Resenha: Ensinando Piano Em Grupos Res

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8/15/2019 Resenha: Ensinando Piano Em Grupos Res http://slidepdf.com/reader/full/resenha-ensinando-piano-em-grupos-res 1/3 71 RESENHA  MÁRIO VIDEIRA É pianista e professor do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Publicou o livro “O Romantismo e o Belo Musical” (Ed. Unesp, 2006), além de inúmeros artigos em revistas especializadas nacionais e internacionais. e-mail: [email protected] Ensinando piano em grupos Embora a experiência de ensino de piano em grupo remonte ao início do século XIX - o primeiro registro de que se tem notícia data de 1815, na Irlanda – ainda há em nosso país uma carga considerável de preconceito no que concerne a esta prática. Muitas pessoas consideram que o ensino do piano em grupo não seria tão eficiente como uma aula individual e que os alunos não progrediriam de maneira tão rápida como nas aulas tradicionais. Os detratores do ensino coletivo acreditam que não seria possível trabalhar satisfatoriamente o aspecto técnico e – ainda pior! – a musicalidade e a expressividade do aluno ficariam comprometidas por meio da aula de piano em grupo. Em suma: na opinião destas pessoas, ensino coletivo de piano não seria capaz de formar bons músicos ou instrumentistas sérios. O livro Teaching piano in groups [Ensinando piano em grupos], editado recentemente pela Oxford University Press, procura combater justamente esse tipo de preconceito. De autoria de Christopher Fisher, professor de piano da Universidade de Ohio, o livro defende de maneira brilhante a prática de ensino coletivo deste instrumento. Após um breve panorama da história do piano em grupo (na qual destacam-se, dentre outros, nomes como os de Robert Pace, James Bastien, Frances Clark, E. L. Lancaster e Martha Hilley), o autor passa a examinar a eficácia dessa modalidade pedagógica. Por que piano? Por que em grupo? Grande parte dos educadores acredita que o piano é um instrumento praticamente indispensável para todos os músicos, na medida em que possibilita ao estudante aplicar e vivenciar na prática os conceitos aprendidos seja na aula de teoria musical, seja na aula de percepção ou de harmonia. Com efeito, o aprendizado do piano pode ser visto como parte da MÁRIO VIDEIRA, resenha do livro Ensinando piano em grupos

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RESENHA

  MÁRIO VIDEIRA

É pianista e professor do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo (ECA-USP). Publicou o livro “O Romantismo e o Belo Musical”

(Ed. Unesp, 2006), além de inúmeros artigos em revistas especializadas nacionais e

internacionais. e-mail: [email protected]

Ensinando piano em

grupos

Embora a experiência de ensino de piano em grupo remonte ao início do século XIX - o

primeiro registro de que se tem notícia data de 1815, na Irlanda – ainda há em nosso país uma

carga considerável de preconceito no que concerne a esta prática. Muitas pessoas consideram

que o ensino do piano em grupo não seria tão eficiente como uma aula individual e que os

alunos não progrediriam de maneira tão rápida como nas aulas tradicionais. Os detratores doensino coletivo acreditam que não seria possível trabalhar satisfatoriamente o aspecto técnico

e – ainda pior! – a musicalidade e a expressividade do aluno ficariam comprometidas por meio

da aula de piano em grupo. Em suma: na opinião destas pessoas, ensino coletivo de piano não

seria capaz de formar bons músicos ou instrumentistas sérios.

O livro Teaching piano in groups [Ensinando piano em grupos], editado recentemente pela

Oxford University Press, procura combater justamente esse tipo de preconceito. De autoria de

Christopher Fisher, professor de piano da Universidade de Ohio, o livro defende de maneira

brilhante a prática de ensino coletivo deste instrumento. Após um breve panorama da história

do piano em grupo (na qual destacam-se, dentre outros, nomes como os de Robert Pace, JamesBastien, Frances Clark, E. L. Lancaster e Martha Hilley), o autor passa a examinar a eficácia dessa

modalidade pedagógica.

Por que piano? Por que em grupo?

Grande parte dos educadores acredita que o piano é um instrumento praticamente

indispensável para todos os músicos, na medida em que possibilita ao estudante aplicar e

vivenciar na prática os conceitos aprendidos seja na aula de teoria musical, seja na aula de

percepção ou de harmonia. Com efeito, o aprendizado do piano pode ser visto como parte da

MÁRIO VIDEIRA, resenha do livro Ensinando piano em grupos

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formação geral do estudante de música. Neste sentido, o ensino coletivo propicia condições

ideais para que o aluno adquira habilidades funcionais tais como: harmonização, transposição,

improvisação, acompanhamento, prática de conjunto, leitura à primeira vista em diferentesclaves, etc..

