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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA - CAEN MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA MANOEL MIGUEL DOS SANTOS FILHO DETERMINANTES DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO PERÍODO DE 1987 - 2004 FORTALEZA 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA - CAEN

MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA

MANOEL MIGUEL DOS SANTOS FILHO

DETERMINANTES DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO

PERÍODO DE 1987 - 2004

FORTALEZA

2006

ii

MANOEL MIGUEL DOS SANTOS FILHO

DETERMINANTES DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL

NO PERÍODO DE 1986 - 2004

Dissertação apresentada como requisito parcial

para obtenção do grau de mestre no curso de

Pós-Graduação em Economia, Área de

Concentração em Economia de Empresas, da

Universidade Federal do Ceará - CAEN.

Orientador: Prof. Doutor Emerson Luís Lemos

Marinho

Fortaleza

2006

iii

MANOEL MIGUEL DOS SANTOS FILHO

DETERMINANTES DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO

PERÍODO DE 1987 - 2004

Dissertação apresentada como requisito parcial

para obtenção do grau de mestre no curso de Pós-

Graduação em Economia, Área de Concentração

em Economia de Empresas, da Universidade

Federal do Ceará - CAEN.

Orientador: Prof. Doutor Emerson Luís Lemos

Marinho

.

Aprovada em 23/02/2006

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Prof. Emerson Luís Lemos Marinho (orientador).

Universidade Federal do Ceará - UFC

_____________________________________________________

Prof. Flávio Ataliba Flexa Daltro Barreto, Doutor

Universidade Federal do Ceará - UFC

_____________________________________________

Prof. Almir Bittencourt da Silva, Doutor

Universidade Federal do Ceará - UFC

iv

A minha esposa

v

AGRADECIMENTOS

Ao CAEN, por ter me concedido a honra de figurar no seu seleto quadro de alunos.

Ao Professor Emerson Luís Lemos Marinho, pela paciência, atenção, disponibilidade e

seriedade dispensadas a todo o corpo discente do Curso de Mestrado Profissional em

Economia.

Aos colegas da turma de mestrado, pelo apoio recebido, com os quais dividi algumas horas de

estudo e dedicação.

À CAPEF, a quem devo a minha formação nesses doze anos de trabalhos no mercado

financeiro e incentivo profissional para a realização do curso.

Aos amigos Edmar Honorato, Daniel Dantas, Danilo Barata e Daniele Cirilo, pelo exemplo de

formação acadêmica e apoio à realização do curso.

A qualquer outra pessoa direta ou indiretamente envolvida com o projeto do mestrado que,

porventura, tenha esquecido, mas que recebe minha sincera gratidão.

vi

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .......................................................................................... viii

LISTA DE GRÁFICOS .......................................................................................... ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................... x

RESUMO ................................................................................................................. xi

ABSTRACT ............................................................................................................ xii

1 INTRODUÇÃO ... ......................................................................................................13

2 REVISÃO DAS PRINCIPAIS MUDANÇAS ESTRUTURAIS DA ECONOMIA

BRASILEIRA NOS ÚLTIMOS ANOS, DANDO DESTQUE AO FLUXO

INTERNACIONAL DE CAPITAL..........................................................................16

2.1 Recessão Econômica e uma economia fechada............................................................16

2.2 Liberalização Econômica e Abertura Comercial..........................................................19

2.3 Fluxos de Capitais Estrangeiros no Brasil....................................................................27

2.4 Fluxos de Investimentos Estrangeiros em Portfólios....................................................28

2.5 Fluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos Para Brasil.............................................30

2.6 Análise do Balanço de Pagamento do Brasil destacando o fluxo de IED....................39

2.7 Investimentos Estrangeiros Diretos e o Comércio Externo Brasileiro ........................40

2.8 Fluxos de IED nas Economias Desenvolvidas e nas Economias em

Desenvolvimento..........................................................................................................43

3 REVISÃO EMPÍRICA SOBRE INVESTIMENTOS ESTRENGEIROS

DIRETOS.....................................................................................................................45

vii

3.1 Revisão de Estudos Empíricos Sobre Investimento Estrangeiro Direto.......................45

4 MODELO ECONOMÉTRICO E DADOS AMOSTRAIS ....................................49

5 ESTIMAÇÃO DO MODELO E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS........55

5.1 A Estacionariedade das Séries Temporais....................................................................55

5.2 Teste de Estacionariedade.............................................................................................55

5.3 Teste de Raiz Unitária...................................................................................................56

5.4 Cointegração das Séries Temporais Não-Estacionárias................................................60

5.5 Teste de Engle e Granger – EG.....................................................................................62

5.6 Teste de Cointegração de Johansen..............................................................................64

5.7 O Problema da Heteroscedasticidade............................................................................68

5.8 Autocorrelação ou Correlação Serial...........................................................................70

5.9 Síntese e Análise dos Resultados.................................................................................76

6 CONCLUSÃO.............................................................................................................80

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................82

8 ANEXOS......................................................................................................................84

viii

LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1 - Inflação da Década de 80 Medida pelo IPCA do IBGE..................................17

TABELA 2.2 – Tamanho do Comércio Brasileiro...................................................................21

TABELA 2.3 – Taxa Básica de Juros dos Estados Unidos: Fed Funds...................................22

TABELA 2.4 – Taxa Efetiva de Juros da Economia Brasileira-SELIC...................................23

TABELA 2.5 – IED Distribuído por Setores............................................................................31

TABELA 2.6 – Estoque de IED dos 10 Países com Maior Volume em 1995.........................32

TABELA 2.7 – Estoque de IED dos 10 Países com Maior Volume em 2000.........................32

TABELA 2.8 – Estoque de IED dos 10 Estados com Maior Volume em 1995.......................33

TABELA 2.9 – Estoque de IED dos 10 Estados com Maior Volume em 2000.......................34

TABELA 2.10 – Distribuição por Setores dos Recursos Oriundos das privatizações.............38

TABELA 2.11 – Distribuição Anual dos Recursos Oriundos das privatizações.....................38

TABELA 5.3.1 – Teste de Raiz Unitária de Dickey-Fuller (ADF): Especificação com

Intercepto..................................................................................................................................58

TABELA 5.3.2 – Teste de Raiz Unitária de Dickey-Fuller (ADF): Especificação com

Intercepto e com Termo de Tendência.....................................................................................59

TABELA 5.3.3 – Teste de Raiz Unitária de Dickey-Fuller (ADF)- Segunda Diferença:

Especificação com Intercepto................................................................................................. ..60

TABELA 5.3.4 – Teste de Raiz Unitária de Dickey-Fuller (ADF) – Segunda Diferença:

Especificação com Intercepto e Tendência...............................................................................60

TABELA 5.6.1 – Critérios para Escolha do Número de Defasagens do VAR(p)................... 66

TABELA 5.6.2 – Teste de Cointegração de Johansen para as Séries IED, ABERT e PIB- com

Intercepto e sem Tendência – Intervalos de Defasagens de 1 a 11..........................................67

TABELA 5.7 – Teste para Detectar a Presença de Heteroscedasticidade – O Teste de

White.........................................................................................................................................70

ix

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 2.1 – Variação Real do PIB do Brasil ao Longo dos Últimos 40 anos..................16

GRÁFICO 2.2 – Tarifa Média de Importação ao Ano.............................................................19

GRÁFICO 2.3 – Evolução dos Investimentos Estrangeiros em Carteira (Crédito) no Brasil –

Período: 1986 a 2004................................................................................................................28

GRÁFICO 2.4 – Evolução dos Investimentos Estrangeiros em Carteira (Drédito) no Brasil –

Período: 1986 a 2004................................................................................................................29

GRÁFICO 2.5 – Evolução dos Investimentos Estrangeiros em Carteira (Líquido) no Brasil –

Período: 1986 a 2004...................................................................................................... ..........29

GRÁFICO 2.6 – Evolução de Ingresso de Investimentos Estrangeiro Direto (Crédito) no

Brasil – Período: 1986 a 2004..................................................................................................35

GRÁFICO 2.7 – Evolução dos Débitos de Investimentos Estrangeiro Direto no Brasil –

Período: 1986 a 2004................................................................................................................36

GRÁFICO 2.8 – Evolução de Ingresso de Investimentos Estrangeiro Direto (Líquido) no

Brasil – Período: 1986 a 2004..................................................................................................37

GRÁFICO 2.9 – Saldo em Transações Correntes no Brasil - Período: 1986 a

2004..........................................................................................................................................39

GRÁFICO 2.10 – Evolução das Exportações Brasileiras - Período: 1986 a

2004..........................................................................................................................................41

GRÁFICO 2.11 – Evolução das Importações Brasileiras - Período: 1986 a

2004..........................................................................................................................................41

GRÁFICO 2.12 – Evolução do Comércio Externo Brasileiro – Soma das Importações com as

Exportações - Período: 1986 a 2004........................................................................................42

GRÁFICO 2.13 – Evolução do Saldo da Balança Comercial Brasileira - Período: 1986 a

2004..........................................................................................................................................43

x

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BACEN - Banco Central do Brasil

EUA - Estados Unidos da América

IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IED – Investimento Estrangeiro Direto

MQO – Mínimos Quadrados Ordinários

PIB – Produto Interno Bruto

PUC-RJ – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

UNCTAD - Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento

VAR – Vetor Autoregressivo

xi

RESUMO

Ao longo dos últimos anos, mais precisamente a partir da década de 1990, a

economia brasileira sofreu profundas transformações econômicas, decorrentes de movimentos

de liberalização financeira ocorridos nos principais mercados mundiais. Diante dessa

liberalização, os mercados financeiros perderam suas fronteiras, facilitando os investimentos

nos mais diversos países do mundo. O Brasil, percebendo a nova realidade, gradativamente

abriu suas fronteiras no início da década de 1990 ao capital estrangeiro, razão pela qual a

economia, a partir de então, absorveu, como uma das transformações mais visíveis, elevados

volumes de ingresso de investimentos estrangeiros diretos. Nesse sentido, o objetivo central

desse estudo é estimar, com base em dados de séries temporais, os principais determinantes

dos fluxos de IED para o Brasil, considerando o período de 1987 a 2004. Os resultados

obtidos do estudo apontaram que fatores tradicionais como, a implantação do Plano Real,

nível de abertura comercial e taxa real de juros, são os principais determinantes dos

investimentos estrangeiros diretos para o Brasil. Variáveis como índice da bolsa de valores de

São Paulo, taxa de inflação e crescimento do PIB americano também exercem influência sobre

os ingresso de IED no Brasil.

Palavras-chave: Investimentos Estrangeiros. Determinantes. Exportações. Importações.

Abertura Comercial.

xii

ABSTRACT

To the long one of the last years, more necessarily from the decade of 1990, the Brazilian

economy suffered deep economic, decurrent transformations of occurred movements of

financial liberalization in the main world-wide markets. Ahead of this liberalization, the

financial markets had lost its borders, facilitating the investments in the most diverse

countries of the world. Brazil, perceiving the new reality, gradual opened its borders in the

beginning of the decade of 1990 to the foreign capital, reason for which the economy, from

now on, absorbed, as one of the transformations most visible, raised volumes of ingression of

foreign investments right-handers. In this direction, the central objective of this study is

esteem, on the basis of given of secular series, main determinative of the flows of IED for

Brazil, considering the period of 1987 the 2004. The gotten results of the study had pointed

that traditional factors as, the implantation of the Real Plan, level of commercial opening and

real tax of interests, are main determinative of the foreign investments the right-handers for

Brazil. 0 variable as index of the stock exchange of São Paulo, tax of inflation and growth of

the American GIP also exert influence on the ingression of IED in Brazil.

Word-key: Foreign Investments. Determinants. Exportations. Importation. Commercial

Opening.

13

1. INTRODUÇÃO

A economia brasileira tem passado por uma série de transformação, principalmente

a partir da década de 1990. A tendência de liberalização que vem atingindo os diversos setores

da sociedade em geral, chegou também aos mercados de capitais financeiros e produtivos,

facilitando e dando acesso à expansão e fácil mobilização dos capitais internacionais em todas

as partes do mundo. Vale salientar que a liberalização não atingiu apenas os mercados

financeiros. Todos os setores da sociedade mundial passaram e vêm passando por esse

processo de transformação econômica, social e cultural, a qual vem mudando o modo de

pensar e agir da sociedade como um todo. É condição, quase que compulsória, se adequar a

essa nova realidade.

Dentre as categorias desse movimento de capital internacional, uma tem se

destacado pela razão da magnitude que vem atingindo ultimamente, que é a categoria de

investimentos estrangeiros diretos (IED). Não só o Brasil, mas os diversos países emergentes

têm recebido grandes somas desse tipo de capital estrangeiro, mas ultimamente nossa

economia vem se destacando entre um dos maiores receptores de IED, perdendo apenas para a

China.

Os dois censos de capitais estrangeiros realizados pelo Banco Central dão a

dimensão da amplitude do Brasil como receptor de recursos externos na forma de

investimentos diretos. No censo de 1995, o estoque de IED era um número em torno de US$

41,6 bilhões, passando para US$ 103 bilhões no último censo que foi realizado no ano de

2000. Se, ao estoque do censo de 2000, fossem acrescentados os fluxos de entradas dos anos

de 2001 a 2004, ter-se-ia um número perto de 244 bilhões de estoque de IED no final do ano

de 2004.

Para confirmar os dados constantes no censo do BACEN, a Conferência das

Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) veio com números ratificar

os dados do censo do Bacen. Segundo a UNCTAD, o Brasil atraiu investimentos estrangeiros

14

diretos, nas duas últimas décadas (início de 1990 até o final de 2000) um montante de US$

235,14 bilhões, valor bem superior ao US$ 37,14 bilhões acumulados até o início da década

de 1990.

Esse montante de recursos na forma de IED tem tido ultimamente uma certa

importância para a economia brasileira. Para Lacerda (2004), os IED perderam o seu papel

emergencial de cobrir déficit na conta corrente do balanço de pagamentos brasileiro, passando

a estar mais direcionados para novos projetos, ampliando assim a capacidade instalada do

setor produtivo.

Segundo Lacerda (2004), a partir de 2001, vem diminuindo o ingresso de IED na

economia brasileira, em virtude principalmente do baixo crescimento do PIB nas principais

economias mundiais originárias do capital, mais precisamente na economia americana.

Fatores como os atentados terroristas nos Estados Unidos em setembro de 2001, escândalos

contábeis nas grandes corporações americanas, racionamento de energia no Brasil etc.,

fizeram com que aumentasse a aversão ao risco por parte dos investidores, os quais passaram

a reduzir parcelas de seus recursos direcionados para países emergentes.

Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é estimar uma regressão, com base em

dados de séries temporais, no período compreendido entre 1987 a 2004, para determinar as

principais variáveis-chaves que se mostram determinantes para que um investidor estrangeiro

opte por direcionar parte de seus recursos para o Brasil na forma de investimentos diretos.

Serão testadas variáveis como: nível de abertura comercial, taxa de inflação, taxa de juros,

taxa de câmbio, nível do produto da economia brasileira, crescimento do PIB dos Estados

Unidos e o índice da bolsa de valores de São Paulo, de tal forma que haja resposta, no tocante

ao exercício, de algum efeito sobre os investimentos estrangeiros diretos injetados na

economia brasileira. Para a elaboração desse trabalho, será feita uma pesquisa das séries

históricas passadas das variáveis relacionadas acima e para estimar a regressão se fará uso do

software econométrico Eviews 3.1.

15

O trabalho está estruturado em 6 capítulos, incluindo esta Introdução e a

Conclusão. O segundo capítulo trata de uma revisão das principais mudanças estruturais na

economia brasileira, as quais deram suporte a um maior volume de investimentos estrangeiros

diretos no Brasil. Nesse capítulo, serão feitos comentários sobre variáveis macroeconômicas,

dando ênfase ao vínculo das mudanças nessas variáveis com os fluxos de investimentos

estrangeiros diretos ingressados na economia brasileira. Será tratada também uma análise

envolvendo o conceito, a evolução, a importância e o papel dos investimentos estrangeiros

diretos no Brasil. No terceiro capítulo serão apresentados os resultados de alguns estudos

empíricos sobre IED tanto no Brasil como em outros países.

O quatro capítulo apresenta a definição do modelo econométrico desenvolvido

nesse trabalho. São abordadas também informações sobre os dados amostrais e as hipóteses

esperadas para cada uma das variáveis escolhidas. O quinto capítulo trata da estimação do

modelo com a realização de vários testes estatísticos e apresentação dos resultados

econométricos. E, por fim, tem-se a conclusão que sintetizará os resultados encontrados.

