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Capítulo 13 Europa: ideologias do século XIX 2 Capítulo 14 Europa: movimentos do século XIX 19 Capítulo 15 Imperialismo: África e Ásia 35 Capítulo 16 A América no século XIX 51 Volume 4

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Capítulo 13Europa: ideologias do século XIX 2

Capítulo 14 Europa: movimentos do século XIX 19

Capítulo 15 Imperialismo: África e Ásia 35

Capítulo 16 A América no século XIX 51

Volume 4

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O século XIX foi um período de efervescência políti-ca marcado pelo surgimento e pela consolidação de uma série de ideologias que atingiram diversas classes sociais. Você sabe o que é uma ideologia? Quando analisamos a obra de Honoré Daumier, podemos notar algumas caracte-rísticas em relação às pessoas retratadas. O que parecem estar fazendo? O nome da obra pode nos ajudar a enten-der o que estava acontecendo nesse período?

Liberalismo

Socialismo

Anarquismo

Nacionalismo

Doutrina Social da Igreja

o que vocêvai conhecer

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DAUMIER, Honoré. O motim. 1848. 1 óleo sobre tela, 44,5 cm × 34,5 cm. Acervo da Phillips Collection, Washington.

Honoré Daumier foi um pintor e chargista francês. Em suas obras, era marcante a preocupação em retratar cenas cotidianas.

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História

Relembrar o cenário europeu do século XVIII, em especial as alterações econômicas e sociais.

Conhecer as características das principais ideologias do século XIX: Liberalismo, Socia-lismo e Anarquismo.

Compreender o desenvolvimento de tais ideologias no cotidiano da Europa.

Conhecer os movimentos de caráter nacionalista que se desenvolveram na Europa do século XIX e suas consequências.

Compreender as transformações econômicas que geraram a Doutrina Social da Igreja Católica.

objetivos do capítulo

O desenvolvimento de ideologias no século XIX gerou consideráveis transformações na sociedade europeia. É importante lembrar que as mudanças sociais tiveram início na Europa a partir do século XVIII com o Iluminismo.

Embora o conceito de ideologia tenha diferentes formas de interpretação, usaremos em nossos estudos a definição expressa no Dicionário Aurélio. Observe-a no quadro a seguir.

Conjunto articulado de ideias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) [...].

A respeito da influência do Iluminismo na América, responda às questões a seguir.

1 Quais eram as principais ideias políticas dos líderes no processo de independência dos Estados Unidos?

2 Que fator motivou o processo de independência do Brasil?

3 É possível identificar nos episódios da independência das Treze Colônias e da emancipação política do Brasil a influência do Iluminismo? Justifique sua resposta.

organizando a história

FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.

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Liberalismo

Para compreender o Liberalismo no século XIX, é preciso relembrar alguns acontecimentos do século XVIII que geraram transformações significativas na política e na economia da Europa.

Antecedentes do Liberalismo

As Revoluções Inglesas no século XVII e a Re-volução Francesa no século XVIII contaram com a participação de uma burguesia fortalecida pelo crescimento econômico. Os interesses dessa clas-se já haviam ficado evidentes durante a Revolução Gloriosa (1688), que instituiu a monarquia constitu-cional parlamentarista na Inglaterra.

Nos Estados Unidos, os textos da Declaração de Independência (1776) e da Constituição (1787) também demonstraram as ideias de liberdade e in-dividualidade que eram propagadas na Europa por meio do pensamento iluminista.

A Declaração de Direitos de 1689 foi um documento elaborado com o objetivo

de controlar os poderes da monarquia e garantir a liberdade dos súditos.

DECLARAÇÃO de Direitos de 1689. Arquivo Nacional do Reino Unido, Richmond.

Os ideais iluministas inspiraram mudanças. O mo-delo econômico do período absolutista europeu era o mercantilismo, que beneficiava os monarcas e a aristo-cracia. Romper com esse modelo significava acabar com a estrutura econômica que impedia a burguesia de co-mercializar livremente.

O livre-comércio representava, para os comer-ciantes e industriais burgueses, maior participação na economia.

ANTIGO Regime. 1789. 1 charge, color. Biblioteca Nacional da França, Paris.

A charge mostra como a burguesia, representada pelo terceiro estado, era obrigada a carregar nas costas o peso dos privilegiados, nesse caso, o clero e a nobreza. As ideias liberais eram opostas a essa situação. Na parte inferior da imagem, lê-se “Espera-se que o jogo termine logo”.

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História

O conceito de Liberalismo, como a própria palavra expressa, vem de liberdade. É neces-sário destacar que esse movimento foi o primeiro a lutar de forma organizada pela liberdade política e econômica, colocando o indivíduo como centro da sociedade. A ideologia do Libe-ralismo pode ser dividida em duas:

O economista escocês Adam Smith (1723-1790) é conside-rado o pai do Liberalismo econômico. Em sua obra mais conhe-cida, A riqueza das nações (1776), ele buscou demonstrar a importância da liberdade econômica e os problemas da inter-ferência do Estado na economia.

De acordo com Adam Smith, a livre disputa dos interes-

ses individuais, traduzida na concorrência comercial, geraria melhores preços e produtos, o que beneficiaria a sociedade como um todo. Para isso, era necessário não haver privilé-gios econômicos para nenhuma classe social.

O economista acreditava que o livre-mercado seria capaz de regular a economia apoiado na lei da oferta e da procura. Em vez da mão forte do Estado controlando a economia, seria a “mão in-visível” do mercado que a controlaria. Segundo ele, a total liberdade na economia geraria a produção de tudo o que a sociedade dese-java e necessitava. Leia, a seguir, um trecho escrito por Adam Smith sobre o assunto.

Liberalismo econômico: preconizava uma economia com menor intervenção do governo.

Liberalismo político: pregava um governo sem autoritarismo, propondo a divisão dos poderes do Estado.

A livre disputa de interesses é também chamada de livre-mercado.

MONUMENTO, em homenagem

a Adam Smith. 1 estátua.

Edimburgo.

Para a burguesia europeia, as ideias liberais eram uma oportunidade de crescimento, de se posicionar politicamente e de propor transformações nos campos político e econômico.

Nós confiamos com total segurança que a liberdade de comércio, sem qualquer atenção por parte do governo, sempre nos suprirá de vinho quando for de nosso ensejo; e podemos confiar com a mesma segurança que ela sempre vai nos suprir de todo ouro e prata que pos-samos adquirir ou empregar, seja na circulação de nossos artigos, seja em outros usos.

SMITH, Adam. A mão invisível. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 21.

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A marca do Liberalismo era a defesa do respeito ao indivíduo como a mais importan-te unidade da sociedade. Até mesmo a defesa da propriedade privada como algo sagra-

do vinha, para os liberais, da ideia de que o corpo é a primeira e inalienável propriedade privada de um indivíduo.

As ideias defendidas pela escola econômica dos fisiocratas, um grupo de economistas e pensadores franceses do século XVIII, podem ser consideradas a origem do Liberalismo. A palavra “fisiocrata” deriva do grego e significa “governo da natureza”. Enquanto os defensores do mercantilismo acreditavam que a riqueza deveria ser oriunda da acumulação de metais preciosos, os fisiocratas foram os primeiros a defender que o trabalho produtivo era o gerador da verdadeira riqueza. Diante disso, em vez de um Estado taxador e acumulador de impostos, era necessário um governo que permitisse à sociedade se desenvolver com liberdade e que incentivasse a modernização para garantir produtividade, novas técnicas e ferramentas. Os fisiocratas defendiam, sobretudo, que as práticas econômicas deveriam ser orientadas por leis naturais, sem a intervenção do Estado. Eles difundiram suas ideias por meio do seguinte lema: Laissez faire, laissez aller, laissez passer, le monde va de lui-même (Deixai fazer, deixai ir, deixai passar, o mundo vai por si mesmo). Essas teorias acabaram influenciando Adam Smith em suas obras futuras.

inalienável: aquilo que não pode ser cedido.

O pensamento elaborado pelos fisiocratas ultrapassou o século XIX. Algumas escolas no século XX deram continuidade a essa ideia, cada qual com suas particularidades. Uma das vertentes liberais do período foi a chamada Escola de Chicago, nos Estados Unidos. Faça uma pesquisa a respeito do assunto com base nas questões a seguir.

1. Quais foram as ideias econômicas defendidas pela Escola de Chicago?

2. Que diferença havia entre o que defendia a Escola de Chicago e as ideias liberais do século XIX?

pesquisa

RIETER, Heinz. François Quesnay, médico de Luís XV e fisiocrata. [séc. XIX]. 1 óleo sobre tela, color., 95 cm × 75 cm. Museu Carnavalet, Paris.

François Quesnay foi um fisiocrata influente. Empenhou-se na luta contra impostos e taxas que atrapalhavam a circulação de mercadorias.

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1 Com base em seus estudos sobre o Liberalismo, complete o trecho.

O Liberalismo defendia que o não deveria na economia. Uma das ideias sustentadas era a de que o mercado deveria ser guiado por uma . Quan-to mais houvesse, mais riquezas seriam geradas.

2 As ideias defendidas pelos fisiocratas, em especial por François Quesnay, representaram uma no-vidade no pensamento econômico que vigorava. Tais ideias influenciaram o desenvolvimento do Liberalismo. Qual foi a grande novidade apresentada pelo pensamento fisiocrata?

organizando a história

Socialismo

A palavra “Socialismo” em si pode nos auxiliar a entender um pouco do que essa corrente de pensamento defende: uma doutrina que enfatiza os aspectos sociais.

O Socialismo é uma teoria que sugere formas de organização social com base na divisão da riqueza produzida de maneira igualitária.

As primeiras tentativas de organizar as ideias socialistas aparecem com as transformações sociais geradas em razão da Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX). Nesse período, a burguesia estava fortalecida e observou-se um crescimen-to significativo do proletariado. A nova configuração de classes sociais acabaria por expor as contradições do Capitalis-mo, e as teorias socialistas que surgi-ram tentavam buscar respostas a essas contradições.

O termo proletariado, no século XIX, identificava a classe que não tinha posses nem meios de produção que pudessem gerar seu sustento. Dessa forma, essas pessoas precisavam vender sua força de trabalho.

DORÉ, Gustave. Londrinos pobres. 1872. 1 ilustração. Museu de Londres, Londres.

Na ilustração de Gustave Doré, é possível observar a situação de pobreza que atingia parte considerável da população de Londres no século XIX.

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Socialismo utópico

Alguns pensadores do Socialismo não apresentaram soluções passíveis de serem coloca-das em prática em larga escala, por isso foram denominados socialistas utópicos.

Leia, a seguir, informações sobre três dos principais teóricos que seguiram essa vertente.

Saint-Simon foi um filósofo e economista francês, pioneiro em imaginar uma sociedade igua-litária. Defendia um governo formado por empresários e cientistas, sem espaço para classes ociosas, como a nobreza. A riqueza produzida deveria ser distribuída entre os cidadãos.

Charles Fourier defendia a criação de comunidades operárias, os falanstérios. Essas co-munidades seriam organizadas por meio do corporativismo. Ele acreditava que a escolha da atividade a ser desenvolvida precisava estar ligada às habilidades de cada pessoa. Os frutos do trabalho seriam divididos na comunidade. Assim, as demandas seriam supridas sem a necessidade de salários.

Robert Owen foi um industrial inglês que começou como operário. Acreditava que uma sociedade igualitária só seria possível com o fim dos abusos dos patrões em relação aos empregados. Owen promoveu mudanças na própria fábrica: reduziu a jornada de tra-balho, aumentou salários e proibiu a contratação de crianças menores de 10 anos. Tais medidas geraram resultados positivos, o que incentivou Owen a ampliar seus projetos, criando escolas para os filhos dos operários.

A expressão “utópico” vem de Utopia, referência direta à obra de Thomas Morus, pensa-dor britânico que viveu entre os séculos XV e XVI. Na obra publicada em 1516, ele imaginou um mundo ideal, onde projetou as instituições perfeitas para que a humanidade vivesse de forma harmoniosa e igualitária. Depois do lançamento da obra de Thomas Morus, o termo “utopia” passou a ser utilizado para designar diferentes formas de organização ideal da so-ciedade humana.

1 Quais eram as condições de trabalho na Europa no contexto da Revolução Industrial?

2 De que forma a proposta do estabelecimento de cooperativas entre os trabalhadores, presente no projeto de Charles Fourier, colocava-se contra o sistema de trabalho vigente até então?

organizando a história

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História

Em meados do século XIX, foi desenvolvido na Europa um conjunto de ideias que atual-mente chamamos de Socialismo científico. A nomenclatura “científico” foi atribuída pelos próprios pensadores dessa corrente para se contrapor a outras formas de ideias socialistas.

Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) tinham como objetivo propor um método que explicasse a sociedade capitalista e, na sequência, a transformasse.

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A experiência do Socialismo científico

Esse método deveria ser rigorosamente organizado do ponto de vista filosófico, econômico e histórico, por isso era considerado científico. As experiências de homens como Charles Fourier, Saint Simon e Robert Owen foram denominadas “socialismo utópico” justamente por não apresentarem esse conjunto de ideias organizadas de forma metodológica.

Reúna-se com três colegas e respondam às questões propostas.

1. O que é uma cooperativa?

2. Como as cooperativas são formadas e como desenvolvem seus trabalhos?

3. Cite um exemplo de cooperativa, anotando o nome dela e o serviço que desenvolve.

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A principal obra de Marx e Engels foi o Manifesto comunista (1848). Esse documento é consi-derado um marco no surgimento do Socialismo científico. Para produzi-lo, os autores realizaram um estudo histórico que os levou à conclusão de que o Capitalismo seria a forma moderna de exploração à qual os trabalhadores do século XIX estariam expostos.

O Manifesto comunista é um documento curto, mas que gerou grande impacto, pois apresentava para a Europa, de forma clara e objetiva, as principais ideias produzidas pelos autores. O texto em forma de panfleto foi distribuído aos operários com o objetivo de divul-gar as ideias do Socialismo científico.

Para elaborar as ideias do Manifesto, Marx e Engels utilizaram abordagens específicas na tentativa de compreender a sociedade. Duas delas estão descritas no quadro a seguir.

Materialismo histórico: para os teóricos, a história da humanidade até o tempo em que viviam se resumia à luta de classes. Desde o escravismo na Antiguidade, passando pelo Feudalismo e chegando ao Capitalismo, o que moveria as sociedades seria o confronto dos interesses entre aqueles que possuem e os que não possuem bens.

Materialismo dialético: alguns filósofos da época eram chamados de idealistas por acre-ditarem que a realidade era determinada pelo mundo das ideias. Marx e Engels defendiam o oposto. As ideias eram fruto da realidade concreta. Os homens poderiam não só ser ca-pazes de observar a realidade que os cercava como também agir e transformá-la. Para o materialismo dialético, os homens não tinham uma natureza, e sim uma história.

