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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA FARMÁCIA AMANDA GOMES SANTOS MARIA CAROLINA RAMOS GONÇALVES CONTROLE DE QUALIDADE DE AMOSTRAS DE BOLDO DO CHILE (PEUMUS BOLDUS MOLINA) COMERCIALIZADAS EM SANTOS/SP Santos/SP Novembro/2010

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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

FARMÁCIA

AMANDA GOMES SANTOS

MARIA CAROLINA RAMOS GONÇALVES

CONTROLE DE QUALIDADE DE AMOSTRAS DE BOLDO

DO CHILE (PEUMUS BOLDUS MOLINA)

COMERCIALIZADAS EM SANTOS/SP

Santos/SP

Novembro/2010

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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

FARMÁCIA

AMANDA GOMES SANTOS

MARIA CAROLINA RAMOS GONÇALVES

CONTROLE DE QUALIDADE DE AMOSTRAS DE BOLDO

DO CHILE (PEUMUS BOLDUS MOLINA)

COMERCIALIZADAS EM SANTOS/SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em Farmácia à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Santa Cecília, sob a orientação da Profª. Drª. Luciana Lopes Guimarães Fernandes.

Santos/SP

Novembro/2010

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AMANDA GOMES SANTOS MARIA CAROLINA RAMOS GONÇALVES

CONTROLE DE QUALIDADE DE AMOSTRAS DE BOLDO DO CHILE (PEUMUS BOLDUS MOLINA) COMERCIALIZADAS EM SANTOS/SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em Farmácia à Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Santa Cecília. Data da aprovação: 03/12/2010. Banca Examinadora: ____________________________________________________ Profª. Drª Luciana Lopes Guimarães Fernandes Orientadora ____________________________________________________ Profº. Ms. Mery dos Santos Filho ____________________________________________________ Profº. Ms. Edson Spanghero Dalur

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DEDICATÓRIA

A nossos familiares e amigos, por todo incentivo e carinho.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela sabedoria e força dada em todos os momentos em que precisamos.

À Profª. Drª. Luciana Lopes Guimarães Fernandes, pela orientação, atenção e

empenho em nos auxiliar na elaboração deste trabalho.

À Engenheira Kátia e a todos do laboratório de química, pela atenção e

disponibilização dos laboratórios, materiais e equipamentos.

A todos do laboratório de Biologia, pela disponibilização de materiais e equipamentos.

Aos Profº. Dr. José Eduardo Pandini Cardoso Filho, Profº. Ms. Mery dos Santos Filho,

Profº Ms. Edson Spanghero Dalur e Profª Ms. Maria Toshiko Funayama de Castro, pelas

valiosas opiniões.

Ao Dr. João Carlos Maluza Paes, responsável pelo Laboratório Pasteur de Análises

Clínicas, pela parceria com a cessão de materiais e equipamentos. À biomédica Caroline

Felipe Guedes e a técnica de laboratório Natália Ferreira Silva Manetta, também do

Laboratório Pasteur, pelo auxílio técnico nas análises microbiológicas.

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RESUMO

A produção e comercialização de drogas vegetais para a preparação de fitoterápicos

caseiros é uma prática comum em nosso país e é regulamentada por um conjunto de leis e

normas específicas, que visa garantir a satisfação e segurança do consumidor. Apesar disto,

diversos estudos indicam que estes produtos apresentam com frequência problemas como: a

incorreta identificação da espécie vegetal, ausência ou baixo teor dos princípios ativos e

contaminação por microorganismos. O presente trabalho descreve a avaliação da qualidade de

seis amostras de boldo do Chile (Peumus boldus Molina) comercializadas em

estabelecimentos farmacêuticos de Santos/SP, com a finalidade do preparo de chás

medicinais. Foram realizadas análises físico-químicas e microbiológicas, de acordo com os

procedimentos e parâmetros da 4ª edição da Farmacopéia Brasileira e da literatura específica.

Avaliou-se também a conformidade dos rótulos dos produtos com a legislação nacional

vigente. Todas as amostras foram reprovadas em pelo menos uma das análises, o que

confirma a suscetibilidade destes produtos a problemas de qualidade.

PALAVRAS-CHAVE: boldo; chá; plantas medicinais; fitoterápicos; controle de qualidade.

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LISTA DE FIGURAS E TABELAS

FIGURA 1 – Aparelho Dean e Stark........................................................................................20

FIGURA 2 – Características Botânicas Macroscópicas............................................................23

FIGURA 3 – Resultado da Identificação para Alcalóides........................................................25

TABELA 1 – Resultados da Pesquisa de Materiais Estranhos,

Teor de Cinzas e Teor de Umidade...................................................................24

TABELA 2 – Resultados das Análises Microbiológicas para Fungos e Bactérias...................25

TABELA 3 – Análise dos Rótulos das Amostras.....................................................................27

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................9

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................................10

1.1 O Boldo...................................................................................................................10

1.1.1. Composição Química..............................................................................10

1.1.2. Atividades Farmacológicas.....................................................................11

1.1.3. Indicações................................................................................................11

1.1.4. Posologia Recomendada..........................................................................11

1.1.5. Contra Indicações....................................................................................12

1.1.6. Toxicidade...............................................................................................12

1.2 Controle de Qualidade das Drogas Vegetais...........................................................12

1.2.1. Análises Sensoriais..................................................................................13

1.2.2. Análise das Características Botânicas Macroscópicas

e Microscópicas.......................................................................................13

