Reedição Aspectos Metodológicos Aplicados Ao Ensino Do Judô Para Crianças (1)
-
Upload
denis-foster -
Category
Documents
-
view
107 -
download
5
Transcript of Reedição Aspectos Metodológicos Aplicados Ao Ensino Do Judô Para Crianças (1)
1
ASPECTOS METODOLÓGICOS APLICADOS AO ENSINO DO JUDÔ
PARA CRIANÇAS
GONDIM, Denis Foster
Universidade de Pernambuco – UPE
Escola Superior de Educação Física – ESEF
Orientador : Prof. Ms. Marco Aurélio Lauriano de Oliveira (ESEF-UPE)
Atualizado em 16 de outubro de 2012.
RESUMO
O Judô há décadas é ensinado através de um modelo hegemônico tradicional, não descartando este método, mas sim, buscando evidenciar novas propostas que tenham como foco o aluno e um processo ensino-aprendizagem mais pedagógico, é que nasce este estudo. É de intuito do mesmo, gerar uma reflexão nos que desejam ou que já trabalham com o ensino do Judô, de modo que possam conhecer essas novas propostas e, através de análise critica, viabilizar a criação de seus próprios métodos, de forma que, busquem umas inovações conscientes, que através da prática seja apresentada por um Judô de perspectiva mais pedagógica e humanista. Este estudo é uma compilação de diversas propostas alternativas mundiais para o ensino do Judô, que foram selecionadas de forma criteriosa, de modo que, através de pesquisa bibliográfica, pudéssemos propor e defender novas diretrizes quanto ao ensino do Judô, principalmente para crianças. PALAVRAS-CHAVE : Metodologia de ensino; Judô; crianças; tradicionalismo.
ABSTRACT
The Judo has decades is taught through a traditional hegemonic model, not discarding this method, but yes, searching to evidence new proposals that have as focus the pupil and a more pedagogical process teach-learning, it is that this study is born. It is of intention of exactly, to generate a reflection in that they desire or that already they work with the education of the Judo, way that, can know these new proposals and through an analysis it criticizes, make possible the creation of its proper methods, form that, search an innovation conscientious, that through the practical one is presented by a Judô of more pedagogical perspective and humanist. This study, it is a compilation of diverse world-wide alternative proposals for the education of the Judo, that they had been selected of criteriosa form, way that, through bibliographical research, we could consider and defend new lines of direction how much to the education of the Judo, mainly for children. KEY WORLDS : Methodology of education; Judo; children; traditionalism
2
1. INTRODUÇÃO
Ministrar aulas de Judô para crianças envolve diversos componentes
pertinentes ao ensino, dentre eles, citamos como exemplos: a didática, a pedagogia,
a metodologia, a avaliação e o planejamento. Na verdade, a metodologia no esporte,
de uma forma geral, é passível de variações, contudo, no Judô por ser uma prática
estigmatizada como “holística”, “arte marcial” e/ou “filosofia”, o desafio de propor
outras perspectivas metodológicas ou até mesmo de questionar o tradicionalismo,
envolve o fato de irmos ao encontro de todo um paradigma tradicionalista de ensino
ainda muito predominante nesta modalidade.
Preocupados em discutir essa problemática, assim como, propor orientações,
é que este estudo possui como principal objetivo, refletir o Judô na perspectiva
teórico-prática das aulas, propondo, antes de tudo, sempre relacionar as discussões
acerca da metodologia tradicional e também de outras propostas mais
contemporâneas.
Não é objetivo deste estudo, tentar superar a defasagem de informação
referente ao tema proposto para este, mas sim, oferecer entendimento facilitado
através de linguagem simplificada e condizente com a práxis pedagógica real do
meio judoístico, baseado em estudos e pesquisas efetuadas por grandes estudiosos
nacionais e internacionais da área da Educação Física e do Judô. Este estudo nasce
da necessidade de contribuir de forma positiva para o conhecimento dos que
atualmente trabalham ou pretendem trabalhar com o ensino do Judô, visto que
alguns pontos tratados aqui divergem com modelos tradicionais ainda fortemente
vigentes em âmbito nacional. A carência de Literatura específica em língua
portuguesa e de cursos e seminários específicos no Brasil, também são ponto forte
pelo qual os professores de Judô sentem dificuldades em reciclarem seus
conhecimentos. É foco desta investigação discutir alguns pontos pertinentes às
metodologias de ensino aplicadas ao Judô para crianças.
3
2. BREVE HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO DO JUDÔ
Tratar da história do Judô é importante para que possamos entender o modelo
atual de ensino, e assim analisar as progressões devidamente contextualizadas com
cada período histórico. Acreditamos que o modelo de Judô atual é devidamente
justificado pelo seu passado, e por isso, é que se faz presente no primeiro momento
deste estudo, discutir pontos relevantes pertinentes ao passado.
O Judô foi criado no Japão em 1882, por um grande estudioso japonês
chamado Jigoro Kano, este esporte é fruto de uma sistematização técnica e filosófica
oriunda do Ju Jutsu, sistema de luta dos samurais, praticada pelo mesmo e que
posteriormente buscou modificar sua base, enfatizando fim educacional para este
esporte de combate no Japão. Literalmente, o significado do Judô é “caminho
suave”, esse conceito contextualiza-se através dos seus princípios filosóficos, que
são: Prosperidade e benefícios mútuos; ceder para vencer e máxima eficiência, que
foram criados para que pudessem reger de forma diferenciada a prática do Judô e
para que influenciassem também nas atitudes extra-judô (Santos, 2009), esses
princípios filosóficos estão totalmente atrelados a quatro raízes filosóficas orientais,
são elas: confucionismo, taoísmo, budismo e xintoísmo (KANO, 1986). De acordo
com Virgílio (2002), o Judô chegou ao Brasil através da imigração japonesa e
principalmente pela chegada de um aluno de Jigoro Kano chamado Mitsuyo Maeda
(Conde Koma) que o difundiu primeiramente em alguns estados do Brasil através de
desafios de lutas, e posteriormente fixou-se na região norte em Belém-PA.
