9 nos dominios-da_mediunidade-1954
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Nos Domnios da Mediunidade Andr Luiz Francisco C. Xavier
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FRANCISCO CNDIDO XAVIER
NOS DOMNIOS DA MEDIUNIDADE
DITADO PELO ESPRITO ANDR LUIZ
FEB FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA
13/09/2000 13/12/2000
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Nos Domnios da Mediunidade Andr Luiz Francisco C. Xavier
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NDICE
Raios, Ondas, Mdiuns, Mentes ..................................................... 3
1 Estudando a mediunidade................................................................... 5 2 O psicoscpio ............................................................................ 9 3 Equipagem medinica ............................................................. 14 4 Ante o servio .......................................................................... 18 5 Assimilao de correntes mentais .......................................... 21 6 Psicofonia consciente ............................................................. 25 7 Socorro espiritual .................................................................... 29 8 Psicofonia sonamblica .......................................................... 33 9 Possesso ............................................................................... 37 10 Sonambulismo torturado ....................................................... 42 11 Desdobramento em servio .................................................. 47 12 Clarividncia e clariaudincia ................................................ 53 13 Pensamento e mediunidade ................................................. 58 14 Em servio espiritual ............................................................. 63 15 Foras viciadas ..................................................................... 68 16 Mandato medinico ............................................................... 73 17 Servio de passes ................................................................. 81 18 Apontamentos margem ...................................................... 87 19 Dominao teleptica ............................................................ 91 20 Mediunidade e orao ........................................................... 96 21 Mediunidade no leito de morte ............................................ 102 22 Emerso no passado .......................................................... 107 23 Fascinao .......................................................................... 111 24 Luta expiratria .................................................................... 115 25 Em torno da fixao mental ................................................ 119 26 Psicometria .......................................................................... 122 27 Mediunidade transviada ...................................................... 127 28 Efeitos fsicos ...................................................................... 131 29 Anotaes em servio ......................................................... 138 30 ltimas pginas ................................................................... 143
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Raios, Ondas, Mdiuns, Mentes... A Cincia do sculo XX, estudando a constituio da matria, caminha de
surpresa em surpresa, renovando aspectos de sua conceituao milenar. No obstante a teoria de Leucipo, o mentor de Demcrito, o qual, quase cinco
sculos antes do Cristo, considerava as coisas formadas de partculas infinitesimais (tomos), em constante movimentao, a cultura clssica prosseguia detida nos quatro princpio de Aristteles, a gua, a terra, o ar e o fogo, ou nos trs elementos hipostticos dos antigos alquimistas, o enxofre, o sal e o mercrio, para explicar as mltiplas combinao no campo da forma.
No sculo XIX, Dalton concebe cientificamente a teoria corpuscular da matria, e um maravilhoso perodo de investigao se inicia, atravs de inteligncias respeitabilssimas, renovando idias e concepes em volta da chamada partculas indivisvel.
Extraordinrias descobertas descortinam novos e grandiosos horizontes aos conhecimentos humanos.
Crookes surpreende o estado radiante da matria e estuda os raios catdicos. Rntgen observa que radiaes invisveis atravessam o tubo de Crookes
envolvido por uma caixa de papelo preto, e conclui pela existncia dos raios X. Henri becquerel, seduzido pelo assunto, experimenta o urnio, procura de
radiaes do mesmo teor, encontra motivos para novas indagaes. O casal Curie, intrigado com o enigma, analisa toneladas de pechblenda e
detm o rdio. Velhas afirmaes cientficas tremem nas bases. Rutherford, frente de larga turma de pioneiros, inicia preciosos estudos, em
torno da radio-atividade. O tomo sofre irresistvel perseguio na fortaleza a que se acolhe e confia ao
homem a soluo de numerosos segredos. E, desde o ltimo quartel do sculo passado, a Terra se converteu num reino
de ondas e raios, correntes e vibraes. A eletricidade e o magnetismo, o movimento e a atrao palpitam em tudo. O estudo dos raios csmico evidencia as fantsticas energias espalhadas no
Universo, provendo os fsicos de poderosssimo instrumento para investigao dos fenmenos atmicos e subatmicos.
Bohrs, Planck, Einstein erigem novas e grandiosas concepes. O veculo carnal agora no mais que um turbilho eletrnico, regido pela
conscincia. Cada corpo tangvel transformado em energia, e esta desaparece para dar
lugar matria. Qumicos e fsicos, gemetras e matemticos, erguidos condio de
investigadores da verdade, so hoje, sem o desejarem, sacerdotes do Esprito, porque, como conseqncia de seus porfiados estudos, o materialismo e o atesmo sero compelidos a desaparecer, por falta de matria, a base que lhes assegurava as especulaes negativistas.
Os laboratrios so templos em que a inteligncia concitada ao servio de Deus, e, ainda mesmo quando a celebrao se perverte, transitoriamente subornada
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pela hegemonia poltica, geradora de guerras, o progresso da Cincia, como conquista divina, permanece na exaltao do bem, rumo a glorioso porvir.
O futuro pertence ao Esprito! E, meditando no amanh da coletividade terrestre, Andr Luiz organizou estas
ligeiras pginas, em torno da mediunidade, compreendendo a importncia, cada vez maior, do intercmbio espiritual entre as criaturas.
Quanto mais avana na ascenso evolutiva, mais seguramente percebe o homem a inexistncia da morte como cessao da vida.
E agora, mais que nunca, reconhece-se na posio de uma conscincia retida entre foras e fluidos, provisoriamente aglutinados para fins educativos.
Compreende, pouco a pouco, que o tmulo porta renovao, como o bero acesso experincia, e observa que o seu estgio no planeta uma viagem com destino s estaes do Progresso Maior.
E, na grande romagem, todos somos instrumentos das foras com as quais estamos em sintonia. Todos somos mdiuns, dentro do campo mental que nos prprio, associando-nos s energias edificantes, se o nosso pensamento flui na direo da vida primitivista ou torturada.
Cada criatura com os sentimentos emite raios especficos e vive na onda espiritual com que se identifica.
Semelhantes verdades no permanecero semi-ocultas em nossos santurios de f. Irradiar-se-o dos templos da Cincia como equaes matemticas.
E enquanto variados aprendizes focalizam a mediunidade, estudando-a da Terra para o Cu, nosso amigo procura analisar-lhe a posio e os valores, do Cu para Terra, colaborando na construo dos tempos novos.
Todavia, o que destacamos por mais alto em suas pginas a necessidade do Cristo no corao e na conscincia, para que no estejamos desorientados ao toque dos fenmenos.
Sem noo de responsabilidade, sem devoo prtica do bem, sem amor ao estudo e sem esforo perseverante em nosso prprio burilamento moral, impraticvel a peregrinao libertadora para os Cimos da Vida.
Andr Luiz bastante claro para que nos alonguemos em qualquer considerao.
Cada mdium com a sua mente. Cada mente com os seus raios, personalizando observaes e interpretaes. E, conforme os raios que arremessamos, erguer-se-nos-a o domiclio espiritual
na onda de pensamentos a que nossas almas se afeioam. Isso, em boa sntese, equivale ainda a repetir com Jesus: - A cada qual segundo suas obras.
Emmanuel Pedro Leopoldo, 3 de outubro de 1954.
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1 Estudando a mediunidade
Indubitavelmente concordava o Assistente ulus a mediunidade problema dos mais sugestivos na atualidade do mundo. Aproxima-se o homem terreno da Era do Esprito. Sob a luz da Religio Csmica do Amor e da Sabedoria e, decerto, precisa de cooperao, a fim de que se lhe habilite o entendimento.
O orientador, de feio nobre e simptica, recebera-nos, a pedido de Clarncio, para um curso rpido de cincias medinicas.
Especializara-se em trabalhos dessa natureza, consagrando-lhes muitos anos de abnegao. Era, por isso, dentre as relaes do Ministro, que se nos fizera patrono e condutor, um dos companheiros mais competentes no assunto.
ulus nos acolhera com afabilidade e doura. Relacionando aflitivas questes da Humanidade Terrestre, pousava em ns o
olhar firme e lcido, no apenas com o interesse do irmo mais velho, mas tambm com a afetividade de um pai enternecido.
Hilrio e eu no conseguamos disfarar a admirao. Era um privilgio ouvi-lo discorrer sobre o tema que nos trazia at ali. Aliavam-se nele substanciosa riqueza cultural e o mais entranhado patrimnio
de amor, causando-nos satisfao o v-lo reportar-se s necessidades humanas, com o carinho de enfermeiro para a alegria de ajudar e salvar.
Interessava-se pelas experimentaes medinicas, desde 1779, quando conhecera Mesmer, em Paris, no estudo das clebres proposies lanadas a pblico pelo famoso magnetizador. Reencarnando no incio do sculo passado, apreciara, de perto, as realizaes de Allan Kardec, na codificao do Espiritismo, e privara com Cahagnet e Balzac, com Thophile Gautier e Victor Hugo, acabando seus dias na Frana, depois de vrios decnios consagrados mediunidade e ao magnetismo, nos moldes cientficos da Europa. No mundo espiritual prosseguiu no mesmo rumo, observando e trabalhando em seu apostolado educativo. Dedicando-se agora obra de espiritualizao no Brasil, e isto h mais de trinta anos, comentava, otimista, as esperanas do novo campo de ao, dando-nos a conhecer a primorosa bagagem de memria e experincias de que se fazia portador.
Maravilhados ao ouvi-lo, mal lhe respondia-nos a essa ou quela indagao. Conhecamos, sim informamos, respeitosos, em dado momento, alguns
aspectos do intercmbio espiritual; todavia, o nosso desejo era amealhar mais amplas noes do assunto, com a simplicidade possvel.
Em outras ocasies, estudramos ao de leve alguns fenmenos de psicografia, incorporao e materializao, no entanto, era isso muito pouco, face dos mltiplos servios que a mediunidade encerra em si mesma.
O anfitrio, afvel, aquiesceu em elucidar-nos. Colaborava em diversos setores de trabalho e prodigalizar-nos-ia aquilo que
considerava, com humildade, como sendo alguns apontamentos.
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Para comear, convidou-nos a ouvir um amigo que falaria sobre mediunidade a pequeno grupo de aprendizes encarnados e desencarnados, e em cuja palavra reconhecia oportunidade e valor.
No nos fizemos de rogados ante a obsequiosa lembrana. E, porque no havia tempo a perder, seguimo-lo, prestamente. Em vasto recinto do Ministrio das Comunicaes, fomos apresentados ao
Instrutor Albrio, que se dispunha a iniciar a palestra. Tomamos lugar entre as dezenas de companheiros que o seguiam, atentos,
em muda expectao. Como tantos outros orientadores que eu conhecia, Albrio assomou tribuna,
sem cerimnia, qual se nos fora simples irmo, conversando conosco em tom fraternal.
