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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE
RAFAELLY FERNANDES PEREIRA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ADOLESCENTES ESCOLARES
SOBRE IDOSO E VELHICE: subsídios para o cuidado clínico de
enfermagem
FORTALEZA-CE
2012
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RAFAELLY FERNANDES PEREIRA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ADOLESCENTES ESCOLARES SOBRE IDOSO E VELHICE: subsídios para o cuidado clínico de
enfermagem
Dissertação apresentada ao Mestrado Cuidados Clínicos em Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisitos parcial para obtenção do título de Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde.
Orientadora: Profª Drª Maria Célia de Freitas
Linha de Pesquisa: Fundamentos e Práticas do Cuidado Clínico em Saúde e Enfermagem
FORTALEZA-CE
2012
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RAFAELLY FERNANDES PEREIRA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ADOLESCENTES ESCOLARES SOBRE IDOSO E VELHICE: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Cuidados Clínicos em Saúde.
Data: 22/11/2012
Banca Examinadora
________________________________________________ Profª. Drª. Maria Célia de Freitas
Universidade Estadual do Ceará – UECE Orientadora
________________________________________________ Profª. Drª. Márcia de Assunção Ferreira
Escola de Enfermagem Anna Nery – EEAN/UFRJ 1º Membro Efetivo
________________________________________________ Profª. Drª. Maria Lúcia Duarte Pereira
Universidade Estadual do Ceará – UECE 2º Membro Efetivo
________________________________________________ Profª. Drª. Maria Josefina da Silva – UFC
Suplente
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Ao Meu Amado Deus que me
concedeu o dom da vida , me deu forças e me guiou nesta caminhada.
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Agradecimentos
Ao Criador do mundo, que é luz, fortaleza e a força que me faz levantar da cama
todos os dias.
Ao meu pai Rosalbo Alves Pereira e minha mãe Maria Carcinólia Fernandes Pereira
pela admiração e confiança que dedicam a mim. A vocês que nunca mediram
esforços para me ajudar. A vocês que me deram a vida, a educação e o amor,
enveredaram-me no caminho da ética, da dedicação e da perseverança. Não sei
como retribuir o que vocês já me proporcionaram, o que posso fazer é sempre
honrar meu nome e da nossa família.
Ao meu irmão Raphael Fernandes. Diria até que é um ser inefável, pois não tenho
palavras para descrevê-lo, nem para agradecê-lo. Deus foi muito maravilhoso
comigo quando escolheu você para ser meu irmão, pois posso dizer com todas as
letras, que eu tenho um irmão de verdade. Eu te amo muito!
Ao meu amor, Victor Rebouças, meu maior incentivador, meu companheiro de todas
as horas. Obrigada por me dá o ombro naqueles momentos de maior desespero e
pela paciência de me aguentar quando nem eu mesma estava me aguentando! Te
amo!
À Célia Freitas, minha professora e, sobretudo, amiga. Pessoa que vem desde o
início de minha trajetória acadêmica me orientando e me conduzindo pelo prazeroso
mundo da ciência. Obrigada por me fazer crescer pessoal e profissionalmente.
Às professoras Maria Josefina e Lúcia Duarte pelas valiosas contribuições durante a
banca de qualificação.
À professora Márcia de Assunção que mesmo à distância abrilhantou este estudo e
enriqueceu meus conhecimentos. Em nome da enfermagem, obrigada por sua
disponibilidade em participar de minha defesa de dissertação.
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Às minha amigas Jéssica de Menezes, Eryjosy Marculino, Jênifa Santos e Tereza de
Galiza que sempre, de um jeito particular e especial, foram parceiras, estiveram
dispostas a ajudar e a proporcionar uma palavra de força. Com vocês aprendi o
valor da verdadeira amizade.
À minha chefe Socorrinha que entendeu alguns dias de minha ausência no trabalho.
Obrigado por ter me apoiado nos momentos de aflição em que achava que não daria
tempo conciliar a dissertação com meu trabalho assistencial de enfermeira.
Aos membros da linha de pesquisa: Cuidados Clínicos de Enfermagem ao Idoso e
Práticas Educativas, meus grandes colegas do estudo voltado à população idosa,
pelo crescimento mútuo e amadurecimento científico que alcançamos durante esse
período.
Aos diretores das escolas que foram campo da pesquisa, assim como aos
coordenadores do ensino médio das escolas. Agradeço por confiar em mim e abrir
suas portas para engrandecimento da ciência.
Aos adolescentes do estudo, que me falaram sobre suas vidas, seus cotidianos,
suas vivências. Obrigada por me revelarem a grandeza de suas histórias e, assim,
me fizeram alcançar os objetivos de estudo.
Aos demais amigos e colegas, pela amizade que adoça a vida. Todos, de alguma
forma, são responsáveis pelo meu sucesso.
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A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer
Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pra o que vai acontecer
Eu quero que o tapete voe No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione E que a pia comece a pingar
Eu quero que a sirene soe E me faça levantar do sofá Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá
Pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr
(Arnaldo Antunes)
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RESUMO
PEREIRA, Rafaelly Fernandes. Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem. Fortaleza, 2012. Dissertação (Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde). Universidade Estadual do Ceará, 2012. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Freitas.
O estudo objetivou conhecer os conteúdos que integram as representações sociais da velhice e do idoso para os adolescentes escolares, descrever as características que moldam a velhice e o idoso para os adolescentes escolares, identificar como os adolescentes pensam a própria velhice e que idoso querem ser e comparar as representações sociais dos alunos de escola pública com os alunos de uma escola particular. Pesquisa qualitativa, descritiva, tendo como referencial teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais. Participaram 60 adolescentes estudantes, sendo 30 de escola pública e 30 de escolas privadas da cidade de Fortaleza-Ce. Brasil. As técnicas de produção de informações foram: a entrevista semi-estruturada e a captação do perfil sociodemográfico dos estudantes. As entrevistas ocorreram nos meses de maio e junho de 2012, com duração média de 20 minutos. Aplicou-se a estatística simples e percentual na análise dos dados deste perfil. As entrevistas foram processadas pelo Programa ALCESTE. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa da UECE, Protocolo nº 11223077-6. Caracterização dos sujeitos estudados: 61,7% eram mulheres; 60% da religião católica; 55% apresentavam uma renda familiar de um a três salários mínimos, 50% morava com três ou quatro pessoas e 70% não viviam com idoso na mesma residência. Quanto ao ALCESTE, o programa selecionou 735 UCEs, perfazendo 77% de aproveitamento, sendo estas agrupadas em seis classes lexicais, assim nominadas: Classe 1: Experiência dos adolescentes com idosos; Classe 2: Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso; Classe 3: A perspectiva do adolescente como futuro idoso; Classe 4: Concepções de adolescentes sobre velhice; Classe 5: Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso; Classe 6: A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes. As classes 5, 1 e 3 foram as primeiras a serem formadas e seu sentido semântico aponta o relacionamento com o idoso e expectativas com a própria velhice, enquanto as classes 2, 4 e 6 têm como ideia geral as questões físicas. Conclui-se que as representações sociais da velhice e do idoso ancoram-se nas perdas (da saúde, da dependência, da capacidade funcional) e objetivam-se em imagens estereotipadas (cabelos brancos, rugas, perda da força física). Percebe-se uma ambivalência das representações conotadas pelos adolescentes diante da velhice, pois eles colocam os idosos como seres passíveis de respeito, pela sua experiência acumulada, todavia, os desvalorizam por os colocarem fora do contexto contemporâneo, passando o idoso à obsolescência, face às constantes mudanças do mundo moderno. Considera-se também que as representações dos estudantes de ambas escolas foram semelhantes, apresentando pontuais diferenças. O estudo contribuirá para a educação gerontológica na enfermagem, na medida em que, estas descobertas evidenciam o senso comum destes participantes e servirá como panorama para futuros projetos educacionais.
Palavras-chave: Envelhecimento; Adolescente; Estudantes; Enfermagem; Psicologia Social.
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ABSTRACT
PEREIRA, Rafaelly Fernandes. Social representations of students adolescents on elderly and old age: allowance for clinical care nursing. Fortaleza, 2012.Dissertation (Masterin Scholar Clinical in Health Care). Ceará State University, 2012. Person who orientates: Teacher Maria Célia de Freitas.
The study aimed to identify the contents that integrate social representations of aging and the elderly to students adolescents, describe the characteristics that shape the aging and elderly for students adolescent, identify how adolescents think their own age and older who want to be and compare the social representations of public school students with students from a private school. A qualitative and descriptive research was carried out, based on the Theory of Social Representations. Participants were 60 adolescent students, 30 from public schools and 30 private schools in the city of Fortaleza-Ce. Brazil. Participants were 60 adolescent students, 30 from public schools and 30 private schools in the city of Fortaleza-Ce. Brazil. The following information production techniques were used: semistructured interview and survey of the student’s socio-demographic. The interviews took place in the months of may and june 2012, with an average duration of 20 minutes. Simple and percentage statistics were applied to analyze these profile data. Interviews were processed in ALCESTE software. This study was approved by the Ethics Research UECE, Protocol No. 11223077-6. Socio-demographic profile results: 61.7% were women, 60% of the catholic religion, 55% had a household income of one to three minimum wages, 50% lived with three or four people and 70% did not live in the household with elderly. ALCESTE software selected 735 elementary context units, totaling 77% of exploitation, which were grouped in six lexical classes: Class 1: Experience with older adolescents, Class 2: Physical aspects: how the adolescent identifies the elderly, Class 3: The adolescent perspective as a future elderly, Class 4: Conceptions of adolescents on old age, Grade 5: School: education space about aging and elderly, Class 6: The vision of the elderly in society dictates by adolescents. Classes 5, 1 and 3 were the first to be formed and its semantic sense indicates the relationship with the elderly and expectations with the very old age, while classes 2, 4 and 6 have the general idea as physical issues. We conclude that social representations of aging and the elderly anchored in losses (health, addiction, functional capacity) and aim up in stereotypical images (white hair, wrinkles, loss of physical strength). It is perceived ambivalence of representations connoted by adolescents before the age because they put the elderly as beings capable of respect for their experience, however, devalue the put off by the contemporary context, from the elderly to obsolescence in the face of constant changes of the modern world. It is also considered that the representations of the students of both schools were similar, with occasional differences. The study will contribute to gerontological education in nursing, to the extent that these findings highlight the common sense of these participants and serve as the outlook for future educational projects.
Key words: Aging; Adolescent; Students; Nursing; Psychology Social.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Representação gráfica do número de uce e de palavras analisáveis por classe 60
FIGURA 2 Comparação entre as duas classificações descentes hierárquicas (CDH) realizadas com o corpus de entrevistas. 61
FIGURA 3 Dendograma: organização das classes a partir da análise lexical das entrevistas pelo programa ALCESTE. 62
FIGURA 4 Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente. 63
FIGURA 5 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 5 – Fortaleza, 2012. 73
FIGURA 6 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 1 – Fortaleza, 2012. 80
FIGURA 7 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 3 – Fortaleza, 2012. 87
FIGURA 8 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 2 – Fortaleza, 2012. 94
FIGURA 9 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 4 – Fortaleza, 2012. 100
FIGURA 10 Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 6 – Fortaleza, 2012. 107
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Variáveis utilizadas na linha de comando, seus códigos e classificações. 59
QUADRO 2 Classes produzidas pelo ALCESTE e suas respectivas nominações. 64
QUADRO 3 Distribuição das formas reduzidas da classe 5, com maiores valores de khi2, seus contextos semânticos e sua frequência da Classe 5. Fortaleza, 2012. 72
QUADRO 4 Distribuição das formas reduzidas da classe 1, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 1. Fortaleza, 2012. 79
QUADRO 5 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 3. Fortaleza, 2012. 86
QUADRO 6 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 2. Fortaleza, 2012. 93
QUADRO 7 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 4. Fortaleza, 2012. 99
QUADRO 8 Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 4. Fortaleza, 2012. 106
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Levantamento da produção científica sobre a temática idoso, adolescente e velhice. Fortaleza, 2011. 21
TABELA 2 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o sexo. Fortaleza, 2012. 67
TABELA 3 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a idade. Fortaleza, 2012. 68
TABELA 4 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o ano cursado do ensino médio. Fortaleza, 2012. 68
TABELA 5 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a religião. Fortaleza, 2012. 69
TABELA 6 Distribuição dos estudantes pesquisados por valor de renda familiar mensal. Fortaleza, 2012. 70
TABELA 7 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com número de pessoas com que reside. Fortaleza, 2012. 70
TABELA 8 Distribuição dos sujeitos estudados e a situação de ter ou não idoso em casa. Fortaleza, 2012. 71
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
UECE - Universidade Estadual do Ceará
GRUPEESS - Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e Sociedade
TRS - Teoria das Representações Sociais
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social
FLBA - Fundação Legião Brasileira de Assistência
SESC - Serviço Social do Comércio
OMS - Organização Mundial de Saúde
OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ONU - Organização das Nações Unidas
RS - Representações Sociais
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
ALCESTE - Analyse lexicale par contexto dún ensemble de segments de texte
UCI - Unidades de Contextos Iniciais
UCE - Unidades de Contextos Elementares
CHD - Classificação Hierárquica Descendente
CEP - Comitê de Ética em Pesquisa
CNS - Conselho Nacional de Saúde
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SUMÁRIO
Considerações Iniciais ........................................................................................... 14 1 Introdução............................................................................................................ 15
2 Objetivos.............................................................................................................. 23
3 Bases Conceituais ............................................................................................. 24 3.1 A adolescência: diversidade de experiência na sociedade contemporânea....... 25 3.2 Envelhecer e velhice: aspectos conceitual, social e cultural............................... 28 3.3 Conceituando o Idoso ......................................................................................... 33 3.4 Envelhecimento Demográfico.............................................................................. 36 3.5 Educação Gerontológica: intervenção de enfermagem ..................................... 40
4 Referencial Teórico-Metodológico ..................................................................... 45 4.1 Teoria das Representações Sociais.................................................................... 46 4.2 Trajetória Metodológica do Estudo ..................................................................... 51
4.2.1 Tipo de estudo....................................................................................................... 51
4.2.2 Os cenários da pesquisa e os seus sujeitos........................................................ 52
4.2.3 Operacionalização de produção de dados ........................................................... 55
4.2.4 Análise e interpretação dos dados ...................................................................... 56 4.2.5 Aspectos éticos............................................................................................. 65
5 Resultados e Discussões.................................................................................... 66 5.1 Caracterização dos sujeitos estudados............................................................... 67 5.2 As representações construídas pelos adolescentes........................................... 71
5.2.1 Classe 5 – Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso........................ 71 5.2.2 Classe 1 - Experiência dos adolescentes com idosos......................................... 78 5.2.3 Classe 3: A perspectiva do adolescente como futuro idoso................................. 85 5.2.4 Classe 2 - Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso..................... 92 5.2.5 Classe 4: Concepções de adolescentes sobre velhice......................................... 98 5.2.6 Classe 6 - A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes................... 105
6 Considerações Finais........................................................................................ 113 Referências ........................................................................................................... 118 Apêndices ..............................................................................................................126 Apêndice A - Perfil Sócio-Demográfico....................................................................127 Apêndice B - Roteiro para Entrevista Semi-Estruturada..........................................128 Apêndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Adolescente)............129 Apêndice D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Responsável)...........130 Apêndice E - Solicitação de Autorização dos responsáveis....................................131 Apêndice F - Solicitação de Autorização da Instituição...........................................132 Anexos....................................................................................................................133 Anexo A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa..............................................134
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Adesão à temática
O debruçar sobre as questões que permeiam a terceira idade teve início logo
no começo do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do
Ceará (UECE) em 2006. Neste período, teve-se a oportunidade de ser bolsista de
iniciação científica do Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e
Sociedade (GRUPEESS) da linha Cuidados Clínicos de Enfermagem ao Idoso e
Práticas Educativas, momento bastante rico em aprendizado, pois obteve-se
grandes oportunidades de aprender sobre o envelhecimento em todas as suas
nuances, e trabalhar com o idoso em diversos cenários de atuação junto aos
profissionais enfermeiros doutores, mestres, pós-graduandos e colegas de
graduação dos diversos semestres.
A pesquisa desenvolvida à época era sobre o uso de tecnologias de
enfermagem no cuidado clínico direcionado aos idosos e a partir dela pôde-se inferir
que um dos diagnósticos mais presentes entre os idosos era pertinente às questões
sociais, como o ‘Isolamento Social’. Isto foi despertando ideias e pensamentos sobre
os fatores motivadores para o agravamento deste quadro.
No decorrer do Curso de Graduação em Enfermagem, nas aulas teóricas e
práticas da disciplina de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e se perdurando
até os dias atuais, em aulas ministradas de estágio à docência no mestrado,
percebe-se nitidamente o quanto o tema idoso é pouco discutido pela maioria dos
estudantes. Raros discentes se mostram entusiasmados em trabalhar com o idoso e
observa-se que ainda em muitos não se despertou o interesse para questões
relacionadas ao idoso.
Considerando a experiência e vivência no cuidado ao idoso, bem como
compreendendo as peculiaridades resultantes do processo de envelhecimento que
se refletem na velhice, apreendidas ora pelo contínuo cuidado de familiares, ora pelo
contato com idosos na dimensão do trabalho, brotou a paixão e interesse em
aprofundar estudos, pesquisas sobre o envelhecimento humano, velhice e idosos
numa perspectiva de educar pessoas sobre os temas e, assim, modestamente
contribuir para modificar concepções negativas sobre a trama que os temas
despertam nas discussões, pela complexidade revelada num emaranhado de ideias
e posições explicitadas e demonstradas no cotidiano.
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Assim, embasadas em concepções positivas sobre a velhice e o ser idoso,
na perspectiva do envelhecimento ativo, foi iniciado, juntamente com professores da
disciplina Enfermagem Geriátrica e Gerontológica do curso de Graduação da UECE,
a tentativa de sensibilização dos alunos para uma atenção diferenciada ao idoso no
cuidado, com a realização de atividades educativas com cuidadores de idosos numa
instituição de longa permanência que agrega idosos vítimas de maus tratos e
abandono familiar; e o aperfeiçoamento profissional a partir das participações nas
reuniões da Sociedade Cearense de Geriatria e Gerontologia, dentre outras ações.
Acredita-se na necessidade de implementar e discutir posições e visões
sobre a velhice e o idoso na perspectivas do envelhecimento ativo. É imprescindível
para essa parcela populacional, visto que poderá despertar com o grupo que
discutimos, ações que proporcionem melhores caminhos em busca do respeito à
velhice e reconhecimento do idoso como cidadão na sociedade, comunidade e
família. Ressalta-se, ainda, que tais discussões, nesse momento, foram pensadas
para os adolescentes numa tentativa de precoce e ousadamente modificar
concepções negativas sobre a velhice e o ser idoso, pois mesmo existindo propostas
políticas que indicam as prioridades dos idosos, estas serão de pouco utilidade, se
não existirem ações que as implementem.
Além disso, foi crucial para definição do objeto de estudo a participação no
Congresso Norte-Nordeste de Geriatria e Gerontologia no ano em curso, no qual
observou-se que as discussões apontavam para a necessidade de mudanças de
paradigmas acerca da velhice e o ser idoso. Tais mudanças, somente serão
possíveis quando iniciadas na faixa etária de plena jovialidade que é a adolescência
pelo despertar das ideias, posições e concepções sobre os temas.
Diante desta constatação, surgiram indagações do tipo, que
elementos/conteúdos integram as representações sociais de adolescentes sobre a
velhice e o idoso? Que características moldam a velhice e o idoso para os
adolescentes? O que pensam sobre sua velhice e como pensam ser idosos?
O interesse em contribuir com ações educativas de enfermagem após o
conhecimento de suas representações foram a força propulsora para iniciar a
pesquisa, visto considerar a velhice e o idoso assuntos essenciais para discussão
nos dias atuais.
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1.2 As representações sociais sobre o idoso e a velhice para os adolescentes
escolares: objeto de estudo
O envelhecimento da população já pode ser considerado como um
fenômeno global que exige ação local, regional, nacional e internacional. Em um
mundo cada vez mais interligado, a omissão de lidar, de um modo sensato e em
qualquer parte do mundo, com os imperativos demográficos e as mudanças rápidas
nos padrões de doenças, terá consequências políticas e socioeconômicas em todos
os lugares, sendo necessária a adoção pela família, comunidade e sociedade
atitudes de posições adequadas quando se pensa o cuidado aos idosos.
O grupo etário composto por pessoas acima de 65 anos cresceu de 3,5%
em 1970, 4,8% em 1991 para 5,9% em 2000. Em 2050, este grupo etário deverá
responder por cerca de 19% da população brasileira. Estes fatos levarão a uma
drástica mudança de padrão na pirâmide populacional brasileira (NASRI, 2008;
BRASIL, 2006).
Hoje, vivenciamos junto com o aumento da expectativa de vida, a era da
inovação tecnológica, da evolução da ciência, das construções modernas e
requintadas, porém todo este aparato de modernização é, em sua maioria, voltado
para o público jovem e adolescente, deixando a população idosa em ascensão, em
situação menos favorecida.
A cultura da mobilidade, da flexibilidade, da efemeridade e da provisoriedade
elege o adolescente como modelo. A ele são imputadas tais qualidades e sobre ele
é que, principalmente, vão-se realizar esses desígnios da contemporaneidade e as
subjetivações pertinentes. (JUSTO, 2005).
Entender como estes adolescentes percebem e representam a velhice e o
idoso oportuniza a compreensão de comportamentos e sentimentos para com estes,
seja por parte da sociedade ou dos próprios velhos. Assim, estão em pauta crenças,
explicações e definições a respeito de tais objetos sociais, isto é, o conhecimento
que os grupos sociais elaboram e utilizam para compreender e lidar com estes,
portanto, suas representações sociais.
Por representação social, Moscovici (1978) define como um corpus
organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas a partir das quais o
homem deixa clara a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa
ligação cotidiana de trocas, e liberam os poderes de sua imaginação. Desse modo,
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as representações sociais são uma forma de conhecimento elaborada por
determinado grupo sobre um objeto social relevante. Nesta pesquisa, a velhice e o
idoso assumem importância ao exercer as funções de direcionar comportamentos e
facilitar a comunicação entre os membros do grupo que as compartilha.
A Teoria das Representações Sociais (TRS) permite conhecer a construção
dos saberes sociais, por isso capacita o conhecimento de um processo que deve ser
convertido em objeto de estudo por meio de um procedimento de simplificação,
organização e compreensão a partir da teoria. (CRUZ, 2007).
Percebemos que esta teoria, cada vez mais, vem sendo utilizada por
profissionais da saúde, inclusive os enfermeiros, em suas pesquisas. Ela permite
conhecer os significados que são formados pelos homens na sua interação com o
mundo para explicar diversos fenômenos, uma vez que é proposto um conhecimento
no qual tanto os sujeitos quanto os objetos se constituem num processo de relação,
portanto o saber é algo construído na relação com o mundo.
Para iniciar a abordagem sobre as concepções dos adolescentes é
interessante conhecer e compreender a priori esta fase do ciclo vital. De acordo com
Minto et al. (2006) a adolescência é o período do desenvolvimento humano em que
se estabelecem, de forma mais definida, a identidade, os padrões de
comportamento e o estilo de vida.
A mudança marca esta fase etária e repercute nas percepções dos
adolescentes não só em relação aos contextos socializadores (família, escola,
grupo, comunidade) como, sobretudo em relação a si próprio: surgem dúvidas e
questões. As autodescrições começam a incluir aspectos como emoções, desejos,
motivações, expectativas, atitudes, crenças e ideais sobre como desejariam ser e
sobre como não querem ser (CEBALLOS, 2009).
Desse modo, é possível entender o adolescente como ser em
desenvolvimento e transformação, consequentemente se configurando em um alvo
para práticas, reflexões e meio de ação profissional de enfermagem, sobretudo a
representação construída a partir do adolescente acerca do idoso e da velhice, que
é o objeto de estudo desta pesquisa.
Como afirma Moscovici (2001), o indivíduo sofre a pressão das
representações dominantes na sociedade e, é nesse meio que pensa ou exprime
seus sentimentos. Essas representações diferem de acordo com a sociedade em
que nascem e são moldadas.
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A análise à luz da TRS caracteriza os conhecimentos e crenças dos grupos
sociais, no caso os adolescentes escolares, e possibilita identificar além das marcas
subjetivas, os modos compartilhados de pensar, e de forma particular os complexos
processos da realidade nos quais os homens estão envolvidos, uma vez que os
adolescentes são influenciados pelos pensamentos e ações dos outros
componentes de seu grupo social e do meio em que vive.
1.3 Questões Norteadoras
Por conseguinte, pretendemos, na realização da pesquisa que nos
propomos, responder a alguns questionamentos, ao mesmo tempo em que se
proporcionam momentos para discussões entre os adolescentes, permitindo que os
mesmos inovem sobre as questões relacionadas à velhice e ao ser idoso.
A problemática exposta fez surgir às seguintes questões norteadoras:
Que elementos/conteúdos integram as representações sociais de
adolescentes sobre a velhice e o idoso?
Que características moldam a velhice e o idoso para os adolescentes?
O que pensam sobre sua velhice e como pensam ser idosos?
As representações sociais de estudantes de escola pública sobre o
idoso e a velhice diferem das representações de estudantes de escolas privadas?
1.4 Justificativa, relevância e contribuições do estudo
Esta pesquisa justifica-se pela importância de estar colocando em pauta as
questões do envelhecimento humano e todos os envolvidos na busca de uma
unidade entre todas as gerações e pela necessidade de discutir as diferentes formas
de representar o idoso e a velhice pelo adolescente.
A expectativa de vida do brasileiro ao nascer apresenta interessante
evolução: entre 1950 e 1955 era de 50,9 anos; entre 2000 e 2005, de 68,3; e estima-
se que entre 2045 e 2050 a expectativa de vida do brasileiro seja de 76,9 anos de
idade. O Brasil tem aproximadamente 11 milhões de pessoas com mais de 60 anos.
Projeções indicam que será o sexto país do mundo em número de idosos no ano de
2020, com aproximadamente 32 milhões de idosos (BRASIL, 2006).
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Estes números revelam que os enfermeiros devem dar o devido valor a esta
temática, no sentido de preparar o adolescente para o cuidado ao idoso e
proporcionar uma orientação que construa a figura do idoso afastada de mitos e
esteriótipos, pois como profissionais formadores de opinião temos a
responsabilidade social de realizar um cuidado clínico ao idoso e influenciar os
demais neste cuidado.
Foi realizada uma busca on-line de artigos nas bases de dados Lilacs
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline e Scielo
(Scienfic Eletronic Library Online) e no banco de teses e dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por meio
de uma estratégia de busca com as seguintes palavras-chave: “idoso”,
“adolescentes” e “velhice” nas seguintes combinações: “adolescentes” e “idosos” e
“adolescentes” e “velhice”. Usou-se descritores e palavras-chaves para ampliar o
quantitativo de trabalhos disponíveis nos meios digitais. As consultas às bases de
dados incluíram artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, registrados
entre janeiro de 2007 e outubro de 2011, ou seja, trabalhos realizados nos últimos
cinco anos.
Os trabalhos que foram buscados passaram por um processo de seleção
conforme os seguintes critérios de inclusão: - Estudos acerca especificamente da
relação entre adolescentes e idosos; - Estudos sobre velhice que abordasse
percepções dos adolescentes; - Trabalhos que tivessem como enfoque ações
educacionais de enfermagem voltadas simultaneamente para o envolvimento destas
duas populações; - Trabalhos em língua portuguesa e completos; - Resumos
completos contendo objeto ou objetivo, metodologia, resultado(s) e/ou conclusão,
sendo priorizados esses dois últimos itens.
