A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

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A GESTÃO DOS CENTROS DE TREINO DOS CLUBES DE FUTEBOL Dissertação apresentada com vista à obtenção do Segundo Ciclo (Mestrado em Gestão Desportiva), ao abrigo do Decreto Lei nº 74/2006 de 24 de Março Orientador: Doutor José Pedro Sarmento de Rebocho Lopes Co-Orientador: Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva Autor: Almir Nelcindo Vieira da Silva Porto, Abril de 2009

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A GESTÃO DOS CENTROS DE TREINO DOS CLUBES DE FUTEBOL

Dissertação apresentada com vista à obtenção do Segundo Ciclo (Mestrado em Gestão Desportiva), ao abrigo do Decreto Lei nº 74/2006 de 24 de Março

Orientador: Doutor José Pedro Sarmento de Rebocho Lopes Co-Orientador: Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva Autor: Almir Nelcindo Vieira da Silva

Porto, Abril de 2009

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Ficha de catalogação: Silva, A.(2009), A gestão dos centros de treino dos clubes de

futebol. Dissertação apresentada com vista à obtenção do Segundo

Ciclo (Mestrado em Gestão Desportiva), Porto: Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto

PALAVRAS-CHAVE: GESTÃO, FORMAÇÃO, FUTEBOL, TREINO,

CENTROS DE TREINO.

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III

Aos meus Pais, Adão e Deolinda…

à Fátima…ao Almir e ao Rivelino.

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V

Agradecimentos

Ao Professor Doutor José Pedro Sarmento, pela forma dinâmica e

despreconceituada como orientou este estudo, e sobretudo, pela

fonte de conhecimentos transmitidos, uma dádiva para a satisfação

das nossas dúvidas. Agradeço a sua inestimável e encorajadora

colaboração na concretização deste sonho.

Ao Professor Doutor Júlio Garganta, pelo acompanhamento,

honestidade intelectual e ajuda crítica sempre presentes.

Aos Colegas da Post-Graduação, que na sua diversidade cultural

muito me entusiasmaram.

A todos os que contribuíram na logística deste estudo

Aos meus Amigos de verdade.

A todos aqueles que amam o Desporto.

A todos… um sentido muito obrigado!

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VII

Índice Geral

AGRADECIMENTOS V

ÍNDICE GERAL VII

ÍNDICE DE FIGURAS XI

RESUMO XIII

ABSTRACT XV

RÉSUMÉ XVII

Introdução 1

1 Revisão da Literatura 7 1.1 - Futebol - Enquadramento sócio - económico 9 1.2 - Futebol - Breves considerações 10

1.3 - Futebol - O treino 11

1.3.1 - Generalidades 11

1.3.2 - Algumas considerações sobre o processo de

ensino/aprendizagem 12

1.3.3 - Algumas considerações sobre o treino de alto rendimento 16

1.4 - A gestão da formação dos jogadores profissionais de futebol 17 1.4.1 - Conceitos básicos 18 1.4.2 - Detecção, selecção e recrutamento 25

1.4.2.1- Algumas considerações sobre uma eventual

“matriz de indicadores” 29

1.4.3 - Definição de modelo de jogo de referência 32

1.4.4 - Conceitos estratégicos e de organização - “cultura de clube” 34

1.4.4.1 - Sport Lisboa e Benfica 34

1.4.4.2 - Futebol Clube do Porto 36

1.4.4.3 - Sporting Clube de Portugal 37

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VIII

1.4.5 - Criação de infra-estruturas ideais para o treino 44

1.5 - Futebol - A necessidade e a especificidade dos locais de treino 46

1.6 - Concepção, tipologia e gestão dos Centros de Treino 48 1.6.1. - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treino 49

1.6.2 - Especificidade dos Centros de Treino 50

1.6.3 - Espaço de competição com bancadas nos Centros de Treino 52

1.6.4 - Número ideal de campos - Relva natural/relva sintética 52

1.7 - Pesquisa e Caracterização - Centros de Treino 53

1.7.1 - Brasil 55

1.7.1.1 - Cruzeiro Esporte Clube 55

1.7.1.2 - Clube Atlético Paranaense 56

1.7.1.3 - São Paulo Futebol Clube 59

1.7.1.4 - Santos Futebol Clube 60

1.7.1.5 - Clube de Regatas Vasco da Gama 61

1.7.1.6 - Botafogo Futebol e Regatas 62

1.7.2 - Espanha 63

1.7.2.1 - Club Atlético de Madrid 63

1.7.2.2 - Athletic Club Bilbao 63

1.7.2.3 - Real Club Deportivo La Coruña 64

1.7.2.4 - Valência Club de Futebol 65

1.7.2.5 - Futebol Club Barcelona 65

1.7.2.6 - Real Madrid Club de Futebol 67

1.7.3 - Itália 70

1.7.3.1 - Milan Associazione Calcio 70

1.7.3.2 - Football Club Internazionale Milano 71

1.7.4 - Portugal 72

1.7.4.1 - Futebol Clube do Porto 72

1.7.4.2 - Sporting Clube de Portugal 73

1.7.4.3 - Sport Lisboa e Benfica 73

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IX

2 - Metodologia 75 2.1 - Análise documental 77

2.2 - Visitas 77

2.3 - Entrevistas 78

2.3.1 - Entrevista semi-estruturada 79

2.3.2 - Guião das entrevistas 81

3 - Análise descritiva 83

3.1 - Entrevista aos Directores dos Centros de Treino 85

3.2 - Entrevista aos Treinadores 92

3.3 - Entrevista aos Coordenadores Técnicos 103

4 - Análise interpretativa 111

4.1 - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treino 113

4.2 - Relação entre espaços generalistas e espaços específicos 114

4.3 - Necessidade de um espaço de competição com bancadas

para o público 115

4.4 - Número ideal de campos e a relação Relvados naturais /

relvados sintéticos 116

5 - Considerações finais 119

5.1 - Conclusões 121

5.2 - Proposta modelo 122

5.3 - Sugestões 130

6 - Referências Bibliográficas 133

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XI

Índice de figuras

Figura 1 - Espaço de competição - Futebol de Formação -

Modulação 3D

123

Figura 2 - Espaço de treino - Futebol Profissional - Futebol

Júnior A -Modulação 3D

124

Figura 3 - Espaço de treino e competição - Futebol de 11 -

Futebol de Formação - Modulação 3 D

125

Figura 4 - Espaço de treino para o Futebol de Formação e

competição para as Escolas - Modulação 3 D

126

Figura 5 - Espaço para treino específico de Guarda-Redes -

Modulação 3 D

127

Figura 6 - Espaço coberto - Modulação 3 D 128

Figura 7 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 20 x 10 “ -

Modulação 3 D

129

Figura 8 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 40 x 20 “ -

Modulação 3 D

129

Figura 9 - Espaço para a iniciação - Futebol de 7 – Modulação

em 3 D

130

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XIII

Resumo

Pretende-se com esta dissertação, contribuir para uma melhor concepção,

gestão e funcionalidade dos centros de treino, entendidos como locais

apropriados para a prática do treino de futebol.

A dissertação começa por fazer uma abordagem, através da revisão da

literatura, ao entendimento dos jogos desportivos colectivos, elegendo entre

eles, naturalmente o futebol.

São revistos conceitos necessariamente básicos, mas até por isso

fundamentais de todo o processo de Treino, no sentido da evolução gradual do

atleta desde o seu processo de aprendizagem/ formação até ao seu

enquadramento no processo de treino de alto rendimento.

Aborda-se então aquilo que se considera fundamental na gestão do processo

de formação dos jogadores de futebol, elegendo-se como essencial a definição

de cinco parâmetros: definição clara de uma política de recrutamento; definição

do processo de detecção e selecção de talentos; definição do modelo de jogo

referência para todos os escalões (formação de um jogador para uma forma de

jogar específica); Cultura de recepção e absorção do atleta formado pela

equipa de futebol profissional e a criação das condições ideais para o treino

através da concepção e construção de Centros de Treino.

Com suporte em “visitas” a alguns Centros de Treino e em entrevistas dirigidas

a directores técnicos de centros de treino, coordenadores do futebol de

formação e a treinadores, a dissertação propõe que os Centros de Treino

devem ser concebidos englobando todos os escalões do clube, dispondo de

um espaço de competição com bancadas para o público, de espaços para

situações específicas de treino, com determinada relação de campos de relva

natural para os seniores e juniores e de campos de relva sintética para os

restantes escalões do futebol de formação.

PALAVRAS-CHAVE: GESTÃO, FORMAÇÃO, FUTEBOL, TREINO,

CENTROS DE TREINO,

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XIV

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XV

Abstract

This dissertation is aimed to contribute to a better conception, management and

functionality of training centres, known as proper places for the practice of

football training.

The dissertation starts with an approach, through the literature revision, to the

understanding of collective sports games, electing among them, as expected,

the football. Fundamental concepts with some importance in the whole process

of training are automatically reviewed, showing the gradual evolution of the

athlete from the beginning of the learning /formation process up to the full

integration in the training process of high performance.

One can find, therefore, an explanation of what is considered essential in the

management of the process of formation of football players, appointing as

essential the definition of five parameters: clear definition of a recruiting policy;

definition of the process of identification and selection of talented players;

definition of the rules of the football game for the all levels (formation of a player

for one specific type of football); Culture of welcoming and understanding the

athlete trained by the professional football team and the creation of ideal

conditions for the training through the conception and construction of training

centres.

Supported by “visits” to some training centres and interviews addressed to

technical directors of training centres, coordinators of the football formation and

coaches, this dissertation comes up with the conception of training centres for

all levels of the club, having a sports ground for competition surrounded by rows

of seats for the public, sports grounds for specific training situations, with some

relation with natural lawns for seniors and juniors and synthetic lawns for the

other levels of the football formation.

KEY WORDS: MANAGEMENT, FORMATION, FOOTBALL,

TRAINING, TRAINING CENTRES.

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XVI

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XVII

Résumé

On veut avec cet essai, contribuer pour une meilleur conception, gestion et

fonctionnalité des centres d’entraînement, conçus comme des espaces

appropriés pour la pratique de l’entraînement de football.

D’abord, on trouve l’approche, à travers da révision de la littérature, sur

l’apprentissage des jeux sportives, en choisissant entre eux, naturellement le

football.

Des concepts élémentaires, mais fondamentaux pour le procès d’entraînement

sont obligatoirement revus, dans le sens d’une évolution graduel de l’athlète

dès le procès d’apprentissage/formation jusque son intégration dans le procès

d’entraînement d’haute performance.

On présente, ainsi, ce qu’on considère fondamental pour la gestion du procès

de formation des joueurs de football, en nommant comme essentiel la définition

de cinq paramètres : définition claire d’une politique de recrutement ; définition

du procès de détection et sélection des talents; définition du modèle de jeux

référence pour tous les échelons (formation d’un joueur pour un type de jeu

spécifique), culture d’accueil et intégration de l’athlète formé par l’équipe de

football professionnel et la création des conditions idéales pour l’entraînement à

travers la conception et construction des centres d’entraînement.

En s’appuyant sur «des visites» aux Centres d’entraînement et des interviews

adressées aux directeurs techniques des centres d’entraînement, coordinateurs

de football de formation et entraîneurs, l’essai propose que les centres

d’entraînement doivent être conçus en rattrapant tous les échelons du club,

ayant un espace pour des situations spécifiques d’entraînement, avec une

certaine relation des aires de pelouse naturelle pour les seniors et des aires de

pelouse synthétique pour les autres échelons du foot de formation.

MOTS CLES : GESTION, FORMATION, FOOTBALL,

ENTRAINEMENT, CENTRES D’ENTRAINEMENT

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XVIII

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1

INTRODUÇÃO

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2

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Introdução

3

Âmbito

A crescente urbanidade das nossas cidades, onde estão sediados a grande

maioria dos clubes de grande expressão e relevo do nosso país, provocando

uma maior densidade e concentração de pessoas a que correspondeu uma

galopante actividade imobiliária, levou á mudança do estereótipo das infra-

estruturas desportivas dos clubes de futebol profissional.

A especulação imobiliária, que fez subir em flecha os preços por metro

quadrado dos terrenos disponíveis associada ao crescente número de equipas

nos vários escalões etários, leia-se equipas de competição dos clubes, levou a

num novo pensamento para a construção de infra-estruturas desportivas dos

clubes de futebol.

Hoje em dia não é concebível compatibilizar as necessidades de espaço que

os clubes necessitam com as realidades das nossas cidades, pelo que a teoria

geral consensual é a de dispor do Estádio de competição próximo ou junto da

Urbe e localizar na periferia (maior disponibilidade de espaços livres e preços

mais baixos) o local onde se concentram todas as instalações necessárias à

prática diária de treinos de todos os escalões etários dos clubes, ou pelo

menos de quase todos.

Surge assim a ideia da criação de Centros de Treinos, caracterizados por

alguns equipamentos específicos para a prática do treino e por espaços

complementares à actividade desportiva.

É nesse âmbito que esta dissertação pretende dar um contributo para a

modelação da concepção e construção de infra-estruturas desportivas dos

clubes de futebol especialmente destinados a treinos de ensino/aprendizagem

e a treinos de alto rendimento

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Introdução

4

Objectivos

O objectivo que se pretende atingir com esta dissertação, é o de contribuir para

uma concepção adequada às necessidades dos agentes intervenientes no

processo de treino desportivo, entendido no seu vasto espectro desde o treino

de aprendizagem até ao treino de alto rendimento, de forma a melhorar a

funcionalidade e a especificidade dos centros de treino, entendidos como locais

apropriados para a prática do treino provocando assim uma gestão mais eficaz

de todo o processo de formação dos jogadores de futebol.

A dissertação começa por fazer uma abordagem à evolução do conceito de

espaço desportivo para as equipas de futebol profissional, desde os Estádios

de competição até aos mais recentes locais para treino desportivo - Centros de

Treino.

São revistos conceitos necessariamente básicos, mas até por isso

fundamentais de todo o processo de Treino, no sentido da evolução gradual do

atleta desde o seu processo de aprendizagem/formação até ao seu

enquadramento no processo de treino de alto rendimento. Busca-se uma

definição de treino, abrangente, cujo espectro vai desde o treino

ensino/aprendizagem até ao treino de alto rendimento.

Em posse destes conceitos básicos define-se uma estrutura para a gestão da

formação dos atletas com cinco conceitos base que vão desde o recrutamento

até às infra-estruturas de apoio ao treino - Centros de Treino.

Sedimentados alguns conceitos revistos da literatura, vamos nos prender com

a busca, identificação e respectiva caracterização dos centros de treino

existentes como estruturas de alguns clubes de futebol, através de uma

amostragem organizada por clubes do Brasil, Espanha, Itália e Portugal.

Na amostragem percorrida dedicamos especial atenção, visitando

presencialmente, os Centros de Treino do F. C. Porto e do Sporting em

Portugal e os Centros de Treino do Vasco da Gama e do Botafogo no Rio de

Janeiro - Brasil

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Introdução

5

Para que se sustente uma teoria de modelação de um centro de treino, nada

melhor do que dar a palavra a quem experimenta e lida diariamente com os

intervenientes/agentes directos do futebol e com os espaços disponíveis e

portanto no fundo quem experimenta as vantagens e dificuldades dos actuais

“espaços” dedicados à prática do processo de treino.

Através de um guião - entrevista orientada - daremos “voz” aos Directores dos

Centros de Treino do Futebol Clube do Porto e do Sporting Clube de Portugal,

a um leque de coordenadores técnicos da formação e a treinadores,

diferenciando claramente neste perfil, aquele que se dedica ao processo de

ensino/ aprendizagem, o que se dedica ao treino de formação e aquele que se

dedica ao treino de alto rendimento.

Conhecendo as características dos centros de treino, conhecendo as ideias

dos gestores, dos coordenadores e dos treinadores, estamos em condições de

partir em busca de algumas confirmações e sugestões de melhoria e portanto

em condições de propor algumas sugestões de mudança na concepção dos

mesmos através de uma proposta modelo de Centros de Treino.

Estrutura

Atendendo às motivações aqui expostas e aos objectivos também definidos,

optou-se por uma estrutura que delineasse um articulado sequencial de

análises e comentários que permitissem a formulação de uma proposta como

meta final do trabalho.

Sendo assim, esta dissertação para além da presente introdução, contém os

seguintes capítulos:

O capítulo um, dedicado á revisão da literatura, começa por abordar conceitos

do futebol e aí versando aspectos fundamentais para os intervenientes no

treino de futebol - jogadores e treinadores - fundamentalmente nos aspectos

inerentes ao treino, quer no que diz respeito ao treino de ensino/aprendizagem

quer no que diz respeito ao treino do futebol profissional, dedicando também

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Introdução

6

especial atenção à pesquisa e caracterização de alguns Centros de Treino,

nalguns casos com recursos aos vários tipos de informação que vão desde a

Net até aos jornais e publicações e noutros casos com visitas “in loco”. Versa

ainda um carácter de intervenção na área da gestão da formação dos

jogadores de futebol diagnosticando cinco linhas directoras que devem nortear

o trabalho na área de formação dos clubes de futebol. Assim ao longo do

capítulo caracterizam-se como fundamentais a definição de uma política de

recrutamento, de um método de detecção e selecção de talentos, de um

modelo de jogo de referência, da clara assumpção de uma filosofia e uma

estratégia a que se chamou “cultura de clube”, para chegar, claro está ao

enquadramento final das infra-estruturas necessárias a todo o tipo de treino -

Centros de Treino, razão principal desta dissertação.

O capítulo dois é dedicado a explicar qual foi a metodologia aplicada na

investigação elegendo para o efeito três ferramentas: análise documental,

visitas e entrevistas.

O capítulo três é mais de carácter experimental com entrevistas orientadas a

dois ramos de agentes desportivos com intervenção directa na formação dos

jogadores de futebol e na gestão dos Centros de Treino - Directores dos

Centros de Treino e os Treinadores incluindo nestes os Coordenadores

Técnicos da formação. Dedica-se a apresentar a análise descritiva das

entrevistas.

O capítulo Quatro dedica-se à análise interpretativa das entrevistas efectuadas

e surge como complemento lógico do capítulo anterior

O capítulo cinco dedica-se às considerações finais, e tal como em outros

trabalhos, sintetizam-se os objectivos alcançados através da apresentação de

uma proposta de concepção de Centros de Treino como corolário lógico das

soluções que foram sendo apontadas ao longo da dissertação, referindo-se

também algumas questões abertas para o futuro que devem merecer estudo.

Como complemento final da dissertação, apresentam-se as Referências

bibliográficas que serviram de base a esta dissertação.

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7

1. Revisão da Literatura

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8

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Revisão da Literatura

9

1.1 - Futebol - Enquadramento sócio - económico

Os jogos desportivos colectivos (JDC), denominação pela qual são conhecidas

modalidades como o Andebol, o Basquetebol, o Voleibol, o Hóquei em patins e

o Futebol, por exemplo, ocupam um espaço importante na sociedade actual no

que toca à cultura desportiva.

Nos dias de hoje o futebol já não pode só ser considerado como um jogo, ele

hoje encerra todos as condicionantes de um fenómeno que além de desportivo,

é económico, social e até político.

O desporto, e nomeadamente o futebol, é espectáculo, é investimento, é

marketing, é moda, é prática, é ensino, em suma atinge uma transversalidade

tal que não é indiferente a quase nenhuma pessoa em todo o mundo.

Todos estes aspectos são sintetizados por Garganta e Pinto (1994), “O futebol,

enquanto jogo desportivo colectivo, é uma actividade com enorme

popularidade, facto que pode ser comprovado através do vasto número de

praticantes e de espectadores que mobiliza” e ainda “ O futebol é

inequivocamente um fenómeno de elevada magnitude no quadro da cultura

desportiva contemporânea”

O desporto e nomeadamente o futebol que hoje temos é nas suas formas de

manifestação e organização, diferente do passado. Difundiu-se à escala

mundial, tal como se difundiu por todo o mundo a civilização industrial que o

influência em todos os aspectos. Podemos dizer que o desporto, com

supremacia evidente do futebol, é hoje a forma de cultura mais comum a todo o

universo, é uma cultura supranacional que supera fronteiras políticas,

ideológicas, marítimas e terrestres. É uma cultura entendida por todos, letrados

e analfabetos, com maior ou menor formação, independentemente de raça, de

credo, de estatuto social e intelectual. O estádio é hoje o local mais popular da

cultura.

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Revisão da Literatura

10

Por tudo isto o desporto e especialmente o futebol, é hoje também um grande

meio de educação e convívio entre os povos, com um papel reforçado pela

cobertura que lhe dão os grandes meios de comunicação social, fazendo dele

um modelo de estilo de vida e de comportamento corporal para os cidadãos de

todo o mundo. Se preferirem, diria que também pelo futebol o mundo vê cada

vez mais unidos os continentes, todas as longitudes e latitudes, transformando-

se na "aldeia global", onde tudo e todos se cruzam.

1.2 - Futebol - Breves considerações

O futebol é um jogo desportivo colectivo, e como tal um jogo em que estão

presentes, a cooperação entre os elementos da própria equipa, a oposição por

parte da equipa adversária, e a tentativa de finalização, devidamente

contextualizadas através de um carácter de imprevisibilidade que obriga os

jogadores de ambas as equipas tanto individualmente como colectivamente a

tomarem decisões que facilitem à concretização dos objectivos, debaixo do

respeito das regras do jogo.

O problema principal que se põe a quem joga futebol é sempre de natureza

táctica, por isso todo o processo de ensino/aprendizagem deve recorrer a

situações que conciliem os aspectos fundamentais de um jogo de futebol, isto

é, a bola, a cooperação, o adversário (s), a selecção (decisão) e a finalização,

sempre em pleno respeito pelas regras do jogo.

Segundo Garganta e Pinto (1994), devem estar sempre no ensino do futebol

dois aspectos que condicionam a lógica do jogo de futebol: o terreno de jogo e

os princípios específicos do jogo.

Atendendo ao posicionamento das balizas no campo de futebol, e que o

mesmo quase que se resume a um jogo de cooperação/oposição com o

objectivo de atingir (ataque) ou evitar (defesa) a finalização, é essencial para o

ensino do futebol o conhecimento do campo de jogo, devidamente relacionado

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Revisão da Literatura

11

com os tais princípios específicos do jogo, factores estes que devem estar

sempre presentes na concepção e modelação de qualquer espaço de treino.

Abordadas algumas questões do entendimento do futebol enquanto jogo

desportivo e à sua essência eminentemente táctica, passaremos a aspectos da

interpretação desse entendimento no treino do futebol.

1.3 - Futebol - O treino

1.3.1 - Generalidades

Começamos este capítulo com uma referência de Jorge Araújo (1994) citado

por Leal, M & Quinta, R (2001) - “Os atletas têm de ser preparados para tomar

as suas próprias decisões, utilizando a sua preparação e análise das situações

e não a dos treinadores”. Esta preparação que é referida assume a sua

expressão nos jogos em face daquilo que é a aprendizagem do treino.

Só a qualidade do treino permite aos jogadores, capacidade de resposta às

diversas solicitações que um jogo de futebol lhes coloca, por isso se afirma que

a prática repetitiva (características de treino), para ser eficiente, deve estar

sempre comprometida com a qualidade.

Por outro lado é importante referir e reforçar a imperiosa necessidade de

treinar, reflectida na conhecida evolução do futebol moderno onde se treina

todos os dias (ou quase) - talvez a única grande mudança no futebol - já que

está consensualizado que só a prática contínua eleva o rendimento individual e

colectivo das equipas.

Esta verdade é absoluta quer para treinos de ensino/aprendizagem (formação)

quer para o treino das equipas de alto rendimento em que os resultados

assumem a relevância primordial.

Por isso se afirma consensualmente que é importante a criação de rotinas de

trabalho, já que o treino melhora aquilo que é repetido (automatismos).

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Revisão da Literatura

12

Segundo Carvalhal (2002) - “além da repetição, a aprendizagem requer uma

estruturação intencional das ocorrências repetidas sendo os seus efeitos mais

visíveis, quanto mais activa for essa aprendizagem”.