A ideia central do documento era a necessidade de que os operários se unissem contra o Capitalismo, independentemente de suas nacionalidades.

Para acabar com a exploração, a proposta apresentada por Marx e Engels era fazer uma revolução em dois momentos.

Ditadura do proletariado: quando os trabalhadores tomariam o governo das mãos das classes dominantes e aboliriam a propriedade privada dos meios de produção – máqui-nas, fábricas, etc. –, que passariam ao controle do comitê de trabalhadores.

Comunismo: quando a propriedade privada seria abolida de forma definitiva, bem como o Estado. O trabalho e a riqueza passariam a ser divididos igualmente por toda a população, chegando a um modelo de sociedade semelhante ao proposto pelos socialistas utópicos.

Karl Marx elaborou um conceito chamado de mais-valia, que seria a diferença entre o valor do tempo de trabalho de um operário e aquilo que ele realmente recebe de salário. Com essa ideia, Marx buscava valores monetários reais.

As contradições crescentes do modo de produção capitalista abririam, inexoravelmente, caminho para uma intensificação da luta entre estas duas classes e, consequentemente, à ruptura que seria representada pela tomada de poder pelos operários e à implementação do socialismo.

SPINDEL, Arnaldo. O que é socialismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 40.

inexoravelmente: algo inflexível, inevitável, que vai acontecer.

Para Marx e Engels, o embate entre burguesia e proletariado levaria a um novo regime político e econômico. A respeito do tema, leia o trecho a seguir.

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História

O clima que envolveu o século XIX era de exaltação à ciên-cia. Nesse sentido, os fenômenos sociais também deveriam ter uma explicação científica.

Um dos expoentes da ciência nesse período foi o britânico Charles Darwin (1809-1882), autor da obra A origem das espé-cies (1859). O trabalho de Darwin teve repercussão na época por revolucionar a maneira como se entendia a evolução hu-mana e também pelo processo metodológico aplicado.

1 A expressão “Socialismo utópico” foi cunhada pelos socialistas científicos para se referir a algumas teorias surgidas no início do século XIX. Descreva quais eram as diferenças entre o Socialismo utó-pico e o científico.

2 Para facilitar o entendimento do Socialismo científico (ou Marxismo), organize um glossário com os termos e as expressões a seguir.

a) Luta de classes –

b) Mais-valia –

c) Ditadura do proletariado –

d) Comunismo –

organizando a história

CAMERON, Julie. Charles Darwin. 1868. 1 fotografia, p&b. Museu Internacional de Fotografia de

George Earstman House, Nova Iorque.

Charles Darwin, considerado um dos grandes nomes da ciência do século XIX

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Anarquismo

As ideias iniciais do movimento denominado Anarquismo foram elaboradas na virada do século XVIII para o século XIX, tendo como base as transformações sociais e políticas ocasio-nadas pela Revolução Industrial.

A palavra “anarquia” vem do grego anarchia, que significa “ausência de autoridade”. O Anar-quismo tem origem na ideia da negação do governo como forma de poder e de domínio sobre os indivíduos, e não na ideia de caos ou desordem, como muitas vezes foi interpretado.

Em 1793, o britânico William Godwin (1756-1836) escreveu a obra Inquérito acerca da justiça política, na qual defendia que os governos são a principal força corrupta da sociedade, já que, segundo ele, são responsáveis por garantir a manutenção da dependência e a ignorância da po-pulação. Embora Godwin não usasse de forma explícita a nomenclatura “anarquista”, suas ideias serviram de inspiração para consolidar esse movimento que cresceria durante o século XIX.

Outros dois pensadores determinantes para a difusão das ideias anarquistas na Europa e no mundo foram Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e Mikhail Bakunin (1814-1876).

Pierre-Joseph Proudhon foi um filósofo interessado em política e economia. De origem humilde, teve os primeiros contatos com obras filosóficas na gráfica onde trabalhava. Entre as ideias defendidas por Proudhon estava a crítica à propriedade privada e à apropriação total dos lucros pelos donos de fábricas. Entretanto, ele acreditava na manutenção da peque-na propriedade organizada em cooperativas para o estabelecimento de uma sociedade sem classes sociais, livre da exploração, e que a transição para tal sociedade poderia ser feita de forma pacífica, motivo pelo qual foi considerado um utópico por outros pensadores da época.

O pensamento de Proudhon influenciou outros pensadores. Para alguns integrantes do Anarquismo, a formação de uma sociedade sem Estado só poderia ocorrer por meio da luta armada. Essa ideia deu origem a uma segunda corrente: o Anarquismo radical.

Mikhail Bakunin, que se tornaria, mais tarde, o principal teórico e ativista do Anarquismo radical, nasceu em uma família de grandes proprietários de terras e teve melhores oportu-nidades na vida, embora tenha escolhido uma trajetória de lutas políticas que acabaram por colocá-lo em situações difíceis.

Bakunin se dedicou ao estudo da filosofia e, desde cedo, definiu como eixo central de suas ideias o conceito de liberdade. Para ele, a ideia da liberdade individual só seria efetiva quan-do se conquistasse a liberdade coletiva, algo que distingue profundamente seu pensamento das ideias liberais. Para Bakunin, era a partir do coletivo que se poderia construir a sociedade e só existiria a liberdade do indivíduo se existisse a liberdade do outro. Para isso, era preci-so eliminar as amarras de poder que tornavam o homem prisioneiro da própria sociedade. O Estado e suas instituições deveriam dar lugar a organizações coletivas, constituindo uma espécie de autogoverno, por meio de espaços de poder comunitários. Bakunin e seus segui-dores acreditavam que o Estado e o Capitalismo eram o centro dos problemas da sociedade e deveriam ser superados.

A diferença entre anarquistas e socialistas no século XIX está relacionada à existência do Estado. Para os socialistas, o Estado seria necessário por um tempo. Para os anarquistas, era fundamental que ele fosse extinto imediatamente para que se eliminasse toda forma de opressão sobre a sociedade.

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História

As divergências entre socialistas e anarquistas geraram debates entre seus principais pensadores no século XIX. Marx e Bakunin discutiram intensamente acerca de qual seria a melhor estratégia para promover as lutas operárias no período. Tais debates aconteciam nas reuniões da Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada em 1864. Além das diferenças de bases filosóficas, Marx e Bakunin tinham grandes divergências sobre o papel do Estado. Bakunin e seus seguidores acreditavam que, da forma como estava proposto, o Socialismo de Marx acabaria se tornando um autoritarismo.

1 No século XIX, era claro o motivo da divergência entre socialistas e anarquistas: o papel do Estado. Com base em seus conhecimentos, explique como o Estado era visto por essas ideologias.

2 O Socialismo científico de Marx e Engels tem como elementos centrais o materialismo histórico e o materialismo dialético. Sobre eles, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) O materialismo histórico defende que a história da humanidade é a história da luta de classes.

( ) Nas teorias desenvolvidas por Marx e Engels, os embates entre dominantes e dominados têm pouca relevância para a compreensão da história.

( ) No materialismo dialético, a ideia central é que os seres humanos têm uma natureza que não pode ser alterada.

( ) O materialismo histórico entende o Capitalismo como um ponto avançado na história da huma-nidade, mas que deve ser superado.

( ) No materialismo dialético, as ideias são vistas como resultado do mundo concreto, e não o contrário.

3 Sobre o Anarquismo, ideologia difundida na Europa ao longo do século XIX, analise as afirmativas a seguir.

I. Pregava a inexistência do governo.

II. Teve o apoio da burguesia, a qual desejava liberdade política e econômica.

III. Era contrário a qualquer forma de opressão sobre a sociedade.

Está(ão) correta(s):

a) Todas as afirmativas.

b) Nenhuma das afirmativas.

c) Apenas as afirmativas I e II.

d) Apenas as afirmativas I e III.

e) Apenas as afirmativas II e III.

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O Princípio da Legitimidade, estabelecido pelo Congresso de Viena em 1814, foi uma con-sequência das campanhas napoleônicas na Europa. De acordo com esse Princípio, as dinas-tias que haviam sido retiradas do poder e as fronteiras políticas deveriam ser restabelecidas ao que eram antes das campanhas napoleônicas. Tal determinação acabou dividindo povos em vários Estados independentes ou reunindo vários povos rivais em um único Estado.

Em virtude da instituição desse Princípio, o Nacionalismo gerou novos conflitos entre os europeus, pois alguns grupos reivindicaram sua independência dos governos a que foram subjugados. Esses grupos alegavam não ter um elemento comum com os povos aos quais foram anexados.

O Nacionalismo no século XIX se configurou em uma ação política. Nesse período, in-telectuais e políticos passaram a considerar a ideia de estado-nação como uma importante ferramenta de autodeterminação de seus povos.

Em 1830, um movimento nacionalista levou à criação do Reino da Bélgica. A região vivia sob domínio holandês. Na ocasião, houve uma tentativa de tornar o holandês o idioma oficial. Uma grande insurreição tomou conta da Bélgica, em especial na cidade de Bruxelas, o que foi representado na pintura de Wappers a seguir. Em 1831, a Bélgica foi reconhecida como reino independente pelas nações europeias. Esse é um caso típico em que um elemento de identidade nacional, a língua, ocupou a centralidade no processo revolucionário.

WAPPERS, Egide Charles Gustave. Episódios dos dias de setembro de 1830 na Grande Praça de Bruxelas. 1835. 1 óleo sobre tela, 444 cm × 660 cm. Museu Real de Belas Artes da Bélgica, Bruxelas.©Museu Real de Belas Artes da Bélgica, Bruxelas

Nacionalismo

Após a Revolução Francesa em 1789 e especialmente durante o século XIX, floresceram, em várias regiões da Europa, movimentos de caráter nacionalista. Esses movimentos estavam relacionados a um sentimento de identidade cultural e de pertencimento a um estado-nação.

A ideia de estado-nação envolve uma série de características, como formação de um povo, elementos étnicos e linguísticos, construção de culturas e fronteiras em torno de uma organização administrativa.

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História

O Nacionalismo contribuiu como ideologia para a formação de grandes exércitos nacio-nais na luta contra invasores externos. O estado-nação permitia a formação de mercados na-cionais fortes para os negócios, o que fortalecia o Capitalismo – fato que, naquele momento, agradava à burguesia e parte do povo.

No século XIX, o Nacionalismo favoreceu a consolidação dos ideais revolucionários, uma vez que colocava os sentimentos do povo acima dos interesses da aristocracia e do clero. Assim, é possível observar que as ideias nacionalistas ganharam apelo popular no período. A ideia de um poder que emanasse do povo, oriunda da Revolução Francesa, contribuiu para esse cenário.

Alemanha e Itália iniciaram as primeiras tentativas de unificação, ainda que sem sucesso, usando a força do Nacionalismo. Repercussões puderam ser notadas em Portugal, Espanha e Grécia. Sobre os movimentos nacionalistas do século XIX, leia a citação a seguir.

Depois de 1830, como vimos, o movimento geral em favor da revolução se dividiu. Um dos resultados desta divisão mere-ce atenção especial: os movimentos nacionalistas conscientes. Os movimentos que melhor simbolizam esta evolução são os movimentos “jovens” fundados ou inspirados por Giuseppe

Mazzini logo depois da revolução de 1830: Jovem Itália, Jo-vem Polônia, Jovem Suíça, Jovem Alemanha, Jovem França, em 1831-6, e o análogo Jovem Irlanda, da década de 1840 [...].

HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: Europa – 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2003. p. 135.

Na primeira metade do século XIX, o Nacionalismo se firmou como corrente de pensamen-to que influenciou decisivamente os rumos que a Europa tomaria nos momentos seguintes.

Marque apenas as afirmativas que contêm características do Nacionalismo.

( ) Defesa da luta de classes como motor da História.

( ) Valorização de elementos de identidade nacional, como a língua e a cultura.

( ) Defesa da abolição de fronteiras territoriais para os estrangeiros.

( ) União contra os riscos dos invasores externos.

( ) Defesa da abolição do Estado, principal fonte de opressão.

( ) Favorecimento dos ideais revolucionários.

( ) Contribuição do Princípio da Legitimidade para os movimentos no século XIX.

Giuseppe Mazzini (1805-1872) foi um revolucionário italiano, nacionalista e antimonarquista que atuou em diversas lutas de caráter nacional no século XIX na Europa.

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Doutrina Social da Igreja

No final do século XIX, a Igreja Católica se po-sicionou de maneira firme diante da conjuntura política e econômica da Europa. Esse posiciona-mento, que ficou conhecido como Doutrina Social da Igreja, foi marcado por uma leitura da realida-de e pela recomendação de mudança de rumos em relação a valores sociais.

Desde a consolidação da Revolução Indus-trial, as relações sociais passavam por transforma-ções significativas na Europa. De um lado, havia o crescimento e o fortalecimento da burguesia; de outro, um operariado urbano cada vez mais nu-meroso, concentrado nas principais cidades do continente. Essas transformações tiveram forte impacto na vida cotidiana. O trabalho nas fábricas determinava a forma como as pessoas organiza-vam seu tempo, seus hábitos, seu lazer e até mes-mo a vida em família.

Se os governos burgueses se distanciavam cada vez mais da religião por meio da separação entre Igreja e Estado, algo recorrente ao longo do século XIX, os trabalhadores começavam a se or-ganizar em partidos políticos e sindicatos, o que, de certa forma, preocupava as autoridades reli-giosas de Roma.

A autoridade papal se comunicava com os fiéis da Igreja por meio das chamadas encíclicas papais, cartas direcionadas aos bispos da Igreja. Essas mensagens deveriam ser encaminhadas a todos os fiéis. No século XIX, a Igreja elaborou uma das mais importantes encíclicas de sua his-tória, com o objetivo de enfrentar os desafios sociais que surgiram em virtude da crescente in-dustrialização da sociedade. Trata-se da encíclica Rerum Novarum: sobre a condição dos operários, escrita pelo papa Leão XIII em 1891.

DAUMIER, Honoré. Lavadeira. 1853. 1 óleo sobre tela, 46 cm × 56 cm. Galeria Nacional de Praga, Praga.

A obra de Daumier mostra uma mãe revezando o trabalho com os cuidados do filho. As mudanças sociais que afetavam a estrutura da família geravam preocupação para a Igreja Católica, pois atingiam diretamente os valores defendidos pela instituição.

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RETRATO do papa Leão XIII. 1 fotografia, p&b. Biblioteca do Congresso, Washington.

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O papa Leão XIII criticou o Capitalismo e o Socialismo.

Rerum Novarum vem do latim e significa “Das coisas novas”.

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História

Nesse comunicado, o Papa explicitava sua preocupação crescente com as falhas do Ca-pitalismo, que era incapaz de reduzir as desigualdades, sendo tratado por ele como um sis-tema de pura ganância. A Igreja passava a condenar claramente os efeitos creditados ao capitalismo industrial: corrosão de valores éticos e morais, bem como redução de laços de fraternidade e solidariedade em toda a sociedade.

