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Capítulo 5 Ideias iluministas na América 2 Capítulo 6 Independência dos Estados Unidos da América 15 Capítulo 7 América Latina: lutas pela emancipação política 32 Capítulo 8 Brasil: emancipação política 50 Volume 2

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Capítulo 5Ideias iluministas na América 2

Capítulo 6 Independência dos Estados Unidos da América 15

Capítulo 7 América Latina: lutas pela emancipação política 32

Capítulo 8 Brasil: emancipação política 50

Volume 2

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Ideias iluministas na América 5

O Iluminismo inspirou rebeliões liberais pelo mundo ociden-

tal no século XVIII. Na América, os princípios iluministas influen-

ciaram a Independência dos Estados Unidos em 1776. Evento

que contribuiu para o desenvolvimento dos processos de inde-

pendência em todo o continente americano. No Brasil Colonial,

os ideais iluministas fomentaram parte da população a reagir a

favor de autonomia política. Você sabe como essas ideias muda-

ram a história do Brasil?

O Iluminismo

chega à América

Influência iluminista no Brasil

Conjuração Mineira

Conjuração Baiana

o que vocêvai conhecer

A Casa Museu Padre Toledo fica na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais. Nesse casarão do século XVIII, residiu, durante doze anos, um ativo personagem da Inconfidência Mineira, o pároco Toledo. No local, foram

realizadas reuniões secretas nas quais se discutiam, com base nas ideias iluministas, os rumos da Conjuração Mineira, ocorrida em 1789.

©Arquivo pessoal Siloé Souza

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HistóriaHiHiHiHiHiHiHiHiHHiHiHiHiHiHiHiiHiHiHiiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHHiHiHiHHiiHiHiHHHiiHiiHiHiHiHiHHHHiiiiHiHiiiHiHiHiHHiHiiHHiHiHHiiHiHiiHHiiiiHiiiiHHHHHHHiiHiiiiiHHHiHiHHiiiiiiHHHHHHHiiiiiiHHHHHiiiiiHHHHHHiHHHHHiiiiHiiiiHHHHHHHHHHHHHiiiiiiiiiiHHHHHHHHHHHHHHHHHiiHiiiiiiiHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHiiHiHiiiiiiiiiHHHHHHHHHHHHHHHHHiHHiHiHHHHHiiiiiiiiiiiiiHHHHHHHHHHiHiHiHiHHiHHiHiiHiiiHiiiiiiiiHHHHHHHHHiHHiHHHHHHiiiiiiiiiiiHHHHHHHiHiHHiHHHHHHiiiiiiiiHHHHHHHHHHHHHHiiiiiiHHHHHHHiHiiiiiHHHHHHHHHHHiiiiiiiiHHHHHHHHHHHHHiiiiiiiiiHHHHHHHHiHHHHHHiiiiiiiHHHHHHHHHiHHHHHiiiiiiiiiHHHHHHHHHHHHHHH ststststststststststststststtstststststststttststststttsttsststsststtststsstststtstssstststtsssststststststsstssststtttststtstssstsssststsstsstttsstssstsssststssttststtsstsstsstsstssstttttttstssssstssssstttstttttttssssssstsssssstttttttttssssssssssssssssstttttttsssssssssssssssssssstttttttttsssssssssssstsssssttttttttttttsssssssssssstssststttttttttttstssssssssssttttttttsttsssssssssssssssstttttttttttttttsssssssssssssttttttttsttstssssssssssssstttsttttttsssssssstsssstttttttttssssssstttttssssssssttttttttsssssssstttttttttsssssssssttttttttsssssssss óróróróróóróóóróróóróróróróróróóróróróróróóróóóóóróóóróróóróóróróróróórórróóóóóóóóróróóóróróróróóróórórórórórórróóórórórrórrórórórórrrróóóróóóróróróróróóórórrróróóórrrróóóóórórórrórrrrrórróróóóóóóóóórórrrrrróróóóóóóórórrrrróróróóóóóóórórrrórrórrrróóóróóóóóróórrrrrrróóóóóóóóóróóóóróórórórrrrrrrróóóóóóóóóróróóóóóórórrrrrrrrrrrrrrróóóóóórórórórórórórórrrórróóóóóórrróóóóóórórrróróóóóóórórróóóóórrróóóóórróóóóóóórrrróóórrróóóóóóóóóórórórrrrróóóóóóóóórrrrrrriaiaiaiaiaiaiaiiaaiaiaiaiaiiiiaiaiiaiaiiiaiaiaiaiaiaiiiaiaiiiiiiaiaiiaiaiaiaiaiiaiaaiiaiaaaaiiaiaiaiaiaiiiaiaiaiaiaaiaiaaiaaiiiiaiaiaiaaaaaiaiaiaiaiaiaaaaaaiiaiaiiaiaiaiaiaaaiaiaaaaaaaaaaiiiiiaiaaaaaaaaaaiaiiiiiiiiaiaiaaiaaaaiaiaaaaaaaiiiiiiiiiaiaiaaaaaaaaaiaiiiiiiaiaiaaaaiaaaaaaaaaaaaiiiiiiiaiaaaiaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiaiiaiaiaiaiaiaaaaaaaaaaaaaaaaaaiaaaaiaiaaiiaiiiaiiiiiaiaiaiaiaaaaaaaaaiaaaaaaaaiaiaaaaiiiiiiiaiiiaiaiaiaaaaaaaaaaaaaaaaaaiaaaiiiiiiiiaiaiaaaaaaaaaaaaaaaiaaiaaaiiiiaiaiaiaiaaaaaaaaaaaaaaaiaaiiiiiaiaiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiaiaiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiaiaiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiaiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Entender como as ideias iluministas chegaram à América e foram propagadas nesse continente.

Relacionar a ação de movimentos e rebeliões no Brasil Colonial ao pensamento iluminista.

Conhecer as causas que motivaram a Conjuração Mineira (1789), assim como os objetivos dos conjurados.

Compreender os fatos que levaram à Conjuração Baiana (1798) e os objetivos desse movimento.

Relacionar o movimento iluminista com o processo de independência do Brasil.

objetivos do capítulo

O nome da obra, oficialmente, é A liberdade iluminando o mundo. Durante muitos anos, a estátua funcionou como farol. Atualmente, é um dos monumentos mais visitados dos Estados Unidos, havendo réplicas em várias partes do mundo. A Estátua da Liberdade foi inaugurada em 1886. Foi um presente do governo francês para os Estados Unidos, em comemoração aos cem anos da Declaração de Independência. A obra foi produzida em

partes, que, depois de prontas, foram empacotadas e levadas para os Estados Unidos de navio. A estátua foi erguida na entrada do Porto de Nova Iorque.

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O Iluminismo chega à América

As ideias iluministas tratavam a sociedade e a política com base na defesa da liberdade

e na crítica contundente ao regime absolutista europeu do século XVIII. As ideias de pensa-

dores como John Locke, Montesquieu, Voltaire, Adam Smith, Jean-Jacques Rousseau, entre

outros, ecoaram de diversas regiões da Europa e chegaram às Américas.

O impacto que os ideais iluministas tiveram no processo revolucionário francês foi imen-

so. Eles sustentaram os princípios expressos no lema “Liberdade, igualdade, fraternidade”,

adotado na Revolução Francesa (1789), para derrubar o sistema político que os próprios

franceses passaram a denominar de Antigo Regime, ou seja, a monarquia absolutista.

Ainda no século XVIII, os ideais iluministas se propagaram pelas colônias

americanas por meio de livros, que foram proibidos ou censurados nas me-

trópoles e por membros da elite colonial, que faziam seus estudos na Europa

e retornavam com pensamentos iluministas.

No continente americano, essas ideias encontraram terreno fértil em

vários lugares, uma vez que, no final do século XVIII, membros das elites lo-

cais estavam insatisfeitos com o controle metropolitano, em virtude dos altos

tributos e das restrições para a comercialização de seus produtos.

Assim, os princípios iluministas conduziram as Treze Colônias à indepen-

dência no ano de 1776, portanto antes da eclosão da Revolução Francesa.

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Os princípios democráticos, republicanos e liberais do Iluminismo se propagaram, incen-

tivando novas formas de pensar a sociedade, a política e os indivíduos. Desse modo, esses

ideais contribuíram para o desenvolvimento dos processos de independência não apenas

das colônias inglesas, mas também das espanholas, francesas, portuguesas e holandesas da

América, entre os séculos XVIII e XIX.

A chegada do Iluminismo à América espanhola levou membros das elites coloniais a se

rebelarem contra os desmandos da Coroa europeia. Junto às elites estiveram, algumas ve-

zes, as camadas populares, constituídas pelos pobres, mestiços, nativos ou escravizados.

Na América portuguesa, a difusão dos princípios iluministas inspirou revoltas no sé-

culo XVIII. Tais rebeliões tinham o objetivo de questionar a autoridade e o excessivo con-

trole da Coroa portuguesa sobre os colonos. As conjurações Mineira e Baiana são exem-

plos dessas revoltas, sendo consideradas eventos que, se não conduziram a Colônia à

independência, demonstraram a grande

insatisfação da população dessas regiões

com perante a dominação de Portugal.

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Reúna-se com um colega e leia o texto a seguir sobre a entrada das ideias iluministas na

Colônia portuguesa da América. Depois, responda às questões.

interpretando documentos

A bandeira da Conjuração Baiana apresenta as estrelas de cinco pontas da Maçonaria, entidade inspirada nos princípios iluministas que influenciou essa rebelião.

Foi a partir de meados do século XVIII que a América Portuguesa começou a ser influenciada pelo nascente pensamento liberal e burguês que vinha da França. Formalmente protegida de in-fluências estrangeiras pelo pacto colonial imposto pela metrópole, a colônia sofria com um longo processo administrativo necessário para importar livros, mesmo portugueses. [...]

À colônia portuguesa eram principalmente – ainda que não exclusivamente – essas obras iluministas que chegavam. Eram poucos exemplares, escondidos, vigiados pela administra-ção e pelos órgãos da censura, mas que circulavam entre grupos de leitores, sendo lidos e discutidos coletivamente. Chegavam principalmente na bagagem dos estudantes que o Brasil começou a mandar à Universidade de Coimbra a partir da década de 1730. Vinham tam-bém através de funcionários régios portugueses e membros da administração portuguesa. Ao chegar ao Brasil, passavam a compor as seletas e exclusivas bibliotecas coloniais, ainda hoje

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História

A FRANÇA no Brasil: as ideias de revolução. Disponível em: <https://bndigital.bn.gov.br/francebr/ideias.htm>. Acesso em: 31 mar. 2019.

estudadas e analisadas. Serviam as obras de embasamento de grupos que buscavam uma maior flexibilização das relações coloniais: maiores liberdades de pensamento, econômica e, em menor escala, política.

a) De acordo com o texto, que ideias começaram a ser difundidas na América portuguesa no sécu-lo XVIII? O que as pessoas que discutiam essas ideias buscavam?

b) Explique de que forma essas ideias entravam e eram propagadas na Colônia.

Influência iluminista no Brasil

As ideias iluministas realçaram a insatisfação na Colônia portuguesa na América. Mem-bros da elite colonial se inspiravam nesses ideais liberais com o objetivo de ajustar ou rom-per as relações políticas e econômicas com a Coroa portuguesa.

Assim, desenvolveu-se na Colônia uma elite que simpatizava com as ideias iluministas.Essas ideias, no entanto, instalariam uma contradição ao serem incorporadas, pois, mesmo que objetivando maior liberdade em termos econômicos e políticos, muitos não pretendiam acabar com a escravidão de pessoas levadas da África para a América.

No século XVIII, Portugal impedia que ideias perigosas vindas da Europa e que circulavam mundo afora entrassem em seus domínios coloniais, o que dificultaria seu controle sobre es-ses territórios. Os primeiros livros distribuídos na Colônia eram impressos em Portugal ou em outras regiões. Alguns textos, hoje famosos no contexto das narrativas sobre nossa história – como os relatos a respeito da chegada ao Brasil escritos por Gabriel Soares de Sousa e por padres jesuítas, como Padre Antônio Vieira e José de Anchieta, além da carta de “descobri-mento” de Pero Vaz de Caminha e das poesias de Gregório de Matos –, só foram impressos no Brasil no século XIX.

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A insatisfação dos colonos com o domínio metropolitano so-

bre seus produtos devia-se às limitações comerciais impostas e ao

excessivo controle determinado pelo Pacto Colonial. Além disso,

ao final do século XVIII, a crise da extração de ouro das minas de

Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso gerava prejuízos econômicos

não somente para eles, mas também para a Coroa.

A crise na extração do ouro alcançou Portugal, que ainda tinha

de lidar com a dependência econômica em relação à Inglaterra.

Para enfrentar essas dificuldades, o Marquês de Pombal, ministro

do rei D. José I, implantou na Colônia uma série de medidas ampa-

radas nas ideias iluministas:

Em 1703, Portugal e Inglaterra

acordaram o Tratado de

Methuen (ou Tratado de

Panos e Vinhos), pelo qual os

portugueses vendiam vinhos aos

ingleses e os ingleses forneciam

tecidos aos portugueses.

Durante o século XVIII, Portugal

se endividou com a Inglaterra,

tornando-se dependente

economicamente daquele reino.

Incentivou o desenvolvimento de

manufaturas

Acabou com as capitanias hereditárias

Instituiu a cobrança anual de 1 500 quilos de ouro

Diversificou a produção na Colônia para exportação, expandindo as culturas

de arroz, algodão, tabaco e cacau

Expulsou os jesuítasControlou os gastos com

funcionários reais

Criou companhias de comércio para ampliar as transações de produtos

entre a Colônia e a Metrópole

Decretou o fim da escravidão indígena

As medidas de Pombal beneficiavam a Coroa

portuguesa, bem como conferiam maior liberdade,

sobretudo de comércio, aos colonos, satisfazendo,

temporariamente, ambas as partes. Contudo, com

a morte de D. José I, em 1777, assumiu D. Maria I

como rainha de Portugal. D. Maria I demitiu o Mar-

quês de Pombal e promoveu uma política de reapro-

ximação com a nobreza portuguesa e com a Igreja

Católica. Nesse contexto, decretou o fechamento

TRONI, Giuseppe. Maria I, rainha de Portugal. 1783.1 óleo sobre tela, 122 cm × 94 cm. Palácio Nacional de Queluz, Portugal.

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História

Leia as afirmações sobre a entrada e a difusão das ideias iluministas no Brasil Colônia, no século XVIII, e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas. Em seguida, reescreva as afirmações erradas corrigindo-as.

a) ( ) As ideias iluministas entraram no Brasil Colonial de forma clandestina, pois livros que tra-tavam dos princípios do Iluminismo eram proibidos pela Metrópole.

b) ( ) O Marquês de Pombal foi o responsável pela entrada e difusão das ideias iluministas na Colônia, facilitando a impressão de livros no Brasil.

c) ( ) As ideias iluministas não foram bem recebidas pela elite colonial, pois os princípios liberais não iam ao encontro de seus anseios.

d) ( ) Os pensamentos iluministas relativos à liberdade individual foram os mais bem aceitos pela elite colonial do período.

e) ( ) No governo da rainha D. Maria I de Portugal, os princípios iluministas passaram a ser mais fortemente propagados pela Metrópole.

f) ( ) Um dos motivos que levaram Portugal a uma crise no século XVIII foi a dependência eco-nômica em relação à Inglaterra.

g) ( ) Os primeiros livros difundidos na Colônia continham relatos sobre a chegada dos portu-gueses ao Brasil, eles eram impressos nas capitanias de Minas Gerais e Bahia.

organizando a história

das manufaturas coloniais e ampliou o controle e a fiscalização real dos produtos da Colônia. Somada às ideias iluministas que já circulavam na Colônia, a atuação da rainha portuguesa levou a uma radicalização das contestações. Exemplos de manifestação foram as que ocor-reram em Minas Gerais e na Bahia.

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Conjuração Mineira

As rebeliões coloniais do final do século XVIII que questionavam o rígido controle metro-

politano sobre a Colônia podem ser chamadas de conjurações ou inconfidências.

• Caracterizava-se pela associação de indivíduos que faziam um

juramento em prol de um objetivo comum.

CONJURAÇÃO

• Era, no vocabulário da época, a denominação que se dava a todo ato

que demonstrasse “falta de fidelidade a seu príncipe”.

INCONFIDÊNCIA

As conjurações (ou inconfidências) eram consideradas por Portugal como movimentos

de traição.

O atual estado de Minas Gerais foi palco de várias conjurações: nas vilas de Curvelo

(1760, 1763 e 1776), de Mariana (1768) e de Sabará (1775). A manifestação que teve maior

repercussão foi a Conjuração Mineira (1788-1789), na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto.

As imposições feitas por Portugal em decorrência da crise do ouro geravam tensões na

sociedade. Essas exigências não afetavam apenas os ricos colonos, proprietários de terras,

de minas de ouro e de diamantes, mas também comerciantes, intelectuais, padres, militares

e funcionários da Coroa. Essas pessoas, quando tinham oportunidade, discutiam sobre ideais

de liberdade e de igualdade perante as leis e criticavam o regime monárquico.

Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) foi um

poeta brasileiro do período colonial. Participante

da Conjuração Mineira, escreveu sua obra mais

famosa, Marília de Dirceu, em meio à revolta em

Minas Gerais e, posteriormente, em Moçambique,

onde ficou exilado como condenação à sua atua-

ção no levante.

