SUMÁRIO TOMADA DE DECISÕES EM ENERGIA E ANÁLISE … · A análise das decisões nos fornece uma...

75
Revista Análise /2010 SUMÁRIO TOMADA DE DECISÕES EM ENERGIA E ANÁLISE DE VALORES ATRAVÉS DE MODELOS PROBABILÍSTICOS ....................................................................................... 2 Murolo, Afrânio Carlos UTILIZAÇÃO DE CRM (CUSTOMER RELATIONSHIP MANAGEMENT) NA MODALIDADE SAAS (SOFTWARE AS A SERVICE) – A PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ......................................... 12 Vivaldo José, Fabio Lanza, Vinicius Roberto Torres, Aimar Martins e Victor Marcelino Dias UM ESTUDO PRÁTICO SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR....... 23 Prof. Marco Antonio Paletta CAPITAL FINANCEIRO, CRISE E MUNDIALIZAÇÃO NO CONTEXTO DA DÉCADA DE 70 ................................................................................................................... 32 Cristiano Monteiro da Silva UMA INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO DE AJUSTE NA AMÉRICA LATINA A PARTIR DA TEORIA DE SISTEMAS-MUNDO............................................................... 43 Paulo Daniel e Silva OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL E SUAS INTERFACES: POLÍTICAS COMPENSATÓRIAS VERSUS EMANCIPATÓRIAS. 55 Elisiante Sartori ACUMULAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL: REFLEXOS NA ECONOMIA E POLÍTICA CONTEMPORANEA .......................................................................................69 Thiago Rodrigues Miota

Transcript of SUMÁRIO TOMADA DE DECISÕES EM ENERGIA E ANÁLISE … · A análise das decisões nos fornece uma...

Revista Análise /2010

SUMÁRIO

TOMADA DE DECISÕES EM ENERGIA E ANÁLISE DE VALORES ATRAVÉS DE MODELOS PROBABILÍSTICOS ....................................................................................... 2

Murolo, Afrânio Carlos

UTILIZAÇÃO DE CRM (CUSTOMER RELATIONSHIP MANAGEMENT) NA MODALIDADE SAAS (SOFTWARE AS A SERVICE) – A PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ......................................... 12

Vivaldo José, Fabio Lanza, Vinicius Roberto Torres,

Aimar Martins e Victor Marcelino Dias

UM ESTUDO PRÁTICO SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR....... 23 Prof. Marco Antonio Paletta

CAPITAL FINANCEIRO, CRISE E MUNDIALIZAÇÃO NO CONTEXTO DA DÉCADA DE 70 ................................................................................................................... 32

Cristiano Monteiro da Silva

UMA INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO DE AJUSTE NA AMÉRICA LATINA A

PARTIR DA TEORIA DE SISTEMAS-MUNDO............................................................... 43

Paulo Daniel e Silva

OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL E SUAS

INTERFACES: POLÍTICAS COMPENSATÓRIAS VERSUS EMANCIPATÓRIAS. 55

Elisiante Sartori

ACUMULAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL: REFLEXOS NA ECONOMIA E

POLÍTICA CONTEMPORANEA .......................................................................................69

Thiago Rodrigues Miota

������� �����

2

TOMADA DE DECISÕES EM ENERGIA E ANÁLISE DE VALORES

ATRAVÉS DE MODELOS PROBABILÍSTICOS

Murolo, Afrânio Carlos∗∗∗∗

Resumo

A análise das decisões nos fornece uma metodologia racional para os processos de tomada

de decisão, considerando cenários cada vez mais complexos, que se apresentam em face das

incertezas geradas pelo mercado consumidor energético.

Para auxiliar nesses processos e na identificação de um melhor caminho na solução desses

problemas, envolvendo decisões de cunho sequenciais, utilizamos árvores de decisão como critério

para a condição de chegar à melhor solução entre as várias alternativas, com o propósito de

minimização do custo esperado.

Cabe também salientar, que esta técnica utilizada neste artigo, associa variáveis de decisão

em modelos energéticos associando à implantação de um programa piloto, através de dados

experimentais, determinando o custo mínimo esperado e, consequentemente, atingindo a política

ótima de mercado.

1. Introdução

Uma técnica muito utilizada em pesquisa operacional para a identificação do melhor caminho

na solução de problemas, que envolvem decisões seqüenciais, é denominada árvores de decisões.

Pode-se dizer que árvores de decisão, representam processos de decisão por meio de nós. Estes

nós representam pontos no tempo. Contudo, esse processo, também é utilizado na determinação de

decisões ótimas, quando se apresentam, de certa forma, muito complexos.

Os passos para a construção de uma árvore são caracterizados pela determinação dos

caminhos a serem percorridos na determinação das probabilidades associadas aos eventos,

associação dos valores monetários para cada uma das alternativas, e resolução do modelo em

função da avaliação dos valores esperados em cada nó.

Podemos enunciar, também, que esta técnica associa riscos versus retorno de projetos de

investimento, dado que a mesma consegue aliar situações de tomada de decisão em horizontes

futuros.

∗ Mestre em engenharia da produção. Professor do curso de Administração de Empresas do UNIANCHIETA.

������� �����

3

Uma decisão recomendada a ser admitida como possível solução de um problema é aquela

que determina um ganho esperado máximo, ou um custo mínimo esperado. Portanto, as decisões

que tornam não compatíveis com o processo tem seus ramos excluídos da árvore de decisão.

2. Modelos de Decisão

Nos anos recentes, a análise de decisões e modelos de decisões tem-se tornado peças

importantes nos processos de tomada de decisão nos negócios, indústria e governo. Diante da

incerteza, as quais estão direcionadas num problema, a análise de decisões fornece uma

metodologia racional para a tomada de decisão, quando sentimos que as possíveis consequências

daquela decisão são muito importantes para a empresa ou para o negócio em análise. Portanto,

podemos salientar que embora incertos quanto às consequências de uma decisão, estamos nos

deparando com escolhas que envolvem riscos. No entanto, os modelos de decisão permitem ao

analista escolher entre alternativas de uma maneira ótima, levando-se em consideração dados

experimentais com o propósito de redução do grau de incerteza.

Podemos definir o processo de decisão como aquele que requer um único ou diversos

conjuntos das decisões possíveis para sua composição. Cada decisão possível tem um ganho ou

perda a ele associado, o qual é determinado por circunstâncias externas ao processo.

Designaremos as decisões possíveis (ações) por a1, a2, ..., am; os estados naturais C

(cenários) por c1, c2, ..., cm; e o retorno esperado por E (ai).

A tabela 1 é um exemplo de identificação da matriz de ganhos para as possíveis entradas de

ações e cenários:

Tabela 1 - Matriz de ganho

Ação/Cenário c1

pi (probabilidade)

c2, ..., cm

pi (probabilidade)

a1 g11 g12 g1m

a2 g21 g22 g2m

.

.

.

am

.

.

.

gm1

. .

. .

. .

gm2 gmm

2.1. Considerações teóricas sobre o Teorema de Bayes

A determinação de P(B), através da utilização do teorema da probabilidade total

������� �����

4

P(B) = P(B/R1). P(R1)+ P(B/R2). P(R2) + ... + P(B/Rn). P(Rn), precisamos obviamente

conhecer as probabilidades condicionais P(B/R1), P(B/R2), ..., P(B/Rn), que representaremos de modo

genérico por P(B/R), para i = 1,2, ..., n.

Se desejarmos avaliar uma probabilidade condicional do tipo P(R1/B), devemos utilizar então:

P(Ri/B) = P(Ri ∩ B) / P(B)

A expressão do numerador P(Ri ∩ B) / P(B/Ri) . P(Ri)

e a expressão do denominador P(B) = P(B/R1). P(R1) + P(B/R2). P(R2) + ... + P(B/Rn). P(Rn)

Substituindo-se estes valores, obtém-se:

Observa-se que a expressão anterior, avalia a probabilidade da "causa" Ri, dado o efeito B.

O critério, a priori (ou de Bayes), também é utilizado para determinar a decisão que maximiza

o ganho esperado (MUROLO et al., 1995, p. 176).

3. Critério Minimax, Mediano e Otimista

Podemos inserir neste critério, três modalidades utilizadas para relacionar a decisão, e dentre

elas configuram o Critério Minimax (ou pessimista), Critério Otimista e o Critério Mediano.

O primeiro critério (pessimista) visa maximizar o possível ganho mínimo, quando estamos

trabalhando com uma matriz de ganho. Já o segundo critério, determina a maximização do possível

ganho e; finalmente, o critério mediano é determinado pela média de ganhos mínima e máxima,

esperando ser o maior possível entre as decisões formuladas.

Como exemplificação desses critérios mencionados anteriormente, examinaremos a tabela 2.

Tabela 2 - Critérios: Minimax, Otimista e Mediano

Estados naturais/Cenários c1 c2

a1

(Consumo) 80 700

a2

(Manutenção) -150 2.200

P(B/R) . P(Ri)

P(Ri/B) =

P(B) = P(B/R1) . P(R1) + P(B/R2) . P(R2) + ... + P(B/Rn) . P(Rn)

������� �����

5

a1= 700 + 80/2 = 390 e a2 = 2.200-150/2 = 1.025

Conclui-se pela 1ª. Linha da matriz de ganho, que o ganho mínimo para a decisão a1 é igual a

80, sendo o ganho mínimo na 2ª. Linha igual a -150. Portanto, o ganho mínimo para a decisão a1 =

80, e o ganho mínimo para a decisão a2 = -150.

Como o Critério Minimax maximiza o possível ganho mínimo, tem-se que 80 é o valor de

ganho correlacionado à condição de decisão a1.

Para calcularmos o ganho sob a ótica do Critério Mediano, podemos estabelecer:

• Ganho máximo para a1 = 700, e ganho mínimo = 80

• Ganho máximo para a2 = 2.200, e ganho mínimo = -150.

Efetuando-se o cálculo das médias aritméticas, temos:

donde se conclui, que a decisão mais eficaz é a a2, baseada neste critério.

Finalizando, na linha a2 e cenário, relativo à coluna c2, temos o ganho igual a 2.200, decisão

esta, que pode ser observada sob o ponto de vista do Critério Otimista.

4. Uso da Técnica de Bayes na solução de problemas na tomada de decisão, através do

cálculo da distribuição, a posteriori

Vamos considerar neste exemplo, um estudo de viabilidade, dado pela possível substituição

de fontes geradoras de energia elétrica para fontes geradoras de energia a óleo. Neste estudo,

vamos analisar algumas decisões recomendadas para o problema, tais como: economia, inalterado e

perda, relacionados a estados naturais; compondo com essa associação um programa piloto de fonte

de energia geradora.

Para sermos mais específicos, a empresa em questão é detentora de uma rede de hotéis e

está buscando informações técnicas e formas de minimização de custos e, para tanto, observa

atentamente suas alternativas possíveis e viáveis para redução de seus custos energéticos.

Após consulta realizada em uma companhia fabricante de geradores a óleo, estimou-se um

custo de conversão de energia elétrica para energia a óleo, na ordem de 500.000 u.m. Porém, o

fabricante afirma, de forma categórica, que se a empresa efetuar a conversão ela deterá um lucro de

1.050 u.m., à medida que a conversão for substancialmente efetivada e incorporada pela empresa, ao

longo do tempo. Uma possibilidade que pode, até certo ponto ser remota, porém não impossível é de

que nada ocorra em termos de custos com a implantação da conversão.

������� �����

6

Admite-se que o fabricante tem experiência em situações similares, sendo que para esse

problema de conversão de energia, caracterizou a distribuição à priori, de acordo com o levantamento

de dados de mercado anteriores, e destinaram 25% de probabilidade de lucro de 1.050 u.m., 45%

para o custo de conversão e 30% se nada vier a ocorrer com a conversão.

Diante do objetivo do programa de conversão de energia, a própria empresa decidiu implantar

um programa piloto, com a finalidade de se avaliar indicadores, que se observem à própria realização

do programa, como também, a sua viabilidade econômica de conversão de energia, propriamente

dita.

Tendo-se em vista que os gastos operacionais para a adequação e implementação do

programa a ser orçado em torno de 50.000 u.m., determina-se como amostra significativa para a

avaliação três geradores a serem testados por um período de três bimestres, no tocante às tomadas

de decisão: economia, inalterado e perda, sendo que os estados naturais pressupostos pelo

programa piloto, indicariam: perda, economia e processo inalterado.

Os valores correspondentes à matriz de ganho e programa piloto apresentam-se, de acordo

com as tabelas 3 e 4, respectivamente, onde são descriminados, os valores relativos à matriz de

ganho em u.m., e ao programa piloto.

Tabela 3 - Matriz de Ganho (u.m.)

Tabela 4 - Probabilidades relativas ao Programa Piloto

Temos abaixo, o delineamento dos eventos (iθ ) e decisões (ai), com o intuito de

maximização da economia esperada no processo de tomada de decisão, observando que o mesmo

será analisado sob a ótica de dois estágios.

O primeiro estágio deve-se ao fato da realização ou não do programa piloto e, em

consequência, o segundo estágio versará sobre a identificação e decisão da conversão de energia

proposta pelo fabricante.

AI = Decidir pela não aceitação/realização do programa piloto.

AII = Decidir pela aceitação/realização do programa piloto

Decisão Cenários c1 c2 c3

a1 1.050 0 -500

a2 0 0 0

Indicação de Economia Sem alteração Perda de Economia

Economia 0,6 0,3 0,1

Estável 0,4 0,4 0,2

Perda 0,1 0,5 0,4

������� �����

7

a1 = Decisão pela conversão para geradores a óleo

a2 = Decisão pela não conversão de geradores a óleo

c1 = Estabelece, em termos de operação, que os geradores a óleo são mais baratos que o

sistema elétrico de energia, ora utilizado.

c2 = Estabelece que o custo do sistema elétrico de energia na em operação são iguais aos

geradores a óleo

c3 = Estabelece que o sistema elétrico de energia apresenta custos superiores na operação,

em relação aos geradores a óleo

1θ = Evento indicando economia pela implantação do programa piloto (geradores a óleo)

2θ = Evento indicando inalterado (nem economia, nem perda)

3θ = Indicação de perda

5. Resultados e Discussão

A decisão da realização ou não do programa piloto está pautada nos respectivos ganhos

esperados, relativos às decisões: não aceitação e aceitação do programa piloto. Portanto, deve-se

calcular os ganhos relativos às decisões: a1 e a2., se o programa piloto não se realizar.

Verifica-se sobre o critério a priori, que o ganho máximo está associado a a1, logo, optaremos

pela decisão de conversão de geradores a óleo.

De acordo com os dados da tabela 5, podem-se enunciar a probabilidade condicional, a priori:

Tabela 5 – Cálculos de distribuição a priori

1θ 2θ 3θ

P ( 1θ /c1) = 0,6 P ( 1θ /c2) = 0,4 P ( 1θ /c3) = 0,1

P ( 2θ /c1) = 0,3 P ( 2θ /c2) = 0,4 P ( 2θ /c3) = 0,5

P ( 3θ /c1) = 0,1 P ( 3θ /c2) = 0,2 P ( 3θ /c3) = 0,4

E (G1) = (1050) (0,25) + (0) (0,30) + (-500) (0,45) = 37,5

E (G2) = (0) (0,25) + (0) (0,30) + (0) (0,45) = 0

������� �����

8

Uniformizando os dados em uma tabela, temos:

Tabela 6 - Cálculo da Distribuição a posteriori de i

θ

1θ 2θ 3θ

P (c1/ 1θ ) = 0,4762 P (c1/ 2θ ) = 0,1786 P (c1/ 3θ ) = 0,0943

P (c2/ 1θ ) = 0,3810 P (c2/ 2θ ) = 0,2857 P (c2/ 3θ ) = 0,2264

P (c3/ 1θ ) = 0,1429 P (c3/ 2θ ) = 0,5357 P (c3/ 3θ ) = 0,6792

Segue da análise feita anteriormente, que E(G1) = 37,5 e E(G2) = 0. Como E(G1) > E(G2),

determinou-se optar pela realização do programa piloto, dado por AII.

Cabe salientar, que para a execução do programa piloto, o seu custo está orçado na ordem

de 50 u.m., portanto, todos os cálculos devem ser deduzidos deste valor e dispostos da mesma

formam a árvore de decisão.

Precisaremos, neste momento, efetuar alguns cálculos em relação às decisões a1 e a2 e,

consequentemente, em relação aos eventos 1θ , 2θ e 3θ , para definirmos com mais exatidão os nós

e ramos que caracterizam o maior valor esperado para o processo de tomada decisão.

Supondo que o resultado do programa seja 1θ (vide tabela), então calcularemos os ganhos

esperados, com relação a a1 e a2.

P ( 1θ /c1) . P(c1)

P (c1/ 1θ ) =

P ( 1θ /c1) . p(c1) + P ( 1θ /c2) . p(c2) + P ( 1θ /c3) . p(c3)

(0,6) (0,25)

P (c1/ 1θ ) = = 0,476,2

(0,6) (025) + (0,4) (0,3) + (0,1) (0,45)

1050 -50 = 1000 e -500 - 50 = -550

E (G1/ 1θ ) = (1000) (0,4762) + (-50) (0,3810) + (-550) (0,1429) = 378,55

E (G2/ 2θ ) = (-50) (0,4762) + (-50) (0,7810) + (-50) (0,1429) = -50

������� �����

9

Deduz-se que a decisão a ser utilizada, tendo em vista o critério a posteriori é a1 (conversão

para geradores a óleo).

Da mesma forma como foi analisado 1θ em relação à a1 e a2, faremos os cálculos e análises

de decisão, observando 2θ e 3θ .

Com relação a 2θ (vide tabela 6). Diante de a1 e a2, temos:

Logo, a decisão recomendada sobre o critério em questão é a2.

Finalmente, em relação a 3θ , diante das decisões a1 e a2, temos:

Portanto, a decisão recomendada é baseada nos cálculos acima, é a2.

O próximo passo será o cálculo de P( 1θ ), P ( 2θ ) e P ( 3θ ), dadas por suas probabilidades

totais com o objetivo de fechamento das probabilidades da árvore de decisão, e tomadas de decisão

para o nó mais viável em termos de ganho esperado.

Segue, que:

E finalmente:

E (G1/ 2θ ) = (1000) (0,1786) + (-50) (0,2857) + (-550) (0,5357) = -130,32

E (G2/ 2θ ) = (-50) (0,1786) + (-50) (0,2857) + (-50) (0,5357) = -50

E (G1/ 3θ) = (1000) (0,0943) + (-50) (0,2264) + (-50) (0,6792) = -290,30

E (G2/ 3θ) = (-50)

P (1θ ) = P (

1θ /S1) P(S1) + P ( 1θ /S2) P(S2) + P ( 1θ /S3) P(S3)

P (1θ ) = (0,6) (0,25) + (0,4) (0,7) + (0,1) (0,45) =

P (2θ ) = P (

2θ /S1) P(S1) + P ( 2θ /S2) P(S2) + P ( 2θ /S3) P(S3)

P (2θ ) =0,420

P (3θ) =0,265

������� �����

10

Árvore de Decisão: Figura 1

2

A1

3

A2

1

a137,5

1050

0

-550

C1

C2

0,25

0,30

C3

0,45

0

0

0

0

C1

C2

0,25

0,30 C3

0,45

01

4

378,55

0,315

1000

C1

C2

0,3810 C3

0,1429-50

-550

0,4762

378,55a1

a2

C1

0,4762

C2

0,3810C30,1429

-50

-50

-50

5

02 a1

-130,32

C1

0,1786

C2

0,2857

C3

0,5357

1000

-550

-50

a2

-50

C1

0,1786

C2

0,2857

C3

0,5357

-50

-50

-50

030,265

6

a1

a2

-290,30

-50

C1

0,0943

C2

0,2264C3

0,6792

C1

0,0943

C2

0,2265

C3

0,6792

1000

-50

-550

-50

-50

-50

-50

37,5

85

������� �����

11

A árvore de decisões apresentada na figura 1, mostra com clareza todo o processo de

decisão, acompanhado dos nós e ramos e suas probabilidades. Com base nos cálculos efetuados

sob o critério a priori e a posteriori, verificou-se que a decisão a ser tomada será AII, e em relação a

1θ , 2θ e 3θ , as decisões foram, respectivamente, a1, a2 e a2. Portanto, a decisão por a1, a2 e a2 e seus

valores ganhos correspondentes, determinam na árvore de decisão os ramos 4, 5 e 6.

Através dos cálculos efetuados, anteriormente, onde:

6. Conclusão

Comparando o nó esperado no nó 3 (E (nó 3) = 85 u.m.) com o ganho esperado (E (nó 1) =

37,5 u.m.), verifica-se que o nó 3 apresenta um ganho esperado superior, e portanto, é mais viável e

recomendado para a solução do problema, estando também, articulado com a decisão ou caminho AII

(realização do programa piloto).

