Dissertação_ Trícia Caroline Da Silva Santana__2003

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Dissertação sobre APP de praças em Natal-RN

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  • RESUMO

    A pesquisa investiga o desempenho e a importncia para os usurios das praas pblicas localizadas em reas predominantemente residenciais. Apresenta os resultados das avaliaes ps-ocupao realizadas em trs praas, cujas caractersticas fsicas, ambientais, equipamentos e mobilirio so distintos em suas qualidades e quantidades, levando em considerao aspectos relacionados ao conforto fsico e psicolgico dos usurios e dos moradores do entorno. A coleta de dados envolveu levantamentos fsicos e de arquivos, observaes comportamentais, aplicao de questionrios e entrevistas, analisados tanto qualitativa quanto quantitativamente para uma maior preciso e validade da investigao. Os resultados foram obtidos atravs da relao entre a percepo dos usurios, os atributos ambientais e os diferentes nveis de apropriao/uso dos locais estudados. Eles indicam que os aspectos composicionais de ordem fsica do espao afetam intimamente o tipo e a intensidade de utilizao das praas, contribuindo positiva ou negativamente para a sua valorizao. Evidencia-se assim, que a baixa freqentao das praas pblicas de Natal, se deve principalmente a aspectos referentes qualidade fsica e quantidade dos mobilirios e equipamentos urbanos. Conclui-se que os investimentos e o planejamento fsico destes espaos pblicos devem ser embasados no conhecimento real das aspiraes da populao alvo, de modo a ermitir sua maior utilizao e valorizao. p

    PALAVRAS-CHAVES: espaos pblicos; praas; avaliao ps-ocupao

    (APO);paisagem.

  • ABSTRACT

    The research investigates the acting and the importance for the users of the public squares located predominantly in residential areas. It presents the results of the pos-occupation evaluations accomplished in three squares, whose physical, environmental characteristics, equipments and furnitures are different in its qualities and amounts, taking in consideration aspects related to the users' physical and psychological comfort and of the inhabitants of the I spill. The collection of data involved physical risings and of files, observations behavious, application of questionnaires and interviews, analyzed qualitative as quantitatively so much for a larger precision and validity of the investigation. The results were obtained through the relationship among the users' perception the environmental attributes and the different levels of apropriation/use of the studied places. They indicate that the aspects composicionais of physical order of the space affects the type and the intensity of use of the squares intimately, contributing positive or negatively for its valor. It is evidenced like this, that the low freqentation of the public squares of Natal, is due mainly to referring aspects to the physical quality and the amount of the furnitures and urban equipments. It is ended that the investments and the physical planning of these public spaces should be based in the real knowledge of the

    pirations of the population objective, in way to allow its largest use and valor. as

    KEYS-WORD: public spaces; squares; pos-occupation evaluations (POE); landscape.

  • 13

    iante do conjunto da cidade, atravancado por cdigos que no

    domina mas que deve assimilar para poder a viver, o indivduo

    precisa criar para si locais de aconchego, itinerrios para o seu uso

    ou seu prazer, que so as marcas que ele, por si mesmo, impe ao espao

    urbano.

    Temos os bairros, as praas, as alamedas, os becos... todos imbricados em

    um espao pblico; objetos que se recortam no campo social, que se relacionam

    e formam vnculos, unindo o espao privado ao espao pblico.

    Nesse contexto, a valorizao e a conseqente utilizao dos espaos

    pblicos passam principalmente pela compreenso do modo como esses lugares

    so apreendidos pela populao, ou seja, tem como ponto de partida a

    experincia dos usurios.

    O comportamento est ligado s experincias adquiridas com a vivncia no

    meio, pois, segundo Lee (1977, p. 56), este no ocorre sem alguma percepo

    da situao. Assim a paisagem, os estmulos sensoriais e as emoes presentes

    no momento da percepo, compem um conjunto que influenciam no processo

    perceptivo, o qual faz parte de um ciclo que freqentemente modificado e se

    retroalimenta, deixando vestgios na experincia do ser, influenciando seus

    sentimentos e as condutas subseqentes (id, p. 56).

    Em seu livro Topofilia: um estudo da percepo, atitudes e valores do meio

    ambiente, Tuan (1980) indica ser limitada a amplitude do tamanho dos objetos

    que as pessoas so capazes de emocionalmente perceber e relacionar. Neste

    estudo fica clara a relao direta do homem com o meio ambiente, e vice-versa

    ressaltando que a partir dela so estimuladas, criadas ou inibidas sensaes,

    sentimentos e aes em um processo permanente.

    Assim, considerando que a finalidade da arquitetura abrigar o

    comportamento humano, estimulando as emoes a ele associadas, pode-se

    considerar a paisagem como uma via de mo dupla, visto que a relao entre

    D INTRODUO

  • 14

    homem e ambiente bidirecional (o ambiente influencia as aes humanas e

    influenciado por elas).

    Analisando as questes que envolvem essa relao, os trabalhos nessa rea

    objetivam compreender a interao homem-meio ambiente, se utilizando de

    vrios conceitos criados para representar o espao, do estudo das respostas das

    pessoas aos padres de estmulos, e do movimento das mesmas nos intervalos

    existentes entre objetos, desejados ou adversos (LEE, 1977, p. 12).

    Partindo do pressuposto que a valorizao de um espao por seus

    usurios contribui para a conservao e manuteno voluntria dos mesmos,

    cabe ao arquiteto tentar decodificar as vontades/necessidades dessas pessoas e

    concretiz-las em espaos confortveis em todas as suas acepes, apesar das

    inmeras presses contrrias a isso, como as do comrcio imobilirio, do Poder

    Pblico e dos agentes econmicos.

    Percebe-se, portanto, quo grande a responsabilidade imposta ao

    arquiteto ou projetista j que em muitos casos estes interesses esto em lados

    opostos, incentivando e ocasionando decises nem sempre certeiras e/ou

    favorveis, em termos conceituais e projetuais. Por outro lado, nem sempre as

    demandas dos usurios so convincentes ou possveis de realizar, de modo

    que, muitas das suas necessidades e anseios acabam ficando em segundo plano

    (quando no so deixadas de lado). Assim muitas vezes o processo de

    interveno culmina em espaos mal dimensionados, mal projetados, pouco

    tratados, problemas presentes na vivncia cotidiana na cidade: so os canteiros

    estreitos e caladas mal dimensionadas; pedestres disputando as ruas com

    veculos; deficientes em cadeira de roda trafegando lado a lado com carros e

    nibus; praas abandonadas e vazias, sem arborizao ou iluminao eficientes,

    abrigando marginais que fazem dela seu territrio e assustam os moradores do

    entorno.

    Embora o jogo de interesses que consolidam a cidade dificulte o

    atendimento das necessidades dos usurios, muitas vezes as solicitaes destes

    ltimos correspondem apenas a pequenas requisies que, se fossem levadas

    em considerao, poderiam evitar desperdcios de infra-estrutura, tempo e

    investimentos, alm de contribuir para a melhoria da qualidade de vida urbana.

  • 15

    Para diminuir as discrepncias entre o que feito e o que se deseja,

    preciso haver uma constante parceria entre arquitetos e usurios, definindo os

    rumos que o projeto deve tomar a fim de maximizar os seus possveis benefcios.

    Considerando essa argumentao, este trabalho parte de um pressuposto:

    as necessidades e as aspiraes da populao podem e devem ser levados em

    considerao no momento da concepo projetual e da implementao de

    qualquer espao, principalmente os pblicos. Seu tema, anlise de trs praas na

    cidade de Natal, insere-se na linha de pesquisa Configurao Espacial e Conforto

    do Ambiente Construdo, desenvolvida dentro do Programa de Ps-graduao em

    Arquitetura e Urbanismo da UFRN, por tratar dos aspectos morfolgicos na escala

    urbana, especificamente das praas pblicas de Natal-RN, e sua inter-relao

    com o conforto fsico e psicolgico dos usurios.

    A motivao pessoal que gerou tal pesquisa foi notar a falta de uma

    utilizao efetiva e freqente nas praas potiguares. Tendo nascido e morado em

    Belm-Par, sempre estive em contato direto com as praas e parques pblicos

    da cidade, onde tais ambientes so bastante valorizados pela populao e em

    parte pelo Poder Pblico local. A mudana de estado e mesmo de regio, mostrou

    uma realidade diferenciada no municpio de Natal-RN, onde tais espaos so

    pouco utilizados e valorizados. Com essa transferncia, sentimos falta de

    algumas atividades tpicas da rotina paraense, tais como, sentar no banco da

    Praa Batista Campo e ler um livro, ou caminhar no final da tarde na feira de

    artesanato da Praa da Repblica (ambas na rea central da cidade), jogar vlei

    na quadra da Praa D. Alberto Ramos ou, ainda, assistir a exposies no Bosque

    Rodrigues Alves.

    A falta de um litoral estruturado e passivo de uso balnerio em Belm,

    refora a necessidade do paraense em preservar e utilizar os espaos pblicos

    urbanos, considerando toda uma tradio em valorizar e permanentemente

    revitalizar ou reestruturar estes ambientes, bastante importantes na vida da

    cidade.

    Essa pesquisa foi realizada em duas etapas: inicialmente, seguindo o

    projeto original, foi feito um exerccio de Avaliao Ps-ocupao (APO), em trs

    praas pblicas da cidade de Belm, onde variados mtodos e tcnicas de

    mensurao foram testadas com uma conotao exploratria, observando os

    diferentes nveis de utilizao de algumas praas, seus graus de estruturao, e

  • 16

    tambm os principais horrios/dias da semana valorizados pela populao nestes

    locais. Em seguida, foram feitas observaes das estruturas fsicas e funcionais

    dessas praas, finalizando com realizao de questionrios e aplicao de

    entrevistas e, que serviram como base para aqueles posteriormente realizadas

    em Natal. O exerccio realizado em Belm/PA enriqueceu a pesquisa, facilitando o

    contato da pesquisadora com os usurios nas entrevistas e a aplicao de

    questionrios, e mesmo o desenvolvimento dos instrumentos que seriam usados.

    Por questes de tempo, distncia e recursos humanos disponveis, a

    pesquisa definitiva foi feita exclusivamente na cidade de Natal. Foram realizadas

    Avaliaes Ps-ocupao (APO) em trs praas pblicas, localizadas em bairros

    distintos, cujo uso residencial predominante (embora observe-se, em menor

    escala, a existncia de usos mistos ou comrcio/servio), o que contribui para

    diferenciar esse entorno daquele no qual esto inseridas praas centrais, com uso

    predominantemente comercial. Estas apresentam elementos composicionais, tais

    como, equipamentos e mobilirio urbanos, que se diferenciam tanto na

    quantidade quanto na qualidade e forma.

