A MUNICIPALIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA: Bases … · acervo de pesquisas, baseadas em...
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CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
RELATÓRIO DE PESQUISA
A MUNICIPALIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA:
Bases Teóricas e Experiências de Implementação no RS
RODRIGO GHIRINGHELLI DE AZEVEDO
2
SUMÁRIO
1. Produção Acadêmica............................................................................... ....4
2. Referencial Teórico Desenvolvido................................................................9
2.1 Introdução....................................................................................9
2.2 Lições da Escola de Chicago......................................................12
2.3 “What Works?” As propostas do Realismo
de Esquerda para o Controle do Crime.......................................15
2.4 Crise do Estado e Segurança Pública.........................................18
2.5 O Modelo da Nova Prevenção....................................................21
2.6 A Perspectiva da Prevenção e o Papel dos Municípios..............25
2.7 O Papel do Governo Federal na Indução das Políticas
Municipais de Segurança............................................................34
2.7.1 A Secretaria Nacional de Segurança Pública...38
2.7.2 O Plano Nacional de Segurança Pública..........40
2.7.3 O Sistema Único de Segurança Pública...........42
2.7.4 O Fundo Nacional de Segurança Pública.........43
2.8 O Enfoque da Segurança como Direito Social............................45
3. Situação dos Municípios Pesquisados........................................................53
3.1 Porto Alegre...............................................................................53
3.2 São Leopoldo.............................................................................63
3.3 Novo Hamburgo.......................................................................107
3.4 Cachoeirinha............................................................................108
3.5 Alvorada.................................................... ...............................109
3.6 Gravataí..................................................... ..............................110
3.7 Esteio......................................................... ..............................110
3.8 Sapucaia do Sul.......................................................................111
3.9 Guaíba.....................................................................................111
3
3.10 Canoas.............................................................. .....................111
3.11 Caxias...................................................... ..............................112
3.12 Pelotas..................................................... ..............................112
3.13 Santa Maria............................................................................113
4. Conclusão..................................................................................................114
4. Referências Bibliográficas..........................................................................118
ANEXOS........................................................................................................130
4
1 Produção Acadêmica
Produção bibliográfica
Artigos completos publicados em periódicos 1. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de, Fagundes, A. L.. 2007. A Municipalização da Segurança Pública no Brasil : Pressupostos Teóricos e Critérios para a Implementação de Políticas Públicas de Segurança In Revista de Estudos Criminais. , v.1, 89-106 2. AZEVEDO, R. G.. 2006. Prevenção Integrada: novas perspectivas para as políticas de segurança no Brasil In Revista katalysis. , v.9, 38-42
Artigos aceitos para publicação 1. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de, Fagundes, A. L.. 2007. La Municipalización de la Seguridad Pública en Brasil: Presupuestos Teóricos y Critérios para la Implementación de Políticas Públicas de Seguridad In Delito y Sociedad.
Capítulos de livros publicados 1. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de, VASCONCELLOS, F. B.. 2008. Punição e Democracia: em busca de novas possibilidades para lidar com o delito e a exclusão social In Criminologia e Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos, edited by Ruth Maria Chittó Gauer. e ed 1. Vol. 1, 93-119. Porto Alegre - RS: EDIPUCRS 2. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli. 2006. Visões da Sociedade Punitiva - Elementos para uma Sociologia do Controle Penal In Violência e Sistema Penal, edited by Ruth Gauer, 43-62. Rio de Janeiro - RJ: Lumen Juris
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Livros organizados 1. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de, ANZILIERO, Dinéia L. et al.. 2008. Violência e Controle Social na Contemporaneidade vol. 3 d ed 1. vols 300, p. 262. Porto Alegre - RS: EdiPUCRS 2. AZEVEDO, R. G., CUNHA, E. P., TORELLY, M. D.. 2007. Violência e Controle Social na Contemporaneidade Vol. 2. vols 2, p. 163. Porto Alegre - RS: EDIPUCRS 3. AZEVEDO, R. G., TORELLY, M. D., UTZIG, M. P.. 2006. Violência e Controle Social na Contemporaneidade vol. 1 d ed 1. vols 1, p. 76. Porto Alegre - RS: EDIPUCRS
Trabalhos publicados em anais de eventos (completo) 1. Fagundes, A. L., AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de. 2008. A Municipalização da Segurança Pública no Brasil: pressupostos teóricos e critérios para a implementação de políticas públicas de segurança In Anais do CONNASP Congresso Nacional de Segurança Pública Maceió - AL 2008 2. AZEVEDO, R. G., CUNHA, E. P.. 2007. Experiências de municipalização da segurança pública no RS In Desigualdade, Diferença e Reconhecimento - Papers do XIII Congresso Brasileiro de Sociologia XIII Congresso Brasileiro de Sociologia Recife - PE 2007 3. AZEVEDO, R. G.. 2006. Para Além do Punitivismo - A invenção de novas alternativas de combate à violência para uma sociedade democrática e complexa In Violência e Controle Social na Contemporaneidade Iº Ciclo de Estudos Sobre Violência e Controle Social Porto Alegre 2005 1 9-15 Porto Alegre: PUCRS
Trabalhos publicados em anais de eventos (resumo expandido) 1. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de. 2008. Políticas Públicas de Segurança e Justiça Penal: Uma Agenda de Pesquisa In Violência e Controle Social na Contemporaneidade III Ciclo de Estudos e Debates sobre Violência e Controle Social Porto Alegre - RS 2008 3 135-137 Porto Alegre - RS: EdiPUCRS
6
Artigos em revistas (Magazine) 1. AZEVEDO, R. G.. 2006.Mitos e Alternativas para Reduzir a Violência In <i>Mundo Jovem</i> 12-13. Porto Alegre
Orientações e Supervisões
Orientações e Supervisões concluídas
Dissertações de mestrado : orientador principal 1. Maura Gisele Rozado Basso. Homicídios Ocorridos em Porto Alegre: Perfil e Agenciamentos. 2008. Dissertação (Ciências Criminais) - Pontifícia Universidade Católica do RS 2. Andréa Lucas Fagundes. A Municipalização da Segurança Pública: Estudo de Caso no Município de São Leopoldo-RS. 2007. Dissertação (Sociologia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul 3. Fernanda Pegorini. Guardiões da Desordem: Discurso e poder entre juristas e criminólogos na política de contenção à Criminalidade em Porto Alegre. 2007. Dissertação (Sociologia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Trabalhos de conclusão de curso de graduação 1. Shana Dora Gomes. Promotoras Legais Populares - Pluralismo Jurídico e Acesso à Justiça. 2007. Curso (Direito) - Pontifícia Universidade Católica do RS 2. Eduardo Pazinato da Cunha. Conselho Municipal de Justiça e Segurança: A Experiência de Gestão Participativa da Segurança em Porto Alegre (RS). 2006. Curso (Direito) - Pontifícia Universidade Católica do RS
Iniciação científica 1. Ana Maria Izolan. A Municipalização da Segurança Pública - Bases Legais e Teóricas e Experiências de Implementação no RS. 2007. Iniciação científica (Direito) - Pontifícia Universidade Católica do RS 2. Eduardo Pazinato da Cunha. A Municipalização da Segurança Pública - Bases Legais e Teóricas e Experiências de Implementação no RS. 2006. Iniciação
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científica (Direito) - Pontifícia Universidade Católica do RS 3. Marcelo Luchesi Cordeiro. A Municipalização da Segurança Pública - Bases Legais e Teóricas e Experiências de Implementação no RS. 2006. Iniciação científica (Direito) - Pontifícia Universidade Católica do RS
Eventos
Participação em eventos 1. Palestrante no Seminário Internacional Experiências de Prevenção da Violência nas Cidades. 2008. Prefeitura de Porto Alegre-RS – Porto Alegre(Seminário) 2. Conferencista no(a) Congresso de Direito Municipal - A Federação e as Políticas Públicas em Debate. 2007. Federação dos Municípios do Estado do RS – Porto Alegre(Congresso) A Atuação dos Municípios em Matéria de Segurança Pública. 3. Apresentação (Outras Formas) no(a) III Seminário Brasileiro de Sociologia Jurídica. 2007. Faculdade de Direito da PUCRS – Porto Alegre (Seminário) Conflitualidade Social, Violência e Segurança Pública. 4. Apresentação Oral no(a) XIII Congresso Brasileiro de Sociologia. 2007. SBS – Belo Horizonte (Congresso) Experiências de Municipalização da Segurança Pública no RS. 5. Apresentação Oral no(a) Mesa Redonda no 31º Encontro Anual da ANPOCS. 2007. Caxambu (Encontro) Políticas Públicas de Segurança e Justiça Penal: Uma Agenda de Pesquisa. 6. Conferencista no(a) Audiência Pública sobre Segurança e Direitos Humanos. 2007.Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do RS - Porto Alegre (Outra) Segurança Pública e Direitos Humanos. 7. Apresentação (Outras Formas) no(a)Construindo a Segurança Cidadã em Porto Alegre. 2006. (Congresso) 1ª Conferência Municipal de Segurança Urbana de Porto Alegre.
Organização de evento 1. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de, LIMA, R. K.Conflitualidade Social, Acesso à Justiça e Reformas nas Instituições Coercitivas do Sistema de Segurança Pública.
8
2007. GT Anpocs - Caxambu (Outro, Organização de evento) 2 AZEVEDO, R. G., MORAES, P. B., Porto, M.S.G.Grupo de Trabalho - Violência e Sociedade. 2007. GT SBS – Belo Horizonte (Congresso, Organização de evento) 3. AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de, CUNHA, E. P. et al.III Ciclo de Estudos e Debates sobre Violência e Controle Social. 2007. PUCRS – Porto Alegre (Congresso, Organização de evento) 4. AZEVEDO, R. G., CUNHA, E. P., TORELLY, M. D.IIº Ciclo de Estudos e Debates sobre Violência e Controle Social. 2006. PUCRS – Porto Alegre (Outro, Organização de evento) 5. AZEVEDO, R. G., LIMA, R. K., ZAVERUCHA, J.Seminário Temático Conflitualidade social, acesso à justiça e segurança pública. 2006. GT Anpocs - Caxambu (Outro, Organização de evento)
2 Referencial Teórico Desenvolvido
2.1 Introdução
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como "a
utilização intencional de força ou poder físico, por ameaça ou de fato, contra si
mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulta em
ou tem alta probabilidade de resultar em ferimentos, morte, dano psicológico,
mau desenvolvimento ou privação." (BRONKHORST e FAY, 2003)
Ainda de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a
violência pode ser dividida em três categorias amplas:
a) a violência auto-dirigida - que inclui dano físico que um
indivíduo causa a si próprio; (esta categoria é subdividida em comportamento
suicida e auto-flagelo);
b) a violência inter-pessoal - relacionada com ferimentos ou danos
causados por um indivíduo a outro, parente (violência doméstica) ou não
(violência comunitária);
c) a violência coletiva - focaliza atos danosos cometidos por um
grupo; tais atos podem ter motivações políticas, econômicas ou sociais
(Bronkhorst e Fay, 2003).
Confrontadas com os indicadores de criminalidade violenta em
outros países, as estatísticas de homicídios no Brasil apontam para níveis
alarmantes, atingindo especialmente a população masculina jovem, entre 15 e
24 anos, moradora das periferias dos grandes centros urbanos. O mesmo se
pode dizer em relação aos delitos contra o patrimônio, geralmente cometidos
mediante ameaça contra a pessoa, e da violência no ambiente doméstico,
vitimizando mulheres e crianças de forma costumeira.
Juntamente com o crescimento nas taxas de criminalidade
violenta, um outro componente contribui de forma decisiva para o descrédito
nas instituições e a busca de alternativas privadas para a garantia da
segurança. Trata-se do baixo padrão de funcionamento do sistema de justiça
criminal. Uma análise de cada uma das agências que compõem o sistema, em
10
geral ineficientes ou despreparadas para atuar em padrões satisfatórios de
legalidade, permite compreender os motivos que levam boa parte da população
a perceber o contexto social como um verdadeiro estado de natureza
(ADORNO, 1999, p. 237).
O impacto da violência criminal sobre o tecido social, e a
incapacidade dos órgãos estatais em responder de forma minimamente
eficiente e juridicamente correta às demandas de controle do crime, começaram
a chamar a atenção dos cientistas sociais já na década de 80, com a criação
do Núcleo de Estudos da Violência, na Universidade de São Paulo, e os
trabalhos desenvolvidos pela antropóloga Alba Zaluar (1998, 2004) , nas
favelas do Rio de Janeiro. Nos anos 90, os estudos sobre a violência e a
segurança pública deixaram de ser uma quase exclusividade dos estudiosos do
Direito Penal, e passaram a constituir um dos campos mais destacados da
produção acadêmica no âmbito de programas de pós-graduação em Sociologia,
Antropologia, Ciência Política ou mesmo interdisciplinares, com a criação de
grupos de pesquisa em vários cantos do país (KANT DE LIMA, MISSE e
MIRANDA, 2000).
Com base nestes estudos, dispomos hoje de um importante
acervo de pesquisas, baseadas em diferentes perspectivas teórico-
metodológicas, que permitem avançar em algumas conclusões sobre os
caminhos a serem trilhados no enfrentamento de um problema cujas vias de
equacionamento estão inexoravelmente vinculadas às possibilidade de
construção democrática no Brasil.
Sabe-se que a Segurança Pública no Brasil tem sido de
responsabilidade predominante dos governos estaduais, principalmente por
meio da atuação das polícias civil e militar, bem como do Poder Judiciário dos
estados, Ministério Público e do sistema prisional, todos estruturados e
gerenciados no âmbito estadual. Contudo, o crescimento da violência e da
criminalidade, assim como o aumento do sentimento de insegurança,
associados às dificuldades dos governos federal e estaduais para atenderem às
demandas de segurança da população, tem feito com que outras formas de
combate e prevenção comecem a ser adotadas. Começa a despontar uma
tendência para que os governos municipais e a sociedade civil organizada
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somem esforços para a implementação de políticas locais de prevenção e
controle da violência, nos seus diversos âmbitos de manifestação.
A atuação dos governos municipais na área de segurança pública
parte da demanda social por segurança, que solicita ações imediatas no
combate à violência e à criminalidade e não diferencia a responsabilidade dos
diferentes níveis de governo. É nos municípios que ocorrem situações/eventos
envolvendo os cidadãos e, também, nesse âmbito que os governos têm contato
mais próximo com a população. Neste contexto, pode-se pensar no município
como um novo ator na área de segurança pública, principalmente em ações de
prevenção da violência e criminalidade.
Novas alternativas de abordagem para o combate à violência e
criminalidade surgiram - principalmente a partir de meados da década de 90 -
dando ênfase à interdisciplinaridade e envolvendo diferentes instituições, bem
como privilegiando a participação da comunidade. Tais ações são
implementadas pela articulação de órgãos do Município com organizações não
governamentais e entidades comunitárias, na busca de alternativas articuladas
e proativas para a formulação e implementação de estratégias que viabilizem a
participação de vários segmentos.
Assim, alguns municípios, incentivados por ações indutoras do
governo federal, perceberam a necessidade e possibilidade de atuar no
combate e prevenção da violência e criminalidade. As experiências até agora
existentes apostam em geral em ações de prevenção por meio de projetos que
contemplem aspectos como: diagnóstico sobre a realidade local, plano de ação
com prioridades estabelecidas, identificação de programas que sirvam de
modelo, treinamento e aperfeiçoamento dos agentes envolvidos (guardas,
polícias, organizações não governamentais,...), avaliações das ações e
estratégias de comunicação das ações aos cidadãos.
Como a tendência é a presença cada vez mais constante dos
governos municipais no combate e prevenção à violência e criminalidade, surge
a necessidade de acompanhar tais atuações, que podem trazer resultados
efetivos sobre as taxas de violência, bem como na percepção pública sobre o
problema.
12
2.2 Lições da Escola de Chicago
A idéia de que os mecanismos de controle social informal seriam
mais eficazes para a redução do criminalidade do que o sistema penal não é
nova. Foi no âmbito da Escola de Chicago que essa perspectiva surge e se
desenvolve, dando origem aos Chicago Area Projects, nas primeiras décadas
do século XX.
Caracterizada pelo empirismo e pela finalidade prática de oferecer
um diagnóstico confiável sobre os problemas sociais da realidade norte-
americana de seu tempo, a Ecologia Criminal ficou conhecida como a primeira
grande teoria sociológica do crime. Elaborada e difundida a partir da
Universidade de Chicago, tendo seu apogeu no período entre-guerras, a sua
temática é a análise do desenvolvimento urbano, da moderna civilização
industrial, e a morfologia da criminalidade nesse novo contexto. H. Mannheim
refere-se à Ecologia Criminal dizendo que (...) do que aqui tratamos é da
importância de certos aspectos da ecologia humana ou social como a
densidade e mobilidade populacional, em particular as migrações, a
urbanização e o urbanismo, e o problema da 'área delinqüente (Mannheim,
1985, p. 812).
Para compreender o enfoque da Escola de Chicago, basta lembrar
que a cidade de Chicago tinha, em 1860, cento e dez mil habitantes, e em
1910, cinqüenta anos depois, já contava com cerca de dois milhões de
habitantes, com todas as conseqüências daí decorrentes para a ordem social.
O mundo da cidade surge em radical contraste com a comunidade rural
tradicional, fenômeno também vivenciado na Europa e que já havia aparecido
pouco antes, no final do século XIX, nas proposições teóricas de Durkheim
(solidariedade mecânica/solidariedade orgânica) e de Tönnies
(comunidade/sociedade).
A grande cidade é vista como unidade ecológica, dentro da qual
poderiam ser identificadas as zonas ou áreas onde se concentra a criminalidade
(delinquency areas). O efeito criminógeno dos aglomerados urbanos é
explicado pelos conceitos de desorganização e contágio, bem como pelo
debilitamento do controle social nesses centros. A deterioração dos "grupos
primários" (família), a modificação qualitativa das relações interpessoais, que se
13
tornam superficiais, a alta mobilidade e a conseqüente perda de raízes no lugar
de residência, a crise dos valores tradicionais e familiares, a superpopulação, a
tentadora proximidade às áreas comerciais e industriais onde se acumula a
riqueza, criam um meio desorganizado e criminógeno, no qual se enfraquecem
os mecanismos de controle social (García-Pablos, 1997, p. 246).
O principal mérito das teorias ecológicas foi chamar a atenção
para o impacto criminógeno do desenvolvimento urbano, da forma como se
produziu nos grandes núcleos norte-americanos do princípio deste século. Além
de Park e Burgess, seus fundadores, os principais representantes da Escola de
Chicago foram Thrasher, Shaw e Mckay, entre outros. As duas grandes linhas
de orientação teórica e metodológica da ecologia criminal são a perspectiva
epidemiológica, que se preocupa com o crime como fenômeno sociológico-
estatístico e privilegia as grandes recolhas estatísticas de dados e os
instrumentos cartográficos; e a perspectiva psicossociológica, voltada para o
estudo da experiência individual do delinqüente e das suas respostas às
pressões ambientais, através de estudos biográfico-individuais (Dias &
Andrade, 1992, p. 271/272).
Park, depois de uma carreira como jornalista, chegou a Chicago
em 1915, tendo antes sido aluno de Windelband e Simmel. A orientação
ecológica nos estudos urbanos tem como marco fundador seu artigo "A cidade:
propostas de pesquisa sobre o comportamento humano em meio urbano",
publicado em 1916. Sua obra e a dos demais integrantes da Escola tem o claro
objetivo de romper com o passado sócio-filosófico puramente especulativo da
sociologia européia, seguindo a orientação do pragmatismo de Pierce, Dewey e
James. Dos sociólogos europeus, Comte, Durkheim, Marx e Weber são
preteridos em relação a Le Play, Tarde e Simmel, e os estudantes são
orientados a ler coletâneas de textos voltados a um objeto empírico particular, e
a desenvolver uma crescente metodologia estatística para a análise social
(Cuin & Gresle, 1994, p. 193). O resultado é uma sociologia que atribui a si
mesma a missão de elaborar "tecnologias sociais", capazes de resolver as
questões que geram as suas problemáticas: o tratamento dos fenômenos de
marginalidade, de criminalidade e de segregação social, objeto dos Urban Area
Projects.
14
Em termos de política criminal, a Escola de Chicago foi
bastante prolífica, propondo numerosas reformas legislativas e programas de
intervenção social baseados nos seus princípios. Contrapondo-se às
respostas de tratamento individual ao delito oferecidas pelo sistema penal,
adotou a perspectiva de uma política criminal ao nível da pequena
comunidade local, visando mobilizar as instituições sociais locais (vizinhança,
igreja, escola, grupos esportivos, etc.) para reconstituir a solidariedade social
e controlar os delinqüentes.
Fazendo a análise da implementação dos Chicago Area
Projects, Davi de Paiva Costa Tangerino (2005, p. 115), destaca os
princípios elaborados pela Escola de Chicago para o enfrentamento dos
problemas sociais:
Tal filosofia pode ser traduzida nos seguintes princípios: (1)
necessidade do desenvolvimento da comunidade como um
todo e não apenas de tal ou qual grupo social. Trata-se de
verdadeiro axioma para Shaw: na medida em que as
vizinhanças encerram em si todos os elementos necessários
para exercer a contento o controle social informal, a
intervenção no sentido de prevenir ou tratar um problema
social deve ser feita envolvendo a comunidade como um todo,
sob pena de se transformar em uma intervenção inútil ou
ainda ilegítima, sem participação social local. (...) Um segundo
princípio, (2), reza que a autonomia dos verdadeiros
residentes locais no planejamento e na execução das tarefas
de qualquer programa em contraste com as instituições
tradicionais que impõem uma agenda externa por meio de
pessoas ou que residem ou que representam interesses
externos à comunidade; (3) ênfase no treinamento e na
utilização de líderes locais, da vizinhança; (4) utilização ao
máximo das instituições já localmente constituídas,
particularmente daqueles grupos sociais locais tais como
igrejas, sociedades e clubes; (5) as atividades do programa
devem ser entendidas primariamente como um pretexto para
alistar a participação efetiva dos moradores locais em um
esforço comunitário construtivo e criando e cristalizando um
sentimento de vizinhança em relação à tarefa de promover o
bem estar das crianças e a melhoria social e física da
comunidade como um todo. Trata-se efetivamente do princípio
do controle social informal no sentido de que há uma
mobilização coletiva no sentido de impor um conjunto de
valores e de condutas naquela região com vistas à melhoria
da mesma. O autor menciona um sexto princípio, o de
avaliação, fundamental para balizar cientificamente eventuais
conquistas do Programa.
15
2.3 “What Works?” As propostas do Realismo de Esquerda para o Controle
do Crime
A partir dos anos 80, com o aumento da criminalidade e o
fortalecimento dos movimentos de lei e ordem, a criminologia crítica, que havia
se desenvolvido desde os anos 60 a partir das perspectivas do labeling
approach e do marxismo, passa por uma situação de confusão, divisão e
desânimo (LARRAURI, 1991, p. 192).
A confusão se deveu ao surgimento de novos movimentos sociais
(ecologistas, feministas, pacifistas, anti-racistas), defensores de uma “nova
moral” e da utilização do direito penal para a sua defesa. A divisão foi fruto do
aparecimento de tendências distintas no interior da criminologia crítica, entre as
quais se destaca o realismo de esquerda na Inglaterra, o movimento
abolicionista nos países do norte da Europa e o minimalismo penal na Itália,
posteriormente redefinido como Garantismo. O desânimo se deveu ao
abandono de uma perspectiva mais ampla de transformação social, com a
falência dos regimes de socialismo real, e as ambigüidades e dificuldades
enfrentadas pelas experiências alternativas à prisão e ao sistema penal.
O Realismo de Esquerda vai se destacar por defender uma
revalorização do direito à segurança, com programas de orientação a setores
sociais mais vulneráveis e vitimizados, programas de proteção para
testemunhas, aproximação da polícia em relação à comunidade, colocando as
políticas de prevenção ao delito no lugar da ênfase na repressão, e propondo
uma atuação mais efetiva dos mecanismos de controle estatais sobre
determinadas esferas da criminalidade, como a ambiental, a doméstica, a de
“colarinho branco”, e os delitos cometidos por organizações criminosas.
Para o Realismo de Esquerda, uma crítica da teoria criminológica
existente deveria abranger todos os aspectos do processo criminal (normas,
controle, criminosos e vítimas), tendendo mais a uma síntese do que
simplesmente a uma oposição às demais teorias. Nesse sentido, o Realismo de
Esquerda dedica atenção às formas da criminalidade, ao contexto social do
crime, ao desenvolvimento da criminalidade temporal e espacialmente.
16
Quanto às formas da criminalidade, o Realismo de Esquerda
destaca a interação entre a polícia e demais agências de controle social, o
público, o delinqüente e a vítima. O pressuposto é que as taxas de
criminalidade são geradas não apenas pela atuação destes quatro elementos,
mas pelos relacionamentos sociais entre eles. Assim, é o relacionamento entre
a polícia e o público que determina a eficácia do policiamento; é a relação entre
a vítima e o agressor que determina o impacto do crime; é a relação entre o
Estado e o agressor que influencia as taxas de reincidência, etc. As taxas de
criminalidade são um produto, portanto, de mudanças no número de potenciais
delinqüentes, de potenciais vítimas, nos níveis de controle exercidos pelas
agências estatais e pelo público (Young, 1997, p. 104).
O Realismo de Esquerda sustenta que as taxas de criminalidade
são também o produto de duas dimensões sociais, não necessariamente
covariantes: mudanças no comportamento individual e na atuação das forças
de controle social. A análise de ambas as dimensões permite definir o que
constitui um comportamento intolerável e a habilidade do controle social para
atuar sobre este comportamento a cada momento.
Nessa perspectiva, o crime é visto como uma série de
relacionamentos, envolvendo tanto cooperação quanto coerção. A trajetória do
delito através do tempo deve portanto levar em conta (1) as causas remotas do
crime; (2) o contexto moral que leva à opção pelo comportamento criminal; (3) a
situação de cometimento do crime; (4) a detecção do crime; (5) a resposta do
transgressor; (6) a resposta da vítima.
As carreiras criminais são construídas através da interação da
posição estrutural na qual se encontra o transgressor e das respostas
administrativas para as suas transgressões. O crime é uma atividade que
envolve uma escolha moral em um determinado momento e em determinadas
circunstâncias. Não é nem totalmente determinado social ou biologicamente,
como crê o positivismo, nem é puramente uma escolha racional, como
acreditavam os representantes da Escola Clássica. É um ato moral que
acontece sempre dentro de um determinado contexto.
A dimensão espacial diz respeito ao espaço material no qual o
evento criminal ocorre. Todo crime tem uma dimensão espacial, uma geografia,
17
e assim como um crime específico envolve diferentes estruturas de
relacionamento, também envolve estruturas espaciais específicas.
O Realismo de Esquerda propõe que o controle da criminalidade
deve envolver intervenções em todos os pontos do 'quadro' criminal, o que
significa um melhor policiamento, um maior envolvimento da comunidade,
proteção e fortalecimento da vítima, e tratamento dos problemas estruturais que
causam a transgressão. Porém há uma clara prioridade no nível da prevenção
ao crime sobre as ações que tem lugar depois do crime ter sido cometido.
