Revista NOIZE #14 - Junho de 2008

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Chuck Berry As Novas Divas do Pop Comunidade Nin-Jitsu Kassin Marcelo Fruet

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NOIZE #14 // ANO 2 // JUNHO ‘08

ÍNDICE4. NEws // 8. ROAD TRIppIN’ // 10. CHUCk BERRy // 12. As NOvAs DIvAs DO pOp // 16. sEm DEsTINO wORlD TOUR // 18. O FIm DA DEmO // 22. COmUNIDADE NIN-JITsU // 27. AgENDA // 30. EsTIlO:músICA // 34. REvIEws // 42. COlUNIsTAs // 44. FOTOs // 46. JAmmIN’

ARTE DA CApA: gUIlHERmE [email protected]

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EDITORIAl | Os REIs DA CONvENIêNCIA

Dê-mE músICA, Dê-mE vÍDEO, Dê-mE ARTE. só NãO mE Dê pREJUÍZO. O ACEssO CADA vEZ mAIs lIvRE à CUlTURA COINCIDE COm A FAlTA DE DIspOsIçãO DAs pEssOAs A pAgAREm pOR ElA. OU TERá sIDO A pRópRIA DEmOCRATIZAçãO qUE FECHOU NOssAs mãOs? pOR OUTRO lADO, TAmBém A pRODUçãO CUlTURAl EsTá mAIs ACEssÍvEl. E COm IssO, mAIs BANDAs sURgEm, E é ImpORTANTE qUE HAJA vEÍCUlOs qUE pARTICIpEm DEssA pROFUsãO, qUE ApROxImEm E qUE sITUEm O púBlICO Em mEIO A TANTAs NOvIDADEs. pOR IssO A NOIZE. E pOR IssO DE gRAçA.A EDIçãO 14 TRATA Um pOUCO DEssA DEmOCRACIA CUlTURAl, mAIs pRECIsAmENTE sOBRE A FITA DEmO - OU O qUE ElA sE TRANsFORmOU. TRAZ AINDA UmA BElA CApA IlUsTRANDO A mATéRIA sOBRE mR. CHUCk BERRy qUE, Em JUNHO, pAssA pOR pORTO AlEgRE E pElAs págINAs DA úNICA REvIsTA DE músICA gRATUITA DO sUl DO BRAsIl. E, Em TEmpOs DE EmANCIpAçãO DO TAlENTO FEmININO NA músICA, CONHEçA As NOvAs DIvAs qUE NãO pRECIsAm UsAR O CORpO - só A gARgANTA E O CORA-çãO - pARA ENCANTAR. pOR FIm, vOlTANDO AO sUl DO BRAsIl, A COmUNIDADE NIN-JITsU Dá A lETRA Em ENTREvIsTA sOBRE A vOlTA à ATIvIDADE (NA lAJE). NO REsTO, vÍDEOs DO mês Em EDIçãO EspECIAl - INDIE-, E TODO O CONTEúDO qUE NãO pODE FAlTAR pARA RECHEAR mAIs UmA NOIZE CREmOsA qUE vAI às RUAs.

ExpEDIENTE

DIREÇÃO: kENTO kOJImA pABlO ROCHA RAFAEl ROCHA

COMERCIAL:ANDRé BAETA NEvEs [email protected] NICOlE CITTON [email protected]

DIREçãO DE ARTE: RAFAEl ROCHA [email protected] gOMEs [email protected]

EDITOR: FERNANDO CORRêA [email protected]çãO: lIDy ARAúJO [email protected] BOTTA [email protected] vITTOlA [email protected] gUImARãEs [email protected] pIZZATO [email protected] DE mARCHI [email protected]

REvIsãO: JOÃO FEDELE DE AzEREDO [email protected] [email protected]

FOTOgRAFIA: DANNy BITTENCOURT mARTHA REICHElTATU FElIpE kRUsEFElIpE NEvEsARlIsE CARDOsOANNA FERNANDEs

NOIZE Tv: BIvIs TATUJOHNNy mARCO vICENTE TEIxEIRARODRIgO [email protected]

COLuNIsTAs: DOUBlE s. gusTAvO CORRêA DuDu BRITO ANA lAURA FREITAs CAROL ANChIETA CLAuDIA MELLO RICARDO FINOCCHIAROJOãO AUgUsTO COlABORADOREs:mEly pAREDEsmARCO CHApARRO

HElgA kERNBIANCA mONTIElgABRIElA gUImARãEssAMIR MAChADOMARCELA gONÇALvEs EDUARDO DIAsgABRIElA lORENZONmARIA JOANA AvEllARJUlIANA BOlDIFlávIA mUlUCAs TERgOlINAANA CAROlINA D’AgOsTINIgABRIEl REsENDENATálIA UTZEDUARDO FERNANDEsHANs wAlORDEBs gRAHlRAFAEl CHAvEs

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pONTOs:FACUlDADEsCOlégIOsCURsINHOsEsTúDIOslOJAs DE INsTRUmENTOsLOJAs DE CDsLOJAs DE ROuPAsLOJAs ALTERNATIvAsAgêNCIAs DE vIAgENsEsCOlAs DE músICAEsCOLAs DE IDIOMAsBAREs E CAsAs DE shOwshOws, FEsTAs E FEIRAs

TIRAgEM: 15.000 ExEmplAREs

sE vOCê NãO gOsTOU DA NOIZEpAssE ADIANTE

Todos os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariam

ente a opinião da revista.

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AVALANCHE HYPE NO TIM 2008 Dá-lhe boataria: os gurizotes do Klaxons, a turma hypada do MGMT e uma das promessas do ano, a nova-iorquina Santogold - cujo som multifacetado tem uns quês de M.I.A. e de Pixies- são os nomes internacionais “confirmados” (baseado exclusivamente em especulações e fontes ditas seguras) para o TIM Festival 2008, que acontece entre 22 e 26 de outubro no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Amy Winehouse, Leonard Cohen e Marcelo Camelo são presenças prováveis, segundo o jornalista Lúcio Ribeiro, de certa forma o oráculo quando o assunto é informação sobre o festival da operadora de celular. Ribeiro ainda escreveu em seu blog que Mika e Beirut podem vir, e que Gogol Bordello e Gossip são presença certa. Um outro grupo de pessoas vem atualizando uma página no Last.fm sobre o TIM 2008 e adicionou Ryan Adams às bandas que consideram mais prováveis.

O line-up só não fica mais incrível porque os boatos de Radiohead no TIM parecem ser só boatos mesmo, e porque, com uma lista desse tamanho, o medo da Lei de Murphy é redobrado. Pena que, depois de 2005, Porto Alegre foi excluída da rota de um dos festivais de música mais legais do país.

Agora, o detalhe: segundo a assessoria da TIM, a empresa de celular não só não confirma nenhuma das informações - nem as do oráculo Lúcio - como diz não ter decidido nem a data em que se realizará o festival. Será tudo boataria? De onde saem essas “confirmações”? Vá saber.

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SAIBA MAIS

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> MYSPACE.COM/SANTOGOLD- Antecipe-se e escute ela que fez um dos shows preferidos do nosso enviado ao Coachella Festival.

> MYSPACE.COM/MGMT- Dizem que vêem. Mas será que o hype em torno deles dura até o fim do ano?

> MYSPACE.COM/GOGOLbOrDELLO - Para você que ainda não ouviu o som dos “gipsy punks”.

> TiMMuSiCfESTivAL.bLOGSPOT.COM- Blog que reúne vídeos, fotos e informações dos festivais passados.

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A DOCE SOLIDãO DE MArCELO CAMELO

NASI BrINCA DE CASH NO OVErCOMING TrIO

Marcelo Camelo está concluindo as gra-vações de seu primeiro álbum sem os outros integrantes da banda Los Herma-nos, que entrou em “férias por tempo indeterminado” em abril do ano passa-do. A notícia, que pode deixar muitos fãs de coração dividido, marca o início da carreira solo do músico. O disco, que deve chegar às lojas no se-gundo semestre deste ano, já tem parti-cipações confirmadas, como do músico Dominguinhos e da banda paulista Hurt-mold. Depois do lançamento, Camelo deve sair em turnê para divulgação do novo trabalho. E quem não agüenta de saudade do som do barbudo pode con-ferir as duas músicas que o músico libe-rou no seu myspace.

O ex-Ira, Nasi, é o mais novo vocalista do Overcoming Trio. Quem leu a maté-ria sobre a Mallu Magalhães, na NOIZE 13, sabe que o trio em questão, idealiza-do pelo Vanguart Hélio Flanders e pelo Forgotten Boys Zé Mazzei, vinha con-tando com a indiezinha folk há alguns meses. Mallu uniu-se aos dois garotos em seu show de estréia, que rolou na Virada Cultural de São Paulo.O Overcoming segue sendo trio, mas a idéia é chamar vocalistas diferentes de tempos em tempos. Nasi é o segundo, mas não substitui Mallu—as portas se-guem abertas enquanto houver interes-se em participar do projeto. A fila de possíveis convidados inclui Vitor Ramil, Nando Reis, Daniel Belleza, Cida Mo-reira e Lanny Gordin, e há intenção de gravar um disco em breve. A agenda do grupo começa a ficar cheia.

+> MYSPACE.COM/MArCELOCAMELO -Escute “Doce Solidão” e “Teo e a Gaivota”.

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Onde Encontrar: VULGORua Padre Chagas, 318 - Moinhos de Vento

tênis do mês

>> Em maio, o Darma Lóvers deu uma pas-sada produtiva pela Europa, que incluiu um show no Divan du Monde, em Paris.

>> A banda-reunião TeNenTe Cascavel não é coisa que se perca. O misto de Cascavel-letes e de TNT faz uma única apresentação no Opinião, dia 5. Vá mesmo que esteja menstruaaaaa...da.

>> Superguidis e Pública criam o clima na primeira formatura do curso de Formação de Músicos e Produtores de Rock da Unisi-nos. Dia 15, no Porão do Beco.

>> Wander Wildner lança La Canción Inespe-rada no Opinião. O show é na quarta-feira, 18, e conta com uma super banda, incluindo Jimi Joe, Biba Meira e Arthur de Faria.

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sPEQUENA GrANDE LUÍSA LOVEFOXXX

FãS, FAÇAM COMO THOM YOrKE: VãO DE BICICLETA!

Luísa Lovefoxxx, brasileira do mundo e vocalista do CSS (ex-Cansei de Ser Sexy) fará uma participação em Beautiful Future, o novo disco do Primal Scream. A pequena colaborou com a faixa “I Love To Hurt (You Love To Be Hurt)”, descri-ta pelo líder do grupo escocês, Bobby Gillespie, como “electronic music with a psychedelic ambience”. O álbum conta com a produção de James Ford, do Si-mian Mobile Disco (que já deixou sua marca nos trabalhos de nomes como Klaxons e Arctic Monkeys), e com as co-laborações de Youth e Paul Epworth.Coincidência ou não, Donkey, o novo trabalho do CSS, será lançado no mes-mo dia. A baixista Ira Trevisan participou das gravações, mas não faz mais parte do grupo - não está nas novas fotos da banda e nem nos shows da nova turnê, que começou em maio e inclui Europa e América do Norte. Tudo indica que nes-

Terá o Radiohead de aderir aos shows virtuais? De nada adiantou mandarem seus equipamentos para o além-mar de navio, nem trocar as tradicionais luzes de palco pelos menos dispendiosos leds. O líder Thom Yorke não consegue fazer das turnês de sua banda realmente ami-gas do Planeta. A culpa não é de Yorke e seus métodos excêntricos, mas dos fãs que não têm a mesma preocupação do vocalista na hora de sair de casa em seus automóveis poluentes.Um estudo, encomendado pela própria banda, revelou que os fãs foram respon-sáveis por 97% das emissões de CO2 durante as duas últimas turnês norte-americanas do Radiohead. A geração de gases do pessoalzinho da platéia foi equivalene à de 4.000 vôos transatlân-ticos. Bem mais do que seria necessário para levar os amplificadores ao outro continente, né, Thomy?Ainda assim, é louvável a atitude de

te ano eles não passarão pelo Brasil.O site do grupo já disponibiliza o do-wnload gratuito de “Rat is Dead (Rage)”, mas o primeiro single oficial do álbum se chama “Left Behind” e será lançado no dia 14 de julho, mesma data em que o Primal Scream apresenta a sua faixa debut, “Cant Go Back”.

Yorke, que continua buscando alternati-vas para reduzir tais números. Há regis-tro de muitos engarrafamentos, já que os shows movimentam até 30.000 pessoas, e boa parte dos auditórios com essa ca-pacidade fica na periferia das grandes ci-dades. Os organizadores têm estimulado as caronas, oferecendo estacionamento apenas para carros lotados, o que teria reduzido em 10% o volume de veículos que rumam às apresentações do Radio-head. Haja segurança.

Divulgação / Live 105

Divulgação

+> CSSHurTS.COM - Baixe a faixa inédita, “Rat is Dead (Rage)”, no site oficial do CSS.

