Reescrita João Nunes Versão Longa

download Reescrita João Nunes Versão Longa

of 26

Transcript of Reescrita João Nunes Versão Longa

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    1/26

    COMO REESCREVERO SEU ARGUMENTO

    EM DEZ PASSOS

    (versão longa)

    por

    JOÃO NUNES

    1

    Carregue aqui para assinar a minha newsletter e receber regularmente artigos,

    notícias, e outros recursos relacionados com a escrita para os diversos media.

    http://eepurl.com/gUSDbhttp://eepurl.com/gUSDbhttp://eepurl.com/gUSDbhttp://eepurl.com/gUSDb

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    2/26

    “A primeira versão de qualquer coisa é uma merda.

    Ernest Hemingway

    Reescrita é apenas o nome do meio da escrita .

    Francis Ford Coppola

    Na terça feira, 23 de Maio de 2000 , às 16:27, sentei- 

    me para escrever ‘Little Miss Sunshine’. (...) Terminei a

    primeira versão às 21:56 de sexta feira, 26 de Maio.

    Depois passei um ano a reescrever.

    Michael Arndt

    2

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    3/26

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    4/26

    A reescrita

    O segredo de uma boa reescrita é não querer corrigir tudo ao mesmo tempo.

    Fica mais fácil, e é mais proveitoso, se passarmos várias vezes pelo guião, abordando um determinado tipo

    de problemas de cada vez. É como se, em cada etapa, colocassemos uma lente diferente no nosso olhar,

    para filtrar uma e só uma faceta do trabalho.

    Também teremos melhores resultados se conduzirmos o processo de reescrita do geral para o particular.

    Primeiro enfrentamos os grandes problemas e fazemos as alterações mais significativas. Só depois

    atacamos os detalhes e afinamos os pormenores.

    Não adianta estar a corrigir os diálogos de uma cena para mais tarde eliminar essa mesma cena. Mais valedecidir primeiro se ela faz falta (o geral) e, em caso afirmativo, corrigir então os diálogos (o particular).

    Vejamos então o que tem de fazer, passo a passo.

    4

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    5/26

    1 - Repouso

    A primeira etapa de uma boa reescrita é não fazer nada.

    Deixe o seu guião descansar durante algumas semanas - duas no mínimo. Este tempo de espera tem duas

    vantagens: dá-lhe a perspetiva necessária para poder ler o seu guião com olhos limpos; e renova o seu

    entusiasmo pelo projeto.

    Aproveite para descansar, celebrar e começar a pensar noutros projetos. Um bom argumentista tem

    sempre mais de um projeto em movimento, em fases distintas. Esta pode ser a altura certa para começar a

    procurar ideias ou fazer pesquisa para o seu argumento seguinte.

    É também permitido gabar-se junto da família, amigos, Facebook e Twitter.

    Ao fim deste período de repouso, que lhe irá dar uma visão mais distanciada e imparcial do seu trabalho,

    siga sem piedade as etapas seguintes.

    5

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    6/26

    2 - Leitura geral

    Não recomece imediatamente a escrever. Imprima uma cópia em papel, arranje uma caneta vermelha,

    arranje um lugar calmo e reserve algumas horas só para si.

    Em primeiro lugar, dê uma leitura completa ao seu guião, de um só fôlego. Pode tomar algumas notas de

    problemas que lhe saltem logo à vista, mas não deixe que isso tire o ímpeto da leitura.

    O objetivo é sentir o ritmo, o balanço e a progressão natural da estória. No fim desta primeira leitura deve

    ter a percepção clara da fluência da sua narrativa, e uma ideia geral dos grandes problemas que vai ter de

    enfrentar.

    Dê a si próprio mais um ou dois dias de reflexão, e faça uma segunda leitura, com o intuito de tomar notassobre esses grandes problemas. O que nos leva ao terceiro passo.

    6

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    7/26

    3 - Enredo

    Como vimos antes, as primeiras reescritas que fizer (note bem o plural) devem começar do geral para o

    particular. Primeiro a floresta, depois as árvores.

    Abra o documento no seu processador de texto favorito (o CeltX é uma boa opção) e grave uma nova

    versão. Chame-lhe como quiser, mas certifique-se de que vai criando versões novas para cada etapa da

    reescrita, ou sempre que fizer uma alteração mais radical. O tempo que perder a estruturar os seus

    arquivos agora vai poupar-lhe dores de cabeça mais à frente.