16

2. REVISÃO DAS PRINCIPAIS MUDANÇAS ESTRUTURAIS DA ECONOMIA

BRASILEIRA, DANDO DESTAQUE AO FLUXO INTERNACIONAL DE CAPITAL

2.1. Recessão Econômica e uma Economia Fechada

A década de 1980 é caracterizada por crises na economia brasileira. O país que,

entre 1920 a 1980, apresentou uma média de crescimento em sua economia em torno de 5,5%

ao ano, a partir do início dessa década (1980), passou a absorver os efeitos negativos advindos

tanto do cenário interno como do cenário externo, afetando o crescimento econômico do país.

O Gráfico 2.1 mostra a variação pontual ano a ano do PIB brasileiro dos últimos 40 anos:

Gráfico 2.1 – Variação real do PIB brasileiro ao longo dos últimos 40 anos

Fonte: IBGE

Segundo Lacerda (2004), no período compreendido entre 1974 a 1988, o Brasil

transformou-se em uma das economias mais fechadas do mundo, em virtude do rígido controle

de importações via aumento de tarifas. No final da década de oitenta, com a instituição da

Constituição de 1988, a economia brasileira começou a consolidar sua inserção no mercado

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internacional, admitindo a possibilidade da entrada de capitais estrangeiros em setores

específicos de sua economia.

Nesse mesmo período, a dívida do Brasil atingiu patamares elevadíssimos, o país

contraiu empréstimos de curto prazo para saldar déficit do balanço de pagamento e elevar o

nível de reservas internacionais que se encontravam em patamares baixos. O governo agiu

dessa forma, na tentativa de manter um nível seguro de liquidez e permitir honrar seus

compromissos de caixa mais urgente.

Havia um quadro de instabilidade macroeconômica na economia brasileira na

década de 1980, com a inflação atingindo níveis muito elevados. A Tabela 2.1 mostra o nível

de inflação medido pelo IPCA do IBGE durante a década de oitenta.

Esses desequilíbrios econômicos descritos acima culminaram com uma queda na

taxa de investimentos no país, conseqüentemente, criando uma séria de restrição ao

crescimento econômico do Brasil. Segundo Lacerda (2004), a parcela dos investimentos em

relação ao PIB reduziu-se de uma média de 23,3%, nos anos 70, para 17,6%, nos anos 80.

No âmbito externo, o cenário foi caracterizado, na década de 80, pelo aumento da

taxa de juros internacionais. Nesse sentido, a taxa dos Fed Funds (taxa básica de juros da

economia americana), ao longo dessa década, alcançou um patamar máximo de 12% ao ano,

dificultando, assim, o ingresso de recursos externos para as economias emergentes.

As características descritas acima, tanto no que diz respeito ao cenário nacional

como internacional, criaram condições de insustentabilidade da economia brasileira para os

anos seguintes, exigindo-se assim uma mudança de postura por parte das autoridades políticas

e econômicas. Essas mudanças viriam no intuito de trazer a confiança aos agentes produtivos

TABELA 2.1 - INFLAÇÃO DA DÉCADA DE 80 MEDIDA PELO IPCA DO IBGE

ANOS PERCENTUAIS ANOS PERCENTUAIS ANOS PERCENTUAIS

1980 99.25% 1984 215.26% 1988 980.21%

1981 95.62% 1985 242.23% 1989 1972.91%

1982 104.80% 1986 79.66% 1990 1620.97%

1983 164.01% 1987 363.41% - -

Fonte: elaboração própria com dados do Economática.

18

e a comunidade internacional, propiciando a criação de condições de crescimento econômico e

estabilidade sustentada por um período mais longo.

Dentre as mudanças, surgiu a necessidade de uma maior inserção da economia

brasileira à economia mundial. Para a consecução dessa inserção era necessária uma maior

liberalização do comércio exterior, o que só seria possível com a eliminação de parte da

política de substituição de importações adotada até então. Diante de tais medidas, as barreiras

à competição tenderiam a serem eliminadas, facilitando transações comerciais entre o Brasil e

os diversos países.

E, assim, no sentido de inserir a economia brasileira no mercado mundial, as

autoridades trataram de rever a política de comércio externo, iniciando em 1990, um

cronograma de redução das alíquotas de importação, revisão de alguns regimes especiais de

importações e efetuando controles sobre alguns bens importados1.

Foi nessa época que começou a ser difundido no mundo o Consenso de

Washington, o qual foi criado pelo economista John Williamson em 1989. O Consenso de

Washington foi uma reunião, cujo objetivo era discutir as reformas necessárias para fazer com

que os países emergentes, principalmente os países da América Latina, saíssem da

estagnação/recessão econômica, das altas taxa de inflação e das crises de dívidas externas que

se encontravam e retomasse ao crescimento e desenvolvimento econômico.

As principais medidas propostas pelos defensores do Consenso de Washington,

que deveriam ser adotadas pelos países emergentes em crise eram: a) reformas estruturais

como, reformas administrativas, reformas previdenciárias, reformas tributárias e reformas

fiscais; b) estabilização monetária; c) desonerar fiscalmente o capital financeiro; e d)

promover a abertura comercial com a eliminação/redução das barreiras alfandegárias.

1 Texto para discussão do IPEA

19

Finalmente, o Consenso de Washington foi uma visão norte-americana, de como os

países emergentes em crises deveriam conduzir suas políticas econômicas para saírem da atual

situação de crises em que viviam na época.

O Gráfico 2.2 mostra a amplitude da redução das tarifas de importação ao longo do

período de 1988 até o ano de 2001.

Gráfico 2.2 – Tarifa Média de Importação ao Ano

Fonte: Elaborado pelo autor com dados da Consultoria Lopes Filho & Associados

Em um cenário de baixo crescimento do PIB, economia fechada aos capitais

estrangeiros e instabilidade macro-econômica, o esperado é de que um país com tais

características, dificilmente será um receptor de investimentos, principalmente investimentos

oriundos de investidores estrangeiros.

2.2. Liberalização Econômica e Abertura Comercial

Em 1990, o então governo Fernando Collor implantou um programa de

estabilização econômica, que se iniciou com a retenção de grande parte da moeda em

circulação no país. O plano previa equilibrar as contas públicas através de uma reforma fiscal

20

e administrativa, as quais não tiveram sucesso. O governo sofreu com a resistência de alguns

setores da economia, que prosseguiram indexando os preços, fazendo, assim, com que a

inflação não cedesse, chegando a atingir 1.620,97% no acumulado do ano de 1990. Porém, o

aspecto mais importante estava no processo de liberalização do comércio implementado por

esse governo, através da eliminação de diversas barreiras à importação e de uma tentativa de

se obter um melhor relacionamento com os credores externos, uma vez que estes estavam

receosos devido às várias moratórias implantadas por governos anteriores. Nessa época, a

dívida externa do país era consideravelmente elevada e uma renegociação era extremamente

salutar. Então o governo procurou estreitar relacionamento com a comunidade financeira

internacional, principalmente os credores do Brasil.

Em 1991, o governo promoveu um congelamento de preços que teve eficácia

temporária. A inflação, que em 1990 alcançou 1.620,97%, em 1991 atingiu 472,70% e logo

retornou para 1.119,10% em 1992 e 2.477,15% em 1993. Percebendo o papel que as

expectativas dos agentes exercem na economia, o governo da época defendeu a hipótese de

ausência de novas intervenções diretas na economia brasileira, procurando, a partir de então,

conduzir sua política econômica de forma a ajustar as principais variáveis macroeconômicas a

uma posição de equilíbrio da economia real.

O ponto de partida inicial e consistente para a criação de um cenário de

estabilidade da economia brasileiro constituiu-se na implantação do Plano Real em 1994. O

Plano Real, também conhecido por Plano FHC, surgiu quando Collor sofreu o impeachment e

assumiu o vice-presidente Itamar Franco, que nomeou Fernando Henrique Cardoso para

comandar o Ministério da Economia. Como ministro, Fernando Henrique implementou o

Plano Real com o auxílio de uma equipe de economistas da PUC-RJ (Gustavo Franco,

Winston Fritsch, André Lara Rezende, Edmar Bacha, Pérsio Arida, dentre outros).

Vale lembrar que a década de 1990 foi marcada por um processo de políticas de

liberalização econômica, principalmente nos países emergentes da América e da Ásia; o livre

comércio passou a ser característica marcante entre as economias emergentes, entre elas a do

21

Brasil. Ou seja, prospectava-se que a abertura comercial seria uma das soluções para o

problema da estagnação econômica enfrentada em décadas passadas.

Ilustrando a amplitude da evolução do comércio externo brasileiro, ou seja, quanto

o Brasil transacionou com o exterior, tem-se: em 1980 a soma das exportações e importações

de bens e serviços eram de US$ 43 milhões; em 1990 de US$ 52 milhões; em 2000 de US$

110,80 milhões; e em 2004 passou para US$ 159,3 milhões, como mostra a Tabela 2.2.

Vale destacar também que a política externa da década de 80 era marcada por

geração de grandes superávits comerciais advindos através de restrições a importações e

incentivos às exportações, ao invés do livre comércio entre os agentes.

Dentre os diversos planos de estabilização da economia brasileira, (Cruzado,

Bresser, Verão e Collor), o Plano Real foi o único que teve os efeitos esperados, enquanto os

demais não tiveram sucesso, ou apresentaram algum efeito por tempo limitado.

A diferença entre os diversos planos está nos instrumentos utilizados para controlar

a inflação. Enquanto os planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor usaram meios de controle

inflacionário como: políticas monetárias, prolongamento e controle de preços por tempo

superior ao suportável e confisco de ativos financeiros dentre outros, o Plano Real utilizou-se

de alguns desses canais, porém adicionados ao monitoramento da taxa de câmbio e incentivo à

poupança externa, que foram considerados o principal determinante do sucesso do atual plano

de estabilização econômica. Outra medida tomada que deu sustentação ao Plano Real foi

constituída no esforço das autoridades econômicas no sentido de se elevar as reservas

cambiais do Brasil. Para se ter uma idéia, segundo Lacerda (2004), as reservas cambiais eram

1980 milhões

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1990 milhões

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em (%)

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U$$

Saldo (2.822,77) - 10.752,39 - (697,75) - 33.669,57

Exportação 20.132,40 56,04 31.413,76 75,36 55.058,59 75,14 96.475,22

Importação 22.955,17 (9,99) 20.661,36 169,99 55.783,34 12,59 62.805,65

Exp + Imp. 43.087,57 20,86 52.075,12 112,90 110.868,94 43,67 159.280,87Fonte: elaboração própria com dados do Balanço de Pagamentos

TABELA 2.2 - TAMANHO DO COMÉRCIO BRASILEIRO

22

em torno de US$ 8 bilhões entre 1989 e 1991, e no final de 1992, alcançavam em US$ a

marca de 19 bilhões; em 1993 US$ 25 bilhões, em 1994 já atingiam US$ 40 bilhões e, entre

1998 e 1999, atingiram US$ 75 bilhões. Essa elevação foi motivada pela farta liquidez no

mercado internacional e pela alta taxa de juros do Brasil tornando-se atrativo investir no país.

O Plano Real também teve o privilégio de ter surgido numa época de alta liquidez

dos mercados mundiais, principalmente nas economias desenvolvidas como Estados Unidos,

União Européia e Japão. Liquidez essa decorrente das baixas taxas de juro dessas economias.

A Tabela 2.3 mostra o tamanho da redução da taxa dos Fed Funds (taxa básica de juros da

economia dos Estados unidos) da década de oitenta até 2004 em percentual ao ano, no final de

cada ano.

Essas economias desenvolvidas se encontravam (na época da implantação do Plano

Real, assim como posteriormente) com uma taxa de juros muito baixa. Como efeito, os

investidores que estavam procurando rentabilizar seus portifólios, direcionavam recursos para

os países emergentes, dentre eles o Brasil, onde as taxas de juros se encontravam muito

elevadas. Com este cenário de grande liquidez mundial, tornava-se farta a entrada de recursos

externos no Brasil através das mais variadas vias de ingressos de capitais externos.

A Tabela 2.4 mostra a taxa de juros da economia brasileira de 1987 a 2004. Nessa

tabela, os números são referentes à SELIC, ou seja, a taxa de juros que remunera os títulos da

dívida interna pública brasileira e estão em termos percentuais válidos para um ano.

TABELA 2.3 - TAXA BÁSICA DE JUROS DOS ESTADOS UNIDOS: FED FUNDS

MESES PERCENTUAIS MESES PERCENTUAIS MESES PERCENTUAIS MESES PERCENTUAIS

dez/81 12.00% dez/87 6.75% dez/93 3.00% dez/99 5.50%

dez/82 8.50% dez/88 8.00% dez/94 5.50% dez/00 6.50%

dez/83 9.25% dez/89 8.25% dez/95 5.50% dez/01 1.75%

dez/84 8.25% dez/90 7.00% dez/96 5.25% dez/02 1.25%

dez/85 7.75% dez/91 4.00% dez/97 5.50% dez/03 1.00%

dez/86 6.00% dez/92 3.00% dez/98 4.75% dez/04 2.25%

Fonte: Consultoria Lopes Filho & Associados

23

A era do Plano Real teve um marco bem distinto, que foi o mês de janeiro de 1999,

mês de uma brusca desvalorização cambial decorrente do abandono do regime cambial fixo

para o regime de câmbio flutuante. Após o início do Plano Real e até o mês de janeiro de

1999, a economia brasileira tinha como principais características:

a) um rápido aumento na demanda interna decorrente da redução da inflação e da

valorização cambial no início do Plano Real. Em 1995, o governo adotou um regime de

bandas cambiais, fixando uma faixa de oscilação da taxa de câmbio, que na realidade se

constituía em uma minidesvalorização cambial;

b) crescimento das importações, característica marcante de economias abertas;

c) taxas de juros elevadas para conter o consumo e se beneficiar da liquidez

mundial, atraindo capitais financeiros para o país, onde devido a esses fluxos de capitais

financeiros, o Brasil conseguia financiar déficits em transações correntes, dar prosseguimento

ao regime de câmbio fixo e manter suas reservas internacionais em níveis elevados. Este alto

patamar de taxas de juros se constituiu posteriormente em um problema para o país, que foi o

aumento exagerado da dívida pública tanto interna como externa, tornando a economia

brasileira vulnerável a ataques especulativos;

d) expansão da atividade econômica; mesmo com a alta taxa de juros, não se

prejudicou tanto a atividade do país (no ano de 1994 o PIB cresceu 4,94% segundo dados do

IBGE);

e) crises no setor externo, com o país apresentando déficit comercial, mas isso não

se constituía num problema em um primeiro momento porque a liquidez mundial era grande,

ou seja, a disponibilidade de recursos financeiros no mercado internacional era abundante, o

que facilitaria o financiamento do Balanço de Pagamento via investimentos estrangeiros

diretos e empréstimos/financiamentos. Porém no início de 1997, com o início da crise asiática,

a situação das contas externas brasileira se reverteu e maximizou-se ainda mais o risco dos

TABELA 2.4 - TAXA EFETIVA DE JUROS DA ECONOMIA BRASILEIRA: SELIC

ANOS PERCENTUAIS ANOS PERCENTUAIS ANOS PERCENTUAIS ANOS PERCENTUAIS

1987 373.40% 1992 1549.62% 1997 24.79% 2002 19.17%

1988 911.47% 1993 2994.76% 1998 28.80% 2003 23.35%

1989 2391.76% 1994 1146.17% 1999 25.59% 2004 16.25%

1990 1174.22% 1995 53.09% 2000 17.31% - -

1991 529.32% 1996 27.41% 2001 17.32% - -

Fonte: elaboração do autor com dados do Economática.

24

países emergentes, tornando-se mais difícil a captação de recursos externos por parte tanto do

setor público como privado. O saldo em transações correntes nos anos de 1996, 1997, 1998 e

1999 foi deficitário de US$ 23 bilhões, US$ 30 bilhões, US$ 33 bilhões e US$ 25 bilhões

respectivamente.

Em janeiro de 1999, um ataque especulativo na moeda brasileira tornou

insustentável o regime de bandas cambiais adotado em 1995. O governo é obrigado a mudar

sua política cambial, adotando a partir de então o regime de taxas cambiais flutuantes, onde,

com a taxa de câmbio flutuante, a moeda brasileira passou a sofrer oscilações em relação ao

dólar de acordo com a disposição dos agentes do mercado em negociar o dólar. A partir de

1999, as autoridades monetárias brasileiras abandonaram a política cambial como forma de

conter a inflação, passando a contar apenas com os instrumentos de políticas fiscais e

monetárias para dar continuidade ao sucesso do Plano Real.

Após o abandono do regime de bandas cambiais em janeiro de 1999, a economia

brasileira passou a ter como principal ponto marcante, uma maxidesvalorização cambial em

2002, a qual foi positiva para ajustar as contas externas, uma vez que o déficit externo ainda

continuava alto.

