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FEMA - FUNDAO EDUCACIONAL DO MUNICPIO DE ASSISIMESA - INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSISCOORDENADORIA DA REA DE CINCIAS GERENCIAIS

Poliana Dutra Toneli

DANA DE SALO: INSTRUMENTO PARA A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Assis/ 2007

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FEMA - FUNDAO EDUCACIONAL DO MUNICPIO DE ASSISIMESA - INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSISCOORDENADORIA DA REA DE CINCIAS GERENCIAIS

DANA DE SALO: INSTRUMENTO PARA A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Trabalho de concluso de curso apresentado ao Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis IMESA/FEMA, como requisito para obteno do ttulo de Bacharel em Administrao.

Aluno: Poliana Dutra Toneli Orientador: Prof. Ms. Maria Beatriz Alonso do Nascimento

2007

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FEMA - FUNDAO EDUCACIONAL DO MUNICPIO DE ASSISIMESA - INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSISCOORDENADORIA DA REA DE CINCIAS GERENCIAIS

DANA DE SALO: INSTRUMENTO PARA A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Aluno: Poliana Dutra Toneli

BANCA

______________________ Examinador

______________________ Examinador

_______________________________________ Prof. Ms. Maria Beatriz Alonso do Nascimento Orientador

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Com muito carinho, dedico este trabalho a meus pais, Urandi e Hilda, que sempre estiveram do meu lado, me apoiando, ao meu irmo Pedro, a querida Bia, que me incentivou e ajudou muito e a todos os amantes da arte de danar.

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Primeiramente agradeo a Deus pela vida e a meus pais pelo amor e dedicao. Agradeo tambm a minha amiguinha Talita pela idia, a Bia pelo incentivo e por me fazer acreditar neste projeto, a Graziele pela amizade e apoio e a meus queridos amigos masters pelo companheirismo durante esses quatro anos. E por fim deixo meus sinceros

agradecimentos a todas as pessoas que me ajudaram, direta ou indiretamente, na realizao deste trabalho.

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Deveramos considerar perdido cada dia em que no tenhamos danado pelo menos uma vez. (Friedrich Wilhelm Nietzsche)

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RESUMO

Este trabalho apresenta um breve histrico da dana em geral, e mais especificamente da Dana de Salo. Mostrando a origem e evoluo desta, relata suas caractersticas e faz uma retrospectiva de seu desenvolvimento no Brasil, alm de apresentar consideraes sobre os principais ritmos aqui danados. Ele aborda tambm a Qualidade de Vida no Trabalho, relacionando seus conceitos, origem e evoluo e, mostrando sua importncia para as organizaes nos dias atuais. Apresenta ainda os benefcios da dana a dois e a contribuio que ela pode oferecer para a conquista da Qualidade de Vida no Trabalho. E, por fim, faz uma anlise de entrevistas realizadas com profissionais de diferentes reas sobre os benefcios da Dana de Salo como prtica laboral.

Palavras Chave: dana de salo, qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho.

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ABSTRACT

This essay shows a brief history of dance in general, and more specifically the Ballroom Dancing. The origin and evolution of it is presented here considering its characteristics and a retrospective of its development in Brazil besides reporting some considerations on the main rhythms danced in our country. The Quality of Life at Work is also discussed on this essay, listing its concepts, origin and evolution, and showing their importance for organizations nowadays. It also refers to the benefits of dancing in pairs and the contribution it can offer to the achievement of the Quality of Life at Work. And, finally, it makes an analysis of interviews with professionals from different areas about the benefits of the Ballroom Dancing as labor practice.

Key Words: ballroom dancing, quality of life and quality of life at work.

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RESUMEN

Este trabajo presenta un breve histrico del baile en general, y ms especficamente del Baile de Saln. Mostrando la origen y evolucin de la misma, relata sus caractersticas y hace una retrospectiva de su desarrollo en Brasil, adems de presentar consideraciones sobre los principales ritmos aqu bailados. l aborda tambin la Calidad de Vida en el Trabajo, relacionando sus conceptos, origen y evolucin y, mostrando su importancia para las

organizaciones en los das actuales. Presenta an las ventajas del baile a dos y la contribucin que l puede ofrecer para la conquista de la Calidad de Vida en el Trabajo. Y, por fin, hace una anlisis de entrevistas realizadas con profesionales de distintas reas sobre las ventajas de Baile de Saln como prctica de trabajo.

Palabras Clave: baile de saln, calidad de vida y calidad de vida en el trabajo.

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SUMRIO

INTRODUO ...................................................................................................... 12 1. A DANA .......................................................................................................... 14 1.1. Origem e Evoluo ..................................................................................... 15 1.2. A Dana de Salo ....................................................................................... 21 2. A DANA DE SALO NO BRASIL ................................................................... 26 2.1. Do Maxixe ao Samba.................................................................................. 31 2.1.1 As Dana do Samba ................................................................................. 35 2.2. Da Belle poque at Hoje........................................................................... 37 2.2.1. Carlinhos de Jesus e Jaime Arxa .......................................................... 43 3. QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) ................................................. 46 3.1. Definies de QVT...................................................................................... 47 3.2. Origem e Evoluo ..................................................................................... 49 3.3. A importncia da QVT................................................................................. 52 3.4. QVT e Dana de Salo ............................................................................... 53 4. DISCUSSO DOS DADOS OBTIDOS.............................................................. 57 4.1. Fisioterapeutas ........................................................................................... 57 4.2. Psiclogos .................................................................................................. 58 4.3. Mdicos do Trabalho .................................................................................. 60 4.4. Profissionais de Dana de Salo ................................................................ 61 4.5. Praticantes de Dana de Salo .................................................................. 63 CONSIDERAES FINAIS .................................................................................. 70 REFERNCIAS..................................................................................................... 72 ANEXOS ............................................................................................................... 74

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LISTA DE GRFICOS Grfico 1 Sexo.................................................................................................... 64 Grfico 2 Faixa Etria......................................................................................... 65 Grfico 3 Tempo de Prtica................................................................................ 66 Grfico 4 Convite................................................................................................ 67 Grfico 5 Percepo de Mudanas .................................................................... 68 Grfico 6 Principais Mudanas........................................................................... 69

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INTRODUO

Atualmente, no cenrio globalizado em que o mundo se encontra, onde as mudanas acontecem em alta velocidade, a Qualidade de Vida (QV) vem ganhando cada vez mais destaque. As pessoas esto se preocupando mais com seu bem estar fsico, psicolgico e social. Atentas ao que acontece ao seu redor, muitas organizaes j perceberam a importncia de oferecer uma boa Qualidade de Vida a seus colaboradores. Hoje, a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) considerada parte da Responsabilidade Social praticada pelas organizaes. Estudos e pesquisas mostram que a QVT abrange diversos fatores, que podem ser resumidos na identificao e satisfao das necessidades dos colaboradores dentro do ambiente de trabalho. Tais necessidades podem ser fsicas, que englobam boas condies de trabalho e sade, visando melhor integridade e maior expectativa de vida dos colaboradores, psicolgicas que refletem a auto-realizao e a auto-estima assim como as perspectivas de vida, tanto pessoal quanto profissional de cada indivduo, e, por fim a carncia de manter um bom relacionamento, boa comunicao e integrao dentro de um grupo, que pode ser denominada de necessidades sociais. No entanto, alcanar e manter uma boa QVT no uma tarefa simples. A princpio necessrio que as organizaes se preocupem com as necessidades

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de seus colaboradores, buscando identific-las, depois preciso encontrar uma maneira eficiente para atend-las. Pensando numa atividade que trabalha com os aspectos fsicos, psicolgicos e sociais do ser humano, chegamos Dana de Salo, atividade que apresenta importante conotao social e valor cultural e est em atual crescimento e notoriedade. A dana, num sentido geral faz parte da natureza humana por ser uma de suas manifestaes instintivas e, pode ser definida como arte de mover o corpo em um determinado ritmo, expressando sentimentos e emoes atravs de movimentos. A Dana de Salo pertence s danas populares e tambm conhecida por dana social ou de sociedade. uma atividade sem preconceitos e auxilia na conquista e/ou melhora da QV. O tema central deste trabalho identificar a relao entre a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e a prtica de Dana de Salo. Nele apresentado um breve histrico da dana e dos estudos acerca da QVT. Atravs de pesquisas e entrevistas com profissionais de vrias reas e praticantes da dana a dois, buscamos identificar os benefcios gerados por ela e avaliar se h interferncia de tal atividade na relao entre os colaboradores e na qualidade de vida no ambiente de trabalho.

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1. A DANA

A dana apresenta diversas definies. No conceito de Achcar (apud Rocha, 2007, p. 77) ela (...) arte do movimento e da expresso, onde a esttica e a musicalidade prevalecem. Para Ferreira (idem, p. 78) a Dana uma seqncia de movimentos corporais executada de maneira ritmada, em geral ao som de msica (...), agitao e movimento. Considerando tais definies e baseado em Duarte (idem, p. 78), que afirma que a Dana (...) capaz de criar formas expressivas dos sentimentos humanos (...), possvel defin-la como arte de mover o corpo em um determinado ritmo, expressando sentimentos e emoes atravs de movimentos. A dana faz parte da natureza humana por ser uma de suas manifestaes instintivas e, tem por base as manifestaes biolgicas dos animais e dos seres humanos, uma vez que os movimentos so dirigidos pela pulsao e respirao. possvel se observar movimentos de dana entre os animais, Ellmerich em Histria da Dana nos mostra o exemplo do avestruz que tem fama de bailarino, pois subitamente se senta, abre as asas e ritmicamente balana o corpo para frente e para trs (1987, p. 275). No homem, a dana se manifestou antes mesmo da fala. O homem primitivo j danava, ainda no de uma forma organizada, mas j movimentava seu corpo numa simples manifestao rtmica.

