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ESQUI E TUTUGA EM: AS LOUCAS AVENTURAS NO BAÚ DO L.E.S.M.A. (O Livro Encantado Sagrado Mágico e Antigo) EVANDRO SROCHA 1

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ESQUI E TUTUGA EM:

AS LOUCAS AVENTURAS NO BAÚ DO

L.E.S.M.A.

(O Livro Encantado Sagrado Mágico e Antigo)

EVANDRO SROCHA

MAIO/ 20161

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PERSONAGENS

ESQUI – AMIGA DE TUTUGA

TUTUGA – AMIGA DE ESQUI

MADANE LESMINA (SENHORA LETA) – LESMA BRUXA

RAMUJO - SECRETÁRIO DE MADAME LESMINA*

*TUTUGO – IRMÃO DESAPARECIDO DE TUTUGA

SRº PREGUI – GUARDIÃO DA ALDEIA

CACACO – PIRATA

RATATO – RATO SERVO DO CACACO

GATATO – GATO SERVO DO CACACO

PALHAÇO FIGURINHA - APRESENTADOR

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LOCAL: ALDEIA DE ESOPO; ÉPOCA: EM ALGUM LUGAR NO TEMPO

As cortinas se abrem e um cenário imitando uma pequena floresta se apresenta. Diante de um

baú. O baú que antes guardava o grande L.E.S.M.A., duas criaturas discute. São Esqui e

Tutuga. Começa mais uma aventura desastrosa dessas duas fofas.

Entra Palhaço Figurinha.

Olá queridos pequenos, pequenas, grandes e grandões. Eu sou o Palhaço Figurinha e estou

aqui para apresentar mais uma história de nossas queridas, Esqui e Tutuga. As mais fofinhas

criaturas que já vi.

Depois de quase fazer a aldeia inteira onde vivem, perder o benefício que o Mestre Esopo

proporcionou, de falar, andar, comer e agir como se humanos fossem, elas agora vão entrar

em novas encrencas e vão embarcar numa nova aventura no mundo obscuro do baú do

L.E.S.M.A. arg!

Calma, calma, não precisam ter nojo. O L.E.S.M.A. nada mais é que o grande livro que o

Mestre Esopo criou para que nossas amiguinhas e muitos outros animais da floresta vivam em

uma comunidade quase humana. O L.E.S.M.A. – Livro Encantado Sagrado Mágico e Antigo,

desta vez está a salvo, mas nossas amiguinhas...

Ah, mas eu já falei demais, vamos à história.

Sejam bem vindos a ESQUI E TUTUGA EM: AS AVENTURAS NO BAÚ DO L.E.S.M.A.

Sai o Palhaço Figurinha. A luz apaga e quando acende, nossas amiguinhas estão diante do baú

do L.E.S.M.A.)

ESQUI – Ah, não acredito que você vai começar com essa história outra vez.

TUTUGA – É, mas da outra vez quase fomos responsáveis pelo fim da aldeia. Você e sua

teimosia quase nos faz virar simples animais outra vez.

ESQUI – Ih garota, isso já passou. Foi um acidente e conseguimos resolver tudo. Agora temos

o baú do L.E.S.M.A. só pra gente. Agora que o Srº Coru resolveu guardar ele próprio o Livro

Encantado Sagrado Mágico e Antigo, nós podemos brincar a vontade com esse bauzinho

lindo.3

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TUTUGA – Ai, ai, ai não sei não. Eles disseram para mesmo assim ficarmos longe do baú e

longe de encrencas Esqui. E depois a senhora joga tudo nas minhas costas e tira o corpo fora.

ESQUI – Eu! Mas que calúnia. Achei que você fosse minha amiga.

TUTUGA – Mas você é muito cara de pau.

ESQUI – Ah, também te amo. (abraça e beija Tutuga)

TUTUGA – tá, tá, tá bom. Agora para de me agarrar.

ESQUI – Vamos abrir então?

TUTUGA – Tá bom sua chata. Vamos.

As duas se aproximam do baú. Esqui está muito ansiosa, enquanto Tutuga, com as pernas

trêmulas, demonstra muito medo.

ESQUI – Vamos lá. 1,2, 3 e já!

Quando a tampa se abre. Esqui sai correndo e se esconde deixando Tutuga sozinha segurando

a tampa. Tutuga, de olhos fechados nem percebe a esperteza de Esqui. Até que ouve a sua

voz, distante do baú.

ESQUI – Então Tutuga, o que tem aí dentro?

TUTUGA – (ainda de olhos fechados, mas desconfiada) – Como assim aí dentro? Você não tá

vendo também? – (Tutuga abre os olhos).

ESQUI – Daqui não consigo ver nada. (Rindo e debochando de Tutuga)

TUTUGA – Ah, sua covarde. Você teve coragem de me deixar abrir sozinha o baú?

ESQUI – Não amiga. Eu abri junto com você. Mas... Você não viu?

TUTUGA – Viu o que Esqui. Vi nada não!

ESQUI – A luz amiga.

TUTUGA – Que luz? Vi luz nenhuma. Até porque estava de olhos fechados.

ESQUI – Viu só. Você que é covarde. Estava com os olhos fechados. E se eu queimasse os

olhos? 4

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TUTUGA – “Mui amiga sempre”. “Né” Esqui?

ESQUI – Já falei que te amo?

TUTUGA – Falsa!

ESQUI – Ah, vamos lá. O que tem aí dentro?

TUTUGA – Já falei, não tem mais nada aí dentro.

Ouve-se barulho e galhos quebrando. Alguém se aproxima.

ESQUI – Ih, vem vindo alguém.

TUTUGA – E se for o Srº Rapo novamente?

ESQUI – Sua tonta esqueceu que o Srº Rapo está com o Mestre Esopo sendo curado das

maldades que ele cometeu.

TUTUGA – Então pode ser o “Monstro da Floresta”.

ESQUI – Quem?

TUTUGA – “O Monstro da Floresta”. O meu pai dizia que...

ESQUI – Meu pai dizia blá, blá, blá... Ah, vai começar com as historinhas de criança!

O barulho dos galhos quebrando fica mais perto e um som estranho ecoa como se estivesse

saindo da boca de uma fera. Esqui pula de medo. As duas se apavoram e entram no baú. Com

a tampa entreaberta eles ficam espiando quem vai chegar.

TUTUGA – Ah, ficou com medo é Esqui.

ESQUI – Medo nada. Foi impulso.

TUTUGA – Ah, tá. Sei. Impulso. Medrosa.

ESQUI – Eu não sou medrosa não. Apenas precavida. E fica quieta senão o monstro, quer

dizer, a criatura, ou seja, lá o que for, nos perceba aqui.

TUTUGA – Veja uma sombra.

ESQUI – AH!

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A tampa do baú se fecha e entra o Srº Pregui carregando um caixote na cabeça e tossindo.

SRº PREGUI – Ora, eu juro que ouvi vozes. E veio do baú. Devem ser aquelas encrenqueiras.

O baú emitiu uma luz muito forte que logo se apaga. O Srº Pregui se aproxima ao apagar a luz

e abre o baú. Dentro, encontra apenas um grampo e um óculos no fundo.

SRº PREGUI – Não disse. Aquelas pestinhas lindas do coração estiveram aqui. Mas

esqueceram dessas coisas no baú. Devem ter corrido de medo do “Super Pregui” e se

esconderam em suas casas. Vou levar e entregar a elas. Mas antes vou falar com os pais que

tenham mais cuidado com os filhos e não deixem mais eles brincarem com o baú do

L.E.S.M.A.

