Transformada de Laplace 1

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  1 Universidade Salvador – UNIFACS Cursos de Engenharia – Métodos Matemáticos Aplicados / Cálculo Avançado / Cálculo IV Profa: Ilka Rebouças Freire A Transformada de Laplace Texto 01: Introdução. Definição. Condições de Existê ncia. Pr opriedades. Introdução  A Transformada de Laplace é um método de resolução de equações diferenciais e dos correspondentes problemas de valor inicial que reduz a questão da resolução de uma equação diferencial a um problema algébrico. Tem a vantagem de resolver diretamente os problemas, isto é, os problemas de valor inicial podem ser resolvidos sem que se determine inicialmente uma solução geral. Além disso, as equações não- homogêneas são resolvidas sem ter qu e primeiro encontrar a solução das homogêneas correspondentes. Este método é bastante utilizado em problemas de Engenharia, principalmente em problemas em que uma força de propulsão ( mecânica ou elétrica ) tem descontinuid ades: por exemplo, atua em curto intervalo de tempo ou é periódica mas não é seno ou cosseno. O método foi desenvolvido p or Pierre Simon de Laplace ( 1749-1827), grande matemático francês que desenvolveu o s fundamentos da teori a do potencial e deu grandes contrib uições à Mecânica Celeste e à Teoria das Probabilidades. Definição:  Seja f(t) uma função real no intervalo [0, + [ e consideremos a integral imprópria +0 st dt ) t ( f e  onde s é uma variável real. Se a integral converge para certos valores de s , então define uma função de s chamada de Transformada de Laplace de f e denotada por L[f] (s) = F (s) = +0 st dt ) t ( f e . A operação realizada sobre f(t) é chamada de transformação de Laplace. Observações:  O uso da letra t em lugar de x como variável i ndependente é uma conven ção praticamente universal quando se de fine a Transformada de Laplace e t em como

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Universidade Salvador – UNIFACS

Cursos de Engenharia – Métodos Matemáticos Aplicados / Cálculo Avançado /

Cálculo IVProfa: Ilka Rebouças Freire

A Transformada de Laplace

Texto 01: Introdução. Definição. Condições de Existência. Propriedades.

Introdução 

A Transformada de Laplace é um método de resolução de equações diferenciais e dos

correspondentes problemas de valor inicial que reduz a questão da resolução de uma equação

diferencial a um problema algébrico. Tem a vantagem de resolver diretamente os problemas, isto é,

os problemas de valor inicial podem ser resolvidos sem que se determine inicialmente uma solução

geral. Além disso, as equações não-homogêneas são resolvidas sem ter que primeiro encontrar a

solução das homogêneas correspondentes.

Este método é bastante utilizado em problemas de Engenharia, principalmente em problemas em

que uma força de propulsão ( mecânica ou elétrica ) tem descontinuidades: por exemplo, atua em

curto intervalo de tempo ou é periódica mas não é seno ou cosseno.

O método foi desenvolvido por Pierre Simon de Laplace ( 1749-1827), grande matemático francês

que desenvolveu os fundamentos da teoria do potencial e deu grandes contribuições à Mecânica

Celeste e à Teoria das Probabilidades.

Definição: Seja f(t) uma função real no intervalo [0, + ∞[ e consideremos a integral imprópria

∫+∞

0

st dt)t(f e onde s é uma variável real. Se a integral converge para certos valores de s , então

define uma função de s chamada de Transformada de Laplace de f e denotada por L[f] (s) = F(s)

= ∫+∞

0

st dt)t(f e . A operação realizada sobre f(t) é chamada de transformação de Laplace.

Observações:

•  O uso da letra t em lugar de x como variável independente é uma convenção

praticamente universal quando se define a Transformada de Laplace e tem como

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origem o fato de que na grande maioria dos problemas práticos com valor inicial a

variável independente ser o tempo.

•  Uma vez que valores negativos do tempo são usualmente excluídos restringimos o

estudo ao eixo t não negativo, isto é, t ∈ [ 0, + ∞[.

Exemplo: Determine a transformada de Laplace das seguintes funções:

1. f(t) = 1; t ≥ 0

F(s) = ∫+∞

0

stdt)t(f e =

s

1]

s

1e[lim]

s

e[limdtelimdte

sb

b

b0

st

b

b

0

st

b0

st=

+−=

−==

+∞→

+∞→

+∞→

∞+−

∫∫ ;

Assim, L[1] (s) =s

1para s > 0.

Observemos que a integral converge para valores de s > 0.

