Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

76
Capítulo 10 Autobiografia: eu por mim mesmo 2 Capítulo 11 Texto teatral: arte nos palcos 26 Capítulo 12 Conto: narrativas em cápsulas 52 Volume 4

Transcript of Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Page 1: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Capítulo 10

Autobiografia: eu por mim mesmo 2

Capítulo 11

Texto teatral: arte nos palcos 26

Capítulo 12

Conto: narrativas em cápsulas 52

Volume 4

Page 2: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

capí

tulo

Autobiografia

Adjunto adnominal

Livros em foco

Autobiografia: conte

sua história

Neste capítulo, apresen-

tamos a autobiografia de

uma autora bem-sucedida

e reconhecida por escrever

livros infantojuvenis. Você

terá a missão de desvendar

as características desse gê-

nero e de sua linguagem.

A obra ao lado foi pro-

duzida por Ismael Nery, em

1927, depois de uma via-

gem a Paris. Mais do que um

autorretrato, esse quadro

mostra a trajetória do pintor

e, por isso, funciona como

uma autobiografia. Faça

uma leitura da tela e conver-

se com os colegas sobre as

questões propostas.

Autobiografia: eu por mim mesmo

10

NERY, Ismael. Autorretrato. 1927. 1 óleo sobre tela, color., 130,7 cm × 84 cm. Coleção Domingos Giobbi, São Paulo.

o que vocêvai conhecer?

©Tempo Composto/Romulo Fialdini

2

Page 3: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

1. Apesar de serem conceitos muito próximos, há algumas diferenças entre autorretrato

e autobiografia. Que diferenças são essas?

2. Você já ouviu falar em Ismael Nery? Pesquise informações sobre esse artista.

3. Qual é o principal elemento que caracteriza essa obra como um autorretrato?

4. Que outros elementos presentes na tela permitiriam caracterizá-la como obra

autobiográfica?

Ler autobiografia, compreendendo seu estilo, sua composição e sua função comunicativa.

Produzir um texto autobiográfico, de acordo com as características desse gênero.

Pesquisar e apresentar sinopses relacionadas à obra infantojuvenil da autora em foco.

Identificar a função adjetiva (adjunto adnominal) de termos que ampliam o sentido do sujeito e do complemento verbal.

objetivos do capítulo

estudo do texto

Autobiografia

Antes de ler a autobiografia da escritora Ana Maria Machado, responda à questão a

seguir.

1 Você já leu algum livro dessa escritora? Se sim, qual(is)?

Ana Maria MachadoPrimeiros passos

Meu nome é Ana Maria Machado e eu vivo inventando histórias. E dessas que eu escrevo, algumas viram livros. Adoro o meu trabalho. Ainda bem, porque acho que não ia conseguir viver se não escrevesse.

Já fui professora, já fui jornalista, já fiz programa de rádio, já tive uma livraria e nesse tempo todo nunca parei de escrever.

Nasci e me criei no Rio, mas quando era criança costumava passar os verões na praia de Manguinhos, no Espírito Santo. Ficava quase três meses por ano à beira do mar, com meus avós, junto à natureza e às tradições.

©F

olh

ap

ress

/Pe

dro

Ca

rril

ho

3

Page 4: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Como não havia eletricidade, todas as noites as pessoas se reuniam para contar e escutar histórias. Cada adulto tinha a sua especialidade, contando os mais variados tipos de história. Tenho certeza de que sem os verões em Manguinhos eu escreveria bem diferente.

Aprendi a ler sozinha, com menos de cinco anos. Depois de deixar minha professora e minha mãe assustadas (acharam que poderia fazer mal!), comecei a mergulhar em leituras como o Almanaque do Tico-Tico e os livros de Monteiro Lobato. Foi nesse período que encontrei o livro que marcaria a minha vida para sempre: Reinações de Narizinho.

No meu aniversário de sete anos, ganhei de presente um marcante e inesquecível diário. Era um fichário preto, de três furos, onde eu podia guardar tudo o que quisesse e trancar para ninguém ver.

Na primeira página tinha um desenho lindo, feito por encomenda a um pintor argentino chamado Carybé. Nesse tempo ele ainda não tinha virado baiano nem ilustrador de Jorge Amado e García Márquez. Saí escrevendo furiosamente no diário.

Era uma boa aluna e vivia ganhando prêmios – em geral livros, da família. Uma das minhas redações foi tão elogiada e premiada que a mostrei em casa.

Meu tio Nelson, que estava lá, levou o texto para o meu tio Guilherme, folclorista – e essa acabou sendo a minha estreia literária.

Devidamente assinado e aumentado, por encomenda da revista Folclore, saiu publicado meu Arrastão, sobre as redes de pesca artesanal em Manguinhos. O meu orgulho supremo foi que a revista não falava que o texto tinha sido feito por uma menina de doze anos.

Pintando o caneco

A minha adolescência foi repleta de livros, que me proporcionaram grandes prazeres e descobertas. Ficava abismada com o jeito de escrever de grandes autores e cronistas, como Rubem Braga.

Na escola, em casa e com meus amigos, estava sempre rodeada de gente que também gostava de curtir a vida tendo bons livros ao seu lado.

Estava no científico quando comecei a estudar pintura, primeiro na Escolinha de Arte do Brasil, depois no Atelier Livre do Museu de Arte Moderna.

A expressão popular pintar

o caneco significa fazer o

que der vontade, sem se

preocupar com o resultado.

Tico-Tico, a primeira revista a publicar histórias em quadrinhos no Brasil, circulou entre 1905 e 1977

A primeira aparição do famoso Sítio do Pica-Pau Amarelo

Reinações de Narizinho, escrito por Monteiro

Lobato e publicado em 1931

©H

em

ero

teca

Dig

ita

l B

rasi

leir

a/B

ibli

ote

ca N

aci

on

al

©E

dit

ora

Glo

bo

O científico correspondia ao

Ensino Médio da atualidade.

4

Page 5: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Foi nesse curso que tive o privilégio de ter aulas com Aloísio Carvão, por quem guardo até hoje um carinho muito grande.

Nunca alguém tinha sido tão exigente comigo e ao mesmo tempo me dado tanta força, me preparando para a dureza de ser artista.

Chegou a hora de fazer vestibular, e eu não tinha ideia de que curso escolher. Na dúvida entre química e arquitetura, acabei optando por geografia, pensando que aprenderia assuntos como geografia econômica ou entenderia de modo mais profundo a sociedade brasileira. Mas a faculdade me desapontou, com a exigência de muito conhecimento exato. Para mim, no fundo, nada disso importava ou teria utilidade. O que eu queria mesmo era trabalhar como pintora.

Menos de um ano depois, cansada de examinar rochas e eixos de cristalografia, mudei de curso e fui estudar letras. Também comecei a trabalhar como professora, dando aulas de português, latim e francês (em inglês!) numa escola americana. Mesmo com tantas atividades, ia seguindo com a carreira de pintora, fazendo exposições individuais e coletivas.

De repente, tudo ficou mais sério. Me formei e fiz mestrado, casei com o médico Álvaro Machado, mudei de sobrenome e de cidade, indo para São Paulo. Passei a escrever artigos para a revista Realidade e a Enciclopédia Bloch, além de traduzir textos e continuar pintando.

Nesse período nasceu meu primeiro filho, Rodrigo. Também ganhei uma amiga para a vida toda, a escritora Ruth Rocha, que virou minha cunhada.

Recebi certo dia uma ligação da Editora Abril, me chamando para escrever em uma nova revista voltada para crianças, e que se chamaria Recreio. Não acreditei no convite, afinal era professora universitária, nunca tinha feito nada parecido. Mesmo assim, insistiram em mim e acabei topando. A revista fez um sucesso imenso, e acabou abrindo caminhos para a nova literatura infantil brasileira.

Aquele abraço

Em 1969, o país estava em plena ditadura. Já vivíamos sob o peso do Ato Institucional nº. 5, que fechou o Congresso, instituiu a censura e consolidou a tortura.

O segundo semestre desse ano foi particularmente difícil para mim. Fui presa, tive colegas, amigos e alunos detidos.

Quando o ano acabou, estava desmontando minha casa e fazendo malas para deixar o país. Anos depois, escreveria sobre essa época no romance Tropical Sol da Liberdade.

Fui para Paris em janeiro de 1970, onde trabalhei como jornalista na revista Elle e como professora em Sorbonne. Também trabalhei numa biblioteca, cuidando do setor sobre a América Latina, fiz dublagem de documentários e participei de exposições de pintura. E tratei de aproveitar a oportunidade para estudar e aprender bastante.

Virei aluna da École Pratique des Hautes Études, onde reinava soberano o famoso semiólogo Roland Barthes. Em suas aulas, ele chegava a encher um anfiteatro com 800 estudantes, mas também orientava em separado a um pequeno grupo de 20 estudantes. Depois de uma entrevista, ele me chamou para pertencer a esse grupo.

O subtítulo “Aquele abraço”

estabelece uma relação

intertextual com a canção de

Gilberto Gil de mesmo título.

Composta em 1969, é um

hino de despedida do Brasil,

em função do exílio do artista.

5

Page 6: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Sob a sua orientação, escrevi a tese de doutorado que acabou virando livro – O Recado do Nome, que trata da obra de Guimarães Rosa. Nesse período, em abril de 1971, nasceu Pedro, meu segundo filho.

Estava com dois filhos pequenos em um país estranho, tinha o trabalho, a tese e a casa para cuidar. Mesmo assim, não parei de escrever as histórias infantis. Já estava definitivamente viciada em escrevê-las. Quando não as mandava para a revista Recreio publicar, guardava na gaveta o que escrevia.

Surgiu uma oportunidade e fui para Londres, trabalhar na BBC. Ficaria por um ano e meio. O fim do exílio estava próximo…

Agora para ficar

A volta ao Brasil veio no final de 1972. Concentrei-me na imprensa e fui trabalhar no Jornal do Brasil. De repórter passei a chefe do departamento de jornalismo da Rádio JB, onde fiquei durante sete anos. Entrevistei um monte de gente, orientei mais um monte, e ganhei muita intimidade com um tipo de linguagem oral e acessível.

Meu primeiro livro infantil, Bento-que-bento-é-o-frade, foi publicado cinco anos depois da minha chegada. Ele fazia parte da coleção Livros de Recreio. Outra série foi montada pela Editora Abril – Histórias de Recreio. Nesta, foram selecionados os contos de maior sucesso da revista, divididos por autor. Os meus títulos foram Severino faz chover, Currupaco Papaco e Camilão, o Comilão, cada um com quatro histórias.

O primeiro prêmio viria logo a seguir. Em 1978, participei de um concurso, sob pseudônimo, e acabei ganhando o prêmio João de Barro, com História Meio ao Contrário, que depois também ganhou o Jabuti.

Além da publicação do livro, essa premiação desencadeou uma série de convites de editores para publicar mais textos meus, e fui tirando o que tinha guardado nas gavetas. Acabei ganhando mais prêmios e me dedicando cada vez mais a escrever.

Em 1979, um dia quis dar um livro a uma sobrinha que fazia anos. Bati perna por todas as livrarias de Ipanema e Copacabana e não achei um único livro infantil que me agradasse! Percebi logo que estava faltando uma livraria especializada, onde as crianças pudessem ler e encontrar bons livros. Com a ajuda de uma sócia surgiu a Livraria Malasartes, onde eu ficaria por 18 anos.

Em 1980, passei por um momento decisivo dentro da Rádio JB. Diante de uma ordem para demitir um terço da redação, optei pela minha própria demissão. Com o jornalismo devidamente abandonado, mudei de vida. Iniciava um segundo casamento, com o músico Lourenço Baeta.

Passei a cuidar de minha livraria e me dediquei mais a escrever, dando seguimento a um romance que começara dois anos antes, Alice e Ulisses.

Mil histórias

Em seguida, o que houve foi uma verdadeira surpresa para mim: comecei a ganhar prêmios, de melhor livro nacional do ano, de melhor livro do biênio, e muitos outros.

6

Page 7: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Até mesmo do exterior veio o reconhecimento, com o Prêmio Casa de las Américas, em Cuba, ao qual concorri num gesto de ousadia, com um livro infantil (De Olho nas Penas) competindo com literatura adulta, e venci. Foi muito emocionante perceber que aquilo que eu gostava tanto de fazer chegava a outras pessoas.

Em 1983, nasceu Luísa. No mesmo ano, tomei coragem e publiquei meu primeiro romance para adultos, Alice e Ulisses, muito bem recebido pela crítica.

Ao mesmo tempo, meus livros foram começando a ser traduzidos no exterior, primeiro nos países escandinavos e, em seguida, na Alemanha, na França e na Espanha. Paralelamente, fui passando a fazer palestras para professores pelo interior do Brasil e desenvolvi cursos e seminários sobre promoção de leitura no exterior.

De 1986 a 1988, fizemos uma coisa maravilhosa: deixamos a cidade grande e nos mudamos para uma casinha pequenina em Manguinhos. Uma verdadeira volta às raízes. Uma vida muito modesta e recolhida, em contato direto com o mar e a natureza. Luísa ia à escola com os filhos dos moradores locais, Lourenço compunha e tocava, eu escrevia.

De Manguinhos para o mundo… Em fim de 1989, me ofereceram um novo contrato com a BBC e voltei para Londres, onde passei oito meses e terminei de escrever o romance Canteiros de Saturno. Pouco depois de voltar ao Brasil, em meio a muito trabalho, tive problemas de saúde muito sérios. Por um longo tempo, toda minha vida ficou direcionada a enfrentar essa situação, ajudada pelo carinho de tanta gente que me quer bem e apoiada pelo meu trabalho.

Os últimos anos têm sido principalmente de coisas boas, que as outras a gente esquece. Dois netos maravilhosos: Henrique em 1996 e Isadora em 2000.

Nesse mesmo ano, ganhei também o prêmio Hans Christian Andersen, coisa que me trouxe muita alegria. É incrível saber que um júri internacional, sem nenhum brasileiro, analisou o conjunto de minha obra e concluiu que eu merecia ser considerada a melhor autora do mundo.

Em 2001, tive uma surpresa maravilhosa: ganhei o maior prêmio literário nacional, o Machado de Assis, que a Academia Brasileira de Letras confere por toda a obra de um autor.

Uma honra dessas ainda veio se somar às condecorações.