Marília de Dirceu conta a história do amor impossível de Dirceu, talvez o próprio Gonzaga,

por Marília, uma personagem fictícia que, segundo estudiosos do assunto, era provavelmen-

te uma jovem por quem o poeta era apaixonado.

Alguns revoltosos, como o alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tira-

dentes, chegavam a viajar por Minas Gerais difundindo ideias iluministas. As atividades cons-

piratórias dos conjurados mineiros envolviam a organização de reuniões para discutir os ru-

mos da revolta, assim como a distribuição de panfletos anônimos

e críticos à Metrópole.alferes: antiga patente mais baixa na carreira militar.

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História

Entre os motivos de revolta estavam as elevadas taxas cobradas por Portugal. Uma das

determinações da Coroa, que a população de Minas Gerais mais temia, era a cobrança dos

impostos atrasados, denominada derrama. Circulavam rumores, em 1788, que o governador

da capitania iria decretar essa cobrança. A partir de 1750, o governo português estabeleceu

para a capitania de Minas Gerais um imposto anual de 100 arrobas de ouro, o equivalente a

1 500 quilos. Contudo, a partir da década de 1760, a mineração começou a decair em razão

do esgotamento das minas, mas o governo português acreditava que a redução estava rela-

cionada ao desvio do ouro devido. Para combater o tráfico de ouro, Portugal ameaçava a Co-

lônia com a derrama, cobrança forçada dos impostos atrasados, que seriam rateados entre

todos os moradores da capitania. Se essa medida fosse realmente decretada, muitas famílias

mineiras poderiam perder tudo o que possuíam.

pesquisa

Para saber mais sobre a cobrança de impostos sobre o ouro no Brasil Colônia, faça uma pesquisa e anote os nomes de tais impostos, os valores correspondentes e a forma como eram cobrados pela Metrópole.

Os conjurados começaram a conspirar contra o governo da capitania em Vila Rica e em

outras vilas da região. Eles tinham como objetivo não só impedir a derrama, mas também

proclamar um governo republicano, criar uma universidade, fundar a capital da futura nação

independente na vila de São João Del Rei e, por fim, eliminar as restrições comerciais que a

Coroa determinava. No entanto, eles não previam a abolição da escravidão.

Os conspiradores foram ao Rio de Janeiro e a São Paulo em busca de apoio para seu pro-

jeto de proclamar uma república, ou seja, um governo fundado no interesse comum.

Fortemente inspirado pela Independência dos Estados Unidos, ocorrida em 1776, e, con-

sequentemente, pelas ideias iluministas, o levante estava previsto para ser deflagrado no

início de 1789. Entretanto, no intuito de assegurar interesses particulares, conspiradores

delataram a rebelião ao governador. Teve início, assim, uma violenta repressão.

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Bandeira oficial do estado de Minas Gerais desde 1963. As inscrições nas laterais do triângulo estão em latim e significam “Liberdade ainda

que tardia”. Ela foi o símbolo adotado pelos conspiradores mineiros do século XVIII.

levante: revolta.

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Presos os envolvidos, iniciou-se o julgamento,

que durou três anos. Condenados por crime contra

o governo, as penas variavam entre o degredo (ou

exílio), o açoite público e a morte por enforcamento.

Alguns dos acusados foram mandados para a África,

onde cumpriram pena como degredados, a exemplo

do poeta Tomás Antônio Gonzaga. Dos onze conde-

nados à morte, dez tiveram sua pena modificada por

ordem da rainha de Portugal, D. Maria I. Tiradentes

foi considerado o principal culpado, foi condenado à

morte, tendo sido o único executado, para servir de

exemplo aos demais e como forma de o Estado mos-

trar seu poder. Enforcado em 21 de abril de 1792,

sua cabeça foi levada para Vila Rica, onde ficou ex-

posta para impedir novas tentativas de conspiração.

Além da pena de morte, todos os seus descenden-

tes foram previamente condenados como indivíduos infames.

infames: desonrados.

Entre os colonos que foram à Europa a fim de estudar na Universidade de Coimbra esta-

va o filho de um construtor, José Joaquim da Maia. Quando ele passou pela França, manteve

contato com Thomas Jefferson (um dos pensadores do processo de independência dos Esta-

dos Unidos). A motivação que a efervescência cultural europeia despertava, aliada ao exem-

plo republicano na América do Norte, pode ser notada nas palavras dirigidas a Jefferson por

José Joaquim da Maia, leia o trecho:

interpretando documentos

Vós não ignorais a terrível escravidão que faz gemer nossa pátria. Cada dia se torna mais insuportável nosso estado, depois da vossa gloriosa independência, porque os bárbaros por-tugueses, receosos de que o exemplo seja abraçado, nada omitem que possa fazer-nos mais infelizes. A convicção de que estes usurpadores só meditam novas opressões contra as leis

da natureza e contra a humanidade tem-nos resolvido a seguir o farol que nos mostrais, a quebrar os grilhões, a renunciar à nossa moribunda liberdade, quase de todo acabrunhada pela força, único esteio da autoridade dos europeus nas regiões da América.

FIGUEIREDO, Carlos. 100 discursos históricos brasileiros. Belo Horizonte: Leitura, 2003. p. 121-122.

grilhões: algemas de mãos ou de pés.

moribunda: estado agonizante.

acabrunhada: abatida.

esteio: suporte.

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FALCO, Rafael de. Tiradentes ante o carrasco. 1941. 1 óleo sobre tela, color., 70 cm × 55 cm. Museu da Câmara dos Deputados, Brasília.

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História

Com base no texto, faça o que se pede.

a) De acordo com o texto de José da Maia, explique quais eram os problemas decorrentes do governo metropolitano que, segundo o autor, atrapalhavam o desenvolvimento do Brasil.

b) Quando o autor diz estar “resolvido a seguir o farol que nos mostrais”, a que ele se refere?

Conjuração Baiana

Em 1798, ocorreu no Brasil Colônia outro movimento de contestação contra os desman-dos da Metrópole portuguesa, a Conjuração Baiana. Foi um movimento de caráter popular, uma vez que contou com a presença de soldados, artesãos, comerciantes, médicos, alguns membros da elite baiana, como proprietários rurais, intelectuais e maçons, funcionários da Coroa, além de afrodescendentes livres. Dada a grande presença de trabalhadores que confeccionavam roupas, os alfaiates, essa conjuração também ficou conhecida como Revolta dos Alfaiates.

“Todos os cidadãos e, em especial, os mulatos e negros” eram informados de que “não haverá diferenças, haverá liberdade, igualdade e fraternidade”. Quanto à escravidão, os sedi-ciosos baianos, diferentemente dos mineiros, não tinham dúvidas: “Todos os negros e casta-nhos serão libertados para que não exista escravidão de tipo nenhum”. “Democrático, livre e independente” deveria ser o governo, enquanto os membros do clero que pregavam contra a liberdade eram ameaçados. Concluía, exclamando que “a época feliz da nossa liberdade está prestes a chegar; será o tempo em que serão irmãos, o tempo em que todos serão iguais.”

DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta, 2016. p. 149-150.

maçons: membros da Maçonaria, sociedade semisecreta de origem francesa.

O médico baiano Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838), mais conhecido como Cipriano Barata, era maçom. Como homem ilustre de seu tempo e envolvido em questões políticas da Colônia, foi um dos principais líderes da Conjuração Baiana. Ele era membro dos Cavaleiros da Luz, uma das primeiras agremiações maçônicas do Brasil, fundada em Salvador em 1797.

Historicamente, a Maçonaria é uma instituição inspirada nos princípios iluministas e da Revolução Francesa, como os de igual-dade, liberdade e fraternidade. Ela existe até os dias atuais e teve papel importante no processo de independência do Brasil, iniciado no final do século XVIII e finalizado em 1822. A primeira agremia-ção maçônica fundada no Brasil foi o Areópago de Itambé, de Per-nambuco, em 1796.

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FAILUTTI, Domenico. Barata (Cipriano José Barata). [ca. 1925]. Acervo do Museu Paulista (MP/USP), São Paulo, Brasil.

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Para compreender a Conjuração Baiana, é necessário recordar que Salvador deixou de ser capital colonial no ano de 1763. Em razão disso, perdeu recursos metropolitanos, inclusi-ve investimentos para infraestrutura e incentivo para a produção local de alimentos.

Os grupos menos favorecidos da sociedade baiana passaram a ter dificuldades, tanto para pagar os altos tributos cobrados por Portugal como para obter produtos, sobretudo alimentares, que vinham da Metrópole também com custos elevados.

A fim de aproveitar a alta momentânea no preço do açúcar, os donos de engenho pas-saram a adquirir mais escravizados, porém a concentração de trabalho girava em torno da cana-de-açúcar, dessa forma houve uma significativa diminuição no plantio de outros gêne-ros alimentícios.

Com os altos preços dos produtos vindos de Portugal e a redução da produção alimen-tícia local, instaurou-se na região um quadro de fome, fato que acabou gerando uma forte tensão social. Antes da Conjuração Baiana, outros motins contra a cobrança de impostos já haviam ocorrido na Bahia. Neles, a população baiana faminta saqueava armazéns em busca de mantimentos, pois a agricultura de subsistência passou a não dar conta de alimentar a

população, que, por sua vez, não tinha condições de comprar ali-mentos. Inspirados nas ideias iluministas, especialmente naquelas ligadas à liberdade e à igualdade, os conjurados, secretamente,

organizaram uma primeira atividade revoltosa no dia 12 de agosto de 1798. A cidade de Salvador amanheceu com cartazes afixados em muros, casas e comércios, convocando a po-pulação para aderir ao movimento, que tinha como objetivos: proclamar a República, abolir a escravidão, aumentar os soldos, decretar a liberdade de comércio, entre outras medidas liberais. Esses cartazes traziam informações como as do trecho a seguir.

motins: rebeliões organizadas.

O Poderoso e Magnífico Povo Baianense e Republicano, considerando os muitos roubos feitos nos títulos, tributos e direitos que são ordenados pela Rainha de Lisboa e o que diz res-peito à inutilidade da escravidão do mesmo Povo tão sagrado e digno de ser livre, com respei-to à liberdade e à igualdade, ordena, manda e quer que, para o futuro, seja feita nesta cidade a revolução, para que seja exterminado para sempre o péssimo jugo reinável na Europa [...].

Quer o povo que todos os membros militares de linha, milícias e ordenanças – brancos, pardos e pretos – concorram para a liberdade popular [...]. O Povo será livre do despotismo do rei tirano, ficando cada um sujeito às leis do novo código [...].

POVO Bahiense e Republicano. Aviso ao Clero e ao Povo Bahiense Indouto. [Aviso IV]. 1798. Salvador. Manuscritos dos volumes 578, 581 e 138 do Arquivo Público da Bahia; Manuscritos da Biblioteca Nacional, I-28, 23, 1 nº. 1-2.

O levante estava organizado para acontecer no dia 25 de agosto. Porém, o confronto armado não chegou a ocorrer, pois as autoridades agiram para conter a revolta, prenderam alguns dos conjurados durante uma reunião.

Nenhum dos membros da Maçonaria diretamente envolvidos na conspiração foi detido, mas 49 membros de condição modesta foram presos, havendo entre eles escravizados e mulheres. Quatro dos acusados, todos mulatos, foram condenados à morte e executados no Largo da Piedade, no centro de Salvador.

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História

O movimento ocorrido na Bahia foi considerado realmente popular, pois envolveu indi-víduos de diversas classes sociais, inclusive das mais baixas. A Conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, destaca-se pelo caráter intelectual e visionário de suas ideias: os revoltosos almejavam não apenas a independência em relação à Coroa portuguesa; requeriam, sobre-tudo, vários direitos sociais. Na realidade, essas reivindicações tiveram de aguardar mais de um século até sua aceitação.

1 Explique com suas palavras como as ideias iluministas impactaram a vida nas colônias europeias da América.

2 Nos blocos que compõem o esquema a seguir, escreva três medidas estabelecidas pelo Marquês de Pombal para o Brasil Colônia que podem ser relacionadas ao princípio iluminista destacado.

o que já conquistei

LIBERDADE

3 Assinale com um X as afirmações verdadeiras sobre a situação econômica e política do Brasil na segunda metade do século XVIII.

a) ( ) Havia uma crise econômica, pois a exploração aurífera estava em declínio.

b) ( ) Na esfera política, o governo português intensificava as medidas de exploração, a fim de compensar as perdas econômicas.

c) ( ) A economia encontrava-se próspera, em virtude dos grandes lucros provenientes da pro-dução açucareira.

d) ( ) Os colonos estavam satisfeitos com as medidas econômicas mais liberais da rainha D. Maria I.

e) ( ) As ideias iluministas influenciaram as elites locais da Colônia, conduzindo-as a rebeliões que pretendiam, em muitos casos, o rompimento com Portugal.

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4 Leia, atentamente, um fragmento do depoimento de Tiradentes e responda às questões propostas.

O fato de ser alferes influiu para transformar-me em conspirador, levado a tanto que fui pe-las injustiças que sofri, preterido sempre nas promoções a que tinha direito. Uni minhas amar-guras às do povo, que eram maiores, e foi assim que a ideia de libertação tomou conta de mim. [...]

MENDONÇA, Frâncio S. História do Brasil para o Enem. Joinville: Clube de Autores, 2015. p. 65.

a) O que levou Tiradentes a conspirar contra o governo português?

b) A que amarguras do povo Tiradentes se refere em seu depoimento?

c) Com base no conteúdo deste capítulo, escreva informações que comprovam a resposta à per-gunta anterior.

5 Quais eram as reivindicações dos conjurados baianos?

6 De acordo com seus estudos, pode-se afirmar que a Conjuração Baiana teve um caráter visionário? Justifique sua resposta.

7 Escreva as principais diferenças e semelhanças que você percebeu entre a Conjuração Mineira e a

Conjuração Baiana.

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capí

tulo

História

6

Os Estados Unidos conquistaram, durante o século

XX, o perfil de potência econômica e de liderança política

que se mantém no século XXI. Entretanto, até o final do

século XVIII, parte da região que atualmente corresponde

a esse país era uma colônia explorada pela poderosa In-

glaterra. Observe a imagem e reflita: quais características

você identifica nos Estados Unidos atual que evidenciam

a ligação desse país com a Inglaterra no passado?

Independência dos Estados Unidos da América

As Treze Colônias e o Comércio Triangular

Antecedentes da independência

Processo de

emancipação política

A fundação de uma nação

o que vocêvai conhecer

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Capitólio dos Estados Unidos, em Washington. O prédio funciona como centro legislativo do governo. É nesse local que acontecem as reuniões do Congresso estadunidense, formado pelo Senado e pela Câmara dos Representantes.

©Shutterstock/Orhan Cam

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Conhecer como era a vida dos primeiros colonos que chegaram nas Treze Colônias.

Identificar as diferenças políticas, econômicas e sociais entre as Colônias inglesas do Norte e do Sul.

Destacar os fatos que fizeram a Inglaterra aumentar o controle sobre suas colônias na América, durante o século XVIII.

Relacionar as ideias iluministas ao processo de independência das Treze Colônias.

Compreender as etapas do processo de emancipação política das Treze Colônias inglesas na América.

Conhecer as características da formação do primeiro governo republicano na América.

objetivos do capítulo

As Treze Colônias e o Comércio Triangular

A primeira colônia fundada por ingleses na América do Norte, em 1607, recebeu o nome

de Virgínia, em homenagem a Elizabeth I da Inglaterra. Anos depois, em 1620, um grupo

de puritanos – protestantes cal-

vinistas – chegou às terras do

atual estado de Massachusetts.

Os integrantes desse grupo, que

cruzaram o Oceano Atlântico a

bordo do navio Mayflower, fica-

ram conhecidos na história esta-

dunidense como peregrinos.

HALSALL, William. Mayflower no porto de Plymouth. 1882. Museu do Peregrino, Plymouth.

A pintura representa a chegada dos peregrinos a Plymouth, em 1620, no navio Mayflower

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As condições precárias da

viagem e o clima frio da região

dificultaram os primeiros me-

ses dos recém-chegados, le-

vando à morte muitos peregri-

nos. Contudo, eles acabaram se

adaptando e, no ano seguinte,

FERRIS, Jean G. O primeiro Thanksgiving, 1912. Biblioteca do Congresso, Washington.

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História

realizaram uma comemoração em agradecimento pela conquista de melhores condições de

vida. Essa festa foi chamada de Thanksgiving (Ação de Graças) e passou a ser comemorada

anualmente no mês de novembro.

Os colonos utilizaram sua primeira colheita de milho, já que a plantação de trigo europeu tinha falhado, e convidaram para a festa o chefe Massasoit, da tribo wampanoag, que os havia auxiliado desde a sua chegada. O cardápio foi reforçado com uma ave nativa, o peru, e tortas de abóbora.

KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2017. p. 46.

Os ingleses que partiam para a América tinham seus motivos para realizar essa mudança.

Além das perseguições religiosas decorrentes dos conflitos que aconteceram na Inglaterra

entre os séculos XVI e XVII, os cercamentos de terras (enclosures) também contribuíram

para que as pessoas prejudicadas financeiramente buscassem melhores condições de vida

em outros lugares. Basta lembrar que, depois do início desses cercamentos, muitas famílias

de pequenos camponeses foram expulsas de suas terras, não tendo para onde ir.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 62-63. Adaptação.