Jigoro Kano, grande intelectual e bastante politizado, possuía ideais que
direcionavam para o favorecimento da intenção de mudanças, modificações e
atualizações relacionadas a tudo que envolvesse a educação como um todo em seu
país (Japão), alguns estudos apontam para o fato de que Jigoro Kano sofreu
influências ocidentais quando elaborou o Judô, tais como: da Educação Física
Inglesa; da revolução industrial ocidental; de filósofos como Kant e Comte; e das
viagens constantes à Europa visando o conhecimento dos modelos educacionais da
época (VILLAMÓN, 1999). Devido aos seus fins educacionais, filosóficos e
4
esportivos, o Judô ganha o mundo através de demonstrações feitas pelos alunos
enviados por Jigoro Kano, depois desta larga difusão o Judô chega as olimpíadas,
contextualizado como esporte olímpico, seu conceito mais moderno pode ser
também definido segundo Brousse apud Franchini (2006), como uma luta de origem
japonesa, inicialmente criada com objetivos educacionais, mas que atualmente
dentro de um contexto competitivo, é mais conhecido como um esporte de combate
pertencente ao programa olímpico. O objetivo da luta é projetar o oponente sobre
suas costas com velocidade e controle ou imobilizá-lo por 25 segundos, estrangulá-lo
ou aplicar uma chave articular em seu cotovelo, fazendo-o desistir da luta.
Contudo, é importante sabermos que conceituar o Judô é algo um tanto
complexo já que depende de variáveis, principalmente a que relaciona a prática ao
campo de intervenção do Judô. Sobre isto, podemos afirmar que o Judô pode tomar
diversas vertentes, atuar em diversos âmbitos e apresentar várias finalidades, são
exemplos: perspectiva educacional (escolas); competitiva (clubes, academias e
associações); saúde (para melhora da aptidão física); reabilitação (idosos e
crianças); prática mental e filosófica; projetos sociais (massificação do Judô
preconizado por Kano); Universidades (currículo acadêmico de Educação Física); e
esporte adaptado à deficientes (cegos e portadores de síndrome de down).
Há bastante controvérsia quanto ao que realmente é o Judô, entre as diversas
opiniões de autores (com relação ao assunto) encontramos: arte marcial; desporto de
combate ou contato; sistema de luta; filosofia; esporte. Frente a estas diversificadas
opiniões, acreditamos que ele possa conter um pouco de cada conceito destes, pois
isso irá depender da leitura, da forma de trabalho e da contextualização em que se
dará sua prática.
O Judô já conquistou um importante “status” quanto aos benefícios que pode
oferecer aos seus praticantes, segundo a UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a educação, a Ciência, e a Cultura) é um dos esportes mais
aconselhados na fase que compreende desde a infância até os quatorze anos de
idade, pois permite mediante o jogo e a diversão, conjugar fatores essenciais para o
desenvolvimento do indivíduo, como por exemplo, a coordenação de movimentos, a
psicomotricidade, o equilíbrio, a expressão corporal e a situação espacial (percepção
5
cinestésica). Além disso, devido à sua capacidade didático-pedagógica, o Judô que é
um esporte olímpico dos mais difundidos através de projetos sociais, favorece
também à sua prática por deficientes visuais, autistas e portadores de Síndrome de
Down.
Atualmente, é notório que o Judô chegou ao âmbito escolar institucionalizado
com certo respeito já que diversas áreas profissionais (Educadores Físicos,
pediatras, psicólogos e pedagogos) o indicam para crianças, pois dependendo da
forma como for trabalhado por ‘’senseis” capacitados – (academicamente e também
quanto a formação de graus superiores – ‘’dans’’), do ponto de vista sócio-afetivo,
motor e cognitivo, será uma ótima ferramenta educacional para formação integral das
crianças (DELIBERADOR, 1990; VILLAMÓN, 1999).
3. DO PASSADO AO PRESENTE: reflexões acerca do modelo tradicional de
ensino no Judô .
Conceitualmente, a palavra metodologia diz respeito a métodos, ou seja,
maneiras de ordenar ações visando de forma organizada o cumprimento de
objetivos. Em termos práticos, trata-se da forma de ensinar os conteúdos partindo de
estratégias metodológicas condizentes com uma filosofia própria de trabalho.
O ensino do Judô é a reflexologia dos objetivos dos professores, da formação
dos mesmos, da idade biológica dos alunos, das condições materiais, e da
perspectiva de Judô no qual deseja-se trabalhar. Para dar conta desses fatores, são
necessárias aos professores, as opções por formas de ensino.
Não podemos dizer que um método é melhor que outro, pois na verdade, um
pode complementar o outro, ou até mesmo, na própria práxis podem-se apresentar
fatos que sejam necessários utilizarem diversas variações de métodos. Contudo, é
importante ressaltar que alguns desses métodos são mais aplicáveis ao ensino de
Judô infantil, principalmente se levarmos em conta o que mostram os estudos
pedagógicos desta área, estes apontam sempre para a necessidade de um novo
tratamento na forma de ensinar o Judô para este grupo específico, que são as
crianças, pois elas diferentemente dos adultos, demandam maior cuidado
6
pedagógico por parte do professor, além de que, também estão em crescente
formação e desenvolvimento, e por esse motivo também se justifica a utilização de
métodos mais condizentes com a realidade física, social, cognitiva, maturacional e de
aprendizagem das mesmas (FRANCHINI et al, 2012; RUFINO, 2012; SANTOS,
2012; GARCIA GARCIA et al, 2006; ROZA, 2010). A pedagogia do esporte nos
mostra que como educadores do Judô, temos que cada vez mais organizar e
sistematizar racionalmente a forma de repassar o conteúdo para os pequenos
judocas, atentando sempre para o cumprimento dos mais diversos objetivos, e não
visando apenas a competição (VILLAMÓN, 1999; OLIVIER, 2000; RUFFONI, 2006;
RODRIGUEZ, 2006).
Apesar do crescimento científico na área da Educação Física, da didática e da
metodologia de ensino, o modelo tradicional de ensino ainda é muito forte no cenário
nacional. Já na década 80, Freitas (1989) alertava a população judoística nacional
com um artigo intitulado “JUDÔ – Crítica radical”, onde o mesmo visava criticar
fortemente as práticas autoritárias que ocorriam sem nenhum embasamento
científico e que eram na maioria das vezes, meras cópias da metodologia nipônica, o
que se apresentava de acordo com o autor, como sendo um “equívoco metodológico
absurdo por parte dos ‘’senseis’’ brasileiros. Este estudioso ainda atenta criticamente
para práticas como: proibição da hidratação durante os treinos (que vai contra as leis
básicas da fisiologia); utilização equivocada da ”filosofia” do Judô (alienada e não
democrática); a ausência de diálogo entre os “senseis” (professores) e alunos,
muitas vezes na intenção equivocada, de que seja respeitada determinada
“hierarquia”. (CARVALHO, 2007)
O modelo tradicional de ensino do Judô possui algumas características
peculiares a este método, dentro de um contexto geral, percebemos, por exemplo,
que na prática poderão ser identificados pontos fortes que delimitam a realidade
deste método.