Recebi a Medalha Tiradentes, da Assembleia Legislativa do Rio, e a Ordem do Mérito Cultural, da Presidência da República. Uma verdadeira consagração. Puxa, nem com uma varinha mágica uma fada-madrinha podia me dar isso…

Tempo de colheita

Os últimos anos têm sido uma espécie de tempo de colheita, depois de décadas plantando.

Em 2003 entrei para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Evandro Lins e Silva – a primeira vez que  foi eleito para a ABL um autor com obra significativa para o público infantil.

O meu discurso de posse está disponível [...] para quem quiser ler. Em pouco tempo eu estava fazendo parte da diretoria da instituição, da qual fui secretária-geral de 2009 a 2011 e presidente em 2012 e 2013.

7

Page 8: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Por um lado, essas novas responsabilidades me tomaram muito tempo e atrapalharam minha dedicação à escrita. Mas também me propiciaram a oportunidade de ser útil no apoio a programas sociais de incentivo à leitura de literatura e a bibliotecas. Pude multiplicar de maneira mais eficiente as ações que já vinha desenvolvendo isoladamente nessas áreas, com escolas, hospitais, feiras.

Com o respaldo da Academia, realizei um sonho: um projeto para formação de auxiliares de biblioteca em comunidades recém-pacificadas no Rio de Janeiro. Pude promover encon-tros de leitores e escritores em toda parte.

Acho justo que todas as pessoas possam ter acesso a tudo o que a leitura pode nos trazer.

Também foi possível adotar uma linha de ação internacional na divulgação da literatura brasileira. Isso é uma coisa que eu sempre tinha feito, individualmente, desde os anos 1970, em reuniões, conferências e mesas-redondas pelo mundo afora. Mas na ABL foi possível insti-tucionalizar esses projetos, por meio de convênios com universidades estrangeiras, que pas-saram a estudar nossos autores e publicar trabalhos sobre eles.

Acadêmica ou não, continuo muito dedicada às questões de incentivo à leitura. E muito interessada em ler e escrever. Tenho novos prêmios para conjunto de obra: entre outros, o Príncipe Claus da Holanda, o Iberoamericano de Literatura Infantil, o de Cultura do Rio de Janeiro, o da UBE, vieram se juntar a meus três Jabutis.

Meus leitores crescem, se espalham, se multiplicam por toda parte, o que me enche de ale-gria. Cada vez mais meus livros são traduzidos em outras línguas e já estão em 25 países. Tan-to os infantis quanto os romances e ensaios. São bem recebidos pela crítica e pelos leitores. Só posso ficar contente e agradecida. Afinal, é para o leitor que um autor escreve. Só quando alguém lê é que o livro se completa.

MACHADO, Ana Maria. Ana Maria Machado. Disponível em: <https://www.aancart.org/ana-maria-machado/>. Acesso em: 12 set. 2019.

2 De quem é essa autobiografia?

3 Quais características de Ana Maria Machado justificam o interesse do leitor por sua autobiografia?

4 A expressão “eu vivo inventando histórias”, no 1.º parágrafo, pode ser relacionada a quais palavras?

a) Imaginação.

b) Criação.

c) Mentira.

d) Fantasia.

e) Enganação.

©S

hu

tte

rsto

ck/A

nfi

sa f

ocu

sov

a

8

Page 9: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

5 Como a autora avalia sua profissão?

6 O que diferencia uma autobiografia de uma biografia? Complete os espaços com as palavras adequadas.

biografia biógrafo autobiografia autobiógrafo

a) Na , o conta a própria história.

b) Na , o conta a história de outra pessoa.

7 Considerando a pessoa do discurso, marque as alternativas que comprovam que o texto de Ana Maria Machado é uma autobiografia. Depois, sublinhe as palavras que levaram à escolha dos itens assinalados.

a) “Aprendi a ler sozinha, com menos de cinco anos.”

b) “O que eu queria mesmo era trabalhar como pintora.”

c) “Nesse tempo ele ainda não tinha virado baiano nem ilustrador de Jorge Amado e García Márquez.”

d) “A revista fez um sucesso imenso, e acabou abrindo caminhos para a nova literatura infantil brasileira.”

e) “Nunca alguém tinha sido tão exigente comigo e ao mesmo tempo me dado tanta força, me prepa-rando para a dureza de ser artista.”

8 Qual é o foco narrativo do texto de Ana Maria Machado?

a) 1.ª pessoa. b) 3.ª pessoa.

9 Reescreva os trechos mudando o foco narrativo. Antes, porém, destaque as palavras que serão modificadas. Para que essa mudança ocorra, formas verbais e pronomes deverão ser alterados. Observe este exemplo:

Foi nesse curso que tive o privilégio de ter aulas com Aloísio Carvão, por quem guardo até hoje um carinho muito grande.

Nunca alguém tinha sido tão exigente comigo e ao mesmo tempo me dado tanta força, me preparando para a dureza de ser artista.

Foi nesse curso que [ela] teve o privilégio de ter aulas com Aloísio Carvão, por quem

[ela] guarda até hoje um carinho muito grande.

Nunca alguém tinha sido tão exigente com ela e ao mesmo tempo dado a ela tanta

força, preparando-a para a dureza de ser artista.

a) “Já fui professora, já fui jornalista, já fiz programa de rádio, já tive uma livraria e nesse tempo todo nunca parei de escrever.”

9

Page 10: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

b) “Também ganhei uma amiga para a vida toda, a escritora Ruth Rocha, que virou minha cunhada.”

c) “O segundo semestre desse ano foi particularmente difícil para mim. Fui presa, tive colegas, amigos e alunos detidos.”

d) “Foi nesse período que encontrei o livro que marcaria a minha vida para sempre: Reinações de Narizinho.”

10 Qual é o tempo verbal predominante na autobiografia? Por quê?

11 Retorne ao texto e explique o porquê desta afirmação:

Tenho certeza de que sem os verões em Manguinhos eu escreveria bem diferente.

12 Em sua opinião, a que se pode atribuir o fato de Ana Maria Machado ter aprendido a ler sozinha, antes dos cinco anos de idade?

13 Nas seções do texto indicadas a seguir, há dois trechos entre parênteses.

a) Localize-os e copie-os.

“Primeiros passos”:

“Pintando o caneco”:

b) Explique por que a autora faz uso desse sinal de pontuação.

10

Page 11: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

14 No texto, há outro trecho apresentado entre parênteses? Se sim, que informações ele contém?

15 Transcreva um trecho em que Ana Maria Machado revela como a convivência com pessoas que leem e o fácil acesso a livros contribuíram para sua formação como leitora.

16 Que livro marcou a vida da escritora? Você já leu essa obra?

17 Algum livro marcou sua vida? Se sim, qual?

18 Converse com os colegas e o professor sobre suas experiências de leitura. Anote os livros indicados pela turma e pesquise aqueles que despertaram seu interesse.

19 Analise a palavra destacada no trecho a seguir e responda às questões.

[...] comecei a mergulhar em leituras como o Almanaque do Tico-Tico e os livros de Monteiro Lobato.

a) Com que sentido a palavra “mergulhar” foi usada nesse trecho?

b) Essa palavra foi usada em sentido

( ) figurado. ( ) literal.

c) Escreva uma frase com a palavra mergulhar em sentido literal e outra em sentido figurado.

Sentido literal:

Sentido figurado:

11

Page 12: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

20 Certo dia, Ana Maria Machado ganhou um diário, acontecimento que abriu as portas para o exercício da escrita. Qual é o sentido da palavra destacada neste trecho?

Saí escrevendo furiosamente no diário.

a) Com muita raiva, fúria.

b) Com muita vontade, descontroladamente.

21 Escreva, com suas palavras, como se iniciou a vida literária da autora.

22 Sublinhe, em cada frase, o trecho que permite identificar o tempo em relação aos acontecimentos.

a) “Nasci e me criei no Rio, mas quando era criança costumava passar os verões na praia de Manguinhos [...]”

b) “Aprendi a ler sozinha, com menos de cinco anos.”

c) “No meu aniversário de sete anos, ganhei de presente um marcante e inesquecível diário.”

d) “O meu orgulho supremo foi que a revista não falava que o texto tinha sido feito por uma menina de doze anos.”

e) “A minha adolescência foi repleta de livros, que me proporcionaram grandes prazeres e descobertas.”

23 Por que as expressões que permitem identificar o tempo são importantes em uma autobiografia?

24 Na seção “Pintando o caneco”, há um momento em que a autora se dá conta de que sua vida mudou: a infância ficou para trás e ela se tornou uma mulher adulta, com responsabilidades. Transcreva o trecho em que Ana Maria Machado expressa essa mudança de mentalidade com relação ao tempo.

12

Page 13: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

As narrativas podem ser escritas considerando-se dois tempos:

cronológico – a narrativa progride respeitando a sequência em que os fatos ocorreram;

psicológico – a narrativa progride sem preocupação com a sequência dos aconteci-

mentos no tempo, podendo retornar ao passado ou saltar para o futuro.

25 Classifique essa narrativa quanto ao tempo.

26 Essa autobiografia está predominantemente relacionada à vida profissional da escritora. Entretanto, algumas informações sobre sua vida pessoal se intercalam na narrativa. Transcreva um trecho que confirme essa afirmação.

27 Ana Maria Machado, que já produziu muitos livros infantis, escreveu sua autobiografia como se es-tivesse contando uma história. Como mencionamos, dados objetivos sobre a formação da escritora são intercalados a informações sobre sua vida pessoal. Com base nessa afirmação, reflita sobre o trecho a seguir.

Meu nome é Ana Maria Machado e eu vivo inventando histórias. E dessas que eu escrevo, algumas viram livros. Adoro o meu trabalho. Ainda bem, porque acho que não ia conseguir viver se não escrevesse.

Nesse parágrafo, qual é a informação objetiva em torno da qual se constrói a apresentação da autobiografada?

28 Vários outros trechos apresentam essa mesma característica. Sublinhe, no parágrafo a seguir, as frases que ampliam a narrativa ao trazer informações que não dizem respeito à carreira da autora.

De Manguinhos para o mundo… Em fim de 1989, me ofereceram um novo contrato com a BBC e voltei para Londres, onde passei oito meses e terminei de escrever o romance Canteiros de Saturno. Pouco depois de voltar ao Brasil, em meio a muito trabalho, tive problemas de saúde muito sérios. Por um longo tempo toda minha vida ficou direcionada a enfrentar essa situação, ajudada pelo carinho de tanta gente que me quer bem e apoiada pelo meu trabalho.

13

Page 14: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

29 Releia este trecho:

Entrevistei um monte de gente, orientei mais um monte, e ganhei muita intimidade com um tipo de linguagem oral e acessível.

Note que a linguagem usada na autobiografia é acessível e apresenta elementos da oralidade.

a) Que expressão presente nesse trecho comprova essa afirmação?

b) Reescreva essa frase usando uma linguagem mais formal.

30 Sublinhe a expressão popular presente no trecho abaixo e reescreva a frase tornando-a mais formal.

Bati perna por todas as livrarias de Ipanema e Copacabana e não achei um único livro infan-til que me agradasse!

31 Reescreva o período a seguir eliminando as repetições, as quais, nesse caso, são intencionais.

Já fui professora, já fui jornalista, já fiz programa de rádio, já tive uma livraria e nesse tem-po todo nunca parei de escrever.

32 Reescreva as frases substituindo os termos destacados por outros mais característicos da lingua-

gem escrita formal. Faça as adaptações necessárias.

a) “[...] estava sempre rodeada de gente que também gostava de curtir a vida tendo bons livros ao seu lado.”

b) “[...] a revista não falava que o texto tinha sido feito por uma menina de doze anos.”

c) “Mesmo assim, insistiram em mim e acabei topando.”

d) “Já estava definitivamente viciada em escrevê-las.”

14

Page 15: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

33 Releia este trecho:

a) A qual termo a explicação acima se refere?

b) Por que esse termo é explicado?

34 Considerando o trecho a seguir, responda à questão proposta.

[...] ganhei o maior prêmio literário nacional, o Machado de Assis, que a Academia Brasileira de Letras confere por toda a obra de um autor.

Puxa, nem com uma varinha mágica uma fada-madrinha podia me dar isso…

Qual é o público-alvo dessa autobiografia? Como você chegou a essa conclusão?

35 Releia este período e responda à questão:

Os últimos anos têm sido uma espécie de tempo de colheita, depois de décadas plantando.

Considerando as palavras “colheita” e “plantando”, explique o significado dessa frase.

36 Que sonho Ana Maria Machado realizou com o apoio da Academia Brasileira de Letras?

37 Por que se diz que o livro só se completa quando é lido?

15

Page 16: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

1 Releia esta frase:

estudo da língua

Adjunto adnominal

Observe a análise estrutural da seguinte frase:

Aquela autora brasileira publicou um livro infantil.

↓ ↓ substantivo substantivo

Sujeito: Aquela autora brasileira (núcleo do sujeito: autora)

Verbo transitivo direto (VTD): publicou

Predicado verbal: publicou um novo livro (núcleo do predicado: publicou)

Objeto direto: um novo livro (núcleo do objeto direto: livro)

Os substantivos "autora" e "livro" estão acompanhados de outras palavras. Observe:

Aquela autora brasileira

↓ ↓pronome adjetivo

um livro infantil

↓ ↓artigo adjetivo

O pronome “Aquela” e o adjetivo “brasileira” acompanham o substantivo “autora”. Da

mesma forma, o artigo “um” e o adjetivo “infantil” estão ligados ao substantivo “livro”.

Como estão junto a um nome (substantivo), especificando seu sentido, essas palavras são

classificadas, sintaticamente, como adjuntos adnominais.

Aquela autora brasileira publicou um livro infantil.

Os termos que não estão destacados na oração acima são acessórios. Sintaticamente, eles são se-

cundários, porém, do ponto de vista do discurso, sua importância pode ser imprescindível.

Os adjuntos adnominais são termos acessórios da oração, porque pertencem a outros

termos. Assim, “Aquela” e “brasileira” pertencem ao sujeito, e “um” e “infantil”, ao objeto

direto.

As principais classes de palavras que podem ter a função de adjunto adnominal são:

artigo: o, a, os, as, um, uma, uns, umas.

Uma garota comprou aquele belo livro.

adjetivo: bom, belo, feio, alto, resistente, etc.

Exemplo: Uma garota comprou aquele belo livro.

numeral: um, dois, três, quinto, sexto, etc.