Embora reconheça que não há uma mono-causalidade para o
crime, o Realismo de Esquerda reconhece a importância do que chama
privação relativa (desemprego, falta de escola, ambiente familiar degradado,
etc.), que não é exclusiva das classes trabalhadoras, ocorrendo em toda a
estrutura social. A privação relativa em certas condições é vista como principal
causa da criminalidade, e ocorre quando uma pessoa se depara com o que
entende ser uma injustiça em termos de distribuição de riqueza e poder, e opta
por modificar esta situação através de uma alternativa individualista.
O Realismo de Esquerda não rejeita a existência de correlações
entre a biologia e o crime, que não podem ser desconsideradas. O crime, assim
como outras formas de comportamento, envolve sempre uma escolha moral em
certas circunstâncias restritivas, e entre estas últimas estão as características
orgânicas (força, composição hormonal, etc.) do indivíduo.
Centrando o seu foco nas realidades vividas, o Realismo de
Esquerda recupera a teoria das subculturas delinqüentes, ao abordar a forma
como grupos específicos de pessoas enfrentam seus problemas materiais, e se
estruturam em termos de idade, gênero, classe, raça e espacialidade, isto é,
parâmetros estruturais que dão forma às subculturas. O crime é visto como
uma forma de adaptação subcultural que ocorre quando determinadas
circunstâncias materiais bloqueiam as aspirações culturais, e alternativas não
criminais estão ausentes ou são menos atrativas.
Da mesma forma, a ansiedade e o medo da criminalidade é um
aspecto de subculturas particulares que possuem diferentes graus de tolerância
à desordem social. Em geral, as pessoas mais vulneráveis não apenas correm
um maior risco de serem vítimas de crimes, mas também sofrem um impacto
maior da criminalidade por sua carência de recursos.
18
O Realismo de Esquerda sustenta que quando as agências de
controle social como a polícia e os tribunais atuam sem considerar o senso de
justiça, priorizando a ordem, com prisões arbitrárias e penas desproporcionais
aos crimes, a tendência é tornar mais difícil a manutenção da ordem, causando
o colapso da comunidade e elevando os níveis de criminalidade. Nessa
perspectiva, o controle do crime envolveria intervenções em todos os níveis:
nas causas sociais da criminalidade, no controle social exercido pela
comunidade e pelas agências formais, e na situação das vítimas. Bons
empregos com perspectiva de futuro, atividades comunitárias que promovam o
senso de coesão e pertencimento, redução das diferenças injustas, criam uma
sociedade menos injusta e criminógena.
Para determinados crimes, a rede de controle social poderia ser
drasticamente reduzida, como no caso dos consumidores de drogas,
delinqüentes juvenis, etc., enquanto que para outros delitos deveria haver uma
maior preocupação punitiva, como nos crimes corporativos, poluição industrial,
racismo, abuso de crianças e violência doméstica.
2.4 Crise do Estado e Segurança Pública
O modelo burocrático de administração pública, característico da
Modernidade, passa por um momento de mudanças, questionamentos, de
reforma. Esse modelo fundamenta-se na centralização e hierarquização das
estruturas decisórias e na regulamentação capilar dos sistemas estatais de
prestação de serviços, como garantia de qualidade e consistência da ação
governamental e de neutralização dos riscos de manipulação administrativa por
interesses econômicos, corporativos ou eleitorais (Dias Neto, 2005 pg.45).
No início do século XX tal modelo surgiu como alternativa racional
para problemas como o abuso do poder exercido por regimes autoritários
garantindo aplicação imparcial e não discriminatória da lei. Entretanto, nos dias
atuais, tal racionalização causou distanciamento dos agentes de governo da
realidade social, gerando problemas como ineficiência dos serviços públicos.
Com as profundas mudanças ocorridas na sociedade nas últimas
décadas, os governos deparam-se com a necessidade de reformas que
19
abranjam aspectos que fortaleçam a comunicação entre governo e cidadãos e
que se contraponham à rigidez burocrática. Para Dias Neto (2005, p. 47), na
questão da reforma do Estado encontra-se o conceito-chave da
descentralização, ou seja, da transferência de recursos e competências, tanto
no plano interestatal (dos governos centrais aos locais, do executivo para o
legislativo), como no plano extra-estatal (do Estado para as organizações do
mercado e da sociedade civil).
Não há uma única proposta ou modelo de reforma de Estado,
embora a idéia de descentralização do poder esteja presente em quase todas
as vertentes. Segundo Dias Neto (2005), tais vertentes podem ser classificadas
da seguinte forma:
a) A vertente administrativa - baseia-se na transferência de
responsabilidades e competências institucionais e operacionais do
Estado central para o periférico;
b) A vertente econômica - associada aos conceitos de
“desregulamentação” e “privatização” e prioritariamente ao
estímulo à transferência, do setor público para o privado, de
autoridade, funções e recursos;
c) A vertente política - fundamenta-se na reforma dos processos
decisórios do Estado, buscando sua democratização, explorando
a participação direta dos cidadãos no planejamento de políticas
públicas.
Inúmeras são as dificuldades, críticas e desafios enfrentados para
a implementação de reformas do Estado. No entanto, as realizadas no sentido
de uma maior participação do poder local são as que têm se destacado pelos
resultados positivos, focadas em necessidades e realidades locais. Entretanto,
os municípios, em sua maioria, ainda possuem modelos de gestão pouco
adaptados à necessidade de resgatar o espaço da cidade enquanto espaço de
interação política, econômica e cultural.
Debatendo o problema da segurança pública no contexto
contemporâneo, David Garland Garland (1999) sustenta que o Estado
atualmente passa pela dificuldade de enfrentar o fato de que não consegue ser
20
a principal fonte de manutenção da segurança, bem como da repressão à
criminalidade, uma vez que há um risco político importante na admissão de tal
realidade.
Com o Estado não podendo mais “dar conta” do problema da
segurança, esse tema passa a ser o centro do debate político e o discurso
político refere-se a aspectos como: melhor gerenciamento dos recursos,
redução do medo e da injustiça, bem como mais amparo às vítimas. Entretanto,
na prática, tais objetivos são difíceis de serem alcançados.
Esse modelo de atuação do Estado, segundo Garland (1999),
contribui para o surgimento de novas teorias criminológicas e racionalidades da
repressão criminal como a teoria da escolha racional, a teoria da atividade de
rotina, a teoria do crime como oportunidade e a prevenção da criminalidade
situacional. Todas teorias simples, cuja premissa é que o crime é um fato
natural na sociedade moderna e tem como base o fato de que o delinqüente
planeja sua ações, é oportunista, e que a resposta adequada a esse tipo de
comportamento é o aumento do controle social e judicial.
A aceitação da inevitabilidade do risco criminal, impusionado pela
racionalidade do homo economicus, implica em gerenciar a criminalidade com
técnicas de gestão atuarial. No âmbito criminológico, se abandona a idéia de
que a delinqüência existe como conseqüência de determinadas privações ou
problemas sociais. No âmbito da política-criminal, o atuarialismo considera que
os conceitos econômicos básicos, como racionalidade, maximização, custos e
benefícios, etc., são fundamentais para entender, explicar e combater de
maneira efetiva a atividade criminal (RIVERA BEIRAS, 2005, p.234). As
políticas neo-conservadoras de combate ao delito tem como principal objetivo a
dissuasão do delinqüente, mediante a modificação do preço do delito, ou a sua
pura e simples contenção. Se trata de encontrar políticas de otimização da
relação custo benefício do combate ao crime, como o mínimo custo possível
para o Estado.
A premissa desse enfoque é a idéia de delito como escolha
racional, na qual o delinqüente é visto como uma “pessoa racional amoral”, que
escolhe o delito com base em uma análise prévia de custos e benefícios. É o
homo economicus que habita o mundo dos seguros, cujas práticas de gestão
21
são estendidas aos mecanismos de controle penal. A escolha dos instrumentos
ótimos de castigo para aumentar os custos do delito e conseguir, assim, a
dissuasão esperada, se constitui no único ponto de divergência entre os
defensores do movimento Law and Economics, que se debatem entre a multa e
o cárcere como melhores instrumentos para conseguir o pretendido efeito
dissuasivo.
No Brasil, até a década de 90, o tema segurança era visto apenas
como de responsabilidade do sistema de justiça criminal (Kahn e Zanetic,
2006), envolvendo as polícias, o sistema de justiça e de execução penal.
Entretanto, na atualidade, este modelo de reação ao delito não atende às
demandas da sociedade no que tange a questão da segurança. Há uma crise
de ineficácia no sistema de justiça criminal: falta de informações (pesquisas
sobre vitimização, por exemplo), impunidade, corrupção nas polícias, ineficácia
da pena de prisão, sucateamento do sistema penitenciário, dentre outros
(Lemgruber, 2002). E a “privatização da segurança” é apenas privilégio de
alguns poucos cidadãos em condições de arcar com os seus custos
2.5 O Modelo da Nova Prevenção
Diversos autores reconhecem que as sociedades da
“modernidade tardia” adotaram uma tendência punitiva, de segregação para o
controle do crime. Entretanto, o modelo punitivo, repressivo, mostra-se ineficaz
no combate à violência e criminalidade, e desde a década de 90 muitas são as
discussões, estudos, debates, experiências locais, que vem evoluindo e levam
à proposição de novos modelos de atuação. Dentre eles, pode-se ressaltar:
“nova prevenção”, “policiamento comunitário”, “policiamento orientado ao
problema”, “polícia de qualidade de vida”, “teoria das janelas quebradas”,
“modelo da tolerância zero” (Dias Neto, 2005). Vários autores (Adorno, 2002;
Soares, 2000; Zaluar, 1997) alertam para a utilização inadequada de tais
conceitos, que, em muitos casos são slogans utilizados em campanhas políticas
e planos de governo, contribuindo para que, na prática, tais propostas seja
implementadas de forma equivocada.
Frente aos diferentes modelos propostos, Dias Neto (2005) adota,
para fins de coerência, o termo utilizado pela escola européia, o da “nova
22
prevenção”. O modelo da nova prevenção não se propõe à substituição do
sistema penal, mas como complementar, buscando integração e trabalhando
junto a fatores que possam minimizar situações de insegurança para os
cidadãos.
A “compreensão interdisciplinar” de segurança é um dos principais
pilares em que se baseia a nova prevenção. A atuação repressiva frente a
conflitos sociais é apenas uma medida reativa, e não chega a tratar a causa
dos problemas que se propõe a enfrentar. O modelo da nova prevenção busca
uma análise interdisciplinar, pois inúmeras variáveis (gênero, raça, classe
social, localização geográfica) podem influenciar fatores como medo da
violência e criminalidade e direcionar a forma como esses se constroem (Dias
Neto, 2005).
É necessário entender a violência comum, cotidiana, da exclusão
social, que alarma e violenta os moradores das periferias. Situações que
desgastam a auto-estima, tais como a precariedade habitacional e urbana, o
acesso precário à saúde, a falta de vagas na educação infantil e no ensino
médio, a violência no trânsito, bem como a precária mobilidade e as
dificuldades de acesso a determinados locais - bens públicos disponíveis à
população - devido ao custo dos transportes. Ou seja, o medo do crime é real e
deve ser alvo de políticas de segurança, mas a vivência nas áreas urbanas é
uma soma de diversos fenômenos (Caldeira, 2003).
Ainda sobre a compreensão interdisciplinar, é necessário apontar
para a importância de uma reavaliação da função policial, para que atue em
conjunto com outras instituições e volte-se para a solução de problemas
sociais, ou seja, ao invés de postura reativa para controle de conflitos e
incidentes criminais, a polícia deve adotar postura preventiva, orientada à
solução de problemas. A premissa fundamental do policiamento orientado ao
problema é que problemas distintos merecem respostas distintas e o sistema
penal é somente um dos instrumentos de que a sociedade dispõe para lidar
com situações problemáticas (Dias Neto 2005, pg. 110).
Pode-se afirmar que esse é um processo de conscientização de
papéis, pois, além do desempenho de suas funções tradicionais, as policias
passam a instruir os cidadãos sobre regras básicas de prevenção ao crime,
23
participar de reuniões com os moradores para a organização de estratégias
coletivas e intermediar o contato dos cidadãos com outros órgãos na busca de
soluções para a comunidade. A tolerância urbana deve ser desenvolvida para
servir de sustentação a uma segurança socialmente fundada (Dias Neto, 2005,
pg. 114).
A interagencialidade das políticas públicas de segurança constitui-
se em outro elemento de sustentação da nova prevenção. É necessária uma
redistribuição das competências das instituições envolvidas no enfrentamento à
violência e criminalidade, e não mais apenas uma atuação reduzida à política
criminal. Nesse ponto, o principal alvo de mudança institucional são as polícias:
(...) a polícia tem as suas funções e estruturas decisórias
redefinidas para estar em condições de dividir com outras
organizações, públicas e privadas, a responsabilidade pelo
processo de identificação, análise e solução dos problemas
locais. Na qualidade de ator necessário, mas não suficiente,
para a produção de segurança, a polícia passa por profundas
transformações organizacionais, operacionais e culturais
voltadas a torná-la mais integrada ao ambiente externo e, por
conseqüência, mais apta a compreender a realidade em que
atua e a prestar bons serviços. (Dias Neto, 2005, pg.115)
Ressalta-se, entretanto, que em que pese a polícia tenha papel
central para agregar novos atores à rede de prevenção, essa rede não deve
estruturar-se no eixo policial. Diversos são os atores participantes e as ações
de uma estratégia de nova prevenção. Dentre as modalidades de intervenção,
destacam-se as voltadas ao reconhecimento político de demandas locais por
segurança; as voltadas à produção de conhecimento (como subsídio para
formulação de políticas) e as voltadas para o planejamento de um plano de
intervenções com a participação da sociedade, a partir de diagnóstico prévio.
Quanto a finalidades e métodos, encontram-se estratégias de
nova prevenção situacionais, que interferem em características físicas locais
(iluminação, mecanismos de vigilância) e procuram dar aos cidadãos a
sensação de segurança. As estratégias de nova prevenção sociais são
intervenções em diversas condições sociais ligadas à violência e criminalidade,
como educação, saúde, cultura e economia. Dias Neto (2005, pg. 120), alerta
que, paralelamente aos modelos situacional e social, as estratégias da nova
prevenção, quanto aos objetivos, podem ainda buscar: a) reduzir riscos de
24
desvios e delitos; b) reduzir riscos de vitimização; ou c) agir sobre situações
problemáticas. Cada uma dessas pode subdividir-se em: primárias, secundárias
e terciárias, dependendo do público que terão como alvo de atuação.
A participação da sociedade civil apresenta-se como outro
elemento fundamental para a nova prevenção. A questão da violência e
criminalidade passa a ser vista como um tema interdisciplinar, que requer a
interação institucional e a participação direta da sociedade no planejamento de
ações de segurança urbana.
No Brasil, ainda é recente a participação da sociedade civil, e na
questão da segurança corre-se o risco de que grupos de interesse participem
de ações em busca de benefício próprio, usando de influência política e
contribuindo para uma realidade de exclusão (Santos, 1993). Ou seja,
determinadas ações podem satisfazer apenas um grupo específico, trazendo
segurança para alguns e insegurança para outros. Risco não compatível com a
proposta da nova prevenção.
Inúmeras são as solicitações da sociedade no tocante à
segurança, pois há uma pluralidade de grupos, como: o do jovem, do idoso, do
trabalhador noturno, da prostituta, do estrangeiro, do homossexual, do policial,
do comerciante, do consumidor, do motorista, do pedestre, do usuário de
drogas, da mulher, do sem-teto, dentro outros. E é a somatória de experiências
bem sucedidas de mobilização social em torno de problemas que poderá, com o
tempo, contribuir para melhorar o relacionamento entre polícia e sociedade e
fortalecer os níveis de organização da sociedade.
Por outro lado, a população precisa desenvolver capacidades
para o exercício da participação social, pois ao estabelecer contato com os
órgãos oficiais para reivindicar benefícios, poderá reconhecer as
potencialidades, competências e limitações da polícia, assim como da
responsabilidade da própria comunidade no processo. Com essa aproximação,
também as ações policiais se tornam mais transparentes, reduzindo as
arbitrariedades e violências e viabilizando a convivência democrática.
A valorização do espaço local constitui o quarto elemento em que
se fundamenta a nova prevenção. A dimensão política local é a base para a
discussão e mobilização em torno dos problemas que se relacionam com a
violência e a criminalidade. Como já abordado anteriormente, múltiplos são os
25
fatores que influenciam as dinâmicas criminais, e nesse aspecto, mesmo
problemas globais podem apresentar-se de diferentes maneiras localmente. Por
isso a importância de conhecer a realidade local, levar em conta características
culturais, econômicas, urbanas, sociais, entre outras, para que ações
adequadas a essa realidade possam surtir efeito esperado no enfrentamento
dos problemas.
Nesse âmbito, é necessário conhecer a realidade, apropriando-se
de dados locais como diagnóstico da realidade criminal, dados econômicos,
demográficos, culturais, urbanísticos, bem como sobre a infra-estrutura de
serviços públicos disponibilizados à população e sobre o nível de participação e
organização da sociedade local.
Não menos importante é a presença do governo local, com função
integradora das ações de diferentes áreas (educação, cultura, habitação e
planejamento urbano, saúde, bem-estar social, além da segurança),
promovendo a participação social e o envolvimento das redes de atores sociais
ligados à dinâmica social e política local.
A nova prevenção busca a tolerância urbana, capaz de viabilizar a
convivência democrática em um mesmo espaço territorial e a valorização da
realidade local. A adoção de políticas sociais, socioeducativas e
profissionalizantes, a recuperação do espaço urbano degradado e o
investimento na capacitação de policiais, por exemplo, são medidas importantes
para o modelo da nova prevenção, e o município tem papel fundamental na
implementação dessas ações.
2.6 A perspectiva da prevenção e o papel dos Municípios
O aumento da criminalidade e a falência da capacidade de
resposta do sistema penal, vítima de uma evidente sobrecarga de expectativas,
tem levado os chamados movimentos de lei e ordem a pedirem sempre mais do
mesmo, ou seja: “já que o remédio não funciona, vamos aumentar a dose”. Em
nome dos clamores midiáticos por mais segurança, propõe-se a redução da
impunidade e das margens de tolerância; o aumento de penas e a utilização
das mesmas não mais para retribuir o delito ou reinserir o indivíduo na
sociedade, mas como mecanismo de pura e simples contenção; a supressão de
26
garantias em nome da eficiência e do combate ao crime; a busca de
alternativas individuais, como a segurança privada e a auto-defesa, que minam
ainda mais a capacidade de uma resposta coletiva e democrática. Em nome da
defesa da sociedade contra o crime, são postas de lado as conquistas
civilizatórias no âmbito do sistema penal, pilares fundamentais de uma
sociedade que se pretenda democrática, e a defesa dos direitos humanos
passa a ser tachada como a “defesa de bandidos”.
Em uma sociedade hierárquica e desigual como a brasileira, em
que as relações sociais são pautadas não pelo princípio da igualdade, mas por
relações de clientelismo e compadrio, o criminoso é visto sempre como o
“outro”, aquele que não está ao abrigo da lei e do direito, e deve ser submetido
ao arbítrio e à violência que a própria sociedade exige dos agentes do sistema.
Mas se de um lado este cenário de medo e intolerância viceja por
toda parte, não é menos verdade que novas alternativas são gestadas,
geralmente envolvendo os mais diversos atores sociais, que em meio à
intempérie vão inventando formas mais eficazes, democráticas e dialogais para
lidar com o conflito, a revolta e a violência. Nessa gestação de mecanismos de
pacificação social, a dicotomia entre público e privado perde espaço,
sobreposta pela dinâmica de constituição de uma esfera pública não estatal,
onde os agentes do Estado atuam como motivadores, facilitadores ou indutores
de um processo amplo de mobilização da sociedade civil (ZACCHI, 2002).
Seja por meio da atuação de associações comunitárias, igrejas,
empresas ou ong’s, ou ainda pela criação de conselhos comunitários com a
participação direta dos cidadãos e lideranças comunitárias, as redes sociais vão
se formando e alimentando novas práticas de gestão da conflitualidade social,
menos pautadas pela punição, mais abertas ao reconhecimento das diferenças
e à construção de novas formas de convivência, pautadas pela reciprocidade.
Segundo Kahn e Zanetic (2005), há uma diferenciação entre
“políticas de segurança pública” e “políticas públicas de segurança”, pois as
“políticas públicas de segurança” são mais amplas e mesclam as questões de
segurança a aspectos como cidadania e direitos humanos, enquanto “políticas
de segurança pública” referem-se a atividades típicas da atuação policial e
repressiva. Para estes autores, a diferença entre a atuação de Secretarias
27
Municipais de Segurança e Secretarias Estaduais de Segurança está
justamente no fato de as primeiras terem surgido em momento histórico cuja
diferenciação entre as políticas acima referidas já começam a ser
compreendidas. Ou seja, é nítida a atuação preventiva dos municípios, com
ações como profissionalização e disponibilização de acesso à cultura, lazer e
esportes a jovens; atendimento a vítimas; projetos ligados à cidadania e
vinculados a melhorias da qualidade de vida da população.
Fazem parte deste caminho alternativo os processos de
municipalização da gestão da segurança. A partir de uma compreensão de que
a violência e o crime são fenômenos que derivam de um contexto global, mas
acontecem no local, evidencia-se a necessidade de que os gestores das
políticas públicas de segurança estejam mais próximos do problema, e mais
capacitados para atuar como propulsores de um processo de resgate da
participação cidadã na discussão e equacionamento dos problemas sociais. Em
um grande número de municípios por todo o país, a criação das secretarias
municipais de segurança urbana tem oportunizado a abertura de um canal de
conexão mais próximo e efetivo entre governantes e sociedade, viabilizando a
implementação de novas práticas micro-sociais de equacionamento dos
conflitos que, se não enfrentados, contribuem para gerar o sentimento de
insegurança e anomia social.
Fazem parte deste âmbito de iniciativas os programas de inclusão
social para jovens de baixa renda, que começam com políticas de
transformação do espaço escolar, capacitando os professores para lidar com
maior competência com a diversidade de valores e experiências dos alunos e
com a complexidade do contexto social onde a escola está inserida. E vão até
as oficinas de rap e o incentivo às práticas esportivas, os programas de
inclusão digital e de geração de renda, os cursos voluntários de preparação ao
vestibular e os núcleos de formação em direitos e cidadania, que se
desenvolvem de forma transversal, conectando diferentes atores e constituindo
na prática as malhas de novas redes de solidariedade social.
Também compõem esta perspectiva de enfrentamento os
programas de melhoria do ambiente urbano, fundamentais para o resgate da
dignidade e da responsabilidade cidadã e comunitária. A regularização fundiária
de moradias de baixa renda, combinada com a intervenção efetiva do Estado
28
para a garantia dos equipamentos públicos necessários ao convívio social e à
garantia de direitos, como os Centros Integrados de Cidadania, em São Paulo,
ou os Centros de Refência e Apoio às Vítimas da Violência, buscando muitas
vezes parcerias com empresas que assumem sua responsabilidade social, tem
trazido resultados efetivos na melhoria dos índices de qualidade de vida em
várias regiões, e a redução das taxas de violência e dos danos por ela
causados.
Juntamente com essas políticas sociais, as políticas públicas de
segurança, elaboradas em parceria por prefeituras, agências policiais,
associações de moradores e demais atores sociais, tem apostado em
mecanismos de redução das oportunidades para o delito, tendo como
referência a idéia de que prevenir é melhor do que punir. Programas de redução
do consumo de álcool e de drogas, pautados pela perspectiva da redução dos
danos e pela adesão voluntária, trazem resultados efetivos na redução da
violência doméstica e interpessoal. Soluções mais drásticas, como a adotada
em Diadema, como o fechamento de bares a partir das 23h, para impedir a
comercialização de bebidas e drogas, ou as câmeras de vigilância em
determinadas áreas de maior circulação de pessoas, podem ser adotadas, de
forma provisória e experimental, uma vez que se constatem os efeitos desses
dispositivos para a desconstituição dos mecanismos de agenciamento da
violência.
Os novos contornos dos espaços públicos de participação sócio-
política extrapolaram os estreitos limites estatais. O Estado, embora continue
operando como instância política privilegiada na proteção e promoção de
direitos, deixa de possuir o monopólio da identificação dos problemas sociais e
da eleição das prioridades dos investimentos em políticas públicas.
Destarte, o fortalecimento e a ampliação das possibilidades de
participação da cidadania e da sociedade civil organizada na gestão político-
administrativa do Estado, por meio da incorporação de novas redes societárias,
representadas, por exemplo, por organizações não-governamentais (ONG’s),
devem favorecer a efetivação das promessas constitucionais do Estado
Democrático de Direito.1
1 O Estado Democrático de Direito caracteriza-se pela íntima e indissociável vinculação entre os direitos fundamentais e as noções de
Constituição e Estado de Direito. O núcleo material das primeiras Constituições escritas de matriz liberal-burguesa, na segunda
29
Parece-nos, nessa medida, que temas socialmente relevantes,
como o da segurança pública, já não são passíveis de serem compreendidos
através dos dualismos tradicionais do indivíduo contra o Estado, da classe
contra classe, da esfera administrativa federal ou regional contra a local.
A gestão dos conflitos sociais (pós-industriais) exige o
estabelecimento de um modelo político participativo, no qual os canais
institucionais de deliberação coletiva (dimensão retórica e argumentativa)
estejam abertos às experiências informais de comunicação e de aprendizagem
surgidas no espaço heterogêneo do social.
A moderna dicotomia entre esfera pública estatal, caracterizada
por um sujeito político universal e homogêneo, e esfera privada, como espaço
apolítico das particularidades e diferenças, passa a ser questionada. As lutas
democráticas dos séculos XIX e XX desvelaram as relações de poder
existentes nas instituições da sociedade civil (família, fábrica, escola, etc.).2
Dito de outro modo, as pautas e reivindicações dos movimentos
sociais ultrapassaram os limites da esfera pública estatal, atingindo as práticas
sociais autoritárias exercidas no bojo da esfera privada da sociedade civil, as
quais, justamente por estarem sob o manto do privado, não raro, permaneciam
imunes aos instrumentos de proteção de direitos por parte do ente estatal.
Com a ressignificação do conceito de poder local e a emergência,
ou o alargamento do conceito de esfera pública, no final do século XX, a partir
da interação de diversos grupos organizados (associações de classe,
organizações não-governamentais, movimentos sociais, representantes
estatais, etc.), precipitou-se a incorporação ao debate público de questões até
então tratadas somente no âmbito privado (vide a violência doméstica).
metade do século XVIII, assentava-se na noção da limitação jurídica do poder estatal, mediante a garantia de alguns direitos
fundamentais, no âmbito dos direitos civis e políticos, ainda restritos a maioria da população mundial, bem como do princípio da
separação dos poderes. No chamado Estado Democrático de Direito, os direitos fundamentais assumem, para além de sua função
originária de instrumentos de defesa da liberdade individual, elementos da ordem jurídica objetiva, passando a integrar um sistema
axiológico que atua como fundamento material de todo o ordenamento jurídico. Como aponta Sarlet, é preciso consignar a estreita
ligação dos direitos fundamentais com o Estado Social, consagrado na Constituição brasileira, como de resto, na maior parte das
Leis Fundamentais contemporâneas, daí a qualificação de Estado Democrático e Social de Direito, o que se deve a previsão de uma
grande quantidade de direitos fundamentais sociais de ordem prestacional atribuídos ao Estado. Cite-se, para os propósitos deste
estudo, o direito de todo o cidadão ter garantido sua segurança pessoal e dos seus por parte do Estado. (SARLET, Ingo Wolfgang. A
Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 69-74). 2 A emergência do movimento feminista, em nível internacional, na década de sessenta, e no Brasil mais detidamente na de oitenta,
constitui-se em importante exemplo do fenômeno da publicização e politização do privado. (Vide: ANDRADE, Vera Regina Pereira
de. Sistema Penal Máximo x Cidadania Mínima. Códigos da violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2003; especialmente o terceiro e o quarto capítulos).