Portanto, a empresa deve implantar o programa piloto em um primeiro estágio e buscar a

conversão para geradores a óleo, dado por a1, e observando que o maior esperado é no nó 4 de

(378,55 u.m.), considerando 1θ (caso em que o programa piloto indica economia).

7. Referências Bibliográficas

BUNN, D. Appied decision analysis. Nova York : Mc Graw-Hill, 1984

CASSARO, A.C. Sistemas de informação para tomadas de decisão. São Paulo, Atlas, 2003

HILLER, F.S.; LIEBERMAN, G.J. Introdução à Pesquisa Operacional. 3.ed. Rio de

Janeiro:Campus/São Paulo: USP, 1998 .

Goldbarg, Marco Cesar. Otimização Combinatória e Programação Linear : Modelos e Algoritmos. Rio

de Janeiro: Elsevier, 2000.

MUROLO, A.C. et al. Pesquisa Operacional. 3.ed. São Paulo, Atlas, 1997.

MUROLO, A.C. et. al. Estatística para os Cursos de Administração e Ciências Contábeis. 2.ed. São

Paulo, Atlas, 1997.

SCHEINERMAN, R. Matemática Discreta. São Paulo, Thompson, 2003, 532p.

SOUZA, Acilon Batista. Projetos de Investimento de Capital. São Paulo, Atlas, 2003.

E (3) = (valor nó 4) P(1θ )+ (valor nó 5) P( 2θ ) + (valor nó 6) P(

3θ)

E (nó 3)= (378,55) (0,315) + (-50) (0,42) + (-50) (0,265) = 84,99 ≅ 85 u.m.

������� ����� � � �

12

UTILIZAÇÃO DE CRM (CUSTOMER RELATIONSHIP MANAGEMENT) NA

MODALIDADE SAAS (SOFTWARE AS A SERVICE) – A PERCEPÇÃO DE

PROFISSIONAIS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Vivaldo José1, Fabio Lanza2, Vinicius Roberto Torres3, Aimar Martins4, Victor Marcelino Dias5

Resumo: Customer Relationship Management (CRM, Gerenciamento do Relacionamento

com o Cliente), pode ser definido como um processo que compreende a aquisição e utilização

de conhecimento acerca dos clientes de uma empresa, de forma a que esse conhecimento

permita à mesma definir estratégias e práticas de marketing mais eficientes. Esse processo é

viabilizado pela utilização de sistemas de computador, cuja implantação, no entanto, exige

investimentos de porte. Nos últimos anos vem se observando o surgimento de uma alternativa

que deve permitir às empresas, especialmente as de médio e pequeno porte, implantar CRM

sem incorrer em investimentos tão grandes: trata-se da contratação de ferramentas de CRM na

modalidade Software as a Service (SaaS). Nessa forma de contratação, as empresas usuárias

pagam apenas pela efetiva utilização da ferramenta, com o software “rodando” nos

computadores do prestador de serviços, acessadas pelo cliente via WWW. A pesquisa cujos

resultados são aqui apresentados, visou tornar mais explícitos alguns conceitos relativos à

implantação de CRM nessa modalidade, em especial as vantagens e desvantagens de sua

utilização, e conhecer a percepção de profissionais de Tecnologia da Informação (TI) acerca

do assunto, buscando gerar conhecimentos que permitam às empresas conduzir de forma mais

adequada projetos de implantação de CRM

Palavras chave: Gerenciamento do Relacionamento com o Cliente, Software como Serviço,

Terceirização

1BRETERNITZ, Vivaldo José. Doutor em Ciências. Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – Brasil. [email protected]. 2DETOMY, Fabio Lanza. Bacharel em Sistemas de Informação. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – Brasil. [email protected]. 3FREIRE, Vinicius Roberto Torres. Bacharel em Sistemas de Informação. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – Brasil. [email protected]. 4LOPES, Aimar Martins. Mestre em Administração, Professor do Centro Universitário Álvares Penteado e Coordenador do curso de Administração do Centro Universitário Padre Anchieta, Av. Adoniro Ladeira, 94 - CEP 13210-800 – Jundiaí-SP – Brasil. [email protected] [email protected] 5SANTOS. Victor Marcelino Dias. Bacharel em Sistemas de Informação. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – [email protected] .

������� ����� � � �

13

INTRODUÇÃO

Customer Relationship Management (CRM, Gerenciamento do Relacionamento com o

Cliente), pode ser definido como um processo que compreende a aquisição e utilização de

conhecimento acerca dos clientes de uma empresa, de forma a que esse conhecimento permita

à mesma definir estratégias e práticas de marketing mais eficientes. Esse processo é

viabilizado pela utilização de sistemas de computador (GREENBERG, 2001).

Sua adoção pode trazer às empresas, entre outros benefícios, a capacidade de rápida

identificação de tendências e reação a mudanças ambientais, a redução de custos de

marketing, aumento do grau de retenção e fidelização de clientes, facilidade de manutenção

de canais de comunicação com os mesmos, obtenção de feedback e aumento do valor de

cada cliente no longo prazo (BROWN, 2001).

Para a efetiva implantação de CRM, as empresas necessitam efetuar, entre outros, grandes

investimentos em Tecnologia da Informação (TI), necessários à aquisição de licenças de uso

de software, de hardware e contratação de serviços de consultoria. O volume desses

investimentos quase sempre restringe o uso de CRM às empresas de maior porte.

Nos últimos anos vem se observando o surgimento de uma alternativa que deve permitir às

empresas, especialmente as de médio e pequeno porte, implantar CRM sem incorrer em

investimentos tão grandes: trata-se da contratação de ferramentas de CRM na modalidade

Software as a Service (SaaS). Nessa forma de contratação, as empresas usuárias pagam

apenas pela efetiva utilização da ferramenta, com o software “rodando” nos computadores do

prestador de serviços, acessadas pelo cliente via WWW, a partir de computadores

praticamente de qualquer tipo e porte, desde microcomputadores convencionais a dispositivos

portáteis, como handhelds e celulares – The Economist (2006), define SaaS como “a entrega

de software como um serviço baseado na Internet, e não como um produto que precisa ser

comprado, instalado e mantido”.

Diante esse panorama, julgou-se oportuno estudar o assunto, pois a literatura brasileira

acerca do mesmo é bastante reduzida, por ser o tema muito recente em nosso país. Delineou-

se então uma pesquisa que teve como objetivo registrar a percepção de profissionais de TI

com experiência na implantação de ferramentas CRM no que se refere à utilização das

mesmas na modalidade SaaS (CRM/SaaS), em especial as vantagens e desvantagens de sua

utilização, buscando gerar conhecimentos que permitam às empresas conduzir de forma mais

adequada projetos de implantação de CRM nessa modalidade.

������� ����� � � �

14

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Em função do objetivo anteriormente exposto, optou-se por conduzir uma pesquisa

qualitativa de caráter exploratório, nos termos propostos por Mattar (2001), que afirma ser a

pesquisa exploratória apropriada para os estágios iniciais da investigação, quando a

familiaridade, o conhecimento e a compreensão da situação ainda são relativamente pequenos.

Churchill e Peter (2008) afirmam: que quando os pesquisadores pretendem descobrir idéias e

percepções, conduzem pesquisas exploratórias, buscando reunir informações de qualquer

fonte que possam gerar idéias úteis, devendo os mesmos a se preocuparem menos com a

abordagem probabilística e mais com a abertura de linhas de comunicação com aqueles que

têm algo a dizer.

Esta pesquisa foi realizada mediante a realização de um estudo de campo apoiado por

pesquisa bibliográfica. O estudo de campo foi conduzido pela aplicação de entrevistas semi-

estruturadas, levando em conta as afirmações de Triviños (2007), que argumenta que tais

entrevistas enriquecem os resultados da pesquisa por permitirem ao entrevistado manifestar-se

espontaneamente, abordando pontos não previamente considerados pelo entrevistador. Essas

afirmações são corroboradas por Flick (2004) ao referir-se ao que chama de “reserva

complexa de conhecimento” que o entrevistado possui em relação ao tópico em estudo. Este

conhecimento inclui suposições e idéias que não viriam à tona em uma entrevista estruturada.

A pesquisa bibliográfica foi conduzida buscando informações já disponíveis acerca do tema

em livros, artigos científicos etc., no intuito de identificar o que já foi estudado na área, nos

termos propostos por Mattar (2001), que afirma ser esta a forma menos demorada de

amadurecer ou aprofundar um problema de pesquisa.

Foram entrevistados oito profissionais com experiência em TI e em implementação de

CRM; alguns deles eram experientes em sistemas operando na modalidade SaaS. A escolha

de profissionais de TI justifica-se porque eles exercem influência ponderável no processo de

construção de estratégias e adoção de tecnologia nas organizações a que prestam serviços,

pois possuem uma visão ampla dos processos e produtos, das peculiaridades do mercado, da

tecnologia etc.¸ além de atuarem buscando soluções de tecnologia capazes de alavancar a

competitividade dos processos empresariais, trazendo informações do ambiente externo sobre

as melhores práticas, tecnologias emergentes etc. (FERREIRA, 2003).

������� ����� � � �

15

As entrevistas foram realizadas durante o segundo semestre de 2009; seu roteiro básico

compreendeu os seguintes aspectos:

- Conhecimento do modelo SaaS

- Benefícios trazidos às empresas pela adoção de CRM

- Vantagens e desvantagens advindas do uso de SaaS

- Perspectivas quanto ao aumento do uso do modelo SaaS

- Considerações adicionais

Não houve autorização para gravação de todas as entrevistas. Assim, imediatamente

após a realização de cada uma delas, as anotações tomadas pelos pesquisadores foram

complementadas, com o objetivo de reter o maior volume de dados possível. Nos casos em

que foi permitida a gravação, logo após a transcrição da entrevista gravada, também foram

juntadas as informações adicionais obtidas pelos pesquisadores.

Concluídas as entrevistas, os dados foram organizados em conjunto com as informações

coletadas na pesquisa bibliográfica, servindo de base para discussão e análise entre os

pesquisadores, com o intuito de identificar os aspectos relevantes, que poderiam atender aos

objetivos da pesquisa. Em alguns casos, quando se julgou necessário esclarecer pontos

específicos, os entrevistados foram contatados novamente, por telefone ou correio eletrônico.

A tabela 1 abaixo apresenta o perfil dos entrevistados:

Tabela 1: perfil dos entrevistados

Função Empresa em que atua

Diretor Presidente Empresa brasileira, de médio porte, prestadora de

serviços de consultoria e venda de serviços de CRM

Gerente de TI Empresa multinacional de origem japonesa, de grande

porte, da área de telecomunicações

Desenvolvedor (Analista de

Sistemas)

Empresa multinacional de origem japonesa, de grande

porte, da área de telecomunicações

Responsável pelos serviços de

TI para a área de Marketing e

Vendas

Empresa multinacional de origem norte-americana, de

grande porte, da área química

Diretor de TI Empresa brasileira, de médio porte, produtora de

software e prestadora de serviços de consultoria e CRM

Responsável por serviços de

pré-venda

Empresa brasileira, de médio porte, produtora de

software e prestadora de serviços de consultoria e CRM

������� ����� � � �

16

Gerente de Canais e Alianças Empresa multinacional de origem norte-americana, de

grande porte, produtora de software e prestadora de

serviços de CRM

Gerente de Canais e Alianças –

exerce funções similares ao do

entrevistado anteriormente

citado, mas em mercados

diferentes

Empresa multinacional de origem norte-americana, de

grande porte, produtora de software e prestadora de

serviços de CRM

O tamanho da amostra não permite a obtenção de informações conclusivas acerca do

assunto. No entanto, diante do objetivo da presente pesquisa (registrar a percepção de

profissionais de TI com experiência na implantação de ferramentas CRM no que se refere à

utilização das mesmas na modalidade SaaS, em especial as vantagens e desvantagens de sua

utilização, buscando gerar conhecimentos que permitam às empresas conduzir de forma mais

adequada projetos de implantação de CRM nessa modalidade), justificou-se o tamanho da

amostra.

UMA VISÃO DE SOFTWARE AS A SERVICE (SaaS)

Embora a prática da terceirização de sistemas aplicativos comerciais, como folha de

pagamento e faturamento, por exemplo, tenha ocorrida há décadas, por meio dos bureaux de

serviços, a prestação de serviços de software aplicativo online só recentement tornou-se

popular, mesmo já mencionada por diversos autores, dentre eles Dewire (2002) e Greschley e

Mangan (2002), ao tratar dos ASP - Application Service Providers (Provedores de Serviços

de Aplicação).

Os ASP são empresas que fornecem serviços de processamento de dados de forma similar à

praticada pelos antigos bureaux de serviços; ao se falar em SaaS, a novidade está na forma de

cobrança desses serviços, agora baseada na efetiva utilização do software aplicativo, enquanto

a idéia básica de utilização dos ASP é a de simples terceirização dos serviços de TI (DUHON,

2007). The Economist (2006) cita a opinião de Bill Gates no sentido de que o crescimento do

modelo de negócio SaaS seria o the next sea change in computing. O mesmo periódico, na

mesma edição cita outros analistas referindo-se a SaaS como uma tectonic shift na indústria

da computação.

������� ����� � � �

17

Além dos resultados do estudo de campo, posteriormente aqui apresentados, é importante

mencionar, previsões de especialistas mencionadas por St. Clair (2008), que afirmam que

35% do software aplicativo a ser implementado até 2012 serão fornecidos via SaaS, que 25%

do orçamento de Tecnologia da Informação serão destinados a aplicações SaaS em 2013 e que

em 2011 o mercado SaaS será da ordem de US$ 19,3 bilhões.

Kenney (2007) afirma que a primeira aplicação de SaaS como hoje é entendida, surgiu em

1999, quando a Salesforce.com, uma produtora de ferramentas CRM passou a fornecê-las

nessa modalidade. O autor afirma ainda que aplicações de CRM, por suas características

intrínsecas, são candidatas naturais a operarem na modalidade SaaS e essas aplicações,

juntamente com os ERP – Enterprise Resouce Planning, (Sistemas Integrados de Gestão), já

são as mais comumente utilizadas via SaaS.

Quer seja uma revolução ou simplesmente uma evolução, SaaS tem um forte atrativo para

os profissionais que tem responsabilidades pela entrega de serviços a custos adequados na

comunidade empresarial: com ele, as organizações podem adquirir software aplicativo pela

simples subscrição e sem preocupações com relação à criação e gerenciamento da infra-

instrutora.

O advento do SaaS como um mecanismo de entrega de serviços cria uma oportunidade para

que as áreas de TI das empresas alterem o seu enfoque: de implantar e dar suporte aos

aplicativos para gerenciar os serviços que esses aplicativos oferecem. Chong & Carraro

(2006) afirmam que uma área de TI focada em gerenciamento de serviços e do fluxo de

informações na organização produz mais valor para o negócio.

Segundo Cambiucci (2009), vive-se o crescimento de uma nova tendência no setor de TI, a

computação na nuvem (cloud computing), em que empresas de porte como Microsoft, IBM e

Google, por exemplo, radicalizam o conceito de ASP ao ampliarem seus datacenters para

oferecer aos seus clientes recursos de processamento facilmente escaláveis (situação em que

se pode aumentar facilmente o volume de dados processados), confiáveis e baratos, embora

não se vislumbre a total extinção dos datacenters das empresas, mas sim uma evolução para o

uso da TI de forma mais dinâmica, flexível e híbrida, em que serviços locais, com sistemas

desenvolvidos in house ou por terceiros, sendo processados em máquinas próprias,

combinados com serviços remotos, hospedados em datacenters de terceiros.

O enquanto CRM sistema de computador é apenas gerenciamento desse fluxo, é

fundamental para o sucesso das organizações; Neilson, Martin e Powers (2008) afirmam que

algumas das mais sérias ameaças à implantação de estratégias estão ligadas à má gestão do

������� ����� � � �

18

fluxo de informações, em especial dificuldades para reunir e disseminar as informações na

forma e tempo necessários e no custo dessas atividades. Os mesmos autores relatam que

quando soluções do tipo SaaS assumem parte dessas responsabilidade, além da redução de

custos, há a liberação dos profissionais até então envolvidos para atividades mais nobres,

como as relacionadas à busca de oportunidades de colaboração intra-organizacionais.

Alguns outros fatores tem contribuído para o crescimento do SaaS, entre eles o interesse das

organizações em terceirizar funções não ligadas ao seu core business, dentre elas TI e a

consolidação de gerenciamento de serviços como uma carreira profissional (ST. CLAIR,

2008).

As discussões sobre terceirização foram incentivadas pelo provocativo artigo de Carr

(2003), que fala em “comoditização da TI” com a Internet, sendo o veículo adequado para a

entrega de aplicações genéricas como CRM. Carr afirma que cada vez mais as organizações

irão adquirir serviços de TI, de forma análoga a que adquirem energia elétrica e serviços de

telecomunicações, pagando pelo que efetivamente consomem. O autor também chama a

atenção para o fato de que, desde então, grandes provedoras de produtos e serviços como IBM

e Microsoft já procuram se posicionar como provedoras de serviços e não mais como

provedoras de hardware e software, e que esse posicionamento induziria as organizações

clientes a substituir aplicações próprias ou customizadas por ferramentas-padrão, fornecidas

por empresas deste tipo.

Os profissionais das empresas usuárias parecem diminuir sua resistência a essa nova

realidade na medida em que o planejamento de carreira nas grandes organizações passou a dar

maior atenção a gerenciamento de serviços (LOHR, 2006). Ao mesmo tempo, o mundo

acadêmico passou a dar atenção ao assunto, disponibilizando cursos e desenvolvendo

pesquisas sobre o assunto. O que é chamado Service Science tem como grande objetivo

fornecer aos usuários o nível de serviço que precisam a custos adequados, garantindo às

organizações a aquisição e/ou manutenção de vantagens competitivas (ST. CLAIR, 2008). O

setor de serviços adquire cada vez mais importância nas principais economias, chegando a

representar valores da ordem de 76.9% e 67,7% dos PIB dos Estados Unidos e do Brasil,

respectivamente (CIA, 2009). Esses números, por si mesmos, sinalizam a importância de

tratar do assunto também no ambiente acadêmico.

Horn (2005) afirma que SaaS é uma ferramenta importante para a prestação de melhores

serviços, devendo abordar-se o assunto dentro do espírito da Service Science, que estaria na

interseção entre TI e negócios, com componentes ligados às áreas de computação, pesquisa

������� ����� � � �

19

operacional, engenharia industrial, direito e outras. Essa abordagem ampla ajudaria a garantir

a qualidade dos serviços prestados, incentivando as empresas a não construírem suas próprias

soluções de TI. As vantagens advindas dessa nova postura trariam especialmente uma

significativa redução de custos, uma implantação rápida e operação simplificada.

A redução de custos quase sempre está entre os principais desejos de uma organização;

Duhon (2007) diz que SaaS contribui para essa redução especialmente por:

- Exigir poucos investimentos em hardware e software;

- Não exigir aumento da estrutura organizacional existente;

- Operar, em termos de preços, na modalidade pay -as-you-go, ou “pague pelo que

efetivamente usou”;

- Não gerar custos de manutenção em TI;

- Permitir que atualizações de versões e manutenção de software não tragam distúrbios

às operações rotineiras

As ferramentas CRM desenvolvidas para serem operadas na modalidade SaaS contemplam

templates (esquemas facilitadores de implementação) que permitem sua rápida implantação,

especialmente se as empresas usuárias optarem por níveis não muito elevados de

customização; uma implantação vanilla flavour, como se diz no jargão dos profissionais de

TI. Além disso, incorporam procedimentos operacionais simples, projetados para leigos em

TI, o que é especialmente importante para organizações de menor porte, que não podem

contar com muitos especialistas.

Evidentemente, alguns outros cuidados devem ser tomados pelas organizações que

estiverem considerando a hipótese de adotar ferramentas CRM na modalidade SaaS, além

daqueles ligados às funcionalidades da ferramenta, ou seja, os que realmente atendem às

necessidades da organização. Devem-se analisar ainda os aspectos relacionados ao prestador

do serviço: aspectos éticos, visão de futuro, estabilidade, maturidade, market share etc.

Tomados os cuidados de praxe, pode-se afirmar com relativa segurança que CRM na

modalidade SaaS é uma alternativa interessante para organizações de todos os portes. Kaplan

(2007) afirma que 80% das organizações que já utilizam algum tipo de aplicação na

modalidade SaaS estão satisfeitas e pretendem operar novas ferramentas nessa modalidade.

������� ����� � � �

20

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS – A PERCEPÇÃO DOS ENTREVISTADOS

De forma sintética, pode-se dizer que a princípio a utilização de CRM na modalidade SaaS

é vista pelos entrevistados como uma alternativa bastante interessante, especialmente para as

empresas de pequeno e médio porte, confirmando o apurado pela pesquisa bibliográfica.

