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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO FERNANDO RIPOLI A CRÍTICA SOCIAL DO DITO DE JEREMIAS CONTRA O REI JEOAQUIM: Uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 a.C) SÃO BERNARDO DO CAMPO 2014

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

FERNANDO RIPOLI

A CRÍTICA SOCIAL DO DITO DE JEREMIAS

CONTRA O REI JEOAQUIM:

Uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 a.C)

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2014

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FERNANDO RIPOLI

A CRÍTICA SOCIAL DO DITO DE JEREMIAS

CONTRA O REI JEOAQUIM:

Uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 a.C)

Dissertação apresentada em cumprimento às

exigências do Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Religião da Universidade

Metodista de São Paulo, para obtenção do grau

de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Ademar Kaefer.

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

R486c Ripoli, Fernando

A crítica social do dito de Jeremias contra o rei Jeoaquim: uma análise exegética de Jeremias 22, 13-19 (609 a 598 a.C.) / Fernando

Ripoli. São Bernardo do Campo, 2014.

161fls.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Metodista de São Paulo,

Faculdade de Humanidades e Direito, curso de Pós-Graduação em

Ciências da Religião.

Orientação: José Ademar Kaefer

1. Bíblia – A.T. – Jeremias – Crítica e interpretação I. Título

CDD 224.206

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A dissertação de mestrado sob o título “A crítica social do dito de Jeremias contra o rei

Jeoaquim: Uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 a.C)”, elaborada por

Fernando Ripoli, foi apresentada e aprovada em 18 de Março de 2014, perante a banca

examinadora composta por Dr. José Ademar Kaefer (Presidente da UMESP), Dr. Tércio

Machado Siqueira (Titular/UMESP) e Dr. Rafael Rodrigues da Silva (Títular/UFAL).

_________________________________________________

Professor Dr. José Ademar Kaefer

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

_________________________________________________

Professor Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

Programa: Ciências da Religião

Área de Concentração: Linguagens da Religião I

Linha de pesquisa: Literatura e Religião no Mundo Bíblico

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DEDICATÓRIA

Ao prof.Dr.Milton Schwantes (in memorian)

Por seu trabalho, ensino, dedicação e humanidade para com os pobres.

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AGRADECIMENTOS

Aos profetas e visionários do século VIII ao VI, que criticaram as injustiças sociais, de

todas as pessoas ou (autoridades), que usaram do poder para: extorquir, explorar e

matar, em nome de um “D’us”, ou sistema religioso e poder político de sua época;

A minha querida esposa Sheila Alves Ripoli;

Aos meus pais Antonio Francisco Ripoli e Maria Luiza Santos Ripoli;

Ao Prof. Dr. Milton Schwantes (in memorian), meu primeiro orientador, por ensinar,

além da paixão pela exegese, a busca constante pela justiça;

Ao Prof. Dr. Rafael Rodrigues da Silva, por sua amizade e orientação no momento crise

existencial;

Ao Prof.Dr. Tércio Machado Siqueira, por sua amizade e orientação no momento

crucial desta caminhada;

Ao Prof. Dr. Edson de Faria Francisco, por sua amizade e orientações concernentes ao

aparato crítico, e a massora da Bíblia Hebraica Stuttgartensia;

Ao Prof. Dr. José Ademar Kaefer, por suas orientações, amizade e dedicação na

realização desta pesquisa;

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião - UMESP, por

abrirem novos horizontes na pesquisa acadêmica;

Ao Instituto Ecumênico de Pós-Graduação, pelo sustento na realização desta pesquisa;

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES; pelo

financiamento da bolsa ao longo dos semestres letivos;

Às amigas Ana Maria e Sirley, por todo apoio, paciência, e incentivo e persistência;

Ao amigo da caminhada na Pós-Graduação, Élcio Valmiro Sales de Mendonça,

Sue’Hellen Monteiro de Matos; Kenner Terra; Samuel de Freitas Salgado e Luciano

Robson Peterlevitz, pelo companheirismo e suas intensas orientações exegéticas de

minha pesquisa;

Aos amigos e amigas, que mesmo indiretamente torcerão pelo meu sucesso.

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“O pobre, tem, pois o direito também de receber

comida e terra da sociedade. O direito é o de obter

da sociedade o apoio na necessidade e na crise, em

meio aos parentes e à comunidade. Nós damos aos

pobres o sentido de carentes. A Bíblia o entende

como quem tem o direito de reivindicar os direitos

sociais garantidos. Na tradição bíblica, um pobre

não pede (não é pedinte!), mas exige sua parcela da

sociedade”.

(Milton Schwantes).

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RIPOLI, Fernando. A Crítica Social do dito de Jeremias contra o Rei Jeoaquim: Uma

Análise Exegética de Jeremias 22,13-19 (609 - 598 a.C). São Bernardo do Campo:

Umesp, 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de

Humanidades e Direito, Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

RESUMO

O presente estudo exegético tem por objetivo demonstrar a crítica social de

Jeremias contra o rei Jeoaquim, tendo como fonte principal a crítica social

de Jr 22,13-19. Para tal, partiremos da análise do contexto literário, histórico

e religioso da crítica social de Jeremias, para então fazer a análise exegética

do texto proposto, através da qual enfocaremos, dentre os diversos

conteúdos, a justiça social inserida na perícope. Compreendendo que um

texto surge dentro de um ambiente social, evidenciaremos, com base na

crítica social, as práticas violentas do rei Jeoaquim em seu reinado, contra os

trabalhadores injustiçados, o pobre e o necessitado na sociedade de Judá.

Por fim, demonstrando as questões históricas do profeta Jeremias em sua

vivencia internacional em meio aos impérios existentes, e o sistema opressor

do rei Jeoaquim, contra os menos favorecidos da sociedade de Judá.

Palavras-chave: Crítica Social; Justiça Social; Ameaça; Julgamento; Profecia.

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RIPOLI, Fernando. A Social Critique of said Jeremiah against King Jehoiakim: An

exegetical analysis of Jeremiah 22,13-19 (609-598 a.C). Sao Bernardo do Campo:

Umesp, 2014. Thesis (Master of Science in Religion) - Faculty of Humanities and Law,

Methodist University of São Paulo (UMESP).

ABSTRACT

This exegetical study aims to demonstrate the social criticism of Jeremiah

against King Jehoiakim, the main source of social criticism Jr 22,13-19. To

this end, we leave the analysis of literary, historical and religious context of

social criticism of Jeremiah, then make the exegetical analysis of the

proposed text, through which we will focus, among the various content,

social justice embedded in the passage. Understanding a text arises within a

social environment, will highlight based on social criticism, the violent

practices of King Jehoiakim in his reign against the wronged workers, the

poor and needy in the society of Judah Finally, demonstrating the historical

issues the prophet Jeremiah in his international experiences among the

existing empires, and the oppressive system of King Jehoiakim against the

disadvantaged of society Judah.

Key-words: Social Critic; Social Justice; Threat; Judgment; Prophecy.

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ................................................................................................................... 5

AGRADECIMENTOS ......................................................................................................... 6

RESUMO ............................................................................................................................ 8

ABSTRACT ......................................................................................................................... 9

SUMÁRIO ................................................................................................................. 10

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

Capítulo I QUESTÕES FUNDAMENTAIS NO LIVRO DO PROFETA

JEREMIAS ................................................................................................................ 16

Considerações iniciais ............................................................................................... 16

1.1 Questionamentos do livro de Jeremias ........................................................................... 18

1.2 A estrutura do livro de Jeremias ..................................................................................... 26

1.2.1 A estrutura do texto hebraico e do texto grego......................................................... 26

1.2.2 Construções e delineamentos no texto hebraico ....................................................... 28

1.3 Análise complementar das fontes, datas e autoria do livro de Jeremias. .................... 31

1.3.1 O profeta Jeremias .................................................................................................. 32

1.3.2 Datação e autoria do livro ....................................................................................... 35

1.4 A Obra Historiográfica Deuteronomista no livro de Jeremias ..................................... 39

Considerações finais .................................................................................................. 44

Capítulo II A ANÁLISE EXEGÉTICA DE JEREMIAS 22,13-19 ........................ 45

2.1 TRADUÇÃO INTERLINEAR ...................................................................................... 46

2.1.1 Texto Massorético: ................................................................................................. 46

2.2 TRADUÇÃO LITERAL ............................................................................................... 48

2.3 CRÍTICA TEXTUAL .................................................................................................... 50

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2.3.1 Aparato Crítico ....................................................................................................... 50

Verso 14 ..................................................................................................................... 50

Verso 15 ..................................................................................................................... 51

Verso 16 ..................................................................................................................... 52

Verso 17 ..................................................................................................................... 52

Verso 18 ..................................................................................................................... 53

2.3.2 Massora Parva (Mp) .............................................................................................. 54

Verso 13: ........................................................................................................................ 55

Verso 14: ........................................................................................................................ 55

Verso 16: ........................................................................................................................ 55

Verso 17 ......................................................................................................................... 56

Verso 18: ........................................................................................................................ 56

Verso 19: ........................................................................................................................ 57

2.4 CARACTERÍSTICAS FORMAIS ................................................................................. 57

2.4.1. Delimitação ........................................................................................................... 58

2.4.2. ESTILO LITERÁRIO............................................................................................ 61

2.4.3 Estrutura da perícope de Jr 22,13-19 ....................................................................... 65

2.4.3.1 Acusação ......................................................................................................... 65

2.4.3.2 Julgamento....................................................................................................... 66

2.5 GÊNERO LITERÁRIO ................................................................................................. 70

2.6 ANÁLISE DE CONTEÚDO ......................................................................................... 72

2.6.1 Introdução (v.13a) ...................................................................................................... 72

2.6.2 Primeira Estrofe (v.13b-14) ........................................................................................ 80

2.6.3 Segunda Estrofe (v.15-16) .......................................................................................... 90

2.6.4 Terceira Estrofe (v. 17) ............................................................................................. 100

2.6.5 Quarta Estrofe (v. 18-19) .......................................................................................... 105

2.7. LUGAR DA VIDA .................................................................................................... 110

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Considerações finais ......................................................................................................... 112

Capítulo III A ESTRUTURA HISTÓRICA E SOCIOLÓGICA DA CRITICA

SOCIAL DE JEREMIAS: AS QUESTÕES DA JUSTIÇA E DO DIREITO NO

ANTIGO ORIENTE ................................................................................................ 114

Considerações iniciais ............................................................................................. 114

3.1 Questões históricas em relação a Jeremias ................................................................... 115

3.1.1 Exploração da terra pelo rei Jeoaquim ................................................................... 122

3.1.2 O rei Jeoaquim e a violação da terra ...................................................................... 124

3.2 O direito e a justiça no Israel Antigo e Monárquico...................................................... 126

3.2.1 A justiça distributiva na Torá ................................................................................ 126

3.2.2 A justiça retributiva em Israel ............................................................................... 130

3.3 A justiça social no Antigo Testamento ......................................................................... 136

3.4 O sistema de opressão no reinado de Jeoaquim ............................................................ 140

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 144

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 147

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo estudar a perícope de Jeremias 22,13-19,

dentro do bloco literário de Jeremias 21-24, com especial atenção às críticas de opressão

e extorsão contra a população de Judá, entenda-se: seus camponeses e trabalhadores.

Portanto, a temática central desta pesquisa concentra-se na crítica social do

profeta Jeremias contra o rei Jeoaquim, no período de 609-598 a.C.

O primeiro passo desta pesquisa (capítulo I), será o de desenvolver e pesquisar

literaturas já existentes e pesquisas já concluídas sobre a literatura do profeta Jeremias.

Fazendo assim, um pano de fundo dos questionamentos fundamentais do livro de

Jeremias na pesquisa bíblica atual, mesmo sendo uma leitura breve.

Pesquisaremos sobre a estrutura do livro de Jeremias e sua apresentação no que

se refere à estrutura do texto grego (septuaginta), e do texto hebraico (Massorético).

Nesta fase perceberemos que o texto hebraico, obviamente, é escrito em Jerusalém,

diferente do texto grego (septuaginta) que é escrito na Grécia.

Daremos ênfase, portanto, nas construções e delineamentos das pesquisas feitas

no início do século XX1, sobre a composição do texto hebraico no livro de Jeremias, e

suas fontes (A, B, C). Importante saber que deste o início do século XX, houve grandes

controvérsias em relação à composição2 da literatura do livro de Jeremias. Comumente

se divide este livro em três blocos literários, mas, no desenvolvimento da pesquisa

haverá a apresentação de vários autores que argumentarão essa composição.

Focaremos também na análise complementar das fontes, descrevendo qual se

supõe ser a fonte verdadeira3 da qual nasceu à literatura de Jeremias. Compreender e ou

entender se realmente o livro é cem por cento do profeta ou a sua maior parte foi ou não

1 DUHM, Bernhard. Das Buch Jeremia. Tübingen: Mohr, 1901. 2 MOWINCKEL, Sigmund. Zur Komposition des Buches Jeremia. Kristiana: Dybwad, 1914. 3 WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Targumim/Paulus,

2006, p. 274-296.

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escrita por Baruc, ditada por Jeremias? Ou se é a mão deuteronomista que prevalece no

texto. E qual seria o texto mais confiável para a pesquisa bíblica, o texto grego

(septuaginta) ou o texto hebraico (Massorético).

No desenrolar da pesquisa relataremos estes pormenores, como também, a data e

autoria da literatura de Jeremias, outras questões como, se o texto de Jeremias é pré-

exílico, exílico ou pós-exílico, algo debatido por vários biblistas. Questões como estas

são importantes para podermos descrever com precisão, o contexto da perícope em

estudo.

Descreveremos também as relações históricas que estão em torno do profeta

Jeremias como a sua cidade de origem tAtn"[] (‘anatot, Anatote) e se houve ou não

apoio do profeta à monarquia davídica em Judá.

No II Capítulo será elaborada uma exegese do texto hebraico, apontando

especialmente para a crítica social de Jeremias contra o rei Jeoaquim, e dentro desta

perspectiva esta temática receberá um tratamento exegético com maior profundidade,

contando com os recursos do método histórico-crítico4. Todavia, tais recursos serão

utilizados em maior ou menor proporção, de acordo com as exigências de cada parte da

perícope.

A contribuição da chamada exegese5 sociológica

6 fará parte também de nosso

instrumental, mesmo sendo em proporções menores. Os recursos críticos e sociológicos

estarão a serviço de uma leitura bíblica a partir da crítica social e dos explorados pelo

monarca.

Percorreremos neste capítulo os passos da exegese, começando pela tradução

interlinear do texto hebraico. Depois adentraremos nos pormenores da crítica textual,

que tem por finalidade restaurar o texto danificado para chegar à lição do próprio autor,

ou pelo menos determinar a história de transmissão do texto7.

O aparato crítico8 e a Massora parva nos proporcionará através da interpretação

das notas de rodapé da Bíblia hebraica Stuttgartensia9, nos levar à compreensão dos

4 Cf.YOFRE, Simian Horácio. Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2011, p. 73-99. 5 Cf. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas, 1988. 6 Cf.GOTTWALD, Norman K. As tribos de IAHWEH – Uma sociologia da religião de Israel liberto

1250-1050 a.C. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2004. 7 Ibid., 2011, p. 39. 8 Cf.FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético; Guia

introdutório para Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008. 9 Cf.RUDOLPH, W; ELLIGER, K. Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil,

2010.

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termos hebraicos que foram inseridos no texto, qual a sua origem e o que muda na

perícope.

Depois dessa análise seguiremos na exegese com as características formais, a

delimitação, o estilo literário e a estrutura da perícope. É na estrutura da perícope que

nascerá a análise de conteúdos, onde utilizaremos e faremos o estudo semântico mais

detalhado de toda perícope de Jr 22,13-19.

Na análise semântica10

faremos uma seleção dos termos ou frases mais

importantes e polêmicos a serem analisados. Nesta etapa é importante o estudo da

concordância e a raiz das palavras hebraicas, ou seja, quantas vezes a palavra hebraica

analisada aparece no Antigo Testamento, no livro e na perícope em pesquisa. Isto é, a

análise irá buscar entender como o autor emprega esta palavra, e se ela pode ou não ter

mais de um significado, e qual destes significados o autor emprega na perícope em

estudo. Esta parte é relevante, pois é daí que nasce a novidade de nossa pesquisa.

Por exemplo, a maioria dos biblistas como Schwantes11

e Sicre12

entre outros,

dizem que a reforma de Josias foi uma reforma social apoiada pelo profeta Jeremias.

Tentaremos ver através da análise semântica de Jr 22,15b, se realmente foi isto que

Jeremias estava querendo relatar sobre o rei Josias. É neste particular que daremos

ênfase à crítica social do profeta Jeremias

E por fim, no terceiro momento (Capítulo III), analisaremos a estrutura histórica

da crítica social de Jeremias, incluindo as questões de justiça e de direito no Antigo

Testamento, e o cumprimento destes temas (qd,c,) justiça e (jP'v.mi) direito pelo rei

Jeoaquim direcionado à população de Judá.

Daremos ênfase às práticas do rei Jeoaquim contra aos moradores da cidade na

justiça social no Antigo Testamento, e ao sistema de opressão do rei e de que maneira o

rei Jeoaquim violou e explorou o direito dos menos favorecidos na sociedade de Judá.

Portanto, a partir destas informações pesquisaremos no último capítulo algumas

reflexões históricas que permearam o reinado de Jeoaquim e a atuação de Jeremias

relacionada à sua crítica social nos anos de 609-598 a.C.

10 Cf. EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento – Introdução aos métodos linguísticos e

histórico-críticos. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2005, p. 71-154. 11 Cf. SCHWANTES, Milton. O direito dos pobres. São Leopoldo: OIKOS/EDITEO, 2013, p. 142. 12 Cf. SICRE, José Luiz Diaz. Com os pobres da terra – A justiça social nos profetas em Israel. Santo

André: Academia Cristã/Paulus, 2011, p. 464.

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Capítulo I

QUESTÕES FUNDAMENTAIS

NO LIVRO DO PROFETA JEREMIAS

Mudando a situação do receptor, a mensagem tende a adquirir novos significados: [...]

“mas basta que a situação do receptor mude para que os códigos se esfoliem,

irrompendo novos sentidos”.

(Humberto Eco).

Considerações iniciais

Ao se observar o livro do profeta Jeremias, é possível verificar que há vários

problemas literários e históricos. Muitos biblistas não têm dúvidas da existência de

relações entre o livro de Jeremias e os textos deuteronomistas, como: Claus

Westermann13

, Hans Walter Wolff14

, Erich Zenger15

, Gerhard Von Rad16

, Martin

Noth17

, Siegfried Hermann18

, John Bright19

, William Holladay20

e Milton Schwantes21

.

Eles reconheceram essa relação um pouco após o surgimento do criticismo bíblico22

13 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário al profeta Jeremias. Espanã: Ediciones Fax Zurbano 80 Madrid, pg.83-117, 1972. 14 Cf. WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, pg.117-128, 2005. 15 Cf. ZENGER, Erich. (Org). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, pg.160-168, 2003. 16

Cf. VON RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento (v.1-2). São Paulo: Aste/Targumim, pg.215-

226;326-345;600-642, 2006. 17 Cf. NOTH, Martin. História de Israel. Barcelona: Ediciones Garriga S.A, pg.237-274, 1990. 18 Cf.HERRMANN, Siegfried. História de Israel; en La época Del antiguo testamento. Salamanca:

Ediciones Sigueme, pg.327-380, 1985. 19 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. 6º edição. São Paulo: Paulus, pg.374-408, 2010. 20 Cf. HOLLADAY, William L. Jeremiah 1 – A comentary on the Book of Prophet Jeremiah Charpters 1

– 25. Philadelphia: Fortress Press, (vol.1). Hermeneia – A crítical and Historical Commentary on the Bible. pg.581-582, 1986. 21 Cf. SCHWANTES, Milton. Sofrimento e esperança do exílio; história e teologia do povo de Deus no

século VI a.C. São Leopoldo. OIKOS, pg., 43. 2009. 22 Cf. SCHNELLE, Udo. Introdução à Exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, p.111-

119. Criticismo bíblico – Emergiu graças ao racionalismo dos séculos XVII e XVIII e é definido como o

tratamento de textos bíblicos como artefatos naturais, ao invés de artefatos sobrenaturais. No século XIX

o criticismos se dividiu entre a alta crítica, isto é, o estudo da composição e história dos textos bíblicos,

a baixa crítica e a análise crítica dos textos visando estabelecer sua leitura correta ou original. Esses

termos são praticamente deixados de lado atualmente. A crítica contemporânea assistiu à emergência de

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acadêmico. As semelhanças linguísticas e teológicas entre o livro do profeta Jeremias e

a literatura deuteronomista levaram a atribuir a Jeremias a autoria do livro de I e II Reis.

Se existe certo consenso sobre a presença da linguagem deuteronomista em todo

o livro de Jeremias, este não se dá em relação ao processo que levou a inclusão deste

material no livro.

Para alguns destes especialistas citados anteriormente, como Holladay e

Schwantes, o livro de Jeremias não constitui uma unidade, mas blocos literários. Os

primeiros a fazerem tal abordagem, são: Bernhard Duhm23

, em 1901, e Mowinkel, em

191424

.

A maioria dos críticos reconheceu três tipos básicos de materiais no livro de

Jeremias, nesta ordem: o material A, que consiste de oráculos poéticos do próprio

Jeremias e estes oráculos se encontrariam espalhados por todo o livro de Jeremias, do

capítulo 1-25. O material B, que é composto de narrativas bibliográficas escritas no

Egito por Baruque (%WrøB') entre o ano 580 e 480 a.C. Em sua maioria esse material se

encontraria em, Jr 26-29; 36-44, embora houvesse alguns fragmentos das narrativas de

Baruque em outras partes do livro. O material C, que se encontraria por todo o livro de

Jeremias, e que seria uma associação de A e B.

Para Wilson,25

o material C pode ser detectado em Jr 3.6-13; 7.1-8.3; 11,1-5,9-

14; 18.1-12; 21.1-10; 22.1-5; 25.1-11a; 27; 29.1-23; 32.1-2,6-16,24-44; 34.1-22; 35.1-

19; 39.15-18; 44.1-14; 45. Estas citações são básicas para obtermos uma pequena

compreensão do material C inserido no livro de Jeremias.

Portanto, conforme Wilson, nossa pesquisa exegética está inserida no material A

“oráculos poéticos”, que consiste não somente em oráculos poéticos no seu todo, mas,

também de crítica social, como no caso do “oráculo profético” de Jeremias 22,13-19,

contra as práticas violentas do rei Jeoaquim.

No decorrer da pesquisa apresentaremos através das ferramentas da exegese

alguns dos “grupos sociais”, que foram explorados pelo rei Jeoaquim.

novas perspectivas que se baseiam em abordagens literárias e sociológicas na busca do significado dos

textos. Cf. EGGER, William, 2005, p. 43-200. In: SILVA, Cássio Murilo D. da Silva, 2009, p. 173-186;

241-256. 23 Cf. DUHM, Bernhard. Das Buch Jeremia (KHC XI), 1901, p.37. 24 Cf. MOWINCKEL, S. Zur Komposition dês Buches Jeremia. Oslo: Jacob Dybwad, p.20-21, 1990. 25 Cf. WILSON, Robert R. Profecia e sociedade no Antigo Israel. São Paulo: Targumim/Paulus, p.274,

2006.

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Na primeira parte da nossa pesquisa analisaremos as seguintes questões

referentes ao livro de Jeremias: a) questionamentos do livro; b) como o livro está

estruturado; c) fonte, data e autoria; d) os blocos literários e a questão da teologia

deuteronomista no livro de Jeremias; e) localização de nossa perícope e sua importância

no conjunto da literatura de Jeremias.

1.1 Questionamentos do livro de Jeremias

O livro de Jeremias, aparentemente, possui duas versões: a primeira é a da LXX

(Septuaginta), uma versão menor; a segunda é a da Bíblia Hebraica, que é maior que a

versão da LXX. A versão de Jeremias da Septuaginta possui 1/7 da versão contida na

Bíblia Hebraica (BH), o texto massorético.

O livro de Jeremias, conforme Welch26

, pode ser descrito com maior exatidão como

uma coleção de materiais referentes ao período do próprio Jeremias, como oráculos do

profeta e sua biografia. Assim, como já citado acima, este livro contêm vários

problemas na sua compilação. E há várias divergências na construção deste material.

Exemplo disso é a introdução ao livro, em Jr. 1,1-4, onde, conforme

Peterlevitz27

, o profeta é situado em um período de luta contra os poderes

governamentais. Jeremias foi dado por YHWH como profeta para os povos (Jr 1,5), o

que assevera que sua profecia é essencialmente direcionada aos reinos (v.10). Por isso,

Peterlevitz acredita que a mensagem de Jeremias está em total desalinhamento em

relação às políticas opressoras e imperialistas das nações.

Outro problema encontrado são as faltas cultuais de Judá (Jr 17,1-4) e o lamento

(Jr 17,14-18) que, conforme a pesquisa feita pelo escritor Terra,28

foi produzida no

contexto do reinado de Jeoaquim.

Subtende-se ainda que o livro contenha pequenas coleções que são

independentes, como Jr. 30-31; 46-51, as quais têm sua própria história e seu próprio

26 Cf. WELCH, Adam C. Comentário Bíblico de Abingdon (Tomo I). 2º ed. Buenos Aires: Editorial “La Aurora”, p. 700, 1997. 27 Cf. PETERLEVITZ, Luciano R. “Eu te estabeleço neste dia contra as nações” (Jr 1,10) – Um ensaio

exegético em Jr 1,4-10. Revista Theos. Campinas. 8º Edição, V.7 - Nº02 – Julho de 2012. pg. 1-18.

Disponível em: >

http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Jr%201_Eu%20te%20estabele%C3%A7o%20neste%20dia%20c

ontra%20as%20na%C3%A7%C3%B5es_Corrigido.pdf. < Acesso em: 20 de Agosto. 2013. 28 Cf. TERRA, Kenner. “Cura para mim e dia de desgraça para eles!” Jeremias 17, 14-18. Revista

Theos. Campinas. 7º Edição, V.6 – Nº02 – Dezembro de 2011, pg.1-12. Disponível em:

http://www.revistatheos.com.br/Artigos/03%20Kenner.pdf . Acesso em: 20 de Agosto. 2013.

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estilo narrativo. Alguns textos podem ter sido construídos ou consistem exclusivamente

em oráculos. E em torno do livro também aparece uma série de dados que apresentam

uma espécie de biografia desordenada do profeta.

Segundo Welch29

, alguns problemas vinculados à vocação de Jeremias se

apresentam a fim de demonstrar oráculos que são pronunciados em determinadas

circunstâncias e condições especiais em torno do livro. Como por exemplo, o relato do

rolo que foi queimado (Jr 36).

O material biográfico que relata a vida de Jeremias, algumas vezes aparece na

terceira pessoa e outras na primeira pessoa.

Nenhuma das explicações dadas por Welch é plenamente satisfatória. Ele

levanta a hipótese de que Baruque tenha sido o primeiro e o último dos compiladores,

algo que simplesmente não justifica.

As hipóteses levantadas por Welch em relação ao livro de Jeremias nos

demonstram duas coisas. Em primeiro lugar, os oráculos que são atribuídos a Jeremias e

aparecem em outros livros como: Isaías e Obadias. E, em segundo lugar, este material

encontra-se também junto de ditos posteriores (v.45-47), entretanto, nota-se também

que os oráculos originais eram breves. Existem oráculos que aparecem em outros

capítulos do livro, sendo assim, conseguimos notar em alguns momentos o

aparecimento da semelhança de sermões narrados por Jeremias. Welch30

conclui com

estas considerações:

Qualquer pessoa que quiser pesquisar pela primeira vez o livro de

Jeremias, se sentirá desgostoso pelas relevantes dificuldades. Porém,

pode ser proveitoso ao estudar o livro, se houver esforço ao tratar de

se conectar com os versículos que não têm relação com o redator.

Todavia, todo o material que passou pelas mãos dos homens foi

tratados e interpretados para as necessidades de sua época. Porém, eles

haviam passado por uma grande experiência de sua patria, e em

obediência ao princípio de sua centralização a YHWH. Haviam

também voltado a Jerusalém com o propósito de manter o culto no

Templo. O resultado foi que muitos reverentemente conservaram os

oraculos do profeta.

A pequena suavização e glossário estão contidos expressões fortes.

Em um breve comentário é impossível apresentar todas as evidências

a fim de desencadear o seu glossário no seu todo. De maneira que os

29 Cf. WELCH, Adam C. Comentário Bíblico de Abingdon (Tomo I). 2º ed. Buenos Aires: Editorial “La

Aurora”, p. 701, 1997. 30 Cf. Ibid. p. 701.

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leitores que considerem estas decisões como arbitrarias, e se recordará

que é impossível apresentar todas as evidências e narrativas contidas

no livro de Jeremias.

Para House31

o livro de Jeremias é desafiador para qualquer padrão que fosse

adotado, seja ele em ordem cronológica ou sistemática. A profecia consolidada em

Jeremias é longa e não aparece em ordem cronológica, contém textos em prosa e poesia,

e cobre um período de aproximadamente quarenta anos ao incluir o material biográfico.

No entanto, o que se sabe é que este material vem de seu único discípulo (Baruque).

O autor também apresenta que a versão da LXX e a versão da Bíblia Hebraica

são diferentes, e relata que o caso mais notável no texto grego é o fato de que Jeremias

46-51 aparece logo depois de Jr 25,13. Mediante as suas declarações torna-se difícil

determinar uma base histórica específica, e assim, interpretar historicamente as

profecias contidas em Jeremias.

Não obstante desses desafios, biblistas como: Wilson32

e Sicre33

concordam

acerca da teologia deuteronomista contida em Jeremias. Talvez, sem exceção, chegue à

conclusão de que Jeremias prega a adesão à aliança mosaica de forma bem parecida

com a mesma encontrada no Deuteronômio (cap.5) e nos profetas clássicos Amós e

Oséias (século VIII).

House, citando Nicholson,34

argumenta que o livro de Jeremias foi escrito por

“deuteronomistas”, que pregaram a exilados, ao passo que outros atribuem a ideia a

influências anteriores, mas a conclusão da presença da mão deuteronomista se mantém.

Em particular, a maioria dos estudiosos concentra-se no momento em que Jeremias

chama o povo ao arrependimento, do contrário enfrentaria o castigo. Por isso, o fato da

resistência da nação em não obedecer a YHWH, atribuiu-se a ela a culpa da queda de

Jerusalém.

Para Lacy35

, o livro de Jeremias é um dos livros proféticos que apresenta maior

complexidade. Por vários motivos, entre eles, a diversidade de gêneros que nele se

31 Cf. HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, p. 380, 2005. 32 Cf. WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. 2º ed. São Paulo: Targumim/Paulus,

2006, p.274-280. 33 Cf. SICRE, José Luiz Diaz. Com os pobres da terra - A justiça social nos profetas de Israel. Santo

André: Academia Cristã/Paulus, 2011, p. 435-436. 34 Cf. NICHOLSON, Ernest W. Preaching to the exiles: a study of the prose tradition in the book of

Jeremiah. Oxford: Basil Blackell, 1970. 35 Cf. LACY, José Maria Abrego de. Los libros proféticos; Introduccion Al Estudio de La Bíblia

.Navarra: Editorial Verbo Divino, p. 154-155, 1996.

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encontra, como oráculos contra Judá, narrações de Jeremias, narrações sobre Jeremias,

“confissões”, carta, oráculos contra as nações, ações simbólicas e narrações históricas.

Segundo Lacy, podemos notar também muita complexidade quando tratamos do

conteúdo. O autor descreve que por muitos anos há uma tentativa de reconstruir o “rolo

primitivo”, que infelizmente, segundo a narrativa de Jeremias 36, foi queimado. Esse

rolo queimado poderia nos trazer maior autenticidade dos oráculos de Jeremias.

Lacy também mostra que o texto grego (LXX) é um oitavo menor do que o texto

hebraico. Segundo ela, no texto grego contêm 2.700 palavras a menos que o texto

hebraico. Enfatiza também, que o texto massorético (TM) apresenta inúmeras

repetições.

Lacy levanta a hipótese de que provavelmente existiu mais do que um texto do

livro de Jeremias e descreve36

:

O texto 4QJerb (Jr 9,22;10-18) está de acordo com o texto da LXX,

enquanto que 4QJera, 4QJerc, 4QJr são mais próximos ao TM. E, o

que é mais sério, em ambas as recensões se conserva uma ordem

textual diversa. O problema da ordem começa a partir de Jr 25 e

fundamentalmente consiste na transposição dos oráculos das nações

para diversos lugares. Para visualizar a diferença, E.Vogt37

propõe um

nome e uma letra a cada bloco textual, o que resulta o quadro

seguinte:

TM LXX

25,15-38 (a) Taça das nações 32,15-38

46,1-51,58 (b) Oráculos contras as nações 25,15-32,14

26-45 (c) Narrações de Jeremias 33,1-51,30

51,59-64 (d) Narrações de Jeremias 51,33-35

Portanto, a ordem no texto massorético (TM) é diferente da ordem na

septuaginta (LXX). Este problema por sua vez nos conduz à dificuldade mais

importante do livro de Jeremias que é a sua formação e a sua origem, contudo o ponto

de partida para Lacy é sem duvida Jeremias 36.

36 Cf. LACY, José Maria Abrego de. Los libros proféticos; Introduccion Al Estudio de La Bíblia.

Navarra: Editorial Verbo Divino, p.153. 37 Cf. VOGT, E. Notas críticas ao texto hebreo, 1971, p. 3-46.

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Existem muitos argumentos sobre o livro de Jeremias e alguns biblistas

analisaram o texto de Jeremias sem lhe dar toda a atenção que realmente merece. De

acordo com Amsler38

, o livro de Jeremias apresenta várias complicações textuais de

autoria e de redação que são totalmente complexas ao entendimento claro e objetivo.

Para ele, a questão do texto de Jeremias somente foi retomada depois que os achados

nas grutas de Qumrã revelaram dois estados do texto correspondentes ao grego e ao

hebraico, como citado anteriormente.

Amsler argumenta que os textos achados nas cavernas de Qumran39

refletem o

texto recebido. O texto 4QJer foi datado em 200 a.C, aproximadamente. O texto 2QJer e

4QJerc, possivelmente seria do século I d.C. O texto 4QJer foi datado do período da

época Asmonéia40

, e pertence à edição breve, porém, mais antiga do texto. Ou seja, os

textos são fragmentários.

Para os autores Welch, Peterlevitz, Terra, House, Lacy e Amsler, o texto de

Jeremias é composto tanto pela Septuaginta (LXX) como pelo texto Massorético (TM).

Obviamente que o texto massorético é maior que o texto grego e pela verificação destes

autores o texto hebraico é o mais confiável.

A versão grega do livro de Jeremias (LXX) se distância muito do Texto

Massorético (TM), isto acontece porque a tradução da maioria de seus livros foi feita

em datas anteriores à finalização do Cânon Judaico41

, quando ainda era oscilante. Na

realidade, os dois cânones estavam em desenvolvimento, e no momento em que o

cânone dos judeus se definiu, as revisões cessaram e o texto de cada livro permaneceu

intacto até os dias atuais.

Contudo, o Cânon de Alexandria continuou sendo revisado até o recenseamento

de Luciano, em 300 d.C. Assim, os códices disponíveis da Septuaginta (LXX) foram

38 Cf. AMSLER, S.; ASURMENDI, J.; AUNEAU, J.; ACHARD-Martin, R. Os profetas e os livros

proféticos. São Paulo: Paulinas, p. 214, 1992. 39 Cf. AMSLER, S.; ASURMENDI, J.; AUNEAU, J.; ACHARD-Martin, 1992, p. 215. 40Cf. Os asmoneus. Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/reino-asmoneu/ Acesso em: 23/08

de Agosto. 2013. A dinastia dos asmoneus foi fundada sob a liderança de Simão Macabeu, duas décadas

depois de seu irmão, Judas Macabeu derrotar o exército selêucida durante a Revolta Macabeia, em 165

a.C. O reino Asmoneu sobreviveu por 103 anos antes de se render à dinastia herodiana, em 37 a.C. Ainda

assim, Herodes, o Grande sentiu-se obrigado a se casar com uma princesa da casa dos asmoneus,

Mariane, para legitimar seu reinado, e participou de uma conspiração para assassinar o último membro

homem da família dos asmoneus, que foi afogado em seu palácio, na cidade de Jericó. 41 Cf. SOARES, Esequias. Septuaginta Guia Histórico e Literário. São Paulo: HAGNOS, 2009, p. 25.

Cânon Judaico – Os livros do nosso Antigo Testamento estão classificados em lei, históricos, poéticos e

proféticos.

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submetidos a uma série de revisões e não representam exatamente o mesmo texto, que

de acordo com a tradição, surgiu em Alexandria a partir do século III a.C. Thacheray42

descreve que “Nós temos na Septuaginta uma miscelânea de escritos gregos, algumas

traduções e paráfrases, outras das quais o grego é a língua original, cobrindo um período

de mais de três séculos”.

Com estes dois textos, a Septuaginta (LXX) e o Texto Massorético (TM), foi

feita uma comparação entre os conteúdos, sem, no entanto, conhecer o estado das

primeiras traduções do texto. O que temos hoje é o que foi de fato traduzido até o século

I d.C. E isto não é suficiente para responder a todas as perguntas que aparecem para

estes textos, seja LXX ou TM.

Os fragmentos gregos do período cristão são apenas nove, isto de acordo com

Soares43

. No deserto da Judéia foram encontrados sete fragmentos, sendo seis nas

cavernas de Qumran, um na gruta de Nahal Hever com o rolo dos doze profetas, e dois

papiros que foram encontrados no Egito.

Para este hebraísta, entre os achados do Mar Morto foram encontrados seis

cópias do livro de Jeremias, sendo um rolo na “caverna 1” e cinco rolos na “caverna 4”,

todos incompletos. O achado da caverna 4 (4QJerb) confirma a existência do texto curto,

e conforme o autor, isto comprova outro substrato no qual se baseou o tradutor, pois na

mesma época havia uma edição longa e uma edição curta.

Além disso, significa que na época o texto hebraico utilizado pelos Setenta44

era

anterior à data da finalização definitiva do cânon judaico45

. O modelo hebraico usado

pelos tradutores da LXX estava ainda em desenvolvimento.

Estas descobertas trouxeram à tona um grande número de variantes hebraicas e

certos fragmentos confirmam a forma do grego e a do Texto Massorético (hebraico).

Harl46

conclui: “Definitivamente, as descobertas de Qumram resolveram um enigma:

sabe-se agora que o grego, quando se afasta do TM, não inventa. Não obstante, não

42 Cf. THACHERAY, H. St. J. A Grammar of the Old Testament in Greek. Andernach, Germany: Georg

Olms Verlag, p. 9, 2003. 43 Cf. SOARES, Ezequias. Septuaginta: Guia Histórico e Literário. São Paulo: Hagnos, p. 64, 2009. 44 A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa

setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e,

segundo a história, teriam completado a tradução em setenta e dois dias. Ibid., 2009, p.47-50. 45 Cf. SOARES, Ezequias, 2009, p.66. 46 Cf. HARL, Marguerite; DORIVAL, Gilles; MUNNICH, Olivier. A Bíblia Grega dos Setenta: Do

Judaísmo Helenístico ao Cristianismo Antigo. São Paulo: Loyola, p.172, 2007.

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revelam o tipo textual exato sobre o qual se apoia a tradução grega. Com Qumran, a

questão do substrato hebraico da LXX não desaparece: ressurge”.

Enfim, temos no livro de Jeremias várias complicações como já relatado, mas, o

que devemos atribuir ao Jeremias histórico? E o que é realmente jeremiânico no livro de

Jeremias? Isto, para o nosso tempo ainda é muito complicado para saber com exatidão.

Os autores e pesquisadores até o presente momento não relatam tais assuntos com

exatidão, somente levantam hipóteses.

Conforme Schwantes47

, tanto o profeta quanto os seus discípulos eram

pertencentes ao âmbito palestinence, e ninguém em sã consciência vai deixar de

localizar a “origem” do livro de Jeremias em outro lugar que não seja em Judá.

Para Brueggemann48

, é impossível ler o livro (texto) de Jeremias com coerência.

Embora seja possível analisá-lo em diferentes subdivisões e perceber o seu significado,

não é fácil descrever como os blocos literários estão reunidos em torno de todo o livro e

como se encaixam. Isto é apenas a primeira de várias críticas que encontramos ao longo

de todo o texto (livro) de Jeremias.

Brueggmann49

, afirma também que o livro está relacionado com um turbilhão de

várias vozes interpretativas, cada uma das quais oferece uma leitura histórica e

teológica, obviamente antes da destruição de Jerusalém ou pelo menos à beira da

restauração dela.

Barrera50

, por sua vez, põe ênfase na complexidade do livro ao afirmar:

O texto do livro de Jeremias é de difícil compreensão tanto o

manuscrito hebraico (TM) quanto o da Septuaginta (LXX) o

manuscrito grego. Os casos em que a versão grega oferece um texto

mais amplo que o massorético é bem limitado. A maior originalidade

do texto refletido pela LXX aparece na ausência de leitura dupla,

frequentes, pelo contrário, no TM (1,15; 7,24; 10,25; 14,3b; 25,6-7;

29,23; 41,10 etc). As leituras duplas do TM correspondem, em geral, a

casos de harmonizações. São frequentes também os casos de Qerê e

Ketîb. Tudo isto realça a longa história de transmissão textual

subjacente ao texto massorético deste livro. Embora com não poucos

casos de corrupção textual, o TM de Jeremias não resulta tão

47 Cf. SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio; História e teologia do povo de Deus no

século VIII a.C. 3º ed. São Leopoldo: OIKOS, p. 42, 2009. 48 Cf. BRUEGGMANN, Walter. The Theology Of The Book o Jeremiah. 1º Ed. New York: Cambridge

University Press, p. 2-3, 2007. 49 Cf. BRUEGGMANN, Walter, 2007, p. 6. 50 Cf. BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã; Introdução à história da bíblia.

Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes, p. 474, 1996.

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insatisfatório como podem ser os livros de Samuel, Oséias ou

Ezequiel.

As poucas leituras duplas presentes no texto grego não encontram

explicação fácil. Algumas podem ter surgido porque as recensões

foram feitas sobre a base do TM. O “original” hebraico da versão

grega, ao contrário, não parece ter sofrido apenas algumas atividades

recensional.

O códice Wirceburgensis da VL omite os v. 1-2 de Jr 39 (TM) e o

texto grego de Orígenes os assinala com asteriscos. Esta coincidência

comprova que estes versículos não figuravam, no início, no texto da

LXX, como tampouco os v. 4-13. Este é mais um caso em que se

realça a importância da VL (Vulgata).

Entre todos os pesquisadores que relatam a composição, a origem, e as

dificuldades encontradas no texto (livro) de Jeremias, somente Schwantes51

declara a

sua origem com precisão.

Segundo o autor, nós não temos o texto de Jeremias, porque não há como saber

se realmente este texto que temos em mãos era de Jeremias. Primeiramente porque o

texto foi copiado em hebraico na cidade de Jerusalém e nesta localidade existia uma

escola de copistas, em que eles escreviam o texto de forma diferenciada da época.

