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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
A CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DA AVALIAÇÃO COMO PRINCÍPIO ORIENTADOR DA APRENDIZAGEM ESCOLAR
MARINGÁ
2012
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A CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DA AVALIAÇÃO COMO PRINCÍPIO ORIENTADOR DA APRENDIZAGEM ESCOLAR
Olinda Evangelista da Silva1
Darlene Novacov Bogatschov2
Resumo
Este artigo teve como objetivo contribuir com reflexões para subsidiar a prática da avaliação escolar dos professores na sua função diagnóstica, formativa e somativa. Participaram da proposta de intervenção 20 (vinte) docentes do Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira – Ensino Fundamental e Médio. A implementação contou com 08 (oito) encontros, perfazendo um total de 32 horas, para cumprimento das exigências do Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (PDE/PR). O desenvolvimento da proposta envolveu discussões em grupo, explicitação oral, apresentação de vídeos, dinâmicas, leituras e compreensão de textos. Concluiu-se que a avaliação diagnóstica e formativa ao contrário de pensar na classificação atua no sentido do desenvolvimento qualitativo da aprendizagem que faz parte das mudanças preconizadas pela nova LDB, bem como da DCEs - Paraná. Das discussões realizadas, os professores demonstraram compreender que a avaliação escolar, quando pensada na perspectiva diagnóstica, formativa e somativa englobam as alternativas diferenciadas como parte de um processo de construção de uma pedagogia democrática. Esta percepção implica numa mudança radical na lógica que conduz às práticas de avaliação que supõe substituir a lógica da exclusão e que se baseia na homogeneidade inexistente; pela lógica da inclusão, fundamentada na heterogeneidade real, portanto, entendida como um princípio democrático norteador da aprendizagem escolar.
Palavras-chave: Avaliação democrática, aprendizagem escolar, prática docente.
1 Introdução
Ao assumir o desafio de refletir a respeito da avaliação da aprendizagem é
importante ampliar os conhecimentos, buscando compreender as concepções de
1 Graduada em Pedagogia. Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná.
2 Professora da Universidade Estadual de Maringá UEM
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avaliação numa perspectiva formativa, na tentativa de superar práticas pedagógicas
reprodutivistas e conservadoras respaldadas no senso comum.
É necessário buscar subsídios teórico-práticos que orientem uma reflexão
diante do fazer e do pensar em avaliação, para a tomada de consciência sobre o
significado e natureza desse processo que contribua para o desenvolvimento e
aprendizagem dos alunos na perspectiva da transformação.
A experiência como profissional tem revelado uma contradição entre os
discursos dos professores e a prática da avaliação desenvolvida na escola pública. É
comum verificar uma contradição entre uma prática idealizada da avaliação “[...]
auferida em tinturas de teorias mais atuais e progressistas – e a realidade cotidiana
das escolas, condicionadas, estruturalmente, pelo sistema de promoção e seriação
e, conjunturalmente, pelas péssimas condições concretas de trabalho” (ROMÃO,
1999, p.55).
Com base nessa compreensão, observa-se a necessidade de conduzir os
docentes à reflexão, ao estudo e aprofundamento dos conceitos e práticas da
avaliação da aprendizagem escolar na concepção elencada pelas Diretrizes
Curriculares para a Educação Básica (DCEs) do Estado do Paraná de 2006. Nessa
concepção, a avaliação escolar tem função diagnóstica, formativa e somativa.
Na perspectiva elencada pelas DCEs (PARANÁ, 2006), a avaliação da
aprendizagem escolar é uma questão política atrelada às finalidades do projeto
educativo da escola. Com esse propósito, a avaliação não pode ser concebida de
forma isolada, uma vez que abarca uma concepção de homem, de educação e de
sociedade. Nesse entendimento, a avaliação da aprendizagem relaciona-se e até
mesmo reflete as relações sociais vigentes. Por isso, repensar a avaliação implica
uma reflexão crítica acerca da prática pedagógica desenvolvida na escola e de sua
função social.
Compreender as implicações da problemática da avaliação escolar é o
grande desafio proposto para esta implementação no Programa de Desenvolvimento
Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (PDE/PR) realizada
no período de 2010 e 2011 em parceria com a Universidade Estadual de Maringá
(UEM).
A reflexão das contradições reveladas no discurso e na prática avaliativa
dos professores do Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira – Ensino Fundamental e
Médio da cidade de Maringá – Paraná, objetiva contribuir com reflexões para
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subsidiar a prática da avaliação escolar dos professores na sua função diagnóstica,
formativa e somativa.
Assim sendo, primeiramente tecemos considerações sobre o histórico da
avaliação escolar, a prática da avaliação escolar e o seu caráter democratizador,
com destaque na função da avaliação escolar na perspectiva, diagnóstica, formativa
e somativa. Na sequência, demonstramos os encaminhamentos metodológicos do
estudo proposto. Posteriormente, apresentamos os resultados e discussões da
proposta de implementação realizada junto ao público alvo da pesquisa. Por fim,
ilustramos as conclusões sobre o estudo.
2 Avaliação da Aprendizagem Escolar
O conceito geral de avaliação tem sofrido transformações significativas
desde a sua mais remota aplicação, há quase um século. Quando empregada e
dimensionada no contexto do desenvolvimento do capitalismo industrial, a prática
avaliativa reduziu-se a mensuração da aprendizagem, uma vez que a escola foi
reduzida a uma entidade produtiva, isto é, as escolas passaram a ser vistas como
fábricas, os alunos como matéria-prima, e os conceitos pedagógicos, filosóficos, e
sociológicos foram submetidos a uma razão técnica.
Do ponto de vista metodológico, segundo Chueiri (2008), as escolas
desenvolveram, durante largo período, uma avaliação em que predominou a aferição
da inteligência e do desempenho do aluno apoiada na psicometria. Decorre dessa
função a representação da avaliação pela medida3. Enquanto processo centrado no
educando e em suas respostas imediatas frente a situações de uma aprendizagem
3A concepção de avaliação como processo de medida teve sua origem no início do século XX, nos Estados
Unidos, com os estudos de Thorndike acerca dos testes educacionais. Tais estudos prosperaram muito e resultaram no desenvolvimento de testes padronizados para medir habilidades e aptidões dos alunos. Paralelamente, há de se considerar, no início do século XX, a contribuição da Psicologia à avaliação educacional. Essa contribuição pode ser vista sob dois ângulos. O primeiro diz respeito aos testes psicológicos, com base nos estudos de Sperman (1904, 1907, 1913) sobre a Psicometria, e de Binet e Simon (1905), que criaram o primeiro teste de inteligência para crianças e adulto. Essa possibilidade de mensuração de comportamentos por meio de testes propiciou a expansão de uma cultura dos testes e medidas na educação (CHUEIRI, 2008).
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restrita, a avaliação apenas testava a sua capacidade de reprodução de conteúdos e
regras “transmitidos” em classe pelo professor.
Nesse mesmo quadro, os processos avaliativos foram burocratizados dentro
de uma lógica pretensamente científica. A avaliação foi, então, reduzida a um
instrumento de controle, isto é, de conferência de resultados obtidos frente a
objetivos fixos, previamente definidos pelo sistema (CHUEIRI, 2008).
Ainda sob a conotação de medida, a avaliação assumiu em seu objetivo
outros aspectos que até então haviam sido “negligenciados”. Desafiados a explicar o
fracasso dos educandos, muitos estudiosos instalaram uma pauta de pesquisa que
avaliava a interferência de fatores externos sobre aqueles resultados. Para Menezes
e Santos (2002), as questões relativas à avaliação tem se dividido entre a avaliação
“externa” que tem sido imposta em nosso sistema educacional e considera mais
aspectos administrativos padronizados e a avaliação “interna” que se dá no espaço
da sala de aula e que tem mobilizado os docentes para as mudanças qualitativas de
suas ações pedagógicas.