30
Essas substanciais alterações do papel político desempenhado
pelo Estado na sua relação com a sociedade criaram as condições necessárias
para o surgimento do conceito de governança, que alterou sensivelmente o
padrão e o modo de pensar a gestão de bens públicos, antes restrita aos atores
presentes na esfera pública estatal.
Note-se que a vitalidade desse processo de aprendizagem
democrática não decorre da identificação coletiva com determinado espaço
político, como o estatal, mas sim, da proliferação extra-estatal de arenas
públicas em que é facultado aos cidadãos debater seus conflitos em busca das
transformações necessárias para a sua governabilidade. Segundo Dias Neto,
no que concordamos:
Quanto mais amplos, inclusivos e igualitários forem os canais de
comunicação e deliberação política, mais favoráveis serão as condições para o
enfrentamento pacífico e racional dos conflitos sociais. A exclusão de
dissidências, a censura de idéias ou temas, a ocultação de diferenças ou
qualquer forma de entrave no acesso às esferas públicas representam falsas
garantias de estabilidade, que mascaram a complexidade social e impedem o
enfrentamento racional e transparente dos conflitos, criando terreno fértil para
que estes venham à tona sob a forma de violência e intolerância.3
O desafio advindo desse processo consiste na articulação do
maior nível de participação com os critérios de eficiência e eficácia reclamados
para uma maior racionalidade na gestão e destinação dos recursos públicos por
parte do poder local. A superveniência do conceito de governança local,
pensado, a princípio, em termos globais, nacionais e regionais, tem relação com
um sistema de governo em que a inclusão de novos atores sociais torna-se
fundamental. Trata-se de erigir um sistema político-administrativo de gestão
pública compartilhada, capaz de envolver diversos atores sociais (ONG’s,
movimentos sociais, entidades privadas, órgãos públicos estatais, entre outros).
Caberá à sociedade assumir a responsabilidade pela identificação
dos fatores políticos, econômicos e culturais capazes de limitar, ou, de algum
modo, dificultar o acesso da cidadania e da sociedade civil organizada aos
debates públicos. A luta pelo estabelecimento de condições mais favoráveis
3 DIAS NETO, Theodomiro. Segurança Urbana: O modelo da nova prevenção. São Paulo: RT, 2005, p. 42.
31
para a existência de esferas públicas vitais e igualitárias é, portanto, um
exercício constante.
Decerto, a simples construção de espaços públicos democráticos
de discussão e participação da população na eleição e no controle das políticas
públicas prioritárias para o enfrentamento da criminalidade e da violência não
assegura, de per si, a efetividade de sua implementação. Nesse sentido,
pondera Avritzer:
Ao nível da esfera pública, a racionalidade do processo
participativo não leva à constituição imediata de propostas
administrativas, mas conduz a um processo democrático de
discussão. Diferentes atores construindo identidades em
público, estabelecendo novas formas de solidariedade e
possibilitando a superação de uma condição privada de
dominação constituem os elementos centrais da noção de
esfera pública.4
A deliberação pública, ou o exercício da democracia deliberativa, como
assevera Santos, subsidia o entendimento mais pleno do conceito de
governança local, ao passo que amplifica as possibilidades de uma gestão
democrática compartilhada. Para esse autor:
Cabendo ao Estado mais funções de coordenação do que
funções de produção direta de bem-estar, o controle da
vinculação da obtenção de recursos a destinações
específicas por via dos mecanismos da democracia
representativa torna-se virtualmente impossível. Daí a
necessidade de a complementar com mecanismos de
democracia participativa. A relativa maior passividade do
Estado, decorrente da perda do monopólio regulatório, tem
de ser compensada pela intensificação da cidadania ativa,
sob pena de essa maior passividade ser ocupada e
colonizada pelos fascismos societais.5
A combinação da democracia representativa com a participativa,
sob a mediação da fiscalidade participativa da cidadania, favorece o
4 AVRITZER, Leonardo. Teoria democrática, esfera pública e participação local. Cidadania e Democracia. Sociologias n.° 2. Porto
Alegre: UFRGS, 1999, p. 32. 5 O conceito de fascismo societal, suscitado por Santos, não se relaciona com o fascismo dos anos 30 e 40. Não se trata de um regime
político, mas antes de um regime social e civilizacional. Em vez de sacrificar a democracia às exigências do capitalismo, este
promove a democracia, a ponto de não ser mais necessário sacrificar a democracia para promover o capitalismo. Configura-se em
um fascismo pluralista e, por isso, de uma forma de fascismo que nunca existiu antes. (SANTOS, Boaventura de Sousa. Reinventar
a democracia: entre o pré-contratualismo e o pós-contratualismo. In: HELLER, Agnes. et al. A crise dos paradigmas em Ciências
Sociais e os desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999, p. 51-52).
32
estabelecimento da nova democracia redistributiva ou deliberativa. A sua lógica
política assenta-se na construção de uma esfera pública não-estatal, na qual o
Estado atua como um elemento crucial de articulação e de coordenação de
políticas públicas.
A democracia deliberativa apresenta-se, assim, como um sistema
político que estimula o envolvimento e a participação dos indivíduos como
cidadãos políticos ativos, construtores de consensos, por meio de diálogos
interativos, em prol da elaboração e do controle social das políticas públicas.
Consoante atesta Gohn:
Os novos mecanismos participativos incluídos na
governança local se baseiam no engajamento popular como
um recurso produtivo central: a participação dos cidadãos
provê de informações e diagnósticos sobre os problemas
públicos, gerando conhecimentos e subsídios à elaboração
de estratégias para a resolução dos problemas e conflitos
envolvidos.6
A necessidade de desenhos institucionais alternativos de algumas
instituições governamentais reaviva a discussão acerca da reforma do Estado,
articulada, modernamente, em torno do conceito-chave de descentralização,
prenhe de acepções e significados, variando de acordo com a vertente
ideológica a que se filia o interlocutor. Mesmo reconhecendo a inexistência de
consenso em relação a um modelo de reforma do Estado, a descentralização
envolve a transferência de recursos e competências (tanto no plano interestatal
- dos governos centrais aos locais, quanto extra-estatal - do Estado para a
sociedade civil).
Por óbvio, não se está advogando a extinção da burocracia
(modelo burocrático-estatal), ou relegando a um segundo plano a importância
de o Estado contar com um corpo de servidores públicos capacitados e bem
remunerados para a prestação dos serviços públicos, mas sim, defendendo a
recuperação do “sentido público do Estado, tornando-o receptível à influência
externa e apto para interagir com outras instituições na busca de soluções dos
problemas.”7
Entre as iniciativas mais promissoras nessa seara sobressaem-se
aquelas que buscam fortalecer os instrumentos de democracia representativa,
6 GOHN, Maria da Glória. Conselhos Gestores e Participação Sociopolítica. São Paulo: Cortez, 2001, p. 39-45.
33
bem como, os mecanismos de participação direta dos cidadãos no
planejamento das políticas públicas, horizontalizando o relacionamento entre o
governo e a sociedade, através do aperfeiçoamento das instâncias decisórias
locais e do controle mais direto das agências estatais pela população.
Se existe algum modelo ideal de descentralização, este será
aquele capaz de articular, de modo equilibrado, as dimensões administrativas,
econômicas e políticas das reformas, envidando esforços para a
democratização do Estado e para a adoção da política como princípio
dominante e transversal.
No caso brasileiro, o movimento de descentralização das políticas
públicas, fomentado pela Constituição Federal de 1988, vem sendo
constantemente relacionado ao da municipalização, eis que:
O ideal da descentralização política tem sido
freqüentemente associado ao caminho da municipalização.
A proximidade do centro decisório ao ambiente em que se
deve atuar pode estimular a comunicação entre Estado e
sociedade, o que amplia as condições de gestão política da
diversidade social, uma das maiores fontes geradores de
conflitos urbanos. Acredita-se ainda que a proximidade entre
governantes e governados e a experiência mais direta com
os problemas possam estimular o interesse da sociedade
civil para as questões públicas. O fortalecimento das
competências municipais seria, portanto, forma de estímulo
às ações políticas de base e de legitimação do sistema
político-estatal como um todo.8
O revigoramento do poder local deve conduzir a uma concepção
mais abrangente de municipalização, considerando a revitalização das
competências políticas dos governos locais e, sobretudo, o resgate da cidade
como lócus privilegiado de participação da cidadania e da sociedade civil
organizada na proposição, no monitoramento e na fiscalização de políticas
públicas, mormente, para os fins deste estudo, as que dizem com a área de
segurança.
À evidência, está em questão a conversão do espaço local como
núcleo decisório relevante para a articulação de políticas públicas integradas e
participativas de proteção dos direitos fundamentais. O desafio reside na
7 DIAS NETO, 2005, p. 45-69. 8 DIAS NETO, 2005, p. 55.
34
constituição de uma verdadeira esfera pública local, na qual a sociedade, por
intermédio de suas instituições (estatais, econômicas, culturais, profissionais,
religiosas, beneficentes, etc.), mobilize os recursos necessários à sua
governabilidade.
2.7 O Papel do Governo Federal na Indução das Políticas Municipais de
Segurança
Atualmente, o modelo burocrático de administração pública que se
encontra em vigor passa por momento de mudanças, questionamentos, de
reforma. Esse modelo, basicamente, fundamenta-se na “centralização e
hierarquização das estruturas decisórias e na regulamentação capilar dos
sistemas estatais de prestação de serviços, como garantia de qualidade e
consistência da ação governamental e de neutralização dos riscos de
manipulação administrativa por interesses econômicos, corporativos ou
eleitorais” (Dias Neto, 2005 pg.45). No início do século XX tal modelo surgiu
como alternativa racional para problemas como o abuso do poder exercido por
regimes autoritários garantindo aplicação imparcial e não discriminatória da lei
(Osborne e Gaebler, in Dias Neto, 2005). Nos dias atuais, tal racionalização
causou distanciamento dos agentes de governo da realidade social, gerando
problemas como ineficiência dos serviços públicos.
Com as mudanças ocorridas na sociedade os governos deparam-
se com a necessidade de reformas que abranjam aspectos que fortaleçam a
comunicação entre governo e cidadãos e que se contraponham à rigidez
burocrática de forma legítima. Para Dias Neto (2005, p. 47), na questão da
reforma do Estado encontra-se o “conceito-chave da descentralização, ou seja,
da transferência de recursos e competências, tanto no plano interestatal (dos
35
governos centrais aos locais, do executivo para o legislativo), como no plano
extra-estatal (do Estado para as organizações do mercado e da sociedade
civil)”.
Dias Neto (2005) afirma que não há unidade sobre um modelo de
reforma de Estado, mesmo que as três vertentes a seguir apresentadas
estejam baseadas no conceito de descentralização.
A vertente administrativa se baseia na transferência de
responsabilidades e competências institucionais e operacionais do Estado
central para o periférico. A vertente econômica associa os conceitos de
“desregulamentação” e “privatização” e prioriza o estímulo à transferência, do
setor público para o privado, de autoridade, funções e recursos. A vertente
política se fundamenta na reforma dos processos decisórios do Estado,
buscando sua democratização e explorando a participação direta dos cidadãos
no planejamento e implementação de políticas públicas.
Para além da diferenças, inúmeras são as dificuldades e desafios
enfrentados nas diversas tentativas de implementação de tais reformas. As que
têm sido realizadas em âmbito municipal, são as que se destacam por
iniciativas focadas em necessidades e realidades locais (Dias Neto 2005).
Conforme já constatado por Foucault (2005), o crescimento da
população, principalmente em grandes centros urbanos é uma dos maiores
desafios impostos ao Estado, daí a importância do trabalho do governo local.
Entretanto os municípios, em sua maioria, ainda possuem gestão bastante
atrelada às realidades estaduais e nacionais. “Um projeto de municipalização,
no seu sentido mais abrangente, deve estar dirigido à revitalização das
competências políticas dos governos locais e, mais, ao resgate da cidade
36
enquanto espaço de interação política, econômica e cultural”, (Dias Neto 2005,
pg. 59).
Entretanto, na prática, há impedimentos para a concretização de
políticas voltadas à municipalização. Segundo Arretche (2004), a concentração
da autoridade política varia entre as políticas particulares, a depender do modo
como estão estruturadas as relações intergovernamentais em cada área
específica de intervenção governamental.
No Brasil a forma encontrada pelo Governo Federal para atuar no
incentivo da atuação municipal, principalmente no que diz respeito ás
dificuldades econômicas encontradas na realização de políticas em áreas como
a saúde, a educação foi a utilização de um sistema de transferências fiscais (da
união para estados e municípios) de caráter constitucional. Segundo Arretche
(2004), no plano vertical (do governo federal com estados e municípios e dos
governos estaduais com seus respectivos municípios), o atual sistema de
transferências fiscais possibilita que quase a totalidade dos ganhos relativos
sejam apropriados pelos municípios, já que os resultados são neutros para os
estados e esse sistema favorece os municípios de pequeno porte (quanto
menor o município maior o seu ganho de receita derivado das transferências
constitucionais). Já no plano horizontal, há a redistribuição dos Estados mais
desenvolvidos para os menos desenvolvidos, entretanto as regras
constitucionais geram mais desigualdades entre os estados.
Outro ponto a ser levado em conta no que tange a indução de
políticas públicas é que, segundo a Constituição Federal de 1988, o formato
adotado foi o das competências concorrentes para a maior parte das políticas
sociais brasileiras. Qualquer ente federativo está autorizado a implementar
37
políticas em áreas como saúde, educação, assistência social, habitação e
saneamento, mas não obrigado a implementá-las. Arretche (2004) salienta que
essa forma de distribuição de competências propicia: superposição de ações;
desigualdades territoriais na provisão de serviços e mínimos denominadores
comuns nas políticas nacionais; efeitos esses que se dão pela limitação da
coordenação nacional das políticas.
Segundo Kahn (2005) no caso da segurança pública, pelo arranjo
federativo brasileiro, a maior parte das tarefas ligadas ao provimento e
manutenção da segurança coube ao poder público estadual, ou seja, os
estados são os principais responsáveis pela gestão da segurança, sendo a
responsabilidade do município uma parcela muito pequena.
No âmbito federal, a partir da criação da Secretaria Nacional de
Segurança Pública em 1997 e ações de incentivo à atuação dos municípios em
segurança “...revelam que o próprio Governo federal, amparado pela política
nacional de segurança, encontra nos municípios grandes parceiros e terreno
fértil para o desenvolvimento de políticas dessa natureza” (Miraglia 2006, pg.
95).
Entretanto, Costa e Grossi (2007, pg.11) salientam aspectos
importantes para atuação cooperada entre as esferas governamentais:
(...) a cooperação intergovernamental depende da existência de leis,
normas e práticas políticas. Em boa medida, cabe aos governos
federais a criação dos mecanismos que incentivem tal cooperação.
No caso específico da segurança pública, esses incentivos podem
ser fortalecidos pela capacidade de planejamento estratégico e de
apoio financeiro de que dispõem os governos federais.
38
2.7.1. A Secretaria Nacional de Segurança Pública
Criada no ano de 1998 a SENASP decorre da transformação da
antiga Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais de Segurança Pública -
SEPLANSEG, conforme Decreto nº 2.315.
A Secretaria Nacional de Segurança Pública funciona sob a
estrutura organizacional do Ministério da Justiça e pertence ao grupo de órgãos
específicos singulares do Ministério (Decreto nº 4.991, de 18 de fevereiro de
2004), como a Secretaria Nacional de Justiça, a Secretaria de Direito
Econômico, a Secretaria de Assuntos Legislativos, a Secretaria de Reforma do
Judiciário: Departamento de Modernização da Administração da Justiça; o
Departamento de Polícia Federal, o Departamento de Polícia Rodoviária
Federal e a Defensoria Pública da União.
Quanto a sua organização, a Secretaria Nacional de Segurança
Pública encontra-se subdividida em três grandes áreas: o Departamento de
Políticas, Programas e Projetos; o Departamento de Pesquisa, Análise de
Informação e Desenvolvimento de Recursos Humanos em Segurança Pública;
e o Departamento de Execução e Avaliação do Plano Nacional de Segurança
Pública.
No que tange às competências da Secretaria Nacional de
Segurança Pública, a ela compete (Decreto 4.991 Art. 14. 2004):
I - assessorar o Ministro da Justiça na definição, implementação e
acompanhamento da Política Nacional de Segurança Pública e dos
Programas Federais de Prevenção Social e Controle da Violência e
Criminalidade;
II - planejar, acompanhar e avaliar a implementação de programas
do Governo Federal para a área de segurança pública;
39
III - elaborar propostas de legislação e regulamentação em assuntos
de segurança pública, referentes ao setor público e ao setor privado;
IV - promover a integração dos órgãos de segurança pública;
V - estimular a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de
segurança pública;
VI - promover a interface de ações com organismos governamentais
e não governamentais, de âmbito nacional e internacional;
VII - realizar e fomentar estudos e pesquisas voltados para a
redução da criminalidade e da violência;
VIII - estimular e propor aos órgãos estaduais e municipais a
elaboração de planos e programas integrados de segurança pública
objetivando controlar ações de organizações criminosas ou fatores
específicos que gerem índices de criminalidade e violência, bem
como estimular ações sociais de prevenção da violência e
criminalidade;
IX - exercer, por seu titular, as funções de Ouvidor-Geral das
Polícias Federais;
X - implementar, manter e modernizar o Sistema Nacional de
Informações de Justiça e Segurança Pública - INFOSEG;
XI - promover e coordenar as reuniões do Conselho Nacional de
Segurança Pública - CONASP; e
XII - incentivar e acompanhar a atuação dos Conselhos Regionais
de Segurança Pública.
Conforme acima descrito, a SENASP tem como atribuição primeira
a responsabilidade pela Política Nacional de Segurança Pública e dos
Programas Federais de Prevenção Social e Controle da Violência e
Criminalidade, desta forma, de acordo com Miraglia (2006) a partir do
planejamento e “estabelecimento de programas específicos para os municípios
visando à realização de diagnósticos, elaboração de planos municipais de
segurança, formação de guardas municipais, bem como o investimento em
tecnologia da informação” o Governo Federal passa a investir nos municípios
com a finalidade de incentivar atuação local na prevenção da violência e
criminalidade.
“Apesar de não ter a função de executar ações operacionais no
controle da violência e criminalidade, a SENASP é responsável por
40
promover a qualificação, padronização e integração das ações
executadas pelas organizações de segurança pública de todo o país
em um contexto caracterizado pela autonomia destas organizações.”
SENASP (2006)
Dessa forma, os municípios que aderirem a um projeto de
segurança pública buscando recursos por meio da SENASP estarão
participando de um projeto orientado pela política Nacional de Segurança
Pública planejada pela SENASP.
2.7.2. O Plano Nacional de Segurança Pública
O Plano Nacional de Segurança Pública constitui instrumento
resultante de trabalho realizado por técnicos do Instituto Cidadania e da
Fundação Dijalma Guimarães e intitulado Projeto Segurança Pública para o
Brasil, no ano de 2002.
O objetivo do documento, na ocasião era “submeter à
apreciação da sociedade um projeto de segurança pública cuja meta é a
redução daquelas modalidades da violência que se manifestam sob a
forma da criminalidade” (PNSP, pg. 4).
O Plano Nacional de Segurança Pública propõe como principal
enfoque a lógica da prevenção e da gestão por meio de políticas públicas
de segurança que prestigiem a participação multidisciplinar e
interinstitucional, abordando temas como a reforma das policias civil e
militar e o papel das guardas municipais. Envolve, também, outros setores
governamentais, entidades da sociedade, movimentos sociais e
41
organizações do terceiro setor, incluindo a contribuição das universidades,
(SENASP 2006).
Fundamentado em eixos estratégicos como gestão do
conhecimento, reorganização institucional, formação e valorização profissional,
prevenção, estruturação da perícia, controle externo e participação social e
programas de redução da violência, o Plano Nacional de Segurança Pública
propõe ações que se baseiam em linhas de intervenção como: ações
preventivas; qualificação da formação policial; modernização da gestão do
conhecimento; reorganização institucional; valorização da perícia e valorização
do controle externo para o cumprimento de sua missão constitucional das
instituições da segurança pública, qual seja: a contenção - por meios
estritamente legais e conformes aos direitos humanos - da criminalidade e da
violência.
Segundo o Plano Nacional de Segurança Pública, SENASP (2002)
a realização de diagnósticos das dinâmicas da criminalidade e dos fatores de
risco local e geral constitui ferramenta importante para a captação das
variações circunstanciais e contribui para a elaboração de um plano de ação
capaz de formular uma agenda, identificar prioridades e recursos e estipular
metas. Sem menor importância a avaliação de tais ações, por meio de
verificação de resultados e processos, propicia a melhoria contínua das
atividades e correções de falhas nas atividades voltadas à prevenção da
violência e criminalidade.
42
2.7.3. O Sistema Único de Segurança Pública
O Ministério da Justiça iniciou por meio da atuação da Secretaria
Nacional de Segurança Pública, uma nova fase na atuação do Governo Federal
em segurança pública no Brasil. A partir de 2003 a SENASP passa a ter como
principal objetivo a implantação do Sistema Único de Segurança Pública –
SUSP, principalmente no tocante ao planejamento e execução das ações de
segurança pública em todo o Brasil.
O SUSP foi criado para propiciar a articulação entre ações
federais, estaduais e municipais em segurança pública na busca de integração
na prática dos órgãos de segurança como as polícias civil e militar e planejar,
implementar, avaliar e monitorar as ações defendidas no Plano Nacional de
Segurança Pública.
Nos moldes do Plano Nacional de Segurança Pública o SUSP
está fundamentado em grandes eixos, que possibilitam a realização de ações
integradas, conforme SENASP (2006), as áreas são: a gestão unificada da
informação; a gestão do sistema de segurança; a formação e aperfeiçoamento
de policiais; a valorização das perícias; a prevenção e as ouvidorias
independentes e corregedorias unificadas.
Sobre a atuação dos municípios o Sistema Único de Segurança
Pública incentiva ações voltadas à prevenção da violência e criminalidade, por
meio de implementação de políticas públicas básicas, articuladas com os
governos estaduais e que visem a consolidação do SUSP. A SENASP
disponibiliza uma coordenação de ações de prevenção, responsável pela
43
interação com os municípios e o fornecimento de informação e suporte para a
atuação dos mesmos em prevenção. Dentre as ferramentas disponibilizadas
pela SENASP para suporte aos municípios encontram-se o Guia para a
Prevenção do Crime e da Violência, elaborado com o PNUD e com o objetivo
de fornecer subsídios para a gestão de ações de prevenção; a Matriz Curricular
Nacional para a formação de Guardas Municipais, com o objetivo de orientar a
formação unificada dos Guardas Municipais e o Observatório, desde 2004
coletando práticas de prevenção que se encontram disponíveis para a
sociedade civil e gestores em segurança pública.
2.7.4. O Fundo Nacional de Segurança Pública
Para incentivar a atuação de estados e municípios em ações
voltadas às principais atividades do SUSP, foi instituído em 2001 o Fundo
Nacional de Segurança Pública - Lei nº 10.201/2001 (alterado pela Lei nº
10.746/03) – que tem como objetivo apoiar projetos na área de segurança
pública e de prevenção à violência e, segundo Costa e Grossi (2007, pg. 12)
destina-se “a gerir recursos para apoiar projetos de responsabilidade dos
governos federal, estaduais e municipais na área da segurança pública”.
Tal fundo é administrado por um comitê gestor, cuja composição
conta com dois representantes do Ministério da Justiça, um dos quais será seu
presidente e um de cada órgão: Ministério do Planejamento, Casa Civil,
Gabinete de Segurança Institucional e Procuradoria Geral da República.
Através de convênios firmados com estados e municípios a SENASP pode
44
descentralizar recursos e contribuir para a adoção de uma política nacional de
segurança, conforme o SUSP.
O Fundo Nacional de Segurança Pública distribui seus recursos
por meio de um sistema que se fundamenta em informações quantitativas e
qualitativas, propiciando ao comitê gestor do fundo conhecimento sobre a
situação da segurança pública e sócio-econômica dos municípios que se
habilitam na busca de recursos. Além de ações voltadas à prevenção da
violência e criminalidade o fundo contribui para “aquisição de direta de
equipamentos, bem como a inclusão de municípios que, não tendo Guarda
Municipal, possuem Conselho Comunitário de Segurança Pública ou
desenvolvem ações na área de prevenção à violência” SENASP (2006).
Conforme Costa e Grossi (2007, pg. 12), as áreas prioritárias
estabelecidas para o Fundo Nacional de Segurança Pública são: o
reequipamento das polícias estaduais, a treinamento e capacitação profissional,
a implantação de programas de policiamento comunitário e a implantação de
sistemas de informações e estatísticas policiais.
Para Costa e Grossi (2007) os convênios firmados pelos estados
e municípios com a SENASP, quando aprovados pelo FNSP, são a principal
forma de cooperação intergovernamental na área da segurança pública, pois os
recursos do FNSP apenas são repassados mediante convênio firmado com o
Governo Federal. Os convênios feitos com os estados e municípios
estabelecem contrapartida financeira dos mesmos bem como algumas
“condicionalidades” como a elaboração de um plano de segurança e
investimento em treinamento dentre outros, conforme Costa e Grossi (2007).
45
Especificamente para orientar os municípios na prospecção
recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública foi desenvolvido um guia
para a elaboração de projetos e de planos de trabalho voltados para atividades
e ações em conformidade com o SUSP. Segundo a SENASP (2006):
“O texto está dividido em três partes: a primeira parte é dedicada à
apresentação dos critérios de distribuição dos recursos entre os
municípios; a segunda realiza uma descrição suscita das ações que
se constituem necessárias para a implantação do SUSP,
explicitando seus objetivos, princípios, linhas de ação e suas
restrições; e a terceira apresenta as informações essenciais para a
padronização e qualificação dos Projetos Básicos e Planos de
Trabalho.”
Desta forma, a SENASP torna-se atuante na orientação das
políticas de segurança pública adotadas pelos municípios e induzindo a gestão
de processos, a padronização de procedimentos, técnicas e equipamentos,
pactuando e executando a implementação das diretrizes do Sistema Único de
Segurança Pública (SUSP).