Ele também defende que há duas transmissões do texto (livro) de Jeremias,

sendo uma em hebraico e outra em grego. Na época de Jesus, metade dos judeus vivia

no Egito. Somente em Alexandria vivia uma população de mais ou menos um milhão de

judeus.

A população que vivia em Alexandria estava localizada no Delta do Nilo.

Entretanto, nesse período eles não falavam a língua hebraica, mas o grego

(koiné/comum). Por este motivo nós temos duas versões do livro de Jeremias, uma em

hebraico que foi compilada na terra da Palestina e outra em grego no Egito.

Segundo Schwantes52

, no mundo católico, na Bíblia de Jerusalém até a edição do

ano 2000, estava o livro de Jeremias do texto de Alexandria (um sétimo menor 1/7 do

texto em hebraico). Referente a isso, Schwantes53

faz um questionamento: qual é o texto

que realmente é de Jeremias? Este texto está escrito em hebraico ou o em grego? Se um

é maior e o outro é menor, qual texto realmente deve ser publicado na Bíblia?

51 Cf. SCHWANTES, Milton. O Profeta Jeremias. Santo André: Instituto MONSENHOR Antunes. 2011.

DVD. 180 min. 52 Cf. SCHWANTES, Milton. O Profeta Jeremias. Santo André: Instituto Monsenhor Antunes. 2011.

DVD. 180 min. 53 Cf. SCHWANTES, Milton, 2011.

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No livro de Jeremias um texto que não há variação ou diferença é o capítulo um,

tanto no hebraico quanto no grego eles são iguais. Mas, depois deste primeiro capítulo

existem variações contínuas (ver tabela abaixo). Para Schwantes 80% da literatura de

Jeremias não é de Jeremias, é possível que fosse escrita ou inserida por seu discípulo

chamado Baruque.

Conforme Schwantes, no final dos anos noventa se estabeleceu um consenso

entre os biblistas na América Latina, de que seria melhor utilizar o texto hebraico. De

maneira que, seguindo este consenso, também nós iremos nos ater ao texto hebraico.

Evidentemente que faremos uso do texto grego, mas com o objetivo apenas de estudar e

entender o texto hebraico, que será nossa base.

1.2 A estrutura do livro de Jeremias

Anteriormente foram mostrados alguns problemas referentes ao livro de

Jeremias, também as opiniões e divergências entre biblistas. Portanto, foi possível

perceber a complexidade que é a composição literária do livro.

A partir de agora, será apresentado sucintamente como o livro de Jeremias está

estruturado e como estão formadas as divisões dos blocos literários inseridos no livro.

1.2.1 A estrutura do texto hebraico e do texto grego54

O livro de Jeremias, depois do saltério, é um livro com grandes proporções no

Antigo Testamento. A sua forma representativa comunicacional do texto, existe em dois

formatos significativamente diferentes entre os profetas posteriores, portanto, situa-se

como o terceiro no cânon grego, e como segundo no cânon hebraico. Segue as suas

diferenças na composição dos capítulos:

Sinopse das duas tradições textuais

Hebraico Grego Serie de

povos em H Grego Hebraico

Serie de

povos em G

1-24

25, 1-13

25,14-38

26

27

1-24

25,1-13

32,15-38

33

34

Vinho da ira

para as nações

1-24

25,1-13

25,14-20

26,2-25

26,27-28

1-24

25,1-13

49,34-39

46,1-26

46,27-28

Elam

Egito

Promessa

De salvação

54 Cf. ZENGER, Erich; MEYER, I (Org). 2003, p. 400.

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42

43

44

45

46, 1-26

46, 27-28

47

48

49,14

49,7-22

49,23-27

49,28-33

49,34-39

50-51

52

52

35

36

37

38

39

40

41

42

43

44

45

46

47

48

49

50

51,1-30

51,31-35

26,2-25

26,27-28

29

31

30,17-21/22

30,1-16

30,29-33

30,23-28

25,14-20

27-28

52

52

Egito

Promessa

De salvação

Filisteus

Moab

Amom

Edom

Damasco

Qedar/Hasor

Elam

Babilônia

27-28

29

30,1-16

30,17-21/22

30,23-28

30,29-33

31

32,15-38

33

34

35

36

37

38

39

40

41

42

43

44

45

46

47

48

49

50

51,1-30

51,31-35

52

50-51

47

49,7-22

49,1-6

49,28-33

49,23-27

48

25,14-38

26

27

28

29

30

31

32

33

34

35

36

37

38

39

40

41

42

43

44

45

52

Babilônia

Filisteus

Edom

Amom

Qedar/Hasor

Damasco

Moab Vinho da ira

Para as nações

A tabela seguinte relaciona os principais excedentes que o hebraico (H)

apresenta em comparação com o grego55

(G) na tabela a seguir:

2,1s*

7,1s*

8,10-12*

10,6-10*

11,7-8*

17,1-4*

27,1

27,7

27,13s*

27,18-21s*

Fórmula56

de recepção da palavra e ordem de ir a público;

Fórmula de recepção da palavra, ordem de ir a público e localização no

tempo;

Recepção da polêmica contra sacerdotes e profetas após 6,13-15;

Polêmica ampliada contra ídolos e predicados para Javé;

Queixa por propostas frustradas feitas aos pais;

Acusação de idolatria e ameaça de deportação;

Data (equivocada) no tempo de Joaquim;

Antecipação de que o tempo de juízo se limita a três gerações;

Advertência diante dos falsos profetas;

Relação ampliada dos deportados; ameaça do confisco de outros

55 Cf. ZENGER, Erich; MEYER, I (Org). 2003, p. 401. 56 Cf. ZENGER, Erich; MEYER, I (Org). 2003, p. 401.

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28

29,15-19*

30,10s

30,22

31,37

33,14-26

39,4-13

46,26

48,45-47*

49,6

51,45-48

52,2s

52,15

52,28-30

utensílios do templo;

Ameaça de deportação e justificação para população restante em Judá

conforme o cap. 24;

Asseveração de retorno e auxílio para Jacob/Israel;

Promessa de que futuramente Deus e o povo pertencerão um ao outro;

Outra confirmação da inclinação indestrutível de Javé para o seu povo;

Outras promessas para Jerusalém, Judá, a casa de David e a casa de

Levi;

Colagem de partes de 52,4-16 e II Rs.25,1-12;

Repetido anúncio da entrega do Egito a Nabucodonosor; promessa de

uma virada;

Ampliação do lamento sobre Moab em consonância com Nm. 21,28s e

anúncio de uma virada para a salvação;

Promessa análoga de mudança para a salvação de Amon;

Convocação para sair da Babilônia, anúncio do castigo para os ídolos,

júbilo no céu e na terra;

Complemento na avaliação de Sedecias nos termos de II Reis 24,19s;

Complemento das ações devastadoras de Nebuzaradan com a

deportação (conforme II Reis 25,11);

Notas de resumo sobre os números das três deportações.

1.2.2 Construções e delineamentos no texto hebraico57

O texto hebraico nos apresenta na primeira análise do livro de Jeremias uma

estrutura clara e objetiva. Isto se torna evidente por causa da sequência de poesia

(oráculos e discursos) e prosa (narrativas).

A principal hipótese do método histórico critico58

sobre a formação do livro de

Jeremias, pode ser dividida em duas grandes correntes, as correntes que aceitam a

crítica literária59

e as correntes da crítica da redação60

, ou seja, que trabalham com a

hipótese de diversas fontes unidas e relidas por redatores, e as que se desenvolvem

modelos que dispensam este passo metodológico.

Os pioneiros fundamentais nas pesquisas de Jeremias61

foi o biblista Bernhard

Duhm62

e Sigmund Mowinkel63

que mostraram a existência de diversas matérias

reunidas nos capítulos 1-45 do livro de Jeremias (Material A, B e C). Todavia,

Mowinckel chama estes matérias de “fontes” e o diferencia da seguinte maneira.

57 Cf. ZENGER, Erich; MEYER, I (Org). 2003, p. 402. 58 Cf. YOFRE, Simian Horácio. Metodologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2011, p.73. 59 Cf. SCHNELLE, Udo. Introdução à Exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, p. 57. 60 Ibid., 2004., p. 131. 61

Conservamos o texto original da pesquisa de Monika Ottermann sobre o livro de Jeremias, p. 21-25. 62 Cf. DUHM, Bernhard. Das Buch Jeremia. Tübingen: Mohr, 1901, p. 391. 63 Cf. MOWINCKEL, Sigmund. Zur Komposition des Buches Jeremia. Kristiana: Dybwad, 1914, p. 69.

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29

1. 1-25

2. 26-45

3. 46-51

4. 52

Oráculos e discursos contra Israel e Judá, do próprio Jeremias (em

poesia);

Narrativas sobre Jeremias, em prosa.

Oráculos contra as nações estrangeiras (oráculos sobre as nações); que

são discursos deuteronomistas, em prosa, espalhados pelo livro todo.

Narrativa (apêndice histórico = II Reis 24,18; 25,30.

Por isso este modelo foi amplamente aceito na pesquisa realizada ao longo do

século XX, e aperfeiçoado principalmente nos grandes comentários e demais obras de

Rudolph64

e Hyatt65

, nas décadas de 40 e 50. Porém, Weiser66

publicou nos anos 50,

outro comentário importante, que concorda basicamente com este modelo.

Desta forma, comentários dos anos 60, entre os quais se destacam o de Bright67

e

a obra conjunta de Schökel68

e Diaz, mostram relutantes no seu posicionamento a

respeito da teoria das fontes, que na atualidade muitos biblistas ainda estão estudando.

Houve, desde então, um avanço significativo à pesquisa da questão da crítica das

fontes69

para a crítica da história da redação70

, analisando também o processo da

integração dos diversos materiais no livro.

Porém, destaca-se a obra de Thiel71

que mostrou para o corpo narrativo de

Jeremias 1-45 teve uma intenção deuteronomista e não se limitou a fornecer os

materiais da chamada fonte C72

, por outro lado, é também responsável pela própria

redação principal dos capítulos 1-45. Nesta perspectiva, Thiel criou a sigla D, para

identificar as intenções deuteronomistas, substituindo e ampliando assim a sigla C de

Mowinckel.

Obviamente, para os exegetas que trabalham com a crítica da história da redação

o material de Thiel tornou-se a base geral de seus estudos, e suas pesquisas modificaram

64 Cf. RUDOLPH, Wilhelm. Jeremia. Tübingen: 3º ed. 1968, p. 325. 65 Cf. HYATT, James Philip. The Book of Jeremiah. Nashville: Abingdon, 1956, p. 234. 66 Cf. WEISER, Artur. Das Buch Jeremia: Kapitel 1,1-25,14. Göttinger: Vandenhoeck und Ruprecht, 5º

ed. 1966, p. 219-220. 67 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. 9º ed. São Paulo: Paulus, p. 373-408. 68 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias. São Paulo: Paulinas,

1988, p. 411-637. 69 Ibid., 2004., p. 57-84. 70 Ibid., 2004., p.131-144. 71 Cf. THIEL, Winfried. Die deuteronomístische Redaktion 1-25. Neukirchen-Vluyn: Neukirchener

Verlag, 1973, p. 314-315. 72 Cf. WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. 2º ed. São Paulo: Targumim/ Paulus,

2006, p. 274.

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os resultados de Thiel apenas em detalhes. Neste contexto aconteceu um progresso

importante na avaliação do chamado material B, ou seja, das narrativas sobre Jeremias

em geral, caracterizado como “biografia” de Jeremias, e geralmente atribuído a Baruc

(%WrB').

Outro biblista importante para nossa análise é Wanke73

que aproveitou obras em

parte inéditas de Kremers74

, e mostrou que este material provém de pelo menos dois

círculos diferentes de autores ou redatores, que são responsáveis pelo material B

contido, por um lado, nos capítulo 27; 29; 32 e 34-36, e, por outro lado, no ciclo dos

capítulos 37-45 de Jeremias.

Nota-se que nas décadas de 60 e 80 surgiram os grandes comentários de

Nicholson75

(que rejeita qualquer interpretação baseada na crítica da história da redação

e procura a solução na base da história da tradição), outros biblistas como Thompson76

,

Holladay77

, Mckane78

e Carroll79

são adeptos da hipótese das fontes.

Contudo, os quatro últimos aceitam, em geral, a hipótese das três fontes (A, B,

C) e enfocam a pergunta pela localização histórica dos textos, mas, variam-se muito nas

identificações concretas desta localização nas hipóteses a respeito do processo

redacional. Todavia, nos anos 90 foram publicados os dois últimos grandes comentários

completos e um comentário parcial do livro de Jeremias. O comentário do livro teve seu

lançamento em 1991, dos caps. 1-2580

, e a outra parte, em 1995, dos capítulos 26-5281

.

Sendo baseados em grande parte nas pesquisas de Carroll, e traz pouca novidade em

73 Cf. WANKE, Grunther. Untersuchungen zur sogenannten Baruchschrift. Berlim: Gruyter, 1971, p.

155. 74 Cf. KREMERS, Heinz. Der leidende Prophet: Das Prophetenbild der Prosaüberlieferung dês

Jeremiasbuches und seine Bedeutung innerhalb der Prophetie Israels. (Dissertation). Göttingen: 1952, p.

151-152. 75 Cf. NICHOLSON, Ernest W. The Book of the prophet Jeremiah: Chapters 1-25. Cambridge University

Press, 1973, p. 220-221. 76 Cf. THOMPSON, John Arthur. The Book of Jeremiah. Grand Rapids: Eardmans, 1980, p. 819-820. 77 Cf. HOLLADAY, Wlliam Lee. Jeremiah 1: A commentary on the Book of the prophet Jeremiah: Chapters 1-25. Philadelphia: Fortress, 1986, p. 682. In: Jeremiah 2: commentary on the Book of the

prophet Jeremiah: Chapters 26-52. Minneapolis: Fortress, 1989, p.543. 78 Cf. MICKANE, William. A crítica and exegetical commentary on Jeremiah, Volume I: Introdction and

commentary on Jeremiah 1-25. Edimburg: Clark, 1986. 79 Cf. CARROLL, Robert P. Jeremiah: a commentary. Philadelphia: Westminster, 1986. 80 Cf. CRAIGIE, Peter C; KELLEY, Page H; DRINKARD JR. Jeremiah 1-25. Dallas: Word Books,

1991. 81 Cf. KEOWN, Gerald L; SCALISE, Pamela J; SMOTHERS, Thomas G. Jeremiah 26-52. Dallas: Word

Books, 1995.

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comparação a esta obra de 1986. Porém, em 1995, Wanke82

publicou o primeiro volume

de seu comentário (o segundo ainda não foi terminado).

As considerações gerais de Wanke apresentada neste comentário são

basicamente as da sua pesquisa a respeito do escrito de Baruc. E, em 1988 foi publicado

o comentário completo de Brueggemann83

cuja exegese dos capítulos 26-52 baseia-se

no seu comentário parcial publicado em 199184

. O seu mais novo comentário sobre a

teologia do livro de Jeremias, foi lançado em 200785

.

Portanto, o biblista trabalha em geral com a hipótese da crítica da redação

apresentada acima e traz alguns aspectos e sensibilidades novas, especialmente em

relação à leitura sócio-histórica da Bíblia.

Nesta perspectiva, ainda não surgiram grandes comentários de Jeremias na

America Latina, e em especial estão as obras e os ensinamentos de Schwantes86

,

Mesters87

e Nakanose88

, e são de grande importância para construção desta pesquisa,

mas, principalmente os comentários do livro de Jeremias de Westermann89

, Schökel90

,

Rendtorff91

, Fohrer92

, Gottwald93

e entre outros.

1.3 Análise complementar das fontes, datas e autoria do

livro de Jeremias. “A voz do poeta (profeta) não precisa apenas ser um registro

do homem, pode ser também um dos seus amparos,

o pilar que o ajuda a residir e prevaler”

(William Faulkner94)

82 Cf. WANKE, Gunther. Jeremiah 1,1-25,14. Zurique: Theologischer Verlag, 1995. 83 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. The Babylonian Exile. 84 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. To build, to plant: a commentary on Jeremiah 26-52. Grand Rapids:

Eerdmans, 1991. 85

Cf. BRUEGGEMANN, Walter. The Theology of the Book of Jeremiah – Old Testament Theology.

Cambridge: University Press, 2007. 86 Cf. SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio – História e Teologia do povo de Deus

no século VI a.C. 3º ed. São Leopoldo: OIKOS, 2009, p. 41-47. 87 Cf. MESTERS, Carlos. O profeta Jeremias: boca de Deus, boca do povo. São Paulo: Paulinas, 1992. 88 Cf. NAKANOSE, Shigeyuki. Antigo Testamento (História). São Paulo: Verbo Divino, 2009. 89 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário al profeta Jeremias. Espanã: Ediciones Fax Zurbano 80

Madrid, pg.83-117, 1972. 90 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias. São Paulo: Paulinas,

1988. 91 Cf. RENDTORFF, Rolf. Antigo Testamento – Uma introdução. Santo Andre: Academia Cristã, 2009,

p. 288-298. 92 Cf. FOHRER, G; SELLIN, E. Introdução ao Antigo Testamento. Santo André: Academia

Cristã/Paulus, 2012, p. 548-567. 93 Cf. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas, 1988. 94 Cf. GUEDES, Marson. O caminho de Jeremias – O que o profeta nos ensina sobre esperança em meio

ao sofrimento. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 23. No texto citado acima, Faulkner acusa seus

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Até o presente momento descrevemos alguns comentários de vários teóricos que

pesquisam e pesquisaram sobre a temática do livro de Jeremias. Seja em relação ao

texto de Jeremias, sua estrutura, relatos do texto hebraico, o texto grego e os blocos

literários inseridos no livro de Jeremias.

Nesta etapa tentaremos prescrever sobre os dados do profeta, as fontes, possíveis

datas da composição do livro de Jeremias e sua autoria. Propomos então, relatar tais

comentários e questionamentos em torno destes temas.

1.3.1 O profeta Jeremias

Halley95

afirma que Jeremias viveu cerca de cem anos depois do Proto-Isaías (1-

39) e que teria vivido num período de muitas turbulências internacionais entre algumas

nações, como: Assíria, Egito e Babilônia. Foi chamado para a atuação profética por Javé

aproximadamente 626/7 a.C. E vinte anos após, em 605 a.C, Jerusalém foi parcialmente

destruída pelas tropas babilônicas. A destruição de fato, entretanto, aconteceu primeiro

com o cerco de deportação em 597 a.C, e, segundo, com o incêndio e segunda

deportação em 586 a.C.

O profeta Jeremias nasceu96

por volta do ano 650 a.C., natural de uma aldeia

chamada Anatot97

, cidade localizada à sete quilômetros de Jerusalém; esta aldeia

pertencia à tribo de Benjamim.

colegar de profissão de “terem esquecido os problemas do coração humano em conflito consigo próprio, o único tema que pode resultar em boa literatura, porque só acerca dele vale a pena escrever e sofrer a

agonia e o cansaço”. Pede-lhe que não deixem espaço em seus trabalhos “para nada que não seja as velhas

verdades do coração, as velhas verdades universais sem as quais qualquer história é efêmera e

condenada” – amor e honra, piedade e orgulho, compaixão e sacrifício? (Antonio Damásio, O erro de

Descartes, p.285). 95 Cf. HALLEY, Henry Hampton. Halley’s Bible handbook with the New International Version.

Michigan: Ed. Zondervan Publishing House, 2000, p. 316. 96 Cf. SMITH, Gary V; SCHULTZ, J. Samuel. Panorama do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Vida

Nova, 2005, p. 236. 97 Cf. ROS, Termes Pablo. Enciclopedia de La Bíblia (Primer Volumen). Barcelona: Editorial Éxito,

1980, p. 483-485. (Anatot) – Em Josué se encontra a Anatot entre as cidades levíticas. Há outras citações em Samuel e Crônicas. Anatot foi habitada por benjaminitas segundo Esdras e Nehemias após o exílio

babilônico. O lugar contem elementos teofânicos ao nome da deusa “Anãt” e significa lugar de Anãt. Ao

norte de Anatot estava Micmás e a sudeste estava Jerusalém (Is 10,28-32). Foi identificada com a

moderna ‘Anata’, embora a cidade antiga pareça ter estado a cerca de 800 metros a sudeste, no pico de

Ras el Kharrubeh, que é cerca de 50 metros mais alta que a aldeia atual. Arqueólogos encontraram aqui

restos de uma antiga aldeia que resistiu desde a época da antiga Israel até o século VII a.C. Daqui é

possível avistar o mar Morto na direção sudeste, as terras da Transjordânia ao leste e as montanhas ao

norte. Este local está exposto aos ventos quentes e devastadores (siricos) que sopram dos desertos da

Transjordânia.

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Schökel98

e Mosconi99

levantam a questão de que este dado tem sua importância

porque Benjamim100

era unido politicamente a Judá. E manteve um grande vínculo com

as tribos do norte. Esta ligação trazia segurança e aproximação ao povo.

Salgado101

nos descreve que o território da tribo de Benjamim foi repartido por

meio do lr'AG (goral, sorte) 102

. E tal processo se deu provavelmente por meio de pedras

lançadas ao ar. É possível que o sorteio fosse apenas uma extensão ideal a todo o povo

do que realmente havia sucedido no plano do clã e da família. A verdadeira propriedade

era comunitária e nela cada indivíduo se comportava como possessivo na qualidade de

membro da comunidade.

Para Donner103

a tribo de Benjamim se estabeleceu entre Efraim, ao Norte, e

Judá, ao Sul. No território ao Oeste seu vizinho era a tribo de Dã (Js 18,11).

Provavelmente Benjamim teria pertencido à tribo de Efraim. Uma vez que o nome

Benjamim “filho da direita”, ou do Sul, poderia ter acontecido por uma atribuição feita

pelos membros da “casa de José”, que eram vizinhos do Norte.

Por esse motivo, compreendemos o fato e o porquê de Jeremias dar tanta

importância às tradições dessa localidade. Com efeito, ele nos fala de Raquel, de Efraim

(Jr 31,15-18), e também do santuário de Silo (Jr 7,14; 26,6). Além disso, e partir disso,

da muita importância ao Êxodo, à marcha pelo deserto e à entrada na terra prometida (Jr

2,1-7; 7,22-25; 16,14; 23,7; 31,31).

Ao contrário as tradições tipicamente judaicas (eleição divina de Jerusalém e da

dinastia davídica), estas não adquirem no profeta destaques especiais. A maior parte da

atuação profética de Jeremias situa-se na capital do reino do Sul, Judá. Porém, ele

98 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias – Profetas I – Grande

Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 415. 99 Cf. MOSCONI, Luis. Profetas da Bíblia e nós hoje. 4º ed. São Paulo: Loyola, 2011, p. 99. 100 Cf. SALGADO, Samuel de Freitas. A Tribo de Benjamin como berço para a monarquia israelita.. Revista Theos. Campinas. 8º Edição, V.7 – Nº01 – Julho de 2012, pg.2-3. Disponível em:

http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Tribo%20de%20Benjamim.pdf. Acesso em: 20 de Setembro.

2013. 101 Cf. SALGADO, Freitas de Samuel., 2012, p. 3-12. 102 Cf. KIRST, Nelson; KILPP, Nelson; SCHWANTES, Milton; RAYMANN, Acir; ZIMMER, Rudi.

Dicionário Hebraico- Português & Aramaico-Português. 22º ed. São Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009, p.

40. (GORAL) – Pedras lançadas para decidir algo; sorteio; parcela que coube a alguém sorte ou destino;

Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p. 79. lr'AG, pode ser definido como divisão da terra Nm 26,55. Ou algo que cai para alguém

como herança por sorte Nm 36,3, ou como cidades (territórios) sorteadas Js 18,11; 21,20. Ou porção

sorteada Js 15,1. Existe uma referência a “destino” em Salmos 16,5. 103 Cf. DONNER, Hebert. História de Israel e dos povos vizinhos. São Leopoldo: Sinodal/Vozes, 1997, p.

158.

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esteve envolvido intimamente nos acontecimentos que levaram à destruição do reino e

da cidade. Percebe-se isso nos oráculos e ditos ao povo de Israel.

Por isso, apesar da atuação prioritária no Sul, as raízes de Jeremias estão

claramente ligadas ao Norte. Isto porque existiam indicações de que a linha sacerdotal

dentro do qual ele nasceu era do Norte.

Se realmente as informações bíblicas correspondem, o profeta Jeremias era

descendente de Eli, sacerdote do antigo santuário setentrional de Silo104

(1 Sm 1-4), dos

sacerdotes de Nob (bnO) que foram massacrados por Saul (1 Sm 22) e de Abiatar o

sacerdote que foi exilado em Anatot por Salomão (1 Reis 2,26). Isso é um fato

importante, pois liga Jeremias intimamente às origens da religião em Israel105

e o coloca

em oposição ao santuário de Jerusalém. Anatot era uma aldeia de profetas exilados, os

quais não compartilhavam com o sistema de governo da dinastia davídica de Jerusalém.

Portanto, as origens de Jeremias falam por si.

Ottermann defende que esta ascendência e as medidas massacrantes de Josias

contra os sacerdotes e santuários do interior de Judá (2 Rs 23,4-14), é um dos motivos

porque Jeremias se opõe à monarquia. É, sobretudo, um dos motivos para vê-lo em

oposição a Josias, avaliado tão positivamente pelos historiadores deuteronomistas106

.

Tanto é que, até conseguem “inserir” um pequeno elogio a ele em nossa perícope (Jr

22,15-16), mas isso será tratado mais adiante. Este dado de Ottermann é de suma

importância, pois conseguimos entender o porquê de Jeremias remeter sua crítica a

Jeoaquim e ser contra a monarquia em Israel.

Nas compreensões de Sicre107

, Schökel108

e Schwantes109

, Jeremias foi chamado

muito cedo para ser profeta. Isso teria sido, conforme Jr 1,2, por volta do 13º ano do

reinado de Josias, ou seja, 626/7 a. C.

104 Cf. CERESKO, Anthony R. Introdução ao Antigo Testamento Numa Perspectiva Libertadora. São

Paulo: Paulus, p. 213. 105 Cf. TRIGO, Castro M. C. Alessandra. O Exílio na Babilônia: um novo olhar sobre antigas tradições.

Dissertação (Mestrado em Letras; Literatura e Cultura Judaicas). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Letras Orientais – Programa de Pós-Graduação em Língua

Hebraica, Universidade de São Paulo (USP), 2007, p. 39-40. 106 Cf. SCHWANTES, Milton (Org); OTTERMANN, Monika. Defender a vida em meio a fracassos e

catástrofes: uma introdução a Jeremias 37-45. São Paulo: Estudos Bíblicos, n.91, 2006, p.10. 107 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Profetismo em Israel. O profeta. Os

profetas. A mensagem. 3º ed. Pétropolis/Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 287-288. 108 Cf. SCHÖKEL, Alonso L; SICRE, José Luiz Diaz. J. Isaías e Jeremias – Profetas I – Grande

Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 415. 109 Cf. SCHWANTES, Milton. O direito dos pobres. São Leopoldo: OIKOS/EDITEO, 2013, p. 129.

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Posteriormente, esta data foi colocada em dúvida. Para Gordon110

a vocação de

Jeremias aconteceu no ano 23 de Josias (617 a.C). E para Hyatt111

o início da sua

atividade profética ocorreu no ano (609 a.C), diferente de Whitley112

que acreditava que

foi no ano 605 a.C, após a batalha de Carquemis. Por fim, Westermann113

nos garante

que não existem dúvidas que a data correta seja a mencionada em Jr 1,2, no mesmo ano

indicado por Schwantes.

1.3.2 Datação e autoria do livro

Como já relatamos em pontos anteriores, o livro de Jeremias é problemático e

para identificar com exatidão a datação, as fontes e autoria do livro; a teoria mais

convincente é a que apresenta Westermann114

. Em relação à datação do livro o biblista

se fundamenta em dois pontos:

Primeiro: ele acredita que a autoria do livro está relacionada com as expressões e

o conteúdo emocional de Jeremias (Jr 1,7) e, segundo: está relacionada com a redação

aprimorada em (Jr 26 e 36). Westermann115

sugere que a redação é bem elaborada e

bela, e é apresentada em formato de acróstico alfabético sugere por outro lado, um

longo período de reflexão e construção literária está claramente relado em torno de todo

o livro.

É possível que o profeta tivesse narrado (escrito) o livro na esteira dos

acontecimentos e que adiante tenha formado o texto com os requintes de acróstico116

para melhorar a memorização. Westermann levanta a hipótese de que a redação inicial

deve ter acontecido no verão de 586 a.C., ou em meados de agosto deste mesmo ano.

110 Cf. GORDON, C. T. A New Date for Jeremiah. Cambridge, 1990, p. 562 111 Cf. HYATT, J. P. The Prophetic Cristicism of Israelite Worship. Londres, 1980, p. 112 Cf. WHITLEY, F. C. The Date of Jeremiah’s Call. Berlim, 1989, p. 483. 113 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentario al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones Fax, 1980, p. 24, 114 Cf. Ibid., 1980, p. 38-39. 115 Cf. Ibid., 1980, p. 40-41. 116 Cf. JÚNIOR, Nunes Magalhães Edson. Uma Introdução Geral à Poesia Hebraica Bíblica.

Dissertação (Mestrado em Letras; Literatura e Cultura Judaicas). Faculdade de Filosofia, Letras e

Ciências Humanas – Departamento de Letras Orientais – Programa de Pós-Graduação em Língua

Hebraica, Universidade de São Paulo (USP), 2012, p. 111. Acróstico – Um elemento estrutural de fácil

reconhecimento. Quando uma série de linhas ou estrofes cujas letras iniciais formam o alfabeto Hebraico.

Por exemplo: Sl 25; 34; 37; 11; 112; 119; 145; Pv 31,10-31; Naum 1,2-8 (meio acróstico) ou os quatro

capítulos do livro de Lamentações. No Salmo 119 cada estrofe não somente é iniciada por uma das letras

do alfabeto hebraico em sequência, mas é também composta de oito linhas e cada uma delas começa com

a mesma letra do alfabeto.

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Segundo Mowinchel117

, com base na reconstrução crítica da história hebraica, o

livro surgiu quando os simpatizantes do tempo do exílio e da reforma de Josias

(deuteronomista), editaram e expandiram as profecias de Jeremias e as narrativas

biográficas de Baruque.

Esta reconstrução crítica impõe uma data bem mais tardia à forma final da

profecia, como faz também, com o livro de Deuteronômio. É nítido que esta posição

não aparenta dificuldade para explicar que importância às reforma de Josias poderia ter

tido para a situação do exílio. Logo porque depois todo o assunto da “idolatria”

cananita118

estava morto.

Noth119

argumenta que em oposição à evidência da profecia, alguns eruditos

usaram o conceito de transmissão oral, para dizer que o livro de Jeremias somente teve

sua forma final após o sétimo século a.C., principalmente os eruditos da Escandinávia.

Ele indica Williams como um destes eruditos. Argumenta ainda, que por causa da

escassez de material para escrever os pronunciamentos do profeta foram transmitidos de

uma geração a outra por via oral, e após um longo processo no exílio babilônico os

pronunciamentos foram compilados em “livro”. 120

Bright121

nos garante que há muitos materiais comparativos para deixar claro que

no antigo Oriente Próximo tudo que “era escrito era considerado importante”, mesmo

que tenha sido escrito no momento ou depois do fato. A transmissão oral era usada para

proclamar a profecia às pessoas da mesma geração, e somente quando estas pessoas

passavam aos seus descendentes é que a transmissão oral seria vista como um caráter

linear.

No antigo Oriente Próximo, as formas escritas e orais do mesmo acontecimento

existiam com frequência lado a lado, e isto era possível devido à alta porcentagem de

alfabetizados do povo daquela época. Para contrastar, na Grécia e na Europa, a grande

parte da população era analfabeta, as sagas, as lendas, e as histórias, e dependiam do

gosto e dos hábitos de bardos viajantes e de baladistas de fogueira para a sua

preservação. Porém, estas pessoas não tinham o escrúpulo em modificar o conteúdo da

117 Cf. MOWINCKEL, S. Zur Komposition dês Buches Jeremia. Oslo: Jacob Dybwad, 1990, p. 76. 118 Cf. MOWINCKEL, S., 1990, p.77. 119 Cf. NOTH, Martin. Historia de Israel. 2º ed. Barcelona: Ediciones Garriga, 1988, p. 256-270. Veja

também – William, J. R. The Interpreter’s Dictionary of the Bible, p. 812. 120 Cf. Ibid., 1988, p. 275. 121 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. 4º ed. São Paulo: Paulus, 2010, p, 169-181.

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sua tradição de acordo com a situação. Portanto, após muito tempo na história é que sua

tradição foi colocada na forma de escrita.

Para Bright122

, era de suma importância aplicar os métodos corretos aos

problemas no estudo do Antigo Testamento como também outros objetos científicos.

Quanto à compilação e transmissão de Jeremias, o leitor consegue notar que as

dificuldades são surpreendentemente complexas.

Contudo, se aplicarmos à transmissão de Jeremias um sistema arbitrário e

subjetivo de unidades literárias, juntamente com uma “teoria” de transmissão textual

que esteja em desarmonia com os hábitos dos escribas do antigo Oriente Próximo,

multiplicaremos enormemente as dificuldades para chegarmos a uma conclusão

coerente sobre os processos de compilação do livro.

Assim, precisamos entender corretamente o uso da tradição oral neste contexto e

também se quisermos aplicar um método apropriado para esclarecer os problemas

relacionados com o modo pelo qual Jeremias chegou a sua forma final.

Dessa forma, é saudável para nós relembrarmos o que Bright123

nos informou,

no sentido de que a redação dos pronunciamentos de Jeremias começou logo, sem levar

em conta a transmissão oral. Enquanto que, Westermann, Noth e Bright são

praticamente da mesma opinião em relação à datação e as fontes narrativas de

compilação do livro de Jeremias. Mowinckel é de opinião divergente, relatando que a

autoria e a data do livro de Jeremias foram compostas por deuteronomistas no exílio

babilônico.

Holladay124

nos assegura que a evidência interna no livro de Jeremias parece nos

indicar que os oráculos do profeta foram escritos pela primeira vez no quarto ano de

Jeoaquim (604/5 a.C.), quando pelo que narra Baruque, Jeremias ditava para ele o que

deveria escrever: “ditava-me pessoalmente todas as palavras, e eu as escrevia no livro

com tinta” (Jr 36,18).

Esses acontecimentos se englobavam desde 626 a.C., até a data de 605 a.C., um

dos acontecimentos desta época foram os oráculos de Jeremias que Jeoaquim mandou

queimar. O que estava escrito nele não podemos saber precisamente, exceto que ele

122 Cf. BRIGHT, John., 2010, p. 173. 123 Cf. Ibid., 2010, p. 175. 124 Cf. HOLLADAY, L. William. A commentary on the Prophet Jeremiah Chapters 26-52, Philadelphia:

Fortress Press, vol. 2, 1986, p. 312. [Hermeneia – A Critical and Historical Commentary on the Bible].

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continha “todas as palavras que te falei contra Israel, Judá e contra todas as nações” (Jr

36,2). Seu conteúdo deve ter sido semelhante a muitas advertências e denúncias que

aparecem nos primeiros vinte capítulos do livro de Jeremias que hoje temos.

Holladay125

, por sua vez, nos apresenta que o livro de Jeremias em sua forma

final, é obviamente, uma antologia126

dos pronunciamentos de Jeremias, mas fica claro

que isto se dá de maneira bastante irregular, sem se orientar por nenhum sistema

cronológico. Às vezes é difícil entender a localização de alguns oráculos. Talvez isto

reflita a instabilidade do período, e a implicação na circulação do livro em sua forma

escrita antes de 520 a.C.

Tanto Westermann127

como Holladay128

entende que a autoria de Jeremias é fato

provado e não tem sofrido séria contestação. E pode ser confirmada por dois motivos:

Em primeiro lugar, internamente, o livro tem numerosas referências

biográficas e autobiográficas de Jeremias como autor e Baruque como

escrivão ou secretário. Nenhum outro profeta teve o seu nome

repetido tantas vezes quanto Jeremias (131 vezes). Baruque é

mencionado (23 vezes). Em segundo lugar, externamente, o livro é

atribuído a Jeremias em Daniel 9,2 e Esdras 1,1, bem como em

tradições judaicas.

Westermann129

conclui descrevendo que toda a formação de Jeremias é

envolvida com a profecia. Por esse motivo, sabe-se mais da vida pessoal desse profeta

do que de qualquer outro. Em muitos casos, suas ações tornavam-se parte da mensagem

profética.

Apesar de Jeremias ser um homem compassivo e profundamente

sensível, ele foi chamado para uma atuação profética em que

proclamou inexorável130

julgamento contra a nação. Considerado um

traidor devido a esses julgamentos, parece que não viu uma só pessoa

que acreditasse em suas profecias num período de aproximadamente

quarenta anos.

Embora impopular e desprezado quando profetizava insistia na

submissão à Babilônia, tornou-se mais tarde o herói popular dos

restantes dos judeus exilados, depois das suas predições de julgamento

125 Cf. HOLLADAY, L. William., 1986, p. 313-314. 126 Cf. Dicionário Aurélio., p.72, 2012. Antologia – Coleção ou blocos literários agrupados por temáticas,

autoria ou período. Como por exemplo, podemos encontrar uma antologia em forma de prosa, verso,

oráculos, lamentações, orações e poemas. A palavra antologia vem do nome da mais antiga Antologia que

se tem conhecimento, organizada pelo poeta grego “Meléagro de Gadara”. 127 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentario al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones Fax, 1980, p. 25-28. 128 Cf. Ibid., 1986, p. 38-39. 129 Cf. Ibid., 1980, p. 27. 130 Cf. Dicionário Aurélio., 2012., p. 301. Inexorável – Que não se move a rogos, implacável, inabalável

ou rígido.

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a serem “cumpridas” e de o povo lembrar-se das suas predições de

uma futura libertação e retorno.

Não há outro livro profético que conhecemos que nos demonstre tanta

humanidade do homem como este. Jeremias é um homem, combatido, brando, e às

vezes, cansado de tanta rejeição por seus ditos.

Westermann131

e Holladay132

nos asseguram que a formação e autoria do livro

de Jeremias é um fato incontestável, sendo esta atribuída ao profeta Jeremias. Porém,

Noth133

e Bright134

nos informam uma transmissão oral curta atribuída à autoria de

Jeremias que se conclui bem depois do século VII a.C. Mowinkel135

se baseando na

construção crítica da história hebraica, define que o livro surgiu entre o exílio ou depois

dele.

1.4 A Obra Historiográfica Deuteronomista no livro de Jeremias

Os livros que apresentam um estilo deuteronomista e que fazem parte da chamada

OHD (Obra Historiográfica Deuteronomista), são os livros que vão desde Josué até

2Reis. Um dos pesquisadores que levantou a hipótese de que nestes livros não havia

somente uma redação deuteronomista, mas, de uma obra historiográfica bem planejada,

foi Martin Noth136

:

Segundo NOTH, Dtr (em NOTH, esta sigla denomina a obra e seu

autor) colocou no início de sua obra o Deuteronômio e deu-lhe, para

este fim, uma nova introdução (Dt 1-3 bem como o cap.4). Assim, ao

mesmo tempo, criou as condições, a partir das quais ele podia modelar

e interpretar a história que seguia. “Neste procedimento, em geral, o

Dtr simplesmente deu expressão... às fontes que estavam à sua

disposição e apenas conectou os fragmentos distintos por um texto que

fez as conexões”. Neste procedimento, contudo, ele “fez uma seleção

bem projetada do material encontrado”, um fato que se mostra, entre

outros, pelas suas referências aos “anais”. No restante, Dtr deu

expressão à sua própria disposição do material inteiro e à sua

interpretação teológica “em todos os pontos importantes do

desenvolvimento da história” por meio de discursos dos protagonistas

(Js 1; 23; 1Sm 12; 1Rs 8,14ss) ou em resumos próprios (Js 12; Jz

131 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentario al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones Fax, 1980, p. 25. 132 Cf. HOLLADAY, L., 1986, p. 54. 133 Cf. NOTH, Martin., 1988, p. 286. 134 Cf. BRIGHT, John., 2010, p. 179. 135 Cf. MOWINCKEL, S., 1990, p. 80. 136 Cf. NOTH, M. Überlieferungsgeschichtliche Studien. 3º ed., Darmstadt, 1973, p.132-135.

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2,11ss; 2Rs 17,7ss (5s)). Por isso, é aqui que podemos perceber da

melhor maneira seus “pensamentos chaves e teológicos137

”.

Portanto, as concepções de Noth encontraram uma ampla aceitação naquilo que

é básico, e, desde então, ele determina a discussão em relação ao termo da “Obra

Historiográfica Deuteronomista” como denominação dos livros de Josué até 2Reis.

Houve um ganho firme na ciência vétero-testamentária, todavia, em diversos aspectos

foi alegado que a hipótese de Noth simplificava por demais os problemas destes livros,

e que não fazia merecer às muitas camadas e à complexidade das tradições em suas

redações.

Independente de NOTH, JEPSEN já desenvolvera a teoria de que nos

livros dos Reis podiam ser reconhecidas várias redações: uma

sacerdotal, uma nebiista (isto é, profética) e uma levita (à qual ele

atribuiu, no entanto, pouca importância). Ele identificou seu segundo

autor, o profético, explicitamente com o Dtr de NOTH. Também

CROSS supõe duas “edições” da Obra Historiográfica

Deuteronomista, porém, ele identifica a primeira com o Dtr de NOTH.

Isso leva a uma diferença fundamental na questão da datação: NOTH

e JEPSEN138

datam o Dtr após o último evento mencionado em 2

Reis, a anistia do rei Joaquim (2Rs 25,27-30) e chegam assim a datar a

toda obra (NOTH) ou sua redação decisiva depois de 562/1. Em

comparação, CROSS139

data a primeira redação, a decisiva, na época

de Josias e apenas a segunda na época do exílio. Esta diferença na

datação tem uma influência essencial para a compreensão geral da

obra.

Para Braulik140

o autor Noth considera que os redatores deuteronomistas até

então são entendidos como colecionadores e compiladores. E num segundo momento,

situa-se a “Obra Historiográfica Deuteronomista” (Dt 1 – 2Rs 25).

Obviamente, criada por esse autor, na Judéia, no tempo do exílio, pouco depois

do indulto ao rei Joaquim no ano 562/1 a.C, relatado no final. “O autor teria elaborado,

com a apresentação da permanente desobediência e revolta contra Javé, uma etiologia

da destruição do estado e do templo. Ela seria um tipo de justificação teológica de Deus,

que termina com a ira dele e sem esperança de futuro”.

137 Cf. RENDTORFF, Rolf. Antigo Testamento – Uma Itrodução. Santo André: Academia Cristã, 2009,

p.267-268. 138 Cf. JEPSEN, A. Die Quellen des Königsbuches. 2º ed. 1956, p.174. 139 Cf. CROSS, M. The Themes of the Books of Kings and the Structure of the Deuteronomistic History,

in: Canaanite Myth the Hebrew Epic, 1973, p. 274-289. 140 Cf. BRAULIK, Georg; ZENGER, Erich (Org). Introdução ao Antigo Testamento – As Teorias Sobre a

Obra Historiográfica Deuteronomista (“DtrG”). São Paulo: Loyola, 2003, p.165-166.