No ensino do Judô aplicado através da perspectiva tradicionalista, percebe-se
que a relação professor-aluno é vertical e unilateral, ou seja, o professor é o dono da
verdade e só ele é capaz de transmitir conhecimento, e o conteúdo que é transmitido
pelo mesmo é extremamente tecnicista. De acordo com Paulo Freire apud Bettman
7
(1994), no Judô é comum presenciarmos a forma de ensino denominado como
Bancária, onde o professor é o dono da verdade e cabe ao aluno apenas aprender
sem jamais poder questionar; ainda de acordo com a autora, é comum no modelo
tradicional a presença do estilo de ensino por comando, que nada mais é do que
uma prática de características unilaterais e que segue modelos militaristas e
fechados na forma de ensinar, onde vozes de comando levam o aluno a aprender
através da pressão psicológica, do medo e da imposição autoritária por parte do
professor.
Por este modelo, o ensino torna-se tecnicista, a estratégia optada de ensino é a
de repassar o modelo por imitação de gestos (analítico) demonstrados pelo professor
de Judô e reproduzidos sem nenhuma reflexão por parte do alunado, essa
mecanização do conhecimento leva à uma aprendizagem incompleta e acrítica por
parte do aluno.
Outra característica que dá caracteriza tal método, diz respeito à motivação do
aluno, já que as vezes esta é focada apenas em competições, não levando em
consideração a faixa etária. As variáveis dos princípios do treinamento desportivo
tais como volume e intensidade de treino, são apenas reduzidas, como se
pudéssemos apenas “alterar” o treinamento de um adulto para aplicar com os
mesmos princípios ao treinamento de uma criança, isso na verdade nada mais seria
do que tratarmos a criança como um “adulto em miniatura”.
A filosofia deste esporte, que trata-se de algo muito importante, é deturpada pois
os princípios filosóficos da modalidade são colocados como vitrines para venda do
Judô como um produto, já que nesta perspectiva de nada servem para a prática do
Judô, pois os professores conduzem à prática sem ao menos terem o cuidado de
contextualizar e explicar estes princípios, dificultando o entendimento desta
“importante filosofia” que é um diferencial do Judô. Desde pequenas, as crianças
respeitam o professor não por amor ao mesmo, mas pelo medo que é imperado e
imposto principalmente quando escondido através de “regrinhas disciplinares” muito
comuns nas práticas pedagógicas de alguns “senseis”, porém, que ficam
“camufladas” nas falas dos ‘’senseis’’ como “necessidades” para a formação de um
suposto “bom” judoca (SANTOS, 1990; SANTOS, 2009).
8
Quanto ao que foi exposto acima, podemos perceber que atualmente ainda é
comum observarmos esse tipo de prática, pois o foco desta problemática está na
própria forma como o Judô chegou ao Brasil, muito “amarrada” à cultura nipônica, e
também ao fato de alguns professores ainda não terem acesso ou até mesmo por
não possuírem a cultura de buscar embasamento científico para a regência de suas
práticas (artigos e livros não-técnicos, congressos de Judô e Educação Física),
achando melhor optar pelo “tradicional”, o que pode ser bastante arriscado por está
afastando-se de nossa realidade sócio-cultural, para apropriar-se de uma outra
(japonesa) que é totalmente diferente da brasileira do ponto de vista sócio-histórico.
Podemos dizer que o método tradicional, da forma como é colocado em
prática nos dojôs brasileiros (salas de treinamento de Judô), possui como maior
equívoco o fato de não se adequar à nossa cultura, o que representa-se como uma
“fatalidade” didático-metodológica, pois de nada servem práticas que conduzem para
a formação de um indivíduo acrítico e alienado, principalmente tratando-se do Judô,
que foi preconizado pelo seu criador Jigoro Kano, para ser um rico instrumento
educacional de formação.
É muito comum professores de Judô possuírem na “teoria” o conhecimento
fragmentado do que é “mais educacional”, contudo, o que revela-se em suas práticas
é o fato de optarem pela importação do modelo de aula efetuado no Japão,
juntamente com todos os detalhes culturais daquela sociedade, poderíamos dizer
que é mais ou menos como se, no Dojô (sala de treinamento de Judô) tivéssemos
uma espécie de “mini-Japão”, onde os alunos podem alienar-se através de uma
processo de aculturamento temporário (fuga da realidade) após pisarem neste
suposto “templo milenar da sabedoria oriental”.
Em sua dissertação de mestrado pela UFRJ, Mesquita (1994) pesquisou as
incidências autoritárias existentes na prática do Judô e utilizadas pelos professores.
De acordo com o mesmo, foram encontrados dados que apontam para existência
destas práticas, tais como: conhecimento desvirtuado do que é respeito hierárquico;
prática de rituais efetuados de forma mecanizada e sem nenhuma reflexão por parte
dos alunos (cumprimento ao quadro de Jigoro Kano, ao dojô e ao sensei a todo o
momento, sem contextualização e conscientização do gesto); relação vertical entre
9
professor e aluno (falta do diálogo); princípios filosóficos colocados na prática de
modo místico, e não educacionais.
Segundo o autor supracitado, o Judô tem em seus fundamentos técnicos e
filosóficos todo o perfil cultural do povo japonês, e neles, estão incorporados
processos educacionais que não devemos simplesmente importar ou copiar. Essa
prática deve ser planejada visando o sistema educacional brasileiro e a realidade
social do aluno. De acordo com o mesmo estudo, os imigrantes japoneses que
trouxeram para o Brasil a prática do Judô, além de suas técnicas, deixaram também
como “herança” traços de uma cultura de disciplina rígida e autoritária da época dos
antigos samurais. Assim, é necessário que haja reflexão sobre as formas usadas em
aulas para que se rejeite o autoritarismo ainda latente na prática deste esporte. O
Judô é atividade muito rica em oportunidades educacionais, mas ainda está
impregnado de traços culturais tradicionais que são contrários à educação para a
democracia.
Muitos estudos apontam para o fato de que o modelo tradicionalista de ensino
do Judô geralmente tem como uma de suas preocupantes conseqüências a
especialização precoce dos pequenos judocas. Quanto a isso, Marques e Oliveira
(2005) nos dizem que a precocidade das crianças no esporte proporciona os
seguintes problemas de ordem psicológica, fisiológica e social, tais como: medo
constante, ansiedade, desmotivação, aumento da agressividade; perdas de peso e
do apetite, miopatia persistente, aumento da freqüência de infecções, distúrbios do
sono, alterações da atividade dos sistemas simpático e parassimpático e alterações
do estado de humor, incluindo depressão, ansiedade e irritabilidade elevadas;
queima de etapas do desenvolvimento motor, lesões, aumento de responsabilidades
e diminuição do ciclo de amigos.