Enquanto variações desse paradigma da avaliação como medida, foram
implantadas e avaliadas experiências pedagógicas que contribuíram para modificar o
ambiente escolar para obter um êxito possível. Nessa oportunidade, foram
introduzidos os modelos de pesquisa experimental, voltados ao controle de variáveis
externas no processo de ensino-aprendizagem individual e em grupo (CERVI, 2008).
No Brasil, particularmente, conforme Menezes e Santos (2002), na última
década, surgiu um intenso debate em torno do lugar da avaliação escolar, uma vez
que ela estaria perdendo a sua dimensão pedagógica e metodológica e assumindo
crescentemente a dimensão de controle.
Dessa forma, a avaliação no processo de ensino e aprendizagem passou a
ser considerado um tema delicado por possuir implicações pedagógicas que
extrapolam os aspectos técnicos e metodológicos e atinge aspectos sociais, éticos e
psicológicos importantes. A prática avaliativa poderia tanto estimular, promover,
gerar avanço e crescimento, quanto desestimular, frustrar, impedir o avanço e
crescimento do sujeito que aprende.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 inovou a prática
avaliativa por tratar a frequência e a avaliação do rendimento escolar em planos
distintos, passando a prever a avaliação "contínua e cumulativa do desempenho do
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos
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resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais". Algumas regras
forçaram a mudança do sentido que se atribuía à avaliação, orientando para não
mais uma avaliação com vistas a promover ou reter alunos, mas uma avaliação que
permita: “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado."
A partir de então, a avaliação tem assumindo importância crescente em
todos os domínios, incluindo o campo da educação. Com a LDB, os objetivos da
avaliação escolar diversificaram-se e esta prática tem sido colocada no centro de
discussões e debates em busca de resultados que norteiem uma política pública em
educação.
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) n. 9.394/96, o sistema de avaliação rigoroso e opressivo de notas parciais
e médias finais passou a priorizar uma educação voltada para as dimensões
cognitivas, afetivas, psicomotoras e sociais, entendendo o aluno como um sujeito em
constante processo de desenvolvimento (BRASIL, 1996).
Essa concepção rompe com a concepção de avaliação que pune e exclui o
aluno em direção a uma concepção de progresso e desenvolvimento da
aprendizagem que faz parte das mudanças implementadas nas escolas brasileiras
nos últimos anos e está entre as inovações preconizadas pela LDB. Os critérios que
devem ser observados em relação à verificação do rendimento escolar apontam uma
inovação da prática da avaliação e se encontram assim explicitados na nova
legislação:
a) a avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; d) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos (ANDRÉ; PASSOS, 2005, p. 185-186).
As informações elencadas pela LDB contemplam de certa maneira, as
propostas que vêm sendo apresentadas e discutidas na literatura. Estudiosos
contemporâneos como Vasconcellos (1994); Cappelletti (1999); Romão (1999);
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Luckesi (1995); Hoffmann (2001); Esteban (2003) demonstram a preocupação em
superar o viés tradicional e classificatório das práticas avaliativas no âmbito escolar,
retornando-as em seu sentido qualitativo, portanto, democrático, ético, de juízo
consciente de valor, de respeito às diferenças de compromisso com a aprendizagem
para todos e a formação da cidadania.
Na perspectiva democratizante da educação, os princípios pedagógicos da
identidade, diversidade, autonomia, interdisciplinaridade e contextualização
constituem o eixo principal na organização do currículo, assegurando, com isso, a
sua adequação às necessidades dos alunos e do meio social (BRASIL, 1998). Isto
significa apontar para um procedimento dos conteúdos de forma globalizada,
valorizando as experiências do cotidiano dos alunos, permitindo a práxis educativa e
dando significado às aprendizagens realizadas na escola.
O Conselho Estadual de Educação, do Estado do Paraná, no uso de suas
atribuições e tendo em vista o que consta da Indicação n.º 001/99, das Câmaras de
Ensino Fundamental e Médio evidencia que:
Art. 1° - A avaliação deve ser entendida como um dos aspectos do ensino pelo qual o professor estuda e interpreta os dados da aprendizagem e de seu próprio trabalho, com as finalidades de acompanhar e aperfeiçoar o processo de aprendizagem dos alunos, bem como diagnosticar seus resultados e atribuir-lhes valor. § 1° - A avaliação deve dar condições para que seja possível ao professor tomar decisões quanto ao aperfeiçoamento das situações de aprendizagem. § 2°- A avaliação deve proporcionar dados que permitam ao estabelecimento de ensino promover a reformulação do currículo com adequação dos conteúdos e métodos de ensino. § 3°- A avaliação deve possibilitar novas alternativas para o planejamento do estabelecimento de ensino e do sistema de ensino como um todo. Art. 2° - Os critérios de avaliação, de responsabilidade dos estabelecimentos de ensino, devem constar do Regimento Escolar obedecida a legislação existente. Parágrafo Único - Os critérios de avaliação do aproveitamento escolar serão elaborados em consonância com a organização curricular do estabelecimento de ensino. Art. 3° - A avaliação do aproveitamento escolar deverá incidir sobre o desempenho do aluno em diferentes situações de aprendizagem. 1° - A avaliação utilizará técnicas e instrumentos diversificados. § 2° - O disposto neste artigo aplica-se a todos os componentes curriculares, independente do respectivo tratamento metodológico. § 3.º - É vedada a avaliação em que os alunos são submetidos a uma só oportunidade de aferição. Art. 4°- A avaliação deve utilizar procedimentos que assegurem a comparação com os parâmetros indicados pelos conteúdos de ensino, evitando-se a comparação dos alunos entre si.
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Art. 5° - Na avaliação do aproveitamento escolar deverão preponderar os aspectos qualitativos da aprendizagem, considerada a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade dos conteúdos Parágrafo único. Dar-se-á relevância à atividade crítica, à capacidade de síntese e à elaboração pessoal, sobre a memorização. Art. 6. - Para que a avaliação cumpra sua finalidade educativa deverá ser contínua, permanente e cumulativa.
Com esse propósito, as DCEs (Paraná, 2008) fazem menção à importância
da avaliação diagnóstica, formativa e somativa entendendo que uma concepção de
avaliação, também passa pela máxima de que o ensinar se desenvolve em função
do aprender, mediante relacionamento interativo entre professor e aluno, em que
cumpre ao professor o papel de estimulador e facilitador da aprendizagem e ao
aluno o de ser sujeito, partícipe e construtor desse processo.
2.1 A Prática da Avaliação Escolar
A prática avaliativa na escola assinala novos encaminhamentos teóricos e
práticos, conferindo um novo papel ao educador (avaliador) no processo que passa
a influenciar e sofrer influências do contexto avaliado. “O que passa a conferir ao
educador uma grande responsabilidade, por considerá-lo indelevelmente
comprometido com o objetivo da avaliação e com a sua própria aprendizagem do
processo de avaliar” (HOFFMANN, 2001, p. 16).
O ato de avaliar pode contribuir decisivamente para o estabelecimento de
uma autoavaliação por parte do professor, a qual, por vezes, torna-se tão necessária
quanto à heteroavaliação. Um processo avaliativo representa para o professor e
para o aluno uma oportunidade ímpar de obtenção de elementos para reflexão sobre
a prática pedagógica docente e sobre a construção da aprendizagem dos alunos.
Segundo Haydt (2004):
Avaliar é, basicamente, comprovar se os resultados desejados foram alcançados, ou, melhor dizendo, verificar até que ponto as metas previstas foram atingidas. Há, portanto, uma relação íntima entre avaliação e fixação de objetivos. É a partir da elaboração do plano de ensino, com a definição dos objetivos que norteiam o processo ensino-aprendizagem, que se
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estabelece o que e como julgar os resultados da aprendizagem dos alunos. Por isso, os objetivos devem ser formulados claramente e de forma operacional para que sejam um guia seguro na definição do que avaliar e na escolha e elaboração dos instrumentos mais adequados de avaliação (HAYDT, 2004, p. 21).