1.2.3. Pesquisa de Materiais Estranhos.............................................................14

1.2.4. Identificação Química e Doseamento de Princípios Ativos....................14

1.2.5. Teor de Cinzas Totais e Cinzas Insolúveis em Ácido.............................15

1.2.6. Teor de Umidade.....................................................................................16

1.2.7. Análises Microbiológicas........................................................................16

1.2.8. Outras Análises........................................................................................17

1.2.9. Exigências da Legislação........................................................................17

2. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................................18

2.1. Análises Sensoriais e de Autenticidade..................................................................18

2.2. Pesquisa de Materiais Estranhos............................................................................18

2.3. Teor de Cinzas Totais e Cinzas Insolúveis em Ácido............................................19

2.4. Teor de Umidade....................................................................................................20

2.5. Identificação dos Princípios Ativos........................................................................21

2.6. Análises Microbiológicas.......................................................................................21

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................23

3.1. Análises Sensoriais e de Autenticidade..................................................................23

3.2. Pesquisa de Materiais Estranhos,

Teor de Cinzas e Teor de Umidade........................................................................23

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3.3. Identificação dos Princípios ativos.........................................................................25

3.4. Análises Microbiológicas.......................................................................................25

3.5. Análise dos Rótulos................................................................................................26

CONCLUSÃO..........................................................................................................................28

REFERÊNCIAS........................................................................................................................29

ANEXO A – Fotos dos Procedimentos Laboratoriais..............................................................31

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INTRODUÇÃO

A utilização de plantas com finalidade medicinal é quase tão antiga quanto a história

da humanidade. Achados arqueológicos revelaram que primitivas civilizações já faziam uso

de plantas para o tratamento de problemas de saúde. Toda essa informação foi sendo

transmitida às gerações posteriores e estudada com o desenvolvimento dos conhecimentos

científicos.

Atualmente, o uso de plantas medicinais para a preparação de fitoterápicos caseiros é

muito comum e faz parte da cultura de diversos povos. A facilidade de acesso, aliada ao baixo

custo e resultados positivos apresentados são fatores que mantém constante esta prática.

Benefícios à parte, a droga vegetal está sujeita a uma série de problemas como

presença de sujidades, contaminação microbiológica, ausência ou baixo teor de princípios

ativos, entre outros, que podem prejudicar a terapia ou ainda causar danos à saúde do

indivíduo. O controle de qualidade destes produtos é fundamental para garantir a segurança e

a satisfação do consumidor, sendo realizado por meio de análises físico-químicas e

microbiológicas, que devem atender a parâmetros pré-estabelecidos. Em geral, estes

parâmetros constam nas farmacopéias e/ou legislação própria de cada país, podendo

apresentar variações.

Apesar disso, a fiscalização ineficiente faz com que problemas de qualidade sejam

frequentemente encontrados. A fraude e a má qualidade dos produtos tem preocupado os

profissionais da saúde e a comunidade científica, levando à produção de diversos trabalhos

para alertar sobre esta situação (MELO et al, 2004).

A Peumus boldus Molina, conhecida popularmente como boldo do Chile, é uma planta

medicinal clássica e sua monografia consta na Farmacopéia Brasileira. Suas folhas são

amplamente utilizadas em quase todo o mundo e frequentemente encontradas no comércio em

nosso país, motivo pelo qual foi escolhida para a composição deste estudo. Os procedimentos

para a realização dos ensaios e os parâmetros de qualidade adotados estão de acordo com a 4ª

edição da Farmacopéia Brasileira e a RDC nº 10/2010, publicada pela ANVISA em março

deste ano.

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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. O Boldo

Peumus boldus Molina é uma planta pertencente à família Monimiaceae, nativa dos

Andes chilenos, sendo cultivada em outros países em pequena escala, é conhecida

popularmente como boldo ou boldo do Chile. Trata-se de uma árvore cujas folhas, de

coloração verde acinzentada, apresentam odor aromático semelhante à hortelã ou cânfora e

sabor amargo.

A origem de sua utilização é muito antiga, existindo evidências de seu uso em um sítio

arqueológico no Chile, datado de 12.500 anos (SAAD et al, 2009). O primeiro estudo de suas

folhas foi realizado na Europa pelo médico francês Dujardin Baumez, no ano de 1869

(TESKE; TRENTINI, 1995). Em 1875, farmacêuticos britânicos e americanos passaram a

utilizá-la para tratar disfunções do estômago, fígado e bexiga, e também como sedativo leve

(SAAD et al, 2009).

Atualmente, suas folhas são muito utilizadas na preparação de fitoterápicos caseiros e

industriais, em quase todo mundo. No Brasil, as folhas secas de boldo são facilmente

encontradas no comércio.

1.1.1. Composição Química

Quanto à composição química, existem divergências entre os autores, sendo mais

freqüentemente citados: alcalóides, sendo a boldina o principal; óleos voláteis como o

eucaliptol, ascaridol, limoneno, cineol, pineno e cânfora; flavonôides; taninos; glicolipídios.