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Braulik nos descreve que Noth explica as desarmonias relativamente numerosas

dentro da obra deuteronomista como discrepâncias no material utilizado como fonte ou

como adendos posteriores. A pesquisa subsequente começa preferencialmente por essas

discordâncias e são analisadas com mais frequência nos livros de 1 e 2 Reis, e depois

também nos livros de 1 e 2 Samuel.

Após o desenvolvimento da teoria de Noth surgiram outros pesquisadores

refutando a sua teoria. A princípio, Von Rad141

vem logo após Noth corrigindo o

querigma da desesperança do autor. Von Rad apresenta que na obra deuteronomista a

palavra de Javé não age apenas julgando e aniquilando, mas, pela promessa a David que

se cumpre incessantemente no (oráculo de Natan em 2Sm 7 – não relatado por Noth

como integrante do corpo de discursos da obra deuteronomista).

Todavia, o messianismo contido no livro se estende além da ruína de Jerusalém

até a notícia final sobre o decreto a Joaquim (2Rs 25,27-30). Zenger142

descreve que

este texto trata-se até de sua readmissão à condição de vassalo.

Essa perspectiva do funcionamento da promessa a David apoia-se, numa forma

textual no livro de 2Rs 8,19, o Texto Massorético (TM). Lohfink143

comprovou como

não sendo original esta forma textual e representa a visão posterior dos livros de 1 e 2

Crônicas. A teoria dos livros de 1 e 2 Reis é complicada, no entanto, persiste uma visão

positiva do reinado até Josias, se bem que sobre uma base teológica diferente.

Wolff144

não considera o decreto a Joaquim com uma perspectiva esperançosa

para a reconstrução da dinastia davídica. Apesar disso, o verdadeiro querigma da obra

Deuteronomista não seria o juízo de Deus, mas um chamado ao “arrependimento” no

exílio, que provém de uma “segunda mão do círculo da obra deuteronomista” em Dt

4,29-31; 30,1-10. Com essa visão Wolff desencadeou um processo de diferenciação de

múltiplas camadas na obra deuteronomista.

Schwantes145

por sua vez, nos apresenta que a obra historiográfica

deuteronomista certamente não foi composta a partir de várias fontes146

contínuas, como

141 Cf. VON RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento (volumes 1 e 2). 2º ed. São Paulo:

ASTE/TARGUMIM, 2006, p.299-344. 142 Cf. ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003, p. 368-372. 143 Cf. LOHFINK, N. Das Deuteronomium. Entstehung, Gestalt und Botschaft (BEThL 68). Leuven,

1985, p, 357-362. 144 Cf. WOLLF, Walter Hans. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 1975, p. 121-123. 145 Cf. SCHWANTES, Milton. Teologia do Antigo Testamento (Vol. 2). 2º ed. São Leopoldo: Escola

Superior de Teologia, 1986, p.69.

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as que se pretende afirmar para a formação da Torá. Em sua maior parte está obra é a

adição de diversas complexidades maiores de fontes já concluídas bem antes do exílio.

Quando os grupos deuteronomísticos compuseram sua obra.

O material literário da Obra Historiográfica Deuteronomística, no

geral, é avaliado nas historias de Israel; é usado como fonte histórica

para a época de Moisés até Joaquim. Não se pode dizer que este

material ocupa lugar de destaque nos esboços de teologia vétero-

testamentária. A meu ver, é um empreendimento valioso e gratificante

reacentuar as qualidades teológicas da Obra Deuteronomística.

Consequentemente, também a teologia desta obra não é unitária. Não

há nela uma só linha ou um só padrão teológico. Os deuteronomistas

mantiveram os acentos peculiares de cada um dos conjuntos,

integrados na unidade maior. Isso é significativo, pois os

compiladores deuteronomísticos fizeram questão de manter as

afirmações das gerações passadas. Não obsolutizaram sua própria

ótica e situação. Mantiveram tradições anteriores. Aqui e em outros

tantos textos da Escritura podemos perceber que os autores bíblicos

tinham a tradição e o passado como elementos significativos. Ainda

que a Obra Deuteronomística inclua e valide afirmações teológicas do

passado, seus autores não deixam de ter sua situação e sua perspectiva

peculiares. Encontram-se na época do exílio (após 587 a.C) e em meio

às devastações causadas pelos babilônios na Palestina. Reelem o

passado a partir da experiência de aniquilamento do templo e do

estado, da deportação da elite e do sofrimento dos remanescentes

palestinenses. Está releitura do passado permite-lhes constatar que a

situação presente está diretamente relacionada com as estruturas

políticas vigentes até 587 a.C (os estados monárquicos de Israel e

Judá147

).

Enfim, a obra historiográfica deuteronomista nos depõe, portanto, do mesmo

Deus libertador do qual a Torá nos apresenta. Ainda que para Schwantes a teologia

desta obra não seja unitária, Fohrer148

defende que a teologia deuteronomista se baseia

em três fundamentos: a noção de divindade, a centralização de culto e por último, o zelo

de YHWH para com Israel.

A primeira descrição diz respeito às noções de divindade e de local de culto, este

fato contrapõe à existência de diversas representações divinas e de santuários no reino

146 Cf. SCHWANTES, Milton. Teologia do Antigo Testamento (Vol. 1). 2º ed. São Leopoldo: Escola

Superior de Teologia, 1986, p.19-26. As fontes que o autor se refere são: A obra historiográfica Javista,

Eloísta, O escrito sacerdotal, e a obra historiográfica deuteronomista. Na década de 90 o bíblista utilizava

da teoria das fontes para analisar o Pentateuco, porém, no desenrolar de suas pesquisas Milton Schwantes

abandonou a teoria das fontes, pelo método sociológico no qual o utilizou até findar a sua caminhada

como biblista na América Latina. 147 Cf. Ibid., 1986, p.128. 148 Cf. FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. 3º ed. São Paulo: Paulinas, 1993.

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de Judá, o que levou a uma centralização do culto a YHWH, em Jerusalém. E isto

promoveu um aumento no significado dado a Jerusalém e ao templo, por toda a

população local.

Para Braulik149

a linguagem e a teologia deuteronomista estavam à disposição

geral desde um tempo relativamente prematuro. Portanto, se afirmou que quase todos os

livros proféticos, muitos Salmos e os livros de 1 e 2 Crônicas sofreram uma

reelaboração, ou uma redação deuteronomista. Às vezes isso conduziu a uma “definição

extensiva do deuteronomismo”. Seja como for, não se pode estabelecer em nenhuma

época a existência de um movimento ou uma escola deuteronomista.

Lohfink150

retrata que os textos de “Jeremias” são considerados por muitos

biblistas como deuteronomistas, porém o autor o distingue claramente da obra

deuteronomista. Assim, se os textos não forem da autoria do próprio profeta, poderão

ser atribuídos a uma fonte específica ou até mesmo ser considerada obra do redator do

livro, no caso, Baruque. Vários destes textos se encontram apenas no estágio proto-

massorético, posterior à ramificação da qual surgiu à versão da Septuaginta (LXX).

Schwantes151

é de opinião contrária à de Lofink152

, e defende que Jeremias tem

muita semelhança com a Obra Historiográfica Deuteronomista. No entanto, os círculos

que compuseram a “obra” são similares aos que deram ao livro do profeta sua redação

final.

As distinções entre Jeremias e a obra residem nos seguintes pontos, primeiro

ambos acreditam que o futuro do povo está assinalado pela vida na terra da promessa. E

seguida na expectativa por um novo Davi. Portanto, ambos promovem severa crítica ao

exercício do poder monárquico.

Schwantes nos apresenta que as diferenças entre Jeremias e a obra residem na

posição quanto a Sião. O profeta promove uma crítica radical ao templo e inclusive

percebe os limites para o efetivo cumprimento da lei. Entretanto, para ele a boa vontade

não é suficiente para a prática da lei. É preciso um novo coração (Jr 31,31-34).

149 Cf. BRAULIK, Georg; ZENGER, Erich (Org). Introdução ao Antigo Testamento – As Teorias Sobre a

Obra Historiográfica Deuterononomista (“DtrG”). São Paulo: Loyola, 2003, p.169. 150 Cf. LOHFINK, N. Das Deuteronomium. Entstehung, Gestalt und Botschaft (BEThL 68). Leuven,

1985, p. 362. 151 Cf. SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio – História e Teologia do povo de Deus

no século VI a.C. 3º ed. São Leopoldo: OIKOS, 2009, p.47. 152 Cf. Ibid., 1985, p. 362.

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Holladay153

acredita que ainda que nos falte subsídios sociológicos para

falarmos de um movimento deuteronomista, cujos círculos os redatores (ou o redator?)

estivessem ambientados, haverá diversos aspectos a favor como aproximações

linguísticas e teológicas no livro de Jeremias. Porém, com a literatura restante na esfera

de influência do Deuteronômio deve ser constituída na conta dos editores uma versão

exílica do livro.

Entretanto Holladay154

levanta a hipótese que se costuma a atribuir os

contingentes mais novos do livro a uma redação pós-deuteronomista não tão fácil de

identificar.

Considerações finais

Neste capítulo abordamos as questões fundamentais no livro de Jeremias. Os

seus questionamentos, a estrutura do livro, do texto hebraico e do texto grego, as

diferenças entre ambos os textos relacionando-os às sequencias dos capítulos

apresentados em cada manuscrito.

A presença das três divisões dos blocos literários inseridos no livro de Jeremias

foi de suma importância para detectarmos a localização da perícope em pesquisa. Mas

precisamente no primeiro bloco literário (Jr 1-25), e dentro de um bloco menor dos

capítulos 21-24 (oráculos contra os reis).

Tendo como consideração final a análise complementar das fontes, das datas, da

autoria do livro de Jeremias, e também os questionamentos da teologia deuteronomista

inserida em Jeremias. No capítulo seguinte, apresentaremos com precisão a exegese de

Jeremias 22,13-19, relatando alguns grupos sociais inseridos na crítica de Jeremias

contra o rei Jeoaquim.

153 Cf. HOLLADAY, L. A commentary on the Prophet Jeremiah Chapters 1-25, Philadelphia: Fortress

Press, vol. 2, 1986, p. 78-84. [Hermeneia – A Critical and Historical Commentary on the Bible]. 154 Cf. Ibid., 1985, p. 363.

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Capítulo II

A ANÁLISE EXEGÉTICA DE JEREMIAS 22,13-19

Este capítulo tem por objetivo apresentar a análise exegética do texto de Jr

22,13-19, a fim de abordar a crítica social de Jeremias contra o rei Jeoaquim (609-598

a.C). Daremos ênfase, com a análise semântica, às palavras de ameaça e de lamento

contra o rei Jeoaquim, para caracterizar a prática violenta desse denominado rei contra o

povo de Judá. Além disso, evidenciaremos as peculiaridades literárias da perícope.

Para o desenvolvimento da análise, utilizaremos em nossa perícope alguns

passos do método Histórico-Crítico155

como orientação, todavia sem nos fixarmos

unicamente nesta metodologia.

Será apresentada a tradução do texto hebraico, na qual serão mantidas as

estruturas da língua hebraica; a análise da crítica textual156

, que estuda o texto em sua

transmissão e desenvolvimento, e também a análise das características formais da

perícope (delimitação, estrutura da perícope, coesão, estilo literário e gênero literário).

Através desse estudo minucioso do texto, procuraremos extrair as informações

fundamentais para a análise do conteúdo.

155 Cf. YOFRE, Simiam Horácio (Org). Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola,

2000, p. 72-75. 156 Cf. SCHNELLE, Udo. Introdução à Exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, p. 29-46.

In: SILVA, Cássio Murilo D. da Silva. Metodologia de Exegese Bíblica. 3º ed. São Paulo: Paulinas, 2009.

In: LIMA, Anderson Oliveira. Introdução à Exegese – Um Guia Contemporâneo para a Interpretação de

Textos Bíblicos. São Paulo: Fonte Editorial, 2012. In: EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo

Testamento – Introdução aos métodos linguísticos e histórico-críticos. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2005.

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2.1 TRADUÇÃO INTERLINEAR157

2.1.1 Texto Massorético158:

jP'_v.mi al{åB. wyt'ÞAYli[]w: qd<c,ê-al{B.( ‘Atybe hn<ÜBo yAh 13 direito; em não e seus aposentos altos em não justiça, sua casa159 do que constrói160 Ai

161

`Al*-!T,yI al{ï Alß[]poW ~N"ëxi dboå[]y: ‘Wh[e’rEB.

dá162 para ele. não e seu salário trabalha163 gratuitamente, Em seu próximo164

~yxi_W"rUm. tAYàli[]w: tADêmi tyBeä ‘yLi-hn<b.a, rmeªaoh' 14

aqueles que são largos; e aposentos altos espaçosos165 casa construirei166 para mim O que diz167:

`rv:)V'B; x;Avßm'W zr<a'êB' !Wpås'w> yn"ëALx; Al [r:(q"Üw >

157 Cf. Tradução realizada a partir da Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Barueri: Sociedade Bíblica do

Brasil, 2009., com auxílio de HOLLADAY, William Lee. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo

Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2010; SILVA, V. S. Rosemary. A Temporalidade do verbo no

Hebraico Bíblico. Dissertação (Mestrado em Língua Hebraica). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas da Universidade de São Paulo, 2001; KELLY, Page H. Hebraico Bíblico: Uma gramática

introdutória. 5ºed. São Leopoldo: Sinodal/IEPG, 2004; KIRST, Nelson. et. al. Dicionário Hebraico –

Português & Aramaico – Português. 22º ed. São Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009; CHAVES, Moises. Diccionario de Hebreo Bíblico. 3º ed. Argentina: Mundo Hispano, 1997; WESTERMANN, Claus.

Diccionario Teologico Manual Del Antiguo Testamento (Tomo I e II). Madrid: Ediones Cristiandad,

1978. 158 A divisão das frases neste oráculo (dito) foi feita a partir dos “acentos disjuntivos”, conforme

apresentado na Bíblia Hebraica Stuttgartensia (FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p. 202 - 216). 159

Cf. tyIB - Sufixo construto comum, masculino singular 3º pessoa masculino singular: casa, habitação,

lugar de estadia, residência, moradia, lar, palácio, partes de uma casa interior ou propriedade (Holladay,

2010, p.52). 160 Cf. hn"B' - Verbo Qal particípio singular absoluto: construir, fortificar, edificar, trabalhar em, aplicar-se

a, reconstruir (Holladay, 2010, p.57). 161

Cf. yAh (interjeição - hoy) - Segundo Holladay esta palavra pode ter sentido duplicado ou triplo para a

ênfase, pode indicar uma “ameaça, denúncia ou grito de dor” (Holladay, 2010, p.107). Para Schwantes o

cântico da vinha em Isaías 5,1-7 se transforma no clamor dos “ais” hoy. E estes gritos fúnebres passam a prevalecer na vinha, encontramos também o grito de dor em (Jr 15,10), na língua portuguesa pode indicar

um grito de dor ou lamento (SCHWANTES, Milton. Da vocação à provocação – Estudos exegéticos em

Isaías 1-12. 3º Ed. São Leopoldo: OIKOS, 2011, p.140). 162

Cf. !t;n - Verbo Qal imperfeito 3º pessoa masculino singular: dar, presentear, oferecer, tornar,

conceder ou entregar (Holladay, 2010, p.353). 163 Cf. db;[' - Verbo Qal imperfeito 3º pessoa masculino singular: trabalhar, preparar (o solo), trabalhar

como escravo, servir (Holladay, 2010, p.371). 164 Cf. [;re - Sufixo construto comum 3º pessoa masculino singular: companheiro, camarada, colega,

amigo, (o) próximo – A pessoa com quem a gente se encontra casual e temporariamente ou, então, com

quem a gente se relaciona por vizinhança ou qualquer outro motivo: vizinho, o outro, (o) próximo; muito frequente em expressões de reciprocidade (Schwantes, 2009, p.230). 165 Cf. xw:r' - Verbo pual particípio masculino plural absoluto: Espaçoso, tornando-se largo para ele

(Holladay, 2010, p.476). 166

Cf. hn"B' - Verbo Qal imperfeito 1º pessoa comum singular: construir, fortificar, edificar (Holladay,

2010, p.57). 167

Cf. rm;a' - Verbo Qal particípio masculino singular: Dizer, exprimir, através da fala, falar (Holladay,

2010, p.27-28).

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em vermelhidão e pintada168 em cedro, e forrada169 janelas, para ele E abriu170

zr<a'_b' hr<äx]t;m. hT'Þa; yKiî %l{êm.ti(h]171 15

no cedro?; concorrente172 tu Eis! Acaso reinarás173,

ht'ªv'w> lk;äa' aAlôh] ^ybiøa' bebeu174?, comeu175 não teu pai

`Al* bAjï za'Þ hq'êd"c.W jP'v.mi hf'Û['w> para ele. bom então e justiça, direito e fez176

bAj+ za'ä !Ayàb.a,w> ynIï['-!yDI !D"± 16 bom; então e pobre o julgamento do oprimido Julgou

177

`hw")hy>-~aun> ytiÞao t[;D:îh; ayhi²-aAlh] oráculo de YHWH. comigo? o conhecimento (é) aquela não

ê̂B.liw> ^yn<’y[e !yaeÛ yKiä 17 e para teu coração, teus olhos não existem Eis!

^[<+c.Bi-l[;-~ai yKiÞ e sobre teu lucro ilícito; Eis!

%APêv.li ‘yqiN"h;-~D:( l[;Ûw para derramar

178, sangue inocente e sobre

168 Cf. xv;m' - Verbo Qal infinitivo absoluto: Untar, barrar, pintar, ungir, casa com tinta (Holladay, 2010,

p. 308). 169 Cf. !ps – Verbo Qal passive masculine singular absolute: Cobrir, revestir, forrar, cobrir com telhado,

apainelar (Holladay, 2010, p.367), In: Schwantes, 2009, p.170. 170 Cf. [r;q' - Verbo Qal perfeito 3º pessoa masculino singular: Abrir, recortar, romper (na parede) ?

(Holladay, 2010, p.462). 171 Cf. Schwantes nos garante que este “h] / He” é considerado como “particípio interrogativo”. O

direito dos pobres. São Leopoldo:OIKOS/EDITEO, 2013, p.141. 172 Cf. hr'x' - Verbo hiphil participio masculino singular absoluto: competir, tentar sobrepujar,

concorrente (Holladay, 2010, p.164). 173 Cf. %l;m' - Verbo Qal imperfeito 2º pessoa masculino singular: ser rei, governar, assumir o governo,

reinar, pensas reinar, acaso pensas (Schwantes, 2009,. p.126). 174 Cf. ht'v' - Verbo Qal perfeiro 3º pessoa masculino singular: beber (Schwantes, 2009, p.263). 175 Cf. lk;a' - Verbo Qal perfeito 3º pessoa masculino singular: comer, fazer uma refeição (Holladay,

2010, p.19). 176 Cf. hf'[ - Verbo Qal perfeito 3º pessoa masculino singular: Fazer, manufaturar, trabalhar por, colocar,

transformar, praticar, elaborar, agir e intervir (Holladay, 2010, p. 404). 177 Cf. !yD - Verbo Qal perfeito 3º pessoa masculino singular: Fazer Justiça (reparar um erro), pronunciar

sentença, exercer justiça, Julgar, sentenciar, defender, processar, discutir e disputar (Holladay, 2010, p.

97).

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s `tAf)[]l; hc'ÞWrM.h;-l[;w> qv,[oïh'-l[;w para fazer

179. e sobre extorsão e sobre a opressão

hw"©hy> rm:åa'-hKo) !keúl' 18 YHWH, assim disse

180 por essa razão

hd"êWhy> %l,m,ä ‘WhY"’viayO-!B, ~yqIÜy"Ahy>-la, Judá , rei de filho de Josias para Yehoyaqim

tAx+a' yAhåw> yxiÞa' yAhï Alê WdåP.s.yI-al{ irmãs; Ai e meu irmão Ai, para ele, não lamentarão

181

`hdo)ho yAhïw> !Adßa' yAhï Alê WdåP.s.yI-al sua majestade. e Ai senhor Ai, para ele, não lamentarão

182

%leêv.h;w> bAxås' rbE+Q'yI rAmàx] tr:îWbq. 19 e lançar

183, arrastar

184 será sepultado185

; de jumento sepultamento

s `~Øil'(v'Wry> yrEî[]v;l. ha'l.h'Þme Jerusalém. para portas de para bem longe.

2.2 TRADUÇÃO LITERAL

13 Ai do que constrói sua casa em não (sem) justiça,

e seus aposentos altos em não (sem) direitos;

Em seu próximo (faz) trabalha (r) gratuitamente, e seu salário não (lhe) dá para ele.

178 Cf. %p;v' - Verbo Qal infinitivo construto : Derramar, desejar (Holladay, 2010, p.541). 179 Cf. hf'[' – Verbo Qal infinitive construto: Fazer, transformar, elaborar, preparar, realizar, executar,

agir e intervir (Schwantes, 2009, p.188). 180 Cf. rm;a' – Verbo Qal perfeito 3º pessoa masculine singular: Dizer, exprimir, através da fala, falar Um

oráculo profético frequentemente é introduzido por koh ‘amar yhwh; ãmar nunca aparece sem que

palavras sejam ditas (Schwantes, 2009, p.13-14).In: Holladay, 2010, p.28. 181 Cf. dps - Verbo Qal imperfeito 3º pessoa, masculino plural: Pronunciar uma lamentação, bater no

peito como sinal de lamentação (Is 32,12), estar de luto, realizar os ritos de luto, lamentar (Holladay,

2010, p. 367). 182 Cf. dps - Verbo Qal imperfeito 3º pessoa, masculino plural: Prantear, lamentar (Schwantes, 2009,

p.169). 183 Cf. %lv - Verbo hiphil infinitivo absoluto: Lançado, lançar, ser lançado no chão (Êx 7,9), derrubado,

jogar fora, atirar, rejeitar (2 Rs 7,15), (Holladay, 2010, p. 530; In: Schwantes, 2009, p.253). 184 Cf. bxs - Verbo Qal infinitivo absoluto: Arrastar, remover, puxar, ser arrastado (Schwantes, 2009,

p.166). 185 Cf. rb;q' - Verbo niphal imperfeito 3º pessoa masculino singular: Ser sepultado, sepultar, Asno,

Jumento, burro (Schwantes, 2009, p.210; In: Holladay, 2010, p. 443-444).

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14 O que diz: construirei para mim (uma) casa espaçosa,

e aposentos altos, aqueles que são largos;

E abriu (fez) para ele janelas,

e forrada em (com) cedro,

e pintada em vermelhidão.

15 Reinarás,

Eis! Tu concorrente no cedro?;

teu pai (acaso) não comeu e bebeu?,

e fez (praticou) direito e justiça,

então bom para ele.

16 Julgou o julgamento do oprimido e (do) pobre

Então bom (para ele);

Não (é) aquele conhecimento comigo? oráculo de YHWH.

17 Eis! não existem teus olhos e (para) teu coração,

Eis! somente sobre teu lucro ilícito;

e sobre sangue (do) inocente para derramar e sobre a opressão,

e sobre extorsão para fazer.

18 Por essa razão assim disse YHWH,

contra (para) Yehoyaquim filho de Josias rei de Judá,

não lamentarão para ele,

Ai meu irmão e

Ai irmã;

não o lamentarão para ele,

Ai senhor

e Ai majestade.

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19 Como sepultamento de jumento,

será sepultado, arrastar

(do) e lançar (do),

para bem longe (distante),

para (fora das) portas de Jerusalém.

2.3 CRÍTICA TEXTUAL

A crítica textual tem por finalidade analisar a história da transmissão e do

desenvolvimento do texto186

. Nosso objetivo com a crítica textual é, então, observar a

transmissão e o desenvolvimento do texto ao longo da história187

, analisando as

principais variantes textuais apresentadas no aparato crítico da Biblia Hebraica

Stuttgartensia (BHS) e as anotações da Massora parva (Mp).

2.3.1 Aparato Crítico

O aparato crítico da BHS tem por objetivo informar a situação do texto bíblico

ao longo de sua transmissão, desde o período da antiguidade até o final da Idade Média.

Evidenciando as diferenças entre o texto hebraico de tradição massorética e as antigas

versões bíblicas clássicas, também as emendas tanto de natureza textual quanto

literária188

. Vejamos as notas apresentadas no texto de Jr 22,13-19189

, editadas por W.

Rudolph:

Verso 14: A instrução do aparato crítico nos informa que a primeira parte do

versículo foi inserida da LXX a-a (wv|kodo, mhsaj seautw/|), “construirei

190 ti mesmo

191”,

que consiste num verbo indicativo aoristo 2º pessoa singular. Porém, o aparato nos

186 Cf. SIMIAN-YOFRE, Horácio (Org). Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola,

2011, p.39-40. 187 Cf. SCHNELLE, Udo. Introdução à Exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, p.30-34.

In: EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento – Introdução aos métodos linguísticos e

históricos-críticos. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2005, p.43. 188 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao texto massorético –

Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 69. 189 As notas do aparato crítico do livro de Jeremias da Biblia Hebraica Stuttgartensia foram produzidas

por W. Rudolph; A interpretação das notas do Aparato crítico da BHS foi feita através de consultas à obra

de FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao Texto Massorético. 3º ed.

São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 21-100. 190 Cf. RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 3º ed. São Paulo: Paulus, 2009, p.

328. “arquiteto, engenheiro, construir (irei), edificar, reedificar, reeconstruir”. 191 Cf. Ibid., 2009, p. 415. “com, para, ti mesmo”.

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sugere em retraduzir a expressão (^l. t'ynIB'), “construíste para ti”, nos apresentando

uma tradução mais próxima do “original”.

Algumas traduções, inclusive a Septuaginta (LXX), optam pela variante ao invés

do texto proposto pela BHS, assim, o termo (^l. t'ynIB'), é um verbo Qal perfeito que

está na 1º pessoa singular.

O vocábulo b

(~yxi_W"rUm.), “espaçoso”, exibe a seguinte nota: [prp] (propõe uma

forma construída), ~yxi_W"r>m, uma expressão proposta pelo aparato “amplo ou vasto”, que

pode ser traduzido “tornando largo para ele”, indicando assim a pessoa do rei Jeoaquim.

O vocábulo c yn"ëALx;, optamos traduzir por “janelas”. O aparato nos sugere

(!ALx;), “buraco na parede, (muro)para ar e luz, ou abertura de janelas ”, que

literalmente é uma abertura na possível construção do rei Jeoaquim.

O vocábulo d

!Wpås'w>, que escolhemos pela tradução “e forrada”, no aparato a

apresentação da nota: [1 !wOpås'w> ], “forro ou revestimento”, mas conforme o dicionário

da editora sinodal192

este vocábulo proposto pela BHS é uma conjectura.

Verso 15: O vocábulo %l{êm.ti(h], “acaso reinarás”, apresenta a seguinte nota [

a prp %lem;t.th e a interpretação propõe o verbo %l;m' no imperfeito hitpael.

Conforme o manuscrito da LXX o vocábulo hebraico zr<a'_b', no cedro, apresenta

a seguinte nota: [ b evn Acaz , LXX

A evn Acaab]. Em seguida a interpretação: A LXX

traduz o vocábulo zr<a'_b', no cedro, por evn Acaz193, (em Acaz); portanto, o códice

Alexandrino (século V) traduz o mesmo vocábulo por evn Acaab (em Acabe) conforme

o targum de Ônquelos194

.

Se realmente a sugestão do códice alexandrino (em Acaz) ou o targum de

ônquelos (em Acabe) estiver correto o texto de Jeremias 22,15 ficaria assim: “Acaso

reinarás, Eis! tu concorrente (competindo) em Acaz (em Acabe)”, porém, a hipótese

192 Cf. KIRST, Nelson. et. al. Dicionário Hebraico – Português & Aramaico – Português. 22º ed. São

Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009, p. 169.

193 Cf. RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 3º ed. São Paulo: Paulus, 2009, p.

90. 194 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria., 2008, p. 77.

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levantada por W. Rudolph é impróprio no período que viveu tanto (Acabe 874-853,

quanto Acaz – 736-716 a.C).

O vocábulo` Al* bAjï za' , “então bom para ele”, exibe a seguinte nota: [ c – c

1

prb wl bwççjw> et tr sec 15 b. 16 a alit], logo a interpretação é de que o vocábulo deve

ser lido provavelmente wl bwjw> “ e bom para ele”, sendo assim transpõe de acordo

com a LXX depois de ht"v"w> , “e bebeu”,entretanto, o aparato crítico sugere que a

expressão “ e bom para ele” e deve ser lida depois da expressão ht"v"w> ,”e bebeu”, Isto

mudaria então de lugar a frase.

Enfim, a descrição do aparato crítico [ 15 b. 16 a alit] e a interpretação à LXX

informam que o verso 15 b e 16 a deveria ser lido de outro modo.

Adiante vemos:

Verso 16: O vocábulo bAj+ za’, “então bom” exibe a seguinte nota: [a – a

ex 15,

dl], entende-se que a interpretação é estas duas palavras por indicação do aparato

crítico195

que foi extraído do verso 15, e nos informa a apagar esta nota.

E no vocábulo (ayhi, “aquela”, pronome feminino) nos exibe a seguinte nota: [b

K or awh] e a interpretação de acordo com os massoretas orientais deve ser lida não

como pronome feminino (ayhi), mas como pronome masculino (aWh), “aquele”.

Verso 17: O vocábulo (yqiN"h;), “inocente”, exibe a seguinte nota: [ a C “N], mas,

na interpretação vemos algumas traduções inclusive os fragmentos de códices hebraicos

da Guenizá da Sinagoga Bem Ezra, do Cairo do século V ao IX d. C que optam pela

consoante sem a vogal ao invés do texto proposto pela BHS.

O vocábulo b

(hc'ÞWrM.h;), “extorsão”, exibe a seguinte nota: [ b

a #cr cf

fo,non ; a , s , dro,mon a #Wx ; a hc'r']. Ademais, a interpretação: O aparato crítico

sugere que seja lido hc"Wrm196>, “opressão” comparando assim com a LXX (fo,non197),

195 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético

Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 30 – 32. 196 Cf. KIRST, Nelson. et. al. Dicionário Hebraico – Português & Aramaico – Português. 22º ed. São

Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009, p. 141.

197 Cf. GINGRICH, F. Wilbur & DANKER, W. Frederick. Léxico do Novo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2007, p. 219. In: RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 3º ed. São Paulo:

Paulus, 2009, p. 485 - 486.

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“assassinato ou homicidio”, tomando assim a divisão maior para separar partes da

nota198

.

O aparato ainda nos relata que estes símbolos (a , s ,), nos indicam duas versões:

o primeiro indica a versão grega de Áquila (a ,) e o segundo (s ,) indica a versão grega

de Símaco199

e o vocábulo (hc'ÞWrM.h), “extorsão”, é de procedência do verbo (#Wx200),

“correr ou apressar-se (Naum 2,5)”. Para o targum de Ôngelos é de procedência a

palavra (hc'r'), “estar satisfeito com”.

Verso 18: [ a

* + ouvai. evpi. to.n a;ndra tou/ton ins hZ<h; vyaih'-l[: yAh ] – O

vocábulo: a hd"êWhy> (Judá) nos explica a seguinte nota: O asterisco (

* ) indica leitura ou

texto original201

da versão em contraste com revisões e correções tardias feitas por

escribas; e nos aponta também a forma textual da versão não revisada pelas recensões

posteriores (texto grego original da LXX (séc. III/I a.C.). Acrescentando assim o texto

Ai! Minha irmã (LXX) e foi inserido o texto massorético “Ai! sobre este homem”.

[b * O () a;delfe ,

L ku´´,rie ] – Vocábulo: b

(yxiÞa'), “meu irmão” – Tem como

explicação da nota o texto grego original202

da Septuaginta (LXX) do século III/I a.C

(a;delfe203) - irmão e da vulgata. E também o texto grego da Septuaginta (LXX), que

segundo a recensão de Luciano de Antioquia (séc. III) utiliza a palavra “senhor,

dono204

”.

[ c – c

> * ] – Vocábulo: b

(hdo)ho yAhïw>), “Ai sua majestade” - Na explicação da

nota conseguimos compreender que mediante o aparato crítico esta expressão omite a

versão do texto grego original da Septuaginta (LXX), do século III/I a.C205

.

[ d O L

a;delfe ’hj ; prp Atw'x]a; ] – Vocábulo: d

(tAx+a'), “irmãs” – Uma

explicação da nota se dá mediante o aparato a palavra é de tradição do texto grego da

LXX, exceto para os manuscritos206

da recensão de Orígenes de Alexandria e exceto

também para os da recensão de Luciano de Antioquia (a;delfe), “irmão”, mas é também

198 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p. 65. 199 Cf. Ibid., 2008, p. 73. 200 Cf. KIRST, 2009, p. 225; Holladay, 2010, p. 478-491. 201 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p. 70-76. 202 Cf. Ibid., 2008, p. 76-81. 203 Cf. RUSCONI, 2009, p. 22. 204 Cf. Ibid., 2009, p. 279. 205 Cf. Ibid., 2009, p. 64-76. 206 Cf. Ibid., 2009, p. 79.

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de origem da versão Síria Peshitta do século II que segundo as versões A e W, e de

Hipólito de Roma/Talmude Hierosolimitano do século III-V.

[e klau,sontai cf D ] – Vocábulo:

e (WdåP.s.yI-al{), “não lamentarão” – A

explicação da nota nos mostra o texto grego original da Septuaginta (LXX), séc. III/I

a.C, (klau,sontai), “chorar, sobre alguém, luto, lamentar207

”, significando conferir ou

comparar com o códice Additional 14442 (séc. VI) da Biblioteca Britânica de Londres e

o Códice Wadi Natrun (séc. VII), contendo: 1Sm 1,1; 2,19; 1Sm 17,57; 20,34; 1Sm 3,1-

15; 15,28, conferir 1Sm 1,17.

[ f OL

a;delfe , mr’ = !wODa ; prp * td'a' vel dAD ] – Vocábulo:

f (hdo)ho),

“sua majestade” – A explicação desta nota está mediante o aparato e a palavra é de

tradição do texto grego da LXX, exceto para os manuscritos da recensão de Orígenes de

Alexandria e também os da recensão de Luciano de Antioquia (a;delfe), “irmão”. Por

conseguinte a nota é de divisão menor usada para separar partes de uma nota

“menor”208

.

Logo, o aparato nos sugere em retraduzir o termo (!wODa'209), “senhor, dono,

chefe”, nos apresentando uma tradução mais “original” da expressão, contendo uma

divisão maior da nota para separa-la, e propondo de forma reconstruída a palavra

(td'a'), ou (dAD210), “amado, amante”.

2.3.2 Massora Parva (Mp) 211

A “Massora Parva” é uma expressão latina que significa “massora menor”. A

mesma expressão em hebraico é (Massora qetannah, Massorá pequena) e a

sua abreviatura é “Mp”. A Massora Parva é na verdade um conjunto de notas

massoréticas escritas nas margens laterais das páginas dos códices e entre as colunas do

texto bíblico hebraico. Tais notas podem ser observadas nos códices massoréticos da

Bíblia Hebraica de tradição tiberiense.

207 Cf. RUSCONI, 2009, p. 266; In. GINGRICH, 2007, p. 117. 208 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2009, p. 64-65. 209 Cf. Holladay, 2010, p. 4. In: Kirst, 2009, p. 3. 210 Cf. Holladay., 2010, p. 95. 211 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético

Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 118 –

159.

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O objetivo da “Massora Parva” é observar todos os aspectos do texto bíblico

hebraico, número de ocorrência, de palavras e expressões, de detalhes gramaticais, de

casos de hapax legomenon, ketiv, qerê e sevirin entre outros casos.212

Contudo, em Jeremias 22,13-19 temos um total de dezesseis anotações

massoréticas em sete versículos. Tais anotações massoréticas trazem as informações

listadas no parágrafo anterior. Vejamos as notas da MP e sua interpretação:

Verso 13: O termo (e seu salário) apresenta uma nota na Massora bO

indicando que a palavra ocorre duas vezes na Bíblia Hebraica, sendo uma nesta perícope

e a outra em Isáias 1,31213

.

Verso 14: A expressão (casa espaçosa) apresenta uma nota lO e esta

expressão ocorre uma única vez na Bíblia Hebraica: Jr 22,14.

A expressão verbal (e aposentos aqueles que são largos)

apresenta uma nota (lO) e ocorre uma única vez na Bíblia Hebraica: Jr 22,14.

A expressão verbal (e abriu) apresenta uma nota na Massora (bO) e ocorre

duas vezes na Bíblia Hebraica: Lv 13,56 e Jr 22,14.

A enunciação (janelas) apresenta uma anotação na Massora (),

sendo assim a palavra ocorre uma única vez na Bíblia Hebraica, sendo acentuada com o

acento disjuntivo zaqef qatan214

e vocalizada com o sinal vocálico qamets: Jr 22,14.

A palavra hebraica (em vermelhidão) apresenta uma nota na Massora (bO) e

esta palavra ocorre duas vezes na Bíblia Hebraica: Jr 22,14 e Ez 23,14.

Verso 16: A expressão verbal (julgou) expõe uma nota na Massora (gO)

indicando que este termo ocorre três vezes na Bíblia Hebraica: Gn 15,14; Jr 22,16 e

30,13.

A expressão (e aquela não / pronome feminino) o autor nos apresenta

uma nota da Massora (O) indicando que sua ocorrência na Bíblia Hebraica é de apenas

três vezes: Dt 3,11; Js 10,13 e Jr 22,16.

212 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria., 2008, p. 118. 213 Cf. Ibid., 2008, p. 119. 214 Cf. Ibid., 2008, p. 208.

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Verso 17: A palavra hebraica (e para o teu coração) apresenta-nos uma

nota na Massora (hO) indicando que sua ocorrência na Bíblia Hebraica é de apenas cinco

vezes. Encontra-se nesta perícope Jr 22,17 e Jz 16,15; Pv 22,17; Pv 23,33 e Ec 5,1.

O adjetivo masculino (sangue inocente) apresenta uma nota na Massora

(gO) e esta palavra ocorre apenas três vezes na Bíblia Hebraica: Dt 19,13; 2Rs 24,4 e Jr

22,17.

A expressão verbal (para derramar) expõe uma nota na Massora

() indicando que este termo ocorre duas vezes como escrita pela [palavra

que é escrita com o sinal vocálico holem-waw] na Bíblia Hebraica, com esta forma

ortográfica {a palavra sendo escrita com holem-waw}: Jz 6,20 e Jr 22,17. Obs: Em Jz

6,20 a palavra é imperativa: derrama e em Jr 22,17 é infinitivo (para derramar).

Verso 18: A expressão verbal (por essa razão assim disse

YHWH) o autor expõe uma nota na Massora (kO) explicando que há apenas vinte

ocorrências na Bíblia Hebraica, sendo elas: 2Rs 19,32; Is 37,33; 29,22; Jr 6,11; 11,11;

11,21; 14,15; 15,19; 18,13; 22,18; 23,38; 28,16; 29,32; 32,28; 34,17; 36,30; 51,36; Am

7,17; Mq 2,3 e Zc 1,16.

A expressão (para Jeoaquim) exibe uma nota na Massora (lO) e esta

expressão ocorre uma única vez na bíblia hebraica: Jr 22,18.

A palavra hebraica (irmãs) apresenta uma nota na Massora (lOmw gO) a

palavra ocorre três vezes na Bíblia Hebraica e tendo ortografia plena [palavra que é

escrita com o sinal vocálico holem-waw]: 2Sm 13,1; Jr 22,18 e Ct 8,8.

A expressão (sua majestade) tem como referência a uma nota na Massora

(), (o qerê [a forma da palavra que deve ser lida] é Adho

(com o final holem-waw), e esta em uma das cinco ocorrências desta palavra na Bíblia

Hebraica; apenas uma única vez a mesma palavra é escrita com a letra hê com este

significado [com o significado de o esplendor dele]. Todavia, as cinco ocorrências da

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palavra são: Jr 22,18; Os 14,7; Hb 3,3; Zc 10,3 e Sl 148,13 são também a única

ocorrência da mesma palavra, mas escrita com a letra hê, é em Jr 22,18.

Verso 19: A expressão (sepultamento) apresenta uma nota na Massora

(gO) indicando que este termo ocorre três vezes na Bíblia Hebraica: Gn 35,20; 1Sm 102 e

Jr 22,19.

As notas apresentadas pela Massora Parva215

nos direcionam que a perícope

permite notar alguns termos que são raros na Bíblia Hebraica, incluindo uma hapax

legomenon.

Desse modo todas as dezesseis notas massoréticas da MP, sendo elas quatro: que

são hapax legomenon (Jr 22, 14 {neste verso aparecem três ocorrências que apresentam

uma única vez na Bíblia Hebraica}, em Jr 22,18 e a quarta ocorrência ocorre uma única

vez na Bíblia Hebraica).

Por outro lado, um fato que nos chama a atenção no aparato crítico e o tópico

que antecede a Massora Parva e que nos permite questionar a razão pela qual o profeta

Jeremias em sua crítica social utiliza a expressão (^l. t'ynIB'), “construíste para ti”. Por

sua vez, seria então uma afirmação de construções palacianas no reino do Sul?

Todavia, tanto a Massora Parva quanto o aparato crítico utiliza vários termos

tardios, o que corrobora para a datação no pré-exilio na perícope em estudo. Visto que

esses termos começam a ser utilizados antes do exílio babilônico.

Enfim, as notas apresentadas pela Massora parva indicam algumas

características literárias216

da crítica social dos profetas no pré-exílio, principalmente os

profetas Jeremias, Habacuque, Naum e Sofonias.

2.4 CARACTERÍSTICAS FORMAIS

A análise das características formais de um texto217

é uma das bases para a

análise de conteúdos. Trata-se de uma etapa fundamental para reunirmos informações a

respeito de suas características literárias. Para a análise, desenvolveremos os seguintes

passos: delimitação, estrutura, coesão, estilo literário e gênero literário.

215 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p. 101-104. 216 Cf. YOFRE, Simian Horácio (Org). Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola,

2011, p. 15. 217 Cf. YOFRE, 2011, p. 78.

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2.4.1. Delimitação

Assim como na literatura moderna218

, pode-se observar o início e o fim de um

livro (narrativa) e ou de uma perícope, isto porque algumas perícopes foram inseridas

durante o processo redacional ou funcionam dentro da narrativa de contextos maiores.

Podemos entender que a delimitação219

de um texto é a peça chave

(fundamental) para estabelecermos os limites iniciais e finais a fim de reconhecermos a

mensagem do texto. É claro que, quando se estabelece os limites é necessário, pois

observar a unidade da perícope para uma melhor compreensão do texto.

Observamos que o contexto literário de (Jr 21-24) apresenta-se como

composição independente. Estes capítulos contêm palavras de ameaça contra os reis de

Judá (os assuntos são os reis e os profetas) 220

.

Dois subtítulos mostram a integralização feita às coleções antigas, como: Jr

21,11, “Sobre a casa dos reis de Judá”, e 23,8. Estes capítulos contêm palavras contra

diferentes reis e encerram com uma composição de ditos messiânicos (Jr 23,1-8); 23,9,

“Sobre os profetas”, abrindo assim a coleção de palavras contra os profetas em Jr 23,9-

40.