Há, no entanto, a percepção de que o conceito de SaaS ainda não está totalmente

amadurecido. Provavelmente, espera-se resistência à mudança pelo pessoal de TI,

especialmente por julgarem que as relações de poder na empresa seriam alteradas,

ocasionando a esses profissionais perda de poder e prestígio. No que se refere especificamente

a CRM, esses profissionais julgam que ainda não há uma experiência muito difundida no

Brasil, principalmente sobre como implantá-lo de maneira eficiente, especialmente em

empresas de médio e pequeno porte; essa é ainda menor ao se falar em CRM na modalidade

SaaS.

De forma geral, os entrevistados julgam que a maior vantagem advinda da utilização de

CRM na modalidade SaaS é a redução dos investimentos iniciais e custos envolvidos,

especialmente pela não necessidade de aquisição e upgrade de hardware e licenças de

software, instalações e infraestrutura, depreciação e outros, inclusive indiretos.

A utilização de CRM implica na necessidade de armazenar e processar grandes volumes de

dados, pelo que cuidados (e custos) com relação à escalabilidade (capacidade do software e

hardware tratarem volumes cada vez maiores) também devem ser tomados, implicando em

mais investimentos. O estudo de campo apurou também que, se a empresa optar por deixar de

utilizar CRM, como acontece com alguma freqüência, especialmente pelo fato de os usuários

não se interessarem pelo sistema, os prejuízos serão menores quando se opera na modalidade

SaaS, pois na prática é preciso apenas cancelar o contrato de prestação de serviços; já se a

opção foi pela modalidade convencional, perde-se a totalidade dos investimentos efetuados

em aquisição de licenças de uso de software, valores usualmente bastante significativos em

relação ao total dos investimentos necessários à implementação de CRM.

A participação do pessoal de TI na implantação do CRM/SaaS também é praticamente

inexistente, enquanto no CRM convencional existe a necessidade de sua participação de

forma intensiva, para instalação, atualização, tuning (ajustes), processamento do software e

administração de dados.

As ferramentas de CRM voltadas para a operação na modalidade SaaS, tem seus interfaces

projetados de forma similar aos adotados por outros aplicativos que rodam no ambiente web;

������� ����� � � �

21

isso torna sua utilização mais fácil, com menor necessidade de treinamento dos usuários

finais, ao contrário do que ocorre com os sistemas convencionais de CRM; tudo isso reduz

custos e aumenta a velocidade de implementação.

Como desvantagens da aplicação de CRM/SaaS, apontou-se principalmente as dificuldades

de customização dos sistemas para que possam atender a necessidades muito específicas.

Essa dificuldade é inerente à operação de qualquer sistema na modalidade SaaS, pois não faria

sentido estarem disponíveis inúmeras “versões” da ferramenta, embora todas elas sejam, até

certo ponto, configuráveis.

Preocupações em relação à segurança dos dados foram também levantadas. Essas

preocupações concentram-se na possibilidade de furto de dados, quando alguns dos

entrevistados apontam como exemplo a postura de instituições financeiras, de quase sempre

optarem por processamento e armazenagem próprias. Preocupações desse tipo e as

dificuldades de customização são frequentemente manifestadas pelo pessoal de TI quando se

cogita utilizar software ou datacenters de terceiros.

Finalmente, no que tange à evolução da utilização de CRM/SaaS, parece ser unânime a

opinião de que haverá crescimento, embora sem consenso quanto ao seu ritmo. Observou-se

também que um modelo misto, com algumas ferramentas como CRM e ERP tendem a ser

mais utilizados na modalidade SaaS, mas que sistemas implementados na forma convencional

(software e hardware próprios) ainda continuarão a ser utilizados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados da pesquisa bibliográfica e do estudo de campo permitem afirmar que,

tomados os devidos cuidados na seleção da ferramenta e do prestador de serviços, a utilização

de CRM na modalidade SaaS pode ser vantajosa para empresas de todos os portes, mas

especialmente para as pequenas e médias, em função do volume dos investimentos

necessários.

Cuidados devem ser tomados para contornar as resistências, oriundas principalmente do

pessoal interno de TI, bem como no planejamento e execução da seleção, contratação do

provedor do serviço e da customização da ferramenta.

Os resultados da pesquisa sinalizam também que os executivos e profissionais de TI devem

preparar-se para uma realidade em que brevemente e talvez por um longo período de tempo,

������� ����� � � �

22

SaaS, especialmente envolvendo CRM, será uma modalidade importante no ambiente das

organizações

REFERÊNCIAS

BROWN, Stanley. A. CRM - Customer Relationship Management: uma ferramenta

estratégica para o mundo do e-business. São Paulo: Makron Books, 2001.

CAMBIUCCI, Waldemir. Uma introdução ao Software + Serviços, SaaS e SOA. Microsoft

MSDN, mai. 2009. Disponível em http://msdn.microsoft.com/pt-br/library/dd875466.aspx,

acessado em 1º/04/2010.

CARR, Nicholas G. IT doesn’t matter. Harvard Business Review. Maio, 2003

CIA. World Fact Book - Central Intelligence Agency. Langley: CIA, 2009.

CHURCHILL Jr. Gilbert; PETER, J. Paul. Marketing – criando valor para os clientes. São

Paulo: Saraiva, 2008.

CHONG, Fred; CARRARO, Gianpaolo. Software as a Service (SaaS): an enterprise

perspective. Microsoft MSDN, out. 2006. Disponível em: http://msdn.microsoft.com/en-

us/library/aa905332.aspx, acessado em 1º/04/2010.

DEWIRE, Dawna. T. Application Service Providers - Enterprise Systems Integration,

Auerbach Publications. 2002.

DUHON, Bryant. Software as a Service: why buy when you can rent? AIIM E-Doc

Magazine, setembro/outubro, 2007.

FERREIRA, Danielle T. Profissional da informação: perfil de habilidades demandadas pelo

mercado de trabalho. Ciência da Informação. Brasília, vol. 32, n.1, 2003.

FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004.

������� ����� � � �

23

GREENBERG, Paul. CRM na velocidade da luz: conquista e lealdade de clientes em

tempo real na internet. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

GRESCHLER, David; MANGAN, Tim. Networking lessons in delivering Software as a

Service - part I. International Journal of Network Management. Setembro/outubro, 2002.

HORN, Paul. The new discipline of services science. Business Week. Edição de 21 de janeiro

de 2005.

Kaplan, Jeffrey M. SaaS: friend or foe? Business Communication Review. Junho, 2007.

KENNEY, Brad. Life beyond CRM: SaaS grows up. Industry Week Setembro, 2007.

LOHR, Steve. Creating the jobs of the future. New York Times, edição de 18 de abril de

2006.

MATTAR, Fauze Nagib. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 2001.

NEILSON, Gary L; MARTIN, Karla L; POWERS, Elizabeth. The Secrets to Successful

Strategy Execution. Harvard Business Review. Junho, 2008.

ST. CLAIR, Guy. Software-as-a-Service (SaaS) - put the focus on the KM/Knowledge

Services core function. EOS International, disponível em http://smr-knowledge.com/wp-

content/uploads/2010/01/EOS-SaaS-White-Paper-2008.pdf, acessado em 02.04.2010

THE ECONOMIST. Proponents of Software-as-a-Service say it will wipe out traditional

software. The Economist (US) edição de 22 de abril de 2006.

TRIVIÑOS. Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa

qualitativa em educação (o Positivismo, a Fenomenologia, o Marxismo). São Paulo: Atlas,

2007.

Revista Análise / 2010

23

UM ESTUDO PRÁTICO SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

Prof. Marco Antonio Paletta•

Resumo

Este artigo discute a o comportamento do consumidor por meio do levantamento empírico das

características tratadas na Teoria das Necessidades de Maslow e nos fatores que influenciam a

compra do consumidor. Entendem os autores que as discussões aqui apresentadas devem ser

monitoradas de forma sistemática de forma a melhorar a eficiência do processo de venda

pelas organizações.

Palavras Chave: comportamento do consumidor, teoria das necessidades, fatores que

influenciam a compra.

Introdução

Para os profissionais de marketing e as empresas, principalmente as varejistas, é notável que o

comportamento do consumidor vem se transformando. Acompanhar estas mudanças de perfil

é de fundamental importância para adoção das ferramentas de marketing adequadas a este

novo mercado.

Uma questão estratégica, a ser respondida, pelas as empresas atualmente é a constante

mudança no comportamento de compra dos consumidores, que pode ser exemplificada por

escolhas ora por produtos caros, de boa qualidade e durabilidade, ora por produtos baratos e

descartáveis. Uma vez que há grandes semelhanças nas características dos produtos

oferecidos pelas empresas, a concorrência entre as empresas, na maioria das vezes, faz com

esse comportamento fique com frequentes modificações.

A literatura de Marketing atual descreve os vários os fatores que interferem no

comportamento de compra dos consumidores, e que afetam a diretamente sua escolha

• Pesquisa elaborada pelos alunos da disciplina Administração Mercadológica III, do 5º semestre do curso de

Administração de Empresas/UNIANCHIETA, sob a supervisão do Prof. Marco Antonio Paletta.

Revista Análise / 2010

24

determinado produto ou marca. A teoria das necessidades de Maslow, fatores culturais,

sociais, familiares, econômicos e psicológicos agem em conjuntamente de forma a tornar

ainda mais complexa a identificação do fator preponderante em uma decisão de compra. No

mundo atual, com mercados cada vez mais competitivos, o conhecimento destes fatores torna-

se primordial na busca de vantagens competitivas pelas empresas e organizações.

Reconhecer as técnicas de marketing e as teorias a elas associadas, bem como utilizá-las a seu

favor, é fundamental para conhecimento das necessidades de desejos dos consumidores e

favorecem o diferencial competitivo por parte das empresas que as utilizam de forma eficiente

e eficaz em um mercado cada vez mais fragmentado e diferenciado.

Este trabalho nasceu de uma pesquisa de campo realizada pelos alunos da disciplina de

Administração Mercadológica III do quinto semestre do curso de Administração do Centro

Universitário Padre Anchieta, e aborda aspectos do comportamento do consumidor

(mercadológicos, psicológicos, etc.) e linhas gerais para empresas no que tange a fatores

importantes que influenciam o mercado de consumo.

Maslow e o Comportamento do Consumidor

Abraham Maslow foi o fundador da psicologia humanista. Sua linha de pensamento diz

respeito à classificação das necessidades do ser humano dentro de uma hierarquia, que vai das

necessidades fisiológicas até as de auto-realização.

Para ele tais necessidades apresentam-se numa hierarquia de importância e premência,

conforme ilustrado na FIGURA 1.

Figura 1 – Hierarquia das Necessidades – Pirâmide Motivacional

Revista Análise / 2010

25

Desta forma, entende-se por necessidade tudo aquilo que precisa ser satisfeito, pois caso

contrário causará algum tipo de indisposição. Ora neste caso, a necessidade já existe. Isso leva

a crer que o Marketing não cria necessidades, mas as identifica, para que possam ser

satisfeitas com estratégias adequadas.

A teoria da motivação de Maslow é citada pela maioria dos autores expressivos na área de

marketing como Kotler (1998) e Churchill & Peter (2000). Para esses autores, o conhecimento

desta teoria é necessária ao profissional de marketing, visando a compreensão dos fatores

psicológicos determinantes do comportamento humano e, portanto, do comportamento de

compra do consumidor.

A teoria de Maslow permite compreender também os fatores psicológicos que interferem não

só na detecção do consumidor de que existe uma necessidade, mas em todo o processo da

compra. O conhecimento desta teoria auxilia os profissionais de marketing e vendas a

identificar e buscar atender as reais necessidades dos consumidores quando envolvidos no

processo de compra, facilitando a negociação e a superação de objeções por parte do

consumidor.

Fatores que Influenciam o Comportamento de compra do Consumidor

Segundo Kottler (1998), os principais fatores que influenciam o comportamento do

consumidor são os seguintes: (1) culturais→ exercem a maior e mais profunda influência

sobre o comportamento do consumidor (cultura, subcultura e classe social), pois, à medida em

que a criança cresce, adquire certos valores, percepções, preferências e comportamento de

acordo com a sua família e de outras instituições; (2) sociais→ são os grupos de referência,

família, papéis sociais e status; (3) pessoais→ são influenciados por características pessoais,

como idade e estágio do ciclo de vida, ocupação, circunstâncias econômicas, estilo de vida,

personalidade e auto-imagem e (4) psicológicos→ são influenciados por quatro estágios

predominantes, tais como motivação, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes.

Revista Análise / 2010

26

A metodologia e a pesquisa de campo

Após a revisão teórica dos assuntos mencionados acima, foi solicitado pelo professor a

realização de uma pesquisa cujo principal objetivo era melhorar a compreensão do

comportamento de compra dos consumidores, pondo os alunos em contato direto com um

consumidor. O primeiro passo foi selecionar uma pessoa que tenha adquirido, recentemente,

um produto/serviço com as características descritas em cada uma das alíneas a seguir:

A. Um produto/serviço de grande consumo, de preço inferior a R$ 10,00;

B. Um produto/serviço utilitário, de preço superior a R$ 300,00; e

C. Um produto/serviço com relevância emocional, de preço inferior a R$100,00.

A tarefa consistiu em conduzir uma entrevista com esse cliente. O objetivo principal da

entrevista é a compreensão do processo de decisão que originou a compra do produto/serviço,

nomeadamente nos aspectos importantes para as decisões de Marketing.

A lista de questões que a seguir se enumeram funcionaram como Guia de Atuação para a

estruturação da entrevista. É importante ressaltar que a mesma não foi utilizada rigidamente,

nem tão pouco foi completa e exaustiva em questões que necessitam ser respondidas ou

suficientemente detalhadas nos pormenores a comprovar. Deve antes de tudo estimular uma

discussão aberta à volta destas questões chave, tentando saber: (a) como se desenvolve o

processo de decisão de compra; (b) quais os fatores, do meio envolvente e relacionados com a

psique do consumidor, que determinaram o seu comportamento e atitude.

Os resultados foram sumarizados num pequeno relatório individual de uma a duas páginas e

os alunos deveriam estar preparados para, em sala, descrever a entrevista e principais

conclusões.

Este exercício foi traduzido e adaptado de um conjunto de textos da Harvard Business School

“Consumer Behavior Exercise (A)-(F)”

Questões para Discussão

A sua tarefa consiste em perceber o Processo de Compra

• Que produtos foram estes?

Quem participou no Processo de Decisão

• Quem comprou o produto?

• Quem tomou parte no processo de decisão? Que papel coube a cada um?

Revista Análise / 2010

27

O que motivou a compra

• Que problemas o produto/serviço solucionou? Que funções deveriam facilitar?

• Que atributos parecem ser importantes?

Caracterize a Decisão de Compra

• Foi a primeira decisão de compra nesta categoria? Foi uma alteração de uma primeira

decisão? Foi uma decisão ponderada? O tempo de escolha foi apropriado para a complexidade

da decisão?

Caracterize o Processo de Tomada de Decisão

• O que iniciou o processo? Houve pesquisa de informação? Como foi conduzida a

busca de informação do consumidor? Que quantidade de informação foi recolhida? Quais as

fontes utilizadas? Em que fase do processo foi recolhida a informação? Quantas alternativas

foram avaliadas? Porquê essas e não outras? Como foi feita a escolha final do produto ou

serviço concreto comprado?

Onde comprou o Consumidor

• Por que nesse local? O que foi mais importante: onde comprar ou o que comprar?

Os Resultados

Foram realizadas quarenta e cinco entrevistas sendo levantados aspectos relacionados ao

comportamento de compra dos mais variados tipos de produtos tais como: sanduiches, tênis ,

sabão em pó, guarda roupas, flores, leite, fogão, livro, camiseta, aparelho de barbear

descartável, celulares, vigas para construção de lages, aparelhos de MP4, xampus, calças,

geladeiras, botas, cigarros, protetor solar, refrigerantes, bonés, calculadoras, chocolates,

notebooks, tintura de cabelos, DVD´s, sandálias, sabonetes, serviço de TV por assinatura,

lavadora de roupas, jóias, plano de saúde, cadeados, veículos e até apartamentos.

Entre os motivos destacados para a compra que respondem às questões apresentadas

anteriormente destacam-se:

Nos produtos de grande consumo com preço inferior a R$ 10,00 (dez reais) tais como:

sanduiches, sabão em pó, leite, aparelhos de barbear, cigarros, refrigerantes, chocolates,

bonés, cadeados entre outros se percebeu que, excetuando o cigarro adquirido mais em função

do vicio e da escolha de um marca, o processo de compra é mais individual, mas, ainda assim

Revista Análise / 2010

28

existe a influência de fatores externos na escolha do produto como a influência do grupo de

amigos ou outro elemento familiar na escolha de um simples sanduiche, a marca e a qualidade

expressas na escolha de um sabão em pó ou aparelho de barbear, no caso de sabonetes foram

apontados aspectos como qualidade e resultados no cuidado da pele, o cadeado foi adquirido

em função da segurança promovida no fechamento do portão da casa, a compra por impulso

ou pelo fato do baixo valor agregado do produto levam o consumidor a adquirir produtos mais

por satisfação pessoal do que por planejamento ou fatores mais mercadológicos.

No segundo grupo de produtos na faixa dos R$ 300,00 onde foram encontradas camisetas,

tênis, calças, geladeiras, botas, notebooks, lavadoras de roupas, jóias entre outros, as compras

já começam a ser mais planejadas e a escolha também não fica apenas no pessoal, aspectos

como status promovido pela compra de uma calculadora, aparelho celular ou tênis,

características como qualidade, garantia, assistência técnica aparecem na escolha de alguns

dos produtos consumidos, a auto-estima como a compra de uma bota ou a necessidade de se

estabelecer ou manter relacionamentos sociais como a compra de produtos para presentear

alguém como jóias, camisetas aparecem fortemente neste grupo. A escolha de produtos de

maior valor como planos de saúde, notebooks, guarda roupas, veículos ou imóveis envolvem

planejamento e fatores de maior complexidade em sua escolha, onde as necessidades mais

destacadas são de segurança, conforto, comodidade promovida pelo bem adquirido. Neste

grupo aspectos como impulso foram menos citados, mas ainda assim fizeram-se presente em

algumas respostas como de consumidores que adquiram produtos influenciados por sua

exposição na vitrine.

No último grupo, o de produtos ou serviços de relevância emocional, onde apareceram

produtos como bichos de pelúcia, tinturas de cabelo, livros, serviços de TV por assinatura,

DVD´s, roupas foram escolhidos para destacar características pessoais dos consumidores,

moda, melhoria de auto-estima, ou para satisfazer necessidades de outras pessoas quando os

mesmos tinham a função de presentear alguém.

A maioria dos produtos foram adquiridos em lojas comerciais sendo alguns adquiridos pela

internet, sendo apontado como fator determinante para a compra, além do produto em si a

segurança do site do fornecedor.

Revista Análise / 2010

29

Considerações Finais

Em face ao produtos abordados nesta pesquisa e talvez pelas características apresentadas,

percebeu-se que a escolha final dos produtos feita pelo consumidor entrevistado ocorreu, na

maioria das vezes, na loja no momento da compra. percebendo-se em suas respostas os mais

diversos aspectos tratados nas teorias vistas ao longo do curso.

Ao finalizar este trabalho, foi possível observar que o comportamento do consumidor varia

conforme idade e meio inserido, onde cada cliente pensa de um jeito diferente e busca

produtos diferentes, podendo o processo de compra manifestar-se por diversas razões como

estar realmente precisando, estar com vontade, impulso, gosto pessoal, reconhecimento entre

outros.

Todos os clientes pesquisados acabaram por sofrer algum tipo de influência de fatores

externos em maior ou menor grau, percebe-se também que os consumidores levam em

consideração fatores como qualidade, preço e marca conhecida.

As compras por impulso não requerem grandes pesquisas e ocasionaram satisfação imediata

de um desejo momentâneo de ter ou de satisfazer necessidades muitas vezes básicas do ser

humano. Produtos mais caros necessitam de uma busca de informações mais detalhadas. Por

outro lado percebe-se que os consumidores optam pela compra de produtos considerados

bons, onde a diferença de preço na faixa de R$ 100,00 não o impede de levar um produto

melhor em relação a um produto considerado inferior.

Ainda que movidos por diferentes necessidades, percebeu-se que nos momentos em que o

consumidor sabia exatamente o que queria sempre foi mais fácil encontrar o produto que o

satisfaça, do contrário parece que o produto adquirido não está bom, ou que gera a sensação

de que está faltando algo.

O marketing atua gerenciando variáveis do chamado 4ps (produto, praça preço e promoção),

ou seja, as ações do marketing refletem no comportamento destas variáveis.

