Post on 18-Apr-2018
Apresentação
A Casa Pia de Lisboa é uma Instituição com equipas empenhadas no
desenvolvimento de actividades diversificadas e de muita qualidade mas
cuja dimensão torna difícil uma interacção sustentada.
O processo de reestruturação, ainda em curso, ao mesmo tempo que
confirmou estas características, acentuou a necessidade de criar traços
de união para a acção, um pensamento comum que oriente a inter-
venção, segundo as diferentes competências e responsabilidades, em
reforço da identificação colectiva do público-alvo e da missão, não
expressamente definida mas globalmente "sentida".
É precisamente esta lacuna que "A CARTA - Um compromisso para a
Acção" - construída a partir de um trabalho de grupo sucessivamente
analisado, alterado e complementado pelos contributos recebidos de
todos os que se propuseram participar neste processo - pretende col-
matar.
Assim, "A CARTA", ao mesmo tempo que apresenta ao exterior o pensar
e agir da Casa Pia de Lisboa, constitui um guia para os profissio-
nais que a integram, tornando-se o elemento aglutinador entre todos.
O formato de edição escolhido pretende corresponder a estes objectivos.
Dimensão manuseável, leitura fácil e espaço para anotações, para que "A
CARTA" seja adoptada como um "orientador" sempre presente.
O Conselho Directivo
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 1
ÍNDICE
PREÂMBULO 3
1.INTRODUÇÃO 4
2.ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A INTERVENÇÃO 6
2.1. ENQUADRAMENTO 6
A CRIANÇA E O JOVEM COMO SUJEITOS DE DIREITOS 7
MODELO SOCIOEDUCATIVO 8
2.2. A NÍVEL DA ACÇÃO SOCIAL 11
2.3. A NÍVEL DA EDUCAÇÃO E DA FORMAÇÃO 12
2.4. A NÍVEL DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS 14
2.5. A NÍVEL DA ORGANIZAÇÃO 15
2.6. A NÍVEL DOS PROCESSOS DE TRABALHO E
DOS ESPAÇOS 16
3.ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS PARA A INTERVENÇÃO 17
3.1.RESPOSTAS SOCIAIS 17
3.1.1.ACOLHIMENTO RESIDENCIAL E FAMILIAR 17
3.1.2.AMBIENTE E LAZER 19
3.1.3.INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 20
3.2.RESPOSTAS EDUCATIVAS E FORMATIVAS 21
3.2.1.RESPOSTAS EDUCATIVAS 21
3.2.2.RESPOSTAS FORMATIVAS 27
3.2.3.EDUCAÇÃO ESPECIAL 29
3.3.CULTURA E CONHECIMENTO 32
4.ESTRUTURA E RECURSOS 33
4.1.A CPL,IP COMO ORGANIZAÇÃO EM REDE 33
4.2.OS RECURSOS HUMANOS E AS EQUIPAS 34
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 3
3
PREÂMBULO
A CPL,referência para a
inclusão
A criança e o jovem, sujeitos de direitos
MAIS prevenção,
MENOS institucionalização
Modelo socioeducativo
A Casa Pia de Lisboa, IP (CPL,IP) assume-se como uma instituição do
sistema de promoção e protecção das crianças e jovens em risco.
Compreende a exclusão social de forma multidimensional e reconhece
a natureza multifactorial das suas causas, perspectiva que a obriga a
desenvolver tipos de intervenção de natureza integrada que, de modo
global, visem a inclusão social das crianças, jovens e famílias que
constituem a sua população-alvo.
Tem como referências para o modelo de intervenção que adopta a
Convenção sobre os Direitos da Criança, bem como os quatro pilares
fundamentais da Comissão Internacional sobre Educação para o
Século XXI: Aprender a viver juntos; Aprender a conhecer; Aprender a
fazer; Aprender a ser.
Orienta-se por uma visão centrada no superior interesse da criança e
do jovem, como sujeitos de direitos, na valorização das suas redes
pessoais de pertença e de interacção social (família, escola, co-
munidade, sociedade) e no princípio da igualdade de oportunidades.
Reconhece o importante papel da família na construção da identidade e
no desenvolvimento das crianças e dos jovens, o que determina o
carácter preventivo da intervenção e a orientação para o trabalho
com a família - que a CPL,IP assume como componentes fundamen-
tais da intervenção - de modo a evitar o afastamento desta, nomeada-
mente por necessidade de recurso à institucionalização.
Cabe-lhe um papel social, educativo e formativo, de carácter preventivo,
reparador e promotor de autonomia pessoal e de cidadania activa.
Para o efeito, desenvolve um modelo socioeducativo, participado e
integrado, em sistema de rede e facilitador da inserção social e profis-
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 5
4
Valores para a intervenção
sional, através de respostas sociais e educativas/formativas de quali-
dade.
Visa uma intervenção direccionada para a inovação, em que a organi-
zação deixa de ser reactiva e adaptativa aos estímulos, para passar a
ser prospectiva e adequada às reais necessidades do público-alvo,
qualidade que lhe vale a condição de gerir a mudança.
1.INTRODUÇÃOA Casa Pia de Lisboa, instituição secular que tem por razão de ser o
cuidar de crianças e jovens, desenvolveu e adoptou no decurso da sua
existência diversos modelos que têm proporcionado experiências
educativas e pedagógicas inovadoras.
O actual compromisso, consubstanciado no presente documento, não
pretende definir e regular exaustivamente os padrões que configuram o
agir institucional, assumindo-se antes como um instrumento com
funções de orientação (designando as linhas de coerência a consi-
derar na escolha de prioridades, no desenvolvimento de medidas e na
tomada de decisão), de avaliação (assumindo responsabilidades e
competências a traduzir em dispositivos de acompanhamento, de me-
lhoria e de mudança) e de integração (identificando elementos essen-
ciais a partilhar pelas partes interessadas).
A intencionalidade que serve de referencial à presente proposta de
modelo socioeducativo integra, de forma coerente e assumida, as práti-
cas organizacionais e relacionais da CPL,IP, que terão de reflectir os
valores matriciais que inspiram e orientam a sua intervenção, com par-
ticular relevância para os valores da solidariedade social, da autono-
mia, da responsabilidade e da intervenção democrática. São estes
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 6
5
Missão e população-alvo
Da missão àprática
Centros de Educaçãoe Desenvolvimento
- CED
Papel determinante das famílas
valores que orientam a formação de sujeitos cada vez mais educados,
autónomos, responsáveis, solidários e democraticamente comprometi-
dos na construção de um destino colectivo e de um projecto de
sociedade que potenciem a afirmação das mais nobres e elevadas qua-
lidades de cada ser humano.
