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niversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL, COOPERATIVISMO E ASSOCIATIVISMO COOPERAÇÃO, COOPERATIVISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: uma relação possível? Roberto Tadeu Ramos Morais 1 Resumo Ao analisar as possíveis relações entre cooperação, cooperativismo e desenvolvimento local o estudo propõe uma discussão acadêmica e, ao mesmo tempo, partir para responder o porque de se ter despertado para a questão do cooperativismo como uma alavanca nas propostas de desenvolvimento. Autores como Bandeira (2000), Boisier (2001), Barquero (2002), Schmidt (2002), Batella e Diniz (2006) e Gawlak e Ratzke (2007) foram consultados para melhor referenciar os conceitos relacionados a problemática. Os dados secundários das fontes pertinentes de informação qualitativa e exploratória foram analisados. É feita, neste momento, uma análise do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDHM situados na região do Vale do Taquari/RS. Os resultados demonstraram que a presença de empresas cooperativas na região contribui para o desenvolvimento local através da geração de renda, retenção de recursos na comunidade onde atua, melhor nível educacional, maior longevidade e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Palavras-Chaves: Cooperação, Cooperativismo, Desenvolvimento Local. Abstract To analyze the possible relations between cooperation, cooperatives and local developmente the study proposes and academic discussion while from to because of having to question the cooperatives as a lever in development proposals. Authors as Bandeira (2000), Boisier (2001), Barquero (2002), Schmidt (2002), Battela e Diniz (2006) and Gawlak and Ratzke (2007) were consulted to better reference the concepts related to problematic. Secondary data from the following relevant qualitative information soures was analysed. At present a analysis of the Municipal Human Development Index IDHM into further five municipalities situated within te Taquari/RS valley region. The results demonstrate that the companies cooperatives in the region contribute to local development througth income generation, retention of resources of the communities it is involved in, a better educational level, as increased longevity and improve people’s quality of live. Keywords: Cooperation, Cooperativism, Local Development. 1 Doutor em Desenvolvimento Regional e professor das Faculdades Integradas de Taquara FACCAT. E-mail: [email protected]

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XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL,

COOPERATIVISMO E ASSOCIATIVISMO

COOPERAÇÃO, COOPERATIVISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: uma relação possível?

Roberto Tadeu Ramos Morais1

Resumo

Ao analisar as possíveis relações entre cooperação, cooperativismo e desenvolvimento local o estudo propõe uma discussão acadêmica e, ao mesmo tempo, partir para responder o porque de se ter despertado para a questão do cooperativismo como uma alavanca nas propostas de desenvolvimento. Autores como Bandeira (2000), Boisier (2001), Barquero (2002), Schmidt (2002), Batella e Diniz (2006) e Gawlak e Ratzke (2007) foram consultados para melhor referenciar os conceitos relacionados a problemática. Os dados secundários das fontes pertinentes de informação qualitativa e exploratória foram analisados. É feita, neste momento, uma análise do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM situados na região do Vale do Taquari/RS. Os resultados demonstraram que a presença de empresas cooperativas na região contribui para o desenvolvimento local através da geração de renda, retenção de recursos na comunidade onde atua, melhor nível educacional, maior longevidade e melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Palavras-Chaves: Cooperação, Cooperativismo, Desenvolvimento Local.

Abstract

To analyze the possible relations between cooperation, cooperatives and local developmente the study proposes and academic discussion while from to because of having to question the cooperatives as a lever in development proposals. Authors as Bandeira (2000), Boisier (2001), Barquero (2002), Schmidt (2002), Battela e Diniz (2006) and Gawlak and Ratzke (2007) were consulted to better reference the concepts related to problematic. Secondary data from the following relevant qualitative information soures was analysed. At present a analysis of the Municipal Human Development Index – IDHM into further five municipalities situated within te Taquari/RS valley region. The results demonstrate that the companies cooperatives in the region contribute to local development througth income generation, retention of resources of the communities it is involved in, a better educational level, as increased longevity and improve people’s quality of live.

Keywords: Cooperation, Cooperativism, Local Development.

1 Doutor em Desenvolvimento Regional e professor das Faculdades Integradas de Taquara – FACCAT.

E-mail: [email protected]

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Introdução

Pretende-se com o presente estudo contribuir para o amadurecimento das

discussões na área do cooperativismo e do desenvolvimento local através de uma análise

das relações existentes entre os temas na lógica de que em regiões onde a presença de

empresas cooperativas é observada obtêm-se melhores índices de desenvolvimento

humano municipal – IDHM. Para atender a esse objetivo, a metodologia utilizada é a

exploratória, descritiva e interpretativa, com o cruzamento de dados secundários coletados

no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Organização das Cooperativas

Brasileiras (OCB) e da base de dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil

2013.