Meus amigos falou, com segurana -, dando continuidade aos nossos estudos anteriores, precisamos considerar que a mente permanece na base de todos os fenmenos medinicos.
No ignoramos que o Universo, a estender-se no Infinito, por milhes e milhes de sis, a exteriorizao do Pensamento Divino, de cuja essncia partilhamos, em nossa condio de raios conscientes da Eterna Sabedoria, dentro do limite de nossa evoluo espiritual.
Da superestrutura dos astros infra-estrutura subatmica, tudo est mergulhado na substncia viva da Mente de Deus, como os peixes e as plantas da gua esto contidos no oceano imenso.
Filhos do Criador, dEle herdamos a faculdade de criar e desenvolver nutrir e transformar.
Naturalmente circunscritos nas dimenses conceptuais em que nos encontramos, embora na insignificncia de nossa posio comparada glria dos Espritos que j atingiram a angelitude, podemos arrojar de ns a energia atuante do prprio pensamento, estabelecendo, em torno de nossa individualidade, o ambiente psquico que nos particular.
Cada mundo possui o campo de tenso electromagntica que lhe prprio, no teor de fora gravtica em que se equilibra, e cada alma se envolve no crculo de foras vivas que lhe transpiram do hlito mental, na esfera de criaturas a que se imana, em obedincia s suas necessidades de ajuste ou crescimento para imortalidade.
Cada planeta revoluciona na rbita que lhe assinalada pelas do equilbrio, sem ultrapassar as linhas de gravitao que lhe dizem respeito, e cada conscincia evolve no grupo espiritual a cuja movimentao se subordina.
Somos, pois, vastssimo conjunto de Inteligncias, sintonizadas no mesmo padro vibratrio de percepo, integrando um Todo, constitudo de alguns bilhes se seres, que formam por assim dizer a Humanidade Terrestre.
Compondo, assim, apenas humilde famlia, no infinito concerto da vida csmica, em que cada mundo guarda somente determinada famlia da Humanidade Universal, conhecemos, por enquanto, simplesmente as expresses da vida que nos fala mais de pero, limitados ao degrau de conhecimento que j escalamos.
Dependendo dos nossos semelhantes, em nossa trajetria para a vanguarda evolutiva, maneira dos mundos que se deslocam no Espao, influenciados pelos
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astros que os cercam, agimos e reagimos uns sobre os outros, atravs da energia mental em que nos renovamos constantemente, criando, alimentando e destruindo formas e situaes, paisagens e coisas, na estruturao dos nossos destinos.
Nossa mente , dessarte, um ncleo de foras inteligentes, gerando plasmas sutil que, a exteriorizar-se incessantemente de ns, oferece recursos de objetividade s figuras de nossa imaginao, sob o comando de nossos prprios desgnios.
A idia de um ser organizado por nosso esprito, a que o pensamento d forma e ao qual a vontade imprime movimento e direo.
Do conjunto de nossas idias resulta a nossa prpria existncia. O orador fez pequeno intervalo que ningum ousou interromper e prosseguiu
comentando: Segundo fcil de concluir, todos os seres vivos respiram na onda de
psiquismo dinmico que lhes peculiar, dentro das dimenses que lhes so caractersticas ou na freqncia que lhes prpria. Esse psiquismo independe dos centros nervosos, de vez que, fluindo da mente, ele que condiciona todos os fenmenos da vida orgnica em si mesma.
Examinando, pois, os valores anmicos como faculdades de comunicao entre os Espritos, qualquer que seja o plano em que se encontrem, no podemos perder de vista o mundo mental do agente e do recipiente, porquanto, em qualquer posio medinica, a inteligncia receptiva est sujeita s possibilidades e a interpretaes dos pensamentos que capaz de produzir.
Um hotentote desencarnado, em se comunicando com um sbio terrestre, ainda jungido ao envoltrio fsico, no lhe poder oferecer notcias outras, alm dos assuntos triviais em que se lhe desdobraram no mundo as experincias primitivistas, e um sbio, sem o indumento carnal, entrando em relao com o hotentote, ainda colado ao seu habitat africano, no conseguir facultar-lhe cooperao imediata, seno no trabalho embrionrio em que se lhe encravam os interesses mentais, como sejam o auxlio a um rebanho bovino ou a cura de males do corpo denso. Por isso mesmo, o hotentote no se sentiria feliz na companhia do sbio e o sbio, a seu turno, no se demoraria com o hotentote, por falta desse alimento quase impondervel a que podemos chamar vibraes compensadas.
da lei, que nossas maiores alegrias sejam recolhidas ao contacto daqueles que, em nos compreendendo, permutam conosco valores mentais de qualidades idnticas aos nossos, assim como as rvores oferecem maior coeficiente de produo se colocadas entre companheiras da mesma espcie, com as quais trocam seus princpios germinativos.
Em mediunidade, portanto, no podemos olvidar o problema da sintonia. Atramos os Espritos que se afinam conosco, tanto quanto somos por eles
atrados; e se verdade que cada um de ns somente pode dar conforme o que tem, indiscutvel que cada um recebe de acordo com aquilo que d.
Achando-se a mente na base de todas as manifestaes medinicas, quaisquer que sejam os caractersticos em que se expressem, imprescindvel enriquecer o pensamento, incorporando-lhe os tesouros morais e culturais, os nicos que nos possibilitam fixar a luz que jorra para ns, das Esferas Mais Altas, atravs dos gnios da sabedoria e do amor que supervisionam nossas experincias.
Procederam acertadamente aqueles que compararam nosso mundo mental a um espelho.
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Refletimos as imagens que nos cercam e arremessamos na direo dos outros as imagens que criamos.
E, como no podemos fugir ao imperativo da atrao, somente retrataremos a claridade e a beleza, se instalarmos a beleza e a claridade no espelho de nossa vida ntima.
Os reflexos mentais, segundo a sua natureza, favorecem-nos a estagnao ou nos impulsionam a jornada para frente, porque cada criatura humana vive no cu ou no inferno que edificou para si mesma, nas reentrncias do corao e da conscincia, independentemente do corpo fsico, porque, observando a vida em sua essncia de eternidade gloriosa, a morte vale apenas como transio entre dois tipos da mesma experincia, no hoje imperecvel.
Vemos a mediunidade em todos os tempos e em todos os lugares da massa humana.
Misses santificantes e guerras destruidoras, tarefas nobres e obsesses prfidas, guardam origem nos reflexos da mente individual ou coletiva, combinados com as foras sublimadas ou degradantes dos pensamentos de que se nutrem.
Saibamos, assim, cultivar a educao, aprimorando-nos cada dia. Mdiuns somos todos ns, nas linhas de atividade em que nos situamos. A fora psquica, nesse ou naquele teor de expresso, peculiar a todos os
seres, mas no existe aperfeioamento medinico sem acrisolamento da individualidade.
contraproducente intensificar a movimentao da energia sem disciplinar-lhe os impulsos.
perigoso possuir sem saber usar. O espelho sepultado na lama no reflete o esplendor do Sol. O lago agitado no retrata a imagem da estrela que jaz no infinito. Elevemos nosso padro de conhecimento pelo estudo bem conduzido e
apuremos a qualidade de nossa emoo pelo exerccio constante das virtudes superiores, se nos propomos recolher a mensagem das Grandes Almas.
Mediunidade no basta s por si. imprescindvel saber que tipo de onda mental assimilamos para conhecer da
qualidade de nosso trabalho e ajuizar de nossa direo. Albrio prosseguiu ainda em seus valiosos comentrios e, mais tarde, passou
a responder a complicadas perguntas que lhe eram desfechadas por diversos aprendizes. Por minha vez recolhera largo material de meditao e, em razo disso, em companhia de Hilrio, despedi-me dos instrutores com alguns monosslabos de agradecimento, ouvindo de ulus a promessa de reencontro para o dia seguinte.
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2 O PSICOSCPIO
Tornando ao convvio do Assistente, na noite imediata, dele recebemos o acolhimento gentil da vspera.
Creio haver traado o nosso programa falou, paternal. Finda a ligeira pausa em que nos registrava a ateno, prosseguiu: Admito que devamos centralizar nossas observaes em reduzido ncleo,
onde melhor dispomos do fator qualidade. Temos um grupo de dez companheiros encarnados, com quatro mdiuns detentores de faculdades regularmente desenvolvidas e de lastro moral respeitvel. Trata-se de pequeno conjunto, a servio de uma instituio consagrada ao nosso ideal cristianizante. Desse grupo-base ser-nos- possvel alongar apontamentos e coletar anotaes que se faam valiosas nossa tarefa.
Fitou-nos com bondade por um instante de silncio e acrescentou: - Isso porque vocs pretendem especializar conhecimentos, em torno da
mediunidade, apenas no crculo terrestre, de vez que em nosso campo de ao espiritual o assunto seria muito menos complexo.
- Sim esclarecemos Hilrio e eu - , desejvamos auxiliar, de algum modo, os irmos encarnados, na execuo de servios em que se mostravam comprometidos. A oportunidade, por esse motivo, surgia diante de ns por verdadeira bno.
Decorridos alguns minutos de entendimento afetuoso, o orientador convidou, solcito:
- Sigamos. No h tempo a perder. Logo aps, muniu-se de pequena pasta e, talvez porque nos percebesse a
curiosidade, informou, paciente: - Temos aqui o nosso psicoscpio, de modo a facilitar-nos exames e estudos,
sem o impositivo de acurada concentrao mental. Tomei o enigmtico volume, chamando a mim o agradvel servio de
transport-lo, notando, ento, que na Terra o minsculo objeto no pesaria seno alguns gramas.
Espicaado tanto quanto eu pela curiosidade, Hilrio indagou sem prembulos: Psicoscpio? Que novo engenho vem a ser esse? um aparelho a que intuitivamente se referiu ilustre estudioso da
fenomenologia espirtica, em fins do sculo passado. Destina-se auscultao da alma, com o poder de definir-lhe as vibraes e com capacidade para efetuar diversas observaes em torno da matria esclareceu ulus, com leve sorriso. Esperemos esteja, mais tarde, entre os homens. Funciona base de elementos radiantes, anlogos na essncia aos raios gama.
constitudo por culos de estudo, com recursos disponveis para a microfotografia.
