tese gestao conflitos

download tese gestao conflitos

of 431

Transcript of tese gestao conflitos

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    1/430

    Ricardo Manuel Magarinho Bessa Moreira

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal:

    anlise sobre a importncia da negociao inter e intra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    2/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    3/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    4/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    5/430

    Ricardo Manuel Magarinho Bessa Moreira

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal:

    anlise sobre a importncia da negociao inter e intra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    6/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    7/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    8/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    9/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    10/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    11/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    12/430

    Recursos Humanos - e estabelea as relaes de poder projectadas - materializa a

    procura de uma certa originalidade.

    Esta dissertao concita duas dimenses: a inter e a intra-departamental. A primeira

    metodologia utilizada de natureza qualitativa e baseia-se na anlise de entrevistas

    (realizadas a 20 Directores de outros departamentos). A segunda, de natureza

    quantitativa, complementa a anterior e assenta na anlise de questionrios (aplicados a215 profissionais de Gesto de Recursos Humanos). Tenta-se, assim, relacionar as

    perspectivas de outras divises sobre a influncia deste departamento na eficcia

    negocial com variveis comportamentais dos Gestores de Recursos Humanos (a

    imagem, o desempenho, a colaborao ou a competio). Integraram-se ambos os

    instrumentos, cruzando-se as metodologias qualitativa e quantitativa. De entre asprincipais concluses, confirma-se a ideia de que o poder negocial inerente gesto das

    pessoas pode transcender uma lgica exclusivamente departamental.

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    13/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    14/430

    emerging within the national context, on the other, a study that explicitly covers the

    dynamic interaction that characterizes negotiation (informal) and the HRM department

    and establishes the power relations that it projectsis symptomatic of the search for a

    certain level of originality.

    This thesis covers two dimensions: inter and intra-departmental. The former, qualitative

    by nature, relies on the analysis of interviews done with 20 directors of otherdepartments. The latter, quantitative by nature, relies on the analysis of questionnaires

    administered to 215 HRM professionals. An effort is made to inter-relate the

    perspectives of other divisions concerning the influence of this department on the

    effectiveness of negotiation with behavioural variables drawn upon by human resource

    managers (image, performance, collaboration or competition). The research techniquesadopted for this study are carefully integrated, crossing both methodologies, qualitative

    and quantitative. One of the main findings of this study is that the idea that the power of

    negotiation inherent in the process of people management can transcend an exclusively

    departmental logic does indeed hold true.

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    15/430

    RSUM

    RICARDO MANUEL MAGARINHO BESSA MOREIRA: Le pouvoir et la Gestion

    des Ressources Humaines au Portugal: analyse sur limportance de la ngotiation

    inter et intradpartemental

    (Sous lorientation du Prof. Pedro Fernando Santos Silva da Cunha)

    La relation conflictuelle est exploite dans la raison directe de la pnurie des ressources

    par lesquelles les parties entrent en dispute. Dans beaucoup d'tapes de la vie

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    16/430

    principalement ce qui abordent leur source syndicale, vont en mergeant dans la ralit

    nationale, d'autre part, une tude qui incorpore, de forme explicite, une dynamique entre

    la ngociation (informelle) et le Dpartement de Gestion de Ressources Humaines - et

    qui tablisse les relations de pouvoir projetes - matrialise la recherche dune certaine

    originalit.

    Cette dissertation contient deux dimensions : l'inter et l'intradpartemental. La premire,qualitative, se base sur l'analyse d'intervues (faites 20 Directeurs d'autres

    dpartements). La deuxime, de nature quantitative, est base sur l'analyse de

    questionnaires (appliqus 215 professionnels de Gestion de Ressources Humaines).

    On tente, ainsi, de rapporter les perspectives d'autres divisions sur l'influence de ce

    dpartement dans l'efficacit commerciale avec des variables comportementales des

    Directeurs de Ressources Humaines (l'image, la performance, la collaboration ou la

    concurrence). Les deux instruments mthodologiques sintgrent. Parmi les principales

    conclusions, se confirme l'ide que le pouvoir de ngociation inhrent la gestion des

    personnes peut dpasser une logique exclusivement dpartementale.

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    17/430

    DEDICATRIA

    Aos meus pais, s minhas avs, ao meu irmo e minha cunhada, e a todos os restantes

    familiares, por estarem sempre, incondicionalmente, ao meu lado, em todos os

    momentos da minha vida. Sem o amor deles esta tese no seria, de todo, possvel.

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    18/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    19/430

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar, gostaria de enderear um agradecimento muito especial ao meu

    orientador, o Sr. Professor Doutor Pedro Cunha, por ter apostado em mim, ao aceitar

    orientar este trabalho. O seu exemplo de profundo conhecimento, dedicao,

    generosidade e entrega foi inspirador para a realizao desta dissertao. Jamais

    esquecerei as palavras de encorajamento e incentivo proferidas nos bons e nos menos

    bons momentos. Quando mais precisei dele respondeu em dobro com os predicados

    enunciados. Agradeo por me transmitir que o rigor o fulcro de qualquer investigao

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    20/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    21/430

    NDICE

    INTRODUO 1

    CAPTULO I. O CONFLITO E A GESTO DO CONFLITO 9

    1. Conflito 11

    1. 1. Aproximao ao Conceito de Conflito 11

    1.2. Conflito nas Organizaes 18

    1.3. Efeitos do Conflito nas Organizaes: Pistas para uma Anlise Sobre a

    Eficcia Organizacional 25

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    22/430

    CAPTULO IV. A GESTO DE RECURSOS HUMANOS E A GESTO DE

    CONFLITOS 113

    4. GRH: Da Gesto de Pessoal Gesto das Pessoas 115

    4.1. Perspectiva Histrica da GRH 115

    4.2. Abordagem Epistemolgica da GRH 121

    4.3. O Papel da GRH na Organizao: Uma Perspectiva Poltica 129

    4.4. A GRH e a Negociao 136

    CAPTULO V. PRESSUPOSTOS TERICO-METODOLGICOS 141

    5. Metodologia(s) 143

    5.1. Descrio da Temtica e das Opes Metodolgicas 143

    5.2. Objectivos da Investigao, Questes e Hipteses 152

    5.3. Instrumentos, Procedimentos e Amostras 157

    5.3.1. ESTUDO 1 157

    5.3.1.1. Introduo 157

    5.3.1.2. Guio de Entrevista e Definio das Categorias de

    Anlise 158

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    23/430

    Uma Anlise Tipolgica 204

    6.1.5. O Papel Negocial do Departamento de GRH nas Organizaes:

    Percepes dos Principais Nveis Hierrquicos 210

    6.1.6. Fontes de Poder na Negociao Levada a Cabo pelo

    Departamento de GRH: Anlise do Poder Objectivo e Relativo 215

    6.1.7. Percepo de Influncia da GRH na Negociao pelos

    Outros Departamentos 221

    6.2. DISCUSSO DOS RESULTADOS OBTIDOS NO ESTUDO 2 225

    6.2.1. Anlise e Discusso dos Resultados Relativos Fidelidade

    e Validade da Escala 225

    6.2.1.1. Breve Introduo 225

    6.2.1.2. Aferio e Anlise da Fidelidade, Sensibilidade e

    Consistncia Interna do CEN 226

    6.2.2. Anlises Descritivas e de Varincia 229

    6.2.2.1. Anlise das Variveis Scio-Demogrficas 230

    6.2.2.2. Anlise das Variveis Organizacionais 239

    6.2.2.3. Anlise das Variveis Relativas Funo da GRH 243

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    24/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    25/430

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1Distribuio dos colaboradores entrevistados por idade, em nmero e

    Percentagem 164

    Quadro 2Distribuio dos entrevistados por grau de escolaridade/sexo 164

    Quadro 3Distribuio dos colaboradores entrevistados por reas de qualificaes

    que possuem, em nmero e percentagem 165

    Quadro 4Distribuio do nmero de inquiridos por sexo 170

    Quadro 5Distribuio do nmero de inquiridos por idade(s) 171

    Quadro 6Distribuio do nmero de inquiridos por habilitaes 172

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    26/430

    Dimenses de Eficcia Negocial 234

    Quadro 17Anlise da Estatstica Descritiva da VarivelHabilitaes em Funo das

    Dimenses de Eficcia Negocial 236

    Quadro 18TabelaANOVA da VarivelHabilitaes em Funo das Dimenses de

    Eficcia Negocial 237

    Quadro 19Anlise da Estatstica Descritiva da VarivelDimenso da Empresa em

    Funo das Dimenses de Eficcia Negocial 239

    Quadro 20Anlise da Estatstica Descritiva da VarivelActividades da(s) Empresa(s)

    em Funo das Dimenses de Eficcia Negocial 240

    Quadro 21Anlise da Estatstica Descritiva da VarivelLocalizao da(s) Empresa(s)

    em Funo das Dimenses de Eficcia Negocial 242

    Quadro 22Anlise da Estatstica Descritiva da VarivelDesignao da Funo RH

    em Funo das Dimenses de Eficcia Negocial 244

    Quadro 23Anlise da Estatstica Descritiva da VarivelRelao Hierrquica em

    Funo das Dimenses de Eficcia Negocial 246

    Quadro 24Estatsticas Descritivas dos Resultados Globais da Varivel Eficcia

    Negocial 251

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    27/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    28/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    29/430

    O poder no algo dividido entre os que o possuem, os que

    o detm exclusivamente e os que no o tm e o suportam. O

    poder tem de ser analisado como algo que circula, ou melhor

    como algo que no funciona seno em cadeia. () O poder

    funciona, exercita-se atravs de uma organizao reticular.