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1.1.2. Atividades Farmacológicas

O boldo é objeto de diversos estudos farmacológicos, que citam o alcalóide boldina

como o seu principal componente. A maioria dos autores descreve sua ação farmacológica

como antiespasmódica, colagoga e colerética. Testes laboratoriais comprovaram ação

protetora das células hepáticas, devido a inibição da peroxidação dos hepatócitos.

Atribui-se ainda ao boldo atividade antioxidante, antiinflamatória, antibacteriana e

antifúngica (RUIZ et al, 2008).

1.1.3. Indicações

É indicado para o tratamento de distúrbios gástricos e hepáticos, como: indigestão,

náuseas, vômitos, constipação intestinal, litíase biliar, colecistite, hepatite e gota.

1.1.4. Posologia Recomendada

A RDC nº 10/2010 recomenda que a ingestão do chá de boldo seja feita 2 vezes ao dia,

preparado pela infusão de 1 a 2g das folhas secas em 150mL de água.

De acordo com Saad et al (2009), a posologia recomendada é:

- Planta seca: 2 a 5 g/dia

- Pó: 2 a 10 g/dia

- Infusão: 2 a 5 g/dia

- Tintura (1:5, etanol 80% v/v): 10 a 20 ml/dia

- Extrato fluido (etanol 80% v/v): 1 a 2 ml/dia

- Extrato seco: 400 mg/dia

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1.1.5. Contra Indicações

O uso do boldo não é recomendado para pessoas com obstrução das vias biliares e

portadores de doenças hepáticas graves. O consumo por gestantes é bastante controverso;

segundo Saad et al (2009) a presença do alcalóide esparteína provocaria atividade ocitócica,

ou seja, estimulação da contração uterina.

1.1.6. Toxicidade

Em relação aos efeitos tóxicos, segundo Teske;Trentini (1995) a utilização do boldo

não apresenta produção de efeitos colaterais, desde que seja mantida a posologia

recomendada. Já Ruiz et al (2008) afirma que os estudos toxicológicos sugerem que o

consumo de chá de boldo deve ser feito com moderação e cuidado, principalmente por

gestantes e no uso por período prolongado, pois há indícios de efeito teratogênico e

hepatotóxico.

Alguns autores relatam que efeitos narcóticos e convulsivantes podem ser

apresentados em casos de superdosagem.

1.2. Controle de Qualidade de Drogas Vegetais

A droga de origem vegetal está sujeita a uma série de problemas, sendo mais comum a

contaminação microbiológica, presença de sujidades, ausência ou baixo teor de princípios

ativos e umidade elevada (CARDOSO, 2009). Ainda segundo Cardoso (2009), é comum

ocorrerem equívocos nos quais espécies vegetais são confundidas, sendo o nome popular uma

causa frequente de enganos. A Peumus boldus Molina é citada como exemplo, por ser muito

confundida com outras espécies igualmente denominas boldo.

A qualidade da droga vegetal é fundamental para garantir a eficácia e a segurança do

tratamento fitoterápico. “Entende-se por qualidade o conjunto de critérios que caracterizam a

matéria-prima para o uso ao qual se destina.” (SIMÕES et al, 2007). Os parâmetros de

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qualidade e a metodologia adequada são determinados de acordo com as características da

espécie vegetal. No caso das plantas clássicas, ou seja, aquelas já estudadas do ponto de vista

químico e farmacológico, encontram-se descritos nas monografias constantes nas

Farmacopéias de diversos paises ou em Códigos oficiais. A monografia do boldo (Peumus

boldus Molina) consta na quarta edição da Farmacopéia Brasileira.

Em geral, o objetivo dos ensaios de qualidade dos produtos de origem vegetal é a

verificação da sua autenticidade, pureza, caracterização e doseamento dos fitoconstituíntes,

realizados por meio de análises sensoriais, físico-químicas e microbiológicas.

1.2.1. Análises Sensoriais

A avaliação das características sensoriais ou organolépticas é o meio mais simples e

rápido de verificar alguns parâmetros de qualidade. Consiste na análise da cor, sabor, textura e

odor do produto em relação à uma amostra padrão ou a descrição constante na literatura. É

habitualmente utilizada para uma identificação inicial, onde as amostras que apresentam

características muito diferentes do padrão são rejeitadas.

A análise organoléptica pode ainda permitir a identificação da contaminação por

fungos ou outros microorganismos por apresentar, por exemplo, odor de matéria em

decomposição, manchas e falhas na superfície das folhas, alterações de cor e textura.

1.2.2. Análise das Características Botânicas Macroscópicas e Microscópicas

Esta análise tem o objetivo de verificar a autenticidade da espécie vegetal,

considerando suas características botânicas visuais. Deve-se fazer uma comparação do

material em análise com uma amostra autêntica ou com a descrição e fotos constantes na

literatura específica. É fundamental também estabelecer estruturas que permitam diferenciar a

espécie medicinal de espécies freqüentemente encontradas como adulterantes (SIMÕES et al,

2007).

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A análise macroscópica é realizada a olho nu ou com auxilio de lupa. Já a análise

microscópica é realizada com a utilização de microscópio e o material analisado deve ser

adequadamente preparado em lâminas para a visualização.