Além dessas críticas, a encíclica defendia o direito dos trabalhadores de formar seus sin-dicatos e partidos e lutar por melhores condições de trabalho, mas rejeitava qualquer tipo de ideologia que se aproximasse do Socialismo. Para a Igreja, o Socialismo era condenável por não respeitar o direito à propriedade privada.

A Doutrina Social da Igreja defendeu melhores condições de trabalho e menos desigual-dade, entretanto, afirmou que patrões e empregados não deveriam se enfrentar.

No ano de 1868, o Japão viveria uma mudança importante para sua história: o fim do xogunato. Desde o século XII, o país vivia sob uma estrutura política na qual o poder de fato estava concentrado nas mãos de um general, chamado de xo-gum. Tal título era concedido pelo impe-rador, que, na prática, acabava tendo seu poder diminuído. Inicialmente, os xoguns eram generais responsáveis por pacificar a região norte do Japão Feudal, principal-mente contra invasões estrangeiras. Com o tempo, o xogum passou a ser reconheci-do como chefe dos samurais.

O fim do xogunato deu início à Era Meiji, em que ocorreu a modernização do Japão, incluindo suas instituições políti-cas e econômicas.

outras histórias

YOSAI, Kikuchi. Sakanoue no Tamuramaro. [ca. 1868]. 1 ilustração. Zenken Kojitsu.

Representação de Sakanoue no Tamuramaro, um dos xoguns do Japão

1 Descreva como deveria ser a relação do Estado com a economia, de acordo com Adam Smith.

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2 Preencha o quadro a seguir com as principais ideias e ações dos pensadores destacados.

3 Considerando o contexto do século XIX e as diferenças entre Socialismo utópico e Socialismo cien-tífico, marque a alternativa correta.

a) Ambas as formas de Socialismo têm como característica a ausência de um método claro.

b) O materialismo histórico – uma das abordagens do Socialismo científico – tem como marca princi-pal a ideia de que a evolução da sociedade se dá pela conciliação de grupos sociais distintos.

c) As ideias socialistas não tiveram grande repercussão no período em que foram lançadas.

d) Marx e Engels buscaram sistematizar de forma científica suas ideias sobre o Socialismo, ofe-recendo uma teoria com rigor metodológico. Entre suas ferramentas estavam o materialismo histórico e o dialético.

e) As ideias do Socialismo científico não tiveram grande êxito no século XIX, pois esse era um pe-ríodo de distanciamento da visão científica dos fenômenos sociais e naturais.

4 Leia a seguir um trecho da encíclica Rerum Novarum, enviada aos bispos da Igreja Católica pelo papa Leão XIII em 1895.

[...] a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrup-ção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito.

VATICANO. Carta Encíclica Rerum Novarum. Roma, 15 de maio de 1891.

Com base no trecho lido e em seus conhecimentos, explique o que levou a Igreja a elaborar essa encíclica.

Robert Owen

Charles Fourier

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No século XIX, inúmeras ideologias políticas surgiram ou foram reforçadas na Europa. Essas ideias receberam espaço por conta, principalmente, das transformações sociais e polí-ticas ocorridas no continente e formaram a essência dos mo-vimentos que vieram na sequência.

Na pintura desta página, o artista registrou como a ban-deira tricolor da França foi definida em meio aos eventos revo-lucionários de 1848. Com base na imagem e nas informações que foram expostas, é possível relacionar a obra com alguma ideologia que você já estudou? Como as ideias estudadas an-teriormente influenciaram os rumos da história europeia?

Movimento operário

Revoluções de 1830

Revoluções de 1848

Unificação da Itália e da Alemanha

o que vocêvai conhecer

Europa: movimentos do século XIX

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PHILIPPOTEAUX, Henri F. E. Lamartine, em frente à Prefeitura de Paris, rejeita a bandeira vermelha em 25 de fevereiro de 1848. [séc. XIX]. 1 óleo sobre tela, color., 275 cm × 630 cm. Museu Carnavalet, Paris.

Em meio aos eventos de 1848, foi definida a bandeira tricolor da França. Na pintura, Lamartine (ao centro), líder liberal e poeta, rejeita a opção da bandeira vermelha, defendendo a bandeira tricolor como aquela que denota o espírito francês.

©Museu Carnavalet, Paris, França

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Compreender o fortalecimento do ope-rariado como força política na sociedade europeia do século XIX.

Compreender o papel das ideologias do século XIX para os movimentos políticos do período.

Relacionar as questões políticas e econô-micas que foram decisivas para a eclosão das Revoluções de 1830 e 1848.

Entender o que foi a Primavera dos Povos.

Analisar o papel do Nacionalismo nas unifi-cações da Itália e da Alemanha, bem como o impacto desses eventos para a Europa.

objetivos do capítulo

Para o entendimento dos temas deste capítulo, é importante que os conceitos referen-tes às ideologias estudadas no capítulo anterior sejam relembrados.

1 Complete o quadro a seguir com as principais características das ideologias destacadas.

organizando a história

Socialismo

Anarquismo

Nacionalismo

2 A Igreja Católica buscou apresentar sua visão sobre os acontecimentos e as transformações sociais do século XIX, em especial sobre os avanços do Capitalismo. Aponte três características da chamada Doutrina Social da Igreja.

3 Marque as afirmativas corretas sobre o Nacionalismo do século XIX na Europa.

( ) Para o Nacionalismo, era importante a valorização da cultura nacional e, por consequência, dos símbolos da nação.

( ) O idioma foi um forte elemento de identificação no Nacionalismo.

( ) A burguesia não manifestou interesse nas ideias defendidas pelo Nacionalismo, já que essa ideologia não contribuía para a formação de mercados nacionais.

( ) O Nacionalismo não teve êxito, pois não propiciava a formação de exércitos nacionais, algo indispensável para as nações europeias no período.

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História

Movimento operário

Estudamos que o processo de Revolução Industrial gerou alterações sociais em toda a Europa. A burguesia, que anteriormente era uma classe secundária, passou a ser dominante, com maior poder político e econômico, e a imensa massa de trabalhadores das fábricas, o operariado, organizou-se politicamente.

Desde o começo do século XIX, os operários já haviam colocado em prática movimen-tos de reivindicação por melhores condições de trabalho, como o Ludismo, ou Movimento Ludita, e o Cartismo.

Ludismo: foi um movimento so-cial que ocorreu na Inglaterra en-tre os anos de 1811 e 1812 como forma de protestar contra a ex-ploração imposta pelo trabalho nas fábricas. Os membros desse movimento destruíam as máqui-nas, consideradas a fonte de seus problemas, por relacioná-las ao desemprego e aos acidentes.

Cartismo: teve início em 1838. Seus participantes acreditavam que as reivindicações operárias somente seriam ouvidas se fos-sem colocadas de maneira política para serem votadas no Parlamen-to e, assim, ganharem a forma de lei. O nome do movimento se deve à Carta do Povo, escrita por William Lovett, que registrava as reivindicações dos participantes.

Os participantes desses dois movimentos reivindicavam mudanças na política inglesa, como o pagamento de salários aos membros da Câmara dos Comuns (para que os operários pudessem participar dela), o voto universal secreto para homens e a igualdade de direitos.

O Ludismo e o Cartismo foram movimentos precursores da luta dos trabalhadores ingleses, que buscavam melhores condições de vida. Contudo, não alcançaram totalmen-te seus objetivos. Reúna-se com um colega e elabore, no caderno, um esquema com as principais características desses dois movimentos. Em seguida, conversem sobre por que eles não foram bem sucedidos no início do século XIX.

troca de ideias

O LÍDER dos luditas. 1812. 1 gravura, color., 32,5 cm × 22,5 cm. Walker & Knight, Sweetings Alley, Royal Exchange. Museu Britânico, Londres.

Ilustração de um operário vestido de mulher incitando os companheiros ao ataque; ao fundo, uma fábrica em chamas

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[...] o Sindicalismo é um fenômeno complexo e contraditório. Ele nasce, de fato, como reação à situação dos trabalhadores na indústria capitalista, mas constitui também uma força transformadora de toda a sociedade.

BOBBIO, Norberto. Dicionário de política: vol. 1. Brasília: Editora da UNB, 1998. p. 1150.

Para compreender os movi-mentos ocorridos no século XIX, é preciso analisar o contexto so-cial da Europa à época. O artista Honoré Daumier, em sua obra, buscou representar o cotidiano das pessoas nesse período. Ob-serve a pintura ao lado e, depois, responda às questões.

1 A que classe social pertencem as pessoas retratadas?

2 Como parece ser a vida delas?

interpretando documentos

Sindicalismo

Ainda no século XIX, surgiu o Sindicalismo, que é a união de operários em associações sindicais. O objetivo era lutar por melhores condições de trabalho para os associados.

Os sindicatos surgiram para organizar as reivindicações dos trabalhadores e desenvolver formas de cooperação entre eles. Era comum que as associações criassem fundos de auxílio mútuo para saúde e desemprego.

Um dos desafios enfrentados inicialmente pelos sindicatos foi a falta de legislações es-pecíficas para regular as relações trabalhistas. As jornadas de trabalho eram exaustivas e não havia controle sobre as condições das fábricas, o que ocasionava uma série de acidentes. Além disso, as variações da economia geravam desemprego de uma hora para a outra, dei-xando trabalhadores desamparados.

Nesse contexto, as ideias socialistas e anarquistas ganharam forte adesão no movimen-to sindical que surgia. Isso ocorreu, em parte, pela forma crítica como essas ideologias viam o Capitalismo e suas contradições.

A criação das Associações Internacionais dos Trabalhadores, também chamadas apenas de Internacionais, tinha como objetivo organizar o operariado em todo o mundo para lutar por melhores condições de trabalho.

DAUMIER, Honoré-Victorin. Carruagem de terceira classe. 1862. 1 óleo sobre tela, 67 cm × 93 cm. Galeria Nacional do Canadá, Otawa.

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História

As Internacionais surgiram num período de muitas mudanças na Europa, quando ocorre-ram lutas na Península Itálica – que levaram à unificação dos reinos ali presentes – e manifes-tações populares frequentes em defesa da liberdade e da consolidação de direitos.

A atuação internacional do movimento operário preocupava os governos, que temiam levantes e revoluções influenciados pelas ideias propagadas por esse movimento.

1 De acordo com seus estudos sobre os movimentos operários do século XIX, complete as lacunas do trecho a seguir.

O era um movimento que defendia que o problema da desigualda-de social estava nas que surgiram na Revolução Industrial. Já o

tinha como prática organizar as dos trabalhadores em cartas e encaminhar ao .

2 O Sindicalismo tinha traços que o diferenciavam dos movimentos anteriores de organização dos trabalhadores, como o Cartismo e o Ludismo. Com base nessa informação e em seus conhecimen-tos, complete o diagrama com as características desse movimento.

organizando a história

VEREJSKI, O. G. Marx na reunião da IWMA. 1864. 1 pintura, p&b. Londres.

Na imagem, observa-se Karl Marx em pé em uma reunião da Associação Internacional dos Trabalhadores, também conhecida como Primeira Internacional. Essas reuniões envolviam trabalhadores e artesãos de vários países.

Sindicalismo do século XIX

©Marx Memorial Library/Mary Evans/Glow Images

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Revoluções de 1830

Com a derrota de Napoleão Bonaparte e a realização do Congresso de Viena (entre 1814 e 1815), houve a restauração da monarquia na França e o retorno da dinastia Bourbon ao poder. O último monarca dessa dinastia foi Luís XVI, guilhotinado pelos jacobinos durante a Revolução Francesa.

Em 1815, a França passou a ser governada pelo rei Luís XVIII, irmão de Luís XVI, que, em-bora tivesse laços com um passado absolutista, fez um governo relativamente moderado. Em 1824, Luís XVIII morreu sem deixar um herdeiro direto. Carlos X, irmão do rei falecido, foi coroado. Ao contrário de seu ante-cessor, o novo rei tentou implantar um governo centralizado. Muitas conquistas da Revolução Francesa, incluindo as liberda-des econômicas e individuais, foram ameaçadas. Contudo, sua pretensão ia contra o interesse de vários políticos, a exemplo dos liberais.

Em 1830, um grande levante colocou fim ao governo de Carlos X e às suas pretensões absolutistas. A chamada Revo-lução dos Três Dias Gloriosos uniu liberais e alguns nobres esclarecidos contra os riscos do retorno do absolutismo.

Com a queda de Carlos X, subiu ao trono Luís Felipe, que man-tinha compromissos com a liberdade e os interesses burgueses, o que lhe rendeu o apelido de “Rei Burguês” ou “Rei Cidadão”.

A Revolução de 1830 na França foi um sinal de contesta-ção ao Congresso de Viena e ao desejo de restituir a monar-quia absolutista na Europa. Esse sentimento de afirmação da liberdade e dos interesses nacionais acabou se espalhando pelo continente.

DESNOS, Louise Adélaïde. Retrato do rei Luís Felipe. 1838. 1 óleo sobre tela, color., 92 cm × 74 cm. Palácio de Versalhes, Versalhes.

Luís Felipe chegou ao poder aparentando ser um rei comprometido com valores burgueses.

WAPPERS, Gustave. Episódios das jornadas de setembro de 1830. 1834. 1 óleo sobre tela, color., 42 cm × 33,8 cm. Acervo particular.

Os eventos ocorridos na França repercutiram em outros países europeus. Na Bélgica, por exemplo, o ano de 1830 foi marcado por movimentos de afirmação de identidade nacional contra a imposição do poder holandês. Na obra, o artista procurou representar esses movimentos.

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História

A pintura denominada A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, é considerada um símbolo da Revolução de 1830 na França. Ela faz referência à liberdade reivindicada pelo povo nesse período.

interpretando documentos

DELACROIX, Eugène. A liberdade guiando o povo. 1830. 1 óleo sobre tela, color., 260 cm × 325 cm. Museu do Louvre, Paris.

Observe os detalhes da obra e as estratégias utilizadas pelo artista para chamar a aten-ção para a cena retratada. Depois, responda às questões.

1 Quais características expressas na pintura nos permitem dizer que se trata de uma obra com inspi-ração nacionalista?

2 Na obra, é possível identificar de que classes sociais fazem parte os personagens?

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O francês Léon Cogniet buscou retra-tar o ambiente que envolvia as Revolu-ções de 1830 na obra Cenas de julho de 1830. O artista pintou um cenário esfu-maçado, comum em campos de batalha, onde três bandeiras danificadas estão expostas. As manchas de sangue nas ban-deiras indicam a violência dos eventos e o sacrifício dos que lutavam. A perma-nência das bandeiras erguidas, mesmo nessa situação conturbada, representa a resistência dos revolucionários.

