Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

20
ANIMAÇÃO DISPONÍVEL EM: http://www.youtube.com/watch?v=dETsRIEz7T8 Todos temos responsabilidades para que o mundo seja um lugar mais justo para todos e todas nós. Um mundo de paz e solidariedade só poderá ser alcançado através do reconhecimento e da celebração da nossa diversidade. A diversidade cultural constitui património comum da humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de todos e todas. Além disso, é um dos principais motores do desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e nações. A diversidade cultural somente poderá ser protegida e promovida se estiverem garantidos os direitos humanos e as liberdades fundamentais, tais como a liberdade de expressão, informação e comunicação, bem como a liberdade de escolha e prática das suas expressões culturais. A animação “Todos iguais Todos diferentes” é uma jornada através da temática da diversidade cultural. Procuramos dar a conhecer as diferentes tradições, estilos de vida e dinâmicas sociais de 3 continentes: África, América Latina e Europa, através dos olhos das crianças. O acesso à educação, alimentação, transportes e vida familiar são os cenários em que se concentra a animação. O conjunto de atividades que se seguem são um completo à visualização do filme. Através da pintura, escrita e raciocínio procuramos introduzir a temática da diversidade junto das crianças entre os 4 e os 6 anos. Esta atividade foi produzida no âmbito do projeto “Redes para o Desenvolvimento: da Geminação a uma Cooperação mais Eficiente” executado pelo IMVF em parceria com a Câmara Municipal de Loures, a Câmara Municipal da Marinha Grande, o Fine+p e o Fondo Galego de Cooperación e Solidariedade. Conta com o financiamento da Comissão Europeia e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua para além do apoio institucional da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Imagens: Carlos Germano Inspiração para questões e atividades: Cadernos de atividades pedagógicas Porto-Editora Elaboração: IMVF

description

Caderno de atividades de apoio ao vídeo "Todos Iguais, Todos Diferentes" que reúne 3 curtas-metragens para entendimento multicultural em ambiente escolar dirigidas à faixa etária entre os 5 e os 12 anos. Este material pedagógico foi produzido em 2013 no âmbito do projeto "Redes para o Desenvolvimento: da geminação a uma cooperação mais eficiente" com implementação do IMVF, em parceria com a Câmara Municipal de Loures, Câmara Municipal da Marinha Grande, FINEP e Fondo Galego de Cooperación e Solidariedade. Este projeto é cofinanciado pela União Europeia com o apoio do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, IP. Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=dETsRIEz7T8&feature=share&list=UUF8HxdMhXjIEvIolutyWfsQ

Transcript of Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Page 1: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

ANIMAÇÃO DISPONÍVEL EM: http://www.youtube.com/watch?v=dETsRIEz7T8

Todos temos responsabilidades para que o mundo seja

um lugar mais justo para todos e todas nós.

Um mundo de paz e solidariedade só poderá ser

alcançado através do reconhecimento e da celebração da

nossa diversidade.

A diversidade cultural constitui património comum da

humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de

todos e todas. Além disso, é um dos principais motores do

desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e

nações.

A diversidade cultural somente poderá ser protegida e

promovida se estiverem garantidos os direitos humanos e

as liberdades fundamentais, tais como a liberdade de

expressão, informação e comunicação, bem como a

liberdade de escolha e prática das suas expressões

culturais.

A animação “Todos iguais Todos diferentes” é uma jornada através da temática da diversidade cultural. Procuramos

dar a conhecer as diferentes tradições, estilos de vida e dinâmicas sociais de 3 continentes: África, América Latina e

Europa, através dos olhos das crianças.

O acesso à educação, alimentação, transportes e vida familiar são os cenários em que se concentra a animação.

O conjunto de atividades que se seguem são um completo à visualização do filme. Através da pintura, escrita e

raciocínio procuramos introduzir a temática da diversidade junto das crianças entre os 4 e os 6 anos.

