Saúde Informa Nº 14

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 14 - Ano II - Belo Horizonte, setembro de 2011 Página 3 E studo realizado junto ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Pública da Medicina revela: quase metade das vítimas de homicídio pesquisadas havia consumido drogas ilícitas an- tes de morrer. Considerando também o álcool, o percentual ultrapassa 60%. Drogas e homicídios 6 CONGRESSO O indivíduo, a mídia e a promoção da saúde 4 CENTENÁRIO A história dos fundadores da Faculdade de Medicina ENTREVISTA Pós-graduação precisa ultrapassar fronteiras 7 Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMGNº 14 - Ano II - Belo Horizonte, setembro de 2011

Página 3

Estudo realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Medicina

revela: quase metade das vítimas de homicídio pesquisadas havia consumido drogas ilícitas an-tes de morrer. Considerando também o álcool, o percentual ultrapassa 60%.

Drogas e homicídios

6CoNGRESSoO indivíduo, a mídia e a promoção da saúde

4CENTENÁRIoA história dos fundadores da Faculdade de Medicina

ENTREVISTAPós-graduação precisa ultrapassar fronteiras 7

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Colaboração fundamental

A questão das dro-gas está em plena discus-são. Mídia, especialistas, população e autoridades reconhecem que este é um tema urgente a ser re-solvido no Brasil. Assim, a pesquisa apresentada na seção de Divulgação Científica é mais do que oportuna. Trata-se da análise de todos os homi-cídios ocorridos de 2004 a 2007 em Betim, cidade de grande porte da Região Metropolitana de BH. Num universo com mais de mil óbitos, a maioria das vítimas havia consu-mido drogas lícitas ou ilí-citas. Os resultados levam a uma série de reflexões que podem orientar polí-ticas conjuntas de Saúde e de Segurança Pública.

Ademais, esta edição é especial pela contribuição do público. A reportagem sobre os fundadores da Faculdade de Medicina nasceu do comentário enviado por um visitante. Ele queria saber de quem eram as assinaturas na parede do hall de entrada. Do mes-mo modo, a ideia de falar sobre internacionalização e pós-graduação partiu do próprio professor Manoel Otávio, ouvido na seção Entrevista. Tudo isso prova o quanto as opini-ões são importantes para o Saúde Informa. Partici-pe também!

Boa leitura!

Editorial Saúde do português

O conteúdo desta coluna é de responsabi-lidade do autor. Contribua para a ‘Saúde do Português’. Envie sua sugestão ou opinião

para [email protected].

Publicação

The Spleen (e-book)

Editado pelo professor Andy Pretroia-nu, do Departamento de Cirurgia, o livro ele-trônico, inédito, reúne estudos sobre o baço, principal órgão de defesa do corpo humano. São 15 capítulos escritos pelos especialistas em baço de maior proeminência em todo o mundo. As informações compreendem as áreas básica, clínica e cirúrgica, de interesse para estudantes de Medicina, clínicos, hema-tologistas, oncologistas, anatomistas e cirurgi-ões. O conteúdo está distribuído em mais de 500 páginas, em inglês, com centenas de ilus-trações. Ed. Bentham Science Publishers.

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No número 13, página 8, informa-mos que Hilton Rocha liderou a equipe responsável pelo primeiro transplante de córnea no Brasil. Agradecemos ao profes-sor Nassim Calixto, que apontou o que ele chama de “equívoco histórico” na notí-cia: “o primeiro transplante de córnea em Belo Horizonte parece ter sido realizado pelo Prof. J. Santa Cecília em 1932 na San-ta Casa”, afirma Calixto. Segundo ele, em 1932, Hilton Rocha não era nem mesmo formado e, portanto, não poderia ter feito a cirurgia pioneira.