    Nesta fase pode ser necessário fazer grandes alterações à sua estória. Pode até ser necessário mudar

    radicalmente a ideia original, se esta não estiver a funcionar. Isto quererá dizer que não trabalhou o

    suficiente na fase da gestação da ideia. Mas menos mal - ainda está a tempo de corrigir isso.

    Por vezes será necessário mexer em sequências completas, especialmente nos momentos chave. Por

    exemplo, encontrar um arranque novo, ou um final diferente. Não tenha medo de experimentar.

    7

    http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    8/26

    Estas são algumas das questões que deve colocar a si próprio:

    • A premissa básica é forte? Pode ser melhorada, ou apresentada com mais clareza?

    • A questão dramática está clara e é apresentada suficientemente cedo?

    • Quais são os pontos mais fracos do enredo?

    • Há erros de lógica na estória?

    • Há lugares comuns, ou cenas roubadas de outros filmes?

    • Todas as cenas são necessárias e suficientes? Ou algumas podem ser eliminadas, ou anexadas, sem

    prejuízo da narrativa?

    • Pelo contrário, faltam cenas para clarificar algum ponto da estória?

    • As cenas estão bem encadeadas, e sucedem-se com fluência? Ou são episódicas e desligadas?

    • Há surpresas e reviravoltas suficientes?

    8

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    9/26

    Esta é a altura certa para avaliar o ritmo da estória, procurar segmentos desnecessários ou mais

    aborrecidos, detetar as falhas no encadeamento das sequências, etc.

    Pode também ser necessário fazer alguma pesquisa adicional para esclarecer aspetos da estória ou

    melhorar a credibilidade de algumas cenas.

    Seja absolutamente honesto consigo mesmo; se tiver dúvidas em relação a algum aspecto, não descanseenquanto não tiver a certeza de que não consegue escrever uma alternativa melhor.

    Repito: não tenha medo de experimentar. Se mantiver um bom arquivo de versões da reescrita, pode

    sempre voltar a uma versão anterior, ou combinar o melhor de duas versões numa terceira.

    9

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    10/26

    4 - Personagens principais

    Esta fase da reescrita, que podemos classificar como a das grandes decisões, também é a altura certa para

    fazer mudanças profundas nos personagens.

    Certifique-se de que está bem claro quem é o seu protagonista, e o que o move em toda a estória. Se não

    tem um protagonista forte, interessante, multidimensional, rico e contraditório, está a perder uma grande

    oportunidade de dar interesse ao seu argumento.

    Pense nos protagonistas dos filmes de que mais gosta. O que é que lhes interessa neles, que possa trazer

    para o seu argumento? A ideia não é copiar, mas identificar o que o toca a si, e transpor isso para os seus

    personagens.

    Também aqui, não tenha medo de fazer experiências. Coloque grandes questões, mesmo que decida não

    as explorar: talvez o protagonista ideal seja um outro personagem, ou deva ser mulher em vez de homem,

    ou motorista em vez de professor universitário.

    10

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    11/26

    Analise igualmente os objetivos e motivações da cada personagem central, incluindo o antagonista. Um

    bom filme depende tanto do elenco complementar como da força do protagonista.

    Estas são algumas das questões que deve colocar:

    •Tenho o protagonista certo? Ou outro personagem pode tomar o seu lugar vantajosamente?

    •O meu protagonista é fascinante? O que lhe falta para o ser?

    •As suas motivações são fortes, claras e coerentes? Porque é que ele embarcou nesta estória?

    •Sente-se urgência e pressão nos seus comportamentos?

    •Os seus comportamentos são coerentes e credíveis ao logo de toda a estória?

    •As suas transformações (no caso de as haver) são compreensíveis e justificadas? Tem um arco detransformação suficientemente claro?

    Repita estas questões para o antagonista e restante elenco principal.

    11

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    12/26

    5 - Estrutura

    Como já referi várias vezes no Curso de Guionismo, a estrutura é a forma como apresentamos os

    acontecimentos dramáticos que consideramos essenciais para contar a nossa estória, a ordem e a

    importância que lhes 

    atribuímos no nosso guião.

