Revista Rascunho

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Rascunho Outubro é ROSA! Câncer de mama: campanha de conscientização e prevenção acontece no mundo inteiro Edição 01 - ano 01 - n 01 24 de outubro de 2014 jornalismo.ufma.br/licristina

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Primeira edição temática da Revista Rascunho, laboratório de produção dos alunos das disciplina de Jornalismo de Revista da Universidade Federal do Maranhão.

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Rascunho

Outubro é ROSA!Câncer de mama: campanha de conscientização e

prevenção acontece no mundo inteiro

Edição 01 - ano 01 - n 0124 de outubro de 2014jornalismo.ufma.br/licristina

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃOREITOR Natalino Salgado Filho

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIALCHEFE DE DEPARTAMENTO Rose Ferreira

COORDENADOR Sílvio Rogério RochaDISCIPLINA Jornalismo de Revista

PROFESSORA Li-Chang Shuen Cristina Silva Sousa DIAGRAMAÇÃO Lorena Araújo

ALUNOS/REPÓRTERES Arlíria Frazão

José Cordeiro NetoJulianne SaraivaLorena Araújo

Matheus CoimbraSabryna MendesJúnior Figueiredo

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Índice

Editorial: Feminilidades 4Direitos das mulheres: “lacunas e entraves dificultam os trabalhos” 7A tríplice função: elas e eles 8Cor-de-rosa: campanha mundial de conscientização 9A mulher e seu papel na sociedade 12Elegância à la anos 50 16O que vai na nécessaire 18VOLTA & MEIA 20O Telefone 22

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O mundo pós-moderno é, em grande medida, um mundo feminino. Feminino, não feminista. Ocupamos mais postos de trabalho, mas menos postos de comando. Aqueles que ocupamos, ocupamos sob contestação. Às vezes explícita, às vezes veladamente, sempre nos defrontamos com o patriar-calismo ditatorial do “lugar de mulher é na cozinha”. Basta fa-zermos algo errado que algum engraçadinho solte essa pérola. Nós podemos até governar um país, mas não somos presiden-tas. Somos presidentes, para que a palavra sem flexão de gêne-ro nos lembre sempre que estamos ali, temporariamente, ocu-pando um espaço que tradicionalmente é para os homens. Mas nosso salto, nosso batom, nosso perfume e nossas inúmeras ca-madas de rímel insistem em ocupar o espaço do terno, do sapa-to invariavelmente preto combinando com o cinto, o perfume amadeirado e o gel pós-barba dos donos do mundo. Seria tão mais simples compartilhar responsabilidades. Alguns dos go-vernantes e políticos mais influentes da Europa nas últimas três décadas usam saias. No Brasil, a presença feminina na política é oscilante. Nas eleições de 2014, as assembleias estaduais e o Congresso Nacional estão menos cor de rosa. Menos mulheres foram candidatas, menos mulheres foram eleitas. Falta espaço para nós dentro das estruturas partidárias. Poucas lideranças femininas surgiram nestas eleições porque o verdadeiro espa-ço de debate e de participação é dominado pelas tradicionais figuras masculinas, os caciques do voto. Obviamente, o menor protagonismo feminino também tem a ver com o desinteres-se de boa parte das mulheres por esse modelo de política que barganha e loteia cargos públicos em detrimento da efetiva mudança social e das políticas que verdadeiramente contribui-riam para uma maior inserção da mulher nos espaços de poder. Apesar desse cenário de declínio da participação feminina na

Feminilidades

política partidária, tivemos três mulheres disputando as eleições presidenciais, sen-do as três protagonistas, e não coadjuvantes, no pleito. O fato de uma ter ido para o segundo turno e o apoio de outra ter sido decisivo para o outro candidato nessa dis-puta diz muito sobre a força que as brasileiras que sabem encontrar seu espaço de luta na política têm no Brasil. É preciso capilarizar essa for-ça, aumentando o número de mulheres em conselhos deliberativos de bancos e empresas, em cargos de di-reção na iniciativa privada, em cargos executivos nos órgãos públicos, em lugares de visibilidade nas artes e culturas para além da graça e da beleza. É um longo cami-nho, mas com avanços e re-trocessos seguimos lutando.

Editorial

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Direitos das mulheres: “lacunas e entraves dificultam os trabalhos”

No Brasil, os primeiros movimentos em prol dos direi-tos das mulheres começaram por volta da década de 1920. Conquistando aos poucos cada vez mais espaço, em 1932, as brasileiras conseguiram o di-reito de votar. Mas, somente após a promulgação da Cons-tituição de 1988, as mulheres foram, efetivamente, ouvidas.

A data 8 de março foi reconhecida, oficialmente, pela Organização das Nações Unidas (ONU), como dia Internacional da Mulher em 1977. A professo-ra e pesquisadora de gênero da Universidade Federal do Mara-nhão (UFMA) Meire Ferreira classifica a data como histórica e simbólica. “Retrata a luta por direito das mulheres”, destaca.