Chegados aqui é importante fazer-se uma distinção dos objectivos do treino

num clube de futebol em função do escalão competitivo que estivermos a

tratar, há pois que diferenciar o treino da formação, do treino do alto

rendimento.

Nestes dois próximos itens deste capítulo fazemos uma clara diferenciação

entre treino no desporto de alto rendimento e o treino no desporto para a

formação de jovens jogadores.

Tal como refere Marques (1990), no desporto de alto rendimento o que conta

são os resultados absolutos, e portanto neste caso trata-se da optimização e

especificação do treino de modo a obter o mais rápido possível níveis de

rendimento elevados, já no desporto de formação o importante é a definição de

parâmetros de treino que nos possam garantir rendimentos a longo prazo.

1.3.2 - Algumas considerações sobre o processo de

ensino/aprendizagem

O ensino e a aprendizagem do futebol deve partir da realidade do próprio jogo,

devemos centrar a metodologia de ensino em situações de jogo, deixando para

trás a ideia do ensino e aprendizagem centrados na técnica individual, já que

tem sido devidamente comprovado de que a simples soma de todas os

contributos individuais, não provoca necessariamente a subida da qualidade da

equipa.

Sabemos que o jogador precisa de conhecer a técnica para a resolução de

algumas situações, mas não podemos pretender que o jogador domine os

aspectos técnicos (passe, recepção, …) totalmente descontextualizados das

situações de jogo.

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Revisão da Literatura

13

O jogador em determinada situação de jogo, só pode utilizar a técnica correcta

(modo de executar) se ao mesmo tempo souber “ler” o que ocorre ao seu redor

(posicionamento de colegas e adversários, posicionamento relativo no campo,

posicionamento da bola, ...)

Num jogo de futebol o jogador tem de resolver, acima de tudo, um problema de

natureza táctica.

A cada momento é solicitada ao jogador uma pergunta, o que fazer? Por isso

se diz que apesar de ser importante saber fazer é contudo mais importante

pensar, decidir e executar (saber fazer) através da percepção (informação) que

o jogador recolhe do contexto do jogo.

Por isso o ensino da técnica nunca deve resumir-se ao “ensino de gestos

técnicos fundamentais (passe, recepção, …), mas relacionar-se sobretudo com

as situações de jogo, obrigando o atleta a em cada momento ser obrigado a

pensar, seleccionar e executar a sua tarefa em consonância com o

pensamento táctico e as diversas configurações do jogo.

Logo é legitimo concluir que no treino, o ensino da técnica e da táctica devem

estar sempre interligados.

Atendendo a que um jogo de futebol vai oferecendo continuamente problemas

diferentes e variados, o jogador deve estar habilitado a perceber e tomar a

decisão acertada no tempo, no espaço e em consonância com os objectivos

tácticos da equipa.

Tal como dizia Albert Camus “ O futebol é a inteligência em movimento”

Ora, isso só se consegue se o treinador fizer com que os exercícios de treino

se aproximem das situações reais de jogo.

Para isso o treino deve procurar o incremento de pequenos jogos - jogos de

posição - que representem situações reais do jogo (jogos em inferioridade

numérica; jogos de posse bola; superioridade numérica e finalização …)

Sabendo-se que um jogo de futebol é um desporto colectivo de oposição/

cooperação, em que o interveniente deve relacionar constantemente vários

elementos - a bola, o (s) colega (s), o (s) adversário (s), a finalização, as regras

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Revisão da Literatura

14

- impõe-se que o ensino/aprendizagem seja efectuado em fases (etapas de

formação) e de forma gradual, isto é, do simples para o complexo.

Tem de estar sempre presente que embora por vezes com a mesma idade, os

atletas não estão em igualdade de desenvolvimento das suas capacidades

atléticas - idade cronológica /idade biológica - nem no mesmo estágio de

desenvolvimento no que toca às suas aptidões.

Sabemos que uma das condições primordiais para este tipo de ensino/

aprendizagem é que os exercícios de treino sejam motivantes para os atletas

de modo a captar toda a atenção dos mesmos, por outro lado desde cedo, a

matriz do ensino deverá ter subjacente não só a forma como se domina a bola,

mas também o posicionamento em campo em função de colegas e

adversários.

Nesta idade, os exercícios de treino devem ter em conta que a redução do

número de jogadores envolvidos em cada exercício provoca um estímulo maior

nos iniciantes já que é claramente maior o número de vezes que o iniciante é

solicitado a contactos com a bola, provocando assim um maior

desenvolvimento das suas características táctico-técnicas.

Nestes tipos de jogos, os iniciantes têm maior tempo de contacto com a bola,

executando acções de vital importância na aprendizagem do futebol tais como

recepção, condução de bola, remates, além de que estimulam a velocidade de

reacção às situações que lhes são propostas (leituras de jogo), fazem

deslocamentos e desmarcações, fundamentais para o seu desenvolvimento

físico-motor.

Depois da fase aquisitiva dos princípios de jogo (sem grandes preocupações

colectivas), estaremos em condição de introduzir o factor competitivo

propriamente dito.

O treino nesta etapa deve ser dirigido para a necessária aquisição dos

princípios de jogo colectivos através de exercícios padrão.

É a altura da transmissão da noção de espaço e de tempo, relacionados com

situações de jogo administradas em função dos sectores e dos corredores.

Page 33: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

15

As situações de treino devem provocar e estimular a capacidade de jogo ao

nível das suas diferentes componentes - tácticas, técnicas, físico-motoras e

psicológicas.

É claramente aumentado o volume e a intensidade do treino, procurando dar

ao mesmo um carácter lúdico/competitivo.

Na fase final da formação é onde o carácter competitivo começa a ser

exacerbado nos treinos, através da realização de vários exercícios padrão com

incidência especial nas acções colectivas através de simulações às várias

situações de jogo, idealizadas e implementadas em conformidade com o

modelo de jogo pretendido pelo treinador/formador

É importante referir que apesar da valoração do carácter competitivo, o

carácter formativo deve estar sempre presente, já que se trata do traço

fundamental da matriz do jogador ao longo da sua carreira.

Começa a ser dada especial atenção às capacidades condicionais (velocidade,

força e resistência) dos jogadores.

Há uma clara diferenciação entre a preparação geral e a preparação

específica, já que atendendo a que os princípios do jogo estão ou devem estar

assimilados, não há interrupções exageradas (erros técnicos e

descoordenações) que possam afectar a intensidade do treino.

A partir desta etapa de formação, o treino deve fazer a integração dos aspectos

táctico-técnicos com os aspectos condicionais, acentuando-se o cariz

específico do treino, com aumento da intensidade.

A competição nesta etapa é a determinante que conjuntamente com o modelo

de jogo irão definir o grau de exigência e de complexidade da matriz do treino.

Através da observação do jogo/competição, define-se a forma de treinar (em

conformidade com o modelo de jogo definido), analisa-se a adaptação

pretendida e conseguida, volta-se à observação dos resultados/evolução no

jogo e assim ciclicamente vai-se definindo a matriz do treino, com especial

incidência na prática repetitiva de exercícios padrão correspondentes ao já

aludido modelo de jogo.

Page 34: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

16

“Os comportamentos exteriorizados pelos futebolistas durante o jogo

traduzem, em grande parte, o resultado das adaptações provocadas pelo

processo de treino. Por outro lado, a orientação do processo de treino decorre

da informação extraída do jogo. Por isso se pretende conhecer cada vez

melhor o jogo e, sobretudo, os factores que concorrem para a sua qualidade.”

Garganta (1997)

1.3.3 - Algumas considerações sobre o treino de alto rendimento

Entramos agora numa etapa de vida do jogador e do treinador em que o que

importa são os resultados.

No nosso cenário desportivo, os trabalhos a prazo estão sujeitos à vontade dos

dirigentes que como sabemos são pródigos nas chicotadas psicológicas, pelo

que cada vez mais é exigido ao treinador resultados imediatos, o que

naturalmente é condicionador de toda a sua forma de trabalhar.

Sendo assim, é cada vez mais consensual afirmar que a principal preocupação

do treino é por a equipa a jogar o mais rápido possível em função do Modelo de

jogo que o treinador define.

Está então em causa a noção de operacionalidade do modelo de jogo no

treino, que traz subjacente os conceitos de periodização e especificidade do

treino.

Mourinho (Oliveira, R. 2005) define a periodização como “aspecto particular da

programação, que se relaciona com uma distribuição no tempo, de forma

regular, dos comportamentos tácticos do jogo, individuais e colectivos, assim

como a subjacente e progressiva adaptação do jogador e da equipa a nível

técnico, físico, cognitivo e psicológico”.

A periodização deve ser entendida como uma programação definida

cronologicamente do esquema de treinos, traçando objectivos específicos de

forma a promover a evolução constante de todo o processo conducente “à

nossa forma de jogar”.

Page 35: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

17

No aspecto temporal podemos considerar em termos de periodização, o

Macrociclo (ano), o Mesociclo (mês), o Microciclo (semana) e as unidades de

treino (dia).

Cabe aqui a afirmação de Mourinho entrevistado pelo jornal “A Bola” em 10 de

Janeiro de2003 - “ Treino para mim só é bom quando se consegue

operacionalizar o que é a ideia chave, isto é, o treinador tem de encontrar

exercícios, que induzam a sua equipa a fazer aquilo que faz no jogo”

Quando nos referimos às adaptações pretendemos deixar claro que não se

trata só das adaptações físico-motoras-condicionais (velocidade, força e

resistência, etc.) mas também da adaptação integrada destes factores com os

factores tácticos, técnicos e psicológicos.

Está sempre presente a noção da especificidade do jogo de futebol, através

dos conceitos de táctica e modelo de jogo.

1.4 - A gestão da formação dos jogadores de futebol

Sendo o objectivo final desta dissertação a concepção e a modelação de um

Centro de Treinos para os clubes de futebol, teremos necessariamente de fazer

o enquadramento da sua necessidade e especificidade como parte integrante

de todo o processo de gestão da formação dos jogadores de futebol.

Conhecedores de todas as características intrínsecas ao treino, quer seja o

treino do ensino/aprendizagem quer seja o treino de alto rendimento,

procuraremos definir os aspectos que consideramos fulcrais para o sucesso da

formação de um jogador de futebol.

Se por um lado a formação de um jogador de futebol está ligada às suas

condições pessoais e a todo um processo de treino, é também verdade que há

toda uma estratégia de suporte que pode ou não proporcionar as condições

favoráveis para que um processo de formação possa redundar em sucesso.

Page 36: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

18

Procuraremos então dissertar sobre os parâmetros estratégicos que

consideramos essenciais para a construção de todo um processo de gestão da

formação dos jogadores de futebol, desde a sua descoberta e iniciação

passando pela sua evolução através da modelação de todo o processo de

treino e culminando com a necessária discussão de como devem ser

concebidas as infra-estruturas de treino, de forma a maximizar a rentabilidade

de todo o sector de futebol de um clube, desde as camadas de formação até ao

futebol profissional.

1.4.1 Conceitos básicos

A abordagem a esta situação, passa necessariamente pela noção exacta de

que teremos de clarificar e de ter sempre presente a diferença entre a realidade

dos clubes.

Haverá que relativizar os clubes de nível local e os de nível nacional, numa

primeira separação mais lata, já que todos sabemos que mesmo nos clubes de

dimensão nacional haverá uma clara diferença entre as sua ambições, já que

todos os anos no inicio da época se torna claro, até pelas afirmações dos seus

dirigentes e treinadores, que enquanto um núcleo reduzido de três clubes

“joga” para o título, outros jogam para as competições europeias, e a grande

maioria joga para não descer de divisão.

Ora, julgamos que é principalmente esta ideia de que é importante não descer

de divisão, da grande maioria dos clubes nacionais, que faz com que a

imperiosa necessidade de ganhar ganhe relevo e preponderância na vida dos

treinadores, que “obrigados” a ganhar a cada jornada não encontram espaço

para o lançamento de jovens atletas saídos da formação, preterindo-os por

outros que já possuem mais “maturidade futebolística”(experiência, auto-

controlo, resistência à pressão), normalmente recrutando jogadores

estrangeiros.

Page 37: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

19

Temos para nós que o problema não reside pois no treinador, mas claramente

nos objectivos traçados por dirigentes que preferem resultados imediatos

(aquilo a que chamam de êxito), a trabalhos metódicos de aproveitamento dos

jogadores trabalhados na formação, mas que necessariamente requerem

tempo e paciência para que se possa alcançar os objectivos.

Por outro lado mesmo nas camadas de formação se assiste a um discurso que

não é o ideal para um clima de aprendizagem propício ao desenvolvimento de

todas as capacidades dos atletas, já que todos os treinadores afirmam

repetidamente que o fundamental é ganhar, quando na verdade nas camadas

de formação é essencial transmitir aos atletas, que o importante é jogar para

ganhar.

“Na formação jogar sempre para ganhar é mais importante do que ganhar

sempre”. Garganta (2007)

É preciso saber que mesmo não se podendo dizer aos atletas que o resultado

não interessa, nunca se pode por o resultado da competição à frente da

formação.

Essa “maleita” é aliás referida por Flemming Berg, “olheiro” do Chelsea ao

visionar o Torneio da Pontinha:

“Neste Torneio, os jogadores são muito novos para se poder tirar ilações. Mas

de uma forma geral, estou desiludido com a formação. Portugal tem jogadores

com muito potencial, mas há um grave problema. Qual? A mentalidade dos

treinadores. Todos querem ganhar, nenhum quer perder, logo as estratégias

são demasiado defensivas, tirando espaço à evolução dos jogadores. As

equipas utilizam três médios e todos defendem. Não há liberdade para atacar,

nem espaço para criar. Há muito talento, mas não é verdadeiramente

desenvolvido, o que é lamentável” (“O Jogo”- 8 de Abril de 2007)

Outro dos problemas é a grande afluência de jogadores estrangeiros ao nosso

futebol.

Aliás nos últimos tempos, tem-se falado mais neste tema e há a registar alguns

clubes (embora poucos) que já revelam medidas nesse sentido, muito embora

Page 38: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

20

a mesma resulte muito mais das dificuldades económico-financeiras do que de

conceitos estratégicos.

A actualidade do tema é tal que até a Federação Portuguesa de Futebol viu-se

na necessidade de impor regras no que toca a aspectos de relação entre a

formação e o futebol sénior, muito embora, se tenha de referir, com a

preocupação final do controlo do número de estrangeiros (designação em

extinção) e não propriamente para que os Seniores tenham como base de

recrutamento as suas camadas de formação.

Com efeito no passado dia 13 de Maio de 2006 a Assembleia Geral da

Federação Portuguesa de Futebol aprovou a alteração ao artigo 104.04 do

Regulamento de Provas Oficiais.

Embora seja de louvar a atitude, não se pode confundir a leitura da mesma e

afirmar precipitadamente que dessa forma a F.P.F. “ obriga os clubes a

apostarem na formação”.

Uma leitura mais atenta mostra que o que está em causa é uma forma de

constarem do boletim de jogo jogadores que tenham passado três anos, pelo

menos, da sua formação, entre os 15 e os 21 anos em Portugal, não obrigando

os clubes a que os mesmos sejam produto das suas camadas de formação. É

pois uma medida resultante da “globalização” e da mudança do conceito de

“jogador estrangeiro”, não uma medida de alcance estratégico de aposta na

formação.

É por isso cada vez mais importante que apesar da livre circulação que se

adivinha e se avizinha que os clubes portugueses focassem a sua atenção na

formação e viessem a utilizar cada vez mais jogadores formados no clube nas

suas equipas principais, de modo a reverter a tendência assustadora de

recurso a jogadores estrangeiros.

Na época de 2006/2007 os boletins de jogo registraram a utilização de 117

jogadores estrangeiros contra a utilização de 106 nascidos em Portugal (O

Jogo - 22 de Junho de 2007), o que se repetiu ainda com maior gravidade na

época de 2007/2008, atendendo à vaga de contratações, surgida nesta

presente época.

Page 39: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

21

O que aqui é referido diz respeito a jogadores utilizados nos jogos pois se nos

reportar-mos a jogadores inscritos o panorama é ainda mais desolador, senão

atentemos nos números das últimas cinco épocas descritos no Jornal “A Bola”

de 27 de Dezembro de 2007:

Época Estrangeiros Portugueses Percentagem

2003/2004 321 377 46% - 54%

2004/2005 237 311 43% - 57%

2005/2006 274 299 48% - 52%

2006/2007 265 234 53% - 47%

2007/2008 235 202 54% - 46%

Com a liberalização do mercado futebolístico neste sector da formação é

importante a questão das nossas selecções jovens, já que com o fluxo de

jogadores estrangeiros haverá necessariamente menos espaço de afirmação

para o jovem nacional.

Atente-se na entrevista de Agostinho Oliveira, actual coordenador das

Selecções de formação no Jornal “A Bola” de 11 de Março de 2008, com o

subtítulo “ A séria ameaça dos Juniores estrangeiros”:

“A Bola - Até os grandes clubes começam a contratar jogadores estrangeiros

para os Juniores. Uma ameaça a somar a outras ….

Agostinho Oliveira - Não posso estar de acordo com essa política. O espaço de

afirmação do nosso jogador está a diminuir e, se o espaço de escolha já é

limitado, maior será a dificuldade futura na prospecção. Estou para ver os

resultados positivos dessas contratações. É uma novidade de facto, a

interferência de jogadores estrangeiros no panorama dos plantéis dos grandes

Page 40: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

22

clubes, que reduzem muito o espaço de manobra dos nossos jogadores. E se

eles começam a ficar sem espaço é lógico que tenhamos de redescobrir uma

nova situação - caminhar no sentido da competitividade”

E também no mesmo Jornal e no mesmo dia sobre o mesmo assunto o que

refere Nelo Vingada:

“Em todo o mundo se assiste ao processo de atribuição de nacionalidade a

jogadores que possam constituir reforço para as respectivas selecções

nacionais, subvertendo a génese e essência da equipa nacional. Portugal

também não tem conseguido fugir a isso. Por aquilo que vamos vendo, jornada

a jornada, mês a mês, ano a ano, não me parece ousado ou estultícia da minha

parte dizer, que se tivesse investido e apostado mais no jogador português a

qualidade do jogo não seria inferior àquela que regularmente vimos assistindo

e quiçá as janelas de oportunidades sendo maiores permitiriam ter impacto

mais positivo na generalidade do futebol português bem como e

especificamente nas prestações das selecções nacionais.”

Há aqui claramente uma nova política de recrutamento sendo normal que,

quase todos os clubes, possuam com maior ou menor grau de estruturação,

um “gabinete de prospecção” responsável pela detecção e recrutamento de

jovens talentos.

A politica de recrutamento, seja pela via da detecção e “compra” a outros

clubes de menor dimensão nacional, seja pela via do trabalho da selecção de

talentos daqueles que se dirigem ao clube (treinos de captação) com o fito de

serem jogadores de futebol tem de ser vista como um investimento a longo

prazo de modo a só mais tarde poder vir a ser rentabilizado.

A política da gestão da formação de jovens talentos, passa obviamente pela

vertente do rendimento. Trata-se pois de um investimento, e como tal tem de

ser assim apreciado pelos dirigentes do clube.

Como é possível aceitar a ideia de se despender tempo, recursos humanos e

financeiros, recursos logísticos entre outros, nas categorias de formação, se

não for sempre com o intuito do aproveitamento desse trabalho?

Page 41: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

23

Não podemos cair na ilusão e na tentação de que é mais fácil recrutar

jogadores estrangeiros a preços baratos, sendo pois de desprezar o trabalho

da formação, pois como se vê com essas decisões está-se a desperdiçar o

resultado de um trabalho de anos com dispêndio acentuado das várias

estruturas do clube.

Mas não chega só criar este processo de formação, é preciso também que os

dirigentes criem no clube, a “cultura” de que a equipa sénior é o espelho do

resultado da formação.

Tal como referem Leal e Quinta (2001):

“Para nós, a obtenção de sucesso na formação prende-se com o facto de o

atleta integrar com êxito, no final da formação, a equipa mais representativa do

clube.”

E mais recentemente Jorge Castelo - Professor Universitário e Coordenador

Técnico das camadas de formação do C.F. Belenenses em “A Bola” de 17 de

Dezembro de 2008:

“Este tem de ser um clube formador. Não se podem ir buscar todos os anos 20

jogadores. Não vale a pena ter um sector que movimenta 500 miúdos para

depois não se aproveitar nenhum.”

Há pois aqui todo um conceito de gestão, definido por rentabilidade através de

investimento a longo prazo, que precisa, destes conceitos básicos:

o Definição clara de uma politica de recrutamento;

o Definição do processo de detecção e selecção de talentos;

o Definição do modelo de jogo referência (formação de um jogador para

uma forma de jogar específica).

o Cultura de recepção e absorção do atleta na equipa sénior.

o Criação de condições ideais para o treino - Centros de treino

Page 42: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

24

Aliás já em 1999 em entrevista ao jornal “Record” datado de 7 de Fevereiro,

Jesualdo Ferreira afirmava:

“Cada vez mais quem formar jogadores vai ter maiores proveitos no futuro.

Portugal nunca pode ter equipas sustentadas em grandes questões financeiras.

Portugal terá sempre um futebol mediano no plano financeiro, e um

campeonato abaixo dos campeonatos mais ricos. O que Portugal pode ter é a

possibilidade de, através dos talentos dos jogadores, conseguir que as nossas

equipas sejam mais fortes financeiramente, porque assim farão uma gestão

mais correcta daquilo que investem e daquilo que depois rentabilizam desses

investimentos.”

Também Co Adriaanse se refere ao tema, citado no Jornal “ O Jogo” de 28 de

Maio de 2006, “O Barcelona e o Chelsea têm excelentes jogadores em todas

as posições, porque os podem comprar. É como ter um jardim. O F. C. Porto

tem de plantar aquilo de que precisa e esperar que cresça. Enquanto isso,

Chelsea e Barcelona vêem o que nós plantamos e compram já crescido. E nós

voltamos a ter de plantar.”

Embora seja verdade e se compreenda o alcance do afirmado por Co

Adriaanse, não se deixa contudo de afirmar que apesar da capacidade

financeira, o Barcelona é um bom exemplo de que vale a pena o investimento

na formação. Mesmo sendo um clube que joga sempre para ganhar qualquer

competição, ainda recentemente se sagrou Campeão Europeu (2006), com

vários jogadores formados na “cantera”, a saber: Victor Valdez, Puyol, Oleguer,

Iniesta, Xavi, Gabri, e claro está a grande promessa de então, hoje uma

certeza, Lionel Messi que chegou ao clube com doze anos de idade, isto só

falando daqueles que normalmente jogam, pois fazem parte do plantel alguns

outros que ainda esperam pela oportunidade.

Sobre os dois primeiros conceitos e atendendo à sua interdependência

falaremos em conjunto.

Page 43: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

25

1.4.2 - Detecção, selecção e recrutamento

Se parece claro por um lado que a selecção e detecção de talentos e

consequentemente o seu recrutamento é um processo através do qual se

escolhem jovens dotados de capacidades acima da média, para a prática de

qualquer modalidade, recorrendo à ajuda de métodos e testes, por outro lado

também parece claro que a grande dificuldade é exactamente os clubes

acreditarem na existência de métodos e testes cientificamente comprovados,

sendo consensual que embora se usem alguns indicadores que a literatura

reporta, o método mais “forte” ainda é a intuição dos “olheiros”, que por

experiência fazem a análise e o diagnóstico das qualidades do atleta

observado.

Mas será isto, uma fatalidade? É óbvio que não!