    Resumidamente a pesquisa realizada e, portanto, essa dissertao, tem

    como objetivos:

    Geral Realizar APOs de trs praas pblicas inseridas em reas residenciais,

    com nfase para as opinies dos usurios a respeito das condies de

    conforto ambiental existentes e suas aspiraes da populao local;

    Especficos Analisar as caractersticas fsicas que compem estes espaos; Discutir se estes locais atendem s necessidades e aspiraes de

    conforto dos usurios locais.

    Aprofundar os estudos das relaes entre conforto ambiental e desejos/ necessidades dos usurios em espaos pblicos.

    Contribuir para futuras intervenes em praas pblicas, com nfase na relao entre concepo projetual e aspiraes dos usurios, no intuito

    de valorizar parcerias que visem uma melhoria na qualidade de vida e

    na paisagem urbana.

  • 17

    Embora existam fatores de natureza scio-econmico e cultural que

    contribuem para o aparente desuso das praas pblicas localizadas em bairros

    residenciais de Natal/RN, pesquisa tem como hiptese que a baixa freqentao

    das praas estudadas deve-se principalmente a aspectos referentes qualidade

    fsica desses espaos, sobretudo oferta insuficiente de mobilirio e de

    equipamentos urbanos adequados.

    Esta dissertao se divide em seis captulos. O primeiro apresenta a

    problemtica em si, com a indicao das caractersticas que contribuem positiva

    ou negativamente para a utilizao de uma praa.

    O referencial terico-conceitual est presente no segundo captulo, que

    mostra uma reviso conceitual abordando os principais temas que delimitam o

    trabalho (paisagem, cultura, espaos pblicos abertos, praas, entre outros) e

    serviram para identificar as hipteses em relao a problemtica discutida.

    No captulo seguinte, descreve-se o referencial metodolgico, com a

    Avaliao Ps-ocupao como abordagem que, a partir do uso de multimtodos,

    busca uma perspectiva que analise o problema a partir do ponto de vista dos

    vrios agentes envolvidos, principalmente os usurios das praas.

    Os resultados sero apresentados no quarto captulo, no qual, a partir de

    tratamento estatstico, so expostos grficos e tabelas relativos ao estudo

    qualitativo do problema observado. Segue-se uma analise comparativas da trs

    praas (captulo 5).

    Finalmente, so tecidas as concluses, mostrando os principais fatores que

    contribuem positiva ou negativamente para o tipo e a intensidade de utilizao

    das praas selecionadas, e discutem-se as hipteses apresentadas. Alm disso, a

    fim de contribuir para uma melhoria na qualidade de vida da sociedade local,

    foram feitas algumas recomendaes para melhoria das praas analisadas.

  • 1- PROBLEMTICA

    conhecimento emprico gerado a partir da vivncia cotidiana em Natal

    proporcionou uma viso geral dos aspectos morfolgicos e tipolgicos de

    algumas praas pblicas da cidade, contribuindo para perceber-se,

    tambm, que a populao no utiliza efetivamente estes espaos.

    O Levando em considerao que a presena de praas pode gerar um

    diferencial suas qualidades ambientais e estticas das cidades, criar pontos de

    encontro, e com isso contribuir para favorecer a qualidade de vida de seus cidados,

    este trabalho procura esclarecer as seguintes questes: As praas pblicas so

    realmente pouco utilizadas pela populao local? Quais os principais motivos que

    contribuem para isso?

    Com base na literatura estudada possvel dizer que o maior ou menor uso

    desse tipo de ambiente deve-se a razes diversas e envolve aspectos que podem

    estar relacionados ao conforto ambiental do lugar, entorno, infra-estrutura,

    arborizao e paisagismo, alm de questes culturais da sociedade em estudo. Vale

    deixar claro que em muitos casos estes aspectos esto relacionados entre si e se

    complementam, podendo gerar espaos bem sucedidos ou no. Em algumas praas

    visitadas, por exemplo, os condicionantes que afastam a populao esto claramente

    visveis e em outras nem tanto assim. relativamente simples inferir que o uso

    menor naqueles praas que esto abandonadas, sujas, so esteticamente feias, no

    tm manuteno, programa de paisagismo e arborizao que sirvam como atrativos

    e principalmente, no contam com mobilirio e equipamentos urbanos que

    proporcionem o mnimo de conforto para seus usurios. Em outras, entretanto,

    mesmo sendo bem tratadas, limpas e contem com uma infra-estrutura de mobilirio e

    equipamentos urbanos de razovel qualidade, verifica-se o uso reduzido e pouco

    freqente.

    19

  • Procurando desvendar quais os possveis elementos que impedem a efetiva

    utilizao destes espaos, vamos analisar os seguintes aspectos: condies de

    conforto ambiental percebidas (trmicas, acsticas e de bem-estar); arborizao e paisagismo, localizao, equipamentos e mobilirio urbano. Certamente condicionantes relativos aos aspectos cultural, econmico e social do lugar tambm

    influem no uso desses locais, no entanto, no ser aprofundada sua discusso nesta

    pesquisa.

    Os aspectos relacionados ao conforto ambiental passam pelo bem-estar trmico, acstico e psicolgico dos usurios destes lugares. O conforto trmico est

    ligado a aspectos como arborizao, protetores solares e barreiras vegetais. Em

    lugares onde as temperaturas mdias anuais so altas, a presena destes tipos de

    elementos influenciam na utilizao e freqncia dos espaos pblicos. Mas mesmo

    em pases onde as temperaturas locais so bem mais variadas e o inverno mais

    rigoroso, o uso desses elementos tambm importante embora de forma

    diferenciada. Nos dois casos, a utilizao de elementos que minimizem o desconforto

    trmico contribui para o embelezamento da paisagem local, bem como para a

    diminuio dos rudos provenientes do entorno desses lugares.

    Nesse sentido, o conforto acstico, est diretamente ligado ao fator localizao na malha urbana, pois as praas localizadas em reas de grande

    movimento de veculos tendem a sofrerem mais os efeitos da poluio acstica,

    diferentemente daquelas encontradas em reas onde o uso residencial do solo

    predominante.

    De grande importncia, o entorno desse espaos influencia no apenas no

    seu grau de rudos, mas tambm no contexto de um espao pblico, e pode

    determinar o tipo de usurio, a freqncia e os horrios de maior visitao do

    espao. Algumas praas locadas no centro urbano funcionam em horrio comercial,

    recebem um intenso fluxo de transeuntes que as cruzam conferindo a estes uma

    certa vitalidade e possibilidade de apropriao, contam com restritos equipamentos,

    quase sempre ligados aos servios urbanos, e necessitam apenas de um desenho

    apropriado e de uma manuteno adequada. De noite, entretanto, quando o

    20

  • movimento nestes locais baixo, tais locais recebem os mais diversificados

    visitantes, so prostitutas, drogados entre outros, que impossibilitam um uso efetivo

    destes espaos, por famlias, adolescentes ou idosos, por exemplo.

    As praas de vizinhana residencial poderiam vir a acolher com maior

    facilidade seus usurios, entretanto em reas altamente verticalizadas, onde mesmo

    pequenas reas de lazer disponibilizadas pelo condomnio (como o jardim, o play-

    ground, a quadra e a piscina) satisfazem a necessidade de espaos livres, a procura

    pela praa pblica no ocorre com grande freqncia. O aumento do nmero de

    condomnios que oferecem tais espaos privados de lazer contribui para que se

    atenue a sociabilidade na metrpole, agravando o abandono dos espaos pblicos.

    Por outro lado, nas reas de ocupao de baixo padro de vida, com uma

    grande horizontalidade, qualquer espao vazio com alguma condio de apropriao,

    assume o papel de rea de lazer, quer devido a sua dimenso, quer por permitir a

    instalao de equipamentos, mesmo improvisados, como o caso, por exemplo, de

    canteiros e exguas sobras de tecido urbano. Este processo de valorizao

    compreensvel, j que os lotes existentes nestas reas so em sua maioria

    clandestinos, e quase sempre desprovidos de quaisquer espaos extras, como

    quintais ou recuos frontais, tornando qualquer rea livre um grande bem para estas

    pessoas. A presena de equipamentos e mobilirio urbano apropriados favorecem a

    utilizao dos espaos pblicos urbanos, mesmo em reas de carncia, a

    participao da comunidade no esforo de implementar tais elementos atravs, por

    exemplo, da reciclagem de materiais, mostra importncia destes para a utilizao do

    lugar. Nestas reas, as praas que contam com a participao da populao para a

    definio de programas de implantao, de definio de mobilirio e equipamentos,

    dentre outras, so ainda mais estimadas, sendo alvos de constantes movimentos

    pr-conservao, explicitamente benficos para a sade do espao e dos seus

    usurios.

    Alm disso, os atributos do entorno de uma praa esto relacionados ao bem

    estar psicolgico dos seus usurios, e podem incentivar sensaes que favoream a

    utilizao e freqncia desses lugares.

    21

  • O conforto psicolgico da praa est associado s sensaes que o espao passa aos usurios, como segurana, aconchego, privacidade, etc. Estes

    aspectos podem ser favorecidos pelo tratamento do ambiente, a fim de torn-lo

    seguro (com o aumento dos pontos de iluminao noturna, por exemplo);

    aconchegante e com privacidade (com ambientes menos expostos, mudanas de

    nvel, e outros)

    Ainda quanto a este bem-estar, sabe-se que os ambientes tendem inibir ou favorecer as relaes humanas, tornando-se respectivamente espaos scio-

    fugidios ou scio-petalados. A falta de segurana nos espaos pblicos pode ser

    associada s suas caractersticas configuracionais e morfolgicas tais como

    barreiras naturais e arquitetnicas, forma e traado do lugar, influindo na presena

    de pessoas, na definio e controle territorial, na acessibilidade, nas possibilidades

    de refgios e a aparncia dos espaos, incluindo e na existncia ou no de

    vandalismo, o que contribui para a diminuio na utilizao dos espaos pblicos

    urbanos.

    Com o aparecimento de novos espaos coletivos e nem sempre pblicos, o

    processo de desvalorizao das praas pblicas foi mais intenso. Espaos como

    hipermercados, galerias de lojas, shopping centers, clubes, parques de diverso, etc,

    congregam grande variedade de usurios, e oferecem maior conforto trmico

    (espaos climatizados artificialmente), psicolgico (so seguros, tranqilos,

    acolhedores) e acstico (sem rudos provenientes do trnsito de veculos, por

    exemplo), mantendo uma freqncia significativa de usurios, que por sua vez,

    atraem outros, fechando um ciclo que se retro-alimenta e que enfraquece mais ainda

    o apreo pelos espaos pblicos.