Não foram selecionados estudos tipo reflexão, relato de experiência, revisão
bibliográficas, ensaios clínicos, documental, artigos de opinião, monografias e relato
de caso. É importante ressaltar que se observou, em um primeiro momento, um
grande quantitativo de trabalhos na combinação das palavras, mas uma escassez
de informações sobre o assunto em foco.
No levantamento inicial dos artigos foram encontrados na base de dados
Medline, Lilacs e Scielo, 87, 39 e 8 artigos respectivamente, e no portal Capes foram
vistos 27 trabalhos, perfazendo um montante de 161 estudos, os quais
apresentaram os requisitos básicos para inclusão neste estudo, todavia, somente 12
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(7,5%) abordavam objetivamente a temática da associação entre idoso, velhice e
adolescente.
A grande maioria dos trabalhos mostrou que as prioridades dos estudos
estão pautadas no modelo biomédico, no qual se atenta muitas vezes para o lado
físico, para a sintomatologia, prevalência ou tratamento de doenças. Isto foi
confirmado por este universo de pesquisas e profissionais da área médica que
encontramos realizando estes estudos.
TABELA 1: Levantamento da produção científica sobre a temática idoso, adolescente e velhice. Fortaleza, 2011.
Medline
Bases
Lilacs
Scielo
CAPES
Adolescentes e idoso 87 39 8 26
Adolescentes e velhice -- -- -- 1
TOTAL 87 39 8 27
Inquieta-nos, pois o que se quer é ver profissionais empenhados na (re)
construção de uma sociedade mais consciente e responsável. Vinculados a um
cuidado não apenas ligado à clinica da doença da população, mas, sobretudo
focado no cuidado clínico, aquele que vê o ser humano integralmente e se preocupa
com a promoção de encontros entre diferentes gerações, pois acreditam que trarão
benefícios para todos os envolvidos, uma vez que os resultados serão traduzidos em
compreensão, respeito mútuo, afeto e mais qualidade de vida.
Nos 12 textos que estavam relacionados ao objeto deste estudo foram
assinalados os assuntos abordados com maior expressividade, com destaque para a
importância da atividade física nestas fases da vida, os direitos que os resguardam e
como se dão suas relações pessoais.
Todas estas pesquisas eram descritivas e apenas uma delas foi realizada
por autores do nordeste do país, todas as outras faziam parte do sudeste ou sul
brasileiro. Após a leitura destes 12 textos na íntegra, os trabalhos foram sintetizados,
visando à confecção de categorias. Assim, as categorias do estudo foram alocadas
em três seções: “Estilo de vida saudável entre as gerações”, “Igualdade e dignidade,
um direito de todos” e “Percepções intergeracionais”.
Tais questionamentos são inerentes à crença segundo a qual as precoces
discussões sobre os temas possibilitam sensibilizar os adolescentes em relação à
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velhice e ao idoso, permitindo melhorar a atenção ao próprio estilo de vida para um
envelhecer ativo e, ainda, compreender as alterações do processo de
envelhecimento de forma a renovar conceitos, sanar estereótipos e firmar atitudes
em relação aos idosos e à velhice, revelados pela construção de novos paradigmas
fundamentados em conhecimentos científicos.
Esta pesquisa servirá como reforço a outras realizadas por pesquisadores
interessados tanto nas questões referentes ao idoso, ao adolescente, como também
à prática do cuidado de enfermagem e também nas da Teoria das Representações
Sociais, ampliando, dessa maneira, o corpo de conhecimento da enfermagem
nessas áreas.
Nesse sentido, compreende-se a necessidade de efetivar estratégias que
possam mobilizar a mudança das pessoas em geral e, em especial, os
adolescentes, acreditando que a discussão das representações sobre a velhice e o
idoso subsidiam a construção de valores e a compreensão das práticas em relação
ao idoso e a velhice.
Urge, portanto, compreender as mudanças populacionais para poder intervir
diante das novas necessidades e construir estimativas sobre as tendências advindas
no futuro. Neste estudo, em especial, o interesse em investigar sobre a
representação da velhice e do idoso para os adolescentes é consequência da
vivência cotidiana com jovens que revelam um imaginário de estereótipos e
impressões negativas refletidos nas formas de falar e expressar sobre o ser idoso e
a velhice.
O estudo contribuirá para as áreas de ensino e pesquisa, através da reflexão
e construção de conhecimento, assim como será uma vitrine da realidade que nos
cerca, influenciando as agências responsáveis para que este tema seja item da
Agenda de Prioridades em Pesquisa em Saúde do Ministério da Saúde.
Além disso, esta pesquisa embasará ações da enfermagem junto com
adolescentes escolares e a sociedade como um todo almejando a responsabilidade
social no cuidado ao idoso, a redução da iniquidade social e a produção de
conhecimento que atenderá aos anseios do grupo de adolescentes, permitindo aos
adolescentes compreenderem, refletirem e até modificarem em bons modos as
percepções ao idoso, tornando-os agentes ativos e multiplicadores de atitudes gentis
em relação ao tratamento aos idosos.
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O trabalho, portanto, se justifica, sobretudo pela relevância social da
pesquisa, além de ser importante para a enfermagem gerontológica. Ele contribui
também para as pesquisas sobre o tema, já que há uma grande carência de
trabalhos que abordem a relação social entre o idoso e o adolescente e os cuidados
de enfermagem que envolvem esta relação.
Consideramos relevante a pesquisa pela contribuição que ela possibilitará
aos profissionais de saúde na perspectiva da formação humana, especialmente,
para os alunos de ensino médio e, ainda, contribuir com o crescimento da
enfermagem gerontológica que nas últimas décadas apresenta avanço no
conhecimento acerca dessa parcela populacional, fortalecendo a formação dessa
especialidade. No tocante, especialmente, a parcela populacional a ser estudada,
sabemos também, que as discussões sobre a velhice e o ser idoso possibilitarão
reflexões nos adolescentes sobre o tema, como estratégia de mobilizar esforços
para o autocuidado para a velhice, bem como o compromisso com os idosos
presentes na família, comunidade e na sociedade.
2 OBJETIVOS DO ESTUDO
Para responder às questões, foram estabelecidos os seguintes objetivos:
Conhecer os conteúdos que integram as representações sociais da
velhice e do idoso para os adolescentes escolares
Descrever as características que moldam a velhice e o idoso para os
adolescentes escolares
Identificar como os adolescentes pensam a própria velhice e que idoso
querem ser
Comparar as representações sociais dos alunos de escola pública com
os alunos de uma escola particular
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Bases Conceituais
“O tempo se mede com batidas. Pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração” (Rubem Alves).
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3 BASES CONCEITUAIS
A construção social do adolescer e do envelhecer
A cada dia nascemos, crescemos e morremos, este é o ritual do ser vivo.
Como tal, o ser humano neste ínterim, vive fases, ciclos de vida, nos quais o
indivíduo interage com seu grupo social, recebe informações de diversos meios e,
ao se relacionar, realiza trocas de saberes e experiências de vida.
Neste capítulo, será explicitado sobre as fases da vida designadas como
adolescência e velhice. Desta forma a reflexão se volta também sobre a pessoa
idosa, pois são objetos de reflexão, visto que o estudo aqui proposto foca o
adolescente frente a esse tema.
3.1 A Adolescência: Diversidade de Experiência na Sociedade Contemporânea
A adolescência como uma fase do desenvolvimento humano, implica
mudanças. É um período de transição do mundo infantil para o mundo adulto e por
conta disso é um momento de uma nova redefinição de si mesmo, de reorganização
pessoal, no qual estão envolvidas inquietações, dúvidas, reflexões sobre os novos
valores que o cercam e sobre seu próprio existir no mundo.
A adolescência consiste em um conceito recente na história humana. Ela foi
concebida como uma categoria geracional, reconhecida socialmente,
academicamente e até cientificamente como uma etapa do ciclo de vida no início do
século XX, influenciada pela era industrial, pela organização da vida escolar e pelo
aumento do tempo de dependência do indivíduo em relação aos seus pais,
constituindo uma fase de espera e preparo para a vida adulta (ARIÈS, 1981;
OLIVEIRA, 2009).
A adolescência passou a ser objeto de estudo e ganhar visibilidade,
principalmente, a partir de Stanley Hall, em 1904, na Psicologia do Desenvolvimento,
a qual a adolescência foi associada a uma fase de “tempestade” e “tormenta”,
tendência que orientou uma visão mais tradicional sobre o processo de adolescer
nos estudos ocidentais (MUUSS, 1976).
Segundo Kett (1993), as teorias sobre a adolescência se basearam, na
sociologia, na psicologia, na medicina e na pedagogia. Os adolescentes se
26
tornaram, desde o início do século XX, uma faixa etária delimitada, que vive uma
fase da vida sem que o indivíduo possua grandes responsabilidades, sendo
tutelados pelos pais e/ou seus responsáveis.
De acordo com Erik Erikson (1976) o desenvolvimento humano se dá a partir
de oito etapas de desenvolvimento psicossocial que se organizam em função do
investimento da libido. Para o autor, a adolescência refere-se à quinta crise
normativa, em que há um conflito entre identidade e difusão de papéis, entretanto
ele dá uma visão menos preconceituosa e estigmatizada sobre o que é a
adolescência, pois ele a aborda como um momento de transformações importantes
não só no campo biofisiológico, mas também nas esferas afetiva, social e cultural
(GALLATIN, 1978; CARVALHO, 1996).
Giroux (1997) refere que o adolescente é colocado às margens do poder
político e é abordado como um problema social ou uma ameaça a si próprio e à
sociedade, é vinculado à violência, as drogas e a uma sexualidade irresponsável; e
ao mesmo tempo, o adolescente também é foco de encanto e desejo dos adultos,
símbolo de esperança, expectativa e futuro.
A adolescência foi elevada como representante e expressão máxima da
juventude, da potência, da beleza, da liberdade, do gozo, do espírito crítico e
contestador, do progresso, da disposição para a mudança e de tantos outros
atributos que a tornaram uma fase bastante prestigiada e cobiçada. É verdade,
também, que essa fase foi vista como momento de vivência das grandes crises
(afetivas, emocionais, de identidade, de valores, entre outros) e sofrimentos.
Observa-se pelos estudos sobre adolescência que ela está arraigada de
anseios ambivalentes, tanto no campo social, econômico e político, os quais
produzem certa dificuldade em se apreciar os adolescentes como seres capazes de
construírem ações significativas nestas áreas.
No entanto, é necessário desmitificar estas ideias e perceber a pluralidade
da adolescência no sentido de compreender a competência crítica, social e política
que o adolescente desenvolve a cada dia, formando-o um cidadão de direitos,
deveres e acima de tudo com concepções e pensamentos sobre o mundo em que
vive.
De acordo com Outeiral (1994), esta concepção adversa esta relacionada
com o próprio significado da palavra “adolescência”, cuja origem etimológica implica
noções como: aptidão para crescer (no sentido físico e psíquico) e para adoecer (em
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termos de sofrimento emocional, com as transformações biológicas e mentais que
operam nessa faixa etária).
Nesta fase surgem dúvidas e questões: necessidades de auto-afirmação e
de anseio pelo novo, desejos de usufruir a liberdade dos adultos, vontade de
conquistar autonomia pessoal, interesse em (re)definir o próprio espaço na família,
pode incluir afastar-se da família, dedicação ao estreitamento dos laços com os
pares, afirmação do seu mundo interior e da sua leitura pessoal do mundo exterior.
(BALAGUER; CASTILLO, 2002).
A adolescência é considerada a fase de passagem de um círculo social
restrito e primário – a família – para um universo social muito mais amplo e
secundário – o mundo todo. A entrada no “mundo”, a conquista da autonomia, a
“independência” volitiva e intelectual, a superação da tutela econômica e jurídica,
são alguns dos reconhecimentos da prontidão social do adolescente. (JUSTO,
2005).
Fierro (1995) complementa que ela é um período do desenvolvimento
humano em que se estabelecem, de forma mais definida, a identidade, os padrões
de comportamento e estilo de vida. Nesta fase surgem dúvidas e questionamentos,
necessidade de auto-afirmação e de conhecer o novo, desejo de usufruir a liberdade
dos adultos, o afastamento da família por parte do jovem e o estreitamento dos laços
com os pares.
O adolescente é um ser humano em desenvolvimento, que busca a sua
singularidade, a qual esta relacionada a uma gama de variáveis sócio-demográficas,
entre as quais se encontram questões envolvendo gênero, classe social e contexto
histórico-cultural, colocando em xeque qualquer concepção única e
descontextualizada sobre o processo de adolescer. (TRAVERSO-YÉPES;
PINHEIRO, 2002).
É considerável a influência do meio social e cultural, aos quais o adolescente
pertence, uma vez que cada contexto é particular e não está ligado apenas a
natureza humana, mas está pautado também na cultura da sociedade que o
adolescente faz parte e que consequentemente influencia suas ações.
As mudanças sócio-históricas e culturais possibilitam o reconhecimento de
novas representações sobre a adolescência nos diferentes contextos, como a
família, a escola, entre outras instituições que colaboram para a construção de
significados sociais sobre os processos de adolescer. (MARANGONI, 2007).
28
É importante frisar a importância da família na formação do adolescente,
visto que é ela que proporciona uma vida com educação, amor, segurança, valores
morais, sociais, para que o mesmo tenha uma boa convivência familiar ou em
qualquer grupo social, respeitando as pessoas e, principalmente, os mais velhos
(OLIVEIRA, 2009).
Ainda conforme Oliveira (2009), os adolescentes estão mais motivados a
formar grupos com indivíduos da mesma idade ou bem próxima e que possuam
ideias, hábitos e valores parecidos, e é na escola, como um dos principais espaços
sociais do adolescente, que este aposta na convivência com seus pares.
Na contemporaneidade, em vista da era da tecnologia, do consumismo, da
busca pelo novo, do mais atual, o jovem se apresenta como protagonista na mídia,
na publicidade e é o alvo principal do comércio.
Como refere Justo (2005), no trabalho, na escola, na saúde, no lazer, nos
meios de comunicação e em tantos outros lugares é notável a presença da
jovialidade. Uma simples ronda por uma cidade revelará a presença maciça dos
jovens nos espaços públicos. No Brasil, a cidade é dos jovens, diferentemente do
que acontece em muitos outros países. O trabalho, a televisão, o shopping center –
Meca da sociedade atual – são maciçamente ocupados por jovens ou dirigidos para
eles.
Então, a adolescência se configura como uma fase de transformações
pessoais que possui em sua base um componente sociocultural, podendo ser vista
como um processo universal de trocas entre as diversas instituições seja ela a
família, a escola ou a rede de amigos. Daí a importância deste momento ser repleto
de boas influências de como deve se comportar na sociedade e com as gerações
posteriores para que assim represente bem seu grupo social.
3.2 Envelhecer e velhice: Aspectos conceitual, social e cultural
O processo de desenvolvimento humano e sua continuidade perpassam
todas as fases da vida, desde o nascimento até a morte, no adolescer ou no
envelhecer, somos seres que buscamos muito mais que apenas sobreviver, o
crescimento pessoal o qual é marcado por descobertas, alegrias, constrangimentos
e impedimentos.
29
O envelhecimento humano e sua consequência natural, a velhice, é fato que
inquieta e preocupa a humanidade desde o início da civilização. O estudo da velhice
como fenômeno que atinge individualmente as pessoas não é um fato moderno,
desde a antiguidade existiam importantes tratados eruditos e obras literárias sobre a
velhice e o envelhecimento. (PAPALÉO NETTO, 2006).
De acordo com os escritos de Beauvoir (1990), no Ocidente, o primeiro texto
referindo à velhice encontra-se no Egito, no ano 2.500 a.C. quando a beleza física e
o vigor eram cantados e exaltados, Ptah-Hotep filósofo e poeta, afirmou que penoso
é o fim do ancião! Vai dia a dia enfraquecendo: a visão baixa, seus ouvidos se
tornam surdos, o nariz se obstrui e nada mais pode cheirar, a boca se torna
silenciosa e já não fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem e torna-se
impossível recordar o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. A ocupação a que
outrora se entregara com prazer, só a realiza agora com dificuldade e desaparece o
sentido do gosto. A velhice é a pior desgraça que pode acontecer a um homem.
Outro importante documento sobre o envelhecimento foi escrito há mais de
2000 anos por Marco Túlio Cícero (103-43 a.C.), filósofo romano, político, jurista,
cujo título é “De senectude - Catão, o velho”. Nele resume sua visão de
envelhecimento, enquanto um processo fisiológico, relata os problemas dos idosos
quanto à perda da memória, perda da capacidade funcional, as alterações dos
órgãos dos sentidos, a perda da capacidade de trabalho. Salienta que, com o
envelhecimento, os prazeres corporais vão sendo substituídos pelos intelectuais,
enfatizando a necessidade de prestigiar-se os idosos e de fazer-lhes um preparo
psicológico para a morte. (PAPALÉO NETTO; PONTE, 1996).
Em relação à Bíblia, o Antigo Testamento revela que o Deus não parece
medir-se por critérios cronológicos. Para Ele, portanto, a velhice não é o tempo onde
a vida se recolhe e não pode mais brilhar, deixar sinais e dar frutos visíveis e
maduros. Mas, pelo contrário, Ele parece comprazer-se em gerar e fazer brotar os
líderes de seu povo dos ventres considerados extintos das mulheres velhas e
estéreis. Segundo o Deus da Bíblia, velhice não é impedimento para nada, sequer
para nascer. Os profetas, em suas pregações, anunciam tempos futuros onde
“Velhos e velhas se sentarão ainda nas praças de Jerusalém’ cada um com o bastão
na mão, tão avançada será sua idade" (Zacarias 8:4) e " ...vossos velhos terão
sonhos; vossos jovens terão visões...". (Joel 2:28) (BEAUVOIR, 1990).
30
Na literatura é evidente a dificuldade de se definir e estabelecer uma
teorização mais consensual sobre os fenômenos de envelhecimento e velhice, isso
devido à heterogeneidade da velhice experimentada pelos sujeitos. Um processo
que se inicia desde o nascimento e é influenciado por transformações físicas,
mentais e sociais, tende a ser bem singular o seu desenrolar rumo ao seu desfecho
final. Várias perspectivas conceituais sobre estes fenômenos foram elaboradas
segundo abordagens teóricas diferentes ou numa mesma abordagem.
No clássico livro A Velhice, Beauvoir (1990) faz uma evidente distinção entre
o que seja o processo de envelhecimento e o envelhecimento. O processo de
envelhecimento corresponderia às mudanças orgânicas que ocorrem em cada
momento do desenvolvimento do corpo biológico, e o envelhecimento seria o
momento específico de constatação de declínio desse corpo.
Paschoal (2002) coloca a velhice como um conjunto de aspectos que
envolvem múltiplas dimensões, de caráter biológico, social, econômico, histórico e
psicológico.
Na perspectiva da velhice marcada pelo corpo biológico e pelos efeitos da
cultura, pode-se citar a antropóloga Debert (1994), quando propõe a distinção de um
fato universal e natural de um fato social ou histórico. A autora caracteriza a velhice
como uma categoria socialmente produzida quando adquire significados
particularizados nos diversos contextos sociais e culturais de uma mesma época ou
em diferentes tempos históricos.
Essa perspectiva é possível porque o envelhecimento é considerado um fato
universal e natural, que constitui o ciclo biológico do ser humano desde o
nascimento à morte, e no qual é possível conceber e viver a velhice numa
variabilidade de formas. (DEBERT, 1994).
Isto torna factível a afirmativa de Britto da Motta (2006) quando propõe a
existência de velhices e não da velhice no singular. A visão preconceituosa sobre o
velho tornou-se naturalizada e reúne, geralmente, as características de alguém com
bastante idade, de aparência asquerosa e enrugada, com ideias do passado, inativo,
pouco ágil e de alguém que se espera equilíbrio na participação social. E o
envelhecimento tornou-se um mecanismo para a classificação e o estabelecimento
de parâmetros no desenvolvimento das pessoas.
O envelhecimento pode ser conceituado como um conjunto de modificações
morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que determinam a perda
31
progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, sendo
considerado um processo dinâmico e progressivo. O declínio das funções orgânicas,
manifestadas durante o envelhecimento, tende a aumentar com o tempo, e pode
variar não apenas de um órgão para o outro, mas também é influenciado pelas
condições desiguais de vida e de trabalho, a que estiverem submetidas às pessoas
idosas. (PAPALÉO NETTO, 2006).
Papaléo Netto (2006) organiza a noção de envelhecimento perpassada por
fatores que ultrapassam a dimensão genética ou biológica. Para o autor, a
gerontologia pressupõe o envelhecimento na existência de uma base genética na
qual atuam com intensidades variadas os fatores extrínsecos (estilo de vida),
psicossociais (culturais, sociais, psíquicos e econômicos) e ambientais (relacionados
com o meio ambiente, como o mau estado da água, a poluição nos meios urbanos e
a existência de transmissores de doenças). Esses três fatores determinam o
envelhecimento orgânico que, por sua vez, causa alterações funcionais, celulares e
moleculares, que diminuem a capacidade de homeostasia, predispondo o corpo ao
adoecimento.
Existem várias formas de conceituar e construir significados sobre o
envelhecer e a velhice, seja embasado em práticas científicas, seja pelo senso
comum, porém o que vale no desenvolvimento humano é o respeito a suas
peculiaridades e o olhar diferenciado que se deve oferecer a cada grupo.
Neste sentido, entenderemos o homem não de forma fragmentada e dividida
em períodos sucessivos (infância, adolescência, adulto e velhice), nem a partir de
abordagens que moldam os grupos de idades em uma lógica cartesiana, mas sim
em uma dimensão biopsicossocial, que é constituída das vivências particulares de
cada um.
Bassit (2000) pontua que o estudo sobre o curso da vida vem em um
movimento que divide o estudo do desenvolvimento humano em estágios
descontínuos para um firme reconhecimento de que qualquer fase da vida deve ser
analisada dinamicamente, levando em consideração as experiências passadas, as
expectativas futuras, e de uma integração entre os limites do contexto social e
cultural correspondente.
Néri (2006) nos diz que a velhice é um conceito historicamente construído
que se inscreve na dinâmica das atitudes, crenças e valores da sociedade, estando
em oposição à juventude.
32
A velhice é uma categoria construída socialmente, assim como a
adolescência e a juventude. É vista e tratada de maneira diferente, de acordo com
períodos históricos e com as estruturas sociais, culturais, econômicas e políticas de
cada povo. Por isso, essas transformações não permitem um conceito absoluto da
velhice.
A velhice como uma vivência particularizada para cada sujeito causa uma
diversidade de sentidos que permeiam, na expressão de Luft (1999), a percepção de
perdas e de ganhos. Para Luft (2005), essa percepção é dependente das
perspectivas e das possibilidades de quem tece a própria história, conforme
demonstra em sua poesia “Canção na plenitude”:
Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia). O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca a te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esse dourados anos me ensinou a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e, sobretudo a força - que vem do aprendizado. Isso te posso dar: um amor antigo e confiável cujas marés - mesmo se fogem - retornam; cujas correntes ocultas não levam destroços, mas o sonho interminável das sereias. (LUFT, 1999, p.151).
Além de todos os fatos mostrados que influenciam no processo de
envelhecimento, ainda existe outra situação que torna mais negativa a imagem da
velhice, é o grande consumismo da sociedade capitalista atual.
A sociedade moderna ao cultuar os valores da produtividade, da inovação,
da juventude e do consumo, associa a velhice a algo ultrapassado, sem serventia e
caracterizado por um processo contínuo de perdas físicas, psíquicas e sociais. Isso
remete a Simone de Beauvoir (1990) que diz que a velhice deve ser compreendida
em sua totalidade, ela além de um fato biológico, é um fato cultural e ainda
complementa dizendo que a velhice aparece como uma desgraça mesmo para
aquelas pessoas que consideramos conservadas, a decadência física que ela traz,
salta aos olhos, pois a espécie humana é aquela em que as mudanças causadas
pelo avanço da idade são mais espetaculares. Os animais descarnam, enfraquecem,
mas não se metamorfoseiam como nós.
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Diante dos fatos, compreendemos que é dentro da multiplicidade e da
heterogeneidade social e cultural de experiências que o processo de envelhecer e a
velhice necessitam ser olhados, pois a velhice não é única e singular, assim como
não é a infância e a juventude. Tais experiências são fundamentais para uma
construção social e coletiva do ser, visto que o individual só existe quando
reconhecido e partilhado pelos outros.
3.3 Conceituando o Idoso
Denominar uma pessoa como idosa é um critério usado para demarcar e
distinguir indivíduos que apresentam determinadas características físicas, mais
precisamente de senilidade, que são as alterações naturais do envelhecimento,
direcionado também para o usufruto de benefícios de políticas públicas.
A questão, no caso, é quanto ao conteúdo do conceito de “idoso”, cuja
referência imediata costuma ser de características biológicas. O limite etário seria o
momento a partir do qual os indivíduos poderiam ser considerados “velhos”, isto é,
começariam a apresentar sinais de senilidade e incapacidade física ou mental.
Porém, acredita-se que “idoso” identifica não somente indivíduos em um
determinado ponto do ciclo de vida orgânico, mas também em um determinado
ponto do curso de vida social, pois a classificação de “idoso” situa os indivíduos em
diversas esferas sociais, tais como o trabalho, a família, entre outros. (CAMARANO,
1999).
É comum que a distribuição de recursos públicos dependa de alguma forma
de alocação a grupos específicos, o que implica distinguir indivíduos. Quando essa
distinção é feita a partir de critérios impessoais, como exigem, por exemplo, a
maioria das leis, é necessária a existência de algum tipo de característica universal
observável entre os indivíduos que permita classificá-los como pertencente ou não a
uma determinada categoria. (CAMARANO, 1999).
Consoante Oliveira (2009), até as décadas de 60-70 os idosos não faziam
parte da cena do cotidiano brasileiro. Pouco se falava sobre idosos e havia no país
apenas organizações sociais ou entidades exclusivas de idosos como: INPS
(Instituto Nacional de Previdência Social, FLBA (Fundação Legião Brasileira de
Assistência) e o SESC (Serviço Social do Comércio).
34
No Brasil a primeira vez que se falou de amparo ao idoso foi na Constituição
de 1988, após isso, apenas em 1996, data da regulamentação da Política Nacional
do Idoso que alguns direitos dos idosos foram reconhecidos legalmente. (OLIVEIRA,
2009).
O reconhecimento dos direitos da pessoa idosa somente ocorreu em 1994,
com a criação da Política Nacional do Idoso, reafirmada e aprimorada pelo Estatuto
do Idoso, em 2003, que destacou o papel do Estado na promoção de mecanismos
que garantam esses direitos.
É a partir outubro de 2003, quando a Lei nº 10.741-Estatuto do Idoso-foi
sancionada que se estabeleceu direitos de deveres da pessoa idosa e afirma ao
idoso a idade igual ou superior a 60 (sessenta anos). (BRASIL, 2004).
Dessa forma, podemos constatar que estão sendo considerados idosos no
Brasil, cidadãos do sexo feminino ou masculino, situados na faixa etária a partir de
60 anos.
Néri (2001) refere que idosos são populações ou indivíduos que podem ser
assim categorizados em termos da duração do seu ciclo vital. Segundo convenções
epidemiológicas atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS), idosos são
pessoas de mais de 60 anos nos países subdesenvolvidos, e de mais de 65, nos
países desenvolvidos.