Erramos

Latinismos

O uso de termos latinos é desne-cessário quando existe tradução para o Português. Termos anatômicos, embrio-lógicos e até mesmo de algumas doen-ças têm a sua tradução nos diversos di-cionários da Língua Portuguesa. Assim, no meio médico, sempre que possível, também devem ser trocados. Abdomen/abdome, pubis/pube, sui generis/exclusivo. Dentre outros efeitos adversos, seu uso pode causar incompreensão e apreensão aos pacientes. O professor titular João Amílcar Salgado, da Clínica Médica, cria-dor do Centro de Memória, que o diga. Ao tornar-se docente, Amílcar levara seus alunos para sua primeira corrida de leito, na Santa Casa. Com seus óculos de aros grossos e negros, cumprimenta e se apresenta ao paciente, portador de gra-ve psoríase. Algo assustado, o paciente recosta-se ao leito. João Amílcar ques-tiona o médico assistente. “Por que não realizar a limpeza diária da pele com soro fisiológico, antes de nova aplicação da pomada?” A resposta: “quod abundant non nocet” (o que é abundante não faz mal). Espanto geral. João Amílcar, com tra-ço de malícia e humor, reage. ”Como?”. Com ar professoral, o assistente repete: “quod abundant non nocet”. O paciente, com os olhos arregalados, pula do leito e grita: “Na minha bunda, não doutor!”. Então, caso não haja preocupação com o Portu-guês, melhor evitar os termos latinos, ao menos para evitar confusões.

Washington Cançado de AmorimProfessor do Departamento de Ginecologia e

ObstetríciaSua participação é muito importante para o Saúde Informa. Envie críticas e

sugestões para jornalismo@medicina.

ufmg.br.

Opinião

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/JP) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Léo Rodrigues e Marcus Vinicius dos Santos – Estagiários: Fernanda Campos, Fernando Maximiano, Lucianna Furtado, Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 2.000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

Expediente

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Pesquisa investiga uso de drogas em vítimas de homicídio

Entre mais de mil assassinados, quase metade usava drogas ilícitas. Somando-se os que consumiram somente álcool, o percentual ultrapassa 60%

Victor Rodrigues

Divulgação Científica

Setembro de 2011

Título: Drogas e vulne-rabilidade à morte por homicídios: um estudo em uma área urbanaAutora: Márcia DayrellNível: MestradoPrograma: Saúde Públicaorientadora: Profª Waleska Caiaffa Defesa: 27/05/ 2011

Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

Uma análise das necropsias de 1010 vítimas de homi-cídios ocorridos em Betim, na Região Metropolita-

na de Belo Horizonte, entre 2004 e 2007, revela que 43% apresentavam traços de cocaína ou maconha no sangue. O percentual de vítimas com presença de drogas ilícitas na corrente sanguínea é mais que o dobro do verificado entre as que apresentaram apenas álcool - 19%. A pesquisa foi realizada pela epidemiologista Márcia Dayrell, junto ao pro-grama de pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG.

“Este é um dos primeiros trabalhos desse tipo no Brasil”, afirma a professora orientadora da pesquisa, Wa-leska Caiaffa, da equipe de coordenação do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte (OSUBH), que fun-ciona na Faculdade. Para a autora, Márcia Dayrell, esse é um passo importante para mudar a maneira como os siste-mas de saúde e de segurança pública se relacionam. “A vio-lência é vista hoje como um problema apenas da segurança pública. Mas a saúde sempre discutiu a questão da droga. É importante que também se preocupe com o contexto no qual ela se insere”, afirma.

Um fato preocupante apontado pela pesquisadora, do ponto de vista do conhecimento sobre a circunstância das mortes, foi o percentual de 15% sem a realização dos exames. Isso sugere que o momento do óbito pode ter ul-trapassado o período previsto para detecção das drogas no indivíduo e, portanto, uma importante circunstância ficou desconhecida. Estes óbitos que não foram examinados também apresentaram perfis muito peculiares: a maioria ocorreu em estabelecimentos de saúde e, relativamente aos outros grupos, havia um maior contingente de mulheres. “Talvez pressuponham uma menor probabilidade da mu-lher usar droga”, avalia a epidemiologista.

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Importância da informaçãoA pesquisa alerta para a importância dos sistemas de

informação, uma vez que esse foi justamente um dos obs-táculos encontrados no desenvolvimento do estudo. “Fi-cou evidenciada a falta de cuidado e de preocupação com o valor desses dados”, observa a autora. Ela reafirma que as informações podem ser úteis para a análise e planejamento de ações e políticas na área da saúde e da segurança pública no país.

