, os adolescentes.

A experiência da adolescência esteve associada a valores biofiológicos

dos idosos, os reduzindo às marcas de vulnerabilidade e inatividade física, além de

uma perda do papel social.

O rótulo dado a este objeto (a velhice) está ligado com os sistemas de

crenças e valores socialmente construídos, ou seja, o sujeito compara o objeto

desconhecido a uma rede de significações, a um modelo já existente. (MOSCOVI,

2003).

Porém, ao mesmo tempo, projeta uma idealização com características

contrárias a estas, como se estivesse querendo fugir do estereótipo anunciado.

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5.2.5 CLASSE 4: Concepções de adolescentes sobre velhice

A Classe 4 traz uma concepção sobre velhice compartilhada pelos

sujeitos identificados pelos números 26, 42 e 19, e por aqueles que se disseram

morar com sete pessoas na mesma casa, enfim, eles apresentaram uma associação

estatística.

Esta é uma classe que se refere aos sentimentos, conhecimentos e

opiniões acerca da velhice, que podem ser assimilados por meio do convívio com o

idoso na família ou na comunidade, pela influência da mídia, da escola, do comércio

e do meio social na formação de opinião do adolescente. A aludida classe

“Concepções de adolescentes sobre velhice” abarca um total de 97 das 735 UCEs

analisadas, e desta forma, perfaz 13% do corpus total de análise, com 68 palavras

analisáveis.

As principais formas reduzidas constituintes da classe 4, que possibilitam

uma compreensão preliminar do conteúdo da classe, com seus respectivos

contextos semânticos, valores de khi2 e freqüência, são apresentados no Quadro 7.

Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência

incomod incomoda 143 31

ruim ruim 74 23

preocup preocupa, preocupo 74 34

doenca doença, doenças 71 32

diferenc diferença 43 21

sint sinto 39 12

fase fase 38 22

velhice velhice 38 60

pod pode, podem 37 28

ne né 31 16

cois coisa, coisas 24 47

acab acabada, acaba 23 6

poder poder, poderá 22 8

pass passar, passou, passado 14 23

natural natural 14 6

Quadro 7: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2,

sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 4.

Fortaleza, 2012.

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Conforme pode ser observado no Quadro 7, as formas reduzidas que

apresentam maiores valores de khi2 são: incomod, ruim, preocup e doenca. Os

contextos semânticos apresentados permitem uma compreensão do conteúdo geral

expresso pela classe, abrangendo temáticas ligadas a fatores que demonstram o

que os adolescentes sentem e temem quando se fala em velhice, em toda sua

amplitude.

Ressalta-se que a delimitação dos conteúdos da classe 4 é identificada,

de maneira mais detalhada, a partir da Classificação Ascendente Hierárquica (CAH),

a qual resulta as divisões binárias sucessivas das formas reduzidas desta classe.

A Figura 9 é uma representação gráfica do resultado da CAH da classe e

será apresentada pelo dendograma que mostra o agrupamento das formas com

significados mais precisos dos elementos que compõem a classe “Concepções de

adolescentes sobre velhice”.

FIGURA 9: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 4 – Fortaleza, 2012.

Na CAH foram consideradas 24 formas reduzidas, sendo que as formas

ruim e ne estão associadas entre si e com as formas uma, vida, pass, vai, fase, da e

coisa, que por sua vez estão associadas as formas cois, as doença, pod e apareça,

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que compõe a segunda ramificação e juntos formam a primeira subclasse ou

temática: “ Velhice como fase natural da vida”.

Pela segunda divisão binária, temos a associação das formas diferenc,

cham, quest e muita que estão associadas entre si e com as outras formas acab,

poder, med, incomod, preocup, sint e relacao. Estas formas originam a segunda

categoria nomeada: “Sentimentos relacionados à velhice”.

5.2.5.1 Velhice como fase natural da vida

Esta categoria apresenta como os adolescentes encaram a velhice. Eles

relatam que a velhice seja uma fase natural da vida como qualquer outra e que pode

ser considerada boa ou ruim, dependendo do estado de saúde da pessoa.

Pra mim velhice é uma coisa normal, todo mundo vai passar né, tem as doenças também que vem junto da velhice, tem muitas dificuldades de como se locomover. Pra mim não é ruim, nem é bom, é uma coisa natural, é uma fase que tem que passar pra poder morrer, só é ruim porque tem muitas dificuldades que tem nessa fase. (uce n° 91; Khi2=34, uci n°6; *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si) A velhice pode ser uma fase ruim, porque a pessoa pode achar que está se aproximando da morte, mas também pode ser boa, porque as pessoas adquirem mais experiência, as pessoas se tornam mais sábias. (uce n°617; Khi2=18; uci n°43; *suj_43 *sex_mas *id_19a *esc_med3 *rel_ev *col_ab *ren_na *vi_1p *ic_na)

A velhice sob a ótica dos adolescentes encontra-se como um episódio

fechado cartesianamente, algo que se resume em dificuldade, doença e morte, um

fim que todo mundo tem que passar. O adolescente ainda não despertou para a

pluralidade e para as oportunidades que advém com a velhice, uma vez que

ninguém envelhece da mesma maneira ou ao mesmo ritmo.

Rocha-Coutinho (2006) destaca que hoje, entende-se que a velhice,

assim como a infância, a adolescência e a maturidade, mais do que simples fases

da vida, são categorias socialmente construídas, que só alcançam seu sentido

através do discurso. Ser velho, da mesma forma que ser criança, jovem ou adulto,

está associado aos valores vigentes numa dada sociedade em um determinado

tempo.