2. f(t) = t; t > 0

∫=

+∞−

0

st dt)t(f e)s(F =

222

sbsb

b

b02

stst

b

b

0

st

b0

st

s

1]

s

1

s

e

s

be[lim]

s

e

s

te[limdttelimdtte =+−

−=−

−==

−−

+∞→

−−

+∞→

+∞→

∞+−

∫∫ ;

Observemos que 0es

1lim)( 

se

blim

s

belim

sb2bsbb

sb

b==

∞=

+∞→+∞→

+∞→

( se s > 0 ) ( Usando

L´Hospital na variável b)

Assim, L[t] = F(s) = 2s

1

se s > 0 ( condição para a convergência da integral )

3. f(t) = tn; n inteiro positivo

F(s) = ∫+∞

0

st dt)t(f e = ∫+∞

0

stn dtet

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Vamos inicialmente usar partes para calcular a integral indefinida correspondente:

∫∫∫ −−

−−−

− +−

=⇒

−=⇒=

=⇒=

dtetsn

setdtet

s

evdtedv

dtntdutu

:dtet st1n

stn

stnstst

1nn

stn  

Temos assim que:

∫+∞

0

stn dtet = =+−

∫∞+

−−−

+∞→

dtets

n]

s

et[lim

0

st1nb0

stn

b=+

−∫∞+

−−−

+∞→

dtets

n]

s

eb[lim

0

st1nsbn

dtets

n

0

st1n∫∞+

−− = ]t[Ls

n 1n− .

Observação: 0]s

eb[lim

sbn

b=

− −

+∞→

.

Isto pode ser verificado usando-se L`Hospital para baixar o grau de b n :

....]es

b)1n(n[lim]

es

nb[lim]

se

b[lim]

s

eb[lim

sb3

2n

bsb2

1n

bsb

n

b

sbn

b=

−−=

−=

−=

−−

+∞→

+∞→+∞→

+∞→

 

Assim, =−−

=−

==−−−

]t[Ls

)2n)(1n(n]t[L

s

)1n(n]t[L

s

n]t[L

3n

3

2n

2

1nn .....=

1nnn

nn

n s

!n

s

1

s

!n]1[L

s

!n]t[L

s

1.2)...3n)(2n)(1n(n

+

−===

−−− 

Logo1n

n

s

!n]t[L

+= ; para s > 0

3.1)3

2

s

!2]t[L = ; 3.2)

6

5

s

!5]t[L =  

4. f(t) = eat; t > 0 e a constante

F(s)= ∫∫+∞

−+∞

−=

0

t)sa(

0

atst dtedtee =

sa

1]

sa

1

sa

e[lim]

sa

e[limdtelim

b)sa(

b

b0

t)sa(

b

b

0

t)sa(

b −−=

−−

−=

−=

+∞→

+∞→

+∞→∫ se (a – s) < 0.

Logo,as

1]e[L

at

−= , se s > a.

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4

4.1) 1s

1]e[L

t

−= ; 4.2)

2s

1]e[L

t2

+=

−  

5. 

<<=

ctse 0;

ct0 se ;k )t(f   

F(s) = ∫+∞

0

stdt)t(f e =

s

)e1(k 

s

k ke]

s

ke[dtke

cscsc0

stc

0

st−−−

− −=

+−=

−=∫  

Algumas Considerações sobre a Existência das Transformadas

Como ilustramos nos exemplos acima, para um grande número de funções f(t), será possível

calcular L[f] diretamente da definição. Precisamos, no entanto, estabelecer um conjunto de

condições que garantam a existência da transformada de Laplace de uma função f(t). Para isso,

vamos introduzir dois conceitos importantes: função contínua por partes e função de ordem

exponencial: 

Definição: Uma função f é dita contínua por partes num intervalo [a,b] se:

i)  f é contínua em todos os pontos de [a,b], exceto num número finito

ii)  os limites laterais existem nos pontos de descontinuidades

Exemplos:

1.  A função

<<−

<<=

2x1 se x;1

1x0se ;x)x(f  é contínua por partes em [0,2]

2.  A funçãox

1)x(f  = não é contínua por partes em nenhum intervalo contendo o

zero.

Os seguintes resultados valem:

c

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•  Se f é contínua por partes em [a,b] então ∫b

a

dx)x(f existe e independe dos valores que f 

assume ( se estiver definida) nos seus pontos de descontinuidades.

•  Se f e g são contínuas por partes em [a,b], então f.g é contínua por partes em [a,b] e

portanto ∫b

a

dx)x)(fg( existe

•  Toda função contínua em [a,b] é contínua por partes

Examinando a definição da Transformada observamos que f(t) deve ser tal que ∫−

b

0

stdte)t(f exista

para todo b > 0. Isto pode ser obtido exigindo que f seja contínua por partes em todo intervalo da

forma [0,b] ( b > 0 ), uma vez que dessa forma o integrando será contínuo por partes e portanto a

integral existirá. Mas esta condição não é suficiente pois queremos que a integral ∫+∞

0

stdte)t(f 

seja convergente para algum valor de s. Isto pode ser garantido exigindo-se que e−st

f(t) se aproxime

de zero quando t tende a infinito o que pode ser obtido se f(t) for “dominada” por uma exponencial.

