UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA

122
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO RAIMUNDO FARIAS DE OLIVEIRA JÚNIOR A CONTRIBUIÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO URBANO DE MUNICÍPIOS DIRETAMENTE AFETADOS PELA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE: ALTAMIRA E VITÓRIA DO XINGU BELÉM - PA 2013

Transcript of UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

URBANO

RAIMUNDO FARIAS DE OLIVEIRA JÚNIOR

A CONTRIBUIÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA

FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO URBANO DE

MUNICÍPIOS DIRETAMENTE AFETADOS PELA HIDRELÉTRICA DE BELO

MONTE: ALTAMIRA E VITÓRIA DO XINGU

BELÉM - PA

2013

RAIMUNDO FARIAS DE OLIVEIRA JÚNIOR

A CONTRIBUIÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA

FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO URBANO DE

MUNICÍPIOS DIRETAMENTE AFETADOS PELA HIDRELÉTRICA DE BELO

MONTE: ALTAMIRA E VITÓRIA DO XINGU

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente Urbano da Universidade da

Amazônia como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano.

Orientador: Prof. Dr. Marco Valério de

Albuquerque Vinagre.

BELÉM - PA

2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

307.140981

O48c Oliveira Júnior, Raimundo Farias de.

A contribuição dos indicadores de desenvolvimento humano na

formulação de políticas públicas no contexto urbano de municípios

diretamente afetados pela hidrelétrica de Belo Monte: Altamira e

Vitória do Xingu / Raimundo Farias de Oliveira Júnior. – Belém,

2013.

121 f.: il.; 30 x 21 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia, Programa

de Pós- Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano,

2013.

Orientador: Prof. Dr. Marco Valério de Albuquerque.

1. Indicadores de desenvolvimento humano – políticas públicas

- Amazônia. 2. Políticas públicas – evolução – Altamira/Pa. 3. Politícas

públicas – evolução – Vitória do Xingú/Pa. 4. Hidrelétrica de Belo

Monte – desenvolvimento urbano. I. Albuquerque, Marco Valério de.

II. Título.

RAIMUNDO FARIAS DE OLIVEIRA JÚNIOR

A CONTRIBUIÇÃO DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA

FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO URBANO DE

MUNICÍPIOS DIRETAMENTE AFETADOS PELA HIDRELÉTRICA DE BELO

MONTE: ALTAMIRA E VITÓRIA DO XINGU

Banca Examinadora:

_________________________________________

Prof. Dr. Marco Valério de Albuquerque Vinagre

Orientador - UNAMA

_________________________________________

Prof. Dr. Dilaelson Rego Tapajós

Examinador Externo - MPE

_________________________________________

Prof. Drª. Maria Lúcia Bahia Lopes

Examinador Interno - UNAMA

Apresentado em: 13/12/2013.

Conceito: 8,5

BELÉM - PA

2013

Aos meus pais Maria e Raimundo (in

memoriam) que dedicaram as suas vidas em

prol da formação de meu caráter pessoal e

profissional.

A meu filho Arthur que ao nascer no

transcorrer dessa jornada fortaleceu meus

passos nos momentos mais difíceis.

A Kátia e família pelo auxílio na criação do

Arthur durante minhas ausências.

Aos professores Dilaelson Rego Tapajós,

Maria Lúcia Bahia Lopes, Marco Valério de

Albuquerque Vinagre e Rosália do Socorro da

Silva Corrêa pela valorosa contribuição para

o aprimoramento teórico desse estudo.

Aos guerreiros (as) do Xingu que lutam por

dignidade e justiça social na Amazônia.

A todos (as) que direta e indiretamente

auxiliaram na concretização deste sonho.

RESUMO

OLIVEIRA JÚNIOR, Raimundo F. de. A contribuição dos indicadores de

desenvolvimento humano na formulação de políticas públicas no contexto urbano de

municípios diretamente afetados pela hidrelétrica de Belo Monte: Altamira e Vitória do

Xingu. 121 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano) -

Universidade da Amazônia - UNAMA, Belém, 2013.

A pesquisa objetiva compreender a influência dos indicadores de desenvolvimento

humano - IDH, no planejamento e implantação de políticas públicas relacionadas à estrutura

urbana dos municípios de Altamira e Vitória do Xingu, necessárias ao atendimento da

demanda gerada com a implantação da hidrelétrica de Belo Monte. O método de investigação

a ser desenvolvido na construção do estudo caracteriza-se pela analise comparativa entre os

municípios de Altamira e Vitória do Xingu durante as décadas de 1990 e 2010 no que diz

respeito aos impactos provenientes da implantação do projeto hidrelétrico Belo Monte.

Enfatizando literaturas que abordam Amazônia, urbanização, Política pública e

desenvolvimento humano. Enquanto estudo de caso, optou-se pela análise diagnostica de

indicadores representativos da realidade em questão. A abordagem da estrutura urbana

perpassa respectivamente pela compreensão do IDH enquanto instrumento numérico que

auxilia sobre maneira no acompanhamento, na avaliação e proposição de políticas públicas

que venham a proporcionar qualidade da vida aos munícipes das cidades acima mencionadas.

Palavras-chave: Amazônia. Urbanização. Política pública. Desenvolvimento humano.

ABSTRACT

OLIVEIRA JÚNIOR, Raimundo F. The contribution of human development indicators in

the formulation of public policies in the urban context of municipalities directly affected

by the Belo Monte Dam: Altamira and Vitória do Xingu. 121 f. Dissertation (Master of

Urban Development and Environment), University of the Amazon - UNAMA, Belém, 2013.

The research aims to understand the influence of human development indicators over

the planning and implementation of public policies related to urban structure of the

municipalities of Altamira and Vitoria do Xingu, required to meet the demand generated by

the deployment of the Belo Monte hydroelectric dam. The research method being developed

in the construction of the study is characterized by comparative analysis between the

municipalities of Altamira and Vitoria do Xingu during the decades of 1990 and 2010 with

regard to the impacts from the implementation of the Belo Monte hydroelectric project.

Emphasizing literature dealing Amazon, urbanization, public policy and human development.

As a case study, we chose to analyze diagnostic indicators representative of the reality in

question. The approach of the urban structure pervades respectively by understanding the HDI

as a numeric tool that strongly assists the way of monitoring, in the evaluation and proposals

for public policies that will provide quality of life to residents of the cities mentioned above.

Keywords: Amazon. Urbanization. Public Policy. Human Development.

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADA Área Diretamente Afetada

AID Área Indiretamente Afetada

AHE Aproveitamento Hidrelétrico

AM Área de Marinha

ANEEL Agencia Nacional de Energia Elétrica

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BASA Banco da Amazônia S.A

BB Banco do Brasil

BIS Batalhão de Infantaria de Selva

CEF Caixa Econômica Federal

CF Constituição Federal

CHBM Complexo Hidrelétrico de Belo Monte

CHE Complexo Hidrelétrico

Chesf Companhia Hidrelétrica do São Francisco

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CO2 Gás Carbônico

COSANPA Companhia de Saneamento do Pará

CNPE Conselho Nacional de Política Energética

DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

EIA Estudo de Impacto Ambiental

ELETROBRAS Centrais Elétricas Brasileiras

ELETRONORTE Centrais Elétrica do Norte do Brasil S.A

EPE Empresa de Pesquisa Energética

ETA Estação de Tratamento de Água

ETEs Estações Elevatórias

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

FNO Fundo Constitucional do Norte

FPE Fundo de Participação dos Estados

FPM Fundo de Participação dos Municípios

FUNDEB Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica

GT Grupo de Trabalho

GWP Global Water Partnership

HMSR Hospital Municipal São Rafael

IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

ICV Índice de Condição de Vida

IDESP Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

IPVA Imposto sobre Veículos Auto Motores

IPTU Imposto Predial Territorial Urbano

IR Imposto de Renda

ISA Instituto Sócio Ambiental

ISS Imposto Sobre Serviços

ITBI Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos

ITERPA Instituto de Terras do Pará

IVV Imposto sobre Vendas a Varejo de Combustíveis Líquidos e Gasosos

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LI Licença de Instalação

LP Licença Previa

MF Ministério da Fazenda

MinC Ministério da Cultura

MIN Ministério da Integração Nacional

MMA Ministério do Meio Ambiente

MME Ministério das Minas e Energia

MPF Ministério Público Federal

MPOG Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão

MW Mega Watt

OGU Orçamento Geral da União

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PBA Plano Básico Ambiental

PDEE Plano Decenal de Expansão de Energia

PDMA Plano Diretor do Município de Altamira

PDRSX Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu

PHC Pequenas Centrais Hidrelétricas

PI Proteção Integral

PIB Produto Interno Bruto

PIN Plano de Integração Nacional

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PMA Prefeitura Municipal de Altamira

PMVX Prefeitura Municipal de Vitória do Xingu

PND II Plano Nacional de Desenvolvimento II

PNDU Política Nacional de Desenvolvimento Urbano

PSDB Partido Social Democrata Brasileiro

PT Partido dos Trabalhadores

RADAM Radar da Amazônia

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

RSS Resíduos de Serviços de Saúde

SEDU Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano

SEMAT Secretaria Municipal da Gestão do Meio Ambiente

SENAI Serviço Nacional da Indústria

SEOVI Secretaria de Obras, Viação e Infraestrutura

SESI Serviço Social da Indústria

SIGEP Sistema de Informações Georreferenciadas do Estado do Pará

SIN Sistema Interligado Nacional

SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

SUS Sistema Único de Saúde

SPEVEA Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia

UCF Unidade de Conservação Federal

UHE Usina Hidroelétrica

US Uso Sustentável

UTGE Unidades Territoriais de Gestão Especial

TEP Tonelada Equivalente de Petróleo

TI Terra Indígena

TQ Terra Quilombola

Twh Tonelada Wat Hora

ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - IDH Brasil e Pará 1991/2000/2010 21

Quadro 2 - Esperança de vida ao nascer Brasil e Pará (Idade em anos) 23

Quadro 3 - IDH longevidade Brasil e Pará 1991/2000/2010 23

Quadro 4 - IDH Educação Brasil e Pará 1991/2000/2010 24

Quadro 5 - Renda per capita média Brasil e Pará (Rendimento mensal domiciliar) 24

Quadro 6 - IDH renda Brasil e Pará 1991/2000/2010 25

Quadro 7 - IDH-M Altamira e Vitória do Xingu 1991/2000/2010 48

Quadro 8 - Esperança de vida ao nascer Altamira e Vitória do Xingu (Idade em anos) 49

Quadro 9 - IDH-M longevidade Altamira e Vitória do Xingu 1991/2000/2010 50

Quadro 10 - IDH-M Educação Altamira e Vitória do Xingu 1991/2000/ 2010 50

Quadro 11- Renda per capita média de Altamira e Vitória do Xingu (Rendimento

mensal domiciliar)

51

Quadro 12 - IDH-M renda Altamira e Vitória do Xingu 1991/2000/2010 51

Quadro 13 - Evolução populacional de Altamira 92

Quadro 14 - População urbana e rural de Altamira 95

Quadro 15 - População Vitória do Xingu 108

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Localização de Altamira e Vitória do Xingu 34

Mapa 2 - Áreas federais e estaduais no Pará 46

Mapa 3 - Localização da UHE Belo Monte no Rio Xingu 59

Mapa 4 - CHE Belo Monte 60

Mapa 5 - Área de reassentamento populacional – A1 75

Mapa 6 - Área de reassentamento populacional – A2 76

Mapa 7 - Área de reassentamento populacional – A3 77

Mapa 8 - Área de moradia dos trabalhadores da UHE Belo Monte – AMT 78

Mapa 9 - Localização da cidade de Altamira no Estado do Pará 88

Mapa 10 - Perímetro urbano de Altamira 103

Mapa 11 - Zoneamento urbano de Altamira 104

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Estado do Pará (Áreas Federais em 2010) 47

Gráfico 2 - Percentual da população por município da região do Xingu em 2009 94

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução urbana de Altamira 91

Figura 2 - Moradias irregulares as margens dos igarapés de Altamira 93

Figura 3 - Eixos principais e secundários de Altamira 96

Figura 4 - Tipos de pavimentação em Altamira 97

Figura 5 - Rede de abastecimento de água/drenagem pluvial e pontos de descarte de

resíduos

98

Figura 6 - Fossa em área de ocupação irregular em Altamira 99

Figura 7 - Galeria de drenagem desembocando no Rio Xingu em de Altamira 100

Figura 8 - Vista aérea do lixão de Altamira 101

Figura 9 - Uso do solo urbano em Altamira 102

Figura 10 - Vista Aérea da cidade de Vitória do Xingu 107

Figura 11 - Ruas sem drenagem em Vitória do Xingu 109

Figura 12 - Lançamento de esgoto direto no Igarapé em Vitória do Xingu 110

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Fluxo migratório previsto para o período 2010-2013 71

Tabela 2 - População a ser remanejada em função da UHE Belo Monte 74

Tabela 3 - Receitas municipais 2005-2009 106

Tabela 4 - Transferências Constitucionais do ICMS, FPM, IPI, FUNDEF/FUNDEB e

IPVA 1997-2010 (1)

106

Tabela 5 - Transferências Constitucionais do ICMS, FPM, IPI, FUNDEF/FUNDEB e

IPVA 1997-2010 (1)

111

Tabela 6 - Receitas municipais 2005-2010 112

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 17

1.1 JUSTIFICATIVA 17

1.2 PROBLEMA 20

1.2.1 Saúde 21

1.2.2 Esperança de vida ao nascer (IDH LONGEVIDADE) 22

1.2.3 Educação (IDH EDUCAÇÃO) 23

1.2.4 Rendimento médio mensal (IDH RENDA) 24

1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO 25

1.4 HIPÓTESE 26

1.5 OBJETIVOS 26

1.5.1 Objetivo Geral 26

1.5.2 Objetivos Específicos 26

2 REVISÃO DA LITERATURA 27

2.1 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO 27

2.2 DESENVOLVIMENTO HUMANO 30

3. METODOLOGIA 33

3.1 ÁREA DE ESTUDO 33

3.2 FONTE DE DADOS 34

3.3 MÉTODOS DE ANALISE 35

3.3.1 Estudo 35

3.3.2 Índice de Desenvolvimento Humano – IDH 38

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 40

4.1 EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA AMAZÔNIA E NO ESTADO

DO PARÁ

40

4.2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO DOS MUNICÍPIOS DE ALTAMIRA E

VITÓRIA DO XINGU NO PERÍODO DE 1991 A 2010

48

4.2.1 IDH-M Altamira e Vitória do Xingu 48

4.2.2 IDH-M Longevidade 49

4.2.3 IDH-M Renda 50

4.2.4 IDH-M Educação 50

4.3 O AHE BELO MONTE E OS POSSÍVEIS EFEITOS NA CONFIGURAÇÃO 52

URBANA DE ALTAMIRA E VITÓRIA DO XINGU

4.3.1 Histórico 52

4.3.2 Condicionantes Socioambientais (EIA/PBA) 63

4.3.3 Intervenções em Altamira 70

4.3.4 Intervenções em Vitória do Xingu 81

4.4 CRESCIMENTO URBANO DOS MUNICÍPIOS DE ALTAMIRA E VITÓRIA

DO XINGU NO PERÍODO DE 1990 A 2010

87

5 CONCLUSÃO 113

REFERÊNCIAS 117

17

1 INTRODUÇÃO

A Amazônia e o estado do Pará figuram como fornecedores de recursos naturais para

regiões e países industrializados centrais há mais de 300 anos, mas ainda figuram como áreas

das mais dependentes e pobres do mundo. Isso ocorre, em parte, pelo fato de serem regiões

extrativistas periféricas que ao estabelecerem relações de troca desiguais têm dificuldades em

alavancar seus indicadores de desenvolvimento Bunker (1984) e Drummond (2002).

Ao realizarem a simples coleta de recursos naturais brutos as regiões extrativistas

geram uma perda de valor nas regiões de origem e um acréscimo de valor nas regiões de

consumo e transformação Bunker (1986).

O fato da região possuir a maior bacia hidrográfica do mundo tem levado a

transformação de seus rios em verdadeiras jazidas de megawats. A utilização dos rios e da

água tem se revestido em fonte de energia elétrica para o setor industrial.

Dentre os exemplos de atividade extrativista desenvolvida na Amazônia, mais

precisamente no estado do Pará, que apresenta as características mencionadas acima e que

será destacada no presente estudo se encontra a captação de água para fins energéticos por

meio de grandes hidrelétricas.

1.1 JUSTIFICATIVA

Os princípios que levam a região Amazônica, em especial o estado do Pará, a

pautarem o seu “desenvolvimento regional”, por meio da implantação de projetos de

exploração intensiva de recursos naturais, demonstram a pouca contribuição para o

desenvolvimento regional (IDESP, 2011a).

No decorrer do século XIX até 1870, com a estagnação da economia amazônica, os

conflitos à época da Independência e o movimento nativista da Cabanagem acirraram o

contexto adverso pelo qual passava o Norte brasileiro, que conheceu um refluxo da força de

trabalho e a depauperação de sua frágil atividade econômica. Esse quadro se alterou a partir

do final do século XIX, quando a região amazônica passou a extrair a borracha da seringueira

(Hévea brasiliensis) e exportar para os mercados da Europa e Estados Unidos. Tal atividade

estimulou a moldagem de um novo padrão de mercado, no qual a exploração extrativista

constituiu a mola mestra. Configurou-se, a partir de então, uma nova base econômica regional

fundada na exploração extrativista da borracha sob a égide de um sistema de financiamento

18

chamado aviamento (IDESP, 2011a).

Entre o final do século XIX e primeira metade do século XX, desenvolveram-se

sucessivas fases de exploração extrativa (caucho, castanha, borracha) Correa, 1992. No estado

do Pará, esse sistema espacial condicionou o processo de produção e circulação da borracha

(1890-1910), da castanha-do-pará (1926-1964).

O período entre 1970 a 1990 corresponde à fase do processo de uso do território: a

fase da intervenção federal. Segunda metade dos anos 60 representa um marco do ponto de

vista do reordenamento político-institucional para a Amazônia Oriental. No âmbito das

mudanças de ordem política e institucional do Estado brasileiro, após o golpe militar de 1964,

as primeiras medidas de política são lançadas com o objetivo de assegurar a ação federal na

região de forma efetiva. A “Operação Amazônica”, em 1968, redefiniu o arcabouço

institucional regional ao criar o Banco da Amazônia (BASA), a Superintendência de

Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA).

No período de duas décadas, as alterações na estrutura socioeconômica do território

estadual ocorrem por meio da ação federal. Tendo como meta a integração nacional, criam-se

mecanismos institucionais de incentivo à apropriação privada das terras, à diversificação das

atividades econômicas - agropecuária, mineração, energia e industrialização - e de

desestímulo à economia extrativista. (IDESP, 2011a).

Entre 1972 e 1974, seguindo a perspectiva do Governo Federal à época, é lançado o

Programa de Integração Nacional (PIN) cujo principal objetivo foi à abertura da região por

meio da construção dos “eixos do desenvolvimento”. As rodovias constituíram as principais

vias de penetração no território.

A rodovia Transamazônica por outro lado, “finalizada” em 1974, representa um dos

principais eixos de articulação regional e de integração com o Nordeste brasileiro.

(CAMARGO, 1973).

Todavia, é a partir da segunda metade da década de 1970, que se inicia um processo

mais veloz de aproveitamento dos recursos naturais e de inserção privada no espaço regional.

No âmbito do II PND (II Plano Nacional de Desenvolvimento: 1975-1979) é lançado o II

PDA (II Plano de Desenvolvimento da Amazônia) que explicitamente procura integrar a

Amazônia ao Centro-Sul pelo lado da oferta: a região deveria participar do Plano Nacional de

Desenvolvimento a partir das suas especificidades regionais, em especial da aptidão e vocação

natural dos recursos existentes em seu território.

19

A crise energética mundial (choque do Petróleo de 1973) e seguindo as orientações

do II PND de equipar o território nacional dotando-o de infraestrutura, sobretudo energética,

possibilita o início do aproveitamento hidrelétrico da bacia hidrográfica do Araguaia-

Tocantins com a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.

Associado ao insumo energia é lançado o POLAMAZÔNIA, Programa de Polos

Agropecuários e Agrominerais da Amazônia.

No estado do Pará são escolhidas cinco áreas dentre as quinze programadas da

Amazônia Legal para implantação dos Polos de Crescimento: Carajás, Trombetas, Altamira,

Tapajós e Marajó. Os dois primeiros polos têm na mineração a mola propulsora dada às

peculiaridades naturais existentes na mesorregião do Sudeste Paraense, província mineral com

a presença de uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo e as reservas de bauxita

no Baixo Amazonas. Na mesorregião do Sudoeste Paraense, os pólos Altamira e Tapajós têm

na agropecuária a atividade econômica principal.

As possibilidades de exploração desses recursos condicionam à dotação de créditos e

incentivos fiscais, infraestruturas de transportes e energia e investimentos peculiares à

vocação de cada polo, nesses novos recortes territoriais definidos externamente à região.

O segundo choque do petróleo de 1979 condiciona o redirecionamento dos

investimentos. A escassez de recursos financeiros face à crise do Estado brasileiro centraliza

os recursos em poucos pontos do território: a partir do Pólo Carajás, tendo o projeto Ferro -

Carajás da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), cria-se o Programa Grande Carajás (PGC).

O Leste do Estado do Pará, reconfigura-se como espaço de investimentos prioritários na

Amazônia pelo Governo Federal. O PGC define-se, sobretudo, pela diversificação do

território e pela sua concepção de programa: um conjunto integrado de projetos de mineração,

de exploração madeireira e do carvão vegetal e projetos industriais de siderúrgicas como o da

Companhia Siderúrgica do Pará - COSIPAR, com produção de ferro-gusa; Camargo Corrêa

Metais (CCM), de silício metálico e Albrás-Alunorte, de alumínio (IDESP, 2011a).

As ações que transformaram a organização espacial da Amazônia acabam por

adjetiva-la enquanto “fronteira”. O termo “fronteira” encontra-se relacionado aos movimentos

de povoamento e colonização a partir de fundamentos geográficos que associam a noção de

“fronteira” a de “espaços vazios” ou “espaços abertos” ao povoamento, isto é, espaços com

baixa densidade populacional.

Nesse sentido a definição de fronteira tornou-se uma espécie de modelo devido

estabelecer relações entre os fatores de desenvolvimento nacional.

20

Entre os temas incluídos na referida tese da fronteira, se encontrava o da

modernização, associada ao nacionalismo.

Outro aspecto, da tese da fronteira, diz respeito ao papel das “terras livres” ou dos

“espaços vazios” nas formações nacionais, principalmente nas que apresentam base territorial

de grandes dimensões. Neste sentido, a fronteira atuaria enquanto “válvula de escape” para

populações pauperizadas Turner, 1893; 1920 (apud MACHADO, 1992).

O uso do território amazônico como “válvula de escape” para a população

pauperizada de outras regiões do País fora sintetizado na seguinte frase: “terras sem homens

para homens sem terra” (MACHADO, 1992).

O modelo de “fronteira” aplicado para a Amazônia parte do principio da

centralização das decisões políticas, ou seja, a integração das “terras livres” e a modernização

econômica deveriam ser administradas pelo Estado central. Silva, 1955; 1967 (apud

MACHADO, 1992).

Na região de fronteira as relações entre nacionalismo, modernização e expansão

“interna” do território cumprem a expectativa de transformar o país na grande potencia que a

dimensão territorial e as riquezas naturais parecem prometer. Turner, 1893; 1920 (apud

MACHADO, 1992).

Nesse contexto o debate acerca do desenvolvimento humano é fundamental para a

compreensão de como ele reflete questões maiores sobre a Amazônia, o uso do IDH na

formulação de projetos e a maneira como as decisões costumam ser tomadas.

As tomadas de decisões relacionadas à Amazônia mostram aspectos conflitivos no

que diz respeito ao modelo de desenvolvimento utilizado no Brasil. Nas últimas quatro

décadas, tem se reforçado a ideia de que o planejamento deva ser orientado pela obstinação ao

crescimento econômico acelerado a qualquer custo, sem que sejam contempladas todas as

dimensões do desenvolvimento. (ACEVEDO, 1996).

1.2 PROBLEMA

O quadro de Desenvolvimento Humano no Brasil e no estado do Pará conforme

dados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos anos de 1991, 2000 e 2010, sua taxa

de variação e decomposição em: IDHM - Renda, Longevidade e Educação, contidos no Atlas

de Desenvolvimento Humano no Brasil que tem como base os censos de 1991, 2000 e 2010

do IBGE apresentados no quadro 1.

21

Quadro 1 - IDH Brasil – Pará (1991/2000/2010).

IDH 1991 IDH 2000 IDH 2010 VARIAÇÃO

Brasil 0,493 0,612 0,727 47, 46%

Pará 0,650 0,723 0,646 56,42%

Fonte: Adaptado de PARÁ. SEIR, 2010; IDESP, 2012; Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil,

2013.

Os dados expostos no quadro 1 indicam uma evolução no IDH tanto do Brasil como

do estado do Pará que teve o seu IDH em 2010 um pouco abaixo do IDH do Brasil estando

classificado enquanto IDH médio.

O IDH por apresentar a evolução de um problema, corrobora para a formulação de

novas políticas públicas. Auxiliando em ações de planejamento e implementação de

infraestrutura urbana dos municípios.

Uma análise mais apurada, porém, pode ser feita conforme PARÁ. SEIR, 2010 a

partir da decomposição do IDH em suas três (3) dimensões: IDH- Renda, IDH- Longevidade

e IDH- Educação. Isso porque tal exame pode revelar, por exemplo, um possível descompasso

entre o nível de renda obtido (IDH-Renda) e o padrão social obtido, revelado (ainda que

parcialmente) pelos níveis de escolaridade (IDH-Educação) e longevidade (IDH-

Longevidade). Tal exame pode ajudar a desfazer o mito de que regiões com renda elevada

tendem a ter níveis de desenvolvimento semelhantes. Um exame mais apurado da composição

do IDH pode revelar justamente o contrário.

1.2.1 Saúde

Na análise dos indicadores de Saúde, procurou-se destacar aqueles indicadores que

se notabilizam pelos componentes sociais, políticos e éticos. É o caso, por exemplo, dos

chamados “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM), que são compromissos

mundiais firmados por 191 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), em

reunião realizada em setembro de 2000 em Nova York, em um evento conhecido como

“Cúpula do Milênio”, com a participação de 147 chefes de Estado, além de representantes de

Governo de 191 países. Em um documento denominado “Declaração do Milênio das Nações

Unidas”, foi definida uma série de compromissos a serem seguidos pelos países membros

(inclusive o Brasil), que ficaram conhecidos como “Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio” (ODM), entre os quais constam 8 (oito) objetivos e uma série de metas a serem

alcançadas até o ano de 2015.