É, hoje, missão da CPL,IP a promoção dos direitos e a protecção das
crianças e dos jovens, sobretudo dos que se encontram em perigo ou
em risco de exclusão, de forma a assegurar o seu desenvolvimento inte-
gral, através do acolhimento, educação, formação e inserção social e
profissional.
Para tal, implementa programas de prevenção, intervenção e inserção,
sendo necessário conceptualizar domínios e áreas de actuação, opera-
cionalizar regimes, modalidades e serviços, que se traduzam em
respostas integradas, adequadas às múltiplas necessidades, presentes
e previstas, da população-alvo.
O modelo socioeducativo da CPL,IP, enquanto referencial de pensa-
mento e de acção de uma instituição que se revê em princípios e ob-
jectivos sociais e educacionais, baliza e orienta a intervenção de todos
os agentes e parceiros na vida dos vários Centros de Educação e
Desenvolvimento (CED) e das outras estruturas que constituem a sua
rede de intervenção.
Na operacionalização das respostas promovidas pela CPL,IP, é reco-
nhecida a importância da ligação ou do regresso das crianças e jovens
às suas famílias. É reconhecido, também, o papel decisivo destas na
organização e enquadramento das actividades que concorrem para o
sucesso da acção socioeducativa, cabendo-lhes uma intervenção
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 7
6
Planos deDesenvolvimento
Pessoal
Reforço dascompetências das
famílias
Identidade pessoal
insubstituível na orientação de cada criança e de cada jovem e no
acompanhamento do seu desenvolvimento.
Às famílias é, assim, conferido o direito/dever de participação nos
planos de desenvolvimento pessoal dos educandos, cuja proposta cabe
a cada CED, com etapas e objectivos pensados e orientados de forma
realista e respeitadora da vontade dos próprios educandos e das suas
motivações pessoais, condições de aprendizagem e necessidades
educativas, por forma a potenciar a criatividade e a realização in-
diviual.
Finalmente, é primordial que a CPL,IP vá ao encontro das famílias,
sobretudo das mais problemáticas, e que com elas desenvolva pro-
cessos de reforço das suas competências parentais, educativas e so-
ciais, para que possam cumprir o papel que lhes cabe na garantia do
bem estar das crianças e dos jovens.
2.ORIENTAÇÕES GERAIS PARA AINTERVENÇÃO
2.1. ENQUADRAMENTOA CPL,IP assume que cada ser humano é único e irrepetível, o que
implica o reconhecimento de que a experiência do trajecto de desen-
volvimento de cada criança e de cada jovem é também único e ir-
repetível. Por isso, deve ser valorizada a construção da sua identidade
pessoal, assente nos valores da iniciativa, da criatividade, da respon-
sabilidade, da solidariedade, do respeito pelo outro e da aceitação
da diferença, numa sociedade multicultural. A atenção individualizada a
cada criança e a cada jovem pressupõe a compreensão da sua com-
plexidade, a busca e valorização constantes da cultura de que é porta-
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 8
7
Projecto de Vida
Modelo de acolhimento
Educaçãopersonalizada
dor, o apoio à auto descoberta e à construção de um projecto de vida
correspondente às suas expectativas pessoais.
A CPL,IP preconiza, assim, um modelo de acolhimento e de intervenção
sustentado por uma perspectiva integradora e personalizada, que
conduza ao sucesso do crescimento e desenvolvimento da criança e do
jovem. Trata-se de uma intervenção sistémica, em que deverão ser
articuladas redes formais e informais, identificadas necessidades de
acção e potenciada uma real prevenção dos factores de perigo e de
risco, contribuindo, assim, para os objectivos de sociabilização.
- A criança e o jovem - sujeitos de direitos
Para a Casa Pia de Lisboa a criança e o jovem são sujeitos de direitos,
com competências para expressar e defender posições pessoais, que
agem, participam e influenciam os acontecimentos e os espaços onde
se inserem e que lhes dizem respeito.
Esta orientação obriga a que os recursos, as normas, os modelos e os
objectivos institucionais não sejam concebidos como um ponto de parti-
da da intervenção mas que esta resulte do encontro entre a realidade
de cada criança e os dispositivos institucionais, materializado através do
plano de desenvolvimento pessoal.
Por outro lado, este modo de encarar cada criança e cada jovem im-
plica uma viragem na visão da educação, que assume uma perspectiva
de respeito pela sua individualidade e participação activa, na formação
da identidade e carácter e no desenvolvimento integral, evitando senti-
mentos de não pertença, frustração e exclusão.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 9
8
Dos direitosdecorrem
deveres
Qualidade domodelo
Respeito pelooutro
Respostas do modelo
Mas, na esfera da cidadania, exige-se que a direitos correspondam
deveres e, nesta medida, ao mesmo tempo que se garante o direito ao
desenvolvimento, acentuam-se os deveres correlativos de cada edu-
cando, designadamente o dever de assegurar, pelo trabalho, a sua
quota-parte de participação efectiva no esforço de permanente reno-
vação e enriquecimento do património de conhecimentos e com-
petências da comunidade.
Modelo socioeducativo
Através de uma intervenção institucional com qualidade, com diver-
sificação e adaptação das respostas socioeducativas, será consequente
uma maior integração pessoal e social na sociedade em geral e na vida
activa em particular.
Às crianças e aos jovens, antes de mais, deve ser proporcionada a pos-
sibilidade de crescer em segurança, a possibilidade de aprender, a pos-
sibilidade de descobrir/construir uma identidade pessoal, em resumo: a
possibilidade de edificar um projecto de vida com sentido. O pleno
cumprimento deste processo implica a familiarização das crianças e dos
jovens com os aspectos da acção colectiva quotidiana que constituem a
base indispensável para uma relação não conflitual e respeitadora do
espaço próprio dos outros, nas mais diversas situações sociais, desde
as relações interpessoais à organização do trabalho colectivo, às regras
de segurança a respeitar na circulação viária, ao reconhecimento e ao
respeito pelas convicções mais íntimas de cada um.
