Terapia cognitivo-comportamental e disfunções psicofisiológicas
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1Psicólogo. Supervisor Clínico do Curso de Especialização em Medicina Comportamental da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP; Supervisor Clínico do Curso de Aprimoramento em TCC do AMBAN-IPQ-HCFMUSP; Coordenador do Setor de Psicologia da Saúde do Instituto de Doenças Neurológicas de São Paulo – Hospital Beneficência Portuguesa.
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NEVES NETO, A.R. Terapia Cognitivo-Comportamental e Disfunções Psicofisiológicas. In:
BRANDÃO, M.Z.S. e cols. (orgs.). Sobre Comportamento e Cognição: Clínica, Pesquisa e
Aplicação. Vol. 12, Cap. 06, pp. 76-86, Santo André: Esetec, 2003.
Terapia Cognitivo-Comportamental e Disfunções Psicofisiológicas
Armando Ribeiro das Neves Neto1
E-mail: [email protected]
Atualmente há uma crescente busca por tratamentos eficazes para as
condições orgânicas que estão associadas aos diversos fatores psicológicos e
sociais. A utilização de Terapia Cognitivo-Comportamental para intervenção nas
disfunções psicofisiológicas apresenta uma relação custo-benefício satisfatória,
além de poder ser uma nova opção nas práticas de manejo de doenças, em que
se adota um meio mais natural e completo de cuidado (Neves Neto, 2003; 2002;
2001; Trask e cols., 2002).
Os centros de saúde vêm aos poucos incorporando as Recomendações do
Centro para o Avanço da Saúde dos EUA (Anexo 1), por apresentar uma visão
holística de saúde e doença, condizente com o próprio conceito de saúde da
Organização Mundial da Saúde (Anexo 2).
O que são Disfunções Psicofisiológicas?
A associação etiológica das doenças orgânicas (somáticas) aos fatores
psicossociais (psíquicos, comportamentais, ambientais e culturais) há muitos anos
tem sido relatada, podendo mesmo ser encontrada nos aforismos hipocráticos,
nos textos de alguns filósofos gregos e na sabedoria popular cotidiana (Totman,
1982; Gatchel & Blanchard, 1998; Baum e cols., 1997).
O filósofo René Descartes aparece como um importante personagem do
que se convencionou chamar de dualismo mente-corpo, que fragmenta o homem,
marcando a história atual das ciências da saúde.
Movimentos em direção a compreensão mais profunda das relações entre o
psiquismo e o corpo, a partir do século XIX, aparecem na forma do que se
denominou Medicina Psicossomática, abordagem médica que buscava através da
utilização dos conceitos psicanalíticos uma leitura e intervenção que integra a
mente às doenças somáticas (Dunbar, 1935; Balint, 1988; Mello Filho, 1992;
Gatchel & Blanchard, 1998; Neves Neto, 2002).
Concomitantes ao desenvolvimento desse grande movimento, novas
correntes teóricas também iniciaram pesquisas que buscam explicar
cientificamente a etiologia multifatorial dos desajustes somáticos, sendo assim
criadas novas áreas, como a Psicologia Médica, a Psicobiologia, a Psicofisiologia,
a Medicina Comportamental, Comportamento e Saúde, Psicologia da Saúde
(Psicologia Hospitalar), Medicina Corpo-Mente, Psiconeuroimunologia, Psico-
Oncologia, Neuropsicologia e etc. (Figura 1) (Baum e cols., 1997; Kaplan et al.,
1997; Kendler, 2001; Neves Neto 2001), que modificaram o modelo biomédico
hegemônico em benefício ao modelo biopsicossocial.
Mente
Corpo
Figura 1- Ilustração da relação dialética entre a mente e o corpo.
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Mas afinal, o que são disfunções psicofisiológicas? Há uma grande
confusão atual, devido aos diversos grupos que se interessaram por esta área do
conhecimento, podendo ser encontrados diversas denominações (ex. doenças
psicossomáticas, doenças funcionais, disfunções psicofisiológicas, transtornos
somatoformes, fatores psicológicos que afetam condições médicas).
