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Universidade de Lisboa
Faculdade de Farmácia
SITUAÇÃO EM PORTUGAL DE EQUINOCOCOSE/HIDATIDOSE: EPIDEMIOLOGIA, PATOGÉNESE, CLÍNICA, IMUNOLOGIA, TRATAMENTO E
PREVENÇÃO
Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Relatório de estágio orientado pela Professora Doutora Quirina dos Santos Costa e coorientado pela Drª Ana Catarina Ferreira Rombo
Mestrado em Análises Clínicas
2017
Parte Ⅰ
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Prefácio
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva v
Prefácio
O enquadramento do trabalho.
O meu percurso académico teve início com a Licenciatura em Bioquímica, que me
proporcionou a formação necessária para o prosseguimento de estudos de ciclo superior em
diversas áreas científicas não só a Bioquímica, mas também a Biofísica, a Biologia
Molecular e Celular, a Fisiologia e a Microbiologia. Assim, o meu objetivo seguinte foi,
desde sempre, prosseguir estudos na área das Análises Clínicas e, como tal, ingresse i no
Mestrado de Análises Clínicas da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. No
âmbito do curso, foi realizado o Estágio Curricular, no Laboratório Dr. Joaquim Chaves,
sendo que o presente relatório pretende descrever as atividades acompanhadas no mesmo.
O relatório intitulado “Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose :
Epidemiologia, Patogénese, Clínica, Imunologia, Tratamento e Prevenção” apresenta-se
dividido em quatro partes: Química Clínica, Imunologia, Hematologia e Microbiologia.
Na parte Ⅰ, apresenta-se o prefácio, os resumos em Português e Inglês, a lista de
abreviaturas e os índices;
Na parte ⅠⅠ, expõe-se o relatório sumário de todas as atividades desenvolvidas nas
valências de Química Clínica, Imunologia, Hematologia e Microbiologia no Laboratório
Dr. Joaquim Chaves;
Na parte ⅠⅠⅠ, apresenta-se a monografia desenvolvida dentro do âmbito da valência
de Microbiologia (Parasitologia Clínica), intitulada “Situação em Portugal de
Equinococose/Hidatidose: Epidemiologia, Patogénese, Clínica, Imunologia, Tratamento e
Prevenção”;
E por fim, na parte ⅠV, apresentam-se as conclusões gerais e perspetivas futuras.
Este relatório está de acordo com o disposto no Artigo 37.º do Regulamento Geral
do Ciclo de Estudos conducente ao Grau de Mestre da FFULisboa, nº 134/2016, DR, 2.ª
série — N.º 26, de 8 de fevereiro de 2016.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Resumo
VIII MAC
vi Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Resumo
O presente relatório reporta o estágio decorrido no Laboratório de Análises Clínicas
Dr. Joaquim Chaves, no âmbito do curso de Mestrado em Análises Clínicas, da Faculdade
de Farmácia da Universidade de Lisboa.
O relatório tem como objetivo descrever os principais equipamentos e metodologias
com que contactei durante o estágio nas valências de Química Clínica, Imunologia,
Hematologia e Microbiologia. Encontra-se dividido pelas áreas referidas, evidenciando a
utilidade de cada parâmetro no diagnóstico clínica e monitorização da doença.
Palavras-chave: Química Clínica, Imunologia, Hematologia, Microbiologia.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Abstract
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva vii
Abstract
This report refers to the training that took place at the Clinical Analysis Laboratory
Dr. Joaquim Chaves, within the scope of the Master's Degree in Clinical Analysis, Faculty
of Pharmacy of the University of Lisbon.
The purpose of the report is to describe the main equipment and methodologies that
I have interacted with during the internship in Clinical Chemistry, Immunology,
Hematology and Microbiology. It is divided by the mentioned areas, evidencing the
usefulness of each parameter in the clinical diagnosis and monitoring of the disease.
Keywords: Clinical Chemistry, Immunology, Hematology, Microbiology.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
viii Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Lista de Abreviaturas
Parte II
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves
1,25-(OH)2D3 1,25-Dihidroxicolecalciferol
25(OH)D 25-Hidroxivitamina D
5-metil-FH4 5-Metiltetrahidrofolato
ACTH Adrenocorticoestimulina
ADC Anemia Da Doença Crónica
ADH Hormona Antidiurética
AEQ Avaliação Externa da Qualidade
AFP Alfa-Fetoproteína
ALP Fosfatase Alcalina
ALT Alanina Transaminase
AM Antimicrobianos
ANA Anticorpos Antinucleares
Anti-TG Anticorpos Anti-Tiroglobulina
Anti-TPO Anticorpos Anti-Peroxidase da Tiroide
APO-B Apolipoproteina-B
Apo-C Apolipoproteina-C
Apo-E Apolipoproteina-E
AST Aspartato Transaminase
AT Antitrombina Funcional
BAAR Bacilos Álcool-Ácido Resistentes
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva ix
BGP Bone Gla Protein ou Osteocalcina
CA 125 Antigénio Carbohidratado 125
CA 15.3 Antigénio Carbohidratado 15.3
CA 19.9 Antigénio Carbohidratado 19.9
CA 72.4 Antigénio Carbohidratado 72.4
CBP Cirrose Biliar Primária
CEA Antigénio Carninoembrionário
CHGM Concentração de Hemoglobina Globular Média
CID Coagulação Intravascular Disseminada
CIQ Controlo Interno da Qualidade
CIQE Controlo Interno da Qualidade Estatístico
CK Creatina Quinase
CK-MBm Creatina Quinase-MB massa
CLSI Clinical and Laboratory Standards Institute
CMI Concentração Mínima Inibitória
CMV Citomegalovirus
COL Colheitas
CRL Core Laboratorial
CT Tomografia Computadorizada
CTFF Capacidade Total de Fixação do Ferro
cTnI Troponina-I
cTnT Troponina T
DHEA-SO4 Dihidroepiandrosterona
DM Diabetes Mellitus
DMG Diabetes Mellitus Gestacional
E2 17-Β-Estradiol
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
x Marta Bebiana dos Ramos da Silva
EAA Espetrofotometria de Absorção Atómica
EBV Vírus de Epstein-Barr
ECP Proteínas Catiónicas Eosinófilas
ECZ Eletroforese Capilar de Zona
EIA Imunoensaio Enzimático
ELISA Enzyme-Linked Immunosorbent Assay
EPO Eritropoietina
ESP Esfregaços de Sangue Periférico
ETa Erro Total Máximo Admissível
EUCAST European Committee On Antimicrobial Susceptibility Testing
FEIA Ensaio Imunofluorenzimático
FGF-23 Fator de Crescimento dos Fibroblastos
FSH Hormona Folículo-Estimulante
G6PD Glucose-6 Fosfato Desidrogenase
GC Cromatografia Gasosa
GC-EM Cromatografia Gasosa – Espetrometria De Massa
GFR Taxa De Filtração Glomerular
GGT Gamaglutamiltransferase
Hb Hemoglobina
HbA1c Hemoglobina Glicada
HbF Hemoglobina Fetal
HbG Hemoglobina Glicada
hCT Calcitonina
Hct Hematócrito
HDL High Density Lipoprotein
hGH
Somatotrofina
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xi
HGM Hemoglobina Globular Média
HPLC Cromatografia Líquida de Alta Definição
hPTHrP Péptido Relacionado com a Paratormona
IBM Biologia Molecular
IDL Intermediate-Density Lipoprotein
IFI Imunofluorescência Indireta
IGF-1 Insulin-Like Growth Factor 1
IGF-BP3 Insulin-Like Growth Factor Binding Protein III
IMN Imunologia
INR Razão Normalizada Internacional
INSA Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
ISE Elétrodos Ião-Seletivos
ISI Índice de Sensibilidade Internacional
IV Infravermelho
LA Leucemia Aguda
LDH Lactato Desidrogenase
LDL Low Density Lipoprotein
LES Lúpus Eritematoso Sistémico
LH Hormona Luteinizante
LJC Laboratório Dr. Joaquim Chaves
LLA Leucemia Linfocítica Aguda
LMA Leucemia Mielóide Aguda
Lp-a Lipoproteína-a
LPS Lipase
MBL Microbiologia
MC Materiais de Controlo
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
xii Marta Bebiana dos Ramos da Silva
MO Medula Óssea
MRAI Material de Referência Analítico Interno
MRSA Staphylococcus Aureus Resistente a Meticilina
MSP Morfologia do Sangue Periférico
NSE Enolase Neuroespecífica
OMS Organização Mundial de Saúde
P1CP Péptido Procolagénio Tipo-I Carboxiterminal
P1NP Péptido Procolagénio Tipo-I Aminoterminal
P1NP Total Propéptido Aminoterminal do Procolagénio 1 Total
PCR Proteína C Reativa
PIGF Fator de Crescimento Placentário Humano
PM Peso Molecular
PMN Leucócitos Polimorfonucleares
PNAEQ Programa Nacional de Avaliação Externa
PSA Antigénio Específico da Próstata
PTGO Prova De Tolerância a Glucose Oral
PTH Hormona Paratiroideia
QAL Química Analítica
QM’s Quilomicras
RAST Radioallergosorbent Test
RIA Radioimunoensaio
RLUs Unidades Relativas de Luz
RPR Rapid Plasma Reagin
SD Desvio Padrão
SDI Índice Padrão da Exatidão
SDS Dodecil Sulfato de Sódio
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xiii
SP Sangue Periférico
T3L Triiodotironina Livre
T3T Triiodotironina Total
T4L Tiroxina Livre
T4T Tiroxina Total
TBG Thyroxine Binding Globulin
TP Tempo de Protrombina
TPHA Treponema Pallidum Hemaglutination
TRAB Anticorpos Anti-Recetores da TSH
TRF Transferrina
TRG Triagem
TRH Hormona Libertadora de Tireotrofina
TSA Teste de Suscetibilidade aos Antibióticos
TSH Hormona Estimulante da Tiroide
TTPa Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada
UFC Unidades Formadoras de Colónias
VGM Volume Globular Médio
VLDL Very-Low-Density Lipoprotein
VS Velocidade de Sedimentação Eritrocitária
β-CTx C-Telopéptido do Colagénio Tipo I
β-hCG Gonadotrofina Coriónica - Subunidades Beta Livres
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
xiv Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Parte III
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose: Epidemiologia, Patogénese, Clínica,
Imunologia, Tratamento e Prevenção
2-DE Eletroforese Bidimensional em Gel
Ag Antigénio
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGQF Camada Germinativa de Quistos Férteis
CGQI Camada Germinativa de Quistos Inférteis
CH Cystic Hydatidosis
DTN Doenças Tropicais Negligenciadas
E. granulosus Echinococcus granulosus
EA Equinococose Alveolar
EA21 E. granulosus cyclophilin
Eg19 E. granulosus 19 kDa
Eg2HSP70 Echinococcus granulosus Heat Shock Protein 70
EgEF-1 β/δ E. granulosus Elongation Factor 1 β/δ
EgTeg Echinococcus granulosus Tegumental antigen
EgTPx Echinococcus granulosus Thioredoxin Peroxidase
ELISA Enzyme-Linked Immunosorbent Assay
emPAI Índice de Abundância Proteica Exponencialmente Modificado
EQ Equinococose Quística
ɣ-GT Gama-Glutamil Transferase
HAI Hemaglutinação Indireta
HESE Hospital do Espírito Santo de Évora
HQ Hidatidose Quística
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Lista de Abreviaturas
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xv
HSP20 Heat Shock Protein 20
IFAT Teste de Imunofluorescência Indireta
Ig Imunoglobulina
IL Interleucina
INF-ɣ Interferão Gama
MRI Imagem de Ressonância Magnética
OMS Organização Mundial da Saúde
PAIR Punção - Aspiração - Injeção - Respiração
PBMC Células Mononucleares do Sangue Periférico
PCR Polymerase Chain Reaction
PMN Células Polimorfonucleares
PZQ Praziquantel
RMN Ressonância Magnética
TC Tomografia Computadorizada
Th T helper
US Ultra-sonografia
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice Geral
VIII MAC
xvi Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Índice Geral
Parte Ⅰ.................................................................................................................................. vii
Prefácio................................................................................................................................. v
Resumo .................................................................................................................................vi
Abstract ............................................................................................................................... vii
Lista de Abreviaturas ......................................................................................................... viii
Índice Geral ........................................................................................................................ xvi
Índice de Figuras .................................................................................................................xx
Índice de Tabelas.............................................................................................................. xxiii
Parte II ................................................................................................................................. 1
Relatório de estágio realizado no Laboratório Dr. Joaquim Chaves .................................... 3
1. Introdução ..................................................................................................................... 3
2. Colheitas e Triagem ...................................................................................................... 5
3. Química Clínica ............................................................................................................ 6
3.1 Core Laboratorial (CRL) ............................................................................................ 6
3.1.1 ADVIA® 2400...................................................................................................... 6
3.1.2 Análise Sumária da Urina .............................................................................. 7
3.1.3 Análise de Proteínas por Imunofixação e Electroforese .............................. 11
3.1.4 ADVIA Centaur® ........................................................................................ 13
3.1.5 IMMULITE® 2000 ....................................................................................... 14
3.1.6 COBAS® e411.............................................................................................. 15
3.1.7 Metabolismo dos Hidratos de Carbono ........................................................ 16
3.1.8 Metabolismo Lipídico .................................................................................. 19
3.1.9 Estudo da Função Renal ............................................................................... 22
3.1.10 Estudo da Função Hepática .......................................................................... 25
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice Geral
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xvii
3.1.11 Estudo da Função Pancreática ...................................................................... 27
3.1.12 Estudo da Função Cardíaca .......................................................................... 29
3.1.13 Estudo da Função Tiroideia.......................................................................... 32
3.1.14 Estudo do Metabolismo Ósseo ..................................................................... 34
3.1.15 Marcadores Tumorais................................................................................... 37
3.2 Química Analítica (QAL) .................................................................................... 41
3.2.1 Cromatografia Líquida de Alta Definição ......................................................... 41
3.2.2 Espetrofotometria de Absorção Atómica (EAA) ............................................... 42
3.2.3 Espetroscopia de Infravermelho......................................................................... 43
3.2.4 Cromatografia Gasosa – Espetrometria de Massa (GC-EM)............................. 43
3.3 Radioimunoensaio (RIA)..................................................................................... 44
3.3.1 Contador Gama Wallac - Wizard 1470.............................................................. 44
3.3.2 ImmunoCAP 250 ............................................................................................... 46
4. Imunologia .................................................................................................................. 48
4.1 Nefelometria ............................................................................................................. 48
4.2 Técnicas de Aglutinação........................................................................................... 48
4.3 Ensaios Imunoenzimáticos ....................................................................................... 51
4.4 Imunofluorescência Indireta (IFI) ............................................................................ 52
4.5 Autoimunidade ......................................................................................................... 53
5. Hematologia ................................................................................................................ 57
5.1 Estudo da Série Eritróide .......................................................................................... 57
5.1.1 Sistema de Hematologia ADVIA® 2120............................................................ 57
5.1.2 Hemograma ........................................................................................................ 59
5.1.3 Anemias ............................................................................................................. 63
5.2 Estudo da Série Mielóide.......................................................................................... 70
5.2.1 Síndroma Mononucleósica................................................................................. 70
5.2.2 Neoplasias Hematopoiéticas .............................................................................. 71
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice Geral
VIII MAC
xviii Marta Bebiana dos Ramos da Silva
5.3 Estudo da Hemostase, da Trombofilia e da Fibrinólise ............................................ 73
5.3.1 Sistema de Coagulação BCS® XP...................................................................... 73
6. Microbiologia (MBL) ................................................................................................. 76
6.1 Meios de Cultura ...................................................................................................... 76
6.2 Procedimentos em Microbiologia............................................................................. 80
6.3 Teste de Suscetibilidade aos Agentes Antimicrobianos (TSA)................................ 83
6.3.1 Método de Microdiluição em Meio Líquido...................................................... 84
6.3.2 Método de Difusão Kirby-Bauer Modificado .................................................... 85
6.4 Produtos Biológicos.................................................................................................. 85
6.4.1 Urina................................................................................................................... 85
6.4.2 Exsudado Faríngeo............................................................................................. 87
6.4.3 Exsudado Nasal.................................................................................................. 87
6.4.4 Expetoração e Secreções Brônquicas................................................................. 88
6.4.5 Hemoculturas ..................................................................................................... 89
6.4.6 Exsudado Vaginal e Uretral ............................................................................... 90
6.4.7 Coprocultura....................................................................................................... 93
7. Controlo da Qualidade ................................................................................................ 94
7.1 Controlo Interno da Qualidade ................................................................................. 94
7.2 Avaliação Externa da Qualidade .............................................................................. 96
8. Referências bibliográficas........................................................................................... 97
Parte III .............................................................................................................................. 99
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose: Epidemiologia, Patogénese, Clínica,
Imunologia, Tratamento e Prevenção……………………………………………………101
Resumo…………………………………………………………………………....…… .101
Abstract.............................................................................................................................102
Objetivos...........................................................................................................................103
Material e Métodos………………………………………………………………………104
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice Geral
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xix
1. Introdução………………………………………………………………….........105
2. Epidemiologia …………………………………………………………………...108
3. Situação da Hidatidose Quística em Portugal…………………………………...113
4. Patogénese……………………………………………………………………….122
4.1 O Ciclo de Vida e a Biologia do Quisto Hidático…………………………………….124
5. Clínica…………………………………………………………………………...130
6. Imunologia………………………………………………………………………135
6.1 Moléculas Imunomoduladoras: Papel do Antigénio B e Outros Antigénios………..135
6.2 Resposta Imunológica Humoral do Hospedeiro..........................................................143
6.3 Resposta Celular e Regulação por Citocinas do Tipo Th2…………………………...145
6.4 Resposta Celular (Perfil de Células T) Associada à Progressão do Quisto e Eficácia do
Tratamento………………………………………………………………………………147
7. Diagnóstico...........................................................................................................149
7.1 Técnicas de Imagem………………………………………………………………...150
7.2 Diagnóstico Laboratorial……………………………………………………………151
7.2.1 Hematologia e Química Clínica…………………………………………………..151
7.2.2 Imunodiagnóstico………………………………………………………………....151
8. Tratamento………………………………………………………………....…....157
8.1 Cirurgia………………………………………………………………………....…...157
8.2 Punção, Aspiração, Injeção, Re-aspiração (PAIR)………………………………….159
8.3 Quimioterapia Antiparasitária………………………………………………….........161
9. Prevenção e Controlo…………………………………………………………....165
10. Conclusões………………………………………………………….………...…172
11. Referências Bibliográficas………………………………………………………173
Parte IV………………………………………………………………………………….191
Conclusões e Perspetivas Futuras………………………………………………………..193
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice de Figuras
VIII MAC
xx Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Índice de Figuras
Parte II
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves
Figura 1 - Exemplos de elementos figurados clinicamente mais significativos presentes nas
amostras de urina.................................................................................................................. 9
Figura 2 – Exemplo de uma técnica de aglutinação – teste não treponémico RPR. ......... 49
Figura 3 - Padrões ANA por imunofluorescência indireta em células HEp2. .................. 54
Figura 4 - Tira teste EUROLINE ANA Profile 3 plus DFS70. ........................................ 55
Figura 5 – Representação da distribuição celular (citograma Perox). .............................. 58
Figura 6 – Citograma BASO............................................................................................. 59
Figura 7 – Esfregaço de Sangue Periférico ....................................................................... 60
Figura 8 – Anemia ferropénica ......................................................................................... 65
Figura 9 – β-Talassemia Homozigótica. ........................................................................... 68
Figura 10 – Neutrófilo hipersegmentado característico da anemia megaloblástica. ......... 70
Figura 11 – Linfócito reativo / ”atípico”. .......................................................................... 71
Figura 12 – Blasto no sangue periférico. .......................................................................... 72
Parte III
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose: Epidemiologia,
Patogénese, Clínica, Imunologia, Tratamento e Prevenção
Figura 1 - Distribuição mundial da Equinococose Quística em 2011……………………109
Figura 2 - Acesso dos cães a vísceras de animais abatidos em áreas endémicas…………110
Figura 3 - Casos de hidatidose, por distritos, ocorridos na Região do Alentejo em 1987-
2008 (“Doenças de Declaração Obrigatória”)…………………………………………...114
Figura 4 - Distribuição, por quinquénios, dos casos de hidatidose ocorridos na Região
Alentejana e no resto do País (“Doenças de Declaração Obrigatória”)…………………..114
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice de Tabelas
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xxi
Figura 5 - Consulta de hidatidologia (HESE): casos de hidatidose por grupos etários (1979-
2008)…………………………………………………………………………………….115
Figura 6 - Casos de hidatidose, por quinquénios, no grupo etário dos 0-19 anos de idade
(Consulta de Hidatidologia (HESE))…………………………………………………….116
Figura 7 - Consulta de Hidatidologia (HESE): incidência média anual no trinténio 1979-
2008, no distrito de Évora, por concelhos (cinza escuro: concelhos hiperendémicos; cinza
de transição: concelhos meso-endémicos; cinza claro: concelho hipo-endémico).. …….120
Figura 8 - Consulta de Hidatidologia (HESE): incidência média anual no quinquénio 2004-
2008, no distrito de Évora, por concelhos………………………………………………..121
Figura 9 - Morfologia do Echinococcus granulosus adulto…………………………......123
Figura 10 - Echinococcus granulosus adulto, corado com carmim (esquerda). À direita está
evidenciado o escólex de Echinococcus sp. Neste plano focal, uma das ventosas é
claramente visível (seta)…………………………………………………………………123
Figura 11 - Ovo de Echinococcus sp. numa amostra de fezes de cão (amp. 400X)……...124
Figura 12 - Ciclo de vida do Echinococcus granulosus……………………………...….125
Figura 13 - História natural dos quistos do fígado de Echinococcus granulosus………...127
Figura 14 - Quisto hidático unilocular de Echinococcus granulosus……………...…….128
Figura 15 - Quistos hidáticos presentes no fígado e no pulmão de um ovino……………131
Figura 16 - Quistos hidáticos no fígado…………………………………………………132
Figura 17 - Quisto hidático no pulmão…………………………………………………..133
Figura 18 - Componentes principais da resposta imunológica ao fluído do quisto hidático
no hospedeiro: imunomoduladores derivados de Echinococcus granulosus e as principa is
citocinas que regulam esta resposta……………………………………………………...136
Figura 19 - Composição qualitativa e quantitativa das subunidades AgB de quistos bovinos
e humanos. (A) Resumo esquemático das subunidades de AgB identificadas por
espetrometria de massa a partir de amostras bovinas e humanas digeridas em solução e em
gel. (B) Alinhamento dos péptidos maduros de AgB mostrando as sequências identificadas
por espetrometria de massa realçada em cinzento………………………..………………139
Figura 20 - Respostas imunológicas durante o desenvolvimento de um quisto hidático de
E. granulosus no hospedeiro intermediário…………………………………………...…146
Figura 21 - Classificação dos quistos hidáticos segundo a OMS………………………..151
Figura 22 - Tomografia computadorizada da pélvis de um paciente com quistos
disseminados de Echinococcus granulosus (antes do tratamento)……………………….162
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice de Figuras
VIII MAC
xxii Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Figura 23 - Tomografia computadorizada da pélvis de um paciente com quistos
disseminados de Echinococcus granulosus (após 3 meses de tratamento com
albendazol)………………………………………………………………………………162
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice de Tabelas
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xxiii
Índice de Tabelas
Parte II
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves
Tabela 1 - Áreas laboratoriais abrangidas no Estágio Curricular com indicação da respetiva
carga horária. ........................................................................................................................ 4
Tabela 2 – Parâmetros instalados no equipamento cappilarys. ......................................... 12
Tabela 3 – Alguns parâmetros determinados pelo sistema analítico ADVIA Centaur®. .. 13
Tabela 4 – Alguns parâmetros determinados pelo sistema analítico IMMULITE® 2000. 14
Tabela 5 - Parâmetros determinados pelo sistema analítico COBAS® e411. ................... 15
Tabela 6 - Testes para estudo da Função Hepática. .......................................................... 27
Tabela 7 - Origem e localização, sensibilidade e cinética dos marcadores bioquímicos de
lesão do miocárdio. Adaptado de (Mcpherson & Pincus 2011). ........................................ 30
Tabela 8 - Alguns dos parâmetros doseados por HPLC encontram-se descritos na tabela
abaixo. ................................................................................................................................ 42
Tabela 9 - Parâmetros doseados por EAA......................................................................... 43
Tabela 10 - Parâmetros doseados pelo método CG-EM. .................................................. 44
Tabela 11 - Alguns parâmetros determinados pelo Contador Gama Wallac Wizard® 1470.
............................................................................................................................................ 46
Tabela 12 – Caraterísticas das Síndromes da α-talassemia. Adaptado de (Mcpherson &
Pincus 2011). ...................................................................................................................... 67
Tabela 13 – Caraterísticas laboratoriais das anemias microcíticas e hipocrómicas. Adaptado
de (Mcpherson & Pincus 2011).......................................................................................... 69
Tabela 14 - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com
respetiva composição e características. .............................................................................. 77
Tabela 14a - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com
respetiva composição e características (continuação). ....................................................... 78
Tabela 14b - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com
respetiva composição e características (continuação). ....................................................... 79
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice de Tabelas
VIII MAC
xxiv Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 14c - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com
respetiva composição e características (continuação). ....................................................... 80
Tabela 15 - Principais testes de identificação de microrganismos realizados na área de
microbiologia. .................................................................................................................... 83
Tabela 16 – Aspetos importantes relacionados com a colheita, exame direto e exame
cultural da urina.................................................................................................................. 86
Tabela 17 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e o exame cultural e exame
cultural do exsudado faríngeo. ........................................................................................... 87
Tabela 18 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e exame cultural do exsudado
nasal.................................................................................................................................... 88
Tabela 19 – Aspetos importantes relacionados com a colheita, exame direto e exame
cultural da expetoração e secreções brônquicas. ................................................................ 89
Tabela 20 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e exame cultural de
hemoculturas. ..................................................................................................................... 90
Tabela 21 – Aspetos importantes relacionados com a colheita, exame direto e exame
cultural do exsudado vaginal e uretral. ............................................................................... 92
Tabela 22 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e exame cultural de
coproculturas. ..................................................................................................................... 93
Parte III
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose: Epidemiologia,
Patogénese, Clínica, Imunologia, Tratamento e Prevenção
Tabela 1 - Echinococcus sp. na Europa e respetivos hospedeiros definitivos e
intermediários…………………………………………………………………………...106
Tabela 2 - Principais fatores de risco para infeção com Echinococcus granulosus em
diferentes tipos de hospedeiro…………………………………………………………...112
Tabela 3 - Consulta de hidatidologia (HESE): Incidência média anual no distrito de Évora
por concelhos no trinténio 1979-2008 e no quinquénio 2004-2008……………………...118
Tabela 4 – Consulta de hidatidologia (HESE) no trinténio 1979-2008: Incidência média
anual no distrito de Évora, por quinquénios…………………………...…………………119
Tabela 5 - Sinais e sintomas associados a doença hidática………………………………134
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Índice de Tabelas
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva xxv
Tabela 6 - Principais moléculas antigénicas de Echinococcus granulosus identificadas e
caracterizadas……………………………………………………………………………138
Tabela 7 - Efeito imunorregulador in vitro e in vivo de Echinococcus granulosus perante a
resposta imunológica do hospedeiro humano à invasão parasitária. ……………………143
Tabela 8 - Abordagens para o imunodiagnóstico da HQ humana………………………..153
Tabela 9 - Sensibilidade de vários ensaios para deteção de anticorpos em pacientes com
hidatidose quística confirmada…………………………………………………………..154
Tabela 10 - Sensibilidade de testes secundários para deteção de anticorpos em casos de
hidatidose quística humana (exemplos)………………………………………………….155
Tabela 11 - Especificidade de testes secundários para deteção de anticorpos, no
imunodiagnóstico de HQ, usando antigénios de E. granulosus………………………….156
Tabela 12 - Técnicas cirúrgicas para o tratamento da HQ no fígado e pulmão…………..158
Tabela 13 - Formas de tratamento estratificadas por fase de quisto e nível de cuidados de
saúde associado………………………………………………………………………….164
Tabela 14 – Resumo dos programas de controlo da equinococose quística……………...166
Tabela 15 – Opções consideradas no controlo da equinococose quística………………..168
Tabela 16 – Fases de controlo consideradas num programa de controlo………………...169
Parte II
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Introdução
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 3
Relatório de estágio realizado no Laboratório
Dr. Joaquim Chaves
1. Introdução
Os meios complementares de diagnóstico aplicados na saúde são uma área científica
indispensável à investigação clínico- laboratorial, com a finalidade de dar suporte e
viabilizar um correto diagnóstico, tratamento e prevenção da doença no indivíduo e na
comunidade. Este é o papel dos profissionais de Análises Clínicas integrados em equipas
multidisciplinares, que desenvolvem a sua atividade ao nível da Patologia Clínica, através
do estudo, da aplicação e da avaliação das técnicas e métodos analíticos próprios, com fins
de diagnóstico e rastreio de patologias e monitorização terapêutica.
O presente relatório de estágio pretende descrever todas as atividades que
acompanhei e realizei durante as 1080 horas de estágio curricular, realizado no âmbito do
curso de Mestrado em Análises Clínicas, da Faculdade de Farmácia da Universidade de
Lisboa. Decorreu no período de 7 Março a 16 de Setembro de 2016, e realizou-se no
Laboratório Dr. Joaquim Chaves, sob orientação da Especialista em Análises Clínicas pela
Ordem dos Farmacêuticos Drª Catarina Rombo. A Direção Técnica do LJC encontra-se a
cargo do Dr. Carlos Cardoso (Farmacêutico Especialista em Análises Clínicas).
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Introdução
VIII MAC
4 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Foram abrangidas diversas áreas analíticas, sendo o estágio organizado da seguinte
forma:
Tabela 1 - Áreas laboratoriais abrangidas no Estágio Curricular com indicação da respet iva carga horária.
Data Área Laboratorial Área de Estágio
07 Março COL/TRG Colheitas/Triagem
14 Março IMN Imunologia
18 Abril CRL Hematologia
23 Maio QAL
Bioquímica 13 Junho RIA
27 Junho CRL
08 Agosto MBL Microbiologia
12 Setembro IBM
16 Setembro Fim do estágio
Neste relatório irão ser abordados os diversos equipamentos e metodologias executadas
na determinação dos mais variados parâmetros analíticos. De forma a não torná-lo
demasiado exaustivo será organizado por áreas. Para cada área será feita uma breve
explicação dos equipamentos utilizados, fundamento do método, exemplo de parâmetro
analítico determinado por esse método. É importante referir que a quantidade de parâmetros
analíticos determinados no Laboratório é muito vasta. Por esse motivo tornar-se-ia
demasiado extenuante referir ou abordar todas as determinações observadas durante o
estágio.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Colheitas e Triagem
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 5
2. Colheitas e Triagem
Ao Laboratório Dr. Joaquim Chaves chegam amostras biológicas das Clínicas que
integram o Grupo Joaquim Chaves, dos diversos postos de colheita pertencentes ao Grupo
Joaquim Chaves, de outros laboratórios privados e de hospitais.
Após a colheita das amostras biológicas procede-se à triagem. O processo de triagem
compreende a receção, verificação, processamento e manipulação primária das amostras
biológicas, bem como a avaliação da conformidade das mesmas. Os critérios de rejeição
das amostras são estabelecidos de acordo com os requisitos definidos no Manual de
Colheitas do LJC. Diversos aspetos podem levar à rejeição imediata das amostras biológicas
tais como, amostras coaguladas, amostras colhidas em tubos inadequados, relação entre o
anticoagulante e a amostra colhida incorreta, amostras com volume inadequado para a
realização das análises solicitadas, amostra com sinais aparentes de envelhecimento,
amostras mal acondicionadas, entre outros.
Quando as amostras dão entrada no LJC é colocado um código de barras para a sua
identificação, de forma a minimizar a possibilidade de trocas de produtos biológicos. Na
secção da triagem volta a ser controlado o código de barras associado a cada amostra. É
efetuado um controlo dos dados do utente, o número de análises que têm de ser efetuadas e
após verificação da integridade da amostra, são encaminhadas para as diferentes secções de
análise de forma a dar início a fase analítica. As amostras categorizadas como “Urgentes”
são sempre analisadas com prioridade.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
VIII MAC
6 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
3. Química Clínica
3.1 Core Laboratorial (CRL)
3.1.1 ADVIA® 2400
O sistema bioquímico ADVIA® 2400 é um analisador automatizado de química
clínica de ensaio multiparamétrico destinado à determinação de parâmetros bioquímicos, a
partir de diferentes amostras biológicas (soro, plasma, derrames das serosas, líquido
cefalorraquidiano e urina), por ensaios espetrofotométricos e de potenciometria indireta
(elétrodos seletivos de iões – Na+, Cl- e K+ - ISE). Neste sistema são realizados a maioria
dos parâmetros da Bioquímica Clínica abordados. O Exame Sumário de Urina (Urina tipo
II) e a Análise de Proteínas por Imunofixação e Eletroforese, realizados nos equipamentos
descritos em 3.1.2 e 3.1.3, são considerados à parte deste sistema analítico.
O Analisador fotométrico realiza métodos imunoturbidimétricos e de química
clínica. O módulo colorimétrico permite a execução de 1800 testes/hora e mais de 70
parâmetros, enquanto que o módulo de ionograma permite a execução de 600 testes/hora.
Os ensaios imunoturbidimétricos utilizam a reação de ligação entre um anticorpo e uma
proteína (antigénio) para produzir imunocomplexos que aumentam a turvação da mistura.
Os ensaios de química clínica baseiam-se na alteração de cor resultante da reação do analito
da amostra com os reagentes específicos deste método. A concentração do analito pode ser
determinada pela criação de uma curva padrão a partir da absorvância dos padrões. É
também um analisador de eletrólitos, que mede as concentrações de sódio, potássio e cloreto
nas amostras de soro, plasma ou urina com base num procedimento potenciométrico que
utiliza elétrodos ião-seletivos (ISE).
O sistema analítico permite ainda a determinação dos índices de hemólise, icterícia
e “lipémia”/turvação das amostras analisadas. Estes índices são úteis para a validação
analítica dos ensaios uma vez que determinados analitos sofrem a interferência da hemólise,
icterícia ou turvação em vários graus.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 7
3.1.2 Análise Sumária da Urina
A análise sumária da urina, também designada por urina tipo II, é um exame simples,
não invasivo, que permite não só despistar a presença de patologias extra-renais (doenças
hepáticas, inflamatórias sistémicas, metabólicas, plasmocíticas secretoras e associadas a
hemólise intravascular) e do aparelho urinário, como também auxilia na monitorização da
doença, possibilitando avaliar a sua evolução clínica e a resposta ao tratamento.
A amostra de eleição é a primeira urina da manhã (urina de 8h a 12h) ou, em alternativa,
uma amostra aleatória colhida ao longo do dia, preferencialmente após retenção urinária de
pelo menos 4h.
Analisador de Urinas CLINITEK Atlas® (SIEMENS)
Para o exame físico da urina é utilizado o equipamento CLINITEK Atlas® que
realiza a análise por espectrofotometria e refratometria. O exame bioquímico baseia-se na
espetrofotometria de refletância (dispersão) que, através da análise da cor e da intensidade
da luz refletida determina o pH e, qualitativa ou semi-quantitativamente, as proteínas,
esterases leucocitárias, nitritos, glicose, corpos cetónicos, hemoglobina, pigmentos biliares
e o urobilinogénio em amostras de urina. A gravidade específica (densidade) é determinada
através do índice de refração (refratometria). Por este método, é determinado o grau de
desvio de um feixe de luz que atravessa a solução (índice de refração), que é diretamente
proporcional à concentração dos solutos presentes na amostra.
As amostras contidas em tubos para a análise são carregadas em rack’s com
capacidade máxima de 10 tubos cada uma e apresenta uma capacidade de até 200 amostras
ao mesmo tempo. Para a análise é necessário um volume mínimo de 2 mL de urina. Se o
volume disponível for insuficiente, as tiras reativas são utilizadas isoladamente.
Para a identificação e quantificação dos elementos figurados presentes nas amostras
de urina, por citometria de fluxo e impedância, utiliza-se o Citómetro Sysmex UF-1000i™.
Os parâmetros reportados são Eritrócitos (RBC), Leucócitos (WBC), Células Epitelia is
(EC), Cilindros (CAST) e Bactérias (BACT). Também fornece parâmetros de alarme tais
como, Cilindros Patológicos, Cristais, Células Pequenas, Redondas, Esperma, Leveduras e
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
VIII MAC
8 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Muco. Este analisador utiliza a tecnologia de citometria de fluxo fluorescente com laser
semi-condutor. Esta tecnologia permite a diferenciação das populações celulares sem
qualquer intervenção por parte dos profissionais de laboratório ou necessidade de
identificação microscópica dos elementos formados da urina. Cada partícula gera um sinal
específico de acordo com a sua composição interna ao reagir com os corantes fluorescentes.
A combinação de luz dispersa lateral (complexidade interna da célula), luz dispersa frontal
(volume celular) e fluorescência das partículas coradas fornece a quantificação específica
de cada elemento.
Exame Microscópico
Para o estudo das cristalúrias e para a pesquisa e caracterização dos eritrócitos
dismórficos (acantócitos) a observação ao microscópio do sedimento urinário deve ser
realizada até 2h após a colheita.
A análise dos elementos figurados da urina é efetuada, inicialmente, por citometr ia
de fluxo e confirmada sempre que for necessário pelo exame microscópico do sedimento
(por exemplo, quando há discordância entre a história clínica, os resultados do exame físico -
químico e os do citómetro de fluxo). A microscopia também pode servir como um teste de
confirmação em algumas circunstâncias (por exemplo, eritrócitos, leucócitos, bactérias).
O exame microscópico permite identificar, caracterizar e semi-quantificar os elementos
figurados clinicamente mais significativos presentes nas amostras de urina:
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 9
a) Células epiteliais: tubulares renais, epitélio de transição (urotélio) e epitelia is
pavimentosas (Figura 1A, B e C).
b) Células de origem hematogénica: leucócitos e eritrócitos. Os leucócitos que
aparecem mais frequentemente na urina são os polimorfonucleares neutrófilos
(Figura 1D).
c) Cilindros: são os únicos elementos formados de urina que têm o rim como seu
único local de origem. Apresentam-se como estruturas cilíndricas com matriz
proteica, formadas e moldadas no lúmen dos túbulos renais e ductos coletores,
que podem estar presentes na urina acompanhando muitas vezes a proteinúria.
d) Cristais: a sua presença, na maior parte dos casos, têm pouco significado clínico,
nomeadamente cristais de fosfato, oxalato (Figura 1G) e urato. São considerados
patológicos os cristais que estão relacionados com alterações metabólicas, tais
como os de cistina, tirosina (Figura 1E) e leucina (Figura 1F).
