A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol
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A GESTÃO DOS CENTROS DE TREINO DOS CLUBES DE FUTEBOL
Dissertação apresentada com vista à obtenção do Segundo Ciclo (Mestrado em Gestão Desportiva), ao abrigo do Decreto Lei nº 74/2006 de 24 de Março
Orientador: Doutor José Pedro Sarmento de Rebocho Lopes Co-Orientador: Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva Autor: Almir Nelcindo Vieira da Silva
Porto, Abril de 2009
II
Ficha de catalogação: Silva, A.(2009), A gestão dos centros de treino dos clubes de
futebol. Dissertação apresentada com vista à obtenção do Segundo
Ciclo (Mestrado em Gestão Desportiva), Porto: Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto
PALAVRAS-CHAVE: GESTÃO, FORMAÇÃO, FUTEBOL, TREINO,
CENTROS DE TREINO.
III
Aos meus Pais, Adão e Deolinda…
à Fátima…ao Almir e ao Rivelino.
IV
V
Agradecimentos
Ao Professor Doutor José Pedro Sarmento, pela forma dinâmica e
despreconceituada como orientou este estudo, e sobretudo, pela
fonte de conhecimentos transmitidos, uma dádiva para a satisfação
das nossas dúvidas. Agradeço a sua inestimável e encorajadora
colaboração na concretização deste sonho.
Ao Professor Doutor Júlio Garganta, pelo acompanhamento,
honestidade intelectual e ajuda crítica sempre presentes.
Aos Colegas da Post-Graduação, que na sua diversidade cultural
muito me entusiasmaram.
A todos os que contribuíram na logística deste estudo
Aos meus Amigos de verdade.
A todos aqueles que amam o Desporto.
A todos… um sentido muito obrigado!
VI
VII
Índice Geral
AGRADECIMENTOS V
ÍNDICE GERAL VII
ÍNDICE DE FIGURAS XI
RESUMO XIII
ABSTRACT XV
RÉSUMÉ XVII
Introdução 1
1 Revisão da Literatura 7 1.1 - Futebol - Enquadramento sócio - económico 9 1.2 - Futebol - Breves considerações 10
1.3 - Futebol - O treino 11
1.3.1 - Generalidades 11
1.3.2 - Algumas considerações sobre o processo de
ensino/aprendizagem 12
1.3.3 - Algumas considerações sobre o treino de alto rendimento 16
1.4 - A gestão da formação dos jogadores profissionais de futebol 17 1.4.1 - Conceitos básicos 18 1.4.2 - Detecção, selecção e recrutamento 25
1.4.2.1- Algumas considerações sobre uma eventual
“matriz de indicadores” 29
1.4.3 - Definição de modelo de jogo de referência 32
1.4.4 - Conceitos estratégicos e de organização - “cultura de clube” 34
1.4.4.1 - Sport Lisboa e Benfica 34
1.4.4.2 - Futebol Clube do Porto 36
1.4.4.3 - Sporting Clube de Portugal 37
VIII
1.4.5 - Criação de infra-estruturas ideais para o treino 44
1.5 - Futebol - A necessidade e a especificidade dos locais de treino 46
1.6 - Concepção, tipologia e gestão dos Centros de Treino 48 1.6.1. - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treino 49
1.6.2 - Especificidade dos Centros de Treino 50
1.6.3 - Espaço de competição com bancadas nos Centros de Treino 52
1.6.4 - Número ideal de campos - Relva natural/relva sintética 52
1.7 - Pesquisa e Caracterização - Centros de Treino 53
1.7.1 - Brasil 55
1.7.1.1 - Cruzeiro Esporte Clube 55
1.7.1.2 - Clube Atlético Paranaense 56
1.7.1.3 - São Paulo Futebol Clube 59
1.7.1.4 - Santos Futebol Clube 60
1.7.1.5 - Clube de Regatas Vasco da Gama 61
1.7.1.6 - Botafogo Futebol e Regatas 62
1.7.2 - Espanha 63
1.7.2.1 - Club Atlético de Madrid 63
1.7.2.2 - Athletic Club Bilbao 63
1.7.2.3 - Real Club Deportivo La Coruña 64
1.7.2.4 - Valência Club de Futebol 65
1.7.2.5 - Futebol Club Barcelona 65
1.7.2.6 - Real Madrid Club de Futebol 67
1.7.3 - Itália 70
1.7.3.1 - Milan Associazione Calcio 70
1.7.3.2 - Football Club Internazionale Milano 71
1.7.4 - Portugal 72
1.7.4.1 - Futebol Clube do Porto 72
1.7.4.2 - Sporting Clube de Portugal 73
1.7.4.3 - Sport Lisboa e Benfica 73
IX
2 - Metodologia 75 2.1 - Análise documental 77
2.2 - Visitas 77
2.3 - Entrevistas 78
2.3.1 - Entrevista semi-estruturada 79
2.3.2 - Guião das entrevistas 81
3 - Análise descritiva 83
3.1 - Entrevista aos Directores dos Centros de Treino 85
3.2 - Entrevista aos Treinadores 92
3.3 - Entrevista aos Coordenadores Técnicos 103
4 - Análise interpretativa 111
4.1 - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treino 113
4.2 - Relação entre espaços generalistas e espaços específicos 114
4.3 - Necessidade de um espaço de competição com bancadas
para o público 115
4.4 - Número ideal de campos e a relação Relvados naturais /
relvados sintéticos 116
5 - Considerações finais 119
5.1 - Conclusões 121
5.2 - Proposta modelo 122
5.3 - Sugestões 130
6 - Referências Bibliográficas 133
X
XI
Índice de figuras
Figura 1 - Espaço de competição - Futebol de Formação -
Modulação 3D
123
Figura 2 - Espaço de treino - Futebol Profissional - Futebol
Júnior A -Modulação 3D
124
Figura 3 - Espaço de treino e competição - Futebol de 11 -
Futebol de Formação - Modulação 3 D
125
Figura 4 - Espaço de treino para o Futebol de Formação e
competição para as Escolas - Modulação 3 D
126
Figura 5 - Espaço para treino específico de Guarda-Redes -
Modulação 3 D
127
Figura 6 - Espaço coberto - Modulação 3 D 128
Figura 7 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 20 x 10 “ -
Modulação 3 D
129
Figura 8 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 40 x 20 “ -
Modulação 3 D
129
Figura 9 - Espaço para a iniciação - Futebol de 7 – Modulação
em 3 D
130
XII
XIII
Resumo
Pretende-se com esta dissertação, contribuir para uma melhor concepção,
gestão e funcionalidade dos centros de treino, entendidos como locais
apropriados para a prática do treino de futebol.
A dissertação começa por fazer uma abordagem, através da revisão da
literatura, ao entendimento dos jogos desportivos colectivos, elegendo entre
eles, naturalmente o futebol.
São revistos conceitos necessariamente básicos, mas até por isso
fundamentais de todo o processo de Treino, no sentido da evolução gradual do
atleta desde o seu processo de aprendizagem/ formação até ao seu
enquadramento no processo de treino de alto rendimento.
Aborda-se então aquilo que se considera fundamental na gestão do processo
de formação dos jogadores de futebol, elegendo-se como essencial a definição
de cinco parâmetros: definição clara de uma política de recrutamento; definição
do processo de detecção e selecção de talentos; definição do modelo de jogo
referência para todos os escalões (formação de um jogador para uma forma de
jogar específica); Cultura de recepção e absorção do atleta formado pela
equipa de futebol profissional e a criação das condições ideais para o treino
através da concepção e construção de Centros de Treino.
Com suporte em “visitas” a alguns Centros de Treino e em entrevistas dirigidas
a directores técnicos de centros de treino, coordenadores do futebol de
formação e a treinadores, a dissertação propõe que os Centros de Treino
devem ser concebidos englobando todos os escalões do clube, dispondo de
um espaço de competição com bancadas para o público, de espaços para
situações específicas de treino, com determinada relação de campos de relva
natural para os seniores e juniores e de campos de relva sintética para os
restantes escalões do futebol de formação.
PALAVRAS-CHAVE: GESTÃO, FORMAÇÃO, FUTEBOL, TREINO,
CENTROS DE TREINO,
XIV
XV
Abstract
This dissertation is aimed to contribute to a better conception, management and
functionality of training centres, known as proper places for the practice of
football training.
The dissertation starts with an approach, through the literature revision, to the
understanding of collective sports games, electing among them, as expected,
the football. Fundamental concepts with some importance in the whole process
of training are automatically reviewed, showing the gradual evolution of the
athlete from the beginning of the learning /formation process up to the full
integration in the training process of high performance.
One can find, therefore, an explanation of what is considered essential in the
management of the process of formation of football players, appointing as
essential the definition of five parameters: clear definition of a recruiting policy;
definition of the process of identification and selection of talented players;
definition of the rules of the football game for the all levels (formation of a player
for one specific type of football); Culture of welcoming and understanding the
athlete trained by the professional football team and the creation of ideal
conditions for the training through the conception and construction of training
centres.
Supported by “visits” to some training centres and interviews addressed to
technical directors of training centres, coordinators of the football formation and
coaches, this dissertation comes up with the conception of training centres for
all levels of the club, having a sports ground for competition surrounded by rows
of seats for the public, sports grounds for specific training situations, with some
relation with natural lawns for seniors and juniors and synthetic lawns for the
other levels of the football formation.
KEY WORDS: MANAGEMENT, FORMATION, FOOTBALL,
TRAINING, TRAINING CENTRES.
XVI
XVII
Résumé
On veut avec cet essai, contribuer pour une meilleur conception, gestion et
fonctionnalité des centres d’entraînement, conçus comme des espaces
appropriés pour la pratique de l’entraînement de football.
D’abord, on trouve l’approche, à travers da révision de la littérature, sur
l’apprentissage des jeux sportives, en choisissant entre eux, naturellement le
football.
Des concepts élémentaires, mais fondamentaux pour le procès d’entraînement
sont obligatoirement revus, dans le sens d’une évolution graduel de l’athlète
dès le procès d’apprentissage/formation jusque son intégration dans le procès
d’entraînement d’haute performance.
On présente, ainsi, ce qu’on considère fondamental pour la gestion du procès
de formation des joueurs de football, en nommant comme essentiel la définition
de cinq paramètres : définition claire d’une politique de recrutement ; définition
du procès de détection et sélection des talents; définition du modèle de jeux
référence pour tous les échelons (formation d’un joueur pour un type de jeu
spécifique), culture d’accueil et intégration de l’athlète formé par l’équipe de
football professionnel et la création des conditions idéales pour l’entraînement à
travers la conception et construction des centres d’entraînement.
En s’appuyant sur «des visites» aux Centres d’entraînement et des interviews
adressées aux directeurs techniques des centres d’entraînement, coordinateurs
de football de formation et entraîneurs, l’essai propose que les centres
d’entraînement doivent être conçus en rattrapant tous les échelons du club,
ayant un espace pour des situations spécifiques d’entraînement, avec une
certaine relation des aires de pelouse naturelle pour les seniors et des aires de
pelouse synthétique pour les autres échelons du foot de formation.
MOTS CLES : GESTION, FORMATION, FOOTBALL,
ENTRAINEMENT, CENTRES D’ENTRAINEMENT
XVIII
1
INTRODUÇÃO
2
Introdução
3
Âmbito
A crescente urbanidade das nossas cidades, onde estão sediados a grande
maioria dos clubes de grande expressão e relevo do nosso país, provocando
uma maior densidade e concentração de pessoas a que correspondeu uma
galopante actividade imobiliária, levou á mudança do estereótipo das infra-
estruturas desportivas dos clubes de futebol profissional.
A especulação imobiliária, que fez subir em flecha os preços por metro
quadrado dos terrenos disponíveis associada ao crescente número de equipas
nos vários escalões etários, leia-se equipas de competição dos clubes, levou a
num novo pensamento para a construção de infra-estruturas desportivas dos
clubes de futebol.
Hoje em dia não é concebível compatibilizar as necessidades de espaço que
os clubes necessitam com as realidades das nossas cidades, pelo que a teoria
geral consensual é a de dispor do Estádio de competição próximo ou junto da
Urbe e localizar na periferia (maior disponibilidade de espaços livres e preços
mais baixos) o local onde se concentram todas as instalações necessárias à
prática diária de treinos de todos os escalões etários dos clubes, ou pelo
menos de quase todos.
Surge assim a ideia da criação de Centros de Treinos, caracterizados por
alguns equipamentos específicos para a prática do treino e por espaços
complementares à actividade desportiva.
É nesse âmbito que esta dissertação pretende dar um contributo para a
modelação da concepção e construção de infra-estruturas desportivas dos
clubes de futebol especialmente destinados a treinos de ensino/aprendizagem
e a treinos de alto rendimento
Introdução
4
Objectivos
O objectivo que se pretende atingir com esta dissertação, é o de contribuir para
uma concepção adequada às necessidades dos agentes intervenientes no
processo de treino desportivo, entendido no seu vasto espectro desde o treino
de aprendizagem até ao treino de alto rendimento, de forma a melhorar a
funcionalidade e a especificidade dos centros de treino, entendidos como locais
apropriados para a prática do treino provocando assim uma gestão mais eficaz
de todo o processo de formação dos jogadores de futebol.
A dissertação começa por fazer uma abordagem à evolução do conceito de
espaço desportivo para as equipas de futebol profissional, desde os Estádios
de competição até aos mais recentes locais para treino desportivo - Centros de
Treino.
São revistos conceitos necessariamente básicos, mas até por isso
fundamentais de todo o processo de Treino, no sentido da evolução gradual do
atleta desde o seu processo de aprendizagem/formação até ao seu
enquadramento no processo de treino de alto rendimento. Busca-se uma
definição de treino, abrangente, cujo espectro vai desde o treino
ensino/aprendizagem até ao treino de alto rendimento.
Em posse destes conceitos básicos define-se uma estrutura para a gestão da
formação dos atletas com cinco conceitos base que vão desde o recrutamento
até às infra-estruturas de apoio ao treino - Centros de Treino.
Sedimentados alguns conceitos revistos da literatura, vamos nos prender com
a busca, identificação e respectiva caracterização dos centros de treino
existentes como estruturas de alguns clubes de futebol, através de uma
amostragem organizada por clubes do Brasil, Espanha, Itália e Portugal.
Na amostragem percorrida dedicamos especial atenção, visitando
presencialmente, os Centros de Treino do F. C. Porto e do Sporting em
Portugal e os Centros de Treino do Vasco da Gama e do Botafogo no Rio de
Janeiro - Brasil
Introdução
5
Para que se sustente uma teoria de modelação de um centro de treino, nada
melhor do que dar a palavra a quem experimenta e lida diariamente com os
intervenientes/agentes directos do futebol e com os espaços disponíveis e
portanto no fundo quem experimenta as vantagens e dificuldades dos actuais
“espaços” dedicados à prática do processo de treino.
Através de um guião - entrevista orientada - daremos “voz” aos Directores dos
Centros de Treino do Futebol Clube do Porto e do Sporting Clube de Portugal,
a um leque de coordenadores técnicos da formação e a treinadores,
diferenciando claramente neste perfil, aquele que se dedica ao processo de
ensino/ aprendizagem, o que se dedica ao treino de formação e aquele que se
dedica ao treino de alto rendimento.
Conhecendo as características dos centros de treino, conhecendo as ideias
dos gestores, dos coordenadores e dos treinadores, estamos em condições de
partir em busca de algumas confirmações e sugestões de melhoria e portanto
em condições de propor algumas sugestões de mudança na concepção dos
mesmos através de uma proposta modelo de Centros de Treino.
Estrutura
Atendendo às motivações aqui expostas e aos objectivos também definidos,
optou-se por uma estrutura que delineasse um articulado sequencial de
análises e comentários que permitissem a formulação de uma proposta como
meta final do trabalho.
Sendo assim, esta dissertação para além da presente introdução, contém os
seguintes capítulos:
O capítulo um, dedicado á revisão da literatura, começa por abordar conceitos
do futebol e aí versando aspectos fundamentais para os intervenientes no
treino de futebol - jogadores e treinadores - fundamentalmente nos aspectos
inerentes ao treino, quer no que diz respeito ao treino de ensino/aprendizagem
quer no que diz respeito ao treino do futebol profissional, dedicando também
Introdução
6
especial atenção à pesquisa e caracterização de alguns Centros de Treino,
nalguns casos com recursos aos vários tipos de informação que vão desde a
Net até aos jornais e publicações e noutros casos com visitas “in loco”. Versa
ainda um carácter de intervenção na área da gestão da formação dos
jogadores de futebol diagnosticando cinco linhas directoras que devem nortear
o trabalho na área de formação dos clubes de futebol. Assim ao longo do
capítulo caracterizam-se como fundamentais a definição de uma política de
recrutamento, de um método de detecção e selecção de talentos, de um
modelo de jogo de referência, da clara assumpção de uma filosofia e uma
estratégia a que se chamou “cultura de clube”, para chegar, claro está ao
enquadramento final das infra-estruturas necessárias a todo o tipo de treino -
Centros de Treino, razão principal desta dissertação.
O capítulo dois é dedicado a explicar qual foi a metodologia aplicada na
investigação elegendo para o efeito três ferramentas: análise documental,
visitas e entrevistas.
O capítulo três é mais de carácter experimental com entrevistas orientadas a
dois ramos de agentes desportivos com intervenção directa na formação dos
jogadores de futebol e na gestão dos Centros de Treino - Directores dos
Centros de Treino e os Treinadores incluindo nestes os Coordenadores
Técnicos da formação. Dedica-se a apresentar a análise descritiva das
entrevistas.
O capítulo Quatro dedica-se à análise interpretativa das entrevistas efectuadas
e surge como complemento lógico do capítulo anterior
O capítulo cinco dedica-se às considerações finais, e tal como em outros
trabalhos, sintetizam-se os objectivos alcançados através da apresentação de
uma proposta de concepção de Centros de Treino como corolário lógico das
soluções que foram sendo apontadas ao longo da dissertação, referindo-se
também algumas questões abertas para o futuro que devem merecer estudo.
Como complemento final da dissertação, apresentam-se as Referências
bibliográficas que serviram de base a esta dissertação.
7
1. Revisão da Literatura
8
Revisão da Literatura
9
1.1 - Futebol - Enquadramento sócio - económico
Os jogos desportivos colectivos (JDC), denominação pela qual são conhecidas
modalidades como o Andebol, o Basquetebol, o Voleibol, o Hóquei em patins e
o Futebol, por exemplo, ocupam um espaço importante na sociedade actual no
que toca à cultura desportiva.
Nos dias de hoje o futebol já não pode só ser considerado como um jogo, ele
hoje encerra todos as condicionantes de um fenómeno que além de desportivo,
é económico, social e até político.
O desporto, e nomeadamente o futebol, é espectáculo, é investimento, é
marketing, é moda, é prática, é ensino, em suma atinge uma transversalidade
tal que não é indiferente a quase nenhuma pessoa em todo o mundo.
Todos estes aspectos são sintetizados por Garganta e Pinto (1994), “O futebol,
enquanto jogo desportivo colectivo, é uma actividade com enorme
popularidade, facto que pode ser comprovado através do vasto número de
praticantes e de espectadores que mobiliza” e ainda “ O futebol é
inequivocamente um fenómeno de elevada magnitude no quadro da cultura
desportiva contemporânea”
O desporto e nomeadamente o futebol que hoje temos é nas suas formas de
manifestação e organização, diferente do passado. Difundiu-se à escala
mundial, tal como se difundiu por todo o mundo a civilização industrial que o
influência em todos os aspectos. Podemos dizer que o desporto, com
supremacia evidente do futebol, é hoje a forma de cultura mais comum a todo o
universo, é uma cultura supranacional que supera fronteiras políticas,
ideológicas, marítimas e terrestres. É uma cultura entendida por todos, letrados
e analfabetos, com maior ou menor formação, independentemente de raça, de
credo, de estatuto social e intelectual. O estádio é hoje o local mais popular da
cultura.
Revisão da Literatura
10
Por tudo isto o desporto e especialmente o futebol, é hoje também um grande
meio de educação e convívio entre os povos, com um papel reforçado pela
cobertura que lhe dão os grandes meios de comunicação social, fazendo dele
um modelo de estilo de vida e de comportamento corporal para os cidadãos de
todo o mundo. Se preferirem, diria que também pelo futebol o mundo vê cada
vez mais unidos os continentes, todas as longitudes e latitudes, transformando-
se na "aldeia global", onde tudo e todos se cruzam.
1.2 - Futebol - Breves considerações
O futebol é um jogo desportivo colectivo, e como tal um jogo em que estão
presentes, a cooperação entre os elementos da própria equipa, a oposição por
parte da equipa adversária, e a tentativa de finalização, devidamente
contextualizadas através de um carácter de imprevisibilidade que obriga os
jogadores de ambas as equipas tanto individualmente como colectivamente a
tomarem decisões que facilitem à concretização dos objectivos, debaixo do
respeito das regras do jogo.
O problema principal que se põe a quem joga futebol é sempre de natureza
táctica, por isso todo o processo de ensino/aprendizagem deve recorrer a
situações que conciliem os aspectos fundamentais de um jogo de futebol, isto
é, a bola, a cooperação, o adversário (s), a selecção (decisão) e a finalização,
sempre em pleno respeito pelas regras do jogo.
Segundo Garganta e Pinto (1994), devem estar sempre no ensino do futebol
dois aspectos que condicionam a lógica do jogo de futebol: o terreno de jogo e
os princípios específicos do jogo.
Atendendo ao posicionamento das balizas no campo de futebol, e que o
mesmo quase que se resume a um jogo de cooperação/oposição com o
objectivo de atingir (ataque) ou evitar (defesa) a finalização, é essencial para o
ensino do futebol o conhecimento do campo de jogo, devidamente relacionado
Revisão da Literatura
11
com os tais princípios específicos do jogo, factores estes que devem estar
sempre presentes na concepção e modelação de qualquer espaço de treino.
Abordadas algumas questões do entendimento do futebol enquanto jogo
desportivo e à sua essência eminentemente táctica, passaremos a aspectos da
interpretação desse entendimento no treino do futebol.
1.3 - Futebol - O treino
1.3.1 - Generalidades
Começamos este capítulo com uma referência de Jorge Araújo (1994) citado
por Leal, M & Quinta, R (2001) - “Os atletas têm de ser preparados para tomar
as suas próprias decisões, utilizando a sua preparação e análise das situações
e não a dos treinadores”. Esta preparação que é referida assume a sua
expressão nos jogos em face daquilo que é a aprendizagem do treino.
Só a qualidade do treino permite aos jogadores, capacidade de resposta às
diversas solicitações que um jogo de futebol lhes coloca, por isso se afirma que
a prática repetitiva (características de treino), para ser eficiente, deve estar
sempre comprometida com a qualidade.
Por outro lado é importante referir e reforçar a imperiosa necessidade de
treinar, reflectida na conhecida evolução do futebol moderno onde se treina
todos os dias (ou quase) - talvez a única grande mudança no futebol - já que
está consensualizado que só a prática contínua eleva o rendimento individual e
colectivo das equipas.
Esta verdade é absoluta quer para treinos de ensino/aprendizagem (formação)
quer para o treino das equipas de alto rendimento em que os resultados
assumem a relevância primordial.
Por isso se afirma consensualmente que é importante a criação de rotinas de
trabalho, já que o treino melhora aquilo que é repetido (automatismos).
Revisão da Literatura
12
Segundo Carvalhal (2002) - “além da repetição, a aprendizagem requer uma
estruturação intencional das ocorrências repetidas sendo os seus efeitos mais
visíveis, quanto mais activa for essa aprendizagem”.
Chegados aqui é importante fazer-se uma distinção dos objectivos do treino
num clube de futebol em função do escalão competitivo que estivermos a
tratar, há pois que diferenciar o treino da formação, do treino do alto
rendimento.
Nestes dois próximos itens deste capítulo fazemos uma clara diferenciação
entre treino no desporto de alto rendimento e o treino no desporto para a
formação de jovens jogadores.