1.2.3. Pesquisa de Materiais Estranhos

É considerado material estranho qualquer componente orgânico ou inorgânico não

pertencente à droga vegetal. É freqüente a presença de impurezas como órgãos da própria

espécie vegetal diferentes do farmacógeno, fragmentos de outras plantas, insetos, terra, areia,

mesmo quando cultivadas de forma adequada (SIMÕES et al, 2007). Para plantas inteiras ou

rasuradas a pesquisa de materiais estranhos é feita por meio de catação manual, com o auxilio

de lupa. A amostra a ser analisada é pesada e, após isto, procede-se a separação de todo o

material estranho presente. Ao final, este material separado é pesado e calcula-se seu

percentual.

Os limites de materiais estranhos aceitáveis variam de acordo com a monografia de

cada espécie vegetal. Em geral, para as espécies cujos valores não estão especificados na sua

monografia, o limite de aceitabilidade é de 2% (SIMÕES et al, 2007).

1.2.4. Identificação Química e Doseamento de Princípios Ativos

As análises de identificação química são fundamentais para garantir a qualidade dos

produtos de origem vegetal. Seu objetivo é determinar se a amostra possui os fitoconstituintes

característicos da espécie, principalmente aqueles responsáveis pelos efeitos farmacológicos.

Segundo Cardoso (2009), deve-se realizar estes testes mesmo quando a amostra atende a

todas as especificações botânicas macroscópicas e outros testes físico-quimicos, pois já foram

observados inúmeros casos de drogas vegetais que atendiam todos os itens analisados

(umidade, cinzas, materiais estranhos, descrição botânica, entre outros) mas que não

apresentavam sequer traços de substâncias ativas.

Os ensaios químicos de identificação são, em geral, inespecíficos e de fácil e rápida

execução. Estas reações identificam grupos funcionais ou estruturas comuns a um

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determinado grupo químico (taninos, alcalóides, flavonóides, etc.), não sendo muito eficazes

se utilizadas isoladamente. Como exemplo destas reações podemos citar: Reação de Mayer,

para identificar alcalóides; Reação de Shinoda, para flavonóides; entre outras.

A identificação química da droga vegetal pode ser feita também por meio de

cromatografia (em camada delgada, em papel, líquida, etc.). Neste procedimento é utilizado

um padrão químico e o seu perfil é comparado com o da amostra. Não sendo possível utilizar

um padrão, pode-se fazer a comparação com o perfil químico descrito na literatura. A

cromatografia pode ser empregada ainda para determinar o teor dos constituintes de interesse

da droga.

A análise quantitativa (doseamento) tem a finalidade de determinar o teor dos

princípios ativos, que podem variar conforme a época e local de coleta do vegetal, formas de

cultivo, condições climáticas, idade do material, condições de armazenamento, entre outros.

Pode ser realizada conforme o tipo de substâncias, empregando-se metodologias adequadas

para cada caso. As monografias farmacopéicas descrevem o método indicado para cada

espécie vegetal, bem como o limite mínimo aceitável para o teor dos princípios ativos.

1.2.5. Teor de Cinzas Totais e Cinzas Insolúveis em Ácido

A determinação do teor de cinzas de uma droga vegetal permite verificar a presença de

contaminantes inorgânicos não-voláteis, que podem estar aderidos à superfície da planta,

como areia, terra e outros.

O procedimento descrito na farmacopéia brasileira consiste na completa incineração,

em cadinho de porcelana, de uma certa quantidade da droga triturada. O resíduo é pesado e

calcula-se o percentual de cinzas totais.

O teor de cinzas insolúveis em ácido destina-se a determinação de sílica e constituintes

silicosos da droga (BRASIL, 1996). O resíduo obtido no procedimento de cinzas totais é

submetido à fervura em ácido clorídrico, lavado, filtrado e novamente incinerado em cadinho

de porcelana. O resíduo é pesado e calcula-se o percentual de cinzas insolúveis em ácido.

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1.2.6. Teor de Umidade

A elevada umidade em produtos de origem vegetal favorece a proliferação de

microorganismos (fungos e bactérias) e permite a ação de enzimas degradativas dos

fitoconstituintes, podendo ocasionar danos à saúde do consumidor, bem como diminuição na

eficácia do tratamento farmacológico. O teor máximo aceitável apresenta variações, que vão

de 8 a 14% (BRASIL, 1996).

Segundo a farmacopéia brasileira, o teor de umidade das drogas vegetais pode ser

determinado por 3 diferentes métodos: gravimétrico, destilação azeotrópica e volumétrico

(Karl Fischer). O método gravimétrico é o mais simples e de rápida execução e consiste na

dessecação da amostra, para volatilizar a água nela presente, seguido de pesagem e cálculo

percentual. Este método não se aplica às drogas que apresentam em sua composição outros

constituintes voláteis além da água. Os outros dois métodos exigem técnicas mais complexas,

com a utilização de equipamentos específicos, porém, podem ser aplicados com menos

restrições (BRASIL, 1996).

1.2.7. Análises Microbiológicas

As drogas vegetais apresentam normalmente um grande número de fungos e bactérias.

Estes microorganismos podem ser próprios da microflora do vegetal, variando em função de

fatores ambientais como água, solo e ar. Podem também ser introduzidos durante o processo

de manipulação. “Essa contaminação microbiana pode ser controlada quando as espécies de

plantas são cultivadas dentro de um padrão determinado. No entanto, para espécies nativas é

quase impossível o controle da qualidade” (CARDOSO, 2009).