Atualmente discute-se com freqüência o cooperativismo e o desenvolvimento local,

já que estes são uma realidade no Brasil e implicam em uma melhoria da qualidade de vida

das pessoas.

Segundo dados da OCB o número de cooperativas no Brasil em 2011, ficou em

6.586, com mais de 10 milhões de associados e 296 mil empregados. Especialmente no Rio

Grande do Sul são 550 cooperativas registradas no sistema OCB, com 1.999.766

cooperados e 48.755 empregados.

A OCB procedeu a estudo em municípios com e sem cooperativas que permitiu

perceber que os valores médios do IDH para os municípios com a presença de cooperativas

são maiores do que aqueles que não têm cooperativas. SCARPIN (2007) já havia realizado

estudo semelhante no Estado do Paraná e o site “easycoop” também discute o tema.

Por esses motivos, estudos no campo do cooperativismo têm alcançado cada vez

mais destaque e importância nos dias atuais. Nesse sentido, o problema de pesquisa

procurará saber: Existe relação entre o crescimento do IDH-M em cidades que possuem

cooperativas?

Este artigo está estruturado em cinco seções, incluindo esta introdução. A segunda

seção, logo a seguir, consiste na fundamentação teórica do estudo, abrangendo a

cooperação, a cooperativa e o cooperativismo; o desenvolvimento local e o índice de

desenvolvimento. A caracterização da região do Vale do Taquari – RS é explicitada na

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terceira parte para que, na seção subseqüente, apresente-se os resultados e discussões. Na

última seção, constam as considerações finais.

Cooperação, Cooperativa e Cooperativismo

O ser humano em sua essência nasceu para cooperar. É através da cooperação que

as pessoas se integram para satisfazer suas necessidades. A história brasileira já mostrava

por volta de 1610, através das primeiras Reduções Jesuíticas a tentativa de criação de um

Estado em que a ajuda mútua prevalecesse. Esse movimento, segundo Schmidt (2002)

visava o bem estar do indivíduo e de sua família acima dos interesses econômicos da

produção.

Destarte essas colocações são importantes para distinguir e compreender as

especificidades do modelo cooperativo, a partir dos conceitos básicos de cooperação,

cooperativa e cooperativismo. Pereira (1993, p. 5), diz que “Cooperação vem do verbo

latino cooperari, de cum e operari = operar juntamente com alguém. Significa trabalhar

junto, trabalhar em conjunto. É uma forma de integração social e pode ser entendida como

ação conjugada em que as pessoas se unem, de modo formal ou informal, para alcançar o

mesmo objetivo”. A partir desta afirmativa é possível estabelecer que a origem da

cooperação encontra-se na própria gênese da humanidade, mediante seu modo de ser, viver

e agir diante de objetivos comuns.

Na sequência, define-se o que seja uma cooperativa conforme estabelecido no

congresso do Centenário da Aliança Cooperativa Internacional – ACI, realizado na cidade

de Manchester, Inglaterra, em 1995. “Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas

que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas,

sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e

democraticamente gerida” (ACI, 1995 apud OCB-GO, 2004, p. 10). Portanto, a união pela

cooperação e ajuda mútua, gerida de forma democrática e participativa, com objetivos

econômicos comuns e cujos aspectos legais e doutrinários é o que distingue uma

cooperativa de outras sociedades.

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As cooperativas se dividem em três categorias: a) singulares que tem como objeto

a prestação direta de serviços aos cooperados, os quais são no mínimo de 20 (vinte)

pessoas físicas; b) centrais ou federações que objetivam organizar as cooperativas

singulares, devendo ser composta pelo mínimo de 3 (três) cooperativas singulares; c)

confederações que, também, devem organizar as cooperativas de uma forma mais ampla,

com uma composição mínima de 3 (três) cooperativas centrais (CONFEDERAÇÃO

NACIONAL DO COMÉRCIO, 2003).

Oportuno destacar que as cooperativas podem assumir diversas atividades

conforme a atividade econômica, sendo as mais comuns aquelas dedicadas aos seguintes

13 (treze) ramos: agropecuário, saúde, consumo, crédito, educação, habitação, mineração,

produção, transporte, trabalho, turismo e lazer, especial e infraestrutura (GAWLAK e

RATZKE, 2007). O Quadro 1 apresenta o ramo e uma descrição sumária de sua respectiva

atividade.

