Resenha sobre métodos quantitativos

3
 UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ    UFOPA. Programa de Pós-Graduação Sociedade, Natureza e Desenvolvimento    PPGSND. Disciplina: Métodos quantitativos. Discente: DIEGO CORRÊA FURTADO. Resenha: GORARD, S. Simple non-parametric statistics: minding your table manners. In: _____. Quantitative methods in social science : The role of numbers made easy. Nova Iorque/Londres: Continuum, 2003. p. 121-135. Propõe, o texto em r eferência, discutir o tema de estatísticas não-paramétricas simples, abordando especialmente a apresentação de dados de pesquisa no formato de tabelas. Alerta, o autor, entretanto, que pretende transcender a estrita explanaçã o acerca de como representar os dados e de como realizar manipulações aritméticas simples. Sua intenção é de discutir sobre os padrões que podem ser estabelecidos entre os dados e as diferenças que podem ser encontradas entre os subgrupos de uma amostra. Inicialmente, o autor mobiliza o exemplo de uma pesquisa fictícia, na qual se busca a associação entre duas variáveis distintas: o gênero dos entrevistados (masculino ou feminino) e a realização de visitas ao médico ao longo de dois anos. Em sua visão, o interesse principal de um cientista social seria responder perguntas de pesquisa que relacionassem as variáveis entre si, ao invés de meramente descrever os resultados em isolamento. Consideradas simultaneamente, as variáveis são representadas em tabulações cruzadas, o que permite conhecer as proporções esperadas, compará-las às proporções observadas na amostra e, consequentemente, propor extrapolaçõe s para a população. Desta perspectiva, o autor afirma não haver razão para que alguém evite ler ou para que não consiga compreender o tipo de análise estatístic a proposta, pois estaria fundamentada em um raciocínio simples, que poderia ser utilizado em outros casos análogos, e com o intermédio de um computador, responsáve l pelos cálculos matemáticos. Adiante, o autor envereda pela perspectiva da representação estatística, para permitir que o leitor compreenda a ligação entre o raciocínio até então desenvolvido com determinados termos técnicos da área em foco. Apresenta, então, os conceitos de graus de liberdade e de hipótese nula. Quanto ao grau de liberdade, alega se tratar de um conceito que parece complexo, mas que pode ser compreendido simplesmente como a quantidade de células em uma tabela com variação independentemente. Quanto à hipótese nula, seria um artifício de conveniência, que consideraria não existir diferença na população entre dois grupos sob exame. Assim, para o autor, tais conceitos seriam apenas nomes chiques para noções de

description

Resenha sobre métodos estatísticos, demonstrando a importância da tomada de corretos procedimentos de amostragem na condução de estudos envolvendo seres humanos e metodologias interdisciplinares.

Transcript of Resenha sobre métodos quantitativos

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PAR UFOPA.

    Programa de Ps-Graduao Sociedade, Natureza e Desenvolvimento PPGSND.

    Disciplina: Mtodos quantitativos.

    Discente: DIEGO CORRA FURTADO.

    Resenha:

    GORARD, S. Simple non-parametric statistics: minding your table manners. In: _____.

    Quantitative methods in social science: The role of numbers made easy. Nova

    Iorque/Londres: Continuum, 2003. p. 121-135.

    Prope, o texto em referncia, discutir o tema de estatsticas no-paramtricas simples,

    abordando especialmente a apresentao de dados de pesquisa no formato de tabelas. Alerta, o

    autor, entretanto, que pretende transcender a estrita explanao acerca de como representar os

    dados e de como realizar manipulaes aritmticas simples. Sua inteno de discutir sobre

    os padres que podem ser estabelecidos entre os dados e as diferenas que podem ser

    encontradas entre os subgrupos de uma amostra.

    Inicialmente, o autor mobiliza o exemplo de uma pesquisa fictcia, na qual se busca a

    associao entre duas variveis distintas: o gnero dos entrevistados (masculino ou feminino)

    e a realizao de visitas ao mdico ao longo de dois anos. Em sua viso, o interesse principal

    de um cientista social seria responder perguntas de pesquisa que relacionassem as variveis

    entre si, ao invs de meramente descrever os resultados em isolamento. Consideradas

    simultaneamente, as variveis so representadas em tabulaes cruzadas, o que permite

    conhecer as propores esperadas, compar-las s propores observadas na amostra e,

    consequentemente, propor extrapolaes para a populao.

    Desta perspectiva, o autor afirma no haver razo para que algum evite ler ou para

    que no consiga compreender o tipo de anlise estatstica proposta, pois estaria fundamentada

    em um raciocnio simples, que poderia ser utilizado em outros casos anlogos, e com o

    intermdio de um computador, responsvel pelos clculos matemticos.

    Adiante, o autor envereda pela perspectiva da representao estatstica, para permitir

    que o leitor compreenda a ligao entre o raciocnio at ento desenvolvido com determinados

    termos tcnicos da rea em foco. Apresenta, ento, os conceitos de graus de liberdade e de

    hiptese nula. Quanto ao grau de liberdade, alega se tratar de um conceito que parece

    complexo, mas que pode ser compreendido simplesmente como a quantidade de clulas em

    uma tabela com variao independentemente. Quanto hiptese nula, seria um artifcio de

    convenincia, que consideraria no existir diferena na populao entre dois grupos sob

    exame. Assim, para o autor, tais conceitos seriam apenas nomes chiques para noes de

  • fcil entendimento. Estar a par de sua compreenso e de posse das ferramentas estatsticas

    computacionais apropriadas permitiria distinguir, como no caso do exemplo de abertura do

    captulo, reais diferenas nos dados de diferenas ligadas a erros de amostragem.