Tal como refere Marques (1990), no desporto de alto rendimento o que conta
são os resultados absolutos, e portanto neste caso trata-se da optimização e
especificação do treino de modo a obter o mais rápido possível níveis de
rendimento elevados, já no desporto de formação o importante é a definição de
parâmetros de treino que nos possam garantir rendimentos a longo prazo.
1.3.2 - Algumas considerações sobre o processo de
ensino/aprendizagem
O ensino e a aprendizagem do futebol deve partir da realidade do próprio jogo,
devemos centrar a metodologia de ensino em situações de jogo, deixando para
trás a ideia do ensino e aprendizagem centrados na técnica individual, já que
tem sido devidamente comprovado de que a simples soma de todas os
contributos individuais, não provoca necessariamente a subida da qualidade da
equipa.
Sabemos que o jogador precisa de conhecer a técnica para a resolução de
algumas situações, mas não podemos pretender que o jogador domine os
aspectos técnicos (passe, recepção, …) totalmente descontextualizados das
situações de jogo.
Revisão da Literatura
13
O jogador em determinada situação de jogo, só pode utilizar a técnica correcta
(modo de executar) se ao mesmo tempo souber “ler” o que ocorre ao seu redor
(posicionamento de colegas e adversários, posicionamento relativo no campo,
posicionamento da bola, ...)
Num jogo de futebol o jogador tem de resolver, acima de tudo, um problema de
natureza táctica.
A cada momento é solicitada ao jogador uma pergunta, o que fazer? Por isso
se diz que apesar de ser importante saber fazer é contudo mais importante
pensar, decidir e executar (saber fazer) através da percepção (informação) que
o jogador recolhe do contexto do jogo.
Por isso o ensino da técnica nunca deve resumir-se ao “ensino de gestos
técnicos fundamentais (passe, recepção, …), mas relacionar-se sobretudo com
as situações de jogo, obrigando o atleta a em cada momento ser obrigado a
pensar, seleccionar e executar a sua tarefa em consonância com o
pensamento táctico e as diversas configurações do jogo.
Logo é legitimo concluir que no treino, o ensino da técnica e da táctica devem
estar sempre interligados.
Atendendo a que um jogo de futebol vai oferecendo continuamente problemas
diferentes e variados, o jogador deve estar habilitado a perceber e tomar a
decisão acertada no tempo, no espaço e em consonância com os objectivos
tácticos da equipa.
Tal como dizia Albert Camus “ O futebol é a inteligência em movimento”
Ora, isso só se consegue se o treinador fizer com que os exercícios de treino
se aproximem das situações reais de jogo.
Para isso o treino deve procurar o incremento de pequenos jogos - jogos de
posição - que representem situações reais do jogo (jogos em inferioridade
numérica; jogos de posse bola; superioridade numérica e finalização …)
Sabendo-se que um jogo de futebol é um desporto colectivo de oposição/
cooperação, em que o interveniente deve relacionar constantemente vários
elementos - a bola, o (s) colega (s), o (s) adversário (s), a finalização, as regras
Revisão da Literatura
14
- impõe-se que o ensino/aprendizagem seja efectuado em fases (etapas de
formação) e de forma gradual, isto é, do simples para o complexo.
Tem de estar sempre presente que embora por vezes com a mesma idade, os
atletas não estão em igualdade de desenvolvimento das suas capacidades
atléticas - idade cronológica /idade biológica - nem no mesmo estágio de
desenvolvimento no que toca às suas aptidões.
Sabemos que uma das condições primordiais para este tipo de ensino/
aprendizagem é que os exercícios de treino sejam motivantes para os atletas
de modo a captar toda a atenção dos mesmos, por outro lado desde cedo, a
matriz do ensino deverá ter subjacente não só a forma como se domina a bola,
mas também o posicionamento em campo em função de colegas e
adversários.
Nesta idade, os exercícios de treino devem ter em conta que a redução do
número de jogadores envolvidos em cada exercício provoca um estímulo maior
nos iniciantes já que é claramente maior o número de vezes que o iniciante é
solicitado a contactos com a bola, provocando assim um maior
desenvolvimento das suas características táctico-técnicas.
Nestes tipos de jogos, os iniciantes têm maior tempo de contacto com a bola,
executando acções de vital importância na aprendizagem do futebol tais como
recepção, condução de bola, remates, além de que estimulam a velocidade de
reacção às situações que lhes são propostas (leituras de jogo), fazem
deslocamentos e desmarcações, fundamentais para o seu desenvolvimento
físico-motor.
Depois da fase aquisitiva dos princípios de jogo (sem grandes preocupações
colectivas), estaremos em condição de introduzir o factor competitivo
propriamente dito.
O treino nesta etapa deve ser dirigido para a necessária aquisição dos
princípios de jogo colectivos através de exercícios padrão.
É a altura da transmissão da noção de espaço e de tempo, relacionados com
situações de jogo administradas em função dos sectores e dos corredores.
Revisão da Literatura
15
As situações de treino devem provocar e estimular a capacidade de jogo ao
nível das suas diferentes componentes - tácticas, técnicas, físico-motoras e
psicológicas.
É claramente aumentado o volume e a intensidade do treino, procurando dar
ao mesmo um carácter lúdico/competitivo.
Na fase final da formação é onde o carácter competitivo começa a ser
exacerbado nos treinos, através da realização de vários exercícios padrão com
incidência especial nas acções colectivas através de simulações às várias
situações de jogo, idealizadas e implementadas em conformidade com o
modelo de jogo pretendido pelo treinador/formador
É importante referir que apesar da valoração do carácter competitivo, o
carácter formativo deve estar sempre presente, já que se trata do traço
fundamental da matriz do jogador ao longo da sua carreira.
Começa a ser dada especial atenção às capacidades condicionais (velocidade,
força e resistência) dos jogadores.
Há uma clara diferenciação entre a preparação geral e a preparação
específica, já que atendendo a que os princípios do jogo estão ou devem estar
assimilados, não há interrupções exageradas (erros técnicos e
descoordenações) que possam afectar a intensidade do treino.
A partir desta etapa de formação, o treino deve fazer a integração dos aspectos
táctico-técnicos com os aspectos condicionais, acentuando-se o cariz
específico do treino, com aumento da intensidade.
A competição nesta etapa é a determinante que conjuntamente com o modelo
de jogo irão definir o grau de exigência e de complexidade da matriz do treino.
Através da observação do jogo/competição, define-se a forma de treinar (em
conformidade com o modelo de jogo definido), analisa-se a adaptação
pretendida e conseguida, volta-se à observação dos resultados/evolução no
jogo e assim ciclicamente vai-se definindo a matriz do treino, com especial
incidência na prática repetitiva de exercícios padrão correspondentes ao já
aludido modelo de jogo.
Revisão da Literatura
16
“Os comportamentos exteriorizados pelos futebolistas durante o jogo
traduzem, em grande parte, o resultado das adaptações provocadas pelo
processo de treino. Por outro lado, a orientação do processo de treino decorre
da informação extraída do jogo. Por isso se pretende conhecer cada vez
melhor o jogo e, sobretudo, os factores que concorrem para a sua qualidade.”
Garganta (1997)
1.3.3 - Algumas considerações sobre o treino de alto rendimento
Entramos agora numa etapa de vida do jogador e do treinador em que o que
importa são os resultados.
No nosso cenário desportivo, os trabalhos a prazo estão sujeitos à vontade dos
dirigentes que como sabemos são pródigos nas chicotadas psicológicas, pelo
que cada vez mais é exigido ao treinador resultados imediatos, o que
naturalmente é condicionador de toda a sua forma de trabalhar.
Sendo assim, é cada vez mais consensual afirmar que a principal preocupação
do treino é por a equipa a jogar o mais rápido possível em função do Modelo de
jogo que o treinador define.
Está então em causa a noção de operacionalidade do modelo de jogo no
treino, que traz subjacente os conceitos de periodização e especificidade do
treino.
Mourinho (Oliveira, R. 2005) define a periodização como “aspecto particular da
programação, que se relaciona com uma distribuição no tempo, de forma
regular, dos comportamentos tácticos do jogo, individuais e colectivos, assim
como a subjacente e progressiva adaptação do jogador e da equipa a nível
técnico, físico, cognitivo e psicológico”.
A periodização deve ser entendida como uma programação definida
cronologicamente do esquema de treinos, traçando objectivos específicos de
forma a promover a evolução constante de todo o processo conducente “à
nossa forma de jogar”.
Revisão da Literatura
17
No aspecto temporal podemos considerar em termos de periodização, o
Macrociclo (ano), o Mesociclo (mês), o Microciclo (semana) e as unidades de
treino (dia).
Cabe aqui a afirmação de Mourinho entrevistado pelo jornal “A Bola” em 10 de
Janeiro de2003 - “ Treino para mim só é bom quando se consegue
operacionalizar o que é a ideia chave, isto é, o treinador tem de encontrar
exercícios, que induzam a sua equipa a fazer aquilo que faz no jogo”
Quando nos referimos às adaptações pretendemos deixar claro que não se
trata só das adaptações físico-motoras-condicionais (velocidade, força e
resistência, etc.) mas também da adaptação integrada destes factores com os
factores tácticos, técnicos e psicológicos.
Está sempre presente a noção da especificidade do jogo de futebol, através
dos conceitos de táctica e modelo de jogo.
1.4 - A gestão da formação dos jogadores de futebol
Sendo o objectivo final desta dissertação a concepção e a modelação de um
Centro de Treinos para os clubes de futebol, teremos necessariamente de fazer
o enquadramento da sua necessidade e especificidade como parte integrante
de todo o processo de gestão da formação dos jogadores de futebol.
Conhecedores de todas as características intrínsecas ao treino, quer seja o
treino do ensino/aprendizagem quer seja o treino de alto rendimento,
procuraremos definir os aspectos que consideramos fulcrais para o sucesso da
formação de um jogador de futebol.
Se por um lado a formação de um jogador de futebol está ligada às suas
condições pessoais e a todo um processo de treino, é também verdade que há
toda uma estratégia de suporte que pode ou não proporcionar as condições
favoráveis para que um processo de formação possa redundar em sucesso.
Revisão da Literatura
18
Procuraremos então dissertar sobre os parâmetros estratégicos que
consideramos essenciais para a construção de todo um processo de gestão da
formação dos jogadores de futebol, desde a sua descoberta e iniciação
passando pela sua evolução através da modelação de todo o processo de
treino e culminando com a necessária discussão de como devem ser
concebidas as infra-estruturas de treino, de forma a maximizar a rentabilidade
de todo o sector de futebol de um clube, desde as camadas de formação até ao
futebol profissional.
1.4.1 Conceitos básicos
A abordagem a esta situação, passa necessariamente pela noção exacta de
que teremos de clarificar e de ter sempre presente a diferença entre a realidade
dos clubes.
Haverá que relativizar os clubes de nível local e os de nível nacional, numa
primeira separação mais lata, já que todos sabemos que mesmo nos clubes de
dimensão nacional haverá uma clara diferença entre as sua ambições, já que
todos os anos no inicio da época se torna claro, até pelas afirmações dos seus
dirigentes e treinadores, que enquanto um núcleo reduzido de três clubes
“joga” para o título, outros jogam para as competições europeias, e a grande
maioria joga para não descer de divisão.
Ora, julgamos que é principalmente esta ideia de que é importante não descer
de divisão, da grande maioria dos clubes nacionais, que faz com que a
imperiosa necessidade de ganhar ganhe relevo e preponderância na vida dos
treinadores, que “obrigados” a ganhar a cada jornada não encontram espaço
para o lançamento de jovens atletas saídos da formação, preterindo-os por
outros que já possuem mais “maturidade futebolística”(experiência, auto-
controlo, resistência à pressão), normalmente recrutando jogadores
estrangeiros.
Revisão da Literatura
19
Temos para nós que o problema não reside pois no treinador, mas claramente
nos objectivos traçados por dirigentes que preferem resultados imediatos
(aquilo a que chamam de êxito), a trabalhos metódicos de aproveitamento dos
jogadores trabalhados na formação, mas que necessariamente requerem
tempo e paciência para que se possa alcançar os objectivos.
Por outro lado mesmo nas camadas de formação se assiste a um discurso que
não é o ideal para um clima de aprendizagem propício ao desenvolvimento de
todas as capacidades dos atletas, já que todos os treinadores afirmam
repetidamente que o fundamental é ganhar, quando na verdade nas camadas
de formação é essencial transmitir aos atletas, que o importante é jogar para
ganhar.
“Na formação jogar sempre para ganhar é mais importante do que ganhar
sempre”. Garganta (2007)
É preciso saber que mesmo não se podendo dizer aos atletas que o resultado
não interessa, nunca se pode por o resultado da competição à frente da
formação.
Essa “maleita” é aliás referida por Flemming Berg, “olheiro” do Chelsea ao
visionar o Torneio da Pontinha:
“Neste Torneio, os jogadores são muito novos para se poder tirar ilações. Mas
de uma forma geral, estou desiludido com a formação. Portugal tem jogadores
com muito potencial, mas há um grave problema. Qual? A mentalidade dos
treinadores. Todos querem ganhar, nenhum quer perder, logo as estratégias
são demasiado defensivas, tirando espaço à evolução dos jogadores. As
equipas utilizam três médios e todos defendem. Não há liberdade para atacar,
nem espaço para criar. Há muito talento, mas não é verdadeiramente
desenvolvido, o que é lamentável” (“O Jogo”- 8 de Abril de 2007)
Outro dos problemas é a grande afluência de jogadores estrangeiros ao nosso
futebol.
Aliás nos últimos tempos, tem-se falado mais neste tema e há a registar alguns
clubes (embora poucos) que já revelam medidas nesse sentido, muito embora
Revisão da Literatura
20
a mesma resulte muito mais das dificuldades económico-financeiras do que de
conceitos estratégicos.
A actualidade do tema é tal que até a Federação Portuguesa de Futebol viu-se
na necessidade de impor regras no que toca a aspectos de relação entre a
formação e o futebol sénior, muito embora, se tenha de referir, com a
preocupação final do controlo do número de estrangeiros (designação em
extinção) e não propriamente para que os Seniores tenham como base de
recrutamento as suas camadas de formação.
Com efeito no passado dia 13 de Maio de 2006 a Assembleia Geral da
Federação Portuguesa de Futebol aprovou a alteração ao artigo 104.04 do
Regulamento de Provas Oficiais.
Embora seja de louvar a atitude, não se pode confundir a leitura da mesma e
afirmar precipitadamente que dessa forma a F.P.F. “ obriga os clubes a
apostarem na formação”.
Uma leitura mais atenta mostra que o que está em causa é uma forma de
constarem do boletim de jogo jogadores que tenham passado três anos, pelo
menos, da sua formação, entre os 15 e os 21 anos em Portugal, não obrigando
os clubes a que os mesmos sejam produto das suas camadas de formação. É
pois uma medida resultante da “globalização” e da mudança do conceito de
“jogador estrangeiro”, não uma medida de alcance estratégico de aposta na
formação.
É por isso cada vez mais importante que apesar da livre circulação que se
adivinha e se avizinha que os clubes portugueses focassem a sua atenção na
formação e viessem a utilizar cada vez mais jogadores formados no clube nas
suas equipas principais, de modo a reverter a tendência assustadora de
recurso a jogadores estrangeiros.
Na época de 2006/2007 os boletins de jogo registraram a utilização de 117
jogadores estrangeiros contra a utilização de 106 nascidos em Portugal (O
Jogo - 22 de Junho de 2007), o que se repetiu ainda com maior gravidade na
época de 2007/2008, atendendo à vaga de contratações, surgida nesta
presente época.
Revisão da Literatura
21
O que aqui é referido diz respeito a jogadores utilizados nos jogos pois se nos
reportar-mos a jogadores inscritos o panorama é ainda mais desolador, senão
atentemos nos números das últimas cinco épocas descritos no Jornal “A Bola”
de 27 de Dezembro de 2007:
Época Estrangeiros Portugueses Percentagem
2003/2004 321 377 46% - 54%
2004/2005 237 311 43% - 57%
2005/2006 274 299 48% - 52%
2006/2007 265 234 53% - 47%
2007/2008 235 202 54% - 46%
Com a liberalização do mercado futebolístico neste sector da formação é
importante a questão das nossas selecções jovens, já que com o fluxo de
jogadores estrangeiros haverá necessariamente menos espaço de afirmação
para o jovem nacional.
Atente-se na entrevista de Agostinho Oliveira, actual coordenador das
Selecções de formação no Jornal “A Bola” de 11 de Março de 2008, com o
subtítulo “ A séria ameaça dos Juniores estrangeiros”:
“A Bola - Até os grandes clubes começam a contratar jogadores estrangeiros
para os Juniores. Uma ameaça a somar a outras ….
Agostinho Oliveira - Não posso estar de acordo com essa política. O espaço de
afirmação do nosso jogador está a diminuir e, se o espaço de escolha já é
limitado, maior será a dificuldade futura na prospecção. Estou para ver os
resultados positivos dessas contratações. É uma novidade de facto, a
interferência de jogadores estrangeiros no panorama dos plantéis dos grandes
Revisão da Literatura
22
clubes, que reduzem muito o espaço de manobra dos nossos jogadores. E se
eles começam a ficar sem espaço é lógico que tenhamos de redescobrir uma
nova situação - caminhar no sentido da competitividade”
E também no mesmo Jornal e no mesmo dia sobre o mesmo assunto o que
refere Nelo Vingada:
“Em todo o mundo se assiste ao processo de atribuição de nacionalidade a
jogadores que possam constituir reforço para as respectivas selecções
nacionais, subvertendo a génese e essência da equipa nacional. Portugal
também não tem conseguido fugir a isso. Por aquilo que vamos vendo, jornada
a jornada, mês a mês, ano a ano, não me parece ousado ou estultícia da minha
parte dizer, que se tivesse investido e apostado mais no jogador português a
qualidade do jogo não seria inferior àquela que regularmente vimos assistindo
e quiçá as janelas de oportunidades sendo maiores permitiriam ter impacto
mais positivo na generalidade do futebol português bem como e
especificamente nas prestações das selecções nacionais.”
Há aqui claramente uma nova política de recrutamento sendo normal que,
quase todos os clubes, possuam com maior ou menor grau de estruturação,
um “gabinete de prospecção” responsável pela detecção e recrutamento de
jovens talentos.
A politica de recrutamento, seja pela via da detecção e “compra” a outros
clubes de menor dimensão nacional, seja pela via do trabalho da selecção de
talentos daqueles que se dirigem ao clube (treinos de captação) com o fito de
serem jogadores de futebol tem de ser vista como um investimento a longo
prazo de modo a só mais tarde poder vir a ser rentabilizado.
A política da gestão da formação de jovens talentos, passa obviamente pela
vertente do rendimento. Trata-se pois de um investimento, e como tal tem de
ser assim apreciado pelos dirigentes do clube.
Como é possível aceitar a ideia de se despender tempo, recursos humanos e
financeiros, recursos logísticos entre outros, nas categorias de formação, se
não for sempre com o intuito do aproveitamento desse trabalho?
Revisão da Literatura
23
Não podemos cair na ilusão e na tentação de que é mais fácil recrutar
jogadores estrangeiros a preços baratos, sendo pois de desprezar o trabalho
da formação, pois como se vê com essas decisões está-se a desperdiçar o
resultado de um trabalho de anos com dispêndio acentuado das várias
estruturas do clube.
Mas não chega só criar este processo de formação, é preciso também que os
dirigentes criem no clube, a “cultura” de que a equipa sénior é o espelho do
resultado da formação.
Tal como referem Leal e Quinta (2001):
“Para nós, a obtenção de sucesso na formação prende-se com o facto de o
atleta integrar com êxito, no final da formação, a equipa mais representativa do
clube.”
E mais recentemente Jorge Castelo - Professor Universitário e Coordenador
Técnico das camadas de formação do C.F. Belenenses em “A Bola” de 17 de
Dezembro de 2008:
“Este tem de ser um clube formador. Não se podem ir buscar todos os anos 20
jogadores. Não vale a pena ter um sector que movimenta 500 miúdos para
depois não se aproveitar nenhum.”
Há pois aqui todo um conceito de gestão, definido por rentabilidade através de
investimento a longo prazo, que precisa, destes conceitos básicos:
o Definição clara de uma politica de recrutamento;
o Definição do processo de detecção e selecção de talentos;
o Definição do modelo de jogo referência (formação de um jogador para
uma forma de jogar específica).
o Cultura de recepção e absorção do atleta na equipa sénior.
o Criação de condições ideais para o treino - Centros de treino
Revisão da Literatura
24
Aliás já em 1999 em entrevista ao jornal “Record” datado de 7 de Fevereiro,
Jesualdo Ferreira afirmava:
“Cada vez mais quem formar jogadores vai ter maiores proveitos no futuro.
Portugal nunca pode ter equipas sustentadas em grandes questões financeiras.
Portugal terá sempre um futebol mediano no plano financeiro, e um
campeonato abaixo dos campeonatos mais ricos. O que Portugal pode ter é a
possibilidade de, através dos talentos dos jogadores, conseguir que as nossas
equipas sejam mais fortes financeiramente, porque assim farão uma gestão
mais correcta daquilo que investem e daquilo que depois rentabilizam desses
investimentos.”
Também Co Adriaanse se refere ao tema, citado no Jornal “ O Jogo” de 28 de
Maio de 2006, “O Barcelona e o Chelsea têm excelentes jogadores em todas
as posições, porque os podem comprar. É como ter um jardim. O F. C. Porto
tem de plantar aquilo de que precisa e esperar que cresça. Enquanto isso,
Chelsea e Barcelona vêem o que nós plantamos e compram já crescido. E nós
voltamos a ter de plantar.”
Embora seja verdade e se compreenda o alcance do afirmado por Co
Adriaanse, não se deixa contudo de afirmar que apesar da capacidade
financeira, o Barcelona é um bom exemplo de que vale a pena o investimento
na formação. Mesmo sendo um clube que joga sempre para ganhar qualquer
competição, ainda recentemente se sagrou Campeão Europeu (2006), com
vários jogadores formados na “cantera”, a saber: Victor Valdez, Puyol, Oleguer,
Iniesta, Xavi, Gabri, e claro está a grande promessa de então, hoje uma
certeza, Lionel Messi que chegou ao clube com doze anos de idade, isto só
falando daqueles que normalmente jogam, pois fazem parte do plantel alguns
outros que ainda esperam pela oportunidade.
Sobre os dois primeiros conceitos e atendendo à sua interdependência
falaremos em conjunto.
Revisão da Literatura
25
1.4.2 - Detecção, selecção e recrutamento
Se parece claro por um lado que a selecção e detecção de talentos e
consequentemente o seu recrutamento é um processo através do qual se
escolhem jovens dotados de capacidades acima da média, para a prática de
qualquer modalidade, recorrendo à ajuda de métodos e testes, por outro lado
também parece claro que a grande dificuldade é exactamente os clubes
acreditarem na existência de métodos e testes cientificamente comprovados,
sendo consensual que embora se usem alguns indicadores que a literatura
reporta, o método mais “forte” ainda é a intuição dos “olheiros”, que por
experiência fazem a análise e o diagnóstico das qualidades do atleta
observado.
Mas será isto, uma fatalidade? É óbvio que não!
Bastará atentarmos no que escreve Jorge Olímpio Bento na sua crónica
semanal, no Jornal “A Bola” de 18 de Outubro de 2007:
“Um dos aspectos que ilustra muito bem o quadro em que se move o
relacionamento entre a investigação e a prática do nosso desporto é o da
selecção de talentos. São constantes as queixas no tocante à falta de um
sistema que levante dados e os coloque à disposição das federações e das
demais instituições. E no entanto as universidades têm especialistas com
provas dadas na matéria, com estudos e trabalhos altamente meritórios. De
resto têm obtido qualificação académica e científica nas nossas Faculdades
cidadãos estrangeiros que, de regresso ao seu País, são aproveitados para
estruturar e implementar programas oficiais de selecção e fomento de talentos
desportivos…….Tenha-se presente que um país com população numerosa
pode dar-se ao luxo de desperdiçar alguns talentos, uma vez que possui muitos
e o acaso encarregar-se-á de revelar outros; mas um país pequeno é obrigado
a descobrir, conhecer, aproveitar e potenciar ao máximo os poucos talentos
que possui. Também por isso é curial a conjugação de esforços entre as
instituições e entidades incumbidas da formação e investigação e da
organização e prática do desporto.”