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1.1. Origem e Evoluo

O surgimento das primeiras danas no tem uma data exata, o que se sabe que o homem pr-histrico j realizava atividades danantes, por motivos que iam desde a necessidade de comunicao at a celebrao e/ou contemplao de seus deuses. O que pode confirmar a realizao de tais atividades so pinturas e desenhos encontrados nas cavernas habitadas pelos homens do perodo Paleoltico Superior, que podem ser interpretadas, segundo Mendes, como figuras humanas (...) numa atitude de executantes de danas (1987, p. 9). Mais adiante, no perodo Neoltico (12 a 4 mil a.C.), onde a magia e a feitiaria caractersticas do Paleoltico foram substitudas pelos cultos e ritos, a dana j adquirira um significado mais importante, pois fazia parte das cerimnias de adorao e culto aos deuses. H registros de atividades danantes tambm na Bblia. Ela descreve a dana hebraica, a qual no tinha carter artstico e era espontnea nas multides, geralmente realizadas em comemoraes. Um exemplo dado por Samuel 18 6, que a menciona na vitria de Davi sobre Golias (...) de todas cidades de Israel saam as mulheres (...) cantando e danando alegremente (...). A dana foi se estruturando e se configurando como manifestao esttica, a medida que as civilizaes foram se desenvolvendo. Na Antigidade Clssica, ela estava presente na cultura e no cotidiano da civilizao helnica, pois era realizada em festas de nascimentos, de npcias e

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banquetes, ritos religiosos e cerimnias cvicas, alm de fazer parte do treinamento militar e da educao das crianas gregas. Para os gregos a arte de danar era uma forma de contato com os deuses e um dom dado por eles, (...) a dana foi ensinada aos mortais pelos deuses para que aqueles os honrassem e os alegrassem (MAGALHES, 2005, p. 2). Ainda segundo a mesma autora, baseada em narrativas lendrias de poetas, a origem da dana na Grcia Antiga se deu em Creta, (...) foi em honra ao deus Dionsio que apareceram os primeiros grupos de dana e foram compostos os primeiros Ditirambos1 (idem, p. 2-3). Ao considerar que foram estes que deram origem tragdia grega, possvel afirmar que as danas tiveram papel fundamental no nascimento e desenvolvimento do teatro. Sua relevncia na Grcia foi tamanha que at mesmo filsofos como Scrates (470 399 a.C.) e Plato (428 347 a.C.) se referiram a ela, o primeiro considerou a Dana como atividade que formava o cidado por completo (...) alm de ser tima maneira de reflexo esttica e filosfica (MAGALHES, 2007, p. 3). J Plato acreditava que o autocontrole e o desembarao na arte da guerra poderiam ser desenvolvidos atravs da dana e, por essa razo acreditava que todos os cidados gregos deveriam aprender a danar. A civilizao grega foi responsvel por tornar a arte de danar acessvel a todos os cidados. No entanto, com a conquista da Grcia pelos Romanos e o

1 Gnero potico grego composto por canto de cunho religioso em honra ao deus Dionsio e que deu origem tragdia grega.

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declnio da cultura grega, a dana grega perdeu o status de religio e passou a ser vista somente como arte e entretenimento. Os romanos a viam como espetculo e muitos desaprovavam-na, como o famoso orador Ccero que dizia que ningum dana, a no ser que esteja bbado ou mentalmente desequilibrado (MENDES, 1987, p. 15). Durante a Idade Mdia (476 1453 d.C.), as danas eram realizadas, por artistas ambulantes, em praas pblicas, feiras e pequenos burgos, apresentando assim um carter mais recreativo. As danas tpicas da poca eram a Carola e a Mourisca, sendo esta de origem rabe. O Cristianismo dominava a Europa e a Igreja era a fora mais influente da poca. Os eclesisticos viam a dana como santa, pois (...) havia outrora integrado rituais e servios divinos (MENDES, 1987, p. 17), mas tambm como pecadora, j que apresentava movimentos sensuais e contedo pago. Em relao dana, a atitude da Igreja foi dbia: condenao por um lado, tolerncia por outro (Portinari apud Rocha, 2007, p. 83). A Era Medieval no foi um perodo de muitas conquistas para a dana, mas apesar de ter sofrido uma ruptura brutal em sua evoluo, ela nunca deixou de ser executada e acabou ganhando nova fora durante a Renascena. Um grande movimento cultural, que recebeu o nome de Renascimento, ocorreu na Europa nos sculos XIV, XV e XVI, sendo responsvel por mudanas de idias e concepes o teocentrismo2 foi substitudo pelo antropocentrismo3 e pela valorizao das artes, entre elas a dana.2 3

Doutrina ou crena, dominante na Idade Mdia, que considera Deus o centro de tudo. Forma de pensamento comum a certos sistemas filosficos e crenas religiosas que atribui ao ser humano uma posio de centralidade a todo o universo.

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A valorizao da dana deve-se a diversos fatores. A prtica do mecenato4 e a necessidade que a nobreza tinha em ter um comportamento refinado e de realizar grandes festas, alm de levar os danarinos corte, gerou um desenvolvimento no estudo e aperfeioamento das danas. Foi nesse perodo que Domenico Di Piacenza escreveu Da arte de danar e conduzir coros, o primeiro tratado da histria que surgiu da (...) necessidade de organizar e anotar os passos da dana, codificando-os e criando um repertrio de movimentos utilizveis fora de contexto, mas servindo a qualquer um, quando necessrio (MENDES, 1987, p. 23). Na Itlia os nobres contratavam danarinos profissionais para criar espetculos que incluam msicas de compositores importantes, figurinos e efeitos especiais criados por artistas famosos, entre eles Leonardo da Vinci, e danas chamadas balli ou balletti. Estes espetculos, que ficaram conhecidos como Bals da Corte e eram oferecidos aos outros membros da nobreza, chegaram Frana em 1581 quando sua rainha, Catarina de Mdicis, levou artistas italianos a Paris para criar o ballet comique de la reine (MENDES, 1987, p. 26), e difundiram-se pela Europa a partir de 1600. Alm de produzir os bals, os danarinos, tambm chamados de mestres-de-baile, ensinavam nobreza as Danas Sociais. Ao chegarem aos sales da corte, estas danas, que j eram praticadas pelas classes mais baixas, ganharam um refinamento e passaram a ser executadas nos grandes bailes aristocrticos.

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Termo que indica a proteo e incentivo dispensado a artistas e cientistas.

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No Renascimento a dana apresentava tambm um significado filosfico, pois muitas pessoas acreditavam que a harmonia de movimentos de dana refletia a harmonia no governo, na natureza e no universo. Foi ainda nesse perodo que ela se definiu em duas linhas, as Danas Teatrais e as Danas Sociais. As primeiras so as danas de apresentao, de espetculo e/ou de entretenimento, compreendendo atualmente, entre outras, o bal, a dana moderna, as folclricas e o sapateado. J as Danas Sociais ou Populares so aquelas em que os praticantes danam para seu prprio prazer, so as danas dos bailes, festas e reunies sociais. As danas tiveram importante desenvolvimento e valiosas conquistas durante a Idade Moderna (1453 1789). Os Bals da Corte estavam em voga e em 1661 Lus XIV, rei da Frana, fundou a Academia Real de Dana e Msica com o objetivo de restabelecer a dana em toda sua perfeio (MENDES, 1987, p. 28), ou seja, profissionaliz-la. Tal profissionalizao ocorreu definitivamente a partir de 1681, quando os espetculos, at ento realizados somente pelos nobres, passaram ser apresentados por danarinos profissionais. Esta data marca tambm o incio da presena feminina aos bals, inicialmente s permitidos aos homens. As Danas Sociais, representadas na poca pela gavota, a pavana e, posteriormente, pelo minueto, se tornaram (...) uma forma de lazer muito apreciada, quer entre a plebe quer entre os nobres (PERNA, 2001, p.11), popularizando-se na Europa e chegando at a Amrica. Alis, aqui se torna importante ressaltar que cada continente, cada povo sempre praticou suas

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danas, cada qual com seus prprios motivos, com suas formas, caractersticas e ritmos. O decorrer dos sculos XVIII e XIX gerou dana bons frutos, que podem ser colhidos at hoje. O Romantismo5, que se desenvolveu aps a Revoluo Francesa de 1789, deu s Danas Teatrais maior liberdade de expresso. As mulheres conquistaram definitivamente seu espao nos palcos e foram responsveis por importantes modificaes em seus figurinos, passando a usar tecidos de malha, saias mais curtas e sapatilhas de cetim, roupas estas que caracterizam as bailarinas atuais. Nas Danas Sociais, a aristocracia mais uma vez imitava a plebe, dando apenas um toque de requinte na evoluo de suas danas. no sculo XIX que surgem estilos como o tango, exemplo de Dana Social muito apreciada e executada ainda hoje. A partir de 1900 a dana comeou a apresentar uma grande variedade de estilos e formas. O bal chegou aos Estados Unidos, sofreu importantes influncias e hoje apresenta elementos de Dana Moderna, que apareceu nesta mesma poca, e do Jazz, dana afro-americana que em sua origem misturava os costumes naturais dos negros com a imitao dos ritmos europeus. No decorrer do sculo XX, as Danas Sociais ou Danas de Salo, como tambm podem ser chamadas, sofreram importantes transformaes, algumas se aprimoraram, outras desapareceram e, atualmente so representadas por ritmos variados como o forr, o bolero, o samba de gafieira e a salsa, entre outros.

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Movimento intelectual e artstico que deu grande importncia individualidade e liberdade de expresso pessoal.

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A dana uma forma de arte que est e sempre estar em contnuo desenvolvimento, pois a todo momento e em todo lugar surgem novas formas, estilos e combinaes de passos que resultam em novas danas. Num sentido geral, ela caminha ao lado da humanidade e de seus progressos, representando seus desejos e proporcionando a cada um os mais diversos sentimentos e emoes.

1.2. A Dana de Salo

A Dana de Salo, um exemplo de Dana Popular e tambm conhecida como Dana Social ou de Sociedade, a dana praticada nos bailes e reunies sociais que tem o objetivo de socializar e divertir. Quanto sua nomenclatura, Perna, em Samba de Gafieira a Histria da Dana de Salo Brasileira, explica que o termo de salo (...) devido necessidade de salas grandes, os sales, para que se possam realizar as evolues das danas (...) (2001, p.10). As primeiras Danas de Salo surgiram na Europa durante o Renascimento, perodo este em que, conforme explicado nesse trabalho anteriormente, a dana se definiu em duas linhas. No sculo XV, as danas realizadas pelas classes baixas em suas festas e comemoraes chegaram aos sales da nobreza por meio dos danarinos e/ou mestres-de-baile. Estes eram contratados pelos nobres para que lhes ensinassem as Danas Sociais que, ao chegarem aos sales da corte, ganharam refinamento e status, tanto que alm de serem executadas nos grandes bailes, passaram a fazer parte da educao da nobreza.

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Em seu incio, as Danas de Salo no eram realizadas a dois, de pares enlaados independentes, como conhecemos hoje, mas sim (...) em grupos formando filas de pares de danarinos (PERNA, 2001, p. 36), que dependiam uns dos outros em suas evolues. A pavana, a gavota e o minueto so exemplos dessas primeiras Danas Sociais, sendo este ltimo o de maior sucesso, tanto na Frana, seu pas de origem, quanto em outros pases da Europa e Amrica. O estilo responsvel por colocar damas e cavalheiros danando juntos, de forma enlaada, a valsa, proveniente da ustria e Alemanha que chegou Paris no final do sculo XVIII e que seria a febre dos sales no sculo seguinte. Outro ritmo de sucesso no sculo XIX a polca que, segundo Perna, surgiu (...) na Bomia em 1830 como dana rstica (...) (2001, p. 16) e se transformou em Dana de Salo sete anos depois quando chegou a Praga. O apogeu da valsa e da polca, o surgimento de novas danas e a popularizao das mesmas durante o sculo XIX fizeram dessa poca um importante perodo de desenvolvimento para as Danas Sociais. Uma nova era para a Dana de Salo iniciou-se juntamente com o sculo XX. Os ritmos locais do continente americano influenciaram a forma de danar e o surgimento de novas danas. O jazz norte-americano adaptou-se ao cakewalk uma forma afro-americana de msica e dana e os movimentos de giros da valsa e da polca foram trocados por movimentos de (...) deslocamentos para frente e para trs (ROCHA, 2005, p.84), caractersticos, atualmente, de danas como o bolero e o chachach.