Bastará atentarmos no que escreve Jorge Olímpio Bento na sua crónica

semanal, no Jornal “A Bola” de 18 de Outubro de 2007:

“Um dos aspectos que ilustra muito bem o quadro em que se move o

relacionamento entre a investigação e a prática do nosso desporto é o da

selecção de talentos. São constantes as queixas no tocante à falta de um

sistema que levante dados e os coloque à disposição das federações e das

demais instituições. E no entanto as universidades têm especialistas com

provas dadas na matéria, com estudos e trabalhos altamente meritórios. De

resto têm obtido qualificação académica e científica nas nossas Faculdades

cidadãos estrangeiros que, de regresso ao seu País, são aproveitados para

estruturar e implementar programas oficiais de selecção e fomento de talentos

desportivos…….Tenha-se presente que um país com população numerosa

pode dar-se ao luxo de desperdiçar alguns talentos, uma vez que possui muitos

e o acaso encarregar-se-á de revelar outros; mas um país pequeno é obrigado

a descobrir, conhecer, aproveitar e potenciar ao máximo os poucos talentos

que possui. Também por isso é curial a conjugação de esforços entre as

instituições e entidades incumbidas da formação e investigação e da

organização e prática do desporto.”

Page 44: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

26

Afinada que seja a cultura do clube, definido o modelo jogo referência, haverá

claramente que definir quais os indicadores que melhor caracterizam os

jogadores que se pretendem para cada função dentro da equipa, não

esquecendo contudo quais são as características genéricas que se pretendem

para um jogador de futebol, já que ao longo da formação consegue-se fazer a

conversão e a adaptação do jovem atleta a conceitos colectivos que se

pretendem ensinar.

Mas então temos de perceber de que resulta o talento desportivo, para assim

podermos encontrar a matriz optimizada dos indicadores.

O talento desportivo resulta da relação entre factores endógenos e exógenos,

sendo de distinguir nos primeiros as capacidades condicionais (força,

velocidade, resistência, coordenação, …), as capacidades psicológicas ou

volitivas (concentração, auto-confiança, resistência à pressão …) e as

capacidades antropométricas (peso, altura, potência do trem inferior, …) e nos

factores exógenos aquilo que mais influencia o talento é a prática da educação

física e o desporto iniciado nas idades mais jovens.

Todo este processo deve ser definido com base nas relações entre as

capacidades motoras, condicionais coordenadoras e volitivas de forma a ser

possível acrescentar todo um trabalho táctico-técnico com base em indicadores

previamente definidos.

Um jovem de talento é portanto aquele jovem que é dotado de capacidades tais

que lhe permitam atingir resultados nitidamente superiores à média dos

restantes (aquele que se distingue), nomeadamente aquele que demonstra

capacidade de resistência ao erro e às falhas, que demonstra vontade de

treinar e de se auto-preparar, que demonstra fortes traços de personalidade,

capacidade de aprendizagem e de evolução no tempo, demonstrado por

reacções mais eficazes aos estímulos a que é sujeito e que demonstra a sua

adaptação através da aplicação o mais correcta possível do que lhe é

ensinado.

Ganha aqui relevo o trabalho de ensino que terá de ser bem realizado nos

escalões de iniciação, sendo óbvio que a competência do formador e a

Page 45: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

27

qualidade do processo de treino/ aprendizagem serão parâmetros

determinantes.

Serão os escalões de iniciação etapas menos importantes para a formação de

talentos? A nossa resposta é obviamente que não e até bem pelo contrário, é

de extrema importância

Muitos são aqueles que menosprezam o trabalho elaborado nos escalões de

iniciação, alegando que poucos serão os atletas desses escalões que

completarão todo o trajecto de formação até aos seniores, sendo aos poucos

rendidos por novas contratações. Achamos que embora se vá assistindo a isso

em vários clubes trata-se de um conceito errado.

Podemos comparar o processo de formação a uma pirâmide, ou seja, de um

lote alargado de atletas na iniciação (cada vez mais precoce), partimos para

uma diminuição do número de atletas em termos de quantidade e para um rigor

e exigência cada vez maior à medida que se sobe de escalão em escalão.

Pelo caminho do futebol de iniciação para o futebol de especialização e alto

rendimento, vários serão os atletas que vão ficando pelo caminho, através da

selecção e escolha dos responsáveis e em confronto com a exigência e a

concorrência.

É aqui, aliás, que ganham destaque os departamentos de prospecção que vão

procurando referenciar e contratar os melhores. Contudo, e para que tal

pirâmide possa vir a encurtar até ao topo mantendo o critério da qualidade, é

necessário termos uma base alargada e cada vez mais recheada de talento.

Deste modo teremos maiores hipóteses da obtenção de padrões de qualidade

conseguindo-se economizar dinheiro em “transferências” que vão sendo cada

vez mais exigentes financeiramente à medida do crescimento etário dos

atletas.

Além disso, também só apostando forte nos escalões de iniciação é que se

conseguirá um trabalho de base qualitativo e em antecipação aos rivais mais

directos, visto encontrarmo-nos numa “era de competição” no que à

prospecção diz respeito. Os escalões de iniciação devem ser entendidos como

uma fonte de recursos de onde se extrairá qualidade podendo adicionar-se um

Page 46: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

28

ou outro elemento que venha fortalecer o grupo, de forma a se conseguir obter

equipas competitivas com jogadores ajustados ao perfil que desejamos

De qualquer modo, e como todos sabemos é importante não perder de vista o

conceito do conhecimento da existência do “falso positivo” (Simões,L, 1998) -

jogadores que indicam talento mas que por aspectos de vária ordem não o

confirmam, e do “falso negativo” (Simões , L, 1998) - jogadores que não

revelam rapidamente talento mas que posteriormente em determinadas

condições exteriorizam toda a sua capacidade, sendo que neste caso é preciso

manter um processo apertado de monitorização constante sobre a evolução do

atleta nas suas diferentes etapas da formação, de modo a não se perderem

jogadores de grandes capacidades.

Sobejam os exemplos de atletas “falsos negativos” com expoente máximo na

nossa selecção nacional presente no Campeonato Mundial na Alemanha -

2006, onde avultaram jogadores que nunca foram internacionais nas camadas

de formação.

São os casos de Ricardo que obteve a sua primeira internacionalização no dia

2 de Junho de 2001, no jogo República da Irlanda 1 x 1 Portugal - sendo

seleccionador António Oliveira, quando tinha 25 anos (1976-02-11); de Miguel

que obteve a sua primeira internacionalização no dia 12 de Fevereiro de 2003

no jogo - Itália 1x 0 Portugal - sendo seleccionador Filipe Scolari, quando tinha

23 anos (1980-01-04); de Petit que obteve a sua primeira internacionalização

no dia 2 de Junho de 2001 no jogo - República da Irlanda 1x1 Portugal, sendo

seleccionador António Oliveira ,quando tinha 24 anos (1976-09-12); de

Costinha que obteve a sua primeira internacionalização no dia 14 de Outubro

de 1998 no jogo Eslováquia 0x3 Portugal - sendo seleccionador Humberto

Coelho, quando tinha 24 anos (1974-12-01) e de Pauleta que obteve a sua

primeira internacionalização no dia 20 de Agosto de 1997 no jogo Portugal 3x1

Arménia sendo seleccionador Artur Jorge, quando tinha 24 anos (1973-04-28).

A estes jogadores podemos ainda juntar Paulo Ferreira e Tiago que só foram

internacionais na selecção Sub-21.

Page 47: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

29

Para se realçar ainda mais a importância de um processo rigoroso de

monitorização da evolução do jovem atleta podemos ainda referir os casos de

Pauleta e de Costinha que acabaram por encontrar condições de alto

rendimento em equipas estrangeiras com a particularidade de nunca antes

terem actuado em equipas de Primeira Divisão Nacional.

Embora não seja objecto deste estudo seria curioso verificar e relacionar o

destaque das potencialidades destes atletas dentro do intervalo que Garganta

(1986) classifica como etapa das performances máximais (18-26 anos),

“exploração máxima das capacidades de altas performances”.

É evidente que há aqui algum grau de incerteza, de falibilidade, já que mesmo

que haja uma “matriz optimizada de indicadores”, que permita a detecção e

selecção de talentos há um factor relevante em todo este processo, que não é

possível medir - a aposta, por vezes intuitiva, que o treinador faz em

determinado jogador e o encaixe das suas características na forma de jogar da

equipa, bem como a “carência” para determinada posição que a equipa sénior

demonstre. Nunca um jogador pode mostrar as suas potencialidades se não

jogar, se não encontrar condições para exteriorizar as suas qualidades.

Daí a importância da “cultura do clube”, emanada pelos seus dirigentes.

1.4.2.1 - Algumas considerações sobre uma eventual

“Matriz de Indicadores”

A construção desta matriz envolve conceitos que conciliem as características

individuais com as características colectivas, isto é, embora ela revele

indicadores através dos quais podemos caracterizar as qualidades individuais

do atleta, ela também não pode deixar de repercutir a essência colectiva do

futebol, procurando indicadores que possam medir a “reacção colectiva” do

atleta.

Deveremos ir à procura de uma matriz que nos indique um conjunto de

aptidões no domínio técnico (passe, drible, remate, …) do táctico (leitura do

Page 48: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

30

jogo, posicionamento, …), nas capacidades condicionais (velocidade - reacção,

execução e deslocamento, força e resistência) e capacidades psicológicas

(concentração, determinação, liderança, …).

Uma equipa de futebol tem de ser considerada como um todo, em que os

jogadores não perdem ou ganham o jogo individualmente, mas antes têm de

servir a equipa com o seu jogo individual.

Logo que começa o jogo, cada jogador deve encarregar-se de determinadas

tarefas, contribuindo assim para manter a ordem, o ritmo e a coordenação do

jogo. O futebol moderno, tal como é jogado actualmente, exige de todos os

jogadores em campo, capacidade de ataque e de defesa, sem que o jogador

deixe, de desempenhar a tarefa específica que lhe foi atribuída dentro da

equipa.

Concluída a caracterização pretendida para a matriz dos indicadores haverá

que definir quais são os testes indicados e a ponderação para a pontuação

destes mesmos indicadores.

A definição da bateria de testes, para algumas características (nomeadamente

físicas) e a observação nos treinos e competição para as outras características

(táctico-técnica e psicológicas) terá então de ser devidamente efectuada em

função do modelo de jogo referência definido, já que é sabido que a

valorização de algumas características terão maior ou menor significado em

função do que o modelo de jogo define para o jogador a nível individual e

colectivo.

Após a identificação das qualidades físicas, táctico-técnicas e psicológicas,

teremos de seleccionar e configurar os exercícios e as secções de trabalho

(treino e jogo) com os seus objectivos principais e secundários para facilitar o

controle e determinar o tipo de avaliação regular, e claro está, esta selecção de

objectivos deve ir ao encontro da filosofia de trabalho da equipa técnica e da

cultura do clube.

Sem pretendermos avançar mais no assunto, atendendo até a que para o fazer

haveria que na prática definir o modelo de jogo pretendido, não deixamos

contudo de referir a importância da consciência que em todas as situações de

Page 49: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

31

treino e de competição é possível correlacionar a observação de

condicionamento físico,táctico-técnico com o aspecto psicológico, basta atentar

a que quando se trabalha marcação, pode-se exigir uma agressividade positiva

no momento do pressing, para se manter a posse de bola além da mobilidade e

constantes desmarcações é preciso participação, solidariedade e

autoconfiança, para organizar é preciso liderança e facilidade de comunicação

e por exemplo quando se dribla exige-se velocidade de explosão e de reacção

e associa-se autoconfiança, criatividade e determinação.

Para concluirmos, referimos uma notícia do jornal “A Bola”, datado de 4 de

Fevereiro de 2003, onde se dá conta da entrega ao Futebol Clube do Porto de

um documento com 94 páginas, onde José Mourinho descreve não só o que

pretende com modelo de jogo universal - para todos os escalões - mas também

se detém sobre o papel de cada um dos jogadores no sistema eleito - o 4x3x3.

Diz o jornal:

“Aquele que pode ser considerado a bíblia do futebol azul e branco, Mourinho

dá o título de “Visão … modelo - filosofia de jogo, cultura de jogo.”

“Este documento procura de forma objectiva definir o modelo de jogo com que

me identifico, assim como os respectivos princípios inerentes ao mesmo. O

meu objectivo é que todos os técnicos do clube saibam objectivamente as

ideias chaves que lideram todo o processo de construção da equipa principal e

assim possam objectivar o trabalho de formação dos jogadores compatíveis

com as nossas necessidades.”

Considera que também ao nível da prospecção e análise este documento pode

ser “um auxiliar importante pela especificação das características pretendidas”.

Diz ainda o jornal:

Em letras bem gordas, para sublinhar a importância, fica-se a saber que a

filosofia “é tão importante como a equipa” e que a ideia de equipa “é mais

importante que um jogador” para se concluir que os jogadores “têm a obrigação

de cumprir e defender a ideia do clube”.

Page 50: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

32

1.4.3 - Definição de Modelo de Jogo de Referência

O modelo de jogo é a concepção de jogo do treinador, isto é, a forma como os

jogadores reagem individual e colectivamente às várias situações que o jogo

vai oferecendo.

É a definição dos vários princípios de jogo que nos leva à nossa forma de

jogar.

“O processo de modelação é elaborado em função de uma determinada

concepção de futebol que é a do treinador, mas ao mesmo tempo deve ter em

conta a concepção de jogo que os jogadores têm na cabeça.” (Carvalhal, 2002)

Sendo assim, também podemos afirmar que o modelo de jogo encerra em si

um conjunto de interdependências vinculativas entre os jogadores,

materializadas por automatismos adquiridos no treino, em função de uma

estratégia assente em mecanismos tácticos inerentes aos princípios de jogo,

definidos pela concepção de jogo do treinador.

Por isso é consensual afirmar que a cada modelo de jogo corresponde uma

metodologia de treino diferente.

No futebol tal como nas outras modalidades dos jogos desportivos colectivos a

concepção da forma de treinar em função do modelo de jogo, assume uma

importância fulcral na eficácia das equipas, levando a que cada vez mais se

fale na especificidade do treino.

Atente-se na afirmação de Mourinho (Oliveira, B; Amieiro, N; Resende, N &

Barreto, R, 2006):

“Como não me canso de repetir, o mais importante numa equipa é ter um

modelo de jogo, um conjunto de princípios que dêem organização à equipa.

Por isso, a minha atenção é para aí dirigida, desde o primeiro dia. As semanas

preparatórias incidem, de forma sistemática, na organização táctica, sempre

com o objectivo de estruturar e elevar o desempenho colectivo. As

preocupações técnicas, físicas e psicológicas (como a concentração por

Page 51: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

33

exemplo) surgem por arrastamento e como consequência da especificidade do

nosso modelo de operacionalização.”

O modelo de jogo que o treinador concebe deve ter sempre em linha de conta

as características dos jogadores que tem ao seu dispor, devendo para o efeito

fazer uma análise crítica prévia às capacidades dos jogadores, desde o nível

táctico-técnico até ao nível das capacidades condicionais (resistência, força e

velocidade) passando obrigatoriamente pela sua capacidade de interpretação

táctica do jogo.

A forma de interpretar o jogo por parte do jogador vai obrigá-lo à tomada de

consciência que a sua acção (individual e colectivamente) tem de estar

necessariamente ligada com o modelo de jogo concebido pelo treinador. A

expressão da acção individual só tem expressão se inserida no contexto da

acção colectiva.

Todos os elementos de uma equipa estão interligados - “Os modelos táctico-

técnicos devem reproduzir, de uma forma metódica e sistemática, todo o

sistema de relações que se estabelecem entre os elementos de uma dada

situação de jogo, definindo de uma forma precisa as tarefas e os

comportamentos táctico-técnicos exigíveis aos jogadores.” Queiroz (1986)

Reproduzimos, para melhor explicitação a definição de Leal e Quinta (2001)

sobre o modelo de jogo:

“Consiste na concepção de jogo idealizada pelo treinador, no que diz respeito a

um conjunto de factores necessários para a organização dos processos

ofensivos e defensivos da equipa, tais como: os princípios, os métodos e os

sistemas de jogo, bem como todo o conjunto de atitudes, de comportamentos e

de valores que permitam caracterizar a organização desses processos quer em

termos individuais quer, fundamentalmente, em termos colectivos da referida

equipa.”

Sobre este terceiro conceito básico de gestão - Definição de Modelo de Jogo

de Referência - formação do jogador específico para uma determinada forma

de jogar específica, concluiremos com uma afirmação de Co Adriansen

Page 52: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

34

enquanto coordenador técnico do sector de formação do Ajax de Amesterdão

contida numa entrevista ao jornal “O Público”, p: VI:

“Cada equipa joga da mesma forma, com o mesmo sistema dos profissionais.

À medida que vão crescendo, vão melhorando as suas capacidades para o

lugar que lhes foi destinado e quando tiverem 18 ou 19 anos, caso a equipe

principal do clube precise deles, estão prontos desde logo, a integrarem-se

sem estranharem a forma de jogar. Já sabem perfeitamente quais as tarefas

que têm de desempenhar. Ou seja, qualquer jovem chegado à primeira equipa

não tem qualquer problema de adaptação.

O jogo, o espírito e até o número das camisolas é o mesmo. A única diferença

reside nos resultados: nos jovens eles não tinham, como não têm, qualquer

importância. Ganha-se e perde-se. Que importa! Sobretudo joga-se.”

Mais elucidativo e explicativo não podia ser!

1.4.4 - Conceitos estratégicos e de organização - “cultura de clube”

Apresentam-se a titulo de amostragem alguns conceitos estratégicos da

formação dos três “grandes” do nosso futebol, complementados por relatos

publicados nos jornais diários, considerações que demonstram a importância

que os clubes de top vão dando a este sector, nomeadamente no que toca às

infra-estruturas de apoio ao treino.

1.4.4.1 - Sport Lisboa e Benfica

No jornal “O Jogo” de 10 de Outubro de 2005 ficamos a saber que:

“O Departamento definiu por outro lado claramente quais são os objectivos da

formação, o perfil do técnico e o perfil do atleta.

Page 53: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

35

Objectivos da Formação:

- Formar dois ou três jogadores por ano para o plantel principal;

- Formar jovens e atletas de forma qualificada;

- Aumentar número de jogadores internacionais;

- Criar hábitos de vitória;

- Reforçar cultura e mística do Benfica;

- Potenciar mais jovens talentos.

Perfil do Técnico:

- Com formação prática e cientifica;

- Ambicioso;

- Organizado;

- Jovem e Interventivo;

- Bom gestor de recursos;

- Espírito de liderança.

Perfil do atleta:

- Talentoso;

- Intelectualmente desenvolvido;

- Ambicioso;

- Com carácter;

- Com espírito de sacrifício;

- Responsável;

- Com motivação;

- Com espírito de liderança.”

Posteriormente, em 5 de Julho de 2007, o Jornal “ O Jogo” dá destaque à

conferência de imprensa da apresentação de Rui Águas para o cargo de

coordenador geral da prospecção:

Page 54: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

36

“Segundo Luís Filipe Vieira o Benfica vai encetar uma nova era na área da

formação dando especial atenção à prospecção, para isso contratou

recentemente uma antiga glória do clube, para o cargo de coordenador geral

da prospecção - Rui Águas”.

O Presidente do Benfica afirmava ainda:

“(…) tudo o que é feito é pensado com alguma profundidade e por isso um dos

aspectos que se teve em consideração foi a formação, mais concretamente a

área vocacionada para a descoberta de novos talentos. Havia uma lacuna,

para nós bastante importante, que era a ponte, em termos de prospecção, de

ter um coordenador geral na prospecção do Benfica.”

1.4.4.2 - Futebol Clube do Porto

O F.C. Porto deu inicio a um projecto global de transformação do futebol do

clube a que deu o nome de “Projecto Visão 611”, projecto esse que procura

estabelecer uma visão única desde as camadas jovens até à equipa principal,

não só a nível de modelo desportivo mas também nos diversos detalhes

respeitantes à organização.

Formar atletas à imagem do F. C. Porto, é o lema do projecto de cinco anos

que vai uniformizar os métodos de trabalho e de funcionamento do futebol do

clube, fazendo da formação uma fonte de talentos da equipa principal, sendo “obrigatório” a integração de dois ex-juniores no plantel sénior no inicio de cada temporada.

Pode ler-se no jornal “O Jogo de 10 de Outubro de 2006:

“Uniformizar métodos de trabalho e de funcionamento são factores que se

consideram determinantes no projecto. A ideia é aplicar uma filosofia única

desde as camadas jovens até à equipa principal, não só a nível de modelo

desportivo mas também nos diversos detalhes respeitantes à organização.

Numa divisão vertical, serão criados dois blocos: um englobando os atletas e

técnicos dos diversos escalões e outro dos diversos departamentos de apoio,

Page 55: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

37

comuns a todos eles”, mais à frente refere-se ainda “Para viabilizar essa

aposta, este projecto define os alicerces de dois núcleos indispensáveis: o

desportivo e o pedagógico. O primeiro estruturado nas diversas equipas

técnicas responsáveis por cada escalão; o segundo englobando uma série de

profissionais capazes de garantir um acompanhamento próximo de vertentes

extra-desportivas, incontornáveis na faixa etária da formação. O objectivo

passa por formar atletas à imagem do F. C. Porto”.

De forma a operacionalizar toda esta estratégia o documento aponta como

fundamental a construção de um novo centro de treinos como refere o jornal

“O Jogo de 10 de Outubro de 2006:

“ (…) entende-se como importante a construção de novo centro de treinos,

exclusivamente destinado às camadas de formação até ao nível dos Sub 14”.

O projecto aponta como uma das suas vertentes principais a prospecção.

Dentro do “Visão 611” a área de Scouting apresenta-se como uma das mais

complexas de todo o plano, uma vez que existem quatro fases crescentes de

observação e análise: Scout local, Scout master, Scout residente e treinador.

O objectivo está traçado, sendo que dos Sub-15 até à equipa principal, o

departamento de prospecção será responsável por formar um onze (um

jogador por posição) para cada um dos escalões de formação, sendo essa uma

listagem a que o clube recorrerá sempre que pretender contratar um jogador

para determinada posição.

1.4.4.3 - Sporting Clube de Portugal

Como exemplo de sucesso no nosso país iremos agora referir alguns dados

revelados nos jornais diários sobre o Sporting Clube de Portugal que sustentam

tudo o que atrás vem sendo referido para as camadas de formação e o seu

respectivo aproveitamento.

Page 56: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

38

Começaremos por reproduzir afirmações de José Bettencourt, administrador da

SAD ao Jornal A Bola em 28 de Outubro de 2003:

“A criação das SAD foi um passo que será determinante para a evolução do

futebol profissional. Para que isso aconteça é fundamental que esta actividade

seja caracterizada pelos objectivos que lhes estão subjacentes: rigor,

transparência perante a sociedade e o mercado, igualdade de deveres e

direitos dos agentes do futebol, profissionalismo e lealdade concorrencial. Os

números da SAD são muitas vezes apresentados segundo interpretações

apocalípticas e derrotistas. Na verdade, as SAD que actuam segundo os

mecanismos controláveis de mercado transmitem, pela primeira vez, a

realidade do futebol e, ao fazê-lo, traçam um diagnóstico mediante o qual é

necessário agir para inverter as tendências e procurar soluções realistas de

forma a aproveitar o imenso potencial desta indústria. Na Sporting SAD

conhecemos hoje como nunca a realidade com que nos defrontamos. Daí que

nos sintamos em condições para operar segundo direcções vocacionadas para

a nossa realidade de mercado e tradições desportivas, designadamente a

aposta forte e metódica na formação e um nível de competitividade que nos

permita a luta permanente pelo título e a presença cada vez mais visível na

Europa”.

Continuamos reproduzindo uma secção do Jornal “O Jogo” de 16 de Junho de

2006 intitulada “ 3 questões, 3 respostas” numa entrevista a Aurélio Pereira,

reconhecidamente um dos homens fortes da formação em Portugal

actualmente com o cargo de Director do Gabinete de Prospecção do Sporting:

Pergunta: “O Sporting sempre lançou diversos jogadores na equipa principal,

mas anteriormente, estes tinham currículos bem mais modestos. O que se

alterou entretanto?”