E, enquanto demandvamos a cidade terrestre, em que nos cabia operar, o mentor continuava, explicando:
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Em nosso esforo de superviso, podemos classificar sem dificuldade as perspectivas desse ou daquele agrupamento de servios psquicos que aparecem no mundo. Analisando a psicoscopia de uma personalidade ou de uma equipe de trabalhadores, possvel anotar-lhes as possibilidades e categorizar-lhes a situao. Segundo as radiaes que projetam, planejamos a obra que podem realizar no tempo.
Meu colega e eu no conseguamos sopitar a surpresa. Entre assombrado e receoso, ousou Hilrio inquirir: Quer isso dizer que qualquer de ns pode ser submetido a exame dessa
espcie? Sem dvida considerou o nosso interlocutor bem-humorado -; decerto que
estamos sujeitos s sondagens dos planos superiores, tanto quanto pesquisamos agora os planos que se nos situam retaguarda. Se o espectroscpio permite ao homem perquirir a natureza dos elementos qumicos, localizados a enormes distncias, atravs da onda luminosa que arrojam de si, com muito mais facilidade identificamos os valores da individualidade humana pelos raios que emite. A moralidade, o sentimento, a educao e o carter so claramente perceptveis, atravs de ligeira inspeco.
Mas indagou Hilrio, investigador -, e na hiptese de surgirem elementos arraigados ao mal, numa formao de cooperadores do bem? De posse da ficha psicoscpica, os instrutores espirituais providenciar-lhes-o a expulso?
No ser preciso. Se a maioria permanece empenhada na extenso do bem, a minoria encarcerada no mal distancia-se do conjunto, pouco a pouco, por ausncia de afinidade.
Contudo alegou ainda o meu companheiro - , que acontece numa instituio cujo programa elevado se degenera em desequilbrio, induzindo-nos a reconhecer que a virtude a no passa de bandeira fictcia, acobertando a ignorncia e a perversidade?
Ento, nesse caso adiantou o interpelado, tolerante -, dispensamos qualquer regime de perseguio ou denncia. Encarrega-se a vida de colocar-nos no lugar que nos compete.
E, sorrindo, ajuntou: Os Anjos ou Ministros da Eterna Sabedoria entregam-nos, com segurana, s
forjas renovadoras do tempo e da provao. Sabe-se, atualmente, na Terra, que um grama de rdio perde a metade do seu peso em dezesseis sculos e que um ciclotron, trabalhando com projetis atmicos acelerados a milhes de electrons-volt, realiza a transmutao dos elementos qumicos, de imediato. A evoluo vagarosa nos milnios ou o choque brusco do sofrimento alteram-nos o panorama mental, aprimorando-lhes os valores.
Essas notas arrastavam-nos a divagao noutros campos. O assistente revelava brilhante cultura, aliada a extremas facilidades de
exposio. Dispunha-me a ensaiar perguntas extra-servio, mas, adivinhando-nos o
intento, ulus objetou:
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Toda conversao nobre instrutiva, no entanto, por agora, guardemos o esprito no trabalho a fazer. O xito no oxonera a ateno. Se cairmos numa digresso acerca da qumica, o horrio no nos desculpar.
Reajustando-se aos nossos objetivos, Hilrio acentuou: O psicoscpio, s por si, d margem a preciosas reflexes. Imaginemos uma
sociedade humana que pudesse retratar a vida interior dos seus membros...Isso economizaria grandes quotas de tempo na soluo de inmeros problemas psicolgicos.
Sim anuiu o mentor, cordial -, o futuro reserva prodgios ao senso do homem comum.
Havamos, porm, alcanado o porto de espaoso edifcio que o Assistente nos designou como sendo o santurio que nos competia visitar e servir.
Esta a casa esprita-crist onde encontraremos nosso ponto bsico de experincias e observaes.
Entramos. Atravessado largo recinto, em que estacionavam numerosas entidades menos
felizes de nosso plano, o orientador esclareceu: Vemos aqui o salo consagrado aos ensinamentos pblicos. Todavia, o ncleo
que buscamos jaz situado em reduto ntimo, assim como o corao dentro do corpo. Escoados alguns instantes, penetramos acanhado aposento, onde se
congregava reduzida assemblia, em silenciosa concentrao mental. Nossos companheiros elucidou o Assistente fazem o servio de
harmonizao preparatria. Quinze minutos de prece, quando no sejam de palestra ou leitura com elevadas bases morais. Sabem que no devem abordar o mundo espiritual sem a atitude nobre e digna que lhes outorgar a possibilidade de atrair companhias edificantes e, por esse motivo, no comparecem aqui sem trazer ao campo que lhes invisvel as sementes do melhor que possuem.
Hilrio e eu nos inclinvamos indagao, contudo, a respeitabilidade do recinto impunha-nos silncio.
Amigos da nossa esfera ali se demoravam em orao, compelindo-nos a entranhado recolhimento.
O Assistente armou o psicoscpio e, depois de ligeira anlise, recomendou-nos a observao.
Chegada a minha vez de usa-lo, assombraram-me as peculiaridades do aparelho.
Sem necessidade de esforo mental, notei que todas as expresses de matria fsica assumiam diferente aspecto, destacando-se a matria de nosso plano.
Teto, paredes e objetos de uso corriqueiro revelavam-se formados de correntes de fora, a emitirem baa claridade.
Detive-me na contemplao dos companheiros encarnados que agora apareciam mais estreitamente associados entre si, pelos vastos crculos radiantes que lhes nimbavam as cabeas de opalino esplendor.
Tive a impresso de fixar, em torno do apagado bloco de massa semi-obscura a que se reduzira a mesa, uma coroa de luz solar, formada por dez pontos
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caractersticos, salientando-se no centro de cada um deles o semblante espiritual dos amigos em orao.
Desse colar de focos dourados alongava-se extensa faixa de luz violeta, que parecia contida numa outra faixa de luz alaranjada, a espraiar-se em tonalidades diversa que, de momento, no pude identificar, de vez que a minha ateno estava presa ao crculo dos rostos fulgurantes, visivelmente unidos entre si, maneira de dez pequeninos sis, imanados uns aos outros. Reparei que sobre cada um deles se ostentava uma aurola de raios quase verticais, fulgentes e mveis, quais se fossem diminutas antenas de ouro fumegante. Sobre essas coroas que se particularizam, de companheiro a companheiro, caam do Alto abundantes jorros de luminosidade estelar que, tocando as cabeas ali irmanadas, pareciam suaves correntes de fora a se transformarem em ptalas microscpicas, que se acendiam e apagavam, em mirades de formas delicadas e caprichosas, gravitando, por momentos, ao redor dos crebros em que se produziam, quais satlites de vida breve, em torno das fontes vitais que lhes davam origem.
Custodiando a assemblia, permaneciam os mentores espirituais presentes, cada qual irradiando a luz que lhe era prpria.
Admirado, porm, com os irmos da esfera fsica, a se revelarem to afins, na onda brilhante em que se reuniam, perguntei, entusistico:
ulus amigo, os companheiros que visitamos so, porventura, grandes iniciados na revelao divina?
O interpelado estampou um gesto de bom-humor e respondeu: No. Achamo-nos ainda muito longe de semelhantes apstolos. Vemo-nos
aqui na companhia de quatro irms e seis irmos de boa-vontade. Naturalmente, so pessoas comuns. Comem, bebem, vestem-se e apresentam-se na Terra sob o aspecto vulgar de outras criaturas do ramerro carnal; no entanto, trazem a mente voltada para os ideais superiores da f ativa, a expressar-se em amor pelos semelhantes. Procuram disciplinar-se, exercitam a renncia, cultivam a bondade constante e, por intermdio do esforo prprio no bem e no estudo nobremente conduzido, adquiriram elevado teor de radiao mental.
Hilrio, que utilizara o psicoscpio em primeiro lugar, alegou com o deslumbramento de uma criana espantada:
Mas, e a luz? A matria que conhecemos no mundo transfigurou-se. Tudo aqui se converteu em claridade nova! O espetculo magnfico!...
Nada de estranheza falou o Assistente, bondoso -, no sabe voc que um homem encarnado um gerador de fora electromagntica, com uma oscilao por segundo, registrada pelo corao? Ignora, porventura, que todas as substncias vivas da Terra emitem energias, enquadradas nos domnios das radiaes ultravioletas? Em nos reportando aos nossos companheiros, possumos neles almas regularmente evolutidas, em apreciveis condies vibratrias pela sincera devoo ao bem, com esquecimento dos seus prprios desejos. Podem, desse modo, projetar raios mentais, em vias de sublimao, assimilando correntes superiores e enriquecendo os raios vitais de que so dnamos comuns.
Raios vitais? redargiu meu colega, faminto de esclarecimento. Sim, para maior limpidez da definio, chamemos-lhes raios ectoplsmicos,
unindo nossos apontamentos nomenclatura dos espiritistas modernos. Esses raios so peculiares a todos os seres vivos. com eles que a lagarta realiza suas complicadas demonstraes de metamorfose e ainda na base deles que se efetuam
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todos os processos de materializao medinica, porquanto os sensitivos encarnados que os favorecem libertam essas energias com mais facilidade. Todas as criaturas, porm, guardam-nas consigo, emitindo-as em freqncia que varia em cada uma, de conformidade com as tarefas que o Plano da Vida lhes assinala.
E, otimista, acrescentou: O estudo da mediunidade repousa nos alicerces da mente com o seu
prodigioso campo de radiaes. A cincia dos raios imprimir, em breve, grande renovao aos setores culturais do mundo.
Aguardemos o porvir. Em seguida, ulus convidou-nos a inspeco mais direta e acompanhamo-lo
alegremente.
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3 Equipagem medinica
Conhecemos a nossa equipagem medinica disse o orientador. E, detendo-se ao p do companheiro encarnado que regia os trabalhos,
apresentou: Este o nosso irmo Raul Silva, que dirige o ncleo com sincera devoo
fraternidade. Correto no desempenho dos seus deveres e ardoroso na f, consegue equilibrar o grupo na onda de compreenso e boa-vontade que lhe caracterstica. Pelo amor com que se desincumbe da tarefa, instrumento fiel dos benfeitores desencarnados, que lhe identificam na mente um espelho cristalino, retratando-lhes as instrues.
Logo aps, caminhou na direo de uma senhora muito jovem e, designando-a, explicou:
- Eis nossa irm Eugnia, mdium de grande docilidade, que prometeu brilhante futuro na expanso do bem. Excelente rgo de transmisso, coopera com eficincia na ajuda aos desencarnados em desequilbrio. Intuio clara, aliada distino moral, tem a vantagem de conservar-se consciente, nos servios de intercmbio, beneficiando-nos a ao.