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Na dcada de 1910 o maxixe, primeira Dana de Salo brasileira que daria origem ao samba de gafieira, chegou aos Estados Unidos e Europa, onde alcanou grande sucesso. Em meados dos anos 20, foram criadas as primeiras competies de Dana de Salo e, por essa razo, houve a (...) necessidade de padronizar passos, figuras e critrios de avaliao (...) (Ried apud Rocha, 2007, p. 84), o que foi feito pelos ingleses, que percorreram vrios pases e codificaram a forma de danar e a melhor maneira de ensinar cada ritmo. A partir da, surge o Ballroom Dancing ou Dana Esportiva, uma forma competitiva da Dana de Salo que atualmente est muito em voga na Europa e Estados Unidos e prestes a se tornar modalidade olmpica. Entre os anos de 1930 e 1950, danas latinas como o mambo e a rumba, originrias da habanera cubana, popularizaram-se no mundo inteiro. tambm nesse perodo, mais precisamente na dcada de 1940 que, segundo Perna, o tango argentino (...) se definiu como dana de salo (...) (2005, p. 121). Nos anos 50 explodiu nos Estados Unidos o rock-and-roll, uma dana diferente das que eram praticadas at o momento, pois apesar de ainda ser danada a dois, os pares no danavam enlaados, mas sim separados, de uma forma mais solta. O surgimento dessa nova forma de se danar mostrado, segundo Perna (2005, p. 63), no filme No Balano das Horas (Rock Around the Clock). A dana do rock conquistou os jovens das dcadas de 50 e 60 e atualmente conhecida como Dana de Salo pelos nomes de soltinho, swing e/ou twist.

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Com o aparecimento das discotecas na dcada de 70, as Danas de Sociedade dispensaram (...) a padronizao de passos para facilitar a interao com o parceiro (ROCHA, 2007, p. 85). Nesse perodo, assim como nas duas dcadas anteriores, alguns estilos perderam popularidade, o que gerou a Dana de Salo um certo declnio, que s no foi maior porque (...) filmes da poca, como Saturday Night Fever estimulavam os jovens do mundo todo a continuar a danar a dois nas pistas das discotecas (...) (idem, p. 85). A mdia sempre contribuiu para o desenvolvimento da Dana de Salo. Um exemplo o filme Dirty Dancing de 1987, que relanou o mambo, fazendo-o cair nas graas dos jovens e se tornar a dana da moda. De 1990 at os dias atuais vrios outros filmes referentes Dana Social fizeram sucesso, entre eles Dirty Dancing 2, Shall we Dance (Dana Comigo) e o mais recente Take the Lead (Vem Danar). Mas no s de filmes se fez o aparecimento da dana na mdia. Reportagens, revistas e jornais especializados, programas de TV, como o Dancing with the Stars (Danando com as Estrelas) criado pelos americanos e copiado por vrios pases, inclusive o Brasil foram e ainda so personagens importantes na crescente popularidade da Dana Social. A riqueza da dana a dois est em sua diversidade. Conhecida como uma modalidade de dana que engloba vrios ritmos, a Dana de Salo (...) (ALMEIDA, 2005 p. 131) uma atividade sem preconceitos, praticada por pessoas de ambos os sexos, de todas as idades, cor, raa e nveis sociais. Alm de estar em constante desenvolvimento, pois a todo o momento surgem novos ritmos, passos e formas de se danar, ela tem tambm o papel de representar a cultura

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de um pas, por preservar suas caractersticas culturais populares, como ocorre com o tango da Argentina, o samba do Brasil e a salsa de Cuba. A Dana de Salo tem e sempre teve seus altos e baixos. Ela j sofreu proibies, preconceitos, j foi taxada de brega ou coisa de velho, j foi considerada apenas modismo, no entanto (...) soube romper com maestria as portas do sculo XXI (ROCHA, 2007, p. 77) e, no exagero dizer que est crescendo a cada dia. Maior procura nas academias, mais escolas especializadas no assunto, maior freqncia na mdia so alguns dos fatores que podem comprovar o atual crescimento da Dana de Salo.

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2. A DANA DE SALO NO BRASIL

Antes de iniciarmos o estudo acerca da dana de Salo no Brasil, objetivo deste captulo, importante ressaltar que a Dana, de uma maneira geral, sempre foi praticada neste pas, assim como em todas as partes do mundo. Os ndios primitivos j executavam suas danas quando os primeiros portugueses aqui chegaram. Sobre as danas indgenas, Shaden em ndios, caboclos e colonos faz o seguinte relato:

Como fontes de poder mgico, as danas, com os seus movimentos rtmicos e a representao pantomnica das tradies mticas, destinamse, em primeiro lugar, a apaziguar ou afugentar os seres perigosos que ameaam a segurana da tribo. (...) muitas populaes indgenas (...) do Brasil realizam festas com danas em que os danadores usam mscaras grotescas e trajes de palha ou de penas. (apud Ellmerich, 1987, p. 81)

J sobre a Dana de Salo no Brasil, as primeiras chegaram no sculo XVI, trazidas pelos portugueses e posteriormente por outros imigrantes europeus. A mistura das culturas de nossos primeiros colonizadores com a dos ndios e a dos negros africanos e imigrantes (...) propiciou a formao de nossa cultura e foi muito importante para nossa msica e dana (PERNA, 2001, p.11), inclusive para da Dana de Salo. Em seus primeiros passos no Brasil, as Danas de Salo s eram praticadas pelos senhores, ou seja, pela elite. Enquanto esta praticava as danas da moda da poca, os escravos executavam suas danas tpicas, que posteriormente influenciariam no desenvolvimento de novos gneros musicais e

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Danas Sociais entre os quais est o samba, msica e dana genuinamente brasileiras. As primeiras danas europias executadas em solos brasileiros foram, entre outras, a gavota e principalmente o minueto. Nos sculos XVII e XVIII, o Brasil seguia as tendncias culturais de Paris e, como o minueto estava em voga na capital francesa e em toda Europa, tambm fez muito sucesso por aqui. Podemos comprovar tal sucesso atravs de Lus Edmundo que relata que nos sales senhoriais do Rio colonial, por ocasio das festas, tocava-se apenas msica de dana, (...) e danava-se o minueto (apud Ellmerich, 1987, p. 119). O sculo XIX, marcado em seu incio pela vinda da Famlia Real para o Brasil em 1808, foi de fundamental importncia para o desenvolvimento das Danas Sociais em territrio nacional. Segundo Perna (2001, p. 14):

Com a vinda da Corte portuguesa, (...) para o Rio de Janeiro, muitos hbitos europeus, como as danas e os bailes, foram trazidos de forma ainda mais forte, pois a msica e a dana eram as manifestaes de lazer preferidas pela Corte e pela sociedade letrada.

Apesar de j estar presente em territrio nacional anteriormente, o ano de 1808 que marca oficialmente o incio das danas sociais no Brasil. As danas executadas pela aristocracia nesse perodo eram a valsa, a polca, a quadrilha, o schottisch e a habanera, entre outras. A valsa, conforme foi dito anteriormente, foi a primeira Dana de Sociedade executada de forma enlaada e por essa razo foi considerada imoral por alguns membros da alta sociedade, tanto no Brasil, quanto na Europa. A polca, conhecida tambm como

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valsa pulada foi danada pela primeira vez no Brasil em 3 de julho de 1845 e (...) tornou-se mania a ponto de formar a Sociedade Constante Polca em 1846 (...) (PERNA, 2001, p. 16-17). O sucesso das Danas Sociais europias no Rio de Janeiro onde foram apresentadas inicialmente, irradiando-se mais tarde para os demais estados brasileiros foi to grande que qualquer evento era motivo de bailes para a aristocracia carioca. Estes bailes aconteciam em sales, conhecidos por sociedades danantes, como o Cassino Fluminense, a Sociedade de Recreao Campestre e o Clube Harmonia. O mais famoso foi o Cassino Fluminense, ponto de encontro da alta sociedade, onde eram promovidos (...) bailes de gala, concertos, banquetes e conferncias (PERNA, 2001, p. 22), e de onde D. Pedro II, apaixonado por danas e responsvel pela promoo de grandiosos bailes durante o Imprio, era freqentador assduo, sempre com sua esposa Dona Teresa Cristina. O constante e crescente interesse pelas danas europias, outro exemplo de seu sucesso no Brasil, (...) fez com que colgios femininos passassem a ensinar a dana e a msica, que eram tidas como elementos obrigatrios da prtica das boas maneiras e educao (PERNA, 2001, p. 15). Sobre as aulas de danas e o valor dos mestres, chamados de dansuer, na poca, Wanderley Pinho no livro Sales e Damas do Segundo Reinado nos relata:

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As danas se aperfeioavam com mestres entendidos. (...) os mestres de dana gozavam de grande prestgio e maiores proveitos. Enquanto ao dansuer se buscava em uma carruagem luxuosamente atrelada e remunerava bem, o professor de lnguas tinha que marchar a p daqui para ali para lies pagas com usura (apud Ellmerich, 1987, p. 121).

A Dana de Salo atingiu seu auge na sociedade em meados do sculo XIX. Bailes e saraus, que se prolongavam at as cinco da manh, multiplicavamse, principalmente no Rio de Janeiro, e anncios sobre aulas e escolas de dana eram freqentes nos jornais.

No Jornal do Commercio de 12-10-1840, l-se este anncio: Lies de Dana. Tendo chegado a esta corte Philipe Caton e sua mulher, tm a honra de participar ao respeitvel pblico que pretendem dar lies de dana (...), advertem que ensinam todas as danas de costume (...) (ELLMERICH, 1987, p. 122).

Mas no s a aristocracia danava. A sociedade menos favorecida tambm praticava suas danas em bailes populares. No eram as danas da Corte, (...) apesar de existir registros ocasionais de escravos danando polca, valsa (...) e outras danas europias (PERNA, 2001, p. 18), mas sim danas como a umbigada e o lundum, entre outras, que com o tempo chegariam aos sales da alta sociedade e contribuiriam para a formao de novas danas. O lundum era uma dana campestre e suas (...) primeiras referncias conhecidas remontam a data de 1780 e descrevem a dana como licenciosa e indecente (PERNA, 2001, p.19). Ela s chegou aos sales aristocrticos no final do sculo XVIII e incio do XIX, quando o lundu, seu gnero musical, foi levado para as partituras e comeou a fazer sucesso tambm entre a alta burguesia, estendendo-se at 1920.