Resposta: “Toda a filosofia do clube se foi alterando para melhor com o correr

dos anos, e hoje temos mais e melhores condições para trabalhar. A

Academia é espelho disso mesmo. No passado, tínhamos já grandes

jogadores, mas a estrutura era outra. Além disso, o apoio do clube tem sido

fundamental”

Page 57: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

39

Pergunta: “Em ano de centenário, os únicos triunfos em futebol vieram

precisamente das categorias de formação……”

Resposta: “É um facto, mas não se deve misturar o desempenho dos jovens

com o dos profissionais. São mundos completamente diferentes. O que há

aqui é o sucesso de toda uma estratégia, uma filosofia adoptada pelo

clube, virada para a formação, e que está a dar, naturalmente, os seus

frutos. É só.”

A importância da estratégia do Sporting vem destacada também por José

Eduardo Bettencourt, no jornal “ O Jogo” de 2 de Outubro de 2006:

“Quando foi inaugurada a Academia, saiu um documento a dizer que 60 por

cento do nosso plantel seria oriundo da formação, causando polémica, O

Sporting há muitos anos que tem gente com capacidade no sector.

Simplesmente, o nosso centro de futebol trouxe outros níveis de

consciencialização.”

Ainda sobre a importância da estratégia refere-se Jean Paul no jornal “O Jogo”

de 12 de Novembro de 2006:

“Mas a explosão de talentos está a dar-se agora, porque só agora existe uma

“uma verdadeira aposta com estratégia”. Antes podia falar-se apenas em

futebol juvenil. Só mais recentemente começa a haver formação de facto, como

prática regular, organizada e sistematizada.”

A aposta é declarada e a estratégia empresarial assenta na formação. A

formação de novos jogadores é o pilar determinante de todo o edifício

desportivo.

A construção da Academia de Alcochete insere-se nesta estratégia e os

retornos são bem visíveis.

Desde que as camadas de formação trabalham na Academia, época de 2002-

2003, o futebol de formação somou nove títulos em quinze possíveis e oito em

doze possíveis nos últimos quatro anos, nas camadas de juniores A, Juniores B

(Juvenis) e Juniores C (Iniciados).

Page 58: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

40

Tendo presente que o trabalho de formação repercute-se no aproveitamento

para os seniores, também aqui, e fundamentalmente aqui, já que não é

necessário ser campeão das camadas de formação para que haja um bom

aproveitamento, o Sporting é um bom exemplo da “ cultura de um clube”.

Aliás, apesar de ser quase sempre campeão de todos os escalões jovens

(desde a inauguração da Academia), o conceito chave continua balizado na

formação de atletas para o conjunto principal.

Para não irmos muito atrás ao tempo de Figo, de Peixe e de Simão, por

exemplo, apresentaremos desde 2001/02 o nome dos jogadores formados no

clube que fizeram parte dos respectivos plantéis:

2001/02- Beto, Nuno Santos, Quaresma, Hugo Viana, Diogo ( Gisvi, Jorge

Vidigal, Lourenço, Custódio e Santamaria, embora não fazendo parte do plantel

foram sendo utilizados esporadicamente);

2002/03 - Beto, Carlos Martins, Ronaldo, Quaresma e Nuno Santos;

2003/04 - Beto, Lourenço, Custódio, Miguel Garcia, Carlos Martins e Paulo

Sérgio (Santamaria foi utilizado esporadicamente);

2004/05 - Beto, Miguel Garcia, João Moutinho, Carlos Martins, Custódio e Hugo

Viana;

2005/06 - Beto, André Marques, Miguel Garcia, João Moutinho, Carlos Martins,

Nani, Custódio, Semedo e Caneira (Tomané e David Caiado foram utilizados

esporadicamente);

2006/2007 - Miguel Garcia, Rui Patrício, João Moutinho, Ronny, Y.Djaló,

Pereirinha, Nani, Custódio, M. Veloso, Caneira e Carlos Martins;

2007/ 2008 - Rui Patrício, João Moutinho, Ronny, Y. Djaló, Pereirinha,

M.Veloso, Adrien Silva, Luís Paez e Paulo Renato;

2008/2009 - Rui Patrício, João Moutinho, Ronny, Y. Djaló, Pereirinha,

M.Veloso, Adrien Silva, Daniel Carriço, Caneira.

Page 59: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

41

Todo o sucesso do processo de formação do Sporting fica bem patente na

relação de jogadores que estiveram presentes nas duas últimas manifestações

desportivas internacionais.

No Mundial de 2006 estiveram presentes oito jogadores formados no Sporting -

Miguel, Caneira, Nuno Valente, Hugo Viana, Figo, Simão Sabrosa, Cristiano

Ronaldo e Luís Boa Morte.

No Europeu de 2008 voltaram a estar presentes outros oito jogadores formados

no Sporting - Rui Patrício, Miguel, Miguel Veloso, João Moutinho, Simão

Sabrosa, Ricardo Quaresma, Nani e Cristiano Ronaldo.

Refira-se também que com as vendas de Simão, Hugo Viana, Ronaldo e

Quaresma a SAD arrecadou 48 milhões de Euros, e mais recentemente

arrecadou mais cerca de 25 milhões de euros com a venda de Nani, mantendo

o nível de competitividade e até alcançando maiores êxitos que nos anos

anteriores.

O Jornal “Record” de 12 de Novembro de 2006 traz à estampa afirmações que

demonstram o rumo da aposta:

Jean Paul - Coordenador Técnico de Formação

“Depois de Futre, os anos 90 lançaram Figo e seguiu-se Cristiano Ronaldo.

Mas a explosão está a dar-se agora, porque só agora existe uma verdadeira

aposta com estratégia, antes podia falar-se apenas em futebol juvenil. Só

mais recentemente começa a haver formação de facto, como prática regular,

organizada e sistematizada.”

E ainda “O nosso objectivo é formar jogadores de alto nível para a equipa

profissional. Para quem está aqui é um factor de motivação.”

José Manuel Torcato - Director do Futebol de Formação

“O Sporting com a construção da Academia, potenciou as suas capacidades

para melhor formar, apostando na profissionalização dos quadros técnicos e

em infra-estruturas de qualidade. Hoje, o futebol de formação, para nós, faz

sentido porque todos trabalham para que os jovens possam integrar na equipa

principal.”

Page 60: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

42

Ou outra afirmação de realce na mesma altura:

“É evidente que dá despesa. Mas não é encarado, nem pela própria

Administração, como tal. É encarado, antes, como investimento que se

pretende tenha retorno, quer a nível desportivo quer a nível financeiro.”

Parece-nos também relevante a entrevista de Filipe Soares Franco ao Jornal

“O Jogo” de 17 de Janeiro de 2007:

“O Jogo - É critica recorrente nalguns sectores do universo leonino: A

actividade de referência do Sporting não é devidamente pensada e gerida.

Afinal o futebol profissional tem ou não uma identidade? Vive ou não de acordo

com uma politica bem definida?

F.S.F. - O clube não só tem identidade, como tem uma estratégia própria.

Dizer-se o contrário é uma tremenda asneira. Aliás olhando para o panorama

do futebol nacional, o Sporting é quem tem uma estratégia melhor definida a

médio e longo prazo - e não é de hoje, é muito anterior à minha presidência. É

aí que entra a aposta na formação. O clube não pode ultrapassar um “x” de

despesa salarial na sua equipa de futebol profissional, e isso só se consegue

tendo, no plantel, um conjunto significativo de jogadores - que pode variar entre

40 e 70 por cento - oriundos das camadas jovens. Para isso, fizemos a

Academia. Investimos na formação e prospecção, criamos escolas de

jogadores, etc. Com esta politica, temos talentos a baixo custo e, depois,

podemos realizar mais valias substantivas se, um dia, os vendermos, quando

eles tiverem entre 20 e 23 anos. Esta estratégia custa-nos 1,5 milhões de euros

por ano.

O Jogo - É muito?

F.S.F. - Só não o é no futebol, porque, em qualquer outra actividade

empresarial ou pessoal, é muito, muito dinheiro. Como dirigentes, temos de ter

a sensibilidade de perceber que também no futebol é muito dinheiro.

O Jogo - Uma aquisição sonante pode sair mais cara….

F.S.F - Mas é um investimento e, como tal, tem tempo de amortização. Quando

falo de 1,5 milhões de euros de custos com a formação, falo do resultado de

Page 61: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

43

um ano. Multiplicado por quatro ou cinco anos dá seis ou sete milhões e meio.

Portanto é preciso ter isto na justa medida do seu peso. E o importante é que o

Sporting tem de ganhar dinheiro. Nenhuma empresa consegue investir se não

tiver fluxos de caixa positivos. E é isso que, em termos empresariais tem de ser

percebido: o futebol português só dará um salto qualitativo se tiver fluxos de

caixa positivos e se puder investir - e com isso, crescer. Se perder dinheiro,

obviamente não terá capacidade de investimento, não poderá ser bom, e os

talentos sairão todos de Portugal. O que nós queremos, é que eles fiquem cá,

para que o espectáculo seja cada vez melhor. Só sendo melhor é que poderá

ter mais assistência, e só assim valerá mais dinheiro e poderá crescer. A

cultura empresarial tem de ser psicologicamente aceite pelos dirigentes do

nosso futebol.

Para concluir daremos conta da entrevista de Agostinho Oliveira, técnico da

F.P.F. na rubrica “ 3 questões 3 respostas” do jornal “ O Jogo” de 20 de

Fevereiro de 2006:

“O Jogo - O Sporting aproveita bem os produtos da formação?

Agostinho Oliveira - Sem dúvida. É de enaltecer o valor colectivo do trabalho do

Sporting. Tratam da vertente que vai para além da formação, corrigindo alguns

desvios que aconteciam no passado, em termos de formação humana,

académica e social. A Academia é ideal para isso. Trata-se de uma formação

integrada que possibilita também a formação humana e social, com o apoio de

uma estrutura competente.

O Jogo - A formação pode dar, além do rendimento desportivo, dividendos

financeiros?

Agostinho Oliveira - Hoje em dia a formação não é só directamente aproveitada

pelo clube, pois tem também importância nas mais valias que se podem obter.

É uma oferta ao mercado. O Sporting, por exemplo, tem conseguido o

equilíbrio financeiro aproveitando a formação.”

Por último devemos prestar atenção ao Relatório de contas da SAD na última

época de 2006/2007, que vem referido no jornal “Record” de 22 de Setembro

de 2007,onde transparece toda a “cultura de clube” e a sua estratégia, pois é

Page 62: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

44

destacado que em termos futuros as traves mestras do projecto leonino

passam por quatro itens: politica de detecção e desenvolvimento de novos

jovens jogadores de elevado potencial, equipa competitiva (com integração de

elementos das camadas jovens) que possa angariar mais receitas via Europa,

rigor financeiro na gestão do futebol, sobretudo ao nível de salários e

alargamento de número de Academias do clube.

1.4.5 - Criação de infra-estruturas ideais para o treino

Sendo este o objectivo final desta dissertação, iremos em busca de uma

fundamentação que nos leve a propor um modelo de concepção de um Centro

de Treino, nas linhas seguintes.

Antes de avançarmos para a proposta modelo vamos transcrever excertos de

uma entrevista de Agostinho Oliveira, coordenador das selecções de formação

da Federação Portuguesa de Futebol, ao Jornal “A Bola” de 11 de Março de

2008, onde fica retratada a oportunidade do tema e da relevância para a

formação dos jogadores que a construção de Centros de Treino representa:

“A Bola: Regressou à formação na FPF ao fim de quase 10 anos de ausência.

Que situação encontrou?

Agostinho Oliveira: Vim encontrar dificuldades, que não sentia quando estive

por aqui. Há uma realidade inconfundível: temos um espaço de recrutamento

substancialmente diminuto. Quando falamos nisto falamos sempre em termos

comparativos com as selecções dos outros países. E as realidades mudaram.

Ao nível do estrangeiro criaram-se infra-estruturas, que de alguma maneira

superam todas as nossas intenções. E penso que nem intenções temos. Não

podemos ficar reduzidos às alternativas das academias do Sporting, Benfica e

F. C. Porto.

A Bola: Aonde se nota mais a evolução dos países estrangeiros?

Agostinho Oliveira: Eles criaram uma capacidade infra-estrutural que lhes

possibilita uma evolução completamente diferente. O seleccionador inglês diz-

Page 63: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

45

me que em Inglaterra há 40 Academias e 56 Centros de excelência. Não sei se

estou a falar de enormidades mas isto é uma enormidade para nós. Ao nível de

quem nos cede a matéria-prima, nós não evoluímos. E no estrangeiro deram

passos em frente, os clubes construíram “ centros de excelência”,as

Academias. A Alemanha tem 4 Academias para o futebol feminino e quase 30

para o futebol masculino, a Áustria tem 8 e, como vão fazer o Campeonato da

Europa, a federação vai fazer mais cinco Academias.

A Bola: As infra-estruturas dos clubes, quando comparadas com as dos clubes

estrangeiros, ficam muito aquém….

Agostinho Oliveira: a realidade infraestrutural da grande maioria dos clubes

portugueses é melhor, mas não melhorou no ritmo e no espaço, de forma a

fazer-nos mais competitivos e com maior capacidade.

A Bola: Mas não era assim quando ganhávamos títulos?

Agostinho Oliveira: Muitos países não tinham descoberto toda a

potencialização que podiam efectuar na formação, através da criação das

academias e de “centros de excelência”. Em determinada altura fizeram-no e

todo o espaço de afirmação dessas selecções passou a ser diferente……

A Bola: O trabalho que atingiu a maior expressão com Carlos Queiroz está em

risco?

Agostinho Oliveira: Ninguém duvide, está mesmo em risco. Não é na qualidade

do jogador que está o mal. Estamos a discutir a realidade das infra-estruturas.

Há que recuperar, há que emendar esta situação.

A Bola: Emendar como?

Agostinho Oliveira: Através dos espaços competitivos. Para avançarmos temos

de apostar na qualidade do jogador mas temos de avançar com o suporte e

as infra-estruturas…”

Page 64: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

46

1.5 - Futebol - A necessidade e a especificidade dos locais de treino

Todos estamos de acordo que o fenómeno desportivo, especialmente o futebol

é um “mundo” em constante evolução.

Cada vez mais os jovens procuram a prática do futebol como forma de

afirmação e realização pessoal - sucesso e dinheiro - não resistindo à

massificação dos “media” e à consequente mitificação e personificação dos

seus ídolos.

O futebol é sem sombras de dúvidas, no nosso país e não só, a modalidade

desportiva que dispõe de mais praticantes, com reflexo notório no

aparecimento de uma nova realidade nos nossos clubes, onde todos ou quase

todos começaram a prestar atenção a todas as camadas de formação, sendo

caso raro aqueles que, mesmo os de dimensão local, não dispõem de todos os

escalões etários em competição, isto é, escolas, infantis, iniciados, juvenis e

juniores.

Perante estes “novos dados”, haverá que arranjar “novas soluções”.O número

de atletas de cada clube, alterou substancialmente para números que tornam

incompatível todo e qualquer processo de treino, mesmo que com optimização

de horários, pois não existem espaços de treino que comportem a

simultaneidade da ocupação dos espaços disponíveis. Se atentarmos nos

escalões vigentes teríamos pelo menos cinco planteis das camadas de

formação, mais o plantel da equipa de seniores para treinar durante a semana.

Ora, o que acontece, na realidade é que começa a ser vulgar as equipas

disporem de duas equipas por escalão de competição, permitindo competição

regular, tanto aos jogadores do 1º ano, como aos jogadores do 2º ano, como se

convencionou chamar.

Estamos portanto em presença de um problema que começa por ser um

problema de compatibilização de quantidade de atletas para treinar com o

espaço disponível para o fazer.

Page 65: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

47

É neste contexto, que amiúdes vezes, lemos afirmações de treinadores das

camadas de formação, lamentando-se que só podem treinar em meio campo e

por um número de vezes que não consideram suficientes à evolução e

aprendizagem dos jogadores.

Se por um lado, este incremento do número de praticantes resulta da procura

cada vez maior do jovem pelo futebol, também não é menos verdade que

existe uma maior consciencialização dos nossos clubes de que é fundamental

à sua existência a aposta forte e estratégica na formação de jovens jogadores.

Vivemos num tempo em que os reflexos da “lei Bosman” são por demais

evidentes, nomeadamente na falta de argumentos económicos que os nossos

clubes demonstram perante clubes de alguns países da Europa.

Todos os anos assistimos ao êxodo dos nossos melhores jogadores, agora até

já de tenra idade, para campeonatos de outros países, deixando o”nosso

campeonato” cada vez mais esvaziado de competitividade e portanto gerador

de menores receitas.

Daí que actualmente, seja pacífico afirmar que uma das soluções para procurar

o equilíbrio da não manutenção dos melhores em cada ano, e de não

dispormos de capacidade financeira para a aquisição de “craques”, seja o

investimento na formação de jogadores.

Haverá portanto que definir uma estratégia qualificada de formação dos

jogadores, dedicando especial atenção aos conceitos que devem encerrar a

gestão da formação, de forma que nos permita aumentar a qualidade dos

nossos jogadores.

É neste enquadramento que surge a necessidade da concepção e construção

de infra-estruturas desportivas que conciliem o binómio da quantidade de

atletas com a especificidade do treino.

Urge assim, a criação de espaços que proporcionem melhores condições de

treino, não só aos intervenientes no processo de formação de jovens atletas,

como também claro está, à equipa profissional.

Page 66: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

48

Por um lado, os clubes terão de construir espaços de treino coadunados com o

número de atletas que precisam de treinar e por outro lado esses espaços de

treino devem reflectir as especificidades inerentes ao processo de treino.

Assim, neste âmbito, este estudo pretende ser uma contribuição para a

concepção de futuros Centros de Treino que possam responder às reais

necessidades de todos os intervenientes no processo de treino.

Como se verifica nos itens anteriores, o espaço destinado a treinos da prática

de futebol deve dar resposta ás reais e específicas necessidades de todos os

agentes desportivos neles envolvidos, essencialmente jogadores e treinadores

e/ou formadores de forma a que se venha a maximizar a qualidade e o

rendimento do treino desportivo.

1.6 - Concepção, tipologia e gestão dos Centros de Treino

Depois de conhecidas as características dos Centros de Treino “visitados”,

conhecidas também as ideias fundamentais dos gestores dos Centros de

Treino do Sporting C. P. e do F. C. Porto e a opinião de alguns treinadores e

coordenadores técnicos das camadas de formação, estaremos em condições

de apresentar uma proposta modelo de concepção dos Centros de Treino,

entendidos como locais destinados e apropriados para a prática do

treino/aprendizagem em futebol.

Esta proposta só se prenderá com os aspectos relacionados com os espaços

de trabalho táctico-técnico, leia-se campos de aprendizagem/treino/jogo.

Os outros espaços complementares essenciais para todos os Centros de

Treino (equipamentos de apoio, hotelaria e restauração, recuperação física,

zonas de lazer, imprensa, …), não são objecto deste estudo.

A proposta pretende dar sugestões para a concepção de Centros de Treino,

concretizando o que se considera como o mínimo das condições logísticas

para uma eficaz gestão do processo de formação do atleta de alto rendimento.

Page 67: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

49

Não pode nunca, contudo, esta proposta modelo deixar de reflectir a dimensão,

o estatuto e a estratégia dos clubes.

Sendo assim faremos algumas considerações sobre aspectos que a bibliografia

nos aconselha a tratar

1.6.1 - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação

nos Centros de Treino

O Centro de Treino preconizado nesta proposta deverá por em confronto na

sua concepção e tipologia as vantagens e as desvantagens de o mesmo

espaço ser um espaço de treino destinado ou não a todos os escalões do

clube.

Como poderemos verificar existem alguns eventuais aspectos negativos, dos

quais se destacam logicamente a distância aos centros urbanos, para os

escalões de iniciação, resolvida a partir da mesma solução preconizada hoje

em dia para alguns escalões mais adultos, isto é, através de transporte

fornecido pelo clube em pontos estratégicos de interesse dos atletas.

Não entrando em linha de conta com a superfície necessária a tal opção e às

eventuais dificuldades financeiras de aquisição e até de localização e orografia,

algumas apostas têm sido feitas num Centro de Treino que congregue todos os

escalões do clube desde a iniciação até ao futebol profissional, com a

necessária preocupação de criar zonas estanques de forma a que o futebol

profissional possa trabalhar com o recato que justifica e por outro lado com o

incentivo à criação de espaços de contacto e de convívio entre todos os

agentes do clube.

Fica patente que essa solução é propicia a que a identidade do clube saia

nitidamente reforçada, consubstanciando-se numa maior proximidade entre

todos aqueles que “fazem” o clube, com o consequente aumento das sinergias

entre a Formação e o Futebol Profissional, destacando-se naturalmente os

aspectos de motivação daqueles que pretendem atingir o profissionalismo

Page 68: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

50

através da visualização e contacto com os seus ídolos, além das objectivas

vantagens de optimização de meios e recursos humanos provocada pela

concentração de toda a actividade desportiva, da troca de experiências de

todos os agentes desportivos do clube gerando um sentimento de cumplicidade

e de partilha de objectivos que reforçará a “cultura de clube” e o aparecimento

daquilo a que se convencionou chamar de mística.

Atente-se nas afirmações de Arrigo Sacchi ao site do Real Madrid quando era

director técnico do clube, em 21 de Abril de 2005:

“Há que estar em permanente contacto com todos os técnicos do clube para

controlar as treze equipas da cantera. Neste momento estou seguindo mais a

primeira equipa e as equipas B e C, mas estou continuamente em contacto

com as outras equipas para seguir as suas evoluções e conhecer o seu

trabalho diário. Neste sentido, também quando começarmos a trabalhar em

Valdevebas (novo Centro de Treinos) nos ajudará mais a todos para estar mais

perto de todas as equipas”.

1.6.2. - Especificidade dos espaços dos Centros de Treino

A leitura atenta da bibliografia mostra-nos que neste aspecto existem várias

opções na concepção e tipologia dos Centros de Treino. Encontramos

referências a espaços específicos para treino quer no que diz respeito à

especificidade da função do jogador (Guarda-redes), quer nos objectivos do

treino - como é o caso de um espaço fechado - “gaiola” - principalmente para

trabalhar com miúdos em idades de aprendizagem (maior contacto com a bola

provocando motivação) ou para trabalhar a agressividade e a intensidade nos

escalões mais adultos como é o caso das equipas italianas, ou até na

existência de um espaço coberto.

No que toca especialmente aos jovens em idades de iniciação acreditamos que

deverá haver uma zona diferenciada de forma a solicitar os jovens em espaços

de várias dimensões e diferentes tipos de piso, concebida com a preocupação

Page 69: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

51

de disponibilizar espaços reduzidos, eventualmente limitados por paredes

(gaiola) de forma a dar continuidade ao jogo e aumentar a motivação, de

maneira a proporcionar aos jogadores um maior número de vezes que

contactam com a bola, facilitando assim a aprendizagem, pois tendo mais

tempo com a bola vão melhorando as habilidades técnicas, através de

sucessivos passes, condução, dribles e remates e por outro lado também vão

sentindo e aprendendo a forma de se relacionarem com os colegas e os

adversários.

Estes espaços devem ir progressivamente aumentando de dimensão em

relação com o número de atletas por equipa em face da análise do grau de

maturação da aprendizagem.

Tal como referem Garganta e Pinto (1994), nesta etapa de formação o jogo tem

de ser ensinado e aprendido em espaços reduzidos, com um menor número de

jogadores, de modo a permitir-lhe uma melhor percepção e entendimento do

jogo, através do maior acerto nas suas acções, do maior número de contactos

com a bola, do maior número de situações em que obtém situações de

finalização (golo), provocando-lhe assim um aumento de prazer na prática

desportiva.

Há aqui que procurar uma solução que procure a restituição o mais próximo

possível dos espaços do “futebol de rua”, com todas as vantagens inerentes

referenciadas por vários autores, jogadores e treinadores.