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    30/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    31/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    INTRODUO

    Esta investigao debrua-se, essencialmente, sobre o poder negocial do

    departamento de GRH. Num certo sentido, a negociao o processo de

    estabelecimento de relaes entre os elementos de uma organizao, de forma a dirimir

    conflitos e gerar possveis acordos. Numa investigao realizada em 2003 procurou-se

    perceber a relevncia estatutria e estratgica do departamento que gere as pessoas na

    dinmica organizacional. Essa pesquisa teve em conta a percepo que os diversos

    departamentos possuam acerca do poder daquele nas empresas portuguesas. Uma das

    concluses apontou para uma certa viso de escassez de poder deste departamento no

    processo de tomada de deciso. Entra-se, ento, no domnio das motivaes: esta tese

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    32/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    opinies. Reserva-se uma abordagem circunstanciada de ambos os instrumentos

    analticos e das suas implicaes. Segue-se o mote para o debate segundo o qual a

    gesto das pessoas pode extravasar uma lgica estritamente departamental.

    A temtica que relaciona conflito e cooperao representa um domnio de

    gradual interesse nas investigaes sobre o processo negocial, abrangendo uma

    variedade de reas cientficas. No existe uma regulamentao ou um quadro conceptualnormalizado que indiquem os procedimentos para cada situao problemtica. Em

    qualquer diagnstico organizacional fundamental analisar a natureza conflitual. O

    conflito nas organizaes acontece quando alguns elementos ou grupos se

    incompatibilizam no desempenho de tarefas ou funes que possam envolver disputa

    por objectivos, interesses ou recursos. O aparecimento do(s) modelo(s) sistmico(s)

    conduziu a significativas mudanas na discusso sobre os grupos e, mais

    especificamente, sobre equipas de trabalho. De uma posio mais clssica que advogava

    uma desinsero dos grupos em relao envolvente, passou-se a encarar o grupo

    como um sistema social integrado (perspectiva sociotcnica) (Deutsch, 2000).

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    33/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    aplicao de sanes negativas. No fundo, trata-se de uma relao de foras que pode

    tambm passar pelos dominados.

    A investigao sobre a negociao, tal como hoje se formula, e que se

    desenvolveu exponencialmente nos ltimos anos na Europa, comeou nos Estados

    Unidos, na segunda metade do sculo XX. Na Amrica, a negociao sempre foi

    desenvolvida como um processo competitivo e explcito. Nas sociedadescontemporneas, para alm de ser quase consensualmente aceite, a negociao tambm

    conotada como sendo benfica para o desenvolvimento profcuo de relaes inter-

    pessoais. Analisar o processo de negociao implica a explorao das vrias etapas que

    este pode incorporar. No ser descabido afirmar-se que se assiste ao aparecimento de

    processos dentro do processo. A pesquisa sobre as diferentes fases negociais no

    muito homognea.

    A negociao revela-se vital para a dinmica social e organizacional. A sua

    utilidade reside no imperativo dos seres humanos se virem impelidos a negociar por no

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    34/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    diversidade, que, obviamente, acarreta divergncias, mas pode ser til se no for vista,

    exclusivamente, como disfuncional do ponto de vista negocial.

    As partes inseridas em qualquer tipo de processo negocial tm uma intensidade

    disforme de poder(es). Nos sistemas negociais as relaes de poder podem aparecer em

    oposio tctica e estratgica. O poder tambm influencia a afirmao das organizaes

    como sistemas sociais. A maioria dos elementos da organizao considera que aassuno de diferentes interesses (individuais ou grupais) pode aduzir, de uma forma ou

    de outra, vantagens competitivas. A organizao um espao de integrao dos seus

    membros potenciando a aco colectiva dos diversos grupos. A perspectiva

    interaccionista, que acarreta uma anlise contextual, vital, mas, se no houver

    flexibilidade na demonstrao de vontades, a negociao pode ficar comprometida,

    revelia das tcticas empreendidas.

    O poder negocial activa-se na relao assimtrica j citada e implica uma

    aceitao de regras ou identificao com a(s) pessoa(s) que as determinam, mas tambm

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    35/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    estratgia e a cultura so vectores fundamentais para a transformao das diferentes

    dimenses deste tipo de gesto. fundamental equacionar-se uma anlise

    adaptabilidade entre o debate acadmico e as praxis de recursos humanos, abordando a

    participao do departamento que gere as pessoas naperformance organizacional e, por

    consequncia, na eficcia negocial. Em ltima instncia, gerir , sempre, negociar. No

    caso dos gestores de recursos humanos estes predicados atingem uma outra dimenso,

    porque lhes , funcionalmente, inerente. Na literatura, vrios so os autores que referem

    que os gestores de recursos humanos assumem o papel de mediadores.

    Actualmente, nenhuma organizao pode prescindir de alguns inputs

    provenientes da GRH. Partindo do entendimento convergente dos objectivos pessoais e

    organizacionais, este departamento tem como funo primordial pautar-se como um

    facilitador. Na maior parte dos casos, este departamento, per se, no executa uma

    poltica concertada dos recursos humanos, porque, muitas vezes, os fluxos hierrquicos

    no o possibilitam. , de certa maneira, benfico para a organizao perceber a inteno

    legal para que se possa decidir sem colidir em absoluto com a(s) vontade(s) dos

    colaboradores. Mas, no se pode encarar essa regulamentao estritamente no plano

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    36/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    devida abrangncia, as leis, burocrticas e sociais, que regem os assuntos do

    departamento de GRH. No obstante, os subsistemas de tratamento dos recursos

    humanos coexistem em estruturas decisrias inter-departamentais. Emerge a premncia

    de relaes horizontais entre as diversas reas da organizao. Esta gesto, sendo

    partilhada e integrada, exige uma convergncia funcional que interage com diferentes

    sensibilidades e poderes. Este tipo de intercmbios , abundantemente, problemtico. O

    envolvimento sistmico traado pressupe a existncia de relaes negociais entre este

    departamento e os outros, num modo de funcionamento inter-estrutural.

    Na dialctica entre competio e cooperao, alguns estudos propem estruturas

    para examinar o modo como os departamentos lidam com os seus conflitos, nunca

    descurando os interesses dos clientes. Esses departamentos possuem interesses e

    apresentam finalidades divergentes agindo, parcialmente, de forma competitiva. Os

    departamentos que actuam na proximidade dos clientes esto, normalmente, orientados

    para a maximizao das receitas, em consonncia com as necessidades dos clientes. Os

    departamentos de suporte esto mais focalizados na minimizao de custos,

    produzindo ou comprando eficientemente. O objectivo comum, neste tipo de

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    37/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    38/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Em sntese, a abordagem que se efectivar parte de um contexto epistemolgico

    e relacional. Transfere os mtodos quantitativos e qualitativos da Psicologia, Sociologia

    e de outras Cincias Sociais para o mbito da GRH, favorecendo um intercmbio entre

    disciplinas, que integra e ultrapassa o reconhecimento pluridisciplinar de

    singularidades sem interferncias entre elas. Da que este trabalho acolha uma forte

    vertente interdisciplinar, mas no chega a almejar algo completamente novo; uma

    totalidade diferente resultante da interpenetrao transdisciplinar entre domnios e de

    uma linguagem comum. Para alguns autores, a transdisciplinaridade uma

    axiomtica, no entender de outros materializa a transcendncia. Nesta tese essas

    posies sero deixadas entre parntesis, em nome do entendimento da

    transdisciplinaridade como etapa superior das relaes interdisciplinares. Mas,

    mesmo esse patamar intangvel e no ser atingido nem aplicado, preterido em favor

    de uma interdisciplinaridade. Esta exime-se a criar uma disciplina diferente e, quando

    aduz perspectivas diversas das conhecidas, f-lo em funo da resoluo dos limites

    internos da Gesto de Recursos Humanos, tendo a negociao como base de incidncia.

    Atendendo a tudo o que foi exposto, refira-se que as temticas estruturantes

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    39/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    40/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    41/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    1. Conflito

    1. 1. Aproximao ao Conceito de Conflito

    Definir conflito acarreta uma teia complexa de outros conceitos e realidades que

    sobre ele gravitam. Criam-se naturais resistncias, a montante e a jusante, de tal forma

    que, por muito que j se tenha escrito sobre esta questo, apesar de imprescindvel e

    estruturante, h sempre novas vertentes e cambiantes que a tornam um objecto de

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    42/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Na senda da teoria da evoluo das espcies de Darwin, todas as espcies so

    alvo de confrontos, de um organismo com outro ou com o ambiente externo.

    incontornvel que o ser humano evoluiu at condio presente atravs da luta pela

    vida e da consequente multiplicao. O autor acreditava que o crescimento humano se

    baseava na razo directa da resposta ao conflito com o seu ambiente (Rahim, 1992).

    Se o conflito no existisse, como pretendiam, idealmente, os clssicos da

    filosofia, o progresso no teria alcanado os patamares que atingiu nas sociedades

    contemporneas.

    Sobre este propsito encontramos o raciocnio de Tjosvold (1997, p. 23):

    Nenhuma pessoa, grupo ou nao uma ilha. A interdependncia, frequentemente

    ignorada e, por vezes, negada a realidade bsica das nossas vidas. O mercado de trabalho

    global tornou a escala desta realidade mais aparente. O conflito a razo central das nossas

    atitudes atravs da interdependncia. A independncia pode ser um meio de iludir conflito e

    assume custos e dor. Mas o conflito, no necessariamente destrutivo. (...) o conflito uma

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    43/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    44/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    dessa oposio; a crena de cada parte na ameaa de interesses a que a outra

    corresponde; o facto do conflito ser um processo que envolve interaco e um contexto

    e, por ltimo, a aco que se gera (Moreira & Cunha, 2007; Moreira & Cunha, 2008).