Esta atividade foi produzida no âmbito do projeto “Redes para o Desenvolvimento: da Geminação a uma

Cooperação mais Eficiente” executado pelo IMVF em parceria com a Câmara Municipal de Loures, a Câmara

Municipal da Marinha Grande, o Fine+p e o Fondo Galego de Cooperación e Solidariedade. Conta com o

financiamento da Comissão Europeia e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua para além do apoio

institucional da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Imagens: Carlos Germano

Inspiração para questões e atividades: Cadernos de atividades pedagógicas Porto-Editora

Elaboração: IMVF

Page 2: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

OS NÚMEROS DE 0 A 20: A numeração Árabe e Romana

A ARCO

B BOLA

C CASA

D DENTE

E ELEFANTE

F FAMÍLIA

G GIRAFA

H HISTÓRIA

I ÍNDIO

J JANELA

K KUDURO

L LAGO

M MONTE

N NANDÚ

O OUVIR

P PATO

Q QUEIJO

R RIO

S SOL

T TABANCA

U URIL

V VITÓRIA

W WAFFLE

Y YOGA

X XAILE

Z ZEBRA

1 UM

I

2 DOIS

II

3 TRÊS

III

4 QUATRO

IV

5 CINCO

V

6 SEIS VI

7 SETE VII

8 OITO VIII

9 NOVE

IX

10 DEZ

X

11 ONZE

XI

12 DOZE

XII

13 TREZE

XIII

14 QUATORZE

XIV

15 QUINZE

XV

16 DEZASSEIS

XVI

17 DEZASSETE

XVII

18 DEZOITO

XVIII

19 DEZANOVE

XIX

20 VINTE

XX

O ZERO

O ALFABETO :: AS LETRAS DE A a Z

Page 3: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Observa as imagens com atenção e numera-as respeitando a ordem dos acontecimentos.

Pinta a sequência

O Manuel adora brincar com a Bola. Pinta o desenho, respeitando o código de cores

1 2 3 4 5 6

1

5

6

3

2 4

7

7

Page 4: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Uma chuva de bolas de sabão rodeiam o Manuel. Une as bolas de sabão de 10 a 0, por

ordem decrescente.

Descobre na sopa de letras as palavras dadas

ESTEIRA ESCOLA ALDEIA CANECA RIO

JOGO ARCO PESCA

M

E

R

L

S

S

N

T

A

E

E

S

S

I

N

U

R

O

C

A

N

7

2

1

10

4

de sabão rodeiam o Manuel. Une as bolas de sabão de 10 a 0, por

as palavras dadas

ESTEIRA ESCOLA ALDEIA CANECA RIO

JOGO ARCO PESCA SINO TABANCA

A

L

D

E

I

L

P

E

S

C

B

A

N

C

A

C

R

I

O

S

O

C

S

L

C

M

O

M

A

O

E

C

A

A

A

6

10 5

3

9

8

0

de sabão rodeiam o Manuel. Une as bolas de sabão de 10 a 0, por

ESTEIRA ESCOLA ALDEIA CANECA RIO

SINO TABANCA

A

G

A

O

J

A

O

S

G

E

O

N

B

E

Page 5: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

A cada uma destas palavras foi retirada uma letra. Qual será?

ÁRVOR_

_SCOLA

P _ IX _

1, 2, 3...lá está o peixe a saltar outra vez. Escreve todos os números pares por cima do peixe

e todos os números ímpares por debaixo do peixe.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Page 6: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Rodeia nas palavras a letra X

XAILE XADREZ XAROPE XILOFONE

A Maria caminha diariamente para a escola. Ajuda a Maria a colorir os seus passos. Pinta

com a cor assinalada a quantidade de quadrados indicados na etiqueta.

3

5

2

4

1

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

:: Fale com os seus alunos sobre os diferentes meios de transporte utilizados para

chegarem à escola.

:: Identifique a realidade em diferentes países na América Latina e em África onde as

crianças caminham, por vezes por mais de 1 hora, para chegar à escola.