Decorrente de todas as concepções atrás expostas, o modelo socio-
educativo da CPL,IP integra respostas sociais, educativas e for-
mativas.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 10
9
Orientações globais
Pretende-se uma intervenção socioeducativa que privilegie todos, nos
vários níveis, e se adeqúe e flexibilize ao ser, não coagindo nem
excluindo, mas que impulsione a construção individual de cidadania, de
forma participada e democrática, através de respostas especificamente
dirigidas às reais necessidades das crianças, dos jovens e das suas
famílias.
Esta perspectiva assume linhas orientadoras que podem facilitar a ac-
tuação dos agentes educativos, nos seguintes termos:
A predominância do modelo de intervenção psicossocial é o
caminho a seguir para que as soluções tenham uma dimensão holística
no processo de resolução de problemas;
A flexibilidade de intervenção e a criação de respostas
específicas e diferenciadas são directrizes base quando se procura
responder às problemáticas emergentes entre crianças e jovens, sejam
elas a desorganização emocional, a violência juvenil ou os compor-
tamentos disruptivos;
A metodologia de intervenção é focalizada no desenvolvimen-
to do Eu da criança, no sentido de lhe atribuir as capacidades fun-
damentais para a gestão pessoal da complexa teia relacional onde se
movimenta;
A co-responsabilização e participação das famílias e da cri-
ança ou do jovem no seu projecto de vida, a fim de evitar a institucio-
nalização ou possibilitar a desinstitucionalização o mais rapidamente
possível;
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 11
10
Perspectivaconstrutivista
A co-responsabilização da comunidade de origem da criança
ou jovem, na medida em que o acolhimento institucional deverá ser dis-
cutido e assumido pelas entidades que operacionalizam a política social
do meio circundante, explicitando-o em protocolos de parceria;
A procura de famílias alternativas, por via de adopção ou de
outras intervenções, quando a família de origem é inexistente ou não
oferece condições ao adequado desenvolvimento da criança;
A inserção de unidades de acolhimento residencial em zonas
urbanas e em tipologias habitacionais apropriadas, em apartamentos ou
em moradias uni-familiares, sem qualquer identificação institucional;
A diminuição do número de educandos por unidade de
acolhimento residencial para possibilitar e facilitar uma intervenção
personalizada e humanizada, criando o ambiente propício ao cres-
cimento e desenvolvimento das crianças e dos jovens.
No âmbito das respostas educativas e formativas, a CPL,IP adopta um
modelo pedagógico orientado segundo uma perspectiva cons-
trutivista dos currículos, pois considera que todo o conhecimento
verdadeiramente significativo é auto-conhecimento, construído pelo
próprio educando, a partir da sua própria experiência. Só assim a
CPL,IP poderá contribuir para que cada criança ou jovem aprenda a
estar, a ser, a conhecer e a agir. Estas dimensões serão sempre
garantidas pela sua integração na comunidade educativa que conhece
e onde é conhecido. A especificidade e diversidade dos percursos de
desenvolvimento e aprendizagem dos educandos exigem a mobilização
e consequente disponibilização de materiais de trabalho e de recursos
educativos capazes de lhes oferecer respostas adequadas e efectiva-
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 12
11
Combater a exclusão:desafio que exige
flexibilidade
Para flexibilizar:
Trabalho directo
mente especializadas.
O modelo socioeducativo da CPL,IP concretiza-se, também, no respeito
por outras orientações globais a seguir reproduzidas.
2.2. A NÍVEL DA ACÇÃO SOCIALA acção social da CPL,IP está investida na promoção dos direitos e na
protecção das crianças e dos jovens em perigo e em risco e com neces-
sidades educativas especiais, apoiando o seu desenvolvimento e o das
respectivas famílias e fomentando a autonomia e inserção social e
profissional.
Esta missão é concretizada através de medidas directas e indirectas,
com a participação de todos os sistemas envolvidos e tendo como
suporte recursos físicos, financeiros e humanos, em articulação intra e
interinstitucional.
A luta contra a exclusão é um dos grandes desafios aos quais a
CPL,IP tem procurado dar respostas de natureza diversa e que, natural-
mente, implica a necessidade de diferenciar as práticas e de
construir respostas mais flexíveis que ultrapassem a rigidez de um
formato único, de uma linguagem única, de um ritmo único, e que pos-
sam corresponder de forma positiva à diversidade das crianças e dos
jovens abrangidos.
Tais respostas devem orientar-se pelos seguintes parâmetros:
Desenvolver trabalho directo com as crianças e os jovens,
apoiando a construção e o acompanhamento do seu projecto de vida e
considerando, entre outros, objectivos associados à orientação da sua
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 13
12
Equipas pluriprofis-sionais
Respostas diversificadas
Promoção da autonomia
Cooperaçãointer serviços
Percursos deaprendizagemsem rupturas
conduta, valorização e desenvolvimento das suas competências de
autonomia, sobretudo em contextos mais desfavoráveis de risco e de
perigo;
Desenvolver trabalho com as famílias, segundo uma perspecti-
va transdiciplinar, através de equipas pluriprofissionais, que possam
realizar uma intervenção adequada às necessidades de cada educando
e de cada família;
Garantir o acolhimento residencial das crianças e jovens em
perigo, desenvolvendo respostas diversificadas, em função das neces-
sidades diagnosticadas e criando condições para um rápido retorno à
família, quando possível;
Implementar modelos residenciais que respondam à
preparação de uma vida independente, de modo a proporcionar opor-
tunidades de formação e a reforçar competências no âmbito da autono-
mia pessoal;
Garantir a coordenação e cooperação com os serviços da rede
social, concretizando compromissos entre as famílias e os serviços da
comunidade onde residem.
2.3. A NÍVEL DA EDUCAÇÃO E DA FORMAÇÃOPara a construção de percursos inclusivos de aprendizagem, a
CPL,IP considera indispensável a garantia de transição entre os graus
escolares e entre a escola e a vida activa, nos vários momentos em que
essa transição ocorra, numa perspectiva de educação e de formação ao
longo da vida.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 14
13
Desenvolvimentocurricular e de
práticas pedagógicas
Flexibilizaçãocurricular
Aprendizagens a estimular
Enriquecimentocurricular
Inserção sociale profissional
Hábitos de vidasaudáveis
Considera, também, que a promoção da qualidade educativa e forma-
tiva e a garantia de melhores aprendizagens para todos exigem um
decidido investimento no âmbito do desenvolvimento curricular e das
práticas pedagógicas, com reforço das metodologias activas de ensino
e de formação dos docentes e dos técnicos, bem como a implemen-
tação de metodologias de avaliação, ao nível científico e pedagógico.
