Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

download Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

of 13

Transcript of Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    1/13

    ILDA BASSO(Org.)JOS CARLOS RODRIGUES ROCHA(Org.)MARILEIDE DIAS ESQUEDA(Org.)

    II SIMPSIO INTERNACIONAL DE EDUCAOLINGUAGENS EDUCATIVAS:

    PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES NA ATUALIDADE

    BAURU!!"

    http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4777665H6http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4767791H9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4794184T3http://www.usc.br/biblioteca/http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4777665H6http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4767791H9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4794184T3
  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    2/13

    S6126 Simpsio Internacional de Edca!"o #2$ % 2&&' % (ar) SP*

    Anais +recrso eletr,nico- . 2$ Simpsio Internacional de

    Edca!"o . Ilda (asso) /os0 Carlos Rodries Roca)3arileide Dias Es4eda #orani5adores*$ (ar) SP %USC) 2&&'$Simpsio reali5ado na USC) no m7s de 8no de 2&&')tendo como tema % Linaens edcati9as perspecti9asinterdisciplinares na atalidade$IS(N :;'

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    3/13

    A RELAO TEXTO-LEITOR NO ATO DA LEITURA

    Rosilene Frederico Rocha BOMBINI

    Universidade do Sagrado Corao

    Resumo:Este trabalho prope reflexes sobre a formao do leitor, em especial do leitor de textosliterrios. O contato com obras didticas, cada vez mais freqentes, que exploram o texto ea imagem, o verbal e o no-verbal, evidencia um forte apelo para o ver e o olhar. AEsttica da Recepo fundamenta este artigo por ampliar os horizontes de anlise do texto,seja literrio ou plstico, alm de propor a participao ativa do leitor no ato da leitura.Buscou-se, ainda, discutir o processo dinmico de interlocuo entre texto e leitor, asrelaes da literatura com o ver e o olhar,propondo uma educao do olhar. O contato

    com diferentes tipos de textos exige um novo leitor e, conseqentemente, um novo ato deleitura. Diante desse quadro, discutir-se- o texto e sua relao de interlocuo com oleitor.Palavras-chave: leitura; leitor; texto; interlocuo

    Abstract:This research proposes a reflection on the formation of a good reader, mainly the reader ofliterary texts. The use of this kind of material which explores the text and the image, theverbal and non-verbal, shows a strong appealing to seeing and looking. The ReceptionAesthetic grounds this research, expanding the horizons of text analysis, either literary ourvisual, also suggesting an active participation of the reader while reading. Besides, there

    was an attempt to discuss the dynamic process of interlocution between the text and thereader, the relations of literature and visual arts, the seeing and looking, the lookingeducation. The contact with different kinds of texts, requires a new reader and,consequently, a new act of reading. Here, the interlocution between the text and thereader will be discussed.Keywords: Textreadingreaderinterlocution

    1. INTRODUO

    Dentre as razes que nos levaram a pesquisar o tema da relao texto-leitor, a principal

    est na idia de que a formao do leitor, especialmente o leitor de textos literrios,

    depende essencialmente da forma como desenvolvido o trabalho de explorao do

    material apresentado em sala de aula. Ao refletirmos sobre a formao do leitor,

    encontramo-nos diante de dificuldades diversas: desde o conceito de leitura distorcido por

    uma obrigatoriedade, desvinculado e desassociado de uma proposta motivadora de

    recepo do texto o que causa desinteresse por parte do leitor , at o trabalho

    puramente formal e mecnico, aliado mera decodificao de signos.

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    4/13

    Diante dessas questes, esta pesquisa, tem como propsito refletir sobre o ensino da

    literatura dentro de uma nova abordagem: as relaes existentes entre o texto e o leitor,

    levando educao do olhar.