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A velhice é considerada como boa, não no sentido que ela seja desejada

pelos mais jovens, mas porque ela traz a sabedoria que pode ser compartilhada com

os outros mais novos na forma que for mais conveniente. A sabedoria está atrelada

aos anos a mais de vida, então os mais velhos possuem este benefício por já ter

passado por várias situações que tornam o ser mais convicto de suas ações a serem

tomadas.

Eles valorizam mais as coisas que a gente, porque eles passaram já por muitas coisas e ai sabem dar valor as coisas, diferente da gente adolescente. (uce n°525; Khi2=18; uci n° 37; *suj_37 *sex_fem *id_18a *esc_med3 *rel_ca *col_ab *ren_*vi_2p *ic_si)

Sabedoria e experiência fazem parte da vida de todo mundo, pois, à

medida que vamos vivendo e envelhecendo, vamos adquirindo-as, de acordo com

as escolhas, acertos, erros, relações, desamores, relações interpessoais, amores,

perdas, ganhos, viagens, trabalhos, entre outras situações. (OLIVEIRA, 2009).

Apesar do uso constante do verbo ser, que invoca um estado

permanente, percebe-se que os adolescentes apresentam suas experiências e

expõem suas representações acerca do envelhecimento com certa insegurança,

visto que em alguns extratos de UCEs identificamos o uso da expressão né, como

se quisessem interagir com o entrevistador e ao mesmo tempo auto confirmar seus

pensamentos.

Uma fase normal como qualquer outra e pode ser ruim, uma fase da vida como qualquer outra. É a última fase, onde as pessoas têm mais experiência. Uma fase intermediária, porque muitas coisas ruins ou boas podem acontecer com as pessoas no geral, né. (uce n°563; Khi2=23; uci n°40; *suj_40 *sex_mas *id_16a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_5s *vi_4p *ic_si) Tudo na vida tem seu lado positivo e lado negativo né. O lado bom é que não faz nada ai é bom demais, não tem muita responsabilidade e é ruim porque começa a aparecer as doenças. (uce n°606; Khi2=15; uci n°42; *suj_42 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_7p *ic_na)

Envelhecer significa, de modo geral, crescimento, maturidade e não

mutilação, paralisia. É algo processual, em curso com plena vigência e força. Viver é

tecer naturalmente a trama da existência e, nesse contexto, cada fase do

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desenvolvimento é marcada com seus encantos e limitações, perdas e ganhos,

riquezas e privações. (PITANGA, 2006).

Os discursos dos adolescentes deste estudo apontam uma semelhança

com a pesquisa de Magnabosco-Martins, Vizeu-Camargo e Biasus (2009), onde diz

que os participantes mais jovens se restringem a destacar aspectos bons e ruins da

velhice. Os aspectos bons estão associados às experiências, aos sentimentos

positivos e recordações, do tempo decorrido e das dificuldades encontradas ao

longo da vida. Já os aspectos ruins dizem respeito às doenças, a diminuição da

disposição, a proximidade com a morte, as perdas de pessoas queridas e da

capacidade, sobretudo física, de fazer o que faziam na juventude.

Néri (2006) nos apresenta o envelhecimento da seguinte forma: o

processo de mudanças universais, que se traduz em diminuição da plasticidade

comportamental, em aumento da vulnerabilidade, e em acumulação de perdas

evolutivas e no aumento da probabilidade de morte.

Percebe-se a aproximação do envelhecimento com a morte como

processo natural de todo ser vivo, entretanto o que não se pode confundir é a

velhice com a finitude, na medida em que a velhice é apenas uma fase da vida igual

a qualquer outra que torna a pessoa inerente ao morrer.

Assim, trazemos o lugar que ocupa as representações nas sociedades

pensantes. E como refere Moscovici (2005) somos parte de dois universos,

consensual e reificado. O universo consensual é constituído das nossas

experiências e informações que recebemos e transmitimos através das tradições, da

educação e da comunicação social entre os grupos. No reificado, a sociedade é

vista como um sistema de diferentes papéis e classes, cujos membros são

desiguais, e que atingirão o lugar desejado em correspondência com a sua

competência profissional.

Eu nunca vi a velhice como coisa ruim. Muita gente tem medo da velhice por conta daquele medo que tem da morte, como e fosse uma aproximação da morte. Eu nunca pensei que a velhice fosse uma coisa ruim, eu acho que é uma fase como a infância, adolescência e adulto, eu acho que é uma fase que vamos ter que passar ou não. (uce n°259; Khi2=22; uci n° 19 : *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_na)

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Portanto, para se entender as representações que envolvem a velhice, é

fundamental considerar singular este fenômeno, e associá-lo com o contexto

sociocultural e histórico no qual os adolescentes estão inseridos.

5.2.5.2 Sentimentos relacionados à velhice

Esta subclasse traz depoimentos que tentam justificar algumas

concepções negativas que os adolescentes manifestam a respeito da velhice. Já

foram bastante vistas durante todo este estudo as questões que relacionam a

velhice à doença e isto pode ser visto agora nestes fragmentos de UCEs a partir do

uso do verbo preocupar.

O que me preocupa são estas doenças tipo Alzheimer, que pode dar trabalho aos outros. (uce n°374; Khi2=21; uci n°28; suj_28 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_2p *ic_si)

Tudo nos leva a crer que estas representações estão ligadas a alguma

experiência com algum idoso doente na vida destes sujeitos, pois eles nomeiam até

mesmo as doenças que trazem maior temor, porque elas podem lhes tirar a

independência.

Santos (2004) comenta que a velhice não pode ser encarada como

sinônimo de doença ou degeneração física e mental, pois esta correlação não existe

e prejudica a aceitação social e individual.