    Se considerarmos que o enredo é a carne dramática da nossa estória, e se os personagens são o sangue

    que lhe dá vida, a estrutura é o esqueleto que aguenta tudo no lugar e dá solidez e eficácia à nossa

    narrativa.

    Por alguma razão um argumentista respeitado como William Goldman escreve que “GUIÕES SÃO

    ESTRUTURA” (assim mesmo, com maiúsculas e tudo).

    Um argumento clássico e bem estruturado tem três atos - explicação, complicação e resolução - e cinco

    momentos chave - o detonador, viragem para o segundo ato, meio, viragem para o terceiro ato, e clímax.

    Se necessário leia o Curso de Guionismo para entender melhor estas noções.

    12

    http://joaonunes.com/category/curso-de-guionismo/http://joaonunes.com/category/curso-de-guionismo/http://joaonunes.com/category/curso-de-guionismo/http://joaonunes.com/category/curso-de-guionismo/http://joaonunes.com/category/curso-de-guionismo/

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    13/26

    Estas são algumas das questões que deve colocar para avaliar a estrutura do seu guião:

    • Esta é a melhor estrutura para este enredo? Ou outra serviria melhor a narrativa?

    • O argumento está no tamanho adequado (90 a 110 páginas)?

    • Conseguimos identificar bem os três atos? Estão na proporção certa (±25%-50%-25%)?

    • Os momentos chave são suficientemente compreensíveis? Aparecem no momento certo da estória?

    • O detonador não demora demasiado a surgir? E a passagem para o segundo ato?

    • Acontece alguma coisa de muito importante mais ou menos a meio do guião?

    • A passagem para o terceiro ato está bem demarcada?

    • E o clímax, está no momento certo? Ou a estória ainda se arrasta depois dele?

    Não tenha medo de mexer na estrutura. O fato de haver um princípio, meio e fim não quer dizer que eles

    tenham de surgir exatamente por essa ordem.

    13

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    14/26

    6 - Personagens e enredos secundários

    Resolvidas as grandes questões, é altura de começar a analisar a estória com uma malha mais fina.

    Uma boa maneira de o fazer é começar por avaliar o impacto dos enredos e personagens secundários. Se

    forem poucos, o guião pode parecer pobre; se forem demais, pode ficar confuso

    • Os personagens secundários contribuem para a estória principal ou são meras distracções?

    • Mesmo que apareçam por pouco tempo, estão bem definidos e são interessantes?

    • Correspondem a arquétipos fortes, ou são simplesmente estereótipos?

    • Podemos eliminar, ou combinar personagens secundários?

    • Quais são as suas motivações, as estórias em que eles são o protagonista?

    • Vamos conseguir interessar bons atores para interpretar estes personagens secundários?

    14

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    15/26

    • Os enredos secundários acrescentam alguma coisa à estória ou são dispensáveis?

    • Contribuem para uma melhor compreensão dos personagens?

    • Têm um princípio, meio e fim bem definidos, ou ficam pendurados?

    • Encaixam de forma equilibrada com o enredo principal, sem distrair dele?

    • Os personagens e enredos secundários ajudam a tornar mais claro o tema da nossa estória?

    Uma boa maneira de analisar os enredos secundários é usar o método dos cartões, escrevendo cada cena

    num cartão individual, e identificando os vários enredo secundários com cores diferentes. Por exemplo,

    azul para o enredo principal, verde para o enredo amoroso, vermelho para o enredo do antagonista, etc.

    Dessa forma pode avaliar visualmente os desequilíbrios da sua estória. Usando o exemplo anterior, se de

    repente detetar uma longa sequência de cartões verdes, sem qualquer azul pelo meio, isso pode querer

    dizer que está a esquecer o enredo principal durante demasiado tempo.

    O CeltX também tem boas ferramentas para ajudar nesta fase da reescrita.

    15

    http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    16/26

    7 - Cenas

    Por esta altura talvez seja boa ideia imprimir uma cópia limpa da versão mais recente do guião e voltar a

    lê-la com uma caneta vermelha e um marcador para sublinhar. Gosto de árvores tanto como qualquer

    outra pessoa, mas ainda não encontrei softwares que dêem a mesma satisfação nesta tarefa.