Já Drigo (2005), constatou em seu estudo que o processo de especialização
precoce decorre também do processo de orientalização existentes no ocidente,
segundo ele, este fato ocorre de forma alienada para alimentar a dimensão utópica
de um oriente mítico, gerando assim um processo de recriação do oriente pelo
ocidente. Nas lutas orientais esse “oriente imaginário” se apresenta como estrutura
ou local ideal para convivência, local de sabedoria e perfeição inigualáveis,
10
expressões típicas de uma “sacralização” do oriente, tudo isso, segundo o autor,
pode gerar processo de especialização precoce por tirar a criança de sua realidade
cultural, ou seja, de sua realidade sócio-histórica. Ainda de acordo com o mesmo
pesquisador, é necessária cautela com generalizações comumente utilizadas pelo
“senso comum” em relação às lutas, como o “Judô disciplina”, “lutas têm filosofia,”
“artes marciais formam o cidadão”...
Seguindo a lógica da crítica feita por este estudo ao método tradicional de ensino
do Judô, apontamos abaixo, algumas características que podem ser observadas no
dia-dia das práticas de aulas de judô para crianças:
A começar pela organização seqüencial das aulas, de uma forma geral, quase
sempre pode ser definido na seguinte ordem “padrão”: cumprimento inicial;
aquecimento calistênico; preparação física para competições (melhora das
capacidades físicas); Uchikomis (tipo de treino de repetição de técnicas);
shiai/handori (sempre voltado para competições); conversa do professor geralmente
voltada à análise técnica; e o cumprimento final (encerrando a rotina de “treino”).
Devido ao modo analítico de ensino e também por geralmente existir um número
excessivo de alunos por turmas, também é comum observarmos uma aula monótona
na qual as crianças esperam muito tempo para movimentarem-se, passando boa
parte do tempo sentadas de forma organizada (pernas cruzadas ou ajoelhadas) e
esperando na maioria das vezes um longo tempo, na expectativa da oportunidade de
participarem das atividades.
Não diferenciando crianças de adultos, existe uma cultura de um Judô somente
direcionado às competições, principalmente por parte dos pais, que do passado
fazem também essa leitura errônea do Judô enquanto praticado por seus filhos.
Cabe ao professor dialogar com os pais com argumentação sólida mostrando para
estes, que é importante um novo direcionamento quanto aos objetivos do Judô para
crianças, pois é este fato que irá diferenciar o “Judô-competição” do “Judô-
educação”. O Judô também é direcionado, muitas vezes, à competição de forma
precoce, devido à pressão exercida pela mídia e por dirigentes políticos sobre os
professores, contudo, não justifica o fato de os senseis cederem à esta prática,
principalmente os que possuem discernimento referente ao que é adequado ou não.
11
Como conseqüência de um método bastante “fechado”, como é o tradicional, é
que surgem problemas como a especialização precoce, que é decorrente de um
modelo de competição precoce, e que gera nas crianças um forte índice de lesões
(devido ao uso de movimentos repetitivos e inadequados) e diversos distúrbios
psicológicos (ansiedade, depressão, abandono da prática, agressividade etc.).
Outra característica importante trata-se da técnica, que sem dúvida alguma faz
parte do Judô, mas que não deve apresentar-se como única finalidade, é importante
que uma seqüência lógica de complexidade seja elaborada pelo professor (técnica
crescente quanto ao nível de dificuldade), e que este, gradativamente insira as
mesmas na prática sempre de forma racional e sistematizada (GARCIA GARCIA et
al, 2009).
Contudo, apesar do que foi dito e criticado anteriormente neste estudo, o
tradicionalismo no Judô é algo que pode ser considerado de certo modo também
como positivo, já que a forma de ensino por imitação não pode ser negada como
uma opção na forma de repassar conteúdos, porém o que este estudo discute é a
existência de novos métodos que contribuem para à formação do indivíduo de uma
forma integral, e como isso já está evidente atualmente, a perspectiva tradicional
passa a ser uma última opção, já que essas novas propostas apresentam-se como
alternativas mais pertinentes na consolidação de um modelo de ensino diferenciado
e muito mais satisfatório em todos os contextos, e condizente com a realidade da
criança e do próprio Judô nos dias atuais.
4. NOVAS PROPOSTAS METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DO J UDÔ: em
busca de um crescimento qualitativo na prática peda gógica e da superação de
paradigmas do passado.
Apesar da escassa produção de estudos científicos na área do ensino do Judô
para crianças, foi possível selecionar estudos que tratam principalmente dos
aspectos metodológicos que fogem do direcionamento do ensino técnico para
competições. Contudo, os estudos mais significativos em nível mundial, são os de
países como Espanha e França, que possuem forte conexão entre as escolas
12
superiores de Educação Física e o Judô (Federações Esportivas). Ratificando o que
foi dito anteriormente, em nível mundial, existe intensa movimentação de professores
(mestres e doutores) de diversas faculdades de Educação Física, que também
possuem importantes graduações de Judô (vivência e experiência prática) e que, ou
foram campeões competitivos ou ocuparam cargos em entidades esportivas, ou seja,
tratam-se de estudiosos acadêmicos interessados em estudar o Judô, porém
buscando ao máximo não apenas teorizar, e sim, aliar este conhecimento sempre à
sua aplicabilidade prática.
No Brasil, existe melhoria crescente na produção científica (monografias,
artigos e livros), porém a formação em Educação Física ainda é considerada por
alguns dos que trabalham com o Judô, como pouco importante para a formação dos
“senseis”, o que representa possível equívoco, pois o conhecimento pertinente ao
Judô vai muito além do adquirido na vida competitiva. O conhecimento do ex-atleta,
que passa a trabalhar com o Judô, é muitas vezes relacionado apenas à vertente
tecnicista do mesmo, pois o treinamento deste indivíduo foi sempre direcionado à
finalidade competitiva. É importante sabermos que para sermos bons educadores de
Judô, não é necessário que tenhamos sido competidores ao longo do processo de
formação prática.
Estes estudiosos pertencentes ao universo judoístico e à Educação Física
buscaram sistematizar diversas formas de modelos alternativos de se ensinar o
Judô, por meio de metodologias revolucionárias que rompessem com o paradigma
do modelo tradicional de ensino do mesmo, que mundialmente ainda é muito
resistente, pois está enraizado há um largo tempo de história, e por conseqüência
preso a conceitos antigos, o que na atualidade acaba por nos mostrar uma espécie
de Judô que não pode ser tocado ou modificado, problema este que também é
proporcionado por alguns “senseis”.
