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SIMP .TCC/Sem.IC. 2018(13); 2279-2310 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210 2279 CURSO DE JORNALISMO FAKE NEWS: UMA ANÁLISE DE AGÊNCIAS QUE AJUDAM A IDENTIFICAR A VERACIDADE DE UMA NOTÍCIA FAKE NEWS: AN ANALYSIS OF AGENCIES THAT HELP IDENTIFY THE TRUTH OF A NEWS Wellington Castro Segismundo Marta Mencarini Guimarães Resumo Com o desenvolvimento tecnológico, notou-se um aumento significativo das chamadas fake news: prática de distribuição de notícias falsas, que tem mostrado um poder imensurável, transitado nos meios jornalísticos e sociais. Diante disso, é de fundamental importância que se saiba diferenciar uma notícia verdadeira de uma duvidosa e/ou mentirosa, e conhecer as ferramentas disponíveis de combate às falsas notícias. Isso justifica a importância deste estudo, que tem como intuito: fornecer elementos que auxiliam na hora de credibilizar uma notícia, apresentar os mecanismos de checagem, suas metodologias e expor os aspectos presentes em uma produção enganosa. Participaram deste estudo, a Agência de Jornalismo Investigativo Truco e a agência de fact checking Aos Fatos; a pesquisa se enquadra nos modelos de investigação quantitativa e os dados apresentados foram baseados nas respostas enviadas pelos entrevistados. O referencial teórico foi baseado em materiais gráficos e informatizados como: livros, artigos científicos (originais /revisão), periódicos e monografias, disponibilizados em bases de dados eletrônicos, acervos físicos e digitais. Nesse sentido, este artigo conta também com dados bibliográficos, imagens e citações de teóricos como: Pierre Levy (1999), Joaquim Letria (2000) e Octavio Ianni (2002), além da entrevista, o artigo apresenta um estudo de caso, sobre o ataque por meio de fake news, contra a Vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), e como foi feita a checagem das falsas informações compartilhadas sobre a parlamentar carioca. Palavras-Chave: Fake news; Fact Checking; Jornalismo Digital; Pós-Verdade; Agências de fact checking. Abstract: With the technological development, we noticed a significant increase in the so-called fake news: practice of distribution of false news, which has shown an immeasurable power, transited in the journalistic and social media. Given this, it is of fundamental importance to know how to differentiate a true story from a dubious and / or liar, and to know the tools available to combat false news. This justifies the importance of this study, which aims to: provide elements that help in the credibility of a news item, present the mechanisms of checking, its methodologies and expose the aspects present in a misleading production. Participated in this study, the Investigative Journalism Agency Truco and the agency of fact checking Aos Fatos; the research is part of the quantitative research models and the data presented were based on the answers sent by the interviewees. The theoretical reference was based on computerized and graphic materials such as: books, scientific articles (original / revision), periodicals and monographs, available in electronic databases, physical and digital collections. In this sense, this article also includes bibliographical data, images and quotations from theoreticians such as Pierre Levy (1999), Joaquim Letria (2000) and Octavio Ianni (2002). In addition, the article presents a case study on the attack by through fake news, against Viteadora Marielle Franco (PSOL / RJ), and how was the check of the false information shared about the Carioca legislator. Keywords: Fake news; Fact Checking; Digital Journalism; Post-Truth; Fact Checking Agencies. Contato: [email protected] Introdução A sociedade tem passado por constantes transformações e renovações. As novas tecnologias voltadas para a comunicação acompanham este ritmo e, surpreendem pela rapidez com que se desenvolvem. A criação da informática fez com que a sociedade vivesse uma grande modificação e avançasse em questões de desenvolvimento; tais transformações possibilitaram o progresso das indústrias, a melhoria de muitos setores, além de mudanças culturais, mercadológicas, econômicas e trouxeram progresso social. Conforme Taís Marina Tellarolli e João Pedro Albino (2007), devido estas transformações, o jornalismo sofreu mudanças consideráveis no Como citar esse artigo: Sagismundo WC, Guimarães MM. FAKE NEWS: UMA ANÁLISE DE AGÊNCIAS QUE AJUDAM A IDENTIFICAR A VERACIDADE DE UMA NOTÍCIA. Anais do 13 Simpósio de TCC e 6 Seminário de IC da Faculdade ICESP. 2018(13); 2279-2310

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SIMP.TCC/Sem.IC. 2018(13); 2279-2310 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210

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CURSO DE JORNALISMO

FAKE NEWS: UMA ANÁLISE DE AGÊNCIAS QUE AJUDAM A IDENTIFICAR A VERACIDADE DE UMA NOTÍCIA FAKE NEWS: AN ANALYSIS OF AGENCIES THAT HELP IDENTIFY THE TRUTH OF A NEWS

Wellington Castro Segismundo

Marta Mencarini Guimarães

Resumo

Com o desenvolvimento tecnológico, notou-se um aumento significativo das chamadas fake news: prática de distribuição de notícias falsas, que tem mostrado um poder imensurável, transitado nos meios jornalísticos e sociais. Diante disso, é de fundamental importância que se saiba diferenciar uma notícia verdadeira de uma duvidosa e/ou mentirosa, e conhecer as ferramentas disponíveis de combate às falsas notícias. Isso justifica a importância deste estudo, que tem como intuito: fornecer elementos que auxiliam na hora de credibilizar uma notícia, apresentar os mecanismos de checagem, suas metodologias e expor os aspectos presentes em uma produção enganosa. Participaram deste estudo, a Agência de Jornalismo Investigativo Truco e a agência de fact checking Aos Fatos; a pesquisa se enquadra nos modelos de investigação quantitativa e os dados apresentados foram baseados nas respostas enviadas pelos entrevistados. O referencial teórico foi baseado em materiais gráficos e informatizados como: livros, artigos científicos (originais /revisão), periódicos e monografias, disponibilizados em bases de dados eletrônicos, acervos físicos e digitais. Nesse sentido, este artigo conta também com dados bibliográficos, imagens e citações de teóricos como: Pierre Levy (1999), Joaquim Letria (2000) e Octavio Ianni (2002), além da entrevista, o artigo apresenta um estudo de caso, sobre o ataque por meio de fake news, contra a Vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), e como foi feita a checagem das falsas informações compartilhadas sobre a parlamentar carioca. Palavras-Chave : Fake news; Fact Checking; Jornalismo Digital; Pós-Verdade; Agências de fact checking. Abstract: With the technological development, we noticed a significant increase in the so-called fake news: practice of distribution of false news, which has shown an immeasurable power, transited in the journalistic and social media. Given this, it is of fundamental importance to know how to differentiate a true story from a dubious and / or liar, and to know the tools available to combat false news. This justifies the importance of this study, which aims to: provide elements that help in the credibility of a news item, present the mechanisms of checking, its methodologies and expose the aspects present in a misleading production. Participated in this study, the Investigative Journalism Agency Truco and the agency of fact checking Aos Fatos; the research is part of the quantitative research models and the data presented were based on the answers sent by the interviewees. The theoretical reference was based on computerized and graphic materials such as: books, scientific articles (original / revision), periodicals and monographs, available in electronic databases, physical and digital collections. In this sense, this article also includes bibliographical data, images and quotations from theoreticians such as Pierre Levy (1999), Joaquim Letria (2000) and Octavio Ianni (2002). In addition, the article presents a case study on the attack by through fake news, against Viteadora Marielle Franco (PSOL / RJ), and how was the check of the false information shared about the Carioca legislator. Keywords: Fake news; Fact Checking; Digital Journalism; Post-Truth; Fact Checking Agencies.

Contato: [email protected]

Introdução

A sociedade tem passado por constantes transformações e renovações. As novas tecnologias voltadas para a comunicação acompanham este ritmo e, surpreendem pela rapidez com que se desenvolvem.

A criação da informática fez com que a

sociedade vivesse uma grande modificação e avançasse em questões de desenvolvimento; tais transformações possibilitaram o progresso das indústrias, a melhoria de muitos setores, além de mudanças culturais, mercadológicas, econômicas e trouxeram progresso social.

Conforme Taís Marina Tellarolli e João Pedro Albino (2007), devido estas transformações, o jornalismo sofreu mudanças consideráveis no

Como citar esse artigo: Sagismundo WC, Guimarães MM. FAKE NEWS: UMA ANÁLISE DE AGÊNCIAS QUE AJUDAM A IDENTIFICAR A VERACIDADE DE UMA NOTÍCIA. Anais do 13 Simpósio de TCC e 6 Seminário de IC da Faculdade ICESP. 2018(13); 2279-2310

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paradigma comunicacional, atualmente, ele está voltado, em sua maior parte, para o ambiente virtual, aspecto esse que precisou adquirir para se manter em um mundo cada vez mais informatizado. Segundo os autores, a partir dos anos trinta do século XIX começaram a surgir os primeiros jornais, eles traziam notícias factuais e menos opinativas, com ênfase em artigos; anos depois, passaram a dar destaque ao conteúdo popular, começaram a cobrir eventos que interessavam a massa e se utilizar de uma linguagem mais acessível, simples e popularizada. Já na primeira metade do século XX, o jornalismo passou por mais uma transformação: devido às guerras, ele adquiriu um caráter descritivo, sem análise e interpretação das notícias, no entanto, a mudança mais transformadora foi causada pelas novas tecnologias.

Vários são os benefícios derivados das novas possibilidades tecnológicas, pois por meio de seus processos informatizados facilitam a realização dos trabalhos humanos, deixando-os mais funcionais e ágeis. O que precisa ser observado com atenção é até onde ela pode influenciar em nossa vida e causar dependência.