22

No que concerne à área de saúde, foram estipulados três (3) objetivos:

a) Redução da mortalidade infantil (objetivo 4);

b) Melhorar a saúde materna (objetivo 5);

c) Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças (objetivo 6).

1.2.2 Esperança de vida ao nascer (IDH-LONGEVIDADE)

Outro indicador de saúde muito importante, utilizado, inclusive, na composição do

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa de Desenvolvimento das Nações

Unidas (PNUD), é a Taxa de Longevidade ou Esperança de Vida ou Expectativa de Vida. A

Esperança ou Expectativa de Vida é definida como o número médio de anos que um indivíduo

pode esperar viver se submetido, desde o nascimento, às taxas de mortalidade observadas no

momento (ano de observação). É calculada considerando a população e os obituários, além de

refletir o nível e a qualidade ao acesso à saúde, educação, cultura e lazer, bem como a

violência, criminalidade, poluição e situação econômica do lugar em questão.

O incremento da longevidade do paraense se dá em parte à melhoria relativa ao

acesso da população a alguns serviços de infraestrutura de saneamento básico, uma redução

na mortalidade infantil, e outros fatores também determinantes para a qualidade de vida.

Expressa segundo IDESP (2013), o número médio de anos de vida esperados para

um recém-nascido, mantido o padrão de mortalidade existente na população residente, em

determinado espaço geográfico, no ano considerado. Assim, indica a longevidade média

esperada para um determinado grupo populacional ao nascer. Relaciona-se com as condições

de vida de uma população. Sua avaliação reflete os resultados dos investimentos em saúde

pública e na qualidade ambiental.

A esperança de vida ao nascer no Brasil em 1991 era 64,73 anos e, em 2010, 73,90

anos. O índice paraense estava abaixo da média nacional em 1991 (63,4 anos) e em 2010

(72,40 anos). Conforme quadro 2.

23

Quadro 2 - Esperança de vida ao nascer Brasil e Pará. (Idade em anos) 1991/2000/2010.

1991 2000 2010

Pará 63,40 68,50 72,40

Brasil 64,73 68,61 73,90

Fonte: Adaptado de Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013; IBGE Censo demográfico,

1991/2000/2010.

Indicadores de Avaliação da Qualidade Ambiental da RI do Xingu IDESP, 2013.

Tais investimentos proporcionam a melhora dos indicadores de desenvolvimento

humano apresentado tanto pelo país como pelo estado durante o lapso de tempo descriminado

no quadro 3. No caso do Pará houve um significativo avanço saindo o estado de um patamar

médio em termos de IDH longevidade para se aproximar do considerado bom. Com relação

ao Brasil o progresso foi ainda maior, pois já ultrapassa o índice classificado como bom.

Quadro 3 - IDH longevidade Brasil e Pará (1991/2000/2010).

1991 2000 2010

Pará 0,640 0,725 0,789

Brasil 0,662 0,727 0,816

Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

1.2.3 Educação (IDH-EDUCAÇÃO)

A educação básica para todos é segundo PARÁ. SEIR (2010) um dos princípios dos

direitos humanos e se tornou uma questão estratégica mundial na organização da Cúpula do

Milênio. Dessa forma, um dos objetivos que compõem os ODM é o de atingir o ensino básico

universal. Para conseguir tal objetivo, foram propostas duas metas: (1) garantir que, até 2015,

todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino básico; (2)

garantir que, até 2015, as crianças de todas as regiões do país, independentemente de raça/ cor

e sexo, concluam o ensino fundamental.

24

Quadro 4 - IDH educação Brasil e Pará (1991/2000/2010).

1991 2000 2010

Brasil 0,279 0,456 0,637

Pará 0,194 0,319 0,528

Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

O quadro 4 apresenta índices que apontam para uma evolução do IDH educação

tanto no cenário nacional como no estadual nas ultimas três décadas. No caso do Brasil

tínhamos um índice de 0,279 em 1991 que passa para 0,456 em 2000 atingindo o patamar de

0,637 em 2010, cenário esse que atesta uma evolução da área educacional.

No Pará a situação não difere, pois também se identifica um processo evolutivo no

que diz respeito ao IDH educação. O estado que em 1991 detinha índice igual a 0,194

apresenta em 2000 indicador igual a 0,319 e 0,528 em 2010.

Tanto no cenário nacional como no estadual o IDH educação apresentado aponta

para uma evolução, onde em 1991 a classificação que era tida como de baixo

desenvolvimento humano passa a ser de médio desenvolvimento humano em 2010.

1.2.4 Rendimento médio mensal (IDH- RENDA)

Conforme IDESP (2013), esse indicador expressa a distribuição do rendimento

médio mensal per capta. Ou seja, a soma do rendimento mensal referente ao trabalho formal

de cada indivíduo. A partir desse indicador é possível conhecer e avaliar a distribuição de

renda dos municípios. Sua importância se dá por ser um dos indicativos das condições de vida

da população.

Em 2000 a renda per capita média do Brasil era de R$ 596,46 e a do Estado do Pará

R$ 331, 96, no ano de 2010 a renda brasileira passou para R$ 793,87 e a estadual R$ 446,76

(QUADRO 5).

Quadro 5 - Renda per capita média Pará e Brasil 1991/2000/2010 Rendimento mensal (Domiciliar).

1991 2000 2010

Pará R$273,22 R$ 331,96 R$ 446,76

Brasil R$ 447,56 R$ 596,46 R$ 793,87

Fonte: Adaptado de DATASUS/IBGE Censo demográfico 2000/2010.

Indicadores de Avaliação da Qualidade Ambiental da RI do Xingu IDESP, 2013.

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

25

Quanto ao IDH renda se observa no quadro 6 que tanto em nível de país como de estado

ocorreu um progresso que apesar de discreto tornou possível a manutenção de índices considerados

como médios.

Quadro 6 - IDH renda Brasil e Pará (1991/2000/2010).

1991 2000 2010

Pará 0,567 0,601 0,646

Brasil 0,647 0,692 0,739

Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

Sendo assim é possível utilizar o IDH na orientação de políticas de desenvolvimento

para a Amazônia em especial para o espaço urbano de Altamira e Vitória do Xingu ante a

implantação da hidrelétrica de Belo Monte?

1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O estudo em questão encontra-se organizado em seis seções.

Seção 1 destaca a introdução, problema, justificativa, organização do estudo,

hipótese, e objetivos.

Seção 2 apresenta a revisão da literatura do estudo, por meio de um breve comentário

acerca dos temas abordados juntamente com a citação de seus principais autores.

Seção 3 traz a metodologia utilizada no estudo, com a caracterização da área

investigada, a fonte dos dados e os métodos de analise.

Seção 4 se refere aos resultados e discussões relativos à evolução das Políticas

Públicas na Amazônia e no estado do Pará, ao desenvolvimento humano dos municípios de

Altamira e Vitória do Xingu 1991 a 2010, ao AHE Belo Monte e seus impactos no meio

urbano de Altamira e Vitória do Xingu e ao crescimento urbano experimentado por esses

mesmos municípios no período de 1990 – 2010.

Seção 5 apresentando as conclusões do estudo.

Encerrando o trabalho, apresentamos a Bibliografia, com todas as referências

utilizadas no presente estudo.

26

1.4 HIPÓTESE

O AHE Belo Monte enquanto projeto de infraestrutura considera o IDH na promoção

de modificações na configuração urbana dos municípios de Altamira e Vitória do Xingu.

1.5 OBJETIVOS

1.5.1 Objetivo Geral

Analisar, através do histórico processo de formulação e implementação de políticas

públicas para a região norte, a influência do IDH na implantação da hidrelétrica de Belo

Monte principalmente sobre o desenvolvimento urbano das cidades de Altamira e Vitória do

Xingu.

1.5.2 Objetivos Específicos

a) Estudar a evolução das políticas públicas na Amazônia e no estado do Pará;

b) Analisar o desenvolvimento humano dos municípios de Altamira e Vitória do

Xingu 1991 a 2010;

c) Investigar o AHE Belo Monte e os possíveis efeitos na configuração urbana de

Altamira e Vitória do Xingu;

d) Analisar o crescimento urbano dos municípios de Altamira e Vitória do Xingu no

período de 1990 a 2010.

27

2 REVISÃO DA LITERATURA

O estudo pretende abordar literaturas que enfoquem pontos relativos ao processo de

planejamento, desenvolvimento e política pública na Amazônia além do desenvolvimento

humano. Com o objetivo de demonstrar, a relação entre o planejamento/implantação da

estrutura urbana e à evolução dos indicadores de desenvolvimento humano dos municípios de

Altamira e Vitória do Xingu ante a implantação da hidrelétrica de Belo Monte.

2.1 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

A compreensão do planejamento do desenvolvimento passa pela assimilação do

processo de formação do Estado e da relação deste com a sociedade.

O Estado enquanto corpo político que detém o monopólio da força é tido enquanto

uma associação que, atuando através da lei, promulgada por um governo, mantém, dentro de

uma comunidade territorialmente delimitada, as condições universais da ordem social.

No âmbito das esferas de Governo (federal, estadual e municipal) o Estado é

representado respectivamente por meio: da Presidência da Republica, do Congresso Nacional,

do Supremo Tribunal Federal, da Policia Federal. E pelas Assembleias Legislativas, Câmaras,

Tribunais, Polícias Militar e Civil, Guardas Municipais, escolas e hospitais públicos.

À sociedade civil está representada pelas instituições de caráter privado, associações

de categorias profissionais, sindicatos, confederações, etc.

As atribuições do Estado sofrem alterações conforme as sociedades mudam as suas

demandas. Sendo assim no inicio do século XVIII com o surgimento da doutrina liberal o

Estado tem sua atuação restrita a assegurar os direitos naturais ligados à vida, à liberdade e á

propriedade. Dessa forma ao Estado caberia intervir: na justiça, defesa, serviços públicos,

ciência e colonização (FERREIRA, 2005).

Na sociedade capitalista, o Estado seria um agente da classe dominante, embora

permeável à pressões da classe oprimida. O Estado seria um reprodutor da ideologia da classe

dominante. Marx; Engels e Gramsci (1977 e 1978 apud FERREIRA, 2005).

Durante a primeira metade do século XX, com a eclosão dos conflitos mundiais e a

crise de 1929, o papel do Estado sofre alterações. O Estado passa a ter uma participação mais

ativa na sociedade e na economia. Esta posição abre espaço para o planejamento estatal assim

como para a formulação das políticas públicas Keynes (1936 apud FERREIRA, 2005).

28

Na década de 50, a crescente preocupação internacional com as diferenças entre os

níveis de bem-estar das sociedades desenvolvidas, em relação às subdesenvolvidas atribui ao

Estado o papel principal no processo de promoção do desenvolvimento. O Estado deve a

partir de então envidar esforços no sentido de coordenar suas ações às da iniciativa privada no

intuito de superar o subdesenvolvimento Myrdal (1957 apud FERREIRA, 2005).

O Estado moderno tem adquirido atribuições que se caracterizam pela quantidade e

complexidade, relacionadas aos períodos anteriores. Assim o Estado moderno passa a

desempenhar as seguintes funções: alocativa (infraestrutura), distributiva (serviços públicos) e

estabilizadora (planos econômicos) Musgrave (1980 apud FERREIRA, 2005).

A diversificação das atribuições amplia a possibilidade de conflito aumentando a

necessidade do planejamento na analise das alternativas de intervenção.

Nesse contexto surge a necessidade de se repensar o conceito de desenvolvimento

agregando ao mesmo tempo as concepções de local, integrado e sustentável, procurando

assim inserir a participação da comunidade na tomada de decisão.

Nas duas últimas décadas, o papel do Estado foi novamente reformulado no sentido

de fortalecer a sua ingerência nas áreas básicas, como segurança, saúde e educação Silva

(1987 apud FERREIRA, 2005).

A ação ordenada e sistematizada do Estado é identificada enquanto Política Pública

que se caracteriza por meio de instituições, recursos, processos e função. Prélot (1960) e

Schmitter (1979 apud FERREIRA, 2005). Um conjunto que envolve os fins e aspirações de

uma sociedade moderna (FERREIRA, 2001).

As partes de uma política pública acompanham a evolução das funções do Estado,

criando assim novos objetivos e instrumentos necessários para atender as novas atribuições do

Estado. Os objetivos de cada parte de uma Política Pública são interdependentes, e assim

como podem se complementar podem ser conflitantes: os efeitos da política econômica

afetam as demais políticas. Nas sociedades capitalistas, as políticas públicas privilegiam o

econômico em detrimento do social (educação, saúde, etc.) que acaba sendo visto como

residual, secundário, subordinado.

Apesar da política pública através dos diferentes níveis de governo – Federal,

Estadual e Municipal – ter a finalidade de promover o bem estar da sociedade, ela é suscetível

aos momentos de centralização e descentralização determinados pelo jogo das forças sociais e

políticas.

No Brasil, a Constituição de 1988 restaura o processo de descentralização das

29

atribuições do governo federal para estados e municípios principais responsáveis por

viabilizar a provisão de bens públicos.

O planejamento público orienta na elaboração e na escolha dos objetivos que a

política pública deve alcançar, sendo os instrumentos de política necessários para atender cada

finalidade.

Portanto política pública vem a ser um roteiro de praticas que define qual o problema

a ser sanado em uma determinada sociedade, indicando as ações e os instrumentos necessários

para atacar determinado problema.

Os instrumentos de política pública federal, regional, estadual ou municipal, podem

ser de natureza técnica, institucional ou legal. Os incentivos fiscais são exemplo de

instrumentos de política pública. Musgrave (1980 apud FERREIRA, 2005).

Os projetos de infraestrutura social, que se propõem equacionar problemas sociais,

devem levar em consideração a quando de sua elaboração variáveis e indicadores, tais como:

população, emprego e renda, educação, saúde, saneamento e habitação.

Nas sociedades contemporâneas, o avanço técnico e social demanda por ações

políticas, à medida que o estado configura-se no centro e o impulsionador de uma sociedade

cuja complexidade requer uma centralização de decisões e a regulação constante dos

processos. Analisar as demandas coletivas dos municípios e alocar os parcos recursos

disponíveis para atendê-las ou ameniza-las constitui o foco das políticas públicas de

desenvolvimento municipal, com sua correlação com os processos de justiça distributiva ou

de apropriação social do resultado do trabalho coletivo.

Nesse sentido o planejamento adquire importância impar por se caracterizar

enquanto atividade constituída por diversas etapas coordenadas entre si, de maneira a

formarem um todo, coerente no intuito de alcançar um objetivo final. Onde a etapa inicial

pretende conhecer a realidade, levantando os problemas a serem sanados, a partir de estudos,

pesquisas e coleta de dados. E que tem em variáveis e indicadores formas numéricas de

representar os problemas da situação em questão.

Os indicadores são formulados a partir da relação de duas ou mais variáveis.

Apresentam a evolução de um problema, ao longo do tempo de estudo, do passado até o

presente, permitindo que se façam prognósticos e projeções para o futuro, possibilitando

correções sobre o curso das políticas e planos em andamento.

Usualmente são coletadas series de dados que permitem a construção de índices. Os

indicadores são formulados de acordo com a natureza do problema ou potencialidade em

30

exame.

A etapa seguinte diz respeito à decisão, na qual são estudadas diferentes alternativas

para solucionar uma situação-problema, relativa a uma dada realidade da sociedade. As

decisões devem ser baseadas em propostas elaboradas a partir do estudo e conhecimento da

problemática, para que o processo de tomada de decisão seja fortalecido.

A terceira etapa é a ação, execução das decisões, através dos instrumentos de política

e da execução dos projetos.

A última fase é conhecida como critica, e se refere aos processos de

acompanhamento, avaliação e controle tendo como finalidade a correção de possíveis falhas

(VINAGRE e VINAGRE, 2012).

A um conjunto de indicadores caberia subsidiar as políticas de dados que possibilite

avaliação de seu desempenho ao longo do tempo. Auxiliando na formulação de cenários

descrevendo prováveis resultados das atuais políticas públicas, ou da sua ausência, ou ainda

identificar a necessidade de adaptação ou formulação de novas políticas públicas.

Constituem-se ainda em instrumento de cidadania, possibilitando aos cidadãos, às

ONGs, aos observatórios de políticas públicas e aos órgãos de controle social monitorarem e

avaliarem a formulação e a implementação das políticas públicas.

Os indicadores são essenciais na avaliação do desenvolvimento municipal a partir do

momento em que subsidiam a formulação e o acompanhamento da implementação de

políticas públicas locais. Will e Briggs (1995 apud VINAGRE e VINAGRE, 2012).

2.2 DESENVOLVIMENTO HUMANO

Definido como um processo de ampliação das escolhas das pessoas para que elas

tenham capacidades e oportunidades para ser aquilo que desejam ser.

Diferentemente da perspectiva do crescimento econômico, que vê o bem-estar de

uma sociedade apenas pelos recursos ou pela renda que ela pode gerar, a abordagem de

desenvolvimento humano procura olhar diretamente para as pessoas, suas oportunidades e

capacidades. A renda é importante, mas como um dos meios do desenvolvimento e não como

seu fim. É uma mudança de perspectiva: com o desenvolvimento humano, o foco é transferido

do crescimento econômico, ou da renda, para o ser humano.

O conceito de Desenvolvimento Humano também parte do pressuposto de que para

aferir o avanço na qualidade de vida de uma população é preciso ir além do viés puramente

31

econômico e considerar outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a

qualidade da vida humana. Esse conceito é à base do Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH).

A criação do Índice de Desenvolvimento Humano por sua vez pretende oferecer um

contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que

considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com

a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia

de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano.

Apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH não abrange todos

os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem

indica "o melhor lugar no mundo para se viver". Democracia, participação, equidade,

sustentabilidade são outros dos muitos aspectos do desenvolvimento humano que não são

contemplados no IDH. O IDH tem o grande mérito de sintetizar a compreensão do tema e

ampliar e fomentar o debate.

Publicado pela primeira vez em 1990, o índice é calculado anualmente. Desde 2010,

sua série histórica é recalculada devido ao movimento de entrada e saída de países e às

adaptações metodológicas, o que possibilita uma análise de tendências. Aos poucos, o IDH

tornou-se referência mundial. É um índice-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio das Nações Unidas e, no Brasil, tem sido utilizado pelo governo federal e por

administrações regionais através do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).

O IDH-M é um ajuste metodológico ao IDH Global, e foi publicado em 1998 (a

partir dos dados do Censo de 1970, 1980, 1991) e em 2003 (a partir dos dados do Censo de

2000). O indicador pode ser consultado nas respectivas edições do Atlas do Desenvolvimento

Humano do Brasil, que compreende um banco de dados eletrônico com informações

socioeconômicas sobre todos os municípios e estados do país e Distrito Federal. (PNUD,

[s.d.]).

O IDH é um índice de caráter universal utilizado para se medir o desenvolvimento

humano de países ou regiões. Ele é calculado desde 1990 para todos os países do mundo. A

aplicação dessa metodologia na escala municipal recebe o nome de IDH-M (Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal)

O IDH-M tem por objetivo representar a complexidade de um município em termos

do desenvolvimento humano que ele apresenta. Para tanto, são considerados três componentes

tidos como essenciais para a vida das pessoas, quais sejam: educação, longevidade e renda.

32

(BATELLA; DINIZ, 2006).

Desde que o PNUD, iniciou em 1990 a publicação anual do “Relatório sobre o

desenvolvimento humano”, o IDH passou a ser utilizado como o principal indicador de

mensuração do desenvolvimento buscando captar as diversas dimensões que compõem o

processo de desenvolvimento.

A crítica que se faz a utilização da renda per capita como indicador de

desenvolvimento advém do fato de ser um indicador economicista e incapaz de demonstrar

como se distribuí a renda (ou a riqueza) entre os habitantes, elemento fundamental para se

verificar se há, de fato, desenvolvimento, ainda que de um ponto de vista meramente

econômico.

Apesar do IDH também possuir várias limitações (inclusive o de não mostrar

também, por si só, como se distribui a renda), ele é mais completo que a renda per capita,

além de estimular que os seus usuários consultem o amplo sortimento de tabelas estatísticas e

análises críticas detalhadas fornecidas anualmente pelos relatórios de desenvolvimento

humano, inclusive aqueles produzidos especificamente para analisar a realidade brasileira,

como os produzidos pelo IPEA juntamente com o PNUD (ATLAS DA INTEGRAÇÃO

REGIONAL, 2010).

33

3 METODOLOGIA

3.1 ÁREA DE ESTUDO

Altamira e Vitória do Xingu se situam em dois extremos heterogêneos na área de

influência direta do aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte, em termos do tamanho da

população, taxa de urbanização e indicadores socioeconômicos. (IBGE, 2010; EIA, 2009;

PBA, 2011; PDRSX, 2010).

Em 2009, segundo o IBGE (2010) o município de Altamira detinha a maior

população da região do Xingu (31%), o maior crescimento populacional entre 1991 – 2009, o

maior contingente populacional urbano (80,4%) e a maior taxa de urbanização. Em 2010,

Altamira apresenta população total de 105.030 sendo 90.068 (85,75%) no meio urbano e 14.

962 (14,25%) no meio rural. Mediante estes indicadores Altamira é considerada espaço de

atração demográfica, centro sub-regional e município com os melhores indicadores

socioeconômicos da região.

Vitória do Xingu por sua vez é o município que apresenta o menor percentual

populacional da região do Xingu (4%) em 2009, o município de acordo com o IBGE (2001)

foi criado em 1991 quando deixou de ser distrito de Altamira. Entre 2000-2009 apresentou

redução no número de habitantes, chegando a possuir um dos menores contingentes de

pessoas residindo no meio urbano da região (35,2%) e segundo o censo IBGE (2010)

apresenta população total de 13. 480 sendo 5.361 (39,77%) no meio urbano e 8.119 (60,23%)

no meio rural.

34

Mapa 1 - Localização Altamira e Vitória do Xingu.

Fonte:Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte. Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, 2009.

3.2 FONTE DE DADOS

O estudo caracteriza-se por uma investigação bibliográfica subsidiada por uma

análise diagnóstica de indicadores a ser elaborada a partir da escolha e apropriação de

material acerca do desenvolvimento humano, Amazônia e UHE Belo Monte, enfatizando

teorias e debates presentes no meio técnico e científico, já publicados, constituídos

principalmente de livros, artigos de periódicos e por material disponibilizado na Internet.

Dentre os quais citamos volumes, capítulos e artigos de documentos oficiais – Constituição da

Republica Federativa do Brasil (1988) Arts. 21/30/182; Estatuto da Cidade (2001) art. 41

inciso V parágrafo 1; Censo Demográfico (2010); Atlas do Desenvolvimento Humano (2013);

Estudo de Impacto Ambiental (2009) volumes 22 e 33; Plano de Desenvolvimento Regional

Sustentável do Xingu (2010) figuras/mapas/gráficos/tabelas; Plano Básico Ambiental (2011)

capítulos 5/6 e Plano Diretor de Altamira (2003); acervo bibliográfico da Universidade da

Amazônia – UNAMA, em paginas virtuais de organizações governamentais tais como:

IBAMA, MME, MMA, MCidades, IDESP, IBGE, ANA, ANEEL, ELETROBRAS, MIN,

35

MPOG e não governamentais: ISA e INTERNATIONAL RIVERS além do blog da Norte

Energia S.A.

3.3 METODOS DE ANÁLISE

3.3.1 Estudo

A pesquisa em questão quanto a sua natureza é básica, objetivando gerar

conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência.

O estudo é ao mesmo tempo, exploratório, pois visa proporcionar maior

familiaridade com o problema em vista de torná-lo explícito; descritivo, por apresentar

características de determinada população ou fenômeno, ou estabelecer relações entre

variáveis; e explicativo, por identificar os fatores que determinam ou contribuem para a

ocorrência dos fenômenos.

A abordagem é qualitativa com acréscimo de elementos quantitativos usados

conjuntamente com o intuito de quantificar as informações.

O método de raciocínio utilizado foi o dialético-crítico na medida em que buscando

destacar o antagonismo presente no problema, através do confronto de opiniões, ideias,

pessoas, classes e etc. A contradição da verdade diante de outras realidades e teorias no intuito

de se chegar a uma conclusão, a uma nova teoria. Sendo assim destacamos o posicionamento

de NORTE ENERGIA (2011) ao associar desenvolvimento econômico e qualidade de vida à

construção de hidrelétricas, exemplo de Belo Monte e o paradoxo existente na região, que

possui o maior potencial hidrelétrico do país, a maior usina hidrelétrica genuinamente

brasileira (Tucuruí), mas que continua a apresentar o maior déficit, entre as regiões

brasileiras, em relação à disponibilidade de acesso à energia e a desenvolvimento.

Conforme Lakatos; Marconi (1991) esse método ao promover o dialogo, a

argumentação distingue os conceitos envolvidos na discussão. O mundo passa a ser visto

enquanto um conjunto de processos onde as coisas são analisadas em movimento,

encontrando-se em vias de se transformar. A temática do estudo em questão se insere dentre

as passiveis de serem investigadas pelo método dialético-critico por encontrar-se em processo

de implantação, portanto em movimento e por apresentar constantes modificações.

Ainda segundo o método em questão as coisas não existiriam isoladas, mas sim

enquanto um todo composto de objetos e fenômenos ligados entre si, dependentes uns dos

36

outros. Sendo assim nenhum fenômeno pode ser compreendido, isoladamente fora dos

fenômenos circundantes. No caso da Amazônia paraense (região de fronteira) a expectativa

nacionalista é que a mesma com a sua dimensão territorial e as suas riquezas naturais

transforme o país em uma grande potência.

Quanto ao procedimento optou-se pelo estudo de caso que tem por finalidade no

entender de Chizzotti (2010) reunir informações sobre determinado fato ou fenômeno social

contemporâneo complexo, situado em contexto especifico. A dificuldade de análise em

virtude de estar em andamento, limitações institucionais de acesso aos dados e recorte

espacial temporal situado em região de fronteira conferem ao estudo um caráter de

especificidade. Deste modo, se objetiva ampliar o conhecimento, dissipar duvidas, esclarecer

questões pertinentes e instruir ações posteriores.

Enquanto modalidade de pesquisa, o estudo de caso remonta, segundo Hamel (1993)

citado por Chizzotti (2010) aos estudos antropológicos de Malinowski e a Escola de Chicago

tendo posteriormente seu uso alcançado a analise de eventos, processos, grupos, comunidades.

Atualmente, conforme Yin (2003) o estudo de caso tem focado os domínios das

atividades econômicas e sociais adotando os mais variados recursos de coleta de informações

sobre a temática em estudo.

Stake (1994) citado por Chizzotti (2010) afirma que o estudo de caso pode ainda ser

definido enquanto coleta sistemática de informações sobre um determinado evento ou

conjunto de relações/processos sociais para melhor conhecer como são ou operam em

contextos reais. Visa também auxiliar em tomadas de decisão, ou justificar intervenções, ou

esclarecer por que elas foram tomadas ou implementadas e quais os resultados alcançados.