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Alexandre KassinMúsico e Produtor

NOIZE diz: fala kas-sin, vamo la?Kassin: mandaNOIZE diz: cara, tu

tava no Japão, certo? o que fazia por lá?Kassin: to fazendo a trilha de uma série de animação japonesa, Michiko to Ha-tchin, www.michikotohatchin.com, começa a passar em outubro , to muito animado.NOIZE diz: massa... viu algum sinal de CSS por lá?Kassin: Graças a deus o CSS está em to-dos os cantos que eu passo, eles vao tocar no Summer Sonic Festival em Osaka como atraçoes principais, isso para mim é uma grande alegria, fora eu adorar eles, o CSS está fazendo o que nenhum artista nosso fez , talvez so o Tom Jobim tenha consegui-do algo assim ou o Sergio Mendes. NOIZE diz: aqui no sul a gente não sabe muito do teu trabalho nos anos 90. O que foi a “Acabou la tequila”?Kassin: Acabou la Tequila era a banda que eu tinha com meus amigos de colegio, gra-vamos dois discos , muitas pessoas aqui do Rio se dizem influenciadas pela gente. era eu, o renato, hoje no Canastra, Gabriel e bacalhau do autoramas, Donida e Jimmy do Matanza, Nervoso e Leo do Duplexx. Nun-ca acabamos, quando chamam tocamos.NOIZE diz: aí que tu entrou na música?Kassin: meu irmao era discotecario, na epoca que nao tinha ipod e todo mundo virou “dj”. junto com ele ouvia som o dia inteiro, aos 12 anos comecei a tocar baixo, quando entrei no Acabou la Tequila já toca-va em varios lugares, já fazia trilhas sono-ras pro Brasil Legal, da Regina Casé.NOIZE diz: haha. e o Artificial, teu proje-to de música a partir de um game boy?Kassin: eu sempre quis ter um projeto sozinho pra poder barbarizar, o Artificial começou numa viagem ao Japao, eu fui para trabalhar e acabei ficando mais tempo porque apareceu mais trabalho por lá, ti-nha recentemente comprado um cartucho que permitia utilizar o gameboy como um

POr ONDE ANDArÁ O rHCP?

ESPErANDO POr CYNDI

Para a alegria dos fãs, o Red Hot Chilli Peppers não parava desde 1999. Depois de Californication, By the Way e Stadium Arcadium, ao fim da turnê de 2007, eles estavam exaustos. “Decidimos não fazer nada relacionado ao Red Hot Chilli Pe-ppers por pelo menos um ano e apenas comer, respirar, viver e aprender coisas novas”, declarou Anthony Kiedis recen-temente. Nessas merecidas férias, Flea e Frusciante investem nos projetos solo, Chad está no Japão com uma banda de Jazz, e Kiedis, além de curtir o filho de menos de um ano, é o curador (ou seja, quem escolhe as bandas) do New Ame-rican Music Festival, que rola nos dias 8 e 9 de agosto, em Pittsburgh, EUA. Bob Dylan e Raconteurs estão entre os artis-tas confirmados no evento.

Os fãs já estão preparados: Cyndi Lau-per faz shows no Brasil no mês de no-vembro. O ícone dos anos 80, que ainda faz muita gente dançar ao som de clás-sicos como “Girls just wanna have fun”, irá passar por aqui com a turnê de seu novo álbum, Bring ya to the brink. Ainda não foram divulgadas informações sobre o valor dos ingressos e nem sobre os locais das apresentações. No entanto, já está confirmada a passagem por Porto Alegre, no dia 19.

Divulgação

Foto: Arquivo P

essoal/Kassin

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sequenciador/Sintetizador, e era meu unico instrumento. voltei pro Brasil e percebi que tinha musica sobrando pra um disco. agora eu to fazendo um segundo.NOIZE diz: E o +2, continua na ativa? Kassin: tá totalmente na ativa , vamos gravar em breve um disco com cada um cantando um pouco.NOIZE diz: tu ia produzir o próximo do Los Hermanos. O que que ficou desse quase-disco deles? Kassin: ficou so a ideia, nem teve ensaioNOIZE diz: e o Tim Maia Racional 3?Kassin: Estou esperando um contato com o mundo racional haha.NOIZE diz: Hehe. o Miranda falou que o problema do RS é que a galera encara a responsabilidade de ter uma banda...Kassin: acho que o Miranda entende mais Porto Alegre do que eu, as vezes tenho a impressao que a cidade se encerra nela mesma, fica uma cena local rica, cheia de mitos, mas começa e acaba ali , poucos gauchos encaram sair, mas os que abrem as fronteiras sao bem aceitos, Wander, Jupiter sao queridos no Brasil todo. NOIZE diz: no show da Orquestra Im-perial ficou claro que gaúcho não tem mta facilidade para entrar no samba. isso é diferente no RJ? qual a impressão que cs levaram do show aqui?Kassin: nos adoramos o show! como te-mos muitos amigos ai estavamos felizes de poder tocar um pouco o que fazemos por aqui. E quase todos na orquestra vem de uma formação de rock, o samba nao é muito natural mesmo pra nós, começamos a tocar samba tarde, porque gostavamos de ouvir discos de gafieira. aqui no Rio hoje existe muito isso de movimento de resgate cultural etc, as vezes confundem a orquestra com isso, mas nao temos nenhu-ma intenção de resgatar nada , só gostamos mesmo é da ideia do baile, de poder tocar por varias horas, musica latina , samba , bo-leros, rock, tudo isso é a mesma coisa. Alias, se for ver quase todo rock brasileiro é pa-rente do bolero, com poucas excessoes (a maioria das excessoes é sulista).

+> AE.COM/MuSiCfESTivAL - Dê uma olhada no “festivalzinho” do qual Anthony Kiedis está ajudando a escolher o elenco.

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Buenos Aires, a principal cidade da Argentina, tem muito a oferecer além do clássico conhe-cido por turistas. Claro que não se pode deixar de visitar a Boca e o Caminito, ver a Casa Rosada, o Obelisco, tomar sorvete Freddo, fazer compras na caótica Calle Florida, jantar e caminhar pelo Porto Madero, ir à feirinha de domingo no lindo bairro de San Telmo e ao imperdível Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA).

Com programação para todos os gostos, a capital portenha se mostra uma cidade onde é impossível ficar entediado e não admirar a mistura entre o clássico e o moderno. Não se preocupe se falar espanhol não é seu forte, já que, com tantos brasileiros por aqui, o “por-tunhol” já é quase idioma oficial. Para começar bem a semana, toda a segunda - feira rola o grupo de percussão “La Bomba del Tiempo”. É uma festa imperdível na “Ciudad Cultural Konex” onde não tem como não se deixar levar pelo excelente som produzido pelo grupo e pela empolgação do fiel público presente. Vale à pena conferir também a programação do lugar, pois sempre há alguma exposição diferente, além de teatros e de musicais, como o renomado “Rent”.

Fuja dos shows de tango para turistas: são caríssimos e sem graça. O que vale a pena são as “milongas”, como o La Viruta Tango e o La Catedral, lugares onde pessoas normais saem para dançar tango. São sempre boas opções para tomar vinho, para assistir à principal dança argentina e até tentar fazer igual.

Aos sábados, por cerca das 16h, começa a lotar a Plaza Serrano. Esse lugar é o preferido para quem busca lojas de design moderno e de preço baixo. No centro, acontece uma feirinha, circundada até por bandas tocando em garagens. Durante o dia, as baladas se transformam em galpões para expositores de roupas, bolsas, camisetas e tudo mais que você possa imaginar. Lá pelas 2h da manhã (horário que se sai por aqui), a praça lota graças às baladas de todos os estilos. Antes da noite, os argentinos fazem “la previa” (bebem na rua, mais barato).

Para quem gosta de hip hop, o melhor é ir às quintas feiras na “Lost”. O melhor da música eletrônica é no “Crobar”. Para conhecer uma balada típica de argentinos, com muita cumbia

O Melhor de bs as:

Rádio – FM 98.3Casa de Shows – Luna ParkRevista – GataFlora Comida –Empanadas Lugar – Plaza Serrano

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ArGENTINA :: Buenos AiresNome: Ana Carolina D’AgostiniIdade: 22O que faz: Estuda PsicologiaMotivo: Faculdade e dar um tempo na vidaTrilha Sonora: Dave Mathews Band

e reggaeton, vá à “Roomy” ou a qualquer uma na Plaza Serrano ou na Plaza Armenia.

Não vá embora sem experimentar a “par-rilla”, a “empanada”, e um bom “asado”. Para relaxar, nada como “Los bosques de Palermo”. Perca-se pela Avenida Santa Fé e depois procure a galeria Bond Street, para tatoos e coisas relacionadas a rock e a livra-ria Ateneu, que costumava ser um teatro de ópera e que ainda conserva a decoração.

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Quando penso em um lugar mágico, lembro-me do Chile e de suas lindas paisagens. Geo-graficamente, é apenas uma faixa estreita e comprida de terra, porém, com alguma curio-sidade, é possível encontrar muita diversão e lugares realmente incríveis. Talvez a melhor forma de contar o quanto gostei de conhecer o Chile seria informando que, neste ano, partirei para minha sexta temporada andina.

Esse belo país está protegido por quatro barreiras muito especiais. Ao sul, está emoldurado pelas geleiras da Patagônia; ao norte, pelo Deserto do Atacama; e a leste e a oeste, é pro-tegido pela Cordilheira dos Andes e pelo Oceânico Pacífico. Visite o tradicional Mercado Central de Santiago e não perca a oportunidade de conhecer as bancas que vendem peixes e frutos do mar. “Aquí Está Coco” é um restaurante com uma decoração náutica onde são servidos os melhores mariscos e peixes da cidade. Outra visita interessante seria ao restaurante “Ligúria”, também no bairro Providencia. À noite, as melhores opções estão nos bairros Bellavista e Providencia, onde estão o pub Boomerang e a discoteca Casa Club. Vale a pena sempre consultar indicações do hotel em que está hospedado ou então as dicas da internet.

Apesar de ter turismo o ano inteiro, com atrações nos bosques e lagos vulcânicos, o mais interessante para mim é a temporada de neve, onde se pode praticar esqui e snowboarding. A apenas 50 minutos da capital, você pode chegar às estações de esqui El Colorado e Valle Nevado. A subida é linda e perigosa, com mais de quarenta curvas contornando um penhas-co pra lá de fascinante. Pode-se também optar por hospedar-se na própria montanha, em hotéis ou alugando apartamentos equipados. Termas de Chillán fica a pouco mais de 400km ao sul de Santiago e é também ideal para a prática do esqui, além de oferecer águas termais e vasta vegetação decorando as pistas de esqui.

Para os amantes do vinho, minha indicação é o vale de Colchagua. Nomeado recentemente um dos melhores terroirs para a produção de tintos, esta linda região abriga as maiores vinícolas do Chile e é repleta de paisagens encantadoras. Além disso, está situada a apenas 140km de Santiago. Em cada vinícola visitada, como a Viu Manent, você poderá ver, aprender e ouvir sobre vinhos, além de degustá-los e de comprá-los a preços baixos diretamente

O Melhor do chile:

Rádio – Carolina 99.3 FMCasa de Shows – Arena Santiago Revista – Cosas ChileComida – Frutos do Mar do PacíficoLugar – Valle Nevado e Chillán

Santiago :: CHILE

Nome: Eduardo Russomanno FernandesIdade: 26

O que faz: AdministradorMotivo: Férias

Trilha Sonora: Julieta Venegas

dos fabricantes.

Como comentário final, diria que o povo chileno é um povo simpático, amigável e receptivo. A diversão neste país não está restrita aos jovens nem aos adultos, pois agrada a todos os públicos com sua beleza e sua diversidade. Não é à toa que Santiago cada vez atrai maior número de turistas e concorre ao título de mais bonita capital de nosso continente.

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Embora muitos tenham gravado música rotulada como rock and roll antes dele, Chuck Berry é considerado o pai do mesmo por ter acrescentado à música a sua atitude. Ele foi capaz de narrar as histórias dos jovens dos anos 50, seus amores, suas garotas, seus conflitos, em uma linguagem poética e com uma cria-tividade musical jamais vista antes.

Charles Edward Anderson Berry nasceu em outubro de 1926 em Saint Louis e iniciou cedo na música, participando de corais evangélicos graças ao pai, pastor protestante. Mas a principal influência deu-se mesmo devido a um fator geo-gráfico: sua cidade natal era, na época, uma encruzilhada musical. Ficava perto de Kansas City, a Meca do jazz, e era uma importante escala pela qual passavam os músicos sulistas de blues que iam em di-reção ao norte.

“Há um único rei do rock ‘n’ roll, e o nome dele é Chuck Berry”-Stevie Wonder

Morando em meio a essas rotas, Berry foi inundado por vários estilos ao longo de sua adolescência. Mais tarde fundiu elementos do blues com a velocidade e os slides da música country. Uma mistura de vanguarda, utilizada e reutilizada dali em diante.

Apesar de ter crescido numa família com uma vida relativamente confortável, desde garoto já demonstrava a rebeldia característica do rock. O primeiro pro-blema com a polícia foi em 1944, quando foi preso com um amigo por roubo de carro e assalto. Depois de passar uma temporada de quase três anos em um reformatório, liderou uma pequena

banda de blues. A convite do virtuoso pianista Johnny Johnson, formou o Chu-ck Berry Combo. O grupo já ganhava bastante popularidade no âmbito local quando Chuck conheceu, em Chicago, Muddy Waters. Waters recomendou a Berry que procurasse o chefão da Chess Records, Leonard Chess, para gravar um single. Em 1954, a Chess Records era a principal patrocinadora do som do blues urbano de Chicago. Poucas sema-nas depois, Berry gravou duas músicas: “Ida May” (mais tarde regravada como “Maybellene”) e “Wee Wee Hours”. O single chegou ao número 5 nos Estados Unidos. Menos de um ano depois, Berry já vendia mais discos que todo o staff da gravadora Chess somado.