Considerando-se que a razão de existir de qualquer empresa é vender, destaca-se a

importância do marketing neste processo. A venda é feita para consumidor ou cliente. A

diferença entre eles é que o primeiro consome, enquanto o segundo geralmente repassa a

mercadoria para o primeiro, sendo assim o cliente compra com certa freqüência,

Revista Análise / 2010

30

estabelecendo uma relação de longo prazo, enquanto o consumidor compra aleatoriamente, de

acordo com suas necessidades.

Propaganda, ações promocionais no ponto de venda, disponibilização de produtos e atividades

de trade marketing são fatores fundamentais para se atingir o consumidor e facilitar a relação

entre as empresas e o mercado consumidor.

A realização deste trabalho proporcionou verificar que as características apontadas na teoria

de necessidades de Maslow e nos fatores que influenciam a compra do consumidor, bem

como aspectos relacionados à compra por impulso, planejamento, negociação,

disponibilidade, exposição do produto entre outros conceitos vistos ao longo do curso

manifestam-se de forma intensa no comportamento de compra do consumidor. Estar atento a

estes aspectos é fundamental para o sucesso dos profissionais de Marketing seja no

desenvolvimento de novos produtos, seja na elaboração de campanhas promocionais ou de

comunicação com o mercado.

Colaboração:

Alexandro de Cassio Florindo

Ana Luiza Gerfi Bertozzi

Ana Paula Gonçalves Jovelli

Bruna de Oliveira Kaam

Bruna Fernanda Azedo

Daniela Fernanda Sgarbosa Pereira

Dayane Soraia Thomaz Romboli

Edileide Gonçalves de Souza

Ednéia Conceição Giovani Nascimento

Fabiana Robertoni

Isabel Laís da Silva Guelfi

Jaqueline Santos Silva

Katia de Carvalho Costa

Lucas Gomes do Monte Ditano

Mércia da Silva Limeira

Revista Análise / 2010

31

Natália Soares Prado

Paula Antunes de Oliveira

Robson Gusmão

Rogélia Antunes de Oliveira

Roney Sivi

Suzane Regina Caetano

Tania Maria Brasil Muzaiel

Tatiane Maria Grecco

Thais Cristina Barbosa

Wagner Melloni

Supervisão e revisão final:

Prof. Marco Antonio Paletta

BIBLIOGRAFIA

CHURCHILL, G. A. & PETER, P. Marketing: criando valor para o cliente. São Paulo:

Saraiva, 2000.

FRUTELL, Charles M., Vendas: fundamentos e novas práticas de gestão, São Paulo: Saraiva,

2004.

KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do Consumidor. São Paulo: Editora Atlas, 2000.

KLOTLER, Philip. Administração de Marketing – Análise, Planejamento, Implementação e

Controle. 5. ed. São Paulo: Editora Atlas, 1998.

MEGIDO, José L. T.; SZULCSEWSKI, Charles J., Administração Estratégica de Vendas e

Canais de Distribuição, São Paulo: Atlas, 2002.

Revista Análise/2010

32

Capital financeiro, crise e mundialização no contexto da década de 70 Dr. Cristiano Monteiro da Silva ••

Resumo

No contexto da crise estrutural que se viu a partir da década de 70 o capital financeiro se internacionalizou e conseguiu consolidar o neoliberalismo como projeto estratégico em várias sociedades. No Brasil, há um interessante debate que se montou a partir de tal condição objetiva, especificamente sobre as questões ideológicas contidas na tese da “Globalização”. E ainda os diversos posicionamentos sobre a atual situação hegemônica dos Estados Unidos: a tese de “Explosão Competitiva” (FIORI, 2008), a suposta crise terminal da hegemonia americana, nos sentidos atribuídos por ARRIGHI (2008) e WALLERNSTEIN (2004). Palavras-chaves: Capital Financeiro; Mundialização; Hegemonia. Introdução

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos detinham condições socioeconômicas e políticas superiores aos demais países e assumiram uma posição hegemônica no sistema mundial de Estados. Naquele contexto, sua superioridade podia ser notada na produção industrial, na situação financeira e militar. O produto mundial era controlado principalmente pelas empresas multinacionais estadunidenses. A internacionalização dessas empresas é um dos elementos que ajuda a compreender a reconstrução da Europa e Japão, e também a industrialização em países da América Latina. A condição hegemônica dos Estados Unidos refletiu inclusive nas instituições criadas a partir da conferência de Bretton Woods . São exemplos, o comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), no terreno militar, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que passaram a exercer papéis de gerentes financeiros das economias dependentes. E o dólar foi firmado como moeda de reserva da economia mundial. As políticas de reconstrução dos países capitalistas aliados foi uma das maneiras de enfrentar o bloco soviético, naquele contexto apontado como inimigo maior. Essas políticas possibilitaram um considerável crescimento econômico, o período foi caracterizado como “Boom do Pós Guerra”. Contudo, essa base trouxe novas condições estruturais. Nos primeiros anos da década de 70, emergiu mais uma crise estrutural capitalista, inicialmente situada principalmente nas economias líderes: Estados Unidos, Japão e Alemanha (ARRIGHI, 2008). Este artigo tem por objetivo central a análise dos posicionamentos dos países dominantes no contexto da crise estrutural capitalista vista a partir da década de 70. A análise

• Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP (2010). Mestre em Economia Política PUC/SP (2002). Coordenador do curso de Ciências Econômicas/UNIANCHIETA. Coordenador do NEPEC – Núcleo de Estudos do Pensamento Econômico Contemporâneo.

Revista Análise/2010

33

de seus elementos contraditórios é feita considerando algumas categorias da teoria marxista do imperialismo. Na primeira parte, discutiremos o processo de internacionalização do capital financeiro, enquanto resposta a crise estrutural. Depois, as ideologias usadas em favor da estratégia de internacionalização. Encerramos o texto com um ensaio sobre o debate a respeito da hegemonia dos Estados Unidos no sistema mundial de Estados. 1. A internacionalização do capital financeiro

O conceito de crise estrutural que levou ao fim o período do Boom do Pós Guerra é peça fundamental para qualquer análise sobre o caráter das relações internacionais vistas a partir da década de 70. Sabe-se que existem muitas interpretações. Entretanto, aqui busca-se referência no trabalho clássico de Kondratieff (1992), segundo o qual, grosso modo, além dos ciclos curtos, teoricamente analisados por Marx (1988), o desenvolvimento capitalista agrega ainda os períodos mais longos e regulares de auge e declínio econômico, que perduram aproximadamente 50 anos, marcados por uma fase ascendente e outra descendente. Sabendo que na análise o novo é considerar a rica totalidade, sobretudo, as relações internacionais marcadas pelo domínio do capital financeiro frente as demais formas de relações sociais.

No contexto da uma crise estrutural, a partir da década de 70, os sucessivos governos dos Estados Unidos adotaram políticas cujo sentido era a socialização das perdas e a reconstrução de uma situação política mundial favorável à aplicação de um projeto estratégico, tendo em vista, sobretudo, as soluções no campo da economia, à expansão do capital financeiro e a sustentação da condição hegemônica nas relações internacionais. No campo das relações internacionais, os Estados Unidos, diante da derrota no Vietnã, passou a fazer uso dos recursos econômicos e financeiros. “A partir da década de 70, sobretudo depois do desastre do Vietnã e da política de contenção militar da China, a diplomacia americana na Ásia concentrou-se nos aspectos econômicos e financeiros” (TAVARES & BELLUZZO, 2007, p 126),

A política externa norte americana apoiou-se na nova divisão internacional do trabalho que vinha sendo montada desde o pós-guerra. O que se viu foram novas relações econômicas com o mundo asiático, especialmente com a China. Estas relações, muito embora não fossem tão satisfatórias para os saldos comerciais externos, a posteriori abriram espaços para a internacionalização do capital financeiro americano e o financiamento das contas externas por meio do controle da liquidez monetária mundial.

A respeito dessa postura dos Estados Unidos, Tavares & Belluzzo (2007, p.125) explicam que,

Com a nova divisão internacional do trabalho, facilitada pelo deslocamento das filiais multi-sourcing, a economia nacional americana se vê forçada a ampliar o seu grau de abertura comercial e a gerar um déficit comercial crescente para acomodar a expansão comercial assimétrica dos países asiáticos produzida em grande parte pela expansão global do grande capital americano.

Revista Análise/2010

34

Esse fenômeno é fundamental para explicar a nova situação econômica mundial que se montou a partir do fim do Boom do pós-guerra. Ajuda a compreender as razões para a ruptura definitiva do sistema de Bretton Woods, o abandono da produção assistida por meio da contenção dos preços do petróleo e da crescente liberalização financeira e comercial impulsionada principalmente pelos Estados Unidos e a Inglaterra a partir da década de 80. Desde os anos 50, o euromercado vinha se desenvolvendo, contando com o apoio dos Estados Unidos e a Inglaterra e reunindo grandes bancos e empresas que operavam a partir da praça de Londres. No início da década de 60, ocorreu o primeiro ataque ao dólar, provocando desvalorização e fuga de capitais dos Estados Unidos. A reação foi no sentido de pressionar por uma liberalização dos mercados de capitais, a fim de permitir que as taxas de juros se tornassem o ponto de atração. Fiori (2007, p.92), a esse respeito, informa que

No seu relatório Econômico Presidencial ao Congresso Americano, de 1973, o presidente Richard Nixon defendeu explicitamente que os “controles de capitais para fins de balanço de pagamentos não devem ser encorajados” e que, pelo contrário, o livre movimento de capitais é a melhor forma de promover políticas econômicas corretas.

Nos primeiros anos da década de 70, a taxa de juros americana era mantida baixa em relação aos patamares da Europa e do Japão. O dinheiro especulativo fugia do dólar resultando em desvalorizações crescentes dessa moeda. Tal situação pressionava as bases do padrão monetário dólar-ouro e tornava insustentável o regime de taxa de câmbio fixo, forjado na experiência de Bretton Woods.

O fim do regime de câmbio fixo deu novo ímpeto ao capital financeiro. O mercado de câmbio transformou-se no primeiro segmento dos mercados financeiros a entrar na “Globalização”, e colaborou para o desenvolvimento dos mercados de derivativos relacionados a variação de moedas e juros. As grandes empresas e bancos procuravam fugir dos riscos das atividades comerciais e industriais, piorado nas condições de queda de lucratividade que predominava naquele período, e aumentaram a massa de capitais mobilizadas para a especulação financeira em mercados cambiais extraterritoriais.

A eleição de Ronald Reagan (1980) nos Estados Unidos, de Margareth Thatcher (1979) na Inglaterra, e de Khol (1982) na Alemanha, abriu as condições políticas para o salto qualitativo no processo de execução das políticas de liberalização financeira e comercial, e a internacionalização do capital financeiro. Assim foram intensificadas as iniciativas para alcançar as estratégias que vinham sendo construídas nos governos anteriores: a adoção de políticas econômicas restritivas e a liberalização dos mercados financeiros, abrindo novas frentes para o capital financeiro e para a ampliação das relações com o mundo asiático, principalmente a China, iniciada no governo Nixon (FIORI, 2007). O impulso inicial foi dado pela decisão do Banco Central americano de elevar a taxa de juros em 1979, associada ao fim do controle dos movimentos de capitais. A política dos EUA de aumentar os juros valorizou muito o dólar. Os governos começaram a desregulamentar/liberalizar os mercados financeiros. O ponto alto deste processo veio com a

Revista Análise/2010

35

desregulamentação dos mercados acionários e a incorporação do leste europeu e da América Latina a este caminho, a partir da década de 90. A mudança na política monetária do FED, a partir de 1979, lançou os países localizados na periferia do sistema numa grande crise, que perdurou toda a década de 80 (MARQUES & NAKATANI, 2008). Esses países tiveram que adaptar suas condições econômicas para conter os desequilíbrios das contas externas, naquele período determinado devido aos pagamentos de juros e amortizações da dívida externa. A internacionalização do capital financeiro foi conduzida fazendo uso do dólar, sendo ele a face dos investimentos diretos estrangeiros, além de assumir as formas especulativas e parasitárias.

As bolsas deixaram de ser o local de capitalização das empresas para tornarem-se locais de variadas formas de especulação financeira. A acumulação de ativos financeiros ganhou espaço na composição da riqueza capitalista. O patrimônio das famílias passou a incorporar ativos financeiros além de móveis e bens duráveis. A partir dos anos 80 cresceu sobremaneira o volume de exportação de capitais. Os sujeitos desse processo são grandes instituições financeiras e empresas multinacionais, que seguiram determinando o fluxo de investimentos estrangeiros . Nas palavras de Arrighi (2008, p.151):

Diante do aumento da concorrência internacional (principalmente em setores de intercâmbio intensivo, como a indústria), as empresas com custos mais altos reagiram à queda do lucro subtraindo do investimento em capital fixo e em mercadorias uma proporção cada vez maior de receita e desviando-a para a liquidez e para a acumulação nos canais financeiros.

Os Estados Unidos aparecem como a principal força controladora do fluxo mundial de capitais. “Ameaçados no campo da produção, os Estados Unidos reagiram afirmando sua hegemonia por meio das finanças” (Harvey, 2004, p.58). A internacionalização do capital financeiro foi o meio pelo qual se procurou sair da crise iniciada nos anos 70. Houve um processo de internacionalização do capital financeiro que consolidou relações sociais capitalistas em países como China e Rússia, e ainda para os países dependentes da América Latina, além de outras regiões. A esse respeito, é interessante notar a observação de Harvey (2004, p. 124): O colapso da União Soviética e depois a abertura da China envolveram uma imensa liberação de ativos até então não disponíveis na corrente principal da acumulação do capital. O que teria acontecido com o capital sobreacumulado nos últimos 30 anos sem a abertura de novos terrenos de acumulação?

O modelo de liberalização comercial e financeira foi o projeto de consenso entre as grandes potências. As políticas liberalizantes abriram caminho para a exportação do excedente econômico dos países centrais. Para os países localizados na periferia do sistema as políticas econômicas restritivas abriram espaço para uma maior dependência do capital financeiro.

Revista Análise/2010

36

2. As ideologias

No contexto da crise estrutural capitalista vivida no pós década de 70, a recuperação dos países centrais deu-se com a internacionalização do capital financeiro. O grupo dominante dos países centrais, tendo a frente os Estado Unidos, passou a construir uma nova ordem mundial.

No plano ideológico, o termo Globalização desde então vem sendo empregado para explicar fenômenos da economia mundial. Tal como é apresentado, esse conceito promove uma abstração ampla dos elementos históricos determinantes da atual etapa capitalista, e o processo de luta de classes, compreendido no tempo e no espaço. E ainda, sobre as relações internacionais, desconsidera a rica totalidade do processo político, o sistema mundial de Estados e a diversidade presente nas nações. De certo modo, é o velho problema da naturalização do processo econômico presente no liberalismo de Adam Smith (1996) e David Ricardo (1996), bem como de suas versões mais contemporâneas, tendo o Neoliberalismo como expressão máxima.

O uso considerável do termo Globalização não pode ser explicado sem levar em conta a condição objetiva das relações internacionais nas últimas décadas. A força da idéia explica-se pelo movimento dos grupos dominantes. A base material é o processo de internacionalização do capital financeiro empenhado pelos Estados mais desenvolvidos em favor das grandes empresas e bancos, que se fez contra a população dependente e pobre da periferia do sistema. Nesse contexto, teóricos da Mundialização do capital assumiram o desafio do rigor científico. Desse ponto de vista, a nova fase da internacionalização consiste no predomínio de estratégias globais, de novas relações entre o capital financeiro e o Estado, e também entre suas diferentes determinações, principalmente na interpenetração entre o capital portador de juros e o capital produtivo (MARQUES & NAKATANI, 2008). Nas palavras de Chesnais (1996, p.34),

A mundialização é resultado de dois movimentos conjuntos, estreitamente interligados, mas distintos. O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa fase de acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas, que foram aplicadas desde o início da década de 1980, sob o impulso dos governos Thatcher e Reagan.

O trabalho de Chesnais (1996) situa-se entre as melhores elaborações sobre as especificidades da recente internacionalização do capital financeiro. Em suas palavras, “já antes situamos este nosso trabalho entre os que surgem como prolongamento das obras dos anos 70 sobre a internacionalização do capital” (CHESNAIS, 1996, p.51). Esse autor defende a tese de que Dominância Financeira, segundo a qual se vive um regime de acumulação e um modo de regulação por ele denominado regime de acumulação mundializado de acumulação financeira.

Revista Análise/2010

37

3. A hegemonia dos Estados Unidos no sistema mundial de Estados

No Brasil, vê-se um importante debate teórico sobre os efeitos das recentes transformações capitalistas sobre a hegemonia dos Estados Unidos no sistema mundial de Estados. No campo do pensamento crítico tem-se autores como Fiori (2008) , que discutem a ideia de que na etapa da Globalização houve recuperação do poder americano e caminha-se para uma espécie de um sistema imperial com domínio ainda mais concentrado, uma forma de Poder Global. Por outro lado, tem-se a abordagem metodológica distinta de Arrighi (2008) e Wallerstein (2004, 2002, 2001) . O primeiro, como tese central, apresenta o declínio processual da hegemonia norte americana. O segundo, de forma mais contundente, expõe a tese de crise absoluta da hegemonia americana e o sentido de uma crise terminal do sistema mundial moderno de Estado. 3. 1. A tese da Explosão Competitiva

Fiori (2008) analisa a dinâmica das relações internacionais nas últimas décadas fazendo uso de uma teoria por ele denominada “Universo em Expansão”, da qual deriva a tese da “Explosão Competitiva”. Em síntese, entende-se que existe um sistema mundial de Estados mediado por uma competição ininterrupta, em que os vários Estados-nação concorrem entre si tendo por estratégia o poder global. FIORI (2009,p.31) reforça essa idéia no sentido de que,

Do nosso ponto de vista, entretanto, a melhor maneira de pensar o “sistema interestatal capitalista”, que se formou a partir da expansão européia do século XVI, não é através de uma metáfora biológica, e sim cosmológica, olhando para o sistema como se ele fosse um “universo em expansão contínua”. Com um núcleo central formado pelos Estados e economias nacionais que lutam pelo “poder global”, que são inseparáveis, complementares e competitivos. E estão em permanente preparação para a guerra, uma guerra futura e eventual, que talvez nunca ocorra e que não é necessário que venha a ocorrer, Por isso, os Estados e economias que compõem o sistema interestatal capitalista estão sempre criando, ao mesmo tempo, ordem e desordem, expansão e crise, paz e guerra. E as potências que uma vez ocupam a posição de liderança não desaparecem, nem são derrotadas por seu “sucessor” (grifo nosso)

Em trabalho publicado recentemente, quando o autor se dedica ao debate sobre a crise capitalista mundial, vista nos últimos anos, também faz uso do conceito de explosão competitiva.

Do nosso ponto de vista, as crises e as guerras em curso neste início de século XXI, ainda fazem parte de uma transformação estrutural de longo prazo, que provocou uma “explosão expansiva” e um grande aumento da “pressão competitiva” interna, dentro do sistema mundial (FIORI, 2009, p.32).

Para Fiori (2008; 2009), o sistema mundial de Estados não funciona em movimentos cíclicos, no qual o poder global é modificado. As crises estruturais do capitalismo mundial são vistas por meio de outras categorias teóricas e, acrescenta o autor, que não modificam a estrutura de poder entre os Estados. É o que se pode notar nas linhas seguintes.

Revista Análise/2010

38

Essas teorias lêem a história do sistema mundial como uma sucessão de ciclos

hegemônicos, uma espécie de ciclos biológicos de Estado e das economias nacionais, que nascem, crescem e dominam o mundo e depois declinam, sendo substituídas por um novo Estado e uma economia nacional que percorreriam o ciclo anterior – até chegar a sua vez de decair (FIORI, 2009, 31).

Para Fiori (2008; 2009), tanto a crise que causou o fim o “Boom do Pós Guerra”, em fins da década de 70, como os acontecimentos mais recentes, não desmontaram a liderança dos Estados Unidos.

O autor analisa essa questão do seguinte modo: Com relação à “crise da década de 1970”, hoje está claro que ela não enfraqueceu o

poder americano; mais do que isto, todos os sinais que foram apontados como indicadores do seu declínio, se transformaram no seu contrário. Assim, por exemplo, é verdade que os Estados Unidos se transformaram no “grande devedor” da economia mundial, a partir dos anos 1970. Mas essa dívida não provocou um desequilíbrio fatal na economia americana, e funcionou como um motor da economia internacional, nesses últimos quarenta anos. Foi também no início da década de 1970 que ocorreu a crise final do Sistema de Bretton Woods, e, no entanto, o “padrão dólar-ouro foi substituído por um novo padrão monetário internacional – o “dólar-flexível” – que permitiu aos Estados Unidos exercerem um poder monetário e financeiro internacional sem precedente na história da economia e do “sistema mundial moderno” (FIORI, 2008, p.17).