São outras orientações a ter presentes neste domínio:
Apostar em processos de flexibilização curricular, promovendo
a continuidade pedagógica, no sentido da adequação do trabalho à
diversidade dos contextos e, simultaneamente, da promoção de uma
aprendizagem de melhor qualidade para todos;
Valorizar o ensino experimental das ciências, a aprendizagem
das línguas modernas, a educação artística, cultural, física e desportiva,
a educação para a cidadania e a aprendizagem de novas linguagens
tecnológicas, e reforçar o núcleo central do currículo nos domínios da
língua materna, da matemática e das humanidades;
Desenvolver processos diversificados de enriquecimento do
currículo, de acordo com os interesses dos educandos, em estreita ar-
ticulação com a intervenção das famílias e como resposta às res-
pectivas necessidades, no sentido de assegurar percursos educativos e
formativos susceptíveis de favorecer o pleno desenvolvimento das
capacidades dos educandos e contribuir para a sua inserção social e
profissional;
Privilegiar a educação para a saúde, com vista à promoção de
hábitos de vida saudáveis;
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 15
14
Empreendedorismo
Associativismo
Famílias
Contratualização
Implementar metodologias e instrumentos de aferição das
aprendizagens;
Promover uma cultura de iniciativa, de solidariedade, de
empreendedorismo, de participação e de responsabilização dos edu-
candos, enquanto exercício de construção de uma cidadania plena e de
preparação para a integração na vida activa;
Favorecer processos de associativismo dos educandos;
Garantir a plena inclusão de todos os educandos com necessi-
dades educativas especiais;
Reforçar estratégias de inserção profissional.
2.4. A NÍVEL DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIASNa linha do que tem vindo a ser referido neste documento, o envolvi-
mento responsável das famílias na definição do projecto de vida e na
construção do plano de desenvolvimento pessoal das crianças e dos
jovens, sendo factor decisivo para o seu equilíbrio físico e emocional, é
factor de sucesso da acção socioeducativa.
Assim, é primordial na interacção com as famílias:
Reconhecer o direito/dever das famílias de desenvolverem
competências parentais que garantam o crescimento equilibrado dos
seus filhos e de lhes assegurarem projectos educativos de qualidade;
Contratualizar processos e procedimentos de co-responsabi-
lização da CPL,IP e das famílias na elaboração dos planos de desen-
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 16
15
Inovação
Associativismo
A CPLconstrói futuros
Intervençãoem Rede:
volvimento pessoal nos projectos de vida das crianças e jovens e nos
seus processos educativos e formativos;
Desenvolver novas respostas de intervenção junto das
famílias, de forma a prevenir situações de exclusão, diminuir os índices
de acolhimento residencial e concretizar a inserção familiar e social o
mais precocemente possível;
Promover estratégias e desencadear processos facilitadores da
participação das famílias na vida da CPL,IP;
Apoiar e favorecer processos de associativismo das famílias.
2.5. A NÍVEL DA ORGANIZAÇÃONo âmbito do processo de reestruturação em curso, procurando dar
expressão ao objectivo de ver reconhecido o papel insubstituível dos
CED na organização da CPL,IP, assumem-se os seguintes princípios e
orientações:
Autonomia - progressivo reforço da autonomia dos CED, indis-
sociável da promoção da sua responsabilização, implicando a redução
da ambiguidade na delimitação de competências e um efectivo acrésci-
mo da capacidade para executar e fazer executar os planos e projectos
concebidos no exercício dessas competências;
Diversificação da oferta de serviços - consagração de uma
oferta diversificada de modelos de acolhimento e de natureza socio-
educativa - dirigida a crianças desde os 0 anos e que compreenda per-
cursos de habilitação escolar e de qualificação profissional em todos os
níveis de ensino não superior - dinamizados em diversas modalidades
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 17
16
Intervençãoem Rede:
Participação
Solidariedade
Responsabilidade
Colaboração
Segurança
Boas Práticas
de ensino, no âmbito da autonomia pedagógica da CPL,IP -, bem como
respostas na área do ambiente e lazer. Esta diversificação implica uma
crescente especialização dos diversos CED, privilegiando uma inter-
venção em rede de complementaridade e evitando sobreposições
desnecessárias e prejudiciais para o reforço da eficácia e da eficiência
da intervenção global da CPL,IP;
Cultura organizacional - criação de uma comunidade socio-
educativa assente nos valores da responsabilidade, da colaboração, da
segurança e da solidariedade, em que todas as pessoas são valoriza-
das e incentivadas a melhorar as aprendizagens e a reforçar a partici-
pação dos educandos e das famílias;
Abertura institucional - aprofundamento do relacionamento
dos CED com outras instituições, com abertura à participação dos dife-
rentes agentes sociais, culturais e económicos e à promoção de formas
de mobilidade e de parcerias que contribuam para o reforço de dinâmi-
cas de inovação.
2.6. A NÍVEL DOS PROCESSOS DE TRABALHO E DOSESPAÇOS
São orientações a ter presentes:
Incentivar o desenvolvimento de metodologias diversificadas,
nomeadamente as de gestão por processos e de projecto, bem como
a aprendizagem cooperativa;
Assegurar o acesso generalizado à informação científica e
tecnológica;
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 18
17
Indicadores deeficiência, de eficácia
e de impacto
Igualdade
Apoiar a inovação e a investigação, procurando valorizar e
divulgar as boas práticas e estabelecer redes de permuta que poten-
ciem a inovação e a capacidade de resposta aos novos desafios socio-
educativos;
Promover um sistema global de avaliação interna e externa
constituído por indicadores que afiram a eficiência, a eficácia e o
impacto;
Racionalizar e rentabilizar infra-estruturas e equipamentos;
Adaptar os espaços físicos às respostas sociais e educativas da
CPL,IP, dedicando especial atenção à questão das acessibilidades, que
devem ser garantidas em situação de igualdade para todos.
