Reedição Aspectos Metodológicos Aplicados Ao Ensino Do Judô Para Crianças (1)

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1 ASPECTOS METODOLÓGICOS APLICADOS AO ENSINO DO JUDÔ PARA CRIANÇAS GONDIM, Denis Foster Universidade de Pernambuco – UPE Escola Superior de Educação Física – ESEF Orientador: Prof. Ms. Marco Aurélio Lauriano de Oliveira (ESEF-UPE) Atualizado em 16 de outubro de 2012. RESUMO O Judô há décadas é ensinado através de um modelo hegemônico tradicional, não descartando este método, mas sim, buscando evidenciar novas propostas que tenham como foco o aluno e um processo ensino-aprendizagem mais pedagógico, é que nasce este estudo. É de intuito do mesmo, gerar uma reflexão nos que desejam ou que já trabalham com o ensino do Judô, de modo que possam conhecer essas novas propostas e, através de análise critica, viabilizar a criação de seus próprios métodos, de forma que, busquem umas inovações conscientes, que através da prática seja apresentada por um Judô de perspectiva mais pedagógica e humanista. Este estudo é uma compilação de diversas propostas alternativas mundiais para o ensino do Judô, que foram selecionadas de forma criteriosa, de modo que, através de pesquisa bibliográfica, pudéssemos propor e defender novas diretrizes quanto ao ensino do Judô, principalmente para crianças. PALAVRAS-CHAVE: Metodologia de ensino; Judô; crianças; tradicionalismo. ABSTRACT The Judo has decades is taught through a traditional hegemonic model, not discarding this method, but yes, searching to evidence new proposals that have as focus the pupil and a more pedagogical process teach-learning, it is that this study is born. It is of intention of exactly, to generate a reflection in that they desire or that already they work with the education of the Judo, way that, can know these new proposals and through an analysis it criticizes, make possible the creation of its proper methods, form that, search an innovation conscientious, that through the practical one is presented by a Judô of more pedagogical perspective and humanist. This study, it is a compilation of diverse world-wide alternative proposals for the education of the Judo, that they had been selected of criteriosa form, way that, through bibliographical research, we could consider and defend new lines of direction how much to the education of the Judo, mainly for children. KEY WORLDS: Methodology of education; Judo; children; traditionalism

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ASPECTOS METODOLÓGICOS APLICADOS AO ENSINO DO JUDÔ

PARA CRIANÇAS

GONDIM, Denis Foster

Universidade de Pernambuco – UPE

Escola Superior de Educação Física – ESEF

Orientador : Prof. Ms. Marco Aurélio Lauriano de Oliveira (ESEF-UPE)

Atualizado em 16 de outubro de 2012.

RESUMO

O Judô há décadas é ensinado através de um modelo hegemônico tradicional, não descartando este método, mas sim, buscando evidenciar novas propostas que tenham como foco o aluno e um processo ensino-aprendizagem mais pedagógico, é que nasce este estudo. É de intuito do mesmo, gerar uma reflexão nos que desejam ou que já trabalham com o ensino do Judô, de modo que possam conhecer essas novas propostas e, através de análise critica, viabilizar a criação de seus próprios métodos, de forma que, busquem umas inovações conscientes, que através da prática seja apresentada por um Judô de perspectiva mais pedagógica e humanista. Este estudo é uma compilação de diversas propostas alternativas mundiais para o ensino do Judô, que foram selecionadas de forma criteriosa, de modo que, através de pesquisa bibliográfica, pudéssemos propor e defender novas diretrizes quanto ao ensino do Judô, principalmente para crianças. PALAVRAS-CHAVE : Metodologia de ensino; Judô; crianças; tradicionalismo.

ABSTRACT

The Judo has decades is taught through a traditional hegemonic model, not discarding this method, but yes, searching to evidence new proposals that have as focus the pupil and a more pedagogical process teach-learning, it is that this study is born. It is of intention of exactly, to generate a reflection in that they desire or that already they work with the education of the Judo, way that, can know these new proposals and through an analysis it criticizes, make possible the creation of its proper methods, form that, search an innovation conscientious, that through the practical one is presented by a Judô of more pedagogical perspective and humanist. This study, it is a compilation of diverse world-wide alternative proposals for the education of the Judo, that they had been selected of criteriosa form, way that, through bibliographical research, we could consider and defend new lines of direction how much to the education of the Judo, mainly for children. KEY WORLDS : Methodology of education; Judo; children; traditionalism

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1. INTRODUÇÃO

Ministrar aulas de Judô para crianças envolve diversos componentes

pertinentes ao ensino, dentre eles, citamos como exemplos: a didática, a pedagogia,

a metodologia, a avaliação e o planejamento. Na verdade, a metodologia no esporte,

de uma forma geral, é passível de variações, contudo, no Judô por ser uma prática

estigmatizada como “holística”, “arte marcial” e/ou “filosofia”, o desafio de propor

outras perspectivas metodológicas ou até mesmo de questionar o tradicionalismo,

envolve o fato de irmos ao encontro de todo um paradigma tradicionalista de ensino

ainda muito predominante nesta modalidade.

Preocupados em discutir essa problemática, assim como, propor orientações,

é que este estudo possui como principal objetivo, refletir o Judô na perspectiva

teórico-prática das aulas, propondo, antes de tudo, sempre relacionar as discussões

acerca da metodologia tradicional e também de outras propostas mais

contemporâneas.