De acordo com Villamón (1999), já são muitos estudiosos que elaboraram
propostas direcionadas ao ensino do Judô para crianças. Exemplo disto é o novo
livro em espanhol (Garcia Garcia et al, 2006), assim como também, “La Progression
Française D’enseignement” que é a proposta da federação Francesa de Judô optada
para orientar a formação e capacitação dos professores de Judô. No Brasil, já
13
podemos encontrar importantes contribuições, como a do professor Ângelo P.
Deliberador (1996) com seu livro: Judô – metodologia da participação, que é
referência inovadora do ponto de vista teórico- prático, assim como também, a do
francês Olivier (2000), que foi traduzido recentemente para o português; e ainda, a
mais nova produção nacional organizada pelos professores doutores Emerson
Franchini e Fabrício Del Vecchio, intitulada - ENSINO DAS LUTAS: Reflexões e
propostas de programas (2012). Além destes importantes estudos que foram
transformados em livros, na internet é possível encontrar em portais virtuais de Judô,
como o nacional JUDOBRASIL e o do periódico argentino acessado através do site
EFDEPORTES.com, alguns artigos científicos de qualidade e importantes nesta área
metodológica do Judô, existem ainda, os fóruns virtuais específicos, como o
CEV.JUDO, onde especialistas desta área discutem o Judô através de uma
perspectiva mais acadêmica, ainda vale ressaltar, os DVDs da Federação
Internacional de Judô (FIJ), que foram recentemente lançados, tratam-se de rico
material direcionado ao ensino do Judô para crianças, apresentando proposta de
ensino condizente com as idéias que exploramos aqui neste estudo e no qual
acreditamos.
Segundo Freitas (2004), a grande rotatividade de alunos em academias de
Judô, está na maioria das vezes diretamente relacionada à inadequação de
metodologia optada pelos professores, pois em sua maioria são preocupados apenas
com a evolução técnica dos praticantes (para competições), o que para as crianças
isso acaba sendo apresentado durante as aulas, através de suas próprias falas como
algo “chato”, “monótono”, e fadigante. De acordo com o autor, é importante que em
aulas de Judô para crianças ocorram atividades motivantes, que farão com que as
crianças sintam prazer em praticar o Judô.
Baseando-se nas novas propostas para o ensino do judô para crianças,
Grosso (2000) ressalta em seu estudo sobre o uso da ludicidade em aulas de Judô,
que a mesma é via válida no processo de ensino-aprendizagem em qualquer tipo de
aula, desportiva ou não, o autor ainda alerta que se o professor de Judô pudesse
repensar e questionar-se sobre sua forma de ensinar, sua prática pedagógica
14
tornaria-se mais significativa, principalmente através da ludicidade como fator
motivacional para a prática por crianças.
O uso da ludicidade em aulas de Judô, também é defendido por Ruffoni
(2006), quando este nos mostra que ela é inerente ao ser humano, principalmente na
fase da infância, já que a criança aprende através do brincar (da brincadeira),
explorando, desconstruindo e reconstruindo o conhecimento. A ludicidade no Judô é
veículo para a facilitação da aprendizagem dos conteúdos judoísticos, que serão
delimitados através dos objetivos determinados pelos alunos e professores (senseis).
Como a proposta deste estudo, é de forma sintetizada, compilar diversos
estudos que direcionem para reflexão acerca de modificações no trato metodológico
do Judô, não iremos nos concentrar isoladamente em cada estudo destes apontados
anteriormente, e sim, tentaremos a seguir, caracterizar pontos em comum destes
vários estudos, tentando com isso, elaborar diretrizes ou apontamentos que visem na
prática uma otimização do processo ensino-aprendizagem, sempre baseando-se em
metodologias mais significativas e que de certa forma rompam com essa
“acomodação” metodológica no qual o Judô nacional está passando no presente
momento, e por onde tanto discordamos e criticamos.
Diretrizes e sugestões norteadoras para uma melhori a no tratamento
metodológico no ensino do Judô para crianças:
Para que a prática pedagógica dos senseis tenham salto qualitativo quanto ao
tratamento metodológico de suas aulas, é necessário que os mesmos tomem como
orientação as contribuições práticas de alguns estudos recentes. Tratam-se de
orientações válidas, pois levam em consideração as diversas variáveis do contexto
da realidade judoística e da criança.
Falar de novas propostas metodológicas do Judô e não citar as competições
infantis do mesmo é negar uma problemática séria que está sendo desenvolvida em
âmbito nacional. Durante anos a maioria das competições para crianças sempre
foram “idênticas” ao modelo formal proposto aos adultos, na realidade, a única
diferença encontrava-se no tempo de luta que era inferior. Buscando quebrar esse
15
modelo de competição, onde mais parece que são “arenas”, onde as crianças irão
“degladiar-se”, é que surgiram novas propostas com modelos de competições
diversificados, fazem parte destes novos modelos as seguintes adaptações: tempo
adaptado às idades; regras adaptadas (arbitragem não punitiva; proibições de
técnicas com movimentos complexos); medalha para todos sem distinção de
colocação(1º, 2º, 3º etc.); pódium horizontal (sem desnível); “festivais de Judô” onde
não apenas luta-se, mas, são feitos sorteios e festas ao final, visando a socialização
entre as diversas academias; aquecimento geral de forma lúdica (estratégia para
quebrar tensões emocionais nas crianças); modelo de chave dinâmico, onde as
crianças não esperam muito tempo para lutarem, e que são liberadas cedo para
casa; Lutas entre judocas de mesma idade, aproximação de peso e pela mesma cor
de faixa; Participação livre dos alunos, e não obrigatória (livre escolha). (LEAL, 2005;
CUNHA, 2001; BAPTISTA, 2003; DELIBERADOR, 2006; LIGA PAULISTA DE JUDÕ;
FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE JUDÔ; FILHO,2006; MARQUES, 2005; RUFFONI,
2003; LIMA, 1999; PERSONNE, 2001; MIRANDA, 2006)
Dentro do contexto dos novos modelos de ensino do Judô, encontramos um que
baseado no desenvolvimento motor das crianças promove uma progressão gradativa
e a longo prazo, neste, os princípios do treinamento desportivo são totalmente
respeitados, visto que, etapas do desenvolvimento sócio-afetivo-motor não são
“queimadas”. Nesta proposta, existem objetivos determinados para cada faixa de
idade (cronológica), buscando progressiva formação de atletas, embasada por
teorias desenvolvimentistas, onde a competição formal só irá aparecer em idades
mais avançadas (adolescente-adulto), esse é o modelo de treino esportivo também
adotado por países como Cuba e França (SANTOS e MELLO, 2000).