Meire, que, também, está à frente do Fórum Mara-nhense de Mulheres, responsá-vel pela articulação de todos os grupos de feministas de São Luís, ressalta que apesar do todo o ca-minho de vitórias já percorrido, muito ainda pode ser conquista-do pelas mulheres. “Vive-se um momento de implementação. Temos um plano avançado, mas existem lacunas e entraves que dificultam os trabalhos”, aponta.

Violência DomésticaSegundo ela, mais im-

portante que a estrutura criada para amparar as vítimas de vio-lência doméstica, por exemplo, é preciso que exista um ousa-do programa de cultura. “Nós temos vários organismos para punir, mas continua a violên-cia. É preciso políticas de edu-cação e cultura, que formem uma nova mentalidade nas es-colas e nas famílias”, acrescenta.

PoderEla lamenta, também, a

distribuição do poder no país. “Apenas 12% do poder está nas mãos das mulheres. O poder ain-da é, extremamente, masculino. Isso contribui para que as mu-danças não aconteçam”, conclui.

José Cordeiro Neto

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Se não bastassem os preconceitos, o medo da criminalidade, os assédios sexuais e a constan-te preocupação com os cabelos, a mulher ainda é cobrada em assumir a tão famosa tríplice fun-ção social: mãe, esposa e profissional. Escreven-do isso me veio a imagem da minha mãe. Ela era meio que equilibrista. Segurava meu irmãozinho mais novo com uma mão, cozinhava com a ou-tra, e vendia cosméticos por telefone, o segurado entre o ombro e o ouvido. Dentro desse malaba-rismo, a coitadinha ainda se preocupava se meu pai ia chegar e vê-la com seus bobes na cabeça.

Ela era um tipo de Dona Florinda com seus tesouros. Já meu pai não era um Professor Girafales com um buquê de rosas à mão. Ele queria a comi-da preparada, as crianças arrumadas para a escola e, se possível, um mulher que ajudasse nas despe-sas no final do mês. Ufá... Só de escrever isso já me canso, mas, só hoje penso o quanto era cansativo para minha pobre mãe. Além de tudo isso, ela ainda tinha que sair recolhendo minhas meias, brinque-dos e sapatos espalhados pelos corredores da casa.

Contudo, os tempos mudaram. Os bobes foram substituídos pelos “Baby liss” e o aperfeiçoa-mento dos eletrodomésticos facilitou a vida das do-nas de casa. Entretanto, apesar de todos os avanços da classe feminina, principalmente no que tange a le-gislação, uma coisa não mudou: elas continuam acu-mulando, não somente três, mas, inúmeras funções simultâneas. O grande desafio desse século é superar preconceitos, ser mãe, igualarem seus direitos e ain-da continuarem se preocupando com seus cabelos.

Realmente não é fácil. Diferentemente do passado, hoje, muitas mulheres pensam duas vezes antes de engravidar, por exemplo. Em de-terminados setores, grandes empresas dão prio-ridade a homens, pois sabem que mulher grávi-da pode ser um problema trabalhista no futuro. Como os bons empregos estão cada vez mais con-

corridos, o acúmulo de funções vem se tor-nando um desafio ainda mais árduo para elas.

Para piorar, no que diz respeito as clas-ses mais simples, existem trabalhos que são estereotipados exclusivamente para homens. Alguém já viu uma pedreira? Ou ajudante de pedreira? Encanadora? (até o word sublinhou como uma palavra que não existe). Alguém já viu uma estivadora? Enfim.... podem até ter visto, mas tenho certeza que com raridade.

Mas, apesar de tudo isso, no fundo, o que importa não é qual a profissão, quanto elas ganham ou se conseguiram se igualar ao pa-pel dos homens. Para as mulheres modernas o que importa é o quanto ela está realizada con-sigo mesma. De fato, preconceitos existem. Não só de homens. Muitas mulheres desde-nham outras que optam por largar o emprego para cuidar das crianças e do marido. Elas a vêem como um retrocesso ao gênero. Sem dú-vidas, isso incomoda as que traçaram por esse caminho, mas, definitivamente, não deve ser o fator determinante para uma escolha. Co-erente mesmo é que homens e mulheres com-preendam as mudanças da sociedade. Não é justo que apenas um gênero carregue as res-ponsabilidades que devem ser compartilhadas.

De fato, não se pode criar uma fórmula ou receita de bolo. Para alguns casais é conve-niente que as mulheres assumam as funções do-mésticas e educacionais. Para outros, é oportuno que o homem o faça. De fato, já se foi o tempo dos bobes na cabeça e do malabarismo doméstico. Já não é mais obrigação da mulher assumir múlti-plas funções sozinha. Como disse, não há recei-ta de bolo. Cada casal com sua realidade e suas aplicações. Que deixemos a vida dos vizinhos e dialoguemos sobre a nossa. É quase certeza que a grama deles não está mais verde que a nossa....