Nos anos seguintes, foi alternando gran-des hits com problemas junto à polícia. Antes de voltar mais uma vez para a cadeia, escreveu “Roll Over Beethoven”, “School Days”, “Rock and Roll Music” e “Sweet Little Sixteen”. “[Minha mãe] me disse, ‘Você e o Elvis Pres-ley são bastante bons, mas vocês não são nenhum Chuck Berry’” -- Jerry Lee Lewis

Assim como o gênero que transfor-mou para sempre a história da música, Chuck Berry também parece imortal. No auge de seus (absurdos) 81 anos, o cara continua encarando a estrada. Quando não se apresenta mundo afora em mini-turnês, como o giro pelo Brasil que passa por Curitiba, por São Paulo, pelo Rio e por Porto Alegre, no dia 21 desse mês, Chuck pode ser encontrado em sua terra natal. O bar Blueberry Hill, em Saint Louis, é hoje sua segunda casa, onde sobe no palco da Duck Room pelo

menos uma quarta-feira por mês. Vida longa ao octogenário pai de todos. Vida longa ao rock and roll...

Vai! Vai! Vai Joãzinho! Vai!Segundo a edição americana da Rolling Stone, ela é a sétima maior música de todos os tempos. Sua intro é um dos solos mais marcantes da história, incon-fundível.

Não fosse por ela, Marty MacFly jamais teria voltado para o futuro. Pois “Johnny B. Goode” nasceu, segundo o próprio autor, de uma homenagem ao seu pianis-ta e companheiro por 20 anos, Johnnie Johnson. Escrita em 1958, conta a histó-ria de um jovem pobre do interior, enco-rajado a perseguir seu sonho no mundo da música.

“Para mim, Chuck Berry sempre foi o sig-nificado de tocar rock ‘n’ roll. Era bonito, natural e seu timing era perfeito. É o deus do ritmo.”-- Keith Richards

Não por acaso, essa é também a história de Chuck Berry, que nasceu na Goode Avenue. A letra original dizia “colored boy” substituida depois por “country boy”. Eternizada pelo “duck walk” (aque-les passinhos criados por Chuck imitan-do o andar de um pato) e empunhando sua legendária Gibson ES-350T, Johnny foi bem mais longe do que imaginava.

A música foi incluída no disco enviado a bordo da Voyager, foguete lançado em 1977 no espaço. Entre os nomes que já gravaram suas versões de “Johnny B. Goode” estão figurões como Elvis Presley, NOFX, AC/DC, Led Zeppelin e Sex Pistols.

“If you tried to give rock and roll another name, you might call it Chuck Berry”, já dizia John Lennon. Chuck Berry foi o poeta-pai do rock’n’roll clássico, o primeiro artista a demonstrar que o rock poderia ser bom tanto para dançar quanto para apreciação artística. Hoje, passado mais de meio século e tantos movimentos derivados do gênero visceral, ele virou o avô do rock. E quem quiser vai poder conferir esse mito de perto.

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Nos últimos meses, as mulheres que es-tão no topo compõem (sozinhas!) can-ções de qualidade, tocam mais de um instrumento e têm vozes poderosas. Elas ainda são cheias de personalidade. Pas-mem: elas conseguem ser sexy sem tirar a roupa ou rebolar. São as novas líderes das paradas americanas e inglesas, que vendem milhões de discos, além de ga-nharem elogios de profissionais especiali-zados. Se você ainda não conhece alguma delas, é apenas uma questão de tempo.

Depois da explosiva fama de Beyon-cé e de Shakira, o cenário se renova. Ainda bem. Certamente, algumas des-sas superstars têm presenças fortes e singulares, mas suas interpretações e composições—que freqüentemente são elaboradas a quatro mãos ou mais—estão baseadas menos em suas atitudes excêntricas do que em sua estrondosa produção, montada com o mesmo exa-gero apelativo de suas coreografias e de suas pequenas saias.

A cantora Pink queixou-se ao jornal USA Today em 2006: “A indústria cultu-ral enfatiza muito mais nossos corpos do que nossas mentes ou nossos talentos. A mídia foi quem empurrou isso a todos.” Fiona Apple dividia o mesmo ponto de vista na época: “Um rostinho bonito sempre vende, mas agora isso tem ainda mais importância, para todo mundo.” É, mas parece que Pink e Fiona já podem comemorar uma virada de mesa.

Meninas de sucesso absoluto—e meteó-rico—no mundo da música têm se mos-trado cada vez menos dependentes de compositores experientes, de um corpo escultural e de purpurina para chegar lá. O pontapé inicial foi dado por Amy

Winehouse em outubro de 2006, quan-do Back to Black foi lançado. Pouco de-pois, Kate Nash desbancou “Umbrella”, da despida Rihanna, ao conquistar o primeiro lugar do ranking inglês com “Foundations”, sem coreografias nem decotes. Logo atrás na segunda posição, Amy MacDonald, que aprendeu a tocar violão (sozinha, sem aulas) aos 12 anos e, aos 15, já estava fazendo shows com sua guitarra. Já a “tamanho G” Adele estreou no primeiro lugar das paradas britânicas no início deste ano com seu álbum de estréia, 19. A lista não acaba aí—a mulherada tem vindo com força e em quantidade: outros nomes que estão dando o que falar são KT Tunstall, Duffy, Leona Lewis, Laura Marling, Estelle, Remi Nicole, M.I.A. e Camille, por exemplo. O fator Amy Por algum motivo, a onda de garotas conquistando massas vem principalmen-te do Reino Unido. Muitos críticos di-zem que Amy Winehouse, ganhadora de 5 Grammys em fevereiro deste ano, é a principal responsável por abrir caminhos à nova geração de cantoras-composito-ras britânicas. Sua vizinha londrina, Lily Allen, também seria uma das precurso-ras da dita invasão. Neil McCormick, crí-tico de música do jornal Daily Telegraph, diz que Winehouse transformou a cena musical do país. “Ela voltou às raízes da música de que gosta e criou um álbum muito retrô. O que aconteceu foi uma virada na indústria fonográfica. Ela real-mente colocou a figura da grande can-tora de volta no mapa.” Mark Ronson, produtor dos últimos álbuns de ambas Amy e Lily, ressalta que as artistas que-braram um padrão no mercado. “Por muito tempo as cantoras norte-ameri-canas mantiveram-se no alto das listas

top. Elas [Amy e Lily] realmente abriram as portas para diversas outras cantoras, embora eu ache que nenhuma delas soe igual”, diz ele, que pode ser considera-do uma espécie de padrinho dessa nova onda inglesa, já que também produz os discos de Adele e Estelle—essa última, cantora e produtora ovacionada pela crítica, leva jeito para ser a versão ingle-sa de Lauryn Hill.

Os talentos femininos despontam tam-bém em outros cantos do planeta. Um dos maiores e mais respeitados festivais de música eletrônica do mundo esco-lheu o universo rosa como tema este ano. A 15ª edição do Festival Sónar de Música Avançada e Arte Multimídia, que acontece em Barcelona, toma o “fator feminino” como ponto de partida para mostrar “o aumento da ‘feminilização’ da música eletrônica atual”, declaram os produtores em uma nota à imprensa. Eles afirmam que, ainda que os homens con-tinuem predominantes dentro do estilo musical, é cada vez mais desenvolvido o lado sentimental e vulnerável, tradicio-nalmente associado à feminilidade. Entre os destaques do line-up estão as auto-reiventadas Alison Goldfrapp e Róisín Murphy (ex-Moloko) representantes da ala de divas modernas do pop. Provocan-do contraste, o glamour multicultural e controverso de M.I.A.. Também faz parte da lista de atrações ecléticas Camille, a nova musa da chanson française.

Só dá elasQue as mulheres são uma força cres-cente na indústria, como artistas e como consumidoras, todos sabem. Ferramen-tas como MySpace e a descarga de mú-sicas via peer-to-peer estreitam a relação entre artista e audiência. Dessa forma,

Boas cantoras e compositoras sempre existiram. Não é novidade que as mulheres marcam pre-sença na cena musical internacional, seja no rock, no jazz, no hip-hop ou no folk. De PJ Harvey a Björk, os distintos gêneros são bem representados por excelentes artistas solo. No entanto, a indústria pop sempre preferiu investir em moças que dançassem em trajes mínimos mostrando um tanto de pele; pois agora o termo Girl Power ganhou um novo sentido no mainstream.

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novas cantoras solo podem construir uma legião de fãs rapidamente antes mesmo de ter um contrato com uma gravadora. Conforme uma pesquisa do grupo de mídia Emap, o homem de meia idade (fifty-quid bloke, no jargão de marketing em inglês) que comprava pilhas de CDs nas lojas não é mais quem define o sucesso de um álbum. O protagonismo do mapa de consumo foi substituído por um novo arquétipo: a garota MP3. O estudo também revela que essa tendência se faz presente no público da imprensa especializada, tradicionalmente voltada a leitores do sexo masculino. Mais mulheres do que homens lêem a revista de rock Kerrang!, e quase metade dos consumidores com menos de 30 anos da revista Q são do sexo feminino.

Junto à tecnologia, outros fatores influenciam essa transformação. “No passado, se você quisesse ser uma pop star você tinha que fazer uma audição para estar em uma banda do tipo Spice Girls. Você nunca poderia compor. Bandas como The Libertines surgiram tocando seus próprios instrumentos como nos velhos tempos. Agora você pode pegar um instrumento, gravar uma canção e ir se virando”, comenta a cantora Remi Nicole, 23 anos, da fresca safra britânica.

Não é coincidência que a ascensão desta onda feminina no universo da música es-pelhe um novo conceito de Girl Power. Figuras como Beth Ditto (vocalista do Gos-sip, que recentemente pousou nua apesar de seu peso avantajado) e a proliferação de revistas femininas online também colaboram com a reação à imagem superficial atribuída a mulheres no mundo pop. “O que vemos é a personalidade vencendo. As meninas sempre estiveram interessadas em música, mas só agora a indústria está se dando conta disso e alcançando-as”, diz Marie Berry, editora da KnockBack.co.uk.

Novo conceito de pop?Para Ajax Scott, diretor da revista Music Week, focada na indústria fonográfica, o pop continua sendo pop em sua essência: “Apesar de cantoras como Adele ou Kate Nash terem um pouco de atitude, no fundo elas fazem o velho e bom pop com o qual as pessoas podem se identificar. As pessoas continuam comprando pop, mas estão procurando algo que tenha ares de autenticidade”. É como se qualidade musical não importasse, e sim o senso de conexão.

Teorias para explicar o fenômeno não faltam. O mainstream parece estar preparado para acolher o diferente, e isso tem o seu valor. O mais notável dessas cantoras é que representam algo novo. Mesmo sendo populares, elas têm estilos e influências variadas: blues, jazz, soul, rap, folk, rock e até bossa nova. Há um quê de poder nessas vozes nem sempre perfeitas: elas estão carregadas de honestidade e caráter.

Com 19 anos, a cantora de jazz/soul é chamada de “a nova Amy”. Seu single, Chasing Pave-ments, foi número 2 na parada inglesa e se

mantém no Top 40 até o dia em que este texto foi publicado. Ganhou o prêmio de crítica do BRIT Awards 2008.

Também se chama Amy e tem um cabelo à moda anos 60. A loira com voz de quem na-sceu e cresceu no sul dos EUA é, na verdade

do País de Gales. Seu grande hit, Mercy, liderou os rankings Americano e Inglês nos primeiros meses de 2008.

Certamente, você já ouviu o sotaque tipica-mente britânico desta multi-instrumentalista e compositora em “Foun-dations”. Seu indie rock

levou pra casa um prêmio BRIT 2008 de melhor artista solo.

Filha de pai senegalês e mãe caribenha, a lon-drina declarou que a in-dústria fonográfica está dando mais destaque a cantoras brancas e

reivindicou a presença de artistas negros can-tando soul.

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Por que viajar com a sem destino?:: Não cobram taxa administrativa.:: Os preços são sempre iguais ou menores que os das escolas.:: Reembolso de 100% em caso de visto negado (exceto taxa de matrícula).:: Câmbio sempre abaixo do comercial.:: Depto. de Pós-Venda (suporte antes e durante a sua viagem).

Calor desértico, amigos, line-up estelar e dançar até cair! O que mais eu podia esperar da minha chegada do Brasil na Califórnia? Com mais de 125 bandas ao longo das 12 horas do dia (3,5 bandas por hora!), era impossível passar por to-dos os shows, dada a área gigantesca do Empire Polo Fields. Por isso, cada pessoa pode escolher ter uma experiência com-pletamente diferente no Coachella: pode ser uma loucura sem fim, ou você pode ficar apenas curtindo com seu amorzi-nho deitado na grama. A escolha é sua.

Minha recomendação: um mergulho na piscina ao meio-dia com amigos do sexo oposto, só para curar a ressaca do dia anterior. Coma alguma coisa pela última vez no dia, pegue uma bebida, seu line-up escolhido e vá à luta. Se você conseguir agüentar o calor infernal do meio-dia, há bandas novas matando a pau. No Coa-chella, não importa o que você faça, a diversão é garantida. Abaixo, uma sele-ção bastante reduzida das apresentações que eu curti muito:

The Cool Kids: um dos melhores shows pequenos, a dupla de hip-hop em-prega linhas de baixo simples e profun-das acompanhadas por versos lentos e claros, em uma linguagem comum, tudo ao melhor estilo 80s.