Rendtorff221

nos sugere que o capítulo de Jr 21,1-10, serve como moldura (ainda

que não esteja em forma de oráculo), colocando assim o destino do último rei de Judá,

Zedequias, no contexto da conquista iminente de Jerusalém 587 a.C.

Em Jr 22,1-9 temos a continuação dos oráculos222

à casa dos reis de Judá.

Tomando como referência deste texto as portas (v.2), este oráculo nos remete a Jr 7,1-3.

No mesmo livro, porém, no capítulo 22,10-12 acontece o relato da morte de Josias e a

subida de seu filho Joacaz (zx'äa'Ahy>) ao trono.

218 Cf. Ibid., 2011, p. 79. 219 Delimitação: A delimitação de textos torna-se necessária para saber qual é a mensagem de um texto.

Em oráculos proféticos de condenação jamais tivessem fundamento, poder-se-ia pensar que a condenação

é mero capricho divino, e que, sendo assim, a imagem de Deus que têm os profetas é simplesmente

inaceitável. 220 Cf. SCHWANTES, Milton. Grito violência e opressão (Jr 20, 7-18). São Paulo: UMESP, 2011, p.4. 221 Cf. RENDTORFF, Rolf. Antigo Testamento – Uma Introdução. Santo André: Academia Cristã, 2009,

p.293. 222 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isáias e Jeremias – Profetas I Grande

Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988, p.533.

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Em seguida em Jr 22,13, inicia-se um novo oráculo223

contendo a primeira

crítica social a um rei de Judá (Jeoaquim) com a expressão qd<c,ê-al{B.( ‘Atybe hn<ÜBo yAhå

“Ai daquele que constrói a sua casa sem justiça”. No início do verso (v.13) podemos

observar uma crítica contendo “ameaça” contra o rei. Há uma interrupção com o que foi

dito anteriormente e trata-se de um novo momento (o início de nova perícope).

A expressão yAhå (hoy, ai!), no verso 13, indica uma mudança de tempo (a

crítica social e o grito contra o rei Jeoaquim) com o conteúdo da ameaça, e isto

evidencia que a culpa, saiu um tanto quanto extensa: “v. 13-14, 15-16, 17, 18-19”.

Obviamente que na crítica social está presente a prática da justiça qd<c,, (tsedeq).

O rei não cumpria esta prática na sociedade de Judá. Desta forma, após Jeremias

desmoralizar a atividade de construção junto ao palácio (casa) como antissocial (v.13), o

profeta continuava descrevendo a ambição que este rei tinha em relação ao luxo (v.14).

De um modo geral, os exegetas concordam com essa delimitação. Duhm224

,

Dias225

, Westermann226

, Schwantes227

e Sicre228

, por exemplo, assumem-na. Os biblistas

enfatizam o uso da expressão yAhå (hoy, “ai!”) “ameaça” e “denúncia” marca inicio e fim

da crítica social, caracterizando a continuidade e descontinuidade da perícope anterior

(22,10-12), e esta continuidade estão diretamente relacionadas com o texto anterior,

principalmente devido o uso da expressão hw"hy>û-rm;a'( hkoå yKiä “Eis! Assim disse

YHWH” (v.6,11); e descontinuidade, pois há uma mudança de assunto e de linguagem.

Em relação ao encerramento da perícope no v.19, os autores enfatizam a

repetição da expressão hebraica no v.18 yAhå (hoy, “ai!”), mas com outra conotação, a de

lamento fúnebre.

Sendo assim, em Jr. 22,20, inicia-se uma nova perícope com uma mudança de

assunto. Porém, ainda que tenha mudança na temática a partir do v.20, para Diaz229

o

223 Neste verso 13, levanta-se a hipótese que o dito tenha sido dirigido aos destinatários olho no olho... in:

(WESTERMANN, Claus, 1980, p.90-91). 224 Duhm, 1901, p.174-179. 225 Diaz, 1988, p.535-537. 226 Westermann, 1980, p.93-94. 227 Schwantes, 2013, p.141-144. 228 SICRE, José Luiz Diaz, 2011, p.460-471. 229 ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. L. Isaías e Jeremias – Profetas I. São Paulo:

Paulinas, 1988, p.537.

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oráculo de 22,20-23 pode ser lido como uma continuação ou variação do oráculo

anterior contra Jerusalém (21,13).

Contudo, está evidente que a partir de 22,20 temos uma mudança de linguagem e

de conteúdo. Os temas centrais da perícope (22,20-23) são: o Líbano, os cedros e os

amantes.

Harrison230

e House231

seguem a mesma delimitação dos outros autores acima

citados, com o enquadramento da perícope como uma das subunidades literárias do

bloco 21-24, a saber, 22,13-19.

Assumimos, portanto, a proposta de Duhm, Westermann, Sicre e Schwantes para

a delimitação da perícope, tendo como ponto fundamental a expressão hebraica yAhå

(hoy, “ai!”) “ameaça e denuncia” no v.13; e sua repetição no v.18 yAhå (hoy, “ai!”), ainda

que aqui denote um lamento fúnebre.

Subtende-se que o texto de Jr 22,13-19 está bem delimitado e literariamente

conectado com as perícopes ao seu redor, mostrando que forma um todo com a unidade

maior (Jr 21-24). Esta unidade de sentido, delimitada de 22,13-19, apresenta repetições

de vários termos e sinônimos que mantém coesa a perícope.

Na expressão hebraica yAhå (hoy, “ai!”) “ameaça”, “denuncia” e “lamentação”,

(vv.13-18), notamos cinco ocorrências, e elas não indicam duas críticas sociais

diferentes, mas ressaltam a relevância das palavras proferidas. Isso se deve aos

conteúdos decorrentes da crítica social yAhå (hoy, “ai!”) “daquele que edifica a sua casa

sem justiça”.

Os versículos 13a-14 tratam de acusação do profeta em apontar que o rei estava

tratando os trabalhadores como escravos particulares, ~N"ëxi dboå[]y: “trabalham sem

pagamento”.

Em seguida os versículos 15-16, apresentam uma inserção feita pelos

deuteronomistas, e segundo Westermann232

, para deturpar totalmente a crítica social de

Jeremias, mas, mesmo assim existem algumas palavras que dão sentido à crítica de

230 Cf. HARRISON, K. R. Jeremiah and Lamentations, an Introduction and Commentarary. Londres:

Tyndale, 1990, p.92. 231 Cf. HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2005, p.398. 232 WESTERMANN., 1980, p.94

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Jeremias, como por exemplo: %l{êm.ti(h] “reinarás”; hr<äx]t;m “competes”; ht'ªv'w> lk;äa'

aAlôh] ^ybiøa' “teu pai não comeu e bebeu”; ynIï['-!yDI !D"± “julgou o julgamento do

oprimido/pobre” (as cinco ocorrências que resulta na crítica social yAh nos vv.13-18),

ainda que a primeira resulte em ameaça e a última em lamento, ambas ressaltam a

crítica social, porém, cada uma em um aspecto.

Neste sentido, o fio condutor da perícope é a crítica social (22,13-19). Para isso

temos no v.13a ‘Atybe hn<ÜBo yAhå “Ai do que constrói sua casa”; qd<c,ê-al{B. “em não

justiça”; jP'_v.mi al{åB. “em não direito”; v.14 ‘yLi-hn<b.a, “construirei para mim”; v.15

%l{êm.ti(h] “acaso reinarás”, hT'Þa; “tu”; v.16 ä !Ayàb.a,w> ynIï['-!yDI !D"± “julgou o julgamento

do oprimido e pobre”; v.17 yKiä “Eis!”, ‘^yn<’y[e “teus olhos”, ^êB.liw> “teu coração”,

^[<+c.Bi-l[;-~ai yKi “Eis! somente sobre teu lucro ilícito”, ‘yqiN"h;-~D:( “sangue do

inocente”, %APêv.li “para derramar”; v.18 hw"©hy> rm:åa'-hKo) !keúl' “por essa razão assim

disse YHWH”; v.19 rbE+Q'yI rAmàx] tr:îWbq. “como sepulta o jumento será sepultado”.

Portanto, toda crítica social está enquadrado dentro da temática da prática da justiça

hq'êd"c. e do direito jP'_v.mi.

Deve-se notar a repetição da interjeição por cinco vezes no vv.13-18, yAh (hoy,

“ai!”), e das repetições dos particípios negativos al{ “não”, no v.18 e também dos

verbos qal no imperfeito WdåP.s.yI “lamentarão”, também no v.18. Primeiramente, os

termos hebraicos estão relacionados com a crítica social vv,13-18. Na repetição dos

termos no v,18 refere-se à sentença da crítica social ao rei Jeoaquim.

Nota-se, todavia, que há coesão nesta perícope e como fio condutor desta

perícope está à crítica social, e as práticas violentas contra os compatriotas de Judá.

Trata-se, portanto, de uma unidade de sentido delimitada e coesa.

2.4.2. ESTILO LITERÁRIO

O estilo literário é a análise do estilo de um texto que busca mostrar a forma de

escrever dos redatores dos livros proféticos, tanto no pré-exílio, no exílio e também no

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pós-exílio. É de suma importância identificar as estrofes e a correlação interna entre as

frases de uma estrofe, a fim de observar a estrutura e a dinâmica do texto.

Observamos que, em geral, em todo o livro de Jeremias há presença da

linguagem e também da teologia deuteronomista233

. Os materiais contidos no livro de

Jeremias são compostos de oráculos poéticos e proféticos. Além disso, temos narrativas

biográficas que possivelmente foram escritas no Egito por Baruque (%WrßB') entre os

anos 580/70 a.C. Porém, estas narrativas também apresentam afinidades linguísticas e

teológicas com a história deuteronomista do período pós-exílico. De modo que, é difícil

separar o que não é deuteronomista no livro de Jeremias.

Enfim, não há dúvida que a perícope em análise faz parte de um oráculo

profético/poético (22,13-19), e a poesia hebraica234

é tipicamente marcada pela

repetição, ou seja, a inter-relação entre dois ou mais pensamentos.

Nesse sentido Robert Alter afirma:

Poesia [...] não é apenas um conjunto de técnicas para dizer

extraordinariamente o que poderia ser dito de outra. Antes, é uma

maneira particular de imaginar o mundo – particular no duplo sentido

em que poesia como tal tem sua própria lógica, seus próprios

caminhos a fazer conexões e engendrar implicações, e porque cada

sistema de poesia tem certas forças distintas semânticas que seguem o

impulso de suas disposições formais e hábitos de expressão.235

Contudo na poesia hebraica não temos paralelismo principalmente na profecia, mas

temos repetições. Por sua vez, as repetições236

consistem em dizer o que se assemelha

de um modo inusitadamente novo. A marca da poesia hebraica, portanto, é o inusitado e

repete sempre de modo inovador. Schwantes conclui:

A frase hebraica não é, pois, essencialmente densa em conteúdo

porque nada diria de um só modo, mas porque suas frases são

repetições incansáveis e incessantes, que, por exemplo, profetizam,

em detalhes sempre novos e inusitados, sobre a dor e a esperança em

meio à vida. O ‘paralelismo’ seria, pois, dizer o mesmo do mesmo

jeito, ainda que se o disseste ao contrário. A repetição é dizer o que se

233 Cf. WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. 2º ed. São Paulo:

TARGUMIM/PAULUS, 2006, p.274. 234 Cf. MATOS, Sue’Hellen Monteiro de. Não Temas! Gritei por teu nome: Estudo da concepção

materna de Javé em Dêutero-Isaías a partir da análise exegética de Is 43,1-7. Dissertação (Mestrado em

Ciências da Religião). Faculdade de Humanidades e Direito. Universidade Metodista de São Paulo, São

Bernardo do Campo, 2013, p.52. 235 ALTER, Robert. Guia Literário da Bíblia. São Paulo: UNESP, 1997, p.653 236 Cf. SCHWANTES, Milton. Sentenças e Provérbios: Sugestões para a interpretação da Sabedoria.

São Leopoldo: OIKOS, 2009, p.176-179.

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assemelha de um jeito cada vez novo, inusitadamente novo. Neste

sentido, não é o que é paralelo que perfaz a cultura hebraica, e aí ela

possivelmente até se distinga de anteriores culturas semitas, como o

ugarítico da Síria ocidental. Pois, sucede que é o inusitado o que

marca a poesia hebraica. Nela se anseia pelo novo, pelo que ainda não

se pode dizer, pelo que talvez só em contorções se possam expressar

(cf. Miquéias 2,6-11, em especial v.6). Neste sentido, cada novo livro

bíblico enceta de novo a velha aventura: dizer o inusitado, não o

‘paralelo’, o que já está ou foi dito. A profecia não se desloca para o

que foi, mas anseiam pelo que virá. E isso é o que perfaz sua

linguagem: expressa o desconcertante, não o que já estava dito.

Nota-se, que Schwantes nos define que uma das características da poesia

hebraica é a estrutura de intensificações, na qual um tema é ampliado linha por linha.

Trata-se de um processo dinâmico que se move em direção a um ponto culminante, isto

é, as repetições de imagens, conceitos e temas que se intensificam chegando ao ápice da

poesia. Neste sentido, as repetições se intensificam a fim de inovar e no v.18 temos um

exemplo dessa repetição ou anáfora:

hd"êWhy> %l,m,ä ‘WhY"’viayO-!B, ~yqIÜy"Ahy>-la, hw"©hy> rm:åa'-hKo) !keúl' !Adßa' yAhï Alê WdåP.s.yI-al{ tAx+a' yAhåw> yxiÞa' yAhï Alê WdåP.s.yI-al{

`hdo)ho yAhïw>

18 Por essa razão assim disse YHWH,

contra (para) Yehoyaquim filho de Josias rei de Judá,

não lamentarão para ele,

Ai meu irmão e

Ai irmã;

não o lamentarão para ele,

Ai senhor

e Ai majestade.

Neste verso não encontramos uma simples repetição de termos semelhantes ou

contraditórios. Antes, trata-se de um repetição inovadora que se intensifica chegando ao

seu ponto culminante da crítica social.

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Westermann237

nos apresenta que nos versos 15-16 temos várias frases que

foram pronunciadas com uma metodologia de sarcasmo ou ironia.

ht'ªv'w> lk;äa' aAlôh] ^ybiøa' zr<a'_b' hr<äx]t;m. hT'Þa; yKiî %l{êm.ti(h]15

bAjï za'Þ hq'êd"c.W ‘jP'v.mi hf'Û['w> ytiÞao t[;D:îh; ayhi²-aAlh] bAj+ za'ä !Ayàb.a,w> ynIï['-!yDI !D"±16

`hw")hy>-~aun>

15

Reinarás,,

Eis! Tu concorrente no cedro?;

teu pai (acaso) não comeu e bebeu?,

e fez (praticou) direito e justiça,

então bom para ele.

16 Julgou o julgamento do oprimido e (do) pobre

Então bom (para ele);

Não (é) aquele conhecimento comigo? oráculo de YHWH.

Júnior238

nos assegura que as duas figuras de linguagem em Jr 22,15-16 são

similares e se interpõem. Podemos entender que o sarcasmo é o uso de linguagem

irônica ou depreciativa com o fim de insultar ou escarnecer. O intuito é desprezar.

Podemos então ter uma nota como exemplo na primeira frase do (v.15)

zr<a'_b' hr<äx]t;m. hT'Þa; yKiî %l{êm.ti(h] “Acaso, Eis! Tu concorrente no cedro?”. Para este

autor Jeremias se direciona a Jeoaquim com um ar de sarcasmo, intensificando a sua

crítica social.

Quando a zombaria advém de alguém próximo, seu efeito é “mais penetrante,

mais doloroso, parte mais o coração”, por isso não é surpresa que a divindade, por

exemplo, direcione sarcasmo239

ao povo como em Jr 7,21.

Nos versos 15,16, podemos encontrar a ironia que Jeremias trata o rei Jeoaquim.

O significado para essa palavra ironia é a percepção de incongruência e pode ser verbal

237 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário Al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones FAX, 1980, p.83-

99. 238 Cf. JUNIOR, Edson Magalhães N. Uma introdução geral à poesia hebraica bíblica. Dissertação

(Mestrado em Letras). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Letras

Orientais – Programa de Pós-Graduação em Estudos Judaicos. São Paulo: 2012, p.126. 239 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias. Profetas I. São Paulo:

Paulinas, 1988.

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ou situacional. A intenção no uso da ironia é humorística e o caso mais comum é

quando se usa uma palavra querendo significar exatamente o seu oposto.

ht'ªv'w> lk;äa' aAlôh] ^ybiøa'

Teu pai (acaso) não comeu e bebeu?

ytiÞao t[;D:îh; ayhi²-aAlh]

Não (é) aquele conhecimento comigo?

Júnior define que, essa figura de linguagem é mais comum na bíblia hebraica do

que se reconhece e isso acontece por diversas razões, mas especialmente porque o texto

hebraico não apresenta marcações extralinguísticas que tornem claro os momentos

irônicos, sua utilização é feita apenas quando o sentido literal de um texto não faz

sentido (no caso verbal) ou pelo contexto (subtende um caso de ironia) 240

.

A nossa perícope conclui na caracterização do estilo poético profético com

ênfase na repetição inovadora e da presença da ironia e do sarcasmo.

2.4.3 Estrutura da perícope de Jr 22,13-19

Propomos o seguinte esquema para visualizar esta estrutura de Jr 22,13-19, e o

texto foi estruturado da seguinte forma241

em quatro estrofes:

Introdução________Jeremias inicia a crítica social _________________________22,13

Primeira estrofe Jeremias 22,13-14;

2.4.3.1 Acusação___________________________________________________13-17;

A. A descrição do governo de Jeoaquim_________________________13-15a;

1. Construções luxuosas______________________________________13a;

2. Trabalho forçado_________________________________________13b;

240 Cf. Ibid., 2012, p.127. 241 Cf. SIQUEIRA, Tércio Machado. Conhecer a Deus é Praticar a Justiça (Jr 22,13-19). Estudos

Bíblicos, nº 14, Petrópolis: Vozes, 2006, p.10.

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3. Citação do rei_____________________________________________14;

Segunda estrofe Jeremias 22,15-16;

B. Questões retóricas: comparação com Josias____________________15b-16;

1. Questionamento__________________________________________15a;

2. Praticou o direito e a justiça_________________________________15b;

3. Julgou a causa do pobre____________________________________16a;

4. Bom governo____________________________________________16a;

5. Conheceu a Javé__________________________________________16b;

Terceira estrofe Jeremias 22,17;

C. Conclusão da acusação a Jeoaquim_______________________________17;

1. Falta de percepção_________________________________________17a;

2. Obcecado pelo lucro________________________________________17a;

3. Insensível________________________________________________17b;

a. derrame de sangue inocente;

b. opressão;

c. prática de violência;

Quarta estrofe Jeremias 22,18-19.

2.4.3.2 Julgamento242

________________________________________________18-19

A. Fórmula básica de proclamação_________________________________18a;

B. O próprio julgamento______________________________________18b-19;

1. O réu 18b;

2. Hipotético lamento de sepultamento - 18b;

3. Veredicto 19

a. Sepultado como um jumento 19a;

b. Arrastado 19b;

c. Lançado para fora de Jerusalém 19c.

Considerações finais da perícope

No término da perícope o profeta relata que o rei Jeoaquim não fez uso das

lamentações (fúnebres) normais de um rei de Judá (I Reis 13,30) e que ele também não

242 Cf. Ibid., 2006, p.10.

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teria um funeral real “como rei” (analisar o texto de 2 Reis 24,6). Segundo a descrição

do profeta, ele (o rei) seria jogado sem cerimônia num monte de lixo, assim como os

jumentos mortos eram arrastados para fora da cidade e deixados apodrecer243

.

Existe ainda a possibilidade de uma maior formalização da estrutura,

entendemos que a terceira estrofe (v.17) é parte principal (central) da perícope. Nesta

perícope são encontradas as práticas violentas do rei Jeoaquim contra a população de

Judá. Este rei de Judá era obstinado pelo lucro e também derramou muito sangue de

inocentes e por último utilizou o poder real para oprimir os mais fracos da sociedade de

Judá.

2.4.3.1 Presentes na perícope, como sujeitos e/ou objetos244:

Jeremias, Jeoaquim e Josias.

A. Citados na perícope:

a. Diretamente: YHWH – Através do profeta Jeremias formulando a crítica ao rei;

b. Indiretamente: Josias – É criticado na perícope e não elogiado, por não se

preocupar com a vida social do povo, Josias não estava preocupado se o povo

teria pão na mesa, ou água no vaso para beber ou terra para plantar.

B. Mencionados na perícope:

1. Como sujeitos que agem em relação a outros personagens:

2.5 YHWH;

2.6 Camponeses;

2.7 O trabalhador injustiçado sem salário;

2.8 O pobre;

2.9 O oprimido;

2.10 O extorquido;

2.11 Aqueles que formam mortos em silêncio (sangue inocente).

243 Cf. HARRISON, K. R. Jeremiah and Lamentations, an Introduction and Commentarary. Londres:

Tyndale, 1990, p.94. 244 Cf. YOFRE, Simian Horácio (Org). Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola,

2011, p.120-122.

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2. Como objetos que sofrem a ação dos sujeitos mencionados:

a. Casa de Jeoaquim;

b. Cedro;

c. Portas de Jerusalém.

3. Como soberano do Egito: O faraó Necao.

4. Como rei de Judá: O rei Jeoaquim.

A introdução e a conclusão estão relacionadas. Como já destacado, a conclusão

encerra com a sentença de Jeremias contra o rei Jeoaquim, que não teria um enterro

digno de rei, segundo a cultura em Judá. A crítica de Jeremias é iniciada pelo particípio

interrogativo yAhå (hoy, “ai!”), portanto, as referências ao rei Jeoaquim são divididas em

duas partes: vv.13-17; e os vv.18-19, totalizando segundo a estrutura quatro estrofes. A

primeira parte segue-se um oráculo de acusação (vv.13-17) e a segunda parte um

oráculo de condenação (vv.18-19).

Na primeira parte Jeremias acusa o rei por seus erros na política, uma ligação

que Jeoaquim tinha diretamente com o Egito e após com Babilônia. Na segunda parte,

como podemos notar nos oráculos proféticos de acusação245

o profeta profere seu

julgamento a Jeoaquim, utilizando em sua forma um lamento de sepultamento.

Evidentemente, o particípio interrogativo yAhå (hoy, “ai!”), este oráculo é sem

dúvida um oráculo mais terrível pronunciado por um profeta contra um rei. Os

habitantes de Jerusalém se sentiram com certeza ofendidos e também revoltados com o

profeta Jeremias246

.

Sendo assim, a crítica social de Jeremias está relacionada com o “não”

cumprimento do rei Jeoaquim de praticar a justiça e o direito, e principalmente com as

suas práticas violentas contra a população de Judá. O não conhecimento de Deus pelo o

rei Jeoaquim levaria à sociedade de Judá a ruína.

245 Cf. SIQUEIRA, Tércio Machado. Conhecer a Deus é Praticar a Justiça (Jr 22,13-19). Estudos

Bíblicos, nº 14, Petrópolis: Vozes, 2006, p.11. 246 Cf. VITÓRIO, Jaldemir. “Ai de quem constrói a sua casa sem justiça” (Jr 22,13) – Crítica profética à

monarquia em Jr 21,1-23,8. Estudos Bíblicos, nº 78, Petrópolis: Vozes, 2003, p.46,

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Portanto, na conclusão da perícope (v.18) temos a união dos quatros yAhå (hoy,

“ai!”), que se ligam do o yAhå (hoy, “ai!”), do (v.13), obviamente como já foi relatado o

primeiro “ai” indicando acusação, os outros quatro indicam a lamentação fúnebre.

Ambos os yAhå (hoy, “ai!”), estão relacionados na profecia de acusação no século VIII

com Amós e Oséias, e no século VI com Sofonias, Jeremias, Naum e Habacuque,

portanto, a introdução e a conclusão se repetem nos termos da poesia hebraica formando

a moldura do texto, e Alter concluí relatando está nova visão poética dos profetas,

segue:

A predisposição geral a uma apreensão poética do processo

culminante urgente leva nos profetas ao que significa uma visão da

história radicalmente nova. Sem insinuar que deveríamos reduzir todo

pensamento ao princípio da poética, eu, não obstante, sugiro que

existe um impulso específico na poesia hebraica antiga que ajuda a

impelir os poetas em direção às interpretações bastante especiais de

suas circunstâncias históricas. Se um profeta quer tornar vívido em um

verso um processo de desastre iminente, mesmo como o objetivo

consciente limitado de trazer seu público complacente e obstinado de

volta à razão, a lógica intensificadora de seu meio pode levá-lo a

afirmações de um caráter definitivo e cósmico. Assim Jeremias,

imaginando a devastação que um exército invasor babilônico

provocará247

:

Eu olhei a terra: eis que era vazia e disforme;

os céus: mas sua luz não existia.

Olhei as montanhas: eis que elas tremiam

E todas as colinas se abalavam. (Jr 4,23-24).

Alter nos apresenta que Jeremias prossegue na mesmo disposição, recorrendo à

linguagem do Gênesis para nos trazer a imaginação de um mundo sem motivação. E

continua relatando que a própria criação foi revertida. E define:

Um processo similar está em operação nas várias profecias de consolo

de Amós, Jeremias, Ezequiel, Isaías: a restauração nacional, no

desenvolvimento do literal ao hiperbólico, do fato à elaboração

fantástica, que é intrínseca à poesia bíblica, não é somente um retorno

do exílio, ou o restabelecimento da autonomia política, mas um

desabrochar do deserto, um endireita mento de tudo o que é torto, uma

fusão maravilhosa de época de semear e de colher, uma paz perfeita

247 Cf. ALTER, Robert & KERMODE, Frank. Guia Literário da Bíblia. São Paulo: UNESP, 1997, p.665.

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em que o bezerro e o leão habitam juntos e uma criancinha os guia.

Talvez os profetas pudessem ter começado a mover-se,

aproximadamente, nessa direção, mesmo se houvessem elaborado sua

mensagem em prosa, mas creio ser demonstrável analiticamente que o

ímpeto de seu meio poético reforçou e, de alguns modos, dirigiu o

escopo de sua visão. A matriz, então, tanto da imaginação apocalíptica

quanto a visão messiânica de redenção, pode muito bem ser a estrutura

característica do versículo hebraico antigo. Esse seria a ilustração

historicamente mais decisiva de uma regra fundamental relevante em

forma e significado na Bíblia. Precisamos ler essa poesia bem, porque

ela não é meramente um meio de intensificar ou dramatizar as

percepções religiosas dos escritores bíblicos – é o instrumento

modelador dinâmico por meio do qual essas percepções descobriram

sua verdade imanente.248

Enfim, o próprio texto nos apresenta a sua estrutura, sem preocupar-se com o

gênero literário, visto que antes de ser um texto escrito, trata-se de um texto

pronunciado. E, como tal, não se limita às normas da crítica da forma da idade moderna.

2.5 GÊNERO LITERÁRIO

A análise do gênero literário é imprescindível para o estudo do texto,

principalmente se tratando de outro tempo e outra cultura, há também uma possibilidade

na compreensão da função e sentido do texto249

.

Um dos pressupostos importantes desta análise é que um gênero literário está

primeiramente relacionado com as situações culturais, sociais, políticas, econômicas e

religiosas. Todavia, a análise do gênero literário é fundamental para compreendermos o

ambiente vivencial do texto e também os seus conteúdos.

Portanto, no século XX um grupo de exegetas comparou textos formalmente

semelhantes, mesmo que tais textos apresentassem diferenças quanto ao seu conteúdo.

O grande precursor deste trabalho foi Hermann Gunkel250

, que realizou estudos sobre o

livro de Gênesis e Salmos. Segundo Gunkel, em culturas eminentemente orais como do

“Antigo Testamento”, assim, diferentes gêneros literários indicam diferentes contextos

sociais, e a partir desse pressuposto o autor estabeleceu alguns princípios básicos de um

método que denominou de “crítica dos gêneros”.

248 Ibid., Alter, 1997, p.666. 249 Cf. YOFRE, Simian Horácio. Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2011, p.

100-104. 250 Cf. GUNKEL, Hermann. A Brief History of Old Testament Criticism. 4º ed. Grand Rapids, ML:

Zondervan, 2012, p. 122.

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Gunkel, por sua vez, no Antigo Testamento temos gêneros literários como a

tradição histórica dos profetas pré-exílicos, os textos literários que são como novelas,

como narrativas históricas e as sagas como a saga de uma tribo ou de um povo, a saga

de um herói, a saga de um lugar, de uma lenda e etc. Temos também, a tradição jurídica,

a tradição profética, a tradição sapiencial e a tradição dos cantos251

.

Por sua vez, a análise do profetismo no século VIII ao VI conseguimos perceber

uma preocupação dos profetas com a situação da opressão que povo de Judá vivenciava.

A crítica social dos profetas, principalmente de Jeremias, enquadra-se na profecia de

acusação e julgamento252

, tendo seu fortalecimento no primeiro oráculo endereçado a

um rei de Judá em forma de crítica (Jeoaquim, ~yqIÜy"Ahy>).

Contudo, quando fazemos uma leitura superficial dos profetas pré-exílicos podemos

notar neles uma marca principal de sua proclamação (as palavras de julgamento). De um

modo geral, está a crítica social de Jeremias, que foi transmitida pessoalmente ao rei

Jeoaquim entre o período de 609-598 a.C (Jr 22,13-19).

O texto de Jeremias 22,13-19 está relacionado à tradição profética dentro de um

cenário da crítica social ao rei Jeoaquim, o texto trata de um “oráculo de YHWH”

(hw")hy>-~aun>) contra o rei, e está estruturado segundo as normas da poesia hebraica (texto

poético de Jeremias). Existe uma inserção em seu conteúdo com relação à denúncia de

Jeremias contra as práticas injustas do rei Jeoaquim contra a sociedade de Judá253

.

Este mesmo texto inicia-se com a ameaça yAhå (hoy, “ai!”) v.13-14 e nos versos

15-16 o profeta está denunciando que o rei zr<a'_b' hr<äx]t;m. “competes no (pelo) cedro”,

mas, não exemplifica se acontecia esta competição, possivelmente o rei Jeoaquim está

competindo com o cedro, porque o cedro é a árvore que possui a melhor madeira e que

domina entre as outras árvores, em beleza, em riqueza e em formosura. O rei Jeoaquim

queria ser melhor que o cedro na realeza, em seu reinado, querendo ter mais poder do

que o cedro. E isto é transferido para o seu reinado.

Jeremias traz à memória do rei Jeoaquim as práticas justas de Josias, e declara

que ele praticou “o direito e a justiça”, tem como característica ser breve na presença do

251 Cf. SILVA, Cássio Murilo D. da Silva. Metodologia de Exegese Bíblica. 3º ed. São Paulo: Paulinas,

2009, p. 185-201. 252 Cf. VON RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: ASTE/TARGUMIM,

2006, p. 600-603. 253 Ibid., 2006, p.607.

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acusado “rei Jeoaquim” e anuncia um castigo por parte de YHWH em forma de

lamento, após no v.19 anuncia o castigo e a desgraça.

Entretanto, como forma do gênero literário, Jeremias traduz em palavras

humanas o que experimentou do próprio YHWH, a experiência pessoal do profeta

quando a verbalização sofre uma redução. Além disso, a transposição neste gênero

literário na atuação do profeta Jeremias é o melhor caminho para resgatar a

profundidade da experiência original254

.

2.6 ANÁLISE DE CONTEÚDO

A crítica social nos profetas pré-exilicos pode ser visto como um belo gênero

literário, e também tem a função primordial de levar palavras de ameaça para os reis,

que estão usando do poder real para oprimir, maltratar, matar e fazer injustiça contra a

população de Judá. E o responsável por está tarefa é o profeta de YHWH255

.

Todavia, esta parte da pesquisa comporta em analisar algumas palavras do texto

(análise semântica), da crítica social de Jeremias 22,13-19 e analisar também alguns

termos que serão importantes para definirmos alguns conceitos no texto, e qual é a

importância de tais palavras na crítica social. O estudo do lexema256

é feito de dois

modos: por meio de léxicos, dicionários e concordâncias.

A perícope de Jr 22,13-19 é, portanto o coração da profecia de Jeremias contra o

rei Jeoaquim, e ela contém diversos temas fundamentais à crítica social, desse modo,

segue a análise do conteúdo do nosso texto.

2.6.1 Introdução (v.13a)

jP'_v.mi al{åB. wyt'ÞAYli[]w: qd<c,ê-al{B.( ‘Atybe hn<ÜBo yAhå13

13Ai do que constrói sua casa em não (sem) justiça,

e seus aposentos altos em não (sem) direitos;

254 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário Al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones FAX, 1980, p.91-

94. 255 Cf. YOFRE, Simiam Horácio (Org). Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola,

2011, p.93-99. 256 Ibid., 2011, p.95.

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A perícope acima se inicia com a expressão hebraica yAhå (hoy, “ai!”),

evidenciando uma nova sequência em relação às perícopes anteriores (Jr 22,1-9; 10-12),

bem como o inicio de uma nova unidade de sentido. A expressão hebraica inserida em

nossa perícope (hw"©hy> rm:åa'-hKo)) “assim diz YHWH”, denomina a fórmula de

mensageiro e é a marca pela característica de um dito profético, indicando que a palavra

da divindade dada ao profeta é a verdadeira palavra de Deus257

.

Desse modo, essa expressão garante a autorização das palavras proferidas pelo

profeta como palavra de Deus. Assim, o profeta se entende como mensageiro de Javé, e,

todavia, responsável por proferir suas palavras258

.

Nesse sentido a perícope, possui toda a garantia profética de palavra de Deus e

quem fala através do profeta é YHWH. Quando o verbo rm;a' (‘amar, “dizer”) tem

como sujeito Deus há então uma relação de que a fala divina pode ser ouvida e

compreendida na natureza da história259

, abrangendo também a experiência e o

entendimento humano.

Porém, quando Deus fala, o ser humano pode ouvi-lo e compreendê-lo dentro de

sua realidade. Desta forma, as palavras da crítica social proferidas pelo profeta,

anteriormente ditas por YHWH, são compreensíveis à comunidade de Judá dentro de

sua realidade de vida.

Gerstenberger260

, por sua vez, nos apresenta que a expressão hebraica yAhå (hoy,

“ai!”), é uma interjeição que normalmente expressa lamento ou dor, está expressão

hebraica ocorre cinquenta vezes (50) nos profetas e apenas uma vez fora deles, seis (6)

ocorrências se referem a lamentos pelos mortos (como em 1Rs 13,30), e quarenta (40)

vezes envolvem advertências negativas ou ameaças de castigo físico por parte de Deus e

o restante está relacionado com crítica endereçado a pessoas em particular.

Portanto, no Trito-Isáias 55,1, a palavra introduz um convite positivo para vir e

comprar coisas boas sem dinheiro, nem preço (cf. Zc 2,6-7). Porém, no livro de

257 Cf. WESTERMANN, Claus. Basic Forms of Prophetic Speech. Philadelphia: Westminster Press,

1967, p.49. 258 Ibid., p.50. 259 Cf. MATOS, Sue’Hellen Monteiro de. Não Temas! Gritei por teu nome: Estudo da concepção

materna de Javé em Dêutero-Isaías a partir da análise exegética de Is 43,1-7. Dissertação (Mestrado em

Ciências da Religião). Faculdade de Humanidades e Direito. Universidade Metodista de São Paulo, São

Bernardo do Campo, 2013, p.66. 260 Cf. GERSTENBERGER, Erhard. The woe-oracles of the prophets. JBL, 1981, p.249-253.

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Jeremias a expressão hebraica yAhå (hoy, “ai!”) aparece onze vezes nos textos de

Jeremias: Jr 22,13-18; 23,1; 30,7; 34,5; 47,6; 48,1 e Jr 50,27.

Rudolph261

nos assegura que algumas vezes no Antigo Testamento a expressão

hebraica yAhå (hoy, “ai!”), está seguida de um nome ou constitui uma introdução das

declarações de desgraça como, por exemplo, os textos do Proto-Isaías 5, 8, 11, 18, 20,

21,22 e Isaías 10,1; Hab 2, 6, 9, 12, 15,19; e de outra forma Isaías 1,4; 28,1; 29,1-15;

30,1; 31,1; 33,1 e do Deutero-Isaías 45,9-10; Jr 22,13; 23,1; Ez 34,2; Am 5,18; 6,1; Miq

2,1; Naum 3,1; Sf 2,5; 3,1; Zac 11,17; seguido da preposição l[; (‘al), em Ez 13,3-18;

Jr 48,1; 50,27262

.

Nos últimos anos foram feitos detalhados estudos sobre a origem histórico-

formal das declarações de desgraça263

nos profetas, tanto, no pré-exílico como no pós-

exílico.

Portanto, a expressão hebraica yAhå (hoy, “ai!”), é empregado de várias maneiras

no livro do profeta Jeremias, a maioria das vezes aparece como ameaça, lamento e

denúncia em Jr 22,13 o texto hebraico yAhå (hoy, “ai!”); do v.13 é empregado como

ameaça ao rei Jeoaquim por suas inclinações violentas a população de Judá e no v.18 a

expressão hebraica aparece como lamento fúnebre também ao rei, porém, vejamos

algumas passagens do livro de Jeremias na qual é empregado a expressão hebraica yAhå

(hoy, “ai!”), e seu contexto.

Contudo, em Jr 23,1 o termo hebraico yAhå (hoy, “ai!”), é empregado também

como ameaça, esta sentença segue os cânones clássicos da forma, expondo brevemente

a culpa e a pronúncia à sentença. A correspondência à culpa e o castigo são sublinhadas

por meio de um recurso verbal, nesse momento é a repetição do verbo dq;P' “fazer conta

ou pedir contas”264

.

261 Cf. RUDOLPH, W. Jeremia. Tlibinga: HAT 12, 1949, p.134. 262 Cf. WILDBERGER, 1976, p.175-202. 263 Cf. SCHOTTROFF, W. Der Altisraelitiche Fluehspruch. Tlibinga, 1969, p.112-120. 264 Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p.419-420. In: KIRST, Nelson. Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português. 22º

ed. São Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009, p.197.

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Diaz265

, por sua vez, nos descreve neste texto (Jr 23,1-2) que o rebanho não é

propriedade dos pastores, mas de YHWH, e diante do qual eles são responsáveis como

encarregados. Logo, um segundo jogo de palavras relaciona o ofício, (~y[iªro),

pastorear266

·, com a perversão do seu desempenho, rõ’. No entanto, dispersar e

desencaminhar pode limitar-se a sentido político e ético são ligados a expulsar, ambos

parecem referir-se à primeira deportação. Portanto, de fato, Jeoaquim através de uma

política desregrada ocasionou a intervenção babilônica.

Peterlevitz267

sugere que Jr 30,5-7 foi escrito depois de 587 a.C; e originou-se

nas expectativas de salvação relacionando-se ao pós-exílio. Para o biblista Jr 30,7 é de

autoria de Jeremias, e neste verso aparece à expressão hebraica yAhå hôy ,Ai268

, indicando

lamentação vinculada à imagem da parturiente269

no v.6, e está relacionada a uma

situação de morte e desespero no v.5.

Entende-se que o “tremor” (hd"Þr"x], haradah) e o “terror” (dx;P;Þ, pahad) das

aniquilações causadas pelas grandes potencias nos pequenos países do corredor sírio-

palestino, desde o século 7 a.C. (assírios) até 6 a.C. (babilônicos) são as ameaças a Judá.

Dessa maneira, essa memória expandiu-se grandemente com a desmilitarização

de Judá pelos babilônicos nos inícios do século 6 a.C. Porém, o verso 7 nos expressa

“aquele dia” ou (dia de juízo, v.7) e situa-se especialmente nesse cenário histórico. Por

265 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias – Profetas I – Grande

Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988, p.540. 266 Ibid., 2010., p.487. 267 Cf. PETERLEVITZ, Luciano R. “Eis que livrarei da prisão o meu povo Israel e Judá: Uma análise

exegética das palavras salvificas de Jr 30-31”. (Exame de qualificação de Doutorado em Ciências da

Religião). Faculdade de Humanidades e Direito. Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do

Campo, 2013, p. 115. 268 WESTERMANN, Claus; JENNI, Ernst. Diccionario-teológico – Manual de Antiguo Testamento. (Vol.

1) Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, p.668-670. No Antigo Testamento à diferentes formas entre as

expressões hebraica hõy e ‘ou. A palavra hõy é uma interjeição que ocorre no início de cantos fúnebres e

nas introduções de declarações proféticas de desgraças. Entre as interjeições que remontam a uma raiz

verbal, yAhå hôy, Ai, e outras expressões relacionadas com hõy, constituem o mesmo que ‘ahãh, al, e a

simples exclamações pelo contrário hinnê, he lahi e hás. Junto com os imperativos que são convertidos

em simples interjeições, tem um caráter de exortação. Já o termo ‘oy sempre se refere a um grupo

concreto de pessoas, pois é acompanhado por pronomes pessoais e pela preposição le “para” (como é o

caso de Jr 4,31, cuja tradução literal é “ai para mim”. Portanto, hõy e ‘oy tem um sentido similar, em Jr

30,7 e Jr 4,31; Jr 30,5-7 pressupõe uma situação terrível de morte, podendo o hõy do v.7 ser facilmente

àquela situação; o ‘oy de Jr 4,31 também aplica-se a uma situação que envolve morte, pois aquele que

lamenta é ameaçado por “assassinos”. 269 Pessoa do sexo feminino (mulher) em trabalho de parto.

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sua vez, a lamentação (hoy, “ai!”) do início do v.7 é entoada no contexto bélico, e

Peterlevitz concluí:

É um tempo de angustia (v.7). Considerando a menção de “Jacó”, que

evoca o norte palestinense, é possível afirmar a existência de uma

antiga memória da invasão assíria sobre a Palestina, no século 8 a.C.

Portanto, as terras do norte conheceram o terror dos exércitos assírios;

o som da “bota que pisa ruidosamente no chão” (Is 9,4) que intimidou

as populações nortistas, como se nota no texto isaiano do século 8 a.C.

(Is 8,23; 9,1-4). Pode-se aventar que as populações nortistas migraram

para Judá depois da queda do reino do norte, e lá, no sul, guardavam

suas memórias e tradições. Situando-se Jr 30,7 no contexto do profeta

Jeremias, pode-se afirmar que esses versos cantam/lamentam a

chegada de outro poderio estrangeiro: a Babilônia. Neste cenário,

quando os exércitos caldeus arrasaram Jerusalém, entoavam um

cântico fúnebre a respeito da ‘morte’ do estado de Judá.270

Porém, em Jr 34 notamos um contraste com as palavras de salvação

precedentes271

, estas não valem para Sedequias (Jr 34,1-7) e a elite judaíta que quebrou

a aliança (Jr 34,8-22), enquanto os recabitas estão abrigados na promessa divina por

causa de sua obediência exemplar (Jr 35).

O profeta pronuncia essas palavras a Sedecias em Jerusalém, enquanto o

exército do rei de babilônia lutava contra Jerusalém e contra o resto das cidades de Judá

(Laquis e Azeca), as duas cidades fortificadas que ainda subsistiam272

.