Figura 1 - Exemplos de elementos figurados clinicamente mais significativos presentes nas amostras de
urina: A- Célula epitelial pavimentosa (×200); B- Células epiteliais de transição (×430); C- Células
epiteliais tubulares renais (×200); D- Neutrófilos com ácido acético diluído (×100); E- Cristais de tirosina
(×160); F- Cristais de leucina (×160); G- Cristais de oxalato de cálcio (×200). Adaptado de (Mcpherson &
Pincus 2011).
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
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10 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Significado Clínico
A determinação da gravidade específica e da osmolalidade refletem a capacidade de
concentração dos rins. Após um período de desidratação, a osmolalidade deve ser de três a
quatro vezes a do plasma.
A glicose pode aparecer na urina com diferentes níveis de glicose no sangue, e nem
sempre há uma hiperglicemia concomitante. A glicosúria geralmente ocorre quando o nível
sanguíneo é maior que 180-200 mg/dL. A glicosúria pode ser vista em várias condições,
sendo maioritariamente característica da Diabetes Mellitus (DM). A cetonúria pode ser vista
em indivíduos diabéticos. Pode também surgir em outros estados, como doença febril e
caquexia.
A deteção de uma quantidade anormal de proteína na urina é um indicador
importante da doença renal, pois a proteína tem uma taxa tubular máxima de reabsorção
muito baixa. Uma proteinúria maior do que 4 g/dia é característica da síndrome nefrótica.
Embora a síndrome nefrótica seja geralmente considerada doença renal primária, pode
dever-se também a doença sistémica que afeta os rins. A pesquisa de nitritos e de esterases
leucocitárias é usada para ajudar a diagnosticar infeção do trato urinário. Os resultados
positivos devem ser confirmados por análise microscópica da urina.
A presença de um número anormal de eritrócitos na urina é conhecida como
hematúria, enquanto o termo hemoglobinúria refere-se à presença de hemoglobina livre na
solução de urina. A hematúria é relativamente comum, hemoglobinúria incomum e
mioglobinúria rara. A hematúria pode ocorrer em doenças neoplásica e não-neoplásicas ou
trauma (incluindo cálculos) em qualquer região do trato urinário, bem como em distúrbios
hemorrágicos e durante a terapêutica com anticoagulantes e fármacos como a
ciclofosfamida. Qualquer causa de hemólise tem o potencial de causar hemoglobinúria, no
entanto a presença de hemoglobinúria indica hemólise intravascular significativa. A
mioglobinúria ocorre geralmente em consequência da destruição aguda das fibras
musculares (rabdomiólise), com o trauma, a mioglobina é libertada e rapidamente eliminada
do sangue e excretada na urina como pigmento castanho-avermelhado. A bilirrub ina
conjugada que aparece na urina geralmente indica que há excesso de bilirrubina conjugada
na corrente sanguínea. Isto pode ocorrer quando há obstrução ao fluxo biliar do fígado
(intra-hepático ou extra-hepático), ou doença hepatocelular com a resultante incapacidade
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 11
dos hepatócitos de excretarem a bilirrubina conjugada na bílis. A presença de
urobilinogénio em quantidades elevadas na urina está associada a patologias
hepatocelulares devido a hepatite viral, drogas ou substâncias tóxicas, ou em alguns casos
de cirrose.
3.1.3 Análise de Proteínas por Imunofixação e Electroforese
Hydrasys Sebia
A eletroforese das proteínas é uma técnica bem estabelecida usada na rotina em
laboratórios clínicos para a triagem de alterações proteicas no soro e outros fluídos
biológicos (ex: derrames de serosas, LCR, urina, etc). Este equipamento semi-automático
de eletroforese em gel (Hydrasys) possui uma tecnologia baseada no princípio de separação
de moléculas num meio de agarose.
Este equipamento destina-se à realização de técnicas de eletroforese com elaboração
e impressão de eletroforetogramas e de imunofixação em suporte de gel de agarose, a partir
de amostras biológicas (soro, derrames de serosas, LCR, urina, etc). Numa primeira fase é
realizada a eletroforese zonal. Esta eletroforese baseia-se na diferença de mobilidade que
as moléculas proteicas possuem, de acordo com as suas cargas elétricas, tamanho e forma,
gerando, em meio alcalino tamponado e num suporte poroso de gel de agarose, quando
submetidas a um campo elétrico de corrente contínua durante um determinado intervalo de
tempo, um eletroforetograma com diferentes frações proteicas, que se vão individualizando
do cátodo para o ânodo. Numa segunda fase é realizada a imunoprecipitação e a fixação
com anti-soros de especificidades diferentes. Após a imunofixação, as proteínas são
reveladas por um corante específico. O resultado semi-quantitativo obtém-se por
densitometria (percentagem relativa de cada uma das frações proteicas). Neste equipamento
realizam-se as seguintes determinações analíticas: eletroforese das isoenzimas da LDH;
eletroforese das isoenzimas da CK; eletroforese das isoenzimas da ALP; electroforese das
lipoproteínas; imunofixação (imunoglobulinas séricas, urinárias e pesquisa e caracterização
da proteína de Bence-Jones) e pesquisa de bandas oligoclonais no líquor.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
VIII MAC
12 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Capillarys 2 (Modelos: 1222 e Flex Piercing)
O equipamento em referência destina-se à realização de eletroforese capilar de zona
(ECZ) a partir de amostras biológicas de sangue, soro ou urina (Modelo 1222) ou apenas
amostras de sangue (Modelo Flex Piercing) com elaboração e impressão dos
eletroforetogramas correspondentes (proteínas ou hemoglobinas). É um sistema analít ico
automatizado e autónomo que funciona integrado no sistema informático do Laboratório.
Este método analítico baseia-se na separação das proteínas em função do pH da
solução eletrolítica e do fluxo eletro-osmótico. O sistema é constituído por um conjunto de
capilares de sílica fundida, dois reservatórios de tampão, uma fonte de alimentação de alta
voltagem e um detetor ligado a uma unidade de aquisição de dados. A amostra é introduzida,
por aspiração, na extremidade anódica (elétrodo positivo) do capilar; quando é aplicada alta
voltagem às extremidades de cada capilar, os iões presentes na amostra são separados
através do fluxo electro-osmótico. O fluxo electro-osmótico resulta do excesso de iões
positivos na superfície capilar interna que se movem em direção à extremidade catódica.
As moléculas positivas da amostra emergem mais cedo para a extremidade catódica do
capilar pois migram no mesmo sentido que o fluxo eletro-osmótico. Os iões negativos
presentes na amostra também se movem na mesma direção mas a uma velocidade mais
lenta. À medida que os iões migram em direção à extremidade catódica do capilar,
diferentes tipos de detetores são usados para determinar as concentrações relativas
(percentagens) de cada grupo de proteínas. As frações separadas são detetadas diretamente
e semiquantificadas percentualmente por espetrofotometria (exemplo: 200 nm e 415 nm)
ao nível da extremidade catódica dos capilares e elaborados os respetivos perfis/padrões
eletroforéticos. A tabela 2 mostra alguns parâmetros instalados no equipamento cappilarys.
Tabela 2 – Parâmetros instalados no equipamento Cappilarys.
Parâmetros Amostras Método
Electroforese das Hemoglobinas Sangue total-EDTA (Eleição);
Sangue total-heparina ou citrato
Eletroforese
capilar de zona
(ECZ)
Electroforese das Proteínas Séricas Soro ECZ
Electroforese das Proteínas urinárias Urina ECZ
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 13
3.1.4 ADVIA Centaur®
O sistema ADVIA Centaur® um equipamento de ensaio multiparamétrico destinado à
determinação de diversos analitos usando a tecnologia de quimiluminescência. É um
método imunológico baseado na emissão de luz a partir de uma reação de oxidação-redução;
a oxidação do éster de acridina induzida por uma solução alcalina, seguida pela sua redução
pela ação de um ácido, origina a emissão de luz (unidades relativas de luz - RLUs) detetada
e medida por um fotomultiplicador; a quantidade de RLUs é diretamente proporcional
(ensaios não competitivos) ou inversamente proporcional (ensaios competitivos) ao analito
presente na amostra biológica. A captura dos complexos imunes antigénio-anticorpo
específicos de cada ensaio é feita através de micropartículas magnetizadas. A tabela 3
mostra alguns parâmetros determinados pelo sistema analítico ADVIA Centaur®.
Tabela 3 – Alguns parâmetros determinados pelo sistema analítico ADVIA Centaur®
.
Parâmetro Unidades Amostra
17-β-Estradiol (E2) ng/L Soro, Plasma
Alfa-fetoproteína (AFP) µg/L Soro
Ácido Fólico µg/L Soro, Plasma-Heparina
Ag Carcinoembrionário (CEA) µg/L Soro, Derrame serosas
Testosterona Total µg/L Soro
CA 125 kU/L Soro, Derrame serosas
CA 15.3 kU/L Soro, Derrame serosas
CA 19-9 kU/L Soro, Derrame serosas
Cortisol µg/dL Soro
Creatina Quinase-MB massa (CK-
MBm)
µg/L Soro, Plasma-Heparina
Ferritina µg/L Soro, Plasma
Mioglobina µg/L Soro, Plasma-Heparina, Urina
PSA Total µg/L Soro
Tiroxina Livre (T4L) ng/dL Soro
Tiroxina Total (T4T) µg/dL Soro
Triiodotironina Livre (T3L) ng/L Soro
Triiodotironina Total (T3T) ng/dL Soro
Troponina-I (cTnI) µg/L Soro, Plasma
Vitamina B12 ng/L Soro, Plasma
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14 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
3.1.5 IMMULITE® 2000
O IMMULITE® 2000 é um equipamento de ensaio multiparamétrico destinado à
determinação de diversos analitos usando a tecnologia de quimioluminiscência. A amostra
é incubada com esferas de poliestireno com anticorpos específicos adsorvidos na sua
superfície (fase sólida) e posterior adição de uma solução de anticorpos marcados com
fosfatase alcalina (ALP). Segue-se uma fase de lavagem para separar a fração ligada às
esferas da livre. A fração ligada, constituída pelo analito a ser determinado, é quantificada
utilizando como substrato quimioluminescente o dioxetano que, ao reagir com a ALP,
promove a emissão de luz. A intensidade de luz emitida é detetada por um fotomultiplicador
sendo o resultado, calculado com base numa curva de calibração. A tabela 4 mostra alguns
parâmetros determinados pelo sistema analítico IMMULITE® 2000.
Tabela 4 – Alguns parâmetros determinados pelo sistema analítico IMMULITE®
2000.
Parâmetros Unidades Amostra
Adrenocorticoestimulina (ACTH) ng/L Plasma EDTA
Calcitonina (hCT) ng/L Soro, Plasma-Heparina
Insulin-Like Growth Factor Binding Protein III
(IGF-BP3)
mg/L Soro
Insulin-Like Growth Factor 1 (IGF-1 ou
Somatomedina C)
µg/L Soro, Plasma-Heparina
Dihidroepiandrosterona (DHEA-SO4) μg/dL Soro
Eritropoietina (EPO) UI/L Soro, Plasma-Heparina
Eritropoietina Endógena (EPO) UI/L Urina
Gonadotrofina Coriónica - Subunidades Beta
Livres (β-hCG)
µg/L Soro
SHBG nmol/L Soro
Somatotrofina (hGH) μg/L Soro
TBG (Thyroxine Binding Globulin) mg/L Soro
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 15
3.1.6 COBAS® e411
O sistema analítico COBAS® e411 é um equipamento de ensaio multiparamétr ico
destinado à determinação de diversos analitos usando a tecnologia de
electroquimioluminescência. A amostra é incubada com um anticorpo monoclona l
biotinilado específico do analito e um anticorpo marcado com ruténio. Desta mistura reativa
resulta a formação de um imunocomplexo de ruténio que é incubado com micropartículas
revestidas com estreptavidina. Após adição de tripropilamina, a reação quimioluminescente
é iniciada eletricamente aplicando voltagem aos complexos de ruténio e consequente
emissão de luz a partir do complexo de ruténio. A luz emitida é diretamente proporcional à
concentração de analito presente na amostra. A tabela 5 mostra os parâmetros determinados
pelo sistema analítico COBAS® e411.
Tabela 5 - Parâmetros determinados pelo sistema analítico COBAS® e411.
Parâmetros Unidades Amostra
Ac. Anti-Recetores da TSH (TRAB) UI/L Soro
CA 72-4 kU/L Soro, Plasma
C-Telopéptido do Colagénio Tipo I, CrossLaps (β-CTx) μg/L Soro, Plasma
CYFRA 21-1 μg/L Soro, Plasma
Enolase Neuroespecífica (NSE) μg/L Soro
Fator de Crescimento Placentário Humano (PIGF) - Fator
Angiogénico ng/L Soro, Plasma
Osteocalcina (BGP) μg/L Soro, Plasma
Propéptido Aminoterminal do Procolagénio 1 Total (P1NP
Total) μg/L Soro, Plasma
Toxoplasma - Avidez dos Ac. IgG [executável a partir de
Toxo-IgG ≥ 6 kUI/L] % Soro, Plasma
Troponina-T (cTnT) μg/L Soro, Plasma
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16 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
3.1.7 Metabolismo dos Hidratos de Carbono
Glicose
As duas alterações básicas que ocorrem com os níveis séricos de glicose são a
hiperglicemia, quase sempre associada a DM, e a hipoglicémia com causa iatrogénica
(sobredosagem de insulina em doente diabético) ou com outras origens subjacentes (como
hipoglicemia reativa devido a "hipersensibilidade" à insulina, insulinoma, etc.).
O diagnóstico da DM é feito com base nos seguintes critérios (American Diabetes
Association – ADA; norma da Direção Geral da Saúde de Portugal):
a. Hemoglobina glicada (HbA1c): ≥ 6,5% obtida em duas ocasiões diferentes
(intervalo de 1 a 2 semanas);
b. Glicemia em jejum (8 a 12h): ≥ 126 mg/dL obtida em duas ocasiões diferentes
(intervalo de 1 a 2 semanas);
c. Glicemia às 2h após ingestão de 75 gramas ou 1,75g/kg até um máximo de 75g
de glucose (intolerância à glucose): ≥ 200 mg/dL;
d. Glicemia colhida aleatoriamente a qualquer hora do dia em jejum ou após
refeição: ≥ 200 mg/dL.
Critérios para pré-diabetes ou disfunção da homeostase da glicose (elevado risco de
DM):
a. Hemoglobina glicada (HbA1c): entre 5,7 e 6,4%;
b. Glicemia em jejum (8 a 12h): entre 100 (OMS: 110) e 125 mg/dL;
c. Glicemia às 2h após ingestão de 75 gramas ou 1,75g/kg até um máximo de 75g
de glucose (intolerância à glicose): entre 140 e 199 mg/dL (cerca de 50% dos
indivíduos com mais de 65 anos verifica-se uma diminuição da tolerância à
glucose).
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 17
Critérios para a diabetes gravídica (entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez):
Prova de tolerância à glicose oral (PTGO: após ingestão de 75 gramas de glicose):
- Glicemia em jejum (8 a 12h): ≥ 92 mg/dL.
- Glicemia aos 60 minutos: ≥ 180 mg/dL.
- Glicemia aos 120 minutos: ≥ 153 mg/dL.
A presença de apenas um destes critérios é suficiente para dar-se o diagnóstico de
DM gestacional. No entanto, os resultados obtidos devem ser posteriormente confirmados
numa segunda análise após 1 a 2 semanas.
Prova de Tolerância Oral à Glicose - PTGO
A prova de estimulação ou de sobrecarga com glicose oral tem o seu principal valor
semiológico na avaliação da capacidade de secreção de insulina pelas células-β dos ilhéus
de Langerhans e no diagnóstico da DM.
Nesta prova é administrada por via oral uma carga de 75 gr de glicose, como descrito
pela OMS. A medição de glicose no plasma é realizada às 0 horas, 1 hora e 2 horas após a
ingestão da carga de glicose. Normalmente, os níveis séricos de glicose aumentam e depois
caem dentro de um período de aproximadamente 2 horas. Se os níveis de glicose
permanecem elevados, no entanto, temos o diagnóstico de DM. Além de auxiliar no
diagnóstico da DM, é igualmente indicada nas seguintes situações:
Testar a diabetes ou Pré-diabetes em doentes assintomáticos;
Deteção e diagnóstico de DMG às 24 a 28 semanas de gestação;
Screening em mulheres com DMG com diabetes persistente, 6 a 12
semanas pós-parto;
Detetar tolerância à glucose diminuída com valores de glucose plasmática
às 2 horas entre 140 mg/dL e 199 mg/dL.
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VIII MAC
18 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Hemoglobina Glicada
A hemoglobina glicada (HbG) resulta da reação não enzimática entre a glicose
circulante e os resíduos N-terminais da valina das cadeias beta da molécula tetramérica da
hemoglobina, incluindo a que também pode estar glicada nos resíduos de lisina. A glicaçã o
da hemoglobina produz uma cetoamina estável, que é medida pelos ensaios de HbA1c.
A determinação da HbG fornece informação sobre a média dos níveis séricos de
glicose nos últimos 90 dias. Embora o tempo médio de vida dos eritrócitos de
aproximadamente 120 dias, os níveis de HbG representam uma média dos níveis de glicose,
com os eritrócitos mais jovens contribuindo numa maior extensão do que os mais
envelhecidos. Aproximadamente 50% do nível de HbG é determinado pelos níveis
plasmáticos de glicose dos últimos 30 dias enquanto que as concentrações plasmáticas de
glicose nos últimos 2 a 4 meses contribuem com 25% cada. Desta forma, os valores de
HbA1C estão livres das flutuações da glucose no dia-a-dia e não são afetados pelo exercício
ou pela recente ingestão de comida. Os métodos de teste foram padronizados para o ensaio
HbA1c, que é agora o teste de eleição para avaliar o controlo glicémico.
Frutosamina
A frutosamina é o nome genérico que engloba as proteínas glicadas circulantes e
tecidulares. Resulta da ligação não enzimática entre a glicose circulante e os grupos ε-amino
dos resíduos de lisina de todas as proteínas (com exceção da hemoglobina) originando uma
cetoamina estável e irreversível (glicada) designada de frutosamina. A albumina, sendo a
proteína circulante mais abundante e tendo um tempo de vida médio de 20 dias, é a proteína
glicada determinante no valor da frutosamina. Assim, a concentração da frutosamina reflete
o controlo metabólico da glicémia das últimas 2 a 3 semanas. A determinação da
concentração da frutosamina é indicada apenas como alternativa à HbG (HbA1c), na
avaliação do controlo da glicemia a curto prazo dos doentes com DM, em particular nos
recém-nascidos, nas grávidas e nos portadores de determinadas variantes de hemoglob ina
em que a HbA1c tem pouco valor semiológico (exemplos: HbS, HbC, HbD-Punjab e HbO-
Arab) ou com outras patologias associadas a diminuição do tempo de vida médio dos
eritrócitos (anemias hemolíticas) ou com valores elevados da HbF.
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VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 19
3.1.8 Metabolismo Lipídico
O colesterol e os triglicéridos são os lípidos plasmáticos de maior interesse no
diagnóstico e tratamento de distúrbios de lipoproteínas. As análises de fosfolíp idos
geralmente fornecem poucas informações adicionais e são raramente necessárias.
Ocasionalmente, podem ser solicitados em casos de doença hepática obstrutiva ou
distúrbios associados a níveis de lipoproteína anormalmente baixos.
Colesterol Total
O colesterol é responsável por quase todo o esterol do plasma. Encontra-se sob a
forma livre, não esterificada (30-40%) e esterificada (60-70%), em proporções constantes
entre indivíduos normais. Embora uma pequena parte do colesterol tenha origem exógena
(alimentação), a maioria é sintetizada no organismo a partir do acetil-CoA ao nível das
células das glândulas suprarrenais, das gónadas, da pele e essencialmente no hepatócito. O
colesterol apresenta várias funções no organismo tais como, contribuir para a estrutura das
membranas celulares, é o precursor da Vitamina-D, das hormonas esteroides
(corticosteroides, androgénios e estrogénios) e dos ácidos biliares.
A sua determinação tem interesse na identificação e caracterização dos doentes de
risco de doença aterosclerótica, assim como na monitorização e orientação terapêutica de
doentes com dislipidémias. Na avaliação do risco aterogénico a sua concentração
sérica/plasmática deve ser avaliada conjuntamente com os dados da história clínica e com
os valores de outras determinações analíticas, designadamente da lipoproteína-HDLc,
lipoproteína-LDLc, Apo-B, triglicéridos e da lipoproteína-a (Lp-a).
Triglicéridos
Tem sido utilizada uma grande variedade de métodos para medir os triglicéridos no
plasma, mas os métodos mais utilizados para fins clínicos ou epidemiológicos baseiam-se
na sua hidrólise enzimática e na medição do glicerol libertado. A concentração
sérica/plasmática dos triglicéridos está diretamente relacionada com a das lipoproteínas
ricas em triglicéridos, que têm origem no intestino (quilomicras - Apo-B48) e no fígado
(VLDL - Apo-B100).
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20 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
A determinação da sua concentração tem o seu principal interesse clínico na
identificação e caracterização dos doentes de risco de doença aterosclerótica, na avaliação
da probabilidade de ocorrência de um episódio cardiovascular adverso (estratificação do
risco) e na monitorização e orientação terapêutica das hiperlipoproteinemias primárias
(origem genética/familiar) e secundárias.
Lipoproteínas
As lipoproteínas são tipicamente partículas esféricas constituídas por lípidos não
polares hidrofóbicos (triglicéridos e ésteres de colesterol) no seu núcleo, e lípidos polares
ou anfipáticos (fosfolípidos e colesterol livre) orientados para a superfície. Elas também
contêm uma ou mais proteínas específicas, chamadas apolipoproteínas, que normalmente
estão localizadas na sua superfície. Uma vez que as diferentes lipoproteínas partilham
componentes lipídicos e apolipoproteicos, o problema central da sua análise reside na
separação das suas diferentes classes: cHDL, cLDL, cVLDL e quilomicras.
Muitos métodos foram aplicados à separação de lipoproteínas, incluindo
ultracentrifugação, adsorção, filtração em gel, cromatografia de afinidade, electroforese em
vários meios, precipitação com polianião e álcool, procedimentos imunoquímicos e várias
combinações de métodos.
cHDL
A lipoproteína HDL é uma pequena partícula, constituída essencialmente de
proteínas, colesterol e fosfolípidos, com apenas vestígios de triglicéridos. É produzida no
fígado e intestino, e está envolvida no transporte reverso de colesterol. A lipoproteína cHDL
contém apenas apolipoproteína-A (Apo-A). Os níveis da cHDL relacionam-se inversamente
com o risco de doença cardiovascular aterosclerótica. Na avaliação do risco aterogénico a
sua concentração sérica/plasmática deve ser avaliada conjuntamente com os dados da
história clínica e com os valores de outras determinações analíticas, nomeadamente da Apo-
B, colesterol total, lipoproteína-LDLc, triglicéridos e da lipoproteína-a (Lp-a).
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cLDL
A lipoproteína LDL é produzida pelo metabolismo das VLDL em circulação e
constitui cerca de 50% da massa total de lipoproteínas no plasma humano. As partículas são
muito menores do que as lipoproteínas ricas em triglicéridos (VLDL e Quilomicras) e não
dispersam a luz nem alteram a clareza do plasma mesmo quando presentes em
concentrações muito elevadas. As lipoproteínas LDL consistem em aproximadamente 50%
de colesterol, principalmente esterificado, 25% de proteína, principalmente apoB-100 com
vestígios de apo-C, 20% de fosfolípido e alguns triglicéridos.
cVLDL
As partículas de VLDL são produzidas pelo fígado e fornecem aos tecidos do corpo
triglicéridos de origem endógena, principalmente hepática, e colesterol. Em comparação
com as quilomicras, as partículas de VLDL são menores e produzem plasma turvo quando
presentes em quantidades excessivas. São ricas em triglicéridos, embora em menor extensão
do que as quilomicras, e têm uma densidade superior devido à sua menor relação
lípido/proteína. Em massa, as partículas de VLDL contêm aproximadamente 50% de
triglicéridos, 40% de colesterol e fosfolípidos e 10% de proteína, principalmente ApoB-100
e ApoC-I, ApoC-II e ApoC-III, mas também ApoE.
Quilomicras
As quilomicras (QM’s) são grandes partículas produzidas pelo intestino que
transportam lípidos de origem alimentar para os tecidos do corpo. São muito ricas em
triglicéridos, mas relativamente pobres em colesterol livre, fosfolipídios e proteínas. Devido
à elevada relação lípido/proteína, as QM’s são consideravelmente menos densas do que a
água e flutuam sem centrifugação. Quando presentes em níveis elevados, as QM’s resultam
em plasma "leitoso" e acumulam-se como uma camada cremosa flutuante à superfície. As
apolipoproteínas nas QM’s incluem apoB-48, apoA-I, apoA-IV, apoC-I, apoC-II, apoC-III
e apoE.
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Lipoproteína-a
A Lp-a é semelhante à LDL em termos de densidade e composição global, e pode
ser dizer que é como uma partícula de LDL à qual foi adicionada apo-A, ligada a apoB-100
através de uma ligação dissulfureto. O aumento dos níveis pode ser familiar, mostrando um
padrão de herança autossómico dominante, e tem sido associado a um risco aumentado de
doença cardíaca congénita, doença cerebrovascular e acidente vascular cerebral. A Lp-a é
sintetizada no fígado, mas os detalhes de seu metabolismo não estão bem compreendidos.
Apolipoproteína-A1
A Apolipoproteína-A1 (Apo-A1) constitui cerca de 90% do material proteico da
lipoproteína cHDL. Apesar das suas concentrações séricas/plasmáticas estarem diretamente
relacionadas com as desta lipoproteína, não é recomendável prescrever a sua determinação
como marcador de primeira linha para determinar o risco de doença cardiovascular
aterosclerótica com a qual está inversamente relacionada.
Apolipoproteína-B
A apolipoproteína-B (Apo-B) é um bom marcador de dislipidémia, os seus níveis
séricos relacionam-se diretamente com a concentração de todas as lipoproteínas
aterogénicas (VLDL, IDL e LDL), tendo já sido proposto como alternativa à determinação
da lipoproteína cLDL na identificação e estratificação dos doentes de risco.
Tal como a Apo-A, a Apo-B tem como principal valor semiológico a identificação
e caracterização dos doentes de risco de doença aterosclerótica, avaliação da probabilidade
de ocorrência de um episódio cardiovascular adverso e monitorização e orientação
terapêutica das hiperlipoproteinemias primárias e secundárias.
3.1.9 Estudo da Função Renal
As análises bioquímicas assumem um papel relevante na avaliação do dano renal,
na monitorização do seu progresso e tratamento, mas muito raramente ajuda a estabelecer
a sua causa. Os rins têm uma grande capacidade de aumentar a sua função em resposta a
injúria. Desta forma, uma redução significativa da massa renal funcional (50-60%) pode
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VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 23
ocorrer antes de qualquer alteração dos parâmetros laboratoriais se tornem clinicamente
significativos e surjam os primeiros sinais e sintomas de doença renal.
Creatinina
A creatinina é uma substância endógena produzida pelo músculo a partir de creatina
e fosfato de creatina por um processo de desidratação não enzimática. A taxa de produção
de creatinina é proporcional à pool de fosfato de creatina-creatina, que, por sua vez, é
proporcional à massa muscular do indivíduo. Uma fonte adicional de creatinina é a creatina
contida na carne ingerida ou suplementos dietéticos. A creatinina é o marcador mais
utilizado para o cálculo da taxa de filtração glomerular (GFR) por várias razões. Em
primeiro lugar, é uma substância endógena com uma taxa de produção bastante constante.
Em segundo lugar, a creatinina não está ligada às proteínas plasmáticas, portanto, é filtrada
livremente pelo glomérulo. Não é reabsorvida pelos túbulos renais, e apenas uma pequena
quantidade é secretada pelos túbulos. Com o uso da depuração da creatinina, a
inconveniência da colheita de urina e a incerteza de sua integridade podem ser evitadas pela
estimativa da taxa de excreção renal. Quando a função renal é normal e estável, a excreção
de creatinina é quase igual à sua produção, que depende principalmente da massa muscular.
A massa muscular varia de acordo com sexo, idade e peso corporal.
A concentração da creatinina no soro/plasma é inversamente proporcional à GFR e
reflete o número de nefrónios funcionantes. A fórmula de Cockcroft-Gault reduz a
variabilidade das estimativas de creatinina sérica da GFR causada por diferenças na
produção de creatinina devido a diferenças na massa muscular com base no sexo e idade.
No entanto, como a fórmula não leva em conta as diferenças na produção de creatinina
devido à variação na massa muscular causada pelos estados patológicos, ela superestima
sistematicamente a GFR em indivíduos com massa muscular relativamente baixa em
relação ao seu peso corporal, como obesos, edematosos ou indivíduos cronicamente
debilitados. Além disso, não leva em consideração as variações causadas pela eliminação
extra renal e pela secreção tubular.
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Ureia
A ureia é o principal produto resultante do catabolismo de proteínas e ácidos
nucleicos. Mais de 90% da ureia é excretada através dos rins, com perdas através do trato
gastrointestinal e pele em menor extensão. Consequentemente, a doença renal está
associada à acumulação de ureia no sangue. A ureia sérica é amplamente utilizada como
medida da disfunção renal. No entanto, a clearance da ureia é um pobre indicador da GFR
uma vez que o seu aumento pode dever-se a fatores extra renais, incluindo uma dieta rica
em proteínas, o aumento do catabolismo proteico, a perda de massa muscular, diminuição
da perfusão dos rins, entre outros.
A determinação da ureia no soro ou plasma e na urina, isoladamente ou em conjunto
com a determinação da creatinina, apesar da sua enorme falta de sensibilidade e de
especificidade, é utilizada habitualmente como análise de rotina na avaliação da função
renal, assim como da eficácia e da adequabilidade da diálise.
Ácido Úrico
O ácido úrico é o principal produto do catabolismo dos nucleósidos de purina,
adenosina e guanosina. Aproximadamente 75% do ácido úrico excretado é perdido na urina,
e a maior parte do restante é secretada para o trato gastrointestinal, onde é degradada a
alantoína e outros compostos por enzimas bacterianas. A manipulação renal do ácido úrico
é complexa e envolve quatro etapas sequenciais: (1) filtração glomerular; (2) reabsorção no
túbulo contornado proximal de cerca de 98 a 100% do ácido úrico filtrado; (3) subsequente
secreção de ácido úrico no lúmen na porção distal do túbulo proximal; e (4) reabsorção
adicional no túbulo distal. A excreção urinária líquida de ácido úrico é de 6 a 12% da
quantidade filtrada.
A hiperuricemia assintomática é frequentemente detetada através de rastreio
bioquímico. O seguimento a longo prazo destes pacientes é realizado porque muitos estão
em risco de doença renal que pode se desenvolver como resultado de hiperuricemia e
hiperuricosúria. A determinação do ácido úrico sérico é predominantemente utilizada na
investigação da gota, seja como resultado de uma hiperuricemia primária, seja por outras
condições ou tratamentos que dão origem a hiperuricemias secundárias. Também é utilizado
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VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 25
no diagnóstico e monitorização da hipertensão induzida pela gravidez (toxemia pré-
eclâmptica).
3.1.10 Estudo da Função Hepática
Os testes de função hepática são úteis na deteção e diagnóstico de doenças e
disfunções hepáticas, bem como na avaliação da gravidade, monitorização da terapêutica e
avaliação do prognóstico. A matriz de testes úteis para estes fins inclui a medição no plasma
das concentrações de bilirrubina total e direta, proteínas e albumina, tempo de protrombina
(TP) e a atividade de enzimas tais como as aminotransferases (Aspartato aminotransferase
- ASAT e Alanina aminotransferase - ALAT), fosfatase alcalina (ALP), lactato
desidrogenase (LDH) e GGT. Recorrendo a determinadas combinações destes testes, é
possível classificar os tipos de doença hepática, que podem então ser mais precisamente
diagnosticados através de testes específicos da doença.
Bilirrubina sérica
A medição seriada da bilirrubina é útil na avaliação da gravidade da lesão hepática
em vários tipos de doença hepática (por exemplo, hepatite alcoólica, cirrose). Na hepatite
aguda, os picos de bilirrubina surgem mais tarde do que o das enzimas, e a bilirrubina sérica
permanece elevada durante mais tempo do que a bilirrubina urinária devido à presença de
biliproteína (δ-bilirrubina). Aumentos na bilirrubina na maioria das doenças hepáticas são
principalmente devidos a um aumento na bilirrubina conjugada (direta). Um aumento na
bilirrubina não conjugada geralmente não é devido a doença hepática, embora a hepatite
aguda grave e a cirrose são frequentemente associadas a elevações principalmente de
bilirrubina não conjugada. Os pacientes apresentam ocasionalmente elevações isoladas na
concentração de bilirrubina e níveis normais de enzimas associadas ao fígado. O aumento
da bilirrubina não conjugada (indireta) nestas situações ocorre devido ao aumento da
produção de bilirrubina (hemólise, rabdomiólise, hematomas extensos) ou à conjugação
prejudicada (diminuição hereditária da atividade de conjugação na síndrome de Gilbert ou
síndrome de Crigler-Najjar, inibição enzimática induzida por fármacos (atazanavir),
imaturidade do fígado na icterícia fisiológica do recém-nascido).
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Albumina plasmática
A determinação da albumina plasmática é útil na avaliação da cronicidade e
gravidade da doença hepática. Os níveis de albumina diminuem na doença hepática crónica
avançada. Contudo, a sua utilidade para este fim é um tanto limitada, uma vez que a
concentração de albumina no plasma também diminui na doença hepática aguda grave e é
reduzida por muitos outros distúrbios, e de forma não específica na doença aguda.
Enzimas plasmáticas (ASAT, ALAT, ALP e GGT)
Na prática, as aminotransferases plasmáticas e a ALP são os testes mais úteis, pois
permitem a diferenciação entre a doença hepatocelular e a doença colestática na maioria
dos casos. Esta distinção não pode ser desvalorizada uma vez que a incapacidade de
reconhecer a doença colestática causada por obstrução biliar extra-hepática resultará em
insuficiência hepática se a obstrução não for rapidamente corrigida. Um aumento isolado
na atividade de ALP é difícil de interpretar. Em crianças, sempre deve ser considerada a
hiperfosfatasemia transitória benigna. Em adultos, é necessário primeiro confirmar que a
ALP é de origem hepatobiliar. Isto pode ser feito pela medição da atividade de outra enzima
canalicular tal como a 5 'nucleotidase ou a GGT, que habitualmente está aumentada em
paralelo com a atividade de ALP na colestase. Nestes casos é relevante descartar as lesões
que ocupam espaço visualizando o fígado com tomografia computadorizada (CT) e doença
do trato biliar, observando a árvore biliar com ultra-som ou colangiografia. As atividades
plasmáticas elevadas de ASAT e ALAT são comuns em muitos distúrbios. Para determinar
se esta elevação está relacionada com o fígado, a administração de todas as drogas e a
ingestão de álcool (especialmente se a ASAT for superior à ALAT) deve ser interrompida.
Se a elevação persistir, o ultra-som (procurando fígado gordo não-alcoólico) e a serologia
da hepatite B e C devem ser realizados. Mais de 50% das elevações isoladas de enzimas de
origem hepática serão causadas por esses distúrbios. Uma biópsia hepática é muitas vezes
necessária para permitir um diagnóstico mais específico. Para detetar a fibrose, a biópsia
hepática é o teste mais fiável.
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Tempo de Protrombina
As determinações do TP podem ser utilizadas para diferenciar entre colestase e
doença hepatocelular grave. Na prática clínica, o TP deve ser medido novamente após a
injeção de vitamina K, pois a colestase causa uma diminuição do TP como resultado da má
absorção de vitamina K. O paciente tem colestase se o TP corrigir após a reposição de
vitamina K. Ao longo do tempo, se o TP não retornar ao normal, podemos concluir que o
paciente apresenta doença hepatocelular grave.
Na tabela 6 encontram-se resumidos os principais testes para estudo da função
hepática com a respetiva utilidade clínica.
Tabela 6 - Testes para estudo da Função Hepática.
Teste Utilidade
Bilirrubina total Diagnóstico da icterícia, modesta correlação com a gravidade
Fosfatase alcalina (ALP) Diagnóstico de distúrbios do metabolismo e distúrbios do recém-
nascido
Bilirrubina conjugada e não
conjugada Diagnóstico de colestase e lesões que ocupam espaço
Aspartato aminotransferase
(ASAT)
Teste sensível da doença hepatocelular; ASAT> ALAT na
doença alcoólica
Alanina aminotransferase
(ALAT) Teste sensível e mais específico da doença hepatocelular
Albumina Indicador de cronicidade e gravidade
Tempo de Protrombina (TP) Indicador de gravidade da colestase
3.1.11 Estudo da Função Pancreática
A função pancreática é avaliada pela determinação de enzimas específicas tais
como, a amílase, a lípase, a quimiotripsina e a tripsina, que são quase exclusivamente
aplicadas à investigação da pancreatite. A pancreatite é uma inflamação do pâncreas
causada por lesões nas células acinares devido à ativação de enzimas digestivas dentro do
parênquima pancreático. Caracteriza-se por morbidade e mortalidade significativas. As
manifestações clínicas da pancreatite são altamente variáveis. A pancreatite aguda
habitualmente apresenta-se com dor abdominal, náuseas e vómitos. A suspeita clínica é
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confirmada pelo aumento da amilase sérica e/ou lipase. A pancreatite crónica é
caracterizada por dor abdominal persistente ou recorrente, evidência de insuficiênc ia
pancreática exócrina e endócrina que pode ser resultado da inflamação ou da destruição do
pâncreas.
