Tempo livre - Outubro 2011

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TempoLivre N.º 230 Outubro 2011 Mensal 2,00 www.inatel.pt Guimarães De “berço” da Nação a capital cultural Entrevista João Bonifácio Serra Viagens Ceuta Memória Luís Piçarra Destacável 8 págs. Viagens Internacionais Outono/Inverno

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Tempo livre - Outubro 2011

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TempoLivreN.º 230Outubro 2011Mensal2,00 €

www.inatel.pt

GuimarãesDe “berço” daNação a capitalcultural

EntrevistaJoão Bonifácio Serra

ViagensCeuta

Memória Luís Piçarra

Destacável 8 págs.Viagens InternacionaisOutono/Inverno

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA,Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - RuaConsiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 140.684 exemplares

Na capaFoto: Catarina Serra Lopes

22TERRA NOSSA

Guimarães, CapitalEuropeia da Cultura 2012Palco de história secular, aterra onde nasceu o reifundador de Portugal foieleita pelo New York Timesum dos 41 lugares nomundo a visitar em 2011.No próximo ano ostentará otítulo de Capital Europeiada Cultura. Outro motivoforte para uma visitaobrigatória ao 'berço' daNação.

Viagens InternacionaisOutono/InvernoDESTACÁVEL DE 8 PÁGINAS

4 EDITORIAL

8 NOTÍCIAS

14 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

26 DESPORTO

Rui Pinheiro, ex-glória leonina animabasquetebol do Inatel

41 MEMÓRIA

Luís Piçarra

44 OLHO VIVO

46 A CASA NA ÁRVORE

71 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

72 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

74 CRÓNICA

António Costa Santos

49 BOA VIDA

66 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

16ENTREVISTA

João Bonifácio Serra, presidente deGuimarães CECDocente e investigador em váriasinstituições de ensino superior,membro fundador da Escola de Artese Design das Caldas da Rainha eassessor e consultor principal dapresidência da República nosmandatos de Jorge Sampaio, JoãoBonifácio Serra sublinha à TL anecessidade de abordagensmultidimensionais dos problemas,propondo uma urgente reinvençãodos debates sobre a educação emPortugal. Ambição para a GuimarãesCapital Europeia da Cultura: "deixarum rasto de conhecimento".

30TEMPO GLOBAL

Redu - A aldeia das letrasUma pequena aldeia das Ardenas, naBélgica, seguiu o exemplo de Hay-on-Wye, no país de Gales, e transformou-se num local de encontro debibliófilos.

34VIAGENS

CeutaApresentada ao mundo como "umacidade europeia em África" ou a"âncora para uma imaginária ponteentre dois continentes", em Ceutapersistem, apesar da espanholização,iniciada com a dinastia filipina, ossinais e a memória da pioneirapresença portuguesa.

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Editorial

Vítor Ramalho

No caminho da auto-sustentabilidade

AInatel é, desde 2008, uma Fundaçãoprivada de utilidade pública quetem de caminhar para a auto-susten-tabilidade. O Conselho de Adminis -

tração a que presido e que é o primeiro a dirigi-la, teve a missão, neste primeiro mandato, de apreparar para este objectivo, com a consciênciaque as despesas terão de ser cada vez mais - e nofuturo totalmente - cobertas por receitas pró-prias. A forte diminuição da comparticipaçãopública fala por si.

Neste quadro, que tem de envolver a elimi-nação de prejuízos significativos que há anosocorriam em certos equipamentos, foi deliberadopor isso suspender a Unidade Hoteleira do Santoda Serra, na Madeira, e fazer cessar a actividadeem Penedones (turismo rural), tendo-se entretan-to encontrado um sucedâneo num protocolo como Grupo Pestana numa Unidade de excelência naMadeira.

Foi também com esta perspectiva que sedeliberou recentemente concessionar pordez anos o parque de campismo de S. Pedrode Moel, há muitos anos altamente deficitá-rio, garantindo-se os direitos dos beneficiá-rios da Inatel em continuarem a usufrui-lode forma muito mais vantajosa que osdemais utentes.

O cessionário deste parque ficou entretantoobrigado a realizar obras de requalificação que,no final, reverterão para a Inatel, tendo ainda depagar uma renda anual. O parque deixará de teruma exploração deficitária. Esta mesma estraté-gia legitimou que em 2011 o investimento da

Inatel seja superior a 10 milhões de euros, comafectação de recursos próprios.

Trata-se de procurar valorizar a qualidade dosequipamentos existentes, sem excepção (agên-cias, equipamentos, desportivos e culturais) e daoferta de serviços, num quadro de modernizaçãoe reorganização profundos, apesar da significati-va diminuição da já escassa contribuição públi-ca. O objectivo é que as receitas se reforcem nareferida lógica de auto-sustentabilidade. A pré-selecção das candidaturas para o concurso derequalificação do edifício "velho" em Albufeiraque há nos se arrastava é hoje uma realidade,ocorrendo a adjudicação da empreitada até aofinal deste ano. Esta unidade será de grandeexcelência, como merecem os beneficiários. Oprojecto já está aprovado e a unidade ficará com119 quartos. Do mesmo modo, a unidade deCerveira, com 100 quartos, será inaugurada emMarço do próximo ano.

Tem-se por desnecessário relevar as unidadeshoteleiras entretanto inauguradas sob o actualmandato, inclusive na única região do territórionacional que as não possuía (Açores) apesar da jálonga existência da Inatel ou aquelas que, járequalificadas, salvaguardam a segurança daspessoas e bens e respondem com mais qualidadeaos serviços que prestam.

As respostas a diferentes gerações de benefi-ciários justificaram que, ainda este mês, sejaaberto um espaço multiusos no Parque de Jogos1.º de Maio que possibilitará o alargamento deeventos culturais, desportivos ou de meroconvívio.

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Noutro plano, ao lermos nesta revista a repor-tagem sobre Guimarães, berço da nacionalidadee que será capital europeia da cultura devemoster presente que a Inatel é hoje membro dos cor-pos sociais da Turel, que dinamiza o turismo reli-gioso, o que esteve na base da outorga de um pro-tocolo com a excelente Albergaria do Sameiro,no Bom Jesus, já divulgado nesta revista. Osbeneficiários da Inatel, ao visitarem, no distritode Braga, a cidade de Guimarães ou qualqueroutra zona do distrito terão agora uma unidadede invulgar qualidade, servida por uma varieda-de gastronómica que, por ser uma referêncianacional é imperdível.

Ao falarmos de Guimarães, berço danacionalidade, seria impensável quea "Tempo Livre" não entrevistasse oDr. José Bonifácio Serra, Comissário

da capital europeia da cultura ou não integrasse,de caminho, uma reportagem sobre Ceuta, sím-bolo da epopeia dos descobrimentos, que nostransportou para um encontro secular de cultu-ras forjando-nos no que somos - um país europeucom uma concepção universalista e tolerante.Concepção essa tão presente na nossa Fundaçãoem todos os domínios. Daí o facto da U.E. a terseleccionado como perita no programa Calypsoque procura abrir os horizontes de expansão doturismo social na Europa e que será objecto, nosdias 27 e 28 do corrente mês de Outubro de umseminário para aprofundar este programa, co-organizado pela U.E. e pela nossa Fundação. Ainiciativa terá lugar no Casino do Estoril e é jus-

tamente referido, nesta revista, a que tambémnão escapa a inauguração da nova agência deSantarém, a que se seguirá a de Setúbal, que seráservida por um restaurante que valorizará a pró-pria cidade.

Ainda em 13 e 14 de Outubro próximo, vai terlugar na unidade hoteleira da Foz do Arelho umgrande evento, promovido pela direcção culturalda nossa Fundação denominado "Tradições quevivem", e que possibilitará a participação de per-sonalidades prestigiadas que dedicam as suasactividades à defesa e ao aprofundamento dopatrimónio cultural imaterial.

Netas referências à nossa memória colectiva a"Tempo Livre" - e muito bem - remete-nos nestenúmero também para a personalidade de LuisPiçarra, que no passado teve tantas intervençõesde registo na nossa Inatel.

Todas estas iniciativas, integradas numaestratégia que se tem por coerente, têm umarazão de ser - servir no futuro e cada vez mais emelhor os beneficiários da Fundação. Nesteperíodo, de grave crise que o país atravessa épara os beneficiários que nos devemos mobilizar,atentos às críticas e aos seus anseios, corrigindoo que deve ser corrigido, sempre numa perspec-tiva de um futuro que, reforçando a qualidadeatenda a preços competitivos. Daí que a valori-zação da política comercial e dos recursos huma-nos te nham de ser as próximas prioridades dagestão da Inatel numa estratégia sempre inacaba-da, aprendendo-se com a experiência e avalian-do o que de menos bem foi feito, porque nada étotalmente perfeito. �

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Notícias

Inatel Santarém

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� A Inatel Vila Ruiva e a Inatel Lusoforam distinguidas, no passado dia 14de Setembro, com a "ForeSee SilverCertificate of Good Food HygieneStandards", atribuída pela LusoCristalConsulting, consultoria especializadaem Sistemas de Gestão de SegurançaAlimentar. As distinções conquistadaspelas duas unidades hoteleiras daFundação consagram os seus bonsníveis de controlo em Higiene eSegurança Alimentar, obtidos emantidos através da aplicação de um

programa de HACCP nas áreas dealimentos e bebidas.

Os Certificados foram entregues aAldegundes Madeira, Directora daunidade de Vila Ruiva, e a AnaMartins, Directora da Inatel Luso, porDavid Bungard, Director Geral daLusoCristal Consulting com apresença de Carlos Mamede, VicePresidente do da Inatel, e JoãoSerrano, Director de Hotelaria daFundação, a Equipa HACCP erespectivos colaboradores.

Festival de Teatrode Barcelos� Prossegue em Outubro, em

palcos diferentes do concelho, às

sextas e sábados, pelas 21h30, o

festival de Teatro de Barcelos, uma

iniciativa da companhia de teatro

local, A Capoeira. O programa - que

arrancou com a peça, "Pranto de

Maria Parda", de Gil Vicente, tem a

participação de 15 grupos, incluindo

A Capoeira, nove dos quais de

Barcelos - Teatro Experimental dos

Feitos, Pioneiros da Ucha, TP

Carapeços, Tass - S. Salvador do

Campo, Grupo de Teatro de Palme,

Grupo de Teatro da Pousa, Grupo de

Teatro Os Amigos de Fragoso e os

Amadores de Balugas. De fora de

Barcelos, participam Os Plebeus

Avintenses, o Teatro Amador de

Gulpilhares, O Celeiro - Companhia

de Teatro de Montemor, a Nova

Comédia Bracarense e o Doze Arte

Companhia de Teatro. A entrada é

livre.

Selos homenageiam figuras do teatronacional � Os CTT prestaram tributo aos

grandes nomes da representação

nacional, com a emissão filatélica

"Teatro em Portugal", lançada em

Setembro. Amélia Rey Colaço, Laura

Alves, Armando Cortez, Raul Solnado,

Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho são

os nomes homenageados nos selos.

Os autores Almeida Garrett, D. João

da Câmara, José Régio e Bernardo

Santareno completam a emissão nos

blocos. A pagela reproduz uma

imagem da Sala Garrett do Teatro

Nacional D. Maria II.

Vila Ruiva e Luso distinguidasem segurança e higiene alimentar

� Acompanhando o processo de renovação das agências distritais da Inatel, iniciado

em Aveiro e Vila Real, estão já abertas aos associados e beneficiários da Fundação as

modernas e eficientes instalações da agência de Santarém.

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Notícias

"A minha Lisboa/30 anos depois"

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l O impacto económico do turismosocial é um dos temas centrais doseminário "Calypso: Horizontes deExpansão do Turismo Social naEuropa", uma iniciativa da ComissãoEuropeia, que terá lugar no CasinoEstoril, nos próximos dias 27 e 28.Organizado em parceria com a

l A Galeria de Arte do Casino Estoril acolhe, a partir de 22 do corrente, uma nova

exposição do pintor e escultor Paulo Ossião, um dos mais conceituados 'retratistas' da

cidade de Lisboa. A mostra, intitulada "A minha Lisboa/30 anos depois", inclui três

dezenas de aguarelas e seis esculturas, e estará patente até 22 de Novembro.

Fundação Inatel, o seminário terá aparticipação de representantes dospaíses membros da EU e debateráainda os seguintes temas: Históriasde sucesso do turismo sénior emPortugal; Projecto Calypso - Visão nosdias de hoje e perspectivas de futuro;Turismo sénior - Traços marcantes.

Prémio Amáliapara Ricardo Ribeirol Ricardo Ribeiro conquistou pela

segunda vez o Prémio Amália,

galardão que será entregue em

espectáculo previsto para

Novembro próximo. Em 2005, o

popular fadista recebeu o prémio

para Melhor Revelação Masculina.

Ao reconhecimento do fadista

soma-se o reconhecimento do seu

álbum "Porta do Coração", eleito

um dos dez álbuns "Top of the

World" da edição de Verão da

importante revista Britânica

Songlines. Entretanto, Ricardo

Ribeiro e Pedro Jóia ultimam um

novo trabalho conjunto, com a

colaboração de Yuri Daniel (Baixo),

Vicky Marques (Percussão) e Rui

Borges Maia (Flauta Transversal).

Concursode Artes Plásticasl Informam-se os beneficiários

interessados que o Concurso de

Artes Plásticas da Fundação

INATEL atribuirá o primeiro e

segundo prémios em numerário,

não se verificando a atribuição de

bolsa de estudo no Ar.Co.

Lamentamos o lapso na informação

na edição da TL de Setembro. Para

mais informações: o site

www.inatel.pt ou através do

telefone 210 027 154.

"Poema Habitado"l Na galeria Round The Corner, no

Teatro da Trindade, vai estar

patente, de 13 a 29 de Outubro a

Vídeo Instalação "Poema Habitado"

de Susana F. Cruz. Natural de

Lisboa, Susana F. Cruz (1988), é

licenciada em Fotografia e Cultura

Visual pelo Instituto de Artes,

Design e Marketing (IADE). Em

2010, participou em três exposições

colectivas, em Lisboa.

Turismo Social europeuem debate no Estoril

l Mais de mil jornais integram aexposição "11 de Setembro / 10 anos",patente no Museu Nacional daImprensa, no Porto. Esta mostra incluidezenas de jornais originais e uma

larga coleção de edições em suportedigital, relativas à destruição das"twin towers", de Nova Iorque, e damorte de Bin Laden, em Maio desteano. Alguns dos principais jornaisdas grandes capitais fazem partedesta exposição, que traduz não só oimpacto do acontecimento naimprensa mundial, mas tambémdiferentes evocações feitasanualmente, a par da granderepercussão que teve o assassinato dolíder da Al-Quaeda.

Mais de mil jornais no Museu da Imprensa

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Notícias

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l O bom desempenho da procuraturística internacional permitiu, entreJaneiro e Julho, superar e quaseduplicar (+ 186,9%) as metas decrescimento de dormidasestabelecidas para todo o ano 2011em Portugal, no âmbito do novomodelo de promoção externaregional.Os primeiros sete meses do ano

geraram em todo o País, face a 2010,mais 1,48 milhões de dormidas deturistas de 12 países estrangeiros emempreendimentos turísticos,superando largamente o objectivo decrescer mais 791 mil dormidas emtodo o ano 2011, estabelecido para odestino Portugal em articulação comas sete Agências Regionais dePromoção Turística.

Parapentenos Açoresl As Portas do Mar, nos Açores

receberam pelo segundo ano

consecutivo o Festival de Parapente

dos Açores, que decorreu entre 25 e

28 de Agosto em São Miguel, com o

apoio institucional da INATEL

Desporto que deu o nome à Prova

mais aguardada do Programa, o

INATEL - Acro-Show. Esta17.ª edição

do Festival registou 138 participantes,

oriundos de 10 países, destacando-se

as espectaculares demonstrações de

acrobacias dos pilotos Anthony e

Timothy Green.

Destaque, ainda, para um

lançamento de 500 balões nas Portas

do Mar com a equipa de baloeiros de

TURA, um espectáculo único, que

iluminou o céu de Ponta Delgada.

A par dos voos realizados foram

muito concorridos os worhshops de

construção dos balões e a palestra

proferida pelo campeão nacional

Nuno Virgílio sobre a aventura que

protagonizou, recentemente, nos

Alpes, o X-Alps. O festival encerrou

com a tradicional Festa Nocturna

dos Pastinhos, este ano contou

com a presença do grupo "Bora lá

Tocar".

Procura turística duplica em Portugal

l Após o sucesso alcançado em 2010com o Campeonato Nacional deÁguas Abertas, a Travessia INATEL -uma distância de 1000 metros no Tejopara todos os nadadores filiados naFundação, em parceria com a

autarquia de Oeiras paradinamização da orla ribeirinha - nãodefraudou as expectativas. Cominício na Praia de Santo Amaro deOeiras, cerca de meia centena deatletas, incluindo o próprio AntónioBessone Basto, patrono da travessia,cumpriu o percurso de 1 Km até aoPorto de Recreio. Iniciada meia horadepois da competição Inatel, aTravessia António Bessone Basto - de4,5 Km - foi, tal como a provaanterior, acompanhada pelosconvidados da organização numveleiro.

Travessia Inatel

l "Já lá vão mais de 50 anos a ver e,mais tarde, a fazer teatro", lembraJorge Silva Melo na apresentaçãodas suas conferências, marcadaspara a Culturgeste (26 deSetembro, 10 e 17 de Outubro e 7de Novembro), onde revela quevai falar do que não gosta -críticos, programadores,ministros, secretários, chefes degabinete, assessores, directores-gerais e em geral…- e do que

gosta - "actores, ai de mim…"."Não digo das pessoas -acrescenta o director ActoresUnidos - , até há de quem gosto egostarei: é das funções, do tempoque perdem, do tempo que fazemperder, do mundo que tapam. Porisso vou dizer tudo e espero queolhos nos olhos. E, porque gostode happy-ends, dizer que gosto,gosto de actores, actrizes,técnicos."

Na Culturgeste

Os gostos e desgostos de Jorge Silva Melo

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XVI Concurso “Tempo Livre” Fotografia

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[ a ] Gigi Valente, LisboaSócio n.º 104061

[ b ] Maria Pereira, Montemor-o-NovoSócio n.º 486828

[ c ] José Barreiro, AlbufeiraSócio n.º 36010

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm., empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2012, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

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[ 1 ] Jorge Casais, ViseuSócio n.º 508488

[ 2 ] Olga Cunha,SacavémSócio n.º 427416

[ 3 ] Paulo Santos,MoitaSócio n.º 377994

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Entrevista

No seu percurso há uma articulação continuadaentre dois níveis de intervenção, ora ao nívellocal e regional, ora a um nível mais global ounacional. Não sendo de todo inédita esta situ-ação, também não é propriamente paradigmáti-ca em Portugal…Não corresponde, naturalmente, essa espécie dedescentralidade de actividades a um projecto devida, a uma escolha pré-determinada. Mas a ver-dade é que tenho procurado conjugar uma pers-pectiva de intervenção e de exercício profissionalde um âmbito local com uma perspectiva que temum âmbito mais global ou nacional.Provavelmente, esta distinção não é muito signifi-cativa. Todo o local contém informação global. Ea questão que se coloca ao investigador, ao analis-ta, ao cientista, ao sociólogo, ao historiador, é a desaber qual é a perspectiva com que aborda o local.