No presente trabalho, o estudo de caso auxilia na analise da realidade urbana

Amazônica e do estado do Pará que apesar de fornecerem recursos naturais, no caso recursos

hídricos para geração de energia elétrica, para o Brasil e o mundo ainda figuram como áreas

dependentes e pobres com indicadores de desenvolvimento humano - IDH que explicitam o

baixo nível de desenvolvimento urbano regional e local.

Constitui busca intensiva de dados acerca de uma determinada situação, de um

evento especifico, de processos contemporâneos, tomados como “caso”, que necessita ser

compreendido o mais amplamente possível, descrito pormenorizadamente, avaliado em seus

resultados e ações, transmitindo essa compreensão a outros e instruindo decisões.

Para Chizzotti (2010) o estudo de caso possibilita que se façam extrapolações,

analogias consistentes com outros casos similares. As descobertas de um caso tendem a

37

autorizar a transferibilidade do que fora encontrado para casos de mesma natureza. Um caso

pode revelar realidades universais, por que, guardadas as peculiaridades, nenhum caso é um

fato isolado, independente das relações sociais onde ocorre.

Torna-se possível então, no caso da pesquisa em questão por meio do método de

estudo de caso proceder à descrição, desde que respeitado os diferentes contextos históricos,

do processo de divisão territorial do estado do Pará em três fases: formação territorial (1616-

1965), intervenção federal (1966-1988) e o período atual (1988-atual) assim como entre os

dois projetos mais expressivos de exploração intensiva de recursos hídricos para geração de

energia elétrica (UHE Tucuruí e AHE Belo Monte) que tem a Amazônia em especial o estado

do Pará, enquanto área de exploração. Identificando dessa forma os avanços ou retrocessos na

qualidade de vida (IDH) das subunidades em questão ante o processo de implantação do AHE

Belo Monte vis a vis a implantação da UHE Tucuruí.

O estudo de caso não significa leitura única da realidade mais sim que pode haver

diversidade de percepções. Ele se reveste em investigação importante tanto para explanar a

ligação casual em complexas intervenções da vida real, quanto para descrever a intervenção e

o contexto onde ocorreu.

Como estratégia de pesquisa, o estudo de caso é usado em muitos campos, incluindo:

ciência política, administração publica, sociologia, cidade, planejamento regional, etc.

Buscando explicar ligações casuais em intervenções ou em situações da realidade,

descrevendo um contexto da realidade no qual uma intervenção ocorreu, avaliando uma

intervenção em curso.

Para ser significativo o estudo de caso deve focar casos de interesse público

nacionalmente importante em termos teórico, político ou pratico. O exame de diferentes

visões teóricas sobre determinado fenômeno tem que ser considerado pelo estudo de caso.

Nesse sentido a pesquisa menciona abordagens diferenciadas no que diz respeito à temática

focada, dentre as favoráveis a intervenção em curso destacamos: MME (2007a); NORTE

ENERGIA (2011), PBA (2011), EIA (2009), PDRSX (2010), IDESP (2011), MIN (2010),

PDA (2003). E no campo das criticas destacam-se: FEARNSIDE, P. (2009; 2010);

INTERNATIONAL RIVERS (2010); SEVÁ FILHO, A. (Org.). (2005).

O estudo de caso segundo Gil (1994) é recorrente em pesquisas sociais, devido a sua

simplicidade e economia, já que pode ser realizado por um único investigador não requerendo

a aplicação de técnicas de massa para a coleta de dados.

A principal função do estudo de caso é no pensamento de Fachin (1993) a explicação

38

sistemática das coisas (fatos) que ocorrem no contexto social.

O estudo de caso é preferido segundo Yin (2003) quando o foco temporal encontra-

se em fenômenos históricos contemporâneos dentro do contexto da vida real. A tendência de

um estudo de caso é tentar esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: por que foram

tomadas? Como foram implementadas? E quais os resultados alcançados?

3.3.2 Índice de Desenvolvimento Humano - IDH

Os três pilares que constituem o IDH (saúde, educação e renda) são mensurados da

seguinte forma:

a) Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida;

b) O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação

de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a

partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar

a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que uma criança na idade de

iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas

específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança;

c) E o padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita

expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, tendo 2005 como ano de

referência. (PNUD, [s.d.]).

O IDH-M tem por objetivo conforme Batella; Diniz (2006) representar a

complexidade de um município em termos do desenvolvimento humano que ele apresenta.

Para tanto, são considerados três componentes essenciais para a vida das pessoas, quais sejam:

educação, longevidade e renda, sendo que esses componentes são caracterizados por um

conjunto de indicadores.

No que se refere à educação, o cálculo do IDH considera dois indicadores, com pesos

diferentes: a taxa de alfabetização de pessoas acima de 15 anos de idade, com peso 2, e a taxa

bruta de frequência à escola, com peso 1. O primeiro indicador é o resultado da razão entre o

número de pessoas com mais de 15 anos capazes de ler e escrever um bilhete simples, ou seja,

o número de adultos alfabetizados e o número de pessoas com mais de 15 anos residentes no

município. O segundo indicador é obtido através da razão entre o número de pessoas que

estão frequentando a escola, independente da idade, e a população do município na faixa

etária de 7 a 22 anos de idade.

39

No tocante a longevidade, o IDH leva em conta a expectativa de vida ao nascer para

o ano em estudo e, para a avaliação da renda, o critério utilizado é a renda municipal per

capita em dólares PPC (paridade de poder de compra), ou seja, a renda média dos moradores

do município com correções que possibilitem sua comparação.

Definidos os indicadores, são calculados subíndices específicos para cada um dos

três componentes. O IDH-M de cada município é a média aritmética desses três subíndices, de

modo a resultar num valor entre 0,0 e 1,0.

Quanto mais próximo de 1, melhor as condições de desenvolvimento humano, e

quanto mais próximo de 0,0, piores são essas condições. A classificação do IDH considera

como baixo desenvolvimento humano o intervalo entre 0,0 e 0,5; como médio

desenvolvimento humano o intervalo entre 0,5 e 0,8 e alto desenvolvimento humano o

intervalo entre 0,8 e 1,0.

40

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA AMAZÔNIA E NO ESTADO DO

PARÁ

Ao propor realizar uma analise das ações de planejamento institucional voltadas para

a Amazônia e o Estado do Pará, é preciso relatar o processo histórico de constituição do

espaço territorial do estado do Pará que remonta segundo IDESP (2011a) ao século XV, época

de conquista e fundação das primeiras fortificações portuguesas na Amazônia. Antes, porém,

tratava-se de um espaço basicamente constituído de territórios das diversas sociedades

indígenas. A história regional é, em muitos aspectos, a história da desestruturação dessas

sociedades.

Ao longo desses cinco séculos, pode-se dividir a história territorial estadual em três

grandes fases: a formação territorial (1616-1965), a intervenção federal (1966-1988) e o

período atual (1988-atual) que expressa o revigoramento do poder local e regional e a gestão

compartilhada do território. Sendo que no estudo em questão será dado

destaque a segunda fase.

O processo de formação territorial do estado do Pará compreende o período de 1616

a 1965. Ao desenvolver analise acerca desse período, IDESP (2011a) enfatiza o pensamento

de Machado (1992), segundo o qual esse período constitui-se na construção de fortificações

em locais de concentração da população indígena e na introdução de companhias religiosas

com o objetivo de pacificar os índios. Os “territórios das missões” foram divididos entre

carmelitas, franciscanos e jesuítas. A partir de 1755, com a declaração de liberdade dos

indígenas, a expulsão dos jesuítas e de outras ordens religiosas, configurou-se na Amazônia

um novo sistema de controle territorial apoiado em, pelo menos, quatro elementos: as

fortificações, o povoamento nuclear, a criação de unidades administrativas e o conhecimento

geográfico do território. Nesse contexto, as primeiras vilas, desempenharam papel

fundamental na estruturação da conquista territorial. Ainda que em caráter incipiente, desde a

abertura e penetração do território, aglomerações e fortificações foram construídas como parte

do processo de conquista e de exploração do território.

No decorrer do século XIX até 1870, ocorreu conforme IDESP (2011a) à estagnação

da economia amazônica. Os conflitos à época da Independência e o movimento nativista da

Cabanagem acirraram o contexto adverso pelo qual passava o Norte brasileiro, que conheceu

41

um refluxo da força de trabalho e a depauperação de sua frágil atividade econômica. Esse

quadro se alterou a partir do final do século XIX, quando a região amazônica passou a extrair

a borracha da seringueira (Hévea brasiliensis) e exportar para os mercados da Europa e

Estados Unidos. Tal atividade estimulou a moldagem de um novo padrão territorial, no qual a

exploração extrativista constituiu a mola mestra. A coleta se realizava de forma dispersa ao

longo dos vales, nas áreas de várzea e terras firmes, e a comercialização era concentrada nos

barracões, às margens dos rios e nas cidades de média importância regional. Configurou-se, a

partir de então, uma nova base econômica regional fundada na exploração extrativista da

borracha sob a égide de um sistema de financiamento chamado aviamento.

Entre o final do século XIX e primeira metade do século XX, as sucessivas fases de

exploração extrativa (caucho, castanha, borracha), estimularam a produção de uma estrutura

espacial que articulava os locais de extração/produção no interior do território com os centros

exportadores de Belém através de uma rede de localizações, pequenos núcleos urbanos cuja

função primordial era, além de servir de moradia para a força de trabalho, pontos de comércio

e concentração da produção na bacia hidrográfica, extrair o excedente econômico gerado

(CORREA, 1992).

Essa estruturação espacial teve início para IDESP (2011a) com a fundação de Belém,

cidade estratégica e excentricamente localizada em relação ao interior do território, a cidade

primaz. Como ponto de abertura e penetração do território, constituía a sede das principais

funções políticas e econômicas, do comércio atacadista e exportador, por meio da qual a

região se inseria nas relações com a economia nacional e mundial.

No estado do Pará, esse sistema espacial condicionou o processo de produção e

circulação da borracha (1890-1910), da castanha-do-pará (1926-1964), e de estruturação das

principais cidades (Belém, Santarém e Marabá), concentrando a população na calha dos

principais rios Amazonas, Tocantins, Xingu e Tapajós.

O período entre 1970 a 1990 corresponde a uma nova fase do processo de uso do

território: a fase da intervenção federal. É preciso esclarecer conforme IDESP (2011a) que tal

intervenção se inicia na década de 1960. A segunda metade dos anos 60 representa um marco

do ponto de vista do reordenamento político-institucional assim como das transformações

espaciais e territoriais na Amazônia oriental. No âmbito das mudanças de ordem política e

institucional do Estado brasileiro, após o golpe militar de 1964, as primeiras medidas de

política são lançadas com o objetivo de assegurar a ação federal na região de forma efetiva. A

“Operação Amazônica”, em 1968, redefiniu o arcabouço institucional regional ao criar o

42

Banco da Amazônia (BASA), a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

(SUDAM) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

No período de duas décadas, as alterações na estrutura espacial e socioeconômica do

território estadual ocorrem por meio da ação federal. Tendo como meta a integração nacional,

criam-se mecanismos institucionais de incentivo à apropriação privada das terras, à

diversificação das atividades econômicas - agropecuária, mineração, energia e

industrialização - e de desestímulo à economia extrativista. Esta última que, inclusive,

assegurou o funcionamento da base administrativa de governos estaduais. Sendo o poder das

oligarquias, nessas duas décadas, desestimulado de forma implacável no âmbito dos

programas e projetos implantados.

Entre 1972 a 1974, seguindo a perspectiva do Governo Federal à época, é lançado o

Programa de Integração Nacional (PIN) cujo principal objetivo foi à abertura da região por

meio da construção dos “eixos do desenvolvimento”. As rodovias constituíram as principais

vias de penetração do território.

A rodovia Transamazônica por outro lado, “finalizada” em 1974, representa um dos

principais eixos de articulação regional e de integração com o Nordeste brasileiro.

Todavia, é a partir da segunda metade da década de 1970, que se inicia no entender

de IDESP (2011a) um processo mais veloz de aproveitamento dos recursos naturais e de

inserção privada no espaço regional. No âmbito do II PND (II Plano Nacional de

Desenvolvimento: 1975-1979) é lançado o II PDA (II Plano de Desenvolvimento da

Amazônia) que explicitamente procura integrar a Amazônia ao Centro-Sul pelo lado da

oferta: a região deveria participar do Plano Nacional de Desenvolvimento a partir das suas

especificidades regionais, em especial da aptidão e vocação natural dos recursos existentes em

seu território.

A crise energética mundial (choque do Petróleo de 1973) e seguindo as orientações

do II PND de equipar o território nacional dotando-o de infraestrutura, sobretudo energética,

possibilita o início do aproveitamento hidrelétrico da bacia hidrográfica do Araguaia-

Tocantins com a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.

Associado ao insumo energia é lançado o POLAMAZÔNIA, Programa de Pólos

Agropecuários e Agrominerais da Amazônia.

No estado do Pará são escolhidas conforme IDESP (2011a) cinco áreas dentre as

quinze programadas da Amazônia Legal para implantação dos Polos de Crescimento: Carajás,

Trombetas, Altamira, Tapajós e Marajó. Os dois primeiros polos têm na mineração a mola

43

propulsora dada às peculiaridades naturais existentes na mesorregião do Sudeste Paraense

província mineral com a presença de uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo

e as reservas de bauxita no Baixo Amazonas. Na mesorregião do Sudoeste Paraense, os pólos

Altamira e Tapajós têm na agropecuária a atividade econômica principal.

As possibilidades de exploração desses recursos condicionam à dotação de créditos e

incentivos fiscais, infraestruturas de transportes e energia e investimentos peculiares à

vocação de cada polo, nesses novos recortes territoriais definidos externamente à região.

O segundo choque do petróleo de 1979 condiciona o redirecionamento dos

investimentos. A escassez de recursos financeiros face à crise do Estado brasileiro centraliza

os recursos em poucos pontos do território: a partir do Pólo Carajás, tendo o projeto Ferro -

Carajás da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), cria-se o Programa Grande Carajás (PGC).

O Leste do Estado do Pará, reconfigura-se como espaço de investimentos prioritários na

Amazônia pelo Governo Federal. O PGC define-se, sobretudo, pela diversificação do

território e pela sua concepção de programa: um conjunto integrado de projetos de mineração,

de exploração madeireira e do carvão vegetal e projetos industriais de siderúrgicas como o da

Companhia Siderúrgica do Pará - COSIPAR, com produção de ferro-gusa; Camargo Corrêa

Metais (CCM), de silício metálico e Albrás-Alunorte, de alumínio.

Em vinte anos de intensas transformações na organização espacial, as ações públicas

reordenaram o território estadual. Como parte desse processo de reordenamento, a ocupação

seletiva da terra estimulou o crescimento populacional e a urbanização do território. Altera-se

o aporte demográfico e projeta-se uma nova estrutura de povoamento com a sua

interiorização. Entre 1970 e 2010, registra-se, no Pará, um aumento populacional de

2.166.998 para 7.581.051 habitantes. Segundo o IBGE, em 2010, 68% da população vive nas

cidades dos 144 municípios que compõem o estado. Um pouco mais que 30% vivem no

campo (apud IDESP, 2011a).

Novos núcleos urbanos surgiram, seja como expressão planejada dos grandes

projetos, as Company Towns, as Agrovilas, Agrópolis e Rurópolis, ou como fruto do

povoamento espontâneo e das contradições das políticas de desenvolvimento implementadas.

As ações que transformaram a organização espacial da Amazônia acabam por

adjetiva-la enquanto “fronteira”. O termo “fronteira” encontra-se relacionado aos movimentos

de povoamento e colonização a partir de fundamentos geográficos que associam a noção de

“fronteira” a de “espaços vazios” ou “espaços abertos” ao povoamento, isto é, espaços com

baixa densidade populacional. Turner (1893; 1920 apud MACHADO, 1992).

44

Nesse sentido a definição de fronteira proposta por Turner (1893; 1920) tornou-se

uma espécie de modelo devido estabelecer relações entre os fatores de desenvolvimento

nacional.

Entre os temas incluídos na referida tese da fronteira, se encontrava o da

modernização, associada ao nacionalismo que sucederia nas áreas primitivas ou “selvagens” a

sequencia de fases que iriam da emergência de cidades com economias diversificadas e,

principalmente industriais.

Outro aspecto, da tese da fronteira, diz respeito ao papel das “terras livres” ou dos

“espaços vazios” nas formações nacionais, principalmente nas que apresentam base territorial

de grandes dimensões. A disponibilidade de “terras livres” significa terras passiveis de serem

apropriadas e transformadas em propriedade privada. Neste sentido, a fronteira atuaria

enquanto “válvula de escape” para populações pauperizadas.

Quanto aos “espaços vazios” os mesmos não correspondem somente a um critério

demográfico de baixa densidade populacional. E sim também a um conceito formulado em

contraposição à presença indígena: os espaços vazios eram espaços não civilizados, quer

dizer, aqueles onde não existiam as formas da civilização.

O argumento da disponibilização ou “abundancia” de terras publicas transforma a

Amazônia conforme Martins (1975) em fronteira de povoamento. Por certo, o uso do

território amazônico como “válvula de escape” para a população pauperizada de outras

regiões do País fora sintetizado para Machado (1992) na seguinte frase que reproduz o estilo

tumeriano: “terras sem homens para homens sem terra”.

No entanto havia conforme Machado (1992) uma diferença crucial entre o modelo de

“fronteira” aplicado para a Amazônia e o defendido por Turner (1893; 1920), enquanto o

historiador defendia a hipótese de que a expansão da fronteira permitiria a descentralização

política e através desta a consolidação da democracia, o modelo nacional no entender de

Machado (1992) tendo como base o pensamento de Silva (1955; 1967) partia do principio da

centralização das decisões políticas, ou seja, a integração das “terras livres” e a modernização

econômica deveriam ser administradas pelo Estado central.

A ressonância de algumas das teses de Turner (1893; 1920) na política brasileira

mais precisamente no que diz respeito à região de fronteira se situa segundo Machado (1992)

a nível mais subjetivo e simbólico nas relações entre nacionalismo, modernização, e expansão

das fronteiras “internas” do território, no sentido de cumprir a expectativa de transformar o

país na grande potencia que a dimensão territorial e as riquezas naturais pareciam prometer.

45

A intervenção estatal na Amazônia foi conforme Silva (1967); Cardoso e Mueller

(1977) decisiva, no período 1965/85. Por meio de recursos técnicos modernos, articulação

com o capital privado nacional e internacional e a integração da colonização regional a um

projeto mais amplo de modernização institucional e econômica buscava-se o desenvolvimento

nacional.

A federalização dos territórios estaduais se constituiu no entender de IDESP (2011a)

em prática do período mais recente da história regional. O estímulo à constituição de novas

fronteiras de povoamento (demográficas, rurais e urbanas), de novas frentes econômicas de

ocupação territorial e exploração dos recursos naturais (madeireiras, agropecuárias,

garimpeiras, minerais e hídricos) consistiu no cerne das políticas públicas de abertura e

integração regional. Com intensidades diferenciadas e propósitos múltiplos, a presença da

união tem sido marcante no domínio, no controle e na gestão do território dos estados que

compõem a região norte. Exemplo disso é a criação de órgãos federais, medidas institucionais

e administrativas de abrangência nacional e regional que repercutem sobre o controle do

território e dos recursos naturais:

a) Redefinição do Estatuto da Terra, Decreto Lei 120/1964;

b) Instituição do Código de Mineração, Decreto Lei 106/1967: definiu a apropriação

de terras para efeito de mineração;

c) Ampliação do sistema de inventivos fiscais, Decreto Lei 5.174/1966: estimulou a

apropriação de terras e de recursos naturais regionais;

d) Criou o Projeto Radam (Radar da Amazônia), Decreto Lei 764 de 1970, com o

objetivo de empreender o mapeamento dos recursos naturais regionais.

No estado do Pará a presença da União ocorre desde a década de 1970. Portanto, são

quatro décadas ou quarenta anos de intervenção federal.

Em 1971, através do Decreto Lei n. 1.164/71 e do Decreto Lei n. 1.473/76 são

federalizadas terras dos territórios dos estados da Amazônia Legal: as terras devolutas

situadas na faixa de 100 quilômetros de largura em cada lado do eixo das rodovias

construídas, em construção ou simplesmente projetadas. Este ato representou conforme

IDESP (2011a) a transferência de 66% das terras do estado do Pará para o domínio da União.

46

Mapa 2 - Áreas federais e estaduais no Pará.

Fonte: Adaptado de IDESP, 2011a.

Somente 26% do território (Dec. Lei 1.473/76) permaneceu conforme IDESP

(2011a) sob o controle do governo estadual.

A federalização do território se constituiu uma condição importante para a

implementação de políticas de ocupação da terra. Inicialmente pela Colonização oficial ao

longo da rodovia Transamazônica por meio de um sistema de povoamento urbano-rural

(construção de Rurópolis, Agrópolis e Agrovilas associadas a loteamentos rurais). Sendo para

tanto, as migrações incentivadas através do slogan “Terras sem Homens da Amazônia para

Homens sem terras do Nordeste”. Posteriormente a ocupação seletiva da terra e implantação

de projetos de exploração dos recursos naturais (minerais, hidrelétricos, madeireiros).

Ao longo do período entre 1970 e 1988, alterações são realizadas na estrutura

fundiária e dominial dos territórios estaduais.

Na época, a área de domínio efetivo do Governo do Estado do Pará ficou segundo

IDESP (2011a) em torno de 34% do território. Esse processo se estabeleceu tendo por

justificativa o lema “segurança e desenvolvimento”, slogan do regime militar que vigorou

entre 1964 e 1985. Somando-se as terras sob jurisdição do INCRA, do IBAMA, as TI - Terras

Indígenas e áreas militares, o quadro atual do domínio da União sobre o território paraense

monta a 66,04 %, conforme IDESP (2011a) em gráfico a seguir.

47

Gráfico 1 - Estado do Pará – Áreas Federais em 2010.

Fonte: Instituto de Terras do Pará - ITERPA, 2010 apud IDESP, 2011a.

Por outro lado, a criação de UCF – Unidades de Conservação Federal, de PI -

Proteção Integral, de US - Uso Sustentável, AM - Áreas de Marinha, TI – Terras Indígenas e

TQ – Terras Quilombolas ampliou a presença da União no estado do Pará.

O que é relevante nesse processo de reordenamento espacial do território estadual é

segundo IDESP (2011a) o fato de que as novas formas de apropriação e de uso do território e

de dominação política deram ao estado do Pará uma nova configuração. A magnitude e a

intensidade da intervenção federal transformaram a estrutura e a dinâmica espacial estadual,

uma vez que afetou e alterou os circuitos de produção e acumulação tradicionais,

desestruturando os atores sociais pré-existentes e seu poder político. O território estadual se

reestruturou na medida em que foram introduzidas novas atividades, novos padrões

demográficos, novas cidades, transformando o padrão de hierarquização do sistema espacial e

da rede urbana regional.

Em outro plano, as formas de divisão técnica do trabalho que se implantaram, junto

com a chegada dos fluxos migratórios de caráter heterogêneo desde o ponto de vista de sua

composição demográfica, social e econômica, trouxeram como consequência conforme

IDESP (2011a) a reestruturação da sociedade regional e o rearranjo espacial do poder no

território estadual.

48

4.2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO DOS MUNICÍPIOS DE ALTAMIRA E VITÓRIA

DO XINGU NO PERÍODO DE 1991 A 2010

4.2.1 IDH-M de Altamira e Vitória do Xingu

O uso do IDH-M como indicador que permite visualizar o desenvolvimento urbano

mostrou-se adequado em virtude dos municípios de Altamira e Vitória do Xingu integrarem a

Amazônia Legal, área federalizada, serem diretamente afetados pelo AHE Belo Monte e ainda

apresentarem deficitária infraestrutura urbana o que reflete uma tênue atuação do estado no

que concerne à viabilização de políticas públicas.

Quadro 7 – IDH-M: Altamira – Vitória do Xingu (1991/ 2000/ 2010).

Municípios IDHM 1991 IDHM 2000 IDHM 2010 VARIAÇÃO

Altamira 0,386 0,534 0,665 72,28%

Vitória do Xingu 0,262 0,422 0,596 127,48%

Fonte: Adaptado de PARÁ. SEIR, 2010; IDESP, 2012; Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil,

2013.

O IDH-M de Altamira conforme Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013

passou de 0,386 em 1991 para 0,534 em 2000 - uma taxa de crescimento de 38,34%. O hiato

de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDH-M do município e o limite

máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 24,10% entre 1991 e 2000.

Vitória do Xingu passa de 0,262 em 1991 para 0,422 em 2000 - uma taxa de

crescimento de 61,07%. O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o

IDH-M do município e o limite máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 21,68% entre

1991 e 2000.

Altamira passou de 0,534 em 2000 para 0,665 em 2010 - uma taxa de crescimento de

24,53%. O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDH-M do

município e o limite máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 28,11% entre 2000 e 2010.

Em Vitória do Xingu passou de 0,422 em 2000 para 0,596 em 2010 - uma taxa de

crescimento de 41,23%. O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o

IDH-M do município e o limite máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 30,10% entre

2000 e 2010.

49

Altamira apresentou incremento de 72,28% nas últimas duas décadas. O hiato de

desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDH-M do município e o limite máximo

do índice, que é 1, foi reduzido em 45,44% entre 1991 e 2010.

Vitória do Xingu teve incremento de 127,48% nas últimas duas décadas. O hiato de

desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDH-M do município e o limite máximo

do índice, que é 1, foi reduzido em 45,26% entre 1991 e 2010.

4.2.2 IDH-M Longevidade

Em 2010, Altamira passa a apresentar índice (73,64 anos). Já Vitória do Xingu em

2010 tem a esperança de vida de sua população aferida em (72,49 anos), (quadro 8).

Quadro 8 - Esperança de vida ao nascer em Altamira e Vitória do Xingu. 1991/2000/2010 (Idade em

anos).

Municípios 1991 2000 2010

Altamira 63,14 70,09 73,64

Vitória do Xingu 62,06 67,70 72,49

Fonte: Adaptado de Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013; IBGE Censo

demográfico, 1991/2000/2010.

Indicadores de Avaliação da Qualidade Ambiental da RI do Xingu IDESP, 2013.

Percebe-se um aumento da esperança de vida ao nascer em Altamira entre 1991 a

2010. Esse indicador expressa que houve um aumento da longevidade da população,

podendo-se inferir que este fato é resultado de investimentos em saúde pública e na qualidade

ambiental.

Em Altamira, a esperança de vida ao nascer aumentou 10,5 anos nas últimas duas

décadas, passando de 63,1 anos em 1991 para 70,1 anos em 2000, e para 73,6 anos em 2010.