Os limites de aceitabilidade são bastante discutidos e variam em função do destino do

material, bem como do modo de utilização da droga: uso interno, externo, adição de água

fervente, etc. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e as farmacopéias de diversos países

estabelecem valores divergentes. A Farmacopéia Brasileira não estabelece estes limites que,

em nosso país, é determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Existem diversas técnicas para a determinação da carga microbiana, as quais estão

descritas nas farmacopéias, na literatura específica e em publicações da OMS.

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1.2.8. Outras Análises

Diversas outras análises podem ser empregadas para a avaliação da qualidade das

drogas vegetais. Como exemplo podemos citar: pesquisa de agrotóxicos ou pesticidas,

pesquisa de metais pesados, ausência de aflotoxinas, entre outros. A determinação da

necessidade de se realizar estas análises depende de fatores como características botânicas,

procedência do material e finalidade do uso.

1.2.9. Exigências da Legislação

Como vimos anteriormente, os ensaios físico-químicos e microbiológicos são

fundamentais para garantir a qualidade das drogas vegetais. Além deles, estes produtos devem

atender a um padrão de embalagem e rotulagem. Diversas informações como nomenclatura

botânica oficial, prazo de validade, informações da empresa produtora, frases obrigatórias,

entre outras, devem estar presentes a fim de proporcionar a segurança e satisfação do

consumidor.

No Brasil, a normatização para a comercialização das drogas vegetais é realizada pela

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), autarquia vinculada ao Ministério da

Saúde. Recentemente a ANVISA publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 10,

de 9 de março de 2010 (BRASIL, 2010), que normatiza a produção e comercialização das

drogas vegetais destinadas ao uso medicinal na forma de chás ou outras preparações caseiras,

pois, até então, não existia uma RDC específica para estes produtos, que eram isentos de

registro junto à ANVISA.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

Utilizou-se no estudo seis amostras comercializadas como boldo do Chile, de

diferentes fabricantes, adquiridas em estabelecimentos farmacêuticos de Santos/SP, no mês de

abril de 2010.

Os ensaios quantitativos foram efetuados em duplicata e o resultado final obtido pela

média das duas análises.

Todos os procedimentos foram realizados nos laboratórios de química e biologia da

Universidade Santa Cecília e Laboratório Pasteur de Análises Clínicas, no período de maio a

setembro de 2010.

2.1. Análises Sensoriais e de Autenticidade

Para a análise sensorial e de autenticidade, foram observadas as características

organolépticas (cor, odor, textura) e características botânicas macroscópicas. As observações

foram realizadas com o auxílio de lupa.

Além da descrição farmacopéica, gravuras e fotos constantes na literatura específica

foram utilizadas como parâmetro comparativo.

2.2. Pesquisa de Materiais Estranhos

O conteúdo das embalagens foi inicialmente pesado em balança analítica. Após a

pesagem, cada amostra foi espalhada sobre bancada forrada com papel, onde realizou-se

separação manual (com auxilio de pinça e lupa) de todo material como: insetos, terra, pêlos,

partes de outros vegetais, entre outros. Ao final, todo o material retirado foi pesado e o teor de

materiais estranhos determinado por meio de cálculo percentual:

Teor de materiais estranhos (%) = P2 x 100 / P1

sendo:

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P1 é o peso total da amostra (g)

P2 é o peso de todo o material retirado (g)

2.3. Teor de Cinzas Totais e Cinzas Insolúveis em Ácido

Os ensaios para determinação de cinzas totais e cinzas insolúveis em ácido foram

realizados conforme procedimentos descritos na 4ª edição da Farmacopéia Brasileira.

Foram utilizados cadinhos de porcelana calcinados por meia hora em mufla a 450ºC e

resfriados em dessecador. Pesou-se certa quantia de cada amostra (cerca de 1,5g) no cadinho

previamente tarado e procedeu-se a incineração com bico de bunsen até todo o carvão ser

eliminado. Os cadinhos com as cinzas resultantes foram resfriados em dessecador e pesados.

Calculou-se o percentual das cinzas totais em relação à droga inicialmente pesada:

Teor de cinzas totais (%) = P2 x 100 / P1

sendo:

P1 é o peso da amostra (g)

P2 é o peso das cinzas resultantes (g)

Os resíduos obtidos na determinação de cinzas totais foram fervidos (em chapa

aquecedora) com 12,5 mL de ácido clorídrico (70g/L), por 5 minutos, nos próprios cadinhos

cobertos com vidro de relógio. Após, todo o conteúdo de cada cadinho foi filtrado em bomba

a vácuo sobre papel de filtro e lavado com água destilada. Os papéis de filtro com os resíduos

foram transferidos novamente para os cadinhos e incinerados. Ao final, os cadinhos foram

resfriados em dessecador e pesados. Calculou-se o percentual das cinzas insolúveis em ácido

em relação à droga inicialmente pesada:

Teor de cinzas insolúveis em ácido (%) = P2 x 100 / P1

sendo:

P1 é o peso da amostra (g)

P2 é o peso das cinzas insolúveis resultantes (g)

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2.4. Teor de Umidade

A farmacopéia brasileira apresenta três diferentes métodos para a determinação do teor

de umidade em drogas vegetais. O método gravimétrico (dessecação), embora mais simples,

não é indicado para espécies vegetais como o boldo, que possuem em sua composição outras

substâncias voláteis além da água.