3.ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS PARA A
INTERVENÇÃO
3.1.RESPOSTAS SOCIAIS
3.1.1.ACOLHIMENTO RESIDENCIAL E FAMILIAR
No que se reporta às estruturas de acolhimento para crianças e jovens
em risco e em perigo, será considerada a definição dos diversos tipos
de resposta, nos termos definidos na Rede de Inserção Social (RIS)
para a CPL,IP:
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:32 Page 19
18
Crianças e jovensem perigo
Crianças e jovensem situação de
urgência
Crianças e jovenscom dificuldades
de socialização
Transição paraa vida adulta
Integraçãoem meio familiar
Residência de Acolhimento
Estrutura que visa oferecer uma resposta social, desenvolvida em
equipamentos que podem ter valências diversificadas, destinados ao
acolhimento residencial de crianças e jovens em situação de perigo, de
duração superior a seis meses, com base na aplicação da medida de
promoção e protecção.
Unidade de Emergência
Resposta social integrada, ou não, noutras estruturas de acolhimento
residencial de crianças e jovens, constituída por vagas permanente-
mente disponíveis e que tem por finalidade o acolhimento urgente e
transitório de crianças e jovens em situação de perigo, para os quais
não existe resposta imediata.
Unidade Terapêutica e de Socialização
Resposta residencial direccionada para uma intervenção de cariz te-
rapêutico, com vista a uma mudança de comportamento sustentada e à
melhoria das competências pessoais e sociais de crianças e jovens,
com perturbações emocionais e dificuldade de interacção social.
Apartamento de Autonomização
Resposta social, desenvolvida em equipamento - apartamento inserido
na comunidade local -, destinada a apoiar a transição para a vida adul-
ta de jovens que possuem competências pessoais específicas, através
da dinamização de serviços que articulem e potenciem recursos exis-
tentes nos espaços territoriais.
Acolhimento Familiar
Resposta social desenvolvida através de um serviço e que consiste na
atribuição da confiança da criança ou do jovem a uma família ou a uma
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 20
19
Orientaçõesespecíficas
pessoa singular, habilitadas para o efeito, tecnicamente enquadradas,
decorrente da aplicação da medida de promoção e protecção, visando,
assim, a sua integração em meio familiar.
3.1.2.AMBIENTE E LAZER
Na CPL,IP, a educação ambiental, com as suas componentes de obser-
vação e experimentação como base pedagógica, é considerada in-
dispensável para uma educação integral. A capacidade demonstrada
pela educação ambiental para surpreender e motivar os educandos
aponta-a como uma via privilegiada para apoiar crianças e jovens com
necessidades educativas específicas.
Na visão da CPL,IP, a educação ambiental assume as seguintes ver-
tentes:
Animação ambiental
Com actividades realizadas em períodos extra-lectivos, sem formali-
dade nas aprendizagens, associando o lúdico e o pedagógico de forma
harmoniosa.
Educação agro-ambiental
As actividades agro-ambientais aplicam-se em contextos de ensino,
integrando projectos educativos e colaborando no desenvolvimento de
metodologias de ensino práticas e inovadoras.
Formação agro-ambiental
As actividades visam dotar o educando de competências específicas
nos domínios agro-ambientais, contribuindo para a sua qualificação e
integração profissionais.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 21
20
Orientaçõesespecíficas
É, ainda, neste contexto que se enquadra o Centro de Férias e de
Lazer, resposta social, desenvolvida em equipamento, destinada à
satisfação de necessidades de lazer e de quebra da rotina, essencial ao
equilíbrio físico, psicológico e social dos seus utilizadores.
3.1.3. INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA
A intervenção comunitária desenvolvida pela CPL,IP constitui uma
resposta dirigida às famílias residentes num Bairro Social (situado no
Monte da Caparica), que razões históricas colocaram na esfera de
actuação da Instituição.
A CPL,IP aposta na Intervenção Comunitária como um meio de
diminuição das situações de institucionalização, através do desenvolvi-
mento das competências das famílias e da criação de condições para
o desenvolvimento das crianças.
Como em qualquer intervenção deste tipo, a acção da CPL,IP neste
domínio caracteriza-se pelo carácter global e integrado da abor-
dagem que faz da comunidade, das famílias, com especial enfoque nas
crianças e nos jovens.
Com uma natureza eminentemente preventiva, a intervenção
comunitária enquadra-se, com as suas especificidades, na precoci-
dade da actuação que se pretende para toda a Rede CPL,IP, evitando
que surjam ou minorando a incidência de problemas sociais. O reforço
desta intervenção e, sobretudo, das vias de a colocar ao serviço da
acção global da CPL,IP são desafios presentes.
A intervenção comunitária da CPL,IP concretiza-se a partir de:
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 22
21
Orientaçõesespecíficas
Centro Comunitário - Resposta social, desenvolvida em
equipamento, onde se prestam serviços e desenvolvem actividades
que, de uma forma articulada, tendem a constituir um pólo de animação
com vista à prevenção de problemas sociais, nomeadamente na área da
infância e juventude, e à definição de um projecto de desenvolvimento
local, colectivamente assumido.
Atendimento / Acompanhamento social de famílias - respos-
ta social desenvolvida através de um serviço de primeira linha, que visa
apoiar as pessoas e famílias na prevenção e/ou reparação de proble-
mas geradores ou gerados por situações de exclusão social e, em cer-
tos casos, actuar em situações de emergência.
3.2. RESPOSTAS EDUCATIVAS E FORMATIVAS
3.2.1. RESPOSTAS EDUCATIVAS
A CPL,IP propõe-se desenvolver um conjunto diversificado de respostas
educativas, acompanhando o percurso da criança desde o seu nasci-
mento, de forma a prevenir o aparecimento de situações de risco ou a
minorar o grau de incidência destas.
São respostas da CPL,IP nesta área:
Creche
Os serviços de creche da CPL,IP têm como principal função responder
às necessidades específicas de cada criança e da sua família, incen-
tivando a participação desta no processo educativo, fomentando a for-
mação parental e estabelecendo relações de efectiva parceria com a
comunidade.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 23
22
Orientaçõesespecíficas
Afirmam-se não só como um espaço que recebe e guarda crianças mas,
sobretudo, como uma resposta socioeducativa que procura satisfazer
as necessidades de desenvolvimento da criança, em permanente inter-
acção com as famílias.