Amilase pancreática
Na pancreatite aguda, ocorre um aumento da atividade sérica da α-amilase dentro
de 5 a 8 horas após o início dos sintomas, que normalmente retornam ao normal no terceiro
ou quarto dia. Uma elevação de quatro a seis vezes na atividade da α-amilase acima do
limite de referência superior é comum, com concentrações máximas atingidas em 12 a 72
horas. A extensão da elevação da atividade da enzima sérica não está relacionada com a
gravidade do envolvimento pancreático. No entanto, quanto maior o aumento, maior a
probabilidade de pancreatite aguda. Uma porção da depuração da α-amilase da circulação
ocorre através da excreção renal na urina, e o aumento da atividade sérica reflete-se num
aumento da sua atividade urinária. Em comparação com a α-amilase no soro, a α-amilase
urinária atinge concentrações mais altas e persiste por períodos mais longos. A
especificidade clínica da amilase para o diagnóstico de pancreatite aguda é baixa (20 a
60%), uma vez que também se verificam valores elevados em várias patologias intra -
abdominais agudas e em várias condições extra-pancreáticas.
Lipase
A determinação da atividade desta enzima é utilizada para diagnosticar pancreatite
aguda. A sensibilidade e a especificidade clínica é de 80 a 100%. Na pancreatite aguda, a
atividade sérica da lípase pancreática (LPS) aumenta dentro de 4 a 8 horas, apresentando
picos dentro de 24 horas e diminui após 7 a 14 dias. Foram relatadas elevações entre 2 e 50
vezes o limite superior de referência. O aumento da atividade sérica da LPS não é
necessariamente proporcional à gravidade da doença. A pancreatite aguda é por vezes difíc il
de diagnosticar, porque deve ser diferenciada de outras perturbações intra-abdomina is
agudas com achados clínicos semelhantes, tais como úlcera gástrica ou duodenal perfurada,
obstrução intestinal ou obstrução vascular mesentérica. No diagnóstico diferencial, a
elevação da atividade sérica da LPS para mais de 3 vezes o limite superior de referência, na
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ausência de insuficiência renal, é um achado diagnóstico mais específico do que o aumento
da atividade sérica da amílase. A obstrução do ducto pancreático por um cálculo ou por um
carcinoma do pâncreas pode também aumentar a atividade sérica da LPS, dependendo da
localização da obstrução e da quantidade de tecido funcional. Em doentes com uma GFR
reduzida, a atividade sérica de LPS encontra-se aumentada. Assim, deve-se ter cuidado na
interpretação de valores elevados de LPS sérico na presença de doença renal.
3.1.12 Estudo da Função Cardíaca
Os marcadores bioquímicos de lesão do miocárdio são moléculas proteicas que
apresentam diferentes índices de especificidade para o cardiomiócito. A sua concentração
sérica/plasmática e o padrão cinético característico em pico com que vão sendo libertados
para o sangue periférico, depois da perda da integridade das membranas celulares (lesão
precoce), estão diretamente relacionadas com o tipo de células em que se encontram, a sua
localização intracelular, o peso molecular (PM) e o fluxo sanguíneo e linfático do local em
que ocorreu a lesão. A tabela 7 apresenta a origem e localização, sensibilidade e cinética
dos marcadores bioquímicos de lesão do miocárdio.
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Tabela 7 - Origem e localização, sensibilidade e cinética dos marcadores bioquímicos de lesão do
miocárdio. Adaptado de (Mcpherson & Pincus 2011).
CK Total CK-MB massa Mioglobina cTnI cTnT
Origem e
localização
Citoplasma
das células
dos
músculos
estriado e
liso, e das
do SNC
Isoenzima
100%
citoplasmática
do músculo
cardíaco e
esquelético
Proteína hémica
monomérica
encontrada no
citoplasma das
células do
músculo estriado
Proteínas específicas
ligadas às miofibrilas
do cardiomiócito
Sensibilidade 4-6h: 23-50%
6-9h: >95% 90-100% 98%
2h: 33%
6h: 65%
8h: 86%
A partir do
5º dia: 98%
Cinética:
Início da
subida 3-8h 3-12h 1-5h 3-12h 3-12h
Valor máximo 10-24h 9-30h 4-12h 14-48h 12-48h
Normalização 2-4 dias 2-3 dias 24h 5-10
dias 7-14 dias
Creatina Quinase (CK)
CK Total
É uma enzima essencialmente citoplasmática, associada predominantemente às
estruturas miofibrilares das células, que se encontra em maior concentração ao nível do
SNC e dos tecidos musculares cardíaco e esquelético. A enzima normal tem uma estrutura
dimérica, formada por duas subunidades M, B ou por MB, resultando na formação de três
isoenzimas (CK1 ou BB, CK2 ou MB e CK3 ou MM) e de cinco isoformas (MB1, MB2,
MM1, MM2, MM3).
No soro/plasma dos indivíduos saudáveis a concentração e a atividade da CK Total
é devida em mais de 95% dos casos à CK3 (isoenzima MM) e, em menos de 5%, à CK2
(isoenzima MB). É o marcador clássico de necrose do miocárdio mais conhecido, contudo,
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atualmente, face à sua menor especificidade em relação às troponinas e à CK-MBm, é
determinado apenas quando estas não estão disponíveis.
CK-MB massa
É uma isoenzima dimérica da creatina quinase presente essencialmente no músculo
esquelético e ao nível do cardiomiócito. Constitui menos de 5% da atividade total da CK
em indivíduos saudáveis. A CK-MBm é o marcador de eleição para o diagnóstico das lesões
de necrose do miocárdio, em particular do enfarte recorrente. Juntamente com a cTnT e a
mioglobina é utilizada na monitorização da eficácia da reperfusão do miocárdio. Em
contrapartida, apresenta valor semiológico comprometido como marcador de necrose nos
doentes que possuam lesões primárias ou secundárias do tecido muscular esquelético (por
exemplo, em politraumatizados, após grandes cirurgias, miopatias, miosites e
rabdomiólise).
Mioglobina
A mioglobina é uma proteína citoplasmática que tem uma elevada afinidade para o
oxigénio, sendo a sua principal transportadora intracelular ao nível dos miócitos, além da
sua função de reservatório. Por apresentar um PM relativamente baixo (17,8 kDa) e se
localizar no citoplasma, é libertada mais precocemente para a circulação sanguínea
comparativamente com os restantes marcadores de necrose, após perda da integridade das
membranas celulares.
É o marcador com maior valor preditivo negativo precoce (sensibilidade de 90 a
100%) de lesão de necrose do miocárdio. Os valores persistentemente iguais ou inferiores
ao limite superior do intervalo de referência até ao final das primeiras 6 horas após o início
da sintomatologia compatível com lesão de necrose do miocárdio, permite excluir o seu
diagnóstico. Quando associada à cTnT, à CK-MBm ou a ambas, é utilizada na avaliação
inicial dos doentes com precordialgias, na monitorização da eficácia da reperfusão do
miocárdio e no diagnóstico do enfarte recorrente.
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VIII MAC
32 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Troponinas
O complexo proteico das troponinas é constituído por três cadeias polipeptíd icas
simples, cuja função é regular o mecanismo de contração muscular (interação entre a actina
e a miosina dependente de Ca2+).
A perda da integridade das membranas celulares é responsável, pelo menos nas fases
iniciais da lesão celular, por uma certa permeabilidade seletiva dos constituintes
citoplasmáticos para a circulação sanguínea, libertando-se primeiro as moléculas de
menores dimensões (cTnT) e posteriormente as estruturalmente maiores (cTnI). À medida
que o dano celular se agrava, os componentes citoplasmáticos maiores também começam a
ser libertados para a circulação provocando, numa segunda fase, um aumento equivalente
dos dois tipos de troponinas. A sua cinética de libertação é semelhante à da CK-MB, embora
a sua concentração sérica/plasmática se mantenha elevada por um período mais longo.
Para o estudo dos doentes com lesões de necrose do miocárdio, as isoformas
cardioespecíficas das troponinas (cTnT e cTnI) são os marcadores bioquímicos de doença
cardíaca com maior sensibilidade e especificidade, independentemente da sua etiologia, e
para estratificação do risco de morbilidade e de mortalidade, relacionado com a
probabilidade de ocorrência de episódios cardíacos adversos. Além disto, permitem
identificar os doentes com doença instável das artérias coronárias, que podem beneficiar de
uma terapêutica médica ou cirurgia precoce preventiva. A cTnT é considerada o marcador
de primeira linha para detetar, mesmo nos doentes com insuficiência renal, a presença de
lesões mínimas de necrose e para fazer estratificação do risco.
3.1.13 Estudo da Função Tiroideia
A função da tiroide pode ser avaliada com base em um painel que engloba vários
parâmetros endocrinológicos, nomeadamente as hormonas TSH (hormona estimulante da
tiroide ou hormona tirotrófica), FT4 ou T4 Livre (tiroxina livre), a globulina de ligação à
tiroxina (TBG) e os anticorpos anti-tiroglobulina (anti-TG), anti-peroxidase da tiroide (anti-
TPO) e anti-recetor de TSH (TRAB).
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VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 33
Hormona tirotrófica
A hTSH é uma glicoproteína com 2 subunidades ligadas não covalentemente. A
subunidade α é semelhante às das hormonas FSH, hCG e LH. É a subunidade β que
transporta informação específica para os recetores de ligação para expressão de atividades
hormonais. A síntese e libertação hipofisária da hTSH são estimuladas e reguladas pela
TRH (hormona libertadora de tireotrofina) e inibidas pelas hormonas tiroideias circulantes,
principalmente pela T4 Livre em relação à qual existe, quando a função hipotálamo-
hipofisária está normal e é estável, uma relação linear logarítmica inversa (exemplo: uma
diminuição de 50% da T4 Livre acompanha-se por um aumento da concentração da hTSH
em cerca de cem vezes). O feedback negativo da hormona tiroideia na secreção da hTSH é
mediada principalmente pela T3 que é produzida no interior das células tirotróficas a partir
da T4 Livre presente. Para além das hormonas tiroideias, a dopamina, a somatotrofina
(hGH) e os glucocorticoides também inibem a síntese e a secreção hipofisárias da hTSH.
A hTSH é o indicador mais sensível para identificar todos os casos de
hipertiroidismo e hipotiroidismo, exceto quando há danos ao nível do hipotálamo ou da
hipófise, resistência a hormonas da tiróide ou interferência com o funcionamento normal
do eixo hipotálamo-hipófise-tiróide devido a medicação. Os resultados de hTSH dentro do
intervalo de referência geralmente excluem a disfunção tiroideia e ajudam a distinguir a
supressão profunda de TSH típica da tirotoxicose de Graves dos graus modestos de
supressão de TSH observados no hipertiroidismo primário leve (subclínico) e alguns casos
de doença não-tiroideia.
Tiroxina Total e Livre
T4L é a fração biologicamente ativa da tiroxina no sangue em circulação. Na
circulação, a T4 encontra-se quase totalmente ligada a proteínas de transporte (99,98%),
constituindo a fração biologicamente inativa que funciona como reserva funciona l
mobilizável rapidamente disponível, e uma pequena parte na forma livre (biologicamente
ativa). Os níveis de T4 Livre estão correlacionados com a secreção e o metabolismo da T4.
No hipotiroidismo e no hipertiroidismo, os níveis T4L são paralelos às alterações nos níveis
da T4 Total (T4T). Avaliar a T4L é útil quando surgem níveis alterados de T4T devido a
alterações nas proteínas de ligação à T4, sobretudo na TBG. Os níveis de TBG mantém-se
relativamente constantes em indivíduos saudáveis, no entanto em determinadas condições,
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VIII MAC
34 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
tais como a gravidez e a terapêutica com esteroides podem alterar estes níveis. Nestas
condições os níveis de T4L permanecem inalterados, enquanto os níveis de T4T são
paralelos às alterações da TBG. Deste modo, as concentrações séricas/plasmáticas da T4L
são as que refletem com maior fidedignidade o estado tiroideu ao nível dos tecidos dos
paciente.
3.1.14 Estudo do Metabolismo Ósseo
O sistema esquelético é um dos maiores órgãos do corpo e armazena cerca de 98 a
99% do cálcio do corpo. Os ossos são um tecido vivo que está constantemente a ser
remodelado pela degradação do tecido antigo e sua substituição com nova matriz óssea.
Dois tipos de células ósseas, osteoclastos e osteoblastos, são os principais responsáveis pela
remodelação. É agora possível analisar tanto a formação óssea como a reabsorção por
métodos laboratoriais clínicos. Na avaliação do metabolismo ósseo temos de ter em
consideração vários parâmetros tais como, iões de cálcio, fosfato e magnésio, hormonas que
regulam estes minerais (hormona paratiroideia e vitamina D) e marcadores de formação
(osteocalcina, péptidos procolagénio tipo-I aminoterminal - P1NP e isoenzima óssea da
fosfatase alcalina) e reabsorção óssea (C-telopéptido - CTx).
Cálcio
Os iões cálcio desempenham papéis críticos na sinalização intracelular, na regulação
de eventos na membrana plasmática e na função de proteínas extracelulares, como as
envolvidas na coagulação do sangue. O cálcio existe em três estados físico-químicos no
plasma: ≈50% livre (ionizado), 40% ligado às proteínas plasmáticas (essencialmente à
albumina) e 10% complexado com pequenos aniões inorgânicos e orgânicos, incluindo
bicarbonato, lactato, fosfato e citrato. A concentração circulante de iões cálcio é
normalmente mantida constante sob o controlo da hormona paratiroideia (PTH), do 1,25-
dihidroxicolecalciferol [1,25-(OH)2D3] e da calcitonina. A concentração do cálcio total
reflete a reserva funcional mobilizável rapidamente disponível, a disponibilidade e a ação
da vitamina D, bem como os níveis das proteínas. A sua determinação tem como principal
interesse clínico o diagnóstico e a monitorização da evolução clínica e da resposta à
terapêutica de diversas patologias envolvendo o tecido ósseo, os rins, as glândulas
paratiroideias e o aparelho gastrointestinal.
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 35
Fósforo inorgânico
O fósforo total do corpo é de cerca de 600 g, dos quais cerca de 85% existe na
estrutura óssea e restante nos tecidos moles. Aproximadamente 10% do fósforo no soro está
ligado às proteínas, 35% encontra-se complexado com sódio, cálcio e magnésio, e o
restante, está na forma livre (55%). O fosfato inorgânico é um componente principal da
hidroxiapatite no osso, desempenhando, deste modo, um papel importante no suporte
estrutural do corpo e fornece fosfato para a pool extracelular e intracelular. O fator de
crescimento dos fibroblastos FGF-23 é um modulador chave na homeostase do fosfato. O
FGF-23 aumenta a excreção fracionada de fosfato pelos rins e diminui a produção da forma
ativa de vitamina D, 1,25-dihidroxivitamina D, diminuindo a atividade da enzima
responsável pela sua formação (25-hidroxivitamina D, 1-hidroxilase). Ambas as atividades
principais levam à diminuição do fosfato sérico. O FGF-23 é secretado por células ósseas
(osteoblastos e osteoclastos) em resposta ao aumento do fosfato sérico ou aumento da 1,25-
dihidroxivitamina D. Na doença renal crónica, o FGF-23 aumenta por um mecanismo
compensatório para contrariar o aumento do fosfato sérico. Além do FGF-23, a concentração
de fósforo é regulada pela paratormona (hPTH), pelo péptido relacionado com a paratormona –
hPTHrP e pelas concentrações séricas do cálcio e do magnésio.
O doseamento de fósforo inorgânico pode ser útil no diagnóstico e tratamento de
uma variedade de distúrbios, incluindo doenças ósseas, na paratiróide e doença renal,
principalmente os que se acompanham por hipofosfatemias ou hiperfosfatemias.
Magnésio
O teor de magnésio total do corpo é de cerca de 25 g, dos quais cerca de 55% reside
no esqueleto. Um terço do magnésio esquelético é permutável e pensa-se que serve como
um reservatório para manter a concentração extracelular de magnésio. Cerca de 45% de
magnésio é intracelular. Aproximadamente 55% do magnésio no plasma encontra-se livre,
30% está associado a proteínas (principalmente albumina) e 15% é complexado com
fosfato, citrato e outros aniões. A concentração do magnésio no soro/plasma (0,3% do
magnésio total do organismo) é mantido dentro de limites apertados, sendo regulada
sobretudo pela ingestão e pela reabsorção ao nível do ramo ascendente da ansa de Henle
em função da ação da hPTH e da concentração do cloreto de sódio, assim como da calcemia
e da própria magnesemia.
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A determinação da concentração do magnésio é usada frequentemente para estudo
das patologias associadas com alterações agudas do metabolismo do magnésio
(hipomagnesemia/deficiência de magnésio e hipermagnesemia), na avaliação da
adequabilidade do aporte de magnésio pela dieta e na monitorização da terapêutica com
sulfato de magnésio (exemplo: pré-eclampsia/eclampsia).
Hormona paratiroideia
A PTH é sintetizada e secretada pelas glândulas paratiroides, geralmente duas
superiores e duas inferiores, localizadas bilateralmente sobre ou perto da cápsula da
glândula tiroide. As principais células da glândula são responsáveis pela síntese,
armazenamento e secreção desta hormona. Os reguladores primários da secreção de PTH
são o cálcio, 1,25-dihidroxivitamina D e fosfato. A PTH atua diretamente sobre o tecido
ósseo e rim, e indiretamente sobre o intestino, para aumentar a concentração plasmática de
cálcio livre e diminuir a concentração plasmática de fosfato.
A determinação da PTH é útil no diagnóstico diferencial de hipercalcémia e
hipocalcémia, na avaliação da função da paratiróide na insuficiência renal e na avaliação da
função da paratiróide em doenças ósseas e minerais.
Vitamina D total (25‑hidroxi D2 e D3)
A vitamina D é produzida endogenamente através da exposição da pele à luz solar,
e é absorvida a partir de alimentos que a contenham ou suplementados com vitamina D. A
vitamina é metabolizada para a sua forma biologicamente ativa, 1,25-dihidroxivitamina D,
uma hormona que regula o metabolismo do cálcio e do fosfato. A carência de vitamina D
resulta na formação óssea deficiente, originando raquitismo em crianças e osteomalacia em
adultos.
A determinação de 25(OH)D pode ser útil no diagnóstico diferencial de
hipocalcémia, hipercalcémia ou hipercalciúria e na avaliação do estado nutricional de
vitamina D e nos distúrbios ósseos e minerais.
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Osteocalcina
É a proteína não colagenosa mais abundante da matriz óssea, produzida pelos
osteoblastos e pelos odontoblastos (vitamina-K dependente).
A concentração de osteocalcina muda rapidamente em situações que afetam o
turnover ósseo. Está aumentada na doença óssea metabólica com aumento de formação
óssea, incluindo osteoporose, hiperparatiroidismo, osteodistrofia renal e tirotoxicose, e em
indivíduos com fraturas, acromegalia e metástases ósseas. A osteocalcina diminui no
hipoparatiroidismo, hipotiroidismo e na deficiência da hormona de crescimento, e durante
a terapia de estrogénio e tratamento com glucocorticóides, bifosfonatos e calcitonina.
Péptido Procolagénio Tipo-I Aminoterminal
O colagénio tipo 1, principal constituinte da matriz óssea, é inicialmente sintetizado
como procolagénio tipo 1 que, após processamento e clivagem proteolítica, resulta em dois
fragmentos: péptido procolagénio tipo-I aminoterminal (P1NP) e péptido procolagénio
tipo-I carboxiterminal (P1CP). Ambos marcadores circulam na corrente sanguínea e são
considerados marcadores de formação óssea. Concentrações elevadas de P1NP são
observadas em pessoas com o turnover ósseo aumentado como na Doença de Paget,
osteoporose pós-menopausa e metástases ósseas. A concentração de P1NP é diretamente
proporcional à quantidade de colagénio novo depositado durante a formação óssea.
C-Telopéptido
Devido à atividade osteoclástica, durante a fase de reabsorção, no processo de
remodelação óssea, o colagénio tipo I é degradado em pequenos fragmentos que circulam
na corrente sanguínea e são excretados pelos rins. Entre estes fragmentos está o CTx. Níveis
aumentados de CTx são encontrados na osteoporose, hipercalcemia neoplásica, doença de
Paget e no hipertiroidismo.
3.1.15 Marcadores Tumorais
Os marcadores tumorais estão assumindo um papel crescente em todos os aspetos
do tratamento da doença oncológica, desde o rastreio até o seguimento após o tratamento.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Química Clínica
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Decisões clínicas importantes são cada vez mais suscetíveis de serem feitas com base nestes
resultados, quer para diagnóstico, rastreio, previsão ou monitorização do tratamento. Os
marcadores tumorais incluem uma variedade de substâncias tais como antigénios de
superfície celular, proteínas citoplasmáticas, enzimas, hormonas, antigénios oncofetais,
recetores, oncogenes e seus produtos. Contudo, o doseamento de alguns marcadores
tumorais não implica necessariamente a presença de uma neoplasia maligna. O marcado r
tumoral ideal não existe, no entanto entre os principais marcadores estão a Alfa-
Fetoproteina (AFP), PSA (Antigénio Especifico da Próstata), CA 72.4, CA 125, CA 15.3,
CA 19.9, CEA (Antigénio Carcinoembrionário).
Alfa-Fetoproteína
A AFP é um marcador para o carcinoma hepatocelular e de células germinativas. A
concentração sérica de AFP é inferior a 10 μg/L em adultos saudáveis. Durante a gravidez,
as concentrações de AFP materna aumentam para um pico de cerca de 500 μg/L durante o
terceiro trimestre. A AFP no soro fetal atinge um pico de 2 g/L às 14 semanas e depois
diminui para cerca de 70 mg/L no final. Além da gravidez, concentrações elevadas de AFP
sérica estão associadas a condições hepáticas benignas, como hepatite e cirrose. A maioria
dos pacientes com estas doenças benignas (95%) tem concentrações de AFP inferiores a
200 μg/L. Exceto na doente grávida, concentrações de AFP superiores a 1000 μg/L são
indicativas de patologia oncológica. Além disto, a AFP é também usado para detetar fetos
com defeitos no tubo neural. A AFP é também útil para a determinação do prognóstico e
para a monitorização da terapêutica do carcinoma hepatocelular. A concentração de AFP é
um indicador prognóstico de sobrevivência. As concentrações elevadas de AFP (> 10 μg/L)
e concentrações séricas de bilirrubina superiores a 2 mg/dL estão associadas a um tempo de
sobrevivência mais curto.
Antigénio Específico da Próstata
O PSA é um marcador tumoral extremamente útil e é utilizado para detetar e
monitorizar o tratamento do carcinoma da próstata. Quando detetado precocemente é
potencialmente curável por prostatectomia radical. Portanto, a deteção precoce é importante
e o PSA é amplamente utilizado para este fim. É considerado um dos marcadores tumorais
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mais promissores disponíveis. O PSA é encontrado em tecidos prostáticos normais,
benignos, hipertróficos e malignos. Originalmente, pensava-se que o PSA era apenas
expresso no tecido da próstata. No entanto, mais tarde foi descoberto que o PSA também é
expresso em inúmeros outros tecidos, como tecido mamário. Baixas concentrações de PSA
são detetáveis no soro de mulheres assim como no líquido aspirado do mamilo.
Antigénio Carbohidratado 72.4 (CA 72.4)
É um marcador para carcinomas do trato gastrointestinal e do ovário. Apresenta
baixa especificidade, encontrando-se os seus valores aumentados em muitas situações
benignas.
Antigénio Carbohidratado 125 (CA 125)
É um marcador para a monitorização do carcinoma de ovário. É indicado também
para detetar doença residual ou recorrente em pacientes que foram submetidos a terapia. O
CA 125 encontra-se elevado em carcinomas não ovarianos, incluindo tumores endometria is,
pancreáticos, de pulmão, de mama e colorrectal e outros tumores gastrointestinais. Este
marcador é útil para determinar o prognóstico do carcinoma endometrial. Também pode
estar aumentado em mulheres na fase folicular do ciclo menstrual e em condições benignas
como cirrose, hepatite, endometriose, pericardite e gravidez precoce. Não pode ser utilizado
para diferenciar o cancro do ovário de outros tumores malignos.
Antigénio Carbohidratado 15.3 (CA 15.3)
O CA 15.3 é um marcador para o carcinoma da mama. Concentrações elevadas deste
marcador são encontradas em 5,5% de indivíduos saudáveis, 23% dos pacientes com cancro
de mama primário e 69% que apresentam cancro de mama metastático. Noutros tipos de
tumores incluindo, tumores pancreáticos (80%), pulmão (71%), mama (69%), ovário
(64%), colorretal (63%) e fígado (28%), têm também níveis aumentados de CA 15.3. Este
marcador pode encontrar-se elevado em doenças benignas, embora com menos frequência
(por exemplo, doença hepática benigna e doença benigna da mama).
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Antigénio Carbohidratado 19.9 (CA 19.9)
O CA 19.9 é um marcador para tumores malignos gastrointestinais e é usado
principalmente para avaliar e monitorizar o carcinoma pancreático. Encontram-se
concentrações elevadas de CA 19.9 em doentes com cancro pancreático (80%), hepatobiliar
(67%), gástrico (40 a 50%), hepatocelular (30-50%) e de mama (15%). Alguns pacientes
(10 a 20%) com pancreatite e outras doenças gastrointestinais benignas têm também
concentrações elevadas. O CA 19.9 é útil na monitorização de cancros pancreáticos,
colorretais e gástricos. As concentrações de CA 19.9 correlacionam-se com o estadiamento
do cancro pancreático. Concentrações elevadas ou crescentes podem indicar recorrência de
1 a 7 meses antes de serem detetadas por radiografias ou achados clínicos. Infelizmente, a
deteção precoce da recaída pode não ser útil uma vez que não há terapia eficaz para o
carcinoma do pâncreas.
Antigénio Carcinoembrionário
O CEA é um marcador para o carcinoma colorretal, gastrointestinal, pulmonar e de
mama. A concentração de CEA está elevada em vários tipos de cancro, como colorretal
(70%), pulmão (45%), gástrico (50%), mama (40%), pancreático (55%), ovariano (25%) e
uterino (40%). Devido às elevações associadas à doença benigna e ao número de tumores
que não produzem CEA, o teste CEA não deve ser utilizado para o despiste de doença
oncológica. Após terapia inicial bem sucedida, as concentrações de CEA diminuem.
Durante a remissão, as concentrações de CEA são estáveis e o seu aumento pode indicar a
recorrência da doença. O CEA também é útil na monitorização de carcinomas de mama,
pulmão, gástrico e pancreático. No cancro da mama, CEA elevado está associado com
doença metastática. O carcinoma da mama precoce ou localizado não apresenta aumento de
CEA e é menos sensível do que CA 15.3 e CA 27.29. O CEA é mais útil na monitorização
do cancro da mama metastático durante a terapêutica e na deteção do desenvolvimento de
metástases ósseas ou pulmonares. No cancro de pulmão, a determinação de CEA é útil no
diagnóstico de carcinoma de pulmão de células não pequenas (> 65% dos pacientes têm
CEA elevado) e na monitorização do cancro de pulmão.
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3.2 Química Analítica (QAL)
3.2.1 Cromatografia Líquida de Alta Definição
A separação por Cromatografia Líquida de Alta Definição (HPLC) é baseada na
distribuição dos solutos entre uma fase líquida móvel e uma fase estacionária. Em HPLC,
partículas de pequeno diâmetro são usadas como suporte da fase estacionária. Uma vez que
a queda de pressão está relacionada com o quadrado do diâmetro da partícula, são
necessárias pressões relativamente elevadas para bombear líquidos através de colunas
eficientes de HPLC. Consequentemente, a técnica também foi referida como cromatografia
líquida de alta pressão. No laboratório clínico, a HPLC é a forma de cromatografia líquida
mais utilizada. É uma técnica extremamente versátil devido à grande variedade de
mecanismos de separação, fases estacionárias, solventes e detetores que foram empregues.
Os componentes básicos de um sistema automatizado de HPLC são: bomba, sistema de
injeção automática (“auto-sampler”) ou manual, forno de colunas, detetor (eletroquímico,
fluorescência, índice de refração ou UV/VIS) e um controlador do sistema. Na tabela 8
estão indicados alguns parâmetros doseados por HPLC.
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Tabela 8 - Alguns dos parâmetros doseados por HPLC encontram-se descritos na tabela abaixo.
Parâmetro Amostra
Catecolaminas Urina de 24 horas colhida sobre 10 mL de HCl 6N
Plasma de EDTA, plasma de heparinato de sódio
Hidroxiprolina
Soro
Urina de 24 horas colhida sobre 10 mL de HCl 6N ou
sobre 20 mL de tolueno
Serotonina
Soro, centrifugado de imediato após a colheita (mínimo
4000 rpm, 15 min.) e congelado
Urina de 24 horas colhida sobre 10 mL de HCl 6N
Vitamina A e E Soro, Plasma (alternativa)
Ácido Vanilmandélico, Ácido
Homovalínico e ácido 5-
hidroxiindolacético
Urina de 24 horas colhida sobre 10 mL de HCl 6N
Carotenos Soro (tubo de gel). Em alternativa usar plasma.
Antidepressivos tricíclicos e
Benzodiazepinas Soro (tubo de gel). Em alternativa usar plasma.
Metanefrinas Urina de 24 horas colhida sobre 10 mL de HCl 6N
Porfirinas
Urina de 24 horas
Plasma (tubo de heparinato de lítio)
Fezes
3.2.2 Espetrofotometria de Absorção Atómica (EAA)
A absorção atómica é uma técnica analítica de deteção qualitativa e determinação
quantitativa de determinados elementos, recorrendo à absorção de radiação pelos átomos
no seu estado gasoso. Os métodos de atomização usuais são: atomização por chama e
atomização por forno de grafite. Em ambos, a amostra é submetida a altas temperaturas, de
forma a dissociar a amostra nos seus elementos/átomos. A sua elevada sensibilidade, torna
este método adequado para a análise de microelementos ou elementos vestigiais, presentes
como impurezas ou como componentes normais de amostras. Quando a radiação com um
comprimento de onda adequado incide num grupo de átomos livres, no seu estado
fundamental, os átomos podem absorver essa radiação, passando estes para um estado
excitado - Absorção Atómica. Através da medição da quantidade de radiação absorvida
pode-se determinar quantitativamente o elemento presente. Os parâmetros que são
determinados por EAA por forno de grafite, neste caso, estão descritos na tabela 9.
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Tabela 9 - Parâmetros doseados por EAA.
Parâmetro Amostra
Alumínio Soro (tubo isento de metais)
Selénio
Cobre Urina de 24 horas
Cádmio Sangue total (tubo hemograma)
Chumbo
Mercúrio
Sangue total (tubo hemograma)
Urina de 24 horas
Cabelo cortado junto a raiz
Unhas
3.2.3 Espetroscopia de Infravermelho
A Espetroscopia de Infravermelho (IV) é a metodologia utilizada para determinar a
composição química dos cálculos renais e biliares. Baseia-se na multiplicidade de vibrações
que ocorrem simultaneamente entre os grupos funcionais numa molécula bem como na sua
configuração atómica, por interação com a radiação infravermelha, originando um espetro
de absorção que lhes são característicos. Fazendo a interpretação do espectro e pela sua
comparação com uma biblioteca de espectros puros, é possível identificar a natureza do
cálculo. Para a determinação e após avaliação macroscópica, o cálculo sofre um tratamento
prévio. É preparada uma “pastilha” que consiste na mistura da amostra, finamente
pulverizada, com brometo de potássio. A mistura é prensada, até a obtenção de uma pastilha
homogénea que é usada para leitura no espetrofotómetro de IV.
3.2.4 Cromatografia Gasosa – Espetrometria de Massa (GC-EM)
Os espetrómetros de massa acoplados com cromatógrafos gasosos servem como
instrumentos analíticos versáteis que combinam o poder de resolução de um cromatógrafo
com a especificidade e os limites de deteção de um espetrómetro de massa. A Cromatografia
Gasosa (GC) é útil para compostos que são naturalmente voláteis ou podem ser facilmente
convertidos numa forma volátil. GC tem sido um método amplamente utilizado devido à
sua alta resolução, baixos limites de deteção, precisão e tempo analítico curto. Nesta técnica,
uma fase móvel no estado gasoso é usada para passar uma mistura de solutos voláteis
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através de uma coluna contendo a fase estacionária. A fase móvel é habitualmente um gás
inerte, tal como, azoto, hélio ou árgon. A separação de solutos baseia-se em diferenças
relativas nas pressões de vapor dos mesmos e na sua interação com a fase estacionária.
Assim, um soluto mais volátil elui da coluna antes de um menos volátil. Além disso, um
soluto que interage seletivamente com a fase estacionária elui da coluna após um com um
menor grau de interação. Os componentes da amostra separados por CG são detetados por
espectrometria de massa. Na tabela 10 estão descritos os parâmetros que são determinados
por GC-EM.
Tabela 10 - Parâmetros doseados pelo método CG-EM.
Parâmetro Amostra
Ácidos Orgânicos Soro e Urina
Cocaína Urina e Soro
Cotinina e Nicotina Urina, Saliva e Cabelo
Canabinóides Urina e Soro
Opiáceos Urina e Soro
Canabinóides Urina e Soro
Anfetaminas Urina e Soro
3.3 Radioimunoensaio (RIA)
Esta área engloba todas as técnicas que utilizem radioatividade e técnicas de
alergologia com determinação de IgE total e específica, RAST (radioallergosorbent test).
Os radioimunoensaios utilizam isótopos radioativos de iodo (125I) como marcadores. Trata-
se de uma técnica com alta especificidade e sensibilidade, no entanto com elevado custo e
grande risco operacional por manipular material radioativo.
3.3.1 Contador Gama Wallac - Wizard 1470
O Contador de Raios Gama Wallac Wizard 1470 deteta e quantifica raios gama
emitidos pelos isótopos radioativos. O equipamento é constituído por um cristal cilíndr ico
de iodeto de sódio, com um orifício para colocação das amostras. Os fotões de 125I penetram
no tubo da amostra e no revestimento de alumínio, entrando no cristal, onde são absorvidas
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VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 45
as cintilações a 420nm. Um tubo fotomultiplicador converte as cintilações radioativas em
impulsos elétricos e, por sua vez, na concentração do analito em função de uma curva de
calibração específica. A deteção de radioatividade apresenta boas performances de
sensibilidade e especificidade.
RIA Competitivo
O procedimento segue o princípio básico do radioimunoensaio em que existe uma
competição entre um antigénio radioativo e não radioativo para um número fixo de locais
de ligação a anticorpos. A quantidade de analito marcado ligado ao anticorpo é
inversamente proporcional à concentração do analito presente na amostra. A separação do
antigénio livre e ligado é conseguida por decantação ou aspiração dos tubos revestidos com
anticorpo. Uma curva padrão é construída e os valores do analito são obtidos a partir da
curva por interpolação. O sinal detetado pelo equipamento é inversamente proporcional à
concentração do analito presente na amostra.
RIA Não Competitivo
É um ensaio imunoradiométrico baseado na separação em fase sólida revestida.
Numa primeira fase, o anticorpo de captura é adsorvido passivamente à superfície de uma
fase sólida. É adicionada a amostra, permitindo a reação entre o antigénio (analito) e o
anticorpo na fase sólida. Após lavagem para remoção de outras proteínas, é adicionado um
anticorpo marcado (conjugado) que reage com o antigénio ligado. Depois da lavagem para
retirar a fração não ligada, a atividade radioativa remanescente ligada à fase sólida, reflete
a concentração de antigénio. O sinal detetado é diretamente proporcional à concentração do
antigénio a analisar. Na tabela 11 estão indicados alguns parâmetros determinados pelo
Contador Gama Wallac Wizard® 1470.
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46 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 11 - Alguns parâmetros determinados pelo Contador Gama Wallac Wizard® 1470.
Parâmetro Amostra Método
Aldosterona Soro e Urina RIA competitivo
Renina Ativa Soro RIA não competitivo
Atividade da Renina
Plasmática (ARP) Plasma EDTA RIA competitivo
17-OH-Progesterona Soro RIA competitivo
DHEA Soro RIA competitivo
Testosterona Livre Soro RIA competitivo
ADH Plasma EDTA RIA competitivo
Di-hidrotestosterona Soro RIA competitivo
11-Desoxicortisol Soro RIA competitivo
Ac.anti-Canais de Ca2+ Soro RIA não competitivo
Ac. Anti-Canais de K+ Soro RIA não competitivo
Metanefrinas Plasma EDTA RIA competitivo
Normetanefrinas Plasma EDTA RIA competitivo
Ac. Anti-IA2 Soro RIA competitivo
Ac. Anti-GAD2 Soro RIA competitivo
Ac. Anti-rec.Acetilcolina Soro RIA competitivo
Cromogranina A Plasma EDTA RIA competitivo
3.3.2 ImmunoCAP 250
O ImmunoCAP baseia-se no método de ensaio imunofluorenzimático (FEIA). A
fase sólida consiste num derivado de celulose revestido com antigénios ou anticorpos,
dependendo do analito que seja analisado. Em contato com a amostra, o analito liga-se
especificamente ao anticorpo ou antigénio presentes na fase sólida. Após lavagem, são
adicionados anticorpos marcados por uma enzima para formarem um complexo. Após
incubação, o anticorpo não ligado marcado por uma enzima é lavado e o complexo ligado
é incubado com o substrato que promove a emissão de fluorescência. Após paragem da
reação, mede-se a fluorescência do eluído. A fluorescência é diretamente proporcional à
concentração do analito especifico presente na amostra do doente.
Os testes laboratoriais ImmunoCAP incluem uma grande variedade de ensaios para
alergias e asma. Estes ensaios incluem testes que abrangem várias categorias, incluindo
pólenes de gramíneas, ervas e árvores, microrganismos, ácaros, cães, gatos e outros animais
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 47
com pelo, insetos, venenos de animais, alergénios alimentares, ECP (marcador celular de
asma e inflamação), triptase (marcador de mastócitos). Para estes ensaios são determinados
os níveis de IgE total, IgE específica, IgA específica, IgG específica e IgG4 especifica. O
ImmunoCAP ECP mede o nível de Proteínas Catiónicas Eosinófilas (ECP) no soro. Os
doentes asmáticos com inflamação eosinofílica apresentam níveis elevados de ECP no soro
e noutros fluidos corporais, tais como no fluido alveolar bronquial e na expetoração. Um
nível elevado de ECP no soro indica uma inflamação, a qual constitui um fator de risco para
os doentes asmáticos. A medição do ECP constitui uma forma objetiva e direta de estimar
a gravidade da inflamação das vias respiratórias e de acompanhar a evolução da doença. O
ImmunoCAP Tryptase mede o nível de triptase libertado pelos mastócitos no soro. Os níveis
base elevados de triptase constituem um marcador de risco para determinados doentes com
histórico de reações anafiláticas graves. Um incremento transitório do nível de triptase na
circulação depois de um doente sofrer uma reação anafilática ajuda a identificar e avaliar o
grau da reação. Um nível base persistentemente elevado de triptase está associado, na maior
parte dos casos, a patologias dos mastócitos.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Imunologia
VIII MAC
48 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
4. Imunologia
No sector Imunologia (IMN) são executados diferentes métodos analíticos para a
elevada diversidade de parâmetros que são determinados. Estes incluem a bioquímica
manual, citometria de fluxo, espermograma, nefelometria, técnicas de aglutinação,
serologia por EIA (Imunoensaio enzimático), imunofluorescência indireta (IFI) e
autoimunidade.