    O conflito como processo corresponde a uma sequncia de episdios que

    englobam tanto as experincias intrnsecas como as extrnsecas s partes. Como se ir

    constatarquando se discorrer, muito mais adiante, sobre o podero referido processo

    no surge do nada nem actua num vazio. influenciado por determinantes envolventes.

    Muitos conflitos so geridos pelos prprios e outros por um outro agente (Marques,

    1996; Rego & Jesuno, 2002; Moreira & Cunha, 2007; Moreira & Cunha, 2008).

    Vrios autores insistem na definio do conceito como uma forma deantagonismo entre dois ou mais elementos. O seu funcionamento visto como um

    continuum; num extremo quase no h conflito e no extremo oposto este verifica-se

    num estado muito elevado, descrito em termos comportamentais como o acto de

    aniquilao da parte contrria. O conflito intra-individual perspectivado, nas mais

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    45/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    46/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    47/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Neste ponto da reflexo, um aspecto na ordem de trabalhos a discusso sobre

    se o conflito pode ser positivo ou no. Outro pormenor, completamente diferente, diz

    respeito ao equacionar-se se este bom ou mau. No fundo, o que distingue o conflito

    funcional do disfuncional? Se relativamente pacfico que as situaes e os

    comportamentos conflituais se sustentam em metas e que podem ser potencialmente

    desenvolvimentais, por seu turno, existem tenses que so passveis de obstacularizar o

    desempenho dos actores organizacionais (Jehn, 1997; Vliert, Nauta Giebels & Janssens,

    1999)

    Na impossibilidade de se medir a intensidade dos conflitos, a sua aferio s

    faz sentido se enquadrada nos objectivos globais que norteiam cada processo conflitual

    nas organizaes. Os limites que circundam o que funcional ou disfuncional no so

    precisos e podem esbater-se ou reforar-se consoante os objectivos finais em debate. A

    priori, os impactos do conflito no indivduo ou na sociedade/organizao no so

    mutuamente exclusivos. O que equivale a dizer que o que acontece a um nvel

    individual pode ter repercusses semelhantes colectivamente, no entanto, muitas vezes

    sero divergentes, quando os objectivos so dspares. O que pode ser funcional para o

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    48/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    1.2. Conflito nas Organizaes

    O conflito uma realidade inalienvel no quotidiano organizacional. Todos os

    factores intrnsecos vida nas organizaes implicam forte interaco e convergncia

    de esforos orientados para a aco e constituem potenciais focos de conflito (Pettinger,

    2000; Dimas, Loureno & Miguez, 2005).

    Os tericos organizacionais comearam a estudar, ao longo dos tempos, com

    maior enfoque, o conflito. Nas ltimas dcadas, inmeras escolas de Gesto, na Europa

    e nos E.U.A., tm mostrado interesse em ensinar e investigar este tema.

    A este respeito expressivo o entendimento de Putnam (1997, p. 145):

    O conflito organizacional frequentemente encarado como uma doena, ou uma

    actividade desviante. Os gestores normalmente mostram desagrado relativamente a colegas e

    supervisores; os trabalhadores desenvolvem diferenas com os colegas e com os patres, e os

    executivos, muitas vezes, encobrem disputas que crescem no mercado de trabalho (...). Embora

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    49/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    50/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    51/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    52/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    contrrio; quando no controlado o conflito organizacional pode implicar disfunes de

    consequncias imprevisveis. O conflito era inevitvel e os behavioristas

    consideravam-no aceitvel, contudo, semelhana dos tradicionalistas, defendiam que

    tinha de ser resolvido (Robbins, 1978; Rahim, 1992).

    Concomitantemente, ainda nos nossos dias os predicados de disfuncionalidade

    absoluta fazem escola. Se se observar com ateno o comportamento dos gestores em

    geral no ser custoso aquilatar que a filosofia tradicionalista, tambm focada no ponto

    anterior, a mais enraizada. Actualmente, mantm-se, por parte de muitos gestores, o

    hbito de recompensarem elementos que colaboram para a paz, harmonia e

    tranquilidade dos seus postos de trabalho, enquanto o desequilbrio e a confrontao so

    punidos. Mais, se estes critrios contam para a avaliao de desempenho, no de

    estranhar que a vontade para eliminar, ou na impossibilidade de tal acontecer

    esconder o(s) conflito(s) seja grande (Robbins, 1978).

    Contrariando esta corrente, a abordagem interaccionista no se distancia muito

    da pluralista ao demonstrar que o conflito um meio entre meios no estabelecimento de

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    53/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    O conflito, encarado positivamente, o catalisador da mudana e sem ela as

    organizaes no sobrevivem. A mudana no surge do nada, o conflito que est na

    sua origem. Se as empresas no adaptarem os seus produtos e servios ao envolvente,

    sempre em modificao tcnica e tecnolgica, correm o risco de estagnarem e at de

    falirem (Vliert, 1977; Robbins, 1978; Vliert, Fisher, 1997; Naute, Giebels & Janssen,

    1999).

    Segundo Robbins (1978), existem vrios indcios ou suposies que o gestor

    pode explorar para estimular o conflito quando: a conformidade muito forte; os

    subordinados tm medo de admitir incertezas; existe tanta concentrao por parte dos

    decisores em atingir determinados objectivos imediatos que podem perder de vista os de

    longo termo ou o bem-estar da organizao; os gestores acreditam que melhor manter

    a impresso de unio; os decisores tm demasiada preocupao em no magoar os

    sentimentos dos outros, podendo escamotear o essencial das decises; os gestores

    buscam somente o consenso relativamente s suas opinies; os trabalhadores resistem,

    em larga escala, mudana; h uma elevada carncia de novas ideias, ou um anormal

    nvel de turnover. O mesmo autor sugere um sistema para realizar-se o aumento do

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    54/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    pertinente complementar a abordagem conceptual com um panorama

    institucional. Discorrer sobre o conflito organizacional acerca das teorias que o

    sustentam, bem como a aluso s diferentes maneiras de com ele lidar implica

    equacionar a sua aplicabilidade prtica. usual ouvir-se falar em acordos de

    concertao social, em propostas das diferentes partes, de greves de zelo, de delegados

    sindicais, de manifestaes de protesto. No quotidiano, somos constantemente

    sensibilizados, atravs da comunicao social em geral, para as relaes, quase sempre

    conturbadas, entre a entidade patronal e os sindicatos, com a interveno do poder

    poltico. A histria das relaes sindicais demonstra, inequivocamente, o envolvimento

    poltico nos domnios pblico e privado. As associaes sindicais devem, idealmente,

    actuar em consonncia com os princpios da gesto democrtica e assentar a sua

    legitimidade em eleies cclicas, sufragadas por escrutnio secreto dos rgos

    dirigentes e na participao dos trabalhadores na defesa dos seus interesses (Dubin,

    1960; Lallement, 1996; Carvalho & Gutirrez, 1997; Flood & Stiles, 1997; Barry &

    Shapiro, 2000).

    Em Portugal, o perodo do ps-25 de Abril foi particularmente frtil para a

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    55/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    56/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Do exposto, depreendem-se referncias, directa ou indirectamente, relacionadas

    com a estratgia organizacional. relativamente pacfico considerar-se, actualmente,

    uma quantidade moderada de conflito como funcional, quando se escolhe o estilo de

    gesto de conflito mais adequado. Por outras palavras, tal desiderato exequvel se as

    variveis que afectam conflito e os resultados organizacionais forem geridos com

    flexibilidade. Caso contrrio, se o conflito for to excessivo que se torne incontrolvel,

    as consequncias nefastascomo a diminuio da satisfao pela tarefa, o aumento do

    absentismo e do turnover, ou o abaixamento da produtividade podem ser inevitveis

    (Pinkley & Northcraft, 1994).

    Por vezes, o conflito poder confundir-se com competio, nomeadamente em

    situaes nas quais a incompatibilidade de objectivos inerente a uma luta por uma

    posio, um privilgio ou incentivo. No limite, toda e qualquer incompatibilidade gera

    competio (Bornstein & Erev, 1977; Tamhain & Wilemon, 1977; Johnson, 2002;

    Rahim, 2002; Golec & Federico, 2004; Dimas, Loureno & Miguez, 2005; Cunha,

    Rodrguez, Montes & Serrano, 2009).

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    57/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    58/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Um nmero significativo de abordagens tem vindo a ignorar, gradualmente, a

    ligao entre conflito laboral, sade e realizao individual. Ora, o no cumprimento

    destas premissas comportamentais pode despoletar tenses e antagonismos. Quando

    gerido ou controlado individualmente, o conflito pode implicar consequncias negativas

    de longa durao, produzindo disfunes, por exemplo, psicossomticas como o stress

    (Jackson & Schuler, 1999; Schuler & Jackson, 1997; Tidd & Friedman, 2002; Dreu,

    Dierendonck & Dijkstra, T. 2004).

    No raras vezes, o conflito desempenha o papel de pivot nas organizaes.