Não é objetivo deste estudo, tentar superar a defasagem de informação

referente ao tema proposto para este, mas sim, oferecer entendimento facilitado

através de linguagem simplificada e condizente com a práxis pedagógica real do

meio judoístico, baseado em estudos e pesquisas efetuadas por grandes estudiosos

nacionais e internacionais da área da Educação Física e do Judô. Este estudo nasce

da necessidade de contribuir de forma positiva para o conhecimento dos que

atualmente trabalham ou pretendem trabalhar com o ensino do Judô, visto que

alguns pontos tratados aqui divergem com modelos tradicionais ainda fortemente

vigentes em âmbito nacional. A carência de Literatura específica em língua

portuguesa e de cursos e seminários específicos no Brasil, também são ponto forte

pelo qual os professores de Judô sentem dificuldades em reciclarem seus

conhecimentos. É foco desta investigação discutir alguns pontos pertinentes às

metodologias de ensino aplicadas ao Judô para crianças.

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2. BREVE HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO DO JUDÔ

Tratar da história do Judô é importante para que possamos entender o modelo

atual de ensino, e assim analisar as progressões devidamente contextualizadas com

cada período histórico. Acreditamos que o modelo de Judô atual é devidamente

justificado pelo seu passado, e por isso, é que se faz presente no primeiro momento

deste estudo, discutir pontos relevantes pertinentes ao passado.

O Judô foi criado no Japão em 1882, por um grande estudioso japonês

chamado Jigoro Kano, este esporte é fruto de uma sistematização técnica e filosófica

oriunda do Ju Jutsu, sistema de luta dos samurais, praticada pelo mesmo e que

posteriormente buscou modificar sua base, enfatizando fim educacional para este

esporte de combate no Japão. Literalmente, o significado do Judô é “caminho

suave”, esse conceito contextualiza-se através dos seus princípios filosóficos, que

são: Prosperidade e benefícios mútuos; ceder para vencer e máxima eficiência, que

foram criados para que pudessem reger de forma diferenciada a prática do Judô e

para que influenciassem também nas atitudes extra-judô (Santos, 2009), esses

princípios filosóficos estão totalmente atrelados a quatro raízes filosóficas orientais,

são elas: confucionismo, taoísmo, budismo e xintoísmo (KANO, 1986). De acordo

com Virgílio (2002), o Judô chegou ao Brasil através da imigração japonesa e

principalmente pela chegada de um aluno de Jigoro Kano chamado Mitsuyo Maeda

(Conde Koma) que o difundiu primeiramente em alguns estados do Brasil através de

desafios de lutas, e posteriormente fixou-se na região norte em Belém-PA.

Jigoro Kano, grande intelectual e bastante politizado, possuía ideais que

direcionavam para o favorecimento da intenção de mudanças, modificações e

atualizações relacionadas a tudo que envolvesse a educação como um todo em seu

país (Japão), alguns estudos apontam para o fato de que Jigoro Kano sofreu

influências ocidentais quando elaborou o Judô, tais como: da Educação Física

Inglesa; da revolução industrial ocidental; de filósofos como Kant e Comte; e das

viagens constantes à Europa visando o conhecimento dos modelos educacionais da

época (VILLAMÓN, 1999). Devido aos seus fins educacionais, filosóficos e

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esportivos, o Judô ganha o mundo através de demonstrações feitas pelos alunos

enviados por Jigoro Kano, depois desta larga difusão o Judô chega as olimpíadas,

contextualizado como esporte olímpico, seu conceito mais moderno pode ser

também definido segundo Brousse apud Franchini (2006), como uma luta de origem

japonesa, inicialmente criada com objetivos educacionais, mas que atualmente

dentro de um contexto competitivo, é mais conhecido como um esporte de combate

pertencente ao programa olímpico. O objetivo da luta é projetar o oponente sobre

suas costas com velocidade e controle ou imobilizá-lo por 25 segundos, estrangulá-lo

ou aplicar uma chave articular em seu cotovelo, fazendo-o desistir da luta.

Contudo, é importante sabermos que conceituar o Judô é algo um tanto

complexo já que depende de variáveis, principalmente a que relaciona a prática ao

campo de intervenção do Judô. Sobre isto, podemos afirmar que o Judô pode tomar

diversas vertentes, atuar em diversos âmbitos e apresentar várias finalidades, são

exemplos: perspectiva educacional (escolas); competitiva (clubes, academias e

associações); saúde (para melhora da aptidão física); reabilitação (idosos e

crianças); prática mental e filosófica; projetos sociais (massificação do Judô

preconizado por Kano); Universidades (currículo acadêmico de Educação Física); e

esporte adaptado à deficientes (cegos e portadores de síndrome de down).

Há bastante controvérsia quanto ao que realmente é o Judô, entre as diversas

opiniões de autores (com relação ao assunto) encontramos: arte marcial; desporto de

combate ou contato; sistema de luta; filosofia; esporte. Frente a estas diversificadas

opiniões, acreditamos que ele possa conter um pouco de cada conceito destes, pois

isso irá depender da leitura, da forma de trabalho e da contextualização em que se

dará sua prática.

O Judô já conquistou um importante “status” quanto aos benefícios que pode

oferecer aos seus praticantes, segundo a UNESCO (Organização das Nações

Unidas para a educação, a Ciência, e a Cultura) é um dos esportes mais

aconselhados na fase que compreende desde a infância até os quatorze anos de

idade, pois permite mediante o jogo e a diversão, conjugar fatores essenciais para o

desenvolvimento do indivíduo, como por exemplo, a coordenação de movimentos, a

psicomotricidade, o equilíbrio, a expressão corporal e a situação espacial (percepção

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cinestésica). Além disso, devido à sua capacidade didático-pedagógica, o Judô que é

um esporte olímpico dos mais difundidos através de projetos sociais, favorece

também à sua prática por deficientes visuais, autistas e portadores de Síndrome de

Down.