Ainda, na visão de Romão (1999):
A avaliação implica desiderabilidade, sendo, portanto, subjetiva, porque referenciada em valores de determinada época, sociedade ou classe social. Os padrões desejáveis são construídos a partir de interesses, aspirações, projeções e ideais de grupos socialmente definidos. Ou seja, os padrões reproduzem o caráter ideológico dos objetivos educacionais de determinado sistema (ROMÃO, 1999, p. 81).
Além de possibilitar a identificação do nível de desempenho, de rendimento
e de produção do aluno, a avaliação da aprendizagem escolar pode imprimir maior
qualidade no relacionamento entre professor e aluno. Assim pensando, a
aprendizagem é um processo bilateral em que professor e aluno aprendem, sendo o
aluno o principal agente da aprendizagem – centram-se nele as atividades de
ensino, respeitadas suas competências, capacidades e habilidades (CAPPELLETTI,
1999). Para a autora, a avaliação escolar contribui para julgar o que quer que seja e
também para intervir e, neste sentido, “encontra-se intimamente articulada com o
processo de decisão.
Para que a avaliação seja uma crítica do percurso, é necessário que todos os envolvidos num projeto estejam com “a mesma camisa”, como se diz. Estar com a mesma camisa não significa ser “vaca de presépio”, que bate a cabeça dizendo “sim” a tudo; significa, sim, estar envolvido na construção de um projeto comum e, para isso, contribuir, analisando, observando pontos de estrangulamento, sugerindo, se comprometendo. O diretor, como líder de um processo, deverá trabalhar para coordenar essa dinâmica de construção da crítica. Claro, por vezes haverá rupturas num processo de construção da ação. Então, temos de ter a clareza de compreender que a ruptura não se constrói uma ação dimensionada, mas que se redimensiona uma forma nova de agir. As rupturas existem e existirão. Precisamos saber administrá-las, para retirar delas o que há de positivo (LUCKESI, 1995, p. 117-118).
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Pensando nisso, a concepção de avaliação escolar também passa pela
máxima de que o ensinar se desenvolve em função do aprender, mediante
relacionamento interativo entre professor e aluno, em que cumpre ao professor o
papel de estimulador e facilitador da aprendizagem e ao aluno o de ser sujeito,
partícipe e construtor desse processo.
A escola constitui-se em um espaço caracterizado pela diversidade. Assim
sendo, experiências diversas e realidades humanas complexas se constituem em
diferentes discursos que se cruzam no cotidiano de alunos e professores, pondo em
diálogo os conhecimentos produzidos a partir de várias perspectivas. A polissemia,
conforme o entendimento de Esteban (2003) surge como um fator marcante das
interações estabelecidas, entrando em confronto com uma estrutura pedagógica que
prevê e propõe o pensamento único.
A avaliação escolar carece de análise organizada para dar resposta à
dinâmica do processo ensino e aprendizagem e da evidente necessidade de
reconstrução do processo de avaliação como parte de um movimento articulado pelo
compromisso com o desenvolvimento de uma prática pedagógica comprometida
com a inclusão, com a pluralidade, com o respeito às diferenças, com a construção
coletiva. Como processo de construção coletiva:
A avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação, essa que nos impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua realidade e acompanhamento, passo a passo, do educando, na sua trajetória de construção do conhecimento. Um processo interativo, através do qual educandos e educadores aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade escolar no ato próprio da avaliação (HOFFMANN, 1993, p. 18).
Dentro dessa visão, em que ação impulsiona a novas reflexões, pressupõe-
se que avaliar implica em formar e aprender, possibilitando ao aluno construir o
próprio saber, contemplando dimensões diferenciadas que não se reduz somente na
atribuição de notas.
A perspectiva qualitativa da avaliação escolar, segundo a visão de Esteban
(2003):
Forja novos olhares para o movimento de construção de conhecimentos, indica outros caminhos para o processo ensino/aprendizagem, sinalizando
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uma perspectiva interessante para ser repensar a avaliação: o abandono da classificação dos conhecimentos já consolidados, e a busca dos processos emergentes, em construção, que podem anunciar novas possibilidades de aprendizagem de desenvolvimento. Põe o diálogo no centro do processo ensino/aprendizagem e joga a luz sobre as pontes que conectam os territórios artificialmente isolados (ESTEBAN, 2003, p. 19-20).
Por tudo isso, a avaliação pressupõe a ação de planejar e de executar.
Pode-se simplificar a compreensão da avaliação, definindo-a como o processo de
conhecer e julgar a relação entre metas estabelecidas, recursos, empenhos e
resultados obtidos pela administração e por professores e alunos em uma dada
situação de trabalho na instância pedagógica. Esse conhecimento serve para
tomada de decisão das intervenções que regulam e aperfeiçoam a função escolar
sob a inspiração de planos e projetos educacionais formalizados. “Com tal definição,
a avaliação educacional compromete-se com processos de mudança planejada”.
(CERVI, 2008, p.75).
A avaliação como instrumento para a formação é uma ferramenta necessária
ao ser humano no processo de construção dos resultados que o professor pensou
produzir, constituindo-se em processo para a reelaboração da ação, fazendo parte
do modo de agir e, por isso, precisa ser planejada.
A execução do planejado não é mecânica. É dinâmica e pode sofrer alterações e adaptações na medida em que os dados da própria execução venham a exigi-las. Por exemplo, se um conjunto de alunos não possui os mecanismos de assimilação de um conteúdo novo, há que se tornar a decisão de criar essas condições, se que efetivamente que os educandos aprendam, pois sem os pré-requisitos eles não terão como aprender (LUCKESI, 1995, p. 148-149).
O autor supracitado compreende que a efetivação precisa se constituir em
uma maneira de possibilitar a construção dos resultados esperados, não apenas
pela realização do processo planejado, mas também por meio do re-processamento
das atividades a partir de decisões tomadas em consequência de avaliações. A
avaliação viabiliza o acompanhamento e reorientações do processo de constituição
de resultados esperados.
Assim sendo, a execução de um planejamento é entrelaçada por
procedimentos de avaliação, “[...] tomadas de decisão, reorientações etc. A
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execução do planejamento deve ser uma forma de construção dos resultados
esperados e, para tanto, precisam ser utilizados todos os meios disponíveis”.
(LUCKESI, 1995, p. 149).
Para melhor compreensão sobre a prática de avaliação, a seguir apresenta-
se reflexões sobre a avaliação diagnóstica.
2.2 Avaliação Diagnóstica
A avaliação diagnóstica envolve a descrição, a classificação e a
determinação do valor de algum aspecto do comportamento do aluno. Contudo,
propósitos particulares a tornam distinta das outras formas.
Como processo diagnóstico, Luckesi (1995) comenta que a avaliação se faz
presente não só na identificação da perspectiva político-social, como também na
seleção de meios alternativos e na execução do projeto, tendo em vista a sua
construção. Para o autor, a avaliação diagnóstica é compreendida como saída do
modo autoritário de agir na prática educativa e como instrumento auxiliar na
construção de uma educação a favor da democratização da sociedade.
Assim como é constitutivo do diagnóstico médico estar preocupado com a melhoria da saúde do cliente, também é constitutivo da avaliação da aprendizagem estar atentamente preocupada com o crescimento do educando. Caso contrário, nunca será diagnóstica (LUCKESI, 1995, p.82).
A avaliação diagnóstica está relacionada a uma metodologia do diagnóstico.
Uma forma de diagnosticar, no entendimento de San’tanna et al (1988), consiste em
determinar o grau em que o aluno domina os objetivos previstos para iniciar uma
unidade de ensino, uma disciplina ou um curso. Outra forma é verificar se existem
alunos que já possuem o conhecimento e habilidades previstos a fim de orientá-los a
outras oportunidades e novas aprendizagens.
