UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROPOSTA DE MELHORIA PARA REDUÇÃO DE NÚMERO DE MATÉRIAS-PRIMAS EM UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA Bruna Hopka Yassuhara Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira LORENA 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

PROPOSTA DE MELHORIA PARA REDUÇÃO DE NÚMERO DE

MATÉRIAS-PRIMAS EM UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA

Bruna Hopka Yassuhara

Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira

LORENA

2014

BRUNA HOPKA YASSUHARA

PROPOSTA DE MELHORIA PARA REDUÇÃO DE NÚMERO DE

MATÉRIAS-PRIMAS EM UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA

Monografia apresentada à Escola de

Engenharia de Lorena – Universidade de

São Paulo como requisito parcial para

conclusão da Graduação do curso de

Engenheira Química.

Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira

LORENA

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca

Escola de Engenharia de Lorena

Yassuhara, Bruna Hopka Proposta de melhoria para redução de número de matérias-primas em uma

indústria metalúrgica/ Bruna Hopka Yassuhara. - Lorena, 2014.

48f.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de

Graduação de Engenharia Química - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo.

Orientador: Marco Antonio Carvalho Pereira

1.Controle de estoques 2. Manufatura enxuta 3. Eficiência organizacional 4.

Desenvolvimento organizacional 5. Valor adicionado I. Pereira, Marco Antonio

Carvalho, Orient.

AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela oportunidade de terminar mais uma etapa da minha vida.

Presença constante no meu dia-a-dia, fonte de inspiração, motivação e sabedoria.

À minha família ALMIR AKIRA YASSUHARA, SARA SOLEDAD HOPKA

YASSUHARA e ÉRIKA HOKA YASSUHARA, pelo apoio para seguir em frente e

enfrentar todos os obstáculos encontrados durante essa jornada.

Ao meu orientador Profº Dr. MARCO ANTONIO CARVALHO PEREIRA, por

acreditar no meu potencial, pela imensa ajuda, paciência, prontidão e

disponibilidade. Obrigada pela ajuda e amizade durante todo esse tempo.

À GKN Sinter Metals, pela oportunidade de desenvolver o trabalho na

empresa e a todos os colaboradores que direta ou indiretamente me ajudaram, em

especial ao IGOR PAVLAK, por toda a disponibilidade e cooperação oferecida

durante o desenvolvimento do trabalho.

Aos meus amigos, pela amizade inquestionável, pelos bons momentos

compartilhados e pelo apoio para atravessar as dificuldades encontradas durante o

curso.

Enfim, a todos que de alguma maneira contribuíram na realização deste

objetivo.

“O sucesso nasce do querer, da

determinação e persistência em se chegar a

um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo,

quem busca e vence obstáculos, no mínimo

fará coisas admiráveis.”

(José de Alencar)

RESUMO

YASSUHARA, B. H. Proposta de melhoria para redução de número de

matérias-primas em uma indústria metalúrgica. 2014. 48 f. Trabalho de

conclusão de curso de Engenharia Química – Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

Para manterem-se competitivas no mercado, as empresas precisam sempre

buscar a excelência dos produtos e serviços e a redução de custos. Com isso, o uso

da metodologia Lean Thinking é cada vez maior devido ao grande desafio deste

século, que é aumentar o desempenho e a lucratividade das empresas além de

satisfazer os desejos dos consumidores. O presente trabalho apresenta um estudo

de caso realizado em uma indústria localizada no interior do estado de São Paulo,

Hortolândia, para qual foi feita uma proposta de melhoria de redução do número de

itens de matérias-primas em estoque, com o objetivo de se reduzir custos referentes

ao inventário parado. Após levantamento de dados, verificou-se que apenas 17 das

51 matérias-primas que são utilizadas na indústria são responsáveis por 90% do

consumo da empresa, ou seja, as outras 34 matérias-primas são pouco consumidas

e representam um estoque de baixa rotatividade. Utilizando ferramentas da

qualidade e através de estudos da composição química das matérias-primas, foi

elaborada uma proposta de melhoria para substituição das matérias-primas de baixo

consumo por outras de alto consumo na empresa, a fim de reduzir o número total de

51 para 31 itens diferentes. Essas substituições propostas foram classificadas de

acordo com o seu nível de dificuldade em serem realizadas: tarefas fáceis,

intermediárias e difíceis. E após elaboração da proposta de melhoria foram apurados

todos os ganhos, diretos e indiretos, que a empresa de estudo poderá vir a ter com

as mudanças propostas neste trabalho, como redução do espaço físico necessário

para estocagem, redução de custos de manutenção de estoque, aumento da

qualidade das matérias-primas e aumento do poder de negociação com o

fornecedor.

Palavras chaves: Lean thinking, melhoria contínua, estoque, matéria-prima.

ABSTRACT

YASSUHARA, B. H. Improvement proposal to reduce the number of raw

materials in a metallurgical industry. 2014. 48 p. Final paper for Chemical

Engineering – Engineering School of Lorena, University of São Paulo, Lorena, 2014.

To remain competitive in the market, companies must always strive towards

excellence of products and services and cost reduction. For this reason, the use of

“Lean Thinking” is increasing due to the great challenge of this century, which is to

increase the performance and profitability of businesses as well as take into

consideration customer satisfaction. This paper presents a case study in an industry

located in Hortolândia, in the state of São Paulo, where a proposal for improvement

was submitted in order to reduce the number of items of raw materials in stock,

reducing, therefore, costs related to standing inventory. After data collection, it was

found that only 17 of the 51 raw materials that are used in the industry are

responsible for 90% of consumption of the company; in other words, the remaining

34 raw materials are considered slow-moving stock due to their low rate of

consumption within the company. Using quality tools and previous studies of the

chemical composition of raw materials, an improvement proposal was developed to

substitute raw materials that have low consumption for others that have high

consumption, in order to reduce the total number from 51 to 31 items. All the

proposed substitutions were classified according to the level of difficulty of their

implementation: easy, intermediate and difficult tasks. After listing all the possible

changes, this paper presents all the possible gains and benefits, direct and indirect,

that the company in study is likely to have, such as reduction of physical space,

reduction in maintenance costs of inventory, better quality of raw materials and

increased bargaining power with the provider.

Key-words: Lean thinking, continuous improvement, inventory, raw materials.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma do Processo de Metalurgia do Pó .................................. 19

Figura 2- Fluxograma de Processo - Metalurgia do Pó Convencional ................ 20

Figura 3 - Misturas de pós metálicos e peças produzidas a partir destas .......... 21

Figura 4 - Motivos para usar a Metalurgia do Pó ............................................... 22

Figura 5 - Localização da GKN Sinter Metals no mundo .................................... 23

Figura 6 – Visão aérea do site da GKN Sinter Metals - Hortolândia – SP .......... 24

Figura 7 - Área de estocagem de matérias-primas ............................................ 28

Figura 8 - Diagrama de Pareto - Consumo de matéria-prima ............................. 32

Figura 9 - Planilha de teste ............................................................................... 38

Figura 10 - Diagrama de Pareto futuro - Consumo de matéria-prima ................. 42

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Exemplo do controle de inventário de matéria-prima ............................. 29

Quadro 2 - Consumo de matéria-prima ..................................................................... 31

Quadro 3 - Normas MPIF com Fe e C. ...................................................................... 34

Quadro 4 - Normas MPIF com Fe, Cu e C ................................................................ 34

Quadro 5 - Normas MPIF com Fe, C, Ni, Cu, Mo e Mn ............................................. 35

Quadro 6 – Matérias-primas que não atendem a nenhuma Norma MPIF ................. 35

Quadro 7 - Possíveis substituições de matérias-primas ............................................ 37

Quadro 8- Economia financeira para troca de matérias-primas ................................ 40

Quadro 9 - Economia financeira por nível de dificuldade .......................................... 41

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................. 11

1.2 JUSTIFICATIVAS ........................................................................................... 12

1.3 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 13

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 14

2.1 LEAN THINKING ............................................................................................ 14

2.2 FERRAMENTAS DA QUALIDADE ................................................................. 16

2.3 KAIZEN ........................................................................................................... 16