O que me preocupa com a velhice são as doenças né. que o corpo tá fraco, a única coisa ruim que eu vejo na velhice é isso mesmo. isso pode gerar a falência da pessoa, você fica mais fraco e qualquer doença que apareça pode ser fatal.( uce n°802; Khi2=25; uci n°54; *suj_54 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)

O adolescente exacerba a questão da ausência de saúde e encontra-se

preocupado com este fato, pois poderá lhe trazer a independência, a perda de

qualidade de vida e de sua funcionalidade; situações que tornam a velhice obscura.

Pode aparecer doença em todas as fases na vida da gente, mas na velhice ela vem para ficar e complicar, tornar a pessoa muito doente e incapacitada de fazer as coisas. (uce n°740; Khi2=18; uci n°51; suj_51 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_3p *ic_si)

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Enfatizaram que a falta de integridade física, muitas vezes, acarreta

inatividade e isolamento, o que contribui para o envelhecimento patológico e para a

justificativa de que essas pessoas se tornaram biológica e psicologicamente

despreparadas para enfrentar os desafios e as exigências desta fase da vida.

Apesar de não ser sinônimo de doença, o envelhecimento acarreta

alterações anatomopatológicas, que geralmente se apresentam através de doenças

crônicas. Assim, o envelhecimento tem sido associado a uma prevalência de

doenças crônicas, causadoras de dependência, fragilidades, incapacidades e morte

(GARCIA et al., 2006).

Segundo Uchôa (2003), essa visão negativa e deficitária do

envelhecimento, que é característica do ocidente, pode ser explicada como

consequência de uma sociedade centrada na produção, no rendimento, na

juventude e no dinamismo. Em sociedades não-ocidentais, o envelhecimento é

geralmente apresentado por imagens bem mais positivas, mostrando que uma

representação centrada em aspectos negativos não é universal.

Logo, o processo de envelhecimento precisa deixar de ser visto como

uma decorrência de fenômenos puramente naturais e biológicos. Ele deve ser

visualizado, também, como um fenômeno profundamente influenciado pela cultura,

onde os indivíduos reagem a partir de suas referências pessoais e culturais.

5.2.6 CLASSE 6 - A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes.

A classe 6 foi a última a ser formada a partir das partições do programa

Alceste. Ela apresentou 152 UCE, o que representa 21% do total do corpus

analisado, que foi de 735 UCEs. Esta classe situa-se no segundo lugar entre as

classes de maior número de UCEs, sendo, portanto a segunda mais significativa.

Ela oferece 72 palavras analisáveis e exibe associação estatística com os

sujeitos 51, 57, que possuem a idade de 17 anos e se identificam como evangélicos.

Observa-se que poucas variáveis compõem a associação estatística desta classe.

As palavras analisáveis de maior importância foram destacadas das UCEs

e as 27 principais formas reduzidas, até khi2=11, foram colocadas na Classificação

Hierárquica Descendente. Sendo que as formas reduzidas de maiores khi2, seus

contextos semânticos e freqüência, encontram-se dispostas no Quadro 8.

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Como pode ser visualizado no Quadro 8, as formas reduzidas com maior

associação estatística (khi2) à classe são: torn, jovem, reconhec, mundo, idade,

idos, ano, part, pesso, uns, velh, moda, comporta, caracterist e ment. Destaca-se

que algumas formas reduzidas envolvem uma variedade de palavras, como, por

exemplo, velh, que se refere a velha, velha e velhos. No entanto, outras formas

reduzidas encerram em si mesmas o seu contexto semântico, como a forma jovem.

.

Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência

torn torna, tornar 169 60

jovem jovem 135 76

reconhec reconheço 104 43

mundo mundo 76 61

idade idade 75 75

idos idosa, idoso 66 249

ano anos 58 65

part parte, partir 46 32

pesso pessoa, pessoas 44 189

uns uns 39 23

velh velha, velhas, velho 39 98

ment mental, mente 37 12

comporta comportamento 37 13

caracteristi característica, características 22 23

moda moda 12 4

Quadro 8: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua

frequência, e seus contextos semânticos da classe 4. Fortaleza, 2012.

Verifica-se no Quadro 8 que o contexto semântico das formas reduzidas

expressam, com maior clareza, um panorama geral da classe em relação aos

conteúdos que nela se encerram. A composição semântica destas formas reduzidas

evidencia a presença de conceitos e conhecimentos dos adolescentes sobre os

motivos levam a pessoa a se tornar velha, além disso, eles falam sobre a situação

dos idosos no mundo frente aos mais jovens.

Assim, os conteúdos desta classe versam sobre a influência da sociedade

sobre as diferentes faixas etárias sob a visão dos adolescentes.

Uma maior delimitação dos conteúdos desta classe encontra-se no

dendograma de sua CAH (Figura 10) visto que nesta as formas reduzidas

apresentam-se agrupadas de acordo com a relação existente entre elas.

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A fim de melhorar a compreensão da classe 6, sua CAH é apresentada

com os pequenos grupos de forma reduzidas, aos quais foram conferidos

significados, como mostra a Figura 10.

FIGURA 10: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 6 – Fortaleza, 2012.

Esta classe encontra-se dividida em duas categorias, a primeira formada

pelas formas reduzidas: caracteristi, dos, velh, form, jovens, vej, jovem e mundo, que

se relacionam entre si e com o outro grupo formado pelas formas: dificuldade,

comec, ment, nov, comporta e mesma. Esta categoria explicita o nome jovem e traz

ideia de como o mundo vê os jovens e os velhos, sendo nomeada: “O status do

idoso na sociedade moderna: o mundo é dos jovens!”.