A universalização da informática, o fácil acesso às ferramentas, a simplicidade para se publicar algo, somados a ascensão do jornalismo digital, fez com que a pratica de se passar adiante notícias falsas e duvidosas, as chamadas fake news, aumentassem e se tornasse um problema social.

De acordo com Rogério de Souza (2017) o jornalismo e os meios de comunicação lidam com casos de informações falsas, histórias criadas, publicações sem apuração, dados inventados e informes remunerados desde as suas primeiras práticas. Porém, com o desenvolvimento tecnológico que auxilia na forma de produção, no compartilhamento de informações e na comunicação, houve um aumento significativo de circulação das chamadas fake news, uma prática que tem tornado o mundo das notícias em um ambiente instável, colocado à credibilidade de diversos meios de comunicação em dúvida e enganado a população.

As fake news atingiram tamanha notoriedade que, em 2016, o Dicionário Oxford elegeu “pós-verdade” como a palavra do ano. De acordo com os especialistas do dicionário, o termo tem como significado:

relativo ao que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à emoção ou a crença pessoal. (OXFORD apud Souza, 2017, p. 2).

Segundo Jaime R. Hancock (2016), esta nomenclatura foi utilizada pela primeira vez no artigo de Steve Tsich, publicado em 1992 na

revista The Nation, nele o autor abordava questões sobre a primeira Guerra do Golfo e, em um dos trechos do artigo, escreveu: “nós, como povo livre, decidimos livremente que queremos viver em uma espécie de mundo da pós-verdade”, nesse contexto, ele se referiu a uma sociedade na qual a verdade não é mais relevante.

O constante surgimento e circulação de notícias falsas, fez com que agências de comunicação, empresas ligadas ao jornalismo e instituições independentes de todo o mundo desenvolvessem plataformas e meios de checagem eficazes para desconstruir, esclarecer e combater essas falsas informações que tem circulado todos os dias em redes sociais, nos aplicativos de conversa, blogs, sites sensacionalistas, mídias digitais e até no noticiário tradicional, como sendo verdade. Denominadas de Agências de fact cheking, elas se tornaram um importante aliado no combate as fake news e tem atuado com maestria no ambiente comunicacional. Esta pesquisa se enquadra nos modelos de investigação qualitativa, e teve como base a coleta de dados e pesquisa bibliográfica. A amostra foi composta por duas agências de fact checking; um estudo de caso que envolve o tema; O principal instrumento utilizado para elaboração do artigo foi um questionário constituído de dez questões, que foram criadas com o intuito de fornecer elementos que auxiliam o leitor e profissionais da área de jornalismo na hora de credibilizar uma notícia. Os dados apresentados foram baseados nas respostas enviadas pelos entrevistados, e nos exemplos reais de fake news e fact checking. Desenvolvimento

O desenvolvimento tecnológico proporcionou à sociedade, novas ferramentas de comunicação, e para acompanhar este avanço, o jornalismo tem se adaptado as modernas práticas e buscado se especializar para lidar com as situações resultantes de um mundo cada vez mais globalizado e informatizado.

Nesse sentido, Ianni (2002, p.19) descreve por meio de metáfora sobre globalização: ele a entende como um processo de descentralização e interconexão. Seguindo nessa linha, percebe-se que a descentralização e interconexão fazem com que o jornalismo ao mesmo tempo em que desenvolva melhorias, passe a sofrer com situações que o desconfigura, como por exemplo, o colocar como alvo de informações difundidas sem verdade e apuração.

Com as produções cada vez mais voltadas para o campo virtual, novos veículos de comunicação foram surgindo, entre os mais populares estão os sites, plataformas de notícias, blogs, colunas, revistas digitais e junto a eles surgiram empresas, pessoas e organizações

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especializadas em elaborar, reproduzir e popularizar notícias falsas, que agregados a desinformação popular, a falta de conhecimento e ausência de interesse pela fonte da informação, se tornam perigosas e ganham um alcance gigantesco. A transformação comunicacional

A comunicação tornou-se essencial à condição humana. Com o surgimento das novas tecnologias e a informatização dos processos, as trocas de informações se popularizaram e modificaram as formas de produção e divulgação de informações.

Segundo Elizabeth S. Côrrea (2009) a técnica de comunicação digital precisa ser compreendida de maneira aprofundada e não apenas como “à simples existência de um sítio na internet ou uma comunicação interna feita por meio do correio eletrônico”. Sendo assim, as predileções tecnológicas precisam ser idealizadas e aplicadas de maneira adequada conforme o padrão de determinada organização e os seus respectivos públicos.

Alex Primo no livro “Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição” afirma que os avanços dos meios digitais viabilizam “novas formas de comunicação e demandam a reconfiguração dos meios tradicionais” (PRIMO, 2007, p.9), além de permitir o aumento de estudos direcionados e possibilitam a exploração de áreas ainda pouco exploradas. Com as novas possibilidades de comunicação, o que antes acontecia no sistema um-todos passou a ser executado em sistema todos-todos.

Estes sistemas são explicados por Pierre Levy (1999); ele aborda os sistemas de dispositivos comunicacionais e os divide em três categorias. O primeiro destes sistemas é o denominado um/todos, no qual um emissor envia suas mensagens para um grande número de receptores. Já o segundo é o sistema um/um, em que as relações são estabelecidas entre um indivíduo e outro; e o último, denominado todos/todos, que é o sistema atual onde o dispositivo comunicacional, possibilitado pelo ciberespaço1, permite comunicação sem fronteiras e coopera com as demais sociedades, comumente chamado de globalização, neste sistema não existe apenas um emissor, mas sim milhões destes, e é aí que se aloca o problema.

Esses avanços possibilitaram a criação de um cenário tecnológico de grande complexidade para a produção noticiosa. Para André Lemos (2007), essa dificuldade se caracteriza por uma sociedade que lida diariamente com as mídias de

1 Termo defino por Pierry Levy (1999, p. 92) como o espaço de

comunicação aberto pela interconexão mundial dos computa-dores e das memórias dos computadores.

funções de comunicação em massa e pós-massificação em que “qualquer um pode criar informação, ‘liberando’ o polo emissor”, a questão principal é que nas mídias pós-massivas, a informação é passível de alterações e com o surgimento do sistema todos/todos ela pode se proliferar, se transformando em um grande problema.

Desde seu surgimento o jornalismo convive com boatos, matérias pagas para favorecer alguém ou alguma empresa, porém, com a internet, o alcance das chamadas fake news aumentou de forma imensurável e se tornou um fenômeno que coloca em risco não só a sociedade, mas também a profissão de jornalista, e com um agravante, pois as informações passaram a chegar às massas por meio de redes sociais, que se tornaram fonte de notícias.

O portal Meio & Mensagem publicou em 2016, um levantamento realizado pela Agência Advice Comunicação Corporativa, onde revelou que 78% dos brasileiros utilizam algum meio de comunicação digital para se informar, e desses, pelo menos 42% assumiram ter compartilhado notícias falsas nas redes sociais, enquanto 39% detém o hábito de checar a fonte da informação antes de repassá-las.

De acordo com a revista Veja e com a Agência France-Press, nos Estados Unidos, as notícias falsas geraram mais de 8,7 milhões de comentários e compartilhamentos no Facebook2 em período de campanha eleitoral Norte Americana; já os vinte textos mais acessados de sites verdadeiros de informações como o The New York Times, The Washington Post e Huffington Post registraram pouco mais de 7,4 milhões de reações, ou seja, a população deu mais atenção para as fake news do que para as notícias fundamentadas e verídicas, o que ressalta o estudo realizado pela Agência Advice.

As mudanças culturais advindas das novas tecnologias fortaleceram os processos de produção e disseminação de notícias. A democratização da informação e dos processos comunicacionais permitiu a ação de novos agentes dentro do processo de criação e compartilhamento de dados; o cidadão que antes era apenas receptor dos produtos advindos da imprensa tradicional passou a ser emissor, com possibilidade de criar, compartilhar e editar notícias, ou seja, tornou o jornalismo digital em um espaço infinito, popular e impreciso.

Os meios que dão acesso ao mundo virtual também se desenvolveram ao longo do tempo, além dos computadores, os celulares e tabletes aceleram o uso das mídias sociais e conecta a sociedade, esses proporcionam interatividade e

2 Facebook é a maior rede social e mídia social do mundo, atualmente, possui cerca de 2,3 bilhões de usuários ativos por mês. (Dados do Jornal O Globo)

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colaboram para uma relação de proximidade entre seus usuários. Notícia: o alicerce do jornalismo

No que tange a informação, um dos pilares principais é o jornalismo, de acordo com Nilson Lage (2004), essa atividade busca promover dados em escala local e mundial para disponibilidade informacional imediata. Sua matéria-prima é a notícia, um formato de divulgação de fatos e acontecimentos devido sua relevância para determinado público, tais como: fatos culturais, econômicos, políticos e sociais.

De acordo com Letria, a notícia pode ser entendida como:

um acontecimento verdadeiro, inédito ou atual, de interesse público, que se comunica com a população, depois de ter sido recolhido, pesquisado e avaliado por quem controla o meio utilizado para a sua difusão. (LETRIA, 2000, p. 27).

Em vários momentos, a notícia apresenta-se com significações divergentes, pois busca sua colocação e destaque na mídia. Com isso, a maior parte das notícias tem seu valor jornalístico apenas logo após o seu acontecimento, entretanto, toda notícia deve ser objeto de averiguação e checagem jornalística, para que o texto não se torna uma mentira.

