A Transicao Solar Como Possivel-impossiv
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[-] www.sinaldemenos.org Ano 7, n°11, vol. 2, 2015 2
[-] Sumário # 11 vol. 2
EDITORIAL 4
PAULO ARANTES 9
Entrevista com Marcos Barreira e Maurílio Lima Botelho
ARTIGOS
SOBRE O LIMITE ABSOLUTO DO CAPITAL 48
Especulações acerca de uma hipótese teórica
Daniel Feldmann
A POTÊNCIA DO ABSTRATO 70
Resenha com questões para o livro de Moishe Postone
Cláudio R. Duarte
A DEMOCRACIA E O SONO DA HISTÓRIA 123 Fragmentos
Raphael F. Alvarenga
DIREITO E INTERCÂMBIO SOCIAL 142 Hipóteses sobre a forma e a função do direito
à luz do desenho histórico-estrutural de Kojin Karatani
Joelton Nascimento
ISAAK RUBIN E GYÖRGY LUKÁCS 169
As origens da “leitura crítica” de Marx na década de 1920
Marcos Barreira
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[-] www.sinaldemenos.org Ano 7, n°11, vol. 2, 2015 3
O RENASCIMENTO MILAGROSO DE ANTONIO GRAMSCI 214
Robert Bösch
FAVELIZAÇÃO MUNDIAL 248
O colapso urbano da sociedade capitalista
Maurilio Lima Botelho
CIBERATIVISMO, O PARADIGMA DO ANTIPODER E 271
AS FISSURAS DO CAPITALISMO
A revolução em tempos de internet
Sílvia Ramos Bezerra
PÓS-NATUREZA 286
Pilhagem ecológica e os monstros do capital
André Villar Gomez
O CAPITALISMO E A MALDIÇÃO DA 297
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
John Bellamy Foster, Brett Clark e Richard York
A TRANSIÇÃO SOLAR COMO POSSÍVEL-IMPOSSÍVEL 312
Daniel Cunha
O DINHEIRO COMO CORAÇÃO DAS TREVAS 328
Nota sobre o último livro de Robert Kurz
Daniel Cunha
O QUE FALTA? 332Francisco C.
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A TRANSIÇÃO SOLAR
COMO POSSÍVEL-IMPOSSÍVEL
Daniel Cunha
El tiempo se bifurca perpetuamente
hacia innumerables futuros. En uno
de ellos soy su enemigo. (Jorge Luis Borges, El jardín desenderos que se bifurcan).
1. Possível
O capitalismo, ao mesmo tempo que desenvolve as forças produtivas e o seupotencial emancipatório, apresenta uma tendência imanente estruturalmente destrutiva
do meio natural e material, decorrente de um metabolismo com a natureza inconsciente,
que assume a forma do trabalho abstrato. Nesse contexto, a mudança climática se
apresenta talvez como o problema mais crítico e de abrangência global. 1 Atualmente, o
mundo se encaminha para um aquecimento de 3,9 oC, muito além do limite
politicamente convencionado de 2 oC e certamente muito além de qualquer limite
seguro; recentemente foi divulgado que 2014 foi o ano mais quente do registro histórico
meteorológico. 2 O problema do aquecimento global exige que a base energética fóssil
seja substituída nas próximas décadas. A queima de combustíveis fósseis gera a emissão
de carbono à atmosfera, a maior contribuição para as emissões de gases de efeito estufa.
1 Ver meus textos Cunha (2012), Cunha (2013) e Cunha (2015).2 Sobre a tendência de aquecimento, ver Climate Action Tracker (nd); sobre o recorde de temperatura
média global em 2014, ver Japan Meteorological Agency (nd).