    Significativa quantidade das investigaes realizadas no passado debruou-se sobre o

    conhecimento das razes do conflito no trabalho e os custos da(s) performance(s). No

    obstante esse esforo, a explorao de correlaes entre auto-realizao, conflito e,

    consequentemente, objectivos organizacionais nunca foi muito evidente. Recordando a

    teoria de preocupao dual, muito presente na literatura: de preocupao com os

    prprios resultados e com os dos outros, constata-se um compromisso entre

    personalidades e situaes. Aspiraes a suprir necessidades como as de filiao,

    motivao intrnseca ou afirmao de estatuto podem, facilmente, pesar na balana

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    59/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    60/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Em sintonia com autores como Rubin (1983, 1993) ou Pruitt, Parcker & Mikolic

    (1997), indiscutvel que o processo de interaco organizacional, como qualquer outro

    que envolve a natureza humana, implica uma infinidade de reaces. As percepes que

    se tem dos outros colaboradores, no mesmo grupo (organizao) ou sub-grupo

    (unidades, departamentos), podem ser condutoras das atitudes. Aquilo a que os

    especialistas chamam escalada do conflito no mais do que um crculo vicioso de

    aco-reaco entre as partes envolvidas, que despoleta um espiral comportamental, e

    pode assumir contornos incontrolveis (Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    Para alm dos j referidos modelos do agressor/defensor ou o do daespiral de

    conflito, Rubin (1983, 1993) e Pruitt, Parcker & Mikolic, (1997) aduzem um outro que

    tem estado patente, de forma tcita e explcita, no decorrer desta discusso; o modelo

    das mudanas estruturais, que sustenta que os conflitos e as estratgias utilizadas para

    os combater esto directamente implicados nas diversas metamorfoses sentidas na

    organizao.

    A analogia das metamorfoses bastante descritiva no que concerne dinmica

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    61/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    62/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    de poder, e que radicam na resoluo de conflitos, no sejam populares. Pelo

    contrrio, apesar dos indcios de mudana sobre esta matria, os referidos mtodos

    ainda esto muito enraizados. Se a resoluo de conflitos parece eficaz a curto-prazo, a

    sua utilidade a longo-prazo deixa muito a desejar, podendo ser um processo demasiado

    oneroso, financeira e socialmente, para a organizao. Actualmente, as empresas j

    apostam numa gesto mais contingencial (Filley, 1978; Cliff, 1987; Sitkin & Bies,

    1993; Bagshaw, 1998; Darr, 1999; Tjosvold, Hui & Yu, 2003; OLeary, Nabatchi &

    Bingham, 2005).

    A reforar esta teoria, Kilmann & Thomas (1978) avanaram quatro possveis

    perspectivas para se lidar com o conflito que, na prtica, se submetem a duas matrizes; a

    estrutural e a processual: processo externo e estrutura externa; processo interno e

    estrutura interna. Tanto a abordagem do processo como a da estrutura externa destacam

    os efeitos que afectam as partes e que tm a sua gnese em factores exteriores.

    O comportamento de cada parte produzido numa lgica de estimulo-reaco ao

    contexto (resposta a competio, ameaas, avaliaes negativas, punies e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    63/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Gerir o conflito uma forma de lidar com os comportamentos das partes dentro

    de certos limites quantitativos e qualitativos. Os limites mais comuns circunscrevem,

    em primeira instncia, a minimizao da violncia, tcita ou expressa, mas este intento

    no o mais determinante. Por seu turno, a manipulao psicolgica, apesar de muito

    invocada na literatura, tambm no tida, por muitos autores, como o principal alvo da

    gesto conflitual, constituindo um meio entre muitos (Warehime, 1980; Euwema, Vliert

    & Bakker, 2003; Al-Tabtabai & Thomas, 2004; Cunha, 2008).

    Como defendia Fink (1992, p. 832):

    Os esforos para controlar o comportamento so virtualmente universais, desde que

    muitos seres humanos e grupos fazem frequentes ou continuadas tentativas de controlar o prprio

    comportamento e o dos outros (...). A no ser que o gestor tenha sorte, o sucesso do controlo

    comportamental parece depender de uma de duas coisas: conhecimento das determinantes

    essenciais do comportamento e o poder para manipular essas determinantes. Esforos repartidos

    para controlar o comportamento sero bem sucedidos at ao ponto que os factores que o

    influenciam sejam correctamente identificados e manipulados tecnicamente na direco

    desejada. Implica uma perspectiva de longo-termo do conhecimento e do poder: conhecimento

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    64/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Aps um primeiro levantamento do problema e de potenciais causas, segue-se o

    consequente inqurito que, no raras vezes, pode conduzir a um confronto com o

    statuos quo reinante. Para alguns investigadores, a delimitao dos atritos essencial

    para uma gesto construtiva e, em ltima instncia, para a sua resoluo. O esboo de

    possveis indicadores comportamentais de conflito (gestos, ou verbalizaes, por

    exemplo) constitui um complemento importante nesta fase estrutual (Thamhain &

    Wilemon, 1975; Ertel, 1991; Putnam, 1997; Argyris, 1998; Cloke & Goldsmith, 2000;

    DeChurh & Marks, 2001; Rahim, 2002; Ohbuchi & Suzuki, 2003).

    Quem gere o conflito no pode conformar-se (s) poltica(s) institucionais

    vigentes e ter de ser sensvel s variveis emocionais que se lhe deparam, criando o seu

    prprio sistema poltico. Por paradoxal que parea, as situaes de tenso podem ser

    relevantes pelos ensinamentos que os elementos das organizaes delas podem retirar.

    neste terreno que o conceito de learning organization, em crescente anlise pelos

    tericos organizacionais nos ltimos anos, pode ganhar alguma consistncia, em

    articulao com as estratgias gizadas para gerir o conflito (Mallinger, 1999; Bodtker &

    Jameson, 2001; Vince, 2001).

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    65/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    organizacionais, alterando-se as fontes do conflito (Gabriel, 1998; Moreira, 2005;

    Cunha, 2008).

    Em meados do sculo XX comearam a construir-se algumas teorias sobre

    estilos de conflito. Follet foi uma das autoras que mais contribuiu para este desiderato,

    avanando com trs formas diferentes de se lidar com o conflito: domnio, compromisso

    e integrao, s quais acrescentou, posteriormente, o evitamento e a supresso. Em

    1964, Blake & Mouton apresentaram uma estrutura que aponta cinco outros tipos de

    gesto: pressionar, aligeirar, eliminar, comprometer-se e resolver o problema. Os

    referidos autores analisaram estes estilos, assentando os seus pressupostos nas atitudes

    do gestor que visam uma dupla preocupao: com as pessoas e com a produo (Rahim,

    2002).

    De acordo com Fisher (1997, p. 192):

    O desenvolvimento de campos de Gesto e Psicologia Organizacional seguiu as

    prescries de Follett, apesar do pioneirismo do seu trabalho. Schmidt e Tannnbaum, por

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    66/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    67/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    68/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    influenciada por estas duas mentalidades, com reflexo na(s) guerra(s) que se renovam

    consecutivamente.

    Elsayed-Ekhouly & Buda (1996) basearam-se nas dimenses exploradas por

    Hofstede (citado por Elsayed-Ekhouly & Buda, 1996) - um dos principais

    investigadores da cultura organizacional - que funcionam como vectores preciosos

    numa diferenciao cultural a uma escala internacional: poder, reduo das incertezas,

    individualismo versus colectivismo e a questo do gnero.

    Os dois primeiros elementos so transversais a esta investigao e sero

    aprofundados mais adiante. Quanto questo do individualismo/colectivismo, sabido

    que alguns dos valores colectivos de cada nao correspondem a caractersticas

    individuais mais presentes. Recuperando o exemplo anterior, no difcil associar os

    americanos a um ideal-tipo de individualismo. Relativamente questo do gnero nas

    organizaes, h a imagem de menor afirmao das mulheres numa cultura muulmana.

    Apesar de generalizaes, so factores a relevar quando se relacionam traos culturais

    com estilos de conflito. A globalizao dos negcios implica que os gestores actuem em

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    69/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    70/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    71/430

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    72/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    73/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    2. Negociao

    2.1. Natureza da Negociao

    indiscutvel que a negociao uma realidade quotidiana, apesar de muitas

    vezes o ser de uma forma inconsciente. A estrutura e o processo negocial so, na sua

    essncia, os mesmos, tanto nas negociaes de nvel pessoal como em complexas

    negociaes diplomticas ou organizacionais. A negociao - tal como o conflito e o

    poder - indissocivel do comportamento humano. Ao longo da nossa vivncia, todos

    d G d l li b i i d i i

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    74/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Formam-se faces. Embora algumas no sejam somente de ndole poltica,

    tornam-se polticas com o decorrer do processo. O resultado ltimo das coalizes o

    produto dos acordos entre interesses e finalidades dos oponentes e est sempre em

    construo. As trocas esto indirectamente inseridas numa lgica poltica, onde as

    aces das coligaes se sobrepem aos comportamentos individuais. Mas, as coalizes

    no existem s internamente como podem assumir propores externas, tambm podem

    ocorrer no exterior das organizaesclientes, fornecedores, sindicatos, entre outros,

    influenciando-as significativa e decisivamente (Serrano, 1996; Chambel & Curral,

    1995; Money, 1998).

    O complexo negocial pressupe a existncia de vrios instrumentos e

    mecanismos de gesto de conflito com o objectivo de se passar, idealmente, de um

    estado de conflito para um estado de no conflito, ou ento, gorada a sua eliminao

    total, aproveitar aquilo que o conflito possui de positivo, regulando-o e condicionando-

    o. No entanto, segundo Rubin (1983) nem todo o conflito se podealguns no devem

    resolver pelo recurso negociao, embora esta continue a constituir-se como um dos

    meios privilegiados para a prossecuo dessas intenes.

