O HOMEM E A COMUNICAÇÃO - bibliotecawr.yolasite.com · Desde a declaração de um sentimento até...

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O HOMEM E ACOMUNICAÇÃO

O LIVRO DAESCRITA

RUTH ROCHAOTÁVIO ROTH

CRIAÇÃO E PROJETO GRÁFICO

OTÁVIO ROTH

ILUSTRAÇÕESRAQUEL COELHO

1992 – Prêmio Jabuti – Melhor Obra emColeção,

Melhor Produção Editorial1993 – Prêmio Monteiro Lobato para

Literatura Infantil,Academia Brasileira de Letras

Antes que o homem soubesseescrever, não havia História.

É claro, como é que a gente podesaber o que acontecia, se ninguémescrevia contando?

Mas a gente sabe que, há quarentamil anos, o homem não só existia, como

pensava e tinha até qualidades de artista,pois ele pintava nas paredes dascavernas touros e bisões, renas ecavalos.

Eram lindas pinturas, e por issosabemos que quem as pintava era umhomem de verdade e não um animalqualquer.

Essas pinturas, no início, eramfeitas no fundo das cavernas, e não naentrada, onde os homens viviam.

Isso nos faz pensar que essas figurastinham um significado mágico.

Mais tarde começaram a aparecerdesenhos que comunicavam algumacoisa. Eram uma tentativa de escrita,

embora fossem muito simples.Quando o homem desenhava um boi,

queria dizer boi; quando desenhava umjarro, queria dizer jarro; e, quandodesenhava o Sol, queria dizer sol.

Era a escrita pictográfica.

Com o tempo, a escrita foimudando. As pessoas precisavamescrever coisas mais complicadas.

Então, quando desenhavam um boi,nem sempre queriam representar um boi.Podiam estar representando uma boiada,o gado, ou simplesmente a carne.

Quando desenhavam um jarro,

podiam estar representando mais do queum jarro: podiam estar representando aquantidade de líquido que cabia numjarro.

E, quando desenhavam o Sol,podiam estar representando o dia, a luz,ou até mesmo o calor.

Esse tipo de escrita já permitiacontar uma pequena história ou mandaruma mensagem simples.

Era a escrita ideográfica.

As pessoas passaram a escrevercada vez mais. Com isso foramsimplificando progressivamente ossímbolos.

E foram “combinando” entre sicomo desenhar cada símbolo, demaneira que o que uns escreviam fossecompreendido por todos.

Com o tempo os símbolos sesimplificaram tanto que apenaslembravam o objeto que representavamno início.

O tipo de escrita que cada povoinventou dependeu do material usadopara escrever.

Os babilônios tiveram a primeiraescrita bem codificada.

Usavam lajotas de barro mole comosuporte e um pequeno bastão de madeiraou ferro para escrever.

Como era difícil fazer linhas curvasno barro, passaram a fazer “marcas”calcadas na argila, com um estilete deponta triangular, a cunha. Cada conjunto

de marcas significava uma palavra. Essaescrita foi chamada de cuneiforme.

Os babilônios desenvolveram umaescrita adequada ao uso das lajotas debarro. Seus vizinhos, os egípcios,criaram uma escrita que podia sergravada na pedra.

Escrever na pedra é trabalhoso.Mas os documentos inscritos na pedraduram para sempre, e era próprio da

cultura egípcia dar muita importância àdurabilidade de tudo.

Cada figura da escrita egípciarepresentava uma palavra. Essas figurassão os hieróglifos. Foram muito usadasnos monumentos.

Mais tarde os egípcios inventaram opapiro, que permitiu uma escrita maisrápida e acabou influindo nasimplificação dos hieróglifos, dandoorigem à escrita hierática e, mais tarde,à demótica.

E assim os egípcios deixaram trêsmil anos de história documentados.

No Egito a atividade de escrevertinha muito prestígio. Havia atéprofissionais treinados para isso – osescribas –, que eram muito importantesna corte.

A civilização egípcia durou muitosséculos, e a escrita foi sempreevoluindo.

Na verdade, os egípcios chegaram ainventar uma escrita fonética, quer dizer,uma escrita em que cada som tem umsímbolo ou uma letra.

Mas eles não souberam tirar grandevantagem dessa escrita, que era amistura da escrita hieroglífica com afonética.

A escrita fonética permite que sereproduzam todos os sons de todas aslínguas com poucos sinais.

Os fenícios devem ter conhecido aescrita fonética por intermédio dosegípcios. Adaptaram o alfabeto fonéticoegípcio à língua fenícia e criaram oalfabeto de 24 letras, que usaram com

muita habilidade.Eles habitavam a região que é hoje

a costa do Líbano.

Os fenícios eram comerciantes,viajantes e navegadores, e espalharam oalfabeto fonético por todo o mundoconhecido na sua época.