    Assim, voltamos nosso olhar para a Teoria da Esttica da Recepo, proposta por Jauss, a

    qual destaca a importncia do papel do leitor no ato da leitura. Essa teoria foi escolhida

    porque amplia os horizontes de anlise do texto e, sendo aplicada tanto modalidade

    verbal quanto no-verbal, favorece a explorao do texto e da imagem, ampliando a

    significao dos mesmos, trazendo novo sentido aos estudos literrios. A partir da teoria

    recepcional, a obra avaliada por meio da descrio de elementos internos e dos espaos

    vazios que sero preenchidos pelo leitor. Decorrente disso, h o confronto entre texto e

    suas diversas realizaes na leitura, as quais sero explicadas recorrendo-se s expectativasdos diferentes leitores.

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 Concepes de texto

    O vocbulo texto tem origem latina: textus, que significa tecido, urdidura,

    encadeamento; no particpio passado do verbo texere significa tecer, entrelaar. Se

    pensarmos em um significado metafrico, o texto um tecido de palavras e frases. Desse

    modo, se aplicarmos um sentido figurado semelhante, podemos citar outros vocbulos do

    mesmo campo semntico, como perder o fio do discurso, por exemplo.

    O significado do vocbulo passou por transformaes ao longo do tempo. Assim, na

    cultura judaico-crist, texto representa a obra escrita, o livro, em especial obras religiosas e

    jurdicas, as quais possuem uma autoridade - autor. J na Idade Mdia, texto designa a

    obra do auctor, isto , daquele que detm e exerce auctoritas, autoridade.O significado de obra ou livro atribudo ao vocbulo texto perdurou at meados do

    sculo XX, quando comeou a apresentar um sentido tcnico, no campo de estudo da

    lingstica. Hjelmslev, por meio da teoria lingstica estruturalista, definiu o texto como o

    processo, pelo qual se manifesta e se realiza o sistema, a langue. Segundo o Dicionrio de

    Semitica (1979, p. 460):

    Hjelmslev utiliza o termo texto para designar a totalidade de uma cadeialingstica, ilimitada em decorrncia da produtividade do sistema. o

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    5/13

    reconhecimento e a escolha das unidades de dimenses mximas, recorrentes notexto, que permite empreender a anlise e determina, por exemplo, o tipo delingstica que poder ser construdo: se a unidade recorrente que se adota a

    frase, a lingstica elaborada para explic-la ser dita frasal.

    A chamada Lingstica do Texto, desenvolvida a partir do final da dcada de sessenta,

    formou-se tendo como ponto de partida o reconhecimento do enunciado como unidade

    mxima do texto e, assim, a frase representa a unidade superior da anlise lingstica. Para

    Koch (1993, p. 14), texto, em sentido lato, designa toda e qualquer manifestao da

    capacidade textual do ser humano (quer se trate de um poema, quer de uma msica, uma

    pintura, um filme, uma escultura), isto , qualquer tipo de comunicao realizada por meio

    de um sistema de signos. E acrescenta:

    A Lngstica textual toma, pois, como objeto particular de investigao no mais apalavra ou frase isolada, mas o texto, considerado a unidade bsica demanifestao da linguagem, visto que o homem se comunica por meio de textos eque existem diversos fenmenos lingsticos que s podem ser explicados nointerior do texto.

    Aguiar e Silva (1990, p. 186) afirma que, com o desenvolvimento da Lingstica do Texto,

    o vocbulo texto passou a designar um termo tcnico da lingstica e da semitica.

    Defende ainda que, diante de uma situao comunicacional com um objetivo especfico, o

    texto a realizao concreta de um sistema semitico. uma entidade delimitada

    topolgica e/ou temporalmente, alm de possuir uma organizao interior que o configura

    como um todo estrutural. Em conformidade com este conceito, podemos falar em texto

    flmico, texto pictrico, texto musical, sem que se trate de uma utilizao abusiva do

    vocbulo.