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Cientistas estabelecem como um limite de segurança para a concentração de carbono
atmosférico de 350 partes por milhão (ppm), valor que já foi ultrapassado.3 Para manter
a possibilidade de permanecer abaixo desse limite, a queima de carvão deveria ser
imediatamente interrompida, as emissões de carbono reduzidas à taxa de 6% ao ano e
aplicadas técnicas de captura de carbono na biosfera e nos solos. 4 O comportamento
não-linear, sujeito à ocorrência de pontos de não-retorno (tipping points) torna a
questão não-trivial.5 Retroalimentações positivas, como o derretimento das camadas
polares e a liberação do metano no gelo permanente, podem causar acelerações súbitas
nas mudanças climáticas, e a inércia sistêmica pode atrasar a resposta às decisões
humanas em milhares de anos – é a escala de tempo na qual o aumento da temperatura
média global permaneceria após a cessação das emissões e sem geoengenharia
(manipulação intencional do clima), segundo modelos climáticos.6
As alternativas aos combustíveis fósseis já existem, destacando-se a energia
solar fotovoltaica e a energia eólica. Para que tais sistemas energéticos possam
substituir a infraestrutura fóssil, porém, é necessário que eles “parasitem” essa base, ou
seja, a energia para a construção da infraestrutura solar deve ser fornecida pela base
fóssil. A energia solar existe em quantidade suficiente, já que atualmente o consumo
global de energia é de 17 TW, e a energia solar capturável com células fotovoltaicas,
apenas em áreas facilmente acessíveis, é de 360 TW.7
Ao final 2013, a capacidadeinstalada de energia fotovoltaica era de apenas 0,136 TW, apesar do impressionante
crescimento exponencial nos últimos anos.8 A questão pertinente, portanto, é quanto à
possibilidade da construção de uma base solar a partir da base fóssil, em poucas
décadas, para não se correr o risco de desestabilizar o sistema climático de maneira
catastrófica, e sem tampouco submeter parte ou a totalidade da população mundial à
escassez energética. Aqui é preciso mencionar que, ao contrário do que pregam certas
ideologias (“decrescimento” e afins) o consumo total global de energia precisa
aumentar, ao invés de diminuir, para que toda a população mundial tenha alta
3 Röc kstrom et al (2009); Steffen et al (2015).4 Hansen et al (2008) e Hansen (2013)5 Hansen (2013)6 Solomon et al (2009)7 Estamos computando tão somente a energia solar fotovoltaica, sem contar energia eólica e outras.EIA
(nd); Jacobson & Delucchi (2009).8 I nternational Energy A gency (2014).
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qualidade de vida. Isso é ilustrado em um gráfico cruzando consumo energético per
capita por país com o IDH, o que também mostra que além de 3,5 kW per capita não há
aumento de IDH (ver figura 1). Com esse valor para uma população mundial atual de 7
bilhões de pessoas, seriam necessários 24,5 TW ou 35 TW com os 10 bilhões projetados
em 2050. Ou seja, ainda vivemos um período de carência energética agregada global,
concomitantemente a uma distribuição extremamente desigual, com “excesso
energético” para alguns países e carência para muitos outros.
Figura 1: Índice de Desenvolvimento Humano da ONU em função do consumo energético,por país. O gráfico mostra uma correlação entre qualidade de vida e consumo energético, eque com cerca de 3,5 kW/hab é possível atingir um alto IDH. Acima disso, porém, há umplatô, onde o aumento do consumo energético não corresponde a um aumento do indicador.9
Com esse intuito de investigar uma transição solar sem carência energética,
David e Peter Schwartzman desenvolveram um modelo matemático que mostra que
uma transição solar é possível em poucas décadas, caso se dedique um percentual da
energia fóssil para a construção da base renovável (solar e eólica), somada a uma fração
9 Fonte: Wikipedia (nd a) e Wikipedia (nd b); ver também Goldemberg (1998), p. 47 -9.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 5 10 15 20 25
I D H
kW/hab
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desta própria para a sua expansão. Segundo esse modelo, em 40 anos seria possível uma
transição com a utilização de 1 a 2% da energia fóssil e cerca de 10% da energia
renovável gerada para autoexpansão.1 0
Crítico nessa modelagem é o retorno energético sobre a energia investida
(EROI), a proporção entre a energia que é gerada pelo sistema e a que é investida em
sua construção. O modelo Schwartzman utiliza um EROI de 20, baseado em dados da
literatura. Porém, após a publicação do seu estudo, um estudo das usinas fotovoltaicas
espanholas forneceu uma visão muito mais detalhada (e pessimista) do EROI para a
energia fotovoltaica, que seria de 2,46. Esse valor de EROI poderia inviabilizar uma
transição energética como visualizada no modelo Schwartzman. De outra parte, outros
elementos que não foram considerados nesse modelo podem melhorar o prospecto da
transição: a “curva de aprendizado” dos módulos solares, que aumenta o EROI em 17% a
cada vez que a capacidade instalada é dobrada 1 1 ; a vida útil estendida dos painéis, com
vários estudos indicando que se degradam à taxa de 1% ao ano, e, portanto, podem ser
utilizados por período muito mais longo do que a vida útil nominal de 25 anos modelada
por Schwartzman.1 2 Especialmente, os dados das usinas espanholas incluem a energia
embutida na construção e operação das usinas ( o gasto energético indireto “embutido”
em cada componente da planta, força de trabalho, etc.), o que foi apenas assumido no
modelo Schwartzman.1 3
Com o fim de investigar como esses fatores influem a transiçãosolar, propomos modificações no modelo Schwartzman para incorporar esses fatores. O
detalhamento matemático do modelo se encontra no apêndice.