Srº Pregui sai. As luzes se apagam. Um grande estrondo. Uma luz forte surge novamente e as

duas criaturinhas estão deitadas no palco. O cenário é mais rico em detalhes como uma

floresta que tem árvores feitas de cadeiras, estrelas penduradas ao mesmo tempo em que o

Sol. A Lua fica no chão. E outras coisas que possam surgir da imaginação.

Elas acordam.

TUTUGA – Nossa, que cheiro de pipi. Ei Esqui, você fez xixi na cama outra vez.

ESQUI – Para com isso. Que mania de dizer que eu faço xixi na cama.

TUTUGA – Mas você está toda molhada amiga.

ESQUI – Não sou eu que estou molhada, é o chão que está molhado. Ei, nós não estamos em

nossas camas. E que lugar é esse?

TUTUGA – Sei lá!

ESQUI – Ah, isso é coisa dos anciões. Estão fazendo isso pra assustar a gente.

Esqui vai andando em direção à plateia. Tutuga segura-a e puxa ela para trás.

TUTUGA – Ei Esqui, sua doida. Pra onde você tá indo?

ESQUI – Ora, estou indo pra casa. Isso deve ser um truque daquele velho barbudo.

TUTUGA – Você estava indo é pro precipício sua maluca. E para de ficar falando assim do

Srº Esopo. Vai que ele escuta e tira sua voz outra vez.

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ESQUI – Ih, Tutuga. Você sempre com esse medo e essa mania de certinha.

TUTUGA – Acho melhor a gente ir procurar alguém pra dizer onde estamos e acharmos um

meio de voltar pra casa. Já está escurecendo e estou ficando com medo mesmo.

ESQUI – Tá bom. Vamos procurar por aí. Mas, ainda acho que é tudo palhaçada daquele

povo velho da aldeia.

As duas seguem em direção às coxias procurando alguém pelo caminho e saem de cena.

O cenário muda e entram os piratas. O senhor Cacaco (macaco), Ratato (rato) e Gatato

(gato). Eles estão em um navio atracado em terra firme. No mundo onde estão não existe

Mares nem Oceanos.

CACACO – Vamos homens. Quer dizer, vamos criaturas da terra do amendoim. Joguem a

ancora. Estamos em terra firme. Vamos procurar comida e escravos pra prosseguirmos a

viagem.

RATATO – (Puxando o rabo de Gatato) – Mas capitão, nós já estamos em terra firme a mais

de um ano. Aqui não tem mar. E não entendi “criaturas da terra do amendoim”.

GATATO – Eu também não entendi. (Puxando o rabo da mão de Ratato). Eu sou da terra dos

mais charmosos e sedutores (faz uma firula) animais do Universo. Sou da terra da gataiada.

Terra do amendoim? Nunca ouvi falar!

CACACO – Claro que nenhum de vocês entendeu. Têm cérebro de amendoim, seus

ignorantes.

RATATO E GATATO – Continuo não entendendo.

CACACO – Cérebro de amendoim! Terra do amendoim!

Os dois se entreolham com cara de desentendidos.

OS DOIS – Ah, agora sim!

CACACO – Até que enfim. Acho que vocês estão evoluindo. Entenderam “antão”!

OS DOIS – Entendemos o que?

O capitão se desespera e grita.

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CACACO – (Incisivo) Eu quis dizer que “VOCÊS TÊM CEREBROS DE AMENDOIM!”.

Que vocês são umas toupeiras, umas antas, umas pacas. Um bando de burros.

GATATO – Ih, acho que o chefe tá pirado. Sou nenhum desses bichos aí não. Eu sou o felino

mais bonito de todos. O gato!

RATATO – Isso mesmo chefe. Tá doidão? Eu sou um elegante e forte roedor. Sou um

estonteante “RATO”. O mais inteligente dos animais.

CACATO – (Com cara de tédio) – Desisto! Vamos, vamos logo pra terra achar o que comer

que eu estou com muita fome. E vejam se encontram uns escravos para lavar esse barco. Isso

aqui tá um fedor só. Se ao menos vocês limpassem.

RATATO – Eu sempre falo isso pro Gatato, mas ele é porco que só.

GATATO – Porco é você. Já disse que sou um gato. Não me confunda. E quem tem que

limpar tudo é você. Afinal, na cadeia alimentar, eu sou o maioral aqui.

RATATO – Ui, ele ficou bravo. Ai, eu sou um gato limpo e cheiroso. Eu sou um gatinho

limpinho. E vive “mijando” no piso do navio.

Os dois começam uma confusão desmedida. O Capitão expulsa a todos do navio.

CACACO – Saiam daqui seus patifes. Vão pra terra e me tragam comida e escravos antes que

eu coma vocês!

RATATO – Mas Capitão, se o senhor me comer, não vai poder me fazer mais de escravo. E

aqui nessa terra não tem antiácido. O senhor vai passar muito mal. Minha carne é muito ruim.

Mas o senhor pode comer o Gatato. Ele tá até bem gordinho. (Aponta para a barriga de

Gatato)

GATATO – Ei, que papo é esse. Acredita nele não chefe. E não esqueça que matar gato dá

sete anos de azar. Rato pode comer. Não servem pra nada! E como ele é pequeno, pode até

engolir ele inteiro e vivinho.

RATATO - Ih, mas que burro! Dá zero pra ele chefe! Engolir-me inteiro e vivinho! Só se for

pra limpar as lombrigas da sua barriga, chefe.

Os três caem na gargalhada enquanto o Capitão, com uma vassoura, vai batendo em todos e

jogando-os para fora do navio.8

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SOU PIRATA

Sou um pirata do outro mundo

Eu sou malvado e perigoso

Eu amedronto e aprisiono

Ainda por cima eu sou charmoso

No meu navio sou eu que mando

Mando lavar, mando passar.

Mas meus piratas não obedecem

São retardados, burros de matar.

Mas o que eu posso fazer

Em mundo que não tem mar

O meu navio tão feio e tão sujo

Aqui nesse mundo, não vai navegar.

Fico tão triste e desanimado

Penso até em desistir

Mas minha alma é de pirata

Dá muita força pra resistir

Eu só queria um pouco de água9

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Pra nos levar para outros lugares

E que eu pudesse ter a bordo

Tripulação para sangrar os mares

Mas eu só tenho duas marmotas

Que se acham piratas valentes

Mas que na verdade são idiotas

E ainda acham que podem ser gente

Fico tão triste e desanimado

Penso até em desistir

Mas minha alma é de pirata

Dá muita força pra resistir

O Gato Gatato é retardado

O Rato Ratato desmiolado

Além de tudo, desajeitados.

Batem cabeça pra todo lado

Mas sou pirata, sou o capitão.

E hei de um dia virar esse jogo

E qualquer dia eu fico louco 10

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E nesse navio vou tocar fogo

Homem ao mar!

O Capitão Cacaco sai do navio. A luz apaga e no meio do palco, a bruxa e seu assistente

prepara ema poção mágica.

MADAME LESMINA – (Risos de bruxa) – desta vez eu vou conseguir. Tenho quase todos os

ingredientes para me tornar uma bela borboleta novamente. Serei a mais bela criatura do

reino.

RAMUJO – Mas Madame Lesmina, o bicho que vira borboleta é a lagarta. A senhora é uma

lesma.