O primeiro jornal impresso com publicações diárias (exceto aos domingos) de que se tem registro, foi o jornal “O Daily Courant”, criado na Inglaterra em 1702. Segundo Jorge Pedro Sousa (2001), tratava-se de uma folha de papel que mostrava brevemente as notícias, e contribuía para a transformação do conceito de atualidade mediante a discussão da união com a Escócia que perdurou até 1707.

As transformações sofridas ao longo do tempo agregaram e ajudaram a tornar o jornalismo uma realidade mais acessível e globalizada. Esse avanço deixou a população mais conectada e deu suporte para que qualquer pessoa possa receber informações e influências de lugares distantes de seu cotidiano por meio de sites, jornais online, redes sociais, blogs, plataformas e sítios digitais. Essas transformações possibilitaram que o jornalismo se desenvolvesse e criasse novas possibilidades para divulgação de notícias.

O profissional responsável pela produção da notícia, é encarregado de informar a população de questões reais, que por algum motivo devem ser noticiados, este produtor e divulgador de informação, deve ser rigoroso na checagem e apuração dos dados que chegam, pois ele é parte fundamental na filtragem das informações e representa uma determinada instituição.

Durante todo o expediente, e até mesmo fora dele, chegam notícias nas redações

jornalísticas, elas são recebidas via e-mail, ligações e mensagens por redes sociais; em sua maior parte chegam como sugestões de pauta, releases, denúncias, flagras, entre tantas outras formas. Ao serem recebidas, elas passam por uma avaliação para que seja identificada sua relevância, a partir disso, é iniciada a checagem, investigação e levantamento de dados, após esta etapa, se produz a matéria. O passo seguinte é a verificação feita por revisores e editores, para aí sim, serem publicadas. Este processo é explicado por Mcquail e Windahl que apresentam dados sobre coleta de notícias3. Mas a checagem, remoção e adição de novas informações podem acontecer até mesmo após a publicação, por meio de revisões, erratas e notas de correção, que possibilitam um jornalismo ético e verdadeiro (apud Tessarolo e Souza, 2017, p. 4).

Na busca por uma informação genuína, o primeiro passo é compreender a diferença entre uma notícia verdadeira e uma falsa, para que assim, possa se buscar parâmetros e aspectos para identificá-la e sair ileso caso seja uma fake news. Neste cenário de informatização e envios multidirecionais é fácil encontrar pessoas que já acreditaram em uma notícia falsa, ou que já compartilharam uma informação sem checar a fonte e sua veracidade. O que é fake news?

A origem do termo fake news deu-se dentro dos veículos tradicionais, mas foi com a chegada dos novos meios de comunicação que se popula-rizou e sua prática passou a ser cotidiana dentro da sociedade. Segundo Jacob Soll (2016) desde os tempos mais antigos, a notícia falsa vem sendo trabalhada com o intuito de disseminar mentiras, e em muitos casos provocou violência, como exem-plo disso, o teórico cita a existência de algumas propagandas nazistas baseadas em histórias fal-sas de que judeus bebiam sangue de crianças em rituais judaicos propagados pelo príncipe-bispo Hinderbach no século XV.

De acordo com Gabriel Alves (2017), as fake news são notícias falsas publicadas e difundidas a nível imensurável de modo a enganar o público, em virtude de algum interesse oculto, ou ainda a fim de levar a discórdia e conclusões errôneas; essas estão distribuídas na sociedade desde sua origem e com a ascensão da informatização têm se multiplicado e sido distribuídas sem nenhum tipo de responsabilidade com o cidadão.

O termo ganhou destaque após ser protagonista de momentos decisivos em setores políticos de grandes potências mundiais. As fake

3 Anexo 1 – Processo de Coleta de notícias.

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news foram peças chave na eleição do atual Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e na saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). No caso de Trump, as fake news foram utilizadas como ferramenta para melhorar a imagem do candidato e criar dúvidas quanto à reputação de sua concorrente Hillary Clinton, as duas notícias falsas que mais repercutiram foram “Wikileaks confirma que Clinton vendeu armas para o Estado Islâmico” e “Papa Francisco choca o mundo e apoia Donald Trump”. Já no Brexit, foram usadas como artifício para persuadir eleitores no plebiscito que decidiu pela saída do governo britânico da União Europeia.

Do ponto de vista comportamental, o poder de uma simples história pode chegar a proporções inesperadas, sejam elas verdadeiras ou não. De acordo com Patrícia Pinheiro (2008), nas guerras e conflitos armados, falava-se muito na “guerra de informações” e “contrainformações” que tinham como protagonistas militares especializados na tarefa de codificação de informações e a resolução de mensagens criptografadas para seus aliados.

Com base nisso, questões como: por que as pessoas se sentem livres para espalharem notícias falsas? E por que difundir o rancor a “inimigos” políticos ou pessoais? São levantadas, e Marc Bloch disserta a respeito:

O erro não se propaga, não se amplifica, não vive a não ser sob uma condição: encontrar na sociedade na qual ele se espalha um caldo de cultura favorável. Nela, inconscientemente, os homens experimentam seus preconceitos, seus ódios, seus temores, todas as suas emoções fortes. Somente os estados d’alma coletivos tem o poder de transformar uma má percepção em um boato (Bloch, M. “Réflexions d’unhistoriensurlesnouvellesfausse de laguerre”, Revue de SynthèseHistorique, t. 33, 1921 apud Montgarnaud, V.R. 2001).

Os danos causados na sociedade por esse

falso jornalismo são imensuráveis, e não são apenas personalidades públicas que sofrem com essa prática, a população também é vítima, pois é tragada por falsas notícias sobre os mais diversos campos, como: educação, saúde, política, economia e fatos sociais de alta relevância, por exemplo, impostos, juros e previdência.

As falsas notícias oferecem riscos também a jornalistas e veículos de comunicação, e se tratando de aspectos penais, se a divulgação da notícia falsa for praticada com ciência e intenção, poderá configurar crime contra a honra: calúnia, injúria ou difamação, conforme previsão do Código Penal. Um exemplo a não ser seguido

No caso exemplificado a seguir, a vítima de fake news foi Marielle Franco. Socióloga formada pela PUC-Rio, mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e à quinta Vereadora mais votada do Rio, com 46.502 votos, Marielle Francisco da Silva, foi assassinada de maneira brutal a tiros no dia 14/03 por volta das 21h30, logo após ter saído de um evento na Lapa, bairro tradicional da Zona Central do município do Rio de Janeiro. Além dela, foram atingidos na ocasião do crime, o motorista que conduzia o carro da vereadora, que também morreu, e sua assessora pessoal. Dias antes do seu assassinato, a vereadora havia denunciado à violência policial4, em seu perfil no Twitter5.

A propagação de mentiras e boatos sobre Marielle começou no mesmo dia de seu assassinato e se estenderam ao longo da semana, dentre as que tiveram grande notoriedade, está à publicação feita pelo Deputado Federal do Democratas/DF e Coronel da Policia Militar João Alberto Fraga Silva em seu perfil pessoal no Twitter, onde afirmava questões sobre a Vereadora6. A mensagem foi postada três dias depois da morte de Marielle. As informações começaram a ser compartilhadas pelo WhatsApp7 e chegaram as redes sociais como Twitter e Facebook por meio de compartilhamentos sem checagem, além do deputado e milhares de desinformados, a mensagem foi reproduzida também pela desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Marilia Castro Neves.

Mesmo com uma comoção social instalada e grandes manifestações públicas, o Deputado Alberto Fraga, publicou em seu perfil no Twitter, que possui mais de cem mil seguidores, boatos de que Marielle teria engravidado aos 16 anos, havia sido casada com um traficante de drogas, era usuária de maconha, defensora de facções e eleita por uma das maiores organizações criminosas do Brasil.

Pelo grande volume de seguidores e posição que Fraga ocupa, a publicação viralizou, virou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais e se tornou um escândalo. A reação

4 Anexo 2 - Denúncia em 10 de março. / Anexo 3 - Denúncia

de 13 de março. 5 Rede social que permite aos usuários enviar e receber atualizações de outros contatos (por meio de textos com até 280 caracteres, conhecidos como "tweets"). De acordo com a Revista Exame, a rede lançada em julho de 2006 nos EUA, possui a cerca de 328 milhões de contas ativas. (Dados de 2017) 6 Anexo 4 – Fake news compartilhada por Fraga.

7 WhatsApp Messenger é um aplicativo de mensagens instan-

tâneas disponível para diversas plataformas de smartphones, a ferramenta permite enviar e receber mensagens de texto, imagens e arquivos multimídia, compartilhar localização e fazer chamadas de som e vídeo gratuitas para outros usuários, de qualquer lugar. Segundo matéria publicada na revista Isto É, o aplicativo criado em 2009, atingiu a incrível marca de 1,3 bilhão de usuários ativos em 2017.

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dos seguidores e da sociedade, fez com que o Deputado apagasse a publicação, e criasse uma série de postagens com explicações8, como não surtiu efeito, posteriormente, o perfil do Deputado foi excluído9.

Procurado pela Rede Globo10, o Deputado Federal alegou que recebeu as informações pelas redes sociais e que não verificou a veracidade da notícia antes de publicá-la.

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), o qual Marielle fazia parte, denunciou Fraga ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e pediu a cassação do seu mandato por quebra de decoro parlamenta. Com isso, um processo disciplinar foi instaurado para analisar a conduta do parlamentar, porém, este foi arquivado em 29 de maio, após decisão colegiada, que aprovou o parecer do deputado Adilton Sachetti (PRB/MT) que pedia o arquivamento da representação protocolada pelo PSOL, com argumentação de que o parlamentar assumiu seu erro e pediu desculpas.