Quadro 1 – Ramos do Cooperativismo

Ramo Atividade

Agropecuário Produzir, comercializar e beneficiar produtos.

Saúde Trabalhar com a saúde humana.

Consumo Compra em comum de bens de consumo para seus associados.

Crédito Satisfazer as necessidades econômicas e sociais dos seus associados.

Educação Promover a educação nas escolas, a fundação e/ou manutenção de estabelecimentos de ensino.

Habitação Têm como objetivo a construção de moradias para seus associados.

Mineração Atuação voltada para a pesquisa, extração, lavra, industrialização, comércio, importação e exportação de produtos minerais.

Produção Operar nos setores artesanal e industrial, produzindo diversos tipos de bens e mercadorias.

Transporte Organizar a prestação de serviços em diversas áreas.

Trabalho Organizar a prestação de serviços em diversas áreas.

Turismo e Prestar serviços turísticos, artístico, de entretenimento, de esporte e de

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Lazer hotelaria.

Especial Atender pessoas que necessitem de tutela ou que se encontram em situação de desvantagem nos termos da Lei nº 9.867/99.

Infraestrutura Prestar serviços essenciais como energia e telefonia.

Fonte: Adaptado de GAWLAK e RATZKE (2007)

As atividades descritas no Quadro 1 demonstram que os diferentes ramos atendem

parcela significativa da economia brasileira e, por sua natureza, são capazes de alinhar o

desenvolvimento econômico ao social.

Por fim, o cooperativismo que no Brasil é representado pela Organização das

Cooperativas Brasileiras – OCB, seu órgão máximo que tem por objetivo a promoção, o

fomento e a defesa do sistema cooperativista brasileiro, em todas as instâncias políticas e

institucionais, inclusive no exterior. Trata-se de um movimento de alcance internacional

que “[...] busca constituir uma sociedade justa, livre e fraterna, em bases democráticas,

através de empreendimentos que atendam às necessidades reais dos cooperantes, e

remunerem adequadamente a cada um deles” (OCB-GO, 2004, p.9). Para pensadores como

Robert Owen (1771-1858) e Charles Fourier (1772-1837), o cooperativismo é tanto uma

filosofia como um modelo socioeconômico que, com o passar dos anos, se expandiu em

diferentes regiões, territórios, indiferente da cultura, língua ou o credo.

Nesse sentido, sete princípios universais norteiam sua caminhada. O primeiro

denomina-se adesão voluntária e livre, ou seja, todas as pessoas estão aptas a utilizar os

seus serviços e a assumir as responsabilidades como membros, sem discriminação de sexo,

social, racial, política e religiosa (OCB-GO, 2004).

Gestão democrática e livre é o segundo princípio, deixando claro que as

cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus membros, com ativa

participação na formulação das suas políticas e tomadas de decisões. A participação

econômica dos sócios compreende o terceiro princípio significando que cada sócio

contribui eqüitativamente para o capital de suas cooperativas e controlam-no

democraticamente (OCB-GO, 2004).

O princípio da autonomia e independência está garantido pela Constituição

Federal, no inciso XVIII do artigo 5º, que diz “A criação de associação, e na forma da lei, a

de cooperativas independem de autorização, sendo vedada à interferência estatal em seu

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funcionamento”. Portanto, esse princípio garante que a cooperativa possa cumprir com

seus objetivos e metas sem a intervenção externa.

A educação é o compromisso do movimento cooperativo desde sua gênese. O

quinto princípio, educação, formação e informação, busca formar o pensamento dos

sócios a fim de que entendam a complexidade e a riqueza da doutrina cooperativista. Seu

objetivo é a permanente capacitação à prática cooperativista dos seus associados,

familiares e a comunidade onde a cooperativa está inserida (CRÚZIO, 2002).

A intercooperação, sexto princípio, visa à cooperação entre cooperativas para que

haja um fortalecimento e do desenvolvimento do cooperativismo. Esta intercooperação

poderá se dar na forma de troca de informações, experiências, produtos e serviços entre as

cooperativas, viabilizando o setor enquanto atividade econômica (VEIGA e FONSECA,

2001).

O último princípio denominado de interesse pela comunidade, traz a

responsabilidade social como tema central a fim de promover o desenvolvimento

sustentado das suas comunidades. É por meio do cooperativismo que a comunidade se

fortalece e tem grandes chances de alcançar objetivos comuns (VEIGA e FONSECA,

2001).