2.4 ESTOQUE ...................................................................................................... 17

2.5 METALURGIA DO PÓ .................................................................................... 18

2.5.1 Definição e histórico ............................................................................... 18

2.5.2 Processo de fabricação ......................................................................... 18

2.5.3 Misturas de pós - matérias-primas ......................................................... 20

2.5.4 Benefícios e aplicações ......................................................................... 21

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 23

3.1 EMPRESA ....................................................................................................... 23

3.2 MÉTODO DE PESQUISA ............................................................................... 24

3.3 UNIVERSO (POPULAÇÃO E AMOSTRA) ...................................................... 25

3.4 COLETA DE DADOS ...................................................................................... 25

3.5 ANÁLISE DE DADOS ..................................................................................... 26

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 27

4.1 COLETA DE DADOS ...................................................................................... 27

4.1.1 Reunião com coordenador de lean manufacturing ................................ 27

4.1.2 Observação in loco e/ou in modus operandi e sistema BAAN ............... 27

4.1.3 Reuniões com o engenheiro de processo e materiais e com o chefe do

departamento de logística ............................................................................... 28

4.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS............................................................ 30

4.2.1 Classificação das matérias-primas ........................................................ 30

4.2.2 Proposta de melhoria ............................................................................. 35

4.2.3 Proposta de planilha de testes ............................................................... 37

4.3 GANHOS PREVISTOS COM A PROPOSTA DE SUBSTITUIÇÃO DE

MATÉRIAS- PRIMAS ............................................................................................ 38

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 43

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44

APÊNDICE A ............................................................................................................. 47

APÊNDICE B ............................................................................................................. 48

11

1 INTRODUÇÃO

Este capítulo trata dos elementos introdutórios ao trabalho apresentado.

Subdivide-se em: Contextualização, Justificativas, Objetivo geral e Objetivos

específicos.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Visto que o mundo está cada vez mais competitivo, há a necessidade das

empresas se diferenciarem e apresentarem cada vez mais uma gestão estratégica

de produção de seus produtos e serviços. A aplicação de ferramentas Lean está

relacionada com um dos grandes desafios da engenharia para este século, que é

aumentar expressivamente o desempenho e a lucratividade das empresas, por meio

da melhoria da qualidade de produtos e processos e do aumento da satisfação de

clientes e consumidores.

Dentro da filosofia Lean se faz o uso de programas e ferramentas da

qualidade, que são recursos utilizados para dar suporte à solução de problemas e

tomadas de decisão, criando assim ações contínuas para a melhoria dos processos

organizacionais. Atualmente, muitas empresas usam estes recursos da qualidade

para buscar acesso a novos mercados, melhorar a imagem organizacional,

aumentar a produtividade e diminuir tanto a taxa de produtos e serviços defeituosos

quanto os custos e despesas desnecessárias na indústria.

Além da necessidade do aumento da produtividade e da qualidade, há a

busca pela melhoria contínua. Para isso, muitas empresas se baseiam nas

metodologias do Lean Thinking, responsável, em grande parte dos casos, pelo

sucesso dos programas de qualidade.

O Lean Thinking teve sua origem na Toyota no final da Segunda Guerra

Mundial e, atualmente, é um dos programas de melhoria mais populares e mais

usados no mundo. Womack e Jones (1996) definem as práticas do Lean Thinking

como o conjunto de ações contínuas a fim de especificar corretamente o valor sob a

ótica do cliente final, eliminando o que gera desperdício e fazendo com que as

atividades que agregam valor ocorram em um fluxo contínuo puxado pelo cliente.

12

Nos sistemas produtivos existem vários tipos de perdas, tais como: máquinas

e matérias-primas paradas, superprodução, defeitos de produtos, tempo ocioso,

transportes, reprocessamentos, movimentos desnecessários, entre outros. Com o

intuito de eliminar/reduzir as perdas inerentes a todo processo produtivo, cada vez

mais empresas implementam o Lean Thinking, pois segundo Maia (2009), esta

filosofia de produção tem como objetivo a incessante busca e eliminação dessas

perdas, além de se adaptar muito bem a flutuações de demanda e a um mix de

produtos muito grande, encaixando-se na situação vivida pela maior parte das

empresas atuais.

Para compreender os aspectos significativos desta metodologia e estudar a

sua aplicação prática em uma indústria metalúrgica, o presente trabalho apresenta

os principais conceitos relacionados ao Lean Thinking. Em seguida, apresentará um

estudo de caso realizado em uma indústria localizada no interior do estado de São

Paulo, Hortolândia, para qual foi feita uma proposta de melhoria com redução do

número de itens de matérias-primas em estoque, com o objetivo de se reduzir custos

referentes ao inventário parado. E por último, será feita uma análise comparativa

entre a atual situação da indústria e a proposta de melhoria, de forma a se calcular

todos os ganhos diretos e indiretos que este projeto pode chegar.

1.2 JUSTIFICATIVAS

No ambiente empresarial, a gestão de estoque é responsável por direcionar o

bom ou mal desempenho de uma empresa, pois o bom gerenciamento torna a

empresa competitiva, sendo este um fator determinante para o sucesso em um

mercado de grande concorrência.

A gestão de estoque é uma ferramenta importante para equilibrar os

interesses da empresa em disponibilizar rapidamente produtos para superar as

expectativas dos clientes e reduzir os custos com o armazenamento de matérias-

primas e produtos desnecessários. Sendo assim, o Lean Thinking, sistema cujo foco

é voltado para redução de desperdícios, será o tema deste trabalho.

Nos dias atuais, as empresas investem parte de seus recursos em melhoria

de processos e readequações de suas práticas de gestão. Tais implementações

proporcionam menos custo na produção do produto final, possibilitando um preço de

13

venda mais competitivo e um lucro maior. Portanto, o presente trabalho foi motivado

pela possibilidade de redução dos gastos relativos ao estoque de matéria-prima e

desta forma poder trazer melhorias para a indústria estudada.

1.3 OBJETIVO GERAL

Propor melhorias para o sistema de gestão de matérias-primas de uma

indústria metalúrgica a fim de reduzir os gastos relativos ao estoque de matéria-

prima.

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Propor substituições de matérias-primas de baixo consumo na indústria por

outras de alto consumo a fim de reduzir o número de itens parados em

estoque.

Apurar os possíveis ganhos, diretos e indiretos, que a empresa de estudo

poderá vir a ter com as mudanças propostas neste trabalho.

14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo apresenta conceitos básicos e as principais definições utilizadas

no Lean Thinking, assim como definições sobre a tecnologia utilizada na empresa de

estudo, a metalurgia do pó, cujo entendimento é de fundamental importância para a

realização deste trabalho.

2.1 LEAN THINKING

O Lean Thinking, também conhecido como “Pensamento Enxuto”, teve origem

na década de 50 no Japão pelo Sistema Toyota de Produção, que visava produzir

carros mais baratos para um país pós Segunda Guerra Mundial (GIANNINI, 2007). É

uma técnica que permite a qualquer tipo de empresa eliminar desperdícios onde

quer que eles estejam e melhorar a satisfação do cliente, fazendo com que ele

receba somente o produto ou serviço que deseja, na quantidade requisitada e no

momento certo.

É também uma filosofia e uma estratégia de negócios para aumentar a

satisfação dos clientes, utilizando melhor os recursos. A gestão lean procura

fornecer, de forma consistente, valor aos clientes com os custos mais baixos,

identificando e sustentando melhorias nos fluxos de valores primários e secundários,

por meio do envolvimento das pessoas qualificadas, motivadas e com iniciativa

(LEAN INSTITUTE, 2013).

Segundo Giannini, (2007), “desperdícios são considerados perdas e, analisar

as perdas, é um aspecto bastante relevante nas empresas, por se tratarem de fortes

oportunidades para melhoria de produtividade”. E com isso, o Lean Thinking é uma

forma de se fazer mais com menos: menos esforço humano, menos equipamento,

menos tempo e menos espaço físico, estando cada vez mais próximo do que os

clientes desejam (WOMACK E JONES, 1998).