Revisão da Literatura
26
Afinada que seja a cultura do clube, definido o modelo jogo referência, haverá
claramente que definir quais os indicadores que melhor caracterizam os
jogadores que se pretendem para cada função dentro da equipa, não
esquecendo contudo quais são as características genéricas que se pretendem
para um jogador de futebol, já que ao longo da formação consegue-se fazer a
conversão e a adaptação do jovem atleta a conceitos colectivos que se
pretendem ensinar.
Mas então temos de perceber de que resulta o talento desportivo, para assim
podermos encontrar a matriz optimizada dos indicadores.
O talento desportivo resulta da relação entre factores endógenos e exógenos,
sendo de distinguir nos primeiros as capacidades condicionais (força,
velocidade, resistência, coordenação, …), as capacidades psicológicas ou
volitivas (concentração, auto-confiança, resistência à pressão …) e as
capacidades antropométricas (peso, altura, potência do trem inferior, …) e nos
factores exógenos aquilo que mais influencia o talento é a prática da educação
física e o desporto iniciado nas idades mais jovens.
Todo este processo deve ser definido com base nas relações entre as
capacidades motoras, condicionais coordenadoras e volitivas de forma a ser
possível acrescentar todo um trabalho táctico-técnico com base em indicadores
previamente definidos.
Um jovem de talento é portanto aquele jovem que é dotado de capacidades tais
que lhe permitam atingir resultados nitidamente superiores à média dos
restantes (aquele que se distingue), nomeadamente aquele que demonstra
capacidade de resistência ao erro e às falhas, que demonstra vontade de
treinar e de se auto-preparar, que demonstra fortes traços de personalidade,
capacidade de aprendizagem e de evolução no tempo, demonstrado por
reacções mais eficazes aos estímulos a que é sujeito e que demonstra a sua
adaptação através da aplicação o mais correcta possível do que lhe é
ensinado.
Ganha aqui relevo o trabalho de ensino que terá de ser bem realizado nos
escalões de iniciação, sendo óbvio que a competência do formador e a
Revisão da Literatura
27
qualidade do processo de treino/ aprendizagem serão parâmetros
determinantes.
Serão os escalões de iniciação etapas menos importantes para a formação de
talentos? A nossa resposta é obviamente que não e até bem pelo contrário, é
de extrema importância
Muitos são aqueles que menosprezam o trabalho elaborado nos escalões de
iniciação, alegando que poucos serão os atletas desses escalões que
completarão todo o trajecto de formação até aos seniores, sendo aos poucos
rendidos por novas contratações. Achamos que embora se vá assistindo a isso
em vários clubes trata-se de um conceito errado.
Podemos comparar o processo de formação a uma pirâmide, ou seja, de um
lote alargado de atletas na iniciação (cada vez mais precoce), partimos para
uma diminuição do número de atletas em termos de quantidade e para um rigor
e exigência cada vez maior à medida que se sobe de escalão em escalão.
Pelo caminho do futebol de iniciação para o futebol de especialização e alto
rendimento, vários serão os atletas que vão ficando pelo caminho, através da
selecção e escolha dos responsáveis e em confronto com a exigência e a
concorrência.
É aqui, aliás, que ganham destaque os departamentos de prospecção que vão
procurando referenciar e contratar os melhores. Contudo, e para que tal
pirâmide possa vir a encurtar até ao topo mantendo o critério da qualidade, é
necessário termos uma base alargada e cada vez mais recheada de talento.
Deste modo teremos maiores hipóteses da obtenção de padrões de qualidade
conseguindo-se economizar dinheiro em “transferências” que vão sendo cada
vez mais exigentes financeiramente à medida do crescimento etário dos
atletas.
Além disso, também só apostando forte nos escalões de iniciação é que se
conseguirá um trabalho de base qualitativo e em antecipação aos rivais mais
directos, visto encontrarmo-nos numa “era de competição” no que à
prospecção diz respeito. Os escalões de iniciação devem ser entendidos como
uma fonte de recursos de onde se extrairá qualidade podendo adicionar-se um
Revisão da Literatura
28
ou outro elemento que venha fortalecer o grupo, de forma a se conseguir obter
equipas competitivas com jogadores ajustados ao perfil que desejamos
De qualquer modo, e como todos sabemos é importante não perder de vista o
conceito do conhecimento da existência do “falso positivo” (Simões,L, 1998) -
jogadores que indicam talento mas que por aspectos de vária ordem não o
confirmam, e do “falso negativo” (Simões , L, 1998) - jogadores que não
revelam rapidamente talento mas que posteriormente em determinadas
condições exteriorizam toda a sua capacidade, sendo que neste caso é preciso
manter um processo apertado de monitorização constante sobre a evolução do
atleta nas suas diferentes etapas da formação, de modo a não se perderem
jogadores de grandes capacidades.
Sobejam os exemplos de atletas “falsos negativos” com expoente máximo na
nossa selecção nacional presente no Campeonato Mundial na Alemanha -
2006, onde avultaram jogadores que nunca foram internacionais nas camadas
de formação.
São os casos de Ricardo que obteve a sua primeira internacionalização no dia
2 de Junho de 2001, no jogo República da Irlanda 1 x 1 Portugal - sendo
seleccionador António Oliveira, quando tinha 25 anos (1976-02-11); de Miguel
que obteve a sua primeira internacionalização no dia 12 de Fevereiro de 2003
no jogo - Itália 1x 0 Portugal - sendo seleccionador Filipe Scolari, quando tinha
23 anos (1980-01-04); de Petit que obteve a sua primeira internacionalização
no dia 2 de Junho de 2001 no jogo - República da Irlanda 1x1 Portugal, sendo
seleccionador António Oliveira ,quando tinha 24 anos (1976-09-12); de
Costinha que obteve a sua primeira internacionalização no dia 14 de Outubro
de 1998 no jogo Eslováquia 0x3 Portugal - sendo seleccionador Humberto
Coelho, quando tinha 24 anos (1974-12-01) e de Pauleta que obteve a sua
primeira internacionalização no dia 20 de Agosto de 1997 no jogo Portugal 3x1
Arménia sendo seleccionador Artur Jorge, quando tinha 24 anos (1973-04-28).
A estes jogadores podemos ainda juntar Paulo Ferreira e Tiago que só foram
internacionais na selecção Sub-21.
Revisão da Literatura
29
Para se realçar ainda mais a importância de um processo rigoroso de
monitorização da evolução do jovem atleta podemos ainda referir os casos de
Pauleta e de Costinha que acabaram por encontrar condições de alto
rendimento em equipas estrangeiras com a particularidade de nunca antes
terem actuado em equipas de Primeira Divisão Nacional.
Embora não seja objecto deste estudo seria curioso verificar e relacionar o
destaque das potencialidades destes atletas dentro do intervalo que Garganta
(1986) classifica como etapa das performances máximais (18-26 anos),
“exploração máxima das capacidades de altas performances”.
É evidente que há aqui algum grau de incerteza, de falibilidade, já que mesmo
que haja uma “matriz optimizada de indicadores”, que permita a detecção e
selecção de talentos há um factor relevante em todo este processo, que não é
possível medir - a aposta, por vezes intuitiva, que o treinador faz em
determinado jogador e o encaixe das suas características na forma de jogar da
equipa, bem como a “carência” para determinada posição que a equipa sénior
demonstre. Nunca um jogador pode mostrar as suas potencialidades se não
jogar, se não encontrar condições para exteriorizar as suas qualidades.
Daí a importância da “cultura do clube”, emanada pelos seus dirigentes.
1.4.2.1 - Algumas considerações sobre uma eventual
“Matriz de Indicadores”
A construção desta matriz envolve conceitos que conciliem as características
individuais com as características colectivas, isto é, embora ela revele
indicadores através dos quais podemos caracterizar as qualidades individuais
do atleta, ela também não pode deixar de repercutir a essência colectiva do
futebol, procurando indicadores que possam medir a “reacção colectiva” do
atleta.
Deveremos ir à procura de uma matriz que nos indique um conjunto de
aptidões no domínio técnico (passe, drible, remate, …) do táctico (leitura do
Revisão da Literatura
30
jogo, posicionamento, …), nas capacidades condicionais (velocidade - reacção,
execução e deslocamento, força e resistência) e capacidades psicológicas
(concentração, determinação, liderança, …).
Uma equipa de futebol tem de ser considerada como um todo, em que os
jogadores não perdem ou ganham o jogo individualmente, mas antes têm de
servir a equipa com o seu jogo individual.
Logo que começa o jogo, cada jogador deve encarregar-se de determinadas
tarefas, contribuindo assim para manter a ordem, o ritmo e a coordenação do
jogo. O futebol moderno, tal como é jogado actualmente, exige de todos os
jogadores em campo, capacidade de ataque e de defesa, sem que o jogador
deixe, de desempenhar a tarefa específica que lhe foi atribuída dentro da
equipa.
Concluída a caracterização pretendida para a matriz dos indicadores haverá
que definir quais são os testes indicados e a ponderação para a pontuação
destes mesmos indicadores.
A definição da bateria de testes, para algumas características (nomeadamente
físicas) e a observação nos treinos e competição para as outras características
(táctico-técnica e psicológicas) terá então de ser devidamente efectuada em
função do modelo de jogo referência definido, já que é sabido que a
valorização de algumas características terão maior ou menor significado em
função do que o modelo de jogo define para o jogador a nível individual e
colectivo.
Após a identificação das qualidades físicas, táctico-técnicas e psicológicas,
teremos de seleccionar e configurar os exercícios e as secções de trabalho
(treino e jogo) com os seus objectivos principais e secundários para facilitar o
controle e determinar o tipo de avaliação regular, e claro está, esta selecção de
objectivos deve ir ao encontro da filosofia de trabalho da equipa técnica e da
cultura do clube.
Sem pretendermos avançar mais no assunto, atendendo até a que para o fazer
haveria que na prática definir o modelo de jogo pretendido, não deixamos
contudo de referir a importância da consciência que em todas as situações de
Revisão da Literatura
31
treino e de competição é possível correlacionar a observação de
condicionamento físico,táctico-técnico com o aspecto psicológico, basta atentar
a que quando se trabalha marcação, pode-se exigir uma agressividade positiva
no momento do pressing, para se manter a posse de bola além da mobilidade e
constantes desmarcações é preciso participação, solidariedade e
autoconfiança, para organizar é preciso liderança e facilidade de comunicação
e por exemplo quando se dribla exige-se velocidade de explosão e de reacção
e associa-se autoconfiança, criatividade e determinação.
Para concluirmos, referimos uma notícia do jornal “A Bola”, datado de 4 de
Fevereiro de 2003, onde se dá conta da entrega ao Futebol Clube do Porto de
um documento com 94 páginas, onde José Mourinho descreve não só o que
pretende com modelo de jogo universal - para todos os escalões - mas também
se detém sobre o papel de cada um dos jogadores no sistema eleito - o 4x3x3.
Diz o jornal:
“Aquele que pode ser considerado a bíblia do futebol azul e branco, Mourinho
dá o título de “Visão … modelo - filosofia de jogo, cultura de jogo.”
“Este documento procura de forma objectiva definir o modelo de jogo com que
me identifico, assim como os respectivos princípios inerentes ao mesmo. O
meu objectivo é que todos os técnicos do clube saibam objectivamente as
ideias chaves que lideram todo o processo de construção da equipa principal e
assim possam objectivar o trabalho de formação dos jogadores compatíveis
com as nossas necessidades.”
Considera que também ao nível da prospecção e análise este documento pode
ser “um auxiliar importante pela especificação das características pretendidas”.
Diz ainda o jornal:
Em letras bem gordas, para sublinhar a importância, fica-se a saber que a
filosofia “é tão importante como a equipa” e que a ideia de equipa “é mais
importante que um jogador” para se concluir que os jogadores “têm a obrigação
de cumprir e defender a ideia do clube”.
Revisão da Literatura
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1.4.3 - Definição de Modelo de Jogo de Referência
O modelo de jogo é a concepção de jogo do treinador, isto é, a forma como os
jogadores reagem individual e colectivamente às várias situações que o jogo
vai oferecendo.
É a definição dos vários princípios de jogo que nos leva à nossa forma de
jogar.
“O processo de modelação é elaborado em função de uma determinada
concepção de futebol que é a do treinador, mas ao mesmo tempo deve ter em
conta a concepção de jogo que os jogadores têm na cabeça.” (Carvalhal, 2002)
Sendo assim, também podemos afirmar que o modelo de jogo encerra em si
um conjunto de interdependências vinculativas entre os jogadores,
materializadas por automatismos adquiridos no treino, em função de uma
estratégia assente em mecanismos tácticos inerentes aos princípios de jogo,
definidos pela concepção de jogo do treinador.
Por isso é consensual afirmar que a cada modelo de jogo corresponde uma
metodologia de treino diferente.
No futebol tal como nas outras modalidades dos jogos desportivos colectivos a
concepção da forma de treinar em função do modelo de jogo, assume uma
importância fulcral na eficácia das equipas, levando a que cada vez mais se
fale na especificidade do treino.
Atente-se na afirmação de Mourinho (Oliveira, B; Amieiro, N; Resende, N &
Barreto, R, 2006):
“Como não me canso de repetir, o mais importante numa equipa é ter um
modelo de jogo, um conjunto de princípios que dêem organização à equipa.
Por isso, a minha atenção é para aí dirigida, desde o primeiro dia. As semanas
preparatórias incidem, de forma sistemática, na organização táctica, sempre
com o objectivo de estruturar e elevar o desempenho colectivo. As
preocupações técnicas, físicas e psicológicas (como a concentração por
Revisão da Literatura
33
exemplo) surgem por arrastamento e como consequência da especificidade do
nosso modelo de operacionalização.”
O modelo de jogo que o treinador concebe deve ter sempre em linha de conta
as características dos jogadores que tem ao seu dispor, devendo para o efeito
fazer uma análise crítica prévia às capacidades dos jogadores, desde o nível
táctico-técnico até ao nível das capacidades condicionais (resistência, força e
velocidade) passando obrigatoriamente pela sua capacidade de interpretação
táctica do jogo.
A forma de interpretar o jogo por parte do jogador vai obrigá-lo à tomada de
consciência que a sua acção (individual e colectivamente) tem de estar
necessariamente ligada com o modelo de jogo concebido pelo treinador. A
expressão da acção individual só tem expressão se inserida no contexto da
acção colectiva.
Todos os elementos de uma equipa estão interligados - “Os modelos táctico-
técnicos devem reproduzir, de uma forma metódica e sistemática, todo o
sistema de relações que se estabelecem entre os elementos de uma dada
situação de jogo, definindo de uma forma precisa as tarefas e os
comportamentos táctico-técnicos exigíveis aos jogadores.” Queiroz (1986)
Reproduzimos, para melhor explicitação a definição de Leal e Quinta (2001)
sobre o modelo de jogo:
“Consiste na concepção de jogo idealizada pelo treinador, no que diz respeito a
um conjunto de factores necessários para a organização dos processos
ofensivos e defensivos da equipa, tais como: os princípios, os métodos e os
sistemas de jogo, bem como todo o conjunto de atitudes, de comportamentos e
de valores que permitam caracterizar a organização desses processos quer em
termos individuais quer, fundamentalmente, em termos colectivos da referida
equipa.”
Sobre este terceiro conceito básico de gestão - Definição de Modelo de Jogo
de Referência - formação do jogador específico para uma determinada forma
de jogar específica, concluiremos com uma afirmação de Co Adriansen
Revisão da Literatura
34
enquanto coordenador técnico do sector de formação do Ajax de Amesterdão
contida numa entrevista ao jornal “O Público”, p: VI:
“Cada equipa joga da mesma forma, com o mesmo sistema dos profissionais.
À medida que vão crescendo, vão melhorando as suas capacidades para o
lugar que lhes foi destinado e quando tiverem 18 ou 19 anos, caso a equipe
principal do clube precise deles, estão prontos desde logo, a integrarem-se
sem estranharem a forma de jogar. Já sabem perfeitamente quais as tarefas
que têm de desempenhar. Ou seja, qualquer jovem chegado à primeira equipa
não tem qualquer problema de adaptação.
O jogo, o espírito e até o número das camisolas é o mesmo. A única diferença
reside nos resultados: nos jovens eles não tinham, como não têm, qualquer
importância. Ganha-se e perde-se. Que importa! Sobretudo joga-se.”
Mais elucidativo e explicativo não podia ser!
1.4.4 - Conceitos estratégicos e de organização - “cultura de clube”
Apresentam-se a titulo de amostragem alguns conceitos estratégicos da
formação dos três “grandes” do nosso futebol, complementados por relatos
publicados nos jornais diários, considerações que demonstram a importância
que os clubes de top vão dando a este sector, nomeadamente no que toca às
infra-estruturas de apoio ao treino.
1.4.4.1 - Sport Lisboa e Benfica
No jornal “O Jogo” de 10 de Outubro de 2005 ficamos a saber que:
“O Departamento definiu por outro lado claramente quais são os objectivos da
formação, o perfil do técnico e o perfil do atleta.
Revisão da Literatura
35
Objectivos da Formação:
- Formar dois ou três jogadores por ano para o plantel principal;
- Formar jovens e atletas de forma qualificada;
- Aumentar número de jogadores internacionais;
- Criar hábitos de vitória;
- Reforçar cultura e mística do Benfica;
- Potenciar mais jovens talentos.
Perfil do Técnico:
- Com formação prática e cientifica;
- Ambicioso;
- Organizado;
- Jovem e Interventivo;
- Bom gestor de recursos;
- Espírito de liderança.
Perfil do atleta:
- Talentoso;
- Intelectualmente desenvolvido;
- Ambicioso;
- Com carácter;
- Com espírito de sacrifício;
- Responsável;
- Com motivação;
- Com espírito de liderança.”
Posteriormente, em 5 de Julho de 2007, o Jornal “ O Jogo” dá destaque à
conferência de imprensa da apresentação de Rui Águas para o cargo de
coordenador geral da prospecção:
Revisão da Literatura
36
“Segundo Luís Filipe Vieira o Benfica vai encetar uma nova era na área da
formação dando especial atenção à prospecção, para isso contratou
recentemente uma antiga glória do clube, para o cargo de coordenador geral
da prospecção - Rui Águas”.
O Presidente do Benfica afirmava ainda:
“(…) tudo o que é feito é pensado com alguma profundidade e por isso um dos
aspectos que se teve em consideração foi a formação, mais concretamente a
área vocacionada para a descoberta de novos talentos. Havia uma lacuna,
para nós bastante importante, que era a ponte, em termos de prospecção, de
ter um coordenador geral na prospecção do Benfica.”
1.4.4.2 - Futebol Clube do Porto
O F.C. Porto deu inicio a um projecto global de transformação do futebol do
clube a que deu o nome de “Projecto Visão 611”, projecto esse que procura
estabelecer uma visão única desde as camadas jovens até à equipa principal,
não só a nível de modelo desportivo mas também nos diversos detalhes
respeitantes à organização.
Formar atletas à imagem do F. C. Porto, é o lema do projecto de cinco anos
que vai uniformizar os métodos de trabalho e de funcionamento do futebol do
clube, fazendo da formação uma fonte de talentos da equipa principal, sendo “obrigatório” a integração de dois ex-juniores no plantel sénior no inicio de cada temporada.
Pode ler-se no jornal “O Jogo de 10 de Outubro de 2006:
“Uniformizar métodos de trabalho e de funcionamento são factores que se
consideram determinantes no projecto. A ideia é aplicar uma filosofia única
desde as camadas jovens até à equipa principal, não só a nível de modelo
desportivo mas também nos diversos detalhes respeitantes à organização.
Numa divisão vertical, serão criados dois blocos: um englobando os atletas e
técnicos dos diversos escalões e outro dos diversos departamentos de apoio,
Revisão da Literatura
37
comuns a todos eles”, mais à frente refere-se ainda “Para viabilizar essa
aposta, este projecto define os alicerces de dois núcleos indispensáveis: o
desportivo e o pedagógico. O primeiro estruturado nas diversas equipas
técnicas responsáveis por cada escalão; o segundo englobando uma série de
profissionais capazes de garantir um acompanhamento próximo de vertentes
extra-desportivas, incontornáveis na faixa etária da formação. O objectivo
passa por formar atletas à imagem do F. C. Porto”.
De forma a operacionalizar toda esta estratégia o documento aponta como
fundamental a construção de um novo centro de treinos como refere o jornal
“O Jogo de 10 de Outubro de 2006:
“ (…) entende-se como importante a construção de novo centro de treinos,
exclusivamente destinado às camadas de formação até ao nível dos Sub 14”.
O projecto aponta como uma das suas vertentes principais a prospecção.
Dentro do “Visão 611” a área de Scouting apresenta-se como uma das mais
complexas de todo o plano, uma vez que existem quatro fases crescentes de
observação e análise: Scout local, Scout master, Scout residente e treinador.
O objectivo está traçado, sendo que dos Sub-15 até à equipa principal, o
departamento de prospecção será responsável por formar um onze (um
jogador por posição) para cada um dos escalões de formação, sendo essa uma
listagem a que o clube recorrerá sempre que pretender contratar um jogador
para determinada posição.
1.4.4.3 - Sporting Clube de Portugal
Como exemplo de sucesso no nosso país iremos agora referir alguns dados
revelados nos jornais diários sobre o Sporting Clube de Portugal que sustentam
tudo o que atrás vem sendo referido para as camadas de formação e o seu
respectivo aproveitamento.
Revisão da Literatura
38
Começaremos por reproduzir afirmações de José Bettencourt, administrador da
SAD ao Jornal A Bola em 28 de Outubro de 2003:
“A criação das SAD foi um passo que será determinante para a evolução do
futebol profissional. Para que isso aconteça é fundamental que esta actividade
seja caracterizada pelos objectivos que lhes estão subjacentes: rigor,
transparência perante a sociedade e o mercado, igualdade de deveres e
direitos dos agentes do futebol, profissionalismo e lealdade concorrencial. Os
números da SAD são muitas vezes apresentados segundo interpretações
apocalípticas e derrotistas. Na verdade, as SAD que actuam segundo os
mecanismos controláveis de mercado transmitem, pela primeira vez, a
realidade do futebol e, ao fazê-lo, traçam um diagnóstico mediante o qual é
necessário agir para inverter as tendências e procurar soluções realistas de
forma a aproveitar o imenso potencial desta indústria. Na Sporting SAD
conhecemos hoje como nunca a realidade com que nos defrontamos. Daí que
nos sintamos em condições para operar segundo direcções vocacionadas para
a nossa realidade de mercado e tradições desportivas, designadamente a
aposta forte e metódica na formação e um nível de competitividade que nos
permita a luta permanente pelo título e a presença cada vez mais visível na
Europa”.
Continuamos reproduzindo uma secção do Jornal “O Jogo” de 16 de Junho de
2006 intitulada “ 3 questões, 3 respostas” numa entrevista a Aurélio Pereira,
reconhecidamente um dos homens fortes da formação em Portugal
actualmente com o cargo de Director do Gabinete de Prospecção do Sporting:
Pergunta: “O Sporting sempre lançou diversos jogadores na equipa principal,
mas anteriormente, estes tinham currículos bem mais modestos. O que se
alterou entretanto?”