Em Vitória do Xingu, a esperança de vida ao nascer aumentou 10,4 anos nas últimas

duas décadas, passando de 62,1 anos em 1991 para 67,7 anos em 2000, e para 72,5 anos em

2010.

O aumento da esperança de vida tanto em Altamira como em Vitória do Xingu reflete

na evolução do IDH-M Longevidade como descrito no quadro 9 onde os dois municípios nas

ultimas três décadas evoluíram ainda que timidamente no quesito saneamento básico (água

potável, esgoto, drenagem e resíduos sólidos) proporcionando qualidade de vida à população

sendo classificados como de médio desenvolvimento humano.

50

Quadro 9 - IDH-M Longevidade Altamira e Vitória do Xingu (1991/2000/2010)

Municípios 1991 2000 2010

Altamira 0,636 0,752 0,811

Vitória do Xingu 0,618 0,712 0,792

Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

4.2.3 IDH-M Educação

Quadro 10 - Indicadores IDH-M Educação para Altamira e Vitória do Xingu (1991/2000/2010).

Municípios 1991 2000 2010

Altamira 0,159 0,322 0,548

Vitória do Xingu 0,456 0,189 0,451

Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

No quesito educação Altamira em 1991 detinha IDH-M igual a 0,159 em 2000 esse

índice atinge a marca de 0,322 e em 2010 alcança 0,548. Percebe-se, portanto que houve uma

evolução no IDH-M educação de Altamira.

Em Vitória do Xingu o IDH-M educação apresentava em 1991, índice de 0,456

passando para 0,189 em 2000 e 0,451 em 2010. Observa-se que no caso de Vitória do Xingu

houve uma queda acentuada nos indicadores entre 1991 e 2000 acompanhada de uma

recuperação em 2010 quando o índice alcançou o patamar de 0,451.

Mesmo admitindo que nas últimas três décadas os dois municípios evoluíram no

quesito educação, principalmente no que diz respeito à universalização da educação básica à

quantidade de unidades escolares, o numero de professores e as condições em que o ensino é

ofertado ainda se encontram aquém do recomendado. Conforme pode ser percebido pelo

quadro 10, os índices alcançados por ambos ainda figuram como sendo de baixo a médio

desenvolvimento humano.

4.2.4 IDH-M Renda

Em 2010, Altamira apresentou valor de (R$ 492,05). No caso do município de

Vitória do Xingu a evolução da renda per capta se deu do patamar de R$ 261,41em 2000 para

R$ 323,18 em 2010 (quadro abaixo).

51

Quadro 11 - Renda per capita média de Altamira e Vitória do Xingu. (1991/2000/2010) Rendimento

mensal (Domiciliar) 1991/2000/2010.

Municípios 1991 2000 2010

Altamira R$ 276,44 R$ 401,93 R$ 492,05

Vitória do Xingu R$ 136,63 R$ 261,41 R$ 323,18

Fonte: Adaptado de DATASUS/IBGE Censo demográfico 2000/2010.

Indicadores de Avaliação da Qualidade Ambiental da RI do Xingu IDESP, 2013.

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

A renda per capita média de Altamira cresceu segundo Atlas do Desenvolvimento

Humano no Brasil, 2013 78,00% nas últimas duas décadas, passando de R$ 276,44 em 1991

para R$ 401,93 em 2000 e R$ 492,05 em 2010. A taxa média anual de crescimento foi de

45,40% (1991-2000) e 22,42% (2000-2010).

Em Vitória do Xingu o crescimento foi de 136,54% em sua renda per capita média

nas últimas duas décadas, passando de R$ 136,63 em 1991 para R$ 261,41 em 2000 e R$

323,18 em 2010. A taxa média anual de crescimento foi de 91,33% no primeiro período e

23,63% no segundo.

Quadro 12 - IDH-M Renda de Altamira e Vitória do Xingu (1991/2000/2010)

Municípios 1991 2000 2010

Altamira 0,569 0,629 0,662

Vitória do Xingu 0,456 0,560 0,594

Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

O aumento da renda per capita média dos municípios em questão tem impulsionado

como visto no quadro acima a evolução dos seus indicadores de desenvolvimento humano

(renda) sendo os mesmos classificados na faixa dos que apresentam um médio

desenvolvimento humano.

Nesse sentido ao se propor a minimização dos problemas sociais, os projetos de

infraestrutura devem levar em consideração a quando de sua elaboração a inserção de um

conjunto de variáveis e indicadores, tais como: IDH, população, emprego e renda, educação,

saúde, saneamento, habitação.

Sendo a finalidade de um conjunto de indicadores subsidiar as políticas de dados que

possibilite avaliação de seu desempenho ao longo do tempo. Auxiliando na formulação de

cenários descrevendo prováveis resultados das atuais políticas públicas, ou da sua ausência,

ou ainda identificar a necessidade de adaptação ou formulação de novas políticas públicas.

52

A opção pela perspectiva do desenvolvimento humano ocorreu devido à

compreensão de que para aferir o avanço na qualidade de vida de uma população é preciso

considerar características como as: sociais, culturais e políticas que ao integrarem o espaço

urbano, influenciam na qualidade da vida.

4.3 O AHE BELO MONTE E OS POSSÍVEIS EFEITOS NA CONFIGURAÇÃO URBANA

DE ALTAMIRA E VITÓRIA DO XINGU

4.3.1 Histórico

O aproveitamento hidrelétrico da Amazônia começa a ser diagnosticado conforme o

Instituto Socioambiental – ISA (2003) ainda na década de 70 pela recém-criada Eletronorte,

subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras - Eletrobras na Amazônia Legal, que inicia os

Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu. O trabalho de mapear

o rio e seus afluentes e definir os pontos mais favoráveis para barramentos ficou sob a

responsabilidade do Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores S.A., integrante do

grupo Camargo Côrrea. Em 1980 o relatório dos Estudos de Inventario Hidrelétrico da Bacia

Hidrográfica do Rio Xingu foi finalizado. Para o aproveitamento integral da Bacia do Rio

Xingu foram previstos sete barramentos, que gerariam 19 mil megawatts (MW), metade da

capacidade instalada nas hidrelétricas brasileiras à época. Essas usinas representariam o

alagamento de mais de 18 mil km².

A partir das recomendações do relatório final do estudo, a Eletronorte inicia os

estudos de viabilidade técnica e econômica do chamado Complexo Hidrelétrico de Altamira,

que reunia as Usinas de Babaquara (6,6 mil MW) e Kararaô (11 mil MW).

Os nomes indígenas para as hidrelétricas projetadas seriam conforme Kräutler (apud

SEVÁ FILHO, 2005) um “in memoriam” para os povos que, junto com as famílias de

seringueiros, pescadores e ribeirinhos, “cederiam” suas terras ancestrais para o “progresso e

desenvolvimento” da região. Muitos de nossos conterrâneos sonharam novamente com rios de

dinheiro que inundariam nossas cidades. À população local negaram-se informações

necessárias para avaliar o projeto. A transparência no fornecimento de dados não fazia parte

da estratégia dos órgãos governamentais.

As represas destas usinas hipotéticas alagariam conforme Sevá Filho (2005) ilhas e

terras florestadas, muitas ainda virgens, conforme estudos de inventário realizados, somando

53

quase 20 mil km quadrados, o equivalente a quase metade das áreas já inundadas por represas

de todos os tipos no país, até hoje. Nestes 2 milhões de hectares, uma boa parte são glebas

ribeirinhas incluídas em várias Terras Indígenas já homologadas, algumas delimitadas, mas

invadidas, outras ainda não homologadas. Em nível de comparação entre áreas alagadas por

outras represas temos a seguinte relação: A maior represa é a de Akosombo, no rio Volta em

seu trecho baixo-médio, um “lago” de mais de 8 mil km², dividindo ao meio a pobre e

conflituosa Ghana, na África Ocidental. A mais extensa represa brasileira é a de Sobradinho,

rio São Francisco, na Bahia, com 4.200 km² na cota máxima; a segunda maior é a de Tucuruí,

no rio Tocantins, Pará com 2.800 km².

Mas a repercussão conjunta dessas hidrelétricas iria muito além de terras alagadas.

As conseqüências de tipo destrutivo e conflitivo ganharam relevância em função de seus

impactos:

a) das estradas inteiramente novas a abrir, e de outras existentes a ampliar;

b) das faixas das Linhas de Transmissão;

c) das áreas alagadas e das áreas usadas para acesso às obras e para a abertura de

novas linhas.

As numerosas interferências e superposições desses impactos em territórios que têm

atualmente destinações as mais variadas, e que aparecem na cartografia como um mosaico

bem complicado, composto por:

a) extensas glebas de terras da União, as chamadas “terras devolutas”; e de modo

similar, glebas arrecadadas pelo INCRA e ou pelo Instituto Estadual de Terras, o ITERPA e

que vêm sendo licitadas, leiloadas para particulares, griladas e invadidas;

b) áreas protegidas como as Reservas Biológicas, e as áreas delimitadas para manejo

como as Flonas, as Florestas nacionais;

c) perímetros e acessos reconhecidos como reserva de garimpo, ou na prática

transformadas em invasões garimpeiras;

d) além de áreas imensas cobrindo um grande número de autorizações para

prospectar o subsolo, outorgas para pesquisa e para lavra de minérios valiosos.

Haveria também profundas conseqüências fundiárias e sócio-econômicas, por causa

da perda de superfícies de terra, de ilhas, das riquezas das matas e de áreas cultivadas e com

fruteiras, e também por causa da modificação territorial que obriga a retraçar estradas,

caminhos, pontos de embarque e desembarque fluvial. Haveria a perda de benfeitorias e

serviços existentes nas posses de grupos nativos ou de grupos migrantes de décadas atrás, nos

54

assentamentos antigos e novos do INCRA, em fazendas de colonizadores privados, e em

latifúndios, que podem conter ainda extensões ou fragmentos de mata.

Em 1986 Concluí-se o Plano 2010 - Plano Nacional de Energia Elétrica 1987/2010 -

que propõe segundo o Instituto Socioambiental – ISA (2003) a construção de 165 usinas

hidrelétricas até 2010, 40 delas na Amazônia Legal, com o aumento da potência instalada de

43 mil MW para 160 mil MW, e destaca: "pela sua dimensão, o aproveitamento do Rio Xingu

que se constituirá, possivelmente, no maior projeto nacional no final deste século e começo do

próximo". Os estudos do Plano indicam Kararaô como a melhor opção para iniciar a

integração das usinas do Rio Xingu ao Sistema Interligado Brasileiro. Até então, os estudos

de Babaquara eram a prioridade.

O Relatório Final dos Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do

Rio Xingu é aprovado em 1988 pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica -

DNAEE, extinto órgão regulador do setor elétrico.

Os impactos no entender de Kräutler (apud SEVÁ FILHO, 2005) acabaram por

despertar uma forte oposição da comunidade de Altamira que organizada em ato público

levanta sua voz contra os órgãos do governo que operam na surdina e excluem

deliberadamente a sociedade civil da discussão de projetos que afetam a população e o meio-

ambiente. A vitória estava do lado de todos que se opuseram à concretização do mega projeto.

Kararaô foi arquivado! Aparentemente!

No fim da década de 90 o projeto ressurgiu, com modificações geográficas, técnicas

e sob outro nome. Agora segundo Sevá Filho (2005) seria o CHBM – Complexo Hidrelétrico

de Belo Monte, somente com as obras da 1ª usina na Volta Grande. Nega-se a partir de então

a necessidade da construção de outros barramentos, o discurso era de que Belo Monte tinha

viabilidade mesmo que fosse um barramento “isolado” no rio Xingu.

A Eletronorte e demais órgãos governamentais aprenderam no entender de Kräutler

(apud SEVÁ FILHO, 2005) com os “erros” da década de 80 e trocaram o modo de agir. Um

grupo de especialistas fora contratado e passou a analisar as forças políticas na região. Foram

feitas pesquisas sobre os movimentos sociais, as ONGs, os sindicatos, os povos indígenas,

tudo no intuito de mapear possíveis focos de resistência ao projeto agora denominado de UHE

Belo Monte. O nome “Kararaô”, o grito de guerra, foi substituído pelo bucólico “Belo

Monte”. A estratégia mudou por completo. Lideranças locais foram continuamente

convidadas para reuniões com grupos de técnicos das empresas do governo que procuravam

mostrar o lado positivo do empreendimento. Outro alvo foram os jovens. Patrocinando festas

55

e promovendo excursões à região da UHE Tucuruí procurava-se conquistá-los para idéia de

que a hidrelétrica será um bem enorme para a região. De antemão evitavam-se reuniões com

grandes grupos para impedir que a sociedade se organizasse e discutisse abertamente os prós e

contras do projeto. Políticos estaduais e municipais proclamaram a UHE Belo Monte como a

salvação do sudoeste do Pará além de reforçar o discurso de que o Brasil necessita deste

impulso energético para evitar o colapso de sua economia.

A Eletronorte envia ao DNAEE ainda em 1990 conforme o Instituto Socioambiental

– ISA (2003) o Relatório Final dos Estudos de Viabilidade do Aproveitamento Hidrelétrico de

Belo Monte, antiga Kararaô, solicitando sua aprovação e outorga de concessão.

Em 1994 um novo projeto remodelado para se mostrar mais palatável aos

ambientalistas e investidores estrangeiros, é apresentado ao DNAEE e à Eletrobrás. O

reservatório da usina, por exemplo, é reduzido de 1.225 km² para 400 km².

A Eletrobrás solicita em 1996, autorização a Agencia Nacional de Energia Elétrica -

ANEEL para, em conjunto com a Eletronorte, desenvolver o complemento dos Estudos de

Viabilidade do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte. Acordo de Cooperação Técnica é

celebrado no ano de 2000 entre a Eletrobrás e Eletronorte com o objetivo de realizar os

Estudos de Complementação da Viabilidade do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte.

O Plano Plurianual de 2000-2003 - instrumento de planejamento de médio prazo das

ações do Governo Brasileiro apresentado ao Congresso - nomeado Avança Brasil, contempla

Belo Monte não apenas como uma obra estratégica para elevar a oferta de energia do país,

mas também como um projeto estruturante do Eixo de Desenvolvimento -

Madeira/Amazonas.

Em fins de 2000 a Eletronorte firmou conforme Sevá Filho (2005) contrato com a

fundação Fadesp, ligada à Universidade Federal do Pará, através do qual foram formadas

equipes de pesquisadores para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental. As condições

desse contrato e a tentativa de obter a licença ambiental apenas no âmbito paraense, da

Secretaria estadual de Tecnologia e Meio Ambiente, motivaram a iniciativa em 2001, por

parte do Ministério Público Federal em Belém, de peticionar uma Ação Civil Pública contra a

construção da hidrelétrica.

A decisão judicial decorrente dessa Ação Civil Pública foi a de embargar o EIA

(BRASIL. MME, 2009a) e o processo de licenciamento, decisão tomada em primeira

instância em Belém, e mantida até a última instância, em Brasília.

Ainda em 2001, a partir de um verão pouco chuvoso, ficou claro que o sistema

56

Sudeste - Centro Oeste e o sistema Nordeste de eletricidade tinham pouca reserva de água em

muitas das maiores represas existentes na bacia do Paraná e do São Francisco. Uma crise de

oferta de eletricidade se instalou, dadas às insuficiências no sistema de transmissão inter-

regional. Foi quando os barrageiros reapresentaram Belo Monte como “a salvação do país”, e

por isto, reivindicavam que os “empecilhos” fossem removidos e que as obras como estas

pudessem iniciar o quanto antes!

O Ministério das Minas e Energia - MME anuncia, em maio de 2001, conforme o

Instituto Socioambiental – ISA (2003) um plano de emergência de US$ 30 bilhões para

aumentar a oferta de energia no país. Inclui a construção de 15 usinas hidrelétricas, entre as

quais o Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, que seria avaliada pelo Conselho Nacional de

Política Energética - CNPE órgão criado em 1997, vinculado ao MME, voltado à formulação

de políticas e diretrizes de energia. Em setembro, Resolução do CNPE reconhece Belo Monte

como de interesse estratégico no planejamento de expansão de hidroeletricidade até 2010.

Em janeiro de 2002, a Eletrobrás aprova a contratação de uma consultoria para

definir a modelagem de venda do projeto de Belo Monte.

O projeto de engenharia a ser utilizado no Estudo de Impacto Ambiental – EIA

(BRASIL. MME, 2009a) é apresentado em 2002 pelo MME segundo a International Rivers

(2010).

Em março, uma Resolução do CNPE cria conforme o Instituto Socioambiental – ISA

(2003) um Grupo de Trabalho (GT) com o objetivo de estudar e apresentar um plano de

viabilização para a implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O GT, formado por

representantes da Casa Civil da Presidência da República, do Ministério de Minas e Energia -

MME, do Ministério do Meio Ambiente - MMA, do Ministério da Fazenda - MF, do

Ministério de Planejamento Orçamento e Gestão - MPOG, da Eletrobrás, da Eletronorte, da

Companhia Hidrelétrica do São Francisco - Chesf, da Furnas Centrais Elétricas S.A, do Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES e do Governo do Estado do

Pará, deveria envolver também dois representantes da sociedade civil. Wilson Quintella,

presidente da Agência de Desenvolvimento Tietê Paraná, parceira da Eletronorte, entretanto, é

o único representante nomeado.

Em abril, a Comissão de Minas e Energia realiza audiência pública sobre a

construção de Belo Monte com participantes favoráveis à obra.

Em junho, cópias dos Estudos sobre a Viabilidade de Implantação do Complexo

Hidrelétrico Belo Monte são colocadas à disposição dos interessados na sede da ANEEL.

57

Em agosto, resolução do CNPE prorroga o prazo para a apresentação do plano de

viabilidade para a implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

A polarização política e partidária que se formou em Altamira e no Pará a propósito

desse mega-projeto, indicava no entender de Sevá Filho (2005) quase sempre os

parlamentares e candidatos dos partidos então considerados de esquerda, o PT, PC do B, PSB,

como sendo opositores de Belo Monte, e por simetria, eram a favor da obra os partidários

locais e regionais dos governos estaduais do PMDB (J. Barbalho) e depois do PSDB (A.

Gabriel e S. Jatene), alinhados, neste caso, com o governo federal na era Cardoso-Maciel.

Todos que acompanhavam o caso tinham a sensação de que uma vitória do candidato

Lula poderia sepultar o projeto Belo Monte e os demais que eram mantidos na berlinda

exatamente pelos políticos e militantes da antiga oposição.

Mas não! Uma das razões é que, durante os primeiros meses do novo governo, em

2003, o senador José Sarney, aliado do governo Lula, convencia a cúpula federal da

importância e oportunidade do projeto Belo Monte.

Em maio de 2003 O governo federal anuncia segundo o Instituto Socioambiental –

ISA (2003) que vai retomar os estudos de impacto ambiental para a construção da hidrelétrica

de Belo Monte, no Rio Xingu, obedecendo às recomendações do MMA e do Instituto

Brasileiro Meio Ambiente - IBAMA.

Em 2004 ocorre conforme Sevá Filho (2005) a troca de presidente da Eletrobrás, que

é a empresa acionista principal da Eletronorte e das outras geradoras estatais Furnas e Chesf.

Os “novos” dirigentes marcam o retorno do engenheiro Muniz e de sua equipe à frente do

projeto de barrar o Xingu.

Em Julho de 2005 o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 1.785/05, que autoriza

a implantação da Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte (PA), é conforme o Instituto

Socioambiental – ISA (2003) aprovado pela Câmara. Uma semana depois, o Senado também

aprova o projeto (agora denominado PDS nº 343/05) que autoriza implantação de Belo

Monte.

Em Setembro são realizadas quatro audiências públicas sobre Belo Monte, em seis

dias, nas cidades de Brasil Novo, Vitória do Xingu, Altamira e Belém, revelando as

fragilidades dos estudos e diversas lacunas no processo de licenciamento. O Estudo de

Impacto Ambiental - EIA completo só é disponibilizado dois dias antes da primeira audiência,

sem tempo para uma análise qualificada pelas comunidades atingidas. O Ministério Público

Federal - MPF apresenta recomendação ao IBAMA para realização de pelo menos mais treze

58

audiências, de forma a incluir mais regiões que serão atingidas. De acordo com estudos

iniciais, a usina de Belo Monte afetará direta e indiretamente 66 municípios.

Em 2010 o MMA libera Belo Monte sem conhecer os impactos da obra. A licença

ambiental para construção da usina, publicada no dia 1º de fevereiro, demonstra que questões

centrais para avaliar o impacto da obra ainda não estão esclarecidas. Em Parecer Técnico do

IBAMA, do final de novembro de 2009 e que não foi disponibilizado na internet, servidores

do próprio IBAMA denunciam pressão política da Presidência da República para liberar a

obra e indicam que os estudos, superficiais, não conseguem prever o que acontecerá com os

peixes num trecho de mais de 100 km de rio, e consequentemente com as pessoas que deles

sobrevivem, sobretudo as comunidades indígenas ribeirinhas.

Reconhecendo que não teria como bancar o projeto isoladamente a Eletrobrás reduz

no entender de Sevá Filho (2005) o tamanho do investimento a fim de atrair investidores para

se associarem a Belo Monte, além disso, convence a presidência do banco estatal BNDES,

mesmo sem a devida análise técnico-econômica, de assegurar uma parte do financiamento.

A Eletrobrás anuncia segundo o Instituto Socioambiental – ISA (2003) que será sócia

na futura empresa a ser criada pelos vencedores do leilão de concessão da Usina Hidrelétrica

de Belo Monte, no Rio Xingu. O presidente da estatal, José Antônio Muniz Lopes, disse que

caberá ao conselho de administração definir como será a participação da empresa no leilão da

hidrelétrica.

O resultado do leilão apontou segundo NORTE ENERGIA (2011) para a formação

de um consórcio de grupos poderosos, capazes de alavancar financiamento aqui e no exterior,

e depois, contratar a compra de alguns pacotes de eletricidade de bom tamanho, esse

consórcio é composto atualmente por: ELETROBRAS (15%), mais, duas geradoras estatais,

Chesf (15%) e ELETRONORTE (19,98%), Entidades de Previdência Complementar Petros

(10,00%) e Funcef (5,00%), Fundos de Investimentos em Participações Caixa FIP Cevix

(5,00%), Sociedades de Propósito Específico Belo Monte Participações S.A. Neoenergia S.A.

(10,00%) e Amazônia Cemig e Light (9,77%), Autoprodutoras Vale (9,00%) e Sinobras

(1,00%), J. Malucelli Energia (0,25%) e outras Sociedades.

Esse consórcio denominado Norte Energia, será também segundo Sevá Filho (2005)

responsável por realizar o serviço político local, dobrar os resistentes, neutralizar os

descontentes, fomentar os apoiadores. E talvez venha a administrar a sua “inserção regional”,

repartindo os “royalties” futuros e assim vindo a se tornar um verdadeiro Estado dentro do

Estado do Pará.

59

A novidade agora é algo bem mais estratégico: todos têm a certeza de quem vai

operar – não será a Eletronorte sozinha nem a principal sócia – e de quem vai usar a

eletricidade dessa obra, se acaso um dia ela chegar a ser feita – não será o “resto do país”,

nem o Nordeste à beira da crise, muito menos a malha elétrica Centro Oeste Sudeste, e sim as

indústrias eletrointensivas que já comandam esse mesmo espetáculo na Amazônia paraense e

maranhense e pelo mundo afora há um século.

O Estudo de Impacto Ambiental – EIA, elaborado pela Leme Engenharia Ltda

(2009) denomina o empreendimento projetado para a região Norte do Brasil, no rio Xingu,

afluente pela margem direita do rio Amazonas, no estado do Pará de Aproveitamento

Hidrelétrico (AHE) Belo Monte. O empreendimento localiza-se na área denominada de Volta

Grande do rio Xingu, entre os paralelos 3º00’ e 3º40’S e os meridianos 51º30’ e 52º30’W.

Mapa 3 - Localização da UHE Belo Monte no Rio Xingu.

Fonte: Norte Energia, 2011.

Considerando-se o conjunto barragem, reservatório, tomada d’água e casa de força, o

empreendimento ocupará terras dos municípios de Vitória do Xingu, Altamira e Brasil Novo.

O eixo da Barragem Principal situa-se no rio Xingu, cerca de 40 km a jusante da

cidade de Altamira, seguindo-se o encaminhamento pelo rio. O Canal de Fuga da Casa de

Força Principal localiza-se cerca de 9,5 km a jusante da vila de Belo Monte, que pertence ao

município de Vitória do Xingu.

60

Mapa 4 - CHE Belo Monte.

Fonte: SANTOS; HERNANDEZ, 2009.

O principal acesso ao empreendimento se dá através da BR-230 - Rodovia

Transamazônica. Há também possibilidade de acesso ao local da usina por via fluvial, desde o

porto de Belém, no litoral norte brasileiro, até a vila de Belo Monte, situada às margens do rio

Xingu, que é inteiramente navegável desde sua foz até o local desta vila.

O AHE Belo Monte tem como finalidade precípua a produção de um grande bloco de

energia elétrica a partir de geração hidráulica. Segundo resultados dos Estudos de Viabilidade

do CHE (Complexo Hidrelétrico Belo Monte) concluídos pela ELETROBRÁS e

ELETRONORTE em 2002, a capacidade instalada do empreendimento corresponderá a

11.181,3 MW, com uma estimativa de energia firme equivalente a 4.719 MW médios anuais

na Casa de Força Principal e 77 MW médios na Casa de Força Complementar, a um custo

índice de instalação de R$ 748/kW, incluídos os juros durante a construção. Vale ressaltar que

o empreendimento, consta como uma das componentes do Plano de Expansão do Setor

Elétrico Brasileiro desde 1986.

A energia produzida no aproveitamento em questão visa ao atendimento das

demandas do mercado interno brasileiro, sendo que a usina será interligada ao Sistema

Elétrico Nacional (SIN) através de conexão com a Linha de Transmissão (LT) Tucuruí-

61

Macapá-Manaus, a ser implantada de acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia

(PDEE) 2007/2016 (MME/EPE, 2007). Esta energia será transportada, além dos centros

consumidores do Norte, em sua maior parte para os grandes centros consumidores do

Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste, que concentram o déficit atual e previsto, com seu potencial

hidrelétrico competitivo já praticamente todo explorado.

Além disso, o empreendimento irá atender ao mercado de energia elétrica na região

mediante a construção de uma linha de transmissão a partir da casa de Força Complementar,

com potência instalada de 181,3 MW.