É importante compreender que no v.5 temos a expressão hebraica Adßa' yAhïw>

“Ah! Senhor!”, que indica lamentação. Neste texto de Jr 34,1-7, temos duas mensagens:

a primeira exalta na sua concisão o poder do imperador (v.1-3); e a segunda mensagem

equivale à mitigação de pena (v.4-7), em lugar de sentença de morte e da sua execução

imediata conforme anunciava em Jr 21,7, intimam-se-lhe no exílio perpétuo e morte

natural, que é a conhecida mitigação da pena de Adão e Caim273

.

270 Cf. PETERLEVITZ, Luciano R. “Eis que livrarei da prisão o meu povo Israel e Judá: Uma análise

exegética das palavras salvificas de Jr 30-31”. (Exame de qualificação de Doutorado em Ciências da

Religião). Faculdade de Humanidades e Direito. Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do

Campo, 2013, p. 116. 271 Cf. RENDTORFF, Rolf. Antigo Testamento – Uma introdução. Santo André: Academia Cristã, 2009,

p.295. 272 Ibid., 2009., p.296. 273 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias – Profetas I – Grande

Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988, p.599.

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Os ritos fúnebres anunciados adquirem plena significação comparada ao destino

de Jeoaquim (Jr 22,18), e significam que haverá uma família e um povo que chorem

como rei274

.

A partir de Jeremias 46 encontramos uma volumosa coleção de oráculos

dirigidos contra outras nações nos capítulos 46-51. A introdução a este conjunto era

formada originalmente pelas palavras a respeito do cálice da embriaguez, ministrado por

YHWH (25,15s, 27-29), e pelo julgamento de YHWH contra as nações (25,30s, 34-38)

275.

Sendo assim, estas palavras como os oráculos contra o Egito foram tomadas do

rolo manuscrito de Jeremias (cf. 3a). Entretanto, os oráculos dirigidos contra o Egito (Jr

46) e contra os filisteus (Jr 47), são encontrados no (v.6) a expressão hebraica yAhª (hoy,

“ai!”), Indicando o pequeno diálogo de sentença (ameaça) contra os filisteus,

apostrofando a espada. Em seguida é também de grande força expressiva ao mesmo

tempo em que enuncia o sentido teológico da invasão militar, então o exército inimigo é

espada do Senhor, executora da sua sentença276

. E contra Moab, Amon e Edom no

capítulo (48,1-47) aparecendo novamente a expressão hebraica yAhª (hoy, “ai!”),

indicando ameaça contra Moab277

.

A conclusão destes oráculos é formulada pelos oráculos dirigidos contra

Babilônia (Jr 50-51,58 juntamente com o relato a respeito de uma ação simbólica Jr

51,59-64, extraído do livro de Baruc). Portanto, a expressão hebraica yAhª (hoy, “ai!”),

do texto de Jr 50,27 também denota ameaça contra Babilônia278

.

Um dos profetas no pré-exílio que também utiliza da expressão hebraica yAhå

(hoy, “ai!”) para formular a sua crítica é Habacuque (Hab 2,6-9-12-15-19). O seu livro

é um dos mais debatidos no Antigo Testamento279

. O problema no livro é distinguir

quem é o inocente e quem é o culpado. Temos em Habacuque um conflito interno e

274 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis, 1988., p.600. 275 Cf. SELLIN, E; FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento. Santo André: Editoras: Academia

Cristã/Paulus, 2012, p.559 276 Ibid., 1988., p.643. 277 Ibid., 1988., p.646. 278 Ibid., 2012., p. 560. 279 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Ezequiel & Profetas Menores – Profetas II

– Grande Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1991, p.1123.

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externo, o conflito interno está relacionado com os diversos grupos judaítas e o conflito

externo está relacionado com Judá e alguma(s) potências estrangeiras.

Para Jöcken280

o problema interno está relacionado com judaítas honestos e

judaítas perversos, exploradores, chefiados pelo rei Jeoaquim (609-598 a.C). O livro

refletiria a problemática do ano 605 a.C aproximadamente281

.

Logo, a tradição de Habacuque começa em 1,2-4 com um cântico de lamentação

individual a respeito de um ímpio violento, mas se refere, como um gemido do

representante da comunidade na oração, à calamidade em que o povo se acha282

.

Em resposta, pronuncia-se um oráculo salvífico de YHWH (1,5-11) que anuncia

uma mudança na sorte do povo, para cuja realização YHWH convoca os caldeus. Em

vez da ação de graças por este fato, ou em vez da expressão da certeza de que se será

atendido segue-se um novo cântico de lamentação (1,12-17), composto de interrogações

e de afirmações283

.

O profeta lamenta-se de que o ímpio possa continuar a devorar os justos e a

destruir nações inteiras. Em seguida o profeta se empenha em obter uma visão e recebe

de YHWH a ordem de registrar por escrito o oráculo de salvação recebido nesta

ocasião, bem como a exortação a esperar com confiança a sua realização (2,1-4).

A secção imediata é constituída de cinco yAhå (hoy, “ai!”) [2,6-9-12-15-19], censurando

ao violento salteador os seus crimes e anunciando-lhe os castigos correspondentes e

Brownlee conclui284

.

Algumas vezes tem-se considerado o anúncio da vinda dos caldeus:

1,5-11, como uma interrupção que quebra o ritmo da lamentação 1,2-

4; 12-17, compreendida como constituindo um conjunto homogêneo, e

os versículos têm sido, ora cancelados (Wellhausen285

e outros), ora

transpostos para depois de 2,4 (Budde286

) ou 2,5a (Rothstein287

), como

resposta original de Javé.

280 Cf. JÖCKEN, P. Das Buch Habakuk. BBB 48 (Bonn), 1977, p.581. 281 Cf. HUMBERT, P. Problèmes du livre d’Habaquq. 4º ed. Neuchâtel: 1994, p.1106,1107. 282 Cf. BROWNLEE, H. W. The Text of Habakkuk in the Ancient Comentary Qumran. 1959, p. 637. 283 Ibid., 1959., p.638. 284 Ibid., 1959., p.639. 285 Cf. Cf. WELLHAUSEN, J. Die Composition des Hexateuchs und der historischen Bücher des Alten

Testaments. 4º ed. 1963, p.535. 286 Cf. BUDDE, K. Geschichte der althebräischen Literatur. Apokryphen und Pseudepigraphen von A.

Bertholet. 2º ed.1909, p.554-559. 287 Cf. Rothstein, W. J., p. 641.

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Trata-se, contudo, de duas lamentações originais, compostas em meios

diferentes e das quais a segunda supõe o oráculo de Javé (1,5-11) e

pergunta por que não se realizou desde há muito o julgamento ali

anunciado contra o ímpio. Acresce ainda que a sucessão de duas

lamentações e de dois oráculos não é de fato incomum. – Além disso,

2,5(a) temos sido juntados frequentemente ao segundo oráculo de Javé

(2,1-4) Brownlee 288

.

Mas isto é contraditado pela forma como está construída a série dos

“ais”, cada um deles com quatro versos longos, de modo que o oráculo

que começa em 2,6b deve ser precedido de um segundo: 2,5-6 a. Em

vista disto 2,4 constitui o segundo oráculo propriamente dito por Javé

(Stenzel289

).

Nestes “Ais” (yAhå hôy), compostos no livro de Habacuque, podemos perceber

que o terceiro (yAhå hôy, Ai), é formado pelo v.12, que nos apresenta denúncia, punição e

trabalho inútil, contextualizado com o yAhå (hoy, “ai!”) de (Jr 22,13-17), que também nos

apresenta na crítica social de Jeremias a denúncia contra as práticas violentas do rei

Jeoaquim. Porém, a relação entre justiça e conhecimento de Javé é correta e tradicional,

tanto em Jeremias 22,13 quanto em Habacuque 2,12290

.

O quarto Ai yAhå (hoy, “ai!”), em Habacuque v.15 enfatiza o crime e mistura uma

luxuria perversa com o gozo da humilhação alheia.

O que também está em conexão com Jr 22,14, onde o rei Jeoaquim utilizando do

trabalho escravo oprime para que sua luxúria seja conquistada através da humilhação

dos trabalhadores que não recebem o seu salário diário291

.

Podemos notar que a expressão hebraica yAhå (hoy, “ai!”) é utilizada no livro de

Jeremias na maioria das vezes como ameaça e sentença. O nosso texto em estudo a

expressão hebraica yAhå (hoy, “ai!”) aparece como denúncia ao rei Jeoaquim, e está

relacionado à atitude do rei que utilizava a mão de obra escrava para construir o seu

luxuoso palácio.

Holladay292

nos descreve que o discurso de acusação está nos versos (v.13-17)

que cai nas seções ou ações irregulares de Jeoaquim na construção de um palácio (v. 13-

288 Cf. BROWNLEE, H. W. The Placarded Revelation of Habakkuk. JBL 82. 1963, p.319-325. 289 Cf. STENZEL, M. Habakkuk 2,1-4,5a. Bibl 33, 1952, p. 506-510. 290 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Ezequiel & Profetas Menores – Profetas II

– Grande Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1991, p.1136. 291 Ibid., 1991., p.1137.

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15a), as ações contrastantes de Josias estão nos versos (15b-16), e o desejo de Jeoaquim

para a injustiça (v.17). O primeiro negócio com a injustiça e os primeiros e segundos

troncos é amarrado pelas palavras “injustiça” e “injustiça" (v.13) e "justiça" e "justiça"

(v.13). Com isso, por maior que seja a magnificência é daí que acontece a sua

construção e por fim é efetuada (qd<c,ê-al{B.), “sem justiça” e (jP'_v.mi al{åB.), “sem

direito”.

Além disso, a perícope inicia fazendo referência à crítica social que o profeta

Jeremias denuncia o rei Jeoaquim em público. Esta crítica tem por finalidade destacar a

possível continuação da história deste povo, que infelizmente estão vivendo sobre

opressão do rei Jeoaquim em Judá (609-598 a.C).

Após essa fórmula introdutória fundamentada na critica social de Jeremias

22,13a, seguem as quatro estrofes de nossa poesia (vv, 13b-14; 15-16; 17; 18-19).

2.6.2 Primeira Estrofe (v.13b-14)

`Al*-!T,yI al{ï Alß[]poW ~N"ëxi dboå[]y: ‘Wh[e’rEB. ‘Al [r:(q"Üw> ~yxi_W"rUm. tAYàli[]w: tADêmi tyBeä ‘yLi-hn<b.a, rmeªaoh' 14

`rv:)V'B; x;Avßm'W zr<a'êB' !Wpås'w> yn"ëALx;

Em seu próximo (faz) trabalha (r) sem pagamento, e seu salário não (lhe) dá para ele.

14 O que diz: construirei para mim (uma) casa espaçosa,

e aposentos altos, aqueles que são largos;

E abriu (fez) para ele janelas,

e forrada em (com) cedro,

e pintada em vermelhidão.

Observando as sugestões de Kühlewein293

sobre a palavra hebraica [;re,

“próximo”, na Bíblia Hebraica, ele nos indica que há também em outras línguas

292 Cf. HOLLADAY, L. William. A Commentary on the Book of the Prophet Jeremiah Chapters 1-25.

Hermeneia – A Critical and Historical Commentary on the Bible. Philadelphia: Fortress Press, 1986,

p.592. 293 Cf. KÜHLEWEIN, J; WESTERMANN, Claus; JENNI, Ernst. Diccionario-teológico – Manual de

Antiguo Testamento. (Vol. 1) Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, p.989.

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semíticas a afirmação da palavra [;re “próximo” como companheiro, amigo e próximo,

em torno do Antigo Testamento.

Para Huffmon294

e Gröndall295

está palavra [;re “próximo” é um estrangeirismo

hebraico sobre os nomes e personagens do Antigo Testamento.

Na opinião de Benz296

a expressão hebraica [;re “próximo”, se encontra no

Antigo Testamento cento e oitenta e sete vezes (187), trinta e três vezes (33) em

Provérbios, vinte e uma vezes (21) em Deuteronômio, vinte vezes (20) em Êxodo,

quatorze vezes (14) em Jó, oito vezes (8) em Zacarias e Salmos e sete vezes em Gênesis

e 1 Samuel.

No livro de Jeremias a expressão [;re “próximo”, aparece cinquenta e seis vezes

(56) e são elas: Jr 2,19; 3,1-17-20; Jr 4,4; Jr 5,8-28; Jr 6,21-29; Jr 7,5-6-24-30; Jr 9,3-4-

7; Jr 11,8; Jr 12,14; Jr 13,10; Jr 15,21; Jr 16,12; Jr 18,10-12; Jr 19,9; Jr 21,12; Jr 22,8-

13; Jr 23,2-22-27-30; Jr 34,15-17; Jr 36,16; Jr 39,12; Jr 42,6; Jr 44,22; Jr 46,16 e Jr

52,2.

A expressão hebraica [;re “próximo”, é apresentado no Antigo Testamento de

várias maneiras e significados. Fichner297

nos apresenta que sempre que houver uma

delimitação rígida o termo [;re “próximo”, podemos distinguir em alguns passos como:

a) em um uso mais restrito; b) um uso mais amplo e c) o uso de pronomes. Dentro dessa

lógica os significados são um pouco mais específicos do que os vocábulos e se

enquadram neste esquema.

Isto justifica uma série de textos do Antigo Testamento, a expressão [;re

“próximo”, significa em sentido mais restrito amigo, ou uma pessoa confidente,

companheiro ou camarada298

.

Geralmente a expressão próximo em sentido mais amplo pode ser entendida

como semelhante, com a qual tal relação precisa ou pode ser diversa, segundo o

contexto que a palavra hebraica ([;re) está inserida, porém, não é claramente perceptível

294 Cf. HUFFMANN, T., 1979., p.260. 295 Cf. GRÖNDALL, A., 1989., p. 178. 296 Cf. BENZ, L. F. Personal names in the Phoenician and Punic Inscriptions. Florida, 1972, p.409. 297 Cf. FICHNER, J. Der Begriff dês Nächsten in AT. 4ºed. WUD, 1955, p.23-52. 298 Cf. GOTTES, Weisheit. THW VI, 1965., p. 88-114.

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em cada um dos casos. Todavia, [;re “próximo”, pode ser entendido como compatriota

(Lv 19,16-18; Dt 15,2, Dt 19,14; Dt 27,17).

Encontramos no Antigo Testamento encontramos algumas passagens de YHWH

intervindo dentro da comunidade jurídica israelita e dialogando com ela para se proteger

do direito do próximo como em (Ex 20,16-17; Ex 21,35; Dt 5,20; Dt 19,14). Nestas

passagens os textos estão ligados ao [;re “próximo”, e designa a semelhança ao vizinho,

e a pessoa com quem se encontre sem que este esteja ligado juridicamente ao âmbito de

aplicação do mandamento299

.

A expressão hebraica [;re “próximo”, tem vários significados como já

descrevemos anteriormente, porém, em nosso texto (Jr 22,13b), o próximo é a pessoa (s)

com que se encontrava casualmente ou temporariamente ou, então, com que se tinha

relação por vizinhança, ou por qualquer outro motivo: vizinho, é o outro, (o) próximo,

muito frequente em expressões de reciprocidade. E por fim, pessoas que aparentemente

na sociedade de Judá estavam extremamente isoladas do rei Jeoaquim, estas pessoas

foram às mesmas que ele utilizou para trabalho escravo300

e sem lhe dar os seus devidos

direitos como cidadãos301

.

Schwantes302

descreve que estes trabalhadores e artesãos do rei são tratados

como ~y[ire, “o outro ou vizinho303

”. Porém, não como assalariados, mas como

assalariados da corveia304

(1 Rs 12).

Nota-se, portanto que a conduta negligente do rei nos versos 13,14 é visualizada

num caso particular, este rei está tratando os seus trabalhadores como escravos, isto é,

pessoas que na qual o devido rei não tem relação nenhuma como vizinha ou compatriota

da sociedade de Judá.

299 Cf. KÜHLEWEIN, J; WESTERMANN, Claus; JENNI, Ernst. Diccionario-teológico – Manual de

Antiguo Testamento. (Vol. 1) Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, p.993. 300 A lei da escravatura pertence à estrutura social do antigo oriente próximo. E duas raízes: em primeiro

lugar, grandes números de escravos vinham das guerras como prisioneiros, e ao lado deles, em segundo

lugar, está o número menor dos endividados na terra própria, devendo por isto vender o corpo, a vida e a

força de trabalho, tornando-se escravos. Em Lv 25,6, enumera quatro tipos de trabalhadores dependentes: o escravo (‘êbed), a escrava (‘ama), o jornaleiro (sakir) e o trabalhador estrangeiro (toshab). A isto ainda

se deve acrscentar, como segundo tipo de escravas, a shifcha, a moça intata que não é livre, estando

principalmente a serviço da dona de casa, enquanto a ‘ama serve ao chefe da familia. In: Ibid., 2008., p.

259. 301 Ibid., 1978., p.994. 302 Cf. SCHWANTES, Milton. O direito dos pobres. São Leopoldo: OIKOS/EDITEO, 2013, p. 141. 303 Cf. KIRST, Nelson. Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português. 22º ed. São Leopoldo:

Sinodal/Vozes, 2009, p.230. 304 As finanças do Estado não deviam estar em boas condições (cf. 2Rs 23,33-35).

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A injustiça contra o [;re “próximo”, é o objeto de denuncia nos profetas, com o

emprego da expressão [;re “próximo”, especialmente porque podemos encontrar tais

expressões em Jr e Ez e igualmente nos textos de (Jr 5,8; 9,7; 22,13; 29,23; Ez 18,6-11-

15; 33,26).

No Antigo Testamento encontramos a dureza da oposição entre os dominadores

e dominados, exploradores e oprimidos. Contudo, os ricos e os reis são tidos como

proprietários dos seus súditos dispondo livremente deles.

Os dependentes e principalmente os escravos muitas vezes tinham apenas o valor de

objetos possuídos, as pessoas são consideradas como dinheiro líquido (Ex 21,21), e

eram também herdados como um imóvel (Lv 25,46).

Portanto, desse modo podemos encontrar no texto a expressão hebraica l[;Po,

“salário”305

dezesseis vezes (16) no Antigo Testamento, é designada para a obra de

YHWH, e vinte uma vez (21) para designar a obra do homem.

A expressão hebraica pô‘al, indicava basicamente os atos de Deus na história e

não os seus atos de criação, quando a aplicação ao homem l[;Po (po‘al) aparece com

frequência e possui uma conotação moral306

, que pode ser positiva (Pv 21,8), ou

negativa (Pv 21,6).

Por outro lado, no livro de Jeremias a expressão hebraica aparece somente em

(Jr 22,13; Jr 25,14 e Jr 50,29). Mas, somente em Jr 22,13b a expressão é designada

como salário de um trabalhador que está desempenhando o seu ofício, porém, este

salário o trabalhador não está recebendo porque está sendo explorado pelo rei, e se não

trabalhar pode até mesmo morrer por ordem do rei Jeoaquim.

A ideia da palavra hebraica l[;Po (po‘al, salário), está ligada intimamente com a

expressão hebraica rk;f' (sakar, assalariar) e a ideia básica desta palavra é de contratar

os serviços de uma pessoa em troca de pagamento. A expressão também se emprega

para indicar a contratação de trabalhadores qualificados para uma tarefa em particular (2

Cr 24,12; Is 46,6).

305 Cf. WESTERMANN, L. Holladay. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo:

Vida Nova, 2010, p.418. 306 Cf. HARRIS, Laird. R; JR. Ancher. L. Gleason; WALTKE, K. Bruce. Dicionário Internacional de

Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p.1793.

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Segundo Wolff307

, negar ao trabalhador o seu salário l[;Po em vez de ajudar

para liberdade dos oprimidos, e sem posses na procura de vantagens próprias e na sede

egoísta de prazeres. É sem dúvida desconhecer o único cargo do rei legítimo perante

Javé em Israel. Portanto, estas atitudes do rei Jeoaquim são contrárias o direito de Javé

que defende a liberdade de todos e quer isentar o povo de toda servidão.

Por esse caso, Jeremias traz a memória de Jeoaquim, o exemplo de seu pai

Josias. Ele torna a proclamar o reino de Deus na forma de acusação e ameaçando com

um enterro vergonhoso para o explorador (cf. Jr.22,18)308

. Quem rouba a liberdade

defraudando o salário justo e o maltrata embora seja o rei (%l,m,ä) priva-se a si mesmo do

futuro e da honra.

Para Wolff309

a crítica profética da realeza dá origem entre os teólogos

deuteronômios da reforma, uma imagem que está exposta na lei do rei (Dt. 17,14-20). E

Wolff conclui:

Em primeiro lugar o rei é admoestado a conservar reduzida a sua força

de carros de combate e a não “levar de novo o povo para o Egito” (16); evidentemente, vê-se o perigo de que a libertação de Javé do

Egito seja tornada inútil pelo fato de Israel se tornar politicamente

dependente desse país (Is 30,1) ou até serem levados para lá soldados israelitas em troca de cavalos para os carros de guerra (I Rs 10,26-29).

Em segundo lugar, é proibido ao rei um grande harém (17a); Salomão

é o modelo de como o regente é desviado de Javé por mulheres

numerosas (I Rs 11,1-3). Finalmente o rei não pode aumentar o tesouro da coroa (17b). Aqui certamente se pensa no grande “ônus

social que uma ostentação exagerada da corte significa para o povo”.

Segundo isto, precisamente o que constitui o poder e a reputação de um governador oriental não deve interessar a um rei israelita.

Em vez disso, a sua atenção se deve voltar para o estudo da Torá.

“Todos os dias da sua vida”, deve lê-la (19a). Acerca disso são de

notar duas coisas. Em primeiro lugar, para este estudo diário, deve mandar fazer uma cópia da Torá; o escrito primitivo está e ficam nas

mãos dos sacerdotes levíticos que, quanto a isto, lhe são superiores

(18). Em segundo lugar, a finalidade do estudo da Torá é ensinar ao próprio rei o modo de viver (19b). Este estudo não se destina ao

exercício do poder judiciário em Israel310

.

307 Cf. WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008, pg. 255-

265. 308 Cf. WILLIAM, L. Holladay. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, pg. 418, 2010. 309 Ibid., 2008., p.256. 310 Ibid., 2008., p.256.

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Nas palavras de Wolff há uma defesa com relação à posição de que segundo o

Deuteronômio 24,14 o trabalhador tem a sua proteção com base na Torá e o seu salário

lhe deve ser pago regularmente e pontualmente. Por este caso, Jeremias repreendeu o rei

Jeoaquim porque negava ao trabalhador o seu ordenado (Jr 22,13b).

Todavia, em Deuteronômio 24,14 há uma ordenação de que o trabalhador pobre

e necessitado seja ele do próprio povo, ou estrangeiro, deve pagar o seu ordenado no

mesmo dia e antes do pôr do sol311

.

E por fim, notamos no texto da crítica social (Jr 22,13-19) que o rei não está

cumprindo a lei, oprime o trabalhador e não paga os seus devidos direitos (salário).

Portanto, por sua vez, encontramos ainda algumas expressões hebraicas que são

importantes nesta primeira estrofe em análise como (tyBeä) casa, (tADêmi) espaçosa,

(tAYàli[]w:) e aposentos altos.

A expressão hebraica (tyBeä) casa, a palavra é comum no aramaico, no árabe,

acadiano e ugarítico. Em contraste com as palavras ‘ohel, tenda; me‘ara, caverna; bira,

palácio, templo; haser, estabelecimento; moxah, habitação; ma’on, refugio; miqdax,

santuário e mixkan, tabernáculo312

.

Schmid313

nos sugere que a palavra hebraica tyBe (beit, casa) é um

estrangeirismo retirado da língua acádica através do aramaico. Entendendo que o termo

se encontra no Antigo Testamento duas mil e duzentas e quarenta vezes (2240), e no

livro de Jeremias cento e quarenta e nove vezes (149), a primeira vez em Jr 2,4; e a

última em Jr 52,31.

Albright314

nos apresenta que, as casas maiores e as construções oficiais eram

sustentadas por colunas. E relata que no período da monarquia a casa do rei tinha o

primeiro andar fechado por três lados e o segundo sustentado sobre o quarto lado por

colunas.

311 Cf. WILLIAM, L. Holladay., 2008., p.263. 312 Cf. HARRIS, Laird. R; JR. Ancher. L. Gleason; WALTKE, K. Bruce. Dicionário Internacional de

Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 174-175. 313 Cf. SCHMID, H. H; WESTERMANN, Claus; JENNI, Ernst. Diccionario-teológico – Manual de

Antiguo Testamento. (Vol. 1) Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, p.449-450. 314 Cf. ALBRIGHT, L. Archaeology of Palestine. Penguim, 1960, p.141.

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Nesta perspectiva, uma casa com sete colunas seria de fato uma casa luxuosa (Pv

9,1; Jr 22,13-14), é o que o texto da crítica social de Jeremias nos apresenta. Jeoaquim

está construindo uma casa (palácio) com sete colunas, por este motivo que o profeta

utiliza a expressão (~yxi_W"rUm. tAYàli[]w: tADêmi tyBeä ‘yLi-hn<b.a, rmeªaoh'), O que diz:

construirei para mim casa espaçosa, e aposentos altos aqueles que são altos.

A luxuosidade do rei Jeoaquim está incomodando o profeta, e isto está fazendo

através de injustiça e trabalho escravo315

. Algumas casas (as melhores) eram construídas

sobre as muralhas de uma cidade (Js 2,15) e também tinham telhados onde era possível

descansar. Subtende-se também que a palavra casa era usada para designar o templo e a

casa do rei em Jerusalém (1 Rs 5,3; 7,5).

No entanto, tyBeä (beit, casa) 316

pode ser usada no construto para denotar

construções distintas ou partes de uma grande construção, referindo-se a casa do rei (1

Rs 10,12). Os aposentos de uma grande casa podem ser chamados de bayît casa.

Esta ideia de bayît casa designa o saguão do banquete do vinho de Assuero (Et

7,8), ou o seu harém (Et 2,3), ou um aposento particular do palácio em Jerusalém (Jr

36,22). Albright narra como era à construção da casa (palácio) do rei Jeoaquim.

As paredes desta casa (palácio) eram geralmente de pedra, tão grande

como de três metros com tijolos de argila de espessura grande, ou não

cozidos, às vezes protegido por uma folha grossa de pedra. Em

edifícios (palácios) de maior dimensão pedras eram quadradas e

alisadas. Também foi construída neste palácio uma sala de espera,

mais adiante havia dois quartos.

O piso desta casa (palácio) pode ter sido construído por um nível da

superfície de pedra, mas frequentemente nesta construção foi feito de

cedro (madeira muita cara nesta época). Normalmente os pisos das

casas dos ricos eram cobertos com lajes de pedra, mas Jeoaquim

queria uma construção acima da realidade dos ricos e poderosos de

sua época, e aparentemente utilizou o modelo do templo de Salomão

que foi coberto com tábuas de cedro e revestido de ouro (1Reis 6,15-

22). As portas foram construídas com cedro. Os pilares foram feitos

de pedra o que denota uma construção sólida na entrada do palácio.

As janelas eram elevadas e (altas), e foram feitas com cedro, tais como

as portas de proteção, alguns tinham um tipo de grades na parte de

dentro da entrada. De um lado da sala superior havia uma plataforma

elevada de tijolo correndo de um lado para outro (pelo menos durante

o período babilônico e grego) às vezes com dutos para o aquecimento,

315 Cf. Ibid., 1960., p. 142-143. 316 Cf. Ibid., 1960., p. 144.

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para completar o luxo do rei Jeoaquim. Este palácio era tão grande,

que no tempo do frio, os animais poderiam ser admitidos para a parte

inferior do quarto de uma família pobre.

Os palácios no período monárquico eram os mais sofisticados (1 Reis

7,1-12). Jeoaquim notou um contraste marcante entre as casas

humildes de pessoas comuns e habitações de luxo dos reis e os mais

ricos no Egito, Mesopotâmia e Palestina, e durante e depois da

monarquia hebraica e do período greco-romana helenístico foram

construídos vários outros palácios nas custas de escravos como nesta

construção do rei Jeoaquim317

.

A crítica social de Jeremias é formulada em linguagem direta nos (vv,13-19), e

articula-se em torno da injustiça praticada pelo rei. Nos falta sensibilidade histórica,

econômica e social para descrevermos este fato com precisão. Em um tempo de

incerteza histórica os babilônios venceram os egípcios e estão impondo a sua hegemonia

na região (605 a.C), neste período encontramos a construção de um novo palácio

luxuoso, feito pelo rei Jeoaquim.

Obviamente sua construção esteja ligada a solicitação obrigatória dos babilônios

para o rei Jeoaquim pagar-lhes tributos, e através de tais arrecadações “reveste o seu

palácio de cedro e o pinta de vermelho” (v.14), imitando o luxo e a suntuosidade das

construções salomônicas e egípcias.

Desse modo, é agravada na pessoa do rei a insensibilidade social, onde passa a

obrigar os operários a trabalhar de graça, não lhe dando os seus devidos direitos como

trabalhadores. E com tais atitudes está infligindo o código deuteronômico (Dt 24,14-

15), o rei ao invés de cumprir a lei era o primeiro que estava violando a prática do

direito e da justiça para com os trabalhadores em Judá, este fato maldoso do rei

Jeoaquim o impediu de conhecer a YHWH.

Jeremias denuncia a impiedade do rei Jeoaquim, e para Vitório318

esta atitude de

impiedade é na verdade pronunciada sem dúvida entre os cortesãos e pessoas de

conhecimento público (v.14). Para o rei Jeoaquim o sofrimento dos pobres não o atinge

e também não incomoda, mas, o conforta.

317 Cf. ALBRIGHT, L. Archaeology of Palestine. Penguim, 1960, p.145-147. 318 Cf. VITÓRIO, Jaldemir. “Ai de quem constrói a sua casa sem justiça” (Jr 22,13) – Crítica profética à

monarquia em Jr 21,1 – 23,8. Estudos Bíblicos, nº 78, Petrópolis: Vozes, 2003, p. 46.

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Siqueira319

nos apresenta que desde o período de Salomão existia uma “bronca”

contra os frequentadores do palácio, porque estes eram os agentes da exploração e os

causadores da miséria e desintegração da sociedade. Mediante está atitude o palácio

passou a ser uma ameaça ao bem estar do povo, e este motivo conduziu o profeta Amós

a uma dramática sentença: “Eu detesto o orgulho de Jacó, odeio seus palácios” (Amós

6,8).

Portanto, por sua vez, outra expressão hebraica importante em nosso texto é a

palavra tADêmi, “espaçosa”, que no livro de Jeremias se encontra duas vezes em Jr 22,14

e Jr 31,39, ou o substantivo feminino plural hD'mi, “medida, tamanho”.

No entanto, a expressão hebraica320

hD'mi, “medida, tamanho”, está relacionada

ao cordel de medir, usado para medir alguma futura habitação (templo/palácio) de Deus

(Zc 2,1 [5]; Ez 40,3-5; 42,16-19), foi também usado para tirar as medidas dos muros de

Jerusalém (Ne 3,11-19) e também para referir-se a uma tADêmi tyBeä, “casa espaçosa”,

(lit., “casa de medidas” Jr 22,14).

Desse modo, a expressão hebraica tADêmi, “espaçosa” e hD'mi, “medida”321

,

“tamanho” indicam em nosso texto que a construção de Jeoaquim seria sobre medida

correta (grande) e também um palácio espaçoso para receber os seus súditos babilônicos

para lhes pagar os tributos. Porém, o ponto principal de sua construção era para o seu

devido luxo como rei em Judá, imitando ao templo salomônico.

Por outro lado, a ampliação do palácio significava o progresso dos exploradores

do povo, e o “revestimento” interno da construção com cedro zr,a, abriria mais um

contraste entre a miséria vivida pelo povo e o luxo do palácio. Todavia, o livro de 2

Reis 23,35 nos traz a memória que o rei teve que extorquir o povo do campo, retirando

deles prata e ouro. A crítica social de Jeremias era um sintoma de que o projeto de

Jeoaquim de inserir luxo no palácio era uma medida impopular322

.

319 Cf. SIQUEIRA, Tércio Machado. Conhecer a Deus é praticar a justiça (Jr 22,13-19). Estudos

Bíblicos, nº 14, Petrópolis: Vozes, 1987, p.14. 320 Cf. HARRIS, Laird. R; JR. Ancher. L. Gleason; WALTKE, K. Bruce. Dicionário Internacional de

Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 807-808. 321 Cf. WESTERMANN, Claus. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p. 259. 322 Cf. SIQUEIRA, Tércio Machado. Conhecer a Deus é praticar a justiça (Jr 22,13-19). Estudos

Bíblicos, nº 14, Petrópolis: Vozes, 1987, p.15.

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Outra expressão hebraica importante é tAYàli[]w: “e aposentos altos”, que aparece

no livro de Jeremias por duas vezes que são: Jr 22,13 wyt'ÞAYli[]w: “e seus aposentos”, e

tAYàli[]w: “e aposentos altos”. Contudo, para Westermann o substantivo comum feminino

plural hY"li[] “quarto de cima ou aposento(s) que fica no terraço”, aponta para um

grande palácio que foi construído como luxuosidade pelo rei Jeoaquim323

.

Assim, a maioria das vezes que aparece a expressão hebraica hY"li[], (‘aliya,

“aposentos altos”), indicava um aposento no andar de cima do palácio, às vezes

construído sobre o teto da casa (1Rs 17,19,23; 2Rs 4,10-11). Archer324

nos apresenta,

que estes aposentos ficavam localizados em pontos estratégicos próximos ao muro da

cidade (1Sm 18,33; 19,1), e poderia funcionar como uma torre de vigia (Ne 3,31-32).

Podendo também indicar uma posição social honrosa, uma espécie de apartamento de

cobertura.

No reino do norte Acabe construiu um hY"li[], (‘aliya, “aposentos altos”), para

servir de alto para um altar (2Rs 23,12), talvez seguido o modelo do templo, que

possuía aposentos superiores bastante vistosos (2Cr 3,9).

Levando em consideração de que no calor do verão da Palestina, um aposento

aberto sobre o teto da casa receberia as brisas frescas e proporcionava um local

confortável para o rei descansar. E este também era o propósito do rei Jeoaquim,

descansar em seus aposentos altos.

Portanto, Jeremias critica a maneira impiedosa com que o rei explora seus

operários, desafiando a Torá (Lv 19,13; Dt 24,14; Ml 3,5). O termo hebraico rv;(v'

“vermelhidão”, aparece novamente em Ez 23,14. Jeoaquim acreditava que era rei

porque ninguém teria mais cedros do Líbano em suas construções do que ele possuía.

Importante saber que existia naquela época moradias decoradas no Oriente Próximo

desde o período de Ubaid325

e a cor preferida era vermelha.

323 Cf. WESTERMANN, Claus. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p. 388. 324 Cf. Archer, Jr. L. Gleason; HARRIS, Laird. R ; WALTKE, K. Bruce. Dicionário Internacional de

Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1118. 325 O período de Ubaid (c. 6500 a 3800 a.C.) é um período pré-histórico da Mesopotâmia. O tell (sítio

arqueológico do oriente próximo), situa-se a oeste de Ur no sul da província iraquiana de Dhi Qar. Seu

nome foi atribuído a uma cultura pré-histórica de cerâmica do período neolítico e da idade do bronze, que

representa a primeira ocupação na planície aluvial da mesopotâmia meridional. A cultura de Ubaid teve

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Nesta etapa de nossa pesquisa apresentamos algumas palavras hebraicas que

estão inseridas na critica social de Jeremias, analisando-as conseguimos entender uma

melhor compreensão de como estava sendo construída a crítica social ao rei Jeoaquim.

Embora a análise das palavras fosse breves comentários, mas, percebemos que quando o

profeta insere as palavras em sua crítica como: “Ai, próximo, salário, casa, espaçosa e

aposentos altos”, ele está descrevendo a sua crítica e nos trazendo a memória como de

fato aconteceu este episódio em Judá.

Esta alusão é possível porque um texto não é apenas um gerador de sentidos,

mas é também um condensador de memória cultural. Isto é, um texto é capaz de

preservar a memória de seus contextos prévios326

.

2.6.3 Segunda Estrofe (v.15-16)

lk;äa' aAlôh] ^ybiøa' zr<a'_b' hr<äx]t;m. hT'Þa; yKiî %l{êm.ti(h] 15

`Al* bAjï za'Þ hq'êd"c.W ‘jP'v.mi hf'Û['w> ht 'ªv'w> ytiÞao t[;D:îh; ayhi²-aAlh] bAj+ za'ä !Ayàb.a,w> ynIï['-!yDI !D"± 16

`hw")hy>-~aun> 15

Reinarás,

Eis! Tu concorrente no cedro?;

teu pai (acaso) não comeu e bebeu?,

e fez (praticou) direito e justiça,

então bom para ele.

16 Julgou o julgamento do oprimido e (do) pobre

Então bom (para ele);

Não (é) aquele conhecimento comigo?

oráculo de YHWH.

Ao analisar a segunda estrofe, percebe-se que ela se inicia com a partícula

hebraica interrogativa h] (he interjeição), por três vezes aparece no texto (v.15). E isto

indica que a expressão quer levar o rei a recordar o exemplo do pai (Josias) e a uma

autocrítica, fazendo-o renunciar ao luxo e voltar a praticar a justiça.

uma longa duração, iniciando-se antes de 5300 a.C. e encerrando-se com o período de Uruk, por volta do

ano 4000 a.C. A adoção da roda e o início da era do bronze fazem parte deste período. 326 Cf. LOTMAN, Iuri. Por uma teoria Semiótica da Cultura. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2007, p.24.

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Todavia, notamos que no início deste (v.15a327

) a primeira pergunta que formula

a questão em princípio é zr<a'_b' hr<äx]t;m. hT'Þa; yKiî %l{êm.ti(h] “Reinarás, Eis! tu

concernente no cedro? o que torna um rei, rei?”. E Schwantes conclui:

“Sem dúvida não é um concurso de exibição de luxo (zr<a'_b' hr<äx]t;m/

competir no cedro! A esta negação, que retoma o v.14, Jeremias

contrapõe a postura visualizada no exemplo de Josias. Ele é exemplar

na sua renuncia ao luxo (v.15b), diferentemente da Obra

Historiográfica Deuteronomística (2Rs 22-23), e paradigmático na

prática da justiça social328

(v.15ª, v.16ª). Em lugar do luxo de

Jeoaquim, Josias se limita ao usual, as práticas de “(qd<c,ê-al{), não

justiça e (jP'_v.mi al{å .), não direito de Jeoaquim, contrapõem-se as de

(hq'êd"c.W ‘jP'v.mi / justiça e direito de Josias”.

É evidente que a expressão hebraica zr,a, “cedro” é importante nesta perícope. O

cedro329

é uma árvore da família do pinheiro que cresce melhor em regiões altas e secas.

O Talmude relata que os habitantes da Palestina chamavam dez diferentes tipos de

árvore de cedro. No entanto, é o cedrus libani, o cedro do Líbano, que é a árvore mais

citada quando se usa a palavra zr,a, (’erez, “cedro”)330

na Bíblia.

A expressão hebraica cedro, encontra-se no livro de Jeremias somente no

capítulo 22 e são elas: Jr 22,7,14,15,23. O rei Jeoaquim está competindo como o cedro,

querendo ser mais alto e mais valioso do que o cedro.

Além do mais Jeremias crítica o rei Jeoaquim de estar tentando se sobrepujar

com o cedro, obviamente porque o cedro era uma árvore de referência nas maiores

construções no reino do norte e sul em Israel. O rei estava utilizando da madeira para a

construção de sua casa (palácio) e também querendo ter mais luxo que a tal.

Diaz331

analisa o (v.15) como uma construção forçada tanto da palavra hr<äx]t;

“competir”, quanto da expressão hebraica ht'ªv'w> lk;äa' “comer e beber”. Ainda segundo

327 Cf. O bíblista sugere ler um hitpael de %lM/ reinar (que não ocorre em outro lugar!). .DUHM, B. Das

Buch Jeremia (KHC XI), Tübingen: Leipzig, 1901, p.175. 328 Particularmente sou de pensamente diferente de Schwantes, acredito que a narrativa de 2Rs 22-23, nos

apresenta o rei Josias preocupado somente com a reforma religiosa, e não com o âmbito social. 329 Cf. Archer, Jr. L. Gleason; HARRIS, Laird. R ; WALTKE, K. Bruce. Dicionário Internacional de

Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 118. 330 O cedro tem aproximadamente 28 metros de altura, embora possam atingir até 33 metros de altura. O

seu tronco pode chegar a 12 metros de espessura. Não é raro acontecer que o diâmetro do alcance

horizontal dos ramos da árvore seja equivalente à sua altura. Também é comum que está árvore espalhe

suas raízes entre rochas, conseguindo assim uma base bem segura. 331 Cf. Ibid., 1988., p.536.

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o autor332

, da mesma maneira que um ser humano “come e bebe” assim um rei

administra justiça? Basta ao rei fazer despesas na sua manutenção, para dedicar o resto

de suas forças a administrar a justiça. É claro que comer e beber, simplesmente, opõe-se

aos alardes de construção luxuosos.

Schwantes333

e Diaz334

são de opiniões contrárias em relação à citação feita por

Jeremias no (v.15) relatando sobre Josias. Para Schwantes, Jeremias cita Josias neste

texto como forma de “elogio” as práticas justas de Josias como “justiça social”, que este

rei fez em seu reinado.

Diaz335

é totalmente contrário, segundo o autor, Josias também teve seus luxos

opressivos, portanto, menores, foi assim que ele proporcionou conteúdo a sua reforma

religiosa e não há justiça social como defende Schwantes, “a reforma de Josias foi

altamente religiosa, Josias não estava preocupado como a reforma social como podemos

notar no dito de Jeremias 22,13-19”.

Westermann é da mesma opinião de Diaz, ele ainda acrescenta que os

(vv.15,16), foram inserido no texto por mãos dos deuteronomistas para deturpar

totalmente a crítica social de Jeremias. Para Westermann336

há uma grande

probabilidade de nunca um profeta como Jeremias “elogiar” um rei do Sul, (no caso de

nossa perícope Josias, (em hebraico: WhY"òviaoy), devido a sua aversão como profeta do

reino do Norte.

Schultz337

nos apresenta que Josias inicia o seu reinado com oito anos de idade,

“Josias” foi também repentinamente coroado rei pelo povo da terra (#r<a'²h'-~[;, ‘am-

ha’ares), sucedendo a seu pai, Amom e após um reinado de trinta e oito anos (640-609

a.C.) foi morto na batalha de Megido. As atividades de Josias estão resumidas em: (2Rs

22.1-23.30; 2Cr 34.1-35.27) e estão principalmente limitadas a sua reforma religiosa.

Observa-se que a reforma religiosa338

de Josias começou no ano de 628 a.C, e

alcançou um clímax339

com a observância da Páscoa no 622 a.C, portanto, nem o livro

332 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias – Profetas I. São Paulo: Paulinas, 1988, p.536. 333 Cf. SCHWANTES, Milton. O direito dos pobres. São Leopoldo: OIKOS/EDITEO, 2013, p.142. 334 Cf. Ibid., 1988, p.535-537. 335 Ibid., 1988., p.537. 336 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário Al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones FAX, 1980, p.90-

94. 337 Cf. SCHULTZ, J. Samuel. A história de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006,

pg.209. 338 Ibid., 2009., p.210.