A avaliação da aprendizagem na escola tem como objetivo auxiliar o aluno
no processo de desenvolvimento pessoal, a partir do processo de ensino e
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aprendizagem, dando respostas à sociedade pela qualidade do trabalho educativo
realizado. “A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só então),
ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário
(LUCKESI, 1995, p. 172-173). Com esse propósito de um lado a avaliação da
aprendizagem objetiva auxiliar o aluno:
[...] ajudando-o na apropriação dos conteúdos significativos (conhecimentos, habilidades, hábitos, convicções). A avaliação, aqui, apresenta-se como um meio constante de fornecer suporte ao educando no seu processo de constituição de si mesmo como sujeito existencial e como cidadão. Diagnosticando, a avaliação permite a tomada de decisão mais adequada, tendo em vista o autodesenvolvimento e o auxílio externo para esse processo de autodesenvolvimento (LUCKESI, 1995, p. 174)
Por outro lado, na visão do autor, a avaliação da aprendizagem responde a
uma necessidade social. A escola tem a incumbência de educar as novas gerações,
devendo dar respostas adequadas a tal função. Na perspectiva enunciada pelo
autor, a avaliação escolar articula-se com o coletivo, não somente no sentido de
estar a serviço da sociedade, mas, sim, da responsabilidade que a escola deve ter
em relação a individualidade do aluno e com o coletivo social.
Avaliar na concepção diagnóstica, para Esteban (2003) é:
[...] deixa de significar fazer um julgamento sobre a aprendizagem do aluno, para servir como momento capaz de revelar o que o aluno já sabe, os caminhos que percorreu para alcançar o conhecimento demonstrado, seu processo de construção de conhecimentos, o que o aluno não sabe, o que pode vir a saber, o que é potencialmente revelado em seu processo, suas possibilidades de avanço e suas necessidades para que a superação, sempre transitória, do não saber, possa ocorrer (ESTEBAN, 2003, p. 53).
A avaliação diagnóstica é aquela realizada no início de um curso, período
letivo ou unidade de ensino, com a intenção de constatar se os alunos apresentam
ou não o domínio de pré-requisitos necessários, isto é, se possuem os
conhecimentos e habilidades imprescindíveis para as novas aprendizagens. É
também utilizada para caracterizar eventuais problemas de aprendizagem e
identificar suas possíveis causas, numa tentativa de saná-los (HAYDT, 2004).
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A avaliação escolar como diagnóstico corresponde a um ato de acolhimento,
pois:
O acolhimento integra, o julgamento afasta. Todos necessitam do acolhimento por parte de nós mesmos e dos outros. Só quando acolhidos, nos curamos. O primeiro passo para a cura é a admissão da situação como ela é. Quando não nos acolhemos ou não somos acolhidos, gastamos nossa energia nos defendendo e, ao longo da existência, nos acostumamos às nossas defesas, transformando-as em nosso modo permanente de viver. Em síntese, o ato amoroso é acolhedor, integrativo, inclusivo. Definido a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo (LUCKESI, 1995, p. 172-173).
Assim, é preciso compreender os limites e possibilidades presentes nos
discursos e nas práticas que caracterizam o cotidiano da escola púbica, tendo em
vista a efetivação de uma prática de avaliação que contribua para a valorização da
relação sujeito/conhecimento, que carregue a marca do processo ação/reflexão que
se revele comprometida com a apropriação crítica e significativa dos saberes
históricos e socialmente construídos pelo homem (PARANÁ, 2006).
A avaliação escolar deve permear todo o processo de ensino e
aprendizagem e se for entendida em todas as suas dimensões - avaliação do aluno,
do professor e da escola, possibilitará ajustes que contribuirão para que a tarefa
educativa seja realizada com sucesso. É fato que avaliar a aprendizagem do aluno
significa, ao mesmo tempo, avaliar o ensino oferecido na escola. Assim, se não
houver a aprendizagem esperada, estamos diante de uma certeza - o ensino não
cumpriu sua finalidade – a de fazer aprender (HOFFMAN, 2001).
Cabe aos professores, portanto, responsabilizarem-se não pelo aluno como
pessoa, mas pelo conhecimento que lhe oportunizam, bem como pela reação e pela
mudança comportamental que provocam nele como ser social. Assim sendo, a
prática pedagógica do professor deve contribuir no sentido de que essa reação e
mudanças comportamentais ocorram a seu tempo e em ritmo adequado.
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2.3 Avaliação Formativa
A avaliação formativa objetiva a identificação de insuficiências principais em
aprendizagens iniciais, necessárias à realização de outras aprendizagens,
oferecendo elementos para prover a orientação e a organização do processo de
ensino e aprendizagem em etapas posteriores de aprendizagem corretiva ou
terapêutica, devendo ocorrer frequentemente durante o ensino. Essa modalidade de
avaliação quando bem realizada, contribui para assegurar que a maioria dos alunos
alcance o objetivo desejado (SAN’TANNA et al., 1988).
Na visão de Afonso (2003, p. 92), a avaliação formativa oferece a
possibilidade de:
[...] acompanhar os alunos passo a passo, permitindo ajudá-los no seu percurso de desenvolvimento, constituindo-se em uma modalidade de avaliação fundamentada no diálogo e congruente com um reajustamento contínuo do processo de ensino para que todos cheguem a alcançar com sucesso os objetivos definidos e a revelar as suas potencialidades criativas (AFONSO, 2003, p. 92).
Em termos de representação social, a avaliação formativa é entendida por
muitos “[...] como uma modalidade de avaliação subjetiva – querendo isto significar,
para alguns, que ela é uma modalidade de avaliação menos rigorosa ou mais sujeita
a fatores não controláveis por parte dos diferentes atores escolares.
Como prática formativa, a avaliação escolar pressupõe:
[...] a interrogação constante e se revela um instrumento importante para professores e professoras comprometidos com uma escola democrática. Compromisso esse que os coloca frequentemente diante de dilemas e exige que se tornem cada dia mais capaz de investigar sua própria prática para formular respostas possíveis aos problemas urgentes, entendendo que sempre podem ser aperfeiçoadas (ESTEBAN, 2003, p. 25).
A avaliação escolar na concepção formativa impõe um desafio, uma
mudança que sempre pressupõe riscos. Muitas vezes é preciso reconstruir o olhar,
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num movimento que exige a desconstrução da maneira como se interpreta a
realidade e se organiza a vida. “Pode ser bastante difícil questionar, negar e
substituir as crenças, preconceitos, valores, conhecimentos e costumes já
consolidados” (ESTEBAN, 2003, p. 26). Assim sendo, é fundamental enxergar o
cotidiano como espaço/tempo plural de transformações onde ocorrem interações
diversas.
Conforme Afonso (2003), com o auxílio da avaliação formativa é possível
assegurar o alcance dos objetivos educacionais, desde que os professores saibam
com clareza onde desejam chegar e o modo como fazê-lo. Nessa concepção, avaliar
o aluno deixa de significar fazer um julgamento sobre a aprendizagem do aluno,
para servir como momento capaz de revelar o que o aluno já sabe e os caminhos
que percorreu para alcançar o conhecimento demonstrado, bem como seu processo
de construção de conhecimentos (ESTEBAN, 2003).
Por isso, Haydt (2004, p.128) entende que a avaliação na concepção
formativa é democrática porque está atrelada à prática pedagógica, servindo de um
instrumento para a melhoria da qualidade do ensino e para o processo de ensino e
aprendizagem dos alunos: “A avaliação é uma operação de leitura orientada da
realidade”.
Na visão do autor supracitado, a avaliação formativa não apenas fornece
dados para que o professor possa realizar um trabalho de recuperação e aperfeiçoar
seus procedimentos de ensino como também oferece ao aluno informação sobre seu
desempenho em decorrência da aprendizagem, fazendo-o conhecer seus erros e
acertos e dando-lhe oportunidade para recuperar suas deficiências.
2.4 Avaliação Somativa
A avaliação somativa é também denominada “classificatória ou tradicional”.
Esse tipo de avaliação consiste em um processo de descrição e julgamento para
classificar os alunos ao final de uma unidade, semestre ou curso, segundo níveis de
aproveitamento, expressos em graus (notas) ou conceitos, dirigindo-se, assim, para
uma verificação geral do grau em que os resultados mais amplos foram obtidos.