Quase rente, parou esquerda de um rapaz de seus trinta anos presumves e informou:
Este o nosso colaborador Antnio Castro, moo bem-intencionado e senhor de valiosas possibilidades em nossas atividades de permuta. Sonmbulo, no entanto, de uma passividade que nos requer grande vigilncia. Desdobra-se com facilidade, levando a efeito preciosas tarefas de cooperao conosco, mas ainda necessita de maiores estudos e mais amplas experincia para expressar-se com segurana, acerca das prprias observaes. Por vezes, comporta-se, fora da matria densa, maneira de uma criana, comprometendo-nos a ao. Quando empresta o veculo a entidades dementes ou sofredoras, reclama-nos cautela, porquanto quase sempre deixa o corpo merc dos comunicantes, quando lhe compete o dever de ajudar-nos na conteno deles, a fim de que o nosso tentame de fraternidade no lhe traga prejuzo organizao fsica. Ser, porm, valioso auxiliar em nossos estudos.
Movimentando-se algo mais, o Assistente estacou diante de respeitvel senhora, que se mantinha em fervorosa prece, e exclamou:
Apresento-lhes agora a nossa irm Celina, devotada companheira de nosso ministrio espiritual. J atravessou meio sculo de existncia fsica, conquistando significativas vitrias em suas batalhas morais. Viva, h quase vinte anos, dedicou-se aos filhos, com admirvel denodo, varando estradas espinhosas e dias escuros de renunciao. Suportou heroicamente o assdio de compactas legies de ignorncia e misria que lhe rodeavam o esposo, com quem se consorciara em tarefa de sacrifcio. Conheceu, de perto, a perseguio de gnios infernais a que no se rendeu e, lutando, por muitos anos, para atender de modo irrepreensvel s obrigaes que o mundo lhe assinalava, acrisolou as faculdades medianmicas, aperfeioando-as nas chamas do sofrimento moral, como se aprimoram as peas de ferro sob a ao do fogo e da bigorna. Ela no simples instrumento de fenmenos psquicos. abnegada servidora na construo de valores do esprito. A clarividncia e a clariaudincia, a incorporao sonamblica e o desdobramento da personalidade so
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estados em que ingressa, na mesma espontaneidade com que respira, guardando noo de suas responsabilidades e representando, por isso, valiosa colaboradora de nossas realizaes. Diligente e humilde, encontrou na plantao do amor fraterno a sua maior alegria e, repartindo o tempo entre as obrigaes e os estudos edificantes, transformou-se num acumulador espiritual de energias benficas, assimilando elevadas correntes mentais, com o que se faz menos acessvel s foras da sombra.
Realmente, ao lado da irm sob nossa vista, fruamos deliciosa sensao de paz e reconforto.
Provavelmente fascinado pela onda de alegria indefinvel em que nos banhvamos, Hilrio indagou:
- Se extrassemos agora uma ficha psicoscpica da dona Celina, a posio dela como a estamos registrando, seria devidamente caracterizada?
Perfeitamente - elucidou ulus, de pronto -; assinalar-lhe-ia as emanaes fludicas de bondade e compreenso, f e bom nimo. Assim como a Cincia na Terra consegue catalogar os elementos qumicos que entram nas formaes de matria densa, em nosso campo de matria rarefeita possvel analisar o tipo de foras sutis que dimanam de cada ser. Mais tarde, o homem poder examinar uma emisso de otimismo ou de confiana, de tristeza ou desesperao e fixar-lhes a densidade e os limites, como j pode separar e estudar as radiaes do tomo de urnio. Os princpios mentais so mensurveis e merecero no porvir excepcionais atenes, entre os homens, qual acontece na atualidade com os fotnios, estudados pelos cientistas que se empenham em decifrar a constituio especfica da luz
Depois de ligeiro intervalo, o Assistente aduziu: Uma ficha psicoscpica, sobretudo, determina a natureza de nossos
pensamentos e, atravs de semelhante auscultao, fcil ajuizar dos nossos mritos ou das nossas necessidades.
Logo aps, nosso orientador convocou-nos a exame detido, junto ao campo enceflico da irm Celina, acentuando:
Em todos os processos medianmicos, no podemos esquecer a mquina cerebral como rgo de manifestao da mente. Decerto, j possuem conhecimentos adequados em torno do aparelhamento orgnico, dispensando-nos a ateno em particularidades tcnicas sobre o vaso carnal.
E afagando-lhe a cabea pintalgada de cabelos brancos, acrescentou: Bastar-nos- sucinto exame da vida intracraniana, onde esto assentadas as
chaves de comunicao entre o mundo mental e o mundo fsico. Centralizando a ateno, atravs de pequenina lente que ulus nos estendeu,
o crebro de nossa amiga pareceu-nos poderosa estao radiofnica, reunindo milhares de antenas e condutos, resistncias e ligaes de tamanho microscpico, disposio das clulas especializadas em servios diversos, a funcionarem como detectores e estimulantes, transformadores e ampliadores da sensao e da idia, cujas vibraes fulguravam a dentro como raios incessantes, iluminando um firmamento minsculo.
O Assistente observou conosco aquele precioso labirinto, em que a epfese brilhava como pequenino sol azul, e falou:
No nos convm relacionar minudncias relativas ao crebro e ao sistema nervoso em geral, com as quais se encontram vocs familiarizados nos conhecimentos humanos comuns.
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Nesse instante, reparei admirado os feixes de associao entre as clulas corticais, vibrando com a passagem do fluxo magntico do pensamento.
Recordemos prosseguiu o instrutor que o delicado aparelho enceflico rene milhes de clulas, que desempenham funes particulares, quais sejam as dos trabalhadores em fila hierrquica, na harmoniosa estrutura de um Estado.
E, enumerando determinadas regies, trecho a trecho, daquele prodigioso reino pensante, declarou:
No precisaremos alongar digresses. As experincias adquiridas pela alma constituem maravilhosas snteses de percepo e sensibilidade, na condio de Espritos libertos em que nos encontramos, mas especificam-se no equipamento de matria densa como ncleos de controle das manifestaes da individualidade, perfeitamente analisveis.
, assim que a alma encarnada possui no crebro fsico os centros especiais que governam a cabea, o rosto, os olhos, os ouvidos e os membros, em conjunto com os centros da fala, da linguagem, da viso, da audio, da memria, da escrita, do paladar, da deglutio, do tato, do olfato, do registro do calor e do frio, da dor, do equilbrio muscular, da comunho com os valore internos da mente, da ligao com o mundo exterior, da imaginao, do gosto esttico, dos variados estmulos artsticos e tantos outros quantas sejam as aquisies de experincia entesouradas pelo ser, que conquista a prpria individualidade, passo a passo e esforo a esforo, enaltecendo-a pelo trabalho constante para a sublimao integral, face de todas as vias de progresso e aprimoramento que a Terra lhe possa oferecer.
Breve pausa surgiu espontnea. E porque Hilrio e eu no ousssemos interferir, o Assistente continuou: No podemos realizar qualquer estudo de faculdades medianmicas, sem o
estudo da personalidade. Considero, assim, de extrema importncia a apreciao dos centros cerebrais, que representam bases de operao do pensamento e da vontade, que influem de modo compreensvel em todos os fenmenos medinicos, desde a intuio pura materializao objetiva. Esses recursos, que merecem a defesa e o auxlio das entidades sbias e benevolentes, em suas tarefas de amor e sacrifcio junto dos homens, quando os medianeiros se sustentam no ideal superior da bondade e do servio ao prximo, em muitas ocasies podem ser ocupados por entidades inferiores ou animalizadas, em lastimveis processos de obsesso.
Mas interps Hilrio, judicioso -, diante de um campo cerebral to iluminado quanto o de nossa irm Celina, ser lcito aceitar a possibilidade de invaso dele por parte de Inteligncias menos evolvidas? Ser cabvel semelhante retrocesso?
No podemos olvidar considerou o Assistente que Celina se encontra encarnada numa prova de longo curso e que, nos encargos de aprendiz, ainda se encontra muito longe de terminar a lio.
Meditou um momento e filosofou bem-humorado: Numa viagem de cem lguas podem ocorrer muitas surpresas no derradeiro
quilmetro do caminho. Logo aps, colocando a destra paternal sobre a fronte da mdium, prosseguiu: Nossa irm vem atravessando os seus testemunhos de boa-vontade, f viva,
caridade e pacincia. Tanto quanto ns, ainda no possui plena quitao com o passado. Somos vasta legio de combatentes em vias de vencer os inimigos que nos povoam a fortaleza ntima ou o mundo de ns mesmos, inimigos simbolizados em
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nossos velhos hbitos de convvio com a natureza inferior, a nos colocarem em sintonia com os habitantes das sombras, evidentemente perigosos ao nosso equilbrio.
Se nossa amiga Celina, quanto qualquer de ns, abandonar a disciplina a que somos constrangidos para manter a boa forma na recepo da luz, rendendo-se s sugestes da vaidade ou do desnimo, que costumamos fantasiar como sendo direitos adquiridos ou injustificvel desencanto, decerto sofrer o assdio de elementos destrutivos que lhe perturbaro a nobre experincia atual de subida.
Muitos mdiuns se arrojam a prejuzos dessa ordem. Depois de ensaios promissores e comeo brilhante, acreditam-se donos de recursos espirituais que lhes no pertencem ou temem as aflies prolongadas da marcha e recolhem-se inutilidade, descendo de nvel moral ou conchegando-se a improdutivo repouso, porquanto retomam inevitavelmente a cultura dos impulsos primitivos que o trabalho incessante no bem os induziria a olvidar.
E sorrindo: Ainda no chegamos vitria suprema sobre ns mesmos. Achamo-nos na
condio do solo terrestre, que no prescinde do arado protetor ou da enxada prestimosa, a fim de produzir. Sem os instrumentos do trabalho e da luta, aperfeioando-nos as possibilidades, estaramos permanentemente ameaados pela erva daninha que mais se alastra e se afirma, tanto quanto melhor a qualidade do trato de terra em abandono.
Fitando-nos, de frente, como a recordar o peso das responsabilidades de que nos investamos, completou:
Nossas realizaes espirituais do presente so pequeninas rstias de claridade sobre as pirmides de sombra do nosso passado. imprescindvel muita cautela com as sementeiras do bem para que a ventania do mal no as arrase. por isso que a tarefa medinica, examinada como instrumentao para a obra das Inteligncias superiores, no to fcil de ser conduzida a bom termo, de vez que, contra o canal ainda frgil que se oferece passagem da luz, acometem as ondas pesadas de treva da ignorncia, a se agitarem, compactas, ao nosso derredor.
Calou-se o Assistente. Dir-se-ia que ele tambm agora se ligava ao campo magntico dos amigos em
silncio, para o trabalho da reunio preste a comear.