4.1 Nefelometria
A Nefelometria baseia-se na dispersão de radiação por partículas em suspensão.
Quando um feixe de luz colimada atinge uma partícula em suspensão, partes da luz são
absorvidas, refletidas, dispersas e transmitidas. A nefelometria é a medida da luz dispersa
por uma solução de partículas. O equipamento BN ProSpec® utiliza a tecnologia
nefelométrica para a determinação quantitativa e totalmente automatizada de proteínas
plasmáticas, pela medição da intensidade da luz dispersa a ângulo fixo de 13° a 24°.
Alguns dos parâmetros determinados por nefelometria incluem a quantificação de
cadeias leves K e L, α2-macroglobulina, α1-glicoproteina ácida, haptoglobulina,
ceruloplasmina, pré-albumina, proteínas do complemento, imunoglobulinas G, A, M e
ainda as frações da IgG, nomeadamente G1, G2, G3 e G4.
4.2 Técnicas de Aglutinação
Os ensaios de aglutinação são utilizados para a medição qualitativa e quantitativa de
antigénios e anticorpos. Num método de aglutinação, o agrupamento visível de partículas,
tais como células e partículas de látex, é utilizado como um indicador da reação primária
entre antigénio e anticorpo. Os métodos de aglutinação requerem partículas estáveis e
uniformes, antigénio puro e anticorpo específico. Em geral, os métodos de aglutinação são
sensíveis embora não sejam tão quantitativos como outros métodos imunoquímicos,
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Imunologia
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 49
nomeadamente EIAs. Os anticorpos IgM são mais suscetíveis de produzir aglutinação
completa do que os anticorpos IgG devido ao tamanho e à valência da molécula de IgM.
Por conseguinte, quando apenas os anticorpos IgG estão envolvidos, pode ser necessário
utilizar um reforço químico ou um método de aglutinação antiglobulina. Tal como com
todas as reações imunoquímicas em que a agregação é o ponto final medido, a razão de
antigénio para anticorpo é crítica. Os extremos na concentração de antigénio ou anticorpo
poderão resultar na inibição da agregação.
Rapid Plasma Reagin
O Rapid Plasma Reagin (RPR) é uma técnica não treponémica de aglutinação em
placa para a deteção qualitativa e semi-quantitativa de reaginas plasmáticas no soro. Este
teste utiliza um antigénio fosfolipídico (cardiolipina) fortificado com lecitina e colesterol,
associados a uma partícula coloidal, e micropartículas de carvão, de modo a tornar a
aglutinação visível macroscopicamente.
No ensaio, o antigénio RPR é misturado com soro ou plasma num cartão revestido
de plástico. Se as reaginas estiverem presentes, combinam-se com as partículas lipídicas do
antigénio, fazendo-os aglutinar. As partículas de carvão coaglutinam com as reaginas e
aparecem como aglomerados pretos. Se as reaginas não estiverem presentes, a mistura de
ensaio apresenta-se uniformemente cinzenta (Figura 2). Contudo, por o RPR ser um teste
não treponémico, a sua reatividade não confirma a infeção por Treponema pallidum. O
resultado positivo deve ser confirmado por um teste treponémico, como o TPHA
(Treponema pallidum hemaglutination).
Figura 2 – Exemplo de uma técnica de aglutinação – teste não treponémico RPR. Adaptado de
(Microbiologyinfo 2016).
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50 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
As reaginas são um grupo de anticorpos dirigidos contra componentes do próprio
organismo, originadas nos pacientes que sofrem de infeção por Treponema pallidum, agente
causal da sífilis. Este microrganismo produz lesões no fígado e coração, libertando para a
corrente sanguínea pequenos fragmentos destes órgãos não reconhecidos pelo próprio
individuo. O sistema imunológico reage dando lugar à formação de reaginas, anticorpos
frente a estes fragmentos.
Os testes de pesquisa de anticorpos não treponémicos são utilizados
fundamentalmente no rastreio de pacientes e na monitorização da resposta terapêutica
durante o tratamento com antimicrobianos para a sífilis.
Antigénios febris
O diagnóstico de doenças febris pode ser avaliado pelo isolamento de
microrganismos no sangue, fezes ou urina, ou pela titulação de anticorpos específicos,
somáticos (O) e flagelares (H). Os antigénios febris são suspensões normalizadas de
bactérias utilizadas em testes de aglutinação, identificando anticorpos específicos que se
desenvolvem em algumas infeções febris, tais como a Brucelose, Salmonelose e certas
Rickettsioses. O antigénio da suspensão é colocado em contacto com o soro do paciente e
aglutina na presença do anticorpo homólogo, caso este tenha desenvolvido uma resposta
imune contra o agente. Estes testes constituem a base para as reações clássicas da Reação
de Widal para o diagnóstico de Febre Tifóide e Paratifóide, Reação de Weil-Felix em que
os antigénios preparados a partir de microrganismos do género Proteus são usados para
detetar anticorpos anti-Rickettsias.
Reação de Widal
A Reação de Widal permite o diagnóstico de febre tifóide (Salmonella typhi) e
paratifoide (Salmonella paratyphi A, B ou C). Baseia-se na pesquisa dos anticorpos anti-O
e anti-H séricos pela utilização das suspensões de antigénios O-somático e H-flagelar da
Salmonella typhi e paratyphi A, B. O aparecimento de anticorpos anti-O indica infeção
recente. Em caso de vacinação ocorre elevação dos títulos de ambas aglutininas (O e H),
embora os títulos de O tendem a voltar ao normal após alguns meses da vacinação. Os
títulos de aglutininas H permanecem elevados por meses ou anos após a vacinação. No caso
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 51
de infeção por Salmonella a aglutinação ocorre na presença dos antigénios O-somático e H-
flagelar. As reações com o antigénio O-somático ocorrem mais precocemente, em geral,
após a primeira semana de infeção. No que diz respeito às reações com antigénio H-
flagelares, estas reações são mais tardias e persistem durante algum tempo.
Este método de serodiagnóstico, apesar da sua reduzida especificidade e sensibilidade,
continua a ser muito utilizado em rotina laboratorial.
Reação de Weil-Felix
A reação deteta os anticorpos aglutinantes no soro do paciente que reagem com
diferentes estirpes ou espécies de Proteus. Cada espécie tem epítopos antigénicos
semelhantes aos lipopolissacarídeos das membranas das rickettsias dos diferentes grupos.
As aglutininas, que são detetáveis de 5 a 10 dias após o início dos sintomas, são as
imunoglobulinas M. As rickettsias do grupo tifo têm semelhanças com Proteus OX2, as
rickettsias do grupo das febres exantemáticas, com exceção de Rickettsia akari, são
semelhantes a Proteus OX19. Muitas reações cruzadas estão descritas devido ao antigénio
não ser específico, especialmente em soros de pacientes que já tiveram algumas infeções
por Proteus e com outras α-proteobactérias com epítopos antigénicos semelhantes, casos da
Legionella spp e Brucella spp. Por ser um teste que não utiliza antigénios específicos para
as riquetsioses, possui um elevado número de falsos positivos.
4.3 Ensaios Imunoenzimáticos
Os ensaios imunoenzimáticos (EIA) utilizam as propriedades catalíticas das enzimas
para detetar e quantificar reações imunológicas. Na prática, os anticorpos ou antigénios
marcados com enzimas (conjugados) são primeiro colocados a reagir com os respetivos
ligandos. O marcador ligado é então separado e seguidamente é adicionado o substrato
enzimático. A medição da diminuição resultante na concentração do substrato ou aumento
na concentração do produto é utilizada para detetar ou quantificar a reação antigénio-
anticorpo.
O exemplo de EIA clássico mais amplamente conhecido nas análises clínicas é o
ELISA (Enzyme-linked Immunosorbent Assay).
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ELISA
Neste tipo de ensaio, um dos componentes da reação é adsorvido de forma não
específica ou ligado covalentemente à superfície de uma fase sólida. Esta ligação facilita a
separação dos reagentes ligados e livres. Na prática, uma alíquota da amostra ou calibrador
contendo o antigénio a ser quantificado é adicionada e deixada ligar com um anticorpo em
fase sólida. Após a lavagem, o anticorpo marcado com enzima é adicionado e forma um
"complexo sanduíche" da enzima Ac-Ag-Ac de fase sólida. O anticorpo não ligado é então
removido por lavagem e o substrato enzimático é adicionado. A quantidade de produto
formada é proporcional à quantidade de antigénio na amostra. Os anticorpos específicos
numa amostra podem também ser quantificados utilizando um procedimento ELISA, no
qual o antigénio em vez do anticorpo está ligado a uma fase sólida e o segundo reagente é
um anticorpo marcado com uma enzima específico para o anticorpo presente na amostra.
4.4 Imunofluorescência Indireta (IFI)
Os antigénios (substratos) são incubados com a amostra diluída do paciente. Se a
reação for positiva para os anticorpos específicos das classes IgA, IgG e IgM ligam-se aos
antigénios acoplados a uma fase sólida. Num segundo passo, os anticorpos ligados são
marcados com anticorpos anti-humanos marcados com fluoresceína e são visíveis no
microscópio de fluorescência. Se uma amostra de um paciente contém anticorpos para o
substrato, o padrão de fluorescência deve corresponder amplamente com o do controlo
positivo. Se o controlo positivo não mostrar fluorescência específica ou o controlo negativo
mostrar uma fluorescência específica clara, os resultados não devem ser utilizados e o teste
deve ser repetido.
A IFI é um método que apresenta elevada especificidade, permitindo a deteção
simultânea de anticorpos contra diversos antigénios bioquimicamente diferentes em um
único substrato. Amostras positivas e negativas produzem ampla diferença de intensidade
de fluorescência. Cada anticorpo ligado mostra um padrão típico de fluorescênc ia
dependendo do local em que estão os antigénios individuais. O espectro completo dos
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VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 53
antigénios presentes no substrato original está disponível, permitindo assim a deteção de
um grande número de anticorpos.
4.5 Autoimunidade
A autoimunidade tem sido amplamente definida como a incapacidade de um
organismo reconhecer o seu próprio tecido saudável como seu, originando a presença de
auto-anticorpos e/ou de células T que reagem contra antigénios do próprio organismo. A
autoimunidade pode assim explicar os mecanismos fisiológicos que vão induzir lesão
imunológica ao hospedeiro e é a principal causa de doenças como a Tiroidite Autoimune e
o Lúpus Eritematoso Sistémico (LES).
A utilização da imunofluorescência indireta para o rastreio e titulação de auto-
anticorpos circulantes no soro tem sido feita utilizando vários substratos de antigénios,
incluindo secções de criostato de tecidos humanos e animais, preparações de células e
extratos de tecidos. A técnica baseia-se no uso de compostos fluorescentes ou fluorocromos
que são excitados por um feixe de luz, emitindo de seguida energia na forma de
fluorescência num determinado comprimento de onda. No método indireto, as células ou
tecido são incubadas primariamente com a amostra, seguida de uma incubação com um
anticorpo conjugado com um fluorocromo. Um resultado positivo confirmará a presença
dos auto-anticorpos na amostra em estudo. Um título muito elevado de autoanticorpo é
significativo, embora um título baixo ou ausente não exclua a possibilidade de uma doença
autoimune.
Anticorpos Antinucleares
Os anticorpos antinucleares (ANA) são elementos importantes no diagnóstico de uma
variedade de doenças auto-imunes, especialmente as doenças reumáticas como Lúpus
Eritematoso Sistémico (LES) ou Artrite Reumatoide.
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54 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
HEp2
A sua deteção é feita por IFI utilizando células HEp2 de carcinoma de laringe como
substrato antigénico, sendo estes anticorpos dirigidos a um amplo espetro de moléculas de
distribuição não apenas nuclear como também citoplasmática. O teste é semi-quantitat ivo,
permitindo a determinação do título de ANA que corresponde à maior diluição do soro que
ainda resulta em reatividade positiva na IFI. O resultado do teste é expresso como positivo
ou negativo e inclui a descrição dos padrões de marcação fluorescente dos compartimentos
ou organelos celulares: padrão nuclear (homogéneo, pontilhado), nucleolar, centromérico e
citoplasmático (citoesqueleto, microssoma, mitocôndria) (Figura 3).
Figura 3 - Padrões ANA por imunofluorescência indireta em células HEp2. Padrão nuclear homogéneo (A),
nuclear granular grosso (B), centromérico (C), nucleolar (D), citoplasmático (E), misto citoplasmático
granular fino e nucleolar (F), fuso mitótico (G). Adaptado de (MedicinaNET 2009).
Se o teste de imunofluorescência for positivo, pode ser seguido de várias análises
monoespecíficas (ex. Immunoblot) para identificar contra quais antigénios nucleares
específicos os anticorpos são direcionados.
Immunoblot (ANA Profile 3 plus DFS70)
O teste fornece um ensaio qualitativo para auto-anticorpos humanos da classe IgG para
16 antigénios diferentes (nucleares, citoplasmáticos e mitocondriais): nRNP/SMm, Sm, SS-
A, Ro-52, SS-B, Scl-70, PM-Scl, Jo-1, CENP B, PCNA, dsDNA, nucleossomas, histonas,
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VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 55
proteína-P ribossomal, AMA M2 e DFS70 no soro ou plasma para o diagnóstico do
Síndroma de Sharp, LES, síndroma de Sjögren, esclerose sistémica progressiva e cirrose
hepática biliar primária.
Para o ensaio, numa primeira etapa da reação, as amostras diluídas dos doentes são
incubadas juntamente com as tiras teste de immunoblot (Figura 4). No caso de amostras
positivas, os anticorpos específicos do tipo IgG (assim como dos tipos IgA e IgM) ligam-
se no local do antigénio correspondente. Para detetar os anticorpos ligados, é realizada uma
segunda incubação utilizando, para esse efeito, uma imunoglobulina da classe IgG anti-
humana marcada enzimaticamente (conjugado enzimático), capaz de catalisar uma reação
de cor.
Figura 4 - Tira teste EUROLINE ANA Profile 3 plus DFS70. Adaptado de (EUROIMMUN n.d.)
Para a avaliação das tiras teste incubadas é utilizado o software EUROLineScan.
Este teste permite também a investigação simultânea de auto-anticorpos específicos de
doenças e anticorpos anti DFS70, que podem explicar resultados indeterminados na IFI.
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VIII MAC
56 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Significado Clínico
Os anticorpos ANA são direcionados contra vários componentes nucleares das
células. Estes abrangem ácidos nucleicos, proteínas do núcleo da célula e
ribonucleoproteínas. A deteção serológica de auto-anticorpos contra antigénios nucleares
de células individuais ou de várias células através de uma “análise multiparâmetros” é um
elemento essencial no diagnóstico de doenças autoimunes, em particular de doenças
reumáticas. A prevalência de anticorpos antinucleares em doenças reumáticas inflamató r ias
situa-se entre 20% e 100% (na artrite reumatóide entre 20% e 40%). Por conseguinte, é
indispensável que hajam diagnósticos diferenciais de anticorpos para a deteção de
anticorpos contra diferentes antigénios nucleares na identificação de doenças reumáticas
individuais, sendo também úteis no diagnóstico de outras doenças autoimunes, tal como a
cirrose biliar primária (CBP).
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 57
5. Hematologia
5.1 Estudo da Série Eritróide
5.1.1 Sistema de Hematologia ADVIA® 2120
O Sistema ADVIA® 2120 é um equipamento de ensaio automatizado destinado à
determinação de parâmetros hematológicos, a partir de amostras biológicas, sobretudo, de
sangue total por citometria de fluxo e ensaio colorimétrico.
Este sistema possui uma válvula de cerâmica que divide a amostra em cinco
alíquotas que seguem para as respetivas câmaras de reação.
Os canais do Sistema ADVIA® 2120 e os métodos usados são:
Canal HGB – Hemoglobina - Os eritrócitos são lisados libertando Hb, o ferro do heme da
Hb é oxidado, passando do estado ferroso para o estado férrico, sendo depois combinado
com o cianeto do reagente ADVIA para formar o produto da reação. As leituras óticas são
obtidas colorimetricamente a 546 nm.
Canal RBC/PLT – Eritrócitos e Plaquetas - O reagente ADVIA contém dodecil sulfato
de sódio (SDS) e glutaraldeído que provoca a esferificação isovolumétrica dos eritrócitos e
plaquetas, de maneira a eliminar a forma como fator de variabilidade. As plaquetas e os
eritrócitos são fixados.
Canal Retic. – Reticulócitos - O reagente ADVIA autoRETIC contém um detergente
zwitteriónico (surfactante) que esferifica isovolumetricamente os eritrócitos. Também
contém um corante vital, oxazina 750, que cora as células de acordo com o seu conteúdo de
RNA.
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VIII MAC
58 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Canal PEROX – Peroxidase - Os surfactantes combinados com stress térmico lisam os
eritrócitos. O formaldeído fixa os leucócitos. O meio hipertónico causa alguma contração e
crenação dos leucócitos incrementando o índice de refração das células melhorando a
deteção dos linfócitos. No citograma Perox (Figura 5) as células absorvem a luz
proporcionalmente à quantidade de coloração da peroxidase presente (eixo x). As células
dispersam a luz proporcionalmente ao seu tamanho (eixo y). Quando os dados de dispersão
da luz e de absorção são traçados, formam-se clusters distintos. A análise de clusters
identifica cada população com base na sua posição, área e densidade, a seguir, é processado
o número de células de cada população.
Figura 5 – Representação da distribuição celular (citograma Perox). Adaptado de (Siemens Healthcare
Diagnostics 2010).
Canal BASO - O reagente ADVIA BASO contém ácido ftálico e um surfactante que lisam
os eritrócitos, as plaquetas e o citoplasma dos leucócitos com exceção dos basófilos. No
citograma BASO (Figura 6) a dispersão da luz relativa à configuração do núcleo é traçada
no eixo x e a dispersão da luz relativa ao tamanho da célula é traçada no eixo y e formam-
se populações ou clusters diferentes.
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 59
Figura 6 – Citograma BASO. Adaptado de (Siemens Healthcare Diagnostics 2010).
5.1.2 Hemograma
O hemograma é usado como um exame de triagem de distúrbios como anemia,
infeção e muitos outros. Na prática, é um painel de testes que examina as diferentes células
sanguíneas. É usado como amostra sangue total anticoagulado com EDTA e apenas para a
contagem de plaquetas também pode ser usado sangue total colhido em tubo de citrato
(coagulação).
Com a determinação da Hemoglobina (Hb), do Hematócrito (Hct) e da contagem de
eritrócitos é possível calcular o Volume Globular Médio (VGM), a Hemoglobina Globular
Média (HGM) e a Concentração de Hemoglobina Globular Média (CHGM), chamados
índices eritrocitários.
Estudo da Morfologia do Sangue Periférico
A execução dos esfregaços de sangue periférico (ESP) só deve ser efetuada quando
seja expectável que o resultado da sua observação microscópica possa acrescentar valor
semiológico ao hemograma ou possa ter repercussões significativas nas decisões clínicas
(ex. doentes oncológicos). A observação por microscopia deve visar a validação dos
resultados do equipamento e não a sua substituição, salvo se forem significativamente
discordantes sob o aspeto qualitativo ou quantitativo em relação aos originais reportados
pelos equipamentos.
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O aparelho ADVIA AutoSlide® é um equipamento destinado à execução e
coloração automática de esfregaços sanguíneos, estando acoplado ao equipamento
ADVIA® 2120. O estudo da morfologia do sangue periférico (MSP) é realizado por
observação ao microscópio ótico de um esfregaço sanguíneo corado pela técnica de
coloração May-Grunwald Giemsa (Figura 7) e inclui a avaliação de alterações qualitat ivas
e/ou quantitativas das diferentes linhagens celulares sanguíneas, nomeadamente alterações
nos leucócitos, eritrócitos e plaquetas, assim como dos seus precursores que eventualmente
estejam presentes no sangue periférico de acordo com os critérios definidos.
Figura 7 – Esfregaço de Sangue Periférico: a) diferença entre um esfregaço ideal e um esfregaço de péssima
qualidade; b) área ideal para observação do esfregaço. Adaptado de (Patologia Clínica Veterinária UFF
2015).
Velocidade de Sedimentação Eritrocitária
A velocidade de sedimentação eritrocitária (VS) é um teste que reflete um fenómeno
físico que consiste na agregação dos eritrócitos com formação de rouleaux seguida pela sua
sedimentação por ação da gravidade. Este processo é condicionado principalmente pela
composição proteica do plasma, nomeadamente a quantidade e a qualidade das proteínas
presentes (exemplos: o fibrinogénio e as imunoglobulinas), a relação entre o volume dos
eritrócitos e do plasma e pela morfologia dos eritrócitos.
O analisador da VS é o Ves-Matic Cube 200. É um equipamento de ensaio destinado
à determinação automática da velocidade de sedimentação dos eritrócitos diretamente a
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 61
partir de amostras colhidas em tubo de hemograma, utilizando um sistema óptico-eletrónico
de luz visível instalado no módulo de análise (método de Westergren modificado).
Ferro
Em indivíduos saudáveis, quantidades muito pequenas de ferro estão presentes na
maioria das células do corpo, no plasma e em outros fluidos extracelulares. As reservas de
ferro do corpo são reabastecidas diariamente por absorção controlada de ferro em
quantidades que equivalem às perdas. O ferro do corpo encontra-se distribuído de forma
mais ou menos compartimentada predominantemente pela hemoglobina, reserva (ferritina
e hemossiderina), mioglobina e circulante ligado à transferrina.
A determinação da sideremia tem o seu maior valor semiológico, em associação
com outros marcadores biológicos, no estudo das alterações do metabolismo do ferro,
permitindo esclarecer a etiologia de diversas anemias e monitorizar a sua evolução clínica
e a resposta ao tratamento.
Transferrina
A transferrina (TRF) é uma proteína plasmática de fase aguda negativa, sintetizada
pelo hepatócito. A sua função principal é de transportar o ferro circulante fornecendo-o aos
eritroblastos para a síntese da hemoglobina e ao sistema reticulo-endotelial, principalmente
da medula óssea, onde constitui as reservas do organismo. Nas hipossideremias podemos
excluir a existência de carência marcial se os valores da concentração da transferrina
estiverem diminuídos, como acontece nos processos inflamatórios e, mais raramente, na
deficiência de ácido ascórbico.
A determinação da sua concentração, associada a outros marcadores, tem o seu
maior valor semiológico no diagnóstico diferencial das anemias e na monitorização da
evolução clínica e da resposta ao tratamento das secundárias às alterações do metabolismo
do ferro.
Os seus valores são utilizados para determinar a saturação da transferrina [Tsat% =
(sideremia µg/dL x 100) / (transferrina mg/dL x 1,43)] que é utilizado como indicador do
fornecimento de ferro aos eritroblastos e da eficácia da sua utilização por estas células na
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62 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
síntese da hemoglobina. No despiste da hemocromatose hereditária a determinação da
Tsat% é um indicador preditivo mais sensível de homozigotia do que o da ferritina. Os
valores da Tsat% associados aos da ferritina têm um valor preditivo de 100% na exclusão
da existência de sobrecarga de ferro (hemossiderose) nos doentes com doenças hepáticas
crónicas.
As situações em que está aumentada a transferrina e a capacidade total de fixação
do ferro (CTFF µg/dL = transferrina mg/dL x 1,43) são a deficiência de ferro e níveis
aumentados de estrogénios (exemplos: gravidez e contracetivos orais). As situações em que
os valores da transferrina e da CTFF estão diminuídos são os processos inflamató r ios
crónicos e as neoplasias, a deficiência congénita (rara), a deficiência de ácido ascórbico, a
insuficiência hepática, a má-nutrição, as enteropatias exsudativas, o síndrome nefrótico e
estados de sobrecarga de ferro (exemplos: doentes politransfundidos e hemocromatose).
Ferritina
A ferritina sérica é um bom reflexo do armazenamento de ferro em indivíduos
normais e na maioria dos distúrbios. É uma proteína de fase aguda positiva, o que origina
uma estimativa desproporcionalmente elevada de armazenamento de ferro, em pacientes
com certas patologias como doenças hepatocelulares, neoplasias malignas e doenças
inflamatórias. Nestes casos, a anemia por deficiência de ferro pode existir com uma
concentração normal de ferritina no soro. Por outro lado, o hipotiroidismo e a deficiênc ia
de ácido ascórbico podem diminuir os níveis de ferritina plasmática independentemente das
reservas de ferro.
A determinação da ferritina apresenta relevância clínica no diagnóstico das
patologias que cursam com sobrecarga de ferro ou com eritropoiese deficiente em ferro e
na monitorização da sua evolução clínica e da resposta ao tratamento. A concentração da
ferritina no soro começa a diminuir numa fase precoce da deficiência do ferro, verificando -
se antes do aparecimento da microcitose e da hipocromia.
Vitamina B12
A vitamina B12 (cianocobalamina) é a única vitamina sintetizada exclusivamente
por microrganismos. Encontra-se em praticamente todos os tecidos animais e é armazenada
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 63
principalmente no fígado na forma de adenosilcobalamina. A vitamina B12 é essencial para
a síntese de DNA, a hematopoiese e a manutenção da integridade estrutural e funcional do
SNC e do sistema nervoso periférico. A sua absorção ao nível do íleo terminal depende da
presença e atividade do fator intrínseco que é produzido pela mucosa gástrica (células
parietais).
A determinação da sua concentração sérica tem o seu maior valor semiológico no
diagnóstico das alterações hematológicas e neurológicas relacionadas com os estados de
deficiência, na monitorização da sua evolução e da resposta ao tratamento. Valores
diminuídos são observados nos doentes com alterações no transporte ou no metabolismo da
cobalamina, deficiência nutricional, infestação por Diphyllobothrium latum, pós-
gastrectomia ou receção do íleo terminal, hipocloridria, doenças inflamatórias do intestino,
má absorção intestinal e deficiência de fator intrínseco. Todas as situações referidas são
causa de anemia megaloblástica.
Folatos
Os folatos referem-se a todos os derivados do ácido fólico. A forma principal de
folato no soro, eritrócitos e fígado é 5-metiltetrahidrofolato (5-metil-FH4). O fígado é o seu
principal local de armazenamento. Estão envolvidos em muitas reações metabólicas
funcionando como coenzima (transporte de unidades de carbono), cuja deficiência se
manifesta por alterações hematológicas (anemia megaloblástica) e neurológicas. Enquanto
os seus níveis séricos sofrem grandes variações que acompanham as diferenças do regime
alimentar, a sua concentração eritrocitária é um indicador mais sensível e específico do
estado das reservas do organismo.
O principal interesse clínico da determinação da sua concentração no soro reside no
diagnóstico das alterações hematológicas e neurológicas relacionadas com os estados de
deficiência, na monitorização da sua evolução e da resposta ao tratamento.
5.1.3 Anemias
Considera-se que a anemia está presente se a concentração de hemoglobina (Hb)
estiver abaixo do limite inferior do intervalo de referência para a idade, sexo e localização
geográfica (altitude) do indivíduo (para os indivíduos com mais de 12 anos e ao nível do
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VIII MAC
64 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
mar, a OMS define anemia valores da Hb inferiores a 13 g/dL nos homens e 12 g/dL nas
mulheres não grávidas). A anemia pode ser absoluta, quando a massa dos eritrócitos
diminui, ou relativa, quando associada a um volume plasmático mais elevado. As causas de
anemias encontram-se divididas entre três categorias fisiológicas principais: produção de
eritrócitos diminuída, perda sanguínea ou destruição acelerada dos eritrócitos (hemólise)
além da capacidade da medula de compensar estas perdas.
A anemia pode ser classificada pela morfologia dos eritrócitos como macrocítica,
normocítica ou microcítica. Algumas anemias (por exemplo, anemia por perda de sangue)
têm mais de um mecanismo patogénico e passam por mais de uma fase morfológica.
Os sinais e sintomas clínicos resultam da diminuição do fornecimento de oxigénio
aos tecidos e incluem, fadiga, baixa tolerância ao esforço e dispnéia no esforço, levando
muitas vezes ao desmaio, vertigem, palpitações e dor de cabeça. Os achados físicos mais
comuns são palidez, pulso rápido, pressão arterial baixa, febre ligeira, edema dependente e
sopros sistólicos. Além desses sinais e sintomas gerais, alguns achados clínicos são
característicos do tipo específico de anemia.
Anemia Ferropénica
Quando a perda de ferro excede a ingestão de ferro por um período de tempo
suficiente para esgotar as reservas de ferro do corpo, existe insuficiência de ferro para a
produção normal de Hb. Quando bem desenvolvida, a deficiência de ferro é caracterizada
por uma anemia microcítica e hipocrómica. A deficiência de ferro pode resultar quer de um
aumento das necessidades em relação ao aporte ou ingestão (exemplo: infância e gravidez)
quer de perdas excessivas não compensadas (exemplo: hemorragias).
Numa fase precoce de deficiência de ferro, o esfregaço de sangue mostra
frequentemente eritrócitos normocrómicos e normocíticos. Com o desenvolvimento da
anemia, os eritrócitos começam a sofrer alterações de forma e tamanho, levando ao
aparecimento de microcitose, anisocitose, poiquilicitose e graus variados de hipocromia
(Figura 8). As membranas plasmáticas de células deficientes em ferro são anormalme nte
rígidas, e esta alteração contribui para o desenvolvimento de poiquilócitos, particularmente
eliptócitos hipocrómicos alongados. A anisocitose pode ser identificada pelo hemograma,
através da análise de um parâmetro que avalia a diferença de tamanho entre os eritrócitos -
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 65
RDW. Este achado, no entanto, não é específico para a anemia ferropénica. Os reticulóc itos
encontram-se geralmente diminuídos em valores absolutos, exceto após a terapia com ferro.
O volume globular médio (VGM) está baixo, tal como a Hb e Hct. A contagem de leucócitos
habitualmente está normal ou ligeiramente reduzida. As plaquetas podem estar aumentadas,
se a falta de ferro for devida a perda de sangue ou deficiência alimentar, mas tendem
diminuir em anemia grave.
Figura 8 – Anemia ferropénica. Presença de anisocitose, poiquilocitose e hipocromia.
Anemia da Doença Crónica
Anemia da doença crónica (ADC) é o termo usado para descrever a anemia que
resulta de infeção ou inflamação crónicas ou de doença oncológica. Esta caracteriza-se pela
diminuição da sobrevivência dos eritrócitos, alteração do metabolismo do ferro, inibição
direta da hematopoiese e diminuição da secreção de EPO resultado da presença de elevados
níveis de citocinas. Os eritrócitos são normalmente normocíticos e normocrómicos, embora
em 20-50% dos pacientes, a anemia seja microcítica e hipocrómica. A anisocitose e
poiquilocitose são ligeiras e a contagem absoluta de reticulócitos está diminuída. Podem
estar presentes sinais indicativos de inflamação crónica, como neutrofília, trombocitose e
formação de rouleaux. Outros sinais que podem ser encontrados são a VS e a PCR
aumentadas, bem como, o fibrinogénio, a α2-macroglobulina e as γ-globulinas.
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Síndromas Talassémicas
A Talassemia é uma doença hereditária autossómica recessiva caracterizada por
redução da taxa de síntese de cadeias de globina que formam a hemoglobina resultando em
sintomas de anemia. Como resultado, existe um défice global de tetrâmeros de Hb nos
glóbulos vermelhos, e o VGM e HGM são reduzidos. No entanto, não é a falta da cadeia da
globina afetada, mas o acúmulo da não afetada, que causa hemólise e, principalmente na β-
talassemia, hematopoiese ineficaz em formas graves da doença.
α-Talassemia
No Homem, dois genes de α-globina estão presentes em cada cromossoma 16. As
α-talassemias são classificadas de acordo com a produção total destes dois genes de α-
globina ligados.
Ao contrário das cadeias α extremamente instáveis na β-talassemia, o excesso de
cadeias β e ɣ pode formar tetrâmeros estáveis, hemoglobina H (β4) e Bart (ɣ4). Estes
precipitam em eritrócitos envelhecidos e, através da interação com a membrana celular,
causam hemólise. Trata-se principalmente de anemia hemolítica, enquanto que na β-
talassemia predomina a eritropoiese ineficaz.
Quatro síndromas de α-talassemia resultam da combinação diferentes genótipos, que
correspondem aproximadamente a uma perda de quatro, três, dois ou um gene do
complemento normal (αα / αα) (Tabela 12).
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 67
Tabela 12 – Caraterísticas das Síndromes da α-talassemia. Adaptado de (Mcpherson & Pincus 2011).
Síndrome Genes afetados Genótipo Caraterísticas clínicas
Hydrops fetalis 4 −−/−− Morte fetal ou neonal com anemia grave
Doença da Hb H 3 −−/−α
Anemia Hemolítica Crónica
(Anemia microcítica e hipocrómica moderada a
grave)
Talassemia
minor 2 −−/αα Ligeira anemia: ↓ VGM e ↓ HGM, Hb A2 N
Portador
assintomático 1 −α/αα Nenhuma alteração clínica ou hematológica
β-Talassemia
As β-talassemias podem ser classificadas em β0 (ausência de síntese da cadeia) ou
β+ (redução de síntese da cadeia). Podem ser classificadas geneticamente em homozigo tia
ou heterozigotia (portador). Em termos clínicos são classificadas em talassemia major, uma
forma grave e dependente de transfusões; talassemia intermédia, com sintomas menos
graves e talassemia minor (portador), sem sintomas clínicos porém com alterações
hematológicas (Tabela 13).
β-Talassemia Homozigótica
Com ausência de cadeias β (β0) ou uma diminuição acentuada na sua produção (β+),
existe um excesso de cadeias α. Os agregados de cadeias α são instáveis e precipitam no
eritroblasto ou eritrócito danificando as células. Os precipitados e as células são removidos,
causando eritropoiese ineficaz e anemia hemolítica grave. Desta forma, o doente com β-
talassemia major pode apresentar anemia muito grave, icterícia, esplenomega lia,
hepatomegalia e expansão dos ossos que contêm medula hematopoiética. Devido à
eritropoiese ineficaz têm necessidade de transfusões regulares, o que provoca problemas
pela sobrecarga de ferro. A sobrecarga de ferro geralmente se desenvolve, e a principal
causa de morte é a insuficiência cardíaca devido à siderose miocárdica até o final da terceira
década. Ao contrário da maioria das doenças hemolíticas, a anemia é hipocrómica e
microcítica. A anemia é grave com hemoglobina muito baixa. O ESP mostra poiquilocitose
extrema com formas bizarras, dianócitos, ovalocitose, anéis de Cabot, corpos de Howell-
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68 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Jolly, fragmentos nucleares, siderócitos, anisocromia, anisocitose estão presentes (Figura
9). A contagem de reticulócitos é menos elevada do que o esperado para o grau de anemia
devido à destruição de precursores eritróides na medula.
Figura 9 – β-Talassemia Homozigótica. Algumas células não contêm praticamente hemoglobina, e esta está
muitas vezes precipitada na membrana. São observados dianócitos estranhos, corpos de Howell-Jolly e
glóbulos vermelhos nucleados mal hemoglobinizados. Adaptado de (Mcpherson & Pincus 2011).
β-Talassemia heterozigótica
É causada pela ausência de um gene da β-globina (β0) ou pela redução da sua
expressão (β+), com reduzida síntese de cadeias β-globina. O portador de β-talassemia em
geral é clinicamente assintomático. O quadro hematológico típico apresenta a contagem de
eritrócitos aumentada, microcitose, hipocromia e a Hb A2 > 3,5%. A maioria dos portadores
tem uma anemia ligeira, no entanto o Hct e a Hb podem ser normais. Em contraste com a
deficiência em ferro, o RDW é geralmente normal.
Não é possível, apenas com o hemograma, distinguir o portador β-talassémico de
outros. Para o diagnóstico definitivo são necessárias a eletroforese de hemoglobinas para
excluir uma variante de hemoglobina, e a determinação de percentagem de Hb A2. Para
distinguir da anemia ferropénica deve-se analisar outros parâmetros complementares, tais
como o ferro sérico, a CTFF e a ferritina sérica (Tabela 13).
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Tabela 13 – Caraterísticas laboratoriais das anemias microcíticas e hipocrómicas. Adaptado de (Mcpherson
& Pincus 2011).
Tipo de anemia Ferro sérico CTFF % Saturação Ferritina sérica Hb A2 Hb F
Anemia ferropénica ↓ ↑ ↓ ↓ N/↓ N
β-Talassémia N/↑ N N N / ↑ N/↑ N/↑
ADC ↓ N/↓ ↓ N / ↑ N N
ADC, Anemia da Doença Crónica; CTFF, Capacidade Total de Fixação do Ferro; N, Normal; ↑, aumentado; ↓, diminuído.
Anemia Megaloblástica
Anemia macrocítica que resulta de eritropoiese anormal caracterizada por aumento
do tamanho dos precursores eritróides e maturação citoplasmática precedendo a maturação
nuclear. A anemia megaloblástica geralmente resulta de deficiência de vitamina B12 e/ou
de ácido fólico ou da administração de fármacos que interferem na síntese de DNA.
Algumas causas são particularmente importantes na infância, nomeadamente erros
congénitos do metabolismo de vitamina B12 ou do folato. Os pacientes com falta de
vitamina B12 e/ou de ácido fólico podem apresentar diversas manifestações clínicas :
hematológicas, neurológicas (parestesias, neuropatia periférica), psiquiátricas (demência,
psicose) e cardiovasculares (possível aumento do risco de enfarte do miocárdio).
As anemias macrocíticas associadas à megaloblastose diferem da anemia
macrocítica não-megaloblástica pela presença de macroovalócitos e neutrófilos gigantes
hipersegmentados. Apresenta-se com um VGM elevado e geralmente com pancitopenia
(leucopénia e trombocitopenia). Os microcitos e os dacriócitos são comuns. Pode ser
observado ponteado basófilo, múltiplos corpos de Howell-Jolly, glóbulos vermelhos
nucleados com cariorrexis, e até megaloblastos. A leucopenia está presente, sendo que os
granulócitos apresentam um número aumentado de lóbulos, como resultado de maturação
nuclear anormal. Cinco lóbulos em mais de 5% dos neutrófilos constituem a
hipersegmentação, assim como apenas um neutrófilo com seis ou mais lóbulos (Figura 10).