Estudos de Atualização do Inventário Hidrelétrico da Bacia do rio Xingu, elaborados

pelas empresas ENGEVIX, THEMAG, INTERTECHNE e ARCADIS Tetraplan e concluídos

em outubro de 2007 apontam que o AHE Belo Monte deverá ser o único empreendimento

hidrelétrico com previsão de implantação no referido corpo hídrico em acordo com a divisão

de queda e conforme texto transcrito das conclusões desses estudos:

[...] os estudos de Atualização do Inventário Hidrelétrico da Bacia

Hidrográfica do Rio Xingu, considerando as principais restrições vigentes

hoje na bacia, bem como o contexto institucional, socioeconômico e

energético no qual está hoje inserido o Setor Elétrico Brasileiro,

recomendam, como divisão de queda para o aproveitamento hidrelétrico da

bacia do rio Xingu, um único degrau localizado na Volta Grande do Xingu,

com todas as características estabelecidas nos Estudos de Viabilidade do

AHE Belo Monte [...]. (BRASIL. MME, 2007a).

Além disso, os referidos estudos apontam que o AHE Belo Monte, aproveitando o

desnível concentrado no trecho da Volta Grande do Xingu configura-se como um

empreendimento hidrelétrico independente de outros aproveitamentos na bacia do rio Xingu

para sua viabilidade econômica, ou seja, a motorização de 11.181,3 MW, para geração de

potência firme em torno de 4.800 MW médios, está viabilizada economicamente sem

necessidade de regularização a montante, considerando a operação a fio d’água do

empreendimento em pauta.

Resolução do Conselho Nacional de Pesquisa Energética (CNPE) nº 6, de 3 de julho

de 2008 ratificou em seu artigo 2º, que o único potencial hidroenergético a ser explorado

situado no rio Xingu será o do AHE Belo Monte, entre a sede urbana do Município de

Altamira e a sua foz, devendo ser operacionalizada nos Estudos de Planejamento Energético

Nacional, coordenados e aprovados pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), através do Despacho nº 2.756, de

62

28 de julho de 2008, identifica o aproveitamento Belo Monte com as seguintes características

de referência:

a) Coordenadas Geográficas do Eixo do Barramento: 03º 07’ 35” S e 51º 46’ 30” W;

b) Potência Estimada: 11.181 MW;

c) Área de Drenagem: 449.748 km²;

d) Nível d’Água Máximo Normal de Montante: 97,0 m;

e) Nível d’Água Máximo Normal de Jusante: 4,6 m;

f) Área do Reservatório: 440 km².

O caráter estratégico do AHE Belo Monte para o setor elétrico nacional encontra-se

consubstanciado na Resolução N° 2, de 17 de setembro de 2001, do CNPE. Esta resolução já

reconhecia o interesse estratégico do empreendimento no planejamento da expansão da

hidroeletricidade, ressaltando os aspectos relativos à sua integração no sistema interligado,

aos impactos de sua operação no parque gerador nacional e à confiabilidade da rede básica

face ao sistema de transmissão associado.

Além disso, destacava, em seu artigo 2°, a importância de uma participação multi-

institucional (Ministérios de Minas e Energia, do Meio Ambiente, do Planejamento,

Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Agência

Nacional de Energia Elétrica e da Agência Nacional de Águas) na análise de seus impactos

socioambientais, do uso múltiplo das águas e de sua relação com o desenvolvimento

econômico e social na região.

A Usina Hidrelétrica Belo Monte (UHE Belo Monte), no Rio Xingu, Estado do Pará,

devido a seus impactos vem sofrendo varias modificações em seu projeto original conforme

NORTE ENERGIA (2011). O projeto original da UHE Belo Monte ao passar por várias

alterações atende a determinação legal de assegurar acesso ao mesmo e aos seus impactos.

A UHE Belo Monte no momento encontra-se com potência instalada de 11.233,1

MW, com 4.571 MW médios de energia assegurada. Contará com duas casas de força, sendo

a principal localizada no sitio Belo Monte, com 11.000 MW de potência instalada e a

complementar no sítio Pimental, com 233,1 MW.

No entanto a casa de força principal trabalharia segundo Sevá Filho (2005) com a

capacidade máxima ou próxima dela durante três meses por ano no máximo; e muitas vezes,

nem isto. Somente nos meses de Março, Abril e Maio, o rio Xingu costuma ter uma vazão

63

média mensal superior ao engolimento máximo das turbinas de 13.900 m³/s. O Estudo de

Viabilidade entregue à Agência ANEEL aponta uma “energia firme” da ordem de 4.700 MW

médios.

A UHE Belo Monte está projetada conforme NORTE ENERGIA (2011) para alagar

área de 502,8 km, dos quais quase a metade, 228 km (45%) corresponde ao leito natural do

Rio Xingu. Parte dessa área estaria no entender de Sevá Filho (2005) na represa dos quatro

igarapés, criada em terra firme e outra ficaria na calha do Xingu; no projeto anterior, a área

chegava a 1100 km². A UHE Belo Monte foi planejada para operar segundo NORTE

ENERGIA (2011) em regime de fio d’água, o que pode vir a reduzir o tamanho do seu

reservatório e a área a ser inundada. A área de inundação foi reduzida em 60% em

comparação ao projeto inicial, à relação entre a área alagada por MW instalado da UHE Belo

Monte será de 0,04 km² por MW.

O volume d´água armazenado seria de acordo com Sevá Filho (2005) da ordem de

3,8 bilhões de m³ de água, com uma profundidade média das duas represas e do sistema de

canais entre 6 e 8 metros. Pela concepção adotada para a obra, não seria obtida alguma

regularização da vazão do rio. A “correnteza” do Xingu estaria sendo conduzida por três

canais principais e alagados rasos, até uma barragem alta, mas com pouca profundidade e

pouco volume acumulado. Na hipótese de realizar a obra em duas grandes etapas, a potência

inicialmente instalada seria cortada pela metade, sendo construído apenas um canal de

adução, retificado um dos dois igarapés, de Maria e Gaioso, e construída a metade da Casa de

Força principal. Três grandes paredões de rocha e concreto serão erguidos: o primeiro na Ilha

Pimental, a barragem do vertedouro principal, trancando o rio para forçar o desvio da Volta

Grande e abrigando a casa de força auxiliar; O segundo a barragem do vertedouro

complementar abaixo da Cachoeira Jericoá, na margem esquerda do Xingu e o terceiro o

paredão final da segunda represa onde ficaria o prédio da Casa de Força principal, onde hoje

passa a rodovia Transamazônica, entre a balsa de Belo Monte do Pontal e Altamira, e o canal

de fuga das águas turbinadas até a margem esquerda do Xingu, próximo do igarapé Santo

Antonio.

4.3.2 Condicionantes Socioambientais (EIA / PBA)

Em atendimento às condicionantes socioambientais na área de influencia da UHE

Belo Monte, NORTE ENERGIA (2011) afirma que ações compensatórias estão previstas para

64

ocorrerem em Altamira (na sede do município e na localidade de belo monte do pontal),

Vitória do Xingu (sede do município e na localidade de belo monte) e nos demais municípios

que compõe a região e encontram-se próximos aos locais de construção da usina.

Estas ações compõem inicialmente o Estudo de Impacto Ambiental - EIA (2009) do

Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) Belo Monte que visa à apresentação das analises de

Viabilidade Técnica, Econômica e Socioambiental do empreendimento em questão. Sendo

também documento integrante do processo de licenciamento do AHE Belo Monte junto ao

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. Vale

observar ainda que este EIA (BRASIL. MME, 2009a) foi desenvolvido em atendimento às

medidas de cunho preventivo (denominadas “ações antecipatórias”), mitigadoras, de

monitoramento e compensatórias voltadas para fazer frente aos impactos de natureza positiva

e negativa que possam vir a ser gerados pela implantação do empreendimento em questão.

O EIA (BRASIL. MME, 2009) tem por objetivo caracterizar um retrato real e

atualizado da região de inserção do AHE Belo Monte, levando em conta as diferentes

abrangências espaciais, de cunho físico, biótico, socioeconômico e cultural, delimitadas como

as áreas de influência para os estudos ambientais, bem como apresentar uma análise

prospectiva de seu comportamento para diferentes cenários futuros, a saber: a tendência de

delineamento da qualidade ambiental da região de inserção do empreendimento sem

considerar a perspectiva de sua implantação; e a sua resposta frente a uma possível

materialização do AHE Belo Monte. Com relação a este último cenário, há que se observar

que ele considera duas situações: a primeira não levando em conta diferentes medidas de

cunho preventivo (denominadas “ações antecipatórias”), mitigador, de monitoramento e

compensatório voltadas para fazer frente aos impactos de natureza negativa a serem gerados

pelo empreendimento; e, a segunda, que incorpora o extenso conjunto dessas ações resultantes

do EIA (BRASIL. MME, 2009a) sob a forma de Planos, Programas e Projetos inter-

relacionados, trazendo, muitas vezes, alterações na avaliação dos impactos feita no cenário

anterior, e contemplando, ainda, diferentes medidas objetivando também potencializar

consequências positivas que são antevistas como decorrentes do AHE Belo Monte. Neste

sentido, ressalta-se que o EIA (BRASIL. MME, 2009) busca, prioritariamente, a integração

dessas ações – tanto as voltadas para impactos negativos quanto aquelas direcionadas para os

positivos – com Planos, Programas e Projetos, previstos ou mesmo em curso para a região

onde se pretende inserir o empreendimento, e desenvolvidos nas esferas federal, estadual e

municipal.

65

Assim, pretende-se conforme EIA (BRASIL. MME, 2009a) colaborar para uma

potencial alavancagem das oportunidades de desenvolvimento regional do território que

poderão ser advindas dessa sinergia de medidas e, também, preparar esse território para o

eventual recebimento do AHE Belo Monte, resultando numa amenização dos efeitos

negativos dele derivados, ou mesmo buscando evitá-los.

A base de conhecimento que os presentes estudos ambientais, de cunho

multidisciplinar, consolidam oferece segundo EIA (BRASIL. MME, 2009a) subsídios

importantes para as futuras tomadas de decisão relacionadas ao empreendimento em questão,

pautando-se no objetivo maior de proporcionar condições melhores de oportunidades de vida

à sociedade, buscando-se o equilíbrio necessário entre os princípios e diretrizes de

sustentabilidade e de desenvolvimento. Assim, o EIA (BRASIL. MME, 2009a) tem o objetivo

maior de verificar, sob a ótica ambiental – aqui se incluindo obrigatoriamente as múltiplas

variáveis socioeconômicas e culturais –, qual a configuração equilibrada que permita a

implementação de um empreendimento do porte e de relevância para o país, como o AHE

Belo Monte, sem ferir, de forma definitiva e irrecuperável, a capacidade de suporte dos

recursos naturais que prestam serviços ambientais fundamentais para a manutenção não só do

complexo ecossistema amazônico, e que se configura com alguns atributos específicos na

região onde se planeja implantar o empreendimento, como também dos modos de vida da

população que aí habita e desenvolve atividades econômicas.

O EIA (BRASIL. MME, 2009a) encontra-se estruturado em 31 (trinta e um)

volumes, sendo que para a pesquisa em questão foram destacados para analise os volumes 22

e 33 por abordarem diagnósticos, planos, programas e projetos de intervenção no espaço

urbano de Altamira e Vitória do Xingu cidades integrantes do recorte espacial da referida

pesquisa.

As ações propostas nos Planos de atuação contemplam programas e projetos que

buscam atuar, na maioria das vezes em conjunto, em macro-eixos do empreendimento

causadores de impactos ou sobre os atributos ambientais/sociais que mais serão impactados

pelo planejamento, implantação e operação do AHE Belo Monte. Assim, foram propostos

Planos, associados a eixos de atuação dentre os quais se encontram o de requalificação urbana

que apresenta enquanto eixo principal, a atuação direta sobre os núcleos urbanos que deverão

ser mais afetados pela implantação e operação do AHE Belo Monte, a saber, Altamira e

Vitória do Xingu reforçando sua infraestrutura urbana. As ações contidas nos Planos,

Programas e/ou Projetos do EIA (BRASIL. MME, 2009a), serão detalhadas no PBA (NORTE

66

ENERGIA, 2011).

Ainda com o intuito de tentar mitigar e compensar os impactos provocados pela UHE

Belo Monte foi elaborado o Projeto Básico Ambiental – PBA (2011), requisito este já previsto

no EIA (BRASIL. MME, 2009a) é também componente fundamental no atendimento as

condicionantes da licença prévia. O PBA (NORTE ENERGIA, 2011) é igualmente

constituído de planos, programas e projetos. Para o estudo em questão foram selecionados os

capítulos 5 e 6 por também tratarem do espaço urbano de Altamira e Vitória do Xingu cidades

integrantes do recorte espacial da referida pesquisa.

O Plano de Requalificação Urbana tem como princípio geral a participação conjunta

e a cooperação entre as três esferas de governo (municipal, estadual e federal) e a iniciativa

privada, no caso, o empreendedor responsável pela implantação da usina, conforme prevê o

Estatuto da Cidade. Este instrumento (Lei 10.257/01) estabelece em seu artigo 2º, que a

política urbana deve ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e da

propriedade mediante uma série de diretrizes, dentre elas a “cooperação entre os governos, a

iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em

atendimento ao interesse social”. (BRASIL. LEI 10.257/2001).

No presente caso, dados os impactos decorrentes da implantação do empreendimento

associados ao sistema urbano, com todos os seus desdobramentos e implicações, é essencial a

participação do poder público, até porque o empreendedor não tem gestão sobre muitos dos

aspectos envolvidos.

É premissa básica do Plano de Requalificação Urbana segundo PBA (NORTE

ENERGIA, 2011) propor a intervenção direta nas sedes urbanas de Altamira e Vitória do

Xingu, devendo as mesmas serem implementadas em consonância com ações integradas que

pretendem o equacionamento da questão urbana regional frente à implantação da UHE Belo

Monte. O objetivo é dotar as prefeituras de instrumental necessário para que as mesmas

possam absorver os impactos advindos da construção da UHE Belo Monte, buscando a

otimização de oportunidades de desenvolvimento regional, com dinamização econômica e

aporte de recursos.

A implementação de um grande projeto hidrelétrico como é o caso da hidrelétrica de

Belo Monte implica conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) no desenvolvimento de ações

que visem o compartilhamento de responsabilidades na execução de políticas públicas entre

União, Estados e Municípios enfatizando a gestão administrativa, notadamente no que

concerne aos municípios.

67

Desta forma, segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) coloca-se quase que como

um imperativo, o fortalecimento das instâncias municipais e a (re) organização de suas

estruturas administrativas, para capacitarem-se financeiramente, estabelecer novo

relacionamento com as demais esferas do setor público, com o setor privado e organizações

da sociedade civil, como forma de viabilizar a operacionalização das políticas públicas sob

sua responsabilidade.

As instituições governamentais responsáveis pelo planejamento e gestão de

localidades inseridas na área de influencia de empreendimentos de porte, como é o caso da

hidrelétrica de Belo Monte, precisam de acordo com o EIA (BRASIL. MME, 2009a) ser

capaz de atender a toda a demanda adicional, que decorre não apenas das populações locais

e/ou reassentamentos, mas também dos contingentes atraídos pelo empreendimento, sejam

diretamente envolvidos nas obras ou em busca de oportunidades de trabalho, como

fornecedores de insumos ou serviços demandados pelo empreendimento. Assim sendo,

conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) os municípios da área de influencia da hidrelétrica

de Belo Monte, devem buscar auxilio nas parcerias públicas, privadas locais e/ou regionais,

devem também firmar parceria com o empreendedor da hidrelétrica de Belo Monte, através

dos mecanismos de mitigação, compensação e das condicionantes para o estabelecimento do

empreendimento.

O inciso V do artigo 41 do Estatuto da Cidade (2001) estabelece como obrigatório o

Plano Diretor para cidades “inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades

com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.” (BRASIL. LEI

10.257/2001).

O parágrafo primeiro desse mesmo artigo afirma que:

No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no

inciso V do caput, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do

plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação adotadas.

(BRASIL. LEI 10.257/2001).

A hidrelétrica de Belo Monte enquadra-se no rol dos empreendimentos considerados

no inciso V do artigo 41, mencionado.

Deve ser, portanto, segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) parte integrante do

planejamento do empreendimento, o apoio técnico e financeiro às administrações municipais

no sentido de melhor aparelhá-las para o planejamento e gestão dos municípios na Área de

Influência Direta assim como a provisão da infraestrutura e dos serviços públicos necessários

68

para atender a demanda adicional decorrente do considerável incremento populacional

esperado em decorrência da implantação do empreendimento.

Isso equivale dizer que a implantação do empreendimento Belo Monte já impacta os

planos e programas concebidos pelos Municípios, antes mesmo da iminente construção da

usina. Isso ocorre particularmente quanto aos Municípios de Altamira e Vitória do Xingu

O Plano de Requalificação Urbana procura segundo PBA (NORTE ENERGIA,

2011) estruturar suas intervenções dentro de uma visão abrangente da gestão urbana em sua

área de ação, visão construída a partir da logística necessária a implantação das obras.

Quanto a esses aspectos deve-se salientar conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011)

a formação do reservatório do Xingu, áreas de ocupação irregular e precária na cidade de

Altamira, a interação das duas vilas residenciais (uma com 500 residências e

aproximadamente 2.000 habitantes na cidade de Altamira e outra com 2.500 residências e

cerca de 10.000 habitantes na cidade de Vitória do Xingu) com estrutura urbana, afluxo de

população em função da implantação do empreendimento.

Sendo assim, o Plano de Requalificação Urbana apresenta como princípios segundo

PBA (NORTE ENERGIA, 2011) o fortalecimento da rede urbana afetada pela implantação da

UHE Belo Monte frente às pressões dos impactos a partir da implantação do empreendimento,

aproveitando e incorporando as oportunidades de desenvolvimento.

A intenção é segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) conciliar a formação do

reservatório com solução para as enchentes, recuperar os igarapés, melhorar as condições de

habitação e saneamento da população alvo; Inserir 500 residências no espaço urbano de

Altamira; Inserir a vila residencial com 2.500 residências ao espaço urbano de Vitória do

Xingu; Criar infraestrutura urbana nas cidades de Altamira e Vitória do Xingu para que esses

núcleos possam fazer frente ao afluxo populacional esperado.

O Plano de Requalificação Urbana foi pensado conforme PBA (NORTE ENERGIA,

2011) enquanto ação que objetiva mitigar os impactos decorrentes da implantação da UHE

Belo Monte sobre as cidades de Altamira e Vitória do Xingu.

A implantação de UHE Belo Monte acarretara em impactos a esses núcleos,

decorrentes segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) dos seguintes processos: o reservatório

provocará a inundação de áreas ocupadas em Altamira desalojando a população; Inserção de

residências para aproximadamente 2.000 funcionários em Altamira e 10.000 funcionários na

cidade de Vitória do Xingu.

Conforme citado acima, os Planos de Requalificação Urbana propõe intervenções nas

69

cidades de Altamira e Vitória do Xingu, intervenções essas consubstanciadas em programas.

Além das obras físicas, fazem parte das ações socioambientais o apoio à criação de

fóruns de discussão e acompanhamento, como a Câmara Permanente de Negociação dos

Afetados pela UHE Belo Monte que envolve representantes da sociedade, das prefeituras e do

Consorcio Belo Monte.

O Consorcio também terá que firmar parceria com as prefeituras, no sentido de vir a

ofertar cursos de qualificação voltados para os gestores públicos, técnicos e servidores

integrantes dos poderes Executivo e Legislativo dos municípios afetados pela UHE Belo

Monte. O total de compromissos socioambientais relacionados ao cumprimento das

exigências constantes do processo de licenciamento ambiental de Belo Monte já alcança

conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) a cifra de R$ 3,7 bilhões.

Estima-se ainda segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) que durante a fase de

operação da usina, a compensação financeira para o Estado do Pará e para os municípios

afetados alcance o montante de R$ 200 milhões ao ano, esse recurso deve ensejar nos

governos locais a promoção de políticas publicas que assegurem o bem-estar da população.

Já o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu - PDRSX, conta

segundo o MPOG (2011) com R$ 2,5 bilhões de recursos - R$ 2 bilhões do governo federal e

R$ 500 milhões do consórcio Norte Energia S. A. (Nesa), responsável pelo empreendimento.

Estes recursos serão utilizados em ações como ampliação e melhorias de escolas,

unidades de saúde, urbanização, projetos de capacitação da população, fomento industrial e

comercial e construção de moradias, entre outras ações fundamentais para atender o aumento

populacional na região e compensar e minimizar outros impactos trazidos pela chegada da

usina.

O edital do leilão de Belo Monte prevê que o empreendedor deve assegurar o

desenvolvimento socioeconômico da região do Xingu via internalização de oportunidades que

venham potencializar positivamente os efeitos da implantação de Belo Monte. Tais

oportunidades abrangeram os seguintes eixos de ação:

Ordenamento Territorial;

Regularização Fundiária e Gestão Ambiental;

Infraestrutura de Desenvolvimento;

Fomento as Atividades Produtivas Sustentáveis;

Inclusão Social e Cidadania;

Modelo de Gestão.

70

Essas ações devem vir a contribuir para a convergência das ações dos Governos

Federal, Estadual e dos Municípios com a participação direta da população na gestão da

aplicação dos recursos.

4.3.3 Intervenções em Altamira

Os investimentos em infraestrutura e planejamento a serem realizados em Altamira,

se justificam conforme NORTE ENERGIA (2011) em função das carências identificadas. A

vinda de novos habitantes, a relocação de moradores e a implantação da vila residencial

promoverão alterações na dinâmica de funcionamento da área urbana, na infraestrutura de

saneamento, na oferta de serviços públicos, nos fluxos internos e estrutura de mobilidade.

Está previsto a reforma ou ampliação de 14 escolas obras em três postos de saúde e

no hospital municipal. Além da construção do aterro sanitário.

A cidade de Altamira, pólo regional receberá a maior parte do afluxo populacional

atraído para a região (cerca de 95.000 pessoas), conforme descrito no EIA (BRASIL. MME,

2009a).

A área atingida pelo reservatório do Xingu em Altamira ira abranger parcelas das

bacias dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas planícies de inundação naturais do rio Xingu e

respectivos igarapés, estando, portanto sujeitas a inundações periódicas em função do regime

hídrico desses cursos d’água. Essas áreas encontram-se atualmente ocupadas de forma

irregular por populações de baixa renda carentes de infraestrutura e saneamento básico, sendo

expressiva a ocorrência de palafitas.

Quanto à implantação da vila residencial, pretende-se integrar a mesma ao espaço

urbano de Altamira evitando assim a segregação sócio-espacial característica dos exemplos

em que à vila residencial fora implantada separada das comunidades pré-existentes.

Altamira apesar de ser considerada a principal cidade da região do Xingu,

constituindo-se assim enquanto atrativo ao contingente migratório esperado em função da

implantação do AHE Belo Monte, ainda apresenta inúmeras carências em termos

infraestruturais sendo necessários investimentos relativos a esse aspecto visando suprir as

demandas geradas pelo incremento populacional.

71

Tabela 1 - Fluxo migratório previsto para o período 2010-13.

Fonte: BRASIL. MME, 2009a.

A área de abrangência do Programa de Intervenção em Altamira corresponde ao seu

espaço urbano, destacando-se o entorno das bacias dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas

além da Orla do rio Xingu. Os impactos provenientes das ações do Programa de Intervenção

em Altamira terão efeitos sobre a infraestrutura da cidade, principalmente no que diz respeito

á ocupação do solo urbano, sistema viário, drenagem, saneamento básico, abastecimento de

água, relocação dos atingidos, localização da vila residencial e resíduos sólidos (aterro

sanitário).

No que diz respeito ao uso e desenho do solo urbano, a proposta do EIA (BRASIL.

MME, 2009a) se estrutura inicialmente a partir da concepção de recuperação urbanística e

ambiental da orla do Xingu com a valorização das edificações de interesse histórico ou

arquitetônico, a construção de cais fixos e flutuantes para embarque e desembarque aja visto o

acesso às embarcações que hoje é feito diretamente pela praia, com o enchimento do

reservatório até a cota de 97,00 m fica inviabilizado; Transformação da área atualmente

ocupada na bacia do igarapé Altamira em um parque ecológico e de lazer a ser contornado por

uma avenida perimetral associada a uma galeria de cintura e diques com um canal de

amortecimento das cheias do Xingu e dos igarapés que formara ainda uma barreira de

proteção ao parque e suporte às estruturas de drenagem e saneamento propostas. A utilização

dessa área pela população será um impeditivo a mais para possíveis ocupações irregulares;

Quanto à bacia do Ambé, a proposta vem a reforçar urbanisticamente a Orla do Xingu,

mantendo parte da utilização atual da área quanto a atividades ligadas ao rio, como peixarias,

fabricas de gelo, estaleiros, atracadouros de embarcações; para o Panelas, a proposta

considera o ordenamento do uso do solo, garantindo a não ocupação das faixas de proteção

ambiental e a recuperação da vegetação; quanto à manutenção do traçado da Transamazônica,

transformada em via urbana, a proposta sugere a utilização de aterro hidráulico para elevar o

nível da rodovia no trecho em que a mesma cruza o igarapé Ambé.

72

Para o sistema viário de Altamira prevê-se conforme EIA (BRASIL. MME, 2009a)

uma rearticulação do mesmo envolvendo circulação e drenagem, ao longo das áreas sujeitas a

inundações periódicas, por meio da implantação de vias com galerias de cintura; A construção

de pontes objetivando restabelecer a ligação entre as margens do igarapé Altamira que terá

interrompida a ligação viária entre as suas margens; Continuação do programa de

pavimentação, incluindo ou complementando a sinalização vertical e horizontal; Separação do

trafego de pedestres do veicular e neste separar ainda o trafego das bicicletas dos veículos

motorizados assegurando assim mais segurança ao sistema viário.

O projeto de drenagem urbana prevê a implantação de três tipos de sistemas de

drenagem de águas pluviais conforme os tipos de deságue identificados:

a) Nas áreas que drenam para o rio Xingu parcelas dos bairros Jardim Independente I

e II, Premen, Esplanada e Centro, isto é, cuja topografia tem declividade na direção da área

ribeirinha. Nesse caso haverá adequação da rede existente em termos de dimensão das

galerias e seu sistema de deságüe, de forma que o mesmo se faça por gravidade ou por meio

da utilização de bombas em casos extremos de cheias no rio Xingu;

b) Nas áreas que drenam para o igarapé Altamira, bairros Sudam I, parte do Centro,

Jardim Altamira e parcelas dos bairros Brasília e Aparecida. Nesse caso haverá a construção

de um dique em elevações variáveis ao longo do igarapé respeitando o remanso e garantindo

100 m de elevação enquanto limite de área afetada. Paralelo ao dique será implantado um

canal ou galerias de cintura com dimensões para: receber as águas pluviais da bacia de

drenagem correspondente e amortecer esses eventos em relação à área urbana quando os

níveis do igarapé não possibilitarem a drenagem por gravidade, evitando assim a implantação

de sistemas de drenagem por bombeamento.

c) Nas áreas que drenam para o igarapé Ambé, bairros Aparecida, Boa Esperança,

Mutirão e Alberto Soares o sistema sugerido é o mesmo proposto para o igarapé Altamira.