1 Sobre o movimento revolucionário que tomou conta da França em 1830, assinale a alternativa correta.

a) Tinha como objetivo restabelecer os poderes absolutistas da monarquia francesa que haviam sido perdidos em 1815.

b) Uma de suas consequências foi a ruptura total com os ideais burgueses vigentes no período.

c) Foi um movimento de luta contra o retorno da monarquia absolutista na França – risco que se desenhava em virtude do Congresso de Viena.

d) Levou ao trono Luís Felipe, um rei conhecido por não ter qualquer simpatia por ideais burgueses.

e) Embora seja chamado de revolução, foi um episódio de pequenas proporções e sem êxito.

2 Um evento fundamental para o início dos acontecimentos de 1830 na França e em boa parte da Europa foi o Congresso de Viena. Explique o que foi esse encontro e quais eram seus objetivos.

organizando a história

Luís Felipe permaneceu no poder por 18 anos e não conseguiu acabar totalmente com a crise política e social na França. O absolutismo europeu era cada vez mais questionado e a difusão das ideias socialistas fortalecia a insatisfação já presente na população.

A França, assim como grande parte da Europa, vivia um período de contradição. Estar ciente desse fato é fundamental para entender os acontecimentos de 1848.

COGNIET, Léon. Cenas de julho de 1830. 1830. 1 óleo sobre tela, color., 19 cm × 24 cm. Museu de Belas Artes de Orleans, Orleans.

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História

Revoluções de 1848

O governo de Luís Felipe, na França, embora não tivesse caráter absolutista, era elitista, ou seja, privilegiava os setores mais ricos da sociedade, como a burguesia e a nobreza. Ao direcio-nar seu governo para os interesses da burguesia, Luís Felipe despertou a oposição da popula-ção pobre, dos republicanos e também dos socialistas, grupo que se fortalecia cada vez mais na Europa. Entre 1845 e 1846, a Europa passou por uma crise agrícola que afetou fortemente a vida dos menos favorecidos, agravando o quadro de descontentamento popular.

Em 1847, tiveram início mobilizações organizadas por socialistas franceses liderados por Louis Blanc, Blanqui e Ledru-Rollin. Eram banquetes onde se difundiam ideias socialistas, coletavam-se assinaturas em apoio a um governo republicano e fazia-se campanha contra o voto censitário.

O governo francês, por meio do primeiro-ministro Guizot, proibiu os banquetes e enviou a Guarda Nacional para reprimi-los, fato que contribuiu para a eclosão de várias revoltas con-tra o rei. Os homens da Guarda Nacional acabaram se associando aos revoltosos.

VERNET, Émile J. Barricadas na rua Soufflot em 24 de junho de 1848. [1848-1850]. 1 óleo sobre tela, color., 36 cm × 46 cm. Museu Histórico Alemão, Berlim.

A obra de Vernet mostra barricadas construídas pelos revoltosos em 1848 nas ruas de Paris. O objetivo das barricadas era bloquear a passagem das tropas repressoras.

O rei, sem condições de reverter a situação, abdicou do trono, encerrando um ciclo de monarquia na França. Era o início da Segunda República francesa. Foi formado, então, um governo provisório de caráter republicano, comandado pelo líder liberal e poeta Lamartine e pelos socialistas Louis Blanc e Ledru-Rollin.

A Primeira República francesa foi proclamada em 1791, durante o processo revolucioná-rio iniciado em 1789, que pretendia acabar com o Antigo Regime.

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Uma das principais medidas do governo provisório foi a criação das chamadas Oficinas Nacionais, empresas do Estado que visavam garantir emprego para a população, reduzin-do a desigualdade e a pobreza. A implementação dessa ideia gerou problemas, pois, para viabilizá-la, o governo aumentou impostos, criando uma nova onda de insatisfação popular, que foi contida com violência.

Em 1848, em meio a esses conflitos, foi aprovada uma nova Constituição para a França. O documento estabelecia que o Poder Legislativo seria composto de uma assembleia eleita por voto universal, e o Poder Executivo, ocupado pelo presidente por quatro anos. Na pri-meira eleição, foi eleito Luís Bonaparte, sobrinho do imperador Napoleão Bonaparte. Em 1851, pouco antes de acabar seu mandato, Luís deu um golpe de Estado e implementou o Segundo Império na França.

O Primeiro Império da França corresponde ao governo exercido por Napoleão Bonaparte.

Primavera dos Povos

Os eventos revolucionários iniciados na França em 1848 se espalharam por parte da Europa. Em vários locais, foram organizados movimentos populares contra governos autoritários e a favor do Nacionalismo e da liberdade. Tais movimentos receberam o título de “Primavera dos Povos”.

Nos atuais territórios da Alemanha, Bélgica, Hungria, Áustria e Itália, por exemplo, houve grandes embates pela afirmação da identidade nacional. Entretanto, esses processos revo-lucionários foram rapidamente extintos pelo poder dos governos locais.

Após um ano e meio do início da Primavera dos Povos, as mudanças visíveis se manti-nham apenas na França. Isso ocorreu, principalmente, pelo esforço da burguesia em frear o avanço revolucionário em outros locais.

REVOLUÇÃO de 1848 em Berlim. [ca. 1849]. 1 litografia.

A cena retrata o movimento dos revolucionários em Berlim, que lutavam por uma Alemanha unificada. Ao centro, vemos a bandeira de três cores com listras horizontais adotada pelos monarquistas. À direita, vemos a bandeira com listras verticais usada pelos republicanos. Ambos os grupos desejavam a unificação alemã. Esse movimento fez parte da chamada Primavera dos Povos.

©Wikimedia Commons

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História

Comuna de Paris

Em 1870, Luís Bonaparte (Napoleão III) tentava seguir os passos de seu tio, Napoleão Bonaparte, e construir um império francês. Para isso, empenhou-se em barrar o desenvolvi-mento de outras potências na Europa e acabou se envolvendo, em 1870, em um conflito com a Prússia, principal estado germânico da época.

O imperador foi derrotado, perdeu o controle sobre as regiões da Alsácia e Lorena e assumiu uma pesada multa a ser paga aos prussianos. Esse desfecho colocou a França em situação de crise e resultou na deposição do imperador. O comando francês passou para as mãos de um governo provisório, liderado por Adolphe Thiers, um monarquista que desper-tou a oposição popular.

Em março de 1871, os operários franceses criaram o Conselho da Comuna, com ideais socialistas e republicanos. Eles tomaram o poder em Paris e instalaram um governo voltado aos interesses das classes menos favorecidas. O movimento ficou conhecido como Comuna de Paris. O governo da Comuna instituiu uma série de medidas que visavam melhorar a vida dos trabalhadores franceses, como controle de jornada de trabalho e igualdade civil entre homens e mulheres. Estabeleceu também a separação entre Estado e Igreja, bem como o ensino laico. Contudo, não conseguiu ampliar sua atuação para além da cidade de Paris e acabou sofrendo uma forte repressão. Milhares foram presos ou mortos, e o movimento chegou ao fim.

A Comuna de Paris marcou a primeira experiência de governo dos traba-lhadores com clara inspiração socialista e deixou governantes da Europa em alerta, temendo levantes similares em seus territórios.

Observe a imagem a seguir, produzida durante a Comuna de Paris em 1871.

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Quais personagens podem ser identificados na imagem? O que eles estão fazendo?

ALEXIS, W. Eu quero ser livre. 1871. 1 litografia. Museu Carnavalet, Paris.

Na bandeira vermelha, é possível ler: “Direitos do povo de Paris, Comuna”. Na legenda da imagem, lê-se “Eu quero ser livre!... É meu direito e eu me defendo”.

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Unificação da Itália e da Alemanha

O Nacionalismo contribuiu para os processos de unificação da Itália e da Alemanha, que ocorreram de forma tardia em relação a outros países da Europa.

Ainda que esses processos tenham se desenvolvido de forma distinta, é possível identi-ficar que ambos foram apoiados por setores da burguesia ligados a regiões industrializadas – Piemonte, no caso do território italiano, e Prússia, no território alemão.

Itália

No século XIX, a Itália estava dividida em grandes territórios, os quais, após o Congresso de Viena, passaram a sofrer influência de outras nações, em especial da Áustria e da França. A Igreja Católica também tinha poder sobre algumas regiões.

Embora existissem diferenças entre esses territórios, havia uma série de elementos cultu-rais comuns, por exemplo, a língua. Observe, no mapa a seguir, como a Itália estava dividida.

Em 1848, houve uma tentativa de unificar o território italiano, quando o rei Carlos Alberto de Piemonte-Sardenha moveu uma guerra contra a Áustria, na tentativa de pôr fim à influência estrangeira na região. Ele acabou sendo derrotado graças ao apoio dos franceses aos austría-cos. No entanto, a partir desse episódio, as ideias nacionalistas ganharam força na Itália.

O reino de Piemonte-Sardenha era uma região desenvolvida, contava com indústrias e uma Constituição liberal. A partir de 1852, esse reino liderou um processo vitorioso pela unificação da Itália. Além do caráter nacionalista, a unificação era de interesse da burguesia, uma vez que geraria mercado consumidor e crescimento econômico.

Fonte: ATLAS histórico. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1989. Adaptação.

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História

Camillo Benso, conde de Cavour, era o primeiro-ministro de Piemonte-Sardenha e liderou o processo de unificação, construindo uma série de alianças políticas, inclusive com Giuseppe Garibaldi, um revolucionário, líder do grupo conhecido como camisas-vermelhas, de ideologia nacionalista-republicana. Garibaldi avançou pela região com seu exército de voluntários, promovendo a anexação de diversos territórios do norte ao sul da Itália.

Giuseppe Garibaldi combateu em várias frentes até ser preso em 1834 e condenado à morte. Para escapar de sua sentença, fugiu para o Brasil. Chegando ao país, atuou a favor dos revolucionários farroupilhas no Rio Grande do Sul, que lutavam contra a centralização do poder imperial. Nesse contexto, conheceu Anita, com quem se casou. Desvinculando-se da Revolução Farroupilha, Garibaldi ainda esteve no Uruguai, onde participou de conflitos políticos. Em 1848, ano em que se iniciou a Primavera dos Povos, retornou à Itália, engajando-se novamente na luta pela unificação ao lado de sua esposa. Garibaldi se aproximou do Rei da Sardenha, Vítor Emanuel II, e de seu Primeiro-Ministro, o Conde de Cavour, que lide-ravam a unificação da Itália.

Anita Garibaldi (1821-1849) foi uma revolucioná-ria que, ao lado de Giuseppe Garibaldi, teve um papel ativo na Revolução Farroupilha e no processo pela uni-ficação italiana. Morreu na Itália, vítima de febre tifoi-de. Ficou conhecida como “heroína dos dois mundos”.

Com o norte e o sul unificados, faltava a região central da Península. As tropas do reino da Itália invadiram os Estados Papais e anexaram Roma ao seu território, tornando a cidade do Lácio sua capital. O rei Vítor Emanuel II buscou negociar condições para garantir a inde-pendência e a soberania da Santa Sé, mas o papa Pio IX não aceitou as negociações. Assim, iniciou-se um desentendimento que perdurou por 60 anos, denominado Questão Romana. Em consequência da Questão Romana, a Santa Sé negou-se a legitimar o governo italiano e proibiu seus fiéis de reconhecer o reino da Itália e de concorrer a cargos públicos nesse Esta-do. O rei Vítor Emanuel II foi excomungado pelo papa Pio IX.

RETRATO de Anita Garibaldi. Museu del Risorgimento, Instituto Mazziniano, Genova.

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Foi somente em 1929, pelo Tratado de Latrão, que a Questão Romana foi resolvida. O Tratado estava dividido em três partes:

A primeira parte estipulava a criação do Estado da Cidade do Vaticano e garantia sua soberania.

A segunda parte determinava questões a respeito das relações da Itália com o Vaticano e estabelecia, por exemplo, o ensino do catolicismo nas escolas secundárias italianas.

A terceira parte estipulava um acordo financeiro em que a Itália deveria indenizar a Santa Sé por todos os territórios pertencentes aos Estados Papais dos quais a Igreja abria mão.

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Alemanha

A região que conhecemos como Alemanha era formada, de acordo com o Congresso de Viena, por 39 Estados e tinha como principal força política e econômica a Prússia, que de-sejava a unificação sob seu comando.

A primeira tentativa de unificar as regiões foi por meio da chama-da Zollverein em 1834. Tratava-se de uma política que estabelecia um mercado comum, livre de barreiras alfandegárias entre os 39 Estados germânicos. A Áustria foi excluída dessa política, fato que desenca-deou um confronto com a Prússia. Como consequência da vitória aus-tríaca, a Prússia teve que abandonar, momentaneamente, seus planos de unificação.

Em 1862, Guilherme I nomeou como seu chanceler Otto von Bis-marck, cuja principal função era pro-mover a unificação desses territórios e possibilitar uma modernização da região.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 134.

Unificação da Alemanha

RETRATO de Otto von Bismarck. [ca. 1880].

Otto von Bismarck era conhecido como “Chanceler de Ferro” em virtude de sua forma determinada de atingir seus objetivos.

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Bismarck atuava em diversas frentes para atingir seus objetivos: de um lado, for-talecia sua diplomacia para conquistar apoio de outras nações; de outro, ampliava a má-quina de guerra para eliminar os adversários da unificação. Ele também fortaleceu o papel do Estado em relação à economia. Diferente-mente do pensamento liberal que predomi-nava na época, Bismarck defendia uma forte intervenção estatal para promover o desen-volvimento econômico. Para ele, o Estado de-veria levar o desenvolvimento, principalmen-te, às regiões ainda pouco industrializadas.

Ao final de 1871, a Alemanha, enfim, se unificaria e Guilherme I seria o imperador.

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História

1 Sobre o movimento operário na Europa no século XIX, marque V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Teve grande influência das ideologias do século XIX, em especial do Socialismo e do Anarquismo.

( ) No período citado, não houve nenhum tipo de experiência de movimentos operários em escala internacional, já que todos ficaram restritos às suas nações.

( ) Nesse período, o Sindicalismo era marcado pela ausência de experiências de cooperação mú-tua em suas iniciativas.

( ) Uma das marcas do Ludismo foi a revolta contra as máquinas, consideradas as responsáveis pela desigualdade.

( ) O crescimento dos movimentos operários ocorreu principalmente pelas transformações so-ciais iniciadas na Revolução Industrial.

2 Dois eventos tiveram grande importância para o surgimento do movimento operário no século XIX na Europa: o Ludismo e o Cartismo. Preencha o quadro a seguir com as principais características de cada um desses movimentos.

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Ludismo

Cartismo

3 Com base em seus conhecimentos, relacione a Revolução de 1830 ocorrida na França ao papel de-sempenhado pelo Congresso de Viena em 1815.