A segunda categoria foi formada por muito menos formas reduzidas,

apenas idos e pesso que se relacionam entre si e com o outro grupo formado pelas

formas: torn, part, ano, uns, idade e reconhec. Estas formas juntas embasam

conteúdos que criam a categoria: “Idosos versus velhos”.

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4.2.6.1 O status do idoso na sociedade moderna: o mundo é dos jovens!

Os adolescentes explanaram seus pensamentos sobre a posição que o

idoso ocupa no mundo. Foi praticamente unâmine a resposta que mostra que o

idoso não é mais figura com papel reconhecido nesta sociedade contemporânea, no

sentido que, hoje, é oferecida ao jovem toda atenção da sociedade.

O mundo é mais jovem que idoso, pois eles superam a quantidade de pessoas idosas e por causa da tecnologia que abrange mais as pessoas jovens. (uce n°365; Khi2=18; uci n°27; *suj_27 *sex_fem *id_14a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_3p *ic_na)

Estamos diante de um tempo de múltiplas transformações, de aumento do

número de idosos convivendo em nosso meio, entretanto este fato não foi ainda

incorporado à formação do adolescente visto que ele assegura a imagem de velho

como algo obscuro e ultrapassado dos dias atuais.

No mundo capitalista, onde impera a força de trabalho e produção, o

consumo, os trâmites financeiros e o lucro, o idoso é colocado em segundo plano,

uma vez que ele não atua mais no mercado de trabalho e é caracterizado

pejorativamente como inativo.

Segundo Cavalcante (2005) nota-se na sociedade a cultura de descartar

tudo o que é considerado “velho”. Vive-se uma fase onde tudo se torna rapidamente

obsoleto e aqueles que não acompanharem mais a grande onda, tornam-se,

rapidamente, desinteressantes, como o idoso. Com a perda de identidade no

mercado de trabalho o idoso na família ganha uma nova serventia, ele é reciclado,

aproveitado de várias formas que advêm de um mesmo apontamento, o recurso

financeiro. E esse jeito da família perceber o mais velho só aumenta o processo de

coisificação da pessoa idosa.

O mundo é dos jovens, porque tem ainda muito que viver. (uce n°868; Khi2=14; uci n°57; *suj_57 *sex_fem *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s*vi_3p *ic_na) Acho que o mundo é mais jovem, pois em tudo o jovem influencia e tudo é voltado para o jovem. (uce n°229; Khi2=18; uci n°16; *suj_16 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_ns *vi_5p *ic_na)

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Percebe-se o uso frequente de conjunções nestes discursos,

principalmente, aquelas de caráter explicativos, com as quais os adolescentes

buscam elucidar ao público o porquê de suas convicções.

Os adolescentes representam o mundo como um jovem e enaltecer sua

classe de adolescentes, mostrando que o mundo globalizado em que vivemos, gira

em torno do jovem, em todas as suas nuances positivas, de beleza, de atividade, de

inteligência e de modernidade.

Propagam significativamente que o idoso já é um ser ultrapassado que

não alcança o ritmo das mudanças e das tecnologias; e, sobretudo não consideram

o valor das informações e ensinamentos que só a história oral proferida pelos mais

experientes é capaz de transmitir.

Acho que o mundo é mais de jovem, pois o mundo é dinâmico e mais voltado pro jovem. Os jovens são que estão à frente das manifestações. (uce n°264; Khi2=24; uci n°19; *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_na)

Consoante Rodrigues e Soares (2006), em função das constantes

mudanças decorrentes da emergência da sociedade pós-industrial, a sociedade

contemporânea encontra-se num processo de redefinição de costumes, de

comportamentos e consequentemente do estabelecimento de novos paradigmas das

relações humanas. São novos valores que configuram uma nova visão de mundo,

de sociedade, de um novo período histórico que se constrói globalmente.

Os mesmos autores prosseguem dizendo que a revolução tecnológica

(com suporte nas tecnologias microeletrônicas e da era cibernética), é marcado pela

instantaneidade e descartabilidade favorecendo o culto da juventude, da beleza, da

virilidade e da força física em detrimento da idade madura e da velhice que são

associadas à improdutividade e decadência. Há até quem fale em “ideologia da

juventude”.

Nesse cenário social de predomínio da efemeridade e da não

permanência, há pouco espaço para os idosos que acabam por ficarem

desprotegidos e marginalizados, contexto esse que tem como resultado o aumento

da segregação social entre as faixas etárias e a dificuldade de atuação do idoso

como também sujeito protagonista da sociedade em que habita.

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5.2.6.1 Idosos versus velhos

Os conteúdos das UCEs que compõem esta categoria mostram como os

adolescentes internalizam a questão do ser idoso e ser velho.

Acho que uma pessoa se torna idosa é com o passar dos anos mesmo, a partir de uns 70 anos. Reconheço uma pessoa idosa pelas mesmas características do velho. Acho que não tem diferença. (uce nº652; Khi2=26; uci n°45; *suj_45 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_1s *vi_2p *ic_si) O que torna a pessoa idosa é a idade, a aparência. Acho que fica idosa depois de uns 60 anos. Reconheço a pessoa idosa da mesma forma que identifico o velho, pois pra mim é a mesma coisa. (uce n°287; Khi2=18; uci n°21; *suj_21 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_3p *ic_na)

Para grande parte dos sujeitos estudados não existe diferença entre os

nomes idosos e velhos, haja vista, segundo eles, se configuram como sinônimos e

que, somente, o passar do tempo é o responsável por estas características que

deixam marcas.

É notório que os adolescentes nunca foram informados nem na escola,

nem na família sobre a distinção destes termos. Eles demonstraram não possuírem

mentalmente formada uma diferença entre o teor destes vocábulos.