MADAME LESMINA – (Após ruborizar) Mas quem ti perguntou alguma coisa, imprestável?

Eu sou quase uma lagarta. Sou comprida. Com gominhos e ainda rastejo.

RAMUJO – Mas solta uma gosminha...

MADAME LESMINA – (Furiosa) – Cala a boca, lesma dos inferno! Eu não sei onde estava

com a cabeça quando aceitei você como meu assistente. Nem mesmo os ingredientes pra

minha poção você encontra. Estrupício!

RAMUJO – (ajoelhando) Desculpas minha adorável e magnânima Rainha das Rainhas.

MADAME LESMINA – Tá desculpado. Mas da próxima vira ingrediente de magia.

RAMUJO – (amedrontado) Faz isso comigo não. Sua poção vai ficar igual galinha com

quiabo. Com uma gosminha...

MADAME LESMINA – Ah, que nojo! Cala essa boca lesma!

RAMUJO – Lesma não, Caramujo. Eu sou um caramujo. Magoei.

MADAME LESMINA – Caramujo o “escambal”. Você não passa de uma lesma horrível em

uma “casa” monstruosa.

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RAMUJO – (chorando e ofendido) você diz isso porque perdeu sua casa. Isso não passa de

inveja sua. E como eu posso ser uma lesma igual a você se tenho pernas.

MADAME LESMINA – (furiosa) O que? Você? Você não sua lesma gosmenta e retardada. É

senhora entendeu. Senhora, Doutora, Dona, Rainha, Rainha das Rainhas, Madame Lesmina!

Quem te deu autorização para me chamar de “você”! Ficou louco! (Com violência, arranca a

“casa” de Ramujo).

RAMUJO – (suplicando) – Me devolve minha casinha Madame Lesmina, pela magia de

Esopo. Eu prometo que não vai acontecer de novo. É que a senhora fica me bulinando. Fica

me humilhando. Aí eu fico nervoso e perco as estribeiras. Me perdoa vai. Eu não aguento

ficar sem minha casinha. Vou morrer de frio.

MADAME LESMINA – Vai morrer nada. Para de drama. Eu vou devolver, mas vai ficar de

castigo um tempo para não esquecer que tem que me respeitar. E se ficar me perturbando eu

jogo essa casa horrível no caldeirão.

RAMUJO – Não faz isso não Madame Lesmina. A magnânima! Eu te imploro. Eu prometo

que consigo o último ingrediente da poção. Vou procurar em todos os cantos desse mundo.

Mas, me devolve minha casinha.

MADAME LESMINA – Não vou devolver nada. (ameaça jogar no caldeirão)

RAMUJO – Não! Tá bem, eu paro de pedir. Mas não joga no caldeirão, não! Por Esopo!

MADAME LESMINA – (debochando) Por Esopo! Por Esopo! Para de ficar chamando o

nome daquele velho maluco. Esqueceu que foi ele que me colocou aqui. Ele me expulsou do

nosso mundo e jogou aqui nesse mundo de malucos. Ele nos abandonou aqui. Ainda disse que

seria um pouquinho só. Só até a gente se regenerar. E cadê ele, hein?

RAMUJO – Mas eu acredito que ele vai voltar sim. Mas ele só vai perdoar se a gente fizer

boas ações. Assim, a senhora vai ficar aqui. Continua com suas maldades.

MADAME LESMINA – Me desrespeitando outra vez seu vermezinho. (fazendo-se de santa)

Mas eu estou tão mudada. Estou tão boazinha. Você é mesmo um ingrato. Eu te dei proteção.

Um lar. Comida e roupa lavada. E é assim que você me trata? Seu ingrato. Eu fui quase uma

mão pra você. Apesar de você ser feio pra danar. Eu aceitei você como um filho.

RAMUJO – (se desculpando) Perdão, não foi isso que eu quis dizer. Perdoa-me.12

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MADAME LESMINA – (levantando a cabeça com ar senil) Você é mesmo um bestinha né?

Quer saber?

Neste momento Madame Lesmina levanta a casinha de Ramujo sobre sua cabeça e joga

dentro do caldeirão.

RAMUJO – (tenta salvar a casinha, mas é impedido pela bruxa) – Não, minha casinha.

Porque a senhora fez isso de novo? E depois ainda quer ser perdoada. (chora

compulsivamente).

MADAME LESMINA (indiferente) – Levante-se daí seu monstrinho. Vá agora para a floresta

e encontre meu último ingrediente. Traga-o até a mim. Quando estiver em minhas mãos, te

darei uma casinha novinha. Por enquanto, fique assim mesmo, como uma lesma, assim como

eu, sem casa. Vá!

Ramujo tenta argumentar, mas é empurrado violentamente pela bruxa. Ele vai para floresta

ainda em soluços.

MADAME LESMINA – Assim que este imprestável vier com meu ingrediente, terminarei

minha poção e ficarei linda. Serei uma borboleta. A mais brilhante. A mais formosa. E voarei

até o meu verdadeiro mundo. Com a poção, poderei também abrir um novo portal. E vou me

vingar de todos que me jogaram aqui.

Risos de bruxa e Madame Lesmina continua a mexer o caldeirão.

MÚSICA MADAME LESMINA

Eu era uma linda criatura

Tinha asas e cores magnificas

Voava a qualquer altura

E pousava nas árvores frutíferas

Sempre fui boa menina

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E na floresta vivia a ajudar

Buscava água na mina

Para a sede d’aldeia aplacar

Com minha dança distraia

As crianças de nossa aldeia

E com minhas asas eu batia

Para acender o fogo da ceia

Num dia escuro, uma criança sumiu.

Eu fui acusada, mas juro não fui eu.

Não quiseram saber, minha vida ruiu.

E então o veredicto assim se deu

Fui acusada injustamente

E logo veio minha sentença

Tentei agir corretamente

Mas pediram minha cabeça

Então tomada de um ódio insano

Para não ser encarcerada

De minhas asas fiz um abano

E fiz da aldeia incendiada14

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Foi aí que veio o Mestre Esopo

E sem saber toda história

Considerou apenas o fogo

Isso não sai da minha memória

Me expulsou pra este mundo

Me transformou nesta aberração

No poço, eu fui ao fundo.

Eu não tive salvação

De borboleta, bela e gentil.

Me transformei em um ser vil

E esta está sendo, a minha sina.

Eu sou agora, a Madame Lesmina

Estudei muito neste lugar

E me tornei a própria maldade

Sou uma bruxa de verdade

E uma poção, vou preparar.

Só me falta um ingrediente

Uma casa de tartaruga

Quando encontrar, ficarei contente.15

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Não vai me restar nenhuma ruga

De borboleta, bela e gentil.

Transformei-me em um ser vil

E esta está sendo, a minha sina.

Eu sou agora, Madame Lesmina.

Serei de novo a onipresente

De uma beleza que arrebenta

Não serei mais a lesma deprimente

Voltarei a ser uma borboleta.

Sai de cena com sua risada habitual. Na floresta, Cacaco, Ratato e Gatato estão à procura de

escravos. Esqui e Tutuga estão procurando uma saída e Ramujo tenta encontrar uma casa de

tartaruga.

ESQUI – sentada em uma pedra – Andamos pra caramba e não achamos a saída. Estou

começando a achar que não é uma brincadeira daqueles velhos chatos da aldeia.