Os resultados do modelo modificado com os dados de EROI mais pessimistas
encontrados na literatura indicam que a transição solar é mais difícil do que mostrado
no modelo Schwartzman, porém confirma que ela é possível. Com nossa modelagem, é
necessário reinvestir cerca de 40% da energia renovável em sua autoexpansão, além de
3% da energia fóssil, para concluir a transição em cerca de 36 anos (figura 2). Os
resultados são indicados nas figuras 1 e 2, onde R é a fração de potência energética
10 Schwartzman e Schwartzman (2012)11 Görig & Breyer (2012)12 Skoczek et al (2009)13 O modelo Schwartzman assume que a energia embutida está contida em três fatores da transição solar:
maior eficiência termodinâmica das energias renováveis, maior eficiência energética no norte global e ocrescimento exponencial das energias solares, com EROI’s muito maiores. Es sa assunção, porém, é bastante vaga. No modelo aqui proposto, essa energia está quantificada em um EROI muito menor.
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renovável em relação à potência fóssil inicial – ou seja, quando R=1 a base solar iguala a
base fóssil, mas esse valor é levado até adiante até que se atinja o nível de 3,5 kW/hab. A
figura 3 compara o modelo Schwartzman com o modelo aqui proposto, com os mesmos
valores de EROI, energia fóssil e energia renovável investidos na infraestrutura solar,
mostrando que o modelo aqui apresentado é mais pessimista. É preciso enfatizar que
aqui se está usando mais pessimista de todos os EROI’s já publicados.
Figura 2: Transição solar segundo o modelo modificado proposto
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Figura 3: comparação entre o modelo proposto (R) e o modelo Schwartzman (R_Sch)
Figura 4: evolução da base energética segundo o modelo proposto, com evolução da potênciarequerida para garantir 3,5 kW/hab (P_req), potência total disponível (P_disp), potencia fóssil(P_FF) e potência renovável (P_RE).1 4
Na figura 4 pode-se ver a evolução da transição energética, onde se ilustra que a
base fóssil somente é desativada após garantido o acesso energético global no nível
desejado, sendo que após atingido esse patamar o crescimento da base energética
corresponde à modelagem do crescimento populacional. As emissões de carbono no
período estão ilustradas na figura 5. Durante a transição aqui modelada seriam emitidos
cerca de 320 GTon de carbono à atmosfera. Hansen (2013) propõe um limite total de
500 GTon de emissões cumulativas (concomitantemente ao sequestro de 100 GTon por
reflorestamento), o que, descontados os 337 GTon já emitidos 1 5 , resulta em um saldo de
163 GTon. Os cenários mais permissivos (de 450 ppm) permitem emissões cumulativas
de 1000 GTon, o que resulta em um saldo de 663 GTon. A modelagem proposta indicaultrapassagem do limite proposto por Hansen, o que implicaria a necessidade um
programa de reflorestamento mais ambicioso.
14 A potência disponível (P_disp) é definida como a potência fóssil mais a potência renovável descontadada fração para autoexpansão, ou seja, apenas a potência disponível para outros usos que não aautoexpansão do sistema.