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Foi somente no sculo XIX que as camadas mais populares da sociedade comearam de fato a praticar as danas europias, mas no da mesma forma que eram executadas pela elite. Os danarinos das classes baixas incorporavam s danas da corte, seus requebrados e volteios, deixando-as mais sensuais. Nesse perodo a dana de salo era o modelo europeu seguido pela elite e copiado pelos menos favorecidos (PERNA, 2001, p. 26), o que mudaria no final do sculo. As diferenas entre as classes baixa e alta eram grandes e em muitos aspectos o que no mudou com o passar do tempo inclusive na forma de se danar. Perna nos mostra um exemplo no seguinte relato:

Os ricos, de casaca (...) e as damas, de vestidos decotados (...), observavam rigorosamente a pronncia francesa (...). Na roda mais popular, o povo se apresentava como podia e os que melhor trajavam ostentavam a cala boca de sino (2001, p. 37).

Outra distino entre as classes era o local onde se danava. Enquanto a elite se divertia nos grandes sales e associaes, os populares danavam nas ruas ou em locais que no atendiam moral e bons costumes da poca. Os clubes e associaes populares s foram criados nos finais da dcada de 1850, aps o advento do bonde no Rio de Janeiro, o que facilitou o acesso aos locais de festas. As ltimas dcadas do sculo XIX foram marcadas por importantes acontecimentos acerca da Dana de Salo no Brasil. Por volta de 1870, oriundo das camadas populares, surgiu o maxixe, primeira Dana de Salo brasileira que comeou a ser mostrado elite somente dez anos mais tarde.

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Aps a Proclamao da Repblica em 1889, os bailes da sociedade carioca tiveram um declnio e a Dana Social nessa primeira dcada republicana s continuou em evidncia graas s camadas populares. Esse fato se prolongou at 1898, quando a elite voltou evidncia, (...) assinalando o incio da belle poque carioca (...) (PERNA, 2001, p. 35). Valsa, mazurca (misto de valsa e polca), schottisch, quadrilha e habanera eram os estilos em evidncia nos fins do sculo XIX e incio do XX, perodo este em que o maxixe ganhou fora no cenrio nacional.

2.1. Do Maxixe ao Samba

O maxixe foi a primeira Dana de Salo genuinamente brasileira que apareceu no Rio de Janeiro por volta de 1870. Nesse perodo a ento capital federal passou por significativas mudanas. Houve um considervel aumento populacional, j que muitas pessoas estavam voltando da Guerra do Paraguai, que chegara ao fim neste mesmo ano. O ps-guerra gerou alguns meses de comemoraes e muitos bailes e festas foram realizadas. No entanto a elite passou por momentos difceis tais festas eram populares, das classes mais baixas e alguns teatros e sales cariocas foram fechados. Com o aumento da populao, principalmente a de origem humilde, que segundo Perna (...) o embrio de todo movimento musical e de dana no Rio de Janeiro (2001, p. 26), as atividades sociais se intensificaram.

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O maxixe surgiu da vontade dos danarinos populares de se danar de forma mais livre os ritmos em voga na Corte, adaptando a eles seus passos e requebros. Em seu incio o maxixe era danado ao som da polca, da mazurca e posteriormente de msicas baseadas no ritmo do tango. Por essa razo, Perna afirma que a dana de salo maxixe surgiu antes do gnero musical maxixe (2001, p. 26). Esta nova dana no era vista com bons olhos pela elite carioca, pois apresentava passos sensuais e era executada em gafieiras e cabars, locais que no atendiam moral a bons costumes da poca. O maxixe s comeou a ser aceito pela alta sociedade quando (...) ganhou a cidade atravs dos clubes carnavalescos (...) (Sandroni apud Perna, 2001, p. 28). Segundo Joo Chagas, em seu livro De Bond, o maxixe, no final do sculo XIX, era danado da seguinte forma:

Os pares enlaam-se pelas pernas e pelos braos, apoiam-se pela testa num quanto possvel gracioso movimento de marrar e, assim unidos, do a um tempo trs passos para diante e trs para trs, com lentido. Sbito, circunvolteiam, guardando sempre o mesmo abrao, e, nesse rpido movimento (...) vo avanando e retrocedendo, como a quererem possuir-se (apud Perna, 2001, p. 29).

O maxixe alcanou grande sucesso no incio do sculo XX, quando na dcada de 1910 chegou Europa, mais precisamente na Inglaterra e Frana, e aos Estados Unidos. Na Europa foi chamado de tango brasileiro e seus passos foram adaptados forma europia de se danar, diminuindo a sensualidade caracterstica de nossa primeira Dana Social.

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Na dcada de 1920, com o aparecimento no Brasil do fox-trotre e do charleston, danas sociais norte-americanas, e, posteriormente com o sucesso do samba como gnero musical, o maxixe entrou em declnio, mas no sem antes influenciar na formao do samba de salo. Para Perna, o maxixe foi a dana de salo que deu origem ao (...) nosso samba de gafieira (2001, p.31). O samba enquanto Dana de Salo s se firmou na dcada de 1940. Antes disso, no entanto, j existia seu gnero musical. E como no se pode falar de dana sem se referir a msica, vamos ver um pouco sobre a origem de nossa msica. As razes do samba esto no batuque e no lundu. O batuque era o som em que os escravos danavam em roda a batucada e a umbigada, uma forma de se danar em que os danarinos executavam movimentos de aproximao dos quadris e umbigos. A origem da palavra samba apresenta vrias controvrsias, mas a mais aceita que a palavra venha de semba, que significa umbigada. Assim como no maxixe, o aparecimento do samba no Rio de Janeiro tambm se deve, entre outros fatores, ao final de uma guerra, s que neste caso Guerra de Canudos. Com o fim da guerra, os soldados voltaram para a capital federal, trazendo suas mulheres, em sua maioria baiana, que se fixaram na zona porturia do Rio de Janeiro. Esta nova comunidade, formada por negros, mestios e migrantes baianos, foi responsvel por festas onde era danado o samba de forma coletiva, sempre muito incentivado pelas tias baianas. O samba comeou a tomar forma como gnero musical no final do sculo XIX, mas somente em 1917 que foi formalizado (...) (PERNA, 2001 p.

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49), quando foi gravado oficialmente seu primeiro exemplar sob o ttulo Pelo Telefone, de Donga. Esta primeira gravao levou o samba s classes mais favorecidas, como nos mostra Salomo:

Aps a primeira gravao, o samba conquistaria o mercado fonogrfico e, com a inaugurao do rdio em 1922 (...), alcanaria as classes mdias cariocas. O novo estilo seria, ainda, abraado e redimensionado por filhos de classe mdia, como o ex-estudane de Medicina Noel Rosa e o ex-estudante de Direito, Ari Barroso (...) (Revista poca nov/04, edio 340, disponvel em revistaepoca.globo.com).

Agora como Dana de Salo o que mais nos interessa neste trabalho o samba de gafieira surgiu nos anos de 1930, consolidando-se somente na dcada posterior. Sobre o samba de gafieira Giffoni nos relata o seguinte:

Como dana de salo o samba substituiu o maxixe (...) de execuo mais difcil e complexa (...) possui beleza diferente e dominou no s os sales cariocas como brasileiros, atravessando fronteiras, com aceitao, principalmente nas Amricas e Europa (apud Perna, 2001, p. 65).

Gafieira era o local onde eram executadas as danas de salo, entre elas o samba e, por essa razo o samba de salo ficou mais conhecido por samba de gafieira. A Kananga do Japo, criada em 1915, foi uma das primeiras gafieiras existentes que se tem registro, mas nessa poca ainda no era conhecida pelo termo gafieira, j que este s apareceu por volta de 1930. Entres outras gafieiras do Rio de Janeiro estavam a Prazer das Morenas, a Cheira Vinagre, a Cutuca

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Virilha, a Elite Clube e a Estudantina Musical, estas duas j conhecidas pelo termo e as de maior sucesso. Os bailes das gafieiras no eram freqentados pela elite carioca, sendo (...) considerados como bailes fuleiros, onde iam as classes menos favorecidas (PERNA, 2001, p. 71). No entanto tal afirmao no caracterizava estes bailes como desorganizados, ao contrrio, pois os freqentadores seguiam estatutos rgidos, cantados na letra de Estatutos da Gafieira de Billy Blanco, em 1954:

Moo, Olha o vexame, O ambiente exige respeito, Pelos estatutos Da nossa gafieira, Dance a noite inteira, Mas dance direito

A classe mdia s comeou a freqentar as gafieiras a partir da dcada de 1960, quando os locais para se danar a Dana de Salo comeou a diminuir. Com seus passos tradicionais e outras que foram adaptadas de outras danas do tango por exemplo o samba de salo considerado um dos estilos mais difceis de se danar, talvez porque exija ao mesmo tempo ginga e postura. O samba de gafieira e sempre foi muito importante no contexto da Dana de Salo, tanto que, em 1950, Alvarenga j relatava que esta modalidade do samba (...) que constitui hoje o tipo caracterstico e principal da dana brasileira de salo (apud Perna, 2001, p. 65).

2.1.1 As Dana do Samba

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O samba mundialmente conhecido como a dana tpica brasileira, por esta razo faz-se necessrio salientar sua importncia. Embora nosso objeto de estudo seja a dana a dois, importante ressaltar que o samba pode ser danado de diferentes maneiras, o que mostra a variedade de nossa principal msica e dana. O samba de gafieira o que se deve mais ateno neste trabalho, no entanto no correto ser considerado a nica forma de se danar o samba. Perna (2001) deixa claro que o samba se manifesta de vrias formas como: Samba pagode: de origem paulistana, uma dana de pouco deslocamento. Pode ser danada a dois, sendo considerada uma Dana de Salo; Samba reggae: o samba baiano, conhecido tambm por axdance; Samba internacional: o samba de salo adaptado para os concursos internacionais de dana; Marcha de carnaval: dana prpria de carnavais para ser danada em cordes. Ficou conhecida pelas msicas de Chiquinha Gonzaga. Samba-rock: tambm considerada uma Dana Social, o samba com a presena da guitarra em sua marcao. Um de seus intrpretes e de maior sucesso Jorge Ben; Samba no p: a msica das escolas de samba e o mais conhecido internacionalmente. representado pela figura masculina do mestre-sala, e feminina da passista.

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2.2. Da Belle poque at Hoje

A Belle poque teve incio em 1898 e se caracterizou, segundo Perna pela (...) retomada do poder pela elite (...) (2001, p. 35) carioca, que passou por momentos difceis aps a Proclamao da Repblica. O mesmo autor (idem) afirma que segundo Edmundo (...), a partir de 1901 os bailes retomaram o glamour do tempo de Imprio. Neste incio do sculo XX danas como lundum e o maxixe comearam a ser aceitas pela alta sociedade. Os bailes, populares e da elite, estavam em voga e, danar era uma verdadeira febre no Rio de Janeiro, tanto que em 1906, Olavo Bilac, sob o pseudnimo de Fantasio, escreve para a revista Kosmos:

(...) no Rio de Janeiro, a Dansa mais do que um costume e um divertimento: uma paixo, uma mania, uma febre. Ns somos um povo que vive dansando. No h casa que no tenha um piano, e no h piano que no esteja em uma casa de dansadores. Assim que a noite ce, todas as ruas resoam, echoando as valsa alegres, as masurkas languorosas, as polkas saltitantes, que os pianos gritam ou soluam (...) (PERNA, 2001, p. 40).