17
Para San’tanna et al. (1988), um propósito complementar que orienta a avaliação
somativa é o de comunicar resultado para pais e administradores.
Da mesma forma como é clara a oposição entre as duas perspectivas de
medidas educacionais, “em termos da finalidade de sua utilização em educação, são
também distintas e opostas às posturas dos professores ao corrigir testes e tarefas
de aprendizagem” (HOFFMANN, 2001, p.131).
Na avaliação apenas somativa é frequente a valorização exclusiva da
resposta certa: o raciocínio que o educando usou de nada vale se errou a resposta.
Isto não é aceitável, pois para Vasconcellos (1994) agindo assim, o professor “nega
todo o processo de construção do conhecimento, inclusive o científico”. O autor
ressalta que nessa concepção, o erro é tão indesejável que se tornou comum o uso
de “corretivos” por parte dos alunos, numa tentativa de eliminar qualquer vestígio de
erro. Isso é contraproducente, pois:
[...] o erro é do(a) aluno(a), portanto uma resposta do(a) aluno(a) coincide
com o conhecimento veiculado e aceito, portanto positivamente classificado. Saber e não-saber, acerto e erro, positivo e negativo, semelhança e diferença são entendidos como opostos e como opostos e como excludentes, instituindo fronteiras que rompem laços, delimitam espaços, demarcam nossa interpretação do contexto e tornam opacas as lentes de que dispomos para realizar leituras do real (ESTEBAN, 2003, p. 15).
Não se pode deixar de considerar que o erro faz parte da aprendizagem, na
medida em que expressa uma hipótese de construção do conhecimento, um
caminho que o educando está tentando e não está tendo resultado adequado.
Portanto, o erro pode se constituir em um bom instrumento de análise para o
educador, pois revela como o educando está pensando, possibilitando “ajudá-lo a
reorientar a construção do conhecimento. Os caminhos particulares que o sujeito
individual percorre dependem das informações disponíveis no seu meio e do acesso
que tem a esse meio.
O educador oferece ou nega informações, cria obstáculos, faz provocações intelectuais significativas, interfere, portanto, nesses caminhos particulares, vislumbrando o conhecimento universal dos conteúdos possíveis, do saber científico. A mediação, assim, acontece pela sua capacidade leitura concomitante do universal e do particular, de trabalhar no sentido do avanço
18
do conhecimento e da abertura aos “possíveis particulares” dos seus alunos (HOFFMANN, 2001, p.12131-132).
Do exposto sobre o processo da avaliação diagnóstica, formativa e
somativa, pode-se dizer que a avaliação diagnóstica está estreitamente vinculada às
demais e é, ao mesmo tempo, distinta. Quando realizada antes da instrução
depende muito dos resultados da avaliação somativa. Embora a avaliação formativa
possa ser empregada com a somativa e a diagnóstica, a questão fundamental é que
a avaliação ao contrário da avaliação apenas somativa preocupa-se em determinar
se o aluno domina gradativa e hierarquicamente cada etapa da instrução.
A avaliação diagnóstica contribui para a avaliação formativa na medida em
que facilita a discriminação das dificuldades do aluno e do grupo. Poderíamos até
dizer que ela se constitui numa etapa inicial da avaliação formativa. Tanto a
avaliação formativa como a diagnóstica podem contribuir para a avaliação somativa.
Isso ocorre quando o professor, durante o desenvolvimento do ensino-
aprendizagem, se vale dos recursos das duas primeiras, empregando ao final a
somativa.
O professor preocupado apenas em manter a disciplina e cumprir o
conteúdo, frequentemente não demonstra interesse em saber se o aluno aprendeu
ou não. Julga que quem não aprendeu é porque é “desinteressado”, “limitado”,
“carente”, “indisciplinado”. Segundo Vasconcellos (1994), a avaliação somativa tem
servido para o professor emitir um conceito para a secretaria e ficar livre de
cobranças. O autor entende a importância de avaliar para mudar o que tem que ser
mudado. De nada vale dizer que um aluno tirou “4,0” ou “E” ou “PM”, e não se fazer
nada para ajudá-lo a superar suas dificuldades ou não se rever o processo de
ensino-aprendizagem.
Ao contrário da avaliação somativa, a avaliação deve ter efeito prático para
mudar a forma de trabalho tanto do professor (organizar recuperação paralela,
retomar assuntos, procedimentos de ensino distintos, mudar a forma de organizar o
trabalho em sala de aula, dar atenção especial ao conteúdo mais complexo, rever
esquema de participação em sala de aula, rever método de estudo, etc.); como da
escola (condições de estudo, espaço para recuperação, revisão do currículo,
integração entre professores, etc.).
19
A avaliação é uma ação imprescindível em qualquer momento da vida do ser
humano. Dessa forma, ela precisa estar a serviço da educação, aproximando
experiências de aprendizagem, desenvolvimento humano, melhoria de qualidade de
vida, bem-querer, elevação de autoestima e valorização de iniciativas entre as
pessoas. A avaliação assim concebida é aceita como parte indispensável em
qualquer processo de aprendizagem.
3 O Caminho Metodológico
Participaram da proposta de intervenção 20 (vinte) docentes do Colégio
Estadual Tânia Varella Ferreira – Ensino Fundamental e Médio. A implementação
contou com 08 (oito) encontros, perfazendo um total de 32 horas, para cumprimento
das exigências do Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná (PDE/PR).
O desenvolvimento da proposta envolveu discussões em grupo para estudo
das práticas avaliativas propostas no projeto de intervenção, por meio de
explicitação oral, trabalho em grupo, apresentação de vídeos, dinâmicas, leituras e
compreensão de textos, tendo como base a Proposta pedagógica da Escola e as
DCES – Paraná.
Primeiramente, as ações foram abordadas na unidade temática juntamente
com outros textos de apoio serviram de instrumentos teórico-práticos norteadores
para subsidiar as reflexões junto ao público alvo participante.
4 Resultados e Discussão da Proposta de Implementação
A avaliação do processo de ensino e aprendizagem numa concepção
diagnóstica, formativa e somativa exige clareza em relação à prática desenvolvida,
sobretudo, em relação aos instrumentos utilizados, no entanto, nem sempre os
professores se dão conta de identificar isoladamente o nível e a abrangência de
20
desempenho dos alunos, caso não estejam alicerçados em um claro domínio de
conceitos de avaliação.
Assim sendo, objetivando esclarecer os pontos fundamentais que
permearam o desenvolvimento da proposta de implementação realizada junto ao
grupo de professores, optamos por separá-los em três tópicos assim distribuídos: a)
percurso histórico da avaliação escolar; b) a tendência democratizante da avaliação
escolar; c) avaliação diagnóstica, formativa e somativa.
4.1 Percurso Histórico da Avaliação Escolar
A avaliação escolar no decorrer da sua história vem sendo compreendida
como uma questão educacional que tem suscitado muitos debates. A partir da
década de 1960, a temática da avaliação escolar passou a ser objeto de reflexão
crítica, sobretudo, em razão do caráter excludente e classificatório predominante na
época.
Assim pensando, inicialmente, optamos por discutir alguns desafios
implicados no decorrer da história no tocante à implantação da avaliação frente a
antigas formas de compreensão sobre o jeito de avaliar. Para tal, recorremos à
leitura do texto apresentado no caderno temático, com posterior apresentação de um
vídeo intitulado “ Avaliação: Prêmio ou Punição” que tratou de aspectos relevantes
sobre o papel da avaliação da aprendizagem.
A leitura e análise do texto apresentado ensejaram reflexões oportunas, a
partir de 1970, quando a concepção predominante da avaliação da aprendizagem
escolar baseava-se apenas no rendimento mensurável do aluno, ou seja, acontecia
com base em uma prática de medida capaz de testar o aproveitamento dos alunos ,
pautada em instrumentos compostos por testes objetivos, instruções programadas,
estudos dirigidos, sustentados pelos postulados da psicologia behaviorista ou
comportamentalista.