Colônias inglesas na América

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Até o início do século XVIII, foram fundadas mais 11 colônias, somando 13 colônias ingle-

sas na América voltadas para o Oceano Atlântico. Uma vez instaladas no norte do continente

americano, as Treze Colônias fundadas pelos colonos ingleses assumiram características bas-

tante diferenciadas entre si, tanto na forma de organização econômica quanto na maneira

como ocorreu o controle político pela Metrópole.

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Colônias do Norte

As Colônias do Norte se caracterizaram pela formação de pe-

quenas propriedades (minifúndios). O número de pessoas escra-

vizadas era bastante reduzido. Os colonos trabalhavam na terra

apenas com ajuda dos familiares ou, no máximo, com o auxílio dos

“servos de contrato”. O clima da região se assemelhava ao

da Inglaterra, o que possibilitou o desenvolvimento da produ-

ção dos mesmos gêneros agrícolas que eram cultivados na ter-

ra de origem dos colonos, como o trigo, a cevada e a aveia.

Tais produtos não despertavam o interesse da Metrópole; ser-

viam apenas para abastecer o mercado interno.

O fato de as Colônias do Norte não oferecerem atrativos eco-

nômicos fez a Inglaterra se desinteressar por elas por um longo

tempo, o que permitiu que a região ficasse livre das interferências

políticas e das pressões econômicas exercidas pela Metrópole.

Essa situação tornou-se conhecida como negligência salutar, ou

seja, os colonos da região Norte, desfrutando de certa indepen-

dência, cultivaram um sentido de liberdade e, consequentemen-

te, uma crescente consciência democrática.

Colônias do Sul

As Colônias do Sul, em virtude de seu clima quente, desen-

volveram a agricultura de grandes plantações (plantation), com

monocultura de produtos tropicais (tabaco, algodão e arroz) des-

tinados à exportação.

O trabalho agrícola típico da região tinha como base a explora-

ção da mão de obra escrava. Em razão dos interesses econômicos,

a dominação inglesa foi mais ostensiva sobre as Colônias do Sul.

O tabaco foi o produto de maior destaque nas plantações suli-

nas durante os primeiros anos da colonização inglesa na América.

A organização constituída de poucos proprietários de fazendas e

muitos trabalhadores rurais gerou uma sociedade marcada por

uma grande desigualdade.

Os "servos de contrato" eram

pessoas que, em sua maioria,

tinham sido expulsas do campo

com o início dos cercamentos na

Inglaterra. Por não conseguirem

trabalho nas cidades, muitas

assinaram contratos para

viajar à América. Os custos

da viagem eram pagos com

trabalho em propriedades das

colônias americanas por tempo

determinado, cerca de cinco a

sete anos. Ao final do período,

recebiam um pedaço de terra ou

uma indenização em dinheiro.

ostensiva: mais evidente.

pesquisa

Sobre a chegada dos ingleses à América, estudamos as Colônias do Sul e do Norte. Mas e as Colônias centrais? Busque informações sobre as Colônias centrais e depois escreva em seu caderno o resultado de sua pesquisa.

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História

Comércio Triangular

Até meados do século XVIII, a Coroa inglesa não havia exercido um domínio efetivo so-

bre suas Colônias na América. Mesmo sendo administradas por representantes nomeados

pela Metrópole, existia uma certa autonomia política e econômica nas Treze Colônias.

Assim, as Colônias acabaram desenvolvendo uma organização própria, na qual a popu-

lação escolhia seus representantes para os cargos públicos. Em assembleias, os colonos to-

mavam decisões políticas e estabeleciam regras para solucionar as questões mais urgentes.

Em cada colônia, existia um governador escolhido pela Coroa inglesa, porém, o poder das

assembleias era efetivamente maior.

Em decorrência dessa “liberdade”, os colonos ingleses na América do Norte não se sen-

tiam cerceados pela Inglaterra e passaram a desenvolver, no decorrer dos anos, um comér-

cio interno, chegaram a comercializar também com outras localidades. Os colonos do Norte

implementaram um sistema manufatureiro eficiente e lucrativo, o qual atendia não apenas à

sua região, mas ao Sul também. Além do mercado interno, organizaram o chamado Comércio

Triangular, para o qual usavam navios que ligavam as Colônias Inglesas da América do Norte

à região das Antilhas e à África.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 63-64; KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008. Adaptação.

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O Comércio Triangular

No Comércio Triangular, negociavam-se pescados, madeira e alguns produtos manufa-

turados que iam das Colônias para as Antilhas, onde seriam trocados por cana-de-açúcar. A

cana-de-açúcar passava por um processo que a transformava em uma bebida chamada rum.

O rum, juntamente com o tabaco, era transportado para a África, onde servia de moeda de

troca no comércio de escravizados. Os escravizados iriam trabalhar nas Colônias Inglesas da

América, principalmente nas plantações do Sul.

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Posteriormente, o Comércio Triangular adquiriu maiores proporções, chegando até mes-

mo à Europa. Lá, o açúcar e o melaço eram trocados por tecidos e outros produtos manufa-

turados, como ferragens.

Aspectos da organização social nas Colônias

A valorização do trabalho, como defendia a religião protestante,

tornou-se uma marca distintiva da cultura estadunidense. Os deveres de

cada cidadão para com sua comunidade eram exercidos por meio das ati-

vidades laborais que contribuíam para o desenvolvimento de cada região.

Como não havia muitas atividades que valorizassem a diversão, o lazer estava associado

ao trabalho. As reuniões festivas desenvolvidas pelos colonos tinham, normalmente, um ob-

jetivo de cunho prático, como construir um celeiro ou produzir conservas.

Havia ainda outras atividades que eram realizadas, tanto por homens quanto por mulhe-

res, nas casas e em outros espaços privados. As crianças, depois de completarem 7 anos, eram

vistas como pequenos adultos, elas tinham tarefas a cumprir no cotidiano da casa colonial.

Foi determinada a obrigatoriedade da educação primária (todos deveriam aprender a ler e

a escrever). A Colônia de Massachusetts, por exemplo, em 1647, publicou uma lei que tornava

obrigatório manter um professor em todo povoado com mais de 50 famílias.

É importante destacar que tanto a valorização do trabalho como a obrigatoriedade da edu-

cação para crianças eram características das Colônias do Norte, que não tinham como base de

sua economia a mão de obra de escravizados.

laborais: relativas ao trabalho; termo derivado de “labor”, sinônimo de “trabalho”.

A gravura representa a divisão do trabalho entre os colonos. A rusticidade das instalações leva a crer que os objetos e os utensílios retratados

foram, provavelmente, fabricados ali mesmo

Embora vários viajantes europeus tenham relatado que a vida das mulheres brancas nas

colônias inglesas, retratadas como excelentes esposas, contava com maior liberdade em

comparação com a das que viviam na Europa, a realidade não parecia tão gloriosa.

As mulheres da colônia não tinham identidade legal, casavam-se em torno dos 24 anos,

tinham em média sete filhos e sua vida transcorria em torno do marido ou do pai. O divórcio

praticamente não existia, dimi-

nuindo ainda mais as opções

para as mulheres que eram in-

felizes no matrimônio.

Era pelo trabalho da mãe que

a família se vestia, se alimentava

e conseguia iluminação para a re-

sidência, uma vez que os tecidos,

os alimentos e as velas eram re-

sultado de produção doméstica.

Biblioteca do Congresso

COZINHA da Nova Inglaterra. 1876. 1 Gravura p&b. Biblioteca do Congresso, Washington.

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História

As Treze Colônias se desenvolveram com algumas características diferentes entre si, mas também com algumas semelhanças. Leia as afirmações a seguir e identifique-as da seguinte forma:

organizando a história

N – para as Colônias do Norte S – para as Colônias do Sul A – para ambos os grupos

a) ( ) Eram formadas por pequenas propriedades.

b) ( ) A educação para crianças e a valorização do trabalho caracterizavam estas Colônias.

c) ( ) Os próprios colonos e seus familiares trabalhavam nas terras ou, no máximo, alguns “ser-vos de contrato”.

d) ( ) Eram propriedades cultivadas no sistema de plantation (tabaco e algodão).

e) ( ) Os produtos que ali eram cultivados serviam para abastecer o mercado interno.

f) ( ) O trabalho agrícola típico da região tinha como base a exploração da mão de obra escrava.

g) ( ) Tinham uma administração própria, na qual a população escolhia seus representantes para os cargos públicos.

h) ( ) A interferência da Metrópole foi menos intensa na região.

i) ( ) Em razão dos interesses econômicos, a região sofria uma dominação ostensiva da Metrópole.

Antecedentes da independência

A independência das Treze Colônias inglesas na América está relacionada a uma série de

fatores econômicos e políticos. Contudo, há um aspecto de grande relevância nesse processo de

emancipação: a questão ideológica.

A partir do século XVII, os iluministas passaram a criticar os defensores do absolutismo, os

privilegiados de nascimento e o clero. Esses pensadores discutiam uma nova maneira de organizar

a sociedade e as leis, bem como uma nova forma de governar. Estavam preocupados em superar

o absolutismo e em neutralizar a influência da Igreja e das antigas tradições políticas. Para tanto,

buscavam na ciência a “iluminação” para novos caminhos a serem trilhados pela sociedade. John

Locke era um dos integrantes desse movimento, e suas ideias acabaram por influenciar os líderes

políticos que conduziram o processo de independência colonial nas Treze Colônias inglesas.

Para John Locke, era lícito ao povo rebelar-se contra o Estado,

quando os governantes deixavam de cumprir seu papel primordial:

garantir aos indivíduos os direitos naturais, identificados como a feli-

cidade, a liberdade e a prosperidade.

Com base nesse princípio, no final do século XVIII, com as tentati-

vas do governo inglês de impor o Pacto Colonial, os colonos ingleses

das Treze Colônias passaram a reivindicar sua autonomia administra-

tiva, que culminou na sua independência e no surgimento de um novo

Estado – os Estados Unidos da América.

lícito: justo; legítimo.

De acordo com o Pacto Colonial, as colônias

deveriam colaborar para o

desenvolvimento econômico

de sua Metrópole. Por isso,

eram obrigadas a importar

mercadorias manufaturadas

do país que as colonizava.

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Nas Colônias do Norte, onde os colonos viviam predominantemente em núcleos urbanos

dedicados à produção de manufaturas e ao comércio, havia quem defendesse um projeto de

independência bem antes dos eventos do século XVIII. Já no Sul, onde os colonos se organiza-

ram em uma estrutura social e econômica semelhante à verificada nos latifúndios açucareiros

existentes no Brasil, muitos proprietários não eram favoráveis a uma ruptura radical com a

metrópole. Isso porque o algodão produzido nas fazendas sulistas, graças à mão de obra es-

crava vinda da África, tinha endereço certo: a Inglaterra.

O processo de independência das Treze Colônias foi associado a questões políticas e

econômicas. O desenvolvimento econômico na colônia, principalmente em razão da negli-

gência salutar, avançava incentivando a busca por maior autonomia.

Enquanto as ideias iluministas se propagavam nas Treze Colônias, a Inglaterra vivia a

implantação da monarquia parlamentarista, que deu estabilidade política ao Estado e levou

a burguesia a exercer forte influência nas decisões políticas do Parlamento. A Inglaterra, por

sua vez, se envolveu em guerras com diferentes Estados da Europa, como a França, na Guerra

dos Sete Anos (1756-1763). Tal conflito se estendeu, mais tarde, para a América.

Guerra dos Sete Anos

A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) envolveu vários reinos europeus, entre eles a França e

a Inglaterra. O principal motivo desse conflito foi a disputa por territórios na Europa, na América,

na África e na Ásia, por potências europeias. Outra causa foi a concorrência por rotas comerciais,

fato que ampliou ainda mais o conflito.

O número de habitantes

das Colônias Inglesas crescia,

avançando, a Oeste, a partir

da cadeia montanhosa dos

Apalaches. A busca por novos

espaços e a caça de animais

de pele rara provocaram inú-

meros conflitos com as comu-

nidades indígenas da região,

bem como com os franceses,

que até então controlavam

boa parte dessas terras.

No mapa, é possível ob-

servar como as terras da Amé-

rica do Norte foram divididas

em territórios demarcados

e governados por diferentes

nações europeias.Fonte: ATLAS da história do mundo. São Paulo: Folha de São Paulo/Times Books, 1985. Adaptação.

Territórios da América do Norte

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História

1 De acordo com o texto, como a burguesia inglesa via os franceses?

2 O autor expressa no texto os objetivos dos ingleses ao imporem as leis aos colonos na América. Quais eram esses objetivos?

3 Por fim, o texto deixa claro que a insatisfação dos colonos com os impostos era grande, mas chegou ao máximo com outra determinação da Coroa inglesa. O que mais desagradou a eles? Quais colonos se sentiram mais prejudicados?

A Inglaterra saiu vencedora no conflito e tomou as terras americanas que antes perten-

ciam à França. Apesar de vitoriosos, os ingleses ficaram com os cofres vazios. Os custos da

guerra, a ocupação e a instalação de uma nova administração nos territórios conquistados

exigiram a aplicação de mais recursos, fato que gerou uma grave crise econômica. Na busca

por capital, o Parlamento inglês aprovou o aumento dos impostos para as Treze Colônias.

Os colonos que haviam lutado na Guerra dos Sete Anos ficaram decepcionados, pois, em

vez de reconhecimento por terem lutado pelas posses da Inglaterra, receberam mais impos-

tos. Além disso, a participação no conflito contribuiu para o senso de unidade e autonomia

dos colonos.

Leia o texto a seguir sobre os fatores que influenciaram o começo do movimento eman-

cipatório das Treze Colônias. Depois, responda às questões sobre ele.

interpretando documentos

Em pleno processo de desenvolvimento capitalista, a burguesia inglesa via na França, onde a monarquia entrava em crise, um obstáculo a sua expansão comercial, marítima e co-lonial. A rixa chegaria ao ponto máximo entre 1756 e 1763, durante a Guerra dos Sete Anos, e teria impacto decisivo sobre a vida na América. Após a guerra, com o pretexto de recuperar as finanças do Estado, os ingleses, que já vinham adotando medidas mais rígidas em relação ao monopólio sobre as colônias americanas (como as proibições da fabricação de aço, em 1750, e de tecido, em 1754), adotaram uma série de leis para garantir as vendas (e os lucros e os impostos pagos pelos produtos de empresas inglesas, particularmente o chá). A insatisfação nas colônias atingiu o máximo quando os territórios da Louisiana, tomados da França, foram declarados da Coroa e os colonos, proibidos de pisar por lá. Uma senhora decepção, princi-palmente para fazendeiros e criadores de gado do Sul que esperavam ocupar essas terras.

FUSER, Igor. EUA: os donos do mundo. Aventuras na História, São Paulo, ed. 35, jul. 2006. p. 26-27.

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Novas leis e impostos

Com o desenvolvimento da industrialização, a Inglaterra estava interessada em conquis-

tar novos mercados consumidores. Como as Colônias comercializavam entre si e com outros

locais, a Metrópole procurou impor leis coercitivas a esse comércio, o qual, além de não

trazer lucros para os cofres ingleses, passava a concorrer com as próprias indústrias inglesas.

Desse modo, com a intenção de impedir a concorrência e reservar mercado para seus

produtos, o governo inglês, por meio do Parlamento, baixou diversos decretos que restrin-

giam a relativa autonomia colonial. Passou, assim, a combater severamente o comércio in-

terno nas Colônias. Entre outras medidas, proibiu que as Colônias continuassem a fabricar

tecidos e a fundir e produzir derivados de ferro. Proibiu também a realização do Comércio

Triangular com as Antilhas, considerando-o contrabando.

Essas e outras medidas adotadas pela Coroa inglesa provocaram a reação dos colonos e

daqueles que até então haviam se beneficiado do comércio externo. Foi nesse contexto de

insatisfação e revolta que se fortificaram, de forma mais acentuada, em meio à população

local, as ideias de liberdade defendidas pelos pensadores iluministas.

Contribuindo para ampliar a insatisfação dos colonos, a Inglaterra dava sinais de estar

decidida a colocar definitivamente em prática o antigo Pacto Colonial, ao decretar leis que

impunham pesados tributos. Leia o conteúdo de algumas dessas leis:

1764 – Lei do Açúcar

Reduziu em 50% as taxas sobre o melaço estrangei-ro e aumentou as taxas de importação de produtos, como o vinho, a seda e o linho. Provocou a revolta contra a taxação e a dis-posição da Inglaterra em adotar uma política evi-dentemente mercantilista, tirando proveito econômi-co das Colônias.

1765 – Lei do Selo

Estabeleceu uma taxação sobre o material impresso que circulasse nas Colônias, como certidões, registros, jornais, panfletos e até ba-ralhos. Desta vez, os pro-testos foram mais intensos. Grupos organizados ataca-ram funcionários encarre-gados de vender e verificar a utilização dos selos.

1767 – Leis Townshend

Foi um pacote de impos-tos. As disposições dessas leis taxavam a importa-ção de produtos básicos, como vidro, chá, tintas, corantes e chumbo. A rea-ção foi imediata.

Apesar dos protestos (boicotes, declarações) por parte dos colonos, a Inglaterra perma-

neceu interessada nos benefícios econômicos que suas Colônias deveriam oferecer.

Na prática, os selos nem chegaram a ser adotados nas Treze Colônias, mas o sentimento

de revolta contra a Metrópole serviu para potencializar as ideias de liberdade. Tais ideias já

eram populares e encontravam apoio em um antigo princípio inglês: “No taxation without

representation” (Nenhuma taxação sem representação). Assim, os colonos entendiam que,

como não haviam participado da elaboração dessas leis, não teriam obrigação de pagar os

encargos taxativos. A Lei do Selo acabou sendo revogada no ano seguinte, em 1766.