Márcia Dayrell defende ainda a continuidade do es-tudo como forma de buscar respostas para algumas das questões levantadas com o ma-terial disponível até o momento. “Se aprofundássemos a análise seria possível tentarmos enten-der, por exemplo, características sociais de populações mais afe-tadas por esse problema, dentre outras informações importantes para entender como se dá a con-figuração da violência dentro de um território”, explica.

Márcia Dayrell: “Ficou evidenciada a falta de cuidado e de preocupação com o valor desses dados”

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Centenário

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Nomes da nossa históriaConheça os homens que fundaram a Faculdade de Medicina da UFMG há 100 anos

Larissa Nunes

“Basta de doutores” foram as palavras empregadas pelo Jornal do Comércio, em uma edição de março

de 1911, para, duramente, combater o projeto de criação da escola que hoje é conhecida como a Faculdade de Me-dicina da UFMG. Com base em argumentos de que o país precisava do máximo de “observação e experiência” e do mínimo de “teoria”, sociólogos, jornalistas e outros estu-diosos se opuseram ao ensino médico na capital mineira. Treze homens, porém, foram determinantes para mostrar que as escolas do Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul já não eram suficientes para atender à demanda de mé-dicos do país. Conheça mais sobre cada um dos fundado-res da Medicina da UFMG, na ordem das assinaturas:

1 - Cícero Ribeiro Ferreira Primeiro diretor e um dos nomes mais importantes

para a criação da Faculdade de Medicina da UFMG. Nela instalou, em 1918, um hospital de emergência, durante a Gripe Espanhola. Foi diretor de Higiene Municipal e um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia.2 - Alfredo Balena

Nascido na Itália, foi diretor da Faculdade de Me-dicina por quase vinte anos. Entre 1933 e 1935, não pôde ocupar o cargo por ordem legal, já que o exercício de di-reção pública não era permitido a brasileiros não-natos. Em sua homenagem, batizaram o órgão de representação estudantil de Diretório Acadêmico Alfredo Balena.3 - Eduardo Borges da Costa

Segundo registro da Sociedade Brasileira de História da Medicina, Borges da Costa atendeu à maioria dos casos de urgência cirúrgica de Belo Horizonte nas três primeiras décadas do século XX. Em 1918, foi para a Europa, como membro da Missão Médica Brasileira na Primeira Guerra Mundial. Também foi diretor da Faculdade de Medicina entre 1920 e 1926.4 - Hugo Werneck

Foi o responsável por introduzir, na Santa Casa de Belo Horizonte, modernas normas de higiene e assepsia. Também contribuiu para alertar a população sobre o alto índice de morbimortalidade materna e fetal e sobre a ne-cessidade da criação de uma maternidade na Santa Casa, o que ocorreu em 1916.5 - Antônio Aleixo

Primeiro a apontar para a necessidade de criação de uma biblioteca na Faculdade de Medicina. Assumiu o cargo de diretor no período de afastamento de Alfredo Balena, entre março de 1933 e maio de 1934.

6 - Olyntho Deodato dos Reis Meirelles Prefeito de Belo Horizonte entre 1910 e 1914, tam-

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Nomes da nossa históriaConheça os homens que fundaram a Faculdade de Medicina da UFMG há 100 anos

Larissa Nunes

bém assumiu o cargo de diretor da Faculdade de Medicina durante o afastamento de Alfredo Balena, de maio de 1934 a junho de 1935. Em seguida, tornou-se vice-diretor.7 - Samuel Libânio

Nasceu em Pouso Alegre, no sul de Minas, e gra-duou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1905. Foi responsável pela criação do hospital que leva seu nome, em sua cidade natal, quando era diretor de Higiene do Estado de Minas Gerais. 8 - Cornélio Vaz de Mello

Primeiro vice-diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, no mandato de Cícero Ferreira. Um dos membros da comissão que aprovou o plano de criação de uma escola médica em Belo Horizonte.9 - Ezequiel Caetano Dias