Atente-se por exemplo na importantíssima afirmação de Klinsman (reputado

jogador e treinador do Bayern de Munique) durante o último Congresso

Internacional de Futebol realizado no Rio de Janeiro em 2005, quando

questionado sobre as razões do declínio da qualidade do futebol alemão,

apontou dois factores com predominância para o primeiro - o fim do futebol de

rua :

“(…) o fim do futebol de rua enfraqueceu a Alemanha…hoje as nossas crianças

jogam futebol enquadradas por tácticas e resultados em escolas e clubes - e a

Lei Bosman que abriu os principais campeonatos a estrangeiros que acabam

Page 70: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

52

por travar a ascensão de alguns jogadores. O mais importante e influente factor

é o primeiro.”( O Jogo - 2 de Dezembro de 2005)

1.6.3 - Espaço de competição com bancadas nos Centros de Treino

Pretende-se poder concluir que há várias vantagens na existência de um

espaço de competição com bancadas para o público com capacidade variável

em função do tipo de clube e tradições no que toca à afluência aos jogos das

camadas de formação, destinado às competições dos jovens, com incidência

especial nos escalões de Iniciados, Juvenis e Juniores.

Toda a literatura nos ensina a pensar ser importante que o atleta à medida que

se aproxima dos escalões de competição/ rendimento, comece a sentir o “peso

do público”, se aproxime cada vez mais do clima de pressão com o qual terá de

viver. Por outro lado provoca-se assim um maior contacto com os adeptos,

além é claro de todas as vantagens logísticas inerentes quer às deslocações

quer aos custos de organização dos jogos.

1.6.4 - Número ideal de campos - Relva natural / Relva sintética

Resta-nos abordar a questão do número ideal de campos e as características

do piso a adoptar.

Quanto ao número de campos a questão é obviamente dependente de outros

factores, mas acreditamos que se possa estabelecer um número ideal mínimo

que garanta as condições para que seja possível em situações climatéricas

adversas não prejudicar o esquema de utilização necessário ao programa de

treinos.

Como também fica evidente na leitura da literatura, é ainda necessária a

distinção entre os pisos de relva natural e os pisos de relva sintética.

Page 71: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

53

Apesar da crescente evolução tecnológica que se tem revelado na qualidade

dos pisos de relva sintética a verdade é que o futebol profissional se

desenvolve na sua esmagadora maioria em pisos de relva natural.

Procuraremos concluir sobre qual o tipo de piso aconselhável para as camadas

de formação, encontrando resposta para o espaço de competição das camadas

de formação, em especial para os escalões de Juniores (especialmente) e de

Juvenis que hoje em dia são considerados pré-profissionais.

A literatura indica-nos que são precisos pelo menos dois campos de relva

natural para o treino da equipa profissional, e que a sua concepção deve ter em

conta a sua disposição facilitando claramente a gestão da manutenção dos

espaços de relva utilizados em função das sobrecargas e das condições

climatéricas.

Haverá que definir outros espaços de competição para as restantes equipas da

formação, pelo que em face do que se conhece torna-se necessário um espaço

de treino e competição em relva sintética atendendo à evidente sobrecarga de

utilização para as camadas de formação que competem no futebol de 11.

Para as escolas, embora ainda não haja uniformidade nos campeonatos em

termos de só se jogar futebol de sete, haverá que definir um espaço de

competição para o efeito, havendo a utilização da marcação do campo de

futebol de 7 inscrito no campo de futebol de 11, com a utilização dos pisos de

relva sintética e do pelado de terra batida.

Posto isto vamos em busca daquilo que já existe em termos de Centros de

Treino em alguns países criteriosamente escolhidos.

1.7 - Pesquisa e Caracterização de Centros de Treino

Vamos através da Internet, na sua grande maioria, e pessoalmente em alguns

casos fazer uma visita aos centros de treino de alguns clubes de futebol do

Mundo.

Page 72: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

54

A escolha dos países a visitar assenta num critério de “latinidade”, isto é, numa

certa forma semelhante de jogar, ou pelo menos de tratar a bola, decorrente de

determinada forma de entender o futebol, a que vulgarmente se tem chamado

futebol latino.

A nossa procura recai então numa determinada “escola” de futebol onde

impera o futebol de passe curto, com muitos apoios, boa capacidade técnica,

muita posse de bola, envolvência de muitos sectores na construção das

jogadas ofensivas, resultado da combinação entre o futebol brasileiro e o

futebol de alguns países latinos da Europa (Portugal, Itália e Espanha).

Esta determinada forma de jogar, consubstanciada em princípios de jogo

semelhantes no geral, é obviamente originário de determinado modelo de jogo

e portanto de determinada forma de treinar.

Sendo nosso entendimento que a concepção de determinado Centro de Treino

deve ter como parâmetro director a necessidade de determinada forma de

treinar, procuramos centrar a nossa procura em clubes que representassem a

mesma “escola” de futebol.

Havendo esse traço comum, entre os clubes “visitados”, melhor poderemos

fazer comparações entre eles, e tentar a evolução para um modelo de centros

de treino que se pretende atingir.

Visitamos clubes de dois continentes, a Europa e a América do Sul.

Na América do Sul, temos uma amostragem significativa de clubes do Brasil,

principal fornecedor de jogadores para o nosso futebol.

Na Europa, a pesquisa recai em países como a Espanha e a Itália e

obviamente em Portugal (visita “in loco”).

O critério de escolha dos clubes a “visitar” no Brasil, teve como princípio

básico, os emblemas de maior dimensão e aqueles que tradicionalmente mais

“produzem” jogadores.

Nessa amostragem era imperioso “visitarmos” (via internet) o primeiro Centro

de Treino que foi construído no Brasil (Cruzeiro Esporte Clube) e aquele que é

tido como um dos melhores Centro de Treino da América do Sul (Clube Atlético

Page 73: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

55

Paranaense), bem como os últimos grandes “produtores” de jogadores

campeões do Brasil - Santos e São Paulo.

Achamos por outro lado conveniente, e porque tínhamos a possibilidade de

visitar presencialmente, não deixar de referenciar as infra-estruturas de treino

do Vasco da Gama e do Botafogo no Rio de Janeiro.

Em Portugal tivemos a oportunidade de poder fazer uma apreciação presencial

dos Centro de Treinos do Sporting C. P. e do F. C. Porto e “visitar” pela Internet

o Centro de Treinos do S. L. Benfica.

Tivemos também a curiosidade de através da Internet visitar o Centro de

Treinos do A. C. Milan - Milanello, durante algum tempo tido como modelo e

por comparação o Centro de Treinos do F. C. Internacionale Milano.

Em Espanha procuramos “visitar” pela Internet os clubes mais representativos

de forma a percebermos o estágio actual das infra-estruturas do país vizinho,

para de alguma forma podermos comparar.

Embora a nossa opção tenha recaído por uma descrição dos Centro de Treinos

na sua globalidade, a nossa principal preocupação recaiu na verificação da sua

valência, isto é, se no mesmo espaço conviviam as equipas do futebol de

formação com as do futebol profissional, ou se pelo contrário a opção dos

clubes recaiu na concepção de espaços próprios para as equipas profissionais;

na verificação do local onde estão situados os espaços de competição das

equipas das camadas de formação; na especificidade dos espaços de treino e

por último no número de espaços de treinos (campos de futebol) e na relação

de espaços de treino de relva natural e espaços de treino de relva sintética.

1.7.1 - Brasil:

1.7.1.1 - Cruzeiro Esporte Clube

Damos primazia ao centro de treino do Cruzeiro, atendendo a que foi o primeiro

clube do Brasil a dispor de um local adaptado para o treino de uma equipa de

futebol.

Page 74: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

56

Inaugurado em 3 de Fevereiro de 1973, este centro de treino denominado Toca

da Raposa, além de utilizado pelo clube proprietário, foi várias vezes utilizado

pela selecção brasileira enquanto a mesma não dispunha do Centro de

Treinamento da Granja Comary, em Teresópolis - Rio de Janeiro.

Trata-se de um espaço com uma área de 53.000 m2 constituído por 4 (quatro)

campos em relva natural, vestiários, sala de musculação, departamento

médico, além de um edifício de 100 x 25 metros onde o clube dispõe de um

“hotel” com 18 (dezoito) apartamentos, cinema, salão de jogos e os escritórios

administrativos.

Outrora utilizado pelo time profissional, a agora denominada Toca da Raposa I

está a ser utilizada exclusivamente pela categoria de base (escalões de

formação) do clube e também para o intercâmbio internacional de atletas em

formação, principalmente com o Japão e a Coreia.

Destaca-se que para além da formação desportiva este clube também se

preocupa com a formação educacional dos atletas, já que os mesmos podem

contar com uma escola alternativa que administra o ensino fundamental e

médio, com carga horária específica para 200 alunos/atletas.

Conta ainda este clube com a Toca da Raposa II, espaço inaugurado em 9 de

Março de 2002, com uma área de 86.000 m2, para utilização exclusiva do time

profissional.

Este espaço dispõe de 4 (quatro) campos em relva natural (medidas oficiais),

vestiários, centro médico, academia de musculação, departamento de

fisioterapia, piscina térmica coberta e saunas.

Como apoio, dispõe ainda de um “hotel” com 17 apartamentos, refeitório, salão

de jogos, cinema e escritórios administrativos.

1.7.1.2 - Clube Atlético Paranaense

Este clube possui um dos mais modernos Centros de Treino da América do

Sul, construído num espaço de 246.577 m2 com 5000 m2 de área coberta

Page 75: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

57

construída, à distancia de 15 quilómetros de Curitiba, capital do Estado do

Paraná, denominado oficialmente por Centro de Treinamento Alfredo Gottardi -

maior goleiro (Guarda-Redes) da história do clube, mais conhecido

propriamente por Centro de Treinos Caju.

O complexo possui dois núcleos habitacionais - classificação três estrelas -

com capacidade para até 284 pessoas, e 8 (oito) campos de futebol com as

medidas preconizadas pela FIFA.

Para melhor percepção apresenta-se uma descrição adaptada e mais

pormenorizada da constituição do Centro de Treino:

1) Sede

o Recepção concebida nos moldes de hotelaria;

o Administração Geral;

o Apartamentos (suites) para atletas profissionais e amadores com

capacidade para 284 pessoas;

o Centro administrativo de futebol amador e profissional;

o Centro de nutrição: cada atleta recebe orientações sobre alimentação

adequada a seu estado físico e sobre a carga física a ser

desenvolvida;

o Centro de Fisiologia;

o Centro Educacional;

o Sala VIP (reuniões, conselho, troféus);

o Sala de Jogos;

o Sala de TV;

o Restaurante com capacidade para 100 pessoas;

o Cozinha (600 refeições por dia);

o Lavandaria (35000 peças/mês);

o Centro de Processamento de Dados.

Page 76: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

58

2) Sala de musculação

3) Departamento médico

o Centro de Fisioterapia;

o Vestiário de profissionais;

o Massoterapia, sauna húmida e seca, hidromassagem;

o Centro Odontológico.

4) Pista de Propriocepção

É destinada à recuperação e ao desenvolvimento dos atletas, além de

possibilitar o aprimoramento do equilíbrio e a reabilitação em diversos tipos de

terreno (terra, água, areia, etc).

5) Lago

Recirculação de água para irrigar os campos relvados

6) Estádio para jogos das categorias amadoras (relva natural)

Construído de forma independente do centro de treino, tem a

capacidade para 3000 pessoas sentadas e obedece aos padrões oficiais de

segurança.

Dependências localizadas abaixo da arquibancada:

o Vestiário exclusivo para categoria juniores;

o Vestiário exclusivo para a categoria juvenil;

o Dois vestiários para visitantes;

o Vestiário para árbitro masculino;

o Vestiário para árbitro feminino;

o Sala de Musculação;

o Alojamento com 22 leitos, exclusivo para atletas em teste;

o Sala de Pedagogia.

Page 77: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

59

7) Campos de Treino

Oito campos com medidas oficiais preconizados pela FIFA em relva

natural.

8) Área de Treino Secundária

No futuro serão feitos mais cinco campos oficiais.

9) Pórtico de Entrada - Com sala de imprensa.

Além de todos estes equipamentos específicos para o futebol possui

alguns equipamentos complementares, tais como:

o Academia, sauna e piscina semi-olímpica;

o Quadra de ténis, de basquete e de vôlei de areia;

o Capela ecuménica;

o Heliporto;

o Pista de jogging, com 750 metros de extensão.

1.7.1.3. - São Paulo F.C.

Este clube possui dois Centros de treino, um para o time profissional e outro

para as camadas de formação.

Centro de Formação de atletas

Como o próprio nome indica destina-se às camadas de base (formação).

Possui uma área de 220.000 m2, distando de cerca de trinta minutos do

Estádio do Morumbi (Estádio Cícero Pompeu de Toledo), num local com bela

integração paisagística.

Dispõe de cinco campos de futebol com as medidas oficiais e dois society

(medidas próximas de campos de futebol de 7) todos relvados em relva natural,

quatro locais de alojamento com capacidade para 95 atletas, sendo que os

quartos são duplos com banho privativo, refeitório central com cozinha, sede

Page 78: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

60

administrativa, sala de monitoramento, oficina de manutenção, quatro vestiários

e consultório médico e odontológico.

Destaca-se a existência de uma unidade orientada para reabilitação esportiva,

fisioterapica e fisiológica para tratamento de lesões.

Está já em curso a ampliação deste centro importando referir a construção de

mais cinco campos de futebol e de um ginásio coberto (pavilhão)

Centro de Treino e Concentração

É o local, destinado ao treino e estágio do time profissional.

Localiza-se num bairro da zona oeste da cidade de São Paulo, dispondo de

três campos oficiais e um minicampo, um campo para treino de guarda-redes,

todos em relva natural, dois vestiários para jogadores, dois vestiários para

árbitros, alojamentos, cozinha e refeitório, 16 dormitórios, sala de jogos, sala de

audiovisual, área administrativa e área destinada ao atendimento da imprensa.

Possui também uma área destinada à reabilitação esportiva, fisioterapica e

fisiologia (recuperação, tratamento e prevenção de lesões).

1.7.1.4. - Santos Futebol Clube

O Centro de Treino deste clube é denominado Centro de Treinamento Rei

Pelé, em homenagem ao que é considerado o maior jogador de futebol do

mundo e que no Brasil só vestiu a camisa do Santos - camisa 10 - que

imortalizou em todo o mundo.

É utilizado pelo time profissional e pelas categorias de base (formação), e

localiza-se próximo do Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro), bem junto à

entrada da cidade de Santos.

Possui uma área de cerca de 40.000 m2, dispondo de três campos com

medidas oficiais em relva natural, uma caixa de areia, utilizada para treinos

físicos específicos, bem como os renovados equipamentos de apoio, no

intitulado Complexo Modesto Roma I constituído por:

Page 79: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

61

o Vestiários principal com 4 banheiras de hidromassagem e piscina Spa

(com aquecimento térmico) com 20 m de comprimento concebida e

moldada para atender uma equipa de futebol nomeadamente no

processo de recuperação das lesões;

o Capela ecuménica;

o Sala de musculação;

o Sala de massagem;

o Unidade de saúde;

o Centro de reabilitação avançada;

o Sala de atendimento médico;

o Sala do departamento de Futebol;

o Sala da comissão técnica;

o Rouparia

Está em curso a construção da segunda fase que disponibilizará ao Centro de

Treinamento Rei Pele um hotel com 28 quartos (actualmente o alojamento dos

atletas das categorias de base é feito nas arquibancadas do Estádio Vila

Belmiro), restaurante, sala de jogos, cozinha, recepção e auditório, e uma nova

área de lazer (piscina e quadra polidesportiva)

1.7.1.5 - Clube de Regatas Vasco da Gama

Os clubes do Rio de Janeiro, começam agora a demonstrar preocupação com

as instalações para o treino desportivo, sendo contudo difícil a concretização

dessa realização atendendo às graves dificuldades económicas que

atravessam.

Escolhemos este clube, pois em termos de património é apesar de tudo o mais

representativo deste Estado do Brasil.

Page 80: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

62

Além do complexo de São Januário, onde se encontra o Estádio, para jogos

oficiais do time profissional, o parque aquático, o ginásio polidesportivo e a

sede do clube, o Vasco “possui” através de arrendamento um Centro de treino

localizado na Barra da Tijuca, denominado Centro de Treinamento Vasco

Barra.

Com uma área aproximada de 50.000 m2, a Academia de Esportes do Vasco,

conta com dois campos de treino para futebol.

O campo 1, onde treina o futebol profissional e jogam partidas oficiais as

categorias juniores, juvenil, infantil e mirim, possui as medidas de 100 x 70 m.

O campo 2,utilizado para o treino das categorias de base (formação) possui as

medidas de 90 x 65 m.

Existem ainda mais dois relvados de medidas inferiores - 64 x 40 m onde se

realizam os treinos das escolinhas de futebol e os treinos de captação.

Todos os campos de futebol são de relva natural.

Tudo isto é apoiado por modernos vestiários e salas de musculação.

1.7.1.6 - Botafogo Futebol e Regatas

A equipa de futebol profissional deste clube utiliza o seu Centro de Treino

denominado João Saldanha na sua antiga Sede de General Severiano

Dispõe de um campo de futebol com medidas regulamentares em relva natural

com respectivos vestiários, sala de fisioterapia, sala de musculação, um

conjunto de piscinas, normal, aquecida e de hidromassagem e um campo de

35m x 17m em relva sintética para treino de Guarda-redes e aquecimento.

Complementa todo o complexo a zona da “concentração” destinada aos atletas

em vésperas de jogos com 13 suites, sendo 12 duplas e uma para oito

pessoas.

As camadas de formação dispõem de um espaço autonomizado na zona norte

do Rio de Janeiro - Marechal Hermes - onde treinam todos os dias as camadas

Page 81: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

63

de mirim, infantis, juvenil e júnior, em dois campos de futebol com medidas

regulamentares, em relva natural com respectivos vestiários e um pequeno

alojamento.

1.7.2. - Espanha

1.7.2.1. - Club Atlético de Madrid

Na denominada “Ciudad Deportiva de Majadahonda” situada a 20 km de

Madrid, o clube possui local de treino destinado à equipa profissional e às

camadas de formação.

La Ciudad Deportiva é composta por:

o mini-estádio, com capacidade para 3500 pessoas, destinado aos jogos

oficiais da segunda equipa e das equipas de formação, dispondo de

um campo de 106 x 70 m em relva natural;

o 2 (dois) campos de relva natural;

o 2 (dois) campos de relva artificial.

1.7.2.2. - Athletic Club Bilbao

Este clube possui um local apropriado para treino desportivo da equipa

profissional e da cantera (camadas de formação), onde também se podem

fazer os estágios da equipa profissional.

As instalações denominadas de Lezama possuem 5 (cinco) campos de futebol

de relva natural com medidas oficiais, 1 (um) campo de futebol de relva artificial

também com medidas oficiais, um pavilhão coberto em que o piso é de relva

artificial, vestiários, sala de musculação, centro médico e residência para

jogadores.

Page 82: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

64

1.7.2.3. - Real Club Deportivo La Coruña

Este clube possui, desde 2003, um local destinado ao treino desportivo, de

todas as equipas de futebol do clube, introduzindo até um novo conceito já que

dispõe neste complexo, de campos que podem ser alugados pelos

“aficionados” para a prática desportiva.

A equipa profissional faz aqui todos os seus treinos, bem como as categorias

de formação, que além dos treinos também fazem neste complexo os seus

jogos oficiais.

Este local, denominado “El mundo del futbol” possui:

o 1 campo de relva natural 110 x 64 m (jogo 105 x 61 m);

o 6 campos de relva natural 110 x 71 m (jogo 105 x 68 m);

o 1 campo de relva artificial 130 x 68 m (jogo 105 x 65 m);

o 6 campos de relva natural 71 x 33 m (jogo 50 x 30 m);

o Campos auxiliares de treino para guarda-redes.

O equipamento de apoio faz a separação entre a equipa profissional e as

equipas das camadas de formação.

Na zona destinada às camadas de formação existem 7 (sete) vestiários, bar,

sanitários e sala de imprensa, preparada para aulas teóricas dos treinadores.

Na zona destinada à equipa profissional, existem os vestiários dos jogadores,

spa e sauna, sala de musculação, vestiários de treinadores, departamento

médico, sala de fisioterapia, lavandaria e rouparia, dois vestiários para árbitros,

6 gabinetes para técnicos e coordenadores de todas as camadas, um salão

para aulas teóricas, conferências, reuniões e escola de treinadores.

Page 83: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

65

1.7.2.4. - Valência Club de Futebol

Este clube possui um local apropriado para o treino desportivo denominado

“Ciudad Deportiva Riba - Roja.”

A actual “ciudad desportiva”, que se encontra em evolução, estende-se por

uma área de 180.000 m2,e é utilizada pela equipa profissional e pelas

categorias de formação.

Foi concebida não só para dar acolhimento a potenciais jogadores mas

também com a preocupação de possuir um moderno centro de reabilitação,

equipado com várias salas para a recuperação dos jogadores lesionados, sala

de fisioterapia, hidromassagem, sauna, piscina e sala de musculação.

O edifício central dispõe de dez habitações, bem como refeitório e sala de

estar, sala de audiovisual para treinos técnicos, vestiários da equipa principal e

da segunda equipa.

Anexo a este edifício está a bancada do mini-estádio com capacidade para

3.000 espectadores, onde habitualmente joga o Valência B, bem como toda os

vestiários de apoio à camada de formação.

Em termos de campo de futebol tem:

o campo de jogo do mini-estádio - relva natural;

o 2 campos de relva natural para treinos da 1.ª equipa;

o 4 campos de relva natural para treinos da camada de formação;

o 1espaço com medidas aleatória em relva artificial;

o 1 mini campo de relva natural para futevolei e uma rampa de treinos.

1.7.2.5. - Futebol Club Barcelona

Na apresentação deste clube faremos alusão ao existente e ao projecto já em

curso de uma nova zona intitulada “Ciudad Deportiva Joan Gamper”.

Page 84: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

66

Actualmente:

Neste momento e junto ao estádio Camp Nou este clube dispõe de um espaço

destinado ao treino desportivo constituído por um estádio de futebol

denominado miniestádi com capacidade para 15.276 espectadores onde se

efectuam os jogos oficiais das equipas Barcelona B e Barcelona C, e um

campo de futebol de 103 x 65 metros em relva natural, bem como dois campos

de treino de relva natural com medidas oficiais (100 x 70 m) para estas equipas

e a equipa profissional, e naturalmente todos os vestiários.

Mesmo ao lado do estádio Camp Nou , situa-se o edifício designado por La

Masia, residência oficial dos jogadores das camadas de formação.

Este edifício que ocupa uma área de 610 m2 dispõe de cozinha, refeitório, sala

de estar, biblioteca, zona de administração, sanitários, dormitórios e os

vestiários. Com as obras de remodelação este edifício passou a dispor de 1

bloco com 16 dormitórios com 3 camas e de outro bloco com 12 quartos.

Em construção

Numa área de 136.839 m2, o clube disporá de um espaço adaptado ao treino

desportivo da equipa profissional e de todas as categorias de formação, bem

como outras secções desportivas.

Basicamente o projecto aposta para diferentes zonas, a saber:

o Futebol profissional: 1 campo de futebol de relva natural com

bancadas laterais, dois campos de treino também de relva natural,

espaços complementares de treino, uma pista com paredes laterais,

o equipamento de apoio (vestiários, hidromassagem, musculação) e

uma residência para estágios.

o Futebol de base: um campo de futebol de relva natural com

bancadas laterais, dois campos de treino sendo um de relva natural e

o outro em relva artificial e espaços complementares de treino, o

equipamento próprio de apoio (vestiários, massagem) residência e

uma zona de recreio com piscina.

Page 85: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

67

No total e no fim do projecto a ciudad desportiva irá dispor de 5 (cinco) campos

de relva natural com medidas oficiais, 3 (três) campos de relva artificial com

medidas oficiais e um campo de futebol de 7 em relva artificial.

o Edifícios de Apoio: existem três edifícios de apoio, nesta cidade

desportiva. Um edifício, em conjunto com a bancada do campo

principal (com capacidade para 1512 pessoas) que se divide em três

níveis. No 1.º nível localiza-se os vestiários, sala de musculação e

ginásio para as camadas de base, gabinetes, vestiários e sala de

reunião para treinadores, sala para o futebol feminino e sala de

fisioterapia, reuniões e conferências. No 2.º nível estão os sanitários

para o público e o 3.º nível está destinado aos gabinetes dos

directores das camadas de formação. Outro edifício ligeiramente ao

lado dispõe de um grande vestiário, e quatro mais pequenos, sala de

fisioterapia, gabinete médico, vestiário para árbitros, sala de vídeos e

reuniões e três gabinetes para treinadores.