Afora as críticas sobre as categorias teóricas empregadas por Fiori (2008) para fazer sua análise do sistema mundial capitalista, convém reconhecer alguns aspectos positivos. Sua teoria trabalha uma relação entre desenvolvimento do capitalismo mundial e a concentração de riquezas. O preceito básico é de Estado –potência (no momento, papel incorporado pelos Estados Unidos) que reserva condições supremas na competição internacional. Assim sendo, procura mostrar que no contexto da crise da década de 70 os Estados Unidos posicionaram-se como o país mais desenvolvido e as políticas econômicas dos sucessivos governos não foram defensivas, pelo contrário, denotam sentido de recuperação. Exemplo maior são os apontamentos que se faz sobre as relações econômicas e financeiras com o mundo asiático, especialmente a China. É uma teoria que considera principalmente os aspectos econômicos sob uma perspectiva de comando dos grandes monopólios.

Contudo, outros aspectos devem ser criticados. O primeiro é que a teoria expõe uma forma analítica concentrada no papel dos governos e nações. No nosso ponto de vista, no capitalismo, mesmo em sua fase monopolista, não é possível pensar o conceito de poder político sem a associação às classes sociais e mais especificamente o controle da riqueza social por parte dos capitalistas. Os Estados nacionais e governos encarnam as contradições derivadas da luta de classes, vistas em nível internacional, situadas em tempos históricos. Esse deve ser o primeiro passo de qualquer teoria relacionada ao Estado, poder político e crise capitalista.

Revista Análise/2010

39

O segundo ponto é o fato de ele admitir a possibilidade de acumulação capitalista interminável. Sabe-se que o capitalismo encontra-se em sua fase monopolista, na qual as contradições que são inerentes ao sistema potencializam-se. A acumulação de riqueza numa ponta passa a depender de uma situação política entre as classes sociais marcadas por conflitos permanentes e mais acirrados, ou seja, de problemas estruturais que geram barreiras objetivas ao desenvolvimento capitalista. 3.2. Crise terminal do sistema mundial moderno?

Wallerstein (2004) defende a tese de que os Estados Unidos vivem o momento de uma crise aguda de dominação política. Tal crise arrasta-se desde a década de 70 e nos tempos atuais adquiriu uma forma de crise terminal do sistema mundial de Estado moderno, dando lugar a algo novo, ainda desconhecido e imprevisível. Ele aponta como prova os acontecimentos militares do pós-guerra envolvendo intervenções americanas. O fato central foi a guerra do Vietnã. “Mas o Vietnã não foi simplesmente uma derrota militar ou uma nódoa no prestígio dos Estados Unidos. A guerra desferiu um forte golpe na capacidade de os Estados Unidos continuarem a ser a potência econômica dominante no mundo” (WALLERSTEIN, 2004, p.26). R ecentemente, a maior expressão do declínio do poder americano foi o episódio do World Trader Center, em 11 de setembro de 2001, no qual, segundo Wallerstein (2004), forças não-estatais, relativamente mais fracas do que qualquer Estado conseguiram se sobrepor ao aparato militar da grande potência.

As pessoas responsáveis pelo ataque não representavam uma potência militar. Eram membros de uma força não estatal, com elevado grau de determinação, algum dinheiro, um bando de seguidores dedicados e uma base forte num Estado fraco. Em suma, militarmente, não eram nada. Contudo, conseguiram levar a cabo um ousado ataque em solo norte-americano (WALLERSTEIN, 2004, p. 31).

Os argumentos de Wallerstein (2004) abstraem traços importantes do processo de acumulação de poder e riqueza nas últimas décadas. Em síntese, a Globalização representou um processo de ofensiva política contra os trabalhadores e as aspirações nacionalistas do capitalismo dependente da periferia do sistema. Os Estados Unidos de várias formas comandaram as forças financeiras, produtivas, ideológicas e até mesmo militares que submeteram nações parceiras, adversárias e o proletariado mundial sob as condições de exploração do projeto estratégico do capital financeiro, denominado neoliberalismo. Arrighi (2008), praticamente no mesmo sentido, sustenta a idéia de crise estrutural e declínio terminal da hegemonia americana. O lugar antes ocupado pelos Estados Unidos está sendo disputado por outros países, sendo que, para o autor, até o momento tudo indica que a China é o candidato com maior potencialidade. Lê-se que, sobretudo, a derrota militar no Vietnã trouxe efeitos negativos contundentes na condição hegemônica dos Estados Unidos. Em linhas gerais, abriu-se uma situação política determinando políticas econômicas defensivas e muitas dificuldades para o exercício do poder imperialista.

Revista Análise/2010

40

O resultado foi que os Estados Unidos perderam boa parte de sua credibilidade política como polícia do mundo, estimulando assim as forças nacionalistas e revolucionárias sociais que as políticas da Guerra Fria pretendiam restringir. Juntamente com boa parte da credibilidade política de seu aparato militar, os Estados Unidos também perderam o controle do sistema monetário mundial. Como afirmamos no capítulo 5, a escalada das despesas públicas para sustentar o empreendimento militar no Vietnã e superar a oposição à guerra dentro do país, por meio do programa da Grande Sociedade, fortaleceu a pressão inflacionária nos Estados Unidos e a economia mundial em geral, aprofundou a crise fiscal do Estado norte-americano e acabou levando ao colapso o sistema de câmbio fixo, cujo centro era os Estados Unidos (ARRIGHI, 2008, p.165). O autor explica que no período apareceram limites para a expansão do capital financeiro americano. Segue explicando o autor que as grandes empresas multinacionais americanas detinham uma estrutura muito verticalizada, isto é, concentravam a produção nos países centrais. Tal fato, historicamente abriu espaços para a resistência e concorrência de novas empresas entrantes originárias na periferia do sistema, sob novas bases de organização empresarial.

A esse respeito, o autor ainda esclarece que Contudo, por enquanto observaremos que a falta de integração orgânica dos Estados

Unidos na economia global, que foi a grande vantagem do capital norte americano na primeira metade do século XX, transformou-se em restrição à capacidade desse capital para aproveitar a tendência à financeirização que ganhava ímpeto na década de 1970, nacional e internacionalmente, sob o impacto da intensificação da concorrência e a crise de lucratividade a ela associada (ARRIGHI, 2008, p.155).

O aumento da oferta mundial, afirma o autor, ajuda a compreender a crise estrutural vista a partir da década de 70 e nos anos posteriores criaram barreiras à valorização produtiva do capital. O resultado foi um processo de financeirização em nível mundial. Para Arrighi (2008, p.152),

Quando o aumento da concorrência reduz a disponibilidade de ninhos lucrativos e relativamente vazios nos mercados de commodities, as principais organizações capitalistas dispõem de um último refúgio, para o qual podem recuar e transferir para outros a pressão da concorrência. Esse último refúgio é o “quartel-general do sistema capitalista” de Schumpeter: o mercado de dinheiro.

Do ponto de vista de Arrighi (2008), houve recuperação dos Estados Unidos, mas sob bases financeiras frágeis e se prenunciam crises mais profundas no futuro.

O sucesso que a contra-revolução monetarista obteve ao transformar a expansão financeira da década de 70 na força motriz da reflação da riqueza e do poder norte-americanos nas décadas de 80 e 90 não foi, em si, uma garantia de que não voltaria a ocorrer colapso sistêmico análogo (ARRIGHI, 2008, 172).

É interessante notar a relação que Arrighi (2008) faz entre o declínio produtivo, financeirização, e a crise de hegemonia dos Estados Unidos. Em síntese, pensa-se que essa é a

Revista Análise/2010

41

forma com a qual analisa os acontecimentos da internacionalização capitalista e a hegemonia dos Estados Unidos.

A idéia de desenvolvimento desigual vista em Arrighi (2008) tem importância crucial nas definições de sua obra. Por desenvolvimento desigual entende-se “o processo pelo qual os retardatários do desenvolvimento capitalista tentam e acabam conseguindo alcançar os líderes desse desenvolvimento” (ARRIGHI, 2008, p.112). Esse conceito é utilizado por Arrighi (2008) para explicar o desenvolvimento do “Boom do pós-guerra”, o problema estrutural que levou à crise de lucratividade e à financeirização localizada nos países centrais, e também à situação supostamente defensiva das mudanças socioeconômicas verificadas a partir da década de 1970. Como exemplos aparecem em seu texto os temas da elevação da produção industrial na Alemanha e Japão, e a influência do euromercado no mercado de capitais que levou ao fim o sistema Bretton Woods. Diria ainda que na definição das teses centrais da obra está o declínio absoluto do poder americano e a ascensão da China.

Acredita-se que Arrighi (2008) emprega o conceito de desenvolvimento desigual demonstrando uma lógica capitalista não-concentradora de riquezas, em que a periferia do sistema, por motivos não revelados, consegue equiparar-se e ou sobrepor-se aos monopólios. É o que se pode compreender de suas formulações sobre o declínio da produção e o processo de financeirização. Em várias passagens de sua obra, o autor afirma que estaria ocorrendo uma contra-ofensiva dos países relativamente atrasados (principalmente europeus e asiáticos), sobre os Estados Unidos, em várias áreas, como na produção, na ordem financeira e nas políticas cambiais. Conclusão

Portanto, entende-se que no contexto de crise estrutural vista a partir da década de 70, os Estados Unidos e o grupo dos países dominantes conseguiram aplicar a internacionalização do capital financeiro e a construção de um consenso em torno do projeto estratégico do Neoliberalismo.

Neste sentido, é precipitado assumir a tese de uma crise terminal do poder americano no sistema mundial de Estados e o prenúncio de um novo hegemon, surgido a partir das condições de produtividade e acumulação do mundo asiático. Não é correto caracterizar o declínio de uma potência imperialista baseando-se exclusivamente na capacidade de construir o consenso no grupo dominante. Deve-se considerar principalmente as relações objetivas que sustentam a posição hegemônica.

Enfim, para se entender o contexto da crise dos anos 70 torna-se fundamental considerar a relação do capital financeiro americano com os países asiáticos, especialmente a China, e outros países dominados. Contudo, apenas para o registro de uma posição contraditória, entende-se que o lugar dos países dominantes no sistema mundial de Estados se sustenta a partir de um conjunto de elementos. Pode-se citar: as dimensões econômicas, isto é, a dotação as forças produtivas; a estabilidade política e social; a capacidade dos impérios de

Revista Análise/2010

42

manter o controle de suas colônias; a força militar dos Estados, que não depende exclusivamente das técnicas, mas sim da coesão social, da capacidade de se convencer a sociedade sobre a necessidade do agrido militar; o equilíbrio das forças em blocos formais etc. É certo que o no contexto em referência percebe-se muitas contradições no exercício dos elementos destacados, porém, pensa-se que por ora não se avista outra nação caminhando para reunir as condições estruturais suficientes para se posicionar como um novo hegemon no sistema mundial de Estados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, P. (1995). Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E. & GENTIL. P. Pós-

neoliberalismo. As políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

ARRIGHI, G. (2008). Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São

Paulo: Boitempo.

BRENNER, R. (2003). O Boom e a Bolha. Rio de Janeiro: Record.

CHESNAIS, F. (1996). A mundialização do capital. São Paulo: Xamã.

¬¬COX, R. W. Gramsci, hegemonia e relações internacionais: um ensaio sobre o método.

(2007). In. Gill, S. (Org). Gramsci, materialismo histórico e relações internacionais. Rio de

Janeiro: UFRJ.

FIORI, J. L. (2007). O poder global. São Paulo: Boitempo.

_________. (Org.). (2007). O poder americano. Petrópolis, Vozes.

_________. et al. (2008). O Mito do Colapso do Poder Americano. Rio de Janeiro: Record.

_________. (2009). A esquerda e a crise. Revista Margem Esquerda. São Paulo, n. 13, p.29-

34.

HARVEY, D. (2004). O Novo Imperialismo. São Paulo: Edições Loyola.

KONDRATIEFF, N. (1992). Les grands cycles de La conjoncture. Paris: Economica.

MARQUES, R. M. & NAKATANI, P. (2008). O papel da finança no capitalismo

contemporâneo. Salvador: ANPEC.

SMITH, A. (1996). A riqueza das nações. São Paulo: Nova Cultural.

TAVARES, M. C. & BELLUZZO, L. G. (2007). A Mundialização do Capital e a Expansão

do Poder Americano. In: FIORI, J. L. O Poder Americano. Petrópolis: Vozes.

WALLERSTEIN, I. (2004). O Declínio do poder americano. Rio de Janeiro: Contraponto.

������� ����� � � �

��UMA INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO DE AJUSTE NA AMÉRICA LATINA A

PARTIR DA TEORIA DE SISTEMAS-MUNDO

Paulo Daniel e Silva 1

RESUMO

Este artigo apresenta uma abordagem sintética sobre a teoria de sistemas-mundo e/ou economias-

mundo preconizadas por Fernand Braudel e Immanuel Wallerstein, sobre a evolução das nações e a

formação de metrópoles e colônias, centro e periferia.

A América Latina é um importante conglomerado do sistema-mundo, Neste sentido, pode-se

examinar as características desse sistema, compreendendo seus sistemas geopolíticos,

imperialismos, dependências, trocas desiguais, lutas por liberação nacional. As contribuições de

Braudel e Wallerstein são fundamentais para o mapeamento das novas características da economia e

política mundiais.

Palavras-chave: Sistema Mundo, América Latina, ajuste econômico.

O Sistema Mundo

“A difundida crença de que as reformas voltadas para a

abertura das economias e a liberação dos mercados produzirá

uma dramática aceleração no crescimento dos países em

desenvolvimento representa um salto no escuro e um ato de

fé.”

Paul Krugman

Uma das interpretações importantes e coerentes sobre a história moderna e

contemporânea pode ser vista como uma história de sistemas coloniais, sistemas

imperialistas, geoeconomias e geopolíticas. Cenário da formação e expansão dos

1Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Professor de economia do Unianchieta. Atualmente é colunista da revista Carta Capital.

������� ����� � � �

��mercados, da industrialização, da urbanização e da ocidentalização, envolvendo

nações e nacionalidades, culturas e civilizações.

É claro que a história moderna e contemporânea está pontilhada de países,

sociedades nacionais, Estados-nações, mais ou menos desenvolvidos articulados,

institucionalizados. E esta tem sido uma constante nas ciências sociais: a história

moderna e contemporânea tem se tornado uma história de sociedades nacionais, ou

Estados-nações. Sem deixar de contemplar a sociedade nacional, em suas mais

diversas configurações, muitos empenham-se em desvendar as relações, os

processos e as estruturas que transcendem o Estado-nação, desde os subalternos

aos dominantes. Empenham-se em desvendar os nexos políticos, econômicos,

geoeconômicos, geopolíticos, culturais, religiosos, lingüísticos, étnicos, raciais e

todos que articulam e tensionam as sociedades nacionais, em âmbito internacional,

regional, multinacional ou mundial.

A idéia de “economias-mundo” emerge nesse horizonte, diante dos desafios

das atividades, produções e transações que ocorrem tanto entre as nações como

sobre elas, e além dessas, mas sempre envolvendo-as em configurações mais

abrangentes. Quando o pesquisador combina o olhar do historiador com o do

geógrafo, logo revelam-se configurações e movimentos da realidade social que

transcendem o feudo, a província e a nação.

O conceito de “economia mundo” está presente em estudos de Braudel e

Wallerstein, precisamente pesquisadores que combinam muito bem o olhar dos

historiador com o do geógrafo. É verdade que Wallerstein prefere a noção de

“sistema mundo”, ao passo que Braudel a de “economia-mundo”, mas ambos

mapeiam a história com base na primazia do econômico, na idéia que a história se

constitui em um conjunto, ou sucessão, de sistemas econômicos mundiais. Mundiais

no sentido de que transcendem a localidade e a província, o feudo e a cidade, a

nação e a nacionalidade, criando e recriando fronteiras, assim como fragmentando-

as e dissolvendo-as.

Neste sentido, é preciso salientar que a economia política dos sistemas -

mundo, surgiu em 1981 como uma seção da Associação Americana de Sociologia,

por iniciativa dos pesquisadores interessados em institucionalizar o campo de

pesquisa aberto por Immanuel Wallerstein em 1974, com o lançamento do 1º.

������� ����� � � �

��volume de “O Moderno Sistema Mundial”. Grosso modo, pode-se dizer que a EPSM

estuda o surgimento, desenvolvimento e desintegração de sistemas sociais

históricos, pesquisados através do método comparativo, objetivando chegar a

generalizações sobre interdependências entre os componentes do sistema

e a princípios de variação entre condições sistêmicas em diferentes

espaços e tempos. Sistemas sociais históricos são conjuntos de estruturas

ou entidades, simultaneamente sistêmicos e históricos, cuja coexistência e

sucessão representam o próprio conteúdo do mundo social

(WALLERSTEIN, 1990, p.21).

Esses sistemas são vistos na abordagem em foco como a “unidade de

análise” mais adequada para o estudo da vida social e ocupam, dessa forma, o lugar

analítico tradicionalmente preenchido pela “sociedade” e pelo “Estado” no papel de

entidades em que a vida social se desenrola (Wallerstein, 1990, p.73).

Tais conjuntos de estruturas abarcam, além de processos econômicos,

processos igualmente políticos e culturais, e apresentam-se relativamente

autônomos, no sentido de que sua continuidade é garantida pelos acontecimentos

que têm lugar no seu próprio interior. Este atributo implica ser a dinâmica dos

sistemas históricos largamente interna, significa a possibilidade de uma existência

em boa medida auto-centrada. Wallerstein (1990, p.74) diz que “a característica

definidora de um sistema social é a existência dentro dele de uma divisão do

trabalho, de tal maneira que os vários setores ou áreas dependem das trocas para o

atendimento regular e contínuo das necessidades da área”. O adjetivo “sistêmico”

remete, assim, à rede de processos econômicos, políticos e culturais que figuram na

base de coesão dos sistemas históricos. O qualitativo “histórico”, por seu turno,

traduz o entendimento de que esses sistemas são delimitados temporalmente, isto

é, tem início e fim. De todo modo, seus ciclos de vida via de regra ostentam uma

“longa duração”, no sentido em que Braudel (1986, p.83) utiliza essa expressão, que

se refere ao tempo histórico, por excelência das estruturas sociais.

Os sistemas sociais podem ser mini-sistemas, por sua modesta abrangência

geográfica e duração, ou sistemas-mundo, por sua maior magnitude espacial e

������� ����� � � �

��temporal, cuja única divisão do trabalho contém múltiplos sistemas culturais. Os

sistemas-mundo, de acordo com sua configuração política, são classificados em

impérios-mundo (quando em todo o espaço coberto pela divisão do trabalho existe

uma única estrutura política) e economias-mundo (com uma superestrutura política

fragmentada em diversas unidades). As economias-mundo foram definidas por

Braudel (1986, p.84) como “um pedaço do planeta economicamente autônomo,

capaz, no essencial, de bastar-se a si próprio, e ao qual suas ligações e trocas

internas conferem certa unidade orgânica”.

Os impactos do Sistema Mundial na América Latina

A América Latina é um importante conglomerado do sistema-mundo, o seu

grande tamanho e população, e sua força como periferia, ou território em

desenvolvimento, implicam que, o que aconteça nessa região tenha muita

repercussão tanto em termos de geopolítica como da estrutura do sistema-mundo.

Neste sentido, pode-se examinar as características desse sistema, compreendendo

seus sistemas geopolíticos, imperialismos, dependências, trocas desiguais, lutas por

liberação nacional. As contribuições de Braudel e Wallerstein dentro outros, como

Samir Amim, Giovanni Arrighi e André Gunder Frank, são fundamentais para o

mapeamento das novas características da economia e política mundiais.

Reconhecem que as transacionais desenvolvem-se além das fronteiras geográficas

e políticas, independentemente dos regimes políticos e das culturas nacionais.

Reconhecem que elas criam novos desafios a governos, a grupos sociais, a classes

sociais, a coletividades, a povos, a nações e a nacionalidades, impregnando seus

movimentos sociais, partidos políticos, correntes de opinião pública e meios de

comunicação. Inclusive reconhecem que as novas características do capitalismo

mundial, como economias-mundo ou sistemas mundo, suscitam problemas teóricos

novos ainda não equacionados, aguardando conceitos e interpretações.

������� ����� � � �

��Com base nisso, pode-se analisar e relatar o processo de ajuste na América

Latina e sua influência tanto para os Estados-Nações quanto o sistema mundial

latino-americano.