4 Sobre a Revolução de 1848 na França e suas consequências para a Europa, marque a alternativa INCORRETA.

a) Teve como protagonista um forte movimento burguês, que se espalhou pelas ruas de Paris no período reivindicando melhores condições para o povo como um todo.

b) Entre os elementos que marcaram os acontecimentos desse processo estavam os banquetes realizados em Paris, com o objetivo de lutar pelo voto universal e coletar assinaturas a favor da república.

c) A tentativa de Luís Felipe de barrar o movimento usando a força surtiu efeito contrário, pois a Guarda Nacional acabou se aliando aos revoltosos.

d) Esse movimento tinha inspirações republicanas e socialistas e uma de suas reivindicações era o fim do voto censitário.

e) Uma das razões desse movimento foi o fato de o governo de Luís Felipe privilegiar os grupos mais abastados da sociedade francesa.

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5 De acordo com seus estudos sobre os processos de unificação da Itália e da Alemanha no século XIX, marque com a letra I as alternativas relacionadas à Itália e com A as relacionadas à Alemanha.

( ) O processo de unificação foi liderado pela região norte, que, além de ser mais industrializada, tinha uma Constituição de caráter liberal.

( ) O chanceler de seu principal Estado era um defensor da intervenção estatal na economia para gerar desenvolvimento.

( ) Para realizar a unificação, era necessário gerar uma unidade entre os 39 Estados.

( ) O processo de unificação envolveu uma aliança com um grupo republicano chamado camisas--vermelhas.

6 Leia a citação a seguir sobre os fatores que influenciaram os movimentos revolucionários de 1848 na Europa. Depois, responda à questão.

A industrialização e o desenvolvimento das ferrovias carregando produtos baratos e novas ideias começaram a solapar a velha ordem. Até mesmo o tempo conspirava contra a ordem reacionária enquanto o frio e a chuva devastavam as colheitas no que ficou conhecido como a “Grande fome da década de 1840”.

ALMOND, Mark. O livro de ouro das revoluções: movimentos políticos que mudaram o mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 270-272.

Quando o autor escreve a expressão “novas ideias começaram a solapar a velha ordem”, a que ele está se referindo?

7 Observe a imagem a seguir e, depois, responda às questões.

a) Em que contexto histórico aconteceu a Comuna de Paris na França?

b) Quais foram as principais medidas estabelecidas pela Comuna?

BRAQUEHAIS, Bruno. Barricada na esquina da Boulevard Voltaire e Richard-Lenoir durante a Comuna de Paris de 1871. 1871. 1 fotografia, p&b.

Barricadas nas ruas de Paris montadas pelos integrantes da Comuna

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História

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A charge desta página foi publicada no auge do Imperialismo europeu. No centro dela, é possível observar um personagem fictício chamado John Bull, criado por John Arbuthnot, para personificar a Inglaterra. Esse personagem foi utilizado em muitas charges e sátiras que estamparam jornais e revistas no século XIX. Na imagem, John Bull aparece com múltiplos tentáculos, e cada um alcança um pedaço de terra com o nome de um país. Considerando o contexto do Imperialismo europeu, o que essa imagem representa?

Conceito de Imperialismo

Ascensão europeia e partilha colonial

Imperialismo na África

Imperialismo na Ásia

o que vocêvai conhecer

Imperialismo: África e Ásia15

O POLVO em águas egípcias. 1882. 1 charge, color. Granger Collection.

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Compreender o conceito de Imperialismo e suas relações com o contexto econômico e político da segunda metade do século XIX e início do século XX.

Analisar as transformações na Europa no século XIX e a forma como afetaram a dis-puta neocolonial.

Compreender o Imperialismo como fenô-meno histórico, analisando as consequên-cias e as peculiaridades desse processo na África e na Ásia.

Analisar as ações imperialistas nos conti-nentes africano e asiático.

objetivos do capítulo

Na segunda metade do século XIX, alguns países europeus lideraram uma corrida impe-rialista em busca de dominar territórios econômica e culturalmente. Esse processo foi par-ticularmente intenso na África e na Ásia, que chegaram a ser divididas entre as potências europeias. O movimento gerou consequências para todos os envolvidos. De transformações econômicas a guerras, o Imperialismo alterou fronteiras e desencadeou eventos globais.

1 Sobre aspectos econômicos, sociais e políticos da Europa no século XIX, marque a alternativa INCORRETA.

a) Os industriais europeus viviam um momento de crescimento econômico em decorrência da Revolução Industrial iniciada no século XVIII.

b) O Nacionalismo como ideologia foi fundamental para uma série de transformações, inclusive para a formação de mercados nacionais.

c) Um dos pilares das Revoluções de 1830 e 1848 foi a luta contra o restabelecimento do absolutismo.

d) Do ponto de vista social, ocorreram poucas mudanças no continente europeu durante o século XIX.

e) Uma das marcas desse período foi a ascensão de diversas ideologias, entre elas o Socialismo e o Liberalismo.

2 A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII na Inglaterra, gerou uma série de transformações cujo conhecimento é fundamental para a compreensão das mudanças ocorridas na Europa no sécu-lo XIX. Com base nessa informação e em seus conhecimentos, explique as principais consequências da Revolução Industrial para a Europa.

organizando a história

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História

Conceito de Imperialismo

O Imperialismo também é conhecido como Neocolonialismo, pois representou uma nova forma de exploração de terras e riquezas em relação aos processos de colonização que aconteceram ao longo da expansão ultramarina europeia, principalmente no final do século XV e início do XVI.

O Imperialismo do século XIX, também liderado por potências da Europa, teve caracterís-ticas diferentes do Colonialismo, as quais se relacionavam ao contexto histórico do período.

Chamamos de Imperialismo a submissão de uma nação por outra por meio do poder político, econômico ou militar. Diferentemente dos processos coloniais da época das Gran-des Navegações, no Imperialismo, além do uso da força, os europeus impuseram sua domi-nação por meio de alianças políticas com líderes locais.

O segundo momento da devastação imperialista foi construído com base na revolução in-dustrial e se manifestou pela submissão colonial da Ásia e da África. “Abrir os mercados” e apo-derar-se das reservas naturais do globo eram as reais motivações, como é sabido hoje em dia.

AMIN, Samir. O Imperialismo: passado e presente. Tempo, Rio de Janeiro, n. 18, p. 84, 2005.

CRANE, Walter. Federação imperial: mapa do mundo mostrando a extensão do Império Britânico. 1886. 1 litografia, color., 58 cm × 76,7 cm. Biblioteca da Universidade Cornell, Nova Iorque.

O mapa, produzido por um inglês durante o Imperialismo europeu, destaca em vermelho os territórios sob domínio britânico em 1886. As ilustrações apontam a maneira como o mundo era visto por parte dos exploradores europeus: um universo de riquezas diversas, principalmente naturais. Além disso, é apresentada uma visão exótica desses territórios e suas populações.

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Apesar dos séculos de contatos comerciais, grande parte do interior da África e da Ásia e as ilhas do Oceano Índico ainda eram desconhecidas pelos europeus nas primeiras décadas do século XIX. Entretanto, ao final desse século, a situação seria completamente diferente.

Um dos fatores que propiciaram o Imperialis-mo naquele período foi a disseminação da ideia europeia de superioridade cultural em relação a outros povos, principalmente aos habitantes de regiões como a África e a Ásia. Essa ideia servia de justificativa para o processo de dominação po-lítica e econômica de outros povos. Os europeus afirmavam que tinham o dever de impor sua or-ganização social a outras populações, sob o pre-texto de estarem contribuindo para o desenvolvi-mento delas.

Desse modo, o uso da influência política e até mesmo da força era justificado pela intenção de difundir um suposto progresso cultural, econômi-co e até mesmo religioso. Esse discurso ajudava a legitimar as ações imperialistas, que, muitas ve-zes, eram violentas.

A ideia europeia de superioridade cultural em relação a outros povos frequentemente envolvia aspectos racistas. Os hábitos e as características das populações locais eram vistos e divulgados de forma pejorativa ou, no mínimo, como uma atração exótica para o público europeu. Assim, as versões preconceituosas de diver-sos exploradores foram disseminadas por toda a Europa.

Essa visão de superioridade cultural baseada em critérios étnicos é chamada de etnocentrismo.

PADRE Kisouru da missão da Nova Antuérpia (povo bangala). [ca. 1905]. 1 fotografia, p&b.

Padre missionário europeu com população local no Congo, dominado pela Bélgica

Além da exploração econômica e política, o Imperialismo europeu impunha a religião cristã às populações por meio da atuação de missões religiosas.

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença [...].

ROCHA, Everardo P. G. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 5.

Podemos afirmar que o Imperialismo como movimento histórico deixou marcas de seu etnocentrismo na sociedade como um todo até atualidade. Muitos dos estereótipos relacio-nados aos povos africanos e asiáticos foram construídos ou reforçados nesse período.

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História

O final do século XIX, em especial em relação ao movimento imperialista europeu, foi decisivo para que a humanidade passasse a refletir sobre a maneira como lidava com as di-ferenças entre os povos. O etnocentrismo imperialista desencadeou uma série de debates e estudos que tinham como objetivo transformar a visão estabelecida.

A Antropologia, ramo das Ciências Sociais que estuda os seres humanos com base em sua cultura sem indicar supostas superioridades de uma cultura em relação a outra, ganhou força. Ao longo do século XX, vários estudos procuraram diferentes formas de organização social e cultural. Esse esforço envolve o que chamamos de alteridade.

Alteridade é um conceito da Antropologia que significa, na prática, a capacidade de observar a cultura do outro sem preconceitos. A alteridade também é importante no estudo da História, pois auxilia no entendimento de outras sociedades, diferentes daquela em que vivemos, levando-nos a compreender as ações dos sujeitos a partir do contexto histórico em que estão inseridos.Aos poucos, a visão etnocêntrica da sociedade dá espaço para uma compreensão

mais respeitosa e tolerante em relação às diferenças entre os povos e as pessoas.

Com base em suas vivências e em seus estudos, debata os tópicos a seguir com os colegas. Depois, anote as conclusões a que chegaram.

1 Você já vivenciou ou ficou sabendo de alguma situação de etnocentrismo na atualidade? Dê exemplos.

2 Você já exercitou a alteridade em alguma situação específica do seu cotidiano? Dê exemplos.

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Ascensão europeia e partilha colonial

No século XIX, a Europa consolidava seu crescimento econômico, fruto da Revolução In-dustrial. Além disso, as revoluções ocorridas ao longo desse mesmo século e os movimentos de caráter nacionalista fortaleceram algumas nações e criaram condições para um movimen-to de disputa territorial.

A presença dos europeus na África e na Ásia nesse novo projeto de colonialismo se deu de maneira processual, até o momento em que se tornou tão intensa que foi necessário organizá-la, com o objetivo de evitar conflitos entre as próprias potências europeias pelo direito de explorar certos territórios e populações.

Em um primeiro momento, essas nações buscaram estabelecer relações de poder com territórios pouco conhecidos da África, que pudessem fornecer riquezas naturais e mão de obra e se converter em mercados consumidores de produtos europeus, mas sem deslocar forças até esses territórios.

Inicialmente, a estratégia visava manter zonas de influência. No entanto, as descobertas de metais preciosos e de outras riquezas no continente africano despertaram nos europeus um interesse crescente na exploração direta da região. Assim, surgiu a necessidade de efeti-var uma ocupação mais ampla.

Por iniciativa do chanceler alemão Otto von Bismarck (1815-1898), representantes de 14 países europeus e dos Estados Unidos se reuniram em 1884 na chamada Conferência de Berlim. Esse evento também ficou conhecido como Conferência do Congo ou Conferência da África Ocidental.

O encontro de potências políticas, econômicas e militares teve como objetivo organizar a maneira como os países participantes realizariam a ocupação da África, ignorando as caracte-rísticas das populações locais. Isso significa que um grupo de países organizou entre si a ocu-pação da África sem o consentimento dos africanos.

Nessa organização, a Inglaterra e a França obtiveram o maior número de territórios para estabelecer seus domínios coloniais, seguidas de Portugal, Bélgica e Espanha. Áreas menores foram ocupadas por Alemanha e Itália.

VON ROESSLER, Adalbert. Representação da conferência de Berlim. 1884. 1 gravura, p&b. Publicada no jornal Allgemeine Illustrierte Zeitung.

A gravura representa os líderes das potências europeias durante uma das conferências realizadas na Alemanha. Observe que não foram ilustrados representantes dos países africanos entre os presentes.

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História

A nova divisão do território africano, estabelecida por estrangeiros que não conheciam as regiões que ocupavam, não respeitou a história e as relações étnicas e familiares dos po-vos nativos. Assim, acabou por unir em uma mesma colônia etnias rivais e por separar uma mesma etnia ou família em colônias diferentes.

Os acordos feitos na Conferência de Berlim estabeleceram algumas regras para a colo-nização da África, entre elas a determinação de que o domínio de um território só seria efe-tivamente reconhecido se nele houvesse a presença de colonizadores, ou seja, de famílias emigrantes da Europa vivendo no local de modo permanente.

Fonte: ATLAS geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. p. 45. Adaptação.

África atual – político

Para que as potências industriais europeias efetivassem seu domínio sobre as colônias africanas, foram utilizadas diferentes estratégias. De maneira geral, envolveram atitudes violentas e conflitos armados diante da resistência dos líderes locais e da população. Quan-do derrotados, os povos eram obrigados a aceitar várias formas de dominação. A ação mais comum era transformar o território em colônia, protetorado ou área de influência.

Para que fosse considerado uma colônia, o território devia ter famílias emigrantes da metrópole europeia vivendo no local de maneira permanente. Caracterizava-se como pro-tetorado o território subordinado a uma potência que controlava seu governo por meio da submissão das classes dirigentes locais. Para assegurar essa dominação, havia a presença de representantes e força policial dos dominadores. Já as áreas de influência estavam di-retamente relacionadas aos interesses comerciais e financeiros dos países imperialistas. As relações ocorriam por meio de acordos e tratados e da submissão dos dirigentes locais, sem a presença de funcionários (administrativos ou militares) europeus.

Tradicionalmente, os territórios políticos costumam ser delimitados por barreiras naturais, como montanhas, rios e depressões. Ao observar o atual mapa político da África, percebem-se linhas retas nas fronteiras de alguns países. Elas são resultado da partilha arbitrária do território, que causou diversos conflitos sociais e culturais no continente. Algumas regiões permanecem em conflito na atualidade.

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O trecho a seguir, escrito pelo historiador Eric Hobsbawm, esclarece a dimensão do pro-cesso imperialista.

[...] o período entre 1875 e 1914 pode ser chamado de Era dos Impérios não apenas por ter criado um novo tipo de Imperialismo, mas também por um motivo muito mais antiquado. Foi provavelmente o período da história mundial moderna em que se chegou ao máximo o número de governantes que se autodenominavam imperadores ou que eram considerados pelos diplo-matas ocidentais como merecedores desse título.

HOBSBAWM, Eric J. A era dos Impérios: 1875 a 1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 87.

1 Sobre as causas e justificativas para o Imperialismo europeu do século XIX, marque V para as alter-nativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Uma das justificativas utilizadas pelos europeus para a dominação imperialista foi a de que eles eram culturalmente superiores e, por isso, poderiam dominar outras nações.