Como afirma Saul (1988), até a década de 1970, a maioria das escolas fez
dos seus alunos reféns de uma concepção psicométrica da inteligência, isto é, a
avaliação era entendida como a medida da diferença entre o que o aluno produz e o
que o professor ensinou durante certo período de tempo. A ênfase nas provas
21
objetivas, a elaboração de testes de rendimento escolar, formas de avaliações
padronizadas, a classificação dos alunos em fortes, médios e fracos são práticas
claramente amparadas na orientação psicométrica, que continuam sendo
empregadas em muitas escolas até hoje, conforme falas dos docentes:
Até hoje a prática tradicional é muito presente na escola, pois os professores têm dificuldade de compreender a proposta atual de avaliação (Docenre1). Avaliar exige leituras e muito conhecimento do professor, até hoje os professores ainda não estão preparados para avaliar o aluno fora do contexto tradicional (somativo) apenas (Docente 3).
A avaliação autoritária vigente até a década de 1970 centrou-se na
reprodução do conhecimento do aluno que deveria apresentar determinado
rendimento escolar em relação às expectativas definidas pela própria escola.
Entretanto, segundo Haydt (2004), tais expectativas, preestabelecidas, não levavam
em conta as características dos alunos enquanto um grupo social plural e concreto.
Assim, na concepção de avaliação autoritária predominante até a década de
1970, a avaliação escolar realizada se fundamentava basicamente na:
[...] fragmentação do processo ensino/aprendizagem e na classificação das respostas de seus alunos e alunas, a partir de um padrão predeterminado, relacionado à diferença ao erro e a semelhança ao acerto É a quantidade de erros e de acertos que também incorpora o “comportamento”, os “hábitos” e as “atitudes” dos alunos e alunas, que orienta a avaliação do(a) professor(a). (ESTEBAN, 2003, p. 14- 15).
Com essa compreensão, a avaliação escolar constituía-se em uma ação
excludente, contribuindo fortemente para silenciar as pessoas, suas culturas e seus
processos de construção de conhecimentos; desvalorizando saberes e fortalecendo
a hierarquia que está posta, contribuindo para que diversos saberes sejam
apagados, percam sua existência e se confirmem como a ausência de
conhecimentos.
22
Discutimos a respeito da classificação das respostas em acertos e erros, ou
satisfatórias e insatisfatórias, ou outras expressões do gênero, que caracteriza a
perspectiva tradicional de avaliação. Nessa perspectiva de avaliação da
aprendizagem escolar, o docente era incumbido de planejar e desenvolver o sistema
de ensino e aprendizagem dos alunos, de maneira que o desempenho dos mesmos
fosse maximizado. Desta forma, consideravam-se igualmente fatores tais como
economia de tempo, esforço e custos.
Como lembra Saul (1988), as etapas de ensino, bem como os objetivos
intermediários e finais eram definidos, com fundamento, em critérios que fixavam os
comportamentos de entrada e final percorridos pelos alunos no processo de
aprendizagem.
Na oportunidade, tratamos de outro enfoque curricular definido por Saul
(1988). Os professores foram levados a perceber que tal enfoque, constituiu em uma
concepção pautada na Lei 5692/71. Lembramos que a referida Lei normatizou o
sistema de avaliação escolar com base em um currículo, ou seja, na verificação do
rendimento escolar. Nessa concepção, os manuais curriculares assumiram uma
função de instrumentalizar a verificação da aprendizagem, cabendo ao professor o
papel de operacionalizar os manuais curriculares nas atividades com os conteúdos
escolares. Nessa perspectiva, a verificação do rendimento do aluno estava
relacionada à reprodução do conteúdo curricular transmitido pelo professor.
Na trajetória histórica da avaliação escolar, Saul (1988) identificou os
processos avaliativos, abordando as vertentes “quantitativas e qualitativas”.
Conforme o entendimento da autora, as correntes quantitativas produzem material
instrumental para a avaliação de modo a manter-se o mais próximo possível da
objetividade e, ao mesmo tempo, fornecer dados mais seguros no que se refere à
eficiência/eficácia na verificação da aprendizagem.
A escola com fundamento nesta perspectiva foi caracterizada pela
simplicidade, rotina, aparente regularidade, credibilidade institucional e prestígio do
docente. Quanto às desigualdades na escolarização, reconhecemos que estas se
firmaram por efeito de certa complacência por parte das comunidades e omissão
administrativa do governo público. As escolas rurais foram as mais desprotegidas.
Constatamos, também, importante diferenciação entre as redes escolares privadas.
Com base em Saul (1988) comentamos que os padrões e critérios de
avaliação se cristalizaram e consolidaram uma cultura autoritária na condução da
23
avaliação da aprendizagem escolar. O sistema se expandiu, praticamente sem
planejamento. A baixa competitividade da oferta escolar, a discreta pressão da
demanda e o ambiente social sem impacto (baixa inadimplência, simplicidade dos
recursos pedagógicos, satisfação profissional dos docentes, regras de convivência e
tradições), além do modelo escolar de teor autoritário e da ausência de pressão
social “suavizaram” a escolar por longo tempo.
Ante as reflexões a respeito dos inúmeros desafios que se apresentaram
para a educação no século XXl, como a superação da lógica excludente e
discriminatória e o redimensionamento das políticas educacionais que condicionam a
precarização da escola pública, parece ter ficado evidente para os professores a
necessidade de repensar uma postura mais crítica e mais aberta em relação aos
rumos da prática da avaliação da aprendizagem escolar, como demonstra a fala de
uma professora que representa o discurso da maioria:
Nós todos sofremos com essa forma de avaliar predominante nas escolas, ou seja, autoritária, classificatória. A avaliação tradicional não se preocupava com o desenvolvimento global do aluno, constituindo-se em uma avaliação apenas de medida que responsabiliza somente os alunos pelos seus fracassos na escola. Eu sofri como aluna todo esse processo. Avaliamos somente os erros e não os acertos. Por isso é importante buscarmos conhecer com profundidade o que realmente significa avaliar o ensino e a aprendizagem, para não ficarmos avaliando com uma postura tradicional/autoritária (Docente 1).
O interesse por mudanças favoreceram a passagem de uma avaliação
autoritária de cunho comportamentalista para a discussão por uma avaliação da
aprendizagem mais voltada para o aluno e ao processo de aprendizagem.
Tal discussão tem a ver com o conceito de homem que aquele período
histórico requeria e o conceito de homem para o século XXI. Para Chueiri (2008, p.
49), as mudanças verificadas na prática da avaliação nas escolas “estão
intimamente relacionadas às concepções de educação orientadoras das práticas
pedagógicas que vêm ocorrendo desde que a escola foi instituída como espaço de
educação formal”.
A compreensão das relações que sustentam o processo educacional requer
capacidade de discernimento, conhecimentos de base científica e compreensão dos
determinantes que orientam a prática avaliativa concretizada na sala de aula,
24
buscando ultrapassar as tensões e contradições existentes ao tratar da
aprendizagem escolar.
4.2 A Tendência Democratizante da Avaliação Escolar
Para tratarmos da tendência atual da avaliação escolar e adentrarmos o
campo específico da avaliação diagnóstica e formativa, discutimos questões
norteadoras elencadas pela LDBEN.
Como consequência, a LDB vem tornar obrigatoriedade aquilo que deveria
ter sido buscado como meta, já há tempo, tão somente pela sensibilidade dos
envolvidos no processo escolar como um todo ou pelas exigências e pressões
inerentes a esse processo ou modelo escolar (HOFFMANN, 2002). Nessa
concepção, a avaliação não se limita apenas a controlar as mudanças de
comportamento dos alunos, mas também os objetivos, os conteúdos, os métodos, os
recursos, o próprio processo de avaliação, o currículo e o desempenho do professor.
Com base na referida lei e após a leitura do texto explorado no caderno
temático questionamos: Por onde começar? Em que medida as escolas poderia
garantir apoio para o processo de mudança de visão do professor em relação à
avaliação e como poderiam contribuir para a redução da distância entre o proposto
na legislação e o vivido na sua prática? Como a escola pode conhecer as
representações, saberes e práticas dos professores sobre a avaliação?