A delimitação de idade caracterizando a classe de idosos trouxe alguns
benefícios para esta população, uma vez que ela passou a ser mais assistida por
programas governamentais e consequentemente mais respeitada frente às diversas
fases da vida.
Percebe-se que a categorização etária da população, é uma produção social
de cada cultura, a qual vai direcionar as formar de comportamento de cada faixa
etária, impondo limites e produzindo uma ordem em que cada um deve se manter
em seu lugar. Além de definir públicos de consumo, principalmente nos lugares
regidos pelo capitalismo.
Devemos considerar a questão cronológica envolvida, entretanto cabe-nos
não taxar estas pessoas com mais tempo de vivência e não encaixá-las em
determinados modos de vida pré-definidos, pois eles além de tudo são seres que
carregam uma heterogeneidade, seja em suas questões de gênero, classe social,
personalidade, história de vida, educação, saúde e contexto sócio-histórico,
propiciando diferenças entre os idosos.
35
O conceito de idoso, portanto, envolve uma questão bem mais complexa do
que uma simples determinação de idades-limite biológicas e apresenta, pelo menos,
três limitações. A primeira diz respeito à heterogeneidade entre indivíduos no
espaço, entre grupos sociais, raça/cor e no tempo. A segunda é associada à
suposição de que características biológicas existem de forma independente de
características culturais e a terceira à finalidade social do conceito de idoso.
(CAMARANO, 1999).
De acordo com Geertz (1989), não dá para pensar em vida orgânica e vida
social separadamente. Classificam-se idosos, por exemplo, com objetivos de estimar
demandas por serviços de saúde, por benefícios previdenciários e, também, como
uma maneira de distinguir a situação dos indivíduos no mercado de trabalho, na
família e/ou em outras esferas da vida social.
Uma das consequências do uso da idade para a definição de idoso é o
poder prescritivo contido nessa definição. A sociedade cria expectativas em relação
aos papéis sociais daqueles com o status de idoso e exerce diversas formas de
coerção para que esses papéis se cumpram, independentemente de características
particulares dos indivíduos. (LASLETT, 1996).
O status de idoso pode ser atribuído a indivíduos com determinada idade,
mesmo que não apresentem características de dependência ou senilidade
associadas à velhice e, mais importante, também para aqueles que recusem esse
status. Um exemplo claro dessa coerção é a aposentadoria compulsória presente
nos regimes de aposentadorias de vários países do mundo, inclusive dos países
desenvolvidos. (CAMARANO, 1999).
Peixoto (1998) refere sobre as modificações sofridas pelas representações
sociais da pessoa envelhecida ao longo do tempo, alterações estas determinadas
principalmente pelas mudanças sociais que gradativamente, reclamavam políticas
sociais para a velhice. Políticas que pressionavam pela criação de categorias
classificatórias, adaptadas à nova condição moral, assim como a construção ética do
objeto velho. Os estudos de Peixoto podem esclarecer questões conceituais que
estabelecem diferenças entre as terminologias de idoso e velho.
Na França do século XX era realizado um recorte social das pessoas com
mais de 60 anos e designava como velho (vieux) ou velhote (vieillard) aqueles que
não detinham estatuto social, enquanto os que possuíam eram chamados idosos
(personne agée). Assim, conforme Peixoto (1998), a noção de velho é, pois,
36
fortemente assimilada à decadência e confundida com incapacidade para o trabalho:
ser velho é pertencer à categorização emblemática dos indivíduos pobres. E, por
outro lado, o termo idoso se escora na categoria aposentado, que supõe melhoria de
vida para os mais velhos.
Isto explica o motivo pelo qual nas sociedades industriais, os mais velhos
foram colocados à margem dos interesses produtivos, com exceção daqueles de
classes sociais mais favorecidas ou com prestígio social. E só com a introdução do
termo idoso, as pessoas com mais idade passaram a ser mais respeitadas, haja
vista que acompanhado deste termo veio a categoria aposentado que lhes
respaldaram na sociedade com uma inatividade remunerada.
Hoje, portanto, a terminologia idoso, tem uma conotação social de velho
respeitado, independente de sua história pessoal e suas particularidades. Pode-se
afirmar que a representação social do indivíduo envelhecido passou, ao longo dos
tempos, por diversas modificações. Ainda que ocorram as diversas categorizações,
encontramos a tensão entre o corpo socialmente construído e aquele que é
vivenciado na especificidade de sua história. (SÁ, 2004).
Diante de tantos anos de vida dedicados a construção e desenvolvimento do
país é justo que o idoso tenha conquistado vários direitos e regalias. Com várias
aquisições, ele passa hoje de um sujeito passivo, para um ativo, consumista e dono
de sua vida, por isso torna-se imprescindível que os adolescentes não tenham mais
nenhuma imagem negativa frente aos idosos e que aqueles não venham a sofrer
com seu próprio envelhecimento. Dessa forma, se faz necessário discutir, debater,
apresentar e trabalhar o envelhecimento e a velhice de uma forma que esse
processo possa ser encarado de forma natural. Afinal, cada um de nós
envelhecemos a cada minuto.
3.4 Envelhecimento Demográfico
A longevidade da população é um fenômeno mundial que determina
repercussões no sistema de saúde, no campo social, econômico, político do país.
Este processo vem se manifestando em várias partes do mundo de distintas formas.
No bloco dos países desenvolvidos, esse processo se deu de forma lenta,
ao longo de mais de cem anos, e dispondo de recursos necessários pra fazer frente
às mudanças advindas desta transformação demográfica. Já no grupo dos países
37
em desenvolvimento, como o Brasil, esse processo se caracteriza pela rapidez com
que o aumento absoluto e relativo das populações adulta e idosa vem modificando a
pirâmide populacional e sem preparação. (VERAS, et al., 2001).
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, nos países
desenvolvidos encontra-se em fase de estabilização, enquanto nos países em
desenvolvimento, como o Brasil, esse processo encontra-se mais acelerado e esse
fato deve-se principalmente ao aumento da expectativa de vida e à queda dos
coeficientes de mortalidade e fecundidade. (MENEZES, LOPES, MARUCCI, 2007).
A partir dos anos 60 – período onde, até então, os diferentes grupos etários
registravam um crescimento praticamente idêntico - o grupo de idosos passou a
liderar esse crescimento. As projeções indicam que num período de 70 anos (1950 a
2020), enquanto a população brasileira estará crescendo 5 vezes, o grupo dos
idosos estará se ampliando em 16 vezes. (VERAS, et al., 2001).
Uma população torna-se mais idosa à medida que aumenta a proporção de
indivíduos idosos e diminui a proporção de indivíduos mais jovens, ou seja, para que
uma determinada população envelheça, é necessário haver também uma menor
taxa de fecundidade. (NASRI, 2008).
Até meados da década de 1940, o Brasil caracterizou-se pela prevalência de
altas taxas de natalidade e de mortalidade. A partir desse período, com a
incorporação dos avanços da medicina às políticas de saúde pública,
particularmente os antibióticos recém-descobertos na época e importados no pós-
guerra, o país experimentou uma primeira fase de sua transição demográfica,
caracterizada pelo início da queda das taxas de mortalidade. Naquela década a
esperança de vida ao nascer no Brasil, para o conjunto da população, era inferior
aos 50 anos de idade. (BRASIL, 2010).
A longevidade é sem dúvida uma resposta à mudança de alguns indicadores
de saúde, especialmente a diminuição da fecundidade e da mortalidade e o aumento
da esperança de vida que se deve aos avanços tecnológicos e no campo da saúde
ao longo dos anos. Entretanto, a longevidade é algo muito positivo quando
acompanhada de qualidade de vida, caso contrário, seria apenas o prolongamento
do sofrimento humano, um ganho inútil.
Compreendendo a necessidade de entender melhor a velhice e direcionar o
olhar para o ser idoso, adotamos as considerações da Organização Pan-Americana
de Saúde (OPAS) (2005) quando afirma que o mundo passa por uma transformação
38
demográfica sem precedentes. Entre os dias atuais e 2050, o número de idosos
aumentará de 600 milhões para quase dois bilhões. Em menos de 50 anos, pela
primeira vez na história, o mundo terá mais pessoas acima de 60 anos que pessoas
com menos de 15 anos. Por sua vez apontou, ainda, que devemos olhar para os
idosos como nosso reflexo para o futuro, reconhecendo que as pessoas idosas são
únicas, com necessidades, talentos, capacidades individuais e não um grupo
homogêneo por causa da idade.
Reconhecemos que o aumento na expectativa de vida de mais de 30 anos,
nos últimos séculos, foi possível pela melhora dos serviços de saneamento, de
nutrição, de descoberta, do uso de antibióticos e de ambiente mais seguro e
saudável, que revolucionaram a condição humana na face da terra. A organização
acrescenta, ainda, a drástica redução da mortalidade infantil nos últimos 100 anos
como um grande sucesso de saúde pública. O desafio é transformar estes ganhos
em benefício para a sociedade, superando áreas de exclusão. Isso exigirá profundas
mudanças na forma como organizamos os lugares de trabalho, na maneira de viver
e no conceito de cuidar daqueles que não podem se cuidar, mas que necessitam de
cuidados. (OPAS, 2005).
No mundo, em 1950, o percentual de maiores de 60 anos de idade era de
8,2%; em 2000, essa faixa etária alcançou 10%. As projeções para 2050 estimam
que a terra abrigará 21,1% de pessoas idosas. No Brasil, os índices são
semelhantes: em 1950, 4,9%; em 2000, 7,8%; e, no ano 2050, teremos 23,6% de
idosos. (OPAS, 2005).
A proporção de idosos vem crescendo a cada novo censo. As pessoas
acima de 65 anos correspondiam a 4,8% da população, em 1991, passaram para
5,9%, em 2000, e agora chegam a 7,4%, ou 14 milhões. No mesmo período, o grupo
0 a 14 anos passou de 34,7% para 29,6% e, finalmente, 24,1%. Mantido esse ritmo,
em poucos anos será impossível sustentar o já quase insustentável sistema de
aposentadorias e pensões da Previdência Social.
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
mostra que a expectativa de vida da população no país aumentou em cerca de três
anos entre 1999 e 2009, de 6,4 milhões para 9,7 milhões. Em termos percentuais, a
proporção de idosos na população subiu de 3,9% para 5,1%. Em compensação, no
mesmo período, caiu o número de crianças e adolescentes de 40,1% para 32,8%,
39
estreitando a base da pirâmide etária brasileira. Mesmo assim, o País é considerado
jovem. (BRASIL, 2010).
A nova expectativa de vida do brasileiro é de 73,1 anos. Entre as mulheres
são registradas as menores taxas de mortalidade. Elas representam 55,8% das
pessoas com mais de 60 anos. No período avaliado, a expectativa de vida feminina
passou de 73,9 anos para 77 anos. Entre os homens, a expectativa de vida passou
de 66,3 anos para 69,4 anos. (BRASIL, 2010).
Ainda segundo o IBGE, a taxa de expectativa de vida no Brasil ainda é
menor que a taxa de expectativa de vida da América Latina e do Caribe (73,9 anos),
só ficando à frente da Ásia (69,6 anos) e da África (55 anos). Na América do Norte a
taxa fica em torno dos 79,7 anos. (BRASIL, 2010).
Os números apresentados alarmam a tendência irreversível de
envelhecimento da população. A cada ano, nascem menos brasileiros, enquanto a
expectativa de vida no país só aumenta. Estas são boas notícias, vindas
acompanhadas de avanços sociais importantes, como a diminuição das taxas de
mortalidade - sobretudo a infantil - e do planejamento familiar, mas significa um
desafio a ser enfrentado com urgência, pois vivemos em um país que ainda não está
preparado para acolher dignamente estes seus habitantes de cabelos brancos.
É preciso agir enquanto é tempo. A população em idade economicamente
ativa (15-64) ainda é cerca de 10 vezes maior do que a de idosos - uma situação
definida tecnicamente como "bônus demográfico", mas essa proporção deve cair
drasticamente nas próximas décadas. Em 2010, os adultos somavam 130.742.024
contra 14.081.480 maiores de 65. A pirâmide etária do Brasil passa por um período
de transição que, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU),
levará o país a um cenário bastante próximo da França atual. O Brasil de 2050 teria
62,8% da sua população em idade economicamente ativa (15-64) contra 22,5% com
mais de 65 anos. Ou seja, a proporção entre jovens e idosos cai a menos de um
para três. (BRASIL, 2010).
No estado do Ceará o crescimento da população idosa segue os mesmos
níveis nacionais, pois os maiores de 60 anos aumentaram 61% em dez anos. Isso
porque os dados do Censo 2010 confirmam que esse contingente etário está em
1,063 milhão de pessoas. Enquanto em 2000 esse valor correspondia a exatos
658,9 mil. (BRASIL, 2010).
40
Perante a estes dados sobre o envelhecimento populacional percebe-se que
o Brasil caminha a passos largos rumo ao domínio da terceira idade, porém ainda é
mínimo o apoio social e governamental voltado para este grupo social. Além disso,
ainda temos que ultrapassar a barreira do preconceito, a qual limita o acesso do ser
envelhecente aos outros grupos sociais e ao universo mais moderno na sociedade
atual.
O país envelhece, porém continuamos vivendo o novo, ou seja, a
valorização da adolescência esta enraizada em nosso meio e a depreciação do que
é velho, a desvalorização do que foi construído no passado.
Tal como afirma Calligaris (1992), a formação da cultura brasileira, fundada
na ruptura do imigrante com suas referências anteriores – a pátria abandonada –
alimenta-se do corte ou negação do passado e da extrema valorização do novo, do
presente e do futuro. Segundo o autor, a própria denominação de muitas cidades
denota esse ideário de ruptura e refundação da vida no eldorado brasileiro: “Nova”
Friburgo, “Nova” Odessa, “Nova” Hamburgo e assim por diante. Essa necessidade
de renomear com o prefixo “novo” as antigas e tradicionais cidades européias indica
a intenção de recriar o antigo completamente, dar-lhe uma feição totalmente
inovadora, com toda certeza retirando-lhe tudo que pudesse enfeiá-lo ou significar
algum sofrimento.
Este número cada vez maior de idosos em nosso meio é um desafio para
todos nós, profissionais da saúde, políticos, família e para a sociedade como um
todo, visto que eles chegam com demandas pessoais, sociais e de saúde bem
diferenciada, e exigem, assim, uma reorganização do sistema para que possamos
oferecer uma melhor qualidade de vida e que eles usufruam desses anos a mais de
vida como uma verdadeira conquista.
3.5 Educação Gerontológica: intervenção de enfermagem
A evolução histórica da Enfermagem evidencia a disposição de seus
profissionais, numa busca permanente para a ampliação de conhecimentos que
permitam tornar o cuidado de excelência para todo ser humano. No início, esse
cuidado era ministrado com característica empírica, baseado em normas e rotinas
repetidas, sem reflexão crítica e registro das ações executadas. Na necessidade de
questionar esse seu modo de agir, tecnicamente e intuitivamente orientado, a
41
Enfermagem teve que refletir sobre a eficiência de seus métodos e práticas
cotidianas, atribuindo maior importância à aplicação de princípios científicos que
pudessem conferí-la como Ciência.
Com o passar dos anos os profissionais foram incorporando aos seus
modos de agir o cuidado fundamentado em princípios científicos a todo ser humano,
independente da faixa etária, incitando o surgimento de inovações, tecnologias e
preocupações que justificassem as técnicas utilizadas no planejamento de cuidados
de enfermagem, nos diversificados cenários onde se pode encontrar pessoas com
múltiplas necessidades de cuidados.
Desde então, a tentativa de implantação dessas inovações tecnológicas
tem sido relevante, porém, ainda em construção na Enfermagem brasileira, no
tocante ao cuidado do idoso, pois hoje vivemos um período revolucionário
provavelmente sem precedentes na história da humanidade, pois a cada quatro
anos a esperança de vida aumenta de um ano. (MORIN, 2007).
A esse respeito a enfermagem tem se debruçado, arduamente, na
construção e implementação de proposta de cuidado científico, acompanhando as
inovações tecnológicas, aos idosos que tem sido revelado nas publicações de
autores enfermeiros como (BURNSIDE, 1979; BERGER e MAILOUX-POIRIER,
1995; CALDAS, 2004; DIOGO e DUARTE, 2006; GONÇALVES e ALVAREZ, 2006;
ELIOPOULOS, 2011, dentre outros).
Neste contexto, percebemos a atuação efetiva de profissionais de
enfermagem na área da gerontologia, buscando firmar estratégia de destaque na
prática social do enfermeiro e equipe de enfermagem, bem como no planejamento
do cuidado a velhice e com o ser que envelhece. A Organização Panamericana de
Saúde (OPAS, 1993) considera a Enfermagem Gerontológica o estudo científico do
cuidado de enfermagem ao idoso, caracterizada como ciência aplicada com o
propósito de utilizar os conhecimentos do processo de envelhecimento para o
planejamento da assistência de enfermagem e dos serviços que melhor atendam a
promoção da saúde, longevidade, a independência e manutenção da funcionalidade
da pessoa.
Podemos, então, considerar que o cuidado clínico de enfermagem ao idoso
está centrado na educação para a saúde, no cuidado com base no conhecimento
científico, orientado pelas manifestações das necessidades de saúde e/ou
recuperações e reabilitação de algum estado de adoecimento, inclusive das doenças
42
associadas ao processo de envelhecimento, recuperando a capacidade funcional do
idoso para a realização de suas atividades, alcançando a independência e
autonomia desejada para o bem estar. (ELIOPOULOS, 2011).
Durante décadas, a ONU fez-se promotora de numerosas iniciativas
orientadas para compreender e encontrar soluções para os problemas que
apresentam o aumento crescente do número de pessoas idosas, realizando as
Assembleias Mundiais sobre envelhecimento humano, das mesmas aprovaram dois
documentos importantes: “Plano de Ação Internacional de Madrid sobre o
Envelhecimento – 2002” e uma “Declaração Política”, que contém os compromissos
assumidos pelos governos para executar o novo Plano de Ação.
No plano de ação são apontadas três prioridades: os idosos e o processo de
desenvolvimento, que se centra na necessidade das sociedades ajustarem suas
políticas e instituições para que a crescente população idosa seja uma força
produtiva em benefício da sociedade; promoção da saúde e do bem-estar para todo
o ciclo da vida, que atenda a necessidade de implantar políticas que promovam a
boa saúde desde a infância até a velhice; a criação de contextos propícios e
favoráveis, que promovam políticas orientadas para a família e a comunidade como
base para um envelhecimento seguro, ou seja, aprimorar condições de moradia,
promover uma visão positiva do envelhecimento e necessidade de conscientização
pública de que os idosos têm contribuições a dar à sociedade. (OPAS, 2005)
Assim, compreendemos que os investimentos atuais sobre a velhice, o ser
idoso e o envelhecimento têm refletido novas ideias que tentam dar visibilidade ao
assunto, intencionam quebrar a conspiração do silêncio e pôr em descrédito os
conceitos pejorativos, predominantes sobre a questão; que discutem a necessidade
de investimentos na divulgação de conceitos renovados e atuais sobre o idoso,
velhice e envelhecimento para toda sociedade e, em especial, para a população
jovem que, ainda, vislumbram o processo, marcadamente refletido por imagens
negativas, associado a problemas de saúde, ônus, inutilidades e limitações no
desempenho de atividades. (BEAUVOIR, 1990; FREITAS; MENDES, 1999;
FREITAS; MENDES, 2003).
Pensar o envelhecer em tempos em que a sociedade mundial passa pela
era da modernidade é bastante complicado e, muitas vezes, repleto de
comportamentos contraditórios, pois quando se fala em projetos para o futuro, para
a preparação para a velhice, o jovem limita seu discurso aos investimentos em
43
cirurgias plásticas, inovação em cosméticos, comprimidos que destroem radicais-
livres, ou seja, ações que irão combater ou amenizar os sinais do envelhecimento.
Diante dos fatos revelados, a enfermagem trabalha na perspectiva da
educação gerontológica, ideia ainda incipiente, porém bastante válida, pois trabalha
no sentido de um processo educacional de base escolar que busca produzir nos
adolescentes impressões positivas acerca do envelhecimento, uma convivência
mais respeitosa e generosa entre eles e os idosos, e uma relação social mais justa
entre todas as idades.
Conforme Zanon, Alves e Cardenas (2011) deve-se ter preocupação com a
responsabilidade da educação em cumprir seu papel social na contribuição da
construção do conhecimento simultaneamente às de atitudes e valores que venham
a tornar os estudantes cidadãos solidários, críticos e participativos, propiciando um
espaço de convivência social que favoreça a inclusão de todas as pessoas.
Os autores ainda nos relatam que nas instituições escolares devem circular
representações sociais, ideias, sentimentos e atitudes formativas que se
contraponham àquelas circundantes na sociedade. Numa sociedade muitas vezes
individualista, violenta e excludente, ser diferente pode ser sinônimo de exclusão e o
ter ainda se sobrepõe ao ser. (ZANON; ALVES; CARDENAS, 2011).
O ensino sobre a velhice e o ser idoso tem sido um desafio para a educação,
no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e
transformadora de atitudes que ultrapassam os estereótipos acerca da velhice e do
idoso e, adotem hábitos de vida que possibilitem uma velhice ativa.
Acreditamos que ao longo das discussões das leituras, existirá a
possibilidade de construção de concepções e conceitos que poderá contribuir com a
instrumentalização de conhecimentos dos adolescentes, aprimorando lacunas do
saber sobre a velhice e o ser idoso. (GONÇALVES; ALVAREZ, 2006).
A enfermagem como profissão que visa oferecer ao ser humano uma
assistência completa que abrange as dimensões biológicas, mentais, sociais e
espirituais, deve também ter o interesse na prática educacional, no sentido de alertar
as escolas e aos professores sobre a importância de estar se atualizando sobre as
tendências populacionais que imperam na sociedade. No caso do Brasil, perante um
aumento da expectativa de vida da população, vale refletir que aquilo que os
adolescentes pensam sobre o envelhecer influencia o modo como estes se
relacionam não somente na esfera familiar, mas também no espaço público e social.
44
Dessa forma, uma escola voltada para propostas também gerontológicas,
que enfatizam as questões sobre e para o envelhecimento desenvolveria um modelo
participativo, sustentado não somente por informações, mas também por ações
visando à segurança da criança, do jovem, do adulto e do idoso.
45
Referencial Teórico-
Metodológico
“Todo ato de pesquisa é um ato político”
46
4 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
A opção pela TRS se deu a partir da compreensão de que existem diversas
formas de categorização social, cultural, biológica e psicológica sobre a velhice e o
idoso e que a formação deste conhecimento produz-se sob a influência,
principalmente dos conteúdos da esfera social e psicológica. Portanto, considera-se
o fenômeno da velhice e idoso de relevância social e necessário nas discussões em
todas as faixas etárias, em especial, os adolescentes, população bastante
influenciada pelo meio social e carregada de conotações elaboradas socialmente,
daí a importância que vejo em abordar os processos de formação da representação
social da velhice e idoso pelo adolescente.
4.1 Teoria das Representações Sociais
Entender como a velhice e o idoso são percebidos e representados pelos
adolescentes, oportuniza a compreensão de comportamentos e sentimentos para
com estes. Assim, estão em pauta crenças, explicações e definições a respeito de
tais objetos sociais, isto é, o conhecimento que os grupos sociais elaboram e
utilizam para compreender e lidar com estes, portanto, suas representações sociais.
Constatamos na literatura que os estudos com foco na velhice, no idoso e no
envelhecimento têm crescido de forma significativa nos últimos anos, na perspectiva,
do marco teórico das Representações Sociais. A TRS proposta por Serge Moscovici
e Denise Jodelet, é o referencial teórico-metodológico deste estudo.
Por representação social, Moscovici (1978, p. 28) entende “um corpus
organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas graças às quais os
homens tornam inteligível a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa
ligação cotidiana de trocas, e liberam os poderes de sua imaginação”.
Desse modo, as representações sociais são uma forma de conhecimento
elaborada por determinado grupo sobre um objeto social relevante. Portanto, essa
investigação permitiu a aproximação com a TRS, que tem sua origem na Psicologia
Social, e visa a observar a construção social dos fenômenos, analisando e
explicando as estratégias de representação que grupos sociais formulam sobre
objetos e o que influencia suas ações diante desses objetos.
47
As representações sociais podem ser consideradas uma versão
contemporânea do senso comum, onde o próprio Moscovici (2005) relata que, ao
iniciar seus estudos, procurou compreender e reabilitar o conhecimento comum,
considerando-o como algo moderno e não-primitivo, que se origina parcialmente da
ciência ou universo reificado e ganha lugar no universo consensual.
O universo de pensamento reificado é caracterizado pela objetividade e rigor
metodológico, onde a sociedade é vista como um sistema de diferentes papéis e
classes, cujos membros são desiguais; enquanto que o universo consensual são as
teorias do senso comum, encontram-se as práticas interativas do dia-a-dia, onde são
produzidas e circulam as representações sociais, no qual a sociedade é vista como
um grupo de pessoas iguais e livres, cada uma com possibilidade de falar em nome
do grupo. (MOSCOVICI, 2005).
Nesse propósito, afirmamos que a noção de representação social elaborada
por Moscovici (2005) possibilita compreender como os sujeitos apreendem os
acontecimentos da vida comum, os dados do meio ambiente, as informações que
circulam, bem como, apreender os pensamentos, sentimentos e experiências de
vida compartilhadas por meio de diferentes modalidades de comunicação
diretamente relacionadas ao contexto social no qual vivem os sujeitos.
Diante destas informações podemos inferir que a TRS investiga e explica a
relação recíproca entre sociedade e indivíduo e assume uma abordagem importante
de revelar comportamentos entre indivíduos de uma mesma cultural e facilitar a
comunicação entre os membros do grupo que as compartilha.
Sempre que expressamos uma representação estamos nos expressando,
pois evidenciamos aquilo que, para nós, constitui o elemento básico do que
queremos comunicar. Daí a indissociabilidade entre sujeito e objeto. Para Moscovici
(1978, p. 9) “não existe separação entre o universo externo e o universo interno do
indivíduo”.
Na teoria das Representações Sociais, é necessário determinar um objeto
que possua espessura social, isto é, que seja relevante para determinado grupo, que
também deve ser definido, pois, seguindo a fórmula proposta por Moscovici, “uma
representação é sempre uma representação de alguém, tanto quanto de alguma
coisa”. (MOSCOVICI, 1978, p.27).
A representação é um processo que sempre esteve presente na história do
homem e que, por consequência, o fez e o faz produzir conhecimentos e práticas
48
que facilitam a comunicação e a orientação de suas condutas no contexto
sociocultural, no qual se encontra inserido. (SANTANA e COUTINHO, 2005).
As representações sociais, enquanto formas de conhecimento, são
estruturas cognitivo-afetivas e, desta forma, não podem ser reduzidas apenas ao
seu conteúdo cognitivo. Precisam ser entendidas, assim, a partir do contexto que as
engendram e a partir de sua funcionalidade nas interações sociais do cotidiano. Tal
posicionamento implica na elucidação de dois aspectos que lhes são centrais: a
teoria de conhecimento que lhe é subjacente e os determinantes se sua elaboração.
(SPINK, 1995).
A representação social é uma modalidade de conhecimento particular que
tem por papel a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos,
em uma relação onde as interações humanas, seja entre dois indivíduos, ou entre
dois grupos, pressupõem as representações incluídas em suas características.
(MOSCOVICI, 1978; MOSCOVICI, 2005).
A representação social, então, pode ser entendida como um conceito e uma
percepção dos objetos de forma transformável com duas faces em sua estrutura,
uma, simbólica e outra, imagética, as quais fazem compreender em toda figura um
sentido e em todo sentido uma figura. (MOSCOVICI, 1978).