    Para o autor, devido natureza dos eventos aleatrios, pode-se afirmar que quanto

    menos provvel que determinado evento tenha ocorrido ao acaso, mais provvel que tal

    evento reflita uma real diferena na populao sob anlise. E, alm dessa distino, os testes

    estatsticos permitiriam aumentar a preciso das observaes, calculando, caso a hiptese nula

    no possa ser refutada pelos dados observados, a probabilidade de que qualquer amostra

    aleatria da populao se relacione proporo que, a princpio, tenha parecido se opor

    hiptese nula (e que, portanto, deve estar relacionada a erros de amostragem).

    A partir deste ponto, o autor menciona a existncia de tabelas estatsticas aninhadas

    em pacotes computacionais, como o SPSS, e demonstra a realizao de um teste de

    significncia de qui-quadrado. Ele apresenta uma tabela com os resultados do teste, e afirma

    que a aparncia desta tabela tende a assustar as pessoas, pois excessivamente informativa, e

    traz siglas a princpio desconhecidas nos topos das colunas e nomes de testes no solicitados

    nas linhas da primeira coluna. Para o autor, isto tolervel, pois, em sua viso, os programas

    estatsticos so bastante teis, possibilitando saber a probabilidade de obter os dados

    observados caso a hiptese nula seja verdadeira e, assim, decidir pela significncia das

    descobertas. Dessa forma, so explicados os significados de cada elemento da tabela de

    resultados, com nfase naqueles efetivamente necessrios ao problema que suscitou a

    realizao do teste.

    Uma questo-chave, entretanto, seria o limiar da probabilidade para considerar

    determinada evidncia significativa. O autor afirma no haver uma resposta precisa a isto,

    devendo, o pesquisador, tomar uma deciso. Esta deciso se assemelha s decises referentes

    ao planejamento de pesquisa, amostragem e aos mtodos de anlise, e todas devem ser

    expressas, juntamente com os motivos que levaram a elas, na ocasio da publicao dos

    resultados e concluses da pesquisa. Especificamente quanto ao limiar da significncia, o

    autor afirma que o valor de 5% (0,05) o mais comumente usado, e a obteno de qualquer

    valor inferior a este em uma clula determinada da tabela de resultados levaria,

    obrigatoriamente, rejeio da hiptese nula e aceitao de uma hiptese alternativa,

    necessariamente correlata existncia de diferena entre os subgrupos da populao

    componentes da amostra.

    O autor, ento, alerta que a obteno de um resultado acerca da significncia estatstica

    no representa, nas cincias sociais, o fim do trabalho, e sim o fim do comeo do trabalho. A

  • etapa final, quando se responde o que os achados representam, no tcnica, no fcil de

    ensinar, e bastante dependente das etapas anteriores. Por um lado, caso no seja encontrada

    diferena significativa entre os grupos na populao, preciso explicar por que no h

    diferena, ou talvez por que se esperava encontrar tal diferena. Por outro lado, se for

    encontrada diferena significativa, ser necessrio explicar como e quando surgiu tal

    diferena, qual sua natureza, se geral ou restrita a uma localidade, se varia conforme a idade

    e grupos ocupacionais, etc. Esta etapa da investigao criativa e exaustiva, mas o fim a

    que se pretende chegar, mediado pela utilizao dos mtodos estatsticos no campo das

    cincias sociais.

    Outro alerta do autor se refere ao termo significncia, pois o fato de um resultado

    estatstico no ser numericamente significativo no representa que ele no seja significativo

    para a pesquisa. Por exemplo, a descoberta de que no existe real diferena entre

    determinados subgrupos na populao no tocante a determinada varivel pode levar ao

    questionamento de formulaes prvias, concebidas erroneamente, pautadas seja no senso

    comum, seja na anlise equivocada (e em geral no estatstica) de dados numricos. Neste

    sentido, o autor apresenta o exemplo de um trabalho publicado na rea de pesquisa em

    educao, no qual ou pesquisadores propuseram uma concluso que, apesar de pautada em

    dados quantitativos e amplamente aceita pelos pares da rea, no resistiu anlise estatstica

    de significncia do qui-quadrado. Disso, conclui-se que, embora no seja possvel reanalisar

    todos os dados apresentados nas pesquisas consultadas, instrutivo faz-lo ocasionalmente,

    para perceber a quantidade de vezes que as concluses publicadas no se sustentam diante de

    um exame estatstico minucioso. O autor, ento, lana questionamentos, por exemplo, se os

    trabalhos publicados so os mais rigorosos, e se se pode confiar no atual modelo de avaliao

    dos trabalhos.

    Alm de alguns outros detalhes, o descrito acima a sntese do essencial. Percebe-se,

    portanto, que o autor pretendeu discorrer acerca de como, em alguns casos, a disposio de

    dados em formato tabular pode levar formulao de concluses equivocadas, em

    decorrncia da no utilizao de mtodos estatsticos que permitam detectar os verdadeiros

    padres de relao entre os dados analisados. Trata-se de um texto instrutivo, e que estimula a

    criticidade dos leitores, a respeito de sua atuao enquanto pesquisadores e autores de

    trabalhos cientficos. Quanto mais familiarizados com as mincias dos mtodos quantitativos,

    mais aptos estaro, os pesquisadores, a evitar o cometimento de equvocos que fragilizem suas

    concluses. Por isso, essencial no s o domnio das ferramentas computacionais da

    estatstica, como a correta compreenso do raciocnio a elas subjacente.