Por este motivo, optou-se pelo método da destilação azeotrópica, que consiste na

destilação da água presente na amostra com tolueno, solvente com o qual é praticamente

imiscível. Para este procedimento é utilizado o aparelho de Dean e Stark, que consiste em um

balão de fundo redondo conectado por um tubo cilíndrico a um tubo receptor graduado (com

capacidade para 10 mL, graduado com subdivisões de 0,1 mL) e um condensador de refluxo

vertical (figura 1).

Figura 1 – Aparelho Dean e Stark. A) balão de fundo redondo; B) tubo receptor graduado; C) condensador de

refluxo vertical; D) tubo cilíndrico. Adaptado de Brasil (1996).

Cada amostra, previamente triturada, foi pesada (aproximadamente 20g) e colocada no

balão do aparelho juntamente com 250mL de tolueno. O balão foi aquecido com manta

aquecedora de modo a promover a destilação dos componentes voláteis presentes no vegetal,

direcionando-os ao tubo receptor graduado onde, por diferença de densidade, a água fica

separada das demais substâncias e do solvente, possibilitando a leitura do volume de água. A

destilação foi finalizada quando o nível de água no tubo receptor permaneceu constante.

Determinou-se o teor de umidade por meio de cálculo percentual do volume de água em

relação ao peso da amostra:

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Teor de umidade (%) = V x 100 / P

sendo:

V é o volume de água lido (mL)

P é o peso da amostra (g)

2.5. Identificação dos Princípios Ativos

A identificação da presença dos princípios ativos (alcalóides) foi realizada de acordo

com procedimento descrito na 4ª edição da Farmacopéia Brasileira. Triturou-se algumas

folhas de cada amostra com etanol, que posteriormente foi evaporado em banho-maria. Ao

resíduo resultante foram adicionadas algumas gotas de solução de vanilina a 1% em ácido

clorídrico 10%.

A presença de alcalóides é confirmada pelo desenvolvimento de coloração castanho-

avermelhada ou vermelho intensa.

2.6. Análises Microbiológicas

Os ensaios microbiológicos foram realizados com o objetivo de avaliar o crescimento

de fungos e bactérias, utilizando-se os meios de cultura TSA (Tryptic Soy Agar) para o

desenvolvimento de bactérias e Agar Dextrose Sabouraud para fungos.

Preparou-se um extrato aquoso de cada amostra, misturando-se 1g da droga triturada

para 9 mL de soro fisiológico estéril (proporção 1:10). A seguir, as placas foram preparadas

pela técnica pour-plate, utilizando-se 1 mL do extrato aquoso da droga para 20 mL do meio

de cultura liquido, aquecido em banho-maria a aproximadamente 50ºC. A mistura, já na placa,

foi cuidadosamente homogeneizada. Todos os materiais utilizados foram previamente

esterilizados e o procedimento realizado em capela.

As placas com o meio TSA foram colocadas em estufa a 37ºC por 48 horas e as placas

com o meio Sabouraud permaneceram a temperatura ambiente (20 – 25ºC) por sete dias.

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Após este período, realizou-se a observação das placas. O resultado foi obtido

multiplicando-se as unidades formadoras de colônias (UFC) pela diluição (1:10) empregada:

Nível de contaminação (UFC/g) = C x 10

sendo:

C é o número de colônias presente na placa

A partir das colônias que apresentaram crescimento nas placas de TSA foram

preparadas suspensões bacterianas (com 2mL de soro fisiológico), que foram fixadas em

lâminas e coradas pela técnica de Gram, para observação ao microscópio a fim de diferenciar

bactérias Gram positivas e Gram negativas.

O isolamento de bactérias Gram positivas foi realizado semeando-se a suspensão em

meio de cultura Ágar Manitol (para isolamento de Staphylococcus spp) e o isolamento de

bactérias Gram negativas foi realizado semeando-se a suspensão em meio de cultura Ágar

Macconkey. Para a identificação das espécies foi utilizado o meio de cultura Rugai, seguido

de incubação em estufa a 36º por 24h. Observaram-se os resultados.

Como análise complementar, realizou-se antibiograma para as bactérias atípicas

encontradas.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Análises Sensoriais e de Autenticidade

Na análise sensorial, todas as amostras apresentaram-se compatíveis com a Peumus

boldus Molina. A coloração verde-acinzentada e o odor canforâceo variaram em maior ou

menor intensidade, o que pode ser justificado por diferenças na forma de cultivo, época de

colheita, processamento e condições de conservação do produto.

As folhas (figura 2) apresentaram características botânicas macroscópicas em

conformidade com a descrição farmacopéica.

Figura 2 – Características Botânicas Macroscópicas. Exemplares recolhidos das amostras em estudo.

Quanto ao estado geral de conservação dos produtos, observou-se que a amostra

número 2 apresentou manchas escuras na superfície das folhas, indicativo de contaminação

por microorganismos, devendo ser avaliado por meio de análise microbiológica.

É importante observar também que todas as amostras encontravam-se bastante

fragmentadas, não sendo possível concluir se haviam outros vegetais contaminantes ou

adulterantes misturados a droga.