É importante notar que, mesmo na ausência de anemia, podem ocorrer alterações
morfológicas significativas no sangue e a presença sintomas neurológicos.
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70 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Figura 10 – Neutrófilo hipersegmentado característico da anemia megaloblástica.
5.2 Estudo da Série Mielóide
5.2.1 Síndroma Mononucleósica
Caracteriza-se por febre, faringo-amigdalite, na maior parte dos casos exsudativa,
com odinofagia, linfadenopatia (geralmente cervical posterior), hepatomega lia,
esplenomegalia, exantema e leucocitose mononuclear (linfócitos + monócitos) com
linfocitose (≥ 5,0x109/L nos adultos ou ≥ 7,0x109/L nas crianças < 12 anos), ≥ 10% de
linfócitos reativos / “atípicos” (são significativos mesmo na ausência de linfocitose) (Figura
11). A presença de linfocitose com linfócitos reativos / “atípicos” ≥ 5 e < 10% está
relacionada com uma estimulação imunológica de outra etiologia e não com uma síndroma
mononucleósica na sua fase aguda. Os linfócitos reativos da síndroma mononucleósica são
células T e expressam caracteristicamente os antigénios CD2, CD3, CD5, CD7, CD8, CD38
e HLA-DR (imunofenotipagem).
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Figura 11 – Linfócito reativo / ”atípico”.
O vírus de Epstein-Barr (EBV) é a causa mais frequente da síndroma
mononucleósica. A linfocitose reativa/”atípica” característica da síndroma mononucleós ica
apresenta outras causas tais como, infeciosas (ex. citomegalovírus – CMV), reações a
fármacos e tóxicos, síndroma pós-perfusão, imunizações/vacinações, exposição a radiação
ionizante, endocrinológicas (ex. adrenalina no stress físico e psíquico), doenças autoimunes
e outras patologias como a sarcoidose.
5.2.2 Neoplasias Hematopoiéticas
As Leucemias Agudas (LA) são um grupo heterogéneo de neoplasias decorrentes
da transformação de células estaminais hematopoiéticas. Têm uma evolução rápida e uma
agressividade elevada. Caracterizam-se por hematopoiese ineficaz, pela proliferação de
células imaturas sem capacidade de se diferenciar e falência medular. Cerca de 50 a 60%
das Leucemias Mieloides Agudas (LMA) de novo ou primárias e 80 a 90% das secundárias
estão associadas com múltiplas lesões genéticas (anomalias adquiridas) das células
progenitoras hematopoiéticas que se vão acumulando no clone maligno.
Independentemente das características relacionadas com a patologia citogenética e
de biologia molecular o diagnóstico das neoplasias mieloides agudas e crónicas requer a
integração dos resultados do hemograma, dos aspetos citomorfológicos, incluindo a
identificação da presença de displasia em todas as linhas celulares (mieloide, eritroide e
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72 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
megacariocítica), e da contagem diferencial dos blastos e equivalentes, assim como dos
elementos mieloides imaturos (mieloblastos, promielócitos na leucemia promielocít ica
aguda, monoblastos e promonócitos, proeritroblastos e eritroblastos na LA Eritroide Pura,
e megacarioblastos), quer no SP (200 leucócitos), quer na MO (500 células nucleadas).
O critério para definir uma LA (LMA ou LLA) é a existência de ≥ 20% de blastos
no SP (Figura 12) e na MO ou, mais raramente, o critério numérico só se verifica ao nível
da MO (leucemia aleucémica ou subleucémica).
Figura 12 – Blasto no sangue periférico.
O estudo morfológico do sangue periférico e da medula óssea, presta um contributo
importante para a classificação das LMA (OMS) e, embora com uma sensibilidade muito
menor do que a imunofenotipagem, a citogenética (identificação dos subtipos) e a biologia
molecular (FLT3, NPM1, CEBPA, RUNX1, BCR ABL1, KIT e outros importantes para
estabelecer o prognóstico), como também na monitorização da evolução clínica e na
resposta ao tratamento, assim como na identificação das recaídas das LMA.
As Leucemias Crónicas, tal como as LA, são neoplasias originadas dos precursores
hematopoiéticos da linhagem mieloide ou linfóide da medula óssea. A característica comum
a todos os tipos de Leucemia Crónica é a capacidade mantida de diferenciação do clone
neoplásico, resultando no acúmulo de células maduras na medula óssea e no sangue
periférico. Geralmente, apresentam uma evolução lenta, quando comparadas às LA, e não
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 73
se verifica bloqueio maturativo estando presentes elementos em todos os estádios. No
entanto, são resistentes à ação da quimioterapia, o que torna essas doenças raramente
curáveis. São definidas pela presença de < 20% de blastos no SP e na MO.
5.3 Estudo da Hemostase, da Trombofilia e da Fibrinólise
5.3.1 Sistema de Coagulação BCS® XP
É um equipamento destinado à execução in vitro de testes laboratoriais para
avaliação e estudo da hemostase, da coagulação e da trombofilia. Permite realizar testes
baseados no tempo de formação do coágulo, testes cromogéneos e imunológicos em
plasmas citratados. A amostra utilizada é plasma obtido por mistura de 1 parte de solução
de citrato de sódio a 3,2% com 9 partes de sangue.
Para o estudo da hemóstase, da trombofilia e fibrinólise são abordados parâmetros
com maior valor semiológico, designadamente o tempo de protrombina (TP/INR), o tempo
de tromboplastina parcial ativada (TTPa), fibrinogénio funcional, antitrombina funciona l
(AT) e D-dímeros.
Tempo de Protrombina
É o tempo de coagulação (formação de coágulo de fibrina) de uma amostra de
plasma citratado (ou sangue total) na presença de uma tromboplastina tecidular calibrada
quando se adiciona uma quantidade adequada de cloreto de cálcio. Este ensaio reflete a
atividade de fatores de via extrínseca (fator VII) e comum da cascata de coagulação (fatores
X, V e protrombina e fibrinogénio).
Os resultados do TP são reportados em tempo (segundos) e sob a forma de razão
normalizada internacional (INR). Esta última é calculada em função do índice de
sensibilidade internacional (ISI) da tromboplastina tecidular, permitindo que os resultados
de todos os laboratórios sejam padronizados e estejam harmonizados entre si
independentemente do tipo de reagente utilizado. Os valores do INR são usados
exclusivamente para monitorizar os doentes a fazer anticoagulantes orais antagonistas da
vitamina K.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Hematologia
VIII MAC
74 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tempo de Tromboplastina Parcial ativada
O tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) é o tempo de coagulação
(formação de coágulo de fibrina) de uma amostra de plasma citratado após a ativação dos
fatores de contacto (fator XII, pré-kalicreina, kininogénio de elevado peso molecular e fator
XI) por uma substância de superfície inerte (exemplos: caolino, sílica, celite ou ácido
elágico) e na presença de um substituto padronizado dos fosfolípidos plaquetários
(tromboplastina parcial) se adiciona uma quantidade adequada de cloreto de cálcio.
Os seus valores refletem a atividade dos fatores de contacto, da via intrínseca
(fatores VIII e IX) e da via comum (fatores X, V, protrombina e fibrinogénio) da hemostase
secundária. A protrombina (fator II), o fator IX e o X para serem biologicamente ativos
necessitam da ação da vitamina K.
Os resultados do TTPa são reportados em tempo (segundos) e sob a forma de razão
em função de um plasma controlo normal.
Fibrinogénio Funcional
O fibrinogénio é uma glicoproteína dimérica produzida essencialmente nos
hepatócitos e em menor quantidade nas células epiteliais cervicais e dos alvéolos
pulmonares, e faz parte das proteínas de fase aguda positivas. O fibrinogénio constitui uma
molécula de suporte no processo da agregação plaquetar (hemostase primária), e é o último
fator do sistema da coagulação (via comum) a exercer a sua função no processo de formação
do coágulo, convertendo-se em fibrina pela ação catalisadora da trombina.
A determinação do fibrinogénio funcional tem o seu principal valor semiológico no
rastreio e no diagnóstico da afibrinogenemia, da hipofibrinogenemia/disfibrinogenemia, no
prognóstico e na monitorização da resposta ao tratamento da coagulação intravascular
disseminada e da fibrinólise.
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Antitrombina Funcional (AT)
É uma enzima glicoproteica da família das serinas proteases sintetizada nos
hepatócitos e está envolvida na regulação do sistema da coagulação sanguínea inativando a
trombina (IIa), o fator Xa e outras enzimas procoagulantes particularmente os fatores IXa,
VIIa, XIa e XIIa.
A determinação da atividade da AT tem o seu principal valor semiológico na
identificação dos doentes com deficiência congénita ou adquirida, principalmente nos que
apresentam diátese trombótica (trombofilia), ou resistência à heparina e na monitorização
da resposta ao tratamento.
D-Dímeros
A presença de quantidades significativas de D-dímeros no sangue periférico reflete
o estado de ativação dos sistemas procoagulante e fibrinolítico resultante, respetivamente,
da atividade da trombina (formação de monómeros de fibrina que contêm monómeros D) e
da plasmina (clivagem das moléculas de fibrinogénio e de fibrina do coágulo, cujos
produtos de degradação solúveis do fibrinogénio e da fibrina libertados para a circulação
contêm D-dímeros).
A determinação da concentração dos D-dímeros é útil no diagnóstico da doença
tromboembólica venosa (trombose venosa profunda e embolia pulmonar) e da coagulação
intravascular disseminada (CID).
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VIII MAC
76 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
6. Microbiologia (MBL)
A atividade da área de Microbiologia obedece ao princípio da “marcha em frente ou
unidirecional” para evitar contaminações e assegurar o nível de segurança requerido em
função das características dos produtos e da virulência e patogenicidade dos
microrganismos que eventualmente possam estar presentes. Depois de serem triadas e
classificadas em função do nível de risco que lhe está associado, são processadas de
acordo com os protocolos implementados, recorrendo, sempre que estiver indicado, à
utilização das câmaras de segurança biológica (câmara de fluxo laminar TELSTAR® -
Bio-IIA). O laboratório realiza a análise de diversos produtos biológicos sendo as mais
frequentes as urinas assépticas, as coproculturas e a análise de exsudados, sobretudo os
vaginais.
6.1 Meios de Cultura
Neste capítulo é feita uma breve referência aos principais meios de cultura
utilizados. A tabela 14 mostra os meios de cultura usados para a análise de diversos
produtos biológicos com respetiva composição de características.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Microbiologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 77
Tabela 14 - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com respetiva composição
e características.
Meio Composição Características
Gelose CLED
Meio não seletivo para diferenciação de
microrganismos urinários que fermentam a
lactose dos não fermentativos. Limita a invasão
por Proteus spp.
Lact + Colónias amarelas-
pálidas e amarelas
Lact – Colónias verdes, azuis
ou incolores
Gelose Mac
Conkey (MCK)
Meio seletivo para Gram negativo. Isolamento
seletivo e de diferenciação para a pesquisa de
Enterobacterias. A seletividade em relação às
bactérias Gram positivo é conseguida pelos
ácidos biliares e o cristal violeta.
Com cristal violeta permite
evidenciar a fermentação da
lactose pela viragem do
vermelho neutro
Lact + Colónias rosas ou
vermelhas
Lact – Colónias incolores ou
ligeiramente beje
Gelose
chromIDTM
CPS3
Isolamento, quantificação e identificação direta
de Escherichia coli
Colónias rosa a bordeaux são β-
glucoronidase + e identifica
Escherichia coli
Gelose Columbia
ANC + 5% de
sangue de
carneiro (CNA)
Meio de isolamento seletivo que permite o
desenvolvimento das bactérias Gram positivo. A
presença de ácido nalidíxico e de colimicina
permite inibir a maioria das bactérias Gram
negativo bem como Bacillus
A presença de sangue de
carneiro permite a expressão de
hemólise, que é um critério de
base para a orientação da
identificação bacteriana
Gelose Muller
Hinton 2 (MH2)
Destina-se á realização de antibiogramas por
difusão. Garante um mínimo de interferência dos
componentes da fórmula no resultado do
antibiograma.
Permite o crescimento das
bactérias não exigentes
(enterobactérias, bacilos Gram
negativo não fermentadores,
estafilococos e enterococos).
Gelose Muller
Hinton + 5% de
sangue de
carneiro
Meio de isolamento que se destina a facilitar o
crescimento de microrganismos exigentes.
Também é adequada para o isolamento dos
microrganismos anaeróbios. A gelose contém
uma mistura de peptonas especialmente adaptada
à cultura dos microrganismos exigentes.
A presença de sangue de
carneiro permite a expressão de
hemólise da identificação
bacteriana (Streptococcus spp.,
Listeria spp.).
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78 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 14a - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com respetiva composição
e características (continuação).
Meio Composição Características
Gelose Chapman (MSA)
Destinado ao isolamento e
diferenciação dos estafilococos.
O teor elevado de NaCl limita
o desenvolvimento de outros
microrganismos.
Microrganismos que
fermentam o manitol (+) dão
colónias amarelas por
acidificação do meio. Dá
orientação para Staphylococcus
aureus.
Gelose Sabouraud
Gentamicina Cloranfenicol
(SGC)
Meio seletivo para isolamento de
leveduras e fungos filamentosos
a partir de amostras
polimicrobianas. A presença de
Gentamicina permite inibir a
maioria das bactérias Gram
negativo e Gram positivo. O
Cloranfenicol melhora a
seletividade em relação a
algumas espécies, por vezes
resistentes à Gentamicina
(Streptococcus spp., Proteus
spp.)
A presença de peptonas e
glucose favorece o
desenvolvimento de estirpes
fúngicas.
Gelose chromIDTM Strepto B
(STRB)
Três substratos cromogéneos
optimizam a identificação de
Streptococcus tipo B
(Streptococcus agalactiae).
Colónias características de rosa
pálido a vermelho, após
incubação em estufa com mais
5% de CO2.
Gelose Chocolate Haemophilus
(HAEM)
Meio seletivo para o isolamento
das diferentes espécies de
Haemophilus spp. A seletividade
é obtida pela associação de
antibióticos e antifúngicos que
permitem inibir bactérias Gram
positivo e leveduras.
Contém uma base nutritiva
enriquecida em fatores X
(Hemina) e V (NAD).
Gelose Chocolate + Polivitex
(PVX)
Meio indicado para o
crescimento das estirpes
exigentes pertencentes ao género
Neisseria, Haemophilus e
Streptococcus (S.pneumoniae)
Contém uma base nutritiva
enriquecida em fatores X
(Hemina) e V (NAD).
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Microbiologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 79
Tabela 14b - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com respetiva composição
e características (continuação).
Meio Composição Características
Gelose Chocolate + Polivitex
VCAT (VCA3)
Meio que se destina ao
isolamento seletivo de Neisseria
gonorrhoeae e Neisseria
meningitidis a partir de colheitas
polimicrobianas. A seletividade é
obtida pela associação de
antibióticos e antifúngicos:
Vancomicina, Colistina,
Anfotericina B e Trimetoprim.
Os antimicrobianos permitem
inibir a maior parte das bactérias
e leveduras para além das
espécies pesquisadas.
Gelose Gardnerella (GAR)
Meio de isolamento seletivo
destinado à deteção de
Gardnerella vaginalis a partir de
colheitas genitais. Os
antibióticos Ácido Nalidíxico e
Colistina inibem a maioria dos
contaminantes Gram negativo
bem como das leveduras.
A presença de sangue humano
facilita o crescimento da espécie
procurada e permite a obtenção
de uma β-hemólise à volta das
colónias.
Gelose Hektoen (HEKT)
Meio de isolamento seletivo e de
diferenciação destinado à
pesquisa das Salmonella spp. e
Shigella spp. a partir de colheitas
clínicas (fezes). A inibição dos
Gram positivo obtém-se com
uma mistura de sais biliares e de
corantes (azul de bromotimol e
fuscina ácida).
Microrganismos que produzem
H2S originam colónias com
centro negro. As colónias verdes
ou azuis esverdeadas com centro
negro representam uma forte
presunção de Salmonella spp. ou
Shigella spp.
Gelose Campilosel (CAM)
Meio seletivo para o isolamento
dos Campylobacter intestinais
(C. jejuni e C. coli)
principalmente a partir de fezes.
A presença de sangue de
carneiro facilita o crescimento.
Os antibióticos e antifúngicos
inibem a maior parte dos
contaminantes.
As colónias características de
Campylobacter spp. são colónias
pequenas e brilhantes e crescem
depois de incubar em atmosfera
microaerófila a 42ºC.
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80 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 14c - Meios de cultura usados para análise de diversos produtos biológicos com respetiva composição
e características (continuação).
Meio Composição Características
Gelose Yersínia CIN (YER)
Meio de isolamento seletivo
destinado à deteção e
diferenciação de diferentes
espécies de Yersínia em colheitas
diversas. A presença de colato,
desoxicolato, cristal violeta
antibióticos inibe o
desenvolvimento das bactérias
Gram positivo e a maioria das
Gram negativo.
O manitol e o vermelho neutro
permitem uma diferenciação das
Yersínias. Colónias de coloração
rosa escuro a vermelho, ao fim de
48h, são características de
Yersínia spp.
Meio Löwenstein – Jensen (LJ)
Destina-se à cultura de
micobactérias Mycobacterium
tuberculosis e outras
micobactérias. Este meio
enriquecido com a presença de
ovo, de asparagina e de fécula,
favorece o crescimento das
micobactérias.
Após a incubação o M.
tuberculosis exibe colónias com o
aspeto em “couve-flor”.
6.2 Procedimentos em Microbiologia
Segue-se uma breve descrição dos procedimentos utilizados na identificação de
microrganismos no laboratório clínico, na área da microbiologia.
Coloração de Gram
A coloração de Gram é uma das colorações mais importantes em microbiologia. É
um método que permite caracterizar morfologicamente (exemplos: cocos, bacilos e
cocobacilos) e semiquantificar os microrganismos presentes nas amostras, e diferenciar as
bactérias em dois grandes grupos de acordo com as diferenças estruturais da parede celular
– Gram positivas e Gram negativas.
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 81
Os esfregaços podem ser preparados a partir das amostras biológicas ou de colónias
em meio de cultura. As lâminas com esfregaço são fixadas à chama do Bico de Bunsen. A
coloração de Gram é realizada em vários passos, que são automatizados no aparelho de
coloração VWR® Int (MIDAS / Mirastainer).
Durante o processo de coloração, o cristal de violeta penetra no interior das células
bacterianas corando as estruturas citoplasmáticas e as camadas externas da parede celular.
Quando se adiciona a solução iodada, o iodo atua como mordente formando complexos
macromoleculares com o cristal de violeta nos locais onde se encontra fixado. O processo
de descoloração vai permitir a diferenciação entre as bactérias Gram positivas e as Gram
negativas em função da composição da sua parede celular. A parede celular das Gram
positivas é formada por uma camada espessa de peptidoglicano (cerca de 90% da parede
celular) ao qual se encontra ligado uma estrutura reticulada constituída por ácido teicóico,
é desidratada pelo Etanol impedindo que o complexo cristal de violeta- iodo seja removido
do interior da célula bacteriana e dos locais onde se encontra fixado na sua parede; as células
bacterianas mantêm a cor púrpura conferida pelo corante.
Em relação às Gram negativas, a sua parede celular é formada predominantemente
por material lipídico (lipopolissacaridos) e por uma camada fina de peptidoglicano que
constitui cerca de 10% da sua estrutura. A solução de descoloração remove a camada
lipídica externa da parede celular ficando exposta a de peptidoglicano que é permeável à
remoção do complexo cristal de violeta-iodo do seu interior e da parede celular onde se
encontrava fixado; a célula bacteriana perde a cor púrpura. A adição final de uma solução
corante de Safranina vai permitir a identificação das bactérias Gram negativas que adquirem
uma cor rosada ou avermelhada.
A observação do Gram serve de diagnóstico presuntivo do agente infecioso e auxilia
a orientar a identificação definitiva.
Coloração Álcool-Ácido Resistente
É um método de rastreio que se baseia na capacidade que de alguns microrganismos
têm, designadamente o género Mycobacterium pelas características estruturais da sua
parede celular (presença de um polímero lipopolissacarídico de micolato de
arabinogalactano), em reterem no seu interior a Fucsina básica fenicada (corante +
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mordente). Este corante combina-se com os agrupamentos carboxilo livres dos ácidos
micólicos da parede celular, cujos complexos formam uma barreira hidrófoba que mantém
a Fucsina no interior do corpo bacteriano. Esta não é removida pela ação de uma mistura
descorante, constituída por um Ácido mineral forte e Etanol. Os bacilos álcool-ácido
resistentes (BAAR) coram de vermelho.
Esta técnica permite fazer um diagnóstico presuntivo e monitorizar a resposta ao
tratamento das infeções por Mycobacterium. Algumas espécies do género Nocardia
(exemplos: N. asteroides, N. brasiliensis e N. caviae) que são actinomicetos aeróbios Gram
positivos, ramificados ou parcialmente ramificados e filamentosos, caracterizam-se por
serem parcialmente ácido-resistentes.
Testes de Identificação
A tabela 15 apresenta resumidamente uma breve descrição dos principais testes de
identificação de microrganismos realizados na área de microbiologia.
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Tabela 15 - Principais testes de identificação de microrganismos realizados na área de microbiologia.
Teste Princípio do teste Características
Teste da Catalase
O peróxido de hidrogénio (H2O2) é
decomposto em água (H2O) e O2. É utilizado
principalmente para diferenciar as colónias
de Staphylococcus spp. das de Streptococcus
spp. isoladas em cultura pura (cocos Gram
positivos).
Catalase positivos: formação e
libertação imediata e abundante
de bolhas de gás - O2.
Catalase negativos: não há
formação de bolhas de gás - O2.
Teste da Coagulase
É utilizado para efetuar a identificação
presuntiva dos Staphylococcus aureus
(produtores de coagulase) e diferenciá-los
das outras espécies de Staphylococcus (não
produtores de coagulase) a partir de colónias
isoladas em cultura pura (teste em tubo:
incubar a 35-37ºC e ler às 4h e às 24h)
O resultado apresenta-se positivo
se houver formação de coágulos
às 4h e às 24h.
A ausência de coagulação após
24h de incubação é uma prova
negativa.
Teste da Oxidase
O teste utiliza o reagente de Kovac
(dihidrocloreto de tetrametil-p-
fenilenediamina a 1%) que atua como um
aceitador artificial de eletrões da enzima
citocromo oxidase que, em aerobiose, é uma
enzima produzida por todas as Pseudomonas,
exceto a P. luteola e a P. oryzihabitans.
Quando o reagente é oxidado forma em cerca
de 10 a 15 segundos um composto de cor
púrpura (azul de indofenol ou de Wurster).
Oxidase positivo: Pseudomonas
spp.
Oxidase negativo:
Enterobacteriaceae.
As Neisseriaceae são também
oxidase positivo.
Teste da Optoquina
Permite testar a sensibilidade do
Streptococcus à optoquina. O teste é
utilizado para efetuar a identificação
presuntiva das colónias de Streptococcus
pneumoniae isoladas em cultura pura e
diferenciá-los dos Streptococcus viridans (α-
hemolíticos).
Um halo de inibição igual ou
superior a 14 mm significa uma
presença eventual de
Streptococcus pneumoniae.
6.3 Teste de Suscetibilidade aos Agentes Antimicrobianos (TSA)
O Teste de Suscetibilidade aos Agentes Antimicrobianos (AM) deve realizar-se para
qualquer microrganismo que seja responsável por um processo infecioso e que necessite de
terapêutica antimicrobiana, sempre que a suscetibilidade não puder ser previsível pelo
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conhecimento da identidade do microrganismo. Os testes de suscetibilidade estão
principalmente indicados quando o microrganismo pertence a uma espécie capaz de exibir
resistência aos antimicrobianos mais frequentemente utilizados.
O estudo inclui a pesquisa de β-lactamases de espetro estendido ou de largo espetro
(ESBL) nas Enterobacteriaceae (exemplos: Proteus spp, Escherichia coli e Klebsiella spp)
e da resistência dos Staphylococcus aureus à meticilina (estirpes MRSA).
Os critérios utilizados para a seleção dos AM e a valorização qualitativa dos seus
resultados (sensível, intermédio ou resistente) baseiam-se nas recomendações publicadas
pelo EUCAST (European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing), pelo CLSI
(Clinical and Laboratory Standards Institute) e pela Direção-Geral da Saúde (Norma
004/2013 - Vigilância Epidemiológica das Resistências aos Agentes Antimicrobianos). A
seleção dos AM e os resultados reportados são condicionados principalmente pelas
características do microrganismo identificado e pela localização da infeção. Contudo,
existem outros fatores importantes como sejam a idade, o género, a situação clínica do
doente e o seu estado fisiológico (exemplos: estado funcional do sistema imunitário e
gravidez), para além dos resultados dos exames microbiológicos anteriores, a quimioterap ia
antimicrobiana efetuada e a resposta ao tratamento.
Os vários tipos de testes de suscetibilidade disponíveis podem-se classificar em
dois grandes grupos: testes de diluição e testes de difusão.
6.3.1 Método de Microdiluição em Meio Líquido
Os testes de suscetibilidade aos agentes antimicrobianos (TSA) de bacilos Gram
negativos, Staphylococcus spp., Enterococcus spp., Streptococcus agalactiae e
Streptococcus pneumoniae são efetuados no sistema analítico Vitek 2. O processo baseia-
se na monitorização contínua da atividade in vitro de cada um dos AM presentes nas cartas
(placa de microtitulação adequada para o microrganismo) em relação à estirpe bacteriana
em estudo.
O princípio das cartas de antibiograma assenta na determinação da concentração
mínima inibitória (CMI) e efetua-se através de uma técnica de microdiluição. Cada carta
contém uma combinação de fármacos específicos, adequados ao tipo de microrganismo que
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 85
pretendemos analisar. Os resultados, facultados pelo equipamento, são reportados para cada
fármaco, como “sensível”, “intermedio” ou “resistente”.
6.3.2 Método de Difusão Kirby-Bauer Modificado
O método de difusão em agar é um dos mais utilizados na rotina dos Laboratórios
de Microbiologia, para testar in vitro, a suscetibilidade aos AM das bactérias de crescimento
rápido e de alguns microrganismos exigentes.
Esta metodologia simples, mas bem controlada permite obter um resultado
qualitativo que se baseia na relação dos “breakpoints” das CMI com os níveis terapêuticos
dos antimicrobianos atingidos no sangue nas infeções sistémicas, ou ainda com níveis de
AM concentrado na urina para aqueles utilizados apenas em infeções do aparelho urinário.
Um inóculo padronizado do microrganismo é aplicado na superfície de uma placa
de gelose Mueller-Hinton, onde se colocam discos impregnados de antimicrobianos. Após
incubação, em geral durante 16-18 horas, são medidos os diâmetros dos halos de inibição
de crescimento para cada disco. O tamanho do halo de inibição é inversamente proporcional
à CMI e os resultados são reportados qualitativamente: sensível, intermédio ou resistente.
6.4 Produtos Biológicos
Neste capítulo são abordados os produtos biológicos, referindo em cada um deles
alguns aspetos importantes relacionados com a colheita, o exame direto, o exame cultural e
o teste de suscetibilidade aos agentes antimicrobianos.
6.4.1 Urina
A infeção urinária é geralmente causada por bactérias da flora intestinal saprófita,
que invade o aparelho urinário por via ascendente através da uretra. Os agentes etiológicos
mais frequentes, sem outras doenças associadas, são as Enterobacteriaceae com grande
destaque para a Escherichia coli. No entanto podem ser encontrados para além das
Enterobacteriaceae, outros microrganismos, nomeadamente Enterococcus spp,
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VIII MAC
86 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Pseudomonas spp, Acinetobacter spp, Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase
negativos e fungos (ex: Candida albicans).
Tabela 16 – Aspetos importantes relacionados com a colheita, exame direto e exame cultural da urina.
Colheita
As amostras, após boa higiene ou desinfeção local, podem ser obtidas por:
micção (jato médio)
saco de colheita (exemplo: crianças que usam fralda)
cateterismo vesical transuretral (algália)
punção supra-púbica ou de algália
As amostras de urina destinadas a exame microbiológico que não possam ser semeadas
até 1 hora após a colheita devem ser refrigeradas (4 a 8ºC) e mantidas a esta temperatura
por um período de até 12 horas. Em alternativa a colheita pode ser efetuada para um
recipiente estéril contendo ácido bórico (conservante).
Exame direto
Para identificação e contagem dos elementos figurados presentes (células epiteliais,
leucócitos, eritrócitos, fungos ou parasitas) as amostras de urina são processadas
inicialmente pelo citómetro de fluxo (UF-1000i).
Todas as amostras que apresentem uma leucocitúria > 20/μL, uma contagem de bactérias
> 400/μL ou ambas, ou de crianças com idade inferior a 7 anos e as amostras que são
repetições de colheita pedidas pela área são processadas – coloração de Gram e exame
cultural.
Exame
cultural
As amostras são semeadas em meio de CLED com uma ansa calibrada (10µL) descartável.
O meio é incubado em atmosfera de aerobiose a 35º C, durante 18 a 24 horas.
Na interpretação dos resultados são valorizadas:
Todas as culturas puras com ≥ 105 unidades formadoras de colónias
(UFC)/mL (corresponde à presença de ≥ 1000 UFC).
Todas as culturas puras com 104 a 105 UFC/mL (corresponde
aproximadamente à presença de 100 a 1000 UFC) em doentes
sintomáticos.
Qualquer desenvolvimento bacteriano em cultura pura, que não seja
resultante de contaminação pela flora comensal da pele, de amostras
colhidas por punção supra-púbica.
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura para ser identificada e determinado o TSA.
Não são valorizados exames culturais com duas ou mais es tirpes bacterianas.
Habitualmente trata-se de contaminação bacteriana, e é sempre solicitada uma nova
colheita para exame microbiológico.
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 87
6.4.2 Exsudado Faríngeo
O aparelho respiratório superior tem caracteristicamente uma flora bacteriana
comensal mista abundante, constituída por aeróbios e anaeróbios. Vários agentes
patogénicos tais como o Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Haemophilus
influenzae, Neisseria meningitidis, leveduras e membros das Enterobacteriaceae, podem
ser isolados e constituir uma flora transitória ou estar presente em pequeno número na
orofaringe de indivíduos saudáveis. Usado para a deteção de Streptococcus β-hemolítico do
grupo A. Se solicitado, poderá ser efetuado para pesquisa de N. gonorrhoeae, N.
meningitidis (despiste de portadores), Bordetella pertussis e Corynebacterium diphfteriae.
Tabela 17 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e o exame cultural e exame cultural do
exsudado faríngeo.
Colheita
A amostra é colhida com zaragatoa e a abordagem pode ser pela via:
Oral - a zaragatoa não deve tocar nos lábios, na língua ou na úvula e deve
obter-se uma amostra da parede posterior da orofaringe e das amígdalas ,
principalmente das zonas que se encontram mais inflamadas ou com pus.
Nasal - introduzir a zaragatoa até sentir uma resistência compatível com
a parede posterior da nasofaringe.
A amostra deverá ser introduzida num meio de Stuart para conservação e transporte.
Exame
Cultural
É semeada num meio de Gelose Columbia ANC + 5% de sangue de carneiro (CNA) que
permite o isolamento das bactérias Gram positivas e a expressão de hemólise (α e β), de
um caldo de Todd-Hewit com sangue (após 24h é realizada a sementeira num meio de
gelose sangue para o isolamento e identificação dos Streptococcus β–hemolítico do Grupo
A), um meio Chapman para isolamento de Staphylococcus spp. e a identificação
presuntiva de S. aureus e de um meio de Gelose Chocolate – Haemophilus.
É usada serologia com teste de aglutinação com latex para identificação dos Streptococcus
pyogenes (colónias pequenas com β-hemólise).
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura para ser identificada e determinado o TSA.
6.4.3 Exsudado Nasal
Usado essencialmente para a deteção de portadores de Staphylococcus aureus
resistente à meticilina (MRSA).
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88 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 18 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e exame cultural do exsudado nasal.
Colheita Inserir uma zaragatoa estéril em cada narina até encontrar resistência (mais ou menos
a nível dos cornetos) e rodar contra a mucosa nasal. Colocar em meio de Stuart.
Exame
cultural
Por rotina é semeado um meio de Chapman para isolamento de Staphylococcus spp e
a identificação presuntiva de S. aureus.
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura para ser identificada e determinado o
TSA incluindo a pesquisa de estirpes MRSA.
6.4.4 Expetoração e Secreções Brônquicas
O diagnóstico das infeções respiratórias inferiores é frequentemente dificultado pela
contaminação das amostras por microrganismos presentes na flora comensal da orofaringe
e da cavidade oral durante a colheita.
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Tabela 19 – Aspetos importantes relacionados com a colheita, exame direto e exame cultural da
expetoração e secreções brônquicas.
Colheita
Deve ser colhida preferencialmente a primeira expetoração da manhã em jejum
provocada por tosse profunda. O paciente deve lavar a boca e gargarejar só com água
antes de iniciar a colheita. As amostras devem ser colhidas em recipiente esterilizado ,
de boca larga de encerramento hermético.
Exame direto
Os esfregaços para a coloração de Gram são efetuados a partir das porções purulentas
ou das amostras.
Coloração de Gram: começa-se por analisar a qualidade da amostra
tendo em conta a presença de células epiteliais pavimentosas (da
orofaringe) e leucócitos (≥ 25 células epiteliais pavimentosas /
campo de 100x e < 25 leucócitos polimorfonucleares (PMN) / campo
de 100x). As amostras que não forem rejeitadas são submetidas a
exame cultural e são avaliadas as características morfológicas dos
microrganismos predominantes, em particular dos que estão perto
dos PMN, que estão presentes num número igual ou superior a 10 ou
ambos.
Exame
cultural
São efetuadas sementeiras a partir das porções purulentas ou sanguíneo-purulentas das
amostras em meios de Gelose Columbia com 5% de sangue de carneiro, de Gelose
Chocolate – Haemophilus e de MacConkey utilizando o método dos quatro quadrantes.
As duas primeiras incubam-se a 35-37ºC durante 18 a 24h em atmosfera enriquecida
com 5% de CO2 e a do MacConkey é incubada em aerobiose a 35-37ºC durante 18 a
24h. A valorização do crescimento bacteriano é efetuado em função da história clínica
do doente, da observação do Gram e do microrganismo que a partir da 3ª zona de
sementeira inclusive é predominante ou apresenta, no mínimo, ≥ 5 colónias. Os
microrganismos responsáveis pelas infeções bronco-pulmonares mais prevalentes na
comunidade são: Streptococcus pneumoniae, H. influenzae, Enterobacteriaceae
(exemplos: E. coli, Klebsiella spp, Proteus spp e Enterobacter spp), S. aureus e
Moraxella catarrhalis.
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura para ser identificada e determinado o
TSA.
6.4.5 Hemoculturas
A grande maioria das doenças infeciosas podem decorrer com bacteriemia
transitória, intermitente, ou persistente (ex. endocardite). Como o sangue é um produto
biológico estéril, o isolamento de um microrganismo a partir duma hemocultura é
geralmente o agente etiológico da infeção. Contudo, existem situações em que o diagnóstico
diferencial entre uma bacteriemia e uma contaminação ou inquinação da hemocultura pela
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90 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
flora comensal da pele é difícil. Regra geral só é ponderada a valorização do isolamento de
mais de uma estirpe microbiana em doentes imunodeprimidos. O isolamento de
Streptococcus α-hemolíticos só se valoriza se for um S. pneumoniae, se estivermos perante
uma endocardite ou endarterite, ou essa estirpe voltar a estar presente numa segunda
hemocultura. Só se valorizam as estirpes de Staphylococcus coagulase negativas se os
doentes tiverem material de prótese implantado.
Tabela 20 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e exame cultural de hemoculturas.
Colheita
A colheita do sangue para hemocultura deve ser efetuada por punção de uma veia
periférica, após desinfeção adequada do local e do antissético utilizado ter secado. A
rolha de borracha do meio de cultura deve ser desinfetada com álcool a 70% antes de
ser inoculado com a amostra de sangue, sem trocar de agulha. Habitualmente são
suficientes 3 hemoculturas em 24h, colhidas em veias periféricas diferentes e
distribuídas ao longo do dia, no momento do início da subida da temperatura corporal
(nunca no pico febril) ou imediatamente antes da administração do agente
antimicrobiano se o doente estiver a fazer tratamento. O transporte para o laboratório
é efetuado à temperatura ambiente.
Exame
cultural
Culturas primárias: meios líquidos para aeróbios e para anaeróbios
de sistemas automáticos.
Subculturas das hemoculturas positivas: para aeróbios - gelose
Columbia com 5% de sangue de carneiro (incubar a 35±2ºC em
atmosfera enriquecida com 5% CO2); para anaeróbios - meio de
Schaedler com 5% de sangue de carneiro (incubar a 35±2ºC em
atmosfera de anaerobiose).
Equipamento: BacT/Alert 3D-60.
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura para ser identificada e determinado o
TSA.
6.4.6 Exsudado Vaginal e Uretral
A vagina e a uretra têm caracteristicamente uma flora bacteriana comensal mista
que, no primeiro caso, é abundante. Algumas infeções do aparelho genital feminino são
devidas a microrganismos endógenos cuja patogenicidade é ativada por fatores do
hospedeiro ou por desequilíbrio da flora saprófita.
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Marta Bebiana dos Ramos da Silva 91
Por rotina, nos exsudados vaginais deve-se pesquisar Trichomonas vaginalis (exame
direto a fresco), Gardnerella vaginalis (vaginose bacteriana - “clue cells” no exame a
fresco), Staphylococcus aureus, Neisseria gonorrhoeae, Streptococcus agalactiae - grupo
B (mulheres grávidas entre a 35ª e 37ª semanas para despiste da colonização) e Candida
albicans. Nos exsudados uretrais em ambos os géneros é pesquisada a presença de Neisseria
gonorrhoeae.
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Tabela 21 – Aspetos importantes relacionados com a colheita, exame direto e exame cultural do exsudado
vaginal e uretral.
Colheita
Exsudado vaginal: efetuar a colheita ao nível do colo do útero,
endocolo, no fundo de saco posterior e nas paredes vaginais com
zaragatoa, após introdução do espéculo. Colocar em meio de Stuart
e manter a temperatura ambiente. Repetir a operação com uma
segunda zaragatoa para a realização de esfregaços.