Entre os anos de 1910 e 1920, as danas europias chegaram So Paulo por intermdio de Madame Poas Leito, que deixou a Sua para fundar, em 1915, a Escola de Danas e Boas Maneiras na capital paulista. Madame atuou por 51 anos, encerrando suas atividades em 1966. Antes de falecer, em 1979 passou sua escola a mais antiga ainda em atividade no Brasil para as filhas e netos.

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A dcada de 1920 foi marcada pela forte influncia norte-americana. O fox-trote e o charleston chegaram ao Brasil, bem como as jazz-bands, que influenciariam as orquestras das gafieiras. Ainda nessa poca, graas ao advento do rdio, os costumes cariocas, entre eles a Dana de Sociedade, chegaram a outras cidades. Apesar das Danas de Salo no serem voltadas aos espetculos, elas tambm ganharam os palcos. O maxixe foi elemento obrigatrio nos teatros de revista6 por pelo menos 40 anos, at os anos 20 e, na dcada seguinte foi coreografado, pela danarina Eros Volsia, juntamente com o samba, de forma erudita, dando uma caracterstica mais nacional aos ballets brasileiros. Atualmente comum as escolas de Dana de Salo terem um grupo voltado somente para apresentaes, que criam grandes espetculos baseados nas danas de casais. A Dana de Salo alcanou grande sucesso entres os anos de 1930 e 1950. Nesse perodo ela era praticada em qualquer lugar onde houvesse orquestras e um bom espao para se danar, tanto na Europa e Estados Unidos, quanto no Brasil, onde j tinha se espalhado por todo o territrio nacional. Os dancings e cassinos atingiram seu auge no Rio de Janeiro e (...) foram por muitos anos lanadores de msicas (PERNA, 2001, p. 62). Os ritmos latinos como a rumba e o mambo espalharam-se pelo mundo e o samba de salo, ou de gafieira, comeou a conquistar os sales brasileiros e internacionais, tornado-se nossa principal Dana de Salo.6

Gnero de teatro, de gosto marcadamente popular, que teve importncia na histria das artes cnicas, tanto no Brasil como em Portugal. Foi marcado por apresentaes de nmeros musicais e de dana, com apelo sensualidade e comdia, com leves crticas sociais e polticas.

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Os Anos Dourados, como ficaram conhecidos os anos da dcada de 1950 no foram muito lucrativos para as danas de sociedade. Com a influncia dos filmes de Fred Astaire e o surgimento do rock-and-roll que separou um pouco os casais as danas a dois tiveram um certo declnio, que se estendeu pelos anos de 1960 e 1970. Os locais de dana para as classes mais privilegiadas do Rio de Janeiro foram diminuindo, o que fez com que elas comeassem a freqentar as gafieiras a partir de 1960. Segundo Perna (2001, p. 80), a gafieira Estudantina Musical passou a ser freqentada por (...) grupos de estudantes, intelectuais e artistas (como Nara Leo, Z Kti, Caubi Peixoto, Paulinho da Viola entre outros) (...). Na dcada de 70, com o surgimento das discotecas, a Dana de Salo ficou restrita s gafieiras, longe da mdia, da moda e dos jovens. Isso fez com que ela fosse dada, por muitos historiadores, como desaparecida. Um equvoco, j que ela nunca deixou de ser praticada no Rio de Janeiro. Uma figura importante no cenrio das danas sociais foi, e ainda , Maria Antonietta. Professora e danarina desde os 17 anos, Antonietta deu aulas em sua casa, em academias e nas gafieiras Elite e Estudantina as mais famosas da poca e foi responsvel pelo resgate da Dana de Salo na dcada de 70. Jaime Arxa define a importncia de sua mestra para as danas sociais da seguinte forma:

Ela foi o elo de ligao entre o passado e o presente, pois em um poca em que as danceterias proliferaram, promovendo o afastamento dos pares, foi ela a responsvel pelo resgate da importncia da dana de salo. No bastasse esse fato, ela tambm representa, na sua essncia, a mais viva expresso da dana (apud Perna, 2001, p. 97).

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Com o surgimento da lambada e o aparecimento de Carlinhos de Jesus e Jaime Arxa na dcada de 1980, a Dana de Salo voltou a crescer. A lambada um gnero musical que surgiu no Par em meados da dcada de 1970 e difundiu-se pelo Brasil at chegar, no final da dcada de 80, em So Paulo e no Rio de Janeiro, onde fez muito sucesso como msica e Dana de Salo. Para Perna, foi o sucesso da lambada em 1988 que trouxe novamente os jovens para a dana de salo no Rio de Janeiro e Brasil (...) (2001, p. 122). Este novo estilo de dana, considerado sensual e lascivo, virou uma verdadeira mania no Brasil e alcanou sucesso internacionalmente, no entanto foi uma moda passageira, j que aps alguns anos sua msica desapareceu. Atualmente, os passos da lambada so danados ao som do zouk, uma msica francesa de andamento mais lento que o gnero brasileiro, mas muito apreciado pelos jovens. tambm no ano de 1988 que ressurge no Rio de Janeiro o tango de salo, pois at ento, segundo Perna, (...) danava-se o tango show (...) ou (...) um tango misturado com o bolero antigo e com influncias dos filmes americanos (2001, p. 118). Este reaparecimento do tango nos sales de dana chamado de Movimento do Tango (idem). O tango uma dana originria da Andaluzia (Espanha) que, ao chegar Argentina e absorver suas caractersticas nacionais, se tornou sua dana tpica e ficou mundialmente conhecida como tango argentino. Graas a sua retomada na dcada de 80, a Dana de Salo entrou com o p direito na dcada seguinte. A partir de 1990 academias especializadas

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comearam a proliferar-se no Rio de Janeiro ganhando mais tarde outras cidades brasileiras e cada vez mais profissionais comearam a surgir. Os bailes tambm voltaram moda, havia bailes em clubes e nas academias recm-criadas, que faziam e ainda fazem bailes especficos de Dana de Salo. A moda dos sales cariocas nos anos de 1994 e 1995 foi a salsa e o merengue, que abriria caminho para o zouk. A novela Salsa & Merengue, da TV Globo, foi uma das responsveis pela divulgao de tais ritmos. Em 2000 comearam a surgir bailes e locais especficos, com decorao tpica, para se danar os ritmos latinos. Em 1996 e 1997 foi a vez do forr. O ritmo nordestino que, segundo Perna (2001, p. 125), (...) nunca deixou de ser tocado e danado (...) em sua regio de origem, mas no Sudeste (...) ficou no ostracismo durante muito tempo (...), tornou-se febre quando grupos de estudantes levaram para o Rio de Janeiro e So Paulo o jeito de danar no Nordeste. Graas a esse novo modismo, que se firmou e se mantm at hoje, surgiram vrias bandas de forr de grande sucesso, e uma nova cara foi dada ao ritmo nordestino, que passou a admitir (...) instrumentos musicais eletrnicos na composio de suas msicas (...) (ALMEIDA, 2005, p. 132). O forr como Dana de Salo se sofisticou ao incorporar passos de outras danas e, assim como a lambada, foi responsvel por trazer novamente os jovens para as danas de casal. O Rio de Janeiro o (...) grande plo nacional da dana de salo (...) (PERNA, 2001 p. 9), e fcil entender o porqu. Foi l onde tudo comeou, onde

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chegaram as primeiras danas europias e onde nasceram nossas prprias Danas de Salo. Mas o fato do Rio de Janeiro ser a principal referncia da dana de sociedade, no significa que seja a nica. Conforme Perna nos relata, (...) existem mais centros de referncia em dana de salo, que so Recife, Belo Horizonte e So Paulo (2001, p.117), e outras cidades, que mesmo no tendo a tradio e a fora das capitais citadas, promovem com entusiasmo a dana social. Atualmente a dana a dois est na moda novamente. As academias e escolas esto recebendo cada vez mais alunos interessados em aprender os passinhos do forr, do bolero, do samba de gafieira, entre outros ritmos e, assim como em 2000, bailes em clubes e locais especficos esto acontecendo com mais freqncia e maior procura. Esse atual crescimento deve-se a diversos fatores e, a exposio das danas sociais na mdia um deles. Reportagens sobre o assunto, filmes e programas de televiso esto sendo de fundamental importncia para a divulgao desse estilo de dana. Nos ltimos dois anos diversos programas de TV tm apresentado quadros referentes dana a dois. Como o caso do quadro Dana dos Famosos no programa Domingo do Fausto, da Rede Globo e, das competies de dana apresentado por Silvio Santos no SBT, entre outros programas e emissoras. Saldanha considera 2007 (...) o melhor ano para a dana de salo (2007, p.6). Para ele a abordagem pela TV foi uma valiosa contribuio ao desenvolvimento da dana de salo no Brasil, estimulando muita gente que nunca danou a se encorajar e se integrar a um movimento to saudvel (...) (idem).

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No Brasil as danas sociais j passaram por vrias transformaes, j tiveram momentos bons, outros nem tanto, mas nunca deixaram de ser executas e agora esto em timo momento, prestes a completar, oficialmente em 2008 200 anos de histria.