    Dedicando-se ao estudo do texto e pesquisando diferentes tericos, das correnteslingsticas s teorias textuais e comunicacionais, Salzedas (s.d., p. XIII) afirma que:

    Parece-nos que os elementos nucleares do texto a esto: o carter lingstico-comunicativo; o social; o situacional; o estrutural-normativo. Entretanto, um dos

    problemas mais agitados pelos tericos do texto no discutido: o modo comoassocia a comunicao lingstica com a comunicao social. E isto vai envolver oato de fala, a competncia lingstica, a competncia textual e outras tantascompetncias e saberes, pois o texto como unidade semntica e pragmtica noexiste por si e nem em si mesmo. No autotlico. um produto de diversasoperaes e atividades. Se resulta do enunciar e do receber, efetiva-se em um

    processo comunicativo, implicando fatores sociais, culturais, psicolgicos etc. que

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    6/13

    envolvem tanto o emissor quanto o receptor. ... Como se v, o texto no apenasuma sucesso casual e diferenciada de enunciados. muito mais complexo.

    O estudo realizado pela mesma autora revelou algumas questes. Apesar da diversidade

    das teorias lingsticas e dos diferentes focos das conceituaes, a maioria dos tericos que

    apresenta concepes de texto firmou-se na funo comunicativa. A funo comunicativa

    do texto liga-se a um enunciado, o qual se realiza por meio de cdigos convencionais, entre

    interlocutores. A relao entre os interlocutores manifesta o aspecto social da

    comunicao; j a utilizao de um cdigo atinge o prprio sistema.

    possvel reconhecer a ligao entre ambas uma vez que os interlocutores acabam

    produzindo a textualidade, quando manipulam o cdigo. Dessa forma, a textualidade

    estrutura necessria a todo sistema comunicativo e o texto seria a realizao lingstica

    dessa textualidade.

    Ao analisar a questo da textualidade, Salzedas cita Schmidt e afirma que a funo scio-

    comunicativa do texto deriva de seus interlocutores; j os sinais comunicativos provm do

    cdigo. Os aspectos lingstico e social manifestam-se simultaneamente no texto. Esse

    aspecto, de acordo com Schmidt (1978, p. 165), exclui a sua concepo como estruturas

    puramente verbais e abordveis exclusivamente por fatores lingsticos.

    Texto usualmente relacionado com a escrita (o verbal), e o leitor com um decodificador

    das palavras. No entanto, texto, em sentido amplo, pode designar toda e qualquer

    manifestao da capacidade textual do ser humano. Assim, o texto existe no apenas com

    palavras mas tambm com imagens. Caso contrrio, como explicaramos ler os olhos de

    algum, ler um gesto ou uma situao que se apresenta diante de ns?

    Da mesma forma que o texto verbal, o texto no-verbal uma linguagem, uma experincia

    quotidiana; e por utilizar outros tipos de expresso do fazer humano, torna-se um complexo

    ato de recepo.Ainda que os recursos utilizados para o texto verbal e o texto no-verbal sejam os mesmos,

    os meios diferem. A pintura vista como arte espacial, enquanto a literatura, como arte

    temporal. Lessing, um dos maiores questionadores dessa relao, caracteriza os limites

    destas duas artes, literatura e pintura, afirmando que a pintura recorre a figuras e cores no

    espao, e seus objetos so corpos com qualidades visveis, e a poesia recorre a sons

    articulados no tempo, seu objeto so aes que se sucedem (apud Oliveira, 1999, p. 16).

    Esboamos, at o momento, um panorama de algumas concepes textuais, apenas, comoponto de partida para nossa discusso. No entanto, para a anlise que pretendemos

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    7/13

    desenvolver tendo como base o texto e a imagem, interessa-nos, especialmente, a

    abordagem do texto proposta pela Esttica da Recepo, por considerar no s o aspecto

    da produo como tambm a leitura da obra.