:: Realçe a importância da educação para a erradicação da pobreza, capacitação de meninas

e mulheres, acesso ao emprego e à inovação.

Page 7: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Conta as figuras em cada desenho e coloca na etiqueta o número correto. Acaba de colorir os

desenhos.

Page 8: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Observa com atenção as imagens da rotina destes amigos antes de irem para a escola.

Ordena-as de 1 a 4 e acaba de colorir o desenho.

Page 9: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Somar é juntar. Pinta as meninas que estão juntas e escreve na etiqueta o número que

corresponde ao total de meninas.

+ =

Observa, pensa e completa

+ =

+ + =

+ + + + =

1

2

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Água fonte de vida. Aborde com os seus alunos a importância da água e do seu consumo

responsável.

1. Chuveiro ligado por 15 minutos = 135 litros

2. Para ter acesso a 10 litros de água, as mulheres em África percorrem em média 6 km

diários a pé = equivalente a 60 relvados dos estádios de futebol

3. Oceanos, rios e lagos cobrem 75 % do planeta

1

Page 10: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

= Subtrair é tirar. Observa, pensa e completa

E tu o que gostas de brincar. Desenha na caixa o teu brinquedo favorito

3

- 1

=

2

Page 11: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

SUGESTÕES DE ACTIVIDADE

ATIVIDADE 1 Leitura de uma História

:: Doçura

O prazer da leitura

Edição conjunta de FNAC/Teorema publicado por ocasião do Dia Mundial do Livro

23 de Abril 2007

(excerto)

A Doçura

Anita vende a doçura em frascos. Enche-os de compota de fruta, tapa-os e cola-lhes uma

etiqueta, mas, em vez de escrever compota disto ou compota daquilo, de mirtilos ou de

pêssego, de marmelo ou de morango, arredonda a letra e escreve apenas Doçura. Senta-se no

passeio com os frascos defronte, expostos no asfalto, junto aos pés, e não lhe faltam clientes.

A compota vende-se muito bem e ninguém regressa para reclamar: quem compra julga que a

doçura está toda nos olhos de Anita.

Anita vende, pois, a doçura que tem no olhar e a doçura que embala nos frascos de

vidro. É isso o que faz, sentada no passeio defronte do Mercado Sucupira, pelo menos desde

que desistiu de escrever poemas.

Na escola, a professora de Anita não se cansava de lhe gabar a delicadeza das

composições que escrevia. A mestra ordenava às crianças que escrevessem uma composição

sobre isto ou aquilo, sobre a Primavera ou sobre o ilhéu defronte da baía da Gamboa, e o que

Anita fazia era sempre igual: escrevia no topo da folha pautada a palavra Composição com essa

mesma letra indecisa e pequena que hoje lhe serve para escrever Doçura nas etiquetas dos

frascos de doce — e depois deixava que a cabeça a levasse para longe, para o mundo

impalpável das coisas que estão escritas nas páginas dos livros. Escrevia sobre bosques

impenetráveis e montanhas verdejantes, sobre belos guerreiros medievais e cidades de

prédios muito altos, ainda que não houvesse na ilha nenhuma das coisas que descrevia e, por

isso, ela nunca tivesse visto bosque algum, nenhuma paisagem alpina ou um príncipe que

fosse.

Page 12: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

E um dia, mais do que gabar-lhe a composição e afagar-lhe a carapinha, a professora

disse:

— Um dia ainda vais ser poeta, Anita.

E Anita conseguiu imaginar que era poeta, que escrevia livros iguais aos que gostava de

ler à noite, quando a luz faltava na Praia e a cidade voltava a ser um sítio apenas iluminado por

candeias e velas. Cresceu, por isso, julgando que, um dia, escreveria poemas e frases bonitas

sobre a sua ilha e que as crianças das outras partes do mundo leriam o que escrevesse e

sonhariam com a baía morna onde, às vezes, a lua cheia vem namorar o mar — do mesmo

modo que eu, estando longe, vejo Anita sem sequer a ver. Estou num sítio ao Norte do mundo,