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História

Converse com seus colegas sobre a relação entre a implantação da Lei do Açúcar e o

Comércio Triangular realizado pelas colônias inglesas na América.

troca de ideias

Processo de emancipação política

Após o anúncio das novas leis, grupos de todas as colônias – como o dos Filhos da Liber-

dade, formado por comerciantes – saíram às ruas para protestar. Muitas leis foram revoga-

das, com exceção da referente ao imposto sobre o chá, por isso os colonos mantiveram suas

manifestações, mesmo correndo o risco de serem reprimidos pelas forças inglesas na Amé-

rica. Um ataque de bolas de neve a um quartel transformou-se no episódio conhecido como

Massacre de Boston (1770). Nesse evento, cinco colonos morreram e outros ficaram feridos.

Os ânimos foram ficando cada vez mais exaltados, prenúncio da guerra pela independência.

Para piorar a situação, em 1773, foi aplicada a Lei do Chá, que concedia o monopólio de

comercialização do produto à Companhia das Índias Orientais. Primeiro, os colonos tenta-

ram reagir à alta dos preços do chá de uma forma original: passaram a substituir o chá pelo

café e pelo chocolate. Porém, a indignação não se devia apenas ao fato de terem de pagar

mais pelo tradicional chá; ela resultava da constatação de que, mais uma vez, a Coroa inglesa

tentava impor sua estratégia mercantilista à colônia.

Na noite de 16 de dezembro

de 1773, cerca de 150 colonos do

grupo Filhos da Liberdade, vesti-

dos como indígenas, invadiram três

navios ingleses que estavam no

porto de Boston e jogaram o carre-

gamento de aproximadamente 340

caixas de chá no mar. Essa reação

dos colonos ficou conhecida como

a Festa do Chá de Boston.

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Diante da atitude dos colonos, a reação da Coroa inglesa foi drástica. Em 1774, as Leis de Coerção, denominadas pelos colonos de Leis Intoleráveis, desgastaram a relação “pacífica”

entre as Treze Colônias inglesas e a Metrópole.

Entre as medidas previstas pelas leis, o Parlamento inglês decretou:

Fechamento do Porto de Boston até o pagamen-

to referente ao chá destruído.

Obrigatoriedade dos colonos de hospedar e

prover os soldados ingleses.

Fim da autonomia das colônias (a Inglaterra

passaria a ter um controle mais atuante).

CURRIER, Nathaniel. A destruição do chá no Porto de Boston. 1846. 1 litografia, color.

Arquivos Nacionais, Washington.

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Analise os fatos que aconteceram nas Treze Colônias inglesas desde a implantação da Lei do Chá até a adoção das Leis Intoleráveis. Reflita sobre a posição da Inglaterra em face da reação dos co-lonos na América e sobre a estratégia usada pelos colonos para demonstrarem sua insatisfação. Escreva em seu caderno um parágrafo que explique esse contexto.

organizando a história

No período entre o fim da Guerra dos Sete Anos (1763) e o decreto das Leis Intoleráveis

(1774), desenvolveu-se, nas Colônias inglesas, um sentimento de indignação. Os colonos não

estavam insatisfeitos com o rei, mas com as determinações do Parlamento. Afinal, o que a

burguesia inglesa havia conquistado durante o processo revolucionário, o Parlamento prati-

camente negava aos colonos ingleses na América do Norte.

Em 12 de setembro de 1774, representantes de doze das Treze Colônias se reuniram no

Primeiro Congresso Continental, realizado na Filadélfia. Elaboraram uma petição contra as

medidas inglesas. Quase nada de significativo foi concedido pelo Parlamento inglês e, além

disso, as tropas reais receberam ordens para confiscar as armas dos colonos. Estes haviam

sido avisados com antecedência e, assim, puderam articular a defesa. Teve início, então, a

guerra que culminaria na independência das Treze Colônias.

Em 10 de maio de 1775, foi organizado o Segundo Congresso Continental, que contou com

a participação integral das Treze Colônias. Ficou estabelecido que o Congresso organizaria um

exército, que seria comandado por George Washington, um fazendeiro da Virgínia. Também

decidiram buscar o apoio de países estrangeiros, como a França, que, por sua vez, viu no con-

flito a chance para uma revanche da Guerra dos Sete Anos. Mesmo passando por dificuldades

financeiras, o rei francês Luís XVI apoiou os colonos, fornecendo-lhes dinheiro, soldados e ar-

mas. Com a guerra consumindo recursos materiais e humanos, o desejo dos colonos de se

verem livres das arbitrariedades dos ingleses somente aumentava.

No dia 2 de julho de 1776, o Congresso finalmente decidiu pela independên-

cia e nomeou um comitê responsável pela elaboração da Declaração de Indepen-

dência. Entre os escolhidos para o comitê estavam Benjamin Franklin, John Adams e

Thomas Jefferson. Dois dias depois, no dia 4 de julho, as Treze Co-

lônias declararam-se independentes da Inglaterra.

©Galeria de Arte da Universidade de Yale

TRUMBULL, John. Assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos, 4 de julho de 1776. 1819. Galeria de Arte da Universidade de Yale, New Haven.

O autor retrata a assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos. Essa pintura está reproduzida (com algumas modificações)

no verso da nota de dois dólares e seu autor lutou nas guerras pela independência

arbitrariedades: abusos, opressões.

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História

Conflitos pela independência

A guerra para conquistar a independência não foi nada fácil. Os ingleses enviaram à Amé-

rica tropas que contavam com experiência militar, apoiadas por uma grandiosa organização

naval. Somava-se a isso a participação de uma quantidade signi-

ficativa de mercenários alemães, contratados pela Coroa inglesa.

Para deixar a situação ainda mais complicada, muitos colonos

que eram contrários à independência passaram para o lado dos ingleses, enquanto outros

estavam mais interessados em uma recompensa imediata. Havia ainda aqueles colonos que

eram indiferentes aos dois lados.

mercenários: que realizam uma ação apenas por interesse financeiro.

No início do cerco não existia ainda um exército norte-americano propriamente dito. Mesmo então, não havia nem bandeira nem uniformes. Embora certos documentos oficiais se referissem a ele como o “Exército Continental”, não existia um acordo claro, na prática, sobre a maneira de chamá-lo.

MCCULLOUGH, David. 1776: história dos homens que lutaram na guerra pela independência dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2006. p. 34.

Leia a descrição do exército norte-americano, feita por um jovem médico chamado

James Thacher, que foi designado para trabalhar em um hospital improvisado durante os

combates da Guerra da Independência dos Estados Unidos.

interpretando documentos

Era o primeiro exército norte-americano, e um exército de todos, com homens de todas as formas, tamanhos e compleição, de cores diferentes, nacionalidades diferentes, de diversas formas de falar, e de todos os graus de condição física. A muitos faltavam dentes ou dedos, outros tinham marcas de varíola, ou cicatrizes de guerras anteriores, ou desses acasos tão comuns da vida e do trabalho duro no século XVIII. Alguns nem chegavam mesmo a ser ho-mens, mas sim meninos, ainda de cara lisa, com 15 anos ou menos.

MCCULLOUGH, David. 1776: história dos homens que lutaram na guerra pela independência dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2006. p. 45.

Quais dos pontos destacados na descrição você identifica como traços que ainda estão presentes

entre os norte-americanos na atualidade?

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O desenrolar da guerra foi uma sucessão de batalhas, que favore-

ciam ora os ingleses, ora os colonos. Como exemplo, podemos citar a

vitória dos colonos em Saratoga, fato que permitiu que o embaixador

das colônias, Benjamin Franklin, conquistasse o apoio espanhol e fran-

cês em sua integralidade. Na ocasião, a França enviou tropas de reforço

formadas por exército e marinha, o que mudou os rumos do conflito.

A guerra acabou definitivamente em setembro de 1783, quan-

do a Inglaterra reconheceu a independência das Treze Colônias.

Entre os demais países europeus, a França foi o primeiro a reco-

nhecer a independência dos Estados Unidos.

Os combates terminaram em

1781, com a derrota do exército

britânico em Yorktown. No

entanto, a Inglaterra somente

reconheceu a independência

das Treze Colônias em 3 de

setembro de 1783, quando

assinou o Tratado de Paris.

Por esse tratado, a Inglaterra

reconhecia a independência e a

soberania dos Estados Unidos

da América, mas mantinha a

posse de alguns territórios.

pesquisa

Para conhecer mais detalhes da vida de dois importantes personagens do processo de independência dos Estados Unidos, pesquise quem foram George Washington e Benjamin Franklin e o que realizaram depois da independência norte-americana. Depois, anote em seu caderno as informações encontradas.

A fundação de uma nação

Em razão das diferenças entre as características econômicas e sociais das antigas Colô-

nias, mesmo após a assinatura da Declaração de Independência, nada parecia uni-las em um

país único. Foi preciso elaborar a Carta Magna, apresentada em 17 de setembro de 1787 ao

Congresso da Confederação, para que a definição de país se estabelecesse.

Um país é um território com limites claros e características físicas e sociais definidas.

Além desses aspectos, símbolos como uma bandeira única, uma Constituição reconhecida

Para os indígenas norte-americanos, a Independência não foi um fato positivo. Depois

dela, houve um grande movimento expansionista dos colonos sobre os territórios ocupados

pelas tribos.

Os escravizados africanos não sentiram um grande impacto em sua vida depois da inde-

pendência norte-americana. Embora tenha sido registrado um alto número de fugas de es-

cravizados no período dos combates, não era interessante para a Inglaterra, muito menos

para os colonos sulinos da América – que tinham na mão de obra escrava a base da economia

–, que a Guerra da Independência se transformasse em um conflito social entre escravizados

e proprietários de terras. Assim, os escravizados permaneceram em igual condição, realizan-

do os mesmos trabalhos para os mesmos mandantes e recebendo o mesmo tratamento que

recebiam antes da conquista da independência.

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História

pela sociedade ou um hino oficial identificam um de-

terminado país, diferenciando-o dos demais. No caso

dos Estados Unidos, a Carta Magna de 1787 terminou

por definir sua condição de país.

O documento era tão original e radical quanto

havia sido a Declaração de Independência. As ideias

herdadas da Revolução Gloriosa e do Iluminismo apa-

receram desde o preâmbulo da

Constituição. Leia o trecho a

seguir.

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CPrimeira página da Constituição dos Estados Unidos da América

Nós, o povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral e garantir para nós e para os nossos descendentes os benefícios da Liberdade, promul-gamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América.

DOREN, Charles van. Uma breve história do conhecimento. São Paulo: Leya, 2013. p. 20.

preâmbulo: texto que antecede uma lei ou um decreto.

De acordo com os três primeiros artigos da Constituição norte-americana:

Ficou estabelecido um sistema de divisão do poder:

Legislativo, Executivo e Judiciário autônomos.

A forma republicana de governo seria adotada em

todos os Estados.

Ficou garantida a liberdade de culto e de expressão, bem

como a liberdade de imprensa.

No entanto, a Constituição também previa que o direito ao voto seria restrito aos ho-

mens que tivessem posses (voto censitário). Os homens brancos pobres, as mulheres (apesar

de sua participação no processo de independência), os indígenas e os escravizados africanos

ficaram excluídos do direito à cidadania. Além disso, a liberdade, defendida desde o preâm-

bulo do documento, de início, não foi aplicada aos escravizados.

De qualquer maneira, a independência e a promulgação da Constituição dos Estados

Unidos estabeleceram novas bases e influenciaram outros movimentos semelhantes.

Na década de 1770, enquanto no continente americano as Treze Colônias inglesas

conquistavam sua independência formando uma nação, Bengala, na atual Índia, per-

dia 10 milhões de pessoas por conta da fome, ocasionada em grande parte por ações

inglesas. O território de Bengala incluía Bengala Ocidental, Bangladesh, e partes de

Assam, Orissa, Bihar e Jharkhand. Era originalmente uma província do Império Mugol

(1526-1857).

outras histórias

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Leia atentamente o texto.

interpretando documentos

[...] o homem no século XVIII estava inclinando-se para a ideia de que todos eram iguais em “seus direitos” naturais e que o único fim justo do governo era manter um estado de so-ciedade no qual todos pudessem desfrutar seus direitos na maior extensão possível. Uma vez que a liberdade era o mais precioso desses direitos, o governo devia ser restringido ao mínimo possível, mas que ainda lhe permitisse impedir que um indivíduo transgredisse a liberdade de outros.

SELLERS, Charles; MAY, Henry B.; MCMILLEN, Neil R. Uma reavaliação da história dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Zahar, 1990. p. 70.

a) De acordo com o texto e com seus estudos, que relações podem ser estabelecidas entre as

ideias iluministas e a luta dos habitantes das Treze Colônias pela independência?

b) Você já deve ter ouvido a frase “A sua liberdade termina no ponto em que começa a do outro”. Que parte do texto expressa essa mesma ideia?

A Companhia Britânica das Índias Orientais, um monopólio privado que recebia

apoio do governo inglês, havia chegado à Bengala em 1757. Desde então, as políticas

impostas pela Companhia ao território visavam maximizar os lucros, obtidos principal-

mente com o imposto sobre a terra e também com a elevação das tarifas comerciais.

A empresa ordenou aos agricultores locais que plantassem produtos que atendes-

sem à exportação, alterando, assim, a dinâmica agrícola da região. Além disso, apenas

a Companhia das Índias poderia comercializar esses produtos. Tal política, associada a

uma queda parcial nas colheitas por severas secas, ocasionou uma fome em massa, que

teve início no ano de 1770.

A Companhia Britânica das Índias Orientas foi criticada por ter proibido o estoque

de arroz. Ação que teria permitido à população se manter com esse alimento na falta

de outros. Com medidas imperialistas, a Companhia das Índias lucrou, enquanto a po-

pulação colonial sofreu sem nenhum amparo. Mesmo no período mais agudo da crise,

quando milhares de pessoas sofriam com a fome, a Companhia aumentou em 10% o

valor dos impostos.

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História

1 Sobre a colonização inglesa nas Treze Colônias na América, responda:

a) Por que a metrópole assumiu posições diferenciadas em relação ao domínio político das Colô-nias do Norte e do Sul?

b) As Colônias do Norte se beneficiaram da “negligência salutar” inglesa. Explique essa afirmação.

2 Neste capítulo, foi mencionada a relação entre as ideias de John Locke e o processo de independên-cia das Treze Colônias. Localize no caça-palavras sete palavras-chave que se relacionam com esse tema.

o que já conquistei

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3 Com relação à Guerra dos Sete Anos, assinale a alternativa que mostra um motivo que fez o conflito se estender para a América do Norte.

a) ( ) O interesse dos franceses em partilhar os lucros obtidos com o Comércio Triangular.

b) ( ) A disputa entre Inglaterra e França pela posse de certas regiões no interior da América do Norte.

c) ( ) A simpatia que os franceses tinham pelos puritanos ingleses que haviam povoado as Treze Colônias.

d) ( ) A briga entre franceses e ingleses pelo controle do tráfico de escravizados para a América

do Norte.

e) ( ) O interesse dos franceses em divulgar as ideias iluministas entre os colonos ingleses.

4 Leia a afirmação a seguir e depois responda ao que é solicitado.

Embora a Constituição dos Estados Unidos tenha se fundamentado em princípios do Ilumi-

nismo, suas leis não garantiram a plena igualdade entre os indivíduos.

Essa afirmação está correta? Justifique sua resposta.

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capí

tulo América Latina:

lutas pela emancipação política

7

As crises econômicas e a insatisfação das sociedades co-loniais geraram modificações no cenário político da Améri-ca. A influência das ideias iluministas e a Independência dos Estados Unidos inspiraram movimentos de contestação das colônias americanas contra as metrópoles, conduzindo-as à emancipação. Observe a imagem de um monumento cons-truído para comemorar o centenário das Guerras de Inde-pendência do México. Você considera que essa data é impor-tante para os mexicanos?

América Latina espanhola no século XVIII

Emancipação política das colônias espanholas

América Latina espanhola após a independência

Emancipação política do Haiti

o que vocêvai conhecer

Estátua no topo do monumento dedicado aos heróis da Independência do México, chamada de O Anjo da Independência. A obra foi construída por Antonio Rivas Mercado, em 1910. Localizada no Paseo de la Reforma, no centro da Cidade do México

©Shutterstock/Aberu.Go

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História

Relacionar os processos de independência nas colônias espanholas à expansão napoleônica na Europa.

Identificar as influências das ideias iluministas nos processos de emancipação na América.

Caracterizar as sociedades coloniais espanholas anteriores ao processo de independência.

Compreender os processos de emancipação do México e do Peru.

Conhecer e analisar a Revolução de São Domingo.

Entender a organização política das nações formadas na América Latina após os processos de independência.

objetivos do capítulo

América Latina espanhola no século XVIII

Nos séculos XVII e XVIII, enquanto alguns reinos, como a Inglaterra e a França, haviam passado por convulsões sociais que resultaram na ascensão da burguesia ao poder político, a Espanha mantinha-se como uma monarquia absoluta. Guerras sucessivas com o reino inglês, em séculos anteriores, haviam levado a Espanha a uma crise econômica.

Para resolver problemas econômicos, a metrópole espanhola determinou o aumento do controle sobre os impostos e os cargos administrativos e eclesiásticos foram restritos ape-nas aos espanhóis. Além disso, restrições ao comércio colonial foram estabelecidas.