Dois

pronome: esse, aquele, esta, tal, etc.

Esse aluno lê muito.

16

Page 17: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Indique dois adjetivos, com sentidos opostos entre si, para complementar as frases abaixo, qualificando o substantivo em questão.

a) Fez uma viagem

b) Comprou roupas

c) Ouviu uma música

d) Fez uma limpeza

e) Conheceu uma pessoa

f) Tomou uma atitude

2 Leia estas frases:

A cidade grande era barulhenta e poluída, mas oferecia as oportunidades de que

precisavam.

A cidade pequena era calma e silenciosa e oferecia a paz de que precisavam.

Observe que os adjetivos “grande” e “pequena” modificam o substantivo, definindo que tipo de cidade está em questão em cada um dos períodos. Escolha um substantivo da atividade anterior e dois adjetivos de sentidos opostos e elabore uma frase com cada um deles, conforme o modelo.

3 Identifique os adjuntos adnominais que caracterizam os substantivos em destaque.

a) Essa famosa autora publicou um novo livro.

autora:

livro:

b) Essa famosa autora carioca publicou um novo livro infantil.

autora:

livro:

17

Page 18: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

4 Todas as palavras identificadas na questão anterior pertencem à mesma classe gramatical.

a) Qual é essa classe?

b) Qual é sua função nas frases?

5 Assinale as alternativas que indicam os adjuntos adnominais presentes na seguinte frase:

Essa famosa autora carioca, que recebeu muitos prêmios,

publicou um novo livro infantil.

a) A oração destacada tem a função de ampliar as informações sobre o substantivo

( ) “livro”. ( ) “autora”.

b) Reescreva a frase substituindo a oração “que recebeu muitos prêmios” por um único adjetivo, de modo que a ideia central seja mantida.

7 Considerando a autobiografia lida, complete cada espaço com o trecho que dá sentido ao período.

Essa famosa autora carioca publicou um novo livro infantil.

a) publicou

b) famosa

c) novo

d) Essa

e) carioca

f) livro

g) autora

h) um

i) infantil

6 Leia esta frase atentando para a oração destacada:

que era preto e tinha três furos

que na época não tinha eletricidade

que passava os verões em Manguinhos

que foi escrito por Monteiro Lobato

a) Manguinhos, , era o lugar ideal para

ouvir histórias.

b) A autora, , ouvia muitas histórias.

c) O livro Reinações de Narizinho, , marcou a vida da escritora.

d) O fichário, , foi um presente de aniversário.

18

Page 19: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

8 Quais substantivos tiveram seus significados ampliados na atividade anterior?

a)

b)

c)

d)

9 Amplie os significados dos substantivos destacados mantendo a coerência das frases.

a) A Bienal do Livro do Rio de Janeiro, ,homenageou as autoras Ana Maria Machado e Ruth Rocha.

b) O livro recebeu elogios de seus leitores.

c) O Prêmio Jabuti, , revela os dez primeiros finalistas deste ano.

d) A atriz escreveu um livro.

e) O vídeo recebeu o maior número de críticas.

f) A casa era de uma autora famosa.

10 Explique a diferença de sentido entre os pares de frases apresentados.

a) Os alunos são estudiosos.

Os alunos estudiosos chegaram.

b) As autoras são romancistas.

As autoras romancistas foram premiadas.

c) As flores são lindas.

As flores cor-de-rosa são lindas.

d) As escolas são espaçosas.

As escolas da cidade de São Paulo são espaçosas.

19

Page 20: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

11 Complemente cada frase de modo que o adjetivo passe a fazer parte do sujeito da oração.

a) Os detetives são curiosos.

b) Os escritores são compenetrados.

c) Os astronautas são corajosos.

d) Os funcionários são competentes.

e) Os pássaros estão agitados.

12 Faça uma análise das orações a seguir e determine a diferença sintática entre elas.

Além do sentido, qual é a diferença sintática entre os dois períodos?

I. Os alunos são estudiosos.

Sujeito: Os alunos (núcleo do sujeito: alunos)

Adjunto adnominal: os

Verbo de ligação: são

Predicativo do sujeito: estudiosos

Predicado nominal: são estudiosos (núcleo do predicado: estudiosos)

II. Os alunos estudiosos chegaram.

Sujeito: Os alunos estudiosos (núcleo do sujeito: alunos)

Adjuntos adnominais: os/estudiosos

Verbo intransitivo: chegaram

Predicado verbal: chegaram (núcleo do predicado: chegaram)

Conclusão: No primeiro período, o adjetivo “estudiosos” não faz parte

do sujeito; no segundo, é um adjunto adnominal e faz parte do sujeito.

I. Os autores são criativos.

II. Os autores criativos cansaram.

©S

hu

tte

rsto

ck/

On

e l

ine

ma

n

20

Page 21: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Livros em foco: apresentação de sinopse de livro

Preparação1. Como você sabe, Ana Maria Machado tinha uma gaveta em que guardava ideias para

livros. Listamos, a seguir, os títulos de algumas obras escritas por essa autora. Escolha

três deles e destaque-os com caneta colorida ou marca-texto.

produção de texto oral

Um dia desses

Fim de semana

Nas asas do mar

O mistério da ilha

Histórias chinesas

Quando eu crescer

Um gato no telhado

Brincadeira de sombra

Fiz voar o meu chapéu

História meio ao contrário

Alguns medos e seus segredos

Com prazer e alegria

Passarinho me contou

Pescador de naufrágios

Avental que o vento leva

A minhoca da sorte

Abrindo caminho

ABC do Brasil

Quem sou eu?

Senhora dos mares

Histórias à brasileira

Elefantinho malcriado

O palhaço espalhafato

Uma história de Páscoa

A princesa que encolhia

Menina bonita do laço de fita

Jabuti sabido e macaco metido

Amigos secretos

O canto da praça

O mistério da ilha

De carta em carta

Pimenta no cocuruto

A maravilhosa ponte do meu irmão

A grande aventura de Maria Fumaça

Odisseu e a vingança do deus do mar

Na praia e no luar, tartaruga quer o mar

21

Page 22: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Produção2. Sob a orientação do professor, confiram coletivamente os títulos escolhidos. Reúna-se

com um colega que tenha destacado ao menos um título em comum. Se vocês já tiverem

lido esse livro, conversem sobre a história e anotem o que lembrarem. Caso contrário,

pesquisem, em sites confiáveis – de preferência de livrarias –, sinopses do livro com o

qual estão trabalhando e completem o quadro com as informações solicitadas.

Título escolhido

Ano de publicação

Personagens

Tempo

Local

Tema principal

Conflito retratado

Desfecho

Outras informações relevantes

3. Apresentem suas anotações à turma, mas, antes, realizem as seguintes reflexões:

Que linguagem devemos empregar para falar com os ouvintes?

Quais recursos visuais utilizaremos (cartazes, slides, etc.)?

Avaliação

4. Avaliem sua apresentação respondendo às questões a seguir.

Critérios de autoavaliação

A apresentação foi criativa?

A linguagem usada era adequada?

A história foi apresentada aos ouvintes de maneira clara?

22

Page 23: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Autobiografia: conte sua história

Preparação1. Nesta produção, você deverá escrever uma autobiografia. Para tanto, selecione eventos

importantes de sua vida e liste-os a seguir.

Produção2. Seu texto deve ser escrito

em 1.ª pessoa;

no tempo pretérito (passado), pois os fatos narrados já aconteceram;

em ordem cronológica, evidenciando a passagem do tempo;

com linguagem acessível ao público-alvo, no caso, os colegas de turma.

3. Se quiser, a exemplo do texto de Ana Maria Machado, escreva sua autobiografia como se

estivesse contando uma história.

4. Lembre-se de que, em seu texto, não deve haver diálogos entre os personagens.

Avaliação5. Avalie a atividade respondendo às questões a seguir.

Critérios de autoavaliação

Foi elaborada uma lista com os principais acontecimentos a serem narrados?

O texto foi escrito em 1ª. pessoa?

Os verbos estão predominantemente no tempo pretérito?

O tempo da narrativa é o cronológico?

Há expressões que marcam a passagem do tempo?

A linguagem é acessível ao público-alvo?

produção escrita

23

Page 24: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

1 Marque B para as características das biografias e A para as das autobiografias.

( ) O autor conta a própria história.

( ) É escrita em 1ª. pessoa.

( ) É escrita em 3ª. pessoa.

( ) O autor narra a história de outra pessoa.

2 Leia a frase a seguir e responda às questões.

o que já conquistei

Passamos a ter uma vida modesta e recolhida.

a) Assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) O trecho destacado completa o sentido da locução verbal “Passamos a ter”.

( ) O trecho destacado é o objeto direto da frase.

( ) O trecho destacado é o sujeito da frase.

b) Qual é o núcleo do complemento verbal?

c) Que adjetivos ampliam o sentido do núcleo do complemento verbal?

d) Em que alternativas os adjetivos sublinhados têm significados parecidos com os da frase apresentada?

( ) Passamos a ter uma vida simples e reservada.

( ) Passamos a ter uma vida despretensiosa e discreta.

( ) Passamos a ter uma vida agradável e descomprometida.

3 Transcreva o sujeito, o núcleo do sujeito e os adjuntos adnominais das frases abaixo, identificando as classes de palavras a que esses termos pertencem.

a) Meu primeiro livro infantil foi publicado cinco anos depois da minha chegada.

Sujeito:

Núcleo do sujeito:

Adjuntos adnominais:

b) Um júri internacional analisou o conjunto da minha obra.

Sujeito:

Núcleo do sujeito:

Adjuntos adnominais:

c) Essas novas responsabilidades, por um lado, tomaram-me muito tempo.

Sujeito:

Núcleo do sujeito:

Adjuntos adnominais:

d) Uma premiação inesperada provoca grande emoção.

Sujeito:

Núcleo do sujeito:

Adjuntos adnominais:

24

Page 25: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

4 Identifique, nas orações a seguir, os termos solicitados, indicando as classes de palavras a que per-tencem os adjuntos adnominais.

a) “ganhei o maior prêmio literário nacional”

Complemento verbal:

Núcleo do complemento verbal:

Adjuntos adnominais:

b) “não achei um único livro infantil”

Complemento verbal:

Núcleo do complemento verbal:

Adjuntos adnominais:

c) “estava faltando uma livraria especializada”

Complemento verbal:

Núcleo do complemento verbal:

Adjuntos adnominais:

5 Complete cada espaço com um adjetivo que amplie o sentido do substantivo que exerce a função de núcleo do sujeito.

a) Uma equipe muito começou a leitura do livro.

b) As capas atraem os leitores.

c) Os leitores estão sempre na biblioteca.

d) Personagens são os preferidos dos leitores.

e) A voz do contador de histórias hipnotizava a plateia.

6 Complete cada espaço com um adjetivo que amplie o sentido do substantivo que exerce a função de núcleo do complemento verbal.

a) A leitura proporciona momentos .

b) Narrei os acontecimentos mais da minha vida.

c) Os leitores sempre esperam um final .

d) Escolhi um livro para minha apresentação.

e) Uma história fica na lembrança dos leitores.

7 Complemente cada frase de modo que o adjetivo passe a fazer parte do sujeito da oração.

a) Os personagens são maus.

b) Os personagens são bons.

c) Os autores são inteligentes.

d) As histórias são aterrorizantes.

25

Page 26: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

capí

tulo

Neste capítulo, apresentamos um importante texto tea-

tral da literatura brasileira. Nesse gênero textual, os diálogos

evidenciam os conflitos, os lugares sociais e a psicologia dos

personagens.

Faça uma leitura da imagem acima e troque ideias com os

colegas sobre estas questões:

1. Quais elementos teatrais podem ser identificados nessa

imagem?

2. Você já leu algum texto escrito para o teatro? Se sim, qual(is)?

Texto teatral: arte nos palcos11

Texto teatral

Orações

coordenadas

Cordel

Esquete

Leitura dramatizada

o que vocêvai conhecer?

O AUTO da Compadecida. Disponível em: <http://www.conteudoglobo.com.br/content/soap-opera-photos/o-auto-da-compadecida/5cdc213e4c5c15381edc6d1e>. Acesso em: 14 fev. 2020.

©Acervo/TV Globo

26 7. ano – Volume 4

Page 27: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Ler textos dramáticos, compreendendo seu estilo, sua composição e sua função comunicativa.

Ler cordel, compreendendo seu estilo, sua composição e sua função comu-nicativa e estabelecendo relação com o texto dramático apresentado.

Produzir um esquete observando as características do gênero, com des-taque para as rubricas.

Fazer uma leitura dramatizada do esquete produzido respeitando as orientações da proposta.

objetivos do capítulo

estudo do texto

Texto teatral I

Leia, a seguir, informações sobre Auto da Compadecida e sobre o autor desse texto

teatral.

Sobre o autorAriano Suassuna é um escritor nascido em João Pessoa, Paraíba. Defensor da cultura da

sua região, o autor de Auto da Compadecida lançou o Movimento Armorial, que se interessava pelo conhecimento e desenvolvimento das formas de expressão populares tradicionais.

Importância do livro

Auto da Compadecida  é uma peça teatral em forma de auto (gênero da literatura que trabalha com elementos cômicos e tem intenção moralizadora). É um drama nordestino apresentado em três atos. Contém elementos da literatura de cordel e está inserido no gênero da comédia [...]. Trabalha com a linguagem oral e apresenta também regionalismo através da caracterização do Nordeste.

Período histórico

A peça foi escrita em 1955 e encenada pela primeira vez em 1956. Anos mais tarde, foi adaptada para a televisão e para o cinema, em 1999 e 2000, respectivamente.

AUTO da Compadecida. Disponível em: <http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/auto-da-compadecida.html>. Acesso em: 2 out. 2019. ©By herdeiros de Ariano Suassuna

Ariano Suassuna (1927-2014)

©Folhapress/Leonardo Colosso

27

Page 28: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Nesta cena, a mulher do padeiro está inconsolável em razão da morte de seu cachorro

e quer que o padre, que se recusara a benzer o animal doente, enterre-o com o mesmo

rito destinado aos seres humanos. Por se tratar de um texto teatral, faça uma leitura

interpretativa.

Auto da CompadecidaMULHER

entrando

Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai!

JOÃO GRILO

mesmo tom

Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai!

Dá uma cotovelada em Chicó.