    Um estudo mostra que existem outros motivos que contribuem para a

    utilizao ou no das praas pblicas. De acordo com Sennet esta mudana

    visvel no modo como os espaos controlados pseudopblicos dos centros de

    compras vieram a substituir as ruas e praas tradicionais (...) estes espaos foram

    denegridos em relao s praas e corredores de shoppings, que passaram a

    22

  • cumprir o papel do lugar possvel para as interaes sociais (apud LIMA &

    PELLEGRINE, 1996, p. 197).

    Provavelmente a esse no-usos um fator considerado importante para o

    aumento do apreo pelas praas pblicas a existncia de programas de

    paisagismo e arborizao eficientes, que visem o aumento das qualidades estticas e de conforto do ambiente. De fato h tempos o homem procura trazer para

    seu cotidiano a natureza, como uma forma de contraposio ao aglomerado de

    concreto do ambiente urbano, o que remonta aos jardins franceses simtricos, e aos

    pitorescos jardins ingleses. No Brasil, do sculo XVI, a monarquia portuguesa, j

    havia alertado para a importncia desses espaos na cidade, com a implantao e

    requalificao de locais, como a Quinta da Boa Vista e no Passeio Pblico, no Rio de

    Janeiro, mas foi o paisagista Burle Max o nosso maior defensor do tratamento

    paisagstico dos espaos livres pblicos visando promover a integrao entre o

    homem e o meio natural, como pode ser visto, no Aterro do Flamengo-RJ, uma de

    suas mais importantes obras desse paisagista. Anteriormente,

    Atualmente os espaos que congregam a natureza e o homem tem sido

    valorizados, tidos como salutares para o bem-estar da sociedade. Lugares redutores

    do estresse causado pela vida nas grandes cidades esto sendo solicitados, o que

    reflete na criao de novas tipologias de ambientes pblicos, como os pocktes parks,

    (pequenos espaos verdes e abertos inseridos entre grandes edifcios, situados

    principalmente em reas onde h predominncia de usos comerciais ou de servios,

    em oposio insero de poucos e maiores espaos livres na malha urbana.

    Sabe-se que os espaos livres so propcios para a recreao, e que esta

    uma necessidade humana bsica. A importncia do ato de recrear est intimamente

    ligada a locais como praas, parques, bosques, hortos, diferenciadas formas de

    recreao, considerada indispensvel para pessoas sadias, plenamente capazes e

    para os indivduos doentes, portadores de deficincias fsicas ou mentais.

    necessria aos que vivem em famlias organizadas, em asilos, patronatos, orfanatos,

    reformatrios e prises. A recreao objetiva, portanto, o enriquecimento da vida

    individual e coletiva (BIRKHOLZ,1983, p.102). isso explica porque a insero de

    23

  • espaos pblicos de qualidade destinados ao lazer de suma importncia para o

    crescimento pleno e sadio de um indivduo.

    Alm dos aspectos que j foram menciionados a quantidade e a qualidade

    dos equipamentos e mobilirio urbano so fundamentais para a sua utilizao,

    sobretudo quando tais aparatos so adaptados e direcionados s caractersticas dos

    usurios. De fato, a carncia de elementos capazes de oferecer o mnimo de

    conforto para que idosos, deficientes fsicos, visuais e auditivos contribui para o

    abandono destes espaos, o que fica claro quando observa-se a falta de

    pavimentao orientada, rampas, sinais sonoros, ou seja, mobilirios e

    equipamentos que ofeream segurana e comodidade, para estas pessoas com

    peculiaridades especiais que tambm fazem parte da populao.

    Tambm a manuteno e conservao contribuem para a utilizao das praas pblicas, cuja a ausncia um fator que tende a diminuir a frequentao

    destes lugares.

    A crescente mercantilizao do tempo livre, submetido lgica do consumo

    e oferta dos mais diversos produtos para preench-lo, e regulao e

    homogeneizao da vida domstica, que tende a padronizar os modos de usar esse

    tempo (AZEVEDO JR, 2001), contribui para o agravamento do processo de

    desvalorizao dos espaos livres pblicos.

    Assim, aliadas falta de atrativos, e ao pouco conforto dos espaos pblicos,

    as novas tecnologias de TV, DVD, Internet e jogos eletrnicos por exemplo, afastam

    ainda mais os seus possveis usurios das praas, que dispe de poucos atrativos e

    s vezes nenhum conforto. De fato, a necessidade de preservar a individualidade e

    reforar a privacidade, faz com que as pessoas tranquem-se em casa, diminuindo

    as possibilidades de sociabilidade do cidado, empobrecendo suas relaes com o

    espao pblico (CARLOS, 1996, p.87).

    Gomes (2002, p. 174) definiu este processo como o recuo da cidadania,

    pois as mudanas na imagem da cidade, geraram um ambiente fragmentado

    havendo uma multiplicao de espaos que so comuns mas no pblicos; h um

    confinamento dos terrenos de sociabilidade e diversas formas de nos extrairmos do

    24

  • espao pblico (...), os modelos de lugares se redefiniram, shoppings centers, ruas

    fechadas, paredes cegas etc.

    Essa segmentao scio-espacial cada mais freqente nas grandes

    metrpoles, criando uma gama de espaos seletivamente pblicos, mais utilizados

    pelos cidados mais abastados, delineando uma sociedade segregada e confinada.

    O distanciamento e a desvalorizao dos espaos livres pblicos urbanos

    tambm revelam a falta de sintonia entre usurios e projetistas, no processo de sua

    criao/interveno pois no sendo capazes de perceber as aspiraes dos

    usurios, os ltimos distanciam-se passando a agir apenas como espectadores de

    suas prprias aes.

    Outro fator que contribui para o uso ou no das praas a sua imagem e/ou a imagem da rea na qual esta est inserida, como uma conjuno subjetiva a

    imagem configura-se como um conjunto de significados, sistemas de valores e

    interpretaes, os quais dependem de uma srie de valores, sejam sociais ou

    inerentes ao prprio indivduo (DEL RIO & OLIVEIRA, 1996, p. 12).

    De acordo com Lynch: imagens ambientais so o resultado de um processo

    bilateral entre o observador e seu ambiente. (...) o observador com grande

    capacidade de adaptao e luz de seus prprios adjetivos - seleciona, organiza e

    confere significado quilo que v (1997, p. 06-08). Assim, estudos ligados

    percepo ambiental partem da analise destes aspectos para intervir, sanando e

    evitando possveis erros ainda no momento de concepo dos espaos pblicos.

    Alm disso, os planos diretores e outros instrumentos legais de interveno

    que tratam dos espaos pblicos urbanos, devem levar em considerao tais

    aspectos a fim de contribuir para a qualidade de vida dos habitantes da cidade.

    Embora esse trabalho faa referncia a subutilizao dos espaos pblicos de

    Natal, esse no e apenas um problema local, uma vez que ocorre em muitas cidades

    brasileiras, como conseqncia da implementao de espaos mal trabalhados, em

    cujo planejamento os aspectos subjetivos. Nesse sentido, trabalhos sobre a

    percepo e a imagem da cidade, tm auxiliado a lidar com a subjetividade e a

    satisfao dos usurios bem com as condutas resultantes, quer de carter positivo

    25

  • (apego, conservao), quer negativo (vandalismo). De fato, reaes ao meio

    ambiente construdo so frutos da percepo, da compreenso, das crticas e

    perspectivas de cada pessoa, influenciando seu comportamento cotidiano.

    Para Del Rio e Duarte (2000, p. 08), no se trata apenas de respostas

    emocionais, puramente psicolgicas (...), uma vez que admitimos a existncia

    desses inter-relaes (ambiente-comportamento) entende-se por que ambientes

    construdos com pouca qualidade fsico-espacial so comumente vandalizados em

    todas as partes do mundo.

    No sentido as reaes de apego ao lugar contribuem para a sua

    sustentabilidade do mesmo, o que acontece, por exemplo, quando ONGs e

    Associaes de usurios, entre outros, contribuem de forma voluntria para a

    manuteno/conservao de um espao.

    Reforando estas afirmaes, podemos citar Robert Park, cuja concepo de

    cidade defendida como um estado de esprito, um conjunto de costumes e de

    tradies, de atividades e de sentimentos organizados, inerentes aos costumes

    transmitidos com suas tradies (PARK, 1996 apud DEL RIO & DUARTE,2000,

    p.09)

    Entretanto, a falta de estudos ligados subjetividade vem diminuindo

    gradativamente, principalmente nos pases de cultura anglo-sax, onde o marketing

    das cidades responsvel pelo dinamismo do mercado e pela atrao de

    investimentos.

    No Brasil, a cidade de Curitiba tem tirado partido de uma imagem socialmente

    construda, sendo conhecida no mbito regional, nacional e internacional como,

    capital brasileira da qualidade de vida; cidade moderna e humana e cidade-

    modelo (DEL RIO & OLIVEIRA, 1996, p. 83).

    Para a realizao de estudos ligados percepo e imagem da cidade, considera-se que os atributos do meio ambiente - construdo ou natural - influenciam

    no processo perceptivo, principalmente o visual, o que possibilita o reconhecimento

    de qualidades ambientais e a formao de imagens compartilhadas pela populao.

    Assim, embora a percepo seja subjetiva e individual, existem recorrncias comuns,

    26

  • 27

    cujo reconhecimento considerado fundamental para nortear a ao pblica. O

    processo de interveno pode ocorrer tambm ao nvel das percepes e das

    expectativas da populao, atuando como incentivador e/ou captador de novos

    investimentos, como ocorre por exemplo, com a revitalizao e/ou a renovao de

    reas pblicas ou privadas.

    Assim, a revalorizao de um espao pblico urbano, envolve interferncias

    que vo alm daquelas denominadas fsicas, englobando mudanas econmicas,

    culturais e sociais, de modo a proporcionar suporte para a sua efetiva utilizao.

  • 2- REFERENCIAL CONCEITUAL

    este captulo discutem-se as principais referncias conceituais que

    balizaram esta pesquisa, pois os estudos que envolvem os

    problemas das cidades, requerem, em sua maioria, a definio de

    alguns conceitos tidos como referncias bsicas, os quais, possibilitam a

    compreenso dos fenmenos que ocorrem no contexto urbano em questo. Para o

    nosso estudo, so fundamentais os conceitos de paisagem, cultura, espaos

    pblicos, privados e pseudo-pblicos, espaos coletivos, espaos livres de edificao

    e finalmente a praa pblica, que sero tratados nos itens a seguir.

    N

    A definio de paisagem, surgiu na Holanda no sculo XV; tem origem artstica pois servia para designar um tipo de pintura, o que revela a preocupao

    esttica que envolveu a questo naquele primeiro momento.

    2.1- PAISAGEM E CULTURA

    Sauer (1998) afirma que s nos interessamos pela paisagem, porque como

    seres humanos fazemos parte dela, vivemos como ela, somos limitados por ela e a

    modificamos, quando selecionamos aquela paisagem ou parte dela que possam ser

    teis para ns.