3.2. Pesquisa de Materiais Estranhos, Teor de Cinzas e Teor de Umidade

A 4ª edição da Farmacopéia Brasileira determina os seguintes limites de

aceitabilidade:

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Teor de materiais estranhos: 3%

Teor de cinzas totais: 10%

Teor de cinzas insolúveis em ácido: 6%

Teor de umidade: 5%

A tabela 1 apresenta os valores encontrados para as seis amostras de boldo do Chile

analisadas:

Tabela 1 – Resultados da Pesquisa de Materiais Estranhos, Teor de Cinzas e Teor de Umidade

Amostra Materiais

Estranhos (%)

Cinzas Totais

(%)

Cinzas Insolúveis

(%)

Teor Umidade

(%)

1 3,9 9,1 4,7 9,8 2 9,0 11,9 8,2 9,9 3 3,8 8,3 4,9 11,4 4 8,5 9,1 5,1 11,0 5 6,0 7,3 3,8 11,2 6 5,3 10,1 6,4 10,0

Na pesquisa de materiais estranhos, encontrou-se uma grande quantidade de terra,

insetos e partes do próprio vegetal que não estão incluídas na monografia da droga (por

exemplo, caules e raízes). Todas as amostras foram reprovadas, apresentando valores que

variaram de 3,8% a 9,0%. Deve-se considerar que os valores apresentados podem ser ainda

maiores, pois, conforme observado na seção anterior, as amostras estavam muito

fragmentadas, podendo existir outras espécies vegetais misturadas a droga.

Em relação ao teor de cinzas, duas amostras apresentaram valores superiores ao limite

estabelecido, tanto para cinzas totais quanto para cinzas insolúveis, indicando contaminação

por impurezas de origem inorgânica.

Na análise do teor de umidade, todos os produtos apresentaram valores superiores ao

máximo estabelecido pela farmacopéia. A elevada presença de água pode ser ocasionada por

deficiências no processo de secagem da droga vegetal e más condições de acondicionamento,

podendo prejudicar a sua estabilidade e eficácia do tratamento terapêutico.

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3.3. Identificação dos Princípios ativos

A reação química para a detecção de alcalóides obteve resultado positivo para todas as

amostras, com variação na intensidade da coloração apresentada de castanho-avermelhada a

vermelho intenso (figura 3).

Figura 3 – Resultado da Identificação para Alcalóides. Da esquerda para a direita amostras 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

3.4. Análises Microbiológicas

Os limites de aceitabilidade para a presença de microorganismos nas drogas vegetais

estão preconizados na RDC 10/2010. De acordo com esta norma, o valor máximo permitido

para fungos e bactérias em produtos que passarão por processo extrativo a quente é de 104

UFC/g e 107 UFC/g, respectivamente.

A tabela 2 mostra os valores encontrados:

Tabela 2 – Resultados das Análises Microbiológicas para Fungos e Bactérias

Amostra Fungos (UFC/g) Bactérias aeróbicas (UFC/g)

1 80 30 2 > 1000 60 3 130 10 4 200 60 5 50 20 6 50 10

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Metade dos produtos apresentaram valores de contagem para fungos superiores ao

limite de aceitabilidade. Alguns dos resultados encontrados são preocupantes, pois, de acordo

com Furlaneto et al (2003), o processo extrativo a quente pode reduzir a carga microbiana a

um nível seguro, mas este processo pode não ser efetivo se a carga microbiana inicial for

muito alta. Além disto, alguns fungos podem ser produtores de micotoxinas, onde elevadas

contagens destes microorganismos oferecem um risco à saúde do consumidor (ARAÚJO;

OHARA apud ZARONI et al, 2004, p. 36).

Em relação a presença de bactérias, todas as amostras apresentaram valores dentro do

limite estabelecido pela RDC 10/2010. A presença de Escherichia coli, indicativa de

contaminação fecal, foi detectada em 50% das drogas vegetais, onde todas obtiveram

resultados dentro do limite de aceitabilidade (100 UFC/g).

A contaminação por bactérias do gênero Pseudomonas spp. foi encontrada em três

amostras. Embora não se tenha realizado a identificação, é provável que o microorganismo

seja da espécie aeruginosa, por ser comum na microflora do solo e ter sido relatado em

diversos outros trabalhos científicos com drogas vegetais. De acordo com Zaroni et al (2004),

a OMS recomenda a ausência desta bactéria, pela possibilidade de ser proveniente da mucosa

nasal de humanos, indicando falta de higiene na manipulação do produto. O resultado do

antibiograma revelou sensibilidade da Pseudomonas spp. aos seguintes antibióticos:

ciprofloxacino, sulfazotrim, levofloxacino, imipenem, norfloxacino, aztreonam, piperacilina,

cefepime, tobramicina e cefotaxima.

Uma das amostras apresentou contaminação por Staphylococcus aureus (bactéria

encontrada na microbiota normal da cavidade nasal e olhos humanos) que, apesar de

incomum neste tipo de material, não oferece risco considerável por via oral quando em

pequenas concentrações (ZARONI et al, 2004). No antibiograma a S. aureus mostrou-se

sensível aos antibióticos: oxacilina, penicilina, vancomicina, ampicilina e sulfazotrim.