Atendendo a um desejo do pai, formou-se em Far-mácia para, depois, tornar-se médico. Como discípulo do sanitarista Oswaldo Cruz, chegou a Belo Horizonte para dirigir uma filial do Instituto Manguinhos (atual Fundação Oswaldo Cruz). Publicou vários artigos em jornais da im-prensa mineira. 10 - Octávio Machado

Foi relator do estatuto de fundação da Faculdade de Medicina da UFMG. O jornal Minas Gerais, em 10 de de-zembro de 1914, faz uma homenagem ao professor, faleci-do no dia anterior, chamando-o de “médico das crianças”. 11 - Zoroastro Rodrigues de Alvarenga

Professor responsável pela primeira aula na Faculda-de de Medicina, da disciplina de Física Médica. Conforme relato do jornal “Estado”, que fez a cobertura da aula inau-gural, ele era um “emérito professor” com “grande método e admirável clareza de exposição”.12 - Honorato Alves

Destacou-se pela luta política em Minas Gerais. Em 1916, quando a primeira turma de Medicina deveria ter os cursos de Clínica Oftalmológica e de Clínica Otorrinola-ringológica, ele estava impedido de exercer a docência. Na época, ocupava o cargo de deputado federal, que exerceu entre 1906 e 1929. Para preencher a vaga, um concurso foi aberto.13 - Aurélio Pires

Mesmo sem ter sua assinatura registrada em ata, foi reconhecido com um dos fundadores e um principais atu-antes para a criação da Faculdade de Medicina da UFMG. Usando pseudônimo, rebateu inúmeras críticas e argumen-tos contrários à criação da escola. “Ele manteve o assunto aceso, mesmo com toda a oposição”, aponta Ajax Pinto Ferreira, coordenador do Centro de Memória da Faculdade de Medicina da UFMG.

Da esquerda para a direita, sentados: Cornélio Vaz de Mello, Edu-ardo Borges Ribeiro da Costa, Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues, Olyntho Deodato dos Reis Meirelles. De pé: Honorato Alves, Hugo Furquim Werneck, Zoroastro Alvarenga, Antônio Aleixo, Samuel Libânio, Ezequiel Dias, Alfredo Balena, Octávio Machado e Aurélio Pires.

Curiosidades

• No quadro de fundadores da Faculdade de Medicina, uma ima-gem intriga. Entre Samuel Libânio e Ezequiel Dias, há um vulto, que pode ser percebido ao olhar a imagem de lado, na claridade. A hipótese é de que uma pessoa possa ter sido apagada.

• No saguão da Faculdade de Medicina da UFMG, estão, em monumentos de bronze, as assinaturas dos 13 fundadores da instituição. O último nome a ser incluído no painel foi de Aurélio Pires, que só foi reconhecido como fundador em 2006.

• Por várias vezes, ao defender a criação de um curso médico em jornais, Aurélio Pires usou o pseudônimo “Avérrhoes”. A escolha pode ter sido uma referência ao filósofo e médico árabe, que vi-veu no século 12, também conhecido por essa alcunha.

• No último relatório anual como diretor da Medicina, em 1919, Cícero Ferreira escreveu: “É assim que se vence na vida; é da soli-dariedade que surge a força, e é a boa harmonia que conquista o acatamento social. Lembremo-nos sempre destas verdades...”. Ele morreu em 1920.

• As primeiras referências sobre a necessidade de criação de um curso de Medicina em Minas Gerais datam de 1879. Em 1801, foi criada, em Vila Rica, atual Ouro Preto, uma cadeira de “Cirurgia, Anatomia e Arte Obstetrícia”.

• Fontes: Cinquentenário da Faculdade de Medicina da Uni-versidade Federal de Minas Gerais (1961); Revista do Ar-chivo Público Mineiro (1927); Revista Médica de Minas Ge-rais (v.21). www.sbhm.org.br www.medicina.ufmg.br www.historal.kit.net www.fiocruz.br www.univas.edu.br

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“Internacionalizar é investir em nós mesmos”Coordenador do Centro de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da UFMG, o professor Manoel Otávio da Costa Rocha fala sobre a contribuição de parcerias com universidades de outros países

Léo Rodrigues

Entrevista

Setembro de 2011

Qual é a importância de desenvolver um processo de internacionalização das universidades brasileiras?Quando estabelecemos contato com outros modos de tra-balhar, de encarar a disciplina do estudo e de desenvolver o profissionalismo acadêmico, nós também criamos um ambiente acadêmico mais fértil. Então, mesmo que tenha-mos núcleos de excelência, não significa que podemos nos fechar para o mundo. Pelo contrário, o trabalho se desen-volve mais quando estabelecemos parcerias. Não defendo uma ação subserviente. Não se pode aceitar a condição de simplesmente fornecer os dados para eles fazerem estudos. A interna-cionalização é uma troca, uma parce-ria acadêmica.