Os professores comentaram que o fato de estar incluída na lei não significa,
necessariamente, a garantia de mudanças no processo avaliativo nas escolas. A
prática da avaliação só deixará de ser tradicional/autoritária quando os envolvidos
diretamente no cotidiano das escolas se convencerem da importância de transformá-
la, compreendendo por que as estão realizando, recebendo orientação e dispondo
dos meios para concretizá-las.
Com base em André e Passos (2005) refletimos que tais questionamentos
se apóiam na idéia de que a escola possui certo grau de autonomia que os autores
denominam “espessura do mundo escolar” e do qual podem emergir os contextos
facilitadores e/ou bloqueadores de qualquer processo de mudança.
25
A escola tem (ou pode ter), sim, um peso significativo na implementação (ou
não) das mudanças em sua prática avaliativa. No entanto, a existência de forças
impulsionadoras ou repressoras na instituição escolar, não é suficiente para que as
mudanças aconteçam. É necessário que haja disposição do professor para realizá-
las, como afirmou uma das docentes:
Os professores sempre comentam que na teoria tudo é bonito, mas na prática não acontece. Por que será que não acontece. Penso que isso depende de cada um de nós. Eu procuro fazer o possível para avaliar os meus alunos dentro da proposta atual. É preciso um esforço coletivo, todos precisam de vontade para mudar qualquer coisa na vida, e também a avaliação. Senão vai ficar só na lei, ninguém está impedindo as pessoas de mudaram (Docente 2).
Também, para André e Passos (2005), as mudanças nas práticas, valores e
atitudes podem ser mais complexas que as mudanças na estrutura.
[...] a lei pode estabelecer normas, critérios e orientações para alterações das práticas; porém, elas só efetivamente se concretizarão se os profissionais da escola tiverem muita clareza e consciência das consequências decorrentes dessas mudanças (ANDRÉ; PASSOS, 2005, p. 186-187).
Avaliar, portanto, implica em tomar partido, em função das expectativas
previstas e das que surgem ao longo do processo, ou seja, embora o ato de avaliar
suponha certas expectativas, estas se movimentam ao longo do próprio processo
avaliativo. Por isso, para avaliar, para julgar algo ou alguém quanto ao seu valor, o
professor precisa estar apto a desenvolver a sua prática.
Discutimos que para mudar, a avaliação escolar precisa ser pensada como
forma de julgamento e valoração, uma vez que o processo não tem significado fora
da relação com um fim e de um contexto, onde o avaliador se pronuncia sobre o
objeto avaliado quanto ao seu “sucesso” ou “fracasso”. Recorremos a Capelletti
(1999), para reforçar as ideias apresentadas, pois para a autora:
Avalia-se a ação por tudo que concretiza as idéias e conceitos, os meios, os instrumentos, os programas, os desempenhos e os resultados. Não é mera
26
ação executora, mas uma nova reflexão sobre a ação para reordenar o processo. Por isso, as dinâmicas avaliativas pertencem muito mais ao durante do que ao após (CAPPELLETTI, 1999, p.89).
Compreender a avaliação na perspectiva democratizante elencada pelas
DCEs (2008) implica em algumas funções principais que foram elencadas, ou seja, a
autocompreensão tanto do educando quanto do educador em relação aos seus
níveis e condições de aprendizagem; a função de motivar o crescimento para o
educando, pelo reconhecimento de onde está e pela consequente visualização de
possibilidades; a função de aprofundamento da aprendizagem, na perspectiva de
que os alunos aprendam e se desenvolvam; a função de auxiliar a aprendizagem
(LUCKESI, 1995).
Em decorrência da análise e discussões da proposta das DCEs (2008) foi
possível concluir que a avaliação escolar se faz presente de forma clara e explícita.
Nesta concepção, o processo da avaliação escolar abandona as verdades
absolutas, os critérios objetivos, medidas padronizadas e estatísticas, para alertar os
professores acerca do verdadeiro sentido da prática avaliativa, que faz pensar em
um agir consciente e reflexivo frente às situações avaliadas e de exercício do diálogo
entre os envolvidos no ambiente de aprendizagem.
Essa concepção de avaliação escolar que embasou as discussões dos
professores na perspectiva diagnóstica e formativa será apresentada no tópico
seguinte.
4.3 Avaliação Diagnóstica, Formativa e Somativa
Algumas das diversas formas de apresentação de concepções de avaliação
surgem com base em investigações de cunho científico ou como experimentação
prática e de colocação à prova de novas modalidades avaliativas, que respondam
cada vez melhor à necessidade de interação entre aprendizagem e avaliação
Para refletirmos sobre as funções da avaliação diagnóstica, formativa e
somativa, a discussão teve início com leitura e análise do texto proposto no caderno
temático.
27
Posteriormente, colocamos para discussão um vídeo intitulado “O Ponto de
Avaliar”. O material suscitou reflexões importantes para a prática pedagógica do
professor. Alguns questionamentos foram feitos: De que modo os conceitos teóricos
referentes às funções da avaliação e suas modalidades básicas aparecem na prática
cotidiana do professor em sala de aula? Melhor dizendo, como o professor pode
utilizar os resultados da avaliação na sua prática diária?
A seguir foram discutidas as modalidades de avaliação, diagnóstica,
formativa e somativa, proposta por Hayd (2004), conforme ilustrado no Quadro 1.
QUADRO 1- MODALIDADES E FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO
Modalidade (tipo)
Função Propósito (para que usar)
Época (quando aplicar)
Diagnóstica Diagnosticar
Verificar a presença ou ausência de pré-requisitos para novas aprendizagens. Detectar dificuldades específicas de aprendizagem, tentando identificar suas causas.
Início do ano ou semestre, ou no início de uma unidade de ensino.
Formativa Controlar
Constatar se os objetivos estabelecidos foram alcançados pelos alunos. Fornecer dados para aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem.
Durante o ano letivo, isto é, ao longo do processo ensino-aprendizagem.
Somativa Classificar
Classificar os resultados de aprendizagem alcançados pelos alunos, de acordo com níveis de aproveitamento estabelecidos.
Ao final de um ano ou semestre letivos, ou ao final de uma unidade de ensino.
Fonte: (HAYDT, 2004).
Os professores foram levados a compreender que a avaliação diagnóstica
objetiva a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção. O diagnóstico tem
“por objetivo aquilatar coisas, atos, situações, pessoas, tendo em vista tomar
decisões no sentido de criar condições para a obtenção de uma maior
satisfatoriedade daquilo que se esteja buscando ou construindo” (LUCKESI, 1995).
Destarte, nesse contexto, a avaliação da aprendizagem assume papel
significativo enquanto procedimento diagnóstico, indicando caminhos que efetivem a
escola como espaço de formação dos cidadãos mais críticos e atuantes na sua
vivência histórica.
28
Por sua vez, a concepção de avaliação formativa implica que professores e
alunos ampliem continuamente os conhecimentos que possuem cada um no seu
tempo, por seu trajeto, com seus recursos e, sobretudo, com a ajuda do coletivo.
Para melhor compreensão da avaliação na perspectiva formativa recorremos
a San’tanna et al (1988), ao propor que este tipo de avaliação implica em uma
seleção cuidadosa dos objetivos e conteúdos, com a sua distribuição em pequenas
unidades de ensino. Os objetivos precisam ser formulados, com vistas à avaliação,
em termos de comportamento observável, tais como:
- Tomar como referência (para a formulação de objetivos e construção de
questões) um quadro ou esquema teórico (como a “Taxonomia de Objetivos
Educacionais” ou outros esquemas de referência inclusive um elaborado pelo
professor), que facilite a identificação precisa de áreas de dificuldades ou
insuficiências;
- professor e aluno podem utilizar de feedback frequente, isto é, utilizarem a
informação para corrigir erros, insuficiências, ou para reforçar comportamentos bem
sucedidos. Por exemplo, se após uma tarefa importante, relativa ao domínio de
certos conhecimentos e habilidades pré-requisitos, for constatado que o(s) aluno(s)
receba(m) imediatamente essa informação e o professor lhe(s) propicie outros meios
para o alcance dos objetivos. Antes de prosseguir para uma etapa subseqüente de
ensino-aprendizagem, os objetivos em questão, de uma ou de outra forma, devem
ter seu alcance assegurado.