Não menos oportuno é apontar o pensamento de Pinho (2000) que afirma não

serem sinônimos cooperar, cooperativismo e cooperativa. Para o referido autor os

conceitos são distintos. Enquanto a cooperação significa ação conjunta com vista ao

mesmo objetivo, o cooperativismo, por sua vez, significa, doutrina e, finalmente a

cooperativa seria uma entidade onde as pessoas cooperam objetivando o mesmo fim.

Desenvolvimento Local

Discutir o desenvolvimento local implica necessariamente entender o caráter

endógeno de sua peculiar abordagem, ou seja, um processo de aproveitamento das

potencialidades locais que pressupõe a participação dos atores daquela localidade, sejam

eles econômicos, públicos ou privados em prol de uma melhoria da qualidade de vida das

pessoas que usam o território.

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Buarque (1999, p. 9), corrobora com o que foi visto acima ao descrever o

desenvolvimento local como “[...] um processo endógeno registrado em pequenas unidades

territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a

melhoria da qualidade de vida da população”. Sua abordagem sustenta-se a partir de três

eixos: processo endógeno, dinamismo econômico e melhoria da qualidade de vida.

Entende-se por processo endógeno os fatores internos ao território capazes de transformar

um impulso externo de crescimento em desenvolvimento para toda sociedade. O

dinamismo econômico, originalmente decorrente da Teoria da Dinâmica Econômica de

Michal Kalecki (1954), não se limita as regiões caracterizadas por produção flexível, alta

tecnologia e forte capacidade de inovação com crescimento da renda, isto é, em regiões

periféricas é possível encontrar iniciativas bem sucedidas de mobilização endógena,

dinamismo, inovação, melhoria de renda e das condições de vida da população. Por último,

melhorar a qualidade de vida da população pressupõe a redução da exclusão social

(pobreza e desigualdade), desconcentrar a renda, melhorar a saúde pública, entre outros.

Franco (1998, p. 7), traz a ampliação do conceito acrescentando os termos

integrado e sustentável.

[...] desenvolvimento local integrado e sustentado é um novo modo de promover o desenvolvimento, que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, descobrir ou despertar suas vocações locais e desenvolver suas potencialidades específicas, além de fomentar o intercâmbio externo, aproveitando-se de suas vantagens locais.

Percebe-se que o desenvolvimento local integrado e sustentável busca induzir o

desenvolvimento no âmbito local, preconizando não só o crescimento econômico, mas

também, tudo o que for necessário para potencializar as vantagens de uma determinada

localidade, priorizando simultaneamente os aspectos da integridade e sustentabilidade das

ações propostas.

O local tem importante papel no desenvolvimento, autores como Bandeira (2000),

Boisier (2001), Vázquez-Baquero (2002), só para citar alguns, ressaltam a dimensão local

como um elemento fomentador de integração da atividade econômica, social, política e

cultural, que conjuntamente, são condicionantes para o alcance do desenvolvimento.

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Bandeira (2000) afirma que é necessário valorizar as iniciativas de abrangência

local, pois essas podem ser submetidas a diagnósticos mais precisos da realidade e das

potencialidades dessas localidades, cuja problemática tende a ser da mesma natureza.

Boisier (2001) diz que o desenvolvimento local pode tomar forma em território de

variados tamanhos, mas não em todos, devido a complexidade do seu processo. E,

finalmente, Vázquez-Baquero (2002) identifica três dimensões no desenvolvimento local:

a) econômica – os empresários locais e sua capacidade de organizar os fatores produtivos

locais; b) sociocultural – os valores e as instituições servem de base para o processo de

desenvolvimento e, c) político-administrativa – os fatores políticos criando um ambiente

propício ao desenvolvimento local.

Ademais, segundo Martinelli e Joyal (2004), o modelo de desenvolvimento local

somente ocorre quando as iniciativas partem de baixo para cima, ou seja, da população.

Assim, os próprios atores locais são protagonistas do desenvolvimento e não mais os

governos através do planejamento centralizado. O grande impulso deste processo

denominado de descentralização, que nada mais foi do que uma estratégia de aposta da

reforma do Estado ao contexto da globalização e da crise fiscal da década de 1980, se deu

com a Constituição Federal de 1988, quando o município passa a ser o ator principal na

formulação execução de políticas públicas. Com esta mudança os municípios e as

comunidades ganham capacidade de decisão e autonomia de gestão na escolha de suas

diretrizes, programas e projetos.

Na seqüência será discutido o índice de desenvolvimento, em especial o IDH –

Índice de Desenvolvimento Humano e o IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal, e sua importância para o fortalecimento do poder local.