A entrada dos países latino-americanos no processo de ajuste e das reformas

é variável no tempo. O Chile, país onde ocorreu a mais radical ruptura político-

institucional do continente, inicia o ajuste nos anos 70. Diversos países iniciam seus

processos de ajuste nos anos 80, com reformas parciais como a financeira e a

renegociação das dívidas. Mas é a partir do final dos 80 e, sobretudo, o início dos 90

que a maioria dos países latino-americanos avançam nas reformas. O primeiro

grande país da região a sentir o golpe da política de Paul Volcker foi o México,

gerando impactos em todos os outros países da região, já que minguaram os fluxos

de capitais para a América Latina, a exceção do Chile e da Colômbia. Segundo

Medeiros (1997, p.285), tal política deu o “pontapé” inicial do processo de “retomada

da hegemonia norte-americana”, gerando, inclusive, o crescimento e a consolidação

do padrão dólar flexível que alteraria profundamente o padrão de desenvolvimento

dos países centrais e periféricos. Esse regime macroeconômico mostrou-se de

crescimento moderado nos Estados Unidos e de muito baixo crescimento nos

demais países avançados, com taxas de inflação bastante reduzidas e com grande

piora nos termos de troca das commodities em geral (inclusive petróleo). Por essas

razões, a valorização do dólar em 1979, como um típico ato de força, acabou por

repercutir sobre os diversos espaços nacionais, inclusive levando toda a economia

mundial a uma profunda recessão entre 1981 e 1984.

A partir daí, a região adentra numa fase denominada de “década perdida”, na

qual os grandes países, como a Argentina, o Brasil e o México, em diferentes

momentos da década, enfrentam crises internas agudas cujas características

recorrentes principais foram a recessão e a inflação galopante.

Essas crises serviram como legitimação para a ascensão do modelo de

desenvolvimento liberal na década de 1990, dos anos 1980, não conseguiram

compatibilizar o ajustamento do balanço de pagamentos e o reordenamento das

finanças públicas. Assim, o conflito distributivo na América Latina, que foi modelado

pelo regime inflacionário à época, significou a primeira etapa da maior renúncia da

������� ����� � � �

��soberania monetária dos seus Estados, já que este delegaram, em grande parte ao

FMI e ao Banco Mundial suas estratégias econômicas que, num segundo momento,

voltaram-se completamente à acumulação com os títulos da dívida e à legitimação

do ideário neoliberal.

Como as economias em desenvolvimento são marcadas pela instabilidade

econômica interna e externa, sucedem-se as políticas governamentais ditas de

ajustamento, ora voltadas para a estabilização dos preços dentro da economia, ora

dirigidas ao reequilíbrio das transações internacionais, mas invariavelmente

modeladas e impostas pelo Fundo Monetário Internacional; e às quais os países se

submetem supostamente pela necessidade de garantir o financiamento externo

diante da influência que a posição das instituições financeiras internacionais exerce

sobre o fluxo internacional de capitais como um todo, pois os chamados “agentes”

que atuam no mercado – bancos, gestores de fundos etc. – provocam instabilidade

financeira interna, nos países devedores, sempre que estes pretendam introduzir

qualquer ação reguladora. O que significa simplesmente que os países com

endividamento crescente perdem a capacidade política de tomar decisões

econômicas financeiras internas, ficando pela vontade de uma mão invisível do

mercado. E como tais medidas, essencialmente conflitivas, normalmente são

introduzidas em um quadro de dificuldades econômicas, políticas e sociais, estas

tendem a tornar-se ainda mais agudas.

Os ajustes macroeconômicos impostos pelo FMI/BIRD durante a década de

1980 tinham como pressuposto teórico o excesso de demanda (importações,

investimentos e consumo privados e gastos públicos). Assim, reduzia-se por meio de

elevação de alguns impostos, do corte drástico no gasto público, da elevação da

taxa de juros, do corte de crédito, da restrição monetária e do “inevitável” arrocho

salarial (público e privado).

É fato que, normalmente os problemas tem derivado de causas externas,

embora às vezes tenha como origem remota decisões tomadas internamente.

De acordo com Tavares e Fiori (1993, p.95), as mudanças provocadas pelo

ajuste global das economias deixaram marcas profundas na ordem econômica

internacional, centradas na reestruturação industrial e na intermediação financeira.

������� ����� � � �

��Está claro, no entanto, que os grandes motores industriais do crescimento e a

internacionalização financeira são operados por um conjunto relativamente reduzido

de grandes empresas e grandes bancos que foram se transnacionalizando com

apoio em dois Estados nacionais centrais – Japão e Alemanha – numa, resposta

tardia, mas eficaz à transnacionalização norte-americana. Estes dois novos centros

do poder econômico produziram desenvolvimentos regionais importantes, além de

um desafio global aos EUA. O desdobramento desse novo quadro internacional

deixou de fora dos benefícios do progresso técnico vastas áreas geográficas e

populacionais, e piorou os padrões de equidade social herdados do padrão de

desenvolvimento do pós-guerra. Vale dizer, diminuiu o Clube dos ricos e

aumentaram as distâncias Norte-Sul.

A partir do fim da década de 1980, com a imposição de políticas econômicas

liberalizantes, com abertura comercial e desregulamentação dos fluxos de capitais

internacionais, assentou-se em duas questões centrais: a financeira e produtiva.

Conforme Cano (2000, p.83), a crise financeira internacional, que explicitou a

supremacia do capital financeiro sobre as outras formas de capital, impôs a quebra

de nossa soberania nacional, liberando seu movimento de busca incessante de

valorização; no que diz respeito a reestruturação produtiva das Empresas

Transnacionais (ET) em suas bases localizadas nos países desenvolvidos, o que

também teria exigido, na década de 1990, que se reestruturassem aquelas

localizadas nos subdesenvolvidos. Destas questões derivaram as reformas

institucionais liberais impostas a nossos países.

Estas reformas foram complementadas por políticas de estabilização que

tiveram como lastro uma elevada valorização da moeda nacional2 ante o dólar e um

crescimento da dívida pública interna, estimulada por elevados juros reais. Câmbio e

abertura resultaram em forte aumento de importados e debilitamento das

exportações, gerando grandes déficits, além de terem exercido um papel crucial nas

políticas inflacionárias.

De acordo com Cano (2000, p.85), para o conjunto dos 20 principais países

capitalistas latino-americanos, o déficit acumulado em transações correntes, entre

2 A valorização no caso do Brasil, foi cerca de 40%, entre 1989 e 1994, e na Argentina, de 58% entre 1989 e 1991.

������� ����� � � �

��1989 e 2001, consumiu US$ 550 bilhões (cerca de 2,9% do PIB acumulado no

período), enquanto a dívida externa saltava de US$ 453 bilhões de dólares para US$

787 bilhões; as exportações cresceram 164%, mas as importações aumentaram

240%. No Brasil, no mesmo período, o PIB cresceu 26,4%, as importações

cresceram 203%, mas as exportações apenas 69%. O câmbio barato e

desregulamentado ampliou também os gastos com turismo, compras de imóveis no

exterior e crescentes remessas não controladas, muitas de escusa procedência.

Adicional a esse processo de reformas, pode-se destacar que para todos os países

latino-americanos reside no fato de que o processo de urbanização acelerada não

foi acompanhado por uma organização social e educacional compatível com os

novos requisitos em capacitação técnica, profissional e intelectual.

É importante desenvolver o conjunto das políticas de estabilização e das

reformas implantadas, pois constitui-se em seu todo uma engrenagem fundamental

para permitir a funcionalidade do modelo neoliberal implantado na América Latina,

que são os seguintes:

a) Ampla liberdade ao capital financeiro (estrangeiro ou nacional): Com o

objetivo de se apropriar, nos diferentes países, de elevados ganhos possibilitados

pela sua alocação setorial e regional, pela especulação e pela liberdade de remessa

de lucros e juros;

b) Necessidade de reformas dos sistemas financeiros nacionais, com o

objetivo de compatibilizar a velocidade exigida pelos novos fluxos externos;

c) Abertura comercial e de serviços, por via de forte rebaixamento tarifário e

não tarifário e valorização cambial

d) flexibilização das relações trabalho e capital, para diminuir ainda mais o já

baixo custo do trabalho;

e) Reformas dos sistemas previdenciários, objetivando criar mais um

importante flanco de mercado para o capital financeiro e abrir um espaço maior no

orçamento público;

f) Reforma do Estado via eliminação de órgãos públicos, redução dos salários

reais e dispensa de funcionários, privatização de ativos públicos, desmantelamento

dos sistemas de planejamento e de regulamentação;

������� ����� � � �

��Neste sentido, é importante ressaltar que o modelo imposto desde o final da

década de 1980 à América Latina resultou numa considerável piora de nossas

condições econômicas, políticas e sociais, já deterioradas na década anterior.

Além desses elementos, o início dos anos 90 também foi marcado por

políticas macroeconômicas expansionistas (redução das taxas de juros) dos países

centrais, sobre tudo os Estados Unidos e o Japão, que buscavam sair da recessão

econômica. Essas políticas, em associação com a dinâmica financeira, ancorada na

securitização das dívidas públicas e nas inovações financeiras (derivativos,

mercados futuros etc.), provocaram uma grande elevação da liquidez internacional.

Parte desta direcionou-se aos países da América Latina3, em grande medida, devido

às aberturas comercial e financeira, à reestruturação das dívidas externas, por meio

do Plano Brady, e, sobretudo, aos diferenciais das taxas de juros dos países da

região em relação às taxas de juros internacionais. A nova realidade de maior

liquidez potencializou a integração da América Latina como espaço de reprodução

da acumulação financeira, por um lado, e como espaço de realização das

mercadorias do setor manufatureiro norte-americano, por outro, haja vista o ajuste

importador 4 verificado na região durante os anos 90 (Medeiros, 1997, p.293).

A partir desse contexto, o Estado norte-americano, articulado com seus

segmentos financeiros dominantes, ampliou sua capacidade autônoma para

determinar políticas internas e externas e estabelecer, através da coerção, a

dominação sobre estados nacionais da região. Desse modo, a grande maioria dos

governos latino-americanos, entre o final dos anos 80 e início dos 90, aderiu, com

diferentes graus de intensidade, aos ajustes estruturais que consistiam, por um lado,

em planos de estabilização econômica, por meio da valorização cambial, e, por

outro, em reformas institucionais voltadas, principalmente, à liberalização

econômica, à estabilização do direito de propriedade e à flexibilização do mercado

3 A partir de 1990, o continente (média entre Colômbia, Chile, Peru, Argentina, México e Brasil) se inseriu no mercado internacional como receptor de investimentos de portfólio e o saldo da conta de capitais foi de 1,4% do PIB (UNCTAD, apud Medeiros, 1997, p.293). Dessa forma, o crédito interno entre 1988 e 1993, aumentou de 22% par 30% do PIB, enquanto o índice dos preços dos valores negociados em bolsa incrementou-se mais de três vezes e meia. 4 Ajuste este que nasceu, em certa medida, fruto da estratégia comercial norte-americana de abertura de mercados na região para os seus diversos tipos de produtos manufatureiros, haja vista, a desvalorização do dólar em relação às moedas locais, com a implementação dos planos de estabilização macroeconômica e a redução das barreiras tarifárias dos países latino-americanos.

������� ����� � � �

��de trabalho. Assumiu-se, portanto, a retórica de que o excessivo intervencionismo

estatal era o principal empecilho para que os países latinos prosperassem.

Em síntese, a América Latina, ao longo dos anos 1990, integrou-se

passivamente aos circuitos de produção do capital por meio dos ajustes estruturais

liberais, “acreditando” que este seria o único caminho para a “modernização” da

região. A prosperidade não chegou; pelo contrário, o que se verificou foi uma

ampliação da dependência e da subordinação latino-americana às potências

centrais capitalistas, gerando, com isso, a ampliação do legado histórico de

concentração de riquezas e das mazelas sociais do capitalismo dependente

regional.

Conclusão

Ao longo deste trabalho, procurou-se relatar sinteticamente a importância da

teoria histórica dos sistemas mundo e/ou economias mundo, tentando demonstrar,

grosso modo, o horizonte aberto pela globalização em curso desde o século XX

abrindo possibilidades novas e desconhecidas sobre as formações sociais

passadas, próximas e distantes, recentes e remotas.

Nas últimas décadas a América Latina passou por transformações que

alteraram profundamente as relações entre Estado, Classes e a Economia. Estas

transformações constituem um intenso processo de modernização capitalista que

aprofundou a dependência latino-americana, característica essencial dos países da

região. Portanto, na América Latina, a visão pouco clara das relações sociais torna-

se ainda mais acentuada devido a quebra financeira e política do Estado

desenvolvimentista. A extrema fragilidade das instituições democráticas e a falta de

coesão social não permitem enxergar os novos agentes sociais da transformação,

além do que, as elites latino-americanas permanecem emaranhadas no

espontaneísmo das forças de mercado e sem projeto para o futuro.

Enquanto que nos anos 90, a América Latina, em grande parte, integrou-se

de forma passiva aos movimentos do sistema mundial, a partir de 2002 poderia ou

pode-se estar constituindo um novo eixo de desafios e oportunidades, deixando um

pouco de lado o modelo liberal. Isso está sendo possível a partir de dois elementos

������� ����� � � �

��que se articulam o primeiro o crescimento acelerado da economia mundial a partir

do novo sistema geo-econômico (China/Índia e EUA), que possibilitou a redução das

restrições externas no balanço de pagamentos da região e, segundo, os movimentos

contrários ao modelo liberal no interior do bloco no poder de cada país.

Pode ser afirmado, portanto, que foram criadas condições para que as

“janelas de oportunidades” se inscrevam em uma trajetória de ruptura mais efetiva

com padrões de acumulação assentados em estruturas regressivas e de

aprofundamento da exploração e da subordinação da autonomia nacional.

Não resta dúvida, essas oportunidades abertas acontecem dentro de uma

totalidade fortemente complexa e contraditória, na qual, a América Latina, como uma

de suas partes componentes, teria que reunir algumas premissas fundamentais que

a colocassem num plano de relativa independência no interior do sistema mundo

produzido pelas transformações do capitalismo nas últimas décadas no século XX e

nos primeiros anos do século XXI.

Referências Bibliográficas

BRAUDEL, F. A dinâmica do capitalismo. 2ª. edição, Lisboa, Teorema, 1986.

CEPAL Balance preliminar de las economias de America Latina y el Caribe Cepal,

2006.

CANO, W. Soberania e política econômica na América Latina. São Paulo:

Unesp/Unicamp, 2000.

CANO, W. América Latina: A necessária integração. Revista Economia e Sociedade, v.12,

Campinas, São Paulo, Unicamp, 2003.

CHESNAIS, F., DUMÉNIL, G., LÉVY, D., WALLERSTEIN, I. Uma nova fase do capitalismo?

(Seminário marxista: Questões contemporâneas). São Paulo, SP, Xamã, 2003.

DOWBOR, L., IANNI, O., RESENDE, P.E.A. (Orgs.) Desafios da globalização. Petrópolis,

RJ, Vozes, 1997.

FIORI, J. L. Os moedeiros falsos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

FIORI, J. L. Sistema Mundial e América Latina: mudanças e perspectivas. Rio de

Janeiro: UFRJ, 2006. Mimeo

FRANK, A.G. Reflexões sobre a crise econômica mundial. Rio de Janeiro, Zahar, 1983.

������� ����� � � �

��MEDEIROS, C. Globalização e a inserção internacional diferenciada da Ásia e da

América Latina. In TAVARES, M. C., FIORI, J. L. (Orgs.) Poder e Dinheiro: Uma

economia política da globalização. Petrópolis, RJ, Vozes, 1997.

TAVARES, M. C., FIORI, J. L. Desajuste global e modernização conservadora. Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 1993.

TAVARES, M. C. A retomada da hegemonia norte americana. In TAVARES, M. C., FIORI,

J. L. (Orgs.) Poder e Dinheiro: Uma economia política da globalização. Petrópolis, RJ,

Vozes, 1997.

OLIVEIRA, F. Os direitos do antivalor: A economia política da hegemonia imperfeita.

Petrópolis, RJ, Vozes, 1998.

WALLERSTEIN, I. O capitalismo histórico. São Paulo, SP, Brasiliense, 1985.

WALLERSTEIN, I. O sistema mundial moderno. Porto, Afrontamento, 1990.

WALLERSTEIN, I. Após o liberalismo: Em busca de reestruturação do mundo.

Petrópolis, RJ, Vozes, 2002.

������� ����� � � �

��Os Programas de Transferência de Renda no Brasil e suas interfaces:

Políticas Compensatórias versus Emancipatórias

Elisiante Sartori•

Resumo

A consolidação de um Sistema de Proteção no Brasil remonta os anos 30, quando o

país passou por uma série de transformações principalmente no que se refere ao modelo de

desenvolvimento agroexportador para urbano-industrial. Desde então, temos a discussão

sobre o tipo de política social que irá delinear o nosso Sistema e como se dará a incorporação

da população mais vulnerável.

O presente trabalho irá realizar um breve retrospecto histórico sobre os Programas de

Transferência de Renda no Brasil, tendo como foco de análise a instalação de um Sistema de

Proteção Social implantado no município de Campinas, a partir de 1995.

1 – A implantação do Sistema de Proteção Social no Brasil: limites , alcances e

perspectivas

O debate sobre os Programas de Transferência de Renda não pode ser especificamente

no âmbito internacional, porém, observa-se uma proliferação de programas desta natureza,

principalmente a partir das últimas duas décadas. Na Europa, por exemplo, nos anos 80, têm-

se uma maior preocupação contra a pobreza, quando ocorre uma redução do nível de emprego

com redução dos salários e, conseqüentemente, da renda da população.

O que vem se tentando responder desde então é a seguinte questão: como garantir um

mínimo de seguridade social à população, num contexto de mudanças significativas no

mundo do trabalho?

Com isso, observamos o emprego de novas tecnologias que acirrou o debate sobre a

garantia de uma renda mínima à população, o que fez aumentar assustadoramente o

contingente de dependentes do Sistema de Proteção Social, conforme relata Fonseca (2001)

“...seja em decorrência do excedente de trabalho, da geração de postos

• Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2008). Atualmente é professora universitária do Instituto Nacional de Pós Graduação. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Internacional e do Bem-Estar Social, atuando principalmente nos seguintes temas: mercado de trabalho, trabalho infantil, políticas públicas, proteção social e família.

������� ����� � � �

��de trabalho precários, de trabalho com baixo grau de formalização

contratual, e do distanciamento das redes de proteção, ou da

combinação desses elementos que caracterizam as vulnerabilidades

sociais, coloca-se a exigência de mecanismos novos de proteção

social. É nesse quadro da chamada crise da sociedade salarial que o

debate internacional sobre os programas de renda mínima ganha

vigor” (Fonseca, 2001:122).

Na discussão internacional sobre os programas de renda mínima não se trata mais de

auxiliar as famílias em circunstâncias episódicas de maior vulnerabilidade, mas sim realizar

uma avaliação da questão do emprego e como se dará a absorção das pessoas no mundo do

trabalho e, dentro deste contexto, qual o papel do Estado de Bem-Estar Social. De acordo com

Castel (1998), é a crise da condição do assalariado que fragiliza as proteções sociais. Para o

autor, a condição de assalariado é a base e o “calcanhar de Aquiles” da proteção social. Assim,

deve-se observar a relação o “Estado de crescimento” e o “Estado social”1.

Nesta linha de raciocínio, Gorz (1995) argumenta que não existirá emprego em tempo

integral para todos e com a introdução da robótica e informatização, pode-se garantir o

mesmo volume de produção, com redução de 40% e 80% do número de trabalhadores, a partir

de 50% a menos em capital investido. Deste modo, para o autor, qualquer que seja a

qualificação profissional, a esfera de produção capitalista emprega um volume menor de força

de trabalho para produzir um volume crescente de riqueza. Assim, a garantia de emprego

somente poderá ser obtida ou por meio da redistribuição de empregos ou pelo

desenvolvimento de atividades fora da esfera capitalista.

Ao compararmos esta dinâmica de tais Programas de Transferência de Renda com o

que ocorreu no Brasil, verificamos diferenças marcantes tanto na implementação, quanto no

dinamismo e execução, bem como no enfoque e limites dos programas. A diferença mais

nítida refere-se à implantação das políticas que se mostraram ao longo da formação do nosso

Sistema de Proteção Social muito mais focalizadas do que universalizantes, que foi a proposta

pioneira dos programas em ordem mundial.

1 Castel chama de “Estado de crescimento”, a articulação de dois parâmetros fundamentais que acompanharam a sociedade salarial em sua trajetória e teceram com ela vínculos essenciais, quais sejam: o crescimento econômico e o crescimento do Estado social (Castel, 1998:413 e 479).

������� ����� � � �

�� Em países de capitalismo e desenvolvimento tardios, como é o caso do Brasil, a

forma de montagem dos Sistemas de Proteção Social foi diferente, sendo considerada muito

mais difícil em termos de elaboração e execução de políticas sociais. Se levarmos em conta as

diferenças sociais e culturais, agravadas por longos períodos de autoritarismo político,

veremos que as dificuldades de implementação foram mais acentuadas.