MGMT: o duo do Brooklyn despeja aulas de disco, de new-wave, de synth-pop e de Britpop dos anos 90. As idéias de força da juventude e de que a vida é diversão são constantes em todas as músicas. Há muito hype em torno dos caras.

Hot Chip: a única maneira de dan-çar foi pulando pra cima e pra baixo, deslizando no suor das pessoas que me prensavam. Os cinco londrinos não fa-lham em shows e, desde que cravaram a bandeira no Coachella do ano passado, só cresceram - não à toa, são um marco na cena eletrônica new wave atual.

DIPLO: o que dizer do set arrasa-dor desse cara, que toca no meu iPod, diariamente, há meses? Ao trabalhar com M.I.A., recentemente, Diplo ga-nhou bastante reconhecimento. É um dos principais importadores do Funk Carioca para os EUA, tendo lançado mixes como “Favela on Blast” e “Favela Strikes Back”.

M.I.A. : Tiro meu chapéu para a M.I.A., uma artista completa. Seu show não envolve só música, mas artes visu-ais. Vê-la ao vivo é diferente de tudo que se possa imaginar, com presença de palco e com ener-gia que botaram no chinelo os headliners do festival, de quem não podemos deixar de falar.

Aquecendo o palco para o Prin-ce, o Portishead redefiniu o clima com seu trip hop sinistro. O Co-achella foi a plataforma de lança-mento de Third, com faixas como “Machine Gun”, além de clássicos vintage como “Sour Times”e “Wan-dering Stars”. Passada a meia noite, Prince despejou hits como “1999” e “Purple Rain”. Gostando ou não, o cara tem o sex appeal!

Sem Woodstock, não haveria Coa-chella, e, nesse sentido, o Roger Waters veio a calhar. O ex-Pink Floyd hipnoti-zou os 30.000 presentes com sistema de som quadrafônico, pirotecnia e um bis com direito a muitos clássicos. Até seu pai ia querer estar lá nesse momen-to. Ao lado, você confere os pacotes da Sem Destino para estudar e curtir eventos animais como esse.

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Outros festivais na califórnia

Nome: Hans Walor Idade: 26Melhor Show: Hot ChipBizarrice: Garotas de biquini com penachos Estrutura:10Line-up: 10

04 semanas de curso de inglês:: Carga Horária: 25 aulas/semana:: Escola: IH San Diego

04 semanas de acomodação:: Residência Estudantil:: Quarto Individual:: Traslado na Chegada

Preço :: uSD $1.850

:: mais informações ::Padre Chagas 41510º Andar/1004www.semdestino.com.br (51) 3019.4001

.: wARpED TOUR 2008Junho a Agosto

.: PrOJEKT rEVOLUTION21 a 28 de junho

Warped tour 2007 with dtF media

Projekt revolution 2008 (official trailer)

O melhor de 2007 no principal festival de rock alternativo e punk rock do mundo, sonho dos que curtem o estilo. Tags warped 2007 dtf

Festival anual, liderado pelo Linkin Park, com shows de Chris Cornell, The Bravery e mais bandas nessa linha.Tags projekt 2008 official trailer

A Califórnia é o berço de muitas das principais bandas de rock da história. Além de oferecer um cli-ma ensolarado somado às belas praias, é palco de grandes festivais de música e de muita badalação.

Vá a San Diego (Califórnia) pela Sem Destino, aprenda inglês e curta os festivais que rolam por lá. Confira a dica abaixo!

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Se não fez uma, quem já saiu da ado-lescência ao menos está familiarizado com o termo: fita demo. Um dos sím-bolos máximos da produção tradicional de música, a fita demo, em um passado recente, ainda era o sonho de muitos músicos.

Custeá-las nem sempre era possível, e o resultado, sempre incerto. Afinal, as fitas demo (demo tapes, do inglês demons-tration), amadoras ou feitas em estúdio, tinham como finalidade apenas demons-trar o som do artista para as gravadoras - como dita o nome -, que poderiam ou não se interessar pelo material. Firmado um contrato de gravação e de vendagem, a empresa podia ainda modificar da so-noridade ao visual do músico de acordo com as suas metas comerciais. Sua ditadura, vigente desde os tempos do vinil, segue, até hoje, com apenas al-gumas poucas modificações, como a di-minuição do seu custo de produção e a mudança do formato da fita cassete para o CD. No entanto, tudo indica que ela está prestes a cair - graças à internet, que revoluciona, de forma definitiva, o modo de produzir e de consumir música.

A idéia de demo já não é assimilada por muitas bandas, algumas das quais nem ao menos buscam contrato. O que se tem visto é a divulgação de não só um traba-lho, mas diversos. A versão física também tem funcionado mais como um cartão de visitas, pela arte principalmente.

É o caso da banda Apanhador Só, que produz a capa de seus discos à mão. “Hoje, com o download gratuito, apenas

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a capa se transforma, realmente, no cha-mativo do CD. A arte tem que ser bem feita, bem estudada”, afirma Rodrigo Pacote, baixista da banda. “A nossa idéia inicial era ter um encarte legal, que não tivesse um custo muito alto. Muitas pes-soas realmente acham que o encarte é impresso. Todos os feitos até hoje tive-ram nosso dedo. Acho que a parte mais interessante disso é que não se têm dois encartes iguais. Isso torna cada CD uma preciosidade, algo impossível de ser co-piado”, complementa.

Se a rede era uma dor de cabeça para as gravadoras já na época do Napster, pai dos programas p2p (do inglês peer to peer, que permitem a troca direta de arquivos entre os internautas), imagine-se em tempos de In Rainbows e Ghosts I - IV (primeiros discos independentes de Radiohead e Nine Inch Nails, respectiva-mente, lançados na internet).

A verdade é que, se já representou um problema para os próprios músicos, em função dos downloads ilegais, a rede tornou-se aliada. Primeiramente, como ferramenta de divulgação: há algum tem-po, já é fundamental que o artista possua site próprio. Entretanto, foi com a cria-ção de sites como MySpace e Youtube que a internet assumiu este caráter de forma definitiva.

O MySpace, embora funcione essen-cialmente como uma rede de relacio-namentos, dispõe de uma ferramenta específica para divulgação de música, intitulada “Myspace music”. Utilizada até por gigantes da música, como Morrissey e Neil Young, também permite que músi-

cos iniciantes mostrem seu trabalho. Por meio da página, o artista possui canal di-reto com o público, além da liberdade de disponibilizar seu material como desejar - trecho ou download completo.

O serviço possui similar no Brasil, com algumas diferenças. Trata-se do site Tra-maVirtual, subproduto da gravadora Tra-ma que foi criado justamente pela im-possibilidade da empresa de dar conta do grande volume de demos recebidas. O foco é o músico iniciante, obviamen-te.

Apesar de não contar com a opção de audição de trecho, iniciou um serviço de download pago recentemente. Impensá-vel até pouco tempo, o serviço funciona da seguinte forma: empresas “amigas” da música independente fazem doações mensais. Ao final de cada mês, o total recebido é somado e dividido de acor-do com o número de downloads, assim definindo o seu preço. Para receber seu dinheiro, o artista deve acumular mais de R$50,00 na pontuação. Se a meta não é atingida até o final do mês corrente, os pontos ficam acumulados.

Em suma, uma iniciativa digna de nota. Sem gastar um centavo, a gravadora con-seguiu proporcionar alguma remunera-ção aos músicos, mesmo que simbólica. Para Rodrigo Pacote, esse é um ponto alto: “São duas vias de apresentar o tra-balho e ter um retorno. Não me chame de hipócrita, mas ser músico é um tra-balho”, ri.

Outro aspecto relevante do site é que, através dele, muitos artistas também

Em menos de uma década, a internet mudou, inteiramente, concepções tradicionais de produção e de consumo no mundo da música. Se, em um primeiro momento, foi mal vista, não só pelas gravadoras como por alguns artistas, em pouco tempo, tornou-se ferramenta essencial de divulgação. Por último, passou a criar seus próprios fenômenos, como as bandas Arctic Monkeys, CSS e Clap Your Hands Say Yeah!. A nova revolução, protagonizada por bandas como Nine Inch Nails, Radiohead e Ra-conteurs, sugere um futuro sem intermediários – gravadora ou mídia.

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têm retorno do o público que conquistam, e alimenta suas apresentações. Um exem-plo é a banda paulista Dance of Days, que vende os próprios discos e realiza turnês, sempre com o uso do TramaVirtual como ferramenta de divulgação.

FENÔMENOS PRÓPRIOSOs dois sites, ainda que muito diferentes entre si, partilham do mesmo conceito (divulgação de música, exclusivamente independente, no caso do TramaVirtual) e são responsáveis por dois fenômenos similares. O fenômeno do MySpace chama-se Arctic Monkeys. O disco de estréia da banda inglesa, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, vendeu 363.735 cópias apenas na sua primeira semana, tornando-se o álbum mais vendido na primeira semana no Reino Unido. O sucesso “repentino” aconteceu, em muito, graças ao site e um intenso boca-a-boca promovido na rede, em blogs e em outros meios.

O TramaVirtual, por sua vez, impulsionou o sucesso da banda paulista Cansei de Ser Sexy. No topo de sua lista de “mais baixadas” por semanas, a CSS, como é mais conhecida, foi escalada para o TIM Festival e conseguiu atrair a atenção de produto-res de shows, jornalistas estrangeiros e até do selo norte-americano Sub Pop, que promoveu uma turnê da banda nos EUA. A faixa “Meeting Paris Hilton”, do álbum de estréia homônimo, rendeu um convite da socialite para conhecê-los pessoalmente.

Nos dois casos, bem como em outros mais recentes, como o da banda americana Clap Your Hands Say Yeah!, reconhecida por conseguir sua fama inicial e sucesso comercial pela internet, o público influiu diretamente no sucesso da banda: coube à gravadora apenas lançar seus discos e promover suas turnês e material de divulgação. Nada foi alterado para que o material se tornasse mais radiofônico ou o visual mais digerível, uma vez que o público já os havia aceitado.

Ou seja, além de ser ferramenta indispensável de divulgação, a internet também vem provocando a criação de uma nova forma de consumo, baseada em mercados de nicho - na qual quem manda é o público.

A NOVA REVOLUÇÃONo entanto, a cereja do bolo está na distribuição, como visto nos últimos lança-mentos do Radiohead, do Nine Inch Nails e, mais recentemente, do Raconteurs. Fiquemos aqui com os sites próprios, sem incluir outras formas de distribuição como a iTunes Store, loja da Apple que disponibiliza o download de faixa por um custo médio de US$ 0,99. A iTunes Store, bem como outros sites neste modelo, não só “fere nosso senso de justiça econômica”, como bem colocou Chris Anderson, editor da revista americana Wired, por não incluir gastos de arte ou prensagem, como é um caso a parte.

Embora o grupo de Jack White não tenha lançado seu último disco, Consolers of the Lonely, de forma independente, o fez após apenas uma semana depois de anunciá-lo, e o mais interessante: em vinil, em CD e em mp3, simultaneamente. Já In Rainbows (Radiohead), Ghosts I - IV e The Slip (ambos do Nine Inch Nails) foram produzidos e distribuídos pelos próprios artistas de forma variada. No caso de In Rainbows, a banda disponibilizou o disco no site oficial cobrando apenas o que o público estivesse dis-posto a pagar pelo download, mais edições físicas e especiais (estas com preço fixo). Trent Reznor, o homem por trás do Nine Inch Nails, também fez uso desse recurso com Ghosts I – IV, com sucesso (o pacote ultra deluxe contendo 4 belos vinis, pela

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bagatela de US$300, esgotou-se rapidamente). A diferença é que, ao invés de liberar o download, deixando a critério do público pagar ou não por ele (e quanto), Reznor disponibilizou apenas as primeiras faixas gratuitamente. Fixou o download completo em US$ 5,00. The Slip, lançado no mês passado, foi liberado de forma gratuita, com previsão de versões em CD e em vinil apenas para o mês de julho.

Formas de distribuição à parte, produção e distribuição independente pela internet, com ou sem selo próprio, parece ser a tendência – ao menos para os já consagra-dos. Tendência essa extremamente vantajosa para artista e para público, diga-se de passagem.

Para o artista, se não elimina o leaking, o vazamento do álbum antes do lançamento, ao menos ajuda a contorná-lo. Com material de qualidade superior ao que circula na rede distribuído de forma rápida e a preços convidativos, não poderia ser de outra forma. Além disso, como ficou comprovado no caso de Ghosts I – IV e em tantos outros, quem é fã compra o disco. E mais: compra material exclusivo, leia-se aí vinis e outros produtos diferenciados.

Outra vantagem substancial é o retorno financeiro. Sem precisar pagar qualquer porcentagem a terceiros, o artista lucra integralmente com sua obra. De acordo com a Rolling Stone argentina, que, na sua edição de maio, publicou uma matéria intitulada “Quem precisa das gravadoras?”, tanto Reznor quanto a banda de Thom Yorke ar-recadaram mais com seus últimos lançamentos independentes. Enquanto Year Zero (1997), do Nine Inch Nails, vendeu um total de US$ 960.000, Ghosts I – IV vendeu US$ 1.619.420 só na primeira semana. Enquanto Hail to the Thief (2003) rendeu US$ 2.000.000, In Rainbows rendeu cerca de US$ 5.000.000, com um custo médio de US$ 6,00 por unidade.