Resposta: “Toda a filosofia do clube se foi alterando para melhor com o correr
dos anos, e hoje temos mais e melhores condições para trabalhar. A
Academia é espelho disso mesmo. No passado, tínhamos já grandes
jogadores, mas a estrutura era outra. Além disso, o apoio do clube tem sido
fundamental”
Revisão da Literatura
39
Pergunta: “Em ano de centenário, os únicos triunfos em futebol vieram
precisamente das categorias de formação……”
Resposta: “É um facto, mas não se deve misturar o desempenho dos jovens
com o dos profissionais. São mundos completamente diferentes. O que há
aqui é o sucesso de toda uma estratégia, uma filosofia adoptada pelo
clube, virada para a formação, e que está a dar, naturalmente, os seus
frutos. É só.”
A importância da estratégia do Sporting vem destacada também por José
Eduardo Bettencourt, no jornal “ O Jogo” de 2 de Outubro de 2006:
“Quando foi inaugurada a Academia, saiu um documento a dizer que 60 por
cento do nosso plantel seria oriundo da formação, causando polémica, O
Sporting há muitos anos que tem gente com capacidade no sector.
Simplesmente, o nosso centro de futebol trouxe outros níveis de
consciencialização.”
Ainda sobre a importância da estratégia refere-se Jean Paul no jornal “O Jogo”
de 12 de Novembro de 2006:
“Mas a explosão de talentos está a dar-se agora, porque só agora existe uma
“uma verdadeira aposta com estratégia”. Antes podia falar-se apenas em
futebol juvenil. Só mais recentemente começa a haver formação de facto, como
prática regular, organizada e sistematizada.”
A aposta é declarada e a estratégia empresarial assenta na formação. A
formação de novos jogadores é o pilar determinante de todo o edifício
desportivo.
A construção da Academia de Alcochete insere-se nesta estratégia e os
retornos são bem visíveis.
Desde que as camadas de formação trabalham na Academia, época de 2002-
2003, o futebol de formação somou nove títulos em quinze possíveis e oito em
doze possíveis nos últimos quatro anos, nas camadas de juniores A, Juniores B
(Juvenis) e Juniores C (Iniciados).
Revisão da Literatura
40
Tendo presente que o trabalho de formação repercute-se no aproveitamento
para os seniores, também aqui, e fundamentalmente aqui, já que não é
necessário ser campeão das camadas de formação para que haja um bom
aproveitamento, o Sporting é um bom exemplo da “ cultura de um clube”.
Aliás, apesar de ser quase sempre campeão de todos os escalões jovens
(desde a inauguração da Academia), o conceito chave continua balizado na
formação de atletas para o conjunto principal.
Para não irmos muito atrás ao tempo de Figo, de Peixe e de Simão, por
exemplo, apresentaremos desde 2001/02 o nome dos jogadores formados no
clube que fizeram parte dos respectivos plantéis:
2001/02- Beto, Nuno Santos, Quaresma, Hugo Viana, Diogo ( Gisvi, Jorge
Vidigal, Lourenço, Custódio e Santamaria, embora não fazendo parte do plantel
foram sendo utilizados esporadicamente);
2002/03 - Beto, Carlos Martins, Ronaldo, Quaresma e Nuno Santos;
2003/04 - Beto, Lourenço, Custódio, Miguel Garcia, Carlos Martins e Paulo
Sérgio (Santamaria foi utilizado esporadicamente);
2004/05 - Beto, Miguel Garcia, João Moutinho, Carlos Martins, Custódio e Hugo
Viana;
2005/06 - Beto, André Marques, Miguel Garcia, João Moutinho, Carlos Martins,
Nani, Custódio, Semedo e Caneira (Tomané e David Caiado foram utilizados
esporadicamente);
2006/2007 - Miguel Garcia, Rui Patrício, João Moutinho, Ronny, Y.Djaló,
Pereirinha, Nani, Custódio, M. Veloso, Caneira e Carlos Martins;
2007/ 2008 - Rui Patrício, João Moutinho, Ronny, Y. Djaló, Pereirinha,
M.Veloso, Adrien Silva, Luís Paez e Paulo Renato;
2008/2009 - Rui Patrício, João Moutinho, Ronny, Y. Djaló, Pereirinha,
M.Veloso, Adrien Silva, Daniel Carriço, Caneira.
Revisão da Literatura
41
Todo o sucesso do processo de formação do Sporting fica bem patente na
relação de jogadores que estiveram presentes nas duas últimas manifestações
desportivas internacionais.
No Mundial de 2006 estiveram presentes oito jogadores formados no Sporting -
Miguel, Caneira, Nuno Valente, Hugo Viana, Figo, Simão Sabrosa, Cristiano
Ronaldo e Luís Boa Morte.
No Europeu de 2008 voltaram a estar presentes outros oito jogadores formados
no Sporting - Rui Patrício, Miguel, Miguel Veloso, João Moutinho, Simão
Sabrosa, Ricardo Quaresma, Nani e Cristiano Ronaldo.
Refira-se também que com as vendas de Simão, Hugo Viana, Ronaldo e
Quaresma a SAD arrecadou 48 milhões de Euros, e mais recentemente
arrecadou mais cerca de 25 milhões de euros com a venda de Nani, mantendo
o nível de competitividade e até alcançando maiores êxitos que nos anos
anteriores.
O Jornal “Record” de 12 de Novembro de 2006 traz à estampa afirmações que
demonstram o rumo da aposta:
Jean Paul - Coordenador Técnico de Formação
“Depois de Futre, os anos 90 lançaram Figo e seguiu-se Cristiano Ronaldo.
Mas a explosão está a dar-se agora, porque só agora existe uma verdadeira
aposta com estratégia, antes podia falar-se apenas em futebol juvenil. Só
mais recentemente começa a haver formação de facto, como prática regular,
organizada e sistematizada.”
E ainda “O nosso objectivo é formar jogadores de alto nível para a equipa
profissional. Para quem está aqui é um factor de motivação.”
José Manuel Torcato - Director do Futebol de Formação
“O Sporting com a construção da Academia, potenciou as suas capacidades
para melhor formar, apostando na profissionalização dos quadros técnicos e
em infra-estruturas de qualidade. Hoje, o futebol de formação, para nós, faz
sentido porque todos trabalham para que os jovens possam integrar na equipa
principal.”
Revisão da Literatura
42
Ou outra afirmação de realce na mesma altura:
“É evidente que dá despesa. Mas não é encarado, nem pela própria
Administração, como tal. É encarado, antes, como investimento que se
pretende tenha retorno, quer a nível desportivo quer a nível financeiro.”
Parece-nos também relevante a entrevista de Filipe Soares Franco ao Jornal
“O Jogo” de 17 de Janeiro de 2007:
“O Jogo - É critica recorrente nalguns sectores do universo leonino: A
actividade de referência do Sporting não é devidamente pensada e gerida.
Afinal o futebol profissional tem ou não uma identidade? Vive ou não de acordo
com uma politica bem definida?
F.S.F. - O clube não só tem identidade, como tem uma estratégia própria.
Dizer-se o contrário é uma tremenda asneira. Aliás olhando para o panorama
do futebol nacional, o Sporting é quem tem uma estratégia melhor definida a
médio e longo prazo - e não é de hoje, é muito anterior à minha presidência. É
aí que entra a aposta na formação. O clube não pode ultrapassar um “x” de
despesa salarial na sua equipa de futebol profissional, e isso só se consegue
tendo, no plantel, um conjunto significativo de jogadores - que pode variar entre
40 e 70 por cento - oriundos das camadas jovens. Para isso, fizemos a
Academia. Investimos na formação e prospecção, criamos escolas de
jogadores, etc. Com esta politica, temos talentos a baixo custo e, depois,
podemos realizar mais valias substantivas se, um dia, os vendermos, quando
eles tiverem entre 20 e 23 anos. Esta estratégia custa-nos 1,5 milhões de euros
por ano.
O Jogo - É muito?
F.S.F. - Só não o é no futebol, porque, em qualquer outra actividade
empresarial ou pessoal, é muito, muito dinheiro. Como dirigentes, temos de ter
a sensibilidade de perceber que também no futebol é muito dinheiro.
O Jogo - Uma aquisição sonante pode sair mais cara….
F.S.F - Mas é um investimento e, como tal, tem tempo de amortização. Quando
falo de 1,5 milhões de euros de custos com a formação, falo do resultado de
Revisão da Literatura
43
um ano. Multiplicado por quatro ou cinco anos dá seis ou sete milhões e meio.
Portanto é preciso ter isto na justa medida do seu peso. E o importante é que o
Sporting tem de ganhar dinheiro. Nenhuma empresa consegue investir se não
tiver fluxos de caixa positivos. E é isso que, em termos empresariais tem de ser
percebido: o futebol português só dará um salto qualitativo se tiver fluxos de
caixa positivos e se puder investir - e com isso, crescer. Se perder dinheiro,
obviamente não terá capacidade de investimento, não poderá ser bom, e os
talentos sairão todos de Portugal. O que nós queremos, é que eles fiquem cá,
para que o espectáculo seja cada vez melhor. Só sendo melhor é que poderá
ter mais assistência, e só assim valerá mais dinheiro e poderá crescer. A
cultura empresarial tem de ser psicologicamente aceite pelos dirigentes do
nosso futebol.
Para concluir daremos conta da entrevista de Agostinho Oliveira, técnico da
F.P.F. na rubrica “ 3 questões 3 respostas” do jornal “ O Jogo” de 20 de
Fevereiro de 2006:
“O Jogo - O Sporting aproveita bem os produtos da formação?
Agostinho Oliveira - Sem dúvida. É de enaltecer o valor colectivo do trabalho do
Sporting. Tratam da vertente que vai para além da formação, corrigindo alguns
desvios que aconteciam no passado, em termos de formação humana,
académica e social. A Academia é ideal para isso. Trata-se de uma formação
integrada que possibilita também a formação humana e social, com o apoio de
uma estrutura competente.
O Jogo - A formação pode dar, além do rendimento desportivo, dividendos
financeiros?
Agostinho Oliveira - Hoje em dia a formação não é só directamente aproveitada
pelo clube, pois tem também importância nas mais valias que se podem obter.
É uma oferta ao mercado. O Sporting, por exemplo, tem conseguido o
equilíbrio financeiro aproveitando a formação.”
Por último devemos prestar atenção ao Relatório de contas da SAD na última
época de 2006/2007, que vem referido no jornal “Record” de 22 de Setembro
de 2007,onde transparece toda a “cultura de clube” e a sua estratégia, pois é
Revisão da Literatura
44
destacado que em termos futuros as traves mestras do projecto leonino
passam por quatro itens: politica de detecção e desenvolvimento de novos
jovens jogadores de elevado potencial, equipa competitiva (com integração de
elementos das camadas jovens) que possa angariar mais receitas via Europa,
rigor financeiro na gestão do futebol, sobretudo ao nível de salários e
alargamento de número de Academias do clube.
1.4.5 - Criação de infra-estruturas ideais para o treino
Sendo este o objectivo final desta dissertação, iremos em busca de uma
fundamentação que nos leve a propor um modelo de concepção de um Centro
de Treino, nas linhas seguintes.
Antes de avançarmos para a proposta modelo vamos transcrever excertos de
uma entrevista de Agostinho Oliveira, coordenador das selecções de formação
da Federação Portuguesa de Futebol, ao Jornal “A Bola” de 11 de Março de
2008, onde fica retratada a oportunidade do tema e da relevância para a
formação dos jogadores que a construção de Centros de Treino representa:
“A Bola: Regressou à formação na FPF ao fim de quase 10 anos de ausência.
Que situação encontrou?
Agostinho Oliveira: Vim encontrar dificuldades, que não sentia quando estive
por aqui. Há uma realidade inconfundível: temos um espaço de recrutamento
substancialmente diminuto. Quando falamos nisto falamos sempre em termos
comparativos com as selecções dos outros países. E as realidades mudaram.
Ao nível do estrangeiro criaram-se infra-estruturas, que de alguma maneira
superam todas as nossas intenções. E penso que nem intenções temos. Não
podemos ficar reduzidos às alternativas das academias do Sporting, Benfica e
F. C. Porto.
A Bola: Aonde se nota mais a evolução dos países estrangeiros?
Agostinho Oliveira: Eles criaram uma capacidade infra-estrutural que lhes
possibilita uma evolução completamente diferente. O seleccionador inglês diz-
Revisão da Literatura
45
me que em Inglaterra há 40 Academias e 56 Centros de excelência. Não sei se
estou a falar de enormidades mas isto é uma enormidade para nós. Ao nível de
quem nos cede a matéria-prima, nós não evoluímos. E no estrangeiro deram
passos em frente, os clubes construíram “ centros de excelência”,as
Academias. A Alemanha tem 4 Academias para o futebol feminino e quase 30
para o futebol masculino, a Áustria tem 8 e, como vão fazer o Campeonato da
Europa, a federação vai fazer mais cinco Academias.
A Bola: As infra-estruturas dos clubes, quando comparadas com as dos clubes
estrangeiros, ficam muito aquém….
Agostinho Oliveira: a realidade infraestrutural da grande maioria dos clubes
portugueses é melhor, mas não melhorou no ritmo e no espaço, de forma a
fazer-nos mais competitivos e com maior capacidade.
A Bola: Mas não era assim quando ganhávamos títulos?
Agostinho Oliveira: Muitos países não tinham descoberto toda a
potencialização que podiam efectuar na formação, através da criação das
academias e de “centros de excelência”. Em determinada altura fizeram-no e
todo o espaço de afirmação dessas selecções passou a ser diferente……
A Bola: O trabalho que atingiu a maior expressão com Carlos Queiroz está em
risco?
Agostinho Oliveira: Ninguém duvide, está mesmo em risco. Não é na qualidade
do jogador que está o mal. Estamos a discutir a realidade das infra-estruturas.
Há que recuperar, há que emendar esta situação.
A Bola: Emendar como?
Agostinho Oliveira: Através dos espaços competitivos. Para avançarmos temos
de apostar na qualidade do jogador mas temos de avançar com o suporte e
as infra-estruturas…”
Revisão da Literatura
46
1.5 - Futebol - A necessidade e a especificidade dos locais de treino
Todos estamos de acordo que o fenómeno desportivo, especialmente o futebol
é um “mundo” em constante evolução.
Cada vez mais os jovens procuram a prática do futebol como forma de
afirmação e realização pessoal - sucesso e dinheiro - não resistindo à
massificação dos “media” e à consequente mitificação e personificação dos
seus ídolos.
O futebol é sem sombras de dúvidas, no nosso país e não só, a modalidade
desportiva que dispõe de mais praticantes, com reflexo notório no
aparecimento de uma nova realidade nos nossos clubes, onde todos ou quase
todos começaram a prestar atenção a todas as camadas de formação, sendo
caso raro aqueles que, mesmo os de dimensão local, não dispõem de todos os
escalões etários em competição, isto é, escolas, infantis, iniciados, juvenis e
juniores.
Perante estes “novos dados”, haverá que arranjar “novas soluções”.O número
de atletas de cada clube, alterou substancialmente para números que tornam
incompatível todo e qualquer processo de treino, mesmo que com optimização
de horários, pois não existem espaços de treino que comportem a
simultaneidade da ocupação dos espaços disponíveis. Se atentarmos nos
escalões vigentes teríamos pelo menos cinco planteis das camadas de
formação, mais o plantel da equipa de seniores para treinar durante a semana.
Ora, o que acontece, na realidade é que começa a ser vulgar as equipas
disporem de duas equipas por escalão de competição, permitindo competição
regular, tanto aos jogadores do 1º ano, como aos jogadores do 2º ano, como se
convencionou chamar.
Estamos portanto em presença de um problema que começa por ser um
problema de compatibilização de quantidade de atletas para treinar com o
espaço disponível para o fazer.
Revisão da Literatura
47
É neste contexto, que amiúdes vezes, lemos afirmações de treinadores das
camadas de formação, lamentando-se que só podem treinar em meio campo e
por um número de vezes que não consideram suficientes à evolução e
aprendizagem dos jogadores.
Se por um lado, este incremento do número de praticantes resulta da procura
cada vez maior do jovem pelo futebol, também não é menos verdade que
existe uma maior consciencialização dos nossos clubes de que é fundamental
à sua existência a aposta forte e estratégica na formação de jovens jogadores.
Vivemos num tempo em que os reflexos da “lei Bosman” são por demais
evidentes, nomeadamente na falta de argumentos económicos que os nossos
clubes demonstram perante clubes de alguns países da Europa.
Todos os anos assistimos ao êxodo dos nossos melhores jogadores, agora até
já de tenra idade, para campeonatos de outros países, deixando o”nosso
campeonato” cada vez mais esvaziado de competitividade e portanto gerador
de menores receitas.
Daí que actualmente, seja pacífico afirmar que uma das soluções para procurar
o equilíbrio da não manutenção dos melhores em cada ano, e de não
dispormos de capacidade financeira para a aquisição de “craques”, seja o
investimento na formação de jogadores.
Haverá portanto que definir uma estratégia qualificada de formação dos
jogadores, dedicando especial atenção aos conceitos que devem encerrar a
gestão da formação, de forma que nos permita aumentar a qualidade dos
nossos jogadores.
É neste enquadramento que surge a necessidade da concepção e construção
de infra-estruturas desportivas que conciliem o binómio da quantidade de
atletas com a especificidade do treino.
Urge assim, a criação de espaços que proporcionem melhores condições de
treino, não só aos intervenientes no processo de formação de jovens atletas,
como também claro está, à equipa profissional.
Revisão da Literatura
48
Por um lado, os clubes terão de construir espaços de treino coadunados com o
número de atletas que precisam de treinar e por outro lado esses espaços de
treino devem reflectir as especificidades inerentes ao processo de treino.
Assim, neste âmbito, este estudo pretende ser uma contribuição para a
concepção de futuros Centros de Treino que possam responder às reais
necessidades de todos os intervenientes no processo de treino.
Como se verifica nos itens anteriores, o espaço destinado a treinos da prática
de futebol deve dar resposta ás reais e específicas necessidades de todos os
agentes desportivos neles envolvidos, essencialmente jogadores e treinadores
e/ou formadores de forma a que se venha a maximizar a qualidade e o
rendimento do treino desportivo.
1.6 - Concepção, tipologia e gestão dos Centros de Treino
Depois de conhecidas as características dos Centros de Treino “visitados”,
conhecidas também as ideias fundamentais dos gestores dos Centros de
Treino do Sporting C. P. e do F. C. Porto e a opinião de alguns treinadores e
coordenadores técnicos das camadas de formação, estaremos em condições
de apresentar uma proposta modelo de concepção dos Centros de Treino,
entendidos como locais destinados e apropriados para a prática do
treino/aprendizagem em futebol.
Esta proposta só se prenderá com os aspectos relacionados com os espaços
de trabalho táctico-técnico, leia-se campos de aprendizagem/treino/jogo.
Os outros espaços complementares essenciais para todos os Centros de
Treino (equipamentos de apoio, hotelaria e restauração, recuperação física,
zonas de lazer, imprensa, …), não são objecto deste estudo.
A proposta pretende dar sugestões para a concepção de Centros de Treino,
concretizando o que se considera como o mínimo das condições logísticas
para uma eficaz gestão do processo de formação do atleta de alto rendimento.
Revisão da Literatura
49
Não pode nunca, contudo, esta proposta modelo deixar de reflectir a dimensão,
o estatuto e a estratégia dos clubes.
Sendo assim faremos algumas considerações sobre aspectos que a bibliografia
nos aconselha a tratar
1.6.1 - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação
nos Centros de Treino
O Centro de Treino preconizado nesta proposta deverá por em confronto na
sua concepção e tipologia as vantagens e as desvantagens de o mesmo
espaço ser um espaço de treino destinado ou não a todos os escalões do
clube.
Como poderemos verificar existem alguns eventuais aspectos negativos, dos
quais se destacam logicamente a distância aos centros urbanos, para os
escalões de iniciação, resolvida a partir da mesma solução preconizada hoje
em dia para alguns escalões mais adultos, isto é, através de transporte
fornecido pelo clube em pontos estratégicos de interesse dos atletas.
Não entrando em linha de conta com a superfície necessária a tal opção e às
eventuais dificuldades financeiras de aquisição e até de localização e orografia,
algumas apostas têm sido feitas num Centro de Treino que congregue todos os
escalões do clube desde a iniciação até ao futebol profissional, com a
necessária preocupação de criar zonas estanques de forma a que o futebol
profissional possa trabalhar com o recato que justifica e por outro lado com o
incentivo à criação de espaços de contacto e de convívio entre todos os
agentes do clube.
Fica patente que essa solução é propicia a que a identidade do clube saia
nitidamente reforçada, consubstanciando-se numa maior proximidade entre
todos aqueles que “fazem” o clube, com o consequente aumento das sinergias
entre a Formação e o Futebol Profissional, destacando-se naturalmente os
aspectos de motivação daqueles que pretendem atingir o profissionalismo
Revisão da Literatura
50
através da visualização e contacto com os seus ídolos, além das objectivas
vantagens de optimização de meios e recursos humanos provocada pela
concentração de toda a actividade desportiva, da troca de experiências de
todos os agentes desportivos do clube gerando um sentimento de cumplicidade
e de partilha de objectivos que reforçará a “cultura de clube” e o aparecimento
daquilo a que se convencionou chamar de mística.
Atente-se nas afirmações de Arrigo Sacchi ao site do Real Madrid quando era
director técnico do clube, em 21 de Abril de 2005:
“Há que estar em permanente contacto com todos os técnicos do clube para
controlar as treze equipas da cantera. Neste momento estou seguindo mais a
primeira equipa e as equipas B e C, mas estou continuamente em contacto
com as outras equipas para seguir as suas evoluções e conhecer o seu
trabalho diário. Neste sentido, também quando começarmos a trabalhar em
Valdevebas (novo Centro de Treinos) nos ajudará mais a todos para estar mais
perto de todas as equipas”.
1.6.2. - Especificidade dos espaços dos Centros de Treino
A leitura atenta da bibliografia mostra-nos que neste aspecto existem várias
opções na concepção e tipologia dos Centros de Treino. Encontramos
referências a espaços específicos para treino quer no que diz respeito à
especificidade da função do jogador (Guarda-redes), quer nos objectivos do
treino - como é o caso de um espaço fechado - “gaiola” - principalmente para
trabalhar com miúdos em idades de aprendizagem (maior contacto com a bola
provocando motivação) ou para trabalhar a agressividade e a intensidade nos
escalões mais adultos como é o caso das equipas italianas, ou até na
existência de um espaço coberto.
No que toca especialmente aos jovens em idades de iniciação acreditamos que
deverá haver uma zona diferenciada de forma a solicitar os jovens em espaços
de várias dimensões e diferentes tipos de piso, concebida com a preocupação
Revisão da Literatura
51
de disponibilizar espaços reduzidos, eventualmente limitados por paredes
(gaiola) de forma a dar continuidade ao jogo e aumentar a motivação, de
maneira a proporcionar aos jogadores um maior número de vezes que
contactam com a bola, facilitando assim a aprendizagem, pois tendo mais
tempo com a bola vão melhorando as habilidades técnicas, através de
sucessivos passes, condução, dribles e remates e por outro lado também vão
sentindo e aprendendo a forma de se relacionarem com os colegas e os
adversários.
Estes espaços devem ir progressivamente aumentando de dimensão em
relação com o número de atletas por equipa em face da análise do grau de
maturação da aprendizagem.
Tal como referem Garganta e Pinto (1994), nesta etapa de formação o jogo tem
de ser ensinado e aprendido em espaços reduzidos, com um menor número de
jogadores, de modo a permitir-lhe uma melhor percepção e entendimento do
jogo, através do maior acerto nas suas acções, do maior número de contactos
com a bola, do maior número de situações em que obtém situações de
finalização (golo), provocando-lhe assim um aumento de prazer na prática
desportiva.
Há aqui que procurar uma solução que procure a restituição o mais próximo
possível dos espaços do “futebol de rua”, com todas as vantagens inerentes
referenciadas por vários autores, jogadores e treinadores.