no Inverno, longe do mar, num prédio alto e cinzento, igual aos que Anita imagina quando tem

que escrever uma composição sobre A Cidade. Não vejo, de onde estou, o Mercado Sucupira,

nem essa Avenida de Lisboa em cujo passeio Anita se senta para vender a Doçura. Nesta

janela, tendo defronte apenas as janelas gémeas de um prédio igual, encosto a face ao vidro

da varanda e adivinho o frio que faz lá fora (todo o frio me parece muito desde o dia perverso

em que o Verão termina). Invento o frio e encolho ainda mais dentro do corpo. É aqui, porém,

que, encostado ao vidro que me separa do Inverno, espero que venha o raio morno que o sol

derrama quando se eleva acima da massa sombria dos prédios da cidade. Então, e por um

instante, fecho os olhos, esqueço o Inverno e imagino que ainda é Verão, que a cidade lá fora é

a Praia e que Anita está sentada no passeio a vender Doçura desde o dia em que soube que

não seria poeta.

Ora a invejo, ora me enterneço com a doçura que guarda e com o modo que tem de a

entregar ao mundo, ali sentada no passeio escalavrado da Avenida de Lisboa: agita uma revista

velha diante do peito para se refrescar e põe a mão em pala diante dos olhos (para que o sol

não derreta o açúcar que neles há). As outras pessoas passam e vêem Anita vendendo

a Doçura em frascos. Muitas param para comprar: uns levam apenas a compota, outros vêm

pela imensa doçura que há nos olhos da menina-moça, pelo sorriso imenso que o rosto dela

desenha.

Eu, que não vejo Anita, vejo claramente o riso dela, o lenço branco que Anita tem

enrolado na cabeça, a camisa cor-de-rosa, as argolas douradas que tem nas orelhas, a saia de

chita, o chinelo de plástico que abriga os pés dela. Imagino até que, às vezes, Anita lance no ar

um pregão tímido

Page 13: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

— Nha leba doçura pa casa

que o barulho do trânsito o abafa. Que, quando regressar a casa depois de ter vendido todos

os frascos, Anita levará o dinheiro apertado na mão, firmemente, feliz por ter vendido toda a

compota — e triste por não ter podido ser poeta. Vai caminhando de cabeça erguida, devagar,

como se o seu andar fosse uma pausa entre a ida veloz dos passos de uns e a vinda apressada

dos passos dos outros. Não escuta os piropos dos rapazes, não ouve o barulho da cidade: vai

inventando poemas que não escreverá jamais, pois cedo a mãe lhe explicou que

— Não é poeta quem quer, é poeta quem a vida deixa. Poesia de pobre é comida na

mesa para encher barriga.

Quando a noite vem e não há luz na Praia, quando o zumbido das coisas eléctricas cessa

e se pode escutar o murmúrio da terra e os sussurros da vizinhança, Anita debruça-se na janela

da casa e fica a contemplar o corisco breve das estrelas. Imagina poemas que não escreve e

inventa paisagens nevadas, belos príncipes crioulos montados em alazões, cidades de

altíssimos prédios onde todos se conhecem pelo nome próprio e se cumprimentam à tardinha

quando regressam a casa — tudo pode ser visto nas estrelas diante da janela do quarto de

Anita.

Quando aí está, esperando que os pontos luminosos da noite se ordenem e inventem

mundos, Anita pensa que ainda é poeta, que são poemas as frases com que imagina príncipes

crioulos e cidades imensas de vidro e aço. Sonha os livros que escreveria se não fosse menina

pobre e a vida tivesse permitido que o vaticínio da velha mestra se concretizasse.

(— Um dia ainda vais ser poeta, Anita)

Às vezes, pensando nisto, Anita ainda se entristece. Olhando-a a partir da minha janela

do país onde é quase sempre Inverno, vejo que as estrelas se lhe reflectem no orvalho dos

olhos. Vejo isto e enterneço-me. Daqui longe fecho os meus olhos e sussurro bem baixinho a

única verdade que existe — para que ela a oiça: que não há no mundo todo maior poema do

que vê-la, sentada no passeio, a vender a Doçura que tem nos frascos. E nos olhos.