O projeto de esgotamento sanitário e tratamento de efluentes propõe segundo EIA

(BRASIL. MME, 2009a) a implantação de um sistema de coleta e tratamento de esgoto para a

cidade. Um sistema descentralizado de tratamento de esgoto, admitindo-se a implantação de

quatro estações de bombeamento que encaminham os efluentes para tratamento em áreas a

serem definidas. O sistema funcionara por meio de bacias receptoras que deverão ser

acompanhadas de estações elevatórias (ETEs) situadas no ponto mais baixo da área. O

processo em questão é 100% biológico, baseado no uso de mecanismos naturais de

decomposição da matéria orgânica por microorganismos. O efluente final é um liquido

73

transparente, quase inodoro com características que permitem que ele seja lançado nos corpos

receptores e/ou sistema de captação de águas pluviais. Esse sistema de tratamento de esgoto

possui segundo EIA (BRASIL. MME, 2009a) eficiência de remoção de matéria orgânica

superior a 95%. O tipo de tratamento de esgoto proposto apresenta as seguintes vantagens:

a) Compacto;

b) Produz 60% menos de lodo;

c) Simplicidade operacional;

d) Baixo custo;

e) Baixo impacto ambiental;

f) Reaproveitamento do biogás;

g) Possibilidade de instalação em edificações e áreas públicas.

As ETEs encontram-se associadas às bacias de contribuição definidas com base nas

bacias de drenagem dos principais corpos receptores da cidade, que por sua vês sinalizam os

setores que deverão drenar os esgotos por gravidade, quando estiverem implantadas as redes

de coleta de efluentes. A proposta aqui descrita prevê a instalação de uma elevatória de

esgoto em cada setor, à exceção do setor 1, para o qual se prevê duas elevatórias, tendo em

vista sua maior extensão. Uma dessas estações devera receber os efluentes dos bairros Jardim

Independente I, Premen e Esplanada e a outra dos bairros Ibisa e Jardim Independente II. No

setor 2, serão esgotados os bairros Bela Vista, Jardim Uirapuru, Sudam I e Centro; No setor 3,

os bairros Jardim Altamira, Nova Brasília e Brasília, no setor 4, os bairros Boa Esperança,

Aparecida, Liberdade e Mutirão e no setor 5, os bairros Colinas e Alberto Soares.

A implantação da rede de abastecimento de água para as áreas objeto de

reassentamento populacional, para as áreas destinadas às habitações dos funcionários do

empreendimento (N5 E N6), bem como aquelas a serem ocupadas pela população afluente à

implantação do AHE Belo Monte, corresponde no entender do EIA (BRASIL. MME, 2009a)

a aproximadamente 50% da área da cidade. Há ainda a previsão da implantação de nova

captação e estação de tratamento. A captação, o tratamento e a distribuição terão que ser

readequados no que tange a quantidade de unidades servidas, considerando a população atual

e a futura, atraída pelo empreendimento. A nova captação devera ser em ponto diferente do

atual, a montante da área urbanizada.

A relocação dos atingidos pela formação do reservatório do Xingu devera ocorrer em

74

área que lhes proporcione melhores condições de habitação, infraestrutura urbana,

institucional, saneamento além de permitir que a população relocada mantenha os vínculos de

sua rede social. A proposta de relocação apresentada pelo EIA (BRASIL. MME, 2009a)

devera ser amplamente debatida com a população atingida, com representantes do poder

publico local e demais segmentos da sociedade (antes, durante e após o reassentamento) já

que acarretara em grandes alterações na estrutura urbana de Altamira. Estima-se a necessidade

de cerca de 160 ha para o reassentamento das famílias o reassentamento será realizado em

obediência aos seguintes critérios:

a) Lotes com tamanho médio de 300 m²;

b) Definição das áreas de acordo com o Plano Diretor;

c) Declividade do terreno inferior a 30%;

d) Distância máxima do local de origem estipulada em 2 km;

e) O tamanho mínimo das residências devera ser de 60 m² com 2 e 3 quartos;

f) Custo compatível;

g) Presença institucional (saúde, educação, lazer e segurança);

h) Estrutura adaptada ao clima, valores estéticos e culturais locais;

i) Vias pavimentadas, drenadas, iluminadas e com esgotamento sanitário;

j) Sistema de abastecimento de água potável;

k) Espaços destinados à instalação de atividades comerciais.

As áreas sugeridas para a relocação somam segundo EIA (BRASIL. MME, 2009a)

aproximadamente 4.200 m² (aproximadamente 2,5 vezes a área demandada para a relocação)

com isso consegue-se atender também à demanda gerada pela migração, podendo vir a abrigar

no total cerca de 10.000 lotes de 300 m².

Tabela 2 - População a ser Remanejada em Função da UHE Belo Monte.

75

A vila residencial com cerca de 500 residências para 2.000 pessoas devera ser

segundo EIA (BRASIL. MME, 2009a) incorporada ao espaço urbano de Altamira, e não ser

implantada enquanto um “enclave” no interior da cidade. Também nesse caso, a exemplo das

áreas destinadas a relocação populacional, deverão ser utilizados os vazios urbanos em

conformidade ao que diz o Plano Diretor. As residências componentes da vila residencial

serão dispostas em diferentes áreas, que serão integradas ao tecido urbano de Altamira

enquanto novos bairros. As áreas sugeridas para a implantação da vila residencial somam

aproximadamente 700.000,00 m² e comportam não apenas as 500 habitações, em lotes de 300

m², como também pelo menos outros 1.100 lotes do mesmo tamanho que serão

disponibilizados para o mercado. Há também a possibilidade de construção de habitações

coletivas de ate três pavimentos em áreas situadas na região central da cidade, conforme

proposta de revisão do Plano Diretor.

Mapa 5 - Área de reassentamento populacional - A1.

Fonte: Norte Energia, 2011.

76

Mapa 6 - Área de reassentamento populacional - A2.

Fonte: Norte Energia, 2011.

77

Mapa 7 - Área de reassentamento populacional – A3.

Fonte: Norte Energia, 2011.

78

Mapa 8 - Área de moradia dos trabalhadores da UHE Belo Monte – AMT.

Fonte: Norte Energia, 2011.

Quanto aos resíduos sólidos com o vertiginoso acréscimo populacional gerado pela

implantação do AHE Belo Monte o sistema de limpeza urbana do município terá que ser

reestruturado para ser capaz de atender as demandas decorrentes do aumento do volume de

produção de lixo. Tendo por base os dados de expectativa de atração populacional estima-se

no entender do EIA (BRASIL. MME, 2009a) que serão geradas entre 52 t/dia e 72 t/dia de

resíduos sólidos urbanos durante o período previsto para a execução das obras.

Serão necessários investimentos em novos equipamentos de coleta e de limpeza

publica, contratação e qualificação de pessoal, redefinição de roteiros e horários de coleta de

resíduos e a realização de campanhas de conscientização junto à população.

Este programa deverá ser desenvolvido segundo EIA (BRASIL. MME, 2009a) por

meio de parceria entre os empreendedores do AHE Belo Monte e o poder público,

considerando as seguintes participações:

79

a) A cargo do empreendedor:

- Sistema Viário e parque ecológico e de lazer;

- Relocação dos atingidos;

- Sistema de água e esgoto;

- 50% dos custos de implantação do aterro sanitário além dos custos do projeto.

b) A cargo do poder público:

Complementação dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário,

bem como do aterro sanitário, além da operação desses sistemas.

A implantação do Programa de Intervenção em Altamira deve ter inicio a partir da

fase de planejamento, com o debate das propostas com os atingidos e a sociedade local.

Seguindo-se da fase de construção da infraestrutura de apoio, a implantação das habitações

para receber os funcionários da obra do AHE Belo Monte, implantação do novo sistema de

abastecimento de água e para destinação final dos resíduos sólidos. Na fase de construção das

obras principais deverão ser construídas as habitações para o reassentamento, feita à relocação

da população atingida, reurbanização das áreas liberadas com a reestruturação da

infraestrutura de saneamento de Altamira.

O Programa de Intervenção em Altamira prevê ainda conforme PBA (NORTE

ENERGIA, 2011) os seguintes objetivos dentre os quais destacamos: o restauro da orla fluvial

e a recuperação dos igarapés Altamira, Panelas e Ambé.

O Programa de Intervenção em Altamira é ainda composto por projetos:

a) Projeto de reurbanização da orla do rio Xingu em Altamira;

c) Projeto de requalificação dos igarapés de Altamira;

Localizada em grande parte na planície fluvial do Rio Xingu, a malha urbana de

Altamira, apresenta segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) uma serie de deficiências e

lacunas referentes à infraestrutura urbana e equipamentos públicos, oriundas do processo de

crescimento espontâneo, não planejado. Assim moram em áreas impróprias, de risco (sujeita a

enchentes) ou irregulares do ponto de vista legal (ocupação em APPs), milhares de pessoas,

que por forca da formação do reservatório da UHE Belo Monte terão que ser remanejadas.

A área atingida pelo reservatório do Xingu em Altamira corresponde às parcelas

urbanas dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas. Essas áreas são conforme PBA (NORTE

ENERGIA, 2011) ocupadas, de forma irregular por populações de baixa renda com grande

carência de infraestrutura e saneamento básico, sendo expressiva a ocorrência de palafitas. A

80

degradação sanitária e ambiental também é grande nesses locais.

É objetivo desse projeto, segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011), elaborar

diretrizes necessárias para o reassentamento das pessoas que deverão ser removidas.

O Projeto de Reurbanização da Orla do Rio Xingu em Altamira é pensado conforme

PBA (NORTE ENERGIA, 2011) enquanto instrumento que visa à requalificação de área onde

no geral os núcleos urbanos costumam se organizar seja entorno de um centro, onde estão

localizadas as principais instalações administrativas, municipais, estaduais ou federais, sejam

onde estão concentrados comércio e serviços e também o principal ponto de encontro dos

habitantes da cidade.

A reurbanização de áreas centrais cria possibilidade de modificação das relações que

a população estabelece com seus espaços de convívio. Segundo o PBA (NORTE ENERGIA,

2011) embora disperso e fragmentado, o centro de Altamira e a orla fluvial reurbanizada

poderão propiciar espaços de uso publico e coletivo que caracteriza a cidade como local da

convergência e de encontro, podendo incrementar inclusive a economia do turismo.

O foco na orla de Altamira visa valorizar um espaço de transição entre dois

ambientes diversos, mas complementares, e que juntos formam a realidade sócio-espacial e

ambiental de Altamira: o rio e a cidade.

Com a elevação do nível da água no rio Xingu para a cota 97 m, a orla da área

central da cidade de Altamira sofrerá alterações, com a permanente inundação da área que é

hoje o principal atracadouro da cidade. Além da perda de estruturas existentes nessa área, será

necessária a remoção de alguns estabelecimentos comerciais.

A reestruturação da orla da área central de Altamira prevista no EIA (BRASIL.

MME, 2009a) - volume 33, item 12.10.1 - deverá ocorrer por meio da melhoria do acesso às

embarcações, e da reurbanização da Av. João Pessoa, com a constituição de um eixo de

atividades de recreação, lazer e cultura ao longo da orla, restauro dos edifícios de relevância

histórica.

O Projeto de Requalificação dos Igarapés e APPs de Altamira, por sua vez, vêm ao

encontro segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) da preocupação com a preservação

ambiental em áreas urbanas, seja por meio de estudos acadêmicos, políticas públicas ou de

representantes da sociedade civil organizada, como forma alternativa ao processo de

urbanização que vem ocorrendo sobre os ecossistemas naturais.

Intervenções urbanísticas que visem recuperar nos cidadãos a consciência ambiental

se fazem necessárias no sentido de ampliar as áreas verdes. Fazem parte de estratégias

81

integradas multidisciplinares, para mudar o paradigma da urbanização.

Os igarapés afluentes do Rio Xingu, que perpassam o trecho urbano de Altamira,

sofreram segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) mudanças permanentes após o

enchimento do reservatório, passando a ser área alagada constante, com cota 97m. São três os

cursos d’água em questão – os igarapés Panelas, Ambé e Altamira – com diferentes níveis de

ocupação.

O igarapé Altamira, encontra-se conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) em

situação de degradação ambiental alarmante, necessitando de ações urgentes de recuperação

de seus leitos e margens. O EIA (BRASIL. MME, 2009a) - volume 33, item 12.10.1 – propõe

a criação de um parque ecológico na área do igarapé Altamira e a recomposição da cobertura

vegetal das demais áreas desocupadas. Este parque parte do principio que a utilização efetiva

dessa área pela população será um impeditivo para as ocupações irregulares.

O Projeto de Reestruturação Urbana apresenta-se conforme PBA (NORTE

ENERGIA, 2011) enquanto um conjunto de intervenções urbanísticas a serem desenvolvidas

na cidade de Altamira e implica em transformações substanciais na malha urbana, que devido

a sua complexidade requer a construção de um processo integrado no intuído de vir a fazer

frente às novas demandas. As dinâmicas geradas pelas novas intervenções urbanísticas

estabelecerão relações com a estrutura urbana já existente. Ressalta-se ainda que o Projeto de

Reestruturação Urbana poderá fornecer subsídios para a revisão do Plano Diretor da cidade de

Altamira.

4.3.4 Intervenções em Vitória do Xingu

O Programa de Intervenção em Vitória do Xingu, conforme o estabelecido no Plano

de Requalificação Urbana do EIA (BRASIL. MME, 2009a), concentra o maior numero de

ações, são 40 projetos nas áreas de habitação, educação, saneamento básico, saúde e esporte

que visam mitigar os impactos a serem causados pelo aumento do fluxo migratório e pela

implantação da vila residencial de Santo Antonio do Belo Monte, com 2.500 habitações

destinadas a servir de residência para cerca de 10.000 trabalhadores do AHE Belo Monte

(níveis N2, N3e N4) que deverá ser integrada a malha urbana do município.

A proposta de integração da vila residencial a área urbana de Vitória do Xingu tem

como finalidade evitar a ocorrência dos seguintes problemas:

A implantação de um núcleo urbano (vila residencial) isolado para uma população

82

mais que duas vezes superior a da sede do município de Vitória do Xingu, dotado de

infraestrutura de comercio e serviços, levaria, inevitavelmente, a um esvaziamento da

hierarquia funcional da sede municipal em questão, pois o papel da vila no processo das

trocas socioeconômicas será muito maior que o da cidade hoje existente.

A vila isolada tendera ainda, a propiciar a ocupação irregular em seu entorno,

agravando, o problema da hierarquia funcional e acarretando problemas para a fiscalização do

uso e ocupação do solo por parte do poder publico municipal.

Por outro lado, a vila residencial isolada terá um prazo de existência vinculado à

duração das obras do empreendimento, vindo a ser desativada após o encerramento da etapa

de implantação do empreendimento.

O aumento do fluxo migratório para a região tendera a agravar os impactos,

justificando a necessidade de reforço da hierarquia funcional de Vitória do Xingu como forma

de fazer frente aos impactos provenientes da implantação do AHE Belo Monte.

Deve-se considerar ainda segundo EIA (BRASIL. MME, 2009a) que além das 2.500

residências para funcionários da obra, está previsto a construção de mais 100 unidades

habitacionais, destinadas aos moradores da localidade de Santo Antonio que serão relocados

em função das obras no sitio Belo Monte e que também devem ser incorporadas ao espaço

urbano de Vitória do Xingu.

A proposta de implantar a vila residencial integrada à cidade de Vitória do Xingu se

da por meio das áreas destinadas às atividades de comercio, serviços, bem como dos

equipamentos de uso institucional destinados a atender os funcionários do AHE Belo Monte e

seus familiares. Outro elemento de integração espacial constitui-se das áreas de conservação e

lazer a serem instaladas ao longo dos igarapés do Falcão (Água Boa) e do Gelo (Gerador).

A área de abrangência do Programa de Intervenção em Vitória do Xingu corresponde

ao seu espaço urbano, destacando-se o entorno do igarapé do Gelo, ou do Gerador que tem

suas planícies inundáveis ocupadas irregularmente por palafitas, à área portuária que também

apresente a incidência desse tipo de ocupação e à área de expansão urbana da cidade,

considerando nessa ultima a área de implantação da vila residencial.

Os impactos provenientes das ações do Programa de Intervenção em Vitória do

Xingu terão efeitos sobre a infraestrutura da cidade, principalmente no que diz respeito á

drenagem urbana, esgotamento sanitário e tratamento de efluentes, abastecimento de água e

resíduos sólidos (aterro sanitário).

Quanto ao sistema de drenagem, propõe-se a implantação de um sistema de

83

drenagem na cidade, a partir da construção de canais ou galerias de drenagem na área

ribeirinha, e sistemas de canaletas e bueiros nos arruamentos para escoar as cheias que

ocorrem na cidade, durante os períodos de cheia do rio Xingu.

As cheias afetam parte significativa da área urbana sendo, portanto necessária à

implantação de dispositivos de diques e canais de cintura nas áreas lindeiras aos igarapés, para

evitar as inundações.

Quanto ao esgoto sanitário e o tratamento de efluentes devera ser implantado uma

rede de esgotamento sanitário, bem como um sistema de tratamento por meio de lagoas de

estabilização para atender a toda a área urbana existente hoje e a sua futura expansão.

No que se refere à captação e distribuição de água em Vitória do Xingu, a proposta

do programa objetiva implantar um sistema de captação e distribuição de água para toda a

malha urbana hoje existente. Tal sistema devera ser integrado ao da vila residencial.

A viabilização das propostas deste programa ficara sobre a responsabilidade do

empreendedor. A cargo do poder publico ficara a operação dos sistemas de abastecimento de

água, esgotamento sanitário e tratamento de efluentes, bem como do aterro sanitário.

A implantação do Programa de Intervenção em Vitória do Xingu deve ter inicio a

partir da fase de planejamento, com o debate das propostas entre a sociedade e os

representantes do poder publico local. Seguindo-se, da fase de construção da infraestrutura de

apoio, a implantação das habitações para receber os funcionários da obra do AHE Belo

Monte, implantação do novo sistema de abastecimento de água e para destinação final dos

resíduos sólidos. Na fase de construção das obras principais será concluída a reurbanização da

cidade com a reestruturação da infraestrutura urbana (pavimentação, drenagem e sistema de

esgotamento sanitário).

Vitória do Xingu carece segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) de infraestrutura

e equipamentos básicos que garantam o atendimento da população existente. Os futuros novos

moradores, cujo contingente dobra a população atual, demandam espaço urbanizado,

equipamentos públicos, comércio, serviços e tudo aquilo que confere sustentabilidade ao

cotidiano de vida das famílias. Trata-se, portanto, de preparar Vitória do Xingu para esta nova

condição.

O Programa de Intervenção em Vitória do Xingu prevê que à população urbana de

cerca de 13.480 habitantes (IBGE, 2010) de Vitória do Xingu serão somados o contingente de

cerca de 10.000 novos moradores correspondentes ao quadro funcional e respectivas famílias

que irão ocupar os futuros alojamentos funcionais relativos à construção da UHE Belo Monte.

84

Trata-se de um Programa previsto no EIA (BRASIL. MME, 2009a) - volume 33,

item 12.10 -, em que as propostas de intervenção em Vitória do Xingu foram desenvolvidas

principalmente com base na análise dos impactos da implantação da vila residencial, para

2.500 residências e cerca de 10.000 pessoas (funcionários da Norte Energia) integradas à

malha urbana de Vitória do Xingu.

Assim como abordado no EIA (BRASIL. MME, 2009a) - volume 33, item 12.10.2 -,

o Programa de Intervenção em Vitória do Xingu deve estabelecer a reestruturação do espaço

urbano de acordo com os objetivos do Plano de Requalificação Urbana, com os seguintes

objetivos:

a) Fortalecer a hierarquia funcional da cidade de Vitória do Xingu, agregando a ela

novos investimentos e dinamizando-a como pólo comercial e de serviços de modo a compor

uma rede urbana mais equilibrada na AID da UHE Belo Monte, desafogando Altamira como

o principal polo atrator de população na região;

b) Aproveitar os eixos viários existentes, com destaque para a Transamazônica e PA

415, que liga Altamira a Vitória do Xingu, pavimentada em 2007, inclusive usufruindo as

melhorias a serem implementadas nesses eixos em função de sua utilização como

infraestrutura necessária às obras;

c) Proporcionar a otimização dos investimentos a serem realizados em infraestrutura

que, de outra forma, seriam dispersos entre uma vila isolada e a cidade de Vitória do Xingu;

d) Facilitar a fiscalização e a gestão do território evitando a dispersão de áreas

urbanizadas capazes de atrair população e gerar ocupação desordenada do solo e novas

demandas por infraestrutura;

e) Facilitar a utilização da infraestrutura urbana implantada após a desmobilização,

estando tal infraestrutura agregada à sede municipal;

f) Fortalecer Vitória do Xingu como polo regional aproveitando as oportunidades

oferecidas pelo empreendimento em termos de investimentos e geração de impostos;

g) Propor local para reassentamento da população da vila de Santo Antonio junto ao

sítio urbano de Vitória do Xingu.

Projeto de Saneamento

O sistema de abastecimento de água existente deve ser conforme PBA (NORTE

ENERGIA, 2011) todo revisado tanto na qualidade quanto na quantidade da água fornecida

de modo a atender 100% da população.

85

Estão sendo feitas obras na área para construção de uma ETA e dois poços profundos

com previsão de término de obras em dezembro 2010. Ainda a previsão de dois reservatórios

elevados para abastecimento da área. Estas obras podem ser desativadas ou ampliadas

conforme ampliação do sistema de abastecimento de água previsto.

A previsão de demanda para o abastecimento de água corresponde segundo PBA

(NORTE ENERGIA, 2011) a um consumo per capta de 170 litros por dia referente à

população residente na área urbana do município, já prevendo a implantação da UHE Belo

Monte, que durante o pico de sua obra acrescentara a população da sede de Vitória do Xingu

algo em torno de 20.400 habitantes.

A população de projeto no pico da obra para o município de Vitória do Xingu será

segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) de 25.007 habitantes com uma vazão de

abastecimento de 59,05 l/s.

Considerando a vazão do rio Xingu após a implantação da UHE Belo Monte que

conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) será de 700.000 l/s, e uma relação entre a vazão

de captação e a vazão do manancial será menor que 0,01% (59,05/ 700.000 l/s), o que não

afetará de forma alguma a disponibilidade de água no Rio Xingu.

O sistema de abastecimento de água a ser implantado no município de Vitória do

Xingu será composto de captação, reservação e distribuição.

Será realizada a captação superficial no Rio Tucuruí, pois possui vazão suficiente

para o abastecimento do município. A vazão necessária para captação no pico de obra será

segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) de 5.101 m³/dia e para o fim de plano após o

período de obras da UHE Belo Monte será de 2.912 m³/dia.

Será necessário o tratamento da água, através de uma Estação de Tratamento de

Água. A estação seguirá os padrões de potabilidade exigido pelo Ministério da Saúde através

da Portaria nº 518 de 25 de março de 2004.

Serão instalados 3 reservatórios na área de Vitória do Xingu. Sendo o primeiro

instalado na área da ETA para atendimento do setor centro e também servir de passagem para

abastecimento dos reservatórios das áreas de expansão.

O segundo reservatório será implantado no setor expansão 1 e o terceiro reservatório

implantado no setor expansão 2.

A rede de distribuição é destinada a colocar água potável à disposição dos

consumidores, de forma contínua, em quantidade e qualidade.

86

Metas e objetivos a curto prazo relativos ao sistema de abastecimento de água de

Vitória do Xingu:

a) Implantação da estação de tratamento de água bruta para garantir a distribuição de

água potável com qualidade e quantidade necessária para atender o município;

b) Implantação da captação e do sistema de bombeamento de água bruta, além da

respectiva adutora, que serão responsáveis em conduzir água bruta na quantidade necessária

até a futura estação de tratamento de água;

c) Implantação do sistema de reservação e de distribuição para atendimento constante

das demandas de água potável do município na quantidade e pressão adequadas;

d) Universalização do Sistema de Abastecimento de Água.

Metas de Médio e Longo Prazo.

a) Manutenção do Nível de Atendimento;

b) Redução das Perdas.

O Rio Xingu é um dos principais mananciais de superfície da região, quanto à

qualidade da água da cidade de Vitória do Xingu deverá ser desenvolvido um plano de coleta

e amostragem destas águas e um plano de ação caso ocorram alterações nos níveis desejáveis

de qualidade das águas brutas, tratadas e distribuídas para o povoado.

Os serviços de esgotamento sanitário em Vitória do Xingu são precários, o sistema

existente deve ser eliminado com a implantação de rede de esgotamento sanitário e estação de

tratamento de esgoto.

A população de projeto no pico de obra para o município de Vitória do Xingu será

segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) de 25.007 habitantes com uma vazão média de

esgotamento de 39,36 L/s.

O sistema de esgotamento sanitário de Vitória do Xingu será composto de rede

coletora de esgoto e estação de tratamento de esgoto. Serão ainda utilizadas bacias de

esgotamento, caimentos naturais dos terrenos para onde os efluentes são direcionados por

gravidade. Em função da topografia, atual ocupação do município e as possíveis áreas de

expansão, foram pensadas três sub-bacias.

A sub-bacia 1 a maior, corresponde à área ocupada do município, recebe o efluente

das sub-bacias 2, e 3 e encaminha por gravidade até a Estação de Tratamento de Esgoto

localizada na mesma sub-bacia.

Serão instaladas 2 estações elevatórias de esgoto, localizadas nas bacias de mesmo

nome. A estação elevatória EE3 recalcará seus efluentes para a sub-bacia 1. Na sub-bacia 1

87

será implantada a estação elevatória, EE1, na entrada da ETE que recalcará os efluentes para o

sistema de tratamento.

O sistema de tratamento de esgoto terá uma alta remoção de carga orgânica e

nutrientes sendo possível o lançamento do efluente no Rio Tucuruí.

Metas e objetivos em curto prazo relativos ao sistema de esgotamento sanitário de

Vitória do Xingu:

a) Implantação de rede coletora e estação de tratamento de esgotos (Sistema de

Esgotamento Sanitário) para eliminar as fossas rudimentares e os lançamentos de esgotos “in

natura” no Rio Xingu;

b) Universalização do Sistema de Esgotamento Sanitário.

Em médio e Longo Prazo.

c) Manutenção do Nível de Atendimento.

O empreendedor (Norte Energia) é responsável pela implementação do PBA assim

como de seus projetos e programas. Sendo recomendadas as seguintes parcerias:

a) Prefeitura Municipal de Altamira e Vitória do Xingu;

b) Organizações da sociedade civil, como associações de bairros, associações de

comerciantes e ONGs que atuam na área urbana dos municípios citados.