A tríplice função: elas e eles

Júnior Figueiredo

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O Outubro Rosa é uma campanha mundial de cons-cientização do câncer de mama, realizado pela primeira vez em 1990. Hoje, o movimento é con-templado por diversas entidades de cuidado e tratamento oncoló-gico, com a finalidade de infor-mar a importância da prevenção e diagnóstico precoce da doença.

Por todo o mundo, em-presas e grandes marcas decla-ram apoio à causa e aproveitam a oportunidade para se destacar no mercado.; educadores e pro-fissionais da saúde realizam pa-lestras e ações sociais simbólicas que levam a campanha à popu-lação. Não faltam homenagens, lacinhos e monumentos enfeita-dos durante o mês cor-de-rosa.

No Maranhão, a ini-ciativa de campanha é da Fundação Antônio Dino, ins-tituição filantrópica, em con-junto com o Hospital do Câncer Aldenora Belo, refe-rência em oncologia no estado.

Assim, durante o mês de outubro, a fundação e o hospital promovem eventos para sensi-

bilizar a sociedade e estimular a participação na luta contra a doença, o segundo tipo de cân-cer mais comum no mundo.

Entre as atividades do Outubro Rosa, este ano, des-tacam-se o ensaio e exposição fotográfica nos shoppings da ca-pital – realizados pela Fundação Antônio Dino em parceria com alunos do Curso de Fotografia Roberto Sobrinho, do Centro de Criatividade do Odylo Costa Fi-lho – e o desfile de encerramento, em 31 de outubro, eventos que buscam resgatar a feminilida-de da mulher mastectomizada.

Previna-se!A ocorrência do câncer

de mama tem se tornado mais frequente a cada ano. No Mara-nhão, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, a taxa esti-mada é de 17,03 casos para cada 100 mil habitantes. Aproveite a campanha para tirar dúvidas:

O que causa o câncer de mama? Na maioria dos casos não há uma causa específica. Há alguns

fatores que estão associados ao aumento do risco de desenvol-ver a doença. A própria idade é um deles, pois a chance aumenta na medida em que se envelhece. Menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade (não ter fi-lhos), primeiro filho em idade avançada, não amamentação e uso de terapia de reposição hor-monal são fatores associados ao risco. Consumo excessivo de álcool, obesidade na pós-me-nopausa e sedentarismo tam-bém. Os fatores hereditários são responsáveis por menos de 10% dos cânceres de mama. O risco é maior quando os paren-tes acometidos são de primeiro grau (pai, mãe, irmãos, filhos).

É sempre possível notar a do-ença por meio do toque nos seios? Não, existe uma fase em que as lesões são do tipo não-pal-páveis. Por isso, é importante a realização de exames frequentes.

Prótese de silicone nos seios pode levar à doença? Não há evidência científica de que exista associação entre im-plantes mamários de silico-ne e o risco de desenvolvi-mento de câncer de mama.

Como é o tratamento de cân-cer de mama? O tratamento deve incluir a opinião de vários especialistas médicos, assim como enfermeira especializada, psicóloga, fisioterapeuta e as-sistente social. Habitualmente, pede cirurgia e é complementa-do pela radioterapia e quimiote-rapia/hormonioterapia. Quando diagnosticado precocemente, tem 95% de chances de cura.

Cor-de-rosa:Campanha mundial de conscientizaçãoLorena Araújo

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“Todos são iguais pe-rante a lei”, assim está disposto na constituição de 1988, porém as posturas adotadas pela socie-dade brasileira não costumam acordar com o que está escrito na carta magna. Assim, as mu-lheres, por exemplo, são postas à margem da sociedade e ex-ploradas de diversas formas.

Estes comportamentos discriminatórios são percebi-dos até mesmo no ambiente de trabalho, ou seja, há uma falsa convenção do que seja emprego para homens e para mulheres, tendo a força física como prin-

cipal diferencial. Além disso, a qualificação ainda não os equi-para, ainda que realizem as mes-mas atividades. “Por mais que as mulheres tenham o mesmo grau de formação que os ho-mens, elas sempre vão ganhar menos, mesmo ocupando os mesmos cargos”, afirma a inte-grante do movimento feminista em São Luís, Stephany Pinho.

Para o professor Inácio Araújo, isso é fruto de um pro-cesso histórico, que começou a ser modificado durante a pri-meira guerra mundial, em que os homens foram obrigados a ir

para as frentes de bata-lha e as mulheres come-çaram a assumir o lugar deles, tanto na família quanto no mercado de trabalho. “Foi nesse pe-ríodo que as mulheres, já inseridas na indústria, fizeram sua primeira de-monstração de insatisfa-ção, onde se reuniram e protestaram por melho-res condições de traba-lho nas fábricas russas, após a morte de centenas de companheiras”, conta.