    Por sua vez, alguns autores preocuparam-se como o modo como a paisagem

    composta no espao; Tal diversidade deve-se multiplicidade de formas de

    abordagem deste conceito em funo das vrias reas do conhecimento que o

    utilizam, como a geografia, a biologia, a ecologia, as artes e a arquitetura/urbanismo,

    que interpretam a paisagem da forma que melhor se adequar aos seus propsitos e

    limites de sua abordagem.

    De acordo com Neves (1982, p.107), a paisagem formada por um conjunto de elementos naturais, (criados pela natureza), e os elementos artificiais, (criados

    29

  • pelo homem). Esta paisagem pode ser apresentada de forma fragmentada e

    dependendo da escala, pode no ser abrangida em sua totalidade com um nico

    olhar. Em um espao pblico, como uma praa ou um parque, a mesclagem de

    elementos naturais e artificiais ocorre de forma quase instantnea, promovendo

    lugares aprazveis que podem ser considerados pelo observador como vrias

    pequenas paisagens dentro de uma maior e mais complexa, dependendo do modo

    como a(s) mesma(s) /so apreendida(s) pelo indivduo.

    Em seu artigo Cultura da paisagem, Besozzi (2002), faz uma breve narrativa

    dos modos de transformao da paisagem em funo da histria mostrando que sua

    mudana na paisagem sempre corresponde a modificaes na sociedade, e

    referindo-se especificamente a momentos nos quais a civilizao rural transforma-se

    em urbana.

    Na Idade Mdia, a faixa de semeadura era o mdulo que determinava a extenso do feudo e a obrigao de cada servo ao cuidar a colheita. A paisagem j havia se transformado nos sculos I e II com as grandes vilas imperiais, que construram novas paisagens, e com a derrubada exagerada de rvores para a criao de novas cidades e acampamentos militares na Roma antiga. Mais tarde, surgiram as cidades de carter administrativo e poltico. E por ltimo, no sculo XIX, apareceram as cidades industriais, centros de processamento e transformao de recursos. Isto deu origem ao traslado da populao rural para a cidade.

    Com o advento da cidade industrial, a sociedade procura reparar os danos

    ambientais e estticos que o processo causou na paisagem tornando de grande

    importncia a retomada da anlise da mesma, como um caminho para o

    aprofundamento da compreenso da relao sociedade-natureza.

    Sauer (1998), por sua vez, indica que a paisagem precisa ser considerada

    tendo como base passa por dois momentos, o natural e o cultural. O primeiro

    (paisagem natural) corresponde ao espao antes da chegada do homem e, consequentemente, sem as modificaes geradas pelo desenvolvimento que adapta

    o meio sua vivncia humana. Exemplifica esta etapa inicial o momento de fundao

    30

  • de vilas e cidades coloniais brasileiras, quando em meio a paisagem natural, o

    homem implanta as primeiras instalaes fsicas, como a igreja com seu adro (o

    que podemos considerar como uma idia inicial de praa), o errio e o pelourinho. O

    segundo momento, definido como paisagem cultural, incorpora as marcas deixadas pelo ser humano enquanto espcie cultural. Embora este processo de interveno

    sobre a paisagem natural seja o mesmo em muitos lugares diferentes,

    imprescindvel compreender que a cultural dominante (tratada mais adiante neste

    item) de cada povo determinante para que cada lugar tenha uma paisagem final

    diferenciada.

    Complementando essa argumentao, Cosgrove (apud CORRA, 1997,

    p.289-292) trata a paisagem cultural como: um conjunto de formas materiais

    dispostas e articuladas entre si no espao como (...) a casa, a igreja, a praa, entre

    outras, com seus estilos e cores, resultante da ao transformadora do homem sobre

    a natureza. Este autor define ainda dois tipos gerais de paisagens: a da cultura

    dominante e as alternativas.

    Paisagem da cultura dominante: onde os grupos dominantes tm seu poder sustentado e produzido, em grande medida pela sua capacidade de projetar e comunicar. a imagem gerada por esta classe dominante que aceita por todos os outros grupos como sua prpria realidade.

    Paisagens alternativas: criadas por grupos no-dominantes, e que por isso mesmo apresentam menor visibilidade. Esta paisagem esta subdividida em trs subcategorias: Paisagens residuais: cujo interesse est no fato de permitirem a reconstruo da geografia do passado; Paisagens emergentes: oriunda de novos grupos, tem seu interesse no carter utpico expresso em uma nova organizao social e espacial e impresso na paisagem; Paisagens excludas: associadas minorias, como os ciganos e minorias raciais religiosas, so paisagens prprias, muitas vezes imperceptveis aos olhos da cultura dominante (...).

    Sob esse ponto de vista pode-se dizer que a falta de uma cultural local slida

    e consistente pode contribuir para que a paisagem cultural se desenvolva de modo

    diferente, como, por exemplo, o que ocorreu com as colnias exploradas pelas

    naes imperialistas, no perodo das colonizaes, de pases como o Brasil e

    31

  • Argentina1. No Brasil, alguns exemplos marcantes demonstram como o domnio de

    uma cultural pode influenciar e direcionar condicionantes de uma cultura dominada,

    tornando-se uma marca daquele lugar, Em Recife/-PE, por exemplo, a presena de

    holandeses se reflete ainda hoje e na paisagem pernambucana, me em Belm-PA, a

    presena marcante de portugueses, ainda sentida e usufruda nos lugares

    histricos da rea antiga da capital e de outros municpios paraenses.

    Complementarmente, Galender (1994, p.21) indica que a paisagem a

    resultante da articulao dos processos naturais com as condicionantes

    socioeconmicas e culturais, o que refora a idia de que os aspectos culturais da

    sociedade so condicionantes de sua modificao, apreenso, consumo, valorizao

    e conservao.

    Devemos ainda deixar claro que esta mutao na paisagem natural ocorre

    como um ciclo, onde est primeiramente explorada, modificada, muitas vezes

    destruda e outras vezes reconstruda o que pode vir a fechar um circuito, deixando,

    ento, uma lacuna para que, uma nova cultura recomece o ciclo, possibilitando a

    sobreposio de uma nova paisagem sobre aquela anteriormente criada, e fazendo

    surgir, uma nova paisagem cultural, agora remodelada, sendo um processo de

    renovao, como a histria nunca se repete, a paisagem, que uma marca da

    sociedade, tambm tende a no voltar ao seu ponto inicial.

    Embora estes conceitos sejam provenientes da geografia, eles cabem nesta

    pesquisa, por levarem em considerao a presena marcante e determinante do

    homem na paisagem natural, agindo de maneira transformadora, capaz de deixar

    sua marca no tempo e no espao, estes que so fatores ligados intimamente a

    paisagem.

    Em uma outra abordagem trazida tambm desta rea do conhecimento

    1 BERJAM (2001) afirmou que a fundao de Buenos Aires seguiu os traos espanhis do urbanismo e que: a

    ausncia de uma consolidada cultural indgena local influiu na construo de uma cidade pensada por europeus

    para uma geografia americana.

    32

  • podemos perceber uma forma de conceituao que aproxima-se dos preceitos da

    pesquisa em questo, explicitando que a paisagem no uma cena individual, mas o

    somatrio de percebidas como componentes do todo, tais como sua forma e situao

    do entorno, dentre outros.

    Essa a linha conceitual defendida por Burle Max segundo o qual a paisagem

    no pode ser apreendida com um nico olhar, pois componente de uma realidade

    maior (MAX, apud DEGREAS, 1982, p.69). Ainda conforme este autor, a paisagem

    o resultado de uma acumulao de tempos, pois representa solidamente diferentes

    momentos de desenvolvimento de uma sociedade.

    Conforme Magnoli (1996, citada por GONALVES, 1982) a paisagem o

    resultado final de uma interferncia do homem sobre o meio natural, o que refora o

    papel da presena e interferncia humanas em sua determinao. Segundo os

    critrios desse autor uma praa pblica (tema desta pesquisa) considerada uma

    paisagem contendo atributos naturais e artificiais, como sugerido por Neves (1988, p.

    107).

    Assim, inserida em um cenrio scio-cultural para compreender uma

    paisagem, preciso entender os atributos relacionados aos contextos histrico e

    econmico, independentemente dos elementos fsicos que compem sua forma, ou

    seja, apenas os elementos fsicos da paisagem no so suficientes para que se

    perceba e entenda tudo o que ela pode transmitir.

    Por fazer parte de um sistema que envolve o homem e o espao natural, a

    paisagem tambm tem sido interpretada como um ecossistema, quando acrescido

    vida, transformando-se ento numa situao que se apresenta em constante

    processo de recriao, evoluo e transformao (LYLE,1982, p.36). A cidade, o

    bairro e a praa, por exemplo, esto em constantes transformaes, sejam

    planejadas ou espontneas, sancionadas ou no pelo Poder Pblico, aprovadas ou

    no pela coletividade, caractersticas de um ecossistema complexo, permeado pelo

    relacionamento social de seus componentes.

    33

  • A capacidade de apreenso e as mais variadas possibilidades de

    compreenso de uma paisagem tambm esto relacionadas com os tipos de

    velocidade com que cada espao passa a fazer parte da vivncia pessoal do

    indivduo, posto que os ambientes pblicos, so passveis de dois ritmos de vivncia

    no espao: um ritmo rpido, que vai com a velocidade de deslocamento dos usurios

    nos veculos e um ritmo lento, onde este sim, proporciona aos pedestres a maior

    possibilidade de um contato efetivo com o lugar, atravs da percepo, aumentam as

    possibilidades de interao e dilogo com a forma da cidade e com os habitantes. A

    relao entre a paisagem, o tempo e o espao, mostra como o homem, impulsionado

    pela necessidade de atingir um desenvolvimento satisfatrio em seu modo de viver,

    interfere nesta, em uma distinta poca (tempo) e em um determinado lugar (espao),

    modificando ento o cenrio (paisagem).

    Alm disso, existem variadas formas de se apreender a paisagem, para o que

    a utilizao humana dos cinco principais sentidos (tato, olfato, audio, viso e

    paladar) se mostra importante e eficaz. Pessoas com deficincias auditivas ou

    visuais por exemplo, so capazes de interpretar de vrias maneiras os estmulos

    emanados pela paisagem, e com isso usufrurem do lugar.

    A paisagem, portanto, no nica, podendo sofrer alteraes de indivduo

    para indivduo e mostrando-se diferente em funo de quem a observa, devido a

    alguns fatores como: carga cultural, a maneira e a freqncia de observao

    (MEINING, 1982, p.108). Assim, muito mais do que podemos ver, a paisagem o

    que podemos interpretar e compreender, sugerindo sensaes e sentimentos

    prprios a cada indivduo, e se apresentando ora com a designao de um espao

    fsico, ora como referncias metafricas ou virtuais, o que corresponde a diversos

    significados ou sentidos.