Além desses aspectos, o aprendizado do piano em grupo expande as possibilidades

de uma aula de piano individual. Nela, o aspecto socializador desempenha um papel

fundamental, atuando como um fator de motivação para o aluno (tanto no sentido de

estabelecer uma “competição saudável” entre os colegas, como principalmente no sentido

da troca de experiências com seus pares - ou seja, o ambiente de uma aula em grupo fornece

condições ideais para que os alunos possam aprender uns com os outros). No que diz respeito

ao desenvolvimento da musicalidade e da interpretação musical, o autor defende que o

professor atue como um mediador, facilitando a discussão a respeito de cada peça estudadae abordando tópicos como forma e estrutura, fraseado, dinâmicas e pedalização, bem como

aspectos estéticos e/ou históricos que estejam envolvidos.

Ao ouvir as interpretações dos outros alunos (seja das mesmas peças do repertório, de

estudos ou de exercícios técnicos), os estudantes são desafiados a ouvir notas corretas,

ritmos, andamento, dinâmica, fraseado, pedalização, etc.. Isto contribui para que eles

desenvolvam uma “audição crítica”, ao mesmo tempo em que são incentivados a fazer

sugestões do que pode ser melhorado e de como solucionar determinados problemas.

Dessa forma, o aluno tem maiores oportunidades de transferência de conhecimento: as

soluções encontradas para as dificuldades do colega podem ser aplicadas no estudo dassuas próprias peças. É preciso lembrar ainda que a aula de piano em grupo proporciona,

constantemente, oportunidades para que os estudantes toquem para outras pessoas numa

situação desprovida do stress  do palco, de modo que esses alunos tendem a controlar

melhor o nervosismo ao tocar em público.

O autor aborda ainda os requisitos ideais do profissional que se disponha a ensinar piano

de maneira coletiva. Neste sentido, um dos fatores mais importantes é o planejamento

aprofundado de cada aula, bem como da maneira como ela se insere no curso como um todo.

É preciso que o professor disponha de um plano “claro e bem deliberado para a apresentação

e reforço dos conceitos e princípios” a serem abordados em classe (FISHER, 2010, p. 14). Noentanto, é também necessária uma certa dose de flexibilidade por parte deste profissional,

de modo que ele consiga responder adequadamente a certas questões e/ou situações que

possam ocorrer espontaneamente.

O livro está dividido em nove capítulos bastante detalhados, que abordam desde teorias de

aprendizagem em grupo até considerações sobre implementação do currículo e planejamento

de aulas. Além disso, o autor fornece inúmeras sugestões práticas para o trabalho com

diferentes tipos de alunos: crianças, adolescentes, adultos que estudam piano por hobby   e

estudantes universitários de música que aprendem piano como instrumento complementar. O

sexto capítulo (“Instructional Strategies” ) é talvez um dos mais úteis para quem está começando

REVISTA ESPAÇO INTERMEDIÁRIO, São Paulo, ano II, n.III, p. 71-73, junho, 2011.

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na área, pois aborda uma grande quantidade de atividades para o ensino das “habilidades

funcionais” anteriormente mencionadas (harmonização, transposição, leitura à primeira vista,

redução de grades corais, etc.). Por fim, cabe notar que a editora disponibiliza gratuitamentealguns recursos on-line (http://www.oup.com/us/teachingpianoingroups), bem como a mais

completa e atualizada bibliografia para aqueles que pretendem se aprofundar na questão do

ensino e do aprendizado do piano em grupo.

Com linguagem clara e abordagem direta – voltada especialmente para a prática – este

livro constitui uma contribuição valiosa para o campo da pedagogia pianística. Sua leitura

pode ser extremamente proveitosa tanto para os jovens estudantes de licenciatura em música

como para professores de piano mais experientes, interessados em conhecer um pouco mais a

respeito desta modalidade de ensino.

FISHER, Christopher. Teaching piano

in groups.  New York: Oxford

University Press, 2010. 252 p.

    I   m   a   g   e   m   :    R   e   p   r   o    d   u   ç    ã   o

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