Os sete tipos de perdas, que devem ser eliminadas, em um sistema de

manufatura, segundo Gianini (2007) são:

Superprodução: perda oriunda da produção além da quantidade

requisitada pelo mercado, gerando estoques e consumo excessivo de

material.

15

Tempo de espera: caracterizam-se pelos períodos de tempo em que, por

motivos diversos, homens ou equipamentos não estejam sendo utilizados

de forma produtiva.

Transporte: o transporte representa gastos de recursos financeiros e de

tempo, mas não agregam valor ao produto. Considera-se transporte o

deslocamento de materiais de fornecedores até a empresa, da empresa

até o cliente ou entre os departamentos da empresa.

Processo: consiste na execução de atividades de processos

desnecessárias para que o produto atinja as características desejadas

pelo cliente. O processo de fabricação em si pode gerar perdas, como, por

exemplo, retrabalhos.

Estoque: estoques excessivos podem aumentar o custo de um produto,

além de ocupar espaço físico, exigir funcionários e sistemas de controle.

Movimento: pode-se dizer que “movimentar-se” não significa “produzir”. O

lay-out do ambiente de trabalho pode exigir movimento excessivo de

operadores, o que aumenta o custo de mão-de-obra no produto.

Produtos defeituosos: quando um produto é rejeitado por apresentar

defeitos ou por não atender às especificações de projeto, o tempo gasto

na fabricação é uma perda. Ainda, quando um equipamento apresenta um

defeito, o operador da estação de trabalho precisa aguardar o conserto,

sendo o desenvolvimento de seu trabalho prejudicado.

Como benefícios da filosofia Lean, tem-se o aumento da produtividade da

mão de obra; a redução de erros internos e externos que chegam aos clientes; a

redução de sucatas dentro do processo de produção; a redução de acidentes; a

redução do tempo de produção e a possibilidade de produzir uma maior variedade

de produtos.

O processo de implantação da metodologia além de benefícios também traz

muitas dificuldades, como a resistência da cultura organizacional, falta de

comprometimento e envolvimento de todos os colaboradores, custos da implantação

e falta de compreensão dos requisitos da norma (NADAE; OLIVEIRA; OLIVEIRA,

2009). Segundo Jeyaraman e Teo (2010), o sucesso desta integração depende de

alguns fatores críticos como o compromisso da liderança e a cultura organizacional

da empresa.

16

2.2 FERRAMENTAS DA QUALIDADE

A utilização dos programas e ferramentas da qualidade é uma maneira de

identificar onde estão os problemas, sua extensão e a forma de solucioná-los. Pode

ajudar na obtenção de sistemas que assegurem uma melhoria contínua de todo o

processo, por meio de diagramas, gráficos, filosofias e instrumentos que auxiliam na

identificação de gargalos e falhas. Com isso, existe a possiblidade de antecipar e

sanar problemas que possam ocorrer (NADAE; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2009).

O sucesso na utilização das ferramentas gerenciais está diretamente ligado à

disponibilidade, acesso, registro, qualidade da informação e envolvimento de todos

na organização. O uso da informação para controle e avaliação dos resultados ao

final de cada processo, associado à autonomia dada aos funcionários para a tomada

de decisão com base no uso de ferramentas gerenciais, gera agilidade no processo

produtivo pela solução rápida de problemas e comparação de resultados, podendo

modificar ou confirmar os objetivos e os recursos empregados durante o mesmo.

Desse modo, as ferramentas gerenciais aliadas à informação passam a ser parte

integrante do processo de administração estratégica (PONGELUPPE, 2002).

Para controle da qualidade, Kaoru Ishikawa organizou sete ferramentas que

podem ser utilizadas em conjunto ou separadamente, são elas: Diagrama de Pareto,

Diagrama de Causa e Efeito, Histograma, Folha de verificação, Gráfico de

Dispersão, Fluxograma e Carta de Controle.

2.3 KAIZEN

A palavra Kaizen é de origem japonesa, em que kai significa “mudar” e zen

“melhor”, resultando em “Melhoria Contínua” no português. A metodologia Kaizen foi

desenvolvida e aplicada pelo engenheiro Taichi Ohno e ficou mundialmente

conhecida e respeitada devido a sua intensa aplicação no Sistema Toyota de

Produção, que se baseava em esforços contínuos para melhoria do sistema

(FONTE, 2008).

Para que possa ter uma intensa melhoria, o Kaizen é uma ferramenta

amplamente utilizada pelas empresas no mundo todo. Trata-se de um projeto de

17

curto prazo focado para melhorar um processo (BARBOZA, 2011). Esta ferramenta

enfatiza a utilização de esforços humanos, comunicação, trabalho em equipe,

treinamento e envolvimento, sendo uma abordagem de baixo custo à melhoria

(HANASHIRO, 2005).

Estes projetos Kaizen podem estar relacionados com o aumento da

produtividade, redução de custos, aumento da qualidade, redução de estoques,

motivação dos colaboradores, flexibilidade da produção, entre outros. As

organizações que conseguem colocar em prática estes projetos apresentam

vantagens competitivas e alto grau de excelência operacional.

2.4 ESTOQUE

A gestão de estoque é utilizada desde os primórdios da administração. O

estoque, também chamado de recursos materiais, ocorre em operações produtivas

porque os ritmos de fornecimento e de demanda nem sempre andam juntos. Os

estoques são usados para atender às necessidades decorrentes das diferenças

entre fornecimento e demanda na produção (VASCONCELOS, 2009).

A gestão de estoque nos dias de hoje é um meio de ganhar vantagem diante

da concorrência no mundo atual, pois com ela pode-se planejar e controlar o

estoque, desde a matéria-prima até o produto final, evitando assim, riscos e

prejuízos por falta de material e, impedir a obsolescência e custos altos de

manutenção quando se possui grandes estoques.

Segundo Corrêa (2001 apud RODRIGUES; FERNANDES, 2009), estoque é

um elemento gerencial essencial na administração das empresas. Para ele existem

vários tipos de estoques: estoques de matérias-primas, de material semi-acabado e

de produto acabado. Os estoques de matérias-primas constituem os insumos e

materiais básicos que ingressam no processo produtivo da empresa. São os itens

iniciais para a produção dos produtos/serviços da empresa (CHIAVENATO, 1991).

Segundo Dias (1993 apud RODRIGUES; FERNANDES, 2009), o principal

objetivo do estoque é a otimização do seu investimento. O valor varia conforme o

armazenamento, onde os produtos com giro menor apresentam um custo maior,

sendo que as empresas que possuem grandes estoques comprometem seus

recursos de giro.

18

Qualquer material estocado na organização acarretará em custos que

afetarão o valor do produto final. Dependendo de quanto maior for a quantidade e o

tempo que o material ficar parado, maior será o custo referente à estocagem.

2.5 METALURGIA DO PÓ

2.5.1 Definição e histórico

A metalurgia do pó, técnica utilizada na empresa de estudo, é um processo de

produção de peças metálicas a partir da sinterização de um componente

compactado utilizando uma mistura de pó de metais.

O uso da metalurgia do pó em larga escala teve início na virada do século

passado com a produção industrial de metais de alto ponto de fusão como o

tungstênio e o molibdênio, para os quais não existiam equipamentos de

fundição apropriados. O crédito para este desenvolvimento se deve à

indústria de fabricação de filamentos para lâmpadas e indústria elétrica.

Mesmo o uso posterior de fornos de fusão mais sofisticados, teve pouco

impacto na produção das ligas feitas por metalurgia do pó, isto por que não

se conseguia obter a fina estrutura de grãos e ductilidade do sinterizado. No

final de 1920, quando problemas relacionados à sinterização a vácuo foram

resolvidos, se iniciou a fabricação de produtos à base de tântalo, bastante

conhecido por sua alta resistência ao ataque químico, particularmente

adequado para aplicações eletrônicas (CREMONEZI et al., 2009).

Atualmente a metalurgia do pó é considerada um processo de manufatura de

peças e componentes totalmente consolidado e maduro, com destaque importante

na indústria, por ser considerada altamente avançada, econômica e ecológica.