Com a chegada do sistema capitalista, aconte-ceram diversas mudanças nos processos de produção e orga-nização do trabalho feminino. “Algumas leis passaram a be-neficiar as mulheres. Ficou es-tabelecido na Constituição de 32, por exemplo, que ‘sem dis-tinção de sexo, a todo trabalho de igual valor correspondente salário igual; veda-se o traba-lho feminino das 22 horas às 5 da manhã; é proibido o traba-lho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois; é proibido despedir mu-lher grávida pelo simples fato da gravidez’”, declara o professor.

Atualmente, é cada vez mais evidente que o mundo vem apostando em valores e qualida-des femininas, entre eles o tra-balho em equipe, a persuasão e a cooperação. “Não resta dúvidas de que nos últimos anos a mu-lher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. Este fe-nômeno mundial tem ocorrido tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, e o Brasil não é exceção”, explica

Salários estão desproporcionais ao preparo das mulheresHistória mostra lutas femininas por espaços no mercado de trabalho

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a assistente social e pesquisa-dora do tema, Silvane Magali.

Porém, vale ressaltar, que a ocupação de tantos espaços tem sido acompanhada por uma grande dose de desigualdade salarial. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Catho, empresa de recrutamento e sele-ção de executivos, no Brasil, as mulheres recebem o equivalen-te a 61% do salário dos homens. Elas somam 41% da força de trabalho, mas ocupam somen-te 24% dos cargos de gerência.

Somado a isso, o Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que as mulheres com algum tipo de ocupação formal e assalariada registraram aumento significati-vo nos últimos três anos, 58,5% (619,8 mil pessoas). Em termos salariais, embora em 2012 os ho-mens tenham recebido, em mé-dia, R$2.126,67, e as mulheres, R$ 1.697,30, a pesquisa regis-trou que o salário feminino so-freu um aumento real superior ao masculino: 2,4% contra 2%.

No setor público, as mulheres estão ocupando a maioria dos postos de trabalho. Segundo a pesquisa Central de Empresas (Cempre), divulgada pelo IBGE em março deste ano, 58,9% das pessoas ocupadas na administração pública são mulheres e 41,1% são homens.

Outras pesquisas mos-tram que as mulheres são es-colhidas para a maior parte das novas vagas. Ao mesmo tempo, elas têm se preocupado mais do que os homens com a instrução. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) mostrou que, em 2003, 44,7% das mulheres desocupa-das tinham 11 anos ou mais de

estudo, em 2011, essa proporção aumentou significativamente, alcançando 61,3%. “A ocupa-ção das mulheres no mercado de trabalho cresceu muito na última década. A isso se deve o aumento de escolarização e qualificação”, avalia a Silvane.

É o caso de Patricia Coimbra, que trabalha há oito anos na Prefeitura Municipal de São José de Ribamar (MA), e atualmente compõe a equipe da assessoria de planejamento e gestão de metas, da Secreta-ria Municipal de Administra-ção. Patricia ressalta que a con-quista deste espaço se deu tão somente por seu mérito profis-sional. “Tive muita experiên-cia em diversos cargos, de as-sessora técnica a chefe de setor. Paralelo a isso, me formei em Ciências Contábeis e cheguei à coordenação que hoje ocupo”.

Os números falam de importantes conquistas para elas, como a grande quantidade de emprego assalariado, porém a qualidade das condições de tra-balho nem sempre são as dese-jadas. “É muito complicado pra uma mulher assumir uma função de liderança e, quando ela con-segue, tem que lidar com críticas que não são feitas aos homens. O chefe rígido é só um chefe rí-gido e chato, mas uma mulher é sempre encarada como exagera-da, histérica e rabugenta”, cons-tata a feminista Stephany Pinho.

Nesta perspectiva, a in-dependência financeira foi uma importante vitória para elas, que além das tarefas profissionais acumulam a função de mãe, es-posa e dona de casa. Porém, ape-sar dos esforços e da evolução conquistada, as mulheres ainda precisam lidar com discrimina-

ção e a desigual-dade salarial, o que, sem dúvi-da, é um grande desafio para os próximos anos.

Matheus Coimbra

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As mulheres vêm con-quistando seu espaço na socie-dade. O comportamento femi-nino apresentou significativas mudanças nas últimas décadas. Dos anos 50 até os anos 2000, várias conquistas marcaram a história da mulher na socie-dade passando de boa dona de casa a presidente do Brasil. Porém a emancipação femi-nina foi conseguida aos pou-cos e por meio de muita luta.

Na década de 50 a tra-dição e os valores conserva-dores eram predominantes, as mulheres casavam cedo e ti-nham filhos. A mulher dessa época, além de cuidar da casa, ser boa esposa e mãe, deveria estar sempre bela e bem cui-dada. Ao analisar revistas dos anos 50 é comum observarmos frases como “O lugar da mulher é no lar, o trabalho fora mascu-liniza” (Revista Querida, 1955).