    P d G d R H P l li b i i d i i

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    75/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    que se percepcione que os investigadores que analisam esta terminologia se referem ao

    mesmo fenmeno.

    Teorizar sobre esta problemtica no tarefa fcil. A literatura e as

    metodologias utilizadas no seu estudo so, muitas vezes, conceptualmente dispersas.

    Existe uma infinidade de definies de negociao. Todas elas constituem referncias

    complementares na tentativa de se encontrar um conceito suficientemente amplo e

    global. Algumas enfatizam a comunicao interactiva (queremos algo de algum e

    algum quer algo de ns); outras destacam o benefcio mtuo resultante da prerrogativa

    anterior, enquanto certas concepes atentam no significado que a discusso de

    interesses acarreta (ofertas e contra-ofertas) (Stephenson, 1960; Johnson, 1993; Silva,

    1995; Walsh & Greenhalgh, 1986).

    Recorrendo a um autor em concreto, Dupont, na sua proposta para um tratado

    de negociao, refere que esta se trata de uma actividade que coloca frente-a-frente

    dois ou mais intervenientes que, confrontados por antagonismos e interdependncias,

    escolhem uma soluo mutuamente aceitvel. Historicamente, o debate sobre esta

    P d G t d R H P t l li b i t i d i i t

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    76/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    A negociao procura lidar com o conflito, de modo a que, em teoria, possa

    satisfazer ambas as partes, pelo menos parcialmente. No limite, o desejvel que

    ningum se sinta totalmente prejudicado e possa ganhar alguma coisa. Isto , nesta

    situao de gesto de conflito o que se pretende que os agentes envolvidos na

    contenda alterem as suas demandas at chegarem a um compromisso razovel para eles.

    Mas, no raras vezes, os indivduos no parecem predispostos a chegar a um acordo.

    Esto demasiado centrados nos seus valores e nas metas estabelecidas que se tornam, de

    certa forma, inflexveis e irredutveis nas suas posies e recorrem a estratgias mais

    radicais. Tal poder acontecer, possivelmente, em situaes em que a relao conflitual

    multiplica o conflito inicial, alastrando-o a outras tenses. Alis, a ligao entre os

    objectivos e os resultados um dos eixos que sustentam a investigao ao nvel da

    questo negocial. No entendimento de Pruitt (1983), a negociao pode apresentar os

    seguintes desfechos hipotticos: a vitria de uma das partes; o compromisso (acima

    referido); a vitria de ambas as partes ou acordo integrativo (win-win) e uma situao

    em que o entendimento ou acordo se torna impossvel.

    Na maioria das vezes, como se trata de um acontecimento de potencial

    P d G t d R H P t l li b i t i d i i t

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    77/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    formar, sempre na dependncia de um outro agente, exterior s partes, a reviso da

    literatura conduz a duas orientaes que se destacam: a distributiva e a integrativa, que

    acompanharo todo o estudo. Enquanto a primeira se notabiliza pela prevalncia de

    comportamento(s) competitivo(s), e assenta em jogos de soma nula (ganhar-perder) - a

    desenvolver nos pontos seguintes - a segunda centra-se mais nos problemas do que nos

    interessados, o que pode reflectir preocupaes com a outra parte sem por em risco a

    sua (soma positiva) (Fisher, 1977; Putnam & Jones, 1982; Pruitt, 1983; Jesuno, 1996;

    Schweitzer & DeChurch, 2001; Sebenius, 2002; Putnam, 2003; Cunha, 2008).

    Embora para alguns autores estes modelos surjam separados, outros defendem

    que podem coexistir. Neste cenrio pertinente abordar, a partir destas duas, a

    distributiva e a integrativa, outras tipologias que a negociao pode assumir. Para que

    tal desiderato seja possvel, nunca se pode iludir que o panorama geral se reveste de

    uma abrangncia, que pode obstar, parcial ou totalmente, a prossecuo de uma

    inteno mais clarificadora do assunto. A ideia subjacente consiste em optar-se pelos

    modelos que melhor delimitem as directrizes conceptuais seguidas pela vertente em

    anlise. As movimentaes sociais incorporam tal complexidade de dinmicas que, por

    Poder e Gesto de Rec rsos H manos em Port gal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    78/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    padronizaes absolutas e estanques seria outro erro (por exemplo, apesar de poderem

    ocorrer no mbito da negociao, os enviesamentos cognitivos so tidos como um

    processo autnomo). No se pode ignorar a imprevisibilidade negocial (Sousa, s/d;

    Weiss & Stripp, 1998; Jesuno, 1996; Cunha, 2001; Cunha, 2008; Cunha & Pereira,

    2008).

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    79/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    2.2. Processo Negocial

    O processo negocial pode surgir por dois motivos: criar algo de novo que ambas

    as partes no consigam isoladamente e resolver um problema entre elas. Outros autores,

    como Rubin (1983), acrescentam a este quadro o facto de ser um processo voluntrio

    no qual se trocam ou partilham recursos e que tem como objectivo final atingir um

    acordo (Porter, Lawler III & Hackman, 1987; Fisher, Ury & Patton, 1993; Martin,

    Herbig, Howard & Borstorff, 1999; Silva, 2000; Cunha, 2001; Sobral, 2001).

    A negociao no um processo uniforme. Diferentes motivos, caractersticas e

    presses tm de ser equacionados quando se cria uma interaco negocial. Como

    constructo um fenmeno que tem tanto de abrangente como de contingente quando se

    avalia. No entanto, vrios autores convergem para um conjunto de momentos que so

    incontornveis e constituem, invariavelmente, uma espcie de ncleo duro no que

    concerne s numerosas mutaes que influenciam a(s) negociaes(s). De um modo

    geral, primeiro apontam-se as divergncias, depois segue-se uma coordenao prvia

    dos motivos e argumentos e, aps a tomada de deciso, chega-se aos resultados finais. A

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    80/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    A encabear o processo negocial esto movimentaes, burocrticas e de

    logstica, de cariz exploratrio. Todo este ritual inicitico tem como finalidade a

    demarcao de fronteiras e a imposio de condies e envolve aspectos a tratar como o

    local da(s) reunies(s), os timings, os assuntos primordiais, a ordem dos trabalhos, entre

    outros. uma fase onde se desenham os primeiros contornos, e, por isso mesmo, porque

    estruturante, das mais importantes ou, at, a que mais se poder destacar. onde tudo

    se comea a decidir. Numa assero mais popular onde se separa o trigo do joio. Os

    actores negoceiam as premissas sobre as quais todo o jogo de interesses se vai

    fundamentar. Definem-se as matrias mais pertinentes que pautam as distintas agendas.

    Discrimina-se o que passvel de ser ou no negociado (Putnam, 1977; Pruitt, 1983;

    Katz, 2006).

    Pruitt (1983) chamou a ateno do facto de ser nesta etapa que os antagonismos

    so processados. Tm que ficar bem explcitas as expectativas, os objectivos e as

    posies de cada parte. Elaboram-se os primeiros planos normativos e regulamentos a

    seguir. Uma preparao consistente poder ser o garante de uma negociao eficaz. Um

    negociador com uma planificao deficiente sujeita-se a uma reaco condicionada s

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    81/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Estes acontecimentos iniciais tm algo de artificial, sendo de desconfiar, a

    verificar-se, o excesso de boa vontade dos agentes em relao aos seus intentos e aos do

    oponente. O que certo que um momento de antagonismos e que acarreta mltiplas

    tenses. Na fase seguinte, que fundamentalmente tctica, a desejada flexibilidade pode

    emergir, em detrimento do excessivo hermetismo da anterior. uma etapa de especial

    dinamismo; de propostas e contra-propostas. onde a aco propriamente dita se

    desenrola. Gizam-se estratgias e tcticas. A tomada de deciso comea a ganhar corpo

    (Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    As caractersticas e, consequentemente, os factores inseridos nos modos de

    desenvolvimento do processo vo sofrendo mutaes. Por muito que se tenha planeado,

    a imprevisibilidade acaba sempre por surgir e nada pode ser dado como adquirido. Estas

    directrizes podem influenciar os resultados. A resoluo e os acordos estabelecidos so

    os mais presentes. Atingida a fase em que tudo se decide, a presso pode aumentar e

    com ela a insegurana. No raras vezes, a urgncia em se chegar a um acordo e a falta

    de clarividncia que surge de uma grande exposio fsica e psicolgica, afloradas por

    Jesuno (1996), so combinaes nefastas para a negociao.

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    82/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    a altura de se fazer um balano das opes e selar, por escrito, o que ficar estipulado, de

    modo a cumprirem-se as decises apresentadas. Se o grau de complexidade do processo

    for muito acentuado poder ser necessrio recorrer-se a mediadores e comits de

    arbitragem, que alis, podem coexistir em todo o processo. No entanto, nesta situao

    que a sua interveno mais significativa e usual (Schweitzer & DeChurch, 2001;

    Phillips & Cooney, 2005).

    A mediao o instrumento mais utilizado na incluso de terceiros no processo

    negocial. Nas organizaes, por exemplo, insere-se num quadro conflitual intergrupal.

    Neste tipo de acontecimento a gesto dos atritos poder ter uma orientao bipolar; para

    alm de intervir na mediao entre as partes, pode faz-lo no seio do prprio grupo,

    incorrendo, assim, numa outra forma, menos comum, mas igualmente possvel, a

    mediao intra-grupal (Jesuno, 1996; Flanchec, Duval-Hamel & Rojot, 2004; Cunha,

    2008; Cunha, Rodrguez, Montes & Serrano, 2009; Lopes, Cunha & Serrano, 2010).