Atualmente, é notório que o Judô chegou ao âmbito escolar institucionalizado

com certo respeito já que diversas áreas profissionais (Educadores Físicos,

pediatras, psicólogos e pedagogos) o indicam para crianças, pois dependendo da

forma como for trabalhado por ‘’senseis” capacitados – (academicamente e também

quanto a formação de graus superiores – ‘’dans’’), do ponto de vista sócio-afetivo,

motor e cognitivo, será uma ótima ferramenta educacional para formação integral das

crianças (DELIBERADOR, 1990; VILLAMÓN, 1999).

3. DO PASSADO AO PRESENTE: reflexões acerca do modelo tradicional de

ensino no Judô .

Conceitualmente, a palavra metodologia diz respeito a métodos, ou seja,

maneiras de ordenar ações visando de forma organizada o cumprimento de

objetivos. Em termos práticos, trata-se da forma de ensinar os conteúdos partindo de

estratégias metodológicas condizentes com uma filosofia própria de trabalho.

O ensino do Judô é a reflexologia dos objetivos dos professores, da formação

dos mesmos, da idade biológica dos alunos, das condições materiais, e da

perspectiva de Judô no qual deseja-se trabalhar. Para dar conta desses fatores, são

necessárias aos professores, as opções por formas de ensino.

Não podemos dizer que um método é melhor que outro, pois na verdade, um

pode complementar o outro, ou até mesmo, na própria práxis podem-se apresentar

fatos que sejam necessários utilizarem diversas variações de métodos. Contudo, é

importante ressaltar que alguns desses métodos são mais aplicáveis ao ensino de

Judô infantil, principalmente se levarmos em conta o que mostram os estudos

pedagógicos desta área, estes apontam sempre para a necessidade de um novo

tratamento na forma de ensinar o Judô para este grupo específico, que são as

crianças, pois elas diferentemente dos adultos, demandam maior cuidado

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pedagógico por parte do professor, além de que, também estão em crescente

formação e desenvolvimento, e por esse motivo também se justifica a utilização de

métodos mais condizentes com a realidade física, social, cognitiva, maturacional e de

aprendizagem das mesmas (FRANCHINI et al, 2012; RUFINO, 2012; SANTOS,

2012; GARCIA GARCIA et al, 2006; ROZA, 2010). A pedagogia do esporte nos

mostra que como educadores do Judô, temos que cada vez mais organizar e

sistematizar racionalmente a forma de repassar o conteúdo para os pequenos

judocas, atentando sempre para o cumprimento dos mais diversos objetivos, e não

visando apenas a competição (VILLAMÓN, 1999; OLIVIER, 2000; RUFFONI, 2006;

RODRIGUEZ, 2006).

Apesar do crescimento científico na área da Educação Física, da didática e da

metodologia de ensino, o modelo tradicional de ensino ainda é muito forte no cenário

nacional. Já na década 80, Freitas (1989) alertava a população judoística nacional

com um artigo intitulado “JUDÔ – Crítica radical”, onde o mesmo visava criticar

fortemente as práticas autoritárias que ocorriam sem nenhum embasamento

científico e que eram na maioria das vezes, meras cópias da metodologia nipônica, o

que se apresentava de acordo com o autor, como sendo um “equívoco metodológico

absurdo por parte dos ‘’senseis’’ brasileiros. Este estudioso ainda atenta criticamente

para práticas como: proibição da hidratação durante os treinos (que vai contra as leis

básicas da fisiologia); utilização equivocada da ”filosofia” do Judô (alienada e não

democrática); a ausência de diálogo entre os “senseis” (professores) e alunos,

muitas vezes na intenção equivocada, de que seja respeitada determinada

“hierarquia”. (CARVALHO, 2007)

O modelo tradicional de ensino do Judô possui algumas características

peculiares a este método, dentro de um contexto geral, percebemos, por exemplo,

que na prática poderão ser identificados pontos fortes que delimitam a realidade

deste método.

No ensino do Judô aplicado através da perspectiva tradicionalista, percebe-se

que a relação professor-aluno é vertical e unilateral, ou seja, o professor é o dono da

verdade e só ele é capaz de transmitir conhecimento, e o conteúdo que é transmitido

pelo mesmo é extremamente tecnicista. De acordo com Paulo Freire apud Bettman

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(1994), no Judô é comum presenciarmos a forma de ensino denominado como

Bancária, onde o professor é o dono da verdade e cabe ao aluno apenas aprender

sem jamais poder questionar; ainda de acordo com a autora, é comum no modelo

tradicional a presença do estilo de ensino por comando, que nada mais é do que

uma prática de características unilaterais e que segue modelos militaristas e

fechados na forma de ensinar, onde vozes de comando levam o aluno a aprender

através da pressão psicológica, do medo e da imposição autoritária por parte do

professor.

Por este modelo, o ensino torna-se tecnicista, a estratégia optada de ensino é a

de repassar o modelo por imitação de gestos (analítico) demonstrados pelo professor

de Judô e reproduzidos sem nenhuma reflexão por parte do alunado, essa

mecanização do conhecimento leva à uma aprendizagem incompleta e acrítica por

parte do aluno.

Outra característica que dá caracteriza tal método, diz respeito à motivação do

aluno, já que as vezes esta é focada apenas em competições, não levando em

consideração a faixa etária. As variáveis dos princípios do treinamento desportivo

tais como volume e intensidade de treino, são apenas reduzidas, como se

pudéssemos apenas “alterar” o treinamento de um adulto para aplicar com os

mesmos princípios ao treinamento de uma criança, isso na verdade nada mais seria

do que tratarmos a criança como um “adulto em miniatura”.