2.8 O Enfoque da Segurança como Direito Social
Ao lado do debate da descentralização político-administrativa das
políticas públicas, num primeiro momento mais visível nas áreas de educação,
saúde, assistência social, entre outras, do que propriamente na de segurança,
insta considerar o oferecimento de novas possibilidades sócio-políticas para a
gestão e mediação do conflito e da violência, menos pautadas pela lógica da
punição, uma vez que mais abertas ao reconhecimento das diferenças e à
construção de novas formas de convivência social respaldadas pela
reciprocidade, sobrevindas da adoção do modelo da Nova Prevenção, como
também do enfoque da segurança como direito social. Desde esse ponto-de-
vista, importa-nos “redirecionar o debate da segurança para além do marco da
penalidade, da alternativa entre maior ou menor intervenção penal”.9
9 O modelo da Nova Prevenção ancora-se em quatro diretrizes fundamentais que deverão
nortear as políticas de controle e prevenção do delito, a saber: interdisciplinaridade,
interagencialidade, participação e descentralização. Em certa medida, trata-se mais de um
46
Vale dizer, entretanto, que essa não é uma tendência
hegemônica. Pelo contrário, o processo de construção de uma política integral
de defesa dos direitos10
, no campo da segurança pública, convive com o
fortalecimento do Direito Penal, estendendo suas competências reguladoras
para outros domínios e esvaziando-se enquanto sistema de garantias.
Inobstante, é preciso avançar para um conceito de segurança
capaz de garantir a segurança dos indivíduos em todos os seus direitos
fundamentais, na esteira do conceito de garantismo positivo cunhado por
Baratta:
Ampliar la perspectiva del derecho penal de la Constitución
en la perspectiva de una politica integral de protección de
los derechos, significa también definir el garantismo no
solamente en sentido negativo como limite del sistema
positivo, o sea, como expresión de los derechos de
protección respecto del Estado, sino como garantismo
positivo. Esto significa la respuesta a las necesidades de
seguridad de todos los derechos, también de los de
prestación por parte del Estado (derechos económicos,
sociales y culturales) y no sólo de aquella parte de ellos, que
podríamos denominar derechos de prestación de
protección, en particular contra agresiones provenientes de
comportamientos delictivos de determinadas personas.
No se puede ignorar aquella parte de la inseguridad urbana
debida efectivamente a comportamientos delictivos. No
obstante, la necesidad de seguridad de los ciudadanos no
es solamente una necesidad de protección de la
criminalidad y de los procesos de criminalización. La
seguridad de los ciudadanos corresponde a la necesidad de
estar y de sentirse garantizados en el ejercicio de todos los
derechos: derecho de la vida, a la libertad, al libre desarrollo
de la personalidad y de las propias capacidades, derecho a
expresarse y a comunicarse, derecho a la calidad
de vida, así como el derecho a controlar y a influir sobre las
condiciones de las cuales depende, en concreto, la
existencia de cada uno.
trabalho de síntese do autor em questão, apropriando-se de referências teóricas européias,
do que propriamente da existência de um corpo de autores, ou mesmo de uma escola
consolidada, que utilize a expressão “modelo da Nova Prevenção” como um conceito
corrente no círculo de estudiosos que se dedicam à análise do fenômeno criminal e das
alternativas de controle da violência no campo da segurança pública. (Veja: DIAS NETO,
2005, sobretudo o Capítulo IV, intitulado: Nova Prevenção - Conceito de Prevenção
Integrada, p. 102 e seguintes. O texto inspira-se na obra de Baratta, notadamente:
BARATTA, Alessandro. La politica criminal y el Derecho Penal de la Constitución: nuevas
reflexiones sobre el modelo integrado de las Ciencias Penales. Revista de La Facultad de
Derecho de La Universidad de Granada. n.° 2, 1999, p. 89-114). 10
BARATTA, 1999, p. 89-114.
47
La relación existente entre garantismo negativo y
garantismo positivo equivale a la relación que existe entre la
politica de derecho penal y la politica integral de protección
de los derechos. El todo se sirve de cada uno de los
elementos que cada vez lo conforman, pero cada uno de
estos elementos necesita del todo.11
Nesse sentido, privilegir-se-á a análise do conceito de segurança
como um direito humano e fundamental, previsto nos principais documentos
internacionais e em muitas Constituições, entre as quais a nossa. Das diversas
acepções do conceito de segurança constantes nos texto constitucional,
dedicar-nos-emos aquela ínsita ao caput do art. 6° da Carta Magna, inserto no
Capítulo II do Título II, que disciplina os direitos e garantias fundamentais.
Por conta disso, cumpre assinalar, preliminarmente, um conceito
geral de direitos fundamentais, em vista do qual será desenvolvida esta
reflexão. Segundo Sarlet:
Direitos fundamentais são, portanto, todas aquelas posições
jurídicas concernentes às pessoas, que, do ponto de vista
do direito constitucional positivo, foram, por seu conteúdo e
importância (fundamentalidade em sentido material),
integradas ao texto da Constituição e, portanto, retiradas da
esfera de disponibilidade dos poderes constituídos
(fundamentalidade formal), bem como as que, por seu
conteúdo e significado, possam lhes ser equiparados,
agregando-se à Constituição material, tendo, ou não,
assento na Constituição formal (aqui considerada a abertura
material do Catálogo).12
Dadas as múltiplas faculdades de um direito constitucionalmente
consagrado, contando com objeto e conteúdo distintos, opondo-se a
destinatários diferentes e determinando deveres de variados tipos, há que se
buscar um critério para distingui-los e, assim o fazendo, perquirir os efeitos
11
BARATTA, 1999, p. 110. Consulte também: BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e
Crítica do Direito Penal: Introdução à Sociologia do Direito Penal. Editora Revan: Rio de
Janeiro, 2002; DIAS NETO, Theodomiro. Segurança Urbana: o modelo da nova prevenção.
São Paulo: RT, 2005; GARLAND, David. La Cultura del Control: Crimen y orden social en
la sociedad contemporánea. Barcelona: Editorial Gedisa, 2005; SENTO-SÉ, João
Trajano(org). Prevenção da Violência: O papel das cidades. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2005. 12
SARLET, 2006c, p. 91. Nesse particular, o autor inspira-se em Alexy, para o qual os direitos
fundamentais podem ser definidos como aquelas posições que, do ponto-de-vista do direito
constitucional, são tão relevantes que seu reconhecimento ou não-reconhecimento não pode
ser deixado à livre disposição do legislador ordinário (ALEXY, Robert. Teoria de Los
Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2001).
48
práticos decorrentes dessa taxonomia (dogmático-constitucional) dos direitos
fundamentais, máxime do direito social fundamental à segurança.
Considerando o conteúdo, ou modo de proteção, os direitos
fundamentais podem ser classificados como direitos de defesa, direitos de
participação e direitos a prestações. Os direitos de defesa, também chamados
de direitos de impedir, caracterizam-se por implicarem um dever de abstenção
por parte do Estado, abstenção de agir e dever de não interferência ou de não
intromissão, no que toca às liberdades propriamente ditas, em relação às quais
se resguarda um espaço de autodeterminação individual (por exemplo, em
relação à vida, à honra, à intimidade). Para Alexy:
Los derechos del ciudadano frente al Estado a acciones
negativas del Estado (derechos de defensa) pueden
dividirse en grupos. El primero está constituido por derechos
a que el Estado no impida u obstaculice determinadas
acciones del titular del derecho; el segundo, por derechos a
que el Estado no afecte determinadas propriedades o
situaciones del titular del derecho; y el tercero, por derechos
a que el Estado no elimine determinadas posiciones
jurídicas del titular del derecho.13
Os direitos a prestações, por seu turno, no bojo de uma teoria do
Estado Social14
, impõem ao Estado o dever de agir, seja para a proteção dos
bens jurídicos protegidos pelos direitos fundamentais contra a atividade de
terceiros, seja para promover ou garantir as condições materiais de gozo efetivo
desses bens jurídicos fundamentais. O autor sobredito aborda as distinções dos
direitos a prestações, nos seguintes termos:
Cuando se habla de “derechos a prestaciones” se hace
referencia, por lo general, a acciones positivas fácticas. Este
13
ALEXY, 2001, p. 189. 14
“O Estado social no Brasil aí está para produzir as condições e os pressupostos reais e
fáticos indispensáveis ao exercício dos direitos fundamentais. Não há para tanto outro
caminho senão reconhecer o estado atual de dependência do indivíduo em relação às
prestações do Estado e fazer com que este último cumpra a tarefa igualitária e distributivista,
sem a qual não haverá democracia nem liberdade. [...] O Estado social é enfim Estado
produtor de igualdade fática. Trata-se de um conceito que deve iluminar sempre toda a
hermenêutica constitucional, em se tratando de estabelecer equivalência de direitos. Obriga
o Estado, se for o caso, a prestações positivas; a prover meios, se necessário, para
concretizar comandos normativos de isonomia. [...] Com o Estado social, o Estado-inimigo
cedeu lugar ao Estado-amigo, o Estado-medo ao Estado-confiança, o Estado-hostilidade ao
Estado-segurança. As constituições tendem a se transformar num pacto de garantia social,
num seguro com que o Estado administra a sociedade.” (BONAVIDES, Paulo. Curso de
Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 336-346).
49
tipo de derechos que están referidos a aportes fácticos que,
en principio, también podría proporcionar un sujeto
particular, serán llamados “derechos a prestaciones en
sentido estricto”. Se puede hablar no sólo de prestaciones
fácticas sino también normativas. Cuando tal es el caso, los
derechos a acciones positivas normativas adquieren
también el carácter de derechos a prestaciones. Serán
llamados “derechos a prestaciones en sentido amplio”.15
Resta claro que os direitos a prestações por parte do Estado se
estendem desde a proteção do cidadão frente a outros cidadãos, através das
normas do Direito Penal, passando pelas normas de organização e
procedimento16
, até as prestações de cunho material (ações positivas fáticas),
representadas pelo rol dos direitos sociais, estampados no art. 6° da
Constituição Federal de 1988, dentre eles, o direito à segurança abstratamente
considerado.
O direito social à segurança abarca tanto ações positivas fáticas
(direitos à prestação em sentido estrito) quanto ações positivas normativas
(direitos à prestação em sentido amplo). Trata-se, enfim, de uma complexa
estrutura de um direito voltado à proteção dos direitos fundamentais. “Este
modelo permitiria elaborar estrategias de protección de los derechos que
pueden coordinar, en la dimensión nacional y particularmente en la local, las
intervenciones preventivas o reactivas de distintas politicas públicas, también
las de la politica del derecho penal, cuando no son evitables.”17
O clamor das pessoas por segurança (compreendida em seu
sentido amplo) revela, primordialmente, uma preocupação com certa
estabilidade nas relações sociais, ou como defende Soares: “estabilização de
expectativas positivas quanto à ordem pública e à vigência da sociabilidade
cooperativa.”18
A interpretação do conceito de segurança, previsto no art. 6° da
Constituição Federal de 1988, a nosso ver, também por isso, deve ser
extensiva, abarcando o direito fundamental à segurança social, vinculada a
15
ALEXY, 2001, p. 195-196. 16
Propositadamente, deixa-se de analisar as chamadas normas de organização e
procedimento, em face do seu caráter processual de efetivação dos direitos fundamentais,
que transcende os modestos intentos deste trabalho. Maiores informações: ALEXY, 2001, p.
458. 17
BARATTA, 1999, p. 107. 18
SOARES, Luis Eduardo. Segurança municipal no Brasil: sugestões para uma agenda
mínima. In: SENTO-SÉ, João Trajano(org). Prevenção da Violência: O papel das cidades.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
50
condutas positivas orientadas à efetivação e proteção da dignidade dos
indivíduos.
Na esteira da defesa do que sustenta Canotilho acerca da tese da
Constituição dirigente, “(...) acreditamos que os textos constitucionais devem
estabelecer as premissas materiais fundantes das políticas públicas num
Estado e numa sociedade que se pretendem continuar chamar de direito,
democráticas e sociais.”19
Destarte, uma leitura constitucional do conceito de segurança,
compreendida como direito social fundamental, enseja a possibilidade de se
cotejar o direito fundamental à segurança social com o direito fundamental à
segurança pública, aquele entendido como um direito a prestações positivas de
cunho material (ações positivas fáticas) por parte do Estado para com a
coletividade e este, como um direito a prestações positivas de ordem legal, em
colaboração com o sistema de persecução criminal (ações positivas
normativas), via a proteção dos bens jurídicos considerados fundamentais pelo
Estado, os quais, quando violados, reclamam as sanções do Direito Penal.
Não se pretende com essa digressão sobre a extensão do
conceito de segurança previsto no rol dos direitos sociais estipulados pelo art.
6° da Constituição Federal estabelecer uma aporia entre o duplo significado que
se vislumbra à segurança - segurança social e segurança pública, prevista
amiúde no art. 144 do texto constitucional. As duas dimensões do conceito de
segurança afiguram-se fundamentais para a proteção e garantia da dignidade
humana. Apenas se acredita que a interpretação da segurança na perspectiva
de um direito social fundamental permita consubstanciar, no plano
constitucional, a atual tendência da municipalização da segurança pública20
,
19
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Org.). Canotilho e a Constituição dirigente. Rio
de Janeiro: Renovar, 2003, p. s/n. 20
Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]
§8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. (PINTO, Antônio Luiz de Toledo;
WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Mecum. São Paulo:
Saraiva, 2006). Detendo-se estritamente ao texto constitucional positivo, Soares propugna a
desconstitucionalização das polícias, ou seja, a transferência aos estados da autoridade para
escolher o modelo de polícia que lhes pareça mais apropriado. (SOARES, Luiz Eduardo.
Desconstitucionalização das polícias: de complicado, só mesmo o nome. Acesso em:
<http://www.luizeduardosoares.com.br Acesso em: 15 set. 2006).
51
operada mediante a participação da cidadania através de parcerias pelo poder
local para o desenvolvimento de políticas sociais e de segurança em âmbito
municipal.
Ora, se é certo que o enfrentamento da criminalidade não será
possível somente com o aperfeiçoamento do sistema de justiça criminal e do
incremento da atuação policial, baseada no policiamento ostensivo e
repressivo, afigura-se fundamental o envolvimento da comunidade na
identificação dos fatores geradores da violência e da criminalidade21
, bem como
a incorporação do caráter pluriagencial das estratégias preventivas, articulando
políticas entre as diferentes instâncias do poder municipal. Torna-se importante,
por decorrência lógica, uma maior aproximação dos programas das diversas
áreas da administração das cidades às políticas de segurança, tais como:
iluminação pública, urbanização de favelas, construção de creches, formação
profissional dos jovens e projetos de educação de jovens e adultos.22
É preciso ter em conta que a proteção jurídico-constitucional dos
direitos sociais, entre os quais, a segurança, através de atuações positivas do
Estado, implica uma gradual transformação das estruturas econômicas e
sociais, somente equacionada ao nível da luta política no quadro democrático.
A partir desse ponto-de-vista, introduz-se verdadeira viragem
paradigmática23
na abordagem (teórico-prática) da temática em tela, ao
21
Dias Neto trata da questão a partir do reconhecimento de que medidas preventivas
envolvem muitas atividades não estritamente defensivas, tais como a realização de
campanhas de informação sobre drogas, Aids, controle de corrupção, violência doméstica ou
incivilidades no trânsito, melhoria na qualidade de vida social e de mediação de conflitos
(organização de eventos culturais e esportivos – cite-se a esse respeito o trabalho
desenvolvido pela CUFA – Central Única de Favelas; Instituto Sou da Paz; Viva Rio;
Afroreggae; Projeto Cidadania sobre Rodas RS, realização da Associação de Jovens
Empresários de Porto Alegre, Associação Brasileira de Recursos Humanos e Associação de
Educação São Carlos – Grupo Mãe de Deus, em parceria com o Núcleo de Assessoria
Jurídica Popular – NAJUP/PUCRS), ou ações de recuperação de áreas públicas. (DIAS
NETO, 2005, p. 128-129). 22 Observe-se a análise de alguns dos programas municipais de segurança de 39 cidades da
Região Metropolitana de São Paulo na pesquisa de KAHN; ZANETIC, 2005, p. 54. No plano
internacional, recomenda-se a leitura da publicação: INTERNATIONAL CENTRE FOR THE
PREVENTION OF CRIME; Urban crime prevention and youth at risk - Compendium of
Promising Strategies and Programmes from around the World. Prepared for the 11th
United Nations Congress on Crime Prevention and Criminal Justice, Bangkok, 2005.
Disponível em: <http://www.crime-prevention-
intl.org/filebin/tools/Compendium_of_best_practices.pdf>. Acesso em: 30 out. 2005. 23
A expressão é inspirada em outra: viragem lingüística, utilizada por Lênio Streck para
sustentar, com base em Martin Heidegger, e, neste excerto, em Antônio Castanheira Neves,
que no “nosso sistema jurídico brasileiro - a mudança de paradigma (da filosofia da
52
deslocar-se o foco de análise do modelo repressivo-reativo da dogmática do
Direito Penal, adstrito ao controle do sistema de justiça criminal, para a
repolitização do debate da segurança, facultado pela construção de um modelo
preventivo, mediante o qual a segurança é concebida como um direito social
fundamental à coletividade. Favorece-se, desse modo, como não poderia deixar
de sê-lo, uma maior participação da cidadania e da sociedade civil organizada
no debate acerca da proposição, do monitoramento e da fiscalização de
políticas públicas de segurança.
Esse approach constitucional do tema da segurança oferece novo
ferramental teórico, como também prático, para suplantar as limitadas
possibilidades de interpretação e tratamento das condutas desviantes do senso
comum teórico24
impregnado, tanto na linguagem quanto no controle penal do
desvio, pelo enfoque criminal da segurança.
consciência para a filosofia da linguagem) não teve a devida recepção no campo da filosofia
jurídica e da hermenêutica no cotidiano das práticas judiciárias brasileiras. Os juristas não se
deram conta do fato de que “o Direito é linguagem e terá de ser considerado em tudo e por
tudo como uma linguagem”. O que quer que seja e como quer que seja, o que quer que ele se
proponha e como quer que nos toque, o Direito é-o numa linguagem e como linguagem -
propõe-se sê-lo numa linguagem (nas significações lingüísticas em que se constitui e exprime)
e atinge-nos através dessa linguagem, que é.” (STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica Jurídica
e(m) Crise: uma exploração hermenêutica da construção do direito. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001, p. 63). 24
Sirvo-me desta expressão no sentido atribuído a ela por Warat, para quem: “O sentido
comum teórico precisa, assim, ser entendido como uma racionalidade subjacente, que opera
sobre os discursos de verdade das ciências humanas. Esta racionalidade tem múltiplos modos
de emergência (surge como comportamento/modos de sensibilidade, de percepção e de
sexualidade/hábitos e fantasmas éticos, religiosos e gnoseológicos/relações estereotipadas ou
preconceituosas/dispositivos de vigilância e disciplina/mitos, fetiches e operadores
totêmicos/etc.) e configura a instância de pré-compreensão do conteúdo e os efeitos dos
discursos de verdade das ciências humanas, assim como também incide sobre a pré-
compreensão que regula a atuação dos produtores e usuários desses discursos. (...) Um efeito
de univocidade que oculta o caráter forçosamente plural do mundo - como complexo
significativo - e de suas versões cognitivas. (...) O sentido comum teórico estaria, assim,
constituindo uma racionalidade subjacente que não deixa de ser uma fala adaptada a pré-
conceitos, hábitos metafísicos, visões normalizadoras as relações de poder, princípios de
autoridade, ilusões de transparência, noções apoiadas em opiniões, assinalações religiosas
mitológicas, etc.” (WARAT, Luis Alberto. Introdução Geral ao Direito: Vol. II A Epistemologia
Jurídica da Modernidade. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995, p. 71-75).
53
3. Situação dos Municípios Pesquisados
3.1 Porto Alegre
A criação da Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Direitos
Humanos (SDHSU) de Porto Alegre começou a ser gestada, ainda em 2001, no
mandato doentão prefeito Tarso Genro (Partidos dos Trabalhadores - PT), por
força da elaboração de um programa de segurança pública municipal e da
aplicação de projetos-piloto, entre os quais se destaca o que foi desenvolvido
no bairro Restinga, como resultado da consultoria prestada por Luiz Eduardo
Soares e equipe de março a dezembro daquele ano.
O reconhecimento de que ações preventivas de segurança podem e
devem ser implementadas pelos municípios, entre outros fatores indicados ao
longo desta monografia, especialmente no segundo capítulo25
, conduziu a
aprovação na Câmara de Vereadores, em 27 de dezembro de 2002, do Projeto
de Lei do Executivo (PLE) n.° 38/02, que criou a Secretaria Municipal de
Direitos Humanos e Segurança Urbana (SDHSU) de Porto Alegre (Lei n.°
9056/02).
A primeira gestora da Secretaria de Direitos Humanos e Segurança
Urbana (SDHSU) de Porto alegre foi a secretária Helena Bonumá (Partidos dos
Trabalhadores - PT). A vereadora Bonumá, anteriormente, havia coordenado a
Comissão de Segurança Pública na Câmara de Vereadores. Na sua gestão,
priorizou-se a organização institucional e jurídica da SDHSU26
e a continuidade
dos projetos-piloto legados pela equipe da consultoria de Luiz Eduardo Soares,
com destaque para o Programa Segurança Cidadã; para as intervenções na
25
A realização da I e da II Conferência Municipal de Direitos Humanos nessa cidade, em 1998
e 2000, respectivamente, também foram importantes para disseminar publicamente a
importância de um maior e melhor investimento por parte da Prefeitura Municipal na área de
segurança urbana. 26
Remonta daquele período o atual desenho institucional da SHSU de Porto Alegre,
composta por três Coordenações: Direitos Humanos - com os Núcleos de Políticas Públicas
para o Povo Negro, Mulheres, Livre Orientação Sexual, Povos Indígenas e Defesa dos Direitos
Humanos; Segurança Urbana - responsável pelo estabelecimento do Plano Municipal de
Segurança Urbana, os Fóruns Regionais de Segurança Urbana, Sistema de Proteção Social e
a Qualificação da Guarda Municipal e Formação e Pesquisa - com a Escola de Formação em
Direitos Humanos, Observatório de Direitos Humanos, Núcleo de Pesquisas sobre a Violência
e Incubadora de Projetos de Inclusão Social
54
Restinga, no Loteamento Cavalhada, na Vila Lupicínio Rodrigues, entre outras
localidades; para o Programa de Polícia Comunitária através da reforma
administrativa e organizacional da Guarda Municipal, com enfoque para a
mediação de conflitos; para a realização dos Seminários Regionais de
Segurança Urbana27
; para a elaboração do Plano Municipal de Segurança
Urbana; para a criação dos Fóruns Regionais de Segurança e, ainda, para o
Seminário Municipal de Segurança Urbana, realizado nos dias 6 e 7 de junho de
2003.
Desde 2004, o gestor da Secretaria de Direitos Humanos e Segurança
Urbana (SDHSU) de Porto alegre é o secretário Kevin Krieger (Partido
Progressista - PP). Deve-se ressaltar que o escopo institucional da SDHSU,
concebido e desenvolvido na/pela gestão anterior, foi mantido pela atual, a
despeito das diferenças programáticas partidárias, o que, pelo menos em tese,
sinaliza a continuidade dos projetos conduzidos pala Prefeitura Municipal nessa
área ao longo dos últimos anos.
Dentre os projetos em andamento merecem referência, na Coordenação
da Guarda Municipal: a contratação de novos guardas municipais, a finalização
dos Convênios de Cooperação Técnica com a Brigada Militar, os esforços
realizados para a readequação técnica e operacional dos guardas municipais,
por força da entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento (Lei Federal n.º
10.826/03 e Decreto Federal n.º 5.123/04), o projeto de implantação da
ouvidoria e corregedoria, a ampliação do Programa Vizinhança Segura com o
estabelecimento de parcerias com entes privados, tendo como contrapartidas a
aquisição de equipamentos e o financiamento de projetos sociais; na
Coordenação de Direitos Humanos: a elaboração da pesquisa de vitimização,
em parceria com a Faculdade de Serviço Social da PUC-RS, que traçará o
27
Os Seminários Regionais de Segurança Urbana, iniciados em 7 de abril de 2003, tiveram
como objetivo estabelecer canais de discussão permanentes com a comunidade sobre
segurança, a partir de uma articulação das políticas sociais, de ações de inclusão social, de
harmonização do ambiente coletivo, bem como da busca da necessária articulação dos órgãos
responsáveis pela área de segurança pública. Os Seminários foram realizados nas 16
(dezesseis) regiões que havia sido dividida a cidade por obra do Orçamento Participativo
(OP), implantado em Porto Alegre desde 1989, com o objetivo de fomentar a participação
popular no debate acerca da eleição de prioridades na destinação do orçamento municipal por
parte do governo. As 16 (dezesseis) regiões do OP compreendem: Noroeste, Eixo-Baltazar,
Centro-Sul, Sul, Centro, Extremo-Sul, Nordeste, Lomba do Pinheiro, Restinga, Cristal, Glória,
Norte, Partenon, Humaitá, Cruzeiro, Leste. (SOARES, Luiz Eduardo; GUINDANI, Miriam. Porto
55
perfil dos crimes cometidos na capital, a participação na reestruturação da Casa
Viva Maria, através do convênio firmado com o Consulado do Japão e, na
Coordenação de Segurança Urbana, a promoção de cursos de qualificação
profissional para jovens desempregados, na faixa de 18 a 24 anos, com Ensino
Fundamental incompleto, por meio do Convênio celebrado com o Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC-RS), como também a realização
da I Conferência Municipal de Segurança Urbana de Porto Alegre, em parceria
com o Conselho Municipal de Justiça e Segurança da cidade, que será
detalhada posteriormente.
No que se refere aos Telecentros, sobressai-se a inauguração do
Estúdio Multimeios no bairro Restinga para a produção de vídeos, gravação de
CD’s, fotografia e materiais gráficos, financiado pelo Fundo Nacional de
Segurança Pública, atrelado à Secretaria Nacional de Segurança Pública
(SENASP)28
.
O Conselho Municipal de Justiça e Segurança (CMJS) de Porto Alegre
foi instituído pela Lei Complementar n.° 487, de 14 de janeiro de 2003,
regulamentado pelo Decreto n.° 14.487, de 4 de março de 2004, tendo seu
regimento interno sido aprovado pelo Decreto n.° 14.706, de 9 de novembro de
2004. As referidas legislações criaram, regulamentaram e disciplinaram não
apenas o CMJS de Porto Alegre, como também os Fóruns Regionais de Justiça
e Segurança e os Conselhos Comunitários de Justiça e Segurança29
.
Alegre: Relatos de uma experiência. In: SENTO-SÉ, João Trajano (Org.). Prevenção da
Violência: O Papel das Cidades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 32). 28
Para os fins deste trabalho não interessa perquirir a efetiva implantação dos projetos acima
descritos, na medida em que essa preocupação passa ao largo do nosso objeto de estudo.