    Com base nesta leitura e notas, passe então à análise das cenas individuais. Cada uma é uma miniestória

    que deve contribuir para o todo mas sustentar-se por si mesma. Certifique-se de que cada cena tem a

    duração necessária e suficiente. Comece-a o mais tarde possível, e termine-a o mais cedo que conseguir.

    Cada cena deve ser indispensável, implicar uma transformação na estória ou nos personagens, forçar

    escolhas e determinar as cenas seguintes. Estas são algumas das questões que pode colocar:

    • Esta cena é mesmo necessária? O que acontece se a eliminar?

    • A dinâmica interna, conflitos e tensões desta cena estão claros?

    16

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    17/26

    • Os motivos e objetivos de cada personagem percebem-se bem?

    • Há conflito? Qual é? Quem quer o quê? O que o impede de o conseguir?

    • Qual a transformação dramática que se opera entre o início e o fim da cena?

    • Esta cena está boa para aparecer no trailer do filme? Posso afiná-la nesse sentido?

    • Como estão escritas as descrições? São sucintas ou arrastam-se?

    • A linguagem usada para descrever a cena é visual e cinematográfica?

    • Só estão descritas ações que podem ser vistas ou ouvidas, ou há coisas que não são filmáveis?

    • O estilo de escrita é concreto mas também evocativo e inspirador?

    • Os parágrafos têm a dimensão adequada? Dão uma boa noção do ritmo da cena?

    • A página está visualmente equilibrada? Ou tem “tinta” a mais?

    17

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    18/26

    8 - Diálogos

    Sobre os diálogos poderia ser escrito um livro completo (e já o foram vários). Todos recordamos grandes

    frases, expressões marcantes, conversas fascinantes que ouvimos em filmes: “Ó Evaristo, tens cá disto? ”;

    “Deste, já não há mais.”; ou “Are you talkin’ to me? ”

    O seu objetivo é conseguir que os seus personagens também tenham uma quota parte de diálogos

    memoráveis.

    Os diálogos podem comecar a ser revistos em paralelo com a reescrita das cenas, mas devem merecer

    pelo menos uma revisão completa só focada neles. Será melhor ainda se fizer várias revisões focadas nos

    diálogos de cada personagem.

    Um programa como o CeltX permite criar relatórios de falas para cada personagem, dando-lhe a

    possibilidade de os avaliar de forma independente. Isto permite, por exemplo, detetar mudanças no estilo

    de vocabulário, na forma como se dirigem uns aos outros, no ritmo e na síntaxe que usam.

    18

    http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    19/26

    Estas são algumas das questões que deverá colocar em relação aos diálogos:

    • Estão na proporção certa para o género de filme e para as caraterísticas dos personagens?

    • Têm um subtexto rico, ou são demasiado literais?

    • Soam naturais ou são muito rebuscados e literários?

    • São escorreitos e interessantes?

    • Tem o ritmo certo?

    • São adequados à época e local do filme?

    • Cada personagem tem uma voz própria e distinta?

    • Essa voz reflete as suas origens sociais e geográficas, a sua história e circunstâncias?

    • As falas de um mesmo personagem são coerentes ao longo do argumento, acompanhando o seu arco de

    transformação (quando existe)?

    19

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    20/26

    9 - Formato

    Chegamos finalmente aos pormenores. Mas não caia na tentação de os descurar porque podem, em última

    instância, determinar a percepção que os leitores do guião vão ter em relação ao seu trabalho.

    O formato como o guião é apresentado é um dos detalhes que mais depressa definem o nível deprofissionalismo dos autores. Quando um argumentista não respeita as convenções praticadas no

    mercado, ou é porque não as conhece, ou porque as despreza. Nenhum dos casos é bom.

    O formato também é importante porque, teoricamente, cada página deve corresponder a um minuto de

    filme. Isso só é conseguido respeitando as práticas de formato já consagradas.

    Certifique-se sempre do seguinte:

    • A primeira página inclui apenas o título, nome do autor e dados para contato?

    • A formatação usada está correta de acordo com os parâmetros do seu mercado?

    20

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    21/26

    • É usada apenas a fonte Courier 12?

    • Cada elemento (cabeçalho, acção, personagens, etc...) tem as margens e espaçamentos certos?

    • Foram respeitadas as formas certas de indicar os cabeçalhos, personagens, diálogos, etc?