    Sob tal ponto de vista, a carga cultural de um povo constitui um fator

    determinante, correspondendo a variados modos de sentir, perceber e incorporar

    este espao vivncia ao cotidiano desta populao. Assim, o conhecimento e a

    compreenso da bagagem cultural de um povo facilita uma interveno bem

    sucedida (tanto no mbito da cidade como um todo, quanto em fragmentos desta),

    34

  • melhorando, a qualidade e manuteno do ambiente urbano.

    A ttulo de ilustrao, importante salientar que a cultura, no diz respeito

    apenas s obras concretas de uma sociedade, mas s idias que tm a coletividade

    sobre o que fazem e os objetos materiais que usam. Segundo Johnson (1997, p.59-

    60), cultura :

    O conjunto acumulado de smbolos e idias e produtos associados a um sistema social, seja ele uma sociedade inteira ou uma famlia. Juntamente com a estrutura social, populao e ecologia, constitui um dos principais elementos de todos os sistemas sociais [...] a cultural possui aspectos materiais e no-materiais. A cultural material inclui tudo o que feito, modelado ou transformado como parte da vida social, da preparao de alimentos produo de ao e computadores, passando pelo paisagismo que produz os jardins do campo ingls.A cultura no-material inclui os smbolos [...] bem como as idias que modelam e informa a vida dos serem humanos em relaes recprocas e os sistemas sociais dos quais participam.

    Em sntese diante destas vrias abordagens pode-se concluir que dificilmente

    a paisagem pode ser compreendida ou assimilada com um nico olhar, sendo ao

    mesmo tempo:

    Produto de anlise/observao da realidade; Resultado da ao do homem sobre o seu meio; Expresso de uma finalidade, visando a descrio e valorizao e/ou

    interveno do meio fsico humano, conceito este que abrange at aquelas

    reas de maior ou menor extenso, tradicionalmente consideradas naturais ou

    selvagens.

    Varivel segundo a carga cultural, econmica e social do observador, assim como a freqncia de observao deste;

    Neste trabalho a praa pblica ser sendo tratada como paisagem pois, de acordo com Font (2001, p.03) tanto a anlise quanto o projeto, percebem a praa

    como elemento esttico na paisagem, congelado num perodo de tempo. Ou seja, a

    praa faz parte dessa paisagem ou ocorre como ela na cidade, seja de forma

    fragmentada, seja como um todo, com seus atributos formais, estticos e

    35

  • contextuais. Neste caso, a paisagem observada nas praas pblicas resultado de

    uma interferncia humana cultural, definida por aquilo que esta sociedade considera

    relevante para o melhoramento do meio natural (paisagem natural), em uma bisca

    constante pelo progresso.

    A praa pblica sempre foi um espao presente nas cidades, sendo, portanto,

    freqentemente estudada e retratada, como algo precioso na paisagem, importante e

    usual na vida de cada um de ns, estado inserida no contexto da paisagem urbana.

    2.2- O CARTER DA PAISAGEM

    Dentre as diversas paisagens de uma cidade, os elementos tidos como

    artificiais, (construdos pelo homem), fazem uma mistura de espaos, que podem ser

    pblicos, privados e pseudopblicos, de acordo com o surgimento de novas tipologias, que sero tratadas mais adiante, compondo uma dinmica viva, nica,

    capaz de aguar os sentidos humanos, gerando sensaes (maneira pela qual

    somos afetados e a prova de um estado de ns mesmo, impresso pura),

    sentimentos e vises pessoais a cada indivduo.

    Para alguns, os espaos pblicos ocorrem em oposio aos espaos privados, chegando a ser muitas vezes espaos residuais, sobras entre os espaos

    privados, ocupados por projetos arquitetnicos (HUET, 2001, p.147). Entretanto,

    segundo Silva (2000, p. 65), no existe espao pblico de fato, posto que estes

    podem ser usados pela autoridade local (entendida como uma entidade deslocada

    da comunidade, sem representao poltica) para o fim que ela bem entender, como

    uma propriedade sua. No existe a noo de que o espao pertence a todos, sob

    igualdade de condies.

    A utilizao do termo pblico refere-se vrios significados, estando

    associado ao conceito de estatal, ou seja, o que gerido pelo Estado, quer seja

    nacional, estadual ou municipal, ou ligados ao uso pblico, das pessoas como um

    todo, ou seja, de uso coletivo. No entanto, Barreto (1999, p.40) que fez um estudo

    36

  • sobre as transgresses (maus-tratos ou apropriaes indevidas) na utilizao dos

    espaos pblicos, diz que no imaginrio brasileiro, o conceito pblico refere-se ao

    que no de ningum, o que explica em parte, muitas das atitudes de depredao

    nestes tipos de espaos.

    Entretanto, a definio vai muito alm da questo administrativa das cidades,

    mas no pode deixar de ser bem visualizada nos grande planos de expanso, nas

    leis de desapropriao, na criao de novas reas recreativas, como parques

    metropolitanos, na criao das grandes obras civis, como uma demonstrao clara e

    absoluta do domnio pblico sobre o privado (MORALES, 2001, P.101).

    Com a funo de regularizar e ordenar a malha urbana, muitas praas foram

    locadas em sobras de tecido urbano, ou de modo a impedir a apropriao

    inadequada de algumas reas. Exemplos marcantes desse tipo de interveno

    podem ser vistos em Paris, aps a gesto de Haussmann, com a criao de um

    sistema de reas verdes interligadas que ordenam e embelezam a cidade.

    Huet (2001, p. 147) afirma que: os espaos pblicos devem ter uma funo

    reguladora e ordenadora, e suas formas no podem depender de uma concepo

    singular ou de uma criao individual (...) no funcionam isoladamente, fazem

    sempre parte de um complexo sistema contnuo e hierarquizado.

    Com o advento de novas formas ou tipologias de espaos pblicos, criou-se

    um limiar estreito entre o que coletivo e o que pblico, posto que alguns espaos so coletivos mas no so pblicos, da serem chamados de pseudopblicos.

    Os espaos pseudopblicos, so aqueles pblicos pela sua significao, mas privado pela sua regulamentao, sendo um espao onde a propriedade e a

    gesto pblica se combinam perfeitamente, com as iniciativas dos cidados, sejam

    vendedores, turistas, curiosos ou trabalhadores (ALMEIDA, 2001, p.86). O centro de

    diverses, o hipermercado, a galeria de lojas, o shopping center, so exemplos

    claros dessa nova tipologia espacial.

    A questo subjetiva que passa pelo carter pblico, privado ou pseudopblico

    de em espao, est nos aspectos que afetam diretamente o usurio, por exemplo,

    alguns espaos pseudopblicos, podem gerar sentimentos nocivos ao cidado, que

    37

  • podem lev-lo auto-excluso, podendo ser pela, sua conformao, localizao, tipo

    de freqentadores, entre outros, ficando ento a dvida, do quo estes so mesmo

    pblicos.

    O papel dos espaos livres pblicos no meio metropolitano est vinculado

    formao e transformao da imagem urbana. Ao se formar, atravs da ao de

    agentes pblicos e privados, a cidade conjuga espaos construdos (diversos em forma, volume e contedo) e espaos livres de edificao (igualmente diversos, especialmente previstos para tal ou resultantes de resduos de construes).

    Conjugados uns aos outros, segundo o ritmo especfico de cada situao e contexto

    - fsico, cultural e histrico -, tanto os espaos construdos quanto os livres de edificao conferem carter e qualificam a paisagem das cidades (TNGARI, 2000, p.02).

    A classificao de um espao est atrelada a definio de alguns fatores

    como por exemplo: a configurao da malha urbana, a morfologia, a tipologia, a

    funo e at mesmo a gesto destes o que pode modificar o carter desta rea,

    definindo-a como pblica ou no.

    Neste momento, vamos nos atrelar ao estudo dos espaos livres de edificao. Entretanto, quando nos referimos a espaos livres de edificao, no estamos exatamente definindo a natureza deste espao, que pode ser: parque

    urbano, jardim, praa, adros de igrejas, quadras esportivas, hortos, praias, bosques,

    pomares, entre tantos outros.

    De acordo com Macedo (1996, p.15), os espaos livres urbanos, no so configurados por vegetao e sim pela massa construda e pelo suporte fsico em

    suas diversas formas e modelagem, sempre condicionados pelas formas e

    propriedades e os parcelamentos decorrentes, que direcionam sua estrutura formal.

    Novamente aqui, ocorre a idia de que os espaos livres urbanos, so resduos em

    meio a massa construda da cidade, conforme foi citado anteriormente por Huet

    (2000, p.76).

    Faz-se necessrio, para que haja uma compreenso da configurao da

    paisagem dos espaos pblicos, realizar uma anlise histrica da concepo

    38

  • desses ambientes, objetivando deixar claro quais foram as influncias mais

    relevantes, e onde estas se fizeram presentes na paisagem; mais especificamente

    neste trabalho, das praas pblicas urbanas.

    As praas, assim como parques, largos, bosques, etc, so consideradas

    espaos pblicos dentro da cidade. No entanto, existem exemplos destes como

    reas privadas, temos por exemplo algumas praas privadas (como a da Tv Cabugi,

    em Natal, chamada de Nsinho Alves, e que s abre ao pblico, uma vez ao ms,

    em eventos pr-programados por esta emissora, desenvolvendo um entrosamento

    entre a comunidade local e a iniciativa privada, com a participao ativa da

    Universidade Federal do RN, que congrega e disponibiliza parte das atraes dos

    eventos ocorridos nesta praa), as quais ilustram que a questo da livre

    acessibilidade no define uma praa, pois esta pode ser fechada ou aberta, pblica

    ou privada.

    Outro exemplo so as Reservas Particulares do Patrimnio Natural, as reas

    de Preservao Permanente e as Reservas Legais, definidas pelo Poder Pblicos

    atravs do Ibama, como reas de Proteo Ambiental (APA). So espaos livres de

    edificao, com expressivos atributos naturais, que podem estar localizadas dentro

    da cidade e assim como tambm delimitadas por grandes massas edificadas.

    Entretanto no so reconhecidas como unidades de conservao por estarem

    inseridas em propriedades particulares, sem gerenciamento do Poder Pblico,

    todavia so especialmente protegidas por legislao especfica 2.