4.4 CRESCIMENTO URBANO DOS MUNICÍPIOS DE ALTAMIRA E VITÓRIA DO

XINGU NO PERÍODO DE 1990 A 2010

O Município de Altamira, conforme EIA-RIMA (BRASIL. MME, 2009b); PBA

(NORTE ENERGIA, 2011); BRASIL. GF (2010) e IBGE (2010) pertence à Microrregião de

mesmo nome e tem uma forma de faixa, no sentido Norte-Sul, larga na base e estreitando-se

no seu topo onde se situa a sua sede com área de 51,98 km², cuja localização corresponde ao

centro do Estado do Pará.

88

Mapa 9 - Localização da Cidade de Altamira no Estado do Pará.

Fonte: BRASIL. MME, 2009a.

Situada na margem esquerda do Rio Xingu no início do trecho, desse rio, conhecido

como “Volta Grande” (Latitude de 3°2’ e Longitude de 52°2’). Distando 720 km da capital do

Estado do Pará, seu principal acesso rodoviário é a rodovia Transamazônica (BR-230), pela

rota que passa pela cidade de Tucuruí. O acesso aeroviário é através da rota Belém-Altamira,

que dura aproximadamente uma hora, e o hidroviário é indireto, através do Porto Dorothy

Stang, na cidade de Vitória do Xingu e da rodovia PA-415 que interliga essas duas cidades.

Limita-se com quase todos os municípios da região do Xingu, com exceção de

Anapu, e com os municípios de Medicilândia e Uruará. É o maior município do mundo em

extensão territorial (159.695,94 km²) que equivale à soma das áreas dos Estados de Alagoas,

Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e à metade do Estado de Pernambuco.

Sua ocupação não indígena conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) estabeleceu-

se segundo dois períodos claramente identificáveis. O primeiro remonta ao século XVIII e se

caracterizou pela ocupação das áreas ribeirinhas, sendo o segundo tipicamente

contemporâneo, estando associado aos processos de colonização dirigida a partir da década de

1970.

O primeiro período teve sua estrutura espacial herdada do período colonial,

expandindo e se consolidando com o boom da borracha e com a exploração de outros

produtos vegetais, até meados da década de sessenta do século XX. Trata-se segundo PBA

(2011) de um período iniciado com a conquista e ocupação portuguesa do vale do Amazonas

e de seus afluentes – implantação de fortificações militares e missões religiosas – moldado

89

pela exploração extrativista, alicerçado no sistema de aviamento e tendo como suporte uma

rede de núcleos articulados pela circulação fluvial.

O segundo período aconteceu nos marcos do processo de colonização dirigida da

década de 70 do século XX, com a ocupação das áreas de terra firme, nas margens das

estradas. Esse período foi no entender de PBA (NORTE ENERGIA, 2011) caracterizado pela

ruptura e redefinição da estrutura anterior e se alicerçou na agropecuária, na colonização

oficial e na interiorização do povoamento por meio de um sistema planejado e misto de

ocupação do território – urbanismo rural ou “rurbanismo” – tendo no transporte rodoviário o

principal eixo articulador da espacialidade regional.

A instalação do povoado de Altamira remonta segundo PBA (NORTE ENERGIA,

2011) à época colonial (Séc. XVIII) e possibilitou o contato e acesso à região do Alto Xingu

pela via fluvial Xingu Iriri, bem como a comunicação e transporte de mercadorias pela rede

portuária da época, em direção ao porto de Belém. Sua elevação à condição de município

ocorreu em 1912, por meio do decreto nº 1852, tendo passado por uma complexa dinâmica.

A região, no entanto, permaneceu estagnada economicamente até o final do século

XIX. Conforme IDESP (2011a) a estagnação da economia amazônica ocorreu até 1870. Os

conflitos à época da Independência e o movimento nativista da Cabanagem acirraram o

contexto adverso pelo qual passava o Norte brasileiro, que conheceu um refluxo da força de

trabalho e a depauperação de sua frágil atividade econômica. Quando então teve início a

“economia da borracha”. Essa nova dinâmica estimulou a produção de uma nova estrutura

espacial no território.

Tal estruturação segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) se estabeleceu tendo

como centralidade a cidade de Altamira, onde se concentrava a produção extrativa da

borracha e de onde a produção partia no lombo de animais até o Porto de Vitória, entreposto

comercial, cujo papel principal era a redistribuição no âmbito dos fluxos ascendentes e

descendentes de mercadorias. É interessante destacar ter ocorrido, nesse contexto, a

construção da ligação rodoviária entre Altamira e Porto de Vitória, estrada que hoje liga essa

cidade à sede do município de Vitória do Xingu. Com o novo declínio da borracha, a partir de

1945 com o fim da Segunda Guerra Mundial o interesse externo pela borracha nacional cessa

e como o Governo brasileiro não havia se preocupado em fomentar um efetivo plano de

desenvolvimento para a região a crise econômica instaurou-se e outras atividades emergiram a

maioria delas no âmbito do extrativismo, setor até então, historicamente, preponderante na

região.

90

A intensificação da ocupação das localidades em questão data do início da década de

1970 e ocorreu na esteira da política militar voltada ao desenvolvimento da Amazônia

promovida, especialmente, pela construção de rodovias como a Santarém-Cuiabá (BR-163) e

a Transamazônica (BR-230). Esta política, centrada no investimento no setor agropecuário,

tinha como objetivo diminuir a tensão fundiária, por meio do incentivo econômico e da

integração das rodovias sem, contudo, privilegiar qualquer incentivo expressivo ao pequeno

produtor. Grandes projetos foram criados pelo Governo Federal, além de instrumentos

creditícios e incentivos fiscais que estimulariam o investimento na Amazônia.

Remanescente do primeiro período, a cidade de Altamira foi conforme PBA

(NORTE ENERGIA, 2011) submetida a um processo de colonização pelo INCRA que, com

base na estrutura preexistente da cidade, induziu o seu revigoramento e a alçou como centro

polarizador do conjunto de novos núcleos urbanos regionais, planejados e espontâneos,

emergentes do Plano Integrado de Colonização (PIC).

O padrão de ocupação da cidade foi reestruturado a partir da implantação do PIC,

passando a associar o assentamento de colonos nos lotes rurais e o assentamento de colonos

em lotes urbanos, compondo um plano urbano-rural de ocupação territorial. Assim a cidade de

Altamira cresceu e consolidou sua função de pólo regional tendo em seu entorno próximo as

agrópolis e agrovilas instaladas ao longo da rodovia Transamazônica, articulando as

atividades econômicas – agricultura e indústria – e as condições de dinamização dos mercados

– produção/ consumo, produção/ comercialização, população/ administração pública.

Deste modo, as mudanças ocorridas em meados da década de 1970 no planejamento

da política estatal para a Amazônia reorientaram o processo de ocupação desse território, que

passou a ter segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) a empresa agrícola como centralidade.

Com isso, Altamira passou a ser um dos 15 polos agropecuários e agro-minerais projetados

para o Estado do Pará.

Na realidade, a colonização oficial mudou no entender do PBA (NORTE ENERGIA,

2011) significativamente a região de Altamira, pois provocou a ruptura brusca no ritmo da

vida econômica local e regional. A partir daí, o foco dos investimentos foi direcionado aos

setores infraestruturais (agrovilas e agrópolis e estradas), a agropecuária alterou o padrão de

ocupação do espaço que a tradicional economia extrativista deu às atividades agrícolas e

pecuárias. Altamira, nessa ocasião, iniciou um processo de revigoramento urbano, alicerçada

em uma nova base econômica. Esta situação propiciou a expansão da estrutura física da

cidade de Altamira, que se fortaleceu como espaço da produção de um novo setor central de

91

comércio e serviços e bancos, novos bairros residenciais, além dos tradicionais bairros de

beira-rio.

Na segunda metade da década de 1980, localidades como a Ilha Fazenda e Ressaca

passaram a atrair pessoas para as atividades de garimpo; quando esta atividade entrou em

declínio, foi à cidade de Altamira que recebeu este contingente populacional. Altamira foi se

delineando como uma estrutura de serviços e enquanto tal, ponto de apoio social, político e

econômico regional. Historicamente a cidade findou por se consolidar como espaço de

recepção da mão de obra regional liberada.

Nos últimos trinta anos, vários projetos de investimento foram implantados na

Amazônia propiciando a atração de contingentes expressivos de população. Neste contexto, os

municípios da Transamazônica serviram de ponto estratégico para a colonização, dentre eles a

cidade de Altamira, que experimentou um crescimento e um adensamento demográfico

desordenados.

Figura 1 - Evolução urbana de Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

92

Desde 1980, Altamira apresenta conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) maior

percentual de população urbana do que rural (72%) que vive na sua sede municipal, principal

centro urbano de referência da região sob a influência da Transamazônica e do Rio Xingu no

estado do Pará. A dificuldade e precariedade dos acessos nessa região mantêm algumas áreas

isoladas e torna a cidade de Altamira o principal polo de referência e de atração de população.

O próprio traçado da cidade expressa esta condição na medida em que a expansão de sua

ocupação tem ocorrido a partir da invasão de áreas, chegando às bordas e margens dos

Igarapés, espaço sazonalmente inundado pelas “cheias do Xingu”.

Seu processo de ocupação foi marcado pela relação de desigualdade social e

segregação territorial. Diversas áreas ficaram sujeitas a ocupações desordenadas e ilegais, à

exploração e à degradação de seus recursos naturais. Durante a década de 70 devido aos

inúmeros projetos de colonização e ao fato de ser “Área de Segurança Nacional” a população de

Altamira aumentou, acarretando em um inchaço, uma vez que a cidade não estava estruturada

para receber os imigrantes que vinham de várias regiões do Brasil.

Quadro 13 - Evolução populacional de Altamira.

POPULAÇÃO RESIDENTE 1970 1980 1991 2000 2010

ALTAMIRA 15.345 46.496 72.408 77.439 99.075

Fonte: Adaptado de IBGE Censo Demográfico, 2010.

Com isso a ocupação expandiu-se, a partir da década de 1980 sobre as terras planas,

os morros, as baixadas e as áreas alagadiças próximas aos Igarapés Altamira, Panelas e Ambé,

que cortam a cidade. A região das Olarias no igarapé Ambé, ilustra o avanço continuado da

ocupação irregular em áreas de risco, sujeita às periódicas cheias do Rio Xingu, e também

áreas consideradas como de preservação permanente pela legislação ambiental.

93

Figura 2 - Moradias irregulares as margens dos Igarapés de Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

A expansão urbana se deu a partir de várias modalidades de assentamento:

assentamentos planejados, pela Prefeitura Municipal, pela Prelazia do Xingu e por empresas

privadas; e assentamentos espontâneos que correspondem às áreas de ocupação irregular.

Com a cidade crescendo em ritmo intenso aumentava a demanda por moradias.

Os assentamentos planejados datam da época em que cidade estava sob intervenção

federal, como “Área de Segurança Nacional”, e atraía grandes contingentes de mão de obra.

Nesse momento, foram construídas várias unidades habitacionais, a maioria para abrigar

funcionários públicos, a serviço dos novos órgãos da administração pública federal. Foram

então construídas vilas residenciais e urbanizadas, algumas áreas próximas do centro

comercial.

Com relação aos assentamentos instalados pela Prelazia do Xingu, esses datam

conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) do início da década de 1970 em terras adquiridas

anteriormente (1955) por esta entidade.

Os assentamentos privados foram implantados por empresas mobiliárias e

construtoras, em terrenos particulares e sem inundação. Os lotes urbanizados foram

negociados com a população de maior poder aquisitivo em áreas pertencentes a grandes

fazendeiros ou de herdeiros dos antigos coronéis da borracha. Eram lotes que dispunham de

uma melhor estrutura urbana, mais próximos do centro e por isso valorizavam rapidamente

PBA (NORTE ENERGIA, 2011).

94

O processo de assentamento espontâneo ocorreu segundo PBA (NORTE ENERGIA,

2011) nos moldes das tradicionais “invasões” e a chegada de moradores ao local ocorria, na

maioria das vezes, mediada por vínculos familiares e pela busca de melhores oportunidades

de sustento.

A cidade de Altamira enquanto espaço polarizador da região Xingu detém 75% da

população dos municípios IBGE (2010). O seu padrão de urbanização revela a expansão

desordenada de sucessivas ocupações advindas de movimentos migratórios que se encaixaram

sobrepostos uns aos outros, com a abertura e ampliação de áreas de periferia em processo de

crescimento.

Em 2009, segundo o IBGE (2010) o município de Altamira detinha a maior

população da região do Xingu (31%), o maior crescimento populacional entre 1991 – 2009, o

maior contingente populacional urbano e a maior taxa de urbanização. Em 2010, Altamira

apresenta população total de 99.075 sendo 84.092 (84,88%) no meio urbano e 14. 983

(15,12%) no meio rural. Mediante estes indicadores Altamira é considerada espaço de atração

demográfica, centro sub-regional e município com os melhores indicadores socioeconômicos

da região.

Gráfico 2 - Percentual da população por município da região do Xingu em 2009.

Fonte: IBGE apud BRASIL. GF, 2010.

95

Quadro 14 - População urbana e rural de Altamira.

MUNICÍPIO POPULAÇÃO URBANA RURAL

ALTAMIRA 99.075 84.092 (84,88%) 14.983 (15,12%)

Fonte: Adaptado de IBGE. Censo Demográfico, 2010.

Menos de 10% da população residente, perfazendo um total de 6.447 pessoas, não é

conforme PBA (NORTE ENERGIA, 2011) nascida na cidade; destes, a grande maioria é

proveniente de outros municípios do Pará e do Maranhão para a cidade de Altamira.

Altamira é uma cidade que tende a ser lugar de referência para a população migrante

que se movimenta pela região, a maioria oriunda da desmobilização de algumas atividades

(Garimpos, Serrarias, Pecuária e Olarias).

Além de migrantes principalmente oriundos de outros municípios do Pará e do

Estado do Maranhão, fazem parte da população cerca de 1.500 índios que vivem na cidade,

denominados, de índios desaldeados. Nesta categoria são incluídos índios de etnias indígenas

diversas e dispersas, que residem na cidade.

A construção da hidrelétrica de Belo Monte no trecho denominado Volta Grande do

Xingu deverá, conforme consta do EIA (BRASIL. MME, 2009a) impor grandes alterações no

cenário urbano, sócio econômico e na dinâmica da população residente e usuária da região.

O fluxo migratório esperado para a região do Xingu é superior a 96 mil pessoas

durante a construção da usina conforme estimativa PBA (NORTE ENERGIA, 2011), ou seja,

o impacto será considerável.

O impacto populacional será fortemente percebido nas cidades de Altamira e Vitória

do Xingu por possuírem maior atratividade, no sentido de ser a primeira polo regional e a

segunda a sede do município que abrigará a maior parte do empreendimento.

A previsão é que Altamira venha a apresentar um grande crescimento populacional

urbano, 31% em relação a 2010, a partir do ano de pico da obra em 2013. Segundo PBA

(NORTE ENERGIA, 2011) a população atraída alcançara 26.200 pessoas em 2013.

Com a implantação do CHE Belo Monte a infraestrutura urbana de Altamira terá que

passar por um processo de revisão, no que diz respeito ao seu atual sistema viário. Pará (2003)

comenta que o mesmo foi constituído a partir das ligações rodoviárias que induziram a

ocupação urbana – BR-230 (Transamazônica), PA-415 (Rodovia Ernesto Accioly) e Rodovia

Magalhães Barata.

Segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) são aproximadamente 530 ruas -

incluindo avenidas, travessas, passagens, acessos etc., sendo apenas 18,4% pavimentadas,

96

com piso intertravado ou com asfalto. A conservação em geral é precária, apenas as ruas da

área central apresentam boas condições.

Figura 3 - Eixos principais e secundários de Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

97

Figura 4 - Tipos de pavimentação em Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

Quanto ao saneamento básico a responsabilidade segundo PBA (NORTE ENERGIA,

2011) recai sobre a Divisão de Saneamento da Secretaria Municipal de Saúde e corresponde

aos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais e

coleta de lixo.

98

Figura 5 - Rede de Abastecimento de Água/Drenagem Pluvial e Pontos de descarte de

Resíduos.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

O abastecimento de água da cidade é realizado pela COSANPA – Companhia de

Saneamento do Pará – Regional Baixo Amazonas – que também opera outros sistemas

isolados, de pequeno porte, construídos pela prefeitura e operados pelas próprias comunidades

locais. O faturamento é realizado por estimativa, por categorias de consumo uma vez que não

existe cadastro.

O IBGE indicou através do Censo Demográfico 2000, que, do total de 14.326

domicílios urbanos recenseados, apenas 24% eram atendidos por algum tipo de rede geral. O

levantamento feito para o Plano Diretor em 2003 confirmou esse grave quadro que apresentou

ainda uma deterioração, onde das ligações implantadas, cerca de 5.300, apenas 2.500 unidades

continuavam no sistema, atendendo 10.300 habitantes, o que correspondia a 16% da

população urbana naquela época (65.000 hab.).

Os bairros mais distantes do centro urbano, na área de expansão da cidade não

dispõem desse serviço e a maioria da população (85,73%) conforme PBA (NORTE

99

ENERGIA, 2011) abastece-se em poços individuais para o uso doméstico. A situação é mais

agravante nos bairros periféricos em situações de risco, como no caso dos moradores das

margens dos igarapés. Algumas famílias possuem pequenos poços próximos dos igarapés, os

quais acabam sendo inundados no período de chuvas. A água, assim, recebe toda sorte de

contaminantes, inclusive coliformes fecais.

A cidade segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) não dispõe de rede de coleta e

tratamento de esgotos. Na área central da cidade que drena para o Rio Xingu os efluentes são

interligados à rede de águas pluviais, com sérias consequências para a qualidade da água do

corpo receptor. Na área dos igarapés o esgotamento sanitário é inexistente. Região

densamente ocupada por palafitas, as instalações sanitárias, quando existem, são pequenas

construções isoladas a poucos metros das casas, e os dejetos são jogados diretamente abaixo

das palafitas. Os hospitais, clínicas e postos de saúde despejam seus efluentes, sem nenhum

tratamento, nas galerias de água pluvial que deságuam no Rio Xingu. O lançamento do esgoto

doméstico é feito, na grande maioria dos domicílios em fossas rudimentares e poucos

domicílios possuem fossas sépticas.

Figura 6 - Fossa em área de ocupação irregular em Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

100

Figura 7 - Tubulação da Galeria de Drenagem Desembocando no Rio Xingu no Cais de

Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

Devido ao lançamento de esgoto “in natura” nos igarapés e no Rio Xingu, a

existência de fossas negras o lençol freático que abastece a cidade acaba sendo conforme PBA

(2011) contaminado prejudicando grande parcela da população que utiliza poços rasos

individuais como única alternativa para abastecimento de água.

Contudo as concentrações de coliformes foram maiores nos períodos de seca e

vazante e principalmente nos igarapés, não no rio Xingu indicando que a contaminação fecal

está restrita aos igarapés.

O manejo e a disposição de resíduos sólidos são de responsabilidade da Secretaria

Municipal Obras, Viação e Infraestrutura, através do Departamento de Limpeza Urbana que

realiza as atividades de coleta domiciliar e de entulhos, varrição e capina.

O destino desses resíduos sólidos tem sido, há pelo menos 13 anos, um terreno

situado na margem esquerda da Transamazônica, sentido Itaituba, na bacia do Igarapé

Altamira, área de expansão da cidade no bairro Liberdade. Não existe manejo adequado e a

previsão é que essa área se esgote em pouco tempo.

101

Figura 8 - Vista aérea do lixão de Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

O lixo não coletado é, na sua maior parte, queimado na propriedade e, em menor

escala, enterrado na propriedade. Além disso, o lançamento de dejetos nos rios e igarapés

constitui problema.

Os principais problemas de drenagem referem-se ao sistema de deságue, como a

drenagem de águas pluviais: a maior parte não dispõe de redes de drenos e bueiros e o excesso

de águas pluviais escorre pelas vias e canaletas improvisadas. Apenas a área central da cidade,

que drena para o Rio Xingu, possui rede de drenagem de águas pluviais, com os bueiros

desaguando acima do nível do Rio Xingu.

No que diz respeito ao uso do solo, em Altamira ele é diversificado, apresentando

além dos usos residenciais (que predominam), comerciais e de serviços básicos, usos para o

lazer, institucionais, culturais e industriais.

102

Figura 9 - Uso do solo urbano em Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

O Perímetro Urbano, definido no atual Plano Diretor, avança sobre a área rural, em

três direções:

(i) Sudoeste englobando o aeroporto; (ii) Leste abrangendo a Gleba do Exército onde

está instalado o 51º Batalhão de Selva; e (iii) Sudeste incorporando o Rio Xingu, a ilha do

Arapujá e a margem direita onde aporta a Balsa que dá acesso à Região da PA Assurini.

103

Mapa 10 - Perímetro urbano de Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

A caracterização do padrão de urbanização de Altamira tem que levar em

consideração uma especificidade que a diferencia das demais cidades da região amazônica

que experimentaram processo de urbanização semelhante. Em função da dinâmica econômica

herdada do passado e a presença do Rio Xingu, o rural e o urbano se confundem, revelando a

intensa articulação da cidade com uma temporalidade expressiva da combinação entre as

atividades recentes e os modos de vida associados às atividades tradicionais.

Com relação às legislações e instrumentos de gestão, Altamira dispõe de Lei

Orgânica, promulgada em 1990, Leis de parcelamento e zoneamento do solo, bem como um

código de obras. O Plano Diretor Municipal, lei nº 1515/2003, está em fase de revisão e

existem leis específicas de Solo criado, Operação urbana consorciada e de Estudo de impacto

de vizinhança (instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade). A legislação

sobre zona de interesse especial existe para a área ambiental.

104

Mapa 11 - Zoneamento urbano de Altamira.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

No que diz respeito às atuais condições educacionais verifica-se conforme EIA

(2009) que as mesmas são precárias, existindo carência de recursos pedagógicos, professores

e unidades escolares melhor estruturadas. Parâmetros representativos, como número de anos

de estudo da população, taxas de alfabetização, rendimento escolar além da relação

professor/aluno, mesmo assim entre os municípios que compõe a região do Xingu Altamira é

o que apresenta os melhores indicadores em termos educacionais. O IDH-M educação de

Altamira, por exemplo, vem apresentando evolução passando de 0,159 em 1991 para 0,548

em 2010. O que corresponde a um IDH-M educação médio.

No entanto com a pressão a ser exercida pelo contingente populacional atraído pelas

obras do AHE Belo Monte, sobre a infraestrutura e os serviços educacionais hoje disponíveis,

a tendência é que essas condições se agravem.

O município de Altamira por caracterizar-se enquanto polo regional apresenta

segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) o maior numero de equipamentos de educação. As

escolas da área urbana apresentam grande variação nos padrões construtivos, bem como na

oferta de espaços preparados para o desenvolvimento das atividades de educação, como por

exemplo, a existência em numero reduzido de escolas com acesso a internet, área para a

prática de esportes. A maior parte destas variações se faz perceber devido à idade das

construções e pela falta de manutenção.

105

Nas escolas mais antigas são visíveis ampliações na estrutura física que apesar de

atenderem a uma demanda por espaço acabaram por gerar anexos descontínuos e de

equivocada implantação que são responsáveis por perdas nas condições qualitativas

ambientais de iluminação e ventilação, além de conduzirem a entraves quando da execução de

melhorias.

Outro aspecto observado nas edificações escolares diz respeito à precariedade das

condições de acessibilidade aos portadores de necessidades especiais. Com relação às

questões de ordem político administrativa, apontam-se preliminarmente duas situações que

deverão ser enfrentadas: posse dos terrenos e imóveis onde estão instaladas algumas escolas,

na área urbana de Altamira inúmeras escolas encontram-se em imóveis alugados, cedidos por

convênios nem sempre formais e a captação de recursos.

Quanto ao aspecto econômico, dados extraídos do EIA (BRASIL. MME, 2009a)

apontam para a presença de 666 estabelecimentos econômicos sendo comerciais (351), de

serviços (234) e industriais (81), que empregam cerca de 1.130 pessoas. São em sua maioria

pequenos estabelecimentos, em muitos casos associados ao imóvel de moradia de seus

proprietários: bares, mercearias, salões de beleza, peixarias, oficinas de bicicletas.

Embora sejam predominantemente negócios familiares, em imóveis de uso misto e

voltados para uma pequena clientela de bairro, foram identificados estabelecimentos de maior

porte, nas proximidades do Igarapé Altamira caso das olarias, voltadas para a fabricação de

tijolos e as unidades que produzem artigos de vestuário e acessórios.

Outro grupo importante de atividades econômicas são os empreendimentos ligados

ao rio Xingu: aluguel de embarcações, transporte de pessoas e carga, manutenção de barcos e

motores, peixarias, comercialização de gelo, areia e cascalho retirados do leito do rio. Além

de pequenos serviços (bares e restaurantes) vinculados à orla.

Os recursos para a gestão: o Imposto sobre o Patrimônio Territorial e Urbano –

IPTU, o Imposto sobre Serviços – ISS, e as taxas sobre iluminação pública, coleta de lixo,

limpeza pública e poder de polícia.

106

R$1,00 (Valores Nominais)

Tabela 3 - Receitas Municipais 2005-2009. Receitas

Municipais

2005 2006 2007 2008 2009

Receita

Corrente

- 73.954.389, 36 86.852.723,33 103. 561.239,80 -

Receita

Tributaria

- 5.400.901,55 5.706.935,25 7.829. 638,74 -

Impostos - 4.558.529,46 5.181.942,67 7.316.248,27 -

IPTU - 369.389,87 395.409,94 439.670,41 -

ISSQN (1) - 2.962.849,64 3.168.557,03 4.734.187,40 -

ITBI - 145.176,10 200.892,12 265.671,85 -

IRRF - 1.081.113,85 1.417.083,58 1.876.718,61 -

Taxas - 530.896,52 524.992,58 513.390,47 -

Outras

Receitas

Próprias

- 5.322.959,39 8.256.799,25 10.313.342,86 -

Receitas

Transferidas

- 63.230.528,42 72.888.997,83 85.418.258,22 -

Fonte: Adaptada de Idesp, 2011b.

(1) Até o ano de 2001 a sigla desse imposto era ISS.

Nota: O total da Receita Própria equivale à soma da Receita Tributaria e Outras Receitas Próprias.

(R$ 1,00)

Tabela 4 - Transferências Constitucionais do ICMS, FPM, IPI, FUNDEF/FUNDEB e IPVA 1997-

2010(1).