Os casos de divulgação de notícias falsas contra a Vereadora fizeram também com que a esposa e a irmã de Marielle entrassem com uma ação judicial, que resultou em uma determinação judicial, que exigia a imediata retirada de vídeos falsos difundidos no Google11 e notícias falsas publicadas no Facebook e YouTube12. Além disso, criaram um site13 para esclarecer questões sobre ela e disponibilizaram uma sessão para que a população denuncie publicações que levantam questões falsas sobre ela.

Este é apenas um, dos tantos outros casos de fake news que estão espalhados em nosso meio social. A questão é preocupante, pois o alcance e repercussão são incalculáveis, e para tentar diminuir os danos causados por informações falsas lançadas em um ambiente sem fronteiras e conectados, se faz necessário uma força tarefa. Fact Checking: uma luz no fim do túnel

Com os avanços tecnológicos, práticas antigas ganharam novas roupagens, se

8 Anexo 5 – Tentativa de explicação.

9 Anexo 6 – Mensagem da rede social após a exclusão do

perfil. 10

Integra disponível em: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/apos-divulgar-fake-news-sobre-marielle-deputado-alberto-fraga-suspende-redes-sociais.ghtml 11 Empresa de serviços online e software. O Google hospeda e desenvolve uma série de serviços e produtos baseados na internet. 12 O YouTube é um site dedicado a publicação de vídeos, onde usuários comuns e empresas podem divulgar e compartilhar produções audiovisuais em formato digital. Sua fundação se deu em fevereiro de 2005 e hospeda mais de 6 milhões de vídeos. De acordo com a seção de tecnologia do site IG, o sitio possui cerca de 82 milhões de usuários. (Dados de 2016) 13

https://www.mariellefranco.com.br/averdade

atualizaram e tem se consolidado na sociedade da informação; uma dessas práticas deu ao jornalismo um novo papel dentro da sociedade: o de agente de combate às fake news.

Na era em que o sensacionalismo, os interesses e a desinformação são influentes e praticados sem nenhum pudor, o que cria uma condição favorável para a disseminação de notícias falsas, o cidadão e os profissionais de notícias têm sido obrigados a agir como Tomé14, ou seja, tendo que proceder sempre com desconfiança quanto a um fato/notícia.

Perante este cenário caótico de informações, as agências de notícias e os meios de comunicação têm criado ferramentas de apuração e checagem de fatos para não se alimentarem de falsas notícias, não replicarem informações mal apuradas e inverídicas, ou darem um suporte para que a população não seja enganada.

Chamadas de agências, sites e empresas de fact checking, essas plataformas se tornaram fundamentais nos processos de apuração e combate a notícias falsas. De acordo com a Agência Lupa (2015) uma das pioneiras deste setor no Brasil, a ideia de fazer checagem, se tornou real em 1991, com a iniciativa do jornalista americano Brooks Jackson, durante trabalho na CNN em Washington, quando recebeu de seu chefe, a tarefa de checar se o que possíveis candidatos à presidência dos Estados Unidos diziam nos anúncios de televisão era verdade, e a ideia deu muito certo. Incentivado pelo sucesso do trabalho realizado e com ajuda da Universidade da Pensilvânia e do Anneberg Public Policy Center, Jackson criou o primeiro site independente de fact checking.

Os serviços e as iniciativas de fact checking alcançaram uma importância tão grande, que passaram a ser lideradas por uma organização mundial: a International Fact-Checking Network15. Atualmente a empresa possui cinquenta e três signatários verificados e quatro empresas que aguardam renovação16. Esta organização se dedica a unir verificadores de fatos em todo o mundo, e alinhar os trabalhos com o auxílio de um código de princípios, com o objetivo de apoiar projetos de verificação de fatos, permitir a troca de experiências entre empresas especializadas no serviço, desenvolver soluções para checagens, treinamentos, elaboração de eventos e apoio colaborativo aos checadores, a fim de contribuir para o combate das fake news.

14

Personagem bíblico citado no livro de João (Cap. 20: 24 – 29) que descreve um homem duvidando da informação passa-da pelos apóstolos de que Jesus tinha ressuscitado e apareci-do para eles. 15

https://www.poynter.org/international-fact-checking-network-fact-checkers-code-principles 16

Dados de 14 de junho de 2018.

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Esse tipo de trabalho tem se expandido e ganhado cada vez mais espaço no enfrentamento às notícias falsas, que são diariamente criadas, publicadas e compartilhadas principalmente com a ajuda da internet, e possuem os mais diversos objetivos.

Nyhan e Reifler em “The Effect of Fact-Checking on Elites: A Field Experiment on U.S. State Legislators” (2014, p. 629)17, consideraram após analises de iniciativas de checagem, que elas possuem um efeito positivo, pois as checagens colaboram para a desconstrução do jornalismo duvidoso.

Este movimento representa uma mudança potencialmente radical na forma como o jornalismo é praticado, com consequências significativas para a responsabilização política e do discurso democrático (apud DOURADO, 2016).

Como a desinformação se alastra

Com o jornalismo cada vez mais voltado para o ambiente virtual e a urgência que os veículos de comunicação têm para publicar uma notícia, faz com que o processo de checagem se torne superficial, e por conta disso, muitas informações não recebem o tratamento necessário e acabam sendo publicadas sem que tenham a confirmação dos fatos, o que deveria ser uma preocupação dos profissionais envolvidos, pois isso afeta diretamente sua credibilidade e do veículo o qual representa.

Criar e distribuir fake news se tornou um mercado lucrativo, os produtores e mandatários além de terem seus interesses atingidos, entenderam que poderiam ganhar dinheiro com tais práticas, já que as notícias falsas e títulos sensacionalistas tem tido mais repercussão do que as verdadeiras. Impulsionados por estes “benefícios", passaram a criar notícias e conteúdos com foco no lucro advindos da audiência, e vendem espaços para que empresas possam anunciar no site; como forma de convencimento apresentam os números de audiência que alcançam por meio de cliques, número de visualizações, acessos e compartilhamento de suas notícias falsas. De acordo com estudo conduzido pelo Buzz Feed (2017) mais de 60 sites que publicam informações falsas ganharam dinheiro com o serviço do Google AdSense e outras importantes redes de anúncios (apud BATHKE, 2017).

O cidadão que também é vítima dessas mentiras deve entender que os produtores de

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Versão original: “This movement represents a potentially radical change in how journalism is practiced, with significant consequences for political accountability and democratic discourse” (NYHAN, REIFLER, p. 629)

falsas notícias contam com a ajuda deles como agente de divulgação, e que o seu foco não é informar um fato, e sim, divulgar seus interesses pessoais.

Grande parte da população não sabe diferenciar boatos de notícias verdadeiras, o que faz com que mentiras sejam compartilhadas diariamente, outro ponto a ser comentado é que, muitas vezes, usuários de redes sociais erroneamente compartilham e curtem notícias falsas apenas por elas representarem suas ideias e reafirmarem sua identidade.

Segundo Farhad Manjoo (2008, p.2), grande parte da população utiliza-se de uma exposição seletiva, que possui como teoria que a mente humana tende a escolher informações que sigam às suas ideologias, e rejeita o que é contraditório, ou seja, as pessoas buscam criar um ambiente informativo próprio, que confirmem que o que ele acredita seja verdade.

Neste estudo elencam-se algumas das formas de como as fake news são compartilhadas. Diante esta realidade, se faz necessário que todos os setores da sociedade se posicionem e contribuam para o combate dessas práticas.

Os veículos de comunicação, além de funcionar como filtros precisam apurar com mais responsabilidade, fornecer possibilidades para alertar o cidadão e disponibilizar ferramentas de checagem. A população, por sua vez, precisa entender que faz parte de uma engrenagem, e que se for omissa contribuirá para a disseminação de mentiras, e que para quebrar esse ciclo ela precisa criar o hábito de checar as informações antes de compartilha-las com conhecidos ou publica-las em suas redes sociais. Já o governo precisa criar políticas públicas eficazes de combate às fake news, que penalizem com rigor as empresas que fazem este tipo de trabalho de forma consciente. Verificando os fatos

É bem provável que você já tenha recebido, lido e compartilhado notícias falsas, pois elas estão presentes no dia a dia. Devemos tomar cuidado, pois elas podem destruir reputações e derrubar legados. Em um ambiente onde a pós-verdade circula de maneira ligeira e astuta enganando a população, as agências de verificação e checagem têm contribuído de maneira positiva para que as notícias falsas diminuam seus efeitos e não atinjam seus objetivos.

Um bom exemplo disso é a checagem realizada pela agência Aos Fatos, três dias após o assassinato da Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco18. O crime cometido contra a parlamentar foi marcado por diversas

18

Integra disponível em: https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho/

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homenagens, manifestações e atos públicos, assim como por mentiras, rumores, calunias, pós-verdades, acusações falsas e desrespeitadoras sobre a Vereadora

Um dos casos de maior repercussão, o qual foi checado pela agência, tem como personagem principal a Vereadora assassinada e o Deputado Federal Alberto Fraga (DEM/DF), que se viu envolvido em um escândalo após divulgar em seu perfil no Twitter, inverdades sobre Marielle, como exemplificado na seção 2.3.1 deste artigo.

No mesmo dia, em que a publicação do Deputado Federal foi postada e causou revolta na sociedade, a agência de fact checking, checou e analisou ponto a ponto as informações divulgadas por Alberto Fraga e comprovou que as informações ali colocadas eram mentiras e não passavam de mais uma fake news criada para atacar, descredibilizar, e desrespeitar a memória e legado político de Marielle19.