A matéria ainda menciona rendimentos superiores em outros tipos de negociação sem relação com gravadoras, como o caso da banda The Eagles que, ao fazer um acordo de venda exclusivo com a rede de supermercados Wal-Mart, saiu lucrando quase quatro vezes mais do que se tivesse um contrato típico da indústria fonográ-fica. De maneira geral, a regra parece ser um retorno rápido do investimento e uma certa, quando não completa, exclusão de intermediários.

Obviamente, também ganha o público. No caso do Raconteurs, ele parece ter sido a preocupação principal. Apesar da suspeita de muitos (principalmente da mídia) de que o lançamento tenha sido apressado por medo de que o álbum vazasse, White foi enfático em uma nota no site oficial: “O Raconteurs preferiu esse tipo de lançamento para VOCÊ ouvir o trabalho antes de alguém defini-lo por você”.

Na distribuição, o público ganha em exclusividade, em rapidez, em facilidade e em qualidade, como já foi mencionado. No fenômeno como um todo, ganha um papel ativo, determinando o que é sucesso, o que quer escutar. A definição não cabe mais à indústria fonográfica. Como a fita demo, um de seus símbolos, ela perde lugar.

Embora as previsões sejam pessimistas, ainda não se pode afirmar que as gravadoras não conseguirão reverter o quadro. De qualquer forma, não restam dúvidas de que, para tal, precisarão adaptar-se à rede e aos novos desafios a ela propostos. Se não o fizerem, serão varridas por essa nova forma de consumo com a qual, exceto elas, todos lucram. Ou ao menos a parcela mais importante, músico e público.

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NOIZE: Quais as expectativas da banda com relação a este disco?Nando: São as melhores. Faz muito tempo que não lançamos CD de iné-ditas, e sabemos que tem muita gente esperando ansiosa por isso. Acho que vai dar muito trabalho, no bom senti-do. A história de ter demorado pra sair acabou sendo positiva: houve um ama-durecimento pessoal dos integrantes e da própria convicção da essência da CNJ pra cada um de nós. Temos 12 anos de carreira, muita coisa aconteceu, mas o importante é que a raiz continua viva e a identidade “Nin-Jitsu” cada vez mais intrínseca. A banda é nossa prioridade, nossa mothership connection. Ficamos um tempo fora da mídia, mas nunca deixa-mos de fazer shows, e isso é uma dádiva. Valoriza mais ainda nossa história.

NOIZE: Teve gente que pensou que a banda chegaria ao fim. Como você imagina que vá ser agora, para conciliar tudo?Nando: A banda nunca parou. Sofreu, sim, processos de mudança internos. Demoramos pra nos recompor da saída do [baterista] Pancho. A história política do [Mano] Changes (eleito deputado es-tadual em 2006) só confundiu um pouco o público, que achou que ele não fos-se capaz de conciliar as coisas, mas não tivemos grandes problemas. Na real, o processo criativo dentro da banda não cessa nunca. Foi mais complicado or-ganizar o material todo de uma forma coesa, bem-produzida e que satisfizesse principalmente a nós mesmos. Algumas músicas sofreram transformações, tanto em termos de letra, bases ou arranjos. O bom é que tivemos bastante tempo. A entrada do [baterista, Claudio] Calcanho-to também contribuiu pra botarmos em prática várias idéias que tínhamos. Ele

tem a cabeça aberta para experimentar e uma boa bagagem.

NOIZE: De que forma esse tem-po de dedicação a outros traba-lhos influenciou a banda?Nando: O Fredi [“Chernobyl” Endres, guitarrista] amadureceu muito como produtor e DJ e fez vários trabalhos, inclusive fora do país. Eu e ele tivemos um trabalho voltado pro electro rock, o 808sex, que nos deu a oportunidade de criarmos juntos nessa linguagem. Não era a minha praia, mas mergulhei de ca-beça e aprendemos muito com essa ex-periência. Fica muito mais fácil conciliar as idéias e chegar num acordo quando se está compondo ou produzindo com todo esse conhecimento acumulado.

NOIZE: Você falou em amadu-recimento. No entanto, o espí-rito jovem se mantém. Qual o segredo?Nando: Não tem segredo. A melhor coisa que fazemos e que, pra mim, é o que funciona e cativa gerações mais no-vas, é ser coerente com a nossa origem, com aquela idéia maluca e até engraçada de fazer som. Não perdemos a essência da diversão, amizade, entrega no palco. Sentir essa energia voltando não tem preço. Criamos algo original, que foi re-conhecido e valorizado; isso é raro. Todo nosso conhecimento só vem a somar à essência. Aprimoramos o que sempre fomos e vamos continuar sendo.

NOIZE: Além do Fredi, você também produziu este disco. Como foi?Nando: Esse é o primeiro de inéditas produzido por integrantes da banda. Chegamos a fazer um CD de remixes e algumas inéditas em 2005, já produzido

pelo Fredi. Agora, eu e ele pensamos jun-tos no que seria o melhor. O Fredi tem mais intimidade com o computador, mas muitas bases produzimos juntos. Som de guitarra, baixo, arranjos de voz, tudo foi bem escolhido por nós. É muito bom ter essa liberdade. Foi trabalhoso, mas gratificante.

NOIZE: A mistura de funk e rock está em alta no mundo. O Fredi mesmo está na Europa com seu trabalho solo. E se rolar uma turnê da CNJ fora do país?Nando: Se rolar, é claro que encara-mos, é tudo que queremos—e esse re-conhecimento já está rolando. O Fredi manda músicas pra DJs gringos direto, e tem muitos que estão tocando um som deste CD, chamado Funkstein. Ele man-dou pra um DJ da Ucrânia e, em pouco tempo, vários queriam o som, até um DJ fodão da Inglaterra. É uma mistura de funk carioca com o funk mais James Brown, com refrão bem George Clinton, e participação da Marina (ex-Bonde do Rolê), de Jorjão e de Andréia Cavalheiro nos vocais. O funk carioca é supervalo-rizado lá fora, tem status de música ele-trônica originalmente brasileira. Nossa mistura com rock também é bem-aceita, vide Bonde do Rolê, que toca mais fora do país do que aqui.

NOIZE: E os shows? Qual a pro-gramação da banda? Que tal um show online?Nando: Show online é uma boa idéia, mas o lançamento do Atividade na Laje será no segundo semestre. Queremos preparar esse show com muito cuidado e dedicação, pois nosso público merece o melhor da gente.

Com o lançamento do CD atividade na Laje, a CNJ dá fim aos rumores de que os projetos paralelos dos integrantes atrapalhariam a continuidade da banda—e retornam de uma parada de três anos sem gravar nada inédito. Conversamos com o baixista Nando Endres, que conta melhor essa história e deixa bem claro que a chalaça está bem longe de ter fim.

+> MYSPACE.COM/COMuNiDADENiNjiTSu- Escute as músicas de Atividade na Laje.

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Amizade, paixão pela música e sintonia: motivos suficientes para

ter uma banda. E é na união dessas características com a vontade

de tocar um bom rock que surgiu a The Nowhere Dudes.

A idéia de ter uma banda já passava pela cabeça dos guris há tem-

pos, porém só foi ser concretizada em fevereiro deste ano. Tudo

começou com os encontros na garagem da avó do Richard,

onde ele e o Pedro se reuniam para tocar bateria e guitarra,

respectivamente. O barulho, a bagunça e a diversão eram tantas

que resolveram chamar o Vitor e o Ricardo para participar. O

último a entrar foi o vocalista André, que há tempos procura-

va uma banda para tocar e, graças a um professor em comum,

acabou conhecendo os guris e completando o time. Os rapazes

conversaram com a NOIZE e deram a letra:

A Cena

“O incentivo é nulo, mas ela está começando a melhorar”—disse,

logo de cara, o André. E acrescentou: “Tem que ser realmente

bom e com diferencial pra se destacar e conseguir ter uma boa

visibilidade.”

Influências

Depois de muito pensar e discutir, os guris acabam chegando num

consenso: Metallica, Led Zeppelin e Iron Maiden são as principais

fontes: “É que não concordamos muito com essa taxação prévia

de um estilo a se seguir. Toda música leva, por menores que sejam,

características dos mais variados estilos”, justifica o Pedro.

Objetivos

Diferente de muitas bandas, eles não sonham em viver da música.

Acreditam que para isso ser possível ou se é muito bom, ou

acaba se “prostituindo” e tocando o que o público quer, e não

o que gosta. Rindo, o baterista Richard comenta: “Nosso prin-

cipal objetivo é aparecer no Faustão”. Brincadeiras à parte, ele

completa: “Na realidade não sonhamos muito alto. Só queremos

tocar um som que agrade e não ficar conhecidos como apenas

mais uma banda.”

Qual seria o diferencial da The Nowhere Dudes? “Acho que so-

mos sérios e ao mesmo tempo irreverentes. Não somos mais

uma banda clichê”.

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AgendaJOSS STONE

Dia 19 de junho - Pepsi On Stage

Brancos com vozeirões de negros: uma fórmula de su-cesso desde os tempos de Elvis Presley. Joss Stone é dona de um talento vocal digno de diva e de trejeitos exagerados que emocionam alguns e causam rejeição

em outros. O que não dá pra negar é que a voz da guria impressiona e coloca-a entre os grandes nomes do R&B mundial. Dia 19, ela passa pelo Pepsi On Stage, desfilando canções de seus três álbuns, como “You Had Me”, “Don’t Cha Wanna

Ride” e “Tell Me What We’re Gonna Do Now”.

ABrA. DESTAQUE. E COLE NA PArEDE.

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octopus’sgarden

Fotos: Marco Chaparro - 311 LabelAssistência de Fotografia: Lucas

TergolinaProdução: Mely Paredes e Bianca

MontielMake Up & Hair: Gabi Guimarães

Arte Gráfica: Rafael RochaTextos: Helga Kern

Concepção: Mely ParedesRealização: MissinScene Produções

Figuração: Gabi GuimarãesAgradecimentos: Viração Filmes,

Maurício Pamplona

Figurinos: Spirito Santo e Regentag

Marcelo Fruet toca desde os 12 e trabalha com música desde os 19.

A música “El Mariacchi” é prova disso: ela está presente no último

disco de sua banda Fruet e os Cozinheiros, e foi composta quando ele tinha apenas 15 anos de idade. Após as premiações de Melhor Pro-jeto Gráfico, de Melhor Compositor Pop e de Revelação do Ano na 17ª Edição do Açorianos de Música, a banda está preparando um novo álbum com canções totalmente

em inglês.

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Foi na faculdade de Publicidade e Propaganda que surgiu o interesse em unir a música ao audiovisual?Na minha família, exceto por uma tia-avó que era professora de música, ninguém ti-nha ligação nenhuma e sempre houve uma certa resistência ao fato de trabalhar com isso. No vestibular, cheguei a me inscrever para o curso de medicina e de filosofia em segunda opção, passei em filosofia e publi-cidade, e acabei cursando as duas por seis meses. Daí, pela proximidade do mercado publicitário com a música, optei por fazer só publicidade porque eu não tava agüen-tando fazer duas faculdades, quando, na verdade, eu queria era uma terceira opção, a música.

Entre diretor musical, músico, mi-xador e produtor, se tivesse que optar por apenas uma dessas fun-ções, qual seria?Nenhuma delas—eu seria apenas compo-sitor, criador mesmo, que é o que eu mais curto. Eu gosto muito de trabalhar essa

parte do conceito, de criar uma música, que é uma mensagem na verdade, e de como passar essa mensagem.

Tu estás produzindo o segundo álbum da Pública. Como é essa parceria?Tá sendo o bicho! Tudo correndo muito bem. É todo mundo cha-to—eu e eles—, gostamos de ser perfeccionistas e ir até o fundo das coisas. Gera alguns conflitos, mas sempre leva a bons lugares.

A Fruet e os Cozinheiros esperava pelas premiações do Açorianos?Eu sabia que a gente ia ganhar o de melhor projeto gráfico, porque eu nunca vi um projeto melhor que o nosso. Os outros prêmios eu não tava acreditando muito que fosse rolar… não por pessimismo, mas pelo nosso trabalho ser totalmente independente. Achei que iam premiar alguém que estivesse na indústria, que tivesse uma voz política mais acirrada. Foi um grande estímulo, tanto pra mim quanto pra banda.

Como produtor, quais seriam as tuas apostas de ar-tistas do RS?A Pública: os caras têm a garra, a qualidade e estão ganhando a ma-turidade que eles não tinham no começo. A Pata de Elefante, que é uma banda supersólida, e a Lica, que não é o estilo que eu tô traba-lhando hoje em dia, mas eu conheço ela e sei que é batalhadora.

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O QUE ENTrA POr UMA OrELHAE NãO SAI PELA OUTrA

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Sem lançar um álbum de inéditas desde 1997, Banda Larga Cordel marca a reconciliação de Gil com a “musa”, como ele mesmo afirma.