2.2.1. Carlinhos de Jesus e Jaime Arxa

O danarino e professor de Dana de Salo Carlinhos de Jesus um dos personagens mais importantes para a divulgao das danas sociais pelo Brasil e uma das figuras mais populares desse estilo de dana. O carioca Carlos Augusto da Silva Caetano de Jesus, que comeou a danar profissionalmente na dcada de 80, foi, segundo Perna, (...) pioneiro na divulgao da dana de salo carioca por praticamente todo o Brasil, abrindo as portas, inclusive, do festival de Joinville (2001, p. 104). Sua primeira turma de alunos formou-se em 1983 e hoje sua escola no Rio de Janeiro tem capacidade para 1500 alunos. Juntamente com sua companhia de dana, j montou vrios espetculos de sucesso, entre eles o Isto Brasil (de 2004 a 2006) que contou com a participao da bailarina Ana Botafogo. O mais recente trabalho da companhia, que tambm responsvel pela apresentao da comisso de frente da escola de samba Estao Primeira de Mangueira, o P na Estrada. Carlinhos de Jesus j recebeu vrios prmios, como o Destaque do Carnaval 1995 e melhor coregrafo de Comisso de Frente do Carnaval 2007 e,

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diversas homenagens, entre elas, como nos relata Perna (2001, p. 170),est o samba A Gafieira, onde homenageado juntamente com Maria Antonietta:

No samba sincopado ningum fica se no quer J sai no puladinho e no cruzado com seu par lindo de se ver, assim na contra-luz Danar Antonietta com Carlinhos de Jesus

Jaime Arxa, tambm professor e danarino de Dana de Salo, referncia para os profissionais da dana a dois, pois foi, conforme afirma Mesquita, (...) um dos primeiros a sistematizar a dana [de salo] na sua forma de ensinar e divulgou muito a sua metodologia no Brasil (...) (apud Perna, 2001, p. 150). Pernambucano, Jaime chegou ao Rio de Janeiro na dcada de 1980, se tornou aluno de Maria Antonietta e em 1987 montou sua prpria escola. Em meados da dcada de 90 o Centro de Dana Jaime Arxa (CDJA) foi a maior academia de dana de salo do Brasil. Atualmente possui vrias filiais em diversas cidades brasileiras e ministra workshops por todo o Brasil. Em 1995 e 1997 foi produtor, respectivamente, dos I e II Encontros Internacionais de Dana de Salo, realizados no Rio de Janeiro. Assim como Carlinhos, Jaime tambm tem uma companhia voltada para apresentaes. Entre seus espetculos esto o Salo Brasil em 1994, o O Homem, A Mulher e Msica de 2000 e o atual Com o Brilho do teu Olhar. Jaime tambm coregrafo da Rede Globo. Jaime criou uma metodologia de ensino prpria utilizada em muitas escolas e foi responsvel por misturar a arte de Fred Astaire e Gene Kelly com

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os passos do samba de gafieira, alm de levar passos do tango Dana de Salo nacional. A respeito de Jaime Arxa, Perna (2001, p. 104) nos relata:

(...) se tornou a maior referncia nacional para os profissionais da dana de salo (...) e (...) revolucionou o ensino (...), padronizando e permitindo que qualquer pessoa (...) encontrasse a oportunidade de aprender a danar.

Jaime Arxa e Carlinhos de Jesus tm estilos diferentes, mas trabalham em prol de um mesmo objetivo, divulgar a Dana de Salo. E isso fazem com qualidade e dedicao, tanto que graas a eles (...) as danas de salo (...) tiveram repercusso nacional (PERNA, 2001 p.104) de 1980 pra c. Estes profissionais so hoje as maiores referncias das nossas danas sociais.

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3. QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT)

Antes de iniciarmos o estudo sobre QVT, importante definir o que Qualidade de Vida. O termo Qualidade de Vida (QV), que atualmente est muito em voga, abrange diversos fatores, j que esto relacionados ao estilo de vida de cada pessoa. Na perspectiva de Barros (apud Rocha, 2007, p.80), o termo:

(...) aplica-se ao indivduo aparentemente saudvel e diz respeito ao seu grau de satisfao com a vida nos mltiplos aspectos que a integram: moradia, transporte, alimentao, lazer, satisfao/ realizao profissional, vida sexual e amorosa, relacionamento com outras pessoas, liberdade, autonomia e segurana financeira (...).

Outra definio dada por Marchi, que afirma que (...) qualidade de vida estar saudvel, desde a sade fsica, cultural, espiritual at a sade profissional, intelectual e social (...) (apud Limongi-Frana, 2003, p. 41). As definies sobre QV no diferem muito. O que acontece que elas evoluem. Almeida mostra a diferena nas consideraes de QV, de um tempo atrs para as atuais, no seguinte relato:

Antigamente, considerava-se qualidade de vida no estar doente, no depender de tratamentos relacionados s cirurgias, ou ento, dependncias financeiras, alimentares, etc. Atualmente, estas questes envolvem vrios outros fatores, que tm seu significado de acordo com cada indivduo nas diferentes formas de obter e preservar o seu estilo de vida (2005, p.133).

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Considerando tais afirmaes, possvel dizer que QV um bem estar fsico, social e psicolgico, viver bem, ter sade e estar satisfeito com todos os aspectos da vida, desde os pessoais at os profissionais. Os aspectos profissionais abrangem, entre outros fatores, o trabalho realizado, os relacionamentos com os colegas e as condies deste trabalho. Estar satisfeito com esses aspectos uma das abordagens da expresso Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). A preocupao com a qualidade de vida dos trabalhadores no recente e, atualmente num cenrio cada vez mais competitivo e globalizado muitas organizaes esto percebendo que proporcionar uma boa QVT a seus colaboradores uma importante ferramenta de gesto na busca de um crescimento contnuo e de sucesso.

3.1. Definies de QVT

Assim

como

Qualidade

de Vida,

QVT

tambm

ganha

vrias

perspectivas, pois cada pesquisador e/ou autor a conceitua de acordo com suas percepes de mundo e implicaes sobre o assunto. Segundo Limongi-Frana, as vises e definies de QVT so multifacetadas, com implicaes ticas, polticas e de expectativas pessoais (2003, p. 20). Mas embora cada autor leve em considerao o que julga importante, defendendo seu ponto de vista, no h uma distncia muito longa entre os conceitos sobre QVT de cada autor.

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As definies de QVT abrangem diversos fatores que, segundo LimongiFrana (2003), envolvem cuidados mdicos estabelecidos pela legislao, preocupaes com segurana, atividades nas reas de reas de lazer, programas de motivao, entres outros. Viera tambm se refere ao um conjunto de fatores em seu conceito de QVT, definindo-a como:

(...) um conjunto de fatores (ou indicadores) que, se fazendo presentes nas organizaes, propiciam aos trabalhadores bem estar fsico, mental, econmico e social, permitindo que cada indivduo resgate sua condio de cidado (apud Fachini, 2004).

Baseado em Sucesso (1998), Vasconcelos (2001, p. 28), diz que QVT, de um modo geral, abrange:

Renda capaz de satisfazer s expectativas pessoais e sociais; Orgulho pelo trabalho realizado; Vida emocional satisfatria; Auto-estima; Imagem da empresa/instituio junto opinio pblica; Equilbrio entre trabalho e lazer; Horrios e condies de trabalho sensatas; Oportunidades e perspectivas de carreira; Possibilidade de uso do potencial; Respeito aos direitos; e Justia nas recompensas.

Para se obter QVT necessrio que a organizao e as pessoas que nela trabalham sejam vistas como um todo. A esse respeito, e sobre a definio de QVT, Limongi-Frana relata:

Qualidade de vida no trabalho (QVT) conjunto de das aes de uma empresa que envolvem a implantao de melhorias e inovaes

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gerenciais e tecnolgicas no ambiente de trabalho. A construo da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a empresa e as pessoas como um todo (...) (apud Vasconcelos, 2001, p. 25).

Considerando tais afirmaes, possvel dizer que QVT abrange diversos fatores, que podem ser resumidos na identificao e satisfao das necessidades dos colaboradores dentro do ambiente de trabalho.

3.2. Origem e Evoluo

Embora o primeiro estudo mais relevante acerca da QVT s tenha acontecido na dcada de 1920, com as pesquisas de Elton Mayo, a preocupao com as condies de trabalho bem mais antiga. Como exemplo dessa longnqua preocupao, Vasconcelos (2001), baseado em Rodrigues (1999), cita os ensinamentos sobre os princpios de geometria, de Euclides de Alexandria (300 a.C.), que contriburam para a melhoria do mtodo de trabalho dos agricultores e, a Lei das Alavancas de 287 a.C. de Arquimedes, que ajudou a reduzir o esforo fsico de muitos trabalhadores. J, nos anos de 1920, Mayo realizou pesquisas na Western Eletric Company em Chicago, nos Estados Unidos que contriburam

significativamente para o estudo do comportamento humano e a obteno da QVT, bem como para o apogeu da escola de Relaes Humanas. Sobre as consideraes de Mayo em relao sua pesquisa na empresa americana, Rodrigues (apud Bossardi et al) conclui:

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O mundo social dos adultos primariamente padronizado em relao sua atividade no trabalho; A necessidade de reconhecimento e segurana e o senso de pertencer a algo so (...) importantes na determinao da moral do operrio e da produtividade (...) (1995, p. 38).

Um dos primeiros passos para conquista da QVT identificar quais as necessidades dos colaboradores, o que eles precisam e, nesse contexto, que os estudos e teorias sobre as necessidades dos indivduos tornam-se importantes. O trabalho de Maslow um dos mais relevantes. Ele criou a Teoria da Hierarquia das Necessidades, dividindo-as em cinco nveis fisiolgicas, de segurana; de associao; de estima e, finalizando, de auto-realizao. Para ele as necessidades fisiolgicas pertencem ao primeiro e mais baixo nvel da hierarquia, e as de auto-realizao esto relacionadas s necessidades psicolgicas e pertencem ao 5 nvel hierrquico. Ao dividir as necessidades fundamentais dos indivduos em nveis hierrquicos, o trabalho de Maslow facilitou a identificao das mesmas, o que contribuiu para os estudos acerca da obteno da QVT. O aparecimento da expresso QVT como conhecemos atualmente no tem uma data exata e, embora muitos estudos sobre ela j tivessem sido realizados, Rodrigues afirma que a Qualidade de Vida no Trabalho (...) surgiu na dcada de 50 (...), a partir dos estudos de Eric Trist e colaboradores (...), pretendendo analisar a relao indivduo-trabalho-organizao (...) (1991, p. 41). A partir de ento, a expresso QVT ganha vrias concepes, que vo mudando ao decorrer do tempo. Baseado em Nadler e Lawler, Fernandes (1996) (apud Vasconcelos, 2001 p. 24-25), relaciona as vises de QVT da seguinte maneira:

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como uma varivel em que pesquisa-se a reao do colaborador ao trabalho; como uma abordagem objetivo de gerar melhorias tanto aos colaboradores, quanto direo; como um mtodo conjunto de mtodos para melhorar o ambiente de trabalho, gerar maior produtividade e tornar o trabalho mais satisfatrio; como um movimento ideologia sobre as relaes dos

colaboradores com a organizao; como tudo a medida para amenizar e/ ou at mesmo solucionar problemas organizacionais, taxas de produtividade baixas e problemas com a qualidade. A partir dos anos de 1960, foram desenvolvidas diversas pesquisas de como melhorar a realizao do trabalho, o que gerou novo impulso nos movimentos de QVT. No entanto, em 1974, com a crise energtica e a alta da inflao no ocidente, a preocupao das organizaes voltou-se para sua sobrevivncia, o que resultou na diminuio dos estudos de QVT. Somente em 1979 houve a retomada dos mesmos. No Brasil, os primeiros estudos, acerca da QVT ainda muito influenciados pelos modelos estrangeiros s se realizaram a partir da dcada de 1980.

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Atualmente diversas pesquisas sobre a satisfao dos colaboradores e a execuo de seus trabalhos esto sendo realizadas, o que resulta na valorizao do termo QVT.