No espaço entre os campos de treino e sensivelmente à mesma distância de

todos os campos o complexo dispõe de um edifício totalmente destinado a

vestiários, oito no total.

Com a excepção da equipa profissional que disputa os jogos oficiais no Camp

Nou e das equipas B e C e juvenil A que jogam no mini-estádio, todos os outros

escalões fazem os jogos oficiais na ciudad deportiva.

1.7.2.6. - Real Madrid Club de Futebol

Estamos em presença do maior projecto do mundo em termos de local

apropriado para o treino desportivo na área do futebol.

É impressionante a dimensão desta obra, já que todos os termos de

comparação ficam a uma distância muito grande daquilo que esta obra

comporta.

Page 86: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

68

Estando prevista a sua conclusão para breve, esta “Ciudad Deportiva

RealMadrid” será o local de treino desportivo de todas as equipas de futebol

desde a equipa profissional até toda às categorias de formação.

Desenvolve-se através de um edifício charneira em T, com 9.000 m2 de área

albergando vestuários, ginásios, sala de conferências, gabinetes, zona de

hidroterapia, centro médico, sala de imprensa, etc. de ambos os lados deste

edifício situam-se 10 campos de futebol de relva natural e de relva artificial.

Descrição pormenorizada:

À chegada ao edifício em T, deparamo-nos com um bar/snack/restaurante com

uma área de 500 m2 e uma esplanada de 200 m2 onde se pode assistir aos

treinos das camadas de formação. Desde este ponto o acesso passa a ser

condicionado, só havendo permissão de entrar nos espaços adjacentes a quem

for atleta do clube. As equipas visitantes e os árbitros terão acesso aos seus

respectivos vestiários mas nunca ao restante do prédio.

O edifício divide-se em três módulos, na estrutura longitudinal, uma para

vestiários de visitantes e árbitros, outra para os vestiários dos benjamines,

alevines, infantiles e cadetes e outra ainda com os vestiários das três equipas

juvenis e as equipas Real Madrid B e C.

Na cabeça do T, isto é, na zona perpendicular ao eixo principal estão três

módulos destinados à 1.ª equipa.

No seu interior dispomos de mais de 9000 m2 de espaço para vestiários, 3000

m2 de ginásio, 3000 m2 de salas de aula, sala de conferência, gabinetes, 3000

m2 de hidroterapia e centro médico, 2000 m2 de sala de imprensa.

Campos de treino

Frentes aos vestiários estão sete campos destinados às categorias de

formação. Há dois campos de relva natural para o Real Madrid B, Real Madrid

C e Juvenil A, havendo ainda mais dois campos de relva artificial de futebol de

7 e três campos de relva artificial com medidas oficiais, sendo que cada campo

terá bancada própria.

Zona da 1.ª equipa

Page 87: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

69

Acedendo à cabeça do T, estamos em presença da zona de trabalho da 1.ª

equipa, onde se encontram logo na entrada vários gabinetes de trabalho para

todos os directores e treinadores.

Daí podemos aceder ao centro médico que se desenvolve no 1.º piso,

dispondo de uma grande sala de fisioterapia, e de uma impressionante sala de

hidroterapia composta por uma piscina ovalada com 3 (três) profundidades

diferentes, uma piscina para reabilitação e hidromassagem, duas piscinas -

“calle” para correr contra-corrente (água fria e quente), duas piletas (água fria e

quente), além da sauna e banho turco.

No piso superior, haverá uma sala VIP para jogadores e a zona de meios de

comunicação (imprensa) com a existência de uma zona mista.

O vestiário da equipa principal é o maior de todo o complexo e tal como os

outros divide-se em zonas húmidas e secas, comunicando directamente com

um ginásio destinado ao aquecimento pelo que para o efeito dispões de piso de

relva artificial, bem como com um campo de treino.

A equipa principal dispõe de 3 (três) campos de treino em relva natural, sendo

que dois deles estão pensados de forma justaposta e dimensões quadradas de

forma a variar a sua posição em função do estado da relva. O 3-º campo, foi

pensado e construído com um desnível em relação aos outros dois de 4

(quatro) metros de forma a evitar os efeitos do vento, tendo ainda justaposto às

suas medidas oficiais um campo-jaula, um campo de treinos para guarda-redes

e uma caixa de areia.

Ao longo de toda a ciudad desportiva haverá um circuito de corrida com um

comprimento de 6400 metros, construído com a preocupação de dar ao piso

resposta elástica similar a um campo de jogo.

Localização, superfície e pessoal

A ciudad deportiva localiza-se adjacente à zona do aeroporto de Barajas, na

periferia da cidade e servida por óptimos acessos.

Page 88: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

70

O projecto global ocupará uma área prevista de 1.200.000 m2, estando

reservados espaços para fases seguintes a esta que se encontra em

construção: mini-estádio, pavilhões, etc.

Neste momento a área destinada aos campos de futebol mede 110.331 m2, a

superfície construída mede 21.578 m2 e a superfície de actuação mede

362.498 m2.

Quando estiver e fase de exploração, para operar e conservar o complexo

precisará de 140 pessoas em serviço diário contínuo no que toca a esta 1.ª

fase.

1.7.3 - Itália

1.7.3.1. - Milan Associazione Calcio

O centro de treino, deste clube, denominado Milanello localiza-se a cerca de 50

km de Milan, tendo sido construído em 1963, e objecto de algumas

reestruturações, abrange uma área de 160.000 m2.

Este centro de treino desportivo dedicado ao futebol dispõe de 5 (cinco)

campos de futebol de relva natural com medidas oficiais, 1 (um) em relva

sintética (35m x 30m), 1 (um) coberto com piso em relva sintética (42m x 24m)

e um pequeno campo chamado e imortalizado como gaiola já que é cercado

por muros com 2,30 m de altura nas laterais e 2,50m de altura nos topos.

Uma pista de corrida no meio da mata com a extensão de 1200 metros e várias

altitudes.

O prédio central dispõe de gabinetes, quartos dos jogadores, sala de TV, um

quarto com piscina, um bar, uma cozinha, duas salas de jantar, sala de

imprensa, sala para reuniões, lavandaria, sala de passar a roupa e centro

médico.

Page 89: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

71

Ao lado há um prédio com quartos que pode ser utilizado por hospedes e onde

vão os jogadores da categoria de base, e ainda outro prédio onde estão

instalados os vestiários do time principal e das camadas de formação, bem

como uma moderna academia de musculação, com equipamentos para todos

os grupos de exercícios musculares e cardiovasculares, máquinas de

reabilitação de juntas e ligamentos e para avaliação (Rev.9000), Technogym

Systems (TGS), destinadas a regimes de treinos individuais e protocolos de

reabilitação.

É também frequentemente utilizado pela selecção Italiana.

1.7.3.2. - Football Club Internazionale Milano

O centro de treino, deste clube, denominado “Ângelo Moratti”, localiza-se na

periferia da cidade de Milão, e é utilizado desde a época desportiva de 1961-

62, tendo sido melhorado ao longo dos anos.

Este centro de treino desportivo dedicado ao futebol compreende 3 (três)

campos de futebol em relva natural de dimensões oficiais, dois de dimensões

reduzidas também em relva natural, e um campo denominado de “jaula”, pois

está enclausurado por paredes fixas e o seu piso é de relva artificial, medindo

48m x 26m.

Dispõe ainda de dois ginásios, um com 250 m2 e outros com 100 m2, para

musculação, sala médica, sala de fisioterapia e massagens, piscina com

hidromassagem e natação contra-corrente e três vestiários.

Na parte central do centro de treino, está um hotel com 24 quartos duplos e 2

individuais, destinado a estágios, sala de jogos, sala de reuniões técnicas, bar,

restaurante, cozinha e sala de imprensa.

Page 90: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

72

1.7.4 - Portugal

1.7.4.1. - Futebol Clube do Porto

O Centro de Treinos e Formação Desportiva Porto Gaia, propriedade da

Câmara Municipal de Gaia e “cedido” ao F.C. Porto, localiza-se em Crestuma-

Olival (Vila Nova de Gaia) a cerca de15 km da cidade do Porto.

O Centro de Treino é formado por espaços de treino, dispostos da seguinte

forma:

o Um campo de relva natural com bancada para 3800 pessoas;

o Um campo de relva sintética, que dispõe de iluminação artificial;

o Um mini campo de relva sintética para trabalho intensivo e treino de

guarda-redes com as medidas de 40 (quarenta) metros de

comprimento e 30 (trinta) de largura;

o 3 campos com as medidas regulamentares para a prática de futebol,

em relva natural.

Todo o complexo é apoiado por três edifícios com as seguintes funções:

o Edifício portaria, que contempla instalações para conferências de

imprensa, um auditório e uma sala de trabalho;

o Edifício de apoio ao futebol juvenil (juniores A e B), que contém 3

balneários para equipas, 1 balneário para árbitros, 1 balneário para

treinadores, departamento médico e sala de hidroterapia;

o Edifício de apoio ao futebol sénior, sendo constituído por 2 balneários

para equipas, 2 balneários para treinadores, 2 salas de apoio médico,

1 sala de hidroterapia e massagens, saunas e um ginásio.

Page 91: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

73

1.7.4.2. - Sporting Clube de Portugal

A Academia Sporting - Centro de Futebol do Clube - situa-se no concelho de

Alcochete, próximo de Lisboa, na margem sul do Tejo, ficando a cerca de 30

minutos do Estádio de Alvalade.

Dispõe de uma área de 250.000 m2, com cinco campos relvados com relva

natural e dimensões de 110 x 70 metros, um campo de piso sintético de 90 x

70 metros e um recinto coberto equipado com piso sintético de 60 x 40 metros.

O campo principal tem o apoio de bancadas com capacidade para mil

espectadores.

O Centro de Futebol do Sporting está servido por ginásios dotados com a mais

moderna aparelhagem para manutenção da forma física, tanques de

hidromassagem com jacuzzi, salas de massagem, centro médico e bem

apetrechados balneários no edifício central e sob as bancadas do campo

principal.

A Academia dispõe de um edifício central com 11000 m2 com 91 quartos, 18

dos quais duplos com banho privativo disponíveis para alugar. No edifício

funcionam dois refeitórios, um dos quais em regime de self-service, salas de

estar, cozinhas e rouparia.

Possui ainda sala de conferência de imprensa e sala de imprensa, bem como

um auditório com 70 lugares.

É o pólo de trabalho de todo o futebol do Sporting, estando ao serviço da

equipa profissional e de todos os escalões de formação a partir dos 13 anos.

1.7.4.3. - Sport Lisboa e Benfica

Este Centro de Treino está destinado ao futebol profissional e a todo o futebol

de formação, localizando-se no concelho do Seixal.

Page 92: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Revisão da Literatura

74

São seis os campos de futebol, quatro em relva natural e os outros dois em

relva sintética, dispondo-se por altitudes diferentes, sendo que dois deles terão

iluminação própria.

O campo principal tem bancadas com capacidade para 1500 pessoas.

O edifício dos quartos está dividido em dois blocos. O futebol profissional

ocupa os últimos pisos e o futebol de formação ocupa os pisos inferiores.Tem

quartos individuais e dois tipos de quartos duplos - um para profissionais e

técnicos e outros para jovens em formação (com camas de beliche e área de

estudo).No todo estarão à disposição 190 camas.

O complexo dispõe de uma área reservada ao lazer com salas de jogos uma

zona de estar e várias salas de estudo equipadas com computadores.

A zona do refeitório é composta por duas áreas de refeição, uma com serviço

de mesa destinada à equipa profissional e outra em regime de self-service para

os escalões de formação, podendo servir 200 refeições em simultâneo.

A área administrativa está junto à entrada principal onde se encontra a portaria,

secretaria e recepção, sendo que no piso 0 está o pessoal que trabalha com as

camadas de formação e no piso 1 o pessoal da equipa profissional.

Na área destinada à imprensa há um auditório com capacidade para 75

pessoas, sala de convívio com serviço de bar e uma pequena copa de apoio,

assim como uma sala de entrevistas.

Page 93: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

75

2. METODOLOGIA

Page 94: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

76

Page 95: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Metodologia

77

Para se atingir determinado objectivo, temos necessariamente de idealizar os

meios para o alcançar.

Como fazer para podermos apresentar uma proposta de modelação dos

Centros de Treino dos clubes de futebol?

É com base nesta pergunta que definimos a metodologia de actuação.

As ferramentas utilizadas neste processo de investigação foram a análise

documental, as visitas e as entrevistas

2.1 - Análise documental

De maneira a atingir os objectivos pretendidos a realização da presente

dissertação começa por fazer uma revisão da literatura no que toca ao

problema em questão através da leitura e análise de vários livros, artigos de

revistas da especialidade, jornais e artigos publicados na Net, tudo

devidamente identificado na Bibliografia

2.2 - Visitas

Para um conhecimento perfeito das infra-estruturas que os clubes de futebol

possuem, definimos uma linha de acção - metodologia - baseada em “visitas”

através da Net, com leitura exaustiva da informação dos sites dos clubes

(treze clubes) e por outro lado com visitas in loco” ( quatro clubes) com a

efectivação do registo daquilo que se examinava.

Foram “visitados in loco” dois clubes em Portugal (Sporting Clube Portugal e

Futebol Clube do Porto) e dois clubes no Brasil (Clube Regatas Vasco da

Gama e Botafogo Futebol e Regatas) tendo sido “visitados” virtualmente

através da Net, um clube em Portugal (Sport Lisboa e Benfica), quatro clubes

no Brasil (Cruzeiro Esporte Clube, São Paulo Futebol Clube, Clube Atlético

Paranaense e Santos Futebol Clube), 6 clubes em Espanha (Club Atlético de

Page 96: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Metodologia

78

Madrid, Athletic Club Bilbao, Real Club Deportivo La Coruña, Valência Club de

Futebol, Futebol Club Barcelona, Real Madrid Club de Futebol) e dois clubes

em Itália (A.C. Milan e F.C. Internazionale Milano)

2.3 - Entrevistas

Tomamos a decisão de entrevistar alguns dos agentes desportivos que

trabalham todos os dias nos espaços de treino disponíveis nos seus locais de

trabalho, de modo a perceber pela sua vivência e experiência quais as

vantagens e as dificuldades que sentem nos actuais espaços destinados à

prática do treino de futebol.

As entrevistas foram feitas a dois Directores de Centros de Treino, a três

Coordenadores Técnicos das camadas de formação e a quatro Treinadores

quer sejam das camadas de formação quer sejam do futebol sénior.

Sendo assim o nosso conjunto de entrevistados foi constituído por nove

entrevistados, todos eles com fortes ligações ao objecto do nosso estudo e

possuidores de vasto conhecimento da matéria.

De posse dos conhecimentos da literatura, dos registos das visitas e com base

nas nossas preocupações e objectivos constituímos um guião de entrevista,

com cinco perguntas a todos os entrevistados, incluindo mais duas questões só

direccionadas aos dois Directores dos Centro de treino do Sporting Clube de

Portugal e do Futebol Clube doPorto

Optamos por utilizar o tipo de entrevista que é designada por semi-estruturada

(Fontana e Frey-2000).

Na escolha da metodologia das entrevistas esteve sempre presente a

possibilidade de através deste método permitir aos entrevistados total abertura,

levando-os a exprimirem-se de forma natural, usando a sua própria linguagem

e gastando todo o tempo que desejassem, de forma a poderem “libertar” todos

os seus conhecimentos e experiências sobre a matéria.

Page 97: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Metodologia

79

O procedimento iniciou-se na sua grande parte através do contacto directo com

os entrevistados e no que toca aos directores dos centros de treino do Sporting

Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto através da prestimosa colaboração

de terceiros.

Nesses contactos foram previamente definidas, quer a intenção das entrevistas

quer os objectos a serem atingidos.

Obtida a respectiva autorização, as entrevistas foram efectuadas

presencialmente nos locais de trabalho dos entrevistados.

Decorreram entre os meses de Janeiro e Fevereiro e demoraram em média

cerca de quarenta minutos. Estas entrevistas foram gravadas em gravador

digital sendo posteriormente transcritas para papel e depois supervisionadas e

confirmadas pelos entrevistados.

2.3.1 - Entrevista semi-estruturada

Conhecedores das características determinantes dos intervenientes no

processo de treino - jogadores e treinadores - conhecedores das características

intrínsecas ao tipo de treino , conhecedores das características de alguns

Centros de Treino, e sabendo que toda a gestão do processo de formação dos

jogadores de futebol, além de outros factores já descritos, está condicionada

pela “qualidade” da concepção dos espaços físicos que os clubes podem

proporcionar, estaremos agora em condições de registrar as opiniões de alguns

agentes desportivos que convivem diariamente com os espaços disponíveis

dos seus locais de trabalho e portanto no fundo quem experimenta as

vantagens e dificuldades dos actuais “espaços” dedicados à prática do

processo de treino.

A amostragem conseguida contempla os directores dos centros de treino, os

coordenadores técnicos da formação e os “homens do terreno” -

treinadores/formadores.

Page 98: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Metodologia

80

Acreditamos que as suas ideias consubstanciadas na experiência vivida serão

um óptimo contributo no desenvolvimento do objectivo da dissertação.

Para isso determinamos uma grelha de perguntas de forma a permitir uma

interpretação que nos leve a concluir tanto quanto possível pela sustentação de

uma teoria de modelação ideal de um centro de treino.

Essa grelha acrescenta duas perguntas específicas só para os directores dos

centros de treino.

A escolha das perguntas teve como base o conhecimento de algumas

diferenças notórias em alguns aspectos que reputamos de relevantes para o

sucesso de todo o processo de formação dos jogadores de futebol.

Como se pode constatar no capítulo da Revisão da literatura, existem algumas

opções que se devem considerar e ponderar na concepção dos Centros de

Treino:

Desde logo a opção de conceber um Centro de Treino deve ter como questão

central, a de quem irá servir? Quem vai utilizar as instalações?

Isto, que parece de resposta óbvia vem a propósito, pois como se pode ler na

amostragem percorrida, há clubes que concentram todos os seus escalões no

mesmo espaço (nomeadamente os espanhóis), há outros que separam o

futebol profissional do futebol de formação e até aqueles (caso dos clubes

portugueses) que só permitem a utilização do Centro de Treinos aos jovens a

partir de determinado escalão.

Por outro lado, a definição do local de competição das camadas de formação

começa a ser preocupação na concepção dos Centros de Treino, aliás bem

representada na amostragem dos Centros de Treino dos clubes portugueses.

A tipologia e a característica dos espaços de treino, leia-se campos de treino e

de jogo, assume também papel de relevo na concepção dos Centros de Treino,

não só na forma e dimensão dos espaços mas também na escolha do tipo de

piso utilizado - relva natural e relva sintética, como fica demonstrado na leitura

da caracterização dos espaços “visitados”.

Page 99: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Metodologia

81

Em face das respostas obtidas após as entrevistas, vamos em busca de

algumas confirmações quer centradas no que está sedimentado na nossa

experiência quer fundamentalmente naquilo que os especialistas verteram na

literatura.

Tentamos perceber através do diálogo/entrevista, quais são os elementos que

confirmam as teorias da literatura e por oposição quais são as características

comuns relatadas pela vivência/experiência própria de cada um dos

entrevistados.

Foi possível então obter uma matriz de respostas comuns no que toca à

concepção, tipologia e gestão dos Centros de Treino, sobre as quais

trabalhamos a nossa proposta de modelação de um Centro de Treino.

2.3.2 - Guião das entrevistas

Grelha de perguntas aos Directores dos Centros de Treino

1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino

permita a coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação?

Destaque as vantagens e desvantagens.

2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de

futebol tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino

devem dispor de espaços específicos (treino de guarda redes; pista inclinada;

gaiola de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?

Fundamente.

3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis,

iniciados, juvenis, juniores e seniores, qual é para si o nº ideal de campos

estabelecendo a relação relvados naturais versus sintéticos?

4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino

disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o

público?

Page 100: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Metodologia

82

5. Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um

jogador - 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da

maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de

treino?

6. Em termos de Gestão qual foi a opção para a manutenção do Centro

de Treino?

7. Os Centros de treino devem ou não dispor de alojamento?

Grelha de perguntas aos Treinadores / Coordenadores Técnicos

1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino

permita a coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação?

Destaque as vantagens e desvantagens.

2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de

futebol tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino

devem dispor de espaços específicos (treino de guarda-redes; pista inclinada;

gaiola de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?

Fundamente

3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis,

iniciados, juvenis, juniores e seniores, qual é para si o nº ideal de campos

estabelecendo a relação relvados naturais versus sintéticos?

4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino

disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o

público?

5. Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um

jogador - 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da

maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de

treino?

Page 101: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

83

3 ANÁLISE DESCRITIVA

Page 102: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

84

Page 103: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

85

3.1 - Entrevista aos Directores dos centros de treino

Prof. José Maria

Director do Centro de Treino do Futebol Clube do Porto

Mestre em Ciências do Desporto na área de especialização de Gestão

Desportiva e Treinador das camadas de formação do Futebol Clube do Porto

durante vários anos.

1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino permita a

coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação? Destaque as

vantagens e desvantagens.

Resposta:

A nossa ideia é de que existem mais vantagens. Temos interesse que haja

grande proximidade entre a Formação e o Futebol Profissional.

Pretendemos aprofundar a relação entre actividades desportivas e actividades

escolares. Esse é um problema que nos preocupa, pois sabemos todos à

partida que os miúdos nutrem o sonho de virem a ser estrelas e nós a ambição

de contar com o maior número possível de “craques”, logo à medida que se

aproximam da “alta competição” maior é a dificuldade de conciliação

principalmente do binómio treino/horários escolares.

Estamos a explorar a hipótese de colocarmos os Sub-19, Sub-18, Sub17 e os

Sub16 a treinarem de manhã e a estudarem em regime de internato à tarde

num projecto que orçará em cerca de 15 mil euros / mês.

O projecto pretende conciliar três parâmetros:

o Rentabilização das melhores infra-estruturas desportivas;

o Conciliação das actividades desportivas com as actividades

escolares;

Page 104: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

86

o Maior aproximação do treino com a equipa profissional (maior

contacto entre eles).

Como aspectos negativos poderíamos apontar alguns maus exemplos que têm

tendência a serem copiados, mas para isso contamos com o recém-criado

Departamento Pedagógico que já está a fazer o respectivo acompanhamento

dos atletas Juniores que são chamados a trabalhar com os Seniores.

Neste momento trabalham no Centro de Treino os Juniores, os Juvenis e os

Iniciados Sub-15, durante o ano o programa de utilização das instalações

desportivas deverá ser o seguinte:

o Juniores e Juvenis - manhã no Centro de Treino do Olival;

o Iniciados e Infantis - tarde no Centro de Treino do Olival;

o Juvenis 1º ano e Escolas - Padroense (protocolo);

o Iniciação - Constituição

O problema do afastamento do Centro de Treino é solucionado pela marcação

de ponto de encontro de interesse dos atletas e posterior transporte por

viaturas do Clube.

2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de futebol

tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino devem

dispor de espaços específicos (treino de guarda redes; pista inclinada; gaiola

de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?

Fundamente.

Resposta:

Após cinco anos de actividade nesta função concluo que com recurso às novas

tecnologias a concepção dos Centros de Treino tem de ser alterada, a ideia de

construir 10 a 15 de campos já está ultrapassada.

A minha opinião é que não faz sentido haver mais do que 3 campos sintéticos.

No nosso clube o sintético disponível que tem uma utilização intensiva, tem por

Page 105: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

87

exemplo uma utilização de cerca de 90% dos treinos dos Juniores e 95% dos

treinos dos juvenis, o restante é efectuado no relvado natural.

A minha experiência de 18 anos de treinador da formação leva-me a dizer que

o Treino deverá ser sempre jogo, logo a superfície a privilegiar é a do jogo, com

o apoio eventual de um mini sintético vedado para treinar por exemplo a

intensidade.