( ) Ao ocupar territórios na África, os europeus procuraram respeitar as características dos povos que ali habitavam.

( ) Podemos afirmar que o Imperialismo do século XIX é uma consequência do desenvolvimento econômico proporcionado pela Revolução Industrial.

( ) Uma das razões que levou ao Imperialismo europeu foi a necessidade de ampliar a rede de fornecedores de matéria-prima e os mercados consumidores de produtos europeus.

( ) A única forma de dominação imperialista europeia foi a força.

2 Um dos marcos do Imperialismo europeu foi a Conferência de Berlim, ocorrida entre os anos de 1884 e 1885. Sobre esse evento, responda às questões.

a) Quem participou dela e quais eram os objetivos do encontro?

b) Quais critérios foram definidos na Conferência para que se considerasse efetivo o domínio imperialista sobre um território?

3 Sobre o processo de dominação no Imperialismo, preencha o quadro a seguir com as estratégias usadas pelos europeus para consolidar sua dominação.

organizando a história

Estratégias não violentas Estratégias violentas

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História

Imperialismo na África

A Conferência de Berlim de 1885 lançou as bases para a exploração europeia do continen-te africano. Uma das estratégias dos europeus foi estimular a rivalidade entre diferentes gru-pos étnicos para que os conflitos enfraquecessem os envolvidos, facilitando o domínio sobre extensas terras africanas.

Antes da interferência europeia por meio da dominação imperialista, boa parte da econo-mia africana era baseada na agricultura familiar e de subsistência. Já no contexto do Imperialis-mo, além da ação de militares e exploradores, havia grandes investidores e colonos europeus em busca de enriquecimento. Desse modo, a produção africana, que até então era autossufi-ciente – ou seja, atendia às necessidades de consumo da população nativa –, passou a servir aos interesses dos colonizadores.

A maior parte das terras cultiváveis foi tomada pelos investidores europeus, que substituí-ram a diversificada lavoura de subsistência pela monocultura agroexportadora. O plantio de pro-dutos destinados ao consumo da população local perdeu espaço para outros de maior demanda no mercado internacional, como trigo, café e cacau. Portanto, dominando amplas áreas produ-tivas nos territórios colonizados, as potências europeias encontraram, no continente africano, uma grande fonte de riquezas. Por meio do poder econômico, político e militar, aos poucos, os europeus foram constituindo seus impérios em diversas partes do território africano.

No mapa, é possível observar a divisão colonial da África no século XIX.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 138-139. Adaptação.

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O período de exploração imperialista ocasionou sérios problemas, entre eles os conflitos étnicos decorrentes da divisão do continente segundo critérios europeus.

A África em geral, e alguns países em particular, naufragou em conflitos internos, dos quais as fontes principais são a terra e a água. Estes conflitos recorrentes afetam geralmente países cuja prosperidade é ou foi a cobiça de vários estrangeiros sobre o seu solo por razões econômicas, e que não são mais atrativos. [...]

DIALLO, Alfa O. Os conflitos “étnicos” na África. Fronteiras, Dourados, v. 17, n. 29, p. 121, 2015. Disponível em: <http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/download/4599/2357>. Acesso em: 28 nov. 2019.

Em 2003, com o objetivo de auxiliar na solução de conflitos como esses, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Escritório das Nações Unidas do Assessor Especial para a África.

Um dos exemplos mais emblemáticos da exploração europeia na África foi a praticada por Cecil Rhodes (1853-1902). O empresário, fundador da Companhia Britânica da África do Sul, dedicou-se intensamente ao projeto britânico de Imperialismo, tornando-se bilionário graças à exploração de riquezas naturais do continente africano, especialmente de diaman-tes. Empreendia ações de grandes proporções, como a construção de uma estrada de ferro ligando a cidade do Cairo, no Egito, até a Cidade do Cabo, na África do Sul.

Outras inúmeras obras foram realizadas no continente com o objetivo de garantir in-fraestrutura para o escoamento de riquezas para a Europa.

SAMBOURNE, Edward L. O Colosso de Rhodes. 1892. 1 charge, p&b. Publicada na revista Punch.

Charge mostrando Cecil Rhodes como um gigante, interligando os extremos do continente africano com seus pés e estendendo um fio de telégrafo – meio de comunicação considerado rápido na época

A grande pretensão dos planos imperialistas é representada pelo gigante de braços e pernas abertos. O título da charge faz referência ao Colosso de Rodes, uma enorme estátua do deus grego Hélio, construída em 292 a.C. na cidade de Rodes. Não se sabe a aparência exata do monumento de mais de 30 metros de altura, porém especula-se que retratava um homem com as pernas abertas entre duas colunas do porto, entre as quais passava o mar, de forma semelhante à posição em que Cecil foi retratado. A estátua original, considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, ruiu em 226 a.C. em virtude de um terremoto e nunca mais foi reconstruída. A própria menção na charge à Antiguidade grega, da qual os europeus afirmavam ser herdeiros, faz referência à ideia de superioridade cultural europeia vigente na época.

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História

HARRIS, Alice S. Nsala de Wala. 1904. 1 fotografia, p&b.

A presença belga no Congo

O Congo, na região central do continente africano, vivenciou uma experiência particular com o Imperialismo belga. Na década de 1860, Leopoldo II (1835-1909), rei da Bélgica, tentou colonizar Moçambique, Congo e Senegal, porém o parlamento do país resistiu a essas propo-sições, acreditando que a empreitada custaria caro e traria pouco retorno financeiro. A solu-ção encontrada pelo monarca foi criar e patrocinar, em 1879, uma entidade beneficente, a Associação Internacional para a Exploração e Civilização da África ou Associação Internacional Africana, a fim de dominar a região como empresário, e não como representante da Bélgica.

Sob o pretexto de estudar a região e promover melhorias para a população, Leopoldo passou a dominar 30 milhões de pessoas no Congo, sem uma Constituição e sem a supervi-são da comunidade internacional – seu poder era ilimitado. Até 1908, explorou especialmen-te o marfim e a borracha, utilizando a mão de obra da população local. Era comum que os tra-balhadores fossem punidos tendo seus membros decepados quando a aldeia não cumpria a cota exigida de produção. Além de serem tratados com extrema violência, eles viviam em condições semelhantes à da escravidão.

Por muitos anos, os funcionários e os religiosos europeus eram impedidos de falar sobre as atrocidades cometidas pelo governo de Leopoldo II, que chegou a fechar as fronteiras do país, chamado à época de Estado Livre do Congo. Quando as denúncias se tornaram públicas – não só da escravização dos nativos, mas do monopólio comercial estabelecido por Leopoldo e defen-dido militarmente na região –, diversos países da Europa e os Estados Unidos se posicionaram.

Em 1908, o parlamento belga anexou o Congo às suas possessões, inserindo-o em um sis-tema jurídico de direitos e deveres e submetido à supervisão internacional. Economicamente, a perda de Leopoldo II não foi tão grande, pois a maioria dos recursos naturais extraídos do Congo já estava se esgotando e encontrava concorrência no Sudeste Asiático e na América Latina. O chamado Congo Belga, anexado como colônia da Bélgica, existiu até a conquista da indepen-dência do país em 1960, quando passou a se chamar República Democrática do Congo.

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Em 1904, a missionária Alice Seeley Harris registrou as atrocidades vividas pelos congoleses. Na fotografia, Nsala, o homem no centro da foto, observa um pé e uma mão de sua filha. Ela e a mãe foram mutiladas porque sua aldeia não cumpriu a cota exigida de produção da borracha.

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Imperialismo na Ásia

O Imperialismo também alcançou a Ásia no século XIX e deixou marcas no continente. Como é possível observar no mapa a seguir, nações como a Inglaterra, a Holanda e a Alema-nha estiveram presentes na região, buscando riquezas e mercados consumidores.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 138-139. Adaptação.

Ásia colonial

Índia

O vasto império colonial inglês na Ásia compreendia regiões da Índia, do Paquistão, da antiga Birmânia e do Ceilão (atual Sri Lanka).

Diferentemente do que ocorreu na África, em algumas regiões asiáticas, os europeus tiveram de negociar com estados militarmente fortes, como o Império Turco-Otomano e a China. Em alguns casos, em razão da dificuldade de se firmar pela força, os europeus opta-vam por estabelecer alianças com os governantes locais.

O principal exemplo de Imperialismo na Ásia foi a dominação inglesa sobre a Índia. Desde o século XVII, a Inglaterra atuava na Índia por meio da Companhia das Índias Orientais, empre-sa britânica que controlava o comércio de produtos indianos, como algodão e chá.

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História

Desde a Baixa Idade Média, a Índia atraía mercadores europeus pelos produtos que co-mercializava. Foi por conta deles, em especial do chá, que os ingleses estenderam seus domí-nios sobre a Índia. Havia grande demanda da Inglaterra, que não tinha áreas cultiváveis dis-poníveis, tampouco clima adequado para o plantio da erva. A Companhia das Índias Orientais visava explorar o chá e outros produtos – utilizando a barata mão de obra local – e enviá-los para a Inglaterra com alta margem de lucro.

Em 1858, com a presença da Companhia das Índias Orientais, os ingleses se estabeleceram no país, passando a intervir administrativamente por meio da figura do vice-rei. Eles chegaram a dominar pouco mais da metade da Índia, criando um território que ficou conhecido como Índia Britânica. O restante do país continuou sob a autoridade de governan-tes hindus chamados de marajás.

Apesar de ter causado diversas re-voltas e movimentos de contestação, tanto a colonização quanto a descoloni-zação britânica na Índia foram relativa-mente pacíficas. O principal motivo para a busca da independência foi a miséria extrema imposta aos indianos, enquanto os ingleses enriqueciam às suas custas. Uma das maiores consequências da in-terferência britânica na Índia foi a polari-zação da população entre muçulmanos e hindus, que, em 1947, resultou na divisão do Império Colonial Britânico na Índia en-tre Paquistão (de maioria muçulmana) e Índia (de maioria hindu).

China

Diferentemente da Índia, que foi explorada quase exclusivamente pela Inglaterra, na China, houve uma verdadeira invasão estrangeira. A partilha de territórios ocorreu entre al-gumas das grandes potências do século XIX, como Estados Unidos, Japão, Rússia, Alemanha, França e Inglaterra.

Desde 1636 até o século XIX, os chineses eram governados pela dinastia Qing, que não conseguiu manter o país longe dos interesses europeus e americanos. A presença imperialis-ta na China acarretou diversos conflitos violentos. Os mais significativos foram a Guerra do Ópio (1839-1842) e a Guerra dos Boxers (1900).

A Guerra do Ópio foi uma consequência da proibição do uso dessa substância por parte do governo Chinês em 1839. O consumo dessa droga crescia consideravelmente na China e era lu-crativo para os comerciantes ingleses, porém gerava preocupação às autoridades. Uma das ações chinesas para tentar conter o consumo foi destruir uma grande carga de ópio de um navio inglês, algo que foi interpretado como um atentado contra os direitos de propriedade da Inglaterra.

DUA, Rinku. Professora dando aula em Fatehabad. 2019. 1 fotografia, color.

Professora indiana em trajes hindus ensinando em inglês

Tanto na Índia quanto no Paquistão, o inglês ainda é uma das línguas oficiais.

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Esse incidente desencadeou o conflito. É importante lembrar que a Marinha britânica era uma das mais poderosas no período e foi praticamente impossível para a China resistir aos ataques de seus navios. Em 1842, como forma de cessar os conflitos, a China assinou uma série de tratados comerciais que beneficiavam a Inglaterra. O ópio ainda causaria outros embates entre 1856 e 1860.

A Guerra dos Boxers foi inicia-da por um movimento antiocidental conhecido como Yihetuan, que pro-moveu um levante contra a presença estrangeira na China em 1900. Uma das principais causas desse conflito era o fato de que boa parte dos chine-ses vivia em situação de pobreza ex-trema. Eram chamados de boxers os praticantes de artes marciais que con-seguiam, sem armas, enfrentar exér-citos fortemente armados. Foi neces-sária uma grande aliança de nações imperialistas e um exército de 20 mil homens armados para derrotá-los.

Na Europa, o fim do século XIX seria marcado por transformações culturais que refletiram nas artes, na arquitetura e no comporta-mento em geral: a Belle Époque, ou bela época. Em muitas cidades, como Paris, as pessoas viviam in-tensamente os movimentos artís-ticos, encontrando-se em cafés e teatros, onde era comum debater assuntos culturais. Internamente, a Europa se desenvolvia, em parte, com recursos extraídos da África e da Ásia. Esse período de inovações e prosperidade foi marcado por um clima de paz e otimismo que durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.

outras histórias

TOULOUSE-LAUTREC, Henri de. Dança no Moulin Rouge. 1890. 1 óleo sobre tela, color., 115,5 cm × 150 cm. Museu de Arte da Filadélfia.

KASAI, Torajiro. Tropas britânicas e japonesas em batalha contra forças boxers em Tianjin, China. 1900. 1 litogravura, color. Granger Collection.

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O artista Toulouse-Lautrec retratou, na maior parte de seus trabalhos, o estilo de vida em Paris durante a Belle Époque.

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História

1 Sobre o Imperialismo, movimento europeu do fim do século XIX, preencha as lacunas com as infor-mações corretas.

O Imperialismo europeu tinha como objetivo a dominação de territórios nos continentes e . Essa dominação visava obter na for-

ma de matéria-prima e ampliar o de produtos europeus. O domínio foi legitimado pela ideia de superioridade europeia e foi efetivado graças ao das nações europeias.

2 (ENEM)

Leia o texto a seguir:

"O continente africano em seu conjunto apresenta 44% de suas fronteiras apoiadas em meridianos e paralelos; 30% por linhas retas e arqueadas, e apenas 26% se referem a limites naturais que ge-ralmente coincidem com os de locais de habitação dos grupos étnicos". (MARTIN, A. R. Fronteiras e Nações. Contexto, São Paulo, 1998)

Diferente do continente americano, onde quase que a totalidade das fronteiras obedecem a limites naturais, a África apresenta as características citadas em virtude, principalmente:

a) da sua recente demarcação, que contou com técnicas cartográficas antes desconhecidas.

b) dos interesses de países europeus preocupados com a partilha dos seus recursos naturais.

c) das extensas áreas desérticas que dificultam a demarcação dos "limites naturais".

d) da natureza nômade das populações africanas, especialmente aquelas oriundas da África Sub-saariana.

e) da grande extensão longitudinal, o que demandaria enormes gastos para demarcação.

3 Observe a charge a seguir e, depois, responda às questões.

o que já conquistei

MEYER, Henri. Partilha da China entre os reis e imperadores. 1898. 1 charge, color. Publicada no jornal Le Petit Journal, n. 374, 1898, Paris.

a) Quem os personagens representam e como foram retratados?

b) Qual é a ação representada na cena?

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4 (FMJ – SP) Observe a charge sobre a Conferência de Berlim (1884-1885).