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93

dos Reis nem o livro das Crônicas proporcionam uma detalhada ordem cronológica dos

acontecimentos. E, sobretudo, pode ser que os sucessos sumarizados nesses livros

sagrados possam ser aplicados para a totalidade deste período. Todavia, essa época era

politicamente seguro para Josias o suprimir de qualquer prática religiosa que estivessem

associadas com a vassalagem de Judá para a Assíria.

Outro fato importante no reinado de Josias é a não aceitação e a destruição de

rituais sacrificatórios existentes nos lugares altos, chamados em hebraico pelo nome

hm'B' (bamah), onde os sacerdotes queimavam incenso de Gaba a Bersabéia (2 Reis

23,8). Sendo assim, combateu também o grande “pecado de Jeroboão” (o altar idólatra

em Betel), destruído por Josias, e as exclusões que ele fazia continuaram ao Norte e

enquanto isso as celebrações religiosas nacionais aconteciam340

. Após séculos, Josias

então surgiu para desfazer e/ou apagar os pecados do passado e direcionar o povo de

Israel sem erros e com honestamente à lei divina.

A arqueologia341

e as reformas de Josias são vistas como uma fundamentação e

evolução histórica de Judá e o nascimento do movimento deuteronomista. Uma das

observações importantes é que o templo de Betel ainda não foi localizado, houve apenas

um templo contemporâneo judaico até agora, trazendo assim à memória a centralização

religiosa de Judá.

Nesse contexto houve também o aparecimento de selos judaicos, os estilos

artísticos, a decoração, o uso generalizado da fala em toda a região, e isto na verdade foi

uma influência do reinado de Josias em Judá no final do século VII a.C..

Outra hipótese de sua existência é que possivelmente Josias não conseguiu

destruir imagens esculpidas como, por exemplo, a da deusa Asherá, porque foram

encontradas muitas estatuetas desta deusa dentro de residências providas de uma prática

que parece ter continuado em cultos populares na mesma época em referência. A

reforma de Josias somente alcançou o Norte e o Sul, não sabemos por que sua reforma

religiosa não alcançou êxito no Leste e Oeste de Israel342

.

339 Cf. FINKELSTEIN, Israel & SILBERMANN, Asher Neil. A Bíblia Desenterrada: Uma nova visão

arqueológica do antigo Israel e das origens de seus textos sagrados. Madrid: Espanã. 2003, p.372. 340 Cf. FINKELSTEIN, Israel & SILBERMANN, Asher Neil. A Bíblia Desenterrada: Uma nova visão

arqueológica do antigo Israel e das origens de seus textos sagrados. Madrid: Espanã. 2003, p.373-374. 341 Ibid., 2003., p.375. 342 Ibid., 2003., p.389-390.

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A hebraísta Alessandra343

nos descreve que a reforma empreendida por este

monarca em (621 a.C), afirma que Jeremias não participou dela. Mas, a princípio,

tomara ciência do que ocorria e desfrutou da esperança dela. Este fato permite

compreender a consulta realizada, sob as ordens do rei Josias, a profetiza Hulda, sobre o

livro encontrado no templo e não ao profeta Jeremias, conforme (2Rs 22,11-20; 2Cr

34,22-28).

A maioria dos estudiosos defende que a reforma teve apoio do profeta, cujo

fundamento encontra-se no fato de que Jeremias bendizer o governo de Josias, portanto,

não é assim que ele age, mas crítica Josias por somente se preocupar com o lado

religioso do povo e não o social344

(Jr 22,15).

Nesta perspectiva, em 609 a.C., com a morte do rei Josias (o primeiro rei de Judá

que é morto em combate, e segue para a guerra sem consultar um profeta de YHWH), a

vida de Jeremias mudou após deste episódio, sendo esta data um divisor de águas na

história de Judá.

Por outro lado no contexto político o período anterior a esse momento foi

marcado pelo otimismo, oriundo da reforma religiosa promovida por este rei e o período

posterior foi caracterizado por uma disputa política pelo domínio da região entre o Egito

e a Babilônia, cuja dominação deu-se nesta ordem, respectivamente345

.

Importante saber que outras expressões hebraicas são de grande valia em nosso

texto, a hq'd'c. (Tsedaqa, “justiça”), e o jP'v.mi (Mixpat, direito) e que esta raiz tem

basicamente a conotação de conformidade a um padrão ético ou moral.

Segundo Snaith346

o significado da raiz original qd<c, (tsedeq) foi o “ser

retilíco347

”, mas acrescenta que a palavra implica uma norma. Talvez a origem da

palavra não seja tão clara ou mesmo significativa.

343 Cf. ALESSANDRA, Trigo Castro. M. C. O Êxilio na Babilônia: um novo olhar sobre antigas

tradições. (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e

Ciências Humanas – Departamento de Letras Orientais – Programa de Pós-Graduação em Língua

Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas, 2007, p.77. 344 Cf. ALESSANDRA, Trigo Castro. M. C. O Êxilio na Babilônia: um novo olhar sobre antigas

tradições. (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Letras Orientais – Programa de Pós-Graduação em Língua

Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas, 2007, p.78. 345 Cf. FINKELSTEIN, Israel & SILBERMANN, Asher Neil. A Bíblia Desenterrada: Uma nova visão

arqueológica do antigo Israel e das origens de seus textos sagrados. Madrid: Espanã. 2003, p.392-393. 346

Cf. SNAITH, N. The Distinctive ideas of the Old Testament. Philadelphia, pg, 73, 2000. 347 Está expressão está relacionada como o que tem ou denota retidão; austero, honesto, reto.

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Assim, o masculino348 qd<c, (tsedeq), ocorre 118 vezes no Antigo Testamento

(AT), e o feminino hq'd'c. (Tsedaqa), 156 vezes até onde se pode observar, portanto, as

duas formas não divergem no sentido. Entretanto, os usos mais antigos de qd<c, e

hq'd'c., à exceção de Gn.15,6; 18,19; 30,33, hq'd'c., dizem respeito à função de Juízes.

Todos os pronunciamentos ou decisões deveriam ocorrer de acordo com a

verdade e sem nenhuma parcialidade (Lv. 19,15). Segundo Harris349

compreende que

em Jeremias a justiça hq'd'c. e a retidão estão juntas, tendo como objetivo livrar os

fracos e não lhes fazer violência e nem derramar sangue inocente. Portanto, esta justiça

hq'd'c. preservará a cidade (Jr.22,1-4; 13-15).

Westermann350

nos assegura que os profetas pré-exílicos da primeira época do

exílio babilônico usam os termos qd<c, (tsedeq) e hq'd'c. (tsedaqa), menos do que se

poderia esperar. E em Jeremias a entrada violenta de tsedeq e tsedaqa, está relacionada

sobre a terra (população de Judá), uma espera propriamente ao termo isolado com

relação ao futuro escatológico.

É claro que esta palavra representa a ideia mais importante para uma correta

compreensão do governo, seja o governo do homem pelo homem, ou o governo de toda

a criação por YHWH. Embora muitas vezes traduzido por justiça (hq'd'c.) existem mais

de 400 ocorrências na Bíblia Hebraica que está relacionada como o termo jP'v.mi

(Mixpat, direito).

Essa tradução frequentemente é deficiente pelo fato de que atualmente se faça

uma clara distinção entre os poderes legislativo, executivo e judiciário no que diz

respeito a cargos e funcionários.

Por conseguinte, xapat, um verbo bastante comum (do qual deriva o substantivo

mixpat), que significa “dominar”, “governar”, e que se refere a todas as funções de

governo.

348 Ibid,. pg. 72. 349 Cf. HARRIS, LAIRD.R. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, pg. 1263, 1998. 350 Cf. Westermann, Claus. Diccionario Teologico Manual Del Antiguo Testamento. Madrid: Ediciones

Cristandad, pg, 661-664, 1978.

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96

Segundo Harris351

, o termo fica erroneamente limitado apenas a questões

judiciais, ao passo que tanto o verbo quanto o substantivo envolvem todas essas

funções.

Para Schwantes352

, na literatura profética o direito dos menos favorecidos na

sociedade de Judá “pobres, viúvas, órfãos, o assalariado e os estrangeiros”, é mais

recente do que o Código da Aliança.

Em relação ao livro de Amós, não aparece expressamente o direito (jP'v.mi),

mas o lugar da jurisprudência é mencionado (r[;V;îB;), “no portão cf. Amós 5.12”.

Podemos entender que o objeto do verbo hjn “desviar” não seja (jP'v.mi), direito como

na maioria dos casos. Na literatura de Jeremias o direito dos cidadãos na sociedade de

Judá é desprezado na pratica judicial, suprimindo o seus direitos e sua existência em si

está ameaçada.

Nesta perspectiva, o rei (Jeoaquim) não está apenas infringindo apenas uma lei

concreta no Deuteronômio ou um ideal propagado pelo Oriente Antigo353

, mas,

contrariando a justiça e o direito, algo que faltava como obrigação de um rei de Judá.

Trazendo a memória que a sociedade de Judá se baseava no direito e na justiça, assim

como o trono de Deus (Sl 89,15; 97,2; 99,4; Sl 33,5; Am 5,24), e isto é muito grave,

porque, justiça e direito não poderia faltar entre os juízes, monarcas e o povo.

Importante ressaltar que a prática da justiça não podia faltar para um rei de Judá,

que aparentemente está servindo o Deus da justiça (YHWH) em Israel. Portanto, a

prática da justiça tem uma dimensão política. É muito antiga a consciência de que um

povo floresce na justiça ou, então, rui por falta dela. Sendo assim, a sabedoria popular

afirma que “a justiça exalta as nações” (Pv 14.34).

Em todo o Antigo Oriente e também no Antigo Testamento, a tarefa mais nobre

do supremo governante de uma nação era a de garantir a justiça entre os habitantes de

seu reino (Sl 72.1-3) 354

. Os governantes que não conseguiam cumprir essa missão de

garantir as relações justas colocavam em jogo o seu reino. Quando ao famoso rei Davi

começou a desleixar a administração da justiça em Jerusalém, o seu filho Absalão se

351 Ibid., 1604. 352 Cf. SCHWANTES, Milton. O direito dos pobres. São Leopoldo: Editora Oikos, pg.99-100, 2013. 353 Cf. SICRE, José Luiz Diaz. Com os pobres da Terra – A justiça social nos profetas de Israel. Santo

André: Academia Cristã/ Paulus, 2011, p. 463. 354 Cf. KILLP, Nelson. Teologia do Antigo Testamento (Apostila). São Leopoldo: Faculdades EST, 2008,

p.3.

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revoltou contra o pai e ganhou amplo apoio da população indignada com a falta de

justiça (2Sm 15.1-6).

Com isso, os porta-vozes mais incisivos contra as injustiças dos governantes e da

aristocracia foram, sem dúvida, os profetas bíblicos. Assim, Elias enfrenta o rei Acabe e

o acusa de assassinato e apropriação indevida por ter permitido que condenassem à

morte um inocente que não lhe quis ceder a sua vinha (1Rs 21).

O profeta Amós nos aponta para o fato de que, por um lado agricultores

endividados são vendidos como escravos e, por outro, um grupo de pessoas vive à custa

da exploração de outras (Am 2.6-8; 4.1). Todavia, Isaías denuncia aqueles que

acumulam campos e casas, tornando-se os únicos proprietários rurais e urbanos (Is 5.8).

Dessa forma, Jeremias critica o rei Jeoaquim por realizar reformas luxuosas em

seu palácio, mas não pagava em dia o salário dos trabalhadores, reafirmando que a

nobre função do governante é justamente “exercer o direito e a justiça”, ou seja, “julgar

a causa do aflito e do necessitado” (Jr 22.13-19).

Por essa razão o profeta Miquéias acusa a aristocracia governante de Judá e

Jerusalém de “arrancar a pele” e “esmiuçar os ossos” do povo (Mq 3.1-3), desdenhando

completamente a sua obrigação de zelar pela justiça: “Vós, chefes da casa de Israel, que

abominais o juízo e perverteis tudo que é direito, e edificais a Sião com sangue e

Jerusalém com perversidade” 355

.

Na verdade o que era visto é que os “chefes davam as sentenças por suborno, os

sacerdotes ensinavam por interesse e os profetas adivinhavam por dinheiro” (Mq 3.9-

11). As palavras duras e corajosas ditas pelos profetas bíblicos e os seus exemplos

poderiam ser multiplicados. Essas palavras vinham também acompanhadas do que se

chama de “critica social ou anúncio de juízo”, que nada mais é do que a visão profética

das consequências dessas múltiplas formas de injustiça tanto da classe governante

quanto do povo.

Pode-se dizer que o profeta prenunciava geralmente a destruição do sistema

sociopolítico e religioso que causa a injustiça observada. No entanto, os profetas

bíblicos como Jeremias sabiam que injustiças graves e persistentes corroem, com o

tempo, com toda a organização social e com a política de um país356

.

355 Cf. KILLP, Nelson. Teologia do Antigo Testamento (Apostila). São Leopoldo: Faculdades EST, 2008,

p.4. 356 Ibid., 2008., p.5.

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Contudo, isso certamente não era algo que acontecia somente no passado, mas,

atualmente percebe-se que, em muitos casos, uma prática persistente e endêmica357

de

injustiça pode com o tempo levar à corrosão dos valores morais que garantem a

igualdade entre as pessoas e o que, por sua vez, geralmente resulta na imposição da lei

do mais forte quando não na rebelião das massas dos que se sentem oprimidos.

Ademais, nota-se que um Estado que não consegue promover a justiça social

dificilmente será um Estado onde haverá paz e bem-estar, e isto é o que podemos notar

no reinado do rei Jeoaquim, é a exclusão da justiça e do direito para a população de

Judá, e principalmente os camponeses358

.

Portanto, a acusação era veraz e a singularidade dessa acusação era porque na

verdade o rei não estava praticando o direito e a justiça, por certo, à situação de

calamidade em que vivia o reino de Judá era triste, até porque a crítica social era muito

forte, e também correspondia a um julgamento bastante rigoroso359

.

Certamente outra expressão hebraica importante em nosso texto é a palavra !yD

“julgou”, e também o verbo qal que está na 3º pessoa, indicando “fazer justiça”,

pronunciar sentença, exercer justiça, sentenciar e defender360

.

Nesse sentido, está palavra é derivada do substantivo (din), que tem significado

quase idêntico ao de xapat e do substantivo que se deriva da palavra direito (mispat). E

também das 23 três vezes que aparecem na bíblia (AT), sendo cinco são paralelos de

xapat (Jr 5,28; Jr 22,16), e em duas outras a palavra está associada no texto com mispat

(Sl 72,2; Jr 21,12).

Por isso, o termo !yD “julgou”, aparece 42 e duas vezes no Antigo Testamento,

porém, em Jeremias encontramos somente cinco vezes e são elas: Jr 21,12; Jr 22,16 (2)

;

Jr 30,13(2)

.

Considerando que Jeremias utiliza esta expressão hebraica “julgou o julgamento

do oprimido”, com propósito de ironizar que também Josias teve seus “luxos

opressivos” e que na verdade a ideologia de Josias na reforma religiosa era política e em

357 Doença que existe constantemente em determinado lugar e ataca número maior ou menor de

indivíduos. 358 Ibid., 2008., p.6-7. 359 Cf. FILHO, Fernando Bortolleto. Sofrimento e Luta Social em Jeremias 7-23. (Dissertação de

Mestrado). Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do Campo. 1994, p. 134. 360 Cf. HOLLADAY., 2010., p.97.

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segundo lugar religiosa. Entende-se que dessa maneira Josias proporcionou conteúdo à

sua reforma religiosa361

.

Parafraseando o assunto da justiça que descrevemos anteriormente, a justiça de

Josias surpreendentemente está localizada num plano da injustiça de Jeoaquim. Para

Schwantes362

, este é um empregador do injusto e explorador, aquele, um juiz justo.

Vemos que a palavra hebraica julgou (!yD) obviamente referiu-se a Josias e tinha

como referência o código de leis. Quanto ao tsedaqa (justiça) é a luta pela justiça que se

equipara à ação divina363

. Neste verso o referencial não é mais o ter de ser da lei, mas a

exigência ética advinha de Javé. Tsedaqa é uma justiça íntima próxima, dinâmica e que

excede a todas as decisões que vem do tribunal. Portanto, por esta razão, ela vem

sempre acompanhada de fidelidade, lealdade, misericórdia, compaixão, vida integra,

paz, amor (Sl 85,10-13; 33,4-5).

Por sua vez, Jeremias olhava a hq'd'c. (tsedeqa, “justiça”), e a “luta pela justiça”

como um projeto de Deus para o mundo e, particularmente, para Israel. Mas Jeoaquim

não foi um rei servo e obediente a YHWH, pois em nenhum momento lutou pela

promoção da vida de seu povo e sua administração foi marcada pelos projetos dos

egípcios, em especial. Todavia, Jeremias com isso afirma que o penúltimo rei de Israel

nada fez para que a tsedaqa agisse fortemente sobre as decisões do mixpat

364.

Nesta perspectiva, é possível notar o impedimento do rei na ação plena de

YHWH e na sua justiça (sofrida pela comunidade israelita). Seus atos administrativos

foram marcados pelo não cumprimento na prática da justiça para com a sociedade de

Judá.

E, portanto, não podemos deixar de explanar o termo hebraico !Ayb.a, (’ebyon,

“pobre ou necessitado”). O substantivo e o adjetivo ocorrem 61 vezes, sendo no total 62

vezes no Antigo Testamento. Em seguida na literatura profética !Ayb.a, temos o

aparecimento de 17 vezes, das quais algumas passagens vêm determinadas pelo

361 Cf. NICHOLSON, Ernest W. The Book of the pro Jeremiah – Chapters 1-25. Cambridge: The

University Press, 1973, p. 181-184. 362 Cf. SCHWANTES, MILTON. O direito dos pobres. São Leopoldo: OIKOS/EDITEO, 2013, p.142. 363 Cf. SIQUEIRA, Tércio Machado. Conhecer a Deus é praticar a justiça (Jr 22,13-19). Estudos

Bíblicos, nº 14, Petrópolis: Vozes, 1987, p.15. 364 Ibid., 1987., p.16.

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contexto de Salmos365

. E por fim, no livro a expressão hebraica ocorre quatro vezes, são

elas: (Jr 2,34; Jr 5,28; Jr 20,13; Jr 22,16).

É preciso ainda fazer outra constatação de que a origem do termo poder ser

egípcia ou semítica, ‘ebyôn quer dizer pobre no sentido material do termo é alguém que

pode ter perdido a terra de seus ancestrais (Êx 23,11). Considerando que no caso da

cultura semítica o pobre, !Ayb.a, (’ebyon), é aquele que tem necessidade de obter coisas

da sociedade (terras, bens etc). Este seria o significado político do termo hebraico que

costumamos traduzir por direito. Nesse cenário, o pobre tem o direito de também

receber comida e terra da sociedade, com isso, adquirir o direito de obter da sociedade

apoio na sua necessidade e na sua crise, em meio aos parentes e à comunidade366

.

É possível afirmar que este sentido social367

é visto em todo o Antigo

Testamento nos profetas como em Jeremias, os pobres são infelizmente as pessoas que

sofrem opressão, como nos apresenta Jr 22,16. Jeremias nos mostra que o rei Jeoaquim

não está cuidando dos pobres, mas sim oprimindo, negligenciando o seu ofício de rei

em Judá.

Constata-se, portanto que o profeta estava preocupado com aqueles que já

perderam as suas terras, isto porque o fim da terra significava naturalmente o

desmoronamento de todas as instituições públicas e de todas as expressões simbólicas

de bem-estar e de coerência. Portanto, nada é mais eficaz do que a extraordinária

articulação de Jeremias da realeza que perde a terra e da realeza que a conserva,

obviamente não é o caso de Jeoaquim368

.

2.6.4 Terceira Estrofe (v. 17)

‘yqiN"h;-~D:( l[;Ûw> ^[<+c.Bi-l[;-~ai yKiÞ ^êB.liw> ‘^yn<’y[e !yaeÛ yKiä 17

`tAf)[]l; hc'ÞWrM.h;-l[;w> qv,[oïh'-l[;w> %APêv.li

17 Eis! não existem teus olhos e (para) teu coração,

365 Cf. SCHWANTES, MILTON. O direito dos pobres. São Leopoldo: OIKOS/EDITEO, 2013, p.33. 366 Ibid., 2013., p.34-35. 367 Cf. HARRIS, LAIRD.R. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 1998, p.3-4. 368 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. A TERRA NA BÍBLIA: dom, promessa e desafio. São Paulo: Paulinas,

1986, p.162-163.

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Eis! somente sobre teu lucro ilícito;

e somente sangue (do) inocente para derramar e sobre a opressão

e sobre extorsão para fazer.

Analisando a terceira estrofe conseguimos identificar a comprovação da crítica

social está na interjeição yKiä “Eis!” e esta interjeição nos ditos proféticos é de suma

importância. Contudo, segundo Wolff369

a interjeição indica o início de um oráculo de

YHWH, mas também pode chamar atenção para o que será dito.

Em alguns casos a expressão hebraica yKiä “Eis!”, se refere à cena da entrega oral.

Isto é, o mensageiro seguia de porta em porta proclamando o dito370

. Em nossa perícope

a interjeição, provavelmente, tenha sido um grito profético, principalmente porque se

trata de uma fala do profeta direcionada em público ao rei Jeoaquim. Por este motivo,

encontramos dois yKiä “Eis!” em nossa pericope, justamente para enfatizar a

comprovação da crítica social ao rei Jeoaquim (v.13-19).

Nesta fase da pesquisa temos vários termos semânticos importantes para

elaborar a análise exegética, porém, é demonstrada de forma abrangente, neste verso a

crítica social de Jeremias neste verso aponta para o enriquecimento ilegítimo do rei

[c;B,, “tirar seu, lucrar”371

(Jr 6, 13; 8,10), %APv.li yqiN"h;-~D:(, “a derramar sangue

inocente” (2Rs 24,4; Jr 2,34; 7,6; 19,4; 22,3-17; 26,15), e opressão372

qv,[o, e

explorar373

hc'Wrm..

369 Cf. WOLFF, Hans Walter. Joel and Amos. Philadelfia: Fortress Press, 1977, p.231. 370 Cf. MATOS, Sue’Hellen Monteiro de. Não temas! Gritei por teu nome: Estudo da concepção materna

de Javé em Dêutero-Isáias a partir da análise exegética de Is 43,1-7. (Dissertação de Mestrado).

Universidade Metodista de São Paulo - Faculdade de Humanidades e Direito – Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, 2013, p.70-71. 371 Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p.60. 372 Cf. Ibid., 2013, p.108. O qv[ qal / oprimir, extorquir só ocorre no qal e designa sempre um

comportamento antissocial, em relação a pessoas e propriedade, a ser interditada e lamentado. Em Pv

22,16, é apontado como o alvo de qv[ qal o próprio enriquecimento. Muitas vezes pensa-se em delitos

através de extorsão que atingem a propriedade; surpreendentemente qv[ qal encontra-se em conexão

com qal /arrancar com violência (cf. Jr 21,12; Jr 22,3; Ez 18,18; 22,29). O objeto do verbo qv[ qal

são principalmente os fracos (Jr 7,6;21,12). “qv[ qal é a expressão própria para a opressão do pobre pelo

rico, por assim dizer equivale a roubar. 373 Cf. Ibid., 2013, p.108. Quebrar, despedaçar seguramente é o primeiro significado (cf. #[re [[r II), maltratar, oprimir, o significado derivado de #cr qal .

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Por sua vez, os termos (olhos e coração) estão inseridos no texto como sentido

de desejo e da ganância na busca que Jeoaquim tinha em suas realizações dos seus

caprichos à custa do sangue inocente. Estes inocentes estão ligados com os

trabalhadores que estavam sendo explorados por este déspota que estava utilizando o

poder da realeza para oprimir, matar, e extorquir.

A acusação, portanto, indica uma violência muito grande, mesmo que não

apareça o termo sm'x' “violência” em nossa perícope. Outro fato importante é de que

Jeremias aponta para ação dizendo que a sua atuação profética foi um ato de crítica

social, justamente porque ele foi convocado para denunciar e criticar os reis não era

cumpridores da lei.

Holladay374

indica que a partir da acusação de Jeremias temos uma situação de

quebra da lei, o que também aponta para a realidade na qual Jeremias viveu uma

situação de desrespeito à lei, principalmente por parte daqueles que tinham a

responsabilidade maior de zelar por ela (reis de Judá). Podemos analisar na crítica social

ingredientes da experiência da luta profética que Jeremias enfrentou contra o rei

Jeoaquim, como por exemplo: lucro ilícito, opressão e extorsão.

Mesters375

nos traz a memória que a sedução está sempre envolvida numa

atmosfera de desejo, risco e perigo. Nesse contexto podemos observar que a carreira de

Jeremias sempre esteve popularizada entre as “forças” que ele havia que enfrentar. Por

outro lado, seu compromisso com o seu povo era muito forte, entretanto, seus

adversários eram totalmente contra aos seus oráculos, e nesta perspectiva podemos notar

uma situação entre desejo e perigo.

Ou seja, se o coração (ble) deve ser entregue totalmente a YHWH (Dt 6,5;

10,12; 13,4; 30,2; I Sm. 12,20-24), o rei Jeoaquim não é capaz de entregá-lo a YHWH,

porque entregou o seu coração totalmente ao lucro ilícito ([c;B,)376, ou seja,

praticamente o lucrar ilicitamente se torna o seu Deus, e naturalmente o rei se torna

incapaz de reconhecer a YHWH, que além disso não tolera adversários nem

374 Cf. HOLLADAY, William L. Jeremiah I. Philadelphia: Fortress Press, 1986, p.552. 375 Cf. MESTERS, Carlos. O profeta Jeremias – Boca de Deus, boca do povo. São Paulo: Paulinas, 1992,

p.14-15. 376 Cf. HOLLADAY., 2010., p.60. In. SCHWANTES., 2009., p.31.

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exploradores que oprimem o povo em troca de enriquecer a custa do trabalhador

inocente377

.

Também é notório afirmar que o termo hebraico [c;B,, (betsa‘, “lucro ilícito”) e

quase todas as vezes que este termo aparece no Antigo Testamento tem como relação à

pessoa que adquire vantagem do outro, e é muito utilizado no termo negativo, em

relação também a alguém que prática a extorsão e retira a sua parte dos lucros de um

negocio ilegítimo378

. No Antigo Testamento ainda encontramos sete narrativas que nos

direciona nesta perspectiva, são elas: (Gn 37,26; Êx 18,21; Jó 22,3; Ez 22,27; Is 56,11;

Jr 8,10 e Jr 22,17).

Contudo, a predominância dos usos negativos indica que é muito fácil que a

aquisição de bens e pessoas se torne a principal motivação da vida de alguém,

obscurecendo o dever, a honestidade e os direitos de outras pessoas, e isto é o que

encontramos na prática do rei Jeoaquim contra a população de Judá e os seus

trabalhadores.

Por fim, Jeoaquim estava utilizando a sua posição de rei de Judá para “lucrar nas

custas” dos inocentes trabalhadores, encontramos por diversas vezes, infelizmente, no

Antigo Testamento, monarcas com o desejo de obter o lucro pessoal e esta foi à atitude

de alguns monarcas em Israel que levou a país a ruína379

.

Etimologicamente, supõe-se que a expressão hebraica yqiN"h;-~D:( (dam-hannaqi,

“sangue inocente”), algo de especial para se analisar em nosso texto, assim como

descrito anteriormente esse “sangue inocente” eram as pessoas inocentes que Jeoaquim

estava explorando (os trabalhadores que não recebiam salário).

Além disso, podemos dividir este termo hebraico em duas categorias gerais, em

primeiro lugar o derramamento de sangue mediante a violência e a destruição,

geralmente resultante em morte, como ocorre na guerra ou num homicídio. Em segundo

lugar o derramamento de sangue sempre está associado com a ocorrência de morte, mais

propriamente num sacrifício a YHWH380

.

377 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias – Profetas I. São Paulo:

Paulinas, 1988, p. 537. 378 Cf. HARRIS, LAIRD.R. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 1998, p. 204. 379 Ibid., 1998., p. 205. 380 Cf. HARRIS, LAIRD.R. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 1998, p. 314.

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Nesse contexto, os dois termos estão ligados com as práticas violentas de

Jeoaquim contra os seus trabalhadores, e quanto à sociedade de Judá. Tendo em vista

que o rei Jeoaquim estava agindo com os trabalhadores inocentes e camponeses, que

não obedeciam as suas ordens com violência e destruição da vida humana, realizando os

seus objetivos através da injustiça e da opressão.

Ao mesmo tempo estes inocentes eram pessoas na qual estavam isentas de

acusação ou obrigação (ao sangue inocente, sangue derramado de uma parte sem culpa),

o vocábulo hebraico ~D' (dam, “inocente”), também está relacionado com a pessoa que

está livre da escravidão (Gn 44,10; o termo técnico indica estar livre da escravidão381

;

hosphi). Ademais, o rei Jeoaquim estava tratando “estes inocentes” como escravos e não

como pessoas livres, muitos inocentes que não realizavam as suas ordens iam para o

corredor da morte.

De um modo geral as raízes hebraicas qv,[o (‘oxeq, “opressão”)382

, e hc'Wrm.

(merusah, “extorsão”)383

estão intimamente ligadas. Por sua vez, o termo qv,[o

“opressão” está relacionado aos atos e abusos de poder ou autoridade, quando se

sobrecarrega, pisa e esmaga aqueles que estão num nível inferior (inocentes e

camponeses).

Segundo a crítica social de Jeremias contra o rei Jeoaquim podemos perceber

estes abusos nitidamente na perícope em estudo (v.17), onde o rei utilizava do seu abuso

de poder para escravizar e maltratar os seus compatriotas.

Desse modo, a opressão384

e a extorsão são, por conseguinte um pecado grave

contra o qual Israel foi advertido nos mais duros termos. Todavia, jamais se deve

oprimir ‘ãshaq, o próximo (Lv 19,13), nem um empregado contratado, seja este um

israelita ou um migrante estrangeiro (Dt 24.14). As pessoas que tinham maior

probabilidade de serem maltratados e oprimidos eram aqueles sem defesa adequada para

os seus direitos (a viúva, o órfão, o migrante e o pobre). Contra estes não se devia

praticar nem maquinar atos maldosos (Zc 7,10; Jr 7,6).

381 ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis., 1998., p. 998. 382 Ibid., 1998., p. 1186. 383 Ibid., 1998., p. 1451. 384 Ibid., 1998., p. 1187.

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No entanto, o rei (monarca) era um regente sobre as ordens de YHWH, e tinha

como tarefa divina, a incumbência de reivindicar as pessoas que eram oprimidas pelos

homens perversos (Jr 21,12). O rei deveria esmagar o opressor385

“widakke’ ‘oxeq”, (Sl

72,4). Assim, estarei imitando a YHWH, que “executa atos de justiça e juízo a favor de

todos os oprimidos” (Sl 103,6).

Porém, não encontramos estas qualidades de revindicação no rei Jeoaquim, ele

deveria esmagar o opressor, mas, infelizmente como iria esmagar a si mesmo, somente

o oráculo do profeta Jeremias poderia lhes dar a sentença de condenação, e isto é o que

vemos no (v.18-19). O termo básico para extorsão é “esmagar ou quebrar em pedaços”,

e o rei estava cumpria este termo esmagando os inocentes e extorquindo as suas

esperanças de ser uma sociedade feliz perante YHWH386

.

2.6.5 Quarta Estrofe (v. 18-19)

%l,m,ä ‘WhY"’viayO-!B, ~yqIÜy"Ahy>-la, hw"©hy> rm:åa'-hKo) !keúl' 18

tAx+a' yAhåw> yxiÞa' yAhï Alê WdåP.s.yI-al{ hd"êWhy> `hdo)ho yAhïw> !Adßa' yAhï Alê WdåP.s.yI-al{ %leêv.h;w> bAxås' rbE+Q'yI rAmàx] tr:îWbq. 19

`~Øil'(v'Wry> yrEî[]v;l. ha'l.h'Þme

18 Por essa razão assim disse YHWH,

contra (para) Yehoyaquim filho de Josias rei de Judá,

não lamentarão para ele,

Ai meu irmão e

Ai irmã;

não o lamentarão para ele,

Ai senhor

e Ai majestade.

19 Como sepultamento de jumento,

será sepultado, arrastar

(do) e lançar (do),

para lá,

para (fora das) portas de Jerusalém.

385 Ibid., 1998., p. 1452. 386 Ibid., 1998., p. 1453.

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Por fim, a quarta estrofe tem início com a expressão hebraica

hw"hy> rm:åa'-hKo) !kel', “Por essa razão assim disse YHWH”, esta expressão como já

mencionamos anteriormente, denomina a fórmula de um mensageiro e é a marca e ou

característica de um dito profético, indicando que a palavra da divindade dada ao

profeta é a verdadeira palavra de YHWH387

. Neste sentido, essa expressão garante a

autorização das palavras proferidas pelo profeta como palavra de YHWH. Assim, o

profeta se entende como mensageiro de YHWH e, portanto, responsável por proferir

suas palavras388

.

Em suma, a crítica social de Jeremias está inserida contra o governo opressor do

rei Jeoaquim (609 a 598 a.C). Este rei foi em primeiro lugar obediente aos egípcios (609

a.C), e depois aos babilônios (605 a.C), basicamente um governo contra a vida, suas

variações na política externa custaram-lhe muitos tributos arrecadados dos mais pobres,

à base da violência.

Kessler389

argumenta que neste mesmo período no início do reinado de Jeoaquim

um grupo de latifundiários denominados de “o povo da terra” (#r<a'h' ~[;Û) tinham

como propósito se vingar de alguns grupos da sociedade de Judá, como por exemplo os

camponeses, os trabalhadores, os pobres, o próximo, etc.

No entanto, neste período o faraó Necao constituiu Eliaquim (Jeoaquim) no

trono davídico (2 Reis 23,34) mesmo sendo obrigatório. Sendo assim, Necao tinha plena

387 Cf. WESTERMANN, Claus. Basic Forms of Speech. Louisville: Westminster/John Knox Press;

Cambridge: The Lutterworth Press, 1991, p. 149. 388 Cf. MATOS, Sue’Hellen Monteiro de. Não temas! Gritei por teu nome: Estudo da concepção materna

de Javé em Dêutero-Isáias a partir da análise exegética de Is 43,1-7. (Dissertação de Mestrado).

Universidade Metodista de São Paulo - Faculdade de Humanidades e Direito – Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, 2013, p.66. 389 Rainer Kessler, argumenta que após Jeoaquim subir no trono davídico colocado pelo Faraó Necao, o

povo teve que pagar impostos altíssimos. E, neste ambiente de extrema violência e opressão, Jeremias

inicia sua crítica social contra o rei Jeoaquim demonstrando e trazendo à memória as práticas “justas” de

Josias em favor do povo de Israel. A denúncia de Jeremias tem como base o compromisso com o direito e

a justiça, a favor dos menos favorecidos na sociedade de Judá. O que nos chama atenção na crítica é

compreender se realmente Jeremias faz ou não referência ao rei Josias (v.15-16). Já sabemos que sim, ou

seja, a citação que é feita ao rei Josias (como rei bom) que é um adendo deuteronomista, pois sabemos

que Josias só estava preocupado com a reforma político-religiosa de Judá e do templo de YHWH, e a

denúncia de Jeremias está relacionada ao âmbito social (reforma social). Ou seja, Jeremias cita o rei

Josias como crítica também, para demonstrar que este rei só estava preocupado em satisfazer e cumprir a

Torá, e exatamente a lei do Deuteronômio (Jeremias crítica Josias (v.15-16) por estar somente

preocupado na reforma religiosa, esquecendo-se da área social de sua comunidade).

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certeza que, Jeoaquim faria um bom trabalho de extorquir e oprimir algumas classes

sociais no seu reinado em Judá como os pobres, as viúvas, os estrangeiros e os órfãos, e

isto, mesmo sem praticar o direito e a justiça.

Entende-se que, entre os anos de 609 e 598 a.C., durante o reinado do rei

Jeoaquim, o profeta foi hostilizado por este rei que abandonou a política iniciada por

Josias. Jeoaquim então adotou uma postura pró-egípcia, que incluía o pagamento de

altos impostos pela população390

, segundo o texto de (2Rs 23,35).

Todavia, Jeremias opôs-se a esta conduta e denunciou o fato de o rei obrigar a

população ao trabalho forçado e de não seguir aparentemente o “exemplo” do pai,

conforme mencionado anteriormente.

Nesta perspectiva, o rei Jeoaquim (~yqiy"Ahy>, yehoyaqim) esteve alguns anos

submetido ao faraó Necao, pagando-lhe altos tributos. Como consequência a situação

juntou-se, talvez, a seu caráter e fez de Jeoaquim um rei frio e despótico, merecendo

uma cordial antipatia por parte de Jeremias391

.

Lipschits392

nos apresenta que não há nenhuma informação sobre nada os

eventos ocorridos em Judá durante os primeiros quatro anos de Jeoaquim. Contudo, por

sua vez, durante esses anos os egípcios firmemente estabeleceram seu domínio sobre a

Síria e a Palestina, em preparação para a decisiva luta com os babilônicos sobre o

controle da região do rio Eufrates.

A proximidade do reino de Judá para o Egito era de controle de toda a região.

Sendo assim, o Egito não permitia que o pequeno reino de Judá desse qualquer

“margem de manobra” política ou militar. Pode-se supor que Joaquim não tinha

escolha, mas para permanecer fiel ao Egito, teve que ser vassalo desta potência. Ou seja,

a grande reviravolta de 605 a.C. teve um impacto sobre Judá e sua população.

Assim, os exércitos de Nabucodonosor derrotaram os egípcios em Carquemis,

legiões atravessaram para a Síria. O Egito nesse momento estava se sobressaindo sobre

outros territórios da Síria e da Palestina, mesmo assim era desafiado por eles. Supõe-se,

que a subjugação real de Judá para a Babilônia levou seu lugar durante a campanha da

390 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. 9º ed. São Paulo: Paulus, 2010, p. 390. 391 Cf. LACY, José Maria Abrego de. Los libros proféticos. Navarra: Verbo Divino, 1993, p. 142. 392 Cf. LIPSCHITS, Oded. “Jehoiakim Slept With his Fathers....” (II Kings 24,6) – Did He?. Israel: The

Jornal of Hebrew Scriptures, volume 4, nº1, julho de 2002, p. 2.

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Babilônia para a Síria e Palestina, no segundo semestre de 604 a.C., depois de cinco

anos do reinado de Jeoaquim como um vassalo do egípcio393

.

A política de Nabucodonosor mantinha os arranjos geopolíticos que ele

encontrou antes quando conquistou esta área, permitindo que Jeoaquim continuasse

como rei de Judá, mesmo que o rei Necao do Egito tinha o designado. Logo, esta

medida reflete a premissa de que um rei que tinha aceitado o jugo egípcio era

provavelmente inteligente o suficiente para aceitar o jugo babilônico também. É notável

que os babilônios esperassem que essas ações preservassem a estabilidade da região.

Além disso, eles poderiam até ter imaginado e ou previsto que os reis sentiriam

gratidão para com o rei da Babilônia e que essa gratidão seria levar a lealdade para com

o novo soberano. No entanto, a aquisição rápida de Nabucodonosor pelos babilônios e a

retirada dos egípcios da região deixou os pequenos reinos ao longo da costa e nas

regiões do interior sem espaço para manobras.

Certamente, pode-se supor que os três primeiros anos dos babilônicos foram

tranquilos. Embora não haja informações sobre eventos em Judá durante esse tempo,

parece que Jeoaquim permaneceu leal a Nabucodonosor (Jeoaquim tornou-se seu

vassalo por três anos 2Rs 24,1)394

.

No entanto, no ano 601 a.C., Nabucodonosor caminha para o Egito em som de

batalha, mas sofreu uma derrota e teve que se afastar no momento. Com o seu

afastamento, Jeoaquim recobrou o ânimo e se rebelou (2Rs 24,1). Por conseguinte,

Nabucodonosor não lhe deu muita importância, mas se manteve em outras lutas, isto

porque ele não voltou a aparecer por aquela região até dezembro do ano 598 a.C.

Portanto, por sua vez, os versos (v.18-19) apresenta-nos uma sentença de

julgamento aplicada pelo profeta Jeremias. Este julgamento é aberto em tom solene,

com uma declaração oficial que aparece por duas vezes no (v.18) não lamentarão

(WdåP.s.yI-al{), diz o trecho a seguir. Na verdade Jeoaquim não era digno de uma

cerimônia fúnebre normal. Observa-se que o texto tem um sentido de agravamento ou

ironia, pois passa do âmbito familiar ao âmbito público395

.

393 Ibid., 2002., p.3. 394 Ibid., 2002., p.4-5. 395 Cf. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas,

1988, p. 372.

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Nesta perspectiva, percebemos que estamos num contexto de guerra, do cerco

babilônico. Todavia, se já era estranho não ser lamentado pelos familiares, quanto mais,

sendo rei, não ser lamentado pelo seu povo.

Sendo assim, não se poderia imaginar um cerimonial fúnebre sem as expressões

características de lamentação396

. Além de que os crimes do rei o tornaram indigno das

honras funerárias.

Esse tratamento indigno chega ao ponto máximo nas duas afirmações do (v.19)

“Como sepultamento de jumento será sepultado”; e “arrastado e lançado para fora das

portas de Jerusalém”. Temos então o contraste entre o luxo das construções de

Jeoaquim e o que este julgamento previa para o momento da sua morte marcante397

.

Por outro lado, a falta de um sepultamento digno era sinal de maldição, era uma

situação de extrema vergonha, por isso o rei Jeoaquim foi isento de todos os passos de

um rito fúnebre como, por exemplo, os cuidados com o cadáver, o sepultamento, os

ritos de luto, os ritos alimentares, as lamentações pelo morto e a interpretação desse rito

por alguém da família398

. Há indicação de algumas palavras de ameaça constantes no

livro de Jeremias tendo como foco esse aspecto da ausência de ritos fúnebres (Jr 16,6;

19,7) 399

.

A referência feita ao rei “ao jumento” acentua a situação de vergonhosa, tratava-

se de um animal de carga, sem atrativos. Por isso, os reis, desde Davi, possuíam o

privilégio de um sepultamento em Jerusalém, o próprio Josias, conforme (2Rs 23,30),

mesmo morrendo fora de Jerusalém foi levado para a cidade e sepultado em seu jazigo.

Sabe-se que, naquela época a pessoa era arrastada e lançada para fora da cidade de

Jerusalém, e isto era um sinal de extremo desprezo.

Enfim, no caso da morte de Jeoaquim, parece que a mais simples e de menor

reconstrução especulativa de tudo o que é o mais provável e mais apropriado para o

complexo de dados históricos que foram preservados são os relatos da crítica social de

Jeremias 22,18-19 e do livro de Reis. Na medida em que o autor da descrição no livro

396 Cf. SICRE, José Luiz Diaz. Com os pobres da terra – A justiça social nos profetas de Israel. Santo

André: Academia Cristã/Paulus, 2011, p. 462-463. 397 Ibid., 2011., p. 464. 398 Cf. VAUX, D. R. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Teológica, 2003, p. 80-86. 399 Ibid., 2011., p.465.

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de Reis sabia sobre eventos em Judá nos últimos anos do reino de Jeoaquim, a morte do

rei Jeoaquim não foi atendida por quaisquer circunstâncias comuns400

.