As Representações Sociais, de acordo com Jodelet (1989), são fenômenos
complexos, permanentemente ativados na vida social, constituindo-se de elementos
informativos, cognitivos, ideológicos e normativos e formam um elo entre o real, o
psicológico e o social, por isso são capazes de estabelecer atrelamentos entre a
vida abstrata do saber, das crenças e a vida concreta do sujeito em sua vida social.
Portanto o estudo das representações sociais propõe “tentar compreender
não somente o que as pessoas pensam de um objeto, cujo conteúdo possua valor
socialmente evidente e relevante, mas também como e por que o pensam daquela
forma”. (SOUZA, 2004, p.46).
Sendo as representações sociais formas de conhecimento prático, inserem-
se mais especificamente entre as correntes que estudam o conhecimento do senso
comum. Tal fato pressupõe uma ruptura com as vertentes clássicas das teorias do
conhecimento, anunciando importantes mudanças no posicionamento quanto ao
estatuto da objetividade e da busca da verdade.
As representações sociais, consoante Moscovici (2005), estão relacionadas
num conjunto de conceitos, de explicações e de afirmações que se originaram por
49
meio de comunicações sociais, podendo ser compreendidas como uma forma de
pensamento social, encontradas no imaginário individual das pessoas, tornam-se
sociais, pois apresentam semelhanças. Por seu poder convencional e prescritivo
acerca da realidade, terminam por constituir o pensamento em um verdadeiro
ambiente, onde se desenvolve a vida cotidiana das pessoas. Nessa visão o
conhecimento das partes, do particular e do efêmero, ainda não dá acesso imediato
às representações sociais, que por sua vez consolidam-se como fenômeno real. No
campo da interpretação, por certo não há unanimidade de ênfase, pois, sob uma
perspectiva, as representações exercem uma espécie de coerção sobre os
indivíduos para agir num sentido determinado, e, sob outra, as representações
assumem em seu conteúdo como uma apreensão peculiar dos fenômenos sociais.
Para Moscovici (2005) a novidade dessa teoria, contudo, não está no
reconhecimento da interação entre os indivíduos e meio, mas na interface dessa
relação, uma vez que a representação é uma construção do indivíduo, mas sua
origem é social, e mais, seu destino também é social. Assim a questão não era
estudar um ou outro aspecto da relação entre sujeito e meio social, nem tão pouco
constatar que, nessa relação, o indivíduo vai ampliando suas capacidades
cognitivas, motoras, dentre outras. Importa, também, entender o dinamismo dessa
relação, ou seja, como o social interfere na elaboração das representações sociais
dos indivíduos e como estas interferem na elaboração das representações sociais
do grupo a que pertencem.
Corroborando com este pensamento, Abric (2001) por sua vez afirma que o
estudo de representações sociais deve responder a três questões básicas: 1) Quem
sabe e de onde sabe? O que diz respeito ao conhecimento das condições de
produção e circulação das representações sociais 2) O quê e como se sabe?
Referência, pois, aos processos e estados das representações e, por último, 3)
Sobre o que se sabe e com que efeito? Esta questão está relacionada
particularmente ao estatuto epistemológico das representações sociais, as relações
que essas mantêm com o conhecimento científico e com a própria realidade que
lhes dá origem.
Entendemos ser necessário percebermos as representações sociais como
pensamento individual que se enraíza no social e como outro se modifica
mutuamente. Além disso, segundo Moscovici (2005), o propósito de todas as
representações é o de transformar algo não familiar, em familiar, não apenas
50
duplicando, repetindo ou reproduzindo, mas retocando, reconstituindo e modificando
a realidade. As representações sociais constituem-se a partir de maneiras de
pensar, sentir e fazer socialmente estabelecidas, destacando uma pluralidade de
ações e similitude de compreensões. Essas perspectivas, uma vez formadas e
fundadas, adquirem a capacidade de agregar indivíduos e ao mesmo tempo
tornando possível a vivência na sociedade.
As representações revelam processos mentais cognitivos, que permitem ao
sujeito e aos grupos sociais incorporarem o novo e transformarem o já conhecido.
Isto se origina a partir de dois processos: a ancoragem e a objetivação, sendo a
primeira caracterizada pela assimilação de um objeto novo através de objetos já
existentes no sistema cognitivo, um pensamento pré-existente; enquanto que o
segundo consiste em materializar um conceito, em tornar concreto o que é abstrato.
(SÁ, 2007).
Desta forma, ancorar é rotular, classificar; a ancoragem permite a
incorporação do que é desconhecido em uma rede de categorias usuais. Enquanto a
objetivação explica como os elementos representados de uma categoria se integram
enquanto realidade social, a ancoragem para exprimir e constituir as relações
sociais. (MOSCOVICI, 2003).
Assim sendo, Moscovici (2005) reafirma que a representação social não é
nem o coletivo, nem o inconsciente, mas a ação, o movimento de interação entre as
pessoas. As representações sociais constituem-se em uma forma de conhecimento
individual, que só ocorre na interação de reciprocidade com o “outro”. Enfim, as
representações sociais dizem respeito ao universo de opiniões construídas,
reelaboradas e redimensionadas pelos indivíduos, em relação a um determinado
objeto social, de acordo com a história de vida de cada um, no caso desta pesquisa
a história de vida dos adolescentes e as suas apreensões de sentidos sobre a
velhice e o idoso.
Estou convencida de que neste momento não vislumbro outro caminho que
não seja o das Representações Sociais, porque a teoria nos permite ir além do que
está visível, do palpável, caminhando por veredas pouco desveladas. O que está no
íntimo de cada ser, o que o impulsiona a viver, apesar de tantas dificuldades
encontradas. Isto sim é subjetivo e ao mesmo tempo social, portanto, objeto de
representação social.
51
Cabe assinalar que não é em todo objeto social que é susceptível a
produção de representações. Nem tudo deve ser visto como objeto de estudo das
Representações Sociais (RS) ou estudado com o referencial da teoria. Os temas
ditos candentes, como AIDS, a própria saúde/doença, a velhice, o corpo, entre
outros, são questões polêmicas para as quais os estudos à luz desta teoria podem
trazer grandes contribuições. O teor da RS vem dos fenômenos que tenham relação
com as práticas sociais. Somente vale a pena estudar uma representação social se
ela estiver espalhada dentro da cultura, na realidade em que o estudo é feito, isso é,
que ela seja social. (SÁ, 1988; JOVCHELOVITCH, 1995).
Sujeito e o objeto, portanto, não são forçosamente distintos. Quando
representam a velhice, os adolescentes emitem não só seu parecer sobre suas
impressões, mas comunicam também o pensamento veiculado pelas instituições
educacionais. Parto do pressuposto, então, que a representação da velhice e do
idoso influencia diretamente o adolescente na forma que ele não quer ser quando for
idoso.
A TRS aplica-se a este estudo uma vez que a velhice e o ser idoso são
passíveis de serem representadas pelos indivíduos que ainda vão vivenciar esta
fase. Constatei então, que a teoria das RS me permitiria compreender melhor o
objeto deste estudo, pois como ressalta Jodelet (2001) as representações intervêm
em processos variados, tais como o desenvolvimento individual e coletivo, a
definição das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as
transformações sociais.
Como já foi visto, foi para pensar os fenômenos com relevância social que a
teoria da Representação Social tomou vulto em diversas áreas, entre elas a
Enfermagem.
4.2 Trajetória Metodológica do Estudo
4.2.1 Tipo de Estudo
Aqui estão descritos os caminhos metodológicos seguidos. Realizou-se um
estudo exploratório-descritivo e a abordagem escolhida foi a qualitativa
considerando o objeto de estudo, os objetivos e as questões norteadoras na
perspectiva das Representações Sociais. Esta abordagem faz emergir aspectos
52
novos, tem a capacidade de ir ao fundo do significado e, além de estar na
perspectiva do sujeito, traz à tona o universo de significados, crenças, hábitos,
costumes, relacionamentos, enfim, enfoca um nível de realidade que não pode ser
quantificado.
Portanto, essa abordagem, de acordo com Ludke e André (2003), permite o
dinamismo interno das situações, possibilitando o conhecimento da forma como um
problema se manifesta nos procedimentos, nas atividades e nas interações
cotidianas.
Apresenta um método exploratório-descritivo, pois pretende descrever com
exatidão fatos e fenômenos de uma realidade, com a necessidade de se explorar
uma situação não pouco conhecida da qual se precisa de maiores informações. Ao
explorar uma realidade, podem-se identificar suas características, sua mudança ou
sua regularidade. (LEOPARDI et al., 2001).
Através do enfoque metodológico acima descrito, buscou-se uma análise
aprofundada das representações sociais da velhice e do idoso para os adolescentes
escolares, de forma a permitir a discussão das repercussões dessas representações
na vida do adolescente que convive com idosos diariamente, identificando qual seu
comportamento frente ao envelhecimento, o que irá refletir futuramente na forma que
o adolescente enfrentará seu próprio envelhecimento.
4.2.2 Os cenários da pesquisa e os seus sujeitos
Para atender ao objetivo de conhecer os conteúdos que integram as
representações sociais da velhice e do idoso para os adolescentes escolares foram
selecionadas duas escolas situada na cidade de Fortaleza-CE, sendo uma escola
pública e uma escola privada, quais sejam Escola de Ensino Médio Governador
Adauto Bezerra (pública) e Colégio Juvenal de Carvalho (privada). Estas escolas
congregam alunos de diferentes bairros da capital e com diferentes condições
socioeconômicas e culturais, o que permitiu maior diversidade nas informações,
observando ao rigor metodológico.
Escolhi trabalhar com estes dois grupos, um em escola pública e outro em
escola privada, porque a intenção era saber, também, se existiam diferenças ou
semelhanças nas representações dos dois agrupamentos. Pretendi detectar a
53
diversidade ou convergência na representação da velhice e do idoso para estes
adolescentes que vivenciam duas realidades sociais.
O que confirma Moscovici (2005), na teoria das representações sociais, a
diversidade dos indivíduos e as respectivas atitudes são ponto de partida, tendo
como objetivo descobrir como os sujeitos e grupos podem construir um mundo
estável e previsível a partir de tal diversidade.
A Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra foi fundada em 1948,
faz parte da esfera administrativa estadual, possui um quadro docente com 100% de
professores especialistas e com uma estrutura física que conta com 23 salas de aula
que apresentam boas condições de infra-estrutura; uma biblioteca, uma sala de
multimídia, laboratórios de informática, de ciências e de aula de campo.
Está disponível para os alunos equipamentos e material didático como
aparelhos de TV e DVD, Datashow, computadores, livros didáticos, apostilas, acervo
de DVD e CDs educativos e mapas. Funciona nos turnos da manhã, tarde e noite,
tendo nos turnos da manhã e da tarde 22 salas de aula ocupadas com uma média
de 45 alunos cada e à noite existem 6 turmas com alunos, em média, um universo
de 2250 alunos matriculados. Os alunos apresentam uma idade média de 14 anos,
são predominantes alunos do sexo feminino e da classe social considerada baixa
renda.
O projeto pedagógico da escola é elaborado com a participação da
comunidade escolar, a integração escola-comunidade é feita através de reuniões, da
divulgação de projetos e parcerias; os recursos financeiros são administrados pelo
coordenador financeiro e o diretor com a participação do Conselho Escolar.
Quanto ao Colégio Juvenal de Carvalho foi criado em 1937, possui duas
sedes na capital cearense, abrange os públicos: infantil, ensino fundamental, ensino
médio e pré-universitário. Dedica-se a intensificar o espírito de Família, com o
objetivo de levar o jovem a descobrir-se como pessoa, orientando-o para assumir
valores humanos e cristãos, qualificando-o para uma total integração social e
comunitária, no meio onde vive, através do trabalho e de uma consciência crítica e
histórica.
No Ensino Médio, o colégio apresenta turmas funcionando pela manhã,
tarde e noite. No período diurno conta com cerca de dez turmas, perfazendo um total
médio de 400 alunos. No noturno existe a peculiaridade de ser voltado para alunos
54
com déficits financeiros, sendo, portanto, oferecida aulas gratuitas para quase 100
alunos no pré-vestibular.
Neste ambiente os alunos têm a oportunidade de participar de atividades
que favorecem seu crescimento em todas as áreas como: Olimpíadas internas de
Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa; Concurso de
Poesia; Feira das Profissões; Aulas de Campo; Informática Educativa; Dias de
Formação, ESIC (Encontro Salesiano de Interação e Cultura); Laboratórios de
Ciências, de Física e Química; Teatro, Piano, Teclado, Coral, Escolinhas Esportivas,
Ginástica Aeróbica, Ballet e muitas outras, seguindo o planejamento escolar do ano
letivo. Além disso, o Departamento de Educação Física e Esporte (D.E.F.E.)
oferecem atividades físicas e culturais através das escolinhas. Voleibol, futsal,
basquetebol, ginástica aeróbica, Karatê e Judô são as modalidades esportivas
disponíveis. O Colégio também se preocupa em estimular atividades culturais e
artísticas, oferecendo aulas de teatro, música, coral e balé.
A opção pelas duas escolas se deu porque se quis comparar as
representações dos adolescentes sobre os idosos e a velhice, estabelecendo as
significações que se encontram no tecido social em relação ao objeto de estudo e
procurou-se entender o que tais significações/representações carregam, no sentido
de sujeito, identidade, projeto e processos. Tal ideia possibilitou conhecer as
metáforas, como foi feita a ancoragem e objetivação, o que é centro e o que é
periférico dos campos representacionais em diferentes grupos sociais.
Para a realização do estudo foram selecionados 60 adolescentes estudantes
– 30 de escola pública e 30 de escola privada – escolhidos aleatoriamente.
Procurou-se agregar um quantitativo de sujeitos que fosse representativo diante do
número de estudantes das escolas. O número de estudantes da escola privada foi
equiparado ao número daqueles que estudavam em escola pública a fim de facilitar
a comparação das representações sociais entre as duas classes.
A entrevista foi eleita como a técnica essencial de coleta de dados. A
escolha se justifica porque a referida técnica permite, não só a obtenção de falas,
mas, principalmente, possibilita aprofundar um diálogo, interpretando os discursos
revelados.
Fizeram parte da pesquisa os sujeitos que atenderam aos seguintes critérios
de inclusão:
55
- Ser adolescente, ter idade entre 10 a 19 anos, em referência a
adolescência definida pela OMS (2006); - ambos os sexos; - aceitaram participar do
estudo; - que estivesse presente na escola no momento da pesquisa e que estivesse
regularmente matriculado no ensino médio da escola no período diurno.
Os sujeitos que não atenderam a esses critérios foram excluídos da
pesquisa.
Foram entrevistados estudantes do turno diurno, período manhã e tarde,
sendo as entrevistas realizadas nas dependências das próprias escolas.
4.2.3 Operacionalização de produção de dados
Foi utilizada a técnica de entrevista individual. Inicialmente aplicou-se um
roteiro (APÊNDICE A) para a caracterização dos sujeitos com a obtenção dos dados
sócio-demográficos a fim de se captarem as condições de produção das RS dos
alunos. A entrevista permite, através das falas dos sujeitos, a produção de dados
que revelam normas, valores, símbolos e condições estruturais.
Também como instrumento de coleta de dados realizou-se na fase
exploratória da pesquisa para formação do corpus a ser analisado, entrevista em
profundidade, com roteiro semi-estruturado (APÊNDICE B) de estímulo à exposição
de conteúdos, imagens, mitos, crenças, características tipificadoras dos fenômenos
envelhecimento e idoso, os afetos e a dimensão das práticas, ações frente ao
fenômeno.
Este instrumento foi constituído de uma combinação de perguntas abertas e
fechadas sobre o tema com o objetivo de identificar as representações sociais dos
alunos em diferentes momentos e os temas mais importante sem deixar que o
entrevistado se desviasse do foco da pesquisa.
Segundo Abric (2001) a entrevista em profundidade se constitui como
importante método aos estudos de representações sociais, sendo caracterizada
como uma situação de interação finalizada. Esta técnica continua sendo utilizada
como uma importante ferramenta para o acesso do conteúdo das representações,
porém observa-se que, para um maior controle e ordenação das informações
coletadas, existe a necessidade de associar esta a outras técnicas de coletas de
dados.
56
As entrevistas semi-estruturadas permitem que as pessoas respondam as
questões mais no seu próprio modo do que as entrevistas padronizadas, mas ainda
forneçam uma estrutura maior de comparatibilidade. (MAY, 2004).
Vale referir que o roteiro foi formulado à luz das questões e objetivos que
norteiam o estudo; no entanto, sempre que necessário, foram acrescidas outras
perguntas com o intuito de aprofundar as explicações do sujeito, de forma a melhor
explorar o objeto de estudo.
Desta forma, foi realizado um teste-piloto com discentes das escolas
escolhidas, sendo eles, depois, excluídos da fase formal de coleta de dados. Os
dados gerados não fizeram parte do corpus de análise formal da pesquisa, porém
serviram para mostrar a necessidade de modificação da ordem das questões do
roteiro ou a sua reformulação, além de indicar possíveis resultados.
Os objetivos do estudo foram divulgados pela pesquisadora nas salas de
aula, após a liberação do coordenado do ensino médio de cada escola. Na escola
pública o acesso foi mais fácil, enquanto na escola particular tiveram várias
condições para a inserção da pesquisadora no campo, como condições pré-
estabelecidas de horários, além de só poder fazer a pesquisa na companhia do
coordenador.
Após a explicação da pesquisa, os alunos interessados recebiam o termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE) do adolescente (APÊNDICE C) e do
responsável (APÊNDICE D) para suas residências e aqueles pais ou responsáveis
que aceitavam a realização da pesquisa assinavam a liberação de seus filhos.
Somente depois deste processo é que a entrevista foi realizada com o adolescente
menor de idade. Para os adolescentes maiores de idade só era assinado o TCLE do
adolescente.
Isto fez com que a coleta de dados ficasse demorada, pois muitos
adolescentes não devolviam o TCLE, perdiam ou os pais não aceitavam a pesquisa.
Os registros das falas foram realizados com o uso de gravador digital,
mediante consentimento dos sujeitos. A transcrição das entrevistas foi realizada pela
própria entrevistadora principal. As entrevistas ocorreram nos meses de maio e
junho de 2012, com duração média de 20 minutos.
57
4.2.4 Análise e interpretação dos dados
A análise do material discursivo produzido pelas entrevistas foi efetuada
através de um tipo particular de análise de conteúdo, a análise lexical. Esta análise é
desenvolvida através da técnica de análise hierárquica descendente, efetuada pelo
software Alceste (Analyse lexicale par contexto dún ensemble de segments de texte)
versão 2010, que é um programa que permite realizar a análise de dados textuais ou
as análises de estatística e matemática verificando a principal informação presente
no texto. Utiliza-se da coleta de dados em linguagem escrita ou verbal e
posteriormente transcrita para processamento lexicográfico. (CAMARGO, 2005).
Ainda de acordo com Camargo (2005), o Alceste é um instrumento confiável
que permite medir e avaliar objetos com base nas opiniões de participantes dessa
avaliação. A análise de um conjunto de segmento de texto está baseada na
identificação das palavras (o léxico) mais significativas. Isso permite a análise de
grandes volumes de dados textuais de forma automática.
Este programa foi desenvolvido na França por Max Reinert, em 1979, e
introduzido no Brasil, por Veloz, Nascimento-Schulze e Camargo em 1999. Sua
aplicabilidade tem permitido o desenvolvimento de diversas pesquisas no Brasil e na
Europa. (OLIVEIRA; GOMES; MARQUES, 2005). Neste estudo, o programa foi
utilizado para analisar as 60 entrevistas.
Este tipo de análise permite uma aglutinação de contextos que favorecem a
determinação de um campo comum de representações compartilhadas entre os
participantes, organizando e formatando o pensamento social, o pensamento
coletivo.
Segundo Camargo (2005) o programa informático Alceste toma como base
um único arquivo (txt) ou Unidades de Contextos Iniciais (UCI), que são definidas
pelo pesquisador e pela natureza da pesquisa. Um conjunto de UCI’s, nesta
pesquisa 60 UCI’s, constitui um corpus de análise e ele opera em quatro etapas de
análise (A, B, C, D), sendo que cada uma delas contém três operações.
Na primeira etapa (A), ocorre uma leitura do texto e o cálculo dos
dicionários, ou seja, o programa prepara o corpus, reconhece as UCI’s, faz uma
segmentação do texto, agrupa as palavras em função das suas raízes e faz o
58
cálculo das frequências das formas reduzidas. (OLIVEIRA; GOMES; MARQUES,
2005).
Segundo os mesmos autores, logo após este primeiro conjunto de
operações, inicia-se a segunda fase (B) que é o cálculo das matrizes de dados e
classificação das UCE (Unidades de Contextos Elementares) em função dos seus
respectivos vocabulários. O conjunto de UCE é partido em função da frequência das
formas reduzidas, a partir daí aplica-se o método de classificação hierárquica
descendente (CHD).
A etapa C revela os resultados mais importantes: as descrições das classes
de UCE’s escolhidas. O programa irá apresentar o dendograma da classificação
hierárquica descendente (CHD), o qual mostra as relações existentes entre as
classes. O Alceste indica resultados que nos permitem descrever cada uma das
classes pelo vocabulário característico (léxico) e pelas variáveis.
A última fase (D) trata-se de um prolongamento da fase anterior, na qual o
programa calcula e fornece as UCE’s característica de cada classe.
O corpus representa o produto final de todo material que se deseja analisar
através do software Alceste. Isso significa que uma boa análise Alceste depende de
um adequado preparo do seu corpus.
As entrevistas foram transcritas fidedignamente, em seguida, submetidas a
uma leitura cuidadosa que possibilitou correções na transcrição e eliminou qualquer
informação confusa ou incompleta e vícios de linguagem, os quais prejudicam a
análise. Em seguida, foram padronizados alguns termos considerados importantes
para o objeto de estudo e que deveriam ter grafia única ao longo de todo o texto, de
forma que o programa pudesse lê-los como palavras iguais.
Isto porque o ALCESTE realiza uma Análise Hierárquica Descendente a
partir do corpus inicial formado pelo conjunto das respostas. A análise hierárquica
descendente divide as palavras plenas em segmentos de texto cognominadas de
Unidade de Contexto Elementar (UCE). Esses contextos textuais são evidenciados
não só pelo seu vocabulário como, também, pelos segmentos de texto que
compartilham esse vocabulário. (NASCIMENTO; MENANDRO, 2006).
Logo depois, procedeu-se à formatação das entrevistas de acordo com as
regras definidas pelo software como, substituição de hífen por traço subscrito e
retirados excessos de espaçamentos ou de parágrafos, digitação no programa
Word, com espaço simples, fonte Courier, tamanho 10, dentre outros.
59
As entrevistas foram separadas umas das outras pela inserção de uma linha
de comando ou “linha com asterisco”, onde foram digitadas algumas variáveis de
interesse de forma codificada, separadas entre si por asteriscos. Estas variáveis
foram retiradas do questionário de caracterização dos sujeitos, tendo sido
selecionadas as seguintes: sexo, idade, escolaridade, religião, colégio em que
estuda, renda mensal familiar, com quantas pessoas vivem e se mora com idoso.
Segue abaixo o Quadro 1 com as variáveis, a codificação e a classificação de cada
variável.
Variáveis Códigos Classificações
Sujeito suj 01 a 60.
Idade id 10 aos 19 anos
Sexo sex fem - feminino mas - masculino
Escolaridade esc med1 - 1º ano ensino médio med2 - 2º ano ensino médio med3 - 3º ano ensino médio
Religião rel cat - católica ev - evangélica es - espírita na - não tem
Colégio col ab - Adauto Bezerra jv - Juvenal de Carvalho.
Renda Familiar ren (nº)s – número de salários mínimos ns – não sabe
Vive com quantas pessoas em casa
vi (nº)p – número de pessoas
Mora com idoso ic si - sim na - não
Quadro 1: Variáveis utilizadas na linha de comando, seus códigos e classificações.
Ao término da construção do corpus com as 60 entrevistas realizadas,
obteve-se um total de 51 páginas, que constavam de 42.082 caracteres. De acordo
com Oliveira, Gomes e Marques (2005), há duas condições para que se obtenha um
bom resultado na análise Alceste, quais sejam: o corpus deve ser volumoso, para
permitir que o elemento estatístico seja considerado e deve haver coerência
temática ou dinâmica em seu conjunto, ou seja, é necessário que trate do objeto que
interessa ao pesquisador. Tais condições foram contempladas neste estudo.
Segundo Camargo (2005) numa análise padrão, após o programa
reconhecer as indicações das UCIs, divide o material em unidades de contexto
60
elementar (UCEs), unidades com menor fragmento de sentido. Elas são segmentos
do texto, de três a seis linhas, dimensionadas pelo programa informático em função
do tamanho do corpus e, em geral, respeitando a pontuação.
Nesta pesquisa, o banco de dados foi composto por 60 UCI, a partir das
entrevistas gravadas e transcritas. Foram encontradas 3258 formas distintas ou
palavras diferentes. Foram selecionadas 956 UCEs, das quais 735 foram
classificadas em seis classes. Cada classe é composta por agrupamentos de várias
UCEs de vocabulário homogêneo. Posteriormente, o programa reduziu os vocábulos
às suas raízes, originando 585 palavras analisáveis e 204 palavras suplementares
(artigos, pronomes, dentre outros).
Figura 1: Representação Gráfica do número de UCE e de palavras analisáveis por classe.
Na Figura 1, é possível verificar a distribuição das 735 UCEs e das
palavras analisáveis nas seis classes. A classe 3 apresentou maior número de UCEs
(165) e a classe que obteve o maior número de palavras analisáveis (99) foi a 2.
61
Figura 2: Comparação entre as duas Classificações Descentes
Hierárquicas (CDH) realizadas com o corpus de entrevistas.
A estabilidade da divisão das classes realizada pelo Alceste é verificada
através da realização de duas Classificações Descendentes Hierárquicas (CDH),
diferenciadas pelo tamanho das UCE. Essas duas CDH são comparadas pelo
programa e a estabilidade é indicada pela semelhança nas divisões binárias das
duas classificações. Conforme se observa na Figura 2, o corpus analisado possui
estabilidade, visto as divisões binárias apresentarem semelhança nas duas CDH. A
análise dos dados será realizada na ordem que em essas classes foram repartidas
pelo programa e não em ordem numérica.
A seguir, apresenta-se a organização das classes geradas pelo programa
com os léxicos mais característicos de cada uma, conforme o dendograma (Figura
3).
As palavras com asterisco, no final da Figura 3, indicam que os indivíduos
que compartilham a modalidade das variáveis que elas representam foram os
principais responsáveis pela produção das UCEs de cada classe em foco.
Por meio da observação do dendograma pode-se perceber que, a partir
da análise, o software ALCESTE dividiu o material discursivo em dois grandes
grupos (1ª partição), de um lado o subcorpus que posteriormente originou as classes
1, 3 e 5 e de outro lado o subgrupo que deu origem as classes 2, 4 e 6. Em um
62
segundo momento, o primeiro subgrupo foi dividido em dois (2ª repartição), obtendo-
se a classe 5 (13%) e um novo subgrupo. Da mesma forma aconteceu com o
segundo subgrupo, no qual se obteve a classe 2 (14%) e um novo subgrupo.
Figura 3: Dendograma: Organização das Classes a partir da análise lexical das entrevistas
pelo Programa ALCESTE.
