Felizmente há luar

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Ato ILuís de

Sttau Monteiro

Autor da peça

Luís de

Sttau Monteiro

Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu no dia 03/04/1926 em Lisboa.

Filho do embaixador Armindo Monteiro, viveu parte da infância e da adolescência em Londres.

O tempo passado em Inglaterra possibilitou-lhe o contacto com movimentos de vanguarda da literatura anglo-saxónica que foram decisivos para a sua formação intelectual.

De regresso a Portugal formou-se em direito na Faculdade de Lisboa, tendo exercido a advocacia apenas por um breve período de tempo.

Apesar da sua paixão por corridas de automóveis, foi na literatura que fez carreira, marcando particularmente a dramaturgia portuguesa.

Estriou-se em 1960 com a novela “Um homem não chora”, a que se seguiu em 1961 o romance “Angústia para o jantar”.

Nas suas obras denuncia de forma sarcástica os problemas da época.

Como dramaturgo escreveu várias peças, mas poucas foram representadas em Portugal antes do 25 de Abril devido aos seus conteúdos fortemente ideológicos.

O autor chegou mesmo a ser preso pela PIDE em 1967 após a publicação de duas peças: A estátua e Guerra Santa que criticavam duramente a ditadura e a guerra colonial.

Luís de Sttau Monteiro destacou-se ainda pela sua intensa atividade jornalística tendo sido colaborador de várias publicações: “Diário de Lisboa”, “O Jornal”, “Expresso”, “Se7e” e “Almanaque”.

Escreveu também sobre gastronomia com o pseudónimo de Miguel Pedrosa.

Apologista do lema – “A única coisa sagrada é ser livre como o vento!” , defendeu na sua vida e na sua obra as liberdades iguais e coletivas.

Faleceu no dia 23/07/1993 em Lisboa.

Felizmente há luar!A obra

A peça Felizmente há luar! é uma peça épica, inspirada na teoria marxista, que apela à reflexão, não só no quadro da representação, como também na sociedade em que se insere. O teatro de Brecht pretende representar o mundo e o homem em constante evolução de acordo com as relações sociais.

Estas caraterísticas afastam-se da conceção do teatro aristotélico que pretendia despertar emoções, levando o espetador a identificar-se com o herói. O teatro moderno tem como preocupação fundamental levar os espetadores a pensar, a refletir sobre os acontecimentos passados e a tomar posição na sociedade em que se insere.

Surge assim a técnica do distanciamento que propõe um afastamento entre o ator e a personagem e entre o espetador e a história narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado.

Luís Sttau Monteiro pretende, através da distanciação, envolver o espectador no julgamento da sociedade, tomando contacto com o sofrimento dos outros.

Deste modo o espetador deve possuir um olhar crítico para melhor se aperceber de todas as formas de injustiça e opressões.

Título

O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido nas falas de um dos elementos do poder – D. Miguel – ora inserido na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que desde logo lhe confere circularidade.

Num primeiro momento, o título representa as trevas e o obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade.

Sentido do Título: Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.

Tempo Tempo histórico: século XIX

Tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o regime salazarista

Tempo da ação dramática: a ação está concentrada em 2 dias

Tempo da narração: informações respeitantes a eventos não dramatizados, ocorridos no passado, mas importantes para o desenrolar da ação

Espaço

Espaço físico: a ação desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há nas indicações cénicas referência a cenários diferentes

Espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens

Caraterísticas da obra

Personagens psicologicamente densas e vivas;

Comentários irónicos e mordazes;

Denúncia da hipocrisia da sociedade;

Defesa intransigente da justiça social;

Teatro épico: oferece-nos uma análise crítica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar uma posição;

Intemporalidade da peça remete-nos para a luta do ser humano contra a tirania, a opressão, a traição, a injustiça e todas as formas de perseguição;

Preocupação com o homem e o seu destino; Luta contra a miséria e a alienação; Denúncia a ausência de moral; Alerta para a necessidade de uma superação com o

surgimento de uma sociedade solidária que permitia a verdadeira realização do homem.

As personagens são psicologicamente densas, os comentários são irónicos e mordazes e denuncia-se a hipocrisia da sociedade, a luta contra a miséria e a alienação, a preocupação com o Homem e o seu destino. Drama narrativo, de carácter social, na linha de Brecht (exprime a revolta contra o poder, o homem tem o direito e o dever de transformar a sociedade em que vive, com o objetivo de levar o espetador a reagir criticamente).

Personagens

Gomes Freire De Andrade

Esta personagem não entra na história, mas á falada desde o início até ao fim da peça.