    Na aco negocial o papel dos mediadores , sobretudo, formal. A um mediador

    exige-se que aconselhe, sugira, opine e no imponha nenhuma soluo. Cabe-lhe a

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    83/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    Por seu turno, a arbitragem parece ter uma interveno ainda mais linear e

    explcita. Surge quando se chega a um impasse e no h soluo vista. Os opositores

    no conseguem chegar a um acordo e apresentam os seus argumentos a uma outra parte

    que os ouve, analisa a situao e delibera (Volkema, Farquhar, & Bergmann, 1996).

    A actuao de um rbitro pode limitar-se a um nico assunto ou a vrios em

    concomitncia. Quanto natureza das decises a que se pode chegar, a arbitragem

    poder ser voluntria, no obrigando os agentes a aceit-lassemelhante mediao,

    exceptuando o facto do rbitro poder e dever pronunciar-se favorvel a uma das partes e

    o mediador ser mais um colaborador , ou vinculativa (legalmente ou por

    compromisso pr-estabelecido), levando a que se cumpra a vontade do mediador

    (Jesuno, 1996; Cunha, 2008).

    A vantagem deste instrumento no se restringe a uma questo de reduo de

    custos das negociaes sem solues. O facto de se transferirem responsabilidades para

    terceiros sempre mais confortvel. Tambm o maior empenhamento reflectido na

    participao de todos, sendo mais evidente, poder ser bastante positivo. No entanto,

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    84/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    investigao leva assuno de que os negociadores enfrentam uma troca

    informacional, para alm das ameaas, atravs de argumentos persuasivos e

    compromissos posicionais, que incluem acordos integrativos e resultados conjuntos.

    Estes intervenientes tornam o processo mais interactivo (Giebels, Dreu & Vliert, 1989;

    Herriot & Pemberton, 1997; Beersma & Dreu, 1999; Beersma & Dreu, 2003; Dreu &

    Manstead, 2004; Barbuto & Moss, 2006).

    relevantepara quem estuda a origem, a estrutura e os factores relacionais do

    processo negocialter especial ateno aos fenmenos cognitivos que o circunscrevem.

    Ao faz-lo, poder abarcar-se, mais facilmente, algumas variveis e efeitos que podem

    resultar importantes vectores na gesto da informao e, em ltima instncia, na tomada

    de deciso (Bazerman, 1983; Bazerman & Farber, 1985(b); Williams, 1993; Murnighan

    & Bazerman, 1990; Curhan, Elfenbein & Xu, 2006).

    A reforar esta ideia, Pruitt (1983) considera que o negociador ,

    simultaneamente, algum que processa informao e toma decises a vrios nveis:

    sociais, culturais, econmicos ou organizacionais. Pela anlise de algumas investigaes

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    85/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    86/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

    conflitos. Uma anlise das relaes de trabalho conduz, invariavelmente, a uma teia de

    jogos. No entanto, existem autores com uma posio pouco favorvel s teorias dos

    jogos. Por Exemplo, Bunge (Moessinger, s/d) apresenta as razes que as contrariam e

    que tm que ver com a sua eventual inadequao s prticas organizacionais, das quais

    se reala: o facto das regras de interaco no serem fixadas antecipadamente, podendo

    ser criadas ou modificadas no decorrer do processo; o controlo que cada actor tem de si

    em teoria e que pode ser perdido; a possibilidade da escolha dos ganhos associada s

    probabilidades ser ainda mais contingente do que suposto nas teorias; o tratamento dos

    indivduos como autmatos; o no serem teorias explicativas, no analisando as causas

    dos conflitos e no permitindo, por isso, previses, entre outras.

    Embora o seu pendor automtico e mecnico possa ser posto em causa,

    incontornvel a importncia das teorias dos jogos como modelos que reflectem os

    comportamentos polticos nas organizaes. Alguns estudos empricos apresentam

    lacunas na abordagem das dinmicas escondidas que esto muitas vezes associadas aos

    comportamentos polticos. No que concerne aos modelos econmicos, na literatura,

    substancialmente consensual que o seu contributo para a teoria da negociao de

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    87/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    88/430

    g p g intra-departamental

    o conflito ilusrio, a desvalorizao reactiva, osguies negociais, opensamento rgido,

    o excesso de confiana, a heurstica da disponibilidade, a heurstica da

    representatividade, a ancoragem e o ajustamento e o enquadramento.

    No inusual a negociao envolver questes nas quais as partes lutam pelos

    mesmos interesses, sem se aperceberem disso. No tomam conscincia do valor comum

    dos assuntos em disputa. Trata-se de um conflito ilusrio: as pessoas pensam ter

    objectivos opostos, quando, efectivamente, so os mesmos. Os negociadores esperam

    que os interesses sejam opostos aos dos outros. Este desejo subsiste depois da

    negociao em que os interesses so convergentes e compatveis. plausvel que o

    efeito da soma fixa conduza os negociadores a basearem-se nas suas expectativas para

    inferirem as dos outros. O pressuposto da soma fixa actua, duplamente, como causa e

    efeito, da discriminao da viso do outro. So dois enviesamentos que se exponeciam

    mutuamente (Jesuno, 1996; Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    Por outro lado, se um negociador percebe que h um valor comum e que o outro

    no se apercebe desse facto, aquele pode explorar essa dimenso para conseguir obter

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    89/430

    g p g intra-departamental

    grelhas que descrevem as sequncias de momentos que pautam as negociaes. Este

    tipo de esquemas integra, quase sempre, fundamentos acerca das atitudes expectveis do

    prprio e do outro (Jesuno, 1996; Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    Os guies podem influenciar as percepes e atribuies que o negociador faz

    acerca do modo como o oponente se porta e, consequentemente, as suas aces podem

    vir a reflectir esses pensamentos. Alguns estudos evidenciam que os comportamentos de

    confrontao durante a negociao tm menos probabilidades de provocar agressividade

    quando so atribudos a convices sinceras do que quando so sentidos como sendo

    desonestos (Baron, 1977; Jesuno, 1996; Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    A divergncia conduz, quase invariavelmente, a que se desenvolva um

    pensamento rgido. Este tipo de cognio tende a inibir a criatividade e a resoluo de

    problemas. H uma predisposio para se atriburem significados rgidos a objectos ou

    assuntos e para no se relacionarem conceitos, principalmente se a negociao for vista

    como muito competitiva e extremada. A estereotipagem quase inevitvel e entorpece a

    interaco. A forma como se encaram as possibilidades de sucesso na negociao no

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    90/430

    g p g intra-departamental

    possibilidade de este se verificar. Mas, a curto-prazo, o excesso de confiana quase

    sempre negativo, conduz, bastas vezes, a intransigncia e a uma sub-optimizao do

    processo negocial. Paralelamente, os contendores podem interpretar como mais

    exequveis as premissas das quais tm uma recordao mais presente. a situao

    designada, por vrios autores, de heurstica da disponibilidade. As pessoas consideram

    provvel um acontecimento futuro se tiverem conscincia dos seus contornos passados.

    A memria tem um papel essencial neste efeito cognitivo. A intensidade tambm pode

    revelar-se determinante. Aquilo que acontece com mais frequncia , potencialmente,

    mais marcante e, por inerncia, passvel de ser mais lembrado. A semelhante lgica de

    funcionamento podero estar votados os momentos mais traumatizantes e os mais

    prximos no tempo. A heurstica da disponibilidade pode distorcer a clarividncia na

    aferio das hipteses. Este enviesamento pode interagir com o do bolo fixo. Esta

    posio pode dever-se salincia da informao percebida como pertinente processada

    (Jesuno, 1996; Cunha, 2008).

    Por seu turno, a heurstica da representatividade revela-se no julgamento feito

    com base nas caractersticas mais proeminentes de determinado objecto que pode ser,

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    91/430

    intra-departamental

    ajustamentos, na maior parte dos casos, deficientes para apresentar a proposta final. A

    oferta inicial feita pelo opositor tem uma implicao aprecivel nos intentos e nas

    concesses subjacentes. A primeira oferta funciona como uma ncora para as restantes

    aces e reaces. A percepo inicial de um bolo fixo pode servir como ponto de

    partida e, em seguida, processam-se ajustamentos de molde a acompanharem as

    incidncias negociais (Jesuno, 1996; Cunha, 2008).

    O enquadramento das questes levantadas durante o processo negocial tambm

    pode resultar como um meio de distoro cognitiva. A forma como as questes so

    inseridas num espectro mais abrangente de condies e exigncias constitui uma

    vertente subtil da tomada de deciso em situaes de alguma indefinio, com impacto

    na conduo negocial. A subjectividade que pode advir deste artificio pode (de)formar

    a negociao. um domnio dissemelhante, quase diametralmente oposto ao do modelo

    econmico da racionalidade (teoria das utilidades esperadas). Por exemplo, se o

    enquadramento estiver desenhado, orientando-se a tarefa mais para os ganhos do que

    para as perdas, a probabilidade de induo de acordo pode assumir maior expresso

    (Jesuno, 1996; Pruitt, 1983; Cunha, 2008; Cunha & Pereira, 2008).

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    92/430

    intra-departamental

    tratamento e gesto da informao e a forma como estes afectam as estratgias

    negociais envolvidas fundamental mapear as principais teorias sobre estratgias e

    tcticas patentes na literatura que, por se inserirem neste quadro conceptual, sero

    desenvolvidas em seguida.