Assim como em outros casos, a análise de fact checking realizada pela empresa foi de fundamental importância para que a notícia fosse desmentida e esclarecida.

Para trazer à tona a verdade dos fatos, a agência tratou cada informação de maneira isolada. A primeira analisada foi à versão sobre a gravidez precoce de Marielle, que pôde ser desmentida, após uma simples comparação entre a idade da Vereadora nascida em 1980, e de sua filha Luyara Santos nascida em 1999.20

A segunda informação verificada e desconstruída foi a de que a parlamentar tinha sido casada com Marcinho VP. A informação pôde ser desmentida a partir da análise do histórico dos envolvidos. Existem dois Marcinhos VP: o primeiro a ser checado foi Márcio Amaro de Oliveira, um conhecido traficante da zona sul do Rio e integrante de uma facção criminosa, preso em 2000 e assassinado três anos depois dentro do presídio carioca em que estava cumprindo pena. Antes de ser preso Márcio Amaro, ficou foragido por três anos fora do Rio de Janeiro, enquanto Marielle estava na capital fluminense a cuidar de sua filha e estudando em cursinho pré-vestibular.

Ainda de acordo com a análise, o segundo Marcinho VP chama-se Márcio dos Santos Nepomuceno, traficante do Complexo do Alemão, situado na zona norte do Rio, este foi preso em 1997, após ser capturado em Porto Alegre; além da Capital do Rio Grande do Sul, ele morou em diversas localidades do país antes de ser preso, o que inviabiliza a afirmação de que era casado com a Vereadora que sempre residiu no Rio21.

19

Anexo 7 – Introdução da análise realizada pela agência Aos Fatos. 20

Anexo 8 – Comparação feita pela agência, para concluir que a informação era falsa. 21

Anexo 9 – Levantamento de dados feito na checagem sobre o estado civil de Marielle.

A página de divulgação da candidatura de Marielle disponível no site oficial do Tribunal Supe-rior Eleitoral (TSE), também foi utilizada pela agência para desmentir a publicação de Fraga, na página oficial consta o real estado civil da Verea-dora que era solteira.22 A checagem ainda traz informações sobre sua relação homoafetiva e seu trabalho como assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

A última informação analisada pela agência foi a de que ela teria sido eleita pelo comando vermelho, hipótese descartada após a verificação. Marielle foi eleita com mais de 46 mil votos, os quais apenas 1,6 mil vieram da Maré (local onde foi criada) e seus arredores, localidades onde o comando não é da facção citada na notícia; com base em dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, os votos recebidos por ela vieram de diferentes zonas eleitorais, principalmente das regiões ricas da cidade. De acordo com informações disponíveis no site do TSE, a campanha da vereadora foi custeada pela Direção Municipal e Estadual do PSOL, pela própria candidata, pela doação de professores, pesquisadores, um advogado e funcionários estaduais, nenhum destes com processos judiciais.23

Outros documentos apresentados pela agência checadora para desconstruir a ideia de que Marielle estava envolvida com o crime, foram certidões emitidas por diferentes órgãos, que comprovam que Nada Consta contra a Parlamentar.24

No Brasil isso tudo ainda é uma novidade, e são poucas as iniciativas neste quesito, mas as que já existem exercem com responsabilidade um trabalho eficaz e útil no combate às notícias falsas e na análise de informações. Neste estudo, foram convidadas as principais instituições brasileiras para participarem de uma entrevista a cerca deste tipo de trabalho. Propuseram-se a responder o questionário às agências Aos Fatos e o Truco (projeto de fact checking da Agência Pública), instituições que contribuem socialmente para o combate as fake news, com a busca pela verdade, transparência dos fatos, apuração responsável e elaboração de conteúdo confiável, por meio de suas publicações. Como trabalham as agências? Uma entrevista com “Aos fatos” e “Agência Pública”

22

Disponível em: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/candidato/2016/2/60011/190000003414 23

Anexos 10 e 11 – Dados levantados sobre a eleição de Marielle franco. 24

Anexos 12, 13, 14 e 15 – Cópias das Certidões entregues no ato de sua candidatura, disponibilizadas pela agência checado-ra.

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No meio jornalístico, as informações sempre

foram checadas e averiguadas, mas com o constante aparecimento de notícias falsas nas redações, nas mídias digitais e no convívio popular, instituições preocupadas com a dimensão alcançada e seus reflexos na sociedade, passaram a criar ferramentas e métodos para combater este mal, entre os mais eficazes está o fact checking, serviço que contribui para que a população se informe sobre assuntos que circulam em seu convívio, tenha acesso a informações verdadeiras, e que recupera a credibilidade do jornalismo, que está abalada por conta da “pós-verdade”. Como já pontuado, com a utilização cada vez mais frequente de redes sociais como fonte de informação, o mundo das notícias se tornou um campo minado, onde o cidadão e até mesmo profissionais da área precisam estar atentos e cuidadosos com cada informação que recebem ou acessam, pois, o uso das redes sociais como fonte de informações, abre brechas para a reprodução das fake news.

De acordo com as agências entrevistadas25, a sociedade atual se concentra e se consolida em extremos cada vez mais individuais, onde grupos se polarizam e propiciam a disseminação das informações que os convêm; à polarização social e as ações de notícias falsas não são novidades, mas esses fenômenos tiveram um impulso considerável após os aparelhos tecnológicos e as redes sociais caírem no gosto popular. Desta maneira, as notícias falsas chegam à população de forma rápida por meio de aplicativos de mensagens instantâneas, como Whatsapp, e redes sociais como Facebook, Twitter, entre outras mídias digitais.

O cidadão está exposto às ações das fake news a todo tempo, sejam nas redes sociais, nos aplicativos de comunicação, jornais, revistas, sites e veículos sensacionalistas, e precisam se atentar para não serem atraídos pela desinformação ao buscar uma informação, ou ser seduzidos por uma mentira ao tentar conhecer a realidade e consumir uma notícia. O que vai ser determinante para não ser iludido pelas armadilhas arquitetadas e colocadas em prática por meio de fake news, é a forma com que ele se comportará diante delas.

Para a agência Aos Fatos, a checagem sempre foi necessária para qualificar o debate público, e, neste momento, este serviço é de fundamental importância, pois grande parte da população tem fácil acesso a notícias, mas nem todas são verdadeiras, então, “o que era para ser informação se torna desinformação”. Parte da população toma atitudes balizadas nas informações que recebe: “seja tomar ou não uma vacina, ou votar no candidato X ou Y”. A agência

25

Anexo 18 - Integra da entrevista.

Truco também pensa e trabalha para que haja um melhor debate público, e acredita que isso só pode acontecer, quando uma população recebe informações corretas.

Para que este serviço alcance seu objetivo, que é o de informar com qualidade, seriedade e verdade, as empresas que atuam nesta área, criaram métodos eficazes para realizar a checagem e elaborar seus conteúdos que revelam a verdade sobre informações noticiadas. Os métodos de checagem utilizados pelas agências possuem particularidades, mas todos apresentam uma conclusão transparente e eficaz, alcançados por meio da checagem e averiguação dos fatos de forma responsável, destacando documentos, fontes verdadeiras, links e referências. Para ambas as agências, os fatores levados em consideração para que uma notícia seja checada, são variáveis, mas os mais recorrentes estão ligados à sua relevância, alcance, tema, o emissor da informação, seu impacto na sociedade, os dados que elas trazem e declarações de personalidades públicas.

O projeto de Fact Checking da agência Pública, Truco, possui uma metodologia que é seguida em todas as checagens que realizam; de acordo com a representante da empresa, a Coordenadora de comunicação Marina Dias, os jornalistas da agência verificam falas de personalidades, correntes compartilhadas e informações que circulam no meio digital.

O roteiro de checagem começa pela seleção do conteúdo que será checado, necessariamente aquele que tem maior relevância para o debate público. Para pegar frases e conteúdos checáveis, os profissionais acompanham entrevistas, pronunciamentos, posts em redes sociais e também correntes de Whatsapp; a agência procura fazer um rodizio entre os temas e personagens checados, para manter um equilíbrio na cobertura e viabilizar a checagem de todos, sem distinção partidária ou ideológica. Em seguida, fazem contato com o possível autor (quando possível) para que ele forneça subsídios, por exemplo, a fonte da informação. Paralelamente, buscam fontes confiáveis para validar as informações, e posteriormente comparam os dados levantados com os que estão na informação analisada.

Feito isso, incluem um selo que melhor representa o resultado da checagem,26 e antes de publicar, entram em contato com o autor para expor as conclusões e, se necessário, pedir explicações. Após todo esse processo, a checagem é divulgada. A agência publica suas produções em redes sociais e divulga suas verificações no site, assim como as republicam em outros veículos de comunicação.

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Anexo 16 – Selos de checagem da agência Truco.

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Já a agência Aos Fatos, criou uma fórmula que contêm sete etapas que ajudam a realizar as checagens: a primeira diz respeito à seleção da declaração que será checada e sua relevância. As informações são selecionadas por meio de monitoramento de fake news compartilhadas em redes sociais ou em aplicativos de comunicação, além disso, a agência disponibiliza um canal de comunicação direta com o leitor, por meio de Hashtag, em que eles podem sugerir checagens; a segunda etapa é a de consulta à fonte original, a que criou a informação para verificar a veracidade; a terceira é a busca por especialistas confiáveis para o processo de checagem, a quarta etapa é a de procura por fontes oficiais que confirmem ou neguem a informação; a quinta é o levantamento de fontes alternativas, para subsidiar ou contestar as fontes oficiais.