Exsudado uretral: efetuar a colheita, no mínimo, uma hora depois da
última micção. Introduzir a zaragatoa com um movimento de rotação
até cerca de 1 cm (género feminino) ou 2 cm (género masculino)
dentro da uretra e colocar em meio de Stuart. Repetir a operação com
uma segunda zaragatoa para a realização de esfregaços.
Exame direto
Exame a fresco: é efetuada a semi-quantificação das células epiteliais
pavimentosas e dos leucócitos, e pesquisada a presença de
Trichomonas vaginalis, elementos leveduriformes e de “clue cells”
(significativas se forem ≥ 1 / 5 ou ≥ 20% de células epiteliais
pavimentosas com todos os bordos completamente ocupados por
cocobacilos perdendo a definição).
Coloração de Gram: é descrita a flora existente.
Exame
cultural
Por rotina é semeado um meio gelose Columbia com 5% de sangue de carneiro
(incubado a 35ºC - 37ºC em aerobiose, durante 48 horas, com observação às 24 e 48
horas) nos exsudados vaginais e uretrais, um meio para Gardnerella vaginalis (caso
sejam identificadas clue cells no exame a fresco) nos exsudados vaginais, um meio de
Saboraud com gentamicina e cloranfenicol (incubado em aerobiose a 30ºC, durante 5
dias, com observação às 24 e 48 horas) nos exsudados vaginais, um meio de gelose
chocolate suplementada com polyvitex - VCAT (incubado em atmosfera de 5% de CO2
a 35-37ºC, durante 72 horas, com observação às 24, 48 e 72 horas) nos exsudados
vaginais e uretrais. Para mulheres entre a 35ª e a 37ª semana de gravidez é semeado
também um meio Strep B (incubado em aerobiose a 35ºC - 37ºC, durante 24 horas)
nos exsudados vaginais.
A estirpe valorizada, em função da história clínica e do exame direto, é isolada em
cultura pura para ser identificada e determinado o TSA.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Microbiologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 93
6.4.7 Coprocultura
As fezes são um produto biológico que caracteristicamente têm uma flora saprófita
mista muito abundante. São consideradas indicações para coprocultura: diarréia
sanguinolenta, febre, tenesmo, sintomas severos e persistentes, presença de leucócitos
fecais e história de exposição a agentes bacterianos. No exame bacteriológico das fezes são
pesquisados Salmonella spp e Shigella spp. Quando solicitado são pesquisados
Campylobacter spp, Yersinia spp e Escherichia coli enterohemorrágica.
Tabela 22 – Aspetos importantes relacionados com a colheita e exame cultural de coproculturas.
Colheita
Devem ser obtidas até um total de três amostras de fezes (cerca de 1 a 2 gramas –
tamanho de uma noz), colhidas em dias diferentes. Se possível escolher uma porção
com muco, pus ou sangue. Devem ser colocadas em meio de transporte (meio salino
de glicerol tamponado), mantidas à temperatura ambiente e entregues no laboratório
tão rapidamente quanto possível após a colheita.
Exame
cultural
Por rotina é semeado um meio de MacConkey, um meio de Hektoen e um caldo de
selenito F que são incubados a 35-37ºC em aerobiose durante 18 a 24h. No dia seguinte
é semeado um meio de Hektoen a partir do caldo de selenito F.
Quando pedida a pesquisa de Campylobacter spp é feita uma sementeira no meio
Campylosel (incubado em microaerofilia a 42ºC durante 48 a 72h, com observação às
24 e às 48h), de Yersinia spp é feita uma sementeira no meio Yersinia – CYN (incubado
a 35-37ºC em aerobiose durante 18 a 24h) e de Escherichia coli enterohemorrágica é
feita uma sementeira no meio CPS3 (incubado a 35-37ºC em aerobiose durante 18 a
24h).
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura para ser identificada e determinado o
TSA.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Controlo da Qualidade
VIII MAC
94 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
7. Controlo da Qualidade
7.1 Controlo Interno da Qualidade
O controlo interno da qualidade (CIQ) abrange mecanismos de avaliação da
qualidade independentes, mensuráveis e contínuos, com a capacidade de assegurar que cada
resultado reportado pelo laboratório é válido e pode ser utilizado com confiança no
diagnóstico ou decisão terapêutica. O CIQ tem por objetivo assegurar a qualidade dos
resultados laboratoriais através da monitorização do funcionamento dos sistemas analíticos,
a fim de se detetar anomalias, avaliar os erros e proceder à sua imediata correção antes que
os resultados comecem a sofrer variações clinicamente significativas e, sobretudo, que
tenham repercussões negativas nas decisões médicas.
No Laboratório de Análises Clínicas Dr. Joaquim Chaves os materiais de controlo
(MC) podem ter origem comercial (líquidos ou liofilizados) ou serem preparados no próprio
laboratório a partir de amostras biológicas selecionadas representativas da população de
pacientes e com características específicas em função dos ensaios (MRAI – material de
referência analítico interno). O controlo interno da qualidade estatístico (CIQE) é praticado,
fundamentalmente, através da análise de amostra de MC, pela comparação dos valores
observados com as distribuições de frequências esperadas para o ensaio/parâmetro. Para
isso é necessário calcular, para cada um dos níveis de MC, o desvio padrão (Cv% ou SD) e
a média dos valores obtidos que não excluídos por corresponderem a situações fora de
controlo que foram corrigidas.
É definida a qualidade requerida (limites de especificação analítica) para cada um
dos ensaios sob a forma de erro total máximo admissível (ETa), que deve estar de acordo
com os níveis de decisão e as necessidades clínicas (rastreio, diagnóstico e prognóstico).
Este corresponde ao intervalo de erro estipulado pelo laboratório, que serve de base para
caracterizar as margens de erro aceitáveis para um determinado método.
O laboratório dispõe de um programa informático da Bio-Rad Laboratories – Unity
Real Time 2.0, que integra os resultados obtidos para cada nível de material de controlo
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Controlo da Qualidade
VIII MAC
95
utilizado. No Unity Real Time é possível consultar os limites de especificação analít ica
(ETa) e as regras de controlo de qualidade adotadas.
Os materiais de controlo utilizam-se antes do início das séries analíticas (start-up)
ou juntamente com as amostras dos pacientes, após qualquer procedimento de calibração,
após alteração de lote de reagente, após a manutenção do sistema analítico, de modo a
monitorizar a estabilidade do ensaio ou sistema analítico.
De acordo com os critérios de decisão do CIQ diário, assume-se que o sistema
analítico está a operar adequadamente e os resultados da série analítica são fiáveis, sempre
que os valores do CIQ são concordantes com os esperados de acordo com os materiais de
controlo utilizados e limites de controlo adotados. Contudo, se isto não se verificar deve-se
proceder a análise comparativa com os resultados dos últimos eventos de controlo,
confirmar a existência de problemas na série analítica, identificar o tipo de erro e reconhecer
a sua causa, e atuar rapidamente de modo a corrigir o problema. Os valores aberrantes
obtidos com os MC não devem ser acumulados uma vez que o problema que lhes deu
origem foi detetado, identificado e corrigido, restituindo o sistema analítico à sua
estabilidade original.
Na secção da Microbiologia, o processo de CIQ é diferente do que foi descrito. São
utilizadas estirpes de referência comercial como materiais de controlo, que servem para
avaliar o desempenho das técnicas realizadas e a qualidade dos reagentes específicos.
O processo de coloração de Gram é controlado diariamente por uma lâmina com
estirpes conhecidas de Staphylococcus aureus e E. coli.
Para monitorizar as condições deste sector, está implementado um programa de
controlo da qualidade ambiental, que envolve a contagem de agentes patogénicos presentes
tanto no ar (controlo semanal) como nas superfícies de trabalho (controlo mensal).
Diariamente é também controlada a temperatura nos frigoríficos e estufas.
Para o controlo do ar, usam-se placas de gelose de sangue, colocadas em locais
chave diferentes, durante um intervalo de tempo definido. Para o controlo das superfíc ies
as placas de Count-Tact são inoculadas por contacto.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Controlo da Qualidade
VIII MAC
96 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
7.2 Avaliação Externa da Qualidade
A Avaliação Externa da Qualidade (AEQ) trata-se de uma avaliação
interlaboratorial com base na análise de amostras com valor desconhecido, que simulam as
amostras dos pacientes, provenientes de uma entidade externa. O resultado de cada
parâmetro realizado no laboratório participante é comparado com a média consenso, obtida
a partir dos laboratórios participantes que utilizam a mesma metodologia, permitindo aferir
a capacidade de obter um resultado exato e compará-lo com outros laboratórios equipados
com a mesma tecnologia, valorizando assim a exatidão do laboratório.
O Laboratório de Análises Clínicas Dr. Joaquim Chaves participa nos programas
UKNEQAS e PNAEQ (Programa Nacional de Avaliação Externa) do INSA (Instituto
Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge).
Os indicadores de desempenho mais importantes propostos pelos organizadores dos
programas de AEQ, usados na identificação da presença de falhas, erros ou desvios
significativos em relação aos valores alvo são a BIAS% e o Índice do desvio padrão ou
índice padrão da exatidão (ID ou SDI).
Deste modo, com a participação nos Programas de AEQ, o Laboratório procura
avaliar os seus resultados e orientar estratégias para melhorar o desempenho e o nível da
qualidade dos serviços prestados.
Relatório de Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves Bibliografia
VIII MAC
97
8. Referências bibliográficas
1. Mcpherson RA, Pincus MR. HENRY ’ S Clinical Diagnosis and Management by Laboratory
Methods. 22 nd. McPherson, Richard A. ; Pincus MR, editor. Elsevier Saunders; 2011.
2. Miller WG, Jones GRD, Horowitz GL, Weykamp C. Proficiency Testing / External Quality
Assessment : Current Challenges and Future Directions. 2011;57:1670–80.
3. Burtis,C.A.; Ashwood, E.R.; Bruns DE, editor. Tietz, Textbook of Clinical Chemistry and
Molecular Diagnostics. fifth. Elsevier Saunders; 2012.
4. Pimentel R. Marcadores bioquímicos de doença cardiovascular. Chaves CM e DDJ, editor.
2005.
5. Bain, B.J.; Bates, I.; M.A.; Laffa MA. Dacie and Lewis Practical Haematology. 11th Editi.
2011. 668 p.
Parte III
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Resumo
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 101
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose:
Epidemiologia, Patogénese, Clínica, Imunologia, Tratamento e
Prevenção
Resumo
A equinococose quística (EQ) é uma doença infeciosa negligenciada causada pela
fase larvar de Echinococcus granulosus. Apresenta uma distribuição mundial e constitui
um importante problema de saúde pública em algumas áreas. Em Portugal, apenas o distrito
de Évora foi, outrora, hiperendémico, mas no presente situa-se já no nível da hipo-
endemicidade. O ciclo de vida de E. granulosus envolve cães, ovelhas e por vezes outros
animais como hospedeiros. Para estabelecer com sucesso uma infeção, E. granulosus liberta
moléculas que modulam diretamente as respostas imunológicas do hospedeiro favorecendo
uma forte resposta anti-inflamatória e perpetuando a sobrevivência do parasita no
hospedeiro. Os sinais e sintomas clínicos da HQ podem estar relacionados ao efeito de
massa do quisto, a sua superinfeção ou reações anafiláticas secundárias à sua rutura. Devido
ao seu lento crescimento, o diagnóstico é geralmente feito na idade adulta, combinando
sintomas clínicos com imagens e testes serológicos. O tratamento baseia-se essencialmente
em três opções: cirurgia, drenagem percutânea (PAIR) e quimioterapia. A escolha da
abordagem mais adequada baseia-se nos sintomas do paciente e nas características dos
quistos. O controlo da parasitose envolve programas de intervenção que se mostram
eficazes na eliminação ou redução da transmissão de E. granulosus.
Palavras-chave: Portugal, Equinococose Quística/Hidatidose, Echinococcus granulosus,
Epidemiologia, Clínica, Imunologia, Prevenção.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Abstract
VIII MAC
102 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Abstract
Cystic echinococcosis (EQ) is a neglected infectious disease caused by the larva l
stage of Echinococcus granulosus. It has a worldwide distribution and is a major public
health problem in some areas. In Portugal, only Évora district was once assigned as
hyperendemic, but at the present it is already at the level of hypo-endemicity. The life cycle
of E. granulosus involves dogs, sheep and sometimes other animals as hosts. To
successfully settle an infection, E. granulosus releases molecules that directly modulate the
host immune responses that will favour a strong anti-inflammatory response and perpetuate
parasite survival in the host. Clinical signs and symptoms of CH may be related to the mass
effect of the cyst, its superinfection or anaphylactic reactions secondary to its rupture.
Because of its slow growth, diagnosis is usually made in adulthood by combining clinica l
symptoms with imaging and serological tests. The treatment is mainly based on three
options: surgery, percutaneous drainage (PAIR) and chemotherapy. The choice of the most
appropriate approach is based on the patient's symptoms and the characteristics of the cysts.
Control of parasitosis involves intervention programs that are effective in eliminating or
reducing transmission of E. granulosus.
Keywords: Portugal, Cystic Echinococcosis / Hydatidosis, Echinococcus granulosus,
Epidemiology, Clinical, Immunology, Prevention.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Objetivos
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 103
Objetivos
O objetivo da presente monografia inclui uma revisão e análise da situação
epidemiológica das infeções por E. granulosus em Portugal e a compreensão de como a
patogénese e imunologia vão influenciar a clínica dos indivíduos infetados por este agente.
Pretende-se também destacar abordagens eficazes de prevenção e controlo da zoonose
parasitária.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Material e Métodos
VIII MAC
104 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Material e Métodos
A elaboração da presente monografia teve como base a análise, interpretação e
síntese de vários artigos científicos originais e de revisão, bem como a consulta de páginas
na internet, publicados no período compreendido entre 1973 e 2017.
Para o ato de pesquisa foram utilizadas palavras-chave como, Cystic
Echinococcosis, Cystic Echinococcosis Review, Echinococcosis Treatment, Echinococcosis
Diagnosis, Echinococcus granulosus Review, Echinococcus granulosus Immunology,
Echinococcosis Control.
As fontes para a obtenção de bibliografia foram a plataforma Pubmed
(www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) e ainda as páginas referentes ao CDC (www.cdc.gov) e
WHO (http://www.who.int/en/). A pesquisa foi realizada no período compreendido entre o
dia 13 de Fevereiro de 2016 e 4 de Junho de 2017.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Introdução
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 105
1. Introdução
Os parasitas são responsáveis por algumas das mais importantes doenças infeciosas
zoonóticas transmitidas pelos animais domésticos ao Homem (1).
A Equinococose-Hidatidose é uma infeção parasitária causada pela fase larvar
(quisto hidático) de várias espécies pertencentes ao género Echinococcus sp. Os termos
equinococose e hidatidose são utilizados distintamente para descrever a zoonose no
hospedeiro definitivo e intermediário, respetivamente. O género Echinococcus sp. pertence
ao Filo Platyhelmynthes, Classe Cestoda, Ordem Cyclophyllidea e à Família Taeniidae (2).
Estudos recentes, recorrendo a técnicas de biologia molecular utilizando sequências de
DNA mitocondrial, resultaram no reconhecimento de nove espécies de Echinococcus sp.:
E. granulosus sensu stricto (genótipos G1-3), E. equino (G4), E. ortlepp (G5), E.
canadensis (G6-10), E. multilocularis, E. vogeli, E. oligarthrus, E. felidis e E. shiquicus
(Tabela 1). São conhecidas 10 estirpes diferentes da espécie Echinococcus granulosus (G1-
10) com base no hospedeiro intermediário que é afetado. As diferentes espécies podem
provocar várias patologias nos seres humanos. Contudo, acredita-se que E. equinus não é
responsável por infeções zoonóticas e a patogenicidade de E. felidis para o homem é ainda
desconhecida (3). Apesar de inicialmente se pensar que apenas o Echinococcus granulosus
era o causador da equinococose quística (EQ), a infeção apresenta vários agentes
etiológicos tais como, E. granulosus sensu stricto, E. equinus, E. ortleppi e E. canadensis
(4).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Introdução
VIII MAC
106 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 1 - Echinococcus sp. na Europa e respetivos hospedeiros definitivos e intermediários. Adaptado de
(1).
O Echinococcus granulosus sensu stricto, particularmente o genótipo G1, é
responsável pela maioria dos casos de infeção humana (88,44%), apresenta a distribuição
mais cosmopolita e está associado à transmissão por ovelhas. Os genótipos G6 e G7,
intimamente relacionados, provocam um número significativo de infeções humanas
(11,07%). Relativamente à estirpe G6, que é transmitida por camelos na África e Ásia, e
por cabras na América do Sul, verificou-se ser responsável por 7,34% das infeções. Na
Europa Oriental, o genótipo G7 é responsável por 3,73% dos casos de hidatidose quística
humana, transmitido por porcos. Não há casos descritos de infeção humana provocada por
E. equinus (G4) e são raros os casos identificados como sendo originados pelos G5, G8 e
G10 (5).
Esta variação genética pode ter influência no ciclo biológico, na especificidade dos
hospedeiros, na antigenicidade, na transmissão e na sensibilidade aos agentes
quimioterápicos, assim como na patogenicidade para o Homem (6). A identificação do
genótipo poderá portanto ter implicações no desenvolvimento de vacinas, fármacos e de
meios de diagnóstico (7).
Este parasita é um céstodo cujo ciclo de vida envolve cães e outros canídeos como
hospedeiros definitivos, bem como ovinos, caprinos, bovinos, suínos, cavalos e camelos
como hospedeiros intermediários (8). No hospedeiro definitivo infetado podem ser
produzidos milhares de ovos do parasita por dia. Os ovos são eliminados pelas fezes e
tornam-se infetantes após a sua libertação, permanecendo viáveis meses ou até um ano
dependendo das condições ambientais. Os seres humanos são considerados hospedeiros
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Introdução
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 107
acidentais e são altamente suscetíveis de serem envolvidos na transmissão da infeção
através da ingestão de ovos embrionados. A doença resulta na formação de quistos no fígado
e pulmões essencialmente, mas também podem ser encontrados em outros órgãos (2).
Echinococcus sp. pode ser encontrado em todo o mundo, no entanto algumas
espécies apresentam distribuição restrita. A equinococose tem-se tornado uma grande
preocupação de saúde pública, principalmente em regiões em desenvolvimento com
escassos recursos económicos. Contudo, apesar do impacto socioeconómico devido aos
custos envolvidos tanto na saúde humana como nas perdas da produção pecuária, a
equinococose quística e a equinococose alveolar permanecem como zoonoses
negligenciadas (3).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Epidemiologia
VIII MAC
108 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
2. Epidemiologia
Uma boa compreensão da epidemiologia da infeção em animais é um fator essencial
na limitação da transmissão aos seres humanos. É fundamental estimar a prevalência,
abundância e frequências genotípicas destes parasitas nas populações de hospedeiros
definitivos não só para medir o progresso de programas de controlo da EQ, mas também
para avaliar a distribuição, especificidade do hospedeiro, dinâmica de transmissão e o risco
de infeção para o Homem numa área específica (9).
Os hospedeiros definitivos (cães) adquirem E. granulosus através da ingestão de
vísceras de hospedeiros intermediários infetados. Os cães infetados com o parasita adulto
de Echinococcus sp. no intestino delgado, eliminam ovos pelas fezes, estes aderem ao pelo
em torno do ânus, focinho e patas podem infetar o Homem de forma direta por contato
fecal-oral. A infeção dos seres humanos pode ocorrer também por transferência indireta dos
ovos, quer através da água e alimentos crus contaminados, quer por intermédio de moscas
ou outros artrópodes (10).
A EQ apresenta uma distribuição mundial e representa um importante problema de
saúde pública em determinadas áreas. No entanto, a patologia não revela distribuição
geográfica uniforme (Figura 1). É considerada altamente endémica em certas regiões tais
como, a região oriente do Mediterrâneo, norte de África, zona sul e oriente da Europa,
América do Sul, Ásia Central, Sibéria e oeste da China.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Epidemiologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 109
Figura 1 - Distribuição mundial da Equinococose Quística em 2011. Adaptado de (11).
A EQ não é encontrada na Antártica e foi erradicada por programas de controlo na
Islândia, Nova Zelândia, Tasmânia, Ilhas Falkland e no Chipre (7).
Existem diversos fatores de risco que influenciam a frequência e a intensidade da
equinococose canina (Tabela 2). Fatores determinantes que possam aumentar o acesso às
miudezas de animais como fonte de alimento são considerados de risco para a equinococose
canina, nomeadamente, o acesso ao local onde os animais são abatidos, acesso às áreas de
criação de gado, local onde se encontra o cão (rural/urbana) e se este se movimenta ou não
livremente, tipo de cão, o conhecimento por parte do proprietário acerca da parasitose e o
ambiente socioeconómico. A idade, o sexo do cão e se este é submetido a tratamentos anti-
helmínticos são também fatores determinantes para a infeção (3,12).
Estudos mostram que os cães que consomem miudezas cruas ou vísceras infetadas
são mais propensos a ser coproantigénios positivos para E. granulosus (Figura 2) (13). Do
mesmo modo, as atividades que impedem o acesso às vísceras dos animais, tais como a
correta eliminação das carcaças pela inceneração/enterro ou a eliminação da prática do
abate caseiro, foram descritas como sendo formas eficazes na prevenção da infeção canina
(14). Outros estudos demonstram que cães os pastores apresentam maior probabilidade de
infeção quando comparados com cães domésticos, uma vez quem têm maior contacto com
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Epidemiologia
VIII MAC
110 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
animais infetados (15). Por isso, o risco de infeção com E. granulosus em cães é geralmente
mais elevado nas zonas rurais (16). Relativamente à idade dos animais, verifica-se uma
maior prevalência de E. granulosus em cães jovens comparativamente com adultos, o que
apoia a hipótese de que a resposta imunitária protetora aumenta com a idade do hospedeiro
(14,15,17).
Figura 2 - Acesso dos cães a vísceras de animais abatidos em áreas endémicas. Adaptado de (10).
A permissão que muitos cães têm para se movimentarem sem restrições é um dos
fatores de risco mais reportados para a infeção por E. granulosus. Vários trabalhos relatam
que cães que circulam livremente apresentam um risco aumentado de serem
coproantigénios positivos, em comparação com os cães que estão confinados a um
determinado espaço (13,18,19). Da mesma forma, os cães domésticos mostraram uma
menor carga parasitária comparativamente com cães vadios (20). O desconhecimento sobre
a forma de transmissão do parasita e uma deficiente execução do tratamento anti-helmíntico
são fatores de risco associados a infeção por E. granulosus (12,19,21). Além destes, os
fatores económicos e culturais dos proprietários foram também relacionados com o risco
transmissão da infeção canina.
Na inspeção sanitária de carnes de matadouros foram registadas variações sazonais
na prevalência da hidatidose em ovinos, bovinos e caprinos (22,23). Este fato poderá ser
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Epidemiologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 111
justificado por diversos fatores, nomeadamente, as diferentes fontes alimentares dos
animais abatidos, alterações na prática de gestão de cada matadouro e a fatores ecológicos.
Nos hospedeiros intermediários (ovinos e caprinos), foi relatado um maior risco de
infeção nos animais mais velhos em comparação com os mais jovens(24). Em concordância,
foi relatada noutros estudos uma maior abundância de quistos em animais com idade mais
avançada (23,25–27).
A comparação do género das espécies hospedeiras deste parasita mostrou, em vários
estudos, que este é determinante para a EQ. Na Arábia Saudita, foi encontrada uma maior
probabilidade de infeção nas fêmeas do que nos machos, em bovinos e ovinos (23). Outros
estudos, em áreas geográficas diferentes, referem a mesma conclusão, nomeadamente na
China (28), no Irão (29), Kuwait (30) e na Líbia (31). Contudo, esta ideia não é totalmente
consensual porque um estudo realizado na Etiópia revelou que os machos eram mais
suscetíveis do que as fêmeas (32).
Relativamente às várias espécies hospedeiras, encontraram-se diferenças
significativas na prevalência da HQ. Foi encontrada uma maior prevalência de infeção em
ovinos em relação aos caprinos, sendo considerados os hospedeiros intermediários ideais
com maior percentagem de quistos viáveis (23,24,29,31–33). Em vários estudos o gado
bovino foi também identificado como sendo o hospedeiro com prevalência mais elevada de
HQ (34–39). Por outro lado, Ibrahim (2010) identificou os camelos como sendo o
hospedeiro intermediário mais suscetível de ser infetado. A HQ foi também associada a
hospedeiros intermediários selvagens. Outros estudos mostram também que a idade e o
tamanho do hospedeiro são fatores de risco relevantes (40,41). A tabela 2 apresenta os
principais fatores de risco para a EQ dependendo do tipo de hospedeiro afetado.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Epidemiologia
VIII MAC
112 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 2 - Principais fatores de risco para infeção com Echinococcus granulosus em diferentes tipos de
hospedeiro. Adaptado de (3).
Agente causador Hospedeiro Fatores de risco
E. granulosus
Cão (hospedeiro definitivo)
- Alimentando cães de zonas rurais vadios com as vísceras
cruas
- Ser cão jovem e/ou macho
- Falta de conhecimento do proprietário do cão sobre a
hidatidose e ausência de tratamento de desparasitação (ligado
a pouca educação para a saúde e condições de vida restritas)
Animais domésticos
(hospedeiros intermediários)
- O aumento da idade dos hospedeiros, localização
geográfica, condições meteorológicas, género feminino,
espécie do hospedeiro e o tipo de prática de gestão de cada
matadouro
Animais selvagens
(hospedeiros intermediários) - Idade, género feminino e tamanho do hospedeiro
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 113
3. Situação da Hidatidose Quística em Portugal
A hidatidose quística (HQ) é uma zoonose de importância mundial que se encontra
disseminada na Europa, especialmente em regiões onde os habitantes vivem em condições
sanitárias precárias e próximo de animais, não sendo a Península Ibérica exceção (42).
Portugal encontra-se no leque de países considerados pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) como endémicos, tendo uma incidência estimada em 2,2 casos por 100 000
habitantes/ano (2).
Não existem dados epidemiológicos recentes sobre a frequência, a distribuição
geográfica e a gama de hospedeiros das variantes genéticas de E. granulosus na Europa.
Além do seu impacto no desenvolvimento de estratégias de controlo, esta informação
poderia também fornecer dados sobre a patogenicidade diferencial das variantes genéticas
do parasita no respetivo hospedeiro, ou suas potenciais diferenças na resposta à terapêutica.
Por essa razão, iniciaram-se pesquisas de variantes genéticas de Echinococcus sp.
essencialmente na região centro do interior de Portugal por terem sido relatados casos de
equinococose quística humana e animal nesta região, definida como hiperendémica para
infeção por E. granulosus e com impacto na saúde pública (43). Beato e seus colaboradores,
ao analisarem amostras de E. granulosus recorrendo ao DNA extraído dos protoscolices
isolados de quistos férteis, revelaram um predomínio das estirpes G1, G2 e G3 na região
centro do país (44).
O médico David de Morais contribuiu para o esclarecimento de que Portugal não é
um país hiperendémico em hidatidose humana, contrariamente ao que tem sido publicado,
sendo o autor dos principais trabalhos publicados sobre esta temática em Portugal. Este
investigador analisou dados estatísticos nacionais oficiais disponíveis (“Doenças de
Declaração Obrigatória”), cobrindo um período de 22 anos (1987-2008), juntamente com a
sua casuística (Consulta de Hidatidologia do Hospital do Espírito Santo de Évora - HESE)
respeitante a 32 anos de clínica (45). Os resultados, segundo as estatísticas das “Doenças
de Declaração Obrigatória” mostraram que se encontravam registados na globalidade do
País 471 casos de hidatidose, sendo o Alentejo a região com maior número de casos
reportados (361 casos -76,6%), seguido da região Centro (44 casos -9,3%) e Lisboa e Vale
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
114 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
do Tejo (40 casos -8,5%); e com menos casos a região Norte (21 casos- 4,5%) e o Algarve
(5 casos -1,1%).
Dada a importância desta parasitose no Alentejo, foi avaliada a distribuição por
distritos dos 361 casos referentes especificamente a esta região (Figura 3) e comparados os
casos de hidatidose, por quinquénio, ocorridos nesta região com o resto do país (Figura 4).
Figura 3 - Casos de hidatidose, por distritos, ocorridos na Região do Alentejo em 1987-2008 (“Doenças de
Declaração Obrigatória”). Adaptado de (45).
Figura 4 - Distribuição, por quinquénios, dos casos de hidatidose ocorridos na Região Alentejana e no resto
do País (“Doenças de Declaração Obrigatória”). Adaptado de (45).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 115
A casuística da consulta de Hidatidologia do HESE, entre 1979 e 2010, foi de 654
casos de hidatidose diagnosticados. Estes pacientes foram avaliados segundo diferentes
parâmetros, na tentativa de definir o padrão epidemiológico da infeção nesta região.
Dos 654 casos analisados, 290 (44,3%) eram do sexo masculino e 364 (55,7%) do
sexo feminino. Contudo, a superioridade numérica dos indivíduos do sexo feminino não era
estatisticamente significativa e pode estar relacionada com o fato de as mulheres terem, em
termos demográficos, uma esperança média de vida superior à dos homens (45,46).
A distribuição dos pacientes por grupos etários representada na figura 5 mostrou que
o pico máximo de hidatidose se situou na sexta década de vida e com média etária de 49,7
anos. Os extremos das idades foram 2 e 96 anos. Uma vez que a maioria dos contágios
ocorrem durante a juventude e a doença permanece assintomática por longos anos, estes
resultados já eram expectáveis.
Figura 5 - Consulta de hidatidologia (HESE): casos de hidatidose por grupos etários (1979-2008). Adaptado de (47).
Um dos parâmetros mais fiáveis em termos de avaliação da importância da
transmissão ativa da hidatidose em dado momento é a ocorrência de casos em indivíduos
jovens (45,48). Por essa razão, o autor analisou os casos diagnosticados nos indivíduos dos
0-19 anos de idade, por quinquénios (Figura 6). Com base na ausência de notificação de
novos casos no último quinquénio estudado (2004-2008), neste grupo etário, a conclusão
do estudo foi que se pode considerar que a transmissão já não se encontra ativa neste
intervalo de tempo (45).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
116 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Figura 6 - Casos de hidatidose, por quinquénios, no grupo etário dos 0-19 anos de idade (Consulta de
Hidatidologia (HESE)). Adaptado de (45).
Ao analisar os casos de hidatidose por sector de atividade, o autor verificou que a
população não ativa era relativamente elevada, correspondendo a 48,9% (estudantes,
domésticas, reformados, desempregados) enquanto que a população ativa 51,1% do total da
população estudada (maioritariamente do sector primário) (45). É de salientar que no
Alentejo é frequente as crianças e adolescentes colaborarem no pastoreio de gado enquanto
estudantes. Assim, o número de indivíduos expostos ao contágio da parasitose
correspondeu, na verdade, à grande maioria dos jovens rurícolas do sexo masculino. O
elevado número de reformados diagnosticados poderá dever-se ao fato de que no Alentejo
rural, por ser uma região em decréscimo populacional evidente, os jovens residentes serem
cada vez menos e os idosos reformados, na grande maioria, pertencerem ao setor primário,
onde o risco de exposição ao contágio da hidatidose é, obviamente, maior (46).
Do total de indivíduos estudados, 69,1% possuíam cães aquando do diagnóstico ou
já os haviam possuído antes, e só cerca de um terço negaram a posse de canídeos (45). É
importante referir que, em meio rural alentejano todos os indivíduos estão potencialmente
expostos, uma vez que ou é o próprio paciente que possui pelo menos um cão ou terá, muito
provavelmente na proximidade algum vizinho que o tem possuem (46).
Neste estudo, os casos de hidatidose foram também separados segundo a localização
dos quistos hidáticos por órgão afetado. O fígado surgiu como o órgão mais frequentemente
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 117
atingido (em 76,8% dos casos) na maioria com localização primária e exclusivamente
hepática, apenas seis casos com localização primária, mas em associação a outros órgãos e
sete casos como localizações secundárias em associação com outros órgãos. Com 7,0% e
em segundo lugar aparece o pulmão, registando-se 41 casos em localização exclusivamente
pulmonar e cinco casos em associação a outros órgãos (45).
Como forma de encontrar a provável área geográfica de contágio foram realizados
inquéritos clínico-epidemiológicos à totalidade dos pacientes neste estudo. A conclusão foi
que, provavelmente, 87,5% dos indivíduos contraíram e apenas 12,5% terá sido noutros
distritos.
Sendo o distrito de Évora o único distrito com incidências comprovadamente
hiperendémicas desta zoonose parasitária (43) analisou-se detalhadamente a incidênc ia
desta parasitose por 100 000/habitantes/ano, uma vez que só este parâmetro é suscetível de
comparação epidemiométrica com as estatísticas de outros autores e países. De modo a
agrupar os casos de hidatidose por quinquénios, a análise não cobriu todo o período de 32
anos de estudo (1979-2010), mas sim um período de 30 anos (1979-2008).
Na tabela 3 está representada a incidência por 100 000 habitantes, com o cálculo da
respetiva média anual. A incidência média para todo o distrito de Évora situava-se em 10,7
casos/100 000/habitantes/ano. Devido à relevância da incidência da hidatidose por
concelhos, foi calculada a média anual tanto para o trinténio 1979-2008, como para o
quinquénio 2004-2008, de forma a perceber-se a evolução, no espaço e no tempo, da
endemia hidatídica no distrito. Verificou-se que, em 1979-2008, o concelho do Alandroal
era o mais atingido (44,4 casos/100 000/hab./ano) e o concelho de Vendas Novas o que
apresentava valores mais reduzidos (0,9 casos). Em comparação com o quinquénio 2004-
2008, o autor concluiu que a incidência da parasitose tem vindo a diminuir ao longo dos
anos no distrito e que este passou de uma região hiperendémica (Figura 7) para uma região
hipo-endémica (Figura 8).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
118 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 3 - Consulta de hidatidologia (HESE): Incidência média anual no distrito de Évora por concelhos no
trinténio 1979-2008 e no quinquénio 2004-2008. Adaptado de (45).
É evidente neste trabalho, um declínio progressivo da incidência da doença hidática
desde as décadas de 80 e 90, neste distrito, atingindo no quinquénio de 2004-2008 valores
bastante modestos de 3,2 casos/100 000/hab./ano (tabela 4).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 119
Tabela 4 – Consulta de hidatidologia (HESE) no trinténio 1979-2008: Incidência média anual no distrito de
Évora, por quinquénios. Adaptado de (45).
No contexto geral das doenças infeciosas e parasitárias no nosso País, a hidatidose
é aquela em que é possível dispor-se de uma informação epidemiológica mais detalhada,
no tempo e no espaço (43,45–47,49–51).
A hidatidose em Portugal atingiu o seu pico máximo na década de 90 (Figura 4) e,
a partir daí, assistiu-se ao seu declínio acentuado e à estabilização do número de casos no
último quinquénio estudado (2004-2008) (45,47). A exposição ao contágio pelo E.
granulosus tornou-se esporádica e o ciclo de transmissão da parasitose parece ter sido
interrompido em áreas outrora endémicas. A diminuição da prática do pastoreio no
Alentejo, que nos últimos anos, terá transitado de uma atividade económica
maioritariamente do setor primário para o setor terciário, terá favorecido essa diminuição
de novos casos, para além de outras medidas tais como a atribuição de subsídios
comunitários para que as terras permaneçam em pousio, com o subsequente desemprego ou
êxodo das populações rurais, etc.
A nível nacional foi encontrada uma incidência de 0,1 casos /100 000 habitantes/ano
(46 casos numa população de 9.869.343 indivíduos), atendendo às estatísticas oficia is
portuguesas no último quinquénio analisado (2004-2008). Assim, Portugal é claramente um
país hipo-endémico, contrariamente ao que tem sido publicado (51,52). É de salientar que
para além de uma incidência humana de ≥ 10 casos por 100 000 hab./ano, a OMS inclui
também como critério de hiperendemicidade prevalências de > 50% em ovinos (43).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
120 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Contudo, tão-só o distrito de Évora apresentava outrora, efetivamente, incidências desta
zoonose concordantes com os critérios de hiperendemicidade (Tabela 4) (46,47).
A incidência da parasitose neste mesmo período (2004-2008) por regiões de acordo
com os dados oficiais, mostraram que todas as regiões do País se situam, pois, no grupo da
hipoendemicidade (45).
No que diz respeito à incidência média anual no trinténio 1979-2008 no distrito de
Évora (Tabela 3), estes resultados mostram que dez concelhos (Alandroal, Mourão, Évora
rural, Portel, Redondo, Arraiolos, Borba, Vila Viçosa, Reguengos de Monsaraz e Viana do
Alentejo) ainda eram hiperendémicos, três meso-endémicos (Estremoz, Mora e Montemor-
o-Novo) e apenas um hipo-endémico (Vendas Novas). Contudo, se olharmos apenas para
os valores do último quinquénio, 2004-2008, vemos que apenas o concelho de Alandroal
reunia ainda o critério para ser considerado hiperendémico. As figuras 7 e 8 evidenciam a
evolução regressiva que a parasitose apresentou no distrito de Évora ao longo destas três
décadas.
Figura 7 - Consulta de Hidatidologia (HESE): incidência média anual no trinténio 1979-2008, no distrito de
Évora, por concelhos (cinza escuro: concelhos hiperendémicos; cinza de transição: concelhos meso -
endémicos; cinza claro: concelho hipo-endémico). Adaptado de (45).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Situação da Hidatidose Quística em Portugal
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 121
Figura 8 - Consulta de Hidatidologia (HESE): incidência média anual no quinquénio 2004-2008, no distrito
de Évora, por concelhos. Adaptado de (45).
Na continuidade do seu trabalho e apesar de ainda não dispor de dados para analisar
o quinquénio seguinte, 2009-2013, o médico David de Morais analisou o quadriénio já
decorrido de 2009-2012. Nessa avaliação constatou que só restavam no distrito de Évora
cinco concelhos hipo-endémicos (Alandroal, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz e
Évora), sendo os restantes nove sine-endémicos (Mourão, Arraiolos, Borba, Vila Viçosa,
Viana do Alentejo, Estremoz, Mora, Montemor-o-Novo e Vendas Novas). Para a
globalidade do distrito, a incidência média anual mostrou ser agora hipo-endémica, com um
valor já muito reduzido: 0,9 casos/100 000 hab./ano (45).