A filosofia deste esporte, que trata-se de algo muito importante, é deturpada pois

os princípios filosóficos da modalidade são colocados como vitrines para venda do

Judô como um produto, já que nesta perspectiva de nada servem para a prática do

Judô, pois os professores conduzem à prática sem ao menos terem o cuidado de

contextualizar e explicar estes princípios, dificultando o entendimento desta

“importante filosofia” que é um diferencial do Judô. Desde pequenas, as crianças

respeitam o professor não por amor ao mesmo, mas pelo medo que é imperado e

imposto principalmente quando escondido através de “regrinhas disciplinares” muito

comuns nas práticas pedagógicas de alguns “senseis”, porém, que ficam

“camufladas” nas falas dos ‘’senseis’’ como “necessidades” para a formação de um

suposto “bom” judoca (SANTOS, 1990; SANTOS, 2009).

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Quanto ao que foi exposto acima, podemos perceber que atualmente ainda é

comum observarmos esse tipo de prática, pois o foco desta problemática está na

própria forma como o Judô chegou ao Brasil, muito “amarrada” à cultura nipônica, e

também ao fato de alguns professores ainda não terem acesso ou até mesmo por

não possuírem a cultura de buscar embasamento científico para a regência de suas

práticas (artigos e livros não-técnicos, congressos de Judô e Educação Física),

achando melhor optar pelo “tradicional”, o que pode ser bastante arriscado por está

afastando-se de nossa realidade sócio-cultural, para apropriar-se de uma outra

(japonesa) que é totalmente diferente da brasileira do ponto de vista sócio-histórico.

Podemos dizer que o método tradicional, da forma como é colocado em

prática nos dojôs brasileiros (salas de treinamento de Judô), possui como maior

equívoco o fato de não se adequar à nossa cultura, o que representa-se como uma

“fatalidade” didático-metodológica, pois de nada servem práticas que conduzem para

a formação de um indivíduo acrítico e alienado, principalmente tratando-se do Judô,

que foi preconizado pelo seu criador Jigoro Kano, para ser um rico instrumento

educacional de formação.

É muito comum professores de Judô possuírem na “teoria” o conhecimento

fragmentado do que é “mais educacional”, contudo, o que revela-se em suas práticas

é o fato de optarem pela importação do modelo de aula efetuado no Japão,

juntamente com todos os detalhes culturais daquela sociedade, poderíamos dizer

que é mais ou menos como se, no Dojô (sala de treinamento de Judô) tivéssemos

uma espécie de “mini-Japão”, onde os alunos podem alienar-se através de uma

processo de aculturamento temporário (fuga da realidade) após pisarem neste

suposto “templo milenar da sabedoria oriental”.

Em sua dissertação de mestrado pela UFRJ, Mesquita (1994) pesquisou as

incidências autoritárias existentes na prática do Judô e utilizadas pelos professores.

De acordo com o mesmo, foram encontrados dados que apontam para existência

destas práticas, tais como: conhecimento desvirtuado do que é respeito hierárquico;

prática de rituais efetuados de forma mecanizada e sem nenhuma reflexão por parte

dos alunos (cumprimento ao quadro de Jigoro Kano, ao dojô e ao sensei a todo o

momento, sem contextualização e conscientização do gesto); relação vertical entre

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professor e aluno (falta do diálogo); princípios filosóficos colocados na prática de

modo místico, e não educacionais.

Segundo o autor supracitado, o Judô tem em seus fundamentos técnicos e

filosóficos todo o perfil cultural do povo japonês, e neles, estão incorporados

processos educacionais que não devemos simplesmente importar ou copiar. Essa

prática deve ser planejada visando o sistema educacional brasileiro e a realidade

social do aluno. De acordo com o mesmo estudo, os imigrantes japoneses que

trouxeram para o Brasil a prática do Judô, além de suas técnicas, deixaram também

como “herança” traços de uma cultura de disciplina rígida e autoritária da época dos

antigos samurais. Assim, é necessário que haja reflexão sobre as formas usadas em

aulas para que se rejeite o autoritarismo ainda latente na prática deste esporte. O

Judô é atividade muito rica em oportunidades educacionais, mas ainda está

impregnado de traços culturais tradicionais que são contrários à educação para a

democracia.

Muitos estudos apontam para o fato de que o modelo tradicionalista de ensino

do Judô geralmente tem como uma de suas preocupantes conseqüências a

especialização precoce dos pequenos judocas. Quanto a isso, Marques e Oliveira

(2005) nos dizem que a precocidade das crianças no esporte proporciona os

seguintes problemas de ordem psicológica, fisiológica e social, tais como: medo

constante, ansiedade, desmotivação, aumento da agressividade; perdas de peso e

do apetite, miopatia persistente, aumento da freqüência de infecções, distúrbios do

sono, alterações da atividade dos sistemas simpático e parassimpático e alterações

do estado de humor, incluindo depressão, ansiedade e irritabilidade elevadas;

queima de etapas do desenvolvimento motor, lesões, aumento de responsabilidades

e diminuição do ciclo de amigos.

Já Drigo (2005), constatou em seu estudo que o processo de especialização

precoce decorre também do processo de orientalização existentes no ocidente,

segundo ele, este fato ocorre de forma alienada para alimentar a dimensão utópica

de um oriente mítico, gerando assim um processo de recriação do oriente pelo

ocidente. Nas lutas orientais esse “oriente imaginário” se apresenta como estrutura

ou local ideal para convivência, local de sabedoria e perfeição inigualáveis,

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expressões típicas de uma “sacralização” do oriente, tudo isso, segundo o autor,

pode gerar processo de especialização precoce por tirar a criança de sua realidade

cultural, ou seja, de sua realidade sócio-histórica. Ainda de acordo com o mesmo

pesquisador, é necessária cautela com generalizações comumente utilizadas pelo

“senso comum” em relação às lutas, como o “Judô disciplina”, “lutas têm filosofia,”

“artes marciais formam o cidadão”...