5 Um acontecimento marcante relacionado ao Imperialismo europeu foi a Guerra do Ópio (1839-1842), envolvendo a Inglaterra e a China. Explique o que foi essa guerra e suas principais conse-quências no período.

6 Observe a charge, que retrata uma águia ale-mã sobrevoando uma população africana. Com base na imagem e em seus conhecimentos, po-demos afirmar que a charge:

a) representa a cooperação dos países euro-peus com as demandas humanitárias da África no século XIX.

b) transmite a ideia de que o Imperialismo ex-traiu riquezas da África de forma violenta e estratégica.

c) faz referência à riqueza da fauna e da flora do continente africano, algo que ainda era pouco conhecido pelos europeus.

d) representa o pouco interesse dos alemães no continente africano.

RÁPIDA investida! 1890. 1 gravura, p&b. Publicada na revista Punch, 1890, Londres.

O contexto histórico no qual a charge se insere foi marcado:

a) pela hegemonia mercantil portuguesa, graças aos lucros do tráfico negreiro.

b) pela missão civilizadora dos padres jesuítas, em oposição aos protestantes.

c) pela emancipação das colônias africanas, por influência da Guerra Fria.

d) pelo pan-africanismo, em defesa da autono-mia e soberania das colônias.

e) pelo Neocolonialismo, com a partilha da Áfri-ca entre as potências europeias.

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A pintura desta página foi produzida para as co-memorações do centená-rio da Independência dos Estados Unidos, em 1876. Ela apresenta pessoas que defendiam o fim do con-trole das Treze Colônias pelos britânicos, chamadas patriotas. Analisando a ima-gem, por que você acha que a obra se chama Espírito de 76? Quais valores susten-tavam a ação dos patriotas estadunidenses?

Estados Unidos no século XIX

América Latina no século XIX

o que vocêvai conhecer

A América no século XIX16

WILLARD, Archibald M. Espírito de 76. [ca. 1875].

1 óleo sobre tela, color., 61 cm × 45 cm. Abbot

Hall, Marblehead.

© Abbot Hall, Marblehead, Massachusetts, EUA

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Compreender o Destino Manifesto, destacando sua relação com as ações expansionistas dos estadunidenses e com a Doutrina Monroe.

Analisar os impactos da expansão para o Oeste, especialmente para as populações nativas.

Entender as causas e os efeitos da Guerra de Secessão (1861-1865), com enfoque especial para a questão racial nos Estados Unidos.

Analisar as transformações na América Latina durante o século XIX.

Compreender a conjuntura latino-americana durante o século XIX, destacando a situação de México e Cuba.

Analisar o fenômeno político do Caudilhismo.

objetivos do capítulo

1 Os processos de independência política das nações do continente americano foram influenciados pelas ideias liberais no contexto das chamadas Revoluções Burguesas do século XVIII na Europa. Com base nisso, sistematize no quadro a seguir as principais ideias liberais que serviram de inspira-ção para esses processos de emancipação.

organizando a história

Ideias políticas Ideias econômicas

2 Estados Unidos e Brasil tornaram-se independentes de suas metrópoles nos anos de 1776 e 1822 respectivamente, impactando, cada um à sua maneira, o continente americano. Quais foram as prin-cipais diferenças entre os processos de independência desses dois países?

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História

Estados Unidos no século XIX

Após consolidar a independência no final do século XVIII, os Estados Unidos viveram momentos decisivos no século XIX. Dois processos foram essenciais nesse período: a expan-são territorial e a definição em relação à escravidão. Embora a independência tivesse sido alcançada e a Constituição estadunidense defendesse a igualdade, de maneira contraditória, a escravidão não havia sido abolida.

O mapa a seguir apresenta um panorama da configuração territorial dos Estados Unidos no século XIX.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 10. Adaptação.

Formação territorial dos Estados Unidos – século XIX

Nas primeiras décadas do século XIX, os Estados Unidos anexaram extensos territórios por meio de guerras e compras, com o objetivo principal de garantir o crescimento econô-mico do país.

Doutrina Monroe

Para evitar que as terras americanas fossem colonizadas por nações europeias, em 1823, o presidente estadunidense James Monroe divulgou a Doutrina Monroe, que tinha como lema “a América para os americanos”. Seu objetivo era diminuir a influência das potências europeias sobre os países latino-americanos. A Doutrina apresentava os Estados Unidos como “protetores” do continente americano. Dessa maneira, além de afastarem a influência europeia do continente, os estadunidenses aumentavam sua autoridade sobre o território.

A charge retrata Tio Sam (usando uma cartola), personagem que representa os Estados Unidos, riscando o chão para simbolizar um limite territorial aos ingleses (à esquerda) e aos franceses (à direita). O chargista fez referência ao fato de que os Estados Unidos não queriam a presença europeia na região.

ROGERS, William A. “Isso é um aviso, senhores!”. [ca. 1902]. 1 charge, p&b. Publicada no jornal New York Herald.

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Na prática, a Doutrina acabaria colocando os Estados Unidos numa posição privilegiada de influência e poder em relação a outras nações americanas. Se, por um lado, o discurso propunha evitar a recolonização europeia e a submissão das nações americanas, por outro, podemos dizer que os Estados Unidos assumiriam o papel de colonizadores.

Destino Manifesto

A teoria do Destino Manifesto foi decisiva para as ações praticadas pelos Estados Unidos durante o século XIX. A ideia central era a de que seus habitantes tinham sido escolhidos por Deus para a missão de expandir o território, levando suas concepções de liberdade, demo-cracia e progresso para outras nações.

O Destino Manifesto é uma consequência da ideia de predestinação defendida pelos protestantes de origem calvinista, segundo a qual todos os eventos eram previamente de-terminados por Deus.

Com base nessa concepção, os estadunidenses deram início ao processo de expansão ter-ritorial, ampliando suas fronteiras ao Oeste.

O calvinismo foi a fé em torno da qual se moveram as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII nos países capitalistas mais desenvolvidos – os Países Baixos, a Inglaterra, a França. E é por isso que nos ocupamos dele em primeiro lugar. Considerava-se na época e de modo geral se considera ainda hoje a doutrina da predestinação como o mais característico dos dogmas do calvinismo.

WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 63.

Corrida para o Oeste

A expansão territorial em direção ao Oeste dos Estados Unidos tinha como objetivo prin-cipal ampliar as áreas para a agricultura e a pecuária, além de explorar recursos naturais, como metais preciosos. Para o sucesso dessa empreitada, o governo criou a Lei de Remoção dos Indígenas (1830), que permitia aos estadunidenses expulsar os indígenas que habitavam a região para ocupá-la. Esse desejo de expansão gerou uma série de conflitos violentos, que levaram à morte de milhares de indígenas e à tomada de suas terras.

LEUTZE, Emanuel. Para oeste, o curso do império segue seu caminho. 1861. 1 óleo sobre tela, color., 84,4 cm × 110,1 cm. Museu Smithsonian de Arte Americana, Washington, D.C. Detalhe.

Na imagem, é possível observar famílias migrando em direção ao Oeste. A paisagem da região, muitas vezes, era desértica, o que tornava as viagens mais desafiadoras.

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História

As histórias dos viajantes que se aventuraram na expansão para o Oeste no século XIX fas-cinaram grande parte dos estadunidenses. Essa fascinação pode ser observada nos produtos da indústria cinematográfica do país no século XX, em especial nas décadas de 1950 e 1960.

Todo o imaginário que envolvia as caravanas para o Oeste – os riscos do trajeto, a ausên-cia de leis nesses territórios, o sonho da riqueza e da prosperidade, o contato com popula-ções indígenas – serviu de inspiração para a produção de inúmeros filmes em Hollywood.

Para os estadunidenses, essas histórias se referiam ao Oeste longínquo (far West), de onde deriva a expressão “fa-roeste” para classificar as his-tórias que tratam desse tema. Uma das características princi-pais dos filmes de faroeste era a fórmula do “mocinho versus bandido”. Na maioria das ve-zes, os indígenas eram retrata-dos como bandidos, selvagens e violentos.

Atualmente, os filmes do gênero buscam apresentar perspectivas históricas com-pletas, apresentando a visão dos indígenas e evitando juízos de valor.

Embora existissem chances de prosperidade no Oeste, houve também decepção. Nem sempre as regiões ocupadas progrediam economicamente. Muitas pessoas tiveram de voltar para a região das Treze Colônias ou permaneceram no Oeste em condições de extrema pobreza.

Da noite para o dia, surgiam cidadelas de centenas – por vezes milhares – de pessoas, entre garimpeiros, [...] mercadores, jogadores, bandidos comuns, e diversos outros grupos cujas pro-fissões eram mais bem aceitas para os rígidos padrões morais do Leste: professores, advogados etc. Passada a euforia da cata fácil de pepitas [de ouro] na superfície, muitas dessas cidades mineiras eram, literalmente, abandonadas, transformando-se em cidades-fantasma. Por vezes, a essa primeira fase seguia-se outra de uma exploração mais sistemática dos veios de ouro mais profundos, utilizando-se de maquinaria cara. No último quartel do XIX, as “febres do ouro” nor-te-americanas duplicaram a oferta mundial de ouro.

KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p. 139.

Nessa cena de um faroeste de 1958, observamos uma fórmula recorrente nos filmes do gênero: uma mulher assustada é salva por um vaqueiro (cowboy) das maldades de um indígena, retratado como selvagem e interpretado por um ator não indígena

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Guerra de Secessão (1861-1865)

O processo de independência dos Estados Unidos não resolveu um dos principais proble-mas daquela sociedade: a escravidão. Como visto anteriormente, embora a Constituição ti-vesse características liberais e pregasse a igualdade, o trabalho escravo ainda era uma regra.

No centro dessa questão, estava a diferença econômica entre as regiões Norte (antigas colônias de povoamento) e Sul (antigas colônias de exploração) do país. O Norte tinha uma economia diversificada e industrializada, utilizando mão de obra livre e assalariada, enquan-to o Sul, agrário, utilizava a mão de obra escrava. Essa diferença colocou os habitantes do país em lados opostos sobre o que fazer em relação à escravidão.

Abraham Lincoln (1809-1865), candidato republicano à presidência em 1860, havia de-clarado sua posição favorável ao fim dessa prática. Quando venceu as eleições, os estados do Sul, defensores da manutenção da escravidão, formaram uma aliança separatista contra o governo chamada de Estados Confederados da América.

Lincoln se posicionou contrário a qualquer tentativa de separação desses estados e ini-ciou uma série de medidas para enfraquecê-los, inclusive bloqueando seus portos, por onde escoava grande parte da produção agrícola do Sul para o exterior.

O conflito armado se tornou inevitável e os combates se estenderam por anos, princi-palmente na região Sul, prejudicando os confederados (soldados do Sul), que tinham suas plantações e cidades destruídas. As forças do Norte dispunham de melhores armas e maior número de soldados (que ficaram conhecidos como yankees).

Outro ponto que prejudicou o Sul foi a atuação do Norte quanto aos escravizados su-listas. Muitas vezes, estes eram obrigados a servir às forças de seus patrões ou em nome deles. O exército nortista determinou que todos os escravizados sulistas capturados seriam imediatamente libertos, o que fez muitos deles se aliarem às forças do Norte.

Durante a guerra, estima-se que mais de 600 mil estadunidenses tenham perdido a vida, um número altíssimo para uma guerra civil (entre compatriotas). Ao fim da guerra, em 1865, o Norte conquistou a vitória definitiva e fortaleceu o projeto de uma economia liberal e de desenvolvimento capitalista.

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A estratégia para sufocar economicamente o Sul foi proposta pelo general em comando Winfield Scott (1786-1866). Em uma economia que dependia da importação de praticamente todos os tipos de produtos e alimentos, o bloqueio aos portos causou o desabastecimento, a fome e a impossibilidade de enfrentar o inimigo, levando os Estados Confederados à derrota.

ELLIOTT, J. B. A grande serpente de Scott. 1861. 1 litografia, color. Biblioteca do Congresso, Washington, D.C.

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História

BATALHA de Chickamauga. 1890. 1 litogravura, color., 44,2 cm × 63,5 cm. Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, Washington, D.C.

Representação da batalha entre yankees e confederados em Chickamauga no ano de 1863 – a segunda batalha dessa guerra com o maior número de mortes

Nos Estados Unidos, desde a colonização, há diferenças estruturais entre o Sul e o Norte. Tais di-ferenças permaneceram mesmo após a Declaração de Independência (1776). Sobre esse contexto histórico, preencha o quadro a seguir.

organizando a história

Norte Sul

Tipo de colonização

Mão de obra predominante

Principal atividade econômica

Posição quanto à escravidão

Questão racial

Após o fim da Guerra de Secessão e com a intensa articulação política do presidente Lincoln, em 1865, foi promulgada a emenda constitucional que pôs fim à escravidão nos Estados Unidos.

Isso, porém, não significou o fim da discriminação racial no país. Muitos cidadãos, insa-tisfeitos com o fim da escravidão, se organizaram em grupos supremacistas brancos, ou seja, que defendiam a superioridade dos brancos em relação aos negros. Esses grupos atuavam de várias formas, inclusive por meio da violência.

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Uma das organizações fundadas sobre essas bases nos Estados Unidos é a Ku Klux Klan (KKK), que surgiu em 1865 e permanece atuante no país. No contexto estudado, a KKK pre-gava, além da segregação racial, o ideal nacionalista. Com o tempo, passaram a incluir reivin-dicações anticatólicas e antissemitas.

Nos Estados Unidos [...] as restrições impostas ao grupo negro, em geral, se mantêm, inde-pendentemente de condições pessoais como a instrução, a ocupação etc. Tanto a um negro portador de PhD (doutor em filosofia, título altamente respeitado naquele país) como a um operário, será vedado residir fora da área de segregação, recorrer a certos hospitais, frequentar certas casas de diversões, permanecer em certas salas de espera, em estações, aeroportos etc., utilizar-se de certos aposentos sanitários, fontes de água etc., ainda que varie de uma região para outra e, mesmo, de uma localidade para outra [...].

NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo Social, v. 19, n. 1, p. 293, 2007.

vedado: proibido.

Observe a obra a seguir, do artista estadunidense Hank Willis Thomas.

interpretando documentos

1 Sobre a história dos Estados Unidos, o que a obra de Hank Willis Thomas representa?

2 Além de África e América, qual outro continente está rela-cionado a essa conjuntura? Justifique a sua resposta.

3 Os grupos que pregavam a supremacia branca nos Estados Unidos conseguiram apagar as relações históricas e culturais representadas na obra de Hank Willis Thomas? Justifique a sua resposta.

THOMAS, Hank W. Um lugar para chamar de lar [África-América]. 2009. 1 alumínio polido, 203 cm × 167,5 cm. Coleção Paulo Vieira e José Luís Pereira, São Paulo.

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História

1 Uma importante política criada nos Estados Unidos no século XIX foi a Doutrina Monroe. Aponte os principais aspectos dessa política.