TUTUGA – Esqui, Esqui, você sempre desrespeitando os anciãos né. É por isso que você vive

me metendo nessas enrascadas.

ESQUI – mui amiga você né, Tutuga. Eu aqui com meus pezinhos em carne viva e você me

acusando e me criticando como sempre faz.

TUTUGA – Pezinhos... (rindo) você com a mania de querer ser gente. Você não tem pé

amiga, tem patas.

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ESQUI – Ah, falou a professora de anatomia. Sai pra lá sua louca, eu tenho pés. Se você quer

ter patas, é problema seu.

Rata e Gatato estão de tocaia atrás dos arbustos. Eles combinam a maneira de aliciar as duas e

leva-las ao navio para serem escravas de Cacaco.

RATATO – Olha Gatato, hoje é nosso dia de sorte. Duas criaturas indefesas. Já temos duas

escravas pra levar pro chefe.

GATATO – Isso mesmo. Já estou até vendo a cara do chefe quando a gente chegar lá com

duas escravas. Gente pra lavar, passar, cozinhar...

RATATO – Isso mesmo. Vamos até ganhar um prêmio do chefe.

GATATO – É mesmo. Vai que ele me dá um ratinho assado com batatas.

RATATO – (Bate na cabeça de Gatato) – Oh, que mané rato assado! Tá maluco?

GATATO – De... Desculpe amigo. Força do hábito. Cadeia alimentar, saca?

RATATO – Saco nada não. Ó! (aponta os dois dedos no olho de Gatato)

GATATO – Ih, esquece, foi mal. Escuta. E como vamos fazer pra leva-las para o navio?

RATATO – Igual nós fazemos quando estamos com fome.

GATATO – Cara, aí fica difícil. Nós ficamos com fome sempre.

RATATO – Oh, idiota! Tá bom. Quando a gente vai à caça. Vamos atacar.

GATATO – (segurando Ratato pelo braço) – Não, assim não seu burro. Eles podem fugir e a

gente nunca mais encontra-las.

RATATO – E como você pretende fazer, gênio?

GATATO – Vamos chegar fingindo ser amigos e bonzinhos. A gente as engana, promete

brinquedos, tablets e outras coisas legais. Daí, levamos elas pro navio e vamos ser para

sempre bem tratados pelo chefe.

RATATO – É, até que você não é burro não. Mas, o que é um tablet?

GATATO – Sei lá, eu vi esse nome no meu face e achei legal.

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RATATO – Curti (risos) Mas e o que é um face?

GATATO – Sei lá! (risos)

Esqui e Tutuga uma movimentação do outro lado. Entram Ratato e Gatato. Elas esboçam uma

correria, mas Gatato, com seu plano, faz com que elas os dê atenção.

GATATO – Calma, não precisa ter medo. Somos amigos.

RATATO – É, somos de paz.

AS DUAS JUNTAS – (assustadas) – que, que, quem são vocês?

RATATO – Eu sou Ratato, a sua disposição.

GATATO – E eu sou Gatato. O Animal mais bonito, forte e sedutor de todo esse mund...

RATATO – Ah, para com essa porcaria. Você é um gato feio e fraco.

GATATO – Olha quem fala. Gigante (pilhéria).

RATATO – Me respeita hein!

GATATO – Me respeita você seu rato!

Os dois caem numa discussão. Esqui e Tutuga percebem que Ratato e Gatato são grandes

idiotas e perdem o medo. Esqui então começa a questionar ambos.

ESQUI – “Peraí”, quem são vocês mesmo?

RATATO – Eu sou Ratato. O ratinho mais legal que vocês já viram.

GATATO – E eu sou o Gatato. O Gato mais...

ESQUI – Tá, tá, essa parte eu entendi.

TUTUGA – E o que vocês estão fazendo aqui?

RATATO – (falando rápido) É que a gente vinha pela floresta e vimos vocês duas sentadas aí.

E como estamos à procura de escravos para nosso navio, vamos pegar vocês.18

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ESQUI – (assustada) o que?

GATATO – (dá um tapa na cabeça de Ratato) Nada disso. Essa rato é um rato de circo. Vive

de brincadeiras. Nós somos donos de um belo navio. Lá abrigamos criaturinhas lindas e

perdidas como vocês.

RATATO – Isso, isso, isso! Lá tem um monte de brinquedos, tablets, face... Isso tudo aí. (para

Gatato) Vamos pegar logo elas a força mesmo e levar pro navio.

GATATO – (para Ratato, mas as duas ouvem tudo que os dois falam) Calma, sei o que estou

fazendo. Olha e aprende.

Percebendo a armação dos dois capangas do pirata, Esqui bola um plano para fugirem de suas

garras. Gatato se dirige a ela, quando Esqui toma a rédea da conversa.

ESQUI – (piscando para Tutuga, continua) – É que eu fiquei confusa. Como vocês sabem

quem é quem, se seus nomes são tão parecidos. E se você Gatato, for na verdade o Ratato e o

Ratato for na verdade você, Gatato?

AMBOS – (confusos) Hein?

ESQUI – Vou explicar melhor. Quando você, Gatato, me disse que era o Gatato, eu não fiquei

bem certa disso, não. Sabe por quê?

AMBOS – (mais confusos ainda) – Não, por quê?

ESQUI – porque o Ratato, quando disse que era o Ratato, na verdade queria dizer que era

Gatato, não foi isso Tutuga?

TUTUGA – Oi?

Esqui olha para Tutuga sem acreditar que a mesma não havia percebido que ela estava

enrolando os “enrolados”. Até que Tutuga entende e entra na onda.

ESQUI – Não é Tutuga?

TUTUGA – É isso mesmo. Eu também estou tontinha aqui. Eu olho pro Ratato e vejo o

Gatato e olho pro Gatato e vejo o Ratato. Vocês estão confusos sobre os nomes de vocês e

estão nos confundindo.

Os dois se olham com cara de idiotas e começas a se questionar.19

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RATATO – Sabe que eu nunca tinha pensado nisso.

GATATO – Eu também não.

RATATO – Então a gente tá se chamando errado o tempo todo e nem tinha se dado conta

disso.

GATATO – É mesmo. Então vamos resolver isso. Eu não quero ficar sendo você sendo eu. E

nem quero que você fique sendo eu sendo você.

RATATO – Então a partir de hoje eu sou quem?

GATATO – A partir de hoje você passa a ser você e eu passo a ser eu.

RATATO – Não seu idiota, é ao contrário. Você passa a ser eu e eu passo a ser você.

Enquanto eu passo a ser eu e você sendo eu passa a ser você.

Enquanto os dois idiotas discutem quem “serão”, as duas de ponta de pés somem floresta

adentro. Quando os dois percebem já é tarde demais.

GATATO – Viu seu gato idiota elas fugiram.

RATATO – Você é que é idiota, seu rato.

Começam nova discussão, enquanto entra o capitão.

CACACO – Que discussão é essa, seus energúmenos?

GATATO – É o Ratato, esse gato idiota.

RATATO – Idiota é você, seu, seu rato gordo.

CACACO – Ei, isso é alguma brincadeira ou vocês piraram de vez? Que coisa é essa de gato

rato e rato gato.

OS DOIS – (falando juntos) É que nós estávamos andando pela floresta e encontramos duas

criaturas sentadas nesta pedra.

CACACO – Até que enfim, escravos. E onde é que elas estão?

OS DOIS – Fugiram!