A invasão da Espanha por Napoleão Bonaparte, em 1807, comprometeu a atuação da metrópole espanhola em relação às colônias. Com a atenção espanhola voltada ao cenário europeu, os colonos da América experimentaram uma certa independência política e econômica, o que contribuiu para a formação de movi-mentos em busca de independência. O quadro tornou-se crítico quando as rivalidades políticas dentro do governo espanhol favo-receram uma manobra de Napoleão, que nomeou seu irmão, José Bonaparte, rei da Espanha, no ano de 1808.

A caótica situação da metrópole, agora comandada por um monarca estrangeiro, estimulou as lutas dos criollos, que exigiam maior participação política.

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O termo criollo começou a ser empregado no século XVI para designar os brancos, descendentes de espanhóis, nascidos nas colônias da América espanhola. Apesar de serem grandes proprietários de terras e acumular fortunas, os criollos estavam impedidos de ocupar os cargos administrativos mais importantes, que eram exclusivos dos espanhóis, a quem denominavam de chapetones.

GÉRARD, François. José Bonaparte como rei da Espanha.

[ca. 1808]. 1 óleo sobre tela, color., 247 cm × 162 cm.

Museu Nacional do Castelo de Fontainebleau, França.

José Bonaparte: um francês no trono da Espanha

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No contexto de crise da Coroa espanhola, a Inglaterra desempenhou papel importante,

pois tinha interesse em ampliar seus mercados consumidores e enfraquecer econômica e

politicamente sua antiga rival.

Os comerciantes e os industriais ingleses desejavam que as colônias espanholas ficas-

sem isentas das imposições do Pacto Colonial para comercializar seus produtos livremente.

Contribuindo para o processo de independência da América espanhola, a Inglaterra enfra-

quecia a Espanha, fortalecendo o próprio poder.

Observe atentamente a imagem a seguir para responder às questões propostas.

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a) Descreva a imagem, destacando como os personagens estão representados.

b) A charge é uma ilustração com humor e crítica, veiculada pela imprensa e relacionada a algum

acontecimento da atualidade da época. Que visão sobre a invasão de Napoleão Bonaparte à Espanha essa charge transmite?

c) Que relações podem ser estabelecidas entre essa charge e o surgimento de ideias de emanci-pação na América espanhola?

WILLIAMS, Charles. Boney e o seu cavalo Talley regressando a Paris com uma carga espanhola. 1808. 1 ilustração, color. Museu Britânico, Londres.

Charge representando o retorno de Napoleão Bonaparte à França depois de invadir a Espanha

1. Napoleão Bonaparte; 2. Rei Carlos IV, da Espanha; 3. Rainha D. Maria Luísa de Parma; 4. Príncipe Fernando VII, da Espanha; 5. Manuel de Godoy, o Príncipe da Paz. A cabeça do cavalo é de Talleyrand, ministro dos Negócios Estrangeiros de Napoleão.

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História

Emancipação política das colônias espanholas

Entre os séculos XVIII e XX, ocorreu o processo de formação das nações independentes

da América Latina que até então faziam parte do território colonial espanhol.

Observe o mapa para comparar como a América espanhola era dividida na época colonial

e como está constituída atualmente.

O termo América Latina é utilizado em referência ao conjunto de países do continente americano

cujas línguas predominantes são derivadas do latim, como o português, o espanhol e o francês. Dessa

forma, diferencia-se a América Latina (formada pelos países da América do Sul e da América Central e

pelo México) da América Anglo-Saxônica (formada por Estados Unidos e Canadá), onde predomina o

idioma inglês. Atualmente, a América Latina não se identifica apenas pelo idioma, mas por uma cultura

diversificada, com elementos dos antigos povos indígenas, dos colonizadores europeus e dos africanos.

O Haiti faz parte da América Latina, mas não da América espanhola, pois era uma colônia francesa.

América espanhola antes e depois da emancipação

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 59. Adaptação.

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Sociedade colonial espanhola

Pela lógica do pensamento mercantilista, uma colônia existia para promover a rique-

za da metrópole. Porém, a dinâmica colonial acabou originando atividades relativamente

autônomas nas colônias, como a produção destinada ao abastecimento interno ou mesmo

as exportações fora do regime de monopólio comercial determinado pelo Pacto Colonial.

Pode-se afirmar que, à medida que a sociedade foi se desenvolvendo na colônia, formou-se

uma elite colonial cujos interesses eram divergentes dos apresentados pela metrópole.

Muitos colonos consideravam necessário lutar para que seus interesses fossem de al-

gum modo atendidos. Uma das reivindicações era o aumento na participação política em de-

bates realizados pelos órgãos de representação da sociedade colonial na metrópole, como

os cabildos e as Câmaras Municipais da América espanhola. No entanto, essa reivindicação

não foi atendida, assim como as demais relativas à maior liberdade de comercialização dos

produtos coloniais.

Essa situação desagradava particularmente aos criollos. Apesar de terem uma condição

econômica privilegiada e de constituírem o grupo social dominante (muitos estudavam nas

universidades coloniais ou mesmo na Espanha), não tinham poder político. Aos chapetones (espanhóis que viviam nas colônias), além dos cargos administrativos metropolitanos, cabia

a exclusividade na ocupação dos postos mais elevados na hierarquia da Igreja Católica, muito

poderosa em todas as colônias.

As primeiras universidades que surgiram na Améri-

ca foram aquelas fundadas nas colônias espanholas. A

mais antiga é a Universidade de São Tomás de Aquino,

criada em 1538, em Santo Domingo, na atual República

Dominicana. Nessas instituições, era possível estudar

Teologia, Direito, Artes e Medicina, excluindo-se qual-

quer ensino relativo aos povos nativos. Os estudantes

tinham que aprender o latim, idioma usado pelos pro-

fessores em suas aulas.

As universidades na América do Norte foram cria-

das entre os séculos XVII e XVIII, e as brasileiras, entre

os séculos XIX e XX.

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pesquisa

As universidades europeias e latino-americanas tinham como base curricular o estudo das chamadas artes liberais. Faça uma pesquisa sobre a formação promovida por essas instituições.

Universidade de São Tomás de Aquino, em

Santo Domingo

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História

Para as camadas populares, a situação era ainda mais difícil, pois não desfrutavam de ne-

nhum benefício; ao contrário, além de serem submetidas a um trabalho exaustivo, eram obriga-

das a pagar pesados tributos.

Vale lembrar que as sociedades coloniais espanholas tinham

como característica a pluralidade de culturas, resultante de um

processo anterior à chegada dos europeus à América.

Após a chegada dos colonizadores espanhóis, as populações nativas da América espa-

nhola passaram ao domínio de uma única autoridade: a espanhola.

Como já estudamos, a sociedade colonial espanhola era formada por uma elite compos-

ta pelos administradores espanhóis (os chapettones) e pelos criollos, filhos de espanhóis,

mas nascidos na colônia. As camadas populares incluíam camponeses, artesãos e escraviza-

dos africanos, além de um grande contingente de indígenas e mestiços, que eram submeti-

dos ao trabalho compulsório nas minas de prata e na agricultura.

pluralidade: aquilo que existe em grande quantidade, que não é único; multiplicidade, diversidade.

Alguns estudos históricos recentes têm chamado a atenção para um processo que du-

rante muito tempo não foi valorizado: a convivência e a experiência entre colonizadores e

colonizados acabaram gerando inúmeras trocas culturais. Assim, historiadores como Serge

Gruzinski destacam o fato de muitas manifestações indígenas do século XVII demonstrarem

maior influência europeia (da Espanha e da Itália Renascentista) do que do passado pré-hispâ-

nico, do mesmo modo que é possível perceber a influência cultural da América na Europa. Um

exemplo seria o hábito de muitos nobres tomarem chocolate, presente em boa parte da Europa

no século XVII. O chocolate é uma bebida feita com

base de cacau, planta nativa da América e de cará-

ter sagrado para os povos pré-colombianos astecas.

As elites e os processos de independência

O processo de emancipação política das colônias espanholas foi conduzido em boa me-

dida pelos criollos, os quais eram proprietários de terras (haciendas) ou ricos comerciantes,

membros da elite econômica. Para eles, a ideia de liberdade tinha um sentido muito claro:

conquistar os domínios políticos, local e nacio-

nal, e poder comandar seus negócios sem as

amarras impostas pela Espanha.

©Museu de Arte de Ponce, Porto Rico

TAMORLAN. Cena habitual no século XVII da preparação do chocolate (Xocolatada). 1710. 1 painel de azulejos. Museu da Cerâmica, Barcelona. (Detalhe).

A cena apresenta um grupo de europeus preparando chocolate para beber

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CESTERO, Francisco O. y. Hacienda Aurora. 1898. 1 óleo sobre madeira, color., 30,5 cm × 55,8 cm. Museu de Arte de

Ponce, Porto Rico.

Hacienda Aurora

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Entretanto, para os grupos oprimidos pelo sistema colonial – povos indígenas e mesti-

vários tipos) imposta tanto pelos criollos como pelos . Para os escravizados, espe-

---

criollos

O caso mexicano é interessante. Logo após a independência, havia controvérsias sobre quem deveria ser apontado como herói da emancipação. Os conservadores, particularmen-te, difundiram uma visão negativa dos padres Miguel Hidalgo e José María Morelos, cujas propostas foram bastante radicais. [...] Também a Igreja – que durante a guerra de indepen-dência excomungou Hidalgo e Morelos – continuou a pintar Hidalgo como um demônio que enganara o povo crente.

PRADO, Maria L. C. A participação das mulheres nas lutas pela independência na América Latina. In: ______. América Latina no século XIX: tramas, telas e textos. São Paulo: Edusp, 2004. p. 31.

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Criollos

organizando a história

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História

A luta pela emancipação do Peru teve início no final do século XVIII, com uma rebelião

indígena denominada Revolta de Tupac Amaru. Em 1780, mais de 60 mil indígenas questio-

naram a exploração espanhola. Essa rebelião terminou com violenta repressão por parte

dos espanhóis, porém contribuiu para fortalecer o desejo de libertação naquela região.

José Gabriel Condorcanqui, chamado de Tupac Amaru II (1738-

1781), era, possivelmente, descendente direto de Tupac Amaru

(1540-1572), último imperador inca executado pelos espanhóis.

Tupac foi um nobre e poderoso indígena que liderou os nativos

revoltados com o trabalho nas minas e nas plantações imposto pe-

los espanhóis. Ele queria reconstituir o império dos incas.

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RETRATO de Tupac Amaru em cédula mexicana. 1987.

No México, a luta pela emancipação contou com

a participação de indígenas e mestiços. Lutavam pelo

fim da discriminação racial e pela distribuição mais

justa de terras. As primeiras manifestações contra

a dominação espanhola ocorreram a partir de 1810,

quando o padre Miguel Hidalgo liderou esses grupos

explorados em uma luta em nome da justiça social.

No ano seguinte, uma violenta reação espanho-

la, apoiada pelos criollos, reprimiu a iniciativa dos

rebeldes e conseguiu conter, pelo menos por algum

tempo, a luta dos mexicanos pela emancipação.

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O’GORMAN, Juan. Retablo de la Independencia. 1961. 1 mural, color., 4,40 m × 15,69 m. Museu Nacional de História da Cidade do México. (Detalhe).

Padre Miguel Hidalgo

O Peru conquistou sua emancipação política em 1821. A república foi proclamada de-

pois que as tropas lideradas pelos líderes San Martín e Simón Bolívar conseguiram derrotar

as tropas espanholas.

Após a emancipação, o Peru continuou sendo grande produtor de prata, que represen-

tava 82% de suas exportações. Com esses recursos, pagavam as importações crescentes

de produtos industrializados ingleses.

Essa situação ocorreu de forma semelhante em outros países latino-americanos, razão

pela qual muitos historiadores consideram que a Inglaterra foi uma das maiores beneficia-

das com o processo de independência das colônias espanholas.

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Em 1813, um novo movimento, também comandado por um padre – José María Morelos –,

resgatou na população o desejo de continuar a luta contra os colonizadores espanhóis. O

movimento chegou a proclamar a emancipação da Nova Espanha. O resultado não foi muito

diferente do obtido na primeira tentativa de libertação: uma forte repressão imposta pelo

exército espanhol, mais uma vez apoiado pelos criollos, com o fuzilamento de todos os líde-

res revolucionários.

Temerosos de que os movimentos populares significassem o fim de seus privilégios, os

criollos proclamaram, em 1821, a independência do México. Para os criollos, o rompimento

com a metrópole não deveria promover mudanças na estrutura da sociedade.

Principais líderes dos processos de emancipação

Os líderes das lutas pela emancipação ficaram conhecidos como os Libertadores da América. Eles pertenciam à elite criolla e, do ponto de vista ideológico, os principais liberta-

dores, como Simón Bolívar e San Martín, tiveram acesso às ideias iluministas.

pesquisa

Atualmente, os países latino-americanos participam de uma competição de futebol conhecida como Copa Libertadores da América, em clara homenagem aos heróis nacionais que lutaram pela emancipação política dos respectivos países. Faça uma pesquisa para descobrir quando essa competição foi criada e quais são os nomes dos libertadores a que ela faz referência. Anote suas conclusões em seu caderno.

Entre 1816 e 1825, ocorreram as revoluções vitoriosas que libertaram a maioria das na-

ções latino-americanas. Nessas guerras, destacaram-se dois líderes: Simón Bolívar e José de

San Martín. Eles percorreram quase toda a América Latina – San Martín partiu do Sul em

direção ao Norte e Simón Bolívar partiu da Venezuela em direção ao Sul.

Em 1826, aconteceu o Congresso do Panamá. Idealizado por Simón Bolívar, o evento

foi uma grande reunião de representantes políticos e de pensadores dos territórios que

atualmente correspondem a México, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia. Eles de-

sejavam a união de todos os países hispano-americanos contra a Espanha. Foi assim que se

formou o pan-americanismo, um projeto de união das recém-formadas nações da América

Latina contra qualquer ameaça à sua integridade nacional ou territorial.

Entre outras determinações do Congresso do Panamá, houve a proposta de união co-

mercial entre as nações hispânicas da América e a proibição da escravatura nos novos países.

Contudo, as disputas internas entre as nações hispano-americanas recém-formadas e a in-

terferência dos Estados Unidos levaram as ideias pan-americanistas ao fracasso. Os Estados

Unidos temiam a aliança entre os vários países da América, pois os consideravam potenciais

concorrentes aos seus interesses comerciais.

A seguir, você conhecerá aspectos da história de alguns dos principais líderes dos proces-

sos de emancipação na América Latina.

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História

Simón Bolívar pode ser considerado um dos mais importan-

tes e atuantes líderes no contexto de luta pela emancipação da

América Latina.

Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palá-

cios (1783-1830), general e político sul-americano, chamado de El

Libertador, era membro de uma rica família espanhola estabele-

cida na Venezuela desde o século XVI. Adepto das ideias de Jean-

-Jacques Rousseau, aderiu às lutas pela emancipação e expressa-

va o ideal de uma América espanhola independente e unida.

Bolívar participou ativamente dos movimentos de luta contra

a Espanha, auxiliando na formação de países como Venezuela,

Colômbia, Panamá, Chile, Equador, Peru e Bolívia. Seu anseio em

relação às nações americanas recém-formadas era que houvesse

entre elas uma solidariedade internacional (bolivarismo).

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SIMÓN Bolívar. 1 cromolito. Coleção Brigdemann.

José Francisco de San Martín y Matorras (1778-1850) foi um

general argentino que ajudou a declarar a emancipação das Pro-

víncias Unidas do Prata (formadas pelos territórios atualmente

ocupados por Paraguai, Uruguai, Bolívia e Argentina), em 1816.

Com a vitória na Batalha de Maipú, sob o comando de San Martín,

em 5 de abril de 1818, foram estabelecidas as independências da

Argentina e do Chile.

Com a emancipação do Chile, San Martín comandou as tropas

em prol da libertação de outros territórios dessa região, vencen-

do os exércitos espanhóis em 1821. Em 26 de julho de 1822, en-

controu-se com Simón Bolívar em Guayaquil, no atual Equador.

SAN MARTÍN. [ca. 1827]. Museu Histórico Nacional, Buenos Aires.

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Décadas mais tarde, já ao final do século XIX, quando a

maioria das colônias da América Latina já havia se emancipado,

destacou-se outra liderança nos processos de independência: o

cubano José Martí.

José Julián Martí Pérez (1853-1895) foi uma das primeiras

lideranças do longo processo de lutas pela independência de

Cuba. Era político, poeta, filósofo e jornalista, muito influencia-

do pelas ideias iluministas, tendo se inspirado nas atuações de

Bolívar e de San Martín por toda a América Latina.

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NORMAN, Herman. Retrato de José Martí. 1891. 1 óleo sobre tela, color., 56 cm × 46,1 cm. Secretaria da

Instruções Públicas e Belas Artes, Havana.

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Em defesa da integridade das nações latino-americanas, foi crí-tico da versão de pan-americanismo, que surgiu nos Estados Uni-dos, no final do século XIX. José Martí criou o projeto chamado de Nossa América, que, de forma semelhante ao de Bolívar e de San Martín, pretendia unir os países latino-americanos contra o domí-nio estrangeiro, nesse caso, estadunidense.

Martí faleceu em combate, em 1895, e seu corpo foi exposto à população cubana como prova do poderio espanhol. A ilha de Cuba conquistou sua independência em 1898, bem mais tarde do que a maioria dos países latino-americanos.