    Convm salientar que a definio de reas verdes, no de todo satisfatria,

    j que um campo de futebol rea verde, um parque, um jardim, um horto, um

    calado, todos tm indcios de reas verdes, e muitas praas no apresentam

    sequer qualquer tipo de vegetao, sendo ento este conceito inapropriado para o

    estudo das praas. So exemplos cabveis neste aspecto algumas praas europias,

    onde muitas vezes a vegetao por algum motivo (por valores culturais, talvez)

    subutilizada, ou que em raros casos influencia na constante utilizao destas por

    2 As Reservas Particulares de Patrimnio Natural (RPPN) so reconhecidas pelo Decreto n 1922 de 5/06/96, sendo tambm gerenciadas pelo IBAMA.

    39

  • parte da comunidade.

    O clima um fator condicionante que direciona a insero de uma vegetao

    e arborizao mais densa e consistente, sem falar na questo esttica destes

    elementos. Pases onde o inverno se configura de forma rgida e com temperaturas

    muito baixas, freqentemente adotam o partido de espaos pblicos sem tanta

    arborizao ou atributos vegetativos, valorizando a entrada de uma quantidade

    maior de raios solares contribuindo para o aquecimento do lugar nesta poca do ano.

    O inverso ocorre em espaos onde as altas temperaturas so minimizadas pela

    arborizao e vegetao bem trabalhada.

    Gomes (2002) definiu espao pblico como: qualquer tipo de espao, rua,

    praa, largo, praia, shopping, onde no haja obstculos possibilidade de acesso e

    participao de qualquer tipo de pessoa. Este autor afirma ainda que independente

    das divergncias ocorridas entre os vrios segmentos da sociedade que a convivem

    e circulam, as regras de convvio devem ser preservadas e absolutamente

    respeitadas. Cabe ressaltar que esta acessibilidade fsica, mas tambm diz

    respeito ao fato de que no deve estar condicionada fora de quaisquer outros

    critrios seno daqueles impostos pela lei que regula os comportamentos em reas

    comuns (id. P.162). Esta citao mostra o carter poltico do espao pblico, ou

    seja, o locus da lei, onde todo e qualquer cidado deve se submeter s regras da

    civilidade.

    Existe ainda uma outra caracterstica do espao pblico, Lvy (2002, p.162)

    chamou de extimidade: o percurso no espao pblico supe uma suspenso do

    intimo, que paradoxalmente uma condio de existncia (...) s o anonimato, isto

    , a garantia de que o outro urbano no projetar sua intimidade sobre a nossa por

    uma injuno ao intereconhecimento, permite individualidade se desenvolver e se

    realizar.

    A distino dos diversos tipos de espaos livres pblicos necessria pois os

    limites entre um e outro s vezes se confundem, devido a multiplicidade de

    expresses formais e espaciais de novas maneiras, que permitem uma compreenso

    sensorial variada e muitas vezes original (GALENGER, 1982, p. 113).

    40

  • Os atributos de um espao pblico esto diretamente relacionados vida

    pblica, entretanto, este no deve ser definido apenas pela sua qualidade de livre

    acessibilidade, pois isto nos impede de diferenciar o coletivo do comum, pois

    existem diversas formas de espaos pblicos que no tm essa qualidade como

    hospitais, escolas, reas militares e administrativas, etc, todos estes no possuem

    como regra um acesso aberto a todos e nem por isso perde sua qualidade de

    espaos pblicos. (GOMES, 2002, p.160)

    So considerados atributos dos espaos pblicos os seguintes itens: sua

    acessibilidade nem sempre facilitada a todos, no entanto pertence coletividade

    em igualdade de direitos, do mesmo jeito que reserva a todos os indivduos regras de

    convvio que visam a utilizao plena e prazerosa dos seus ambientes. No so

    necessariamente abertos, podendo ser uma praa, um parque, um hospital, uma

    escola ou uma rua. Assim sendo os espaos livres pblicos, podem ser verdes ou

    no, entre os primeiros temos as praas, canteiros, bosques bulevares, entre os

    segundos, os campos desportivos, cruzamentos de trnsito, trios religiosos e civis,

    estacionamentos para veculos, etc.

    A praa no necessariamente um espao pblico, j que existem algumas

    inseridas em lugares privados ou pseudopblicos, nem devem ter obrigatoriamente

    grandes atributos de vegetao, j que em algumas culturas, este elemento no

    essencial, como vimos anteriormente. No item seguinte sero discutidos alguns

    conceitos relacionados ao espao praa, favorecendo sua definio, indispensvel

    para o desenvolvimento da pesquisa.

    2.3- A PRAA: conceitos, funes, evoluo histrica e aspectos formais

    Para o entendimento do conceito de praa necessria a compreenso de aspectos relacionados a sua origem, a sua configurao espacial, a sua relao com

    o entorno, rea de abrangncia, aspectos funcionais e fsicos, entre outros, conforme

    j foi dito anteriormente.

    41

  • Segundo Menneh et al (2000, p. 98), os espaos livres pblicos de pequeno

    porte, presentes prximos s edificaes so caracterizados normalmente como

    praas. O que no impossibilita a existncia de novas tipologias de espaos livres

    prximos s edificaes, como parques de bairro, parques metropolitanos, jardins

    botnicos e hortos entre outros. Do mesmo modo, nem sempre uma praa um

    espao pblico de pequeno porte, algumas so bem maiores que alguns hortos

    botnicos ou seja, outras tipologias de espaos livres existentes na cidade.

    Para Camillo Sitte (1992, p.25), que estudou a morfologia de uma amostra de

    praa tradicionais medievais, o conceito para este tipo de espao livre : qualquer

    espao vazio entre quatro ruas, com uma regularidade milimtrica e com

    alinhamento entre as ruas. Para este autor as praas daquela poca eram o centro

    vivo da cidade e tinham dois pontos bsicos, que eram responsveis pelos seus

    sucessos: o princpio do enclausuramento e a da irregularidade. O primeiro referia-se

    ao agrupamento de massas arquitetnicas situadas em volta de um espao pblico.

    O princpio da irregularidade est diretamente ligado ao entorno arquitetnico do

    lugar, quer dizer a diversidade visual dos edifcios que esto envolta da praa,

    ocasionada pela interrupo da simetria dos prdios do invlucro do espao.

    Apesar de sua importncia histrica, esta concepo no adequada para

    esta pesquisa, pois o crescimento e o desenvolvimento das cidades e do urbanismo

    moderno, nem sempre delimita uma praa por quatro ruas, no havendo uma

    regularidade milimtrica, podendo ocorrer, lados com dimenses diferentes, assim

    como formatos diversos. Quanto aos princpios mencionados, sabe-se que mesmo

    praas situadas em reas onde o entorno no possui uma rica diversificao ou uma

    interrupo na sua simetria, conseguem em alguns casos uma freqentao

    satisfatria, no entanto no se comparada quela percebida por Sitte na praas

    medievais, considerando alguns aspectos que interferem na utilizao do espaos

    livres contemporneos, como as novas tecnologias (TV, computador, DVD, internet),

    o aparecimento de novas tipologias de espaos pblicos (shoppings centeres,

    boates, supermercados, cinema) e as novas relaes sociais desenvolvidas nas

    grandes cidades.

    42

  • Este tipo de espao pblico urbano, contudo, tem sua caracterizao formal definida pela configurao da malha urbana, fazendo parte dessa, de modo rgido,

    conforme afirmou Galender (1982, p. 114): poder ser caracterizado fisicamente

    como uma manifestao espacial resultante da malha urbana e tradicionalmente

    presente desde a cidade medieval, ou antes, com a gora grega e o frum romano.

    Alguns espaos pblicos como as praas pblicas, tm seu traado atrelado s vias de trfego de veculos, independente das edificaes existentes nos

    lotes mais prximos. Vale salientar que existem algumas praas e ruas que no

    possuem seu traado delimitado por vias de trfego de veculos, algumas praas no

    esto definidas por eixos virios, como o caso dos adros das igrejas e de algumas

    praas privadas. Observando por este lado, torna-se difcil analis-las sem levar em

    considerao as caractersticas do seu entorno, sendo estas muitas vezes grandes

    atrativos para estes lugares. Sendo assim, podemos dizer que as praas so

    apropriadas em funo de algumas peculiaridades como: beleza esttica, aspectos

    histricos-culturais e sua vitalidade na cidade (MENNEH, 2000, p. 76).

    Segawa (1996, p.31) diz que as praas no podem ser confundidas com alguns ambientes contemporneos, como jardins ou parques, pois a praa um

    espao ancestral que se confunde com a prpria origem do conceito ocidental da

    cidade, ou seja, as praas so elementos caractersticos da cidade, compondo sua

    forma, atuando de maneiras peculiares, com aes que ressaltam sua importncia

    enquanto espao coletivo, agregador e sociabilizador.

    No Brasil, as praas surgiram devido sobretudo aos adros das igrejas.

    Somente diante de capelas, igrejas e conventos a cidade contava com espaos

    vazios pois serviam para ressaltar as edificaes do seu entorno (GALENDER,1982,

    p. 115). Compondo o cenrio scio-cultural, a igreja assume um dos mais

    importantes papis na formao de nossas praas: Agrega para si uma parcela de

    solo, suporte necessrio s atividades religiosas: os autos-de-f, procisses e

    mesmo facilidades de acesso, no obstante a forma de poder exercida pelo prprio

    conjunto arquitetnico.

    Algumas cidades brasileiras, como por exemplo, Natal e Belm, se

    43

  • desenvolveram inicialmente em volta de uma praa, que continha em seus

    arrabaldes alguns dos principais prdios da poca, como a igreja matriz, o errio e o

    pelourinho. Neste perodo, este era o principal centro de convivncia social da

    cidade, onde as pessoas conversavam, fechavam negcios, discutiam assuntos

    diversos, como arte, poltica e religio e tambm se informavam acerca das

    principais notcias do pas.

    No sculo XVI, o que se tinha eram pouco exemplares de espaos pblicos

    livres urbanos destinados diretamente ao lazer da populao, Macedo (1982, p.131)

    diz que somente em 1769 que foi construdo o primeiro jardim literalmente aberto a

    populao, e que ficou conhecido como Passeio Pblico, estava localizado no Rio de

    Janeiro e foi desenvolvido segundo cnones europeus pelo Mestre Valentin (1745-

    1812). Mais tarde, em 1860, quando o arquiduque austraco Maximiliano, em visita

    ao Passeio Pblico no Rio de Janeiro, se decepcionou com a conservao e

    manuteno do jardim tendo levando ao nariz um leno, o fato chamou a ateno do

    Governo Imperial para o estado deste. Devido a isto foi solicita a contratao do

    paisagista e engenheiro civil Auguste Glaziou, que a pedido de D. Pedro II,

    reformulou grande parte dos jardins desse espao pblico3 .