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CACACO – Fugiram! Seus idiotas. Anos e anos tentando achar escravo para o navio e

quando vocês encontram, deixam fugir. Idiotas!

OS DOIS – (Acusando-se) Foi culpa dele.

CACACO – E que palhaçada é essa de gato ser rato e rato ser gato, seus doidos?

RATATO – É que elas levantaram uma questão que nos levaram a descobrir nosso eu interior.

CACACO – WHAT?

GATATO – Ih, chefe. Tá falando japonês?

RATATO – Que japonês o que seu idiota, é francês. Não é chefe?

CACACO – Não seus idiotas, é a língua da Pepa Pig.

OS DOIS – what? (caem na gargalhada) O chefe fala Pepa piguês! (Continuam gargalhando)

CACACO – (aborrecido) Chega! Suas antas. Elas enganaram vocês e vocês ficam rindo igual

a uma hiena. Silêncio! Vocês ao menos sabem pra onde elas fugiram?

Os dois não respondem a pergunta.

CACACO – O que foi agora?

Os dois apontam para a boca fechada fazendo gestos de pedirem para falar. Cacaco autoriza,

mesmo sem entender.

RATATO – É que o senhor falou pra ficar em silêncio e depois pede pra gente falar. Fica

difícil assim chefe.

CACACO – (desesperado) Idiotas, Idiotas, idiotas, idiotas... Vamos procura-las. Vamos antes

que elas desapareçam por completo.

OS DOIS – Vamos chefe, por aqui.

Ficam confusos para que lado correrem e saem pelo lado errado. Contrário ao que as meninas

usaram.

Entram Esqui e Tutuga olhando observando se o ambiente está fora de perigo.

ESQUI – Essa foi por pouco hein, amiga. 21

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TUTUGA – Foi mesmo. Mas o que afinal eles queriam com a gente?

ESQUI – Eles queriam nos levar pra tal de um navio e fazer a gente de escravas, igual nossos

velhos da aldeia.

TUTUGA – Escravas? Mas pra que? Como assim igual aos anciões?

ESQUI – Ficaria o dia todo mandando a gente lavar, passar e cozinhar. Essas coisas chatas

que nossas mães ficam dizendo pra aprender. Que um dia vamos casar e blá, blá, blá. Casar.

Que Esopo me livre dessa. Casar deve ser horrível.

TUTUGA – Horrível porque amiga? Você nunca casou pra saber.

ESQUI – Claro que não sua maluca. Eu ainda sou criança né.

TUTUGA – (debochando) Isso mesmo, você ainda é uma criança.

ESQUI – Quem falou criança aqui. Sou criança nada. Sou uma adolescente, quase adulta tá.

TUTUGA – (rindo) Quase adulta! Depois a maluca sou eu.

ESQUI – Acho melhor mudar o assunto, senão vou acabar brigando com você.

TUTUGA – Tá bom, tá bom. Não tá mais aqui quem falou. “Quase adulta” (debocha)

ESQUI – Olha! Sua, sua quatro olhos!

TUTUGA – Vai começar a me bolinar Esqui? Vai?

ESQUI – Foi você quem começou. E para de drama, tô só brincando. Desculpa vai.

TUTUGA – É. Desculpas também. A gente tem que ficar juntas e tentar achar uma saída

desse lugar estranho.

ESQUI – Me dá um abraço então.

TUTUGA – Owm! (se abraçam)

ESQUI – Tá bom, já deu né. Agora vamos procurar a saída, vamos.

TUTUGA – (debochando) Carinhosa.

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Quando as duas seguem para saírem do palco, entra Ramujo. As duas se assustam, mas não

vêm perigo naquela criatura de forma tão familiar. Ramujo fica nervoso quando vê as duas e

dentre elas, Tutuga, a criatura que possui a casa que a bruxa precisa para realizar seu feitiço.

RAMUJO – (gaguejando) O, o, o, olá! Quem são vocês? Estão perdidas? Procurando alguém?

Ou alguma coisa? Posso ajudar?

ESQUI – Ei, ei, desliga. Parece um papagaio. Uma pergunta de cada vez. E quer saber? Fala

quem é você, afinal nós estávamos aqui primeiro.

RAMUJO – Desculpas, é que eu fiquei nervoso. Nunca tinha visto ninguém na minha idade

por aqui. Vou me apresentar. Eu sou Ramujo. Um caramujo.

TUTUGA – Um caramujo? Você não parece um caramujo!

ESQUI – Também acho. Caramujo não tem essas pernas feias e esses bracinhos esquisitos.

RAMUJO – É que a bruxa...

TUTUGA – BRUXA!

RAMUJO – Bruxa? Eu falei bruxa, não falei não.

ESQUI – Falou sim, eu ouvi também.

RAMUJO – Não, eu quis dizer Puxa! Eu ia falar: Puxa é que eu estou sem minha casinha. Por

isso não pareço, mas sou um caramujo.

ESQUI – Muito estranho isso, mas parece que neste lugar só tem malucos. Você deve ser um

desses.

TUTUGA – Esqui! Tadinho. Ele não parece ser nenhum maluco. E se não fosse um

“caramujo” eu poderia jurar que você é uma tartaruga sem a casinha.

ESQUI – Até que você tem razão amiga. Ele tem as perninhas e os bracinhos iguais aos seus.

RAMUJO – Minha mãe me chama de lesma, vocês me chamam de tartaruga. Como posso

crescer uma pessoa de caráter? Como vou descobrir meu verdadeiro eu? Poxa, que adultos

façam isso, tudo bem. Mas que crianças...

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ESQUI – (brava) Escuta aqui oh garoto! Não gostei de você tá. Nem me conhece e já vem me

chamando de criança! Eu não sou criança! Eu sou...

TUTUGA – (remendando Esqui) “eu sou uma adolescente, quase adulta”. Tá legal Esqui. Ele

não sabia. Liga não Ramujo, ela é assim mesmo. Onde você mora?

RAMUJO – Ah, que bom que perguntou. Eu moro em uma casa muito linda com minha

mamãe. Eu posso levar vocês lá. Minha mãe vai adorar conhecer vocês. Principalmente você

Tutuga.

ESQUI – Ei, já tá de olho na minha amiga é? (para Tutuga) Cuidado Tutuga, eu não gosto

desse garoto. Ele me parece muito falso. (para Ramujo) E escuta aqui, garoto. Que papo é

esse de que “principalmente você Tutuga”?

RAMUJO – (ignorando Esqui) – Então, vamos?

Ramujo vai saindo enquanto Esqui vai pra cima de Tutuga.

ESQUI – Ei amiga. Acho melhor não irmos. Esse Ramujo não é confiável.

TUTUGA – (hipnotizada por Ramujo) Deixa disso Esqui. Você sempre com essa mania de

julgar os outros sem conhecer. Isso é preconceito amiga.

ESQUI – O que foi garota? (deboche) Ficou apaixonadinha pela lesma?

TUTUGA – Que apaixonada que nada Esqui. Não sou você não tá.

ESQUI – Isso foi ofensivo sabia.

TUTUGA – Desculpa amiga, mas é que ele tem alguma coisa de familiar pra mim. Alguma

coisa que toca aqui dentro sabe?

ESQUI – Não, não sei. Eu acho que você ficou caidinha por esse, essa lesma.

TUTUGA – Ele não é uma lesma! E já disse que não é nada disso que você está pensando.