A partir de 2002, as contas externas passaram a dar sinais positivos. O saldo em

transações correntes, que vinha constantemente apresentando déficit, passou a ser

superavitário devido ao bom desempenho do setor exportador brasileiro. O saldo em

transações correntes nos anos de 2000 e 2001 eram deficitários em torno de US$ 24 bilhões e

US$ 23 bilhões, respectivamente, passando em 2002 para um déficit de apenas US$ 7 bilhões

e, em 2003 e 2004, para um superávit de US$ 4 e US$ 11 bilhões, respectivamente.

A moeda brasileira desvalorizada propiciaria o risco da inflação voltar a se elevar

novamente. Mas o governo brasileiro procurou não cometer os mesmos erros dos planos de

estabilização anteriores, atuando ante as expectativas dos agentes econômicos. Ou seja, o

governo percebeu que as expectativas futuras exerciam grandes influências em meio ao

processo de estabilização econômico. Tentando controlar essas expectativas futuras, o

25

governo adotou no início de 1999 o regime de metas para a inflação, onde o Conselho

Monetário Nacional ditava as metas de inflação para os anos seguintes e o Banco Central tinha

a função de convergir a essas metas as expectativas dos agentes econômicos.

O resultado desse sistema de metas foi que a inflação ficou dentro do estabelecido

pelo Conselho Monetário Nacional em apenas dois anos (1999 e 2002). Para os demais anos a

inflação vem sempre se comportando acima do limite superior da meta definida pelo governo.

O controle da inflação propiciou também a revisão das contas fiscais do governo,

uma vez que não se contava mais com o imposto inflacionário, no sentido de se reduzir tanto o

déficit público como a dívida pública. As duas principais medidas tomadas pelo governo no

campo fiscal foram: a) comprometimento com o Fundo Monetário Internacional para a criação

de superávit primário2 próximo a 4% do PIB, o que forçaria o governo a reduzir seus gastos,

ou seja, fazer economias; b) lei de Responsabilidade Fiscal aprovada em 2000 e implementada

em 2003, que limita os gastos públicos nas três esferas do governo, ou seja, governo Federal,

Estadual e Municipal.

Além de criar condições para o processo de abertura comercial, o governo

brasileiro criou condições para uma maior liberalização dos mercados financeiros e

produtivos, onde o país passou a ter maior acesso tanto ao capital financeiro como ao capital

produtivo internacional. Como facilitadores do movimento internacional de capital financeiro

para o Brasil pode-se destacar: a) término de um processo de renegociação da dívida externa

do governo em 1994, onde os investidores estrangeiros passaram a observar positivamente o

mercado brasileiro, principalmente o mercado de dívidas. Isso facilitou o processo de

captação, por parte dos bancos e das empresas brasileiras, de recursos no mercado

internacional a custos e prazos mais atraentes; b) desregulamentação dos fluxos de capital

financeiro internacional para o mercado brasileiro, com destaque para simplificação da

legislação, facilitando a entrada e a saída de recursos externos nas bolsas brasileiras; c) maior

2 Os superávits primários são as economias que o governo faz, as quais poderão ser usadas para o pagamento de

amortizações e de juros da dívida externa brasileira.

26

liberalização para aplicação de recursos externos em títulos de renda fixa no mercado

financeiro brasileiro.

Com relação ao capital produtivo, os principais itens favoráveis à entrada, em

maior magnitude, de investimentos estrangeiros direto no Brasil na década de noventa foram,

basicamente: a) mudanças na Constituição de 1988, a qual passou a permitir a entrada de

capital estrangeiro em setores específicos da economia brasileira como o de infra-estrutura e

no setor bancário; b) aceleração do processo de privatização; e c) estabilidade

macroeconômica.

Percebe-se, então, que durante o Plano Real, no período compreendido desde seu

início até janeiro de 1999, o Brasil precisava de uma taxa de juros muito elevada, necessária

para atrair recursos internos e externos que eram usados para financiar déficit público, balanço

de Pagamento e manter o câmbio fixo. A taxa de juros alta, por outro lado, era prejudicial para

o Brasil: prejudicava o crescimento econômico, aumentava a dívida e tornava o país

vulnerável a qualquer tipo de crise. Após 1999, era consenso que o país não precisava de uma

taxa de juros tão elevada, e não necessitava mais segurar a taxa de câmbio, diminuindo, assim,

a necessidade de fluxos financeiros tão vultuosos. A economia brasileira se caracterizou

basicamente pós-1999 por: a) menor déficit externo; b) taxa de juros menores; c) déficit

público estável; d) economia com sinais de crescimento; e e) inflação seguindo trajetória de

estabilização.

Mas a partir de 2001 eventos internos e externos interromperam o cenário

favorável da economia do Brasil, que foi iniciado com o Plano real e intensificado em 1999.

Do lado interno: a) o racionamento de energia elétrica, que gerou grande impacto negativo na

economia brasileira; b) início do processo das eleições presidenciais com possibilidades de

assumir a chefia do poder executivo um presidente de esquerda e de ideologia até certo ponto

contrária as idéias do governo anterior. Do lado externo, tinha-se: a) os atentados terroristas

nos Estados Unidos que impactaram diretamente a economia dos países desenvolvidos e

conseqüentemente, a economia dos países emergentes; b) fraudes contábeis em grandes

empresas norte-americanas, abalando, assim, as corporações das demais economias

27

desenvolvidas; c) crise na Argentina, que culminou com default dessa economia, afetando,

assim, as demais economias emergentes.

De acordo com esse cenário, até o ano de 2001 o ambiente era extremamente

favorável à entrada de investimento estrangeiros diretos no Brasil. No período compreendido

entre os anos de 1990 ao ano 2000, as autoridades brasileiras ensejaram grande esforço no

sentido de estabilizar a economia, inserir o Brasil no mercado internacional, ajustar as contas

fiscais e realizar políticas econômicas condizentes com a atual realidade mundial. Criaram-se

condições para que o Brasil fosse um dos países emergentes a atrair o maior volume de

investimentos estrangeiros diretos para sua economia.

2.3. Fluxos de Capitais Estrangeiros para o Brasil

Os fluxos de capitais estrangeiros para o Brasil têm basicamente três categorias,

segundo especificações constantes no balanço de pagamentos brasileiro. As categorias são: a)

investimentos estrangeiros diretos - IED; b) investimentos estrangeiros em carteiras ou em

portfólios; e c) outros investimentos estrangeiros (investimentos que não se enquadram em

nenhuma das categorias anteriores, são basicamente crédito comercial com fornecedores,

empréstimos e financiamentos, amortizações etc.).

Os IED são basicamente aqueles recursos duradouros cujos objetivos são de longo

prazo. Krugman (1999) define investimento estrangeiro como sendo o investimento que tem

como principal característica a transferência de recursos e a aquisição do controle de uma

empresa. Ainda segundo o autor:

[...] por investimento estrangeiro direto entendemos os fluxos internacionais de

capitais pelas quais uma empresa em um país cria ou expande uma filial em outro. A

característica distintiva do investimento estrangeiro direto é que ele envolve não só

uma transferência de recursos, mas também a aquisição do controle. Isto é, a filial não

tem apenas a obrigação financeira com a empresa matriz; ela é parte da mesma

estrutura organizacional.

28

2.4. Fluxos de Investimentos Estrangeiro em Portfólios.

Os investimentos estrangeiros em portfólios são basicamente aplicações em ações

em bolsa de valores e em títulos de renda fixa. Esses recursos caracterizam-se por serem

bastante voláteis, a qualquer sinal de mudança de cenários, eles migram rapidamente para

mercados de outros países. Para uma melhor visualização, tem-se os Gráficos 2.3, 2.4 e 2.5,

referentes as entradas, saídas e saldo dos investimentos estrangeiros em portfólios.

Gráfico 2.3–Evolução dos Investimentos Estrangeiros em Carteira (crédito) no Brasil: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

De acordo com Gráficos 2.3 e 2.4, os volumes de recursos são bastantes elevados

tanto nas entradas como nas saídas desse tipo de investimentos. Isso porque na maioria dos

casos tratam-se de capitais voláteis, objetivando aproveitar situações de mercado para

rentabilizar as carteiras dos investidores estrangeiros no curto e médio prazo.

-

10,000.00

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Gráfico 2.4– Evolução dos Investimentos Estrangeiros em Carteira (débito) no Brasil: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

Quanto aos fluxos líquidos dos investimentos estrangeiros em carteira, percebe-se

pelo Gráfico 2.5 que, com exceção do ano de 1994, os demais anos apresentaram volumes

bastante reduzidos.

Gráfico 2.5– Evolução dos Investimentos Estrangeiros em Carteira (líquido) no Brasil: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

-

5,000.00

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(10,000.00)

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10,000.00

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40,000.00

50,000.00

60,000.00

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US

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30

2.5. Fluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos para o Brasil

A história desse tipo de fluxo para a economia brasileiro remonta do século XIX.

Segundo Lacerda (2004), a partir de 1880, ocorreu a entrada dos primeiros fluxos de

investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira, mais precisamente voltados para a

indústria de transformação, basicamente, farinha de trigo, calçados e fósforos. Mais tarde,

precisamente na segunda metade do século XX, houve uma ampliação do volume quando teve

início também ingresso de investimentos voltados para a indústria de bens duráveis, bens

intermediários e bens de capital. E, a partir do Plano Real, é que se tornou mais elevado o

ingresso desse tipo de investimentos.

Com relação ao estoque de investimento estrangeiro direto injetado na economia

brasileira, segundo dados do Censo de Capitais Estrangeiro de 2001, ano-base 2000 (último

elaborado), divulgado pelo Banco Central do Brasil3, o total desse tipo de investimentos é de

US$ 103.014.509 mil, enquanto que o estoque do Censo de Capitais Estrangeiros de 1996,

ano-base 1995, é de US$ 41.695.623 mil, mais de 147% em termos nominais.

A elevação dos números citados acima não se refere apenas a volume de recursos,

mas também ao número de empresas declarantes. Em 1995, 6.322 empresas privadas

detinham participação em seu capital de recursos estrangeiros, enquanto que, no final de 2000

esse número foi elevado para 11.404 uma elevação de mais de 80%. Vale salientar que, nos

dois censos analisados, somente integraram ao resultado empresas que detinham no mínimo

10% do capital votante da empresa ou 20% do capital total de recursos estrangeiros na posição

de final de dezembro de 1995 e 2000. Também foram dispensadas de apresentar informações

ao censo (tanto o de 1995 como o de 2000): a) pessoas físicas; b) órgãos da administração

pública federal, estadual e municipal; c) administradores de carteira de recursos e fundos de

investimentos; e d) entidades sem fins lucrativos.

3 O Banco Central do Brasil divulgou dois censos e capitais estrangeiros, o primeiro teve como ano base 1995 e o

segundo como ano base 2000.

31

Com relação à distribuição do estoque de investimentos estrangeiros diretos

nos principais setores da economia brasileira, percebe-se que o setor primário não sofreu

grandes alterações, ao passo em que houve uma maior preferência para o setor de serviços em

detrimento do setor de indústria, conforme especificado na Tabela 2.5:

No ano de 1995, 66,93% do estoque de IED estavam alocados no setor da

indústria, caindo para uma participação de 33,71% no ano de 2000. O setor de serviços que

em 1995 tinha 30,85% do estoque de IED, teve sua participação elevada para 63,96% em

2000. Segundo Lacerda (2004), a principal razão para a migração de IED da indústria para o

setor de serviços está no aporte nos sub-setores de telecomunicações e intermediação

financeira oriundos do processo de privatização.

Com relação aos países de origem do investimento, os Estados Unidos é o maior

investidor no Brasil nos dois censos realizados. As Tabelas 2.6 e 2.7 mostram os 10 maiores

investidores no Brasil, conforme censos do Banco Central de 1995 e de 2000:

US$ mil % US$ mil %

Agricultura, pecuária e extrativa mineral 924.989 2,22 2.401.079 2,33

Indústria 27.907.093 66,93 34.725.619 33,71

Serviços 12.863.541 30,85 65.887.811 63,96

Total 41.695.623 - 103.014.509 -

Fonte: elaboração do autor com dados do Bacen.

Censo 1995 Censo 2000Atividade econômica principal

TABELA - 2.5 - IED DISTRIBUÍDO POR SETORES

32

De um total geral de US$ 41.695.624 mil, em 1995, esses países remeteram para o

Brasil, nada mais do que US$ 31.572.708 mil, com posição dezembro de 1995, isto

corresponde a mais de 75% do total injetado no Brasil via IED.

Com posição de dezembro de 2000, de um total de US$ 103.014.509 mil, os dez

países direcionaram um montante de US$ 78.758.429 mil. Analisando as Tabelas 2.6 e 2.7

percebe-se que mais de 75% do estoque de IED, na posição de 1995 e 2000, são recursos

remetidos pelos dez países selecionados. Destaca-se também o enorme volume investido no

Estoque (US$ mil) %

Estados Unidos 10.852.182 26,03

Alemanha 5.828.042 13,98

Japão 2.658.517 6,38

Suiça 2.815.302 6,75

França 2.031.495 4,87

Reino Unido 1.862.609 4,47

Canadá 1.818.987 4,36

Países Baixos (Holanda) 1.545.799 3,71

Itália 1.258.558 3,02

Virgens, Ilhas ( Britânica) 901.217 2,16

Total do estoque IED no Brasil em 1995 41.695.624 -

Fonte: elaboração do autor com dados do Bacen.

TABEL 2.6 - ESTOQUE DE IED DOS 10 PAÍSES COM MAIOR VOLUME EM 1995

Censo 1995Países

Estoque (US$ mil) %

Estados Unidos 24.500.107 23,78

Espanha 12.253.090 11,89

Países Baixos (Holanda) 11.055.332 10,73

França 6.930.850 6,73

Cayman Ilhas 6.224.806 6,04

Alemanha 5.110.235 4,96

Portugal 4.512.102 4,38

Virgens, Ilhas ( Britânica) 3.196.582 3,10

Itália 2.507.168 2,43

Japão 2.468.157 2,40

Total do estoque IED no Brasil em 2000 103.014.509 -

Fonte: elaboração do autor com dados do Bacen.

PaísesCenso 2000

TABELA 2.7 - ESTOQUE DE IED DOS 10 PAÍSES COM MAIOR VOLUME EM 2000

33

Brasil pela Espanha e Holanda, advindo principalmente da aquisição de instituições

financeiras.

Com relação aos estados da federação brasileira, São Paulo, Rio de janeiro e Minas

Gerais, respectivamente, são os que têm mais recebido investimentos via IED, conforme os

dois censos analisados. A Tabela 2.8 mostra os 10 maiores estados receptores de recursos

estrangeiros em 1995:

De um total geral de US$ 41.695.624 mil em 1995, esses estados receberam, US$

40.737.010 mil, na posição dezembro de 1995, o que representa em termos percentuais mais

de 97% do estoque de recursos de IED destinados ao Brasil.

Estoque (US$ mil) %

São Paulo 27.699.344 66,43

Rio Grande do Sul 1.065.683 2,56

Rio de Janeiro 5.695.920 13,66

Paraná 923.576 2,22

Minas Gerais 2.684.247 6,44

Bahia 645.646 1,55

Espítito Santo 603.342 1,45

Pará 570.666 1,37

Maranhão 553.999 1,33

Santa catariana 294.587 0,71

Total do estoque IED no Brasil em 1995 41.695.624 -

Fonte: elaboração do autor com dados do Bacen.

TABELA 2.8 - ESTOQUE DE IED DOS 10 ESTADOS COM MAIOR VOLUME EM 1995

Censo 1995Estados

34

Na posição de dezembro de 2000, do total de US$ 103.014.509 mil de estoque de

IED, cerca de US$ 99.795.394 mil foram destinados para os dez estados selecionados na

Tabela 2.9, o que equivale a mais de 96% dos recursos destinados ao Brasil nessa data.

Analisando os fluxos ano a ano dos investimentos estrangeiros diretos recebidos

pelo Brasil nos últimos 18 anos, percebe-se que, somente a partir de 1994, ano do início do

processo de estabilização econômica, é que ganhou robustez. O total de IED acumulado de

1979 até 1993 é de aproximadamente US$ 32.630,00 milhões, enquanto que, de 1994 a 2004,

é de aproximadamente US$ 256.706,00 milhões, quase oito vezes mais, ou seja, o Brasil

recebeu mais de 786% superior ao recebido no período 1979 a 1993. O Gráfico 2.6 mostra

melhor a evolução dos investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira nos últimos

18 anos.

Estoque (US$ mil) %

São Paulo 68.011.364 66,02

Rio Grande do Sul 4.122.442 4,00

Rio de Janeiro 16.302.963 15,83

Paraná 2.807.209 2,73

Minas Gerais 4.350.165 4,22

Bahia 821.302 0,80

Espítito Santo 657.120 0,64

Pernambuco 800.767 0,78

Maranhão 745.825 0,72

Amazonas 876.234 0,85

Total do estoque IED no Brasil em 2000 103.014.509 -

Fonte: elaboração do autor com dados do Bacen.