No Brasil, por exemplo, até a década de trinta, o problema de pobreza e de

miserabilidade não eram tidos como questões sociais. Predominava o que Wanderley

Guilherme dos Santos chamou de “laissez-faire” repressivo, pois inexistia um sistema de

proteção social ancorado no Estado e a assistência social apresentava um caráter

eminentemente filantrópico (Santos, 1979 in apud Silva, Yasbek & Giovanni, 2004). Após 30,

com o intuito de controlar o conflito social, a primeira atitude do Governo na área social foi

de instituir a regulamentação do trabalho, pelo que se determinou “cidadania regulada”, para

usar outra expressão do autor. Os trabalhadores urbanos foram, portanto, “privilegiados” com

a aquisição dos direitos trabalhistas, sendo recompensados pelo dever de trabalhar.

Por conseguinte, enquanto economia subdesenvolvida, o Brasil não conseguiu

construir uma sociedade salarial, nem tampouco o denominado Welfare State, que marcaram a

sociedade salarial dos países mais desenvolvidos. O período em que se consolida o Sistema de

Proteção Social Brasileiro, entre as décadas de trinta e setenta, foi marcado pela centralização,

clientelismo e assistencialismo. Somente nos anos 70, ver-se-ia testemunhar a retomada da

discussão sobre o tipo de modelo de política social a ser implantado em nosso país,

juntamente com a intensificação dos movimentos sociais em prol da volta da democracia. O

grande marco da retomada e ampliação de tais direitos sociais foi a promulgação da

Constituição Federal de 1988, com a introdução, principalmente, do capítulo sobre a

Seguridade Social. Nesse momento, é notável o avanço em relação à legislação pertinente à

manifestação dos direitos sociais.

Contudo, dura pouco esta “sensação” de que nosso país estaria trilhando um caminho

rumo às políticas sociais de caráter universalista, pois logo em seguida, com a eleição para

Presidente da República, na qual vence Fernando Collor de Mello, cujo o governo foi o

protagonista da abertura econômica e da entrada do neoliberalismo na agenda política do

país. Com a opção do governo pelo viés neoliberal, os direitos sociais até então propostos na

Carta Magna de 1988 são colocados em xeque, com o consequente desmonte de tais direitos

conquistados, por meio das reformas realizadas na Carta Magna de 1988, em 1993. O

������� ����� � � �

��discurso passa a se voltar para o estabelecimento dos mínimos sociais e, com isso, a baixa

intervenção do Estado, sobretudo na área social.

Apesar de nunca termos tido um Estado que apresentasse alto grau de intervenção na

área social e um Sistema de Proteção Social extremamente limitado na sua performance, sob a

hegemonia neoliberal, entrou-se na década de noventa pior do que antes. Desta forma, a partir

de então a população brasileira encontra-se totalmente acuada e sem muitas perspectivas,

além de estarmos submetidos às orientações de organismos internacionais como o Banco

Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD) na área social, expressas

através de diversas diretrizes, tais como descentralização, privatização e focalização dos

programas sociais.

Desde então, não é possível sair desta situação desalentadora que tomou a forma de

nossa política social. Em meio a esta sociedade fragmentada e desintegrada socialmente,

temos como resultado a incapacidade de reduzirmos de forma substancial a pobreza em nosso

país; pelo contrário, em certos momentos ocorre que as circunstâncias concorreram para um

acirramento da mesma. Com isso, ganharam força os ideais neoliberais através da

implantação do Plano Real, pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que

se tornou mais tarde Presidente da República. Novamente, em seu governo, percebemos a

política social preterida em relação à política econômica. Um exemplo claro disto é a

identificação das políticas sociais tão somente reduzidas às políticas de combate à pobreza e à

indigência, de forma isolada e desarticulada, indicando a total ausência de um projeto político

que levasse a real resolução do problema social em nosso país. De acordo com Cohn (1995):

(...) tal como no resto do mundo, tem-se reavivado a dicotomia entre

benefícios securitários (contributivos) e benefícios assistenciais (não-

contributivos), ficando os últimos à mercê das disponibilidades

orçamentárias da União, sempre escassas na medida em que se contrapõem

às diretrizes macroeconômicas de redução do déficit público. Em

conseqüência, acentuam-se políticas focalizadas (nos mais pobres dentre os

pobres), imediatistas, clientelistas e de governo (não de Estado) (Conh,

1995: 186).

Nesse sentido, a partir do início dos anos 90, pôde-se observar os impactos da política

������� ����� � � �

��de liberalização econômica sobre a população brasileira, tendo como resultante o aumento

significativo do desemprego e do sub-emprego, a redução dos níveis salariais, bem como o

esvaziamento dos sindicatos enquanto meios de representação dos direitos e reivindicações

dos trabalhadores. Afora esta situação, a questão social fica jogada à própria sorte, com a

disseminação das ações focalizadas de combate à pobreza e; na área econômica – foco central

dos dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso –, o objetivo principal

perseguido é a estabilidade de preços.

Em meio a este cenário, é necessário entender o tipo de política social que está sendo

implantada. Com isso, nasce a discussão sobre a criação de Programas de Transferência de

Renda em nosso país. Mais especificamente, o ano de 1991 foi o marco inicial deste debate,

por meio da aprovação do Projeto de Lei N° 80/1991, que propõe a instituição do Programa

de Garantia de Renda Mínima, de autoria do Senador do Partido dos Trabalhadores, Eduardo

Suplicy.

Na verdade, o debate sobre os Programas de Transferência de Renda em nosso país

emerge na década de noventa, passando a se consolidar nesse início do século XXI, no que já

se pode considerar a estratégia principal e o embrião do eixo da Política de Assistência Social

do Sistema Brasileiro de Proteção Social. Para entendermos melhor este tipo de sistema

implantado no referido período, é necessário uma compreensão mais exata do que significa

esta transferência de renda na vida de milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade

econômica. De acordo com Suplicy (2002), tais programas fazem com que se torne concreta,

simples e objetiva, a garantia do direito mais básico de qualquer ser humano, qual seja, o

direito à vida, mediante a uma justa participação na riqueza socialmente produzida. Assim, o

Estado tem obrigação de assegurar a todos o mínimo para uma sobrevivência digna e honesta.

Nesse sentido, o esforço de se criar uma Política Nacional de Transferência de Renda

no Brasil, pelo menos no âmbito legislativo, parte da aprovação de tal Programa, por meio do

Projeto de Lei n° 80/1991. Contudo, o Projeto foi preterido no referido período, entrando em

vigor somente quatro anos mais tarde, em 1995.

O contexto, à época, não era nada animador. Vivia-se uma forte crise política e

econômica, dadas pelo impeachment do então Presidente da República, Fernando Collor de

Mello e, em relação à economia, pelo total descontrole da inflação e por vários problemas

decorrentes do endividamento externo. Tendo isso em vista, o enfoque era como restabelecer

a estabilidade inflacionária, administrar eticamente o país e incrementar a nossa pauta de

������� ����� � � �

��exportações, deixando num horizonte muito distante, as preocupações voltadas para a

formulação de políticas com o objetivo de erradicar a pobreza.

Naquele momento, o que se tinha concretamente era a “Campanha da Fome”, liderada

pelo então sociólogo Herbert de Souza, e uma proposta de José Márcio Camargo de atrelar os

Programas de Transferência de Renda à freqüência escolar das famílias atendidas que

possuíssem filhos na faixa etária entre 05 a 16 anos de idade. Com isso, gera-se um debate

entre os dois idealizadores de Programas de Transferência de Renda distintos. Camargo

criticava fortemente o Programa concebido por Suplicy, ao dizer que o enfoque não deveria

ser o atendimento inicial aos idosos e, que Programas desta natureza incentivariam o trabalho

informal, sem carteira assinada.

Diante desta perspectiva, o debate sobre os Programas de Transferência de Renda no

Brasil propiciou duas inovações importantes. A primeira diz respeito à vinculação da renda à

educação, ou seja, somente a família receberia o repasse do recurso, caso comprovasse

freqüência escolar mínima de seus filhos menores de 14 anos. A segunda refere-se ao enfoque

do repasse do recurso à família em situação de vulnerabilidade econômica e, deste modo, a

família passaria a ser a unidade beneficiária dos recursos.

Outro fator importante ocorrido à época, a qual impulsionou ainda mais o debate em

direção à concretização de uma renda mínima às famílias mais necessitadas, foi a criação da

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social –, em 1993. Tal aprovação fez com que se

firmasse a questão da descentralização, preconizada na Constituição Federal de 1988, o que

rompeu de uma vez com a fragmentação e o paralelismo característicos até então. Assim, a

Assistência Social tornou-se um dos pilares da Seguridade Social, juntamente com as áreas de

previdência e saúde. A LOAS significou, nesse sentido, o avanço na universalidade de

direitos, bem como uma maior participação da sociedade civil na formulação, execução e

controle das políticas sociais no Brasil.

Contudo, somente em 1995, se pode considerar a implementação concreta do

Programa de Transferência de Renda no Brasil por meio da implantação do Programa de

Garantia de Renda Mínima. Tal Programa foi implantado dentro de uma visão de política de

redução pronunciada de gastos públicos e de forte tentativa de estabilização da moeda

nacional.

A intenção maior do governo Fernando Henrique Cardoso era promover a estabilidade

econômica e a inserção de nosso país na economia mundial globalizada. Nesse sentido, a

������� ����� � � �

��política social mais uma vez fica à reboque da política econômica. Conseqüentemente, não se

presenciou um grande esforço do então governo em reduzir as desigualdades sociais, somente

uma preocupação maior em combater a pobreza extrema, criando, para tanto, políticas sociais

isoladas e desarticuladas. Um exemplo eloqüente disso é a criação do Programa Comunidade

Solidária, com forte característica conservadora, o qual objetivava reduzir a pobreza extrema

em alguns municípios do país.

Em meio a toda esta discussão, é que surgem dois Programas de Transferência de

Renda: o Bolsa-Escola e o Programa de Renda Mínima. Tais Programas surgem para

responder a determinadas demandas sociais decorrentes da conjuntura da época, quais sejam:

aumento significativo do desemprego em nosso país, devido à própria abertura econômica

propugnada no início dos anos 90; aumento da violência entre os jovens de classes mais

baixa; baixo nível de qualificação dos trabalhadores para responder às novas tecnologias que

estavam entrando no Brasil no referido período; altos índices de trabalho infantil e de

exploração do adolescente trabalhador, que se proliferaram de forma alarmante pelas mídias

nacional e internacional. Portanto, observamos no início da década de noventa um aumento

considerável da pobreza, a qual afetou principalmente as faixas etárias mais vulneráveis: as

crianças, os jovens e os idosos.

Sua meta era de atingir até o ano 2000, milhões de crianças e adolescentes e/ou

milhões de famílias. Para tanto, criou uma bolsa auxílio, no valor de R$ 15,00 por criança, até

no máximo três filhos(as) por família, ou seja, R$ 45,00. O que se vê é o alcance real de seu

objetivo, em 2001, quando o programa conseguiu atingir 5.470 dos 5.561 dos municípios

brasileiros e, em 2002, alcançou cerca de 2,5 milhões de famílias, com atendimento a 10,7

milhões de crianças e adolescentes beneficiados, com a destinação de R$ 1,22 bilhões,

financiados com recursos do Fundo de Combate à Pobreza (Fonseca, 2001:152).

Deste modo, o Programa Bolsa-Escola apresenta-se como um dos Programas de

Transferência de Renda de maior alcance, tanto em termos de população quanto de

disseminação entre os municípios brasileiros. Pode-se dizer que se trata de programa quase

universal, não fosse a imposição de cotas por municípios e o valor da bolsa, que chegava a ser

irrisória, na maioria das vezes, não conseguindo mudar a estrutura orçamentária das famílias

atendidas.

Porém, somente a partir de 2000, é que se percebe por parte do Governo Federal uma

maior preocupação com a área e a disseminação de programas nacionais de transferência de

������� ����� � � �

��renda direcionados às classes mais pobres. Nesse sentido, passaram a fazer parte da Rede de

Proteção Social programas com enfoques mais específicos, tais como o Benefício de

Prestação Continuada (BPC), que determina uma renda de um salário mínimo – previsto na

Constituição Federal de 1988 e assegurado pela LOAS, a partir de 1996 –, a pessoas idosas a

partir de 67 anos de idade e a pessoas portadoras de deficiências, consideradas incapacitadas

para a vida independente e para o trabalho. O agente executor do programa é o Ministério da

Assistência Social, sendo implementado por agências locais do Instituto Nacional de Seguro

Social (INSS). Para se ter uma idéia, até dezembro de 2003, cerca de 1,7 milhão de brasileiros

estavam sendo beneficiados pelo programa.

Seguindo o processo de criação de programas nacionais, também no mesmo período

foi criado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), como resposta às

constantes denúncias realizadas pelos organismos nacionais e internacionais em favor dos

direitos das crianças trabalhadoras e adolescentes em situação de exploração no Brasil. As

primeiras regiões a serem atendidas foram Mato Grosso do Sul, no setor da carvoaria, em

Pernambuco, na zona canavieira, e na Bahia, região do sisal. Em 1998, atingiu a região

citrícola de Sergipe e o garimpo Bom Futuro, em Rondônia. Tal Programa procurou articular

transferência de renda com educação, de modo muito similar ao Programa Bolsa-Escola, só

que com um enfoque no combate ao trabalho infantil e a não exploração do adolescente

trabalhador. Sua expansão se dá de fato entre 2001 e 2002 em vários municípios do país.

Os programas apresentados até aqui são, por assim dizer, os principais responsáveis

pela montagem de uma “Rede de Proteção Social” no país. Todavia, existem outros menos

representativos, quais sejam: o Programa Agente Jovem, com objetivo de atender

adolescentes em situação de risco social; o Programa Bolsa-Alimentação, do Ministério da

Saúde; o Programa Auxílio-Gás, do Ministério de Minas e Energia e, mais recentemente, o

Programa Cartão-Alimentação, do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e

Combate à Fome, instituído pelo Governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.

Assim, no final de 2002, com o término do segundo mandato do Governo Fernando

Henrique Cardoso, observa-se a implantação de vários programas de transferência de renda,

com um alcance de atendimento bem maior, todavia, assentado em valores de benefícios

bastante ínfimos. Com a entrada do Governo Lula, no início de 2003, houve uma

transferência para o programa Fome Zero e, no segundo semestre do mesmo ano, foi criado o

Bolsa-Família com o objetivo de unificar os Programas de Transferência de Renda iniciados

������� ����� � � �

��em nível municipal, estadual e federal desde 1995.

Esses programas foram implantados com o intuito de contribuir com a inclusão de

famílias pobres e extremamente pobres na garantia de uma renda mínima a este segmento2.

Nesse sentido, o Programa Bolsa-Família, instituído por meio de uma medida provisória e

mais recentemente, transformado em Decreto, se constitui hoje no principal Programa de

Transferência de Renda e de combate à fome do governo federal. Possui como objetivos:

combater a fome, a pobreza e as desigualdades sociais por meio da transferência de um

benefício financeiro associado à garantia de acesso aos direitos sociais básicos – saúde,

educação, assistência social e segurança alimentar; além de promover mecanismo de

emancipação das famílias beneficiárias, para que possam sair da situação de vulnerabilidade e

se tornarem autônomas (Silva e Silva, 2007:1433).

Um aspecto importante são as condicionalidades que o núcleo familiar deve cumprir

para o recebimento do benefício mensal que se configuram em contrapartidas para que o

mesmo possa alcançar autonomia e conseqüente inclusão social sustentável, quais sejam:

� Na área da educação, frequência mínima de 85% da carga horária mensal de crianças

e adolescente de 06 a 15 anos atingidas pelo programa.

� Na área da saúde, o cumprimento da agenda de saúde e nutrição para família

beneficiárias que façam parte gestantes, nutrizes e/ou crianças menores de 07 anos.

Num primeiro momento, foram unificados somente quatro programas federais: Bolsa-

Escola, Bolsa-Alimentação, Vale-Gás e Cartão-Alimentação. Posteriormente, foi inserido o

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

A partir desta unificação, o Bolsa-Família tenta colocar em prática a estrutura de

descentralização, colocando a cargo da União, estados, municípios e sociedade civil, a sua

implementação em nível local. Para tanto, tem como foco a família, bem como prioridade de

enfrentamento da pobreza, a focalização3. Em contraposição aos Programas de Transferência

de Renda constituídos em âmbito mundial, o Bolsa-Família, tem como prioridade família

consideradas extremamente pobres, que possuam uma renda per capta de R$ 60,00,

independente do número de filhos; e famílias pobres, que tenham uma renda per capta, em 2 A concepção adotada é de que a pobreza apresenta dimensões histórica, econômica, social,cultural e política; é complexa e multidimensional; é essencialmente de natureza estrutural, sendo, portanto, mais que insuficiência de renda (Silva e Silva, 2007). 3 A família, no Programa Bolsa-Família, é entendida como unidade nuclear, eventualmente ampliada por pessoas que com ela possuam laços de parentesco ou afinidade, que forme um grupo doméstico e que viva sob o mesmo teto, mantendo-se pela contribuição de seus membros (Silva e Silva, 2007:1433).

������� ����� � � �

��torno de R$ 50,01 e R$ 120,00.

Ressalta-se que o desligamento das famílias do programa é feito dentro de um

processo longo e somente se torna “vias de fato” quando ocorre o quinto descumprimento de

determinada condicionalidade e desde que fique comprovada a responsabilidade da família

pelo descumprimento.

Dentro deste contexto, o Bolsa-Família transformou-se no maior Programa de

Transferência de Renda no país, e contava até julho de 2006, com 11.118.072 de famílias

atendidas que, de acordo com o IBGE4, correspondia a 99,2% das famílias pobres no Brasil,

além de ter um orçamento estimado em R$ 8,3 bilhões e atingir 5.561 municípios5.

Ao compararmos, a partir dos dados da PNAD de 2002, os Programas Fome Zero e

Bolsa-Família, nota-se que houve uma redução maior do número de beneficiários do que em

relação ao montante de dispêndio6. O que se percebe, também, é uma redução do nível geral

de indigência – principalmente nas áreas rurais e no Nordeste – do que em relação aos pobres.

Ou seja, o Bolsa-Família, em nível comparativo, causou um maior impacto sobre os

indigentes do que na população pobre, em geral (Rocha, 2005:169-171).

Contudo, sem dúvida, um dos marcos inicias dos Programas de Transferência de

Renda no Brasil foi o Programa de Garantia de Renda Mínima Familiar (PGRMF), tendo

Campinas como um dos primeiros municípios a ser implementado. Para se compreender

melhor todo este processo, faz-se necessário conhecermos o Sistema de Proteção Social

implantado na cidade a partir da década de noventa, como veremos a seguir.

2 - Campinas e sua rede de proteção social

Campinas possui um histórico com relação à área social bastante contraditório, pois

apresenta uma combinação de riqueza e prosperidade com pobreza bem marcante, o que lhe

torna um pouco diferente em alguns aspectos. Como qualquer outra cidade que possua as suas

características – desenvolvimento acelerado em pouco tempo –, ela se destacou por ser

pioneira em alguns determinados aspectos.

Nesse sentido, Campinas foi uma das primeiras cidades do país a ter implantado o

4 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 5 Brasil. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, 2006. 6 As simulações deste estudo foram baseadas na PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar) 2002, cuja renda declarada já incorpora um montante razoável de transferências referentes aos rendimentos antes do Bolsa-Família (1999) e depois da implantação do Bolsa-Família (2002).

������� ����� � � �

��Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima (PGRFM), idealizado pelo então senador

Eduardo Suplicy e aprovado em 16 de dezembro de 1991. Após muitas idas e vindas para a

real implementação do Programa, somente em março de 1995 foi concretizada a idéia na

prática. Desde então, conforme salienta Arthus (2000) estava sendo implementado no

município programas para mitigar a pobreza, tais como a distribuição de cestas básicas, arroz

e feijão, leite e pão, além de mecanismos específicos de controle de desnutrição, programas de

atendimento às crianças e adolescentes em situação especial, balcão de empregos, cesta de

material de construção, etc.

Além desta importante intervenção na área social, Campinas contou com uma maior

intensificação na implementação de políticas sociais, o que fez o seu Sistema de Proteção

Social estruturar-se de maneira mais eficiente, de modo a atingir as camadas sociais com

menor renda. Foi o que pudemos concluir pela análise dos Relatórios de Gestão da

Assistência Social e dos Planos Municipais da Assistência Social, referentes ao período de

2000 a 2009, sendo este último em caráter de prognóstico. Campinas sempre foi tida como

uma cidade dotada de uma infra-estrutura consistente em relação à área social. Ou seja, existe

um aparelhamento nesta área que garante a sua dinamização em termos de planejamento e

elaboração de políticas públicas, além de contar com técnicos implementadores envolvidos e

capacitados, como é no caso do PETI. Contudo, ao observamos as ações e sua aplicabilidade,

revela-se um hiato muito grande entre a formulação e a execução dos programas sociais,

sobretudo no se refere ao alcance do público-alvo.