2.5.2 Processo de fabricação

O processo de fabricação consiste basicamente em duas etapas. A primeira é

a compressão da mistura de pós em matrizes, chamada de compactação. Já a

segunda etapa consiste no aquecimento para produzir as ligações entre as

partículas, chamada de sinterização. Estas duas etapas são essenciais para

qualquer tipo de processo referente à metalurgia do pó, no entanto, podem ou não

19

ocorrer operações complementares como calibragem, cunhagem, usinagem,

tratamento térmico, entre outras.

As Figuras 1 e 2 mostram fluxogramas do processo da Metalurgia do Pó.

Figura 1 - Fluxograma do Processo de Metalurgia do Pó

Elementos de ligaPós metálicos elementares

Pós metálicos ligadosLubrificantes

MISTURA

IsostáticaExtrusãoUniaxialSpray

Compactação a quente

UniaxialMoldagem por injeção

UniaxialIsostáticaRolagemMoldagem por injeção

Compactação a morno

Compactação a frio

Forno Contínuo ou Lote (Batch)Atmosfera ou Vácuo

SINTERIZAÇÃO

CalibragemCunhagemUsinagemForjamentoTratamento térmicoTratamento de superfícieRebarbaçãoImpregnaçãoInfiltraçãoJateamento

OPERAÇÕES COMPLEMENTARES

PRODUTO ACABADO

Fonte: (adaptado de CREMONEZI et al., 2009)

20

Figura 2- Fluxograma de Processo - Metalurgia do Pó Convencional

Fonte: PALLINI (2009)

2.5.3 Misturas de pós - matérias-primas

A operação de mistura consiste em homogeneizar as diversas matérias-

primas que irão compor o material sinterizado, o que inclui pós metálicos, elementos

de liga e lubrificantes. A mistura deve atender à composição química especificada,

além de se adequar às demais propriedades desejadas para a mistura de pós, tais

como densidade aparente e escoabilidade (CREMONEZI et al., 2009).

Diversas propriedades de misturas de pós e de peças sinterizadas podem ser

sensíveis mesmo a pequenas mudanças na granulometria de pós e a flutuações nas

concentrações de componentes da mistura de pós. A flutuação da composição

química ou granulométrica pode ser designada, em casos de maior intensidade,

como segregação (CREMONEZI et al., 2009).

A Figura 3 mostra exemplos de misturas de pós metálicos e algumas peças

produzidas a partir destas.

21

Figura 3 - Misturas de pós metálicos e peças produzidas a partir destas

Fonte: Manutenção e Suprimentos, 2014

2.5.4 Benefícios e aplicações

A metalurgia do pó é aplicada em vários produtos do nosso dia a dia, como

indústrias automobilísticas, eletrodomésticos, ferramentas elétricas e equipamentos

para jardinagem, buchas autolubrificantes, metais duro, aços ferramenta e aços

rápidos, filtros metálicos sinterizados, materiais de fricção, materiais cerâmicos,

filamentos de tungstênio para lâmpadas, contatos elétricos, eletrodos para solda a

arco, materiais supercondutores, imãs, bens de consumo, peças especiais,

aplicações médicas e dentárias, indústrias alimentícias e farmacêuticas, entre

outras.

Segundo Cremonezi et al (2009), a metalurgia do pó apresenta os seguintes

benefícios no todo ou em parte, dependendo sempre da aplicação e da peça:

Nível baixo de consumo energético e de menor impacto ambiental se

comparado aos processos de manufatura convencionais;

Desenvolvimento de ampla variedade de sistemas de ligas, inclusive de

sistemas não possíveis de serem obtidos por outros processos de

manufatura;

Eliminação ou minimização da usinagem;

22

Eliminação ou minimização de refugo;

Fonte de porosidade controlada para aplicações de autolubrificação e

filtragem;

Facilitação na produção de peças de formato mais complexo ou único.

A Figura 4 mostra os benefícios em consumo de energia e uso da matéria-

prima em se utilizar a Metalurgia do Pó.

Fonte: (adaptado de CREMONEZI et al., 2009)

Figura 4 - Motivos para usar a Metalurgia do Pó

23

3 METODOLOGIA

3.1 A EMPRESA

A GKN Sinter Metals, empresa metalúrgica na qual o trabalho foi realizado, é

uma multinacional de capital aberto, que opera em mais de 30 instalações no mundo

inteiro oferecendo aos seus clientes uma vasta gama de produtos sinterizados,

tecnologias e serviços, que se estende desde a engenharia e consultoria ao

desenvolvimento de produtos, testes e fabricação de componentes mais complexos.

A GKN Sinter Metals tem suas fábricas e serviços localizados na África do

Sul, Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, China, Espanha, Estados Unidos, França,

Índia, Itália, Japão, Reino Unido e Suécia. Na Figura 5 pode-se observar como está

a distribuição da empresa no mundo.

Figura 5 - Localização da GKN Sinter Metals no mundo

Fonte: (GKN, 2014a)

No Brasil, a planta operacional (Figura 6) foi fundada em 2002 no município

de Hortolândia-SP. Hoje, a empresa conta com 302 colaboradores, trabalhando em

24

quatro turnos de trabalho, sendo um administrativo e três de produção. O presente

estudo será realizado na área de estocagem de misturas de pós metálicos.

Figura 6 – Visão aérea do site da GKN Sinter Metals - Hortolândia – SP

Fonte: (GKN, 2014b)

3.2 MÉTODO DE PESQUISA

Segundo Selltz (1975 apud MIGUEL, 2011), uma pesquisa pode ter os

seguintes macro objetivos: familiarizar com um fenômeno ou conseguir uma nova

compreensão sobre ele; apresentar informações sobre uma dada situação, grupo ou

entidade; verificar a frequência com que algo ocorre ou como se liga a outros

fenômenos; verificar uma hipótese de relação causal entre variáveis. Geralmente, as

pesquisas costumam apresentar as quatro características citadas acima.

A presente pesquisa é classificada do ponto de vista de seus procedimentos

técnicos como um estudo de caso (caso único) e possui uma abordagem qualitativa

que tem como objeto uma unidade que será analisada. Segundo Miguel e Sousa

(2012), o estudo de caso é um estudo empírico que investiga um determinado

fenômeno, geralmente contemporâneo (atual), dentro de um contexto real, quando

as fronteiras entre o fenômeno e o contexto em que ele se insere não são

claramente definidas.

Os resultados obtidos no estudo de caso devem ser provenientes da

convergência ou da divergência das observações obtidas de diferentes

procedimentos. Dessa maneira é que se torna possível conferir validade ao estudo,

evitando que ele fique subordinado à subjetividade do pesquisador (GIL, 2002).

25

Este trabalho apresenta uma análise do sistema de gestão de matérias-

primas da indústria em estudo. Após a coleta de dados, é realizada uma análise das

relações entre as variáveis para uma posterior determinação dos efeitos resultantes

na empresa, sistema de produção ou produto. Desta forma, será feita uma proposta

de melhoria, a fim de se reduzir o número de itens de matérias-primas em estoque,

aplicando o Lean Thinking.

3.3 UNIVERSO (POPULAÇÃO E AMOSTRA)

O universo de análise é a planta industrial da empresa GKN Sinter Metals,

localizada no município de Hortolândia – SP, sendo o trabalho desenvolvido na área

de estocagem de matérias-primas da empresa e contando com a ajuda de

colaboradores específicos relacionados ao projeto, como gestor da área de

qualidade, coordenador de Lean Manufacturing, engenheiro responsável pelo

processo e materiais e o chefe do departamento de logística.

3.4 COLETA DE DADOS

O processo de coleta de dados no estudo de caso é um pouco mais complexo

do que em outras modalidades de pesquisa, pois é fundamental a utilização de mais

de uma técnica de pesquisa para garantir a qualidade dos resultados obtidos.

A coleta de dados foi realizada por meio de análise de documentos, reuniões

com colaboradores e observações e visitas ao chão da fábrica para verificar in loco

e/ou in modus operandis o fenômeno estudado.