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4 Ante o servio
Leve chamamento porta provocou a sada de um dos companheiros da atitude de meditao, para atender.
Dois enfermos, uma senhora jovem e um cavalheiro idoso, custodiados por dois familiares, transpuseram o umbral, localizando-se num dos ngulos da sala, fora do crculo magntico.
- So doentes a serem beneficiados informou-nos o orientador. Logo aps, um colaborador de nosso plano franqueou acesso a numerosas
entidades sofredoras e perturbadas, que se postaram, diante da assemblia, formando legio.
Nenhuma delas vinha at ns, constrangidamente. Dir-se-ia que se aglomeravam, em derredor dos amigos encarnados em prece,
quais mariposas inconscientes, rodeando grande luz. Vinham bulhentas, proferindo frases desconexas ou exclamaes menos
edificantes, entretanto, logo que atingidas pelas emanaes espirituais do grupo, emudeciam de pronto, qual se fossem contidas por foras que elas prprias no conseguiam perceber.
Atencioso, ulus notificou: So almas em turvao mental, que acompanham parentes, amigos ou
desafetos s reunies pblicas da Instituio, e que se desligam deles quando os encarnados se deixam renovar pelas idias salvadoras, expressas na palavra dos que veiculam o ensinamento doutrinrio. Modificando o centro mental daqueles que habitualmente vampirizam, essas entidades vem-se como que despejadas de casa, porquanto, alterada a elaborao do pensamento naqueles a quem se afeioam, experimentam sbitas reviravoltas nas posies em que falsamente se equilibram. Algumas delas, rebeladas, fogem dos templos de orao como este, detestando-lhes temporariamente os servios e armando novas perseguies s suas vtimas, que procuram at o reencontro; contudo, outras, de algum modo tocadas pelas lies ouvidas, demoram-se no local das predicaes, em ansiosa expectativa, famintas de maior esclarecimento.
Hilrio, que recebia, surpreso, semelhantes informes, perguntou, curioso: Sem dvida, passam pelos santurios da f na condio de urnas cerradas.
Impermeveis ao bom aviso, continuam inacessveis mudana necessria. Mas este mesmo fenmeno se repete nas igrejas de outras confisses
religiosas? Sim. A palavra desempenha significativo papel nas construes do esprito.
Sermes e conferncias de sacerdotes e doutrinadores, em variados setores da f, sempre que inspirados no Infinito Bem, guardam o objetivo da elevao moral.
O Assistente meditou um instante e acrescentou: Entre os homens, porm, se no fcil cultivar a vida digna, muito difcil
habilitar-se criatura morte libertadora. Comumente, desencarna-se a alma, sem
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que se lhe desagarrem os pensamentos, enovelados em situaes, pessoas e coisas da Terra. A mente, por isso, continua encarcerada nos interesses quase sempre inferiores do mundo, cristalizada e enfermia em paisagens inquietantes, criadas por ela mesma. Da o valor do culto religioso respeitvel, formando ambiente propcio ascenso espiritual, com indiscutveis vantagens, no s para os Espritos encarnados que a ele assistem, com sinceridade e fervor, mas tambm para os desencarnados, que aspiram prpria transformao. Todos os santurios, em seus atos pblicos, esto repletos de almas necessitadas que a eles comparecem, sem o veculo denso, sequiosas de reconforto. Os expositores da boa palavra podem ser comparados a tcnicos eletricistas, desligando tomadas mentais, atravs dos princpios libertadores que distribuem na esfera do pensamento.
Sorriu bem-humorado e prosseguiu: - Em razo disso, as entidades vampirizantes operam contra eles, muitas
vezes envolvendo-lhes os ouvintes em fluidos entorpecentes, conduzindo esses ltimos ao sono provocado, para que se lhes adie a renovao.
Observando os irmos retardados que se abeiravam da mesa num quase semicrculo, tive a idia de usar o psicoscpio, de modo a examina-los detidamente, ao que ulus informou, prestimoso:
No ser preciso. Bastar uma anlise atenta para a colheita de resultados interessantes, de vez que os nossos amigos estampam no prprio corpo perispiritual os sofrimentos de que so portadores.
Notei que o Assistente no desejava alongar a conversao, decerto preparando-se para colaborar nos trabalhos prximos e, por esse motivo, aproveitei os instantes nossa frente, especificando observaes, junto aos companheiros menos felizes que se uniam estreitamente uns aos outros, entre a angstia e a expectao.
Pareciam envolvidos em grande nuvem ovalada, qual nevoeiro cinza-escuro, espesso e mvel, agitado por estranhas formaes.
Reparei o conjunto, notando que alguns deles se mostravam enfermos, como se estivessem ainda na carne.
Membros lesados, mutilaes, paralisias e ulceraes diversas eram perceptveis a rpido olhar.
Talvez porque Hilrio e eu nos demorssemos em atencioso exame, na posio de aprendizes em aula, um dos colaboradores espirituais da reunio acercou-se e falou, cordial:
Nossos irmos sofredores trazem consigo, individualmente, o estigma dos erros deliberados a que se entregaram. A doena, como resultante de desequilbrio moral, sobrevive no perisprito, alimentada pelos pensamentos que a geraram, quando esses pensamentos persistem depois da morte do corpo fsico.
Mas, adquirem melhoras positivas em reunio de intercmbio? indagou Hilrio, espantadio.
Sim, - esclareceu o interlocutor -, assimilam idias novas com que passam a trabalhar, ainda que vagarosamente, melhorando a viso interior e estruturando, assim, novos destinos. A renovao mental a renovao da vida.
Meditei na iluso dos que julgam na morte livre passagem da alma, em demanda do cu ou do inferno, como lugares de alegria e padecimento...
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Quo raros na Terra se capacitam de que trazemos conosco os sinais de nossos pensamentos, de nossas atividades e de nossas obras, e o tmulo nada mais faz que o banho revelador das imagens que escondemos no mundo, sob as vestes da carne!...
A conscincia um ncleo de foras, em torno do qual gravitam os bens e os males gerados por ela mesma e, ali, estvamos defrontados, por vasta fileira de almas, sofrendo nos purgatrios diferenciados que lhes eram caractersticos.
Abeiramo-nos de triste companheiro, de macilenta expresso fisionmica, e Hilrio, num impulso todo humano, perguntou-lhe:
Amigo, como te chamas? Eu? tartamudeou o interpelado. E, num esforo tremendo e intil para recordar-se de alguma coisa, ajuntou: Eu no tenho nome... Impossvel!... considerou meu colega, dominado de espanto todos temos
um nome.
Esqueci-me, esqueci-me de tudo... comentou o infeliz, desoladoramente. um caso de amnsia a estudar aclarou o companheiro da equipe de
trabalho que visitvamos. Fenmeno natural? interrogou Hilrio, perplexo. Sim, pode ser natural, em razo de algum desequilbrio trazido da Terra, mas
possvel que o nosso amigo esteja sendo vtima de vigorosa sugesto ps-hipntica, partida de algum perseguidor de grande poder sobre os seus recursos mnemnicos. Encontra-se ainda profundamente imantado s sensaes fsicas e a vida cerebral nele ainda uma cpia das linhas sensoriais que deixou. Assim considerando, provvel esteja submetido ao imprio de vontades estranhas e menos dignas, s quais se teriam associado no mundo.
Cus! clamou meu colega impressionado - possvel semelhante dominao depois da morte?
Como no? A morte continuao da vida, e na vida, que eterna, possumos o que buscamos.
Atento aos nossos estudos da mediunidade, observei: Se o nosso amigo desmemoriado for conduzido ao aparelho medinico,
manifestar-se-, acaso, assim, ignorando a identidade que lhe prpria? Perfeitamente. E precisar de tratamento carinhoso como qualquer alienado
mental comum. Exprimindo-se por algum mdium que lhe d guarida, ser para qualquer
doutrinador terrestre o mesmo enigma que estamos presenciando. Nesse momento, renteou conosco uma entidade em deplorvel aspecto. Era um homem esguio e triste, exibindo o brao direito paraltico e ressecado. Atendendo-me ao olhar interrogativo, o companheiro, como quem no mais
dispunha de tempo para o comentrio fraterno, apenas me disse: Faa uma auscultao. Repare por si mesmo Acerquei-me do amigo sofredor. Toquei-lhe a fronte, de leve, e registrei-lhe a angstia.
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Nas recordaes que se lhe haviam cristalizado no mundo mental, senti-lhe o drama interior.
Fora musculoso estivador no cais, alcolatra inveterado que, certa feita, de volta a casa, esbofeteou a face paterna, porque o velho genitor lhe exprobrara o procedimento.
Incapaz de revidar, o ancio, cuspinhando sangue, praguejou, desapiedado: Infame! O teu brao cruel ser transformado em galho seco... Maldito sejas! Ouvindo tais palavras que se fizeram seguidas por terrvel jacto de fora
hipnotizante, o msero tornou via pblica, sugestionado pela maldio recebida, bebericando para esquecer.
Cambaleante, foi vitimado num desastre de bonde, no qual veio a perder o brao.
Sobreviveu por alguns anos, coagulando, contudo, no prprio pensamento a idia de que a expresso paternal tivera a fora de uma ordem vingativa a se lhe implantar no fundo dalma e, por isso, ao desencarnar, recuperara o membro dantes mutilado a pender-lhe, ressecado e inerte, no corpo perispirtico.
Enquanto refletia, o nosso orientador reaproximou-se de ns e, percebendo quanto se passava, enformou:
um caso de reajuste difcil, reclamando tempo e tolerncia. E, afagando os ombros do paraltico, acentuou: Nosso amigo traz a mente subjugada pelo remorso com que ambientou nele
mesmo a maldio recebida. Exige muito carinho para refazer-se. Sem despreocupar-me do tema que nos prendia a ateno, inquiri: Se esse companheiro utilizar-se da organizao medinica, transmitir ao
receptor humano as sensaes de que se acha investido? Sim elucidou o Assistente -, refletir no instrumento passivo as impresses
que o possuem, nos processos de imanizao em que se baseiam os servios de intercmbio.
Sorriu, bondoso, e acrescentou: No entanto, no nos percamos agora nos casos particulares. Cada entidade
menos equilibrada de quantas se acham reunidas aqui traz consigo inquietantes experincias. Observemos de plano mais alto.
E conduziu-me cabeceira da mesa, onde o nosso amigo Raul Silva ia comear o servio de orao.
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5 Assimilao
de
correntes
mentais
Faltavam apenas dois minutos para as vinte horas, quando o dirigente espiritual mais responsvel deu entrada no pequeno recinto.