Com o objetivo de seguir a classificação oficial da Organização Mundial da
Saúde (1997), podemos relacionar as disfunções psicofisiológicas a duas
categorias principais:
A- Transtornos Neuróticos, Relacionados ao Estresse e Somatoformes (códigos F40 – F48). B- Síndromes Comportamentais Associadas a Distúrbios Fisiológicos e a Fatores Físicos (códigos F50 – F59).
Segundo a classificação da Associação Americana de Psiquiatria (1997) as
disfunções psicofisiológicas podem ser definidas como:
A- Transtornos Somatoformes
“A característica comum dos Transtornos Somatoformes é a
presença de sintomas físicos que sugerem uma condição médica
geral (daí, o termo somatoforme), porém não são completamente
explicados por uma condição médica geral, pelos efeitos diretos de
uma substância ou por um outro transtorno mental (por ex.,
Transtorno de Pânico)”.
Os seguintes Transtornos Somatoformes são incluídos nesta classificação:
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O Transtorno de Somatização (historicamente chamado de histeria
ou síndrome de Briquet) é um transtorno polissintomático que inicia
antes dos 30 anos, estende-se por um período de anos e é
caracterizado por uma combinação de dor, sintomas gastrintestinais,
sexuais e pseudoneurológicos.
O Transtorno Somatoforme Indiferenciado caracteriza-se por
queixas físicas inexplicáveis, com duração mínima de 6 meses,
abaixo do limiar para um diagnóstico de Transtorno de Somatização.
O Transtorno Conversivo envolve sintomas ou déficits inexplicáveis
que afetam a função motora ou sensorial voluntária, sugerindo uma
condição neurológica ou outra condição médica geral. Presume-se
uma associação de fatores psicológicos com os sintomas e déficits.
O Transtorno Doloroso caracteriza-se por dor como foco
predominante de atenção clínica. Além disso, presume-se que
fatores psicológicos têm um importante papel em seu início,
gravidade, exacerbação ou manutenção.
Hipocondria é preocupação com o medo ou a idéia de ter uma
doença grave, com base em uma interpretação errônea de sintomas
ou funções corporais.
O Transtorno Dismórfico Corporal é a preocupação com um
defeito imaginado ou exagerado na aparência física.
O Transtorno de Somatização Sem Outra Especificação é
incluído para a codificação de transtornos com sintomas
somatoformes que não satisfazem os critérios para qualquer um dos
Transtornos Somatoformes.
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B- Fatores Psicológicos que Afetam a Condição Médica
“A característica essencial dos Fatores Psicológicos Afetando a
Condição Médica é a presença de um ou mais fatores psicológicos
ou comportamentais específicos que afetam adversamente uma
condição médica geral”.
Os seguintes Fatores Psicológicos que Afetam Condição Médica são
incluídos nesta classificação:
Transtorno Mental Afetando... [Indicar a Condição Médica Geral]. Um transtorno específico do Eixo I ou do Eixo II afeta
significativamente o curso ou tratamento de uma condição médica
geral (por ex., Transtorno Depressivo Maior afetando adversamente
o prognóstico de infarto do miocárdio, insuficiência renal ou
hemodiálise; Esquizofrenia complicando o tratamento de diabete
melito). Além de codificar esta condição no Eixo I, o transtorno
mental específico também é codificado no Eixo I ou no Eixo II.
Sintomas Psicológicos Afetando... [Indicar a Condição Médica Geral]. Sintomas que não satisfazem todos os critérios para um
transtorno do Eixo I afetam significativamente o curso ou tratamento
de uma condição médica geral (por ex., sintomas de ansiedade ou
depressão afetando o curso e a gravidade da síndrome do cólon
irritável ou de úlcera péptica, ou complicando a recuperação de uma
cirurgia).