As minhas problemáticas são problemáticas glo-bais, e eu encontro informação sobre elas no local.Da mesma maneira que as minhas preocupaçõesglobais não podem deixar de ser exercidas noplano local. Se eu tiver preocupações de naturezacientífica ou cívica globais, tanto as posso exercernuma cidade mais pequena ou numa cidademaior. Com as redes de informação de hoje, nadanos impede de exercer uma actividade de efeito epertinência global num quadro local. O que talvezcaracterize mais o conjunto de actividades emque tenho estado envolvido é uma preocupaçãode estar presente em áreas de investigação e dereflexão, mas também de estar presente em áreasem que se exige intervenção concreta. Podemos estabelecer um paralelismo com aassunção de responsabilidades no âmbito deGuimarães 2012?

João Bonifácio Serra

“Cão velho quandoladra dá conselho”

Presidente da Fundação Guimarães 2012

Docente e investigador, no ISCTE e no ICS, entre outras instituições deensino superior, João Bonifácio Serra esteve na origem da Escola de Artes eDesign das Caldas da Rainha, sua terra natal, e foi assessor, consultor eprincipal responsável da Casa Civil da Presidência da República durante osmandatos de Jorge Sampaio. Actual presidente da Fundação Guimarães 2012,entidade que prepara a programação da próxima Capital Europeia da Cultura,João Bonifácio Serra sublinha a necessidade de abordagensmultidimensionais dos problemas. Nessa linha, propõe uma urgentereinvenção dos debates sobre a educação em Portugal e defende que asolução da crise que afecta actualmente Portugal e a Europa não pode emergirapenas da ciência económica. Leitor compulsivo de poetas, cita Pessoa eevoca, de passagem, alguns dos seus provérbios, como “Cão velho quandoladra dá conselho” e “Mil amigos são de menos, um inimigo é demais”.

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Eu estou em Guimarães a contribuir para umacapital europeia da cultura, que é europeia e éportuguesa, mas é também um apelo da cidadeconcreta, de Guimarães e dos seus instrumentos,dos seus equipamentos, das suas pessoas, dassuas estruturas, das suas gentes, dos seuscidadãos. Da mesma maneira que quando partici-pei na Comissão Instaladora da Escola de Artes eDesign das Caldas da Rainha – aquela que foi umadas primeiras escolas de artes do país, pensada deraiz – eu estava a responder a um apelo quetambém tinha qualquer coisa de cívico, não eraum apelo estritamente profissional… Acho quenestes dois momentos há similitude, entre 1989 e2011, Escola de Artes e Capital Europeia: sãoambos momentos em que me sinto envolvido emprojectos que transformaram, num caso, e trans-formarão, noutro, estas cidades portuguesas.

Passou, entretanto, pela Casa Civil da Presi -dência da República…O apelo da política, em 95, decorreu sobretudoda participação na campanha eleitoral do Dr.Jorge Sampaio e correspondeu a um repto com-pletamente novo na minha vida, que foi ter umaactividade como assessor político do Dr.Sampaio, em que o meu contributo foi sobretudoo de um analista da sociedade portuguesa. O quese revelou interessante foi que ele talvez tenhatrazido à equipa multidisciplinar do Dr. JorgeSampaio um olhar algo descentrado relativamen-te à política. Eu trazia uma perspectiva que con-jugava bem essa visão entre o local e o global.Acho que a minha percepção desse trânsito entreo central e o não central, o mais polimórfico epolicentrado da sociedade portuguesa, foi útil.Porque o mais interessante do modelo de desen-

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Entrevista

volvimento urbano, do modelo de desenvolvi-mento económico do país, é o que assenta maisno policentrismo e menos numa espécie de hie-rarquia a partir de um pólo central. É uma visãoque permite uma composição de interesses, jáque os territórios têm valores que são comple-mentares e não necessariamente antagónicos. Pode-se ler aí uma perspectiva que se demarcada que tem sido a perspectiva dominante napolítica em Portugal e na administração do ter-ritório?Eu acho que há uma visão na política que é muito

contaminada pelo princípio daárea metropolitana que é Lisboa.De facto, se olharmos melhor, porbaixo dessa área metropolitana háterritórios com individualidade.A evolução dos últimos trintaanos mostrou que o território por-tuguês de hoje não é o territórioque tínhamos há cem anos, com oqual se produziu uma divisãoadministrativa. Eu acho que a rea-lidade que hoje se vive é muitodistinta daquela que as práticaspolíticas consagraram. É evidenteque os distritos têm hoje poucacorrespondência com as necessi-dades administrativas do país. Euposso viver nas Caldas da Rainha,ir a um restaurante no Bombarralou em Rio Maior, ir ver um

espectáculo a Lisboa, ou a Santarém, ou aCoimbra. A cidadania exerce-se num territórioque não é apenas o do concelho de residência. Eessa visão é hoje consensual no ponto de vistadas ciências e das artes que se ocupam do territó-rio, a geografia, a economia, a história, o urbanis-mo, a arquitectura. Mas não está, ainda comple-tamente assumida no plano das relações políti-cas. Os Presidentes da República, em especial oDr. Sampaio, procuraram trazer essa nova visãopara a política. Passou pelo sindicalismo no final dos anos 70.Como vê os actuais debates sobre educação e opapel dos sindicatos?Corro o risco de estar um pouco fora do debate.Eu penso que o sindicalismo dominante estámuito centrado na defesa dos direitos dos profes-sores e tem pouco em atenção à questão da esco-

la como a questão nuclear da sociedade portugue-sa. É possível que a emergência nesta última déca-da da questão docente tenha também condiciona-do o próprio Ministério da Educação. Admito queos últimos governantes também te nham dadomenos atenção à escola e mais atenção ao profes-sor. Há alguma razão quando se diz que nos últi-mos anos temos discutido mais os professores, asua avaliação, a sua inserção na carreira, e menosa escola, o seu papel, a sua relação com a socie-dade, com as famílias, com a comunidade, etc. Eessa é a questão central. Nós temos tendência aexigir da escola aquilo que provavelmente ela nãotem condições para resolver e que em grandeparte é uma espécie de projecção sobre a escola depapéis que a comunidade se mostra incapaz deequacionar devidamente. A comunidade tem deequacionar as questões do papel da escola e nãoapenas o lugar e o papel do professor. Nós preten-demos que a escola seja um elemento essencial daintegração do indivíduo na sociedade. Mas a inte-gração não é apenas obediência à lei e não é ape-nas dominar um conjunto de instrumentos bási-cos da sociedade moderna, é também ter algumpoder dentro dessa sociedade. De que forma é quea escola exerce poder na sociedade contemporâ-nea, como é que ela é complementar das estraté-gias culturais, sociais, económicas e políticas paraa melhoria das sociedades actuais – são questõesque estão demasiado ausentes da discussão sindi-cal e política. Temas que considera, portanto, ausentes dasagendas sindicais e dos debates políticos…A educação é um tema central, é um tema daigualdade, é um tema da qualificação dos territó-rios e das pessoas, é um tema da cidadania e éum tema do desenvolvimento. E sobre isso há umdiscurso mais ou menos teórico e aparentementeconsensual que precisa de ser concretizado eaprofundado. Estamos todos confortáveis com ofacto de em período de crise a educação não ficarao abrigo das reduções orçamentais? Isso é razoá-vel, ou deveria haver uma especial consideraçãopor determinadas áreas das políticas para quecertos sectores ficassem ao abrigo das reduçõesorçamentais? Toda a gente deve contribuir para aredução do défice, mas não será comprometedorpara o futuro que todas as áreas tenham que con-tribuir para a redução da despesa?É a mesma observação que fazia um conhecido

“A solução para acrise, hoje, não épuramenteeconómica; éeconómica, é culturale é política. “

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Pode indicar-nos as traves mestrasda programação de Guimarães2012?Nós organizámos a nossaprogramação em torno de doiseixos. Um eixo artístico… há umconjunto de projectos queobedecem a esses intuitos que sãopróprios de uma Capital Europeiada Cultura, a promoção artísticaatravés da música, do cinema, doteatro e das artes plásticas. Emparalelo, temos um outro eixo deprogramação que poderíamosdesignar por “Cidade e Cidadãos”.A programação artística valorizasobretudo produções novas, o quecorresponde à preocupação dedeixar um acervo significativo denovos trabalhos, no cinema, namúsica, nas artes plásticas… Umaoutra preocupação, que étransversal a todas as áreas deprogramação artística, tem a vercom a ideia de residência, produzira partir do local, criar a partir destecontexto. Os artistas são convidadosa trabalhar em Guimarães e aproduzir uma obra que reflicta ocontexto em que é produzida. Eprocuramos dotar-nos dos meiospara que essa criação possa ocorrer.Por exemplo, de uma estrutura deprodução cinematográfica quepermita apoiar um Manoel deOliveira ou um Jean-Luc Godardquando vierem filmar a Guimarães.O Peter Greenaway está tambémconfirmado neste projecto, que éum filme colectivo, composto porcinco ou seis curtas-metragens. Atemática é comum, é a memória.São presenças já confirmadas?Sim, começam a filmar agora emOutubro. E o Manoel de Oliveira

aceitou fazer o seu primeiro filmeem 3D. E quanto ao eixo que designou por“Cidade e Cidadãos”?Respondemos aí a dois ou trêsreptos. O repto “Europa”: estacidade é europeia e essa dimensãonão se esgota nas componenteseuropeias do programa artístico.Queremos que a Europa tenha aquium momento de reflexão. Mastambém queremos que a capitaleuropeia tenha um especial legadono que respeita à afirmação dalíngua portuguesa como uma línguaeuropeia e uma grande língua nomundo. Nesse sentido, estamos adesenvolver programas, sobretudocom o Brasil, que visam reforçaressa ligação, que é uma ligaçãomuito forte, no plano histórico,entre Guimarães e o Brasil. Aolongo dos últimos séculos, opróprio apelido Guimarães veio aser muito disseminado no Brasil eestá ligado a algumas das figurasmais importantes da literatura e damúsica…É a esse propósito que surge umainstalação sobre Guimarães Rosa…Sim, temos um projecto de umaedição especial do “Veredas” para aCapital Europeia, associada àinstalação de uma artista brasileirasobre a obra dele… Gostaríamos deter também a presença do IvanLins, uma vez que se chama IvanGuimarães Lins e tem uma avóvimaranense… E há um conjuntode outros projectos, comoacompanhar a disseminação não sódo apelido, como a presença devimaranenses em momentos-chaveda relação com a Ásia, com África ecom as Américas.

Os “Tempos Cruzados” inserem-setambém nessa linha? Temos a preocupação de envolverna Capital Europeia da Cultura nãoapenas aqueles cidadãos que têmuma relação mais frequente com ofenómeno cultural, mas tambémaqueles sectores sociais maisdescapitalizados em termosculturais, que devem ser chamadose cuja participação deve ter omesmo nível artístico que qualqueroutro. Finalmente, temos ainda umprograma original que foicontratualizado com trêsassociações de Guimarães e que serefere a áreas como a valorização dopatrimónio etnográfico do concelho,um programa que visa reforçar asestruturas de criação dessa áreamais associativa, amadora epopular.E onde é que entram as históriasde vida, uma das dimensões dalinha “Comunidade”?Há histórias de vida na“Comunidade” – uma fase deinvestigação permitiu detectarmomentos importantes da históriada comunidade que estavam maisou menos esquecidos, como umamarcha da fome nos anos 40, erecriá-los na programação artística.Também há histórias de vida na“Cidade e Cidadãos”, sobretudohistórias de vida ligadas à históriaempresarial. Há uma parte dashistórias de vida que corporizaráum museu virtual. Nós vamosdisponibilizar esses elementos paraalguém que possa querer criarmuseus, mas a nossa vocação não écriar museus, mas deixar um rastode conhecimento para quem depoisquiser musealizar. �

Programação Guimarães CEC“Deixar um rasto de conhecimento…”

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Entrevista

sociólogo: se incluirmos os custos sociais amédio ou longo prazo, as alegadas vantagensdos cortes na educação desaparecem…Há muita despesa supérflua, mas é uma boaaposta dizer que a educação deve sofrer comotodos os outros? Sobretudo, dá-se um sinal àssociedades. Eu acho que os governos nesta fasede crise deveriam também cuidar da política;parece que estão apenas a cuidar da economia.Cortar na despesa parece ser hoje consensual,mas cortamos da mesma maneira em todas asáreas do investimento público, ou salvaguarda-mos algumas? Quando a Finlândia sofreu oimpacto da implosão soviética e se descobriucomo um país rural, subdesenvolvido e com difi-culdades de integração externa, o parlamento fin-landês resolveu criar uma comissão interpartidá-ria, com o objectivo de desenhar uma estratégia

de saída dessa crise profunda.Chamou-se a essa comissão a“Comissão do Futuro”, que tinhacomo objectivo definir um plano.Esse plano teve um grande êxito,correspondeu a uma reorgani-zação não apenas da economiacomo também do ensino, desig-nadamente do sistema educativomédio e superior. Os resultadosforam obtidos por um largo con-senso entre todas as principaisforças políticas finlandesas. Acho

que se justificava perfeitamente nesta altura ter-mos uma “Comissão do Futuro” que pudesse tra-balhar no consenso político em torno de comoenfrentarmos esta crise. E a solução para a crise,hoje, não é puramente económica; é económica,é cultural e é política. Sobre questões relacionadas com urbanismo,escreveu uma reflexão inspirada num poema doRuy Belo. É curiosa esta relação que cria entre odiscurso poético e a cogitação sobre questõestão concretas e corpóreas do quotidiano dascidades e do património…Eu sou, desde muito novo, um leitor quase com-pulsivo, nomeadamente de poesia. Recentementepubliquei no meu blogue um texto do Eugénio deAndrade, um texto dedicado ao Porto. O textocomeça mais ou menos assim… “agora que esta-mos em Setembro e eu vou partir para a terra dafruta…” Ele estava a falar das Beiras, para onde

ia… “não verei mais essa cidade um pouco suja,um pouco escura…” Está a falar do Porto, evi-dentemente… Mas mesmo suja, mesmo desa-gradável, gostava de lhe pôr um diadema, de acoroar... Mesmo quando a cidade parece maisdifícil de ser amada, mesmo nesse momento oamor da cidade é importante… A poesia é umafonte permanente de inspiração para os não poe-tas. Talvez não inspire os poetas, mas os não poe-tas são muito inspirados… E a poesia permite ao leitor estabelecer relações– subjectivas, evidentemente – com uma reali-dade concreta, particular…Há dias ofereci o livro de provérbios do FernandoPessoa, que tem sido uma fonte permanente deinspiração. Vou-lhe contar três provérbios queme ficaram na memória. Um já utilizei hojenuma reunião: “Comparação não é razão”. Umoutro diz mais ou menos seguinte: “Cão velhoquando ladra dá conselho”. E o outro também éuma boa lição: “Mil amigos são de menos, uminimigo é demais”. A poesia ajuda-me a comen-tar e a perceber melhor… Ajuda-me a enfrentar odia-a-dia de uma forma mais inteligente do pontode vista emocional… não encontrar sempre nasdificuldades um motivo de constrangimento. Apoesia ajuda-nos a ser mais irónicos e a encontrarum desafio para ultrapassar o momento e umaperspectiva de ironia… �

Humberto Lopes (texto e fotos)

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“Temos discutidomais os professores(…), e menos aescola, o seu papel, asua relação com asociedade, com asfamílias, com acomunidade.”

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Terra Nossa

Tem fama e tem razão para a ter. Deruelas estreitas, praças acolhedo-ras e monumentos milenares,Guimarães é muito mais do que osítio onde reza a história que

Portugal nasceu. Hoje, é uma cidade que combina tradição com

bons restaurantes de gastronomia regional, muitajuventude, esplanadas cheias de vida, concertos,exposições e bailados. Sem perder passado,Guimarães tem vindo, cada vez mais, a ganharpresente.

ORIGENS. Datada do século X, quando a con-dessa Mumadona Dias mandou aí construir ummosteiro e, mais tarde, um castelo, Guimarãescomeçou a ganhar verdadeiro relevo ao tornar-seo centro administrativo do Condado Portuca -lense, chefiado por D. Henrique de Borgonha e,depois, pelo seu filho D. Afonso Henriques, aínascido.

Nos seus arredores, travou-se também a deci-siva batalha de São Mamede, entre as forças de D.Afonso Henriques e as de sua mãe, D. Teresa.Desse confronto resultou a proclamação de D.Afonso como primeiro Rei de Portugal.

Mais de oito séculos volvidos, Guimarães con-quista, no ano 2000, o título de PatrimónioCultural da Humanidade pela UNESCO e será,em 2012, Capital Europeia da Cultura.

ITINERÁRIOS. Cidade perfeita para visitar apé, deambulando pelas suas praças e ruelas defachadas medievais, a Praça da Oliveira é umbom ponto de partida. Repleta de esplanadas,logo que aparecem os primeiros raios de sol, éaqui que se encontram a Igreja de Nossa Senhorada Oliveira, datada de 1513, o Padrão do Salado,erguido no reinado de D. Afonso IV para come -morar a Batalha do Salado, e também os antigosPaços do Concelho.

Praça contígua, a praça de Santiago é outro

Berço da Nação, local de nascimento de D. Afonso Henriques,palco de história secular, Guimarães foi eleita pelo New YorkTimes um dos 41 lugares no mundo a visitar este ano. Em 2012,será a Capital Europeia da Cultura.

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De “berço” da Naçãoa capital cultural

Guimarães

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Terra Nossa

dos pólos mais divertidos da cidade. De dia ou denoite os seus restaurantes, bares e esplanadasenchem-se de locais e turistas.

Mesmo ao lado, a rua de Santa Maria é umadas mais emblemáticas de Guimarães. Segundo ahistória, esta foi a rua projectada pela CondessaMumadona, para fazer a ligação do primeiromosteiro da cidade ao Castelo.

Nesta rua encontram-se bons restaurantes elojas tradicionais, como a Meia Tijela, onde sepodem comprar produtos tradicionais portugue-ses, desde galos de Barcelos a compotas e azeitesgourmet.

No final da rua e continuando a subir, avista-se logo o Paço dos Duques de Bragança e umpouco mais acima o Castelo de Guimarães. Entreos dois fica a pequena Capela de S. Miguel, cons-trução do início do século XII e que tem um gran-de simbolismo, pois segundo a história terá sidoaqui que foi baptizado D. Afonso Henriques. A

pequena capela está, inclusive, classificada comoMonumento Nacional.

Quanto ao Paço dos Duques, uma majestosacasa senhorial do século XV, terá sido, mandadaedificar por D. Afonso, filho bastardo do rei D.João I e primeiro Duque de Bragança.

Descendo de novo para a parte baixa do cen-tro histórico, aproveite para uma pausa na espla-nada da "wine house", Rolhas e Rótulos, na Praçada Oliveira. Tem vinho a copo e pratos de petis-cos para picar: enchidos, queijos, francesinhas etudo o mais...

Se está mais inclinado (a) para doces, entãoo melhor será ir até à Casa Costinhas. na Rua deSanta Maria. É aqui que são confeccionadas asfamosas tortas de Guimarães pelas duas irmãsCostinhas. A receita secular deste doce conven-tual continua religiosamente guardada, sendoapenas do conhecimento de algumas doceirasda cidade. Massa por fora e uma mistura de gila

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GUIA

IR

Para quem sair de Lisboa,

Guimarães fica a 325

quilómetros. Seguir pela A1 até

ao Porto, aí tomar a direcção

de Braga pela A3 e sair na

saída 6, direcção Guimarães.

DORMIR

Pousada Nossa Senhora da

Oliveira. Fica mesmo no centro

da cidade, junto à Praça da

Oliveira. Inteiramente renovada

tem 10 quartos e seis suites. A

partir da pousada pode percor-

rer a cidade a pé pela suas

ruelas e praças até ao Castelo

ou ao Paço dos Duques.