As 16 músicas do CD já estão disponíveis na internet e terão seu lan-çamento físico no dia 17 de junho. Banda Larga Cordel traz as letras viajantes de Gilberto Gil que todos conhecem, e a maior parte das composições é inédita em disco. Um dos temas recorrente nas letras, como adianta o próprio nome do disco, são as novas tecnologias. Numa mistura de “tudo um pouco”, o álbum vai desde forró, em “Despedida de Solteira”, reggae em “Os Pais”, à programação eletrônica presente em Banda Larga Cordel. Sem carregar o ineditismo tropicalista, Gil lança um disco apenas atual e não inova em quase nada. Natália utz

Bring Ya to the Brink, que significa “trazer você para o canto”, é justamente o que Cyndi Lau-per quer fazer com seu álbum recém lança-

do. Um CD com 12 faixas completamente dançantes: fora, no máximo, uma ou duas músicas lentas, o disco é totalmente on the dancefloor. As influências mais presentes no trabalho são o disco e o electro, mas é possível sentir, inclusive, uma leve pitada de funk carioca em “Rockin Chair”. Lauper deixa clara sua escolha pelo som electro nas faixas “High & Mighty”, “Into The Night Life” e “Grab a Hold”. Produzido por Base-ment Jaxx, Dragonette e outros, Bring Ya to the Brink promete não de-cepcionar os amantes da eterna musa dos anos 80. Aliás, ela vem tocar aí esse ano (leia mais na seção de news)! Rafael Santos

Se alguns artistas melhoram com o tempo, Alanis parece ter perdido, com a juventude, a paixão. Em Flavors of Entanglement existe um

potencial de sentimento que soa oco. As letras e a voz até são intensas, mas não convencem, e a canadense nem se esforça para tanto: apela para recursos eletrônicos que só não descem pior do que sua versão de “My Humps”, do Black Eyed Peas, disponível no YouTube. Melhor do que comprar o CD é acessar esse mesmo site e conferir qualquer música ao vivo gravada em 1996, ou desempoeirar o Acústico MTV. A Alanis de quem eu sinto falta (provavelmente abduzida em algum lugar da Índia) é junkie, magrela, cabeluda e tem uma mãozinha maníaca que balança enquanto ela berra. ETs, devolvam nossa Alanis Morissette. Maria Joana Avellar

Numa comparação com With Love and Squalor (2006), Brain Thrust Mistery é mais “anos 80” e menos Bloc Party—o que pode parecer con-

troverso, eu sei, mas serve como elogio à banda. Se o álbum anterior era feito de bons e de maus momentos, em que predomina um senti-mento marcante de “meio-termo”, agora o We Are Scientists consegue um resultado mais inventivo. Nada que vá levar a banda a um nível superior e notável, porém, indubitavelmente, garantirá mais do que 8 minutos da atenção do ouvinte médio. “Tonight” e “Dinosaurs” são dois dos momentos mais surpreendentes do álbum: a primeira, uma canção pop ideal para o fim de noite; a segunda, um punk rock que, absurda-mente, mistura Replacements e Hot Water Music. Gustavo Corrêa

O Weezer está para as cores como o Led Zeppelin está para os números. Apesar da des-carada falta de criatividade, os álbuns self-titled são sempre bons—do début azul ao power pop do verde. Esse Red Album não foge à regra. Depois do fiasco de Make Believe (2005), a banda voltou a acertar o tom; as 8 músicas (de 10) que vazaram na internet não negam. Do início com “Troublemaker”, marcada e grudenta, passando pelos agudos e coros de “The Greatest Man That Ever Lived”, pela doçura e simplicidade que crescem em “Heart Songs”, pela pegada funk, a la Chilli Peppers que explode em “Everybody Get Dangerous” e pelas guitarras sujas e melancólicas de “Dreamin’”, o disco está acima da média (e das expecta-tivas). Até as canções dispensáveis, “Thought I Knew”, “Cold Dark World” e o inexpressivo single “Pork and Beans” são passíveis de perdão. Nota 5, com louvor. fernanda Botta

WEEZErWeezer (Red Album)

GILBErTO GILBanda Larga Cordel

CYNDI LAUPErBring Ya To The Brink

ALANIS MOrISSETTEFlavors Of Entanglement

WE ArE SCIENTISTSBrain Thrust Mastery

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Essa máquina chega aos 15 anos e abre o novo disco dizendo ainda ter combustí-

vel criativo, e, ao mesmo tempo, deixando um questionamento no ar. A afirmação torna-se dúvida quando é expressa em músicas de fór-mula repetida, fugindo do casual apenas quan-do são introduzidas as cordas da orquestra sueca ou alguns teclados escondidos. “Brand new game” toca no assunto, falando do quanto sentem falta do passado e medo do futuro. A gravação, a arte e a qualidade do produto não deixam dúvida de que os mecânicos trabalham com perfeccionismo, mas somente os fãs sa-berão o momento de desligar os motores. Bruno felin

Narrow Stairs é mesmo uma escada que, a cada degrau,

fica mais estreita. As primeiras duas músicas soam bem diferente dos trabalhos anteriores do Death Cab, mas, infelizmente, o resto do álbum não revela muitas surpresas. Mesmo assim, é possível detectar novas influências, perfeitamente incorporadas ao tradicional estilo da banda, e tudo indica que não ousar foi uma boa tática: o resultado final é um CD que tem tudo para cair nas graças dos fãs. As músicas deram mais espaço às guitarras, mas continuam nem lentas nem rápidas, e as letras seguem boas e românticas, sem ser piegas. Três estrelitas. Maria Joana Avellar

A onda de cantoras que tentam uma releitura das divas da black music não

traz apenas vergonha alheia: Rockferry, da galesa Duffy, é uma boa surpresa dentre os outros representantes do revival. A voz tem personalidade capaz de superar a (por vezes insuportável) pieguice de algumas faixas, como “Distant Dreamer” e “Hanging on Too Low”, e de dar vida às boas letras de “Stepping Sto-ne” e de “Rockferry”. O timbre lembra Dusty Springfield, intérprete de “Son of a Preacher Man”, trilha de Pulp Fiction. Duffy é versátil na bipolaridade de seu álbum: faz bem tanto nos momentos tristes quanto nos dançantes. fernanda Grabauska

Tomando como ponto de partida a inventividade de Bitches Brew, de Miles Davis, o Radiohead ga-

nha o mundo—merecidamente—com o terceiro disco. Gravado num estúdio no campo e em uma mansão histórica, OK Computer é aclamado mundialmente como um dos álbuns mais influentes dos anos 90. Se em The Bends já havia indícios de uma mudança de estilo nas letras, passando da esfera pessoal depressiva de Yorke para temas mais globais, isso se consolida em OK Computer. O álbum, minado com as mais diversas influências, pavimenta ele-gantemente o território experimental que a banda viria a explorar. Apesar de não ter sido pensado como álbum-conceito, o dis-co é um retrato dos excessos da moderni-dade, desde o encarte até a última nota de “The Tourist”. Ouça “Paranoid Android” e “Exit Music (For A Film)” enquanto circula pelo caos urbano e você entenderá.

Com o peso persecutório dos quatro acordes de “Creep” nas cos-tas, o Radiohead lança seu segundo disco em 1995. Criado com liberdade, ao contrário de Pablo Honey, The Bends começa a modelar a estética sonora da banda, que deixa um pouco de lado o post-grunge (apesar de “Just” ter algumas semelhanças com “Smells Like Teen Spirit”) para procurar um fundamento que aproveite melhor

a maleabilidade dos músicos de Oxfordshire. As guitarras esquizo de Jonny Greenwood e o falsetto de Thom Yorke, que hoje são marcas registradas da banda, consolidam-se neste álbum. Baladas como “Fake Plastic Trees” e “High & Dry”, junto com músicas mais pesadas, como “Just” e “My Iron Lung”, compõem um trabalho heterogêneo e conciso, que dá indícios de um movimento mais independente em relação ao britpop de Oasis e Blur.

Até a sua avó deve ter ouvido falar do In Rainbows, como “o CD que foi liberado na internet pelo preço que o internauta quisesse pagar”. Mas o mais recente trabalho do Radiohead vai além da re-volução no mercado da indústria fonográfica. Por ter trabalhado nele por mais de dois anos, a banda conseguiu produzir uma obra que abrange todos os aspectos da carreira: as baladas de piano de

Hail To The Thief estão lá, mas mais polidas; as guitarras não sumiram, mas aparecem com arranjos mais minimalistas, convivendo pacificamente com rápidas batidas eletrônicas e o excelente trabalho de Phil Selway na bateria; em “Nude”, Thom Yorke mostra que o falsetto não morreu. A banda joga 20 anos de carreira e seis discos diferentes no liqüidificador e produz algo novo—e excelente.

por Gabriel ResendeDiscografiaBásica rADIOHEAD

DUFFY MILLENCOLINFOr CUTIEDEATH CAB

Rockferry Machine 15Narrow Stairs

OK Computer The Bends

In Rainbows

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É impossível, ainda que na forma hipo-tética, dimensionar a contribuição de Ian Curtis ao que se convencionou cha-

mar de rock dos anos 80. Hoje, não precisa-mos de mais do que “vai tocar anos 80” para sabermos o que nos espera e decidirmos se o convite é agradável ou detestável.O ano é 1976. Um jovem enfrenta a rotina de Macclesfield, pequena cidade do condado de Cheshire, na Inglaterra. Para passar o tem-po, ouve David Bowie, de quem possui discos, pôsteres e inspiração para maquiar-se. Mas esse não é apenas mais um inglês fã de Bo-wie: trata-se de Ian Curtis (brilhante atuação de Sam Riley), que, pouco tempo depois, se tornaria vocalista do Joy Division, banda cuja efemeridade não lhe rouba a inegável influ-ência em tudo que veio a seguir. É na pessoa do sensível e melancólico compositor que o fotógrafo e diretor Anton Corbijn centraliza Control. Em um ambiente frio, enfatizado pela fotografia em preto e branco, em duas horas são contados os quatro anos da banda de onde surgiu o New Order e, por tabela, uma ninhada de filhotes nas décadas posteriores.O encontro entre Ian, Bernard, Peter e Ste-phen acontece em um show do Sex Pistols. Estava formado o Warsaw, mais tarde substitu-ído por Joy Division. Paralelamente, o vocalista está casado com Deborah (Samantha Mor-ton), uma paixão repleta de efeitos impulsivos, como a filha Natalie. O filme conta o rápido crescimento do grupo, desde o modo como conheceram o empresário Rob Gretton, o contrato “a sangue” com a Factory Records, as primeiras turnês e o sucesso com o públi-co e com a crítica quando do lançamento de Unknown Pleasures (1979), primeiro álbum de estúdio (haveria apenas mais um, Closer, lança-do postumamente). As principais músicas do Joy Division estão presentes no filme.Os efeitos indesejados dos remédios utiliza-dos para conter uma epilepsia cada vez mais grave, um caso extraconjugal com uma funcio-nária da embaixada belga (Annik Honoré) e todas as confusões e culpas despertadas pelo sentimento de traição são elementos decisi-vos para que Ian cometesse suicídio em maio de 1980, aos 23 anos. Gustavo Corrêa

O DVD 62 Mil Horas Até Aqui é daqueles registros essenciais na coleção dos fãs que apostam na banda de maior

destaque nacional em 2007. Neste primeiro material, Di Ferrero (vocal), Gee Rocha e Fi Ricardo (guitarras), Caco Grandino (baixo) e Dani Weksler (bateria) reúnem performances em estúdio, cenas inéditas de bastidores e regravam o álbum ao vivo, com arranjos um pouco diferentes.O DVD ainda traz clipes da banda, como “Razões e Emoções” e o mais recente, “Pela última vez”, além da versão “emo” de “Apenas mais uma de amor” (Lulu Santos). Para quem gosta ou quer conhecer a trajetória da banda, o DVD é uma boa pedida. flávia Mu

Música instru-mental não é praia para muitos. As capacidades

técnicas e criativas dos músicos ficam evidentes, e é fácil cair na cilada do que soa bem, mas não necessariamente satisfará os ouvidos do público. Com Luciano Leindecker (baixo) e Alexan-dre Barea (bateria), Fábio Marrone está bem acompanhado para não cair nessa: a virtuose de Satriani, os momentos de Hendrix e o toque brasileiríssimo dão a No Rip um ritmo estradeiro familiar. Canções como “Retoside” e “RS-040” são belos embalos para quem pega o carro rumo à praia ou curte uma manhã de domingo.

CONTrOLNX ZErOAnton Corbijn62 mil horas até aqui

FÁBIO MArrONENo Rip

A Lincon é um trio de post-rock emotivo com-posto por Jeison (vocal e guitarra),

Guilherme (bateria) e Cristiano (baixo). Entre terças, oitavas e letras emotivas, a banda faz um bom trabalho em seu álbum. Com um punhado de melodias redondas e bons timbres, não dá para fugir da comparação com nomes grin-gos, como Finch e The Used, e nacionais, como Fresno e Aditive. Tem o potencial para emplacar algumas canções, mas antes precisa fugir de melodias vocais insistentes. Em alguns momentos, os re-frões, na tentativa de emocionar, acabam parecendo demais uns com os outros.