As grandes universidades dos EUA, como Columbia, Harvard, Stanford e Cambridge, contam com cerca de 20% de graduandos e pós-graduandos estrangeiros. No Brasil, as universidades que mais recebem estudantes de ou-tras nacionalidades têm em torno de 2%. A que razão se pode atri-buir essa diferença?Eles têm esta abertura porque há interesse acadêmico, político e tam-bém econômico. Se você estuda Radiologia na Alemanha, qual equi-pamento radiológico você vai usar quando voltar pro Brasil? Siemens, claro! Isso acontece, mas eu acho que nós temos que cultivar também o princípio de fraternidade e solidariedade, sobretudo com os países de língua portuguesa: Timor Leste, Moçambique, Cabo Verde, etc. Nós temos obrigação moral com esses países em função da importância deles na formação étnica e cultural do Brasil. Temos que ter essa vontade política. Obviamente também existe o interesse acadêmico nessa relação. Angola, por exemplo, é um país rico de recursos naturais, mas não tem recursos humanos. Isso precisa ser desenvolvido pela academia. Ao dar essa contribuição, nós aumentamos a expressão da UFMG.

E qual a melhor estratégia para aumentar o número de alunos estrangeiros nas universidades brasileiras?É preciso ter mais visibilidade, mostrar o portfólio, a qua-lidade do corpo docente, as linhas de pesquisa, o tamanho da universidade, etc. Tem que investir em divulgação. É isso que Havard faz. O nosso site, por exemplo, tem que ter versões em inglês, espanhol e português. A diretoria da Faculdade já está cuidando disso.

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A política de diversas grandes universidades envol-ve a concessão de bolsas de estudo aos estrangeiros. Qual é o retorno de oferecer bolsas de estudo pra uma mão de obra que não irá atuar no país?Eles vão usar os seus produtos e também serão agentes da sua cultura. O estudante que cria um vínculo no Brasil automaticamente vira um agente cultural, faz propaganda, ajuda a abrir portas e oportunidades para o nosso país. Isso tem impacto do ponto de vista político, econômico e acadêmico. Isso é investimento dos mais baratos.

Qual o principal ganho para o ensino de se ter, nos departamen-tos, professores de diferentes ori-gens?Não podemos ter endogenia demais. Nós temos que valorizar as boas pessoas que se formam aqui. Mas também é importante balancear as equipes com gente de fora. Muitas boas universidades se caracterizam por essa diversidade. Elas não estão preocupadas com a origem dos pro-fessores. Desde que o professor seja bom, pode ser qualquer um. Grande parte do desenvolvimento dos EUA foi devido a essa política. Mesmo em momentos de acirrada disputa política, os EUA foram pragmáticos e aceitaram pesquisadores de ponta vindos de países considerados ini-migos. O Canadá é outro exemplo. Eles pegam produto formado de

várias partes do mundo. Já imaginou quanto custa você formar um professor doutor experiente e com linha de pesquisa estabelecida? Então, o Brasil precisa valorizar os seus docentes e, ao mesmo tempo, estimular a vinda de professores estrangeiros.

Recentemente, o Centro de Tecnologia em Saúde (Cetes) da Faculdade de Medicina organizou uma defesa de tese por videoconferência, proporcionando a participação de um professor estrangeiro. Qual a importância disso?É você dar uma visão não provinciana. Porque quando se trabalha com a mesma equipe há muito tempo, existe sem-pre o risco de se criar uma ideia fechada. Você constrói a crítica sempre dentro de uma mesma lógica. Um docente de outro espaço acadêmico e outra realidade cultural apre-senta uma nova visão e fomenta a reflexão.