A Albergaria de N. Srª do

Sameiro, a cerca de 30 km,

oferece descontos para

Associados da INATEL

COMER

Solar do Arco: Em pleno

centro histórico, tem como

algumas das especialidades a

feijoada de gambas e o

medalhão de vitela com grelos

salteados. Preço médio por

pessoa: 18 euros; Rua de

Santa Maria nº 48.

Dan José: no cimo da

Montanha da Penha.

Especialidade bacalhau com

broa. Preço médio por pessoa:

17 euros.

VISITAR

Nos arredores de Guimarães,

acerca de cinco quilómetros,

vale a pena, ainda, visitar o

Santuário de São Torcato. É

aqui que se realiza uma das

mais concorridas romarias do

Minho, desde 1852, no 1º

Domingo de Julho.

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por dentro é o máximo que se consegue adivi -nhar.

MONUMENTOS. Depois desta pausa, apro -veite para visitar o Museu Alberto Sampaio.Situa-se no local exacto onde a CondessaMumadona mandou em tempos construir omosteiro, à volta do qual começou a surgir opovoado que deu origem a Guimarães.

A exposição deste museu engloba peças tãovaliosas como o cálice românico de D. Sancho I ea túnica que D. João I vestiu na Batalha deAljubarrota.

Mais tarde, vale a pena visitar a casa da RuaNova, conhecida desde há muito como um dosedifícios mais característicos da cidade. De ori-gem medieval, foi totalmente recuperada man-tendo a traça original tanto por dentro como porfora. A sua reabilitação, levada a cabo pela autar-quia, foi o motor de arranque para a recuperaçãodo centro histórico da cidade.

A Igreja da Misericórdia, a Igreja de SãoDomingos, a Igreja de São Francisco e a Igreja deNossa Senhora da Consolação dos Passos, sãooutros dos monumentos a não perder.

Para respirar um pouco de ar puro e ver umafantástica vista sobre a cidade, apanhe o teleféri-co e vá até ao alto da Montanha da Penha. A via-gem dura cerca de dez minutos e o bilhete custa4 euros, ida e volta. Aproveite para ir pela horado almoço e prove o bacalhau com broa no res-taurante Dan José.

Por último, não deixe de visitar o CentroCultural de Vila Flor. Inaugurado em 2005 juntoao palácio homónimo, é desde então palco devárias exposições, concertos, espectáculos dedança etc...

JAZZ E BAILADO. Já em Novembro, de 10 a 19a não perder a 20.ª edição do Guimarães Jazz, queeste ano contará com a presença de nomes comoRoy Haynes, Ralph Alessi, McCoy Tyner eMartial Solal - um dos grandes pianistas dahistória do jazz - entre muitos outros.

A 7 de Dezembro subirá ao palco a RussianClassical Ballet, uma das mais prestigiadas com-panhias de dança do mundo, com o bailado "ABela Adormecida".

Em 2012, será também no Centro Vila Florque se irão realizar várias das actividades noâmbito da Capital Europeia da Cultura. Pode con-sultar o programa no Posto de Turismo na PraçaSantiago.

O palácio contíguo ao centro também mereceuma visita. Construído no século XVII, a fachadaé decorada com as estátuas em granito dos pri-meiros reis de Portugal. Em redor, fica um belís-simo jardim em três patamares e com uma fonteda época barroca.

Aproveite o final da tarde numa das muitasesplanadas do centro histórico ao sabor de umcopo de vinho verde fresco, produto típico daregião. Guarde apetite para o jantar. A gastrono-mia local é muito boa e não faltam restaurantespara a saborear. O Solar do Arco e o El Rei DomAfonso são dois dos recomendados pelo NewYork Times. Vá, prove e comprove.�

Catarina Serra Lopes (texto e fotos)

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Desporto Inatel

Oseu nome? Rui Pinheiro, queficou na história do basquetebolportuguês pelos variadíssimosêxitos alcançados, dos quais sesalienta os conseguidos ao serviço

do Sporting, quando a equipa leonina dava car-tas, entre nós, na modalidade.

Mas quer antes, quer depois disso, RuiPinheiro foi sempre figura em evidência em tãopopular disciplina, já que começou muito novocomo praticante e hoje, com 58 anos, ainda fazvaler os seus conhecimentos e influência, agoracomo treinador (às vezes faz uma perninha) daequipa da Caixa Geral de Depósitos (CGD) nostorneios da Fundação Inatel, em cujas iniciativasé, desde há muitos anos, presença assídua.

Tendo nascido em Nampula (Moçambique),onde era vizinho de Carlos Queiroz, Rui Pinheiroiniciou-se no basquetebol, em 1966, nas camadasjovens do Sporting de Lourenço Marques. Tinhaapenas 13 anos e por ali se manteve durante qua-

tro épocas. Não se esquece, porém, daquele Verãode 1970. Veio passá-lo à Metrópole, com os pais,mas em vez do regresso, depois de 30 dias de des-canso em Lisboa, nem descanso nem regresso. Ospais voltaram a Moçambique, é verdade, mas eleficou por cá até finais de Abril de 71.

"Nesse ano participei no CampeonatoNacional de Juniores pelo Sporting. E valeu apena, uma vez que fomos campeões", recordacom natural orgulho. E revivendo ainda o passa-do: "Foi um título arrancado a ferros. No jogodecisivo, em Leiria, com o FC Porto, era necessá-rio um triunfo por 13 pontos e conseguimos issomesmo, depois de um triplo 'maluco' que euarranquei no último segundo. De contrário, teriasido o Galitos o campeão".

O jovem Pinheiro estava lançado. Depois dobrilharete, foi a vez de regressar ao convívio dosseus, em Lourenço Marques, mas por poucotempo. Em Dezembro de 74, mesmo na vésperade Natal, mudou-se de armas e bagagens paraLisboa. E, convidado por João Rocha, o presiden-te do Sporting, voltou ao clube de Alvalade,agora para jogar ao mais alto nível. Entre 75 e 82,viveu os dias mais gloriosos, mas conheceriatambém o travo amargo da decepção ao assistir àdesistência do Sporting na modalidade, com aconsequente criação de uma secção autónoma,um "caso" que até foi motivo de abertura doTelejornal da época.

Seguiu-se o Queluz, onde jogou três épocas earrancou dois títulos. Também nos escalões secundá-rios deu nas vistas, já que foi campeão nacional da 2ª

Ex-glória do Sporting

Rui Pinheiro “anima”basquete InatelTalvez o rótulo de "papa títulos" se lhe ajuste na perfeição. De facto, nãohouve clube por onde tenha passado que, com ele, não festejasse a vitória norespectivo campeonato. Independentemente da categoria, escalão etário oudivisão nacional em que participasse.

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Equipa do SportingClub de Portugal naépoca de 1981/82.Na página da direita,Rui Pinheiro em 1978

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Desporto Inatel

divisão pelo Estoril, ao cabo do seu segundo ano noclube, e da 3ª divisão, pelo Grupo TAP, embora com acondição de "poder faltar aos treinos". Foi aqui, emrepresentação da "equipa voadora" que Rui Pinheiroparticipou no Campeonato do Mundo dasCompanhias Aéreas, que decorreu em 88, emBelgrado, e de cujo certame o nosso campeão guardaas melhores recordações.

Nesta altura, já Rui Pinheiro era funcionário daCGD, onde começou em 83, mas a actividade des-portiva, essa, só a iniciou ali em 89. Contudo, coma "bagagem" adquirida ao longo de tantos anos ede tantas experiências vividas, depressa se adap-tou ao chamado "desporto corporativo", tendoganho nessa qualidade seis títulos nacionais.

Reconhece que, apesar do âmbito diferentedaqueles por que já passou, os campeonatos paratrabalhadores que a Fundação Inatel implementa"não são para brincadeiras", dado ser cada vez maior

o grau de competitividade, sobretudo a partir domomento em que os diversos clubes alargaram aparticipação a gente alheia às próprias empresas, oque não permite uma correcta avaliação sobre a rea-lidade desportiva de cada uma delas.

"Outro aspecto importante tem a ver com asdificuldades financeiras com que nos debatemos.Reconhecemos o esforço e dedicação daFundação Inatel, mas os clubes, em muitos casos,não podem corresponder às exigências. Na CGD,a canalização de verbas privilegia naturalmente osector da Saúde e para o Desporto a fatia quesobra não é famosa. A Fidelidade, por exemplo(N.da R.: Fidelidade Mundial foi, este ano, o cam-peão da Inatel), está mais apetrechada nesseaspecto e tem tido uma actividade além-frontei-ras a que nós não podemos aspirar", esclareceu.E, em jeito de conselho, diria a finalizar:

"Também não seria má ideia a Fundação Inatelremodelar as provas com a criação de diversosescalões etários. Pais e filhos, novos e velhos namesma equipa não é coisa que funcione, pois apedalada é bem diferente e disso se ressente o jogoe o espectáculo. Para mim, este foi o último ano".

Rui Pinheiro um campeão de mão cheia.Campeão nacional de Juniores (Sporting), campeãonacional da 1ª divisão (Sporting e Queluz), da 2ª(Estoril), da 3ª (Grupo TAP) e amador (CGD). Nãose pode dizer que as competições da FundaçãoInatel não tenham representantes à altura. �

Rui Tovar

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Rui Pinheiro com aequipa da Inatel

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Tempo Global

Esta história começa exactamente dezanos antes do lançamento do progra-ma de recuperação das povoaçõesportuguesas que viriam a constituir o"núcleo duro" das chamadas aldeias

históricas. Redu, um povoado rural com menosde meio milhar de habitantes, enraizado nocoração das Ardenas belgas, renascia para umnovo ciclo: a aldeia tornava-se, na Páscoa de1984, um lugar de encontro e peregrinação deamadores de livros usados. Em pouco tempoRedu transformou-se numa das aldeias mais visi-tadas de toda a Bélgica, acolhendo cerca deduzentos mil visitantes por ano, um desenlaceinesperado para uma povoação que esteve con-denada a ser engolida por uma barragem, cujaconstrução foi bloqueada pela contestação eresistência das populações locais.

Nenhuma fórmula mágica nem grandes inves-timentos abriram as portas de um futuro diferen-te ao (até então) anónimo burgo das Ardenas.Apenas uma ideia, propícia, e uma motivaçãoforte irmanaram Redu e a precursora Hay-on-Wye, no País de Gales, duas aldeias que construí-ram - mais do que descobriram - a vocação de"paraíso" de alfarrabistas e livros. A invençãodesta Redu livreira deve-se ao jornalista NoelAnselot, na sequência de uma visita, em 1979, aHay-on-Wye.

Com a colaboração de um colega da rádio etelevisão belgas, Gérard Valet, Anselot mobilizaum grupo de alfarrabistas de diferentes paragensda Bélgica, que em menos de meia dúzia de anosacabam por se instalar, de forma permanente, napequena aldeia que se situa muito perto do local

onde se desenrolou um episódio da Batalha dasArdenas, no final da II Guerra Mundial (ver caixa).

Esta história do renascimento de uma povo-ação rural mostra como não basta a conservaçãoou a recuperação de estruturas físicas urbanas ede edificado, vastos investimentos financeiros oudiscursos "estratégicos". É preciso muito mais doque isso para reinserir um recanto rural no mapada actividade social, cultural e económica, numaescala ampla. É fundamental optimizar os recur-sos de que se dispõe, mas é essencial, sobretudo,imaginação para os reinventar. E tal desideratonão parece exequível sem o concurso do mundodas ideias.

Livros em todas as estaçõesA estradinha que leva a Redu atravessa no seutrecho final uma série de bosques, intercaladosde pradarias e dos suaves declives das Ardenas.Já muito perto de Redu, num cruzamento flores-tal, damos com um inusitado jardim, um único eamplo canteiro de flores rubras, em forma delivro aberto. O ícone repetir-se-á mais adiante,dentro da aldeia: uma enorme escultura emmetal e pedra, como uma grande enciclopédiajacente ao ar livre.

Há actualmente em Redu uma trintena de li -vrarias abertas e outros tantos estabelecimentos,de carácter diverso - restaurantes, pousadas, gale-rias e ateliers de artistas, e, até, um museu dedi-cado às técnicas de impressão. Ao longo de quasetodo o ano desenrola-se uma série de programasde animação cultural que atraem multidões devisitantes à aldeia. Estas enchentes tiveram iníciocom a primeira "festa do livro" - expressão que

ReduA aldeia das letrasUma pequena aldeia das Ardenas, na Bélgica, seguiu o exemplo de Hay-on-Wye, no país de Gales, e transformou-se num local de encontro debibliófilos. Depois de ter vencido a ameaça de uma barragem, Redu voltou ater vida económica, cultural e social ao longo de todo o ano.

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Tempo Global

quer traduzir a realização de um grande mercadodo livro -, em Abril de 1984.

Os fins-de-semana de Redu são, naturalmente,os dias mais movimentados, com ampla afluên-cia de bibilófilos, ou de simples turistas curiosos,maior número de livrarias abertas e a presença demuitos artistas de rua. É também por esses dias,sobretudo, que desembarcam visitantes com asbagageiras cheias de livros para trocar ou vender- porque a actividade de alfarrabista, com cálcu-los de dinheiros ou não pelo meio, se realiza ver-dadeiramente nessa mediação que propicia quepáginas e páginas continuem infinitamente amudar de mãos e de leitores.

Para além das rotinas dos fins-de-semana, osmomentos especiais constituem marcos que aju-dam a projectar a imagem e a nova identidade deRedu. É o caso do que é, provavelmente, o clímaxda animação da aldeia. No primeiro fim-de-sema-na de Agosto realiza-se a "Noite do Livro", umaquase noite branca de animação musical, com asdesignadas "músicas do mundo", todas as livra-

rias de portas abertas e a saborosa cerveja artesa-nal - a "trappiste de Rochefort" - a correr nas gar-gantas dos participantes.

Outros encontros reúnem, na primavera,gente com especializações técnicas ou artísticasna área da produção do livro. Ilustradores, calí-grafos, fabricantes de papel, etc., fazem pequenosworkshops - na maior parte gratuitos - sobre osseus saberes. Noutras ocasiões abre-se as portas ainiciativas como exposições de pintura e ciclosde cinema, cujos temas se articulam com as acti-vidades livreiras. Algumas das livrarias assumemespecializações temáticas - pelo menos umadelas, a "Fahrenheit 451", evoca paixões cinéfilas.

Muito longe da agitação das grandes urbes,entre florestas e pradarias verdejantes que, diz-se, terão um dia inspirado a Petrarca uns tantosversos, eis Redu, a aldeia-escaparate com milha-res de livros para folhear com serenidade, sejaqual for a "saison". As Ardenas são, também,montanhas de livros. �

Humberto Lopes (texto e fotos)

Bure não esquece 1945

Em Bure, a pouco mais de uma

dezena de quilómetros de Redu, a

agricultura já teve dias mais animados

e, tal como na aldeia dos livros, muito

são os agricultores aposentados. O

sossego do povoado impressiona: dá-

se meia dúzia de voltas pelas ruas e

não se avista vivalma. As casas de

pedra típicas das Ardenas

assemelham-se a túmulos silenciosos.

Não é difícil encontrar sinais da

memória que Bure conserva dos dias

terríveis da Batalha das Ardenas, que

pôs em confronto os exércitos aliados

e as divisões germânicas durante a

desesperada contra-ofensiva alemã, já

no epílogo da Segunda Guerra

Mundial. O objectivo da operação

alemã era avançar para a região de

Antuérpia e cercar as forças aliadas.

O exército nazi acabou por recuar,

mas a vitória custou aos Aliados

quase cem mil baixas.

O avanço sobre Bure começou ao

amanhecer do dia 3 de Janeiro de

1945, quando os soldados ingleses do

13º Batalhão de Pára-quedistas

começaram a deslocar-se sobre a

neve em direcção à aldeia. Os

combates duraram três dias e

terminaram com a libertação de Bure.

Na data do início da libertação realiza-

se habitualmente nos campos em

redor uma marcha evocativa do

episódio, uma marcha que pretende,

sobretudo, prestar homenagem às

forças libertadoras. Na aldeia, a

evocação da Batalha das Ardenas,

uma das mais sangrentas da Segunda

Guerra, surge em duas placas

colocadas junto à igrejinha da aldeia,

uma delas identificando o local onde

foram provisoriamente sepultados 61

militares ingleses. Num campo aberto

situado num dos flancos do povoado,

uma terceira assinala a sua condição

de última morada dos soldados

ingleses, belgas, neo-zelandeses e

alemães que perderam a vida durante

a Batalha de Bure. �

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Viagens

Os dias da semana em Ceuta acor-dam com muita gente nas ruas, amaioria de crença muçulmana.Gente residente, gente de passo.Num repente, são os véus e as

jalabas (túnicas masculinas) que dominam acena. Preparem-se para um dia de descobertacom vários museus e ruas com nomes que soamfamiliares. Nalgumas delas há placas de azulejosque indicam o nome de outrora: aqui era oMercado Viejo, ali o Mercado da Lana, maisadiante a Rua de la Misericordia ou a RuaCentral. O marroquino que me saúda por diver-sas ocasiões com um "hola portu!" (como sabe ele

que sou português?), revela as suas reaisintenções quando se decide mostrar-me um colarde ouro falso e uma pedra de haxixe.

"Te gustan las chicas?". As marroquinas quevemos em Ceuta, ou são mulheres-a-dias ouandam na vida. Distraído, quase que peço umbocadillo de jambon serrano num dos tascosmuçulmanos, onde o cardápio se baseia mais nochá de menta (que aqui denominam de cháverde) e na sopa de mariscos, quando muito, poistudo deve ser obrigatoriamente halal. Ao ditochá, servem-no sempre açucarado. Aliás, há poraqui um gosto muito acentuado pelo doce. E porfalar em chá verde… que falta me faz. Estive

CeutaApresentada ao mundo como "umacidade europeia em África" ou a"âncora para uma imaginária ponteentre dois continentes", pode dizer-seque o coração de Ceuta - urbe commais de dois mil anos - está na Plazade Africa, com a igreja de NossaSenhora de África a substituir amesquita principal da cidade, ondeD. João I armou cavaleiros dois dosseus filhos após a batalha quealteraria o rumo da nossa história. Aresistência ao ataque a Ceuta, em1416, numa altura em que estaintegrava o reino de Fez, demorouum só dia.

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Portuguesa, apesar de tudo

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quase para ir a um restaurante chinês de propó-sito só para beber umas quantas taças dessa mira-culosa infusão. Chineses, há-os por cá também,proprietários de restaurantes e de lojas. E já seadaptaram até à afamada sesta castelhana, factodigno de registo.

Os quiosques de jornais são de "Prensa,Revistas e Golosinas", que é dizer, guloseimas.Outra das características desta cidade é aabundância de mulheres que empurram carri -nhos de bebé. Aqui parece não haver ameaça deenvelhecimento da população.

Busco alojamento no Recinto, zona alta dacidade, maioritariamente habitada por muçulma-

nos, onde por 15 euros tenho direito a um quartoe um terraço com vista para o Atlântico e oMediterrâneo, e ainda, em jeito de brinde, o cantodo imã no minarete logo pela madrugada. É jáuma aproximação ao mundo que me espera nospróximos dias. Nesta pensão familiar, a CHGutierrez, El Cateto, mesmo junto a um bunkerdo tempo da guerra civil espanhola, nada deluxos asiáticos, como seja garrafas de termos comágua quente ou chá e café à discrição, raramentese vêem os proprietários. Talvez seja a falta demochileiros que se detenham uns tempos porestas paragens. (A maioria dos viajantes entra emMarrocos pelo porto de Tânger). E eu pergunto-

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Viagens

me: como é possível alguém passar por Ceutasem ficar um dia ou dois?