Índice de Desenvolvimento

Ao longo das últimas três ou quatro décadas (1980 – 2015) freqüentemente se

confundiu o conceito de desenvolvimento com o de crescimento econômico. Talvez seja

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mais facial explicar o segundo porque implica um Produto Interno Bruto (PIB2) mais

elevado ao passo que o desenvolvimento está envolto por um conjunto de indicadores que,

muitas vezes, têm dificuldade em expressá-lo.

Na verdade, um indicador de desenvolvimento nada mais é do que uma medida

quantitativa de um determinado recorte da realidade que fornece uma boa visão acerca do

resultado que se deseja medir. Importante ressaltar que os resultados são apenas

aproximações do que efetivamente está ocorrendo, necessitando, sempre, de uma análise

qualitativa para que o seu significado esteja dentro do contexto em que está inserido. Por

esta razão existe uma busca permanente por medidas sócio-econômicas que abarquem

outras dimensões, além da econômica, fundamentais da vida e da condição humana

(ROSSI e MARTINS, 2008).

Entre estas medidas encontra-se o IDH, lançado pela Organização das Nações

Unidas (ONU), em 1990, com o fito de verificar o grau de desenvolvimento de um país a

partir de um conjunto de indicadores de desempenho (SCARPIN e SLOMSKI, 2007). O

IDH leva em conta três dimensões básicas da existência humana: a) uma vida longa e

saudável; b) o acesso ao conhecimento e, c) um padrão de vida digno. Estas três dimensões

são mensuradas no IDH pelos indicadores: a) esperança de vida ao nascer; b) taxas de

alfabetização e de matricula e, c) PIB per capita3. Para cada indicador, valores mínimos e

máximos são selecionados, sendo fixada uma escala entre 0 (zero) e 1 (um) (FUKUDA-

PARR et al., 2004).

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estabeleceu três

categorias principais:

a) 0 ≤ IDH < 0,5 Baixo desenvolvimento humano

b) 0,5 ≤ IDH < 0,8 Médio desenvolvimento humano

c) 0,8 ≤ IDH ≤ 1 Alto desenvolvimento humano

2 Representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período determinado. 3 É o produto interno bruto, dividido pela quantidade de habitantes de um país.

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A Figura 1 apresenta a estruturação do IDH global de acordo com Fukuda-Parr et al.

(2004).

Figura 1 – Estruturação do IDH

4 Paridade do Poder de Compra

Dimensão Uma vida longa e saudável__________Conhecimento

___________________Nivel de vida digno

Indicador Esperança de vida ao nascer Taxa de alfabetização Taxa de

PIB per capita

de adultos Escolarização Bruta

(dólar PPC4)

Índice de Alfabetização Índice (TEB)

de Adultos

Índice da Educação Índice do

PIB

Índice

de Dimensão Índice de Esperança de Vida

IDH

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Fonte: Adaptado de Fukuda-Parr et al (2004)

Analisando-se a Figura 1 se percebe que o cálculo do IDH parte das três dimensões

onde, para cada uma, é criado um índice.

A dimensão vida longa e saudável é obtida através do cálculo do índice

denominado de índice de esperança de vida. Para Fukuda-Parr et al. (2004, p. 259), esse

índice mede “[...] a realização relativa de um país na esperança de vida à nascença”. A

segunda dimensão, conhecimento, é avaliada pelo índice da educação, que por sua vez é

composto de dois índices, o índice de alfabetização de adultos e o da escolarização bruta

(TEB). Uma vez que os dois índices estão à disposição é realizada uma ponderação de 2/3

à alfabetização de adultos e de 1/3 à escolarização.

Ao final, a terceira dimensão, o nível de vida digno que é calculado utilizando o

PIB per capita ajustado (dólares PPC). Scarpin e Slomski (2007, p. 918) afirmam que “O

conhecimento é ajustado porque, para alcançar um nível elevado de desenvolvimento

humano, não é necessário um rendimento ilimitado”.

Na verdade, no IDH, o rendimento é uma espécie de substituto para as dimensões

do desenvolvimento humano que não estejam refletidas na primeira e na segunda

dimensão. Para calcular o IDH basta fazer a média aritmética dos índices.

Na esteira do IDH é desenvolvido o IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal. Embora meçam os mesmos fenômenos, os indicadores do IDHM são mais

adequados para avaliar as condições núcleos sociais menores ou as cidades médias. Tais

cidades ocupam posição de destaque na hierarquia urbana e são conhecidos, dentre outras

características, por apresentarem uma qualidade de vida superior (BATELLA e DINIZ,

2006).