Os Estados Unidos formularam a ideia de pan-americanismo de acordo com a Doutrina Monroe (1823), a qual determinava que os estadunidenses poderiam intervir nas questões externas e internas das nações latino-americanas.

Complete a cruzadinha com nomes de grupos sociais ou de personagens dos processos de indepen-dência da América espanhola que você acabou de estudar.

1. Liderança indígena de rebeliões nativas do Peru.

2. Padre responsável por rebelião pela independência do México.

3. Líder da independência cubana.

4. Líder revolucionário adepto do pan-americanismo proposto no Congresso do Panamá.

5. Espanhóis nascidos na América e membros das elites locais coloniais.

6. Espanhol que vivia na América e detinha muitos privilégios nas colônias.

7. Líder revolucionário de vários processos de independência da América espanhola.

organizando a história

América Latina espanhola após a independência

Em toda a América espanhola, a maior parte dos novos países adotou o regime republi-cano, embora durante as lutas pela emancipação houvesse quem defendesse a instituição de monarquias.

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História

Entretanto, a adoção da república não garantiu que todos os indivíduos adquirissem a condição de cidadãos. Ao contrário, assim como ocorreu nos Estados Unidos, em todos os países o poder político ficou concentrado nas mãos de uma elite agrária e comercial (muitas vezes, grupos rivais entre si), excluindo o grupo formado por indígenas, ex-escravizados e mulheres, mesmo as de situação social elevada.

A nova condição também não significou que a formação dos novos países tenha se esta-belecido pacificamente. Inúmeros conflitos se sucederam após a conquista da emancipação, resultando na fragmentação política da região. Essa situação possibilitou o surgimento de muitos líderes que disputaram o poder local, comumente fazendo uso da força militar. Esses líderes eram chamados de caudilhos.

Os conflitos geralmente se formavam em torno do questionamento acerca de quem de-veria ter mais ou menos poder: o governo central ou os governos provinciais. Quando havia no país um grupo mais poderoso, que conseguia se impor aos demais, a tendência era que ele assumisse o poder central (a presidência) e controlasse as províncias.

Leia com atenção o texto e, em seguida, responda às questões.

interpretando documentos

Já em relação aos seguidores de Bolívar o objetivo era romper com a monarquia espanhola e instaurar a independência e a república nos territórios das colônias americanas [...], afeta-dos pela falta de um sentimento de nacionalidade [...].

[...]

O sentimento de nacionalidade em relação à Espanha, no sentido mais profundo de amor à pátria espanhola como unidade, praticamente não existe. Cada espanhol ama a sua comu-nidade e não ao país. Castela, País Basco, Catalunha, Galícia, Andaluzia, etc., são comunida-des que atualmente lutam, – algumas delas com armas nas mãos – pela independência.

[...]

Algo semelhante ocorreu com as colônias espanholas da América. Nelas preponderou, sempre, o caudilhismo e não o ideal de nação, de prevalência do sentimento de unidade nacio-nal. Aliás, foi justamente essa dificuldade que, no final de contas, derrotou Bolívar. Cada líder, após o final da colonização espanhola, preferiu ficar com seu quinhão territorial a ter de renunciar aos princípios de uma carta constitucio-nal que aproveitava a todos no âmbito de uma grande Confederação.

AGUIAR, Cláudio. Breves considerações sobre as ideias de Simón Bolívar na Revolução Pernambucana de 1817. Revista IHGB, Rio de Janeiro, ano 178, n. 475, set./dez. 2017. p. 167-168.

1 Segundo o texto, qual era o principal ideal de Bolívar e de seus seguidores?

quinhão: parte que cabe a alguém

ou a algo.

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2 O autor do texto afirma que “cada espanhol ama a sua comunidade e não ao país”. O que isso quer dizer?

3 Leia a afirmação a seguir.

As antigas colônias da América espanhola não conseguiram construir um sentimento de unidade entre si após a emancipação e o mesmo ocorre com as diversas comunidades que formam a Espanha na atualidade.

Cite três frases do texto que confirmam essa afirmação.

4 De acordo com o texto, qual foi o principal motivo que levou o projeto de Simón Bolívar ao fracasso?

Emancipação política do Haiti

Atualmente o Haiti é um país da América Central, uma ilha da região do Caribe. Ele mere-ce destaque quando se estudam as lutas de emancipação na América Latina, pois a sua luta pela liberdade foi peculiar, pelo fato de ter sido conduzida exclusivamente por populares e escravizados.

No século XVII, a ilha caribenha onde atualmente estão localizados o Haiti e a Re-pública Dominicana estava dividida em duas colônias: uma que pertencia aos franceses, na parte ocidental, chamada de São Domin-gos, e a outra que era dominada pelos espa-nhóis, na parte oriental, chamada de Santo Domingo. A área que pertencia à França é a região que na atualidade compreende o Hai-ti e foi a primeira colônia latino-americana a alcançar a independência, no ano de 1804.

Divisão da colônia de Hispaniola (1697-1795)

Fonte: HAYWOOD, John. Atlas histórico do mundo. Colônia: Könemann, 2001. p. 122-123.

Adaptação.

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História

A conquista da emancipação do Haiti foi o resultado de diversas rebeliões comandadas

pela maioria escravizada da população, que exigia a abolição da escravatura. Ao final do sé-

culo XVIII, São Domingos era a colônia mais lucrativa da França, sendo grande produtora de

cana-de-açúcar. As plantações eram feitas em grandes propriedades de terra por trabalha-

dores africanos escravizados e a produção era voltada ao mercado externo.

Nessa época, o número de escravizados era bem maior que o de membros da elite bran-

ca, proprietária de terras. Em 1791, comandados pelo líder negro Toussaint Louverture, es-

cravizados e populares iniciaram levantes contra o domínio da metrópole francesa. Em meio

ao conflito, foram destruídas grande parte das plantações da ilha. Em 1792, os revoltosos já

controlavam um terço do território.

Nesse período, a França passava por um processo revolucionário contra o regime absolu-

tista e, em 1793, o líder do Partido Jacobino, Maximilien Robespierre, declarou a abolição da

escravatura nas colônias francesas. Essa medida foi recebida com euforia em São Domingos.

François-Dominique Toussaint Louverture (1743-1803) era

filho de um chefe tribal africano, mas foi escravizado na colônia

francesa. Teve a possibilidade de alfabetizar-se e entrou em con-

tato com obras de teor revolucionário, como aquelas que estimu-

laram a Revolução Francesa. Em virtude de suas ideias e de suas

ações pela independência do Haiti, acabou ficando conhecido

como o jacobino negro.

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TOUSSAINT Louverture. 1800. 1 gravura, color. John Carter Brown Library.

O líder Toussaint Louverture é representado com roupas de general do exército

Diante da iminência da perda dos domínios coloniais franceses no Caribe e insatisfeito

com a rebeldia dos colonizados, Napoleão Bonaparte, então consul da França, revogou a

libertação dos escravizados em São Domingos, em 1802. Como consequência desses emba-

tes, Louverture foi preso e levado para a França, onde faleceu no ano de 1803.

As revoltas na colônia francesa ainda

continuaram mesmo após a morte de sua

principal liderança. Sob o comando de Jean-

-Jacques Dessalines, os escravizados e os po-

pulares conquistaram, finalmente, a emanci-

pação de São Domingos no ano de 1804.

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SUCHODOLSKI, January. Batalha de São Domingos. 1845. Museu do Exército Polonês, Cracóvia.

Representação da batalha entre poloneses, a serviço dos franceses, e os rebeldes do Haiti

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O novo país recebeu o nome indígena de Haiti, cabendo a Dessalines o posto de seu primeiro chefe de Estado, apoiado pelos ingleses e estadunidenses que tinham interesses na região. Dessalines autoproclamou-se imperador do Haiti, mas, após seu assassinato, em 1806, o Haiti adotou o sistema republicano de governo, seguindo os princípios da Revolução Francesa.

O caso da emancipação do Haiti foi visto como perigoso em mui-tas regiões da América. O temor das elites de uma revolta de escra-vizados a exemplo do que havia acontecido no Haiti ficou conhecido como haitianismo. A luta pela independência do Haiti se difere dos demais processos de emancipação de colônias espanholas na Améri-ca, por não ter sido guiada pela elite criolla, e sim por escravizados e outros populares.

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JEAN-JACQUES Dessalines. 1 gravura, 1806.

Dessalines como imperador do Haiti

Na atualidade, o Haiti é um dos países mais pobres de toda a América e passou por golpes de Estado e governos ditatoriais. Em 2010, o Haiti foi parcialmente destruído em decorrência de um grande terremoto. O desastre deixou mais de 200 mil mortos e milhares de pessoas desabrigadas e feridas. O Brasil foi um dos países que enviaram tropas e ajuda humanitária à região, logo após a ocorrência do terremoto. Além disso, abriram-se as fron-teiras brasileiras para receber vários haitianos, que migraram para o Brasil em busca de melhores condições de vida e oportunidades de trabalho.

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Palácio Presidencial do Haiti, na cidade de Porto Príncipe.

O Palácio Presidencial do Haiti foi parcialmente destruído pelo terremoto de 2010.

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História

Reúna-se com um colega e leia o texto a seguir. Depois, faça o que se pede.

interpretando documentos

A escravidão não esteve no centro dos debates de São Domingos até 1791, quando uma grande revolta escrava fez a classe proprietária perceber que os ideais de liberdade foram compreendidos também pelo setor escravo. [...]

Foi, na avaliação de muitos autores, a mais notável rebelião escrava jamais vista no Cari-be francês. [...] a revolta foi planejada em uma reunião de escravos presidida pelo cocheiro Boukman Dutty, na qual se decidiu a deflagração de revoltas simultâneas em várias das gran-des plantations da região. [...] De acordo com o historiador C.L.R. James, a “canção predileta” dos negros em tais cerimônias continha os seguintes versos: “Juramos destruir os brancos e tudo que possuem; que morramos se falharmos nesta promessa”.

Estima-se que 100.000 escravos envolveram-se na revolta, causando enorme destruição e um saldo de 20.000 cativos que deixaram as plantations e formaram acampamentos, sobre-tudo nas áreas ao norte da ilha. Embora um aparente retorno da ordem tenha se seguido à insurreição, hoje sabemos que o levante foi o início do fim da escravidão em São Domingos: os líderes das colunas revolucionárias negras [...] surgiram ali como promessas militares com grande capacidade de liderança. Mas estas promessas só se revelariam integralmente mais tarde, quando os rumos da Revolução Francesa se radicalizaram e as ideias de igualdade civil e liberdade atingiram o ápice. No desfecho da revolta, as lideranças negras negociaram sua própria liberdade e a de seus seguidores mais imediatos, sem se comprometerem com a defesa geral da abolição da escravidão.

A radicalização do processo revolucionário foi crescente após 1792, quando a República foi declarada na França. Ainda em abril deste ano, o ministério jacobino aprovou um decreto que concedia amplos direitos civis e políticos a todos os adultos livres das colônias, sem res-trição de cor. [...]

a) Identifique no texto e registre a seguir duas frases que evidenciem a luta dos escravizados da colônia de São Domingos.

b) Troque ideias com seu colega e escreva um parágrafo que explique como o texto relaciona a

Independência do Haiti à Revolução Francesa.

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VIANA, Larissa. A Independência do Haiti na era das revoluções. Disponível em: <http://anphlac.fflch.usp.br/indep-haiti-apresentacao>. Acesso em: 2 abr. 2019.

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1 Na década de 1970, houve uma forte valorização da cultura latino-americana. Muitas músicas exal-tavam o passado, os processos de independência e mesmo o sofrimento dos povos latino-america-nos submetidos ao domínio espanhol, como revela a letra da canção a seguir.

o que já conquistei

Veias abertas

América latinaTem que ir de mão dadaPor uma vereda distintaPor um caminho mais claroSeus filhos já não poderãoEsquecer nosso passadoTemos muitas feridasOs latino-americanos

Vivemos tantas paixõesCom o passar dos anos [...]Quem nos entristece não sabeQue somos todos irmãos [...]

[...]Corações castigadosSomos fervorosamenteLatino-americanos

SCHAJRIS, Mario; SUJATOVICH, Leo. Venas abiertas. In: SOSA, Mercedes. Vengo a ofrecer mi corazón. Buenos Aires: Philips, 1985. 1 LP. Faixa 10. Tradução nossa.

vereda: caminho.

a) Que ideais se procurou exaltar nessa canção?

b) Transcreva os trechos que justifiquem as ideias destacadas na questão anterior.

c) Agora, reflita: Você se considera latino-americano? Por quê?

2 Justifique cada um dos elementos indicados a seguir como fatores relacionados à emancipação das colônias latino-americanas.

Revolução Industrial Ideias iluministas

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História

Independência dos Estados Unidos Política europeia

3 Leia as afirmações a seguir e marque com um X as alternativas corretas.

a) ( ) As revoluções burguesas ocorridas na Europa incentivaram a luta das colônias espanholas pela emancipação política.

b) ( ) A propagação das ideias iluministas foi fundamental para que ocorressem os processos de emancipação na América Latina.

c) ( ) As colônias espanholas na América Latina se caracterizaram por serem colônias de explo-ração, semelhantes às colônias inglesas do Sul na América do Norte.

d) ( ) No contexto de luta das colônias espanholas pela emancipação, houve intensa mobilização popular. A participação de indígenas e escravizados africanos nesse processo garantiu a con-quista de algumas aspirações populares, como a abolição da escravatura em toda a América.

e) ( ) A Inglaterra apoiou a luta das colônias espanholas pela emancipação, pois tinha interesses econômicos na América Latina.

4 Explique por que os criollos, mesmo pertencendo à elite colonial e desfrutando de privilégios eco-nômicos, estavam descontentes com a situação das colônias.

5 Por que a luta pela emancipação da colônia francesa de São Domingos (atual Haiti) foi um caso úni-co na América? E por que causou tanto temor às elites das demais colônias latino-americanas?

6 Preencha a tabela a seguir com os nomes dos locais onde lutaram alguns líderes pela independência da América Latina, no século XIX.

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Tupac Amaru II

Simón Bolívar

San Martín

Padre Miguel Hidalgo

Padre José María Morelos

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Toussaint Louverture

Jean-Jacques Dessalines

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capí

tulo Brasil:

emancipação política

8

Em 1807, a Corte portuguesa partiu em direção à sua Colônia mais rica, o Brasil, descartando a possibili-dade de instalar-se em outras, situadas na África ou na Ásia. A chegada dos navios à colônia americana aconte-ceu em 1808. Esse fato marcou o início do processo de independência do Brasil em relação a Portugal.

O que você sabe sobre o evento conhecido como transferência da Corte portuguesa para o Brasil? Que in-formações sobre o fato é possível perceber na imagem desta página?

Vinda da Família Real portuguesa para o Brasil

Mudanças políticas e econômicas na Colônia

Reino Unido Revolução Pernambucana Sociedade colonial Revolução Liberal do Porto

e a regência de D. Pedro Processo de independência

o que vocêvai conhecer

DELERIVE, Nicolas. Despedida de D. João de seus súditos. Século XIX. 1 óleo sobre tela, color., 62,5 cm × 87,6 cm. Museu Nacional dos Coches, Lisboa.

©Museu Nacional dos Coches, Lisboa

Representação artística do momento do embarque da Corte portuguesa em Portugal com destino à colônia na América

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História

Compreender o contexto político europeu que resultou na transferência da Corte por-tuguesa para a Colônia.

Identificar a participação e o interesse da Inglaterra na transferência da Corte.

Identificar as mudanças que ocorreram na Colônia com a instalação da Corte portuguesa.

Relacionar a Revolução Pernambucana de 1817 com a presença da Corte portuguesa e o processo de emancipação do Brasil.

Compreender a mudança da condição do Brasil de Colônia para Reino Unido.

Relacionar a Revolução Liberal do Porto com o retorno da Corte para Portugal.

Compreender o processo de independên-cia do Brasil ocorrido em 1822 e estabe-lecer relações com as emancipações dos demais países da América Latina.

objetivos do capítulo

Vinda da Família Real portuguesa para o Brasil

Para compreender a transferência da Corte portuguesa para sua Colônia na América, é

necessário rever o contexto histórico europeu do final do século XVIII e início do XIX.

Nesse período, o governo e a burguesia industrial inglesa e francesa procuravam novos

mercados fornecedores e consumidores. Com a industrialização, era necessário obter um

volume cada vez maior de matérias-primas, uma vez que as máquinas produziam mais em

menos tempo. Ao mesmo tempo era preciso ampliar o mercado consumidor.

Tanto na Inglaterra quanto na França, a burguesia ganhava espaço na organização do

Estado, implementando seus ideais como o fim dos privilégios de nascimento, do absolu-

tismo monárquico e da política mercantilista. A burguesia procurava eliminar as barreiras

comerciais, abrindo o mercado para seus produtos, ações que contribuíam para tornar mais

acirrada a disputa política e econômica entre os dois Estados.

A fim de enfraquecer a economia inglesa, Napoleão Bonaparte, imperador francês, decre-

tou o Bloqueio Continental em 1806. O documento determinava que os reinos europeus não

podiam comercializar com os ingleses, ou seja, nem vender nem comprar produtos. O objetivo

de Napoleão era prejudicar a indústria inglesa e estimular a venda dos produtos industrializados

franceses.