O bastão de Pedro de MenesesO interior da igreja de Nossa Senhora de Áfricatem uma série de altares de talha dourada ondese destaca, por detrás do altar principal, a estátuada Virgem Maria, datada do século XVI, de cujamão pende o bastão original do primeiro gover-nador português, D. Pedro de Meneses, emboraisso seja difícil de acreditar… Na torre das trasei-ras do monumento estão dois pequenos sinos.Serão os tais roubados em Lagos por piratas mou-ros e que os portugueses fizeram alarve, em 1415,de os terem resgatado?

A poucos metros de distância, no terreno dacatedral, existe um museu que preserva diversaparafernália religiosa do período português.Infelizmente, não o pude visitar, pois a catedralparece estar permanentemente encerrada. Omesmo acontece com a sede episcopal, mesmoao lado.

Às muralhas originais da cidade, que remon-tam ao século X, os portugueses acrescentaram-

lhe um fosso com escarpa e contra escarpa, sendoas principais estruturas conhecidas como obaluarte da Bandeira e o baluarte dosMaiorquinos.

Na entrada principal da cidade, na altura feitaatravés de uma ponte levadiça, foi erguida umacapela. E ainda há quem se benza quando por lápassa, agora de carro, sobre uma robusta ponte debetão. O terreno contíguo a essa muralha, quedurante décadas resistiu às repetidas investidasdos mouros, que tentavam reconquistar a cidadeque fora deles, é hoje ocupado por um hotel deluxo e por um comissariado militar. Não deixa deser interessante ver uma dedicatória à estátua dosoldado "muerto por la Patria" encimado com obrasão português.

Apesar da escolha que fez, Ceuta, de certaforma, é ainda uma cidade portuguesa.

A escolha menos Leal…Ao contrário de Macau, "a mais Leal", que mesmodurante o domínio dos Filipes se manteve fiel àcoroa portuguesa, Ceuta optou por permanecerespanhola após a Restauração de 1640, num altu-

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ra em que Castela se confrontava também comuma revolta na Catalunha. A notícia da inde-pendência chegou à cidade em finais deDezembro, e embora o governador de então, D.Francisco de Almeida, simpatizasse com a causados Bragança, o ambiente na cidade, sobretudoentre as famílias mais influentes, era favorável àcasa de Áustria. Por isso, Almeida foi obrigado aceder, tendo sido substituído em 1641, tendoFilipe IV concedido à cidade o título de "LaFidelissima Ciudad de Zeuta" em 1656.

O processo de "espanholização", no entanto,tinha-se iniciado anteriormente, na sequência daderrota de Alcácer Quibir e dos momentos deincerteza que se viveram nas praças portuguesasde Marrocos. Para travar os intentos da mourama,Filipe II (Filipe I primeiro de Portugal) ordenouque as tropas andaluzas prestassem auxílio, pas-sando, pouco a pouco, a guarnição da cidade aincluir tropas espanholas. E assim ficou.

Para o comum dos mortais, Ceuta era local dedegredo ou cumprimento de serviço militar.Entre a população dominava a fidalguia, algumadela oriunda da própria colónia, de onde se des-tacavam os Andrade, os Mendonça, os Vieira, osGuevara… Meneses era mesmo família de gover-nadores. O de Ceuta tem agora direito a diversasilustrações (uma delas no azulejo da fachada doterminal marítimo) e ainda uma estátua modernano passeio marítimo, onde também se encontraimortalizado o Mahatma Ghandi, pois Ceutaorgulha-se de ser um exemplo de tolerância reli-giosa e pacífica convivência interétnica.

Durante os 254 anos do período portuguêsforam setenta e cinco os governadores, muitosdeles num curto espaço de tempo. A avulsa infor-

mação turística que nos dá conta dessa época,nem sempre respeita a veracidade dos factos. Sehá panfletos que nos dizem que "los vinculoshistóricos con Portugal son evidentes, tanto, queel escudo y la bandera de Ceuta muestran clara-mente que esta ciudad fue portuguesa", outroslimitam-se a uma lacónica menção à "murallaportuguesa" que serve de apoio ao conjuntodefensivo que foi acrescentado pelos espanhóisem séculos posteriores. Diz-se, por aqui, que abandeira da cidade, com o brasão de armas dePortugal, "foi mandado tecer pela rainha portu-guesa Dona Filipa".

Siza, Dulce Pontes, Ana Sousa…Mas, mais do que as palavras, valem as evidên-cias actuais. A vivência lusa sente-se nos nomescomo o da escola pública Mare Nostrum, nosprojectos arquitectónicos de Siza Vieira, na apos-ta da estilista Ana Sousa que aqui abriu loja ouno concerto dado por Dulce Pontes no Auditóriodas 7 Colinas, o principal da cidade.

Ao longo do passeio marítimo, na zona ribei-rinha atlântica, junto à marina e aos cais ondechegam e partem as embarcações (há quem sedesloque a Ceuta de helicóptero), são bem visí-veis secções inteiras da antiga muralha, aindacom as seteiras, das quais destaco a Porta deSanta Maria, perto da qual foi edificada uma está-tua ao cartógrafo árabe Al-Idrisi, autor dos mapasque fizeram sonhar o Infante Dom Henrique e osseus nautas.

Têm mais razão de queixa os árabes no que serefere ao défice de informação histórica, poisnem sequer o que resta das muralhas merínidas,mandadas erguer pelos sultões entre 1307-1310,

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Viagens

merece qualquer destaque no mapa da cidade, sebem que tenham funcionado como cidadela ealbergue, refúgio de forasteiros e tropas que seviam obrigados a passar a noite fora do centrohistórico medieval. Referenciados são apenas osbanhos árabes, descobertos, na sequência deobras públicas, como sempre, há algumas déca-das atrás. O mundo islâmico atribuía a esse tipode instalações, além das virtudes higiénicas ecurativas, um possível significado religioso, poiseste era o meio de limpar o corpo e entregar-se àoração num estado de pureza total.

Ainda hoje, o fosso de São Filipe, separaaquela que podemos considerar como "cidadecristã" da sua congénere muçulmana, a leste,para onde a cidade se foi estendendo até àactual fronteira, marco que remonta ao séculoXIX, havendo por lá uma série de torres neo-medievais que lembram o facto. Ligam-nasdiversos trilhos que são utilizados pelos habi-tantes de Ceuta, muito dados às actividades ao

ar livre, para as suas caminhadas e sessões deobservação de aves.

Pagã, cristã e muçulmanaVem de muito longe a ocupação desta cidade. Hávestígios do período pré-histórico, numa cave juntoà fronteira com Marrocos, e do período fenício, "opovo das velas púrpuras". Das guerras púnicas saí-ram vitoriosos os romanos que aqui permanecerammuito tempo, tendo recorrido a Ceuta com um dosseus mais importantes bastiões em norte de África.

O local onde foi descoberta, em meados anos70, a basílica tardio-romana, foi transformadonum moderno museu subterrâneo tendo sidopara aí transferidos uns poços utilizados pelosromanos para a salga de peixe. Essa actividadeera fundamental numa costa com abundância depescado graças às fortes correntes e ao encontrodo Atlântico com o Mediterrâneo. Neste e nomuseu municipal da cidade, onde está sedeado ocentro de Estudos Ceutis (em cujo catálogo depublicações contam-se obras de autores portu-gueses), há inúmeras ânforas e também os des-pojos de navios naufragados ao longo dos temposno movimentado corredor marítimo.

Houve um período pós Constantino e umoutro bizantino dos imperadores Justiniano eTeodósio. Chamava-se Julião o último dos gover-nadores cristãos de Ceuta. Sobre ele, escreveu umdia um desses românticos a roçar o saudosismo:"Ceuta, antiga terra do conde Julião, voltava a tera sua igreja de Cristo, voltava a ser ocupada pelosseus cristãos". Mas o Julião, para poupar Ceuta,mais não fez do que permitir que os árabes merí-nidas utilizassem a cidade como catapulta paraatingir Tarifa, em 710, e dali subir até às Astúrias

A recente descoberta de uma basílica tardioromana posteriormente transformada em necró-pole, serve de argumento a quem insiste que acristandade é aqui muito antiga, "quatrocentosanos antes do nascimento do profeta Maomé",graças à liberdade de culto que trouxe consigo "oédito de Milão de 313". Foi esse, aliás, o argumen-to de peso que levou o "cruzado" Dom Henrique amover mundos e fundos para retomar estas terrasàs sucessivas dinastias muçulmanas que se suce-deram ao cristianismo. Com a ajuda, claro, deuma pragmática burguesia nascente que via nonorte de África uma fonte de novos mercados.�

Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)

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Memória

Quem tornou conhecida, pelasquatro partidas do mundo, acanção "Avril au Portugal"(Coimbra), quem criou "Granada"ou "Copacabana, princesinha do

mar", quem levou milhares deadeptos do Benfica ao delírio cantando "SerBenfiquista" foi Luís Raul Janeiro Caeiro deAguilar Barbosa Piçarra Valderazo y Ribadeneyraou, muito simplesmente, Luís Piçarra. O nomepomposo, dizia-se, vinha de um avô castelão deValencia de Mombuey, e de uns duques, seus pri-mos. Mas o tenor, modesto, dizia que era apenasalentejano. Alentejano de Moura, onde nasceuem 23 de Junho de 1917.

De Moura para LausanneO pai de Luís Piçarra era um rico proprietárioe quando o rapaz mostrou interesse pelos liv-ros mandou-o estudar para Lausanne, naSuíça, onde fez a primária. O liceu já foi emLisboa, seguindo-se a matrícula na Faculdadede Direito, em Coimbra. Não era, no entanto,Direito o destino do cantor. Volta para Lisboaonde o espera a Escola de Belas Artes. A arqui-tectura começa em Lisboa e acaba em Paris naÉcole des Beaux Arts, sem completar o curso.Mas sempre com o estudo do canto e da músi-ca pelo meio. E é por isso que, ainda jovem, seestreia na Academia dos Amadores de Músicana ópera "Barbeiro de Sevilha", com os louvo-res da crítica especializada: "uma voz famosa","uma verdadeira revelação", "um lindo tim-bre".

Com tão "lindo timbre" aparece logo umempresário que convida o jovem cantor paraum espectáculo feérico chamado "A Lenda dossete cravos". E a seguir vem o italiano Tito

Schippa a cantar no Coliseu e Luís Piçarra departida para uma carreira internacional.

"Um cara bom de verdade"Aos 28 anos, Piçarra viaja para o Brasil e é aí queconhece Agustin Lara, autor de "Granada", eBraguinha com "Copacabana, princesinha domar" que o artista canta vezes sem conta emshows de grande êxito. Os brasileiros não se can-sam de o ouvir porque ele se revelou "um carabom de verdade". Do Rio passa para Buenos Aires

Luís Piçarrae a chama imensaQuando lhe perguntavam pela profissão, Luís Piçarra, eterno aluno dearquitectura, costumava dizer que era um técnico do canto.

Primeira fotoartística do cantor

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onde reencontra Tito Schippa a preparar-se paracantar a "Manon". Mal sabia Piçarra que iria, embreve, substituir o Schiappa que adoecera subita-mente. O êxito foi enorme e o empresário que ocontratara leva-o até ao Egipto, Grécia, Turquia,Síria, etc. No Cairo é contratado para cantar parao rei Faruk. É também por essa altura que RaulFerrão lhe envia uma cantiga a que chamou"Coimbra" e que o tenor transforma em "Avril auPortugal". Uma gravação e cerca de dois milhõesde discos vendidos.

"Ser benfiquista…"Quando Luís Piçarra conhece Edith Piaf formamuma dupla que fica famosa. A Guerra acabara eParis era uma festa. Piaf deu-se bem com o portu-guês de Moura e gostou de cantar com ele emdueto. Era o tempo de Maurice Chevalier, deArmstrong, de Domenico Modugno, de Tino Rossi,de Luis Mariano. O "trovador romântico da Europa", apesar dos êxitos que alcança pelo mundo inteiro,não esquece Portugal . Nem o Benfica, o clube doseu coração. Sócio número 635. O hino do Benfica,de autoria de Manuel Paulino Gomes, director dojornal do clube, era cantado no Estádio sempre quea equipa entrava em campo e, conta-se que, para osmais supersticiosos, não era de bom agoiro esque-cerem-se da "alma imensa das papoilas saltitan-tes"…isto é ,"as camisolas berrantes // que nos cam-pos a vibrar //são papoilas saltitantes". O hino doBenfica em todo o seu esplendor…

999 canções em discoFoi o próprio Piçarra que, um dia, contou que gra-vara 999 canções, escritas por compositores tãodiversos como João Nobre, Manuela Câncio Reis,Agustin Lara ou Raul Ferrão. Quase todas foramêxitos que o cantor interpretou pelo mundo intei-

ro. Em casinos, em clubes, em teatros, do Líbanoao Canadá, da Itália ao Estados Unidos, Piçarraganhou muito dinheiro e, tal como ganhou,também o gastou.

Eclético, Piçarra era tão bom nas cançõescomo a interpretar opereta ou teatro de revista.Ao lado de Amália Rodrigues, cantou na opereta"Rosa Cantadeira", no Teatro República no Rio edepois em São Paulo. Sempre com grande suces-so ou não fosse ele "um cara bom de verdade". Jáem África, o nosso "globtrotter" do mundo, viajada África do Sul para Luanda onde vai encontraros militares portugueses em campanha.Convidam-no para cantar e ele segue os soldadosem direcção Norte. É ali que caem numa embos-cada e o cantor, para se salvar, passa longas horasdentro de um pântano. Quando consegue sairpara lugar mais seguro, percebe que está rouco. Étratado num hospital militar e volta às cantorias.

A voz perdida para sempre Ainda em Luanda, dirige o Centro de Preparaçãode Artistas da Rádio, que abandona em 1975 pararegressar definitivamente a Portugal. Com a mu -lher e três filhos, sem dinheiro, sem voz, LuísPiçarra prepara-se para alguns anos infelizes.Perdida a principal ferramenta do seu trabalho, avoz, dedica-se a pequenos trabalhos e pede areforma. Dezoito contos! Vale-lhe, mais tarde, aSecretaria de Estado da Cultura que lhe concede,em 1992, a pensão de mérito cultural no valor de120 contos. Diga-se, por ordem de Pedro SantanaLopes. Muito doente, recolhe, com a mulherBeatriz, à Casa do Artista, onde morre três mesesdepois, a 22 de Setembro de 1999. Tinha 82 anose, segundo deixou escrito, continuava a acreditarna humanidade. n

Maria João Duarte

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Memória

À esquerda, ao ladoda mulher, numtempo em que a vidalhe sorria.À direita, benfiquistaferrenho, no velhoEstádio da Luz, aolado da vedeta decinema Helga Liné

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Olho Vivo

Dicionário mesopotâmico

Ao fim de 90 anos de trabalho, a universidade de Chicago terminou umdicionário da antiga língua da Mesopotâmia, falada onde hoje está o Iraquee a Síria. São 21 volumes para explicar o significado de28 mil palavras em assírio ou acádio. Só apalavra "umu", que significa "dia",gasta 17 páginas de texto. O acádiousa símbolos cuneiformes e é umdos sistemas de escrita maisantigos da humanidade. Acolecção custa ao todo 1358 euros.

Chavestem maisum século

Chaves, a Aquae Flaviaeromana, terá sidofundada no séc. I a.C. enão no século seguinte,como se pensava atéserem feitas novasescavações no centro dacidade. Os arqueólogosdescobriram uma moedade bronze com o busto deAugusto, o primeiroimperador romano,datada de 27 a.C. Asmoedas e cerâmicasachadas estarão à vista noMuseu das TermasRomanas.

Nãodescobrimosos Açores

Dezenas de sepulturasescavadas há dois milanos na rocha foramdescobertas nas ilhas doCorvo e Terceira, nosAçores, o que indica umaocupação das ilhasanterior à chegada dosportugueses de 1400. Oshipogeus foramencontrados nas ilhas,durante um passeio doarqueólogo Nuno Ribeiro.Os monumentos eramcomuns na época romanae aparecem noMediterrâneo entre osséculos IX e III a.C.

Eu sou o europeu típico

Cientistas portugueses e alemães publicaram um estudo na revistaPsychological Science, que indica que as pessoas consideram "típico" docidadão europeu um dos seus conterrâneos. Voluntários alemães eportugueses escolheram como "europeu típico" um alemão e um português,respectivamente, entre 700 pares de fotografias de indivíduos comdiferentes características físicas.

Os gestos dos chimpanzés

Os chimpanzés usam 66 gestos diferentes paracomunicarem entre si, segundo um estudo decientistas escoceses, que analisaram 120 horasde filme. As descobertas foram publicadas narevista "Animal Cognition" e refutam estudosanteriores que davam o número máximo de 30gestos diferentes. É provável que o número sejaainda maior nos animais em liberdade. A equipacontinua a estudar os vídeos para decifrar agorao significado de cada gesto.

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António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)

Aves pensadoras

As aves que vivem em ambientes urbanos têm umcérebro maior em relação ao corpo do que o dascongéneres que vivem no campo, segundo um estudode biólogos espanhóis. Espécies como a pega-rabudatêm o cérebro 20 por cento maior em média,comparadas com espécies que ficaram longe dascidades, como o papafigos. Os cientistas estudaram 82espécies de pássaros de cidades francesas e suíças.

Formigagigante

Uma formiga com 5centímetros e 50 milhõesde anos, a maiorencontrada até hoje, foidesenterrada junto a umantigo lago do Wyoming,nos Estados Unidos. Como nome de Titanomymalubei, o bicho terápassado da Europa para aAmérica quando oscontinentes estavampróximos, uma vez queapresenta semelhançascom espécimesencontrados naAlemanha e no sul daInglaterra.

Salvemoso Diaboda Tasmânia

O genoma do diabo daTasmânia, marsupialcarnívoro que está emrisco de extinção devido aum cancro contagioso, foisequenciado, para setentar a preservação daespécie. Os cientistasaproveitaram os genes deum macho e de umafêmea que morreram coma doença que está adizimar os diabos na ilhaaustraliana. O tumorapanha o focinho dosbichos e impede-os de sealimentarem. As célulascancerígenas propagam-se como vírus durante oacasalamento e as lutas.

Pombos reconhecem caras

Uma nova investigação prova que os pombos, sem qualquer treino, sãocapazes de reconhecer as caras de indivíduos, sem se deixarem enganarpor mudanças de roupa. Usando pombos vadios de Paris, dois cientistasalimentaram as aves num dia, mudaram de roupa no segundo e umdeles deu-lhes milho, enquanto o outro os afastava, e num terceiro dia,mudando de roupa de novo, mantiveram-se os dois numa atitudeindiferente. Os pombos fugiam do homem que primeiro os expulsou eaproximavam-se do que lhes deu sempre alimento. Os cientistasacreditam que o pombo tem capacidade para reconhecer traços faciaishumanos.

Ingrediente mistério

Há um ingrediente misterioso no caféque reage com a cafeína e dáprotecção aos bebedores contra adoença de Alzheimer. O componentedo café ainda não identificado fazcom que o café previna o Alzheimer,ao contrário de outras bebidas comcafeína. A descoberta foi anunciadana revista Journal of Alzheimer'sDisease.