A análise de documentos foi feita tendo como base os dados registrados em

diários, relatórios de fabricação de produtos e do sistema de gestão da empresa

(BAAN1). Esses registros foram utilizados principalmente para levantamento de

dados estatísticos e técnicos. Segundo Gil (1995 apud MASTER, 2010), as fontes

escritas na maioria das vezes são muito ricas e ajudam o pesquisador a não usar

1 BAAN é um software pertencente à Enterprise Resource Planning, originalmente desenvolvido por Jan Baan na Holanda na década de 1970. Este software busca integralizar os processos empresariais, incluindo manufatura, contabilidade, recursos humanos e gestão de relacionamento com clientes, em um único e coerente sistema.

26

muito tempo na hora da busca de material em campo, sabendo que em algumas

circunstâncias só é possível a investigação social através de documentos.

As reuniões com colaboradores, por sua vez, foram realizadas com pessoas

de diferentes hierarquias dentro da empresa. Foram feitas reuniões com o gestor da

qualidade, coordenador de Lean Manufacturing, engenheiro responsável pelo

processo e materiais e com o chefe do departamento de logística.

Foram feitas visitas ao chão da fábrica para se verificar, in loco e/ou in modus

operandis, a atual situação da área de estocagem e registrar as observações

inerentes ao processo.

3.5 ANÁLISE DE DADOS

A análise de dados consiste em examinar, categorizar e dispor os dados em

meios de fácil visualização e entendimento.

Logo após a coleta dos dados, estes foram examinados e identificados quanto

ao modo como foram colhidos, data, hora, local e pessoas participantes. Em

seguida, foram organizados de acordo com o melhor meio de visualização e

interpretação dos mesmos.

As reuniões realizadas foram sempre transformadas em atas no formato de

texto e arquivadas. A análise dos documentos foi apresentada em formato de texto,

tabelas, gráficos, fluxogramas e figuras, de acordo com cada conteúdo selecionado.

As observações in loco, por sua vez, seguiram o mesmo critério da análise

dos documentos, mas focando em fotos e registros das atividades.

Após organização dos dados, foi feito um estudo para encontrar a melhor

maneira de se reduzir o número de itens de matérias-primas na área de estocagem,

interligando os conceitos teóricos adquiridos à prática na indústria, de modo a se

atingir o objetivo deste trabalho.

27

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 COLETA DE DADOS

4.1.1 Reunião com coordenador de lean manufacturing

Primeiramente, foi realizada uma reunião com o coordenador de Lean

Manufacturing para entendimento de quais seriam o objetivo e a meta da empresa

perante a redução de estoque de matéria-prima. Segundo ele, a empresa vem

realizando vários projetos Kaizen. Entre eles, ela realizou um no qual o inventário de

matérias-primas foi reduzido de 300 toneladas para aproximadamente 240, fazendo

mudanças no planejamento da logística. No entanto, a empresa ainda vê

necessidade de uma redução maior.

Portanto, o objetivo da empresa é realizar um novo projeto (Kaizen) com o

intuito de reduzir o número de misturas de diferentes pós metálicos, utilizadas como

matérias-primas, já que muitas devido ao baixo consumo anual se encontram

paradas no estoque, ocupando espaço e gerando um custo que não agrega valor ao

produto final. A meta seria reduzir ou eliminar todas as matérias-primas que

possuem pouca utilização na indústria.

4.1.2 Observação in loco e/ou in modus operandi e sistema BAAN

Após definidos objetivo e meta, foi realizada uma visita à área de estocagem

da indústria para entendimento das necessidades da empresa e noção do espaço,

que é ocupado pelas matérias-primas paradas no estoque.

A Figura 7 ilustra a atual área de estocagem de matérias-primas da empresa.

28

Figura 7 - Área de estocagem de matérias-primas

Fonte: Elaborada pela autora

Após observações no chão da fábrica, foi feita a coleta de dados de todas as

matérias-primas cadastradas no sistema BAAN, sistema de gestão utilizado pela

empresa. Verificou-se, pelo sistema BAAN, que estão cadastrados 120 códigos de

matérias-primas e, para cada código foi levantado o consumo anual e os respectivos

produtos produzidos a partir dele.

Para finalizar as observações no chão da fábrica, houve registro com fotos da

atual situação da área de estocagem da indústria. Após implementação do projeto,

estas poderão ser comparadas com arquivos futuros.

4.1.3 Reuniões com o engenheiro de processo e materiais e com o chefe do

departamento de logística

Para levantamento da composição química e morfológica das misturas de pós

metálicos, know how da empresa, foram realizadas reuniões com o engenheiro de

processo e materiais, para entendimento de toda a parte técnica do processo. Esta

parte do trabalho foi considerada uma das mais importantes, pois foi nela que foram

29

discutidas todas as particularidades das misturas de pós e discutidas possíveis

substituições das matérias-primas de baixo consumo por outras de grande consumo

na empresa.

Essas reuniões tiveram uma duração média de uma hora e ocorreram de uma

a duas vezes por semana, em dias aleatórios, durante sete semanas. Foram

extremamente importantes para conhecimento das misturas de pós e características

dos produtos finais produzidos a partir delas.

A última reunião foi seguida de uma apresentação na empresa para mostrar o

andamento do projeto e, portanto, além do engenheiro de processo também

participaram alguns colaboradores relacionados com o tema como, coordenador de

lean manufacturing, gestores da qualidade, engenharia e produção/manufatura,

assim como, o diretor geral da empresa.

Para as informações de quantidade de matéria-prima em estoque e obsoleta,

pediu-se a ajuda do chefe do departamento de logística. Houve uma única reunião

com duração aproximada de duas horas, na qual também participou o engenheiro de

processo.

Nessa reunião se teve acesso ao modo como é feito o controle da quantidade

de matéria-prima em estoque, que é realizado pelo sistema Kanban2 direto com o

fornecedor. Esse sistema foi elaborado em uma planilha de Excel, conforme o

Quadro 1. Neste quadro, dependendo da quantidade de matéria-prima presente em

estoque e dependendo do planejamento da produção, há uma gestão visual com as

cores verde, amarelo e vermelho, as quais representam a não necessidade de um

novo pedido, necessidade de um novo pedido e urgência para um novo pedido,

respectivamente.

Quadro 1 – Exemplo do controle de inventário de matéria-prima

MATERIAL Qtt.Verde (t) Qtt.Amarelo (t) Qtt.Vermelho (t) Estoque Atual (kg) Sinalização

PP 11.108 1,4 0,9 0,6 2.000 Verde

PP 11.146 2,1 1,4 0,9 1.500 Amarelo

PP 11.198 0,7 0,5 0,3 4.000 Verde

PP 11.180 3,3 2,2 0,5 1.000 Vermelho

Fonte: GKN, 2014b.

2 O Kanban, palavra japonesa conhecida como cartão, tem como tradução literal “registro visível ou placa visível”. É uma técnica empregada nas indústrias para auxiliar o controle da produção através de um sistema puxado. Consiste no emprego de cartões, tanto para ordenar o centro produtor a produzir determinado produto em determinado momento, quanto para requisitar material de um centro produtor para um centro consumidor.

30

Na reunião também foram estudados todos os possíveis ganhos referentes à

redução de matéria-prima parada no estoque, e estruturadas as razões para que a

proposta de melhoria aqui apresentada seja implementada. Esses ganhos serão

apresentados no item 4.3.

4.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

4.2.1 Classificação das matérias-primas

Para verificação de quais matérias-primas estavam em uso atualmente na

empresa, levantou-se o consumo mensal através do sistema BAAN de cada matéria-

prima consumida durante o ano de 2013, pois não ocorreu alteração no processo

produtivo atual desde janeiro de 2013. A partir deste levantamento, verificou-se que

dos 120 códigos cadastrados apenas 51 estão sendo utilizados atualmente na

empresa. A partir dessa informação, as matérias-primas foram divididas em dois

grupos: o primeiro que engloba as 51 que estão sendo utilizadas na fabricação de

produtos na empresa atualmente e o segundo que engloba todas as outras que não

estão sendo utilizadas desde janeiro de 2013.