O governo português havia assinado o Tratado de Methuen (1703), submetendo-se aos

interesses ingleses. Por isso, o Bloqueio Continental deixou Portugal em uma situação difí-

cil: seguiria o acordo feito com a Inglaterra ou as imposições da

França? A situação fez Portugal assumir uma postura única. Em

sua biografia Napoleão Bonaparte escreveu sobre D. João: "Foi o

único que me enganou". Isso por conta do teatro encenado pelo

Príncipe Regente para evitar a invasão enquanto organizava sua

fuga com escolta inglesa.PAIO, José I. de S. Dom João VI. 1824.

Palácio Nacional de Mafra.

João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança. Ele recebeu o título de Príncipe Regente de Portugal em 1792, em razão

da demência de sua mãe, conhecida como Maria I, a Louca.

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Quando as forças napoleônicas chegaram a Portugal, a Corte já havia partido. A popula-ção ficou para trás e teve que lidar com o inimigo por conta própria.

A decisão tomada por D. João foi original: pela primeira vez, um monarca europeu che-garia ao Hemisfério Sul.

Em novembro de 1807, tropas francesas cruzaram a fronteira de Portugal com a Espanha e avançaram em direção a Lisboa. D. João [...] decidiu-se, em poucos dias, pela transferência da Corte para o Brasil. Entre 25 e 27 de novembro de 1807, cerca de 10 a 15 mil pessoas em-barcaram em navios portugueses rumo ao Brasil, sob a proteção da frota inglesa. Ministros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcionários do Tesouro, patentes do exército e da marinha, membros do alto clero.

Seguiam também o tesouro real, os arquivos do governo, uma máquina impressora e vá-rias bibliotecas que seriam a base da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Houve muita confusão no embarque, e a viagem não foi fácil. Uma tempestade dividiu a frota; os navios estavam superlotados, daí resultando falta de comida e água; a troca de roupa foi improvi-sada com cobertas e lençóis fornecidos pela marinha inglesa; para completar, o ataque dos piolhos obrigou as mulheres a raspar o cabelo.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001. p. 121.

A falta de condições de higiene teve como consequência a proliferação de doenças. Durante o trajeto, que durou 55 dias, a esquadra foi surpreendida por violentas tempestades.

Em janeiro de 1808, a Família Real portuguesa e parte da Corte aportaram na Colônia brasileira, na cidade de Salvador. Dois meses depois, em março, estavam no Rio de Janeiro. Nessa época, a Colônia tinha uma economia agrária, com uma produção voltada para a ex-portação, e o trabalho escravo era a base da economia colonial. Os centros urbanos eram modestos: havia poucas cidades, como Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e Ouro Preto, e muitas pequenas vilas.

BLASCO, Miguel A. Prospectiva da cidade do Rio de Janeiro. 1760. Rio de Janeiro. Arquivo Histórico do Exército.

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Rio de Janeiro em 1760, década em que a cidade foi alçada à categoria de capital da Colônia

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História

Uma grande festa foi preparada para o desembarque da Corte no Rio de Janeiro: as ruas

estavam enfeitadas com areia da praia e plantas típicas; as janelas dos sobrados exibiam teci-

dos e colchas coloridas; os sinos das igrejas repicavam; uma chuva de flores coloria o caminho;

fanfarras tocavam; foguetes e artilharia estouravam fogos, fazendo muito barulho. As ordens

dadas eram para que a população do Rio de Janeiro recebesse a Corte com grande entusiasmo.

Nessa festiva ocasião foram propostos vários brindes, brindes que convido o leitor a acompanhar com atenção, pois dizem mais sobre os sentimentos de gratidão dos nossos reis convidados do que todas as descrições que poderia fazer. Sua Alteza o Príncipe Regente, o Príncipe do Brasil e a Princesa, separadamente, brindaram: Ao Rei da Grã-Bretanha, que ele tenha vida longa! O infante da Espanha seguiu-lhes: Prosperidade para os ingleses, que pelejaram pela causa da minha família. E, por fim, a Infanta: Possa o nosso pai e sua família sempre conservar a estima de todos estes Oficiais de Sua Majestade Britânica.

FRANÇA, Jean M. C.; RAMINELLI, Ronald. Andanças pelo Brasil Colonial: catálogo comentado (1503-1808). São Paulo: Ed. da Unesp, 2009. p. 212-213.

infante: na Espanha e em Portugal, era o título dado aos filhos e filhas

dos reis que não eram herdeiros da Coroa.

pelejaram: lutaram, batalharam.

Em momentos públicos de festa, a Família Real deixava claro a quem deveria agradecer pelo

fato de estar segura no Brasil, longe das pressões napoleônicas: aos reis da Inglaterra e seus

oficiais. Estes foram responsáveis por acompanhar a viagem desde Portugal, e uma esquadra

inglesa ficou ancorada no porto do Rio de Janeiro por mais de um ano após a chegada da Corte.

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A primeira moradia de D. João no Rio de Janeiro foi no Paço da Cidade, um espaço pequeno e

desconfortável para abrigar toda a Família Real. Pouco tempo depois, ele se mudou para a Quinta

da Boa Vista, que ficava distante uma hora e meia do centro da cidade naquela época.

Os membros da Família Real participaram de banquetes comemorativos à sua chegada, al-

guns deles oferecidos pelos diplomatas estrangeiros que estavam no Brasil, principalmente os

ingleses. O conde inglês Thomas O’Neill registrou um momento desses banquetes em 1808.

VIANA, Armando de M. Chegada de D. João à Igreja do Rosário. 1937. 1 óleo sobre tela, color. Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Representação artística da chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro

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Parte do trabalho dos historiadores é confrontar diferentes fontes para obter informa-

ções sobre um acontecimento. Seguindo essa lógica, observe as fontes a seguir.

O primeiro quadro representa a partida da Família Real e da Corte portuguesa da cidade

de Lisboa, no dia 27 de novembro de 1807.

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EMBARQUE da Família Real portuguesa. Século XIX. 1 óleo sobre tela, color., 70 cm × 92 cm. Museu Histórico e Diplomático, Rio de Janeiro.

O segundo quadro, de outro autor, é o mesmo que você observou na abertura do capítu-

lo. Trata-se também de uma representação da saída da Família Real de Portugal.

DELERIVE, Nicolas. Despedida de D. João de seus

súditos. Século XIX. 1 óleo sobre tela, color.,

62,5 cm × 87,6 cm. Museu Nacional dos Coches, Lisboa.

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História

Agora, leia o texto a seguir.

Segundo vários cronistas da época, instalou-se certa confusão, com muitos fidalgos fa-zendo-se transportar às pressas para os navios, onde não havia mais lugar. O povo de Lisboa manifestava com lágrimas, dor e desolação seu sentimento diante da partida do príncipe.

DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta, 2016. p. 153.

Por fim, depois de confrontar as fontes, como um historiador, responda às questões a seguir.

1 Em sua opinião, qual das duas imagens parece representar melhor a partida da Corte? Por quê?

2 As duas imagens são representações idealizadas do momento da partida da Família Real. Você con-corda? Por quê?

3 Por que essas pinturas mostraram a cena de forma idealizada e não de acordo com a narrativa do texto citado, com uma grande confusão no porto?

4 Nos dois quadros, destaca-se a representação de navios. Alguns deles são portugueses, responsá-veis pelo transporte da Corte. De qual outra nação eram as embarcações que aparecem nas ima-gens e qual era o interesse na transferência da Corte para a Colônia brasileira?

5 Após essas análises, construa uma legenda para cada quadro.

1º. quadro:

2º. quadro:

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Mudanças políticas e econômicas na Colônia

Assim que desembarcou na Colônia, em janeiro de 1808, na cidade de Salvador, D. João decretou a Abertura dos Portos Brasileiros às Nações Amigas. Essa medida beneficiou a Inglaterra, interessada em encontrar mercados consumidores para seus produtos industria-lizados. Até então, os produtos brasileiros eram destinados a Portugal, que os revendia. Com a ocupação desse país pelos franceses, era necessário estabelecer o comércio livre no Brasil Colônia. Depois dessa primeira medida, ocorreram muitas outras. Nos primeiros anos, as transformações na Colônia foram intensas.

A partir de março de 1808, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a sede do reino portu-guês e uma estrutura administrativa foi instalada no local. Nessa estrutura, todos os cargos importantes foram ocupados apenas por portugueses, sem a inclusão de um único brasileiro.

Mesmo diante desse fato, o Brasil passou, aos poucos, da situação de Colônia ao status de Metrópole.

A estrutura administrativa instalada em 1808 era composta por instituições responsáveis pela regulação do comércio, da justiça e das finanças do reino, como o Conselho de Estado, a Corte Suprema, o Conselho Real da Fazenda e a Junta do Comércio, Agricultura, Fá-bricas e Navegação. O Banco do Brasil foi fundado em 1809.

Além do estabelecimento dessas instituições em 1808, D. João revogou os decretos que proibiam a instalação de manufaturas e tipografias na Colônia. Foram criadas bibliotecas públicas e acade-mias científicas, filosóficas e literárias.

Ainda no ano de 1808, foi fundado o Jardim de Aclimação, de-pois chamado de Real Horto e, atualmente, conhecido como Jar-dim Botânico do Rio de Janeiro. Espécies variadas foram trazidas

de diversos lugares do mundo, inclusive plantas para o preparo de chás. Com isso, vários chineses vieram para a Colônia, a fim de trabalhar com o plantio e a colheita de folhas de chá.

A ocupação de cargos importantes apenas por homens nascidos na metrópole foi uma situação comum nas colônias americanas nesse período. Nas colônias espanholas, os criollos, descendentes de espanhóis nascidos na América, não podiam ocupar cargos na administração dos vice-reinados, já que estes eram exclusivos dos chapetones, moradores das colônias, mas nascidos na Espanha.

©Shutterstock/Gustavomellossa

Imagem atual do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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História

Era necessário estimular a produção de alimentos e garantir o transporte dessas mer-

cadorias pelo território, o que demandava investimentos na construção de estradas e na

melhoria dos meios de transporte, setores ainda precários na Colônia. Assim, a navegação

fluvial foi incentivada e estradas foram abertas para ligar vilas e povoados do interior com

localidades do litoral.

Em 1810, D. João assinou dois acordos com a Inglaterra, que se tornaram entraves para o

desenvolvimento do Brasil naquele momento, ao mesmo tempo que favoreciam os ingleses.

Tratado de Navegação e Comércio – definiu que impostos de importação fossem fixa-

dos em 15% para os produtos ingleses, em 16% para os portugueses e em 24% para as

demais localidades.

Tratado de Aliança e Amizade – previa liberdade religiosa aos ingleses que residiam

no Brasil; determinava que o inglês que cometesse crime na Colônia tivesse um julga-

mento de acordo com as leis da Inglaterra. Estabeleceu ainda a limitação do tráfico de

escravizados.

A Abertura dos Portos resultou no crescimento da importação dos produtos industriali-

zados ingleses. Houve, também, um significativo aumento do desembarque de pessoas es-

cravizadas na Colônia.

Considerando-se as médias anuais de desembarque, podemos dividir o período 1790-1830 em três intervalos, surgindo as datas de 1809 e 1826 como momentos de ruptura. No primeiro intervalo (1790-1808), os desembarques chegavam a uma média de 9.224 africanos/ano. O co-mércio de homens conhecia certa estabilidade, crescendo 0,35% anuais até 1808. A chegada da família real e a concomitante abertura dos portos coloniais ao comércio internacional ele-varam o volume desses desembarques. Entre 1809 e 1811, o incremento do tráfico foi enorme, quando passou de 13.171 para 23.230 o número de africanos aqui aportados.

FLORENTINO, Manolo; GÓES, José R. A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790-c. 1850. São Paulo: Unesp Digital, 2017. p. 40.

O aumento do desembarque de africanos, principalmente no porto do Rio de Janeiro,

promoveu a ampliação da diversificação social e étnica no Brasil.

Artistas, cientistas e academias

A Corte portuguesa restabeleceu as relações diplomáticas com a França em 1815, após

a derrota de Napoleão Bonaparte e seu exílio na Ilha de Santa Helena. Em março de 1816,

um grupo de artistas desembarcou no Rio de Janeiro. Esse grupo formou a Missão Artística

Francesa e dela fizeram parte pintores, arquitetos, carpinteiros e músicos, como Jean-Bap-

tiste Debret, Joachim Lebreton (líder da missão), Nicolas Taunay e Grandjean de Montigny.

Botânicos, zoólogos e outros cientistas também integraram o grupo, sendo responsáveis

pelo registro da geografia, da flora e da fauna brasileiras.

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Entre 1816 e 1831, Debret viajou por várias partes do Brasil e conheceu muitos lugares e

pessoas. Porém, nem todas as representações produzidas se basearam no que viu. Algumas

das gravuras foram feitas com base em produções de outros artistas que o pintor conheceu

e que circulavam pelo Brasil interessados em descobrir a geografia e a natureza brasileiras.

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DEBRET, Jean-Baptiste. Quinta Real da Boa Vista. 1834. 1 aquarela, color. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil.

TAUNAY, Nicolas A. Vista da baía do Rio de Janeiro tirada das montanhas da Tijuca. 1820. 1 óleo sobre tela, color., 52 cm × 64 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.

Pintura de Taunay que retrata moradias do Rio de Janeiro no início do século XIX

Aquarela de Debret do século XIX mostra a paisagem ainda rural do entorno da Quinta Real da Boa Vista, onde moravam D. João e parte da Corte

Esses artistas foram responsáveis por criar a Escola Superior de Belas Artes no Rio de

Janeiro, institucionalizando o ensino artístico e reproduzindo um gênero de pintura e gra-

vura que exaltava a pátria e a história. Um exemplo de artista desse gênero foi Debret, que

produziu muitas obras nas quais retratou não só os membros da Família Real e da Corte.

Mesmo a serviço da Coroa, Debret produziu inúmeras imagens que retratam o cotidiano do

moradores da Colônia, como escravizados e indígenas, e também a natureza brasileira.

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História

Reino Unido

Em 1815, D. João decretou o fim da condição colonial, criando o Reino Unido de Portu-

gal, Brasil e Algarves. Com esse ato, aliado à presença do Príncipe Regente no Brasil, a antiga

Colônia tornou-se a sede do governo português.

Tal medida demonstrou a intenção de D. João de fixar a sede do reino na América, deci-

são que agradava especialmente à elite localizada no Rio de Janeiro. Essa elite beneficiou-se

da aproximação com a Família Real, obtendo terras que eram transformadas em fazendas

de café geradoras de riquezas. Desse modo, esse grupo apreciava a intenção de D. João de

permanecer no Brasil.

1 Complete o quadro a seguir com informações sobre as mudanças econômicas, políticas e artísticas ocorridas na Colônia logo após a chegada da Corte portuguesa.

organizando a história

Ano Mudanças

1808

1810

1815

1816

2 Você considera que essa quantidade de mudanças deve ter causado tranquilidade ou inquietações na Colônia? Justifique sua resposta.

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Nas demais regiões do Brasil, entretanto, a realidade era outra, pois as elites desses lo-cais se ressentiam do acúmulo de problemas relacionados às decisões políticas e econômicas da Corte, como os mencionados a seguir:

O controle da Corte era rigo-roso. De forma centralizada, ela tomava as decisões polí-ticas sobre todas as provín-cias no Brasil. Além disso, impunha pesados impostos sobre a produção dos colo-nos.

Os colonos não podiam par-ticipar das decisões toma-das pela Corte e isso gerou grande descontentamento. As críticas à cobrança de impostos e à exagerada cen-tralização da Corte eram fre-quentes.

Com o fim das Guerras Napoleônicas, houve uma queda no preço do algodão e do açúcar, o que levou os colonos dedicados a essas produções a uma crise eco-nômica. Como não houve re-dução dos impostos, o des-contentamento aumentou.

A Corte decidiu também ampliar suas fronteiras territoriais na América. Para tanto, em 1816, entrou em um conflito ao sul do território, incorporando o Uruguai, que passou a fazer parte do Reino Unido com o nome de Província Cisplatina. Mais impostos foram cobrados de todos para garantir a realização dessa empreitada militar. Dessa forma, o descontentamento das elites de fora do Rio de Janeiro só aumentava.

Nesse clima de tensão, em 6 de fevereiro de 1818 ocorreu a aclamação de D. João como monarca do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, no Rio de Janeiro. Até esse momento, ele era Príncipe Regente e foi somente depois da morte de sua mãe, D. Maria I, que recebeu o títu-lo de rei, passando a ser chamado de D. João VI.

1 Em 1815, a Colônia portuguesa na América tornou-se Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Na prática, o que isso significou?

2 Uma parte da elite brasileira gostou da ideia de o rei fixar a sede do governo no Brasil, mas outra parte não. Quais eram esses grupos e quais foram as razões para interpretarem de forma diferente o mesmo ato?

organizando a história

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DEBRET, Jean-Baptiste. Aclamação do Rei Dom João VI do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. 1834. 1 litografia, color. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil.

Aclamação de D. João VI no Rio de Janeiro, em 1818

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História

Revolução Pernambucana

No início do século XIX, a queda na produção de açúcar e algodão (base da economia

pernambucana), causada pela concorrência do algodão estadunidense e do açúcar antilhano,

era um dos motivos para a insatisfação dos pernambucanos. Para intensificar esse descon-

tentamento, ocorreu uma grande seca em 1816, o que causou graves problemas à agricultu-

ra e acentuou a fome e a miséria na região.