CHICÓ

obediente

Ai, ai, ai, ai, ai. Ai, ai, ai, ai, ai!

Essa lamentação deve ser mal representada de propósito, ritmada como choro de palhaço de circo.

SACRISTÃO

entrando com o padre e o padeiro

Que é isso, que é isso? Que barulho é esse na porta da casa de Deus?

PADRE

Todos devem se resignar.

MULHER

Se o senhor tivesse benzido o bichinho, a essas horas ele ainda estava vivo.

PADRE

Qual, qual, quem sou eu!

MULHER

Mas tem uma coisa, agora o senhor enterra o cachorro.

PADRE

Enterro o cachorro?

MULHER

Enterra e tem que ser em latim. De outro jeito não serve, não é?

PADEIRO

É, em latim não serve.

MULHER

Em latim é que serve!

PADEIRO

É, em latim é que serve!

PADRE

Vocês estão loucos! Não enterro de jeito nenhum.

arulho é esse

Ide

ári

o L

ab

. 20

14

. Dig

ita

l.

28

Page 29: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

MULHER

Está cortado o rendimento da irmandade!

PADEIRO

Está cortado o rendimento da irmandade!

MULHER

Meu marido considera-se demitido da presidência.

PADRE

Não enterro.

PADEIRO

Considero-me demitido da presidência!

PADRE

Não enterro.

MULHER

A vaquinha vai sair daqui imediatamente!

PADRE

Oh mulher sem coração!

MULHER

Sem coração, porque não quero ver meu cachorrinho comido pelos urubus? O senhor enterra!

PADRE

Ai meus dias de seminário, minha juventude heroica e firme!

MULHER

Pão para a casa do vigário só vem agora dormido e com o dinheiro na frente! Enterra ou não enterra?

PADRE

Oh mulher cruel!

MULHER

Decida-se, Padre João.

PADRE

Não me decido coisa nenhuma, não tenho mais idade pra isso. Vou é me trancar na igreja e de lá ninguém me tira!

Entra na igreja, correndo.

JOÃO GRILO

chamando o patrão à parte

Se me dessem carta branca, eu enterrava o cachorro.

PADEIRO

Tem a carta.

JOÃO GRILO

Posso gastar o que quiser?

PADEIRO

Pode.

MULHER

Que é que vocês estão combinando aí?

JOÃO GRILO

Estou aqui dizendo que, se é desse jeito, vai ser difícil cumprir o testamento do cachorro, na parte do dinheiro que ele deixou para o padre e para o sacristão.

SACRISTÃO

Que é isso? Que é isso? Cachorro com testamento?

ç

ER

ração, porque não quero ver meuinho comido pelos urubus? O enterra!

dias de seminário, minha juventude e firme!

ER

a a casa do vigário só vem agora o e com o dinheiro na frente! Enterra enterra?

her cruel!

ER

se, Padre João.

JOÃO GRILO

Estou aqui dizendo que, se é desse jeito,vai ser difícil cumprir o testamento do cachorro, na parte do dinheiro que ele deixou para o padre e para o sacristão.

SACRISTÃO

Que é isso? Que é isso? Cachorro com testamento?

Ide

ário

Lab

. 20

14

. Dig

ital

.

29

Page 30: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

JOÃO GRILO

Esse era um cachorro inteligente. Antes de morrer, olhava para a torre da igreja toda vez que o sino batia. Nesses últimos tem-pos, já doente pra morrer, botava uns olhos bem compridos pr’os lados daqui, latindo na maior tristeza. Até que meu patrão en-tendeu, com a minha patroa, é claro, que ele queria ser abençoado pelo padre e morrer como cristão. Mas nem assim ele sossegou. Foi preciso que o patrão prometesse que vi-nha encomendar a bênção e que, no caso de ele morrer, teria um enterro em latim. Que em troca do enterro acrescentaria no testa-mento dele dez contos de réis para o padre e três para o sacristão.

SACRISTÃO

enxugando uma lágrima

Que animal inteligente! Que sentimento nobre! (Calculista.) E o testamento? Onde está?

JOÃO GRILO

Foi passado em cartório, é coisa garanti-da. Isto é, era coisa garantida, porque agora o padre vai deixar os urubus comerem o ca-chorrinho e, se o testamento for cumprido

nessas condições, nem meu patrão nem minha patroa estão livres de serem perse-guidos pela alma.

CHICÓ

escandalizado

Pela alma?

JOÃO GRILO

Alma não digo, porque acho que não existe alma de cachorro, mas assombração de cachorro existe e é uma das mais peri-gosas. E ninguém quer se arriscar assim a desrespeitar a vontade do morto.

MULHER

Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai!

JOÃO GRILO e CHICÓ

Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai!

SACRISTÃO

cortante

Que é isso, que é isso? Não há moti-vo para essas lamentações. Deixem tudo comigo!

Entra apressadamente na igreja.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 35. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 44-49. ©By herdeiros de Ariano Suassuna

1 Nessa cena, alguns personagens são identificados pelo nome, e outros são nomeados por meio de sua função social. Indique-os.

2 Releia a descrição dos lamentos dos personagens que abrem a cena.

Essa lamentação deve ser mal representada de propósito, ritmada como choro de palhaço de circo.

a) As lamentações iniciais mostram que a peça

( ) tem características populares, assim como os textos apresentados no circo.

( ) explora o humor, apresentando características de uma comédia.

( ) tem um tom trágico.

30

Page 31: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

b) Qual é o objetivo dessa indicação do texto teatral?

c) O que essa indicação revela sobre as primeiras falas de João Grilo e Chicó nessa cena?

3 Assim como Chicó, João Grilo trabalha para o Padeiro.

a) Transcreva os trechos em que isso fica evidente.

b) Que relação podemos estabelecer entre a cena inicial e o fato de João Grilo e Chicó trabalharem para o Padeiro e sua esposa?

c) Pelos diálogos e ações presentes nessa cena, como podemos descrever a relação de Chicó com João Grilo?

4 Com relação à esposa do Padeiro,

a) o que ela quer do Padre?

b) qual é o primeiro argumento que ela usa para convencer o Padre?

c) que outro argumento ela usa para tentar convencer o Padre, à medida que o texto progride?

5 Essa peça teatral apresenta linguagem oral e popular. Explique, nesse contexto, os significados das palavras ou expressões indicadas. Se for preciso, consulte o dicionário.

a) Vaquinha

A vaquinha vai sair daqui imediatamente!

31

Page 32: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

b) Pão dormido/dinheiro na frente

Pão para a casa do vigário só vem agora dormido e com o dinheiro na frente!

c) Carta branca

Se me dessem carta branca, eu enterrava o cachorro.

d) Olhos compridos

Nesses últimos tempos, já doente pra morrer, botava uns olhos bem compridos pr’os lados daqui [...]

6 Releia o trecho e explique como é a relação entre a Mulher e o Padeiro.

MULHER

Enterra e tem que ser em latim. De outro jeito não serve, não é?

PADEIRO

É, em latim não serve.

MULHER

Em latim é que serve!

PADEIRO

É, em latim é que serve!

PADRE

Vocês estão loucos! Não enterro de jeito nenhum.

MULHER

Está cortado o rendimento da irmandade!

PADEIRO

Está cortado o rendimento da irmandade!

MULHER

Meu marido considera-se demitido da presidência.

PADRE

Não enterro.

PADEIRO

Considero-me demitido da presidência!

32

Page 33: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

7 João Grilo é um personagem da literatura de cordel que foi recriado nessa peça teatral. Pobre que é, ele sobrevive em função de sua inteligência e de sua esperteza, mas vive arrumando confusão. Qual é o golpe de esperteza dado por ele nessa cena da peça?

8 Qual é a principal característica atribuída ao Sacristão e ao Padre?

João Grilo conhecia a personalidade desses personagens? Justifique sua resposta.

9 A história contada por João Grilo sobre o cachorro não era das mais convincentes, mas ele acrescentou uma informação para dar credibilidade ao testamento. Qual?

10 A última fala do Sacristão mostra que ele

a) acreditou na história contada por João Grilo, porque era interesseiro e queria o dinheiro.

b) não acreditou na história de João Grilo nem demonstrou interesse pelo dinheiro.

c) se mostrou pronto a resolver o problema, pois ficou com pena do cachorro.

d) não acreditou na história e entrou na igreja para contar ao Padre que estavam armando um golpe contra ele.

e) entrou na igreja para convencer o Padre a fazer o enterro do cachorro.

11 Com base no trecho lido, indique os personagens que apresentam as características a seguir.

a) São comerciantes, têm dinheiro e fazem uso dele para manipular seus interesses.

b) Representam os religiosos que estão mais preocupados com as questões materiais do que com as espirituais.

c) Representam o povo humilde e explorado que se utiliza de astúcia para garantir sua sobrevivência.

33

Page 34: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

12 De acordo com o trecho lido, atribua uma das características do quadro a cada um dos personagens envolvidos na cena.

submisso interesseiro esperto

a)

b)

c)

13 O trecho lido é constituído de

a) parágrafos. b) versos. b) diálogos.

14 Há um narrador nesse texto? Como o público acompanha o que acontece?

15 Releia este trecho:

a) De quem é essa fala? Como você chegou a essa conclusão?

b) Por que o nome do personagem é indicado em letras maiúsculas?

c) O que a palavra “Calculista”, entre parentêses, revela sobre o personagem?

d) Qual é a função de cada uma das passagens destacadas em itálico nesse trecho?

SACRISTÃO

enxugando uma lágrima

Que animal inteligente! Que sentimento nobre! (Calculista.) E o testamento? Onde está?

34

Page 35: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

rubricas, isto é, indicações que orientam sua encenação.

As rubricas fornecem informações a respeito de como a cena foi imaginada (tom de voz dos

personagens, movimentos, expressões, etc.), do cenário, do figurino, da iluminação e da

sonoplastia.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 35. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 15. ©By herdeiros de Ariano Suassuna

a) O que é orientado nessa rubrica?

b) Essa orientação é impositiva ou deixa espaço para o trabalho criativo do diretor? Explique sua resposta.

16 Auto da Compadecida e responda às questões.

Ao abrir o pano, entram todos os atores, com exceção do que vai representar Manuel, como se se tratasse de uma tropa de saltimbancos, correndo, com gestos largos, exibindo-se ao público. Se houver algum ator que saiba caminhar sobre as mãos, deverá entrar assim. Outro trará uma corneta, na qual dará um alegre toque, anunciando a entrada do grupo. Há de ser uma entrada festiva, na qual as mulheres dão grandes voltas e os atores agradecerão os aplausos, erguendo os braços, como no circo. A atriz que for desempenhar o papel de Nossa  Senhora deve vir sem caracterização, para deixar bem claro que, no momento, é somente atriz. Imediatamente após o toque de clarim, o Palhaço anuncia o espetáculo.

história. Em outras palavras, os personagens de uma peça vivem acontecimentos situados

no tempo e no espaço. No entanto, como se pode notar no texto apresentado, não há

um narrador. O enredo se desenvolve por meio de diálogos (discurso direto), sendo essa

Outra característica do texto teatral é a presença de orientações sobre o cenário, a movi-

mentação dos atores, a comunicação gestual, a expressão corporal e/ou facial, a entonação,

etc. Como já mencionamos, as indicações que orientam o trabalho do diretor e do elenco são

-

nagem ao qual cada fala se refere também recebe destaque, sendo escrito, geralmente, em

letras maiúsculas ou em negrito.

35

Page 36: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Texto teatral II

Leia, agora, o trecho final da cena.

Auto da CompadecidaO sacristão e o padre saem da igreja.

SACRISTÃO

Mas eu não já disse que fica tudo por minha conta?

PADRE

Por sua conta como, se o vigário sou eu?

SACRISTÃO

O vigário é o senhor, mas quem sabe quanto vale o testamento sou eu.

PADRE

Hein? O testamento?

SACRISTÃO

Sim, o testamento.

PADRE

Mas que testamento é esse?

SACRISTÃO

O testamento do cachorro.

PADRE

E ele deixou testamento?

PADEIRO

Só para o vigário deixou dez contos.

PADRE

Que cachorro inteligente! Que sentimento nobre!

JOÃO GRILO

E um cachorro desse ser comido pelos urubus! É a maior das injustiças.

PADRE

Comido, ele? De jeito nenhum. Um cachorro desse não pode ser comido pelos urubus.

Todos aplaudem, batendo palmas ritmadas e discretas, e o padre agradece, fazendo mesuras. Mas de repente lembra-se do bispo.

PADRE

aflito

Mas que jeito pode-se dar nisso? Estou com tanto medo do bispo! E tenho medo de cometer um sacrilégio!

SACRISTÃO

Que é isso, que é isso? Não se trata de ne-nhum sacrilégio. Vamos enterrar uma pessoa altamente estimável, nobre e generosa, satis-fazendo, ao mesmo tempo, duas outras pes-soas altamente estimáveis (Aqui o padeiro e a mulher fazem uma curvatura a que o sacris-tão responde com outra igual), nobres (Nova curvatura.) e, sobretudo, generosas. (Novas curvaturas.) Não vejo mal nenhum nisso!

PADRE

É, você não vê mal nenhum, mas quem me garante que o bispo também não vê?

SACRISTÃO

O bispo?

PADRE

Sim, o bispo. É um grande administrador, uma águia a quem nada escapa.

JOÃO GRILO

Ah, é um grande administrador? Então pode deixar tudo por minha conta, que eu garanto.

PADRE

Você garante?

JOÃO GRILO

Garanto. Eu teria medo se fosse o anterior, que era um santo homem. Só o jeito que ele tinha de olhar para a gente me fazia tirar o chapéu. Mas com esses grandes administradores eu me entendo que é uma beleza.

SACRISTÃO

E mesmo não será preciso que Vossa Reverendíssima intervenha. Eu faço tudo.

PADRE

Você faz tudo?

36

Page 37: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

SACRISTÃO

Faço.

MULHER

Em latim?

SACRISTÃO

Em latim.

PADEIRO

E o acompanhamento?

JOÃO GRILO

Vamos eu e Chicó. Com o senhor e sua mu-

lher, acho que já dá um bom enterro.

PADEIRO

Você acha que está bem assim?

MULHER

Acho.

PADEIRO

Então eu também acho.

SACRISTÃO

Se é assim, vamos ao enterro. (João Grilo esten-de a mão a Chicó, que a aperta calorosamente.)

