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Os capítulos anteriores contêm análises da maior importância para
pensar estrategicamente o futuro da área metropolitana de Lisboa
num mundo cada vez mais pequeno e urbano. Afinal, e como sempre
sucedeu apesar dos factos nem sempre o evidenciarem, é a partir
do mundo que a evolução da principal metrópole do país tem de
ser entendida. Ao estatuto de maior aglomeração portuguesa e de
capital nacional, adicionam-se, de facto, outros estatutos, reais e
imaginados: centro urbano ibérico de primeira grandeza, porta atlântica
da Europa, lugar do mundo.
A cada um de nós caberá ajuizar as vantagens e limitações de um
novo posicionamento da área metropolitana de Lisboa nos contextos
nacional e internacional. E, sobretudo, verificar qual a relação exis-
tente entre uma evolução mais sustentável da metrópole lisboeta
e esse novo posicionamento. É, pois, de um novo modelo de desen-
volvimento que estamos a falar. Os princípios que o devem conformar
são hoje unânimes, pelo menos ao nível dos discursos políticos
e académicos dominantes: sustentabilidade ambiental, equidade
social, competitividade económica, multiculturalismo, policentrismo.
Mas como conciliar princípios, não raro conflituais entre si, pelos
objectivos que visam e pela mobilização de recursos que pressupõem?
O debate está aberto. Os comentários que se seguem sugerem a
necessidade de uma área metropolitana de Lisboa simultaneamente
mais cosmopolita e mais responsável. Mas esta é apenas uma das
muitas visões possíveis sobre um futuro desejável para a metrópole
de Lisboa. Este Atlas revela a existência de múltiplos caminhos.
Por isso constitui um precioso roteiro para ajudar a debater Lisboa,
esse extraordinário – e singular – bem comum dos lisboetas, dos
portugueses e dos cidadãos do mundo.
A imensa informação disponível nos capítulos anteriores
e a riqueza das análises por ela suscitadas permitem agora um
debate mais alargado acerca do passado, do presente e, sobretudo,
do futuro da área metropolitana de Lisboa. Para onde parece
caminhar a principal aglomeração urbana nacional? Ou, se quisermos
adoptar um registo mais voluntarista, que futuro é possível, e
desejável, vislumbrar para esta parcela do país?
Os dados contidos neste Atlas sugerem-nos múltiplas
hipóteses de evolução, cujos contornos dependem, em grande
parte, da nossa imaginação. Mas o futuro de qualquer território
confronta-se, inevitavelmente, com a sua história e a sua geo-
grafia. É, por isso, fundamental debater as evoluções possíveis
à luz do modo como as diferentes comunidades e os vários pode-
res políticos usaram, moldaram e organizaram ao longo dos
tempos este território singular. Sem determinismos de qualquer
tipo, mas também sem voluntarismos irrealistas: as cidades do
século XXI não se compadecem com qualquer forma de iluminismo
racionalista.
A evolução de uma grande aglomeração urbana é ainda
fortemente condicionada pelas características do país de que faz
parte e pelo modo como se integra em espaços mais vastos, de
escala sub-continental, continental e mesmo inter-continental. Os
caminhos do futuro para a área metropolitana de Lisboa não po-
derão, por isso, prescindir de levar em conta esta complexa caixa
de Pandora, constituída por contextos que se influenciam recíproca
mas assimetricamente, tendo por base processos de natureza e
duração muito diversificadas.
É, afinal, de trajectórias de desenvolvimento que estamos
a falar: sucessão de circunstâncias, actores, acasos, visões, pres-
sões; enfim, uma complexidade que torna imprevisível o detalhe
sem, no entanto, retirar compreensão ao conjunto. Ao introduzir
maior inteligibilidade nos vários futuros possíveis da área metro-
politana de Lisboa, os capítulos anteriores dão-nos pistas impor-
tantes para que se veja para além do pormenor, do peso tantas
vezes esmagador do quotidiano ou dos acontecimentos de grande
impacte mediático, das retóricas que nos pretendem ensinar a ler
a cidade, o país ou até o mundo.
Dos resultados apresentados e das análises desen-
volvidas, três ideias essenciais parecem salientar-se. Por um lado,
a existência de uma longa tradição histórica de comunidade de
interesses entre a cidade e a área envolvente. Por outro lado, o
facto do fundamental da conformação da actual área metro-
politana ter ocorrido nas últimas quatro décadas do século XX,
tendo por base um modelo “moderno” de urbanização cujas
consequências ambientais, sociais e económicas se encontram
bem diagnosticadas. Finalmente, a convicção – ou, pelo menos,
a suspeita – de que este modelo “moderno” de desenvolvimento
é hoje insustentável, tanto por razões internas à metrópole como
por factores mais vastos, de ordem nacional e internacional.
Filiação e ruptura
É este, por certo, o grande desafio que se coloca ao
futuro da área metropolitana de Lisboa. Mobilizar o seu passado
como recurso relevante para que seja alcançado um novo patamar
colectivo de qualidade de vida, de desempenho das organizações
e de internacionalização e, ao mesmo tempo, adoptar um novo
modelo de desenvolvimento, baseado num relacionamento dife-
rente com o país e com o mundo, mas também consigo própria.
É por isso que as três ideias acima identificadas são essenciais.
Elas sublinham a importância decisiva dos mecanismos de coope-
ração e regulação metropolitana, da superação do modelo “mo-
derno” de crescimento urbano e da inserção qualificada desta área
do país em espaços supranacionais.
Filiação e ruptura significam transição, passagem para
um novo modelo de desenvolvimento guiado por objectivos e pro-
cedimentos em grande parte distintos dos que prevaleceram nas
últimas quatro décadas. São múltiplos os manuais ou as cartas e
declarações internacionais que nos indicam os grandes princí-
pios que deverão orientar o futuro das metrópoles: sustentabilidade
ambiental, equidade social, multiculturalismo, competitividade
internacional, participação cívica, policentrismo, entre outros, cons-
tituem grandes objectivos por todos invocados. São também muito
diversificadas as designações que apontam para opções estraté-
gicas que visam concretizar aqueles princípios: cidades sustentá-
veis, cidades saudáveis, cidades criativas, cidades inteligentes, etc.
A Agenda 21 Local ou a Agenda Habitat sumariam, em boa medida,
estes vários princípios e objectivos, traduzindo a visão complexa e
abrangente – holística, dirão alguns – que domina hoje o discurso
político e académico sobre a cidade.
Mas, em termos mais concretos, como poderá cada um
de nós contribuir para, à luz simultânea da realidade singular da
área metropolitana de Lisboa, das orientações estratégicas predo-
minantes nas várias poderosas organizações supranacionais e ainda
das evoluções externas com impacte relevante no país, identificar
caminhos interessantes para o futuro da nossa principal aglome-
ração urbana?
As respostas são – deverão ser – múltiplas. Mas insis-
tirei naquela que me parece mais decisiva: a construção de uma
metrópole cosmopolita e ciente da insustentabilidade do modelo
“moderno” de crescimento urbano. Uma metrópole cosmopolita
pensa-se na sua diversidade face ao mundo. Uma metrópole cos-
mopolita encontra no exterior o palco essencial para se valorizar.
Uma metrópole cosmopolita cria oportunidades, estimula a inovação,
é democrática, gere de forma inteligente o balanço entre filiação
e ruptura, porque estas são as condições que permitem participar
em projectos – da construção da Europa à cidadania global – que
estão no centro das sociedades contemporâneas.
Como se constrói uma metrópole cosmopolita e ciente
da insustentabilidade do modelo “moderno” de crescimento urbano?
Os vários capítulos deste Atlas ajudam-nos a encontrar respostas
para esta questão em domínios tão distintos como o ambiente e a
paisagem, a habitação e a mobilidade, a cultura e as identidades,
as actividades económicas e o ordenamento do território. Os co-
mentários que se seguem centrar-se-ão, por isso, numa compo-
nente particular, que decorre da convicção de que uma metrópole
apenas será verdadeiramente cosmopolita se ocupar um lugar
de alguma relevância em redes e espaços internacionais.
Uma visão geoestratégica do posicionamento interna-
cional da área metropolitana de Lisboa – tema, aliás, já aflorado
nas páginas deste Atlas – pode ser encontrada em diversos docu-
mentos produzidos nos últimos anos, alguns de natureza institu-
cional, como o PNDES ou os planos estratégicos de Lisboa e da
Região de Lisboa e Vale do Tejo, outros de âmbito mais académico.
Dois trabalhos recentes, As Regiões Metropolitanas Portuguesas
no Contexto Ibérico (2002) e Étude sur la Construction d´un Modèle
de Développement Polycentrique et Equilibré du Territoire Européen
(2002), incluem dados e análises que permitem complementar obser-
vações já anteriormente apresentadas. Os comentários que se
seguem beneficiam, em larga medida, de resultados desses dois
estudos.
Lisboa parece ser excessivamente grande ao nível
nacional, mas ocupa uma posição algo modesta no contexto do
sistema urbano europeu. Ou, dito de outra forma e parafraseando
um dos autores deste Atlas, a centralidade nacional de Lisboa con-
trasta vivamente com a posição periférica que detém no espaço
europeu. Ora, só reposicionando Lisboa no plano internacional é
possível sustentar o seu desenvolvimento e reformular o modo como
se relaciona com o resto do país, superando definitivamente quer
os impactes desastrosos do modelo “moderno” de crescimento
urbano quer a tradicional sangria de recursos nacionais efectuada
em detrimento do desenvolvimento de outras regiões.
Que papel internacional de relevo poderá ser desen-
volvido pela área metropolitana de Lisboa, isto é, pelas pessoas e
organizações que aqui desenvolvem a sua actividade a partir dos
vários tipos de recursos localmente existentes ou acessíveis?
A História e a Geografia dão-nos uma primeira resposta,
ao esclarecer os factores básicos que condicionam a definição de
qualquer estratégia de distinção e notoriedade internacionais para
Lisboa:
• Estatuto de capital nacional: sendo a capital de um país com
mais de oitocentos anos e com uma longa tradição centraliza-
dora, Lisboa concentra um grande número de funções na-
cionais e de representação internacional que lhe conferem uma
posição relevante em redes diplomáticas e para-diplomáticas
da maior importância para decisões de nível supra-nacional;
• Tradição das actividades marítimas: Portugal, em geral, e o
porto de Lisboa, em particular, sempre desempenharam um
papel significativo no seio de rotas marítimas inter-continentais,
facto que estimulou o desenvolvimento de actividades comerciais
e uma abertura apreciável a povos dos mais diversos países e
culturas;
• Funções de capital imperial: o estatuto de Lisboa como ca-
pital de um império colonial até um período bastante recente
não só reforçou os aspectos referidos nos dois parágrafos an-
teriores como contribuiu para que a cidade se transformasse
num ponto central de intermediação entre os vários países
de língua portuguesa, conforme, aliás, a estrutura dos fluxos
imigratórios bem evidencia;
• Tradição de oposição à Espanha: sendo a Espanha (ou os
reinos que a antecederam) o inimigo histórico de Portugal, pre-
valeceram durante séculos as alianças políticas e comerciais
com o Reino Unido e com os blocos económicos onde este
país detinha uma posição importante (EFTA, por exemplo); es-
te facto explica que Portugal – e a sua principal aglomeração
urbana, Lisboa – tenham privilegiado o relacionamento inter-
nacional por transporte marítimo e aéreo em detrimento do
transporte terrestre (rodo ou ferroviário), que implica a traves-
sia de Espanha em direcção à Europa além-Pirinéus.
A adesão conjunta de Portugal e Espanha à Comunida-
de Europeia, em 1986, contribuiu para alterar, ou matizar, alguns
dos aspectos anteriores:
• Substituição da visão atlantista até então prevalecente por
uma visão mais europeísta e continental, orientada para o es-
paço comunitário;
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Para uma área metropolitana de Lisboa COSMOPOLITA E RESPONSÁVEL
João FERRÃOGeógrafo
Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa
• Transformação de Lisboa numa das capitais políticas da União
Europeia;
• Aproximação recíproca de Portugal e Espanha, erodindo a
anterior visão anti-espanhola;
• Emergência da Península Ibérica como um mercado único
para as empresas multinacionais e também para muitas orga-
nizações espanholas e portuguesas, consolidando-se um mer-
cado ibérico com centro em Madrid mas, simultaneamente,
com uma crescente interacção entre diferentes cidades e re-
giões peninsulares;
• Desenvolvimento de uma cultura de cooperação transnacional
suscitada por diversos programas comunitários, envolvendo
actores e regiões que até então não desenvolviam quaisquer
contactos com instituições localizadas na área de Lisboa.
Esta evolução passada, longínqua e recente, permite
identificar alguns dos aspectos mais decisivos para o reposiciona-
mento internacional da área metropolitana de Lisboa:
Afirmar-se como pólo europeu,
diferenciando-se de Madrid
A afirmação de Lisboa no quadro do espaço europeu
depende, no essencial, da capacidade de explorar os factores histo-
ricamente acumulados e a sua posição geoestratégica, diferen-
ciando-se de Madrid como porta atlântica da Península Ibérica e
da Europa através, nomeadamente, dos seguintes objectivos:
a) desenvolvimento de funções de Interface entre a Europa, por
um lado, e países da América Latina (sobretudo Brasil) e de
África (África Austral e países de língua portuguesa), pelo outro,
como já sucede actualmente com o aeroporto da Portela, ao
funcionar como ponto de passagem obrigatório para turistas
da Europa Central com destino ao Nordeste Brasileiro;
b) reforço do papel de articulação entre o litoral europeu atlân-
tico e o Mediterrâneo, de que o facto de Lisboa constituir
o principal porto de cruzeiros do Arco Atlântico constitui um
excelente exemplo, beneficiando da sua posição de charneira
entre o Norte e o Sul europeus; por outro lado, a tendência
para substituir os modos de transporte terrestre, sobretudo
rodoviário, pelo transporte marítimo de cabotagem por razões
de congestão de tráfego e ambientais pode constituir uma boa
oportunidade para os portos da região metropolitana de
Lisboa, estimulando um novo protagonismo como pontos de
passagem de valia europeia;
c) afirmação como pólo relevante do espaço designado por
François Guichard (2001) como “Mediterrâneo Atlântico”, isto
é, da vasta área compreendida entre Portugal, Açores, Cabo
Verde, Senegal e Marrocos, nomeadamente no domínio da
gestão, segurança e investigação marítimas; a consolidação
de um espaço de cooperação nesta área poderá retirar partido
tanto do crescente interesse revelado pela UE em intensificar
as suas relações com os países do Norte de África como da
maior interdependência que tem vindo recentemente a esta-
belecer-se entre Portugal e vários países do Magrebe (impor-
tação de gás natural, investimento directo, relações comerciais
e culturais).
Afirmar-se como pólo ibérico,
cooperando com as metrópoles peninsulares mais poderosas
Este segundo nível de afirmação internacional implica
que Lisboa reforce a sua importância estratégica no eixo Lisboa-
-Madrid-Barcelona, as três principais metrópoles peninsulares. Com
este objectivo, torna-se necessário avaliar as possibilidades de coo-
peração a desenvolver entre estas aglomerações, nomeadamente
no que se refere à definição de complementaridades funcionais ao
nível das grandes infra-estruturas de âmbito ibérico. O combate à
congestão de tráfego aéreo, por exemplo, pode constituir uma base
sólida para a negociação de estratégias de complementaridade
tripartida.
Afirmar-se como pólo regional ibérico,
reforçando a sua centralidade na zona Oeste
do quadrado peninsular
Este terceiro nível de afirmação internacional pressupõe
a capacidade de Lisboa polarizar directamente uma parcela
significativa do espaço ibérico, valorizando, em particular, os
seguintes objectivos:
a) articulação funcional da fachada atlântica da Península Ibé-
rica, constituindo Lisboa o nó central do eixo Galiza-Portu-
gal-Andaluzia Ocidental, um território com mais de 15 milhões
de habitantes e com uma mobilidade interna que a evolução
recente e previsível das infra-estruturas de transporte beneficia
de forma clara;
b) cooperação mais intensa com centros urbanos portugueses
e das vizinhas províncias espanholas, domínio onde, por exemplo,
as vantagens da promoção conjunta de pacotes de visitas a
cidades históricas de ambos os países para turistas não euro-
peus surge como uma das iniciativas mais evidentes.
Afirmar-se como lugar do mundo,
ganhando visibilidade e protagonismo internacional
Este quarto nível de afirmação internacional de Lisboa,
de natureza mais genérica, pressupõe a capacidade de retirar par-
tido de aspectos que, sendo singulares, podem ser valorizados co-
mo factores de distinção num mundo cada vez mais pequeno mas
também mais competitivo:
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Quadro XIV. 1
Comparação das Regiões Metropolitanas Ibéricascom base em indicadores de dimensão
1º Madrid Madrid Madrid Barcelona Madrid Madrid Madrid Madrid Madrid5,080 2,221 487,3 168,9 1.200 62 12,354 95,6 27,8(100) (100) (100) (100) (100) (100) (100) (100) (100)
2º Barcelona Barcelona Barcelona Madrid Barcelona Barcelona Barcelona Lisboa Barcelona4,390 2,009 280,7 156,8 838 56 7,064 78,3 24,3(86) (90) (58) (93) (70) (90) (57) (82) (87)
3º Lisboa Lisboa Lisboa Lisboa Lisboa Lisboa Lisboa Barcelona Málaga2,927 1,657 168,7 108,8 486 35 6,553 48,2 23,8(58) (75) (35) (64) (41) (57) (53) (50) (86)
4º Porto Porto Valência Valência Porto Bilbau Málaga Porto Lisboa2,307 1,263 99,1 67,5 322 30 5,705 29,6 18,5(45) (57) (20) (40) (27) (48) (46) (31) (67)
5º Valência Valência Bilbau Porto Valência Porto Porto Saragoça Sevilha1,466 0,889 87,6 58,7 201 22 2,019 8,0 11,1(29) (40) (18) (35) (17) (36) (16) (8) (40)
6º Sevilha Sevilha Sevilha Sevilha Bilbau Valência Bilbau Valência Valência1,349 0,667 77,0 36,8 147 17 0,596 7,1 6,4(27) (30) (16) (22) (12) (27) (5) (7) (23)
7º Bilbau Bilbau Porto Bilbau Saragoça Sevilha Valência Málaga Porto1,031 0,473 76,2 36,3 100 16 0,485 4,2 5,1(20) (21) (16) (22) (8) (26) (4) (4) (18)
8º Málaga Málaga Saragoça Málaga Sevilha Saragoça Sevilha Bilbau Saragoça0,700 0,489 54,4 35,0 96 4 0,264 1,7 3,0(14) (22) (11) (21) (8) (7) (2) (2) (11)
9º Saragoça Saragoça Málaga Saragoça Málaga Málaga Saragoça Sevilha Bilbau0,652 0,351 40,1 26,1 69 0 0,250 0,5 2,1(13) (16) (8) (16) (6) (0) (2) (1) (8)
Populaçãoresidente
1998(milhões)
Recursos Humanos Actividade Económica Internacionalização
Activos
1999(milhões)
Populaçãocom cursomédio/sup.
1991(milhares)
Empresas
1998(milhões)
Grandesempresas(>200 p.)
1998(nº)
FeirasInternacionais
2001(nº)
Capacidadealojamento
em hotéis de4 e 5 estrelas
2000(milhares)
Tráfego aéreointernacional
1998 (E) / 1999 (P)
Passageiros
(milhões)
Mercadorias
(milharestoneladas)
a) construção de uma imagem internacional apelativa, basea-
da em aspectos tão diferentes como as condições naturais,
o património existente, a segurança ou o nível de vida, consti-
tuindo-se Lisboa como um destino turístico para distintos
tipos de públicos, como palco para a organização de eventos
artísticos, desportivos e culturais internacionais ou, ainda, como
área de residência permanente ou secundária para reforma-
dos em idade activa de países do Norte da Europa;
b) valorização de uma longa tradição de cosmopolitismo e mul-
ticulturalismo, factor que justifica que Lisboa ocupe uma posi-
ção de destaque no mapa das instituições internacionalmente
reconhecidas como tendo um papel relevante no diálogo e mis-
cigenação de culturas.
Afirmar-se como lugar do mundo,
conquistando novas formas de acesso aos espaços globais
A afirmação de Lisboa como lugar do mundo implica,
por último, a capacidade de aceder a espaços mais vastos. Visando
essa finalidade, é possível identificar alguns objectivos prioritários:
a) aposta no efeito trampolim, aproveitando o facto de Lisboa
constituir um importante pólo de consumo de nível supra-na-
cional para consolidar um ambiente favorável à internaciona-
lização das empresas portuguesas;
b) conquista de uma maior autonomia no acesso aos principais
mercados, diminuindo a dependência em relação a infra-estru-
turas localizadas no território espanhol (grandes eixos rodo e
ferroviários, aeroporto de Madrid, etc.), facto que constitui um
factor adicional para valorizar os modos de transporte aéreo e
marítimo e as infra-estruturas logísticas a eles associados;
c) mobilização efectiva da vasta nação portuguesa, isto é, das
várias comunidades portuguesas dispersas pelo mundo,
estimulando novas formas de contacto e intercâmbio nos mais
diversos domínios;
d) investimento prioritário na generalização do uso social das
tecnologias de informação e comunicação, colocando Lisboa
no mapa mundial dos nós com elevada conectividade inter-
nacional.
Não é, evidentemente, fácil a tarefa de Lisboa conquistar
um papel internacional mais relevante. A informação contida nos
Quadros XIV.1 e XIV.2 mostra como, mesmo ao nível peninsular, a
principal aglomeração metropolitana do país tende a ocupar a terceira
posição, não havendo indícios claros de estar em curso, ou poder
ocorrer a breve prazo, uma aproximação em relação às metrópoles
de topo, Madrid e Barcelona.
Por outro lado, o estudo da CRPM (2002) sobre as
regiões periféricas marítimas europeias classifica Lisboa como
“estrela emergente de segundo nível” (Figura XIV.1), uma posição
um pouco inferior à que é ocupada por sistemas metropolitanos
como Manchester-Liverpool, Lyon-Grenoble ou Barcelona, e idên-
tica à de Birmingham ou Bristol-Cardiff, no Reino Unido, e Turim,
Veneza-Pádua ou Florença, em Itália. Ou seja, Lisboa posiciona-se
deficientemente no contexto dos sistemas urbanos periféricos ao
núcleo central europeu mais desenvolvido, especialmente se se
levar em conta o seu estatuto de capital nacional. Este resultado
reforça a necessidade de atribuir à internacionalização da área
metropolitana de Lisboa um papel decisivo para o seu futuro
desenvolvimento.
Uma presença mais forte e qualificada de Lisboa no
plano internacional constitui uma condição necessária mas não
suficiente para garantir a superação do actual modelo de cresci-
mento urbano “moderno”. Por outro lado, a projecção externa da
principal aglomeração metropolitana do país exige, sem qualquer
dúvida, o abandono desse modelo de crescimento urbano.
Cosmopolitismo e qualificação urbana constituem,
afinal, duas faces indissociáveis de uma mesma moeda, a do
desenvolvimento. É esse, talvez, o principal ensinamento a retirar
deste Atlas.
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Quadro XIV. 2
Comparação das Regiões Metropolitanas Ibéricascom base em indicadores de estrutura e evolução
Variação Índice Taxa PIB Variação PIB Estudantes univ.da População de envelhecimento de desemprego per capita per capita (1999-2000) / Pop.
15-24 anos (1998)
1991-98 1998 1999(P) / 2000(E) 1995 1991-95(%) (>64 / <15) (%) (Milhares EURO) (%) (%)
1º Sevilha Bilbau Sevilha Madrid Madrid Bilbau6,12 1,39 13,26 15,584 48,85 49,71
2º Málaga Saragoça Málaga Barcelona Porto Saragoça5,72 1,27 12,50 13,679 40,49 45,62
3º Porto Barcelona Bilbau Bilbau Barcelona Valência4,14 1,18 9,42 12,531 37,03 39,94
4º Madrid Valência Valência Saragoça Lisboa Lisboa2,89 1,03 7,73 12,267 32,38 36,07
5º Valência Madrid Madrid Valência Bilbau Málaga2,48 1,08 7,42 10,854 30,97 33,99
6º Saragoça Lisboa Saragoça Lisboa Saragoça Sevilha2,11 0,97 7,29 10,286 26,85 32,37
7º Lisboa Málaga Barcelona Sevilha Valência Madrid1,02 0,75 6,30 8,129 25,77 29,55
8º Barcelona Sevilha Porto Málaga Sevilha Barcelona0,56 0,72 6,26 7,819 23,13 23,92
9º Bilbau Porto Lisboa Porto Málaga Porto-1,60 0,60 6,00 7,623 19,91 21,00
NOTA: Os indicadores índice de envelhecimento e taxa de desemprego estão ordenados por ordem crescente, no pressuposto que menores valores nestes indicadorestraduzem situações mais vantajosas por parte das regiões metropolitanas que os assumem.
Fonte: Ferrão, Rodrigues e Vala (2002)
Mapa XIV.1 Sistema urbano das regiões marítimas da Europa. 2002
BIBLIOGRAFIA
CRPM (2002) - Étude sur la Construction d´un Modèle de Développement
Polycentrique et Equilibré pour le Territoire Européen. Le Point de vue des
Périphéries Maritimes Européennes. Porto: Céllule de Prospective des
Périphéries de la Conférence des Régions Périphériques Maritimes d`Europe
(CRPM), (3 volumes, policopiado).
Ferrão, João; Rodrigues, Duarte e Vala, Francisco (2002) - As Regiões
Metropolitanas Portuguesas no Contexto Ibérico. Lisboa: Ministério das
Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente/DGOTDU.
Guichard, François (2001) - “La Méditerranée atlantique, mirage ou
réalité?”, «Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian», Volume XLII.
Lisboa-Paris: Fundação Calouste Gulbenkian: pp. 33-52.
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