Traços da Personalidade ou Forma de Manejo Afetando... [Indicar a Condição Médica Geral]. Um traço da personalidade ou
uma forma de manejo mal-adaptativa afeta significativamente o curso
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ou tratamento de uma condição médica geral. Os traços da
personalidade podem não atingir o limiar para um transtorno do Eixo
II ou representar um outro padrão que comprovadamente constitui
um fator de risco para certas doenças (por ex., comportamento "tipo
A", tenso e hostil, para doença coronariana). Os traços da
personalidade problemáticos e as formas mal-adaptativas de manejo
podem perturbar a relação de trabalho com o pessoal da área da
saúde.
Comportamentos de Saúde Mal-Adaptativos Afetando... [Indicar a Condição Médica Geral]. Comportamentos mal-adaptativos de
saúde (por ex., estilo de vida sedentário, práticas de sexo inseguro,
excessos alimentares, consumo excessivo de álcool e drogas)
afetam significativamente o curso ou tratamento de uma condição
médica geral. Se os comportamentos mal-adaptativos são melhor
explicados por um transtorno do Eixo I (por ex., excesso alimentar
como parte da Bulimia Nervosa, uso de álcool como parte da
Dependência de Álcool), deve ser usada a denominação "Transtorno
Mental Afetando a Condição Médica".
Resposta Fisiológica Relacionada ao Estresse Afetando... [Indicar a Condição Médica Geral]. Respostas fisiológicas
relacionadas ao estresse afetam significativamente o curso ou
tratamento de uma condição médica geral (por ex., precipitam dor
torácica ou arritmia em um paciente com doença coronariana).
Fatores Psicológicos ou Outros Inespecificados Afetando... [Indicar a Condição Médica Geral]. Um fator não incluído nos
subtipos especificados antes ou um fator psicológico ou
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comportamental inespecificado afeta significativamente o curso ou
tratamento de uma condição médica geral.
No quadro 1, são descritas algumas condições médicas que atualmente
recebem atenção através de estudos clínicos com o objetivo de estabelecer a
relação entre a doença orgânica e os componentes psicossociais.
Quadro 1- Disfunções psicofisiológicas freqüentemente alvo de estudos científicos
(Fatores Psicológicos que afetam Condição Médica).
Sistemas Doenças Doenças
Cardiovasculares
Doença Arterial
Coronariana Morte Súbita
Hipertensão
Arterial
Doença de
Raynaud
Doenças
Neurológicas
Acidente
Vascular
Cerebral
Esclerose Múltipla Doença de
Parkinson Epilepsia
Doenças
Gastrintestinais
Doença de
Crohn e
Retocolite
Ulcerativa
Síndrome do Cólon
Irritável
Doença do
Refluxo
Esofágico
Úlcera Péptica
Doenças
Dermatológicas Prurido Hiperidrose Psoríase Alopecia
Doenças
Pulmonares Asma
Doença Pulmonar
Obstrutiva CrônicaFebre do Feno Tuberculose
Doenças
Reumatológicas
Artrite
Reumatóide Dor Miofacial Dor Lombar Dor Crônica
Disfunção Sexual Vaginismo Dispareunia
Ejaculação
Precoce
Disfunção
Orgásmica
Câncer Doença Renal Diabete Melito Cefaléia
Tensional
Outras
Fibromialgia Hipertireoidismo Alergia Doenças
Auto-Imunes
(Adaptado de Kaplan et al., 1997; Stoudemire, 2000; Smith et al., 2002).
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No quadro 2 são descritos os principais sinais e/ou sintomas encontrados
na literatura como expressão das disfunções psicofisiológicas.
Quadro 2- Principais sintomas e/ou sinais descritos na literatura científica como
associados às disfunções psicofisiológicas (Transtornos Somatoformes). Fraqueza Dor de cabeça Palpitação Dispnéia Tontura
Angina Dificuldade para
engolir Náusea Flatulência Dor abdominal
Zumbido no
ouvido Diarréia Vômito Edema Insônia
Parestesia Perda de peso Diplopia Afonia Impotência
(Adaptado de Kroenke & Mangelsdorff, 1989; Kroenke et al., 1990; Simon et al.,
1996; Smith et al., 2002).