Finalmente, é necessário lembrar que os quistos hidáticos são entidades com vida
própria, que nascem, crescem e morrem, e que, clinicamente, é muito importante apurar da
sua fase evolutiva, isto é, da sua viabilidade. Assim, recorrendo à classificação proposta
pela OMS é possível avaliar a maior ou menor viabilidade dos quistos, ou seja, o seu grau
de “organização” ou envelhecimento (53). Ora, nas últimas duas décadas, David de Morais
na sua clínica hidatidológica não observou qualquer quisto do tipo CL, CE1 e CE2 (quistos
ativos em desenvolvimento). Os quistos diagnosticados estavam já em degenerescência
(tipo CE3) e, na sua maioria, quistos não viáveis (tipo CE4 e CE5), o que está em absoluta
concordância com a maior ocorrência da hidatidose em grupos etários mais envelhecidos,
isto é, com contágios bastante antigos (45).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
122 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
4. Patogénese
Morfologicamente, o parasita apresenta três fases de desenvolvimento diferentes :
ovo, larva enquistada ou quisto hidático e adulto. O Echinococcus granulosus adulto
(Figura 9) é um céstodo muito pequeno, medindo de 3-6 mm de comprimento e reside no
intestino delgado dos hospedeiros definitivos, cães ou outros canídeos (10,54).
O parasita adulto consiste num escólex globoso ou piriforme, composto por um
rostelo com 4 ventosas laterais. Apresenta ainda um rostro armado com 30 a 40 ganchos
dispostos em duas fileiras. O colo é curto e o estróbilo é constituído por 3 a 4 proglotis. A
primeira proglotis é imatura, com os órgãos genitais ainda não totalmente desenvolvidos.
A segunda é madura, com órgãos genitais masculinos (30 a 50 massas testiculares, canais
eferentes, canal deferente, pénis ou cirrus envolvido pela bolsa do cirrus), órgãos genitais
femininos (ovário, útero e vagina) e poro genital localizado na margem da proglotis onde
abre-se a vagina e a bolsa do cirrus. Na terceira proglotis, que corresponde a 1/3 ou metade
do estróbilo, encontra-se o útero, ocupando todo o espaço da proglotis e que contém no seu
interior 500 a 800 ovos. Cada proglotis tem os seus próprios órgãos reprodutores de ambos
os sexos – são hermafroditas. As proglotis desenvolvem-se progressivamente, aumentando
de tamanho no sentido da cauda (Figuras 9 e 10) (55).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 123
Figura 9 - Morfologia do Echinococcus granulosus adulto. Adaptado de (55).
Figura 10 - Echinococcus granulosus adulto, corado com carmim (esquerda). À direita está evidenciado o
escólex de Echinococcus sp. Neste plano focal, uma das ventosas é claramente visível (seta). Adaptado de
(56).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
124 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Os ovos, ligeiramente esféricos, medem 30-35 µm de diâmetro e são constituídos
por uma membrana externa, denominada embrióforo, contendo no seu interior a oncosfera
ou embrião hexacanto, onde estão presentes seis ganchos ou acúleos (Figura 11). Os ovos
são, no entanto, indistinguíveis dos ovos de Taenia sp. e outros membros da família
Taeniidae. Apresentam uma viabilidade de três semanas no ambiente.
Figura 11 - Ovo de Echinococcus sp. numa amostra de fezes de cão (amp. 400X). Adaptado de (56)
A forma larvar, denominada de quisto hidático, apresenta-se de forma arredondada,
com dimensões variadas, dependendo da idade do quisto e do tecido onde este está
localizado.
4.1 O Ciclo de Vida e a Biologia do Quisto Hidático
O ciclo de vida de E. granulosus envolve diferentes hospedeiros importantes para a
sua transmissão (Figura 12). A forma adulta (1), que reside no intestino delgado do
hospedeiro definitivo, liberta proglotis grávidas e ovos nas fezes (2). Após a ingestão do
ovo por um hospedeiro intermediário, geralmente ovinos (mas também caprinos, suínos,
bovinos, equinos, camelos), este liberta no intestino delgado a oncosfera (3) ou embrião
hexacanto que penetra na parede intestinal e migra até vários órgãos (principalmente fígado
e pulmões) através do sistema circulatório. Nestes órgãos a oncosfera origina um quisto e
desenvolve-se uma reação inflamatória circundante que acabará por formar uma cápsula
fibrosa envolvendo a oncosfera (4). O quisto aumenta gradualmente, produzindo
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 125
protoscolices e quistos filhos que preenchem o seu interior. O hospedeiro definitivo é
infetado pela ingestão de órgãos do hospedeiro intermediário infetado contendo quistos.
Após a ingestão, os protoscolices (5) sofrem invaginação e aderem à mucosa intestinal (6)
tornando-se em adulto (1) entre 32 a 80 dias. Os seres humanos atuam como hospedeiros
intermediários acidentais e podem ser infetados através da ingestão de ovos de E.
granulosus.
Figura 12 - Ciclo de vida do Echinococcus granulosus. Adaptado de (56).
Nos seres humanos, como noutros hospedeiros intermediários, os quistos hidáticos
desenvolvem-se principalmente no fígado e pulmões, no entanto estes podem surgir em
qualquer tecido ou órgão interno (ex. coração, osso, músculo, tecido nervoso, etc) pela
disseminação hematogénica (57).
O tempo de desenvolvimento varia muito entre os diferentes tipos de hospedeiros.
Em geral, os quistos aumentam o seu diâmetro de menos de 1 cm a 5 cm por ano. Nos locais
em que os quistos hidáticos apresentam um desenvolvimento lento, estes podem não ser
detetados durante meses ou até anos após a infeção inicia l se ter instalado. Assim, os quistos
de E. granulosus e as suas implicações compreendem várias fases de desenvolvimento (58).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
126 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
A evolução natural dos quistos de E. granulosus e suas implicações clínicas estão
apresentadas na Figura 13. Numa fase inicial, a infeção primária, é sempre assintomática.
Os pequenos quistos (< 5cm) desenvolvem-se nos órgãos sem induzir quaisquer
consequências patológicas, persistindo assim, sem serem detetados. No humano, os quistos
estão localizados no fígado em cerca de dois terços dos casos e em cerca de 20% nos
pulmões e, menos frequentemente nos rins, baço, coração e no osso. Cerca de 20 a 40% dos
pacientes têm múltiplos quistos, havendo ou não envolvimento de múltiplos órgãos. Após
um período de incubação que pode levar meses a anos, a infeção pode tornar-se sintomática,
caso os quistos exerçam uma pressão sobre os tecidos adjacentes, induzindo outros eventos
patológicos. Outros sinais ou sintomas podem despertar a atenção clínica sobre os pacientes
com HQ, nomeadamente, o desenvolvimento de eosinofilia alérgica, a rutura acidental de
um quisto que leva a reações de hipersensibilidade aguda, podem constituir um achado
cirúrgico, ou por outras complicações clínicas. Por outro lado, a cura espontânea é possível
se ocorrer o colapso, a calcificação ou rutura dos quistos. A recorrência da doença pode
ocorrer após a remoção dos quistos primários por métodos cirúrgicos (2).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 127
Figura 13 - História natural dos quistos do fígado de Echinococcus granulosus. Os números (1/2,1/3, 2/3)
indicam frequências aproximadas dos tipos de quistos. Adaptado de (2).
O quisto hidático maduro consiste numa camada interna de células germinativas
(endocisto) suportada externamente por uma membrana laminada de espessura variável
(ectocisto) (Figura 14). As células do tegumento da camada germinativa originam um
sincício contínuo, que se diferencia em numerosas microvilosidades projetadas
perifericamente para o interior da camada laminar em direção aos tecidos do hospedeiro
que envolvem o quisto hidático. Pequenos quistos secundários, denominados de vesículas
prolígeras, brotam a partir da camada germinativa e, por reprodução assexuada, produzem
múltiplos protoscolices que se podem diferenciar tanto em parasitas adultos no intestino de
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
128 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
hospedeiros definitivos, como em quistos hidáticos secundários pela rutura de um quisto
(58). O líquido hidático é claro e contém secreções tanto do parasita como do hospedeiro,
e juntamente com todos os elementos que compõe o quisto dá-se o nome de “areia hidática”.
Apresenta uma composição idêntica à do soro do hospedeiro (Na+, K+, Cl-, CO2, densidade
entre 1,008 e 1,015, pH alcalino) e algumas proteínas que lhe conferem propriedades
antigénicas. O líquido hidático é o principal fator responsável pela estimulação antigénica,
no entanto a camada germinativa do quisto constitui uma barreira contra as células do
sistema imunitário do hospedeiro. Quando surgem fissuras ou mesmo a rutura desta camada
ocorre a estimulação antigénica, verificando-se uma elevação contínua dos valores dos
parâmetros imunológicos por um tempo indeterminado. Esta elevação dá-se também após
a manipulação do quisto, por cirurgia ou punção (59).
Figura 14 - Quisto hidático unilocular de Echinococcus granulosus. Adaptado de (55).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Patogénese
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 129
Nos hospedeiros intermediários podem desenvolver-se quistos férteis ou inférte is,
mas apenas os primeiros desenvolvem protoscolices, a forma parasitária infetante para os
hospedeiros definitivos. Paredes e seus colaboradores, detetaram a presença de IgG bovina
na camada germinativa de quistos inférteis (CGQI) e em maior concentração do que na
camada germinativa de quistos férteis (CGQF), em bovinos infetados com E. granulosus.
Foram extraídas imunoglobulinas G (IgG’s) de bovino da CGQI e da CGQF, com soluções
salinas, sendo associadas a alta e a baixa afinidade, respetivamente. IgG’s de alta afinidade
penetram tanto na CGQI, como em células HeLa em cultura e verificaram o seu
reconhecimento por epitopos de células parasitárias. Na camada germinativa do quisto, as
IgG’s reconhecem antigénios específicos no processo de proliferação celular e/ou nos
mecanismos de diferenciação que conduzem à formação de protoscolices. Esta interação
antigénio-anticorpo pode inibir a proliferação celular e/ou diferenciação de células
envolvidas na formação das vesículas prolígeras e protoscolices e, induzir a apoptose que
conduz à infertilidade do quisto. Estes resultados, juntamente com outros produzidos no
laboratório destes pesquisadores, que mostraram a indução de apoptose celular associada a
um aumento da atividade catalítica da caspase 3, na CGQI (60), fornecem a primeira
explicação coerente para o processo de infertilidade quística. A identificação dos antigénios
parasitários reconhecidos, podem ser considerados como possíveis alvos para a modulação
imunológica (61).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Clínica
VIII MAC
130 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
5. Clínica
O período de incubação e a apresentação clínica da HQ são altamente variáveis. A
sintomatologia clínica depende de várias características tais como, o órgão ou órgãos
envolvidos, o tamanho do quisto, a sua localização no órgão afetado e relação com as
estruturas circundantes, como também das complicações associadas à rutura do quisto,
propagação dos protoscolices e infeção bacteriana. Outros fatores, tais como o genótipo,
desempenham de igual forma um papel determinante nas manifestações clínicas da doença.
Estudos referem que a infeção humana com o genótipo dos cervídeos (G8) apresenta uma
maior frequência de quistos com localização pulmonar, tendem a crescer lentamente e são
menos suscetíveis de causar complicações (62). Sadjjadi e seus colaboradores, mostram
igualmente que o genótipo G6 (E. canadensis) de E. granulosus tem maior afinidade para
o cérebro humano e o genótipo G1 para fígado (63).
No que diz respeito ao modo de infeção, existem duas entidades que devem ser
distinguidas, a hidatidose primária e a hidatidose secundária.
Na hidatidose primária, a forma larvar do parasita desenvolve-se em vários locais
do organismo a partir de oncosferas libertadas de ovos ingeridos de Echinococcus sp. Na
HQ, os quistos hidáticos podem estabelecer-se em praticamente todos os locais anatómicos,
mas o fígado e o pulmão (Figura 15) são os órgãos que mais frequentemente são afetados.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Clínica
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 131
Figura 15 - Quistos hidáticos presentes no fígado e no pulmão de um ovino. Adaptado de (64).
Referimo-nos a hidatidose secundária quando o material parasitário infecioso se
espalha a partir do local primário para outros locais adjacentes ou distantes, e prolifera.
Habitualmente isto ocorre após a libertação de material parasitário viável (protoscolices,
pequenos quistos) durante tratamentos com procedimentos invasivos ou após rutura
espontânea do quisto ou induzida por traumatismo (2).
Se não ocorrerem complicações, a HQ é, geralmente, assintomática. A pressão
mecânica que leva a atrofia de órgãos circundantes pelo aumento da pressão devido ao
crescimento do quisto, a rutura com consequente infeção ou anafilaxia, o desenvolvimento
de fístulas com estruturas adjacentes (por exemplo, vias biliares, intestino e brônquios) são
os principais mecanismos pelos quais a hidatidose se torna sintomática. É comum os quistos
hidáticos serem detetados em testes de imagem realizados por outros motivos (4). Em mais
de metade dos casos, a hidatidose primária ocorre no fígado, principalmente no lobo direito.
Os sintomas característicos incluem hepatomegalia, dor, icterícia obstrutiva, colestase,
cirrose biliar, hipertensão portal e ascite. Os locais específicos da patologia e
sinais/sintomas associados encontram-se resumidos na tabela 5. Alguns quistos
uniloculares podem passar despercebidos por muitos anos até se tornarem grandes o
suficiente para serem visíveis (Figura 16). O segundo local mais comum é o pulmão (Figura
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Clínica
VIII MAC
132 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
17), geralmente no lobo inferior do pulmão direito. Tosse crónica, hemoptise, dor torácica
e dispneia constituem o quadro clínico. A rutura do quisto pode levar a expetoração de
líquido hidático e de fragmentos de membrana prolígera, seguido pelo desenvolvimento de
infeção e abcesso pulmonar. Poderá provocar também pneumotórax, reações alérgicas, e
até mesmo choque anafilático e morte (65). A nível renal, o quisto hidático provoca dor e
hematúria. Outros locais afetados incluem o baço, cérebro, órbita e ossos, entre outros (66).
A HQ do osso é muitas vezes assintomática por um longo período de tempo e é geralmente
detetada apenas após uma fratura súbita, infeção secundária ou lesão neurovascular causada
pela compressão (67).
Figura 16 - Quistos hidáticos no fígado. Este paciente tinha três quistos (marcado pelas setas) no lobo
direito. Dois estavam completamente calcificados e o maior apenas parcialmente. Adaptado de (65).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Clínica
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 133
Figura 17 - Quisto hidático no pulmão. Este doente apresenta um grande cisto no pulmão esquerdo. Houve
colapso e consolidação em parte do pulmão esquerdo como resultado da pressão sobre o brônquio.
Pneumectomia parcial foi necessária para remover o cisto. Adaptado de (65).
Hemachander e seus colaboradores (2008), apresentam algumas queixas associadas
a HQ, as quais incluem dor abdominal, massa abdominal palpável, perda de apetite e
icterícia obstrutiva. As principais complicações após a ressecção cirúrgica envolvem casos
isolados de derrame pleural, infeção local, vazamento biliar e sangramento intra-abdomina l
resultando em lobectomia hepática (68). As manifestações mais comuns de quistos
hidáticos cerebrais dependem da localização do quisto e, incluem dor de cabeça e vómitos
devido à tensão intracraniana, e outros sintomas como convulsões, distúrbios visuais e
ataxia (69,70). A tabela 5 mostra exemplos de doença hidática com os respetivos sinais e
sintomas associados.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Clínica
VIII MAC
134 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 5 - Sinais e sintomas associados a doença hidática. Adaptado de (2).
Órgão Sinais e sintomas
Fígado
“Tumor” – hepatomegália, ± colestase, ± icterícia
Cirrose biliar secundária
Sintomas bilaterais semelhantes a cólicas ± colangite ou
pancreatite (eliminação de fragmentos do cisto por via biliar)
Abcesso hepático
Lesões calcificadas no fígado ou baço
Hipertensão portal ± ascite
Compressão ou trombose da veia cava inferior
Síndrome de Budd-Chiari
Ruptura do cisto, disseminação peritoneal, peritonite biliar
Hemobilia
Fístula biliar à pele, sistema brônquico ou trato gastrointestinal
Pulmão
“Tumor” pulmonar ± dor torácica
Tosse crónica, expetoração, dispneia
Hemoptise
Pneumotórax
Pleurite
Abcesso pulmonar
Pneumonite eosinofílica
Embolia pulmonar parasitária
Rutura do cisto na árvore
biliar
Cólica biliar
Icterícia colestática
Colangite
Sintomas de pancreatite
Sintomas de anafilaxia
Febre
Rutura do cisto na árvore
brônquica
Sintomas semelhantes a asma
Tosse, expetoração, dispneia
Hemoptise
Sintomas de anafilaxia
Febre
Coração
Dor
“Tumor”
Insuficiência cardíaca
Embolia
Derrame pericárdico
Osso e músculos
Dor
Fragilidade óssea
Distúrbios da motilidade
Cisto muscular
Cérebro e coluna vertebral
Dor de cabeça
"Tumor" com sintomas neurológicos
Dor nas costas
Olhos
Dor
Distúrbios visuais
Ptose
± : com ou sem
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 135
6. Imunologia
Durante a infeção parasitária, o hospedeiro humano utiliza vários mecanismos de
proteção inatos e adquiridos. No entanto, nem todas essas respostas são protetoras. A
sobrevivência bem sucedida dos parasitas determinou que estes desenvolveram vários
mecanismos de evasão dos mecanismos de proteção do hospedeiro para assegurar a sua
propagação. Os parasitas evitam as respostas imunológicas do seu hospedeiro por vários
mecanismos, tais como a sua localização intracelular, alterando a sua estrutura antigénica
ou alterando as respostas do hospedeiro de uma forma que favorece a sua sobrevivênc ia
(71).
6.1 Moléculas Imunomoduladoras: Papel do Antigénio B e Outros
Antigénios
Desde a década de 1960, a pesquisa sobre a HQ tem sido focada na identificação de
proteínas imunologicamente importantes, especialmente para o imunodiagnóstico e
desenvolvimento de vacinas. Devido à expressão de diferentes antigénios durante as
diferentes fases de desenvolvimento, o hospedeiro humano responde independentemente
aos estímulos antigénicos da oncosfera invasora, ao metacestode em transformação da
oncosfera e, finalmente, ao metacestode maduro (quisto hidático) (72).
A imunologia de E. granulosus foi dividida em uma fase de "estabelecimento",
durante a qual o parasita é mais suscetível aos agentes hospedeiros, e uma fase de
"metacestode estabelecida" durante a qual o parasita provoca doença crónica. Nas fases
iniciais do desenvolvimento da infeção, respostas celulares podem desempenhar um papel
crucial contra a mesma, como forma de proteção. Estudos antigos referem que as oncosferas
provocam uma forte estimulação do sistema imunológico do hospedeiro (73). Foram
igualmente relatadas fortes respostas de anticorpos contra proteínas de oncosferas
purificadas em soros de ovinos infetados experimentalmente (74).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
136 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Desta forma, como a oncosfera é conhecida por estar associada à resposta
imunológica protetora, a compreensão dos mecanismos pelos quais os anticorpos protetores
atuam contra a ação da oncosfera é fundamental para o desenvolvimento de vacinas
altamente eficientes contra E. granulosus (75).
Estudos extensivos se concentraram nos antigénios do fluido hidático (Figura 18)
que ainda representam a principal fonte antigénica para o diagnóstico da HQ.
Figura 18 - Componentes principais da resposta imunológica ao fluído do quisto hidático no hospedeiro:
imunomoduladores derivados de Echinococcus granulosus e as principais citocinas que regulam esta
resposta. As moléculas derivadas de parasitas como AgB e EgEF-1β/δ podem provocar uma ativação
predominante de Th2, enquanto que EgTPx e outros componentes do fluído hidático podem induzir uma
ativação concomitante das células Th1 / Th2. Adaptado de (72).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 137
Na tabela 6 estão descritas as principais moléculas antigénicas identificadas e
caracterizadas (58). Das várias proteínas isoladas e caracterizadas do fluido hidático, o
principal antigénio imunomodulador de E. granulosus é o antigénio B (AgB). O AgB é uma
lipoproteína polimérica termostável de 160 kDa que resiste à ebulição durante 15 min sem
perder a antigenicidade, e um antigénio altamente imunogénico na infeção por E.
granulosus. Devido ao fato de poder modular as respostas inatas e adaptativas do
hospedeiro, o AgB desempenha um papel proeminente nos mecanismos imunomoduladores
que o E. granulosus usa para se desenvolver, progredir e causar doença crónica (76).
O antigénio é formado por subunidades de 8 KDa e é codificado por uma família
multigénica que inclui pelo menos quatro genes: EgAgB8/1, EgAgB8/2, EgAgB8/3 e
EgAgB8/4 (77–80). Recentemente observaram-se diferenças quantitativas e qualitativas na
expressão de subunidades de AgB dentro e entre amostras de quistos bovinos e humanos
(Figura 19) (Monteiro et al. 2012).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
138 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 6 - Principais moléculas antigénicas de Echinococcus granulosus identificadas e caracterizadas.
Adaptado de (58).
Antigénio Abreviatura Referências
Antigénio 5 Ag5, ex antigen 4 Capron et al., 1967, SIMEP, Lyon, 27-40
Antigénio B AgB, ex antigen 5 Williams et al., 1971, Am. J. Trop. Med. Hyg., 20, 575-
579
Eg95 Eg95 Lightowlers et al., 1996, Parasite Immunol., 18, 457-462.
EgA31 EgA31 Fu et al., 1999, Mol. Biochem. Parasitol., 102, 43-52.
Elongation factor
1β/δ EgEF-1 β/δ Margutti et al., 1999, Parasite Immunol., 21, 485-492.
Cyclophilin EA21 EA21 Ortona et al., 2002, Clin. Exp. Immunol., 128, 124-130.
EpC1 EpC1 Li et al., 2003, J. Infect. Dis., 15, 188, 1951-1960
Echinococcus
granulosus heat
shock protein 70
Eg2HSP70 Ortona et al., 2003, Parasite Immunol., 25, 119-126.
Echinococcus
granulosus
Tegumental
antigen
EgTeg Ortona et al., 2005, Clin. Exp. Immunol., 142, 528-538
Echinococcus
granulosus
Thioredoxin
peroxidase
EgTPx Salinas et al., 1998, Exp. Parasitol., 90, 340-346.
Eg19 Eg19 Delunardo et al., 2010, Acta Trop., 113, 42-47.
Echinococcus
granulosus heat
shock protein
HSP20 Vacirca et al., 2011, Parasite Immunol., 33, 193-198.
rEgG5 rEgG5 Li et al., 2004, Biol. Proced. Online, 6, 67-77.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 139
Figura 19 - Composição qualitativa e quantitativa das subunidades AgB de quistos bovinos e humanos. (A)
Resumo esquemático das subunidades de AgB identificadas por espetrometria de massa a partir de amostras
bovinas e humanas digeridas em solução e em gel. Os valores de emPAI (índice de abundância proteica
exponencialmente modificado) calculados são mostrados entre parêntesis. AgB8/2/AgB8/2v8 indica que as
isoformas de proteína não podem ser distinguidas do conjunto de péptidos identificados. NI, nenhuma
identificação. (B) Alinhamento dos péptidos maduros de AgB mostrando as sequências identificadas por
espetrometria de massa realçada em cinzento. Adaptado de (80).
A expressão de diferentes subunidades de AgB e suas variantes genómicas pode
refletir uma resposta adaptativa do parasita a diferentes hospedeiros e condições
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
140 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
fisiológicas, diversificando as funções bioquímicas do AgB e a sua antigenicidade para
promover sua sobrevivência e evadir a resposta imunológica do hospedeiro. Isto explica
que os genes EgAgB1-EgAgB4 sejam expressos de forma variável, de modo que alguns,
mas não outros, são expressos em cada parasita individual (81).
A abundância relativa da subunidade de AgB detetada também está de acordo com
os dados de transcrição, que mostram que AgB1, AgB2 e AgB4 são transcritos em níveis
mais elevados na fase larvar de E. granulosus, enquanto que são menos transcritos em fases
mais evoluídas de desenvolvimento parasitário (82). O gene AgB3, por outro lado, é
expresso em todos as fases do parasita e o seu nível aumenta durante o desenvolvimento
em direção ao parasita adulto (82), o que pode indicar um papel mais específico para a
subunidade AgB8/3 na diferenciação do parasita adulto. As discrepâncias observadas na
abundância de AgB8/3 entre quistos bovinos e humanos sugerem que os genes AgB, além
de serem regulados pelo desenvolvimento, também podem variar sua expressão entre
quistos parasitários e/ou hospedeiros (80).
A abundância da subunidade de AgB pode ser correlacionada com algumas
características imunológicas das subunidades de 8 kDa. A alta antigenicidade relatada para
AgB8/1 em infeções por Echinococcus sp. (83–85) pode estar relacionada com a sua alta
expressão na fase de metacestode, perante os elevados níveis proteicos encontrados como
de transcritos (82).
A subunidade AgB8/2 também foi descrita como tendo desempenho signif ica t ivo
para o diagnóstico de HQ (Virginio et al. 2003; Rott et al. 2000). Por outro lado, a
subunidade AgB8/3 mostrou menor antigenicidade e discrepância de abundância relativa
entre diferentes amostras de quisto (80).
O Ag5 é o componente principal secretado na fase larvar de Echinococcus
granulosus, e é altamente imunogénico em infeções humanas. Embora o valor diagnóstico
de Ag5 tenha sido cuidadosamente avaliado, tem havido poucos progressos na sua
caracterização molecular e na compreensão do seu papel biológico (88).
Estudos moleculares concebidos para identificar novos alergénios em HQ, com IgE
de doentes que apresentam manifestações alérgicas cutâneas agudas, identificaram três
proteínas constitutivas conservadas: EgEF-1 β/δ, EA21 e Eg2HSP70. (89–92).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 141
A EgEF-1 β/δ é uma proteína que possui propriedades imunomodeladoras. Uma
maior percentagem de anticorpos específicos contra EgEF-1 β/δ foi encontrada em
pacientes com quistos calcificados do que em pacientes com quistos ativos, indicando que
esta proteína continua a ser libertada para o fluido hidático após degeneração dos
protoscolices (89). Ortona e seus colaboradores, investigaram o papel do EgEF-1 β/δ nas
manifestações alérgicas durante a HQ. O EgEF-1 β/δ induziu uma resposta proliferativa de
células mononucleares do sangue periférico (PBMC), independentemente das
manifestações alérgicas, e promoveu a ativação de citocinas Th2. Estes resultados sugerem
que EgEF-1 β/δ é uma molécula alergénica, que pode ser um marcador da intensidade da
resposta imunológica da HQ. Outros estudos devem ser considerados no sentido de se
apurar se uma análise quantitativa de anticorpos IgE específicos para EgEF-1 β/δ pode
determinar uma associação entre manifestações alérgicas, em pacientes com HQ, e
alterações quantitativas em IgE específicas (90).
A EA21 é uma proteína conservada, útil também para esclarecer a origem das
reações alérgicas durante a infeção por Echinococcus granulosus. Ortona e seus
colaboradores, mostraram que a ciclofilina do E. granulosus (EA21) é uma molécula
alergénica, reconhecida por IgE específica de pacientes com HQ, que se comporta como
um marcador molecular de reações alérgicas durante a hidatidose humana, e tem um papel
um papel determinante na relação hospedeiro-parasita. Apesar da elevada homologia de
EA21 com outras ciclofilinas (humanas ou de outros organismos), não existem reações
cruzadas entre elas, uma vez que a IgE de doentes com HQ reconhece EA21, o que não
acontece com a IgE de indivíduos saudáveis. Isto sugere que EA21 pode ser útil no
acompanhamento das manifestações alérgicas durante a infeção (91).
Porque verificou-se que, uma elevada percentagem de soros de doentes com HQ
sem manifestações alérgicas tinha anticorpos IgG4 específicos para EA21, enquanto que
pacientes com manifestações alérgicas apresentavam IgE específica para EA21, sugerimos
que na HQ, como em outras doenças parasitárias, a IgG4 atua bloqueando processos
patogénicos, minimizando a patologia grave no hospedeiro. Estes resultados salientam duas
associações de imunoglobulinas contrastantes, entre IgG4 e proteção contra reações
alérgicas, e entre IgE específica para EA21 e manifestações alérgicas (91,93).
Em relação a Eg2HSP70, este antigénio parece induzir a produção de IL-4 ativando
uma resposta Th2 protetora. Além da resposta celular, o Eg2HSP70 parece provocar
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
142 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
também uma resposta imunológica humoral, pois foram detetados em pacientes com HQ,
IgG total, IgG4 e IgE específica para Eg2HSP70. Contudo esta não é uma molécula
alergénica uma vez que não existem diferenças significativas nas concentrações de
imunoglobulinas de acordo com a presença ou não de reações alérgicas (92).
Outras duas proteínas foram identificadas no fluído hidático, uma que está presente
no tegumento do protoscólice e na camada germinal da parede do quisto, EgTeg, e uma
segunda proteína com 19,0 kDa (Eg19) (94,95).
EgTeg é uma molécula imunomoduladora que, como AgB, contribui para a infeção
crónica pela inibição da quimiotaxia das células polimorfonucleares (PMN) e indução de
IL-4 e IgG4 (94). Em relação à reatividade de Eg19, a percentagem de soros com IgG total,
IgG1 e IgG4 positivos foi significativamente maior nos soros de pacientes com doença ativa
e quistos em locais múltiplos do que em pacientes com doença inativa e com único quisto
no fígado. Como a concentração de anticorpos anti-Eg19 diminui durante o tratamento da
HQ com menor título em pacientes com doença curada, e há uma diferença significativa na
concentração de imunoglobulinas (IgG1 e IgG4) durante a sua evolução, Eg19 pode ser um
marcador do estado da doença (95).
Através do rastreio de uma biblioteca de cDNA de Echinococcus granulosus com
IgG1 de pacientes com HQ, identificou-se a tiorredoxina peroxidase de E. granulosus
(EgTPx). A produção de IgG total e IgG1 não apresenta diferenças entre os doentes com
doença ativa, transitória e inativa. Contudo, a percentagem de IgG4 é significativamente
mais elevada nos soros de doentes com HQ ativa. O papel de como EgTPx intervém na
evasão do sistema imunitário continua ainda por esclarecer, sendo necessárias mais
pesquisas para o clarificar (96).
Recentemente, através de uma abordagem proteómica ligada à caracterização
imunológica foi identificado um novo antigénio em HQ, o HSP20 (Heat Shock Protein 20).
A eletroforese bidimensional em gel (2-DE) do fluido hidático de ovelha, seguida de análise
por immunoblot com soro de pacientes com diferentes fases da doença, permitiu identificar ,
por espectrometria de massas, o HSP20 como potencial marcador da HQ ativa. A análise,
por immunoblot, revelou um título de anticorpos anti-HSP20 mais elevado e
estatisticamente significativo, em soros de pacientes com doença ativa comparativamente
com soros de pacientes com doença inativa. Os níveis de anticorpos anti-HSP20 diminuíram
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 143
significativamente ao longo do tratamento farmacológico em soros de pacientes que
alcançaram a cura, comparativamente com soros de pacientes com doença progressiva (97).
Em conclusão, em pacientes com HQ encontramos um microambiente com elevada
polarização de resposta Th2, onde para além de AgB, EgTeg e EgEF-1 β/δ, possivelmente
muitas outras moléculas do parasita poderão originar um padrão Th2. Todos estes
antigénios podem permitir que a doença crónica module a resposta imunológica do
hospedeiro (Tabela 7).
Tabela 7 - Efeito imunorregulador in vitro e in vivo de Echinococcus granulosus perante a resposta
imunológica do hospedeiro humano à invasão parasitária. Adaptado de (58).
In vitro
Antigénio População
celular Ação Efeito
AgB, EgTeg Neutrófilos
Inibição da
quimiotaxia, redução
de H2O2
Evasão imunológica
EgEF-1 β/δ,
EA21, Eg2Hsp70
Linfocitos T
helper
Elevada produção IL-4
e IL-13
Baixa produção INF-ɣ
Sem produção IL-12
Imunomodulação: exploração da
ativação provocando uma resposta
Th2 não protetora
In vivo
AgB, EgTeg,
EgEF-1 β/δ,
EA21, Eg19,
EgTPx
Linfócitos B Produção de IgG4
específica
Evasão imunológica: IgG4 não são
anticorpos citófilos nem ativadores do
complemento e podem bloquear a
imunidade mediada por IgE
EgEF-1 β/δ,
EA21 Linfócitos B
Produção de IgE
específica Reação alérgica
6.2 Resposta Imunológica Humoral do Hospedeiro
A resposta humoral mais precoce, pela produção de IgG específicas para os
antigénios do fluido do quisto hidático e para proteínas oncosféricas surge após 2 e 11
semanas, respetivamente, em ratinhos e ovinos infetados com ovos e oncosferas de E.
granulosus. Estes anticorpos anti-oncosferas desempenham um papel importante na
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
144 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
eliminação dos parasitas e são cruciais para a resposta imunitária protetora contra E.
granulosus (98).
Embora o título de anticorpos contra a oncosfera seja baixo nas fases iniciais da
infeção, os mecanismos que conduzem à eliminação do parasita podem envolver reações
de citotoxicidade mediada por células dependentes de anticorpos (99,100). Nas fases
crónicas da HQ, ocorre frequentemente aumento dos níveis de anticorpos, particularmente
IgE, IgM e IgG (101–103), sendo predominantes as subclasses IgG1 e IgG4 (32,75,104–
107). Dado que o titulo das suclasses de anticorpos IgG variam no decurso da infeção, a
análise da subclasse tem-se mostrado útil no seguimento da HQ (108).
Visto que os primeiros estudos da resposta humoral pelos anticorpos da subclasse
de IgG, em HQ humana em estadios avançados, indicaram uma mudança da resposta
predominantemente IgG1 para IgG4, em pacientes com doença progressiva, o papel
particular de IgG4 durante a doença tem sido amplamente estudado e a IgG4 efetivamente,
é considerada um marcador imunológico na evolução da Hidatidose (106).
De acordo com estes estudos, verificou-se que os doentes tratados com albendazol,
que apresentam uma boa resposta clínica ao tratamento, apresentam níveis séricos
significativamente mais baixos de anticorpos IgG4, comparativamente com os que
apresentam uma resposta fraca ou que não respondem ao tratamento. Por outro lado, os
níveis de anticorpos IgG1 mostram uma tendência inversa (109). Posteriormente, Riganò e
seus colaboradores, confirmaram a presença de níveis mais elevados de IgG4 e IgE em
pacientes com doença progressiva e de IgG1 e IgG3 em pacientes com doença estável (108).
A produção de anticorpos é essencial para o desenvolvimento de testes serológicos,
apesar de que cerca de 30-40% dos doentes apresentam serologia negativa para os
antigénios específicos da HQ. Contudo, em muitos desses pacientes são mensuráveis níveis
variáveis de antigénios e imunocomplexos circulantes. Isto sugere que a atividade e a
proliferação de células B podem ser reguladas e inibidas por antigénios de E. granulosus.
No entanto, não são ainda conhecidos os mecanismos regulatórios envolvidos (110).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 145
6.3 Resposta Celular e Regulação por Citocinas do Tipo Th2
Durante as fases iniciais da hidatidose, há uma marcada ativação da imunidade
mediada por células. Isto origina uma resposta inflamatória celular significativa que pode
causar alterações patológicas, devido ao aumento do número de leucócitos, principalmente
de eosinófilos, linfócitos e macrófagos (Figura 20) (75,111). A infiltração celular por
eosinófilos, neutrófilos, macrófagos e fibrócitos ocorre tanto em hospedeiros humanos
como em ovinos. No entanto, geralmente isto não resulta numa resposta inflamatória grave,
e os quistos envelhecidos tendem a ficar rodeados por uma camada fibrosa que forma uma
barreira entre o quisto e o tecido do hospedeiro (110).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
146 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Figura 20 - Respostas imunológicas durante o desenvolvimento de um quisto hidático de E. granulosus no
hospedeiro intermediário. Numa fase inicial da infeção, a oncosfera é transportada para um órgão do
hospedeiro, como o fígado ou o pulmão, onde se desenvolve e origina um quisto hidático. O quisto imaturo
tem de superar as respostas imunológicas do hospedeiro, principalmente as mediadas por células,
especialmente a infiltração de macrófagos e eosinófilos e respostas de baixo nível Th1. Cerca de 8 a 10
semanas após a infeção em ratinhos, o crescimento do quisto é mantido e antigénios complexos são libertados
do quisto induzindo respostas imunológicas complexas. Estas incluem um equilíbrio entre as respostas Th2 e
Th1. Neste momento, o parasita produz quantidades significativas de antigénio que ajudam a modular a
resposta imunológica, o que pode beneficiar tanto o hospedeiro como o parasita; IgG, especialmente IgG1 e
IgG4, IgE e IgM apresentam títulos elevados. Quando o quisto torna-se inviável, calcificado ou é removido
cirurgicamente, as respostas Th2 caem rapidamente enquanto as respostas Th1 caem lentamente, tornando-se
então polarizadas. A IgG pode se manter no hospedeiro humano durante muitos anos após a remoção cirúrgica
do quisto. Uma vez que um paciente infetado tem uma recaída, as respostas Th2 recuperam muito rapidamente
enquanto que outras respostas são elevadas lentamente. M, Macrófago; E, eosinófilo. Adaptado de (75).
Poucos estudos investigaram o papel das células NK na infeção por Echinococcus
sp.. Estas células têm um papel fundamental na resposta imunológica inata, principalmente
contra microrganismos patogénicos intracelulares, incluindo vírus, bactérias e protozoários
(75). Doentes com quistos ativos demonstram ter proporcionalmente mais células NK
(CD56+ CD8-) do que os indivíduos saudáveis, mas não foram realizados estudos funciona is
ou análises in situ das células à periferia dos quistos, não estando ainda determinado
portanto o papel destas na HQ (112).
Pelos recentes avanços na compreensão das capacidades do E. granulosus em
imunoregular a resposta do hospedeiro, tem sido sugerido que as respostas do tipo Th2
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 147
desempenham um papel crucial na infeção crónica (113). No entanto, em fases mais
avançadas da infeção é caraterística a coexistência de uma mistura de citocinas
características do perfil Th1 e Th2, nomeadamente IFN-ɣ, IL-4 e IL-10, em níveis elevados
na hidatidose humana (114).