Nosso orientador articulou a apresentao. O Irmo Clementino abraou-nos, acolhedor. A casa pertencia-nos a todos, explicou sorridente. Estivssemos, pois,
vontade, na tarefa que nos achvamos investidos. A essa altura, diversas entidades do nosso plano colocaram-se junto dos
mdiuns que estariam de servio. Clementino avanou em direo de Raul Silva, perto de quem se postou em
muda reflexo. Logo aps, ulus convidou-me ao psicoscpio e, graduando-o sob nova
modalidade, recomendou-nos acurado exame. Foquei os companheiros encarnados em concentrao mental, identificando-os
sob aspecto diferente. Dessa vez, os veculos fsicos apareciam quais se fossem correntes
electromagnticas em elevada tenso. O sistema nervoso, os ncleos glandulares e os plexos emitiam luminescncia
particular. E, justapondo-se ao crebro, a mente surgiu como esfera de luz caracterstica, oferecendo em cada companheiro determinado potencial de radiao.
Assinalando-nos a curiosidade, o Assistente explicou: Em qualquer estudo medinico, no podemos esquecer que a individualidade
espiritual, na carne, mora na cidadela atmica do corpo, formado por recursos tomados de emprstimo ao ambiente do mundo. Sangue, encfalo, nervos, ossos, pele e msculos representam materiais que se aglutinam entre si para a manifestao transitria da alma, na Terra, constituindo-lhe vestimenta temporria, segundo as condies em que a mente se acha.
Nesse instante, o irmo Clementino pousou a destra na fronte do amigo que comandava as assemblia, mostrando-se-nos mais humanizados, quase obscuro.
O benfeitor espiritual que ora nos dirige acentuou o nosso instrutor afigura-se-nos mais pesado porque amorteceu o elevado tom vibratrio em que respira habitualmente, descendo posio de Raul, tanto quanto lhe possvel, para benefcio do trabalho comeante. Influencia agora a vida cerebral do condutor da casa, maneira dum musicista emrito manobrando, respeitoso, um violino de alto valor, do qual conhece a firmeza e a harmonia.
Notamos que a cabea venervel de Clementino passou a emitir raios fulgurantes, ao mesmo tempo que o crebro de Silva, sob os dedos do benfeitor, se nimbava de luminosidade intensa, embora diversa.
O mentor desencarnado levantou a voz comovente, suplicando a Bno Divina com expresses que nos eram familiares, expresses essas que Silva transmitiu igualmente em alta voz, imprimindo-lhes diminutas variaes.
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Com a emotividade que nos invadia a todos, brando silncio se interps, durante rpidos minutos.
Fios de luz brilhante ligavam os componentes da mesa, dando-nos a perceber que a prece os reunia mais fortemente entre si.
Terminada a orao, acerquei-me de Silva. Desejava investigar mais a fundo as impresses que lhe assaltavam o campo
fsico, e observei-lhe, ento, todo o busto, inclusive braos e mos, sob vigorosa onda de fora, a eriar-lhe a pele, num fenmeno de doce excitao, como que, agradvel calafrio. Essa onda de fora descansava sobre o plexo solar, onde se transformava em luminoso estmulo, que se derramava pela boca, em forma de palavras.
Acompanhando-me a anlise, o Assistente explicou: O jacto de foras mentais do irmo Clementino atuou sobre a organizao
psquica de silva, como a corrente dirigida para a lmpada eltrica. Apoiando-se no plexo solar, elevou-se ao sistema neuro-cerebrino, como a
energia eltrica da usina emissora que, atingindo a lmpada, se espalha no filamento incandescente, produzindo o fenmeno da luz.
E o problema da voltagem? indaguei, curioso. No foi esquecido. Clementino graduou o pensamento e a expresso, de
acordo com a capacidade do nosso Raul e do ambiente que o cerca, ajustando-se-lhe s possibilidades, tanto quanto o tcnico de eletricidade controla a projeo de energia, segundo a rede dos elementos receptivos.
E sorrindo: - Cada vaso recebe de conformidade com a estrutura que lhe prpria. Os confrontos de ulus sugeriam belas indagaes. A ligao eltrica gera luz
na lmpada. E ali? O contacto espiritual, decerto, segundo inferamos, improvisava foras
igualmente a se derramarem do crebro e da boca de Silva, na feio de palavras e raios luminosos...
O instrutor percebeu-nos a muda inquirio e apressou-se em aclarar: A lmpada em cujo bojo se faz luz arroja de si mesma os fotnios que so
elementos vivos da Natureza a vibrarem no espao fsico, atravs dos movimentos que lhes so peculiares, e nossa alma, em cuja intimidade se processa a idia irradiante, lana fora de si os princpios espirituais, condensados na fora pondervel e mltipla do pensamento, princpios esses com que influmos no espao mental. Os mundos atuam uns sobre os outros pelas irradiaes que despedem e as almas influenciam-se mutuamente, por intermdio dos agentes mentais que produzem.
Os claros apontamentos, em torno da energia mental, conduziam-me a preciosas reflexes.
Ento, o pensamento no escapava s realidades do mundo corpuscular, ponderei de mim para comigo.
Assim como possumos na Terra valiosas observaes alusivas qumica da matria densa, relacionando-lhe as unidades atmicas, o campo da mente oferecia largas ensanchas ao estudo de suas combinaes... Pensamentos de crueldade, revolta, tristeza, amor, compreenso, esperana ou alegria teriam natureza diferenciada, com caractersticos e pesos prprios, adensando a alma ou sutilizando-
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a, alm de lhe definirem as qualidades magnticas... A onda mental possuiria determinados coeficientes de fora na concentrao silenciosa, no verbo exteriorizado ou na palavra escrita...
Compreendia, desse modo, mais uma vez, e sem qualquer obscuridade, que somos naturalmente vtimas ou beneficirios de nossas prprias criaes, segundo as correntes mentais que projetamos, escravizando-nos a compromissos com a retaguarda de nossas experincias ou libertando-nos para a vanguarda do progresso, conforme nossas deliberaes e atividades, em harmonia ou em desarmonia com as Leis eternas...
O solilquio, porm, no devia alongar-se. Nosso orientador, atento aos objetivos de nossa permanncia na casa,
chamou-me a novas observaes: Repararam na comunho entre Clementino e Silva, no momento da prece? E, ante a nossa expectao de aprendizes, continuou: Vimos aqui o fenmeno da perfeita assimilao de correntes mentais que
preside habitualmente a quase todos os fatos medinicos. Para clareza de raciocnio, comparemos a organizao de Silva, nosso companheiro encarnado, a um aparelho receptor, quais os que conhecemos na Terra, nos domnios da radiofonia. A emisso mental de Clementino, condensando-lhe o pensamento e a vontade, envolve Raul Silva em profuso de raios que lhe alcanam o campo interior, primeiramente pelos poros, que so mirades de antenas sobre as quais essa emisso adquire o aspecto de impresses fracas e indecisas. Essas impresses apiam-se nos centros do corpo espiritual, que funcionam guisa de condensadores, atingem, de imediato, os cabos do sistema nervoso, a desempenharem o papel de preciosas bobinas de induo, acumulando-se a num timo e reconstituindo-se, automaticamente, no crebro, onde possumos centenas de centros motores, semelhantes a milagroso teclado de eletroms, ligados uns aos outros e em cujos fulcros dinmicos se processam as aes e as reaes mentais, que determinam vibraes criativas, atravs do pensamento ou da palavra, considerando-se o encfalo como poderosa estao emissora e receptora e a boca por valioso alto-falante. Tais estmulos se expressam ainda pelo mecanismo das mos e dos ps ou pelas impresses dos sentidos e dos rgos, que trabalham na feio de guindastes e condutores, transformadores e analistas, sob o comando direto da mente.
A elucidao no podia ser mais simples, contudo oferecia oportunidade as mais amplas indagaes.
Temos ento aqui a tcnica do prprio pensamento? perguntou Hilrio, com interesse.
No tanto adiantou o interlocutor -; o pensamento que nos exclusivo flui incessantemente de nosso campo cerebral, tanto quanto as ondas magnticas e calorficas que nos so particulares, e usamo-lo normalmente, acionando os recursos de que dispomos.
No ser, porm, to fcil estabelecer a diferena entre a criao mental que nos pertence daquela que se nos incorpora cabea... ponderou meu colega intrigado.
Sua afirmativa carece de base exclamou o Assistente. Qualquer pessoa que saiba manejar a prpria ateno observar a mudana, de vez que o nosso pensamento vibra em certo grau de freqncia, a concretizar-se em nossa maneira
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especial de expresso, no crculo dos hbitos e dos pontos de vista, dos modos e do estilo que nos so peculiares.
E, bem-humorado, comentou: Em assunto dessa ordem, imprescindvel muito cuidado no julgar, porque,
enquanto afinamos o critrio pela craveira terrena, possumos uma vida mental quase sempre parasitria, de vez que ocultamos a onda de pensamento que nos prpria, para refletir e agir com os preconceitos consagrados ou com a pragmtica dos costumes preestabelecidos, que so cristalizaes mentais no tempo, ou com as modas do dia e as opinies dos afeioados que constituem fcil acomodao com o menor esforo. Basta, no entanto, nos afeioemos aos exerccios da meditao, ao estudo edificante e ao hbito de discernir para compreendermos onde se nos situa a faixa de pensamento, identificamos com nitidez as correntes espirituais que passamos a assimilar.
Hilrio pensou alguns instantes e, estampando na fisionomia o contentamento de quem fizera importante descoberta, falou satisfeito:
- Agora percebo como podem surgir fenmenos medinicos em comezinhas situaes da vida, tanto nos feitos notveis da genialidade, como nos dramas cotidianos...
Sim, sim... acentuou o orientador, agora preocupado com o tempo que a nossa palestrao consumia a mediunidade um dom inerente a todos os seres, como a faculdade de respirar, e cada criatura assimila as foras superiores ou inferiores com as quais sintoniza. Por isso mesmo, o Divino Mestre recomendou-nos orao e vigilncia para no cairmos nas sugestes do mal, porque a tentao o fio de foras vivas a irradiar-se de ns, captando os elementos que lhe so semelhantes e tecendo, assim, ao redor de nossa alma, espessa rede de impulsos, por vezes irresistveis.
E, buscando o lugar que lhe competia nos trabalhos em andamento, ajuntou: - Estudemos trabalhando. O tempo utilizado a servio do prximo bno
que entesouramos, em nosso prprio favor, para sempre.