Seguindo a lógica da crítica feita por este estudo ao método tradicional de ensino

do Judô, apontamos abaixo, algumas características que podem ser observadas no

dia-dia das práticas de aulas de judô para crianças:

A começar pela organização seqüencial das aulas, de uma forma geral, quase

sempre pode ser definido na seguinte ordem “padrão”: cumprimento inicial;

aquecimento calistênico; preparação física para competições (melhora das

capacidades físicas); Uchikomis (tipo de treino de repetição de técnicas);

shiai/handori (sempre voltado para competições); conversa do professor geralmente

voltada à análise técnica; e o cumprimento final (encerrando a rotina de “treino”).

Devido ao modo analítico de ensino e também por geralmente existir um número

excessivo de alunos por turmas, também é comum observarmos uma aula monótona

na qual as crianças esperam muito tempo para movimentarem-se, passando boa

parte do tempo sentadas de forma organizada (pernas cruzadas ou ajoelhadas) e

esperando na maioria das vezes um longo tempo, na expectativa da oportunidade de

participarem das atividades.

Não diferenciando crianças de adultos, existe uma cultura de um Judô somente

direcionado às competições, principalmente por parte dos pais, que do passado

fazem também essa leitura errônea do Judô enquanto praticado por seus filhos.

Cabe ao professor dialogar com os pais com argumentação sólida mostrando para

estes, que é importante um novo direcionamento quanto aos objetivos do Judô para

crianças, pois é este fato que irá diferenciar o “Judô-competição” do “Judô-

educação”. O Judô também é direcionado, muitas vezes, à competição de forma

precoce, devido à pressão exercida pela mídia e por dirigentes políticos sobre os

professores, contudo, não justifica o fato de os senseis cederem à esta prática,

principalmente os que possuem discernimento referente ao que é adequado ou não.

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Como conseqüência de um método bastante “fechado”, como é o tradicional, é

que surgem problemas como a especialização precoce, que é decorrente de um

modelo de competição precoce, e que gera nas crianças um forte índice de lesões

(devido ao uso de movimentos repetitivos e inadequados) e diversos distúrbios

psicológicos (ansiedade, depressão, abandono da prática, agressividade etc.).

Outra característica importante trata-se da técnica, que sem dúvida alguma faz

parte do Judô, mas que não deve apresentar-se como única finalidade, é importante

que uma seqüência lógica de complexidade seja elaborada pelo professor (técnica

crescente quanto ao nível de dificuldade), e que este, gradativamente insira as

mesmas na prática sempre de forma racional e sistematizada (GARCIA GARCIA et

al, 2009).

Contudo, apesar do que foi dito e criticado anteriormente neste estudo, o

tradicionalismo no Judô é algo que pode ser considerado de certo modo também

como positivo, já que a forma de ensino por imitação não pode ser negada como

uma opção na forma de repassar conteúdos, porém o que este estudo discute é a

existência de novos métodos que contribuem para à formação do indivíduo de uma

forma integral, e como isso já está evidente atualmente, a perspectiva tradicional

passa a ser uma última opção, já que essas novas propostas apresentam-se como

alternativas mais pertinentes na consolidação de um modelo de ensino diferenciado

e muito mais satisfatório em todos os contextos, e condizente com a realidade da

criança e do próprio Judô nos dias atuais.

4. NOVAS PROPOSTAS METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DO J UDÔ: em

busca de um crescimento qualitativo na prática peda gógica e da superação de

paradigmas do passado.

Apesar da escassa produção de estudos científicos na área do ensino do Judô

para crianças, foi possível selecionar estudos que tratam principalmente dos

aspectos metodológicos que fogem do direcionamento do ensino técnico para

competições. Contudo, os estudos mais significativos em nível mundial, são os de

países como Espanha e França, que possuem forte conexão entre as escolas

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superiores de Educação Física e o Judô (Federações Esportivas). Ratificando o que

foi dito anteriormente, em nível mundial, existe intensa movimentação de professores

(mestres e doutores) de diversas faculdades de Educação Física, que também

possuem importantes graduações de Judô (vivência e experiência prática) e que, ou

foram campeões competitivos ou ocuparam cargos em entidades esportivas, ou seja,

tratam-se de estudiosos acadêmicos interessados em estudar o Judô, porém

buscando ao máximo não apenas teorizar, e sim, aliar este conhecimento sempre à

sua aplicabilidade prática.

No Brasil, existe melhoria crescente na produção científica (monografias,

artigos e livros), porém a formação em Educação Física ainda é considerada por

alguns dos que trabalham com o Judô, como pouco importante para a formação dos

“senseis”, o que representa possível equívoco, pois o conhecimento pertinente ao

Judô vai muito além do adquirido na vida competitiva. O conhecimento do ex-atleta,

que passa a trabalhar com o Judô, é muitas vezes relacionado apenas à vertente

tecnicista do mesmo, pois o treinamento deste indivíduo foi sempre direcionado à

finalidade competitiva. É importante sabermos que para sermos bons educadores de

Judô, não é necessário que tenhamos sido competidores ao longo do processo de

formação prática.

Estes estudiosos pertencentes ao universo judoístico e à Educação Física

buscaram sistematizar diversas formas de modelos alternativos de se ensinar o

Judô, por meio de metodologias revolucionárias que rompessem com o paradigma

do modelo tradicional de ensino do mesmo, que mundialmente ainda é muito

resistente, pois está enraizado há um largo tempo de história, e por conseqüência

preso a conceitos antigos, o que na atualidade acaba por nos mostrar uma espécie

de Judô que não pode ser tocado ou modificado, problema este que também é

proporcionado por alguns “senseis”.