(excerto)

Manuel Jorge Marmelo

Page 14: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

: : CHI CO

Chico vive numa aldeia perdida num dos muitos países de África. Podia ser em Angola, no

Senegal ou no Ruanda. Podia chamar-se Chico, Abuabar ou N’gouda. Há muitos Chicos em

África. Chicos de olhos brilhantes e pés descalços, com a cabeça povoada de sonhos, com

vontade de ter um futuro para viver.

Como quase todos os seus companheiros, Chico levanta-se bem cedinho pela manhã. Ajuda a

mãe a tratar das duas cabrinhas, Flor e Kenchú, e só depois parte para a escola. Chico gosta

particularmente de Flor. Foi ele quem lhe pôs o nome, no mesmo dia em que ela chegou à

palhota, apertada nos braços fortes do pai, ainda mal se segurando nas patinhas frágeis, e a

berrar pela mãe. Fora um vizinho que lha dera, como forma de pagar a ajuda no arranjo da

cabana.

Na primeira noite, Flor berrou todo o tempo a chamar pela mãe e nem deixava que Kenchú a

tentasse acalmar, lambendo-a. Deitado na sua esteira, Chico não conseguia adormecer.

Entendia tão bem a cabrinha! O pai dele arranjara trabalho longe, lá na cidade, e só podia vir a

casa de quinze em quinze dias. Às vezes, para fazer mais algum dinheiro, ficava fora mais

tempo. Quando chegava a hora de regressar à cidade, o pai dizia-lhe que se portasse como o

chefe da casa e que devia obedecer à mãe. Como se fosse preciso dizer-lho! Ele bem sabia que

a mãe, com o trabalho na fazenda do Sr. Macedo, com os gémeos de três anos e Linita, de oito,

não podia fazer tudo, e precisava da ajuda dele.

De todas as vezes que o pai partia, Chico ficava triste o resto do dia, mas depois passava.

Quando a saudade lhe enchia o peito até cima e parecia querer saltar pelos olhos, apertava na

mão com muita força o seixo que o pai lhe dera naquela tarde em que Chico pescara o maior

peixe da sua vida. O pai explicara-lhe que tinha arranjado na cidade um bom trabalho, mas que

ia deixar de poder vê-los todos os dias. Depois, metera a mão na água e tirara dois seixos, os

mais bonitos que Chico alguma vez vira, e colocou-lhe um na palma da mão.

— Quando tiveres muitas saudades minhas, apertas com força esta pedrinha. A tua saudade

vai passar para a minha pedra e eu vou recebê-la e tu vais sentir-te acompanhado.

Page 15: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Em certas ocasiões, as saudades eram tantas que acabavam por conseguir irromper para fora e

duas lágrimas teimosas, quentes e grossas, deslizavam suavemente pela face castanha-escura

de Chico. Ah, como ele compreendia a cabrinha malhada com a manchinha branca na testa!

Esgueirou-se para fora da palhota sem acordar os pais e os irmãos que dormiam, saiu para a

noite quente e húmida e entrou na cabana dos animais. Passou a noite inteira deitado ao lado

de Flor, que se acalmou e acabou por adormecer com a cabeça poisada no peito de Chico. No

dia seguinte, já aceitou de bom grado o leite que Kenchú lhe oferecia.

Os pais estranharam a mudança mas, durante algum tempo, a causa dessa transformação

ficou um segredo entre Chico, Flor e Kenchú. Só depois de ordenhadas as cabras e de lhes ter

deitado de comer, é que Chico saía para a escola. À saída da aldeia encontrava-se com Djimbu

e Mkembé, os seus dois melhores amigos, e juntos faziam o caminho até à escola das Missões.