Conceitualização Cognitiva e Comportamental
A conceitualização cognitiva e comportamental é fundamental para a
compreensão etiológica e terapêutica das disfunções psicofisiológicas. As
cognições são conceitos centrais nesta abordagem teórica, sendo o paradigma
ilustrado na figura 2 (Neves Neto, 2003; 2002; 2001).
Figura 2- Representação gráfica do paradigma cognitivo e comportamental
(Neves Neto, 2003).
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EMOÇÃO
SITUAÇÃO
COMPORTAMENTO PENSAMENTO
CRENÇAS
Si-mesmo Mundo Futuro
A partir do modelo cognitivo-comportamental descrito anteriormente,
atualmente desenvolveram-se conceitos visando aprofundar as questões
pertinentes ao tratamento das disfunções psicofisiológicas (Salkovskis, 1997;
Servan-Schereiber et al., 2000a,b; Neves Neto, 2003), sendo estes:
A- Amplificação das Sensações Corporais Reações físicas são comuns ao longo da vida (ex. náusea, prisão de ventre,
dor, irritação, fraqueza e etc.); alguns indivíduos focalizam sua atenção durante a
ocorrência deste funcionamento orgânico (através dos sistemas interoceptivo,
proprioceptivo e exteroceptivo), podendo assim maximizar a estimulação
fisiológica do órgão ou do seu funcionamento. Discute-se ainda se alguns
indivíduos poderiam apresentar uma percepção visceral anormal, a qual seria
responsável pela maximização das sensações corporais experienciadas. Por
exemplo, pacientes com dor abdominal (no caso da Síndrome do Cólon Irritável)
podem massagear vigorosamente o abdômen com o objetivo de aliviar a dor, o
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que produzirá edema (inchaço), hiperemia (vermelhidão) e desconforto, podendo
exacerbar as sensações corporais e aumentar o foco de atenção do sujeito aos
sintomas e sinais desta região corporal.
B- Distorção dos sintomas e/ou sinais Ao perceber a ocorrência de sintomas e/ou sinais desconfortáveis nos
órgãos ou funções corporais, serão formuladas cognições que servirão para dar
sentido àquelas sensações, baseadas no esquema cognitivo (crenças) a respeito
de si-mesmo (ex. através da percepção de risco), do mundo e do futuro. Por
exemplo, uma pessoa que sinta uma forte dor de cabeça poderá pensar que se
trata de um acidente vascular cerebral (AVC) ou um tumor. Este pensamento pode
ser intensificado se a pessoa teve uma experiência com indivíduos que sofreram
AVC ou tumor, ou leram algo a respeito (revistas médicas).
C- Condicionamento Operante O aparecimento de alguns sintomas e/ou sinais parecem estar associados
com a existência de certas atividades cotidianas, influenciando-as de forma
intensa. O comportamento de evitação é socialmente admitido desde o início da
vida acadêmica, quando estudantes são liberados de freqüentar as aulas, por
indisposição, resfriado e etc. tornando-se um hábito para alguns alunos.
Observam-se freqüentemente pessoas que apresentam sintomas e/ou sinais (ex.
cefaléia, alergia, cólica e etc.) quando deveriam responder a certas situações
sociais comuns (ex. apresentação em público, reunião e discussão sobre os
direitos), sendo que “a necessidade de estar doente” seria uma conseqüência da
utilização exagerada deste mecanismo.
D- Condicionamento Clássico Reações fisiológicas são naturalmente eliciadas por estímulos
incondicionados. Pode ocorrer um emparelhamento entre estímulos
incondicionados e neutros, a ponto de surgir uma resposta condicionada. Por
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exemplo, algumas substâncias químicas presentes em materiais de limpeza são
naturalmente irritantes da conjuntiva, ser for emparelhado o uso destas
substâncias a atividade profissional, pode-se ter uma forte reação alérgica quando
a pessoa se prepara para ir ao trabalho, ou quando se vê uma embalagem
fechada do produto, ou mesmo quando percebe algum cheiro semelhante.