    Os tericos alemes da Escola de Constana conceberam a recepo como uma

    concretizao pertinente estrutura da obra, no s no momento da produo como

    tambm da sua leitura, a qual pode ser estudada esteticamente. Ingarden e Vodicka deram

    incio aos primeiros estudos da recepo. Para Ingarden, os pontos de indeterminao que

    permeiam a estrutura da obra so preenchidos e atualizados pelo leitor. Corroborando essa

    discusso, Vodicka considera a obra um signo esttico direcionado ao leitor, cuja funo

    ser reconstituir historicamente essa recepo para concretiz-la.

    As idias de Vodicka e Ingarden so reformuladas, anos depois, por tericos como Iser eJauss, que defendem a concretizao como um processo de interao entre texto e leitor,

    atividade de preenchimento dos vazios ou das lacunas do texto, desencadeando o processo

    de comunicao prprio literatura. Em 1970, Iser inicia uma reflexo sobre a leitura com

    A estrutura apelativa do texto, sistematizada seis anos depois quando publica O ato da

    leitura. Tanto Iser quanto Jauss partem da idia de que a obra, enquanto literria, ainda

    no existe at ser ativada pelo leitor. Ratificando esse posicionamento, O ato da leitura v.

    1 (p. 51) traz a seguinte afirmao de Iser: A obra o ser constitudo do texto na

    conscincia do leitor.

    Propondo uma esttica da recepo, Jauss apresentava um programa de estudos fundado na

    efetiva recepo histrico-literria das obras. Iser, por sua vez, postulava uma esttica do

    efeito. Isso implica ser o trabalho de recepo precedido por uma constituio prvia do

    texto, que o especificaria como literrio. Em La estructura apelativa de los textos, Iser

    afirma: os textos tm um contedo que os fazem portadores de significaes, e acrescenta:

    Un texto, se suele decir, expone algo, y la significacin de lo expuesto existeindependientemente de las diferentes reacciones que tal significado puede ocasionar

    (1989, p. 134).

    Decorrente dessas explicaes, pode-se perceber quo importante se tornou a figura do

    leitor. Retomando a idia de que o texto (verbal ou visual) um tecido, preciso descobrir

    os fios que compem o texto, instaurar-lhe o sentido, concretizar o ato da leitura. O texto

    s existe quando lido, da a interveno do leitor ser parte importante no jogo do ver e do

    olhar, no jogo da imaginao.

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    8/13

    2.2. Leitura e interlocuo: a relao texto - leitor

    Ler pressupe o textoum tecido, trama, tessitura, encadeamento de palavras, pelo qual se

    escreve o mundo. No , todavia, o mero deciframento que constitui a leitura. , partindo

    do texto, atribuir-lhe significado, conseguir relacion-lo a outros textos significativos,

    procurar a inter e a intra-textualidade. Texto e leitor estabelecem uma relao que pode ser

    contrastada com a didica, entre parceiros, e entendida como uma forma de interao.

    relao textoleitor falta a situao face a face, prpria de outras formas de interao

    social. Diferente de uma relao didica, em que os interlocutores esto em sintonia e

    podem mutuamente se perguntar, diante do texto o leitor no consegue extrair a certeza de

    que sua compreenso justa. Consideramos, ainda, que as rplicas de cada parceiro, nadidica, tm um fim especfico e esto integradas em um contexto de aes; j as relaes

    textoleitor no apresentam um quadro de referncia semelhante.

    No mundo social, a relao interativa deriva da impossibilidade de experimentar-se a

    vivncia alheia; a situao e as convenes que renem os parceiros funcionam como

    reguladores dessa experincia. Do mesmo modo, so os vazios - a assimetria essencial

    entre texto e leitor - que do incio comunicao no processo de leitura.

    A Esttica da Recepo d nfase ao papel do leitor, ao contrrio das estticas anteriores;coloca-o como co-autor da obra, porque essa somente se materializa na recepo. A obra

    oferece pistas a serem desvendadas pelo leitor, mas apresenta muitos espaos em branco,

    para os quais o leitor no encontra respostas e precisa acionar seu imaginrio para dar

    continuidade relao. Do leitor dependem os textos para se revelarem em sua plenitude,

    conforme pontifica Iser (1989, p. 150) emEl proceso de lectura:

    autor y lector participan por eso en un juego de fantasa, lo que no tendra lugar sel texto pretendiese ser algo ms que reglas de juego. Pues el lector slo obtiene

    satisfaccin cuando pone en juego su productividad, y ello slo ocurre cuando eltexto ofrece la posibilidad de ejercitar nuestras capacidades.