Para a iniciação preconizo espaços de terra batida, espaços em que não haja a

preocupação de haver buracos, espaços fechados com tabelas …, onde os

iniciantes pudessem jogar sem a intervenção, do adulto, com actividade

espontânea, ou pelo menos puderem dispor em cada treino de uma hora livre.

3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis, iniciados,

juvenis, juniores e seniores, qual é para si o número ideal de campos

estabelecendo a relação relvados naturais versus/sintéticos?

Resposta:

Num clube da dimensão do Futebol Clube do Porto julgo que a estrutura ideal

seriam três campos de relva natural e três campos de relva sintética em que

um deles seria um espaço diferenciado quer para treinos quer para jogos

(espaço de jogo diferenciado), destinado à iniciação.

Nos outros clubes da Liga julgo que a solução ideal seria dois campos de relva

natural e dois campos de relva sintética.

Para conhecimento e fundamento do que é dito refere-se que o terceiro campo

de relva natural tem normalmente uma utilização de 20% pelos Seniores e de

80% pelos Juniores

4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino

disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o

público?

Resposta:

Page 106: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

88

Acho que sim, desde logo por que há uma maior identificação do grupo de

trabalho com o espaço de jogo, por outro lado é importante para o atleta

começar a sentir o peso do público.

Nos aspectos de Gestão apontamos a maior rentabilidade das próprias infra-

estruturas, e claro está em relação ao Estádio Principal (Dragão) a vantagem

da logística de organização dos jogos ser muito mais ligeira e económica como

facilmente se compreende.

Chamo a atenção para a necessidade de na concepção haver o cuidado de

projectarmos a entrada do púbico de forma independente de todo o resto do

Centro do Treino, como aliás é o caso do nosso.

5. Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um jogador

- 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da

maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de

treino?

Resposta:

Só para a iniciação como atrás referi.

Recordo aqui a experiência francesa onde em algumas Associações a prática

da iniciação é evolutiva quer nos espaços de jogo, quer no nº de jogadores em

conformidade com as idades.

Dos 5 aos 7 anos joga-se 3x3 com Guarda-redes avançado quando em posse

de bola, depois evolui-se para 5x5, 7x7, chegando-se a 9x9 em Sub 14.

6 - Em termos de Gestão qual foi a opção para a manutenção do Centro de

Treino?

Resposta:

O Futebol Clube do Porto dispõe de dois funcionários nos seus quadros para

toda esta estrutura, eu próprio como Director e um Engenheiro Mecânico para

Page 107: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

89

a manutenção técnica de equipamento, em tudo o resto a opção recaiu em out-

sourcing :

o Manutenção eléctrica, hidráulica - 2 pessoas

o Tratamento e recuperação de relvados - 3 pessoas continuamente com o

reforço de mais 3 em algumas ocasiões;

o Limpeza - temos 10 pessoas das 7 às 9 da manhã e 2 pessoas durante

todo o dia;

o Segurança - 1 pessoa na portaria e uma pessoa no espaço interior;

o Catering - uma equipa para servir o pequeno-almoço.

7- Os Centros de treino devem ou não dispor de alojamento?

Resposta:

A minha opção pessoal é que a legislação deveria ser alterada, permitindo

contratos com atletas muito jovens, mas de forma a que os mesmos se

mantivessem até determinada idade nos seus locais de vivência.

A criação do Departamento Pedagógico constituído por um Director, um

psicólogo, um assistente social e alguns estagiários na área da Psicologia,

levou a uma profunda reflexão e a uma conclusão unânime - o conceito deve

ser o de Casa de Acolhimento no meio da Cidade, perpetuando nos atletas os

conceitos de educação geral com os conceitos de futebol. É nossa

preocupação não deixar de ser normal para um atleta que pretende ser atleta

de alta competição, o simples acto de tomar um café ou ir ao cinema. O atleta

não pode sentir a perda de sociabilidade inerente a qualquer cidadão, até

porque todos sabemos qual é o rácio de aproveitamento dos muitos atletas de

formação, cuja esmagadora maioria terá necessariamente de deixar de lado o

seu sonho e “voltar à cidadania activa”. Não nos parece que pelo menos 8 anos

de “clausura” possa vir a dar bons resultados apesar de todo o apoio que lhes

possa ser dado

Page 108: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

90

Debaixo deste princípio o Hotel previsto para o Centro de Treino só servirá

para os estágios da equipa profissional.

No centro da Cidade duplicamos a área do então intitulado “Lar do jogador”,

com a preocupação das condições de conforto, nomeadamente a criação de

uma sala de jogos, uma sala de estar, um gabinete de atendimento e uma

biblioteca. A capacidade de acolhimento passou de 29 para 32 atletas

Prof. Pedro Mil Homens

Director do Centro de Treino do Sporting

Doutorado em Ciências do Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana,

da Universidade Técnica de Lisboa

1.a) Vantagens:

o Optimização de recursos (financeiros, humanos, materiais, etc.)

o Aumento das sinergias entre Futebol Profissional e Futebol de Formação

o Maior identidade do Centro de Treino

o Maior estímulo para os atletas da formação

o Maior visibilidade mediática do Futebol Formação

1.b) Desvantagens:

o Menor privacidade do Futebol Profissional

2 - Depende do modelo de formação a adoptar. A resposta a esta questão

deverá ser colocada antes da construção do Centro de Treino. A minha opinião

pessoal e apenas essa, é que deverão existir espaços específicos, partindo do

princípio de que para atingir a excelência na formação é necessário trabalhar o

detalhe. Para tal será necessário adequar as infra-estruturas, equipamentos e

Page 109: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

91

materiais, ao nosso modelo de formação para assim atingir os objectivos

definidos.

3 - O número de campos deverá ser directamente proporcional ao número de

equipas. Para o trabalho de formação geral, deverá existir um campo por

equipa. A resposta para o treino especial/diferenciado foi respondida na

questão anterior.

A hipótese de construção de campos sintéticos só deverá ser considerada se a

taxa de utilização prevista for de um valor que um campo de relva natural não

consiga suportar.

4 - Como resposta genérica diria sim, mas essa situação depende obviamente

do seu conceito, missão e objectivos. De qualquer forma, penso que será difícil

para um centro de treino não ter um espaço para poder organizar competições

(oficiais/não oficiais) e outros eventos (comerciais/não comerciais), em que o

público não possa ter acesso.

5 -Esta questão foi respondida anteriormente (questão 2)

6 -A opção foi a subcontratação de empresas especializadas nos serviços

pretendidos, e hoje passados 5 anos de funcionamento, podemos dizer que foi

uma opção certa.

É importante dedicar a nossa atenção ao futebol que é o que sabemos fazer, e

as empresas subcontratadas às áreas que são responsáveis, é importante

cultivar um ambiente profissionalizado.

7 - A resposta a esta questão não deve ser generalizada, é muitas vezes uma

questão cultural e também estratégica.

Existem três vertentes a considerar no alojamento:

Page 110: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

92

o Poder acolher jogadores de qualidade que não residam próximo da

Academia e oferecer todas as condições à prática desportiva, ou seja

diminuir as variáveis de insucesso;

o Proporcionar estágios às nossas equipas, nomeadamente pré-temporada

e outras alturas do ano que seja recomendável;

o Objectivos comerciais, caso a Gestão queria rentabilizar o Centro de

Treino, a existência de alojamento é um apoio fundamental à

prossecução deste objectivo.

Concluindo, na nossa opinião é positivo a existência de alojamento.

3.2- Entrevista aos Treinadores

Carlos Carvalhal

Licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física - especialização em

alto rendimento - Futebol

Treinador de Nível IV

1. Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino permita a

coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação? Destaque as

vantagens e desvantagens.

Resposta:

Muitas vantagens e quase que não há desvantagens

Vantagens - Os mais pequenos observarem os seus ídolos e poderem rever-se

neles.

O que se nota é que falta a “cultura de clube” - nota-se no Dirigente/Seccionista

e nos próprios treinadores - havendo rivalidade entre escalões, o que até pode

ser considerado normal, pois há muitas equipas e não existe trabalho em

equipa.

Page 111: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

93

Os treinadores devem ajudar-se mutuamente. Há que criar um espírito de

corpo nos treinadores. Na minha opinião é preciso profissionalizar os

treinadores e racionalizar a gestão dos recursos, isto é, menos treinadores mas

mais horas dedicadas ao clube.

Cito o exemplo do Manchester United - onde a área do refeitório é partilhada,

onde faz parte da rotina diária 3 a 4 miúdos em escala rotativa limparem as

botas e organizarem o material de treino para o escalão seguinte, sendo

penalizados quando o serviço não é bem feito. Não há excepções, todos são

tratados por igual, não há craques.

Desvantagem - Perturbação da concentração dos Seniores/profissionais,

perfeitamente solucionável com uma boa concepção e até com soluções de

Gestão, com horários diferenciados em alguns dias.

2. Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de futebol

tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino devem

dispor de espaços específicos (treino de guarda redes; pista inclinada; gaiola

de Sacchi; espaço coberto, pista de propriocepção, piscina contra-corrente,

caixa de areia ….)? Fundamente.

Resposta:

Espaços de acordo com a dimensão do clube,

Para a formação:

Não marcar os campos - áreas livres, sendo marcados em função do tipo de

treino;

Para os Profissionais - Espaços amplos, utilizados de acordo com o tipo de

treino, com marcações por sectores e corredores, sempre com a preocupação

de evitar a saturação da relva.

A especificidade deve ser dada por elementos amovíveis.

Page 112: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

94

Por exemplo vamos falar dos espaços próprios para o treino dos guarda-redes:

não sou apologista de que se faça um espaço definitivo, mas sim espaços

amplos, abertos, criando as situações talvez com os tais objectos amovíveis;

Também não sou apologista do caso da gaiola fechada para incrementar a

agressividade e a intensidade, ou até como no Manchester United onde vi

quadrados fixos de 10x10m para os meínhos, julgo haver vantagem na

flexibilidade dos espaços amplos.

3. Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis, iniciados,

juvenis, juniores e seniores, qual é para si o número ideal de campos

estabelecendo a relação relvados naturais versus/sintéticos?

Resposta:

Tomando como base que o ideal seriam todos os campos serem de relva

natural, mas que atendendo a questões de utilização contínua e até climáticas

talvez seja necessário o sintético, julgo que o ideal passaria por:

Até ao escalão de Iniciados - bom sintético para treinos e jogos;

Juvenis e Juniores - pelo menos dois relvados de relva natural para jogar e

treinar;

Um relvado de relva natural para o treino dos seniores com dimensões de pelo

menos dois campos de jogo.

De qualquer forma quero referir que os campos devem constituir opções

abertas, amplas, com possibilidade de marcações progressivas em função do

escalão.

4. Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino

disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o

público?

Resposta:

Page 113: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

95

Sim, pois cria e incrementa maior afinidade com o clube, maior contacto com

os sócios, proximidade com os atletas de todos os escalões…

5. Partindo do principio de que existem três etapas na formação de um jogador

- 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da

maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de

treino?

Resposta.

Não, pelo menos na dimensão não.

Há contudo que diminuir os espaços para treino e jogos.

Nos jovens talvez começar com 4x4 evoluindo quem sabe para 8x8 indo até ao

11x11, naturalmente sempre acompanhado com a consequente evolução do

espaço de treino e de jogo.

Miguel Leal

Mestre em Ciências do Desporto. Treino de Alto Rendimento

Treinador do Nível IV

1 - Deve haver um espaço comum - zona de contactos - trocas de experiência,

de forma a criar afectividade ao clube e uma maior ligação entres as estruturas.

Refiro o modelo francês em que são os Seniores que dão o treino.

De qualquer modo também há vantagens de trabalhar isoladamente os

Seniores pois o pormenor faz a diferença, já que estão em causa muitos

milhões de investimento.

Como eventual desvantagem, refiro a deslocação dos Centros de Treino dos

centros urbanos sendo preciso criar soluções para resolver a deslocação.

A separação faz com que haja problemas na metodologia de treino - cada qual

segue o seu rumo - o que pode conduzir ao insucesso.

Page 114: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

96

Exemplo aplicado na U.D. PAREDES - os treinadores dos Seniores treinam as

camadas jovens. O balneário do treinador sénior está sempre aberto a todos os

treinadores das camadas jovens - assim se percebe a “filosofia”.

2 -Nem um nem outro.

Devem ser espaços mistos e complementares.

No Ajax, na iniciação existem professores para a técnica de coordenação e da

corrida.

Julgo poder haver zonas para treino de guarda-redes, para treino de ponta de

lança, zonas para treinos das idades mais jovens.

Sobre a Gaiola de Sachi ela é aplicada ao treino de alto rendimento, para

aumentar a velocidade do jogo e a ser aplicada nas camadas jovens funcionará

para aumento da motivação provocando maior número de vezes de contacto

com a bola

Talvez criar zonas para o treino de jogo aéreo já que cada vez mais ele é

determinante e não há treino específico, quem sabe talvez um espaço curto de

30x40metros com bolas penduradas, a utilização da própria gaiola, etc.

No caso do guarda-redes e mesmo sabendo que o treino mais importante é o

integrado na equipa (pés, comunicação, …) há toda a vantagem em espaço

próprio para o treino técnico.

Poderíamos pensar em ter uma parede com deformações para a bola mudar

de direcção!

3 - Atendendo à especificidade do espaço fazia para grandes grupos

atendendo aos escalões, isto é, fazia espaços para junções de escalões.

Os campos teriam dimensões adaptadas às características variando o

comprimento e a largura.

o Escolas + Infantis;

Page 115: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

97

o Iniciados + Juvenis;

o Juniores + Seniores.

Sou de opinião que deveriam ser todos em relva natural. Os sintéticos causam

malefícios físicos e fisiológicos por causa do impacto.

Os sintéticos deveriam aparecer como “ campos de apoio” e dimensões

superiores ao máximo do campo normal, permitindo utilização mútua em várias

utilizações.

A adaptação ao jogo tem problemas no sintético já que este é inalterável, logo

no jogo de sénior, jogado em relva natural o jogador não saberá reagir à

deformabilidade do piso (buraco, zona alta, zona sem relva…)

4 - Concordo. Está na 1ª resposta. Há uma maior afectividade com os adeptos.

5 - Faz, em termos de espaço de treino e até de jogo!

Joaquim Alberto da Costa Milheiro e Silva

Licenciatura em Desporto e Educação Física, Opção Futebol*

* Realização de trabalho monográfico

Treinador de Futebol Nível II - UEFA - Basic

1 - Se pretendemos que exista uma única visão de clube, uma única filosofia de

jogo, se desejamos possuir uma identidade própria é fundamental essa

coexistência nos Centros de Treino. Quando as pessoas partilham os mesmos

espaços, forma-se uma teia de união e comunicação profícua ao

desenvolvimento do Clube, do jogador, bem como, de todas as pessoas que

nele gravitam.

Sendo um dos principais objectivos do futebol de formação ajudar a crescer e

criar condições para que os jovens integrem a principal equipa do Clube, então

Page 116: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

98

convivendo, interagindo em espaços comuns, essa passagem ocorrerá com

naturalidade e sem grandes dificuldades. Como os espaços comuns ajudam a

aproximação das pessoas, estas deixam de ser estranhas. Os possíveis

momentos de troca de palavras e actos ajudará a transmitir e a fortalecer aquilo

que é designado de mística do Clube.

Não chega a ambivalência espacial, para que os espaços tenham vida própria

é necessário que as pessoas estejam dispostas a interagir, a partilhar as

condições espaciais. As condições espaciais serão tanto mais valiosas quanto

melhor as pessoas as saibam utilizar e rentabilizar.

2 - Espaços específicos são os campos de futebol. É neles que os jogadores e

a sua equipa actuam, se movimentam, interagem entre si e os adversários.

Todos os outros espaços, como a pista inclinada, a caixa de areia, considero-

os como espaços compensatórios, a sua utilização torna-se benéfica quando

há necessidade de resolver determinados problemas, resultantes de lesões ou

do próprio individuo, que no terreno de jogo não são possíveis solucionar.

Para que existam elevados rendimentos desportivos é fundamental a presença

da especificidade. Um dos elementos importantes para a sua manifestação é o

respeito pelo local de treino, o campo de futebol!

Desta forma ocorre adaptação fisiológica, motora e psico-cognitiva específica.

Quanto mais vezes visitamos uma cidade melhor a conhecemos e mais aptos

estamos para a explorar.

Vejamos o exemplo da Liga dos Campeões, as equipas quando jogam fora tem

a possibilidade de efectuar um treino no local de competição, esta prática

demonstra o quão é importante conhecermos e adaptarmo-nos ao espaço onde

vamos actuar.

Entendo que o treino tem de ocorrer nos espaços específicos para que ocorra

uma adaptação específica, benéfica ao rendimento desportivo.

Page 117: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

99

3 - Ter o ideal no futebol como na vida é quase impossível, todavia devemos

ter ambição para o alcançar. O ideal estará em permanente transformação, tal

como as mudanças da vida.

O ideal do número de campos estará relacionado com o número de equipas

por escalão, com os horários dos treinos e com o número de treinos semanais.

Tendo isto em consideração e o tipo de relvado estaremos perante diversos

cenários possíveis. Uma hipótese é as equipas profissionais treinarem de

manhã e as equipas de formação à tarde e a partir das 16 horas.

No caso do futebol sénior são necessários quatro campos de futebol de relva

natural, já em relação à formação serão precisos dois campos de relva

sintética, este número aumentaria para o dobro caso fosse possível utilizar só

relva natural.

Considero que o número ideal de campos será aquele em que nenhum dos

escalões fique condicionado no seu processo de aprendizagem e

aperfeiçoamento pela ausência de espaços.

A existência de espaços adequados permitirá a criação de situações de

exercitação fundamentais à melhoria da performance individual e colectiva.

Então os espaços de treino sempre que devidamente utilizados serão uma

mais valia no processo de formação

4 - O público é um participante activo no jogo de grande preponderância no

aumento qualitativo do futebol, isto porque a carga emocional que transporta

ajuda os jogadores a evoluírem pelo sentido de responsabilidade, de respeito e

auto-superação, cria ou reforça a proximidade parental, provoca um clima de

pressão com o qual é preciso viver tornando-o não num adversário, mas sim

num reforço e transmite vida e alma ao jogo pelo entusiasmo demonstrado.

Então independentemente do tipo de intervenção do público, seja ele mais ou

menos positivo deverão existir condições nos locais de competição para os

receber. Estes devem ser respeitados porque são importantes para a formação

do jogador e para a melhoria do futebol. No caso dos familiares dos jogadores

em particular os pais, os clubes devem ajudá-los de forma a que estes tenham

Page 118: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

100

um comportamento positivo perante a competição. Desta forma os pais

sentem-se valorizados e ficam a saber que são importantes no processo de

formação, reconhecem que o clube procura criar as melhores condições para

os seus filhos/jogadores evoluírem e verifica-se que a formação é realmente

importante.

A proximidade público/jogador nos Centros de Treino será uma mais valia em

qualquer processo de formação que se pretenda aberto, interactivo e de

qualidade superior ao nível dos valores psico-sociais.

5 - Tendo em consideração que o processo de desenvolvimento dos jogadores

é diferenciado, pode ser prejudicial estabelecer etapas cronológicas. Estas não

funcionam como definidoras de aquisição motora e comportamental.

A existência da diferenciação dimensional, ou seja, a dimensão dos espaços é

benéfica ao desenvolvimento do jogador porque respeita o seu nível

maturacional. Jogadores com oito e nove anos tem dificuldades em

dominar/controlar o espaço, o nível de desenvolvimento das capacidades

motoras não lhes permite a execução de determinados gestos técnicos e a sua

capacidade de visão de jogo é relativamente reduzida. Então para que estes

problemas sejam ultrapassados e a evolução do jogador continue é necessário

o treinador redimensionar o espaço para as capacidades do jogador.

À medida que avançamos na idade cronológica e em particular, na idade

biológica os jogadores possuem melhor capacidade de resposta e portanto as

dimensões do terreno devem aumentar até às definidas nas regras de futebol

de 11.

As pessoas calçam sapatilhas adaptadas ao formato e tamanho do seu pé

porque assim sentem-se confortáveis.

Entendo que deve existir diferenciação dimensional e não diferenciação

espacial, isto é, todos nos mesmos espaços com nuances dimensionais

diferenciadas.

Page 119: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

101

Rui Quinta

Licenciatura em Ciências do Desporto e Ensino de Educação Física com opção

de Desporto de Rendimento - Futebol

Treinador do Nível IV

1 - A concentração logística é claramente uma vantagem, de qualquer forma

temos de ter sempre presente a imperiosa necessidade de dispor de área

distintas para a formação e para a equipa profissional, com o cuidado de prever

alguns espaços comuns.

Julgo relevante dispor de espaços para alojamento e para as refeições.

Sou de opinião que se deve concentrar todas as equipas de futebol no mesmo

Centro de Treino, com muitas vantagens nomeadamente no entusiasmo dos

miúdos, pela proximidade dos seus ídolos, favorecendo a identidade do clube.

2 - Se pudermos contemplar as diferentes situações, tanto melhor, de

qualquer modo a que dou especial atenção é aos campos de futebol, todos os

outros espaços devem ser considerados como espaços complementares, só

para situações especificas e não para uso diário, isto é, para recuperar

determinado atleta para melhorar determinados aspectos a 2 ou 3 outros

atletas, aí sim são recursos importantes.

Por último parece-me que um espaço coberto faz falta.

3 - No mínimo deve ter:

o 1 campo de jogos oficial;

o 1 relvado natural com dimensão de 3 campos;

o 1 relvado natural de apoio para equipas jovens;

o relvados sintéticos;

Page 120: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

102

o 1 espaço pelado para as idades de iniciação de forma a valorizar a

adversidade como forma de desenvolvimento e construção de

argumentos.

Todo este conjunto resulta da necessidade da atenção que devemos ter em

termos de organização do treino, tempo de treino e horários diferentes de

treino.

4 - É importante.

Pela envolvência do lugar da actividade e pela valorização de todo o processo

logístico, é ali que temos tudo o “que é nosso”.

A formação deve traçar objectivos, e um deles deve ser vir a jogar onde jogam

os maiores.

Por outro lado favorece a mística do clube.

5 - Não tem nada a ver!

Podemos e devemos treinar em qualquer espaço, tendo em atenção que o que

é importante é a organização do treino. Devemos evitar as dificuldades de ter

de treinar em meio campo, isto é, dividir o campo em dois espaços para

utilização simultânea de dois escalões.

Posso no entanto compreender que nas idades mais baixas seja talvez

importante jogar no pelado, futebol de 7, treinar em diferentes superfícies de

forma a ir adquirindo argumentos positivos ao vencer as dificuldades.

Realço contudo que o importante é o padrão de treino!

Nos últimos anos da formação o treino tem de ser feito sempre no campo de

jogo.

Page 121: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

103

3.3 - Entrevista aos Coordenadores Técnicos

Agostinho Oliveira

Coordenador das selecções de formação da Federação Portuguesa de Futebol

Membro da equipa técnica da Selecção Nacional

1 - Considera de interesse que a concepção dos Centros de Treino permita a

coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação? Destaque as

vantagens e desvantagens..

O enquadramento de muitos dos centros que conheço, admite o espaço físico

conjunto mas não deixa de legitimar o espaço do futebol profissional e os (o)

outros.

O espaço de pernoita, restaurante, e áreas de lazer correspondem a espaços

diferenciados e muita das vezes em nenhum momento os jogadores se

cruzam.

O espaço de maior visibilidade à distância é o dos campos, dada a sua

proximidade conjunta.

Cada vez mais estas barreiras, principalmente no norte da Europa, estão-se a

diluir e embora assente em situações convenientemente objectivadas,

começando por simples chamadas para trabalho conjunto ou do grupo, raras,

ou então mais evidentes pelas chamadas individuais.

Residir, vivenciar o mesmo ambiente, estar perto dos “craques”, ser chamado

para trabalhos com escalões superiores são factores fundamentais para um

crescimento estabilizado.