Atualmente o que se percebe na maioria dos estudos, é que na iniciação ao Judô,
devemos priorizar idéias baseadas em uma pedagogia “renovadora”, que se utilizam
dos métodos ativos de ensino, por onde o aluno pode desenvolver sua criatividade
através do processo de reflexão. Esse novo rumo para o ensino do Judô sofre
influência direta das teorias construtivistas da aprendizagem, que se caracterizam a
partir dos interesses e experiências prévias dos alunos, e por onde propõem-se
situações de conflito onde se recorram a estas experiências para elaborar as
16
respostas e, portanto, elaborar novos conhecimentos, ao contrário do que ocorre
com o modelo técnico, onde se reproduzem determinados estereótipos de execução
(VILLAMÓN, 1999). A prática automática e repetitiva executada a partir da simples
imitação está relacionada ao conceito de “treinamento”, que é o processo mais
simples e significativamente “pobre” que se desenvolve dentro do contexto
educacional esportivo.
O Judô educativo não deve trabalhar com conceitos de treinamento e rendimento,
pois a exclusiva finalidade não é o desenvolvimento das capacidades físicas e das
habilidades técnicas, e sim, contribuir a partir do movimento para a educação integral
e global dos alunos. É daí que surgem os modelos de ensino do Judô, baseados na
solução de problemas e do processo de descobrimento guiado, que entre várias
vantagens, estimulam principalmente a criatividade do aluno (cognição).
Na perspectiva da aprendizagem dos conteúdos pela solução de problemas, o
aluno iniciante é posto frente a diversos jogos que desenvolvem habilidades gerais
das lutas corporais de contato, tais como: agarrar, reter, arrastar, desequilibrar,
imobilizar (as de ataque); esquivar-se, resistir e livrar-se, cair (as de defesa) etc.
Frente a esta gama de habilidades, cabe ao professor sistematizar jogos que levem
ao entendimento dos princípios da luta do Judô, tudo de forma lúdica, nos quais
gradativamente as crianças estarão aprendendo gestos básicos que oferecerão no
futuro a chance de uma maior compreensão dos gestos técnicos específicos
propriamente ditos, que lhes serão úteis na fase de rendimento (resultados). A
resolução de problemas através dos jogos de luta permite o desenvolvimento tanto
motor, quanto cognitivo da criança, de modo que transforma esta criança através do
processo de inclusão nas atividades, tornando-a “ativa” no processo e apta à prática
do Judô para fins diversos (OLIVIER, 2000; VILLAMÒN, 1999; RODRIGUEZ, 2006;
CAZETTO, 2006; MANSILLA e MOYA 2004; GIMÈNEZ, 2002; GARCIA GARCIA,
2006; RODRÍGUEZ, 2003).
O ensino do Judô por meio da utilização de jogos, requer análise cautelosa por
parte do professor em relação aos objetivos dos mesmos, seu uso nas aulas está
diretamente atrelado à proposta de facilitação do processo ensino-aprendizagem e
direcionamento para modelo de ensino de Judô que preconiza a descoberta guiada e
17
a resolução de problemas da luta corporal. O jogo favorece o funcionamento de
aulas mais dinâmicas, lúdicas (motivantes) e de conteúdos e objetivos diversificados
(GARCIA GARCIA et al. 2006; DELIBERADOR, 1996). Contudo, estudiosos como
Cazetto (2006), defendem a idéia de que o jogo no Judô não pode ser mascarado
como “meio” para o ensino tecnicista, e sim, deve ser posto como importante
finalidade nos objetivos das aulas e do processo de ensino.
A pedagogia renovadora propõe que o professor de Judô horizontalize a
hierarquia judoistica, ou seja, o “sensei” pode e deve dialogar diretamente com os
alunos, dando a estes, voz ativa no processo participativo de aquisição de
conhecimento. Não cabe mais ao professor acreditar que, no Judô, uma possível
hierarquia de graduação não possa permitir que o mesmo se interaja com os alunos,
já que, dentro de um país democrático como o Brasil, isso se apresenta como
inadmissível no contexto da educação (BETMANN, 1994; DELIBERADOR, 1996;
VILLAMÓN, 1999). Vale a pena lembrarmos que o professor deve ser reconhecido
pelos alunos como autoridade, mas isso não pode ser posto através de atos
autoritários, e sim, pela forte relação de afetividade entre professor e alunos.
Deliberador (1996) propõe ainda, que ocorra aproximação dos pais no processo de
ensino do Judô, de forma participativa em reuniões, eventos e em algumas aulas
comemorativas (dia dos pais, das crianças, festivais etc.). O autor defende que no
Judô é importante que ocorra participação ativa através de relação aberta entre o
sensei, os alunos e os pais.
A utilização de recursos pedagógicos (materiais) dentro do tatame, muitas vezes
pouco utilizados, agora é posto como de grande importância enquanto ferramenta de
facilitação do processo de ensino-aprendizagem no Judô para crianças, já que além
de fatores como a naturalidade da criança com objetos que geram motivação para as
aulas, objetiva também, o aprendizado pelo método global, que ensina a criança de
uma forma integral, ou seja, torna mais ampla a facilitação da compreensão de
diversos conteúdos (DELIBERADOR, 1990; OLIVIER, 2000; GARCIA GARCIA et al.
2006). No tatame, devem ser utilizados materiais como: as faixas, bolas, arcos,
acolchoados, cones, estafetas, cordas, pedaços de panos coloridos, bexigas, lenços,
18
etc. Cabe ao professor associar o uso destes materiais à capacidade criativa dele e
das crianças para aplicação nos jogos de luta/oposição.
Independente do modelo de ensino, é necessário que o professor de Judô se
organize de forma à cumprir objetivos com suas aulas, é para isto que existem os
recursos didáticos de organização, próprios da Didática da Educação Física, e estes
devem ser sempre utilizados pelos professores. Após conhecer sua turma, o
professor deve fazer planejamento anual/semestral, assim como planos diários,
visando com isso, uma otimização do aproveitamento das aulas. Esta montagem
pode ser feita junto com os alunos de forma participativa, de modo que possa
contemplar os objetivos do professor e dos alunos. No plano de aula, são básicos
itens como: conteúdo, objetivos, estratégias metodológicas, recursos materiais e
avaliação. Quanto ao processo de avaliação, o ideal é que este não seja apenas ao
término da aula, e sim, que seja processual, que aconteça por exemplo, ao longo do
semestre, da unidade ou do ano (LIMA, 1999).