No Brasil, será idoso quem tiver 60 ou mais anos de idade, homem ou

mulher, nacional ou estrangeiro, urbano ou rural, trabalhador da iniciativa privada ou

do serviço público, livre ou recluso, exercendo atividades ou aposentado, incluindo o

pensionista e qualquer que seja a sua condição social. (MARTINEZ, 2005).

Uma pessoa se torna idosa pela mentalidade dela, pelo jeito que ela se cuida e pela idade dela. A gente é uma pessoa idosa a partir de 80 anos, nesta faixa. Reconheço uma pessoa idosa da mesma forma que vejo o velho, sem diferença pra mim. (uce n°686; Khi2=18; uci n° 47; *suj_47 *sex_mas *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_5p *ic_na)

Os adolescentes revelam que o processo de tornar-se idoso está

relacionado às mudanças de aparência, comportamento, de preferências, enfim, da

forma de pensar do ser que envelhece. Alguns acham que velho é apenas uma

conotação negativa, enquanto idoso enseja respeito e valorização.

A pessoa se torna idosa a partir de uns 70 anos e também psicologicamente a pessoa se torna idosa, sem nem ter a idade

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ainda. Reconheço o idoso do mesmo jeito que reconheço um velho, pois como eu já falei pra mim é a mesma coisa, só muda a forma de tratar. (uce n°219; Khi2=14; uci n°15; *suj_15 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_5p *ic_na) A diferença entre idoso e velho existe. Idoso é pela idade e velho é um estado de espírito, é mais as características mesmo das pessoas. (uce n°95; Khi2=17; uci n°6; *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si)

Maud Mannoni (1995) nos adverte que velho nada tem a ver com uma

idade cronológica. É um estado de espírito. Existem “velhos” de 20 anos, jovens de

90. É uma questão de generosidade, mas também uma maneira de guardar em si

certa dose de cumplicidade com a criança que se foi.

É como se idoso fosse algo pré-estabelecido, datado, que a pessoa será

inevitavelmente ou mesmo contra sua vontade; e velho é “estar”, haja vista abre

perspectiva para o lúdico, o humor, o emocional e está estritamente associado ao

seu estado.

O ser velho representa um conjunto de atribuições e transformações

negativas que estão ligadas ao conceito tradicional de velhice. No imaginário social

o velho está diretamente associado à estagnação e perdas que levam à ruptura e ao

isolamento; inflexibilidade decorrente de apego a valores ultrapassados e

cristalizados que também levam ao isolamento social; imagem negativa do

aposentado, significando um final de vida, falta de capacidade pessoal e a exclusão

da rede produtiva; pessoa que necessita de cuidados, sem força, sem vontade, sem

vida, doente, incapacitado e que por todos esses motivos fez opção pela

passividade. (ROGRIGUES; SOARES, 2003).

No final da década de 60, chegaram ao Brasil as mudanças da imagem

da velhice ocorridas na Europa e a maioria das análises da velhice começam a

utilizar a noção de idoso. O termo ‘velho’, assim, ficou associado a uma conotação

negativa voltada principalmente para as pessoas de mais idade das camadas

populares que apresentam os traços do envelhecimento e do declínio. A categoria

idoso foi implementada e o termo ‘velho’ utilizado com o sentido de decadência e

retirado dos textos oficiais assim como dos textos das análises antropológicas e

sociológicas. (SANTOS, 2010).

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Enfim, não existe uma distinção clara do que venha a ser velho e idoso,

porém há um ponto em comum e convergente que é o fato de serem culturalmente

construídas e que podem ser modificados. No entanto, tais modificações não podem

ser feitas e refeitas pelos seres humanos no momento que quiserem. Na verdade, a

sociedade coloca limites à capacidade do homem inscrever a cultura da natureza.

(DEBERT, 2003).

Pode-se afirmar que os símbolos apreendidos das representações sociais

determinam a forma como a sociedade encara o processo de envelhecimento, o

valor dado ao individuo que envelhece: o idoso e/ou velho. Essa representação da

velhice determina também o tipo de relação que a família, e consequentemente os

adolescentes, estabelecerá com seus idosos.

O estudo revelou, ainda, que tanto os adolescentes do colégio público

quanto do particular não demonstraram diferenças em suas manifestações.

Existiram ideias pontuais, como por exemplo: um aluno de escola particular

relacionou a velhice com completude e experiência (“relaciono a velhice a

completude e experiência, pois a pessoa já realizou tudo na vida”), enquanto que o

universo dos participantes relacionou com doença e incapacidade, portanto, a

representação está ancorada em bases negativas e objetivam sempre a velhice

pelos aspectos das alterações negativas.

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Considerações Finais

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6 Considerações Finais

No estudo, foi possível identificar diversos conteúdos e elementos que

integram as representações sociais da velhice e do idoso entre adolescentes

escolares. Neste caso, o uso da Teoria das Representações Sociais, se mostrou

pertinente para a apreensão destes elementos/conteúdo, visto enfatizar o processo

de construção destas representações pelos participantes nos seus grupos sociais.

Para a captação concreta e fiel destas representações confeccionamos o

instrumento de coleta dos dados com várias perguntas acerca do tema para que

abarcasse ao máximo estas representações, principalmente para captar se os

campos distintos pelo seu grupo social revelavam alguma representação diferente.

Firmou-se, aos poucos, os objetivos e deu-se continuidade ao processo

de efetivação da pesquisa que teve como pano de fundo a escola, lugar

especialmente escolhido por considerar socialmente fértil para a construção de

novos significados e um possível ambiente de integração entre as gerações.