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Cabeça

Junto à Capela de Nossa Senhora daConceição, em Moimenta da Beira, no cimode um morro com cerca de 770 metros dealtitude, soalheiro miradouro com vista

privilegiada sobre o vale do rio Tedo, enrai-zando-se em fissuras nos velhos muros de pedra,lugar que a maioria das árvores desdenharia,vários espécimes de sumagre (Rhus Coriaria L.)preparam-se para celebrar a paisagem outonal

Os duelos de Summaq

O regresso do Sumagreportuguês ao palco dastintureiras

A Casa na árvore

Susana Neves

duriense tingindo-se de vermelho. Metamorfoseinesperada, para quem não convive com estapequena árvore (pode alcançar três metros mas émais frequente em estado arbustivo), observar assuas folhas verdes, de bordo serrado, ruboriza-rem-se: silenciosa revelação de um protagonismoincontornável na história dos curtumes e tintura-ria vegetal portuguesa, como é possível confirmarna leitura de algumas obras de referência.

Num livro subordinado ao estudo da químicaorgânica e suas aplicações à indústria ("Leçons dechimie élémentaire appliquée aux arts indus-triels: chimie organique"), de 1860, Jean PierreGirardin, atribui ao "Sumac Portugal" ou "SumacPorto" o terceiro lugar na lista das espécies queproduzem o melhor tanino e corante vegetal,necessário ao curtume das peles, couros e na tin-tagem dos tecidos. E num dicionário de comérciode 1750 ("Dictionnaire Universel de Commerce P-Z"), os autores Jacques Savary des Brûlons ePhilémon-Louis Savarin referem que "emAmesterdão domina o comércio do "sumac" pro-veniente de Portugal, conhecido [jocosamente]por "Porto-a-Porto", ou "Port-à-Port"".

Estas notícias referentes ao comércio do pó desumagre português, obtido sobretudo pela seca-gem das folhas e frutos e subsequente trituraçãoem moinhos (atafonas), equivalia a uma antiga,intensa, bem sucedida e lucrativa actividade decultivo de sumagre e sua transformação num póvermelho que produz cores amarela esverdeada,cinzentos e negros. Se percorrermos alguns"sites" na "internet" ainda encontramos viva amemória da extinta actividade dos sumagreirosde Tinalhas, Mós, Avarenta e Foz Côa. "O bisavôdo meu marido era sumagreiro, tinha plantaçõesde sumagre e depois de cortadas as hastes e secasnuma eira eram malhadas com manguais idênti-cos aos usados nas malhadas dos cereais", recor-da Bela Marques, de Vila Nova de Foz Côa - eacrescenta: "Seguia-se o seu transporte para umaatafona (funcionavam quatro atafonas em FozCôa), casinhoto semelhante ao antigo lagar deazeite e (como ele) era constituída por um pio nocentro do qual havia uma trave, firmada perpen-dicularmente e ligada a ela por um eixo a mó de

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Fotos: Susana Neves

granito com cerca de três metros de diâmetro,movida, normalmente por muares."

Esta bem sucedida produção de sumagre (àqual aparecem associadas a desaparecidas pro-fissões de surrador, o que tingia as peles, ou a decorreeiro, que comercializava couros), atinge oauge nos séculos 17 e 18 e começa a decair como incremento da viticultura, ressurgindo no finaldo século 19 e nas primeiras décadas do século20, como alternativa à vinha, danificada pela filo-xera.

De facto, no "Jornal de Horticultura Prática"(JHP), de 1886, sugere-se com muita convicção oregresso à lavoura do sumagre, por poder consti-tuir uma "copiosa fonte de receita", uma vez queé um "vegetal" muito produtivo, resistente às"intempéries" e "aos ataques de insectos"; refere-se ainda que além de fornecer tanino, o sumagretem aplicação medicinal (os frutos, em cachopeludo, de "sabor acidulo" são "adstringentes eassépticos"), e desde os romanos, antes do apare-cimento do limão, serviram de têmpero, e entreos húngaros de corante do vinagre. De resto, noMédio Oriente ainda hoje cumpre a função decondimento e na culinária árabe e libanesa é um

dos ingredientes do "zahtar", um con-dimento salgado que inclui ainda fol-has verdes de tomilho e sementes degergelim. Lembrava o JHP que muitasvezes se procuram "novidades" (refe-rindo-se à "Flora estrangeira") em vezde recuperar o que é nosso e conheci-do, e este conselho poderá, porventura,servir de reflexão ao reaproveitamentodos sumagrais ou o que resta deles,não desvalorizando o seu valor orna-mental. Se na antiguidade, o limãovenceu o sumagre na culinária, osumagre veio a impor-se na indústria dos curtu-mes (a suavidade que imprime ao couro, valorizaainda hoje a arte da encadernação). Se numsegundo combate, a vinha o ultrapassou, e ostaninos químicos aparentemente o derrubaram, aera dos produtos biológicos que hoje vivemospode constituir uma inesperada oportunidade.Não nos esqueçamos que para uma espécie dafamília das Anacardiáceas (como a mangueira e ocajueiro) que veio da Síria ("summaq"=verme -lho), e se naturalizou no Mediterrâneo, o possívelé triunfar. n

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l CONSUMO A sociedade de consumo desenvolveu um conjunto de rituais

semelhantes aos dos contos de fadas… Pág. 50 l LIVRO ABERTO Em destaque,

entre outras obras de interesse, "As Ideias que Mudaram o Mundo - A História

Natural da Inovação", de Steven Johnson. Pág. 52 l ARTES Emília Nadal em

Cascais, Helena Justino em Alfragide, Chichorro no MAC e fotos de

Santandreu na Valbom abrem a temporada de Outono. Pág. 54 l MÚSICAS "Os

Movimento" e "Os Eléctricos" resolveram regressar ao passado da música

ligeira portuguesa com verrsões das décadas de 40, 50, 60 e 70 do século

passado. Pág. 56 l NO PALCO "As lágrimas amargas de Petra Von Kant", obra

central Fassbinder, salta dos écrãs para o palco. A ver no TNDMII, Sala

Estúdio, até 6 de Novembro. Pág. 58 l CINEMA EM CASA Já em DVD a bem

sucedida adaptação, assinada por Raúl Ruiz, de

"Mistérios de Lisboa", um dos grandes romances de

Camilo Castelo Branco. Pág. 60 l GRANDE ECRÃ

"Sangue do meu sangue", drama de João Canijo, as

divertidas e atribuladas aventuras de Tintim & Cª e o mais recente filme de

Soderberg em destaque para Outubro. Pág. 61 l TEMPO INFORMÁTICO

Técnicos do digital descobriram formas de transformar as músicas dos discos

vinil em ficheiros que podem ser gravados e ouvidos nos computadores. Pág. 62

l AO VOLANTE O Jazz Hybrid, estreado no Salão de Paris de 2010, prossegue

a aposta da Honda no desenvolvimento de tecnologias de veículos híbridos a

gasolina-electricidade. Pág. 63 l SAÚDE Os familiares próximos e os amigos dos

diabéticos devem saber o que é uma hipoglicémia e como lidar com ela. Pág. 64

l PALAVRAS DA LEI A alteração unilateral dos "spreads" é um tema 'quente' e

actual na relação dos bancos com os detentores de empréstimos. Pág. 65

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

Em tempos não muito recuados - presume-se quedesde os princípios do século XX - surgiu, nasilhas do Pacífico, um conjunto de cultos rela-cionados com o consumo: o taro cult em

Vanuattu, o vailala na Papuásia, ou o tuka cult nas ilhasFiji, são apenas alguns exemplos.

Naquele tempo - que se prolongou até à década de 70do século XX - algumas tribos canibais da Melanésia jul-gavam-se a única civilização existente à face da Terra oque , aparentemente, explica a relação destes cultos com achegada de John Frum* àquelas paragens.

Não se sabe exactamente quem era John Frum, nem adata exacta da sua chegada à ilha de Tanna. Tampouco éconsensual a sua identificação com um branco, negro oumestiço. Aventa-se que se tratava de um soldado americanoque ali terá ido parar involuntariamente. Levava com eleobjectos exóticos e desconhecidos naquelas paragens, comoferramentas e produtos alimentares. Estupefactos perantetantos objectos estranhos, mas cuja utilidade rapidamenteperceberam, os indígenas pensaram tratar-se de uma divin-dade que os bafejara com uma dádiva e passaram a adorá-lo como tal. A data do aparecimento deste homem foi 15de Fevereiro, dia assinalado em Tanna e noutras ilhas doPacífico com festividades em honra de S. Frum.

Tomei conhecimento destes cultos e assisti às festivi-dades em honra de S. Frum, quando viajava pela PapuaNova Guiné e Ilhas Salomão, mas o que mais me impres-sionou foi o facto de o culto se ter alargado a outras ilhasdo Pacífico, apesar de Frum apenas ter estado em Tanna…

Fiquei também a saber que, durante a segunda guerramundial, os indígenas da Melanésia ficavam maravilhadoscom os aviões que cruzavam o ar por cima dos seus na -

rizes, mas desolados por não os conseguirem apanhar.Acreditando que as aeronaves eram enviados dos deuses,os melanésios construíram em terra objectos idênticosàqueles que viam cruzar os céus, utilizando ramos elianas.

Durante a noite delimitavam o espaço e iluminavam-nocom tochas, na esperança de que os "enviados dos deuses"ali aterrassem.

Estes cultos têm algo de similar com os ardis criadospela sociedade de consumo para atrair os consumidores.Não me refiro à publicidade, acenando-nos com umaparafernália de produtos acoplados a sorteios deautomóveis ou férias em ilhas paradisícas, que nos con-duzem ao sonho.

Atenho-me às grandes cadeias de produtos alimentaresou aos centros comerciais feericamente iluminados, ondetécnicas de camuflagem - como manipulações electrónicasrecriando o chilrear de pássaros virtuais - criam umambiente propício ao culto do consumo.

Por alguma razão lhes chamam catedrais de consumo.Não será, certamente, pelo facto de ali se vender umaparafernália de produtos úteis e supérfluos, ao dispor dasmais variadas bolsas. Será, antes, porque ao passear porentre as ruelas engalanadas dessas catedrais modernas, os

Cinderela àespera do futuroA sociedade de consumo desenvolveu umconjunto de rituais semelhantes aos dos contos defadas. Actualmente vive o momento em que aCinderela se prepara para sair do baile… mas oepílogo poderá ser bem diferente do queconhecemos nas versões de Perrault ou dosirmãos Grimm.

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consumidoresse sentem muitas vezes

atraídos por produtos que, estandoao alcance da vista - e não raras vezes da

mão - não são acessíveis à sua bolsa. Quando os grandes centros comerciais se instalaram

em Portugal, muitos consumidores regressavam a casadepois de uma viagem por esses paraísos do consumo,mortificados pelo facto de a conta bancária ser escassapara a satisfação de todos os desejos consumistas que avisão das montras lhes despertara.

Tempos depois, uma fada madrinha oferecia-lhes umcartão de crédito, autêntica varinha de condão que, depoisde introduzida na ranhura de uma máquina, tornava reaistodos os seus desejos. Bastava para tal que uma combi-nação de números com um nome (PIN) a lembrar contosde duendes e bruxas más, accionasse o "Abre-te Sésamo" ea gruta de Ali Babá abria-se em esplendor.

O sistema, porém, não estava perfeito. Os cartões decrédito estabeleciam um limite para os desejos. Nãodemorou muito tempo, até que a fada madrinha dasociedade de consumo resolvesse o problema. Atingido olimite de desejos concedidos mensalmente, foi dada aoutilizador a possibilidade de recorrer ao crédito. Quer umautomóvel e não tem dinheiro? Não se preocupe, porque afada madrinha dá.

Na verdade não dava, apenas emprestava, cobrandojuros elevados, só que os consumidores, inebriados peloprazer de usufruir da última novidade, ou ansiosos porfazer um "upgrade" na sua vida social, nem se apercebiamdisso. Chegavam ao banco e a fada madrinha, com um sor-riso nos lábios, "dava-lhes" o dinheiro solicitado. Outrasvezes, magnânima, enviava cheques para as caixas de cor-

reio dos consumidores mais tímidos, aliciando-os a ficarcom o dinheiro para comprarem o que lhes apetecesse:férias, automóveis, electrodomésticos? Cada um quedecidisse.

Vivia-se então no tempo em que a sociedade de con-sumo era a "Casa de Chocolate" mas um dia, por razõesainda não totalmente esclarecidas, a fada madrinha amuoue disse: " Não empresto mais dinheiro aos gregos. Já gas-taram dinheiro demais e agora não vão ter maneira depagar".

Os gregos correram a pedir ajuda aos parceiroseuropeus a quem pretendiam pagar com sol, belas ilhas epraias, os produtos que lhes compravam.

O desenvolvimento da história já os leitores conhecem.Como nos seriados, ou nas telenovelas, só falta saber ofim. No entanto já todos percebemos, mesmo antes daexibição do último episódio, que a sociedade de consumoestá a viver o seu momento Cinderella. Perdeu o sapato decristal e o coche pode a qualquer momento transformar-senuma abóbora. Resta saber se o príncipe estará disposto adesposá-la, libertando -a das garras da bruxa má… n

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Boavida|Livro Aberto

Da morte de Bin Laden à descobertada nova Europa do Leste

"As Ideias que Mudaram o Mundo - A História Naturalda Inovação" (Clube do Autor), de Steven Johnson, fazo oportuno inventário de grandes ideias e conceitosque alteraram nas últimas décadas a nossa relação como mundo e também as relações inter-pessoais. Autor deobras de grande sucesso internacional como "Tudo oQue É Mau Faz Bem", Jonhson, identificando e carac-terizando novas formas criativas de entender o pro-gresso e a vida em comunidade, fornece ao leitor pis-tas úteis para compreender o seu lugar no mundo, aideia de progresso e o próprio conceito de inovação.

HÁ OUTRAS FORMAS de falar do mundo e de viajarnele. Uma delas é através das frases que marcaram asua história. É essa a proposta de Helge Hesse em "AHistória do Mundo em 50 Frases" (Casa das Letras), emque, à semelhança do que já aconteceu noutros livrosrecentes, se destacam os grandes momentos da históriamundial em vários países através de frases que gan-haram dimensão histórica.

EM MATÉRIA de ficção narrativa, destaque para o novoromance histórico do escritor ensaísta Miguel Real,intitulado "A Guerra dos Mascates", um grande fresconarrativo sobre um episódio marcante da história doBrasil, como sempre com o rigor histórico e a capaci-dade de efabulação que fazem de Miguel Real umautor de referência. Destaque igualmente para "HojePreferia Não me Ter Encontrado", da Prémio Nobel daLiteratura Herta Muller, alemã de origem romena, quenos apresenta um romance denso e tenso, profunda-mente marcado pela memória dos anos de terror numuniverso concentracionário. Uma escrita marcada pelamemória e pela presença sempre iluminadora da escri-ta poética.

"A NÁUSEA" (Pub.Europa - América) é uma das obras deficção mais importantes do escritor e filósofo francêsJean-Paul Sartre. Primeiro romance do escritor, "A

José Jorge Letria

Bastará a morte de uma figura icónica do ter-rorismo global para desaparecerem as som-bras e os fantasmas que pairam no horizonteda nossa civilização inquieta e atormentada?

É a estas perguntas que os autores do livro "Para Alémde Bin Laden" (D. Quixote), com edição de JohnMeacham, tentam responder. O livro, prefaciado naedição portuguesa por Nuno Rogeiro, reúne oito textosde reconhecidos especialistas em relações interna-cionais, na problemática do terrorismo e na situação daconturbada zona do mundo em que Bin Laden actuou efoi executado. Mais do que dar respostas, este livroabre as portas para novas interrogações, já queninguém sabe, sobretudo na sequência do profundoprocesso de transformação no mundo islâmico, comoirá evoluir a situação mundial e a correlação de forçasinternacional. Um livro para ler e meditar, num tempode incerteza e generalizada insegurança.

É SOBRE as transformações operadas no Leste daEuropa após a queda do Muro de Berlim, em 1989, queescreve Michael Palin, que foi uma das figuras centraisdos "MontyPython e se transformou num bem sucedidoescritor de literatura de viagens. Em "A Nova Europa"(Bizâncio), Michael Palin relata o seu metódico périplopor duas dezenas de países cujos destinos foram pro-fundamente transformados pelo colapso do blocosoviético. Observador perspicaz e informado, Palinescreveu muito mais do que um simples livro de via-gens. Atento aos modos de vida, aos novos paradigmassociais, económicos e culturais daqueles países,Michael Palin construiu uma obra fundamental paraquem quiser perceber esta nova velha Europa queninguém sabe como irá evoluir nas próximas décadas,mesmo a que já se encontra integrada na União, já quetodo o continente atravessa uma crise estrutural comprognóstico muito reservado.

Depois da morte de Bin Laden terá o mundo ficado mais seguro? Eis uma pergunta que milhões depessoas por todo o mundo terão feito quando se soube do êxito da operação militar que permitiu aosEstados Unidos liquidarem o seu inimigo público nº 1 depois do 11 de Setembro.

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Náusea" tem a forma literária de um diário íntimo, noqual o protagonista, Antoine Roquentin, descreve avida quotidiana de uma cidade de província, pro-duzindo, ao mesmo tempo, uma reflexão inevitavel-mente de registo filosófico sobre a própria condiçãohumana. Um clássico contemporâneo que vale semprea pena descobrir ou redescobrir.

FILHO DE UM PRESTIGIADO jornalista desportivo (RuiTovar), e ele mesmo nome destacado de uma nova ge -ração de jornalistas desta área, Rui Miguel Tovar acabade publicar "366 Histórias de Futebol" (Livrododia), noqual relata uma história do futebol digna de registopor cada dia do ano, neste caso bissexto, já que ashistórias são 366. Um interessante exercício jornalísti-co e de memória, que revela um profundo conhecedorda matéria que, apesar da sua juventude, consegue via-jar por várias décadas do século XX, com humor, sen-tido crítico e, forçosamente, com muito amor pelodesporto - espectáculo - indústria que é o futebol.

Recentemente falecido, David Servan Schreiber, espe-cialista em neurociências cognitivas, foi autor de doislivros de grande êxito editorial "Curar" e "Anti-Cancro", ambos com tradução portuguesa. Agora quese prepara o lançamento da sua derradeira obra, umaserena meditação de despedida sobre o tumor cerebralcontra o qual lutou durante 20 anos e que acabou porderrotá-lo aos 50 anos, vale a pena recomendar aoleitor o reencontro com "Curar"(Leya), em edição debolso ainda acessível nas livrarias, já que se trata deum importante contributo do cientista para o combateà depressão, apostando numa via pouco ortodoxa quedispensa os medicamentos e a psicanálise. Elogiadopor cientistas como o português António Damásio,David Servan Schreiber escreveu um livro de leituraobrigatória para quem não se quiser deixar vencer psi-cologicamente pela crise que ensombra o nosso pre-sente. Esta recomendação de leitura constitui uma der-radeira homenagem a um cientista inovador e corajosoque partiu prematuramente. n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Abordando de maneira peculiar as questões dotempo, Emília Nadal reflecte sobre a actualidademundial através de uma sátira que poderíamoschamar Pop, na qual uma semiótica do consumo

ilustrada por irónicas alusões à publicidade alterna com umaarte mais próxima do subjectivismo existencial marcante emmuitas das suas produções.

Isto é, a actual presidente da Sociedade Nacional de Belas

Artes, se, por um lado, olha com sarcasmo para os mitos damodernidade, por outro lado apresenta o devido contrapontoao fazer uma incursão poética intimista sobre a passagem dotempo, recorrendo à disciplina mais espontânea do desenho.