Por fim, o primeiro subgrupo sofre uma nova divisão (3ª repartição),
resultando nas classes 1 (17% do corpus) e 3 (22% do corpus) e o segundo
subgrupo formou ainda as classes 4 (13%) e 6 (21%). A CHD parou aqui, pois as 6
classes mostraram-se estáveis, ou seja, compostas de UCEs com vocabulário
semelhante.
Dessa forma, as classes 1 e 3 e as classes 4 e 6 são as mais comuns
entre si, por serem as últimas a se dividirem. As classes 1 e 3 possuem significados
comuns que as diferenciam das classes 4 e 6, uma vez que são originadas de dois
grandes grupos oriundos da segunda segmentação das UCEs. Concomitante a isso,
63
apesar de haver uma aproximação entre os significados das duas classes, elas
possuem sentidos e ideias distintas entre si que servem para justificar a divisão feita
pelo programa, uma vez que se dividiram em etapas subsequentes da classificação
hierárquica.
Acatadas as exigências do programa, o corpus foi processado no
software, gerando um aproveitamento de 77% como pode ser verificado na Figura 4.
Quando 75% ou mais das UCEs foram classificadas, tem-se um bom desempenho
da CHD (CAMARGO, 2005).
Figura 4: Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente.
Ainda na Figura 4 pode ser visualizado o conteúdo das classes
elaboradas a partir do corpus. Trata-se de uma representação gráfica de cada uma
64
das classes identificadas na análise standard, com suas principais formas reduzidas,
além das respectivas frequências e valores de qui-quadrado (khi2).
Na parte superior do dendograma, apresenta-se um esquema gráfico que
indica como cada classe foi dividida binariamente e como cada classe se associa
nessas divisões. Também é importante pontuar que na parte inferior do dendograma
(Figura 4) aparecem os códigos das variáveis que estão associadas a cada classe,
com seus valores de qui-quadrado, indicando seus graus de associação.
A Figura 4 apresenta o gráfico de especificidade das classes: quanto mais
elevada a posição de uma classe no gráfico, maior sua especificidade. As palavras
analisáveis apresentadas no dendograma, que divide o corpus em classes (radicais
e fragmentos relacionados), podem ser consideradas os elementos mais importantes
para descrever cada classe, pois apresentam maior qui-quadrado.
O khi2 calcula a frequência de aparição da palavra. Quanto maior o khi2,
mais relevante é a palavra para a construção da classe. O programa considerou as
palavras com khi2 igual ou superior a sete como palavras mais representativas.
Vale ressaltar que a classe 3 é a que congrega o maior número de UCE,
com 22%, sendo, portanto, a mais significativa, levando-se em conta esta referência.
A classe 2 é a que congrega as palavras com maior khi2, mostrando, com isso, ser a
classe com maior coerência interna, com grande significância.
Assim, à luz das classes formadas pelo Programa Alceste, com base no
conteúdo discursivo e nos léxicos mais frequentes e mais característicos extraídos
das UCEs de cada classe, procedeu-se às interpretações que geraram as
denominações descritas no Quadro 2.
Classes Nominações
Classe 1 Experiência dos adolescentes com idosos
Classe 2 Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso
Classe 3 A perspectiva do adolescente como futuro idoso
Classe 4 Concepções de adolescentes sobre velhice
Classe 5 Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso
Classe 6 A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes.
Quadro 2: Classes produzidas pelo ALCESTE e suas respectivas nominações.
A partir deste mapeamento temático, os dados serão descritos e
discutidos, tendo como base de análise a TRS e outros autores de relevância para a
temática. Com isso pretende-se atender ao objetivo de dissertar as representações
sociais da velhice sob à ótica dos adolescentes escolares, conforme poderá ser
observado nos resultados deste trabalho.
65
4.2.5 Aspectos Éticos
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Estadual do Ceará (CEP-UECE) para avaliação e obtenção de parecer, sendo
aprovado sob o nº 11223077-6. Atendeu aos princípios da bioética, a saber,
autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Foi garantida a autonomia dos
sujeitos através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido -TCLE (APÊNDICE
C).
Destaca-se que o estudo foi desenvolvido à luz dos dispositivos
apresentados como normas e diretrizes de desenvolvimento de pesquisa na
Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS),
com base nos princípios da inalienabilidade, da imprescritibilidade, da solidariedade
e da irrenunciabilidade dos direitos humanos. (BRASIL, 1996b).
Os responsáveis pelas instituições foram comunicados sobre o interesse em
realizar a busca de dados em suas respectivas escolas e após a liberação do local
foram convidados a assinarem o termo de solicitação de autorização da instituição,
como mostra o Apêndice F.
Elaborou-se um TCLE em uma linguagem acessível e foi entregue
individualmente aos sujeitos antes da entrevista. No termo continha os objetivos do
estudo, os procedimentos de produção e de análise de dados da pesquisa. Neste
instrumento explicitou-se, ainda, a liberdade do sujeito em se recusar a participar ou
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum ônus e/ou
prejuízo à sua pessoa. Foi explicado, também, quanto à garantia do sigilo que
assegura a privacidade quanto aos dados confidenciados envolvidos no estudo.
Elaboraram-se duas cópias desse documento, sendo uma entregue ao aluno e a
outra ficando de posse da pesquisadora, ambas assinadas pelos dois.
Os pais daqueles alunos ainda menor de idade também receberam um
TCLE (APÊNDICE D) e um termo de solicitação de autorização dos pais
(APÊNDICE E) com as devidas informações sobre a pesquisa, e seus filhos só
participaram da amostra com o consentimento deles.
A entrevista só foi realizada após a entrega do TCLE assinado pelos pais e a
assinatura do TCLE pelos estudantes adolescentes.
66
Resultados e Discussões
5 Resultados e Discussões
67
Apontando a Representação Social Construída
Neste capítulo serão apresentados os resultados alcançados nas análises
realizadas. Primeiramente, serão apresentados os dados relativos à caracterização
dos sujeitos das escolas particular e pública, obtidos a partir do questionário de
dados sociodemográficos. Posteriormente, será realizada a descrição geral das seis
classes geradas pelo programa Alceste.
5.1 Caracterização dos sujeitos estudados
Conhecer os sujeitos e como eles se inserem em um determinado
contexto e nos grupos sociais é de extrema importância para os estudos das
representações sociais.
Foram analisados 60 adolescentes escolares, sendo 30 estudantes de
escola particular e 30 de escola pública. A divisão equitativa de estudantes de
acordo com o local de estudo foi intencional e teve o objetivo de permitir
comparações entre os dois grupos.
Os dados sociodemográficos dos estudantes foram submetidos a
tratamento estatísticos por frequência simples e percentual, e organizados em
tabelas que proporcionam melhor visualização e entendimento.
Tabela 2–Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o sexo. Fortaleza,
2012.
Sexo
Estudante de Escola Particular
f %
Estudante de Escola Pública
f %
Total
f %
Feminino 22 73,3 15 50 37 61,7
Masculino 8 26,7 15 50 23 38,3
Total 30 100 30 100 60 100
Como foi visualizado na Tabela 2, encontra-se a prevalência de indivíduos
do sexo feminino 61,7%, enquanto 38,3% são do sexo masculino. Na categoria
estudantes de escola particular, 73,3% dos participantes são do sexo feminino e
26,7% do sexo masculino. Já na categoria estudante de escola pública a divisão
entre os sexos foi equivalente, 50% sexo feminino e 50% sexo masculino.
Estes números evidenciam que as mulheres se mostraram mais dispostas
em participar da pesquisa e estão mais interessadas sobre a temática idoso,
68
principalmente as estudantes de escola particular, pois os garotos demonstraram um
perfil inibido e se negaram bastante em participar da entrevista.
Partindo para a análise da variável idade, considerando o que estabelece
a OMS (adolescente pertence a faixa etária de 10 aos 19 anos) e que nossa amostra
foi de alunos do ensino médio, a faixa etária mais incidente foi de 14 anos aos 19
anos.
Tabela 3- Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a idade. Fortaleza, 2012.
Faixa
Etária
Estudante de Escola Particular
f %
Estudante de Escola Pública
f %
Total
f %
14 -16 anos 21 70 9 30 30 50
17- 19 anos 9 30 21 70 30 50
Total 30 100 30 100 60 100
Na Tabela 3 está representada a distribuição dos estudantes por idade.
Foi observado que os estudantes da escola particular que participaram da pesquisa
eram mais novos, sendo 70% na faixa etária de 14, 15 e 16 anos, em contrapartida,
os estudantes de escola pública ficou sua maioria 70% na idade de 17, 18 e 19
anos.
Seguindo na investigação, analisaremos os dados referentes ao ano
cursado pelos alunos. Predominaram os alunos do 2º ano do ensino médio com
48,3%, sendo tais dados mais evidentes entre os alunos de escola particular, 60%,
como ilustra a Tabela 4 a seguir.
Tabela 4- Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o ano cursado do Ensino Médio. Fortaleza, 2012.
Ano
(Ensino Médio)
Estudante de Escola Particular
f %
Estudante de Escola Pública
f %
Total
f %
1º ano
2º ano
3º ano
7 23,3
18 60
5 16,7
11 36,7
11 36,7
8 26,6
18 30
29 48,3
13 21,7
Total 30 100 30 100 60 100
69
Os alunos do 3º ano estiveram em menor número, principalmente na
escola particular (16,7%) e isto se deve ao fato de estarem em um momento de
preparação para o vestibular, o que requer maior dedicação aos estudos, onde todo
o tempo investido aos estudos se torna indispensável.
Outro fato observado foi que os alunos do 1º ano tiveram pouca
representatividade porque faziam parte da faixa etária de menor idade e os pais não
autorizaram seus filhos para participarem da pesquisa.
Analisando a variável religião tivemos a revelação de 60% sendo católica,
especialmente os estudantes da escola particular, que é de tradições católicas,
sendo este fato um condicionador dos dados demonstrados na Tabela 5.
Tabela 5 – Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a religião. Fortaleza, 2012.
Religião
Estudante de Escola Particular
f %
Estudante de Escola Pública
f %
Total
f %
Católica
Evangélica
Espírita
Não possui
22 73,3
3 10
2 6,7
3 10
14 46.7
9 30
5 16,6
2 6,7
36 60
12 20
7 11,7
5 8,3
Total 30 100 30 100 60 100
Houve representações de mais duas religiões e de adolescentes que se
denominaram sem religião, mas elas todas juntas não alcançaram 50%, entregando
o destaque para a religião católica.
A variável renda familiar mensal obteve uma ampla variação de um
salário mínimo a 15 salários mínimos. Entre os estudantes de escola pública a
quantidade de salários recebidos chegou apenas a seis, enquanto que na escola
particular teve alunos que afirmaram que a família tinha uma renda de 15 salários
mínimos.
A Tabela 6 mostra que no geral os estudantes apresentam uma renda de
um a três salários mínimos, 33 (55%), principalmente aqueles da escola pública. Isto
já era esperado, pois o colégio estadual agrega, em sua maioria, pessoas com
condições financeiras menos favoráveis.
70
Tabela 6 - Distribuição dos estudantes pesquisados por valor de renda familiar mensal. Fortaleza, 2012.
Renda
Familiar
Estudante de Escola Particular f %
Estudante de Escola Pública
f %
Total
f %
1-3 sm*
4-6 sm
7-9 sm
10-12 sm
13-15 sm
Não sabe
7 23,3
10 33,3
3 10
1 3,4
2 6,7
7 23,3
26 86,6
2 6,7
- -
- -
- -
2 6,7
33 55
12 20
3 5
1 1,7
2 3,3
9 15
Total 30 100 30 100 60 100
*sm:salário mínimo (R$ 622,00)
Importante frisar que sete (23,3%) sujeitos da escola particular revelaram
não saber qual a renda da família, enquanto apenas dois (5,7%) alunos da escola
pública deram a mesma resposta. Isto sugere que os primeiros vivem em uma boa
situação financeira, não tendo necessidade de preocuparem-se com quanto ganham
ou com quanto podem gastar, ao contrário das famílias de alunos de escola pública
que vivem mais regradamente, controlando as contas mensais.
Outra variável levantada foi número de pessoas com que reside. Os
dados estão demonstrados na Tabela 7, a qual indica que a variação foi de uma
pessoa a sete pessoas morando juntas.
Tabela 7- Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com número de pessoas com que reside. Fortaleza, 2012.
Nº de Pessoas
Estudante de Escola Particular f %
Estudante de Escola Pública
f %
Total
f %
1-2
3-4
5-6
7
15 50
13 43,3
2 6,7
- -
6 20
17 56,6
5 16,7
2 6,7
21 35
30 50
7 11,7
2 3,3
Total 30 100 30 100 60 100
As porcentagens expostas na tabela referem que a metade das famílias
se constitui apresentando de três a quatro componentes (50%). As famílias mais
numerosas pertencem aos estudantes de escola pública que são as mesmas que
71
possuem as menores rendas. Nestas instituições possuem a característica de
reunirem várias gerações ou as mulheres tem mais filhos.
No que concerne ao item: tem idoso em casa, os números foram
equilibrados entre as duas categorias estudantes de escola particular e estudantes
de escola pública.
Tabela 8 – Distribuição dos sujeitos estudados e a situação de ter ou não idoso em
casa. Fortaleza, 2012.
Idoso em casa
Estudante de Escola Particular f %
Estudante de Escola Pública
f %
Total
f %
SIM
NÃO
8 26,7
22 73,3
10 33,3
20 66,7
18 30
42 70
Total 30 100 30 100 60 100
Assim, a Tabela 8 salienta que 70% dos estudantes não moram com
idosos em casa, então isto nos faz deduzir que a grande maioria dos adolescentes
está pouco aproveitando da convivência, das relações e trocas entre as gerações.
5.2 As representações construídas pelos adolescentes
Diante da divisão do corpus em classes lexicais realizada pelo ALCESTE,
organizou-se os próximos tópicos para discussão na ordem de criação pela partição
realizada pelo dito programa.
Na análise dos dados procurou-se reconstituir os sentidos das classes de
palavras, retornando ao contexto do qual elas foram retiradas e identificando
fenômenos de objetivação além dos elementos que constituem a base ou
ancoragem dos objetos investigados.
5.2.1 CLASSE 5 – Escola: espaço de educação sobre a velhice e idoso
A classe que será discutida apresenta associação estatística com o
sujeito 52 (khi2=5), que não vive com idoso em casa (khi2=3), que mora com sete
pessoas (khi2=3) e com o sujeito 42 (khi2=3).
A referida classe abarca um total de 97 do total de 735 UCEs,
representando assim 13% do corpus de análise.
72
QUADRO 3: Distribuição das formas reduzidas da classe 5, com maiores valores de khi2, seus contextos semânticos e sua frequência. Fortaleza, 2012.
Na classificação hierárquica ascendente, foram consideradas 27 palavras
representativas e as principais formas reduzidas, com seus respectivos contextos
semânticos, valores de khi2 e frequência são apresentadas no Quadro 3
Assim, conforme pode ser constatado no Quadro 3, as formas reduzidas
que apresentam maiores valores de khi2 são: escola, fal, professor, aula, lembr,
assunto, import, envelhecimen, coment, sal, aprend, biolog, gente, exemplo, coleg,
convers. Todas estas formas reduzidas apresentam um contexto semântico único.
Pela leitura atenta dos contextos semânticos desta classe logo se
compreende o conteúdo geral expresso por ela. A partir do Quadro 3, verifica-se que
os contextos semânticos da classe 5 abrange conteúdos voltados para o âmbito
escolar deste estudantes, bem como sobre o debate do tema envelhecimento no
colégio.
Portanto, os conteúdos expressos nesta classe dissertam sobre a escola
como importante espaço de interação social, de aprendizado, de reprodução, mas
também de transformação.
A delimitação dos conteúdos da classe 5 pode ser identificada de maneira
detalhada a partir da CAH, na qual foram consideradas 20 formas reduzidas, que
Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência
escola Escola 299 50
fal Fala 204 124
professor Professor 128 28
aula Aula 127 25
lembr Lembro 91 22
assunto Assunto 81 19
import Importante 69 21
envelhecimen Envelhecimento 61 17
coment Comenta 59 13
sal Sala 59 11
aprend Aprende 53 13
biolog Biologia 46 8
gente Gente 30 52
convers Conversa 31 26
coleg Colegas 29 21
exemplo Exemplo 26 22
73
resultaram da seleção das formas reduzidas que dão sentido aos conteúdos da
classe, conforme apresentado na Figura 5. A partir das associações existentes entre
as formas reduzidas na CAH, é possível compreender os conteúdos que são
discutidos nesta classe.
FIGURA 5: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 5 – Fortaleza, 2012.
Na Figura 5 é possível visualizar uma representação gráfica da
delimitação dos conteúdos da classe 5 a partir da CAH. As formas reduzidas escola,
fal, gente e os encontram-se associados entre si e ao grupo constituído pelas formas
reduzidas aprend, import, sab, lembr, coleg, envelhecimen, biolog. Todos esses
agrupamentos são provenientes de uma divisão binária anterior. Neste sentido a
agregação destes grupos forma um conteúdo denso de informação que diz respeito
à escola como ambiente central de discussão sobre o envelhecimento humano.
Nota-se ainda uma segunda divisão binária, composta pelo agrupamento
constituído pelas formas reduzidas exemplo, histor, convers e amigos que se
encontram associados entre si e ao outro subgrupo formado por assunto, coment,
professor, aula, sal. Esta divisão binária criou conteúdos referentes às conversas
74
que surgem em sala de aula e a figura do professor como mediador de
conhecimentos.
A partir das divisões binárias propostas pela CAH procedeu-se a divisão
temática da classe 5 em duas subclasses, que são: “A escola como ambiente de
discussão sobre o envelhecimento” e “Histórias contadas em sala de aula”. As
subclasses abordam praticamente as mesmas coisas. É bastante tênue a diferença
entre elas.
5.2.1.1 A escola como ambiente de discussão sobre o envelhecimento
Os conteúdos que integram esta subclasse dizem respeito ao papel
fundamental da escola no contexto de construção de informações, e é neste lugar
que os adolescentes esperam e devem aprender sobre determinados temas, entre
eles o envelhecimento humano, como expressa as UCEs seguintes:
Não lembro de terem falado nada sobre o envelhecimento neste colégio. no outro colégio que estudei já falaram, mas aqui não lembro. mas é importante falarem disso, porque muitas pessoas não se tocam que um dia vão envelhecer e tem que saber sobre isso. (uce n°368; Khi2=42; uci n°27; *suj_27 *sex_fem *id_14a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns*vi_3p *ic_na) Na escola eu não lembro de alguém ter falado sobre velhice, nem envelhecimento. é bom se falar sobre isso no colégio, até pra gente se preparar pra isso e também pra gente saber como tratar eles né. (uce n°266; Khi2=36; uci n°19; *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_na) Na escola já conversamos sobre a velhice, sobre a longevidade, nas aulas de biologia, sobre as alterações [...] eu acho importante se falar sobre a velhice me sala de aula, pois todos nós vamos passar por isso, e muitos jovens não sabem como lidar com esta situação, tentam nem tocar no assunto, tem um certo preconceito, sofrem por antecipação. (uce n°85; Khi2=31; uci n°5; *suj_05 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_1s *vi_3p *ic_si) Na escola, eu lembro que na aula de sociologia já foi comentado sobre o tratamento das pessoas em relação aos idosos, falamos dos idosos que sofriam maus tratos. [...] acho importante falar sobre este tema em sala de aula, pois apresenta aos alunos como é a sociedade em si. (uce n°155;
75
Khi2=31; uci n°10; *suj_10 *sex_mas *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_1p *ic_na)
O discurso é evidente, os estudantes, em sua maioria os de escola
particular, relatam que existe uma lacuna em sua formação secundarista acerca do
processo de envelhecer. Eles apontam que na escola se aborda sobre vários temas,
os quais terão pouco proveito em sua vida, porém sobre a velhice, algo inerente a
todo ser humano, é pouco ou nada comentado.
Os adolescentes denotam um anseio de informações para sua boa
formação social e consequente processo de envelhecimento. E para que isto ocorra
apontam a escola como fundamental e importante instrumento de preparação do
sujeito para uma vida sem preconceitos e barreiras, mas com cidadania.
É notório que quando se entre em pauta o tema envelhecimento, os
adolescentes só se recordam das aulas de biologia, nas quais eram demonstradas
as alterações fisiológicas do envelhecimento, como consta no extrato da UCE
seguinte:
Na matéria de biologia já se falou sobre aquelas alterações do corpo com o envelhecimento. mas eu acho que tem necessidade de se falar sobre isso aqui na escola, porque a maioria das pessoas não respeitam mesmo os idosos, e eu tenho raiva mesmo disso.( uce n°209; Khi2=24; uci nº14; *suj_14 *sex_fem *id_19a *esc_med3 *rel_ca *col_jc *ren_15s *vi_2p *ic_na)
A partir daí, pode-se perceber que não estão sendo visualizadas todas as
dimensões do idoso, fazendo com que, por vezes, o adolescente considere a velhice
como algo ruim associado apenas a ideia de perdas e mudanças físicas.
A preparação do homem é fundamental; só se viverá bem na velhice se
houver uma preparação anterior, pois a vida reserva preocupações e problemas em
qualquer idade, que poderão ser agravados na velhice e se não existir um
planejamento pessoal e social do indivíduo. (OLIVEIRA, 1999).
A elaboração para vivenciar o envelhecimento deve ser iniciada ainda nas
séries básicas, não apenas na conscientização de se respeitar o idoso, mas,
principalmente, no que é envelhecer, condição a qual todos estão sujeitos.
A educação é a chave para a mudança de paradigmas: é uma forma de
intervenção no mundo. A educação é possível para o homem, porque este é
76
inacabado e sabe-se inacabado. [...] A educação tem caráter permanente. Não há
seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de
educação, mas estes não são absolutos (FREIRE, 1996; FREIRE, 1983).
Na escola não converso nada sobre os idosos e nem escuto os professores falarem sobre isso. eu também não converso com meus amigos nada, tem coisas mais interessantes para se falar e a gente não perde tempo falando coisas que não se deseja. (uce n°409; Khi2=35; uci n°31; *suj_31 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ou *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)
Percebe-se que a escola não está contemplando seu papel de ambiente
potencializador de integração entre as gerações, fazendo com que floresça a partir
dos adolescentes significados carregados de estereótipos característicos de uma
sociedade excludente.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) incluíram, de forma
flexível, novos temas transversais exigidos pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (BRASIL, 1996a). Porém,
averiguou-se que num país multicultural como o Brasil, o envelhecimento (que
também já é fato no nosso país) ainda não é tema de destaque nas escolas.
A escola não muda a sociedade, mas pode, partilhando esse projeto com
segmentos sociais que assumem os princípios democráticos, articulando-se a eles,
constituir-se não apenas lugar de reprodução, mas também como espaço de
transformação. (BRASIL, 1996a).
A educação deve preparar o indivíduo, de maneira que essa etapa deixe
de ser encarada como um sacrifício por pessoas de todas as outras idades e passe
a ser vista como outra fase qualquer da vida, que traga possibilidades de prazeres e
realizações por indivíduos de todas as idades.
5.2.1.2 Histórias contadas em sala de aula
A categoria que agora será explanada está bastante associada à
categoria anteriormente explicitada. Ela reza essencialmente sobre a atuação dos
professores do ensino médio em sala de aula, no que diz respeito aos temas
relacionados ao envelhecimento, como mostra a UCE abaixo:
Na escola nunca ouvi nenhum professor falando de velhice e idoso não; o que já se falou sobre idoso foi só entre meus colegas mesmo, a gente comenta como seremos quando
77
chegar lá nesta idade.( uce n°48; Khi2=26; uci n°3; *suj_03 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_2s *vi_*vi_4p *ic_si)
Neste sentido, em nossa realidade não faz parte do processo ensino-
aprendizagem dos alunos o assunto envelhecimento humano, pois os professores,
que por sua vez também não são preparados, não fazem da sala de aula um
ambiente de educação gerontológica.
Os próprios adolescentes confessam que a velhice já foi motivo de
conversa entre seus pares, revelando que mesmo, muitas vezes, não desejada, a
terceira idade faz parte do imaginário dos adolescentes, tornando- a real.
Como argumenta Jodelet (2001a, p. 17), é nos grupos que partilhamos
os diferentes aspectos do cotidiano e edificamos uma realidade comum através das
representações sociais, que por isso são sociais e tão necessárias na nossa vida,
uma vez que "elas nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os
diferentes aspectos da realidade diária, no modo de interpretar esses aspectos,
tomar decisões e, eventualmente, posicionar-se frente a eles de forma defensiva".
Obviamente estes adolescentes compõem e constroem o mosaico social,
sendo influenciados e influenciando o mesmo. Assim sendo, acabam incorporando e
dando um novo sentido às crenças, mitos e estereótipos que passam a fazer parte
de seus cotidianos e dos seus discursos, ou seja, passam a reproduzir um saber
compartilhado, mas com elementos que diferem de outros membros da sociedade,
acrescentados, justamente, pela vivência com algum idoso.
Na escola já fizemos trabalho sobre idoso na campanha da fraternidade, na disciplina de sociologia e religião. quando também acontece algum assunto polêmico, tipo violência contra idoso, ai a gente conversa entre os amigos. uce n° 117 Khi2=29; uci n° 7 ;*suj_07 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_2p *ic_na) Na escola já conversamos sobre a velhice, sobre a longevidade, nas aulas de biologia, sobre as alterações e o professor de literatura sempre de histórias de livros e sempre tem um idoso que se destaca nas histórias. (uce n°84; Khi2=42; uci n°5; *suj_05 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_1s *vi_3p *ic_si)
Na escola, que eu lembre só se falou de idoso em filosofia, sobre o tratamento dos idosos, também em biologia, sobre as doenças, o processo de envelhecimento. até entre os colegas,
78
a gente já comentou como a gente será quando tivermos idosos.( uce n°183 Khi2=35; uci n°12; *suj_12 *sex_fem *id_18a *esc_med3 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_si)
É possível encontrar em algumas disciplinas ou alguns professores que
se dispõem a trabalhar questões diferenciadas sobre envelhecimento, porém de
forma pontual e eventual, e não uma aula completa com o tempo totalmente
dedicado para as diversas peculiaridades que compõem os idosos. Além disso, a
educação voltada para a gerontologia serve como fator atenuante para reduzir as
discordâncias de valores e ideias que causam conflito entre as diferentes gerações.
5.2.2 CLASSE 1 - Experiência dos adolescentes com idosos
A classe que aqui será apresentada possui associação estatística entre o
sujeito 55 (khi2=19), sujeito 58 (khi2=8), sujeito 34 (khi2=7) e que se dizem católicos.
Percebe-se que esta classe não se mostrou estatisticamente associada à maioria
das variáveis de análise.
A Classe “Experiência dos adolescentes com idosos” engloba 124 UCEs
das 735 totais analisadas. Desta forma, esta classe corresponde a 17% do corpus
de análise. Cada UCE presente na classe 1 apresenta, em média, 93 palavras
analisadas.
Na CAH (Classificação Ascendente Hierárquica) desta classe, foram
consideradas 27 formas reduzidas. As principais formas reduzidas, com seus
respectivos contextos semânticos, valores de khi2 e frequência são apresentados no
Quadro 4. Visualiza-se também que várias formas reduzidas: experi, mor, avo,
convers e relaciona não se encerram em si, pois possuem mais de um contexto
semântico associado.
Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência
experi experiência 70 44
vo vó 66 44
avo avó, avós 62 68
tenh tenho 61 50
lid lido 38 21
respeit respeito 32 45
mor morei, moram 31 20
79
relaciona relacionamento 30 10
dou dou 29 9
cont contato 28 16
bairro bairro 24 6
onibus ônibus 24 10
mãe mãe 23 15
exemplo exemplo 23 25
convers converso, conversa 20 24
Quadro 4: Distribuição das formas reduzidas da classe 1, com maiores
valores de khi2, sua frequência, e seus contextos semânticos da
classe 1. Fortaleza, 2012.
A partir das formas reduzidas e dos contextos semânticos expostos no
Quadro 4, compreende-se que a classe 1 aborda, como conteúdo geral, a vivência e
a forma de lidar dos adolescentes com os idosos.
No entanto, agrupando as formas reduzidas presentes na CAH, formou-se
a Figura 6, a qual possui a representação gráfica da delimitação dos conteúdos da
Classe 1. As formas reduzidas relaciona, pai, experi, tenh, avo e mor encontram-se
associadas entre si e ao grupo formado pelas formas morr, aos, diz, mãe e tempo,
que por sua vez se associa ao grupo formado pelas formas cont, boa, cheg, vo e
conviv. Estes agrupamentos são provenientes de uma divisão binária anterior, que
corresponde ao tipo de relacionamento que os adolescentes possuem no convívio
com seus avós.
Nota-se, ainda, que o agrupamento constituído pelas formas reduzidas
escut, ônibus e cadeir encontram-se associadas entre si e ao segundo grupo que foi
formado com as formas id, respeit e trat, que também se associa às formas gost e
idosos, ambos provenientes também de uma divisão binária anterior. Estes
grupamentos representam conteúdos relativos ao respeito que todos os idosos
merecem receber por parte dos mais jovens.
80
FIGURA 6: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 1 – Fortaleza, 2012.
A partir da CAH foi proposta a divisão da Classe 1 em duas subclasses,
com a intenção de refinar seus conteúdos. As duas subclasses são: “Experiência
com meus avós” e “O idoso merece respeito”.
5.2.2.1 Experiência com meus avós
Quando se fala em experiência com idosos, os adolescentes de ambas as
escolas não titubeiam e, na grande maioria das vezes, se remetem aos avos e suas
saudosas convivência com eles. Apontam que, já moraram durante algum período
da vida com eles e que sentem falta da sua companhia. Ressalta-se a importância
dos avos na criação dos netos, pois transmitem a eles um sentimento jamais
percebido em outro relacionamento.
Frente a isto, mencionam com prazer como era sua convivência, como
mostra nos extratos seguintes:
A experiência que eu tenho é com meus avos maternos, com mais ninguém. Eu gosto mais deles do que da minha mãe, pois foi meu vô que praticamente me criou, morei com minha vó por
81
muito tempo, me dou muito bem com eles. (uce n°356; Khi2=50; uci n° 26; *suj_26 *sex_mas *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_2p *ic_na)
A experiência que tenho é com meus avos mesmo. meu relacionamento é muito bom, diria até que tão bom quanto com meus pais. (uce n°577; Khi2=45; uci n°40; *suj_40 *sex_mas *id_16a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_5s*vi_4p *ic_si)
As pessoas que sou mais apegada são meus avos e meu pai que é idoso, e eu respeito e tenho um carinho muito grande por eles. Tenho boas experiências com os idosos, acho muito legal conviver com eles. Por exemplo, toda oportunidade eu vou para o interior onde mora meus avós, minha avó me ensinou a costurar e fazer crochê. (uce n°8; Khi2=30; uci n°1; *suj_01 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_2p *ic_si)
Só tenho experiência com minhas duas avós. já morei com minha vó materna, e foi normal. Só tem que ter mais cuidado com ela, pra ela não cair e pronto. Nunca tive problema com nenhuma. (uce n°342; Khi2=29; uci n°25; *suj_25 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_4s *vi_2p *ic_na)
Percebe-se que independentemente do tipo de escola e se atualmente
moram com idosos, os adolescentes revelam a boa influência de seus avós em sua
formação. Isto nos faz refletir sobre os benefícios que a coexistência entre as
gerações traz para a família, a sociedade e a formação pessoal.
Os avós são fontes importantes de suporte afetivo e financeiro à família,
além de exercerem a função de aconselhar e de estabelecer regras e limites,
funções tradicionalmente atribuídas aos pais. (MARANGONI, 2007).
Estas UCEs traduzem o que muito se percebe na sociedade
contemporânea, que é a necessidade dos filhos morarem ou serem cuidados pelos
avós porque os pais trabalham ou porque não possuem condições de sustentá-los.
Coutrim (2006) lembra que os idosos de baixa renda, já aposentados e
que trabalham informalmente, possuem uma maior segurança de renda que os mais
jovens. Isto se concebe devido aos altos índices de desemprego, ao nascimento de
filhos fora do casamento, às separações e ao fato de muitos permanecerem na casa
dos pais ou terem retornado a elas. Assim, muitos idosos mantêm-se como chefes
de família, onde os mais velhos, muitas vezes, ocupam o papel de provedores de
outras gerações.
82
O sentido dos discursos dos adolescentes contidos nas UCEs
supracitadas remete ao impacto que o convívio com os avós trouxe para suas vidas
e a aprendizagem adquirida direta ou indiretamente com esta relação
intergeracional.
A intergeracionalidade é um termo utilizado para referir-se às relações
que ocorrem entre indivíduos que pertencem a diferentes gerações. Geração é um
fenômeno biológico e cultural, materializado por valores éticos e de conduta para
cada fase e variam ao longo da história. (FERRIGNO, 2007).
A interação intrafamiliar com idosos gera uma rica relação de trocas e
crescimento mútuo entre as gerações que ali co-habitam. Isto pode ser visualizado
pelas UCEs seguintes, pois mostram como se dá o relacionamento intergeracional,
adolescentes e avós.
Eu gosto de conversar com os idosos, brinco com eles, tenho um relacionamento saudável com os meus avós. Sento pra conversar, acompanho minha avó em alguns lugares. Minha experiência com idoso é com minhas avós, sempre me dei bem com ela, só tem aqueles pensamentos deles que não acompanham a atualidade, elas querem que a gente viva o tempo deles ainda, mas a gente se entende. (uce n°265; Khi2=23; uci n°19; *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s*vi_3p *ic_na)
Minha experiência com minha vó era muito boa, nunca tive problema, pelo contrário, eu era muito chegado a ela. Só em relação aos eletrônicos, ela dizia que me fazia mal, ai eu não concordava. Ainda tentei ensinar a ela mexer no computador, mas ela não quis aprender. (uce n°598; Khi2=32; uci n°41; *suj_41 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)
O contato intergeracional propicia o exercício de uma prática educativa e
a transmissão da cultura através de modelos e do relato oral. Esse é um caminho de
mão dupla, tanto os avós educam os netos como são educados por estes,
procedimento esse mediado pela cultura e pelo mundo que o cerca. Um dos grandes
méritos do processo co-educativo é compreender os velhos (avós) não como
pessoas acabadas, mas como pessoas com opinião própria e com muito a ensinar.
(SANTOS, 2003).
Moscovici (2009) afirma que para se compreender uma representação
social há necessidade de primeiramente se identificar seu núcleo figurativo, o qual
83
relaciona um conceito e uma imagem. Para esse autor, enquanto não se discernir
claramente o caráter inseparável do que pensa e imagina uma maioria, não se pode
afirmar a existência de tal representação e nem a objetivação desses elementos. “É
a vida social, evidentemente que funda, que perpetua e até mesmo renova este
núcleo figurativo, isto é, sua história” (MOSCOVICI, 2009, p. 27).
Percebe-se a partir das falas uma representação positiva acerca deste
relacionamento entre as gerações, visto que os valores e ensinamentos estão sendo
transmitidos em uma via de mão dupla e, sobretudo, estão sendo respeitados,
fazendo com que aconteça um distanciamento da ideia de atritos e conflitos
intergeracionais e que estas relações fiquem mais fortes e saudáveis.
A partir do momento em que se oportuniza, no contexto familiar, bem
como em outros espaços de convívio entre gerações, o confronto das idéias, o
diálogo, existe a possibilidade do reconhecimento. Ou seja, na medida em que se
provoca o neto em relação ao seu avô, o benefício desse reconhecimento para a
identidade desse avô é extremamente positiva. Ora, esse idoso passa a perceber
que ele existe, que ele é ouvido, que sua vida tem importância para a vida de seu
neto e da sua família. (SCHMIDT, 2007).
5.2.2.2 O idoso merece respeito
A questão do respeito à pessoa idosa se configura como algo auto-
explicável, visto que estas pessoas carregam todas as experiências de vários anos
vividos na construção da sociedade que hoje vivemos juntos. Respeitar os idosos é
reverenciar nossa própria história, pois eles são fontes históricas vivas.
Eu lido bem, trato com respeito, eu escuto o que ele, idoso, tem para dizer. Os idosos me dão conselhos, e eu escuto e gosto, embora alguns eu dispense. (uce n°425; Khi2=17; uci n°32; *suj_32 *sex_mas *id_18a *esc_med3 *rel_ou *col_ab *ren_2s*vi_4p *ic_na)
Os participantes reconhecem o idoso como fonte enriquecedora de
conhecimento, entretanto aqueles estudantes de escola pública e que congregam
em outras religiões se mostraram indiferentes em relação aos seus ensinamentos e
contribuições para a vida.
O idoso tem uma posição singular em relação ao jovem, isso porque suas
vivências se transformam em conhecimento e sabedoria. (GUEDES, 2006).
84
Eu tento respeitá-los a medida da idade deles, tento ajudá-los, mas quando eles fazem coisas ou dizem coisas que eu não gosto, eu fico calada e deixo eles falarem bem muito, não ligo para eles. [...] o nosso relacionamento é bom; eu na minha e eles na deles. Eu não tenho vontade de conversar, não tem conversa entre a gente, não tem o que conversar com eles não tem assunto. (uce n°407; Khi2=18; uci n°31; *suj_31 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ou *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)
Estes estudantes provavelmente residem em um domicílio desprovido de
base educacional familiar, no qual não se discute sobre valores sociais, morais e
culturais, sobre as responsabilidades do cidadão para com os outros, especialmente
os idosos, fazendo com que ocorra a diluição da imagem do idoso como ícone de
herança e aprendizado inquestionáveis.
Pessoas e grupos, longe de serem receptores passivos, pensam por si
mesmos, produzem e comunicam incessantemente suas próprias e específicas
representações e soluções às questões que eles mesmos colocam. Nas ruas, nos
bares escritórios, hospitais, laboratórios, entre outros lugares, as pessoas analisam,
comentam, formulam “filosofias” espontâneas, não oficiais, que têm um impacto
decisivo em suas relações sociais, em suas escolhas. (MOSCOVICI, 2003).
O art. 3º, título I, aponta: “É obrigação da família, da comunidade, da
sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a
efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária”. (BRASIL, 2003).
O idoso contribui tanto na família quanto na comunidade; na família
muitas vezes é o provedor principal da manutenção financeiras, na comunidade ele
contribui com opiniões para o crescimento e melhoras nas ações em prol do
crescimento comunitário.
Ele possui uma ampla história pessoal a oferecer ao ambiente,
representando ainda a história familiar em si como grupo social. É o principal
portador daquilo que particulariza cada um como ser biográfico e não apenas
biológico. (LEME, 2007).
O adolescente expõe em falas tudo aquilo que ele materializa a partir da
coexistência com o outro no meio que ele vive. E diante das UCEs a seguir se
constata que a questão do respeito ao idoso está intimamente representado pela
atitude dos mais jovens de disponibilizar o assento do ônibus para os mais velhos.
85
Bom, o povo descrimina, descarta em certas ocasiões os idosos, nas festas, nas ruas, nos ônibus, isso aparece todos os dias. Eu acho que o povo mais velho tem que ser respeitado. (uce n°453; Khi2=19; uci nº21; *suj_34 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)
Eu trato o idoso com muito respeito. Por exemplo, quando eu ando de ônibus, meu pai me ensinou que tenho que levantar da cadeira para dá para o idoso, e assim eu faço, todo vez eu dou aquelas cadeiras brancas pra eles. (uce n°288; Khi2=18; uci n°21; *suj_21 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns*vi_3p *ic_na)
Eu não tenho muito contato com idoso, até minha avó eu acho que ela não é ainda idosa. Mas eu trato com respeito, tem que ceder a cadeira, essas coisas. (uce n°275; Khi2=22; uci n°20; *suj_20 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_2s*vi_3p *ic_si)
É assegurado por lei como apurado no art.39º, título 2, “Nos veículos de
transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento)
dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado
preferencialmente para idosos”.
O respeito e o bom tratamento atribuído ao idoso referem-se à
consideração que estes adolescentes sentem por estes seres com mais anos
vividos, contribui no combate ao preconceito etário e proporcionam o entendimento
entre as diferentes gerações.
5.2.3 CLASSE 3: A perspectiva do adolescente como futuro idoso
Esta é a classe formada por 165 UCEs e 82 palavras analisáveis.
Configura-se como a classe de maior significância estatística em termos de
agregação de UCE, perfazendo 22,0% do total.
Para melhor visualização foi construído o Quadro 5 que constam as
palavras primeiramente em suas formas reduzidas, conforme apresentadas no
relatório do programa, com respectivos qui-quadrado, que sinalizam a importância
semântica de cada palavra dentro da classe, bem como a palavra completa que
mais apareceu nos discursos que formam as UCEs dessa classe. O programa
realizou um corte contendo as palavras com khi2 maior ou igual a 10.
86
Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência
quer quer 184 186
filhos filhos 95 42
netos netos 87 32
vou vou 52 52
pens penso 51 90
imagin imagino 46 19
marido marido 35 11
família família 32 45
tranquil tranquila 29 12
ativ atividade 23 12
comida comida 17 5
sozinh sozinha 15 16
feliz feliz 13 8
chata chata 13 8
enxuta enxuta 10 3
QUADRO 5: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2,
sua freqüência, e seus contextos semânticos da classe 3.
Fortaleza, 2012.
Esta classe apresentou associação estatisticamente significativa entre os
alunos matriculados em escola pública (sujeitos 44, 32 e 49), que são aqueles que
compõem a segunda parte do corpus e cuja religião definida como ‘outras’ foi a de
maior significância (Khi2= 5). Isto reflete que as representações de velhice
projetadas por estudantes de escola pública estão mais voltadas para as questões
que envolvem seu futuro, suas perspectivas e objetivos de vida.
Os vocábulos mais ilustrativos nesta classe são: quer, filhos, netos, vou,
penso, imagino, marido, família, tranquila, atividade, comida, sozinha, feliz, chata e
enxuta. Eles se associam e formulam a ideia central da classe, apontando para o
desejo e visão futura de como os adolescentes se projetam para sua velhice.
Neste sentido, os estudantes desejam uma vida tranquila ao lado da
família, mas, sobretudo ativa de acordo com as exigências da vida contemporânea,
eles mostram acima de tudo que vêem a possibilidade de manterem-se ativos e
participantes da vida familiar e da vida social, contribuindo tanto para a manutenção
quanto para a transformação de valores sociais.
Observa-se que a delimitação dos conteúdos da classe 3 é identificada,
de maneira mais detalhada, a partir da Classificação Ascendente Hierárquica (CAH),
a qual resulta de divisões binárias sucessivas das formas reduzidas da classe. O
87
resultado dessas divisões é expresso pelo dendograma das palavras que dão
sentido aos conteúdos da classe, constituindo sua totalidade.
A Figura 7 é uma reprodução gráfica do resultado da CAH da classe 3
que aqui está sendo apresentada. Através da CAH, as formas reduzidas foram
agrupadas com a pretensão de identificar temáticas e significados mais precisos dos
elementos que compõem a classe “A perspectiva do adolescente como futuro idoso”.
Figura 7: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 3 – Fortaleza, 2012.
Na CAH da Classe 3 foram consideradas 22 formas reduzidas. Observa-
se que as formas reduzidas quer, netos, filhos, sej estão associados entre si
compondo a temática “Família tradicional”. O mesmo ocorre com as formas
reduzidas cas, sozinh, filh, marido, depend, tiv, sei ,vou, imagin cuja temática aborda
“Desejo de família”. Por fim, as formas pens, tipo, pra, saude, familia, tranquil, par,
igual e ativ abordam o “Envelhecimento ativo”.
Desta forma, constata-se que a representação da perspectiva do
adolescente como futuros idosos apresentados nesta classe divide-se em três
temáticas que serão discutidas juntamente com o embasamento de estudiosos do
88
tema e para título de exemplificação, serão apresentadas UCEs características de
cada grupo temático.
5.2.3.1 Família tradicional
Esta temática explicita um conteúdo que traz uma correlação um pouco
distante daquela que costumamos imaginar sobre os adolescentes, que é o seu
desejo de construir uma família. Expressa uma preocupação maior por parte dos
sujeitos com as questões relacionadas aos valores sociais e as relações familiares
em seus processos de identificação e de busca de valores afetivos.
Esta temática pode ser exemplificada com as UCEs abaixo:
Eu digo que vou ter vários netinhos e uma casa no campo pra eles brincarem, pra ser uma vó tipo a do sítio do pica-pau amarelo, vozona. é isso, eu quero casar, ter filhos, uns três e adotar um filho. [...] eu queria ser tipo minha avó materna, que faz tudo, que vai pra igreja, mas que também se diverte, que se preocupa com os netos, que faz comida pros netos. (uce nº69; khi2=20; uci nº4; *suj_04 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_5p *ic_na) Já pensei na velhice, tento imaginar, eu com a minha esposa, dois filhos, sei lá. vou começar a cuidar da minha vida desde já pra quando eu tiver numa idade de idoso, eu ter uma boa vida, uma pessoa normal, não depender de ninguém. (uce nº690; khi2=19; uci nº47; *suj_47 *sex_mas *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_5p *ic_na) Quero ser tipo o meu avô. ele sempre dizia: Junior, seja homem! quero ser como ele, homem de verdade, trabalhador, cuidar da minha mulher, meus filhos. (uce n° 561; Khi2 = 21; uci n°39; *suj_39 *sex_mas *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_3p *ic_na) Imagino eu na minha casa, cuidando dos meus netos. coisa de vó tradicional, ficar em casa esperando os netos pra comer, cuidar da casa.( *suj_44 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ou *col_ab *ren_3s *vi_3p *ic_na)
Percebe-se que a adolescência como categoria psicossocial contribui com
as representações emergentes do seu próprio contexto sócio-cultural, o qual prepara
o indivíduo para enfrentar as adversidades do mundo e se preparar para as
diversidades da vida adulta.
89
Estas UCEs colocam em evidência imagens objetivadas pelos
adolescentes, as quais referem à velhice como uma fase na qual se deve manter a
atividade e a independência, as quais fazem o idoso manter sua função social.
Vê-se também que estão inseridas na concepção dos adolescentes as
questões de gênero, visto que nas falas constata-se uma construção enraizada de
figuras de mulher e de homem, mostrando como a cultura é base para a
representação social.
Os adolescentes vivem e admiram a sociedade em que valoriza a
liberdade, a novidade e o diferente, entretanto, carrega em seu imaginário a figura
do tradicional, aqui refletida pelo papel clássico dos avós, que é cuidar dos netos e
fazer cerimônia para toda a família.
Eu quero ser feliz, quero ter família, tudo bonitinho, fazer comida pros netos. Quero ser aquele tipo de idosa doida, que não tá nem ai pra nada, que dá tudo pros netos, levar os netos pras baladas quando os pais não deixarem ir só. (uce nº 34; khi2=41; uci nº2: *suj_02 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_2s *vi_2p *ic_na).
Um destaque nesta temática é o uso do verbo querer, isto implica em
atitude e determinação por parte dos adolescentes diante dos valores de caráter
tradicional (filhos e netos). Isto se torna favorável para uma boa dinâmica
intergeracional pautada em padrões de convivência positivos, pois oportunizam o
diálogo e o uso de postura flexível nas relações interpessoais.
No processo pubertário, os adolescentes têm que lidar com expectativas
familiares e sociais, bem como com todas as modificações familiares e interpessoais
que afetam as outras gerações com as quais convive, destacando os pais e os avós.
(MARANGONI, 2007).
Desta forma, os adolescentes, diante de suas experiências e interação
atual com idoso, que na maioria das vezes são os avós, vislumbram uma velhice
também constituída pela vivência e trocas com seus filhos e netos, confirmando a
influência do contexto histórico-cultural em que está inserido.
5.2.3.2 Desejo de família
Nesta categoria fazem parte os seguintes contextos semânticos: casar,
sozinho (a), filho, marido, dependente, tiver, sei, vou, imagino, o que representa uma
90
posição do adolescente perante a sociedade através de comunicações que fazem
crer que ele está alerta para o planejamento da sua vida e do desejo de uma velhice
bem amparada. Fica marcada na citada categoria a projeção para o futuro (devir), a
dialética do querer e do não querer.
Estas dimensões são exemplificadas nas UCEs expressas nos
conteúdos a seguir:
Já pensei na minha velhice, se vou tá casada, com filhos, netos, se vou ter sucesso na profissão, esperando a hora de morrer. quero ser aposentada, uma casa pra morar, com meu marido, envelhecer junto com ele. eu não quero ser velha sozinha, deve ser triste envelhecer sozinha. (uce nº 102; khi2=37; uci nº6: *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si)
Como objetiva as representações sociais, os adolescentes apresentam-
se ativo na elaboração de conceitos que refletem sua compreensão da realidade que
o cerca. Eles transferem a partir de suas falas o caldeirão de emoções que eles
vivem e atuam sobre estas sensações de modo que sabem muito bem o que
querem, uma velhice com companheiro e com uma formação familiar nuclear,
conforme pode ser vista nas UCEs abaixo:
Pensei na minha velhice. ao ficar velho, quero muitas pessoas comigo, não quero ficar sozinho. o idoso fica muito só, os filhos abandonam, eu vejo os meus vizinhos. eu não quero ficar só, quero ficar com a minha_mulher, minha_velhinha. (uce n°428; Khi2 = 21; uci nº32; *suj_32 *sex_mas *id_18a *esc_med3 *rel_ou *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)
Eu penso assim, se eu vejo uma pessoa feliz na velhice, eu quero ser igual a ela, se eu vou tá como aquela pessoa. eu penso muito no meu futuro entendeu? se quando eu estiver velho, se eu vou tá feliz, se eu vou tá com alguém, se eu vou tá sozinho. (uce nº568; khi=21; uci nº40; *suj_40 *sex_mas *id_16a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_5s *vi_4p *ic_si) Eu penso que na velhice eu vou me sentir realizada, casada talvez, com filhos, netos, ser independente financeiramente, reconhecida profissionalmente, com uma casa boa [...] Quando idosa quero ser tipo a minha avó, magrinha, cabelos brancos, só não quero perder os dentes. (uce n°721; Khi2=24; uci nº49; *suj_49 *sex_fem *id_17a *esc_med3 *rel_na *col_ab *ren_na *vi_4p *ic_na)
Independente do sexo, da procedência estudantil ou se moram com
idosos, os adolescentes vislumbram uma vida compartilhada. Desde o hoje em que
91
costumam se apresentarem em pares, eles objetivam sua velhice com laços
afetivos, não para servi-lo, mas com o intuito primordial de fugir da solidão.
Assim, nos tempos atuais, o homem vai tentando trilhar um caminho rumo
à descoberta ou ao encontro de vínculos amorosos capazes de levá-lo à satisfação,
à felicidade, à realização de si mesmo e em sociedade, cuja representação está
repleta de artifícios facilmente disponíveis, artifícios tais que intermedeiam de
maneira bastante conveniente, a expressão dos afetos e em especial o amor entre
gêneros. (SCHWETTER, 2006).
Alguns adolescentes assumem que nunca haviam parado para pensar
em sua própria velhice, porém sabiam muito bem como a desejava, como demonstra
na UCE seguinte:
Eu nunca pensei na minha velhice, porque só Deus sabe como vai ser meu futuro. eu não sei se vou conseguir chegar até a velhice. mas imaginando agora, eu quero ter bastante estabilidade, ter minha casa, ter condições de me sustentar, não depender das outras pessoas. (uce nº 675; khi2:35; uci nº46: *suj_46 *sex_fem *id_17a *esc_med3 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_2p *ic_si).
Esta descrição apresentada pelo adolescente de escola pública reflete
algo peculiar da formação do adolescente, a sua preocupação com o hoje, com seu
momento atual, mas que em contrapartida quando lançada a ideia de posteridade
ele sabe muito bem o que quer da vida, principalmente a independência, que é algo
que em sua fase vivida, ele não desfruta.
Contudo, é notória a predominância da família como construto social do
adolescente e na contemporaneidade se tornam o produto da razão pragmática do
sujeito subjetivo e individual.
5.2.3.3 Envelhecimento Ativo
Os enunciados apresentados pelos adolescentes a partir das entrevistas
trazem à tona a diversidade de adolescências e a importância de situá-las no
contexto social e histórico da contemporaneidade. Encontram-se abaixo os extratos
representativos desta temática:
Quero ser um idoso ativo, que possa atuar no teatro, artes marciais, andar com os bichos, sempre independente, com
92
autonomia. (uce n°133; Khi2=20; uci n°8:*suj_08 *sex_mas *id_16a *esc_med3 *rel_ev *col_jc *ren_2s*vi_3p *ic_na) Eu não quero ficar parada. quero ser tipo aquele idoso saudável e ter alguém perto de mim me incentivando a não ficar parada. ( uce n°13; Khi2=18; uci n°1; *suj_01 *sex_fem *id_15ª *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_5s *vi_*vi_2p *ic_si) Eu queria ter uma velhice tranquila, não ter tantas doenças, ter uma atividade, não parar e ter alguém que cuide de mim quando eu tiver bem idosa.( uce n°257; Khi2=21; uci n°18; *suj_18 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_na *col_jc *ren_14s*vi_2p *ic_na)
Nota-se que a tônica das falas recai sobre uma velhice saudável e ativa
(“está sempre fazendo alguma coisa”). Os conteúdos representacionais dos
adolescentes vão ao encontro de novas experiências de envelhecimento, que tem
contribuído para modificar a imagem dos velhos de nosso país.
Frente a estes discursos, pode-se inferir que os estudantes apresentam-
se preocupados com sua representatividade na sociedade quando estiverem idosos,
por isto pretendem se manterem ativos como um indivíduo independente
funcionalmente, que possui autonomia e bem-estar.
Nesse sentido, Joia, Ruiz e Donalisio (2007) afirmam que
“envelhecimento ativo”, “envelhecimento bem sucedido” e “qualidade de vida na
velhice” têm sido conceituados de maneira semelhantes, como satisfação pela vida.
“Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de
saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à
medida que as pessoas ficam mais velhas”. (OMS, 2005, p. 13).
não quero ficar dependente. pretendo fazer educação física, e intensificar, quanto mais velho eu tiver eu vou fazer exercício pra não aparentar ser tão velho. (uce n°631; Khi2=23; uci n°43;*suj_43 *sex_mas *id_19a *esc_med3 *rel_ev *col_ab *ren_na *vi_1p *ic_na)
É interessante notar que, quando os adolescentes falam da velhice
enquanto uma perspectiva pessoal, esta aparece envolvendo aspectos positivos e
pautados em valores da juventude e rejeitam as características que eles associam à
velhice, tal como a dependência.
93
Identificados como a geração do futuro que têm a seu favor, os
adolescentes são vinculados a imagens de poder, produtividade e vigor, e assim
querem se manter para “ não aparentar ser tão velho”.