General, militar experiente e talentoso, honrado, distinto, estrangeirado, inteligente, culto, generoso, idealista, «santo», solidário, fraterno para com os mais pobres, Grão-Mestre da Maçonaria, injustiçado

OS OPRESSORES

A JUNTA DE REGÊNCIA

Beresford – Poder Militar

Marechal inglês, «mau oficial», arrogante, mercenário,

pragmático, racional, invejoso, prepotente, injusto, protestante

D.Miguel – Nobreza Aristocrática

Nobre conservador, reacionário, estadista, opressor, autoritário, arrogante, perigoso, antijacobino (contra os ideais modernos da época), rancoroso, invejoso, injusto.

Principal Sousa –Poder Religioso

Opressor, cínico, fanático, reacionário, cruel, rancoroso,

antijacobino, culto, materialista, racional, injusto

OS DELATORES

OS CÚMPLICES DOS OPRESSORES

OS TRAIDORES DO POVO

Vicente

Elemento do povo, frustrado, inteligente , expedito,

manipulador, hipócrita, interesseiro, cínico, dissimulado,

astuto, sarcástico, egoísta, calculista, diligente.

Morais Sarmento

Capitão, «mau oficial», bem vestido, mundano, ignorante,

covarde, medíocre, mau carácter, interesseiro, falso,

dissimulado, perverso, calculista, maçónico.

Andrade Corvo

Capitão, delator, interesseiro, materialista, covarde, falso,

dissimulado, perverso, calculista, maçónico renegado

POVO

Manuel

É o mais consciente dos populares; é corajoso.

Denuncia a opressão a que o povo está sujeito.

Rita

Mulher sensível, fraterna, solidária,

apaixonada pelo marido (Manuel).

Antigo Soldado

Antigo militar, experiente, alegre, brincalhão,

contador de histórias passadas.

Populares

Pobres, miseráveis, andrajosos.

Didascálias – funções principais

Expressão facial / corporalMovimentos das personagensEntoaçãoEntrada e saída de personagensPausasO destinatário das falasMudanças na luz

Através das notas à margem do texto, o autor orienta a interpretação e a representação da peça. As suas indicações sobre gestos, movimentos, posições, tons de voz e cenário remetem frequentemente para a necessidade de uma postura crítica por parte do espetador.

Ato I

O Antigo Soldado andou na guerra com o General Gomes Freire de Andrade e muito o admira.

Na opinião de Vicente, Gomes Freire de Andrade estava do lado do poder.

Vicente acredita no dinheiro e na força.

Vicente sonhava ter uma carruagem, criado e libré e o povo a bater-lhe à porta...

Vicente desejava ascender socialmente e sair da miséria em que nasceu.

Vicente diz ser honesto e dedicado a el-rei.

Vicente é incumbido por D. Miguel para vigiar a casa de Gomes Freire de Andrade.

Para Beresford, Andrade Corvo é bom rapaz, bem vestido, mas ignorante, mau oficial, pedreiro-livre, ambicioso, promovido através da denúncia e não por mérito.

Andrade Corvo e Morais Sarmento agem por dinheiro, uma pensão anual de 800$00.

«Os "patriotas" raras vezes andam sozinhos... Defendem-se sempre, andando em grupo, tal é o conhecimento que têm de si mesmos...» (p. 48); «Os "patriotas" acabam sempre por julgar os outros pelo conceito que de si próprio têm... Quando querem crédito para o que dizem, avançam sempre de prova em punho e testemunha ao lado...» .

A figura de estilo é a comparação.

Beresford diz ser um simples técnico estrangeiro, "o mais fiel e o mais dedicado dos vassalos deste Reino", materialista "Troco os meus serviços por dinheiro" .

No conflito entre Beresford, Principal Sousa e D. Miguel evidencia-se o seguinte:. o desprezo que Beresford vota a Portugal embora esteja disposto a colaborar com a regência para a obtenção dos seus fins — "Troco os meus serviços por dinheiro"; a acusação de mercenário feita por D. Miguel a Beresford; a hipocrisia do Principal Sousa fascinado pelo poder; o conservantismo de D. Miguel; o receio que os três manifestam face ao general Gomes Freire de Andrade (personagem que não revelam).

O objetivo da conspiração é implantar no reino o sistema das cortes.

É D. Miguel quem ordena a prisão em massa dos conjurados.

«Notai que não lhe falta nada: é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado...».

Será inimigo de Beresford quem lhe dificulte a missão de reorganizar o exército e quem o possa substituir na organização do mesmo. Refere estar rodeado de inimigos: «o clero odeia-me porque não sou da sua seita; a nobreza, porque não lhe concedo privilégios; o povo, porque me identifica com a nobreza; e todos, sem exceção, porque sou estrangeiro...».

D. Miguel tem como objetivo: exterminar a anarquia e o jacobinismo; Lutar por uma nobreza que mantenha os seus privilégios; Lutar a favor da discriminação social; Lutar pela distinção de classes e pela desigualdade social; Lutar contra a democracia, não admitindo que o povo alguma vez

possa eleger os seus chefes.

A figura de estilo é a hipérbole.

Fim