LINCONLincon

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O DVD Inclassificá-veis intensifica a ex-periência perceptiva do disco homônimo, o mais recente de

Ney Matogrosso. Isso porque, além de uma voz impecável, o cantor é “o” performer. Do alto de seus 66 anos, Ney aparece travestido em figurinos de Ocimar Versolato, que lhe es-condem as rugas e os cabelos brancos, exibin-do apenas o físico enxuto, e proclamando-se inclassificável: “sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher”. Ele dança incansavelmente, insinua-se para o público e troca de roupa no palco, demonstrando vivacidade, apesar da idade. Enquanto isso, o repertório escolhido revela um artista maduro que fala da velhice (“envelhecer certamente com a mente sã, me renovando dia a dia, a cada manhã”), dá lições sobre a vida e alerta: “existem coisas na vida das quais até Deus duvida”. Para tanto, Ney mostra que tem um olhar arguto para esco-lher canções inéditas e para recriar as já con-sagradas, ao lado de uma banda competente, sob direção musical de Emílio Carrera. Ana Laura freitas

NEYMATOGrOSSOInclassificáveis

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Page 40: Revista NOIZE #14 - Junho de 2008

INTO THE WILD de Eddie Vedder (2008)

Sean Penn, diretor e roteirista de Into the Wild, tinha uma vasta gama de op-ções ao escolher o responsável pela trilha sonora de seu novo filme, mas, acertivamente, escalou Eddie Vedder para ficar à frente do projeto. O líder do Pearl Jam topou o desafio e lançou seu primeiro álbum solo assi-nando as canções originais da produ-ção. Tamanho foi o êxito obtido, que o músico arrebatou o Globo de Ouro de 2008 pela faixa “Guaranteed”.A fim de cantar as desventuras do libertário Christopher McCandless, Vedder emprestou o seu timbre in-confundível num misto de melancolia e de agressividade. Into the Wild – nome original do livro de Jon Krakauer, de 1996 – conta a verdadeira história do jovem norte-americano que abandonou seus cos-tumes e sua carreira promissora para rumar, após sucessivas incursões a pai-sagens inóspitas, ao Alasca em busca do seu “eu” mais primitivo. São as sonoridades abissais captura-das por Eddie Vedder e as baladas no mais puro estilo folk que preenchem com perfeição as cenas do longa-metragem. O artista compôs músicas que são deglutidas de uma só vez e que soam da maneira mais errante e verdadeira, fazendo parecer ecos de libertação que partiram de um homem que questionou com ferocidade sua con-dição e que foi em busca da resposta no umbigo mais solitário da criação: a natureza selvagem. Marcela Gonçalves

Se Homem de Ferro tem uma razão de existir, essa razão é Robert Downey Jr. Recuperado das drogas, o ator dá a volta por cima, e carrega o filme inteiro nas costas, a tal ponto que vê-lo como Tony Stark é tão ou mais divertido do que esperar pelas cenas de ação do Ho-mem de Ferro. Claro que carisma não é tudo, mas o filme evita correr riscos numa história com equilíbrio de humor, de drama e de ação, bem à vontade em seu papel de adaptação de quadrinhos e de entretenimento-família, com um bom ajuste ao contexto atual: o Vietnã, onde Tony Stark é preso nos HQ, no filme, vira o Afeganistão atual, de onde Stark irá fugir para construir sua armadura e ir atrás das armas que ajudou a criar e que caíram em mãos erradas. O filme conta

IrON MAN de Jon Favreau (2008)

com um bom elenco de apoio – Gwyne-th Paltrow como o interesse romântico e um Jeff Bridges vilão – e ainda guarda uma surpresa para depois dos créditos, que abre portas para prováveis e, inclu-sive, já anunciadas continuações. Samir Machado

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Quase vinte anos depois de Indiana Jones e a Ultima Cruzada, a volta do arqueólo-go que mais destrói o patrimônio cultu-ral mundial é saudada como o retorno do mais clássico filme de ação e de aven-tura, com maior base no trabalho de du-blês do que em efeitos especiais digitais. Não apenas o sexagenário Harrison Ford está em excelente forma no papel do herói, como o filme mantém o pique dos anteriores, em sua homenagem às pulp fictions de aventura, com as habi-tuais seqüências de ação características de Spielberg, que são em muito como elaborados números de circo, com um senso de diversão e de desprendimen-to único. Destaque para a seqüência de perseguição de carros na floresta e para a explosão de uma bomba atômica na cidade de testes nucleares. A trama também se atualiza, trocando nazistas ocultistas e seitas fanáticas pela paranóia comunista dos anos 50, o medo da guer-ra fria e os filmes de alienígenas. Cate Blanchett é a perfeitamente caricata e estilosa vilã Irina Spalko, que está em

busca da caveira de cristal do título, e que pretende convencer Jones a ajudá-la em sua busca. Shia LeBouf assume o papel de sidekick do herói, num perso-nagem feito para conectar o público jo-vem que, se muito, conhece os filmes de Indiana Jones apenas por reprises na TV, enquanto Karen Allen volta a interpre-tar a mocinha do primeiro filme, Marion Ravenwood. A única ausência sentida é a de Sean Connery, pai de IJ no melhor fil-me da série. O Reino da Caveira de Cristal acaba sendo um bem-vindo retorno de um dos personagens mais queridos do cinema. Samir Machado

INDIANA JONES E O rEINO DA CAVEIrA DE CrISTAL de Steven Spielberg (2008)

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Iron Man segue um parâmetro um pouco entediante: você entra nas missões, voa para um lado, derrota seus inimigos, voa para o outro, derrota mais inimigos... Há quem leia isso e lembre de Spider Man 3, mas não. Trata-se da nova aventura de Tony Stark e sua armadura ver-

melha e dourada. Não é um jogo terrível, mal feito, ou sem diversão alguma, todavia, deixou muitos fãs do super-herói (e de PS2) um tanto decepcionados, pois não surpreende em ne-nhum ponto. Nem os gráficos, nem o som, nem a apresentação ou a jogabilidade; nada disso transporta o jogador para a real atmosfera que envolve a história do Homem de Ferro. Para terminar, o jogo é extremamente fácil de “virar”, sendo quase impossível matar o super-herói, já que são muitas as chances de “reviver” antes do game over. Eduardo Dias

Agradecimentos à JP Eletrônica – Assistência Técnica Pça. XV De Novembro, 66 – Sala 1010 - Porto Alegre :: Tel: (51)3012.8721 | 9129.9399

Não que você vá ser um grande cineasta, mas, com vontade e com as ferramentas certas, alguma coisa legal pode sair e fi-gurar nas telas do... YouTube? Em tempos de acesso facilitado às tecnologias de gravação de som e de imagem, o site The Clapperboard é um recurso interessan-te. Traz cursos gratuitos para aqueles que querem aventurar-se no mundo mágico do cinema, ou apenas escrever um pequeno roteiro para uma idéia legal tida em uma tarde de domingo.As três grandes seções incluem as aulas de roteiro, depoimentos de grandes di-retores, de produtores e de roteiristas, e um catálogo dos clássicos do cinema low budget. Mas, além dessas, capazes de entreter qualquer apreciador da telona por horas diante da telinha, há artigos variados para leigos e para “experts”, lei-turas recomendadas e a possibilidade de dialogar com outros usuários do site.

Mais um site interessante combinando comunidades virtuais com música. O Fiql faz compartilhamento de playlists. Só. A proposta é tão ampla quanto a variedade de temas das listas de música publicadas online. Desde “Músicas Sobre Trens”(!) até “Clássicas para a hora H”, passando pelas mais óbvias “Melhores músicas de todos os tempos”. Mas para quê, se tem o Last.fm? A interface é diferente. Você digita uma palavra e vêm as playlists rela-cionadas à sua busca.E de nada adiantaria apenas saber das músicas - listas de todos os tipos habi-tam a web há anos. Os serviços Napster e Rhapsody permitem que você escute algumas ou todas as faixas, dependen-do se você é um usuário com grana ou um usuário free. Sendo o segundo, resta sempre a possibilidade de escutar um pouco das listas legais e de ir atrás das músicas por outros meios.

THE CLAPPErBOArDtheclapperboard.com

FIQL fiql.com

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Games

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ASSISTAvideos do mes

BAIXEmusicas do mes

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especial indie

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>> Beck Chemtrails Quarenta anos mais tarde, a psicodelia atinge todos em cheio. Beck que o diga.

>> Ida Maria Queen of The WorldPorque não pode faltar uma novidade indie, que a galera estranha.

>> Jay-Z Ain’t IEstá no YouTube há algum tempo o possível primeiro single do próximo álbum do rapper. >> NX Zero Cedo ou TardeOs garotos da NX Zero dizem que se sentem sozinhos no seu novo single.

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Felipe Neves

As pessoas tinham poucas expectativas de que o Whitesnake desembarcasse em Porto Alegre novamente. Toda turnê brasi-leira já estava anunciada há um bom tempo quando, finalmente, a vinda do grupo inglês para a capital gaúcha foi confirmada. Em 2005, ano da primeira passada do grupo por nossas ter-ras, eles foram o opening act do Judas Priest e acabaram por roubar a cena em um belíssimo show no Ginásio Gigantinho. Por esse espetáculo aclamado de pouco anos atrás é que a expectativa por um show completo do Whitesnake ficou gran-de. Essa mesma expectativa ficou maior pela confirmação do show no Teatro do Bourbon Country, onde, até então, ainda não havia sido realizado um show de rock pesado. Realmente, por si só, esse show foi um divisor de águas para o público roqueiro da cidade. A estrutura proporcionada pelo local do show é de primeiro mundo, melhor até do que a do Teatro do Sesi, que já abrigou alguns shows de rock em outras ocasiões. Desde a boa educação por parte da equipe e da segurança, até o estacionamento, que custa apenas R$3,50 – mais barato que muitos flanelinhas da Cidade Baixa –, tudo isso impressiona a quem está acostumado a ser empurrado feito boi ou a ser tratado como se estivesse fazendo um favor – como ocorre em alguns outros locais em Porto Alegre e arredores. Pouco depois das 20h, David Coverdale e sua banda sobem ao palco do teatro: inicialmente, com o som um tanto quanto embolado, algo que, logo nos primeiros minutos, foi resolvido e deixou a

sonoridade do show quase impecável. Em interação freqüen-temente com o público, às vezes pedindo mais berros do que os que já eram dados, Coverdale, que já anda por volta dos sessenta anos, parecia um jovem, tanto no ânimo e na postura quanto em sua aparência. Sua voz? Pode não atingir sempre os pontos mais altos, mas, em 90% do show, permanece intacta. Ponto baixo foi o longo solo de bateria, que não foi tão espe-tacular assim. O repertório do show proporcionou sons do novo álbum, Good to be Bad, clássicos da banda como “Fool for Your Loving”, “Love Ain’t Stranger” e “Cryin in the Rain” e lembranças dos tempos de David Coverdale no Deep Purple, como “Soldier of Fortune” e o memorável medley de “Burn” com “Stormbringer”. Ricardo finocchiaro

WHITESNAKE Teatro do Bourbon Country, 11 de Maio.

Domingo frio. Dia das Mães. No palco do Salão de Atos da UFRGS, o drumset de um tom, o piano Steinway e o contra-baixo acústico deitado ao fundo, à meia-luz, davam o tom do que seria a noite ao som do jazz aveludado de John Pizzarelli. Não fosse a péssima e repetitiva música eletrônica que tocava ao fundo, a estética do show estaria perfeita.O ótimo guitarrista veio acompanhado pelo pianista Larry Fuller, que tocou com Ray Brown (fiel baixista de Oscar Pe-terson), Tony “The Professor” Tedesco na bateria e o irmão de John, Martin, no contrabaixo.O show iniciou com o standard “All of Me”. Uma versão de “I’ve Got Rhythm”, dos Gershwin, elucidou a capacidade indi-vidual dos músicos, que solaram com perfeição. No solo de Pizzarelli, não faltou o clássico scat singing simultâneo às no-tas tocadas na guitarra. Após canções de Sinatra e Nat King Cole, com suspiros das velhinhas da platéia, Pizzarelli enfilei-rou “Things We Said Today” (citando “So What”) e uma versão bossajazz de “Here Comes The Sun”.Falando em bossa nova, foi apresentado um pacote com “Só Danço Samba”, “Desafinado” e “Águas de Março”, em inglês, e “Garota de Ipanema”, com o público cantando baixinho, como

se fosse no apartamento dos Leão, fazendo nascer a bossa.Chamado duas vezes de volta ao palco, Pizzarelli completou o kit Beatles com uma versão de “Can’t Buy Me Love” que poderia muito bem ter sido executada em Montreux, dada a qualidade e renovação que o músico deu à canção. Então, homenageando a mãe com “The More I See you”, Pizzarelli fechou uma homenagem à música de qualidade, provando que o jazz, seja bebop ou fusion, não morreu intoxicado com Bird nem espancado com Pastorious. Gabriel Resende

JOHN PIZZArELLI Salão de Atos da UFRGS , 11 de Maio.