EstadosCenso 2000

TABELA 2.9 - ESTOQUE DE IED DOS 10 ESTADOS COM MAIOR VOLUME EM 2000

35

Gráfico 2.6–Evolução dos ingressos de investimentos estrangeiros diretos (crédito) no Brasil: Período

1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

O total de investimentos estrangeiros diretos acumulados de 1979 até 1993 que

saiu do país é de aproximadamente US$ 7,5 milhões, enquanto que, de 1994 a 2004, é de

aproximadamente US$ 62,7 milhões. Vale salientar que após o ano de 2001, com as crises

tanto do cenário externo como interno (atentados terroristas, escândalos contábeis nas grandes

corporações americanas, baixo crescimento das economias desenvolvidas, eleições

presidenciais no Brasil etc), houve uma evolução na saída de IED do Brasil. O Gráfico 2.7

mostra melhor a evolução das saídas dos investimentos estrangeiros diretos na economia

brasileira nos últimos 18 anos.

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Gráfico 2.7–Evolução dos débitos de investimentos estrangeiros diretos no Brasil: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

Agora com relação ao saldo de IED, ou seja, as entradas descontadas das saídas,

obtem-se no acumulado de 1979 até 1993 um total de aproximadamente US$ 25 milhões,

enquanto que, de 1994 a 2004, é de aproximadamente US$ 193,9 milhões. O Gráfico 2.8

mostra a evolução do saldo dos investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira nos

últimos 18 anos.

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Gráfico 2.8 – Evolução dos ingressos de investimentos estrangeiros diretos (líquido) no Brasil: Período

1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

A entrada de investimentos estrangeiros diretos para a economia brasileira é de

extrema importância, pois além de inserir o Brasil na economia mundial é também uma fonte

de financiamento do déficit do balanço de pagamentos. Vale salientar também que esse tipo de

entrada de recursos não gera obrigatoriedade de honrar compromissos fixos futuros como se

fossem recursos oriundos de empréstimos. O que pode ocorrer no futuro é a remessa de

dividendos para o exterior, caso a empresa venha a gerar lucros.

O fluxo de IED para o Brasil foi intensificado com o programa de privatizações

realizado nas esferas federal e estadual. Programa esse iniciado em 1991. Segundo Lacerda

(2004), as receitas com as privatizações atingiram um montante expressivo desde seu início,

sendo significante a participação de investidores estrangeiros.

A tabela 2.10 mostra como os recursos oriundos do programa de privatizações

foram distribuídos dentre os vários setores da economia brasileira.

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No período compreendido entre 1996 a 2002, o total de recursos advindo do

programa de privatização somou um montante de aproximadamente US$ 30,9 bilhões. Com

destaque de volume para o setor de telecomunicação. Contribuiu para esse montante a venda

do sistema telebrás entre os anos de 1999 e 2000, por cerca de US$ 7,7 bilhões. O setor

elétrico também teve importante participação com um montante de US$ 8,4 bilhões.

A tabela 2.11 mostra quanto o Brasil recebeu de receitas de privatizações nos anos

de 1996 a 2002.

Pela 2.11, percebe-se que o auge do programa de privatizações ocorreu no ano de

1999 com um total de US$ 8,78 milhões em virtude, principalmente, da venda do sistema

SETORES VALORES EM US$ (MIL)

TELECOMUNICAÇÕES 14.995,37

ELÉTRICO 8.478,82

BANCO 3.715,58

GÁS 1.974,57

MINERAÇÃO 1.162,90

SEGUROS 457,00

SANEAMENTO 58,00

FERROVIÁRIO 41,40

PETRÓLEO 26,60

TOTAL 30.910,24

Fonte: elaborada pelo autor com dados extraídos do site o Bacen

TABELA 2.10 - DISTRIBUIÇÃO POR SETORES DOS

RECURSOS ORIUNDOS DAS PRIVATIZAÇÕES - PERÍODO:

1996 A 2002

ANOS VALORES EM US$ (MIL)

1996 2.345,40

1997 5.248,70

1998 6.120,80

1999 8.785,37

2000 7.050,97

2001 1.079,00

2002 280,00

TOTAL 30.910,24

Fonte: elaborada pelo autor com dados extraídos do site o Bacen

TABELA 2.11-DISTRIBUIÇÃO ANUAL DOS RECURSOS

ORIUNDOS DAS PRIVATIZAÇÕES-PERÍODO: 1996 A 2002

39

telebrás. No ano de 2000 o montante também foi significante, alcançando US$ 7 bilhões.

Esses recursos foram provenientes, basicamente da venda do Banespa, em novembro de 2000,

para o Banco Santander por US$ 3,7 bilhões.

2.6. Análise do Balanço de Pagamento do Brasil Destacando o Fluxo de IED

Durante a década de noventa, mais precisamente no início do Plano Real, o

balanço de pagamento do Brasil passou por algumas alterações na sua forma de

financiamento. A partir de 1990, o Brasil que, com a abertura comercial, vinha apresentado

grandes superávits na balança comercial, suficiente para cobrir o déficit da conta de serviços,

passou a apresentar déficit, esse déficit passou a ser coberto pela entrada de investimentos

estrangeiros diretos e por financiamento e empréstimos internacionais. O Gráfico 2.9 refere-se

ao saldo da conta de transações corrente do balanço de pagamento brasileiro ao longo dos

últimos 18 anos:

Gráfico 2.9 – Saldo em transações correntes do Brasil: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

40

Como era expressiva a entrada de investimentos diretos e, por outro lado, era fácil

a captação de recursos através de empréstimos/financiamentos, o Brasil não precisava usar

suas reservas internacionais para saldar déficit da conta de serviços, mantendo, assim, um

elevado estoque de reservas capaz de manter o regime de bancas cambiais adotado até o final

de 1996.

Em 1997, quando da ocorrência das crises asiática e russa, impactando o fluxo de

capital para o Brasil, o país passou a ter dificuldade de financiar o déficit do balanço de

pagamento via ingresso de investimentos estrangeiros diretos e via empréstimos e

financiamento. A partir de janeiro de 1999, data do abandono do regime de bandas cambiais,

inicia-se uma nova fase para as contas externas brasileiras. Segundo Lacerda (2004), o

balanço de pagamento passou a ser financiado por superávits comerciais advindos da

desvalorização cambial e do crescimento que a economia mundial apresentou após as crises da

Ásia e da Rússia.

2.7. Investimentos Estrangeiros Diretos e o Comércio Externo Brasileiro

Os investimentos estrangeiros diretos, além de serem fonte de financiamento de

déficit do balanço de pagamento, também contribuem para elevação do volume de recursos

transacionados entre o Brasil e o exterior. Os Gráficos 2.10 e 2.11 mostram, respectivamente,

a evolução das exportações e importações brasileiras dos últimos 18 anos.

41

Gráfico 2.10 – Evolução das exportações brasileiras: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

Gráfico 2.11 – Evolução das importações brasileiras: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

O volume das importações na década de 80 e início da década de 90, época que o

governo controlava rigidamente as importações visando proteger a indústria nacional, era

reduzido. Tinha-se nessa época uma das economias mais fechada do mundo, razão pela qual o

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volume importado era pouco expressivo se comparado com o volume importado atualmente.

No período compreendido entre 1980 a 1990, o Brasil importou US$ 189 milhões, passando

para US$ 426 milhões entre 1991 a 2000.

Para se ter uma idéia do tamanho do comércio brasileiro – alguns autores medem o

tamanho do comércio como sendo o somatório das exportações com as importações. No

período compreendido entre 1979 a 1993 (15 anos), a economia movimentou

aproximadamente US$ 682.000,00 milhões e, entre 1994 a 2004 (11 anos), US$ 1.205.932,00

bilhões, o que mostra o quanto a economia brasileira se inseriu no comércio mundial após

1994. O gráfico 2.12 mostra quanto o Brasil transacionou com o exterior, ou seja, a soma das

exportações com as importações a cada ano, nos últimos 18 anos.

Gráfico 2.12 – Evolução do comércio externo brasileiro – soma das exportações com as importações:

Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

Com relação ao saldo comercial brasileiro, foi significante na década de oitenta e

início da década de noventa, devido ao rígido controle das importações e favorecimento das

exportações pelo governo nesse período. A partir de 1994, com o governo adotando uma

política de câmbio fixa, onde a moeda brasileira passou a ser super-valorizada, o saldo da

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balança comercial passou a ser deficitário e, a partir de 1999, com o abandono do regime de

bandas cambiais, a balança começou a apresentar melhoras, atingindo em 2004 um saldo

superior a US$ 33 milhões, conforme mostra o Gráfico 2.13.

Gráfico 2.13 – Evolução do saldo da balança comercial brasileira: Período 1986-2004

Fonte: Elaboração do autor com dados do Bacen

2.8. Fluxos de IED nas Economias Desenvolvidas e nas Economias em Desenvolvimento

Segundo Lacerda (2004), a partir da década de noventa, o fluxo de IED no mundo

tem crescido de forma acelerada, principalmente entre as nações desenvolvidas. Para se ter

uma idéia do tamanho desses fluxos, no ano de 2000 o fluxo de IED mundial atingiu o

patamar de US$ 1,271 trilhão, o que representa mais de seis vezes o valor de US$ 200 bilhões

do início da década de noventa. Os Estados Unidos têm sido o país qualificado como maior

receptor de investimentos estrangeiros diretos. Em 2001, com os atentados terroristas nos

EUA, escândalos contábeis naas grandes corporações e baixo crescimento da economia

mundial, esses fluxos diminuíram sensivelmente. De acordo com Lacerda (2004), levando-se

em consideração o estoque de IED até o ano de 2000, os Estados Unidos se destacam por

ocupar a primeira posição, com um montante de aproximadamente mais de US$ 1 trilhão,

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seguido pelo Reino Unido, com US$ 394 bilhões e logo depois pela a China, com US$ 306

bilhões. O Brasil é o nono, com US$ 164 bilhões.

Para as economias receptoras de IED, a vantagem desse tipo de fluxo em relação às

demais formas de investimentos é de que, na forma de investimentos diretos, diferentemente

de investimentos em portfólios, não há uma geração de dívida, ou seja, não gera

compromissos fixos como amortizações ou juros e também não há pressões com a volatilidade

cambial inerente às demais formas de investimento. A saída de recursos do país receptor,

ocorrida por ocasião de IED, ocorre na forma de dividendos, quando a empresas passam a

gerar lucros ou por ocasião da reversão dos investimentos, mas nunca gera compromissos

fixos como os empréstimos.

Apesar dos fluxos de IED terem se concentrado nas economias desenvolvidas, os

países emergentes também receberam grande parte desse tipo de investimento. Segundo

Lacerda (2004), em 2000 os países em desenvolvimento receberam aproximadamente US$

224 bilhões de investimentos diretos, equivalente a cinco vezes mais do que o recebido em

1992. Com relação ao montante recebido de IED, com posição em 1999, dentre os países em

desenvolvimento, a China é o primeiro país do ranking, seguido pelo Brasil e em terceiro

Hong Kong.

A América Latina também recebeu grande parte de investimentos diretos; o

recorde de ingresso aconteceu em 1999, com quase US$ 110 bilhões. Até o ano de 2001, o

Brasil era o líder no ranking de recebimento de IED. Em 2001 o México tomou sua liderança.

Na América do Sul, o Brasil e a Argentina são os líderes receptores seguido pelo Chile.

45

3. REVISÃO EMPÍRICA SOBRE INVESTIMENTOS ESTRENGEIROS DIRETOS

Uma das conseqüências do movimento de capital no mundo via investimentos

estrangeiros diretos é o surgimento das chamadas empresas multinacionais. Então surge a

pergunta; porque as empresas procuram produzir em outros países? A moderna teoria do

empreendimento multinacional procura explicar as razões que levam as empresas a

produzirem um mesmo bem em vários países diferentes em vez de produzirem em um só país,

bem como tenta explicar os motivos que levam uma mesma empresa em vez de empresas

separadas produzir bens em países diferentes. O primeiro caso é conhecido como a questão da

localização e o segundo como a questão da internalização.

De acordo com Krugman (1999), as razões da teoria da localização são as mesmas

que levam à existência do comércio internacional, ou seja, a produção é direcionada para onde

existem em maior abundâncias os fatores intensivos de produção de determinado produto4.

Com relação à teoria da internalização, as razões que levam a produção ser feita

em locais diferentes por uma mesma empresa, em vez de empresas separadas, na concepção

Krugman (1999), são principalmente: a) razões tecnológicas (a mesma tecnologia

desenvolvida por uma empresa em um país pode ser utilizada em outro país através de sua

subsidiária) e, b) razões de gerenciamento (as técnicas de gerenciamento podem coordenar de

maneira útil as atividades das subsidiárias da empresa em diversos países).

3.1 Revisão de Estudos Empíricos Sobre Investimento Estrangeiro Direto

Vários autores se dedicaram à execução de trabalhos inerentes a investimentos

estrangeiros diretos no Brasil, seja enfatizando os determinantes dos IED, seja mostrando os

impactos desse tipo de investimento na economia brasileira. Procurando enfatizar o impacto

4 Se determinado produto tem a mão-de-obra barata como fator intensivo e este fator localiza-se no

continente africano, a produção desse produto será direcionada para essa região e o e mesmo acontece com

outros produtos. Mais raramente outros motivos levam à mudança de localização de determinada produção,

como: custos de transportes, barreiras impostas pelos países hospedeiros etc.

46

das empresas estrangeiras na economia doméstica, a maioria dos trabalhos encontrados trata

da relação entre investimentos estrangeiros diretos e o comércio internacional.

Laplane e Negri (2003), utilizando dados do censo de capitais estrangeiros do

Banco Central do Brasil, estimaram dois modelos: um para exportações e outro para

importações. Os autores buscaram detectar qual grupo de empresas têm maior peso no

comércio exterior, se empresas estrangeiras ou empresas nacionais, ou seja, o trabalho trata do

papel das empresas multinacionais na economia brasileira.

Os autores utilizaram dados de painéis, sendo contempladas informações de 7.606

empresas exportadoras, das quais 1.534 empresas estrangeiras, e com 9.054 empresas

importadoras, dentre as quais 1.659 empresas estrangeiras. Os autores chegaram à conclusão

de que as empresas estrangeiras importam em média 26% a mais que as empresas nacionais,

enquanto que, em termos de exportações, não há diferenças entre o grupo de empresas, ou

seja, o resultado do estudo mostrou que a origem do capital da empresa tem impacto maior

sobre as importações do que sobre as exportações. A conclusão que se chega, após analisar o

resultado do estudo, é de que, em termos de otimização do saldo da Balança comercial, não é

tão significante a presença de empresas estrangeiras no país.

L. Júnior (2005), em sua dissertação de mestrado, estimou um modelo para

identificar e avaliar a relevância das principais variáveis que determinaram a entrada de

investimentos diretos estrangeiros para a economia brasileira no período entre 1996 e 2003

através da metodologia de dados de painel.

O autor usou as seguintes variáveis no modelo como potenciais determinantes à

entrada de investimentos diretos estrangeiros para a economia brasileira: a) nível do PIB; b)

taxa média de crescimento real do PIB nos últimos 5 anos; c) coeficiente de abertura

comercial; d) taxa de inflação; e) risco país; f) índice Dow Jones; g) quantidade consumida de

energia elétrica; h) taxa de crescimento real do PIB dos países industrializados; i) diferencial

entre a taxa de juros nacional e internacional; e j) estoque de investimento estrangeiro no

período anterior.

47

Como resultados, o estudo mostrou que as variáveis apresentaram-se com o sinal

esperado e mostraram-se significativas. A exceção foi a taxa de inflação que, apesar de se

mostrar significativa, apresentou um sinal positivo, ou seja, contrário ao esperado

anteriormente pelo autor. A justificativa do autor para o sinal positiva da taxa de inflação é de

que pode existir algum setor da economia brasileira que seja beneficiado pela inflação, mas

para comprovar isso serão necessários estudos empíricos.

Nonnenberg e Mendonça (2004) estimaram, através de dados de painel, os

principais determinantes dos IED em 33 países em desenvolvimento da América Latina,

África, Ásia e Europa, no período de 1975 a 2000. As variáveis selecionadas para explicar o

ingresso de IED foram: a) PIB; b) taxa média de crescimento real do PIB nos últimos 5 anos;

c) qualificação da força de trabalho; d) grau de abertura comercial; e) taxa de inflação; f) taxa

de risco; g) consumo percapita de energia; e h) índice Dow Jones. Os autores chegaram como

resultados que variáveis como: tamanho e ritmo de crescimento do PIB, qualificação de mão-

de-obra, desempenho do mercado de capitais e grau de abertura da economia estão entre os

principais determinantes de IED.