(Fonte: Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana de Porto Alegre). 29
Os Fóruns Regionais de Justiça e Segurança foram criados em cada uma das 16
(dezesseis) regiões do Orçamento Participativo. Esses fóruns têm sua atribuição delegada
pelo Conselho Municipal de Justiça e Segurança. Além disso, devem auxiliar no
aperfeiçoamento das relações entre o município e as comunidades nos bairros e vilas
organizados em torno do Conselhos Comunitários de Justiça e Segurança, tendo por isso a
tarefa de estudar e debater a temática da segurança pública e da violência na sua região;
elaborar registros estatísticos espaciais da sua região, além de índices de violência e
criminalidade, realizando as necessárias análises; realizar eventos e reuniões de trabalho com
órgãos públicos e comunitários, que, entre outras ações, promovam a reflexão de temas
significativos e possibilitem a elaboração de planos de atividades conjuntos; desenvolver
ações para estreitar o relacionamento entre os diversos segmentos da comunidade e os
organismos públicos; criar espaços de manifestação dos cidadãos, das comunidades e dos
segmentos sociais da região; propor programas de prevenção à violência e à criminalidade;
contatar as autoridades públicas regionais para o encaminhamento de demandas, sugestões e
denúncias das comunidades e estudar os programas veiculados na mídia que dão destaque à
56
Como se pode inferir do texto de lei, trata-se de um arranjo
políticoinstitucional de âmbito municipal, com o objetivo de favorecer a
participação da comunidade na proposição, no acompanhamento e na
fiscalização de políticas públicas de justiça e segurança e, dessa forma,
subsidiar a atuação da novel Secretaria Municipal de Direitos Humanos e
Segurança Urbana (SDHSU) de PortoAlegre.
De acordo com a Lei Complementar n.° 487/03, compete ao CMJS, nos
termos do seu art. 6°, a sistematização e o encaminhamento das demandas da
população junto aos órgãos que compõem o sistema de Segurança Pública do
Estado, através da Secretaria de Justiça e Segurança do Estado do Rio Grande
do Sul (SJS) e do Conselho Estadual de Justiça e Segurança, bem como o
encaminhamento junto ao município das demandas relacionadas às políticas
públicas de justiça e de segurança.
Às competências genéricas do CMJS, esboçadas pelo art. 6° da Lei
Complementar n.° 487/03, acrescem-se as atribuições previstas pelo art. 3° do
Decreto n.° 14.487/04 e pelos arts. 4° e 8° do Decreto n.° 14.706/04, a saber:
estimular a cooperação e o trabalho integrado dos organismos policiais,
judiciais, sociais e comunitários no desenvolvimento das atividades de
segurança pública do município; representar um espaço permanente de debate
entre os órgãos públicos e a comunidade; diagnosticar e avaliar as ações
referentes à segurança pública no município; estabelecer canais permanentes
de comunicação com os órgãos públicos para demandar serviços e
providências; sistematizar e encaminhar as demandas da população junto aos
órgãos que compõem o sistema de proteção social e de segurança pública;
identificar as causas e conseqüências da violência urbana, com vistas a
contribuir na formulação da política municipal de segurança pública; cumprir e
fazer cumprir o Regimento Interno; prestar contas de suas atividades,
anualmente, à comunidade porto-alegrense; organizar e convocar a
Conferência Municipal de Segurança Urbana, a cada 2 (dois) anos, em conjunto
com a Prefeitura de Porto
violência (art. 5°/LC n.° 487/03 c/c art. 4°,§2°/Dec. n.° 14.487/04). Os Conselhos Comunitários
de Justiça e Segurança, por seu turno, são entidades criadas nas vilas e bairros da cidade de
Porto Alegre com o objetivo de dar ensejo à participação direta dos cidadãos nas questões que
envolvem a segurança social e os serviços de segurança pública prestados à comunidade em
que residem (art. 2° e 3°/LC n.° 487/03 c/c art. 5°/Dec. n.° 14.487/04).
57
Alegre - ponto este que será aprofundado a seguir; promover a integração com
os demais Conselhos Municipais, em especial o de Direitos Humanos, para
qualificar as políticas públicas de prevenção à violência; designar
representação para os Fóruns Regionais de Justiça e Segurança, sempre que
for solicitado, trabalhando para o seu fortalecimento e, ainda, estimular a
mobilização e a organização comunitárias, em particular, apoiando a criação
dos Conselhos Comunitários de Justiça e Segurança.
Por força do art. 1° do Decreto n.° 14.706/04, o CMJS deve ser
concebido como um espaço colegiado, permanente, de participação e
integração comunitária e governamental (de todas as esferas dos poderes
públicos), corroborando, em termos formais, o entendimento do autor de que
este representa potencialmente uma esfera pública não-estatal de participação
da cidadania e da sociedade civil organizada na proposição, no monitoramento
e na fiscalização das políticas públicas de (justiça e) segurança (a serem)
desenvolvidas pelo poder executivo local (SDHSU).
O CMJS é composto formalmente pelos seguintes conselheiros (fulcro
art. 2° do Decreto n.° 14.487/04 e no art. 5° do Decreto n.° 14.706/04) que terão
mandato de dois anos (vide o art. 6° do Decreto n.° 14.487/04 e o art. 23 do
Decreto n.° 14.706/04): um representante da comunidade de cada Fórum
Regional de Justiça e Segurança (são ao todo 16 Regionais tais quais as
Regiões do Orçamento Participativo); um representante de cada órgão público
que integra os Fóruns Regionais de Justiça e Segurança (Guarda Municipal e
Coordenação de Segurança Urbana da Secretaria Municipal de Direitos
Humanos e Segurança Urbana - SDHSU, Empresa Pública de Transporte e
Circulação - EPTC, Fundação de Assistência Social e Cidadania - FASC,
Fundação de Assistência Sócio-educativa - FASE, Brigada Militar, Corpo de
Bombeiros, Polícia Civil, Ministério Público Estadual - Sub-procuradoria para
Assuntos Institucionais, Conselho Tutelar, Pode Judiciário); um representante
do Instituto Geral de Perícias (IGP); um representante da Superintendência de
Serviços Penitenciários (SUSEPE); um representante da Defensoria Pública;
um representante da Câmara de Vereadores; um representante da União das
Associações de Moradores de Porto Alegre (UAMPA); um representante da
Ordem dos Advogados do Rio Grande do Sul (OAB/RS); um representante da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); um representante da
58
Polícia Federal; um representante da Associação Riograndense de Imprensa
(ARI); um representante da Secretaria Municipal da Educação (SMED); um
representante da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul
(SEC/RS); um representante da Central dos Movimentos Populares; um
representante do Grupo de Diálogo Inter-religioso e um representante da
Secretaria Estadual de Justiça e Segurança do Estado do Rio Grande do Sul
(SJS).
Embora os arts. 11 e 12 do Decreto n.° 14.706/04 determinem que as
reuniões do CMJS serão públicas e abertas à comunidade, a qual terá
garantido o direito a voz, deve-se salientar que os critérios para a indicação de
novos integrantes da comunidade e de representantes de órgãos públicos e de
entidades para participar formalmente do CMJS não se apresentam de forma
clara. O art. 11 e 14 do Decreto n.° 14.706/04 e os arts. 6° e 27 do Decreto n.°
14.706/04 apenas prevêem que a indicação de novos membros ocorrerá por
adesão voluntária, preferencialmente, no segundo semestre dos anos ímpares
e a posse no primeiro trimestre dos anos pares.
Nesse sentido, merece registro a inclusão da ONG Guayi no rol das
entidades que integram o Conselho Municipal de Justiça e Segurança (CMJS)
de Porto Alegre. A ONG Guayi é uma organização da sociedade civil de
interesse público (OSCIP) que atua, desde julho de 2001, em cinco núcleos
principais: Ecologia e Agricultura, Democracia Participativa, Economia Solidária,
Escola de Formação e Direitos Humanos e Segurança Urbana. O dado
interessante é que dessa entidade fazem parte os dois primeiros gestores da
Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana (SDHSU),
Helena Bonumá e o Cel. Luiz Antonio Brenner Guimarães.
Em outras palavras, apesar de o grupo que representam não estar mais
no poder executivo municipal, continuam a contribuir para o debate acerca da
segurança urbana como membros da sociedade civil organizada, através da
participação no Conselho Municipal de Justiça e Segurança (CMJS) e nas
atividades por este desenvolvida, notadamente a realização das Pré-
conferências Municipais de Segurança Urbana e da I Conferência Municipal de
Segurança Urbana, realizada em parceria com a Secretaria Municipal de
Direitos Humanos e Segurança Urbana (SDHSU) de Porto Alegre, nos dias 19
e 20 de maio de 2006.
59
As reuniões ordinárias devem ocorrer, no mínimo, uma vez por mês, em
consonância com a determinação do art. 7º do Decreto n.° 14.487/04 e do art.
11 do Decreto n.° 14.706/0430
. A reunião plenária ordinária mensal constitui o
órgão máximo de deliberação do CMJS, o qual, como já se afirmou, deve
operar como uma instância pública não-estatal de caráter deliberativo,
consultivo e fiscalizador das políticas públicas de segurança e de justiça
realizadas no âmbito do município de Porto Alegre, na busca por alternativas
para aperfeiçoar a segurança e a prevenção à violência urbana (vide
inteligência do art. 2° do Decreto n.° 14.706/04).
O art. 11, §único do Decreto n.° 14.706/04 aponta que essas reuniões
precisam ser realizadas em local de fácil acesso, previamente determinado,
com ampla divulgação e fora do horário comercial. Na prática, geralmente
essas reuniões são realizadas nas dependências da Secretaria Municipal de
Administração (SMA) de Porto Alegre, localizada na Av. Siqueira Campos, n.°
1300, 14º andar - Centro da cidade, em horário noturno.
A grande deficiência que se percebe, nesse particular, concentra-se na
divulgação desses encontros e na possibilidade de participação dos cidadãos.
Como o CMJS não dispõe de dotação orçamentária própria, qualquer medida
que implique a aplicação de recursos financeiros, por exemplo, investimentos
em publicidade das ações do Conselho, deve ser negociada com a Secretaria
Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana (SDHSU), a qual o CMJS,
como também os Fóruns Regionais de Justiça e Segurança e os Conselhos
Comunitários de Justiça e Segurança, está vinculado para fins de
assessoramento técnico e suporte administrativo (forte nos art. 15 do Decreto
n.° 14.487/04 e art. 28 do Decreto n.° 14.706/04). A falta de dotação
orçamentária própria para o custeio das atividades capitaneadas pelo CMJS,
atrelado financeiramente ao aporte eventual de recursos provenientes da
30
A Coordenação de Segurança da SDHSU é a responsável por trabalhar na mobilização das
comunidades no debate da problemática da violência, da criminalidade e das políticas públicas
de
segurança. Um grupo de sete guardas municipais fica responsável nesse setor por auxiliar o
Conselho Municipal de Justiça e Segurança (CMJS) de Porto Alegre, os Fóruns Regionais de
Justiça e Segurança e os Conselhos Comunitários de Justiça e Segurança a aproximar a
desempenhar suas atribuições. (Fonte: Secretaria Municipal de Direitos Humanos e
Segurança
Urbana de Porto Alegre).
60
SDHSU, sobressai-se como um fator de destaque para explicar a baixa
publicização das atribuições e da importância da participação da população no
CMJS.
Em suma, há que se consensuar que, em termos estritamente legais, o
maior limite imposto ao CMJS refere-se à inexistência de um orçamento próprio,
mesmo que mínimo, o que o coloca numa posição, muitas vezes, de
subserviência em relação à SDHSU, ou, dito de outra forma, submetido às
relações pessoais entre os membros da Coordenação do CMJS e os atuais
gestores da SDHSU.
Em atenção ao art. 12 do Decreto n.° 14.487/04 e aos arts. 8°, IV e 29
do Decreto n.° 14.706/04, o Conselho Municipal de Justiça e Segurança
(CMJS) de Porto Alegre, em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos
Humanos e Segurança Urbana (SDHSU) dessa cidade, propôs a realização da I
Conferência Municipal de Segurança Urbana, nos dias 19 e 20 de maio de
2006, com o tema: “Construindo a Segurança Cidadã em Porto Alegre com a
Integração Estado, Município e Comunidade.”
A I Conferência teve como objetivo avaliar a política de segurança
urbana de Porto Alegre, tendo em vista a mobilização da participação da
comunidade e dos diferentes atores responsáveis pela segurança pública na
cidade, a partir do sistema criado pelo CMJS, Fóruns Regionais e Conselhos
Comunitários de Justiça e Segurança, SDHSU, juntamente com os demais
órgãos municipais que participam do Conselho Municipal, em torno do debate
sobre a problemática da violência e da criminalidade e sobre o desenvolvimento
de ações de prevenção e execução de políticas públicas de segurança.
O processo de preparação da I Conferência Municipal de Segurança
Urbana previu o envolvimento da comunidade, de instituições públicas e
privadas, do Orçamento Participativo, dos Conselhos Municipais, de
organizações não-governamentais (ONG’s), de movimentos e diferentes
segmentos sociais, por meio da promoção de Mini-conferências, em bairros e
vilas; de Pré-conferências, nos 16 Fóruns Regionais de Segurança, e de
debates temáticos, culminando com uma Conferência Magna e com a
elaboração da Carta de Porto Alegre, através da qual restou registrado o
compromisso público e coletivo de lutar pela construção de políticas públicas de
61
segurança capazes de tornar a cidade mais segura, mais inclusiva e mais
democrática.
As propostas da população foram agrupadas em três eixos temáticos:
a) Sistema Único de Segurança Pública em Porto Alegre: Guarda Municipal,
Brigada Militar, Polícia Civil, Serviço Prisional, Ministério Público, Poder
Judiciário e Polícia Federal;
b) Sistema de Proteção Social em Porto Alegre: O Conselho Municipal de
Justiça e Segurança (CMJS), Fóruns Regionais e Conselhos Comunitários de
Justiça e Segurança.
c) Políticas de Prevenção e de Enfrentamento da Violência, do Crime, da
Mediação de Conflitos e Direitos Humanos.
Durante o processo de preparação da I Conferência Municipal de
Segurança Urbana foram realizadas reuniões, durante os meses de fevereiro,
março e abril de 2006, nos Conselhos Comunitários de Justiça e Segurança,
em associações, entidades e instituições comunitárias e escolares, com a
finalidade de que fossem construídas propostas para serem apresentadas nas
Pré-conferências e na própria Conferência Municipal de Segurança Urbana.
Durante os meses de abril e maio de 2006, ocorreram as Pré-
conferências Municipais de Segurança, uma em cada um dos Fóruns Regionais
de Justiça e Segurança, localizados nas 16 (dezesseis) regiões que compõem o
Orçamento Participativo (O.P.), quais sejam: Noroeste, Eixo-Baltazar, Centro-
Sul, Sul, Centro, Extremo-Sul, Nordeste, Lomba do Pinheiro, Restinga, Cristal,
Glória, Norte, Partenon, Humaitá, Cruzeiro, Leste.
As propostas suscitadas nas Mini-conferências e nas Pré-conferências
Municipais de Segurança Urbana foram encaminhadas pelos coordenadores
dos Fóruns Regionais de Justiça e Segurança para a organização da I
Conferência Municipal de Segurança Urbana de Porto Alegre, que ocorreu nos
dias 19 e 20 de maio de 2006. Essas sugestões foram sistematizadas nos três
eixos temáticos que nortearam o processo de participação popular no debate
acerca da problemática da segurança pública na cidade. Totalizaram
aproximadamente 240 (duzentos e quarenta) ações e 5 (cinco) moções.
O conjunto de propostas e resoluções da Conferência Municipal podem
ser resumidas nas seguintes diretrizes:
62
a) Integração das esferas governamentais (Federal, Estadual e Municipal),
articulando ações que efetivem o Sistema Único de Segurança Pública na
cidade, a partir da implantação das Áreas Integradas de Segurança Pública
(AIP’s) e de seus mecanismos de apoio;
b) Compromisso dos poderes públicos constituídos (Legislativo, Executivo,
Judiciário e Ministério Público) com uma maior aproximação com as
comunidades;
c) Efetiva participação das comunidades organizadas na construção de
políticas, programas e ações públicas e não-governamentais que busquem a
superação dos problemas detectados;
d) Comprometimento da iniciativa privada como organizações econômicas e
meios de comunicação de massa na implementação de uma cultura de paz e
desenvolvimento social;
e) Garantia de investimento nas políticas de prevenção e enfrentamento da
violência e da criminalidade com prestação de contas públicas e controle social;
f) Desenvolvimento de programas permanentes de prevenção e enfrentamento
da criminalidade articulados com a sociedade e discutidas no âmbito do CMJS;
g) Consolidação do CMJS como órgão representativo na deliberação, consulta,
fiscalização e articulação das políticas públicas de justiça e segurança de Porto
Alegre.
Resta evidente que a instituição e o funcionamento do CMJS
significaram expressivos avanços no campo do fortalecimento da gestão
participativa da segurança pública em âmbito municipal, embora esses
resultados, por uma série de razões, entre as quais a curta experiência de
implantação e funcionamento do CMJS e as dificuldades inerentes à criação de
indicadores e a quantificação objetiva dos resultados das ações desencadeadas
pelo processo de municipalização da segurança pública, há que se consensuar
acerca de sua importância para um amadurecimento da participação da
cidadania e da sociedade civil organizada na gestão da segurança e, de modo
mais amplo, do controle público do Estado.
O processo preparatório e os resultados da I Conferência Municipal de
Segurança Urbana (vide Carta de Porto Alegre) atestam as potencialidades de
o Conselho Municipal de Justiça e Segurança (CMJS) de Porto Alegre afirmar-
se como uma instância pública não-estatal de efetiva participação da população
63
na busca por formas alternativas e preventivas de enfrentamento da violência e
controle da criminalidade desde o poder o local.
3.2 São Leopoldo
A cidade de São Leopoldo conta com a Secretaria Municipal de
Segurança Pública, criada pela Lei n.° 5.567/05, e com 71 guardas municipais,
os quais estão sendo qualificados no conceito de agentes de cidadania (polícia
comunitária com foco na prevenção e na solução de problemas).
São Leopoldo conta também com o Conselho Popular de Segurança
Urbana. O Plano Municipal de Segurança Urbana da cidade foi elaborado, e
contempla como um de seus eixos estratégicos a “integração com a
comunidade buscando um relacionamento democrático que vise à
conscientização e colaboração para a diminuição dos níveis de violência”
(realização de audiências públicas e conferências regionais de segurança
urbana).
Projetos da prefeitura relativos ao tema da segurança pública são: o
Programa Comunidade Segura; a Ronda Escolar; o Sistema de Monitoramento
Urbano em espaços públicos mediante o emprego de câmeras de vídeo; o
Programa Trânsito Seguro (parceria com a Coordenadoria de Mobilidade
Urbana e Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer); o Serviço de
Acolhimento às Pessoas Vítimas de Violência nas Delegacias de Polícia
(parceria com a 1ª Delegacia de Polícia); o Observatório de Acidentes e
Violência do Hospital Centenário (parceria com a Secretaria Municipal de
Saúde); ações de estímulo ao protagonismo juvenil na resolução pacífica de
conflitos (parceria com a Coordenadoria Municipal da Juventude); definição e
implementação de normas de Prevenção do Crime através do Desenho
Ambiental; campanhas de desarmamento.
São Leopoldo encontra-se, geográficamente, na região metropolitana de
Porto Alegre e apresenta-se como um dos municípios mais violentos do Rio
Grande do Sul.
64
Quanto aos órgãos de segurança, o município de São Leopoldo conta
com a presença de sete postos da Brigada Militar 25° Batalhão da Brigada
Militar (sede); 25º BPM/1ª Companhia (sede); 25º BPM/1ª Companhia/1º
Pelotão; 25º BPM/1ª Companhia/Grupamento de Polícia Montada; 25º BPM/2ª
Companhia; 25º BPM/3ª Companhia e 25º BPM/3ª Companhia/Base
Operacional do Morro do Paula. No tocante à Polícia Civil, o município conta
com uma Delegacia de Polícia Regional Metropolitana (3ª DPRM/DPM), três
Delegacias de Polícia, que se localizam no Centro, na Zona Sul e na Zona
Leste do município, uma Delegacia de Pronto Atendimento e uma Delegacia de
Delitos de Trânsito.
Tratando-se de segurança urbana, entre os problemas enfrentados pelo
município de São Leopoldo encontram-se, principalmente: homicídios, violência
sexual, roubos e furtos em geral. Em mapa apresentado em estudo da
SENASP (2006), comparando comportamento das taxas de homicídios na
região metropolitana de Porto Alegre entre 1998 e 2002, observa-se o
crescimento acima da média regional do índice de vítimas por homicídio no
município de São Leopoldo.
Em acompanhamento dos números absolutos de homicídios no
município, realizado pela SEMUSP, com dados fornecidos pela Agência de
Integração e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e pela
Polícia Civil, constata-se a diminuição dos mesmos nos anos de 2004 e 2005.
Entretanto, o ano de 2006, apresentou elevação no número de homicídios,
conforme gráfico abaixo:
65
São Leopoldo: Homicídios por Ano
4751
58
70
57
4854
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: SEMUSP, 2007
Outros índices também apresentam indícios de crescimento da violência
e criminalidade no município de São Leopoldo. Conforme o Mapa da Violência
divulgado em fevereiro de 2007, estudo sobre violência nos municípios
brasileiros realizado com dados do SIM (SUS) do ano de 2002 ao ano de 2004,
o município de São Leopoldo encontra-se entre os 10% dos municípios com
maiores taxas médias de homicídio (em 100.000 habitantes) na população total
– 2002/2004. São Leopoldo apresenta taxa média de homicídio de 38,1 (em
100.000 habitantes) na população total e pontua na colocação 334 de um total
de 556 municípios. Entretanto, ao analisar os municípios do Estado do Rio
Grande do Sul que se apresentam entre os 10% com maior taxa de homicídio e
que possuem mais de 100.000 habitantes São Leopoldo figura como o terceiro
município com maior taxa de homicídio, atrás apenas de Porto Alegre e
Alvorada.
Ao levar em conta os 10% dos municípios com maiores taxas médias de
homicídio (em 100.000 habitantes) na população jovem – 2002/2004 a taxa de
66
São Leopoldo aumenta, passa a ser de 77,3 homicídios por 1000.000
habitantes na população jovem, ocupando a 239ª colocação no total de 556
municípios. Mas ao analisar os municípios do Rio Grande do Sul na região
metropolitana que possuem mais de 100.000 habitantes São Leopoldo é o
terceiro maior índice.
Para que tal realidade possa mudar a médio e longo prazo a gestão
municipal vem realizando, desde 2004, ações voltadas à prevenção da violência
e criminalidade, por meio de projeto submetido à SENASP e que conta com
apoio financeiro desse órgão. Em 2005 foi implementada a Secretaria Municipal
de Segurança Pública, com perfil técnico, voltado à comunidade, apresentando
projeto de atuação interinstitucional, cujo Secretário Municipal tem em seu
histórico profissional carreira na Polícia Civil e atuação junto à SENASP.
“Nós defendemos o SUSP, defendemos a prevenção. Os municípios
não tem nada que se meter a fazer polícia, se tem problema em
vinte e sete estados, por que eu vou achar que em cinco mil e
quinhentos municípios vai dar? Então, não é o nosso negócio. O
nosso negócio é trabalhar como agentes de cidadania, com
prevenção, com a resolução pacífica de conflitos, mediação, esse é
o papel dos municípios.” ???????
Devido à preocupação com altos índices de violência do município, a
prefeitura de São Leopoldo instituiu, no primeiro mês da gestão (2005-2008), a
Secretaria Municipal de Segurança Pública – SEMUSP, conforme LEI Nº 5.567,
de 24 de janeiro de 2005. Dentre as principais atividades da Secretaria de
Segurança Pública do Município de São Leopoldo, segundo Art. 38,:
a) Elaboração e implementação de uma política de Segurança Pública para o Município de São Leopoldo; b) Articulação com os demais órgãos de segurança visando potencializar o combate à criminalidade e a violência;
67
c) Implementação de medidas preventivas que visem promover a cidadania e a inclusão social em setores ou regiões focos de violência e criminalidade; d) Readequação das funções da Guarda Municipal a fim de promover um policiamento preventivo, integrado com a comunidade e demais forças de segurança em ação no município; e) Integração com a comunidade buscando um relacionamento democrático que vise conscientização e colaboração para a diminuição dos níveis de violência;
Em 2005, após a constituição da Secretaria Municipal de Segurança
Pública e a posse do secretário (Art. 39, Lei Municipal Nº 5.567, 2005) iniciou-
se o trabalho de formação do grupo de técnicos e a organização do
funcionamento da secretaria.
A formação do quadro da secretaria foi baseada em critérios técnicos.
São seis cargos de confiança, desses, apenas duas pessoas foram indicadas
pela prefeitura municipal. O principal critério para a contratação dos técnicos foi
a experiência em segurança pública, em atividades como: administração, em
projetos de saúde dos trabalhadores de segurança e prevenção e em ouvidoria
e controle externo.
Após a estruturação do corpo técnico da secretaria, ao longo do ano de
2005 as principais atividades da mesma concentraram esforços para a
formulação de “documento básico” do Plano Municipal de Segurança Urbana e
a proposta do mesmo para debate popular, o que resultou na realização de
audiências públicas com a população do município de São Leopoldo.
As audiências públicas com a comunidade em geral, num total de
dezoito, aconteceram em escolas da rede municipal de ensino, em diferentes
68
regiões geográficas do município, em conjunto com outras secretarias da
administração municipal. Ocorreram, também, audiências com empresários
locais e com grupos religiosos do município, com o objetivo de: a) apresentar a
Secretaria Municipal de Segurança Pública; b) discutir as idéias e projetos da
secretaria para consolidar o plano municipal de segurança e incorporar ações
que venham suprir necessidades dos cidadãos (representados pelos
participantes das audiências) e c) apresentar o “Programa Comunidade
Segura”.
Concomitantemente outras ações aconteceram durante o ano de 2005,
dentre elas destacam-se:
A contratação, junto à UNISINOS, de diagnóstico sobre a realidade da
violência e criminalidade no município (realizado por equipe multidisciplinar de
pesquisadores).
A realização de oficinas temáticas, no Projeto Escola sem Medo (já
previsto em convênio de financiamento firmado pela gestão municipal anterior
com a SENASP), com crianças e adolescentes estudantes das escolas
municipais. Os temas das oficinas foram: artes, dança, música, teatro, desenho,
esportes, marcenaria, informática, cidadania e nutrição, dentre outros.
O planejamento e implementação de ações de reestruturação da Guarda
Municipal, com abertura de concurso público para o preenchimento de 40
(quarenta) novas vagas e investimento em treinamento e capacitação dos
guardas já efetivos são atividades realizadas desde o ano de 2005. A Guarda
Municipal, a partir de 2005, passou a atuar como “agente de cidadania”, não
mais apenas preocupada com a proteção do patrimônio público, mas mantendo
69
contato com o cidadão e assumindo postura preventiva, em atividades como:
identificação de fatores geradores de violência, realização de parceria com
outras instituições como o Conselho Tutelar e diversas secretarias municipais
(saúde, educação, proteção social, trânsito,...) do município e atuação na
mediação de conflitos na comunidade local.
Para os gestores que atuam na secretaria, os fatores que dificultaram o
trabalho ao longo do primeiro ano foram: a pouca participação da comunidade
nas audiências para a discussão do plano; a grande resistência à mudança e
baixa escolaridade dos Guardas Municipais efetivos; articulação política junto à
administração municipal (a secretaria tem perfil técnico e deparou-se com
impasses políticos junto à administração municipal); a necessidade do término
do diagnóstico sobre a violência no município para focar e priorizar ações.