Estes serviços são vistos em função de duas dimensões interdepen-
dentes: uma dimensão social e uma dimensão educativa, operaciona-
lizadas numa perspectiva de intervenção precoce, incluindo:
Um conjunto de acções de educação precoce, com intervenção
ao nível educativo, no sentido de estabelecer medidas que ajudem a cri-
ança a adquirir competências, tendo em vista o seu desenvolvimento e
a sua autonomia;
Um conjunto de acções de estimulação precoce, no sentido de
estimular processos de aprendizagem no âmbito sensorial, motor,
cognitivo, da linguagem, emocional e social.
Educação Pré - escolar
A CPL,IP assume a educação pré-escolar como a primeira etapa da
educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo
complementar da acção educativa da família, com a qual deve esta-
belecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvol-
vimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na
sociedade como ser autónomo, livre e solidário.
Neste quadro, a intervenção da CPL,IP ao nível da educação pré-esco-
lar visa alcançar os seguintes objectivos:
Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 24
23
Orientaçõesespecíficas
base em experiências de vida democrática, numa perspectiva de edu-
cação para a cidadania;
Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no
respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva
consciência do seu papel como membro da sociedade;
Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à esco-
la e para o sucesso da aprendizagem;
Estimular o desenvolvimento global de cada criança, no
respeito pelas suas características individuais, incutindo comporta-
mentos que favorecem aprendizagens significativas e diversificadas;
Desenvolver a expressão e a comunicação através da utilização
de linguagens múltiplas como meios de relação, de informação, de sen-
sibilização estética e de compreensão do mundo;
Despertar a curiosidade e o pensamento crítico;
Proporcionar a cada criança condições de bem-estar e de segurança,
designadamente no âmbito da saúde individual e colectiva;
Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências e pre-coci-
dades, promovendo a melhor orientação e encaminhamento da criança.
Ensino Básico
A educação básica constitui um desafio a que todos os países desen-
volvidos dão hoje maior atenção. Por um lado, porque os estudos de li-
teracia mostram que só uma formação inicial prolongada, sólida e con-
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 25
24
sistente garante que não haja regressão nos saberes essenciais, quais-
quer que sejam os modos de vida; por outro lado, porque a escolaridade
básica constitui o começo de um processo de educação e formação ao
longo da vida, imprescindível para responder aos novos desafios pes-
soais e sociais.
Assegurar a educação básica para todos os educandos significa prestar
uma particular atenção aos saberes essenciais, evitando a dispersão
provocada por programas muito extensos e, paradoxalmente, com
importantes lacunas entre si. Assegurar a educação básica para todos
os educandos significa também explicitar as dimensões cívicas, para
que a instituição não se limite a reproduzir exemplos e contradições da
vida social.
Principais orientações para o ensino básico:
Contribuir para que seja assegurada uma educação de base
para todos, entendendo-a como início de um processo de educação e
formação ao longo da vida, o que implica conceder uma particular
atenção às situações de exclusão ou de risco de exclusão e desen-
volver um trabalho de clarificação de exigências quanto às aprendiza-
gens cruciais e aos modos como se processam;
Assumir a importância do 1.º ciclo enquanto ciclo estruturante
do processo de aprendizagem ao longo da vida, o que implica uma
particular atenção aos equipamentos, ao enriquecimento da oferta
pedagógica e à formação dos docentes;
Reforçar a continuidade entre os três ciclos de ensino, quer
no plano curricular, quer na organização de processos de acom-
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 26
25
Orientaçõesespecíficas
panhamento e indução que assegurem, sem perda das respectivas
identidades e objectivos, uma maior qualidade das aprendizagens;
Aplicar o Currículo Nacional, promovendo e apoiando a gestão
curricular flexível e assegurando, em todos os ciclos, que as activi-
dades de instrução e de educação para a cidadania se combinem de
modo consistente e permanente;
Avaliar e desenvolver experiências de adaptação curricular,
quer as que visam primordialmente prevenir a exclusão e o abandono,
quer as que, para além deste objectivo, pretendem estabelecer um inter-
face eficaz com o mundo do trabalho;
Dar uma especial atenção à orientação escolar e vocacional;
Promover a organização dos apoios educativos às crianças e
aos jovens com necessidades educativas especiais, no sentido de
assegurar a sua plena integração na vida escolar.
Ensino Secundário Artístico
O ensino secundário polariza muitas esperanças, enquanto etapa de
preparação dos jovens para o ensino superior e para a entrada no
mundo do trabalho.
No quadro das recomendações da Comissão Europeia, que enfatiza a
necessidade de alargamento da escolaridade obrigatória para além dos
9 anos, e assumindo a sua responsabilidade de assegurar ofertas
educativas e formativas, designadamente ao nível do Ensino
Secundário, que correspondam a reais carências do sistema e a alter-
nativas não oferecidas pelas escolas públicas secundárias, a CPL,IP
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 27
26
adopta como principais orientações:
Assumir o ensino secundário na sua dupla natureza de ciclo
intermédio de prosseguimento de estudos e de ciclo de formação termi-
nal, o que pressupõe, nomeadamente, o reforço dos mecanismos e
estruturas de orientação e informação que favoreçam a transição
entre a escolaridade básica e os diferentes percursos de educação e de
formação dos níveis secundário e superior, cuja especificidade deverá
ser reconhecida e valorizada;
Dar uma especial atenção a formações secundárias alter-
nativas às oferecidas pela rede pública de escolas secundárias, as-
segurando uma maior abertura ao mundo profissional e a possibilidade
de orientar e reorientar percursos educativos e formativos;
Assegurar a articulação, a harmonização e a permeabilidade
entre as várias ofertas de formação de nível secundário, com aplicação
de princípios gerais de equivalência e de certificação;
Inscrever o ensino secundário num programa global e coerente
de educação permanente, adoptando medidas que visem estimular a
aquisição e a actualização, ao longo de toda a vida, do saber, do saber-
-fazer e das competências relacionais requeridas para uma eficaz
inserção na vida colectiva, dirigidas, em especial, aos indivíduos e aos
grupos marcados por processos de exclusão social;
Favorecer nos jovens as capacidades de iniciativa, de realiza-
ção e de empreendedorismo e a disponibilidade para assumir o risco,
num quadro de vida marcado por valores de cooperação e de soli-
dariedade social.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 28
27
Orientaçõesespecíficas
3.2.2. RESPOSTAS FORMATIVAS
Numa perspectiva de preparação dos jovens para a vida activa e de
reforço da sua empregabilidade, a formação da CPL,IP, rege-se, em
termos globais, pelos seguintes parâmetros: Procura do equilíbrio
entre a vontade e vocação dos jovens e as necessidades do merca-
do de emprego; perspectiva de educação e formação ao longo da
vida; estímulo ao empreendedorismo, pela capacitação para a criação
do próprio emprego e desenvolvimento de actividade independente.