A sexta etapa é a de contextualização das informações disponíveis e registro de modo acessível no texto; por último, é feita a classificação com os selos criados pela agência27, para que a conclusão final seja validada e a agência tenha certeza que o selo escolhido é o mais adequado, antes de ser publicada, a checagem passa por um repórter e um editor, e se necessário um terceiro jornalista é consultado. Para divulgar suas checagens a agência Aos Fatos, mantém uma relação próxima de seus leitores, principalmente nas redes sociais: “todas as nossas matérias são compartilhadas no Twitter e no Facebook, e nossos gráficos também vão para o Instagram28”, além disso, a empresa distribui um newsletter29 semanal.

Para conseguir chegar aos dados para uma correta checagem, as agencias buscam dados já disponíveis para consulta, como por exemplo, dados oficiais, pesquisas, estudos, relatórios confiáveis, bancos de dados públicos, entrevistas e outros conteúdos. Se os dados necessários não são públicos, pedem por meio de lei de acesso à informação ou com assessoria de imprensa.

Mesmo que confiem em seus métodos de checagem, as agências possuem politicas de erros e correções, que viabilizam sua retratação e a reparação dos dados. E se engana quem pensa que as agências de fact checking não são checadas e não possuem um controle de qualidade; as duas agências entrevistadas integram a International Fact-Checking Network

27

Anexo 17 – Selos utilizados pela Agencia Aos Fatos. 28

Rede social de compartilhamento de fotos e vídeos, o apli-cativo permite inserir filtros digitais nas produções e comparti-lhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais, permi-te-se o envio de vídeos e pode-se também publicar gravações de até 60 segundos, além de transmissões ao vivo. O Insta-gram foi lançado em outubro de 2010 e possui mais de 50 milhões de usuários no Brasil. (Dados do Jornal Folha de São Paulo, 2017) 29

Newsletter é um tipo de boletim informativo distribuído regu-larmente a assinantes por e-mail.

(IFCN), rede organizada pelo Instituto Poynter, dos Estados Unidos, que reúne os principais sites de fact checking do mundo e tem como objetivo principal certificar os leitores de que eles terão acesso a materiais desenvolvidos por veículos apartidários e comprometidos com a transparência. A agência Aos fatos passou a fazer parte da IFCN em 2016, já o projeto Truco, tornou-se membro em 2017. A admissão de agências à rede é condicionada ao cumprimento de regras e politicas, que se dão como compromissos, tais processos presam e permitem que todos os produtos de fact checking sejam confiáveis.

Neste cenário, o próprio receptor pode ser um checador e filtrar informações, basta analisar o conteúdo das informações que recebeu. É imprescindível que se pesquise sobre a credibilidade do veículo, assim como do autor do texto; a credibilidade de ambos pode ser checada em outros veículos e até mesmo em plataformas de serviços públicos como sítios de processos e de condenações, uma breve pesquisa pode mostrar a verdade ou confirmar as informações passadas. Sempre busque fontes alternativas e de apoio: se a notícia ou informação realmente for verdadeira você encontrará em outros meios de comunicação e portais.

A maioria dos veículos sensacionalistas e de fake news não medem esforços para entregar publicações convincentes, para isso, utilizam-se de artifícios visuais, recursos gráficos e digitais para seduzir os leitores: títulos gritantes, manchetes apelativas, letras garrafais são exageradamente utilizadas, e em grande parte anunciam algo inverídico.

Levar em consideração o conteúdo da notícia também é importante, muitas publicações humorísticas são tiradas de contexto e repassadas como verdade, outras possibilidades de desmembramento podem ser descobertas após analise da data de publicação, pois informações verdadeiras podem ser publicadas anos depois de terem sido noticiadas, sendo apresentadas com em contextos diferentes e em outro cenário com um intuito obscuro.

Os princípios pessoais e as ideologias não podem ser influenciadores no momento de identificar uma notícia, em tempos de “pós-verdade”, dar credibilidade a uma informação apenas porque ela reproduz suas ideias é um erro gravíssimo; quem produz notícias falsas, as faz com o intuito de envolver o leitor, e assim, conseguir compartilhamentos e visualizações. Sempre que uma notícia chamar atenção, verifique as fontes, os especialistas, as pesquisas, as estatísticas e as frases citadas, pois sites especializados em fake news não pensam duas vezes antes de inventar personagens e criarem situações para contextualizar suas fantasias ardilosas.

Ter autonomia na busca pela verdade é uma

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pratica enriquecedora, mas, se investigação não é sua praia, as agências de fact checking são a opção mais confiável: estas plataformas se dedicam à busca pela verdade das informações que circulam na sociedade. O único ponto negativo é que por serem muitas, nem todas as fake news que são compartilhadas e acessadas pela população estão analisadas nos sites de checagem, mas este ponto não diminuiu em nada o incrível trabalho exercido por estas empresas. Considerações finais:

Conclui-se que, diante das facilidades de acesso, o poder de alcance das mídias digitais, das redes sociais e a popularidade que as fake news alcançaram, os veículos de comunicação, a população e o governo precisam agir de maneira integrada para frear suas ações e diminuir a sua incidência.

O poder público e as instituições competentes devem se preocupar com os efeitos que estas notícias têm dentro da sociedade, criar estratégias de educação virtual, e incentivar as iniciativas de checagem que analisam de maneira responsável os conteúdos divulgados por sites, blogs e veículos de comunicação. O Marco Civil da Internet (LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014) é um grande avanço, mas ainda precisa de ajustes para tornar efetivamente o mundo digital em um espaço responsável, seguro e confiável.

Pela rapidez em que chegam, e as facilidades de compartilhamento, as notícias recebidas por dispositivos eletrônicos precisam de mais atenção e exigem uma pós-verificação para se certificar de que tais informações são reais, pois estas facilidades fazem com que a pós-verdade se propague, viralize e se instale enganando a população.

É nítido que a desinformação popular é um agravante para que as fake news ganhem mais destaque na sociedade, já que boa parte das pessoas não sabe diferenciar o que é falso do que é verdadeiro, não lê as publicações por completas, ou não procura informações sobre as fontes, nem sobre o veículo em que a informação está hospedada, assim como, não se informa quanto à credibilidade e a veracidade da notícia recebida.

A população precisa ser educada e treinada para analisar as informações como um todo, além de criar o hábito de acessar iniciativas de fact checking e seções de checagem, pois essa prática pode minimizar as chances de ser ludibriado por notícias falsas. Tomar tais cuidados é indispensável, já que em alguns casos é quase impossível reverter os efeitos das fake news, e a verdade nem sempre tem o alcance que a mentira obteve.

Com isso, observa-se que vários são os aspectos que nos ajudam a verificar a veracidade de uma notícia, e que agências de checagem são um importante elemento na busca pela verdade, pois em tempos caóticos, em que os olhos da população são seduzidos facilmente pela mentira, e as informações enganam até mesmo grandes personalidades e profissionais, essas iniciativas difundem a verdade, conscientizam a população, esclarecem os fatos, reeducam as pessoas e contribuem para um jornalismo mais confiável e responsável, por este motivo, as agências de checagem devem ser difundidas, expandidas e popularizadas para que assim seja mantido o direito à verdade e a sustentação do jornalismo digital. Agradecimentos:

Meus singelos agradecimentos vão para aqueles que me ajudaram, auxiliaram e compartilharam deste sonho. Registro aqui o meu muitíssimo obrigado a meu companheiro, o tão solicito e amável Marden Augusto, que tanto me ajudou e apoiou: por ter me auxiliado nas pesquisas do pré-projeto, dado dicas importantes para o sucesso deste artigo e por estar sempre ao meu lado.

Deixo registrado também meu carinho e admiração por minha amiga, e agora jornalista, Leticia Hellen que, mesmo passando por este momento de elaboração de artigo, esteve comigo, me ajudou nas correções e compartilhou de meus medos, anseios e alegrias.

Não poderia deixar de agradecer ao professor Luiz Reis, que me orientou na elaboração do pré-projeto; a Bárbara Libório e Marina Dias que gentilmente se disponibilizaram para responder minha entrevista; a minha mãe que sempre me incentivou a estudar, me mostrou o caminho certo da vida e todos os dias perguntava se eu já tinha terminado o TCC; ao professor Romoaldo de Souza que cedeu artigos e me ajudou no treino para defesa deste trabalho; a Janaina Silva que me auxiliou na revisão e a todos que indiretamente fizeram parte dele.

Por fim, meus mais profundos agradecimentos e palavras de gratidão vão para a mestra, professora, mulher, mãe e orientadora Marta Mencarini, que foi parte essencial para que esse artigo fosse finalizado. Muito obrigado por ter topado me orientar e acreditado no potencial deste tema desde o inicio; a ela que me amedrontou no inicio do curso, mas que no decorrer dos semestres foi amiga, aconselhadora, psicóloga e que tantas vezes me incentivou a seguir em frente, registro meu carinho, admiração e muito obrigado.

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Referências:

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18. SOLL, J. A longa e brutal historia das notícias falsas. Político Magazine , 18 de dezem-

bro de 2016. Disponível em: <https://www.politico.com/magazine/story/2016/12/fake-news-history-long-violent-214535>. Acesso em: 22/11/2017. 19. SOUSA, J.P. Elementos de jornalismo impresso. Porto, 2001. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf>. Acesso em: 22/10/2017. 20. SOUZA, R. M. Investigando as fake news: análise das às agências fiscalizadoras de notícias falsas no Brasil. XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Volta Redonda, 2017. Dispo-nível em: <http://portalintercom.org.br/anais/sudeste2017/resumos/R58-0343-1.pdf>. Acesso em: 04 de março de 2018. 21. TELLAROLLI, T. M; ALBINO, J.P. Da sociedade da informação às novas tic’s: questões sobre inter-net, jornalismo e comunicação de massa, 2007.