15 Cf. CDIAC (nd)
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ecologicamente necessária, é preciso que ela passe pelo processo da valorização e pela
mediação da concorrência. É esclarecedor aqui citar os autores do estudo das usinas
fotovoltaicas espanholas:
Sabemos que se tomamos três unidades de calor a partir do carvãopodemos gerar uma unidade de eletricidade de alto valor em uma usinatermelétrica. Se, ao invés disso, investirmos três unidades de calorprovenientes da queima de carvão em um sistema fotovoltaico naEspanha, ele geraria 7,35 unidades de eletricidade de alto valor; issoperfaz 7,35 vezes mais do que queimando carvão numa usinatermelétrica. O problema é que a primeira gera eletricidadeimediatamente; o problema para a geração fotovoltaica é que essasunidades são geradas ao longo de 25 anos, e precisam de umaantecipação de investimento de combustíveis fósseis de cerca de 2unidades térmicas no primeiro ano para o sistema fotovoltaico, e aterceira unidade ao longo dos 25 anos para operação e manutenção eoutras despesas recorrentes. (...) Pensamos que a falta de incentivo
mercadológico para a energia fotovoltaica não se deve tanto ao seu baixoEROI, mas à taxa de desconto, ao valor temporal do dinheiro.1 6
Ou seja, aqui o fetiche do valor atua como uma camisa de força da tecnologia
ecológica e socialmente mais adequada, entravando o seu desenvolvimento. A usina
fotovoltaica gera mais energia e de maneira mais ecológica, mas na competição por
rentabilidade ela perde a concorrência para o carvão e, em termos capitalistas, é um
“investimento irracional” – mesmo que insistir com a queima de fósseis signifique
induzir uma catástrofe ecológica global. Daí que só pode tornar-se “competitiva” e
desenvolver-se no capitalismo à base de subsídios ou taxação sobre o carbono. A
“solução” da moda é o keynesianismo de um “ New Deal Verde”, proposto mesmo alguns
postulantes do ecossocialismo (como Schwartzman), uma nova era de ouro de
“regulação estatal, crescimento e empregos”, que combinaria ecologia e acumulação.1 7
Mas o que significa isso no século XXI? As forças produtivas microeletrônicas
simplesmente não comportam mais o emprego em massa de força de trabalho como as
fábricas de automóveis da primeira metade do século passado. 1 8 Por outro lado, os
investimentos são enormes. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA),
são necessários investimentos de 700 bilhões de dólares anuais ao longo de vinte anos
16 Prieto e Hall (2013), p. 119 (tradução minha).17 UNEP (2009), Schwartzman (2011).18 Kurz (2014), Kurz (1991).
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para manter a concentração de carbono atmosférico abaixo de 450 ppm. Parece pouco,
mas é 1% do PIB mundial, todos os anos, em tempos de recessão em que cada fração de
ponto percentual no PIB é celebrado. E os custos tendem a subir muito para manter a
teor em 350 ppm.
Na Alemanha e na Espanha, dois dos países com maior potência fotovoltaica
instalada e com boa base de dados, o que se viu empiricamente foi um aumento
vertiginoso no preço da energia. Na Alemanha esse custo é repassado principalmente
aos consumidores residenciais, para não prejudicar a “competitividade” da indústria
exportadora.1 9 Na Alemanha, ao mesmo tempo em que avança a Energiewende (as
energias renováveis já respondem por 25% da energia elétrica), retorna a exploração de
carvão, o combustível mais intensivo em carbono. Esses padrões indicam que a
transição energética que vem sendo feita em alguns países tem objetivos concorrenciais
entre estados, geopolíticos e de segurança energética – redução de dependência dos
produtores de petróleo e riscos do pico do petróleo – muito mais do que redução de
emissões de carbono.2 0 De resto, o baixo custo de certas técnicas de geoengenharia
associado às análises de custo benefício da economia neoclássica, que descontam
impactos futuros e compõe os lucros presentes à taxa de juros e pressupõe a
substitutibilidade absoluta da riqueza material pela acumulação de capital, e a cada vez
mais intensa crise de valorização capitalista apontam fortes contratendências a umatransição energética.2 1 A crise de 2008 teve forte impacto na expansão das usinas
solares espanholas e no investimento em energia renovável no mundo inteiro, e as
expansões do capital em busca de mais-valia absoluta costumam associar-se aos
combustíveis fósseis, como no caso Chinês. 2 2 A recente corrida ao gás via fracking
parece ser o golpe de misericórdia.
19 Cf. Borden & Stonington (2014).20 Cf. Rest (2011).21 Sobre o baixo custo da geoengenharia, ver Barrett (2007). Sobre a economia neoclássica aplicada ao
aquecimento global, ver Nordhaus (2013), e para uma crítica v er Cunha (2012) e (2015). Sobre a crise da valor ização ver Kurz (1992) e Kurz (2014 ); no contexto de uma transição e nergética, ver Konicz (2012).
22 Cf. Hall & Prieto (2013), Rest (2011). Sobre o caso chinês e o aumento recente das emissões, ver Malm(2012) e Cunha (2013).