O IDHM agrega três dimensões do desenvolvimento humano: a) vida longa e

saudável; b) acesso ao conhecimento e, c) padrão de vida.

A primeira dimensão é mensurada pela expectativa de vida ao nascer. Já o cálculo

da segunda dimensão é mediante a composição de indicadores de escolaridade da

população adulta e do fluxo escolar da população jovem e, finalmente, o padrão de vida

que é medido pela renda municipal per capita, ou seja, a renda média individual de cada

residente no município analisado. Todos os dados são obtidos dos Censos Demográficos

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do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (ATLAS DO

DESENVOLVIMENTO HUMANO DO BRASIL, 2013).

As faixas do IDHM, são:

IDHM entre 0 – 0,499: Muito Baixo Desenvolvimento Humano IDHM entre 0,500-0,599: Baixo Desenvolvimento Humano IDHM entre 0,600 - 0,699: Médio Desenvolvimento Humano IDHM entre 0,700 - 0,799: Alto Desenvolvimento Humano IDHM entre 0,800 e 1: Muito Alto Desenvolvimento Humano

No site do PNUD encontra-se um esclarecimento sobre o IDHM que expõe:

Populariza a ideia de que desenvolvimento não se resume à perspectiva do crescimento econômico, mas sim facilita a comparação entre municípios, conduz a um diálogo mais informado na discussão de políticas e estimula a busca por melhores desempenhos socioeconômicos entre os municípios brasileiros.

Em síntese o IDHM, embora com pequenas diferenças metodológicas (Quadro 1)

em relação ao IDH, busca ampliar a discussão junto a sociedade sobre a qualidade de vida

existente nos municípios brasileiros.

Quadro 1 – Diferença entre o IDH e o IDHM

LONGEVIDADE

EDUCAÇÃO

RENDA População Adulta População

Jovem

IDHM Esperança de vida

ao nascer

18+ com

fundamental

completo

% 5-6 na escola

% 11-13 nos

anos finais do

fundamental

% 15-17 com

fundamental

Renda mensal

Per Capita

(Em R$

Ago/2010)

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completo

% 18-20 com

ensino médio

completo

IDH Global Esperança de vida

ao nascer

Média de anos de

estudo de 25+

Anos esperados

de estudos

Renda média

nacional Per

Capita (US$

ppp52005)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013)

Percebe-se pela leitura do Quadro 1 que o IDHM é uma adaptação metodológica do

IDH ao nível mundial, diferenciando-se pelo uso de alguns indicadores. O primeiro mede o

desenvolvimento humano de países em contexto global e o segundo compara municípios

brasileiros entre si. Em 2013, a metodologia de cálculo do IDHM foi alterada para

acompanhar as modificações metodológicas do IDH Global 2010. O Atlas do

Desenvolvimento Humano do Brasil 2013, já traz os dados de 1991 e 2000 recalculados de

conformidade com os ajustes e considera as novas divisões municipais ocorridas entre

2000 (5.507 municípios) e 2010 (5.565 municípios).

Caracterização da Região do Vale do Taquari – RS

A região do Vale do Taquari está localizada na macrorregião nordeste do Rio

Grande do Sul, agregando atualmente trinta e seis municípios que totalizam 327.723

habitantes, conforme o censo de 2010 (IBGE, 2010), sendo que 26,16% corresponde a

população rural e 73,84% a urbana. Lajeado é a cidade polo da região, com 71.445

habitantes, o equivalente a 21,80% da população regional (FEE, 2014).

Figura 2 – Municípios do Vale do Taquari

5 Poder de Paridade de Compra (Banco Mundial – 2005)

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Fonte: SEPLAG (2014)

A Figura 2 demonstra que o Vale do Taquari está localizado em uma região central

no Estado cuja distância de Porto Alegre é de aproximadamente 150 quilômetros. Sua

infraestrutura conta com o modal hidroviário (Porto de Estrela), ferroviário, rodoviário e

um aeródromo regional.

Outro detalhe importante é o fato de que apenas 5 municípios6 concentram 53,68%

do total da população da região e 22 municípios (70,97%) possuem população até 5.000

habitantes, caracterizando a região do Vale do Taquari como predominantemente rural, já

que 21 dos 36 municípios possuem população rural superior a urbana. Estes foram os

municípios analisados ao longo desta pesquisa tomando-se como critério de escolha a

concentração da população total.