- selecionar alternativas corretivas (terapêuticas) de ensino-aprendizagem.
Alternativas terapêuticas são procedimentos variados de ensino que se destinam a
sanar de modo específico a insuficiência constatada. Por exemplo, se um aluno não
aprendeu a solucionar uma equação de primeiro grau, com a explicação do
professor, embora atendendo este à organização lógica e seqüencial do conteúdo,
outros procedimentos de ensino-aprendizagem podem ser utilizados, como um
estudo dirigido (que propicie a revisão de pré-requisitos), ou o auxílio de um colega
que já desenvolveu essa habilidade, em que variem seu modo de ensinar, recursos
utilizados, etc.
Assim, os professores foram levados a compreender que a avaliação como
prática formativa na escola tem a intenção de romper as barreiras entre os
participantes do processo ensino e aprendizagem e entre os conhecimentos
presentes no âmbito escolar.
29
Com essa compreensão, os elementos de percepção e de leitura da
realidade dos docentes participantes foram alargados, contribuindo, assim, para
possíveis identificações dos sinais que mostrem quando um ou outro educando
esteja sendo posto à margem do processo de ensino e aprendizagem Os
professores foram alertados para estar sempre atentos às pistas no sentido de
viabilizar a reconstrução de seu movimento, como parte da dinâmica coletiva posta
em sala de aula.
A respeito da avaliação somativa, recorremos ao Quadro 2 a seguir para
comparar a postura classificatória que permeia este tipo de avaliação, com a postura
democrática/mediadora que embasa a prática da avaliação diagnóstica e formativa.
Postura Classificatória/ somativa
Postura Democrática/ mediadora
O professor: O professor:
• utiliza métodos comparativos e/ou impressionistas de análise. Expressa resultados quantitativos;
• utiliza métodos interpretativos e descritivos de análise. Expressa resultados qualitativos;
• corrige e/ou analisa o teste com a finalidade de aprovar ou reprovar o aluno;
• corrige ou analisa o teste com a intenção de orientar o aluno e complementar noções;
• analisa as respostas do aluno com base em expectativas predeterminadas ou em relação ao grupo.
• analisa as respostas do aluno em sua
dimensão da coerência, precisão e profundidade na abordagem do tema.
Fonte: Hoffmann (2001)
Conferimos que no acompanhamento e interpretação das respostas e
manifestações dos alunos em situações de testagem e de aprendizagem, encontra-
se a essência do processo avaliativo democrático/transformador/mediador, enquanto
investigação da complexidade educativa, ao contrário da avaliação apenas somativa
que embasa seu processo apenas na verificação/resultados da aprendizagem, sem
a preocupação de acompanhamento ou reorganização do processo.
A reflexão permanente sobre o processo de conhecimento dos alunos
favorece ao educador o desvelamento dos horizontes de provocação e desafio.
Analisar e refletir sobre as concepções e práticas avaliativas presentes na escola e
suas implicações para o processo de aprendizagem pode possibilitar uma visão mais
clara sobre a relevância do papel do professor na formação dos alunos, conforme
evidenciado nas falas dos docentes ao comentar sobre o conteúdo estudado.
30
Do estudado compreendemos que avaliar na perspectiva da democratização significa ir além de atribuir uma nota, significa analisar todo o contexto que o aluno está inserido, seus conhecimentos prévios, de que ponto partiu e onde chegou com o trabalho realizado pelo professor, avaliar para reorganizar a prática e para refletir sobre o refazer pedagógico. Nesse sentido a avaliação deve ser processual e colaborar na formação integral do educando, isso é avaliar na perspectiva diagnóstica e formativa (Docente 4). Aprendi que a avaliação democrática que as DCE’s defendem é a concepção diagnóstica e formativa que considera o desenvolvimento integral do educando, é uma concepção que considera o crescimento do aluno, ao contrário da avaliação tradicional, que se preocupava com os instrumentos de medida do conhecimento (Docente 5). Avaliar na perspectiva defendida pelas DCE’s leva a compreender que a avaliação é o ponto de partida do processo de ensino e aprendizagem. Ao professor cabe propor recursos diferenciados de avaliação, promovendo oportunidades para retomar o conteúdo sempre que necessário. Também o próprio professor se auto avalia para reorganizar o trabalho pedagógico, ao contrário da avaliação classificatória, isto é, apenas somativa, que é excludente e serve apenas para medir. Essa avaliação era somente para o aluno (Docente 7). No meu ponto de vista, o dia-a-dia na sala de aula leva muitos professores a se esquecerem da importância da avaliação na perspectiva democrática, que é um tipo de avaliação que contribui para a formação dos alunos, mas para isso, é preciso que os professores tenham conhecimento sobre o assunto. A avaliação na perspectiva diagnóstica e formativa proposta pelas DCE’s é muito positiva, não é uma avaliação excludente, que rotula os alunos e os pune de acordo com a sua suposta falta de conhecimento, ao contrário é uma proposta processual que possibilita a sondagem sobre o conhecimento prévio do aluno e a partir de um diagnóstico possa conduzir a um ensino que vá de encontro ao conhecimento de mundo (Docente 8)
Os professores demonstraram acreditar que um processo avaliativo será
democrático quando os instrumentos, conceitos e concepções de avaliação forem
complementares. Avaliação e aprendizagem além de se conduzirem por utilidade e
simultaneidade processual constituem presença perene na vida escolar. É nesse
sentido que a avaliação assume sua dimensão orientadora, criando condições para
o estudo contínuo e sistemático do aluno, para que a aprendizagem possa avançar
em direção aos objetivos propostos.
31
5 Conclusão
No contexto assumido pelos professores participantes da proposta de
implementação, a avaliação da aprendizagem escolar assume papel significativo,
pois enquanto procedimento de diagnóstico contribui para indicar os possíveis
caminhos no sentido de que a escola se constitua como espaço de formação dos
cidadãos mais críticos e atuantes na sua vivência histórica. Isso implica que os
docentes atuem em sua prática de forma a romper com a concepção de avaliação
tradicional/conservadora que se preocupa apenas com a aprovação/reprovação do
aluno na escola.
A avaliação diagnóstica e formativa ao contrário de pensar na classificação
atua no sentido do desenvolvimento qualitativo da aprendizagem que faz parte das
mudanças preconizadas pela nova LDB, bem como da DCEs –Paraná.
Assim sendo, os critérios passam a ser pensados em relação ao
desenvolvimento integral dos alunos, considerando, pois, os conhecimentos que
cada aluno possui ao seu tempo, por seu trajeto, com seus recursos e, sobretudo,
com a ajuda do coletivo.
Das discussões realizadas, os professores demonstraram compreender que
a avaliação escolar, quando pensada na perspectiva diagnóstica, formativa e
somativa engloba as alternativas diferenciadas como parte de um processo de
construção de uma pedagogia democrática. Esta percepção implica numa mudança
radical na lógica que conduz às práticas de avaliação que supõe substituir a lógica
da exclusão e que se baseia na homogeneidade inexistente; pela lógica da inclusão,
fundamentada na heterogeneidade real.
O trabalho contribui para a percepção de que a avaliação como prática
formativa na escola tem a intenção de romper as barreiras entre os participantes do
processo ensino e aprendizagem e os conhecimentos presentes no âmbito escolar.
32
Referências
AFONSO A. J. Escola pública comunidade e avaliação: resgatando a avaliação formativa como instrumento de emancipação. In: ESTEBAN, M. T. Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.
ANDRÉ, M.E.D.A.; PASSOS, L. F. Avaliação escolar: desafios e perspectivas. In: De Castro, A.D.; Carvalho, A.M.P. (orgs.) Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: 2001 (pp.177-195).
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