5.2.4 CLASSE 2 - Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso
Esta classe apresenta associação estatística entre os sujeitos 31, 36 e 33
e com aqueles que vivem com duas pessoas. Reitera-se que a classe 2 apresenta
99 palavras analisáveis e é a classe que congrega as palavras com maior khi2,
mostrando, com isso, ser a classe com maior coerência interna. Portanto, sob esta
referência também tem grande significância, visto que possui maior associação com
as noções de velhice na visão dos adolescentes.
A referida classe “Aspectos físicos: como o adolescente identifica o idoso”
é composta por um total de 100 UCEs, o que corresponde a 14% do corpus
aproveitado para análise. Nesta UCEs foram selecionadas 23 formas reduzidas que
possuem associação estatística com a classe e, a partir destas, construiu-se a CAH
(Figura 8).
Dentre as formas reduzidas que formam a presente classe, o Quadro 6
expõe aquelas que possuem os maiores valores de khi2, são elas:
Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência
cabelo cabelo, cabelos 310 54
identific identificar, identifico 273 45
branco brancos, brancos 239 43
pel pela, pelas, pele 153 89
rug rugas, rugas 137 28
enrug enrugada, enrugado 109 22
and andar, anda, andando 93 30
rosto rosto 71 15
velhice velhice 75 110
lent lenta, lentidão, lento 51 8
fis físico 43 15
física física, fisicamente 35 21
baix baixa, baixinhas 32 5
grisalho grisalhos 32 5
audicao audição 26 4
Quadro 6: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2,
sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 2.
Fortaleza, 2012.
94
Nota-se que as formas reduzidas com maiores valores de khi2 são
cabelo, identific e branco, porém a forma reduzida cabelo (khi2=310) é a que mais
de destaca por ser a maior de todas as classes. A partir do contexto semântico, é
possível perceber que esta é uma classe que aborda de forma densa a aparência
física dos idosos.
A Figura 8 apresenta a CAH efetuada pelo Alceste na classe 2. Perante
ela é possível analisar a associação das formas reduzidas apar, identific, nas, pel,
fisica, ver, fis, mud, rug, rosto, do, principal e corpo, que apontam para a
identificação do envelhecimento no outro pelas mudanças nos aspectos físicos. O
mesmo ocorre com as formas pelos, fic, enrug, parec, jeit, and, lent, velhice, branco
e cabelo, as quais também transmitem a ideia de perdas físicas que se acumulam
com o passar dos anos.
Frente a isto, foi proposta a divisão da classe 2 em duas subclasses, com o intuito
de explicitar seus conteúdos. As duas subclasses são: “Identificação da velhice
pelas mudanças físicas” e “Velhice: fase de perdas física”.
FIGURA 8: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 2 – Fortaleza, 2012.
95
5.2.4.1 Identificação da velhice pelas mudanças físicas
Esta mencionada classe delineia um panorama bem contemporâneo dos
pensamentos de nossos jovens e algo que já está incorporado no imaginário social,
que a velhice se caracteriza como uma fase de desgaste, perdas físicas e dos
papéis sociais.
O que mais identifico a velhice nas pessoas é a pele né, que a pele é mais enrugada. Acho que é isso. Cabelos grisalhos também, a pele enrugada. Perde a força física também né, que o idoso sempre precisa de uma pessoa pra ajudar nas suas necessidades. a velhice tem haver com o processo de envelhecimento do corpo humano. (uce n°800; Khi2=28; uci n°54; *suj_54 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na) Uma coisa que percebo nos idosos é a estrutura física parece que ficaram menor. [...] a maneira de se vestir; as senhoras vestem roupas compridas, abaixo do joelho, usam mais vestidos estampados ou com florzinhas pequenas, a cor é neutra, bege, branco e azul. (uce n°470; Khi2=26; uci n°34; *suj_34 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)
É inegável que o adolescente se preocupa com a boa aparência e
relacionam diretamente o envelhecimento com a presença de rugas, principalmente
na sociedade atual em que se cultua a beleza, o novo, o descartável, a moda, afinal,
isto parece ser a busca constante do ser humano. Absorvem da sociedade as
marcas que fecham e homogeneízam a velhice, que são os hábitos, as vestes, as
perdas, entre outras coisas que negativizam a velhice e fazem parte do imaginário
do adolescente.
As rugas, na velhice, parecem o resultado do tempo vivido, mas também
é preciso se levar em conta o fator hereditariedade e o organismo individual. Durante
o envelhecimento, há alterações elásticas nas fibras da pele e dos órgãos que se
transformam em sua composição e determinam as mudanças nas características
pessoais (CARVALHO FILHO, 2007).
Identifico a velhice nas pessoas pela aparência física mesmo, o cabelo fica branco, a pele cheia de rugas, seca e mole, até o jeito de andar muda. (uce n°92; Khi2=49; uci n°6; *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si)
96
O que os adolescentes comunicam é o que para eles materializam como
o mais importante e que dá sentido às suas imagens criadas diante de sua
subjetividade; no caso a perda da beleza que está intimamente relacionada à
presença de rugas, mudança na cor dos cabelos e a decadência física, tais
alterações remetem a perda da jovialidade que hoje eles usufruem e que
inevitavelmente vai se perder pelo caminho.
Santos (2004) ressalta que é somente no século XIX que o homem
começa a ser visto como consciência histórica inserida no corpo, já que, até então, o
corpo era negado, ironizado, problematizado, ou seja, o corpo e a alma são
antagônicos. Na contemporaneidade, o belo é favorecido socialmente e as pessoas
buscam corresponder às expectativas da sociedade e no culto ao próprio corpo
constrói uma identidade rígida, voltada apenas ao prazer do olhar do outro.
Segundo Castro (2004), no final do século XX ocorre um desencontro de
valores quanto ao corpo. Instala-se a corpolatria, com o cultivo do corpo de forma
contundente, impositiva, que, às vezes são tão exagerados, que os padrões de
saudabilidade são relegados ao segundo plano.
Os adolescentes negativizam a figura do idoso e o representam
primeiramente personificado em aspectos corporais penosos.
Eu reconheço um idoso pelo andar, anda devagar. reconheço pela fisionomia, pela pele com rugas, principalmente, no rosto que fica muito cheio de pregas, sem graça. reconheço pela falta de brilho nos olhos, parece que não tem vontade de mais nada, está tudo apagado. (uce n°871; Khi2=37; uci n°57; *suj_57 *sex_fem *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_3p *ic_na)
Em segundo plano, discretamente, é ressaltado o reconhecimento e a
valorização pelo conhecimento dos mais velhos.
Identifico a velhice nas pessoas pela sua experiência de vida, pelo que ela conta, mas também pelos aspectos físicos, pelos cabelos brancos e principalmente pelo jeito que fala da vida, pois falam com muito conhecimento, muita propriedade como se eles tivessem total domínio da vida. (uce n°323; Khi2=33; uci n°24; *suj_24 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_11s *vi_6p *ic_si)
Os sujeitos desta pesquisa mostram fazer parte de um mundo que só
enxerga a velhice no outro e do outro, como se para eles, o envelhecimento ainda
não tivesse chegado. Eles ainda não despertaram para o envelhecimento como um
97
fato dinâmico e que os mesmos já estão vivenciando, uma vez que o
envelhecimento é algo inevitável que vai acontecendo durante toda a vida do
indivíduo, situando-o em sua temporalidade.
5.2.4.2 Velhice: fase de reconfiguração da imagem física
É muito tênue a diferença destas duas subclasses. A anterior remeteu-se
a identificação da velhice, onde os adolescentes deixaram claro suas impressões
estéticas e físicas e nesta classe eles engrossam estas representações, relatando
que o idoso se resume aos cabelos brancos e ao andar lento.
Na velhice as pessoas precisam mais de ajuda, por causa das deficiências físicas que fica mais grave, porque os ossos parecem que ficam fracos, sem força, não correm mais. (uce n°415; Khi2=28; uci n°32; *suj_32 *sex_mas *id_18a *esc_med3 *rel_ou *col_ab *ren_2s *vi_4p *ic_na)
Como eu disse a velhice está na cabeça, mas eu vejo as pessoas com mais idade pelas rugas do rosto, fica toda pregueada, pelo andar e pelos cabelos brancos. (uce n°494; Khi2=41; uci n°35; *suj_35 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ou *col_ab *ren_1s *vi_5p *ic_si) Com a velhice os cabelos ficam cabelos brancos, não consegue mais andar direito, fica inclinado, não pode se encostar que dorme. (uce n°607; Khi2=33; uci n°42; *suj_42 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_7p *ic_na) Eu identifico a velhice nas pessoas pela aparência principalmente, eu vejo os cabelos brancos, andando devagar; é só a parte física mesmo. (uce n°55; Khi2=26; uci n°4; *suj_04 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_5p *ic_na)
É reconhecido que a velhice é uma fase que congrega várias alterações
fisiológicas, entretanto é de se espantar saber que, em um momento de ascensão
social do idoso, onde está em pauta na sociedade temas como envelhecimento ativo
e envelhecimento bem-sucedido, os adolescentes ainda se limitarem a descrever o
idoso em suas debilidades físicas.
A inutilidade referida ao idoso reporta-se à incapacidade da realização de
tarefas ou da articulação das palavras, dificuldades de movimentos, enfim, a todas
98
as limitações causadas pela debilidade física dos indivíduos em idade avançada,
que associada às perdas, leva-os ao declínio da força de trabalho, desencadeando
um processo de deterioração moral, fazendo com que estes se sintam e/ou sejam
vistos como um “peso morto”. (LIMA, 2008).
Segundo Salvador-Carulla (2004) o envelhecimento ativo envolve
aspectos tais como: a promoção da saúde, o ajuste físico e a prevenção da
incapacidade, a otimização e compensação das funções cognitivas, a promoção do
desenvolvimento afetivo e da personalidade, e ainda, a maximização do
envolvimento social do indivíduo.
A definição de envelhecimento bem-sucedido, para Rowe e Kahn (apud
HOOYMAN e KIYAK, 2001, p. 191), implica que pessoas que envelhecem de forma
bem-sucedida são aquelas que apresentam um baixo risco de doença e
incapacidades (que apresentam, por exemplo, fatores de estilo de vida saudáveis,
tais como dieta adequada, ausência do hábito de fumar e prática de atividades
físicas); que estão utilizando ativamente habilidades de resolução de problemas,
conceitualização e linguagem; que estão mantendo contatos sociais e estão
participando em atividades produtivas (voluntariado; trabalho remunerado ou não
remunerado).
Enfim, as perdas decorrentes do envelhecimento trazem mudanças nas
formas de estar no mundo, o que não está ainda incorporado na vida social e na
consciência das pessoas, tanto as pessoas que estão dentro desta etapa da vida,
quanto, e principalmente, quem está de fora, os adolescentes.
A experiência da adolescência esteve associada a valores biofiológicos
dos idosos, os reduzindo às marcas de vulnerabilidade e inatividade física, além de
uma perda do papel social.
O rótulo dado a este objeto (a velhice) está ligado com os sistemas de
crenças e valores socialmente construídos, ou seja, o sujeito compara o objeto
desconhecido a uma rede de significações, a um modelo já existente. (MOSCOVI,
2003).
Porém, ao mesmo tempo, projeta uma idealização com características
contrárias a estas, como se estivesse querendo fugir do estereótipo anunciado.
99
5.2.5 CLASSE 4: Concepções de adolescentes sobre velhice
A Classe 4 traz uma concepção sobre velhice compartilhada pelos
sujeitos identificados pelos números 26, 42 e 19, e por aqueles que se disseram
morar com sete pessoas na mesma casa, enfim, eles apresentaram uma associação
estatística.
Esta é uma classe que se refere aos sentimentos, conhecimentos e
opiniões acerca da velhice, que podem ser assimilados por meio do convívio com o
idoso na família ou na comunidade, pela influência da mídia, da escola, do comércio
e do meio social na formação de opinião do adolescente. A aludida classe
“Concepções de adolescentes sobre velhice” abarca um total de 97 das 735 UCEs
analisadas, e desta forma, perfaz 13% do corpus total de análise, com 68 palavras
analisáveis.
As principais formas reduzidas constituintes da classe 4, que possibilitam
uma compreensão preliminar do conteúdo da classe, com seus respectivos
contextos semânticos, valores de khi2 e freqüência, são apresentados no Quadro 7.
Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência
incomod incomoda 143 31
ruim ruim 74 23
preocup preocupa, preocupo 74 34
doenca doença, doenças 71 32
diferenc diferença 43 21
sint sinto 39 12
fase fase 38 22
velhice velhice 38 60
pod pode, podem 37 28
ne né 31 16
cois coisa, coisas 24 47
acab acabada, acaba 23 6
poder poder, poderá 22 8
pass passar, passou, passado 14 23
natural natural 14 6
Quadro 7: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2,
sua frequência, e seus contextos semânticos da classe 4.
Fortaleza, 2012.
100
Conforme pode ser observado no Quadro 7, as formas reduzidas que
apresentam maiores valores de khi2 são: incomod, ruim, preocup e doenca. Os
contextos semânticos apresentados permitem uma compreensão do conteúdo geral
expresso pela classe, abrangendo temáticas ligadas a fatores que demonstram o
que os adolescentes sentem e temem quando se fala em velhice, em toda sua
amplitude.
Ressalta-se que a delimitação dos conteúdos da classe 4 é identificada,
de maneira mais detalhada, a partir da Classificação Ascendente Hierárquica (CAH),
a qual resulta as divisões binárias sucessivas das formas reduzidas desta classe.
A Figura 9 é uma representação gráfica do resultado da CAH da classe e
será apresentada pelo dendograma que mostra o agrupamento das formas com
significados mais precisos dos elementos que compõem a classe “Concepções de
adolescentes sobre velhice”.
FIGURA 9: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 4 – Fortaleza, 2012.
Na CAH foram consideradas 24 formas reduzidas, sendo que as formas
ruim e ne estão associadas entre si e com as formas uma, vida, pass, vai, fase, da e
coisa, que por sua vez estão associadas as formas cois, as doença, pod e apareça,
101
que compõe a segunda ramificação e juntos formam a primeira subclasse ou
temática: “ Velhice como fase natural da vida”.
Pela segunda divisão binária, temos a associação das formas diferenc,
cham, quest e muita que estão associadas entre si e com as outras formas acab,
poder, med, incomod, preocup, sint e relacao. Estas formas originam a segunda
categoria nomeada: “Sentimentos relacionados à velhice”.
5.2.5.1 Velhice como fase natural da vida
Esta categoria apresenta como os adolescentes encaram a velhice. Eles
relatam que a velhice seja uma fase natural da vida como qualquer outra e que pode
ser considerada boa ou ruim, dependendo do estado de saúde da pessoa.
Pra mim velhice é uma coisa normal, todo mundo vai passar né, tem as doenças também que vem junto da velhice, tem muitas dificuldades de como se locomover. Pra mim não é ruim, nem é bom, é uma coisa natural, é uma fase que tem que passar pra poder morrer, só é ruim porque tem muitas dificuldades que tem nessa fase. (uce n° 91; Khi2=34, uci n°6; *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si) A velhice pode ser uma fase ruim, porque a pessoa pode achar que está se aproximando da morte, mas também pode ser boa, porque as pessoas adquirem mais experiência, as pessoas se tornam mais sábias. (uce n°617; Khi2=18; uci n°43; *suj_43 *sex_mas *id_19a *esc_med3 *rel_ev *col_ab *ren_na *vi_1p *ic_na)
A velhice sob a ótica dos adolescentes encontra-se como um episódio
fechado cartesianamente, algo que se resume em dificuldade, doença e morte, um
fim que todo mundo tem que passar. O adolescente ainda não despertou para a
pluralidade e para as oportunidades que advém com a velhice, uma vez que
ninguém envelhece da mesma maneira ou ao mesmo ritmo.
Rocha-Coutinho (2006) destaca que hoje, entende-se que a velhice,
assim como a infância, a adolescência e a maturidade, mais do que simples fases
da vida, são categorias socialmente construídas, que só alcançam seu sentido
através do discurso. Ser velho, da mesma forma que ser criança, jovem ou adulto,
está associado aos valores vigentes numa dada sociedade em um determinado
tempo.
102
A velhice é considerada como boa, não no sentido que ela seja desejada
pelos mais jovens, mas porque ela traz a sabedoria que pode ser compartilhada com
os outros mais novos na forma que for mais conveniente. A sabedoria está atrelada
aos anos a mais de vida, então os mais velhos possuem este benefício por já ter
passado por várias situações que tornam o ser mais convicto de suas ações a serem
tomadas.
Eles valorizam mais as coisas que a gente, porque eles passaram já por muitas coisas e ai sabem dar valor as coisas, diferente da gente adolescente. (uce n°525; Khi2=18; uci n° 37; *suj_37 *sex_fem *id_18a *esc_med3 *rel_ca *col_ab *ren_*vi_2p *ic_si)
Sabedoria e experiência fazem parte da vida de todo mundo, pois, à
medida que vamos vivendo e envelhecendo, vamos adquirindo-as, de acordo com
as escolhas, acertos, erros, relações, desamores, relações interpessoais, amores,
perdas, ganhos, viagens, trabalhos, entre outras situações. (OLIVEIRA, 2009).
Apesar do uso constante do verbo ser, que invoca um estado
permanente, percebe-se que os adolescentes apresentam suas experiências e
expõem suas representações acerca do envelhecimento com certa insegurança,
visto que em alguns extratos de UCEs identificamos o uso da expressão né, como
se quisessem interagir com o entrevistador e ao mesmo tempo auto confirmar seus
pensamentos.
Uma fase normal como qualquer outra e pode ser ruim, uma fase da vida como qualquer outra. É a última fase, onde as pessoas têm mais experiência. Uma fase intermediária, porque muitas coisas ruins ou boas podem acontecer com as pessoas no geral, né. (uce n°563; Khi2=23; uci n°40; *suj_40 *sex_mas *id_16a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_5s *vi_4p *ic_si) Tudo na vida tem seu lado positivo e lado negativo né. O lado bom é que não faz nada ai é bom demais, não tem muita responsabilidade e é ruim porque começa a aparecer as doenças. (uce n°606; Khi2=15; uci n°42; *suj_42 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_7p *ic_na)
Envelhecer significa, de modo geral, crescimento, maturidade e não
mutilação, paralisia. É algo processual, em curso com plena vigência e força. Viver é
tecer naturalmente a trama da existência e, nesse contexto, cada fase do
103
desenvolvimento é marcada com seus encantos e limitações, perdas e ganhos,
riquezas e privações. (PITANGA, 2006).
Os discursos dos adolescentes deste estudo apontam uma semelhança
com a pesquisa de Magnabosco-Martins, Vizeu-Camargo e Biasus (2009), onde diz
que os participantes mais jovens se restringem a destacar aspectos bons e ruins da
velhice. Os aspectos bons estão associados às experiências, aos sentimentos
positivos e recordações, do tempo decorrido e das dificuldades encontradas ao
longo da vida. Já os aspectos ruins dizem respeito às doenças, a diminuição da
disposição, a proximidade com a morte, as perdas de pessoas queridas e da
capacidade, sobretudo física, de fazer o que faziam na juventude.
Néri (2006) nos apresenta o envelhecimento da seguinte forma: o
processo de mudanças universais, que se traduz em diminuição da plasticidade
comportamental, em aumento da vulnerabilidade, e em acumulação de perdas
evolutivas e no aumento da probabilidade de morte.
Percebe-se a aproximação do envelhecimento com a morte como
processo natural de todo ser vivo, entretanto o que não se pode confundir é a
velhice com a finitude, na medida em que a velhice é apenas uma fase da vida igual
a qualquer outra que torna a pessoa inerente ao morrer.
Assim, trazemos o lugar que ocupa as representações nas sociedades
pensantes. E como refere Moscovici (2005) somos parte de dois universos,
consensual e reificado. O universo consensual é constituído das nossas
experiências e informações que recebemos e transmitimos através das tradições, da
educação e da comunicação social entre os grupos. No reificado, a sociedade é
vista como um sistema de diferentes papéis e classes, cujos membros são
desiguais, e que atingirão o lugar desejado em correspondência com a sua
competência profissional.
Eu nunca vi a velhice como coisa ruim. Muita gente tem medo da velhice por conta daquele medo que tem da morte, como e fosse uma aproximação da morte. Eu nunca pensei que a velhice fosse uma coisa ruim, eu acho que é uma fase como a infância, adolescência e adulto, eu acho que é uma fase que vamos ter que passar ou não. (uce n°259; Khi2=22; uci n° 19 : *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_na)
104
Portanto, para se entender as representações que envolvem a velhice, é
fundamental considerar singular este fenômeno, e associá-lo com o contexto
sociocultural e histórico no qual os adolescentes estão inseridos.
5.2.5.2 Sentimentos relacionados à velhice
Esta subclasse traz depoimentos que tentam justificar algumas
concepções negativas que os adolescentes manifestam a respeito da velhice. Já
foram bastante vistas durante todo este estudo as questões que relacionam a
velhice à doença e isto pode ser visto agora nestes fragmentos de UCEs a partir do
uso do verbo preocupar.
O que me preocupa são estas doenças tipo Alzheimer, que pode dar trabalho aos outros. (uce n°374; Khi2=21; uci n°28; suj_28 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_2p *ic_si)
Tudo nos leva a crer que estas representações estão ligadas a alguma
experiência com algum idoso doente na vida destes sujeitos, pois eles nomeiam até
mesmo as doenças que trazem maior temor, porque elas podem lhes tirar a
independência.
Santos (2004) comenta que a velhice não pode ser encarada como
sinônimo de doença ou degeneração física e mental, pois esta correlação não existe
e prejudica a aceitação social e individual.
O que me preocupa com a velhice são as doenças né. que o corpo tá fraco, a única coisa ruim que eu vejo na velhice é isso mesmo. isso pode gerar a falência da pessoa, você fica mais fraco e qualquer doença que apareça pode ser fatal.( uce n°802; Khi2=25; uci n°54; *suj_54 *sex_mas *id_17a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_4p *ic_na)
O adolescente exacerba a questão da ausência de saúde e encontra-se
preocupado com este fato, pois poderá lhe trazer a independência, a perda de
qualidade de vida e de sua funcionalidade; situações que tornam a velhice obscura.
Pode aparecer doença em todas as fases na vida da gente, mas na velhice ela vem para ficar e complicar, tornar a pessoa muito doente e incapacitada de fazer as coisas. (uce n°740; Khi2=18; uci n°51; suj_51 *sex_fem *id_17a *esc_med2 *rel_ev *col_ab *ren_2s *vi_3p *ic_si)
105
Enfatizaram que a falta de integridade física, muitas vezes, acarreta
inatividade e isolamento, o que contribui para o envelhecimento patológico e para a
justificativa de que essas pessoas se tornaram biológica e psicologicamente
despreparadas para enfrentar os desafios e as exigências desta fase da vida.
Apesar de não ser sinônimo de doença, o envelhecimento acarreta
alterações anatomopatológicas, que geralmente se apresentam através de doenças
crônicas. Assim, o envelhecimento tem sido associado a uma prevalência de
doenças crônicas, causadoras de dependência, fragilidades, incapacidades e morte
(GARCIA et al., 2006).
Segundo Uchôa (2003), essa visão negativa e deficitária do
envelhecimento, que é característica do ocidente, pode ser explicada como
consequência de uma sociedade centrada na produção, no rendimento, na
juventude e no dinamismo. Em sociedades não-ocidentais, o envelhecimento é
geralmente apresentado por imagens bem mais positivas, mostrando que uma
representação centrada em aspectos negativos não é universal.
Logo, o processo de envelhecimento precisa deixar de ser visto como
uma decorrência de fenômenos puramente naturais e biológicos. Ele deve ser
visualizado, também, como um fenômeno profundamente influenciado pela cultura,
onde os indivíduos reagem a partir de suas referências pessoais e culturais.
5.2.6 CLASSE 6 - A visão do idoso na sociedade dita pelos adolescentes.
A classe 6 foi a última a ser formada a partir das partições do programa
Alceste. Ela apresentou 152 UCE, o que representa 21% do total do corpus
analisado, que foi de 735 UCEs. Esta classe situa-se no segundo lugar entre as
classes de maior número de UCEs, sendo, portanto a segunda mais significativa.
Ela oferece 72 palavras analisáveis e exibe associação estatística com os
sujeitos 51, 57, que possuem a idade de 17 anos e se identificam como evangélicos.
Observa-se que poucas variáveis compõem a associação estatística desta classe.
As palavras analisáveis de maior importância foram destacadas das UCEs
e as 27 principais formas reduzidas, até khi2=11, foram colocadas na Classificação
Hierárquica Descendente. Sendo que as formas reduzidas de maiores khi2, seus
contextos semânticos e freqüência, encontram-se dispostas no Quadro 8.
106
Como pode ser visualizado no Quadro 8, as formas reduzidas com maior
associação estatística (khi2) à classe são: torn, jovem, reconhec, mundo, idade,
idos, ano, part, pesso, uns, velh, moda, comporta, caracterist e ment. Destaca-se
que algumas formas reduzidas envolvem uma variedade de palavras, como, por
exemplo, velh, que se refere a velha, velha e velhos. No entanto, outras formas
reduzidas encerram em si mesmas o seu contexto semântico, como a forma jovem.
.
Forma Reduzida Contexto Semântico Khi2 Frequência
torn torna, tornar 169 60
jovem jovem 135 76
reconhec reconheço 104 43
mundo mundo 76 61
idade idade 75 75
idos idosa, idoso 66 249
ano anos 58 65
part parte, partir 46 32
pesso pessoa, pessoas 44 189
uns uns 39 23
velh velha, velhas, velho 39 98
ment mental, mente 37 12
comporta comportamento 37 13
caracteristi característica, características 22 23
moda moda 12 4
Quadro 8: Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de khi2, sua
frequência, e seus contextos semânticos da classe 4. Fortaleza, 2012.
Verifica-se no Quadro 8 que o contexto semântico das formas reduzidas
expressam, com maior clareza, um panorama geral da classe em relação aos
conteúdos que nela se encerram. A composição semântica destas formas reduzidas
evidencia a presença de conceitos e conhecimentos dos adolescentes sobre os
motivos levam a pessoa a se tornar velha, além disso, eles falam sobre a situação
dos idosos no mundo frente aos mais jovens.
Assim, os conteúdos desta classe versam sobre a influência da sociedade
sobre as diferentes faixas etárias sob a visão dos adolescentes.
Uma maior delimitação dos conteúdos desta classe encontra-se no
dendograma de sua CAH (Figura 10) visto que nesta as formas reduzidas
apresentam-se agrupadas de acordo com a relação existente entre elas.
107
A fim de melhorar a compreensão da classe 6, sua CAH é apresentada
com os pequenos grupos de forma reduzidas, aos quais foram conferidos
significados, como mostra a Figura 10.
FIGURA 10: Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 6 – Fortaleza, 2012.
Esta classe encontra-se dividida em duas categorias, a primeira formada
pelas formas reduzidas: caracteristi, dos, velh, form, jovens, vej, jovem e mundo, que
se relacionam entre si e com o outro grupo formado pelas formas: dificuldade,
comec, ment, nov, comporta e mesma. Esta categoria explicita o nome jovem e traz
ideia de como o mundo vê os jovens e os velhos, sendo nomeada: “O status do
idoso na sociedade moderna: o mundo é dos jovens!”.
A segunda categoria foi formada por muito menos formas reduzidas,
apenas idos e pesso que se relacionam entre si e com o outro grupo formado pelas
formas: torn, part, ano, uns, idade e reconhec. Estas formas juntas embasam
conteúdos que criam a categoria: “Idosos versus velhos”.
108
4.2.6.1 O status do idoso na sociedade moderna: o mundo é dos jovens!
Os adolescentes explanaram seus pensamentos sobre a posição que o
idoso ocupa no mundo. Foi praticamente unâmine a resposta que mostra que o
idoso não é mais figura com papel reconhecido nesta sociedade contemporânea, no
sentido que, hoje, é oferecida ao jovem toda atenção da sociedade.