A economia é baseada em pequenas empresas e médias propriedades onde

prevalecem minifúndios de propriedade familiar. No meio rural, estão registrados 43 mil

produtores rurais. São centenas de famílias que se dedicam à agricultura e pecuária e

elevam a região em nível estadual, ocupando a segunda colocação em produtividade rural

(R$/Km²). É reconhecida produtora de alimentos, sendo que 80% de sua atividade

produtiva vêm do agronegócio (CODEVAT, 2010).

Neste contexto, as cooperativas contribuem significativamente para o

desenvolvimento da região já que podem e devem ser um ator social coletivo relevante

6 Encantado, Teutônia, Estrela, Lajeado e Taquari.

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para a melhoria da qualidade de vida das comunidades as quais pertencem. Entre as

cooperativas, nos mais diversos ramos, destacam-se: CERTEL – Cooperativa Regional de

Eletrificação; COSUEL – Cooperativa dos Suinocultores de Encantado; CERTAJA –

Cooperativa Regional de Energia e Desenvolvimento Rural Taquari; Cooperativa

LANGUIRU Ltda; UNIMED Cooperativa de Serviços de Saúde; UNIODONTO –

Cooperativa de Serviços dos Vales do Taquari e Rio Pardo; Cooperativa de Crédito Rural

Ouro Branco, entre outras.

Resultados e Discussões

Ao analisar a realidade dos trinta e seis municípios no IDHM 2010, os resultados

demonstram que em todos houve crescimento nos indicadores demonstrando melhorias nas

condições de bem-estar da população. Concomitante, Lajeado e Nova Bréscia destacam-se

por possuírem o IDHM de 0,778.

Quando analisados os dados contidos no Atlas de Desenvolvimento Humanos do

Brasil 2013, cujos índices apontam para o IDHM Educacional (IDHM-E), os cinco

municípios analisados apresentam índices de médio e alto desenvolvimento humano,

conforme Tabela 1.

Tabela 1 – IDHM-E

ANO 1991 2000 2010

Encantado 0,413 0,561 0,687

Estrela 0,361 0,531 0,684

Lajeado 0,409 0,592 0,704

Teutônia 0,314 0,512 0,650

Taquari 0,289 0,491 0,629

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)

niversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

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Percebe-se que a evolução em todos os municípios analisados é contínua desde o

ano de 1991. Deste conjunto destaca-se a cidade de Lajeado com 0,704 de IDHM-E (alto

desenvolvimento humano) e, também, o polo central desta região. Considerando-se o

período de 1991-2010, verifica-se um crescimento de 72,12% no IDHM-E no município de

Lajeado e de 117,64% em Taquari. Em Lajeado encontram-se as principais instituições de

ensino fundamental, médio e superior da região, com destaque para a Universidade do

Vale do Taquari – Univates que, em 2014, está oferecendo a 15ª Turma de Especialização

em Gestão de Cooperativas. Já em Taquari a educação infantil, o ensino fundamental e

médio são destaques com forte presença das escolas municipais.

O esforço de cada um dos municípios em direção a melhores resultados em

educação e acesso ao conhecimento é impossível de ser contestado, já que em 2000, quatro

municípios apresentavam IDHM-E baixo e Taquari (0,491) muito baixo desenvolvimento

humano. Em 2010 todos se situavam com alto desenvolvimento humano em educação.

De acordo com os dados de 1991-2010 as variáveis formadoras do IDHM

Longevidade (IDHM-L), Tabela 2, apresentam melhorias sensíveis em cada um dos

municípios analisados, sendo que todos passaram de classificação de alto para muito alto

desenvolvimento humano. Nas cinco cidades o IDHM-L (2010) é superior ao IDHM-L

para o Brasil (0,816) e, para o Rio Grande do Sul (0,84), somente a cidade de Lajeado não

obteve um IDHM-L superior.

Tabela 2 – IDHM-L

ANO 1991 2000 2010

Encantado 0,772 0,852 0,858

Estrela 0,751 0,824 0,850

Lajeado 0,748 0,832 0,840

Teutônia 0,709 0,799 0,849

Taquari 0,747 0,821 0,855

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)

niversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

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No IDHM-L variáveis como acesso à saúde da população, o saneamento, a

criminalidade, entre outros são avaliados. Encantado figura como o município com maior

expectativa de vida ao nascer (76,5 anos) estando acima da média estadual (75,7 anos),

segundo o IBGE (2014).

Um aspecto levado em consideração para se averiguar a real situação de

desenvolvimento de uma localidade é a renda. A Tabela 3 apresenta o IDHM Renda

(IDHM-R), dos municípios em estudo no período 1991-2010.