Em relação a isto, o estudo aponta lacunas no processo de formação para

o entendimento da velhice por parte dos adolescentes. Sejam estudantes de escola

pública, sejam de escola privada, o sujeito encontra um projeto institucional voltado

para o conhecimento biologicista do idoso, não promovendo um despertar dos mais

jovens para as dimensões culturais, psicológicas e sociais que envolvem o

envelhecer.

Isto aponta possibilidades para a escola ampliar o seu papel na

comunidade, abrindo seus portões para que pais, avós e netos possam participar de

projetos de integração geracional, trazendo momentos de encontros para que

desperte, desde a escola, a integração e interação entre as gerações com o objetivo

de trocas, para que juntos façam parte desde momento de formação cidadã.

Dentro da escola, estes assuntos podem ser tratados

interdisciplinarmente, tendo contribuições das diferentes, mas inter-relacionadas

áreas do conhecimento. Dentro deste campo proveitoso pode atuar também a

enfermagem, aliando seu papel de educadora à formação de parcerias junto à

escola para atuarem no processo de mudança das perspectivas das sociedades em

relação aos idosos e ao envelhecimento.

A família entra neste estudo como protagonista no processo de

construção dos conceitos da velhice e idoso para os membros mais novos que nela

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estão inseridos, haja vista ser nesta instituição o lugar no qual congrega indivíduos

de todas as faixas etárias, com diferentes experiências e, sobretudo, onde primeiro

se adquire instruções que irão fazer parte do crescimento e desenvolvimento do ser

humano.

É na família que os adolescentes ancoram a questão que envolve o

respeito ao idoso, marcado pelas falas que dizem que os pais orientam a sempre

levantar para ceder o assento do ônibus aos mais velhos. Também são nas relações

familiares que se oportuniza o conhecimento e a ampliação da compreensão das

gerações que coexistem.

No contexto atual de aumento expressivo do número de pessoas idosas,

em muitos arranjos familiares os idosos estão co-residindo com gerações mais

jovens, o que é benéfico para o desenvolvimento dos adolescentes, pois como

revela no estudo eles sempre apontam como referencia de idoso os seus avós.

Os resultados evidenciaram que hoje uma pequena parcela dos

adolescentes convive com seus avós, porém em seus relatos ficou sobressaltado

que na infância, grande parte deles, independente da classe social, morou com os

avós, os quais exerceram o papel de educador, e até mesmo, de provedor financeiro

dos netos.

Isto favorece a objetivação da velhice junto aos adolescentes, uma vez

que a coexistência das gerações, e as experiências adquiridas podem influenciar

positiva ou negativamente a visão deles perante a velhice.

Percebe-se uma ambivalência das representações conotadas pelos

adolescentes diante da velhice, pois, ao mesmo tempo que eles colocam os idosos

como seres passíveis de respeito pelos anos a mais que tem de vida, pela sua

experiência acumulada, por serem o patrimônio cultural da sociedade, eles

desvalorizam por colocarem os idosos fora no ciclo da modernidade, passando o

idoso à obsolescência, face às constantes mudanças do mundo contemporâneo.

Foi possível observar que muitas das representações sociais da velhice

para os adolescentes ainda ancoram-se na doença, que leva o idoso à debilidade

física, a incapacidade funcional de realizar suas atividades diárias, a solidão, o que

aos poucos o levam a morte. Esta relação muito próxima com a dependência faz

esta fase ser temida pelos adolescentes.

No entanto, foi possível perceber um elemento representacional bem

promissor, que é o desejo declarado de construção familiar. Esta representação fez

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surgir uma classe, a qual obteve maior número de unidade de contexto elementar,

sendo, portanto, a mais significativa.

Os adolescentes idealizam o casamento, com a formação de uma família

nuclear, constituída, por mulher/marido, filhos e até mesmo netos. Afirmam o prazer

que terão de acolher seus netos e preparar-lhes os melhores pratos,

tradicionalmente, assim como são tratados pelos seus avós.

Mas ao mesmo tempo, poucos dos sujeitos revelam que irão assumir as

características principais da velhice, que para eles são os cabelos brancos e as

rugas. Esta identificação da velhice pelas características físicas formou a classe de

maior significância dentro do corpus das entrevistas, levando-se a inferir que é a

aparência, o que o outro vê, o que é mais percebido com a chegada da velhice.

É inegável que a aparência é admirável para muitos adolescentes, e nos

dias atuais, dependemos de nossa imagem no espelho do outro, ou seja, devemos

ser ativos, competentes, criativos, ativos, produtivos, atraentes, belos e inteligentes

e estas, dificilmente, serão características direcionadas aos idosos.

Nesta sociedade marcada pelos ideais narcisistas, a perda do corpo

jovem e, consequentemente, a negação como objeto de desejo, a denominação de

velho, inútil, improdutivo e feio, seria apenas um dos lutos que o sujeito adolescente

deve se preparar para enfrentar e elaborar.

A contribuição deste estudo perpassa o tema da pesquisa, visto que além

do pressuposto ser confirmado e os objetivos alcançados, o contato direto com o

adolescente proporcionou o despertar para este tema. Alguns adolescentes

expuseram nunca terem parado para pensar neste tema e confessaram que iriam

olhar para os idosos com um novo olhar, que fizesse diminuir a distância entre eles,

e, assim, perceber as particularidades de cada um.

Nesta mesma perspectiva, este estudo trará a cooperação da

enfermagem na educação gerontológica, na medida em que, estas descobertas

feitas servem de panorama de como o senso comum está sendo compartilhados

pelos adolescentes e onde os projetos educacionais devem atuar com mais

precisão.