O foco deste trabalho foi, exclusivamente, o primeiro grupo, pois dentre as

matérias-primas que estão em uso atualmente, o objetivo era substituir todas as que

possuíam baixo consumo por outras de alto consumo na empresa. Para isso, foram

realizadas reuniões com o engenheiro de processo. Foi feito o levantamento de

dados do sistema BAAN, a fim de se anotar a composição de cada uma das

matérias-primas e em quais peças são utilizadas. Essas informações foram de

extrema importância, pois para propor a substituição de uma matéria-prima por outra

é preciso conhecimento técnico, teórico e profundo sobre as composições das

misturas de pós metálicos e como possíveis mudanças podem afetar a aplicação no

produto final.

Para melhor visualização e análise dos dados coletados foi elaborado o

Quadro 2, no qual as matérias-primas foram classificadas de acordo com o consumo

na empresa durante o ano de 2013 e separadas por cores. Neste quadro, as cores

verde, amarelo e vermelho representam um consumo grande, moderado e baixo das

matérias-primas, respectivamente.

31

Quadro 2 - Consumo de matéria-prima

Código matéria-prima Consumo anual em 2013 (%) Porcentagem

Acumulativa (%)

1 PP11.147 20,3

70%

2 PP11.115 12,2

3 PP11.102 11,2

4 PP11.192 7,3

5 PP11.173 5,9

6 PP11.135 4,8

7 PP11.176 4,3

8 PP11.213 4,3

9 PP11.301 3,2

20%

10 PP11.165 3,1

11 PP11.171 3,0

12 PP11.130 2,9

13 PP11.310 2,1

14 PP11.149 2,0

15 PP11.123 1,5

16 PP11.197 1,4

17 PP11.144 1,4

18 PP11.198 1,0

10%

19 PP11.202 1,0

20 PP11.109 0,9

21 PP11.146 0,7

22 PP11.108 0,7

23 PP11.134 0,5

24 PP11.177 0,4

25 PP11.180 0,4

26 PP11.208 0,4

27 PP11.166 0,4

28 PP11.107 0,3

29 PP11.142 0,3

30 PP11.139 0,3

31 PP11.101 0,2

32 PP11.194 0,2

33 PP11.163 0,2

34 PP11.106 0,2

35 PP11.187 0,2

36 PP11.153 0,1

37 PP11.214 0,1

38 PP11.154 0,1

39 PP11.155 0,1

40 PP11.164 0,1

41 PP11.162 0,1

42 PP11.113 0,1

43 PP11.211 0,1

44 PP11.124 0,1

45 PP11.161 0,1

46 PP11.167 0,0

47 PP11.509 0,0

32

(continuação)

Fonte: Elaborada pela autora

A partir dos dados no Quadro 2, foi elaborado um Diagrama de Pareto3

(Figura 8) do consumo anual de cada uma das 51 matérias-primas que são

utilizadas pela empresa. A Figura 8 ampliada está apresentada no Apêndice A para

melhor visualização.

Figura 8 - Diagrama de Pareto - Consumo de matéria-prima

Fonte: Elaborada pela autora

3 O Diagrama de Pareto é um gráfico de colunas, ordenadas do maior valor para o menor valor, de modo a priorizar os problemas através do Principio de Pareto, que diz que 80% das consequências advêm de 20% das causas.

Código matéria-prima Consumo anual em 2013 (%) Porcentagem

Acumulativa (%)

48 PP11.114 0,0

10% 49 PP11.191 0,0

50 PP11.137 0,0

51 PP11.201 0,0

TOTAL 100%

33

A análise do Quadro 2 revela que as 17 matérias-primas com maior consumo

(cores verde e amarelo) são responsáveis por 90% do consumo total da indústria. As

outras 34 matérias-primas utilizadas (cor vermelho) possuem um baixo consumo e

são responsáveis por apenas 10% do consumo total da empresa, ou seja, possuem

baixa rotatividade por serem pouco utilizadas, gerando assim, gastos altos com

estocagem, que não agregam valor ao produto final.

O foco para redução do número de itens de matérias-primas em estoque

deste trabalho foi a substituição das matérias-primas que pouco são utilizadas (cor

vermelha no quadro 2) por outras que possuem alto consumo na fábrica (cores

verde e amarela no quadro 2). No entanto, para elaboração da proposta de redução

de itens teve se que levar em consideração toda a composição química e

morfológica das matérias-primas de baixo consumo e aplicação final de cada peça

produzida, pois alguns produtos podem não ter a mesma funcionalidade quando

fabricados com uma composição diferente.

A partir da definição do problema, ou seja, quais as matérias-primas que

seriam analisadas, foi feito um levantamento de acordo com a Norma MPIF4 (Metal

Powder Industries Federation) e reuniões com o engenheiro da área de materiais,

para classificação das matérias-primas em grupos de acordo com a sua

especificação. As matérias-primas foram classificadas de acordo com os quadros 3 a

6, na qual a primeira coluna à esquerda mostra a norma de referência da MPIF,

depois aparecem as composições mínimas e máximas a serem cumpridas para cada

elemento da norma e, por último, as matérias-primas que pertencem a esta

determinada norma. A divisão em quadros foi feita de acordo com os elementos que

pertencem a cada norma para melhor visualização.

O Quadro 3 representa as normas que possuem o ferro como metal base e

carbono adicionado à mistura de pós.

4 A norma MPIF classifica as matérias primas da metalurgia do pó de acordo com a sua composição, apresentando sempre um limite mínimo e máximo de concentração para cada elemento químico presente em cada norma, assim como os valores típicos das propriedades mecânicas para cada faixa de composição.

34

Quadro 3 - Normas MPIF com Fe e C.

Base C

Mínimo (%) Fe 0.0

Máximo (%) Fe 0.3

Mínimo (%) Fe 0.3

Máximo (%) Fe 0.6

Mínimo (%) Fe 0.6

Máximo (%) Fe 0.9

NormaComposição

Códigos de Matérias PrimasF

-0005

PP11.214 PP11.162

F-0

000

F-0

008

PP11.147 PP11.149 PP11.108

PP11.130 PP11.310 PP11.139 PP11.161

PP11.301PP11.102 PP11.213

Fonte: Elaborado pela autora

O Quadro 4 representa as normas que possuem o ferro como metal base e

cobre e carbono adicionados à mistura de pós metálicos.

Quadro 4 - Normas MPIF com Fe, Cu e C

Base Cu C

Mínimo (%) Fe 1.5 0.0

Máximo (%) Fe 3.9 0.3

Mínimo (%) Fe 1.5 0.3

Máximo (%) Fe 3.9 0.6

Mínimo (%) Fe 1.5 0.6

Máximo (%) Fe 3.9 0.9

Mínimo (%) Fe 4.0 0.6

Máximo (%) Fe 6.0 0.9

ComposiçãoCódigos de Matérias Primas

PP11.106 PP11.153

PP11.509

PP11.135 PP11.107 PP11.142 PP11.154

PP11.123 PP11.197 PP11.144 PP11.109 PP11.208

FC

-0200

FC

-0205

FC

-0208

Norma

PP11.171 PP11.211 PP11.167

FC

-0508

Fonte: Elaborado pela autora

O Quadro 5 representa as normas que possuem o ferro como metal base e

carbono, níquel, cobre, molibdênio e manganês, adicionados à mistura de pós

metálicos.