A cobertura efectuada superiormente pela “ casa mãe ” ajuda e muito no apoio

às diferentes exigências (lacunas) nomeadamente no que diz respeito ao

enquadramento sócio-familiar, importante dado o carácter da dispersão

geográfica e a ausência dos familiares e amigos.

Page 122: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

104

Sem dúvida que por conhecimento e diálogos abertos com os outros jogadores,

o facto de se sentirem no dia a dia mais próximo dos seus ídolos, a qualidade

das infra-estruturas e o apoio incondicional de todos os que os rodeiam fazem

com que a distância “afectiva”encurte e torna-os melhor preparados para

atingirem o objectivo dominante.

2 - Considera que os espaços devem ser generalistas (campos de futebol

tradicionais) ou, pelo contrário, que cada vez mais os Centros de Treino devem

dispor de espaços específicos (treino de guarda-redes; pista inclinada; gaiola

de Sacchi ; espaço coberto, pista de propriocepção, caixa de areia ….)?

Fundamente.

Todos os centros praticamente estão preparados modernamente com as

estruturas cujo interesse se localiza na melhoria das condições e capacidades

dos atletas, isto porque a investigação está no campo e a oferta pretende

atingir novos mercados, basta haver dinheiro para tal.

Todos os que tenho visitado tem praticamente tudo (academias) o mesmo por

vezes não acontece com os Centros de Excelência.

Isto para dizer da importância das áreas específicas e que todos avanços tem

um limite que é o económico porque o desejo de todos eles é terem tudo

mesmo que mais tarde os ignorem e sinceramente conheço alguns casos.

Outras situações têm a ver com o “risco” do complexo, com olhos só para os

espaços físicos (campos) e sem perspectiva actualizada pelo menos na

garantia de situações futuras.

3 - Na estrutura tradicional do futebol português: escolas, infantis, iniciados,

juvenis, juniores e seniores, qual é para si o nº ideal de campos estabelecendo

a relação relvados naturais versus/sintéticos?

Em minha opinião devem ser 2 relvados naturais, 2 sintéticos e 2 campos de

futebol de 7.

Page 123: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

105

4 - Reflicta sobre esta afirmação - É importante que o Centro de Treino

disponha de pelo menos de um espaço de competição com bancada para o

público.

A bancada num campo está praticamente assumida por quase todos o Centros

e a importância da mesma pode ter interesse económico, dado o confronto em

alguns jogos com outras equipas, há no entanto que ter em conta problemas de

ordenação do mesmo espaço, preservação do mesmo para situações mais

resguardadas e até para o plano de observação por parte dos elementos da

equipa técnica.

5 - Partindo do princípio de que existem três etapas na formação de um jogador

- 7 aos 12 anos, 13 aos 15 anos, 16 aos 18 anos e ainda a etapa da

maturação, faz ou não sentido haver zonas diferenciadas e específicas de

treino?

Sem dúvida, a importância de um tratamento diferenciado respeitador das

etapas do desenvolvimento genético correcto e nunca perspectivando a noção

mais que errada mas continuadamente implícita de que trabalhamos com “um

adulto em miniatura”

Para além de conhecimentos adequados de que as realidades tácticas passam

pela capacidade e resposta formal. E que correspondem, a não ser em

situações precoces a um momento próprio da evolução mental do atleta.

Luís Castro

Director Técnico da Formação do F. C. Porto

Treinador de Nível IV

1 - Considero de interesse, isto é, pode ser interessante, pois as vantagens são

mais importantes que as desvantagens.

As vantagens são notórias para as camadas de formação.

Page 124: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

106

Os atletas da formação podem dispor das suas referências muito de perto,

podem conviver e trabalhar no mesmo espaço. Visualmente o seu objectivo, o

seu sonho é alimentado diariamente.

Por outro lado, promove a ligação entre as estruturas, tornando o caminho mais

sólido e mais identificado, reforçando claramente o espírito de grupo e a

identidade do clube, já que provoca naturalmente maior contacto diário de

todos os agentes envolvidos no futebol do clube.

De qualquer modo para que não seja uma desvantagem deve dar-se atenção

especial aos espaços de forma a não interferir com a necessária privacidade do

futebol profissional. O objectivo deve passar por não perturbar os trabalhos dos

profissionais.

Dispomos de regras próprias e bem definidas de forma a que não haja o risco

de qualquer distracção no trabalho da equipa A.

No nosso Centro de Treino os espaços são distintos e separados, havendo de

qualquer modo uma aproximação intencional dos Juniores A.

Neste momento vivemos o primeiro ano de intensa utilização do Centro de

Treino, com aproveitamento máximo.

Temos actividade das 9 horas às 21 horas, com o intervalo das refeições.

2 - Achamos que devem dispor do espaço de jogo pois é lá que estão as

referências do próprio jogo.

No entanto na primeira fase da formação, achamos importante remodelar a

Constituição com alguns espaços diferenciados.

Assim dispomos de um campocoberto, com relvado sintético para futebol de 7

, de um relvado sintético para futebol de 11 e de um espaço fechado (gaiola)

com dimensões de 30x30 metros com piso “pelado”. Lamentamos não dispor

de um campo “pelado” para futebol de 11, pois acreditamos que os miúdos

assim tinham solicitações de maior exigência, provocando maior

Page 125: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

107

desenvolvimento técnico, com o natural reajustamento da bola, do drible, do

passe, etc.

Todos os outros espaços devem ser entendidos como espaços

complementares.

Para nós, na formação o importante é que os jovens sejam solicitados em

espaços de várias dimensões, diferentes tipos de piso, sempre com o

pensamento que o fundamental é o contacto com a bola

3 - Para a equipa A, claramente 3 campos de relva natural, até pela experiência

que vivemos de utilização intensiva e o facto de que o estado dos três relvado

de que dispomos é excelente.

Para a formação, penso que o ideal seriam 4 relvados naturais e 2 relvados

sintéticos, permitindo utilização intensiva e simultânea, para a compatibilização

dos horários.

Neste momento os nossos escalões em termos de competição só usam o

relvado sintético até aos Sub-14, isto é a partir dos Sub-15 a competição é feita

no relvado natural.

4 - É obviamente importante.

A nossa filosofia é proporcionar as melhores condições a todos os

intervenientes no fenómeno desportivo, pelo que achamos importante

mostrarmos o nosso trabalho aos fins-de-semana e que as pessoas que nos

vêem possam dispor de boas condições.

Pretendemos dar razões às pessoas para que venham aos nossos jogos das

camadas de formação e não afastá-las.

Sou de opinião que os Centros de Treino devem dispor sempre de local de

competição e que tenham sempre uma bancada para o público, se não for em

condições óptimas, pelo menos com o mínimo indispensável.

Page 126: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

108

No que toca aos atletas as vantagens são óbvias atendendo a que podem

competir no espaço de referências dos treinos diários.

5 - Faz sentido nomeadamente para a 1ª fase da formação (veja-se o nosso

projecto para a Constituição).

De qualquer modo o que sabemos é que nos mesmos espaços de treino

devem dar-se sentidos diferentes aos treinos.

A nossa orientação está determinada da seguinte forma:

Dos 7 aos 12 anos - Técnica e táctica individual;

Dos Sub-12 aos Sub-17 - Técnica e táctica colectiva;

Nos 2 últimos anos de Juniores, entendemos ser a fase das provas constantes,

do exame intenso e diário das condições dos atletas.

Sendo assim, é evidente que os treinos terão de ser diferenciados.

Em resumo direi que até aos 13 anos faz sentido, mas depois devem dispor de

espaços comuns.

Eduardo Esteves

Coordenador Técnico da Formação do Varzim S.C.

Licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física com especialidade

em futebol de alto rendimento

Treinador UEFA - Basic - Nível II

1 -Para mim é fundamental!

Na proximidade dos diversos escalões a divergência entre a cultura e a

metodologia é muito menor, há uma grande aproximação para um caminho

comum.

Page 127: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Descritiva

109

Não vejo nenhuma desvantagem, a não ser algum desgaste das estruturas que

com uma boa gestão não será relevante.

2 -Considero importante a existência de um espaço para treinos dos guarda-

redes, que deve ter as referências, isto é, as marcações das linhas para treinos

de cantos, cruzamentos e remates.

Um mini campo para desenvolvimento técnico, de modo a incrementar séries

de jogos para o apoio técnico, para apoio lúdico e para a recuperação - campo

de skills

3 - Para um clube da dimensão do Varzim julgo que o essencial seria:

o campos sintéticos;

o 1 campo de relva natural para treino e competição que deveria dispor

de bancada para o público

o 1 “prado desportivo” livre sem marcações para não haver desgaste da

relva, isto é, poder-se-ia marcar o campo sempre em função do

desgaste. Este espaço deveria permitir a inclusão de dois campos

oficiais.

4 - É importante.

Se pretendemos formar o atleta para a competição devemos aproximá-lo da

competição real.

Habituar-se à situação do clube, o susto da bancada é claramente uma

adaptação à vida real do futebol profissional.

5 - Não deve haver diferenciação especial. Deve ter os espaços já falados.

O treinador é que dispõe das condicionantes para aumentar ou diminuir a

complexidade do estímulo.

Page 128: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

110

Page 129: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

111

4. ANÁLISE INTERPRETATIVA

Page 130: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

112

Page 131: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Interpretativa

113

4.1 - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treino

Os entrevistados claramente referem por unanimidade haver interesse nesta

coexistência.

A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, onze

são destinados ao futebol profissional e ao futebol de formação, sendo que dos

restantes cinco o futebol de formação (pelo menos até determinado escalão)

está em espaço geograficamente diferente.

Das entrevistas é possível reter algumas ideias:

o Maior aproximação entre a Formação e o Futebol Profissional;

o Aumento das sinergias entre Futebol Profissional e o Futebol da

Formação;

o Reforço da identidade do clube;

o Maior identidade do Centro de Treino;

o Maior visibilidade mediática do Futebol de Formação;

o Maior estímulo para os atletas da formação;

o Visualização das suas referências;

o Maior ligação entre as estruturas e os agentes desportivos do clube;

o Uma única visão de clube, criação de “espírito de corpo” nos agentes

desportivos;

o Maior identificação da metodologia de treino;

o Residir, vivenciar o mesmo ambiente, estar perto dos “craques”, ser

chamado para trabalhos com escalões superiores são factores

fundamentais para um crescimento estabilizado;

o Interacção em espaços comuns, conviver e trabalhar no mesmo

espaço (com algumas restrições);

Page 132: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Interpretativa

114

o Conceber o espaço de forma a que se individualizem os espaços de

utilização dos atletas profissionais e dos atletas das camadas de

formação, havendo zonas de contacto;

o O enquadramento de muitos dos Centros…., admite o espaço físico

conjunto mas não deixa de legitimar o espaço do futebol profissional e

os (o) outros.

o Gestão dos horários;

o Mística do clube.

4.2 - Relação entre espaços generalistas e espaços específicos

A maioria dos entrevistados refere haver necessidade de espaços específicos.

Dos nove entrevistados, seis referem essa necessidade, sendo que desses

seis, dois observam que o mesmo se justifica essencialmente para a primeira

fase da formação (curiosamente reflectindo a filosofia do clube onde trabalham

- Futebol Clube do Porto) .

A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, onze

dispõem dos mais variados espaços específicos para o treino, sendo que na

concepção dos restantes a opção recaiu em espaços generalistas.

Das entrevistas é possível reter algumas ideias:

o Deverão existir espaços específicos, partindo do princípio que para

atingir a excelência na formação é necessário trabalhar o detalhe;

o Espaços diferenciados para a iniciação;

o Espaços de terra batida (pelados) para a iniciação,

o Mini sintético vedado;

o Áreas livres, marcando os campos em função do tipo de treino;

o Espaços mistos e complementares;

Page 133: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Interpretativa

115

o Espaços de treino para guarda-redes;

o “Gaiola de Sacchi” - treino de alto rendimento

o Espaço para treino de jogo aéreo;

o Deve haver diferenciação dimensional e não espacial;

o Faz todo o sentido haver zonas diferenciadas e específicas de treino

para a iniciação;

o Solicitar os jovens em espaços de várias dimensões e diferentes tipos

de piso;

o Espaços diferenciados para a 1ª fase da formação;

o Espaço coberto.

o Todos os espaços que não sejam campos de futebol são espaços

compensatórios;

4.3 - Necessidade de um espaço de competição com bancadas para o público

Os entrevistados claramente referem por unanimidade haver interesse na

existência de um espaço de competição com bancadas para o público nos

Centros de Treino.

A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, dez

dispõem de espaço para a competição com bancadas para o público.

Das entrevistas é possível reter algumas ideias:

o A bancada num campo está praticamente assumida por quase todos o

Centros;

o Identificação do grupo de trabalho com o espaço de jogo - poder

competir no espaço de referências do treinos diários;

Page 134: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Interpretativa

116

o Sentir o “peso do público” - clima de pressão com o qual o atleta tem

de aprender a viver;

o Logística mais ligeira na organização dos jogos;

o Maior afinidade com o clube;

o Maior contacto com os adeptos e os sócios;

o Proximidade dos atletas dos vários escalões;

o A proximidade público/jogador é uma mais valia do Centro de Treino;

o Será difícil para um Centro de Treino não ter um espaço para poder

organizar competições (oficiais/não oficiais) e outros eventos, em que

o público não possa ter acesso;

o Conceber a circulação do público de forma a que aceda à bancada do

espaço de competição sem “invadir” os outros espaços de trabalho.

4.4 - Número ideal de campos e a relação relvados naturais / relvados sintéticos

Das entrevistas resulta claro a necessidade da existência de dois tipos de relva

para os pisos dos campos de treino - relva natural e relva artificial. Nota-se

também a unanimidade na preferência da utilização da relva natural, sendo que

razões de gestão (saturação dos campos de relva natural) implicam a que para

o futebol de formação deverá ser utilizado a relva artificial de forma a permitir

maiores horas de utilização.

Quanto ao número ideal de campos, as respostas são de vária ordem, como

era de esperar, dependendo naturalmente de vários factores.

A pesquisa mostra-nos que dos dezassete Centros de Treino visitados, onze

dispõem de campos de treino em piso de relva natural e campos de treino em

piso de relva artificial, os restantes seis Centros de Treino visitados, todos de

clubes brasileiros utilizam pisos de relva natural (o Botafogo F. R. dispõe de um

pequeno espaço em relva artificial para treinos do guarda-redes)

Page 135: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Análise Interpretativa

117

Das entrevistas é possível reter algumas ideias:

o O número de campos deverá ser directamente proporcional ao número

de equipas. Para o trabalho de formação geral, deverá existir um

campo por equipa;

o Clubes da dimensão dos três grandes - 3 campos de relva natural e 3

campos de relva sintética;

o Outros clubes profissionais - 2 campos de relva natural e 2 campos de

relva sintética;

o O ideal seria todos serem de relva natural,

o A hipótese de construção de campos sintéticos só deverá ser

considerada se a taxa de utilização prevista for de um valor que um

campo de relva natural não consiga suportar;

o 1 espaço de relva natural com dimensão de dois campos

(Profissionais), 2 relvados naturais para Juniores e Juvenis e 1

sintético para os outros escalões;

o Os campos devem constituir opções abertas com marcações

progressivas em função do escalão;

o 4 campos de relva natural ( profissionais), 2 campos de relva sintética(

formação);

o 3 campos de relva natural (profissionais) e 4 campos de relva natural

e 2 sintéticos para a formação;

o 2 relvados naturais , 2 sintéticos e 2 campos de futebol de 7;

o 1 campo de jogo oficial, 1 relvado natural com dimensão de 3 campos,

1 relvado natural para jovens, 2 relvados sintéticos e 1 pelado.

Page 136: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

118

Page 137: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

119

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 138: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

120

Page 139: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

121

Com a nossa dissertação tentámos apresentar elementos que permitam a

modelação dos Centros de Treinos dos clubes de futebol nomeadamente no

que toca aos aspectos relacionados com os espaços de trabalho táctico-

técnico, leia-se campos de aprendizagem, campos de treino, e espaços para a

competição das camadas de formação. Sempre tendo em linha de conta,

contudo, que esta proposta modelo não pode deixar de reflectir a dimensão, o

estatuto e a estratégia dos clubes em causa.

5.1 - Conclusões

Julgamos estar em condições de afirmar que os Centros de Treinos dos clubes

de futebol devem ser concebidos na sua gestão e funcionalidade de modo a

disporem das seguintes condições:

o - Coexistência do Futebol Profissional com o Futebol de Formação nos Centros de Treinos - devem ser concebidos de forma a serem um

espaço de treino destinado a todos os escalões do clube;

o - Especificidade dos espaços dos Centros de Treino - há vantagens

em dispor de alguns espaços para situações específicas do treino de

futebol;

o - Espaço de competição com bancadas nos Centros de Treino - há

várias vantagens na existência de um espaço de competição com

bancadas para o público com capacidade variável em função do tipo de

clube e tradições no que toca à afluência aos jogos das camadas de

formação;

o - Número ideal de campos - Relva natural / Relva sintética- achamos

que haverá toda a vantagem em que existam pelo menos três campos

em relva natural(profissionais e Juniores) e que os mesmos sejam

construídos em paralelo facilitando claramente a gestão da manutenção

dos espaços de relva utilizados em função das sobrecargas e das

condições climatéricas.

Page 140: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

122

o Preconiza-se ainda um espaço de treino e competição em relva sintética

(atendendo à evidente sobrecarga de utilização) para as camadas de

formação que competem no futebol de 11.

o Para as escolas preconiza-se a existência de um espaço em relva

sintética (atendendo à sobrecarga de utilização) com as dimensões que

comportem um campo de futebol de 11 e dois campos de futebol de

sete, proporcionando assim uma eventual actividade simultânea das

escolas.

o Como complemento de todos estes espaços surgem os espaços

específicos para treinos de guarda-redes e um espaço coberto

concebido para cumprir a missão de proporcionar o treino específico em

condições climáticas desfavoráveis.

Por último concebemos um espaço perfeitamente diferenciado para a

iniciação, constituídos por dois espaços fechados em terra batida de

20mx10m e de 40mx20m e um campo em terra batida para o futebol de

sete de forma a dar resposta não só ao que encontramos na literatura

mas fundamentalmente à sensibilidade que fomos colhendo.

5.2. - Proposta modelo

A proposta modelo apresentada é o reflexo da conjugação daquilo que foi

extraído e assimilado da literatura, com a análise interpretativa das ideias dos

agentes desportivos entrevistados, bem como, é claro, da visão resultante da

nossa vivência desportiva como atleta e treinador.

Page 141: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

123

O Centro de Treinos ideal deverá ser concebido para ter pelo menos o seguinte

equipamento no que toca a espaços para o treino do futebol:

- Um espaço de competição com bancadas para o público, com capacidade

para pelo menos 1000 pessoas, e um campo de jogos com o piso em relva

natural e as medidas oficiais de 105mx68m preconizadas pela UEFA

Figura 1 - Espaço de competição - Futebol de Formação

(Modulação 3D)

Page 142: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

124

- Um espaço rectangular de relva natural para treinos em que se possa

circunscrever 3 campos de futebol de 11 em paralelo, com as medidas

preconizadas pela UEFA - 105mx68m, sugerindo-se que o rectângulo tenha

115 metros de comprimento (5+105+5) por 220 metros de largura (4+

68+4+68+4+68+4).

Figura 2 - Espaço de treino - Futebol Profissional - Futebol Júnior A

(Modulação 3D)

Page 143: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

125

- Um campo de jogos com o piso de relva sintética e as dimensões de

105mx68m para treinos e jogos das camadas de formação. Podendo ainda ser

marcado para jogos de futebol de sete da Escolas.

Figura 3 - Espaço de treino e competição - Futebol de 11 –

Futebol de Formação (Modulação 3 D)

Page 144: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

126

-Um espaço rectangular com balizas amovíveis e o piso de relva

sintética de forma a circunscrever um campo de futebol de 11 e que também

comporte dois campos de futebol de 7, utilizando a largura do campo de futebol

de 11 para o comprimento do futebol de 7, sugerindo-se que o rectângulo tenha

125 metros de comprimento (5+ 55+5+55+5) e 80 metros de largura.

Estas medidas foram concebidas tomando como base as medidas

oficiais recomendadas pela UEFA para o futebol de 11 (105mx68m) e as

medidas máximas para o futebol de 7 (70mx55m). Este espaço será utilizado

para treinos das camadas de formação e competição das Escolas.

Figura 4 - Espaço de treino para o Futebol de Formação e competição

para as Escolas (Modulação 3 D)

Page 145: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

127

- Um espaço em relva natural para treino de guarda-redes com a

superfície de metade de um campo de futebol de 11, podendo também ser

utilizado para treinos específicos em espaços reduzidos, admitindo-se como

possível as medidas de 30mx40m usual em alguns espaços “visitados” .

Figura 5 - Espaço para treino específico de Guarda-Redes

(Modulação 3 D)

Page 146: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

128

- Um espaço coberto, com paredes laterais e piso de relva sintética com

as medidas do futebol de 7.

Figura 6 - Espaço coberto (Modulação 3 D)

Page 147: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

129

- Um espaço diferenciado para a iniciação contendo :

- Uma zona rectangular de 20mx10m sem marcações, em piso de terra

batida, com paredes laterais encimadas por redes metálicas para jogos de 3x3;

Figura 7 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 20 x 10 “ (Modulação 3 D)

- Uma zona rectangular de 40mx20m sem marcações, em piso de terra

batida, com paredes laterais encimadas por redes metálicas para jogos de 5x5;

Figura 8 - Espaço para a iniciação “Gaiola - 40 x 20 “ (Modulação 3 D)

Page 148: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

130

- Um campo de futebol de 7 com marcações, em piso de terra batida.

Figura 9 - Espaço para a iniciação - Futebol de 7 (Modulação3 D)

5.3 - Sugestões

Como sugestão para trabalhos futuros, achamos que no processo da gestão da

formação dos jogadores de futebol era interessante o desenvolvimento de uma

matriz caracterizadora de aspectos técnicos, tácticos, físicos e psicológicos a

serem observados, monitorizados e analisados no processo de detecção e

selecção de talentos nos clubes de futebol, trabalho esse que deveria ser

desenvolvido em parceria com as Instituições de ensino e investigação, as

Instituições reguladoras do Futebol e os clubes de Futebol.

Ainda neste aspecto geral da gestão da formação dos jogadores de futebol

acreditamos ter ficado claro que é necessário e urgente a diferenciação em

aspectos substanciais da formação do treinador de futebol, de forma a ser

possível catalogarmos áreas específicas que devem fazer parte da estrutura

curricular dos Cursos de Treinadores de Futebol respectivamente para

Page 149: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

Considerações Finais

131

Treinadores do Futebol Profissional e para Treinadores do Futebol de

Formação.

No aspecto específico da concepção e funcionalidade dos Centros de Treinos

na sua globalidade, é importante o desenvolvimento por especialistas de cada

uma das áreas da sua valência da ideal da concepção e tipologia dos outros

espaços complementares essenciais para todos os Centros de Treino

(equipamentos de apoio, recuperação física, hotelaria e restauração, zonas de

lazer, imprensa, ….).

Por exemplo, acreditamos que há todo interesse que seja desenvolvido um

trabalho liderado por um especialista da Sociologia no que toca à discussão da

tipologia e caracterização dos alojamentos, especialmente para as camadas de

formação (número de ocupantes dos quartos e sua configuração, espaços de

convívio e entretenimento, locais de culto, …).

Há também um aspecto que atendendo ao valor cada vez maior do

activo/jogador para os Clubes, deve ser tido em consideração que é o aspecto

da recuperação de lesões, que como se viu na descrição dos Centros de

Treinos pesquisados merece um trabalho aturado por parte de especialistas, de

modo a chegarmos a uma modelação ideal de espaços e equipamentos

destinados a que essa recuperação seja feita no mais curto espaço de tempo.

Ficam aqui algumas sugestões que podem contribuir para a modelação global

de um Centro de Treino.

Page 150: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

132

Page 151: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

133

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 152: A Gestao Dos Centros de Treino Dos Clubes de Futebol

134

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