De acordo com Villamón (1999), já são muitos estudiosos que elaboraram

propostas direcionadas ao ensino do Judô para crianças. Exemplo disto é o novo

livro em espanhol (Garcia Garcia et al, 2006), assim como também, “La Progression

Française D’enseignement” que é a proposta da federação Francesa de Judô optada

para orientar a formação e capacitação dos professores de Judô. No Brasil, já

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podemos encontrar importantes contribuições, como a do professor Ângelo P.

Deliberador (1996) com seu livro: Judô – metodologia da participação, que é

referência inovadora do ponto de vista teórico- prático, assim como também, a do

francês Olivier (2000), que foi traduzido recentemente para o português; e ainda, a

mais nova produção nacional organizada pelos professores doutores Emerson

Franchini e Fabrício Del Vecchio, intitulada - ENSINO DAS LUTAS: Reflexões e

propostas de programas (2012). Além destes importantes estudos que foram

transformados em livros, na internet é possível encontrar em portais virtuais de Judô,

como o nacional JUDOBRASIL e o do periódico argentino acessado através do site

EFDEPORTES.com, alguns artigos científicos de qualidade e importantes nesta área

metodológica do Judô, existem ainda, os fóruns virtuais específicos, como o

CEV.JUDO, onde especialistas desta área discutem o Judô através de uma

perspectiva mais acadêmica, ainda vale ressaltar, os DVDs da Federação

Internacional de Judô (FIJ), que foram recentemente lançados, tratam-se de rico

material direcionado ao ensino do Judô para crianças, apresentando proposta de

ensino condizente com as idéias que exploramos aqui neste estudo e no qual

acreditamos.

Segundo Freitas (2004), a grande rotatividade de alunos em academias de

Judô, está na maioria das vezes diretamente relacionada à inadequação de

metodologia optada pelos professores, pois em sua maioria são preocupados apenas

com a evolução técnica dos praticantes (para competições), o que para as crianças

isso acaba sendo apresentado durante as aulas, através de suas próprias falas como

algo “chato”, “monótono”, e fadigante. De acordo com o autor, é importante que em

aulas de Judô para crianças ocorram atividades motivantes, que farão com que as

crianças sintam prazer em praticar o Judô.

Baseando-se nas novas propostas para o ensino do judô para crianças,

Grosso (2000) ressalta em seu estudo sobre o uso da ludicidade em aulas de Judô,

que a mesma é via válida no processo de ensino-aprendizagem em qualquer tipo de

aula, desportiva ou não, o autor ainda alerta que se o professor de Judô pudesse

repensar e questionar-se sobre sua forma de ensinar, sua prática pedagógica

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tornaria-se mais significativa, principalmente através da ludicidade como fator

motivacional para a prática por crianças.

O uso da ludicidade em aulas de Judô, também é defendido por Ruffoni

(2006), quando este nos mostra que ela é inerente ao ser humano, principalmente na

fase da infância, já que a criança aprende através do brincar (da brincadeira),

explorando, desconstruindo e reconstruindo o conhecimento. A ludicidade no Judô é

veículo para a facilitação da aprendizagem dos conteúdos judoísticos, que serão

delimitados através dos objetivos determinados pelos alunos e professores (senseis).

Como a proposta deste estudo, é de forma sintetizada, compilar diversos

estudos que direcionem para reflexão acerca de modificações no trato metodológico

do Judô, não iremos nos concentrar isoladamente em cada estudo destes apontados

anteriormente, e sim, tentaremos a seguir, caracterizar pontos em comum destes

vários estudos, tentando com isso, elaborar diretrizes ou apontamentos que visem na

prática uma otimização do processo ensino-aprendizagem, sempre baseando-se em

metodologias mais significativas e que de certa forma rompam com essa

“acomodação” metodológica no qual o Judô nacional está passando no presente

momento, e por onde tanto discordamos e criticamos.

Diretrizes e sugestões norteadoras para uma melhori a no tratamento

metodológico no ensino do Judô para crianças:

Para que a prática pedagógica dos senseis tenham salto qualitativo quanto ao

tratamento metodológico de suas aulas, é necessário que os mesmos tomem como

orientação as contribuições práticas de alguns estudos recentes. Tratam-se de

orientações válidas, pois levam em consideração as diversas variáveis do contexto

da realidade judoística e da criança.

Falar de novas propostas metodológicas do Judô e não citar as competições

infantis do mesmo é negar uma problemática séria que está sendo desenvolvida em

âmbito nacional. Durante anos a maioria das competições para crianças sempre

foram “idênticas” ao modelo formal proposto aos adultos, na realidade, a única

diferença encontrava-se no tempo de luta que era inferior. Buscando quebrar esse

15

modelo de competição, onde mais parece que são “arenas”, onde as crianças irão

“degladiar-se”, é que surgiram novas propostas com modelos de competições

diversificados, fazem parte destes novos modelos as seguintes adaptações: tempo

adaptado às idades; regras adaptadas (arbitragem não punitiva; proibições de

técnicas com movimentos complexos); medalha para todos sem distinção de

colocação(1º, 2º, 3º etc.); pódium horizontal (sem desnível); “festivais de Judô” onde

não apenas luta-se, mas, são feitos sorteios e festas ao final, visando a socialização

entre as diversas academias; aquecimento geral de forma lúdica (estratégia para

quebrar tensões emocionais nas crianças); modelo de chave dinâmico, onde as

crianças não esperam muito tempo para lutarem, e que são liberadas cedo para

casa; Lutas entre judocas de mesma idade, aproximação de peso e pela mesma cor

de faixa; Participação livre dos alunos, e não obrigatória (livre escolha). (LEAL, 2005;