35

Quadro 5 - Normas MPIF com Fe, C, Ni, Cu, Mo e Mn

Base C Ni Cu Mo Mn

Mínimo (%) Fe 0.0 1.55 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.3 1.95 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.3 1.55 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.6 1.95 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.6 1.55 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.9 1.95 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.0 3.60 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.3 4.40 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.3 3.60 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.6 4.40 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.6 3.60 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.9 4.40 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.3 3.60 1.6 1.3* 0.05

Máximo (%) Fe 0.6 4.40 2.4 1.7* 0.30

Mínimo (%) Fe 0.4 1.5 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.7 2.0 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.4 3.6 1.3 0.4 0.05

Máximo (%) Fe 0.7 4.4 1.7 0.6 0.30

Mínimo (%) Fe 0.6 - 1.0 1.3 0.05

Máximo (%) Fe 0.9 - 3.0 1.7 0.30

PP11.101

PP11.115

PP11.113 PP11.124PP11.173

FD

-0408

PP11.198 PP11.187 PP11.155 PP11.201

PP11.134

FD

-0200

FD

-0205

PP11.137

FD

-0400

PP11.194

FD

-0208

PP11.165

PP11.146

ComposiçãoNorma

FD

-0405

PP11.180

FLC

-

4908

FLN

2C

-

4005

FLN

4C

-

4005

PP11.176 PP11.177 PP11.166

Códigos de Matérias Primas

FL

DN

4C

2-4

90

5

PP11.202

PP11.114

*Pré-ligado ao pó base

Fonte: Elaborado pela autora

E por último, o Quadro 6 representa duas matérias-primas que não atendem a

nenhuma das normas MPIF e portanto foram classificadas separadamente.

Quadro 6 – Matérias-primas que não atendem a nenhuma Norma MPIF

Norma

N/A PP11.191 PP11.192

Código de Matérias

Primas

Fonte: Elaborado pela autora

4.2.2 Proposta de melhoria

O foco do projeto foi a substituição das 34 matérias-primas de baixa

rotatividade, ou seja, baixo consumo na empresa (cor vermelho no Quadro 2), que

juntas correspondem a apenas 10% do consumo total de matérias-primas.

Preferencialmente, o desejável era a substituição delas por matérias-primas de alto

36

consumo na empresa (cores verde ou amarelo no Quadro 2), mas quando isto se

revelou inviável, foi verificada a possibilidade da criação de alguma matéria-prima

intermediária para eliminar duas ou mais delas de baixo consumo.

As reuniões com o engenheiro de processo e materiais foram realizadas para

o estudo das composições e morfologia das misturas de pós. O objetivo desta etapa

foi estudar todas as matérias-primas que não possuíam grande consumo na

empresa e analisar toda sua estrutura para comparação e possível substituição

destas pelas misturas que têm grande consumo na empresa.

Durante as reuniões técnicas realizadas, foram verificadas todas as possíveis

trocas de matérias-primas que poderiam ser propostas. Essas substituições foram

classificadas de acordo com o nível de dificuldade em tarefas fáceis, intermediárias e

difíceis, representando o grau de dificuldade para que a substituição ocorra. As

substituições classificadas como fáceis, são aquelas nas quais as duas matérias-

primas (a que deve ser trocada e a que será testada no lugar da matéria-prima que

se deseja trocar) devem estar na mesma Norma MPIF e apresentam apenas

pequenas alterações na composição que não são valores tão significantes. Já as

classificadas como intermediárias são substituições que exigem um pouco mais de

trabalho, pois apesar de em alguns casos as matérias primas estarem em uma

mesma norma, elas possuem uma diferença maior nas suas composições, o que

pode gerar uma mudança nas propriedades finais dos produtos. As classificadas

como difíceis são aquelas que possuem algumas particularidades que aumentam o

grau de dificuldade, como restrições do cliente, ausência de matéria-prima

semelhante e grande número de peças a serem testadas para substituição.

O Quadro 7 ilustra todos os possíveis testes, separados por níveis de

dificuldade, que foram propostos nas reuniões técnicas com o engenheiro de

processo e materiais. A primeira coluna representa o número do teste a ser

realizado. A coluna “Substituir” indica as matérias-primas que devem ser substituídas

e a coluna “Testar” representa as matérias-primas que devem ser testadas no lugar

das que se deseja substituir. Na coluna “Testar”, a palavra “intermediária” representa

a proposta de criação de uma matéria-prima intermediária para tentar eliminar duas

ou mais matérias-primas. Em alguns casos foram propostos mais de um teste para

uma mesma matéria-prima que se deseja substituir, trocando apenas a matéria-

prima a ser testada no lugar desta. Em outros casos devido à ausência de matéria-

37

prima parecida não foram feitas propostas de substituições. Por isso, há uma

diferença entre o número de testes a serem realizados (32) e o número de matérias-

primas a serem substituídas (34).

Quadro 7 - Possíveis substituições de matérias-primas

Teste Nº Substituir Testar Resultado Teste Nº Substituir Testar Resultado Teste Nº Substituir Testar Resultado

1 PP11.191 PP11.192 14 PP11.166 PP11.176 22 PP11.113 PP11.173

2 PP11.177 PP11.176 15 PP11.108 PP11.147 23 PP11.113 PP11.198

3 PP11.114 PP11.176

4 PP11.167 PP11.171

5 PP11.139 PP11.130 17 PP11.154 PP11.107

6 PP11.139 PP11.310 18 PP11.154 PP11.109 25 PP11.146 PP11.165

7 PP11.161 PP11.310 26 PP11.134 PP11.165

8 PP11.187 PP11.198 27 PP11.208 PP11.109

9 PP11.124 PP11.113 20 PP11.142 PP11.107 28 PP11.142 PP11.135

10 PP11.201 PP11.198 21 PP11.137 PP11.101 29 PP11.154 PP11.135

11 PP11.106 PP11.109 30 PP11.107 PP11.135

12 PP11.153 PP11.109 31 PP11.162 PP11.213

13 PP11.162 PP11.214 32 PP11.162 PP11.301

19PP11.146

PP11.134Intermed.

16PP11.108

PP11.149Intermed.

Fáceis Intermediários Difíceis

PP11.198

PP11.180

PP11.155

24 Intermed.

Fonte: Elaborado pela autora

4.2.3 Proposta de planilha de testes

Uma vez que as matérias-primas que se deseja eliminar estavam

selecionadas e classificadas, foram elaboradas planilhas de testes, pois não se pode

trocar as matérias-primas apenas com base na teoria e, sim, somente após realizar

os devidos testes de substituição. Depois de levar em consideração toda a

composição das misturas de pós metálicos, deve se realizar testes com todos os

produtos produzidos a partir delas, para verificar suas propriedades mecânicas e,

consequentemente, se a troca pode ocorrer. Estes testes possuem metodologias

rígidas e deverão ser realizados em escala de laboratório, escala piloto e escala de

produção, para depois serem aprovadas as substituições propostas.

Para cada teste de substituição deve ser elaborada uma Planilha de Teste

para minucioso controle interno do projeto, como mostra a Figura 9.

38

Figura 9 - Planilha de teste

Teste nº: 1 Data: -

Base Mo Cu Ni Mn Graph Tipo Lubric.

PP11.191 * * * * * * * * *

* * * * * * * * * *

ResultadoNotificar

cliente

Cód.x

Cód.xx

Custo

R$

COMPOSIÇÃO (%wt)

Observação

Responsável: -

Observação nos testes:

Peças a serem testadas

Resultado do testes:

1)

Teste nºMP a ser

eliminada

MP a ser

testada

Fonte: Elaborada pela autora

4.3 GANHOS PREVISTOS COM A PROPOSTA DE SUBSTITUIÇÃO DE

MATÉRIAS- PRIMAS

Com base na proposta de melhoria com redução de número de itens

diferentes de matérias-primas na área de estocagem, foi possível observar que a

empresa pode vir a ter vários ganhos tanto direto quanto indiretos na implementação

do projeto.

Como ganho direto pode-se citar a redução de espaço físico e a economia

financeira. Com a redução de número de itens de matéria prima proposta haverá

uma economia de espaço na área de estocagem. Essa redução se deve

principalmente em relação ao giro de estoque, pois todas as matérias-primas

propostas para serem substituídas possuem uma rotatividade baixa dentro da

empresa, enquanto as matérias-primas propostas para serem usadas no lugar das

substituídas possuem rotatividade alta. As matérias-primas de baixo consumo,

apesar de serem pouco consumidas, precisam estar na área de estocagem para

eventual produção e, possuem um lote mínimo de compra de três toneladas, ou seja,

muitas vezes são adquiridas numa quantidade muito superior ao valor utilizado

anualmente pela empresa, ocupando um espaço na área de estocagem que pode

ser reduzido ou até mesmo eliminado. Segundo o chefe do departamento de

logística, algumas vezes a empresa optava por tentar comprar, recorrendo a

negociações, lotes menores do que três toneladas, mas além da dificuldade de

39

conseguir êxito na negociação, havia também o prejuízo financeiro, pois a empresa

poderia comprar um lote menor, mas teria que arcar com todos os custos referentes

ao lote mínimo de três toneladas.