O professor deve buscar, por meio de suas aulas, o cumprimento de vários
objetivos, são exemplos: sociabilização dos alunos; ampliação de repertório motor
diversificado; educação através da prática contextualizada dos princípios filosóficos
do Judô; aprendizagem técnica; formação em longo prazo e seleção de talentos
esportivos; diminuição da agressividade em crianças através de jogos de contato
com regras; possibilidade de conscientização para a formação de estilo de vida
saudável; entre outros infinitos objetivos que podemos vivenciar através da prática do
Judô. Contudo, cabe ao professor definir os objetivos, levando em consideração a
realidade na qual está inserido, para que através do Judô, possa ser efetuada uma
prática mais significativa para as crianças.
Conceitos modernos como os de educação global e integral surgiram
recentemente, estes buscam tratar o indivíduo em sua totalidade assim como
também contextualizam o esporte de uma forma geral e voltado para a educação.
Quando estes modelos são incorporados às propostas de ensino direcionadas ao
Judô Infantil, percebemos que na verdade as idéias do criador Jigoro Kano, para com
o Judô, já traziam em seu contexto didático-filosófico as bases dessas novas idéias
integrais e globais, pois como é sabido, o Judô contempla claramente este modelo,
19
através dos seus conteúdos e de sua filosofia, que são os aspectos diferenciais com
relação a outras modalidades, visto que o seu maior objetivo e/ou finalidade é a
EDUCAÇÂO. WATSON (2011); KANO (2008)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia de ensino de um esporte é que guia todo processo de ensino
aprendizagem, logicamente existem diversas variáveis em volta da metodologia que
também influem no processo, mas o método é com certeza o que irá dar respostas
dentro da prática.
O presente estudo tem por intenção gerar uma motivação para que o leitor
desenvolva uma reflexão critica com relação aos métodos tradicionais e aos modelos
mais recentes de propostas de ensino do Judô, de forma que possam ser postos na
“balança” os prós e os contras dos diversos modelos e assim opte pelo que lhes seja
o mais pertinente.
Aos que desenvolvem e aos que pretendem desenvolver atividades com o
Judô, pedimos que procurem ao máximo capacitar-se através de atividades extra-
curriculares, exemplo: cursos e seminários acadêmicos, de federações e/ou ligas, e
que busquem o conhecimento através de estudos científicos (artigos, monografias,
livros de qualidade) para que possam assim, aliar a teoria à prática, pois é sabido
que a teoria sozinha não ministra aula, e a prática desconectada de uma teoria as
vezes é apresentada pelo “achismo”, ou seja, não possui embasamento teórico que
solidifique a pratica pedagógica.
Importante lembrarmos que de acordo com os aspectos estudados (lúdico,
métodos, jogos, etc.), o Judô deve se adaptar as culturas dos países e não o inverso,
assim como também é importante saber que os objetivos de uma aula devem estar
direcionados à criança e não ao Judô ou ao professor.
Seguindo os conceitos sugeridos ao longo deste estudo, acreditamos que é
possível uma revolução crítico-reflexiva no ensino do Judô, que “rompa” de vez com
as “correntes” que ainda insistem em conter ou negar a evolução pedagógica do
20
ensino do Judô. Contudo, para isso é necessário que ocorra uma “mudança”
gradativa e consciente do processo metodológico do ensino do Judô para crianças.
Por fim, acreditamos que esse aperfeiçoamento virá gradativamente de acordo com
a evolução do conhecimento na área da Educação Física e do próprio meio
judoístico.
Importante que sejam realizados novos estudos relacionados às metodologias
de ensino e práticas pedagógicas direcionadas ao ensino do Judô para crianças, pois
trata-se de tema ainda em crescimento no Brasil, principalmente quanto Judô, dada a
importância de ser esporte tão praticado em nosso país.
21
6. REFERÊNCIAS
ABNT. Informação e documentação – Publicação periódica científica impressa –
Apresentação. Rio de Janeiro: 2003.
BAPTISTA, Carlos Fernando dos Santos. Judô: da escola à competição . Rio de
Janeiro: Editora Sprint, 3ª edição, 2003.
BETMANN, Kátia. Perfil da Prática pedagógica dos professores de Jud ô da
cidade do Recife. Monografia de Graduação, ESEF-UPE, 1994.
CARVALHO, Mauri de. JUDÔ – ÉTICA E EDUCAÇÃO : em busca dos princípios
perdidos . Vitória, ES: EDUFES, 2007.
CAZZETO, Fabiano Filier et. al. O jogo como meio, o “tecnicismo” de cara nova:
o caso do Judô . In: www.efdeportes.com / Revista digital – Buenos Ayres – ano 10
– nº 92 – Enero de 2006. Acessado em: 25 de março de 2006.
CUNHA, Carlos AMC (organizador). Competições Esportivas Precoces: Válidas
ou Não? In: http://www.judobrasil.com.br/2001/judobrasil147.htm, 2001. Pesquisado
em 10 de fevereiro de 2006.
DELIBERADOR, Ângelo Peruca. JUDÔ – Metodologia da participação . Londrina:
LIDO, 1996.
DRIGO, Alexandre Janotta. A Cultura oriental e o processo de especialização
precoce nas artes marciais. Buenos Ayres: revista digital, ano 10, nº 86, julio de
2005. In: www.efdeportes.com, acessado em: 25 de março de 2006.
22
FILHO, Daniel Carreira. A prática esportiva competitiva por crianças: a
responsabilidade dos dirigentes . In: www.judobrasil.com.br/d_carr.zip. Acessado
em: 25 de março de 2006.
FILHO, Daniel Carreira. A prática esportiva competitiva por crianças: dev emo-
lhes respeito. In: www.judobrasil.com.br/d_carr2.htm Acessado em: 25 de março de
2006.
FILHO, Daniel Carreira. A prática esportiva competitiva por crianças: a
necessidade da individualidade . In: www.judobrasil.com.br/d_carr3.htm Acessado
em: 25 de março de 2006.
FRANCHINI, Emerson. Análise e ensino do Judô. In.: TANI, Go et al. Pedagogia do
desporto. Editora GUANABARA KOOGAN, 1ª ed., 2006.
FRANCHINI, Emerson; DEL VECCHIO, Fabrício B. (Orgs.) Ensino de Lutas:
Reflexões e propostas de programas. São Paulo: Scortecci, 2012.