Ah, quer saber Esqui? Eu vou com ele. Estou com fome e está esfriando. Uma casinha

quentinha e comida vai ser muito bom pra gente. O que foi? A grande adolescente quase

adulta tá com medo?

ESQUI – Eu, medo! Tá pra nascer uma lesma esquisita pra me botar medo.

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RAMUJO – Então, vamos ou não?

TUTUGA – (pegando na mão de Esqui) Vamos!

Os três saem de cena. BO e no meio do palco está Madame Lesmina com seu caldeirão

aguardando impaciente por Ramujo.

MADAME LESMINA – Imprestável! Onde estará aquela tartaruga imbecil? Tadinho, desde

criança pensa que é um caramujo. (risada) Mas assim que eu conseguir mais uma casinha de

tartaruga vão retomar minhas asas e minha beleza e de quebra ainda consigo abrir o portal

para o mundo de Esopo. Aí, vou mostrar a todos que eu era inocente. Eles vão se arrepender

do que fizeram e vão querer que eu os desculpasse. Mas eu não vou desculpar e vou fazer com

que eles vivam para sempre com o remorso.

Nesse momento entra Ramujo, seguido por Esqui. Tutuga vem logo atrás com uma cara de

fome e muito cansada. Quando a bruxa vê Tutuga entrar é tomada de um espanto terrível e

começa a tremer.

MADAME LESMINA – (espantada) Menina Tutuga? Menina Esqui?

ESQUI – Ei, me conhece de onde? Oh, lesma estranha, essa é sua mãe?

TUTUGA – Quem é a senhora? Como sabe nossos nomes?

MADAME LESMINA – (disfarçando) Não. É que eu adivinhei. Afinal eu tenho poderes.

Consigo adivinhar as coisas.

TUTUGA – (entusiasmada) É mesmo? Então você pode nos ajudar a voltar para casa?

MADAME LESMINA – Que “você” o que menina? Senhora! Senhora!

TUTUGA – Desculpa, foi à emoção. A senhora pode nos ajudar?

MADAME LESMINA – (Abraçando Tutuga) Claro minha linda tartaruguinha. Claro que

posso ajudar.

ESQUI - Ei, tire as mãos de minha amiga!

TUTUGA – Esqui! Pare com isso! Ela vai nos ajudar a voltar pra casa. Tenha um pouco de

educação.

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ESQUI – Mas amiga, nós não conhecemos essa, essa, lesma estranha. E por outro lado, ela

disse que tem poderes. Eu acho que ela é uma bruxa. (vai pra cima de Madame Lesmina)

Solta, solta ela!

MADAME LESMINA – Ramujo!

Ramujo, cumprindo ordens de Madame Lesmina, agarra Esqui e a amarra em uma cadeira.

Esqui tenta se soltar em vão. Com Tutuga em seu colo, Madame Lesmina inicia seu objetivo.

Fazer o feitiço.

MADAME LESMINA – (gargalhada) Isso mesmo pequena Esqui. Eu sou mesmo uma bruxa!

Tutuga olha espantada para Madame Lesmina. Tenta fugir, mas, é impedida por Ramujo que a

amarra também.

TUTUGA – (para Ramujo) Poxa, e eu confiando em você. Mas uma vez eu fui uma burra em

confiar em alguém. A gente confia tanto e depois é essa decepção.

MADAME LESMINA – Oh, meu filho! Magoou o coração da menina. Garoto mau! Por isso

mamãe tem orgulho de você. (gargalhando). Agora vá para a entrada e fique de olho. Vigie

para que não sejamos importunados. Agora vou começar minha transformação.

RAMUJO – Mas mamãe, eu não posso ver?

MADAME LESMINA – Não discuta com a mamãe. Vai logo!

Ramujo sai cabisbaixo, mas logo entra correndo esbaforido.

RAMUJO – Mamãe! Mamãe! Estamos sendo invadidos!

Atrás de Ramujo entram Cacaco, Gatato e Ratato.

MADAME LESMINA – O que você está fazendo aqui, seu macaco maluco? E ainda com

esses retardados que você chama de assistentes?

CACACO – Estou aqui para pegar nossas escravas.

MADAME LESMINA – Que escravas? Do que você está falando?

CACACO – (Apontando para Esqui e Tutuga) Elas! Nós a vimos primeiro, então pela lei elas

são nossas. Você já me tirou um escravo uma vez e não vai fazer de novo.

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RATATO E GATATO – É isso mesmo!

MADAME LESMINA – Que lei é essa? Não existe lei nenhuma aqui.

CACACO – A lei dos mares!

MADAME LESMINA – (gargalhando) A lei dos mares! Que mares seu idiota? Aqui não tem

mares. Só você, seu louco, para ficar pra lá e pra cá empurrando um navio em terra firma.

Você e esse dois retardados.

RATATO E GATATO – É isso mesmo! (se olham) Não, né isso não! Ou é? (começa uma

discussão)

CACACO – (olhando para os dois sem acreditar) O que vocês estão fazendo?

RATATO E GATATO – A culpa é dele chefe!

CACACO – Calem essa boca e vão buscar nossas escravas.

Os dois olham para Madame Lesmina e começam a se tremer de medo.

RATATO E GATATO – Nós?

CACACO – Não seus idiotas! O gato retardado e o Rato imbecil.

RATATO E GATATO – Falou com você!

CACACO – Andem logo. Peguem as duas.

RATATO E GATATO – Mas por que nós. Porque não vai o senhor?

CACACO – Porque vocês são meus capangas. E capangas faz o que o chefe manda.

RATATO – Mas ela é uma bruxa chefe.

GATATO – É isso mesmo, eu não vou.

RATATO – Nem eu.

CACACO – Ah, quer bem feito faça você mesmo! Deixe que eu faço isso seus medrosos. (vai

em direção à Tutuga e Esqui).

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MADAME LESMINA – (ameaçadora) Não se atreva seu macaco maluco! OU te transformo

em um bicho asqueroso.

CACACO – Transforma nada. Esse negócio de bruxa não existe. Vou pegá-las agora.

Madame Lesmina lança então um feitiço no senhor Cacaco que se transforma em um rato.

CACACO – (falando fino) O que você fez comigo? Eu estou parecendo um rato!

RATATO – Ih, a bruxa transformou ele em um bicho asqueroso mesmo.

GATATO – Você também é um rato seu energúmeno.

RATATO – (rindo senil) É mesmo. Eu sou um bico asqueroso.

CACACO – Peguem-na seus retardados. Ataquem a bruxa e façam ela me trazer de volta a

minha forma natural.

GATATO – Espera aí. (olhando faminto para senhor Cacaco) Eu estou com fome e agora tem

outro rato. Esse eu posso comer. E ainda me vingo dos maus tratos.

RATATO – Nada disso, ele é um rato até bonitinho e eu sempre quis ter um irmãozinho pra

bater, jogar na parede chamar de lagartixa.

GATATO – Então quem pegar primeiro fica com ele.

RATATO – Fechado. Vem cá ratinho vem.

CACACO – Ficaram malucos. Eu não sou rato. Eu sou o senhor Cacaco! Sou o chefe de

vocês! Fiquem longe de mim!

Os dois se aproximando ameaçadores para o senhor Cacaco, que corre pra floresta, seguido

pelos seus capangas.

MADAME LESMINA – Agora que estamos a sós, vamos ao que interessa. Ramujo traga a

tartaruga!

TUTUGA – (assustada) O que você vai fazer comigo?