Formação inicial qualificante
O modelo pedagógico da CPL,IP assume como prioridade a adopção de
medidas que visam, de forma sistemática, a promoção do sucesso
educativo, bem como a prevenção dos diferentes tipos de abandono
escolar, designadamente o desqualificado. A CPL,IP assume, assim, o
seu papel estratégico de contribuir para a promoção das condições de
favorecimento da empregabilidade e de transição para a vida activa dos
educandos, tomando em consideração os seus interesses e expectati-
vas, bem como as necessidades do mercado.
No âmbito da formação inicial qualificante, a acção da CPL,IP consi-
derará as seguintes orientações:
Organizar cursos de educação e formação para jovens que
não tenham concluído a escolaridade obrigatória, associando uma cer-
tificação escolar (6.º ou 9.º ano de escolaridade) a uma qualificação
profissional (nível I e nível II), tomando como referência a legislação em
vigor para este tipo de cursos;
Organizar cursos profissionais de nível secundário, cuja
conclusão, com aproveitamento, conferirá um diploma de ensino
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 29
28
Orientaçõesespecíficas
secundário e uma qualificação profissional de nível III, tomando como
referência a legislação em vigor para este tipo de cursos;
Promover oferta formativa com construção de novos referenci-
ais curriculares, através de legislação própria;
Promover a formação em contexto de trabalho, integrada nos
referenciais curriculares, e a realização de estágios pós formação,
em empresas, serviços, instituições de cariz social ou centros de inves-
tigação, entre outros, procurando, assim, incentivar a aproximação ao
mundo do trabalho e facilitar a inserção profissional dos educandos.
Especialização tecnológica
A CPL,IP propõe-se avançar com a oferta de Cursos de
Especialização Tecnológica (CET), possibilitando a realização de for-
mações pós-secundárias não superiores que visam conferir uma quali-
ficação profissional de nível IV, obtida através da conjugação de uma
formação secundária, geral ou profissional, com uma formação técnica
pós-secundária.
A formação a oferecer pela CPL,IP, no desenvolvimento das diversas
formações de nível secundário disponíveis na instituição, caracteriza-se
por:
Corresponder a uma formação técnica de alto nível;
Incluir conhecimentos e capacidades que pertencem ao nível
superior;
Permitir assumir, de forma geralmente autónoma ou de forma
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 30
29
independente, responsabilidades de concepção, de direcção ou de
gestão.
Esta formação desenvolve-se em regime de parceria, esta-
belecida entre a CPL,IP e empresas, outras entidades empregadoras,
associações empresariais ou sócio-profissionais, entre outras, e poderá
adoptar diferentes modalidades, designadamente estágios.
3.2.3. EDUCAÇÃO ESPECIAL
A CPL,IP promove a reabilitação, o ensino, a formação profissional e a
inserção social e profissional de crianças e jovens com necessi-
dades educativas especiais, inspirando-se em princípios que colhem,
hoje, o consenso generalizado dos agentes educativos e formativos,
nomeadamente:
O direito à educação das crianças e dos jovens com necessi-
dades educativas especiais, designadamente em idade de escolaridade
obrigatória, no âmbito do ensino regular, sem prejuízo do desenvolvi-
mento de respostas educativas especializadas;
O direito de todas as crianças e de todos os jovens à igualdade
de oportunidades para o acesso e o sucesso educativos, sem qualquer
tipo de discriminação, com a disponibilização de recursos e apoios
educativos adequados às necessidades individuais;
A perspectiva de escola para todos, procurando dar respostas
diferenciadas às necessidades de cada um, devendo ser esgotados
todos os meios para manter o educando no ambiente escolar normal;
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 31
30
Educação especialtransversal
a todas as respostas
Orientaçõesespecíficas
O reconhecimento de que a educação especial deve atravessar
toda a oferta sócio-educativa da CPL,IP, integrando-se nela de forma
coerente e harmoniosa até aos limites impostos pela sua especificidade.
Deve estruturar-se e posicionar-se como recurso da instituição e não
como serviço destinatário para onde são enviados os alunos com pro-
blemas.
De acordo com estes princípios, considera-se que a intervenção junto
das crianças com necessidades educativas especiais deve começar
logo que sejam detectados os factores de risco ao seu desenvolvimen-
to, independentemente da idade.
A escolarização dos educandos com necessidades educativas es-
peciais faz-se de forma apoiada e continuada, sendo periodicamente
revistas as decisões sobre as medidas do regime educativo especial
adoptadas.
Este tipo de educação requer, porém, o recurso a metodologias e
estratégias específicas que passam pelo cumprimento das orientações
a seguir enunciadas:
Dar uma especial atenção aos factores susceptíveis de favore-
cer a qualidade do ensino das crianças e jovens com necessidades
educativas especiais, designadamente através da formação de recur-
sos humanos, do reforço da dotação de meios humanos devidamente
especializados, de meios materiais, da promoção da inovação e
investigação e da adaptação dos espaços físicos;
Promover adaptações curriculares, incluindo no domínio da
avaliação, que tomem em consideração as necessidades específicas
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 32
31
das crianças e dos jovens, as quais servirão de base às decisões sobre
os apoios educativos complementares a prestar aos educandos;
Adoptar modelos inclusivos que tenham como foco a sala de
aula, que implementem uma avaliação interdisciplinar e que potenciem
ambientes colaborativos e flexíveis;
Dinamizar a constituição de equipas pluridisciplinares com-
postas por técnicos com formação diversificada que apoiem directa-
mente os educandos, preferencialmente em contexto natural (sala de
aula, família e comunidade), e os agentes educativos, nas suas práticas
do dia a dia, e que se envolvam na construção dos documentos estru-
turantes da actividade dos CED (Projecto Educativo, Projecto Curricular,
Projectos Curriculares de Turma e Planos Educativos Individuais);
Desenvolver práticas de inclusão, com diversificação de
respostas com vista à maximização das competências do educando
com necessidades educativas específicas, em conformidade com o seu
Projecto de Vida;
Promover o desenvolvimento da língua gestual, bem como a
sua utilização nos CED com intervenção especializada para alunos por-
tadores de surdez de graus severo e profundo, bem como a formação
dos docentes que trabalham com esta população, quer no que se re-
fere à língua gestual portuguesa quer no que diz respeito ao ensino
da língua portuguesa como segunda língua das crianças surdas;
Garantir o apoio educativo e a reabilitação de crianças,
jovens e adultos surdocegos;
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 33
32
A “memória”da CPL
Desenvolver estratégias que facilitem a aprendizagem da
comunicação alternativa em crianças, jovens e adultos surdocegos;
Implementar estratégias de apoio à inserção social e profis-
sional, adequando estas às competências adquiridas.