    Discutindo a relao texto leitor apresentada por Iser, entendemos que o processo de

    recepo inicia-se antes do contato do leitor com a obra. Aquele possui referncias

    (horizonte) de mundo, nas quais busca inserir o texto que se lhe apresenta. Por sua vez, a

    obra poder aproximar-se ou distanciar-se desse horizonte, dependendo das expectativas

    do leitor. No processo de recepo, o papel do texto fundamental: este no pode

    oferecer uma imagem totalmente fechada, acabada do universo temtico; ao contrrio,

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    9/13

    precisa incluir espaos para que o leitor utilize sua criatividade e desperte o jogo presente

    no ato da recepo.

    A leitura s se torna prazerosa no momento em que a produtividade do leitor entra em

    jogo. Nesse processo, o leitor no passivo, pois sua funo descobrir os fios que tecem

    o texto, ser um agente que procura significaes; pelo texto que se d o encontro com o

    autor, ausente - o plo artstico. correto afirmar que a leitura um processo de

    interlocuo entre leitor e autor a ser mediado pelo texto. Segundo Iser, em O ato da

    leiturav. 1 (p. 10), preciso descrever o processo da leitura como interao dinmica

    entre texto e leitor.

    O leitor - plo esttico - reconstri o texto na sua leitura, atribuindo-lhe a sua significao;

    o autor - instncia discursiva que produz o texto - atribuiu uma significao a sua obra,imaginou seus interlocutores, mas no controla o processo de leitura de seu leitor. Ambos

    esto distantes no tempo e no espao. O texto adquire autonomia, escapa do autor e se

    entrega ao olhar do outro. Nunca mais ser o mesmo. Confirmando o exposto acima,

    Iser deduz quela obra literaria posee dos polos que podemos llamar polo artstico y polo

    esttico, siendo el artstico el texto creado por el autor, y el esttico la concrecin

    realizada por el lector(1989, p. 149).

    Decorrente dessa situao de distanciamento, a relao entre emissor e receptor torna-setotalmente assimtrica na leitura, conforme posiciona Wolfgang Iser. atravs da

    estrutura do texto e nas suas relaes internas (cotexto), que o leitor recria a situao

    externa, de produo (contexto), necessria compreenso da obra. O aspecto interno

    que vai dar ao leitor o aspecto externo do texto. Dessa forma, a leitura um objeto a ser

    construdo no prprio texto. preciso estabelecer a simetria, o equilbrio, a harmonia

    entre os dois plos, atualizar o texto, recuperar o cdigo.

    A obra de arte, por ser plurissignificativa, permite mltiplas leituras, mas isso nosignifica que o leitor possa dar total liberdade ao seu desejo interpretativo. A recepo

    programada pelo texto, da o leitor no poder ignorar os sinais deixados pelo autor. O

    texto precisa autorizar as leituras. A obra tanto mais valiosa quanto mais prope ao

    leitor desafios no previstos pelas suas expectativas.

    Sendo assim, o leitor interfere criadoramente no texto, dialoga com ele, num ato de

    comunicao legtimo. O dilogo, contudo, no capaz de mostrar o quo precisas so as

    apreenses feitas pelo leitor. Isso se d porque, neste caso, no possvel assegurar o

    controle da fluncia comunicativa pela ausncia de um quadro de referncias. Assim, a

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    10/13

    obra fornece pistas, sinais a serem seguidos pelo leitor. H ainda muitos espaos em

    branco, nos quais o leitor no encontra orientao e recorrer ao seu imaginrio para dar

    continuidade ao processo de comunicao.