MADAME LESMINA – Fique tranquila minha criaturinha. Não vai doer nada. Eu só quero

sua casinha para fazer meu feitiço. (Nesse momento a Madame Lesmina tira de uma bolsa o

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casco de uma tartaruga e joga no caldeirão). Uma já foi agora só falta a sua. Traga logo ela

pra cá!

Ramujo obedece e entrega a Tutuga a bruxa. Madame Lesmina tira com dificuldade a casa de

Tutuga e joga dentro do caldeirão. Quando Esqui vê que sua amiga, sem o casco é igual ao

Ramujo leva um baita susto.

ESQUI – É isso, a Tutuga tinha razão. Você não é nenhuma lesma. Você é uma tartaruga sem

casa. (para Ramujo) Você é uma tartaruga, não é uma lesma!

MADAME LESMINA – Que inteligente! Você descobriu tudo né sua fedelha?

RAMUJO – Mamãe, o que tá acontecendo? Estou confuso!

MADAME LESMINA – É isso mesmo. Você é uma tartaruga. Mas agora isso não tem mais

importância, pois a transformação já vai começar. E o portal vai se abrir para eu voltar à

aldeia que me julgou.

Tutuga, caída ao chão, começa a chorar como se estivesse sentindo muito dor. Esqui percebe

o sofrimento da amiga e pede que Madame Lesmina pare. Ramujo, ainda confuso corre e solta

Esqui que vai até a amiga para ampará-la.

ESQUI – Amiga, amiga, fale comigo. O que está acontecendo?

TUTUGA – (sofrendo) Não sei amiga, estou me sentindo muito fraca. Acho que é porque

perdi minha casinha. Não estou conseguindo sentir meu corpo. Acho que estou morrendo.

ESQUI – Não, não está não. Veja, ele parece que vive muito tempo sem a casinha dele e não

morreu.

MADAME LESMINA – Não morreu porque eu protegi com feitiço.

ESQUI – Então faz o feitiço pra ela também. Você já tem o que quer. Salve Tutuga. Não

deixa ela morrer.

MADAME LESMINA – Não posso. Se eu fizer isso vou perder meu feitiço e está quase

pronto. (uma luz forte vem da coxia) E vejam o portal já está abrindo. Agora só falta eu me

transformar para dar continuidade a meu plano.

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Tutuga dá um suspiro e desmaia. Esqui entra em desespero pensando que a amiga morreu e

vai pra cima de Madame Lesmina. Neste momento, entra pelo portal o Senhor Pregui.

MADAME LESMINA – (assustada) Pregui!

SR PREGUI – Pare com isso Leta! Não continue com essa loucura.

ESQUI – (feliz e espantada) Senhor Pregui. (corre para abraça-lo)

MADAME LESMINA – (furiosa) Afaste-se Pregui. Deixe- me terminar meu feitiço. Tenho

que voltar par aprovar a todo mundo que sou inocente.

SR PREGUI – Mas é assim que quer voltar. Com essa mágoa e carregando a morte de uma

inocente? Veja a menina Tutuga, está morrendo!

MADAME LESMINA – Ela não vai morrer. Você sabe disso. É apenas o período de

adaptação para viver sem a casa. Veja, o irmão dela ainda vive muito bem mesmo depois que

eu tirei a casa dele.

ESQUI – (espantada) Irmão! (desmaia)

RAMUJO – Irmão? Daí danou-se tudo. Primeiro eu era um caramujo, depois uma lesma. Aí

disseram que sou uma tartaruga sem casa. Agora tenho uma irmã. “Peraí” é minha vez.

(desmaia).

SR PREGUI – Veja Leta! Veja o que você está fazendo. Você não é assim. Você é muito boa.

Sempre foi uma criatura benevolente. Amava ajudar aos outros. Isto não é de sua natureza.

MADAME LESMINA – Leta! Há quanto tempo não ouço este nome. Arrancaram-me de mim

mesma. Acusaram-me de algo que eu não cometi. E pior, não deixaram nem mesmo eu

explicar e mesmo depois de ser banida, me abandonaram aqui. Quando cheguei aqui descobri

que foi o senhor Cacaco que havia raptado o pequeno Tutugo. Mas não tive a chance de falar,

pois aqui ninguém aparece. Então tive que viver nessa fantasia de lesma. Sabe por quê?

SR PREGUI – Imagino!

MADAME LESMINA – Para não ser atacada por outros banidos. Até mesmo para não ser

devorada. Porque lesma tem gosma. É nojenta, ninguém quer.

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SR PREGUI – Mas como o pequeno veio parar aqui com você se foi o senhor Cacaco que o

raptou?

MADAME LESMINA – Quando eu cheguei aqui, Uma lagarta. Sem minhas asas. O senhor

Cacaco me levou para o navio dele e me fez logo de empregada. Eu tinha que fazer tudo para

aquele bando de imprestáveis. Um dia, não suportando mais, fugi. Mas trouxe comigo o

pequeno Tutugo, que também sofria na mão daqueles loucos. Tirei dele a casa e fi-lo pensar

que era uma lesma. Aprendei a magia dos excluídos e me tornei Madame Lesmina. Fiquei

respeitada e todos temem a mim. Descobri em um livro perdido de magia que podia fazer um

feitiço para voltar a minha antiga forma e voltar à aldeia.

SR PREGUI – O livro proibido!

MADAME LESMINA – Isso mesmo. O L.O.P. – Livro Oculto Proibido. O livro das magias,

criado ao mesmo tempo em que o L.E.S.M.A. foi criado. Eu só precisava de dois cascos de

tartarugas, consanguíneos, e da aldeia de onde fui expulsa. Fiz com que um portal abrisse

direto no baú e fiquei aguardando. Até que um dia percebi a energia de seres puros aqui no

mundo oculto e então mandei Ramujo procurar as criaturas. Para minha sorte, era a própria

irmã gêmea de dele. E então, a casa que eu precisava.

SR PREGUI – Então Leta. Veja. Mesmo querendo vingança você protegeu o pequeno

Tutugo. Você ainda tem a benfeitora Leta aí dentro. Desisti disso tudo. Entregue a casa dos

irmãos e eu prometo que convenço o Mestre Esopo que você realmente é inocente. E com

certeza tudo vai voltar ao normal.

MADAME LESMINA – (furiosa) Mestre Esopo! Voltar ao normal! Ele é o responsável por

eu estar aqui, lembra? Ele não acreditou em mim. Me baniu pra esse mundo sujo. E como

voltar ao normal depois de todo estresse que eu passei? Deixe-me em paz e vá embora Pregui,

antes que eu te lance um feitiço.

SR PREGUI – Pode me transformar no que quiser. Eu sei que ai dentro está a nossa amável

Leta. Olhe as crianças no chão. Todas você viu nascer. Cuido delas como se fosse sua. Erros

são cometidos, mas o importante é que podem ser corrigidos também. Dê essa chance a você

e a eles, Confie em mim que eu vou acertar tudo. Volte com a gente pra aldeia que eu falarei

com os anciões e acertaremos tudo.

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MADAME LESMINA – É o que eu mais quero. O que eu sempre quis. Mas e se você estiver

me enganando? E me faça ser castigada outra vez e presa neste mundo para sempre. Não, não

posso confiar.