Compreende-se que ele morreu depois de um reinado de 11 anos exatamente na

véspera que Nabucodonosor e sua campanha visavam suprimir a revolta e destruir a

cidade.

Portanto, será que os eventos secretos no palácio real eram desconhecidos para

os moradores da cidade? A morte de Jeoaquim foi o resultado de uma conspiração cujos

perpetradores ou circunstâncias não foram reveladas e não conhecida a seus

contemporâneos?401

Este pode ser o caso, mas é melhor lembrar que não há informações históricas

desse tipo, e mais tarde o preenchimento das lacunas tentam criar a harmonia entre as

lacunas no livro de Reis e as maldições do profeta Jeremias quanto ao destino do rei

assassino. Tendo como base a citação que temos no livro de (2 Reis 24,6), que é um

acréscimo deuteronomista (um povo que estava sempre a favor do monarca), tendo em

vista que o sistema monárquico passou a fazer parte da vida do povo e a experiência

tribal foi um fato que marcou muito a monarquia em Israel.

2.7. LUGAR DA VIDA

Notamos que todo texto está relacionado de algum modo com circunstâncias

culturais, sociais, políticas, econômicas e religiosas. Desse modo, todo texto tem um

lugar da vida. O sitz im leben (lugar da vida) está diretamente relacionado com o gênero

literário402

.

Ao analisarmos a perícope em estudo, podemos observar que ela está

caracterizada em sua forma, e que passa a aprofundar o lugar histórico-social em que se

situa o texto.

Portanto, cada perícope ofereceu suas informações e suas pistas, permitindo um

desenvolvimento maior ou menor. Schwantes nos sugere que em todo o caso, se busque

a identificação do lugar em duas dimensões, e segue:

400 Cf. LIPSCHITS, Oded. “Jehoiakim Slept With his Fathers....” (II Kings 24,6) – Did He?. Israel: The

Jornal of Hebrew Scriptures, volume 4, nº1, julho de 2002, p. 8-15. 401 Ibid., 2002, p. 16. 402 Cf. LIMA, Anderson Oliveira. Introdução à Exegese; Um guia contemporâneo para a interpretação

de textos bíblicos. 1º ed. São Paulo: Fonte Editorial, 2012, p.56.

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A datação e localização serão importantes para que o ambiente

histórico possa ser inserido na avaliação dos dizeres do texto. Cada

perícope oferecerá suas dificuldades específicas. Por isso não convém

generalizar. Quando se tem um trecho profético, a tarefa até se torna

relativamente mais simples, considerando que local e data podem ser

definidos no ambiente de todo um livro. Sim, o texto mais amplo (um

livro, por exemplo) poderá ajudar, em muito, para a historização das

‘palavras’, da perícope. Mas, realmente decisivo é que se alcance o

detalhamento, que se viabilizem minúcias. Neste sentido, não basta

datar e localizar. É preciso fixar uma sintonia fina entre o texto e seu

ambiente, e seu lugar. Aí emergem, por exemplo, o portão da cidade,

o pátio de um templo, as atividades militares e tantos outros espaços.

A exegese precisa ser criativa e inventar estes espaços de onde emerge

a palavra, o conto, o oráculo, a poesia, a crítica social, enfim, esta ou

aquela perícope.403

A crítica social tem sua origem nos profetas pré-exilicos, e sempre aparece à

palavra hebraica yAhå (hoy, “ai!”) pode indicar um (o) significado de ameaça, de

denúncia, de lamento ou de grito de dor404

, segue algumas citações bíblicas (cf): Amós

5,18; 6,1; Miquéias 2,1; Naum 3,1; Habacuque 2,6-9-12-15-19; Jeremias 22,13-18; Jr

23,1; Jr 30,7; Jr 34,5; Jr 47,6; Jr 48,1; Jr 50,27; Proto-Isaías / Is 1,4-24; Is 5,8-11-18-20-

21-22; Is 10,1-5; Is 17,12; Is 18,1; Is 28,1; Is 29,1-15; Is 30,1; Is 31,1; Is 33,1 –

Deutero-Isaías Is 45,9-10 e o Trito-Isaías Is 55,1; Zacarias 2,10-11; Zc 11,17.

No entanto, a crítica social é exclusivamente dos profetas, os profetas criticam as

injustiças sociais dos reis. É possível que estes reis estivessem no reino do norte ou no

reino do sul. Nesse caso Jeremias crítica às práticas violentas do rei Jeoaquim, que

estava reinando no sul.

Skinner405

nos apresenta que o profeta Jeremias tinha várias relações amargas

com o monarca Jeoaquim. Uma destas relações amargas, e a que mais nos lança luz na

perícope de Jr 22,13-19, é a que esta relacionada ou a que foi provocada pela construção

de um suntuoso palácio no Monte Sião, motivo especial de orgulho para Jeoaquim.

O rei construiria com trabalho forçado, e com a mais insensível desconsideração

pelos direitos dos que trabalhavam para seu sustento. E para o biblista, o palácio seria

suntuosamente decorado segundo modelos estrangeiros, previamente aprovados, e isto

403 Cf. SCHWANTES, Milton. Encaminhamentos exegéticos. São Bernardo do Campo: UMESP, 2011,

p.2. 404 Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p.107. 405 Cf. SKINNER, John. Jeremias – Profecia e Religião. São Paulo: ASTE, 1990, p.227.

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simbolizava uma concepção da realeza que Jeremias repudiava com toda a sua força

profética406

.

Portanto, Skinner não descarta a hipótese deste oráculo ter sido pronunciado em

público entre os anos 609 a 598 a.C, talvez defronte ao palácio ainda inacabado407

.

Mediante esta afirmação conseguimos entender o ressentimento implacável que residia

na mente do rei Jeoaquim, e com tais atitudes de Jeremias o rei inicia uma perseguição

cruel contra o profeta. Westermann408

e Lacy409

nos assegura que este oráculo foi

pronunciado publicamente defronte ao palácio do rei, no período de 609/8 a.C; logo no

inicio do reinado de Jeoaquim.

Enfim, o lugar da vida de nosso texto está relacionado à crítica social de

Jeremias contra o rei Jeoaquim, e o que autentica o oráculo é a expressão hebraica yAhå

(hoy, “ai!”), que está relacionada à acusação pública que o profeta faz ao rei Jeoaquim.

E isto era uma forma de responder ao rei as injustiças que ele fazia contra a população

de Judá e os trabalhadores injustiçados.

Considerações finais

Nesta perspectiva, esta realidade de liberdade e justiça tribal era uma marca do

povo de YHWH. Contudo, estes tais ideais passam a fazer parte da monarquia,

exigindo-se do rei uma postura de guardião do direito e da justiça.

A partir disso, apresentamos Jeoaquim como um rei tirano e irresponsável,

colocado no poder por mãos espúrias. Sua atuação foi criminosa e esmagadora,

principalmente contra os “mais pobres”, as consequências sociais do governo de

Jeoaquim foram sem dúvida desastrosa.

Jeremias aponta impiedosamente as crueldades de Jeoaquim, definindo-o como

o principal responsável pelos sofrimentos do seu povo e tais sofrimentos o profeta

expressa através da sua crítica social contra o rei (Jr 22,13-19). Porém, elas funcionam

como uma reação e são manifestações proféticas da época de Jeoaquim.

406 Ibid., 1990, p.228. 407 Ibid., 1990, p.229. 408 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário Al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones FAX, 1980, p.24-

27. 409 Cf. LACY, José Maria Abrego de. Os livros proféticos. 1º ed. São Paulo: Editora Ave Maria, 1998,

p.141.

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Portanto, a partir das informações exegéticas sobre o reinado de Jeoaquim,

abordaremos no capítulo três as questões históricas e sociais que estão relacionadas com

este período de 609 a 598 a.C.

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Capítulo III

A ESTRUTURA HISTÓRICA E SOCIOLÓGICA

DA CRITICA SOCIAL DE JEREMIAS:

AS QUESTÕES DA JUSTIÇA E DO DIREITO NO

ANTIGO ORIENTE

Considerações iniciais

Em se tratando da estrutura histórica e sociológica podemos ter como princípio

um texto que pode ser empregado de maneira polissêmica410

, e este mesmo texto poderá

ter vários significados, às vezes significados muito diferentes de outros textos como

também autores diversos que trabalham o texto na qual está sendo pesquisado411

. Em

nosso caso o texto é Jr 22,13-19.

Portanto, um texto tem a sua relação direta com a vida, em nosso contexto, a

população de Judá. A crítica social de Jeremias nos é apresentada de maneira

impactante, de tal maneira que o profeta nos apresenta as práticas violentas do rei

Jeoaquim e sua não compaixão em relação aos seus compatriotas.

O presente capítulo, portanto, busca apresentar as questões históricas em relação

a Jeremias em seu ambiente internacional, e também as questões fundamentais da

exegese trabalhada no capítulo anterior, como por exemplo, o conteúdo histórico do

direito (jP'v.mi) e da justiça (qd,c,) no Antigo Oriente, relacionando-as com a justiça

social.

Em seguida, entender o porque que as relações que o rei Jeoaquim tinha era

contrária com a população de Judá, tendo então em seu reinado trabalhadores

escravizados, principalmente o pobre. Enfim, o que vemos é o sistema de opressão que

410 Referente a polissemia; que tem mais de um significado. 411 Cf. LOTMAN. M. Iuri. La Semiosfera I – Semiótica de La Cultura y Del Texto. Navarro: Ediciones

Cátedra, 1996, p. 91.

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o rei Jeoaquim utilizou para explorar a população de Judá em um período de 11 anos de

seu reinado.

3.1 Questões históricas em relação a Jeremias

Observamos que a atuação profética de Jeremias inicia-se em um contexto de

esperanças em relação ao porvir de Judá e o reinado de Josias ocorreu num período

onde trouxe certa tranquilidade para a população de Judá. E, portanto, em relação às

opressões estrangeiras também houve possivelmente paz momentânea412

.

Por isso, os grandes acontecimentos dos séculos VIII ao VI a.C., privou Israel a

capacidade de desenvolver livremente a sua vida histórica. A maioria da população

vivia em um estado de servidão em diferentes províncias assírias eram privadas das

classes dominantes que tinham sido deportados para outras partes do império, mas, a

minoria da população vivia em Judá um estado vassalo da Assíria.

Por outro lado, desde o ano 701 a.C., não houve oportunidade ou o desejo de

exercer a menor atividade política. Porém, os grandes eventos na história do mundo,

especialmente a conquista de quase todo o Egito por Assurbanípal, filho de

Senaqueribe, conduziu o império ao poder, e isto ocorreu nas proximidades de Israel,

mas não tinha a influência direta da Assíria413

.

Assim, trinta anos após esta data de 701 a.C, o reino de Judá tinha a

oportunidade de desenvolver um projeto nacional, devido o intervalo em relação aos

poderes internacionais. Com isso, a Assíria viveu os seus últimos dias de glória e o

império babilônico preparava-se para instalar seu poderio414

.

Desse modo, na Assíria o último grande soberano foi Assurbanípal a sua

passagem pelo poder já é sinal, de certa forma foi um período não tão glorioso da

história desse império. Na verdade este líder assume o poder em 668 a.C., e suas

atuações cessaram em 638 a.C. Todavia, foi um período de grande atenção em relação

aos assuntos culturais e de grandes turbulências internas415

.

412 Cf. FILHO, Fernando B. Sofrimento e Luta social em Jeremias 7-23. (Dissertação de Mestrado).

Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do Campo, SP, 1994, p. 40. 413 Cf. NOTH, Martin. Historia de Israel. Barcelona: Ediciones Garriga, 1966, p. 250. 414 Cf. DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos (Vol.2). 5º ed. São Leopoldo:

Sinodal/Faculdades EST, 2010, p.363-367. 415 Ibid., 2010., p. 368.

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Nesta perspectiva, na Babilônia os problemas do império Assírio apareceram

com o próprio irmão de Assurbanipal, por volta do ano 652 a.C., o que foi resolvido

somente aproximadamente quatro anos mais tarde. Um fato importante é a data da

morte de Assurbanipal, em 627 a.C., que ocorreu aproximadamente com o início da

atividade profética de Jeremias e após a morte de Assurbanípal houve um período de

decadência, isto se deu devido aos problemas internos do império416

.

Por sua vez, o acaso assírio abre espaço para o chamado império neobabilônico.

Nabopolassar era o responsável pela fundação desse império, marcando sua

independência definitiva em relação a Assíria em 625 a.C. Não demorou para que o

novo império desferisse o último golpe diante da enfraquecida e desorganizada Assíria.

Entretanto, na batalha que resultou na tomada de Nínive, após três meses de

cerco, estiveram unidos babilônicos e medos. Portanto, o acordo político com

Ciaxares417

solidificou a campanha e garantiu a vitória. E após dois anos

aproximadamente é eliminado um último foco de resistência em Harã. Importante

destacar nesta fase a política externa egípcia que se libertava da Assíria já há algum

tempo e resolveu ajudar o inimigo, temendo a Babilônia, e as tropas de auxilio

chegaram ao ano 616 a.C.418

aproximadamente.

Dessa forma para podermos abordar o reino de Judá, e seria importante iniciar

com Manasses, que foi um vassalo fiel da Assíria. Neste período materializaram-se

práticas religiosas estrangeiras e conviveu de maneira tranquila com a dominação

estrangeira. No longo período de seu reinado, talvez por intervenções violentas,

silenciou a voz profética.

Naturalmente que a avaliação conferida pelo livro de Reis foi a pior possível.

Após a sua morte, em 642 a.C, assume ao poder seu filho Amon, que não vive um

reinado longo, pois é assinado numa conspiração dos seus oficiais. O golpe não obtém

sucesso prolongado, os conspiradores são desalojados por um grupo chamado

#r<a'(h' ~[; (‘am ha’ares, “povo da terra”), que refaz o fio condutor da dinastia ao

colocar no poder o menino Josias, filho de Amon, com oito anos de idade419

.

416 Ibid., 2010., p. 369. 417 Cf. HERÓDOTO. História. Paris: Tufts University, 2006, p. 63-64. 418 Cf. LIVERANI, Mario. Para além da Bíblia – História antiga de Israel. São Paulo: Paulus/Loyola,

2008, p.211-212. 419 Cf. DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos (Vol.2). 5º ed. São Leopoldo:

Sinodal/Faculdades EST, 2010, p. 381.

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Percebemos que a intervenção do povo da terra, foi decisiva para os destinos de

Judá. Caracterizar de maneira precisa esse grupo é algo que foge aos propósitos de

nossa pesquisa. Evidentemente que esse grupo mostra uma organização e é focalizado

como os latifundiários420

que controlavam os campos em Judá.

Por sua vez, diante da simbólica presença de Josias no trono nos primeiros anos

de seu governo, o povo da terra, exerceu papel de governo. Todavia, este grupo tinha

uma postura pró-Egito, merecendo assim, crítica interna do profeta Sofonias421

. Ambas

as posturas sugerem um grupo afastado dos anseios populares, longe de significar

novidades no propósito da exploração estatal.

Mas outro fato que caracteriza o reinado de Josias é a sua reforma religiosa.

Josias teve certa liberdade para agir, pois o clímax da reforma coincidiu com os

derradeiros momentos do império Assírio. E isso compõe parte importante da

explicação do sucesso de Josias quanto à retomada de territórios da região do norte (2Rs

23,19).

Nesse contexto, a referência a Samaria significa a maneira Assíria de indicar

toda a província422

. Dessa forma, é justo supor que Josias praticamente reuniu no Israel

primitivo uma preocupação, a de identificar a ajuda egípcia para a antiga inimiga, a

Assíria. No entanto isso se justifica não pela eficácia da ajuda prestada que não evitou o

desmoronamento do império, mas pelas consequências em relação a Judá.

Neste ambiente histórico, sobre as maiores potências internacionais da época de

Jeremias, encontramos o relato de Heródoto que o faraó Necao e o rei Josias possuíam

temores bastante distintos em relação ao desfecho dos conflitos envolvendo Babilônia e

Assíria.

Afirma-se que enquanto Necao temia o surgimento do novo império babilônico,

Josias não suportava a ideia de um ressurgimento Assírio. Por isso, Josias tenta uma

interceptação das tropas egípcias em Megido, no ano 609 a.C., e é morto em batalha

nesta tentativa. A morte prematura de Josias interrompe um período breve de

independência em Judá e o seu avanço423

.

420 Cf. PIXLEY, Jorge. História de Israel a partir dos pobres. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 76. 421 Cf. MERTERS, Carlos. O profeta Jeremias – Boca de Deus, boca do povo. São Paulo: Paulinas, 1992,

p. 38. 422 Cf. NOTH, Martin. Historia de Israel. Barcelona: Ediciones Garriga, 1966, p. 253. 423 Cf. DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos (Vol.2). 5º ed. São Leopoldo:

Sinodal/Faculdades EST, 2010, p. 389.

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Nesse caso, Necao continuou até o Eufrates para tomar parte no salto de Harã. O

ataque fracassou fragorosamente, embora não haja certeza de que a ação de Josias tenha

detido suficientemente o faraó a ponto de afetar o resultado final. Com a Mesopotâmia

firmemente nas mãos dos babilônios, Necao decidiu consolidar sua posição a oeste do

rio. Uma de suas medidas foi convocar Jeoacaz, que só estava no trono a três meses424

,

os seus quartéis generais em Rebla, no centro da Síria, depondo-o e deportando-o para o

Egito (2Rs 23,31-35; Jr 22,10-12).

Com isso, Eliaquim, irmão de Jeoacaz, com o nome mudado para Jeoaquim, foi

nomeado no trono como vassalo do Egito e o território foi sujeito a pesado tributo, que

foi levantado com extorsivas taxas impostas a todos os cidadãos livres. A independência

de Judá, que durara apenas uns vinte anos, foi pouco desenvolvida e tinha acabado425

.

O resultado de qualquer modo seria trágico, Josias foi morto em batalha426

sendo

levado morto em seu carro de combate para Jerusalém, em meio a grande lamentação.

Em seguida o seu filho Jeoacaz foi proclamado rei em seu lugar.

Embora Necao não tivesse conseguido salvar a Assíria, a campanha de 609 a.C.,

trouxe a Palestina e a Síria para o seu controle. Por alguns anos ele conseguiu conservar

as suas conquistas e nos anos 608/7 e 607/6 a.C., os babilônicos conduzidos por

Nabopolassar e seu filho, Nabucodonosor empreenderam uma campanha nas montanhas

armênias, presumivelmente para proteger o seu flanco direito, tendo em vista que o

exercito egípcio estava postado a Oeste do rio Eufrates427

.

No entanto, durante anos a hostilidade se limitou a incursões através do rio, de

ambos os lados, com os babilônicos procurando uma cabeça de ponte ao norte de

Carquemis, de onde pudessem atacar as forças egípcias que se encontravam naquela

cidade, e com os egípcios procurando evitá-lo. Nessas operações, as forças se

contrabalançavam, não havendo golpe decisivo de uma parte nem de outra428

.

Nesta perspectiva, Jeoaquim continuava como vassalo do faraó. Porém, a

situação interna de Judá não era muito boa. É provável, embora não seja certo, que o

424 Cf. ALBERTZ, RAINER. História de La Religión de Israel em Tiempos Del Antiguo Testamento

(Vol.I). Madrid: Ediciones Trotta, 1999, p. 369-371. 425 Ibid., 1999., p. 372. 426 Como o livro de Reis não menciona nenhuma batalha, alguns biblistas como (Noth, 1966, p. 278),

pensam que não se deu nenhuma, mas que Josias foi preso e executado. Mas o cronista traz a marca da

autenticidade. Portanto, Wiesman nos sugere que Megido II foi destruída mais ou menos por esse tempo,

e sugere que houve batalha. 427 Ibid., 1999., p. 380. 428 Ibid., 1999., p. 381.

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território de Judá tenha ficado mais uma vez restrito às dimensões que tinha antes de

Josias. Apesar de não termos novamente nenhuma evidência direta, não pode haver

dúvida de que estas taxas egípcias pesaram na economia da terra. Jeoaquim, além disso,

não era um sucessor digno de seu pai, mas um tiranete429

inapto para a posição de

mando.

Podemos notar que a consideração de Jeoaquim com seus súditos, é de

irresponsabilidade e isto à bem demonstrado nas ações do início de seu reinado (609

a.C), quando visivelmente insatisfeito com o palácio de seu pai esbanjou dinheiro na

construção de um novo palácio, mais luxuoso, e pior, usando o trabalho forçado para

construí-lo (Jr 22,13). E isso provocou Jeremias, cujo desprezo por Jeoaquim era

ilimitado, chegando ao sarcasmo430

.

Nota-se, portanto que, com a chegada de Jeoaquim, este rei rompe com o grupo

reformista, para não recair no fardo dos reis anteriores. E com tal atitude alcança seu

esplendor. Desse modo, um amplo setor na aristocracia, que sempre havia desconfiança

com os planos da reforma religiosa, foi impulsionado por um grupo de deuteronomistas

que infelizmente não puderam mais resistir por mais tempo no reinado de Jeoaquim431

.

É neste ambiente que Jeremias entra em cena com a sua crítica social contra o rei

Jeoaquim e o acusa de trabalho forçado, de luxo, e de utilizar-se do trono de Judá, para

extorquir, explorar e matar, à custa de trabalho escravo432

.

Por outro lado, precisamos entender porque o faraó Necao o coloca no trono de

Judá. No contexto da monarquia no Antigo Oriente fora de Israel, o rei era objeto de

divinização e possuía atributos divinos e de qualidades sobrenaturais. Isso se verifica, a

título de exemplificação, no Egito, onde se acreditava no rei como gerado pela

divindade. Era um representante da divindade, porém, não apenas simbolicamente, esta

divindade estava efetivamente na pessoa do rei433

.

Portanto, por sua vez, os traços da monarquia de Israel não apontam para esta

direção. Todavia, essa dignidade especial da qual se revestia a figura do rei no Antigo

Oriente não deixou de fazer parte da experiência monárquica do povo de Deus, ainda

429 Aquele que causa tormento ou oprime os que dele dependem. 430 Cf. ALBERTZ, RAINER. História de La Religión de Israel em Tiempos Del Antiguo Testamento

(Vol.I). Madrid: Ediciones Trotta, 1999, p. 437. 431 Ibid., 1999., p. 438. 432 Ibid., 1999., p. 439. 433 Cf. MOWINCKEL, Sigmund. The psalms in Israel’s worship. Sheffield: JSOT Press, 1992, p. 53-54.

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que com outras ênfases. Era característica própria da monarquia, entender o rei como

alguém separado, especial e eleito de Deus434

.

Sendo assim, ainda que não se admita o rei como participante da natureza divina,

não se negava ao rei um posicionamento especial em relação à divindade. Ele era uma

pessoa especial abençoada por YHWH e é visto como seu filho, ainda que

figurativamente. Ele o coloca ao lado de YHWH, em posição diferenciada (Sl 110,1).

Este momento era muito significativo para o reino de Judá, significava o retorno

ao contexto das dominações estrangeiras. O estado de Judá estava privado de sua

autonomia como nação, além de ter também como rei alguém indesejado.

Com isso, notamos que Jeoaquim marcou o seu reinado construindo e ampliando

o seu palácio. O rei nesse momento constrói o seu palácio numa fase muito difícil para

Judá economicamente, e ainda que não tenha evidências concretas, podemos supor que

Jeoaquim vivia internamente uma crise de legitimidade435

. Todos sabiam, e ele também,

que era um “fantoche436

” dos dominadores estrangeiros, sem incomodar-se com isso, e

o que parece é que Jeoaquim aproveitando esse momento procura desfrutar do seu

período como rei de Judá437

.

Com esse pressuposto, o rei Jeoaquim está totalmente preso às diretrizes

relacionadas à política externa do seu reinado, sendo que ele era vassalo no meio dos

egípcios até o ano 605 a.C, esta na verdade era a informação mais importante que temos

deste período de dominação egípcia e também a questão do tributo (2Rs 23,33; 2Cr

36,3). E nessas narrativas encontramos o valor do imposto que Jeoaquim pagava aos

egípcios, quem era de cem talentos de prata e um talento de ouro (isso corresponde a

três toneladas de prata e trinta quilos de ouro438

).

O rei Jeoaquim também foi vassalo dos babilônios até o fim de seu reinado em

598/7 a.C. e dentro deste período o rei extorquia e maltratava severamente a população

de Judá, levando-os a miséria nacional e extraindo do povo mais imposto.

434 Cf. FILHO, Fernando B. Sofrimento e Luta social em Jeremias 7-23. (Dissertação de Mestrado).

Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do Campo, SP, 1994, p. 113. 435 Em uma monarquia, direito de sucessão por ordem de primogenitura, mas não foi isto que aconteceu,

Jeoaquim subiu no trono de Judá por nomeação do faraó Necao. 436 Pessoa que é incapaz de ação própria, que fala ou procede orientada ou comandada por outrem

(Egípcios e Babilônicos); é um boneco, bonifrate, palhaço. 437 Ibid., 1994., p. 121. 438 ALEXANDER, David. O mundo da bíblia. São Paulo: Paulinas, 1985, p.106-107.

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Dentro desta perspectiva não podemos deixar de relatar a situação da política

interna de Jeoaquim em seu reinado.

A destruição do reino de Judá foi determinada, principalmente, por

atitudes de dois dos filhos de Josias, Jeoaquim e Zedequias. Foram

dois períodos desastrosos, que culminaram com a efetiva destruição de

Jerusalém, diante dos exércitos da Babilônica. Uma rápida

comparação entre os dois irmãos pode ajudar-nos a entender melhor o

próprio Jeoaquim. Zedequias era um homem limitado, que se perdia

diante das pressões que recebia em sua corte. Mostrou-se vacilante

quanto às decisões de governo, tendo inclusive, que se humilhar diante

da Babilônia por causa de uma tentativa de rebelião fracassada. No

caso de Jeoaquim não podemos creditar sua desastrosa atuação a

aspectos de limitação pessoal. Jeoaquim era um tirano, era frio e

calculista em suas atitudes. O mal causado por ele era planejado e

agravava sofrimentos, já intensificados pelas dominações

estrangeiras439

.

Obviamente que a atuação interna de Jeoaquim, em relação à narrativa de (Jr

22,13-19), era notável as suas práticas violentas, atos praticados na sua administração

em relação ao reino de Judá, fato este que levou o país a miséria. Evidentemente que a

atuação externa nos negócios do reino de Judá afetou sensivelmente o panorama interno

do seu reino, mostrando assim insensibilidade total em relação aos seus súditos.

Bright440

narra o reinado de Jeoaquim como um período de resultados

desastrosos, onde cidades importantes foram atacadas e ficaram parcialmente

destruídas, além disso, houve também uma drástica redução territorial. Tendo como

consequência uma diminuição da economia afetando bastante a população da época.

O que vemos é que Jeoaquim aproveitou do apoio da religião oficial, que eram

os profetas, e pregadores de paz que o cercavam e o ajudavam a mascarar os desmandos

governamentais. Podemos identificar este grupo na narrativa de (Jr 8,10-12), eles

manobravam a corrupção enganando o povo e o persuadindo, não permitindo que a

palavra de Jeremias encontrasse receptividade. A crítica social de Jeremias (Jr 22,13-19)

na época de Jeoaquim era implacável, o profeta era o primeiro a criticar um rei de

Judá441

.

439 Cf. FILHO, Fernando B. Sofrimento e Luta social em Jeremias 7-23. (Dissertação de Mestrado).

Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do Campo, SP, 1994, p. 125. 440 BRIGHT, John. História de Israel. 9º ed. São Paulo: Paulus, p. 390-391. 441 Cf. WESTERMANN, Claus. Fundamentos da Teologia do Antigo Testamento. Santo André:

Academia Cristã, 2011, p. 148.

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Considerando que um soberano como Jeoaquim necessitava de uma base

ideológica muito segura. Mais do que nunca, na época de Jeoaquim as construções

luxuosas nos povos vizinhos de Israel era um departamento da esfera do poder, por este

motivo Jeoaquim constrói um palácio luxuoso e também por causa da aquisição do

poder como rei que ele possuía em Judá.

3.1.1 Exploração da terra pelo rei Jeoaquim

A história de Israel nos apresenta o período dos reis de Judá, os reis e suas

explorações, o que pensavam a respeito da crise política, e não pensavam na crise e nas

tendências gerais do destino da comunidade em Judá. Os reis em Israel recusavam-se

em imaginar que o exílio poderia ser o fim definitivo do povo. Por fim, os profetas eram

os desafiadores dos reis e sabiam que Israel iria para o exílio babilônico442

.

A tarefa dos profetas era distinguir e discernir o que os reis não poderiam

enxergar como também, eram os articuladores em relatar o que os reis não podiam

sustentar ou manter para a população de Judá. O profeta Jeremias foi um destes profetas

que denunciava as práticas desumanas destes reis, e um deles foi o rei Jeoaquim. Este

rei jamais tolerou as críticas deste profeta, e nenhuma dessas articulações alternativas é

mais radical do que a ideia de exílio diante de um rei que possuía terras443

.

É importante ressaltar de que ninguém notou esta questão da perda da terra mais

do que o profeta Jeremias, ele era considerado o poeta da terra e estava totalmente

enraizado nas antigas tradições do Israel tribal quando a terra era possuída. Ele

denunciou que a terra não poderia ser mantida da maneira que o Israel real tentava

mantê-la. Para Jeremias há a existência de uma extraordinária reunião conjunta de

revolta externa, e de articulação poética no poder com relação à vinda irresistível do

“santo terror”. Jeremias anuncia ao rei e aos seguros da terra que as coisas que são não

serão (Jr 1,28)444

.

A postura ética de Jeremias em oposição aos donos de terra, o rei era percebido

em seus ditos, a perda da terra, pois, significava o fim da história e com isso podemos

442 Cf. BRUGGEMANN, Walter. A Terra na Bíblia – Dom, promessa e desafio. São Paulo: Paulinas,

1986, p. 153. 443 Ibid., 1986., p. 154. 444 Cf. BRUGGEMANN, 1986., p. 155.

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imaginar naturalmente o desmoronamento de todas as instituições públicas e de todas as

expressões simbólicas de bem-estar e de coerência em Judá445

.

Para Jeremias, o rei Jeoaquim é um dos modelos de (reis) que fazia com que o

povo perdesse a terra. Jeremias descreve o presunçoso poder real que admite tudo de

ruim como se fosse o correto446

. Na construção de sua crítica o profeta Jeremias diz:

13Ai do que constrói sua casa em não (sem) justiça,

e seus aposentos altos em não (sem) direitos;

Em seu próximo (faz) trabalha (r) gratuitamente, e seu salário não

(lhe) dá para ele.

14 O que diz: construirei para mim (uma) casa espaçosa,

e aposentos altos, aqueles que são largos;

E abriu (fez) para ele janelas, e forrada em (com) cedro,

e pintada em vermelhidão.

15 Reinarás,

Eis! Tu concorrente no cedro?;

teu pai (acaso) não comeu e bebeu?,

e fez (praticou) direito e justiça,

então bom para ele.

Mais uma vez, pode-se perceber que a sua crítica vai em direção à prática (não)

ética do rei para com o pobre, ele denuncia Jeoaquim por ser um rei injusto, e também

por forçar o povo a trabalhar sem receber salário, o rei então age como um tirano, e

estava interessado somente em enriquecer a custa do trabalhador447

.

É a partir daí que Jeremias refletiu muito tempo a respeito (possuir a terra) e a

respeito de (perder a terra), ele evidentemente situa-se na antiga tradição retomando a

questão dos profetas como, por exemplo, Elias (1Rs 21,1-29) que entende há o que é

herança448

.

Em suma, o profeta Jeremias tem o grande valor de mostrar que ele está

impressionado com a apavorante realidade de ser encarregado dela, mas também está

445 Ibid., 1986., p. 156. 446 Ibid., 1986., p. 157. 447 Ibid., 1986., p. 158. 448 Ibid., 1986., p. 159-161.

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124

igualmente insistente com a realidade de sua perda449

. Ele compreende a dimensão da

aliança de possuir a terra, o fato de que estar na terra e possuí-la depende da referência

constante de YHWH, apresentando a sua aflição da perda da terra, não a partir da

perspectiva de Israel, mas sim do ponto de vista de YHWH.

Finalmente, podemos entender que a preocupação de Jeremias em relação à

perda da terra está intimamente ligada com os menos favorecidos da sociedade de Judá,

(os camponeses e os trabalhadores). Mas, infelizmente Jeremias não pode fazer

realmente nada, isto porque Jeoaquim está no poder e agia de maneira não ética com os

seus oficiais no palácio e também com a população de Judá, principalmente os

trabalhadores do palácio, o pobre e o necessitado450

.

3.1.2 O rei Jeoaquim e a violação da terra

As declarações anteriores apelam para a ideia um tanto primitiva da terra, e

Jeremias aplicou o aviso às compreensões diferentes, aos resultados (ser expelida fora).

Israel esta a ponto de ser rejeitado como se fosse o mais desagradável dos pagãos451

.

O rei Jeoaquim não infringe apenas uma lei concreta do Deuteronômio ou um

ideal propagado pelo Oriente Antigo, ele age contrariando a justiça (qd,c,), e o direito

(jP'v.mi), ele está em falta com a relação a obrigação de rei. Assim, cabe-nos entender

que a sociedade se baseava no direito e na justiça, mas o que o povo encontrava era a

injustiça e a falta dos cumprimentos dos direitos da sociedade de Judá pelo rei

Jeoaquim452

.

Obviamente, que o desejo de dominação de Jeoaquim faz com que ele venha

violar os direitos humanos, portanto a sua conduta era contrária à ética e totalmente

inversa de como agiu o seu pai Josias que se preocupava em comer e beber, mas,

Jeoaquim construiu palácio, extorquiu, explorou e violou, a sua preocupação estava

centralizada apenas no seu bem estar, o próximo para Jeoaquim significava “nada”453

.

Existe um desacerto na vida de Jeoaquim, ele não entende o seu reinado como

serviço aos fracos e oprimidos, as suas concepções eram altamente egoístas, ele não

450 Cf. BRUGGEMANN, Walter. A Terra na Bíblia – Dom, promessa e desafio. São Paulo: Paulinas,

1986, p. 162-163. 451 Ibid., 1986., p. 164. 452 Ibid., 1986., p. 165. 453 Cf. BRUGGEMANN, 1986., p. 166.

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pretendia dividir o seu coração entre a YHWH e a riqueza, tendo os olhos e coração

voltados somente para o lucro, e é claro que este lucro vem através da exploração da

população usando a sua pseudoautoridade real para violar os direitos humanos e éticos

do povo.

Aqui está uma pequena leitura ou exercício que fizemos de um rei dominador,

um rei explorador, um rei que agiu sem coração para com os fracos e pobres, um rei que

matou por causa do lucro, um tirano devedor à política do Egito e Babilônia que agia de

maneira desonesta para consigo mesmo e para com o povo de Judá.

Mary Daly454

, por sua vez, nos apresenta em seus argumentos da “trindade

santa”, que este rei (Jeoaquim) está na contramão da justiça e do direito, mas em relação

ao poder, ele utilizava a riqueza e o lucro para seus desígnios e também não usava o

poder real para a justiça, mas sim para fazer injustiça ao próximo.

Segundo este conceito a autora relata que o poder deveria equilibrar o direito e a

justiça, mas infelizmente isto não acontece no reinado de Jeoaquim, o que vemos é a

exploração ao pobre e ao necessitado.

Um segundo aspecto a ser levado em conta por Daly é argumentar que a

“trindade não é santa”, e que o rei Jeoaquim se encaixa perfeitamente neste contexto, ele

invade o território dos camponeses, destrói os sonhos daqueles que viviam por causa da

terra, onde os camponeses plantavam para sobreviver, e o rei retirava a terra das mãos

das pessoas que precisavam plantar para sobreviver.

Conforme vimos anteriormente sem a “posse da terra” não havia a possibilidade

para sobreviver como nos dias atuais, pessoas que lutam por “um pedaço de terra”, para

adquirirem sua sobrevivência, conceito argumentado pela feminista Daly455

, as pessoas

precisam somente do básico para sobreviver como um emprego, uma casa, saúde e

dignidade para assim obter uma vida que todo ser humano necessita para sua

sobrevivência e adquirir o básico, o necessário. Entretanto, vemos no rei Jeoaquim uma

pessoa que tem o prazer de ver o sofrimento do pobre.

454 DALY, Mary. The Metaethics of Radical Feminism. Beacon Press, 1978, p. 43-47. 455 Ibid., 1978., p. 49.

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3.2 O direito e a justiça no Israel Antigo e Monárquico

Temos defendido que a época de Jeoaquim foi à de maior impacto social vivido

em Judá. Contudo, seu governo provocou voluntariamente o empobrecimento e o

sofrimento do povo em geral. No parágrafo anterior descrevemos brevemente como a

administração desse rei facilitou a exploração nesse período, para que o povo perdesse a

terra para sobreviver.

Neste próximo tópico descreveremos o conceito de justiça e direito no Antigo

Oriente, e a contramão do rei com relação às práticas destes temas, onde, no entanto, ele

deveria ter o compromisso com a sociedade de Judá.

3.2.1 A justiça distributiva na Torá

Nota-se que independentemente do pensamento dos antecedentes históricos de

Israel e dos antecedentes religiosos do javismo existe uma espécie da "revolução na

Torá" e YHWH rompe com a história do mundo como uma nova visão teológica na

(Torá) 456

.

Esta revolução na verdade tem conotações políticas, econômicas, morais e

étnicas, mas a sua principal força está na compreensão de estabelecer a justiça como um

elemento central da vida de YHWH no mundo e na vida de Israel com YHWH.

O conceito de justiça não raro é ideologizado de acordo com os

sistemas sociais, econômicos, políticos e as tradições culturais. Na

cultura ocidental, ela de fato recolhe a síntese de três dimensões: a

judaico-cristã; a grego-romana; e a germânico-eslava. Isto faz com

que hoje, no Ocidente, o conceito, de “justiça”, tenha matizes

diferentes de país para país, de um circulo cultural para outro. Mas

não no Ocidente, este “pluralismo” da noção de “justiça” é uma

realidade mundial. Com efeito, ao longo da história, o conceito de

“justiça” e o comportamento “justo” foram enriquecidos, mas também

ofuscados por elementos filosóficos, jurídicos, políticos e ideológicos,

provenientes de diversas teorias e ideologias, porém, no mundo antigo

o conceito de justiça nasce na Torá457

.

Evidentemente que a revolução mosaica é o foco principal da Torá (que, por sua

vez, é o principal enfoque fundamental da tradição posterior de Israel), tendo pontos

456 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. Teologia Del Antiguo Testamento – Um juicio a Yahvé. Testimonio,

Disputa e Defesa. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2007, p. 772. 457 Cf. MAIA, Maria. O exercício da justiça e a prática da religião em Israel. (Dissertação de Mestrado).

Universidade Católica de Pernambuco. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Recife:

2008, p. 92.

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principais como o acontecimento e a instituição. Dois fatos importantes é o evento que

constitui o centro da imaginação litúrgica de Israel: 1. O êxodo de Israel, e 2. O Êxodo,

como tem sido expresso nos textos litúrgicos de Israel, e tem por objetivo a glorificação

à YHWH (Ex 14, 4-17). No entanto, esta glorificação de YHWH era possível apenas

através da liberação dos escravos hebreus da opressão da escravatura egípcia (Ex 14,14-

25).

Nesse sentido YHWH é conhecido desde o início como um Deus comprometido

com a justiça em um contexto sociopolítico de um mundo onde o poder é maciçamente

organizado contra ela (justiça) 458

. Com esse pressuposto, como é fornecida pelo

testemunho israelita, a tremenda determinação de YHWH, de reorganizar o poder social

se expressa no imperativo inicial dirigida ao Faraó, que diz em Êx 5,1: yMi[;-ta, xL;v;

(xallah ’et-‘ammi, “deixa ir o meu povo”).

Todavia, na sequência desta resolução, em seguida conseguimos identificar o

lugar na história de forma implacável, as pragas que era o sofrimento expresso pelos

escravos (Ex 2, 23), algo que move a história alternativa de YHWH (Ex 2,23-25; 3,7-

10). Assim, a expressão deste sofrimento lança a determinação inegociável de YHWH a

de transformar a organização dos poderes terrestres.

O segundo foco seria a revolução mosaica, uma proclamação feita no Sinai

mediante os mandamentos de YHWH, que pretendia dar uma forma estável e

institucional das possibilidades sociais instruídas no Êxodo. Sendo assim, os

mandamentos recorriam para a tendência iconoclasta459

de YHWH (Ex 20,4-7) e, à luz

desta tendência anunciava-se uma possibilidade social alternativa no mundo antigo.

Entretanto, é justo reconhecer que dada a sua explicação posterior ao longo do

tempo, o evento do Êxodo e a estrutura do Sinai certamente atestam à opção de

preferência de YHWH pelos pobres, fracos e oprimidos. Dessa forma, YHWH é

conhecido como um advogado e um agente resistente e implacável que trabalha pela

justiça, o que acarreta a um rearranjo completo da organização do poder na terra460

.

Por outro lado, no contexto do testemunho global de Israel nunca haverá

destaque o suficiente e a fundamental importância que tem para o resto do testemunho

458 Ibid., 2007., p. 773. 459 Diz-se de pessoa que não respeita as tradições, a quem nada parece digno de culto ou reverência. 460 Cf. BRUEGGMANN, Walter. Pharaoh as Vassal: A Study of a Political Metaphor. CBQ 57, 1995, p.

27-35.

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israelita. No que tange a revolução mosaica e o compromisso de YHWH (e de Israel)

com a justiça.

Contudo, se considerarmos progressivamente os textos proféticos, os salmos, os

sapienciais e apocalípticos; parece evidente que Israel, por todas as partes sem cessar,

está interessado no programa da justiça que está enraizada na natureza e na

determinação de YHWH. Além disso, esta justiça que une as raízes de YHWH há de ser

cumprida e colocada em prática de maneira concreta na prática humana em Israel461

e

principalmente pelos reis.

É importante reconhecer com certa precisão a natureza e a intenção da justiça

mosaica e javista e que facilmente está mal interpretada, no que diz respeito à facilidade

do uso e a negligencia do termo justiça. O contexto sobre a intenção da justiça e do

direito na lei mosaica estão ligados em redistribuir os bens ao poder social, de maneira

que se trata de uma justiça distributiva462

.

Em todo caso, o texto de (Jr 22,13-19) e a prática da justiça e do direito pode ser

considerada a exigência básica por excelência que percorre tanto o livro de Jeremias em

seu todo, e principalmente, a crítica social do começo ao fim dirigido ao rei Jeoaquim

(609-598 a.C).

Considerando que a denúncia social, em seu discurso, é fundamental e

equivalente nos setores da sociedade, principalmente nas lideranças civis e religiosas.

Este fato de denúncia se deu devido tais monarcas como Jeoaquim, viverem como se

não houvesse limites e leis na sociedade de Judá. E dentro desse contexto que entra o

profeta Jeremias com a crítica contra o monarca463

.