    A interao textoleitor apresenta como pr-condio o fato de que, muitas vezes, h um

    distanciamento e/ou uma defasagem entre obra e leitor, pois esto inseridos em horizontes

    histricos que precisam fundir-se para que a comunicao acontea.

    O leitor possui suas referncias do mundo: vivncias pessoais, sociais, culturais, histricas,

    normas filosficas, estticas, religiosas, ideolgicas, ou seja, o leitor apresenta um

    horizonte limitado, mas que pode transformar-se e expandir-se. O texto, por sua vez, pode

    confirmar ou modificar esse horizonte, dependendo das expectativas do leitor, que o

    recepciona e o avalia de acordo com tudo o que conhece e aceita.Ampliando essa discusso, o alemo H. Robert Jauss prope considerar a primeira leitura

    da obra, isto , resgatar a leitura dominante na poca em que o texto foi escrito. Jauss

    (1994, p. 35) considera que:

    A reconstruo do horizonte de expectativa sob o qual uma obra foi criada erecebida no passado possibilita, por outro lado, que se apresentem as questes

    para as quais o texto constituiu uma resposta e que se descortine, assim, a maneirapela qual o leitor de outrora ter encarado e compreendido a obra.

    Essa afirmao traz luz a diferena entre a compreenso passada e a presente de uma

    obra e possibilita conhecer a histria de sua recepo, que intermediar ambas as

    situaes. O distanciamento entre os horizontes histricos do texto e do leitor - so os

    quadros de referncias denominados por Jauss de horizontes de expectativas, os quais

    integram as convenes estticas e ideolgicas capazes de possibilitar a produo

    recepo de um texto.

    A fuso de horizontes de expectativas se d no ato de produo recepo, visto que as

    expectativas do autor se evidenciam no texto e as do leitor so transferidas a ele.Fuso dehorizontessignifica o processo de intercmbio do leitor com a obra do passado; esta, com o

    decorrer da histria, vai se apropriando dos horizontes dos novos contextos temporais.

    no texto que os dois horizontes podem identificar-se ou distanciar-se. Do grau de

    identificao ou de distanciamento do leitor em relao obra, dependem as possibilidades

    de dilogo.

    O horizonte de expectativas do leitor permanece inalterado se a obra confirma o sistema de

    valores e normas j existente. Diferentemente, o leitor, diante de um texto que se distancia

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    11/13

    de seu horizonte de expectativas, poder responder aos novos desafios, dando possibilidade

    obra de atuar sobre seu esquema de expectativa.

    O ato de leitura se completa quando o leitor, aps comparar a obra com a tradio e os

    elementos de sua cultura, passa a inclu-la ou no como parte de seu horizonte de

    expectativas, o qual ser mantido ou preparado para novas leituras ou experincias que

    rompem com os esquemas estabelecidos.

    Wolfgang Iser busca posicionar o papel do receptor: medida que l, o leitor vai

    aumentando seu horizonte de expectativa; o texto lido est na memria e o leitor poder

    dispor o texto de forma diferente. Quanto mais leituras a pessoa realiza, maior a

    tendncia para a modificao de seus horizontes, pois a constante confirmao de suas

    expectativas resulta em uma monotonia que uma obra mais desafiadora poder quebrar.Segundo Iser, o texto no diz tudo, existem vazios que o leitor vai preencher a partir das

    relaes que faz no texto. o dilogo com o texto que vai preencher esses vazios. Em seu

    ensaio intitulado Rplicas, Iser afirma que los lugares vacos son condicin de

    comunicacin del texto, y no cualidades constitutivas de su carcter artstico (1989, p.

    198).

    H , portanto, entre autor e leitor - plo artstico e plo esttico - sempre uma assimetria,

    donde resulta um espao capaz de provocar simultaneamente o dilogo e a controvrsia.Novos leitores preenchero esse espao, em outras pocas e contextos, para questionarem a

    realidade da obra.