3.5. Análise dos Rótulos

Os rótulos das amostras foram analisados com base na RDC nº 10, de 9 de março de

2010, que entrou em vigor a partir da data de sua publicação, em 10 de março de 2010.

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As amostras foram adquiridas no mês de abril do corrente ano e, apesar disto, todas

estavam incompatíveis com esta RDC. Diversas falhas foram encontradas, sendo frequente a

ausência de frases obrigatórias e informações incorretas ou incompletas sobre a droga vegetal.

A tabela 6 mostra o resultado da análise de alguns dos itens exigidos:

Tabela 3 – Análise dos Rótulos das Amostras.

Itens exigidos pela RDC 10/2010 Freqüência das amostras que

apresentaram o item exigido (%)

Nome do produto (nomenclatura popular) 6 100

Nomenclatura botânica 6 100

Farmacêutico responsável e CRF 5 83,3

Nome do fabricante 6 100

CNPJ do fabricante 6 100

Endereço completo do fabricante 5 83,3

Número do lote 4 66,7

Data de fabricação 3 50

Prazo de validade 6 100

Código de barras 6 100

Forma de utilização da droga 5 83,3

A nomenclatura botânica, embora presente em todos os rótulos, estava incompleta ou

com erros de grafia em 50% deles. A indicação terapêutica não foi encontrada em nenhum

dos produtos e apenas uma amostra apresentou as contra-indicações. A utilização de termos

inapropriados também foi observada: o emprego da palavra “chá” com a finalidade de

designar o produto, apesar de proibido, constava em três amostras.

É importante observar que nenhum dos fabricantes apresentou em sua embalagem a

informação do registro do produto junto à ANVISA, que passou a ser obrigatório com a

publicação da RDC 10/2010.

Em relação às características gerais das embalagens, todas estavam lacradas, na forma

de sacos plásticos, variando de baixa à alta resistência. Apenas um dos produtos apresentou

embalagem primária e secundária (ambas em material plástico) que, embora não seja

obrigatória, oferece melhor conservação à droga vegetal. Nenhum dos produtos veio

acompanhado de folheto informativo.

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CONCLUSÃO

Os resultados dos ensaios, realizados nas seis amostras de boldo do Chile

comercializadas em estabelecimentos farmacêuticos de Santos/SP, confirmam a

suscetibilidade das drogas vegetais a sérios problemas de qualidade, que podem prejudicar a

eficiência da terapia farmacológica.

A presença de materiais estranhos e teor de umidade apresentaram-se acima dos

limites estabelecidos na 4ª edição da Farmacopéia Brasileira em todas as amostras analisadas.

As análises microbiológicas evidenciaram a elevada contaminação por fungos em metade dos

produtos, onde um deles apresentou uma contagem de microorganismos muito acima do

limite de aceitabilidade. Embora a contagem bacteriana tenha apresentado resultados

aceitáveis para todas as drogas vegetais analisadas, bactérias atípicas foram encontradas

indicando ausência de higiene na manipulação da droga vegetal.

Os problemas apresentados são decorrentes, em sua maioria, de falhas no processo de

produção destes produtos, que poderiam ser minimizados com a adoção de medidas como

emprego de técnicas de cultivo e processamento mais adequadas, melhoria nas condições de

higiene durante o processo de produção e capacitação de funcionários.

A falta de adequação das embalagens dos produtos revela ainda o descaso e o

desconhecimento das normas nacionais vigentes, reforçando a necessidade da intensificação

da fiscalização sanitária para estes produtos.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Farmacopéia brasileira. 4 ed. São Paulo. Atheneu, 1996. Parte II. Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeia/publicacoes.htm > Acesso em 17 mar 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 10, de 9 de março de 2010. Brasília. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 10 mar 2010.

CARDOSO, Caroly Mendonça Zanella. Manual de controle de qualidade de matérias-primas vegetais para farmácia magistral. São Paulo. Pharmabooks, 2009. FURLANETO, Luciana et al. Qualidade microbiológica de drogas vegetais comercializadas nas ruas da cidade de Londrina/PR e de seus infusos. Piracicaba. Saúde em Revista, 2003. Disponível em: < http://www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/saúde10 art07.pdf > Acesso em 18 set 2010.

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RUIZ, Ana Lúcia T. G. et al. Farmacologia e toxicologia de Peumus boldus e Baccharis genistelloides. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.18, nº 2, abr/jun 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br > Acesso em 17 mar 2010.

SAAD, Gláucia de Azevedo et al Fitoterapia Contemporânea: Tradição e ciência na prática clínica. Rio de Janeiro. Elsevier, 2009.

SIMÕES, Cláudia Maria Oliveira et al. Farmacognosia da planta ao medicamento. 6 ed. Porto Alegre. UFRGS, 2007.

TESKE, Magrid; TRENTINI, Anny Margaly M. Compêndio de fitoterapia. 4 ed. Curitiba. Herbarium, 1995.

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ZARONI, Mariella et al. Qualidade microbiológica das plantas medicinais produzidas no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.14, nº 1, p. 29-39, jan/jun 2004.

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ANEXO A – Fotos dos Procedimentos Laboratoriais

Amostras utilizadas no estudo

Pesquisa de Materiais Estranhos

Procedimento para identificação de alcalóides

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Análises microbiológicas

Análises físico-químicas