HELENA JUSTINO EM ALFRAGIDE

Num registo bastante diferenciado, embora marcado comalguns valores salientes na obra da artista anterior, comosejam a serenidade e o equilíbrio lumínico, está por sua vezHelena Justino a mostrar os seus últimos trabalhos, até ao

Emília Nadal em CascaisAs Linguagens do QuotidianoSubordinada ao título "Tudo oque acontece", está aconhecida artista plásticaEmília Nadal a apresentar, noCentro Cultural de Cascais,até ao próximo dia 23, umaexposição de pintura centradaessencialmente nos referentesligados às linguagens doquotidiano maisespontaneamente intrusivas,como é o caso dos slogans.

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próximo dia 26, na galeria da Molduraminuto, sita na Loja69 do Centro Comercial Alegro, em Alfragide.

Trata-se de um conjunto de temas, formatos e estilosvários, em que cada obra vale por si, independente sob todasas formas, apresentando-se em toda a plenitude. A artista,que frequentou a Escola Superior de Belas Artes do Porto,continua fiel às suas origens, tomando dos seus Mestres oque mais a enformou: de Lagoa Henriques o rigor e de JúlioResende os voos da liberdade de expressão.

"ENCONTROS ALADOS" DE ROBERTO CHICHORRO

Por sua vez, o artista moçambicano Roberto Chichorro apre-senta, até dia 28, na Galeria MAC - Movimento ArteContemporânea, em Lisboa, as suas últimas obras subordi-nadas ao título "Encontro Alado".

Fiel a uma paleta que explora recorrentemente os tons deazul mais encantatórios que se possam imaginar, o artistacelebra particularmente a noite moçambicana de uma

maneira tão mágica como inesperada, onde o mistério e abeleza se enlaçam em fantasias a mariscar luas, tema aliás deuma das suas séries anteriores mais badaladas. Serestas e se -renatas, luzes, cores e perfumes são ingredientes constantesque Roberto Chichorro utiliza com grande sedução, numsentido mágico de permanente comunhão com a natureza.

FOTOGRAFIA NA GALERIA VALBOM

Por último, vale a pena destacar a exposição de fotografia queRoberto Santandreu tem patente, até dia 26, na GaleriaValbom, Lisboa, subordinada ao título "Da Beleza".

Como o próprio autor assinala: "Este trabalho pretendeque nos submerjamos na beleza, base de toda a teoria daEstética e da Filosofia das Artes, para que possamos enten-der, se é que é possível, o que nos ocorre quando por elasomos tocados/as ou perturbados/as. Tomando como pontode partida um simples pimento e a criação de EdwardWeston a quem rendo homenagem." n

Óleo de Helena Justino,Pintura de RobertoChichorro e fotografia deRoberto Santandreu. Napágina da esquerda,tapeçaria de Emília Nadal

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Vítor Ribeiro

Movimento é também otítulo genérico do álbumdo primeiro daquelesgrupos, que integra

Marta Ren, Selma Uamusse, Gomo eMiguel Ângelo (esse mesmo, ex-Delfins).

Com produção e direcção musical deFrancisco Rebelo (Cool Hipnoise, Cacique97 e Cais Sodré Funk Connection) e João Cabrita,Movimento "revisita" temas dos anos 60 e 70, de entre osquais destacamos "E depois do adeus" (Paulo de Carvalho),"Festa da Vida" e "Verão" (Carlos Mendes), "Flor sem tempo"(Paulo de Carvalho), "Começar de novo" (Simone deOliveira) e "O louco" (Conjunto Académico João Paulo). Alise apresenta, ao todo, um conjunto de 11 temas criados pordestacados compositores como José Calvário, José Niza,Pedro Osório, Thilo Krassman, Nóbrega e Sousa, João PauloAgrela, Jorge Domingo e os já citados Carlos Mendes ePaulo de Carvalho, na também qualidade de intérpretes.

Os melómanos não encontrarão reproduções fiéis, oumesmo aproximadas, das canções originais, dado que osMovimento optaram por uma "abordagem de inspiraçãoSoul clássica, mas carregada de sintomas demodernidade", segundo se explica num dostextos de promoção.

De resto, Movimento define-se como"uma oleada orquestra, composta porcerca de 12 elementos, onde, paraalém das quatro carismáticas vozes, sedestacará o "groove" duma secção rít-mica certeira e poderosa, a energiadum naipe de sopros carregado debrilho e intenção e o calor dos arran-jos sempre surpreendentes e de umgosto irrepreensível".

Recuemos, no entanto, ainda mais,

Boavida|Músicas

até aos anos 40 e 50 do século passado,com a ajuda de "Os Eléctricos" e o CDcom o mesmo nome.

Eis como se apresentam: "O Grupoevoca o charme alfacinha dançante epoético dos anos 40 e segue à aventu-ra Rock'n'Rolante dos 50s".

E mais: "Música para-popular por-tuguesa com esteróides? Swingabilly?Ié-Ié Tuga? Punkvalsa? Skanetismo(ska+cançonetismo)? Tango-western

ou música para baile de finalistas? Com Os Eléctricos todasestas categorias valem, pois sintetizam a sua missão: ani-mar crianças, jovens, adultos e idosos (com e sem bengalas,agulhas de crochet e baralhos de cartas)". O grupo reinven-ta temas compostos ou interpretados por Francisco José(Olhos Castanhos), Beatriz Costa (A Agulha e o Dedal),Vicente da Câmara (Tranças Pretas), Mirita Casimiro(Canção da Papoila) e Natércia Barreto (Óculos de Sol).

Os Eléctricos "acrescentam ainda canções originaisbem inspiradas nos dias eldorados dessa música tão pop-ular e nostalgicamente urbana: Anda Um Cupido A Voar,Se Não Aprendes A Dançar Este IéIé, Love Me Tender àBeira do Mar, Cantiga da Lua Azul (com a participação doilustre e destemido Coro Infantil de St.º Amaro de Oeiras)e A Boite do Estoril (que conta com a gentil colaboraçãodesse baluarte do Norte que é Rui Reininho)".

O álbum de que aqui damos notícia é, acimade tudo, um trabalho em que é perceptível

um elevado grau de satisfação criativa,onde se conjugam a audácia e a ale-

gria. Os Eléctricos são musicalmentedestemidos e muitíssimo divertidos.

Saiba-se por fim que o grupo nasceuem Lisboa, em Fevereiro de 2010 eintegra Nuno Faria (contrabaixo),Maria João Silva (voz), Miguel Castro(guitarra), Luís Gaspar (bateria) eAndré Lentilhas (banjo e guitarra

dobro). n

Cantigas de sempre comMovimento e Eléctricos

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Artistas daqui e de agora resolveram regressar ao passado da música ligeira portuguesa. "OsMovimento" e "Os Eléctricos" lançaram trabalhos discográficos com versões de "clássicos" das décadasde 40, 50, 60 e 70 do século XX. Cantigas de sempre com novas "roupagens"

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Boavida|No Palco

Maria Mesquita

Um dilema moral abate-se sobre um homemde classe média que decide, um dia, viajarpara um país pobre e em guerra. Um dosmuitos países que foram invadidos pela sua

pátria (EUA), em nome da "libertação" do povo emdetrimento de qualquer tipo de regime. Confrontado nosilêncio e solidão do seu quarto, onde permanecedurante os confrontos, impõe a questão de saber o erra-do e correcto dos movimentos opressivos, da razão pelaguerra, enquanto um confronto moral, e que banal-mente nos entra em casa pelas variadas notícias inter-nacionais. Marcos Barbosa questiona, igualmente, atéque ponto é que podemos ignorar o sentimento deculpa pelos crimes que a cada minuto se vão come-tendo no Mundo, e que são sem dúvida responsáveispelo nosso estilo de vida. Até que ponto é que cada umdos nossos actos e da nossa forma de viver não sãopeças fundamentais para os conflitos, para os ódios evinganças. De que forma é que podemos dormir à noitese somos nós, os principais carrascos da nossa existên-cia.

FICHA TÉCNICA: Tradução: Jacinto Lucas Pires; Encenação:

Marcos Barbosa; Cenografia: F. Ribeiro; Figurinos: Susana

Abreu; Desenho de luz: Pedro Vieira de Carvalho;

Interpretação: João Reis; Produção Teatro Oficina (Guimarães)

"SANGUE JOVEM" NO TRINDADE

Representada em Junho no CCB, peça "Sangue Jovem",de Peter Asmussen, pode ser vista, agora, de 6 a 16 deOutubro, na sala principal do Trindade.

Encenada por Beatriz Batarda, a peça é uma notávelreflexão sobre a velhice, não no aspecto de decadênciafísica ou de idade, mas sim, a velhice que nenhum denós quer aceitar, aquela que chega porque as nossasvidas ou foram muito preenchidas, com coisas boas emás e, entretanto, houve uma pausa e um término deactividade, ou simplesmente, aquela que nos chegamais depressa quando não soubemos aproveitar a vidacom todo o seu fervor, não a soubemos viver, ponto.Lídia Franco, Elisa Lisboa e Teresa Faria representamtrês mulheres, amigas desde os tempos de infância,todas dentro da casa dos 60 anos, cada uma distinta daoutra, com os seus sonhos e desejos, outra tanta metadede memórias do que fizeram, do que queriam e não con-cretizaram…

FICHA TÉCNICAAutor: Peter Asmussen; Encenação e versão

cénica: Beatriz Batarda; Assistente de encenação: Leonor

Salgueiro; Interpretação: Elisa Lisboa , Lídia Franco, Teresa

Faria, Romeu Costa; Música: Bernardo Sassetti; Cenografia,

adereços, design gráfico: Miguel Dominguez; Figurinos: José

António Tenente; Desenho de luz: Nuno Meira; Sonoplastia:

António Esteves; Fotografia: Rita Carmo; Assistente de

Produção: Cláudia do Vale; Tradução: Ana Campos e Pedro

Porto Fernandes.

"AS LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT"

"As lágrimas amargas de Petra Von Kant", consideradauma das obras-mestras do autor e cineasta RainerWerner Fassbinder, pode ser vista, até 6 de Novembro,na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II.

Levada ao cinema nos anos 70 por Fassbinder, quetantas gerações de realizadores influenciou, surge agoraem palco, noutro contexto social, mantendo, contudo,as mesmas personagens. Poderá ser possível revelar amesma trama sem modificar as características essenci-ais das mulheres que dele fazem parte. No centro da

Da guerra, do amor e da idade maior…"A Febre", monólogo de Wallace Shawn, conhecido autor/actor americano, estará em cena de 19 a 21 deOutubro, com a interpretação de João Reis e encenação de Marcos Barbosa, na Sala Principal do TeatroMunicipal S. Luiz.

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história está Petra, mulher de paixões e talvez, demaiores obsessões. Em seu redor cruzam-se e giram,pelo menos, outras cinco, a mãe Valerie, acriada/amiga/objecto de sadismo Marlene, a filhaGabriele, a prima Sidonie, e, finalmente, talvez a maisimportante, Karin, a jovem aprendiz de modelo, objectode desejo da personagem principal.

Afirmar que esta peça é um drama será porventuraum exagero, mas o seu conteúdo é forte e amargo, a suahistória não é de todo um romance feliz.

FICHA TÉCNICA: Autor: Rainer Werner Fassbinder; Tradução:

Yvette Centeno; Encenação: António Ferreira; Cenografia: Luísa

Bebiano; Figurinos: José António Tenente; Desenho de luz:

José Carlos Gomes; Sonoplastia: Baltazar Gallego; Desenho de

maquilhagem: Nuxa Araújo; Desenho de cabelos: Carlos Gago;

Interpretação: Cláudia Carvalho, Custódia Gallego, Diana

Costa e Silva, Inês Castel-Branco, Isabel Ruth e Paula Mora;

Co-produção TNDM II e ACE / Teatro do Bolhão

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Page 68: Tempo livre - Outubro 2011

AMORES IMAGINÁRIOS

Marie e Francis têm uma

amizade sólida e antiga. Certo

dia conhecem Nicolas, um

jovem recém-chegado. A

atracção de

ambos por este

jovem é tão forte

e obsessiva que

vai pôr em causa

a sua amizade.

Realizado com

elegância e sofisticação,

Amores Imaginários marca o

regresso do jovem prodígio

canadiano Xavier Dolan

depois da estreia bem sucedi-

da com "Como Matei a Minha

Mãe"(2009). Uma banda sono-

ra retro, um cuidado especial

na fotografia, no guarda-roupa

e um estilo único, leva-nos

numa viagem pelos territórios

da paixão e do desejo deste

trio singular. Presente em

inúmeros festivais, incluindo

Cannes 2010, onde arrecadou

prémios importantes, o filme

teve honras de abertura Indy

Lisboa 2011.

TÍTULO ORIGINAL: Les Amours

Imaginaires; REALIZAÇÃO:

Xavier Dolan; COM: Monia

Chokri, Niels Schneider, Xavier

Dolan; Canadá, 95m, Cor, 2010;

EDIÇÃO: Alambique

MAMMUTH

Serge, conhecido por

Mammuth, chegou ao fim de

uma vida de trabalho e à

respectiva reforma. Porém, ao

fazer a inscrição na

Segurança Social descobre

que não tem o conjunto de

requisitos suficiente para

receber a pensão. Tudo indica

que alguns dos seus antigos

patrões não declararam à

Previdência as suas con-

tribuições. Ei-lo, portanto, na

sua motocicleta, numa

viagem em busca das

necessárias declarações de

trabalho…e a sua vida levará

uma grande volta.

Retrato irónico e desen-

cantado da sociedade contem-

porânea, Mammuth é a pro-

posta da dupla de rea -

lizadores

franceses

Gustave de

Kervern e

Benoît

Delépine,

autores, tam-

bém, do argumento. Estreado

no Festival de Berlim de

2010, o filme - num registo de

drama e comédia - assinala o

regresso de Gérard Depardieu

num elenco que conta ainda

com Yolande Moreau e

Isabelle Adjani.

TÍTULO ORIGINAL: Mammuth;

REALIZADOR: Gustave de

Kervern e Benoît Delépine;

COM: Gérard Depardieu,

Yolande Moreau e Isabelle

Adjani; França,92 m, Cor, 2010;

EDIÇÃO: Alambique

DOS HOMENS E DOS DEUSES

Argélia, 1996. Estala a Guerra

Civil no país, com os funda-

mentalistas a semearem o ter-

ror. Nas montanhas argelinas,

um grupo de monges católi-

cos vive em harmonia com a

população local. Porém, ape-

sar da vontade em continuar

a prestar cuidados de saúde à

população e outro tipo de

apoio, esta situação não

durará muito tempo pois

crescem as ameaças à sua

presença em ter-

ritório argelino.

É a história

verídica dos

monges de

Tibhirine, um

drama histórico profunda-

mente ecuménico num apelo

à tolerância e ao respeito cul-

tural . Realizado pelo actor e

rea lizador Xavier Beauvois, o

filme, uma história universal

de coragem, venceu, entre

ou tros prémios e nomeações,

o Prémio especial do Júri em

Cannes 2010, foi aclamado

pela crítica internacional e

tornou-se num improvável

êxito de bilheteira em

França.

TÍTULO ORIGINAL: Des Hommes

et Des Dieux; REALIZAÇÃO:

Xavier Beauvois; COM: Lambert

Wilson, Michael Lonsdale,

Olivier Rabourdin; França, 122

m, cor, 2010; EDIÇÃO: Zon

Lusomundo

MISTÉRIOS DE LISBOA

Na vida de Pedro da Silva,

órfão de um colégio interno à

procura da sua identidade,

dos seus antecedentes da

história da sua família, surge

a figura do padre Dinis que

ele julga ser seu Pai e que se

converte num justiceiro, além

de uma condessa preocupada

com a sua situação e um pira-

ta sanguinário que se torna

num bem sucedido homem

de negócios.

Baseado num dos grandes

romances de Camilo Castelo

Branco, "Mistérios de Lisboa"

(1854) é uma viagem pelo

Portugal do sécu-

lo XIX, que passa

também por

França, Itália e o

Brasil: amores,

traições, duelos e

vinganças marcam a história

deste órfão. Realizado de

forma notável pelo malogrado

realizador chileno Raoul Ruiz,

com argumento de Carlos

Saboga, o filme teve uma

excelente recepção junto do

público português e francês e

constitui um momento alto da

produção cinematográfica

nacional.

TÍTULO ORIGINAL: Mistérios de

Lisboa; REALIZAÇÃO: Raúl Ruiz;

COM: Adriano Luz, Maria João

Bastos e Ricardo Pereira;

Portugal/França, 272 m, cor,

2010; EDIÇÃO: Clap Filmes

No regresso do Outono escolhemos quatro filmes que se distinguem pela sua diversidade e qualidade:do Canadá chega-nos Amores Imaginários; de França o singular Mammuth e Os Homens e os Deuses;finalmente, numa co-produção luso-francesa veio a adaptação ao cinema dum clássico da literaturaportuguesa Mistérios de Lisboa. Sérgio Alves

Amores, Deuses e Mistérios

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

A força do cinemaNada impede ninguém de se enredar no drama de João Canijo sobre (o que é?) o amor incondicional,de se divertir com as aventuras atribuladas de Tintim & Cª, de se atemorizar com a ameaça de um vírusno último trabalho de Soderberg.

Joaquim Diabinho

Muito embora o cinema português possua nãopoucos motivos de interesse (os suficientes,para continuar a ser objecto de enormeapreço e reconhecimento internacionais) e

evidencie uma solidez e qualidades artísticas ímpares oseu futuro não está salvaguardado e corre o risco, sério,de definhar à força da crise global em que o mundo viveno pós-colapso financeiro de 2008.

Nestas circunstâncias, a chamada de atenção para"Sangue do Meu Sangue" é redobrada. Até porque a ousa-dia de Canijo -a de dar corpo a uma história sobre o amorincondicional (quer dizer, "provas" sublimes de abnegaçãoe sacrifício) rumo à felicidade - sai surpreendentementevitoriosa em todos os quadrantes. De excelente visualiza-ção realista, o filme que estreia dia 6 em cerca de uma vin-tena de salas conta com prestações memoráveis de RitaBlanco, Beatriz Batarda, Anabela Moreira, Cleia Almeida,Marcello Urgeghe, Teresa Madruga, Fernando Luís e NunoLopes, entre outros.

Em jeito de nota de rodapé: "O amor mais profundo é" -disse-o e escreveu-o António Lobo Antunes- "o que nãoprecisa de razões para existir ".

COMO É BEM SABIDO, Spielberg já não necessita de especi-ais apresentações. Basta atentar na sua extensa filmografiapara se perceber que o autor desse exemplar raro que é "OResgate do Soldado Ryan" abordou na prática a totalidade

dos géneros tradicionais de Hollywood, fornecendo-lhequase sempre alguns dos títulos maiores da sua glória.Não é pois de estranhar esta incursão aparentementemovida pelo simples gozo (patente no recurso de sofistica-dos meios tecnológicos) a uma das glórias maiores da bdgeradas no velho continente europeu. E, por certo, nãovem nenhum mal ao mundo que Spielberg nos suscite, devez em quando e com a habilidade que se lhe reconhece,nostalgias de outros tempos de adolescência em que omundo cabia por inteiro na palma da mão e era bom so -nhar e ser feliz. Que mais pode o espectador desejar aoassistir, como se recomenda, às "Aventuras de Tintim - OSegredo de Licorne"?