No entanto é importan-te destacar que em 1951 foi apro-vada pela Organização Interna-cional do Trabalho, a Igualdade de Remuneração entre o traba-lho masculino e feminino para função igual, que foi um grande avanço para os direitos femini-nos. Porém, a igualdade de salá-

rios até hoje não foi totalmente conquistada pelas brasileiras.

Já os anos 60 foram marcados por uma grande con-quista: o surgimento da pílula anticoncepcional. Graças à pí-lula o comportamento sexual feminino tornou-se mais libe-ral e a mulher passou a escolher não ter filhos. O Movimento Feminista se fortaleceu com as ideias da norte americana Bet-ty Friedan e deram início a um movimento de autonomia e profissionalização feminina. As mulheres ousaram pela primeira vez, se vestir com roupas mascu-linas, como o smoking. E a can-tora Elis Regina usou pela pri-meira vez uma minissaia na TV.

O estilista Yves

Saint Laurent,foi o pri-meiro a dar de presente

um smoking às mulheres, em 1966

Também na década de 60 foi sancionado o Estatuto da Mulher Casada, que garantiu que a mulher não precisava mais de autorização do marido para trabalhar, receber herança e em caso de separação ela poderia requerer a guarda dos filhos.

Nos anos 70, houve um crescimento da participação fe-minina no mercado de trabalho. A incorporação das mulheres foi ocasionada pelo crescimen-to econômico do país. Surgiram ainda novos grupos de mulheres que buscavam discutir a ques-

Mulheres exercem os mais altos cargos. Foto: Reprodução

A mulher e seupapel na sociedade

Erika Alves

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tão da condição feminina. E a partir de 1979, começam a ser organizados encontros com o objetivo de discutir os direitos e o papel da mulher na sociedade.

As mulheres dessa épo-ca trabalhavam fora, mas o mer-cado de trabalho ainda era bem restrito. Segundo a professo-ra aposentada, Creusa Pereira, “as mulheres geralmente estu-davam para ser professora, fa-ziam o curso Normal que hoje equivale ao ensino médio”.

Os anos 80 foram mar-cados pela luta do movimento feminista contra a violência às mulheres e pelo princípio de que os gêneros são diferentes, mas não desiguais. Em 1988, a Constituição Federal consagrou, pela primeira vez na história do país, a igualdade de gêne-ro como direito fundamental

. Movimento feminista no Brasil

A década de 90 foi um marco na história da mulher no mercado de trabalho, pois esta conseguiu mais espaço e direitos e se mostrou tão capaz quanto o homem de exercer qualquer ta-refa. No entanto, mesmo quando são mais instruídas ganham me-nos que os homens. Mas, no que diz respeito à liberdade as mu-lheres passaram a ser mais livres até para se vestir com roupas masculinas como, o bermudão.

Mulheres exercendo os mais altos cargos

Já nos anos 2000 o per-fil das mulheres é bem diferen-te daquele da década de 50. Ela

O estilista Yves Saint Laurent foi o primeiro a dar de presente um smoking às mulheres, em 1966. Foto: Reprodução

ocupa altos cargos, que antes eram ocupados somente pe-los homens, além de ser mãe e dona de casa. A mulher também passou a ter mais instrução, e mesmo com a discriminação em relação ao trabalho feminino ga-nhou respeito mostrando profis-sionalismo. Outra grande con-quista da mulher foi a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, que visa proteger as mulheres vítimas de abuso e agressão.

Ao longo dos últimos 60 anos as mulheres consegui-ram mudar de forma significa-tiva o seu papel na sociedade, porém ainda precisam reverter algumas desigualdades, como a salarial entre os homens. No entanto já provaram que são capazes de provocar profundas mudanças no curso da história.

Movimento feminista no Brasil. Foto: Reprodução

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O vestuário já teve diversas funções ao longo da história da humanidade, como proteger o homem do frio, indicar distinção social e hoje é um meio de expres-são individual e coletivo. Essa capacidade de expressão se intensificou a partir da dé-cada de 50, quando a moda foi democratizada devido a uma série de acontecimentos.

A década de 1950 é uma das épocas mais glamou-rosas! Época que finda a guer-ra mundial e o racionamen-to de cosméticos e tecidos.

Quando todos previam simplicidade e conforto, Chris-tian Dior, em 1947, propôs o luxo através do “new look” que revolucionou a moda e marcou a volta da feminilidade,. De si-lhueta marcada e decotes, as

mulheres abusavam em vesti-dos e saias rodadas, confeccio-nados com metros de tecido.

Também investiam nos acessórios, como lu-vas, joias, cintos finos, lenços amarrados no pescoço, salto alto, chapéu, batom verme-lho, olhos marcados com deli-neador e máscara para cílios.

As primeiras calças fe-mininas foram criadas nesse pe-ríodo, entretanto, as mulheres que as usavam eram julgadas de-vido ao estereótipo de que a cal-ça era somente roupa de homem. Demorou para que o preconceito fosse superado, mas, ao ser dei-xado de lado, a calça virou febre.