2 A obra a seguir representa a migração de indígenas nos Estados Unidos no século XIX, período da expansão territorial do país. Após analisá-la, responda às questões.

organizando a história

a) É possível afirmar que os indígenas representados na obra tiveram contato com o homem branco? Justifique sua resposta.

b) Para os povos indígenas dos Estados Unidos, quais foram as consequências da expansão para o Oeste?

3 Sobre a Guerra de Secessão (1861-1865) e suas consequências, marque a alternativa INCORRETA.

a) Colocou Norte e Sul dos Estados Unidos em lados opostos em razão da divergência sobre o futuro da escravidão no país.

b) Além das divergências sobre a escravidão, Norte e Sul tinham economias extremamente dife-rentes.

c) Com o fim dessa guerra e o término da escravidão, a questão racial nos Estados Unidos foi resolvida em definitivo.

d) Essa foi uma guerra de grandes proporções e fez um número altíssimo de vítimas para uma guerra civil.

e) Uma das causas dessa guerra foi a tentativa de estados escravistas de formar uma confedera-ção separatista quando Abraham Lincoln foi eleito.

BOISSEAU, Alfred. Indígenas da Louisiana andando ao longo de um rio pequeno. 1847. 1 óleo sobre tela, color., 72 cm × 113 cm. Museu de Arte de Nova Orleans, Nova Orleans.

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Manuel Oribe (1792-1857) é um exemplo de caudilho que se notabilizou na guerra de independência do atual Uruguai e foi presidente do país duas vezes (1835-1838 e 1843-1852). Em virtude de sua origem militar, foi retratado nessa obra segurando uma espada.

O Caudilhismo é caracterizado pela divisão do poder entre chefes de tendência local: os cau-dilhos. Estes líderes, geralmente de origem militar, oriundos, em sua grande maioria, da des-mobilização dos exércitos que combateram nas guerras de independência, de 1810 em diante, provinham, em certos casos, de estratos sociais inferiores ou de grupos étnicos discriminados (mestiços, índios, mulatos, negros).

BOBBIO, Norberto. Dicionário de política: vol. 1. Brasília: Editora da UNB, 1998. p. 156.

América Latina no século XIX

Os novos países latino-americanos, livres da dominação espanhola, vivenciaram uma sé-rie de transformações durante o século XIX. Foi um período de fortalecimento dos regimes políticos vigentes após os movimentos de independência. Muitos desafios estavam coloca-dos para essas nações.

O século XIX foi um período de conflitos e instabilidade na região. A busca por se firmar economicamente no novo contexto internacional e, ao mesmo tempo, por resolver questões internas, como a desigualdade social e os problemas políticos, era praticamente uma regra no continente. Para entender esse período, é necessário compreender a organização política dos países latino-americanos.

Caudilhismo na América Latina

Boa parte dos líderes políticos no contexto pós-independência da América Latina era formada pelos chamados caudilhos.

ROSÉ, Manuel. Quadro de Manuel Oribe, presidente do Uruguay. [ca. 1925]. 1 óleo sobre tela, color., 149 cm × 210 cm. Palácio Legislativo de Montevidéu.

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História

Principais características dos caudilhos:

Promoviam a si mesmos em vez de seus partidos ou grupos dos quais faziam parte.

Eram carismáticos, o que garantia parte de sua popularidade.

Muitos deles eram ligados ao meio agrícola e alguns eram latifundiários.

Tinham cargos ou influência política.

Transformações no México

Após o processo de independência, o México viveu ainda alguns anos sob um governo fortemente centralizado que apresentou dificuldades para promover o desenvolvimento do país.

Na segunda metade do século XIX, governos de cunho liberal foram forma-dos, possibilitando mudanças substan-ciais na economia local. Em 1876, com o estabelecimento do governo de Porfirio Díaz (1830-1915), o México vivenciou um processo de industrialização e moderni-zação intenso.

Ainda assim, como em outras nações da América Latina, o país não havia con-seguido promover justiça social e reduzir as desigualdades. Isso afetava de forma especial os mestiços, os indígenas e as pessoas menos favorecidas economica-mente, que não eram contemplados pe-las políticas de governo.

Além disso, embora Díaz tenha promo-vido mudanças econômicas importantes, do ponto de vista democrático, seu gover-no não teve um bom resultado. Ele agia de forma autoritária com seus oponentes e usava a repressão como arma política para se manter no poder.

PORFIRIO Díaz. [ca. 1910]. 1 fotografia, p&b.

Em razão do caráter autoritário de seu governo, o caudilho e general Porfirio Díaz governou o México por mais de 20 anos, deixando o cargo apenas quando foi deposto, no início da Revolução Mexicana, em 1911.

O governo de Porfirio Díaz alavancou o desenvolvimento econômico mexicano, mas não promoveu a igualdade social e a democracia. Portanto, apenas uma elite foi beneficiada com o desenvolvimento econômico alcançado. Com os colegas, debata os seguintes pontos:

Quais são os problemas desse tipo de governo?

Você conhece outros exemplos de governos que agiram dessa forma?

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MUNS, Manuel M. I. O plano do Tio Sam. 1896. 1 charge, p&b. Publicada na revista La Campana de Gracia, Barcelona.

A charge representa Tio Sam, personificação dos Estados Unidos, estendendo as mãos para apossar-se de Cuba; a legenda diz, em idioma catalão, “Protegendo a ilha para que não se perca”

O dilema de Cuba

Cuba é um exemplo de nação da América Latina que viveu uma série de instabilidades políticas ao longo do século XIX. Diferentemente de outras nações do continente, que conso-lidaram suas independências na primeira metade do XIX, Cuba viveu indefinições ao longo de todo esse período, alcançando a independência apenas em 1898.

Em 1895, houve uma tentati-va de promover a independência plena do país, liderada por José Martí (1853-1895). O movimento, influenciado por ideias de outros líderes revolucionários do conti-nente, foi derrotado em 1898.

No mesmo ano, um fato mudou mais uma vez a história de Cuba: a explosão do navio estadunidense USS Maine, que matou 260 mari-nheiros apoiadores das forças cuba-nas contra a Espanha. As autorida-des estadunidenses acusaram a Espanha de ser responsável pelo in-cidente e declararam guerra ao país, que abriu mão de seu poder sobre Cuba para evitar conflitos. Na práti-ca, os Estados Unidos já dominavam as importações e exportações cuba-nas e influenciavam a política local.

Apoiados por um dispositivo legal inserido na Constituição cubana, chamado de Emenda Platt, os Estados Unidos adquiriram o direito de intervir no país sempre que houvesse algu-ma ameaça a seus interesses econômicos. Esse artigo transformava a ilha em uma espécie de protetorado estadunidense. A emenda vigorou até o golpe de Fulgencio Batista, em 1933.

NAVIO USS Maine. [ca. 1897]. 1 fotografia, p&b. Biblioteca Nacional do Congresso dos Estados Unidos, Washington, D.C.

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História

Essa missão divina levou protestantes evangélicos a promoverem um Imperialismo ba-seado na “retidão moral”, isto é, que os norte-americanos lidera-riam, não só pelo exemplo remoto, mas também pela presença física entre raças ainda não remidas do pecado.

KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p. 170.

Colonialismo Imperialismo

Período Séculos e XV Séculos XIX e

Outra denominação Expansionismo

Revolução econômica europeia do período

Comercial

Países pioneiros Portugal e e França

Interesses europeus• Metais

• tropicais

• Matérias-primas

• consumidores

Continentes dominados

América

• Oceania

Imperialismo estadunidense na América Latina

Como vimos anteriormente, a Doutrina Monroe construiu a ideia de uma América para os americanos, mas o que ocorreu de fato foi a substituição do domínio europeu pelo esta-dunidense na América Latina.

Essa doutrina, aliada ao ideal de Destino Manifesto, foi fundamental para a constituição do Imperialismo estadunidense no final do século XIX. É importante lembrar que esse ideal envolvia elementos religiosos, construídos desde o período da colonização e da Reforma Protestante.

O Destino Manifesto era, para os estadunidenses, uma missão divina. Não se tratava apenas de lucrar economicamente. Por trás dos planos imperialistas dos Estados Unidos, havia a crença genuína de que eles eram o povo predestinado a guiar a humanidade para um lugar melhor.

retidão: qualidade do que é correto.

remidas: que foram perdoadas.

Complete o quadro a seguir com as principais características do Colonialismo e do Imperialismo.

organizando a história

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Por meio de políticas diversas, os Estados Unidos ampliaram sua influência por todo o continente e exploraram economicamente as nações vizinhas. O país atuava no México para obter petróleo; no Chile, em busca de cobre; e assim por diante. Em alguns casos, a influência se tornou ocupação territorial, como em Cuba.

No Panamá, os Estados Unidos interferiram na construção do Canal do Panamá, obra iniciada pelos franceses em 1880 e continuada pelos estadunidenses em 1904. A obra era de interesse dos Estados Unidos porque traria facilidade de acesso entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

No mundo todo, o final do século XIX foi marcado por conflitos e grandes transformações econômicas. Os países da América consolidavam seus regimes políticos e mudanças sociais importantes aconteciam nesse pe-ríodo. No Brasil, as transformações podiam ser percebi-das nas manifestações culturais.

Um dos gêneros musicais mais próprios do Brasil surgiu nesse momento: o choro, popularmente cha-mado de chorinho. Com influência de ritmos africanos e afro-brasileiros, como o samba, o choro é executado com violão, cavaquinho e flauta. Mesclando as temáti-cas populares com técnicas de composição eruditas, o choro ganhou as ruas do Rio de Janeiro no final do XIX, animando espaços públicos, a exemplo de cafés e bares.

A compositora, pianista e maestrina brasileira Fran-cisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chi-quinha Gonzaga (1847-1935), foi a primeira musicista a compor e executar o choro no piano. Neta de uma escra-vizada liberta, Chiquinha Gonzaga foi autora de mais de duas mil músicas em gêneros variados, como valsa, polca, maxixe, marcha de carnaval e lundu, além do choro. Sua composição mais famosa, de 1899, foi a marcha carnavalesca Ó abre alas.

outras histórias

CHIQUINHA Gonzaga aos 18 anos. 1865. 1 fotografia, p&b.g

Foi uma das pioneiras na música brasileira, desafiando padrões da época em uma sociedade patriarcal que limitava a liberdade das mulheres.

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1 Em relação à história dos Estados Unidos no século XIX, explique por que a frase “A América para os americanos” foi utilizada como lema da Doutrina Monroe.

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História

2 Marque as alternativas corretas a respeito do processo de expansão territorial dos Estados Unidos no século XIX, conhecido como a corrida para o Oeste.

( ) Os estadunidenses envolvidos nesse processo desejavam promover a justiça social entre os grupos indígenas da região.

( ) Um dos fatores decisivos para essa expansão foi a propagação da teoria do Destino Manifesto.

( ) As possibilidades de uma vida melhor no Oeste estimularam diversas pessoas a enfrentar esse desafio.

( ) A expansão para o Oeste foi bem sucedida, pois as condições locais garantiram riqueza e pros-peridade para todos.

( ) O governo dos Estados Unidos buscou meios legais para que os indígenas fossem removidos de suas terras e não atrapalhassem os planos de expansão.

3 Um acontecimento decisivo na história dos Estados Unidos foi a Guerra de Secessão (1861-1865). Sobre esse evento, marque a alternativa INCORRETA e a reescreva para que fique correta.

a) Um dos principais motivos do conflito foi a diferença econômica e social entre as regiões Norte e Sul dos Estados Unidos no período.

b) Quando Abraham Lincoln venceu as eleições, os estados do Sul, defensores da manutenção da escravidão, formaram uma aliança separatista contra o governo chamada de Estados Confede-rados da América, fato que propiciou a eclosão do conflito.

c) Uma das medidas do governo Lincoln para retaliar os confederados foi criar barreiras no es-coamento da produção dos estados sulistas, o que incluía o fechamento de portos e tornou o conflito armado inevitável.

d) A escravidão não fez parte dos motivos da Guerra de Secessão.

e) No contexto da Guerra de Secessão, a região Norte dos Estados Unidos apresentava uma eco-nomia mais industrializada que a do Sul, que era agrária e baseada no latifúndio.

4 Um conceito importante para a política na América Latina do século XIX foi o Caudilhismo. Explique--o apontando suas principais características.

5 Sobre o contexto político da América Latina no século XIX, marque V para as afirmativas verdadei-ras e F para as falsas.

( ) Uma das marcas desse período foi a consolidação política das nações e a tentativa de moderni-zar sua economia, como no caso do México com Porfirio Díaz.

( ) Embora houvesse um clima de transformações em razão dos processos de independência, a ideia de liberdade e democracia ainda não estava totalmente consolidada nesse período.

( ) A América Latina se desenvolveu sem qualquer tipo de interferência externa, já que os Estados Unidos haviam adotado uma política de não influenciar as nações do continente.

( ) Algumas nações passaram por grandes instabilidades e conflitos nesse período, buscando ain-da a independência, como no caso de Cuba.

( ) Parte do desenvolvimento da América Latina se deve à forma democrática e impessoal pela qual os caudilhos exerciam o poder.

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6 Aponte as principais características da política imperialista dos Estados Unidos no século XIX.

7 Sobre a Ku Klux Klan, leia este trecho:

A expressão Ku Klux Klan deriva do grego kuklos (círculo ou bando) e do escocês klan (clã, com o sentido de ancestralidade). Ku Klux Klan, ou simplesmente KKK, é o nome de uma orga-nização racista que criou raízes nos Estados Unidos, expandiu-se para a Europa e, ainda hoje, sobrevive, alimentada pelo crescimento de grupos de extrema direita. O caso da KKK é um bom exemplo de que racistas fanáticos não são personagens exclusivos de Estados totalitários nem de um passado longínquo. A violência sem limites em que desemboca o racismo é uma mani-festação de indivíduos que ignoram o diálogo, a ética e a dignidade humana e pode surgir como uma doença maligna, mesmo em sociedades consideradas democráticas.

CARNEIRO, Maria L. T. In: PINSKY, Carla B.; PINSKY, Jaime (Org.). Faces do fanatismo. São Paulo: Contexto, 2004. p. 78.

De acordo com o texto e com os seus estudos, analise as afirmativas.

I. A criação da KKK foi uma das consequências da Guerra de Secessão. Os negros, recém-libertos, sofreram perseguições de grupos radicais inconformados com o fim da escravidão.

II. Segundo o texto, a KKK é um exemplo único na História Ocidental de um grupo criado para perseguições a determinados grupos em uma mesma sociedade.

III. A posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 2009, comprovou que a discriminação racial já está completamente superada nos Estados Unidos.

Está(ão) correta(s):

a) Todas as afirmativas.

b) Nenhuma das afirmativas.

c) Apenas a afirmativa III.

d) Apenas as afirmativas I e II.

e) Apenas a afirmativa I.

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