FREITAS, Wilian Soares de. METODOLOGIA DE AULAS PARA CRIANÇAS NO
JUDÔ. 2004, In: www.judobrasil.com.br/2004/mapcj.pdf
FREITAS, Francisco Mauri de Carvalho. Judô: Crítica Radical . Sergipe: Revista
Motrivivência, n. 2, Jun/ 1989.
GARCÍA GARCIA, José Manuel. et. al. JUDO – Juegos para la mejora del
aprendizaje de las técnicas . Espanha, Paidotribo, 2006.
GARCÍA GARCIA, José Manuel. et. al. A study of the difficulties involved in
introducing young children to judo techniques: A pr oposed teaching
programme . ARCHIVES OF BUDO, vol. 5, 2009.
23
GIMÈNEZ, Antonio Mendez. El pensamiento tactico en el Judo: un proceso
generado desde la etapa inicial mediante el juego . In:
www.judobrasil.com.br/2002/eptej.zip Acessado em: 25 de março de 2006.
GROSSO, Francisco. A ludicidade como estratégia motivacional da
aprendizagem de Judô para crianças na faixa etária dos 4 à 12 anos . In:
http://www.judobrasil.com.br/2000/fgrosso.htm Acessado em: 25 de março de 2006.
KANO, Jigoro. Energia mental e Física . São Paulo: Pensamento, 2008.
KANO, Jigoro. KODOKAN JUDO . Estados Unidos: KODANSHA America, 1ª edição,
1986.
LEAL, Alexandre Campello. Judô Infantil: um modelo de competição adaptado à
realidade das crianças dos 04 aos 12 anos de idade . Recife: ESEF –UPE, 2005
(monografia).
LIMA, Anderson dias de. Recursos pedagógicos para o ensino do Judô :
Princípios da Educação Física Infantil e o Ensino do Judô / Conceitos Didáticos
Aplicados ao Ensino do Judô. In: Recursos Pedagógicos para o Ensino do Judô
(Federação Paulista de Judô – Departamento de Ensino e Credenciamento Técnico
– 1999).
MANSILLA, Mirella; MOYA, Pedro M. Diferencias psicológicas en el Judo
recreativo. In.: www.judobrasil.com.br/2004/dpeejr.zip Acessado em: 25 de março
de 2006.
MARQUES, Antônio T.; OLIVEIRA, José. O treino e a competição dos mais
jovens: rendimento versus saúde. Esporte e Atividade Física, Ed. , 20.
MATTOS, Mauro Gomes de. Teoria e prática da metodologia da pesquisa em
Educação Física . São Paulo: PHORTE, 2004.
24
MESQUITA Chuno Wanderley, Identificação de incidências autoritárias
existentes na prática do Judô e utilizadas pelo pro fessor , Dissertação de
Mestrado : UFRJ, 1994.
MIRANDA, Mário Luiz. A iniciação no Judô: relação com o desenvolvimento
infantil. São Paulo: USP, 2004(monografia de Graduação).
MIRANDA, Mário Luiz. Competição de Judô para crianças . In:
http://www.fpj.com.br/artigos/artigos.php?id=../artigos/comp_criancas.htm. 2006,
Acessado em: 25 de outubro de 2006.
OLIVEIRA, Marco Aurélio Laureano de. Referências técnicas e teóricas do Judô:
contribuição para um tratamento metodológico mais s ignificativo . Monografia
de Especialização em Educação Física Escolar. Recife: ESEF/UPE, 2000.
OLIVIER, Jean-Claude. Das brigas aos jogos com regras: enfrentando a
indisciplina na escola . Porto Alegre, ARTMED, 2000.
PERSONNE, Jaques. Nenhuma Medalha vale a saúde de uma criança . Livros
Horizonte, Portugal, 2001.
RODRÍGUEZ, José Robles. Estratégia en la prática global vs. Analítica en la
iniciacion al judo . In: http://www.judobrasil.com.br/2006/eelpg.pdf, acessado em: 05
de abril de 2006.
RODRIGUÉZ, José Robles. La enseñanza del judo mediante una metodologia
activa. Una Propuesta de entrenamiento integrado . In: http://www.efdeportes.com/
efd64/judo.htm Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 64 - Septiembre de 2003.
25
ROZA, Antônio Francisco Cordeiro. Judô Infantil – uma brincadeira séria! São
Paulo: PHORTE, 2010.
RUFFONI, Ricardo et. al. As competições oficiais são benéficas para as
crianças? In: http://www.judobrasil.com.br/2003/cosbpc.pdf Acessado em: 25 de
março de 2006.
RUFFONI, Ricardo; BELTRÃO, Fernando. Análise metodológica na prática do
Judô. In: www.equiperuffoni.com.br/artigos/A050215.doc (acessado em: 25 de
outubro de 2006).
RUFINO, Luiz Gustavo B. PEDAGOGIA DAS LUTAS – caminhos e possibilidades .
JUNDIAÍ: Paco Editorial, 2012.
SANTOS, Leonardo Mataruna dos; MELLO, Mariana Vieira de. Treinamento de
Judô a longo prazo. Buenos Ayres: Lecturas: Educacíon Física y Deportes, 2000.
In: www.efdeportes.com, acessado em 20 de março de 2006.
SANTOS, Saray G. dos et al. Estudo sobre a aplicação dos princípios judoísticos
na aprendizagem do Judô. Revista da Educação Física/UEM, n. 1. p. 11-14, 1990.
SANTOS, Saray G. dos. JUDÔ – Filosofia Aplicada . Florianópolis: Editora da
UFSC, 2009.
SANTOS, Sérgio L. C. dos. JOGOS DE OPOSIÇÃO – Ensino das lutas na escola .
São Paulo: PHORTE, 2012.
VIEIRA, Douglas. Judô infantil ao alto rendimento . In:
http://www.judobrasil.com.br/2000/douglas.htm, acessado em: 25 março de 2006.
26
VIEIRA, Douglas. Judô infantil ao alto rendimento . In:
http://www.judobrasil.com.br/2000/douglas.htm Acessado em: 25 de março de 2006.
VILLAMÓN, MIGUEL (ORG.) INTRODUCCIÓN AL JUDO . Espanha: Editorial
Hispano Europea, 1999.
VIRGÍLIO, Stanlei. CONDE KOMA – o invencível yondan da história . Campinas,
SP: editora Átomo, 2002.
WATSON, Brian N. Memórias de Jigoro Kano – O início da história do J udô . São
Paulo: Cultrix, 2011.
Vídeos (recomendados):
Coaching Judo to Juniors. IJF DVD Series 1 - Fighting Films – 2009. 101 Judo Games. Fighting Films – 2010.