O luxo foi um elemen-

Christian Dior, fundador do New Look, 1947

Julianne Saraiva

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to essencial nessa déca-da: a alta costura atingiu seu auge através do cine-ma. Os maiores nomes da época foram Marilyn Monroe, Audrey Hepburn e Grace Kelly, intitula-das as divas da década.

As personagens do cinema tinham como características a inde-pendência e coragem, em contraste com a mulher de 1950, cuja função era ser uma bela e boa dona de casa, esposa e mãe.

A moda na atua-lidade é vista como: “nada

se cria, tudo se reinventa”, ou seja, as tendências de hoje são, na verdade, releituras da moda de décadas atrás.

Portanto, o que se usa hoje pode ser considerado de extremo bom gosto e, daqui a um tempo, pode não ser mais.

Esse “vai e vem” da moda é normalmente inten-sificado pelo momento em que vive a sociedade. As mu-danças constantes de conceito do corpo, do gosto e da opi-nião na moda são caracterís-ticas que marcam a transição de uma tendência à outra.

Hoje a exposição do corpo é muito mais abordada e observada na moda. A pro-cura pela sensualidade, ele-gância e sofisticação é nítida quando se fala de “modismo”.

A frase “tudo que é bonito, é pra se mostrar” faz referência à permissivi-dade da mulher na pós-mo-dernidade, tendo em vista a

Marilyn Monroe à esquerda, Audrey Hepburn acima e Grace Kelly abaixo

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valorização da mulher em seu aspecto mais feminino.

A variedade de es-tilos, por sua vez, é uma questão que envolve a perso-nalidade do indivíduo e a ten-dência a qual ele se adequa.

Anos 50 A feminilidade era

expressa através dos vesti-dos e conjuntos amplos, na altura das canelas, com a cintura extremamente mar-cada. Acessórios não pode-riam faltar, como chapéus, luvas, joias e claro, salto alto estava sempre presente.

Anos 60Nessa época o uso

de vestidos do tipo trapézio, com linhas retas, geométricas e românticas, se tornaram os preferidos entre as mulheres. Entre elas, a primeira modelo estrela, Twiggy (na foto acima).

Anos 70Explosão de cores, bri-

lho e estampas psicodélicas. O movimento Hippie surgiu, jun-tamente com as discotecas, com o propósito de uma revolução comportamental. Considera-da a “era do individualismo”, os anos 70 ficou marcado pelas roupas artesanais, cabelos com-pridos e diversos acessórios.

ANOS 50

ANOS 60

ANOS 70

LINHA DO TEMPO DA MODA

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Anos 80As roupas ao estilo hi-

ppie da década anterior dão lu-gar às proporções avantajadas. O exagero (penteados volumo-sos, joias grandes, chapéus gran-des e bolsas grandes) era marca registrada. Foi o grande marco e popularização da moda, com so-breposição de roupas rodeadas por um cinto, uso de roupas de ginásticas e muitas cores alegres.

Anos 90O ciclo da moda é encer-

rado, todos os anos se misturam em um só. Não havia mais tribos urbanas ou identidade ideológi-ca, nessa época a personalidade do indivíduo decide o que vai vestir. Roupas largas, xadrez, es-tampas, jeans, cintura alta, meia-calça, cabelos soltos, tudo se une.

Anos 2000Temos a releitura de

peças e tecidos existentes desde o iníicio do século, como por exemplo, a silhueta marcada e o decote, salto alto, maquiagem e joias. Há quem segue a tendên-cia da moda, seguindo a moda da estação ou look do momento, e também quem adota um estilo próprio, sem regras ou rótulos.

ANOS 80

ANOS 90

2000

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Impossível imaginar a vida sem um cre-mezinho, um batonzinho, um perfume. Vida sem rímel e delineador? Tão impossível que as egípcias, há milhares de anos antes de nós, já ti-nham seus estojinhos de maquiagem e cosmé-ticos entre seus pertences mais valiosos. O que seria do olhar perfeito se não fossem as egípcias, aliás? Ah, Cleópatra, temos um segredinho para compartilhar com você: os cosméticos evoluíram e se naquela época, com os recursos disponíveis, você já era considerada a mulher mais bonita do mundo, imagine o que seria de você hoje? Podia não ser a mais bela, porque a concorrência está braba, mas seria certamente a rainha da vaidade.

Não é à toa que minha nécessaire se chama Cleópatra! Todos os itens que carrego comigo são essenciais, mas vou mostrar aque-les segredinhos responsáveis pelos meus cílios longos e volumosos, minha pele sequinha, ra-diante, sem manchas e viçosa e meus lábios de matar Angelina Jolie de inveja. Prontas?