D- Psicopatologia Sintomas e/ou sinais físicos podem ocorrer na presença de quadros
psicopatológicos, devendo ser levado em consideração o efeito presente na
existência de comorbidades psiquiátricas. Por exemplo, sujeitos portadores de
Transtorno de Pânico podem interpretar um sintoma deste quadro clínico como
uma grave doença do sistema cardiovascular.
E- Outros Fatores Diversos outros fatores são menos descritos na literatura, ou explicados
com uma base científica. Alexitimia, efeito placebo, efeito nocebo, dominação
hemisférica cerebral, “bode expiatório”, “necessidade de estar doente”, ganho
primário e/ou secundário, dissociação, sugestão hipnótica, dissonância cognitiva,
energia psíquica reprimida, síndromes culturais, devem ser explorados quando os
fatores descritos anteriormente não satisfazem a uma compreensão da disfunção
psicofisiológica estudada (Totman, 1982; Balint, 1988; Mello Filho, 1992; Holmes,
1997; Salkovskis, 1997; Bakal, 1999; Servan-Schereiber et al., 2000a).
Estabelecendo o diagnóstico É fundamental antes de propor uma medida terapêutica, desenvolver um
sólido diagnóstico. Entrevista clínica, exames laboratoriais, interconsulta médica,
testes (ex. Questionário de Saúde Global de Goldberg), observação do
comportamento e avaliação psicofisiológica, podem ser úteis para a formulação do
diagnóstico e escolha das estratégias psicoterápicas. Os critérios diagnósticos da
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CID-10 e DSM-IV auxiliam na identificação dos casos, bem como da realização do
diagnóstico diferencial (Neves Neto, 2002; Salkovskis, 1997).
Estratégias da Terapia Cognitivo-Comportamental A partir do diagnóstico e da conceitualização cognitiva e comportamental
deverá ser iniciada a intervenção psicoterápica.
Não existem boas “receitas de bolo” para o tratamento das disfunções
psicofisiológicas, mas os estudos apontam para as intervenções que seguramente
demonstraram eficácia no tratamento, sendo denominadas por “Psicoterapia
Baseada em Evidências”.
Na tabela 3 serão descritos trabalhos que encontraram eficácia na
aplicação da terapia a diversas condições psicofisiológicas, servindo de fonte para
que terapeutas possam iniciar seus atendimentos baseados nas evidências
científicas disponíveis.
Tabela 3- Descrição de pesquisas sobre Terapia Cognitivo-Comportamental nas
disfunções psicofisiológicas.
Autor Ano Publicação Disfunção Psicofisiológica
Linton & Ryberg 2001 Pain Dor Crônica
Sharpe et al. 2001 Pain Artrite Reumatóide
Wysocki et al. 2001 Diabetes Care Diabete Melito
Hadhazy et al. 2000 The Journal ofRheumatology Fibromialgia
Perlis et al. 2000 Comp Ther Insônia Primária
Van Dulmen et al. 1996 Psychosomatic Medicine Síndrome do Cólon Irritável
Warwick et al. 1996 British Journal of Psychiatry Hipocondria
Hellman et al. 1990 Behav Med Queixas Psicossomáticas
Na tabela 4 serão descritos trabalhos nacionais que desenvolvem
intervenções cognitivas e comportamentais na área da saúde. É um meio
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importante de divulgação e incentivo da pesquisa genuinamente brasileira para o
desenvolvimento da Terapia Cognitivo-Comportamental e Saúde.
Tabela 4- Descrição de algumas pesquisas brasileiras sobre intervenção cognitiva
e comportamental na área da saúde.