    Apenas no incio do sculo XIX que surgiram os Jardins Botnicos um no

    Rio de Janeiro e outro em So Paulo. Ainda neste sculo, mais especificamente, no

    meio deste, mas somente as famlias mais abastardas podiam desfrutar dos grandes

    parques particulares das quintas e chcaras da poca. Isto vem reforar a idia de

    que apenas os adros das igrejas faziam as funes de reas realmente livres e

    pblicas, conforme Galender afirmou anteriormente.

    Os passeios pblicos no tinham o atual carter de espaos pblicos, de

    acordo com relatos da poca descritos por Hugo Segawa (1992, p. 65) em seu livro

    Ao amor do pblico: jardins do Brasil. Tais passeios eram freqentados apenas

    3 BRANDO, Alex. ARAJO, Maria Silvia Muylaert. A evoluo do paisagismo urbano e particular no Brasil.In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE PAISAGISMO EM ESCOLAS DE ARQUITETURA, 5, 2000, So Paulo.

    Anais... So Paulo, FAUUSP, 2000.

    44

  • pela aristocracia e pela burguesia, que tinham seus modos e comportamentos

    exibidos e controlados nestes lugares, pelos chamados cdigos de posturas.

    Nas noites de luar dirigiam-se para o Passeio Pblico numerosas famlias, galantes ranchos de moas e cobiosos ranchos de mancebos, e debaixo dos tetos de jasmins ouviam modinhas apaixonadas e lundus travessos cantados ao som da viola, rematando esses divertimentos com excelentes ceias dadas ali mesmo. (MACEDO, 1996, apud Villas Boas, 2002, p. 39)

    Mesmo os jardins botnicos coloniais, no tinham essa funo pblica, pelo

    menos no no comeo, com a criao do primeiro deles em Belm-PA, em 1796,

    depois que a Carta Rgia deste mesmo ano, ordenou o cultivo de espcies

    interessantes ao desenvolvimento econmico da Coroa Portuguesa. Posteriormente

    criados em So Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Olinda, Minas Gerais e tardiamente em

    Curitiba, estes espaos serviam apenas para o cultivo de espcies e no para o uso

    pblico recreacional.

    Somente a partir do sculo XX com a crescente e desordenada urbanizao

    das principais cidades brasileiras que comeam a surgir os principais jardins e

    praas pblicas, inicialmente no Rio de Janeiro na administrao de Perreira Passos,

    com a criao e reformulao de alguns espaos importantes como: a Praa XV, a

    Quinta da Boa vista e a Praa Tiradentes, por exemplo.

    De acordo com Macedo (1996, p. 03) a produo das praas brasileiras,

    incluindo as pblicas e as privadas, se baseia em trs linhas:

    Ecltica: tem como modelo os antigos jardins contemplativos europeus e caracteriza-se pela existncia de caminhos sinuosos e romnticos ou geomtricos e formais com eixos bem marcados. Estes caminhos possuem geralmente alguns bancos e dividem canteiros onde a vegetao se organiza de modo tambm romntico ou rgido. So comuns equipamentos como pontes, quiosques, grutas e fontes, entre outros.

    Moderna: marcada pelo rompimento com a formalizao e a cenarizao do ecletismo. Nela, os espaos de estar so conectados prestando-se no s ao lazer contemplativo mas tambm s atividades culturais, s brincadeiras e ao esporte. H a integrao com as caladas e com os edifcios; a valorizao da vegetao nativa; a reverncia arte e arquitetura moderna. Usam-se

    45

  • desenhos de piso, murais, espelhos dgua, pergolados de concreto, anfiteatros, etc.

    Contempornea: a partir da dcada de 80 alguns projetos comeam a se diferenciar, tanto pela postura mais comprometida com a preservao ambiental, quanto pela liberdade com que formas, cores, texturas e materiais passam a ser empregados nos projetos. Elementos que fazem referncia a outros pases, outras pocas e outros cenrios passam a ser empregados com freqncia, a exemplo dos prticos e colunatas

    claro que a mesclagem de linhas projetuais ocorre na concepo de

    espaos pblicos como estes, enriquecendo a paisagem urbana das cidades

    brasileiras e proporcionando lugares capazes de exercerem variadas funes.

    Quanto aos aspectos funcionais, de acordo com Lima et al (1994, p. 45) (as praas

    pblicas (e outros espaos pblicos como o parque, por exemplo) favorecem o

    desenvolvimento de funes como:

    Ecolgica: a presena da vegetao, do solo no impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada nessas reas, promovendo melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, gua e solo.

    Social: intimamente relacionada com a possibilidade de lazer que oferece populao. Com relao este aspecto, deve-se considerar a necessidade de hierarquizao, segundo as tipologias e categorias de espaos livres.

    Esttica: diz respeito diversificao da paisagem construda e o embelezamento da cidade, sendo ressaltada a importncia da vegetao.

    Educativa: relacionada com a possibilidade que essas reas oferecem como ambiente para o desenvolvimento de atividades extraclasse e de programas de educao ambiental.

    Psicolgica: ocorre, quando permite que as pessoas em relaxem, funcionando como anti-estresse, aspecto relacionado com o do lazer e a recreao nas reas verdes.

    As funes acima descritas no so as nicas e podem estas presentes ao

    mesmo tempo no mesmo espao, Cavalcanti (2000, p. 04), defende que a funo

    46

  • ambiental e de recreao so pontos importantes nas caractersticas dos espaos

    livres pblicos. Segundo Menneh et al (2000, p. 06), estes espaos esto ligados a

    atividades cotidianas ou para o abrigo eventos espaciais, alm de prover a cidade

    de qualidade ambientais e estticas, criando pontos de encontro e favorecendo a

    qualidade de vida.

    Outras funes podem estar relacionadas ou intrnsecas como aquelas

    sugeridas por Leito (2002, 23-25): de estar, de descanso, de lazer, de esporte, de

    contemplao, de festa, ecolgica, esttica, educativa e psicolgica. claro que

    desenvolver um esporte um lazer, ou quando se quer descansar o indivduo pode

    apenas contemplar a paisagem o que retrata que uma praa pode atender ao

    mesmo tempo e para o mesmo usurio diferentes funes, disponibilizando uma

    flexibilidade em uma gama de atributos que tendem trazerem benefcios para a

    sociedade como um todo.

    Para Berjman (2001, p.25), as principais funes dos espaos verdes

    pblicos, atender a necessidades bsicas de higiene, de gozo esttico e desportivo

    e de convivncia coletiva.

    No podemos esquecer, ainda, dos diversos sentidos que um espao pblico

    pode desenvolver, como:

    sentido de passagem: quando hospedam temporariamente grande fluxo de transeuntes;

    sentido de fim em si mesma:, quando seu uso se volta para a realizao da mercadoria, o caso dos camels, que fazem uso

    intensivo de muitas praas urbanas;

    sentido de festa: quando centenas de torcedores se renem nestes espaos para festejar, por exemplo, finais de campeonatos,

    datas cvicas, etc;

    sentido de reivindicao:, quando palco de movimentos populares, que ganham maior eloqncia pois ocorrem geralmente

    em pontos de centralidade;

    47

  • sentido de lazer e contemplao: quando oferece aos usurios, ambientes propcios pratica salutar do lazer, seja ele ativo ou

    passivo, servindo tambm espao apenas para a contemplao dos

    seus atributos, sejam eles naturais ou artificiais. Este sentido est

    ligado tambm prtica de esportes, quando estes ambientes

    dispem de quadras e equipamentos esportivos;

    sentido religioso: ocorre quando a praa serve como palco para manifestaes religiosas, no sendo necessariamente exclusiva de

    uma nica faco religiosa, mantendo seu carter pblico.

    Deve-se deixar claro que, a praa pblica agrega concomitantemente

    diferentes sentidos, sem que um necessariamente exclua o outro, revelando-se

    ento, em um lugar democrtico, capaz de acolher s mais variadas funes,

    sentidos, atividades e conseqentemente a uma gama tambm variada de usurios.

    Leito sugere trs fatores em especial que contribuem para indicar possveis

    funes desempenhadas pelas praas: (1) caractersticas do entorno, (2) nvel

    socioeconmico da populao e (3) a importncia simblica (2002, p. 26). Ainda de

    acordo com este autor, o entorno a ser considerado no apenas o que est em

    volta imediatamente do lugar, mas tambm o raio de abrangncia da praa, j que

    estes indicam as caractersticas que tornam o espao nico, com especificidades

    relevantes para uma interferncia planejada, ou seja, entorno residenciais solicitam

    equipamentos e mobilirios urbanos condizentes com as atividades que possam ser

    desenvolvidas, como quadras e playground, diferentemente daquelas localizadas

    em reas centrais, que no requerem estes tipos de equipamentos.

    O perfil socioeconmico (2) da populao usuria do lugar importante pois

    pode fornecer informaes preciosas acerca da estruturao e do valor da praa.

    Leito cita que em reas carentes onde a oferta de equipamentos de lazer baixa

    uma praa precisa atender a muitas funes e por isso deve promover uma gama

    muito maior de atividades, contribuindo ainda para o afastamento do jovens da

    marginalidade (id. p. 27). Finalmente, deve-se observar a importncia simblica (3)

    que o espao apresenta para a populao. O reconhecimento do valor simblico dos

    48

  • espaos para os usurios faz com que o mesmo seja sempre lembrado, quer pelo

    Poder Pblico que tende a constantemente executar reformas e melhorias na rea,

    quer pela populao que cobra tais benfeitorias, fazendo com que seja sempre

    utilizado, como por exemplo, em festas cvicas ou populares. Galender (1982, p.

    119-120) compara a praa a outro espao pblico livre de edificao, o parque

    pblico, ressaltando entre outros, os aspectos ligados sua dimenso e insero na

    malha urbana (Tabela 01).

    Berjman (2001, p. 58) tambm tocada pelo estreito limiar entre as definies

    de parque e praa pblica, indica que a praa um lugar espaoso rodeado de

    casas, no interior de uma cidade e um lugar arborizado de certa extenso para caa

    ELEMENTO DE ESTUDO PRAA PARQUE

    Origem Histrica Histrica

    Funo Mercado, culto, esporte, poltica. Lazer (ativo e passivo).

    Manifestao Espacial, resultante da malha urbana:

    dependncia funcional. Independncia espacial em

    relao malha urbana.

    Relao espacial

    O espao se abre para a cidade, relaciona-se com o urbano, constituindo um fato

    urbano.

    O espao contido em si mesmo. Envolve mais o

    indivduo enquanto percepo espacial e global.

    Imagem urbana Espao gerado pela cidade aberto e

    inserido nela.

    Ilha de amenizao isolada, muitas vezes fechada para a

    cidade.

    Insero Continuidade espacial. Conjunto fragmentado com

    unidades.

    Aspecto visual Predomnio do piso construdo/vegetao. Predomnio do elemento

    natural ou vegetao.