De fato, todos os alfabetos fonéticostiveram origem no alfabeto fenício: ohebraico, o árabe, o grego, o cirílico(russo), o devanágari (hindu), o

romano...

Ainda hoje alguns povos usamescritas pictográficas e ideográficas.

Os chineses ainda escrevem assim:Homem + árvore = descanso2 árvores = bosque3 árvores = florestaOs japoneses usam quatro escritas

diferentes, que aparecem ao mesmo

tempo até nos jornais: uma escritaideográfica, herdada dos chineses; umsistema silábico para os sons que nãoexistem na escrita chinesa; um alfabetoinventado para as palavras estrangeiras;e o alfabeto romano, que serve pararesolver os problemas restantes.

Os gregos adotaram o alfabetofenício, mas inventaram novas letraspara os sons que não existiam em fenícioe abandonaram as letras cujos sons nãoexistiam em grego.

Criaram uma porção de formas deescrever, pois havia muitos Estadosgregos e muitas formas diferentes de

falar.Todos sabem o quanto os gregos se

preocupavam com a beleza. Assim, elesforam modelando as letras, para torná-las mais harmoniosas.

Estabeleceram a regra de escreverda esquerda para a direita, ao contráriodas outras línguas semíticas. Eintroduziram o uso das vogais.

Os romanos herdaram o alfabetogrego. E, como os gregos, tiveram defazer adaptações, introduzindo novasletras e eliminando as que não serviampara sua língua.

A forma das letras também foi semodificando, de acordo com asnecessidades de sua civilização. Foi

assim que as letras ganharam uma base,um pezinho especial, que permitia oalinhamento das palavras, especialmentenas grandes inscrições dos monumentos.

Ainda se usam essas bases,chamadas “serifas”, em alguns tipos deletra.

Hoje, todas as sociedadescivilizadas possuem uma escrita.

O mundo moderno precisa daescrita até para as coisas mais simples:a compreensão de placas, as instruçõespara o manejo de máquinas, as bulas deremédios.

Precisa da escrita para desenvolver

teorias que levam ao desenvolvimentotecnológico, para a explanação desistemas filosóficos, para a discussãodos estudos religiosos.

E a escrita, que foi na Antiguidadeprivilégio de sacerdotes e nobres, é hojenecessidade e direito de todos.

Desde a declaração de umsentimento até a conclusão de um grandenegócio, a escrita tem servido àcomunicação entre os homens.

E hoje, quando o homem começa aconquistar o espaço, ele envia, de suaspoderosas naves, mensagens simples, natentativa de comunicar a outros seres,

que porventura povoem outros planetas,nossa existência e onde nosencontramos.

É da natureza do homem comunicar-se, espalhar a notícia de sua existência,não só sobre a Terra, mas até os pontosmais longínquos do Universo.

Ruth Rocha nasceu em 1931 na cidade de SãoPaulo. É uma das mais conhecidas escritorasbrasileiras de livros infantis e juvenis. Ganhouos mais importantes prêmios brasileirosdestinados à literatura infantil: FNLIJ, PrêmioJabuti, APCA e ABL, entre outros. Atualmenteé membro do Conselho Curador da FundaçãoPadre Anchieta. Casada com Eduardo Rocha,tem uma filha, Mariana, e dois netos, Miguel ePedro.

Otávio Roth (1952-1993). Paulistareconhecido mundialmente por sua obra empapel artesanal e eventos de arte participativa.Formou-se em Londres pelo Hornsey Collegeof Art. Morou e trabalhou em Israel, Noruega eEstados Unidos. Também recebeu váriosprêmios de literatura infantojuvenil comoilustrador e escritor. Suas ilustrações da Cartade Direitos Humanos estão em exposiçãopermanente nas sedes da ONU em Genebra,Viena e Nova York. No Brasil foi pioneiro nadivulgação do papel artesanal por meio decursos, oficinas, publicações e exposições. Seutrabalho de reciclagem de papel e de elementosda natureza contribuiu para a construção daconsciência ambiental

Edição revisada conforme o AcordoOrtográfico da Língua Portuguesa Ilustrações: Raquel CoelhoTexto © Ruth Rocha Serviços Editoriais S/CLtda.Representado por AMS AgenciamentoArtístico, Cultural e Literário Ltda.Criação e projeto gráfico: Otávio RothConversão em epub: {kolekto} Direitos de publicação:© 1992 Cia. Melhoramentos de São Paulo© 2002, 2009 Editora Melhoramentos Ltda. 1.ª edição digital, junho de 2014ISBN: 978-85-06-07529-6 (digital)ISBN: 978-85-06-05825-1 (impresso) Atendimento ao consumidor:Caixa Postal 11541 – CEP 05049-970

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