O tipo de antigénio pode desempenhar um papel chave na resposta celular. O AgB
de E. granulosus, é um exemplo de uma molécula imunoreguladora envolvida nas
interações hospedeiro-parasita responsável pela sobrevivência do parasita. Estudos
mostram que o AgB tem a capacidade de inibir o recrutamento de neutrófilos e de induzir
uma resposta celular Th2 não protetora, essencialmente em doentes com HQ progressiva
(77). Esta interação permite assim a coevolução ao longo da vida da relação hospedeiro-
parasita. Riganò e seus colaboradores, com o trabalho que desenvolveram apresentam
evidências de que as citocinas Th1 estão relacionadas com a imunidade protetora, e as
citocinas Th2 são responsáveis pela suscetibilidade à doença e associadas à fase crónica,
complicações clínicas e localizações secundárias (115).
O papel da IL-10 na infeção crónica permanece ainda pouco claro, embora estudos
recentes mostrem que, tanto a IL-10 como a IL-4, podem prejudicar a resposta protetora
Th1 e permitir que o parasita sobreviva em pacientes infetados (58,116).
6.4 Resposta Celular (Perfil de Células T) Associada à Progressão do
Quisto e Eficácia do Tratamento
A resposta imunológica polarizada para assumir um perfil Th2 é caraterística da fase
crónica da infeção por Echinococcus sp., sendo modulada pelo estado de desenvolvimento
do quisto hidático.
Com o objetivo de estudar o papel dos linfócitos T na resposta imunológica ao E.
granulosus, efetuou-se um estudo com base na estimulação de células T in vitro. Os
resultados mostraram que as células T em cultura de um paciente com um quisto inativo
apresentam um perfil Th1, enquanto que as células T derivadas de pacientes com quistos
hidáticos ativos têm um perfil Th2 (117). Quando os pacientes com HQ são submetidos a
terapia com albendazol/mebendazol, um perfil Th2 de citocinas foi substituído por um perfil
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Imunologia
VIII MAC
148 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Th1, indicando que as respostas Th1 têm um papel importante no processo de degeneração
do quisto (109).
Os ratinhos transfetados com um vetor de expressão que origina a sobre expressão
de IL-4, pertencente a um perfil Th2, exibem uma massa de quistos seis vezes superior ao
grupo controlo (118), indicando que IL-4 desempenha um papel importante no
desenvolvimento do quisto hidático no hospedeiro.
A análise de citocinas de pacientes com HQ, mostra que as que apresentam um perfil
Th1 estão associadas à resistência à doença e, em contrapartida as citoquinas com perfil
Th2 estão relacionadas com a suscetibilidade à doença e cronicidade (114). Estudos in vitro
e in vivo demonstram que níveis elevados de INF-ɣ (citocina Th1) são encontrados em
pacientes que respondem à quimioterapia, enquanto que naqueles que não respondem
apresentam níveis altos de citocinas Th2 (IL-4 e IL-10), indicando que IL-4/IL-10 prejudica
a resposta Th1, permitindo a sobrevivência de E. granulosus (72,109,119–121).
A involução espontânea de quistos é comum em ovinos (122), e provavelmente
também ocorre em humanos em áreas hiperendémicas, já que há relatos de quistos
calcificados (123,124). Deveriam ser considerados novos estudos sobre o perfil de células
T desses pacientes que resolveram espontaneamente a infeção, pois poderá ser relevante em
futuras abordagens de tratamentos e desenvolvimento de vacinas (110).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 149
7. Diagnóstico
A presença de uma massa semelhante a um quisto numa pessoa com história de
exposição a cães pastores em áreas onde E. granulosus é endémico, sugere o diagnóstico
de hidatidose quística. No entanto, os quistos hidáticos devem ser diferenciados de quistos
benignos, tuberculose cavitária, micoses, abcessos e neoplasias benignas ou malignas (10).
O processo de diagnóstico de HQ passa por várias etapas:
Suspeita por motivos clínicos;
Confirmação por imagiologia (US, TC, raio X, etc.) e identificação de estruturas de
quistos características;
Confirmação por deteção de anticorpos específicos com testes de imunodiagnós t ico
(ELISA, IFAT, imunotransferência, deteção de anticorpos de arco 5, etc.);
Em casos duvidosos, a punção diagnóstica pode ser considerada, se não for
contraindicada;
Material obtido por punção ou intervenção cirúrgica pode ser analisado: fluido
hidático para protoscolices ou ganchos de Echinococcus sp; Protoscolices para
extração de DNA por PCR; Antigénio de quistos estéreis, e material da parede do
quisto para estruturas características por histologia.
Em muitos casos, o diagnóstico pode ser feito através da deteção da estrutura
característica e tamanho dos quistos de E. granulosus visualizados por várias técnicas de
imagem, incluindo ultra-sonografia (US), tomografia computadorizada (TC) e imagem de
ressonância magnética (MRI) em centros especializados. Os testes de imunodiagnós t ico
para a deteção de anticorpos específicos são frequentemente utilizados para a confirmação
etiológica dos resultados dos exames de imagem (8).
Um método direto de diagnóstico é encontrar protoscolices característicos ou ganchos
de E. granulosus em amostras de aspirado de fluído hidático. Este é um método simples
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
150 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
que requer apenas um microscópico ótico, no entanto não é um método de eleição uma vez
que para obter o material necessário para análise só é possível recorrendo a procedimentos
invasivos (intervenção cirúrgica ou punção).
7.1 Técnicas de Imagem
A radiografia convencional permite a deteção de quistos hidáticos nos pulmões, a
visualização radiográfica em outros locais só é possível para quistos calcificados. A TC, a
ressonância magnética (RMN) e a US são técnicas usadas para o diagnóstico de lesões mais
profundas em todos os órgãos e permite ainda determinar a extensão e condição dos quistos
preenchidos com líquido avascular.
A US abdominal emergiu como a técnica de imagem mais utilizada para a HQ devido
à sua ampla disponibilidade e utilidade para definir o número, o local, as dimensões e a
vitalidade dos quistos (2).
A OMS desenvolveu um sistema de classificação padronizado para quistos hepáticos
detetados por ultrassonografia. Este sistema de classificação inclui as seguintes categorias:
tipo CL (lesões quísticas), não é designada lesão do tipo CE pois podem ter várias etiologias
diferentes (lesões parasitárias, desordens congénitas, cistos ou neoplasias biliares); tipos
CE1 e CE2, correspondem a quistos ativos, geralmente quistos férteis contendo
protoscolices viáveis; tipo CE3 são quistos que entram numa fase de transição onde a
integridade do quisto tem sido comprometida pelo hospedeiro ou por quimioterapia; tipos
CE4 e CE5 correspondem a quistos inativos que perderam sua fertilidade e degeneraram
(Figura 21) (53).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 151
Figura 21 - Classificação dos quistos hidáticos segundo a OMS. Adaptado de (125).
O uso desta classificação permite aos clínicos determinar os procedimentos clínicos
recomendados para os diferentes tipos de quistos.
7.2 Diagnóstico Laboratorial
7.2.1 Hematologia e Química Clínica
Regra geral, os testes laboratoriais de rotina não apresentam resultados específicos. O
perfil bioquímico em doentes com compromisso hepático pode ser normal ou apresentar
evidência de colestase com ou sem hiperbilirrubinémia e/ou elevação de transaminases e/ou
gama-glutamil transferase (ɣ-GT). Em pacientes com rutura de um quisto na árvore biliar,
podem ocorrer aumentos transitórios significativos de concentrações da ɣ-GT e fosfatase
alcalina, muitas vezes associadas a hiperamilasémia e eosinofilia (> 500/μl). No entanto, na
maioria dos casos, a eosinofilia é moderada (500 – 1 000/μl) ou ausente.
Hipergamaglobulinémia é observada em cerca de 30% dos casos de HQ. A eosinofil ia
marcada geralmente ocorre em casos de rutura do quisto (2).
7.2.2 Imunodiagnóstico
Os procedimentos de imunodiagnóstico para a deteção de anticorpos séricos são
utilizados para a confirmação etiológica de estruturas de imagem sugestivas de HQ ou no
diagnóstico diferencial em casos de imagiologia não conclusiva.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
152 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Na prática clínica, os testes para a deteção de anticorpos específicos do soro são de
particular importância no diagnóstico da HQ, enquanto a deteção de antigénios circulantes
é menos relevante. Mesmo se forem utilizados testes altamente sensíveis, como a pesquisa
de IgG por ELISA, os anticorpos podem não ser detetáveis em certos pacientes com
hidatidose (resultados falso-negativos). Quistos no cérebro ou no olho e quistos calcificados
induzem frequentemente baixos ou nenhuns títulos de anticorpos. Também podem ocorrer
resultados falsos positivos, especialmente em pacientes com outras doenças helmínticas.
Segundo a OMS, a seguinte abordagem pode ser utilizada para o imunodiagnóstico de
HQ humana (Tabela 8).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 153
Tabela 8 - Abordagens para o imunodiagnóstico da HQ humana. Adaptado de (2).
Testes primários para deteção de anticorpos
Dos ensaios serológicos para a deteção de anticorpos contra E. granulosus no soro, são
utilizados, geralmente, o ensaio imunoenzimático para deteção de IgG (IgG-ELISA), o teste
de hemaglutinação indireta (HAI) e o teste de aglutinação em látex. Com menos frequência
são efetuados outros testes como, a pesquisa de anticorpos por imunofluorescência e a
imunoeletroforese.
Na prática clínica, deve-se notar que os resultados dos testes serológicos dependem de
múltiplos fatores, como o tipo do antigénio, sistema de teste, local do órgão e número de
Primeiro passo: Teste de anticorpos primários
Teste de detecção de anticorpos séricos: IgG-ELISA com antigénio de E. granulosus ou outro sistema adequado (tabela 9).
Uma combinação de dois ou mais testes primários pode aumentar a sensibilidade
Passos subsequentes
Amostras seronegativas
Pessoas sem imagiologia ou outros
sinais sugestivos de HQ
Nenhum seguimento serológico adicional ou
outras etapas do diagnóstico diferencial
Amostras seronegativas
Pessoas com imagiologia sugestiva de HQ
Casos assintomáticos
Testes de imagem mais específicos e repetição de
exames serológicas, incluindo o diagnótico diferencial para equinococose alveolar (EA)
"Esperar e observar"
Casos sintomáticos
Considerar a punção do quisto
Considerar a intervenção cirurgica e/ou quimioterapias
sem exames serológicos adicionais
Amostras seropositivas
Pessoas sem imagiologia ou outros sinais sugestivos de
HQ
Casos sintomáticos e assintomáticos
Teste de anticorpos secundários
Teste de arco 5
IgG4-ELISA
Immunoblot para anticorpos reativos com subunidades de antigénios de E. granulosus
Diagnóstico diferencial serológico para EA (ELISA-
Em2plus, immunoblot)
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
154 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
quistos hidáticos, variabilidade individual das respostas imunológicas, entre outros. A
Tabela 9 mostra os resultados de um estudo que determinou a sensibilidade dos diferentes
ensaios serológicos por órgão afetado. Verificou-se que em mais de 20% dos pacientes com
quistos hepáticos e mais de 40% dos pacientes com quistos pulmonares, os anticorpos
específicos podem não ser detetáveis em alguns dos sistemas de teste. Como mostrado na
Tabela 9, O IgG-ELISA é um dos testes mais sensíveis atualmente disponíveis. Devido às
sensibilidades variáveis dos vários testes, muitos laboratórios empregam pelo menos dois
testes primários diferentes para o diagnóstico de rotina de HQ, o que normalmente aumenta
a sensibilidade (2).
Tabela 9 - Sensibilidade de vários ensaios para deteção de anticorpos em pacientes com hidatidose quística
confirmada. Adaptado de (2).
Localização dos quistos e número de pacientes (N)
Sensibilidade (%)
Teste Fígado (N:41) Pulmão (N:79) Fígado e Pulmão
(N:49) Outros (N:7)
Aglutinação em
látex 80 58 88 57
Hemaglutinação
indireta (HAI) 80 61 90 57
Imunoeletroforese 68 51 71 50
IgG-ELISA 93 83 96 93
Testes secundários para deteção de anticorpos
Devido à possibilidade de reatividade cruzada nas infeções helmínticas, os resultados
serológicos positivos devem ser confirmados por um teste secundário mais específico,
exceto nos casos em que as estruturas de imagem são claramente sugestivas de HQ.
Nos últimos anos, vários sistemas de ensaios secundários têm sido utilizados em
laboratórios especializados, tais como a deteção de uma linha de precipitação designada por
arco 5, a identificação de subclasses de IgG e a imunotransferência que demonstra a
reatividade de anticorpos séricos com subunidades de antigénios de E. granulosus
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 155
(107,126–131). Geralmente, esses testes são menos sensíveis, mas mais específicos do que
os sistemas de teste primários. Exemplos são apresentados nas Tabelas 10 e 11 (2).
Tabela 10 - Sensibilidade de testes secundários para deteção de anticorpos em casos de hidatidose quística
humana (exemplos). Adaptado de (2).
Tipo de anticorpo detetado
Nº de casos
de HQ
testados
Sensibilidade
(% ) Referência
Arc 5 (DD) - 50-60 (132)
Arc 5 (DD e IEF com antigénio
5) 166 78 (133)
IgG4 (IB com antigénio B) 30 87 (127)
IgG4 (ELISA) 56 62 (134)
IgG1 (ELISA) 56 96 (134)
39 kDa (IB) 166 90 (126)
10, 16, 20 kDa (IB) 65 57 (133)
16 kDa (IB) 166 46 (133)
16 kDa (IB com antigénio B) 30 50 (127)
12 kDa (IB) 166 34 (133)
12 kDa (IB com antigénio B) 30 80 (127)
DD: difusão dupla; IB: immunoblot; IEF: imunoeletroforese
Dos vários sistemas de ensaio secundários, verificou-se que o teste de precipitação com
arco 5 apresenta uma baixa sensibilidade (50-60%), mas é específico da família Taeniidae
(126). A deteção de IgG4 é mais sensível, contudo pode apresentar baixo título em casos
assintomáticos de HQ (Tabela 10). Pode ocorrer reatividade cruzada em pacientes com EA
e, numa percentagem baixa, em pacientes com cisticercose. Contudo, em indivíduos com
esquistossomose, oncocercose e outras infeções helmínticas isso já não se verifica (Tabela
11). A imunotransferência para a deteção da reatividade de anticorpos com certas
subunidades de antigénios de E. granulosus, predominantemente subunidades de 39 kDa,
16 kDa e 12 kDa, apresentam um bom valor diagnóstico, uma vez que a sensibilidade e a
especificidade são bastante elevadas (Tabelas 10 e 11). Contudo, podemos ter alguns casos
de reatividade cruzada. Por exemplo, observou-se reatividade cruzada entre a subunidade
de 12 kDa e 40% dos soros de pacientes com EA e 5% com cisticercose (135) (Tabela 11).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Diagnóstico
VIII MAC
156 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Por este motivo, em alguns estudos tem sido utilizada uma combinação de bandas de
subunidades para o diagnóstico de HQ.
Tabela 11 - Especificidade de testes secundários para deteção de anticorpos , no imunodiagnóstico de HQ,
usando antigénios de E. granulosus. Adaptado de (2).
Especificidade (% ) e número de casos testados (N)
Tipo de anticorpo
detetado (Sistema
de teste)
Equinococose
alveolar ou
equinococose
policística
Cisticercose Esquistossomose Oncocercose/
filariose
Outras
helmintoses
Controlos
saudáveis ou com
ausência de
parasitoses
IgG4 (ELISA) - 95 (N:38) 100 (N:17) 100 (N:28) - 100 (N:50)
IgG4 (ELISA) 48 (N:54) 100 (N:8) 100 (N:8) 100 (N:8) 100 (N:32)
a) 99 (N:253)
39 kDa (IB) - - 100 (N:15) - 100 (N:7)
b) 100 (N:20) c)
16 kDa (IB) - - 100 (N:15) - 100 (N:7)
b) 100 (N:20) c)
12 kDa (IB) 60 (N:60) 95 (N:55) 100 (N:3) - - 100 (N:15)
IB: Immunoblot; a) Cada oito casos de fasciolose, estrongiloidose, toxocaríase e triquinose; b) Casos de
triquinose; c) Ausência de parasitoses.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 157
8. Tratamento
Até a década de 1980, a cirurgia era a única opção para o tratamento de quistos
hidáticos. Entretanto, a quimioterapia com compostos de benzimidazol e, mais
recentemente, o tratamento com punção do quisto, aspiração, injeção de produtos químicos
e re-aspiração foram introduzidos e, cada vez mais, têm complementado ou mesmo
substituído a cirurgia como o tratamento de eleição (10).
Contudo, atualmente, a cirurgia ainda é o tratamento que tem o potencial de remover
quistos de E. granulosus e levar à cura completa. Pode ser realizada com sucesso em até
90% dos doentes caso o quisto não se encontre num local de risco ou se a doença não estiver
muito avançada. No entanto, a cirurgia pode ser impraticável em doentes com múltip los
quistos localizados em vários órgãos. A introdução da quimioterapia e da técnica PAIR
(punção - aspiração - injeção - respiração) oferece um tratamento alternativo,
particularmente em pacientes inoperáveis e em casos com alto risco cirúrgico (2). Os quistos
com paredes homogeneamente calcificadas, geralmente, não necessitam de tratamento
cirúrgico, mas apenas de uma abordagem de "esperar e observar" (136).
Cada caso deve ser analisado cuidadosamente de modo a escolher o tratamento mais
adequado. As opções de tratamento para a HQ são as seguintes:
Cirurgia
PAIR
Quimioterapia
Abordagem “esperar e observar”
8.1 Cirurgia
O objetivo da cirurgia é a remoção total do quisto evitando as consequências adversas
de libertação de conteúdo hidático. A pericistectomia é o procedimento habitual, mas pode-
se realizar drenagem simples, capitonagem, marsupialização e ressecção do órgão
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
158 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
envolvido, dependendo da localização e condição do quisto. Quanto mais radical a
intervenção, maior o risco operatório e menor a probabilidade de recorrência, e vice-versa.
A cirurgia é indicada para quistos hepáticos de grandes dimensões (> 10 cm de
diâmetro), quistos hepáticos únicos, situados superficialmente que podem romper
espontaneamente ou como resultado de trauma, quistos infetados ou localizados em certos
órgãos como cérebro, pulmão ou rim, ou quistos que comunicam com a árvore biliar e/ou
exercem pressão sobre os órgãos vitais adjacentes (2,10).
O tratamento cirúrgico de HQ é contraindicado em pacientes que recusam cirurgia,
pacientes com idade avançada, mulheres grávidas, pacientes com doenças concomitantes
graves (isto é, doenças cardíacas, renais ou hepáticas, diabetes e hipertensão), ou que
tenham múltiplos quistos de difícil acesso. Além disso, este procedimento não está indicado
para pacientes que possuam quistos inactivos, parcial ou totalmente calcificados (10).
Os procedimentos cirúrgicos envolvem várias opções principais que estão resumidas na
tabela 12. De modo a tornar os procedimentos cirúrgicos menos agressivos e a diminuir o
risco de recorrência, o doente pode ser submetido a quimioterapia antiparasitária,a tanto
previamente, como após a intervenção, com benzimidazóis (albendazol ou mebendazol).
Tem sido relatado que este tratamento pré-operatório reduz a pressão intraquíst ica,
facilitando a sua remoção (2).
Tabela 12 - Técnicas cirúrgicas para o tratamento da HQ no fígado e pulmão. Adaptado de (137).
Técnicas cirúrgicas para HQ no fígado Técnicas cirúrgicas para HQ no pulmão
Hepatectomia parcial Lobectomia
Pericistectomia Extrusão de cistos (técnica de Barrett)
Cistectomia aberta com ou sem Omentoplastia Pericistectomia
Cirurgia paliativa (drenagem de cistos infetados)
Benefícios e riscos associados
O tratamento cirúrgico tem o potencial de curar completamente o paciente, mas envolve
alguns riscos durante e pós-cirurgia.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 159
Os riscos incluem aqueles associados a qualquer cirurgia (anestesia, stress, infeções).
Apesar do progresso nas técnicas cirúrgicas, a hidatidose secundária devido ao derrame de
material parasitário viável durante a intervenção, pode ocorrer. A prevalência de recorrência
a longo prazo situa-se entre 2% e 25% (138). A recorrência pode dever-se à remoção
incompleta do quisto, ou a quistos não detetados anteriormente. As reações anafilát icas
representam um risco adicional em raras ocasiões (10).
8.2 Punção, Aspiração, Injeção, Re-aspiração (PAIR)
A punção de quisto guiada por ultrassom para tratamento da HQ, foi introduzida em
meados da década de 1980 (139–141) e, inclui as seguintes etapas:
• Punção percutânea de quistos sob orientação ultrassónica;
• Aspiração de uma quantidade substancial de líquido hidático;
• Injeção de uma substância protoscolicida (preferencialmente etanol a 95%);
• Re-aspiração do conteúdo do quisto após 15 min a 20 min.
Foram relatados resultados favoráveis das intervenções da técnica PAIR em várias
centenas de pacientes com períodos de acompanhamento de até 5 anos (140,142). No
entanto, a eficácia e os potenciais riscos ainda não foram totalmente avaliados e, requerem
mais estudos de longo prazo devidamente controlados. A PAIR deve ser acompanhada por
tratamento quimioterápico para minimizar os riscos de hidatidose secundária.
A PAIR está indicada para doentes inoperáveis com HQ e, para aqueles que recusam
cirurgia. Tem sido utilizada no tratamento de quistos hepáticos, cavidade abdominal, baço,
rim e ossos, mas não deve ser utilizado para quistos pulmonares (142). Vários tipos de
quistos hepáticos CL, CE 1, CE 2 e CE 3 podem ser encaminhados para PAIR (Figura 21),
especialmente lesões anecoicas > 5 cm de diâmetro, quistos com uma camada dupla
laminada regular, quistos de > 5 cm de diâmetro com divisões septais múltiplas, quistos
múltiplos (> 5 cm de diâmetro) em diferentes segmentos hepáticos. Esta técnica também
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
160 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
pode ser utilizada em casos de recaída, após a cirurgia, ou na incapacidade de resposta à
quimioterapia antiparasitária.
Está contraindicado para quistos inacessíveis ou localizados superficialmente no fígado
(risco de derrame do líquido hidático na cavidade abdominal), quistos com divisões septais
múltiplas (quistos tipo favo de mel); quistos com padrões sólidos hiperecogénicos ou
quistos calcificados, quistos que comunicam com os canais biliares e quistos no pulmão. A
fim de se evitar a indução de colangite química, os aspirados de quistos hepáticos devem
ser analisados para detetar vestígios de bilirrubina, antes da injeção de protoscolicidas. A
contaminação do conteúdo de quisto com bilirrubina indica que existe comunicação com os
ductos biliares.
O tratamento com benzimidazóis é altamente recomendado durante os quatro meses
antecedentes à PAIR e, pelo menos durante um mês (albendazol) ou três meses após
(mebendazol) (143)(142). A duração da quimioterapia deve ser adaptada de acordo com o
tamanho do quisto e a aparência pela US (140).
Benefícios e riscos associados
A PAIR sendo uma técnica minimamente invasiva e, com menor risco de complicações,
apresenta benefícios em relação à cirurgia. Permite a confirmação do diagnóstico e remove
a maior parte do material infetante pela aspiração do líquido hidático. Os custos da PAIR,
com quimioterapia concomitante, são inferiores aos da cirurgia e são necessários menos
dias de internamento (140).
Os riscos incluem os associados a qualquer punção (hemorragia, danos mecânicos de
outros tecidos e infeções), choque anafilático ou reação alérgica causada pelo derrame de
fluido hidático e, consequentemente hidatidose secundária. Outros riscos ou potenciais
falhas, são colangite esclerosante química, descompressão intraquística súbita levando a
fístulas biliares e persistência de quistos-filhos (2).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 161
8.3 Quimioterapia Antiparasitária
Inúmeros casos de HQ tratados com benzimidazóis estão bem documentados
(138,142,144–148). Quando avaliados até 12 meses após o início da quimioterapia, 10% a
30% dos doentes apresentam a eliminação do quisto, 50% a 70% apresentam degeneração
dos quistos e/ou reduções significativas no seu tamanho, mas 20-30% não apresentam
alterações morfológicas nos mesmos. As figuras 22 e 23 mostram a eficácia do tratamento
com albendazol de um paciente com quistos disseminados de E. granulosus.
O tratamento com benzimidazóis é aparentemente mais eficaz entre os jovens do que
em pacientes mais velhos. Alguns dos pacientes tratados apresentam recidivas, mas estes
geralmente são sensíveis ao re-tratamento. A taxa de recidivas após a quimioterapia é
relativamente alta (14% -25%) (146).
A quimioterapia antiparasitária é indicada para doentes inoperáveis, com hidatidose
hepática primária e, para pacientes com múltiplos quistos em dois ou mais órgãos. Os
quistos localizados nos ossos são menos suscetíveis à quimioterapia. Em casos que a
cirurgia é desaconselhada, a quimioterapia de longa duração pode ser uma opção. Outra
indicação importante para a quimioterapia é a prevenção da hidatidose secundária. O uso
pré-cirúrgico de benzimidazóis (albendazol ou mebendazol) pode reduzir o risco de recidiva
de HQ e/ou facilitar a intervenção cirúrgica pela redução da pressão intraquística.
A quimioterapia é contraindicada para grandes quistos com risco de rutura ou para
quistos inativos ou calcificados. Os doentes com doenças hepáticas crónicas graves e com
depressão da medula óssea não devem ser tratados. O tratamento durante a gravidez é
contraindicado.
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
162 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Figura 22 - Tomografia computadorizada da pélvis de um paciente com quistos disseminados de
Echinococcus granulosus (antes do tratamento). Adaptado de (2).
Figura 23 - Tomografia computadorizada da pélvis de um paciente com quistos disseminados de
Echinococcus granulosus (após 3 meses de tratamento com albendazol). Adaptado de (2).
Estes fármacos mostram eficácia definitiva contra HQ e, são geralmente bem tolerados.
Estudos com diferentes grupos de doentes com HQ, demonstram que o mebendazol é
aparentemente mais eficaz contra quistos nos pulmões do que no fígado, ao passo que tal
diferença não foi observada para o albendazol. Contudo, a eficácia comparativa exata do
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 163
fármaco é difícil de avaliar, uma vez que os protocolos de tratamento foram variáveis nos
diferentes grupos de pacientes (146).
O uso de praziquantel, um derivado heterocíclico de pirazinoisoquinolina, foi proposto
na dose de 40 mg/kg uma vez por semana, concomitantemente com benzimidazóis. Este
fármaco também pode ser útil em casos de derrame de fluído do quisto, durante a cirurgia.
Cobo e seus colaboradores, mostraram que um tratamento combinado com albendazol (10
mg/kg/dia) e praziquantel (25 mg/kg/dia) administrado durante o mês antecedente à cirurgia
aumentou o número de pacientes com protoscolices não viáveis, em comparação à terapia
apenas com albendazol (149). Contudo, estudos adicionais são necessários para avaliar a
eficácia do tratamento combinado.
Benefícios e riscos associados
A quimioterapia é um tratamento não-invasivo que pode ser usado em doentes de
qualquer faixa etária e é menos limitado pelo estado do doente (exceto a gravidez) do que
a cirurgia.
Os efeitos adversos dos benzimidazóis incluem neutropenia, proteinúr ia,
hepatotoxicidade leve traduzindo-se num aumento transitório das aminotransferases,
distúrbios gastrointestinais e alopécia transitória. Os potenciais riscos dos benzimidazó is
incluem embriotoxicidade e teratogenicidade que, no entanto, só foram observados em
alguns animais de laboratório durante as fases iniciais da gravidez.
Embora estejamos bem conscientes das dificuldades em resumir a prática atual de
tratamento de pacientes com HQ, Junghanss e seus colaboradores, tentaram resumir as
opções de tratamento, por fase do quisto e nível de recursos de cuidados de saúde (Tabela
13), baseando-se na opinião de especialistas (150).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Tratamento
VIII MAC
164 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 13 - Formas de tratamento estratificadas por fase de quisto e nível de cuidados de saúde associado.
Adaptado de (150).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Prevenção e Controlo
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 165
9. Prevenção e Controlo
A equinococose quística foi reconhecida desde 1950 como um problema de saúde
pública. Está incluída na lista de 17 doenças tropicais negligenciadas (DTN) (151) e na lista
de doenças zoonóticas negligenciadas prioritárias pelas quais a OMS defende a necessidade
de concertar esforços de controlo (152).
As intervenções para reduzir o risco zoonótico e os casos humanos são
necessariamente direcionadas ao tratamento de cães domésticos e a mudanças na criação de
animais, que exigem ação veterinária e vigilância (153). A vigilância da EQ em cães e
noutros animais é difícil porque a infeção é assintomática e não é reconhecida ou priorizada
por comunidades ou serviços veterinários locais. No entanto, a inspeção de carcaças após o
abate pode ser usada para fornecer informações úteis neste sentido (154).
A criação de programas de prevenção e controlo, tratamento e acompanhamento de
casos de EQ é vital. Pelo menos 18 programas de controlo de equinococose para reduzir a
incidência de EQ humana, foram implementados em diferentes regiões do mundo desde a
década de 1960, dos quais três eram a nível nacional (Nova Zelândia, Chipre, Uruguai) e
outros a nível provincial (Tabela 14). Em todos esses programas, o elemento-chave ou a
ferramenta de controlo inicialmente aplicada baseou-se no tratamento supervisionado de
cães, tanto pastorais como domesticados, quatro a oito vezes por ano com o anti-helmíntico
praziquantel (PZQ) (Tabela 14) (155).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Prevenção e Controlo
VIII MAC
166 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 14 – Resumo dos programas de controlo da equinococose quística. Adaptado de (155).
Os programas de controlo da equinococose, iniciados na década de 1960, indicam
que uma intervenção efetiva é possível, no entanto podem levar mais de 5-10 anos. Contudo,
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Prevenção e Controlo
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 167
apesar do intenso interesse em controlar a parasitose, os esforços para controlar a doença
diminuíram acentuadamente, mesmo permanecendo a infeção predominante em grandes
áreas de África, Ásia e América do Sul. A diminuição do interesse pode dever-se à fraca
eficácia das muitas tentativas de controlo da infeção em áreas continentais. Os únicos
métodos de controlo disponíveis foram o tratamento de cães com anti-helmínticos, controlo
de população de cães, controlo de abate de animais, eliminação de miudezas e educação
pública. As limitações inerentes a esses métodos, em particular nas áreas continenta is,
restringiram a eficácia dos esforços de controlo de infeções como a equinococose (153).
Um aspeto crítico do controlo da equinococose tem sido a vigilância apropriada da
incidência ou prevalência da infeção tanto humana como animal. Sem dados de vigilânc ia
adequados em períodos trimestrais ou anuais pós-intervenção, o impacto das medidas de
controlo será difícil ou impossível de avaliar e, portanto, justifica despesas contínuas para
manter intervenções dispendiosas. Desde a década de 1970, novas ferramentas e abordagens
estão disponíveis para ajudar no planeamento e implementação de intervenções e estratégias
de vigilância. Estas incluem um excelente fármaco anti-helmíntico (PZQ) para cães; uso de
ultrassom portátil para triagem de HQ humana dentro de comunidades endémicas; uma
vacina altamente eficaz (EG95) para prevenir a hidatidose ovina; um teste laboratorial
imunoenzimático – ELISA, que veio substituir o teste de purgação com o bromidrato de
arecolina em cães; e software informático para análise do custo-benefício para as
intervenções (7,155).
A partir dos programas de controlo de equinococose implementados desde a década
de 1960, foram criadas cinco “opções de controlo” para a EQ consideradas por Gemmell
(1978) e, em seguida reformuladas por Gemmell e Lawson (1986) onde incluíram a
vacinação do gado como medida preventiva (tabela 15) (156). A opção 5, baseada na
administração regular de cães com PZQ, foi a opção mais adotada, uma vez que o
medicamento ficou disponível na década de 1980 permitindo uma abordagem "rápida"
(155). A Tabela 16 descreve as fases de controlo que podem ser consideradas num programa
de controlo: fase de planeamento, fase de ataque, fase de consolidação e manutenção da
eliminação (2,155,157).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Prevenção e Controlo
VIII MAC
168 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Tabela 15 – Opções consideradas no controlo da equinococose quística. Adaptado de (155).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Prevenção e Controlo
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 169
Tabela 16 – Fases de controlo consideradas num programa de controlo. Adaptado de (155).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Prevenção e Controlo
VIII MAC
170 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
Para determinar se foi alcançada uma redução na transmissão do parasita ou
qualquer outro microrganismo patogénico como resultado de uma campanha de prevenção
e controlo, os conceitos de "controlo", "eliminação" e "erradicação" requerem consideração
(157,158). Para a equinococose, o principal objetivo é a eliminação da HQ humana, isto é,
uma incidência de infeção reduzida a zero em uma área geográfica definida. No entanto, os
casos continuarão a surgir muito tempo após a eliminação ter sido declarada em grupos
etários mais avançados devido ao longo período assintomático que esta patologia apresenta .
Contrariamente à doença em seres humanos, nos hospedeiros animais a eliminação da
infeção e transmissão é mais difícil porque requer que não haja infeção em animais
domésticos (cães e gado) e, possivelmente, animais selvagens, no entanto, esse pode ser
considerado como objetivo final de um programa de controlo da equinococose (155).
A erradicação foi definida como a redução da incidência mundial da infeção para
zero casos (158). Para as zoonoses, como a equinococose, com reservatórios de hospedeiros
animais, isso seria praticamente impossível de alcançar. Para a maioria dos programas de
controlo de equinococose, uma redução da incidência, prevalência e morbidade da HQ
humana para baixos níveis é, geralmente, considerado um controlo bem sucedido (155).
Na sequência de uma fase de "ataque" caracterizada, por exemplo, por 5 a 10 anos
de desparasitação regular de cães com PZQ e melhores práticas de criação e abate de
animais, bem como educação sobre a doença hidática, a conversão de um programa de
controlo da equinococose para uma fase de "consolidação" caracterizada por vigilância e
rastreamento, pode ocorrer quando se verifica um nível aceitável de redução da transmissão
(159). A fase de “consolidação” surge quando não há novos casos HQ humanos em
indivíduos com menos de 10 a 15 anos de idade (registros hospitalares ou dados de
ultrassonografia), quando a prevalência de HQ ovina é inferior a 0,1% em ovelhas com
menos de 3 anos de idade (registros de matadouros) e quando a prevalência de equinococose
canina é inferior a 0,01% (dados laboratoriais) (153).
O desenvolvimento da vacina ovina (EG95) para prevenir a HQ (160) e de testes
coprológicos para triagem e identificação de hospedeiros definitivos infetados (161) foram
os progressos mais importantes para auxiliar programas de controlo desde a descoberta do
PZQ na década de 1970. As vantagens do uso integrado da vacina EG95 e o tratamento com
PZQ ainda requerem avaliação cuidada (162,163). O desenvolvimento de vacinas eficazes
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Prevenção e Controlo
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 171
para os hospedeiros definitivos em EQ seria um passo crucial no controlo da parasitose
(164).
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Conclusões
VIII MAC
172 Marta Bebiana dos Ramos da Silva
10. Conclusões
A infeção por E. granulosus na fase adulta não é motivo de morbidade para os
hospedeiros definitivos, enquanto que a invasão de vários órgãos (principalmente fígado e
pulmões) de humanos e hospedeiros intermediários animais por metacestodes pode causar
doença hidática grave e fatal. A EQ apresenta uma distribuição mundial e representa um
importante problema de saúde pública em algumas áreas. Esta zoonose é um grave
problema económico e de saúde pública. Em Portugal continua a subsistir a ideia errónea
de que este é, quiçá, o último país hiperendémico da Europa. Epidemiometricamente,
apenas o distrito de Évora foi, outrora, hiperendémico, mas no presente situa-se já no nível
da hipo-endemicidade.
Um dos mecanismos de persistência do E. granulosus foi a expressão de uma grande
variedade de moléculas com efeitos imunomoduladores. Essas observações sugerem que as
moléculas de E. granulosus, tais como o AgB e o Ag5, podem ser usadas terapeuticamente
para prevenir ou tratar a doença hidática. Embora na última década tenham sido esclarecidos
muitos aspetos da relação parasita/hospedeiro na EQ humana, estão ainda estabelecer os
mecanismos completos que causam esta doença. É necessário definir mais claramente os
eventos que manipulam a resposta imunológica do hospedeiro no sentido de levar à
eliminação do E. granulosus e, minimizando a patologia grave.
Desde a década de 1960, uma série de programas de intervenção mostraram que a
transmissão de E. granulosus pode ser controlada de forma eficaz e a HQ humana eliminada
ou significativamente reduzida como um problema de saúde pública.
Contudo, é imprescindível que a investigação desta patologia continue a ser realizada
para que sejam descobertos novos mecanismos que justifiquem a extrema complexidade da
interação hospedeiro-parasita. Existe também uma clara necessidade de pesquisa no
desenvolvimento de meios de diagnóstico, tratamento e programas de prevenção/contro lo
da EQ, que levem em conta a situação social, política e económica das comunidades
afetadas.
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Parte IV
Situação em Portugal de Equinococose/Hidatidose Conclusões e Perspetivas Futuras
VIII MAC
Marta Bebiana dos Ramos da Silva 193
Conclusões e Perspetivas Futuras
A realização do Estágio no Laboratório Dr. Joaquim Chaves, no âmbito do Mestrado
em Análises Clínicas, foi sem dúvida uma mais-valia para a minha formação pessoal e
profissional, pois permitiu-me consolidar os conhecimentos adquiridos durante o meu
percurso académico e complementá- los com novas aprendizagens.
Considero que os objetivos do estágio foram atingidos, nomeadamente a integração
no meio profissional e o contacto com os outros profissionais de saúde, a aplicação dos
conhecimentos adquiridos num contexto de trabalho e a capacidade de trabalho
multidisciplinar e em equipa.
Devo realçar e elogiar como aspetos mais importantes do estágio que realizei, a boa
integração nas equipas de trabalho; os conhecimentos, a disponibilidade e simpatia dos
profissionais de saúde com que contatei; o contato com os doentes, a exigência do trabalho,
não só no que refere à quantidade e multiplicidade de tarefas realizadas diariamente, mas
também no que diz respeito ao rigor e à qualidade que é exigida; e a enorme quantidade de
conhecimentos e de “ferramentas” que são adquiridas em todo o percurso.
Por tudo isto, e pelo fascínio que a área das Análises Clínicas sempre me suscitou,
o meu percurso não fica por aqui. Pretendo continuar a minha formação na área e
candidatar-me ao Título de Especialista de Análises Clínicas pela Ordem dos Biólogos ,
procurando atingir os mais elevados níveis de prestação de serviço.