O mundo é mais jovem que idoso, pois eles superam a quantidade de pessoas idosas e por causa da tecnologia que abrange mais as pessoas jovens. (uce n°365; Khi2=18; uci n°27; *suj_27 *sex_fem *id_14a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_3p *ic_na)
Estamos diante de um tempo de múltiplas transformações, de aumento do
número de idosos convivendo em nosso meio, entretanto este fato não foi ainda
incorporado à formação do adolescente visto que ele assegura a imagem de velho
como algo obscuro e ultrapassado dos dias atuais.
No mundo capitalista, onde impera a força de trabalho e produção, o
consumo, os trâmites financeiros e o lucro, o idoso é colocado em segundo plano,
uma vez que ele não atua mais no mercado de trabalho e é caracterizado
pejorativamente como inativo.
Segundo Cavalcante (2005) nota-se na sociedade a cultura de descartar
tudo o que é considerado “velho”. Vive-se uma fase onde tudo se torna rapidamente
obsoleto e aqueles que não acompanharem mais a grande onda, tornam-se,
rapidamente, desinteressantes, como o idoso. Com a perda de identidade no
mercado de trabalho o idoso na família ganha uma nova serventia, ele é reciclado,
aproveitado de várias formas que advêm de um mesmo apontamento, o recurso
financeiro. E esse jeito da família perceber o mais velho só aumenta o processo de
coisificação da pessoa idosa.
O mundo é dos jovens, porque tem ainda muito que viver. (uce n°868; Khi2=14; uci n°57; *suj_57 *sex_fem *id_17a *esc_med1 *rel_ev *col_ab *ren_2s*vi_3p *ic_na) Acho que o mundo é mais jovem, pois em tudo o jovem influencia e tudo é voltado para o jovem. (uce n°229; Khi2=18; uci n°16; *suj_16 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_ns *vi_5p *ic_na)
109
Percebe-se o uso frequente de conjunções nestes discursos,
principalmente, aquelas de caráter explicativos, com as quais os adolescentes
buscam elucidar ao público o porquê de suas convicções.
Os adolescentes representam o mundo como um jovem e enaltecer sua
classe de adolescentes, mostrando que o mundo globalizado em que vivemos, gira
em torno do jovem, em todas as suas nuances positivas, de beleza, de atividade, de
inteligência e de modernidade.
Propagam significativamente que o idoso já é um ser ultrapassado que
não alcança o ritmo das mudanças e das tecnologias; e, sobretudo não consideram
o valor das informações e ensinamentos que só a história oral proferida pelos mais
experientes é capaz de transmitir.
Acho que o mundo é mais de jovem, pois o mundo é dinâmico e mais voltado pro jovem. Os jovens são que estão à frente das manifestações. (uce n°264; Khi2=24; uci n°19; *suj_19 *sex_mas *id_15a *esc_med2 *rel_es *col_jc *ren_5s *vi_3p *ic_na)
Consoante Rodrigues e Soares (2006), em função das constantes
mudanças decorrentes da emergência da sociedade pós-industrial, a sociedade
contemporânea encontra-se num processo de redefinição de costumes, de
comportamentos e consequentemente do estabelecimento de novos paradigmas das
relações humanas. São novos valores que configuram uma nova visão de mundo,
de sociedade, de um novo período histórico que se constrói globalmente.
Os mesmos autores prosseguem dizendo que a revolução tecnológica
(com suporte nas tecnologias microeletrônicas e da era cibernética), é marcado pela
instantaneidade e descartabilidade favorecendo o culto da juventude, da beleza, da
virilidade e da força física em detrimento da idade madura e da velhice que são
associadas à improdutividade e decadência. Há até quem fale em “ideologia da
juventude”.
Nesse cenário social de predomínio da efemeridade e da não
permanência, há pouco espaço para os idosos que acabam por ficarem
desprotegidos e marginalizados, contexto esse que tem como resultado o aumento
da segregação social entre as faixas etárias e a dificuldade de atuação do idoso
como também sujeito protagonista da sociedade em que habita.
110
5.2.6.1 Idosos versus velhos
Os conteúdos das UCEs que compõem esta categoria mostram como os
adolescentes internalizam a questão do ser idoso e ser velho.
Acho que uma pessoa se torna idosa é com o passar dos anos mesmo, a partir de uns 70 anos. Reconheço uma pessoa idosa pelas mesmas características do velho. Acho que não tem diferença. (uce nº652; Khi2=26; uci n°45; *suj_45 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_ab *ren_1s *vi_2p *ic_si) O que torna a pessoa idosa é a idade, a aparência. Acho que fica idosa depois de uns 60 anos. Reconheço a pessoa idosa da mesma forma que identifico o velho, pois pra mim é a mesma coisa. (uce n°287; Khi2=18; uci n°21; *suj_21 *sex_fem *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_jc *ren_ns *vi_3p *ic_na)
Para grande parte dos sujeitos estudados não existe diferença entre os
nomes idosos e velhos, haja vista, segundo eles, se configuram como sinônimos e
que, somente, o passar do tempo é o responsável por estas características que
deixam marcas.
É notório que os adolescentes nunca foram informados nem na escola,
nem na família sobre a distinção destes termos. Eles demonstraram não possuírem
mentalmente formada uma diferença entre o teor destes vocábulos.
No Brasil, será idoso quem tiver 60 ou mais anos de idade, homem ou
mulher, nacional ou estrangeiro, urbano ou rural, trabalhador da iniciativa privada ou
do serviço público, livre ou recluso, exercendo atividades ou aposentado, incluindo o
pensionista e qualquer que seja a sua condição social. (MARTINEZ, 2005).
Uma pessoa se torna idosa pela mentalidade dela, pelo jeito que ela se cuida e pela idade dela. A gente é uma pessoa idosa a partir de 80 anos, nesta faixa. Reconheço uma pessoa idosa da mesma forma que vejo o velho, sem diferença pra mim. (uce n°686; Khi2=18; uci n° 47; *suj_47 *sex_mas *id_15a *esc_med1 *rel_ca *col_ab *ren_3s *vi_5p *ic_na)
Os adolescentes revelam que o processo de tornar-se idoso está
relacionado às mudanças de aparência, comportamento, de preferências, enfim, da
forma de pensar do ser que envelhece. Alguns acham que velho é apenas uma
conotação negativa, enquanto idoso enseja respeito e valorização.
A pessoa se torna idosa a partir de uns 70 anos e também psicologicamente a pessoa se torna idosa, sem nem ter a idade
111
ainda. Reconheço o idoso do mesmo jeito que reconheço um velho, pois como eu já falei pra mim é a mesma coisa, só muda a forma de tratar. (uce n°219; Khi2=14; uci n°15; *suj_15 *sex_fem *id_16a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_5p *ic_na) A diferença entre idoso e velho existe. Idoso é pela idade e velho é um estado de espírito, é mais as características mesmo das pessoas. (uce n°95; Khi2=17; uci n°6; *suj_06 *sex_fem *id_15a *esc_med2 *rel_ca *col_jc *ren_6s *vi_4p *ic_si)
Maud Mannoni (1995) nos adverte que velho nada tem a ver com uma
idade cronológica. É um estado de espírito. Existem “velhos” de 20 anos, jovens de
90. É uma questão de generosidade, mas também uma maneira de guardar em si
certa dose de cumplicidade com a criança que se foi.
É como se idoso fosse algo pré-estabelecido, datado, que a pessoa será
inevitavelmente ou mesmo contra sua vontade; e velho é “estar”, haja vista abre
perspectiva para o lúdico, o humor, o emocional e está estritamente associado ao
seu estado.
O ser velho representa um conjunto de atribuições e transformações
negativas que estão ligadas ao conceito tradicional de velhice. No imaginário social
o velho está diretamente associado à estagnação e perdas que levam à ruptura e ao
isolamento; inflexibilidade decorrente de apego a valores ultrapassados e
cristalizados que também levam ao isolamento social; imagem negativa do
aposentado, significando um final de vida, falta de capacidade pessoal e a exclusão
da rede produtiva; pessoa que necessita de cuidados, sem força, sem vontade, sem
vida, doente, incapacitado e que por todos esses motivos fez opção pela
passividade. (ROGRIGUES; SOARES, 2003).
No final da década de 60, chegaram ao Brasil as mudanças da imagem
da velhice ocorridas na Europa e a maioria das análises da velhice começam a
utilizar a noção de idoso. O termo ‘velho’, assim, ficou associado a uma conotação
negativa voltada principalmente para as pessoas de mais idade das camadas
populares que apresentam os traços do envelhecimento e do declínio. A categoria
idoso foi implementada e o termo ‘velho’ utilizado com o sentido de decadência e
retirado dos textos oficiais assim como dos textos das análises antropológicas e
sociológicas. (SANTOS, 2010).
112
Enfim, não existe uma distinção clara do que venha a ser velho e idoso,
porém há um ponto em comum e convergente que é o fato de serem culturalmente
construídas e que podem ser modificados. No entanto, tais modificações não podem
ser feitas e refeitas pelos seres humanos no momento que quiserem. Na verdade, a
sociedade coloca limites à capacidade do homem inscrever a cultura da natureza.
(DEBERT, 2003).
Pode-se afirmar que os símbolos apreendidos das representações sociais
determinam a forma como a sociedade encara o processo de envelhecimento, o
valor dado ao individuo que envelhece: o idoso e/ou velho. Essa representação da
velhice determina também o tipo de relação que a família, e consequentemente os
adolescentes, estabelecerá com seus idosos.
O estudo revelou, ainda, que tanto os adolescentes do colégio público
quanto do particular não demonstraram diferenças em suas manifestações.
Existiram ideias pontuais, como por exemplo: um aluno de escola particular
relacionou a velhice com completude e experiência (“relaciono a velhice a
completude e experiência, pois a pessoa já realizou tudo na vida”), enquanto que o
universo dos participantes relacionou com doença e incapacidade, portanto, a
representação está ancorada em bases negativas e objetivam sempre a velhice
pelos aspectos das alterações negativas.
113
Considerações Finais
114
6 Considerações Finais
No estudo, foi possível identificar diversos conteúdos e elementos que
integram as representações sociais da velhice e do idoso entre adolescentes
escolares. Neste caso, o uso da Teoria das Representações Sociais, se mostrou
pertinente para a apreensão destes elementos/conteúdo, visto enfatizar o processo
de construção destas representações pelos participantes nos seus grupos sociais.
Para a captação concreta e fiel destas representações confeccionamos o
instrumento de coleta dos dados com várias perguntas acerca do tema para que
abarcasse ao máximo estas representações, principalmente para captar se os
campos distintos pelo seu grupo social revelavam alguma representação diferente.
Firmou-se, aos poucos, os objetivos e deu-se continuidade ao processo
de efetivação da pesquisa que teve como pano de fundo a escola, lugar
especialmente escolhido por considerar socialmente fértil para a construção de
novos significados e um possível ambiente de integração entre as gerações.
Em relação a isto, o estudo aponta lacunas no processo de formação para
o entendimento da velhice por parte dos adolescentes. Sejam estudantes de escola
pública, sejam de escola privada, o sujeito encontra um projeto institucional voltado
para o conhecimento biologicista do idoso, não promovendo um despertar dos mais
jovens para as dimensões culturais, psicológicas e sociais que envolvem o
envelhecer.
Isto aponta possibilidades para a escola ampliar o seu papel na
comunidade, abrindo seus portões para que pais, avós e netos possam participar de
projetos de integração geracional, trazendo momentos de encontros para que
desperte, desde a escola, a integração e interação entre as gerações com o objetivo
de trocas, para que juntos façam parte desde momento de formação cidadã.
Dentro da escola, estes assuntos podem ser tratados
interdisciplinarmente, tendo contribuições das diferentes, mas inter-relacionadas
áreas do conhecimento. Dentro deste campo proveitoso pode atuar também a
enfermagem, aliando seu papel de educadora à formação de parcerias junto à
escola para atuarem no processo de mudança das perspectivas das sociedades em
relação aos idosos e ao envelhecimento.
A família entra neste estudo como protagonista no processo de
construção dos conceitos da velhice e idoso para os membros mais novos que nela
115
estão inseridos, haja vista ser nesta instituição o lugar no qual congrega indivíduos
de todas as faixas etárias, com diferentes experiências e, sobretudo, onde primeiro
se adquire instruções que irão fazer parte do crescimento e desenvolvimento do ser
humano.
É na família que os adolescentes ancoram a questão que envolve o
respeito ao idoso, marcado pelas falas que dizem que os pais orientam a sempre
levantar para ceder o assento do ônibus aos mais velhos. Também são nas relações
familiares que se oportuniza o conhecimento e a ampliação da compreensão das
gerações que coexistem.
No contexto atual de aumento expressivo do número de pessoas idosas,
em muitos arranjos familiares os idosos estão co-residindo com gerações mais
jovens, o que é benéfico para o desenvolvimento dos adolescentes, pois como
revela no estudo eles sempre apontam como referencia de idoso os seus avós.
Os resultados evidenciaram que hoje uma pequena parcela dos
adolescentes convive com seus avós, porém em seus relatos ficou sobressaltado
que na infância, grande parte deles, independente da classe social, morou com os
avós, os quais exerceram o papel de educador, e até mesmo, de provedor financeiro
dos netos.
Isto favorece a objetivação da velhice junto aos adolescentes, uma vez
que a coexistência das gerações, e as experiências adquiridas podem influenciar
positiva ou negativamente a visão deles perante a velhice.
Percebe-se uma ambivalência das representações conotadas pelos
adolescentes diante da velhice, pois, ao mesmo tempo que eles colocam os idosos
como seres passíveis de respeito pelos anos a mais que tem de vida, pela sua
experiência acumulada, por serem o patrimônio cultural da sociedade, eles
desvalorizam por colocarem os idosos fora no ciclo da modernidade, passando o
idoso à obsolescência, face às constantes mudanças do mundo contemporâneo.
Foi possível observar que muitas das representações sociais da velhice
para os adolescentes ainda ancoram-se na doença, que leva o idoso à debilidade
física, a incapacidade funcional de realizar suas atividades diárias, a solidão, o que
aos poucos o levam a morte. Esta relação muito próxima com a dependência faz
esta fase ser temida pelos adolescentes.
No entanto, foi possível perceber um elemento representacional bem
promissor, que é o desejo declarado de construção familiar. Esta representação fez
116
surgir uma classe, a qual obteve maior número de unidade de contexto elementar,
sendo, portanto, a mais significativa.
Os adolescentes idealizam o casamento, com a formação de uma família
nuclear, constituída, por mulher/marido, filhos e até mesmo netos. Afirmam o prazer
que terão de acolher seus netos e preparar-lhes os melhores pratos,
tradicionalmente, assim como são tratados pelos seus avós.
Mas ao mesmo tempo, poucos dos sujeitos revelam que irão assumir as
características principais da velhice, que para eles são os cabelos brancos e as
rugas. Esta identificação da velhice pelas características físicas formou a classe de
maior significância dentro do corpus das entrevistas, levando-se a inferir que é a
aparência, o que o outro vê, o que é mais percebido com a chegada da velhice.
É inegável que a aparência é admirável para muitos adolescentes, e nos
dias atuais, dependemos de nossa imagem no espelho do outro, ou seja, devemos
ser ativos, competentes, criativos, ativos, produtivos, atraentes, belos e inteligentes
e estas, dificilmente, serão características direcionadas aos idosos.
Nesta sociedade marcada pelos ideais narcisistas, a perda do corpo
jovem e, consequentemente, a negação como objeto de desejo, a denominação de
velho, inútil, improdutivo e feio, seria apenas um dos lutos que o sujeito adolescente
deve se preparar para enfrentar e elaborar.
A contribuição deste estudo perpassa o tema da pesquisa, visto que além
do pressuposto ser confirmado e os objetivos alcançados, o contato direto com o
adolescente proporcionou o despertar para este tema. Alguns adolescentes
expuseram nunca terem parado para pensar neste tema e confessaram que iriam
olhar para os idosos com um novo olhar, que fizesse diminuir a distância entre eles,
e, assim, perceber as particularidades de cada um.
Nesta mesma perspectiva, este estudo trará a cooperação da
enfermagem na educação gerontológica, na medida em que, estas descobertas
feitas servem de panorama de como o senso comum está sendo compartilhados
pelos adolescentes e onde os projetos educacionais devem atuar com mais
precisão.
Depois de delinear alguns aspectos relevantes nas representações da
velhice e do idoso, confirma-se que é fundamental que a escola, na condição de
instituição responsável pela educação com a vida e para a vida toda, abra uma
possibilidade de também educar para o envelhecimento.
117
Este seria um primeiro e grande passo para a internalização pelos
adolescentes de positivas concepções sobre o envelhecer e atuaria na
desconstrução dos preconceitos, mitos e crenças, que fornecem sustentação para o
processo de marginalização e/ou exclusão deste segmento populacional.
A enfermagem pode usufruir desta teoria vinda da psicologia social e
aplicá-la em nossa realidade viabilizando as boas relações entre as gerações e,
sobretudo, a quebras de paradigmas.
Portanto, a tentativa de apreender as representações sociais da velhice e
do idoso sob a ótica dos adolescentes não se encerra com o estudo, espera-se que
este possa ser o ponto de partida como objeto de reflexão e discussão para outras
pesquisas, as quais podem se propagarem para outros centros de estudo, com
pretensões bem mais ambiciosas, tudo em prol da dignificação do ser humano que
envelhece.
Pode-se também realizar estudos interventivos voltados para a educação
dos adolescentes; abordar este tema junto aos coordenadores das escolas e
mostrar a importância de ter no programa discussões e debates sobre a temática.
Para finalizar esta etapa, considera-se que o percurso metodológico
adotado por este estudo representou um grande desafio para a pesquisadora, visto
que era uma novidade diante deste imenso mundo da pesquisa, entretanto, obteve,
no final, bons frutos, com excelentes resultados que, com certeza, são contribuições
para a enfermagem e para a ciência como um todo.
Desde o início da coleta de dados, com a visita às escolas e explanação
dos objetivos em sala de aula, percebeu-se que não seria fácil convencer os
adolescentes a participarem voluntariamente da pesquisa; além de ser difícil, pelo
imediatismo da jovialidade, deixá-los quietos, falando com um entrevistador.
Sem esquecer a dificuldade encontrada para aceitação da pesquisa pelos
pais e o consequente retorno dos Termos de Consentimentos assinados, para então
se dar continuidade ao processo de coleta.
Diante de tudo isto, deixo, então, as palavras de Paulo Freire que podem,
neste momento, transmitir meus sentimentos, assim expresso: “Não há transição
que não implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo
amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro
baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o
que somos para saber o que seremos”. (FREIRE, 1983).
118
Referências
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126
Apêndices
127
APÊNDICE A – PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO
Pesquisa intitulada: Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice subsídios para o cuidado clinico de enfermagem
1. SEXO 1.1 ( ) Masculino 1.2 ( ) Feminino
2. IDADE 3. SÉRIE CURSADA
4. Nº DE PESSOAS COM QUEM RESIDE 5. RENDA FAMILIAR
6. ESTADO DE ORIGEM
7. BAIRRO QUE RESIDE
8. RELIGIÃO 8.1 Católica ( )
8.2 Batista/Protestante ( )
8.3 Espírita ( )
8.4Outra ( )
9. CONDIÇÕES DE MORADIA 9.1 ( ) Própria
9.2 ( ) Alugada
9.3 ( ) Emprestada
10. COM QUEM VIVE 10.1 ( ) Pai Idade:
10.2 ( ) Mãe Idade:
10.3 ( ) Familiar Idade:
10.4 ( ) Outro responsável Idade:
11. NA CASA TEM IDOSO 11.1 ( ) Sim
11.2 ( ) Não
12. SE SIM, GRAU DE
PARENTESCO
12.1 ( ) Pai 12.2 ( ) Mãe 12.3 ( )Avô
12.4 ( ) Avó 12.5 ( ) Tio 12.6 ( ) Tia
12.7 ( ) Outro. Especificar:
128
APÊNDICE B - ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
1. Pensando a velhice, o que você tem a dizer sobre a velhice? E os seus
colegas o que acha que eles pensam sobre a velhice?
2. Como você identifica a velhice nas pessoas? Quais as características você
identifica?
3. Velhice tem a ver com o quê? O que pensa?
4. O que sente em relação à velhice? Alguma coisa te preocupa na velhice? Se
sim, o que preocupa? O que te incomoda na velhice?(explorar por que incomoda)
5. E o idoso o que você sabe sobre isso? Fale um pouco sobre o idoso?
6. O mundo é mais jovem ou mais idoso? Como uma pessoa se torna idosa?
7. A partir de quando a gente é uma pessoa idosa?
8. Como reconhece uma pessoa idosa? (explorar as características) Com
quantos anos você acha que uma pessoa é idosa?
9. Como você lida com o idoso? (explorar como age com o idoso)
10. Tem ou teve alguma experiência com idoso? Fale sobre essa experiência?
11. Poderia me dá exemplo de uma pessoa idosa? Por que citou essa pessoa?
12. Na escola, se conversa sobre a velhice e sobre o idoso? Quem conversa,
sobre o que conversa? O que pensa sobre essa conversa?
13. Na família, se conversa sobre a velhice e sobre o idoso? O que se conversa?
Quem conversa? O que pensa sobre isso?
14. Você já pensou na velhice? Como imagina que ela será?
15. Você se imagina idoso? Como você pensa que será quando ficar idoso?
Como imagina que será sua velhice?
16. Que tipo de idoso/velho quer ser?
129
APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(ADOLESCENTE)
Você esta sendo convidado (a) para participar da pesquisa intitulada: Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clinico de enfermagem. A pesquisa tem como objetivo Conhecer as Representações Sociais sobre o ser idoso e a velhice para adolescentes escolares de Fortaleza – Ce.
Sua participação será voluntária e consiste em respondendo a uma entrevista que será gravada. Fica assegurado o anonimato das informações e ao utilizarmos os dados para elaboração de artigos científicos, apresentação em congressos e seminários, confecções de folders informativos, será sempre resguardadas a identidade de cada participante . Vocês poderão deixar de participar do estudo, mesmo tendo dado seu consentimento, quando achar necessário, e isso não lhe trará nenhum prejuízo. Todos os participantes poderão receber quaisquer esclarecimentos acerca da pesquisa com a pesquisadora responsável Profa. Dra. Maria Célia de Freitas pelo fone (85) 3101-9805.
Informo ainda, que o Comitê de Ética em Pesquisa da UECE encontra-se disponível para quaisquer esclarecimentos sobre esta pesquisa pelo fone: 3101-9890 Endereço Av. Paranjana, 1700 – Campus do Itaperi –Fortaleza / CE.
Este termo está elaborado em duas vias, sendo uma para o sujeito participante da pesquisa e outra para o arquivo do pesquisador.
Atenciosamente,
Profa. Dra. Maria Célia de Freitas Pesquisadora Responsável
Eu,____________________________________________________________, após
ter sido esclarecido sobre a pesquisa e sobre como será minha participação,
concordo voluntariamente em participar.
Fortaleza, _________________
_____________________________ Pesquisado __________________________________ Pesquisador que recebeu o Consentimento __________________________________ Pesquisadora Responsável
130
APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(RESPONSÁVEL)
O(a) senhor(a) esta sendo consultado sobre a Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clinico de enfermagem estudo fundamentado nas Representações Sociais. A pesquisa tem como objetivo Conhecer as Representações Sociais sobre o ser idoso e a velhice para adolescentes escolares de Fortaleza-CE.
A participação será voluntária e ele (a) responderá uma entrevista que será gravada.
Fica assegurado o anonimato das informações por eles prestadas e ao utilizarmos
os dados para elaboração de artigos científicos, apresentação em congressos e
seminários, confecções de folders informativos, será sempre resguardadas a
identidade de cada participante. O (a) senhor(a) poderá retirar o consentimento
dado, em qualquer etapa do estudo e isso não trará prejuízo para os estudos de
seus filhos (as). Todos os participantes poderão receber quaisquer esclarecimentos
acerca da pesquisa com a pesquisadora responsável Profa. Dra. Maria Célia de
Freitas pelo fone (85) 3101-9805.
Informamos ainda, que o Comitê de Ética em Pesquisa da UECE encontra-se
disponível para quaisquer esclarecimentos sobre esta pesquisa pelo fone: 3101-
9890 Endereço Av. Paranjana, 1700 – Campus do Itaperi –Fortaleza / CE.
Este termo está elaborado em duas vias, sendo uma para o sujeito participante da
pesquisa e outra para o arquivo do pesquisador.
Atenciosamente
Profa. Dra. Maria Célia de Freitas
Pesquisadora Responsável
Eu,____________________________________________________________, após
ter sido esclarecido sobre a pesquisa e sobre como será a participação de meu
(minha) filho(a), concordo voluntariamente na participação dele (a).
Fortaleza, _________________ __________________________________ Pesquisado __________________________________ Pesquisador que recebeu o Consentimento _________________________________ Pesquisadora Responsável
131
APÊNDICE E - SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS
Senhor(a) __________________________________________________solicito sua
autorização para seu filho(a) _____________________________________ para
participar da pesquisa intitulada Representações sociais de adolescentes
escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clinico de
enfermagem. Esclarecemos que pesquisa não trará nenhum prejuízo para seu
filho(a) e,os benefícios advirão com a sensibilização dos mesmos sobre o processo
de envelhecer, permitindo a adoção de medidas saudável para se manterem ativos
na velhice, proporcionar conhecimento e discussões sobre o idoso como cidadão
presente no domicílio, na comunidade e sociedade.
______________________________ Assinatura do pesquisador Maria Célia de Freitas ______________________________ Assinatura do participante Polegar Direito
132
APÊNDICE F – SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO Prezado(a) Senhor(a),_________________________________________ Solicito ao _________________________________________ autorização para
realizar a pesquisa intitulada:
Representações sociais de adolescentes escolares sobre idoso e velhice: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem.
A qual será realizada pela mestranda Rafaelly Fernandes Pereira. Este estudo
possui como objetivos: Conhecer as Representações Sociais sobre o ser idoso e a
velhice para adolescentes escolares; Identificar como os adolescentes pensam a
própria velhice e que idoso querem ser. Os sujeitos serão estudantes do ensino
médio, a participação deles será voluntária e ele (a) responderá uma entrevista que
será gravada. Fica assegurado o anonimato das informações por eles prestadas e
ao utilizarmos os dados para elaboração de artigos científicos e apresentação em
congressos e seminários será sempre resguardadas a identidade de cada
participante.
Esta investigação visa compreender a representação social de adolescentes sobre o
idoso e os benefícios advirão com a sensibilização dos mesmos sobre o processo de
envelhecer, permitindo ao adolescente a adoção de medidas saudável para se
manterem ativos na velhice, além de proporcionar conhecimento e discussões sobre
o idoso como cidadão presente no domicílio, na comunidade e sociedade.
A senhora ou qualquer outro participante poderá receber quaisquer esclarecimentos
acerca da pesquisa com a pesquisadora responsável Profa. Dra. Maria Célia de
Freitas pelo fone (85) 3101-9805.
Fortaleza, ___de __________ de 2011.
Muito obrigada,
______________________________ Enfª Rafaelly Fernandes Pereira Pesquisadora Principal
__________________________________________ Assinatura e carimbo do Responsável pela Instituição
_______________________________ Profª Drª Maria Célia de Freitas Pesquisadora Responsável/Orientadora
133
Anexos
134
Anexo A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
135