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    93/430

    intra-departamental

    2.2.1. Estratgias Negociais

    Na literatura, relativamente usual confundir-se os conceitos de estratgia e

    tctica. Aparecem indistintamente associados ou como sinnimos. No entanto, pela sua

    funcionalidade analtica so bastante distintos. A tentativa de discriminao dos termos

    importante para os situarmos melhor, como tambm para se clarificarem os contornos

    a eles inerentes. As estratgias tm que ver com a misso, enquanto as tcticas, e as

    manobras, se ligam ao modo de pr em prtica os planos e s polticas que possam

    conduzir prossecuo dos objectivos delineados. As primeiras prendem-se com o

    destino, e as segundas com o caminho para l chegar. A primazia, neste momento,

    vai para as estratgias negociais. nesta confluncia conceptual que surgem as

    orientaes negociais, tendo sua disposio as tcticas, que por sua vez, sero meios e

    que tero de ser eficientes para que a sua essncia se cumpra. As estratgias

    apresentadas seguem uma orientao que tem na eficcia negocial (individual, colectiva

    ou organizacional) o seu sentido mais apurado e saliente (Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    A eficcia negocial pressupe o alcance de objectivos organizacionais ou

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    94/430

    intra-departamental

    escolha de uma estratgia de competitividade assentam na premncia de prossecuo

    dos objectivos prprios, com prejuzo dos patenteados pelos outros negociadores,

    estando a essncia integrativa reduzida a uma expresso mnima. Este tipo de poltica

    concentra esforos na tentativa de fazer o outro baixar as expectativas ou de

    fragilizar a sua capacidade de resistncia (Pruitt, 1983; Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    Por seu turno, a negociao integrativa exequvel desde que o(s)

    acontecimento(s) que a gera(m) radique(m) em pressupostos cooperativos. Quando os

    proveitos se podem revelar comuns s partes - quando os benefcios podem ser

    repartidos devido s estratgias que potenciam essa mtua realizao - estamos

    perante motivaes integrativas. Este fundamento conduz a uma assero negocial de

    natureza multidimensional, uma vez que as trocas envolvidas so, na maioria das vezes,

    complexas e multiformes. Mas, apesar da interaco poder ser mais profcua do que as

    estratgias distributivas, tal no equivale a dizer que haja um equilbrio na afectao de

    benefcios. O que se reala, com relativo consenso, a maior possibilidade de se

    alcanar um acordo (Meeker, 1984; Bazerman & Beale, 1992; Jesuno, 1996; Cunha,

    2008).

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter e

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    95/430

    intra-departamental

    Se h autores mais partidrios das estratgias competitivas e outros das

    cooperativas, tambm se encontra na literatura os que combinam as duas na construo

    terica. Pruitt (1983) corporiza um desses exemplos, talvez o mais elucidativo e

    proeminente. Trata-se de um dos pioneiros no estudo da negociao. Torna-se, por isso,

    natural, e estruturante, enquadrar o seu pensamento sobre a opo estratgica como um

    legado fundamentalque transcende a poca em que se insere e se perpetua nos nossos

    dias com grande influncia no meio cientfico e acadmico. A tipologia de Pruitt

    (1983) assenta em quatro estratgias predominantes; a soluo de problemas a

    flexibilidade, a rivalidade e a inaco. Apesar de terem sido construdas separada e

    autonomamente, podem, a dada altura, coexistir, combinando-se tcticas de cada uma

    delas, como se ver no ponto seguinte. Mais, algumas comportam, em si mesmas, a

    contradio exposta, integrando essa dupla orientao.

    A soluo de problemas implica uma inteno de se assumirem escolhas que

    sejam proveitosas para ambas as partes. uma estratgia que congrega esforos no

    sentido de se alcanar a prossecuo dos objectivos de cada negociador (a anteriormente

    referida soluo ganhar-ganhar). A este propsito, Cunha (2000) argumenta que a

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter ei d l

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    96/430

    intra-departamental

    enquadramento conceptual. Corresponde a um certo tipo de impasse, pausa e

    interrupo que pode, eventualmente, prolongar-se at fazer abortar os contactos,

    favorecendo a parte que estava numa situao negocial, aparentemente, mais vantajosa.

    No entanto, a estratgia, ou a matriz, equacionada e, mesmo, a escolhida, ser aquela

    que for percepcionada e valorizada como a mais adequada quer ao nvel dos custos

    quer ao nvel das oportunidadesem defesa exclusiva ou parcial (quando tem em conta

    a outra parte) dos seus objectivos (Cunha, 2000; Cunha, 2008).

    Neste cenrio de postulaes abertasque se aliceram em fundamentaes de

    cariz, supostamente, mais geral e menos especfico, pressupondo intervenes tericas

    de largo espectro e uma viso de conjunto mais aprofundadadestaca-se, com a mesma

    intensidade, pertinncia e relevncia, a herana conceptual de Mastenbroek (1991),

    mormente, atravs da contribuio do seu modelo integrativo para a teoria da

    negociao. Para Mastenbroek, a negociao , acima de tudo, um processo de ndole

    social no qual os seus intervenientes se debatem com determinados dilemas que tentam

    solucionar. O modelo do autor acrescenta uma outra dimenso estratgica que oscila

    entre a luta e a colaborao. Trata-se de uma dimenso inerente s fases do processo e

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter ei d l

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    97/430

    intra-departamental

    2.2.2. Tcticas Negociais

    As tcticas negociais no constituem mais do que importantes instrumentos na

    difcil tarefa de se consolidarem negociaes eficazes. As tcticas utilizadas reflectem,

    intimamente, as estratgias utilizadas pelos diversos negociadores em diferentes fases

    do processo. Na mesma lgica de entendimento, surgem as manobras que sero aces

    similares e subsidirias das tcticas, tendo um papel de complemento em relao a estas.

    As manobras incorporam as tcticas e aparecem, por vezes, como directrizes

    coadjuvantes das mesmas. A palavra tctica , em muitos casos, definida como um

    conjunto de aces convergentes numa finalidade (Cunha, 2000; Putnam, 2003; Cunha,

    2008).

    A metfora do jogo tambm muito recorrente nesta tentativa de se perceber o

    funcionamento das tcticas. Em qualquer desporto usual ouvir-se falar de preparao

    do jogo, anlise dos adversrios e disposio tctica das equipas. As tcticas

    pressupem um quadro comportamental dos negociadores para a realizao dos seus

    planos, pautando-se como vectores determinantes na execuo da poltica negocial

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter ei t d t t l

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    98/430

    intra-departamental

    As tcticas actuam no cumprimento dos imperativos estratgicos e, nesse

    sentido, tambm so influenciadas pela dicotomia competio/cooperao. So

    diversificadas as tcticas competitivas destacadas por Jesuno (1996). Fluem num

    processo onde se podem relacionar e assumem intensidades variadasdas mais ligeiras

    s mais exigentes e so as seguintes: lisonja, persuaso, promessas e ameaas e

    decises irreversveis (Jesuno, 1996; Munduate, Ganaza, Peir & Euwema, 1999;

    Deutsh, 200; Medina, Munduate, Dorado, Martinez & Guerra, 2005; Cunha, 2008).

    A lisonja tem por principal desgnio a tentativa de controlo do antagonista,

    limitando os seus movimentos e manietando a sua capacidade de reaco. Se uma

    pessoa se sentir lisonjeada poder ver-se obrigada, por fora da situao, a diminuir a

    sua guarda e a oferecer menos resistncias, cedendo, com maior flexibilidade, aos

    intentos da outra. Quando o negociador oponente avana com determinada proposta, se

    o indivduo sentir que, de alguma forma, foi elogiado, a sua posio pode sair

    fragilizada, podendo verificar-se uma maior dificuldade para contrariar o adversrio. No

    entanto, para produzir os efeitos desejados, esta uma tcnica que requer muito rigor e

    mincia, acabando por, na maioria dos casos, no resultar ou resultar deficientemente.

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    99/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    100/430

    intra-departamental

    de aferio destes aspectos latentes. Uma plataforma de entendimento que se alicerce

    numa procura de alternativas e solues comuns um dos imperativos deste tipo de

    tcticas e, como se referiu anteriormente, das estratgias a ele subjacentes. Das vrias

    formulaes avanadas por Pruitt (1983), tambm evocadas por Jesuno (1996),

    destacam-se: expanso de recursos, compensao no especfica, reduo de custos,

    compatibilizao de prioridade e a alternativa super-ordenada, como as mais

    representativas do paradigma integrativo.

    Como j se referiu anteriormente, os conflitos originam-se em muitas ocasies

    em que se verifica uma acentuada escassez de recursos. Uma tctica possvel para se

    ultrapassar este problema baseia-se no aumento dos recursos merc dos negociadores

    (dinheiro, tempo, espao, entre outros). Esta uma soluo que acarreta inmeros

    constrangimentos que vo desde os custos que requer, que podem ser incomportveis,

    at ao surgimento de recursos insubstituveis, que implicam opes mutuamente

    exclusivas; ao escolher-se um recurso tem que se renunciar ao outro (Pruitt, 1983;

    Bazerman & Neale, 1992; Jesuno, 1996; Cunha, 2008).

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    101/430

    intra-departamental

    dos argumentos que esto em cima da mesa e uma sensibilidade especial na definio

    do encaixe do mosaico de alternativas, construindo-se, para o efeito, um modelo

    matricial de interesses (Pruitt, 1983; Jesuno, 1996; Cunha, 2008).