QUE O MUNDO ACTUAL não está para brincadeiras já todoso sabemos. Que outro cineasta também de nome próprioSteven, mas com apelido Soderberg (e com provas de ta -lento dadas, p.ex. no bastante satisfatório, "Traffic"), nosconvoque para uma ficção tipo "série b" centrada pelaenésima vez, é bom que se o diga, num portentoso vírusde progressão rápida que ameaça pulverizar a humanidadenão é de surpreender. A "globalização" do medo materia -lizado no cinema norte-americano não é, como está bem àvista (vidé "Tubarão", de Spielberg), uma novidade de hojee dos tempos que correm. A pertinência de "Contágio" é oque fica subentendido. Catástrofe menos catástrofe, - sejamtsunamis, meteoritos, orcas, abelhas ou, no pior dos casos,carapaus assassinos - o ecrã é janela da natureza humana.Haja paciência. The show must go on! n

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Boavida|Tempo Informático

O passado modernizado

Gil Montalverne [email protected]

Mas os gira-discos avariaram-se e tinham desaparecidodo mercado. Eis que derepente os novos técnicos

do digital descobriram formas de trans-formar as músicas dos discos vinil emficheiros que podem ser gravados e ouvi-dos com qualidade melhorada nos mo -dernos dispositivos de leitura e nos maismodernos computadores. O sucesso foitão grande que vários foram os fabri-cantes como a DENON que lançaramnovos gira-discos onde são colocados osseus vinil favoritos e com toda a facili-dade são convertidos para MP3 com oelegante DP-200USB à venda no nossomercado (www.denon.pt). O softwareincluído permite captar os chamados meta-dados sobreartista, título, etc. das faixas de vinil. Os ficheiros sãogravados através da porta USB frontal onde se pode ligaruma Pen ou um disco externo. Este gira-discos possui asconvencionais saídas estéreo que podem até ser configu-radas por igualização para uma extensa gama dos moder-nos dispositivos.

EXISTEM também os admiradores dos velhos telefonesnos quais os números eram marcados fazendo moveruma pequena roda onde eles estavam indicados. E ti -nham um auscultador com um microfone que se coloca-va num descanso superior e que nessa operação faziadesligar a chamada. Pois para quem se recorde e tenhasaudades de o usar também se encontrou uma solução.Com um design extremamente mo -derno a SAGEMCOM apresenta oSIXTY em branco ou laranja com omesmo tipo de auscultador-micro-fone que custa apenas 99,9 Euros(Cigest:213616310-Desconto de 10%para sócios da Inatel). Mas este é umTelefone sem fios de alcance em

O grande número de pessoas que apesar da adesão às novas tecnologias digitais, conservaram as suasbibliotecas de discos em vinil, sempre desejou que fosse possível voltar a ouvir as velhas músicas ecanções de outros tempos.

interiores até 300 metros, com um marcador que nãoroda mas emite o som de discar quando se carrega natecla dos algarismos ao mesmo tempo que se acendemleds a toda a volta como se ela realmente rodasse. Tematendedor de chamadas, agenda de 150 números,autonomia de 10 horas e vários tons de toque entre osquais o tradicional ring-ring.

NO CASO das video-cassetes VHS, a solução não conseguemelhorar a qualidade como no caso dos discos vinil. Masexistem vários dispositivos de passagem para digital. Desdeque exista no leitor VHS uma saída RCA ou ficha Skartpodemos ligá-lo directamente a um gravador de sala devídeo com essa entrada ou mesmo a um disco Multimédia.Pensando também nos filmes de 8 mm ou super 8, qual-

quer boa loja do ramo converte paradigital. Pessoalmente, aconselhamos aquem tenha uma boa câmara devídeo, filmar a tela durante respectivaprojecção, configurando o tipo de luzartificial. E aqui ficam as dicas paramodernizar as suas relíquias de áudioou vídeo que não quer perder. n

62 TempoLivre | OUT 2011

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Boavida|Ao Volante

Honda Jazz HybridFuncionalidade e baixas emissõesO Jazz Hybrid teve a sua estreia mundial no Salão Automóvel de Paris de 2010, dando assimseguimento ao compromisso contínuo da Honda no desenvolvimento de tecnologias de veículoshíbridos a gasolina-electricidade.

Carlos Blanco

Esta nova versão está disponível juntamente coma nova versão revista do Jazz a gasolina, o queassinala a primeira vez que um veículo híbridoparalelo está disponível para os clientes do seg-

mento B. Um facto muito importante, o Jazz Hybrid nãoperdeu nenhuma das funcionalidades do veículo conven-cional, com a natureza compacta do sistema IMA daHonda a permitir que esta proposta do segmento B man-tenha os seus "Bancos Mágicos" ultra-flexíveis e 300 litrosde capacidade de espaço da bagageira.

O conjunto de baterias e a unidade de controlo do sis-tema IMA foram integrados numa área sob o piso dabagageira, mantendo o espaço normal da bagageira e per-mitindo rebater os "Bancos Mágicos" da mesma maneiraque nas versões não-híbridas. O sistema híbrido IMA épartilhado com os modelos Insight e CR-Z, tirando partidoda comprovada fiabilidade desta impor-tante tecnologia. Com quase duasdécadas de desenvolvimento e 10 anosde vendas acumuladas, o sistema IMAda Honda já demonstrou ser um sis-tema de confiança.

Este novo modelo está equipado como mesmo sistema híbrido do modeloInsight, utilizando a mesma combi-nação de motor 1.3 litros i-VTEC e motor eléctrico. NoJazz, o sistema IMA está combinado com uma transmissãoCVT, originando emissões de apenas 104 g/km* de CO2,um dos valores de CO2 mais baixos entre os veículos detransmissão automática do segmento B. O consumo decombustível é de apenas 4,5 L/100 km, no ciclo urbanocombinado. Sendo um híbrido a gasolina-electricidade,esta nova derivação também apresenta níveis ultra-baixosnas outras emissões de escape e não apenas nas emissõessujeitas a impostos.

Visualmente, o Jazz Hybrid distingue-se do resto da suagama pelos faróis revistos e que incorporam molduras cro-

madas azuis, pelas luzes traseiras transparentes, novagrelha dianteira cromada em azul, novo estilo de pára-choques e guarnição cromada da porta da bagageira. Estenovo híbrido estará disponível numa gama variada decores, para além do verde metalizado lima disponível por

encomenda.No interior do habitáculo, temos um

visual refrescante, com o tablier maisescuro a uma cor, em forte contrastecom a iluminação azul dos mostradorese da consola central. O tablier apresen-ta uma versão da função de Assistênciaà Condução Ecológica, que recorre àiluminação ambiente do velocímetro

para aconselhar o condutor relativamente ao impacto queo seu estilo de condução tem sobre os consumos de com-bustível. A função de Assistência à Condução Ecológicaauxilia o condutor a obter a máxima economia em todasas situações de condução.

Mantendo o cariz único do modelo inalterável, a gamacompleta de Acessórios Genuínos realça ainda mais ocarácter híbrido do Jazz. O condutor pode personalizar oseu carro de acordo com o seu gosto pessoal. O sistema denavegação integrado, o kit mãos livres Bluetooth® e o sis-tema de entretenimento traseiro oferecem conforto tec-nológico adicional. n

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Page 72: Tempo livre - Outubro 2011

Boavida|Saúde

O que é a hipoglicémia?Em linguagem médica, a hipoglicémia pode ser definida pela tríade de Whipple: glicémia(isto é, a concentração de açúcar no sangue) inferior a 50mg/dl + sintomas associados àdiminuição da concentração sanguínea de glicose + reversão ou melhoria desses sintomascom a elevação da glicémia.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Na prática, consideramos que uma pessoa estáem hipoglicémia logo quando a concentraçãode açúcar no sangue é inferior a 70mg/dl.Convém esclarecer que este valor não é um

valor absoluto. Um adulto saudável pode tolerar va -lores de glicémia inferiores a 50mg/dl sem referirqualquer sintomatologia, enquanto que umdoente diabético, com glicémias habi -tualmente elevadas, pode ficar comsintomatologia exuberante comvalores de glicémia consideradosnormais.

Porque é que é assim tãoimportante manter a concentraçãode açúcar no sangue acima dosvalores referidos? Porque a gli-cose (açúcar) é a principal fontede energia das células do cére-bro. As reservas de glicose docérebro esgotam-se em dois mi -nutos, se lhes faltar o forneci-mento através do sangue. Amanutenção do metabolismocerebral requer a presença cons -tante de açúcar no sangue.

A falta de fornecimento de açú-car ao cérebro, se for grave e prolon-gada, pode causar lesões cerebraisirreversíveis e mesmo a morte.

Dependendo de cada pessoa, ossintomas da hipoglicémia podem ser:sensação de fraqueza, suores,tremores, palpitações, formigueiros,dores de cabeça e sensação de cabeçavazia, nervosismo ou irritabilidade econfusão. Cada doente diabético temo seu próprio padrão de sintomas, peloque deve estar atento quando elessurgirem.

O melhor tratamento para a hipoglicémia é a sua pre-venção: todas as pessoas, e os diabéticos em particular,não devem saltar refeições, não devem fazer exercíciofísico despropositadamente mais exigente do que ohabitual e de um momento para o outro, devem

respeitar rigorosamente as doses e o horário damedicamentação anti-diabética e não devem

consumir bebidas alcoólicas em excesso.Se é diabético e suspeitar que está aentrar em hipoglicémia, o mais cor-recto é verificar o nível de glicémiacom teste rápido (picada nodedo). Se isso não for possível,actuar imediatamente e em con-formidade com umahipoglicémia: ingerir doispacotes de açúcar. Se os sin-tomas não desaparecerem, poderepetir este procedimento até sesentir melhor. Se isso não aconte-cer, deve ligar para o 112.

Se melhorar, procure fazer umapequena refeição à base de açú-cares de absorção lenta, como porexemplo o pão.

Se é um doente diabético, devetrazer sempre consigo alguns

pacotes de açúcar, bem como umdocumento que o identifique como

diabético. Os familiares próximos e osamigos devem saber o que é umahipoglicémia e como lidar com ela.

Fale com o seu médico assistentesobre a necessidade de ter em casa e notrabalho uma injecção de glucagon, umahormona que aumenta o açúcar nosangue. Se ele estiver acordo, certifique-se que os seus colegas e familiares direc-tos sabem como e quando administrá-la e

respeite o prazo de validade do medica-mento. n

64 TempoLivre | OUT 2011 ANDRÉ LETRIA

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Page 73: Tempo livre - Outubro 2011

Boavida|Palavras da Lei

? Celebrei um empréstimo bancário

para compra de um imóvel,

aquando do meu casamento. As

condições do empréstimo foram fixadas

por contrato, uma das quais o "spread".

Acontece que me divorciei e comuniquei

esse facto ao meu banco, que me

alterou o "spread"unilateralmente, por

causa do divórcio. Podem fazer essa

alteração?

Sócio devidamente identificado -

Barreiro

Pedro Baptista-Bastos

Esta importante questão do nosso sócio, queincide sobre uma situação que abrange muitoscasais, foi recentemente regulada pelo Banco dePortugal.

Há um Código de Conduta da Banca, que determinaque pode haver lugar à alteração dos "spreads" bancáriosunilateralmente, se houver, em primeiro lugar, umacláusula que determine este acto. Se, no seu contrato,não houver esta cláusula, a alteração unilateral é ilegal.

Porém, se houver esta cláusula no seu contrato, aalteração unilateral do "spread" só pode ser realizada sehouver lugar a uma de duas previsões legais: uma"razão atendível" ou a uma "variação de mercado".Estes conceitos são gerais e indeterminados, mas oBanco de Portugal determina que, havendo um casodestes, o Banco é obrigado a especificar e concretizarcaso a caso os elementos, situações, factos e ocorrên-

cias da nossa vida que possam ser, por exemplo, uma"razão atendível".

Se o nosso leitor não tiver recebido uma carta doBanco, que descreva e analise os factos da sua vida pes-soal e financeira que possam motivar essa alteração, amesma é ilegal. Por outro lado, caso tenha enviado, aindaassim, essa carta, o Banco é obrigado a, havendo umaalteração posterior dessas "razões atendíveis", a recolocaro "spread" no seu valor inicial do contrato.

Recebendo a carta, o leitor disporá de 90 dias pararesponder ao Banco e mesmo extinguir o contrato, medi-ante resolução contratual. Se quiser resolver o contrato, aBanca não pode cobrar-lhe comissões extraordináriassobre esse acto.

Assim, se o nosso leitor não tiver essa cláusula contra -tual, não tiver recebido a carta do Banco, e mantiver acapacidade económica de pagar as prestações bancáriasapós o divórcio, por si próprio, o banco não pode alterar o"spread" bancário, por ser manifestamente ilegal. n

Alteração de “spread”em contrato bancário

OUT 2011 | TempoLivre 65

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Page 74: Tempo livre - Outubro 2011

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 30Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

(horizontais): 1-OPERA; AOS; ORMUZ. 2-RIME; F; T; A; OURO. 3-ASA; PICANTE; AAR. 4-RA; R; CARIE; M; IR. 5-ARCADA; I; IMENSA.6-S; UPA; COR; ODE; S. 7-TRI; DR; ATAÍDE. 8-CANTEI; UM; CIO. 9-C; DAI; AAL; VIA; U. 10-OCORRA; C; DENSAS. 11- MA; A; MIADO;A; NU. 12-ERA; GUARIDA; MOR. 13-ROIA; O; O; O; META.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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N.º 30 SOLUÇÕES

Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Produção dramática, em que a música e a poe-sia se reúnem; Adjunção da preposição a e do artigo o (plural);Ilha à entrada do Golfo Pérsico, conquistada por Afonso deAlbuquerque, em 1507. 2-Concorde; Dinheiro. 3-Alça; Acre;Rio da Suíça. 4-Personificação do deus do Sol, na mitologiaegípcia; Caruncho; Chegar. 5-Abóbada; Desdemida. 6-Salto;Aspecto; Hino. 7-Elemento de composição, que traduz a ideiade três; Doutor (abrev.); Nome masculino. 8-Celebrei;Indivisível; Lua. 9-Apresentai; Filósofo norueguês (1867-1943)(apelido); Curso. 10-Acuda; Bastas. 11-Madrasta; Mio; Singelo.12-Número; Agasalho; Motivo. 13-Minava; Alvo.

VERTICAIS: 1-Rogaras; Acreditar. 2-Atropelar; TribunalConstitucional (sigla); Amigo. 3-Avestruz; Passado; Acolá. 4-Raia; Arrebatara. 5- Contracção de preposição e artigo;Transportes internacionais rodoviários. 6-Está; Preposição;Agastamento. 7-Cálcio (s.q.); Criação; Abalava. 8-Trouxa;Oução. 9-Niquel (s.q.); Nome de homem; Quinhentos e um(romano). 10-Cingi; Túlio (s.q.); Peso equivalente a sete arrá-teis, na ex-Índia Portuguesa. 11-Aflija; Acha. 12-Letra grega;Aviso. 13-Mula; Anafadas; Pronome pessoal, da 1.ª pessoa dosingular. 14-Cordilheira entre a Europa e a Ásia; Orçamento doEstado (invertido); Casca (invertido). 15-Rameiras; Ágio.

66 TempoLivre | OUT 2011

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Page 75: Tempo livre - Outubro 2011

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Page 76: Tempo livre - Outubro 2011

ARCÁDIA

POLÍCIAS À PORTUGUESA -

TAKE 2

Fernando Contumélias e

Mário Contumélias

O estado das

diferentes

forças

policiais é

abordado

através de

testemunhos de pessoas que

dedicaram a vida à defesa do

país, registando os

sacrifícios e as interferências

na vida familiar e muitos

outros aspectos do dia-a-dia

de um polícia.

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DE BADAJOZ

EL TRIUNFO DE LOS

AVENTUREROS

Opinión e información: La

emancipación

hispanoamericana en la

retina luso-brasileña

(1807-1828)

Nuno Miguel Rodrigues

Tavares e Fernando Serrano

Mangas

Editada em espanhol, a obra

da colecção história aborda

as relações entre as

monarquias

Ibéricas e as

respectivas

influências

políticas,

económicas e

sociais além fronteiras,

incluindo a proximidade

entre as famílias Bourbon e

Bragança.

EDIÇÃO DE AUTOR

GRANDES VULTOS E

REALIZAÇÕES DA

HUMANIDADE

Para compreender o

percurso do homem ao

longo da história

António Catita

Um ensaio no domínio da

história e

sociologia que

revela a

evolução do

Homem ao

longo dos

tempos e a

forma como este superou os

obstáculos da vida.

EDITORIAL PRESENÇA

CONTIGO PARA SEMPRE

Takuji Ichikawa

Mio morre aos 29 anos e

deixa o marido Takumi e o

filho Yuji de 5 anos. Certo dia

quando estes passeiam pelo

bosque reencontram-na

confusa e sem memória e,

enquanto Mio quer saber o

que

esqueceu, o

seu marido

conta-lhe a

sua história

à medida que

procura respostas para a sua

reaparição. Um romance

mágico que inspirou um

filme, uma série de TV e uma

banda desenhada.

A DELICADEZA

David Foenkinos

Nathalie e François podiam

ser personagens de um conto

de fadas.

Desde que

se

conheceram

a sua relação

irradia uma

felicidade

sem mácula. Mas o que o

autor oferece, neste romance,

ultrapassa o clássico girl

meets boy e, numa análise

séria, explora o lado lúdico

das relações humanas.

UMA MULHER DE SONHO

Fern Michaels

A história de Rosie Gardener,

uma mulher com excesso de

peso já nos trinta que foi

seduzida por

Kent, um

mulherengo

com quem

acaba por

casar,

ignorando os avisos da melhor

amiga. O desastre e a

humilhação confirma-se ao

longo de três dolorosos anos,

mas quando Rosie reúne

coragem e força para o

mandar o marido embora, eis

que ganha 302 milhões de

dólares na lotaria…

A BOLSA PARA INICIADOS

Fernando Braga de Matos

Conceitos e noções básicas

para compreender o

mercado e o comportamento

dos produtos financeiros.

Progressivamente, o leitor

conhecerá

tácticas e

estratégias

para entrar na

bolsa com a

cautela

necessária para evitar perdas

e optimizar os ganhos.

EUROPA - AMÉRICA

SEGREDOS E PRÁTICAS DA

MAÇONARIA

Jean-Louis de Biasi 32º

Descubra os mistérios da

Maçonaria através da visão

cândida e

pormenorizada

do maçon do

32º grau e

incorpore os

seus rituais e

ensinamentos altamente

influentes.

A NÁUSEA

Jean-Paul Sartre

O primeiro romance de

Sartre, um dos maiores vultos

da filosofia existencialista,

nascido em Paris 1905, que

através do diário íntimo de

Antoine Roquentin retrata

com realismo a vida dos

habitantes duma cidade da

província, explorando o

absurdo da condição

humana,

tema que

mais tarde o

tornaria uma

figura

incontornável.

ClubeTempoLivre > Novos livros

68 TempoLivre | OUT 2011

68e69_NL:sumario 154_novo.qxd 26-09-2011 12:35 Page 76

Page 77: Tempo livre - Outubro 2011

125 TRUQUES PARA

EMAGRECER E MANTER A

FORMA

Jean-Marie Marineau

Conselhos para

transformar um

emagrecimento

penoso em

episódio

agradável,

graças às recomendações do

autor, um especialista em

nutrição e tratamento da

obesidade.

GRUNXO E RONCÃO -

PIPOCAS NOJENTAS

Tracey Corderoy

Grunxo e Roncão são trolls

nojentos que guardam em

frascos os

macacos que

tiram dos

narigões,

comem queijo

bolorento e

nunca tomam banho.

Desfrute das suas aventuras

no cinema, no encontro com

um monstro terrível e

quando estes levam para a

escola ratazanas.