    • A primeira aparição em cena de cada personagem está destacada em maiúsculas?

    • Foram respeitadas as formas corretas de indicar sons, efeitos especiais, vozes o"  , transições entre cenas,

    telefonemas, montagens e sequências de cenas?

    Escrever um argumento torna-se uma experiência muito mais agradável e fluida quando não temos de nos

    preocupar com o formato e nos podemos concentrar na estória e nos personagens.

    A maneira mais fácil de o conseguir é usando sempre um processador de texto especializado, como o

    Final Draft ou o já mencionado CeltX.

    21

    http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/http://joaonunes.com/2008/guionismo/celtx-um-tutorial-de-escrita-de-guiao/

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    22/26

    10 - Gramática e ortografia

    Por fim, corrija a construção das frases, e reveja as “gralhas”.

    Não descure este último aspecto  — um guião mal escrito e cheio de erros de ortografia (como já vi alguns)

    tem um ar muito pouco “profissional”. O trabalho de um escritor só chega ao público final depois de

    passar pelas mãos de editores e revisores. No seu caso, essa responsabilidade é apenas sua.

    A primeira etapa é usar o corretor ortográfico do seu programa. Não há desculpa para deixar passar

    palavras mal escritas quando o erro está sublinhado a vermelho.

    Mas não confie apenas no corretor automático. Uma palavra pode parecer bem escrita, mas ser errada para

    o fim pretendido. Por exemplo, se escrever “com sigo” o corretor não vai perceber que deveria ter escrito“consigo”.

    Um bom truque, que aprendi na revisão de textos publicitários, é ler as frases de trás para diante. Dessa

    forma abstraimo-nos do sentido das frase e focamos exclusivamente as palavras.

    22

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    23/26

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    24/26

    Conclusão

    Quando achar que, sozinho, já não consegue melhorar o seu argumento, está na altura de pedir ajuda

    externa.

    A primeira coisa a fazer é registá-lo no organismo público competente. Em Portugal é o IGAC, no Brasil é oEscritório dos Direitos Autorais de cada Estado.

    Depois de registado, dê então o argumento a ler a algumas pessoas da sua confiança. É importante que

    tenham a capacidade de interpretar um guião, pois este tem um formato muito próprio. Também é

    fundamental que sejam honestas e não o poupem nos comentários. Conte com algum tempo para esta

    etapa, pois não é fácil arranjar a disponibilidade necessária para fazer uma leitura atenta de um guião.

    Quando receber os comentários, numa conversa ou por escrito, prepare-se para alguma surpresas. Quem

    lê um guião sem ideias feitas vai descobrir aspectos - positivos ou negativos - que lhe podem ter

    escapado.

    24

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    25/26

    Não é obrigado a aceitar todas as críticas e sugestões que lhe sejam feitas, mas não adianta muito dar a

    ler um guião se depois adotar uma atitude defensiva em relação aos comentários.

    O escritor Neil Gaiman diz a este respeito: “Quando as pessoas te dizem que alguma coisa está mal, ou não

     funciona para elas, estão normalmente certas. Quando te dizem exatamente o que está mal, ou como o

    arranjar, estão normalmente erradas.”

    Mantenha o espírito aberto e agradeça a cada leitor o tempo e energia dispendidos.

    Depois, repita este processo as vezes que forem necessárias. Cada reescrita é uma oportunidade para

    melhorar o seu argumento.

    Chegará um momento em que não vai conseguir rever mais nada. Só nesta altura deverá colocar o seu

    argumento nas mãos de um produtor, com a segurança de estar a mostrar o seu melhor trabalho.

    Boas (re)escritas.

    João Nunes

    25

  • 8/16/2019 Reescrita João Nunes Versão Longa

    26/26

    26

    Este documento foi escrito e produzido por João Nunes,

    e publicado gratuitamente no site http://joaonunes.com.

    O texto reflete apenas as opiniões do autor.

    Todos os direitos são reservados.

    Pode ser impresso para uso e consulta particular,

    mas não pode ser vendido nem integrado

    em qualquer outro texto ou publicação.

    Só pode ser distribuído após autorização do autor,

    obtida através do site.

    © João Nunes 2011

    http://joaonunes.com/http://joaonunes.com/