Como se chamava o cachorro?

MULHER

chorosa

Xaréu.

SACRISTÃO

Enquanto se encaminha para a direita em tom de canto gregoriano.

Absolve, Domine, animas omnium fidelium

defunctorum ab omni vinculi delictorum.

TODOS

Amém.

Saem todos em procissão, atrás do sacristão, com exceção do padre, que fica um momen-to silencioso, levando depois a mão à boca, em atitude angustiada, e sai correndo para a igreja.

Aqui o espetáculo pode ser interrompido, a critério do ensaiador, marcando-se o fim do primeiro ato. E pode-se continuá-lo, com a entrada do Palhaço.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 35. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 51-53. ©By herdeiros de Ariano Suassuna

“Absolve, Domine, animas omnium fidelium/defunctorum ab omni vinculi delictorum” é o trecho inicial de um

pecados”.

O Palhaço anuncia a peça, antecipando seu enredo, e, assim, desperta a curiosidade da plateia para o que será encenado. Estudiosos desse texto teatral afirmam ser ele o porta-voz do autor. Essa figura, que abre e fecha a encenação, foi eliminada na adaptação da peça para a televisão e o cinema, feita em 2000.

17 O latim é o idioma oficial da Igreja Católica. Rezar uma missa em latim para um defunto é sinal de respeito e prestígio, como evidenciam os personagens de Auto da Compadecida. No entanto, esse

ritual ganha um tom cômico na peça de Ariano Suassuna. Explique esse efeito de humor.

18 Compare a atitude do Padre no início do trecho com a do final. Qual é a crítica feita ao comportamento desse personagem?

37

Page 38: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

19 Releia este trecho e responda às questões:

PADRE

aflito

Mas que jeito pode-se dar nisso? Estou com tanto medo do bispo! E tenho medo de cometer um sacrilégio!

SACRISTÃO

Que é isso, que é isso? Não se trata de nenhum sacrilégio. Vamos enterrar uma pessoa altamente estimável, nobre e generosa, satisfazendo, ao mesmo tempo, duas outras pessoas altamente estimáveis (Aqui o padeiro e a mulher fazem uma curvatura a que o sacristão responde com outra igual), nobres (Nova curvatura.) e, sobretudo, generosas. (Novas curvaturas.) Não vejo mal nenhum nisso.

a) O que impede o Padre de fazer o enterro do cachorro?

b) O que chama a atenção no modo como o Sacristão se refere ao cachorro nesse trecho?

20 Releia outro trecho e responda às questões.

PADRE

Sim, o bispo. É um grande administrador, uma águia a quem nada escapa.

JOÃO GRILO

Ah, é um grande administrador? Então pode deixar tudo por minha conta, que eu garanto.

PADRE

Você garante?

JOÃO GRILO

Garanto. Eu teria medo se fosse o anterior, que era um santo homem. Só o jeito que ele tinha de olhar para a gente me fazia tirar o chapéu. Mas com esses grandes administradores eu me entendo que é uma beleza.

a) O Bispo não participa da cena, porém é caracterizado como “um grande administrador”. Como podemos interpretar essa caracterização, com base nas respostas de João Grilo?

b) As falas de João Grilo sobre o antigo bispo (“[...] que era um santo homem. Só o jeito que ele tinha de olhar para a gente me fazia tirar o chapéu”) e o atual (“Mas com esses grandes administradores eu me entendo que é uma beleza”) sugerem

( ) seu respeito por pessoas de boa conduta moral e ética e seu desdém por pessoas corruptas.

( ) seu desdém por pessoas de boa conduta moral e ética e seu respeito por pessoas corruptas.

38

Page 39: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

estudo da língua

Orações coordenadas

simples compostos, dependendo

da quantidade de verbos ou locuções verbais presentes. Exemplos:

Não enterro de jeito nenhum.

Trata-se de um período simples, porque tem apenas um

verbo.

Está cortado o rendimento da irmandade!

Trata-se de um período simples, porque apresenta somente uma

locução verbal.

O sino batia, o cachorro olhava para a torre da igreja.

Trata-se de um período composto por duas orações, separadas por vírgula. São

chamadas orações coordenadas porque cada uma das orações tem sentido completo, de

modo que o período composto pode ser dividido em dois períodos simples. Veja:

O sino batia. O cachorro olhava para a torre da igreja.

Além da separação por vírgula, as orações coordenadas podem aparecer ligadas por uma

conjunção. Um exemplo é a conjunção e, que expressa soma de sentido.

O sino batia e o cachorro olhava para a torre da igreja.

Agora, observe esta alteração de conteúdo:

O sino batia. O cachorro já não ouvia mais.

Nesse caso, as orações poderiam ainda ser ligadas por uma conjunção que expressa

oposição de sentido, como mas ou porém.

O sino batia, mas o cachorro já não ouvia mais.

O sino batia, porém o cachorro já não ouvia mais.

ndendo

Exemplos:

s um

©Shutterstock/Denis Gorlach

39

Page 40: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

1 Sublinhe os verbos e as locuções verbais dos períodos a seguir. Depois, classifique os períodos em simples (PS) ou compostos (PC).

( ) “Vamos eu e Chicó.”

( ) “Mas tem uma coisa, agora o senhor enterra o cachorro.”

( ) “Deixem tudo comigo!”

( ) “A vaquinha vai sair daqui imediatamente!”

( ) “Foi passado em cartório, é coisa garantida.”

2 A conjunção e expressa soma, ligando elementos de um mesmo sintagma ou conectando orações. Clas-sifique os períodos em simples ou compostos e explique a função dessa conjunção nas frases a seguir.

a) O Palhaço abre e fecha a encenação.

b) O Sacristão e o Padre saem da igreja.

c) O Bispo é um grande administrador e o Padre tem medo dele.

3 Transforme os períodos simples em períodos compostos separando as orações com vírgula.

a) O Padre trancou-se na igreja. De lá ninguém o tira.

b) Ele queria ser abençoado pelo Padre. Morrer como um cristão.

c) Assombração de cachorro existe. É uma das mais perigosas.

d) Botava uns olhos bem compridos para a igreja. Latia na maior tristeza.

e) O público ouviu o toque de clarim. O Palhaço anunciou o espetáculo.

4 Reescreva os períodos da atividade anterior ligando as orações com a conjunção e. Nesse caso, não

use vírgula antes da conjunção.

a)

b)

c)

40

Page 41: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

d)

e)

5 Separe as orações com vírgula.

a) O patrão entendeu o pedido nem assim o cachorro sossegou.

b) O Sacristão enxugou uma lágrima o sentimento era falso.

c) Não existe alma de cachorro assombração de cachorro existe.

d) O Sacristão assumiu a missão o Padre não concordou.

e) Todos saem em procissão o padre fica parado, silencioso.

6 Reescreva os períodos da atividade anterior ligando as orações com a conjunção mas. Lembre-se de usar vírgula para separá-las.

a)

b)

c)

d)

e)

7 Sublinhe as conjunções e marque as alternativas em que elas foram usadas INCORRETAMENTE.

Depois, reescreva as frases assinaladas substituindo as conjunções por outras mais adequadas.

a) Todos aplaudem e o Padre agradece.

b) O Padre se lembrou do rigor do Bispo, mas ficou aflito.

c) Os argumentos não acabavam, porém o Padre resistia.

d) O Padre ficou angustiado, entretanto saiu correndo para a igreja.

e) Acabou o primeiro ato, porém o espetáculo foi interrompido.

As conjunções mas e porém introduzem uma oração que apresenta oposição de sentido,

isto é, uma ideia contrária àquela expressa anteriormente. Há outras conjunções que têm

essa mesma função, por exemplo, entretanto, contudo e todavia. Por isso, elas são tra-

dicionalmente chamadas de adversativas. A conjunção e, assim como nem, não só... mas

também, etc., expressa soma de sentido e, portanto, é chamada de aditiva.

Todas as orações coordenadas são separadas por vírgula, exceto as aditivas quando a

conjunção e une orações que têm o mesmo sujeito.

41

Page 42: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

8 Reescreva os períodos invertendo a ordem das orações. Faça as alterações necessárias.

a) O Padre não queria renunciar ao dinheiro nem fazer o enterro do cachorro.

b) O Padre não cedia à esposa do Padeiro nem concordava com o Sacristão.

c) O Padre não queria perder a vaquinha nem cometer um sacrilégio.

9 Transforme os períodos simples em períodos compostos. Para isso, use conjunções adequadas, de acordo com o tipo de relação existente entre as orações, e vírgula(s), quando necessário.

a) Todos aplaudem. O Padre agradece.

b) Todos aplaudem. O Padre está preocupado.

c) Os atores fazem muitas estripulias no palco. São aplaudidos. Agradecem ao público.

d) Os atores fazem muitas estripulias no palco. O público não se entusiasma.

e) Acabou o primeiro ato. A apresentação continuou com o Palhaço.

10 Outras conjunções coordenativas, além da aditiva, serão estudadas mais adiante. Na frase a seguir, para estabelecer a conexão entre as duas orações, é necessário inserir uma conjunção explicativa.

Não me decido coisa nenhuma, não tenho mais idade pra isso.

a) Quais conjunções poderiam estabelecer a conexão entre essas duas orações?

( ) Porque.

( ) Ou.

( ) Portanto.

( ) Logo.

( ) Pois.

b) Reescreva a frase usando as conjunções assinaladas.

42

Page 43: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Proezas de João GriloJoão Grilo foi um cristãoQue nasceu antes do diaCriou-se sem formosuraMas tinha sabedoriaE morreu depois da horaPelas artes que fazia.

[...]

Na noite que João nasceuHouve um eclipse na luaDetonou um vulcãoQue ainda hoje continuaNaquela noite correuUm lobisomem na rua.

Assim mesmo ele criou-sePequeno, magro e sambudoAs pernas tortas e finasA boca grande e beiçudoNo sítio aonde moravaDava notícia de tudo.

João perdeu o paiCom sete anos de idadeMorava perto dum rio

Ia pescar toda tardeUm dia fez uma cenaQue admirou a cidade.

O rio estava de nadoVinha um vaqueiro de foraPerguntou: – Dará passagem?João Grilo disse: – Ainda agoraO gadinho de meu paiPassou com o lombo de fora!

Vaqueiro botou o cavaloCom uma braça deu nadoFoi sair muito embaixoQuase que morre afogadoVoltou e disse ao menino:– Você é um desgraçado.

João Grilo foi ver o gadoPara provar aquele atoVinha trazendo na frenteUm bom rebanho de patoOs patos passaram n’águaJoão provou que era exato.

[...]

conectado

LIMA, João F. de. Proezas de João Grilo. Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net /docreader.aspx?bib= CordelFCRB&pasta= Joao%20Ferreira%20de% 20Lima&pesq=>. Acesso em: 2 out. 2019.

Cordel

Um dos elementos da literatura brasileira de cordel que Ariano Suassuna incorpora a sua

obra é o personagem João Grilo. Leia um texto sobre essa figura icônica da cultura popular e

responda às questões propostas.

sambudo: com o ventre inchado, barrigudo.

gadinho: diminutivo de gado. Esse termo, em uma expressão, pode fazer referência não apenas a bois,

cavalos, etc., mas também a aves (“gado de bico”).

lombo: região lombar; dorso, costas.

oo

Perguntou: Dará passagem?João Grilo disse: – Ainda agoraO gadinhogaaddinhoo de meu paiPassou com o lombolombbboo de fora!

Vaqueiro botou o cavaloCom uma braça deu nadoFoi sair muito embaixoQuase que morre afogadoVoltou e disse ao menino:– Você é um desgraçado.

João Grilo foi ver o gadoPara provar aquele ato

nteVinha trazendo na frenteho de patoUm bom rebanho d

assaram n’águaOs patos passprovou que era exato.João prov

[...][

t

Ide

ári

o L

ab

. 20

14

. Dig

ita

l.

43

Page 44: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

1. O Dicionário Aurélio oferece três definições para a palavra proeza. Assinale aquela que melhor corresponde às ações descritas no texto Proezas de João Grilo.

a) “1. Ação de valor; façanha.”

b) “2. Qualquer ato invulgar praticado por alguém.”

c) “3. Ato censurável ou escandaloso.”

FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010. p. 1714.

2. Que termo presente na primeira estrofe tem esse mesmo significado da palavra proeza?

a) “sabedoria”. b) “artes”.

3. O que significa dizer que João Grilo “nasceu antes do dia”?

4. Por que se diz que ele “morreu depois da hora”?

5. Que sinais ocorreram na noite de seu nascimento?

6. Como a aparência de João Grilo é descrita no texto?

7. O que a descrição física do personagem revela sobre ele?

8. Pelo contexto, é possível afirmar que, no verso “O rio estava de nado”, a expressão “de nado” significa

a) bom para nadar. b) cheio.

9. Releia a quarta estrofe e responda: Quem “Um dia fez uma cena/Que admirou a cidade”?

a) João Grilo. b) O pai de João Grilo.

Justifique sua resposta.

10. Com relação a estes dois trechos, responda às questões.

I.

a) Explique o significado da expressão “de fora” nas duas situações de uso.

Vinha um vaqueiro de fora

II.O gadinho de meu pai

Passou com o lombo de fora!

44

Page 45: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

b) Comente o uso do diminutivo “gadinho”.

c) O que o vaqueiro entendeu ao ouvir que o gadinho “passou com o lombo de fora”?

d) Além do tamanho, qual é a diferença fundamental entre bois e patos para que esse epi-sódio faça sentido?

11. Quais substantivos coletivos aparecem nesse cordel para fazer referência aos patos?

12. O uso desses coletivos para se referir a patos está correto? Retome o glossário que acom-panha o cordel antes de responder a essa pergunta.

13. Com base no texto lido, complete a frase.

No último verso, a palavra “exato” dá a entender que João Grilo

14. Que períodos da vida do protagonista, João Grilo, são abordados nesse trecho do cordel?

15. Em que o personagem desse cordel, João Grilo, assemelha-se ao protagonista da peça escrita por Ariano Suassuna? Explique sua resposta.

16. Assinale a alternativa correta.

a) O personagem do cordel Proezas de João Grilo serviu de inspiração para a peça teatral Auto da Compadecida.

b) O personagem da peça teatral Auto da Compadecida serviu de inspiração para o cordel Proezas de João Grilo.