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Leia a entrevista na íntegra no www.medicina.ufmg.br

“O Brasil precisa valorizar os seus docentes e, ao

mesmo tempo, estimular a vinda de professores

estrangeiros”Professor Manoel otávio

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Centenário

Promoção da saúde começa no plano individualCiência, arte e religião podem levar ao equilíbrio necessário para uma vida saudável

Colaboração: Lucianna Furtado

Alimentação saudável, lazer, espiritualidade. Alguns dos pilares da promoção da saúde, que levam a uma vida

equilibrada e ao bem-estar individual, começam justamen-te no plano pessoal. “A ideologia da promoção da saúde nasceu na concepção do indivíduo. As campanhas públicas de conscientização e intervenção só serão eficazes se tive-rem uma repercussão direta na vida das pessoas”, avalia o professor da Faculdade de Medicina, João Gabriel Marques Fonseca.

O assunto será discutido no Eixo 6 do 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG: Programa de Promoção de Saúde na Perspectiva dos In-divíduos, coordenado por João Gabriel. “A ideia é mostrar o ponto de vista desse indivíduo, o conjunto de ações que podem ser executadas, o que cada um pode fazer”, explica.

As relações entre espiritualidade e saúde serão debatidas em três perspectivas diferentes – ciência, arte e religião. Haverá também uma discussão em torno da im-portância da inclusão do lazer e da atividade física para a saúde física e mental. O eixo contará ainda com relatos de experiências de sucesso na conscientização de modos de vida saudáveis.

PalestrantesOs aspectos nutricionais dos hábitos saudáveis de

vida serão apresentados por Gisele Araújo, coordenadora do curso de Nutrição do Uni-BH, juntamente com Márcia Rocha Parizzi, coordenadora de Atenção à Saúde da Crian-ça e do Adolescente da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.

A médica e professora Luciana Fornari, da Uni-versidade de São Paulo, trará experiências de intervenção familiar relativas ao tabagismo e outras situações de risco cardiovascular, com medidas educativas para as crianças, que cobram hábitos saudáveis dos pais.

A professora Maria Betânia Parizzi, da Escola de Música da UFMG, abordará os benefícios da música no bem-estar e na saúde do indivíduo, ao lado da professora Maria Yuka de Almeida Prado, do Departamento de Músi-ca da Escola de Comunicações e Artes da USP.

O médico e músico João Gabriel coordenará os debates sobre a saúde do indivíduo

O jornalista Gilberto Boaventura é o coordenador do eixo Mídia e a Promoção da Saúde

Mídia e a Promoção da SaúdeNa primeira edição do Congresso Nacional de Saúde da Facul-dade de Medicina da UFMG, em 2008, um dos eixos de discus-são era sobre o papel da mídia na promoção da saúde. Agora, em 2011, a proposta do eixo 7, Mídia e a Promoção da Saúde, avança para a análise da cobertura midiática, sobretudo em momentos recentes de epidemias, como as da gripe H1N1 e da dengue.

Serão abordados temas atuais, a exemplo do uso das redes sociais digitais como instrumentos de propagação da promo-ção da saúde, assim como o papel das assessorias de comu-nicação social das instituições da área na reação durante os momentos de crise. Serão apresentadas ainda experiências realizadas na televisão, seguidas de debates. Uma das parti-cipações já confirmadas é da editora-chefe do programa Bem Estar, da Rede Globo, Patrícia Carvalho.

De acordo com o coordenador do eixo, o jornalista Gilberto Boaventura Carvalho, à frente da Assessoria de Comunica-ção Social (ACS) da Faculdade de Medicina, a intenção é reunir, no mesmo eixo, profissionais das áreas da Comunicação e da Saúde. “A ideia é incentivar o diálogo entre esses profissionais, que vivem fatores como tempo e linguagem diferentes, mas que precisam chegar a um entendimento para poder informar a população”, explica.