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ANEXO
Equações do modelo
O modelo baseia-se no modelo Schwartzman.2 3 As modificações se referem ao
EROI dinâmico, variando com a capacidade instalada, 2 4 a inclusão da totalidade da
energia embutida no denominador do EROI (energia embutida em infraestrutura,
reprodução da força de trabalho, etc.)2 5 e a modelagem explícita da degradação a 1% ao
ano, com extensão da vida útil dos painéis para 40 anos. 2 6 As equações são as seguintes:
A variável de estado e os parâmetros do modelo são listados na tabela 1. Na
primeira equação, o primeiro termo da equação diferencial refere-se à potência
renovável gerada a partir de energia fóssil, o segundo termo corresponde à potência
renovável gerada a partir da própria base solar e o terceiro termo corresponde à
degradação anual dos painéis. A segunda equação modela o EROI dinâmico, utilizando
o fator empírico definido pela terceira equação. A quarta expressão é um indicador do
avanço da transição solar (razão entre a potência solar construída e a potência fóssil
inicial).
O valor do EROI inicial de 2,46 foi modificado para 6,9 no modelo proposto
ponderando quantitativamente as diferenças do contexto global em relação ao espanhol
23 Schwartzman & Schwartzman (2010).24 Görig (2012).25 Prieto & Hall (2013).26 Skokczek (2009).
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e excluindo o custo energético embutido que são especificamente capitalistas (tais como
custos financeiros), a fim de modelar tanto quanto possível apenas as condições e
restrições materiais envolvidas. As modificações do EROI incluíram: correção para vida
útil de 40 anos, substituição da irradiação espanhola (1700 kWh/m2/ano) por uma
irradiação representativa global (2000 kWh/m2 /ano) e exclusão do efeito da degradação
dos painéis (já que a degradação é modelada explicitamente no modelo). Ainda, a “curva
de aprendizado” é aplicada apenas para os módulos solares, e não para a estrutura como
um todo, de maneira que a taxa de aprendizado efetiva, com a devida proporção
quantitativa, é de 6,9%.
Como todo modelo, o aqui proposto possui limitações. De todo modo, utilizou-
se estimativas conservadoras, entre as quais podemos citar a não consideração do efeito
de inovações tecnológicas, modelagem apenas da energia fotovoltaica (de menor EROI),
sem considerar a aplicação simultânea de energia eólica e outras, bem como considerar
a energia requerida de 3,5 kW/hab, quando certamente a abolição da “anarquia do
mercado” acarretaria uma diminuição desse requerimento – isso se reflete no fato de
que o IDH, usado na correlação com requerimento energético, é uma composição de
expectativa de vida, escolarização e PIB per capita, sendo este último índice muitas
vezes desacoplado da das necessidades ecológico-sensíveis. Ainda, trata-se de um
modelo que desconsidera especificidades geográficas, subestimando, assim, fontesenergéticas que em localidades específicas podem ser muito mais eficientes do que a
fotovoltaica (eólica, marés, etc.). Tudo isso faz com que os resultados sejam
conservadores.
Finalmente, as emissões de carbono foram calculadas considerando a
desativação do uso de carvão, petróleo e gás natural, nesta ordem (ou seja, em ordem
decrescente de emissões por unidade de energia produzida), utilizando os fatores de
emissão típicos.
Deixamos para investigações futuras a análise do efeito da variação dos valores
de EROI e energia requerida por habitante e outros.
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Tabela 1: v ariáveis e parâmetros do modelo
Símbolo Variável / parâmetro Valor inicial / valor Unidade
PRE Potência renovável instalada 0,136 TW
f Fração da potência renovávelinstalada utilizada para ampliação
de infraestratura renovável
0,35 -
f FF Fração da potência fóssil instalada
utilizada para construção de
infraestrutura renovável
0,03 -
D Taxa de degradação dos painéis 0,01 -
M EROI de novos painéis calculado -M0 EROI inicial de novos painéis 6,9 -
L Vida útil dos painéis 40 anos
PRE0 Potência renovável instalada inicial 0,136 TW
LR Taxa de aprendizado 0,069 -
b Constante empírica calculado -
PFF0 Potência fóssil instalada inicial 17 TWR Razão de transição energética (R=1
corresponde a PRE = PFF0)
calculado -
Referências
Barrett, S (2007) “The incredible economics of geoengineering”. Environmental
and resource economics 39 (9): 45-54.