Contudo, Jeremias não abre mão de dar um tratamento mais afinado a respeito

do compromisso da monarquia e da religião com o direito e a justiça. A importância da

exortação de Jeremias insiste na defesa das pessoas mais fracas e principalmente o

pobre (!Ayb.a,), a crítica de Jeremias ao rei Jeoaquim é adicionada a proibição de

derramar sangue inocente %APv.li yqiN"h;-~D: (dam-hannaqi lixppok, “sangue inocente

461 Ibid., 1995., p. 36-38. 462 Cf. MIRANDA, P. José. Marx y La Bíblia – Crítica a La Filosofia de la opresión. Salamanca:

Ediciones Sígueme, 1972, p. 137-151. 463 Cf. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas,

1988, p. 372-373.

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para derramar”). Está temática é essencial para entendermos uma das maiores novidades

de sua crítica social464

.

Tal justiça reconhece que os bens e o poder social se encontram distribuída de

forma desigual e destrutiva no mundo de Israel, portanto, em qualquer contexto social o

bem-estar da comunidade exige que aqueles que possuem demasiadamente, renunciem

em certa medida a sua propriedade e seu poder social para o bem daqueles que não tem

o suficiente465

. Nesta perspectiva, este princípio normalmente tão radical é algo

constituído para o revolucionário Israel e YHWH, como pode ser evidenciado pelas

suas distintas tradições.

Obviamente que Jeoaquim (o monarca) nunca iria renunciar do luxo e do seu

poder social como rei, para beneficiar a população de Judá. A crítica social do Jeremias

nos informa que este monarca está amparado na injustiça social, e está enriquecendo a

custa de trabalho escravo466

.

Brueggemann467

cita-nos três exemplos específicos que atestam essa intenção

distributiva.

a) Em Êxodo (3,21-22; 11.2; 12,35-36) Moisés encoraja os israelitas a

tomar "Objetos de prata e ouro" dos egípcios para escapar da

escravidão. A memória desta ação pode ser nada mais do que um

roubo do ressentimento com aqueles que têm por parte dos

despossuídos (aqueles que não têm posse), mas que ocupam um lugar

de destaque nos textos e sugere que constitui uma espécie de princípio

da reutilização. Além disso, David Daube468

propõe que este ato

guarda relação com “a lei do perdão de dívidas (Dt 15,1-11), onde o

escravo liberto da obrigação tem o direito de viabilidade econômica”.

b) A história do maná, é um sinal da proteção generosa de YHWH

para com Israel, é um modelo de gestão alternativa e dos recursos

alimentares. Ao dar e recolher o maná, ele diz: "Ao que tinha

recolhido mais não lhe sobrava nada, e não lhe faltava o que tinha

recolhido menos, cada um tinha o suficiente para comer" (Êxodo

16,18). Sem dúvida, esta afirmação pretende mostrar o paradigma de

464 Cf. ROSSI, Solano A. Luiz. “Conhecer a Javé” A partir da prática do direito e da justiça. Revista Caminhos, Goiânia, Vol. 9; Nº 2, julho/Dez. 2011, p. 219. 465 Ibid., 1972., p. 152-155. 466 Ibid., 1988., p. 374. 467 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. Teologia Del Antiguo Testamento – Um juicio a Yahvé. Testimonio,

Disputa e Defesa. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2007, p. 774. 468 Cf. DAUBE, D. The Exodus Pattern in the Bible. Londres, 1963, p. 55-61. In: WEINFELD, M. Social

Justice in Ancient Israel and in the Anciente Near East. Minneapolis, 1995. In: GOTTWALD, Norman K.

Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas, 1988. In: HAMILTON, H. J. Social

Justice and Deuteronomy: The Case of Deuteronomy 15 (SBLDS). Atlanta 1992.

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modo em que uma comunidade deveria dispor de seus recursos em

beneficio a todos.

c) O corpus legal do Deuteronômio está preocupado com "a viúva, o

órfão e o estrangeiro”, aqueles que carecem de recursos e de

influência social para adquirir algo para sobreviver. A revolução

mosaica, amplamente interpretada a grandes passos, pretende que os

poderosos se vejam obrigados a colocar em prática a justiça

distributiva.

Por conseguinte, devemos prestar muita atenção ao conteúdo de justiça

distributiva, isto porque o termo justiça (qd,c,), que para muitos textos israelitas requer

reparos, e em nossa sociedade de maneira convencional significa uma justiça

retributiva, dá à pessoa o que merece de acordo com o sua atuação, ou seja, defende um

sistema de recompensas e de punições, não modeladas pela obrigação comunitária ou a

generosidade da comunidade469

.

3.2.2 A justiça retributiva em Israel

A prática da justiça retributiva está presente no Antigo Testamento, assim como

no ambiente religioso do mundo antigo. Além disso, não há dúvida de que o termo

justiça, tal como é usado no mundo contemporâneo, geralmente refere-se à justiça

retributiva, como ao zelo generalizado difundido pela “lei e pela ordem”.

Contudo, tanto a justiça distributiva como a retributiva podem ser encontradas

nos textos relacionados à Israel. Em qualquer caso, o que parece é que não existe

ambiguidade alguma. Portanto, os textos israelitas fundamentais estão relacionados com

a revolução mosaica. Porém, no javismo encontramos a prática da justiça distributiva e

do direito.

Além disso, na crítica social de Jeremias, o rei (%l,m,) Jeoaquim está totalmente

contra a prática da justiça distributiva em Israel, dentro desta perspectiva o monarca tem

o dever de beneficiar o que está sendo necessitado e cumprir o direito (jP'v.mi) e a

justiça (qd,c,) na sociedade de Judá. A população tem os seus devidos direitos como

cidadãos, e principalmente o povo que ele está responsável.

469 Ibid., 2007., p. 775.

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Sendo assim, percebemos que as palavras hebraicas justiça (qd,c,) e direito

(jP'v.mi), apresentam diversos significados como justiça, retidão, bom comportamento,

lealdade, integridade e caridade. Na análise semântica do capítulo anterior pôde-se notar

que o rei Jeoaquim está desassociado a todos os significados que nos apresentam acima.

Isto obviamente não é bom para um rei, porque quando um rei não cumpre a justiça e o

direito este rei está contra YHWH (o Deus que instituiu tais leis na sociedade

israelita)470

.

Em geral, os intérpretes do Antigo Testamento sempre procuravam a precisão

em sua formulação do texto, e certamente serão percebidos em termos de uma justiça

que é menos difícil e exigente, é claro, principalmente com aqueles que possuíam o

poder, a propriedade e o bem-estar de forma desumana471

. Marx nos relata que a prática

da justiça para aqueles que estão no poder não é cobrada, na verdade, aqueles que estão

no poder utilizam da argumentação de fazer justiça, para oprimir e extorquir a

população em troca de trabalho escravo (Jr 22,13-14; 15-16; 17)472

.

É importante não conceber o compromisso de YHWH com a justiça distributiva

como algo romântico, mesmo que se encontre no centro do testemunho israelita acerca

do vosso Deus. No Antigo Testamento, nem todos por todas as partes estão

entusiasmados com o tema da justiça distributiva. A justiça distributiva é tomada a

sério com a prática do Jubileu473

e é intrinsecamente desestabilizadora do statu quo,

uma vez que significa colocar em perigo os interesses adquiridos.

Não é surpresa que aqueles que se beneficiam do status quo, são privilegiados

pela estrutura política, econômica e legal no mundo antigo, na verdade é o centro das

atenções, porém, estão contra YHWH e suas leis. Acreditamos que a manutenção da

"ordem", isto é, da ordem na sociedade de Judá, seja uma função fundamental de

470 Cf. MAIA, Maria. O exercício da justiça e a prática da religião em Israel. (Dissertação de Mestrado).

Universidade Católica de Pernambuco. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Recife:

2008, p. 95. 471 Cf. MIRANDA, P. José. Marx y La Bíblia – Crítica a La Filosofia de la opresión. Salamanca:

Ediciones Sígueme, 1972, p. 156-160. 472 Ibid., 1972., p. 161-162.

473 Cf. USSHER, James. The Annals of the World. O jubileu, na Torá, é o ano seguinte a uma "semana

de semanas" de anos. Assim como o sábado é o descanso semanal das pessoas e dos animais, a terra

também tem o seu sábado: seis anos são para a semeadura, mas o sétimo ano é de descanso. Após sete

períodos de sete anos, o quinquagésimo ano é santificado - este é o ano do jubileu.

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YHWH, é provável que este interesse social se reflita nas tradições da Sabedoria e de

Provérbios.

Parece plausível compreender as restrições conhecidas pelos profetas primitivos

contra os excessos em tensão com as tradições reais, as quais parecem justificar o

acúmulo de ganhos de capital, e isto é o que encontramos no reinado de Jeoaquim (609-

598 a.C), através da opressão ele acumula o capital para construir o seu palácio (Jr

22,13-14) 474

e se beneficia da opressão contra o inocente (yqin")475.

Portanto, por sua vez, a sociedade israelita como qualquer outra sociedade,

estava profundamente sobrecarregada pela opressão (qv,[o) constante de Jeoaquim,

entre os que têm como (o rei), que vivia tranquilamente, porém, os que não tinham

absolutamente nada (o pobre e necessitado) que viviam sobre extorsão (hc'Wrm.)476

diariamente pelo rei Jeoaquim.

No entanto, um estudo aprofundado da temática da justiça no Antigo Testamento

tem reconhecimento com o realismo social, que tanto os defensores da justiça

distributiva como os de ordem estão presentes e se manifestam na comunidade. Ambos

revindicam em seu depoimento teológico que YHWH os apoia477

.

Dificilmente pode-se duvidar que os seguidores da justiça distributiva ocupam

uma posição central no testemunho teológico de Israel, de maneira que, o javismo

canônico e a justiça distributiva são certamente uma recomendação fundamental.

Por sua vez, reconhecendo que tanto a justiça e a ordem estão presentes no texto

como afirmações teológicas, pode sugerir que há grande risco de um compromisso geral

sobre o testemunho de Israel com a justiça como um programa essencial de YHWH.

No entanto, é importante fazer o julgamento quando a tradição israelita se coloca

junto com as grandes tradições clássicas da filosofia grega, a justiça é claramente uma

preocupação judia e javista. Portanto, enquanto muitos gregos estabelecem

incessantemente a ordem478

o rei Jeoaquim estabelece a desordem.

474 Cf. MIRANDA, 1972., p. 165-167. 475 Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p. 347. 476 Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p. 304. 477 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. Teologia Del Antiguo Testamento – Um juicio a Yahvé. Testimonio,

Disputa e Defesa. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2007, p. 775. 478 Cf. WALZER, M. Exodos and Revolution. N. York, 1986, p. 76.

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Nenhum conceito filosófico na verdade (na tradição grega) é javista pela justiça

distributiva, e antecipa que a presente ordem social é colocada em ameaça, isto se dá

por uma ordem justa que promete viver em benefício de todos os membros da

comunidade de Judá. Assim, o recurso à ordem nos textos dos reis de Judá e da

sabedoria de Israel não deve ser exagerada, pois quando contrastada com os textos

gregos sobre a temática da justiça e de tradição israelita é considerada estranha quanto

insistente neste ponto479

.

Dessa maneira, há algo revolucionário, transformador e subversivo em relação

ao testemunho de Israel. Sem dúvida, como afirma Gottwald480

, grande parte desta

inclinação tem um impulso e caráter sociológico. Por sua vez, ele também reconhece a

posição sociológica que na qual possui um contraponto teológico, e Israel não tem

nenhum problema, em última instância, na hora de situar o fundamento desta posição da

justiça revolucionária em caráter de YHWH481

.

É de fundamental importância para Israel a justiça, pois ela está enraizada na

própria natureza de YHWH, com isso podemos advertir uma nota peculiar da franqueza

de Israel e sua relação com YHWH. É indiscutível que as narrativas e os cânticos

celebrem a justiça de YHWH, porém, nestas narrativas é afirmado que YHWH “ama a

justiça” (Salmos 99,4; Isaías 61,8).

Pode-se dizer que, está afirmação não é contestada por ninguém, isto porque

Israel depende muito de YHWH, mas não quer compromisso com ele. No entanto,

Israel é realista e honesto sobre a situação de sua vida. Eles sabem muito bem que a vida

não é exatamente como se cumprisse a justiça e a vontade soberana de YHWH. Esse

realismo e esta franqueza que evocam em Israel, no que foi finalmente chamado de

teodicéia482

.

Por isso devemos classificar o que este tema justiça significa em Israel, na

tradição filosófica da teodicéia desde Crenshaw483

e esta também entendida como uma

empresa explicativa onde busca justificar os caminhos de YHWH com o homem

(humanidade).

479 Cf. FRYE, N. The Critical Path: Na Essay on the social contexto f literary cristicism. Bloomington:

1971, p. 334-337. 480 Cf. GOTTWALD, Norman K. As Tribos de YAHWEH – Uma Sociologia da Religião de Israel liberto

(1250-1050 a.C). 2º ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 596-607. 481 Ibid., 2004., 608. 482 Ibid., 2004., 609-613. 483 Cf. CRENSHAW, L. J. Theodicy in the Old Testament. IRT 4: Filadelfia, 1983, p. 120-123.

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Como percebemos em Israel o que é chamado de teodicéia não há explicação,

mas sim protesto. Ao reconhecer que o mundo é injusto, Israel não tem interesse em

discutir ou justificar desculpas para exonerar a YHWH ou protegê-lo de críticas por não

conseguir endireitar o mundo. Ao invés disso, Israel se apresenta a si mesmo, nos textos

da teodicéia como o grande advogado e o defensor da justiça, por esse motivo há

descrença na justiça de YHWH484

.

De fato que os textos mais óbvios sobre esta temática são: (Jr 12,1-3; Jo 21,7),

Israel expressa sua irritação com YHWH, considerando que esta atitude é apresentada

também nos textos de salmos de lamentação e no poema de Jó. Assim, YHWH é

atacado por não praticar o direito e a justiça com aqueles que estão comprometidos

explicitamente por meio de juramento485

.

Neste ponto Israel faz a distinção entre YHWH e a realidade da justiça, mesmo

que esperássemos que YHWH fosse o último e a justiça à penúltima, em algumas das

manifestações mais desesperadas de Israel a questão é invertida e o que vemos é a

justiça apresentada como a última e YHWH como o agente da justiça que é criticado

pelo fracasso.

Ou seja, Israel está ciente de que em YHWH há algo mais do que a justiça, o que

há é a santidade e simplesmente uma irritabilidade sensivelmente caprichosa. Certas

vezes Israel está maravilhado e mostra diferença a essa incrível irrevogabilidade de

YHWH486

.

Por outro lado, nos textos de protesto Israel não tem tempo e não mostra nenhum

interesse por está dimensão anárquica e irresponsável de YHWH. O fato é que Israel

parece valorizar mais a justiça do que o próprio YHWH.

Israel não está preparado em mostrar legalidade, mas, comprometido com o

bem-estar material e concreto. Sendo assim, o próprio caráter de YHWH fará Israel

desistir da sua posição de bem-estar na terra. Assim, YHWH no céu deve cumprir com

o seu programa de xalom na terra.

484 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. Teologia Del Antiguo Testamento – Um juicio a Yahvé. Testimonio,

Disputa e Defesa. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2007, p. 777. 485 Ibid., 1983., p. 124-125. 486 Ibid., 2007., p. 778.

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Inclusive esta curiosa inversão sobre a justiça tem soado com estranheza e foi

interpretado por Derrida487

, este autor é conhecido principalmente como o “pai da

desconstrução da justiça” relacionada à YHWH. Este tema é definido suficientemente

na crítica profética dos profetas no século VIII ao VI a.C.

É claro que a desconstrução de Derrida488

constitui o direito e a justiça como

uma iconoclastia israelita. Por esta razão, o autor define uma posição pela

“indesconstrutibilidade da justiça”.

Não se trata simplesmente de uma verdade trivial, a justiça se trata de uma

verdade tipicamente israelita. E com esta formulação o autor apela novamente ao núcleo

da revolução mosaica, que, no final voltam-se novamente as questões da justiça

relacionadas à YHWH489

.

Nesta perspectiva, quando usamos o termo verdade na justiça logo entendemos

que esta afirmação inclui muitos componentes a favor de determinados interesses

sociais, e em relação ao testemunho do Antigo Testamento, o tema da justiça está

relacionado com aqueles que estão sofrendo injustiça pelos (reis) que estão no poder

(como Jeoaquim).

Ao mesmo tempo, não cabe duvidar-nos que nenhum desses componentes o

incomoda ou afeta a afirmação fundamental feita em relação à YHWH e ao futuro da

terra e principalmente do povo de Judá.

Por outro lado, a justiça e o direito em nosso texto em primeiro lugar no (v.13)

refere-se negativamente ao governo opressor de Jeoaquim e em segundo lugar no (v.15)

refere-se a uma crítica que Jeremias faz a Josias, esta crítica refere-se diretamente ao rei,

porque o mesmo não se preocupava com o âmbito social, a sua preocupação esta

voltada para a sua própria reforma religiosa.

Sendo assim, para termos uma ideia mais completa da extensão do significado

destas palavras (jP'v.mi) direito e (qd,c,) justiça, precisamos dramatizar. O direito é a

487 Cf. DERRIDA, J. Fuerza de la ley. El fundamento místico de la autoridade en Israel. 4º ed. Madrid:

1997, p. 36. 488 Ibid., 1997., p. 37. 489 Ibid., 1997., p. 38.

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justiça comum, ele é decorrente do julgamento que é realizado no tribunal composto por

seres humanos. Quanto à justiça, é a luta que se equipara a ação divina490

.

Por fim, para o rei, o exercício da justiça e do direito não se restringe apenas ao

poder judicial. Em Israel ou em Judá, como em todas as monarquias orientais, não

existe separação entre poder legislativo, executivo e judicial, o que acontece é que o rei

governa e julga indistintamente, entende-se que “governar” significava construir uma

sociedade segundo a justiça, garantindo a plenitude da vida ao seu povo, e é justamente

isto que o rei Jeoaquim (%l,m,ä ~yqiy"Ahy>), não está fazendo para o bem-estar da

população de Judá, que era de praticar a justiça e o direito.

3.3 A justiça social no Antigo Testamento

Por isso podemos compreender que a temática da justiça social é de suma

importância para entendermos melhor o ambiente da crítica social em Jeremias. Porém,

o reino da justiça constitui um dos objetos essenciais de todos os sistemas morais que

atingiram certo grau de evolução. Esta observação de ordem geral aplica-se

especialmente ao judaísmo, que como sabemos, atribui importância primordial a justiça

social491

.

É necessário esclarecer que na época dos profetas como Jeremias, o problema da

justiça social veio à tona com vigor e cuidado, representando a prefiguração do que viria

a ser na continuidade da história do povo judeu492

. Os profetas não paravam de exigir

com veemência a obediência aos mandamentos da caridade e de luta social em favor dos

pobres (!Ayb.a,)493, e erguiam-se com energia contra os ricos e poderosos.

Todavia, ninguém dentre eles fez campeão de ideal democrático. Conforme o povo

pensava logo eles tinham a necessidade de serem guiados, e o que em primeiro lugar

levavam em conta eram as qualidades do guia. Contudo, nenhum deles invocou o direito

da revolta das massas oprimidas pelos poderosos494

.

490 Cf. SIQUEIRA, Tércio Machado. Conhecer a Deus é praticar a justiça (Jr 22,13-19). Estudos

Bíblicos, nº 14, Petrópolis: Vozes, 1987, p. 15. 491 Cf. EPSZTEIN, Léon. A justiça social no antigo oriente médio e o povo da Bíblia. São Paulo:

Paulinas, 1990, p. 12. 492 Ibid., 1990., p. 13. 493 Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p. 2. 494 Cf. EPSZTEIN, 1990., p. 75-76.

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Os profetas denunciavam veementes as injustiças sociais (como Jeremias),

denunciavam a escravidão por causa de dividas, denunciavam os abusos e opressões por

parte dos monarcas e as prescrições destinadas a proteger o pobre e necessitado era

porque tais atos constituía uma ruptura da aliança com YHWH.

Sendo assim, não convém esquecer de que se porventura os profetas não fazem

política, suas exigências referem-se aos domínios sociais, políticos e econômicos,

quanto os da religião495

. O tema da justiça social de Jeremias esta focado na ordem

interna de Judá, que era corrupta e que seria destruída totalmente pela Neobabilônia. A

liderança (rei Jeoaquim) precisava se arrepender e praticar a justiça social e que durante

muito tempo havia sido violada496

.

Dentro desta perspectiva, os profetas nunca se preocupavam com o “sentido” do

mundo e da vida. Porém, seu horizonte limita-se estritamente a este mundo. Aos

insucessos e desgraças do presente, eles opõem a esperança do futuro, quando o povo e

seus dirigentes se voltarem para a prática da justiça social em Israel.

No entanto, Israel deveria ser governado nos parâmetros da justiça. Mas, em

relação ao rei Jeoaquim (609-598 a.C), isto nunca aconteceu. A promessa dos profetas

diz respeito ao porvir político terrestre e não a vida transcendente497

.

Os profetas hebreus tiveram seus predecessores, eles não foram

criados em bloco, são herdeiros de uma longa tradição e trazem a

marca de seus antepassados. Mas se os primeiros profetas

proclamavam acima de tudo a onipotência de YHWH e postulavam às

exigências culturais, seus sucessores (como Jeremias) insistiam

especialmente no fato de que a verdadeira justiça social com YHWH

deve traduzir por atos como: denuncia aos monarcas, degradação

social, exploração ao pobre, condenação contra o sistema e pelos

funcionários injustiçados498

.

O profeta Jeremias pode ser considerado como um reformador social, porque ele

protestou com veemência contra os abusos e as injustiças do rei Jeoaquim em Judá.

Podemos assim afirmar que Jeremias possuía uma concepção unitária dos fatos sociais e

procurava a síntese da ética entre os monarcas, em especial Jeoaquim.

495 Cf. CERESKO, Anthony R. Introdução ao Antigo Testamento; numa perspectiva libertadora. São

Paulo: Paulus, 1996, p. 14. 496 Cf. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas,

1988, p. 372-372. 497 Cf. . EPSZTEIN, Léon. A justiça social no antigo oriente médio e o povo da Bíblia. São Paulo:

Paulinas, 1990, p. 77-78. 498 Ibid., 1990., p. 112.

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É evidente que para Jeremias o social em sua mensagem não é apenas um

epifenômeno499

da moral, os crimes sociais segundo o profeta se tornam também como

pecados religiosos. A época na qual vivia era um momento de crise política e

econômica. Contudo, as críticas de Jeremias focalizam a injustiça social500

.

Alguns profetas como Jeremias, Sofonias e Habacuque, pertenciam ao último

terço do século VII a.C. e estavam de frente com as injustiças sociais praticadas pelos

monarcas. Eles insurgem com veemência contra o que passa em volta deles, e a justiça é

o principal remédio que preconiza.

Conseguimos analisar suas indagações tendo uma pequena mostra como, por

exemplo, o profeta Sofonias que condena a corrupção em Jerusalém. Habacuque que se

lamentava pela opressão do fraco pelo forte, e da violação do direito501

. E Jeremias que

foi o primeiro profeta que criticou um rei de Judá, que oprimia o pobre e o necessitado.

Nesse contexto, o profeta Jeremias denunciou os desmandos sociais, econômicos e

políticos, vigentes no reinado de Jeoaquim, o período do seu reinado era caracterizado

por uma instabilidade na condição política de Judá.

É notório que o conteúdo de denuncia da justiça social na mensagem de Jeremias

é plausível, o profeta em sua crítica social apresenta uma síntese da situação reinante em

seu tempo como: exploração contra os trabalhadores, injustiça, sangue inocente

derramado, opressão, extorsão e desrespeito com a sociedade de Judá.

Esses termos descrevem uma situação marcada pelas relações desiguais, onde

pessoas e um rei déspota governam, através da dominação e da exploração,

frequentemente estes termos são usados para descrever uma situação marcada por

profunda injustiça e opressão de ordem social502

.

No entanto, por sua vez, a justiça social no contexto do Antigo Testamento, pode

ser definida como a atitude de garantir a cada pessoa aquilo que lhe é devido por lei (no

caso do Antigo Testamento, os direitos que a Torah confere aos israelitas, tais como:

direito à propriedade, à liberdade e etc.), velando em particular pelos fracos, ou seja, por

499 Fenômeno que é um subproduto ocasional de outro, sobre o qual não exerce qualquer influência, e do

qual é dependente. 500 Cf. . EPSZTEIN, 1990., p. 113-114. 501 Ibid., 1990., p. 120-121. 502 BUCK, F. La sagrada escritura: texto y comentário “Antigo Testamento”. (Vol. 6). Madrid:

Cristianos, 1971, p. 358.

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aqueles que não têm voz ativa. O que contraria esse princípio é caracterizado como

injustiça social503

.

A mensagem de Jeremias deixa transparecer a situação econômica em Judá,

enquanto isso o monarca dominante (Jeoaquim) espolia o pobre (!Ayb.a,) e oprimia as

pessoas mais carentes da população, os necessitados.

Como mencionado anteriormente, os próprios termos utilizados para descrever a

situação presente “opressão e extorsão” são fortes indícios que apontam para uma

situação de jugo, de exploração e de opressão interna, por Jeoaquim e seus súditos504

.

No entanto, a sociedade dessa época é caracteristicamente agrária, pois esse é o

contexto socioeconômico que marcou e foi instaurada na nação de Israel a partir da

conquista de Canaã, se consolidou definitivamente com o surgimento e a consolidação

do regime monárquico.

Vejamos que, os problemas de opressão e de extorsão, é primariamente o

reflexo de uma administração preocupada com a elite em detrimento da população que

vive diariamente oprimida pelo rei505

.

Por outro lado, a presença de uma classe dominadora e de outra classe dos

dominados (explorados) pode ser claramente notada em nossa perícope (Jr 22,13-19)506

,

onde o profeta registra uma série de “ai” (yAhå) contra o dominador.

Ademais, a alusão ao rei Jeoaquim507

que há no texto de Jeremias pode ser um

indício do contexto cultural da época. Porém, como citado anteriormente, os “ai” (yAhå)

são parte do conteúdo de denúncia profética contra o monarca opressor.

Portanto é perfeitamente aceitável a afirmação de que a crítica social de Jeremias

demonstra, ainda que de forma indireta, a situação de insatisfação geral em que se

encontraram os oprimidos na sociedade de sua época508

.

A narrativa de Jeremias faz clara alusão à repressão jurídica. O direito e a

justiça, que deveriam estar disponíveis a todo o povo, encontram-se a serviço do rei

503 Cf. SANTOS, Jeová Rodrigues dos. Justiça e realidade social no livro de Habacuque: A fidelidade do

justo frente à injustiça social. (Dissertação de Mestrado). Universidade Católica de Goiás. Departamento de Filosofia e Teologia. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Goiânia, 2009, p. 116. 504 Cf. SICRE, José Luiz Diaz. Profetismo em Israel: O profeta, Os profetas, A mensagem. 3º ed.

Petrópolis: Vozes, 2008, p. 162-164. 505 Ibid., 2009., 119. 506 Cf. BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 7º ed. São Paulo: Perspectiva, 2011, p.

257-258. 507 Cf. GUNNEWEG, J. H. Antonius. História de Israel. São Paulo: Teológica/Loyola, 2005, p. 198. 508 Cf. WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. 2º ed. São Paulo: Targumim/Paulus,

2006, p. 276-277.

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dominador, ou seja, o monarca e a elite ligada ao palácio. O profeta, diante desse

contexto, torna-se a porta voz do povo explorado diante de YHWH509

.

Logo, os interesses defendidos na crítica social de Jeremias, referiam-se à busca

do direito e do exercício da justiça social em favor dos pobres e marginalizados. O

conflito central da mensagem profética trata da injustiça social caracterizada pela

opressão e pela extorsão que o monarca (Jeoaquim) castigava o próximo, e também a

grande maioria oprimida que estava no centro da sociedade de Judá510

.

Por fim, os conflitos podiam ser vistos a partir dos mecanismos de opressão

usados pelo monarca (Jeoaquim), tais como: a cobrança de tributos abusivos e o

trabalho forçado, YHWH estava do lado do trabalhador que neste contexto é o

necessitado, o pobre, o oprimido, o injustiçado e o espoliado. Assim, é com a classe

oprimida que YHWH se identificava, e é para ela e a partir dela que Ele manifestava a

sua compaixão e implantava a sua justiça511

.

3.4 O sistema de opressão no reinado de Jeoaquim

Observamos que a história nos mostra os relatos bíblicos de opressão e luta, no

Antigo Testamento é muito discutida, e também nos círculos bíblicos latino-americanos.

Por outro lado, discute-se sobre os dominadores, os agentes e os mecanismos de

tanta opressão e exploração512

. As práticas denunciadas por Jeremias ao rei Jeoaquim,

acontecem no âmbito público, sobre este incidente se houve ou não denuncia de

Jeremias aos atos de Jeoaquim em público ou não, há várias controvérsias, mas temos

que ter certo equilíbrio com relação à posição de Westermann513

, que diz que a crítica

social de Jeremias direcionada a Jeoaquim foi em público.

Nesse caso, precisamos ter em memória a referência que se concentra em relação

à opressão (qv,[o)514 em Judá, e principalmente da narrativa de Jr 22,13-19. A

509 Ibid., 2006., 278-279. 510 Ibid., 2006., 284-285. 511 Ibid., 2006., 286-291. 512 Cf. REIMER, Haroldo. Agentes e mecanismos de opressão e exploração em Amós. Petrópolis, RJ;

RIBLA, Vol. 12, 1992, p. 51. 513 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário al profeta Jeremias. Espanã: Ediciones Fax Zurbano 80

Madrid, 1972, p. 119-120. 514 Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2010, p. 405.

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experiência da opressão está ligada especialmente a uma relação antagônica515

entre

ricos (monarca) e pobres (!Ayb.a,).

Portanto, já relatamos anteriormente na exegese no capítulo anterior a expressão

hebraica qv,[ (‘oxeq, “opressão”), que diz respeito aos atos de abuso de poder ou

autoridade, quando se sobrecarrega, pisa e esmaga aqueles que estão num nível inferior,

isto se encaixa perfeitamente ao rei Jeoaquim.

A opressão é, conseguintemente, um pecado grave contra o qual Israel foi

advertido nos mais duros termos516

. Porém, quem está oprimindo é o monarca

(Jeoaquim), e não está nem um pouco preocupado com o que vai lhe acontecer no

futuro517

. A enunciação qv,[ (‘oxeq, “opressão”), é uma das palavras mais importantes

e básicas no Antigo Testamento para expressar a experiência de opressão.

Afinal, este verbo qal masculino singular (qv;[') significa oprimir, encontra-se

em Jeremias somente três vezes: (Jr 7,6; 21,12; 50, 33). E como opressão encontramos

somente duas vezes: (Jr 6,6; 22,17). Denotando assim uma palavra muito antiga no

texto hebraico518

.

O que se pode notar é que o verbo designa várias formas de injustiças e

violências pela parte de ricos e monarcas em Israel, em nosso caso Judá, as causas que

os ricos oprimem os pobres são: explorações econômicas, sentenças injustas no tribunal,

administradores arbitrários, e medidas violentas com a população.

Por conseguinte a expressão hebraica violência (sm'x'), não aparece em nossa

perícope, tendo aparecimento somente em Habacuque 1,2-3-9; 2,8-17. Podemos dizer

então que este rei vassalo do Egito e de Babilônia agiu com violência devido à

expressão que nos é informado na perícope que ele derramou sangue inocente. Isto não

é somente violência, mas assassinato519

.

Em seguida a palavra hebraica qv,[ (‘oxeq, “opressão”) tem referência em

quatro elementos fundamentais que nascem desta raiz hebraica, como injustiça,

515 Palavra que se refere a “oposto ou contrário”. 516 Cf. HARRIS, Laird. R. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 1998, p. 1186. 517 Cf. TAMEZ, Elsa. La Bíblia de lós oprimidos: La Opresión em la Teologia Bíblica. Costa Rica:

Departamento Ecuménico de Investigação, 1979, p. 8-14. 518 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao texto massorético –

Guia introdutório para a Biblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 118-119. 519 Cf. TAMEZ, Elsa. La Bíblia de lós oprimidos: La Opresión em la Teologia Bíblica. Costa Rica:

Departamento Ecuménico de Investigação, 1979, p. 49-52.

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violência, roubo e pobreza. Sendo assim, na narrativa de Jeremias 22,13-19, podemos

dizer que estas quatros expressões se apresenta na integra e também se cumpre

afirmando que o rei agiu com injustiça e violência contra os trabalhadores, roubou

também a paz e a esperança levando a pobreza aqueles que necessitavam de terra para

plantar520

.

A expressão hebraica qv,[ (‘oxeq, “opressão”) representa na verdade um tempo

muita injustiça para a população de Judá. E ao analisar os contextos e as palavras

hebraicas no Antigo Testamento descobriremos que os termos nos direcionou a

significados importantes com relação a realidade que monarca viveu e ou vivenciou em

seu tempo521

.

Importante saber que sempre que se encontrar a palavra opressão no Antigo

Testamento, ou em qualquer contexto da literatura bíblica, deve-se identificar e situar-se

os autores e executores da opressão (como o rei Jeoaquim).

Contudo, de outro modo, se corre o perigo de se considerar a opressão com um

tema que se fala de justiça e liberdade, portanto temos que analisar a fundo os motivos

de tais opressões na sociedade de Judá. Nesse contexto de Jeoaquim, a opressão é a

causa do abuso de poder e o uso de autoridade que este rei de Judá possuía, e um dos

sistemas de opressão que o rei utilizou estava relacionado no resgate de tributos à

população de Judá.

O modo de produção tributário efetivamente é constituído pelas

antigas comunidades aldeãs, que se veem cobertas por uma unidade

superior, instância política de exploração das primeiras por intermédio

da aplicação e arrecadação do tributo522

.

Considerando na verdade que o excedente cria a necessidade de centralização

política. Mecanismos são necessários para que os que têm excedentes, para que ambos

fossem diferenciados e privilegiados.

Dessa forma a apropriação do excedente através da instancia política cria uma

elite (o grupo do poder político). Adiante, se dá o surgimento de uma parcela na

sociedade que se beneficia do excedente, criando na maioria das vezes necessidades

cada vez maior de recursos.

520 Cf. TAMEZ,, 1979, p. 53-57. 521 Ibid., 1979., p. 58-64. 522 Cf. HOUTART, François. Religião e modos de produção pré-capitalista. São Paulo: Paulinas, 1982,

p.18.

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E da mesma maneira a apropriação do excedente pela esfera política é feita e

justificada pela atuação estatal em forma de serviço que são “trocados” pelos tributos523

.

Com o aparecimento nas esferas militares e religiosas, os dois principais serviços

prestados a coroa (a monarquia).

Enfim, Jeoaquim tinha firmado um acordo em pagar tributos altíssimos ao Egito,

esta atitude tinha como base sua sobrevivência no trono de Judá, o que acontecia em

detalhes era que o tributo deveria ser pago através do trabalho escravo e muitas vezes

também por pessoas da sociedade de Judá, algumas delas foram assassinadas por não

obedecerem às diretrizes do monarca.

Sabemos que o sistema de tributo nas monarquias antigas era fundamentado

através da exploração ao pobre e necessitado. Como já relatado anteriormente, a

ideologia de luxo era grande e fazia parte da monarquia em Judá.

O modo de extorsão no reinado de Jeoaquim trazia grandes quantidades de

recurso ao monarca. E a grande quantidade de arrecadação de tributos na sociedade

levou vários agricultores à ruína, onde pessoas tiveram que se desfazerem das suas

propriedades e como consequência se transferirem para a cidade como indigentes. Além

disso, o tributo era exclusivamente extraído das pessoas, mas especificamente da

população de Judá que era obrigada a pagar o “imposto interno”, certamente agravado

pela atitude irresponsável do rei Jeoaquim de ampliar as instalações do seu palácio.

Neste capítulo descrevemos de modo breve, a respeito às questões históricas que

Jeremias vivenciou o colapso da Assíria e a sua derrota, em seguida o início do reinado

de Josias e a reforma religiosa, tendo também o relato da morte de Josias na batalha, e

por fim, os abusos sociais que o filho de Josias (Jeoaquim) fez em relação à Judá, tendo

como foco apontar a exploração da terra pelo rei, onde levou muitos camponeses a

perderem a terra, levando-os a ruína, à apresentação das questões do direito e da justiça,

a justiça social no período da crítica social e o sistema opressor de Jeoaquim,

relacionado à sociedade de Judá.

523 Cf. FILHO, Fernando B. Sofrimento e Luta social em Jeremias 7-23. (Dissertação de Mestrado).

Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do Campo, SP, 1994, p. 127.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegando à conclusão das pesquisas desta dissertação gostaria de relembrar as

motivações que me levaram a sua realização e relacionar seus resultados principais. A

motivação básica foi (e continua sendo) a paixão e sede de justiça que os profetas desde

o século VIII a.C. tinham até chegar a nossa perícope no final do século VII a.C., com a

sede de justiça social que estava inserida no profeta Jeremias.

E mais concretamente, a busca de aperfeiçoar através da análise da crítica social

os acontecimentos sobre a situação histórica de Jeremias e dos personagens inseridos na

perícope em estudo, para assim coloca-lós a serviço de sua vida em igualdade de

direitos e dignidade para todas as pessoas, principalmente para aqueles que têm sede de

justiça, e sonham por um mundo melhor.

O interesse pela situação histórica e social da crítica de Jeremias estava

concentrado nas pessoas que foram exploradas por trabalho escravo no reinado de

Jeoaquim. Muitas destas pessoas morreram e foram exterminadas do convívio social.

Percebi que a denúncia de Jeremias ao rei Jeoaquim inicia-se com a expressão;

“Ai daquele que constrói sua casa (palácio) através da injustiça”, e esta voz ecoa em

nossos ouvidos até os dias atuais. São estes os rostos de pessoas que foram mortas por

um rei tirano, as tais não se encurvaram para a prática de escravidão e extorsão do rei

Jeoaquim. Elas morreram por um ideal digno de louvor, e isto é animador para aqueles

que ainda sofrem atualmente.

A pesquisa realizada apontou alguns pontos essenciais para a compreensão da

crítica social de Jeremias contra o rei Jeoaquim.

Ao longo desta pesquisa procuramos ao final de cada capítulo amarrar as ideias

de maneira conclusiva. Todavia, estas conclusões finais focalizarão de maneira breve os

resultados da caminhada em conjunto.

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É importante ressaltar que, houve algumas dúvidas que se concentrava no início

da pesquisa e que foram resolvidas. Como por exemplo, o debate que alguns biblistas

deste o início de século XX tinham em relação há qual texto utilizar para pesquisar a

literatura de Jeremias.

A partir, dos anos 90, encontrou-se um consenso de que seria melhor utilizar o

texto hebraico (Massorético), isto se deu porque o texto grego (Septuaginta) é um

sétimo menor do que o texto hebraico, sendo assim este percentual estaria relacionado

ao livro inteiro.

Havia outra questão para ser solucionada, que era à autoria do livro de Jeremias.

Como relatamos anteriormente no capítulo I, do que temos em mãos para pesquisar do

livro de Jeremias, vinte por cento é de autoria do profeta, e os outros oitenta por cento,

são inclusões de Baruc (%WrB', Baruk), relato de redatores que viveram próximos de

Jeremias.

Podemos ainda concentrar algumas questões que tínhamos para resolver na

pesquisa, como por exemplo, apontar quem realmente estava por trás do trono de

Jeoaquim o protegendo, este rei foi muito esperto. Para se beneficiar das situações

existentes em Judá, preferiu ser vassalo dos egípcios e dos babilônicos.

Porém, foi descrito nesta pesquisa, que quem o protegia eram os egípcios. Ele

tinha uma dívida altíssima com o faraó Necao, em troca o faraó o colocaria no trono de

Judá, ele então deveria extorquir os pobres e os necessitados em benefício do poder,

repassando os tributos para o faraó, os seus benefícios seria o luxo e a exploração.

Outra questão a ser discutida era compreender se realmente na crítica social de

Jeremias o profeta estava elogiando ou não Josias. A maioria dos biblistas já relatados

no capítulo II é favorável em dizer que Josias fez uma reforma maravilhosa e que

alcançou o âmbito social.

Por sua vez, como já relatado, Josias estava sendo criticado pelo profeta

Jeremias, por se preocupar somente em obedecer às diretrizes da Torá. E dentro desta

análise conseguimos obter como biblistas de destaque as questões de Schwantes e Diaz.

Schwantes524

e Diaz525

são de opiniões contrárias em relação à citação de Josias

por Jeremias no (v.15). Para Schwantes, Jeremias cita Josias neste texto como forma de

“elogio” as práticas justas de Josias como “justiça social”, que este rei as fez em seu

reinado.

524 Cf. SCHWANTES, Milton. O direito dos pobres. São Leopoldo: OIKOS/EDITEO, 2013, p.142. 525 Cf. Ibid., 1988, p.535-537.

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Diaz526

é totalmente contrário ao pensamento de Schwantes, segundo o autor,

Josias também teve seus luxos opressivos, portanto, menores, foi assim que ele

proporcionou conteúdo a sua reforma religiosa e não justiça social como defende

Schwantes, “a reforma de Josias foi altamente religiosa, ele não estava preocupado

como a reforma social como podemos notar no dito de Jeremias 22,15b”.

No entanto acrescentamos a opinião satisfatória de Westermann que entende da

mesma maneira que Diaz, e ainda acrescenta que os (vv.15,16), foram inseridos no texto

por mãos dos deuteronomistas para deturpar totalmente a crítica social de Jeremias

contra Josias. Para Westermann527

há uma grande probabilidade de que nunca um

profeta igual Jeremias iria “elogiar” um rei do Sul, (no caso de nossa perícope Josias,

WhY"viaoy), devido a sua aversão como profeta do reino do Norte. Outro fato importante

descrevemos na análise semântica, foi a questão de como foi a morte (sepultamento) de

Jeoaquim.

No entanto, Westermann defende que a morte de Jeoaquim foi o resultado de

uma conspiração cujos sofisticados perpetradores ou circunstâncias não foram reveladas

e não conhecida a seus contemporâneos.528

Este pode ser o caso, mas é melhor lembrar que não há informações históricas

desse tipo, e mais tarde o preenchimento das lacunas tenta criar a harmonia entre as

lacunas no livro de (2 Reis 24, 6) e os julgamentos do profeta Jeremias quanto ao

destino do rei assassino (Jr 22,18-19). A citação que temos no livro de (2 Reis 24,6),

segundo Westermann é um acréscimo deuteronomista que sempre estavam a favor do

monarca. Sendo assim, concluo com as palavras de Ivone Gebara:

Uma transformação que abrange a violência humana, especialmente a

violência contra camponesas e crianças, promovendo a consciência de

que nenhum ser, animado ou inanimado, pode ser considerado um

mero objeto. E uma transformação do próprio poder que ajude a

desconstruir relações baseadas no poder de dominação e a relações de

poder partilhado, baseadas em um “poder de dentro” que nasce do

divino inominável e indomável presente em todos os seres

humanos529

.

526 Ibid., 1988., p.537. 527 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário Al Profeta Jeremias. Madrid: Ediciones FAX, 1980, p.90-

94. 528 Ibid., 2002., p. 16. 529 Cf. GEBARA, Ivone. Teologia ecofeminista: ensaio para repensar o conhecimento e a religião. São

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SCHWANTES, Milton. O profeta Jeremias. Santo André: Instituto MONSENHOR

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