22. TESSAROLO, F. M; SOUZA, K. A .C. Fake News : Ética e credibilidade jornalística em risco. 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba, 2017. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-2419-1.pdf>. Acesso em: 20/03/2018. 23. VEJA. Notícias falsas tiveram êxito durante campanha nos EUA. Revista Veja , 17 de novembro de 2016. Disponível em: < https://veja.abril.com.br/mundo/noticias-falsas-tiveram-exito-durante-campanha-nos-eua/>. Acesso em 22/10/2017. Anexos:

Anexo 1 – Processo de Coleta de notícias

Anexo 2 – Denúncia em 10 de março.

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Fonte: Reprodução / Print do perfil de Marielle Franco no Twitter. (@mariellefranco – 10/03/2018)

Anexo 3 – Denúncia de 13 de março.

Fonte: Reprodução / Print do perfil de Marielle Franco no Twitter. (@mariellefranco – 13/03/2018) Anexo 4 – Fake news compartilhada por Fraga.

Fonte: Reprodução / Print do perfil de Alberto Fraga no Twitter. (@alberto_fraga – 16/03/2018)

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Anexo 5 – Tentativa de explicação

Fonte: Reprodução / Print do perfil de Alberto Fraga no Twitter. (@alberto_fraga – 17/03/2018) Anexo 6 – Mensagem da rede social após a exclusão do perfil.

Fonte: Reprodução / Print da tela de busca do Twitter. (<https://twitter.com/search> em 17/03/2018) Anexo 7 – Introdução da análise realizada pela agência Aos Fatos.

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Fonte: Print / Foto Montagem criada pelo autor, baseado na publicação da Agência Aos Fatos em 17/03/2018. Disponível em: <https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho/>

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Anexo 8 – Comparação feita pela agência, para concluir que a informação era falsa.

Fonte: Print / Foto Montagem criada pelo autor, baseado na publicação da Agencia Aos Fatos em 17/03/2018. Disponível em: <https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho>

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Anexo 9 – Levantamento de dados feito na checagem sobre seu estado civil de Marielle.

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Fonte: Print / Foto Montagem criada pelo autor, baseado na publicação da Agencia Aos Fatos em 17/03/2018. Disponível em: <https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho> Anexo 10 – Imagem: Dados levantados sobre a eleição da Vereadora.

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Fonte: Print / Foto Montagem criada pelo autor, baseado na publicação da Agencia Aos Fatos em 17/03/2018. Disponível em: <https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho> Anexo 11 – Imagem: Dados levantados sobre a eleição de Marielle franco.

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Fonte: Print / Foto Montagem criada pelo autor, baseado na publicação da Agencia Aos Fatos em 17/03/2018. Disponível em: <https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho> Anexo 12 – Imagem: Cópia de Certidão – 1º Oficio do Registro de Distribuição (Nada Consta)

Fonte: Reprodução –

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Disponível no site do TSE <http://divulgacandcontas.tse.jus.br/dados/2016/RJ/60011/2/190000003414/certidao1471019433659.pdf> e no link disponibilizado pela reportagem de Aos Fatos < https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho/>

Anexo 13 – Imagem: Cópia de Certidão – 2º Oficio do Registro de Distribuição (Nada Consta)

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Fonte: Reprodução – Disponível no site do TSE <http://divulgacandcontas.tse.jus.br/dados/2016/RJ/60011/2/190000003414/certidao1471019433659.pdf> e no link disponibilizado pela reportagem de Aos Fatos < https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho/>

Anexo 14 – Imagem: Cópia de Certidão – 3º Oficio do Registro de Distribuição (Nada Consta)

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Fonte: Reprodução – Disponível no site do TSE <http://divulgacandcontas.tse.jus.br/dados/2016/RJ/60011/2/190000003414/certidao1471019433659.pdf> e no link disponibilizado pela reportagem de Aos Fatos < https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho/> Anexo 15 – Imagem: Cópia de Certidão – 4º Oficio do Registro de Distribuição (Nada Consta).

Fonte: Reprodução –

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Disponível no site do TSE <http://divulgacandcontas.tse.jus.br/dados/2016/RJ/60011/2/190000003414/certidao1471019433659.pdf> e no link disponibilizado pela reportagem de Aos Fatos < https://aosfatos.org/noticias/nao-marielle-nao-foi-casada-com-marcinho-vp-nao-engravidou-ao-16-e-nao-foi-eleita-pelo-comando-vermelho/> Anexo 16 – Imagem: Selos de checagem da agência truco.

Fonte: Foto Montagem criada pelo autor, baseado em informações da Agencia Truco. Disponível em: <https://apublica.org/checagem/>

Anexo 17 – Imagem: selos utilizados pela Agencia Aos Fatos.

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Fonte: Foto Montagem criada pelo autor, baseado em informações da Agencia Aos Fatos. Disponível em: <https://aosfatos.org/nosso-m%C3%A9todo/> Anexo 18 – Integra da entrevista

Entrevista Agência : Aos Fatos Agência : Pública Responsável : Bárbara Libório Responsável : Marina Dias Cargo: Repórter Cargo: Coordenadora de comunicação Formação: Jornalista Formação: Jornalista

A utilização das redes sociais como fonte de inform ações, abre brechas para a reprodução das “fake news” ? Quais são os meios em que mais elas circulam?

AOS FATOS TRUCO Vivemos um momento de polarização, no Brasil e no mundo, um cenário muito propício para a disseminação de “fake news”. Não é a primeira vez que o mundo fica polarizado, não é a primeira vez que “fake news” aparecem. Esse é um fenômeno antigo. A diferença é que, antes, sem o impulso das redes sociais, o alcance das notícias falsas era menor. Hoje, elas não estão apenas em sites que o leitor precisa visitar. Elas chegam pelo Facebook, Twitter, Whatsapp e outras mídias digitais.

Sim, além disso, elas aumentam o alcance das informações falsas, os meios em que elas mais circulam são em aplicativos de mensagens instantâneas, como Whatsapp, redes sociais como FaceBook e em blogs. Sugiro a leitura desta entrevista: <https://apublica.org/2018/03/cacadores-de-boatos-revelam-como-desvendar-mentiras-na-internet/>

Quando surgiu a necessidade de checar as notícias/i nformações de uma forma mais minuciosa? E quando surgiu a necessidade de criar a agência de checagem?

AOS FATOS TRUCO Nas eleições de 2010 e 2014 já haviam existido alguns projetos pontuais de checagem em redações. A Agência Pública, por exemplo, já tinha o Truco. Mas ainda não havia um veículo voltado exclusivamente para “factchecking” no Brasil. O Aos Fatos surge em 2015, em meio ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma, um momento de polarização e de muita disseminação de informação e desinformação também. A checagem é necessária porque precisamos qualificar o debate público. Hoje, todos têm mais acesso à informação e às notícias, elas não estão mais filtradas apenas pelos veículos de notícias, estão em todo lugar. Precisamos que esse debate de informações seja qualificado.

A Agência Pública lançou o Truco, nosso projeto de checagem, em 2014, para cobrir as eleições presidenciais daquele ano. O tema “factchecking” era pouco discutido enquanto gênero jornalístico e naquele momento, a checagem do discurso dos políticos foi algo bastante inovador.

Qual a motivação para se criar e alimentar uma agên cia de checagem? AOS FATOS TRUCO

Como eu disse na resposta anterior, a motivação é qualificar o debate público. As pessoas tomam decisões baseadas em notícias - seja tomar ou não uma vacina, ou votar no candidato X ou Y -, precisamos cuidar para que essas informações sejam verdadeiras. Com o nosso trabalho, autoridades públicas e fontes de notícias se sentem mais pressionados, estão cientes de que há alguém checando o que eles dizem por aí.

Nossa motivação inicial foi a de fazer a cobertura das eleições de uma forma inovadora e contribuir para a melhoria do debate democrático. Acreditamos que quanto melhor a qualidade das informações disponíveis para a população, mais qualificado fica o debate público. E também foi essa nossa motivação para seguir com as demais fases do Truco, como quando passamos a checar frases dos parlamentares, por exemplo.

Qual o método utilizado para checagem de informaçõe s? AOS FATOS TRUCO

Diariamente, jornalistas de “Aos Fatos” acompanham declarações de políticos

Seguimos a mesma metodologia para todas as checagens. Verificamos falas, correntes e

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e autoridades de expressão nacional, de diversas colorações partidárias, de modo a verificar se eles estão falando a verdade. Para isso, adotamos uma fórmula com sete etapas para realizar nossas checagens: primeiro, selecionamos uma declaração pública a partir de sua relevância; depois consultamos a fonte original para checar sua veracidade, após isso, procuramos por fontes de origem confiável como ponto de partida, e consultamos fontes oficiais, para confirmar ou refutar a informação, assim como, fontes alternativas, que podem subsidiar ou contrariar dados oficiais e registramos, de modo acessível, no texto. A próxima etapa é contextualizar e por último classificamos a declaração com uma das seis categorias: verdadeiro, impreciso, exagerado, falso, contraditório ou insustentável. Para chegar a qualquer conclusão, a checagem passa pelas mãos de ao menos um repórter e um editor. Ambos devem chegar a um veredito a respeito do selo que será concedido à declaração ou à informação checada. Se necessário, um terceiro jornalista da equipe fixa deverá ser consultado, para tirar a prova real. Além disso, nossos jornalistas buscam subsidiar todas as nossas classificações de modo claro, objetivo e transparente. Se os dados não são públicos, abrimos. Se as informações não estiverem acessíveis de modo descomplicado, explicamos como chegar até elas. Se errarmos, corrigiremos e deixaremos isso claro em nossas reportagens. Embora “Aos Fatos” se esforce para checar autoridades de todos os lados do espectro político, nossa equipe também acredita que quem está no poder deve e merece estar sob escrutínio preferencial. Trata-se de um método jornalístico clássico: a apuração deve levar em conta a relevância da figura a ser analisada.

informações em circulação na internet ou em redes sociais para saber se são verdadeiras ou não. Nosso objetivo é aprimorar o discurso público e a democracia, tornando políticos e personalidades públicas mais responsáveis por suas declarações. A preocupação permanente do Truco é analisar diferentes discursos e pontos de vista, sem qualquer distinção partidária ou ideológica. Metodologia: Todas as checagens seguem o mesmo roteiro. Primeiro, selecionamos uma frase que possa ser verificada. Para isso, é preciso que contenha um dado, faça referência a leis, permissões, proibições, situações verificáveis ou traga afirmações categóricas. Dentre as várias declarações que podem ser analisadas, escolhemos apenas aquelas que têm relevância para o debate público. Fazemos também um rodízio entre as personalidades e autoridades verificadas, para manter o equilíbrio da cobertura e garantir que todos sejam fiscalizados. Em seguida, entramos em contato com o autor da frase e pedimos para que forneça a fonte da informação. Paralelamente, procuramos outras fontes, oficiais ou não, e, se necessário, recorremos a especialistas. Comparamos nossa apuração com os dados fornecidos e, com isso, classificamos a afirmação. Atribuímos, então, um selo, que mostra o resultado da nossa checagem. Por fim, voltamos a entrar em contato com o autor da frase e damos uma última chance para que se explique, diante da nossa conclusão.

Existem regras para a checagem? Quais são? AOS FATOS TRUCO

Em setembro de 2016, assinamos um código internacional de princípios e condutas estabelecido pela IFCN (InternationalFact-Checking Network), cujo objetivo é certificar seus leitores de que eles terão acesso ao material desenvolvido por um veículo apartidário e comprometido com a transparência de suas atividades. Os compromissos a serem seguidos por Aos Fatos são os seguintes: (1) Um compromisso de apartidarismo e

O Truco integra a InternationalFact-Checking Network (IFCN), rede organizada pelo Instituto Poynter, dos Estados Unidos, que reúne os principais sites de fact-checking do mundo. Após passar por uma auditoria independente concluída em 2017, tornou-se um dos signatários verificados do código de princípios da IFCN . Além disso, seguimos a seguinte política de correções: Política de correções: No final do texto de todas as nossas checagens incluímos nosso

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equidade: checamos declarações usando os mesmos parâmetros para todas as nossas checagens. Não concentramos nossas checagens em um só lado do espectro político-ideológico. Seguimos o mesmo método em todas as nossas checagens e permitimos que as evidências ditem nossas conclusões. Não advogamos por agendas políticas ou declaramos preferência ideológica em assuntos que checamos. (2) Um compromisso pela transparência das fontes: queremos que nossos leitores tenham autonomia para comprovar o que apuramos. Fornecemos acesso às nossas fontes detalhadamente, para que os nossos leitores possam replicar nosso trabalho — à exceção de casos em que a segurança da fonte esteja sob ameaça. Nessa hipótese, oferecemos o máximo de detalhes que for possível. (3) Um compromisso pela transparência de financiamento e organização: somos transparentes em relação à origem do nosso dinheiro. Se aceitamos financiamento de outras organizações, asseguramos que nossos financiadores não tenham influência sobre as conclusões de nossas reportagens. Detalhamos o histórico profissional de todos os principais membros da nossa organização e explicamos nossa estrutura organizacional e nossa situação jurídica. Também indicamos claramente maneiras de nossos leitores entrarem em contato conosco. (4) Um compromisso com transparência de método: explicamos nossa metodologia: como selecionamos, pesquisamos, escrevemos, publicamos e corrigimos nossas checagens. Encorajamos nossos leitores a nos mandar temas para checagem e somos transparentes a respeito de como e por que checamos determinados fatos. (5) Um compromisso com correções francas e amplas: temos uma política pública de correções e a seguimos escrupulosamente. Corrigimos com clareza e transparência, de acordo com nossas práticas públicas. Divulgamos o resultado final, de modo que nossos leitores tenham acesso à versão corrigida. A admissão de Aos Fatos à IFCN é condicionada ao cumprimento rigoroso desses princípios.

e-mail de contato, [email protected], para que fontes e leitores possam enviar críticas, sugestões ou apontar erros. Sempre que detectamos um problema, corrigimos o texto imediatamente e escrevemos uma atualização no final da checagem, com data e hora da mudança, para indicar o que foi alterado e explicar o porquê. Também divulgamos que houve uma correção em nossas redes sociais, com link para a versão corrigida, e enviamos um alerta para os nossos republicadores.

Existe um controle de qualidade? Quais são? AOS FATOS TRUCO

Em 2017, nós passamos pela auditoria da IFCN, que comprovou que o site obedece rigorosamente a exigências de apartidarismo, equidade, transparência de financiamento e de método, além de ostentar uma política honesta de correção e de interação com o leitor. Este ano (2018), haverá uma nova

Somos membros da International Fact Checking Network, que certifica agências de checagem. Eles não fazem um “controle de qualidade” de nosso conteúdo, mas promovem auditorias independentes para certificar que seguimos alguns padrões, como ter nossa metodologia, equipe e

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auditoria. Disponível em: <https://aosfatos.org/noticias/aos-fatos-recebe-selo-internacional-por-compromisso-com-transparencia/>

financiamento disponíveis em nosso site.

Quais meios são utilizados para o levantamento de d ados? AOS FATOS TRUCO

Primeiro, buscamos dados que já estão disponíveis. Os dados oficiais, principalmente quando se trata de políticas públicas, são utilizados. Mas sempre os contrastamos e contextualizamos com outros dados, de fontes alternativas (pesquisas, estudos, relatórios de fontes confiáveis). Se os dados não estão acessíveis, os pedimos, seja via assessoria de imprensa ou via Lei de Acesso à Informação - nesse último caso, eles podem demorar mais para chegar até nós.

Pedidos de lei de acesso à informação, pesquisas em bancos de dados públicos, pesquisas em relatórios e estudos e entrevistas com especialistas.

Existem riscos ao se fazer matérias de “fact -checking”? AOS FATOS TRUCO

Temos um compromisso com a verdade. Por checarmos o que os outros dizem ou compartilham por aí, somos muito cobrados por um trabalho sem erros. Estamos sob escrutínio público todo o tempo. Muitas vezes nos perguntam “quem checa os checadores?”. Todos podem checar. Temos um método de checagem transparente e em nossos princípios também temos uma política clara sobre erros e suas correções.

Acredito que não, principalmente quando se tem uma metodologia que norteia todo o processo.

Como são feitas e divulgadas as notícias já checada s? AOS FATOS TRUCO

O Aos Fatos tem uma interação muito bacana com os leitores, principalmente nas redes sociais. Todas as nossas matérias são compartilhadas no Twitter e no Facebook, e nossos gráficos também vão para o Instagram. Temos também um newsletter semanal com o que publicamos na semana. Nas eleições de 2016, checamos em tempo real os debates de candidatos às prefeituras do Rio e SP, e elas eram publicadas diretamente no Twitter, em tweets. Foi uma experiência bem legal.

Divulgamos as checagens em nossas redes sociais, site e via republicação em outros veículos parceiros.

Como func iona a classificação das informações (grau de verac idade)? AOS FATOS TRUCO

Poucas são as notícias que podem ser classificadas só como verdadeiras ou falsas, preto ou branco. Há nuances. Os selos são a marca registrada de Aos Fatos e o coração da nossa proposta. Cada um desses selos tem um significado particular como pode ser visto na imagem 17.

As classificações são feitas depois que a apuração está pronta. Nossas classificações podem ser conferidas na imagem 16.

Por onde é feito o acompanhamento das no ticias, para que assim sejam checadas? AOS FATOS TRUCO

Monitoramos as fake news compartilhadas Para pegar frases checáveis, acompanhamos

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nas redes sociais ou por aplicativos de mensagem, usamos algumas ferramentas como o Crowdtangle para isso. E temos um canal de comunicação direta com o leitor, o #vamosaosfatos, em que eles podem sugerir checagens.

entrevistas, pronunciamentos, posts em redes sociais e também correntes de Whatsapp. É importante que a declaração ou informação esteja sendo debatida pela população.

Quais fatores são relevantes para que uma notícia s eja checada? AOS FATOS TRUCO

Relevância e alcance. É um tema relevante para o debate público ou o emissor tem relevância? Ela está sendo viralizada por redes sociais ou aplicativos de mensagens? Pode ter impacto em decisões importantes das pessoas e da sociedade?

Para que seja checada, é necessário que ela contenha um dado, faça referência a leis, permissões, proibições, situações verificáveis ou traga afirmações categóricas. Dentre as diversas declarações que podem ser checadas, escolhemos apenas aquelas que têm relevância para o debate público. Fazemos também um rodízio entre as personalidades e autoridades verificadas, para manter o equilíbrio da cobertura e garantir que todos sejam fiscalizados.