Atente-se por exemplo na importantíssima afirmação de Klinsman (reputado
jogador e treinador do Bayern de Munique) durante o último Congresso
Internacional de Futebol realizado no Rio de Janeiro em 2005, quando
questionado sobre as razões do declínio da qualidade do futebol alemão,
apontou dois factores com predominância para o primeiro - o fim do futebol de
rua :
“(…) o fim do futebol de rua enfraqueceu a Alemanha…hoje as nossas crianças
jogam futebol enquadradas por tácticas e resultados em escolas e clubes - e a
Lei Bosman que abriu os principais campeonatos a estrangeiros que acabam
Revisão da Literatura
52
por travar a ascensão de alguns jogadores. O mais importante e influente factor
é o primeiro.”( O Jogo - 2 de Dezembro de 2005)
1.6.3 - Espaço de competição com bancadas nos Centros de Treino
Pretende-se poder concluir que há várias vantagens na existência de um
espaço de competição com bancadas para o público com capacidade variável
em função do tipo de clube e tradições no que toca à afluência aos jogos das
camadas de formação, destinado às competições dos jovens, com incidência
especial nos escalões de Iniciados, Juvenis e Juniores.
Toda a literatura nos ensina a pensar ser importante que o atleta à medida que
se aproxima dos escalões de competição/ rendimento, comece a sentir o “peso
do público”, se aproxime cada vez mais do clima de pressão com o qual terá de
viver. Por outro lado provoca-se assim um maior contacto com os adeptos,
além é claro de todas as vantagens logísticas inerentes quer às deslocações
quer aos custos de organização dos jogos.
1.6.4 - Número ideal de campos - Relva natural / Relva sintética
Resta-nos abordar a questão do número ideal de campos e as características
do piso a adoptar.
Quanto ao número de campos a questão é obviamente dependente de outros
factores, mas acreditamos que se possa estabelecer um número ideal mínimo
que garanta as condições para que seja possível em situações climatéricas
adversas não prejudicar o esquema de utilização necessário ao programa de
treinos.
Como também fica evidente na leitura da literatura, é ainda necessária a
distinção entre os pisos de relva natural e os pisos de relva sintética.
Revisão da Literatura
53
Apesar da crescente evolução tecnológica que se tem revelado na qualidade
dos pisos de relva sintética a verdade é que o futebol profissional se
desenvolve na sua esmagadora maioria em pisos de relva natural.
Procuraremos concluir sobre qual o tipo de piso aconselhável para as camadas
de formação, encontrando resposta para o espaço de competição das camadas
de formação, em especial para os escalões de Juniores (especialmente) e de
Juvenis que hoje em dia são considerados pré-profissionais.
A literatura indica-nos que são precisos pelo menos dois campos de relva
natural para o treino da equipa profissional, e que a sua concepção deve ter em
conta a sua disposição facilitando claramente a gestão da manutenção dos
espaços de relva utilizados em função das sobrecargas e das condições
climatéricas.
Haverá que definir outros espaços de competição para as restantes equipas da
formação, pelo que em face do que se conhece torna-se necessário um espaço
de treino e competição em relva sintética atendendo à evidente sobrecarga de
utilização para as camadas de formação que competem no futebol de 11.
Para as escolas, embora ainda não haja uniformidade nos campeonatos em
termos de só se jogar futebol de sete, haverá que definir um espaço de
competição para o efeito, havendo a utilização da marcação do campo de
futebol de 7 inscrito no campo de futebol de 11, com a utilização dos pisos de
relva sintética e do pelado de terra batida.
Posto isto vamos em busca daquilo que já existe em termos de Centros de
Treino em alguns países criteriosamente escolhidos.
1.7 - Pesquisa e Caracterização de Centros de Treino
Vamos através da Internet, na sua grande maioria, e pessoalmente em alguns
casos fazer uma visita aos centros de treino de alguns clubes de futebol do
Mundo.
Revisão da Literatura
54
A escolha dos países a visitar assenta num critério de “latinidade”, isto é, numa
certa forma semelhante de jogar, ou pelo menos de tratar a bola, decorrente de
determinada forma de entender o futebol, a que vulgarmente se tem chamado
futebol latino.
A nossa procura recai então numa determinada “escola” de futebol onde
impera o futebol de passe curto, com muitos apoios, boa capacidade técnica,
muita posse de bola, envolvência de muitos sectores na construção das
jogadas ofensivas, resultado da combinação entre o futebol brasileiro e o
futebol de alguns países latinos da Europa (Portugal, Itália e Espanha).
Esta determinada forma de jogar, consubstanciada em princípios de jogo
semelhantes no geral, é obviamente originário de determinado modelo de jogo
e portanto de determinada forma de treinar.
Sendo nosso entendimento que a concepção de determinado Centro de Treino
deve ter como parâmetro director a necessidade de determinada forma de
treinar, procuramos centrar a nossa procura em clubes que representassem a
mesma “escola” de futebol.
Havendo esse traço comum, entre os clubes “visitados”, melhor poderemos
fazer comparações entre eles, e tentar a evolução para um modelo de centros
de treino que se pretende atingir.
Visitamos clubes de dois continentes, a Europa e a América do Sul.
Na América do Sul, temos uma amostragem significativa de clubes do Brasil,
principal fornecedor de jogadores para o nosso futebol.
Na Europa, a pesquisa recai em países como a Espanha e a Itália e
obviamente em Portugal (visita “in loco”).
O critério de escolha dos clubes a “visitar” no Brasil, teve como princípio
básico, os emblemas de maior dimensão e aqueles que tradicionalmente mais
“produzem” jogadores.
Nessa amostragem era imperioso “visitarmos” (via internet) o primeiro Centro
de Treino que foi construído no Brasil (Cruzeiro Esporte Clube) e aquele que é
tido como um dos melhores Centro de Treino da América do Sul (Clube Atlético
Revisão da Literatura
55
Paranaense), bem como os últimos grandes “produtores” de jogadores
campeões do Brasil - Santos e São Paulo.
Achamos por outro lado conveniente, e porque tínhamos a possibilidade de
visitar presencialmente, não deixar de referenciar as infra-estruturas de treino
do Vasco da Gama e do Botafogo no Rio de Janeiro.
Em Portugal tivemos a oportunidade de poder fazer uma apreciação presencial
dos Centro de Treinos do Sporting C. P. e do F. C. Porto e “visitar” pela Internet
o Centro de Treinos do S. L. Benfica.
Tivemos também a curiosidade de através da Internet visitar o Centro de
Treinos do A. C. Milan - Milanello, durante algum tempo tido como modelo e
por comparação o Centro de Treinos do F. C. Internacionale Milano.
Em Espanha procuramos “visitar” pela Internet os clubes mais representativos
de forma a percebermos o estágio actual das infra-estruturas do país vizinho,
para de alguma forma podermos comparar.
Embora a nossa opção tenha recaído por uma descrição dos Centro de Treinos
na sua globalidade, a nossa principal preocupação recaiu na verificação da sua
valência, isto é, se no mesmo espaço conviviam as equipas do futebol de
formação com as do futebol profissional, ou se pelo contrário a opção dos
clubes recaiu na concepção de espaços próprios para as equipas profissionais;
na verificação do local onde estão situados os espaços de competição das
equipas das camadas de formação; na especificidade dos espaços de treino e
por último no número de espaços de treinos (campos de futebol) e na relação
de espaços de treino de relva natural e espaços de treino de relva sintética.
1.7.1 - Brasil:
1.7.1.1 - Cruzeiro Esporte Clube
Damos primazia ao centro de treino do Cruzeiro, atendendo a que foi o primeiro
clube do Brasil a dispor de um local adaptado para o treino de uma equipa de
futebol.
Revisão da Literatura
56
Inaugurado em 3 de Fevereiro de 1973, este centro de treino denominado Toca
da Raposa, além de utilizado pelo clube proprietário, foi várias vezes utilizado
pela selecção brasileira enquanto a mesma não dispunha do Centro de
Treinamento da Granja Comary, em Teresópolis - Rio de Janeiro.
Trata-se de um espaço com uma área de 53.000 m2 constituído por 4 (quatro)
campos em relva natural, vestiários, sala de musculação, departamento
médico, além de um edifício de 100 x 25 metros onde o clube dispõe de um
“hotel” com 18 (dezoito) apartamentos, cinema, salão de jogos e os escritórios
administrativos.
Outrora utilizado pelo time profissional, a agora denominada Toca da Raposa I
está a ser utilizada exclusivamente pela categoria de base (escalões de
formação) do clube e também para o intercâmbio internacional de atletas em
formação, principalmente com o Japão e a Coreia.
Destaca-se que para além da formação desportiva este clube também se
preocupa com a formação educacional dos atletas, já que os mesmos podem
contar com uma escola alternativa que administra o ensino fundamental e
médio, com carga horária específica para 200 alunos/atletas.
Conta ainda este clube com a Toca da Raposa II, espaço inaugurado em 9 de
Março de 2002, com uma área de 86.000 m2, para utilização exclusiva do time
profissional.
Este espaço dispõe de 4 (quatro) campos em relva natural (medidas oficiais),
vestiários, centro médico, academia de musculação, departamento de
fisioterapia, piscina térmica coberta e saunas.
Como apoio, dispõe ainda de um “hotel” com 17 apartamentos, refeitório, salão
de jogos, cinema e escritórios administrativos.
1.7.1.2 - Clube Atlético Paranaense
Este clube possui um dos mais modernos Centros de Treino da América do
Sul, construído num espaço de 246.577 m2 com 5000 m2 de área coberta
Revisão da Literatura
57
construída, à distancia de 15 quilómetros de Curitiba, capital do Estado do
Paraná, denominado oficialmente por Centro de Treinamento Alfredo Gottardi -
maior goleiro (Guarda-Redes) da história do clube, mais conhecido
propriamente por Centro de Treinos Caju.
O complexo possui dois núcleos habitacionais - classificação três estrelas -
com capacidade para até 284 pessoas, e 8 (oito) campos de futebol com as
medidas preconizadas pela FIFA.
Para melhor percepção apresenta-se uma descrição adaptada e mais
pormenorizada da constituição do Centro de Treino:
1) Sede
o Recepção concebida nos moldes de hotelaria;
o Administração Geral;
o Apartamentos (suites) para atletas profissionais e amadores com
capacidade para 284 pessoas;
o Centro administrativo de futebol amador e profissional;
o Centro de nutrição: cada atleta recebe orientações sobre alimentação
adequada a seu estado físico e sobre a carga física a ser
desenvolvida;
o Centro de Fisiologia;
o Centro Educacional;
o Sala VIP (reuniões, conselho, troféus);
o Sala de Jogos;
o Sala de TV;
o Restaurante com capacidade para 100 pessoas;
o Cozinha (600 refeições por dia);
o Lavandaria (35000 peças/mês);
o Centro de Processamento de Dados.
Revisão da Literatura
58
2) Sala de musculação
3) Departamento médico
o Centro de Fisioterapia;
o Vestiário de profissionais;
o Massoterapia, sauna húmida e seca, hidromassagem;
o Centro Odontológico.
4) Pista de Propriocepção
É destinada à recuperação e ao desenvolvimento dos atletas, além de
possibilitar o aprimoramento do equilíbrio e a reabilitação em diversos tipos de
terreno (terra, água, areia, etc).
5) Lago
Recirculação de água para irrigar os campos relvados
6) Estádio para jogos das categorias amadoras (relva natural)
Construído de forma independente do centro de treino, tem a
capacidade para 3000 pessoas sentadas e obedece aos padrões oficiais de
segurança.
Dependências localizadas abaixo da arquibancada:
o Vestiário exclusivo para categoria juniores;
o Vestiário exclusivo para a categoria juvenil;
o Dois vestiários para visitantes;
o Vestiário para árbitro masculino;
o Vestiário para árbitro feminino;
o Sala de Musculação;
o Alojamento com 22 leitos, exclusivo para atletas em teste;
o Sala de Pedagogia.
Revisão da Literatura
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7) Campos de Treino
Oito campos com medidas oficiais preconizados pela FIFA em relva
natural.
8) Área de Treino Secundária
No futuro serão feitos mais cinco campos oficiais.
9) Pórtico de Entrada - Com sala de imprensa.
Além de todos estes equipamentos específicos para o futebol possui
alguns equipamentos complementares, tais como:
o Academia, sauna e piscina semi-olímpica;
o Quadra de ténis, de basquete e de vôlei de areia;
o Capela ecuménica;
o Heliporto;
o Pista de jogging, com 750 metros de extensão.
1.7.1.3. - São Paulo F.C.
Este clube possui dois Centros de treino, um para o time profissional e outro
para as camadas de formação.
Centro de Formação de atletas
Como o próprio nome indica destina-se às camadas de base (formação).
Possui uma área de 220.000 m2, distando de cerca de trinta minutos do
Estádio do Morumbi (Estádio Cícero Pompeu de Toledo), num local com bela
integração paisagística.
Dispõe de cinco campos de futebol com as medidas oficiais e dois society
(medidas próximas de campos de futebol de 7) todos relvados em relva natural,
quatro locais de alojamento com capacidade para 95 atletas, sendo que os
quartos são duplos com banho privativo, refeitório central com cozinha, sede
Revisão da Literatura
60
administrativa, sala de monitoramento, oficina de manutenção, quatro vestiários
e consultório médico e odontológico.
Destaca-se a existência de uma unidade orientada para reabilitação esportiva,
fisioterapica e fisiológica para tratamento de lesões.
Está já em curso a ampliação deste centro importando referir a construção de
mais cinco campos de futebol e de um ginásio coberto (pavilhão)
Centro de Treino e Concentração
É o local, destinado ao treino e estágio do time profissional.
Localiza-se num bairro da zona oeste da cidade de São Paulo, dispondo de
três campos oficiais e um minicampo, um campo para treino de guarda-redes,
todos em relva natural, dois vestiários para jogadores, dois vestiários para
árbitros, alojamentos, cozinha e refeitório, 16 dormitórios, sala de jogos, sala de
audiovisual, área administrativa e área destinada ao atendimento da imprensa.
Possui também uma área destinada à reabilitação esportiva, fisioterapica e
fisiologia (recuperação, tratamento e prevenção de lesões).
1.7.1.4. - Santos Futebol Clube
O Centro de Treino deste clube é denominado Centro de Treinamento Rei
Pelé, em homenagem ao que é considerado o maior jogador de futebol do
mundo e que no Brasil só vestiu a camisa do Santos - camisa 10 - que
imortalizou em todo o mundo.
É utilizado pelo time profissional e pelas categorias de base (formação), e
localiza-se próximo do Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro), bem junto à
entrada da cidade de Santos.
Possui uma área de cerca de 40.000 m2, dispondo de três campos com
medidas oficiais em relva natural, uma caixa de areia, utilizada para treinos
físicos específicos, bem como os renovados equipamentos de apoio, no
intitulado Complexo Modesto Roma I constituído por:
Revisão da Literatura
61
o Vestiários principal com 4 banheiras de hidromassagem e piscina Spa
(com aquecimento térmico) com 20 m de comprimento concebida e
moldada para atender uma equipa de futebol nomeadamente no
processo de recuperação das lesões;
o Capela ecuménica;
o Sala de musculação;
o Sala de massagem;
o Unidade de saúde;
o Centro de reabilitação avançada;
o Sala de atendimento médico;
o Sala do departamento de Futebol;
o Sala da comissão técnica;
o Rouparia
Está em curso a construção da segunda fase que disponibilizará ao Centro de
Treinamento Rei Pele um hotel com 28 quartos (actualmente o alojamento dos
atletas das categorias de base é feito nas arquibancadas do Estádio Vila
Belmiro), restaurante, sala de jogos, cozinha, recepção e auditório, e uma nova
área de lazer (piscina e quadra polidesportiva)
1.7.1.5 - Clube de Regatas Vasco da Gama
Os clubes do Rio de Janeiro, começam agora a demonstrar preocupação com
as instalações para o treino desportivo, sendo contudo difícil a concretização
dessa realização atendendo às graves dificuldades económicas que
atravessam.
Escolhemos este clube, pois em termos de património é apesar de tudo o mais
representativo deste Estado do Brasil.
Revisão da Literatura
62
Além do complexo de São Januário, onde se encontra o Estádio, para jogos
oficiais do time profissional, o parque aquático, o ginásio polidesportivo e a
sede do clube, o Vasco “possui” através de arrendamento um Centro de treino
localizado na Barra da Tijuca, denominado Centro de Treinamento Vasco
Barra.
Com uma área aproximada de 50.000 m2, a Academia de Esportes do Vasco,
conta com dois campos de treino para futebol.
O campo 1, onde treina o futebol profissional e jogam partidas oficiais as
categorias juniores, juvenil, infantil e mirim, possui as medidas de 100 x 70 m.
O campo 2,utilizado para o treino das categorias de base (formação) possui as
medidas de 90 x 65 m.
Existem ainda mais dois relvados de medidas inferiores - 64 x 40 m onde se
realizam os treinos das escolinhas de futebol e os treinos de captação.
Todos os campos de futebol são de relva natural.
Tudo isto é apoiado por modernos vestiários e salas de musculação.
1.7.1.6 - Botafogo Futebol e Regatas
A equipa de futebol profissional deste clube utiliza o seu Centro de Treino
denominado João Saldanha na sua antiga Sede de General Severiano
Dispõe de um campo de futebol com medidas regulamentares em relva natural
com respectivos vestiários, sala de fisioterapia, sala de musculação, um
conjunto de piscinas, normal, aquecida e de hidromassagem e um campo de
35m x 17m em relva sintética para treino de Guarda-redes e aquecimento.
Complementa todo o complexo a zona da “concentração” destinada aos atletas
em vésperas de jogos com 13 suites, sendo 12 duplas e uma para oito
pessoas.
As camadas de formação dispõem de um espaço autonomizado na zona norte
do Rio de Janeiro - Marechal Hermes - onde treinam todos os dias as camadas
Revisão da Literatura
63
de mirim, infantis, juvenil e júnior, em dois campos de futebol com medidas
regulamentares, em relva natural com respectivos vestiários e um pequeno
alojamento.
1.7.2. - Espanha
1.7.2.1. - Club Atlético de Madrid
Na denominada “Ciudad Deportiva de Majadahonda” situada a 20 km de
Madrid, o clube possui local de treino destinado à equipa profissional e às
camadas de formação.
La Ciudad Deportiva é composta por:
o mini-estádio, com capacidade para 3500 pessoas, destinado aos jogos
oficiais da segunda equipa e das equipas de formação, dispondo de
um campo de 106 x 70 m em relva natural;
o 2 (dois) campos de relva natural;
o 2 (dois) campos de relva artificial.
1.7.2.2. - Athletic Club Bilbao
Este clube possui um local apropriado para treino desportivo da equipa
profissional e da cantera (camadas de formação), onde também se podem
fazer os estágios da equipa profissional.
As instalações denominadas de Lezama possuem 5 (cinco) campos de futebol
de relva natural com medidas oficiais, 1 (um) campo de futebol de relva artificial
também com medidas oficiais, um pavilhão coberto em que o piso é de relva
artificial, vestiários, sala de musculação, centro médico e residência para
jogadores.
Revisão da Literatura
64
1.7.2.3. - Real Club Deportivo La Coruña
Este clube possui, desde 2003, um local destinado ao treino desportivo, de
todas as equipas de futebol do clube, introduzindo até um novo conceito já que
dispõe neste complexo, de campos que podem ser alugados pelos
“aficionados” para a prática desportiva.
A equipa profissional faz aqui todos os seus treinos, bem como as categorias
de formação, que além dos treinos também fazem neste complexo os seus
jogos oficiais.
Este local, denominado “El mundo del futbol” possui:
o 1 campo de relva natural 110 x 64 m (jogo 105 x 61 m);
o 6 campos de relva natural 110 x 71 m (jogo 105 x 68 m);
o 1 campo de relva artificial 130 x 68 m (jogo 105 x 65 m);
o 6 campos de relva natural 71 x 33 m (jogo 50 x 30 m);
o Campos auxiliares de treino para guarda-redes.
O equipamento de apoio faz a separação entre a equipa profissional e as
equipas das camadas de formação.
Na zona destinada às camadas de formação existem 7 (sete) vestiários, bar,
sanitários e sala de imprensa, preparada para aulas teóricas dos treinadores.
Na zona destinada à equipa profissional, existem os vestiários dos jogadores,
spa e sauna, sala de musculação, vestiários de treinadores, departamento
médico, sala de fisioterapia, lavandaria e rouparia, dois vestiários para árbitros,
6 gabinetes para técnicos e coordenadores de todas as camadas, um salão
para aulas teóricas, conferências, reuniões e escola de treinadores.
Revisão da Literatura
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1.7.2.4. - Valência Club de Futebol
Este clube possui um local apropriado para o treino desportivo denominado
“Ciudad Deportiva Riba - Roja.”
A actual “ciudad desportiva”, que se encontra em evolução, estende-se por
uma área de 180.000 m2,e é utilizada pela equipa profissional e pelas
categorias de formação.
Foi concebida não só para dar acolhimento a potenciais jogadores mas
também com a preocupação de possuir um moderno centro de reabilitação,
equipado com várias salas para a recuperação dos jogadores lesionados, sala
de fisioterapia, hidromassagem, sauna, piscina e sala de musculação.
O edifício central dispõe de dez habitações, bem como refeitório e sala de
estar, sala de audiovisual para treinos técnicos, vestiários da equipa principal e
da segunda equipa.
Anexo a este edifício está a bancada do mini-estádio com capacidade para
3.000 espectadores, onde habitualmente joga o Valência B, bem como toda os
vestiários de apoio à camada de formação.
Em termos de campo de futebol tem:
o campo de jogo do mini-estádio - relva natural;
o 2 campos de relva natural para treinos da 1.ª equipa;
o 4 campos de relva natural para treinos da camada de formação;
o 1espaço com medidas aleatória em relva artificial;
o 1 mini campo de relva natural para futevolei e uma rampa de treinos.
1.7.2.5. - Futebol Club Barcelona
Na apresentação deste clube faremos alusão ao existente e ao projecto já em
curso de uma nova zona intitulada “Ciudad Deportiva Joan Gamper”.
Revisão da Literatura
66
Actualmente:
Neste momento e junto ao estádio Camp Nou este clube dispõe de um espaço
destinado ao treino desportivo constituído por um estádio de futebol
denominado miniestádi com capacidade para 15.276 espectadores onde se
efectuam os jogos oficiais das equipas Barcelona B e Barcelona C, e um
campo de futebol de 103 x 65 metros em relva natural, bem como dois campos
de treino de relva natural com medidas oficiais (100 x 70 m) para estas equipas
e a equipa profissional, e naturalmente todos os vestiários.
Mesmo ao lado do estádio Camp Nou , situa-se o edifício designado por La
Masia, residência oficial dos jogadores das camadas de formação.
Este edifício que ocupa uma área de 610 m2 dispõe de cozinha, refeitório, sala
de estar, biblioteca, zona de administração, sanitários, dormitórios e os
vestiários. Com as obras de remodelação este edifício passou a dispor de 1
bloco com 16 dormitórios com 3 camas e de outro bloco com 12 quartos.
Em construção
Numa área de 136.839 m2, o clube disporá de um espaço adaptado ao treino
desportivo da equipa profissional e de todas as categorias de formação, bem
como outras secções desportivas.
Basicamente o projecto aposta para diferentes zonas, a saber:
o Futebol profissional: 1 campo de futebol de relva natural com
bancadas laterais, dois campos de treino também de relva natural,
espaços complementares de treino, uma pista com paredes laterais,
o equipamento de apoio (vestiários, hidromassagem, musculação) e
uma residência para estágios.
o Futebol de base: um campo de futebol de relva natural com
bancadas laterais, dois campos de treino sendo um de relva natural e
o outro em relva artificial e espaços complementares de treino, o
equipamento próprio de apoio (vestiários, massagem) residência e
uma zona de recreio com piscina.