CUNHA, 2001; BAPTISTA, 2003; DELIBERADOR, 2006; LIGA PAULISTA DE JUDÕ;

FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE JUDÔ; FILHO,2006; MARQUES, 2005; RUFFONI,

2003; LIMA, 1999; PERSONNE, 2001; MIRANDA, 2006)

Dentro do contexto dos novos modelos de ensino do Judô, encontramos um que

baseado no desenvolvimento motor das crianças promove uma progressão gradativa

e a longo prazo, neste, os princípios do treinamento desportivo são totalmente

respeitados, visto que, etapas do desenvolvimento sócio-afetivo-motor não são

“queimadas”. Nesta proposta, existem objetivos determinados para cada faixa de

idade (cronológica), buscando progressiva formação de atletas, embasada por

teorias desenvolvimentistas, onde a competição formal só irá aparecer em idades

mais avançadas (adolescente-adulto), esse é o modelo de treino esportivo também

adotado por países como Cuba e França (SANTOS e MELLO, 2000).

Atualmente o que se percebe na maioria dos estudos, é que na iniciação ao Judô,

devemos priorizar idéias baseadas em uma pedagogia “renovadora”, que se utilizam

dos métodos ativos de ensino, por onde o aluno pode desenvolver sua criatividade

através do processo de reflexão. Esse novo rumo para o ensino do Judô sofre

influência direta das teorias construtivistas da aprendizagem, que se caracterizam a

partir dos interesses e experiências prévias dos alunos, e por onde propõem-se

situações de conflito onde se recorram a estas experiências para elaborar as

16

respostas e, portanto, elaborar novos conhecimentos, ao contrário do que ocorre

com o modelo técnico, onde se reproduzem determinados estereótipos de execução

(VILLAMÓN, 1999). A prática automática e repetitiva executada a partir da simples

imitação está relacionada ao conceito de “treinamento”, que é o processo mais

simples e significativamente “pobre” que se desenvolve dentro do contexto

educacional esportivo.

O Judô educativo não deve trabalhar com conceitos de treinamento e rendimento,

pois a exclusiva finalidade não é o desenvolvimento das capacidades físicas e das

habilidades técnicas, e sim, contribuir a partir do movimento para a educação integral

e global dos alunos. É daí que surgem os modelos de ensino do Judô, baseados na

solução de problemas e do processo de descobrimento guiado, que entre várias

vantagens, estimulam principalmente a criatividade do aluno (cognição).

Na perspectiva da aprendizagem dos conteúdos pela solução de problemas, o

aluno iniciante é posto frente a diversos jogos que desenvolvem habilidades gerais

das lutas corporais de contato, tais como: agarrar, reter, arrastar, desequilibrar,

imobilizar (as de ataque); esquivar-se, resistir e livrar-se, cair (as de defesa) etc.

Frente a esta gama de habilidades, cabe ao professor sistematizar jogos que levem

ao entendimento dos princípios da luta do Judô, tudo de forma lúdica, nos quais

gradativamente as crianças estarão aprendendo gestos básicos que oferecerão no

futuro a chance de uma maior compreensão dos gestos técnicos específicos

propriamente ditos, que lhes serão úteis na fase de rendimento (resultados). A

resolução de problemas através dos jogos de luta permite o desenvolvimento tanto

motor, quanto cognitivo da criança, de modo que transforma esta criança através do

processo de inclusão nas atividades, tornando-a “ativa” no processo e apta à prática

do Judô para fins diversos (OLIVIER, 2000; VILLAMÒN, 1999; RODRIGUEZ, 2006;

CAZETTO, 2006; MANSILLA e MOYA 2004; GIMÈNEZ, 2002; GARCIA GARCIA,

2006; RODRÍGUEZ, 2003).

O ensino do Judô por meio da utilização de jogos, requer análise cautelosa por

parte do professor em relação aos objetivos dos mesmos, seu uso nas aulas está

diretamente atrelado à proposta de facilitação do processo ensino-aprendizagem e

direcionamento para modelo de ensino de Judô que preconiza a descoberta guiada e

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a resolução de problemas da luta corporal. O jogo favorece o funcionamento de

aulas mais dinâmicas, lúdicas (motivantes) e de conteúdos e objetivos diversificados

(GARCIA GARCIA et al. 2006; DELIBERADOR, 1996). Contudo, estudiosos como

Cazetto (2006), defendem a idéia de que o jogo no Judô não pode ser mascarado

como “meio” para o ensino tecnicista, e sim, deve ser posto como importante

finalidade nos objetivos das aulas e do processo de ensino.

A pedagogia renovadora propõe que o professor de Judô horizontalize a

hierarquia judoistica, ou seja, o “sensei” pode e deve dialogar diretamente com os

alunos, dando a estes, voz ativa no processo participativo de aquisição de

conhecimento. Não cabe mais ao professor acreditar que, no Judô, uma possível

hierarquia de graduação não possa permitir que o mesmo se interaja com os alunos,

já que, dentro de um país democrático como o Brasil, isso se apresenta como

inadmissível no contexto da educação (BETMANN, 1994; DELIBERADOR, 1996;

VILLAMÓN, 1999). Vale a pena lembrarmos que o professor deve ser reconhecido

pelos alunos como autoridade, mas isso não pode ser posto através de atos

autoritários, e sim, pela forte relação de afetividade entre professor e alunos.

Deliberador (1996) propõe ainda, que ocorra aproximação dos pais no processo de

ensino do Judô, de forma participativa em reuniões, eventos e em algumas aulas

comemorativas (dia dos pais, das crianças, festivais etc.). O autor defende que no

Judô é importante que ocorra participação ativa através de relação aberta entre o

sensei, os alunos e os pais.