Autor Ano Publicação Disfunção Psicofisiológica Neves Neto 2001 Revista de Psiquiatria Clínica Síndrome do Cólon Irritável
Fernandes 2001 Revista de Psiquiatria Clínica Cefaléia
Cade 2001 Revista de Psiquiatria Clínica Hipertensão Arterial
Angelotti 2001 Psicoterapia Cognitivo-
Comportamental: Um diálogo com a
Psiquiatria
Dor Crônica
Miyasaki 1999 Comportamento e Saúde:
explorando alternativas
Asma
É imprescindível informar aos interessados que existem três importantes
publicações a respeito das intervenções cognitivas e comportamentais nas
disfunções psicofisiológicas, sendo estas:
A- Journal of Consulting and Clinical Psychology – Special Issue: Behavioral
Medicine and Clinical Health Psychology (2002).
Trata-se de uma edição especial do Journal of Consulting and Clinical
Psychology editado pela Associação Americana de Psicologia e que trás
informações atuais sobre intervenções cognitivas e comportamentais na área da
Psicologia da Saúde e Medicina Comportamental. Alguns dos assuntos tratados
são: Década do Comportamento, Tabagismo, Obesidade, Atividade Física,
Psiconeuroimunologia, entre muitos outros assuntos.
B- Psychophysiological Disorders: Research and Clinical Applications – Gatchel
e Blanchard (1998).
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É um livro muito importante para clínicos e pesquisadores interessados em
disfunções psicofisiológicas. Apresenta o tratamento de diversas condições
orgânicas, entre elas: Hipertensão Essencial, Cefaléia, Asma, Distúrbio
Temporomandibular, Tensão Pré-Menstrual, entre outros.
C- Cambridge Handbook of Psychology, Health and Medicine – Baum e cols.
(1997).
Trata-se de um livro abrangente que oferece informação pontual para os
interessados em desenvolver atividades que envolvam Psicologia e Medicina.
Além de serem apresentados textos sobre doenças, há uma parte especifica que
resume as abordagens psicoterápicas atualmente praticadas.
Conclusão
O objetivo deste texto foi descrever sucintamente as possibilidades que
atualmente são exploradas na área da saúde com relação à Terapia Cognitivo-
Comportamental. O autor do presente capítulo vem aplicando sistematicamente
estratégias cognitivas e comportamentais em instituições de saúde, bem como
avaliando através da realização de pesquisas, da participação em congressos e
associações nacionais e internacionais, a valiosa contribuição desta abordagem
psicoterápica a formação de novos profissionais habilitados a empregar estes
conhecimentos as disfunções psicofisiológicas. Referências Bibliográficas
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Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). 4o edição. Porto Alegre: ArtMed.
BAKAL, D. (1999). Minding the body: clinical uses of somatic awareness. New
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SERVAN-SCHEREIBER, D.S.; TABAS, G.; KOLB, R. (2000b). Somatizing
Patients: Part II Pratical Management. American Family Physician. 61: 1423-8.
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Porto Alegre: ArtMed.
TOTMAN, R. (1982). Causas sociais da doença. São Paulo: Ibrasa.
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Anexo 1
Recomendações do Centro para o Avanço da Saúde (The Center for
Advancement of Health) dos Estados Unidos da América, sobre a visão holística
em cuidados de saúde apud Bakal (1999, p. 2).
1. Intervenções médicas devem incluir o reconhecimento de quão intimamente
a saúde esta ligada às atitudes, pensamentos, sentimentos e
comportamentos.
2. Evidências científicas não podem ser ignoradas – quem somos, onde
vivemos, e como pensamos, sentimos e enfrentamos as informações
somáticas podem fortemente influenciar se ficaremos doentes, que doenças
teremos e como melhor manejar nossas doenças.
3. O tratamento holístico do paciente requer que eles não sejam enviados
para uma “oficina de consertos” para distúrbios dos pensamentos e
sentimentos e outra “oficina de consertos” para doenças físicas. A mente e
o corpo prosperam ou perecem juntos.
4. Os cuidados aos pacientes devem tratar a pessoa como um todo – a
vantagem será indivíduos mais saudáveis, comunidades mais saudáveis, e
uma nação saudável. Fazer o contrário é irresponsável.
Anexo 2
Definição de saúde da Organização Mundial da Saúde (1948):
“Estado de completo bem-estar, físico, psíquico e social, e não
meramente ausência de doença”.
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