3.3. A importncia da QVT

Nos ltimos anos o termo QVT vem ganhando cada vez mais destaque. Os programas de QVT so de fundamental importncia para o desenvolvimento profissional e tambm pessoal dos colaboradores de uma organizao, bem como para o desenvolvimento eficaz da mesma. As organizaes esto percebendo que se preocupar com seus colaboradores e lhes oferecer um ambiente saudvel e boas condies de trabalho podem gerar bons frutos. Para Carmello, alguns desses frutos so o desenvolvimento do capital intelectual, a reduo de custos, e o fortalecimento da imagem da empresa. Ele explica que:

(...).O desenvolvimento do capital intelectual d-se no momento em que os colaboradores crescem em todas as dimenses do ser humano fsica, intelectual, emocional, profissional, espiritual e social (...). A reduo de custos visvel na medida em que diminui o nmero de casos de doenas e faltas, cresce o nvel de satisfao dos funcionrios e consequentemente, de produtividade (...) e o fortalecimento da imagem o reconhecimento do mercado. Fazer parte da lista das 100 melhores empresas para se trabalhar, por exemplo, importante para a credibilidade e para os negcios da corporao (...) (www.taiconsultoria.com.br).

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Flvio Prspero, presidente da Associao Brasileira da Qualidade de Vida (ABQV) em 2000, tambm se refere ao aumento da produtividade como vantagem gerada pela QVT. Para ele, (...) uma empresa que se preocupa com a sade fsica e emocional de seus empregados acaba reduzindo seus ndices de absentesmo e ganhado maior produtividade (...) (Banas Qualidade, ago/2000, n 99). Atentas aos benefcios, muitas organizaes esto investindo em programas de QVT. HP, Nestl, Siemens e Abril so empresas pioneiras em aplicar conceitos de QVT, sendo que esta ltima ganhou o 4 lugar no Prmio Nacional da Qualidade de Vida, oferecido em 1999 pela ABQV. Outro exemplo de empresa que investe em programas de QVT o Banco de Boston, que alm de oferecer planos de assistncia mdica, promove festas, olimpadas e atividades culturais, o que atinge tambm a famlia de seus colaboradores. Como se pode notar, as organizaes esto cada vez mais conscientes da importncia de manter uma QVT elevada. Elas esto percebendo que QVT pode torn-las mais saudveis, competitivas e produtivas.

3.4. QVT e Dana de Salo

Alcanar e manter uma boa QVT, apesar de muito importante para as organizaes, no uma tarefa simples.

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A princpio necessrio que as organizaes se preocupem com as necessidades de seus colaboradores, buscando identific-las, depois preciso encontrar uma maneira eficiente para atend-las. A Dana de Salo uma atividade sem preconceitos, que no se limita determinada classe social ou faixa etria e, apresenta caractersticas que trabalham com os aspectos fsicos, psicolgicos e sociais do ser humano. Sua prtica apresenta vrios benefcios e auxilia na conquista e/ou melhora da Qualidade de Vida, isso porque uma atividade fsica de baixo impacto que promove a sade, trabalha na melhoria da auto-estima e tem um importante papel no desenvolvimento da socializao e integrao entre os indivduos. Cristiano Cpa, danarino e professor de Dana de Salo, diz que, em relao a esta atividade, (...) temos ganhos psicolgicos e emocionais (...), e ainda relaciona outros benefcios, como (...) melhora (...) nos sistemas cardiovascular e respiratrio, aumento da circulao sangnea, ajudando na presso arterial controlada; liberao de endorfina, o que nos d sensao de prazer, ativa o sistema linftico; fortalece a coluna, os msculos das pernas, dos glteos e do abdmen, faz perder peso; melhora a coordenao motora, ajuda na recuperao da depresso, melhora a auto-estima, a disciplina, a confiana e a interao, reduz a tenso e a timidez (...). O que diferencia a Dana de Salo de outras atividades fsicas a conotao social que ela apresenta. Sobre esta caracterstica, Carlinhos de Jesus,

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afirma que (...) a dana de salo tima (...), porque existe uma conotao social, uma integrao devido interao entre duas pessoas 7. Ao considerar que esta atividade atua nos trs domnios da natureza humana fisiolgico, afetivo e cognitivo possvel pensar na Dana de Salo como um bom instrumento para a obteno da QVT. Levando a dana de sociedade s organizaes, estas podem obter diversas vantagens, dentre elas esto:

Aumento da produtividade; Pessoas mais geis, mais atentas e que no se cansam facilmente; Integrao entre os funcionrios dos diversos departamentos; Diminuio de problemas decorrentes da falta de comunicao entre os funcionrios; Agilidade nos relacionamentos entre os departamentos; Apoio dos funcionrios para a empresa que se preocupa com eles; Diminuio dos casos de doenas, principalmente devido ao 8 estresse

Atualmente, um dos desafios dos programas de QVT aumentar os nveis de satisfao e sade dos colaboradores, proporcionando-lhes uma fora de trabalho mais saudvel, e oferecer-lhes oportunidades de melhorar seus relacionamentos e integrao. A Dana de Salo responde bem a esse desafio, pois por meio dela, alm de praticar uma atividade fsica que auxilia na sade, os praticantes passam a se conhecer melhor, passam a ter maior conscincia corporal, comeam a lidar melhor com seus erros e com os erros dos outros e assim rompem preconceitos, o

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www.xenicare.com.br www.passosecompassos.com.br

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que interfere de maneira muito positiva no relacionamento, na integrao e na comunicao. A esse respeito Camello (apud Olivares), explica:

(...)os participantes vo rompendo padres de comportamentos, preconceitos hierrquicos, posturas rgidas tanto nvel fsico, obviamente, quanto nvel psicolgico (...). natural que depois dessa experincia, as dificuldades e os empecilhos que elas colocavam umas para as outras, diminuam ou mesmo desapaream completamente, quebrando-se um preconceito muito comum nas organizaes de que as 9 pessoas no tm capacidade de se 'entrosar' e de se comunicar .

Graas a todas suas caractersticas, a Dana de Salo pode ser uma tima e atrativa ferramenta para as organizaes que buscam, de maneira diferenciada e eficiente, satisfazer as necessidades de seus colaboradores, e conseqentemente obter uma QVT elevada.

9

www.taiconsultoria.com.br

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4. DISCUSSO DOS DADOS OBTIDOS

Visando identificar os principais problemas que comprometem a QTV, apresentados pelos colaboradores nas organizaes, foram realizados trs questionrios (anexos) direcionados a fisioterapeutas, psiclogos e mdicos do trabalho, profissionais que atendem diretamente estes trabalhadores. Foi tambm realizada uma entrevista (anexo) com profissionais da Dana de Salo com o objetivo de levantar, segundo estes profissionais, os benefcios da Dana e sua influncia na vida e no comportamento de seus alunos trabalhadores. E por ltimo, foi aplicado um questionrio (anexo) a praticantes de Dana de Salo com a finalidade de identificar se houve ou no mudanas em suas vidas depois que comearam danar.

4.1. Fisioterapeutas

Foram entrevistados quatro fisioterapeutas, trs mulheres e um homem, sendo que dois deles esto na faixa etria de 20 a 30 anos e os outros dois tem mais de 30 anos. Todos os profissionais entrevistados so da cidade de Assis/SP e atendem, em sua maioria, em consultrios e/ ou em domiclio. Apenas um deles realiza atendimentos em hospital. O tempo de atuao profissional de dois dos entrevistados menor de 5 anos, enquanto dos outros dois maior.

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Ao analisar as respostas dadas pelos fisioterapeutas, vemos que, para eles, os problemas de sade mais freqentes apresentados pelos trabalhadores, em relao rotina de trabalho, so LER/ DORT10, lombalgias, vcios e alteraes posturais e dores musculares e que, para sanar ou pelo menos amenizar tais problemas necessrio que os trabalhadores realizem atividades fsicas, exerccios laborais e alongamentos, e tenham boa adequao ergonmica. Conscincia e responsabilidade social das empresas e obteno de boa Qualidade de Vida (QV) foram as consideraes dos profissionais sobre a prtica de atividades fsicas voltada a trabalhadores, que relacionaram o aumento da disposio dos trabalhadores, a diminuio de doenas e a melhora na postura, como sendo os principais benefcios gerados por esta prtica. Ao serem questionados sobre uma atividade fsica que ajudasse na promoo da sade dos trabalhadores, todos os fisioterapeutas citaram a ginstica laboral, no entanto no deixaram de citar tambm a dana de salo, a prtica de esportes e os alongamentos. Todos acreditam que as atividades citadas proporcionam QV, manuteno da sade ao evitar patologias e, socializao.

4.2. Psiclogos

Quatro psiclogas, uma com idade abaixo e as outras trs com idade acima de 40 anos, foram entrevistadas, e trs delas afirmaram atender trabalhadores.

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Leses por Esforos Repetitivos/ Distrbios Osteomusculares Referentes ao Trabalho.

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Com tempo de experincia profissional variado sendo que uma atua a menos de 10 anos, outra h mais de 20 anos e as outras duas nesse intervalo de tempo os atendimentos feitos por elas so realizados em sua maioria em clnicas particulares. Apenas uma das psiclogas afirmou atender tambm em rgos pblicos de sade. A primeira questo da entrevista foi tambm em relao aos problemas mais freqentes para os trabalhadores e, as respostas mais obtidas foram desgastes fsico, mental e emocional, presso por excesso de trabalho e sintomas psicossomticos. Para que tais problemas sejam amenizados, as psiclogas acreditam que as organizaes devem se preocupar mais com seus colaboradores, que deve haver mais reconhecimento e ateno a eles. Alm disso, duas das profissionais acreditam que treinamentos grupais tambm ajudariam, no s na melhora dos problemas citados, mas tambm na comunicao e integrao no ambiente de trabalho. Indagadas sobre a importncia de se manter bons relacionamentos e boa comunicao no ambiente de trabalho, todas as profissionais afirmaram ser essencial, pois com isso se conquista, segundo elas, melhora na convivncia do grupo, ambiente de trabalho mais agradvel e boa sade para os colaboradores, alm de maior companheirismo e satisfao no trabalho. Competitividade e desentendimentos no grupo e riscos de acidentes e adoecimentos so os efeitos de uma m comunicao e baixa integrao no ambiente de trabalho mais citados pelas entrevistadas, que no deixaram de elencar tambm baixa QVT, desmotivao e depresso.

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As psiclogas tambm foram questionadas sobre a prtica de atividades fsicas voltada aos trabalhadores. Trs delas acreditam que ela pode ajudar na melhoria da rotina dos colaboradores, pois uma forma de controlar o stress, promover a sade e melhorar a rotina e a QV. Apenas na viso de uma delas, tal prtica no ajudaria na melhora da rotina, mas somente na promoo da sade. Esportes, dana de salo e programas de integrao so, entre outras, as atividades que as profissionais acreditam poder ajudar no rendimento e integrao dos trabalhadores, promovendo maior rendimento, integrao, motivao e QV, como j citado anteriormente. No entanto, trs das psiclogas ressaltaram que tais atividades no devem ser impostas pelas organizaes. Para elas importante haver possibilidade de escolha do trabalhador em participar ou no da atividade proposta.