Barrell e Pain (1991)5 construíram um modelo, para explicar o nível de saída de

investimentos diretos das empresas americanas nas décadas de 1970 e 1980. As variáveis

usadas no modelo foram o nível do PIB das 7 maiores economias mundiais, custo de capital,

custo de trabalho, variação da taxa de câmbio, volume de bens exportados pelos EUA e o

nível de lucros das corporações americanas. Como resultado, os autores obtiveram que o nível

do PIB, os custos de capital e trabalho são variáveis extremamente importantes para a decisão

do investimento estrangeiro.

Froot e Stein6 (1991) examinaram a relação entre os fluxos de entrada de

investimentos diretos externos e a taxa de câmbio nos EUA no período de 1973 e 1987,

buscando mostrar a importância da taxa de câmbio na determinação desses investimentos nos

Estados Unidos. O resultado foi uma relação negativa entre a taxa de câmbio e os

5 Barrell. R., Pain, N. An econometric analysis of U.S. foreign direct investment. 6 Froot, K. A., Stein, J.C. Exchange rates and foreign direct investment.

48

investimentos diretos estrangeiros no país nesse período. Ou seja, uma depreciação do dólar

pode levar à aquisição de ativos americanos por parte de investidores estrangeiros.

Rajneesh Narula, Katharine Wakelin desenvolveram um trabalho onde autores

estimam três equações: uma para comércio, outra para investimentos externos e outra para

investimentos internos. Nesses modelos, os autores demonstram que potencialidades

tecnológicas, nível de desenvolvimento, disponibilidade de recursos naturais, tamanho de

mercado, intensidade do comércio (importações mais exportações), consumo e estoque de

investimentos interno, são determinantes-chaves para o investimento interno, investimento

externo e exportações.

49

4. MODELO ECONOMÉTRICO E DADOS AMOSTRAIS

As variáveis do modelo foram selecionadas baseadas, principalmente, no nível de

significância e no sinal esperado para as variáveis das regressões de estudos empíricos

pesquisados. O que será feito diferente desses outros estudos é que será utilizado no presente

trabalho dado de séries temporais. Já que os trabalhos pesquisados utilizam dados de painel. A

inclusão do Plano Real, que aparentemente terá efeito positivo no ingresso dos investimentos

estrangeiros para o Brasil, não foi considerado em nenhum dos trabalhos pesquisados.

A especificação básica que será utilizada no presente trabalho terá a seguinte

modelagem teórica: IED = f(DAM ,ABERT, CAM, IPCA, PIB, PIBAMER, SEL, IBOV). O

modelo econométrico utilizado será:

LnIEDt = β1 + DAM + β2LnABERTt + β3LnCAMt + β4LnIPCAt +

β5LnPIBt + β6 LnPIBAMERt + β7 LnSELt + β7 LnIBOVt + ut

Em que Ln = Logaritmo natural;

IED = Fluxo trimestral de investimentos estrangeiros diretos, em dólares, injetado

na economia brasileira dividido pelo PIB brasileiro. É a variável dependente do modelo e foi

coletada do balanço de pagamentos disponível no site do Banco Central do Brasil.

DAM = É uma variável dummy para representar o Plano Real implantado em 1994.

A inclusão dessa variável no modelo tem o objetivo de capturar o efeito desse plano nos

fluxos de IED para o Brasil.

ABERT = Nível de abertura comercial do Brasil – soma das exportações com as

importações em cada trimestre (fluxo no trimestre) divido pelo PIB brasileiro, ambos em

dólares.

50

O nível de abertura comercial (ABERT) foi coletado do balanço de pagamentos

disponível no site do Banco Central do Brasil, e é representado pela soma, em termos

absolutos, das exportações com as importações em cada trimestre, dividido pelo PIB do Brasil

do respectivo trimestre de ingressos/saídas dos recursos. Essa variável representa, assim, o

tamanho do comércio de uma nação em relação ao tamanho de suas riquezas. Para esta

variável, espera-se que tenha uma correlação positiva com o fluxo de investimentos

estrangeiros diretos para o Brasil. Uma elevação, juntamente com uma maior flexibilização do

comércio internacional em um país deve favorecer a tomada de decisão por parte do investidor

no momento da alocação do investimento. Tal condição implicará na minimização do risco do

investimento, visto que o investidor pode desmobilizar seu capital e retornar para seu país de

origem ou realocá-lo em outro país com condições maiores de obter retornos, bem como não

terá grandes dificuldades de remeter seus lucros e dividendos para suas matrizes.

CAM = Variação trimestral da taxa de câmbio (R$/US$) real do Brasil, acumulada

mensalmente em cada trimestre. Para calcular a taxa de câmbio real, deflacionou-se a taxa

nominal pelo IPCA do IBGE.

A taxa de câmbio (R$/US$) também foi coletada junto ao software Economática.

Para encontrar a variação da taxa de câmbio de um trimestre, considerou-se a taxa de câmbio

do último dia útil do trimestre dividido pela taxa de câmbio do último dia útil do trimestre

anterior, deixando o resultados dessa divisão na forma de fator. Para esta variável espera-se

que tenha uma correlação positiva com os fluxos de investimentos estrangeiros diretos para o

Brasil.

IPCA = Variação trimestral da inflação do Brasil em forma de fator, capitalizada

mensalmente em cada trimestre.

A taxa de inflação medida pelo IPCA do IBGE, foi coletada do software

Economática. Para se encontrar a inflação de um trimestre, capitalizou-se a taxa de inflação

mensal dos três meses de cada trimestre, encontrando, assim, a taxa de inflação trimestral em

forma de fator

51

Para esta variável espera-se que tenha uma correlação negativa com fluxo de

investimentos estrangeiros diretos para o Brasil. Isso porque uma economia com índices

inflacionários elevados ou instáveis deverá dar lugar à outras economias estabilizadas no

momento da tomada de decisão de investir por parte do investidor estrangeiro. A inflação gera

incerteza no investidor, principalmente no investidor de longo prazo, porque, basicamente,

dificulta a mensuração de resultados das companhias sediadas no país e também coroem parte

da renda das pessoas ali residentes.

PIB = PIB trimestral do Brasil convertido em dólares americanos da época, ou

seja, convertido pela cotação do último dia útil de cada trimestre do dólar americano7. O PIB

foi coletado junto ao site do IBGE.

Para a variável PIB, espera-se que tenha uma correlação positiva com os fluxos de

investimentos estrangeiros diretos para o Brasil. Quanto maior for o crescimento de uma

economia, bem como seu porte, mais condições ela terá de atrair recursos externos para si.

PIBAMER = PIB dos Estados Unidos – variação trimestral do PIB americano na

forma de fator. Esta variável foi coletada de relatórios da consultoria Lopes Filho &

Associados. A variável PIB americano é utilizada na regressão do presente trabalho para

medir o crescimento, em termos percentuais, do PIB mundial8. Conforme já visto

anteriormente, os Estados Unidos têm representação bem superior aos outros países no que diz

respeito ao envio de recursos na forma de investimentos estrangeiros diretos destinados ao

Brasil. Conforme o censo do Banco Central, em 1995 os Estados Unidos eram responsáveis

por aproximadamente 26% de todos os recursos de IED enviado para o Brasil e, segundo o

censo de 2000, esse percentual pouco se reduziu, ficando próximo de 24%. O segundo país

situa-se consideravelmente abaixo desses percentuais, (algo em torno de 11%).

Para esta variável espera-se que tenha uma correlação positiva com os fluxos de

investimentos estrangeiros diretos para o Brasil. À proporção que a economia mundial cresce,

eleva-se a necessidade de investimentos por parte dos agentes produtivos. E países que

7 Não foi feito teste de exogeneidade para a variável PIB 8 A idéia inicial seria trabalhar com o PIB Mundial, mas devido a dificuldades de encontrar dados relativos a

variação do PIB mundial trimestralmente, optou-se pelo PIB dos Estados Unidos.

52

oferecerem condições propícias para absorver recursos externos, receberão parcelas cada vez

maiores desses recursos na forma de IED.

SEL = Taxa trimestral de juros do Brasil em forma de fator, deflacionada pelo

IPCA do IBGE, capitalizada mensalmente em cada trimestre.

A taxa de juros da economia brasileira é representada nesse trabalho pela taxa

SELIC, coletada junto ao software Economática. Para se encontrar a SELIC de um trimestre,

capitalizou-se a taxa de juros SELIC mensal dos três meses de cada trimestre, encontrando,

assim, a taxa SELIC trimestral.Visando uma melhor padronização, ou seja, de forma a

fornecer uma leitura mais direta dos resultados, uma vez que nas variáveis descritas acima

trabalhamos com números e não percentual, transformou-se a SELIC trimestral encontrada em

forma de fator.

Para esta variável espera-se que tenha uma correlação negativa com os fluxos de

investimentos estrangeiros diretos para o Brasil. Uma economia com altas taxas de juros tende

a reduzir o consumo da população e essa redução é prejudicial para as empresas estrangeiras

que se instalam no Brasil à procura de mercados consumidores atraentes. As altas taxas de

juros propiciam redução de consumo, porque as pessoas direcionam partes de suas rendas, que

poderiam ser usadas para consumir, para aplicarem nos mercados financeiros que se mostram,

num cenário de juros altos, ideais para obterem rendimentos significativos.

IBOV = É o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo convertido em dólares

americanos. A inclusão dessa variável na regressão tem o intuito de capturar incertezas. Para

essa variável espera-se que tenha uma correlação positiva com o fluxo de IED para o Brasil.

Ou seja, um país com um mercado de capitais sólido e em crescimento, terá condições de

atrair parcelas cada vez maiores de recursos na forma de IED. Esta variável foi coletada junto

ao software Economática.

ut = é um distúrbio aleatório de média zero e variância constante;

53

A escolha do modelo Log-Linear ao invés do modelo Linear foi feita através do

uso do teste de MWD (teste proposto por Mackinnon, White e Davidson), o qual tem por

função indicar a melhor escolha entre um modelo linear ou um modelo log-linear. O teste de

MWD consiste em estimar a regressão nas duas formas (linear e a log-linear), para se obter os

valores estimados das variáveis dependentes nos dois modelos. Em seguida gera-se duas

variáveis que podem ser chamadas de Z1 e Z2. A variável Z1 é formada pela diferença entre o

logaritmo do valor estimado para a variável dependente do modelo linear e logaritmo do valor

estimado para a variável dependente do modelo log-linear e a variável Z2 é formada pela

diferença do valor estimado da variável dependente do modelo linear e do antilog do valor

estimado da variável dependente do modelo log-linear. Note-se que nessas duas diferenças

descritas acima, para acharmos os valores das variáveis Z1 e Z2, estamos usando séries com a

mesma unidade.

Em seguida estima-se a regressão duas vezes. Em uma, usando o modelo linear, e

incluindo a variável Z1 como sendo mais uma variável explicativa, e considerando as

seguintes hipóteses:

H0: Modelo Linear

H1: Modelo Log-Linear

Se o coeficiente de Z1 for estatisticamente significante, pelo teste t, com base em

um dado nível de significância, decide-se pela rejeição da hipótese nula, ou seja, rejeita-se a

hipótese de que o verdadeiro modelo seja o modelo linear. Na equação usada no presente

trabalho, o coeficiente de Z1 não foi estatisticamente significante (Z1 apresentou uma

estatística t de 1,699) onde decidiu-se pela não rejeição da hipótese nula de que o verdadeiro

modelo seja o linear.

Este resultado não nos permite afirmar que o modelo linear seja o preferível. Deve-

se, portanto, realizar outro teste com base nas seguintes hipóteses:

H0: Modelo Log-Linear

H1: Modelo Linear

54

Estima-se a regressão pela segunda vez, agora usando o modelo log-linear e

incluindo a variável log de Z2 como sendo mais uma variável explicativa. Nesse segundo caso

o coeficiente de logZ2 não é também estatisticamente significante, (apresentou uma estatística

teste de 0,347). Assim, não rejeitamos também a hipótese nula de que o verdadeiro modelo

seja o modelo log-linear.

Conforme percebemos acima, o teste MWD não rejeitou nenhum dos dois modelos

(linear ou log-linear). O motivo que levou à escolha pelo modelo log-linear é que essa

modelagem mostra a elasticidade de cada variável explicativa em relação à variável

dependente, tornando mais fácil a sua análise.

55

5. ESTIMAÇÃO DO MODELO E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

5.1. A Estacionariedade das Séries Temporais

Na análise de regressão envolvendo séries temporais é comum deparar-se com o

problema da estacionariedade. Segundo Morettin (1987): [...] uma série temporal é

estacionária se ela se desenvolve no tempo aleatoriamente ao redor de uma média constante,

refletindo alguma forma de equilíbrio estável. Gujarati (2000) define estacionariedade como

um processo estocástico em que se suas médias e variâncias forem constante ao longo do

tempo e o valor da covariância entre dois períodos de tempo depender apenas da distância ou

defasagem entre os dois períodos, e não do período de tempo efetivo em que a covariância é

calculada.

Nesse tipo de análise (regressão envolvendo séries temporais), parte-se do

pressuposto de que as series temporais envolvidas na regressão sejam estacionárias. E, ao

regredirmos uma série não estacionária sobre outras séries também não estacionárias,

poderemos obter resultados aparentemente satisfatórios quando na realidade, muitas vezes,

esses resultados podem ser decorrentes da tendência existente entre as séries e não da

verdadeira relação entre as referidas séries temporais, ocorrendo, assim, o problema da

regressão espúria. Por isso, ao analisar séries temporais, principalmente, séries temporais

econômicas, requer-se que seja verificada se a relação envolvida entre as séries analisadas é

verdadeira ou é espúria.

5.2 Teste de Estacionariedade

Para detectar se as séries temporais são estacionárias ou não, pode-se usar o teste

de raiz unitária, bastante usual nos trabalhos empíricos. Passa-se, então a detectar a

estacionariedade das séries temporais utilizadas no modelo analisado no presente trabalho.

56

5.3 Teste de Raiz Unitária

O teste de raiz unitária para uma série temporal é realizado estimando-se a seguinte

regressão de primeira ordem ou AR(1)9, Yt = ρYt-1+ ut, alternativamente, esta expressão pode

ser escrita como: ∆Yt = (ρ – 1)Yt-1 + ut = δYt-1+ ut (5.3.1)

Onde, ∆Yt = Yt – Yt-1 e δ = (ρ – 1);

Em que Yt é uma dada série temporal no instante t e Yt-1 é a referida série temporal

defasada de um período. Se o coeficiente ρ de Yt-1 for igual a 1 dizemos que a série temporal

Y é uma série que tem uma raiz unitária, sendo assim uma série não-estacionária.

Segundo Gujarati (2000), se uma dada série temporal precisar ser diferenciada uma

vez para se tornar estacionária, dizemos que a série original é integrada de ordem 1 ou I(1), e

se a série original precisar ser diferenciada duas vezes10

para se tornar estacionária a série

original é integrada de ordem 2 ou I(2) e assim por diante. Logo, sempre que se tiver uma

série temporal integrada de ordem 1 ou maior, ter-te-á uma série temporal não-estacionária. E,

se não houver necessidade de nenhum número de diferença para tornar a série temporal

original estacionária ter-se-á um processo I(0), ou seja, um processo estacionário.

Além da equação 5.3.1, (regressão sem intercepto) pode-se estimar também uma

das duas equações abaixo, para se testar se a série temporal exibe uma raiz unitária ou não.

Observa-se que as duas equações têm um intercepto e a equação 5.3.3 apresenta um termo de

tendência linear:

∆Yt = β1 + δYt-1 + ut (5.3.2)

∆Yt = β1 + β2t + δYt-1 + ut (5.3.3)

Onde, t é uma variável tempo ou tendência.

9 É um AR(1) porque regredimos o valor de Y no instante t sobre seu valor no instante t-1. 10 Isto é, tomar a primeira diferença da primeira diferença.

57

Se ao estimar uma das duas equações acima (5.3.2) ou (5.3.3) e se encontrar um ρ

estatisticamente igual a 1, que equivale a um δ igual a zero, dize-se que a série temporal

analisada e não-estacionária.

A hipótese nula do teste de raiz unitária é a de que o ρ é igual a 1, ou seja, há uma

raiz unitária, que é a mesma coisa de δ = 0, ou seja, H0: ρ = 1. No referido teste de raiz

unitária a estatística t calculada de modo convencional é conhecida como estatística (tau)

cujos valores críticos foram tabulados por Dickey e Fuller com base em simulações de Monte

Carlo. Segundo Gujarati (2000), [...] o teste tau é conhecido como teste de Dickey-

Fuller11

(DF), em homenagem a seus descobridores. Se a hipótese nula H0: ρ = 1, que equivale

δ=0, for rejeitada, a série temporal sob análise é estacionária. Regra geral, segundo ainda

Gujarati (2000) [...] se o valor absoluto calculado da estatística (isto é, | | ) excede os

valores críticos absolutos de DF ou MacKinnon-DF, então não rejeitamos a hipótese de que

a dada série temporal seja estacionária. Se, por outro lado, ele for menor que o valor crítico, a

série temporal é não-estacionária.