Este fato está expresso na seguinte definição:

Definição: Diz-se que uma função f é de ordem exponencial em [0, + ∞[ se existem constantes

M > 0 e α tais que tMe)t(f α

≤ para todo t > to, para determinado to.

Exemplos:

1.  f(t) = 1 é de ordem exponencial

Basta tomarmos α = 0 e M = 1: t0e.11)t(f  ==  

2.  f(t) = t é de ordem exponencial

Basta mostrarmos que 0e

tlim

tt=

α+∞→

( para um α > 0 ) pois a definição de limite nos garante que

qualquer que seja M > 0, existe to tal que para t > to, Me

t

t<

α, logo tαMet −

≤  

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O seguinte teorema nos garante a existência da Transformada de Laplace para funções contínuas

por parte e de ordem exponencial:

Teorema: Se f é uma função contínua por partes e de ordem exponencial existe um número s o tal

que ∫+∞

0

stdt)t(f e converge para todos os valores de s > so 

so é chamada de abscissa de convergência

Observação: A recíproca do Teorema não é verdadeira, isto é, uma função pode ter

Transformada de Laplace sem ser de ordem exponencial. Um exemplo ét

1)t(f  =  

Propriedades da Transformada de Laplace.

Teorema (Linearidade da Transformada de Laplace) :A Transformada de Laplace é uma operação linear, isto é, para quaisquer funções f(t) e g(t) cujas

transformadas de Laplace existam e quaisquer constantes a e b temos que L[ af(t) + bg(t) ] =

aL[f(t) ] + bL[g(t)].

D] Usando a linearidade da integral e supondo que L[f] e L[g] existam temos que

L[af + bg] = ∫∫∫+∞

−+∞

−+∞

−+=+

0

st

0

st

0

st dte)t(gbdte)t(f adte)t)(bgaf ( = aL[f] + bL[g]

Observações•  A transformada é um operador que aplica o conjunto das funções contínuas por partes e de

ordem exponencial no conjunto das funções definidas em intervalos da forma ]so, + ∞[

•  L[f + g] = L[f] + L[g] significa que a identidade ocorre para valores de s em que ambas as

funções estão definidas

Com a propriedade da linearidade podemos ampliar a nossa lista de transformadas, como veremosnos exemplos seguintes:

Exemplo:

1) Usando a linearidade e os resultados já vistos, determine a Transformada de Laplace das

seguintes funções

1.1) f(t) = k 

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L[k] = L [k.1] = k L[1] =s

k ; s > 0

1.2) 2t2t32)t(f  +−=  

32

22

s

!22

s

3

s

2]t[L2]t[L3]2[L]t2t32[L)]t(f [L +−=+−=+−=  

1.3) 1e2e)t(f t2t++=

−  

s

1

2s

2

1s

1]1[L]e[L2]e[L]1e2e[L)]t(f [L

t2tt2t+

−+

+=++=++=

−−  

2. Usando a linearidade e a formula de Euler eiwt

= cos(wt) + isen(wt), deduza a transformada dasfunções: f(t) = cos wt e f(t) = sen(wt)

Temos queas

1]e[L

at

−= . Fazendo a = iw,

22

iwt

ws

iws

iws

1]e[L

+

+=

−= .

Por outro lado, pela fórmula de Euler, eiwt

= cos(wt) + isen(wt)

Assim, L[eiwt

] = L[cos(wt) + isen(wt)] = L[cos(wt)] + iL[sen(wt)] =2222 ws

wi

ws

s

+

+

+

 

Logo,22 ws

s)]wt[cos(L

+

= e22 ws

w)]wt[sen(L

+

=  

Usando a definição podemos mostrar que os resultados acima valem para s > 0.

2.1) t2cost2sen3)t(f  −=   ]t2[cosL]t2sen[L3]t2cost2sen3[L)]t(f [L −=−=⇒  

2s

s

4s

23

22+

+

=  

3. Usando a linearidade deduza a transformada 

3.1.2

eeatcosh)t(f 

atat −+

== ( cosseno hiperbólico )

=+=+

=−

])e[L]e[L(2

1]

2

ee[L]at[coshL atat

atat

 

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22

as

s)

as

1

as

1(

2

1

=+

+−

= ; s > a

3.2)2

eeatsenh)t(f 

atat −−

== (seno hiperbólico)

=−=−

=−

])e[L]e[L(2

1]

2

ee[L]senhat[L atat

atat

 

22 as

a)

as

1

as

1(

2

1

=

+

; s > a

Referências Bibliográficas: 1. Kreyszig, Erwin – Matemática Superior - vol 1

2. Zill/Cullen – Equações Diferenciais - vol 1

3. Kreider/Kuller/Ostberg – Equações Diferenciais