    Dimenses relativas ao tecido urbano Pequenas Grandes

    Relao com o entorno

    Insere-se na cidade, definida morfologicamente pelas edificaes.

    Isola-se da cidade ou forma um corpo especfico dentro do

    tecido urbano.

    Tabela 01

    Comparao entre os elementos do parque e da praa

    49

  • ou para recreio temos um parque, diferindo de um largo pois este , segundo a

    autora, uma superfcie reduzida, resultado de um traado de ruas e avenidas e que

    se deixa livre por necessidade de trnsito.

    Estas definies no so suficientes para a questo da pesquisa, pois

    sabemos que uma praa pode ser rodeada de quaisquer espcies de edifcios, no

    apenas casas, quando est localizada, por exemplo, no centro verticalizado de uma

    grande metrpole. certo tambm que, uma praa pode conter um considervel

    suporte vegetal, diferenciado-se de um parque muitas vezes apenas pelas suas

    dimenses fsicas ou pela diversidade e quantidade de espcies vegetais presentes.

    Ou seja, considera-se a praa como um espao livre num conjunto

    arquitetnico, inserida na manha urbana da cidade, capaz de acomodar variadas

    funes, tais como aquelas ligadas ao lazer, ao culto religioso, a recreao, a

    poltica, a festa, etc. No necessita de um suporte vegetal para que ocorra nem

    depende das caractersticas do seu entorno. Pode ter carter pblico, mas tambm

    pode estar inserida em uma propriedade particular, onde os elementos recm

    mencionados so perfeitamente aplicveis. Requer no entanto, um amparo fsico,

    que tende a contribuir para sua utilizao, tais como equipamentos e mobilirio

    urbano, que sero tratados no prximo item .

    Alguns estudos foram realizados objetivado analisar que aspectos ou

    condicionantes so relevantes para a qualidade destes espaos pblicos (ou

    privado). Alguns trabalhos nacionais (LEITO, 2002; LIMA & PELLEGRINO, 1993) e

    internacionais (PPS, 1997) relacionaram requisitos bsicos que consideram

    responsveis, pelo sucesso de espaos pblicos, incluindo as praas urbanas.

    No mbito nacional citamos a experincia da Prefeitura de Recife que visando

    orientar futuras intervenes nas praas pblicas urbanas elaborou em conjunto com

    a Universidade Federal de Pernambuco UFPE um Manual de Procedimentos para

    Interveno em Praas (LEITO, 2002) disponibilizando diretrizes com relao

    mobilirio urbano, aspectos construtivos e atributos vegetativos. Para isso, so

    sugeridas sete etapas a serem seguidas:

    conhecer exaustivamente a rea onde se vai investir, visitando a praa

    50

  • vrias vezes, em horrios, dias e situaes diferentes, fotografando o

    espao e as atividades que so disponibilizadas e utilizadas, levantamento

    do uso do solo no entorno da praa, assim como dados e documentos

    relativos ela.

    Compreender as necessidades urbansticas do espao; Analisar as caractersticas do entorno; Considerar a evoluo urbana da praa; Avaliar as funes existentes e potenciais do lugar; Identificar que o usurio da rea; e Investigar a dimenso simblica do lugar. Segundo a autora, os dados fornecidos por estes levantamentos oferecem

    diretrizes para futuras intervenes e podem gerar espaos bem trabalhados e

    melhor dimensionados, e facilita sua utilizao pela populao.

    Outro estudo realizado em praa pblica foi elaborado pela Universidade de

    So Paulo FAUUSP, em 1993 correspondendo a uma APO na Praa Elis Regina,

    localizada em rea residencial. O estudo revelou que aspectos como a frgil

    estruturao espacial (equipamentos e mobilirio apropriados, superposio e

    conflitos de territrios e fluxos), comprometimento do conforto ambiental (nvel de

    rudo, e de sombreamento natural), falta de privacidade (diferentes graus de

    fechamento, o que facilitaria a sensao de estar contido), utilizao restrita das

    possibilidades do stio, falta de relacionamento com o entorno e ausncia de

    manuteno contnua, interferem diretamente no uso do espao pblico.

    Neste intuito de apreender os elementos que promovam uma utilizao mais

    efetiva de reas pblicas a partir de uma pesquisa feita em mais de 1000 espaos

    pblicos em todo o mundo., o PPS4 elaborou um quadro relativo aos quatro pontos-

    chave responsveis pela qualidades destes lugares, como sejam:

    Acessibilidade e conexes: refere-se acessibilidade do espao e das sua 4 PPS- Project for Public Space (1997). Disponvel em < www.pps.org>, acessado em 13/12/2002.

    51

  • conexes com seu entorno, tanto visuais quanto fsicas. Este item tambm

    refere-se facilidade com que o indivduo chega ao lugar, seja em relao

    aos meios de transportes, seja pela localizao do mesmo, que interferem

    diretamente na utilizao da praa.

    Conforto e imagem: relativo imagem que os usurios tm do lugar e da percepo dos indivduos a respeito do conforto ambiental da praa.

    Usos e atividades: locais que no disponibilizam uma variedade de atividades esto fadados a permanecerem vazios.

    Sociabilidade: corresponde possibilidade de proporcionar contato entre os usurios, sejam vizinhos, amigos ou mesmo fazerem novas amizades.

    Alm desses pontos o PPS ainda menciona como importantes: os incentivos

    fsicos, cognitivos e experincias sociais. Com relao ao primeiro (incentivo fsico) a

    pesquisa encontrou trs pontos: flexibilidade e variedade fsica do lugar e dos

    equipamentos/mobilirios presentes e a acessibilidade do lugar, j mencionados

    anteriormente.

    Em resumo, estes itens indicam que o lugar deve dispor de um estrutura

    capaz de atrair usurios de todas as idades (experincias sociais), dispondo de

    elementos fsicos que atendam as mais variadas atividades em um maior espao de

    tempo (flexibilidade/variedade), concorrendo para que o local permanea ocupado,

    pois sua ociosidade seria desperdcio de infra-estrutura. Alm disso, o espao deve

    permitir que o usurio, desenvolva sua criatividade, seu senso de companheirismo e

    de participao, exercitando sua cidadania e sua sociabilidade em um espao

    pblico.

    Nesse sentido, pesquisas, observaes e entrevistas com usurios so meios

    que contribuem para a melhor compreenso do espao, podendo indicar caminhos

    para atender s necessidades humanas. Segundo o PPS, parcerias entre a iniciativa

    privada e o Poder Pblico so vlidas e devem ser incentivadas, j que a sociedade

    diretamente responsvel pela valorizao, manuteno e conservao dos

    espaos pblicos urbanos.

    52

  • No tratamento dos espaos pblicos urbanos, a satisfao dos usurios

    influenciada pela quantidade de luz e sombra, pela textura dos materiais

    componentes, pela localizao, quantidade e qualidade dos mobilirios e

    equipamentos urbanos existentes.

    2.4- EQUIPAMENTOS E MOBILIRIO URBANO

    Pesquisas como as que foram mencionadas anteriormente afirmam que os

    equipamentos e mobilirio urbano so essenciais para a aceitao de um espao

    pblico, e sua caracterizao como elemento de prestao de servio comunidade,

    devido sua importncia no contexto desse trabalho torna-se essencial defini-los.

    Para Colchete F. (2000), o mobilirio urbano a coleo de artefatos

    implantados no espao pblico da cidade, de natureza utilitria ou de interesse

    urbanstico, paisagstico, simblico ou cultural. O autor cita a ABNT (NBR

    9283/1986, p. 1- 5), que divide o mobilirio urbano em categorias e subcategorias

    que vo desde equipamentos que atendam ao item Circulao e Transporte

    (semforo, por exemplo) at ornamentao da paisagem e ambientao urbana

    (bancos, esculturas etc.), o que perfaz um total de mais de noventa elementos

    diferentes, no contando com seus possveis desdobramentos

    Para Del Rio (1990, p.108), mobilirio urbano o sistema formado pelos

    elementos complementares ao funcionamento da cidade, sendo s vezes

    temporrios, incluem ento nesta categoria os seguintes itens: telefones pblicos,

    bancos, lixeiras, arborizao, iluminao pblica, sinalizao, os quais devem estar

    perfeitamente adequados ao contexto do ambiente, congruentes com os sistemas de

    comportamento social considerando ainda as necessidades fsico-ergonomtricas

    dos usurios. J aos equipamentos urbanos, correspondem s quadras

    poliesportivas, bancas de revistas, equipamentos de ginstica, playground, mesas de

    jogos, caramanches, banheiros pblicos e vestirios. No sendo menos relevantes

    que o mobilirio urbano, estes devem atender as necessidades dos usurios,

    estando em sintonia com a paisagem local, ou seja, gerando um conforto visual que

    contribuir para a assimilao desse espao e, consequentemente, para a

    53

  • 54

    preservao deste por parte dos usurios.

  • mbora relativamente recente, a Avaliao Ps-ocupao (APO) j causou

    impactos significativos, influenciando a elaborao de cdigos de obra, que

    mudaram substancialmente a forma de olhar e construir ambientes livres de

    falhas, economicamente viveis e que tenham uma durabilidade razovel

    (RABINOWITZ,1979).

    De acordo com Ornstein (1996, p. 33), a APO um conjunto de multimtodos

    e tcnicas para avaliao do ambiente no decorrer do uso, que considera

    especialmente as relaes biunvocas entre o homem e o ambiente construdo.

    Essa rea do conhecimento pressupe que os espaos construdos interferem

    no comportamento humano assim como sofrem alteraes atravs da conduta de

    quem os utiliza, de modo que o ponto de vista do usurio, sua organizao e seu

    contexto social, poltico, econmico e cultural, so fundamentais para que a APO

    transcorra de forma eficiente e com maior credibilidade, no sendo apenas uma

    anlise de desempenho tcnica e profissional (WHITE, 1988).

    Por sua vez, Preiser et al (1988, p. 03), explicam que a APO um processo

    de avaliar ambientes construdos de uma maneira sistemtica e rigorosa depois que

    eles foram construdos e ocupados por algum tempo. Tal estratgia alm de uma

    simples anlise visa gerar propostas que otimizem a sua utilizao e minimizem

    desperdcios de quaisquer naturezas, apontando pontos positivos e negativos do

    ambiente em uso, corrigindo ou at mesmo anulando, a curto, mdio e longo prazos,

    os problemas verificados. Para isso, os trabalhos desenvolvidos serviro como

    suporte para futuras intervenes, contribuindo para a manuteno e conservao do

    ambiente pblico ou privado, somando para a qualidade ambiental da cidade.

    E

    3.1- ESTRATGIA DE ABORDAGEM: A Avaliao Ps-ocupao (APO)

    3- PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    56

  • A observao destes conceitos revela a necessidade de salientar e deixar

    clara a natureza deste ambiente cons