45

Page 46: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

17. Que palavras compõem a rima externa das estrofes?

1.ª estrofe:

2.ª estrofe:

3.ª estrofe:

4.ª estrofe:

5.ª estrofe:

6.ª estrofe:

7.ª estrofe:

18. O esquema de rima é igual em todas as estrofes? Justifique sua resposta.

19. Pense em personagens de filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos, entre outros, e diferencie herói de anti-herói e de vilão. No espaço a seguir, desenhe esses perso-nagens ou cole imagens deles, identificando as categorias a que pertencem.

20. Como João Grilo pode ser classificado: herói, vilão ou anti-herói? Por quê?

Rima externa é aquela que

ocorre no final do verso.

Rima interna é aquela que

ocorre no interior do verso.

46

Page 47: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Esquete

PreparaçãoO gênero escolhido para a produção escrita deste capítulo é o esquete, que, posterior-

mente, será encenado por você e pelos colegas. Os programas humorísticos apresentados

na televisão, geralmente, são compostos de vários esquetes.

O esquete é um

produção escrita

1. Entre os programas humorísticos que você conhece, quais apresentam esquetes?

2. Em grupos, pensem em uma situação cotidiana ou em algum fato engraçado pelo qual

vocês tenham passado. Essa história servirá de base para o esquete.

3. Apresentem a história escolhida ao professor, para que ele avalie se está adequada ao

trabalho a ser feito.

4. Definam, então, o assunto, os personagens, o cenário e a sequência narrativa. Troquem

ideias sobre como o efeito humorístico será construído. Anotem as definições em uma

folha de papel e apresentem-nas ao professor, para que, novamente, ele avalie se estão

adequadas à produção a ser realizada.

5. Após essa conversa, realizem a próxima etapa de acordo com o roteiro abaixo. Usem a

página seguinte para fazer anotações.

Façam um resumo do enredo e verifiquem como ele se estrutura.

Identifiquem as ações que devem ser representadas e quais podem ser excluídas sem

prejuízo para o entendimento do esquete.

Listem os personagens e como são caracterizados.

Destaquem as indicações de como os personagens se comportam e se movimentam, as

quais deverão constar nas rubricas.

Descrevam o lugar e a época em que se passa a história. As rubricas deverão conter essas

informações.

Verifiquem se certas informações precisam ser expostas na voz de um apresentador.

Definam se há necessidade de efeitos sonoros ou de iluminação. Se sim, indiquem de

que tipo e como serão usados.

texto curto e breve, dialogado ou não, improvisado ou não, para rápidas encenações, geralmen-te cômicas, em teatro, rádio ou televisão. Trata-se de um texto com unidade dramática e com princípio, meio e fim bem determinados.

COSTA, Sérgio R. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. p. 119.

47

Page 48: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Produção6. Na produção do esquete, não alterem a história original. Façam a adaptação do enredo

para uma encenação breve, de aproximadamente dez minutos.

7. Considerem que, no esquete, não há narrador. A plateia deve entender o enredo por

meio dos diálogos e das ações dos personagens. Portanto, avaliem como incorporar nos

diálogos e nas rubricas as informações que, na versão primitiva da história, estão na voz

do narrador. Lembrem-se de inserir as indicações dos personagens (em destaque) antes

de suas respectivas falas.

8. Ao escreverem as falas, observem se estão adequadas ao personagem e a suas caracte-

rísticas. Escrevam as rubricas – entre parênteses ou em outra cor – com as indicações para

a encenação, de modo que fique claro em quais condições a cena transcorrerá.

Avaliação9. Releiam o texto e analisem em que aspectos ele pode ser melhorado. Depois, avaliem o

esquete produzido respondendo às questões a seguir.

Critérios de autoavaliação

O enredo do esquete condiz com o do texto original?

A linguagem utilizada pelos personagens é adequada ao perfil de cada um?

Há rubricas com indicações adequadas e suficientes para a encenação?

As rubricas foram adequadamente destacadas no texto?

Há indicação do cenário em que transcorre a ação do esquete?

48

Page 49: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Leitura dramatizada

PreparaçãoVocê e seu grupo deverão fazer uma leitura dramatizada do esquete que produziram.

1. Releiam o texto e acrescentem gestos e expressões faciais, alterando a voz, testando

diferentes entonações ao pronunciar as frases, etc. Para encontrar a melhor entonação,

considerem a situação e as características dos personagens.

2. Definam quem representará cada um dos personagens.

3. Discutam se há necessidade de providenciar materiais para a sonoplastia, além de rou-

pas, acessórios e/ou objetos para a encenação. Ensaiem bastante e decorem as falas.

4. Preparem uma encenação breve, de cerca de dez minutos.

Produção5. Encenem o esquete produzido para a turma.

Avaliação6. Após a encenação do esquete, avaliem a atividade realizada.

Critérios de autoavaliação

O grupo realizou a atividade no tempo previsto?

Todos os integrantes do grupo se envolveram igualmente na realização da atividade?

Cada um realizou as atividades que lhe foram designadas?

A entonação e as expressões facial e corporal, isto é, a interpretação dos atores, estavam adequadas ao esquete?

7. Respondam à seguinte pergunta: Em que aspectos vocês sentiram mais dificuldade du-

rante a realização da atividade?

8. Coletivamente, discutam o que pode e deve ser melhorado em outras produções

produção de texto oral

©S

hu

tte

rsto

ck/M

alj

ale

n

49

Page 50: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

1 Releia esta estrofe:

o que já conquistei

João Grilo foi um cristão

Que nasceu antes do dia

Criou-se sem formosura

Mas tinha sabedoria

E morreu depois da hora

Pelas artes que fazia.

a) No trecho acima, há uma oração iniciada por uma conjunção que introduz uma ideia inesperada. Transcreva essa oração.

b) Há também uma oração que, por apresentar uma conjunção aditiva, soma-se à ideia de que João Grilo nasceu antes da hora. Qual é essa oração?

c) João Grilo inspirou um dos personagens da obra Auto da Compadecida. A qual gênero ela pertence?

2 Assinale as alternativas que correspondem a uma reescrita do trecho abaixo, preservando seu sentido.

Os patos passaram n’água

João provou que era exato.

a) Os patos passaram n’água, João provou que era exato.

b) Os patos passaram n’água e João provou que era exato.

c) Os patos passaram n’água, porém João provou que era exato.

3 Complete as frases com as conjunções adequadas, sem repeti-las.

e nem mas porém

a) O cavalo não conseguiu atravessar o rio, os patos o fizeram facilmente.

b) O gado não atravessaria o rio o cavalo o faria.

c) O vaqueiro quase se afogou, João Grilo achou isso engraçado.

d) O vaqueiro quase se afogou xingou João Grilo por isso.

4 Transforme os períodos simples em períodos compostos. Para isso, use conjunções adequadas, de acordo com o tipo de relação existente entre as orações, e vírgula(s).

a) Naquela noite, houve um eclipse na lua. Um vulcão detonou. Um lobisomem correu na rua.

50

Page 51: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

b) Era beiçudo. Tinha boca grande. Suas pernas eram tortas.

5 Que conjunção poderia ligar estes dois versos?

Morava perto dum rio

Ia pescar toda tarde

a) Nem. b) Ou. c) Portanto. d) Logo. e) Contudo.

6 Complete os períodos com as orações que lhes dão sentido, usando conjunções adequadas, sem repeti-las.

foi cancelado na última hora

acabou preso por isso

elas não se concretizaram

o procedimento não foi realizado

ele preferiu improvisar

a) Avisaram das mudanças de temperatura para esta semana,

b) A previsão era de retirada do veículo da pista até o meio-dia,

c) O show da banda deveria começar às 20 horas,

d) O discurso de abertura dos jogos estava pronto,

e) O motorista informou seus amigos sobre a blitz na rua principal,

7 mas, que introduz a segunda oração.

a)

b)

c)

d)

e)

8 mas

a) contrária ao que está posto na primeira oração.

b) conclusiva em relação ao que está posto na primeira oração.

51

Page 52: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

capí

tulo

Você já se perguntou de

quantas palavras um escritor

precisa para criar mundos e

surpreender seus leitores?

Ou qual é o grau de deta-

lhamento necessário em um

quadro? O que é indispensá-

vel para que uma obra desa-

fie quem a aprecia?

Observe esta imagem e

troque ideias com os cole-

gas sobre as questões:

1. O que o espelho está

refletindo?

2. Observando a posição

em que o espelho está,

seria possível ele refletir

essa imagem? Por quê?

Conto e miniconto

Coesão referencial

Miniconto: uma

ação em foco

Leitura expressiva

Conto: narrativas em cápsulas12

ESCHER, Maurits C. Natureza-morta com espelho. 1934. 1 litografia, 39,4 cm × 28,8 cm. Escher Museum, Holanda.

o que vocêvai conhecer?

©Escher Museum, Holanda

52

Page 53: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

3. Ao perceber a situação criada na imagem, identifique e comente com seus colegas

a) a sensação que essa obra causa em você.

b) o elemento-chave, responsável pelo efeito de ambiguidade existente na obra.

c) o recurso usado pelo pintor para “disfarçar” a transição do real para o impossível, isto é,

confundir o observador.

Ler conto, miniconto e microconto, compreendendo o estilo, a composição e a função comunicativa de cada gênero.

Reconhecer recursos de coesão referencial.

Produzir um miniconto observando as características do gênero.

Fazer a leitura expressiva do miniconto produzido respeitando as orientações da proposta.

objetivos do capítulo

estudo do texto

Conto I

Em muitos textos, há trechos conversacionais. No conto a seguir, a narrativa desenvolve-se

praticamente por meio de diálogos entre os personagens. Observe como isso ocorre e o que

significa no texto.

Os três homens atentosTrês homens caminhavam juntos por uma estrada quando passou por eles um velho mui-

to apressado.

– Por acaso vocês viram o meu camelo? – ele perguntou, cheio de preocupação.

O primeiro homem respondeu-lhe com outra pergunta:

– Seu camelo é cego de um olho?

– É sim – disse o cameleiro.

– Ele não tem um dos dentes da frente? – continuou o segundo homem.

– É isso mesmo.

– É manco de uma perna? – completou o terceiro.

– Com certeza – ele afirmou.

53

Page 54: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

red

dra

go

n i

lust

raçõ

es.

20

20

. Dig

ita

l.

Os três homens então o aconselharam a seguir na direção de onde eles tinham vindo, que logo encontraria seu camelo. O cameleiro agradeceu muito a indicação e se foi. Mas nem sinal do camelo.

“Vou voltar correndo para falar mais uma vez com aqueles viajantes”, ele disse para si mesmo.

“Quem sabe poderão me dizer mais claramente em que lugar eles o viram.”

No final do dia, já quase sem forças, o dono do camelo avistou os três homens descansando debaixo de uma amendoeira à beira da estrada.

– Não achei nada – ele gritou.

– O camelo levava duas cargas, de um lado mel e do outro milho? – perguntou o primeiro homem.

– Sim – respondeu o cameleiro, bastante ansioso.

– Uma mulher grávida estava montada nele? – quis saber o segundo.

– Era minha mulher – falou o cameleiro.

– Sinto muito – disse finalmente o terceiro homem.

– Nós não vimos o seu camelo.

O cameleiro foi embora desapontado, mas no caminho começou a juntar os fatos. “Se eles sabem de tudo isso, é claro que estão escondendo de mim alguma coisa importante. E, se estão escondendo, é porque foram eles que roubaram meu camelo, a carga e também minha mulher. São ladrões perigosos, mas não vão me enganar.”

Correu até o juiz e contou toda a história, muito nervoso. O juiz achou que o cameleiro tinha motivos mais que justos para suspeitar daqueles homens, e ordenou que os prendessem como ladrões. Enquanto isso, iria mandar investigar os fatos, para confirmar a culpa dos viajantes.

Algum tempo depois, o cameleiro voltou para casa e encontrou a mulher cozinhando um delicioso carneiro para o jantar. Ela disse que deixara o camelo no campo perto da casa de sua comadre, onde tinha parado para conversar.

O cameleiro retornou à corte e, pedindo desculpas por ter se enganado, disse ao juiz que podia libertar os homens.

O juiz mandou chamar os três viajantes.

– Se vocês nem sequer tinham visto o camelo, como podiam saber tantas coisas sobre ele? – perguntou, cheio de curiosidade.

54

Page 55: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

– Bem – disse o primeiro homem –, nós vimos suas pegadas no caminho.

– Uma das pegadas era mais fraca do que as outras, por isso deduzimos que era manco – disse o segundo.

– Além disso, ele tinha mordiscado o mato de um lado só da estrada e, assim, devia ser cego de um olho – continuou o terceiro.

O primeiro seguiu falando:

– As folhas estavam rasgadas, o que indica que o camelo tinha perdido um dente. E o terceiro:

– De um lado do caminho vimos abelhas sobre os restos de alguma coisa no chão e, do outro lado, havia formigas sobre um outro monte. As abelhas comiam o mel que havia caído da carga, e as formigas recolhiam os grãos de milho.

– Também vimos alguns fios de cabelo humano bem compridos que só podiam ser de uma mulher. Eles estavam bem no lugar onde alguém tinha parado um animal e depois descido – disse o primeiro homem.

– No lugar onde a mulher sentou, observamos as marcas das duas palmas das mãos, o que nos levou a pensar que ela precisara apoiar-se, tanto para sentar como para levantar. Assim, deduzimos que a mulher estava grávida – completou o segundo homem.

O juiz ficou impressionado.

– Mas por que não se defenderam, se não tinham culpa de nada?

– Porque nós sabíamos que ninguém iria roubar um camelo manco, cego de um olho, levando uma mulher grávida! E que logo seu dono iria encontrá-lo. Sabíamos também que ficaria envergonhado e viria até a corte para corrigir seu erro – disseram os três juntos.

Naquela noite, o velho, antes de dormir, ficou um tempão sentado na cama lembrando do seu camelo. Nunca tinha reparado se ele era manco, ou se era cego de um olho, ou se lhe faltava um dente.

Quanto aos três homens, até hoje viajam pelos caminhos do mundo realizando o trabalho que lhes foi destinado.

MACHADO, Regina. A formiga Aurélia: e outros jeitos de ver o mundo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998. p. 19-22.

1 No título do conto, há alguma palavra que antecipa a solução do mistério, no qual o leitor será

envolvido no decorrer do texto? Explique sua resposta.