Depois de delinear alguns aspectos relevantes nas representações da

velhice e do idoso, confirma-se que é fundamental que a escola, na condição de

instituição responsável pela educação com a vida e para a vida toda, abra uma

possibilidade de também educar para o envelhecimento.

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Este seria um primeiro e grande passo para a internalização pelos

adolescentes de positivas concepções sobre o envelhecer e atuaria na

desconstrução dos preconceitos, mitos e crenças, que fornecem sustentação para o

processo de marginalização e/ou exclusão deste segmento populacional.

A enfermagem pode usufruir desta teoria vinda da psicologia social e

aplicá-la em nossa realidade viabilizando as boas relações entre as gerações e,

sobretudo, a quebras de paradigmas.

Portanto, a tentativa de apreender as representações sociais da velhice e

do idoso sob a ótica dos adolescentes não se encerra com o estudo, espera-se que

este possa ser o ponto de partida como objeto de reflexão e discussão para outras

pesquisas, as quais podem se propagarem para outros centros de estudo, com

pretensões bem mais ambiciosas, tudo em prol da dignificação do ser humano que

envelhece.

Pode-se também realizar estudos interventivos voltados para a educação

dos adolescentes; abordar este tema junto aos coordenadores das escolas e

mostrar a importância de ter no programa discussões e debates sobre a temática.

Para finalizar esta etapa, considera-se que o percurso metodológico

adotado por este estudo representou um grande desafio para a pesquisadora, visto

que era uma novidade diante deste imenso mundo da pesquisa, entretanto, obteve,

no final, bons frutos, com excelentes resultados que, com certeza, são contribuições

para a enfermagem e para a ciência como um todo.

Desde o início da coleta de dados, com a visita às escolas e explanação

dos objetivos em sala de aula, percebeu-se que não seria fácil convencer os

adolescentes a participarem voluntariamente da pesquisa; além de ser difícil, pelo

imediatismo da jovialidade, deixá-los quietos, falando com um entrevistador.

Sem esquecer a dificuldade encontrada para aceitação da pesquisa pelos

pais e o consequente retorno dos Termos de Consentimentos assinados, para então

se dar continuidade ao processo de coleta.

Diante de tudo isto, deixo, então, as palavras de Paulo Freire que podem,

neste momento, transmitir meus sentimentos, assim expresso: “Não há transição

que não implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo

amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro

baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o

que somos para saber o que seremos”. (FREIRE, 1983).

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Referências

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Apêndices

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APÊNDICE A – PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO

Pesquisa intitulada: Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice subsídios para o cuidado clinico de enfermagem

1. SEXO 1.1 ( ) Masculino 1.2 ( ) Feminino

2. IDADE 3. SÉRIE CURSADA

4. Nº DE PESSOAS COM QUEM RESIDE 5. RENDA FAMILIAR

6. ESTADO DE ORIGEM

7. BAIRRO QUE RESIDE

8. RELIGIÃO 8.1 Católica ( )

8.2 Batista/Protestante ( )

8.3 Espírita ( )

8.4Outra ( )

9. CONDIÇÕES DE MORADIA 9.1 ( ) Própria

9.2 ( ) Alugada

9.3 ( ) Emprestada

10. COM QUEM VIVE 10.1 ( ) Pai Idade:

10.2 ( ) Mãe Idade:

10.3 ( ) Familiar Idade:

10.4 ( ) Outro responsável Idade:

11. NA CASA TEM IDOSO 11.1 ( ) Sim

11.2 ( ) Não

12. SE SIM, GRAU DE

PARENTESCO

12.1 ( ) Pai 12.2 ( ) Mãe 12.3 ( )Avô

12.4 ( ) Avó 12.5 ( ) Tio 12.6 ( ) Tia

12.7 ( ) Outro. Especificar:

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APÊNDICE B - ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1. Pensando a velhice, o que você tem a dizer sobre a velhice? E os seus

colegas o que acha que eles pensam sobre a velhice?

2. Como você identifica a velhice nas pessoas? Quais as características você

identifica?

3. Velhice tem a ver com o quê? O que pensa?

4. O que sente em relação à velhice? Alguma coisa te preocupa na velhice? Se

sim, o que preocupa? O que te incomoda na velhice?(explorar por que incomoda)

5. E o idoso o que você sabe sobre isso? Fale um pouco sobre o idoso?

6. O mundo é mais jovem ou mais idoso? Como uma pessoa se torna idosa?

7. A partir de quando a gente é uma pessoa idosa?

8. Como reconhece uma pessoa idosa? (explorar as características) Com

quantos anos você acha que uma pessoa é idosa?

9. Como você lida com o idoso? (explorar como age com o idoso)

10. Tem ou teve alguma experiência com idoso? Fale sobre essa experiência?

11. Poderia me dá exemplo de uma pessoa idosa? Por que citou essa pessoa?

12. Na escola, se conversa sobre a velhice e sobre o idoso? Quem conversa,

sobre o que conversa? O que pensa sobre essa conversa?

13. Na família, se conversa sobre a velhice e sobre o idoso? O que se conversa?

Quem conversa? O que pensa sobre isso?

14. Você já pensou na velhice? Como imagina que ela será?

15. Você se imagina idoso? Como você pensa que será quando ficar idoso?

Como imagina que será sua velhice?

16. Que tipo de idoso/velho quer ser?

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APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(ADOLESCENTE)

Você esta sendo convidado (a) para participar da pesquisa intitulada: Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clinico de enfermagem. A pesquisa tem como objetivo Conhecer as Representações Sociais sobre o ser idoso e a velhice para adolescentes escolares de Fortaleza – Ce.