Em relação ao aspecto financeiro, a estocagem de material gera um custo

para empresa, proporcional ao tempo e ao espaço utilizado. Portanto, se a nova

proposta de melhoria apresenta uma menor quantidade de misturas e um menor

tempo de estocagem, haverá também uma economia financeira.

Além dos ganhos diretos, pode-se ter vários ganhos indiretos. São eles:

aumento do poder de negociação com fornecedor e diminuição do preço de compra;

aumento da qualidade das misturas devido à obsolescência destas; substituição por

uma matéria-prima mais em conta; aumento do controle e gerenciamento das

matérias-primas, entre outros.

O aumento do poder de negociação com o fornecedor e consequente

diminuição do preço de compra da matéria-prima se deve ao fato de que a empresa

irá substituir matérias-primas que atualmente são adquiridas através de lotes

mínimos por matérias-primas que são consumidas em grande escala, ou seja,

quanto maior a quantidade a ser comprada, menor o valor de compra da matéria-

prima. Outra questão que se deve levar em consideração na negociação do valor de

compra é que haverá uma diminuição dos custos dos fornecedores, pois caso eles

produzam menos tipos diferentes de produtos, eles terão uma redução do custo de

processo em set up e em compra de matéria-prima. Segundo o chefe do

departamento de logística, essa economia do fornecedor poderia levar a uma

redução no preço de compra da GKN em 15 a 20% do valor atual.

Outro problema que poderá ser minimizado é a obsolescência das matérias-

primas. Atualmente estas possuem um tempo de validade no estoque de

aproximadamente 6 meses, havendo a necessidade da revalidação sempre que um

lote permanecer em estoque por um período maior que este. Com a substituição por

matérias-primas de grande giro de estoque, esse problema será reduzido,

implicando em uma economia quanto à revalidação de materiais e a uma melhor

qualidade destas.

Em adicional ao ganho de estoque, calculou-se também a diferença no custo

final do produto devido à troca da matéria-prima e verificou-se que, na maior parte

dos casos, haveria um lucro pelo fato da matéria-prima sugerida para troca ser mais

40

barata do que a utilizada atualmente. Estes valores podem ser visualizados no

Quadro 8, no qual para cada teste proposto (Quadro 7) aparece um valor anual de

economia caso a substituição seja efetuada. Esses valores foram calculados em

função dos preços das matérias-primas e do consumo anual da matéria-prima que

se deseja substituir.

Quadro 8- Economia financeira para troca de matérias-primas

Teste nº MP atual MP propostaEconomia

(R$)/ano

1 PP11.191 PP11.192 0

2 PP11.177 PP11.176 20837

3 PP11.114 PP11.176 564

4 PP11.167 PP11.171 -37

5 PP11.139 PP11.130 958

6 PP11.139 PP11.310 2429

7 PP11.161 PP11.310 769

8 PP11.187 PP11.198 0

9 PP11.124 PP11.113 1227

10 PP11.201 PP11.198 0

11 PP11.106 PP11.109 -519

12 PP11.153 PP11.109 3466

13 PP11.162 PP11.214 376

14 PP11.166 PP11.176 23895

15 PP11.108 PP11.147 5108

16 Intermediário 0

17 PP11.154 PP11.107 4337

18 PP11.154 PP11.109 3516

19 Intermediário 0

20 PP11.142 PP11.107 6537

21 PP11.137 PP11.101 0

22 PP11.113 PP11.173 -1117

23 PP11.113 PP11.198 -1716

24 Intermediário 0

25 PP11.146 PP11.165 -14667

26 PP11.134 PP11.165 -5339

27 PP11.208 PP11.109 5469

28 PP11.142 PP11.135 -450

29 PP11.154 PP11.135 1587

30 PP11.107 PP11.135 -7241

31 PP11.162 PP11.213 1639

32 PP11.162 PP11.301 1735

Fonte: Elaborado pela autora

O Quadro 9 mostra a somatória dos valores do Quadro 8 de acordo com o

nível de dificuldade. Para testes que representam a mesma matéria prima a ser

substituída, foi considerada apenas a menor economia, por exemplo, para os testes

41

5 e 6 que representam ambos a substituição da matéria prima PP11.139, foi utilizado

somente o menor valor de economia (R$958,00) para a somatória do Quadro 9.

Quadro 9 - Economia financeira por nível de dificuldade

Fáceis Intermediários Difíceis

R$ R$ 27.641 R$ 39.056 -R$ 20.716

Fonte: Elaborado pela autora

A partir do Quadro 8, é possível observar que os testes fáceis e intermediários

devem ser realizados e, caso bem sucedidos, devem ser implementadas as

mudanças, pois além da redução do custo referente ao estoque parado ainda

ocorrerá uma economia referente à troca das matérias-primas propostas. Entretanto,

os testes difíceis apresentaram em alguns casos um maior custo de produção caso a

substituição ocorra. Os testes de número 22, 23 e 28 apresentam um maior custo de

produção, mas terão que ser melhor analisados, pois este valor pode ser menor do

que os benefícios a serem adquiridos. Os testes de número 25, 26 e 30 não são

economicamente viáveis, pois além da dificuldade da substituição da matéria-prima

ainda apresentam um custo muito maior de produção, não viabilizando a realização

dos testes laboratoriais.

Por último, foi elaborado um novo Diagrama de Pareto (Figura 10), caso todas

as substituições propostas fossem bem sucedidas, com exceção dos testes 25, 26 e

30 que se mostraram inviáveis financeiramente. A Figura 11 ampliada está

apresentada no Apêndice B para melhor visualização.

Comparando este diagrama com o anterior (Figura 8), observa-se nitidamente

a redução da quantidade de matérias-primas de baixo consumo (cor vermelha) e,

verifica-se que a proposta de melhoria poderá permitir uma redução de 51 matérias-

primas iniciais para apenas 31. Observa-se também que não foi possível uma

proposta de eliminação de 100% das matérias-primas de baixo consumo, devido à

ausência de opções de substituições em alguns casos e inviabilidade financeira em

outros (testes 25, 26 e 30).

42

Figura 10 - Diagrama de Pareto futuro - Consumo de matéria-prima

Fonte: Elaborada pela autora

Finalizando os ganhos indiretos, é possível citar também uma melhor logística

e organização das matérias-primas, pois quanto menor o número de itens diferentes,

mais fácil é a organização e o controle da área de estoque.

43

5 CONCLUSÃO

A partir da revisão da literatura existente sobre a metodologia Lean, foram

identificados e observados alguns aspectos da metodologia na análise empírica. A

busca pela redução de custos nas empresas foi vivenciada no desenvolvimento

deste trabalho, assim como a realização de projetos Kaizen, em busca da melhoria

contínua.

O presente trabalho apresentou uma proposta de melhoria com redução dos

gastos relativos ao estoque de matéria-prima, através de substituições de matérias-

primas de baixo consumo na indústria por outras de alto consumo, atingindo desta

forma o objetivo deste trabalho.

Foram apurados todos os possíveis ganhos diretos e indiretos que estas

mudanças podem ocasionar na empresa. Com isso, conclui-se que o uso da

metologia Lean, bem como utilização de projetos Kaizen, são de grande importância

para redução de custos e aumento da qualidade dos produtos e serviços. Devido a

competitividade dos dias de hoje, a implementação deste projeto de melhoria é

justificada, pois com as substituições de matérias-primas haverá uma economia

referente a manutenção de estoque, além de todos os ganhos indiretos apurados

neste trabalho.

44

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47

APÊNDICE A

48

APÊNDICE B