Uma explosão de luz toma conta do lugar e entra em cena um homem vestido de túnica

comprida com um ar paterno e uma barba branca até o peito. Ele tem em sua mão um cajado e

os pés descalços. Sr Pregui e Madame Lesmina caem de joelhos. As crianças acordam.

MESTRE ESOPO – Pode confiar sim Sr ª Leta.

TODOS – Mestre Esopo!

MESTRE ESOPO – Levantem-se todos. Srº Pregui pegue as casas dos irmãos.

MADAME LESMINA – Não, vocês não acreditaram em mim antes, não vão acreditar agora.

Por favor, Mestre Esopo não me castigue mais.

ESQUI – Ah, agora tá com medo né! Faz feitiço com o Mestre Esopo. Sua bruxa. Pega ela

Mestre pega.

Esqui vira-se para o lado e vê Tutuga e Tutugo olhando fixamente um para o outro. Desmaia.

Os dois correm para amparar Esqui.

MESTRE ESOPO – Srª Leta, eu sei que erramos com a senhora, mas no momento não havia

outra explicação para o sumiço do pequeno Tutugo. A senhora estava cuidando dele e então

era a única que poderia sumir com o pequeno. Não havia ninguém mais que pudesse ter feito.

MADAME LESMINA – Mas eu era inocente!

MESTRE ESOPO – Agora sabemos. E quero me desculpar com a senhora e devolver sua

vida. Sei que erramos e o mais importante que assumir o erro é também, corrigir. Então nos

dê a oportunidade de corrigir o que fizemos com a senhora. Quando dei a vocês o benefício de

falar, andar e se comportarem como pessoas, não esperava que também fossem adquirir as

atitudes de caráter dos humanos. E isso vem acontecendo. Alguns de vocês estão adquirindo

bons sentimentos, mas e também estão adquirindo arrogância, ódio, ganância, vingança e

muitos outros. E isso tem que ser consertado. A humanidade sofre por todos esses sentimentos

vis e há muito se tenta mudar as pessoas para que sejam boas umas com as outras e que se

ajudem nas dificuldades. Que sejam tratadas como iguais, apesar de suas diferenças de cor,

religião e outras características que as distinguem. Quando erramos, precisamos aceitar isso e 32

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temos que tentar acertar. Todos são passiveis de erros, mas também todos possuem o direito a

uma segunda chance. Me perguntam por que eu ainda insisto em manter tudo isso. É porque

nunca perdi a esperança de um mundo melhor com pessoas ou criaturas se amando, se

ajudando, se respeitando. E não vou desistir de vocês. Assim como não desisti da senhora e

estou aqui assumindo que erramos. Confie em nós senhora Leta. Vamos consertar tudo.

Madame Lesmina pega as casinhas dentro do caldeirão e entrega ao Mestre Esopo, que passa

a Sr Pregui para vesti-las nos irmãos. Os dois vestidos de suas casas se abraçam aos soluços.

Esqui acorda e quando vê os dois abraçados desmaia novamente. Uma transformação ocorre

com Madame Lesmina que volta a ser uma linda borboleta.

TUTUGA – Ih, tá parecendo até eu. Ei Esqui, acorda!

Esqui acorda e começa a falar sem parar.

ESQUI – Vocês querem me matar é? (para Tutuga) Que amiga é você hein, nem pra me dizer

que tinha um irmão. E você senhor Pregui, onde estava que não veio logo salvar a gente. E o

Senhor também oh, Senhor Esopo, porque não veio antes também pra salvar a gente da bruxa.

E quem é essa daí? (espantada) Acho que conheço a senhora, não sei de onde, mas conheço. E

você garoto, lesma, caracol, tartaruga, já sabe quem é agora. Olha só, não vai ficar achando

que vai ser mais amiga que eu da Tutuga não hein. Ela é minha amiga há muito mais tempo

que você tá.

TUTUGA – Ei amiga, respira. Tá falando sem parar. Agora tá tudo bem e vamos pra casa.

ESQUI – Tá bom. Mas, cadê aquela bruxa horrível? Ah, eu ia dar uma lição nela. Queria ver

ela me enfrentar. Eu ia pular em cima dela e mostrar quem manda aqui. Ah, ia!

TUTUGA - Mestre Esopo, será que dá para tirar a voz dela um pouco?

ESQUI – Já calei! Mui amiga você hein! (Tenta falar mais e não consegue Mestre Esopo tira a

voz dela só por um segundo) Isso não teve graça! (fica aborrecida)

Todos riem com as tagarelices de Esqui. A luz apaga e acende com o baú no meio do palco.

Todos saem de dentro do baú e se abraçam. Mestre Esopo se despede de todos abraçando a

Senhora Leta.

MESTRE ESOPO – Vou à frente para preparar os anciões e toda a aldeia para seu retorno.

Fique tranquila, tudo vai se acertar.33

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TUTUGA – Vamos irmão, vamos pra aldeia. A mamãe vai ficar muito feliz.

TUTUGO – Vamos. Quero conhecer a minha verdadeira mãe. Mas, mana, o que é esse tal de

L.E.S.M.A.?

TUTUGA – Ah, o L.E.S.M.A. Livro Encantado Sagrado Mágico e Antigo, é o livro que nosso

Mestre Esopo criou para nos dar todos os poderes de falar, andar e nos comportar como

pessoas. Cada página tem um de nós e cada um que nasce ele coloca uma nova página e as

tira quando algum ancião vai para o Oriente Eterno. Quando deixa esse mundo. Mas vamos

ter tempo para falar sobre isso. Agora vamos encontrar a mamãe! (Correm para a coxia).

ESQUI – (correndo atrás deles) Ei, esperem! Eu sou sua amiga antes dele aparecer. (para a

plateia) Vou pegar esse garoto!

SR PREGUI – (Esboça uma corrida, mas volta a sua velocidade de preguiça) – Esperem

crianças, vão com calma para não assustar os anciãos. (para Senhora Leta) Vamos amiga, uma

nova vida te espera. Seja bem vinda de volta ao nosso mundo. (saem)

Todos saem e esquecem o baú aberto que começa a balançar e sai de dentro o senhor Cacaco,

ainda transformado em rato.

SENHOR CACACO – Tenho que fugir desses malucos antes que eles me peguem.

GATATO – (Saindo do Baú) Ratinho, vem cá pro seu gatinho vem. Vem limpar as

lombriguinhas da minha barriga vem. Vou te engolir inteiro e vivinho. (Corre atrás de

Cacaco)

RATATO – (saindo do baú) – Espera seu gato ridículo! Deixa meu irmão em paz. Eu quero

pegar ele. Brincar com ele, pular em cima dele, jogar ele na parede e o chamar de lagartixa.

(corre atrás deles).

Entra Palhaço Figurinha.

Quanta confusão hein? Mas o importante é que nossas amiguinhas se salvaram e tudo ficou

resolvido.

Ou... Quase tudo.

Ih, não é que o Macaco Cacaco e seus capangas o Gato Gatato e o Rato Ratato aproveitaram a

tampa do baú aberta e passaram para o mundo de Esqui e Tutuga. 34

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Cacaco passa correndo por detrás do Palhaço Figurinha, com Gatato e Ratato tentando pegá-

lo.

GATATO – Vem cá meu almoço! Foge do seu gatinho não!

RATATO – Deixa eu te jogar na parede e chamar de lagartixa!

FIGURINHA - Bando de loucos. O que será que eles vão aprontar hein?

Ah, mas isso... É outra história!

Fecha a cortina.

- FIM -

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