Tensão entre as racionalidades substantiva e instrumental na gestão de ecovilas

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Universidade Federal de Santa Catarina

Gabriel de Mello Vianna Siqueiragabrielsica@gmail.com

Tensão entre as racionalidades substantiva e instrumental na gestão de ecovilas

Problema de pesquisa

“Quais os efeitos da tensão entre a racionalidade substantiva e a racionalidade instrumental na prática da gestão de uma ecovila?”

Abordagem substantiva das organizações

(Guerreiro Ramos 1981)

Racionalidade instrumental Cálculo utilitário de consequências

Racionalidade Substantiva Critério para a ordenação da vida humana associada; Capacidade ética e crítica de natureza pessoal

Auto realização e satisfação social mediadas pelo julgamento ético

Tabela 1: Quadro de Análise (SERVA, 1996)

Tipo de RacionalidadeX

Processos OrganizacionaisRacionalidade

SubstantivaRacionalidadeInstrumental

Hierarquia e normas EntendimentoJulgamento ético

FinsDesempenho

Estratégia interpessoal

Valores e objetivosAuto-realização

Valores emancipatóriosJulgamento ético

UtilidadeFins

Rentabilidade

Tomada de decisão EntendimentoJulgamento ético

CálculoUtilidade

Maximização recursos

Controle EntendimentoMaximização recursos

DesempenhoEstratégia interpessoal

Divisão do trabalhoAuto-realizaçãoEntendimento

Autonomia

Maximização recursosDesempenho

Cálculo

Comunicação eRelações interpessoais

AutenticidadeValores emancipatórios

Autonomia

DesempenhoÊxito/Resultados

Estratégia interpessoal

Ação social eRelações ambientais Valores emancipatórios Fins

Êxito/Resultados

Reflexão sobre aorganização

Julgamento éticoValores emancipatórios

DesempenhoFins

Rentabilidade

ConflitosJulgamento ético

AutenticidadeAutonomia

CálculoFins

Estratégia interpessoal

Satisfação individual Auto-realizaçãoAutonomia

FinsÊxito

Desempenho

Dimensão simbólica Auto-realizaçãoValores emancipatórios

UtilidadeÊxito/Resultados

Desempenho

Campo de estudos da racionalidade na adm

Quadro de análise da racionalidade nas organizações(Serva 1996)

Primeira geração de estudos teórico-empíricos+30 Dissertações, teses e artigos

Segunda geração de estudos teórico-empíricosMiriam Silva (2009) – UFRN Déris Caitano (2011) – UFSC / ORDLaís Santos (2012) – UFSC / ORDGabriel Siqueira (2012) – UFSC / ORD

Ecovilas: contexto

Debate sobre desenvolvimento e meio ambiente Conferências internacionais da ONU; Debate acadêmico; e Institucionalização do movimento ambientalista. Conceito de desenvolvimento sustentável

“O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a

possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”

(Relatório Bruntland, 1987).

Ecovilas: antecedentes

Pós Maio de 1968, Movimento Nova Era: Comunidades Alternativas

Final da década de 1970: Comunidades intencionais são formadas quando pessoas escolhem viver juntas ou próximas o suficiente para conseguirem levar um estilo de vida compartilhado, com uma cultura compartilhada e um propósito comum.

Kibutz em Israel: 250 comunidades com 150 mil membros, sociedades alternativas, meios de produção coletivamente geridos;

Década de 1980: emergência da Permacultura: imitar padrões da natureza para produzir um sistema de apoio à vida para a cidade ou a zona rural, utilizando a menor área disponível.

Ecovilas

“A human-scale, full-featured settlement, in which human activities are harmlessly integrated into the natural world in a way that is

supportive of healthy human development and can be successfully continued into the indefinite future”

(GILMAN; GILMAN, 1991, p.10).

Assentamento funcionalmente completo; Proporções humanas; Integração inofensiva das atividades humanas no mundo natural; Apoiar o desenvolvimento humano saudável; Continuidade bem sucedida no futuro indefinido.

Método

Etnografia

Observação participante

Limitações do estudo Curto período de tempo do mestrado Posição privilegiada X Subjetividade do pesquisador

Categoria: processos organizacionais

Fonte: : o autor, com base em Voegelin (1974), Guerreiro Ramos (1981, 1983), Serva (1996), Caitano (2010), Andrade (2010), Christian (2003, 2007) Gilman (1991), Educação Gaia (2005), Dawson (2010), Kasper (2008) e Mulder, Costanza e Erickson (2006).

Quadro de análiseFonte: o autor.

Ecovila Itapeba

30 famílias residentes, 80 moradores e mais de 20 nacionalidades

Organizações formais Centro de Desenvolvimento Humano Itapeba Ecovillage

Organizações não formalizadas legalmente Escola Livre Casa de Nascimento

Entidades simbólicasEcovila ItapebaComunidade Ankara

Análise preliminar da gestão

Falta de clareza e separação entre objetivos da ecovila e da empresa CUDS

Jornadas de trabalho superiores a 40h semanais

Conflito internos entre os sócios da empresa CUDS

Antagonismo Ecovila X Comunidade Ankara

Rejeição ao novo

Exclusão social (categoria “funcionários”)

Dependência econômica

Voluntários em uma empresa econômica

Queixas de estresse e sobrecarga de trabalho

Tensão entre racionalidades

Falta de clareza e distinção entre objetivos econômicos da empresa, objetivos sociais da comunidade e objetivos de autorrealização das pessoas ;

Ausência de espaços decisórios onde as pessoas podem se engajar em relações verdadeiramente autogratificantes;

Influência econômica e social exercida pelo casal de líderes;

Opressão sobre uma minoria excluída do processo decisório;

Multiplicidade de espaços informais de comunicação;

Interação simbólica intensa;

Abertura para o exterior.

Significado da Tensão

Conclusões: ecovilas e tensão Coexistência: trabalho e ocupação;

Estilo de vida que integra relações ambientais sustentáveis e ação social transformadora;

Reflexão sobre a organização é parte integrante de todas as etapas da gestão de ecovilas;

Pautadas por valores substantivos mas imbricadas no mercado;

Permeadas de relações interpessoais próximas e íntimas entre seus membros, o que atenua a tensão entre racionalidades;

Relações ambientais e ação social amenizam os efeitos da tensão.

A vida substantiva está ao alcance de todos e é imediatamente possível

São as nossas utopias que tornam nosso mundo tolerável. Utopia é a vida real, aqui ou em qualquer lugar, levada até o limite das suas possibilidades ideais. (...)

Não procuraremos a utopia num horizonte histórico de um futuro longínquo, e muito menos na Lua ou num planeta remoto. Encontrá-la-emos nas nossas próprias almas e na terra debaixo dos nossos pés, ainda disponível para alimentar as forças da vida e do amor, e para restaurar no próprio homem o sentido de suas potencialidades mais que humanas (MUMFORD, 1922, p.7).