A área de interesse do presente trabalho, portanto, cingiu-se às famílias pobres de

Campinas incluídas no PETI. A pergunta que inspirou e orientou toda a análise foi: Como o

município trata as crianças e adolescentes pobres e suas respectivas famílias? Observou-se

pelo exame dos Relatórios que Campinas possui uma infra-estrutura mínima que consegue

atender a população mais fragilizada. Com efeito, são vários programas sociais voltados para

a área da criança e adolescente, os quais envolvem um número significativo de OG’s e

ONG’s. Nesse sentido, percebe-se que quando o poder público não consegue atender as

famílias em risco social, as organizações não-governamentais se prestam a auxiliar na busca

de um melhor nível de atendimento. Porém, mesmo com a união de esforços, o atendimento

no município ainda deixa a desejar, haja vista a existência de serviços públicos precários e

insuficientes em razão das restrições do Orçamento Público tão restrito. Tudo isso só faz

aumentar as demandas sociais, o que demonstra claramente a defasagem entre o que é

������� ����� � � �

��planejado e executado.

A área de assistência social, no entanto, é a mais atingida, pois ainda sofre com a

lentidão dos trâmites burocráticos que a impede, muitas vezes, de imprimir um caráter mais

eficaz às suas ações. São vários os entraves que não permitem a maior desenvoltura das suas

ações. Em primeiro lugar, ela ainda enxerga as famílias de forma fragmentada, setorizada,

isolada, desconsiderando o grupo familiar como um todo. Em segundo lugar, ainda recebe

“pacotes fechados” em termos de implementação de programas sociais, sendo raras as

oportunidades de mudança e adaptação à realidade local. Por último, salvo exceções, ainda

sustenta o caráter autoritário e centralizador na forma de gerir a política pública. Para piorar a

situação, o governo federal, desde o advento da descentralização administrativa, transfere ao

município todas as responsabilidade e competências que lhe cabe no país, porém, sem

qualquer forma de apoio financeiro e organizacional.

Campinas se destaca, dentro deste contexto, ao possuir uma rede de atores sociais

fundamentais na elaboração e execução de políticas públicas na área da infância e

adolescência. Um exemplo eloqüente disso foi o fato da cidade ter formulado uma Política

Municipal de combate e erradicação do trabalho infantil, ainda em 2002. Desde então, após a

pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos em Políticas Públicas, o tema passou à condição de

Prioridade Absoluta e ganhou status de marca do Governo Democrático e Popular. Para tanto,

foram implantados no município dois programas voltados para o combate do trabalho infanto-

juvenil: o PETI e o Programa Convivência e Cidadania.

O PETI, enquanto primeiro programa de transferência direta de renda implementado

pelo Governo Federal, em 1996, tem como locus de atuação a família e como forma de

atuação três pilares básicos: a bolsa Criança-Cidadã (complementação da renda), as ações

sócioeducativas (Jornada Ampliada) e a geração de renda. Para que um município possa

receber os recursos do programa, deve mapear os focos de trabalho infantil e sistematizar uma

rede executora de atendimento à criança e adolescente e respetiva família. Também se faz

necessária a criação de uma Comissão de Erradicação do Trabalho Infantil. Por outro lado,

sua contrapartida fundamental consiste na inserção e permanência da criança e adolescente na

escola.

O PETI chegou em Campinas em uma conjuntura bastante favorável, pois na ocasião

estava se discutindo uma política de combate ao trabalho infanto-juvenil na cidade e, a um só

tempo, estava em curso a expansão do PETI/Brasil para os grandes centros urbanos do país. O

������� ����� � � �

��município, ao detectar o foco do trabalho infanto-juvenil no comércio informal por meio da

pesquisa “Perfil das Famílias das crianças e adolescentes que trabalham nas ruas de

Campinas”, realizada pelo NEPP (Núcleo de Estudos em Políticas Públicas), criou a

possibilidade de implementar o programa de forma quase imediata.

A dificuldade inicial do programa foi lograr uma rede executora que permitisse o

atendimento de crianças e adolescentes recém retiradas das ruas da cidade. Porém, por

Campinas então dispor uma área de assistência social preexistente bem estruturada e dado o

razoável grau de envolvimento dos técnicos implementadores do programa com a questão,

pode-se afirmar que o programa conseguiu ser implantado de forma bem-sucedida e, até certo

ponto, singular. Nesse sentido, vale dizer que as suas principais diferenças com relação ao

PETI/Brasil está no valor superior da bolsa repassado à família, na complementação do valor

da Jornada Ampliada destinado às OG’s e ONG’s e na criação da Comissão de Erradicação do

Trabalho Infantil, que ao promover a presença ativa dos atores sociais locais envolvidos,

conferiu um caráter exitoso às ações desenvolvidas no âmbito do programa no município.

Portanto, ao encerrar um modelo de Sistema de Proteção Social muito bem desenhado,

Campinas acabou transformando-se em referência nacional na área de implementação de

Programas Sociais como, por exemplo, o Programa de Renda Familiar Mínima e o próprio

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Porém, ainda deixa falahas na questão do

atendimento e da cobertura, pois persiste um cenário de empobrecimento da população

campineira conjugado com a ineficácia do poder público no que tange às metas de

atingimento das políticas sociais. Seja como for, o município tem conseguido responder

minimamente às demandas com relação ao trabalho infantil, ainda que exista muito a ser feito,

pois não se pode afirmar que se erradicou o trabalho infanto-juvenil, e sim o desenvolvimento

de ações integradas que resultaram no combate vigoroso a essa forma espúria de exploração

do trabalho. É nessa perspectiva que o trabalho junto às famílias se reveste de extrema

importância, na medida em que contribui para o rompimento do círculo vicioso da pobreza e,

no limite, para a mudança da estrutura social.

Todavia, a discussão que permeia programas de transferência direta de renda, como é

o caso do PETI, que possui um viés mais compensatório do que emancipatório, é até que

ponto o Estado deve sustentar esta relação de dependência entre as famílias fragilizadas e a

assistência social? Por um lado, o que vemos é a concessão de uma bolsa que garante a

sobrevivência da família. De outro, as famílias vão ficando cada vez mais dependentes de um

������� ����� � � �

��Sistema de Proteção Social o que não lhes propicia condições autônomas para saírem da

situação de risco social.

A transição de um programa social para outro é um sintoma do grau de dependência

das famílias. A saída quase automática do PGRFM para o PETI revela o fracasso do poder

público que não criou mecanismos para que estas famílias se emancipassem e o aumento do

seu grau de dependência. O que vemos, na verdade, não somente em Campinas, mas em todo

o país, é a disseminação de programas sociais com viés mais compensatório do

emancipatório, o que só faz reproduzir o “ciclo de pobreza” inter-geracional das famílias em

situação de vulnerabilidade social.

Referências Bibliográficas

ARTHUS, Reginaldo. O Programa de Garantia de Renda Mínima do município de

Campinas/SP: uma avaliação através das tipologias das famílias e dos critérios de emancipação,

permanência e desligamento. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas/Instituto

de Economia. Campinas, 2000.

CASTEL, Robert. Metamorfoses da Questão Social: uma crônica do salário. Editora Vozes.

Rio de Janeiro, 1998.

COHN, Amélia. Política sociais e pobreza no Brasil. In Planejamento e Políticas Públicas,

n.12. São Paulo, 1995.

FONSECA, Ana Maria Medeiros da. Família e Política de Renda Mínima. Editora Cortez. São

Paulo, 2001.

GORZ, André. Crítica da Divisão do Trabalho. Editora Martins Fontes. São Paulo, 1995.

ROCHA, Sônia. Pobreza no Brasil: afinal do que se trata? Editora FGV. Rio de Janeiro, 2005.

SILVA, Maria Ozanira da Silva, YAZBEK, Maria Carmelita, GIOVANNI, Geraldo di. A

Política Social Brasileira no Século XXI – A Prevalência dos Programas de Geração de Renda. São

Paulo. Editora Cortez, 2004.

SUPLICY, Eduardo M. Renda de Cidadania: a saída é pela porta. Editora Cortez. São Paulo,

2002.

������� ����� �� �

��ACUMULAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL: REFLEXOS NA ECONOMIA E

POLÍTICA CONTEMPORANEA

Thiago Rodrigues Miota1

RESUMO

Durante os últimos anos, a economia brasileira passou por governos ideologicamente

diferentes, mas que trouxeram políticas econômicas muito parecidas. Tentar entender este

fenômeno juntamente com o atual crescimento econômico do país é fundamental para

explicar como chegamos até aqui e aonde poderemos chegar.

Palavras-chave: Capital portador de jutos, neoliberalismo, acumulação financeira, política

econômica.

INTRODUÇÃO

Analisando a atual conjuntura econômica mundial, não é exagero afirmar que o

Brasil passa por um momento importante de sua história. Acostumados com incertezas e

períodos críticos, os brasileiros vivem novos tempos. Podemos afirmar isso com segurança,

pois a economia do país resistiu de forma impressionante a uma crise financeira que afetou

grande parte das maiores potências econômicas. Enquanto o resto do mundo ainda recolhe os

cacos, o Brasil avança em sua agenda econômica recuperando o vigoroso crescimento de

antes da crise.

Por outro lado, não podemos dizer o mesmo do sistema político, que ainda amargas

revelações contínuas de escândalos, fraudes e inépcias, que apesar de constatadas, na maioria

dos casos, não resultam em absolutamente nada, nem mesmo numa punição por parte do

eleitorado para seus partidos e representantes. Isso demostra que ainda não há maturidade

neste campo.

1 Estudante do curso de Ciências Econômicas/UNIANCHIETA. Membro do NEPEC (Núcleo de Estudos do Pensamento Econômico Contemporâneo). E-mail: [email protected]

������� ����� �� �

��Contudo, apesar dos desequilíbrios, os frutos deste pouco tempo de conquistas estão

sendo colhidos e o mundo agora volta suas atenções para os rumos da economia brasileira.

Portanto, é preciso pensar o atual momento e não há como deixar de fazer os seguintes

questionamentos: será que estamos no caminho certo? Se sim, o que fizemos para que dar tão

certo? Se não, o que será preciso mudar?

Apesar de tais perguntas serem importantes, o atual cenário ainda carece de uma

teoria econômica para explicar seus fatos. Em via de regra, o debate, mesmo dentro dos meios

acadêmicos, gira em torno do papel do Estado, se é maior ou menor, se deve ser mínimo ou

máximo. Essa dicotomia apenas empobrece o debate deixando largas lacunas. Sendo assim, é

preciso orientar e esclarecer o debate. É claro que a tarefa não é simples, já que estamos no

olho do furacão, dentro da história, e qualquer aluno de graduação de um curso de história

sabe dos problemas encontrados ao se falar da história dentro da própria história. Todavia,

libertar-se das tentadoras amarras destas teorias mais frágeis, pode ser um caminho para

encontrar as respostas que precisamos.

O texto seguinte carrega o único objetivo de apresentar a tese da acumulação

financeira, recentemente introduzida nos meios acadêmicos brasileiros. De acordo com o

nosso ponto de vista, esta tese oferece contribuições importantes para a compreensão

problemática em referência. Pretendemos também, mais especificamente, demonstrar que no

Brasil o capital portador de juros, conceito a ser esclarecido nas páginas seguintes, está no

centro das relações econômicas.

1. O CAPITAL PORTADOR DE JUROS E O PROCESSO DE ACUMULAÇÃO

FINANCEIRA

Antes de qualquer apropriação, convém esclarecer o sentido de acumulação

capitalista. Compartilhamos as ideias fundamentais de Marx (1988). Entende-se que o

capitalismo desenvolve-se mediante um processo de acumulação, logicamente, capitalista.

A primeira condição da acumulação é a de que o capitalista consiga vender as suas mercadorias e volte a transformar em capital a maior parte do dinheiro assim obtido; é necessário que o capital tenha circulado com regularidade, e suponhamos que assim tenha sido, com efeito. (MARX, 2008 p. 173).

������� ����� �� �

��Em linhas gerais, o lucro obtido através do trabalho humano é reinvestido na

produção. Após se tornar mercadoria, o capital passa por transformações podendo assumir

várias formas de acumulação de capital, todas elas ligadas as relações sociais de trabalho.

Poderia acontecer por meio do aumento dos meios e da capacidade de produção, extensão

espacial ou social das relações de propriedade e produção capitalista, ou pelo

redirecionamento do investimento para outros meios mais rentáveis não necessariamente da

produção.

O capital em processo de acumulação pode assumir a forma financeira. Em linhas

gerais, este é o ponto a se considerar no que diz respeito a acumulação financeira. Por

acumulação financeira, segundo Chesnais (2005 p. 37):

Por acumulação financeira, entende-se a centralização em instituições especializadas de lucros não reinvestidos e de rendas não consumidas, que têm por encargo valorizá-los sob a forma de aplicação em ativos financeiros – divisas, obrigações e ações – mantendo-as fora da produção de bens e serviços.

As opções para o investimento do lucro obtido através da produção foram muito

além do que Marx poderia prever. Hoje, é muito comum ver empresas trocarem sua função

mais primordial por outra financeira ou especulativa. O termo acumulação de capital dá lugar

então à acumulação financeira. Convém registrar que nos tempos atuais os princípios não

foram alterados, somente aprofundados.

Esse regime de acumulação tomou proporções grandiosas e a história tem muito a

dizer sobre como este processo aconteceu ao longo do último século. Antes de falar sobre o

capital portador de juros dentro desta esfera de acumulação financeira, é importante

contextualizar sua atuação e mostrar, de forma muito simples, como ocorreu este processo de

acumulação.

Após o período de crise na década de 30 até o fim da Segunda Guerra, em meados de

50, os Estados Unidos passaram por um período de forte crescimento. A prosperidade,

principalmente após o período possivelmente mais terrível do capitalismo, praticamente

esgotou as opções de investimento produtivo do país que passou procurar novas fronteiras

numa relação perfeitamente inversa, mais rentável e mais curta.

Na Europa não foi diferente, com o início dos “eurodólares”, pouco antes de 60, num

processo de liberalização financeira que permitiu a expansão do capital financeiro. Neste

������� ����� �� �

��mesmo período, houve um fortalecimento das instituições bancárias, que por entre outros

motivos, foi a obrigatoriedade de abrir contas em para receber seus salários, o que trouxe um

volume constante de capital outrora não existente e que precisava ser conquistado com

limitações. Em seguida, ocorreu o período dos “petrodólares”, através de um processo de

reciclagem com o aumento do preço do petróleo sendo repassado em forma de empréstimos.

O sonho dos países tidos como de Terceiro Mundo de entrar ou terminar seu processo de

industrialização encontrou um vasto capital pronto para aumentar seus rendimentos em larga

escala a juros jamais encontrados em seu país de origem. Por isso, com o fim da chamada

“idade de ouro” dos anos 70, essa lógica intensificou-se, por meio de endividamentos dos

países do Terceiro Mundo. Todavia, este processo de endividamento, por mais estranho que

possa parecer, foi protagonista nos países considerados de Primeiro Mundo. Precisando

financiar seus déficits orçamentários, os governos destes países aproveitaram-se das novas

regulações do sistema financeiro por meio das titulizações e a liberação do movimento de

capitais (CHESNAIS, 2005).

É importante deixar claro que nada disso seria possível se o Estado não atuasse da

forma como atou, compromissado, ao iniciar e desenvolver pontualmente o processo de

desregulação financeira, permitindo que o capital financeiro encontrasse cada vez menos

barreiras para sua franca expansão e dominância.

É neste contexto que Chesnais (2005) afirma que o capital portador de juros está no

centro das relações sociais e econômicas. Apesar de não estar fora do processo de produção,

este capital, quando aparece sob a face de um aparente investimento também denominado

capital financeiro, independente de qual seja o setor, tem seu objetivo específico, muito

exterior à produção, que é obter única e exclusivamente a remuneração do capital no curto

prazo. Não estamos falando de algo simples, mas de algo que traz profundas mudanças em

nossa realidade, desde os nossos objetivos mais complexos até nossas atividades mais

cotidianas. Quando o capital portador de juros está no cerne das relações ele impõe uma

lógica de curto prazo às empresas trazendo em consequência a precarização dos direitos

trabalhistas e uma série de outras questões.

������� ����� �� �

��2. O BRASIL SOB O REGIME DE ACUMULAÇÃO FINANCEIRA

O Brasil vive sob um regime de acumulação financeira no qual o capital portador de

juros está no centro das relações econômicas e sociais. O período compreende a partir dos

anos do governo Collor, no qual o país vinha de um momento em que o Estado tinha uma

participação cada vez mais efetiva no processo de desenvolvimento nacional para romper com

essa tendência e dar início uma nova ordem neoliberal.

Foi com Collor que o ponto de inflexão aconteceu com o início de uma abertura

comercial mais desmedida e com as privatizações. No governo seguinte, através do presidente

Fernando Henrique Cardoso, as políticas neoliberais tomaram conta da agenda brasileira com

o combate à inflação através do Plano Real com políticas da taxa de juros inimagináveis.

Neste momento, aprofundou-se o processo de privatização no país, o câmbio passou a ser

flutuante e adotou-se o regime de superávits primários com menos gastos públicos. O Brasil

abriu completamente os braços para abraçar com todo vigor tudo o que o mundo teria a

oferecer como capital, não importava a qual custo. Completamente devastada pelo efeito da

inflação, a economia brasileira encontrou no exigente e abusivo capital financeiro a saída dos

seus principais problemas econômicos e sociais. Nunca antes no Brasil a sociedade havia

estado tão em conflito com o social. (RIBEIRO, 2000)

É interessante notar a análise de Marques (2009), que não poupa críticas também ao

governo Lula. Apesar de ser um partido com longos históricos de críticas aos governos

anteriores, foi o que mais aprofundou as próprias políticas neoliberais permitindo o

fortalecimento do capital portador de juros no Brasil. As políticas econômicas adotadas pelo

governo anterior não foram interrompidas, muito pelo contrário, foram ampliadas, por meio

de novas formas de privatizações, com leilões e pedágios.

Entende-se que até mesmo o programa Bolsa-família caracterizou-se por um tipo de

ajuda que favorece o populismo lulista, onde o governo gasta uma parte ínfima do orçamento

que não comprometem em nada outros interesses mais pertinentes, mas que é suficiente para

beneficiar as camadas mais pobres da população brasileira, direta ou indiretamente, deixando-

as extremamente satisfeitas.

Quando paramos para analisar a atual estrutura da economia brasileira podemos ver a

presença deste capital portador de juros nos mais diversos campos da atuação através dos

fundos de pensão e do capital bancário. Quase todas as grandes empresas possuem uma

������� ����� �� �

��participação significativa deste capital. Os grandes bancos, e não estamos falando apenas dos

bancos nacionais, orientam seus clientes a colocar dinheiro em empresas brasileiras. Enquanto

a taxa de juros de outros países se arrasta em níveis baixíssimos, a taxa brasileira ainda é uma

das mais altas do mundo, utilizando-se da bandeira do combate a inflação.

CONCLUSÃO

Após passar por um processo de acumulação financeira em tempos recentes, a

economia mundial encontra-se numa nova lógica, aqui denominada acumulação financeira,

nos termos de Chesnais (2005).

O Brasil não está fora desta nova lógica da acumulação capitalista. Interessante é

notar que a lógica econômica parece sobrepujar quaisquer escolhas ou projetos políticos.

Mesmo havendo diferenças no pensamento e no discurso, os partidos políticos que se

alternaram no poder não expuseram diferenças essenciais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARCANHOLO, Reinaldo. IV Encontro Nacional de Economia Política. Porto Alegre, 01 a

04 de junho de 1999 com o nome de "Precisões teóricas sobre o dinheiro e o capital

especulativo parasitário"

CHESNAIS, François. A finança mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005

CHESNAIS, François. A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e

interrogações. Economia e Sociedade, Campinas, V.11, N°1(18), p. 1-44, 2002.

MARX, Karl. O Capital. Bauru: EDIPRO 3° edição 2008

MARX, Karl. O Capital. Livro III, volume V, capítulo XXI. São Paulo: Difel, 1982.

MARQUES, Rosa Maria e FERREIRA, Maria Ribeiro Jansen. O Brasil Sob a Nova Ordem.

São Paulo: Saraiva 2010.

MARQUES, Rosa Maria e NAKATANI, Paulo. O Que é Capital Fictício. São Paulo:

Brasiliense, 2009.

RIBEIRO, Renato Janine. A sociedade contra o social. São Paulo: Companhia das Letras,

2000.