Item de necessidade básica núme-ro um na minha vida: rímel. Quis a nature-za que meus cílios naturais fossem curtos, ra-los e castanhos claríssimos, quase loiros. Não dá pra ter um olhar fatal assim, né? Para tape-ar a natureza, eis o segredo: rímel High Im-

O que vai na nécessaire

pact Extreme Volume da Clinique. Custa uma pequena fortuna (R$ 95,00), mas vale cada centavo. O olhar de boneca é garantido.

Para a maquiagem do dia-a-dia, a in-venção do milênio, sem dúvida, é o BB Cre-am. Essa base com protetor solar que ainda por cima hidrata e trata a pele tem todos os atributos para ser beatificada pelo Vaticano. O da marca L’Oreal é imbatível. Custa R$ 30,00. Tão bom que não precisava ser tão barato.

O envelhecimento precoce e o tom de-sigual da pele exposta ao sol são dois problemas que ataco com um produto simples: Bio Oil, da PurCellin Oil. Outro produto de trinta dinhei-ros. É um óleo natural. Mas, ao contrário do que possa parecer, ele não deixa o rosto parecendo com uma frigideira. O produto é todo absorvi-do rapidamente pela pele. Os poros dilatados começam a se reduzir com quatro semanas de uso. A pele ganha um tom radiante e aqueles pés de galinha chatos, típicos dos 30 e poucos anos, são empurrados para a próxima década.

Li-Chang Shuen

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Depois de lavar o ros-to com um bom gel de lim-peza, a pele fica pedindo um tônico. A L’Occitane en Pro-vence tem um tônico incrível de nome chique em francês: Eau Radieuse Face Toner, com extrato de Angélica e óleos es-senciais. O cheiro é suave, não queima a pele e prepara pra receber o creme reparador Creme Radieuse, da mesma linha Angélica. O tônico cus-ta R$ 30,00 (versão de 50ml) e o creme R$ 175,00 (50ml).

Os lábios requerem cuidados especiais em nosso país de clima tropical. Para evitar ressecamentos ainda não inventaram batom me-lhor que os da linha Renew da Avon. Os meus variam entre o nude e o vermelho-quase-vinho. Ok, batom da MAC é legal, mas não hidrata tan-to quanto o Renew. O preço fica em torno de R$ 40,00.

A beleza vale cada centavo que você investir nela.

Máscara para cílios High Impact Extreme Volume da Clinique, R$ 95,00

BB Cream L’Oreal, R$ 30,00

Bio Oil, da PurCellin Oil, R$ 30,00

Tônico e creme reparador faciais, L’Occitane en Provence, R$ 30,00 e R$ 175,00

Batons Avon, linha Renew

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Ana Paula Arósio está de volta!

Hora de matar as saudades da talentosa Ana Pau-la Arósio. Previsto para chegar aos cinemas em outu-bro de 2015, A Floresta que se Move, novo filme de Vi-nicius Coimbra, contará com a presença da bela. A atriz volta ao trabalho após uma pausa de quatro anos.

30 anos de BBNo dia 28 de setem-

bro Brigitte Bardot completou oitenta anos. A atriz tornou-se um mito por sua beleza e autenticidade e mudou toda uma geração. Há mais de trinta anos, luta em causas pelo bem-estar dos animais.

Noiva EncantadaJá pensou entrar no altar trajando um vesti-

do baseado na sua princesa favorita? É possível. A Dis-ney lançou recentemente uma linha que usa como inspiração as personagens do mundo encantado.

São oito modelos, de diferentes tecidos e textu-ras, baseados nas personalidades de cada princesa. Tem para todos os gostos: desde a corajosa Ariel, de A Peque-na Sereia, até a simpática Tiana de A Princesa e o Sapo.

VOLTA & MEIAArlíria Frazão

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Melhore sua vida ouvindo música

E se fosse possível usar apenas a música como um remédio para aliviar a ansiedade, ajudar na memorização de um trabalho, diminuir a depressão ou manter a cal-ma no trânsito? De acordo com o livro Sua playlist pode mudar sua vida, escrito pela psiquiatra Galina Mindlin, ouvir as canções favoritas e algumas melodias primiti-vas (sons de cachoeira, folhas de árvores balançando ao vento), é importante para ter uma vida mais equilibrada.

Abstenção pode gerar vício

Cuidado com dietas restritivas, como aquelas que pregam eliminar o glúten ou o açú-car. Existe o risco de desenvolver compulsão ali-mentar após o final da dieta, ou seja, ficar viciada naqueles alimentos que foram vetados. Lembre que os inimigos da saúde são o sedentarismo, o estresse e uma alimentação desequilibrada.

A it-bag Le Pliage Heritage está chegando

A bolsa Le Pliage Heritage, da Longchamp, encantou as famosas lá no hemisfério norte. As atri-zes Katie Holmes e Jessica Alba e a fashionista Ale-xa Chung já foram fotografadas desfilando com seus modelos coloridos. Lançada em setembro, a it-bag de couro liso da marca francesa desembarca no Bra-sil nas próximas semanas e custará R$ 3.240,00.