Revisão da Literatura
67
No total e no fim do projecto a ciudad desportiva irá dispor de 5 (cinco) campos
de relva natural com medidas oficiais, 3 (três) campos de relva artificial com
medidas oficiais e um campo de futebol de 7 em relva artificial.
o Edifícios de Apoio: existem três edifícios de apoio, nesta cidade
desportiva. Um edifício, em conjunto com a bancada do campo
principal (com capacidade para 1512 pessoas) que se divide em três
níveis. No 1.º nível localiza-se os vestiários, sala de musculação e
ginásio para as camadas de base, gabinetes, vestiários e sala de
reunião para treinadores, sala para o futebol feminino e sala de
fisioterapia, reuniões e conferências. No 2.º nível estão os sanitários
para o público e o 3.º nível está destinado aos gabinetes dos
directores das camadas de formação. Outro edifício ligeiramente ao
lado dispõe de um grande vestiário, e quatro mais pequenos, sala de
fisioterapia, gabinete médico, vestiário para árbitros, sala de vídeos e
reuniões e três gabinetes para treinadores.
No espaço entre os campos de treino e sensivelmente à mesma distância de
todos os campos o complexo dispõe de um edifício totalmente destinado a
vestiários, oito no total.
Com a excepção da equipa profissional que disputa os jogos oficiais no Camp
Nou e das equipas B e C e juvenil A que jogam no mini-estádio, todos os outros
escalões fazem os jogos oficiais na ciudad deportiva.
1.7.2.6. - Real Madrid Club de Futebol
Estamos em presença do maior projecto do mundo em termos de local
apropriado para o treino desportivo na área do futebol.
É impressionante a dimensão desta obra, já que todos os termos de
comparação ficam a uma distância muito grande daquilo que esta obra
comporta.
Revisão da Literatura
68
Estando prevista a sua conclusão para breve, esta “Ciudad Deportiva
RealMadrid” será o local de treino desportivo de todas as equipas de futebol
desde a equipa profissional até toda às categorias de formação.
Desenvolve-se através de um edifício charneira em T, com 9.000 m2 de área
albergando vestuários, ginásios, sala de conferências, gabinetes, zona de
hidroterapia, centro médico, sala de imprensa, etc. de ambos os lados deste
edifício situam-se 10 campos de futebol de relva natural e de relva artificial.
Descrição pormenorizada:
À chegada ao edifício em T, deparamo-nos com um bar/snack/restaurante com
uma área de 500 m2 e uma esplanada de 200 m2 onde se pode assistir aos
treinos das camadas de formação. Desde este ponto o acesso passa a ser
condicionado, só havendo permissão de entrar nos espaços adjacentes a quem
for atleta do clube. As equipas visitantes e os árbitros terão acesso aos seus
respectivos vestiários mas nunca ao restante do prédio.
O edifício divide-se em três módulos, na estrutura longitudinal, uma para
vestiários de visitantes e árbitros, outra para os vestiários dos benjamines,
alevines, infantiles e cadetes e outra ainda com os vestiários das três equipas
juvenis e as equipas Real Madrid B e C.
Na cabeça do T, isto é, na zona perpendicular ao eixo principal estão três
módulos destinados à 1.ª equipa.
No seu interior dispomos de mais de 9000 m2 de espaço para vestiários, 3000
m2 de ginásio, 3000 m2 de salas de aula, sala de conferência, gabinetes, 3000
m2 de hidroterapia e centro médico, 2000 m2 de sala de imprensa.
Campos de treino
Frentes aos vestiários estão sete campos destinados às categorias de
formação. Há dois campos de relva natural para o Real Madrid B, Real Madrid
C e Juvenil A, havendo ainda mais dois campos de relva artificial de futebol de
7 e três campos de relva artificial com medidas oficiais, sendo que cada campo
terá bancada própria.
Zona da 1.ª equipa
Revisão da Literatura
69
Acedendo à cabeça do T, estamos em presença da zona de trabalho da 1.ª
equipa, onde se encontram logo na entrada vários gabinetes de trabalho para
todos os directores e treinadores.
Daí podemos aceder ao centro médico que se desenvolve no 1.º piso,
dispondo de uma grande sala de fisioterapia, e de uma impressionante sala de
hidroterapia composta por uma piscina ovalada com 3 (três) profundidades
diferentes, uma piscina para reabilitação e hidromassagem, duas piscinas -
“calle” para correr contra-corrente (água fria e quente), duas piletas (água fria e
quente), além da sauna e banho turco.
No piso superior, haverá uma sala VIP para jogadores e a zona de meios de
comunicação (imprensa) com a existência de uma zona mista.
O vestiário da equipa principal é o maior de todo o complexo e tal como os
outros divide-se em zonas húmidas e secas, comunicando directamente com
um ginásio destinado ao aquecimento pelo que para o efeito dispões de piso de
relva artificial, bem como com um campo de treino.
A equipa principal dispõe de 3 (três) campos de treino em relva natural, sendo
que dois deles estão pensados de forma justaposta e dimensões quadradas de
forma a variar a sua posição em função do estado da relva. O 3-º campo, foi
pensado e construído com um desnível em relação aos outros dois de 4
(quatro) metros de forma a evitar os efeitos do vento, tendo ainda justaposto às
suas medidas oficiais um campo-jaula, um campo de treinos para guarda-redes
e uma caixa de areia.
Ao longo de toda a ciudad desportiva haverá um circuito de corrida com um
comprimento de 6400 metros, construído com a preocupação de dar ao piso
resposta elástica similar a um campo de jogo.
Localização, superfície e pessoal
A ciudad deportiva localiza-se adjacente à zona do aeroporto de Barajas, na
periferia da cidade e servida por óptimos acessos.
Revisão da Literatura
70
O projecto global ocupará uma área prevista de 1.200.000 m2, estando
reservados espaços para fases seguintes a esta que se encontra em
construção: mini-estádio, pavilhões, etc.
Neste momento a área destinada aos campos de futebol mede 110.331 m2, a
superfície construída mede 21.578 m2 e a superfície de actuação mede
362.498 m2.
Quando estiver e fase de exploração, para operar e conservar o complexo
precisará de 140 pessoas em serviço diário contínuo no que toca a esta 1.ª
fase.
1.7.3 - Itália
1.7.3.1. - Milan Associazione Calcio
O centro de treino, deste clube, denominado Milanello localiza-se a cerca de 50
km de Milan, tendo sido construído em 1963, e objecto de algumas
reestruturações, abrange uma área de 160.000 m2.
Este centro de treino desportivo dedicado ao futebol dispõe de 5 (cinco)
campos de futebol de relva natural com medidas oficiais, 1 (um) em relva
sintética (35m x 30m), 1 (um) coberto com piso em relva sintética (42m x 24m)
e um pequeno campo chamado e imortalizado como gaiola já que é cercado
por muros com 2,30 m de altura nas laterais e 2,50m de altura nos topos.
Uma pista de corrida no meio da mata com a extensão de 1200 metros e várias
altitudes.
O prédio central dispõe de gabinetes, quartos dos jogadores, sala de TV, um
quarto com piscina, um bar, uma cozinha, duas salas de jantar, sala de
imprensa, sala para reuniões, lavandaria, sala de passar a roupa e centro
médico.
Revisão da Literatura
71
Ao lado há um prédio com quartos que pode ser utilizado por hospedes e onde
vão os jogadores da categoria de base, e ainda outro prédio onde estão
instalados os vestiários do time principal e das camadas de formação, bem
como uma moderna academia de musculação, com equipamentos para todos
os grupos de exercícios musculares e cardiovasculares, máquinas de
reabilitação de juntas e ligamentos e para avaliação (Rev.9000), Technogym
Systems (TGS), destinadas a regimes de treinos individuais e protocolos de
reabilitação.
É também frequentemente utilizado pela selecção Italiana.
1.7.3.2. - Football Club Internazionale Milano
O centro de treino, deste clube, denominado “Ângelo Moratti”, localiza-se na
periferia da cidade de Milão, e é utilizado desde a época desportiva de 1961-
62, tendo sido melhorado ao longo dos anos.
Este centro de treino desportivo dedicado ao futebol compreende 3 (três)
campos de futebol em relva natural de dimensões oficiais, dois de dimensões
reduzidas também em relva natural, e um campo denominado de “jaula”, pois
está enclausurado por paredes fixas e o seu piso é de relva artificial, medindo
48m x 26m.
Dispõe ainda de dois ginásios, um com 250 m2 e outros com 100 m2, para
musculação, sala médica, sala de fisioterapia e massagens, piscina com
hidromassagem e natação contra-corrente e três vestiários.
Na parte central do centro de treino, está um hotel com 24 quartos duplos e 2
individuais, destinado a estágios, sala de jogos, sala de reuniões técnicas, bar,
restaurante, cozinha e sala de imprensa.
Revisão da Literatura
72
1.7.4 - Portugal
1.7.4.1. - Futebol Clube do Porto
O Centro de Treinos e Formação Desportiva Porto Gaia, propriedade da
Câmara Municipal de Gaia e “cedido” ao F.C. Porto, localiza-se em Crestuma-
Olival (Vila Nova de Gaia) a cerca de15 km da cidade do Porto.
O Centro de Treino é formado por espaços de treino, dispostos da seguinte
forma:
o Um campo de relva natural com bancada para 3800 pessoas;
o Um campo de relva sintética, que dispõe de iluminação artificial;
o Um mini campo de relva sintética para trabalho intensivo e treino de
guarda-redes com as medidas de 40 (quarenta) metros de
comprimento e 30 (trinta) de largura;
o 3 campos com as medidas regulamentares para a prática de futebol,
em relva natural.
Todo o complexo é apoiado por três edifícios com as seguintes funções:
o Edifício portaria, que contempla instalações para conferências de
imprensa, um auditório e uma sala de trabalho;
o Edifício de apoio ao futebol juvenil (juniores A e B), que contém 3
balneários para equipas, 1 balneário para árbitros, 1 balneário para
treinadores, departamento médico e sala de hidroterapia;
o Edifício de apoio ao futebol sénior, sendo constituído por 2 balneários
para equipas, 2 balneários para treinadores, 2 salas de apoio médico,
1 sala de hidroterapia e massagens, saunas e um ginásio.
Revisão da Literatura
73
1.7.4.2. - Sporting Clube de Portugal
A Academia Sporting - Centro de Futebol do Clube - situa-se no concelho de
Alcochete, próximo de Lisboa, na margem sul do Tejo, ficando a cerca de 30
minutos do Estádio de Alvalade.
Dispõe de uma área de 250.000 m2, com cinco campos relvados com relva
natural e dimensões de 110 x 70 metros, um campo de piso sintético de 90 x
70 metros e um recinto coberto equipado com piso sintético de 60 x 40 metros.
O campo principal tem o apoio de bancadas com capacidade para mil
espectadores.
O Centro de Futebol do Sporting está servido por ginásios dotados com a mais
moderna aparelhagem para manutenção da forma física, tanques de
hidromassagem com jacuzzi, salas de massagem, centro médico e bem
apetrechados balneários no edifício central e sob as bancadas do campo
principal.
A Academia dispõe de um edifício central com 11000 m2 com 91 quartos, 18
dos quais duplos com banho privativo disponíveis para alugar. No edifício
funcionam dois refeitórios, um dos quais em regime de self-service, salas de
estar, cozinhas e rouparia.
Possui ainda sala de conferência de imprensa e sala de imprensa, bem como
um auditório com 70 lugares.
É o pólo de trabalho de todo o futebol do Sporting, estando ao serviço da
equipa profissional e de todos os escalões de formação a partir dos 13 anos.
1.7.4.3. - Sport Lisboa e Benfica
Este Centro de Treino está destinado ao futebol profissional e a todo o futebol
de formação, localizando-se no concelho do Seixal.
Revisão da Literatura
74
São seis os campos de futebol, quatro em relva natural e os outros dois em
relva sintética, dispondo-se por altitudes diferentes, sendo que dois deles terão
iluminação própria.
O campo principal tem bancadas com capacidade para 1500 pessoas.
O edifício dos quartos está dividido em dois blocos. O futebol profissional
ocupa os últimos pisos e o futebol de formação ocupa os pisos inferiores.Tem
quartos individuais e dois tipos de quartos duplos - um para profissionais e
técnicos e outros para jovens em formação (com camas de beliche e área de
estudo).No todo estarão à disposição 190 camas.
O complexo dispõe de uma área reservada ao lazer com salas de jogos uma
zona de estar e várias salas de estudo equipadas com computadores.
A zona do refeitório é composta por duas áreas de refeição, uma com serviço
de mesa destinada à equipa profissional e outra em regime de self-service para
os escalões de formação, podendo servir 200 refeições em simultâneo.
A área administrativa está junto à entrada principal onde se encontra a portaria,
secretaria e recepção, sendo que no piso 0 está o pessoal que trabalha com as
camadas de formação e no piso 1 o pessoal da equipa profissional.
Na área destinada à imprensa há um auditório com capacidade para 75
pessoas, sala de convívio com serviço de bar e uma pequena copa de apoio,
assim como uma sala de entrevistas.
75
2. METODOLOGIA
76
Metodologia
77
Para se atingir determinado objectivo, temos necessariamente de idealizar os
meios para o alcançar.
Como fazer para podermos apresentar uma proposta de modelação dos
Centros de Treino dos clubes de futebol?
É com base nesta pergunta que definimos a metodologia de actuação.
As ferramentas utilizadas neste processo de investigação foram a análise
documental, as visitas e as entrevistas
2.1 - Análise documental
De maneira a atingir os objectivos pretendidos a realização da presente
dissertação começa por fazer uma revisão da literatura no que toca ao
problema em questão através da leitura e análise de vários livros, artigos de
revistas da especialidade, jornais e artigos publicados na Net, tudo
devidamente identificado na Bibliografia
2.2 - Visitas
Para um conhecimento perfeito das infra-estruturas que os clubes de futebol
possuem, definimos uma linha de acção - metodologia - baseada em “visitas”
através da Net, com leitura exaustiva da informação dos sites dos clubes
(treze clubes) e por outro lado com visitas in loco” ( quatro clubes) com a
efectivação do registo daquilo que se examinava.
Foram “visitados in loco” dois clubes em Portugal (Sporting Clube Portugal e
Futebol Clube do Porto) e dois clubes no Brasil (Clube Regatas Vasco da
Gama e Botafogo Futebol e Regatas) tendo sido “visitados” virtualmente
através da Net, um clube em Portugal (Sport Lisboa e Benfica), quatro clubes
no Brasil (Cruzeiro Esporte Clube, São Paulo Futebol Clube, Clube Atlético
Paranaense e Santos Futebol Clube), 6 clubes em Espanha (Club Atlético de
Metodologia
78
Madrid, Athletic Club Bilbao, Real Club Deportivo La Coruña, Valência Club de
Futebol, Futebol Club Barcelona, Real Madrid Club de Futebol) e dois clubes
em Itália (A.C. Milan e F.C. Internazionale Milano)
2.3 - Entrevistas
Tomamos a decisão de entrevistar alguns dos agentes desportivos que
trabalham todos os dias nos espaços de treino disponíveis nos seus locais de
trabalho, de modo a perceber pela sua vivência e experiência quais as
vantagens e as dificuldades que sentem nos actuais espaços destinados à
prática do treino de futebol.
As entrevistas foram feitas a dois Directores de Centros de Treino, a três
Coordenadores Técnicos das camadas de formação e a quatro Treinadores
quer sejam das camadas de formação quer sejam do futebol sénior.
Sendo assim o nosso conjunto de entrevistados foi constituído por nove
entrevistados, todos eles com fortes ligações ao objecto do nosso estudo e
possuidores de vasto conhecimento da matéria.
De posse dos conhecimentos da literatura, dos registos das visitas e com base
nas nossas preocupações e objectivos constituímos um guião de entrevista,
com cinco perguntas a todos os entrevistados, incluindo mais duas questões só
direccionadas aos dois Directores dos Centro de treino do Sporting Clube de
Portugal e do Futebol Clube doPorto
Optamos por utilizar o tipo de entrevista que é designada por semi-estruturada
(Fontana e Frey-2000).
Na escolha da metodologia das entrevistas esteve sempre presente a
possibilidade de através deste método permitir aos entrevistados total abertura,
levando-os a exprimirem-se de forma natural, usando a sua própria linguagem
e gastando todo o tempo que desejassem, de forma a poderem “libertar” todos
os seus conhecimentos e experiências sobre a matéria.
Metodologia
79
O procedimento iniciou-se na sua grande parte através do contacto directo com
os entrevistados e no que toca aos directores dos centros de treino do Sporting
Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto através da prestimosa colaboração
de terceiros.
Nesses contactos foram previamente definidas, quer a intenção das entrevistas
quer os objectos a serem atingidos.
Obtida a respectiva autorização, as entrevistas foram efectuadas
presencialmente nos locais de trabalho dos entrevistados.
Decorreram entre os meses de Janeiro e Fevereiro e demoraram em média
cerca de quarenta minutos. Estas entrevistas foram gravadas em gravador
digital sendo posteriormente transcritas para papel e depois supervisionadas e
confirmadas pelos entrevistados.
2.3.1 - Entrevista semi-estruturada
Conhecedores das características determinantes dos intervenientes no
processo de treino - jogadores e treinadores - conhecedores das características
intrínsecas ao tipo de treino , conhecedores das características de alguns
Centros de Treino, e sabendo que toda a gestão do processo de formação dos
jogadores de futebol, além de outros factores já descritos, está condicionada
pela “qualidade” da concepção dos espaços físicos que os clubes podem
proporcionar, estaremos agora em condições de registrar as opiniões de alguns
agentes desportivos que convivem diariamente com os espaços disponíveis
dos seus locais de trabalho e portanto no fundo quem experimenta as
vantagens e dificuldades dos actuais “espaços” dedicados à prática do
processo de treino.
A amostragem conseguida contempla os directores dos centros de treino, os
coordenadores técnicos da formação e os “homens do terreno” -
treinadores/formadores.
Metodologia
80
Acreditamos que as suas ideias consubstanciadas na experiência vivida serão
um óptimo contributo no desenvolvimento do objectivo da dissertação.
Para isso determinamos uma grelha de perguntas de forma a permitir uma
interpretação que nos leve a concluir tanto quanto possível pela sustentação de
uma teoria de modelação ideal de um centro de treino.
Essa grelha acrescenta duas perguntas específicas só para os directores dos
centros de treino.
A escolha das perguntas teve como base o conhecimento de algumas
diferenças notórias em alguns aspectos que reputamos de relevantes para o
sucesso de todo o processo de formação dos jogadores de futebol.
Como se pode constatar no capítulo da Revisão da literatura, existem algumas
opções que se devem considerar e ponderar na concepção dos Centros de
Treino:
Desde logo a opção de conceber um Centro de Treino deve ter como questão
central, a de quem irá servir? Quem vai utilizar as instalações?
Isto, que parece de resposta óbvia vem a propósito, pois como se pode ler na
amostragem percorrida, há clubes que concentram todos os seus escalões no
mesmo espaço (nomeadamente os espanhóis), há outros que separam o
futebol profissional do futebol de formação e até aqueles (caso dos clubes
portugueses) que só permitem a utilização do Centro de Treinos aos jovens a
partir de determinado escalão.
Por outro lado, a definição do local de competição das camadas de formação
começa a ser preocupação na concepção dos Centros de Treino, aliás bem
representada na amostragem dos Centros de Treino dos clubes portugueses.
A tipologia e a característica dos espaços de treino, leia-se campos de treino e
de jogo, assume também papel de relevo na concepção dos Centros de Treino,
não só na forma e dimensão dos espaços mas também na escolha do tipo de
piso utilizado - relva natural e relva sintética, como fica demonstrado na leitura
da caracterização dos espaços “visitados”.
Metodologia
81
Em face das respostas obtidas após as entrevistas, vamos em busca de
algumas confirmações quer centradas no que está sedimentado na nossa
experiência quer fundamentalmente naquilo que os especialistas verteram na
literatura.
Tentamos perceber através do diálogo/entrevista, quais são os elementos que
confirmam as teorias da literatura e por oposição quais são as características
comuns relatadas pela vivência/experiência própria de cada um dos
entrevistados.
Foi possível então obter uma matriz de respostas comuns no que toca à
concepção, tipologia e gestão dos Centros de Treino, sobre as quais
trabalhamos a nossa proposta de modelação de um Centro de Treino.
2.3.2 - Guião das entrevistas
Grelha de perguntas aos Directores dos Centros de Treino
1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino
permita a coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação?
Destaque as vantagens e desvantagens.
2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de
futebol tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino
devem dispor de espaços específicos (treino de guarda redes; pista inclinada;
gaiola de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?
Fundamente.
3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis,
iniciados, juvenis, juniores e seniores, qual é para si o nº ideal de campos
estabelecendo a relação relvados naturais versus sintéticos?
4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino
disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o
público?
Metodologia
82
5. Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um
jogador - 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da
maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de
treino?
6. Em termos de Gestão qual foi a opção para a manutenção do Centro
de Treino?
7. Os Centros de treino devem ou não dispor de alojamento?
Grelha de perguntas aos Treinadores / Coordenadores Técnicos
1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino
permita a coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação?
Destaque as vantagens e desvantagens.
2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de
futebol tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino
devem dispor de espaços específicos (treino de guarda-redes; pista inclinada;
gaiola de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?
Fundamente
3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis,
iniciados, juvenis, juniores e seniores, qual é para si o nº ideal de campos
estabelecendo a relação relvados naturais versus sintéticos?
4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino
disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o
público?
5. Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um
jogador - 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da
maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de
treino?
83
3 ANÁLISE DESCRITIVA
84
Análise Descritiva
85
3.1 - Entrevista aos Directores dos centros de treino
Prof. José Maria
Director do Centro de Treino do Futebol Clube do Porto
Mestre em Ciências do Desporto na área de especialização de Gestão
Desportiva e Treinador das camadas de formação do Futebol Clube do Porto
durante vários anos.
1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino permita a
coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação? Destaque as
vantagens e desvantagens.
Resposta:
A nossa ideia é de que existem mais vantagens. Temos interesse que haja
grande proximidade entre a Formação e o Futebol Profissional.
Pretendemos aprofundar a relação entre actividades desportivas e actividades
escolares. Esse é um problema que nos preocupa, pois sabemos todos à
partida que os miúdos nutrem o sonho de virem a ser estrelas e nós a ambição
de contar com o maior número possível de “craques”, logo à medida que se
aproximam da “alta competição” maior é a dificuldade de conciliação
principalmente do binómio treino/horários escolares.
Estamos a explorar a hipótese de colocarmos os Sub-19, Sub-18, Sub17 e os
Sub16 a treinarem de manhã e a estudarem em regime de internato à tarde
num projecto que orçará em cerca de 15 mil euros / mês.
O projecto pretende conciliar três parâmetros:
o Rentabilização das melhores infra-estruturas desportivas;
o Conciliação das actividades desportivas com as actividades
escolares;
Análise Descritiva
86
o Maior aproximação do treino com a equipa profissional (maior
contacto entre eles).
Como aspectos negativos poderíamos apontar alguns maus exemplos que têm
tendência a serem copiados, mas para isso contamos com o recém-criado
Departamento Pedagógico que já está a fazer o respectivo acompanhamento
dos atletas Juniores que são chamados a trabalhar com os Seniores.
Neste momento trabalham no Centro de Treino os Juniores, os Juvenis e os
Iniciados Sub-15, durante o ano o programa de utilização das instalações
desportivas deverá ser o seguinte:
o Juniores e Juvenis - manhã no Centro de Treino do Olival;
o Iniciados e Infantis - tarde no Centro de Treino do Olival;
o Juvenis 1º ano e Escolas - Padroense (protocolo);
o Iniciação - Constituição
O problema do afastamento do Centro de Treino é solucionado pela marcação
de ponto de encontro de interesse dos atletas e posterior transporte por
viaturas do Clube.
2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de futebol
tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino devem
dispor de espaços específicos (treino de guarda redes; pista inclinada; gaiola
de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?
Fundamente.