Para se verificar a existência de raiz unitária através do teste Dickey-Fullr – ADF,

ou seja, para se verificar a estacionariedade das series temporais incluídas no modelo

analisado, as equações 5.3.2 e 5.3.3 foram estimadas para cada uma das séries em sua forma

de nível, ou seja, no seu formato original. Para uma melhor visualização, resume-se o teste de

raiz unitária nas Tabelas 5.3.1 e 5.3.2:

11 As tabelas de Dickey-Fuller não são totalmente adequadas, e elas vêm, sendo consideravelmente ampliadas por

MacKinnon por meio de simulações de Monte Carlo.

58

Conforme visto na Tabela 5.3.1, a conclusão que se chega é de que a hipótese nula

de não-estacionariedade é rejeitada, no nível de significância de 5%, para as séries IPCA,

SELIC, DOLAR e PIBAMER admitindo, assim, a possibilidade de estacionariedade para as

mesmas, isto quando estimou-se a equação especificada na Tabela 5.3.1. Para as demais séries

PIB, IED, ABERT e IBOV, detectou-se a presença de raiz unitária, não rejeitando a hipótese

nula de não-estacionariedade, admitindo assim a presença de uma raiz unitária, ou seja, as

séries são não-estacionárias. Para torná-las séries estacionárias, foi necessário estimar a

equação especificada na Tabela 5.3.1, na forma de segunda diferença, dessa forma, foi

possível rejeitar a hipótese nula de não-estacionariedade, ou seja, torna-se séries estacionárias

por meio de diferença.

Agora usando na especificação do modelo um termo de tendência na referida

regressão, tem-se o resultado mostrado na tabela 3.5.2 a seguir:

59

Analisando mais detalhadamente a Tabela 5.3.2, a conclusão que se chega é de que

a hipótese nula de não-estacionariedade é rejeitada, no nível de significância de 5%, para as

séries IPCA, SELIC, DOLAR e PIBAMER admitindo a possibilidade de estacionariedade, ao

estimar a equação especificada na Tabela 5.3.2. Para as demais séries PIB, IED, ABERT e

IBOV, detectou-se a presença de raiz unitária, não rejeitando a hipótese nula de não-

estacionariedade, admitindo assim a presença de uma raiz unitária, ou seja, as séries são não-

estacionárias. Para torná-las séries estacionárias, foi necessário estimar a equação especificada

na Tabela 5.3.2, na forma de segunda diferença, aí sim, foi possível rejeitar a hipótese nula de

não-estacionariedade.

Nas Tabelas 5.3.3 e 5.3.4, está demonstrado que as séries PIB, IED, ABERT e

IBOV se tornaram séries estacionárias pelo uso de duas diferenças. Novamente usou-se as

duas especificações, uma com intercepto e a outra com intercepto e uma variável de tendência:

60

A Tabela 5.3.4 contém a especificação com intercepto e com uma variável de

tendência:

Conforme percebe-se pelas duas Tabelas acima (5.3.3 e 5.3.4) as séries que não

eram estacionárias se transformaram em series estacionárias no nível de significância de 5%

após o uso de segundas diferenças.

5.4 Cointegração das Séries Temporais Não-Estacionárias

As séries temporais que apresentaram o problema da não-estacionariedade no

experimento realizado neste trabalho, ou seja, apresentaram raiz unitária, foram submetidas a

testes de co-integração, com o propósito de investigar a presença de relações de longo prazo

entre as referidas séries. As séries que, de acordo com os testes propostos acima, não se

1% 5% 10%

PIB -15,0596 -3,5073 -2,8951 -2,5844

IED -14,1387 -3,5073 -2,8951 -2,5844

ABERT -11,8929 -3,5073 -2,8951 -2,5844

IBOV -13,0391 -3,5073 -2,8951 -2,5844

Fonte: elaborada pelo autor com dados extraídos do EViews.

TABELA 5.3.3: TESTES DE RAIZ UNITÁRIA DE DICKEY-FULLER (ADF) -

SEGUNDA DIFERENÇA: ESPECIFICÃO COM INTERCEPTO

Valor Crítico

Séries (Estatística tau

calculada)

1% 5% 10%

PIB -14,9529 -4,0673 -3,4620 -3,1570

IED -14,0119 -4,0673 -3,4620 -3,1570

ABERT -11,8044 -4,0673 -3,4620 -3,1570

IBOV -12,9467 -4,0673 -3,4620 -3,1570

Fonte: elaborada pelo autor com dados extraídos do EViews.

TABELA 5.3.4: TESTES DE RAIZ UNITÁRIA DE DICKEY-FULLER (ADF) -

SEGUNDA DIFERENÇA: ESPECIFICÃO COM INTERCEPTO E

TENDÊNCIA

Séries (Estatística tau

calculada)

Valor Crítico

61

mostraram estacionárias e que foram submetidas a testes de co-integração foram: PIB, IED,

ABERT e IBOV.

Faz-se necessário tecer um comentário quando as séries temporais não forem

estacionárias, mas forem co-integradas de mesma ordem. Conforme visto anteriormente, ao se

regredir séries temporais não-estacionárias pode-se deparar com o problema da regressão

espúria, ou seja, a regressão pode aparentemente apresentar resultados satisfatórios (teste t,

teste F, R2 etc.), mas os mesmos podem não estar representando realmente a verdadeira

relação entre as variáveis. Mas, se as séries envolvidas na regressão demonstrarem que

existem relações de longo prazo entre si (se são co-integradas), mesmo não sendo

estacionárias, pode-se considerar os resultados dos testes usuais (teste t, teste F, R2 etc.) como

sendo válidos, ou seja, ter-se-á então resultados válidos e não espúrios.

A verificação do processo de co-integração de séries temporais é feita

combinando-se linearmente as séries não-estacionárias. Se a referida combinação linear

apresentar resíduos ut estacionários, ou seja, se ut for I(0), as séries temporais poderão ser co-

integradas, ou melhor, elas guardam uma relação de longo prazo entre si, e as distorções

visualizadas nas séries temporais não-estacionárias, mas integradas de mesma ordem, são

decorrentes de choques de curto prazo. De acordo com Gujarati (2000) [...] se uma série Y for

I(1) e uma outra série X for também I(1), elas podem ser co-integradas. Em geral, se Y for I(d)

e X também for I(d), em que d é o mesmo valor, essas duas séries podem ser co-integradas. Se

for esse o caso, as regressões sobre os níveis das duas variáveis, faz sentido (isto é, não é

espúria); e não perdemos qualquer informação valiosa, de longo prazo, o que aconteceria se,

usássemos suas primeiras diferenças. Em suma, desde que confirmemos que os resíduos da

regressão são I(0) ou estacionários, a metodologia tradicional de regressão (incluindo os teste t

e F) é aplicável a dados envolvendo séries temporais.

As séries temporais que não se mostraram estacionárias no presente exercício

foram submetidas a dois testes de co-integração que são: teste de Engle e Granger – EG e o

teste de Johansen.

62

5.5 Teste de Engle e Granger - EG

Segundo Gujarati (2000), para executar o teste de EG, estimou-se uma regressão

que contenha como variável dependente uma das séries temporais não-estacionarias e como

variáveis explicativas as outras séries não-estacionárias, todas as variáveis em suas formas de

níveis. Essa regressão é chamada de regressão co-integrante, e o coeficiente da variável

explicativa é chamado de parâmetro co-integrante. Depois, realiza-se o teste de raiz unitária

(Teste DF ou ADF) dos resíduos dessa regressão estimada (regressão co-integrante) para

verificar-se se a série de resíduo resultante é estacionária. Se os resíduos dessa regressão

forem estacionários, as séries temporais envolvidas são co-integradas.

No experimento do presente trabalho, quatro séries apresentaram raiz unitária, que

foram PIB, IED, ABERT e IBOV. Para realizar-se o teste de Engle e Granger, regressões do

tipo Yt = β1 + β2Xt + ut (regressão co-integrante, onde Y e X são duas séries temporais não-

estacionárias e o β2 é conhecido como parâmetro co-integrante) foram estimadas. A seguir, as

regressões co-integrantes estimadas com seus respectivos resultados, todas estimadas com as

séries em sua forma de nível, para posteriormente verificar-se se seus resíduos são

estacionários.

IEDt = -1693,517 + 0,0449PIBt (5.5.1)

t = (-1,8749) (+6,4275)

r2

= 0,3646

d = 0,3358

IEDt = -3264,942 + 0,3228ABERTt (5.5.2)

t = (-4,1714) (+9,5298)

r2 = 0,5578

d = 0,4570

IBOVt = -88,274 + 0,8467IBOVt (5.5.3)

63

t = (-0,1667) (+8,6520)

r2 = 0,5097

d = 0,6563

Agora, testar-se-á se as regressões 5.5.1, 5.5.2 e 5.5.3, estimadas acima exibem

resíduos estacionários. Obter-se-á os resíduos ut das três equações especificadas acima. Esses

resíduos serão submetidos ao teste de Dickey e Fuller (DF) para detectar-se a estacionariedade

dos mesmos. Nesse contexto, os valores críticos de significância do teste de Dickey e Fuller

(DF) não são apropriados, segundo Gujarati (2000). Engle e Granger calcularam os valores

críticos para a estatística (tau) ou seja, estatística t da regressão co-integrante. Os níveis de

significância de 1%, 5% e 10% para a estatística calculados por Engle e Grange são -

2,5899, -1,9439 e –1,6177 respectivamente.

Os resultados de verificação de estacionariedade dos resíduos das regressões co-

integrantes estimadas acima são (será usado o modelo com intercepto e sem tendência como

segue ∆ut = β1 + δut-1 + εt):

a) Para a regressão: IEDt = -1693,517 + 0,0449PIBt (5.5.1), tem-se o seguinte teste de

estacionariedade para ut dessa regressão:

∆ut = 30,9140 - 0,1674ut-1 5.5.4

t = (0,1600) (+2,5373)

r2

= 0,0831

d = 2,2926

b) Para a regressão: IEDt = -3264,942 + 0,3228ABERTt (5.5.2), tem-se o seguinte teste de

estacionariedade para ut dessa regressão:

∆ut = -36,8133 - 0,2229ut-1 5.5.5

t = (-0,1983) (-2,9112)

r2 = 0,1066

d = 2,3218

64

c) Para a regressão: IEDt = -88,2740 + 0,8467IBOVt (5.5.3), tem-se o seguinte teste de

estacionariedade para ut dessa regressão:

∆ut = 14,564 - 0,3298ut-1 5.5.6

t = (0,0643) (-3,7556)

r2

= 0,1657

d = 2,0332

A conclusão que se chega é de que, como as três regressões estimadas acima

(5.5.1, 5.5.2 e 5.5.3) exibem resíduos estacionários no nível de 5%, [ou seja, a estatística

(tau) calculada, em termos absoluto nas equações 5.5.4, 5.5.5 e 5.5.6, superam o valor

crítico, no nível de 5%, que é –1,9439 calculado por Engle e Granger], as séries PIB, ABERT

e IBOV são co-integradas com a série IED nas suas respectivas equações. Ou ainda, conclui-

se que, tanto o produto interno bruto (PIB) como o nível de abertura comercial (ABERT),

como o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (IBOV) em nível, possuem uma relação de

longo prazo com os fluxos de investimentos estrangeiros diretos injetados na economia

brasileira (IED)

5.6 Teste de cointegração de Johansen

Um dos testes mais usados para detectar se as séries temporais não-estacionárias

são co-integradas é o teste de Johansen para co-integração, o qual será verificado também no

experimento deste trabalho além do teste anterior de EG.

Segundo Gujarati (2000), a vantagem do teste de co-integração de Johansen em

relação ao teste de co-integração de Engele e Granger é que o teste de Johansen não determina

previamente qual variável vai ser considerada como a variável dependente. O teste de co-

integração de Johansen assume, baseado em uma estrutura de Vetores Autoregressivos

(VAR), que todas as variáveis não-estacionárias são endogenamente determinadas. O sistema

VAR a ser estimado pode ser escrito como:

65

Δyt = π0+ π.yt-1 +

p

j 1

πjΔyt-j + εt 5.6.1

onde,

yt é um vetor coluna n x 1 contendo todas as séries do modelo, n são as variáveis

do modelo (as séries não-estacionárias);

p é o números de lags das variáveis defasadas Δyt-j ;

π são as matrizes de dimensão n x n que contêm os parâmetros do modelo; e

εt é um vetor coluna n x 1 de termo de erro.

Antes de realizar-se o teste de Johansen é necessário formular um modelo de

Vetores Autoregressivos (VAR) definindo sua ordem de defasagem. Essa ordem de

defasagem pode ser de acordo com os critérios de Akaike ou de Schwarz. Para definir a ordem

de defasagem do VAR a ser usado, de acordo com os critérios de Akaike ou de Schwarz,

estima-se VAR com várias ordens de defasagens e o VAR que apresentar o menor valor,

conforme o critério de Akaike ou de Schwarz, é o VAR que deverá ser escolhido.

No presente trabalho foi escolhido arbitrariamente um número de no máximo 12

defasagens. Estimou-se, através do Eviews, 12 VAR’s, ou seja, estimou-se VAR de 1 a 12

defasagens. Pelo critério de Akaike, o VAR que apresentou o menor valor, foi o de ordem de

defasagem 11, sendo essa o número de defasagem a ser usada no presente trabalho para

realizar o teste de co-integração de Johansen, conforme especificado na Tabela 5.6.1.

66

Aplicando o teste de cointegração de Johansen aos dados do presente estudo para

detectar a presença de uma relação de longo prazo entre as variáveis não-estacionárias IED,

PIB, ABERT e IBOV tem-se, pela equação 5.6.1, ou seja:

Δyt = π0+ π.yt-1 +

p

j 1

πjΔyt-j + εt

onde,

yt é um vetor coluna 4 x 1 contendo as séries IED, ABERT, PIB e IBOV;

p é o número de lags das variáveis defasadas que, conforme especificado

anteriormente, será usado uma ordem defasagem 11 no VAR;

π são as matrizes de dimensão 4 x 4; e

εt é um vetor coluna 4 x 1 de termo de erro.

Através do Eviews foi realizado o teste de co-integração de Johansen usando a

seguinte especificação do VAR: a) o teste permite a tendência determinista linear nos dados;

b) intercepto e com tendência; e c) com intervalos de defasagens de 1 a 11. A Tabela 5.6.2

mostra o resultado do teste de cointegração de Johansen:

1 58,4232 58,7997

2 58,3815 59,0455

3 58,3245 59,2805

4 57,9462 59,1990

5 57,8502 59,4044

6 58,0365 59,8969

7 57,8787 60,0505

8 57,9104 60,3986

9 57,8752 60,6852

10 57,8529 60,9897

11 57,5772 61,0470

12 57,6250 61,4333

Fonte: elaborada pelo autor com dados extraídos do EViews.

TABELA 5.6.1: CRITÉRIO PARA ESCOLHA DO NÚMERO DE

DEFASAGENS DO VAR(p)

p Akaike (AIC) Schwarz SBC)

67

As hipóteses do teste de cointegração de Johansen, baseadas na Razão de

verossimilhança (teste traço) são as seguintes:

a) Na primeira linha da Tabela 5.6.2:

H0: Não há nenhuma equação ou vetor de cointegração;

H1: há uma equação ou vetor de cointegração;

Hipótese nula rejeitada conforme especificado na tabela por (**);

b) Na segunda linha da Tabela 5.6.2:

H0: há no máximo uma equação ou vetor de cointegração;

H1: há duas equações ou vetores de cointegração;

Hipótese nula também rejeitada conforme especificado na tabela pelo (**);

c) Na terceira linha da Tabela 5.6.2:

H0: há no máximo duas equações ou vetores de cointegração;

H1: há três equações ou vetores de cointegração;

Hipótese nula rejeitada conforme especificado na tabela por (**);

d) Na quarta linha da Tabela 5.6.2:

H0: há no máximo três equações ou vetores de cointegração;

H1: há quatro equações ou vetores de cointegração;

Hipótese nula rejeitada conforme especificado na tabela por (*) em favor da

hipótese alternativa;

0,7280 170,7072 62,99 70,05 Nenhum**

0,5780 89,7805 42,44 48,45 No Máximo 1**

0,2972 36,2902 25,32 30,45 No máximo 2**

0,2075 14,4226 12,25 16,25 No Máximo 3*

*(**) Denota rejeição da hipótese nula ao nível de significância de 5%(1%)

O teste LR indica 4 equações de cointegração ao nível de significâcia de 5%

Fonte: elaborada pelo autor com dados extraídos do EViews.