Crianças correm riscos na internet

Compartilhar as atividades dos filhos nas redes sociais é muito comum nos dias atuais. Porém, é necessário certo cuidado ao divulgar imagens das crianças na internet. Sequestro, pedofilia, buylling e roubo estão entre os principais riscos. Evite pos-tar fotos das crianças sem roupa, usando o unifor-me da escola ou na frente da casa em que mora.

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Domingo, nove horas da manhã, no auge da clareza do dia, onde o céu é tão azul e o sol tão amarelo que pare-cem pintados à mão, Dulce está sentada na cadeira de ba-lanço do quarto pouco se importando com as cores do sol e do céu lá fora. Com a TV desligada, o rádio desligado e as janelas fechadas para bloquear o som, ela está em um silên-cio melódico e profundo. Silêncio armado para poder ouvir o telefone tocar. Nada pode atrapalhar o barulho do telefo-ne. Ele precisa soar alto e estridente pelo cômodo inteiro.

Está esperando uma notícia. Não desgrudou do telefone desde a noite anterior e muito menos co-chilou na cadeira enquanto esperava. Teve medo de fe-char os olhos e por conseguinte os ouvidos. Imagi-na se o telefone toca e ela está dormindo? Que tragédia!

Dulce está ansiosa, nos últimos dias tem andando de um lado para o outro com a sensação de que as horas não passam nunca. Uma aflição. No começo, o relógio também parecia não colaborar, tudo era lento. Cada movimento, cada progresso, era uma novidade e ao mesmo tempo uma ânsia. Por que demora-va tanto? Por que não podia ver logo o resultado daquilo tudo? Ela se perguntava, totalmente esquecida das leis da natureza.

Ela continua ali com os tímpanos atentos enquanto lembranças resgatam o momento em que ela soube por uns papéis carimbados que não poderia gerar seus próprios fi-lhos. Foi uma dor tão dilacerante quanto perdê-los já cresci-dos. No entanto, infelizmente, eles não haviam nem nascido.

Dulce sonhava com suas crianças brincando no jardim da casa, arrumadas para o primeiro dia na esco-la, abrindo seus presentes na noite de Natal e via uma

Sabryna Mendes

O Telefone

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felicidade imensa nisso. Quando soube que não po-deria engravidar caiu em prantos, não quis saber das al-ternativas, queria nascer de novo e apta para ser mãe.

O tempo foi passando, Dulce se acostumou, mas não se conformou, achava a vida muito injusta até o dia que sua irmã apareceu e apresentou uma ideia que mu-daria tudo: ter seus filhos no seu lugar. Mas como? Iria to-mar seu marido emprestado? Não, não. Ciência. Tecnolo-gia. Modernidade. Sua irmã, dotada de toda a generosidade que só uma irmã pode ter, emprestaria sua barriga magra e bem cuidada para ter os filhos que Dulce tanto queria.

Um gesto de amor incalculável.Deram início aos procedimentos e em pouco tempo

estava tudo pronto: começava a contagem regressiva para o nascimento. Durante o primeiro mês tudo parecia intacto e Dulce, mãe de primeira viagem, ficava preocupada: ele não vai crescer logo? Um misto de agonia e ansiedade que aos poucos ia chegando ao fim. Ninguém sabia ao certo quan-do o bebê ia chegar, mas as expectativas eram enormes.

Na última semana, Dulce foi enviada para uma outra cidade a trabalho. Pensou em recusar porque sabia que seu filho ia nascer logo, logo, e queria estar por perto. Mas não podia, se recusasse, perdia o emprego. Então no terceiro dia de viagem, o bendito telefone tocou avisando que sua irmã entrara em tra-balho de parto. Justo quando ela estava longe. Agora estava ali, sentada, esperando novamente pela voz no outro lado da linha que diria entre sorrisos o que ela queria ouvir há tanto tempo.

Mais uma olhadinha no relógio, uma checada para ver se tudo estava funcionando, e nada. Então decidiu ligar ela mesma e o que ouviu foi a mesma coisa das últimas quatro vezes: “Ainda não, Dulce. Vamos ligar assim que ele chorar pela primeira vez.”

Miguel. Já tinha escolhido o nome antes mesmo de saber que não poderia criá-lo em seu próprio ventre. Um nome lindo, homenagem ao avô. Queria que seu fi-lho fosse um homem bom e íntegro, como ele: um exemplo.

Miguel estava demorando demais. Dulce se balança pra frente e para trás, confere os movimentos, vai até a co-zinha, toma um copo d’água, abre a geladeira, fecha a gela-deira, volta para a sala, senta na cadeira, checa o telefone, volta a se balançar. No primeiro impulso, um som invade o quarto de uma parede a outra por um décimo de segundo, porque Dulce sequer deixa o toque se completar. Do outro lado, uma voz doce e materna tal qual ela teria dali pra frente:

- Nasceu, minha querida. Nasceu.

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