Anos ICMS FPM IPI FUNDEF/FUNDEB IPVA TOTAL

1997 1.508.243,06 9.999.495,11 171.818,66 1.313.440,23 169.014,28 13.162.011,36

1998 1.541.640,78 12.377.057,06 158.631.52 3.153.625,50 211.928,62 17.442.883,48

1999 2.217.868,80 12.653.001,03 188.685,40 4.545.616,55 311.826,84 19.916.998,62

2000 3.752.026,00 9.566.571,00 287.206,00 5.067.107,00 245.817,00 18.918.727,00

2001 5.202.271,28 11.266.497,83 350.734,32 6.240.795,06 304.404,13 23.364.702,62

2002 6.029.268,39 13.437.190,22 316.039,31 7.304.295,55 416.689,08 27.503.482,55

2003 7.120.387,72 12.530.909,97 250.218,43 8.432.671,47 460.359,57 28.794.547,16

2004 8.039.350,62 12.000.407,09 268.389,63 8.279.793,20 574.789,60 29.162.730,14

2005 9.638.822,63 13.710.321,25 306.971,76 12.023.768,21 755.237,54 36.435.121,39

2006 11.336.515,01 13.379.934,12 388.950,28 12.925.878,93 921.108,63 38.952.386,97

2007 12.608.080,60 13.192.119,89 447.954,06 20.095.809,18 901.754,96 47.245.718,69

107

2008 14.218.510,94 16.195.252,41 576.122,42 26.472.977,78 2.930.893,91 60.393.757,46

2009 13.972.759,43 15.070.551,31 400.546,10 30.990.415,58 3.030.344,68 63.464.617,10

2010 14.491.883,96 16.075.784,62 561.441,26 34.256.618,23 3.664.704,01 69.050.432,08

Fonte: Adaptado de IDESP, 2011, b.

Nota: Valores Nominais.

(1) Menos 15% do FUNDEF.

Já a cidade de Vitoria do Xingu com 3,08 km² encontra-se situada à beira do Igarapé

Tucuruí, afluente da margem esquerda do Rio Xingu, entre os igarapés Água Boa e Igarapé do

Gelo (também conhecido como Gerador).

Figura 10 - Vista Aérea da Cidade de Vitoria do Xingu.

Fonte: PARÁ. SEIDURB, 2003.

Vitória do Xingu foi instalada como Município em 1991, a partir da lei no. 5.701. Tem

sua origem no “Porto Vitória”, pertencente à Altamira, cujo território foi constituído por parte

do território dos municípios de Altamira, Porto de Moz e Senador José Porfírio. (PARÁ.

SEDU, 2011).

O sítio onde está implantada a sua sede municipal é antigo, tendo surgido no século

108

XIX, quando dois padres capuchinhos aportaram na localidade onde depois foi fundada a

localidade de Vitória, em 1869, e mantiveram contatos com os índios Xipaias e Araras.

Posteriormente, o povoado foi dominado Porto Vitória por onde eram transportadas

as mercadorias em direção ao porto de Belém, provenientes da região do Alto e Médio Xingu,

que não tinham acesso fluvial ao Rio Amazonas por conta do obstáculo, existente até hoje,

representado pelas cachoeiras da Volta Grande no Médio Xingu.

E segundo o ultimo censo apresenta população total de 13. 431 sendo 5.3621

(39,92%) no meio urbano e 8.069 (60,08%) no meio rural. (IBGE, 2010).

Quadro 15 - População Vitória do Xingu.

MUNICÍPIO POPULAÇÃO URBANA RURAL

VITÓRIA DO XINGU 13.431 5.362 (39,92%) 8.069 (60,08%)

Fonte: Adaptado de IBGE. Censo Demográfico, 2010.

A população migrante residente em Vitória do Xingu corresponde a menos de 10%

da população total e, em 95,3% dos casos, tem por origem outros municípios do Pará. (IBGE,

2010).

Com relação à população residente na área urbana do município de Vitória do Xingu

estima-se que a mesma, deverá segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) contar com

incremento significativo, particularmente durante o pico de obra do AHE Belo Monte que

será entre 2013 e 2020, sofrendo um decréscimo após esse período. A população de projeto no

pico da obra para o município de Vitória do Xingu será de 25.007 habitantes.

Vitoria do Xingu terá que passar também por adequações em sua infraestrutura

urbana. A principal rua na cidade de Vitória do Xingu é a Avenida Manoel Félix de Farias, na

verdade o prolongamento da PA-415 até o porto. A partir dessa avenida, as demais ruas se

desenvolvem, a maioria em terra e em estado precário de conservação.

109

Figura 11 - Ruas sem drenagem em Vitória do Xingu.

Fonte: NORTE ENERGIA, 2011.

A cidade não dispõe de captação nem de sistema organizado de distribuição de água.

A responsável pelo abastecimento de água de Vitória do Xingu é a Prefeitura Municipal. A

água potável é coletada em poços semi artesianos e distribuída por bombeamento. Existe

segundo PBA (NORTE ENERGIA, 2011) um déficit de 80% no abastecimento que atingi as

residências localizadas nas cotas mais elevadas por conta da deficiência do equipamento,

obrigando alguns moradores a furar seus próprios poços dentro da própria propriedade muitas

vezes localizados ao lado das fossas ou utilizar água dos igarapés do Gelo e Facão sem

nenhum tipo de tratamento, ou buscar água nas residências vizinhas.

O abastecimento existente é precário atendendo segundo PBA (NORTE ENERGIA,

2011) a apenas 20% da população que reside na área central da sede do município durante

uma hora duas vezes ao dia.

Não existe rede de coleta ou tratamento de efluentes. Cada residência adota uma

solução, em geral o esgoto gerado é coletado por fossas negras individuais e algumas casas

nem possuem fossas ou faz-se uma ligação direta com valas e canaletas nas ruas, todas não

pavimentadas, com exceção da Avenida Manoel Félix de Faria. Os dejetos desembocam nos

córregos mais próximos, no caso o rio Tucuruí, o Igarapé do Facão e o Igarapé do Gelo,

principais corpos receptores.

110

Figura 12 - Lançamento de esgoto direto no Igarapé em Vitória do Xingu.

Fonte: NORTE ENERGIA, 2011.

A coleta do lixo é realizada esporadicamente pela prefeitura que deposita o lixo

recolhido - inclusive o proveniente do posto de saúde e o do frigorífico instalado nas

proximidades da cidade - em um valão, sem qualquer tipo de cuidado ou tratamento. O lixo

acumulado nas residências nos períodos em que não há coleta é deixado na estrada de acesso

ao lixão ou em frente às casas, muitas vezes se espalhando pelas ruas.

A área urbana não dispõe de sistemas de drenagem de águas pluviais. Em alguns

trechos, valas são formadas, devido ao escoamento das enxurradas.

A cidade de Vitória do Xingu tem um padrão de urbanização peculiar, pois três lados

de sua área são limitados por rios e igarapés – Rio Tucuruí, Igarapé do Gelo e Igarapé do

Facão. A expansão da cidade pode ocorrer no sentido Leste, atravessando o Igarapé do Gelo e

na direção Sul, ao longo da rodovia Ernesto Accioly.

Os usos existentes são o residencial, o comercial e os ligados aos serviços básicos –

educacionais, de saúde e religiosos – e portuários. Sua ocupação desenvolveu-se ao longo da

Av. Manoel Félix de Farias num primeiro momento e a partir dela em poucas ruas

transversais, estas não pavimentadas.

Apesar de integrar Área de interesse turístico e de influência de empreendimentos

com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional, Vitória do Xingu só

passou a dispor de um Plano Diretor em 2012.

111

Com relação às unidades educacionais Vitória do Xingu possui conforme PBA

(NORTE ENERGIA, 2011) número relevante de escolas na área urbana, capaz de absorver

toda a demanda atual. Diferente de Altamira em Vitória do Xingu as escolas estão todas

situadas em terrenos próprios do município.

A cidade de Vitória do Xingu caracteriza-se como uma cidade de pequeno porte,

com reduzida capacidade econômica e reduzida representatividade no que diz respeito a

atividades comerciais, dependendo em grande parte das relações coma cidade de Altamira.

O orçamento anual para o exercício de 2008 estimava a receita em R$ 10.600.000,00

(dez milhões e seiscentos mil reais) e a despesa em igual valor.

A maior fonte de receita é a transferência corrente. Das transferências federais,

destaca-se o FPM – Fundo de Participação Municipal, cujo repasse é vinculado a população

total de cada município, e o FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério. Dos repasses do governo estadual, a principal

receita é oriunda da cota parte do ICMS.

(R$ 1,00)

Tabela 5 - Transferências Constitucionais do ICMS, FPM, IPI, FUNDEF/FUNDEB e IPVA 1997-

2010 (1).

Anos ICMS FPM IPI FUNDEF/FUNDEB IPVA Total

1997 167.582,56 1.304.956,72 19.090,96 122.155,97 1.173,49 1.614.959,70

1998 171.293,52 1.454.308,82 17.625,72 361.411,63 715,83 2.005.355,52

1999 277.234,17 1.765.473,41 23.481,03 798.761,54 3.640,87 2.868.591,02

2000 503.628,00 1.505.599,00 38.551,00 1.025.154,00 7.609,00 3.080.541,00

2001 619.318,01 1.749.750,10 41.754,08 1.220.857,33 5.919,77 3.637.599,29

2002 730.820,41 2.144.414,86 38.307,79 1.420.444,30 9.760,36 4.343.747,72

2003 997.761,34 2.163.900,66 35.062,45 1.385.577,58 12.113,74 4.594.415,77

2004 1.228.945,32 2.315.030,28 41.027,71 1.313.068,13 12.922,70 4.910.994,14

2005 1.515.538,15 2.782.138,89 48.266,00 1.690.538,53 20.501,37 6.056.982,94

2006 1.749.462,19 2.996.564,06 60.635,14 1.879.115,83 23.565,40 6.709.342,62

112

2007 1.757.490,03 3.322.784,97 57.751,69 2.500.221,01 19.645,73 7.657.893,43

2008 2.025.570,60 3.239.050,74 81.795,16 3.275.778,07 91.094,04 8.713.288,61

2009 1.996.108,49 3.014.110,53 57.220,87 3.533.038,28 108.047,60 8.708.525,77

2010 2.158.365,68 3.215.157,22 83.618,89 4.334.649,17 152.934,65 9.944.725,61

Nota: Valores Nominais.

(1) Menos 15% do FUNDEF. Fonte: IDESP, 2012.

As receitas próprias também são reduzidas em Vitória do Xingu. Situação, certamente,

vinculada à falta de regularidade fundiária das terras onde só município foi constituído.

R$1,00 (Valores Nominais)

Tabela 6 - Receitas Municipais 2005 – 2010.

Receitas Municipais 2005 (*) 2006 (*) 2007 (*) 2008 (*) 2009 (*) 2010

Receita Corrente - - - - - 15.969.368,00

Receita Tributaria - - - - - 622.950,00

Impostos - - - - - 600.406,00

IPTU - - - - - 3.492,37

ISSQN (1) - - - - - 303.928,00

ITBI - - - - - 27.582,00

IRRF - - - - - 264.403,63

Taxas - - - - - 22.544,00

Outras Receitas Próprias - - - - - 168.416,00

Receitas Transferidas - - - - - 15.178.002,00

(1) Até o ano de 2001 a sigla desse imposto era ISS.

Nota: O total de Receita Própria equivale à soma da Receita Tributaria e outras Receitas Próprias. (*) O município não apresentou seus dados financeiros ao STN até a data da extração.

Fonte: IDESP, 2012.

113

5 CONCLUSÃO

A dissertação abordou a temática do desenvolvimento regional no contexto urbano

dos municípios de Vitória do Xingu e de Altamira no estado do Pará, áreas diretamente

afetadas pela implantação do aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte.

Sabe-se que a Amazônia, e particularmente o estado do Pará, é historicamente

fornecedora de recursos naturais para o Brasil e o mundo, mas ainda figura como área

dependente e pobre, conforme demonstram os indicadores de desenvolvimento humano -

IDH. Isso ocorre, em parte, pelo fato de serem consideradas áreas de fronteiras extrativistas

periféricas.

Nesse contexto, há necessidade de mudanças no modelo de planejamento de inserção

de projetos de desenvolvimento regional. A utilização do IDH enquanto ferramenta

subsidiária na formulação, implementação e acompanhamento de políticas públicas

localizadas e consistentes se mostra viável enquanto proposta a ser assimilada a quando da

formulação de planos e políticas para a região.

O AHE Belo Monte se insere, nesse contexto, ao se utilizar do potencial hidrelétrico

do Rio Xingu, convertendo esse potencial natural em instrumento para o desenvolvimento.

Desenvolvimento esse voltado, no entanto para a região mais industrializada do país em

detrimento das áreas diretamente afetadas por tal empreendimento.

Fica evidente, portanto que não há compatibilidade entre preocupação ambiental,

justiça social e os projetos hidrelétricos pensados para a Amazônia na atualidade.

A incompatibilidade do pensamento hidrelétrico nacional com os aspectos

socioambientais fica evidente ao se constatar que ainda hoje o determinismo geográfico

(grande extensão, dificuldade de acesso e dispersão populacional) é utilizado nos discursos

oficiais para explicar o paradoxo existente na região, que possui o maior potencial hidrelétrico

do país e a maior usina hidrelétrica genuinamente brasileira (Tucuruí), mas que continua a

apresentar o maior déficit, entre as regiões brasileiras, em relação à disponibilidade de acesso

à energia. Circunstâncias como essas são talvez o grande desafio para que se consiga

modificar a realidade, que a região ainda hoje apresenta.

A construção de uma “ilusão política” do desenvolvimento regional pautada em um

processo de transferência industrial que culminou na instalação de Tucuruí, notadamente

construída para atender às demandas de grandes empresas nacionais e do capital internacional,

114

se observa no desenvolvimento do plano de geração de energia que tem o rio Xingu como um

dos baluartes do desenvolvimento “nacional”.

O problema de “energia elétrica na Amazônia não é o da energia para a região, que

pode ser obtida por várias alternativas, mas sim o da geração hidrelétrica para transferir às

regiões sudeste e sul”.

O papel governamental neste sentido tem sido o de minimizar o “enclave” que

grandes hidrelétricas na Amazônia acarretam, apesar das características do processo de

desenvolvimento socioeconômico indicar o contrário.

As hidrelétricas não “nascem” do processo de desenvolvimento no território

amazônico e não expressam ações sociais, políticas ou econômicas endógenas; são, sim,

“implantadas” e contradizem o conceito de desenvolvimento sustentável. Assim, reforçam um

novo impulso ao padrão de desenvolvimento de economia de fronteira. A Amazônia não se

integra a um plano de crescimento nacional, mas o alimenta, de forma separada, ligada a ele

por linhas de transmissão de energia elétrica.

As políticas públicas direcionadas para a Amazônia apresentam um planejamento

orientado pelo crescimento econômico a qualquer custo, sem que sejam contempladas as

demais dimensões do desenvolvimento.

Mesmo diante das modificações operadas pela globalização, a nova configuração do

capital, o redimensionamento do papel do Estado, a formulação de políticas públicas e o

planejamento estratégico, situacional - participativo. O modelo de desenvolvimento pensado

para a Amazônia permanece o mesmo do período militar.

É imperativo, portanto a revisão do atual modelo de desenvolvimento no qual

estamos hoje assentados, pois o mesmo vem ocasionando degradação ambiental e o

acirramento da crise social.

Dentre os impactos gerados na configuração urbana dos municípios está o aumento

da densidade demográfica que no caso de Altamira já atinge população total de 99.075 sendo

84.092 (84,88%) só no meio urbano conforme IBGE (2010). A previsão é que a partir do ano

de pico da obra em 2013 o município venha a apresentar um crescimento populacional ainda

maior, já que a população atraída alcançara 26.200 pessoas.

No caso de Vitória do Xingu a população atual total é de 13. 431 sendo 5.3621

(39,92%) só no meio urbano (IBGE, 2010). Devendo contar com incremento significativo,

durante o pico de obra do AHE Belo Monte entre 2013 e 2020, alcançando o quantitativo de

25.007 habitantes.

115

Nesse cenário de transformações provenientes da implantação do AHE Belo Monte a

análise do IDHM dos municípios em questão se faz necessária no sentido de se perceber se

tais transformações influenciaram na qualidade de vida dos munícipes.

Ao verificar o IDH-M decomposto Longevidade, Educação e Renda de 2010 para

Altamira, têm-se em termos de Longevidade índice igual a (0,811). Já Vitória do Xingu

apresenta índice aferido em (0,792). Quanto ao IDH-M Educação, Altamira apresenta índice

igual a 0,548 e Vitória do Xingu índice igual a 0,451. No IDH-M Renda, Altamira apresentou

índice igual a 0,662 e Vitória do Xingu 0,594.

Esses índices atribuem aos municípios citados à classificação de IDHM

(Longevidade, Educação e Renda) que varia de baixo a médio, o que de certa forma expressa

melhorias nos investimentos em saúde pública, qualidade ambiental, educação, geração de

emprego e renda. Sendo que ainda não se pode afirmar que tais melhorias sejam reflexo das

transformações no contexto urbano provocadas pela implantação do AHE Belo Monte, até por

que se compararmos o IDHM atual de Tucuruí (0,666) município com especificidades

semelhantes em termos de implantação de empreendimento hidrelétrico na região, com o de

Altamira (0,665) percebe-se que praticamente não há diferença entre ambos, reforçando assim

a tese de que o planejamento de projetos de desenvolvimento regional não valoriza a questão

ambiental, a justiça social e a utilização do IDH enquanto ferramenta subsidiária na

formulação, implementação e acompanhamento de políticas públicas.

Cabe aqui ressaltar que as semelhanças entre Tucuruí e Altamira limitam-se a

implantação dos empreendimentos hidrelétricos, pois os dois municípios vivenciam esse fato

em contextos históricos diferenciados. Tucuruí em pleno regime militar onde as questões

ambientais, sociais e o próprio IDH, idealizado na década de 90, se quer eram consideradas.

Altamira em um momento democrático onde a participação de Ongs, movimentos sociais e

ambientalistas, vigência da Constituição de 1988, tratados e protocolos internacionais

impelem o planejamento de projetos de desenvolvimento regional a considerar a questão

ambiental, a justiça social e a utilização do IDH enquanto ferramenta subsidiária na

formulação, implementação e acompanhamento de políticas públicas.

Considerando as ideias acima descritas, conclui-se que a abordagem do

desenvolvimento humano, como reflexo da infraestrutura urbana dos municípios de Altamira

e Vitória do Xingu ambos impactados diretamente pelo AHE Belo Monte, sob a ótica do IDH

objetivou compreender a correção das desigualdades entre os municípios citados e a utilização

do IDH enquanto instrumento numérico que auxilia sobre maneira no acompanhamento, na

116

avaliação e proposição de políticas públicas que venham a proporcionar qualidade da vida aos

munícipes das cidades em questão.

117

REFERÊNCIAS

ACEVEDO, R. Amazônia: o custo ecológico das hidrelétricas. In: SANTOS, Sônia Maria

Simões Barbosa Magalhães; BRITTO, R.; CASTRO, E. (org.). Energia na Amazônia.

Belém: UFPA; NUMA; MPEG; Unamaz; UFPA; NAEA, 1996. p. 945. 2 v.

ALTAMIRA. Prefeitura Municipal. Fundo Manutenção e Desenvolvimento Educação Básica.

Movimentos de pagamentos (01/01/2012 a 30/04/2012). Portal da Transparência. [s.d.].

Disponível em <http://www.altamira.pa.gov.br/images/PDF/CONT/2012/fundebpag.pdf>.

Acesso em: 31 jul. 2012.

______. Fundo Manutenção e Desenvolvimento Educação Básica. Movimentos de

pagamentos (01/01/2012 a 29/02/2012). Portal da Transparência. [s.d.]. Disponível em

<http://www.altamira.pa.gov.br/images/PDF/CONT/Movimento%20de%20Pagamento.PDF>.

Acesso em 31 de Jul. 2012.

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. Disponível em:

http://www.atlasbrasil.org.br/2013/perfil/altamira_pa. Acesso em: 04 Ago. de 2013.

______. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/perfil/tucurui_pa. Acesso em: 04

Ago. de 2013.

______. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/perfil/vitoria-do-xingu_pa.

Acesso em: 04 Ago. de 2013.

BATELLA, W. B.; DINIZ, A. M. A. Desenvolvimento humano e hierarquia urbana: uma

analise do IDH-M entre as cidades mineiras. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v.6,

n. 2, jul./dez., 2006.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. 16.ed. São

Paulo: Rideel, 2010.

______. Governo Federal. Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu:

Decreto n. 7.340, de 21 de outubro de 2010. Disponível em:

<http://www.casacivil.gov.br/.arquivos/xinguinternet.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2010.

BRASIL. Lei n. 10. 257, de 10 de Julho de 2001. Estatuto da Cidade. Regulamenta os arts.

182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras

providências. Diário Oficial da Republica Federativa do Brasil, Brasília, DOU de 11 jul.

2001.

BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Atualização do inventário hidrelétrico da Bacia

Hidrográfica do Rio Xingu. [S.l: s.n.], 2007a.

______. Estudo de impacto ambiental: aproveitamento hidrelétrico Belo Monte. Brasília,

DF: MME, ELETROBRÁS, 2009a.

______. Relatório de impacto ambiental: Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte.

Brasília, DF: MME; ELETROBRÁS, 2009b.

118

BUNKER, S. Modes of Extraction, Unequal Exchange, and the Progressive

Underdevelopment of an Extreme Periphery - The Brazilian Amazon, 1600-1980,

American Journal of Sociology, 89 (5): 1017-1064, 1984.

______. Underdeveloping the Amazon. Chicago, University of Chicago Press, 1986.

CAMARGO, I. O Urbanismo Rural. Brasília: INCRA, 1973.

CARDOSO, F. MUELLER, G. Amazônia: expansão do capitalismo. S. Paulo, 1977.

CHIZZOTTI, Antonio. Estudo de caso. In: Pesquisa qualitativa em ciências humanas e

sociais. 3.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. p. 135-141.

DRUMMOND, J. A. Natureza rica, povos pobres? Questões conceituais e analíticas sobre

o papel dos recursos naturais na prosperidade contemporânea. Ambiente & Sociedade -

Ano V - N.º 10 -1º Semestre de 2002.

FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. São Paulo: Atlas, 1993.

FEARNSIDE, P. A triste história da hidrelétrica de Belo Monte I: o descompasso entre o

discurso teórico e a prática do setor de energia. Globo Amazônia. Disponível em:

<http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/2009/Triste%20hist%C3%B3ria%20de%20Belo%20M

onte-1.pdf./>. Acesso em: 15 dez. 2010.

______. As hidrelétricas de Belo Monte e Altamira (Babaquara) como fontes de gases do

efeito estufa. Novos Cadernos NAEA, Belém, v 12, n. 2, p.5-56, dez., 2009.

______. Migração, colonização e meio ambiente: o potencial dos ecossistemas amazônicos.

In: FERREIRA, E. et al. Bases científicas para estratégias de preservação e

desenvolvimento da Amazônia. Manaus: [s.n.], 1993. v.2. p. 247-267.

FERREIRA, R. T. Introdução à teoria do planejamento. Belém: EDUFPA, 2005. (Curso de

Especialização em Planejamento e Gestão do Desenvolvimento Regional, v.1).

GIL, Antonio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Anuário

Estatístico. Rio de janeiro: [s.n.], 1991.

______. População. 2010. Disponível em:

<http://www.censo2010.ibge.gov.br/primeiros_dados_divulgados/>. Acesso em: 10 dez.

2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS

RENOVÁVEIS - IBAMA. Parecer n. 143/2011 referente a analise do 1 relatório

semestral de andamento do PBA e das condicionantes da UHE Belo Monte. 2011.

119

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E AMBIENTAL DO

PARÁ – IDESP. Estado do Pará: (di) visões territoriais, perspectivas sociais, econômicas,

financeiras e ambientais ocupação e uso do território, federalização territorial e recursos

naturais. Coordenação de Lúcia Cristina Andrade. Belém: IDESP, 2011a. 67 p.

______. Estática Municipal de Altamira em 2011. PACHECO, J. J. et.al. (equipe técnica).

Belém: IDESP, 2011b.

______. Estática Municipal de Vitória do Xingu em 2012. PIMENTEL. André R. C. et.al.

(equipe técnica). Belém: IDESP, 2012.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Especial Belo Monte – Cronologia Histórica. 2003.

Disponível: <http://www.socioambiental.org>. Acesso em: 23 abr. 2011.

INTERNATIONAL RIVERS. “Mega-projeto, Mega-riscos: analise de risco para

investidores no Complexo Hidrelétrico Belo Monte. [S.l.: s.n.], 2010.

LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 3.ed. São

Paulo: Atlas, 1991.

MACHADO, L. O. A fronteira agrícola na Amazônia brasileira. Revista Brasileira de

Geografia, Rio de Janeiro, v.54, abr./jun., 1992.

MARTINS, J. S. Frente pioneira: contribuição para uma caracterização sociológica. In:

Capitalismo e tradicionalismo. Estudos sobre as contradições da sociedade agrária no

Brasil. São Paulo, 1975.

______. The Intermitent Control of Amazon Territory. In: Urban Planning, 1990.

NORTE ENERGIA. Conheça a UHE Belo Monte. nov. 2011. Disponível em:

<http://blogbelomonte.com.br/2011/11/18/conheca-a-uhe-belo-monte/>. Acesso em: 13 jan.

2012.

______. Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Plano Básico Ambiental – PBA. set., 2011.

PARÁ. Secretaria de Estado de Integração Regional. Atlas de Integração Regional do

Estado do Pará. Belém: SEIR, 2010.

PARÁ. Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano. Plano Diretor do Município de

Altamira 2003. Altamira, 2003. p.01-118.

PNUD. Desenvolvimento humano. [s.d.] Disponível em:

http://www.pnud.org.br/IDH/DesenvolvimentoHumano.aspx?indiceAccordion=0&li=li_DH

Acesso em: 31.10.12.

_____. O que é IDH. [s.d.] Disponível em:

http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH Acesso em: 31.10.12

120

SEVÁ FILHO, A. (org.). Tenotã-Mõ: alertas sobre as consequências dos projetos

hidrelétricos no rio Xingu. São Paulo: International Rivers Network, 2005.

SILVA, G. Conjuntura política nacional, o poder executivo e geopolítica do Brasil. Rio

de Janeiro. 1967.

TURNER, F. J. The significance of the frontier in American history. Proceedings of the

Winsconcin Historical Society. Madison, 1893.

______. The frontier in American history. New York, 1920.

USINA ADA Belo Monte. Portal São Francisco. [s.d.]. Disponível em:

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-usina-belo-monte/meio-ambiente-

usina-belo-monte-8.php>. Acesso em: 27 jul. 2012.

VINAGRE, M.V.A.; VINAGRE, M.S.L. Hierarquia urbana e desenvolvimento humano em

municípios paraenses no período de 1990 a 2010. In: TOBIAS, Maisa S. G.; LIMA, Alberto

C. de M. (orgs.). Urbanização e meio ambiente. Belém: UNAMA, 2012.

YIN, R. K. Applications of Case Study Research. 2ª ed. Thousand Oaks: Sage Publications,

2003.