Borden, E & Stonington, J (2014) “Germany’s Energiewende”, in: Clark II, WW
Global Sustainable Communities Design Handbook: Green Design, Health,
Technologies, Education, Economics, Contracts, Policy, Law and Entrepreneurship.
Elsevier Press.
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CDIAC (Carbon Dioxyde Information Analysis Center), Cf. CDIAC (nd),
http://cdiac.ornl.gov/trends/emis/tre_glob.html (acesso em abril/2015).
Climate Action Tracker (nd), disponível em http://climateactiontracker.org
(acessado em janeiro/201 5).
Cunha, D (2012) “O Antropoceno como alienação”, Sinal de Menos 8:
Cunha, D (2013) “A todo vapor rumo à catástrofe?”, Sinal de Menos 9:
Cunha, D (2015) “The Anthropocene as Fetishism”, Mediations 28 (2): 65-77.
EIA (nd) International Energy Statistics, disponível em
http://www.eia.gov/cfapps/ipdbproject/IEDIndex3.cfm?tid=44&pid=44&aid=2 (acesso
em janeiro/2015).
Goldemberg, J (1998) Energia, meio ambiente e desenvolvimento. São Paulo:
Edusp.
Görig, M & Breyer, C (2012) “Energy Learning Curves of PV Systems”,
Proceedings of the 27th European Photovoltaic Solar Energy Conference. Frankfurt.
Hansen et al (2008) “Target Atmospheric CO2 : Where Should Humanity Aim?”
Open Atmos. Sci. J. 2: 217-231.
Hansen et al (2013) “Assessing ‘Dangerous Climate Change’: RequiredReduction of Carbon Emissions to Protect Young People, Future Generations and
Nature”, Plos One 8 (12): e81648.
International Energy Agency (2012) World Energy Outlook 2012.
Internacional Energy Agency (2014) PVPS Report: Snapshot of Global PV /
1992-2013, disponível em http://www.iea-
pvps.org/fileadmin/dam/public/report/statistics/PVPS_report_-
_A_Snapshot_of_Global_PV_-_1992-2013_-_final_3.pdf (acessado em janeiro/2015).
Jacobson, M & Delucchi, M (2009) “A Path to Sustainable Energy by 2030”,
Scientific American November 2009: 58-65.
Japan Meteorological Agency (nd), Global Average Surface Temperature
Anomalies, disponível em
http://cdiac.ornl.gov/trends/emis/tre_glob.htmlhttp://www.iea-pvps.org/fileadmin/dam/public/report/statistics/PVPS_report_-_A_Snapshot_of_Global_PV_-_1992-2013_-_final_3.pdfhttp://www.iea-pvps.org/fileadmin/dam/public/report/statistics/PVPS_report_-_A_Snapshot_of_Global_PV_-_1992-2013_-_final_3.pdfhttp://www.iea-pvps.org/fileadmin/dam/public/report/statistics/PVPS_report_-_A_Snapshot_of_Global_PV_-_1992-2013_-_final_3.pdfhttp://www.iea-pvps.org/fileadmin/dam/public/report/statistics/PVPS_report_-_A_Snapshot_of_Global_PV_-_1992-2013_-_final_3.pdfhttp://www.iea-pvps.org/fileadmin/dam/public/report/statistics/PVPS_report_-_A_Snapshot_of_Global_PV_-_1992-2013_-_final_3.pdfhttp://www.iea-pvps.org/fileadmin/dam/public/report/statistics/PVPS_report_-_A_Snapshot_of_Global_PV_-_1992-2013_-_final_3.pdfhttp://cdiac.ornl.gov/trends/emis/tre_glob.html
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[-] www.sinaldemenos.org Ano 7, n°11, vol. 2, 2015 326
http://ds.data.jma.go.jp/tcc/tcc/products/gwp/temp/ann_wld.html (acessado em
janeiro/2015).
Konicz, T. (2012) Die äußere Schranke des Kapitals: Wie die Endlichkeit userer
Welt dem kapitalischen Wachstumszwang unüberwindbare Grenzen setzt. Krisie des
Kapitalismus – Teil 6. Disponível em http://www.streifzuege.org/2012/die-aeussere-
schranke-des-kapitals (acessado em janeiro/2015).
Kurz, R (1992) O colapso da modernização: do socialismo de caserna à crise da
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