Ir à escola era o que Chico mais gostava. O seu maior sonho, já segredado para dentro das

orelhas de Flor e contado ao pai, durante uma tarde de pesca, era, um dia, poder ensinar

outros meninos como ele a ler e a escrever. E haveria de trabalhar tanto, que iria até conseguir

dinheiro para comprar uma bicicleta novinha para os irmãos, igual a uma que vira um dia.

Bem, do que ele gostava mesmo, mesmo, era de um dia poder ter um carro como o do Sr.

Macedo, o dono da fazenda onde a mãe às vezes ia trabalhar.

Mas esse era o seu maior segredo e ainda nem se atrevera a contar a ninguém, nem mesmo a

Flor. Claro que, se o contasse a Djimbu ou a Mkembé, eles também iam querer, e deixava de

ser um desejo só dele… De cada vez que o Sr. Macedo vinha à casa grande, somente de

tempos a tempos, Chico ficava parado no caminho a observar o grande carro branco e

brilhante, tão brilhante que, quando o sol cintilava nos vidros, até fazia doer os olhos, e assim

ficava perdido no seu segredo.

Ao chegar à escola, Chico notou um alvoroço desacostumado. Alguns homens em manga de

camisa transportavam caixas para dentro do edifício da escola. Pareciam todos muito bem

dispostos, e até o Palhinhas, o cão acastanhado do professor, soltava latidos alegres e abanava

a cauda, bem disposto. Chico, Djimbu e Mkembé estugaram o passo. Que confusão! Quando a

velha furgoneta partiu, deixando a velha escola atafulhada de caixas, sentaram-se, de pernas

cruzadas no chão e o professor deu início à abertura das caixas.

Page 16: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Era uma encomenda vinda da Europa com uma oferta de material para a escola. Perante o

olhar fascinado das crianças, o professor foi retirando, com largos gestos teatrais mas sinceros,

folhas soltas, restos de cadernos, cadernos e blocos novos e usados. Chico nem queria

acreditar! Aquele material podia não ser novo, mas para eles isso não tinha a menor

importância e era-lhes muitíssimo útil. Quem o enviara parecia adivinhar exactamente aquilo

de que estavam a precisar!

O professor continuou a retirar lápis, lápis novos e usados, restos de lápis, lápis de cor – que

bonitas as cores! – canetas – eram tão poucas as que lhes chegavam à escola! – borrachas que

apagavam o que o lápis escrevia. Mas o melhor de tudo vinha no último caixote… Quando o

professor o abriu, o rosto iluminou-se num sorriso. Muito lentamente, como um mágico que

tira um coelho da cartola, o professor foi erguendo o braço. As crianças, mortas de curiosidade

e com os olhos a brilhar, sustinham a respiração. O professor mostrou…

Livros!! Livros com imagens cheias de cor! Chico sentiu o coração a bater mais rápido. Parecia-

lhe que estava a viver um sonho e só tinha medo de que a mãe o acordasse naquele momento.

Livros! Chico era capaz de ficar horas a fio mergulhado e perdido nas páginas de um livro.

Ainda não tinha lido muitos. Só três dos meros vinte que constituíam a magra biblioteca da

escola. Podia ser muito reduzida, mas os meninos achavam-se importantes por os terem e

manuseavam-nos carinhosamente e com muito cuidado. Chico tinha lido os três mesmo até ao

fim, e tantas, tantas vezes, até saber as histórias de cor e poder contá-las à noite, em volta do

lume, à mãe, ao pai e aos irmãozinhos, que o escutavam com os grandes olhos castanhos

muito abertos de espanto e com a respiração suspensa. Se Chico pudesse, levaria um daqueles

para casa para lhos ler. Ficariam certamente ainda mais orgulhosos dele. Se algum dia

conseguisse ganhar dinheiro, haveria de poupar até conseguir juntar o suficiente para comprar

um grande livro de histórias ou de aventuras para ler aos irmãos. O maior e o mais grosso que

houvesse à venda.