PatrocinadoresO 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de

Medicina da UFMG será realizado entre os dias 2 e 5 de novembro, no Minascentro, em Belo Horizonte. Simulta-neamente, será realizada a 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana (ICUH 2011), sediada pela primeira vez na América Latina. Informações e inscrições: www.medicina.ufmg.br/congressosaude

O Congresso tem como patrocinadores platinum o Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde de Mi-nas Gerais, Prefeitura de Belo Horizonte, Sicoob Credicom e Amil; como patrocinadora diamante, a Unimed. O evento também conta com o apoio do Banco BMG, União Bra-sileira de Qualidade (UBQ), Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) e a cooperativa Cemil.

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Estudantes

Encontro de gerações no DAABConfraternização foi oportunidade de refletir sobre a representação estudantil

Fernando Maximiano

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O Diretório Acadêmico Alfredo Balena promoveu um encontro com os inte-

grantes de todos os tempos do DA, os cha-mados DAABs. O evento, realizado na tarde do sábado, 20 de agosto, foi organizado com o objetivo de promover a troca de experiên-cias entre gerações. O encontro superou as expectativas do coordenador geral da atual gestão, Guilherme Lima. “A intenção era esse reencontro, mas também, convidar todos a participarem dos projetos do curso”, explica. “Aproveitamos o momento para compartilhar as memórias dos integrantes e preencher as la-cunas históricas do diretório”, conta.

Acontece

Festival CulturalO DAAB remarcou para 24 de setembro o Festival Cultural em comemoração ao Cen-tenário da Faculdade de Medicina. A festa será no Chevrolet Hall. Ingressos à venda no saguão de entrada da Faculdade e na bilhete-ria da casa de eventos.

HomenagemO Centenário das facul-dades de Medicina, de Farmácia e da Escola de Engenharia da UFMG foi lembrado em uma reunião especial da Câ-mara Municipal de Belo Horizonte, no dia 31 de agosto. A homenagem foi proposta pelo vere-ador Tarcísio Caixeta.

JornadaA Jornada Acadêmica de Doenças Infectopa-rasitárias (Jadip) será realizada nos dias 4, 6 e 7 de outubro, das 18 às 22h, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina. Inscrições: www.cur-soseeventos.ufmg.br.

MedCineO filme Caminhos da Vida (Dodes’Ka-Den), de Akira Kurosawa, será a atração da tradicional sessão de cinema da Medicina, no dia 28 de setembro. A sessão começa às 18h, no an-fiteatro Amílcar Viana (sala 34 da Faculdade). Após a exibição, haverá debate com o professor Leonardo Diniz, da Clí-nica Médica.

Desejo dos DAABs é que este seja o primeiro de muitos encontros

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Além de Guilherme, as alunas Clarice Coimbra e Brenda Godói participaram da or-ganização da festa. “Graças a esta equipe, as discussões aconteceram de forma que a histó-ria dos acadêmicos da Faculdade de Medicina pudesse ser disposta para todos conhecerem”, diz.

Segundo o atual coordenador, o ponto forte do encontro foram os relatos sobre o im-pacto da representação estudantil na vida de cada um. “Eles falaram de suas experiências e sobre o que representou o DAAB na vida de-

les. Foi emocionante”, lembra. No momento em que a atual administração finalizou as apre-sentações dos projetos, os membros honorá-rios, antigos integrantes do diretório, foram convidados a expor suas opiniões.

Sebastião de Araújo, diretor social do DAAB nos anos de 1959-60, saiu de longe para estar presente. “Moro em São Paulo e quando recebi o convite não tive dúvidas, cla-ro que iria participar”, revelou. “A sensação de fazer parte deste encontro é indescritível”, dis-se. Já Gustavo Lima, da turma de 2009, contou que reunir todos os membros do DA era um desejo antigo. “Ver todos reunidos aqui por

um objetivo em comum é fantástico”, afirma. “Essa é uma oportunidade para que os alunos possam compreender a importância da repre-sentação estudantil para a vida acadêmica”, avalia.

Ao que tudo indica, o projeto terá con-tinuidade. “Só através de eventos assim que tanto os membros honorários quanto os atuais poderão ter uma representação ativa em defe-sa dos interesses dos profissionais médicos”, afirma Guilherme Lima. “Todos adoraram. Esse encontro precisa acontecer novamente”.