Resposta:
Após cinco anos de actividade nesta função concluo que com recurso às novas
tecnologias a concepção dos Centros de Treino tem de ser alterada, a ideia de
construir 10 a 15 de campos já está ultrapassada.
A minha opinião é que não faz sentido haver mais do que 3 campos sintéticos.
No nosso clube o sintético disponível que tem uma utilização intensiva, tem por
Análise Descritiva
87
exemplo uma utilização de cerca de 90% dos treinos dos Juniores e 95% dos
treinos dos juvenis, o restante é efectuado no relvado natural.
A minha experiência de 18 anos de treinador da formação leva-me a dizer que
o Treino deverá ser sempre jogo, logo a superfície a privilegiar é a do jogo, com
o apoio eventual de um mini sintético vedado para treinar por exemplo a
intensidade.
Para a iniciação preconizo espaços de terra batida, espaços em que não haja a
preocupação de haver buracos, espaços fechados com tabelas …, onde os
iniciantes pudessem jogar sem a intervenção, do adulto, com actividade
espontânea, ou pelo menos puderem dispor em cada treino de uma hora livre.
3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis, iniciados,
juvenis, juniores e seniores, qual é para si o número ideal de campos
estabelecendo a relação relvados naturais versus/sintéticos?
Resposta:
Num clube da dimensão do Futebol Clube do Porto julgo que a estrutura ideal
seriam três campos de relva natural e três campos de relva sintética em que
um deles seria um espaço diferenciado quer para treinos quer para jogos
(espaço de jogo diferenciado), destinado à iniciação.
Nos outros clubes da Liga julgo que a solução ideal seria dois campos de relva
natural e dois campos de relva sintética.
Para conhecimento e fundamento do que é dito refere-se que o terceiro campo
de relva natural tem normalmente uma utilização de 20% pelos Seniores e de
80% pelos Juniores
4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino
disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o
público?
Resposta:
Análise Descritiva
88
Acho que sim, desde logo por que há uma maior identificação do grupo de
trabalho com o espaço de jogo, por outro lado é importante para o atleta
começar a sentir o peso do público.
Nos aspectos de Gestão apontamos a maior rentabilidade das próprias infra-
estruturas, e claro está em relação ao Estádio Principal (Dragão) a vantagem
da logística de organização dos jogos ser muito mais ligeira e económica como
facilmente se compreende.
Chamo a atenção para a necessidade de na concepção haver o cuidado de
projectarmos a entrada do púbico de forma independente de todo o resto do
Centro do Treino, como aliás é o caso do nosso.
5. Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um jogador
- 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da
maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de
treino?
Resposta:
Só para a iniciação como atrás referi.
Recordo aqui a experiência francesa onde em algumas Associações a prática
da iniciação é evolutiva quer nos espaços de jogo, quer no nº de jogadores em
conformidade com as idades.
Dos 5 aos 7 anos joga-se 3x3 com Guarda-redes avançado quando em posse
de bola, depois evolui-se para 5x5, 7x7, chegando-se a 9x9 em Sub 14.
6 - Em termos de Gestão qual foi a opção para a manutenção do Centro de
Treino?
Resposta:
O Futebol Clube do Porto dispõe de dois funcionários nos seus quadros para
toda esta estrutura, eu próprio como Director e um Engenheiro Mecânico para
Análise Descritiva
89
a manutenção técnica de equipamento, em tudo o resto a opção recaiu em out-
sourcing :
o Manutenção eléctrica, hidráulica - 2 pessoas
o Tratamento e recuperação de relvados - 3 pessoas continuamente com o
reforço de mais 3 em algumas ocasiões;
o Limpeza - temos 10 pessoas das 7 às 9 da manhã e 2 pessoas durante
todo o dia;
o Segurança - 1 pessoa na portaria e uma pessoa no espaço interior;
o Catering - uma equipa para servir o pequeno-almoço.
7- Os Centros de treino devem ou não dispor de alojamento?
Resposta:
A minha opção pessoal é que a legislação deveria ser alterada, permitindo
contratos com atletas muito jovens, mas de forma a que os mesmos se
mantivessem até determinada idade nos seus locais de vivência.
A criação do Departamento Pedagógico constituído por um Director, um
psicólogo, um assistente social e alguns estagiários na área da Psicologia,
levou a uma profunda reflexão e a uma conclusão unânime - o conceito deve
ser o de Casa de Acolhimento no meio da Cidade, perpetuando nos atletas os
conceitos de educação geral com os conceitos de futebol. É nossa
preocupação não deixar de ser normal para um atleta que pretende ser atleta
de alta competição, o simples acto de tomar um café ou ir ao cinema. O atleta
não pode sentir a perda de sociabilidade inerente a qualquer cidadão, até
porque todos sabemos qual é o rácio de aproveitamento dos muitos atletas de
formação, cuja esmagadora maioria terá necessariamente de deixar de lado o
seu sonho e “voltar à cidadania activa”. Não nos parece que pelo menos 8 anos
de “clausura” possa vir a dar bons resultados apesar de todo o apoio que lhes
possa ser dado
Análise Descritiva
90
Debaixo deste princípio o Hotel previsto para o Centro de Treino só servirá
para os estágios da equipa profissional.
No centro da Cidade duplicamos a área do então intitulado “Lar do jogador”,
com a preocupação das condições de conforto, nomeadamente a criação de
uma sala de jogos, uma sala de estar, um gabinete de atendimento e uma
biblioteca. A capacidade de acolhimento passou de 29 para 32 atletas
Prof. Pedro Mil Homens
Director do Centro de Treino do Sporting
Doutorado em Ciências do Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana,
da Universidade Técnica de Lisboa
1.a) Vantagens:
o Optimização de recursos (financeiros, humanos, materiais, etc.)
o Aumento das sinergias entre Futebol Profissional e Futebol de Formação
o Maior identidade do Centro de Treino
o Maior estímulo para os atletas da formação
o Maior visibilidade mediática do Futebol Formação
1.b) Desvantagens:
o Menor privacidade do Futebol Profissional
2 - Depende do modelo de formação a adoptar. A resposta a esta questão
deverá ser colocada antes da construção do Centro de Treino. A minha opinião
pessoal e apenas essa, é que deverão existir espaços específicos, partindo do
princípio de que para atingir a excelência na formação é necessário trabalhar o
detalhe. Para tal será necessário adequar as infra-estruturas, equipamentos e
Análise Descritiva
91
materiais, ao nosso modelo de formação para assim atingir os objectivos
definidos.
3 - O número de campos deverá ser directamente proporcional ao número de
equipas. Para o trabalho de formação geral, deverá existir um campo por
equipa. A resposta para o treino especial/diferenciado foi respondida na
questão anterior.
A hipótese de construção de campos sintéticos só deverá ser considerada se a
taxa de utilização prevista for de um valor que um campo de relva natural não
consiga suportar.
4 - Como resposta genérica diria sim, mas essa situação depende obviamente
do seu conceito, missão e objectivos. De qualquer forma, penso que será difícil
para um centro de treino não ter um espaço para poder organizar competições
(oficiais/não oficiais) e outros eventos (comerciais/não comerciais), em que o
público não possa ter acesso.
5 -Esta questão foi respondida anteriormente (questão 2)
6 -A opção foi a subcontratação de empresas especializadas nos serviços
pretendidos, e hoje passados 5 anos de funcionamento, podemos dizer que foi
uma opção certa.
É importante dedicar a nossa atenção ao futebol que é o que sabemos fazer, e
as empresas subcontratadas às áreas que são responsáveis, é importante
cultivar um ambiente profissionalizado.
7 - A resposta a esta questão não deve ser generalizada, é muitas vezes uma
questão cultural e também estratégica.
Existem três vertentes a considerar no alojamento:
Análise Descritiva
92
o Poder acolher jogadores de qualidade que não residam próximo da
Academia e oferecer todas as condições à prática desportiva, ou seja
diminuir as variáveis de insucesso;
o Proporcionar estágios às nossas equipas, nomeadamente pré-temporada
e outras alturas do ano que seja recomendável;
o Objectivos comerciais, caso a Gestão queria rentabilizar o Centro de
Treino, a existência de alojamento é um apoio fundamental à
prossecução deste objectivo.
Concluindo, na nossa opinião é positivo a existência de alojamento.
3.2- Entrevista aos Treinadores
Carlos Carvalhal
Licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física - especialização em
alto rendimento - Futebol
Treinador de Nível IV
1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino permita a
coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação? Destaque as
vantagens e desvantagens.
Resposta:
Muitas vantagens e quase que não há desvantagens
Vantagens - Os mais pequenos observarem os seus ídolos e poderem rever-se
neles.
O que se nota é que falta a “cultura de clube” - nota-se no Dirigente/Seccionista
e nos próprios treinadores - havendo rivalidade entre escalões, o que até pode
ser considerado normal, pois há muitas equipas e não existe trabalho em
equipa.
Análise Descritiva
93
Os treinadores devem ajudar-se mutuamente. Há que criar um espírito de
corpo nos treinadores. Na minha opinião é preciso profissionalizar os
treinadores e racionalizar a gestão dos recursos, isto é, menos treinadores mas
mais horas dedicadas ao clube.
Cito o exemplo do Manchester United - onde a área do refeitório é partilhada,
onde faz parte da rotina diária 3 a 4 miúdos em escala rotativa limparem as
botas e organizarem o material de treino para o escalão seguinte, sendo
penalizados quando o serviço não é bem feito. Não há excepções, todos são
tratados por igual, não há craques.
Desvantagem - Perturbação da concentração dos Seniores/profissionais,
perfeitamente solucionável com uma boa concepção e até com soluções de
Gestão, com horários diferenciados em alguns dias.
2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de futebol
tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino devem
dispor de espaços específicos (treino de guarda redes; pista inclinada; gaiola
de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, piscina contra-corrente,
caixa de areia ….)? Fundamente.
Resposta:
Espaços de acordo com a dimensão do clube,
Para a formação:
Não marcar os campos - áreas livres, sendo marcados em função do tipo de
treino;
Para os Profissionais - Espaços amplos, utilizados de acordo com o tipo de
treino, com marcações por sectores e corredores, sempre com a preocupação
de evitar a saturação da relva.
A especificidade deve ser dada por elementos amovíveis.
Análise Descritiva
94
Por exemplo vamos falar dos espaços próprios para o treino dos guarda-redes:
não sou apologista de que se faça um espaço definitivo, mas sim espaços
amplos, abertos, criando as situações talvez com os tais objectos amovíveis;
Também não sou apologista do caso da gaiola fechada para incrementar a
agressividade e a intensidade, ou até como no Manchester United onde vi
quadrados fixos de 10x10m para os meínhos, julgo haver vantagem na
flexibilidade dos espaços amplos.
3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis, iniciados,
juvenis, juniores e seniores, qual é para si o número ideal de campos
estabelecendo a relação relvados naturais versus/sintéticos?
Resposta:
Tomando como base que o ideal seriam todos os campos serem de relva
natural, mas que atendendo a questões de utilização contínua e até climáticas
talvez seja necessário o sintético, julgo que o ideal passaria por:
Até ao escalão de Iniciados - bom sintético para treinos e jogos;
Juvenis e Juniores - pelo menos dois relvados de relva natural para jogar e
treinar;
Um relvado de relva natural para o treino dos seniores com dimensões de pelo
menos dois campos de jogo.
De qualquer forma quero referir que os campos devem constituir opções
abertas, amplas, com possibilidade de marcações progressivas em função do
escalão.
4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino
disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o
público?
Resposta:
Análise Descritiva
95
Sim, pois cria e incrementa maior afinidade com o clube, maior contacto com
os sócios, proximidade com os atletas de todos os escalões…
5. Partindo do principio de que existem três etapas na formação de um jogador
- 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da
maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de
treino?
Resposta.
Não, pelo menos na dimensão não.
Há contudo que diminuir os espaços para treino e jogos.
Nos jovens talvez começar com 4x4 evoluindo quem sabe para 8x8 indo até ao
11x11, naturalmente sempre acompanhado com a consequente evolução do
espaço de treino e de jogo.
Miguel Leal
Mestre em Ciências do Desporto. Treino de Alto Rendimento
Treinador do Nível IV
1 - Deve haver um espaço comum - zona de contactos - trocas de experiência,
de forma a criar afectividade ao clube e uma maior ligação entres as estruturas.
Refiro o modelo francês em que são os Seniores que dão o treino.
De qualquer modo também há vantagens de trabalhar isoladamente os
Seniores pois o pormenor faz a diferença, já que estão em causa muitos
milhões de investimento.
Como eventual desvantagem, refiro a deslocação dos Centros de Treino dos
centros urbanos sendo preciso criar soluções para resolver a deslocação.
A separação faz com que haja problemas na metodologia de treino - cada qual
segue o seu rumo - o que pode conduzir ao insucesso.
Análise Descritiva
96
Exemplo aplicado na U.D. PAREDES - os treinadores dos Seniores treinam as
camadas jovens. O balneário do treinador sénior está sempre aberto a todos os
treinadores das camadas jovens - assim se percebe a “filosofia”.
2 -Nem um nem outro.
Devem ser espaços mistos e complementares.
No Ajax, na iniciação existem professores para a técnica de coordenação e da
corrida.
Julgo poder haver zonas para treino de guarda-redes, para treino de ponta de
lança, zonas para treinos das idades mais jovens.
Sobre a Gaiola de Sachi ela é aplicada ao treino de alto rendimento, para
aumentar a velocidade do jogo e a ser aplicada nas camadas jovens funcionará
para aumento da motivação provocando maior número de vezes de contacto
com a bola
Talvez criar zonas para o treino de jogo aéreo já que cada vez mais ele é
determinante e não há treino específico, quem sabe talvez um espaço curto de
30x40metros com bolas penduradas, a utilização da própria gaiola, etc.
No caso do guarda-redes e mesmo sabendo que o treino mais importante é o
integrado na equipa (pés, comunicação, …) há toda a vantagem em espaço
próprio para o treino técnico.
Poderíamos pensar em ter uma parede com deformações para a bola mudar
de direcção!
3 - Atendendo à especificidade do espaço fazia para grandes grupos
atendendo aos escalões, isto é, fazia espaços para junções de escalões.
Os campos teriam dimensões adaptadas às características variando o
comprimento e a largura.
o Escolas + Infantis;
Análise Descritiva
97
o Iniciados + Juvenis;
o Juniores + Seniores.
Sou de opinião que deveriam ser todos em relva natural. Os sintéticos causam
malefícios físicos e fisiológicos por causa do impacto.
Os sintéticos deveriam aparecer como “ campos de apoio” e dimensões
superiores ao máximo do campo normal, permitindo utilização mútua em várias
utilizações.
A adaptação ao jogo tem problemas no sintético já que este é inalterável, logo
no jogo de sénior, jogado em relva natural o jogador não saberá reagir à
deformabilidade do piso (buraco, zona alta, zona sem relva…)
4 - Concordo. Está na 1ª resposta. Há uma maior afectividade com os adeptos.
5 - Faz, em termos de espaço de treino e até de jogo!
Joaquim Alberto da Costa Milheiro e Silva
Licenciatura em Desporto e Educação Física, Opção Futebol*
* Realização de trabalho monográfico
Treinador de Futebol Nível II - UEFA - Basic
1 - Se pretendemos que exista uma única visão de clube, uma única filosofia de
jogo, se desejamos possuir uma identidade própria é fundamental essa
coexistência nos Centros de Treino. Quando as pessoas partilham os mesmos
espaços, forma-se uma teia de união e comunicação profícua ao
desenvolvimento do Clube, do jogador, bem como, de todas as pessoas que
nele gravitam.
Sendo um dos principais objectivos do futebol de formação ajudar a crescer e
criar condições para que os jovens integrem a principal equipa do Clube, então
Análise Descritiva
98
convivendo, interagindo em espaços comuns, essa passagem ocorrerá com
naturalidade e sem grandes dificuldades. Como os espaços comuns ajudam a
aproximação das pessoas, estas deixam de ser estranhas. Os possíveis
momentos de troca de palavras e actos ajudará a transmitir e a fortalecer aquilo
que é designado de mística do Clube.
Não chega a ambivalência espacial, para que os espaços tenham vida própria
é necessário que as pessoas estejam dispostas a interagir, a partilhar as
condições espaciais. As condições espaciais serão tanto mais valiosas quanto
melhor as pessoas as saibam utilizar e rentabilizar.
2 - Espaços específicos são os campos de futebol. É neles que os jogadores e
a sua equipa actuam, se movimentam, interagem entre si e os adversários.
Todos os outros espaços, como a pista inclinada, a caixa de areia, considero-
os como espaços compensatórios, a sua utilização torna-se benéfica quando
há necessidade de resolver determinados problemas, resultantes de lesões ou
do próprio individuo, que no terreno de jogo não são possíveis solucionar.
Para que existam elevados rendimentos desportivos é fundamental a presença
da especificidade. Um dos elementos importantes para a sua manifestação é o
respeito pelo local de treino, o campo de futebol!
Desta forma ocorre adaptação fisiológica, motora e psico-cognitiva específica.
Quanto mais vezes visitamos uma cidade melhor a conhecemos e mais aptos
estamos para a explorar.
Vejamos o exemplo da Liga dos Campeões, as equipas quando jogam fora tem
a possibilidade de efectuar um treino no local de competição, esta prática
demonstra o quão é importante conhecermos e adaptarmo-nos ao espaço onde
vamos actuar.
Entendo que o treino tem de ocorrer nos espaços específicos para que ocorra
uma adaptação específica, benéfica ao rendimento desportivo.
Análise Descritiva
99
3 - Ter o ideal no futebol como na vida é quase impossível, todavia devemos
ter ambição para o alcançar. O ideal estará em permanente transformação, tal
como as mudanças da vida.
O ideal do número de campos estará relacionado com o número de equipas
por escalão, com os horários dos treinos e com o número de treinos semanais.
Tendo isto em consideração e o tipo de relvado estaremos perante diversos
cenários possíveis. Uma hipótese é as equipas profissionais treinarem de
manhã e as equipas de formação à tarde e a partir das 16 horas.
No caso do futebol sénior são necessários quatro campos de futebol de relva
natural, já em relação à formação serão precisos dois campos de relva
sintética, este número aumentaria para o dobro caso fosse possível utilizar só
relva natural.
Considero que o número ideal de campos será aquele em que nenhum dos
escalões fique condicionado no seu processo de aprendizagem e
aperfeiçoamento pela ausência de espaços.
A existência de espaços adequados permitirá a criação de situações de
exercitação fundamentais à melhoria da performance individual e colectiva.
Então os espaços de treino sempre que devidamente utilizados serão uma
mais valia no processo de formação
4 - O público é um participante activo no jogo de grande preponderância no
aumento qualitativo do futebol, isto porque a carga emocional que transporta
ajuda os jogadores a evoluírem pelo sentido de responsabilidade, de respeito e
auto-superação, cria ou reforça a proximidade parental, provoca um clima de
pressão com o qual é preciso viver tornando-o não num adversário, mas sim
num reforço e transmite vida e alma ao jogo pelo entusiasmo demonstrado.
Então independentemente do tipo de intervenção do público, seja ele mais ou
menos positivo deverão existir condições nos locais de competição para os
receber. Estes devem ser respeitados porque são importantes para a formação
do jogador e para a melhoria do futebol. No caso dos familiares dos jogadores
em particular os pais, os clubes devem ajudá-los de forma a que estes tenham
Análise Descritiva
100
um comportamento positivo perante a competição. Desta forma os pais
sentem-se valorizados e ficam a saber que são importantes no processo de
formação, reconhecem que o clube procura criar as melhores condições para
os seus filhos/jogadores evoluírem e verifica-se que a formação é realmente
importante.
A proximidade público/jogador nos Centros de Treino será uma mais valia em
qualquer processo de formação que se pretenda aberto, interactivo e de
qualidade superior ao nível dos valores psico-sociais.
5 - Tendo em consideração que o processo de desenvolvimento dos jogadores
é diferenciado, pode ser prejudicial estabelecer etapas cronológicas. Estas não
funcionam como definidoras de aquisição motora e comportamental.
A existência da diferenciação dimensional, ou seja, a dimensão dos espaços é
benéfica ao desenvolvimento do jogador porque respeita o seu nível
maturacional. Jogadores com oito e nove anos tem dificuldades em
dominar/controlar o espaço, o nível de desenvolvimento das capacidades
motoras não lhes permite a execução de determinados gestos técnicos e a sua
capacidade de visão de jogo é relativamente reduzida. Então para que estes
problemas sejam ultrapassados e a evolução do jogador continue é necessário
o treinador redimensionar o espaço para as capacidades do jogador.
À medida que avançamos na idade cronológica e em particular, na idade
biológica os jogadores possuem melhor capacidade de resposta e portanto as
dimensões do terreno devem aumentar até às definidas nas regras de futebol
de 11.
As pessoas calçam sapatilhas adaptadas ao formato e tamanho do seu pé
porque assim sentem-se confortáveis.
Entendo que deve existir diferenciação dimensional e não diferenciação
espacial, isto é, todos nos mesmos espaços com nuances dimensionais
diferenciadas.
Análise Descritiva
101
Rui Quinta
Licenciatura em Ciências do Desporto e Ensino de Educação Física com opção
de Desporto de Rendimento - Futebol
Treinador do Nível IV
1 - A concentração logística é claramente uma vantagem, de qualquer forma
temos de ter sempre presente a imperiosa necessidade de dispor de área
distintas para a formação e para a equipa profissional, com o cuidado de prever
alguns espaços comuns.
Julgo relevante dispor de espaços para alojamento e para as refeições.
Sou de opinião que se deve concentrar todas as equipas de futebol no mesmo
Centro de Treino, com muitas vantagens nomeadamente no entusiasmo dos
miúdos, pela proximidade dos seus ídolos, favorecendo a identidade do clube.
2 - Se pudermos contemplar as diferentes situações, tanto melhor, de
qualquer modo a que dou especial atenção é aos campos de futebol, todos os
outros espaços devem ser considerados como espaços complementares, só
para situações especificas e não para uso diário, isto é, para recuperar
determinado atleta para melhorar determinados aspectos a 2 ou 3 outros
atletas, aí sim são recursos importantes.
Por último parece-me que um espaço coberto faz falta.
3 - No mínimo deve ter:
o 1 campo de jogos oficial;
o 1 relvado natural com dimensão de 3 campos;
o 1 relvado natural de apoio para equipas jovens;
o relvados sintéticos;
Análise Descritiva
102
o 1 espaço pelado para as idades de iniciação de forma a valorizar a
adversidade como forma de desenvolvimento e construção de
argumentos.
Todo este conjunto resulta da necessidade da atenção que devemos ter em
termos de organização do treino, tempo de treino e horários diferentes de
treino.
4 - É importante.
Pela envolvência do lugar da actividade e pela valorização de todo o processo
logístico, é ali que temos tudo o “que é nosso”.
A formação deve traçar objectivos, e um deles deve ser vir a jogar onde jogam
os maiores.
Por outro lado favorece a mística do clube.
5 - Não tem nada a ver!
Podemos e devemos treinar em qualquer espaço, tendo em atenção que o que
é importante é a organização do treino. Devemos evitar as dificuldades de ter
de treinar em meio campo, isto é, dividir o campo em dois espaços para
utilização simultânea de dois escalões.
Posso no entanto compreender que nas idades mais baixas seja talvez
importante jogar no pelado, futebol de 7, treinar em diferentes superfícies de
forma a ir adquirindo argumentos positivos ao vencer as dificuldades.
Realço contudo que o importante é o padrão de treino!
Nos últimos anos da formação o treino tem de ser feito sempre no campo de
jogo.
Análise Descritiva
103
3.3 - Entrevista aos Coordenadores Técnicos
Agostinho Oliveira
Coordenador das selecções de formação da Federação Portuguesa de Futebol
Membro da equipa técnica da Selecção Nacional
1 - Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino permita a
coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação? Destaque as
vantagens e desvantagens..