Sua participação será voluntária e consiste em respondendo a uma entrevista que será gravada. Fica assegurado o anonimato das informações e ao utilizarmos os dados para elaboração de artigos científicos, apresentação em congressos e seminários, confecções de folders informativos, será sempre resguardadas a identidade de cada participante . Vocês poderão deixar de participar do estudo, mesmo tendo dado seu consentimento, quando achar necessário, e isso não lhe trará nenhum prejuízo. Todos os participantes poderão receber quaisquer esclarecimentos acerca da pesquisa com a pesquisadora responsável Profa. Dra. Maria Célia de Freitas pelo fone (85) 3101-9805.

Informo ainda, que o Comitê de Ética em Pesquisa da UECE encontra-se disponível para quaisquer esclarecimentos sobre esta pesquisa pelo fone: 3101-9890 Endereço Av. Paranjana, 1700 – Campus do Itaperi –Fortaleza / CE.

Este termo está elaborado em duas vias, sendo uma para o sujeito participante da pesquisa e outra para o arquivo do pesquisador.

Atenciosamente,

Profa. Dra. Maria Célia de Freitas Pesquisadora Responsável

Eu,____________________________________________________________, após

ter sido esclarecido sobre a pesquisa e sobre como será minha participação,

concordo voluntariamente em participar.

Fortaleza, _________________

_____________________________ Pesquisado __________________________________ Pesquisador que recebeu o Consentimento __________________________________ Pesquisadora Responsável

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APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(RESPONSÁVEL)

O(a) senhor(a) esta sendo consultado sobre a Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clinico de enfermagem estudo fundamentado nas Representações Sociais. A pesquisa tem como objetivo Conhecer as Representações Sociais sobre o ser idoso e a velhice para adolescentes escolares de Fortaleza-CE.

A participação será voluntária e ele (a) responderá uma entrevista que será gravada.

Fica assegurado o anonimato das informações por eles prestadas e ao utilizarmos

os dados para elaboração de artigos científicos, apresentação em congressos e

seminários, confecções de folders informativos, será sempre resguardadas a

identidade de cada participante. O (a) senhor(a) poderá retirar o consentimento

dado, em qualquer etapa do estudo e isso não trará prejuízo para os estudos de

seus filhos (as). Todos os participantes poderão receber quaisquer esclarecimentos

acerca da pesquisa com a pesquisadora responsável Profa. Dra. Maria Célia de

Freitas pelo fone (85) 3101-9805.

Informamos ainda, que o Comitê de Ética em Pesquisa da UECE encontra-se

disponível para quaisquer esclarecimentos sobre esta pesquisa pelo fone: 3101-

9890 Endereço Av. Paranjana, 1700 – Campus do Itaperi –Fortaleza / CE.

Este termo está elaborado em duas vias, sendo uma para o sujeito participante da

pesquisa e outra para o arquivo do pesquisador.

Atenciosamente

Profa. Dra. Maria Célia de Freitas

Pesquisadora Responsável

Eu,____________________________________________________________, após

ter sido esclarecido sobre a pesquisa e sobre como será a participação de meu

(minha) filho(a), concordo voluntariamente na participação dele (a).

Fortaleza, _________________ __________________________________ Pesquisado __________________________________ Pesquisador que recebeu o Consentimento _________________________________ Pesquisadora Responsável

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APÊNDICE E - SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS

Senhor(a) __________________________________________________solicito sua

autorização para seu filho(a) _____________________________________ para

participar da pesquisa intitulada Representações sociais de adolescentes

escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clinico de

enfermagem. Esclarecemos que pesquisa não trará nenhum prejuízo para seu

filho(a) e,os benefícios advirão com a sensibilização dos mesmos sobre o processo

de envelhecer, permitindo a adoção de medidas saudável para se manterem ativos

na velhice, proporcionar conhecimento e discussões sobre o idoso como cidadão

presente no domicílio, na comunidade e sociedade.

______________________________ Assinatura do pesquisador Maria Célia de Freitas ______________________________ Assinatura do participante Polegar Direito

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APÊNDICE F – SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO Prezado(a) Senhor(a),_________________________________________ Solicito ao _________________________________________ autorização para

realizar a pesquisa intitulada:

Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem.

A qual será realizada pela mestranda Rafaelly Fernandes Pereira. Este estudo

possui como objetivos: Conhecer as Representações Sociais sobre o ser idoso e a

velhice para adolescentes escolares; Identificar como os adolescentes pensam a

própria velhice e que idoso querem ser. Os sujeitos serão estudantes do ensino

médio, a participação deles será voluntária e ele (a) responderá uma entrevista que

será gravada. Fica assegurado o anonimato das informações por eles prestadas e

ao utilizarmos os dados para elaboração de artigos científicos e apresentação em

congressos e seminários será sempre resguardadas a identidade de cada

participante.

Esta investigação visa compreender a representação social de adolescentes sobre o

idoso e os benefícios advirão com a sensibilização dos mesmos sobre o processo de

envelhecer, permitindo ao adolescente a adoção de medidas saudável para se

manterem ativos na velhice, além de proporcionar conhecimento e discussões sobre

o idoso como cidadão presente no domicílio, na comunidade e sociedade.

A senhora ou qualquer outro participante poderá receber quaisquer esclarecimentos

acerca da pesquisa com a pesquisadora responsável Profa. Dra. Maria Célia de

Freitas pelo fone (85) 3101-9805.

Fortaleza, ___de __________ de 2011.

Muito obrigada,

______________________________ Enfª Rafaelly Fernandes Pereira Pesquisadora Principal

__________________________________________ Assinatura e carimbo do Responsável pela Instituição

_______________________________ Profª Drª Maria Célia de Freitas Pesquisadora Responsável/Orientadora

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Anexos

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Anexo A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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