O VERDADEIRO TESOURO

DOS TEMPLÁRIOS

Jacques Rolland

Um exame minucioso à

Ordem do Templo confirma a

existência de um Tesouro

dos Templários. Este ensaio

revela o

simbolismo do

Tesouro e as

pistas que nos

conduzem ao

Graal, bem

como explica como o

fenómeno surgiu em França

e tentou, por todos os meios,

enraizar-se no oriente.

PAULUS EDITORA

ORAR 15 DIAS COM SÃO

DOMINGOS

Alain Quilici

Um roteiro de oração e

acompanhamento espiritual

para 15 dias, que apresenta

a vida e riqueza doutrinal e

espiritual de São Domingos

(1170-1221), fundador da

Ordem dos Pregadores

(Dominicanos).

O MEU LIVRO DE

ACTIVIDADES DA BÍBLIA

Bethan James

Um álbum

ilustrado e

interactivo

para as

crianças

explorarem e

aprenderem com a Bíblia.

Inclui diversas actividades,

jogos e imagens para colorir.

Glória Lambelho

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Page 78: Tempo livre - Outubro 2011

ClubeTempoLivre > Cartaz

BEJA

Musica: dias 15 e 16 -

Master Class em Trompa de

Harmonia e Trompete, no

Conservatório Regional do

Baixo Alentejo, em Beja.

Workshop: dias 21, 22, 29 e

30 - Encenação e Formação de

Actores em Vila Nova de São

Bento, em Serpa, inscrições

na Agência Inatel em Beja

COIMBRA

Música: dia 29 às 21h30 -

Concerto Dixie Gringos Jazz

Band no Auditório Municipal

de Penela.

Escola: estão abertas

inscrições para aulas de

música diurnas e nocturnas,

na Agência Inatel.

ÉVORA

Workshop: até ao dia 24 de

Novembro - Artes Visuais:

Introdução às Artes

Plásticas, no Palácio do

Barrocal, em Évora,

inscrições na Agência de

Évora.

Curso: Até Janeiro 2012

decorre curso de

Instrumentos Tradicionais:

Gaita-de-Beiços no Palácio

Barrocal em Évora

GUARDA

Formação: dia 29 e 30 -

Laboratório "Dos Materiais à

Construção do Espectáculo"

no Paço da Cultura, Guarda

(inscrições até ao dia 19); dia

29 - Iniciação à Prova de

Vinhos na Adega Coop. de

Vila Nova de Tázem

(inscrições até ao dia 21)

Teatro: dia 15 às 21h30 -

peça "A vingança de Antero"

pelo Grupo Ultimacto, no

Cine Teatro S. Luís, em

Pinhel.

Vídeo: até ao dia 28 decorre

concurso de vídeo na

Agência INATEL

PORTALEGRE

Curso: Até Dezembro

decorre curso de Bordados

Tradicionais na Agência

Inatel.

70_Cartaz:sumario 154_novo.qxd 26-09-2011 12:37 Page 78

Page 79: Tempo livre - Outubro 2011

Caminhamos, no entardecer, em sentidos opostos,ao encontro um do outro: ele, apressado, comoquem tem a certeza de que algo de importante, oualguém, o aguarda no final do percurso; eu, lenta,

como que evitando inconscientemente chegar onde querque seja, na certeza de que nada, nem ninguém, lá estará aaguardar-me.

Olhos postos nas pedrinhas polidas do passeio estreito,avança, aparentemente absorto em dirimir um qualquerconflito interior, que se reflecte na forma como, ritmada-mente, vai batendo com um jornal, ou papel enrolado, naperna direita da calça.

Sem outro centro de interesse na breve rua deserta, dis-traio-me a calcular qual será o ponto de intersecção dosnossos percursos, tendo em conta a diferença das respecti-vas velocidades. E lá chegados: quem descerá do passeio,para dar passagem ao outro? Ele, jovem e cavalheiro (?), oueu, para quem descer os quinze centímetros do passeioconstitui um desporto radical?

De súbito, ei-lo, estacado na minha frente, a mão direitasuspensa a meio desenhar de um gesto. Nos olhos que, coma expressividade dos olhos de um crocodilo adormecido,mergulham directos nos meus não há sinal de reconheci-mento. Não estou preparada para lutar pela prioridade. Omeu pé direito já paira sobre o abismo do passeio quando,abruptamente, pergunta: - Oiça lá: o que é que quer dizermesmo “apocrífo”?

Pronuncia “apocrífo”, em vez de “apócrifo”. Paralisada pela surpresa, sinto o cérebro debitar pergun-

tas e respostas à mesma velocidade, e quase com o mesmoruído, com que as máquinas do Casino entregam o jackpot:Conheço-o? Não! Respondo? Melhor não! Nem a longavida, nem longos estudos me prepararam para o insólito dasituação. A resposta demora demasiado para a sua impa-ciência. - Ora! Também não sabe! Eu digo ao “gajo” quem éo “apocrífo”!

Contorna-me pelo lado de fora do passeio, e prossegue oseu caminho.

À sombra protectora dos livros, respondo. Ler-me-á?

Não creio. Mesmo assim, respondo.Etimologicamente, o termo apócrifo tem a sua origem no

adjectivo grego apokryphos, “oculto”, através do latim tar-dio apocriphus, com o sentido de “secreto e não canónico”.Usado inicialmente como termo do léxico eclesiástico, soba forma do plural neutro apocripha, referia-se então a livrosda Sagrada Escritura que, por demasiado preciosos, ou pormenos bons, heréticos ou de autenticidade duvidosa, erammantidos ocultos e apenas acessíveis a um círculo esotéri-co de crentes.

No século V, S. Jerónimo restringe o campo semânticode Apocripha, com que passa a designar apenas certoslivros que, não obstante se encontrarem incluídos naSeptuaginta (primeira tradução para grego do AntigoTestamento hebraico, efectuada por setenta rabinos, dondea sua designação), não figuravam no texto original, e que,por falsos, o santo tradutor, meu colega e padroeiro, elimi-na da sua tradução da Bíblia para latim.

Aceite igualmente (1520) pelo teólogo alemão protes-tante Karlstadt a designação de Apocripha para esses livros,Martinho Lutero também não os inclui no AntigoTestamento da sua versão alemã da Bíblia (1534), masreúne-os num suplemento, sob o título; “Apocripha; isto é,livros que, muito embora não considerados iguais àSagrada Escritura, são úteis e é bom ler”.

No Concílio de Trento (1545-63), a Igreja católica, quesempre considerou esses textos autênticos, dá ao conjuntodos ex-Apocripha a designação oficial de “Deuteronómio”,“Segunda lei, com igual autoridade”.

Ultrapassando as fronteiras do léxico eclesiástico, apó-crifo entrou no léxico nacional comum, sem nada ter per-dido da sua original conotação negativa.

Apócrifo é agora: o que não é autêntico ou cuja autenti-cidade não foi provada; cuja autoria não é conhecida ou éincerta; que não é do autor a que se atribui; espúrio, duvi-doso, suspeito, falso.

Razão tinha, de facto, o jovem que não queria ser apó-crifo. Da propriedade ou não propriedade do agravo… só aele cabe julgar. n

Para um jovem que não queria ser apócrifo[…] Numa rua encontramos o sorriso de um desconhecido / e logo nos sentamos numa pedra para vermos / as mar-cas deixadas sobre a erva, / e também o teu rosto que na penumbra fica à espera, / amigo, irmão, da palavra quenos salve. Porfírio Mamani Macedo, in: “La Palabra”, Paris, 2004. Trad.: MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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Regressando da varanda para a sala, Tomástrazia o nariz franzido. - Acho que vaicho ver - disse. Ocupada na leitura de umarevista especializada em amores e desa-

mores de celebridades, Márcia ripostou sem levan-tar os olhos: -Então não chove. Tu nunca acertas.Ele não respondeu, logo, logo. Deu quatro passadase foi interessar-se pelo periquito a debicar na gaiola.Depois é que voltou à conversa:- Não acerto, em quê?- Em coisa nenhuma. - Mas não me interrompas,deixa-me ler em paz.- Em coisa nenhuma? - Sem que o pretendesse, otom de voz revelou irritação. - Estás a chamar-meestúpido?- Tu é que disseste.- E é assim que me consideras, Márcia? Um estúpi-do? Vá explica-te.Subitamente exasperada ela atirou a revista para otampo da mesinha da sala, derrubando a jarra ondese expunham três rosas de plástico.- Vês? Por tua causa. Não há pachorra, uma pessoaquer sossego e vens tu com conversas de parvo.- Agora sou parvo? Bolas, só disse que vai chover.- Portanto, não chove, acho eu. A mania que tu tensde perceber de tudo, até de meteorologia.-Essa é boa. Basta olhar para a escuridão das nuvens.Até tu compreenderias isso.-Até eu?- Até tu.- Queres dizer que sou atrasada mental?- Se ouviste isso foi da tua boca. - Tentou um sorrisoapaziguador mas veio acompanhado por palavrasríspidas: -Aposto que vai chover.Ela levantou-se do sofá e disparou na direcção dacozinha. Não sem replicar, esganiçada:- Em que apostava era que não existia à face da terraoutro homem tão chato como tu. Saíste á mãe.O rosto de Tomás crispou-se:- Á mãe? Que estás a insinuar acerca da minha mãe?Retrocedendo no trajecto, Márcia espetou no ar umdedo indicador e disparou:- Eu não insinuo, falo claro. Logo me havia de calhara sogra mais embirrante que já se viu.

- Cuidado - disse ele com ira na voz. - Não te admi-to ofensas à minha mãe.- Não admites? Mas quem és tu para admitires oudeixares de admitir? A tua mãe é uma melga insu-portável e ponto final.Por uns segundos, ele permaneceu em silêncio,como se quisesse parar com o vento. Não conseguiu:- Olha, Márcia, a educação impede-me de dizer oque penso sobre o teu pai, a tua mãe e a tua irmã.- O quê? Que tens tu a dizer da minha família? - Osolhos faiscavam e elevou a voz: -Vá, desembucha,concretiza. Sim, tu é que és especialista em insi-nuações, como todos os cobardes.- Alto lá e dobra a língua. Cobarde, eu? Márcia, nãoconfundas cobardia com tolerância e delicadeza.- Tolerância? Delicadeza? Não me faças rir! - retru-cou ela, rindo-se.- Exactamente - persistiu Tomás e as palavras soa-vam secas como golpes de chicote. Só por tolerânciae delicadeza não digo que o teu pai é um bêbado tra-fulha, a tua mãe uma intriguista perversa, e a mani -nha… enfim, estamos conversados.- Ai não estamos, não! Conclui, que tens tu a dizerda minha irmã?Recusando o desafio, ele reaproximou-se da gaiola edisse:- Vou libertar esta pobre ave, detesto ter um prisio-neiro na minha casa. - Esboçou o gesto de soltar operiquito e para ele falou em tom cúmplice: - Podescantar amigo, mal passe a chuvada que vem aí epodes bater as asas.- Não te atrevas - gritou Márcia. - O periquito é meu.Oferta da minha irmã.- Cá vem outra vez a irmã…- Sussurrou Tomássubindo os ombros.- Incomodo-te? O que tens a dizer da Olga?- Nada, nada.- Mas tenho eu - encrespou-se Márcia. - Bem vejo osolhos libidinosos que lhe deitas…- Libidinosos? Eh lá!- Sim, a gula com que lhe espreitas os decotes ecomo te babas ao observar as pernas dela. Julgas quesou cega? Por tua vontade já lhe tinhas saltado emcima e eu bem sei quando essa tara começou.- Tara? E começou o quê? Endoideceste? Meu Deus!

Palavra puxa palavra

72 TempoLivre | OUT 2011 ANDRÉ LETRIA

Os contos do

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Agora vens tu insinuar que ando derretido pelaOlga?- Qual insinuar qual carapuça! E sabes quandocomeçaste a vê-la com olhos de cobiça? Sabes, claroque sabes.- Não sei e nada é claro excepto de que precisas deassistência. Um psicólogo, um psiquiatra, um bruxo,sei lá.- Cala-te, Tomás, eu percebo tudo. E tive culpa. Fuieu que te convenci a irmos ao cinema e deixarmos aOlga e o namorado cá em casa, à vontade.- Namorado? Qual deles?- O que ela tinha na altura e parecia ser coisa séria.A partir daí, tu passaste a mirá-la de modo diferen-te. Ui, quando foste vistoriar a nossa cama e soubes-te que eles se tinham lá deitado, a Olga deixou de sera cunhadinha juvenil e tornou-se a mulher comquem desejarias atraiçoar-me. Confessa, Tomás, con-fessa!Márcia anda às voltas em torno da mesa de jantar,Tomás sentou-se e tem os braços levantados comonum protesto ou súplica de ajuda divina.- Confesso que estou assustado - disse ele. - Tudo oque dizes é uma fantasia delirante. Bom, se eu nãotivesse melhor cabeça, há muito terias ouvido umasverdades.- Verdades? Da tua boca?- Sim, verdades, factos. Por exemplo: não achomuito decente a forma como te enganchas noGuilherme.- Enganchas? Abraço-o, simplesmente, é o teu maior

amigo!- Pois, e também a Olga é a minha querida cunhada.Márcia tem as duas mãos espalmadas nas facesquando diz:- Calma, calma, Tomás, isto agora tem de ficar bemesclarecido. Pensas, realmente, que existe algumaindecência na minha relação com o Guilherme?- Em princípio, não.- Em princípio?!- Pois, que eu tenha visto, o máximo foi sentares-teno colo dele.- Numa brincadeira! Com o à vontade e a confiançaque temos os três! Eu é que te apanhei a apalpar ascoxas da Olga, ouviste agora?- O quê? Isso? Foi com o à-vontade e a confiança quetínhamos os três. Nunca esperei ser mal interpreta-do.Novo silêncio, desta vez mais prolongado, atéMárcia atirar a pedra maior:- Acabou.- Tens razão - disse Guilherme. - Esta conversa jácansa.Ela tem os dedos entrelaçados e aspira pelas narinasdilatadas todo o ar possível, antes da explicaçãodefinitiva:- Acabou tudo, já não te suporto. Quero-te fora daminha vida.Tomás perplexo:-Falas a sério?- Totalmente. E já hoje, se fazes o favor.O homem gesticula antes de abrir a boca, ela pensouque se seguiria um protesto ou um apelo à reconci-liação, mas o que ouviu foi:- Obrigado, Márcia, nem imaginas quanto te agra-deço. Fiquei a saber que estavas farta de mim e per-cebeste como me era penosa a tua companhia. Quebeleza, esta mútua libertação! Aí vou eu.Dirige-se para o quarto em passo de corrida, nãotarda até reaparecer com duas malas e gabardinapendurada no ombro.- Adeus, Márcia.- Passa bem.Não é tudo. Tomás detém-se na porta da sala onde sedestaca a gaiola, abre-a, retira o periquito com todosos cuidados e vai lançá-lo pela janela. Murmura:- Segue, amigo, hoje é o nosso dia.Na rua, carregando as malas, não resiste a um sorri-so triunfal:- Eu tinha razão. Está a chover. n

OUT 2011 | TempoLivre 73

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Diz que Woody Allen, o realizador ameri-cano mais amado na Europa que nosEstados Unidos, o grande autor deManhattan, depois de filmar uma decla-

ração de amor à cidade de Paris, a sua última pelí-cula, estreada em Cannes, vai rodar o seu próximofilme em Lisboa.

A notícia ainda não está confirmada, mas équase certa. Eu, pelo menos, já o convidei e contoque me responda em breve. Mandei-lhe ontemuma mensagem pelo Facebook, com umas ideiaspara uma comédia romântica, ou um musical (eleadora musicais e já não faz um há muitos anos), eagora, é esperar.

Posso entretanto adiantar que o novo filme deWoody Allen vai contar a história de um camonesaxofonista, músico de jazz, que vem tocar ao festi-val do Estoril. Lá toca e, no dia seguinte, antes deregressar aos States, vão-lhe mostrar a Torre deBelém, o Museu do Azulejo, a Baixa, o Chiado e tal(o cicerone pode ser José Hermano Saraiva, que iriacontando umas histórias, a propósito dos locais),até que entra na Ginjinha do Rossio, para provarum copinho.

Está a bebê-lo, com elas, quando leva umencontrão de um guarda-freio dos famosos eléctri-cos alfacinhas (uma fita em Lisboa não é fita sem osamarelos) e entorna o xarope sobre o decote gene-roso de uma fadista (Mariza está um pouco magrapara o papel, mas isso não será problema, com cer-teza). O homem da Carris (talvez Diogo Infante, deboné, porque fala bem inglês) pede desculpa aosaxofonista americano e, num gesto hospitaleiro,oferece-lhe um pré-comprado para ele fazer umaviagem grátis no 28 e ver a Sé, os Prazeres, oLimoeiro, etc.

Entretanto, o músico tenta limpar os estragoscausados na blusa da fadista e apaixonam-se. Nodia seguinte, o da partida, fazem juntos o percursodo eléctrico, com ela sempre a cantar Um Homemna Cidade, mais uns diálogos que o Woody escre-verá com uma perna às costas, e o músico esquece-se do instrumento no eléctrico, mas só dá por issojá no aeroporto, quando está a despedir-se do seu

grande amor, que disfarça a dor, cantando mais umbocadinho. Portanto, tem de cá ficar mais um dia eir aos perdidos e achados da Carris, ali aos Olivais,onde é muito bem recebido, recupera o saxofone eainda leva de brinde um molho de chaves e umchapéu-de-chuva, embora seja Verão. Vai estreá-loaos vulcões de água do Parque das Nações e fica tãoencantado com a vista sobre o Tejo e o centrocomercial Vasco da Gama (um dos possíveis patro-cinadores) que resolve ficar a viver em Portugalcom a fadista, a qual fica radiante e canta osCaracóis, são caracolitos.

O filme pode acabar com ele a tocar saxofone nabanda residente do talk-show de Bruno Nogueira(não falei com o Bruno, mas não se deve importar),que nesse dia entrevista em americano a lindaDaniela Ruah. Ficha técnica a preto e branco, sobremúsica de Bernardo Sassetti (o Woody gosta deumas swingadas nos genéricos) e está feito.

Agora aguardo a resposta, sem grande ansiedade,ciente de que um tipo tão produtivo deve ir pouco aoseu mural. Ser habitué do Facebook exige algumtempo livre e o Woody para criar tanto quanto crianão deve passar lá horas a ler apelos para adoptaranimaizinhos, citações de Oscar Wilde (e de WoodyAllen, já agora), nem a ver fotografias das férias emMarrocos da família Sousa, ou do limoeiro que aConceição tinha em casa dos pais (o leitor não con-hece a Conceição? Peça-lhe que o adicione comoamigo e vai ver como são bonitos os seus limões).Portanto, espero serenamente que o realizador mepeça pormenores, para começar a tratar da logística,falar com a Carris para emprestar um eléctrico, coma Ginjinha do Rossio para fornecer uma garrafa, como Teatro nacional para ceder o Diogo Infante, etc.

Não ponho sequer a hipótese de Woody Allennão aceitar a ideia. Nos últimos filmes foi deLondres para Barcelona, de Barcelona para Paris,porque não viria agora rodar uma fita na nossacapital, uma cidade tão boa para fitas? O único pro-blema que vejo é mesmo ele querer que MariaCavaco Silva faça uma perninha no filme. No MeiaNoite em Paris, aparece a Carla Bruni... Mas tudo seconversa. Pensar positivo, vá. n

Woody Allen filma em Lisboa

Crónica

AntónioCosta Santos

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