Tabela 3 – IDHM-Renda

ANO 1991 2000 2010

Encantado 0,688 0,719 0,764

Estrela 0,662 0,707 0,776

Lajeado 0,698 0,741 0,796

Teutônia 0,654 0,697 0,751

Taquari 0,603 0,672 0,737

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)

Observa-se que não existem considerações a serem realizadas muito diferentes das

anteriores, já que houve crescimento nos índices de desempenho de cada um dos

municípios. Embora para a região os números de 2010 se mostrem superiores ao do País

(0,739) e, em alguns casos, ao do Estado do Rio Grande do Sul (0,769), ainda existem

desigualdades quando se analisa a renda per capita (Tabela 4).

Tabela 4 – Renda Per Capita

ANO 1991 2000 2010

Encantado 576,97 703,11 931,47

Estrela 491,63 652,25 1002,78

Lajeado 616,43 805,03 1130,85

niversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

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Teutônia 467,57 610,11 854,63

Taquari 341,64 522,53 786,91

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)

Mesmo observando que a renda per capita melhorou entre 1991-2010, ainda

encontram-se disparidades entre a menor e a maior renda, havendo uma oscilação de

43,7%. Por outro lado, a renda per capita média no Brasil em 2010, segundo o Atlas de

Desenvolvimento Humano (2013) foi de R$ 767,02 e no Estado do Rio Grande do Sul de

R$ 959,24. Desta forma, todos os cinco municípios possuem uma renda acima da média

brasileira e muito próxima ou acima da estadual.

Considerações Finais

O Vale do Taquari conta com grande potencial agrícola e industrial. Possui um

território heterogêneo com cidades urbanizadas e outras completamente agrícolas. Em uma

perspectiva futura, já espaço tanto para o cultivo de novos produtos no ambiente rural

quanto para implantação de industrias no meio urbano.

O IDHM-E do Vale do Taquari é superior ao do Estado e do País em quatro dos

cinco municípios analisados, contando, ainda, com cinco faculdades e ou universidades.

Isso indica uma possível expansão da mão-de-obra qualificada nos próximos anos.

A longevidade foi a dimensão do IDHM com maior crescimento, em torno de 6%,

no período 2000-2010. A longevidade no estado, no mesmo período, cresceu 4,7%. Dentre

as explicações para o aumento da esperança de vida, destaca-se a melhoria da qualidade de

vida da população em geral, a melhoria da educação e das condições sanitárias.

A renda municipal per capita, ou seja, a renda média de cada residente no

município é outro critério utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) para avaliar o desenvolvimento humano municipal.

Os cinco municípios analisados possuem IDHM-R superiores a 0,70 (alto

desenvolvimento humano). Com índices superiores a média brasileira (0,739), em quatro

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dos cinco municípios analisados, fica evidenciada que a capacidade média de aquisição de

bens e serviços por parte dos habitantes é significativa, uma vez que está a indicar a

garantia de um padrão de vida capaz de assegurar suas necessidades básicas, como

alimentação, moradia, água, condições sanitárias, entre outros. No Brasil, o IDHM-R,

apresentou um crescimento no período de 1991 a 2010 de 14,2%, enquanto nos municípios

analisados a média foi de 14,54%. Entretanto, em Taquari e Estrela o crescimento foi de

22,2% e 17,22% respectivamente.

Este indicador apresenta a limitação de não considerar a desigualdade de renda

entre os habitantes, isto é, mesmo que o município apresente uma elevada renda per capita,

poderá ter uma grande parcela de sua população vivendo na pobreza.

Com base nos valores do IDHM para os municípios analisados, foi possível notar

que o desenvolvimento humano foi maior onde havia cooperativas. Segundo pesquisa

realizada pela FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade

Estadual de São Paulo) e publicada no site ‘EasyCoop: cooperativismo em revista’,

enquanto em uma cidade sem cooperativa a média do IDH é de 0,66, com uma ou mais

cooperativas o indicador sobe para 0,70.

Por fim, ao analisar as relações possíveis entre o cooperativismo e o

desenvolvimento local verifica-se que esta forma de organização social proporciona ganho

de renda, retenção de recursos na comunidade onde atua, melhoria da qualidade de vida

dos cidadãos e contribui para o desenvolvimento da região e, conseqüentemente, do IDH-

M. Os dados secundários obtidos por esta pesquisa indicam que o cooperativismo traduz

não apenas o critério econômico, mas também social e que se reproduz em efeitos culturais

na forma de promoção do desenvolvimento local.

BIBLIOGRAFIA CITADA

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