A utilização de recursos pedagógicos (materiais) dentro do tatame, muitas vezes

pouco utilizados, agora é posto como de grande importância enquanto ferramenta de

facilitação do processo de ensino-aprendizagem no Judô para crianças, já que além

de fatores como a naturalidade da criança com objetos que geram motivação para as

aulas, objetiva também, o aprendizado pelo método global, que ensina a criança de

uma forma integral, ou seja, torna mais ampla a facilitação da compreensão de

diversos conteúdos (DELIBERADOR, 1990; OLIVIER, 2000; GARCIA GARCIA et al.

2006). No tatame, devem ser utilizados materiais como: as faixas, bolas, arcos,

acolchoados, cones, estafetas, cordas, pedaços de panos coloridos, bexigas, lenços,

18

etc. Cabe ao professor associar o uso destes materiais à capacidade criativa dele e

das crianças para aplicação nos jogos de luta/oposição.

Independente do modelo de ensino, é necessário que o professor de Judô se

organize de forma à cumprir objetivos com suas aulas, é para isto que existem os

recursos didáticos de organização, próprios da Didática da Educação Física, e estes

devem ser sempre utilizados pelos professores. Após conhecer sua turma, o

professor deve fazer planejamento anual/semestral, assim como planos diários,

visando com isso, uma otimização do aproveitamento das aulas. Esta montagem

pode ser feita junto com os alunos de forma participativa, de modo que possa

contemplar os objetivos do professor e dos alunos. No plano de aula, são básicos

itens como: conteúdo, objetivos, estratégias metodológicas, recursos materiais e

avaliação. Quanto ao processo de avaliação, o ideal é que este não seja apenas ao

término da aula, e sim, que seja processual, que aconteça por exemplo, ao longo do

semestre, da unidade ou do ano (LIMA, 1999).

O professor deve buscar, por meio de suas aulas, o cumprimento de vários

objetivos, são exemplos: sociabilização dos alunos; ampliação de repertório motor

diversificado; educação através da prática contextualizada dos princípios filosóficos

do Judô; aprendizagem técnica; formação em longo prazo e seleção de talentos

esportivos; diminuição da agressividade em crianças através de jogos de contato

com regras; possibilidade de conscientização para a formação de estilo de vida

saudável; entre outros infinitos objetivos que podemos vivenciar através da prática do

Judô. Contudo, cabe ao professor definir os objetivos, levando em consideração a

realidade na qual está inserido, para que através do Judô, possa ser efetuada uma

prática mais significativa para as crianças.

Conceitos modernos como os de educação global e integral surgiram

recentemente, estes buscam tratar o indivíduo em sua totalidade assim como

também contextualizam o esporte de uma forma geral e voltado para a educação.

Quando estes modelos são incorporados às propostas de ensino direcionadas ao

Judô Infantil, percebemos que na verdade as idéias do criador Jigoro Kano, para com

o Judô, já traziam em seu contexto didático-filosófico as bases dessas novas idéias

integrais e globais, pois como é sabido, o Judô contempla claramente este modelo,

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através dos seus conteúdos e de sua filosofia, que são os aspectos diferenciais com

relação a outras modalidades, visto que o seu maior objetivo e/ou finalidade é a

EDUCAÇÂO. WATSON (2011); KANO (2008)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia de ensino de um esporte é que guia todo processo de ensino

aprendizagem, logicamente existem diversas variáveis em volta da metodologia que

também influem no processo, mas o método é com certeza o que irá dar respostas

dentro da prática.

O presente estudo tem por intenção gerar uma motivação para que o leitor

desenvolva uma reflexão critica com relação aos métodos tradicionais e aos modelos

mais recentes de propostas de ensino do Judô, de forma que possam ser postos na

“balança” os prós e os contras dos diversos modelos e assim opte pelo que lhes seja

o mais pertinente.

Aos que desenvolvem e aos que pretendem desenvolver atividades com o

Judô, pedimos que procurem ao máximo capacitar-se através de atividades extra-

curriculares, exemplo: cursos e seminários acadêmicos, de federações e/ou ligas, e

que busquem o conhecimento através de estudos científicos (artigos, monografias,

livros de qualidade) para que possam assim, aliar a teoria à prática, pois é sabido

que a teoria sozinha não ministra aula, e a prática desconectada de uma teoria as

vezes é apresentada pelo “achismo”, ou seja, não possui embasamento teórico que

solidifique a pratica pedagógica.

Importante lembrarmos que de acordo com os aspectos estudados (lúdico,

métodos, jogos, etc.), o Judô deve se adaptar as culturas dos países e não o inverso,

assim como também é importante saber que os objetivos de uma aula devem estar

direcionados à criança e não ao Judô ou ao professor.

Seguindo os conceitos sugeridos ao longo deste estudo, acreditamos que é

possível uma revolução crítico-reflexiva no ensino do Judô, que “rompa” de vez com

as “correntes” que ainda insistem em conter ou negar a evolução pedagógica do

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ensino do Judô. Contudo, para isso é necessário que ocorra uma “mudança”

gradativa e consciente do processo metodológico do ensino do Judô para crianças.

Por fim, acreditamos que esse aperfeiçoamento virá gradativamente de acordo com

a evolução do conhecimento na área da Educação Física e do próprio meio

judoístico.

Importante que sejam realizados novos estudos relacionados às metodologias

de ensino e práticas pedagógicas direcionadas ao ensino do Judô para crianças, pois

trata-se de tema ainda em crescimento no Brasil, principalmente quanto Judô, dada a

importância de ser esporte tão praticado em nosso país.

21

6. REFERÊNCIAS

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