    Por ltimo, e neste sentido, a alternativa super-ordenada assenta na

    reformulao do problema e na criao de respostas inventivas e inovadoras na sua

    resoluo. No fundo, activa-se movendo a negociao das posies para os interesses.

    Quando as primeiras so diferenciadas e irredutveis, a actuao negocial passa a

    desenvolver-se ao nvel dos segundos, demandando um compromisso que agrade s

    partes envolvidas (Pruitt, 1983; Jesuno, 1996; Cunha, 2008).

    Existem algumas tcnicas de grupo como o brainstorminge osgrupos nominais,

    muito recorrentes em Formao, que podem ajudar a exponenciar a resoluo de

    problemas. A primeira tcnica, a tempestade de ideias, incentiva a gerao de vrias

    hipteses de concretizao e a segunda, surge na dependncia da primeira, na

    salvaguarda das inibies que nela possam ocorrer, e alicera-se na individualidade e

    confidencialidade das opinies dos negociadores, aos quais garantido anonimato

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    102/430

    intra-departamental

    2.3. A Negociao e a Estratgia Organizacional

    Embora a negociao possa processar-se em moldes formais e institucionais

    assumindo-se que a sua interveno depende de um dispositivo legal, ou que tem o seu

    epicentro na iniciativa dos negociadores , na organizao estes fundamentos no so

    to claros. A actividade da gesto implica a gesto dos conflitos que ocorrem tanto

    interna como externamente na organizao. Tal acontece, no raramente, de uma forma

    espontnea, informal, no planeada (Mintzberg, 1990).

    Esta questo da negociao organizacional conheceu uma relevncia sem

    precedentes nas ltimas dcadas. Sempre foi uma matria fulcral no seio das empresas,

    no entanto, s actualmente que tem sido alvo da ateno devida. At s ltimas

    dcadas do sculo XX a negociao, como instrumento para enfrentar situaes

    constrangedoras, tinha sido largamente subestimada pelos cientistas organizacionais e

    tambm pelos prticos. Os consultores e formadores, por exemplo, incentivam o

    aperfeioamento de competncias tcnicas orientadas para a tarefa, bem como as que se

    relacionam com a tomada de deciso, e propiciam condies para uma formao mais

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    103/430

    intra-departamental

    explorao de tal ordem que se torna pertinente lev-la a cabo, mesmo que de forma

    genrica.

    A este propsito, como investigou e estipulou Mastenbroek (1991):

    (...) Baseados no estudo da literatura, quatro ngulos foram escolhidos parecendo seros mais frutuosos para um melhor entendimento da negociao:

    a) Negociar como um conjunto de regras tcticas empricas (...)

    b) Negociar como uma tcnica usada para lidar com vrios dilemas (...);

    c) Negociar como um processo com uma estrutura temporal (...);

    d) Negociar como um complexo de diferentes tipos de actividade (...)

    Em relao s dimenses que a negociao pode assumir, Mastenbroek (1991)

    identificou quatro grandes ncleos: obteno de resultados eficazes; influncia no

    equilbrio de poder; promoo de um clima construtivo e obteno de flexibilidade. De

    acordo com o modelo, a combinao entre as quatro dimenses que produz a eficcia

    em negociao.

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    104/430

    intra-departamental

    acentuadas. A negociao acaba por ser, indubitavelmente, consequncia da actuao da

    gesto ao nvel da coordenao da comunicao que assenta em trs elementos

    fundamentais: as palavras, os afectos e os rituais. Para Barber (1995), esta nova

    formulao terica surge na estreita influncia do paradigma da comunicao

    convencional, predominante durante muito tempo, na civilizao ocidental.

    Este(s) modelo(s) representava(m) uma forma de poder institucionalizado. Na

    negociao, a relao de foras equacionada estava reduzida, em certa medida, a uma

    expresso de direitos e obrigaes formais e legais, numa lgica de reaces opostas,

    sem grande complexidade interaccional. O modelo emergente reflecte o corrente

    entendimento da comunicao como uma situao de oportunidade. Anteriormente, a

    viso da comunicao como um sistema susceptvel de suscitar disputa(s) ou problemas

    era a mais comum no meio empresarial e, tambm, nas teorias clssicas de gesto. Os

    pressupostos negativos associados a uma assuno mais problemtica podem entravar a

    desejada eficcia nos resultados de qualquer aco negocial, quer na resoluo de

    conflitos, quer na distribuio de influncia(s). Isto , quando a comunicao se limita a

    um nico canal de transmisso e a uma legitimao hierrquica, a riqueza - que se

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    105/430

    intra departamental

    Aceitar os desafios da diversidade acarreta, entre outras questes, mudar a

    cultura organizacional, desenhar novos estilos de liderana, (re)estruturar e (re)formular

    as estratgias negociais. Esta retrica em aco legitima: a discusso aberta, as

    diferentes identidades individuais e grupais, a possibilidade de uma maior participao

    dos trabalhadores e a manuteno da confiana organizacional. Para esta situao

    contribui uma estrutura relativamente igualitria e no burocrtica (que promova a troca

    de ideias), o que pressupe a existncia de uma misso organizacional bem articulada e

    do conhecimento geral (Karambayya & Brett, 1989; Stidd, 2004; Veloso, Ferreira,Keating & Silva, 2010).

    Esta dimenso tem que ver com a integrao social do colaborador que, por seu

    turno, quando isolado desse contexto, constitui um universo prprio (dimenso micro).

    Em termos latos, a vertente macro possibilita uma maior identificao das semelhanas,

    a micro focaliza as diferenas. Negociar, sob o espectro da diversidade, no se limita ao

    seu controlo, pressupe o desenvolvimento de cada colaborador, retirando-se dele algo

    que a organizao tem o direito de esperar, desde que respeite a sua individualidade e os

    traos pessoais que comporta. H autores que advogam que na dinmica negocial no h

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    106/430

    intra departamental

    2.4. Negociao Inter e Intra-departamental

    A evoluo da cultura na e da organizao envolve, irremediavelmente, pelo

    menos numa perspectiva conceptual, com reflexos na gesto quotidianauma vasta teia

    comunicacional, institucionalizada ou de carcter espontneo. O desenvolvimento

    organizacional implica uma anlise sistemtica do seu funcionamento. Abordar a

    negociao em contexto empresarial, na perspectiva dos departamentos e das suas

    interaces, acarreta uma viso integrada destas unidades no processo negocial. Grande

    parte dos tericos organizacionais argumenta que a coordenao lateral entre

    departamentos tem tanto de importante como de problemtica, especialmente em

    ambientes de substancial carga tensional. Abordagens recentes adiantam que a

    colaborao entre o departamento de produo e o de marketing e entre a gesto e os

    trabalhadores a causa implcita de um eventual aumento da produtividade (Tjosvold,

    Dann & Wong, 1992).

    Ainda sob a perspectiva analtica que versa a dialctica entre competio e

    cooperao, alguns estudos propuseram estruturas para examinar como os

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    107/430

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    108/430

    intra departamental

    focalizados na minimizao de custos, produzindo ou comprando eficientemente. O

    principal desgnio conjunto, em empresas deste gnero, reside na obteno de um

    equilbrio entre os interesses do cliente e as restries da indstria manufactureira. Isto

    , os departamentos tero de negociar para coordenar, mais efectivamente, os seus

    objectivos (Huy, 2001; Nauta & Sanders, 2000; Sebenius, 2002).

    Os elementos dos departamentos de planeamento e de marketing fornecem uma

    variedade de interesses opostos. Para dar alguns exemplos, os trabalhadores do

    departamento de planeamento consideram que os do de marketing no tm a noo dos

    distrbios que possam causar pela presso imposta pela urgncia que imprimem aos

    projectos, isto porque a eficincia muito importante para os primeiros e a pressa

    inimiga desse especial imperativo; o departamento de marketing, no raras vezes,

    promete e idealiza aces que, nem sempre, so realizveis; os elementos do

    departamento de planeamento preferem prazos alargados e os de marketing, mais

    curtos; o departamento de marketing, frequentemente, no dimensiona, devidamente, os

    custos das suas campanhas, entre outras situaes (Nauta & Sanders, 2000).

    Poder e Gesto de Recursos Humanos em Portugal: anlise sobre a importncia da negociao inter eintra-departamental

  • 7/23/2019 tese gestao conflitos

    109/430

    p

    Uma ltima concluso foi desenhada por Nauta & Sanders (2000); a estratgia

    de uma organizao, como um todo, parece influenciar o comportamento negocial,

    patenteando as relaes entre as caractersticas macro-organizacionais e oscomportamentos micro-individuais dos trabalhadores. uma temtica merecedora, na

    opinio destes autores, de uma abordagem multidisciplinar sobre negociao inter-

    departamental. Este estudo indicia que a negociao entre departamentos ocorre,

    principalmente, quando uma organizao compete por baixos custos e os seus processos

    so o mais normalizados possvel, o que faz com que os meios mais informais decoordenao de actividades se destaquem. As organizaes que intentem encorajar a

    resoluo de problemas interdepartamentais podem apostar na reduo da distncia

    fsica e na criao de equipas de projecto constitudas por membros de vrios

    departamentos. Trata-se de uma estrutura matricial, que combina os agrupamentos

    funcionais com os agrupamentos por fins (Mintzberg, 1995; Rempel & Fisher, 1997).

    Pela sua posio na dinmica organizacional, o departamento de recursos

    humanos um importante vector estrutural nos intercmbios negociais e, em ltimo

    caso, na considerao do seu papel eminentemente estratgico (McIntyre, 2004).

    Pod