Já os fatores facilitadores da atuação da secretaria em seu primeiro ano,
segundo os gestores, foram: a boa articulação com as polícias civil e militar; a
aprovação da abertura de concurso público para a guarda, 40 (quarenta) novas
vagas, com perfil bem definido, exigência de 2º grau completo (a turma de
novos guardas receberá treinamento de 476 horas/aula, conforme as diretrizes
da Matriz Curricular da SENASP); corpo técnico da secretaria afinado, o que
possibilita tomada de decisões em conjunto/consenso e a melhoria da estrutura
física da secretaria.
Contudo, o resultado final da discussão com a comunidade sobre o
Plano Municipal de Segurança Urbana e de propostas para o Programa
Comunidade Segura constituiu marco para o planejamento da atuação da
SEMUSP. A seguir, a apresentação do plano.
70
A ação da Secretaria Municipal de Segurança Pública e o plano
municipal construído, embasando uma política municipal de segurança pública,
têm como três grandes eixos: a participação popular, a guarda municipal e a
prevenção social à violência e criminalidade. Essa política municipal de
segurança pública foi denominada “Programa Comunidade Segura”.
O Programa Comunidade Segura tem como objetivo estratégico:
“Reduzir a criminalidade e a violência mediante o desenvolvimento
de projetos multisetoriais de prevenção, garantindo o acesso da
sociedade à gestão da segurança urbana, readequando as funções
da Guarda Municipal como agente de cidadania e ampliando a
eficiência do sistema de segurança pública local.”
SEMUSP(2006)
O Programa Comunidade Segura foi elaborado com a participação da
população, em audiências públicas realizadas no ano de 2005, como já
descrito anteriormente e é constituído de 10 (dez) propósitos, divididos em
fundamentais, específicos, metodológicos e administrativos, ou seja, quatro
grandes eixos que norteiam a atuação da secretaria. Ainda, segundo o Plano
Municipal de Segurança Urbana (2006):
“a palavra propósito é empregada aqui em seus múltiplos
significados, quais sejam as ações que a administração pública
municipal tenciona executar e os objetivos que quer alcançar, além
de revelar o desígnio da comunidade ao ser protagonista da nova
cidade e a determinação administrativa de desenvolver as ações
definidas.”
71
Fonte: SEMUP, 2006
Fonte: Plano Municipal de Segurança Pública, SEMUSP 2006.
Nos propósitos fundamentais, encontram-se a Prevenção Comunitária e
a atuação da Guarda Municipal enquanto Agentes de Cidadania.
A prevenção comunitária consiste em ações de prevenção como oficinas
de prevenção da violência para crianças e adolescentes, formação de jovens
para atuarem como agentes para a paz, solidariedade e tolerância, além de
capacitá-los a superar as relações de violência, a adoção do Sistema de
Monitoramento Urbano, o desenvolvimento do programa Trânsito Seguro, o
acesso facilitado à documentação civil básica, o Serviço de Acolhimento às
Pessoas Vítimas de Violência nas Delegacias de Polícia, bem como a
articulação e execução conjunta em programas desenvolvidos pela
Administração Municipal com direta repercussão na prevenção da violência
junto a secretarias municipais como: a Secretaria Municipal da Saúde,
Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer, a Secretaria Municipal de
Assistência, Cidadania e Inclusão Social, a Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, a Secretaria Municipal de Habitação, a Secretaria Municipal do
Orçamento Participativo, a Secretaria de Planejamento e Coordenação, a
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, o Gabinete da
Primeira Dama e as Coordenadorias Municipais da Mulher, da Juventude e de
Promoção da Igualdade Racial.
A atuação dos Guardas Municipais como agentes de cidadania constitui
o segundo propósito do Programa Comunidade Segura.
72
“A atuação da Guarda Municipal de São Leopoldo tem como
princípio fundamental a promoção dos direitos humanos e a
obediência à legalidade, garantindo o primado da vida e da
integridade física como bens a serem preservados acima de
quaisquer outras considerações.”
SEMUSP
(2006)
Dentre as principais atribuições da Guarda Municipal estão prevenir e
inibir atos delituosos e realizar o policiamento comunitário preventivo municipal
permanente e orientado para a solução de problemas. Para que esses
objetivos sejam cumpridos, dentre as ações previstas no Plano de Municipal de
Segurança Urbana encontram-se: investimento na qualidade da formação e
capacitação dos integrantes da Guarda; ampliação das atividades da Central
de Operações, seleção dos agentes da Guarda a critérios de aptidão
psicológica e capacitação para o uso da arma de fogo, conforme o estatuto do
desarmamento; duplicação do quadro funcional da Guarda Municipal;
desenvolvimento do programa de saúde integral dos trabalhadores da Guarda
Municipal; ampliação e aperfeiçoamento da ronda escolar; aperfeiçoamento da
vigilância patrimonial; criação da corregedoria da Guarda Municipal; discussão
e proposição de alterações legislativas para instituir o Estatuto dos Servidores
da Guarda Municipal; debate e implementação do plano de carreira dos
servidores da Guarda Municipal; aparelhamento da Guarda Municipal (viaturas,
uniformes, armas e equipamentos de proteção individual, comunicação,
vigilância e monitoramento); aparelhamento do serviço de vigilância do Hospital
Centenário e implementação, por convênio junto ao governo estadual, do
serviço de Disque Denúncia.
Nos propósitos específicos, encontram-se os programas segurança
cidadã, o escola sem medo e a prevenção da violência intra-familiar.
73
A atuação da Guarda Municipal, fundamentada pelo policiamento
comunitário, a interação com os meios de comunicação e o respeito aos
princípios constitucionais de proteção dos direitos e liberdades individuais, bem
como a vinculação da Guarda Municipal com os cidadãos, constituem os
princípios e ações do propósito segurança cidadã.
O quarto propósito - escola sem medo – refere-se à implementação de
ações de prevenção da violência e criminalidade nas escolas, buscando
“propiciar ambientes onde as relações e informações favoreçam o
desenvolvimento integral do educando” SEMUSP (2006). As ações envolvidas
no propósito escola sem medo objetivam capacitar profissionais da educação
na área social para intervir em problemas como o uso indevido de drogas e
armas de fogo; qualificar a comunidade por intermédio da escola para servir de
mediadora na problemática da violência; colaborar para que a abordagem do
uso indevido de drogas tenha uma compreensão equilibrada e uma relação
adequada com o problema junto às crianças e adolescentes; promover a
escola para que seja um local de convivência e de discussão de forma
prazerosa através de oficinas; capacitar os profissionais de ensino por meio de
oficinas de artes, de jogos e trabalhos de conscientização junto aos alunos,
pais, professores e comunidade e oferecer atividades alternativas aos jovens
tais como programas após o horário escolar, aconselhamento psicológico e
capacitação profissional com o intuito de afastar os adolescentes da
participação em gangues e “torcidas organizadas”. Ações para conter a
violência nas escolas como o bullying - expressão inglesa que pode ser
traduzida como intimidação ou humilhação, representa as brincadeiras de mau
gosto, sem graça, ameaças, chantagens e discriminações, entre outras formas,
74
feitas por determinados alunos visando ridicularizar colegas -, também fazem
parte do quarto propósito do Programa Comunidade Segura.
O quinto propósito estabelecido no Programa Comunidade Segura é a
prevenção à violência intra-familiar. Trabalhar a prevenção da violência intra-
familiar em conjunto com outros órgãos municipais como as Coordenadorias da
Mulher e da Juventude para elaboração e implementação de programas
constitui atividade fundamental para a prevenção da violência intra-familiar.
Como propósitos metodológicos o Plano Municipal de Segurança
Urbana, por meio do Programa Comunidade Segura apresenta a Cultura de
Paz, a formação de um Consórcio Intermunicipal entre os municípios da Vale
do Rio dos Sinos e a integração operacional.
O sexto propósito diz respeito à Cultura de Paz. O Programa
Comunidade Segura baseia-se na premissa de que a Cultura de Paz deve ser
entendida como um processo, uma prática cotidiana que exige o envolvimento
de todos: cidadãos, famílias, comunidades, sociedades e países. No programa,
a Cultura de Paz está alicerçada nas ações de prevenção e na resolução não
violenta de conflitos.
O sétimo propósito prevê a formação de um consórcio intermunicipal
abrangendo os municípios da região do Vale do Rio dos Sinos para a
prevenção da violência e da criminalidade, baseado nas diretrizes do Sistema
Único de Segurança Pública.
O oitavo propósito do programa Comunidade Segura - a integração
operacional - refere-se ao estímulo, pela Secretaria Municipal de Segurança
Pública de São Leopoldo, a atividades integradas do sistema de justiça
criminal, compreendidos as polícias, o Ministério Público, o Poder Judiciário, a
75
Defensoria Pública, as atividades de perícia e o sistema penitenciário,
estaduais e federais. Neste propósito, a atuação da Guarda Municipal tem
papel fundamental enquanto articuladora de ações de prevenção junto aos
demais órgãos de segurança do Estado e da União. Dentre as ações
planejadas para a atuação integrada estão: ação articulada com Secretarias e
Coordenadorias da Administração Municipal; apoio mútuo de patrulheiros
policiais e Guarda Municipal em policiamento comunitário; integração da
Guarda com atividades operacionais de inteligência policial para informação
sobre estatísticas de criminalidade, bem como parcerias em cursos de
formação e aperfeiçoamento; o apoio da Guarda na atuação do Corpo de
Bombeiros e colaboração em projetos como o “Bombeiro Mirim”; o
desenvolvimento de mecanismos municipais legais e transparentes de
colaboração entre a vigilância particular e a segurança pública e a instituição
efetiva do Gabinete de Gestão Integrada, que reúne, além das instituições de
segurança já citadas, a Câmara Municipal, Defensoria Pública, Conselhos
Tutelares, instituições de ensino e saúde e outros órgãos vinculados à questão
da segurança com atuação do município, com o intuito de oportunizar a troca
de informações e a intervenção conjunta dos participantes.
Quanto aos propósitos administrativos, os estabelecidos pelo Programa
Comunidade Segura são gestão do conhecimento e a participação e controle
social.
O nono propósito do Programa Comunidade Segura diz respeito à
gestão do conhecimento. Conforme o Plano Municipal de Segurança Urbana
de São Leopoldo (2006), a gestão do conhecimento na atuação da secretaria
baseia-se na:
76
“utilização de dados qualificados que permitam diagnósticos
precisos da situação da violência sem os quais não é possível um
planejamento sistêmico das soluções. É necessário também instituir
ferramentas de avaliação regular dos resultados e estabelecer
mecanismos de monitoramento corretivo.” SEMUSP (2006)
As ações de prevenção da secretaria são planejadas com base em
análise de características sociais e urbanas do município bem como nos dados
do diagnóstico sobre criminalidade no município de São Leopoldo realizado por
técnicos da UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, norteando
atuação em áreas e problemas que demandam soluções de maior urgência.
Dentre as ações estabelecidas no Programa Comunidade Segura para a
gestão do conhecimento encontram-se: utilização de informações
georeferenciadas sobre ocorrências criminais no município; a participação de
instituições de ensino superior em programas de saúde integral para a os
agentes da Guarda Municipal; o estabelecimento de parcerias com entidades
do terceiro setor, universidades e centros de pesquisa para identificar os
principais problemas do trânsito; a elaboração de diagnósticos sobre violência
e criminalidade para conhecimento qualitativo, quantitativo e espacial das
ocorrências criminais no município; incentivo à elaboração de pesquisa de
vitimização no município; participação e acesso a pesquisas, dissertações e
teses em diversos cursos de pós-graduação que contribuam para a experiência
de prevenção social da violência e criminalidade; a operação do Telecentro,
mediante convênio com o Governo Federal, via SENAP para qualificação dos
profissionais de segurança pública; ampliação e divulgação dos serviços da
biblioteca de segurança urbana; integração da secretaria aos sistemas
estadual e federal de inteligência, bem como a outras agências de informação
sobre segurança pública e realização de oficinas de sensibilização sobre
77
violências com a Guarda Municipal, Polícia Civil e Brigada Militar visando a
qualificação dos serviços prestados pelo sistema de segurança pública.
O décimo e último propósito do Programa Comunidade Segura, a
participação e controle social, constitui a realização de audiências públicas,
conferencias regionais e seminários como ferramentas para a construção
democrática e discussão permanente com a comunidade sobre a segurança
local, bem como a participação como controle social das políticas públicas
municipais em segurança. As ações que contribuem para a realização do
propósito incluem: a realização periódica de conferências regionais de
segurança urbana; a instituição do conselho popular de segurança urbana que
atuará na fiscalização das atividades da Guarda Municipal, como instrumento
de controle externo; a criação do fundo municipal de segurança urbana
alocando recursos públicos e privados para a promoção da segurança urbana;
a instituição da ouvidoria independente com instrumento de controle da
atuação da Guarda Municipal com as atribuições de receber e verificar
denúncias de atos praticados pelos servidores da Secretaria Municipal de
Segurança Pública que violem os direitos humanos individuais ou coletivos,
assegurando a instauração dos devidos procedimentos de apuração de
responsabilidades e possível denúncia ao Ministério Público.
Para que tais propósitos sejam atingidos e melhor acompanhamento da
gestão da Secretaria foi criada a Matriz de Planejamento (Anexo I), que
desdobra as atividades a serem realizadas em: objetivo; projeto/operações;
ações; recursos; prazo; atores aliados; responsável e resultado.
Embora muitas das atividades propostas na Matriz de Planejamento
estejam acontecendo ou em fase de estruturação, algumas das atividades
78
ainda não foram efetivamente postas em prática. Alguns obstáculos como o
tempo para articulação com outros órgãos e entidades; a concretização de
convênio para o financiamento das atividades e procedimentos burocráticos,
dentre outros, são enfrentados ao longo do tempo e aumentam os prazos
estipulados na matriz de planejamento para a realização das atividades.
Como as ações da SEMUSP envolvem outros órgãos e têm enfoque
multidisciplinar, desde sua concepção, várias ações já foram acrescentadas à
matriz de planejamento inicialmente proposta pelos gestores, conforme
depoimento a seguir:
“O plano só vai abrindo outros leques. Quando a gente acha que
fechou surge uma nova questão que poderia ser trabalhada.
Olhando todas as ações que temos, nos propósitos trabalhados,
cada propósito que nós vamos vendo, vamos abrindo mais, por que
a medida que vai seno trabalhado vão abrindo novas oportunidades
e novos temas a serem trabalhados. Por exemplo, se a gente
trabalhou prevenção primária, mas a gente vê que tem lá na ponta
prevenção terciária também, não pode deixar. Então a gente vai
também para a terciária, como, por exemplo, fazer um convênio com
a SUSEP, em que a gente possa estar trabalhando os detentos que
tem família, crianças que estudam nas nossas escolas, então, nunca
acaba. Não se esgota, ele só vai abrindo mais o leque.”
Outra consideração que cabe ser feita sobre o Plano Municipal e,
consequentemente, sobre a matriz de planejamento é a respeito de sua
dinâmica. As ações inicialmente planejadas necessitam de constante
acompanhamento e avaliação para que estejam adequadas às necessidades do
município. A análise dos projetos realizados pela secretaria demonstra que
instrumentos que possibilitem tal avaliação precisam ser mais trabalhados e até
mesmo aperfeiçoados. Algumas das atividades que seguirão descritas
confirmam tal afirmação.
79
Apesar da criação de três departamentos distintos, o funcionamento da
secretaria passou a acontecer de forma multidisciplinar, todas as ações,
projetos e decisões são tomadas em forma de consenso.
Hoje, a secretaria encontra-se configurada conforme figura a seguir:
Ao Secretário Municipal de Segurança Pública estão diretamente ligados
o Chefe de Gabinete, o Departamento de Controle, o Departamento de
Prevenção da Violência e Criminalidade e o Departamento da Guarda
Municipal. A exceção do Chefe de Gabinete – que é responsável pelo
assessoramento direto ao secretário –, para melhor descrever a atuação e
responsabilidades das áreas da secretaria, a seguir serão relatadas as
principais atividades de cada uma delas.
O Departamento de Controle presta aos demais departamentos da
Secretaria Municipal de Segurança Pública de São Leopoldo o suporte
necessário para o funcionamento dos mesmos e da secretaria como um todo.
Departamento de ControleDepartamento de Prevenção
à Violência e Criminalidade
Departamento da
Guarda Municipal
Secretaria Municipal de Segurança Pública
SEMUSP – São Leopoldo
Chefe Gabinete
do Secretário
Departamento de ControleDepartamento de Prevenção
à Violência e Criminalidade
Departamento da
Guarda Municipal
Secretaria Municipal de Segurança Pública
SEMUSP – São Leopoldo
Chefe Gabinete
do Secretário
80
Cabe a este departamento a gestão financeira (orçamentos; custos,
captação e manutenção de recursos), a gestão dos recursos humanos da
secretaria (ampliação do quadro de profissionais, capacitação e
desenvolvimento dos profissionais, convênios com prestadores de serviço), a
manutenção administrativa (equipamentos da Guarda Municipal, do centro de
operações, do telecentro, da secretaria de modo geral...), bem como a
interação burocrática exigida pela administração municipal.
Quanto aos recursos humanos, o Departamento de Controle conta com a
diretora e dois funcionários para a execução de suas atividades. Há muita
atividade e poucas pessoas para executá-las. Como a secretaria é nova, no
primeiro ano os colaboradores não tinham experiência, a gestora do
departamento envolveu-se diretamente em várias atividades ao mesmo tempo
em que seus colaboradores aprendiam o trabalho.
“...eu tenho que botar a mão na massa e fazer. É claro que a gente
está ensinando as pessoas, mas isso é um processo. Tem os fluxos
que eu ainda não criei e quero criar, para normatizar todas as tarefas
da secretaria. A secretaria está sendo organizada ao mesmo tempo
em que anda.”
Entretanto as atividades da secretaria vêm aumentando ao longo do
tempo, são em maior número e mais diversas e o departamento de Controle
conta com o mesmo número de colaboradores de março de 2005 a dezembro
de 2006.
O orçamento da Secretaria Municipal de Segurança Pública do
município, de responsabilidade do Departamento de Controle, é composto por
recursos da prefeitura municipal e por financiamentos oriundos do Fundo
Nacional de Segurança, por meio de projetos específicos, submetidos à seleção
pelo comitê gestor do Fundo Nacional de Segurança Pública.
81
O convênio com a SENASP financia oitenta por cento do valor dos
projetos submetidos pelo município, a contrapartida da prefeitura é de vinte por
cento de cada convênio firmado pelo município com a SENASP.
No ano de 2005 o orçamento destinado pela prefeitura para o custeio
diverso da SEMUSP foi de aproximadamente trezentos mil reais e no ano de
2006 de aproximadamente trezentos e sessenta e três mil reais, sem contar a
folha de pagamento, auxílio-transporte e alimentação para os servidores da
SEMUSP.
Em 2005 a SEMUSP contou ainda com parte do financiamento de
convênio com a SENASP já contratado pela gestão anterior, de
aproximadamente cento e sessenta e dois mil reais. Tal convênio foi encerado
no ano de 2006 e, de um total de trezentos e dezenove mil reais,
aproximadamente setenta mil reais corresponderam aos vinte por cento de
contrapartida da prefeitura municipal.
O quadro a seguir apresenta demonstrativo dos investimentos feitos em
segurança pública durante o ano de 2005. Como a Secretaria foi criada em
janeiro desse ano ainda não tinha orçamento próprio definido.
Discriminação Investimento do
MUNICÍPIO
Investimento do
GOVERNO
FEDERAL
Público
Beneficiado
Reaparelhamento Comunidade em
Geral
Equipamentos para Formação 30.445,90
Equipamentos de Uso Individual 3.216,00 38.153,38
Eq. p/ Comunicação e Mobilidade 76.636,00
Equipamentos Diversos 49.189,06
Subtotal I 129.041,06 68.599,28
Prevenção
Oficinas de Cultura e Lazer 6.400,00 520 crian./adolesc.
Oficinas Profissionalizantes 9.600,00 720 crian./adolesc.
Ofic. de Prevenção à Violência 22.400,00 600 alunos/25 prof
Parceria com PM p/ Prevenção 13.200,00 Comunidade do
Morro do Paula
Parceira com PC p/ Prevenção 5.000,00 18 agentes PC
Subtotal II 18.200,00 38.400,00
82
Curso de Qualificação p/ a Guarda
Municipal e Polícias
20.239,57 15.000,00 40 guardas
municipais
Primeiro Plano Municipal de
Segurança Urbana
Comunidade em
Geral
Audiências Públicas 1.475,20
Dignóstico 20.000,00
Elaboração do Plano 20.000,00
Subtotal III 1.475,20 40.000,00
Outros Guarda Municipal
Folha de Pagamento da GM 976.535,06
Auxílio-Transporte 55.000,00
Alimentação 25.244,20
Despesas Orçamentárias Diversas 122.694,87
Subtotal IV 1.179.474,13
TOTAL 1.348.429,96 161.999,28
Fonte: SEMUSP, 2006.
No ano de 2006 a SEMUSP submeteu projeto a aprovação do Fundo
Nacional de Segurança Pública para que novo convênio fosse firmado com a
SENASP. Tal projeto teve parte referente às atividades de prevenção da
violência e criminalidade e continuidade a readequação da Guarda Municipal.
Aprovado, tal convênio foi assinado no mês de setembro, com duração de dois
anos no valor de oitocentos mil reais. A parte do projeto referente a implantação
do sistema de monitoramento urbano teve a aprovação condicionada a
apresentação de projeto específico pela SEMUSP. Em dezembro do mesmo
ano o projeto do sistema de monitoramento urbano foi submetido à apreciação
do comitê gestor do Fundo Nacional de Segurança Pública e aprovado, com
assinatura do convênio prevista para o primeiro semestre de 2007.
Em 2006 o orçamento da prefeitura para a secretaria Municipal de
Segurança foi de aproximadamente trezentos mil reais para investimento, fora
os quatrocentos mil da contrapartida do convênio com a SENASP e
aproximadamente um milhão em salários (Guarda e técnicos da secretaria).
Esse montante é para investimento e manutenção. O orçamento para
83
combustível das unidades móveis fica a cargo da Secretaria de Obras. No ano
de 2006 a secretaria contou ainda com cento e setenta mil reais aprovados, em
2005, pelo Orçamento Participativo para a segurança.
Segundo os gestores da SEMUSP os investimentos em segurança no
município têm aumentado. A efetivação do convênio com a SENASP em 2006
foi fundamental para a continuidade do projeto da secretaria:
“A parte orçamentária é fundamental, porque sem dinheiro não se
consegue fazer nada. A questão do orçamento é importante, mas a
gente não encontrou barreiras, a gente administra muito bem com o
orçamento da prefeitura e com os projetos que a gente capta
recurso, pelo governo federal.”
Toda a gerência dos projetos submetidos à SENASP é de
responsabilidade do Departamento de Controle, desde a organização do projeto
– em conjunto com demais departamentos – e de acordo com regras já
definidas pela SENASP, passando pelo acompanhamento das atividades,
contratação de terceiros, prestação de contas, dentre outros. Ou seja, o
gerenciamento e responsabilidade por toda a formalidade exigida pela SENASP
antes, durante e após a execução de cada convênio.
Quanto à contratação de terceiros para prestar serviços previstos no
convênio com a SENASP o departamento de Controle deve seguir normas
estabelecidas no mesmo e utilizar-se da lei de licitações (Lei Nº 8.666 de 21 de
Junho de 1993). A prefeitura Municipal de São Leopoldo mantém uma central
de licitações, então, o Departamento de Controle encarrega-se de encaminhar
as especificações técnicas completas, com memorial descritivo das atividades,
estimativa de custo e requisição de empenho para a central e a mesma
encarrega-se do orçamento, contato com os concorrentes e contratação das
empresas e/ou prestadores de serviço aptos.
84
O Departamento de Controle da SEMUSP é responsável pela
administração de todos os equipamentos disponíveis na Secretaria, desde
microcomputadores, passando pelo equipamento da Guarda Municipal, até a
aquisição e manutenção de viaturas. O funcionamento e a infra-estrutura da
Secretaria, em última instância, são dependentes do departamento de Controle.
A ampliação da central de alarmes, também de responsabilidade do
Departamento de Controle, foi elaborada e projetada durante o ano de 2006. A
proposta é que todos os prédios públicos de São Leopoldo tenham alarme. São
cem minicentrais que podem ser ligadas e cada uma tem dezesseis pontos de
sensores, ou seja, um prédio poderá ter sensores em dezesseis salas. A
operação da central é de responsabilidade da Guarda Municipal.
O maior desafio da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, para a
gestora do Departamento de Controle, é a implementação de uma nova
proposta, de uma atividade ainda não existente no município:
“A gente está executando um projeto grande, novo, com uma
cultura completamente nova na cidade e para os servidores
(Guardas) e com todas as dificuldades que tem o serviço público,
entraves administrativos. Nós superamos em função da dificuldade
que é implementar qualquer novidade no serviço público, com pouco
recurso.”
O Departamento de Prevenção da Violência e Criminalidade tem como
principal objetivo planejar, desenvolver e implementar projetos e ações voltados
à prevenção da violência e criminalidade. Dentre as principais atividades do
departamento encontram-se: a) o planejamento, estruturação e execução de
ações de prevenção à violência e criminalidade; b) a colaboração com a
readequação da Guarda Municipal; c) a participação na construção do Plano
Municipal de Segurança; d) o diagnóstico sobre a violência e criminalidade no
85
município; e e) o relacionamento com instituições de ensino e pesquisa e
fomento da informação sobre temas ligados à violência e criminalidade.
O planejamento, a estruturação e execução de ações de prevenção da
violência e criminalidade envolvem a elaboração de projetos e a coordenação
do trabalho das organizações não-governamentais que irão executá-los.
Projetos voltados a crianças e adolescentes, em sua maioria oficinas temáticas,
dirigidos a alunos da rede municipal da cidade de São Leopoldo foram
elaborados de acordo com a identificação de áreas mais vulneráveis e a
proposta de funcionamento é que ocorram no contra turno escolar e aos
sábados.
O projeto-piloto executado entre o segundo semestre de 2005 e o início
de 2006 atingiu aproximadamente 1.350 (um mil trezentos e cinqüenta) crianças
e adolescentes. Tal projeto foi executado com verba de convênio realizado com
a SENASP ainda no ano de 2004, segundo a diretora do departamento:
“Sobre as oficinas de prevenção da violência e criminalidade, nós
começamos a conversar com o poder público, a gente entende
que prevenção começa desde as crianças, a gente contatou com a
SMEC que é a Secretaria Municipal de Educação e começou a
desenvolver essas oficinas dentro das escolas. Então nós fizemos
contato com as ONGs, que começaram a desenvolver essas
oficinas, sempre no contra turno escolar ou aos sábados, que é
quando as crianças ficam muito vulneráveis. Não existia um
diagnóstico no município de violência e criminalidade e nós
começamos a mapear locais, o que nos diziam sobre determinado
bairro que era mais violento. A gente começou a ver com as
escolas, que elas mapeassem as ocorrências que tinham dentro e
nos entorno e nos mandassem para a gente começar a ter dados.