Além dessa situação, muitas pessoas não concordavam com a presença maciça de por-

tugueses nos principais cargos de governo, na administração pública e no controle do co-

mércio. Soma-se a isso o constante aumento dos impostos, os quais eram usados para a

manutenção da Corte no Rio de Janeiro. Ou seja, os impostos cobrados no interior eram

destinados ao Rio de Janeiro e não eram usados para a melhoria local.

A insatisfação atingia diversos grupos sociais, que se uniram contra o controle por-

tuguês. Em 6 de março de 1817, os insurgentes tomaram o Recife. De um lado estavam

os proprietários de terras, os vendedores ambulantes, os tropeiros e os libertos, além

de moradores que se sentiam prejudicados pelos altos preços dos produtos no mercado

interno. Faziam parte desse grupo membros de diversas sociedades secretas e de lojas

maçônicas, como havia ocorrido na Conjuração Mineira, em 1789, e na Conjuração Baia-

na, em 1798. Do outro lado do conflito estavam os portugueses, que monopolizavam o

comércio e tinham o apoio do governo português.

O movimento rebelde tinha como objetivos a separação da capitania de Pernambuco

do reino português, o es-

tabelecimento da forma

republicana de governo

e a expulsão dos portu-

gueses que ocupavam

cargos na administração.

As ideias iluministas, que

circulavam entre os re-

presentantes da intelec-

tualidade pernambucana,

reforçavam o sentimento

de revolta de todos. Tam-

bém influenciou os per-

nambucanos o exemplo

da Independência dos Es-

tados Unidos, pois a ideia

de construir um país livre,

com crescimento econô-

mico e republicano pare-

cia muito atraente.

A revolta espalhou-se por outras capitanias e os rebeldes chegaram a organizar um gover-

no provisório, que propôs a eliminação de alguns impostos e a elaboração de uma Constitui-

ção que garantisse liberdade religiosa e de imprensa, bem como a igualdade entre todos.

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SCHLAPPRIZ, Luis. Campo das Princesas (Largo do Palácio). 1863. Recife.

Revoltosos durante a Revolução Pernambucana em 1817, no Campo das Princesas no Recife

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Entretanto, com relação à manutenção do trabalho escravo, os líderes se dividiram. A

emancipação do Haiti (1804) era uma fonte tanto de inspiração quanto de medo: por um

lado, representava a possibilidade da organização popular para a derrota do colonialismo;

por outro, a participação política de ex-escravizados assustava os ricos proprietários de terra

pernambucanos que defendiam a manutenção do trabalho escravo. Diante desse impasse,

os revoltosos pernambucanos não incluíram a libertação dos escravizados em seu projeto de

governo.

Do Rio de Janeiro, D. João enviou tropas, armas e navios liderados pelo Conde dos Arcos,

que reprimiu violentamente o movimento. Os principais líderes da revolta foram condena-

dos à morte ou à prisão: padre Miguel Joaquim, padre Pedro de Souza Tenório, Domingos

Teotônio Jorge, Antônio Henriques e José de Barros Lima.

Sociedade colonial

A instalação da monarquia portuguesa no Rio de Janeiro provocou transformações ra-

dicais na cidade. Isso porque, em primeiro lugar, era necessário acomodar a Família Real e

todos os integrantes da Corte. Para isso, as melhores casas da cidade foram desapropriadas

a fim de abrigar os novos moradores. Uma marca era desenhada na entrada das casas esco-

lhidas e, então, imediatamente seus antigos donos deveriam desocupá-la.

D. João costumava passear todos os dias pela cidade, acompanhado por soldados que

faziam sua segurança. Ele se deslocava em um carro aberto e saudava as pessoas que encon-

trava no caminho. Já à noite, às 20 horas, participava da cerimônia do beija-mão no Paço de

São Cristóvão ou no Paço da Cidade. O beija-mão, habitual em Portugal e na Espanha, era

uma cerimônia herdada dos costumes medievais. Consistia em receber membros da Corte e

dos tribunais e pessoas condecoradas para beijar a mão do soberano. No Brasil, durante a ce-

rimônia era comum que os participantes fizessem solicitações de seu interesse ao soberano

ou que D. João distribuísse títulos de nobreza.

Os membros da Corte tinham poucas opções de lazer, mas, com a fundação da Capela

Real, participavam de apresentações de música. Também aconteciam as tertúlias, reuniões

literárias com a presença dos homens cultos da Corte e de membros do clero. A fundação

do Real Teatro de São João, palco de apresentações de companhias teatrais estrangeiras e

brasileiras, passou a fazer parte das horas de lazer da Corte e da elite local.

Foram fundadas as escolas de primeiras letras, que geralmente funcionavam na casa

dos próprios professores, para os filhos das famílias mais abastadas. Essa realidade coexistia

com a educação recebida na própria casa

dos alunos de famílias ricas, que contrata-

vam professores para isso. A maioria das

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A. P. D. G. Sketches of portuguese life, manners, costume, and character: illustraded by twenty coloured plates. London: Richard Gilbert, 1826.

Na imagem, fica clara a expressão de tédio dos membros da Família Real durante a cerimônia do beija-mão

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História

mulheres, mesmo de famílias da elite, não recebia educação escolar e poucas sabiam ler e

escrever; o mesmo ocorria com os homens e mulheres provenientes das camadas populares

da sociedade. Para esses grupos e também para os escravizados, não se cogitava a possibili-

dade de oferta de educação escolar.

As pessoas mais simples da socieda-

de divertiam-se em caminhadas no Passeio

Público ou em saraus familiares. Pelas ruas,

havia certa agitação àquela época: aguadei-

ros iam buscar água nos chafarizes; pessoas

escravizadas circulavam ocupadas com seus

afazeres; mendigos pediam esmolas, prin-

cipalmente para as pessoas a caminho das

missas. Nas noites quentes, era comum as

famílias se reunirem nas ruas para cantar

modinhas e lundus (dança de origem africa-

na) acompanhados pelo violão.

RUGENDAS, Johann M. A dança do lundu. 1835. 1 litografia.Viagem pitoresca através do Brasil.

troca de ideiasA chegada da Família Real ao Rio de Janeiro promoveu alterações mais significativas

no cotidiano das elites ou das camadas populares da sociedade colonial brasileira? Você

percebe heranças dessa situação na atualidade?

Revolução Liberal do Porto e a regência de D. Pedro

Em Portugal, era grande o descontentamento com a permanência de D. João VI no Bra-

sil. A economia havia sido prejudicada pelos Tratados firmados com os ingleses em 1810.

Em agosto de 1820, ocorreu a Revolução do Porto ou Revolução Liberal. O movimento teve

início na cidade do Porto, em um episódio no qual os comerciantes portugueses exigiram o

imediato regresso do rei. Essa revolução espalhou-se rapidamente pelo resto do país, en-

contrando apoio em diversos setores da população, como os militares, o clero e a burguesia.

No Brasil, a exigência de que D. João VI voltasse para Portugal gerou opiniões diversas

entre os moradores do Reino Unido. Para muitos, representava uma possibilidade de retor-

no do Brasil à condição de Colônia subordinada à Metrópole.

A imagem de Rugendas mostra a diversidade étnica que caracterizava a população brasileira, reunida nos momentos de

lazer nas ruas do Rio de Janeiro: colonos, escravizados e religiosos

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Fato que agradava a alguns comerciantes portugueses, que tinham perdido certos privi-légios com a abertura dos portos. Já outro grupo, adaptado às regras do livre-comércio, opu-nha-se ao regresso do rei a Portugal, temendo que a Colônia voltasse a ser explorada pela

Metrópole.

A pressão por parte dos portu-gueses se configurou com ações como a nomeação de uma junta provisória para governar Portugal e a convocação de uma Assembleia Constituinte para a elaboração de uma Constituição que limitasse os poderes reais.

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DEBRET, Jean-Baptiste. Partida da rainha D. Carlota para Portugal. 1839. 1 aquarela, color., 20,9 cm × 34,2 cm. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil.

A pintura apresenta o retorno da Família Real portuguesa à Europa, no dia 21 de abril de 1821

Diante das ameaças que poderiam levar à perda do trono, D. João VI resolveu partir defi-nitivamente para Portugal, em abril de 1821. Deixou seu filho, D. Pedro, então com 22 anos, como Príncipe Regente.

Com D. João VI em Portugal, as Cortes portugue-sas tentaram fazer o Brasil voltar à condição de Colô-nia. Entre os brasileiros, grupos liberais compostos por advogados, jornalistas, alfaiates e comerciantes, sendo alguns integrantes da elite, temiam a subordinação e defendiam a soberania brasileira. Em 9 de janeiro de 1822, as Cortes portuguesas ordenaram o imediato re-torno de D. Pedro a Portugal.

troca de ideiasOrganize duas listas em seu caderno. Na primeira, liste quatro argumentos para de-

fender o ponto de vista dos portugueses sobre a necessidade de retorno do rei. Na se-gunda lista, escreva quatro razões para defender a perspectiva dos brasileiros sobre a necessidade da permanência do rei no Brasil. Depois converse com os colegas sobre os impasses vividos nos anos de 1820, 1821 e 1822 entre Brasil e Portugal.

SILVA, Oscar P. da. Sessão das Cortes de Lisboa. 1922. 1 óleo sobre tela.

315 cm × 262 cm. Museu Paulista, São Paulo.

Deputados portugueses e brasileiros em uma sessão das Cortes, em Lisboa

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História

Processo de independência

O grupo favorável à permanência de D. Pedro no Brasil enviou a ele, em janeiro de 1922, uma petição apoiando o projeto de independência brasileira. Diante disso, D. Pedro declarou que aqui permaneceria. O episódio ficou conhecido como “Dia do fico” em decorrência da frase proferida por ele: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”.

O processo de independência brasileira teve a influência de José Bonifácio de Andrada e Silva. Ele era um estadista ilustrado que tinha um projeto moderno para o Brasil. Defendia a integridade e a indivisibilidade do reino, a demarcação das fronteiras com os países vizinhos, a criação de colégios e universidades, o apoio aos agricultores, a incorporação dos indígenas à sociedade e era contra o tráfico de escravizados, aconselhando que fosse extinta a escravidão.

Outra pessoa importante no processo de independência foi D. Leopoldina, esposa de D. Pedro e grande admiradora de José Bonifácio. Ela contribuiu com suas ações e ideias para que D. Pedro olhasse para o Brasil com a possibilidade de torná-lo independente.

Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro retornava de São Paulo quando recebeu da Corte portuguesa documentos e mensagens pelo correio. José Bonifácio lhe enviou uma carta so-licitando seu imediato retorno ao Rio de Janeiro, com as seguintes palavras: “Senhor, o dado está lançado, e de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores”. Em outra car-ta, D. Leopoldina suplicava: “Só a sua presença, muita energia e rigor para salvá-lo (o Brasil) da ruína”.

Segundo o padre Belchior, que acompanhava a comitiva, D. Pedro reuniu sua guarda e declarou: “Amigos, as Cortes portuguesas querem escravizar-nos e perseguem-nos. De hoje em diante, nossas relações estão quebradas. Nenhum laço nos une mais. [...] Viva a indepen-dência, a liberdade e a separação do Brasil!”

©Museu Paulista, São Paulo

A imagem retrata a Independência do Brasil como um momento suntuoso e de glória, negando, dessa forma, o caráter conservador do processo

AMÉRICO, Pedro. Independência ou morte. 1888. 1 óleo sobre tela, color., 415 cm × 760 cm. Museu Paulista, São Paulo.

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Estava declarada a Independência do Brasil na condição de Império. D. Pedro foi coroado

imperador, passando a ser chamado de D. Pedro I. Esse processo, assim como nos demais países

da América Latina, contou com a ajuda da Inglaterra, interessada em manter os benefícios co-

merciais garantidos pelos Tratados de Comércio e Navegação assinados por D. João em 1810.

Diferentemente do que ocorreu nas colônias espanholas na América, que com a emancipação

se fragmentaram em inúmeros países republicanos, o Brasil independente manteve a extensão

territorial da Colônia e estabeleceu uma monarquia hereditária como forma de governo.

Portugal somente aceitou oficialmente a independência mediante o pagamento de uma

indenização no valor de dois milhões de libras (moeda britânica). A indenização exigida pela

Coroa portuguesa levou o governo brasileiro a contrair um empréstimo internacional, pois o

capital necessário foi concedido ao Brasil pela Inglaterra.

A Proclamação da Independência foi sucedida pela adoção de uma série de medidas,

como uma forma de administração própria e a organização de um exército. Para tanto, era

preciso ter uma Constituição, que consolidaria a formação do Estado nacional brasileiro, o

maior país em extensão territorial da América do Sul.

interpretando documentos

De características absolutamente peculiares foi a independência do Brasil, ocorrida em 1822 com o desdobramento da coroa da família imperial Bragança quando João VI, retornan-do a Lisboa por insistência das cortes liberais, deixou ao filho Pedro I a regência do Brasil. Diante da hostilidade das elites locais às pretensões portuguesas de impor o centralismo que predominava antes da fuga da corte para o Rio, Pedro I instituiu uma monarquia constitucio-nal independente. Por esse motivo, e em geral porque não se formara, no caso do Brasil, um vácuo de poder, o seu processo de independência foi bem diferente do ocorrido nas demais colônias hispânicas: a independência foi pacífica, não implicando nenhuma mobilização po-pular. Além disso, enquanto inúmeras repúblicas derivaram do império hispânico, o Brasil conservou a unidade territorial sob a forma de monarquia, mantida até 1889. [...]Quanto à América do Sul, as guerras antes e a queda do império espanhol depois, puseram as elites li-berais americanas, até então protagonistas, frente à crua realidade que teriam que enfrentar daí em diante. [...] Em segundo lugar, os líderes independentistas não puderam impedir que, com o desaparecimento do soberano – daquele que havia encarnado a unidade política do império – todo o organismo se fizesse em pedaços, e que cada um destes, liberado do pacto de lealdade ao rei, se considerasse na posse da soberania plena. Tanto que de um império originaram-se inúmeros Estados que foram palco de violentas hostilidades entre cidades e províncias: todas livres, todas soberanas.

Leia o texto a seguir sobre o processo de Independência do Brasil.

ZANATTA, Loris. Uma breve história da América Latina. São Paulo: Cultrix, 2017. p. 56-58.

O texto aponta particularidades dos processos de Independência do Brasil e de outros países da América Latina. Com base em seus estudos e na leitura desse texto, identifique as diferenças e as

justifique.

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História

o que já conquistei

1 Leia a afirmação a seguir.

Napoleão Bonaparte contribuiu para o processo de independência do Brasil.

Você concorda com essa afirmação? Justifique.

2 De que maneira o Decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas, assinado por D. João, benefi-ciou a Inglaterra e descontentou os comerciantes da metrópole portuguesa?

3 A media da Abertura dos Portos às nações amigas provocou uma alteração no número de trabalha-dores escravizados na Colônia. Que alteração foi essa e qual foi sua principal motivação?

4 Quais foram as condições que permitiram que a Missão Artística Francesa chegasse ao Brasil Colô-nia pouco tempo após a transferência da Família Real?

5 Em 1815, a Colônia passou a fazer parte do Reino Unido de Portugal e Algarves. Sobre esse fato, assinale as afirmativas verdadeiras.

a) ( ) A elite que vivia no Rio de Janeiro ficou bastante satisfeita com essa mudança, já que se beneficiou economicamente.

b) ( ) A excessiva centralização política da Corte sobre todos os lugares do Brasil e os altos im-postos trouxeram descontentamento às elites das províncias de fora do Rio de Janeiro.

c) ( ) O fim das Guerras Napoleônicas na Europa não afetou a economia desse período, e os produtores rurais continuaram lucrando.

d) ( ) Os impostos pagos para garantir a conquista da Cisplatina fizeram com que o desconten-tamento das elites com a Corte aumentasse.

e) ( ) A presença da Corte propiciou a participação das elites de todas as regiões do Brasil na decisão sobre a cobrança dos impostos.

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6 Em 1817, uma revolta teve início na província de Pernambuco. Cite as razões que levaram os per-nambucanos a se rebelarem contra a Corte portuguesa.

7 Qual é a relação política entre a Revolução do Porto, ocorrida em 1820, em Portugal, e o processo que culminou com a Declaração de Independência do Brasil, em 1822?

8 (ENEM) No tempo da independência do Brasil, circulavam nas classes populares do Recife trovas que faziam alusão à revolta escrava do Haiti:

Marinheiros e caiados,

Todos devem se acabar,

Porque só pardos e pretos

O país hão de habitar.

AMARAL, F. P. do. Apud CARVALHO, A. Estudos pernambucanos. Recife: Cultura Acadêmica, 1907.

O período da independência do Brasil registra conflitos raciais, como se depreende

a) dos rumores acerca da revolta escrava do Haiti, que circulavam entre a população escrava e entre os mestiços pobres, alimentando seu desejo por mudanças.

b) da rejeição aos portugueses, brancos, que significava a rejeição à opressão da Metrópole, como ocorreu na Noite das Garrafadas.

c) do apoio que escravos e negros forros deram à monarquia, com a perspectiva de receber sua proteção contra as injustiças do sistema escravista.

d) do repúdio que os escravos trabalhadores dos portos demonstravam contra os marinheiros, porque estes representavam a elite branca opressora.

e) da expulsão de vários líderes negros independentistas, que defendiam a implantação de uma república negra, a exemplo do Haiti.

9 O processo de independência do Brasil foi distinto do observado nas demais nações sul-americanas. Quais são as características do processo emancipatório brasileiro que evidenciam essa diferença?

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