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Mesmo que Gleen Danzig, alma negra da banda, tenha decretado o fim dos Misfits em 1983, os monstros invadiram, por mais uma vez, o Bar Opinião numa noite de lua-cheia em Porto Alegre. A turnê contou com uma formação célebre para os admi-radores do Punk/HC americano. Dez Cadena (Black Flag) na guitarra, ROBO (Black Flag e Misfits) nas baterias e o polêmico baixista original e vocalista improvisado, Jerry Only, odiado pela maioria dos fãs radicais da primeira e melhor fase do grupo.Os mortos-vivos surgiram das trevas saudados por uma multidão sedenta por letras sangrentas e por instrumentais enfurecidos. Abriram com a célebre “Halloween” e mostraram que, apesar da idade e das barrigas de chope, estão em forma e com energia suficiente para executar uma porrada atrás da outra. A primeira fase do show foi dedicada principalmente às canções da “Era Danzig”, com clássicas como “Hybrid Moments”, “Skulls”, “20 eyes” e “Hollywood Babylon”, tocadas bem mais rapidamente que as versões de estúdio. Only não prolonga os vocais como Danzig e Graves, assim, as músicas que já tinham tempo curto são reduzidas praticamente pela metade. O bom é que elas soavam mais agressivas aos ouvidos do público, que, até a primeira metade, parecia comportado demais para um show de punk rock.Também não faltou a fase mais “metal”, do American Psycho e do Famous Monsters, com arranjos mais trabalhados e com solos de guitarra. “Abominable Dr. Phibes”, “Walk Among Us”, “From Hell They Came” e “Dig Up Her Bones” transbordaram fúria e fizeram surgir as tradicionais rodas e stage dives na pista. O show era em cele-bração aos Misfits, mas pode-se dizer que também era ao Black Flag. Cadena assumiu os vocais para executar “Six Pack”, “Jealous Again” e “Thirsty and Miserable”, hinos eternos de uma das bandas embrionárias do American Hardcore.Quando a platéia já sentia falta de alguns clássicos, Only canta as horrendas (no sen-tido óbvio quando se refere ao Misfits) “Last Caress” e “138”, para lembrar porque a sinistra caveira, retirada do filme The Crimson Ghost, estava presente em quase todas as camisetas e jaquetas do recinto.Como já era imaginável, o trio retira-se repentinamente do palco para depois re-tornarem aclamados. Do bis, destaque para “Die, Die my Darling”, e “Rise Above” do Black Flag. Para quem torce o nariz para o Jerry Only, ele dá show de carisma ao distribuir autógrafos e interagir com a platéia, logo depois de arrancar as cinco cordas do seu baixo. Polêmicas a parte, ninguém deveria contrariar a insistência em manter o legado do Misfits e em fornecer aos admiradores uma amostra do que foi um dos mais influentes ícones do punk/HC. E quem esteve presente naquela noite viu que os mortos continuam vivos. Thiago Aita Marques

MISFITS Bar Opinião, 18 de Maio.

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Saudações, amigos headbangers!!! Há quem diga que o underground gaúcho é muito fraco. Outros di-zem que é uma das cenas mais fortes do país. A verdade é que, falando em metal, podemos dizer que temos um público bem exigente. Pessoas que não se contentam com um simples show de uma banda, que não se contentam com uma banda cover que toca as mesmas músicas que todo mundo toca. Não supor-tam ver um show de composi-ções próprias em que a banda, por melhor que seja, fique em cima do palco por mais de qua-renta minutos. Os gaúchos que-rem é mais. Sim, são um pé no saco por isso, mas querem mais. Querem boas bandas, riffs mar-cantes, refrão grudento, músicos

com presença de palco, horários não muito fora do cronograma, querem casa cheia para ter com quem conversar, querem boa lo-calização, querem boa estrutura, bom atendimento e, acima de tudo isso, cerveja gelada! Parece muito, mas não é nada além do merecido. Povo trabalhador, que rala a semana inteira, ganha pou-co, atura chefe ditador, estuda à noite e cuida dos filhos merece o seu rock pesado com qualidade, o seu momento de relaxar e “de-sestressar”. Mas, para isso, não basta reclamar; tem de colaborar, é preciso que se vá aos shows, aos eventos. Prestigie e, quando as coisas não ocorrerem da ma-neira que você gostaria, reclama e bate o pé—estarás coberto de razão. Horns up!!!

Lá vem informação sobre mais uma atração internacional do reggae roots. Estou muito feliz porque fiquei sabendo que pode-ria passar o Dia dos Namorados no embalo de Don Carlos—e o melhor: ao vivo!Dizem as más, ou, nesse caso, as boas línguas, que é o melhor show do momento entre os ar-tistas jamaicanos. Euvin Spencer (seu nome verdadeiro) recebeu o apelido de “Don” por ser um cara respeitadíssimo na sua comunidade, no distrito de Wa-terhouse, em Kingston. De uma simpatia inigualável, nem seus quase 60 anos o impedem de dançar e pular como poucos. É uma pedrada com muito gingado jamaicano.Don Carlos também fez parte da

banda Black Uhuru como voca-lista e foi um de seus fundado-res, junto com Duckie Simpson e Garth Dennis. Em 90, gravou dois álbuns e, em seguida, retor-nou para a sua carreira solo.Hits como “Harvest Time” e “Seven Days a Week” mostram a realidade deste artista que nasceu e conviveu com a po-breza e a violência. Não será a primeira vez que vem ao Brasil, mas a Porto Alegre, sim. Vale a pena conferir de perto. Seu site oficial, pra quem quiser saber um pouco mais, é www.doncar-losreggae.com. Dia 12 de junho, no bar Opinião, apaixone-se ao som dele.

Todos se rendem ao rap, à black music, ao som de preto, como preferirem chamar. O importan-te é que a batucadinha que vem dos tamborins e dos atabaques conquista o ouvido e o corpo da maioria dos brasileiros, e não vem dizer que ao ouvir um “tam-tam-tam” tu não dá pelo menos uma batidinha com o pé! Alguns dos principais músicos brasilei-ros rendem-se ao samba, e Ma-ria Rita, com certeza, rendeu-se. E o mais interessante é que foi de “corpo e de disco inteiro”. Ao apresentar o show do disco Samba Meu, lançado em 2007, Maria Rita sambou, requebrou e mostrou um swing antes es-condido. E tudo graças ao samba que ela chama, com muita pro-priedade, de “seu”. A produção

desse disco teve a participação de Leandro Sapucay, lançado por Marcelo D2, um ano antes, como um dos novos nomes do samba e da black music. Essa parceria parece, inicialmente, um pouco impensada, mas, junto com ela, veio a sensualidade e a verdadei-ra voz de Maria Rita, que mos-trou ser uma artista completa no palco, além do samba ocu-pando um espaço que antes era exclusivo da MPB. Mesmo tendo três Grammys latinos, a cantora precisou esperar um pouco mais para colher os frutos do traba-lho musical que, por direito, é pertencente a ela. Quem foi até o Teatro do Bourbon Country pôde apreciar uma artista que sabe fazer bom uso do ritmo que pegou para si: o samba.

Existem shows que têm a incrí-vel capacidade de dar crédito à existência humana. Noites de gala, samba na rua, do disco homô-nimo de Mônica Salmaso e Pau Brasil, é desse tipo. Se nós, se-res humanos, somos capazes de atingir tal nível de sensibilidade, de virtuosismo e de criativida-de, então é porque nem tudo está perdido.Dedicado a Chico Buarque, o espetáculo revitaliza canções que já dormiam cristalizadas em nosso imaginário. O show coroa a tradição da música popular que flerta com o erudito, combinan-do toda a sofisticação de Chico Buarque, Mônica Salmaso e Pau Brasil. Os arranjos exploram ao máximo o intimismo de “Morena dos olhos d’água” e de “Beatriz”,

a delicadeza de “Ciranda da Bai-larina” e ainda conferem ares de música contemporânea de con-certo a “Construção”, reforçan-do sentidos e sutilezas das com-posições de Chico Buarque.Os responsáveis são alguns dos mestres na música instrumental brasileira, que compõem o Pau Brasil: Nelson Ayres no piano, Rodolfo Stroeter no baixo, Teco Cardoso no sax e nas flautas, Paulo Bellinati no violão e Ri-cardo Mosca na bateria. Neste trabalho, o grupo ganha ainda um sexto instrumento: a voz de Mônica Salmaso. Assim como diz a “Moda do Pau Brasil”, segundo bis que encerra o show, a can-tora faz as coisas mais comple-xas parecerem brincadeira de criança.

PRESTIGIE

O MELHOR PRESENTE

A RENDIÇÃO DE MARIA RITA

CANÇõES VITAIS

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Atari Teenage Riot (ATR) é uma banda de “Industrial digital hardcore” formada em Berlim em 1992. As letras abordam temas políticos, como o anar-quismo, o anti-fascismo e o anti-nazismo na Europa, tudo isso mesclado com um vocal bem trash punk.

Em 1999, ocorreu um grande tumulto envolvendo centenas de fãs do grupo e a polícia, em Berlin. A banda chegou a ser in-vestigada pelo serviço secreto alemão, pois estava sendo acu-sada de representar perigo para a sociedade. O ATR chegou ser preso em outra apresentação em Berlim, por ter “incitado as pessoas à violência” durante uma passeata anti-nazista em 1°

de maio. A banda estava tocando a canção “Revolution Action” em um caminhão estacionado no meio do evento quando, de repente, começou uma briga en-tre a polícia e os manifestantes, que totalizavam cerca de 30.000 pessoas.

O fim...Em 9 de setembro de 2001, Carl Crack sofreu uma overdose e morreu aos 30 anos de idade. Carl sempre teve muitos proble-mas psicológicos, desde sua ado-lescência. Após a morte de Carl, a banda não se reuniu de novo. Hanin Elias partiu para trabalhar em seu projeto solo, assim como Alec Empire e Nic Endo (esses dois últimos continuam traba-lhando juntos).

O punk rock “de fora” não se restringe aos países onde se fala inglês. Inúmeras e excelentes bandas podem ser encontradas fora dos Estados Unidos, da In-glaterra, da Austrália e do Cana-dá, para ficar nos principais.A Itália é um ótimo exemplo. Basta investigar um pouco para constatar que se faz hardcore de muita qualidade na Bota. A tradição tem início nos anos 80, com bandas como Wretched, Negazione e Indigesti. Em uma década caracterizada por movi-mentos extremistas, por radica-lismo político e por crescente desemprego, o punk prosperou no subúrbio italiano. Os anos 90 não significaram a extinção dos grupos de HC, com o surgimen-to de novos nomes, embora a

contestação política tenha perdi-do um pouco de espaço. Todas as vertentes do punk são contempladas com bons nomes. No hardcore melódico, desta-cam-se bandas como Beerbong e L’Invasione Degli Omini Verdi. O pop-punk é representado por Meanwhile e Sun Eats Hours. Para quem curte o punk tradi-cional e as vertentes mais pesa-das de HC, vale a já citada Crip-ple Bastards, com um grindcore infernal, e a etimologicamente sacana Harry Fotter. O post-HC também tem bons nomes, como é o caso da Dufresne. Para concluir, um trecho de “Non so perché”, da invasão do homem verde: non so perché mi guardi, e ridi, e piangi, e vomiti. Arrivederci, amici!

Pronto, eu me rendo. Deixem jo-garem crianças pelas janelas, vol-tar a CPMF, o terceiro mandato do Lula, o Fernandão não jogar nada, ganhando R$ 150.000,00 por mês, e vamos acreditar pia-mente que os “Azuizinhos” ser-vem para cuidar do trânsito, pois isso, ficou provado no sábado pós-ciclone-extra-tropical. Haha, não vi nenhum dos respeitosos fiscalizadores de trânsito diante das 1000 sinaleiras estragadas. Enfim, meu negócio é falar de música eletrônica e é nisso que eu vou tentar me concentrar.A música eletrônica, mais especi-ficamente o House, está trazen-do de volta muitas referências “das antigas” (que linguística gauchesca essa, será que é o efei-to Balonê na e-music?), com des-

taque para duas músicas, Dennis The Menace - “Going Back to my Roots” e F.P.I Project - “Reach in Paradise”. O legal, é que a primei-ra tem como base a segunda, que é um remix 2008 para a original, de 1989 (ihh olha a Balonê aí de novo!), e ambas conseguem ser diferentes. É mais uma mágica da música eletrônica e seus produ-tores: o poder da multiplicidade dentro de uma mesma música. To trabalhando umas “paradi-nhas” com o Fefê Noronha. Vem coisa boa por aí, e tem também o HouseMasters, uma maneira di-vertida de discotecar e ao mes-mo tempo mostrar um pouco da história da música eletrônica.

Let’s keep going!

Quando me convidaram pra escrever a coluna indie, pensei “quando é que vou escrever algo do (selo) DFA”. Então, é hoje!Hercules And Love Affair é o nome do projeto encabeçado pelo produtor Andy Butler, co-nhecido de poucos pelo remix de “A&E”, do Goldfrapp. Butler convocou pra cantar em meta-de do álbum o singular Antony “and The Jonsons” Hegarty (que fica melhor cantando no H&LA), além de contar com as participa-ções de Nomi (que fez uma tour do CocoRosie) e da DJ Lusho Kim Ann Foxman. No seu ho-mônimo álbum de estréia, H&LA mostra que o termo “house” é tão atual/in hoje quanto era na segunda metade dos anos 80 e faz jus a estar na DFA ao lado

de artistas fodas como Rapture, Hot Chip e LCD Soundsystem.Butler conseguiu a proeza de fazer um álbum de funk/house/disco nos anos 2000 sem soar revival ou déjà vu, e em pouco tempo de vida o H&LA já é par-te da cena atual nova-iorquina—que há 10 anos dita boa parte dos caminhos da música con-temporânea. Com “aquele cari-nho”, indico: “Blind” (que conta com o já citado Antony e com um arranjo de cordas que dei-xaria o Abba com inveja), “You belong” e, por fim, minha última indicação pra entrar nesse mun-do criado por Butler:“This is My Love”, que é obra!

O mitológico myspace: myspace.com/herculesandloveaffair

ATARI TEENAGE RIOT

PUNK ROCK ITALIANO

PÓS-CICLONE

HÉRCULES

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