TABELA 5.6.2: TESTE DE COINTEGRAÇÃO DE JOHANSEN PARA AS SÉRIES: IED, ABERT, PIB

E IBOV - COM INTERCEPTO E TENDÊNCIA - INTERVALOS DE DEFASAGENS 1 A 11

Autovalor Razão

Verossimilhança

Valor Crítico

(5%)

Valor Crítico

(1%)

Hipoteses de números de

vetores de cointegração

68

Os resultados mostrados na Tabela 5.6.2 permitem não rejeitar a hipótese de

cointegração entre as quatros séries sob análises. A conclusão que se chega, segundo os

resultados especificados na Tabela 5.6.2, a qual foi alimentada com os resultados do teste de

cointegração de Johansen realizado pelo Eviews, é de que existe uma relação de longo prazo

entre as quatros séries (IED, ABERT, PIB e IBOV), ou seja, as quatros séries se cointegram.

Com a análise das séries temporais, detectou-se que dentre as variáveis incluídas

no modelo do presente estudo, algumas são estacionárias e outras não-estacionárias, e estas

últimas, são integradas de mesma ordem, I(1). Depois de submetidas a testes de co-integração

(Engle e Granger e Johansen) chegou-se à conclusão de que elas são co-integradas, ou seja,

existe uma relação de longo prazo entre as mesmas. Diante disso, pode-se aplicar o método de

mínimos quadrados ordinários (MQO) para estimar a regressão sob análise sem perda de

consistência nos resultados obtidos.

Concluído o estudo de análise das séries temporais do modelo, passa-se a realizar

outros testes de suma importância para o estudo de regressões.

5.7 O Problema da Heteroscedasticidade

Ocorrem problemas da heteroscedasticidade quando os distúrbios estocásticos єi

não tem a mesma variância em todas as observações, ou seja, as variâncias dos distúrbios não

são constantes. Os motivos que levam a heteroscedasticidade são, basicamente, a)

especificação incorreta do modelo, principalmente a omissão de variáveis importantes; b)

presença de observações aberrantes, ou seja, observações muito grande ou muito pequenas em

relação as demais observações da amostra; e c) fenômenos de natureza econômica, por

exemplo, a relação entre consumo e renda disponível, poupança e renda, etc.

As estimativas pelo método de mínimos quadrados ordinários (MQO) na presença

de heteroscedasticidade não provêm do melhor estimador linear não-viesado, isto porque o

vetor de parâmetro estimado provêm de um estimador linear não-viesado, mas não tem

variância mínima na classe dos estimadores lineares não-viesados, ou ainda, o vetor de

69

parâmetro estimado não é eficiente. Segundo Pindyck (2004) [...] quando há presença de

heteroscedasticidade a estimação pelo método de mínimos quadrados ordinários dá mais pesos

às observações com variâncias de erros mais elevada que àquelas com variâncias de erros

menores. Essa ponderação ocorre porque a soma de resíduos quadrados associada com termos

de erro de variância elevada tende a ser substancialmente maior que a soma de resíduos

quadrados associado com termo de erro de variância baixa. Em caso de usarmos estimativas

decorrentes de modelos heteroscedásticos, os testes estatísticos e os intervalos de confiança

serão inconsistentes.

Segundo Gujarati (2000), dentre a várias maneiras de se detectar a presença de

heteroscedasticidade, está o teste geral de heteroscedasticidade de White. O teste de White

consiste em obter os resíduos da regressão original e regredir esses resíduos ao quadrados

(obtendo-se assim uma regressão auxiliar) sobre as variáveis explicativas originais, sobre os

valores das variáveis explicativas ao quadrados e sobre os produtos cruzados das variáveis

explicativas, ambas da regressão original.

5.7.1. Detectando a existência da Heteroscedasticidade

O teste de White tem como hipótese nula a não existência de heteroscedasticidade,

ou seja, a existência de homoscedasticidade. Segundo Gujarati (2000) o tamanho da amostra

(n) multiplicado pelo R2 da regressão auxiliar

12 (nR

2) segue a distribuição qui-quadrado com

gl igual ao número de regressores, exceto o intercepto, da referida regressão auxiliar. Se o

valor de qui-quadrado calculado, conforme especificado acima, exceder o valor de qui-

quadrado crítico tabelado em um nível escolhido de significância, a conclusão é de que há

heteroscedasticidade. Caso contrário, se o valor de qui-quadrado calculado não exceder o

valor de qui-quadrado crítico, não há heteroscedasticidade.

12 A regressão auxiliar consiste em obter os resíduos da regressão original e regredir esses resíduos ao quadrados

sobre as variáveis explicativas originais, sobre os valores das variáveis explicativas ao quadrados e sobre os

produtos cruzados das variáveis explicativas, ambas da regressão original.

70

Estimou-se a regressão duas vezes, uma com os produtos cruzados e outra sem os

produtos cruzados para deterctar-se ou não a presença de heteroscedasticidade. A Tabela 5.7

mostra os resultados do teste de White:

Conforme especificado na Tabela 5.7, o valor qui-quadrado encontrado, ao se

estimar a regressão com e sem produtos cruzados, não excede o valor qui-quadrado crítico

tabelado no nível de 5%. Assim, conclui-se pela não rejeição da hipotese nula de

homoscedastividade no modelo, ou seja, não há heteroscedaticidade. Outra maneira de ver que

não há heteroscedaticidade é pelo valor-p apresentado. Como o valor-p é maior que o nível de

significância escolhido de 5% (0,05), não se pode rejeitar a hipótese nula de

homescedasticidade.

5.8. Autocorrelação ou Correlação Serial13

O modelo Clássico de Regressão Linear parte do pressuposto de que não pode

existir autocorrelação ou correlação serial entre os termos de perturbações incluídas no

modelo de regressão populacional. A autocorrelação é um problema típico de estudos

envolvendo séries temporais, embora possa constituir também problemas para estudos que

envolvem dados de corte.

13 Embora seja comum tratar os termos autocorrelação e correlação serial como sinônimos, alguns autores

preferem distinguir os dois termos. Tintner, por exemplo, define autocorrelação como a “correlação defasada de

uma dada série consigo mesma, defasada em um número de unidades de tempo”, reservando o temo correlação

serial para a “correlação defasada entre duas séries diferentes” ( Gujarati, 2000 )

Valor Qui-

Quadrado

Calculado

Valor-p

Valor Qui-

Quadrado

Crítico*

Log-Linear com produtos cruzados 48,9442 0,2467 55,7585

Log-Linear sem produtos cruzados 12,9505 0,6061 24,9958

Fonte: elaborada pelo autor

(*) Significante no nível de 5%

TABELA 5.7: TESTE PARA DETECTAR A PRESENÇA DE

HETEROSCEDASTICIDADE - Teste de White

71

Segundo Gujarati (2000), são diversas as razões por que ocorre correlação serial,

algumas delas são14

: a) inércia; b) viés de especificação – o caso de variáveis excluídas; c)

viés de especificação – forma funcional incorreta; d) fenômeno da teia de aranha; e)

defasagens; e f) “manipulação” de dados.

Na presença de autocorrelação em um modelo, as estimativas oriundas de

estimadores derivados do método de Mínimo Quadrado Ordinários não são eficientes, ou seja,

os estimadores não oferecem estimativas que tenham a menor variância entre as estimativas

dos estimadores lineares não viesados, ou ainda, os estimadores do método de MQO não são

os melhores estimadores lineares não viesados. Como conseqüência, ou seja, na presença de

autocorrelação, os testes de significâncias usuais como t e F não são mais válidos, bem como,

tende provavelmente superestimar o R2. Assim, conclusões errôneas poderão ser tiradas a

respeitos das significâncias estatísticas dos coeficientes da regressão estimados.

5.8.1. Detectando a Presença de Autocorrelação

Existem várias maneiras de se detectar a presença de autocorrelação em um

modelo regressão linear. Um dos mais utilizado é o teste d de Durbin-Watson. O método

gráfico é também bastante usado para detectar ou não a presença de autocorrelação na função

de regressão.

Segundo Gujarati (2000), o teste de Durbin-Watson parte do pressuposto de que: a)

o modelo de regressão contém um intercepto; b) as variáreis explicativas, os Xs são não-

estocásticas ou fixadas em amostragens repetidas; c) as perturbações ut são geradas pelo

esquema auto-regressivo de primeira ordem; e d) o modelo de regressão não inclui valor(es)

defasado(s) da variável dependente como uma das variáveis explicativas. O teste tem como

hipótese nula o fato de que não há nenhuma correlação serial de primeira ordem nas

perturbações ui. A estatística d de Durbin-Watson é dada pela fórmula:

14 A respeito dessas possíveis razões de correlação serial, veja Gujarati (2000).

72

d =

nt

tt

nt

t

û

ûû tt

2

2

2

2

)( 1

O esquema abaixo ajuda a realizar o teste de Durbin-Watson:

(I) (II) (III) (IV) (V)

0 dI dS 2 4-dS 4-dI 4

Onde:

dI - Limite inferior da estatística d de Durbin-Watson;

dS - Limite superior da estatística d de Durbin-Watson;

(I) - Nessa região rejeita-se a H0. Existe indício de autocorrelação positiva de

primeira ordem nessa região;

(II) - É uma zona inconclusiva, ou seja, uma zona de indecisão;

(III) - Nessa região não se rejeita a H0. Nessa região há ausência de autocorrelação

de primeira ordem;

(IV) - É uma zona inconclusiva, ou seja, uma zona de indecisão;

(V) - Nessa região rejeita-se a H0. Existe indício de autocorrelação negativa de

primeira ordem nessa região;

O modelo analisado no presente trabalho apresentou uma estatística d de Durbin-

Watson de 0,874. O valor tabelado para 74 observações e 8 variáveis explicativas, no nível de

significância de 5%, está no intervalo de dI = 1,399 e dS =1,867 aproximadamente. De posse

do esquema abaixo, percebe-se que a estatística d de Durbin-Watson calculada no modelo

analisado encontra-se na região (I), ou seja, numa região de rejeição da hipótese nula,

concluindo-se que há indícios da presença de autocorrelação positiva de primeira ordem no

modelo analisado.

73

(I) (II) (III) (IV) (V)

0 1,399 1,867 2 2,133 2,601 4

5.8.2. Medidas corretivas de Autocorrelação

Com a presença de autocorrelação no modelo, os estimadores de mínimos

quadrados ordinários são ineficientes. É necessário então procurar medidas corretivas e essas

medidas dependem do conhecimento que temos sobre a natureza da interdependência das

perturbações ut. Na prática, geralmente se supõe que os ut seguem o esquema auto-regressivo

de primeira ordem, a saber:

ut= ρut-1+εt (5.8.2.1)

assim, se ut = ρut-1+εt for verdade, o problema da correlação serial pode ser resolvido se o

coeficiente de autocorrelação ρ for conhecido15

.

Para um melhor entendimento, Gujarati (2000) exemplifica através de um modelo

simples de duas variáveis, uma vez que o número de varáveis explicativas não importa. Isto

porque a autocorrelação é uma propriedade das perturbações dos u’s e não dos regressores.

Seja o modelo Yt=β1+β2Xt+ut. Se válido no período t, será válido também no período t-1, ou

seja é válido também em Yt-1=β1+β2Xt-1+ut-1, se multiplicar-se a equação anterior definida em

t-1 pelo coeficiente de autocorrelação ρ (partindo do pressuposto de que é conhecido) tem-se:

ρYt-1=ρβ1+ρβ2Xt-1+ρut-1 e subtraindo desse modelo o modelo original Yt=β1+β2Xt+ut, tem-se a

chamada equação de diferença generalizada a seguir:

15 A respeito do assunto, veja Gujarati (2000)

74

(Yt - ρYt-1) = β1(1-ρ) + (β2Xt - ρβ2Xt-1) + (ut–ρut-1)

(Yt - ρYt-1) = β1(1-ρ) + β2(X t - ρXt-1) + εt (5.8.2.2)

assim, como εt, segundo Gujarati (2000) é a perturbação estocástica tal que satisfaz as

hipóteses usuais dos MQO, pode-se estimar essa ultima equação, aí então serão obtidos

estimadores com todas as propriedades ótimas, ou seja, melhores estimadores lineares não

viesados.

Pelo que foi visto até aqui, o problema da autocorrelação estará resolvido se for

conhecido o coeficiente de autocorrelação ρ, mas como na prática dificilmente se conhece ρ,

uma saída é estima-lo, e depois substituí-lo na equação de diferença generalizada encontrada

acima (5.8.2.2).

Um dos métodos usados para estimar ρ é: ρ baseado na estatística d de Durbin-

Watson. Outro método é o da estatística d modificada de Theil-Nagar, o qual é usado para

pequenas amostras. O ρ baseado na estatística d de Durbin-Watson é dado pela seguinte

fórmula:

^

= 1 -2

d

No modelo analisado no presente trabalho a estatística d de Durbin-Watson é

0,874, que corresponde a um ρ estimado de 0,563. Com base na referida estatística d,

substitui-se o ρ estimado na equação de diferença generalizada encontrada acima (5.8.2.2).

A equação de diferença generalizada do modelo utilizado no presente trabalho que

será usada para corrigir o problema da autocorrelação serial das perturbações ut é:

75

(LnIEDt - ρLnIEDt-1)=β1(1-ρ) + DAM+β2(LnABERTt - ρLnABERTt-1) + β3(LnCAMt -

ρLnCAMt-1) + β4( LnIPCAt - ρLnIPCAt-1) + β5(LnPIBt - ρLnPIBt-1) + β6( LnPIBAMERt -

ρLnPIBAMERt-1) + β7(LnSELt - ρLnSELt-1) + β8(LnIBOVt - ρLnIBOVt-1) + εt

(5.8.2.3)

Estimando a equação de diferença generalizada (5.8.2.3) como forma de corrigir o

problema de autocorrelação encontrou-se uma estatística d de Durbin-Watson de 1,8848

dentro, portanto, da região III16

, ou seja, numa região, que conforme explicitado acima, não se

rejeita a H0.(lembrando-se que a hipótese nula H0 é de que não há nenhuma correlação serial

de primeira ordem nas perturbações ui). Logo, nessa região há ausência de autocorrelação de

primeira ordem nas perturbações.

Escrevendo a equação original estimada, que conforme já apurou-se pelo teste d

de Durbin-Watson estar contaminada pela presença de autocorrelação, temos:

lnIED = 0,71 + 1,19DAM + 1,40lnABERT + 1,51lnCAM - 0,36lnIPCA - 0,55lnPIB +

4,26lnPIBAMER - 3,41lnSEL + 0,41lnIBOV

ep = (4,70 (0,46) (0,39) (0,68) (0,32) (0,48) (3,10) (1,33) (0,15)

t = (0,51) (2,61) (3,62) (2,23) (-1,13) (-1,14) (1,40) (-2,63) (2,68)

N = 74

r2

= 0,7745 (5.8.2.4)

d = 0,8470

A equação de diferença generalizada, após sua estimação usando o ρ estimado pelo

método da estatística d de Durbin-Watson, para corrigir o problema da autocorrelação, ficou

escrita da seguinte forma:

lnIED = 1,27 + 0,68DAM + 1,20lnABERT - 0,04lnCAM - 0,29lnIPCA – 0,67lnPIB+

3,36lnPIBAMER - 1,92lnSEL + 0,24lnIBOV

ep = (0,34) (0,23) (0,41) (0,50) (0,28) (0,51) (2,10) (0,95) (0,16)

16 Nível de significância considerado de 5%.

76

t = (0,54) (3,35) (2,92) (-0,07) (-1,02) (-1,30) (1,60) (-2,03) (1,53)

N = 73

r2

= 0,5728 (5.8.2.5)

d = 1,8848

5.9. Síntese e Análise dos Resultados

Por se tratar de dados envolvendo séries temporais, antes de se estimar a regressão

pelo método de mínimos quadrados ordinários, as séries componentes do modelo foram

submetidas a testes de estacionariedade para se verificar se as mesmas são ou não

estacionárias, já que a estacionariedade é uma das hipóteses do modelo clássico de regressão

linear.

Todas as séries do modelo foram submetidas ao teste de raiz unitária de Dickey-

Fuller, onde se detectou que as séries IED, ABERT, PIB e IBOV apresentaram raiz unitária,

ou seja, são séries não-estacionárias e que as mesmas só se tornaram estacionárias em suas

segundas diferenças.

Como as quatro séries são integradas de mesma ordem I(1), uma relação linear

ente se pode ser I(0), ou seja, estacionária. E para comprovar se esta relação é estacionária, as

séries foram submetidas a testes de cointegração. Foram realizados dois testes de

cointegração: o teste de Engle e Granger e o teste de Johansen, onde pelos dois testes, foi

mostrado que as quatros séries se cointegram, ou seja, existe uma relação de longo prazo entre

as mesmas. A seguir segue a equação estimada pelo método de mínimos quadrados ordinários:

77

Agora diante de tal situação, ou seja, onde as séries temporais do modelo ou são

estacionárias ou existem uma relação de longo prazo entre si, foi feita uma analise, para se

verificar se os distúrbios da regressão em estudo são constantes ou não ao longo do tempo, ou

seja, se têm a mesma variância em todas as observações (se são homoscedásticos). Foi

realizado o teste de White para se detectar a presença de heteroscedasticidade. O referido teste

detectou que os distúrbios da equação sob análise são homoscedásticos.