O enquadramento de muitos dos centros que conheço, admite o espaço físico
conjunto mas não deixa de legitimar o espaço do futebol profissional e os (o)
outros.
O espaço de pernoita, restaurante, e áreas de lazer correspondem a espaços
diferenciados e muita das vezes em nenhum momento os jogadores se
cruzam.
O espaço de maior visibilidade à distância é o dos campos, dada a sua
proximidade conjunta.
Cada vez mais estas barreiras, principalmente no norte da Europa, estão-se a
diluir e embora assente em situações convenientemente objectivadas,
começando por simples chamadas para trabalho conjunto ou do grupo, raras,
ou então mais evidentes pelas chamadas individuais.
Residir, vivenciar o mesmo ambiente, estar perto dos “craques”, ser chamado
para trabalhos com escalões superiores são factores fundamentais para um
crescimento estabilizado.
A cobertura efectuada superiormente pela “ casa mãe ” ajuda e muito no apoio
às diferentes exigências (lacunas) nomeadamente no que diz respeito ao
enquadramento sócio-familiar, importante dado o carácter da dispersão
geográfica e a ausência dos familiares e amigos.
Análise Descritiva
104
Sem dúvida que por conhecimento e diálogos abertos com os outros jogadores,
o facto de se sentirem no dia a dia mais próximo dos seus ídolos, a qualidade
das infra-estruturas e o apoio incondicional de todos os que os rodeiam fazem
com que a distância “afectiva”encurte e torna-os melhor preparados para
atingirem o objectivo dominante.
2 - Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de futebol
tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino devem
dispor de espaços específicos (treino de guarda-redes; pista inclinada; gaiola
de Sacchi ; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?
Fundamente.
Todos os centros praticamente estão preparados modernamente com as
estruturas cujo interesse se localiza na melhoria das condições e capacidades
dos atletas, isto porque a investigação está no campo e a oferta pretende
atingir novos mercados, basta haver dinheiro para tal.
Todos os que tenho visitado tem praticamente tudo (academias) o mesmo por
vezes não acontece com os Centros de Excelência.
Isto para dizer da importância das áreas específicas e que todos avanços tem
um limite que é o económico porque o desejo de todos eles é terem tudo
mesmo que mais tarde os ignorem e sinceramente conheço alguns casos.
Outras situações têm a ver com o “risco” do complexo, com olhos só para os
espaços físicos (campos) e sem perspectiva actualizada pelo menos na
garantia de situações futuras.
3 - Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis, iniciados,
juvenis, juniores e seniores, qual é para si o nº ideal de campos estabelecendo
a relação relvados naturais versus/sintéticos?
Em minha opinião devem ser 2 relvados naturais, 2 sintéticos e 2 campos de
futebol de 7.
Análise Descritiva
105
4 - Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino
disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o
público.
A bancada num campo está praticamente assumida por quase todos o Centros
e a importância da mesma pode ter interesse económico, dado o confronto em
alguns jogos com outras equipas, há no entanto que ter em conta problemas de
ordenação do mesmo espaço, preservação do mesmo para situações mais
resguardadas e até para o plano de observação por parte dos elementos da
equipa técnica.
5 - Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um jogador
- 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da
maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de
treino?
Sem dúvida, a importância de um tratamento diferenciado respeitador das
etapas do desenvolvimento genético correcto e nunca perspectivando a noção
mais que errada mas continuadamente implícita de que trabalhamos com “um
adulto em miniatura”
Para além de conhecimentos adequados de que as realidades tácticas passam
pela capacidade e resposta formal. E que correspondem, a não ser em
situações precoces a um momento próprio da evolução mental do atleta.
Luís Castro
Director Técnico da Formação do F. C. Porto
Treinador de Nível IV
1 - Considero de interesse, isto é, pode ser interessante, pois as vantagens são
mais importantes que as desvantagens.
As vantagens são notórias para as camadas de formação.
Análise Descritiva
106
Os atletas da formação podem dispor das suas referências muito de perto,
podem conviver e trabalhar no mesmo espaço. Visualmente o seu objectivo, o
seu sonho é alimentado diariamente.
Por outro lado, promove a ligação entre as estruturas, tornando o caminho mais
sólido e mais identificado, reforçando claramente o espírito de grupo e a
identidade do clube, já que provoca naturalmente maior contacto diário de
todos os agentes envolvidos no futebol do clube.
De qualquer modo para que não seja uma desvantagem deve dar-se atenção
especial aos espaços de forma a não interferir com a necessária privacidade do
futebol profissional. O objectivo deve passar por não perturbar os trabalhos dos
profissionais.
Dispomos de regras próprias e bem definidas de forma a que não haja o risco
de qualquer distracção no trabalho da equipa A.
No nosso Centro de Treino os espaços são distintos e separados, havendo de
qualquer modo uma aproximação intencional dos Juniores A.
Neste momento vivemos o primeiro ano de intensa utilização do Centro de
Treino, com aproveitamento máximo.
Temos actividade das 9 horas às 21 horas, com o intervalo das refeições.
2 - Achamos que devem dispor do espaço de jogo pois é lá que estão as
referências do próprio jogo.
No entanto na primeira fase da formação, achamos importante remodelar a
Constituição com alguns espaços diferenciados.
Assim dispomos de um campocoberto, com relvado sintético para futebol de 7
, de um relvado sintético para futebol de 11 e de um espaço fechado (gaiola)
com dimensões de 30x30 metros com piso “pelado”. Lamentamos não dispor
de um campo “pelado” para futebol de 11, pois acreditamos que os miúdos
assim tinham solicitações de maior exigência, provocando maior
Análise Descritiva
107
desenvolvimento técnico, com o natural reajustamento da bola, do drible, do
passe, etc.
Todos os outros espaços devem ser entendidos como espaços
complementares.
Para nós, na formação o importante é que os jovens sejam solicitados em
espaços de várias dimensões, diferentes tipos de piso, sempre com o
pensamento que o fundamental é o contacto com a bola
3 - Para a equipa A, claramente 3 campos de relva natural, até pela experiência
que vivemos de utilização intensiva e o facto de que o estado dos três relvado
de que dispomos é excelente.
Para a formação, penso que o ideal seriam 4 relvados naturais e 2 relvados
sintéticos, permitindo utilização intensiva e simultânea, para a compatibilização
dos horários.
Neste momento os nossos escalões em termos de competição só usam o
relvado sintético até aos Sub-14, isto é a partir dos Sub-15 a competição é feita
no relvado natural.
4 - É obviamente importante.
A nossa filosofia é proporcionar as melhores condições a todos os
intervenientes no fenómeno desportivo, pelo que achamos importante
mostrarmos o nosso trabalho aos fins-de-semana e que as pessoas que nos
vêem possam dispor de boas condições.
Pretendemos dar razões às pessoas para que venham aos nossos jogos das
camadas de formação e não afastá-las.
Sou de opinião que os Centros de Treino devem dispor sempre de local de
competição e que tenham sempre uma bancada para o público, se não for em
condições óptimas, pelo menos com o mínimo indispensável.
Análise Descritiva
108
No que toca aos atletas as vantagens são óbvias atendendo a que podem
competir no espaço de referências dos treinos diários.
5 - Faz sentido nomeadamente para a 1ª fase da formação (veja-se o nosso
projecto para a Constituição).
De qualquer modo o que sabemos é que nos mesmos espaços de treino
devem dar-se sentidos diferentes aos treinos.
A nossa orientação está determinada da seguinte forma:
Dos 7 aos 12 anos - Técnica e táctica individual;
Dos Sub-12 aos Sub-17 - Técnica e táctica colectiva;
Nos 2 últimos anos de Juniores, entendemos ser a fase das provas constantes,
do exame intenso e diário das condições dos atletas.
Sendo assim, é evidente que os treinos terão de ser diferenciados.
Em resumo direi que até aos 13 anos faz sentido, mas depois devem dispor de
espaços comuns.
Eduardo Esteves
Coordenador Técnico da Formação do Varzim S.C.
Licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física com especialidade
em futebol de alto rendimento
Treinador UEFA - Basic - Nível II
1 -Para mim é fundamental!
Na proximidade dos diversos escalões a divergência entre a cultura e a
metodologia é muito menor, há uma grande aproximação para um caminho
comum.
Análise Descritiva
109
Não vejo nenhuma desvantagem, a não ser algum desgaste das estruturas que
com uma boa gestão não será relevante.
2 -Considero importante a existência de um espaço para treinos dos guarda-
redes, que deve ter as referências, isto é, as marcações das linhas para treinos
de cantos, cruzamentos e remates.
Um mini campo para desenvolvimento técnico, de modo a incrementar séries
de jogos para o apoio técnico, para apoio lúdico e para a recuperação - campo
de skills
3 - Para um clube da dimensão do Varzim julgo que o essencial seria:
o campos sintéticos;
o 1 campo de relva natural para treino e competição que deveria dispor
de bancada para o público
o 1 “prado desportivo” livre sem marcações para não haver desgaste da
relva, isto é, poder-se-ia marcar o campo sempre em função do
desgaste. Este espaço deveria permitir a inclusão de dois campos
oficiais.
4 - É importante.
Se pretendemos formar o atleta para a competição devemos aproximá-lo da
competição real.
Habituar-se à situação do clube, o susto da bancada é claramente uma
adaptação à vida real do futebol profissional.
5 - Não deve haver diferenciação especial. Deve ter os espaços já falados.
O treinador é que dispõe das condicionantes para aumentar ou diminuir a
complexidade do estímulo.
110
111
4. ANÁLISE INTERPRETATIVA
112
Análise Interpretativa
113
4.1 - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treino
Os entrevistados claramente referem por unanimidade haver interesse nesta
coexistência.
A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, onze
são destinados ao futebol profissional e ao futebol de formação, sendo que dos
restantes cinco o futebol de formação (pelo menos até determinado escalão)
está em espaço geograficamente diferente.
Das entrevistas é possível reter algumas ideias:
o Maior aproximação entre a Formação e o Futebol Profissional;
o Aumento das sinergias entre Futebol Profissional e o Futebol da
Formação;
o Reforço da identidade do clube;
o Maior identidade do Centro de Treino;
o Maior visibilidade mediática do Futebol de Formação;
o Maior estímulo para os atletas da formação;
o Visualização das suas referências;
o Maior ligação entre as estruturas e os agentes desportivos do clube;
o Uma única visão de clube, criação de “espírito de corpo” nos agentes
desportivos;
o Maior identificação da metodologia de treino;
o Residir, vivenciar o mesmo ambiente, estar perto dos “craques”, ser
chamado para trabalhos com escalões superiores são factores
fundamentais para um crescimento estabilizado;
o Interacção em espaços comuns, conviver e trabalhar no mesmo
espaço (com algumas restrições);
Análise Interpretativa
114
o Conceber o espaço de forma a que se individualizem os espaços de
utilização dos atletas profissionais e dos atletas das camadas de
formação, havendo zonas de contacto;
o O enquadramento de muitos dos Centros…., admite o espaço físico
conjunto mas não deixa de legitimar o espaço do futebol profissional e
os (o) outros.
o Gestão dos horários;
o Mística do clube.
4.2 - Relação entre espaços generalistas e espaços específicos
A maioria dos entrevistados refere haver necessidade de espaços específicos.
Dos nove entrevistados, seis referem essa necessidade, sendo que desses
seis, dois observam que o mesmo se justifica essencialmente para a primeira
fase da formação (curiosamente reflectindo a filosofia do clube onde trabalham
- Futebol Clube do Porto) .
A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, onze
dispõem dos mais variados espaços específicos para o treino, sendo que na
concepção dos restantes a opção recaiu em espaços generalistas.
Das entrevistas é possível reter algumas ideias:
o Deverão existir espaços específicos, partindo do princípio que para
atingir a excelência na formação é necessário trabalhar o detalhe;
o Espaços diferenciados para a iniciação;
o Espaços de terra batida (pelados) para a iniciação,
o Mini sintético vedado;
o Áreas livres, marcando os campos em função do tipo de treino;
o Espaços mistos e complementares;
Análise Interpretativa
115
o Espaços de treino para guarda-redes;
o “Gaiola de Sacchi” - treino de alto rendimento
o Espaço para treino de jogo aéreo;
o Deve haver diferenciação dimensional e não espacial;
o Faz todo o sentido haver zonas diferenciadas e específicas de treino
para a iniciação;
o Solicitar os jovens em espaços de várias dimensões e diferentes tipos
de piso;
o Espaços diferenciados para a 1ª fase da formação;
o Espaço coberto.
o Todos os espaços que não sejam campos de futebol são espaços
compensatórios;
4.3 - Necessidade de um espaço de competição com bancadas para o público
Os entrevistados claramente referem por unanimidade haver interesse na
existência de um espaço de competição com bancadas para o público nos
Centros de Treino.
A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, dez
dispõem de espaço para a competição com bancadas para o público.
Das entrevistas é possível reter algumas ideias:
o A bancada num campo está praticamente assumida por quase todos o
Centros;
o Identificação do grupo de trabalho com o espaço de jogo - poder
competir no espaço de referências do treinos diários;
Análise Interpretativa
116
o Sentir o “peso do público” - clima de pressão com o qual o atleta tem
de aprender a viver;
o Logística mais ligeira na organização dos jogos;
o Maior afinidade com o clube;
o Maior contacto com os adeptos e os sócios;
o Proximidade dos atletas dos vários escalões;
o A proximidade público/jogador é uma mais valia do Centro de Treino;
o Será difícil para um Centro de Treino não ter um espaço para poder
organizar competições (oficiais/não oficiais) e outros eventos, em que
o público não possa ter acesso;
o Conceber a circulação do público de forma a que aceda à bancada do
espaço de competição sem “invadir” os outros espaços de trabalho.
4.4 - Número ideal de campos e a relação relvados naturais / relvados sintéticos
Das entrevistas resulta claro a necessidade da existência de dois tipos de relva
para os pisos dos campos de treino - relva natural e relva artificial. Nota-se
também a unanimidade na preferência da utilização da relva natural, sendo que
razões de gestão (saturação dos campos de relva natural) implicam a que para
o futebol de formação deverá ser utilizado a relva artificial de forma a permitir
maiores horas de utilização.
Quanto ao número ideal de campos, as respostas são de vária ordem, como
era de esperar, dependendo naturalmente de vários factores.
A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, onze
dispõem de campos de treino em piso de relva natural e campos de treino em
piso de relva artificial, os restantes seis Centros de Treino visitados, todos de
clubes brasileiros utilizam pisos de relva natural (o Botafogo F. R. dispõe de um
pequeno espaço em relva artificial para treinos do guarda-redes)
Análise Interpretativa
117
Das entrevistas é possível reter algumas ideias:
o O número de campos deverá ser directamente proporcional ao número
de equipas. Para o trabalho de formação geral, deverá existir um
campo por equipa;
o Clubes da dimensão dos três grandes - 3 campos de relva natural e 3
campos de relva sintética;
o Outros clubes profissionais - 2 campos de relva natural e 2 campos de
relva sintética;
o O ideal seria todos serem de relva natural,
o A hipótese de construção de campos sintéticos só deverá ser
considerada se a taxa de utilização prevista for de um valor que um
campo de relva natural não consiga suportar;
o 1 espaço de relva natural com dimensão de dois campos
(Profissionais), 2 relvados naturais para Juniores e Juvenis e 1
sintético para os outros escalões;
o Os campos devem constituir opções abertas com marcações
progressivas em função do escalão;
o 4 campos de relva natural ( profissionais), 2 campos de relva sintética(
formação);
o 3 campos de relva natural (profissionais) e 4 campos de relva natural
e 2 sintéticos para a formação;
o 2 relvados naturais , 2 sintéticos e 2 campos de futebol de 7;
o 1 campo de jogo oficial, 1 relvado natural com dimensão de 3 campos,
1 relvado natural para jovens, 2 relvados sintéticos e 1 pelado.
118
119
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
120
Considerações Finais
121
Com a nossa dissertação tentámos apresentar elementos que permitam a
modelação dos Centros de Treinos dos clubes de futebol nomeadamente no
que toca aos aspectos relacionados com os espaços de trabalho táctico-
técnico, leia-se campos de aprendizagem, campos de treino, e espaços para a
competição das camadas de formação. Sempre tendo em linha de conta,
contudo, que esta proposta modelo não pode deixar de reflectir a dimensão, o
estatuto e a estratégia dos clubes em causa.
5.1 - Conclusões
Julgamos estar em condições de afirmar que os Centros de Treinos dos clubes
de futebol devem ser concebidos na sua gestão e funcionalidade de modo a
disporem das seguintes condições:
o - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treinos - devem ser concebidos de forma a serem um
espaço de treino destinado a todos os escalões do clube;
o - Especificidade dos espaços dos Centros de Treino - há vantagens
em dispor de alguns espaços para situações específicas do treino de
futebol;
o - Espaço de competição com bancadas nos Centros de Treino - há
várias vantagens na existência de um espaço de competição com
bancadas para o público com capacidade variável em função do tipo de
clube e tradições no que toca à afluência aos jogos das camadas de
formação;
o - Número ideal de campos - Relva natural / Relva sintética- achamos
que haverá toda a vantagem em que existam pelo menos três campos
em relva natural(profissionais e Juniores) e que os mesmos sejam
construídos em paralelo facilitando claramente a gestão da manutenção
dos espaços de relva utilizados em função das sobrecargas e das
condições climatéricas.
Considerações Finais
122
o Preconiza-se ainda um espaço de treino e competição em relva sintética
(atendendo à evidente sobrecarga de utilização) para as camadas de
formação que competem no futebol de 11.
o Para as escolas preconiza-se a existência de um espaço em relva
sintética (atendendo à sobrecarga de utilização) com as dimensões que
comportem um campo de futebol de 11 e dois campos de futebol de
sete, proporcionando assim uma eventual actividade simultânea das
escolas.
o Como complemento de todos estes espaços surgem os espaços
específicos para treinos de guarda-redes e um espaço coberto
concebido para cumprir a missão de proporcionar o treino específico em
condições climáticas desfavoráveis.
Por último concebemos um espaço perfeitamente diferenciado para a
iniciação, constituídos por dois espaços fechados em terra batida de
20mx10m e de 40mx20m e um campo em terra batida para o futebol de
sete de forma a dar resposta não só ao que encontramos na literatura
mas fundamentalmente à sensibilidade que fomos colhendo.
5.2. - Proposta modelo
A proposta modelo apresentada é o reflexo da conjugação daquilo que foi
extraído e assimilado da literatura, com a análise interpretativa das ideias dos
agentes desportivos entrevistados, bem como, é claro, da visão resultante da
nossa vivência desportiva como atleta e treinador.
Considerações Finais
123
O Centro de Treinos ideal deverá ser concebido para ter pelo menos o seguinte
equipamento no que toca a espaços para o treino do futebol:
- Um espaço de competição com bancadas para o público, com capacidade
para pelo menos 1000 pessoas, e um campo de jogos com o piso em relva
natural e as medidas oficiais de 105mx68m preconizadas pela UEFA
Figura 1 - Espaço de competição - Futebol de Formação
(Modulação 3D)
Considerações Finais
124
- Um espaço rectangular de relva natural para treinos em que se possa
circunscrever 3 campos de futebol de 11 em paralelo, com as medidas
preconizadas pela UEFA - 105mx68m, sugerindo-se que o rectângulo tenha
115 metros de comprimento (5+105+5) por 220 metros de largura (4+
68+4+68+4+68+4).
Figura 2 - Espaço de treino - Futebol Profissional - Futebol Júnior A
(Modulação 3D)
Considerações Finais
125
- Um campo de jogos com o piso de relva sintética e as dimensões de
105mx68m para treinos e jogos das camadas de formação. Podendo ainda ser
marcado para jogos de futebol de sete da Escolas.
Figura 3 - Espaço de treino e competição - Futebol de 11 –
Futebol de Formação (Modulação 3 D)
Considerações Finais
126
-Um espaço rectangular com balizas amovíveis e o piso de relva
sintética de forma a circunscrever um campo de futebol de 11 e que também
comporte dois campos de futebol de 7, utilizando a largura do campo de futebol
de 11 para o comprimento do futebol de 7, sugerindo-se que o rectângulo tenha
125 metros de comprimento (5+ 55+5+55+5) e 80 metros de largura.
Estas medidas foram concebidas tomando como base as medidas
oficiais recomendadas pela UEFA para o futebol de 11 (105mx68m) e as
medidas máximas para o futebol de 7 (70mx55m). Este espaço será utilizado
para treinos das camadas de formação e competição das Escolas.
Figura 4 - Espaço de treino para o Futebol de Formação e competição
para as Escolas (Modulação 3 D)
Considerações Finais
127
- Um espaço em relva natural para treino de guarda-redes com a
superfície de metade de um campo de futebol de 11, podendo também ser
utilizado para treinos específicos em espaços reduzidos, admitindo-se como
possível as medidas de 30mx40m usual em alguns espaços “visitados” .
Figura 5 - Espaço para treino específico de Guarda-Redes
(Modulação 3 D)
Considerações Finais
128
- Um espaço coberto, com paredes laterais e piso de relva sintética com
as medidas do futebol de 7.
Figura 6 - Espaço coberto (Modulação 3 D)
Considerações Finais
129
- Um espaço diferenciado para a iniciação contendo :
- Uma zona rectangular de 20mx10m sem marcações, em piso de terra
batida, com paredes laterais encimadas por redes metálicas para jogos de 3x3;
Figura 7 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 20 x 10 “ (Modulação 3 D)
- Uma zona rectangular de 40mx20m sem marcações, em piso de terra
batida, com paredes laterais encimadas por redes metálicas para jogos de 5x5;
Figura 8 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 40 x 20 “ (Modulação 3 D)
Considerações Finais
130
- Um campo de futebol de 7 com marcações, em piso de terra batida.
Figura 9 - Espaço para a iniciação - Futebol de 7 (Modulação3 D)
5.3 - Sugestões
Como sugestão para trabalhos futuros, achamos que no processo da gestão da
formação dos jogadores de futebol era interessante o desenvolvimento de uma
matriz caracterizadora de aspectos técnicos, tácticos, físicos e psicológicos a
serem observados, monitorizados e analisados no processo de detecção e
selecção de talentos nos clubes de futebol, trabalho esse que deveria ser
desenvolvido em parceria com as Instituições de ensino e investigação, as
Instituições reguladoras do Futebol e os clubes de Futebol.
Ainda neste aspecto geral da gestão da formação dos jogadores de futebol
acreditamos ter ficado claro que é necessário e urgente a diferenciação em
aspectos substanciais da formação do treinador de futebol, de forma a ser
possível catalogarmos áreas específicas que devem fazer parte da estrutura
curricular dos Cursos de Treinadores de Futebol respectivamente para
Considerações Finais
131
Treinadores do Futebol Profissional e para Treinadores do Futebol de
Formação.
No aspecto específico da concepção e funcionalidade dos Centros de Treinos
na sua globalidade, é importante o desenvolvimento por especialistas de cada
uma das áreas da sua valência da ideal da concepção e tipologia dos outros
espaços complementares essenciais para todos os Centros de Treino
(equipamentos de apoio, recuperação física, hotelaria e restauração, zonas de
lazer, imprensa, ….).
Por exemplo, acreditamos que há todo interesse que seja desenvolvido um
trabalho liderado por um especialista da Sociologia no que toca à discussão da
tipologia e caracterização dos alojamentos, especialmente para as camadas de
formação (número de ocupantes dos quartos e sua configuração, espaços de
convívio e entretenimento, locais de culto, …).
Há também um aspecto que atendendo ao valor cada vez maior do
activo/jogador para os Clubes, deve ser tido em consideração que é o aspecto
da recuperação de lesões, que como se viu na descrição dos Centros de
Treinos pesquisados merece um trabalho aturado por parte de especialistas, de
modo a chegarmos a uma modelação ideal de espaços e equipamentos
destinados a que essa recuperação seja feita no mais curto espaço de tempo.
Ficam aqui algumas sugestões que podem contribuir para a modelação global
de um Centro de Treino.
132
133
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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