4.3. Mdicos do Trabalho

Dentre os quatro profissionais da cidade de Assis/SP que responderam o questionrio direcionado a mdicos do trabalho h trs homens e uma mulher. Um desses profissionais tem mais 60 anos, enquanto os outros trs esto na faixa etria de 50 a 60 anos, comprovando larga experincia profissional na rea de medicina do trabalho. Em relao aos problemas mais freqentes para a sade dos trabalhadores, relacionados execuo de suas atividades profissionais, as

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respostas mais obtidas dos mdicos foram lombalgias, LER/ DORT, hipertenso arterial e surdez No entanto eles no deixaram de citar tambm depresso, stress e renite alrgica. Programas de preveno a doenas, posturas adequadas, ginstica laboral e alongamentos foram as principais repostas dadas pelos profissionais, aos serem questionados sobre o que pode ser feito para cessar ou pelo menos amenizar os problemas de sade. Ao serem indagados sobre a prtica de atividades fsicas voltadas aos trabalhadores, os quatro profissionais afirmaram ser benfica, mas um deles lembrou que o limite de cada pessoa deve ser respeitado. Eles afirmaram tambm que tal prtica promove o bem-estar, motiva os trabalhadores e contribuem na diminuio dos problemas de sade destes. As duas ltimas questes da entrevista com os mdicos do trabalho foram em relao opinio sobre a Dana de Salo. Os profissionais acreditam que a dana social possa ser uma boa opo de atividade fsica, pois descontrai, quebra a rotina e auxilia na melhora do humor, do stress e da depresso, alm de prevenir doenas. Apenas um deles ressaltou a importncia de se gostar de tal atividade, pois s assim ela traria bons resultados.

4.4. Profissionais de Dana de Salo

O questionrio direcionado a profissionais de Dana de Salo foi aplicado a 4 profissionais, um da cidade de Assis/SP, um da capital paulista e os

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outros dois da cidade do Rio de Janeiro, sendo que com estes trs ltimos o contato para entrevista foi via e-mail. Sendo trs homens e uma mulher, um com idade abaixo de 30 anos, dois na etria de 30 a 50 anos e o quarto com idade superior a 50 anos, os quatro profissionais atuam na rea de Dana de Salo h vrios anos, tanto que um deles j dana profissionalmente h mais de 20 anos. O grau de escolaridade dos danarinos tambm foi questionado. Um deles tem o ensino mdio completo, o segundo comeou cursar psicologia, mas no concluiu e, os outros dois so formados, um em pedagogia e o outro em educao fsica. As mudanas que os profissionais percebem no comportamento de seus alunos aps alguns meses de aulas tema da primeira questo da entrevista em relao (...) postura no sentido de como enfrentar a vida (...), como resume Cristiano Cpa. Os profissionais destacam que seus alunos ficam mais desinibidos, mais sociveis e mais confiantes, h superao de desafios e modificaes corporais e emocionais. Quanto aos benefcios proporcionados pela Dana de Salo que os danarinos acreditam ser importantes na vida e no ambiente de trabalho de quem a pratica, as respostas mais obtidas foram maior raciocnio e criatividade e mais socializao e integrao entre as pessoas. No entanto eles no deixaram de citar tambm que h grande contribuio para a diminuio do stress e que as pessoas ficam mais receptivas mudanas. Todos os profissionais so unnimes ao afirmarem que a dana pode modificar o relacionamento entre as pessoas e que isto pode ser aplicado ao

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ambiente de trabalho. Leandro de Campos, por exemplo, afirma que (...) a dana (...) aproxima as pessoas e as nivela dentro da empresa (...) e releva limites e potencialidades que no ambiente de trabalho so escondidos pela postura defensiva de cada um. Quando indagados se trabalham ou j trabalharam com algum grupo de alunos de uma mesma empresa, trs dos profissionais afirmaram que j ministraram aulas de dana de salo em organizaes. Apenas Carlinhos de Jesus afirmou no ministrar aulas, no entanto realiza eventos e palestras em organizaes, com temas variados, como Melhora na Qualidade de Vida, Superao e Parceria. Por ltimo os profissionais relatam que as aulas nas organizaes proporcionam maior interao entre os colegas de trabalho, h o fortalecimento das amizades, as pessoas ficam mais prximas, mais motivadas e h maior companheirismo e tolerncia.

4.5. Praticantes de Dana de Salo

Foi realizada uma pesquisa com 40 praticantes de Dana de Salo da cidade de Assis nos meses de agosto e setembro de 2007.

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Atravs dela foi possvel constatar que, apesar de ser uma atividade voltada para casais, a maioria dos praticantes, (57%), mulher. possvel ver a diferena no grfico 1.

Sexo

43% Feminino Masculino 57%

Grfico 1 Sexo

A diversidade em relao faixa etria dos entrevistados tambm pode ser constatada atravs da pesquisa. Como nos mostra o grfico 2, 47% dos entrevistados tm entre 15 e 30 anos, 18% est na faixa de 30 a 45 e outros 18% entre 45 a 60 anos. Os 17% restante dos praticantes tem idade acima de 60 anos.

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Faixa Etria

18%

de 15 a 30 anos 47% 18% de 30 a 45 anos de 45 a 60 anos acima de 60 anos

17%

Grfico 2 Faixa Etria

Quanto ao tempo de prtica, a maioria dos aspirantes a danarinos, (32%), afirmou que dana h menos de 6 meses. 18 % disse que pratica Dana de Salo de 6 meses a 1 ano, enquanto 30% j o fazem de 1 a 3 anos. O nmero de pessoas que danam a mais de 3 anos tambm considervel, (20%). Tais dados podem ser vistos no grfico 3.

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Tempo de Prtica

20% 32% menos de 6 meses de 6 meses a 1 ano de 1 a 3 anos acima de 3 anos 30% 18%

Grfico 3 Tempo de Prtica

Como nos mostra o grfico 4, ao serem indagados sobre quem os convidou para participar das aulas de dana, 35% dos entrevistados disseram que foi por iniciativa/ vontade prpria, enquanto 34% afirmaram que foram os amigos quem os convidaram. Para 13% dos praticantes o convite partiu do professor e para 10% partiu de parentes. Os 8% restante afirmaram que foram incentivados por maridos/ esposas/ namorados (as).

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Convite

Amigos 35% 34% Parentes Marido/ Esposa/ Namorado (a) O Professor 10% 8% Iniciativa Prpria

13%

Grfico 4 Convite

A maioria dos praticantes de Dana de Salo afirmou que percebeu mudanas em suas vidas depois que comeou a praticar tal atividade. Apenas 4% dos entrevistados disseram no ter notado nenhuma diferena, como pode ser visto no grfico 5.

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Percepo de Mudanas

10%

Sim No

90%

Grfico 5 Percepo de Mudanas

Entre as mudanas mais citadas esto maior condicionamento fsico e melhoria da sade, j que para 30% dos que relataram ter percebido mudanas, a Dana de Salo se tornou uma nova atividade fsica. Mais diverso na vida tambm foi citada, 20% afirmou estar mais alegres. Maior auto-confiana, auto-estima e disposio foram lembradas por 16% dos praticantes e 14% disse estar mais comunicativo e menos tmido, notando diferenas positivas em seus relacionamentos. A conquista de novas amizades tambm no deixou de ser citada. 11% dos entrevistados disseram ter feito novos amigos. Os outros 9% deram respostas bem diversificadas, entres elas esto maior bem-estar, melhora na postura, maior concentrao, e mais respeito s mulheres, entre outras. Os dados relacionados acima podem ser visto no grfico 6.

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Principais Mudanasnovas amizades

9%

11%

14%

nova atividade fsica, o que gera mais condicionamento fsico e promoo da sade maior auto-confiana, auto-estima e disposio 30% mais alegria e diverso na vida mais comunicativos, menos timidez, o que promove melhora nos relacionamentos outros

20%

16%

Grfico 6 Principais Mudanas

Atravs da pesquisa possvel constatar que a Dana de Salo realmente pode gerar benefcios aos que a praticam. A pesquisa s demonstra o que j foi relatado no trabalho, que a Dana de Salo, graas suas caractersticas, pode ser um valioso instrumento na busca da Qualidade de Vida.

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CONSIDERAES FINAIS

Aps a realizao de pesquisa bibliogrfica e entrevistas com profissionais de diferentes reas e com praticantes de Dana de Salo, podemos concluir que esta atividade pode ser um instrumento eficiente para a obteno da Qualidade de Vida (QV). A Dana de Salo que praticada h muitos anos no Brasil est prestes a completar 200 anos de histria acompanhou as mudanas no comportamento social das pessoas em toda parte do mundo. Ela j rompeu barreiras, preconceitos e j foi considerada apenas modismo, mas hoje est em alta e vista tambm como uma prtica benfica sade e tambm s relaes pessoais. Atravs das entrevistas realizadas vimos que nenhum dos profissionais contra a prtica de tal atividade e que os praticantes elencam os mais variados benefcios e mudanas em suas vidas, gerados pela prtica da dana a dois. Diversas mudanas so percebidas, desde fsicas at psicolgicas e sociais. Melhoria na sade foi uma das respostas mais apontadas pelos entrevistados, o que nos leva a crer que a dana uma excelente atividade fsica. No exagero dizer que a dana de salo tambm vista tambm como agente auxiliador no combate ao stress e depresso, o que a torna uma tima terapia.

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A dana a dois tem tambm grande poder de socializao entre as pessoas. A pesquisa mostra que atravs dela, os praticantes fizeram novas amizades e se tornaram mais sociveis. H algumas respostas que merecem destaque, como a de um praticante que disse ter se tornado mais cavalheiro aps comear a danar ou a de um outro que afirmou ter se livrado de um certo preconceito com dana social, j que a via como uma prtica voltada somente a pessoas mais velhas. Com base nas entrevistas, vemos que a prtica da Dana de Salo resulta em melhoras fsicas, psicolgicas e sociais, e, se levadas s organizaes, podem contribuir para a conquista da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). A QVT vem se destacando como importante ferramenta de gesto. As organizaes esto cada vez mais se preocupando em oferecer uma boa QV a seus colaboradores. Por meio da pesquisa bibliogrfica percebemos que embora a preocupao com as condies de trabalho seja bem antiga, os estudos mais relevantes s aconteceram na dcada de 1920, se intensificando no Brasil somente dos anos 80 para c. Este trabalho se torna relevante ao divulgar as origens da QVT, os fatores que a abrangem e as vantagens que as organizaes podem ter ao adotar uma poltica de QVT, e apresentar a Dana de Salo como uma nova e diferente forma de conquist-la.

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ANEXOS

ANEXOS

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Anexo I Roteiro para Entrevista com Fisioterapeutas

Sexo: ( ) Feminino

( ) Masculino

Idade:______