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6 Psicofonia
consciente
Desdobravam-se os servios da casa, harmoniosamente. Trs guardas espirituais entraram na sala, conduzindo infeliz irmo ao socorro
do grupo. Era infortunado solteiro desencarnado que no guardava conscincia da
prpria situao. Incapaz de enxergar os vigilantes que o traziam, caminhava maneira de um
surdo-cego, impelido por foras que no conseguia identificar. - um desventurado obsessor, que acabam de remover do ambiente a que,
desde muito tempo, se ajusta informou ulus, compadecido. Desencarnou em plena vitalidade orgnica, depois de extenuar-se em festiva loucura. Letal intoxicao cadaverizou-lhe o corpo, quando no possua o menor sinal de habilitao para conchegar-se s verdades do esprito.
E como quem j conhecia as particularidades da prestao de socorro que, decerto, fora antecipadamente preparada, continuou explicando:
- Reparem. algum a movimentar-se nas trevas de si mesmo, trazido ao recinto sem saber o rumo tomado pelos prprios ps, como qualquer alienado mental em estado grave. Desenfaixando-se da veste de carne, com o pensamento enovelado paixo por irm nossa, hoje torturada enferma que sintonizou com ele, a ponto de ret-lo junto de si com aflies e lgrimas, passou a vampirizar-lhe o corpo. A perda do veculo fsico, na deficincia espiritual em que se achava, deixou-o integralmente desarvorado, como nufrago dentro da noite. Entretanto, adaptando-se ao organismo da mulher amada que passou a obsidiar, nela encontrou novo instrumento de sensao, vendo por seus olhos, ouvindo por seus ouvidos, muitas vezes falando por sua boca e vitalizando-se com os alimentos comuns por ela utilizados. Nessa simbiose vivem ambos, h quase cinco anos sucessivos, contudo, agora, a moa subnutrida e perturbada acusa desequilbrios orgnicos de vulto. Por haver a doente solicitado nosso concurso assistencial, somos constrangidos a duplo socorro. Para que se cure das fobias que presentemente a assaltam como reflexos da mente dele, que se v apavorado diante das realidades do esprito, necessrio o afastamento dos fluidos que a envolvem, assim como a coluna, abalada pelo abrao constringente da hera, reclama limpeza em favor do reajuste.
Nesse nterim, os condutores, obedecendo s determinaes de Clementino, localizaram o sofredor ao lado de Dona Eugnia.
O mentor da casa aproximou-se dele e aplicou-lhe foras magnticas sobre o crtex cerebral, depois de arrojar vrios feixes de raios luminosos sobre extensa regio da glote.
Notamos que Eugnia-alma afastou-se do corpo, mantendo-se junto dele, distncia de alguns centmetros, enquanto que, amparado pelos amigos que o assistiam, o visitante sentava-se rente, inclinando-se sobre o equipamento medinico ao qual se justapunha, maneira de algum a debruar-se numa janela.
Ante o quadro, recordei as operaes do mundo vegetal, em que uma planta se desenvolve custa de outra, e compreendi que aquela associao poderia ser comparada a sutil processo de enxertia neuropsquica.
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Suspiros de alvio desprenderam-se do trax medinico que , por instantes, se mostrara algo agitado.
Observei que leves fios brilhantes ligavam a fronte de Eugnia, desligada do veculo fsico, ao crebro da entidade comunicante.
Porque eu lhe dirigisse um olhar de interrogao e estranheza, ulus explicou, prestimoso:
- o fenmeno da psicofonia consciente ou trabalho dos mdiuns falantes. Embora senhoreando as foras de Eugnia, o hspede enfermo do nosso plano permanece controlado por ele, a quem se imana pela corrente nervosa, atravs da qual estar nossa irm informada de todas as palavras que ele mentalize e pretenda dizer. Efetivamente apossa-se ele temporariamente do rgo vocal de nossa amiga, apropriando-se de seu mundo sensrio, conseguindo enxergar, ouvir e raciocinar com algum equilbrio, por intermdio das energias dela, mas Eugnia comanda, firme, as rdeas da prpria vontade, agindo qual se fosse enfermeira concordando com os caprichos de um doente, no objetivo de auxili-lo. Esse capricho, porm, deve ser limitado, porque, consciente de todas as intenes do companheiro infortunado a quem empresta o seu carro fsico, nossa amiga reserva-se o direito de corrigi-lo em qualquer inconvenincia. Pela corrente nervosa, conhecer-lhe- as palavras na formao, apreciando-as previamente, de vez que os impulsos mentais dele lhe percutem sobre o pensamento como verdadeiras marteladas, pode, assim, frustrar-lhe qualquer abuso, fiscalizando-lhe os propsitos e expresses, porque se trata de uma entidade que lhe inferior, pela perturbao e pelo sofrimento em que se encontra, e a cujo nvel no deve arremessar-se, se quiser ser-lhe til. O Esprito em turvao um alienado mental, requisitando auxlio. Nas sesses de caridade, qual a que presenciamos, o primeiro socorrista o mdium que o recebe, mas, se esse socorrista cai no padro vibratrio do necessitado que lhe roga servio, h pouca esperana no amparo eficiente. O mdium, pois, quando integrado nas responsabilidades que esposa, tem o dever de colaborar na preservao da ordem e da respeitabilidade na obra de assistncia aos desencarnados, permitindo-lhes essa manifestao no colida com a dignidade imprescindvel ao recinto.
- Ento alegou Hilrio -, nesses trabalhos, o mdium nunca se mantm a longa distncia do corpo...
- Sim, sempre que o esforo se refira a entidades em desajuste, o medianeiro no deve ausentar-se demasiado... Com um demente em casa, o afastamento perigoso, mas se nosso lar est custodiado por amigos cnscios de si, podemos excursionar at muito longe, porquanto o nosso domiclio demorar-se- guardado com segurana.
No concurso aos irmos desequilibrados, nossa presena imperativo dos mais lgicos.
Fitou Eugnia preocupada e vigilante, ao p do enfermo que comeava a falar, e sentenciou:
- Se preciso, nossa amiga poder retomar o prprio corpo num timo. Acham-se ambos num consrcio momentneo, em que o comunicante a ao, mas no qual a mdium personifica a vontade. Em todos os campos de trabalho, natural que o superior seja responsvel pela direo do inferior.
O visitante passou a destra pela face num gesto de alvio e bradou, transformado:
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- Vejo! Vejo!... Mas por que encantamento me prendem aqui? Que algemas me afivelam a este mvel pesado?
E acentuando a expresso de assombro, prosseguia: - Qual o objetivo desta assemblia em silncio de funeral? Quem me trouxe?
Quem me trouxe?!... Vimos que Eugnia, fora do veculo denso, escutava todas as palavras que lhe
fluam da boca, transitoriamente ocupada pelo peregrino das sombras, arquivando-as, de maneira automtica, no centro da memria.
- O sofredor disse o Assistente, convicto -, ao contacto das foras nervosas da mdium, revive os prprios sentidos e deslumbra-se. Queixa-se das cadeias que o prendem, cadeias essas que em cinqenta por cem decorrem da conteno cautelosa de Eugnia. Porta-se, dessa forma, como um doente controlado, qual se faz imprescindvel.
- E se nossa irm relaxasse a autoridade? inquiriu Hilrio, curioso. - No estaria em condies de prestar-lhe benefcios concretos, porque ento
teria descido ao desvairamento do mendigo de luz que nos propomos auxiliar esclareceu o nosso instrutor, com calma.
E numa imagem feliz para ilustrar o assunto, ajuntou: - Um mdium passivo, em tais circunstncias, pode ser comparado mesa de
servio cirrgico, retendo o enfermo necessitado de concurso mdico. Se o mvel especializado no possusse firmeza e humildade, qualquer
interveno seria de todo impossvel. - Mas nossa amiga est enxergando, conscientemente, a entidade que se lhe
associa ao vaso carnal, com tanta clareza quanto ns? perguntei por minha vez, atento aos meus objetivos de aprendizado.
- No caso de Eugnia, isso no acontece elucidou ulus, condescendente -, porque o esforo dela na preservao das prprias energias e o interesse na prestao de auxlio com todo o coeficiente de suas possibilidade no lhe permitem a necessria concentrao mental para surpreender-lhe a forma exterior. Entretanto, reproduzem-se nela as aflies e os achaques do socorrido. Sente-lhe a dor e a excitao, registrando-lhe o sofrimento e o mal estar.
Ao passo que se dilatava a nossa conversao, o comunicante gritava, contundente:
- Estaremos, porventura, num tribunal? Por que uma recepo estranha quanto esta, quando sou o importunado que comparece? A mim, Librio dos Santos, ningum ofende sem revide...
Como se a conscincia o torturasse, atravs de criaes interiores que no nos era dado perceber, vociferava, frentico:
- Quem me acusa de haver espoliado minha me, lanando-a ao desamparo? No sou culpado pelas provaes dos outros...No estarei, acaso, mais doente que ela?...
Nessa altura, Hilrio fixou o obsessor, compadecidamente, e indagou, respeitoso:
- No sero os seus padecimentos simples angstias morais?
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- No tanto assim aclarou ulus -; as crises morais de qualquer teor se nos refletem at no veculo de manifestao. O beneficirio desta hora tem o crebro perispertico dilacerado e a flagelao que lhe invade o corpo fludico to autntico quanto de um homem comum, supliciado por um tumor intracraniano.
Demonstrando-se sumamente interessado no estudo, Hilrio acentuou: - Se fssemos ns os companheiros encarnados, com sede de maiores
conhecimentos da vida espiritual, poderamos submete-lo a interrogatrio minucioso? Estaria em posio de identificar-se perfeitamente?
ulus abanou levemente a cabea e considerou: - Nas condies em que se encontra, o cometimento no seria vivel. Estamos
abordando apenas um problema de caridade, que se reveste, porm, da mais elevada importncia para a vida em si. Na hiptese de efetivarmos o tentame, conseguiramos to-somente infrutuosa inquirio, endereada a um alienado mental, que, por algum tempo, ainda se mostrar lesado em expressivos centros do raciocnio. Trazendo consigo a herana de uma existncia desequilibrada e fortemente atrada para a mulher que o ama e de quem se fez desabrido perseguidor, a nada aspira, por agora, seno vida parasitria, junto irm, de cujas energias se alimenta. Envolve-a em fluidos, enfermios e nela se apia, assim com a trepadeira que se alastra e prolifera sobre um muro...Somando tudo isso ao choque oriundo da morte, no temos o direito de esperar dele uma experincia completa de identificao pessoal.