Foi testado também se os resíduos da regressão são autocorrelacionados, onde

segundo o modelo clássico de regressão linear não pode haver autocorrelação entre os termos

de perturbações incluídas no modelo de regressão populacional. O teste de Durbin-Watson

detectou a presença de autocorrelação positiva no modelo analisado, razão pela qual foi

necessário adotar medidas corretivas para o problema de autocorrelação.

Conforme Gujarati (2000), uma das medidas corretivas de autocorrelação é estimar

a equação de diferença generalizada do tipo (Yt - ρYt-1) = β1(1-ρ) + β2(X t - ρXt-1) + εt. Foi

78

estimada a equação de diferença generalizada nos moldes anterior (5.8.2.3) para o modelo em

estudo no presente trabalho, onde foi constatado que o problema de autocorrelação foi

eliminado conforme abaixo, vale salientar que o modelo abaixo é o log-linear:

O nível de abertura comercial (ABERT) e a taxa de juros real da economia brasileira

(SELIC), mostraram-se significante e com o sinal esperado, corroborando com os resultados

de trabalho empíricos mostrados no capítulo 3. A variável dummy (DAM), incluída para

capturar os efeitos do Plano Real, mostrou-se significante, indicando que o Plano Real foi um

dos determinantes para o ingresso de investimentos estrangeiros diretos no Brasil.

L. Júnior (2005), em sua dissertação de mestrado, mostrou que a taxa de

crescimento real do PIB dos países industrializados também não foi significante, o que foi

confirmada pelo presente trabalho. Segundo ainda o autor, o nível de abertura comercial

apresentou o sinal esperado e mostrou-se significante, ratificando, assim, o resultado da

presente dissertação para essa variável.

79

Nonnenberg e Mendonça (2004), através de estudos empíricos, concluíram

também o grau de abertura comercial é um dos principais determinantes de investimentos

diretos, indo de acordo com os resultados encontrados no presente trabalho.

80

6. CONCLUSÃO

Neste trabalho foi desenvolvido um modelo econométrico para estimar os

parâmetros das principais variáveis que influenciariam o ingresso de recursos externos no

Brasil na forma de investimentos estrangeiros diretos no período de 1986 a 2004. As variáveis

que foram testadas são: nível de abertura comercial, nível do PIB, taxa real de câmbio, taxa de

inflação, taxa real de juros, taxa de crescimento do PIB dos Estados Unidos, índice da bolsa de

valores de São Paulo e uma variável dummy para o Plano Real.

Nos resultados do estudo, após vários testes estatísticos, chegou-se à conclusão de

que as principais variáveis que determinam a entrada de investimentos externos no Brasil são:

o nível de abertura comercial, a taxa real de juros interna e a implantação do Plano Real.

O nível de abertura comercial mostrou-se que tem uma correlação positiva com o fluxo

de investimentos estrangeiros, ou seja, quanto maior for a capacidade do Brasil transacionar

com o exterior, maior será o volume de recursos externos, na forma de investimentos

estrangeiros diretos, injetados na economia brasileira.

Como a regressão foi estimada usando o modelo log-linear, os coeficientes estimados

das variáveis nos dão diretamente a elasticidade de cada variável explicativa em relação à

variável dependente. A explicação da elasticidade é a seguinte: o coeficiente estimado da

variável nível de abertura comercial foi de 1,20. Isto quer dizer que se a variável nível de

abertura comercial sofrer uma variação de 1%, a variável dependente investimentos

estrangeiros diretos será impactada positivamente em 1,20%.

Administradores públicos teriam que estimular transações comerciais com o exterior

para terem recursos externos ingressando na economia na forma de investimentos estrangeiros

diretos. O investidor estrangeiro é mais propenso a investir em um país sem barreiras

comerciais do que em um país de economias com restrições ao comércio externo.

81

A taxa real de juros interna é outra variável que tem influência sobre os

investimentos estrangeiros, correlacionando-se negativamente com os mesmos. Quanto maior

for a taxa de juros de um país, menor será o fluxo de investimentos estrangeiros para esse país.

Isto porque, taxas de juros elevadas inibem o consumo, e um dos motivos que levam as

empresas estrangeiras se instalam em um determinado país é a procura de mercados

consumidores. Taxas de juros elevadas estimulam as pessoas trocarem parte de seu consumo

por aplicações nos mercados financeiros, onde tais aplicações tendem a pagarem juros

elevados.

No presente trabalho, uma variação de 1% na variável taxa real de juros interna

(SEL), a variável dependente investimentos estrangeiros diretos (IED) sofrerá um impacto

negativamente de 2,02%. Uma economia com uma taxa real de juros baixa terá uma maior

propensão de receber recursos externos na forma de IED, conforme os resultados encontrados

na regressão estimada.

A variável dummy, inserida na regressão para capturar algum efeito do Plano Real

no ingresso de IED para o Brasil mostrou-se significativa. Levando-se a conclusão de que a

implantação do Plano Real, no ano de 1994, foi também um dos principais determinantes dos

investimentos estrangeiros diretos injetados na economia brasileira.

Analisando-se o comportamento de ingressos de IED dos dez anos anteriores ao

Plano Real e comparando-se com os dez anos posteriores ao referido plano, percebe-se a

magnitude desse tipo de investimentos injetado na economia brasileira a partir do ano de

1994. De 1984 s 1993, o Brasil recebeu um montante de aproximadamente US$ 19,7 bilhões,

e de 1994 a 2004 esse montante passou para US$ 256,7 bilhões. Esses números mostram que

o Plano Real foi importante para atrair recursos estrangeiros na forma de IED.

82

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Determinantes do Fluxo de Capital no Brasil no período 1990 - 2000. Brasília: FGV, 2002.

(Dissertação de Doutorado).

SOARES, ILTON G. Econometria Aplicada com o Uso do Eviews / Ilton G. Soares, Ivan

Castelar. – Fortaleza: UFC / CAEN, 2003.

84

8. ANEXOS

ANEXO 1 – SÉRIES UTILIZADAS PARA ESTIMAR A REGRESSÃO

TRIMESTRES

ENTRADAS

DE IED EM

US$

NÍVEL DO PIB

EM US$

VARIAÇÃO

DO IPCA

EM FATOR

VARIAÇÃO

DA TAXA

SELIC EM

FATOR

TAXA DE

CÂMBIO

REAL

NÍVEL DE

ABERTURA

COMERCIA EM

US$

VARIAÇÃO DO PIB

AMERICANO EM

FATOR

ÍNDICE DO

IBOVESPA EM

US$

3T1986 296,82 66.251,22 1,0713 1,0432 0,9334 9.805,27 1,0380 1.981,03

4T1986 309,00 65.187,41 1,1997 1,1008 0,8998 8.201,68 1,0210 1.709,06

1T1987 262,10 55.254,15 1,4839 1,3795 0,9986 7.716,73 1,0300 847,24

2T1987 449,30 54.547,95 1,7316 1,6953 1,1315 10.113,42 1,0430 705,57

3T1987 405,30 62.589,68 1,2344 1,3237 0,9576 12.357,78 1,0340 794,22

4T1987 557,10 60.029,99 1,4610 1,4136 0,9571 11.086,82 1,0710 478,98

1T1988 424,40 57.096,30 1,6177 1,6114 0,9875 10.206,18 1,0270 951,88

2T1988 939,50 60.747,07 1,7089 1,7043 0,9943 12.169,82 1,0480 994,28

3T1988 964,30 58.672,26 1,8892 1,8482 0,9872 13.522,50 1,0210 1.037,33

4T1988 1.015,80 53.733,90 2,0684 2,0484 1,0193 12.496,12 1,0530 1.202,51

1T1989 596,70 73.310,34 1,7151 1,7613 0,7619 11.540,35 1,0500 2.005,55

2T1989 747,30 74.584,91 1,6434 1,5818 0,9188 13.029,14 1,0220 1.324,01

3T1989 280,60 70.369,05 2,3495 2,5001 1,0683 14.894,72 1,0190 1.635,78

4T1989 272,10 63.238,32 3,1301 3,5995 0,9567 13.181,85 1,0140 1.492,87

1T1990 250,20 91.319,45 5,3702 4,1725 0,7006 11.062,33 1,0510 468,53

2T1990 323,90 100.875,21 1,3889 1,1978 1,0311 12.566,01 1,0090 792,31

3T1990 358,20 99.697,70 1,4583 1,4621 0,9442 14.209,79 0,9930 754,42

4T1990 456,00 78.404,16 1,5822 1,7150 1,2731 14.236,99 0,9680 407,90

1T1991 495,80 80.312,01 1,6315 1,4093 0,8638 12.141,98 0,9800 739,17

2T1991 301,90 94.106,46 1,2541 1,3255 1,0431 13.780,23 1,0230 1.190,16

3T1991 246,60 80.024,67 1,5030 1,5582 1,1279 13.049,20 1,0100 1.269,83

4T1991 358,10 69.944,29 1,8623 2,1879 1,0828 13.689,50 1,0220 1.582,18

1T1992 1.020,40 67.792,63 1,9007 2,1081 0,9786 12.474,74 1,0380 2.428,26

2T1992 480,70 72.771,76 1,8001 1,8943 0,9630 13.276,20 1,0380 1.601,42

3T1992 480,00 74.586,03 1,8545 2,0245 1,0014 14.703,59 1,0310 1.911,85

4T1992 638,80 72.630,81 1,9213 2,0401 1,0074 15.892,56 1,0540 1.523,16

1T1993 530,60 72.856,54 2,0732 2,1264 0,9782 14.442,07 0,9990 2.099,12

2T1993 411,00 74.058,26 2,1218 2,2539 1,0193 15.157,61 1,0250 2.720,19

3T1993 606,60 76.642,58 2,3584 2,4524 0,9995 17.699,52 1,0180 3.147,89

4T1993 809,10 70.827,71 2,4842 2,6464 1,0250 16.511,57 1,0620 3.217,27

1T1994 769,50 56.834,80 2,8295 2,9680 0,9898 14.923,58 1,0340 4.563,04

2T1994 863,80 66.459,57 3,0297 3,2644 0,9938 18.500,35 1,0570 3.623,10

3T1994 676,70 150.641,99 1,1049 1,1560 0,7720 20.113,46 1,0220 6.429,07

4T1994 911,70 160.013,25 1,0731 1,1194 0,9243 23.086,47 1,0500 5.134,32

1T1995 997,60 159.669,19 1,0433 1,1129 1,0151 21.748,32 1,0150 3.324,67

2T1995 1.289,06 168.126,88 1,0754 1,1307 0,9569 25.375,83 1,0080 3.908,14

3T1995 1.928,93 174.065,57 1,0440 1,1161 0,9911 24.880,68 1,0310 4.895,28

4T1995 2.154,19 187.204,51 1,0451 1,0900 0,9754 24.473,35 1,0320 4.420,11

1T1996 1.865,22 172.574,72 1,0274 1,0732 0,9888 21.036,81 1,0290 5.015,08

2T1996 3.879,89 188.790,34 1,0372 1,0618 0,9802 25.107,89 1,0680 6.017,32

3T1996 1.737,17 199.114,59 1,0171 1,0591 1,0000 27.171,84 1,0200 6.311,11

4T1996 4.551,38 207.202,56 1,0109 1,0557 1,0065 27.775,95 1,0460 6.773,04

1T1997 3.430,40 182.112,98 1,0220 1,0513 0,9972 22.145,90 1,0440 8.537,71

2T1997 5.212,63 197.041,51 1,0184 1,0493 0,9982 29.596,44 1,0590 11.669,60

3T1997 5.299,61 203.122,65 1,0026 1,0486 1,0155 31.489,71 1,0420 10.759,75

4T1997 8.138,45 217.603,97 1,0083 1,0788 1,0098 29.509,52 1,0280 9.132,93

1T1998 5.307,26 185.164,18 1,0152 1,0716 1,0036 25.651,34 1,0610 10.502,90

2T1998 6.925,17 201.490,06 1,0076 1,0502 1,0095 28.139,02 1,0220 8.365,46

3T1998 11.348,80 197.329,93 0,9915 1,0577 1,0337 28.763,14 1,0410 5.560,43

4T1998 11.400,93 195.668,23 1,0023 1,0818 1,0171 26.300,73 1,0670 5.614,50

1T1999 9.067,96 128.704,32 1,0288 1,0810 1,3848 20.906,37 1,0300 6.211,38

2T1999 7.616,47 139.916,19 1,0105 1,0616 1,0169 24.611,98 1,0200 6.570,22

3T1999 10.650,26 125.465,44 1,0197 1,0479 1,0654 25.312,67 1,0520 5.777,45

4T1999 8.919,81 147.262,84 1,0276 1,0444 0,9056 26.390,74 1,0730 9.553,38

SÉRIES UTILIZADAS NA REGRESSÃO

85

1T2000 8.191,89 143.596,82 1,0097 1,0455 0,9673 24.114,84 1,0100 10.198,59

2T2000 7.961,30 150.899,70 1,0066 1,0404 1,0234 27.405,34 1,0640 9.292,78

3T2000 11.733,65 154.524,22 1,0318 1,0394 0,9927 30.601,67 0,9950 8.639,15

4T2000 12.403,64 150.267,26 1,0105 1,0375 1,0495 28.747,09 1,0210 7.803,52

1T2001 6.537,12 129.417,63 1,0142 1,0358 1,0900 28.255,31 0,9950 6.679,31

2T2001 6.962,23 128.150,62 1,0152 1,0384 1,0504 29.665,97 1,0120 6.316,54

3T2001 7.483,57 113.357,71 1,0233 1,0442 1,1326 29.562,21 0,9860 3.981,21

4T2001 9.033,92 138.252,12 1,0221 1,0438 0,8499 26.311,33 1,0160 5.851,15

1T2002 6.232,88 129.389,30 1,0149 1,0421 0,9867 22.753,76 1,0270 5.704,08

2T2002 7.233,50 116.248,46 1,0144 1,0429 1,2068 24.764,19 1,0220 3.916,12

3T2002 6.517,92 88.200,36 1,0258 1,0442 1,3349 31.666,06 1,0240 2.213,66

4T2002 6.475,68 105.054,73 1,0656 1,0501 0,8513 28.418,27 1,0020 3.189,09

1T2003 3.688,25 107.005,59 1,0513 1,0568 0,9027 26.285,53 1,0170 3.361,96

2T2003 4.114,05 133.845,55 1,0143 1,0580 0,8444 29.321,20 1,0370 4.516,71

3T2003 5.185,38 135.708,79 1,0132 1,0564 1,0046 32.183,73 1,0720 5.476,50

4T2003 6.250,20 144.069,70 1,0115 1,0442 0,9770 33.583,90 1,0360 7.696,25

1T2004 4.021,22 136.038,81 1,0185 1,0378 0,9884 32.763,01 1,0430 7.612,60

2T2004 3.295,39 140.160,09 1,0160 1,0368 1,0516 38.845,41 1,0350 6.805,47

3T2004 10.515,23 159.885,99 1,0194 1,0388 0,9024 43.869,95 1,0400 8.131,60

4T2004 7.926,19 180.206,81 1,0200 1,0400 0,9103 43.802,50 1,0330 9.868,90

86

ANEXO 2 – TESTE DE RAÍZ UNITÁRIA DE DICKEY-FULLER-ADF COM

INTERCEPTO

87

88

89

90

91

ANEXO 3 – TESTE DE RAÍZ UNITÁRIA DE DICKEY-FULLER-ADF COM

INTERCEPTO E COM TERMO DE TENDÊNCIA

92

93

94

95

ANEXO 4 – TESTE DE RAÍZ UNITÁRIA DE DICKEY-FULLER-ADF COM

INTERCEPTO – SEGUNDA DIFERENÇA

96

97

ANEXO 5 – TESTE DE RAÍZ UNITÁRIA DE DICKEY-FULLER-ADF COM

INTERCEPTO E COM TERMO DE TENTENCIA – SEGUNDA DIFERENÇA

98

99

ANEXO 6 – TESTE DE HETEROSCEDASTICIDADE – Teste de White – Modelo

Log-Linear com produtos cruzados

100

101

ANEXO 7 – TESTE DE HETEROSCEDASTICIDADE – Teste de White – Modelo

Log-Linear sem produtos cruzados

102

ANEXO 8 – TESTE DE COINTEGRAÇÃO DE JOHANSEN PARA AS SÉRIES

IED, ABERT, PIB E IBOV – COM INTERCEPTO E TENDÊNCIA