2 Quais são os personagens desse conto? Algum deles é tratado pelo nome?

55

Page 56: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

3 Como os três homens são especificados no texto?

4 Com base nos dois primeiros parágrafos, responda a algumas questões sobre o cameleiro.

a) Que informação há sobre seu aspecto físico?

b) Há duas informações sobre como ele estava se sentindo. Quais são elas?

c) Por que ele estava assim?

5 Há alguma informação sobre o aspecto físico dos outros personagens? Explique sua resposta.

6 O camelo é descrito em diversos aspectos.

a) Como ele era fisicamente?

b) Que outros aspectos permitiam sua identificação?

7 Por se tratar de uma narrativa, seria natural a presença de informações sobre o espaço (na cidade de...) e o tempo (no ano de...). Embora o texto não as apresente, podemos identificar os lugares por onde o cameleiro se locomoveu e marcas que registram a passagem do tempo.

a) Escreva, em sequência cronológica, os lugares por onde o cameleiro passou ao longo da narrativa.

Estrada → → → → casa.

b) Sublinhe os trechos que revelam o momento em que os fatos aconteceram.

“No final do dia, já quase sem forças, o dono do camelo avistou os três homens descansando

debaixo de uma amendoeira à beira da estrada.”

“Algum tempo depois, o cameleiro voltou para casa e encontrou a mulher cozinhando um deli-cioso carneiro para o jantar.”

“Naquela noite, o velho, antes de dormir, ficou um tempão sentado na cama lembrando do seu

camelo.”

c) É possível deduzir quanto tempo se passou entre os eventos que iniciam o conto e sua conclu-

são? Justifique sua resposta.

56

Page 57: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

8 Por que essa história não poderia ter acontecido no Brasil?

9 Em seu entendimento, seria fácil perder um camelo? Justifique sua resposta.

10 Em certo momento, há uma mudança nos objetivos do cameleiro.

a) Explique que mudança foi essa e por que ela ocorreu.

b) O que aconteceu, então?

11 Os três homens, atentos que eram, não se preocuparam com sua prisão. Como eles sabiam que o camelo não havia sido roubado?

12 Em seu entendimento, alguma das explicações dadas ao juiz sobre o camelo poderia ser discutida ou contestada? Compartilhe com os colegas ideias sobre elas.

13 Dizemos que um texto tem coerência quando há uma relação lógica entre as partes que o compõem.

a) Releia os trechos a seguir e explique a relação entre eles.

– Por acaso vocês viram o meu camelo? – ele perguntou, cheio de preocupação.

O primeiro homem respondeu-lhe com outra pergunta:

– Seu camelo é cego de um olho?

– É sim – disse o cameleiro.

– Ele não tem um dos dentes da frente? – continuou o segundo homem.

– É isso mesmo.

– É manco de uma perna? – completou o terceiro.

– Com certeza – ele afirmou.

57

Page 58: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

14 Releia o parágrafo final e responda à questão.

b) No segundo trecho, é possível notar uma ambiguidade decorrente do uso do pronome “ele”. Explique-a.

c) Reescreva o segundo trecho atribuindo a qualidade de “velho” ao camelo, de modo a evitar qualquer ambiguidade. Faça as modificações necessárias para que seu parágrafo apresente coerência textual.

Quanto aos três homens, até hoje viajam pelos caminhos do mundo, realizando o trabalho que lhes foi destinado.

No texto, não constam informações sobre o trabalho destinado aos três homens. Analisando esse conto, qual poderia ser o trabalho deles?

Naquela noite, o velho, antes de dormir, ficou um tempão sentado na cama lembran-do do seu camelo. Nunca tinha reparado se ele era manco, ou se era cego de um olho, ou se lhe faltava um dente.

58

Page 59: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

narrador-personagem

contar é fortemente marcada por impressões pessoais.

narrador-observador

todos os fatos e, por não participar deles, apresenta os acontecimentos e os personagens

com certa neutralidade, isto é, sem fazer avaliações.

15 Releia os trechos a seguir e assinale as alternativas corretas.

I. Três homens caminhavam juntos por uma estrada quando passou por eles um velho

muito apressado.

II. O juiz ficou impressionado.

a)

b)

c)

d)

16 Sublinhe os trechos que são atribuídos ao narrador.

No final do dia, já quase sem forças, o dono do camelo avistou os três homens descansando debaixo de uma amendoeira à beira da estrada.

– Não achei nada – ele gritou.

– O camelo levava duas cargas, de um lado mel e do outro milho? – perguntou o primeiro homem.

– Sim – respondeu o cameleiro, bastante ansioso.

– Uma mulher grávida estava montada nele? – quis saber o segundo.

– Era minha mulher – falou o cameleiro.

– Sinto muito – disse finalmente o terceiro homem.

– Nós não vimos o seu camelo.

a) Qual é o sinal de pontuação usado para indicar que se trata de um diálogo?

b) Em uma mesma fala, o que indica

o primeiro travessão?

o segundo travessão?

59

Page 60: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

17 Por que, neste trecho, foram usadas aspas, e não travessão?

“Vou voltar correndo para falar mais uma vez com aqueles viajantes”, ele disse para si mesmo.

“Quem sabe poderão me dizer mais claramente em que lugar eles o viram.”

18 Identifique os personagens aos quais as falas indicadas pertencem.

apresentam uma sequência de diálogos caracterizada pela

alternância das pessoas do discurso, ou seja, cada um, por vez, tem o turno da palavra.

Em narrativas, entrevistas, histórias em quadri-

nhos, peças teatrais e piadas, usa-se uma sequência

de diálogos para desenvolver o assunto abordado.

Sua principal função é apresentar diretamente a fala

dos personagens, demonstrando, inclusive, a manei-

ra de falar de cada um deles.

Três homens caminhavam juntos por uma estrada quando passou por eles um velho muito apressado.

– Por acaso vocês viram o meu camelo – ele perguntou, cheio de preocupação.

O primeiro homem respondeu-lhe com outra pergunta:

– Seu camelo é cego de um olho?

– É sim – disse o cameleiro.

– Ele não tem um dos dentes da frente? – continuou o segundo homem.

– É isso mesmo.

– É manco de uma perna? – completou o terceiro.

– Com certeza – ele afirmou.

estudo da língua

Coesão referencialLeia este período:

O camelo é um grande mamífero, o camelo vive no deserto, o camelo é conhecido

por sua corcova.

©S

hu

tte

rsto

ck/R

aw

pix

el.

com

60

Page 61: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

O que pode causar estranhamento a quem lê a frase?

Para solucionar o problema que você identificou na frase anterior, pode-se utilizar pala-

vras que retomem o termo comum às orações em vez de repeti-lo. Esse recurso, que fortale-

ce a união entre os elementos que compõem o texto, chama-se coesão referencial.

Assim, você pode reescrever o texto da seguinte maneira:

O camelo é um grande mamífero, ele vive no deserto e é conhecido por sua corcova.

Para eliminar as repetições presentes no texto inicial, a expressão “o camelo” pode ser

substituída por “ele” na segunda oração e ocultada (elipse) na terceira oração.

Observe outras possíveis reescritas dessa frase.

O camelo é um grande mamífero, vive no deserto e é conhecido por sua corcova.

O camelo, um grande mamífero que vive no deserto, é conhecido por sua corcova.

Agora, leia estes períodos:

O camelo vive no deserto. Esse grande mamífero é conhecido por sua corcova.

Que expressão do segundo período estabelece uma relação de coesão com o termo

“O camelo”, na primeira oração?

Nesse caso, as características do camelo funcionam como sinônimo do termo substituído,

o que torna o texto mais harmônico e a leitura mais agradável, além de possibilitar a introdu-

ção de novas informações.

Reescreva os períodos substituindo a expressão “Esse grande mamífero” por outra que

faça sentido nesse contexto.

Nos exemplos apresentados, houve coesão

pela substituição de um termo por um pronome pessoal (“ele”);

pela ocultação de um termo (elipse), já que é possível percebê-lo pelo contexto;

pela substituição de um termo por um sinônimo ou expressão explicativa (“Esse grande

mamífero”).

1 Reelabore os trechos a seguir excluindo as repetições. Substitua a primeira repetição por um pro-nome pessoal e elimine a segunda.

a) Alguns povos do Saara vagam pelo deserto atrás de pastagens para seus animais.

61

Page 62: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

b) Os três viajantes caminhavam juntos. Os três viajantes encontraram um cameleiro. Os três viajantes seguiram em frente.

c) Um velho muito apressado passou pelos três homens. Um velho muito apressado perguntou se tinham visto seu camelo. Um velho muito apressado seguiu a sua procura.

d) O camelo era cego de um olho. O camelo não tinha um dos dentes da frente. O camelo era manco de uma perna.

e) O cameleiro retornou à corte. O cameleiro reconheceu o erro. O cameleiro pediu desculpas.

2 Identifique os termos retomados pelos pronomes destacados nos trechos a seguir, extraídos do texto Os três homens atentos.

a) “O primeiro homem respondeu-lhe com outra pergunta:”

b) “– Ele não tem um dos dentes da frente? – continuou o segundo homem.”

c) “Os três homens então o aconselharam a seguir [...]”

d) “Com certeza – ele afirmou.”

3 No trecho a seguir, que expressão é retomada pelo pronome “isso”?

– Ele não tem um dos dentes da frente? continuou o segundo homem.

– É isso mesmo.

4 Releia este trecho e identifique o termo retomado pelo pronome “eles”:

“Vou voltar correndo para falar mais uma vez com aqueles viajantes”, ele disse para si mesmo.

“Quem sabe poderão me dizer mais claramente em que lugar eles o viram.”

62

Page 63: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua PortuguesaLíLíLíLíLíLLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLLíLLíLLLíLíLíLLLLLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLííLíLíLíLíLíLíLLLíLíLíLíLíLíLíLíLííLíLíLíLíLLíLíLíLíLíLíLíLíLíLíLLíLíLíLLíLíLíLLíLíLíLííLííLííLíLíLLíLíLíLíLíLíííLíLííLíLíLíLLíLíLíLíííLíLííLLíLLíLíLííííLíííLLíLLLLíLLíLííííííííííLLLLLLLííííLLíLíLLíLLíLíLíLLíLíLíLííLíLíLíLíLíLLLíLíLííííLíLíL ngngngngngnggngngngngngngnngngngngngngngngngngngngngngngngggnggggnngggnggnngngngngnggngngngngngngngngngngngngngngngngngngggngngngngngngngngngngngnngngngngngngngngngngngngngngngnnngngngngngngnggngngnggngngnnnnggggggngnnnngngnnngngggngngngnngnnnngggnggnnnnngnnngngngggngggggggggngngnnngngnnnngnnnngngngggggggggggggngnnggggggggggggngngnggggggggnngngngngngngngngngngggngggggggggggggguauauauauauauuauauauauauauauauauauauauauauauauuauuuuuuauauauauauaauauauauaauauauauuuuauauauaauauauauauauauauauauauuauauauauauaauauauauauuauuauauauauauauauauauauauauuauauauuauauauauauauauauuuauuaauauaauaauauauuuaauaaauauauauauaauauaauuuaaaauauauuuauaaauaauaaauaaaaaaaaauauuuuauuuuauaaaaaaaaaaaaaaaaaauuauuuuuuauauuuuuauuuuuaaaaauaauaaaaaaaaaaauuuauuuuauauaaauauauauauauauaaauuauuuuauaauauauauaauaaauaauua PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPororrrorororrorororrrrrrorororrorororrrrorororrrrorrooorororororororororrroororoororororrororrrrororrrrrororrororrroorororoororororrorrororrorrrorororororoororororororororrorrorrorororrroroorororoooororrororororoorororoororrrooororororororoorrorrrrrrooorrrrorrrrrrrorrrrooooorororoororrrrrrrrrrrrrrrrorooooooooooorororrrrrororrrrorrorororororororororororrorrorrorrrrorrrroooorororrrrrrrrrrrrorrrrrrooooo tuttutuututtutututututututtuttutututututtutututtututtutttttttttttttttttttuttutttututtuttttttutututtuttuutututuuuutuuutututututtutututuuuuuuutuutututtututtututttututuutuutututuutuututututttutttutututuuuutuuuututuutuutututtutttutututuuuututuuttutututtutututuutututuutututtttutuuuuuutututtuttttttttututuuuuuuutuuuuuuututtttttttttttutuutuuutututuututuutuututtttuttututututututuututtttttutuutututtttttuttutuuuututtttttutututututuuuuuuuuutututuuttttugugugugugguguguguguguggugugugugugugugggugugggugggugggggguguguugugugugguguguugugguguguggugugugguguuguuuugggggggguguguguguguguguuguguuuuguguguggggggguguguuguuguguguuguguguguguuguguguggugugugggguguguggugguguguuguuuuggguguggguguggguguguguguugugugguguuuuuugguguuuuguggguguguguguuguuuuugugggggggggggguguguuuguguguugugugugugugugugugugugugugugugguguguguguguguguguuuguguugugugguuuggguguguugggugguguguguguuuuugugugugguggugugugugugugugugugugggguguguggggggggugguggggggggggggggggggggggg esesesesesesesesesesessesesesesseeseseseseseesesesessssssseeesesesssseseeeseeeeseseeesesesesessessseseeeseseesesesesesesesesesesssesseseeeseseeeeesesesessssssssseesesesesesesesesesessssseeeeeseesesesesessesesessseeesesessseseeeeessssseeeesssssssseseseseseseseesesesessesessseseeeseseseseseseseseeseseseseseeseseseeeesesesesesesssesesesesseseeseseeeseeeeesaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

©S

hu

tte

rsto

ck/F

eli

x F

rie

be

5 Com base no conto lido, reescreva o período composto explicitando o nome a que se faz referência. Depois, insira o pronome que estava elíptico, de acordo com o modelo a seguir.

“Enquanto isso, iria mandar investigar os fatos, para confirmar a culpa dos viajantes.”

Enquanto isso, o juiz iria mandar investigar os fatos, para ele confirmar a culpa dos

viajantes.

a) “São ladrões perigosos, mas não vão me enganar.”

b) “Correu até o juiz e contou toda a história [...]”

6 Leia as frases a seguir e responda à questão.

I.

Pessoas que vivem no deserto andam de camelo e o usam para carregar coisas. Os camelos podem carregar até 450 quilos. Por serem úteis no transporte, em alguns lugares esses animais são chamados de “navios do deserto”.