3.3.CULTURA E CONHECIMENTOTal como foi dito para o ambiente, a formação integral das crianças e
dos jovens exige a exploração das áreas da cultura e do conhecimento.
Sendo a CPL,IP uma instituição com um passado tão rico, importa
garantir a sua memória através de um repositório histórico acessível a
todos e, sobretudo, rentabilizando-o em prol da missão que a Instituição
assume junto das crianças e dos jovens.
Em associação à cultura, as artes têm na CPL,IP um lugar de destaque
e traduzem-se em muitas e diversificadas intervenções, de que, entre
outros, o teatro, a música, a pintura e a escultura são exemplos.
Tendo em vista constituir um património cultural e artístico comum,
importa, primeiro, reunir as muitas intervenções da CPL,IP nestes
domínios para, depois, as divulgar e colocar ao serviço de todos.
O Centro Cultural Casapiano constitui o repositório da memória e da
história da CPL,IP, onde se materializa a importância de associar a ino-
vação à tradição.
Enquanto veículo de transmissão de informação e cultura, o Centro
Cultural Casapiano constitui uma ponte entre a CPL,IP os seus educan-
dos e a sociedade em geral. Deve ser o espelho da Instituição e um
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 34
33
Descentralizaçãoem rede
Inovaçãopara a
qualidade
complemento inequívoco do processo de educação e formação das cri-
anças e dos jovens, promovendo o conhecimento e salvaguarda da
memória e da identidade casapianas, através do património, símbolos
e manifestações sócio-culturais e artísticas.
4. ESTRUTURA E RECURSOS
4.1. A CPL,IP COMO ORGANIZAÇÃO EM REDEO reforço de uma cultura de administração responsável configura um
funcionamento em rede, em que cada Centro de Educação e
Desenvolvimento (CED) concorre para a missão da CPL,IP, na base da
complementaridade, da subsidiariedade e da solidariedade.
Por outro lado, também a multidimensionalidade dos problemas e a
sua crescente complexidade conduzem à necessidade de se trabalhar
em rede, aprofundando a cultura da cooperação e da partilha, num con-
texto de descentralização real.
Reconhecendo esta realidade, a CPL,IP apresenta-se como uma estru-
tura em rede, prosseguindo uma missão e objectivos estratégicos
assumidos colectivamente e concretizados por cada elemento da rede,
segundo as suas competências e responsabilidades, estabelecidas em
função da organização como um todo. Nesta perspectiva, o todo CPL,IP
é diferente e mais vasto do que a simples soma das partes que o com-
põem.
O funcionamento em rede tem também associada a ideia de movi-
mento e o sentido dinâmico das inter relações e da aprendizagem
mútua, na procura da inovação e da qualidade crescente.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 35
34
A CPL,uma comunidade
aprendente
Agentes educativos
Trabalhocompetente
e emequipa
4.2.Os Recursos Humanos e as EquipasOs colaboradores da CPL,IP devem assumir-se cada vez mais como
profissionais reflexivos e agentes construtores da aprendizagem numa
organização que, ela própria, se assume como aprendente. Para que
estes objectivos sejam alcançados, é indispensável a intervenção
empenhada e criativa de todos os profissionais que trabalham na
CPL,IP, quer em termos individuais, quer em termos de equipas. No
caso particular dos docentes, considera-se indispensável que, a par da
identificação de necessidades de aprendizagem nos alunos, todos os
educadores e professores reconheçam e procurem ultrapassar as suas
dificuldades no âmbito do ensino e/ou da relação pedagógica.
No quadro do modelo socioeducativo agora afirmado, todos os agentes
educativos - educadores, docentes, formadores e técnicos - são, es-
sencialmente, promotores de desenvolvimento pessoal e social, de
educação e de formação, na medida em que são chamados a partici-
par na concretização do projecto socioeducativo da CPL,IP, a co-orien-
tar o percurso pessoal, familiar e educativo de cada criança e jovem e a
apoiar os seus processos de desenvolvimento, de inserção e de apren-
dizagem, sendo solidariamente responsáveis por todas as decisões
tomadas.
É essencial que os agentes socioeducativos evidenciem competências
profissionais, sejam capazes de trabalhar em equipa e de desempenhar
as suas funções de forma dinâmica. Trata-se de dar respostas ade-
quadas e eficazes, promovendo um relacionamento em rede e estabele-
cendo parcerias com as entidades (empresas e outras organizações e
instituições) das zonas onde os jovens e as suas famílias residem.
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 36
35
"Há pelo menos três leituras possíveis da
Declaração dos Direitos da Criança: uma que a
interpreta como uma lista inspiradora de reivindicações
a exigir de uma entidade que tenha a seu cargo o bem-
estar das crianças; outra, a que se sente como um apelo à
consciência universal; uma terceira que a pode explicar como
um guia para exigir dos outros e de nós próprios um debate e
uma reflexão sobre a situação da criança no mundo de hoje e
uma actuação colectiva para defesa das necessidades bási-
cas das crianças."
João dos Santos
In "Ensaios sobre Educação - II"
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 37
Ficha Técnica
Textos:Colaboradores da Casa Pia de Lisboa
Paginação e Layout:Filipa Moura e Filipa Neves
Impressão:STM SA.
Tiragem:1000 exemplares
ISNB 978-972-99248-8-0
Depósito Legal 261408/07
carta2s-outline ok.qxp 23-12-2008 10:33 Page 39