Aí começamos a fazer nos bairros mais vulneráveis, de agosto de
2005 a abril de 2006, quando foi a última oficina desse primeiro
convênio.”
Entretanto, para o planejamento das oficinas a serem realizadas a partir
do novo convênio com a SENASP os técnicos da avaliaram as oficinas já
realizadas levando em conta a localidade de atuação, a aceitação por parte do
público-alvo, o tempo de duração e os tipos de oficinas que melhor se
86
adaptaram à realidade local. Os resultados obtidos sustentaram as
reformulações para nova edição das oficinas a partir da assinatura do convênio
em 2006 e abordam diferentes temas, bem como oficinas e atividades
específicas, voltadas ao atendimento de crianças e adolescentes vítimas de
abuso e exploração sexual, violência familiar, em situação de risco e
vulnerabilidade social e sem perspectivas de vida. A execução dos projetos de
prevenção à violência e criminalidade é prevista entre os anos de 2006 e 2008.
A seguir, quadro de atividades de prevenção junto a crianças e
adolescentes planejadas pela SEMUSP para execução a partir da formalização
de novo convênio com a SENASP:
Projeto Atividades Público Alvo Duração
Projeto de prevenção da
violência doméstica e
sexual
capacitação em cidadania e
direitos humanos de crianças
e adolescentes nas escolas de
São Leopoldo/RS
700 Professores, diretores, coordenadores
pedagógicos e 15.000 alunos de escolas
municipais
240h
Paz-ciência na vida!
formação de jovens como
agentes para a paz e a
solidariedade
240 adolescentes e jovens que estão nos
últimos anos do ensino fundamental
24h
Arte para a paz
formação de talentos jovens
para a superação das
relações de violência
60 jovens de 15 a 24 anos de idade do Bairro
Arroio da Manteiga
32h
Oficina de Inclusão
Digital
inserção de jovens na
sociedade através da busca
de cidadania e igualdade
tecnológica
crianças e adolescentes com escolaridade a
partir da 6ª série; crianças e adolescentes
com baixa escolaridade ou fora do ensino
formal;
96h
Oficina de Música
capacitação para uma forma
de expressão, harmonia e
reflexão
crianças e adolescentes com idade entre 08 e
14 anos, em vulnerabilidade social e sem
perspectivas de vida. Sendo atendidas um
total de 40 crianças/adolescentes em turnos
diferenciados durante 12 meses.
288h
Oficina de Artes
Plásticas
a reflexão através das mãos
60 crianças e adolescentes de 08 a 14 anos
de idade, em situação de risco social.
480h
Oficina de cestaria em
jornal
transformar a leitura em Arte
e Sabedoria
30 crianças e adolescentes com idade entre
08 e 14 anos, em situação de risco social.
96h
Oficinas Culturais música, dança, teatro,
literatura e desenho
crianças e adolescentes da rede municipal de
ensino.
40h
Oficinas esportivas voleibol, basquetebol,
futebol de salão e capoeira
crianças e adolescentes da rede municipal de ensino.
80h
Oficina de orientação
nutricional e saúde
discussão sobre cidadania,
orientações nutricionais e de
saúde
crianças e adolescentes da rede municipal de ensino.
32h
Oficinas ecológicas abordagem de questões
ecológicas, através do
crianças e adolescentes da rede municipal de ensino.
24h
87
cultivo de uma horta e
reciclagem de lixo para
adubo orgânico
Oficina de cidadania discussão sobre cidadania,
orientações nutricionais e de
saúde
crianças e adolescentes da rede municipal de
ensino
16h
Oficina de Marcenaria e
Técnicas Decorativas em
madeira
aprendizado básico de
marcenaria
crianças e adolescentes da rede municipal de
ensino
40h
Oficina de Informática acesso à informática e
aprendizado das noções
básicas de operação do
computador
crianças e adolescentes da rede municipal de
ensino
72h
Fonte: SEMUSP, 2006
Dentre os projetos envolvendo a cooperação de outros agentes de
segurança,
encontra-se o Serviço de Acolhimento às Pessoas Vítimas de Violência nas
Delegacias de Polícia, cujo objetivo é prestar pré-atendimento no Plantão das
Delegacias a todas as pessoas vítimas de violência, com ênfase para mulheres,
crianças e adolescentes. O programa é desenvolvido em conjunto com a Polícia
Civil na 1ª Delegacia de Polícia, mas sua atuação deverá ser estendida às
demais delegacias do município ao longo de 2007. Atualmente, o serviço de
acolhimento às pessoas vítimas de violência conta com 3 (três) estagiárias,
sendo uma do serviço social e duas da psicologia, bem como dois supervisores,
ambos psicólogos. O atendimento é feito logo após o registro da ocorrência por
parte da vítima e há parceria com instituições ligadas à rede de proteção:
Hospital Centenário, abrigos, núcleo de prática jurídica (civil e criminal),
Conselho Tutelar, CAPS, Coordenadoria da Mulher e Serviço de Atenção
Especial, dentre outros.
Conforme os técnicos, o atendimento prestado às vítimas de violência é
uma escuta sensível, que busca amenizar a angústia das vítimas. Funcionando
desde abril de 2006 o serviço de acolhimento a vítimas está crescendo e, além
de ser expandido para outras delegacias da cidade, são realizadas atividades
88
de sensibilização junto aos policiais da delegacia, por meio de oficinas que
abordam temas como violência familiar e de gênero.
Foi estabelecida parceria com médicos do DML –Departamento Médico-
Legal para que ao realizar a perícia o(s) médicos(s) encaminhem a(s) vítima(s)
para o serviço de acolhimento, inclusive vítimas de outras delegacias. Ademais,
fator contribuinte para a implantação do serviço de acolhimento foi a
receptividade e apoio recebido dos delegados do município de São Leopoldo.
Outro fator importante e que contribui para o conhecimento do projeto
pela população é o de já ter funcionado, na mesma localidade, a Delegacia da
Mulher de São Leopoldo, hoje extinta.
Após o atendimento prestado às vítimas há a necessidade de
encaminhamento para atendimentos como psicológico, de assistência social e
jurídico, mas a falta de instituições que prestem esse tipo de serviço é um
impedimento para o encaminhamento adequado. Entretanto, as vítimas têm
sido encaminhadas para algumas instituições já parceiras do serviço como a
Defensoria Pública, o serviço de assistência judiciária; o núcleo de atendimento
psicológico da UNISINOS; o posto médico-legal dentre outros.
A seguir, quadro demonstrativo dos atendimentos realizados pelo serviço
no ano de 2006, conforme informado pela SEMUSP. Nota-se que os meses de
setembro e dezembro não apresentam os dados.
Tipo de Atendimento Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Abuso sexual 01
Acolhida a familiar de vítima de assalto 01
Acolhida a familiar de vítima de estupro 01
Acolhida a familiares de detentos 01 01 02
Acolhida de morador de rua 01
Adultério/Abandono de lar 01
Agressão física 01
Ameaça de morte 03
Ameaças 03 03 02 03
Assédio sexual 02
Atendimento a agressor 01
89
Atendimento a detento 02
Atendimento a familiar de usuário de drogas 01
Briga de família (verbal) 01
Briga mãe/filho 02
Brigas de casal 05
Desaparecimento 01
Estupro 01
Falso seqüestro 01
Incêndio 01
Orientação de vítimas 03 02 08 08
Orientação separação 01
Retorno de atendimentos de violência 03 03 19 09
Violência de rua 03
Violência doméstica 15 15 09 03 06 22 07
Violência na escola 02
Violência no trabalho 01
Violência psicológica 02 01
Violência sexual 04
Vítimas de assalto 01
Fonte: SEMUSP, 2007
Observa-se no quadro a cima grande diversidade de atendimentos
chegando a apresentar nomenclaturas bastante parecidas. Essa realidade
demonstra a dificuldade de definição de conceitos sobre as ocorrências já
referidos por vários autores (Khan, 2005; Guindani, 2005; Soares, 2005) e
apontada como uma das dificuldades ao se trabalhar com dados de violência e
criminalidade. Não há unanimidade sobre as denominações a serem utilizadas
na caracterização das ocorrências e delitos, sem critérios definidos, remetendo
a dados confusos que não contribuem para o trabalho de operadores, gestores
e pesquisadores em segurança.
No que diz respeito à readequação da Guarda Municipal, as principais
atividades exercidas pelo Departamento de Prevenção da Violência e
Criminalidade são as voltadas à capacitação dos guardas municipais, focando a
atuação do mesmo como um agente de cidadania, bem como o cuidado e
atenção à saúde integral dos guardas. Ao longo dos anos de 2005 e 2006
vários temas foram abordados, dentre eles:
Mediação e resolução de conflitos e gerenciamento de crises;
Atualização em uso legal da força e defesa pessoal;
90
Qualificação no atendimento prestado pela guarda municipal e vigilantes do
hospital público municipal (incluindo manejo com pessoas portadoras de
sofrimento psíquico);
Capacitação da Guarda Municipal responsável pela ronda escolar e
prevenção da violência e da criminalidade entorno.
Oficinas em saúde mental para os trabalhadores da Guarda Municipal e
vigilantes do hospital público municipal;
Atendimento de emergência e urgência (pronto socorrismo)
O Programa de Saúde integral dos trabalhadores da Guarda Municipal
de Segurança de São Leopoldo ainda não está em execução. O projeto foi
aprovado junto à SENASP e sua implementação está sendo iniciada, pois para
a realização do mesmo são necessários profissionais especializados em áreas
como: psicologia, psiquiatria, serviço social, artes plásticas, educação física e
medicina do trabalho. O projeto contempla a contratação, pela prefeitura, de
psicóloga e assistente social. Os demais profissionais serão contratados por
meio de licitação de empresa especializada na prestação de serviços voltados à
saúde do trabalhador.
A realização do diagnóstico sobre a violência e criminalidade no
município foi umas das primeiras atividades planejadas pelo departamento de
violência e criminalidade. Entretanto, devido à complexidade de tal atividade e
necessidade de mão-de-obra especializada para executá-la a Secretaria
Municipal de Segurança Pública de São Leopoldo optou por realizar um
convênio com a universidade local – UNISINOS – Universidade do Rio dos
Sinos para que o diagnóstico fosse realizado. Contratado no segundo semestre
de 2005 e finalizado em maio de 2006, o mesmo compreendeu estudo em
91
diferentes fontes de dados para o levantamento de indicadores: ocorrências
policiais, aplicação de penas sócio-educativas e mortalidade por causas
externas, bem como a expansão territorial desses fatos (localização, extensão e
natureza).
O levantamento sobre as ocorrências policiais foi realizado nas
delegacias de polícia do município de São Leopoldo e foram levantadas as
ocorrências ao longo do ano de 2005. A caracterização foi feita por tipo de
delito: homicídio (incluindo tentativa de homicídio); roubo e furto; ameaça/lesão
corporal e vias de fato, separados por regiões, bairros, vilas e loteamentos.
Os dados de mortalidade e morbidade (explicar cada um desses termos)
foram identificados nas fontes do: Sistema de Informações de mortalidade
(1993-2003) - DATASUS; IBGE; OMS; FEE (estatísticas populacionais) e no
Sistema de Informação de mortalidade no RS. Os grupos de causa trabalhados
foram: causas externas, homicídios, acidentes de transporte, suicídios e outras
causas externas. Sobre morbidade - situações atendidas em emergência
hospitalar (acidentes e violências) – os dados são somente de causas externas,
do tipo: acidente de trabalho típico, acidente de trabalho de trajeto, acidente de
trânsito, suspeita de maus tratos, auto agressão, violência sexual, delito e
agressões, acidente doméstico, acidente na escola, esporte e lazer e outros.
Na prevenção os resultados não são imediatos. Há idéia é construir uma
forma de acompanhar, on line, os dados de criminalidade do município. O
acesso oficial aos dados da polícia não é facilitado, a secretaria depende da
boa vontade dos responsáveis das delegacias e mesmo obtendo esses dados,
os mesmos não sanam as necessidades da secretaria por se tratarem de dados
92
policiais, que não relatam na totalidade a realidade do município no que tange
violência e criminalidade.
No diagnóstico, apresentado por professores/pesquisadores da
UNISINOS- Universidade do Vale dos Sinos, as principais considerações a
serem feitas pela Secretaria Municipal de Segurança Pública de São Leopoldo
estão: a necessidade de ações intersetoriais; a articulação da Secretaria
Municipal de Segurança Pública com áreas como educação, saúde, cultura,
cidadania e geração de renda; atenção e acompanhamento anual do índice de
homicídios, e a atuação em ações preventivas, de forma interdisciplinar,
incorporando temas como: segurança, drogas, álcool, riscos, estratégias de
redução de danos, trânsito, entre outros.
Problema sério detectado pelo diagnóstico é a violência contra as
mulheres e sabe-se que esse tipo de violência é umas das que apresenta sub-
notificação. Entretanto o diagnóstico apresenta apenas indícios em relação ao
crescimento deste tipo de violência.
O diagnóstico mostra, também, uma tendência à redução do índice de
homicídios no município de São Leopoldo. Em estatísticas oficiais, há
discrepância entre os números da polícia e os do DATASUS. Mas, em ambos,
registra-se uma curva de redução, com números diferentes mas descendentes
desde o ano de 2004. O porquê da diminuição ainda não foi identificado, mas
uma das hipóteses levantadas pelo corpo técnico da secretaria municipal de
segurança pública é a entrada em vigor do estatuto do desarmamento e o
recolhimento das armas a partir de 2004. Segundo o secretário:
“São Leopoldo é um dos municípios que mais entre ou armas no Rio
Grande do Sul. E aqui era um problema social: defender o controle
da comercialização tinha uma falsa discussão, falsa, de que isso ia
causar desemprego, na Tauros e na Rossi (fábricas de armas do
situadas no município)... Mas aqui foi muito forte a campanha, houve
93
um recolhimento muito forte de armas. O jornal local chegou a
anunciar um dia que era recordista, no estado, o recolhimento de
armas em São Leopoldo.”
O diagnóstico realizado pelo município de São Leopoldo contempla
apenas as questões voltadas à violência e criminalidade. Questões
relacionadas à atuação das organizações policiais no município, bem como a
sua relação com os órgãos municipais, conforme indica Guindani (2005) não
foram contempladas. Ou seja, o diagnóstico colaborou para a visualização do
panorama geral sobre a realidade da violência e criminalidade no município,
mas não contemplou a atuação do município até a implementação da Secretaria
Municipal de Segurança.
O programa “Trânsito Seguro” também é executado desde o segundo
semestre de 2005 e engloba oficinas com crianças do ensino fundamental nas
escolas da rede municipal e é realizado em parceria com os agentes de trânsito
do município. Deste projeto resultou a elaboração da cartilha “Mais Trânsito
Seguro”, com informações básicas sobre sinalização e normas de segurança no
trânsito dentre outros, dirigida ao público infantil. O desenvolvimento da cartilha
evolveu, além da SEMUSP, a Secretaria Municipal de Planejamento e
Coordenação – SEPLAN, a Coordenadoria Municipal de Mobilidade Urbana a
quem estão subordinados os agentes de trânsito no município de São Leopoldo
e o Serviço Municipal de Água e Esgotos – SEMAE.
O projeto Bombeiro Mirim é resultado de parceria ente a SEMUSP, o
Corpo de Bombeiro de São Leopoldo e a Secretaria de Educação do município
e aconteceu durante o ano de 2006. Junto à Secretaria de Educação foram
selecionadas quinze crianças matriculadas em escolas municipais de diferentes
bairros da cidade e em situação de risco de violência. As atividades do projeto
94
aconteciam uma vez por semana no turno da manhã, na sede do Corpo de
Bombeiros de São Leopoldo. A prefeitura proporcionou o deslocamento das
crianças por meio de uma unidade móvel que fazia o transporte das crianças de
casa à sede do Corpo de Bombeiros bem como o retorno às suas respectivas
casas.
Durante o ano de 2006 foram realizadas diversas oficinas propiciando a
integração entre as crianças bem como o vínculo das mesmas com a
corporação, vislumbrando ambiente propício ao aprendizado e ao resgate da
auto-estima. Temas como cidadania, educação para a paz e esportes foram
trabalhados com as crianças. Participaram diretamente no projeto técnico do
Departamento de Prevenção da Violência e Criminalidade da SEMSP, a Guarda
Municipal, o Corpo de Bombeiros e ONGs que já trabalhavam com a SEMUSP
em outras oficinas.
O projeto teve a primeira turma encerrada e não tem previsão para nova
edição.
A Guarda Municipal de São Leopoldo foi fundada em vinte e oito de abril
de mil novecentos e noventa e dois, conforme a Lei municipal nº 3751 e com
fundamento nas Constituições Federal, Estadual e na Lei Orgânica do
Município.
Conforme o Regimento Interno da Guarda Municipal de São Leopoldo, a
mesma tem como finalidade:
I. Apoiar a Administração no exercício do poder de polícia administrativa; II. Zelar pela segurança dos servidores municipais quando no exercício de suas funções; III. Fazer cessar as atividades que violarem as normas de saúde, defesa civil, sossego público, higiene, segurança e outras de interesse da coletividade.
95
Ainda de acordo com o regimento interno, em sua estrutura
organizacional, a
Guarda Municipal, a mesma apresenta a seguinte configuração: Gabinete do
Comando; a) Seção de Apoio Administrativo e Logístico; b) Seção de Instrução,
Ética e Disciplina; c) Grupamento de Proteção ao Patrimônio; d) Grupamento
de Ronda Escolar; e) Grupamento de Apoio Móvel e f) Grupamento de Defesa
Ambiental.
Quanto a suas atribuições, inicialmente, a Guarda era responsável pela
segurança patrimonial do município (prédios públicos), sua estrutura era
precária, com escassez de uniforme, equipamentos e sem estrutura física
adequada. Na ocasião de fundação a Guarda Municipal de São Leopoldo
integrava, em nível de departamento, a Secretaria Municipal de Administração.
Conforme os Guardas mais antigos:
“Quando eu entrei na guarda não tinha nada. Nem sede a gente
tinha, não tinha nada. Eu trabalhei dois anos no conselho tutelar de
noite, mas eu nem sabia por que estava ali, não me disseram nada,
simplesmente me botaram lá e pronto, fiquei dois anos lá.
Até que um dia eu fui preso, a gente não tinha fardamento, eu era da
praça e estava na rua, caminhando, passou a civil e me levou preso.
Eu disse: - Eu sou Guarda Municipal
Eles me disseram: - Não, entra.
Aí teve que ir um que era chefe nosso lá e dizer quem eu era. A
gente não tinha uma identificação, nada, nada. Eu ia trabalhar de
bermuda, chinelo, do jeito que quisesse.”
“Antes o que nós tínhamos era um banheirinho na prefeitura, depois
passamos para o ginásio municipal, daí veio o secretário. Eu acho
que a gente tem muito a agradecer também ao nosso comandante,
que hoje é nosso comandante, por que ele lutou para isso, para a
gente ter uma secretaria. Eu acho que depois que a gente teve a
secretaria é que a gente está conseguindo conquistar muitas coisas.”
Em 2005, com a implementação da Secretaria Municipal de Segurança
Pública do município, a Guarda passa a integrar essa secretaria e inicia
processo de reformulação e estruturação de suas responsabilidades e
atribuições. Com base na concepção de que o papel do município deve ser
96
voltado à prevenção da violência e criminalidade, a reestruturação da Guarda
Municipal de São Leopoldo segue as diretrizes do Sistema Único de Segurança
Pública.
Atualmente, a Guarda Municipal de São Leopoldo conta com sessenta e
oito guardas ativos, dois guardas em processo de aposentadoria e um em
licença de saúde. Há apenas um guarda do sexo feminino. Quanto aos
suprimentos para realização das atividades, após a implementação da
SEMUSP, a Guarda Municipal de São Leopoldo passou a contar com
equipamentos adequados às atividades dos guardas (uniforme, proteção,
rádio), viaturas e infra-estrutura de informática com microcomputadores em
rede e ligados à internet, bem como com a central de alarme dos prédios
públicos municipais.
Desde a implementação da SEMUSP, a Guarda conta com a
reestruturação física, com nova sede, e com o constante investimento em
equipamentos como os de comunicação, uniforme e viaturas, bem como a
capacitação e treinamento necessários para a utilização adequada desses
equipamentos por seus integrantes.
A partir de 2005 atuação da Guarda passa a ser voltada para o cidadão,
são os “agentes de cidadania”. Entretanto, para que tal mudança ocorresse os
integrantes da Guarda passam por constante aperfeiçoamento e capacitação
em temas como: mediação e resolução de conflitos e gerenciamento de crises;
atualização em uso legal da força e defesa pessoal; qualificação no
atendimento prestado ao cidadão pela Guarda Municipal (incluindo manejo com
pessoas portadoras de sofrimento psíquico); capacitação dos guardas
responsáveis pela ronda escolar e prevenção da violência e da criminalidade no
97
entorno; oficinas em saúde mental para os trabalhadores da Guarda Municipal e
atendimento de emergência e urgência (pronto socorrismo), dentre outros.
A nova proposta de atuação da Guarda Municipal, a partir da
implementação da SEMUSP, acarretou mudança cultural significativa na
instituição, o que causou resistência de alguns integrantes da Guarda. Até
então os guardas atuavam apenas na área patrimonial e, inicialmente, houve
dificuldade de absorverem a nova proposta de atuação. Foi necessário um
trabalho inicial de conscientização para mudança de comportamento dos
integrantes da guarda, com investimento em treinamento, capacitação e que
precisa ser constantemente reforçado.
“Esse negócio da cidadania está legal, a gente é bem visto nos
colégios, pelas mães. Até nas próprias praças, eu não sei se tu
moras em São Leopoldo, mas se tu olhares as praças sábado e
domingo, antigamente eram todas vazias, agora estão sempre
cheias, as pessoas freqüentam até de noite. Não se via um casal
namorando, hoje em dia se vê um monte. Sempre tem alguém ali
(da Guarda) eles se sentem mais seguros e aí começam a
freqüentar mais.” Guarda Muncipal ???????
A fala a seguir, de um dos gestores da secretaria, resume o que é
planejado e a expectativa em relação a atuação da Guarda Municipal:
“Hoje o nosso viés são as pessoas, a gente dá muita informação
para os nossos Guardas, bastante valorização para eles, não só em
termos salariais, mas como de cursos, de equipamentos, fazemos
muito investimento nos Guardas. O retorno ainda é muito pequeno,
por causa do choque de mudança cultural (para os próprios
Guardas). É muito difícil esse processo de reeducação deles
(Guardas) para trabalhar com a comunidade. A gente tem muita
expectativa nos guardas novos, mas não desistimos desses, que
com freqüência recebem cursos, formação, treinamento, em fim...”
Entre as funções da Guarda Municipal destacam-se o monitoramento de
praças por meio de ronda, a presença de guardas fixos em locais como as
unidades básicas de saúde do município, o Museu do Trem, o Ginásio
Municipal, o Palácio Municipal e nas Secretarias Municipais. A ronda escolar
98
acontece por meio de patrulhamento realizado em toda a rede municipal de
ensino e no entorno das escolas públicas municipais.
Atividades como a operacionalização e controle da central de alarmes, o
gerenciamento do número 153, o monitoramento da central de rádio, bem como
a manutenção da base de dados de registros e ocorrências também são
atividades que competem à Guarda Municipal.
No ano de 2006 foi estabelecido o Relatório de Fluxo de Serviço e
Atendimentos (Anexo II), instrumento pelo qual há o acompanhamento mensal
das atividades realizadas pela Guarda Municipal. Os registros que apresentam
o maior número de ocorrências são relativos ao: 1) atendimento de alarme, com
cento e dezoito atendimentos durante o ano de 2006; 2) auxílio ao cidadão, com
noventa atendimentos; 3) auxílio à Secretaria de Educação do Município com
setenta e cinco atendimentos e 4) auxílio ao Albergue Municipal, com quarenta
e um atendimentos.
No que tange a utilização de armas de fogo pelos guardas, em 2005 os
gestores da Secretaria Municipal de Segurança Pública do município,
preocupados com o cumprimento do Estatuto do Desarmamento (conforme Lei
10.826, de 22 de dezembro de 2003, conhecida como Estatuto do
Desarmamento e regulamentada pelo decreto nº 5.123 de 01/07/2004,
publicado no Diário Oficial da União no dia 02 de julho de 2004, começando a
vigorar naquela data) possibilitaram aos Guardas optarem ou não pela
utilização de armas de fogo. Os que foram favoráveis ao uso da arma de fogo
comprometeram-se a passar pelas exigências do Estatuto do Desarmamento,
entre elas avaliação psicológica e curso de uso de armas de fogo, ministrado
pela Academia de Polícia Civil, por meio de convênio com a SEMUSP. Num
99
total de cinqüenta e sete guardas que se habilitaram a participar do processo
para a utilização de arma de fogo, após a avaliação psicológica, quarenta e dois
eram aptos a continuar o processo e quinze não aptos. Durante o ano de 2006
uma primeira turma com vinte e quatro Guardas recebeu o treinamento para o
uso de arma de fogo e a próxima turma deve acontecer no primeiro semestre
de 2007.
Para a aquisição das armas foi criada uma comissão específica,
envolvendo a SEMUSP, a Central de Licitações, a Secretaria Municipal de
Administração, a Guarda Municipal e a Procuradoria Geral do Município para
discussão de que tipo de arma será adquirido e em que quantidade. Entretanto,
o processo de compras de armas não está concluído.
Apenas algumas atividades, de acordo com a decisão da direção da
Guarda, serão realizadas com por guardas armados. A criação da Corregedoria
da Guarda Municipal também precisa ser efetivada para que a mesma esteja
apta ao uso de armas. A intenção é que seja criada a corregedoria da
secretaria, vinculada ao secretário municipal de segurança pública, com o
objetivo de acompanhar a atuação da Guarda Municipal, ou seja, um organismo
paralelo à Guarda, em mesmo nível hierárquico. A corregedoria deverá atuar de
forma proativa. A revisão e atualização do regimento interno da Guarda
Municipal também precisam ser realizadas, estabelecendo especificidades e
adequando-se à utilização do armamento por parte dos Guardas. Tais
atividades estavam previstas para o ano de 2006 mas sua efetivação deve
ocorrer em 2007.
A ampliação do efetivo da Guarda Municipal, realizado por concurso
público, no ano de 2006 contemplou a etapa inicial, com prova objetiva e
100
avaliação psicológica, ambas realizadas pela FUNDATEC - Fundação
Universidade-Empresa de Tecnologia e Ciências. O curso de formação para
Guardas Municipais – desenvolvido com base na Matriz Curricular proposta
pela SENASP – e realizado por meio de convênio entre a Secretaria Municipal
de Segurança Pública e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
também fará parte do concurso, como etapa eliminatória. O fim do concurso foi
previsto para o mês de julho de 2007.
Quantos aos equipamentos para a mobilidade a Guarda Municipal conta
com oito viaturas, quatro motocicletas e uma van para deslocamento de um
maior número de pessoas. A Secretaria conta, também com um automóvel para
o deslocamento dos técnicos do Departamento de Prevenção à Violência e
Criminalidade.