CAMELO e dromedário. Disponível em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/camelo-e-dromed%C3%A1rio/480887>. Acesso em: 8 out. 2019. ©2019 Encyclopædia Britannica, Inc.

a) Que termo o pronome pessoal oblíquo “o” substitui?

b) Qual é a substituição por sinônimo presente nesse fragmento?

A mulher do cameleiro já havia retornado com o camelo e explicou o que havia acontecido com ele.

II. A mulher do cameleiro já havia retornado com ele e explicou o que havia acontecido

com o camelo.

Em qual dessas frases o uso do termo coesivo cria ambiguidade? Explique sua resposta.

7 Leia o trecho a seguir e responda à questão.

63

Page 64: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

8 Reescreva este trecho eliminando as repetições desnecessárias:

Existem mais de 20 mil espécies de abelhas. As espécies de abelhas mais conhecidas são as abe-lhas melíferas (isto é, as abelhas que produzem mel) e as abelhas mamangavas, ou abelhões.

ABELHA. Disponível em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/abelha/480760>. Acesso em: 8 out. 2019. ©2019 Encyclopædia Britannica, Inc.

9 Leia as informações a seguir e complete as frases.

O camelo-bactriano vive nas montanhas da Ásia central. A maioria dos camelos dessa espécie foi domesti-cada para ajudar os seres humanos, mas ainda há peque-nos rebanhos de camelos-bactrianos selvagens vivendo na Mongólia e no noroeste da China.

O dromedário vive principalmente no norte da África, no Oriente Médio e na Índia. Não existem mais dromedá-rios selvagens nesses lugares, só em outro lugar distante de lá, a  Austrália. Eles são descendentes de camelos domesticados levados para o país no século XIX.

CAMELO e dromedário. Disponível em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/camelo-e-dromed%C3%A1rio/480887>. Acesso em: 8 out. 2019. ©2019 Encyclopædia Britannica, Inc.

a) O termo “dessa espécie” retoma

b) O termo “nesses lugares” retoma

c) A expressão “em outro lugar distante de lá” antecipa

d) O pronome “Eles” retoma

e) O termo “o país” retoma

Camelo-bactriano

Dromedário

©S

hu

tte

rsto

ck/A

lek

san

de

r H

un

ta©

Sh

utt

ers

tock

/Da

vid

Mg

64

Page 65: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

10 Leia o texto a seguir e sublinhe os elementos que estabelecem coesão com a palavra “Cão”, usada no título.

Cão é encontrado vivo sob escombros cinco semanas após

furacão nas BahamasApelidado de "Miracle", ele sobreviveu sem comida, bebendo água de chuva, e agitou a cauda ao ver que seria resgatado. Localização foi possível graças a uso de drone com infravermelho

Um cachorro foi encontrado vivo debaixo de escombros mais de um mês após um furacão destruir completamente o local onde ele vivia nas Bahamas.

O vira-latas, com cerca de um ano de idade, sobreviveu bebendo água da chuva e estava ex-tremamente magro ao ser resgatado, mas ainda assim balançou a cauda ao avistar as pessoas que o salvariam.

Apelidado de “Miracle” (milagre, em inglês), o cão morava em Marsh Harbour, nas Bahamas, uma região atingida pelo furacão Dorian, em 1º. de setembro. Ele só foi localizado em 4 de outu-bro, graças ao infravermelho de um drone.

O porta-voz da ONG responsável pelo resgate, a Big Dog Ranch Rescue, explicou à CNN que Miracle quase foi esmagado. Segundo Chase Scott, depois que o prédio desabou, o animal ficou preso debaixo de vidros quebrados, um aparelho de ar-condicionado e destroços da construção.

Apesar de conseguir beber água de chuva, ele não teve como se alimentar, e por isso suas costelas estavam aparentes quando foi salvo.

Agora, recebendo alimentação e cuidados veterinários, além de muito carinho dos voluntá-rios da ONG, ele aguarda que seus donos apareçam. Se isso não acontecer, será encaminhado para adoção após se recuperar completamente.

De acordo com Scott, a Big Dog Ranch Rescue conseguiu resgatar 139 cães de áreas atingi-das pelo Dorian, e já reuniu muitos deles com seus donos.

A passagem de Dorian pelas Bahamas  deixou pelo menos 50 mortos  e milhares de desaparecidos.

CÃO É ENCONTRADO vivo sob escombros cinco semanas após furacão nas Bahamas. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/10/07/cao-e-encontrado-vivo-sob-escombros-cinco-semanas-apos-furacao-nas-bahamas.ghtml>. Acesso em: 8 out. 2019. ©G1

Cachorro é encontrado vivo semanas depois da passagem do furacão Dorian, nas Bahamas

©S

hu

tte

rsto

ck/L

av

izza

ra

65

Page 66: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Conto II

Você conhece Marina Colasanti? Antes de ler o conto, no qual um

espelho tem papel importante no desenrolar dos acontecimentos,

conheça a biografia da autora.

A primeira sóEra linda, era filha, era única. Filha de rei. Mas de que adiantava ser

princesa se não tinha com quem brincar?

Sozinha, no palácio, chorava e chorava, dias e noites, sem parar. Não queria saber de bonecas, não queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.

De noite o rei ouvia os soluços da filha. De que adiantava a coroa se a filha da gente chora à noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silêncio mandou colocar o espelho ao pé da cama da filha que dormia.

Quando a princesa acordou, já não estava sozinha. Uma menina linda e única olhava para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rápido saltaram as duas da cama. Rápido chegaram perto e ficaram se encontrando. Uma sorriu e deu bom dia. A outra deu bom dia sorrindo.

– Engraçado – pensou uma –, a outra é canhota.

E riram as duas. Riram muito depois. Felizes juntas, felizes iguais.

A brincadeira de uma era a graça da outra. O salto de uma era o pulo da outra. E, quando uma estava cansada, a outra dormia. O rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos, que entregou à filha numa cesta.

Bichos, bonecas, casinhas e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porém tão brilhante, que foi o primeiro presente que escolheram. Rolaram com ela no tapete, lançaram na cama, atiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu jogá-la nas mãos da amiga a bola estilhaçou jogo e amizade.

Uma moldura vazia, cacos de espelho no chão. A tristeza pesou nos olhos da única filha do rei. Abaixou a cabeça para chorar. A lágrima inchou, já ia cair, quando a princesa viu o rosto que tanto amava. Não um só rosto de amiga, mas tantos rostos de tantas amigas nos cacos que cobriam o chão.

conectado

Marina Colasanti nasceu

em Asmara, então colônia

da Itália. Chegou ao Brasil

em 1948, e sua família se

radicou no Rio de Janeiro.

Marina escreve contos,

poesias e obras de literatura

infantojuvenil. Sua primeira

publicação infantojuvenil

Uma

ideia toda azul, de 1979.

©F

olh

ap

ress

/Da

nie

l M

are

nco

Da

ya

ne

Ca

bra

l. 2

01

4. D

igit

al.

66

Page 67: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

– Engraçado, são canhotas – pensou.

E riram. Riram por algum tempo depois. Era diferente brincar com tantas amigas. Agora podia escolher.

Um dia escolheu uma e logo se cansou. No dia seguinte preferiu outra, e esqueceu-se dela logo em seguida. Depois outra e outra, até achar que todas eram poucas. Então pegou uma, jogou contra a parede e fez duas. Cansou das duas, pisou com o sapato e fez quatro. Não achou mais graça nas quatro, quebrou com o martelo e fez oito. Irritou-se com as oito, partiu com uma pedra e fez doze. Mas duas eram menores do que uma, quatro menores do que duas, oito menores do que quatro, doze menores do que oito. Menores, cada vez menores. Tão menores que não cabiam em si, pedaços de amigas com as quais não se podia brincar.

Um olho, um sorriso, um pedaço de si. Depois, nem isso, pó brilhante de amigas espalhado pelo chão. Sozinha outra vez a filha do rei. Chorava. Nem sei. Não queria saber das bonecas, não queria saber dos brinquedos.

Saiu do palácio e foi correr no jardim para cansar a tristeza. Correu, correu, e a tristeza continuava com ela.

Correu pelo bosque, correu pelo prado. Parou à beira do lago. No reflexo da água, a amiga esperava por ela. Mas a princesa não queria mais uma única amiga, queria tantas, queria todas: aquelas que tinha tido e as novas que encontraria. Soprou na água. A amiga encrespou-se, mas continuou sendo uma.

Então a linda filha do rei atirou-se na água de braços abertos, estilhaçando o espelho em tantos cacos, tantas amigas que foram afundando com ela, sumindo nas pequenas ondas com que o lago arrumava sua superfície.

COLASANTI, Marina. A primeira só. In: ______. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979. p. 46-49. ©By Marina Colasanti

Contos

desfecho.

1. Nesse conto, quem é o personagem

a) principal?

b) secundário?

sua superfície.

primeira só. In: ______. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979. lasanti

Da

ya

ne

Ca

bra

l. 2

01

4. D

igit

al.

67

Page 68: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

2. Esse conto é narrado em 3.ª pessoa, por um narrador-observador. Portanto, quem está con-tando a história não é a princesa nem o rei. Observe:

Entretanto, há trechos que quebram esse padrão narrativo. Sublinhe as palavras ou expres-sões que comprovam essa afirmação.

[Ela] Era linda, [ela] era filha, [ela] era única. [Ela era] Filha de rei.

Então a linda filha do rei atirou-se na água de braços abertos [...]

De quem você imagina ser cada uma das falas do segundo boxe?

3. Esse conto apresenta uma linguagem concisa, o que torna a narrativa clara e precisa. Para conseguir esse efeito, a autora utiliza algumas técnicas, como o emprego de

frases nominais (sem verbo);

frases verbais curtas;

orações com sujeito oculto, também conhecido como elíptico.

a) Assinale as frases nominais.

( ) “Filha de rei.”

( ) “Felizes juntas, felizes iguais.”

( ) “Menores, cada vez menores.”

( ) “Um olho, um sorriso, um pedaço de si.”

( ) “A bola no fundo da cesta.”

( ) “Nem sei.”

b) Transcreva duas frases verbais curtas.

c) Reescreva o trecho abaixo explicitando os sujeitos elípticos. Use, primeiramente, o termo a princesa e, nas demais ocorrências, o pronome pessoal correspondente.

De que adiantava a coroa se a filha da gente chora à noite? Decidiu acabar com tanta tristeza.

Sozinha outra vez a filha do rei. Chorava. Nem sei. Não queria saber das bonecas, não queria saber dos brinquedos.

Sozinha, no palácio, chorava e chorava, dias e noites, sem parar. Não queria saber de bonecas, não queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.

68

Page 69: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

d) Sublinhe os períodos que contêm orações em que o sujeito está oculto.

De noite o rei ouvia os soluços da filha. [...] Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silêncio mandou colocar o espelho ao pé da cama da filha [...]

e) Quem é o sujeito implícito dessas orações?

4. A princesa vê sua imagem refletida de forma invertida no espelho. Sobre esse fato, faça o que se pede.

a) Transcreva um trecho do texto que contém uma das propriedades do espelho: a de refle-tir a imagem do objeto real de maneira invertida.

b) Em alguns momentos, a linguagem do texto reproduz esse espelhamento. Veja o exemplo ao lado.

Transcreva um trecho em que ocorre essa constru-ção espelhada.

5. Responda às questões objetivamente.

a) De que a princesa se ressentia?

b) Quem tentou resolver o problema?

c) De que maneira?

d) O rei, encantado com a felicidade da filha, acabou cometendo um erro. Qual?

e) O que aconteceu, então?

f) A princípio, a princesa parecia ter resolvido o problema. Como ela o fez?

g) Essa solução, contudo, não durou muito tempo. Por quê?

h) Que relação se pode estabelecer entre o espelho e a água do lago?

U

m

a

s

o

r

r

i

u

e

d

e

u

b

o

m

d

i

a

.

A

o

u

t

r

a

d

e

u

b

o

m

d

i

a

s

o

r

r

i

n

d

o

.

69

Page 70: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Miniconto

-

GrêmioQuando minha mãe morreu, eu acordava em Florianópolis. Na rodoviária de Porto Alegre

pedi ao taxista que me levasse depressa. A viagem atrasara. Ele disse que, como o cemitério ficava perto do campo do Grêmio e tinha jogo naquela noite, o trânsito não estaria fácil. Passa-mos pelo clarão do estádio. O motorista ostentava quase um desconsolo, embora eu não tivesse confessado a qualidade íntima do velório. O padre soube observar meu suor. Horas depois for-cei a chave para entrar no apartamento dela. Por que não tentar desde logo o que eu não ousara formular até ali? Virei-me. O cão rosnava. Preparava sua fúria para me atacar.

NOLL, João G. Mínimos, múltiplos, comuns. São Paulo: Francis, 2003. p. 465. ©Folhapress

concisão -

narratividade -

-

exatidão -

Quando minha mãe morreu, eu acordava em Florianópolis. Na rodoviária de Porto Alegre pedi ao taxista que me levasse depressa.

70

Page 71: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa 71

Page 72: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

estrutura narrativa

-

situação

inicial -

conflito -

clímax

-

-

desfecho

estrutura narrativa

Horas depois forcei a chave para entrar no apartamento dela. Por que não tentar desde logo o que eu não ousara formular até ali? Virei-me. O cão rosnava. Preparava sua fúria para me atacar.

72

Page 73: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Miniconto: uma ação em foco

Preparação

-

produção escrita

73

Page 74: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

ROSSATTO, Edson. Cem toques cravados. 2. ed. São Paulo: Europa, 2012.

Avaliação

Critérios de autoavaliação

Produção

-

Sempre há personagem no miniconto, porém ele pode, ou não, aparecer explicitamente. O importante é a ação realizada por ele.

Não há necessidade de título.

A elipse é um bom artifício ao criar textos concisos.

Utilize o sujeito oculto. Quase sempre é possível inferir o sujeito pela forma verbal.

Usar verbos específicos e evitar locuções verbais economiza caracteres de um texto.

Evite repetições.

74

Page 75: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

Língua Portuguesa

Leitura expressiva

Preparação

Produção

produção de texto oral

Avaliação

75

Page 76: Ç DQR Volume 4 - Conquista | Guia

1 -

o que já conquistei

a)

b)

c)

d)

e)

f)

g) -

2

a)

b)

c)

d)

e)

76