    Para Barthes, em Combien de lectures? (1970, p. 22-23), a releitura proposta para

    multiplicar o texto nas suas diferenas e no seu aspecto plural; toda leitura do texto

    sempre uma leitura nova, pois o texto tem natureza plural. A releitura desencadeia o jogo;

    este salvar o texto da repetio, apresentando o texto novo. Iser corrobora o pensamento

    de Barthes quando afirma que la relectura de un mismo texto es capaz de producirinnovaciones (Ibid, p. 154).

    Em O prazer do texto, Barthes (1973, p. 24-25) compara as duas instncias relacionadas

    ao texto: o plo produtor e o plo receptor quando afirma que na cena do texto no h

    ribalta: no existe por trs do texto ningum ativo (o escritor) e diante dele ningum

    passivo (o leitor); no h um sujeito e um objeto.

    A partir do ato da leitura, h a possibilidade do leitor se transformar, porque no passivo.

    Autor e leitor desempenham partes iguais no jogo da imaginao. Se aquele institui normas

    e regras de composio, oferecendo indicadores de leitura, este dever seguir, adentrando

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    12/13

    num universo imaginrio, carregado de pistas, se quiser continuar seu jogo literrio at o

    fim.

    O ato de ler, portanto, duas vezes gratificante: primeiro, pela possibilidade de o sujeito

    descobrir-se no texto, no contato com o conhecido; segundo, na descoberta de modos

    alternativos de ser quando experimenta o desconhecido. Quanto mais leituras o leitor

    realiza, maior ser a ampliao de seus horizontes, mais ativa ser a interao com os

    textos estudados. A construo do leitor se d quando este capaz de lanar outro(s)

    olhar(es) ao texto, quando a estesia e a fruio vo faz -lo construir suas prprias

    leituras, sejam verbais ou visuais.

    3. CONSIDERAES FINAIS

    Finalizando, destacamos um certo olhar sobre o texto e o leitor: quo interativa essa

    relao. O primeiro no existe sem o segundo; este no se realiza sem aquele. possvel

    desenvolver um olhar ativo partindo das relaes entre o verbal e o no-verbal como um

    recurso motivador na recepo do texto. a essa proposta que direcionamos o nosso

    trabalho. A Esttica da Recepo vem fundamentar pontos comuns na anlise dos textos: a

    mobilidade do ponto de vista, a releitura da obra, o horizonte de expectativa entre outros. Oaprendizado do ver e do olhar levar o leitor a entender as regras do jogo da leitura;

    este ser tanto mais interativo quanto maior for a participao do leitor.

    4. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AGUIAR E SILVA, V. M. Teoria e metodologia literrias. Lisboa: Universidade Aberta,1990.

    BARTHES, R. Combien de lectures? In: S/Z. Paris: Seuil, 1970.BARTHES, R. O prazer do texto. So Paulo: Perspectiva, 1977.

    FERRARA, L. Leitura sem palavras. So Paulo: tica, 1997.

    ISER, W. col. WARNING, R. Esttica de la recepcin. Madrid: Visor, 1989.

    ISER, W. O ato da leitura. 1v. So Paulo: Editora 34, 1996.

    ISER, W. O ato da leitu ra. 2v. So Paulo: Editora 34, 1999.

    JAUSS, H. R. col. WARNING, R. Esttica de la recepcin. Madrid: Visor, 1989.

  • 7/25/2019 Sie 2008 Letr Arti a Relacao Do Texto Leitor No Ato Da Leitura

    13/13

    OLIVEIRA, V. S. Poesia e pintura. Um dilogo em trs dimenses. So Paulo: Editora daUNESP, 1999.

    SALZEDAS, N. A. M. Apostila- Material xerocopiadoDisciplina Teoria daLiteratura, Departamento de Literatura, F.L.H.P., UnespCmpus de Assis, s.d.

    ZILBERMAN, R. Esttica da recepo e histria da literatura. So Paulo: tica, 1989.