Os pensamentos de Chico foram interrompidos pela passagem do professor. Já tinha partido

os lápis em pedaços mais pequeninos, que distribuía naquele momento pelos alunos. Cada um

ia encaixar o seu pedacinho de lápis numa caninha ou num pau para conseguir aproveitá-lo até

ao fim. Tinham autorização para levar o material para casa, mas ninguém o levava com medo

de perder as preciosas folhas de papel ou os lápis.

Page 17: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

Chico pegou no seu, como quem recebe em mãos uma relíquia ou um tesouro. Não, hoje ia ter

muito cuidado. Da última vez que preparara o lápis, no preciso momento em que estava a

cortar a cana, o Sr. Macedo apareceu no seu carro brilhante, a apitar a uma gazela que se

atravessara no caminho. Por momentos, Chico esqueceu tudo o que estava a fazer,

imaginando-se sentado nos bancos macios, por trás do volante, com o vento a acariciar-lhe a

face, e a apitar a empalas, zebras e macacos. Zás! Deixou cair o braço e cortou o bico do lápis,

que, se já era pequeno, ainda mais reduzido ficou.

Que tristeza! Até deu pontapés no velho baobá que se erguia à saída da cabana, de tão furioso

que ficou. Porque é que o Sr. Macedo tinha de aparecer precisamente naquele momento? Por

causa daquele carro enfeitiçado, já não teve lápis para escrever ao pai – o encarregado da

fábrica lia as cartas aos empregados – por aquela altura em que esteve muito tempo sem vir a

casa. Não, desta vez ia estar com mil olhos. Nem que passassem dois carros a apitar mesmo ao

lado dele, ele ia ceder à tentação de olhar!

Ao regressar a casa, Chico apertava com força o seixinho do rio Tinha tantas novidades para

contar em casa! E tanta coisa para escrever ao pai! Queria dizer-lhe que, da próxima vez que

viesse a casa, ele, Chico, iria ter novas histórias para contar à noite, junto ao fogo.

I. Birnbaum

Fonte: http://contadoresdestorias.wordpress.com/2009/06/04/chico/

SUG EST ÃO DE AT I VIDADES

A leitura dos contos acima poderá suscitar uma reflexão sobre as inúmeras crianças que, no

mundo, sofrem de privações de todo o género e se veem impossibilitadas de ir à escola ou

que não têm acesso a material escolar

Os alunos serão, em seguida, questionados sobre as medidas que tomariam, se isso lhes

fosse possível, a fim de minimizar tais situações de injustiça.

Page 18: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

ATIVIDADE 2

Leitura e Interpretação

a) Como se chama um grupo de índios?

b)Como se chamam as casas dos índios? E como são construídas?

c)Quais são os principais instrumentos musicais dos índios?

História :: Dia do Índio para Crianças

Page 19: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

d) Depois de leres a história faz o desenho da tribo do nosso amigo índio.

Page 20: Todos Iguais Todos Diferentes - Caderno de Atividades

ATIVIDADE 3 Imagens e Perceções: uma imagem vale mais do que mil palavras Faixa etária A partir dos 7 anos Objetivos • Estimular a discussão e a reflexão crítica que ajudará os alunos a compreender a natureza de um preconceito/estereótipo e a forma de o combater. • Fomentar o diálogo e o debate em grupo. Recursos necessários • Revistas, jornais, livros. • Papel, cola, tesoura. Atividade • A criança deve recortar algumas imagens que considerem bonitas e agradáveis e outras que considerem feias e desagradáveis; • Para cada imagem, a criança deve identificar um aspecto positivo e outro negativo; • Promover a discussão em grupo em torno das imagens e dos aspetos mencionados; • Analisar o impacto que os diferentes aspetos têm nas nossas perceções de pobreza e exclusão; • Se encontrados alguns estereótipos, encorajar a reflexão conjunta para desconstruí- los dando exemplos concretos e referindo aspectos alternativos. Sugestões (variações da actividade) a) Construção de um painel coletivo dos trabalhos realizados;

Fonte: Pobreza e Exclusão Social: um Guia para Professores. Edição Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal