Post on 06-Aug-2015
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ELAINE ROCHA DE MELO
Transformação pela vibração
São Paulo
2011
1
ELAINE ROCHA DE MELO
Transformação pela vibração
Capitulo I e II da monografia apresentada à orientação de Trabalho de Conclusão de Curso do
bacharelado em Design de Moda da Universidade
Anhembi Morumbi.
Orientação: Profa. Dra. Agda Carvalho
Profa. Dra. Márcia Merlo
Profa. Me. Miriam Levinbook
São Paulo
2011
2
ELAINE ROCHA DE MELO
Transformação pela vibração
Capitulo I e II da monografia apresentada junto
ao Curso de Design de Moda da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel.
Orientação: Profª. Dra. Agda Carvalho
Profª. Dra. Márcia Merlo
Profª. Me. Miriam Levinbook
Comissão Examinadora
Prof.
Prof.
Prof.
São Paulo
2011
3
Resumo
Esta monografia é resultado do Projeto Transdisciplinar em Artes, Design,
Moda e Terceiro Setor, e que tem como subtema: Afro Reggae. Optou-se como
referência de terceiro setor a ONG brasileira, Afro Reggae. Entre seus diversos
trabalhos sociais de interação com jovens para livrá-los do crime foi escolhida a Banda
Afro Lata. Trata-se de uma banda de percussão com instrumentos feitos de materiais
reciclados. Esses materiais transformados em instrumentos e a própria mudança nas
vidas desses jovens tornou-se referência para o conceito de criação considerando
também a transformação por meio da vibração musical. Tais referências foram
representadas pelo termo Transformação pela Vibração. A coleção foi desenvolvida
para o público-alvo definido por meio de pesquisas de campo, pelo livro Consumo
Autoral de Francesco Morace e por artigos de outros autores descritos nas referências
bibliográficas, com peças que misturam materiais e o uso da técnica de crochê por ser
um trabalho delicado e de transformação da linha ponto a ponto em figuras e peças.
Palavras-chave: Transformação, vibração, público-alvo, rigidez e crochê.
4
Abstract
This monograph is the result of the Transdisciplinary Project in Arts, Design,
Fashion and Third Sector, and has sub-theme: Afro Reggae. Was chosen as a reference
for the third sector the brazilian NGO, Afro Reggae. Among your diverse works social
of interaction with young people to rid them of the crime was chosen Banda Afro Lata.
It is a percussion band with instruments made from recycled materials. These materials
transformed into instruments and the own change in the lives of these young people
became a reference to the concept of creation also considering the transformation
through musical vibration. Such references were represented by the term
"Transformation by Vibration". The collection was developed for the target audience
defined trough of field researches, by the book Francesco Morace, "Copyright
Consumption" and articles by other authors described in the references, with pieces that
mix materials and use of the technique of crochet by be a delicate work and the
transformation of the line, point by point in figures and parts.
Keywords: Transformation, vibration, target audience, stiffness and crochet.
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ronaldo Fraga com artesãs do projeto Talentos do Brasil em Coxim. Fonte: Flickr
Ronaldo Fraga - Disponível em: http://www.flickr.com/photos/ronaldo_fraga/2878440957/. 11
Figura 2 - Desfile Grife AfroReggae no SPFW - Fonte: Agência Fotosite. Disponível em
http://elle.abril.com.br/desfiles/afroreggae/desfiles_305917.shtml#0. .................................. 12
Figura 3 - Logomarca Grupo Cultural Afro Reggae. Fonte Mente Flutuante. Disponível em:
http://menteflutuante.wordpress.com/ .................................................................................. 13
Figura 4 - Centro Cultural Waly Salomão em Vigário Geral - RJ. Fonte: Suburbado Convicto.
Disponível em: http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-inaugura-centro-
cultural_27.html. .................................................................................................................... 14
Figura 5 - Ensaio da Banda de Percussão Makala. Fonte: Suburbado Convicto. Disponível em:
http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-inaugura-centro-cultural_27.html. ............ 15
Figura 6 – Jovem finalizando a pintura do instrumento do grupo. Fonte: Suburbado Convicto.
Disponível em: http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-inaugura-centro-
cultural_27.html. .................................................................................................................... 16
Figura 7- Apresentação do grupo AfroLata, que deu as boas-vindas ao governador Sérgio
Cabral, em Parada de Lucas. Fonte: Suburbado Convicto. Disponível em:
http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-inaugura-centro-cultural_27.html. ............ 16
Figura 8 - Percussionistas fizeram apresentação com tambores de material reciclado durante a
estréia do coletivo carioca AfroReggae no SPFW. Fonte: Flavio Moraes. Disponível em:
http://ligaderiopardo.zip.net/arch2009-05-24_2009-05-30.html. ........................................... 17
Figura 9 - Público-Alvo, pesquisa de campo – Fonte: Arquivo pessoal ...................................... 19
Figura 10 - Público-Alvo, pesquisa de campo – Fonte: Arquivo pessoal .................................... 19
Figura 11 - Feira de Embu das Artes - Fonte: Wilson Houck Jr. Disponível em:
http://www.panoramio.com/photo/48807507. ...................................................................... 20
Figura 12 - Painel referencial imagético ................................................................................... 21
Figura 13 - Estudo de formas ................................................................................................... 22
Figura 14 - Estudo de formas ................................................................................................... 23
Figura 15 - Coleção.................................................................................................................. 26
Figura 16 - Croqui 1:Macacão de tricoline marrom .................................................................. 27
Figura 17 - Croqui 2: Top e saia ambos de tricoline vermelha .................................................. 28
Figura 18 - Croqui 3: Top de tricoline telha e saia de tricoline marrom .................................... 29
6
Figura 19 - Croqui 4: Top e shorts de tricoline marrom (gola de tricoline telha) ....................... 30
Figura 20 - Croqui 5: Vestido de tricoline marrom e detalhe lateral de crochê mesclado marrom
e vermelho.............................................................................................................................. 31
Figura 21 - Croqui 6: Macacão de tricoline marrom e crochê mesclado de marrom e vermelho
............................................................................................................................................... 32
Figura 22 - Croqui 7: Top e saia de tricoline e crochê vermelhos .............................................. 33
Figura 23 - Croqui 8: Vestido de tricoline marrom e crochê mesclado telha e marrom ............ 34
Figura 24 - Croqui 9: Top de tricoline telha e shorts de crochê mesclado marrom e telha ........ 35
Figura 25 - Croqui 10: Top e calça de crochê marrom .............................................................. 36
Figura 26 - Croqui 11: Vestido de crochê mesclado telha e vermelho ...................................... 37
Figura 27 - Croqui 12: Vestido de crochê vermelho e alças de tricoline vermelha .................... 38
Amostra 1 - Linhas de crochê. Cléa 1000 (7382, 7188 e 3635) ................................................. 24
Amostra 2 - Tricoline acetinada marrom ................................................................................. 24
Amostra 3 - Tricoline acetinada telha ...................................................................................... 24
Amostra 4 - Crochê ponto alto: marrom .................................................................................. 25
Amostra 5 - Crochê ponto alto: vermelho................................................................................ 25
Amostra 6 - Crochê ponto alto: mesclado marrom e vermelho ................................................ 25
Amostra 7 – Crochê ponto alto: mesclado: marrom e telha ..................................................... 25
Amostra 8 – Crochê ponto alto: mesclado telha e vermelho.................................................... 25
Amostra 9 – Crochê ponto sobreposto: marrom ..................................................................... 25
7
Introdução
O presente projeto tem como objetivo abordar a Interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade: Design de Moda e Terceiro Setor, fazendo uma reflexão sobre as
ONG´s, as transformações e benefícios que essas organizações trouxeram para a
população.
Para Claus Offe, professor da Universidade de Humboldt (Alemanha), o
Terceiro Setor “surgiu em decorrência da falência do Estado do bem-estar social1” que
tem por objetivo garantir padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e
seguridade social a todos os cidadãos. Como o Estado não estava suprindo as
necessidades dos cidadãos, os movimentos sociais, as ONG´s, as igrejas e os próprios
cidadãos se mobilizaram para criar esta “nova ordem social”. (MELO NETO e FROES,
1999, p. 14).
Como cita o autor, há vários movimentos dentro do termo Terceiro Setor e um
deles são as ONG‟s. Cada ONG é direcionada para uma (ou mais) necessidade social,
seja ela referente a cidadãos com renda baixa, falta de alfabetização e trabalho,
habitação, desnutrição crônica, entre outras. Dentre diversas ONG‟s optou-se pelo Afro
Reggae, subtema, que abrange diversos tipos de trabalhos sociais como a Banda Afro
Reggae que foi o objeto de estudo escolhido.
O grupo Afro Lata traz a transformação de materiais reciclados em instrumentos
musicais assim como há a transformação de seus integrantes com a possibilidade de
uma vida longe da criminalidade. Além do ritmo vibrante e contagiante dos
instrumentos.
Após análise do objeto de estudo chegou-se ao conceito de criação,
Transformação pela Vibração que mostra essa transformação na vida dos jovens da
banda pela vibração da música.
A coleção tem formas irregulares que saem do corpo e ao mesmo tempo o
envolve. A tricoline foi o tecido base para a os looks e para a transformação o crochê
foi escolhido pela mudança da linha em pontos e depois em peças. Cores sóbrias,
marrom, telha e vermelho fechado, definem a cartela de cores que se deu pela
1 “O Estado do Bem-estar também é conhecido por sua denominação em inglês, Welfare State. Os
termos servem basicamente para designar o Estado assistencial (...).” (CANCIAN – ver referências
bibliográficas )
8
preferência do público-alvo. Publico esse que foi escolhido por meio de pesquisas de
campo.
9
Sumário
Capítulo I ................................................................................................................................ 10
1. Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: Design de Moda e Terceiro Setor. .................. 10
1.1 AfroReggae ................................................................................................................... 13
1.2 Afro Lata....................................................................................................................... 15
Capítulo II .............................................................................................................................. 18
1 – Conceito de Criação – Transformação pela vibração. ......................................................... 18
2 – Público; ......................................................................................................................... 18
3 – Processo de Desenvolvimento; .......................................................................................... 21
3.1 Elementos formais projetuais; ........................................................................................ 21
3.1.1 Estudo de formas; ................................................................................................... 22
3.1.2 Cartela de cores; ..................................................................................................... 23
3.1.3 Materiais; ............................................................................................................... 24
3.1.3.1 Superfícies têxteis;...................................................................................25
3.1.4 Croquis; .................................................................................................................. 26
Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 40
10
Capítulo I
1. Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: Design de Moda e Terceiro Setor.
A interdisciplinaridade é a busca pelo conhecimento, um diálogo entre os vários
campos do saber que contribui para o enriquecimento das disciplinas.
Na metodologia de ensino de design a interdisciplinaridade é fundamental para a
formação de um bom profissional possibilitando que ele transite pelas várias áreas do
seu campo de atuação realizando pesquisas para o desenvolvimento de um projeto
diferenciado, inovador e inusitado.
Na atualidade é interessante que os profissionais se especializem em sua área
“[...] para traduzir a necessidade de uma jubilosa transgressão das fronteiras entre
disciplinas, sobretudo no campo do ensino” (NICOLESCU, 2008, p.11) com a
transdisciplinaridade e interdisciplinaridade.
Com a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade o designer tem recursos e
argumentos para o desenvolvimento criativo, pesquisa e utilização de novas tecnologias
e uma atitude empreendedora.
Já no Terceiro Setor, os dois termos são essenciais para a busca de soluções para
as necessidades da sociedade. É preciso contextualizar os problemas surgidos pela
ausência do Estado, quem deveria prestar os serviços básicos que são considerados
direito dos cidadãos, encontrar alternativas e investimentos para que essas soluções
pensadas realmente aconteçam. Para isso há a ação de diversas disciplinas e áreas para
se complementarem e trocarem informações e conhecimento.
Para Claus Offe, professor da Universidade de Humboldt (Alemanha), o
Terceiro Setor2 “surgiu em decorrência da falência do Estado do bem-estar social
3” que
tem por objetivo garantir padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e
seguridade social a todos os cidadãos. Como o Estado não estava suprindo as
necessidades dos cidadãos, os movimentos sociais, as ONG´s, as igrejas e os próprios
cidadãos se mobilizaram para criar esta “nova ordem social”.
2 O Primeiro Setor é o Estado e o Segundo Setor é o Mercado.
3 “O Estado do Bem-estar também é conhecido por sua denominação em inglês, Welfare State. Os
termos servem basicamente para designar o Estado assistencial (...).” (CANCIAN – ver referências
bibliográficas )
11
As ONG´s (Organização Não-Governamental – nome que apareceu pela
primeira vez em 1945, em documento das Nações Unidas)4 abrange entidades de perfis
diversos. Cada ONG é direcionada para uma (ou mais) necessidade social, seja ela
referente a cidadãos com renda baixa, falta de alfabetização e trabalho, habitação,
desnutrição crônica, entre outras.
Para a existência e a permanência dessas ONG´s são necessárias doações,
patrocínios e até mesmo recursos vindos do próprio Estado, que percebendo a
necessidade e a utilidade dessas organizações, promove projetos como o Talentos do
Brasil. Esse projeto visa “a troca de conhecimentos, valorizando a identidade cultural,
promovendo a geração de emprego e renda e agregando valor à produção de grupos de
artesãos rurais.” (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, Disponível
em: http://www.mda.gov.br/portal/saf/programas/talentosdobrasil)
Ronaldo Fraga foi um dos estilistas que participaram do Talentos do Brasil
contribuindo com seus conhecimentos em moda com as artesãs.
Figura 1 - Ronaldo Fraga com artesãs do projeto Talentos do Brasil em Coxim. Fonte: Flickr Ronaldo
Fraga - Disponível em: http://www.flickr.com/photos/ronaldo_fraga/2878440957/.
Outra ONG que também tem trabalhos voltados para moda é o grupo cultural
AfroReggae que em 2007 estreou a grife, que leva o mesmo nome da ONG, no São
4 MONTENEGRO, Thereza. O que é ONG. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 10.
12
Paulo Fashion Week. Os looks foram assinados por Marcelo Sommer que buscou
referências nas favelas. Sommer colocou nas peças não aquilo que as pessoas das
comunidades usam mas algo que tenha o mesmo “espírito streetwear.” (VASONE.
Disponível em: http://estilo.uol.com.br/moda/spfw/ultnot/2007/06/12/afroreggae-
desfilara-com-casting-100-negro-colecao-inspirada-na-favela.jhtm).
Com influencias dos grafites pesquisados na favela de Vigário Geral – RJ a
coleção saiu colorida e cheia de estampas.
Figura 2 - Desfile Grife AfroReggae no SPFW - Fonte: Agência Fotosite. Disponível em
http://elle.abril.com.br/desfiles/afroreggae/desfiles_305917.shtml#0.
A maioria dos modelos eram pessoas da própria comunidade de Vigário Geral,
onde por alguns instantes tiveram na plateia pessoas que entendem de moda os
aplaudindo com entusiasmo. E para fechar o desfile a Banda AfroLata, grupo de
13
percussão da ONG, tocou “e fez gente levantar das poltronas, a sensação é de que tem
brasileiro que tira leite de pedra e que há uma criatividade latente que precisa ser
explorada, no melhor dos sentidos, e depurada.” (ESMANHOTTO. Disponível em:
http://elle.abril.com.br/desfiles/afroreggae/desfiles_305917.shtml#7).
1.1 AfroReggae
Trabalhar AfroReggae nesta monografia é interessante porque é uma ONG que
procura aproveitar os talentos que estão escondidos nas comunidades, transforma as
pessoas que não tinham nenhuma perspectiva de vida ensinando a elas que existe uma
opção ao crime. O AfroReggae tem a preocupação de pesquisar quais as dificuldades e
os interesses de cada favela para implantar um núcleo de qualidade e que renda frutos.
Segundo Junior5 haviam muitos talentos nas favelas que não eram aproveitados.
“Os caras que dançavam melhor no baile também eram os da favela. Assim como eram
eles os que ficavam batucando em cima dos capôs do carro, em porta de metal de loja
ou mesmo no vidro de ônibus na ida para a praia. Eram dons pouco explorados.”
(JUNIOR, 2006, p. 40 e 41).
Figura 3 - Logomarca Grupo Cultural Afro Reggae. Fonte Mente Flutuante. Disponível em:
http://menteflutuante.wordpress.com/
Mesmo com poucos recursos e a vontade de transformar a vida daquelas
pessoas, Junior se uniu a outros com o mesmo ideal. Conseguiram financiamento,
parcerias e desde junho de 1994 até hoje a ONG AfroReggae é referencia de sucesso.
5 José Junior fundador e coordenador executivo do Afro Reggae. (PLATT e NEATE, 2008, p.7).
14
Possui 5 núcleos em 5 favelas Rio de Janeiro: Vigário Geral, Morro do Cantagalo,
Parada de Lucas, Complexo do Alemão e Nova Era (Nova Iguaçu).
Figura 4 - Centro Cultural Waly Salomão em Vigário Geral - RJ. Fonte: Suburbado Convicto. Disponível
em: http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-inaugura-centro-cultural_27.html.
Cada núcleo tem suas atividades de acordo com as necessidades de cada favela.
Aulas de informática, quadrinhos, dança, circo, teatro, percussão, além da banda
principal AR21, antiga AfroReggae, e os Subgrupos fixos Afro Lata, Levantando a
Lona, Trupe da Saúde, banda AfroReggae II, entre outras.
15
Figura 5 - Ensaio da Banda de Percussão Makala. Fonte: Suburbado Convicto. Disponível em:
http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-inaugura-centro-cultural_27.html.
A ação de dispor possibilidades de escolha para pessoas com risco de entrarem
para a criminalidade ou com o objetivo de resgatar vidas que já estão no crime não é
exclusividade do Afro Reggae, há várias outras ONG´s com o mesmo intuito, porém o
Afro Reggae é uma das mais conhecidas não só nacionalmente mas também
internacionalmente.
1.2 Afro Lata
Entre todos os grupos e subgrupos da ONG o mais empolgante é o Afro Lata por
se tratar de uma banda de percussão que nasceu da vontade dos próprios integrantes que
em meio a dificuldade de não terem instrumentos para tocar decidiram inventar seus
próprios instrumentos transformando diversos materiais, tudo o que estivesse a
disposição, dentre eles alguns considerados como lixo, “quebraram cabos de vassoura
velhos e transformaram latões, tonéis e baldes de plástico em instrumentos musicais.
Agora é um dos projetos de maior sucesso da organização.” (PLATT e NEATE, 2008,
p.51).
16
Figura 6 – Jovem finalizando a pintura do instrumento do grupo. Fonte: Suburbado Convicto. Disponível
em: http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-inaugura-centro-cultural_27.html.
Figura 7- Apresentação do grupo AfroLata, que deu as boas-vindas ao governador Sérgio Cabral, em Parada
de Lucas. Fonte: Suburbado Convicto. Disponível em: http://buzo10.blogspot.com/2010/05/afroreggae-
inaugura-centro-cultural_27.html.
17
O impacto da sonoridade produzido pelo grupo é contagiante, a vibração, o
ritmo forte da percussão, a coreografia que os jovens apresentam ao mesmo tempo em
que tocam é o diferencial do grupo.
Devido a esse entusiasmo já participaram de vídeo clipes6, se apresentaram em
programas de TV de rede nacional, em palcos internacionais com outros subgrupos e
finalizaram o desfile de estreia da grife AfroReggae no SPFW em 2007.
Figura 8 - Percussionistas fizeram apresentação com tambores de material reciclado durante a estréia do
coletivo carioca AfroReggae no SPFW. Fonte: Flavio Moraes. Disponível em:
http://ligaderiopardo.zip.net/arch2009-05-24_2009-05-30.html.
Com todas essas oportunidades a transformação não ocorreu somente com os
materiais que se tornaram instrumentos mas também na vida desses meninos. No grupo
eles encontraram uma alternativa ao crime, perceberam que eles possuem qualidades
que não seriam aproveitadas no tráfico de drogas, mas que no grupo tem muito valor.
Por meio do ritmo agitado que o Afro Lata produz a transformação é visível,
pessoas que no tráfico só seriam vistas tristes e que transmitem medo, nas apresentações
se mostram alegres e empolgantes.
6 Michael Franti – Say Hey. Em 2010 (Portal Afro Reggae)
Fernanda Brum - Pavão Pavãozinho. Em 2011. (Portal Afro Reggae)
18
Capítulo II
1 – Conceito de Criação – Transformação pela vibração.
Transformar objetos em instrumentos (usando até mesmo lixo), foi o caminho
encontrado pelo grupo Afro Lata. Conforme tratado no objeto de estudo, a
transformação também ocorre em seus integrantes, que passam a ter uma outra
perspectiva de vida através da música, da vibração, do som e da batida rítmica dos
instrumentos.
Assim sendo a transformação e a vibração, permearão o conceito desta coleção,
trazendo formas irregulares, que saem do corpo e que o envolve. Para isso será usado o
crochê, por ser um trabalho delicado onde ponto a ponto a linha se transforma em
figuras e roupas, e para a sustentação das formas e a rigidez da transformação a
tricoline.
A ideia é fazer com que na coleção haja uma transição entre o crochê e o
tricoline, variando entre peças totalmente desenvolvidas em crochê e outras totalmente
em tricoline, com determinados momentos em que os dois materiais serão utilizados na
mesma peça.
Será utilizada a tricoline para demonstrar a rigidez que antecede a transformação
e o crochê pela junção de formas e materiais que são necessários para surgir uma peça e
por ser um trabalho minucioso e delicado que mostra o depois da transformação. A
vibração está presente nas formas irregulares que envolvem o corpo.
Para a cartela de cores foram escolhidos tons mais escuros, vermelho, telha e
marrom. A escolha se deu por serem cores sóbrias, vão de acordo com o público alvo e
por haver a transformação de um tom mais escuro passando pelo intermediário e
chegando ao mais claro, do marrom passando pelo telha chegando ao vermelho.
2 – Público;
Para a identificação e definição do público-alvo foram feitas pesquisas de campo
com mulheres em shoppings, ruas e via internet (com conhecidos) e constatou-se que
esse público consome marcas como Zara, Hering e Luigi Bertolli além de pesquisarem
em lojas de departamento como C&A e Riachuelo e visitarem feirinhas de artesanato
19
como a Feira de Artes de Embu das Artes. Estão sempre a procura de roupas que
tenham qualidade e algum diferencial, artesanato por exemplo.
Figura 9 - Público-Alvo, pesquisa de campo – Fonte: Arquivo pessoal
Figura 10 - Público-Alvo, pesquisa de campo – Fonte: Arquivo pessoal
20
Figura 11 - Feira de Embu das Artes - Fonte: Wilson Houck Jr. Disponível em:
http://www.panoramio.com/photo/48807507.
Francesco Morace em seu livro Consumo Autoral afirma que essas mulheres
combinam
“[...]‟deliciosamente‟ a aproximação entre materiais – que indica o conhecimento e
a competência no uso e no respeito dos materiais – com visão artística, para o nascimento de um novo „artesão artístico‟ que oriente as propostas da moda, do
design, da cosmética e da qualidade de vida” Morace (2009, p. 66).
A pesquisa também mostrou que o público prefere estar com a família, em
encontros com amigos ou em lugares tranquilos como parques arborizados.
21
3 – Processo de Desenvolvimento;
Após a definição do conceito de criação e público alvo, começou-se a pensar no
desenvolvimento da coleção e para isso foi feito um painel referencial imagético, estudo
de formas e a escolha de cartela de cores e materiais.
3.1 Elementos formais projetuais;
Ao longo do projeto foi desenvolvido um painel referencial imagético:
Figura 12 - Painel referencial imagético
22
3.1.1 Estudo de formas;
Desenvolvimento das formas irregulares:
Figura 13 - Estudo de formas
23
Figura 14 - Estudo de formas
3.1.2 Cartela de cores;
A escolha da cartela de cores se deu por tons sóbrios devido ao público-alvo e
que nessas cores houvesse a transformação de uma cor para outra. Assim chegou-se ao
24
marrom, tom mais escuro mostrando a rigidez que antecede a transformação, telha que é
a transição dessa transformação e o vermelho, a conclusão da transformação.
3.1.3 Materiais;
Para a construção das peças será utilizada a tricoline acetinada com 90% de
algodão e 10% de elastano para demonstrar a rigidez (porém com o elastano as peças
serão mais confortáveis) que antecede a transformação e a linha de crochê 100%
algodão mercerizado para a construção do crochê. A entretela também será utilizada
para dar estrutura as formas irregulares da coleção.
19-1121 18-1540 19-1663
Amostra 1 - Linhas de crochê. Cléa 1000 (7382, 7188 e 3635)
Amostra 2 - Tricoline acetinada marrom Amostra 3 - Tricoline acetinada telha
25
3.1.3.1 Superfícies têxteis;
Para o crochê foram feitas algumas experimentações e chegou-se as seguintes
superfícies têxteis.
Amostra 6 - Crochê ponto alto:
mesclado marrom e vermelho
Amostra 4 - Crochê ponto alto:
marrom
Amostra 5 - Crochê ponto alto:
vermelho
Amostra 8 – Crochê ponto
sobreposto: marrom
Amostra 7 – Crochê ponto alto:
mesclado telha e vermelho
Amostra 9 – Crochê ponto alto:
mesclado: marrom e telha
26
3.1.4 Croquis;
A ordem da coleção também foi pensada com base na transformação, da rigidez
dos looks totalmente de tricoline, passando pela transformação com peças de tricoline e
crochê chegando a mudança completa com looks totalmente de crochê:
Figura 15 - Coleção
27
Cada croqui:
Figura 16 - Croqui 1:Macacão de tricoline marrom
28
Figura 17 - Croqui 2: Top e saia ambos de tricoline vermelha
29
Figura 18 - Croqui 3: Top de tricoline telha e saia de tricoline marrom
30
Figura 19 - Croqui 4: Top e shorts de tricoline marrom (gola de tricoline telha)
31
Figura 20 - Croqui 5: Vestido de tricoline marrom e detalhe lateral de crochê mesclado marrom e
vermelho.
32
Figura 21 - Croqui 6: Macacão de tricoline marrom e crochê mesclado de marrom e vermelho
33
Figura 22 - Croqui 7: Top e saia de tricoline e crochê vermelhos
34
Figura 23 - Croqui 8: Vestido de tricoline marrom e crochê mesclado telha e marrom
35
Figura 24 - Croqui 9: Top de tricoline telha e shorts de crochê mesclado marrom e telha
36
Figura 25 - Croqui 10: Top e calça de crochê marrom
37
Figura 26 - Croqui 11: Vestido de crochê mesclado telha e vermelho
38
Figura 27 - Croqui 12: Vestido de crochê vermelho e alças de tricoline vermelha
39
Croquis confeccionados:
Foram escolhidos 3 croquis para a confecção, a escolha se deu pelos looks que
mostram como a coleção será (estágios da transformação). Um totalmente de tricoline,
outro de tricoline e crochê e o último totalmente de crochê e também por serem
diferentes os modelos, um é shorts e top, um macacão e um vestido.
40
Referências Bibliográficas
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agosto de 2011.
ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 2. ed.,
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BOMFIM, G. A. Algumas considerações sobre teoria e pedagogia do design.
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BOMFIM, G. A. A Morfologia dos Objetos de Uso: uma contribuição para o
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CANCIAN, Renato. Estado do bem-estar social - História e crise do welfare
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42
ANEXO A - Entrevistas
Pesquisa de campo: entrevistas breve, devido ao lugar e pressa dos entrevistados,
com o público alvo. Foram feitas algumas perguntas com base no artigo O meu público-
alvo de Eloize Navalon e Miriam Levinbook7.
Entrevistada 1
1 - Nome:
Janaina Alves
2 - Quais as marcas de moda que consomem? Por quê?
Hering e Espaço Fashion. Por poder se identificar com as lojas.
3 - O que motiva a compra a comprar uma roupa? Qualidade? Modelagem?
Acabamento? Inovação? Preço? Moda? Status? Estilo de vida?
Pela qualidade e estilo de vida.
4 - Como se define sua personalidade?
Forte.
5 - Qual tipo de lazer?
Sair com os amigos. Parques, baladas, bares, cinema,...
Entrevistada 2
1 - Nome:
Kelly Miranda
2 - Quais as marcas de moda que consomem? Por quê?
Dudalina e lojas de departamento. Por trabalhar em uma e gostar das roupas.
7 Ver referencias bibliográficas.
43
3 - O que motiva a compra a comprar uma roupa? Qualidade? Modelagem?
Acabamento? Inovação? Preço? Moda? Status? Estilo de vida?
Moda e estilo de vida.
4 - Como se define sua personalidade?
“Muito forte e as vezes difícil de lidar”.
5 - Qual tipo de lazer?
Sair com os amigos e namorado. Bares, restaurantes e cinema.
Entrevistada 3
1 - Nome:
Renata Soares
2 - Quais as marcas de moda que consomem? Por quê?
Espaço Fashion e Luigi Bertolli. Por se identificar com as roupas.
3 - O que motiva a compra a comprar uma roupa? Qualidade? Modelagem?
Acabamento? Inovação? Preço? Moda? Status? Estilo de vida?
Qualidade, moda e estilo de vida.
4 - Como se define sua personalidade?
“Difícil, mas dá para conviver”.
5 - Qual tipo de lazer?
Sair com o namorado. Cinema, restaurantes, parques.
Entrevistada 4
1 - Nome:
Roberta Camargo
2 - Quais as marcas de moda que consomem? Por quê?
44
Luigi Bertolli, Zara e outras que não lembra. Por gostar das peças.
3 - O que motiva a compra a comprar uma roupa? Qualidade? Modelagem?
Acabamento? Inovação? Preço? Moda? Status? Estilo de vida?
Moda e estilo de vida.
4 - Como se define sua personalidade?
“Não muito forte (risos).”
5 - Qual tipo de lazer?
Passear em parques sempre na companhia de pessoas que ela ama como o
namorado, amigos e família.
Entrevistada 5
1 - Nome:
45
Jéssica Mendes
2 - Quais as marcas de moda que consomem? Por quê?
Espaço Fashion, Zara. Por gostar das roupas.
3 - O que motiva a compra a comprar uma roupa? Qualidade? Modelagem?
Acabamento? Inovação? Preço? Moda? Status? Estilo de vida?
Moda e estilo de vida.
4 - Como se define sua personalidade?
“Compreensível (risos)”
5 - Qual tipo de lazer?
Cinema, bares, parques,...
Entrevistada 6
1 - Nome:
Juliana Carvalho
2 - Quais as marcas de moda que consomem? Por quê?
46
Lojas como Renner, Zara e C&A. Por gostar de lá e pelo costume.
3 - O que motiva a compra a comprar uma roupa? Qualidade? Modelagem?
Acabamento? Inovação? Preço? Moda? Status? Estilo de vida?
Moda e estilo de vida.
4 - Como se define sua personalidade?
Forte.
5 - Qual tipo de lazer?
Parques e cinema.