Enquanto isso, Librio prosseguia, alucinado: - Quem poder suportar esta situao? Algum me hipnotiza? Quem me
fiscaliza o pensamento? Valer restituir-me a viso, manietando-me os braos? Fixando-o com simpatia fraterna, o Assistente informou-nos: - Queixa-se ele do controle a que submetido pela vontade cuidadosa de
Eugnia. Ruminando as indagaes que nos esfervilhavam na alma, hilrio objetou: - Consciente a mdium, qual se encontra, e ouvindo as frases do comunicante,
que lhe utiliza a boca assim vigiado por ela, possvel que Dona Eugnia seja assaltada por grandes dvidas... No poder ser induzida a admitir que as palavras proferidas pertenam a ela mesma? No sofrer vacilaes?
- Isso possvel concordou o assistente -; no entanto, nossa irm est habilitada a perceber que as comoes e as palavras desta hora no lhe dizem respeito.
- Mas... e se a dvida a invadisse? insistiu meu colega. - Ento disse ulus, corts -, emitiria da prpria mente positiva recusa,
expulsando o comunicante e anulando preciosa oportunidade de servio. A dvida, nesse caso, seria congelante faixa de foras negativas...
Todavia, porque Raul Silva iniciara a conversao com o hspede revoltado, o orientador amigo convidou-nos a melhor observar.
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7 Socorro
espiritual
Sob a influncia de Clementino, que o envolvia inteiramente, Silva levantara-se e dirigia-se ao comunicante com bondade:
- Meu amigo, tenhamos calma e roguemos o amparo divino! - Estou doente, desesperado... - Sim, todos somos enfermos, mas no nos cabe perder a confiana. Somos
filhos de Nosso Pai Celestial que sempre prdigo de amor. - padre? - No. Sou seu irmo. - Mentira. Nem o conheo... - Somos uma s famlia, frente de Deus. O interlocutor conturbado riu-se irnico e acentuou: - Deve ser algum sacerdote fanatizado para conversar nestes termos!... A pacincia do doutrinador sensibilizava-nos. No recebia Librio, qual se fora defrontado por um habitante das sombras,
suscetvel de acordar-lhe qualquer impulso de curiosidade menos digna. Ainda mesmo descontando o valioso concurso do mentor que o acompanhava,
Raul emitia de si mesmo sincera compaixo de mistura com inequvoco interesse paternal. Acolhia o hspede sem estranheza ou irritao, como se fizesse a um familiar que regressasse demente ao santurio domstico.
Talvez por essa razo o obsessor a seu turno se revelava menos agastadio. To logo passou a entender-se, de algum modo, com o dirigente da casa, observamos que Eugnia se revigorava no esforo assistencial que lhe competia.
- No sou ministro religioso continuava Raul, imperturbvel -, mas desejo me aceite como seu amigo.
- Que irriso! No existem amigos quando a misria est conosco... Dos companheiros que conheci, todos me abandonaram. Resta-me apenas Sara! Sara, que no deixarei...
Fixou a expresso de quem se detinha na lembrana da pessoa a quem se referira e acrescentou com recalcada indignao:
- Ignoro por que me entravam agora os passos. intil. Alis, no sei a razo pela qual me contenho. Um homem provocado, qual me vejo, decerto deveria esbofete-los a todos...Afinal, que fazem aqui estes cavalheiros silenciosos e estas mulheres mudas? Que pretendem de mim?
- Estamos em prece por sua vez falou Silva, com inflexo de bondade e carinho.
- Grande novidade! Que h de comum entre ns? Devo-lhes algo? - Pelo contrrio exclamou o interlocutor, convicto -, ns somos quem lhe
deve ateno e assistncia. Estamos numa instituio de servio fraterno e fora de dvida que, num hospital, a ningum ser lcito inquirir da luta particular daqueles que
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lhe batem porta, porque, antes de tudo, dever da medicina e da enfermagem a prestao de socorro s feridas que sangram.
Ante o argumento enunciado com sinceridade e simpleza, o renitente sofredor pareceu apaziguar-se ainda mais. Jactos de energia mental, partidos de Silva, alcanavam-no agora em cheio, no trax, como a lhe buscarem o corao.
Librio tentou falar, contudo, maneira de um viajante que j no pode resistir aridez do deserto, comoveu-se diante da ternura daquele inesperado acolhimento, a surgir-lhe por abenoada fonte de gua fresca. Surpreendido, notou que a palavra lhe falecia embargada na garganta.
Sob o sbio comando de Clementino, falou o doutrinador com afetividade ardente:
- Librio, meu irmo! Essas trs palavras foram pronunciadas com tamanha inflexo de
generosidade fraternal que o hspede no pde sopitar o pranto que lhe subia do mago.
Raul avanou para ele, impondo-lhe as mos, das quais jorrava luminoso fluxo magntico, e convidou:
- Vamos orar! Findo um minuto de silncio, a voz do diretor da casa, sob a inspirao de
Clementino, suplicou enternecidamente: - Divino Mestre, lana compassivo olhar sobre a nossa famlia aqui reunida... Viajores de muitas romagens, repousamos neste instante sob a rvore bendita
da prece e te imploramos amparo! Todos somos endividados para contigo, todos nos achamos empenhados tua
bondade infinita, maneira de servos insolventes para com o senhor. Mas, rogando-te por ns todos, pedimos particularmente agora pelo
companheiro que, decerto, encaminhas ao nosso corao, qual se fora uma ovelha que torna ao aprisco ou um irmo consangneo que volta ao lar...
Mestre, d-nos a alegria de recebe-lo de braos abertos. Sela-nos os lbios para que lhe no perguntemos de onde vem e descerra-nos
a alma para a ventura de t-lo conosco em paz. Inspira-nos a palavra a fim de que a imprudncia no se imiscua em nossa
lngua, aprofundando as chagas interiores do irmo, e ajuda-nos a sustentar o respeito que lhe devemos...
Senhor, estamos certos de que o acaso no te preside s determinaes! Teu amor, que nos reserva invariavelmente o melhor, o melhor, cada dia,
aproxima-nos uns dos outros para o trabalho justo. Nossas almas so fios da vida em tuas mos! Ajusta-os para que obtenhamos do Alto o favor de servir contigo! Nosso Librio mais um irmo que chega de longe, de recuados horizontes do
passado... Senhor, auxilia-nos para que ele no nos encontre proferindo o teu nome em
vo! O visitante chorava.
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Via-se, porm, com clareza, que no eram as palavras fora que o convencia, mas sim o sentimento irradiante com que eram estruturadas.
Raul Silva, sob a destra radiosa de Clementino, afigurava-se-nos aureolado de intensa luz.
- Deus que se passa comigo?!... conseguiu gritar Librio em lgrimas. O irmo Clementino fez breve sinal a um dos assessores de nosso plano, que
apressadamente acorreu, trazendo interessante pea que me pareceu uma tela de gaze tenussima, com dispositivos especiais, medindo por inteiro um metro quadrado, aproximadamente.
O mentor espiritual da reunio manobrou pequena chave num dos ngulos do aparelho e o tecido suave se cobriu de leve massa fludica, branquicenta e vibrtil.
Em seguida, postou-se novamente ao p de Silva, que, controlado por ele, disse ao comunicante:
- Lembre-se, meu amigo, lembre-se! Faa um apelo memria! Veja frente os quadros que se desenrolaro aos nossos olhos!...
De imediato, como se tivesse a ateno compulsoriamente atrada para a tela, o visitante fixou-a e, desde esse momento, vimos com assombro que o retngulo sensibilizado exibia variadas cenas de que o prprio Librio era o principal protagonista. Recebendo-as mentalmente, Raul Silva passou a descreve-las:
- Observe, meu amigo! noite. Ouve-se um burburinho de algazarra distncia... Sua me velhinha chama-o cabeceira e pede-lhe assistncia... Est exausta... Voc o filho que lhe resta... Derradeira esperana de flagelada vida.
nico arrimo... A pobre sente-se morrer. A dispnia martiriza... o distrbio cardaco pressagiando o fim do corpo... Tem medo. Declara-se receosa da solido, de vez que sbado carnavalesco e os vizinhos se ausentaram na direo dos centros festivos. Parece uma criana atemorizada... Contempla-o, ansiosa, e roga-lhe que fique...
Voc responde que sair to-somente por alguns minutos... bastante para trazer-lhe a medicao necessria...Em seguida, avana, rpido, para uma gaveta situada em aposento prximo e apropria-se do nico dinheiro de que a enferma dispe, algumas centenas de cruzeiros, com que voc se julga habilitado a desfrutar as falsas alegrias do seu clube... Amigos espirituais de seu lar abeiram-se de voc, implorando socorro em favor da doente, quase moribunda, mas voc se mostra impermevel a qualquer pensamento de compaixo... Dirige algumas palavras apressadas enferma e sai para a rua... Em plena via pbica, imanta-se aos indesejveis companheiro desencarnados com os quais se afina... entidades turbulentas, hipnotizadas pelo vcio, com as quais voc se arrasta ao prazer... Por trs dias e quatro noites consecutivas, entrega-se loucura, com esquecimento de todas as obrigaes... Somente na madrugada de quarta-feira voc volta estafado e semi-inconsciente... A velhinha, socorrida por braos annimos, no o reconhece mais... Aguarda, resignadamente, a morte, enquanto voc se encaminha para um quarto dos fundos, na expectativa de conseguir um banho que o auxilie a refazer-se... Abre o gs e senta-se por alguns minutos, experimentando a cabea entontecida... O corpo exige descanso, depois da louca folia... A fadiga surge, insopitvel... Desapercebe-se de si mesmo e dorme semi-embriagado, perdendo a existncia, porque as emanaes txicas lhe cadaverizam o corpo... Na manh clara de sol, um rabeco leva-o ao necrotrio,como simples suicida...
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Nessa altura, o interlocutor, como e voltasse de um pesadelo, bradou desesperado:
- Oh! Esta a verdade! A verdade!... onde est minha casa? Sara, Sara, quero minha me, minha me!...
- Acalme-se! recomendou Raul, compadecido nunca nos faltar o socorro divino! Seu lar, meu amigo, cerrou-se com os seus olhos de carne e sua genitora, de outras esferas, lhe estende os braos amorosos e santificantes...
O comunicante, vencido, caiu em lgrimas. To grande lhe surgiu crise emotiva que o mentor espiritual do grupo se
apressou a desliga-lo do equipamento medinico, entregando-o aos vigilantes para que fosse convenientemente abrigado em organizao prxima.
Librio, em fundo processo de transformao, afastou-se, tornando Eugnia posio normal.
E porque a tela regressasse transparncia do incio, desfechei sobre o nosso orientador algumas indagaes improvisadas.
Que funo desempenhava aquele retngulo que eu ainda no conhecia? Que cenas eram aquelas que se haviam desdobrado cleres sob a nossa admirao?
- Aquele aparelho informou