Para melhor evidenciar alguns dos projetos/ações explicitadas na matriz
de planejamento (Anexo I) e já em prática ou parcialmente implementadas pela
SEMUSP, a seguir a descrição dos mesmos. Salienta-se que na execução dos
projetos/ações a seguir todas as áreas da Secretaria estão envolvidas, direta
ou indiretamente.
O sistema de monitoramento urbano proposto pela Secretaria Municipal
de Segurança Pública tem como objetivo a liberdade das pessoas. O sistema é
também para a segurança pública, mas para o trânsito, controle da circulação
viária, a fiscalização urbana, o controle da utilização do espaço público, dentre
outras atividades em que cabe a atuação de órgãos da prefeitura municipal.
O projeto compreende a instalação de câmeras em vinte e sete pontos
estratégicos, em locais de grande circulação, de comércio intenso. Vários serão
os órgãos municipais que utilizarão o sistema de monitoramento. Neste
101
contexto, a segurança pública também se beneficia, não só a Brigada Militar,
mas também a Polícia Civil na investigação. Esse é o argumento que sustenta
a idéia de que o monitoramento não deve ficar sob o controle da Brigada Militar.
A idéia é que todos participem: Guarda Municipal, Brigada Militar, Polícia Civil, o
Polícia Rodoviária Federal, dentre outros.
A aprovação do financiamento para a implementação do sistema de
monitoramento urbano junto à SENASP e ao Fundo Nacional de Segurança
Pública foi condicionada à apresentação de um projeto técnico, que justificasse
a implantação do sistema, bem como o número de câmeras, sua localização e
especificações técnicas dos equipamentos eletro-eletrônicos e softwares
necessários para o perfeito funcionamento do sistema de monitoramento
urbano.
Conforme o projeto apresentado ao conselho gestor do Fundo Nacional
de Segurança Pública, o sistema a ser implantado no Município de São
Leopoldo, funcionará através de um circuito fechado de TV, interligando
câmeras específicas instaladas nas vias públicas à central de monitoramento
localizada em prédio da prefeitura municipal.
Tal projeto foi elaborado por empresa especializada, contratada pela
prefeitura municipal via licitação pública e desenvolvido durante o segundo
semestre de 2006. Em dezembro de 2006, após a apresentação do projeto aos
gestores do Fundo Nacional de Segurança Pública o sistema de monitoramento
urbano foi aprovado para o financiamento de oitocentos e oitenta e seis mil
reais pelo Governo Federal.
A seguir mapa com os pontos onde serão instaladas as vinte e sete
câmeras distribuídas no município de São Leopoldo.
Fonte: Projeto Sistema de Monitoramento Urbano – SEMUSP (2006)
103
Quanto ao relacionamento com instituições de ensino e pesquisa e fomento
à discussão sobre temas ligados à violência e criminalidade, foram realizadas, ao
longo de 2006 atividades abertas à comunidade (local e regional). A Secretaria
Municipal de Segurança Urbana, por meio da atuação interdisciplinar e mobilização
de seu corpo técnico, promoveu diversas atividades voltadas ao aperfeiçoamento
de seu pessoal, a interação com a comunidade e a troca de experiências com
outras localidades e entidades preocupadas com o problema da violência e
criminalidade.
Em Maio de 2006 a Secretaria Municipal de Segurança Pública de São
Leopoldo promoveu o Seminário Latino-Americano de Segurança Urbana:
estratégias para a prevenção à violência e cultura de paz. Com participação de
guardas municipais de várias cidades do RS; palestrantes de várias cidades do
Brasil, bem como representantes de países como Uruguai, Argentina, Chile e
Colômbia e aberto à comunidade.
Tal seminário foi importante para a troca de experiências entre os
participantes e a divulgação do plano que está sendo executado pelo município de
São Leopoldo para outras prefeituras que enviaram operadores e gestores da área
de segurança, quase todas do Estado do Rio Grande do Sul. Incipiente, entretanto,
foi a presença dos cidadãos de São Leopoldo durante o evento.
O Curso de Gestão de Políticas Públicas de Segurança Cidadã foi realizado
entre 7 e 12 de agosto de 2006. A realização do evento foi fruto da parceria entre o
Governo Federal, a Prefeitura de São Leopoldo e o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento - PNUD. O curso teve a participação de gestores, policiais
e guardas municipais de 20 (vinte) municípios do Vale do Rio dos Sinos. O
104
objetivo foi iniciar uma mobilização para implementar um consórcio intermunicipal
de prevenção à violência e à criminalidade. As aulas foram ministradas por
professores do exterior, que fazem parte do PNUD. A partir desse curso a
SEMUSP, passa a encabeçar movimento para a formalização do consórcio
intermunicipal. Movimento que até o final do ano de 2006 apresentava-se lento,
com pouca adesão dos demais municípios do Vale do Rio dos Sinos.
Em 07 de dezembro de 2006, em conjunto com o grupo de pesquisa
Violência e Cidadania do IFCH/UFRGS a Secretaria Municipal de Segurança
Pública de São Leopoldo promoveu o Seminário Estadual de Prevenção à
Violência, cujo objetivo foi a integração entre a SEMUSP, a universidade,
pesquisadores e trabalhadores em segurança pública, bem como a divulgação dos
trabalhos que vem sendo realizados à população.
A Lei Municipal n 5.991, de julho de 2006 constitui o GGI - Gabinete de
Gestão Integrada, um grupo de trabalho para fiscalização e segurança urbana que
funciona como um fórum deliberativo e executivo operado por consenso, sem
hierarquias e que respeita a autonomia das instituições que dele fazem parte. O
principal objetivo do GGI é o de “promover a articulação dos programas de ação
governamental na área da fiscalização e segurança urbana”. O GGI é constituído
por representantes de órgãos municipais como o Gabinete do Prefeito; a
Procuradoria Geral do Município; a Secretaria Municipal da Fazenda; a Secretaria
Municipal da Habitação; a Secretaria Municipal da Saúde; a Secretaria Municipal
de Desenvolvimento Econômico e Social; a Secretaria Municipal de Obras Viárias
e Serviços Urbanos; a Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação; a
Secretaria Municipal de Segurança Pública, a Secretaria Municipal do Meio
105
Ambiente e a Coordenadoria Municipal de Mobilidade Urbana, bem como por
representantes de instituições como a Policia Civil; a Polícia Militar; a Polícia
Federal; o Corpo de Bombeiros; Conselho Tutelar e o Ministério Público Estadual.
Até a implementação do GGI no município de São Leopoldo existia apenas
uma força-tarefa, de fiscalização, e a proposta foi a de sua institucionalização, por
meio do Gabinete de Gestão Integrada. Entretanto, ao procurar um modelo de
atuação para o GGI em municípios junto à SENASP, a informação foi de que
nenhum município tinha conseguido implantar tal atividade, mas que a SENASP
teria o maior interesse em acompanhar essa experiência. Daí surge o projeto de lei
do Gabinete de Gestão Integrada do Município de São Leopoldo.
Segundo o Secretário Municipal, a idéia do Gabinete reúne três conceitos:
“... o conceito de força-tarefa, o de emissões especiais e o de gabinete
de gestão de crise, que em comum têm o fato de serem provisórios e
terem foco específico.”
O Gabinete de Gestão Integrada tem o intuito de trabalhar com ações, mas
são a gestão, o planejamento e a discussão sobre as questões de segurança com
os outros órgãos da prefeitura que norteiam sua atuação. Temas como a definição
da localização das câmeras de segurança a serem implementada no
monitoramento urbano são discutidos nas reuniões do GGI.
O grupo de representantes das instituições que compõem o GGI encontra-
se em reuniões quinzenais, com pauta definida previamente por consenso. A
participação da sociedade civil nas decisões sobre segurança urbana também é
outra prática incentivada pelo GGI, que pode contar com a participação de
cidadãos em suas reuniões.
106
O Disque-Denúncia é resultado de convênio assinado com o governo
estadual, que disponibiliza esse serviço em todo o Estado. A contrapartida do
município é divulgar esse o número 181 (utilizado pelo Disque-Denúncia). O
Convênio foi assinado no ano de 2006 e o serviço contribui, para diversas
secretarias e serviços municipais, pois propicia à gestão municipal tratar temas
diversos como danos ao patrimônio público, atividades ilícitas, denúncias de
estabelecimentos funcionando sem alvará, dentre outros.
Por meio de parceria com a SENASP, a Secretaria Municipal de Segurança
Pública implantou o Telecentro. Inaugurado em setembro de 2006, o Telecentro de
São Leopoldo tem como objetivo promover o ensino à distância destinado aos
profissionais de segurança pública nas esferas federal, estadual e municipal.
Instalado na sede da Secretaria Municipal de Segurança Pública de São Leopoldo
atende aos municípios do Vale do Rio dos Sinos.
Fazem parte do Telecentro uma telesala que comporta até vinte pessoas e
equipada com televisão vinte e nove polegadas, aparelho de DVD e videocassete;
uma sala para tutores com dois microcomputadores, uma sala web composta por
quinze microcomputadores ligados em rede para uso dos alunos e um servidor de
rede, bem como antena parabólica para recepção do sinal de satélite. O Telecentro
funciona por meio de cursos disponibilizados pela Internet e pelo canal da
SENASP. Os cursos são específicos para profissionais de segurança pública e a
complementação destes, com vídeos, é fornecida pelo canal. Os tutores são os
profissionais treinados para a utilização dos equipamentos e softwares utilizados
no Telecentro e para a orientação dos alunos durante os cursos.
107
Mensalmente a SENASP divulga a programação de cursos e a inscrição dos
alunos é feita por meio do gestor do Telecentro, que recebe a solicitação do
candidato a participação do curso e realiza uma triagem para a certificação que o
candidato é profissional de segurança pública, após a triagem o gestor é
responsável pela matrícula do futuro aluno nos cursos. Cabe ao gestor do
Telecentro acompanhar todas as atividades em curso, fornecer as informações
solicitadas pela SENASP e coordenar o funcionamento do Telecentro pelo qual é
responsável. Desde o início de sua instalação, o Telecentro de São Leopoldo já
atendeu aproximadamente 105 (cento e cinco) profissionais de segurança de
municípios da região do Vale do Rio dos Sinos.
Chama atenção a observação do gestor do Telecentro de São Leopoldo
quanto à participação dos profissionais da Guarda Municipal do município, que é
considerada pequena e abaixo das expectativas dos gestores da secretaria.
Atualmente, a principal participação nos cursos oferecidos pelo Telecentro é de
profissionais ligados à segurança pública de municípios do Vale do Rio dos Sinos.
Os cursos oferecidos pelo Telecentro não têm custo para os participantes, mas a
adesão aos mesmos é facultativa.
3.3 Novo Hamburgo
A Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Segurança foi criada em
1998, pela Lei Municipal n° 92. A ela se vincula a Guarda Municipal, que tem um
efetivo de 203 guardas, sendo que parte deles usa arma de fogo. Semanalmente,
108
são executadas operações integradas entre Guarda Municipal e os órgãos
estaduais de segurança pública.
O Conselho Municipal de Segurança promove audiências públicas nas oito
regiões em que foi dividida a cidade para levantamento dos problemas e
apontamento de soluções, mas não desenvolve sozinho o seu papel preventivo,
pois conta com a existência de outros conselhos que, através de suas ações
específicas, de forma direta ou indireta, resultam em ações preventivas no controle
da criminalidade. Esses conselhos são: Conselho Municipal de Entorpecentes;
Conselho Municipal da Criança; Conselho Tutelar; e o Conselho Municipal do
Idoso.
As principais estratégias para cuidar da segurança desenvolvidas pela
cidade de Novo Hamburgo são: policiamento comunitário através da Guarda
Municipal e integração com outras secretarias municipais para a redução dos
agenciamentos e dos fatores facilitadores do crime e da violência, tais como: falta
de iluminação pública, vilas irregulares, terrenos baldios, vias não pavimentadas,
etc.
3.4 Cachoeirinha
A Lei 2484/05 criou a Secretaria Municipal de Segurança Urbana,
responsável pela Guarda Municipal, que conta com 120 integrantes que, por ora,
não portam armamento.
O Conselho Municipal de Justiça e Segurança foi criado em 2002, pela Lei
2075. Há o interesse de reativar o CONSEPRO (Conselho Pro-Segurança: fornece
apoio logístico para Brigada Militar e Polícia Civil). Trata-se de um Conselho
bastante peculiar, de natureza diversa dos conselhos municipais de segurança.
Também existe a intenção de fomentar a organização de núcleos compostos pelas
associações de bairro das comunidades
A Secretaria Municipal está em fase de estruturação. A Guarda Municipal,
por ora, realiza ações preventivas junto a escolas, especialmente no horário de
saída das aulas. Mantém o projeto ARÕANA - Monitoramento Eletrônico de
109
Escolas Municipais. Trabalha em parceria com a Brigada Militar e com outras
secretarias municipais.
3.5 Alvorada
Não há Secretaria de Segurança no município. A Guarda Municipal e as
atividades por ela desenvolvidas estão vinculadas à Secretaria Municipal de
Administração. Há projeto para sua criação em 2007. O efetivo da Guarda
Municipal é de 130 guardas (um concurso público será realizado, possivelmente
em 2007, para a admissão de mais 34 guardas). Por ora, não portam armamento.
A cidade conta com um Conselho bastante peculiar, de natureza diversa
dos conselhos municipais de segurança, e existente também na cidade de
Cachoeirinha: o CONSEPRO (Conselho Pro-Segurança), que fornece apoio
logístico para Brigada Militar e Polícia Civil.
A Guarda Municipal realiza preventivamente ações junto a escolas. Possui
monitoramento eletrônico 24h (foi contratada uma empresa privada para atender à
essa demanda via acionamento da Guarda Municipal - central de monitoramento).
Realiza também ações pontuais com outras secretarias municipais (por exemplo:
Secretaria Municipal de Indústria e Comércio) e com outras instituições (Brigada
Militar, Polícia Civil, Conselho Tutelar, etc.), a exemplo da fiscalização de bares
sem alvará e que violam a lei municipal que proíbe a comercialização de bebidas
alcóolicas a partir de um determinado horário.
A partir da metade do ano de 2004, os índices de violência, em especial o
crescimento constante do número de homicídios, colocaram a cidade como a mais
violenta na tumultuada região metropolitana de Porto Alegre. Em 2005 foi criada na
assembléia uma comissão especial de segurança pública, visando debater a
respeito da questão da violência e como lidar com ela. Algumas propostas foram
apresentadas: aumento do efetivo e pessoal administrativo; reabertura dos postos
da brigada militar; proteger a vida dos policiais; disponibilização de recursos
materiais, em especial de informática; instalação de uma ouvidoria das policias
para denúncias implementação de políticas de geração de emprego e renda;
110
trabalho nas escolas sobre drogas e planejamento familiar; criação de programas
específicos para os jovens; criação da comissão permanente de segurança
pública; criação de grupo especial de trabalho; ativação do conselho municipal de
segurança; encaminhamentos urgentes.
3.6 GRAVATAÍ
A Lei n.°1870/02 criou em Gravataí a Secretaria Municipal para Assuntos da
Segurança Pública, responsável pela Guarda Municipal da cidade, que conta com
85 guardas (parte deles usa arma de fogo).
Não há Conselho Municipal de Segurança, mas existe um Conselho da
Defesa Civil, que tem outra natureza e se reúne pontualmente.
A Secretaria Municipal firmou convênio com a Brigada Militar e a Polícia
Civil (destina R$ 60 mil reais para auxílio financeiro da primeira e paga parte dos
aluguéis onde operam as delegacias do município). Mantém sistema de
monitoramento eletrônico em todas as escolas do município. Realiza também
ações pontuais com outras secretarias municipais (por exemplo, Secretaria
Municipal de Educação). Revitalizou praças e outros espaços públicos (parque de
exposições municipal). Recuperou a iluminação pública da cidade.
3.7 Esteio
Em Esteio não há uma Secretaria Municipal de Segurança, mas existe
Guarda Municipal, sendo as atividades por ela desenvolvidas vinculadas ao
Gabinete do Vice-prefeito e à Secretaria Especial de Governo. São 20 guardas
municipais (será realizado concurso público, possivelmente em 2007, para a
admissão de mais 80 guardas). Por ora, não portam armamento.
A cidade conta com um Conselho de Segurança Pública (CONDESC), e
com os projetos: Jovem Cidadão (parceria com a Secretaria Municipal de
Educação); e Programa Integrado de Inclusão Social (realizado através do repasse
de verbas da Petrobrás ao Funcriança – Lei n.° 1.722/90).
111
3.8 Sapucaia do Sul
No município existe a Secretaria Municipal de Trânsito e Segurança, criada
pela Lei n.° 2.669/04. A cidade também conta com uma Guarda Municipal, tendo
esta um efetivo de 46 integrantes (5 guardas municipais de trânsito e 41 vigias).
Parte deles usa arma de fogo. Um concurso público para a admissão de mais 95
guardas estava previsto para 2007.
Sapucaia do Sul tem um Conselho de Segurança Pública e alguns projetos
relacionados a Guarda Municipal: estruturação da guarda (conta com plano de
carreira, corregedoria e ouvidoria), que possui várias funções, atuando também na
fiscalização do trânsito, policiamento de eventos públicos que ocorrem na cidade e
ações integradas com a Brigada Militar, Polícia Civil, Conselho Tutelar e outros
órgãos da segurança.
3.9 Guaíba
A cidade não criou uma secretaria de segurança, mas tem uma Guarda
Municipal que se encontra vinculada à Secretaria Municipal de Administração e
Recursos Humanos. Dentro da Guarda Municipal, encontramos 89 guardas, que
possuem função de vigilância e, por ora, não portam armamento. O Conselho
Municipal de Segurança foi criado pela Lei n.° 1.970/05.
A Guarda Municipal tem como função a vigilância do patrimônio público. Foi
criado um Fundo Municipal de Prevenção à Violência (Lei n.° 1.990/05), que
recebe a destinação de um percentual da receita do estacionamento rotativo
municipal. Essa verba é utilizada junto à Brigada Militar e à Polícia Civil
(pagamento de gasolina das viaturas, material de escritório, etc.).
3.10 Canoas
A Secretaria Municipal para Assuntos de Segurança Pública é responsável, em
Canoas, pelas atividades do município na área da segurança. A Guarda Municipal,
instituída pela lei existe há seis anos, e não anda armada. Ela desenvolve
112
parcerias com a secretaria de segurança estadual e com a Brigada Militar. Não há
Conselho de Segurança.
3.11 Caxias do Sul
Caxias do Sul conta com a Secretaria de Segurança Pública e Proteção
Social. Seu foco é desenvolver ações voltadas a uma prevenção da criminalidade
através da melhoria da qualidade de vida, buscando sempre partir de demandas
diretas da comunidade. Para isso, dentro da Secretaria foi criado o orçamento
comunitário, uma coordenadoria de assuntos comunitários que tem contato direto
com a comunidade, através de reuniões que ocorrem em todos os bairros da
cidade. Também ligada a Secretaria, está a Guarda Municipal, que tem como
função específica de cuidar dos prédios públicos e das praças e dos logradouros.
O Conselho Municipal de Segurança de Caxias do Sul é um órgão
consultivo, encarregado de assessorar o Poder Executivo nas questões relativas a
segurança. Seu principal papel é desempenhado no tocante a questão da
prevenção da criminalidade.
A cidade conta com algumas outras ações na área da segurança, além da
verificação direta das demandas da comunidade através do orçamento
comunitário. Dentre elas se encontra a implementação do policiamento
comunitário; o preparo de 50 guardas municipais para fazer um mapeamento de
jovens infratores, verificando seus ambientes e contatos; e um programa de
apresentação de palestras em escolas da rede pública envolvendo, entre outros
assuntos, questões a respeito da segurança pública e da violência escolar.
3.12 Pelotas
Em Pelotas, o órgão municipal responsável pelas ações de Segurança
Pública é a Secretaria de Transporte e Trânsito. A Guarda Municipal, que está
passando por um processo de profissionalização, apesar de existir há 18 anos,
vinculou-se à Secretaria em 2006, e conta com 248 guardas, mais 80 agentes de
113
trânsito. Os guardas não portam armamento de fogo ainda, pois esperam por um
curso que será organizado em parceria com a Brigada Militar e com a Secretaria
de Segurança do estado. A cidade não conta com um Conselho de Segurança.
Um sistema de monitoramento dentro dos Postos de Saúde e nas escolas
está sendo implantado, tendo em vista o deslocamento da Guarda Municipal de
prédios para lugares públicos como praças. A Guarda também é parceira de
atividades da Brigada Militar.
3.13 Santa Maria
Através da Lei 4820/2005, foi criada em Santa Maria a Secretaria Municipal
de Assuntos de Segurança Pública.
Na cidade, apesar da existência de um projeto de Lei para sua criação, não
há Guarda Municipal. Também não foi criado um Conselho de Segurança.
114
4. CONCLUSÃO
As alterações por que passou o Estado contemporâneo, mormente o brasileiro, a
partir da década de oitenta, no bojo do processo de redemocratização, deram
ensejo ao fortalecimento do poder local (governança local) e, à criação de novos
mecanismos políticos e jurídicos de participação democrática da cidadania na
gestão e no controle público (conselhos gestores e Orçamento Participativo, por
exemplo).
É nesse contexto mais amplo que se insere a recente tendência de
municipalização da segurança pública no país e a conseqüente incorporação de
novas possibilidades sócio-políticas de gestão e mediação dos conflitos, para além
da pura e simples criminalização. Afigurou-se, para tanto, imprescindível a
compreensão teórico-conceitual da segurança como um direito social fundamental,
inscrito no rol dos direitos sociais previstos no art. 6° da Constituição Federal de
1988. Ao se deslocar o foco de análise do modelo repressivo e reativo da
dogmática do Direito Penal, adstrito ao controle do sistema de justiça criminal, para
o modelo preventivo, tornou-se possível repolitizar o debate da segurança e,
assim, incorporar uma maior participação da cidadania e da sociedade civil
organizada.
Acredita-se, pois, que é preciso avançar para a garantia da segurança dos
indivíduos em todos os seus direitos fundamentais, o que inclui os direitos de
prestação positiva por parte do Estado, promovendo ou garantindo as condições
materiais de gozo efetivo desses bens jurídicos (ações positivas fáticas), e
extrapola o escopo dos tradicionais direitos de defesa do cidadão frente ao sistema
punitivo estatal, ou mesmo, dos direitos de prestação positiva estatal, de ordem
normativa, previstos pela legislação penal para proteger os direitos fundamentais
do cidadão contra a atividade de terceiros.31
Esse novo arranjo hermenêutico subsidiou, ademais, uma nova
fundamentação constitucional da atual tendência de intervenção das
31
O conceito de garantismo positivo de Alessandro Baratta, erigido no contexto do movimento da
Nova Prevenção, resume a tese aqui sustentada. (BARATTA, 1999).
115
administrações municipais na gestão da segurança pública, fortalecendo também a
importância da emergência de uma esfera pública não-estatal de gestão
participativa da segurança por parte da coletividade, a exemplo dos conselhos
municipais de segurança.
Tendo por base esse escopo preliminar, procuramos investigar, por meio da
realização de uma pesquisa documental (fontes bibliográficas nacionais e
internacionais) e de campo (realização de entrevistas), alguns dos principais
elementos relacionados com a implementação de políticas públicas de segurança
no âmbito local, quais sejam: a existência de um órgão gestor da área em nível
municipal; a constituição de conselhos municipais de segurança, de modo a
favorecer a participação da cidadania e da sociedade civil organizada na
proposição, no monitoramento e na fiscalização dessas ações; o papel e as
características da Guarda Municipal no contexto das muitas alterações por que a
instituição passou desde 2002 e, finalmente, os projetos que vêm sendo
desenvolvidos pelas prefeituras municipais nessa área.
O debate acerca das políticas públicas municipais de segurança está longe
de ser pacífico, pela própria natureza do tema, envolvendo questões de ordem
empírico-analítica e política, como também pelas limitações impostas por uma
interpretação literal do texto constitucional (art. 144 da Constituição Federal de
1988). A presente pesquisa, no entanto, inova, ao sistematizar as recentes
experiências de políticas de segurança levadas a efeito pelas administrações
municipais de Porto Alegre e de outros municípios do Rio Grande do Sul,
contribuindo, desse modo, teórica e pragmaticamente, para a identificação das
ações e projetos desenvolvidos pelos municípios para o controle da violência e da
criminalidade.
Em linhas gerais, pode-se afirmar que a questão da segurança pública vem
sendo enfrentada pelos municípios a partir de duas frentes, diversas e
complementares, a serem manejadas de forma combinada e simultânea: a de
natureza social e a de natureza policial.
A primeira delas centra-se na intervenção preventiva que consiste na
concepção e aplicação de políticas públicas de segurança voltadas a alterar as
116
condições propiciatórias imediatas do crime e da violência. Observe-se que essas
ações não se confundem com mudanças estruturais da sociedade, as quais,
embora necessárias, exerceriam um impacto somente futuro na redução das
dinâmicas criminais . Como lembra Rolim:
No Brasil, normalmente, quando se fala em prevenção da
violência ou da criminalidade, imaginam-se possibilidades
vinculadas diretamente às chamadas “políticas sociais”. Em
função disso, as chances de redução da criminalidade e da
violência estariam na dependência de mudanças significativas
nas oportunidades de emprego, educação, habitação, etc., a
partir da extensão efetiva desses direitos a todos. É certo que
mudanças desse tipo afetam largamente as taxas de
criminalidade, produzindo resultados positivos e importantes.
Essa maneira de encarar o tema da prevenção, não obstante,
carrega consigo várias limitações. (ROLIM, 2006, p. 110)
Essas limitações dizem justamente com a segunda frente: a policial. Em se
tratando da atuação municipal na área de segurança pública, é fundamental uma
política de constituição e/ou qualificação das Guardas Municipais, tendo como
diretrizes estratégicas:
[...] a formação e valorização profissional; gestão do
conhecimento; reorganização das estruturas administrativas e
dos processos de trabalho, de tomada de decisão, de
comunicação e de interconexão intra e extragovernamental;
investimento na perícia (em sua descentralização com integração
sistêmica); na prevenção (em harmonia com outros segmentos
governamentais - a ponto de integrar-se com eles, formando um
novo sujeito da gestão pública, com as características descritas
acima, e com setores da sociedade; e no controle externo (o qual,
associado aos controles internos e à participação da sociedade,
confere às polícias e às Guardas Municipais transparência e lhes
devolve confiabilidade). (SOARES, 2005, p. 35-36)
Finalmente, uma nova agenda municipal de segurança, organizada em torno
de uma unidade, uma agência ou um organismo central, deve abordar
preferencialmente ações preventivas, articuladas com departamentos e secretarias
importantes da administração pública (educação, saúde, serviços sociais,
habitação, transporte, planejamento urbano, comunicação, esporte, lazer e cultura)
- políticas específicas de segurança preocupadas com a proteção integral de
117
direitos, com o sistema de persecução criminal (também e sobretudo com a
Guarda Municipal), incluindo, ainda, entidades da sociedade civil, associações
comunitárias, cidadãos de forma geral - daí a importância da instituição e
funcionamento dos conselhos municipais de segurança. Resta claro que
esses pressupostos, embora não exaustivos, representam os primeiros passos
para um novo enfrentamento da violência e da criminalidade a partir da experiência
local das cidades no campo da segurança pública.
118
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